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TEORIA GERAL DO PROCESSO
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e-Tec Brasil
Teoria Geral do ProcessoCláudio Moreira do Rêgo Filho
2014Teresina - PI
ROCHA, José de Albuquerque, Teoria Geral do Processo, décima edição,
Editora Atlas, São Paulo, 2009;
MARINONI, Luiz Guilherme Marinoni, Teoria Geral do Processo, 6ª edição,
Editora Revista dos Tribunais, São Paulo 2012;
OLIVEIRA e MITIDIERO, Carlos Alberto Alvaro de e Daniel, Curso de Proces-so Civil Teoria Geral do Processo Civil e Parte Geral do Direito Proces-sual Civil, Editora Atlas, São Paulo, 2010;
CARNEIRO, Athos Gusmão, Jurisdição e Competência, Saraiva, 21ª edi-
ção, Editora Saraiva, São Paulo, 2012.
ALVIM, J. E. Carreira, Teoria Geral do Processo, 16ª edição, Forense, Rio
de Janeiro, 2014.
BUENO, Cassio Scarpinella, Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, Vol.1, 6ª edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2012.
CARNEIRO, Athos Gusmão, Jurisdição e Competência, Saraiva, 21ª edi-
ção, Editora Saraiva, São Paulo, 2012.
CINTRA, GRINOVER E DINAMARCO, Antonio Carlos de Araújo, Ada Pelle-
grini e Cândido Rangel, Teoria Geral do Processo, 30ª edição, Malheiros,
São Paulo, 2014;
DIDIER JR., Fredie, Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimen-to, 12ª edição, Editora Podivm, Salvador, 2012;
GRECO, Leonardo, Instituições de Processo Civil - Introdução ao Direito Processual Civil, 2ª edição, Editora Forense, Rio Janeiro, 2010;
OLIVEIRA e MITIDIERO, Carlos Alberto Alvaro de e Daniel, Curso de Proces-so Civil Teoria Geral do Processo Civil e Parte Geral do Direito Processual
Civil, Editora Atlas, São Paulo, 2010;
ROCHA, José de Albuquerque, Teoria Geral do Processo, décima edição,
Editora Atlas, São Paulo, 2009;
SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol.1, 27ª edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2010.
Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil 91
Presidência da República Federativa do Brasil
Ministério da Educação
Secretaria de Educação a Distância
Equipe de ElaboraçãoNome da Universidade
Coordenação InstitucionalNome da Instituição
Professor-autorNome do autor ou autores
Comissão de Acompanhamento e ValidaçãoLista de nomes
Projeto GráficoEduardo Meneses e Fábio Brumana
DiagramaçãoÁlvaro Bonfim Pedreira Júnior
RevisãoNome do revisor ou revisores
Catalogação na fonte pela biblioteca do Instituto Federal do Piauí
© INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA - PIAUÍ - EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Este Caderno foi elaborado pelo Instituto Federal do Piauí para o Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – e-Tec Brasil.
Referências
BEDAQUE, José Roberto dos Santos, Direito e Processo - Influência do di-reito material sobre o processo, 5ª edição, Malheiros, São Paulo, 2009;
BUENO, Cassio Scarpinella, Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, Vol.1, 6ª edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2012.
CARNEIRO, Athos Gusmão, Jurisdição e Competência, Saraiva, 21ª edi-
ção, Editora Saraiva, São Paulo, 2012.
CINTRA, GRINOVER E DINAMARCO, Antonio Carlos de Araújo, Ada Pelle-
grini e Cândido Rangel, Teoria Geral do Processo, 30ª edição, Malheiros,
São Paulo, 2014;
DIDIER JR., Fredie, Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimen-to, 12ª edição, Editora Podivm, Salvador, 2012;
GRECO, Leonardo, Instituições de Processo Civil - Introdução ao Direito Processual Civil, 2ª edição, Editora Forense, Rio Janeiro, 2010;
MARINONI, Luiz Guilherme Marinoni, Teoria Geral do Processo, 6ª edição,
Editora Revista dos Tribunais, São Paulo 2012;
SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol.1, 27ª edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2010;
ALVIM, J. E. Carreira, Teoria Geral do Processo, 16ª edição, Forense, Rio
de Janeiro, 2014.
CINTRA, GRINOVER E DINAMARCO, Antonio Carlos de Araújo, Ada Pelle-
grini e Cândido Rangel, Teoria Geral do Processo, 30ª edição, Malheiros,
São Paulo, 2014;
DIDIER JR., Fredie, Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimen-to, 12ª edição, Editora Podivm, Salvador, 2012;
Referências e-Tec Brasil90
Prezado estudante,
Bem-vindo ao e-Tec Brasil!
Você faz parte de uma rede nacional pública de ensino, a Escola Técnica
Aberta do Brasil, instituída pelo Decreto n° 6.301, de 12 de dezembro 2007,
com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino técnico público, na mo-
dalidade a distância. O programa é resultado de uma parceria entre o Minis-
tério da Educação, por meio das Secretarias de Educação a Distância (SEED)
e de Educaçã0o Profissional e Tecnológica (SETEC), as universidades e escolas
técnicas estaduais e federais.
A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande
diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproximar as pessoas ao
garantir acesso à educação de qualidade, e promover o fortalecimento da
formação de jovens moradores de regiões distantes, geograficamente ou
economicamente, dos grandes centros.
O e-Tec Brasil leva os cursos técnicos a locais distantes das instituições de en-
sino e para periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a concluir o
ensino médio. Os cursos são ofertados pelas instituições públicas de ensino
e o atendimento ao estudante é realizado em escolas-polo integrantes das
redes públicas municipais e estaduais.
O Ministério da Educação, as instituições públicas de ensino técnico, seus
servidores técnicos e professores acreditam que uma educação profissional
qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – é capaz de
promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também com auto-
nomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social, familiar,
esportiva, política e ética.
Nós acreditamos em você!
Desejamos sucesso na sua formação profissional!
Ministério da Educação
Janeiro de 2010
Nosso contato
Apresentação e-Tec Brasil
e-Tec Brasil
Currículo do professor-autor
Professor Cláudio Moreira do Rêgo Filho, Bacharel em Direito pela UFPI, Es-
pecialista em Direito Público, Especialista em Direito do Trabalho e em Pro-
cesso do Trabalho, Professor de Direito Processual Civil da Graduação (Insti-
tuto Camilo Filho) e Pós-Graduação (Centro de Ensino Unificado de Teresina
- CEUT), membro do Conselho Editorial da Revista do CEUT, Advogado, atu-
almente exercendo o cargo de Procurador-Geral do Município de Teresina-PI.
e-Tec Brasil88
Indicação de ícones
Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de
linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual.
Atenção: indica pontos de maior relevância no texto.
Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o
assunto ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao
tema estudado.
Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão
utilizada no texto.
Mídias integradas: sempre que se desejar que os estudantes
desenvolvam atividades empregando diferentes mídias: vídeos,
filmes, jornais, ambiente AVEA e outras.
Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em
diferentes níveis de aprendizagem para que o estudante possa
realizá-las e conferir o seu domínio do tema estudado.
Indicação de íconesAtividades de aprendizagem1. Sabendo que o conceito de competência está intimamente ligado
à jurisdição e que ao provocar o Estado-juiz, o autor deve procurar o juízo
competente para apreciar a demanda. O que se entende por competência?
2. Considerando que critérios de determinação de competência são os
critérios criados por lei para a distribuição de competências entre os órgãos
que compõem o Poder Judiciário, cite e explique os critérios de determina-
ção de competência.
3. Acerca do exposto sobre competência, é possível afirmar que seu
estudo é importante para a prática do direito processual? Justifique.
Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec Brasil87
Por fim, vale destacar a interessante sequência de perguntas utilizadas por
Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel
Dinamarco, que correspondem ao iter (caminho, diversos passos da cami-
nhada) para se sair do campo abstrato da jurisdição para o plano concreto,
referente a determinado processo:
“São as seguintes fases desse iter, cada qual representando um
problema a ser resolvido:
a) competência de jurisdição (qual a justiça competente?);
b) competência originária (competente o órgão superior ou o
inferior?);
c) competência de foro (qual a comarca ou subseção compe-
tente?);
d) competência de juízo (qual a vara competente?);
e) competência interna (qual o juiz competente?);
f) competência recursal (competente o mesmo órgão ou su-
perior?)” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Por fim, a importância de se saber como determinar o juízo competente,
diante de uma demanda específica, influencia diretamente o bom exercício
da jurisdição, vez que o juízo absolutamente incompetente não está autori-
zado a decidir, sob pena de ser invalidada a decisão e comprometer a solução
justa do litígio, contribuindo para a manutenção da intranquilidade social.
Aula 8- Conceitos e critérios de determinação de competência e-Tec Brasil86
SumárioNo entanto, existem casos em que a competência é fixada pela situação da
coisa, em se tratando de bem imóvel (art. 95), ou no local do ato ou fato,
como por exemplo na hipótese de reparação do dano (art. 100, V, a).
c) Critério FuncionalA competência será fixada originalmente pelos critérios objetivo e territorial.
Entretanto, iniciado o processo este pode ser conduzido por juízes diversos
dependendo dos atos processuais a serem praticados, conforme as funções
desempenhadas pelos magistrados.
Desse modo, o critério funcional estabelece qual o juízo competente para
determinada fase processual.
Veja-se o magistério de Moacyr Amaral Santos:
“Mas instaurado o processo, e enquanto não se encerrar, mais
de um juiz pode nele exercer atividades jurisdicionais. Suponha-
-se a hipótese da existência de um juiz preparador e um juiz
julgador: as funções daquele se limitam a preparar o material
de conhecimento da lide, transferindo o processo para este, a
quem cabe decidir o feito. Ou esta outra: proferida a decisão
pelo juiz de primeiro grau, o vencido dela recorre e o proces-
so passa às mãos do juiz de grau superior, com a função de
reexaminá-lo e proferir nova decisão. Nesses e em muitos outros
casos, vários juízes exercem atividades jurisdicionais num mes-
mo processo. Entretanto, essas atividades não podem exceder
às que são próprias de suas funções: o juiz preparador não tem
competência para decidir a causa; o juiz de primeiro grau não
poderá exercer funções privativas dos juízes dos recursos, ou
vice-versa. Os poderes jurisdicionais de uns e outros juízes são
limitados ao exercício das atribuições compreendidas na função
de cada qual.” (em Primeiras Linhas de Direito Processual Civil,
Vol.1, Ed. Saraiva).
O critério funcional, portanto, diz respeito à observação das fun-
ções exercidas pelo magistrado responsável por determinada fase
do processo, não sendo permitido o exercício da atividade jurisdi-
cional fora do âmbito de sua competência.
Palavra do professor-autor ...............................................................9 Aula 1 - Direito Material e Direito Processual.............................13
1. Direito Material e Direito Processual...............................................13
1.1 Direito material..........................................................................13
1.2 Direito processual.......................................................................18
1.3 Relação entre direito processual e direito material.....................21
Aula 2 - Conceitos processuiais básicos........................................27
2. Conceitos processuiais básicos.....................................................27
2.1 Interesse....................................................................................27
2.2 Conflito de interesses. Lide........................................................29
.3 Relação Jurídica..........................................................................30
2.4 Resolução de conflitos de interesses. Formas...............................31
2.4.1 Autodefesa (autotutela).................................................31
2.4.2 Autocomposição...........................................................32
2.4.3 Mediação, Arbitragem e Jurisdição.................................33
Aula 3 - Lei processual no tempo e espaço....................................373. Lei processual no tempo e espaço..................................................37
3.1 Princípio da Irretroatividade das Leis...........................................37
3.2 Lei processual no tempo..............................................................38
3.2.1 Sistemas de resolução de conflitos de leis processuais no
tempo....................................................................................38
3.3 Lei Processual no Espaço.............................................................40
Aula 4 - Garantias constituncionais do processo civil................434.1 O acesso à justiça........................................................................44
4.2 Devido Processo Legal.................................................................46
4.3 Contraditório e Ampla Defesa.....................................................47
4.4 Juiz Natural................................................................................48
4.5 Publicidade das decisões judiciais................................................50
4.6 Liberdade da Prova......................................................................52
Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec Brasil85
É importante ressaltar que as leis de organização judiciária, via de regra, dis-
ciplinam a competência em razão do valor.
b) Critério territorialOs limites das circunscrições territoriais são observados para que os órgãos
jurisdicionais atuem.
Assim, afirma Moacyr Amaral Santos:
“Os órgãos jurisdicionais exercem jurisdição nos limites das suas
circunscrições territoriais: os juízes de direito, nas suas comar-
cas; o Tribunal de Justiça, no território do respectivo Estado; o
Supremo Tribunal Federal, sobre o território da república; os Tri-
bunais Regionais Federais, no território das respectivas regiões.
E tem-se aí um elemento para determinação da competência: o
território” (em Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol.1,
Ed. Saraiva).
Busca-se com este critério a comarca, no caso da Justiça comum; busca-se a
zona eleitoral, na hipótese de Justiça eleitoral; e busca-se a seção judiciária,
em se tratando da Justiça federal.
A competência territorial é também chamada de competência de foro e é
disciplinada pelos artigos. 94 e seguintes do Código de Processo Civil, cuja
regra mais importante é a de que é fixada pelo domicílio do réu.
Acerca do tema, o magistério de Athos Gusmão Carneiro:
“O principal dado de determinação do foro competente, ou seja,
da “competência territorial” é o domicílio do réu, o ‘foro geral’.
Se o réu tiver mais de um domicílio, poderá ser demandado em
qualquer deles; ignorado o domicílio do réu, será demandado
onde estiver residindo, ou no foro do autor; finalmente, residin-
do o réu no estrangeiro (e sendo o processo de competência da
Justiça brasileira), o foro competente será o do domicílio do au-
tor ou, se este também residir fora do Brasil, poderá a demanda
ser proposta em qualquer foro (art. 94, §3º) ou, melhor dito, no
foro que tiver alguma vinculação com a causa” (em, Jurisdição
e Competência, Ed. Saraiva).
Aula 8- Conceitos e critérios de determinação de competência
Aula 5 - Jurisdição, contenciosa e voluntária................................55
5.1 Jurisdição .................................................................................55
5.2 Características .........................................................................56
5.2.1 Caráter Substitutivo.......................................................56
5.2.2 Lide.............................................................................57
5.2.3 Inércia...........................................................................57
5.2.4 Definitividade................................................................58
5.3 Princípios...................................................................................59
5.4 Espécies.....................................................................................60
5.5 Jurisdição Contenciosa e Jurisdição Voluntária...........................62
Aula 6 - Poder Judiciário.............................................................656. Poder judiciário...........................................................................65
6.1 Introdução.................................................................................65
6.2 Organização..............................................................................65
6.3 Garantias..................................................................................67
6.4 Vedações...................................................................................64
Aula 7 - Ação, conceito, autonomia e condições da ação........717. Da ação......................................................................................71
7.1 Introdução e Conceito...............................................................71
7.2 Autonomia................................................................................72
7.3 Condições da ação....................................................................74
Aula 8 - Conceitos e critérios de determinação decompetência................................................................................80
8.1 Conceito de competência..........................................................80
8.2 Critérios de determinação de competência.................................81
Currículo do professor.................................................................88
Referências...................................................................................90
Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec Brasil84
Prezados (as) alunos(as),
Ao iniciar o curso Técnico de Serviços Jurídicos, modalidade de educação à
distância, vocês começarão a ter contato com esse surpreendente mundo do
conhecimento que é o Direito.
No meu caso, coube-me apresentar a vocês a teoria geral do processo. Um
viajar expresso pelo conteúdo do direito processual, na qual espero permitir
um contato prazeroso e descortinador de novos horizontes.
O processo é o método disponibilizado pelo Estado para o exercício da ju-
risdição. Parecem ser conceitos difíceis? Não, pode ter certeza que não. A
seguir, você verá que não há obstáculo para o processo ser entendido. Mui-
tos conceitos serão abordados e, sinceramente, espero que, ao final, tenha
despertado o interesse pelo direito e, sobretudo, pelo ramo processual.
Abordarei temas como a relação entre direito material e direito processual,
conceitos processuais básicos, lei processual no tempo e no espaço, garan-
tias constitucionais do processo, jurisdição e competência, dentre outras.
