Apostila Teoria Geral Do Direito Do Trabalho

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    APRESENTAÇÃO 5 

    EMENTAS  6 

     AULA 1: DIREITO DO TRABALHO (FUNDAMENTOS, FONTES E PRINCÍPIOS) 6 

     AULA 2:  APLICAÇÃO DA LEI TRABALHISTA  6 

     AULA 3: EMPREGADOR   6 

     AULA 4: EMPREGADO  7 

    AULA 1: FUNDAMENTOS, FONTES E PRINCÍPIOS 8 

    INTRODUÇÃO  8 

    CONTEÚDO  8 

    FUNDAMENTOS DO DIREITO DO TRABALHO  8 

    CONCEITO  12 

    FONTES DO DIREITO DO TRABALHO  13 

    PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO  17 

    SÚMULA Nº 277 DO TST 20 

     ATIVIDADE PROPOSTA  23 

     APRENDA MAIS  24 

    E XERCÍCIOS DE FIXAÇÃO  24 

    AULA 2: APLICAÇÃO DA LEI TRABALHISTA E RELAÇÃO DE EMPREGO 29 

    INTRODUÇÃO  29 

    CONTEÚDO  30 

     APLICAÇÃO DA NORMA TRABALHISTA  30 C AMPO DE APLICAÇÃO TERRITORIAL DA NORMA TRABALHISTA  30 

     APLICAÇÃO DA NORMA TRABALHISTA NO TEMPO  31 

    O PRINCÍPIO DO EFEITO IMEDIATO DA LEI NOVA  33 

    SÚMULA Nº 277 DO TST 37 

     APLICAÇÃO DA NORMA TRABALHISTA NO ESPAÇO  37 

    R ELAÇÃO DE TRABALHO E R ELAÇÃO DE EMPREGO:  R EQUISITOS DA R ELAÇÃO DE

    EMPREGO  40 

     ATIVIDADE PROPOSTA  43 

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     APRENDA MAIS  44 

    E XERCÍCIOS DE FIXAÇÃO  45 

    AULA 3: SUJEITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO (EMPREGADOR) 49 

    INTRODUÇÃO  49 

    CONTEÚDO  50 

    DESPERSONIFICAÇÃO DO EMPREGADOR   50 

    EMPREGADOR POR EQUIPARAÇÃO  52 

    GRUPO ECONÔMICO E SOLIDARIEDADE  54 

    SUCESSÃO DE TITULARES DA EMPRESA  57 

    SUCESSÃO TRABALHISTA – JURISPRUDÊNCIA DO TST 61 

    PODERES DO EMPREGADOR   61  ATIVIDADE PROPOSTA  63 

     APRENDA MAIS  64 

    E XERCÍCIOS DE FIXAÇÃO  65 

    AULA 4: SUJEITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO (EMPREGADO) 70 

    INTRODUÇÃO  70 

    CONTEÚDO  71 

    EMPREGADO – CONCEITO E CARACTERES  71 

    EMPREGADO DOMÉSTICO  74 

    OUTROS EMPREGADOS ESPECIAIS  78 

     ATIVIDADE PROPOSTA  81 

     APRENDA MAIS  81 

    E XERCÍCIOS DE FIXAÇÃO  82 

    R EFERÊNCIAS  86 

    CHAVES DE RESPOSTA 87 

     AULA 1 87 

     ATIVIDADE PROPOSTA  87 

    EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO  88 

     AULA 2 92 

     ATIVIDADE PROPOSTA  92 

    EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO  93 

     AULA 3 97 

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     ATIVIDADE PROPOSTA  97 

    EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO  98 

     AULA 4 99 

     ATIVIDADE PROPOSTA  99 

    EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO  100 

    BIBLIOGRAFIA 103 

    APRESENTAÇÃO DO CONTEUDISTA 104 

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     A Disciplina de Teoria Geral do Direito do Trabalho irá abordar os conceitos e

    fundamentos do direito laboral, proporcionando uma melhor atuação aos

    profissionais que militam no ramo trabalhista e áreas afins.

    Partindo do exame dos princípios que diferenciam o Direito do Trabalho dos

    demais ramos do Direito, será examinada a sua interpretação e a suaaplicação a casos concretos à luz da sua construção normativa, doutrinária e

     jurisprudencial.

    Dentro do contexto da disciplina serão, também, examinadas as fontes do

    Direito do Trabalho, com destaque para as suas fontes específicas e suas

    características, natureza jurídica, limitações, eficácia e aplicabilidade.

