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    Civitas Porto Alegre v. 6 n. 2 jul.-dez. 2006 p. 151-167

    Representaes de cinciae religio no espiritismo

    kardecistaAntigas e novas configuraes

    Bernardo Lewgoy*

    Desde seu incio os kardecistas acreditam que seu movimento religiosoharmoniza cincia e religio. Para compreender o que est em jogo nacompreenso esprita desses termos, preciso salientar que cincia e reli-gio no so conceitos setoriais ou partes de um jargo especializado, mascategorias culturais do entendimento de nossa poca, portadoras de alta res-

    sonncia axiolgica, de onde deriva parte dos problemas historicamente en-frentados quando o espiritismo tentou colocar em prtica o componente cien-tfico dessa relao.1

    * Doutor em Antropologia pela USP e professor adjunto do Departamento de Antropologia edo Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social da Ufrgs. Pesquisador do Ncleo deEstudos da Religio, tem colaborado em diversas publicaes acadmicas, onde vem escre-vendo sobre espiritismo, patrimnio, cultura escrita e cotas raciais. autor do livro O Gran-

    de Mediador: Chico Xavier e a cultura brasileira (Edusc, 2004). E-mail: [email protected].

    1 A complexidade da questo ilustrada pela imensa bibliografia sobre filosofia e sociologiada cincia, em que termos como crena, relatividade e verdade so objetos e partes deuma guerra cultural analisada no trabalho de Barbara Smith (2002). No mbito da religio ostrabalhos de Fernando Catroga (2006), Talal Asad (1993), Danielle Hervieu-Lger (1999) e

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    O tipo de nexo entre cincia e religio que virou senso comum entre osespritas produto da conjuno de alguns fatores, quais sejam: (a) a nfase

    mdica e teraputica do movimento esprita, que teve a psiquiatria comoadversria privilegiada e que termina por enfatizar a manipulao da dimen-so espiritual como a nica rea legtima de atuao e contribuio da medi-cina esprita; (b) a desvalorizao das prticas e pesquisas de materializao e

    prescrio medinica de receitas de medicamentos, embries iniciais do su-cesso do movimento mas tambm o seu calcanhar de Aquiles, na medida emque mais facilmente o expunha a escndalos e processos; (c) as metamorfosesda disputa com o catolicismo no Brasil, que diversificou sua estratgia incor-

    porando a parapsicologia, no como pesquisa, mas como retrica de ataqueaos espritas. A parapsicologia com fortes ingredientes positivistas tor-nou-se um terreno de disputa que permitia definir uma instncia externa de

    julgamento e prova da verdade ou da fraude dos fenmenos espritas. Comoveremos, iniciativas posteriores propuseram o abandono desse marco dediscusso em nome de uma posio demarcacionista, onde materialistas ecientistas no-espritas tenham o seu lugar prprio e separado, tanto quantoos espritas, em nome da especificidade de domnios e sistemas de conheci-mento.

    Desejo, assim, chamar ateno para a presena de variaes e efeitosinesperados na operacionalizao das idias de cincia e religio noespiritismo kardecista. A periodizao proposta tem um valor meramenteheurstico: inicia-se com um momento de composio entre cincia e religio,no sculo 19. A seguir, h uma progressiva dissociao desencadeando uma

    polmica religiosa entre essas esferas espritas e catlicas atravs da parapsi-cologia. Por ltimo, a posio demarcacionista tem levado a uma reconside-

    rao dos termos da polmica, introduzindo a valorizao de espaos aut-nomos e novos atores institucionais no espiritismo.

    Roberto Cipriani (2004) so suficientes para assinalar as vrias ressonncias socioculturais eimplicaes sociolgicas da considerao do objeto e do termo religio na modernidade.

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    O horizonte cultural da questo: consensos aparentes e lutaspor hegemonia de significado

    To ampla a aceitao social da idia que cincia e religio tm umsentido coerente e estvel, que estes facilmente convertem-se em significan-tes vazios de discursos emblemticos sobre o mundo moderno, ainda quereligio possa ser considerada a antpoda da racionalidade, numa leituraradical do iluminismo. Estes significantes vazios, tal como a idia de povo

    para o discurso populista, do margens a disputas por hegemonia, sendooperacionais na formao de identidades diacrticas e na objetivao de hie-rarquias socioculturais, como tm mostrado os trabalhos de Ernesto Laclau(2005) e Pierre Bourdieu (1983).

