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    Teoria Geral do Processo

    Ilustra Folha rosto

    1 verso: Aline Martins Coelhongela Issa Haonat

    Rosa Maria Silva Leite

    2 verso revisada e ampliada: Paulo Beninc

    Ubirajara Coelho Neto

    1 perodo

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    FUNDAO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS

    ReitorHumberto Luiz Falco Coelho

    Vice-ReitorLvio William Reis de Carvalho

    Pr-Reitor de GraduaoGalileu Marcos Guarenghi

    Pr-Reitor de Ps-Graduao e ExtensoClaudemir Andreaci

    Pr-Reitora de PesquisaAntnia Custdia Pedreira

    Pr-Reitora de Administrao e FinanasMaria Valdnia Rodrigues Noleto

    Diretor de EaD e Tecnologias EducacionaisMarcelo Liberato

    Coordenador PedaggicoGeraldo da Silva Gomes

    Coordenador do CursoJos Kasuo Otsuka

    EDUCON EMPRESA DE EDUCAO CONTINUADA LTDA

    Diretor PresidenteLuiz Carlos Borges da Silveira

    Diretor ExecutivoLuiz Carlos Borges da Silveira Filho

    Diretor de Desenvolvimento de ProdutoMrcio Yamawaki

    Diretor Administrativo e FinanceiroJlio Csar Algeri

    MATERIAL DIDTICO

    Organizao de Contedos Acadmicos1 verso: Aline Martins Coelho

    ngela Issa HaonatRosa Maria Silva Leite

    2 verso revisada e ampliada: Paulo BenincUbirajara Coelho Neto

    Coordenao EditorialMaria Lourdes F. G. Aires

    Assessoria EditorialDarlene Teixeira Castro

    Assessoria Produo GrficaKatia Gomes da Silva

    Reviso Didtico-PedaggicaMarilda Piccolo

    Reviso Lingstico-TextualKyldes Batista Vicente

    Reviso DigitalDouglas Donizeti Soares

    Projeto GrficoDouglas Donizeti Soares

    Irenides TeixeiraKatia Gomes da Silva

    IlustraoGeuvar S. de Oliveira

    CapaEdglei Dias Rodrigues

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    PLANO DE ENSINOCURSO: Fundamentos e Prticas JudiciriasPERODO: 1DISCIPLINA: Teoria Geral do Processo

    EMENTA

    O Estado-Juiz. Categorias jurisdicionais. Da norma processual. Da jurisdio e da

    competncia. Do Poder Judicirio. Da organizao judiciria do Estado do

    Tocantins. Do Ministrio Pblico. Do Advogado. Da ao. Do processo. Do juiz. Das

    partes. Dos atos processuais. Do processo civil, do processo, dos procedimentos e

    das fases processuais. Do processo penal, do processo e dos procedimentos.

    OBJETIVOS

    Reconhecer os conceitos bsicos do Direito Processual.

    Reconhecer os princpios que do forma ao Direito Processual, a partir

    da doutrina e da Constituio Federal.

    Definir o que jurisdio e suas caractersticas.

    Conhecer o Poder Judicirio, indicando os rgos, as funes, a

    independncia e as garantias dos magistrados do Poder Judicirio.

    Conhecer o papel fundamental do Ministrio Pblico.

    Conhecer o direito que surge para o indivduo acionar e fazer agir o

    Poder Judicirio.

    CONTEDO PROGRAMTICO

    Soluo de conflitos

    Princpios do Direito Processual

    Jurisdio e competncia

    Poder judicirio; Ministrio Pblico; Advogado; Auxiliares da justia;

    Escrivo; Oficial de justia; Perito; Depositrio; Administrador e

    Intrprete

    Da ao e Do processo

    BIBLIOGRAFIA BSICA

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    CINTRA, Antonio Carlos Arajo; DINAMARCO, Cndido Rangel; GRINOVER,

    Ada Pellegrini. Teoria Geral do Processo.21. ed. So Paulo: Malheiros, 2005.

    ALVIM, Jos Eduardo Carreira. Teoria Geral do Processo. 10. ed. Rio de

    Janeiro: Forense, 2005.

    SILVA, Jos Milton da. Teoria Geral do Processo. 2. ed. Rio de Janeiro:

    Forense, 2003.

    BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

    BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Linguagem Jurdica. 2. ed. So Paulo:

    Saraiva, 2003.

    BRASIL. Decreto-Lei n. 3.689, de 03.10.1941. Cdigo de Processo Penal.Braslia: DOU, 13 de outubro de 1941.

    BRASIL. Lei n. 5.869, de 11.01.1973. Institui o Cdigo de Processo Civil.

    Braslia: DOU, 17 de janeiro de 1973.

    BRASIL. Lei n. 8.906, de 04.07.1994. Dispe sobre o Estatuto da Advocacia e

    a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Braslia: DOU, 5 de julho de 1994.

    BRASIL. Lei n. 10.406, de 10.01.2002. Institui o Cdigo Civil. Braslia: DOU,

    11 de janeiro de 2002.BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil, de 05.10.1988.

    Braslia: DOU, 05 de outubro de 1988.

    COELHO, Fbio Alexandre. Teoria Geral do Processo. So Paulo: Juarez de

    Oliveira, 2004.

    DIDIER JUNIOR, Fredie. Direito Processual Civil. 3. ed. So Paulo: Salvador,

    2003.

    DONIZETTI, Elpidio. Curso Didtico de Direito Processual Civil. Belo

    Horizonte: Del Rey, 2005.

    GRECCO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 16. ed. So

    Paulo: Saraiva, 2000, v 1.

    MARCATO, Antnio Carlos. Procedimentos Especiais. 10. ed. So Paulo:

    Atlas, 2004.

    ROCHA, Jos de Albuquerque. Teoria Geral do Processo. 8. ed. So Paulo:

    Atlas, 2005.

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    SUMRIO

    Aula 1: A soluo dos conflitos

    Aula 2: Princpios do Direito Processual

    Aula 3: Jurisdio e Competncia

    Aula 4: Do Poder Judicirio: organizao

    Aula 5: Das funes essenciais Justia

    Aula 6: Da Ao

    Aula 7: Do Processo

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    AULA 1 A soluo de conflitos

    Objetivos

    Esperamos que, ao final desta aula, voc seja capaz de:

    reconhecer os conceitos bsicos ao Direito Processual e as formas

    de resoluo dos conflitos jurdicos;

    distinguir o Direito Material do Direito Processual.

    Pr-requisitos

    Para que voc atinja os objetivos propostos, interessante que faauma leitura prvia a respeito dos conceitos bsicos do Direito Processual e as

    normas de resoluo dos conflitos jurdicos, distinguindo o Direito Material do

    Direito Processual.

    Introduo

    A soluo dos conflitos entre os homens nem sempre se deu da forma

    como conhecemos hoje, seja na via judicial ou extrajudicial. Antes de o Estadochamar para si a tarefa de dizer o Direito, o que assistamos era a soluo dos

    conflitos via vingana privada, os mais fortes sempre vencendo os mais fracos.

    Com o passar dos tempos, o Direito aparece como uma das formas de controle

    social, com o fim de solucionar os conflitos de maneira mais justa.

    1.1 O homem e o direito

    Desde a Antiguidade, o homem v no Direito uma forma deinstrumento de controle social, embora, naquele tempo, o homem j sofresse

    igualmente a influncia de outros instrumentos de controle social, como a moral

    e a religio. Da a razo do brocardo jurdico: ubi societas ibi ius.

    A relao entre a sociedade e o direito encontra-se fundada na funo

    de controle que o direito exerce na sociedade por meio de sua fora coativa.

    Assim, o direito representa a via de compatibilizao entre as necessidades e

    os interesses que surgem em decorrncia da vida em sociedade.

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    Para compreender necessidades e interesses na forma que

    interessam ao direito, so envolvidos na anlise alguns conceitos bsicos, tais

    como: necessidade, bem, utilidade, interesse, conflito de interesses,

    pretenso, resistncia e lide.

    a) Necessidade

    A palavra necessidade, segundo o dicionrio Houaiss (2004), pode

    ser entendida como: As exigncias mnimas para satisfazer condies

    materiais e morais de vida. Podemos citar como exemplo as carncias

    naturais(necessidades) do organismo humano, como beber, comer, dormir etc.

    Segundo Alvim (2005, p. 2), as necessidades so satisfeitas, levando-se em

    conta determinados elementos:

    O homem experimenta necessidades as maisdiversas, sob variadosaspectos, e tende a proceder de forma a que sejam satisfeitas; quedesaparea a carncia ou se restabelea o equilbrio perdido. Anecessidade decorre do fato de que o homem depende de certoselementos, no s para sobreviver, como para aperfeioar-se social,poltica e culturalmente, pelo que no seria errneo dizer que ohomem um ser dependente.

    b) Bem

    Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 3) lecionava que bem o entecapazde satisfazer uma necessidade. Assim, para o direito, bem deve ser entendido de

    forma ampla, abrangendo tanto os bens materiais como os imateriais.

    BENSMATERIAIS IMATERIAISgua PazAlimento LiberdadeVesturio HonraTransporte Amor

    c) Utilidade

    Para Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 3), utilidade a capacidade

    ou a aptido de uma coisa (bem) para satisfazer uma necessidade.

    Alvim (2005, p. 3), porm, faz uma ressalva: nem sempre que haja

    utilidade num bem, ocorraum interesse relativamente a ele.

    Para ilustrar, usamos o exemplo de Carnelutti citado por Alvim, para

    quem o po sempre ser um bem e sempre ter uma utilidade, mas no haver

    interesse (no po) para quem no tem fome ou no prev que possa vir a t-la

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    (ALVIM, 2005, p. 4).

    SAIBA MAIS

    Carnelutti foi considerado um dos maiores juristas italiano do sculo XX,

    nascido em 1879 e falecido em 1965. Professor da Universidade de Milo.

    d) Interesse

    Este tpico que efetivamente assume relevncia para o Direito, quer

    pela importncia, quer pela discusso doutrinria sobre o tema. Porm, h

    divergncia doutrinria sobre o melhor significado do termo interesse.

    Segundo o entendimento deCarnelutticitado porAlvim (2005, p. 4) o

    interesse a posio favorvel do homem em relao satisfao de uma

    necessidade. a relao entre o ente (homem) que experimenta a

    necessidade e o ente (bem) apto a satisfaz-la.

    Segundo o entendimento de Ugo Rocco citado porAlvim (2005, p. 4),

    o interesse pode ser compreendido como sendo:

    Juzo formulado por um sujeito acerca de uma necessidade,sobre a utilidade ou sobre o valor de um bem, enquanto meiopara a satisfao dessa necessidade. Ato da inteligncia, que

    dado pela representao de um objeto (bem), pelarepresentao de uma necessidade e pela representao daaptido do objeto (bem) para satisfazer a prpria necessidade.