     A disciplina abordará, por fim, a clássica distinção entre a Relação de

    Trabalho em sentido amplo e estrito, examinando os sujeitos da Relação de

    Emprego e as regras a eles aplicáveis, a exemplo da solidariedade nos grupos

    econômicos, da sucessão trabalhista, dos poderes e limites do empregador,

    assim como os tipos especiais de empregado e os temas relevantes aos

    mesmos relacionados, como o caso das modificações normativas pertinentes

    ao empregado doméstico e seus impactos na sociedade.

    Objetivos:

    1.  O aluno deverá ser capaz de identificar o fundamento básico do Direito

    do Trabalho, por via das noções gerais apresentadas;

    2.  O aluno deverá ser capaz de descrever, explicar e aplicar os princípios

    peculiares do Direito do Trabalho, em suas articulações com as fontes

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    gerais e específicas, o que é pressuposto indispensável para a solução

    de casos concretos;

    3.  O aluno deverá ser capaz de diferenciar a relação de trabalho da

    relação de emprego, com habilidade para listar, explicar e aplicar asnormas jurídicas pertinentes aos sujeitos da relação de emprego, em

    sua regulamentação geral e suas peculiaridades.

    Ementas

    Aula 1: Direito do Trabalho (Fundamentos, Fontes e Princípios)

    Nessa aula, definiremos o conceito do Direito do Trabalho, seus fundamentos

    e suas características. Em seguida, identificaremos as fontes do Direito do

    Trabalho: estudaremos o conceito de fontes, a classificação, as fontes em

    espécie, as fontes peculiares ao Direito do Trabalho. Por fim, descreveremos

    os princípios do Direito do Trabalho no contexto da flexibilização.

    Aula 2: Aplicação da Lei Trabalhista

    Identificaremos nessa aula a aplicação temporal, territorial e espacial do

    Direito do Trabalho. Em seguida, descreveremos a Relação de Trabalho e a

    Relação de Emprego. Por fim, identificaremos os requisitos da Relação de

    Emprego.

    Aula 3: Empregador

    Nessa aula, definiremos o conceito, a crítica e o fundamento. Em seguida,

    descreveremos a caracterização do grupo econômico e a solidariedade.

    Estudaremos a sucessão de titulares da empresa. Por fim, identificaremos a

    sucessão trabalhista e a lei de falências.

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    Aula 4: Empregado

    Definiremos nessa aula o conceito, os caracteres e os tipos especiais de

    empregados.

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    Introdução

    Iniciaremos nossos estudos de Teoria Geral do Direito do Trabalho

    apresentando um conceito para a disciplina, assim como seus fundamentos e

    características. A seguir, examinaremos as Fontes do Direito do Trabalho e os

    princípios do direito do trabalho dentro do atual contexto da flexibilização.

    O Direito do Trabalho disciplina uma relação jurídica marcada pela

    desigualdade entre as partes e caracterizada pela presença de um polo

    hipossuficiente, o empregado, e outro hipersuficiente, o empregador.

    Partindo desse fundamento básico, esse ramo do direito tem como proposta

    reduzir a desigualdade contratual, revestindo-se de caráter tutelar e

    intervencionista.

    Isso significa que, no Direito do Trabalho, a vontade das partes, emboraexistente, deverá, regra geral, respeitar a proteção mínima estabelecida pela

    legislação vigente.

    Objetivo:

    1.  Apresentar as noções gerais do Direito do Trabalho, descrevendo e

    explicando suas fontes e identificando os princípios peculiares a esse

    ramo do direito, em sua interpretação e aplicação a casos concretos.

    Conteúdo

    Fundamentos do Direito do Trabalho

     A temática relativa aos fundamentos do direito do trabalho encontra-se ligada

    à investigação acerca das causas sociais, político-econômicas e ideológicas de

    seu surgimento.

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    Evaristo de Moraes Filho, em sua obra “Introdução ao Direito do Trabalho” ,1 

    trata interessantemente o assunto, destacando que não devemos confundir a

    história das formas de trabalho humano ao longo das civilizações (e suaregulação jurídica pelo Estado) com as atuais leis sociais dotadas de outro

    espírito e com finalidade diversa.

    O autor esclarece, ainda, que leis sobre o trabalho humano sempre existiram,

    desde a antiguidade, mas eram leis de servidão, leis do trabalhador reduzido

    ao estado de coisa, que, em muito, se diferenciam desse direito tutelar de

    formação recente, originado no século XIX e objeto de nosso estudo.

     Assim, no cenário global, a ambientação político-social e econômica, que

    possibilitaria o surgimento do direito do trabalho, de caráter tutelar e

    intervencionista, resultou das emanações oriundas de duas grandes

    revoluções: a Revolução Francesa, responsável pela implantação de um

    regime político de liberdade e igualdade, ainda que formais; e a Revolução

    Industrial, responsável pela transformação de um contexto produtivofundamentalmente agrário no contexto industrial moderno, desencadeador de

    problemas humanos e sociais que deixaram de encontrar solução nos quadros

    do direito clássico.