Com a certeza de que contarei com o seu esforço, as dificuldades serão
superadas e o conteúdo compreendido. Utilize todos os meios disponíveis
ao aprendizado. Resolva as questões apresentadas e contextualizadas. Não
poupe energia. Estudar é fundamental ao seu crescimento.
Volte os olhos ao horizonte. Imagine um avião decolando e o mundo surgin-
do em um espaço infinito. Assim é o conhecimento. Siga em frente!
Palavra do professor-autorA respeito da condição das pessoas na lide (sujeitos), Moacyr Amaral Santos
Leciona:
“As causas têm um valor, que é o do bem pretendido e esti-
mado em dinheiro. Com base nesse elemento, também se de-
termina a competência (Cód. Proc. Civil, art. 91). Fala-se em
competência em razão do valor da causa” (em Primeiras Linhas
de Direito Processual Civil, Vol.1, Ed. Saraiva).
Ademais, o Código de Processo Civil estabelece em seu art. 258 que a “toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econô-mico imediato”.
Ainda sobre valor da causa, veja-se o art. 259 do CPC:
“Art. 259. O valor da causa constará sempre da petição inicial
e será:
I – na ação de cobrança de dívida, a soma do principal, da pena
e dos juros vencidos até a propositura da ação;
II – havendo cumulação de pedidos, a quantia correspondente
à soma dos valores de todos eles;
III – sendo alternativos os pedidos, o de maior valor;
IV – se houver também pedido subsidiário, o valor do pedido
principal;
V – quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cum-
primento, modificação ou rescisão de negócio jurídico, o valor
do contrato;
VI – na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações men-
sais, pedidas pelo autor;
VII – na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, a
estimativa oficial para lançamento do imposto.
Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec Brasil83
A doutrina não é uniforme em relação aos critérios de determinação de com-
petência. Ao contrário, muitos autores divergem entre si acerca dos critérios
e suas classificações.
Com efeito, para fins didáticos, utilizarei a classificação de Moacyr Amaral
Santos, com os complementos dos demais doutrinadores.
a) Critério objetivoDetermina-se a competência pelo critério objetivo considerando os elemen-
tos externos da lide.
Atende-se à natureza da causa, o seu valor e a condição das pessoas em lide.
Ensina-nos Moacyr Amaral Santos com relação à natureza da causa:
“As causas são atribuídas a este ou àquele juiz conforme a sua
natureza, isto é, conforme a natureza da relação jurídica mate-
rial a ser decidida. Ou, por outras palavras, a competência se
determina segundo a matéria sobre que verse a lide. Trata-se
de competência ratione materiae (em razão da matéria) ” (em
Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol.1, Ed. Saraiva).
Deve-se buscar a “justiça” competente no dizer de Athos Gusmão Carneiro.
Segundo este autor:
“Trata-se, já agora, de saber se o conhecimento da ação caberá
à Justiça comum, ou a algum dos ramos das Justiças especializa-
das na área cível. A Constituição prevê a competência da Justiça
do Trabalho (CF, art. 114) e da Justiça Militar (CF, art. 124), bem
como, exaustivamente, as causas que tocam à Justiça Federal
(CF, arts. 108 e 109). Assim, v. g., uma ação reclamatória do em-
pregado contra o empregador será de competência da Justiça
laboral; uma ação que for parte a União, ou autarquia federal,
ou empresa pública federal, ou a causa fundada em contrato da
União com Estado estrangeiro, caberá à Justiça Federal” (em,
Jurisdição e Competência, Ed. Saraiva).
Aula 8- Conceitos e critérios de determinação de competência e-Tec Brasil82
Apresentação da Disciplina
Lorem ipismol oreetue rcinci tatumsan utation vullan ute conse te faci eu
feugiam, commod essi tat, qui ex enibh exeraestie del dolobortisim iriuscin
henissequat, sit ulput aliquam zzriureet nisl ea feummolor ad tatum il ullan-
diat loborerat.
Ommy nisim in eugait exerosto dolupta tummod magnim vel iriuscin ulla
feuis at dui te estrud elesequ atissenisl et incilluptat. Tum ercilla mconsequis
am, velis exeratio commodo loreet praesequat eum zzriustrud magna alit
lan utet, commy nis exeriurem del ullut del esse tissis num eum volor secte
consenisse modo con hendreros alisis euis dolestrud tem quam, corer aci eu
faccum et lut nulla feui blamcore min utpatet am, commod elissi.
Tue magnim in henim del ullandigna feu faccum et aut velit augiat
autet,exeriurem del ullut del esse tissis num eum volor secte consenisse
modo con hendreros alisis euis.
Giam, velendrem nonsequ amcommo dionsequat. Ut atum veraesendip ea
facilis erilisim iuscilla feugiamcore commy nibh elent ing eu facilismod ex
et nulla augueraessit adiatin cillum ipisci tio exeriustrud te faccum velismo
lorerci duipis dolortisl ex eugue dionsequam, veliqui ea feum er ip erci bla
feuis acipsum modolobor sum adigna consequam irit, consed te veleniamet
praesti onumsan eumsan ut ullum el in euis auguerostis acip eros aut incipit
lutpatisci blandio nsectem velismo lesectet, commodolore ming esequiscil
dolor si.
Em dolortinci ex et iustie euisl dolortie dolortisit eu facillaor sed tat pra-
esenim zzriure velis nonsenisse tin ut dolobore consent incilit nonsequ
isisim il ullam, veliquis dunt vendre dolore dolore feuguer aessecte eu
faccum vullupt atisi.
Equam, vent lorperosto ea feugiat non verosto cor aliquis nos augait aliquis-
mod modigniatie dolesto odion vulput ad moloboreet vullamet, core mod
tat erostrud dolore consequat. Um iriure modio commolore eugiam ilit in
verci blan eummy nissit irilit nostrud magnis augue velisl exerostrud eum ipit
nit aliquat.
estatal é uma só, não comportando divisões ou fragmentações.
Cada juiz e cada tribunal são plenamente investidos de jurisdi-
ção, mas o exercício desta é distribuído pela Constituição e pela
lei ordinária, entre os muitos órgãos jurisdicionais. Cada qual
então a exercerá dentro de determinados limites, ou seja, com
referência a determinado grupo de litígios. Tal é a problemática
central da competência, que se define como a quantidade de
jurisdição cujo exercício é atribuído a cada órgão ou grupo de
órgãos (Liebman) ” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malhei-
ros).
No mesmo sentido, Moacyr Amaral Santos:
“Exercendo-se sobre todo o território nacional, por vários moti-
vos deverá a jurisdição ser repartida entre os muitos órgãos que
a exercem. A extensão territorial, a distribuição da população,
a natureza das causas, o seu valor, a sua complexidade, esses e
outros fatores aconselham e tornam necessária, mesmo por ele-
mentar respeito ao princípio da divisão do trabalho, a distribui-
ção das causas pelos vários órgãos jurisdicionais, conforme suas
atribuições, que são previamente estabelecidas” (em Primeiras
Linhas de Direito Processual Civil, Vol.1, Ed. Saraiva).
Assim, os processos formados pelas demandas são distribuídos aos mais di-
ferentes órgãos jurisdicionais, conforme as regras previstas desde a Consti-
tuição Federal até as leis de organização judiciária de cada Estado da Fede-
ração, buscando otimizar a prestação jurisdicional, inclusive por em alguns
casos a demanda exigir conhecimento especializado acerca da matéria.
Do ponto de vista da prática jurídica do direito processual, o co-
nhecimento do tema “competência” é de extrema importância,
pois o juízo absolutamente incompetente não está apto a decidir,
e, se assim o fizer, sua decisão será nula.
8.2 Critérios de determinação de competênciaCritérios de determinação de competência são os critérios criados por lei
para a distribuição de competências entre os órgãos que compõem o Poder
Judiciário.
Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec Brasil81
Aula 8 - Conceitos e critérios de
determinação de competência
ObjetivosCom esta unidade, pretendemos fixar o conceito de competência,
assim como os critérios de determinação, a fim de que o aluno
possa diferenciá-los e entender a importância do tema para o di-
reito processual.
Tema: Conceitos e critérios de determina-ção de competência
8.1 Conceito de competênciaO conceito de competência está intimamente ligado à jurisdição.
É que, ao provocar o Estado-juiz, o autor deve procurar o juízo competente
para apreciar a demanda. O juízo que está apto a conceder a tutela jurisdi-
cional pleiteada.
Vale dizer, pois que a jurisdição, embora una e indivisível, enquan-
to poder, função ou atividade, reparte-se em competências para
efeito de conhecimento e apreciação das demandas que lhe são
postas.
Competência seria a delimitação da jurisdição.
Desse modo, o magistrado será competente quando tiver poderes para jul-
gar a demanda no âmbito de suas atribuições.
Sobre o assunto, leia-se o magistério de Antonio Carlos de Araújo Cintra,
Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
“Como são inúmeros os processos que podem ser instaurados
em decorrência dos conflitos entre pessoas ou grupos surgidos
em um país e múltiplos também os órgãos jurisdicionais, é facil-
mente compreensível a necessidade de distribuir esses proces-
sos entre esses órgãos. A jurisdição como expressão do poder
Aula 8- Conceitos e critérios de determinação de competência e-Tec Brasil80
ObjetivosCom essa unidade, intentamos trazer noções doutrinárias básicas
de direito processual e de direito material, possibilitando, ainda,
através de exemplos do cotidiano, a compreensão do conteúdo
ministrado. Desse modo, ao final, o aluno conseguirá relacionar di-
reito processual e direito material sem nenhuma dificuldade, sendo
capaz, inclusive de formular situações práticas.
1.Direito Material e Direito Processual
1.1Direito material
O ser humano é um ser social, não vive sozinho, precisa do outro.
No entanto, a vida em sociedade não é tão simples. Surgem muitos confli-
tos, algumas vezes justificados pela própria necessidade de sobrevivência
que precisam ser resolvidos, sob pena de se causar uma turbulência enor-
me no meio social que, muitas vezes, tornam o convívio insuportável.
Com efeito, não existe sociedade sem direito, em razão, sobretudo, de sua
função ordenadora, que consiste na organização e composição dos confli-
tos existentes entre os indivíduos.
Como afirmado por Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grino-
ver e Cândido Rangel Dinamarco: “a indefinição das situações das pessoas
perante outras, perante os bens pretendidos e perante o próprio direito é
sempre motivo de angústia e tensão individual e social” (em, Teoria Geral
do Processo, Ed. Malheiros).
Aula 1 - Direito Material e Processual
Aula 1- Direito Material e Processual
Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco “a exi-
gência da observância das condições da ação deve-se inclusive ao princípio
da economia processual: quando se percebe, em tese, segundo a afirmação
do autor na petição inicial ou os elementos de convicção já trazidos com ela,
que a atividade jurisdicional requerida não poderá ser concedida, a atividade
estatal será inútil, devendo ser imediatamente negada”. Nesse contexto, cite
e explique as condições da ação.
Anotações
Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec Brasil79 13
Para regular a relação entre as pessoas, e entre estas e os bens,
nasce o direito, inclusive no que se refere aos conflitos de interes-
ses. No entanto, é importante afirmar que somente a existência
do direito não é capaz de resolver os conflitos, pois as normas
podem ser descumpridas, ou ameaçadas de descumprimento. O
Estado tem que intervir, pois não é salutar a solução através da
força, já que, neste caso, não é possível garantir uma resolução
imparcial.
Desse modo, são fontes do direito (meios por onde surge o direito, de
onde seu conteúdo é revelado), portanto das normas jurídicas (princípios
e regras que compõem o ordenamento jurídico): o meio social (fonte ma-
terial), a Constituição (Lei Maior), os tratados internacionais, leis comple-
mentares e ordinárias (fontes formais), costume, analogia, princípios gerais
de direito, jurisprudência e equidade (fontes complementares).
Com efeito, é importante a aplicação do melhor direito ao caso concreto,
buscando-se a solução mais justa possível.
Sobre a análise de um conflito posto em apreciação, um caso concreto,
como dito, advém o conceito de solução justa, envolvendo, pois, noção
de justiça.
Cássio Scarpinella Bueno aduz:
“A ‘justiça’ – entendida a partir de uma visão amplíssima e
absolutamente despretensiosa como a realização de um di-
reito tal qual prescrito no plano material, uma ‘tutela material
de direito, portanto’ – passa a ser feita, com o surgimento e
desenvolvimento do ‘Estado’ como conhecemos, pelo próprio
Estado, em substituição dos destinatários das normas jurídicas.
A ‘justiça’ estatal, neste contexto, equivale à ‘tutela estatal
dos direitos’ conflituosos” (em, Curso Sistematizado de Direito
Processual Civil vol. 1, Ed. Saraiva).
risdicional postulada pelo demandante por considerar juridica-
mente impossível qualquer pedido dessa natureza” (em, Teoria
Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Assim, uma vez intentada a ação, somente será analisado o pedido
(analisada a tutela jurisdicional pretendida) se estiverem preenchi-
das as condições da ação: legitimidade da parte, interesse de agir
e possibilidade jurídica do pedido.
Atividades de aprendizagem1. A vida em sociedade não existe sem conflitos de interesses. É natural
do ser humano. No entanto, nos Estados Democráticos de Direito, como é o
caso do Brasil, a solução dos conflitos é dada, via de regra, por um terceiro
imparcial: o Estado-Juiz. Nesse contexto, estabeleça um conceito de ação.
2. Quando se fala em autonomia da ação, quer-se dizer que a ação
existe independentemente do direito material a ser pleiteado (deduzido) no
processo. Desse modo, a ação é autônoma? Explique.
3. O estudo das teorias da ação é justificado, pois, com ele, conseguire-
mos verificar a própria evolução e consolidação do direito processual como
ramo autônomo do direito. Com essas considerações, analise as teorias da
ação.
4. Segundo a teoria formulada por Liebman e adotada pelo direito pro-
cessual brasileiro, para que a resposta do Estado-juiz acerca da pretensão de
direito material formulada pelo autor, seja favorável ou não, faz-se necessá-
ria a existência das condições da ação, sob pena de ser reconhecida, no pro-
cesso, a carência de ação. Ademais, como afirmado por Antonio Carlos de
14 78Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 7 - Ação, conceito, autonomia e condições de ação
Daí a necessidade da atuação estatal buscando-se uma solução justa atra-
vés da chamada jurisdição.
Veja-se o ensinamento de Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini
Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
“Toda atividade jurisdicional exercida em uma sociedade legiti-
ma-se e é indispensável porque existem conflitos entre pessoas
ou grupos e para que tais conflitos tenham solução, com a
pacificação das pessoas e consequente benefício à própria vida
em sociedade – sabendo-se que todo conflito é causa de infe-
licidade pessoal dos sujeitos envolvidos e, em uma perspectiva
metaindividual, a proliferação de conflitos constitui fator de
instabilidade e desorganização da própria sociedade. O por-
quê representa a causa da necessidade da jurisdição e o para
quê indica o principal dos escopos pelos quais ela é exercida,
com vista aos resultados desejados” (em, Teoria Geral do Pro-
cesso, Ed. Malheiros).
Vale acrescentar que a eliminação, conforme o direito, dos conflitos, tam-
bém pode ocorrer por atuação de um dos insatisfeitos, assim como por
atuação de terceiro não envolvido na contenda, como é o caso do Estado-
-Juiz, ou até mesmo de particular, como veremos nos capítulos seguintes.
Assim, há variados interesses individuais e coletivos que resultam em con-
flitos. Aqui, o direito existe para coibir os abusos.
Pode ser dito: para solucionar os conflitos existentes na vida em
sociedade, o ser humano criou o Direito através da fonte esta-
tal e, por conseguinte, estabeleceu a jurisdição, definida como
a atividade estatal em que os juízes analisam as pretensões dos
envolvidos e solucionam os conflitos.
No entanto, toda essa justificativa teórica de busca ao Estado-juiz para
solucionar os conflitos postos no meio social, não se realizaria na prática
se não fosse assegurado, pelo próprio Estado, o acesso à justiça, o qual é
considerado uma das garantias fundamentais dos cidadãos, inclusive pre-
visto no art. 5º, XXXV, da CF, estabelecendo que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
esta vantagem como utilidade) que, de outro modo, não seria
possível alcançar. O interesse de agir, portanto, toma como base
o binômio ‘necessidade’ e ‘utilidade’. Necessidade da atuação
jurisdicional em prol da obtenção de uma dada utilidade” (em,
Curso Sistematizado de Direito Processual Civil vol. 1, Ed. Sa-
raiva).