    Por outro lado, temos que considerar que, de acordo com esse raciocnio,

    nem sempre o homem estar numa posio de interesse. Pode-se citar como

    exemplo o fato de que, se o homem est com fome e possui o alimento sua

    disposio, estar em uma posio de interesse, o que no ocorrer na hiptese

    do homem que tem fome e no tem o alimento sua disposio.

    O interesse, no que toca sua relao com o Direito, pode ser classificado,

    em um primeiro momento, como: Interesse imediato e Interesse mediato.

    Interesse imediato: quando a situao se presta diretamente

    satisfao de uma necessidade. Ex: quem possui o alimento presta-se

    diretamente satisfao da necessidade de alimentar-se.

    Interesse mediato: quando a situao apenas indiretamente presta-se a

    satisfao de uma necessidade, enquanto dela possa derivar uma outra

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    situao (intermediria), que consegue a satisfao da necessidade. Ex:

    quem possui dinheiro para adquirir alimento, apenas indiretamente

    (mediatamente) se presta satisfao da necessidade de alimentar-se.

    Outra questo importante a definio das espcies de interesses.

    Alvim (2005, p. 5) menciona que o interesse se classifica em: interesse

    individual e interesse coletivo.

    Interesse individual: caracteriza-se quando existe uma situao

    favorvel satisfao de uma necessidade, pode determinar-se em

    relao a um s indivduo, de forma isolada.

    Interesse coletivo: caracteriza-se por uma situao favorvel satisfao

    de uma necessidade no pode determinar-se seno em relao a vriosindivduos.

    1.2 Conflito de Interesses, Pretenso, Resistncia e Lide

    Vistos os significados de necessidade, bem, utilidade e interesse, faz-se

    necessrio tratar dos conceitos de conflito de interesses, pretenso, resistncia e lide.

    Alvim (2005, p. 6) ensina que existe conflito de interesses quando a

    situao favorvel satisfao de uma necessidade exclui, ou limita, a situao

    favorvel satisfao de outra necessidade.

    O conflito de necessidade que envolve dois interesses e uma s

    pessoa pode ser chamado de conflito subjetivo. Ocorre quando o indivduo tem

    mais de uma necessidade e tem que se decidir por uma delas em especfico. Em

    geral, no ultrapassa as pessoas do prprio sujeito nele envolvido.

    H, tambm, o que se pode chamar de conflito intersubjetivo, como

    chamou Carnelutti citado porAlvim (2005, p. 6, grifo nosso), que o conflitode interesse que envolve duas ou mais pessoas. Tem importncia para o

    Estado pelo fato do perigo que representa de uma soluo violenta, quando

    ambos os interessados recorrem fora, para fazer valer o seu direito.

    Os conflitos de interesses ocorrem, por assim dizer, quando estiver

    caracterizada a disputa pelos bens considerados limitados ou, ainda, sobre o

    exerccio de direitos sobre esses bens, exigindo-se, assim, o controle e a

    regulao por parte do Estado, por meio do Poder Judicirio. Instalado o

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    conflito de interesses entre as partes, chega-se ao que a doutrina tradicional

    denominou de lide. Passamos, ento, ao conceito de lide. Carnelutti citado por

    Alvim (2005, p. 10), ao tratar de lide, leciona que lide o conflito de

    interesses, qualificado pela pretenso de um dos interessados e pela

    resistncia do outro".

    A lide compe-se de um elemento material e um elemento formal.

    Como elemento material da lide, temos o prprio conflito de interesses e,

    como elemento formal, a pretenso e a resistncia, tambm chamada de

    oposio (ALVIM, 2005, p. 10-11).

    Assim, a lide o prprio conflito de interesses, que pode ser

    representado, de um lado, por uma pessoa que formula uma pretenso contraoutra pessoa, que ir a esta opor uma resistncia.

    1.3 Das formas de soluo dos conflitos

    Desde que o homem passou a viver em sociedade, passaram a existir

    conflitos e havia a necessidade de regular a forma de soluo. Num primeiro

    momento, no existia a figura do Estado a regular os conflitos existentes na

    sociedade. Nesse tempo, imperava a vingana privada. Com o passar dotempo, o Estado chama para si a tarefa de dizer o Direito, ou seja, o Estado

    passou a controlar os conflitos que aconteciam na sociedade.

    Assim, em um primeiro momento, o que regulou os conflitos do homem

    foi a autotutela tambm chamada de autodefesa.

    a) Autotutela

    Conforme Ada Pellegrini Grinover e outros (2005, p. 23), a autotutelapossui dois traos caractersticos: a) ausncia de juiz distinto das partes; b)

    imposio da deciso por uma das partes outra.

    Alvim (2005, p.13), ao falar sobre a autodefesa, leciona que

    Esta forma de resoluo dos conflitos apontada como a maisprimitiva, quando ainda no existia, acima dos indivduos, umaautoridade capaz de decidir e impor sua deciso aos contendores,pelo que o nico meio de defesa do indivduo (ou do grupo) era o

    emprego da fora material ou fora bruta contra o adversrio para

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    vencer sua resistncia.

    Os Estados modernos reconhecem que, em determinados casos, no

    h como evitar leses de Direito. Por isso, o prprio Estado criou mecanismos

    que permitem ao prprio indivduo defender seu interesse, mesmo que seja

    necessrio usar de fora, desde que respeitados os limites impostos pelo

    prprio direito (ALVIM, 2005, p. 14).

    Alvim (2005, p. 14) menciona os seguintes exemplos de autodefesa no

    Estado moderno: (a) Legtima defesa (art. 25 do Cdigo Penal); (b) Desforo

    incontinenti (art. 1.210 do Cdigo Civil); (c) Penhor legal (art. 1.467 do

    Cdigo Civil); e(d) Direito de greve (previsto no art. 9 da Constituio Federal

    e na Lei n 7.783/89).

    SAIBA MAIS:

    Desforo Incontinenti: a resistncia ou a reao promovida por iniciativa

    prpria do possuidor, por prpria fora dele.

    b) Autocomposio

    Com a evoluo do homem, mas ainda em tempos remotos, surgem

    outras formas de soluo de conflitos, como a autocomposio, que pode serconsiderada como um passo adiante na soluo dos conflitos que se

    estabeleciam na sociedade.

    O termo autocomposio, de acordo com Alvim (2005, p.15), deve ser

    creditado a Carnelutti, que, ao tratar dos equivalentes jurisdicionais, ali a

    incluiu. Assim auto (prprio) e o substantivo composio, na linguagem do

    renomado mestre, equivalem asoluo, resoluooudeciso do litgio por

    obra dos prprios litigantes.A autocomposio continua a existir no ordenamento jurdico, nas

    seguintes formas: a desistncia, a submisso e a transao. Grinover e

    outros (2005, p, 23) traz a definio de cada uma delas:

    desistncia (renncia pretenso);

    submisso (renncia resistncia oferecida pretenso);

    transao (concesses recprocas).

    Essas formas de autocomposio s podem acontecer em razo dos

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    direitos disponveis.

    Direitos

    Disponveis IndisponveisPode ser transacionado No pode ser transacionadoPode haver renncia No pode haver rennciaTransigveis Intransigveis

    Dessa forma, com o decorrer dos tempos, com a evoluo do homem e

    do prprio Direito, passou-se a preferir, conforme leciona Grinover e outros (2005,

    p, 23), a figura do rbitro, que atribua ao caso concreto uma soluo imparcial.

    Surge assim, conforme Alvim (2005, p. 16), a arbitragem facultativa,

    como forma bem mais evoluda de soluo dos conflitos.

    SAIBA MAIS:A arbitragem matria a ser estudada no 5 perodo do curso.

    Normalmente, a figura do rbitro na Antiguidade era representada por

    um sacerdote: acreditava-se que, por estar intimamente ligado s divindades,

    isso, por si s, garantiria uma soluo mais acertada. Outra figura que

    normalmente se utilizava como rbitro eram os ancios, pois eram dotados de

    sabedoria e conheciam os costumes do grupo social da poca.

    Segundo Alvim (2005, p. 17), a arbitragem facultativa, por seu turno,favoreceu o aparecimento do Processo, que pode ser considerado como a

    ltima etapa na evoluo dos mtodos compositivos do litgio.

    SAIBA MAIS:

    Processo - Latim Processu. Proceder: avanar, seguir caminhando.

    De acordo com o que ensina Alvim (2005, p. 17), o processo se apresenta

    como um instrumento pronto viabilizao de maior nmero de solues justas e

    pacficas dos conflitos porque, quando se fala em processo, a contenda

    solucionada por um terceiro sujeito, alheio s questes que esto sendo debatidas.

    Esclarece, ainda, Alvim (2005, p. 18) que,

    Para que o processo produza resultados preciso que esse terceiroimparcial que decide o conflito seja mais forte do que as parteslitigantes, para que possa impor sua vontade, coativamente, frente aqualquer intuito de desobedincia ou descumprimento por parte doscontendores. Compreende-se, pois, que este terceiro seja o Estado.

    Vrios doutrinadores preocuparam-se em definir o processo. Alvim

    traz-nos alguns conceitos cunhados na doutrina.

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    que, em nossa disciplina, o direito ser melhor compreendido quando classificado

    em direito material e direito processual.

    Passemos ento a uma breve anlise sobre o direito material e o

    direito processual, de acordo com o que leciona Rocha (2005, p. 32-34), que

    assim ilustra a diferena entre ambos.

    DIREITOMATERIAL PROCESSUALConjunto de normas de valorao dascondutas sociais, visando proteo dosinteresses considerados essenciais manuteno de uma dada formao socialcuja aplicao garantida, pelo aparelhocoativo do Estado.

    Conjunto de normas jurdicas que dispemsobre a constituio dos rgos jurisdicionais esua competncia, disciplinando essa realidadeque chamamos processo.

    O direito material disciplina as condutas

    materiais, isto , condutas cuja realizao nocria novas normas jurdicas, mas situaesmateriais.

    O direito processual um conjunto de normas

    que tem por objetivo disciplinar os atos devontade dos rgos jurisdicionais e partes, paraa criao da norma do caso concreto (decisodo conflito) e sua eventual execuo.

    O Direito Material consiste no conjunto de princpios e normas que

    regulam os fatos e relaes sociais, ou seja, so as normas que disciplinam as

    condutas humanas e pode ser subdividido em: Direito Civil, Administrativo,

    Comercial, Tributrio, Trabalhista, Constitucional, Penal etc.