    Originado dos progressos alcançados através das reivindicações sociais, esse

    novo ramo do Direito pressupunha, para a sua formação, um regime político

    que respeitasse, ao menos no plano jurídico, a livre manifestação da vontade,

    sem o qual não seria dada ao trabalhador a possibilidade de reivindicar a

    melhoria de suas condições sociais.

    Daí a importância da Revolução Francesa e das demais manifestações

    revolucionárias do século XVIII, que romperam politicamente com os regimes

    1 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antônio Carlos Flores. Introdução ao Direito do Trabalho, 8ª. Ed,São Paulo, LTr, 2000, pág 66-80.

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    alicerçados, no reconhecimento estatal de uma sociedade estratificada, para

    estabelecer os cânones de um novo regime que se assenta sobre as bases do

    tratamento igualitário dos cidadãos perante o Estado.

     Assim, politicamente, a transição do feudalismo para o capitalismo se

    estabelece sob o alicerce dos postulados do liberalismo jurídico-político,

    expressos no reconhecimento dos direitos individuais subjetivos e no

    absenteísmo do Estado, dentro de um sistema assegurador da livre

    concorrência.

     As relações de trabalho, nesse contexto, vão ser disciplinadas pelo CódigoCivil, com a otimista filosofia revolucionária de que a liberdade e a igualdade

    de tratamento dariam a todos as mesmas chances de progressão social.

    O esquema teórico do liberalismo, apesar dos nobres ideais que o inspiraram,

    não tardaria em noticiar o seu fracasso. Em poucos anos, o que se verificou,

    na prática, foi um acelerado crescimento do número de miseráveis e

    empobrecidos e a concentração de riquezas nas mãos de uma minoria-proprietária, de onde deflui a constatação de que a igualdade formal, em uma

    sociedade marcada pela desigualdade material, resulta na exploração do fraco

    pelo forte.

    No setor produtivo, a ausência de intervenção estatal nas relações contratuais

    teve suas consequências agravadas com a crescente utilização da máquina,

    do que deriva a relegação do homem a um papel secundário na produção,

    desencadeador do desemprego e da utilização do trabalho de mulheres e

    crianças. Surgem, agora, novas moléstias profissionais e a multiplicação dos

    acidentes de trabalho, ocasionados pela ausência de normas de segurança no

    trabalho, de limitação da jornada ou de imposição de um salário justo. A

    insatisfação no lar operário passa a se refletir na própria segurança da

    sociedade.

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    Nesse contexto, a coletivização do trabalho nas grandes indústrias acaba por

    gerar a concentração de grandes massas humanas, cujo resultado foi o

    surgimento e a formação de uma consciência de classe. Compartilhando as

    mesmas, e desumanas, condições existenciais, a aproximação da massaoperária facilitou a organização coletiva de suas reivindicações, constituindo-

    se como fator determinante para as latentes lutas sociais.

    Inevitáveis, a partir daí, as desordens ocasionadas pelo absenteísmo estatal,

    marcadas pelo crescimento das ideologias de protesto, paralisações do

    trabalho, agitações, prisões e, até, mortes. Dentre as lutas sociais que se

    desenvolveram ao longo do século XIX, são citados os movimentos luditas ecartistas, na Inglaterra, as revoluções de 1848 e 1871, na França, e a

    revolução de 1848, na Alemanha, todas igualmente expressivas para o

    florescimento do direito do trabalho.

    Devido a demora de uma iniciativa do Estado, que a tudo assistia,

    complacentemente, respaldado nos postulados do liberalismo, o quadro de

    stress   social crescente acabou por gerar o surgimento paraestatal dasprimeiras normas trabalhistas.

    Resultantes de acordos entre empregados e empregadores, e consideradas

    pela doutrina como verdadeiras convenções coletivas de trabalho, as

    primeiras normas trabalhistas surgem do fogo direto das lutas e

    reivindicações sociais, à margem da regulamentação estatal, tendo alcançado

    o mérito de normalizar as relações entre as classes produtoras, ao menos

    transitoriamente.

    Dentre as causas que influenciaram a formação do direito do trabalho,

    destacou-se, ainda, a manifestação da igreja, através da encíclica Rerum

    Novarum , do Papa Leão XIII, publicada em 15 de maio de 1891, a qual

    chegou a ser intitulada “Manifesto Comunista da Igreja”. 

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     Assim, em reação às desvirtudes do capitalismo e à incapacidade do sistema

     jurídico-liberal em lidar com os problemas humanos e sociais resultantes do

    novo contexto produtivo, surge o direito do trabalho, com a almejada missão

    de interferir nas relações entre operariado e burguesia, suprindo devantagens jurídicas os hipossuficientes nas relações contratuais, construindo,

    através de sua ação tutelar, a melhor igualdade possível.