Ademais, ao propor uma ação e esta não for necessária e adequada para a
obtenção da resposta à demanda, o autor não terá interesse de agir e será
reconhecida carência de ação.
Como exemplo, não é adequada uma ação para pagamento de alimentos
se o autor não depende economicamente do réu, vez que este não teria o
dever jurídico de prestar assistência e o demandante não obteria a vantagem
perseguida.
c) Possibilidade jurídica do pedidoEntende-se por possibilidade jurídica do pedido a condição que exige que o
pedido de tutela jurisdicional dirigido ao Poder Judiciário seja amparado pelo
direito, seja lícito.
Por exemplo, alguém em união estável ingressa com ação de divórcio. O
pedido é juridicamente impossível, pois o divórcio somente se admite entre
pessoas casadas.
Vejam-se os ensinamentos de Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegri-
ni Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
“Às vezes determinado pedido não tem a menor condição de
ser acolhido pelo Poder Judiciário, porque já tem excluído a
priori pelo ordenamento jurídico sem qualquer consideração
das peculiaridades do caso concreto. Nos países em que não há
o divórcio será juridicamente impossível um pedido de senten-
ça com o efeito de dar às partes o status de divorciados; essa
demanda será desde logo repelida, sem que o juiz chegue a
considerar qualquer das alegações feitas pelo autor e indepen-
dentemente mesmo da prova dessas alegações. Outro exemplo,
comumente invocado pela doutrina, é o das dívidas de jogo,
que o art. 814 do Código Civil exclui da apreciação judiciária.
Nesses exemplos vê-se que o Estado se nega a dar a tutela ju-
77 15Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 1- Direito Material e Processual
Acerca do acesso à justiça, nos ensinam Antonio Carlos de Araújo Cintra,
Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
“Acesso à justiça não se identifica, pois, com a mera admissão
ao processo ou possibilidade de ingresso em juízo. Para que
haja a efetiva institucionalização do acesso à justiça é indis-
pensável que o maior número possível de pessoas seja admiti-
do a demandar e a defender-se adequadamente (inclusive em
processo criminal), sendo também condenáveis as restrições
quanto a determinadas causas (pequeno valor, interesses difu-
sos); mas para integralidade do acesso à justiça é preciso isso
e muito mais” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
E, além do o acesso à justiça, a sociedade deve ter o acesso ao direito,
como nos ensina Leonardo Greco:
“O acesso ao direito, nas sociedades contemporâneas, de-
pende de inúmeros pressupostos, vários deles extrajurídicos.
Assim, o ideal de realização do direito, como instrumento de
convivência pacífica e harmoniosa de todos os cidadãos, de-
pende de vários pressupostos a que o Estado precisa prover.
Daí a importância das eleições dos mandatários políticos, sem
os quais não adianta ter uma boa Constituição Federal e até
mesmo muito boas leis” (em Instituições de Processo Civil, In-
trodução ao Direito Processual Civil, volume I, Ed. Forense).
Segundo o mesmo autor, são pressupostos extrajurídicos do acesso ao di-
reito: a) educação básica, que permitirá que o cidadão tenha consciência
de seus direitos e deveres, assim como dos valores humanos fundamentais;
b) oferecimento a todos os cidadãos de condições mínimas de sobrevivên-
cia com dignidade, com acesso ao trabalho e remuneração corresponden-
te; c) fortalecimento dos grupos intermediários e do associativismo, pois o
indivíduo isolado é mais frágil ao se defender do que em grupo; d) respon-
sabilidade do Estado ao cumprir seus deveres com os cidadãos, inclusive
com transparência; e) oferecimento pelo Estado de assistência jurídica aos
pobres, a respeito de seus direitos; e f) acesso a um tribunal imparcial.
Desse modo, a ordem jurídica será capaz de pacificar os conflitos existentes
em sociedade.
be, em tese, segundo a afirmação do autor na petição inicial ou
os elementos de convicção já trazidos com ela, que a atividade
jurisdicional requerida não poderá ser concedida, a atividade es-
tatal será inútil, devendo ser imediatamente negada. Mas ainda
que a resposta do juiz se exaure na pronúncia de carência de
ação (porque não se configurou alguma das condições da ação)
terá havido exercício da função jurisdicional” (em, Teoria Geral
do Processo, Ed. Malheiros).
As condições da ação são: legitimidade da parte, interesse de agir e possibi-
lidade jurídica do pedido.
a) Legitimidade da parteDiz-se que há legitimidade da parte quando o autor afirma ser titular do
direito material violado ou ameaçado (legitimidade ativa) em face de alguém
que teria a obrigação de se sujeitar à pretensão do demandante (legitimida-
de passiva).
Assim, possuem legitimidade para a causa (ad causam) os sujeitos da relação
jurídica de direito material deduzida no processo (res judicio deducta). É a
denominada legitimidade ordinária.
Importante ressalvar que, excepcionalmente, a lei pode autorizar
a legitimidade extraordinária, quando permite que uma pessoa,
em nome próprio, defenda direito alheio no processo, como por
exemplo, na ação popular, em que o cidadão defende o interesse
da coletividade, em razão de um ato que atinja o patrimônio pú-
blico, e nas ações coletivas em que associações civis defendem os
interesses de seus associados.
b) Interesse de agirEsta condição impõe que o demandante, ao provocar o Poder Judiciário, o
faça de maneira adequada e utilizando a medida necessária e útil à presta-
ção jurisdicional.
Ensina-nos Cássio Scarpinella Bueno:
“O interesse de agir, neste sentido, representa a necessidade de
requerer ao Estado-juiz, a prestação da tutela jurisdicional com
vistas à obtenção de vantagem (a doutrina costuma se referir a
16 76Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec Brasil Aula 7 - Ação, conceito, autonomia e condições de ação
Como afirmam Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamarco:
“A tarefa da ordem jurídica consiste exatamente em harmoni-
zar as relações sociais intersubjetivas, a fim de ensejar a máxi-
ma realização dos valores humanos com o mínimo de sacrifício
e resgate. O critério que deve orientar essa coordenação ou
harmonização é o critério do justo e do equitativo, de acordo
com os valores prevalentes em determinado momento e lugar”
(em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Nesse momento, pois, já sabendo a relação entre Direito e Sociedade, e a
necessidade da solução dos conflitos de maneira justa, passo a examiná-lo
em seu aspecto material.
Esclareço que utilizarei o vocábulo Direito como sinônimo de regras de
condutas impostas pelo Estado às pessoas, independentemente de suas
vontades.
Mas Direito tem vários significados.
Como por exemplo, ao estudar a ciência do Direito, é comum se questio-
nar qual Direito é objeto da pesquisa.
A resposta, que não é tão simples como se pode pensar, depende do
“ramo”, digamos, a ser analisado. Trata-se de direito penal ou direito civil?
É matéria tributária ou administrativa? Sou eleitor... e o direito eleitoral?
São esses os exemplos de ramos do direito.
Desse modo, a todas as perguntas acima daremos respostas buscando o
chamado direito material, vale dizer, o conteúdo das normas de conduta.
Afirmam Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cân-
dido Rangel Dinamarco: “Direito material é o corpo de normas que disci-plinam as relações jurídicas referentes a bens, relações e utilidades da vida (direito civil, penal, administrativo, comercial, tributário, trabalhista etc.) ” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
A matéria do direito por excelência é, pois, o direito material.
dirigida ao Estado, bastando que o autor afirme que sua pretensão encontra
amparo no direito material.
É a teoria que predomina atualmente e aceita pelo direito brasileiro.
e) Teorias ecléticas da açãoAs teorias ecléticas da ação são variações da teoria abstrata e remonta, den-
tre outros, aos juristas Pekelis e Liebman.
Segundo elas, a ação seria um direito de fazer agir o Estado e não direito de
agir; seria a representação de um exercício da função pública; seria um dever
e não um poder.
Ganhou importância no Brasil, sob a influência de Liebman, a afirmação de
que o direito de ação seria de natureza constitucional e somente haveria,
efetivamente, a função jurisdicional se fosse apreciado o mérito (pretensão
deduzida no processo), que dependeria da existência das chamadas condi-
ções da ação, as quais seriam a legitimidade da parte, o interesse de agir e a
possibilidade jurídica do pedido.
Por fim, é de se afirmar que a teoria da ação adotada no Brasil, é
a de que ação é um direito (poder) de natureza pública e abstrata,
mas para a efetiva resposta do Poder Judiciário acerca do mérito
(pretensão de direito material deduzida no processo), se favorável
ou desfavorável ao autor, é necessário que sejam preenchidas as
condições da ação, ou seja, que a parte seja legítima, que ela te-
nha interesse de agir e o pedido seja juridicamente possível.
7.3 Condições da açãoSegundo a teoria formulada por Liebman e adotada pelo direito processual
brasileiro, para que a resposta do Estado-juiz acerca da pretensão de direito
material formulada pelo autor, seja favorável ou não, faz-se necessária a
existência das condições da ação, sob pena de ser reconhecida, no processo,
a carência de ação.
Afirmam Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido
Rangel Dinamarco:
“A exigência da observância das condições da ação deve-se in-
clusive ao princípio da economia processual: quando se perce-
1774 Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 1- Direito Material e Processual
1.2 Direito processualCom relação ao direito processual, objeto principal do nosso curso, este se
trata do ramo do direito chamado instrumental. Estudam-se os caminhos
que devem ser utilizados para a realização do direito material. Tem a fina-
lidade de integração ao direito material.
As normas de direito material não bastam para a solução dos conflitos,
daí porque a busca pelo auxílio estatal é necessária, para se fazer valer o
Estado Democrático de Direito, o nosso Estado, conforme o art. 1º, caput,
da Constituição Federal Brasileira.
Dispõe o art. 1º da CF:
“Art 1º: A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. “Todo poder emana do povo, que o exerce através de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Assim, ao buscar o auxílio estatal, nos deparamos com o conjunto de re-
gras e princípios que disciplinam o caminho a ser utilizado, ou seja, quais
os atos que devemos praticar para que seja possível a apreciação estatal da
nossa demanda e as normas jurídicas a serem observadas.
b) Teoria da ação como direito autônomoA doutrina estabelece como ponto de partida desta teoria o debate travado
entre dois juristas alemães: Windscheid e Muther, no século XIX.
Muther discordou de Windscheid e concluiu que ação se distinguia do direi-
to material (substancial), porque ação seria um direito dirigido ao Estado e
não ao particular, teria, pois, natureza pública. Após, conseguiu convencer
em parte Windscheid que aceitou algumas ideias de Muther e concluiu que
direito de ação seria em face do Estado e não em razão do demandado.
Com efeito, essas ideias foram difundidas perante os estudiosos do direito
que passaram a aceitar a ação como direito autônomo, mas divergiam se
seria concreto ou abstrato.
c) Teoria da ação como direito autônomo e concretoPara esta teoria, atribuída a Wach, também na Alemanha do século XIX, a
ação seria um direito autônomo, desvinculada, portanto, do direito material
(substancial), mas só existiria se a decisão do magistrado fosse favorável ao
autor, daí o seu caráter concreto.
Atribui-se também a formulação desta teoria a Bülow, pois para ele a tutela
jurisdicional só adviria de uma sentença justa.
Chiovenda, a partir da ideia de ação como direito autônomo e concreto,
afirmou que ação seria um direito potestativo, pois ação não seria direito
correspondente a uma obrigação do Estado, mas sim ao demandado que se
sujeitava ao direito de ação do demandante, não sendo, assim, de natureza
pública.
d) Teoria da ação como direito autônomo e abstratoSegundo esta teoria, formulada por Degenkolb, também na Alemanha, e
Plósz, na Hungria, no século XIX, a ação seria um direito abstrato, indepen-
dente do direito material.
Assim, haveria ação (e consequentemente direito de ação) mesmo que a
decisão judicial fosse desfavorável ao autor ou até se a decisão fosse injusta
e a demanda temerária.
O Estado restaria, portanto, obrigado a exercer a jurisdição, não podendo
o juiz deixar de decidir um conflito posto em apreciação, pois a ação seria
18 73Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 7 - Ação, conceito, autonomia e condições de ação
Afirma Cássio Scarpinella Bueno:
“Se as normas de direito material fossem bastantes, se elas
fossem suficientes por si só, para assegurar os comportamen-
tos e os resultados por ela anunciados, prometidos, assegura-
dos, certamente não haveria espaço ou necessidade de se pen-
sar em normas de outra categoria, de outra classe, em normas
de ‘direito processual’...” (em, Curso Sistematizado de Direito
Processual Civil vol. 1, Ed. Saraiva).
Assim, faz-se necessário o estudo do direito processual.
Conforme Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cân-
dido Rangel Dinamarco: “direito processual é o complexo de normas e prin-cípios que regem tal método de trabalho, ou seja, o exercício conjugado da jurisdição pelo Estado-juiz ou pelo árbitro, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Como dito, é necessário para a solução dos conflitos, que haja atuação de
alguém imparcial. O Estado-Juiz. Poder Judiciário. Por quê?
Ora, se não existir um terceiro imparcial para solucionar o conflito, com ga-
rantias e prerrogativas que assegurem efetividade às decisões, certamente
o mais forte conseguiria vencer, independentemente de possuir direito ou
não, o que, sem dúvida, contribuiria para a revolta social aumentar.
Por outras palavras, para se exigir o respeito a um direito material amea-
çado ou violado por alguém, faz-se necessária a formalização de um mé-
todo disponibilizado pelo Estado para a solução do conflito. Este método
chama-se processo, o qual é composto de atos destinados à solução do
conflito. O conjunto de atos ordenados é chamado de procedimento.
Como afirmado por Moacyr Amaral Santos, o “processo consiste num complexo de atos, combinados para a consecução de um fim” (em, Primei-ras Linhas de Direito Processual Civil, Vol. 1, Ed. Saraiva).
Com efeito, o direito processual é um instrumento a serviço do direito ma-
terial, pois, ao tempo que serve para afirmação do ordenamento jurídico,
justifica a garantia de solução imparcial dos conflitos.
ver e Cândido Rangel Dinamarco, “mediante o exercício da ação provoca-se
a jurisdição, que por sua vez se exerce através daquele complexo de atos que
é o processo” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Assim, estuda-se o direito de ação para compreender em que condições
pode ser provocado o Poder Judiciário, a fim de que se obtenha a solução
da contenda.
7.2 AutonomiaQuando se fala em autonomia da ação, quer-se dizer que a ação existe inde-
pendentemente do direito material a ser pleiteado (deduzido) no processo.
No entanto, nem sempre foi assim.
Ao contrário, perdurou por muitos séculos a ideia de que o direi-
to de ação seria dependente e um capítulo do direito processual,
portanto, ação seria acessória ao direito substancial. Ação seria
apenas o meio de defesa do direito material, chegando-se a afir-
mar que a todo direito corresponde a uma ação, que o assegura.
Desse modo, passaremos a analisar as teorias que antecederam a
conclusão pela autonomia da ação e seu caráter público e abstra-
to. Tal estudo se justifica, pois, com ele, conseguiremos verificar a
própria evolução e consolidação do direito processual como ramo
autônomo do direito.
a) Teoria imanentista (civilista)A chamada teoria imanentista (também chamada de civilista) prevaleceu du-
rante muitos séculos, a partir do direito romano, e, segundo a qual, ação e
processo não se diferenciavam do direito material.
Desse modo, como dito, ação não se distinguia do direito material, portanto
não existiria o direito autônomo de ação, o que obrigava, por exemplo, o
demandante a ter o direito material para, consequentemente, ter o direito
de ação.
As premissas em que se baseavam os defensores desta teoria eram as de que
não há ação sem direito, não há direito sem ação e a ação segue a natureza
do direito.
A ação seria, pois, o direito exercido perante o juízo.
72 19Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 1- Direito Material e Processual
Ensinam-nos Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamarco:
“O direito processual é assim, do ponto de vista de sua função
jurídica, um instrumento a serviço do direito material: todos
seus institutos básicos (jurisdição, ação, exceção, processo) são
concebidos e justificam-se, no quadro das instituições do Esta-
do, pela necessidade de garantir a autoridade do ordenamen-
to jurídico. O objeto do direito processual reside precisamente
nesses institutos, e eles concorrem decisivamente para dar-lhe
sua própria individualidade e distingui-lo do direito material”
(em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Com efeito, o direito processual é um instrumento a serviço do direito ma-
terial, pois, ao tempo que serve para afirmação do ordenamento jurídico,
justifica a garantia de solução imparcial dos conflitos.