    Como seria de se esperar, os fiis comuns no costumam deter-se topausadamente no sentido da relao entre cincia e religio quanto os mem-bros mais intelectualizados do movimento. De fato, tal como a distino entreIgreja e Estado, a separao entre cincia e religio parece ser axial na consti-tuio de moderna configurao de valores, ao lado das idias de individua-lismo, progresso ou razo. No tendo estabilizado uma relao entre

    ortodoxia e hermenutica na revelao esprita (Lewgoy, 2004), o kardecismoser marcado por uma relao ambivalente com essas categorias, pelo menosdesde a famosa querela entre msticose cientficosno sculo 19 brasileiro.2

    Se tomadas etnograficamente, cincia e religio so categorias aciona-das numa lgica de duplo vnculo, no sentido de Gregory Bateson (1972) seja em contextos de proselitismo, seja em contextos de disputa com advers-rios dentro e fora do campo religioso. Trata-se da aplicao alternada e situa-cional de imagens de cincia ou religio, que ora tiram partido positivo de

    uma suposta convergncia, ora vivem uma dramtica ambigidade, devida indeterminao semntica da relao entre esses termos. Duplo vnculo e noconvergncia ou partilha entre domnios. A ambivalncia da relao dos espri-tas com a idia de religio em geral faz com que muitos praticantes se re-cusem a responder afirmativamente a esta pergunta no censo, diluindo-se nos

    2 Essa famosa querela, em que o grupo dos msticos derrotou os cientficos suspeitos de

    atesmo, ou seja, da ausncia de princpios morais que a idia de cincia inspirava , ocorrenuma poca em que as cincias so incipientes no Brasil. Para uma reviso histrica dessaquerela, ver Giumbelli (1997).

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    sem religio (Lewgoy, 2006). No entanto, h situaes em que se admite umcomponente religioso em sua doutrina, gerando oscilaes e instabilidade de

    crena, em que alguns reconhecem-se mais no aspecto experimentale cientficoe outros na componente mais evanglicae religiosada doutrina.

    Esses deslizamentos semnticos no eixo cincia e religio, a despeito decontrariarem idias recebidas sobre a separao dos domnios s so poss-veis se, ao lado desta lgica de duplo vnculo pela qual administrada umarelao entre cincia e religio que percebida ora como contraditria, oracomo compatvel o espiritismo, atravs de seu ethos institucional, cultivaruma identidade forte3 e exclusiva em seus seguidores. Este cultivo de uma

    identidade forte um vetor centrpeto e identitrio que se ope a outro, maisaberto, poroso, sincrtico e subjetivante, ao qual vem sendo dado maior des-taque nas anlises antropolgicas recentes sobre religio no Brasil (Sanchis,1997). O destaque cultural dado ao vetor centrfugo e sincrtico na forma-o de religiosidades extrainstitucionais tem seus limites justamente na inci-dncia dos poderes centrais, lderes e instituies organizadas na formao deidentidades e fronteiras que no so nada desprezveis no espiritismo, mesmoa despeito de recente movimento de destradicionalizao a que esse foi ex-

    posto, que discuti em outro momento (Lewgoy, 2004). O conflito entre essesvetores culturais de sentido e ao tambm podem gerar as leituras de duplovnculo, ao lado do complexo horizonte cultural subjacente ao problemacincia e religio.

    margem da representao de unidade nos discursos oficiais e falas nati-vas, esbarra-se com mil e uma singularidades etnogrficas, atravessamentos esincretismos aparentemente fora de ordem: mdiuns que circulam entre karde-cismo e umbanda, pessoas mais prximas de uma ordem enunciativa oral do

    que de um cdigo letrado culto, judeus praticantes que eventualmente partici-pam das atividades do centro, divergncias de interpretao da doutrina, semcontar as diversas nfases particulares em termos de rituais e ambientao, isto

    para no falar de casas com influncia new age, onde a curae o bem-estarsomais importantes do que a moralizao e as palestras doutrinrias.

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    A idia de uma identidade forte usualmente empregada para destacar o modo de consti-tuio de identidades em instituies totais, como exrcitos, escolas de elite e hospitais psi-quitricos, com marcada influncia do pensamento de Erving Goffman (1961).

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    A unificao dessa Babel um efeito da crena na unidade profunda deseu sentido e na importncia religiosa concedida harmonia como valor

    sobre o conflito, e no propriamente a realizao prtica desses ideais. No desprezvel o peso de uma postura inclusiva e integradora das diferenasdentro do movimento esprita, produto da influncia de um ethos comunita-rista catlico.