    O Direito Processual pode ser compreendido como o complexo de

    normas e princpios que regem o exerccio da jurisdio. , assim, uminstrumentopara a concretizao do Direito Material.

    1.5 A Norma Processual

    A norma jurdica, em sentido amplo, tem por objeto a regulao da

    conduta humana, criando direitos e estabelecendo obrigaes. As normas

    processuais, ao contrrio, disciplinam os meios de defesa dos direitos

    estabelecidos pela norma material.

    a) Objeto da norma processual

    Conforme leciona Coelho (2004, p. 151-152), o objeto maior das normas

    processuais disciplinar a atividade do Estado e dos litigantes, bem como o

    desenvolvimento do processo. A finalidade da norma processual estabelecer a

    forma de soluo dos conflitos, por meio do processo.

    PENSANDO SOBRE O ASSUNTO:

    E como pode a lei processual ser aplicada na soluo dos conflitos por meio do

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    processo? Quem a aplica?

    Aqui nos reportamos clssica tripartio de poderes de Montesquieu,

    pela qual a atividade jurisdicional reconhecida como uma das funes do

    poder estatal, ao lado das funes administrativas e legislativas.

    Assim, para exercer a atividade jurisdicional no mbito do sistema jurdico,

    faz-se necessrio a verificao do disposto no princpio da investidura, pelo qual o juiz

    necessita estar investido do Poder delegado pelo Estado, para exercer a atividade

    judicante e aplicar a norma material e a norma processual ao caso concreto.

    b) Diviso da norma processual na doutrina

    A doutrina classifica a norma processual em trs grandes grupos:

    normas processuais em sentido estrito: so as que cuidam do

    processo como tal, atribuindo poderes e deveres processuais;

    normas de organizao judiciria: tratam primordialmente da criao e

    da estrutura dos rgos judicirios e seus auxiliares;

    normas procedimentais: dizem respeito apenas ao modus procedendi,

    inclusive estrutura e coordenao dos atos processuais que compem o

    processo.

    Essa diviso acatada pela prpria Constituio Federal nos arts. 22,inciso I e 24, inciso XI. Vejamos cada uma delas.

    Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre:

    I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrrio, martimo,

    aeronutico, espacial e do trabalho; [...].

    Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar

    concorrentemente sobre:

    XI - procedimentos em matria processual; [...].

    c) Natureza da norma processual

    A norma processual parte integrante do Direito Pblico, uma vez que

    por meio da mesma que se desenvolve a atividade jurisdicional. Assim,

    quando falamos em norma processual, no propriamente uma relao de

    coordenao, mas, como nos ensinam Grinover e outros (2001, p. 90), uma

    relao de poder e sujeio, predominando sobre o interesse pblico na

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    Como as demais normas jurdicas, a norma processual tambm

    limitada no tempo, considerado o disposto no direito intertemporal. Dois

    aspectos devem ser levados em considerao. Vamos a eles:

    as leis processuais brasileiras submetem-se ao disposto na Lei de

    Introduo do Cdigo Civil - LICC, no tocante observncia da eficcia

    temporal das leis. Em regra, quando no se dispuser de forma contrria,

    ou no silncio da lei, a mesma entra em vigor, em todo o pas, quarenta

    e cinco dias aps sua publicao;

    problema maior ocorre quando a lei incidir sobre situaes idnticas,

    para se estabelecer qual das leis - se a anterior ou a posterior - deve ser

    aplicada ao caso concreto. Como nos ensina Grinover e outros (2001, p.98), o processo se constitui por uma srie de atos que se desenvolvem e

    se praticam sucessivamente no tempo (atos processuais integrantes de

    uma cadeia unitria, que o procedimento), torna-se particularmente

    difcil e delicada a soluo do conflito temporal de leis processuais.

    Ocorrendo o conflito de normas processuais no tempo, devemos

    analisar os sistemas propostos por Grinover e outros (2001, p. 98), que

    poderiam ser em tese levados em considerao, realando o sistema doisolamento dos atos processuais que o sistema consagrado na doutrina

    brasileira, alm de estar expresso no CPP e no CPC. So eles:

    Sistema da unidade processual: apesar de se desdobrar em vrios atos,

    o processo apresenta uma unidade que somente poderia ser regulado por

    uma nica norma, seja nova ou velha, devendo a velha se impor para no

    ocorrer a retroao da nova, com prejuzo dos atos praticados at a sua

    vigncia; Sistema das fases processuais: sistema no qual distinguir-se-iam

    fases processuais autnomas (postulatria, ordinatria, instrutria,

    decisria e recursal), cada uma delas capaz de ser disciplinada por uma

    lei diferente;

    Sistema do isolamento dos atos processuais: pelo qual a lei nova

    no atinge os atos processuais j praticados, nem seus efeitos, mas se

    aplica aos atos processuais a praticar, sem limitaes relativas s

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    chamadas fases processuais.

    e) Interpretao da lei processual

    No podemos deixar de levar em considerao que a interpretao e a

    aplicao das normas processuais esto subordinadas s mesmas regras das

    normas materiais. As normas processuais seguem as disposies contidas

    nos arts. 4 e 5 da Lei de Introduo do Cdigo Civil Brasileiro (GRINOVER e

    outros, 2001, p. 102).

    SAIBA MAIS:

    Art. 4. LICC: Quando a lei for omissa, o juiz decidir o caso de acordo com a

    analogia, os costumes e os princpios gerais de direito.

    Art. 5. LICC: Na aplicao da lei, o juiz atender aos fins sociais a que ela sedirige e s exigncias do bem comum.

    Esclarecem, ainda, os autores acima mencionados, que, para no

    deixar dvidas quanto aplicao daquelas regras, o Cdigo de Processo

    Penal dispe de forma expressa no seu art. 3 a lei processual penal admitir

    interpretao extensiva e a aplicao analgica, bem como o suplemento dos

    princpios gerais de direito.

    As normas processuais, tais como as normas materiais, necessitam,por vezes, de que se preencham as lacunas da lei. Dessa forma, para se

    preencher as lacunas verificadas na lei, podero se fazer uso da integrao,

    conforme se extrai da leitura do art. 126 do CPC: O juiz no se exime de

    sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei.

    O preenchimento das lacunas da lei, de acordo com Grinover e outros

    (2001, p. 102), ser feito por meio da analogia e pelos princpios gerais do direito.

    Aps o estudo da presente aula, podemos concluir que, a soluo dosconflitos entre os homens sofreu uma grande transformao durante a sua

    evoluo histrica, passando da vingana privada, onde os mais fortes sempre

    venciam os mais fracos, at chegar ao modelo atual em que o Estado chama para

    si a tarefa de dizer o Direito, com o fim de solucionar os conflitos da maneira

    menos injusta possvel.

    Sntese da aula

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    Esta aula foi planejada com o intuito de transmitir aos alunos

    conhecimentos bsicos sobre a soluo dos conflitos de interesses entre os

    homens, a lide e os elementos que a compem. Vimos as formas de soluo

    dos conflitos e as diferenas entre Direito Processual e Direito Material.

    Estudamos a diferenciao entre as normas materiais e as normas

    processuais; bem como apresentamos as particularidades destas, como seu

    objeto, sua natureza, suas caractersticas, a eficcia da lei processual no

    tempo e no espao e sua interpretao.

    Atividades

    1. correto afirmar, em relao s normas, que:

    a) as normas materiais disciplinam os meios de defesa dos direitos;b) as normas processuais visam a assegurar o cumprimento das normas

    materiais, estabelecendo a forma de possveis conflitos, por meio da

    aplicao das normas substanciais;

    c) o objeto da norma processual disciplinar somente a atividade do

    Estado e dos litigantes;

    d) a natureza jurdica da norma processual de direito privado.

    2. Em relao lide, correto afirmar, que:

    a) os elementos formais da lide so a pretenso e o conflito de interesses;

    b) a lide pode ser definida como o conflito de interesses, qualificado por

    uma pretenso resistida ou insatisfeita;

    c) os elementos da lide so o material e o conflito de interesses.

    3. Qual o marco distintivo entre as normas cogentes e as normas dispositivas?

    4. Disserte, em 20 linhas, sobre a eficcia da lei processual no tempo e no espao.

    Comentrio das atividades

    Se voc compreendeu os contedos ministrados nesta aula, verificou que

    h diferenas substanciais entre as normas processuais e as normas materiais.

    Assim, voc verificou que, na questo 1, a alternativa (b) est correta, uma vez

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    que as normas processuais asseguram o cumprimento do direito previsto na

    norma material, estabelecendo a maneira da norma material ser aplicada. A

    alternativa exposta na letra (a) est errada, uma vez que so as normas

    processuais que definem os meios de defesa dos direitos. A alternativa (c) est

    errada, uma vez que a norma processual no disciplina a atividade do Estado e

    dos envolvidos na lide. Por fim, a alternativa exposta na letra (d), tambm no est

    correta, uma vez que a norma jurdica processual de direito pblico.

    Em relao questo 2, voc pode observou que ela definida como

    o conflito de interesses, qualificado por uma pretenso resistida ou no

    satisfeita. Assim, a alternativa (b) a correta. A Alternativa (a) est errada, uma

    vez que a pretenso e o conflito de interesses so elementos materiais da lide.A alternativa (c) tambm est errada, uma vez que os elementos da lide so: o

    forma e o material. O conflito de interesse o elemento material da lide.

    Em relao questo 3, em sua resposta voc deve ter levado em

    considerao que as normas cogentes so obrigatrias e no podem sofrer

    alterao pelos particulares e as facultativas, diferentemente das cogentes,

    so permissivas.

    Voc que se props a estudar nestes contedos a aplicao dasnormas jurdicas no espao e no tempo, precisou reconhecer as formas de

    soluo dos conflitos com a aplicao das normas aos casos concretos. Voc

    atingiu esse objetivo respondendo questo 4, se a resposta foi delineada,

    levando em conta o territrio em que ela pode ser aplicada (eficcia no espao)

    e por quanto tempo (eficcia no tempo), levando em considerao questes

    sobre o vigncia no tempo e solues de direito intertemporal.

    As atividades lhe conferiram a oportunidade de reconhecer os conceitosbsicos ao Direito Processual e as formas de resoluo dos conflitos jurdicos e

    de distinguir o Direito Material do Direito Processual.

    Referncias

    ALVIM, J. E. C. Teoria Geral do Processo. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.CINTRA, A. C. A.; DINAMARCO, C. R.; GRINOVER, A. P. Teoria Geral doProcesso.21. ed. So Paulo: Malheiros, 2005.

    ROCHA, J. de A. Teoria Geral do Processo. 8. ed. So Paulo: Atlas, 2005.