Ensinam-nos Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamarco:
“O direito processual é assim, do ponto de vista de sua função
jurídica, um instrumento a serviço do direito material: todos
seus institutos básicos (jurisdição, ação, exceção, processo) são
concebidos e justificam-se, no quadro das instituições do Esta-
do, pela necessidade de garantir a autoridade do ordenamen-
to jurídico. O objeto do direito processual reside precisamente
nesses institutos, e eles concorrem decisivamente para dar-lhe
sua própria individualidade e distingui-lo do direito material”
(em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
No exercício da função jurisdicional, o Estado trava relações jurídicas com
outros sujeitos de direito, públicos ou privados, interessados ou não no
seu resultado, e todos esses múltiplos vínculos entre todos esses sujeitos,
direcionados para o objetivo comum de propiciar o adequado exercício da
função jurisdicional, formam o processo, que empresta o seu nome a esse
ramo do direito” (em Instituições de Processo Civil, Introdução ao Direito
Processual Civil, volume I, Ed. Forense). Eis, pois, a noção precisa de direito
processual.
Aula 7 - Ação, conceito, autonomia e
condições de ação
ObjetivosNesta unidade estudaremos a evolução do conceito de ação, para
com base em premissas sólidas compreendermos a atual autono-
mia da ação e finalizaremos com a análise das condições da ação,
pois, através de sua perfeita identificação, o aluno compreenderá
que se as condições não forem observadas, a tutela jurisdicional
não será concedida e a demanda sequer apreciada.
Tema: Ação, conceito, autonomia e condi-ções da ação
7. Da ação
7.1 Introdução e ConceitoA vida em sociedade não existe sem conflitos de interesses. É natural do ser
humano. No entanto, nos Estados Democráticos de Direito, como é o caso
do Brasil, a solução dos conflitos é dada, via de regra, por um terceiro impar-
cial: o Estado-Juiz.
Com base nessas premissas, a Constituição Federal, nossa lei maior, estabe-
leceu como direito e garantia fundamental o acesso à justiça (art. 5º, XXXV),
para permitir que todos que se sentissem ameaçados ou lesionados em seu
direito, pudessem se dirigir ao Poder Judiciário, em busca de uma solução
justa para o conflito, como consequência surge o direito de ação.
Ademais, era necessário que o Estado também disponibilizasse um método
composto por atos e disciplinado por normas que orientassem o acesso à
justiça, o chamado processo. O ramo do direito que estuda tal método é o
direito processual.
Ação é, pois, o direito de provocar a jurisdição, e, através desta, o autor deduz sua pretensão a ser analisada pelo Estado-Juiz, Poder Judiciário.
Como afirmado por Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grino-
7120 Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 7 - Ação, conceito, autonomia e condições de ação
1.3 Relação entre direito processual e direitomaterialInicialmente, é importante assentar que tanto o direito processual como o
direito material deve ser estudado à luz da Constituição Federal, a qual é
nossa lei maior e possui os fundamentos de validade das demais normas
do ordenamento jurídico.
Nesse contexto, Luiz Guilherme Marinoni preleciona:
“É que a necessidade de tutela do direito material – e assim a
adequação procedimental nessa perspectiva – pode se mostrar
dúbia quando não relacionada com os direitos fundamentais
e com os direitos fundamentais e com os princípios constitu-
cionais de justiça. As necessidades do direito material, para
legitimarem a restrição às alegações do réu devem guardar
consonância com a substância dos direitos fundamentais. A
legitimidade material dos procedimentos diferenciados, par-
ticularmente dos procedimentos delineados pelo legislador
mediante restrições às afirmações que o réu poderia fundar
no direito material, é dependente dos direitos fundamentais
materiais” (em Teoria Geral do Processo, v.1, Ed. Revista dos
Tribunais).
Entretanto, faz-se necessário diferenciar direito material de direito proces-
sual.
A rigor, o direito processual trata dos sujeitos processuais, da posição de
cada um deles no processo e do procedimento a ser adotado para a so-
lução do conflito, nada se relacionando com o objeto de interesse dos
contendores.
No sentido do afirmado acima, Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pel-
legrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
“O que distingue fundamentalmente direito material de direito
processual é que este cuida das relações dos sujeitos proces-
suais, da posição de cada um deles no processo, da forma de
se proceder aos atos deste sem nada dizer quanto ao bem da
vida que é objeto do interesse primário das pessoas” (em, Te-
oria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Atividades de aprendizagem1. Considerando que o Brasil é uma república federativa, composta pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constituin-
do-se um Estado Democrático de Direito, conforme o art. 1º da Constituição
Federal; e que, para exercer suas funções, o Estado Brasileiro organiza-se
em Poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, os quais são independentes e
harmônicos entre si (art. 2º da CF), o que entende por Poder Judiciário?
2. O Poder Judiciário é organizado segundo o determinado pela Cons-
tituição Federal (art. 92 da CF). Assim, quais os órgãos do Poder Judiciário e
suas competências?
3. Sabendo que a Constituição Federal estabelece garantias que permi-
tem ao magistrado decidir livremente, formando seu convencimento, sem
correr o risco de sofrer alguma punição pelo ato de julgar, cite e explique as
garantias da magistratura.
4. São vedadas determinadas atividades ao magistrado, conforme o
art. 95, parágrafo único, da Constituição Federal. Desse modo, cite as ativi-
dades que são vedadas aos magistrados.
2172 Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 1- Direito Material e Processual
Como exemplo, da relação entre direito material e direito processual e suas
distinções, usaremos a chamada ação de alimentos.
Na ação de alimentos, alguém que necessita de alimentos (direito mate-
rial), para exigi-los através do Estado-Juiz, precisa formalizar um processo,
o qual é estudado através do chamado direito processual.
Como você deverá proceder? Qual o caminho?
Ah, agora estamos diante do direito processual, pois teremos que verificar
os princípios e regras que disciplinam o acesso ao Poder Judiciário, como,
por exemplo, a necessidade de se formalizar por escrito, os prazos a serem
observados e a garantia do contraditório e da ampla defesa.
Como afirmado por Fredie Didier Jr.:
“As regras processuais são criadas para atender às caracte-
rísticas/peculiaridades da situação jurídica substancial a ser
deduzida no ato postulatório. Assim, impossível e imprestável
qualquer estudo do processo civil que se faça sem o devido
confronto com as regras de direito material, que sempre de-
vem ser analisadas para que se saiba em que medida o legisla-
dor processual delas sofreu influência” (em, Curso de Direito
Processual Civil, teoria geral do processo e processo de conhe-
cimento, vol. 1, Ed. Jus Podivm).
É importante ressaltar, ainda, que a prática dos atos processuais compete,
além das partes e seus advogados, ao juiz e aos auxiliares da justiça, como
por exemplo, o oficial de justiça e o escrivão.
Ademais, as normas de direito processual, ainda que tecnicamente perfei-
tas, não devem ser elaboradas desconexas do direito material, sob pena de
o caminho a ser percorrido perante o Poder Judiciário (direito processual),
tornar-se inútil, pois não atingirá a sua finalidade que é a correta aplicação
do direito material, também chamado de direito substancial, buscando-se
a solução dos conflitos existentes em sociedade.
b) InamovibilidadeO juiz, ao se estabelecer em uma unidade judiciária, não pode ser removido
sem o seu consentimento, portanto é inamovível.
No entanto, em caso de interesse público, pode haver a remoção obrigató-
ria do magistrado, desde que assim seja decidido pela maioria absoluta do
tribunal ao qual é vinculado, ou pela maioria absoluta do Conselho Nacional
de Justiça, em qualquer caso, assegurada ampla defesa.
c) Irredutibilidade de vencimentos (subsídios)O magistrado tem a garantia de que não haverá corte em seus vencimentos
(subsídios) e, assim, poderá exercer a jurisdição com tranquilidade, sem te-
mor de sofrer consequências que visem prejudicar a imparcialidade de suas
decisões.
Vê-se, portanto, que as garantias constitucionais são essenciais para que o
magistrado distribua a justiça sempre com imparcialidade e conforme ape-
nas seu livre convencimento.
6.4 VedaçõesSão vedadas determinadas atividades ao magistrado, conforme o art. 95,
parágrafo único, da Constituição Federal.
As vedações são: exercer outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em proces-
so; dedicar-se à atividade político-partidária; receber, a qualquer título ou
pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; e exercer a advocacia no
juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afasta-
mento do cargo por aposentadoria ou exoneração.
Por fim, tais vedações se justificam em razão da necessidade do magistrado
decidir de maneira livre e imparcial, seguindo apenas sua consciência, de
modo que a solução do conflito seja a mais justa possível, sob pena de não
ser atingida a paz social.
22 69Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 6 - Poder Judiciário
Sobre o tema, afirma José Roberto dos Santos Bedaque:
“A natureza instrumental do direito processual impõe sejam
seus institutos concebidos em conformidade com as neces-
sidades do direito substancial. Isto é, a eficácia do sistema
processual será medida em função de sua utilidade para o or-
denamento jurídico material e para a pacificação social. Não
interessa, portanto, uma ciência processual conceitualmente
perfeita, mas que não consiga atingir os resultados a que se
propõe. Menos tecnicismo e mais justiça, é o que se pretende”
(em, Direito e Processo, Influência do Direito Material sobre o
Processo, Ed. Malheiros).
Diante do exposto, conclui-se que direito processual e direito material estão
relacionados e interligados no sentido de que para este (direito material)
ser realizado, faz-se necessária a utilização daquele (direito processual), o
que mais ainda reforça a ligação existente entre eles, pois é imprescindível
que estejam juntos para a solução dos conflitos sociais, sejam eles indivi-
duais ou coletivos.
Atividades de aprendizagem:1. Diante da seguinte afirmação: “para regular a relação entre as pes-
soas, e entre estas e os bens, nasce o direito, inclusive no que se refere aos
conflitos de interesses. No entanto, é importante afirmar que somente a
existência do direito não é capaz de resolver os conflitos, pois as normas
podem ser descumpridas, ou ameaçadas de descumprimento. O Estado tem
que intervir, pois não é salutar a solução através da força, já que, neste caso,
não é possível garantir uma resolução imparcial”, explique o que se entende
por direito material.
2. Para se exigir o respeito a um direito material ameaçado ou violado
por alguém, faz-se necessária a formalização de um método disponibilizado
pelo Estado para a solução do conflito. Diante do exposto, o que significa
direito processual?
Desse modo, a Constituição Federal estabelece garantias que per-
mitem ao magistrado decidir livremente, formando seu convenci-
mento, sem correr o risco de sofrer alguma punição pelo ato de
julgar. Ressalte-se que o livre convencimento deve ser motivado,
pois o juiz está subordinado à lei e não pode decidir contrariamen-
te a ela.
As garantias são vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de
vencimentos (subsídios) e estão previstas no art. 95 da Constitui-
ção Federal.
a) VitaliciedadeA garantia da vitaliciedade significa que o magistrado exerce cargo vitalício,
só podendo perdê-lo em razão de sentença proferida em processo destinado
à perda.
É necessário afirmar que só após dois anos de exercício no cargo torna-se
vitalício e o ingresso na carreira de primeira instância se dá por concurso
público de provas e títulos, após três anos de atividade jurídica.
A relevância é porque o juiz não perde o cargo administrativamente, como
qualquer servidor público, por exemplo.
Acrescentam Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamarco:
“A vitaliciedade não impede que o juiz seja aposentado com-
pulsoriamente (a) por interesse público, ou (b) aos setenta anos,
com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, ou (c)
por invalidez permanente, também com os proventos propor-
cionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de aci-
dente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, con-
tagiosa ou incurável, na forma da lei (art. 93, inc. VI, c/c art.
40, incs. I e II), ou (d) ainda colocado em disponibilidade pelo
voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho
Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa (art. 93, inc. VIII)
” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Com tal garantia, o membro do poder judiciário pode atuar sem temor de
sofrer retaliação, garantindo-se sua imparcialidade para decidir.
2368 Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 1- Direito Material e Processual
3. O direito surge das relações entre as pessoas em sociedade? Justifi-
que.
4. O direito se origina de várias fontes. Quais são elas?
5. Sabendo que é importante a aplicação do melhor direito ao caso
concreto, buscando-se a solução mais justa possível, estabeleça uma defini-
ção de justiça.
6. Uma decisão judicial pode desagradar uma das partes e até as duas
envolvidas no conflito posto em apreciação ao Poder Judiciário. Desse modo,
o que se entende por uma decisão justa?
7. Diante da necessidade da solução dos conflitos o Estado tem que
intervir. Assim, responda: por que existe a jurisdição?
8. O acesso à justiça é considerado uma das garantias fundamentais
dos cidadãos, inclusive previsto no art. 5º, XXXV, da CF. Em que consiste o
acesso à justiça?
Os Tribunais Superiores são: Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Su-
perior do Trabalho (TST), Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Superior Tribunal
Militar (STM). A eles competem apreciar, em última instância, as matérias
respectivas a cada tribunal (jurisdição comum e especial).
Os Tribunais Regionais Federais são a segunda instância (instância recursal)
da Justiça Federal comum. Dividem-se em cinco regiões. O Piauí integra a
primeira região, cuja sede é em Brasília. As demais sedes são: Rio de Janeiro
(segunda região), São Paulo (terceira região), Porto Alegre (quarta região) e
Recife (quinta região).
Os Tribunais Regionais do Trabalho são a segunda instância (instância recur-
sal) em matéria trabalhista (jurisdição especial) e são distribuídos em vinte e
quatro regiões, com sede em quase todas as capitais do país. Com exceção
do Amapá, que integra a oitava região, cuja sede é em Belém (PA); Tocantins,
que integra a décima região, cuja sede é em Brasília (DF); de Roraima, que
integra a décima primeira região, cuja sede é em Manaus (AM), e do Acre,
que integra a décima quarta região, cuja sede é em Porto Velho (RO). O Piauí
tem sede do Tribunal Regional do Trabalho na capital Teresina, representan-
do a vigésima segunda região.
Os Tribunais Regionais Eleitorais são a segunda instância (instância recursal)
em matéria eleitoral e estão sediados em todas as capitais.
Os Tribunais Militares nem sempre existem separados dos Tribunais de Justi-
ça, cabendo às leis estaduais definirem se a jurisdição militar será realizada
por juízes de direito em varas especializadas e pelo Tribunal de Justiça, ou
pela Justiça Militar efetivamente organizada, neste caso, desde que o Estado
tenha efetivo militar superior a vinte mil integrantes. No Piauí não há Tribu-
nal Militar separado do Tribunal de Justiça.
Os Tribunais de Justiça são a segunda instância da justiça estadual comum
(instância recursal) e estão sediados em todas as capitais.
6.3 GarantiasO Poder Judiciário é um poder independente. Entretanto, para os magistra-
dos atuarem com a imparcialidade necessária, livre da influência dos outros
Poderes, há necessidade de garantias constitucionais para o exercício da ju-
risdição.
24 67Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 6 - Poder Judiciário
9. Em situações de seu cotidiano, cite exemplos de aplicação do direito
material e do direito processual.
10. Considerando que o direito processual é um instrumento a serviço
do direito material, em sua opinião o direito material basta para a solução
dos conflitos em sociedade? Explique relacionando direito material e direito
processual.
I - A O Conselho Nacional de Justiça;
II – O Superior Tribunal de Justiça;
III – Os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais;
IV – Os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V – Os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI – Os Tribunais e Juízes Militares;
VII – Os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal
e Territórios.
Ressalte-se que o Poder Judiciário é organizado em nível federal e em nível
estadual e a ele é assegurada autonomia administrativa e financeira.
O Supremo Tribunal Federal (STF), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e os
Tribunais Superiores têm sede em Brasília (Capital Federal).
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), não exerce função jurisdicional, mas
compete-lhe o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Ju-
diciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Será presidido
pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedi-
mentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal.
O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo
território nacional.
Todas as competências dos órgãos que compõem o Poder Judiciário estão
previstas no capítulo III da Constituição Federal.
Ao Supremo Tribunal Federal compete precipuamente a guarda da Cons-
tituição. É o intérprete da Constituição por excelência. É o órgão que dá a
“última palavra” em matéria constitucional. É composto por onze membros
(ministros), escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos
de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação
ilibada. São nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a
escolha pelo Senado Federal.