    No h no espiritismo uma autoridade ou livro sagrado que possa dar altima palavra em disputas internas atuais, mas uma multiplicidade de ins-tncias que vo dos centros espritas s Federaes, estaduais, nacionais einternacionais que continuam a ser atores de forte destaque, ainda que sem a

    hegemonia de perodos anteriores. (Lewgoy, 2006). Espritas podem citar aBblia, o cristianismo, os livros de Kardec, Dellane, Chico Xavier, afirmarque se trata de cincia, filosofia e religio, com uma nfase diferenciada deacordo com o informante. Inexiste um algoritmo hermenutico que permitacompreender e fixar a traduo da cincia em religio e vice-versa para osespritas, mas uma multiplicidade concreta de pontos de vista que se ancoramna crena na existncia de um cnone ou conjunto de obras e sbiosespritosde luzautorizados a orientar sua interpretao da vida cotidiana.

    Nesse sentido, vrias so as situaes de duplo vnculo que permeiam osjogos de identidade e as articulaes semnticas singulares que fazem oslivros publicados, as declaraes pblicas e os posicionamentos de informan-tes deslizarem no eixo cincia-religio de forma nem sempre percebida comocoerente pelos atores. Os espritas praticantes tm muitas situaes diversas ainterpretar e contextos de interao para lidar, que conjugam relaes comoutros mdiuns, espaos rituais, relaes com pessoas de fora do movimento,assim como momentos solitrios de auto-reflexividade para os quais positi-

    va a indeterminao da relao cincia-religio (ou racionalidade e crena),permitindo ao esprita a gesto da prpria identidade entre outras coisas, pelodeslizamento no eixo cincia-religio.

    No limite, todas as acepes possveis podem estar representadas ematos de sentido de um mesmo informante esprita num curto espao de tempo.Este pode afirmar a cientificidade da doutrina esprita para um amigo ctico,ao mesmo tempo em que reprova o seu materialismo. Logo aps, nosso dedi-

    cado esprita admoesta um companheiro de movimento mais intelectualista,pouco afeito prtica da caridade, insistindo no primado da religiosidade em

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    Kardec. O mesmo esprita, ao participar de seu grupo de estudos, insistirpara que os mdiuns mais carolas estudem mais criticamente a doutrina esp-

    rita, sejam mais leitores, mais racionais e menos crdulos na consideraodos fatos do dia-a-dia.

    O disciplinamento da prtica medinica, por exemplo, objeto de umsaber prtico sistematizado, compartilhado por meio de uma pedagogia ini-citica. No se espera que os casos observados nas sesses de desobsessosejam anotados de acordo com protocolos cientficos, mas que mdiuns expe-rientes ensinem os iniciantes a doutrinar oralmente os espritos de pouca luz,com base em preceitos morais e nofeelingemocional da corrente participante

    sesso.4Ou seja, o trato cotidiano com o mundo espiritual um saber prti-co que tem algo de parapsicolgico, no sentido da explicao sistematizada

    pelos pesquisadores psi. No entanto, o centro esprita no um laboratrioparapsicolgico e muito do que usado como referncia tem forte relaocom a autoridade religiosa das obras de autores e mdiuns consagrados, comoo esprito Andr Luiz.

    No entanto, elementos de um discurso parapsicolgico ou de informa-es oriundas da divulgao cientfica podem estar presentes em momentos

    posteriores de elaborao do sentido das sesses e fenmenos vivenciados.Trata-se de um nvel de interpretao distinto daquele saber prtico que en-volve o corpo e a iniciao ritual. A interpretao das sesses espritas geral-mente envolve um nvel narrativo, clnico e ritual que histria particularest se manifestando nesse momento e como lidar com ela e outro, de liga-o genrica do caso com os saberes e crenas mais amplas do grupo, geral-mente abordado em sesses de estudo (Lewgoy, 2004).

    A desmaterializao da cincia espritae a soluo demarcacionista

    O espiritismo nasce como uma religio racionalista e progressista no s-culo 19 francs (Laplantine e Aubre, 1990). Ao lado da busca de uma moralcontida nas mensagens psicografadas, h uma edificao de uma linguagem

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    Nesse sentido, pertinente a reflexo de Bruno Latour (2004), para quem a inscrio dos atosexperimentais numa cadeia enunciativa sistematizada na escrita um dos atos cientficos porexcelncia.

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    experimental para redescrever um espectro de fenmenos que pertenciam tradio popular judaico-crist, como comunicao com os mortos, sonhos

    com parentes falecidos e aparies de fantasmas. Ao crer na possibilidade deevocar e controlar experimentalmente esses fenmenos, o espiritualismoprofanava a sacralidade religiosa da relao com o alm.