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    Na prxima aula

    Estudaremos os princpios do direito processual tendo por base os aspectos

    constitucionais ligados ao tema e as funes dos princpios gerais.

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    AULA 2 Princpios do direito processual

    Objetivos

    Esperamos que, ao final desta aula, voc seja capaz de:

    reconhecer os princpios que do forma ao Direito Processual, a

    partir da doutrina e da Constituio Federal;

    identificar as funes desses princpios.

    Pr-requisitos

    Para voc alcanar os objetivos propostos, interessante que leia arespeito do assunto nas obras indicadas na bibliografia bsica, bem como as

    fontes do Direito, estudados na disciplina Introduo ao Estudo do Direito, pois

    daro a voc embasamento terico para a compreenso da presente aula.

    Introduo

    O estudo dos princpios no mbito da cincia jurdica fator de grande

    relevncia. Isso porque os princpios so como leitores de uma realidade,considerados como sobre-normas que informam os fundamentos do Direito.

    Sinalizam, tambm, uma varredura dos caminhos a serem percorridos pelo

    intrprete do Direito, que faz uso dos mesmos ao interpretar as normas, em

    harmonia com os valores consagrados na Constituio Federal.

    Neste tema, a nfase ser dada aos princpios que se aplicam de

    forma geral Teoria Geral do Processo e, medida que aprofundarmos no

    estudo do Direito Processual Penal e do Direito Processual Civil, realaremosos princpios inerentes a cada uma dessas disciplinas.

    2.1 Princpios gerais do direito processual

    Ao tomar como ponto de partida o fato de que ns vivemos em um

    Estado Democrtico de Direito, no poderamos deixar de iniciar o estudo

    sobre princpios relacionando-os nossa ordem constitucional.

    Dinamarco (2001, p. 191) leciona que:

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    A tutela constitucional do processo feita mediante os princpios e

    garantias que, vindos da Constituio, ditam padres polticos para a vida

    daquele. Trata-se de imperativos cuja observncia penhor da fidelidade do

    sistema processual ordem poltico-constitucional do pas.

    Tomando por base as noes de direito vistas na disciplina Introduo ao

    Estudo do Direito, necessrio visualizar as fontes do Direito, uma vez que os

    princpios gerais do direito encontra-se entre elas. Alis, a prpria Lei de

    Introduo ao Cdigo Civil - LICC reporta-se aos princpios como fonte de direito,

    no seu art. 4, que dispe o seguinte: quando a lei for omissa, o juiz decidir o

    caso de acordo com a analogia, os costumes e os princpios gerais de direito.

    O quadro a seguir demonstra quais so as fontes do direito.FONTES DO DIREITOMATERIAIS FORMAIS Valores sociais Elementos culturais Vontade do povo etc.

    ESTATAIS NO ESTATAIS Lei Jurisprudncia Conveno Internacional

    Costumes Doutrina Princpios Gerais do Direito

    Para ilustrar a importncia do estudo dos princpios, necessrio

    mencionar, inicialmente, as funes dos mesmos. Rocha (2005, p. 42-43)

    enumera trs funes dos princpios no Direito Processual. So elas:

    FunoFundamentadora

    FunoOrientadora da Interpretao

    FunoDe Fonte Subsidiria

    Os princpios constituem a raizde onde deriva a validezintrnseca do contedo dasnormas jurdicas.Quando o legislador se dispea normatizar a realidade

    social, o faz sempre, a partirde algum princpio.Os princpios so idiasbsicas que servem defundamento ao DireitoPositivo.

    A funo orientadora decorre dafuno fundamentadora do direito.Se as leis so informadas oufundamentadas nos princpios,ento devem ser interpretadas deacordo com os mesmos, porque

    so eles que do sentido snormas.Os princpios servem, pois, deguia e orientao na busca dosentido e alcance das normas.

    Nos casos de lacunas da lei osprincpios atuam comoelemento integrador do direito.Como a lei funda-se nosprincpios, estes servem, sejacomo guia para a compreenso

    do seu sentido (interpretao),seja como guia para o juizsuprir a lacuna da lei, isto ,como critrio para o juizformular a norma do casoconcreto.

    Uma discusso que se coloca presente quando falamos de princpios,

    j nos remetendo matria processual, o que a doutrina tende a nomear de

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    princpios formativos do processo. Esta discusso se faz presente, como

    leciona Dinamarco (2001, p. 195-196):

    A tcnica processual inclui tambm um nmero extenso de regras degrande importncia, desenvolvidas ao longo dos sculos e daexperincia acumulada, sendo responsveis pela boa ordem doprocesso e correto encaminhamento de suas solues.Rigorosamente, contudo, no se qualificam como princpios porquetm lugar no interior do sistema e no atuam como pilares sobre osquais este se apia.

    Dentre esses princpios tcnicos, destacam-se, quase que de forma

    unnime, segundo a doutrina:

    I - princpio econmico: voltado s questes de economia processual;

    II - princpio lgico: seleo de meios eficazes descoberta da verdade e dassolues corretas, evitando erros;

    III - princpio jurdico: postula a igualdade no processo e a fidelidade dos

    julgamentos ao Direito Substancial;

    IV - princpio poltico: direcionado ao binmio representado pelo mximo

    possvel de garantia social com o mnimo de sacrifcio pessoal.

    Estudados os princpios informativos do processo, passamos ao estudo

    dos princpios de ndole poltico-constitucional ou, ainda, dos princpiossustentculos da Teoria Geral do Processo. Elegemos para nosso estudo os

    elencados por Rocha (2005, p. 45/49), que passamos a expor de forma sintetizada.

    a) princpio da independncia: o Princpio da independncia pode ser visto

    sob duas ticas. Pode ser entendido sob a tica da instituio judiciria (art. 2

    da CF) ou do juiz, pessoa fsica (art. 95 da CF). Dessa forma, por

    independncia pode-se entender tanto a ausncia de sujeio a ordens de

    outros poderes, bem como as garantias de imparcialidade que garantem ao juizcerta estabilidade, especialmente nas causas em que o Estado parte.

    b) princpio da imparcialidade: significa em resumo, a eqidistncia do juiz das

    partes e seus interesses nos processos em que atua. A imparcialidade pode ser

    subjetiva (quando disser respeito s partes) e objetiva (quando disser respeito aos

    interesses). Vale lembrar, porm, que as idias polticas do juiz no comprometem

    a sua imparcialidade, que s pode ser exigida sob a gide do caso concreto;

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    c) princpio do juiz natural: estabelece um trplice entendimento. Num

    primeiro momento significa que a instituio dos juzos e tribunais devem ser

    anteriores ao fato ensejador de sua atuao. Num segundo momento, que a

    competncia dos rgos deve ser estabelecida por regra geral. E, por ltimo,

    requer que a designao dos juzes seja feita com base em critrios gerais,

    estabelecidos por lei ou procedimentos fixados em lei.

    d) princpio da exclusividade da jurisdio pelo Judicirio: em sntese, o

    princpio quer dizer que nenhum conflito pode ser excludo da apreciao do

    judicirio. Art. 5, XXXV: a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio

    leso ou ameaa a direito.

    SAIBA MAIS:Art. 5, XXXV. A lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou

    ameaa a direito.

    O princpio, porm, comporta temperamentos, uma vez que a prpria

    Constituio estabelece a exceo do art. 52, incisos I e II, que dita regra de

    competncia privativa ao Senado Federal, para processar e julgar o Presidente

    e o Vice-Presidente da Repblica, nos crimes de responsabilidade, bem como

    os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exrcito e daAeronutica, nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles e, ainda, os

    Ministros do Supremo Tribunal Federal, o Procurador Geral da Repblica e o

    Advogado Geral da Unio, nos crimes de responsabilidade. No mbito

    infraconstitucional, ressalta-se, tambm, a ttulo de exceo do princpio da

    exclusividade da jurisdio pelo judicirio, os conflitos dirimidos por rbitros

    luz da Lei n 9.307/1996:

    e) princpio da inrcia:o processo no pode principiar por iniciativa do juiz.Pode-se dizer que deriva do princpio da independncia (visa a resguardar a

    imparcialidade do juiz) e do acesso justia;

    f) princpio do acesso justia: a possibilidade garantida pela Constituio

    Federal, no seu art. 5, XXXV, para que todos possam pleitear a proteo

    jurisdicional do Estado;

    g) princpio do devido processo legal: princpio expresso no art. 5, LIV, da

    Constituio Federal que estabelece ningum ser privado da liberdade ou

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    de seus bens sem o devido processo legal. Assim, cabe ao Judicirio

    observar o processo estabelecido em lei, a fim de que este assegure o respeito

    s garantias e direitos fundamentais aos que a ele se submetem;

    h) princpio da igualdade: derivado do princpio do devido processo legal.

    Expresso na Constituio Federal no art. 5 caput. Atualmente, temos que

    enxergar o princpio da igualdade no s sob a tica da igualdade formal, mas

    tambm do aspecto da igualdade substancial;

    i) princpio do contraditrio: decorre da prpria estrutura dialtica do

    processo. Pressupe que a verdade s pode ser evidenciada pelas teses

    contrapostas das partes. Por este princpio, o rgo judicante no pode decidir

    uma demanda, sem ouvir a parte contra qual ela foi proposta;j) princpio da ampla defesa: previsto no art. 5, inciso LV da Constituio

    Federal. Por este princpio, entende-se que as partes podem produzir provas

    de maneira ampla, quando observados os meios lcitos conhecidos e

    permitidos pelo direito. A ampla defesa, em sentido amplo, significa a

    observncia de dois ngulos: a defesa tcnica, que a defesa por advogado, e

    a defesa no tcnica, que consiste no direito de presena;

    l) princpio da liberdade da prova: expresso na Constituio Federal, no seuart. 5, LVI so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meio ilcito.

    Assim, sero admitidos todos os meios de prova em direito, admitidas desde

    que no sejam obtidas por meio ilcito;

    m) princpio da publicidade: o princpio da publicidade destina-se: (a) s

    partes; e (b) ao pblico em geral. Possui grande relevncia e tambm est

    expresso na Constituio Federal no seu art. 93, IX;

    n) princpio dos recursos: no Brasil, o recurso constitui-se garantia fundamentalinerente ampla defesa. A prpria estrutura dos rgos judicantes induz

    aceitao do princpio dos recursos, facultando a parte sucumbente a possibilidade

    de outro rgo jurisdicional reexaminar a deciso que lhe foi desfavorvel;

    o) princpio da motivao: a motivao das decises encontra-se expressa no

    art. 93, IX; portanto, o juiz, como intrprete e aplicador da lei, dever motivar

    suas decises, sob pena de cometer ato contrrio ao direito;

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    p) princpio da coisa julgada: visa a assegurar a efetividade das decises

    judiciais. Expresso na Constituio Federal no art. 5, XXXVI: a lei no

    prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada;

    q) princpio da justia gratuita: pode ser considerado como a manifestao do

    princpio da igualdade material no processo. princpio expresso na Constituio

    Federal no art. 5 LXXIV: o Estado prestar assistncia jurdica integral e gratuita

    aos que comprovarem insuficincia de recursos., bem como no art. 134, tambm

    da Constituio Federal: A Defensoria Pblica instituio essencial funo

    jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientao jurdica e a defesa, em todos

    os graus, dos necessitados na forma do art. 5, LXXIV.