2566 Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 1- Direito Material e Processual
Aula 6 - Poder Judiciário
ObjetivosEstudar o Poder Judiciário, iniciando por sua função precípua e os
seus órgãos. Após, enumerar as competências dos tribunais e sua
localização, ressalvando nossa realidade social. Por fim, analisar as
garantias e vedações dos magistrados, para permitir uma melhor
compreensão das suas atividades.
6. Poder judiciário
6.1 IntroduçãoO Brasil é uma república federativa, composta pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constituindo-se um Estado Demo-
crático de Direito, conforme o art. 1º da Constituição Federal.
Para exercer suas funções, o Estado Brasileiro organiza-se em Poderes, Legis-
lativo, Executivo e Judiciário, os quais são independentes e harmônicos entre
si (art. 2º da CF).
O Legislativo tem como função precípua legislar (elaborar as leis
por meio de um processo legislativo estabelecido na Constituição).
O Executivo tem como principal função executar as leis (adminis-
trar propriamente) e o Judiciário tem como função primordial apli-
car as leis (julgar, exercer a jurisdição).
Com efeito, interessa-nos analisar nesta unidade o Poder Judiciário, o que
faremos a seguir.
6.2 OrganizaçãoO Poder Judiciário é organizado segundo o determinado pela Constituição
Federal, especialmente o art. 92, a seguir:
Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:
I – O Supremo Tribunal Federal;
65 e-Tec BrasilAula 6 - Poder Judiciário
Objetivos
Pretendemos abordar os conceitos básicos de interesse e conflito
de interesses (lide), além das formas de resolução de conflitos, a
fim de que, ao final, o aluno consiga distingui-los, e, no que res-
peita às formas de solução de litígios, seja capaz de vislumbrar sua
aplicação.
2. Conceitos processuiais básicos
2.1 InteresseDiscute-se na doutrina o conceito de interesse.
O interesse estaria ligado a um juízo ou posição formulada por alguém dian-
te de uma necessidade, entendida esta como uma situação de carência ou
desequilíbrio biológico ou psíquico.
Como afirmado por J. E. Carreira Alvim: “O homem apresenta necessidades as mais diversas, sob variados aspectos, e tende a proceder de forma que sejam satisfeitas; que desapareça a carência ou se restabeleça o equilíbrio perdido” (em Teoria Geral do Processo, Ed. Forense).
Assim, verifica-se que interesse advém de uma relação que envolve
o homem e sua necessidade.
Ademais, a razão entre o homem e os bens, quer seja maior ou
menor, denomina-se interesse.
Moacyr Amaral Santos afirma:
“Assim, aquilata-se o interesse da posição do homem, em re-
lação a um bem, variável conforme suas necessidades. Donde
consistir o interesse na posição favorável à satisfação de uma
necessidade. Sujeito do interesse é o homem; o bem é o seu
objeto” (em, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol. 1,
Ed. Saraiva).
Aula 2 - Conceitos processuais básicos6. Considerando que a procura pela jurisdição, em regra, dá-se no in-
tuito de ser resolvido um conflito de interesses, individual ou coletivo, em
que as partes resistiram às pretensões, vez que é vedada a autotutela (em
geral), diferencie jurisdição contenciosa de jurisdição voluntária.
Anotações
64 27Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 2 - Conceitos processuais básicos
Ademais, o interesse pode ser imediato ou mediato.
No primeiro caso (imediato), o juízo ou posição está ligado direta-
mente à satisfação da necessidade. Exemplo clássico é a situação
que envolve a necessidade de alimentos.
No segundo caso (mediato), o juízo ou posição une-se indireta-
mente à satisfação da necessidade, como, por exemplo, na hipóte-
se de um taxista exigir um veículo que será utilizado como instru-
mento de trabalho, do qual retirará seu sustento.
Também o interesse pode ser individual ou coletivo.
Sendo individual, o juízo ou posição se refere somente a um indiví-
duo, como se percebe na hipótese de aquisição de uma televisão,
vez que tal interesse pode ser de cada um.
Sendo coletivo, leva-se em conta uma situação que diga respeito a
vários indivíduos considerados em grupo, como, por exemplo, na
satisfação de necessidade de proteção ambiental, pois o meio am-
biente merece atenção da coletividade e os danos a ele praticados
influenciam em mais de um indivíduo.
Ensina-nos Moacyr Amaral Santos:
“Mas o homem não vive isolado. A par de suas necessidades
individuais, surgem necessidades do agrupamento a que per-
tence, e que são aquelas mesmas necessidades consideradas
em função do grupo. Fala-se assim em interesse individual e
coletivo. No interesse individual a razão está entre o bem e o
homem, conforme suas necessidades; no interesse coletivo –
abrangido aqui os interesses difusos, os coletivos em sentido
estrito e os individuais homogêneos – a razão ainda está entre
o bem e o homem, mas apreciadas as suas necessidades em
conjunto a necessidades idênticas do grupo social. Por isso a
determinação dos interesses coletivos – da família, da sociedade
civil, do sindicato, do município, do Estado etc. – é função dos
grupos sociais que se constituíram ou receberam competência
legal para a satisfação, realização, proteção e desenvolvimento
daqueles interesses” (em, Primeiras Linhas de Direito Processual
Civil, Vol. 1, Ed. Saraiva).
Atividades de aprendizagem1. Sabendo que jurisdição deve estar dirigida, especificamente, ao fim
de manter, em última instância, o ordenamento jurídico, ou seja, os direitos
no caso concreto, quando observados espontaneamente pela sociedade, o
que se entende por jurisdição?
2. Considerando que a jurisdição tem características, a fim de ser me-
lhor entendida, cite e explique as características da jurisdição.
3. A jurisdição é una e indivisível, pois decorre da soberania do Estado.
No entanto, os autores (doutrina) costumam “dividir” a jurisdição, adotando
critérios ligados mais à distribuição dos processos para serem julgados (com-
petência) do que à própria diferenciação entre “jurisdições”, até, porque,
como dito, neste caso não seria tecnicamente possível, face o caráter indivi-
sível da jurisdição. Nesse contexto, quais as espécies de jurisdição? Explique-
-as.
4. A jurisdição é orientada pelos seguintes princípios: a) investidura; b)
aderência ao território; c) indelegabilidade; d) inevitabilidade; e) inafastabili-
dade; f) juiz natural. Comente-os.
5. Sabendo que existem atos que por sua importância transcendem o
interesse exclusivo da parte, passando a ter caráter público, exigindo-se a
participação do Estado. O que se entende por jurisdição voluntária?
28 63Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 5 - Jurisdição, contenciosa e voluntária
Vale ressaltar que os interesses humanos são ilimitados, mas os bens são
limitados. Tal situação exige que, diante de um conflito pessoal, íntimo por
assim dizer, o interessado deverá optar por um de seus interesses se não for
possível compatibilizá-los.
Essas são as principais espécies de interesse.
2.2 Conflito de interesses. Lide.É evidente que diante dos interesses mencionados no tópico anterior, confli-
tos podem existir. E mais do que isso: conflitos caracterizados por pretensões
não aceitas. Portanto, conflitos interpessoais e não íntimos.
Cássio Scarpinella Bueno leciona:
“Um conflito que não envolva, contudo, pelo menos duas
pessoas, que não seja intersubjetivo, portanto, é estranho ao
direito processual civil e, verdade seja dita, ao próprio direito.
As dúvidas, as ansiedades, as inquietações de um indivíduo, no
fundo de sua intimidade e de sua subjetividade, são estranhas
ao estudo do direito como um todo. São relevantes quando
aquelas sensações são exteriorizadas. Aí sim, pode ser que uma
atitude ou uma omissão digam respeito a outras pessoas. Caso
contrário, não” (em, Curso Sistematizado de Direito Processual
Civil vol. 1, Ed. Saraiva).
O conflito, repise-se, pressupõe pelo menos duas pessoas com interesses
pelo mesmo bem.
Aqui, reside o conceito clássico de lide formulado por Carnelutti,
“lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão re-
sistida ou insatisfeita”.
Segundo Moacyr Amaral Santos, o “conflito se dinamiza: à preten-
são do sujeito de um interesse se opõe a resistência do sujeito de
outro interesse” (em, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol. 1, Ed. Saraiva).
É de se ressaltar que pretensão não significa direito, pois a preten-
são pode não ser amparada pelo direito, como exemplo, a hipóte-
se de alguém querer exigir dívida de jogo ou aposta.
Assim, ao se deparar com uma decisão judicial desfavorável de primeiro grau
(jurisdição inferior), o litigante inconformado, de acordo com nosso ordena-
mento jurídico, pode se valer do chamado princípio do duplo grau de jurisdi-
ção, vale dizer, tem o direito de recorrer da decisão, buscando uma instância
superior que terá competência para rever a decisão.
5.5 Jurisdição Contenciosa e Jurisdição Voluntá-riaComo já foi afirmado várias vezes ao longo deste Curso, a procura pela juris-
dição, em regra, dá-se no intuito de ser resolvido um conflito de interesses,
individual ou coletivo, em que as partes resistiram às pretensões, vez que é
vedada a autotutela (em geral).
No entanto, existem atos que por sua importância transcendem o interesse
exclusivo da parte, passando a ter caráter público, exigindo-se a participação
do Estado, mesmo ausente o conflito de interesses.
Nesse contexto, surgiu a chamada jurisdição voluntária que, mesmo discu-
tida pela doutrina seu caráter jurisdicional, por se tratar de administração
pública de interesses privados, portanto de natureza administrativa, o le-
gislador impôs como condição de validade desses atos, a participação do
Estado-Juiz a quem compete homologá-los, como por exemplo, na hipótese
de um divórcio consensual em que o casal tem filhos incapazes (menores).
Assim, o que se chama de jurisdição voluntária é a atividade ad-
ministrativa do Poder Judiciário destinada a homologar situações
jurídicas, em que os interessados não estando em conflito neces-
sitam de reconhecimento da validade dos atos com repercussão
que transcendem sua esfera jurídica, caracterizando o interesse
público.
De outro lado, contenciosa é a jurisdição destinada a solucionar a
lide em busca da pacificação social.
62 29Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 2 - Conceitos processuais básicos
Dispõe o art. 814 do Código Civil:
“As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam o pagamento; mas não se
pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha
por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.
§1º (...).
§2º O preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate
de jogo não proibido, só se excetuando os jogos e apostas legalmente per-
mitidos”.
Assim, a princípio, essa pretensão não irá gerar nenhum direito, pois as dí-
vidas de jogo ou de aposta não obrigam o pagamento, só se excetuando os
legalmente permitidos.
2.3 Relação JurídicaComo já foi afirmado, havendo interesses jurídicos diferentes pode existir o
conflito, os quais serão resolvidos conforme o direito. Diz-se que diante do
interesse surge uma situação jurídica, no entanto o interesse deve ser juridi-
camente protegido ou juridicamente subordinado.
Sobre o tema, o magistério de Moacyr Amaral Santos:
“Tratando-se de interesses juridicamente protegidos, os
respectivos conflitos serão resolvidos segundo o direito.
A lei regula conflito de interesses. Regula-os de modo a
distinguir o interesse que deva prevalecer, donde distin-
guirem-se duas faces no conflito de interesses: a do su-
bordinante, ou protegido, e a de interesse subordinado.
Em face do respectivo interesse, os sujeitos do conflito se
encontram, pois, na situação de titulares de um interesse
subordinante ou de um interesse subordinado. Na posi-
ção do sujeito diante do próprio interesse, conforme seja
subordinante ou subordinado, se configura uma situação
jurídica. Ou, por outras palavras, o interesse juridicamente
protegido ou juridicamente subordinado constitui o que
se chama situação jurídica.” (Em, Primeiras Linhas de Di-reito Processual Civil, Vol. 1, Ed. Saraiva).
tureza penal e a outros as demais. Fala-se assim em jurisdição
penal (causas penais, pretensões punitivas) e jurisdição civil (por
exclusão, causas e pretensões não penais). A expressão jurisdi-
ção civil, aí, é empregada em sentido amplo, abrangendo toda
a jurisdição não penal” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Ma-
lheiros).
Eis, pois, a diferenciação precisa entre jurisdição civil (em sentido amplo) e
jurisdição penal.
b) Jurisdição comum e jurisdição especialA jurisdição especial, chamada de justiça especializada, caracteriza-se pela
apreciação de demandas que o legislador decidiu atribuir natureza diferen-
ciada, com princípios e normas específicos, por exemplo, nas jurisdições tra-
balhista, militar e eleitoral, as quais constam expressamente na Constituição
Federal.
Ensinam-nos Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamarco:
“A Constituição instituiu vários organismos judiciários, cada um
deles constituindo uma unidade administrativa autônoma e re-
cebendo da própria Lei Maior os limites de sua competência.
Trata-se da Justiça Federal (comum), da Justiça Militar, da Justiça
Eleitoral, da Justiça do Trabalho, de cada uma das Justiças dos
Estados – e permite-se também que as unidades federadas ins-
tituam as suas Justiças Militares estaduais. A doutrina costuma,
ainda, sempre levando em conta as regras de competência esta-
belecidas na própria Constituição, distinguir entre Justiças que
exercem jurisdição especial e Justiças que exercem jurisdição co-
mum” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
De outro lado, a jurisdição comum não exige uma justiça especializada,
como ocorrem nos processos cíveis e criminais em geral.
c) Jurisdição superior ou inferiorA jurisdição superior cuida da chamada instância recursal ou segunda instân-
cia, vale dizer da jurisdição que se dedica, em regra, a apreciação dos recur-
sos interpostos de decisões de primeira instância (primeiro grau, jurisdição
inferior), diante do inconformismo que é natural do ser humano.
30 61Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 5 - Jurisdição, contenciosa e voluntária
Desse modo, sabendo o que é situação jurídica, torna-se fácil compreender
o fenômeno que se denomina relação jurídica, vez que esta compreende as
duas situações jurídicas acima citadas, quais sejam: subordinante ou prote-
gida e subordinada.
2.4 Resolução de conflitos de interesses. For-mas.Com o surgimento dos conflitos de interesses, faz-se necessária a criação de
meios (formas) para resolvê-los, sob pena de verificarmos o caos social, ou
seja, a sociedade não consegue conviver em harmonia, havendo, em todos
seus segmentos, condutas que dificultariam o tão almejado bem-estar social.
Isso se justifica porque pela violência nada irá se resolver em definitivo. Ao
contrário, a atitude violenta ameaça e perturba a paz social, a qual só é as-
segurada prevenindo e eliminando conflitos.
Ressalte-se, porém, que existem formas parciais (realizadas pelas próprias
partes) e imparciais (realizadas por terceiros) de solução dos conflitos de in-
teresses.
2.4.1 Autodefesa (autotutela)A autodefesa (autotutela) é o primeiro exemplo de forma parcial. Aqui, al-
guém faz a defesa de si mesmo. É considerada a forma mais primitiva de
defesa, pois o próprio indivíduo ou grupo faz sua defesa pela força contra o
adversário.
Sobre o tema, destaca-se a análise realizada por Antonio Carlos de Araújo
Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
“Nas fases primitivas da civilização dos povos inexistia um Esta-
do suficientemente forte para superar os ímpetos individualistas
dos homens e impor o direito acima da vontade dos particulares;
por isso, não só inexistia um órgão estatal que, com soberania
e autoridade, garantisse o cumprimento do direito, como ainda
não havia sequer as leis (normas gerais e abstratas impostas
pelo Estado aos particulares). Quem pretendesse alguma coisa
que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua própria
força e na medida dela, tratar de conseguir por si mesmo a
satisfação dessa pretensão” (em, Teoria Geral do Processo, Ed.
Malheiros).
para apreciar determinado caso, particularizando-se a apreciação da con-
tenda, situação que, indubitavelmente, afrontaria o Estado Democrático de
Direito e prejudicaria sobremaneira a garantia do acesso à justiça, porque
afetaria a imparcialidade do Poder Judiciário.
Ora, para haver justiça na decisão judicial exige-se a imparcialidade. Não é
difícil se concluir que uma conduta parcial do julgador comprometerá e mui-
to o acertamento da resposta dada pelo Poder Judiciário, contribuindo para
a manutenção do conflito de interesses.
5.4 EspéciesA jurisdição é una e indivisível, pois decorre da soberania do Estado.
A rigor, pois, não haveria que se falar em espécies de jurisdição.