    Contribuiria, por fim, para a consolidação e autonomia do novel ramo do

    direito, o reconhecimento estatal da importância da classe trabalhadora,

    efetivado no contexto instaurado pela Primeira Guerra Mundial, do qual surge

    a necessidade de sua colaboração e parceria.

     A interdependência entre as máquinas industrial e bélica, no complexo

    envolvimento entre a geração de recursos e a eficiência nos campos de

    batalha, despertou os Estados para o papel central que os problemas relativos

    ao trabalho deveriam ocupar na sociedade.

    Esse despertar se fez refletir no pós-guerra, já na assinatura do Tratado de Versalhes, com a criação da Organização Internacional do Trabalho,

    consolidando o direito do trabalho, o seu posicionamento definitivo e

    preponderante nos quadros legislativos dos Estados nacionais e alcançando o

    plano da regulamentação internacional.

    ConceitoQuando se trata de conceituar o Direito do Trabalho, a doutrina adota

    definições Subjetivistas (aquelas que têm como vértice as pessoas a quem se

    aplica o Direito do Trabalho e que figuram nas respectivas relações jurídicas);

    Objetivistas (as que consideram o objeto, a matéria disciplinada pelo Direito

    do Trabalho) e as Mistas (que abrangem as pessoas e o objeto do direito do

    trabalho numa unidade considerada necessária para melhor explicar o

    conteúdo desse ramo do direito).

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     Apresentamos, para fins didáticos, o conceito  –  de natureza mista  –  que é

    adotado por Maurício Godinho Delgado,2  que define o Direito do Trabalho

    como o: “complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam arelação empregatícia de trabalho e outras relações normativamente

    especificadas, englobando, também, os institutos, regras e princípios jurídicos

    concernentes às relações coletivas entre trabalhadores e tomadores de

    serviços, em especial através de suas associações coletivas”. 

    Fontes do Direito do Trabalho

     A temática das “fontes do direito”, como a própria denominação já deixa

    entrever, está relacionada com a “origem do direito”. 

    Em caráter genérico, as fontes do direito se dividem em materiais e

    formais.  As fontes materiais correspondem ao conjunto de fenômenos

    sociais, econômicos e políticos que contribuem para a formação do direito,

    vale dizer, de seu conteúdo. Ou seja, em uma dada sociedade, emdeterminada época, certos fatos ganham relevância no cenário social, sendo

    então “apreendidos” e regulamentados. A título de exemplo, podemos citar,

    hoje, dentre inúmeros outros casos, os avanços no campo da engenharia

    genética, que suscitam, com urgência, a elaboração de normas aptas a

    disciplinarem a sua regular aplicação.

    No que concerne, particularmente, ao Direito do Trabalho, pode-seacrescentar outro elemento, de suma relevância, aos já mencionados

    fenômenos social, político e econômico. Trata-se da pressão exercida pelos

    trabalhadores junto ao estado capitalista, em prol de melhores condições de

    trabalho, o que se caracteriza como fonte material específica.

    2 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 10ª Ed., 2011, pág.51.

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    Já as fontes formais correspondem aos meios através dos quais este direito

    se manifesta em uma dada sociedade, vale dizer, aquilo que se inscreve no

    Direito Positivo. Ou ainda, seguindo a classificação de Délio Maranhão,3  “as

    fontes formais são as regras gerais, abstratas, impessoais – escritas ou não –que se impõem coercitivamente aos agentes sociais” .

    Conclui-se, do exposto, que as denominadas fontes materiais do direito

    constituem um estágio preliminar em relação às fontes formais, uma vez que

    é exatamente da atuação dos diversos elementos que as compõem que vão

    surgindo os mecanismos formais de manifestação do direito.

     As fontes formais do direito se subdividem em autônomas  e

    heterônomas. As fontes autônomas são aquelas elaboradas pelos próprios

    agentes sociais, destinatários de seus comandos. As fontes heterônomas, por

    sua vez, são aquelas que emanam dos órgãos estatais.

     Assim, de acordo com a sobredita classificação, a Constituição Federal, a Lei,

    o Regulamento e a Sentença Normativa são fontes heterônomas do Direito doTrabalho, ao passo que o Acordo Coletivo, a Convenção Coletiva e o Costume

    constituem fontes autônomas desse ramo do direito. Enquadra-se o costume

    também nessa segunda categoria, uma vez que resulta dos hábitos e práticas

    espontaneamente sedimentados pelos interlocutores sociais.

    Uma vez delineado o quadro relativo às fontes materiais e formais do Direito

    do Trabalho, passaremos ao exame dessas fontes, com destaque para o

     Acordo Coletivo, a Convenção Coletiva e a Sentença Normativa, por serem

    fontes específicas do Direito do Trabalho.