    Sntese da aula

    Nesta aula, tivemos a oportunidade de estudar as fontes do direito, as

    funes dos princpios gerais do direito e os princpios informativos do

    processo, luz da Constituio federal, que do sustentabilidade Teoria

    Geral do Processo. Estudamos, de forma especfica, os princpios da

    independncia, da imparcialidade, do juiz natural, da exclusividade da

    jurisdio pelo judicirio, da inrcia, do acesso justia, do devido processolegal, da igualdade, do contraditrio, da ampla defesa, da liberdade da prova,

    da publicidade, dos recursos, da motivao, da coisa julgada e da justia

    gratuita.

    Atividades

    1. Em relao aos princpios, correto afirmar que:

    a) as funes dos princpios no Direito Processual so a funofundamentadora e a funo de fonte subsidiria;

    b) a funo fundamentadora dos princpios atua nos casos de lacunas da lei;

    c) a funo de fonte subsidiria consiste em que os princpios constituem a

    raiz de onde deriva a validez intrnseca do contedo das normas

    jurdicas;

    d) so funes dos princpios no Direito Processual: a fundamentadora, a

    orientadora da interpretao e a fonte subsidiria;

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    e) pelo princpio da inrcia, o juiz pode iniciar o processo.

    2. Das alternativas a seguir apresentadas, uma no representa o princpio da

    imparcialidade do juiz. Marque-a.

    a) O princpio determina a imparcialidade em relao s partes envolvidas

    na demanda.

    b) O princpio determina a imparcialidade em relao aos interesses

    envolvidos na demanda.

    c) O princpio representa a eqidistncia do juiz em relao s partes e aos

    interesses envolvidos nos processos em que atua.

    d) Exterioriza a imparcialidade que o juiz deve ter perante as partes eperante os interesses, ressalvados os casos em que as posies

    polticas, morais e religiosas do magistrado estejam em choque com o

    processo.

    3. Em que consiste o princpio do devido processo legal?

    4. correto afirmar que os princpios do Direito Processual servem para suprirlacunas normativas?

    Comentrio das atividades

    Se voc compreendeu os tpicos trabalhados nesta aula, verificou que,

    para a questo 1, a resposta correta a descrita na letra (d), uma vez que so

    trs as funes dos princpios no Direito Processual: a funo fundamentadora; a

    funo orientadora da interpretao e a funo de ser fonte subsidiria do direito.Por estarem incompletas, as alternativas (a) e (b) esto erradas. A alternativa c

    est errada, uma vez que os princpios, como fonte subsidiria do direito, tm por

    finalidade auxiliar na interpretao das leis. Por fim, a letra d est errada, uma

    vez que, pelo princpio da inrcia, a atuao do juiz deve ser provocada.

    Em relao questo 2, voc estudou que o princpio da imparcialidade

    se dirige ao juiz ao conduzir um processo. Neste sentido, ele no pode sofrer

    influncias externas. Reconhecendo, assim, o princpio da imparcialidade, voc

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    AULA 3 Jurisdio e competncia

    Objetivos

    Esperamos que, ao final desta aula, voc seja capaz de:

    definir o que jurisdio e apontar suas caractersticas;

    conhecer os princpios, os fins e as espcies da jurisdio.

    Pr-requisitos

    Para voc alcanar os objetivos propostos, interessante que leia a

    respeito do assunto nas obras indicadas na bibliografia bsica, bem como asaulas 1 e 2 deste caderno de contedos e atividades, pois daro a voc

    embasamento terico para a compreenso da presente aula.

    Introduo

    Para o Estado desempenhar sua funo jurdica, necessita de se ater

    a duas ordens de atividades: a legislao e a jurisdio. A primeira ordem

    estabelece as normas que regulam a vida em sociedade, ditando o que lcitoe o que ilcito, atribuindo direitos e obrigaes. J a segunda ordem se

    caracteriza pela atuao do Estado, com o intuito de solucionar os conflitos de

    interesses, declarando qual o preceito que se aplica ao caso concreto. Dada

    a forma com que o Estado brasileiro organizado, especialmente em relao

    ao Poder Judicirio, necessrio definir quem tem competncia legal para

    aplicar a norma vigente ao caso concreto.

    3.1 Definio de jurisdio

    Juris + dictio= dizer o direito

    Muitos autores, para definir o que jurisdio, levam em conta apenas

    o significado literal da palavra, assim, para defini-la, apoiamos-nos em Coelho

    (2004, p. 180). Pode-se considerar, num primeiro momento, que a funo do

    Estado, concretizada pelo Poder Judicirio, de dizer o direito.

    Boa parte da doutrina prefere conceituar a jurisdio da seguinte

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    forma: funo do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos

    interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificao do conflito

    que os envolve com justia (GRINOVER e outros, 2001, p. 131).

    3.2 Jurisdio enquanto poder

    A jurisdio, enquanto manifestao do poder estatal, pode ser

    conceituada, segundo Grinover e outros (2001, p. 131), como a capacidade de

    decidir imperativamente e impor decises. Assim, a jurisdio gera um poder

    de imprio, no qual as decises, quando no acolhidas espontaneamente, so

    impostas, a fim de gerar eficcia atingindo sua finalidade.

    3.3 Jurisdio enquanto funo

    A jurisdio uma funo estatal, visto que, salvo em casos especiais,

    no se permite a autotutela, como visto nas unidades anteriores. Ela

    representa o poder de julgar, que decorre do imperiumpertencente ao Estado.

    A jurisdio, como funo do Estado, representa, de acordo com

    Coelho (2004, p. 181):

    a) poder: manifestao do imperium(autoridade, domnio) do Estado, por meio

    do qual impe e determina o cumprimento coativo (atravs da fora se

    necessrio) de suas decises;

    b) funo: atribuio prpria dos rgos jurisdicionais de prestarem a tutela

    jurisdicional, para que ocorra a pacificao social;

    c) atividade: complexo de atos praticados no processo pelos juzes e auxiliares

    como representantes do Estado.

    3.4 Caractersticas da jurisdio

    Vrias so as caractersticas da jurisdio. Dentre elas, Coelho (2004,

    p 181 e182) destaca as seguintes:

    a) imparcialidade do juiz: o juiz, como agente ou representante do Estado,

    age de forma imparcial no processo;

    b) inrcia: como decorrncia da adoo do princpio da ao ou da demanda,

    preciso acionar, movimentar o Poder Judicirio, pois seus rgos so inertes,

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    de acordo com os brocardos jurdicos que ilustramos a seguir:

    Nemo judex sine actore =no h juiz sem autor

    Ne procedat judex ex officio =o juiz no deve proceder de ofcio

    c) observncia do contraditrio: no exerccio da atividade jurisdicional do

    Estado, est presente a possibilidade de contrariar, contradizer, contestar o

    que foi alegado pela parte contrria. O contraditrio aqui se perfaz por dois

    elementos: (i) informao e (ii) reao;

    d) coisa julgada e irrevogabilidade dos atos jurisdicionais pelos outros

    poderes: a coisa julgada definida em nosso direito como sendo a eficcia

    que torna imutvel e indiscutvel a sentena, no mais sujeita a recurso;

    e) atividade substitutiva: conforme Chiovenda citado por (Coelho, 2004, p.182), a jurisdio

    [...] a funo do Estado que tem por escopo a atuao da vontadeconcreta da lei por meio da substituio, pela atividade dos rgospblicos, da atividade de particulares ou de outros rgos pblicos, jno afirmar a existncia da vontade da lei [processo de conhecimento],j no torn-la, praticamente efetiva, [processo de execuo].

    f) atividade voltada para a soluo de uma lide:a existncia de uma lide ou

    litgio corresponde ao conflito de interesses caracterizado por uma pretensoresistida, o fator que, para Carnelutti, identifica a jurisdio e serve para

    diferenci-la das demais funes estatais;

    g) carter pblico: essa caracterstica decorre do fato, de a jurisdio estar

    relacionada ao Estado e ser voltada para a satisfao dos interesses pblicos;

    h) instrumental: a jurisdio o instrumento para a realizao do direito

    material. Sua existncia liga-se suposta existncia de uma relao jurdica

    material, servindo para tornar efetivo os comandos normativos que regulam os

    relacionamentos disciplinados pelo direito;

    i) inafastabilidade ou indeclinabilidade: O art. 5, XXXV da CF dispe que a

    lei no poder excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa de

    direito. Assim, no h como afastar o controle jurisdicional e os juzes; por

    outro lado, no podem declinar de suas atribuies, j que atuam em nome do

    Estado e no para a satisfao de interesses pessoais;

    j) presena do juiz natural: o juiz natural aquele que se liga ao litgio antes

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    mesmo de sua ocorrncia. Sua competncia para solucionar determinados

    tipos de conflitos previamente estabelecida em lei;

    l) territorialidade: a atividade de dizer o direito adere a determinado territrio,

    consoante a idias de soberania.

    3.5 Fins da Jurisdio

    Fredie Didier Junior (2003, p. 39) apresenta-nos os fins da jurisdio.

    Segundo o autor, a jurisdio encontra-se arrimada em trs fins. So eles:

    I - O escopo jurdico: atuao da vontade concreta da lei. Ajurisdio tem por fim primeiro, portanto, fazer com que se atinjam,em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito objetivo

    substancial. A aplicao ou a realizao do Direito objetivo no umaatividade privativa ou especfica da jurisdio. Os particulares,quando cumprem a lei, realizam o direito objetivo;II - O escopo social: Promover o bem-comum, com a pacificaocom justia, pela eliminao dos conflitos alm da conscincia dosdireitos prprios e respeito aos alheios. Como forma de expresso depoder do estado, deve-se canalizar fins do Estado. Perceba que,aqui, o fim jurisdio em si mesma, no das partes, pois ningumseria ingnuo de afirmar que algum entra com uma aocondenatria contra outrem por interesses altrustas;III - O escopo poltico: O Estado busca a afirmao de seu poder,alm da participao democrtica (ao popular, aes coletivas,presena de leigos nos juizados etc.) e a preservao do valor

    liberdade, com a tutela das liberdades polticas por meio dosremdios constitucionais (tutela constitucional da liberdade).