    O espiritismo de Kardec nasce envolto no ethos secular e anticlerical naFrana de Napoleo III, onde a cincia um smbolo iluminista e uma bandeirainstituintedos movimentos progressistas e laicos das mais variadas matizes pol-ticas, como socialistas, maons e espritas.5No ainda plenamente cristalizado, ocampo cientfico da poca tem um breve flerte com aliados de um horizonte

    ideolgico cientificista ainda em expanso, no qual a pesquisa psi parecia coadu-nar-se com uma srie de expectativas que remontavam crtica iluminista reli-gio e a crena nos poderes libertadores da cincia e da razo. De fato, osculo 19 tem uma aguda conscincia do desconhecido comofenmenotangvel,material e pesquisvel, evocvel por desbravadores, cientistas e literatos, queviam nesse contato o desbravamento da ltima fronteira cientfica.

    Um alm cognoscvel pelo mtodo experimental levaria a secularizaoe o materialismo cientfico a um patamar nunca antes sonhado, alm de infli-gir srios danos no monoplio religioso das Igrejas Crists sobre o destino daalma aps a morte. Esse destino passa a ser visto como parte de uma carto-grafiae de uma ontologiaantes que de um julgamento e de uma cosmologiasagrada, abalando imagens anteriores de cu, infernoepurgatrio, mudanana qual espiritismo, esoterismo, orientalismo, socialismo e a difuso da ima-

    5 Os grandes pensadores sociais do sculo 19 tm admirao pelo evolucionismo e pelo carter

    cientfico do desenho reformador ou revolucionrio de suas propostas de sociedade. Seu de-terminismo e progressismo no foram estranhos a Kardec. Note-se que um dos melhores in-dicadores da especificidade do cientificismo kardequiano o menor realce dado individua-lidade de espritos e de mdiuns na autoria da codificao. H mensagens de personagenshistricos, como Scrates e So Luiz, mas no se trata de um constante foco narrativo no es-prito e no mdium, como no caso brasileiro. Para Kardec, a manifestao de espritos umato controlvel pela experimentao cientfica e o que importa o teor moral das mensagens.Ou seja, Kardec instituiu a dupla leitura como possibilidade permanente de relao do fielcom o espiritismo: este a doutrina dos espritos, mas os homens tm a ltima palavra nacompilao das mensagens. Isto resultou na coincidncia entre criao religiosa e criao li-

    terria: enquanto os espritos so autores, os homens so editores. Diferente, portanto, da B-blia ou do Coro, onde Deus autor e editor original do texto sagrado e os homens so merosescribas ou copistas.

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    gem cientfica de mundo concorreram para promover. No caso do espiritis-mo, a naturalizao do alm veio acompanhada por uma reinterpretao ilu-

    minista da teodicia do karma, como uma espcie de filosofia que combinalivre-arbtrio e determinismo na explicao da biografia individual. Isto re-mete ao limite religioso imposto pelo espiritismo nascente sua prpria di-menso experimental: uma rigorosa moral do livre-arbtrio, que projeta umahistria evolutiva sobredeterminada por provas voluntariamente escolhidas ecomportamentos de vidas anteriores e, de outro lado, a adoo de uma ima-gem mecanicista e determinista de um universo regido por leis morais impes-soais to compulsrias quanto as leis naturais. A obra de Kardec permite,assim, uma leitura moral despersonalizada das retribuies dos atos morais,como um livre-arbtrio determinista, uma quase aporia vertida no espritodo racionalismo filosfico e legalista, bem diferente da religio que maistarde ser constituda em terras brasileiras.

    A isso se sobrepe a inscrio crist da obra kardequiana, sobretudo apartir do Evangelho segundo o espiritismo. Quando a obra de Kardec trans-forma-se na Codificao coloca-se uma nova questo: como conciliar umcnone com uma epistemologia?6Na defasagem entre a origem espiritual e a

    transcrio humana do ditado peloplano espiritual superior h um hiato quepermite a dvida racional sobre as credenciais das mensagens recebidas pelosmdiuns. A opo pelo cnone leva a uma prtica teolgica de exegese orto-doxa, onde o acento dado sujeio ao plano espiritual superior, onde oaspecto religioso sistematizado como doutrina e ritual e o carisma inclina-se

    para o lado de mdiuns e espritos superiores. A opo pela epistemologialevaria s experimentaes parapsquicas, s evocaes, fotografias e mate-rializaes, mas essa justamente a instncia inicial de prova da realidade do

    espiritismo em seus incios.Trata-se de um perodo em que as imagens de cincia e as instituies

    que a definem e praticam tm um nimo cartogrfico, aventureiro e literrionunca mais recuperado, transformada aps em engrenagem organizacionalobjetivada em corporaes conservadoras, que desinvestiram os fenmenos

    parapsicolgicos de objetividade e dignidade acadmica. Nesse sentido, usei,em texto anterior, a metfora econmica de uma ncora cambial (Lewgoy,