No entanto, os autores (doutrina) costumam “dividir” a jurisdição,
adotando critérios ligados mais à distribuição dos processos para
serem julgados (competência) do que à própria diferenciação entre
“jurisdições”, até, porque, como dito, neste caso não seria tecni-
camente possível, face o caráter indivisível da jurisdição.
a) Jurisdição penal e jurisdição civilA jurisdição civil, entendida em sentido amplo, engloba todos os ramos da
jurisdição não-penal comum, como as causas e pretensões envolvendo o
próprio direito civil, direito administrativo, direito empresarial, direito tribu-
tário etc.
Já a jurisdição penal abrange as demandas envolvendo o direito criminal,
através do qual se busca a pretensão punitiva do Estado, envolvendo, por
exemplo, aplicação de penas decorrentes de um crime de homicídio.
Veja-se o posicionamento de Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini
Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
“Em todo processo as atividades jurisdicionais exercidas têm por
objeto uma pretensão. Essa pretensão porém varia de natureza,
conforme o direito objetivo material em que se fundamenta.
Há, assim, causas penais, civis, comerciais, administrativas, tri-
butárias, trabalhistas etc. Com base nisso, é comum dividir-se
o exercício da jurisdição entre os juízes de determinado país,
dando a uns a competência para apreciar as pretensões de na-
60 31Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 2 - Conceitos processuais básicos
Em razão de se fazer valer pela força, nos dias atuais só é admitida
em casos excepcionais, como na hipótese de legítima defesa aceita
no direito penal e o desforço imediato amparado pelo direito civil.
Inclusive pode configurar crime de exercício arbitrário das próprias
razões e de exercício arbitrário ou abuso de poder.
Como ensina Fredie Didier Jr.:
“Trata-se de solução vedada, como regra, nos ordenamentos
jurídicos civilizados. É conduta tipificada como crime: exercício
arbitrário das próprias razões (se for um particular) e exercício
arbitrário ou abuso de poder (se for o Estado). Como o meca-
nismo de solução de conflitos, entretanto, ainda vige em alguns
pontos do ordenamento. ” (em, Curso de Direito Processual Ci-
vil, teoria geral do processo e processo de conhecimento, vol. 1,
Ed. Jus Podivm).
O grande risco dessa forma de resolução de conflitos é a solução em favor
daquele que possuir mais força e não melhor direito, sem falar na possibili-
dade de, por conta disso, o conflito tomar grandes proporções, muitas vezes
incontroláveis.
Assim, é passível de controle pelo Poder Judiciário qualquer abuso no exercí-
cio da defesa privada, a fim de que seja preservado o equilíbrio, legitimando-
-o.
2.4.2 AutocomposiçãoJá na autocomposição os contendores espontaneamente solucionam o con-
flito de interesses, independentemente da atuação estatal.
Como nos ensina J. E. Carreira Alvim:
“O vocábulo ‘autocomposição’ se deve a Carnelutti, que, ao
tratar dos equivalentes jurisdicionais, aí a incluiu, sendo integra-
do do prefixo auto, que significa “próprio”, e do substantivo
“composição”, que equivale a solução, resolução ou decisão do
litígio por obra dos próprios litigantes.
A autocomposição aparece como solução altruísta, pois traduz
atitudes de renúncia ou reconhecimento a favor do adversário.
Assim, “A” desiste de reclamar o pagamento de seu crédito;
“B” acede em satisfazer a dívida; a vítima de uma ofensa à
honra perdoa o seu ofensor etc.” (em Teoria Geral do Processo,
Ed. Forense).
Por fim, ao se buscar o Estado-juiz para solucionar o conflito de interesses,
a lide, os contendores pretendem uma solução definitiva que advirá da de-
cisão judicial final. Certamente, se as decisões judiciais fossem infinitas não
haveria jurisdição, porque os conflitantes não iriam submeter a contenda a
um terceiro incapaz de resolvê-la em definitivo.
5.3 PrincípiosSão princípios da jurisdição: a) investidura; b) aderência ao território; c) inde-
legabilidade; d) inevitabilidade; e) inafastabilidade; f) juiz natural.
a) Investidura:Para alguém exercer a autoridade de juiz é necessário que preencha os re-
quisitos exigidos para o cargo, ou seja, deve estar regularmente investida.
b) Aderência ao território:A jurisdição é exercida em todo território nacional, decorre, pois, da própria
soberania. Desse modo, com base no princípio da aderência ao território, os
juízes somente exercem sua autoridade nos limites territoriais do Estado, a
jurisdição, assim, adere ao território.
c) Indelegabilidade:A jurisdição é indelegável, não sendo permitido ao Poder Judiciário e seus
membros delegá-la aos Poderes Executivo e Legislativo, conforme previsto
na Constituição Federal.
d) Inevitabilidade:Este princípio informa que a decisão judicial atinge as partes envolvidas na
demanda independentemente de suas vontades, pois o poder estatal é so-
berano. Daí o caráter inevitável da jurisdição, já que não pode ser evitada
pelas partes.
e) Inafastabilidade:O princípio da inafastabilidade preconiza que havendo lesão ou ameaça a
direito o acesso à justiça, o exercício da jurisdição, não pode ser afastado
pela lei, até porque o Poder Judiciário, uma vez provocado, não pode deixar
de atender às demandas que lhe são postas em apreciação.
f) Juiz Natural:Já analisado no item 1.4 da unidade 04, o princípio evita a criação dos cha-
mados juízos ou tribunais de exceção, ou seja, juízos especialmente criados
32 59Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 5 - Jurisdição, contenciosa e voluntária
São espécies de autocomposição, a transação, que se caracteriza por con-
cessões mútuas; a submissão, na qual um se submete à pretensão do outro,
reconhecendo o pedido; e renúncia da própria pretensão.
Sobre o tema, o magistério de Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pelle-
grini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
“... São três as formas de autocomposição, as quais sobrevivem
até hoje com referência aos interesses disponíveis: a) desistência
(renúncia à pretensão); submissão (renúncia à resistência ofe-
recida à pretensão; c) transação (concessões recíprocas). Todas
essas soluções têm em comum a circunstância de serem par-
ciais – no sentido de que dependem da vontade e da atividade
de uma ou de ambas as partes envolvidas (nesse caso, solução
consensual de conflitos” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Ma-
lheiros).
Vale assentar que a autocomposição é permitida no nosso ordena
mento jurídico, sobretudo a chamada conciliação, desde que não
se trate de direito denominado indisponível, pois este, como o pró-
prio nome diz, não pode ser alvo de negociação, como exemplos
os direitos da personalidade (direito à vida, à honra, à integridade
física e intimidade, dentre outros).
Assim, a autocomposição é admitida quando se tratar de direito
disponível, via de regra, os direitos relacionados ao patrimônio das
pessoas.
Também são exemplos a transação, no âmbito civil, e o perdão do
ofendido, na esfera penal.
2.4.3 Mediação, Arbitragem e Jurisdição.Como formas imparciais (realizadas por terceiros) de solução dos conflitos de
interesses, temos a mediação, a arbitragem e a jurisdição.
a) Mediação É técnica de resolução de conflitos que ocorre sem a participação esta-
tal. No entanto, um terceiro qualificado tenta que os conflitantes descubram
o que os levou à contenda e procurem resolvê-la.
parte, evidente que decidiriam a favor desta, o que, afrontaria, diretamente,
o princípio democrático.
Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel
Dinamarco afirmam:
“... O exercício espontâneo da atividade jurisdicional acabaria
sendo contraproducente, pois a finalidade que informa toda a
atividade jurídica do Estado é a pacificação social, e isso viria em
muitos casos a fomentar conflitos e discórdias, lançando desa-
venças onde elas não existiam antes. Além disso, a experiência
ensina que quando o próprio juiz toma a iniciativa do processo
ele se liga psicologicamente de tal maneira à ideia contida no
ato de iniciativa, que dificilmente teria condições para julgar
imparcialmente” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Concluímos afirmando que a inércia é característica da jurisdi-
ção, pois esta é condição para que haja decisões justas na re-
solução dos conflitos, sempre em busca da pacificação social.
5.2.4 DefinitividadeA característica da definitividade é representada pela consequência da deci-
são judicial se tornar imutável.
Havendo o chamado “trânsito em julgado” a decisão judicial se torna defi-
nitiva (faz coisa julgada), não podendo ser revista ou modificada e deverá ser
obedecida pelas partes envolvidas na lide.
Veja-se o magistério de José de Albuquerque Rocha:
“... Se a jurisdição foi erigida à condição de instância última da
interpretação e realização dos direitos no caso concreto, como
resulta de sua própria posição constitucional, então suas deci-
sões são a última palavra sobre o direito. Daí não poderem ser
revogadas pelo Judiciário, nem pelos demais poderes do Esta-
do. Se pudessem ser revogadas, não seria instância última da
interpretação e realização do direito. Por conseguinte, a coisa
julgada e a irrevogabilidade das decisões jurisdicionais são uma
consequência lógica da finalidade da jurisdição, que lhe é atri-
buída pela Constituição Federal. Em última análise, o que está
subjacente à coisa julgada são os valores da certeza e segurança
jurídicas” (em Teoria Geral do Processo, Ed. Atlas).
58 33Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 2 - Conceitos processuais básicos
Segundo João Roberto da Silva, citado por Fredie Didier Jr., “a mediação é
uma técnica de resolução de conflitos não-adversarial que, sem imposições
de sentenças ou laudos e, com profissional devidamente preparado, auxilia
as partes a acharem seus verdadeiros interesses e a preservá-los num acordo
criativo onde as duas partes ganhem” (em, Curso de Direito Processual Civil,
teoria geral do processo e processo de conhecimento, vol. 1, Ed. Jus Podivm).
Acrescenta Cássio Scarpinella Bueno que “é uma forma de alternativa de so-
lução de conflitos em que um ‘mediador’ (um terceiro imparcial) estimulará
os envolvidos a colocarem fim a um litígio existente ou potencial (em, Curso
Sistematizado de Direito Processual Civil vol. 1, Ed. Saraiva).
Como exemplos de conflitos que podem ser solucionados por mediação, po-
demos citar as contendas envolvendo empresas acerca do cumprimento de
cláusulas contratuais, situações sensíveis no âmbito da família e problemas
envolvendo direito de vizinhança.
b) ArbitragemNa Arbitragem, os contendores se valem também de uma terceira pessoa,
mas, neste caso, ela irá resolver o conflito, estabelecendo a solução adequa-
da e mais justa ao caso concreto e deve ser imparcial.
Cássio Scarpinella Bueno afirma que “deve ser entendido por arbitragem
o método de solução de conflitos segundo o qual as pessoas em conflito
escolhem, de comum acordo, um ou mais árbitros que, fazendo às vezes do
juiz-estatal, reconhecerão o direito aplicável à espécie” (em, Curso Sistema-
tizado de Direito Processual Civil vol. 1, Ed. Saraiva).
É uma hipótese de heterocomposição e está regulamentado no Brasil pela
Lei nº 9.307/96 (Lei de Arbitragem), atualmente é a forma alternativa de
solução de conflitos mais estudada e difundida.
Como exemplos, pode ser utilizada nos litígios envolvendo questões patri-
moniais, pois o direito em questão deve permitir disponibilidade entre os
envolvidos no conflito.
Ademais, para haver o caráter substitutivo faz-se necessário que aqueles que
atuem em nome da jurisdição (juiz e auxiliares da justiça) sejam imparciais,
não pode haver impedimento ou suspeição com relação às partes da deman-
da, como exige a lei, sob pena de ser comprometida a justiça da decisão.
Segundo José de Albuquerque Rocha:
“Com efeito, se a finalidade da jurisdição é garantir a eficácia
dos direitos, então o juiz deve ter a posição de um terceiro em
face das partes e dos interesses em conflito, os quais só mere-
cerão a tutela jurisdicional na medida estabelecida pelo próprio
ordenamento jurídico e enquanto com ele compatíveis” (em Te-
oria Geral do Processo, Ed. Atlas).
Assim, é de se concluir que a imparcialidade é de natureza objetiva (indife-
rença quanto ao objeto da demanda) e de natureza subjetiva (ausência de
impedimento ou suspeição com relação às partes da demanda).
5.2.2 LideLide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida, se-
gundo a definição clássica atribuída a Carnelutti.
Desse modo, para haver a lide é necessário que haja uma pretensão de-
duzida ao Estado (alegativa de ameaça ou lesão a direito e o consequente
pedido de solução a ser dada pelo Estado-juiz) e resistência, vale dizer, a não
aceitação do demandado, que reage à pretensão afirmando, por exemplo,
não haver causado lesão ou ameaça a direito.
Aliás, a existência de lide é o verdadeiro motivo para a jurisdição existir. Se
não houvesse os conflitos de interesses e as resistências às pretensões, não
teria necessidade da busca por uma decisão de um terceiro imparcial, com
força para obrigar o seu cumprimento. Portanto, é uma característica da
jurisdição derivada da sua própria finalidade.
5.2.3 InérciaDiz-se que a jurisdição é inerte porque o Estado-Juiz só age quando provo-
cado, ou seja, faz-se necessária a iniciativa das partes.
Vale ressaltar que a inércia também tem a ver com a imparcialidade do juiz,
pois se este pudesse tomar a iniciativa de um processo para favorecer uma
34 57Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 5 - Jurisdição, contenciosa e voluntária
c) JurisdiçãoJurisdição é a atuação tipicamente estatal na resolução dos conflitos de in-
teresses. Etimologicamente jurisdição significa dizer o direito. É a busca por
uma resposta, através do Estado-Juiz, como solução para o caso concreto.
As partes não chegam a um acordo na resolução da contenda e buscam um
terceiro imparcial (Estado-Juiz) delegando para este o poder de solucionar
seu problema.
A jurisdição é, pois, função do Estado e própria do Poder Judiciário.
No dizer de Moacyr Amaral Santos:
“É função do Estado desde o momento em que, proibida a au-
totutela dos interesses individuais em conflito, por comprome-
tedora da paz jurídica, se reconheceu que nenhum outro po-
der se encontra em melhores condições de dirimir os litígios do
que o Estado, não só pela força de que dispõe, como por nele
presumir-se interesse em assegurar a ordem jurídica estabeleci-
da” (em, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol. 1, Ed.
Saraiva).
Em complemento, afirmam Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini
Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
“Que ela é uma função do Estado já foi dito; resta agora dizer
que a jurisdição é ao mesmo tempo poder, função e atividade.
Como poder é a manifestação do poder estatal, conceituado
como capacidade de decidir imperativamente e impor decisões.
Como função, expressa o encargo que têm os órgãos jurisdi-
cionais de promover a pacificação dos conflitos interindividuais,
mediante a realização do direito justo e através do processo. E
como atividade ela é o complexo de atos do juiz ou do árbitro
no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a
lei lhes comete. O poder, a função e a atividade somente trans-
parecem legitimamente através do processo adequadamente
estruturado (devido processo legal) ” (em, Teoria Geral do Pro-
cesso, Ed. Malheiros).
É de se concluir, portanto, que os interesses sobre os bens jurídicos podem
resultar em conflito, razão pela qual devemos ter meios de solucioná-los,
dependendo apenas das próprias partes envolvidas ou de terceiros, mas,
sempre, buscando a paz social.
Assim, além de atividade, é um poder-dever atribuído ao Estado-juiz, pois,
diante da garantia constitucional do acesso à justiça (art. 5º, XXXV, da CF),
uma vez posta em apreciação a demanda, o Poder Judiciário tem o dever de
resolvê-la.
Com efeito, afirma José de Albuquerque Rocha:
“A jurisdição é, justamente, a função estatal que tem a finalida-
de de garantir a eficácia dos direitos em última instância no caso
concreto, inclusive recorrendo à força, se necessário. Sua nota
individualizadora é de natureza funcional e consiste, por con-
seguinte, em estar dirigida, especificamente, ao fim de manter,
em última instância, o ordenamento jurídico, ou seja, os direitos
no caso concreto, quando observados espontaneamente pela
sociedade. Ademais, no direito brasileiro, a jurisdição caracteri-
za-se, do ponto de vista estrutural, por ser exercida, preponde-
rantemente, por órgãos do Poder Judiciário, independentes e
imparciais, através do devido processo legal” (em Teoria Geral
do Processo, Ed. Atlas).