    Desta forma, a atuao da vontade concreta da lei, a promoo do

    bem-comum, e a busca da afirmao do poder estatal, so os pilares do

    instituto jurdico da jurisdio.

    3.6 Princpios da Jurisdio

    O instituto jurdico da jurisdio fundado em diversos princpios, taiscomo:

    a) Princpio da investidura: o Estado atua por meio de seus rgos. E, assim

    sendo, somente os agentes polticos investidos do poder estatal de aplicar o

    direito ao caso concreto que podem exercer a jurisdio.

    A investidura se d, em regra, por aprovao em concursos pblicos de ttulos

    e conhecimento jurdico. Alm desta via, a investidura poder ocorrer, tambm,

    pela nomeao direta, por ato do chefe do Poder Executivo, nos casos

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    previstos em lei, de pessoas com prvia experincia e notvel saber jurdico,

    por exemplo, o ingresso na magistratura pelo quinto constitucional, ou

    nomeao dos ministros dos tribunais superiores.

    b) Princpio da aderncia ao territrio: o exerccio da jurisdio, por fora do

    princpio da territorialidade da lei processual, est atrelado a uma prvia delimitao

    territorial. Grinover e outros (2001, p. 138) leciona que, por existirem muitos juzes

    no mesmo pas, distribudos em comarcas, pode-se da inferir que cada juiz s

    exerce sua autoridade nos limites do territrio sujeito por lei sua jurisdio;

    c) Princpio da indelegabilidade: como a jurisdio investida aps

    preenchimento de rigorosos critrios tcnicos, como nos concursos pblicos,

    por exemplo, no podem os investidos na funo delegar o nus que a prpriaConstituio lhe atribuiu com exclusividade.

    d) Princpio da inevitabilidade: a situao das partes (autor e ru) ser a de

    sujeio quanto ao decidido pelo rgo jurisdicional, independentemente da

    vontade das partes ser contrria deciso proferida pelo Estado-juiz.

    e) Princpio do juiz natural: apregoa que todos tm direito de ser julgados por

    um juzo independente e imparcial, previsto como rgo legalmente criado e

    instalado anteriormente ao surgimento da lide. diametralmente oposto aosTribunais de Exceo. Ex.: Tribunal de Nuremberg, criado aps a Segunda

    Guerra, para julgamento dos delitos praticados pelos nazistas.

    3.7 Unidade da jurisdio

    Rocha (2005, p. 92) afirma que

    [...] quando falamos em espcies de jurisdio, temos em vista no

    uma pluralidade de funes jurisdicionais, mas a diversidade dasmatrias sobre as quais se exerce a jurisdio, ou outrasparticularidades, que impem a repartio das atribuies jurisdicionaisentre diferentes rgos, o que, contudo, no informa a tese de suaunidade, vez que em todas essas situaes a jurisdio , sempre, amesma funo soberana do Estado de dizer ou executar coativamenteo direito no caso concreto, em ltima instncia, e de modo definitivo eirrevogvel.

    Reforando a idia de unidade da jurisdio, resultado do fato de ser

    esta uma atribuio fundamental do Estado exercida por ele em regime de

    exclusividade significa, Rocha (2005, p. 91) afirma que s o Estado a exerce,

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    atravs dos rgos por ele institudos, e que s esses rgos podem prestar o

    servio pblico da justia, com aquelas caractersticas de criatividade,

    definitividade e irrevogabilidade.

    No nosso sistema jurdico, o princpio da unidade da jurisdio

    encontra-se expresso no art. 5, incisos XXXV e XXXVII, e no art. 93 da

    Constituio Federal. No ordenamento infraconstitucional, este princpio est

    insculpido no art. 345 do Cdigo Penal.

    3.8 Jurisdio comum e jurisdio especial

    A jurisdio comum, como leciona Rocha (2005, p. 92), aquela que

    tem carter geral; portanto, diz respeito generalidade dos interesses por

    tutelar. Ensina, ainda, o autor que

    jurisdio comum cabe conhecer de todas as controvrsias,excludas apenas aquelas que a lei reserva s jurisdies especiais.A jurisdio comum s est limitada no sentido negativo, poisconhecem todas as causas, menos as que so cometidas a outrasjurisdies.

    A jurisdio especial, ao contrrio, aquela que s conhece as

    matrias que a lei expressamente assim reconhece. De acordo com Rocha

    (2005, p.92), s opera em relao a certos interesses, tendo em vista suanatureza, a qualidade de seus titulares, etc.

    A prpria Constituio Federal dispe sobre as justias que exercem a

    jurisdio especial e as justias que exercem a jurisdio comum. Entre as que

    exercem jurisdio especial esto: a Justia Militar (arts. 122 a 124); a Justia

    Eleitoral (arts. 118 a 121); a Justia do Trabalho (arts. 111 a 117); e a Justia

    Militar Estadual (art. 125, 3.). No mbito da jurisdio comum, esto: a Justia

    Federal (art. 106 a 110); e a Justia Estadual Ordinria (art. 125 e 126).

    3.9 Jurisdio penal e jurisdio civil

    Rocha (2005, p. 93) esclarece que a jurisdio penal

    cuida dos conflitos disciplinados pelo Direito Penal comum eespecial. , pois, preposta atuao das normas penais, que secaracterizam por definirem os fatos punveis (crimes econtravenes) e lhes cominarem penas, que so as mais gravesdas sanes.

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    A jurisdio civil, por seu turno, define-se, segundo Rocha (2005, p.

    93), por excluso da jurisdio penal. Tudo quanto no cabe na jurisdio

    penal, por excluso, jurisdio civil. Tem, pois, por objeto, todas as matrias

    que a lei no confia jurisdio penal.

    3.10 Jurisdio superior e inferior

    Grinover e outros (2005, p. 155) mencionam que prprio da natureza

    humana o inconformismo, perante as decises desfavorveis do judicirio. Na

    maioria das vezes, a parte vencida quer nova oportunidade, para demonstrar

    suas razes e reivindicar novamente os seus direitos.

    A classificao da jurisdio em superior e inferior se d por conta da

    posio verticalizada dos rgos judicirios na estrutura organizacional do

    Poder Judicirio (ROCHA, 2005, p. 93).

    Grinover e outros (2005, p. 155) resumem em breves linhas essa

    estrutura organizacional do Poder Judicirio. Ensinam eles que

    Chama-se jurisdio inferior quela exercida pelos juzes queordinariamente conhecem do processo desde o seu incio

    (competncia originria): trata-se na Justia Estadual, dos juzes dedireito das comarcas distribudas por todo o Estado, inclusivecomarca da Capital. E chama-se jurisdio superior a exercida pelosrgos a que cabem os recursos contra as decises proferidas pelosjuzes inferiores. O rgo mximo, na organizao judiciriabrasileira, e que exerce a jurisdio em nvel superior ao de todos osoutros juzes e tribunais, o Supremo Tribunal Federal.

    Essa diviso no possui conotao hierrquica, mas apenas

    distribuio de trabalho, conforme a competncia de cada um desses rgos. E

    se d por conta da observao do princpio do duplo grau de jurisdio.

    3.11 Jurisdio voluntria e jurisdio contenciosa

    Didier (2003, p. 50) conceitua a jurisdio voluntria como a

    atividade jurisdicional que integra a vontade das partes; sem a participao do

    Estado-juiz, tal interesse no poderia ser tutelado. Aqui, o rgo judicial atua

    como fiscalizador da produo de vontade.

    Assim a jurisdio voluntria se d, no dizer do autor, como uma

    atividade integrativa e fiscalizadora, uma vez que h determinados atos

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    jurdicos dos particulares que se revestem de tal importncia, que os mesmos

    no poderiam se dar sem a participao do Estado-juiz.

    Didier (2003, p. 50-52) fornece argumentos para os que entendem a

    jurisdio voluntria como administrao pblica de interesses privados e para

    os que entendem a jurisdio voluntria como atividade jurisdicional. A seguir,

    apresentamos os argumentos presentes na defesa da jurisdio voluntria

    como administrao pblica dos interesses privados.

    JURISDIO VOLUNTRIA COMO ADMINISTRAO PBLICA DE INTERESSESPRIVADOSa) insuficincia de critrio orgnico:no por se tratar de atividades desenvolvidas pelo juizque poderiam ser consideradas jurisdicionais;b) no atuao do direito: no se visa atuao do direito ao caso concreto, mas sim constituio de situaes jurdicas novas;c) no haveria substitutividade: o magistrado se insere entre os participantes do negciojurdico, no os substituindo;d) no existncia de lide:no h lide e sim concurso de vontades;e) interessados: como no h conflito, no haveria partes e sim interessados;f) no haveria ao: pois esta consiste no poder de exercitar o judicirio;g) no h processo: no havendo ao, tambm no haveria processo e sim procedimento;h) no haveria produo de coisa julgada material: os atos em jurisdio voluntria s produzemcoisa julgada formal. O juiz nada declara com eficcia para fazer coisa julgada material.

    Na defesa da jurisdio voluntria como atividade jurisdicional, pesam

    os argumentos listados a seguir.JURISDIO VOLUNTRIA COMO ATIVIDADE JURISDICIONALa) redao legal: o art. 1 do CPC fala em jurisdio voluntria: Art. 1 do CPC: A jurisdiocivil, contenciosa e voluntria, exercida pelos juzes, em todo territrio nacional, conforme asdisposies que este Cdigo estabelece;b) outros escopos: a jurisdio possui outros escopos que no a simples atuao do direito(que no lhe caracterstica exclusiva);c) preventividade: a lide jamais poderia ser da essncia da jurisdio, pois, se assim o fosse,apenas as hipteses de tutelas repressivas teriam esta qualidade. A jurisdio voluntria possuicerta natureza preventiva;d) processo: a jurisdio voluntria se exerce por meio das formas processuais (petio inicial;sentena etc.), alm do que, no seria razovel defender-se a inexistncia de relao jurdica

    entre os interessados e o juiz;e) coisa julgada: no se trata de critrio diferenciador do ato jurisdicional, pois h hipteses dejurisdio contenciosa que no fazem coisa julgada material;f) conceito processual de parte: no h parte em sentido substancial, porquanto no hajaconflito de interesse material. Mas parte aquele que postula, da ser inadmissvel no serparte nesta situao;g) substitutividade: o juiz intervm para assegurar a tutela de um interesse a que ele semantm estranho, como terceiro imparcial mantendo sua independncia.