    6 Questo que j havia sido levantada por Emerson Giumbelli (1997).

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    2006) entre cincia e religio para designar uma pretenso de verdade que sevoltou contra o espiritismo, quando a comunidade cientifica perdeu o interes-

    se pelo tema.A curiosidade cientifica e a elaborao religiosa foram aliadas nos pri-

    meiros tempos do espiritismo, na medida em que ambas pareciam carregarum esprito anti-clerical, situado num dos espaos de pluralidade possvel napoca (Laplantine e Aubre, 1990). Nesses primeiros tempos, a participao

    pioneira de cientistas em experimentos espritas, como Camille Flammarion,Paul Gibier, Ernesto Bozzano, Charles Richet, Cesar Lombroso e WilliamCrookes firmou referncias cientficas que o tempo foi convertendo em refe-

    rncias emblemticas a chancelar a autoridade das crenas espritas. A evoca-o de espritos era tida como prova experimental do espiritismo e tinha o seu

    ponto alto nas chamadas materializaes, onde manifestaes de ectoplasmasluminosos ultrapassavam a diviso entre esprito e matria, espritos movi-mentavam objetos etc. Mas este foi tambm o campo das acusaes de fraudee dos escndalos envolvendo mdiuns, sendo posteriormente relegado aosegundo plano.

    Desde Allan Kardec os espritas combatem uma idia de religio cal-cada no modelo da Igreja Catlica, composta de liturgia, ritual, ima-gens e sacerdotes, afirmando uma doutrina de trplice aspecto, cientifi-co, religioso e filosfico. Implacveis no combate aos espritas, os catlicossero os primeiros a brandir a acusao de ao do demnio nas manifesta-es espritas, a que se agregar, no sculo 20, uma singular retrica parapsi-colgica, usada como arma no combate a espritas, afro-brasileiros e esotri-cos, onde fraude e loucura sero as explicaes mais comuns do transe eda possesso.

    Enquanto o catolicismo trabalha desde o sculo 20 na perspectiva do re-conhecimento da diferena ontolgica essencial entre cincia e religio, ge-rando um trnsito ora tenso, ora diplomtico entre clero e academia, o espiri-tismo investiu historicamente na abolio dessas fronteiras e domnios atra-vs de uma proposta de fuso religiosa entre cincia e religio. Criado nosculo do cientificismo, embalado em suas promessas e triunfos, o kardecis-mo viveu seu declnio quando a diviso entre cincia e religio firmou-se

    como um pacto de separao entre os domnios no sculo 20, o que relegou

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    as pesquisas psi para fora dos muros da universidade, como assinalou JooVasconcelos (2003).

    No Brasil, onde o nicho inicial do cientificismo foi antes literrio do queacadmico, o espiritismo sobreviveu graas articulao de um vitoriosofoco religioso sobre o cientfico (Giumbelli, 1997; Damsio, 1994), consti-tuindo-se no grande laboratrio onde as referncias dessa religio sero vi-venciadas e sistematizadas. O espiritismo foi inicialmente conformado comoobjeto de conhecimento pela psiquiatria, que tentou desqualificar sua feno-menologia como um sintoma e a sua ontologia como expresso de um pen-samento mgico. Pouco importava a matriz ou modalidade de expresso,

    africana ou branca, de orixs ou espritos, a manifestao do transe era enca-rada como expresso de histeria e a religio como responsvel ou detonadorade casos de loucura.

    O insucesso na busca por credibilidade acadmica para as alegaes doespiritismo tem relaes histricas paradoxais com seu sucesso religioso noBrasil. Quando o espiritismo assenta-se como religio legtima, a partir dosanos 1940, seu velho adversrio catlico renova a bateria de argumentos, nosomente a partir das acusaes de provocar loucura ou da etiologia demona-ca do transe (acusao que ser retomada pelos evanglicos na atualidade),mas tambm por uma relao com a parapsicologia.