    Iniciamos com a Constituição Federal, a primeira de todas e fundamento de

    validade das demais normas. Traz em seu bojo diversas regras relativas ao

    3  MARANHÃO, Délio; SÜSSEKIND, Arnaldo; VIANNA, Segadas et al . Instituições de direito dotrabalho. Vol. I. 19ª ed. São Paulo: LTr Editora, 2000.

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    Direito do Trabalho, estabelecendo um regime de garantias mínimas que

    busca assegurar ao empregado uma condição econômica e social dentro dos

    padrões de qualidade de vida ditados pelo Estado Democrático de Direito.

     A Constituição Federal de 1988 nos trouxe, como um grande avanço, a

    inserção do Direito do Trabalho no título dos “Direitos e Garantias

    Fundamentais”, com destaque para os artigos 7º, 8º, e 9º, deixando para trás

    qualquer dúvida acerca da importância desse ramo do Direito.

    Em ordem hierárquica, a segunda fonte formal do Direito do Trabalho é a lei,

    entendida, em sentido amplo, como a regra de direito geral, abstrata epermanente, imposta por autoridade competente para tanto e expressa em

    uma fórmula escrita. Portanto, abrange tanto a lei em sentido material quanto

    a lei em sentido estrito, que seria apenas a norma proveniente do Poder

    Legislativo, sancionada e promulgada pelo Presidente da República.

     A terceira fonte de Direito do Trabalho é o regulamento  –  do poder

    executivo – aqui entendido como aquele que se destina a integrar a lei, à qualnecessariamente se encontra subordinado, explicitando seus comandos, ex vi  

    do artigo 84, IV, da Constituição Federal. Cumpre, ainda, salientar que os

    demais atos emanados da Administração Pública  –  tais como portarias,

    avisos, circulares, etc.  –  a rigor, não se constituem em fonte de Direito do

    Trabalho, na medida em que produzem efeitos concretos, obrigando apenas

    os funcionários a que se dirigem e dentro dos limites da obediência

    hierárquica.

    Entretanto, se por expressa previsão legal, um desses atos for expedido com

    a finalidade de regulamentar uma determinada lei, este possuirá,

    necessariamente, conteúdo abstrato e caráter genérico, dirigindo-se

    indistintamente a todos quantos estejam enquadrados na hipótese

    regulamentada. Nesta hipótese, da qual citamos como exemplo a delimitação

    dos graus de insalubridade via normas regulamentares do Ministério do

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    Trabalho, o ato, embora não revestido da forma de decreto, será fonte de

    Direito do Trabalho.

     A quarta fonte formal do Direito do Trabalho é a sentença normativa, a qual,embora revista a forma de sentença, estabelece regras de conteúdo abstrato,

    genérico e impessoal, possuindo conteúdo de ato-regra e aproximando-se da

    lei em sentido material. Deve-se salientar que o alcance da sentença

    normativa será, via de regra, menor que o da lei, eis que limitada a

    determinada categoria e a determinada base territorial.

     A quinta fonte formal do Direito do Trabalho é representada pelasConvenções e Acordos Coletivos. Os referidos instrumentos, oriundos de

    negociação coletiva, possuem natureza jurídica mista, uma vez que, embora

    consubstanciem negócios jurídicos  –  contratos  –  não deixam de possuir

    características de ato-regra, na medida em veiculam regras de caráter

    impessoal, geral e abstrato, dotados de força coercitiva no âmbito de sua

    aplicabilidade.

    Por derradeiro, cabe o mencionar o costume como fonte formal do Direito

    do Trabalho, aqui entendido como a circunstância de um determinado núcleo

    social de adotar e observar, de forma constante e espontânea, certo modo de

    agir de conteúdo jurídico.

    O costume possui enorme importância no Direito do Trabalho, se

    apresentando, basicamente, sob duas formas, secundum legem   e praeter

    legem . A primeira forma ocorre quando a lei se refere expressamente ao

    costume, a fim de que este integre uma lacuna propositadamente deixada por

    aquela. Exemplo dessa hipótese é o artigo 460 da CLT, onde a referência à

    habitualidade deve ser completada com a concepção oriunda dos costumes.

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     A segunda forma, costume praeter legem , acontece quando a lei silencia a

    respeito de determinada situação, que é, então, regulada pelo direito

    consuetudinário.

     A última forma através da qual o costume poderia se apresentar é a

    denominada contra legem,  que se caracterizaria por dotá-lo de força

    derrogatória do próprio direito positivo. O costume contra legem   não é, ao

    menos em tese, admitido no ordenamento jurídico pátrio, uma vez que a lei

    somente pode ser revogada por outra lei, permanecendo em vigor até que tal

    se suceda.