    A jurisdio contenciosa, na lio de Coelho (2004, p. 191), a

    exercida em funo de um conflito, litgio, ou, nas palavras de FRANCESCO

    CARNELUTTI, de um conflito de interesses qualificado por uma pretenso

    resistida. A doutrina costuma traar um paralelo realando as diferenas entre

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    a jurisdio voluntria e a jurisdio contenciosa, que transcrevemos a seguir:

    JURISDIO CONTENCIOSA JURISDIO VOLUNTRIAAtividade jurisdicional Atividade administrativaComposio de litgios Administrao pblica do direito privado

    Bilateralidade da causa Unilateralidade da causaQuestionam-se os direitos ou obrigaes deoutrem

    No se questionam obrigaes ou direitos deoutrem

    Envolve partes Envolve apenas interessadosH contraditrio ou possibilidade decontraditrio No h contraditrio

    H jurisdio No h jurisdioH ao No h ao

    H processo No h processo, mas apenas uma medidaadministrativaLegalidade estrita No h obrigatoriedade de legalidade estritaInter nolentes Inter volentesH coisa julgada No h coisa julgada

    H revelia No h reveliaEm regra, no h provas determinadas deofcio Qualquer prova pode ser determinada de ofcio

    Fonte: Maximilianus Cludio Amrico Fuhrer (2002, p. 48)

    3.12 Jurisdio de direito ou de eqidade

    Coelho (2004, p. 192) leciona que a jurisdio por eqidade encontra

    arrimo no disposto no art. 127 do CPC, que ora transcrevemos: o juiz s

    decidir por eqidade nos casos previstos em lei. Explica o autor que decidirpor eqidade significa decidir sem as limitaes impostas pela precisa

    regulamentao legal; que, s vezes, o legislador renuncia a traar, desde

    logo, na lei, a exata disciplina de determinados institutos, fato que deixa uma

    grande margem para a individualizao da norma pelos rgos jurisdicionais.

    Como exemplo, o prprio autor trabalha trs possibilidades: (i) a fixao de

    alimentos art. 1.694 do CC; (ii) a deciso na arbitragem art. 11 da Lei n.

    9.307/96; e a jurisdio voluntria art. 1.109 do CPC.

    3.13 Da Competncia

    Segundo Liebman citado porMenna (2005, p. 42), a competncia a

    quantidade de jurisdio cujo exerccio atribudo a cada rgo ou grupo de

    rgos. Assim podemos considerar a competncia como a repartio do poder

    estatal entre os rgos e seus respectivos agentes.

    Contudo, para se estabelecer a competncia de determinado juzo,

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    para julgar determinada causa, alguns critrios devem ser observados. Assim

    Grecco Filho (2002, p. 170), leciona que: A competncia, portanto, o poder

    que tem um rgo jurisdicional de fazer atuar a jurisdio diante de um caso

    concreto.

    3.14 Critrios de determinao de competncia

    Vrios critrios de determinao de competncia tero que ser

    examinados, a fim de que esta possa ser determinada. Comecemos pela

    Competncia Internacional.

    a) Da competncia internacional

    Grecco Filho (2002, p. 171) explica que, por ser necessrio a anlise

    de mltiplas etapas, para se apontar a competncia de determinado rgo, a

    primeira etapa a prpria definio da competncia internacional, segundo as

    normas dos arts. 88 a 90 do CPC, pois, se a lide no guarda nenhum elemento

    de conexo com o Brasil, nenhum rgo jurisdicional brasileiro ser

    competente para julg-la.

    Assim o art. 88 trata da competncia concorrente, ou seja, nos casos

    em que a autoridade judiciria brasileira competente para julgar, sem prejuzoda competncia de outra jurisdio estrangeira.

    O art. 89 do CPC, por seu turno, trata da competncia exclusiva. Nesta

    hiptese, a autoridade judiciria brasileira se diz a nica competente para

    conhecer dos conflitos, negando, assim, qualquer soluo que venha a ser

    proferida em outro pas.

    E, por ltimo, o art. 90 do CPC impede que haja litispendncia e

    conexo quando se tratar da matria tratada no artigo antecedente, ou seja,impede a litispendncia e a conexo de demandas interpostas no Brasil e

    perante tribunal estrangeiro.

    b) Da competncia interna

    Vista a primeira etapa, para saber se a autoridade brasileira

    competente para julgar determinada demanda, passamos a tratar da

    competncia interna, observando os critrios que devem ser adotados para

    esta determinao.

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    A primeira diviso que se deve observar quanto atribuio da

    Justia Federal E Da Justia Estadual. A Justia Federal tem sua competncia

    fixada em mbito constitucional (art. 109 da CF). Deste artigo podemos extrair,

    de acordo com o que ensina Carlos Eduardo Ferraz de Mattos Barroso (2000,

    p. 40-41), que dois critrios devem ser observados, o primeiro em relao

    pessoa envolvida na demanda, e o segundo em relao a matria objeto de

    anlise. Assim, a competncia da justia estadual se dar por excluso, ou

    seja, ser a competncia residual, segundo a qual, esta ser competente para

    julgar as causas que no sejam de competncia de qualquer outra justia -

    federal, militar, do trabalho e eleitoral.

    CRITRIOS OBSERVADOS QUANTO COMPETNCIA DA JUSTIA FEDERALEm relao pessoa Em relao matria Causas em que so partes a Unio,entidade autrquica ou empresa pblicafederal

    Causas fundadas em tratado ou contrato daUnio com Estado estrangeiro ou organismointernacional

    Causas entre Estado estrangeiro ouorganismo internacional e Municpio oupessoa domiciliada ou residente no Pas.

    Demandas sobre direitos indgenas

    Os mandados de segurana e os habeasdatacontra ato de autoridade federal.

    Causas relativas nacionalidade e anaturalizao

    - x- Execuo de sentenas estrangeirashomologadas pelo Supremo Tribunal Federal.

    c) Competncia territorial ou de foro ratione loci

    O critrio territorial determina o local que dever ser ajuizada a ao. Assim

    a competncia territorial indicar a comarca onde a demanda dever ser proposta.

    SAIBA MAIS:

    Foro significa a delimitao territorial onde o juiz exerce a sua atividade.

    Como regra, o foro comum para a propositura da ao ser sempre o

    do domiclio do ru (CPC, art. 94), porm esta uma regra que comporta

    temperamentos, uma vez que o prprio CPC prev esses temperamentos (arts.

    95 a 101), quanto: natureza do direito versado nos autos; a qualidade

    especial da parte; a situao da coisa e ao local de cumprimento da obrigao

    ou da prtica do ato ilcito, como leciona Barroso (2000, p. 42).

    A competncia fixada em razo do territrio relativa: ou seja, poder

    ser derrogada por vontade das partes. A exceo quanto competncia

    territorial relativa d-se por conta do art. 95 do CPC, que trata de aes

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    fundadas em direito real sobre imveis, tornando, assim, a competncia

    absoluta, significando que no poder ser modificada pela vontade das partes.

    d) Competncia material ratione materiae

    A competncia fixada em razo da matria ser sempre de carter absoluto.

    Em razo do interesse pblico, no poder ser modificada. A forma como ser

    distribuda ser determinada pelas normas de organizao judiciria de cada estado

    da Federao, conforme leciona Grecco Filho (2002, p. 205).

    Dessa forma, se a demanda versar sobre direito de famlia, dever ser

    proposta perante a Vara de Famlia.

    e) Competncia em razo da pessoa ratione personae

    Tal qual a competncia em razo da matria, a competncia em razoda pessoa absoluta, no pode ser mudada pela conveno das partes. A

    competncia em razo da pessoa decorre do fato de que determinadas

    pessoas, em razo do interesse pblico que representam, serem julgadas por

    juzes especializados.

    f) Competncia fixada pelo valor da causa

    O valor da causa tambm um dos critrios determinantes da

    competncia. S que, de acordo com o art. 111 do CPC, tanto a competncia emrazo do territrio quanto a competncia fixada em razo do valor da causa so

    consideradas como competncias relativas: ou seja, podem ser modificadas em

    razo de conveno entre as partes. O exemplo mais ilustrativo da competncia

    fixada pelo valor da causa o do Juizado Especial Civil da justia estadual, que

    fixa em 40 salrios mnimos o teto mximo para as aes ali interpostas.

    QUADRO COMPARATIVO DAS COMPETNCIASCompetncia absoluta Competncia relativa

    Interesse pblico Interesse privadoNulidade absoluta Nulidade relativa (sanvel)Reconhecvel de ofcio Depende de argio da parteA qualquer tempo e grau de jurisdio Alegvel no prazo da resposta do ru, sob

    pena de prorrogaoNo tem forma prescrita em lei Forma prescrita em lei (exceo)

    3.15 Prorrogao de competncia

    A prorrogao da competncia se d pelo fenmeno, pelo qual o juiz, a

    princpio incompetente, torna-se competente para apreciar determinada

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    demanda, por ausncia de oposio do ru via exceo.

    3.16 Perpetuao da jurisdio

    A perpetuao da jurisdio, de acordo com o art. 87 do CPC, ser

    determinada no momento em que a ao proposta. So irrelevantes as

    modificaes do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo

    quando suprimirem o rgo judicirio ou alterarem a competncia em razo da

    matria ou da hierarquia.

    A perpetuao da jurisdio diferente da prorrogao de

    competncia. Na primeira, ojuiz perde sua competncia original, por fora da

    alterao das regras de fixao de natureza absoluta; enquanto na prorrogao

    de competncia, o juiz adquire sua competncia no curso do processo por

    ausncia de oferecimento de exceo declinatria de foro.

    3.17 Conflito de competncia

    De acordo com Menna (2005, p. 45/46), o conflito de competncia ocorre

    quando dois ou mais juzes reclamarem ou rejeitarem a competncia de um

    mesmo processo. O conflito de competncia poder ser positivo ou negativo.

    SAIBA MAIS:

    Conflito positivo: ocorre quando dois ou mais juzes reclamarem a competncia

    de um mesmo processo.

    Conflito negativo: ocorre quando dois ou mais juzes rejeitarem a competncia

    de um mesmo processo.

    O conflito de competncia poder ser suscitado pelas partes, pelo

    Ministrio Pblico, ou, ainda, pelo prprio juiz que reclamar ou rejeitar a

    competncia.

    ANEXO I

    Quadro sintico Fredie (Didier Jnior, Direito Processual Civil)

    ABSOLUTA RELATIVARegra de competncia criada para atenderinteresse pblico

    Regra de competncia criada para atenderinteresse particular

    A incompetncia absoluta pode ser alegada aqualquer tempo, por qualquer das partes, podendo

    ser reconhecida ex officio pelo magistrado. A

    A incompetncia relativa somente pode serargida pelo ru, no prazo de resposta (15

    dias), sob pena de precluso, no podendo o

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    parte que deixar de alegar no primeiro momentoque lhe cabe falar nos autos arcar com as custasdo retardamento

    magistrado reconhec-la de ofcio (STJ 33).