    Com base numa imagem positivista de cincia para a constituio de lei-turas religiosas da parapsicologia, a discusso cientfica das alegaes doespiritismo diferiu da pesquisa psi europia ou americana, de acentuada ten-dncia agnstica. No Brasil, a parapsicologia frequentemente tem se colocadocomo uma disputa religiosa por meio de elementos do discurso cientfico,

    travada entre intelectuais espritas (como Hernani Andrade e Herculano Pi-res) e catlicos (como o padre Oscar Quevedo), no despertando maior inte-resse na comunidade cientfica leiga. A prpria crena esprita normalizou-seno imaginrio religioso brasileiro, como parte de um ecltico cabedal derecursos teraputicos, sendo preferencialmente acionada como um servio,no contraditrio com as mais diversas opes religiosas7 e tambm como

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    Enquanto no pentecostalismo cura e libertao formam uma unidade que remete con-verso, o espiritismo pode ser acionado em momentos de crise para muitas pessoas, dentro deuma concepo no linear, como um recurso que pode ou no implicar aprofundamento na

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    respeitvel f num contexto plural, no repertrio das classes mdias. No en-tanto, no parece mais digna de provocar um debate entre juristas e psiquia-

    tras, como no passado.

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    O resultado foi um movimento religioso vivido comof, religio e ritual para muitos e, minoritariamente, como paracincia sempoder simblico. No se tratou do insucesso de um novo paradigma derrotadopor suas inconsistncias internas, mas antes do cruzamento de diversas din-micas sociais, relacionadas s peculiaridades da secularizao e da institucio-nalizao do campo acadmico nos pases centrais, que excluiu tentativashbridas de composio entre cincia e religio.

    Assumindo a verso desmistificadora da parapsicologia, para a qual no

    se trata de fenmeno paranormal, mas simplesmente de fraude ou auto-engano patologicamente motivado, o espiritismo foi reconsiderado comoobjeto por especialistas da Igreja Catlica, numa poca em que a concorrn-cia de mercado religioso apontava mais para um trnsito livre entre filiaesreligiosas do que para o arrebate de membros em posies exclusivas ouconverses espetaculares. Desde ento, a suscetibilidade ao domnio cientfi-co virou assunto de interesse religioso, um novo mbito de combate e consti-tuio do espiritismo como objeto de um discurso, sucedendo aos discursos

    jurdico e religioso. As manifestaes catlicas de ceticismo cientificamenteinstrudo ocorrem numa poca em que o termo esprita comeou a ser usa-do por espritas e umbandistas, sendo que muitos mdiuns circulavam nokardecismo, no catolicismo e na umbanda, tornando as identidades espritasmais porosas e subjetivas.

    Parte importante do trabalho de legitimao do espiritismo kardecistaconsistiu em ocupar reativamente os espaos de negociao e enunciao dosdiscursos que o constituam como objeto, contra mdicos, juristas e clrigos

    catlicos. Nesse sentido, as polmicas dos catlicos Boaventura Kloppenburg(1960) e Oscar Quevedo (1972) vo promover a ltima inquisio dos espri-tas, a partir dos anos 50. O surgimento de identidades fortes, dentro do karde-cismo, ganha novo mpeto a partir desta poca, tanto para o combate a adver-

    religio. Como se, para muitas pessoas, a gesto dos problemas espirituais tivessem no espiri-tismo uma espcie de clnica especializada de baixo custo.

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    Do contrrio, so hoje os mdicos e juristas espritas que invocam a importncia do espiri-tismo como doutrina ou conjuntos de tcnicas para melhor atingir os objetivos de suas res-pectivas prticas profissionais.

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    srios catlicos, quanto para o combate circulao religiosa de seus m-diuns.9

    A outra parte desse enrijecimento institucional consistiu em se retirarprogressivamente as manifestaes materiais de foco das discusses sobre oespiritismo. Nesse sentido, as sugestes de Giumbelli (1997) convergem comas interpretaes de Greenfield (1999) e Vasconcelos (2003), sobre as mu-danas de nfase do dualismo esprito x matria no kardecismo. ParaGiumbelli, quando o espiritismo brasileiro diminui a nfase em receitas ho-meopticas para concentrar-se em aspectos assistenciais ele no faz senominimizar a dimenso material deste dualismo, no que converge a interpreta-

    o de Greenfield (1999) sobre a rejeio das cirurgias de faca cega do Dr.Fritz, cujo expressivo ttulo de captulo de seu livro O corpo como umacasca descartvel resume bem o que viemos discutindo. Pela mistura impurado material e do espiritual, as espetaculares aes do mdium Jos Arigatrapalhavam a busca da credibilidade e complementaridade da medicinaesprita em relao oficial. A medicina esprita reivindica a aceitao deuma dimenso moral e espiritual na origem e no tratamento das doenas, e aintroduo de tcnicas de passe e desobsesso como terapia complementar.