    Destaca-se, por fim, a existência de divergência doutrinária acerca do

    enquadramento como “fonte” de outros institutos, a exemplo do Regulamento

    Empresa, da Jurisprudência, da Equidade e dos Princípios Gerais do Direito.

    Tal divergência é decorrente do conceito utilizado para definir fonte, variando

    de acordo com a corrente adotada.

    Princípios do Direito do Trabalho

     A aplicação da legislação trabalhista pressupõe o conhecimento dos princípios

    específicos do Direito do Trabalho.

    Em sua definição, os princípios são postulados gerais que devem orientar a

    elaboração da lei, sua interpretação e sua aplicação aos casos concretos.

    É a existência de princípios específicos e peculiares que atribui ao Direito do

    Trabalho a sua autonomia e que o diferencia dos demais ramos do direito.

    Neste tópico, trataremos dos princípios aplicáveis ao Direito do Trabalho

    como um todo. Os princípios que informam temas específicos, a exemplo do

    princípio da irredutibilidade salarial, serão abordados dentro das respectivas

    aulas.

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    De acordo com a teoria de  Américo Plá Rodriguez,4 citada reiteradamente

    pela doutrina trabalhista, os seguintes princípios podem ser destacados como

    específicos do Direito do Trabalho:

    Princípio da Proteção  –  destinado a equilibrar a desigualdade contratual

    que se estabelece entre empregado e empregador, o Direito do Trabalho tem,

    por fundamento básico, a proteção ao hipossuficiente. Desse princípio,

    decorre a irrenunciabilidade (em regra) dos direitos trabalhistas e a

    imperatividade e inderrogabilidade das suas normas. Isso significa que, ainda

    que o empregado manifeste sua vontade “abrindo mão” dos direitos

    assegurados pela legislação, essa manifestação de vontade, regra geral, nãoproduzirá efeitos. As normas trabalhistas são imperativas e não podem ser

    validamente afastadas pelas partes.

    Seguindo a tese de Plá Rodriguez, o princípio da proteção se subdivide nos

    seguintes princípios:

    Princípio do “in dúbio pro misero ” – aconselha o intérprete a escolher,entre duas ou mais interpretações viáveis (possíveis e razoáveis) de um

    mesmo dispositivo legal, a mais favorável ao trabalhador, desde que não

    afronte a nítida manifestação do legislador.

    Exemplo de sua aplicação é o caso do art. 59 da CLT que limita o labor

    extraordinário a duas horas suplementares diárias. Indaga-se: e se o

    empregado trabalhar três, quatro ou mais horas extras? Não será remunerado

    então? Responde-se: claro que será. A proposta do legislador com essa

    norma é limitar o trabalho extraordinário com vistas a proteger a saúde do

    trabalhador. Se, no entanto, o empregador desrespeita essa regra, com base

    no princípio do in dubio pro misero , podemos interpretar esse artigo no

    sentido de penalizar o contratante pela violação perpetrada. Quanto ao

    4 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de direito do trabalho. Tradução por Wagner D. Giglio. 3ªed. atual. São Paulo: LTr Editora, 2000.

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    9

     

    empregado, diante da impossibilidade de ressarcimento da força de trabalho

    despendida, deverá ser regularmente remunerado, inclusive com o adicional

    de 50%.

    Princípio da condição mais benéfica  – determina que toda circunstância

    mais vantajosa em que o empregado se encontrar, habitualmente 

    prevalecerá sobre a situação anterior, seja ela oriunda da lei, do contrato, de

    norma coletiva ou regulamento da empresa (salvo se a concessão do

    benefício for submetida a termo ou condição). Vale dizer, consoante esse

    princípio, as benesses concedidas com habitualidade pelo empregador irão,

    regra geral, se incorporar aos contratos de trabalho dos seus empregados.

     Alguns aspectos merecem esclarecimento nesse tema.

    Em primeiro lugar, indaga-se: em que consiste essa “habitualidade”, já que o

    legislador não a conceitua? Explicamos, inicialmente, que o legislador não

    pode definir habitualidade de forma genérica, pois ela irá variar de acordo

    com cada benefício concedido, vez que existem benefícios diários, semanais,mensais, semestrais, anuais...

    Então, como identificar quais seriam habituais?

     A tendência de nossos tribunais é considerar habitual tudo aquilo que gera

    uma expectativa de repetição. Por exemplo: suponhamos que uma

    empresa pague 14º salário aos seus funcionários no ano de 2012. Ela não

    estava obrigada a isso, mas o fez. Trata-se de uma situação eventual,

    esporádica.