Conclui-se que jurisdição possui definição ampla englobando po-
der, função e atividade, devendo ser realizada observando as ga-
rantias constitucionais do processo, com o fito de pacificar os con-
flitos a ela submetidos.
5.2 CaracterísticasOs autores (doutrinadores, doutrina) denominam de maneira diferente as
características da jurisdição. No entanto, iremos utilizar a nomenclatura que
entendemos ser mais didática.
Assim, são características da jurisdição o caráter substitutivo, lide, inércia e
definitividade.
5.2.1 Caráter SubstitutivoO caráter substitutivo se dá porque com o exercício da jurisdição há uma
substituição da atividade da parte pela atividade judicial. Desse modo não
irá prevalecer necessariamente a demanda do autor ou a negativa do réu. A
atividade jurisdicional admitida pela lei é a única considerada prevalecente.
Única exceção é o caso da autotutela lícita, como o desforço imediato em
conflitos envolvendo posse, que é amparado pelo direito civil.
56 35Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 2 - Conceitos processuais básicos
Atividades de aprendizagem1. Sabendo que os interesses humanos são ilimitados, mas os bens são
limitados, explique o que significa interesse e classifique-os conforme sua
relação entre pessoas e entre pessoas e bens.
2. Diante dos interesses mencionados na questão anterior, conflitos po-
dem existir. E mais do que isso: conflitos caracterizados por pretensões não
aceitas. Desse modo, o que se entende por lide?
3. Com o surgimento dos conflitos de interesses, faz-se necessária a
criação de meios (formas) para resolvê-los, sob pena de verificarmos o caos
social, ou seja, a sociedade não consegue conviver em harmonia, haven-
do, em todos seus segmentos, condutas que dificultariam o tão almejado
bem-estar social. Ademais, existem formas parciais (realizadas pelas próprias
partes) e imparciais (realizadas por terceiros) de solução dos conflitos de in-
teresses. Assim, havendo conflitos de interesses quais as formas de solução?
Explique-as.
4. Jurisdição é a atuação tipicamente estatal na resolução dos conflitos
de interesses. Em sua opinião, jurisdição é um método de solução de litígios
caracterizada por uma autocomposição? Justifique.
5. Sabendo que diante do interesse surge uma situação jurídica, no
entanto o interesse deve ser juridicamente protegido ou juridicamente su-
bordinado, explique a relação jurídica que enseja o conflito de interesses.
ObjetivosAnalisar a jurisdição, conceituando e estabelecendo suas noções
gerais, para, ao final, verificar as características do caráter substitu-
tivo, lide, inércia e definitividade. Depois, com essas premissas bem
definidas, verificar as espécies de execução e possibilitar ao aluno
diferenciar jurisdição contenciosa de jurisdição voluntária, sobretu-
do da importância do tema para o direito processual.
Jurisdição, contenciosa e voluntária
5.1 JurisdiçãoJurisdição é a atividade estatal em que os juízes analisam as pretensões dos
envolvidos e solucionam os conflitos.
Ela se destina à eliminação dos conflitos postos em apreciação ao Poder
Judiciário. A jurisdição é função estatal e decorre do exercício da soberania.
A respeito, ensinam Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover
e Cândido Rangel Dinamarco:
“Que ela é uma função do Estado já foi dito; resta agora dizer
que a jurisdição é ao mesmo tempo poder, função e ativida-
de. Como poder, é manifestação do poder estatal, conceituado
como capacidade de decidir imperativamente e impor decisões.
Como função, expressa o encargo que têm os órgãos jurisdi-
cionais de promover a pacificação de conflitos interindividuais,
mediante a realização do direito justo e através do processo. E
como atividade ela é o complexo de atos do juiz ou do árbitro
no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a
lei lhes comete. O poder, a função e a atividade somente trans-
parecem legitimamente através do processo adequadamente
estruturado (devido processo legal) ” (em, Teoria Geral do Pro-
cesso, Ed. Malheiros).
Aula 5 - Jurisdição, contenciosa e
voluntária
36 55Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 5 - Jurisdição, contenciosa e voluntária
OBJETIVOSAbordaremos nessa unidade o problema da aplicação da lei pro-
cessual no tempo e no espaço, pretendendo, ao final, que o aluno
seja capaz de expor as soluções para o conflito de normas, sobre-
tudo identificando os critérios para aplicação da que vai prevalecer,
conhecendo, respectivamente, os princípios da irretroatividade da
norma processual e o da territorialidade.
3. Lei processual no tempo e espaçoDiante da problemática da aplicação da lei processual, surgem casos de difí-
cil solução, pois podem entrar em conflito normas diversas em locais diferen-
tes, mas com os mesmos interesses, ou haver sucessão de leis, disciplinando
o mesmo ato processual. Assim, por ter toda norma jurídica eficácia limitada
no espaço e no tempo, precisamos estabelecer critérios para solucionar o
conflito de normas aparentemente existente.
3.1 Princípio da Irretroatividade das LeisO princípio da irretroatividade surge diante do conflito de normas processu-
ais no tempo.
A lei não surge para ser eterna. Ao contrário, deve ser aplicada
enquanto não for revogada por outra lei. É que a norma jurídica
regula fatos que têm relevância para a sociedade, mas, como os
interesses dos grupos sociais vão se alterando ao longo do tempo,
também as normas de conduta merecem ser alteradas, sob pena
de caírem em desuso.
Assim, uma lei em vigor tem em conta fatos atuais e futuros en-
quanto a norma perdurar.
Portanto, o princípio da retroatividade veda a aplicação da lei a
fatos que ocorreram no passado, antes da sua existência.
Aula 3 - Lei procesual no tempo e
espaço
37 e-Tec BrasilAula 3 - Lei processual no tempo e espaço
Como nos ensina Moacyr Amaral Santos:
“Mas a lei, norma reguladora de conduta jurídica, prevê e regu-
la para o futuro, isto é, disciplina o direito ajustável a situações
ou relações, fatos ou procedimentos futuros. Disso se extrai o
princípio da irretroatividade das leis, que se traduz na proibição
de estender-se a eficácia da lei a situações ou relações pretéri-
tas, e que, no direito brasileiro, assume foros constitucionais,
por prescrever a Constituição vigente, no art. 5º, XXXVI, que a
lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada” (em, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil,
Vol. 1, Ed. Saraiva).
Constata-se, pois, que a irretroatividade das leis é princípio previsto na Cons-
tituição Federal, inclusive de natureza fundamental, pois está presente no
art. 5º.
Por fim, o princípio da irretroatividade também se aplica às leis processuais,
pois estas não atingem fatos ou atos pretéritos, os quais se encontravam
regulados por lei anterior, cujos efeitos devem ser mantidos.
3.2 Lei processual no tempoAs leis processuais não são imutáveis. Ao contrário, precisam ser alteradas
periodicamente para permitirem que o processo atinja seu maior escopo: o
de ser o instrumento mais adequado para realização do direito material, pois
este se modifica à medida que as relações sociais exigem.
No entanto, ao surgir outra lei processual, como fica a situação daquele que
já ingressou com um processo?
3.2.1 Sistemas de resolução de conflitos de leis pro-cessuais no tempoCom efeito, existem três sistemas que procuram resolver o conflito de leis
processuais no tempo.
O primeiro, chamado unidade processual, considera o processo compos-
to por atos inseparáveis uns dos outros, sendo, pois, uma unidade. Desse
modo, havendo lei nova esta incidiria totalmente no processo, tornando ine-
ficazes os atos realizados e os efeitos produzidos. A lei nova seria retroativa.
Ademais, compete ao juiz a valoração (apreciação) das provas ine-
xistindo entre elas hierarquia (sistema da prova tarifada), ou seja,
não há prova mais importante que outra (exemplo: a prova pericial
não é mais importante que a prova testemunhal), pois o juiz é livre
para valorar as provas em busca da verdade real.
Atividade de aprendizagem1. Como já sabemos, existe uma lei maior no ordenamento jurídico
brasileiro: a Constituição Federal. Tal diploma normativo traz princípios e
regras que orientam e influenciam praticamente todos os ramos do direito.
Portanto, como não poderia ser diferente, atingem o direito processual. É
importante afirmar que, por ser o Brasil um estado democrático de direito,
as garantias constitucionais do direito processual são extremamente impor-
tantes para a efetiva satisfação desse mister. Nesse contexto, sabendo que
o processo precisa ser um meio efetivo de realização do direito material, o
qual, observados os direitos e garantias fundamentais previstos na Constitui-
ção Federal, pacifica os conflitos existentes no meio social e permite a vida
em grupo mais harmoniosa, cite e explique as garantias constitucionais do
processo civil.
38 53Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 4 - Garantias constitucionais do processo civil
O segundo, denominado das fases processuais, leva em consideração que o
processo possui fases processuais distintas, com atos inseparáveis, as quais
seriam autônomas, como a postulatória, a probatória, a decisória e a dos re-
cursos, constituindo, cada uma, uma unidade processual. Surgindo lei poste-
rior, apenas incidiria sobre as fases seguintes do processo, sendo respeitadas
as fases em curso e as já encerradas. Aqui, já está presente a irretroatividade
da lei processual, ainda que no tocante às fases processuais.
O terceiro é o sistema de isolamento dos atos processuais. No caso, a lei
processual não retroagirá para atingir os atos processuais considerados isola-
damente, mas somente incidirá sobre os atos futuros. É importante ressalvar
que cada processo é um sistema composto por um conjunto de atos.
Dentre os três sistemas, como já foi dito no final do tópico 1.1, o mais aceito
é o terceiro, aplicando o princípio tempus regit actus, ou seja, os atos já rea-
lizados ficam preservados quando da incidência da lei nova, a qual somente
incidirá em atos futuros.
No entanto, deve ser aqui assentado que, às vezes, a aplicação do terceiro
sistema (isolamento dos atos processuais) pode não ser tarefa fácil, vez que
é preciso identificar quais os atos perfeitos e acabados e quais os direitos
adquiridos decorrentes desses atos processuais.
Complementa Leonardo Greco:
“Ninguém tem direito a um processo regido imutavelmente
pelas mesmas leis, a não ser que as leis que sobrevierem no
curso do processo ressalvem a sua não aplicação de imediato.
Portanto, em regra, a lei processual nova se aplica desde logo
aos processos pendentes ou em curso” (em Instituições de Pro-
cesso Civil, Introdução ao Direito Processual Civil, volume I, Ed.
Forense).
Destarte, uma vez expostas as considerações acerca da lei processual no
tempo, passaremos a examinar a lei processual no espaço.
pública nos serviços da justiça, não pode ser confundida com o
sensacionalismo que afronta a dignidade humana. Cabe à técni-
ca legislativa encontrar o justo equilíbrio e dar ao problema a so-
lução mais consentânea em face da experiência e dos costumes
de cada povo” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Por fim, o confronto entre o direito à intimidade e a publicidade dos atos
processuais e decisões judiciais, será resolvido no caso concreto por um juízo
de proporcionalidade, o qual se limitará a analisar qual garantia deve ceder
à outra que deverá preponderar, tudo em benefício da solução mais justa a
ser dada ao caso.
4.6 Liberdade da ProvaSegundo o disposto no art. 5º, LVI, da Constituição Federal, “são inadmissí-
veis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”.
Desse modo, desde que a prova seja obtida por meio lícito será admitida no
processo.
Interessante o magistério de Cássio Scarpinella Bueno, a saber:
“O art. 5º, LVI, Constituição Federal permite a distinção entre
‘provas ilícitas’ e entre provas obtidas por meios ilícitos. Prova
ilícita é aquela que, em si mesma considerada, fere o ordena-
mento jurídico. Assim, por exemplo, a tortura, expressamente
proibida no art. 5º, III, da Constituição Federal. Prova obtida por
meios ilícitos é aquela que, em si mesmo considerada, é admi-
tida ou tolerada pelo sistema, mas cuja forma de obtenção, de
constituição, de formação, fere o ordenamento jurídico. Bem
ilustra a situação o desrespeito ao sigilo de correspondência ou
a oitiva de conversas telefônicas não autorizada nos termos da
lei” (em, Curso Sistematizado de Direito Processual Civil vol. 1,
Ed. Saraiva).
As provas podem ser documentais, periciais, testemunhais e depoimentos
pessoais, cabendo, a princípio, a quem alegar provar suas afirmações. É o
chamado ônus da prova.
52 39Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 3 - Lei processual no tempo e espaço
3.3 Lei Processual no EspaçoA norma jurídica processual tem eficácia limitada no espaço, devendo ser
aplicada dentro do território nacional.
Com efeito, de acordo com o art. 22, I, da CF/88, compete à União legislar
privativamente sobre matéria processual, o que significa afirmar que somen-
te a União pode estabelecer normas de direito processual a serem aplicadas
no território brasileiro.
Em função da soberania, a qual é fundamento da nossa Constituição Fede-
ral, segundo o art. 1º, I, apenas o Estado Brasileiro pode formular as normas
de direito processual, pois seria incompatível a aplicação de normas de outro
ordenamento jurídico em território nacional.
Ademais, o próprio Código de Processo Civil estabelece em seu art. 1.211
que “regerá o processo civil em todo o território brasileiro”.
Desse modo, resta configurado o princípio da territorialidade das leis pro-
cessuais.
Afirma Moacyr Amaral Santos:
“Isso vale dizer que as leis processuais se subordinam ao princí-
pio da territorialidade: o juiz aplica ao processo a lei processual
do lugar onde exerce a jurisdição”.
A regra diz respeito a todas as pessoas que se encontram no
território do Estado, sejam nacionais ou estrangeiras. A umas e
outras se aplica a lex fori – a lei do lugar onde se move a ação
– segundo a qual se estabelecem a competência e o processo”
(em, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol. 1, Ed. Sa-
raiva).
No mesmo sentido, Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover
e Cândido Rangel Dinamarco: “o princípio que regula a eficácia espacial das
normas de processo é o da territorialidade, que impõe sempre a aplicação da
lex fori. ” (em, Teoria Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Nesse contexto, as decisões judiciais devem ser publicadas (tornadas pú-
blicas), ocorrendo as publicações normalmente nos fóruns e tribunais e na
imprensa oficial (diários oficiais).
Acrescentam Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamarco:
“O princípio da publicidade do processo constitui uma preciosa
garantia do indivíduo no tocante ao exercício da jurisdição. A
presença do público nas audiências e a possibilidade do exame
dos autos por qualquer pessoa representam o mais seguro ins-
trumento de fiscalização popular sobre a obra dos magistrados,
promotores públicos e advogados. Em última análise, o povo é
o juiz dos juízes. E a responsabilidade das decisões judiciais as-
sume outra dimensão quando tais decisões hão de ser tomadas
em audiência pública, na presença do povo” (em, Teoria Geral
do Processo, Ed. Malheiros).
No entanto, como ressaltado acima, a publicidade dos atos do processo e
das decisões judiciais podem ser restringidos excepcionalmente. Hoje em
dia, observamos uma exposição midiática enorme, às vezes cruel, dos julga-
mentos, o que, sobretudo nos processos criminais, pode levar a uma conde-
nação antecipada pela sociedade, violando as demais garantias constitucio-
nais, como do contraditório e da ampla defesa, da presunção de inocência
e, em última análise, do acesso à justiça, pois a decisão judicial oriunda desse
contexto nem de longe será justa.
Alertam-nos Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cân-
dido Rangel Dinamarco:
“Os modernos canais de comunicação de massa podem repre-
sentar um perigo tão grande quanto o próprio segredo. As audi-
ências televisionadas têm provocado em vários países profundas
manifestações de protesto. Não só os juízes são perturbados
por uma curiosidade malsã, como as próprias partes e as tes-
temunhas veem-se submetidas a excessos de publicidade que
infringem seu direito à intimidade, além de conduzirem à dis-
torção do próprio funcionamento da Justiça através de pressões
impostas a todos os figurantes do drama judicial. Publicidade,
como garantia política cuja finalidade é o controle da opinião
40 51Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 4 - Garantias constitucionais do processo civil
Veja-se a posição de Leonardo Greco:
“Então, resumidamente, em relação ao princípio ora estudado,
que rege a aplicação do direito processual no espaço, pode-se
dizer que cada justiça aplica a sua lei processual e somente apli-
ca a de um país estrangeiro na medida em que aquela determi-
na essa aplicação” (em Instituições de Processo Civil, Introdução
ao Direito Processual Civil, volume I, Ed. Forense).