    No h forma especial para argio deincompetncia absoluta.

    H forma especfica de argio deincompetncia relativa: exceo instrumental.

    Reconhecida a incompetncia absoluta,remetem-se os autos ao juiz competente ereputam-se nulos os atos decisrios jpraticados.A incompetncia absoluta no gera extino doprocesso.

    Reconhecida a incompetncia relativa,remetem-se os autos ao juiz competente e nose anulam os decisrios j praticados. Aincompetncia relativa no gera extino doprocesso. Ver a questo dos JuizadosEspeciais.

    A regra de competncia absoluta no pode seralterada pela vontade das partes

    As partes podem modificar a regra decompetncia relativa, quer pelo Foro deeleio, quer pela no oposio da exceode incompetncia.

    A regra de competncia absoluta no pode seralterada por conexo/ continncia

    A regra de competncia relativa pode sermodificada por conexo/continncia

    Competncia em razo da matria, da pessoa,funcional, alm dos limites do valor da causa eem algumas hipteses de competncia territorial

    Competncia territorial (regra) e nas hiptesesem que se fica aqum do limite do valor dacausa.

    Aps o estudo da presente aula, podemos concluir que, para o Estado

    desempenhar sua funo jurdica, necessita de se ater a duas ordens de

    atividades: a legislao e a jurisdio. A primeira caracterizada pelo

    estabelecimento das normas que regulam a vida em sociedade, ditando o que

    lcito e o que ilcito, atribuindo direitos e obrigaes. J a segunda ordem

    caracterizada pela atuao do Estado, com o intuito de solucionar os conflitosde interesses, declarando qual o preceito que se aplica ao caso concreto.

    Sntese da aula

    Iniciamos esta aula com a definio de jurisdio, detalhando suas

    caractersticas, os fins e os princpios a ela aplicveis. Num segundo momento,

    estudamos que a jurisdio, embora sendo uma, comporta subdivises. Por

    fim, foram tratados temas relativos competncia, com a finalidade de

    estabelecer o exerccio da jurisdio.

    Atividades

    1. Concernente jurisdio incorreto afirmar:

    a) A jurisdio funo do estado por no se permitir a autotutela,

    salvo em casos especiais previstos em lei.

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    b) A jurisdio representa o poder do Estado em impor o cumprimento de

    suas decises.

    c) A jurisdio, uma vez provocada, no sofre limites ao poder de impor

    suas decises.

    d) A jurisdio representa a responsabilidade do Estado em resguardar

    a tutela dos direitos dos interessados.

    2. Quanto s espcies de jurisdio, marque a alternativa correta:

    a) So justias que exercem a jurisdio especial: a justia federal e a

    justia estadual;

    b) As justias militar, eleitoral, do trabalho e a militar estadual exercemjurisdio especial;

    c) Instncia o grau administrativo das comarcas e da carreira dos

    juzes estaduais e membros do ministrio pblico;

    d) Entrncia significa o grau de jurisdio.

    3. Trace um paralelo, realando 3 diferenas entre a jurisdio contenciosa e a

    jurisdio voluntria.

    4. correto afirmar que, na comarca em que existirem vrios juzes, a matria

    invocada definir a competncia de um deles para julgar a demanda?

    Comentrio das atividades

    Nesta unidade, voc conheceu as funes da Jurisdio. Tambm verificou

    que ela sofre limitaes pela competncia. Logo, assinalando a alternativa (c), vocacertou a questo 1, uma vez que a afirmativa incorreta. Veja que uma vez provocada,

    a jurisdio sofre limites pela competncia, em razo da matria, do lugar e em funo

    das pessoas. As demais alternativas esto corretas. A primeira porque do Estado a

    funo de decidir as questes e no os particulares por meio da autotutela, como dito na

    letra (a). A segunda (letra (b)), pois as decises da jurisdio comportam execuo

    forada. A alternativa da letra (d) tambm est correta, pois do Estado a

    responsabilidade de resguardar os direitos dos interessados e o faz atravs da jurisdio.

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    Em relao questo 2, voc estudou as definies e divises da

    jurisdio comum e da jurisdio especial. Logo, voc acertou se assinalou

    a alternativa (b). As justias militar, eleitoral, do trabalho e a militar estadual

    exercem jurisdio especial. Na alternativa (a), a justia estadual no exerce

    jurisdio especial. Na alternativa (c), instncia representa grau de jurisdio e

    no grau administrativo. A alternativa d est errada, pois entrncia representa

    grau administrativo e no grau de jurisdio.

    Na questo 3, ao conhecer as espcies de jurisdio, voc estudou vrias

    diferenas entre a jurisdio contenciosa e jurisdio voluntria, se voc respondeu

    que na jurisdio contenciosa a atividade jurisdicional, h o contraditrio, e h coisa

    julgada, e, se respondeu que na jurisdio voluntria a atividade administrativa, noh contraditrio e no h coisa julgada, a resposta est correta.

    Na questo 4, conhecendo a jurisdio, voc observou que todo o juiz

    tem o poder de decidir, mas, nos locais em que existirem vrios juzes, a

    matria invocada (cvel, crime, criana e adolescente), ir definir quem

    competente para julgar a demanda. Se voc respondeu seguindo essa linha de

    pensamento, voc acertou a resposta.

    Ao realizar as atividades, voc alcanou os objetivos de definir o que jurisdio e apontar suas caractersticas e de conhecer os princpios, os fins e

    as espcies da jurisdio.

    Referncias

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil, de 5.10.1988.Braslia: DOU, 5 de outubro de 1988.CINTRA, A. C. A.; DINAMARCO, C. R.; GRINOVER, A. P. Teoria Geral do

    Processo.21. ed. So Paulo: Malheiros, 2005.COELHO, F. A. Teoria Geral do Processo. So Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.DIDIER JUNIOR, F. Direito Processual Civil. 3. ed. So Paulo: Salvador, 2003.GRECCO FILHO, V.Direito Processual Civil Brasileiro. 16. ed. So Paulo:Saraiva, 2000, v 1.ROCHA, J. de A. Teoria Geral do Processo. 8. ed. So Paulo: Atlas, 2005.

    Na prxima aula

    Estudaremos o Poder Judicirio, mencionando seus rgos e sua

    principal funo.

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    Estado Democrtico de Direito, adota a tripartio de poderes (Poder

    Legislativo, Poder Executivo e Poder Judicirio).

    Coelho (2004, p. 329) afirma que essa classificao a adotada por

    Montesquieu, segundo o qual o poder do Estado exercido pelo legislativo,

    pelo Executivo e pelo Judicirio, a fim de afastar o arbtrio que decorreria de

    sua concentrao. Este o sistema de freios e contrapesos.

    SAIBA MAIS:

    Sistema de freios e contrapesos: posicionamento adotado pelos norte-

    americanos para ressaltar a necessidade de harmonia e equilbrio entre os

    Poderes.

    De acordo com a forma esposada, o Judicirio tem como funoprecpua a soluo dos conflitos de interesses, alm de assegurar os direitos e

    garantias individuais e coletivos, afirmados pela Constituio Federal. O que

    no quer dizer que no possua outras funes, como veremos mais adiante.

    4.2 O Poder judicirio e o princpio da inafastabilidade da jurisdio

    A importncia do Poder Judicirio encontra-se expressa na disposio

    do art. 5, XXXV, da Constituio Federal, podendo-se da extrair-se o princpioda inafastabilidade da apreciao judiciria, como um direito e garantia

    individual. pelo Poder Judicirio que se afirmam os direitos fundamentais,

    importando a soluo dos conflitos de interesses.

    Sobre o princpio da inafastabilidade da jurisdio, Coelho (2004, p.

    329) ensina que devemos nos atentar para dois aspectos.

    a) A jurisdio monoplio do Estado. Ao fazer tal afirmativa, Coelho (2004,

    p. 329) faz um esboo histrico sobre o perodo que a jurisdio no dependia

    do Estado, vejamos.

    Os senhores feudais tinham jurisdio dentro de seu feudo:encontravam-se jurisdies feudais [senhores feudais] e jurisdiesbaronais [bares]. Lembre-se que os donatrios das CapitaniasHereditrias no Brasil colonial dispunham da jurisdio civil e criminalnos territrios de seu domnio. No perodo monrquico brasileiro,tnhamos jurisdio eclesistica, especialmente em matria defamlia, a qual desapareceu com a separao entre Igreja e Estado.

    Agora s existe jurisdio estatal, confiada a certos funcionrios,

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    mesmo com a tripartio dos poderes, no corresponde tamanha rigidez de

    funes, pois o Executivo e o Judicirio tambm legislam, o Legislativo e o

    Judicirio tambm administram, e o Executivo e o Legislativo tambm julgam.

    As outras funes que o judicirio exerce so: a legislativa, ao

    elaborar os seus regimentos internos, ligadas ao poder de autogoverno e

    funo administrativa, tambm ligada ao autogoverno.

    Ressalta-se que essa autonomia e independncia no so absolutas, pois

    h que se respeitar as regras de equilbrio, expressas na teoria dos freios e

    contrapesos, checks and balances, pela qual alguma participao haver de ter de

    um Poder no outro, por exemplo, a nomeao do Ministro do Supremo Tribunal

    Federal da competncia do Chefe do Poder Executivo, exclusividade doPresidente da Repblica, como esclarece Dinamarco (2001, p. 359).

    4.5 A independncia do Poder Judicirio e suas garantias

    J falamos, anteriormente, que, por possuir como funo tpica a

    atividade jurisdicional, ao Poder Judicirio devido a proteo dos direitos e

    garantias fundamentais, dispostos em nossa Constituio, bem como a soluo

    dos conflitos entre particulares.SAIBA MAIS:

    Funo Tpica do Poder Judicirio: soluo dos conflitos de interesse.

    Funo Atpica do Poder Judicirio: legislar sobre os seus regimentos internos.

    Ocorre que, muitas vezes, a soluo desses conflitos envolve, alm dos

    interesses entre particulares, os demais poderes, (os Poderes Executivo e

    Legislativo). Assim, no fosse a independncia do Poder Judicirio, no haveria

    para ns, jurisdicionados, nenhuma garantia contra o arbtrio do Estado.

    Dessa forma, Coelho (2004, p. 331) leciona que, para garantir essa

    independncia ao Poder Judicirio, a ordem constitucional prev duas ordens de

    garantias: (i) as primeiras que visam a proteger o Poder Judicirio dos demais

    poderes; e (ii) as segundas que visam a proteger os exercentes das funes

    jurisdicionais.

    4.6 As garantias do Poder Judicirio

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