    No entanto, se essa mesma empresa concede o mesmo benefício no ano de

    2013, pagando novamente um 14º salário – que não é obrigatório por lei – a

    tendência é que em 2014 já exista uma expectativa desse pagamento por

    parte dos empregados. Os tribunais considerarão que se tornou habitual.

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    Portanto, uma vez caracterizada a habitualidade na respectiva concessão, o

    empregador não poderá suprimi-la, sob pena de violação ao princípio e à

    regra do Art. 468 da CLT.

    Ressalva-se, aqui, o benefício que foi submetido a termo ou condição, pois,

    nesse caso, o empregado (ou o setor) precisará cumprir o requisito para a

    sua concessão. À guisa de exemplo, se o pagamento suplementar está

    condicionado ao resultado positivo do setor ou à determinadas metas, não há

    que se falar em “incorporação” se a meta não foi atingida ou implementada.

    Em termos de consultoria prática prestada a empresas, essa pequena

    orientação pode evitar um número sem limites de demandas judiciais. As

    cláusulas benéficas interpretam-se restritivamente, portanto o empregador

    tem o direito de disciplinar as condições para a concessão de benefícios.

    Por fim, cabe examinar a matéria nos casos em que a condição benéfica é

    decorrente de previsão em Instrumento Normativo.

    Por força da Resolução 185/2012, o TST mudou a redação da Súmula 277,

    que passou a ter o seguinte teor:

    Súmula nº 277 do TST

    CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DETRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na sessão do

    Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em

    25, 26 e 27.09.2012.

    “  As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas

    integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser

    modificadas ou suprimidas mediante n egociação coletiva de trabalho.”  

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    Não era o entendimento do TST até então, apesar da larga discussão

    doutrinária acerca da matéria. Ora, os acordos e convenções coletivos de

    trabalho possuem prazo de vigência e são negociados mediante concessõesrecíprocas das partes. Portanto, encerrada a vigência dessas normas, o

    benefício concedido por força da sua previsão não deveria se incorporar ao

    contrato de trabalho, podendo ser retirado.

     Assim entendeu o TST até a modificação de 2012. Hoje, com a nova redação

    da Súmula 277 do TST, se a norma coletiva trouxer previsão, por exemplo, de

    hora extra remunerada com adicional de 70% sobre o valor do salário/horacontratual, tal direito irá se incorporar ao contrato, salvo se sobrevier uma

    nova norma coletiva dispondo expressamente sobre o tema. Não basta,

    portanto, que a norma encerre seu prazo de vigência, já que a súmula é

    expressa em estabelecer a sua ultratividade.

    Princípio da norma mais favorável   –  independentemente de sua

    colocação na escala hierárquica das normas jurídicas, na hipótese deexistência de duas regras aplicáveis ao mesmo trabalhador, deve prevalecer a

    que for mais favorável. Na CLT, esse princípio se exterioriza através da

    previsão do art. 620, que trata do conflito entre o acordo coletivo e a

    convenção coletiva.

     A doutrina tem interpretado que, nos casos de Flexibilização do Direito do

    Trabalho, esse princípio não deve ser aplicado.

    Por quê? Como podemos explicar a Flexibilização? Quais os seus limites?

    Existem vários critérios doutrinários que são utilizados para definir a

    Flexibilização. De uma forma geral, “flexibilizar”, como o próprio nome indica,

    significa dar “maleabilidade” às normas trabalhistas. Permitir a quebra da sua

    rigidez em certos casos em que isso é necessário.

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    Dentro dos fundamentos trabalhistas, essa necessidade estaria ligada a uma

    exigência de adequação desse ramo tutelar a um novo contexto de

    globalização, avanços tecnológicos e competitividade em nível mundial jamaisvisto em nossa história.

     A despeito da polêmica que permeia o tema, a verdade é que a negociação,

    em alguns casos, é a única alternativa para o desemprego.

    Portanto, a finalidade da Flexibilização não é aumentar lucros, mas, sim,

    possibilitar a negociação da rigidez normativa, visando aproximar interessesde empregadores e trabalhadores.

     Apresentamos, assim, um conceito para a Flexibilização:

     A Flexibilização é a maleabilidade na aplicação da norma

    trabalhista, com vistas a aproximar interesses de

    trabalhadores e empregadores, com a finalidade de protegero emprego.

    Exemplo: consideremos que uma empresa possua dez empregados e adquira

    tecnologia que a permita funcionar com cinco! Em regra, os cinco funcionários

    remanescentes seriam demitidos. A Flexibilização é o instituto que permitirá

    que todos trabalhem meio expediente, recebendo metade do salário

    (flexibilização da regra de irredutibilidade salarial  – art 7º, inciso VI, CRFB),

    desde que seja negociada a permanência de todos no serviço.