    Essa desvalorizao religiosa da dimenso material adaptou parcialmente okardecismo brasileiro partilha dos domnios material/cientfico x religio-so/espiritual, cuja refrao no campo esprita chamaremos doravante de de-marcacionismo.

    No espiritismo so os prprios mdiuns, como Chico Xavier, que produ-zem as referncias cientficas do movimento, sobretudo atravs da obra doesprito Andr Luiz em livros como Nos domnios da mediunidade, Me-canismos da mediunidade e Evoluo em dois mundos. Nestas obras, a

    explicao cientfica aparece como revelao e aprofundamento e no comoexperimento e prova, tendo os espritas como o seu pblico-alvo.

    sintomtico desse processo o pouco apreo que o movimento espritater pelas evocaes e materializaes, apenas retomadas em contextos muitoespecficos, pelos mdicos espritas.10Quanto mais o espiritismo se populari-

    9 Ver Lewgoy (2004), especialmente o ltimo captulo.10

    A trajetria posterior do mdico Waldo Vieira esclarecedora desse ponto. Aps a rupturacom Chico Xavier, Waldo cria a projeciologia em que, em vez do ser humano servir comomdium para a ao de espritos, ele mesmo projeta seu esprito para fora do corpo fsico.

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    zou no Brasil mais o cientista universitrio foi sendo suspeito de vaidade ematerialismoe as referncias de sbios passam a ser cada vez mais buscadas

    nos pesquisadores do passado, agora convertidas em exemplos de um pante-o. As referncias de conhecimento produzidas no meio kardecista centram-se na prtica religiosa medinica, enfatizando a discusso tcnica e doutrin-ria sobre a mediunidade, o passe e os modos possveis de desenlace das situa-es rituais, como na desobsesso e no atendimento fraterno.

    No artigo A excelncia metodolgica do espiritismo, publicado emReformador (novembro de 1988), o esprita Silvio Chibeni j havia consta-tado o backgroundpositivista inerente parapsicologia. Este mesmo autor,

    lder do Grupo de Estudos Espritas da Unicamp, sustenta que o espiritismodeve atualizar-se reflexo epistemolgica recente. A defesa do espiritismocomo uma cincia (e no mais como um objeto) irredutvel, formada por umncleo terico prprio, reedita a soluo religiosa demarcacionista entre cin-cia e espiritismo, dominante nos meios espritas, atravs de uma leitura daidia de paradigma de Thomas Kuhn.

    Os artigos do Grupo de Estudos Espritas da Unicamp11no se diferen-ciam significativamente da uma concepo religiosa de grupo de estudos, emque pese sua pretenso acadmica. Trata-se de grupo existente desde 1978com uma relao no oficial com a Unicamp, no reconhecimento que nochega a perturbar seus membros, pois estes consideram que a cincia espritano acadmica no mesmo sentido que as demais, mas de outra ordem, con-tentando-se com a manuteno do prprio nicho.

    As Associaes Mdicas Espritas tambm partem do pressuposto de-marcacionista, mas pretendem ter um lugar dentrodo mundo acadmico da

    medicina. Seu intuito legitimar o emprego de tcnicas espritas no diagns-tico e tratamento complementar de pacientes, constituindo-se como umacorporao, com seus congressos e publicaes. A idia de uma espirituali-dade, como dimenso autnoma a no ser confundida com a religio, mar-ca a proposta de insero das associaes mdicas espritas nas universida-

    Enquanto o espiritismo prima por um holismo hierrquico que subordina o humano ao espiri-

    tual, a projeciologia inverte a prioridade esprita e retoma a vertente experimental do espiri-tualismo atravs de um superindividualismo.

    11 Disponveis em http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/exemet.html.

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    des, como mostra o departamento acadmico do site da AME-Brasil.12 Hdisciplinas optativas em cursos de medicina que discutem a interface entre

    espiritualidade e religio, biotica, aborto, eutansia, o valor daf e da prece, clulas tronco, entre outros tpicos, estando presente noscursos de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Facul-dade de Medicina do Tringulo Mineiro e Universidade Federal do Cear. A

    prpria bibliografia oferecida nessas disciplinas optativas no tem uma marcaexplicitamente esprita fazendo recurso a uma espiritualidade ecumnica

    presente em autores como Fritjof Capra, Leonardo Boff e Elisabeth Kubler-Ross. No caso da disciplina optativa Sade e Espiritualidade, ministrada

    pela neurologista Edson Marquez, os temas da quase-morte e os cuidadoscom pacientes graves, momento em que religio e espiritualidadeparecemser cruciais parecem sugerir uma alternativa esprita ao paliativismo mdi-co.13