Do exposto, conclui-se que o princípio da territorialidade orienta
a aplicação da lei processual, a qual deve incidir no lugar onde é
exercida a jurisdição e, se no Brasil, apenas em território nacional,
salvo se houver determinação, na lei local, para aplicação de lei
estrangeira.
Eis, pois, a aplicação da lei processual no espaço.
Anotações
Esclareço que o sentido de competência é o jurídico, ou seja, a delimitação
da jurisdição. A competência é avaliada conforme vários critérios, como ma-
téria, hierarquia, valor e território. Será abordada com maiores detalhes na
unidade 08.
Por fim, é importante reafirmar que a garantia do juiz natural exige a
identificação do órgão jurisdicional e de sua competência, para, diante
da análise do caso concreto, verificar se as garantias exigidas pelo Estado
Democrático de Direito estão sendo observadas.
4.5 Publicidade das decisões judiciaisA garantia de publicidade das decisões judiciais está prevista no art. 5º,
LX, da Constituição Federal, o qual dispõe: “a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem”.
Também está disposta no art. 93, IX, verbis:
“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentados todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudi-
que o interesse público à informação”.
Vê-se do dispositivo imediatamente supra transcrito que, além da publicida-
de, o legislador constituinte também estabeleceu a garantia da fundamen-
tação das decisões judiciais, no entanto, não iremos abordá-la neste tópico,
pois será analisada na unidade destinada ao Poder Judiciário.
Com efeito, todos os atos processuais e julgamentos dos órgãos do Poder
Judiciário serão públicos. Esta é a regra. Ocorre que há exceções, justificado
o sigilo, pois, caso contrário (publicidade), poderia violar o direito à intimida-
de do interessado no sigilo, desde que não haja prejuízo ao interesse público
à informação.
Desse modo, a garantia constitucional em comento pretende evitar os julga-
mentos em segredo, o que certamente violaria as demais garantias constitu-
cionais mencionadas nos tópicos anteriores.
4150 Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 3 - Lei processual no tempo e espaço
Atividades de Aprendizagem1. Diante da problemática da aplicação da lei processual, surgem casos
de difícil solução, pois podem entrar em conflito normas diversas em locais
diferentes, mas com os mesmos interesses, ou houver sucessão de leis, dis-
ciplinando o mesmo ato processual. Assim, por ter toda norma jurídica efi-
cácia limitada no espaço e no tempo, precisamos estabelecer critérios para
solucionar o conflito de normas aparentemente existente. Nesse contexto,
explique o princípio da irretroatividade das leis.
2. Sabendo que a regra diz respeito a todas as pessoas que se encon-
tram no território do Estado, sejam nacionais ou estrangeiras, analise o prin-
cípio da territorialidade, relacionando-o com a soberania.
3. Existem três sistemas que procuram resolver o conflito de leis proces-
suais no tempo: a) unidade processual, b) fases processuais e c) isolamento
dos atos processuais. Explique-os.
Ora, para haver justiça na decisão judicial exige-se a imparciali-
dade. Não é difícil se concluir que uma conduta parcial do julga-
dor comprometerá e muito o acertamento da resposta dada pelo
Poder Judiciário, contribuindo para a manutenção do conflito de
interesses.
A respeito leciona Cássio Scarpinella Bueno:
“O sentido tradicional do princípio, que ainda é aquele que a
Constituição Federal quer revelar, significa que a autoridade ju-
diciária que julgará um determinado caso deverá preexistir ao
fato a ser julgado. É vedada a criação ad hoc de tribunais. É
vedado criar, a partir de um fato, depois de um incidente, um
órgão judiciário que tenha competência para julgá-lo. A diretriz
que se quer proteger com esta proibição é a de se garantir,
da melhor forma possível, a imparcialidade do órgão judiciário”
(em, Curso Sistematizado de Direito Processual Civil vol. 1, Ed.
Saraiva).
Ademais, a autoridade judiciária deverá ser preexistente ao caso posto em
julgamento, justamente para ser avaliada a competência constitucional do
juízo, pois como está afirmado na garantia, faz-se necessário para o julga-
mento que a autoridade seja competente.
Afirmam Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido
Rangel Dinamarco:
“As modernas tendências sobre o princípio do juiz natural nele
englobam a proibição de subtrair o juiz constitucionalmente
competente. Desse modo, a garantia desdobra-se em três con-
ceitos: a) só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela Consti-
tuição; b) ninguém pode ser julgado por órgão constituído após
a ocorrência do fato; c) entre os juízes pré-constituídos vigora
uma ordem imperativa de competências que exclui qualquer al-
ternativa deferida à discricionariedade de quem quer que seja.
A Constituição brasileira de 1988 reintroduziu também a garan-
tia do juiz competente no art. 5º, inciso LIII” (em, Teoria Geral
do Processo, Ed. Malheiros).
4942 Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 4 - Garantias constitucionais do processo civil
ObjetivosAnalisar as garantias constitucionais do processo civil sobre as
quais se funda o direito processual brasileiro, como a garantia do
acesso à justiça, respeito ao devido processo legal, obrigatoriedade
do contraditório e da ampla defesa, observância do juiz natural,
publicidade das decisões judiciais, assistência judiciária integral e
liberdade da prova, permitindo ao aluno a compreensão adequa-
da, sobretudo da importância do tema para o direito processual.
4. Garantias constituncionais do proces-so civilComo já sabemos, existe uma lei maior no ordenamento jurídico brasileiro:
a Constituição Federal.
Tal diploma normativo traz princípios e regras que orientam e influenciam
praticamente todos os ramos do direito. Portanto, como não poderia ser
diferente, atingem o direito processual.
Em complementação, é importante afirmar que, por ser o Brasil um estado
democrático de direito, as garantias constitucionais do direito processual
Ademais, o processo precisa ser um meio efetivo de realização do
direito material, o qual, observados os direitos e garantias fun-
damentais previstos na Constituição Federal, pacifica os conflitos
existentes no meio social e permite a vida em grupo mais harmo-
niosa.
Desse modo, é necessário que as leis processuais possibilitem atu-
ação do Estado-juiz considerando o contexto constitucional vigen-
te, a fim de que as soluções das contendas sejam as mais justas
possíveis.
Aula 4 - Garantias constituncionais do
processo civil
Veja-se o magistério de Fredie Didier Jr.:
“O processo é um instrumento de composição de conflito – pa-
cificação social – que se realiza sob o manto do contraditório. O
contraditório é inerente ao processo. Trata-se de princípio que
pode ser decomposto em duas garantias: participação (audiên-
cia; comunicação; ciência) e possibilidade de influência na de-
cisão. Aplica-se o princípio do contraditório, derivado que é do
devido processo legal, nos âmbitos jurisdicional, administrativo
e negocial” (em, Curso de Direito Processual Civil, teoria geral
do processo e processo de conhecimento, vol. 1, Ed. Jus Podi-
vm).
Com relação à ampla defesa, o acusado ou réu deve ter a garantia de efeti-
vamente poder se defender em qualquer processo, por isso que o dispositivo
se refere a “ampla defesa e os meios e recursos a ela inerente”, ou seja, aos
meios processuais adequados para o seu exercício.
Em conclusão, a garantia do contraditório e da ampla defesa per-
mite, pois, as partes efetivamente influenciarem no julgamento da
lide, já que haverá a efetiva atuação dos contendores, como se
espera em um Estado Democrático de Direito.
4.4 Juiz NaturalA garantia constitucional do juiz natural está prevista em nos incisos XXXVII
e LIII do art. 5º da CF.
Dispõe o inciso XXXVII: “não haverá juízo ou tribunal de exceção”.
Dispõe o inciso LIII: “ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente”.
Com efeito, tal garantia evita a criação dos chamados juízos ou tribunais de
exceção, ou seja, juízos especialmente criados para apreciar determinado
caso, particularizando-se a apreciação da contenda, situação que, indubita-
velmente, afrontaria o Estado Democrático de Direito e prejudicaria sobre-
maneira a garantia do acesso à justiça, porque afetaria a imparcialidade do
Poder Judiciário.
48 43Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 4 - Garantias constitucionais do processo civil
Assim afirma Luiz Guilherme Marinoni:
“Portanto, o processo deixou de ser um instrumento voltado
à atuação da lei para passar a ser um instrumento preocupado
com a proteção dos direitos, na medida em que o juiz, no Esta-
do constitucional, além de atribuir significado ao caso concreto,
compreende a lei na dimensão dos direitos fundamentais” (em
Teoria Geral do Processo, v.1, Ed. Revista dos Tribunais).
4.1 O acesso à justiçaA garantia do acesso à justiça está prevista no art. 5º, XXXV, da Constituição
Federal, o qual dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judici-
ário lesão ou ameaça a direito”.
Desse modo, ao se buscar o Poder Judiciário, o Estado-juiz tem
o dever de decidir acerca do que está sendo postulado. Deve dar
uma resposta ao demandante (individual ou coletivo) acerca da
lesão ou ameaça ao direito. Em ambas as situações deve ser dada
a devida tutela jurisdicional.
Ademais, sobre essa garantia é importante afirmar que não se as-
segura apenas o ingresso (acesso) em sentido restrito com a res-
pectiva ação (demanda) para que seja evitada lesão ou ameaça a
direito.
Com efeito, a proteção ao direito, evitando-se ameaça ou lesão,
corresponde à efetivação do previsto pelo direito material.
Veja-se o afirmado por José Roberto dos Santos Bedaque:
“Pode-se dizer, neste primeiro momento, que o direito, poder
ou faculdade de provocar a jurisdição refere-se sempre a deter-
minada situação concreta da vida. Não tem sentido ou qual-
quer relevância para o ordenamento, nem mesmo para efeito
de meras elucubrações acadêmicas, imaginar a possibilidade de
alguém pleitear a atuação jurisdicional sem deduzir situação de
direito substancial a ser solucionada. Assim, quando a Consti-
tuição assegura o amplo poder de acesso ao Poder Judiciário
(art. 5º, XXXV), refere-se a um direito, isto é, a uma faculdade
que emerge da proteção da regra material a determinada si-
tuação da vida” (em, Direito e Processo, Influência do Direito
Material sobre o Processo, Ed. Malheiros).
Assim, é inegável a importância de serem obedecidas as normas que disci-
plinam o processo quando da sua utilização, ou seja, observado o devido
processo legal.
4.3 Contraditório e Ampla DefesaA garantia do Contraditório e da Ampla Defesa está prevista no art. 5º, LV,
CF: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes”.
Com efeito, estamos diante de uma garantia que decorre do dever de im-
parcialidade do juiz. Para tratar as partes de maneira isonômica, o juiz deve
permitir que a parte ré tenha a oportunidade de manifestar sua defesa, de
maneira ampla, diante das alegativas da parte autora e das provas trazidas
ao processo.
Ensinam-nos Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamarco:
“O juiz, por força de seu dever de imparcialidade, coloca-se en-
tre as partes, mas equidistante delas: ouvindo uma, não pode
deixar de ouvir a outra. Somente assim se dará a ambas a pos-
sibilidade de expor suas razões, de apresentar suas provas, de
influir sobre o convencimento do juiz. Somente pela soma da
parcialidade das partes (uma representando a tese e a outra,
a antítese) o juiz pode corporificar a síntese, em um processo
dialético. Por isso foi dito que as partes, em relação ao juiz, não
têm papel de antagonistas, mas sim de ‘colaboradores neces-
sários’ – cada um dos contendores age no processo tendo em
vista o próprio interesse, mas a ação combinada dos dois serve
à justiça na eliminação do conflito que os envolve” (em, Teoria
Geral do Processo, Ed. Malheiros).
Ademais, trata-se de garantia obrigatória, inclusive nos casos de urgência,
ainda que, nestes casos, possa-se postergar o contraditório e a ampla de-
fesa. Ocorre que, tendo em vista a necessidade de uma tutela jurisdicional
imediata, o Estado-juiz não deve esperar para decidir (ressalte-se que a de-
cisão será provisória) somente após ser instaurado o contraditório e a ampla
defesa, pois, certamente o acesso à justiça restaria prejudicado.
44 47Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 4 - Garantias constitucionais do processo civil
Desse modo, a garantia do acesso à justiça (também chamada de princípio
da inafastabilidade da tutela jurisdicional), abrange não só a efetiva propo-
situra da demanda, como também assegura que o conflito posto em juízo
seja pacificado, inclusive com duração razoável do processo, pois não seria
lógico que o ingresso em sentido estrito fosse assegurado, mas a solução
justa do conflito não.
É importante ressaltar que o acesso à justiça, como não poderia ser
diferente, deve ser assegurado àqueles que necessitam de assis-
tência judiciária, daí porque também emerge como garantia fun-
damental a assistência jurídica assegurada pelo Estado que deverá
ser integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recur-
sos (art. 5º, LXXIV, da CF).
Como afirmado por Cássio Scarpinella Bueno:
“Mas não só acesso à justiça no sentido ‘jurisdicional’ do ter-
mo. O dispositivo constitucional foi além e estabeleceu como
obrigação do Estado não só assistência judiciária integral e gra-
tuita, mas muito mais do que isto, assistência jurídica integral
e gratuita. Isto quer significar, portanto, que também ‘fora’ do
plano do processo, o Estado tem o dever de atuar em prol da
conscientização jurídica da sociedade, orientando-a com rela-
ção aos seus direitos. Este é, com efeito, um passo decisivo para
o desenvolvimento e fortalecimento do sentimento de cidada-
nia de um povo. É fundamental que se saiba que se tem direitos
até como pressuposto lógico e indispensável para se pretender
exercê-los, se for o caso, inclusive jurisdicionalmente” (em, Cur-
so Sistematizado de Direito Processual Civil vol. 1, Ed. Saraiva).
Importa destacar que também estão previstas na Constituição Federal a cria-
ção e atuação da Defensoria Pública (art. 134 da CF), a qual, como dispõe o
texto constitucional incumbe “a orientação jurídica e à defesa, em todos os
graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV”.
Ademais, a garantia do acesso à justiça exige que o processo tenha dura-
ção razoável, pois decisões demoradas sem qualquer justificativa certamente
contribuem para a manutenção do conflito posto em análise ao Poder Judi-
ciário. Também chamado de Princípio da Economia Processual está previsto
no art. 5º, LXXVIII, da CF, que dispõe: “a todos, no âmbito judicial e adminis-
trativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que ga-
rantam a celeridade de sua tramitação”. Vale dizer, pois, que a atividade do
Estado-juiz deve ser prestada visando a máxima efetividade, ou seja, maior
resultado com o mínimo esforço.
4.2 Devido Processo LegalA garantia do devido processo legal está prevista no art. 5º, LIV, CF: “nin-
guém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal”.
Já se afirmou na unidade 01 que “para se exigir o respeito a um direito
material ameaçado ou violado por alguém, faz-se necessária a formalização
de um método disponibilizado pelo Estado para a solução do conflito. Este
método chama-se processo, o qual é composto de atos destinados à solução
do conflito”.
Desse modo, é imprescindível que seja observado o devido processo legal à
medida que o método disponibilizado pelo Estado para a solução dos con-
flitos entre as pessoas (processo) se desenvolva, sob pena de ser prejudicado
o acesso à justiça.
É que o processo para ser legítimo e atingir seus fins deve obede-
cer aos princípios e regras que o disciplinam. Daí porque se afirmar
que o devido processo legal é um princípio que orienta a aplicação
das demais normas.
Veja-se o magistério de Cássio Scarpinella Bueno:
“O processo deve ser devido porque, em um Estado Democráti-
co de Direito, não basta que o Estado atue de qualquer forma,
mas deve atuar de uma específica forma, de acordo com as
regras preestabelecidas e que assegurem, amplamente, que os
interessados na solução da questão levada ao Judiciário exer-
çam todas as possibilidades de ataque e de defesa que lhe pa-
reçam necessárias, isto é, de participação. O Princípio do Devi-
do Processo Legal, neste contexto, deve ser entendido como o
princípio regente da atuação do Estado-juiz, desde o momento
em que ele é provocado até o instante em que o Estado-juiz,
reconhecendo o direito lesionado ou ameaçado, crie condições
concretas de sua reparação ou imunização correspondente”
(em, Curso Sistematizado de Direito Processual Civil vol. 1, Ed.
Saraiva).
4546 Teoria Geral do Processoe-Tec Brasil e-Tec BrasilAula 4 - Garantias constitucionais do processo civil