    H tambm um curso de extenso Bases da Integrao Crebro-Mente-Corpo-Esprito ao cargo de Associaes Mdicas Espritas na UniversidadeSanta Ceclia, em Santos, cujas temticas so mais explicitamente espritas,como passe e obsesso. O carter do curso de extenso indica mais flexibili-

    dade de contedos e menor controle institucional, no comportado nas disci-plinas optativas.

    A insero estratgica das Associaes Mdicas Espritas nos ambientesacadmicos aponta para a renovao da vontade de institucionalizao damedicina esprita, ainda dentro da viso demarcacionista, agora encaradacomo uma especialidadedentro da medicina, situada no campo das medici-nas alternativas, como a homeopatia e os florais de Bach.

    Consideraes finais

    A histria do espiritismo uma constante luta em torno de sua represen-tao como objeto. Das disputas jurdicas e mdicas na Repblica Velha at asua transformao em objeto para as cincias sociais, concomitante recentecriao de pequenos nichos de pesquisadores espritas dentro e fora da uni-

    12 Ver: http://www.amebrasil.org.br/html/depto_uni.htm.13 Sobre o paliativismo ver o trabalho de Menezes (2004).

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    versidade, como o Grupo de Estudos Espritas da Unicamp, h um terrenocomum de partida que consagra uma imagem de cincia como uma instncia

    externa ou tribunal epistemolgico das pretenses de validade do espiritismo.Ao postular a existncia de uma instncia no-esprita de validao do espiri-tismo, resultado da tese da convergncia religio-cincia, os intelectuais esp-ritas colocaram a validao cientfica no lugar da revelao, atribuindo-lheum valor sagrado nunca isento de ambigidades e indeterminao residual.Esse gesto nasceu de uma tentativa de romper o isolamento epistemolgicoque resultou das disputas com interlocutores religiosos e leigos, no qual oespiritismo saiu socialmente legitimado como crena e religio mas perdedorcomo pretenso cientfica. Os intelectuais kardecistas desde o incio apelaram metodologia experimental como componente central a garantir a veracidade

    de suas afirmaes invocando padres de prova e cientificidade de uma epis-

    temologia fundacional e positivista, linguagem que, embora viesse a soar

    ingnua um sculo mais tarde, foi herdada pela pesquisa parapsicolgica no

    sculo 20. Quando o campo cientfico desinteressou-se da pesquisa psi, a

    retrica de intelectuais espritas comeou a ser irrigada pelas reivindicaes

    da parapsicologia, espao de abertura para a pesquisa cientfica atravs da

    transcomunicao experimental, da telepatia, de experimentos com mediuni-

    dade, fotografia da aura etc. A tnica do cruzamento entre espiritismo e cin-

    cia, em perodo mais recente, est voltada para as mltiplas faces da regres-

    so, reencarnao e vidas passadas e tambm da crtica aos paradigmas da

    cincia convencional, nutrindo-se de argumentos oriundos do campo semn-

    tico da complexidade, das organizaes emergentes, do holismo new age

    como viso de mundo alternativa, reas permeadas de um esoterismo ps-

    moderno de forte popularidade entre cientistas dissidentes e setores perifri-

    cos do mundo acadmico.14

    Como a maioria das mudanas no comportamen-

    to dos espritas, trata-se de mudanas de nfase que no apagam as antigas

    posies, mas sobrepem-se suavemente umas s outras.

    Marcada pela busca da respeitabilidade, pelo desapreo de tcnicas e re-flexes que envolvam a manipulao de dimenso material (suspeitas dematerialismo) a viso esprita demarcacionista, articulada s histricas posi-es dos dirigentes das federaes espritas, inverteu definitivamente o pri-

    14 Para uma anlise crtica dessa tendncia, consultar Reynoso (2006) e Terr-Fornacciari(1993).

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    meiro plano de discusso e prova do espiritismo no sculo 19, a manifestaomaterial da dimenso espiritual. Trata-se agora de um novo tipo de pacto em

    que os espritas no tentam curar mais as doenas do corpo, renncia cujopreo a reivindicao de um subespao corporativo no interior do mundodisciplinar da medicina.

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    Recebido em 15 de setembro de 2006 e aprovado em 6 de outubro de 2006