    No caso brasileiro, a Flexibilização só pode ser aplicada nas situações

    autorizadas pela lei. Portanto, não há “desregulamentação do direito do

    trabalho”, as regras permanecem existindo. Mas poderão ser flexibilizadas

    mediante negociação coletiva.

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     A Constituição Federal de 1988 prevê a Flexibilização no Art. 7º, incisos VI

    (irredutibilidade de salário, salvo o disposto em convenção ou acordo

    coletivo ); XIII (duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e

    quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e aredução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho ); e

    XIV (jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos

    de revezamento, salvo negociação coletiva ).

    Nesses casos, portanto, para que a norma de Flexibilização possa ter

    efetividade, é ela que será aplicada, afastando-se o princípio da norma

    favorável.

    Princípio da Primazia da Realidade  – componente específico do Direito

    do Trabalho, em razão do qual a relação objetiva evidenciada pelos fatos

    define a verdadeira relação jurídica estipulada pelos contratantes, ainda que,

    sob capa dissimulada, não correspondente à realidade. Ou, de forma

    simplificada, tal princípio significa que, no Direito do Trabalho, é a realidade

    fática que irá prevalecer, ainda que encoberta por registros que visem adistorcê-la ou a ocultá-la.

     Assim, a doutrina destaca que o contrato de trabalho é um “contrato-

    realidade”.  À guisa de exemplo, se um empregado assina a folha de ponto

    com horário de saída 18 horas, mas prorroga seu trabalho até 20 horas, é a

    realidade fática que prevalece, podendo ser provada, em eventual processo

    trabalhista, por todos os meios de prova em direito admitidos.

    Atividade proposta

    Os gestores de uma empresa-cliente de seu escritório o consultam acerca da

    existência de direitos trabalhistas distintos fixados em Acordo Coletivo e

    Sentença Normativa, ambos aplicáveis, simultaneamente e no mesmo prazo

    de vigência, aos seus empregados. Indaga-se: quais regras deverão

    prevalecer? Seria o caso de aplicar o princípio da Norma Mais Favorável?

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    Aprenda mais 

    - Leia os objetivos, a introdução e o conteúdo da aula;

    - Leia os capítulos 2 e 7 do livro “Direito do Trabalho”, de

     Vólia Bonfim Cassar, Editora Método;

    - Faça os exercícios propostos e estude os gabaritos, pois eles

    complementam a aula;

    - Avalie se você assimilou o conteúdo proposto;

    - Tire suas dúvidas no Fórum e participe do debate proposto;

    - Solucione o caso concreto proposto como atividade;

    - Leia a chamada para a aula seguinte.

    Exercícios de fixação

    Questão 1

     A origem histórica do Direito do Trabalho está vinculada ao fenômeno

    conhecido sob a designação de “Revolução Industrial”. O 

    desenvolvimento técnico das máquinas acarretou mudanças no setor

    produtivo e deu origem à classe operária, transformando as relações sociais.

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     Assim, o Direito do Trabalho surge no século XIX, na Europa, em um mundo

    marcado pela desigualdade econômica e social. Podem-se afirmar como

    principais causas de sua gênese no cenário da época:

    I.  O liberalismo político e a liberdade econômica sem limites, com

    opressão dos mais fracos, gerando uma nova forma de escravidão.

    II.  O emprego generalizado de mulheres e menores suplantando o

    trabalho dos homens, já que a máquina reduziu o esforço físico,

    tornando possível a utilização das “meias-forças” não preparadas para

    reivindicar.

    III.  Salários ínfimos, jornadas desumanas e condições de higienedegradantes.

    IV.   As lutas de classes.

     V.   A encíclica Rerum Novarum  (coisas novas), de Leão XIII, considerando

    o trabalho como elemento da dignidade humana e preconizando o

    salário justo.

     Analise as proposições supracitadas e assinale a alternativa correta:a)  Todas as proposições são verdadeiras.

    b)  Todas as proposições são falsas.

    c)  Apenas a primeira proposição é verdadeira.

    d)  Apenas a última proposição é verdadeira.

    e)  Apenas as proposições II, III e IV são verdadeiras.

    Questão 2

    Leia atentamente as assertivas abaixo:

    I. 

     A Convenção Coletiva e o costume são fontes heterônomas do direito

    do trabalho.

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    II.  São fontes formais de direito do trabalho os fatores sociais que

    contribuem para a formação da substância da norma jurídica.

    III.   A diferença entre a fonte material e a fonte formal corresponde à

    diferença entre a origem do conteúdo e a forma do direito.Responda:

    a)  Apenas as assertivas I e II estão corretas.

    b)  Apenas as assertivas I e III estão corretas.

    c)  Apenas as assertivas II e III estão corretas.

    d)  Apenas a assertiva III está correta.

    e)  Todas as assertivas estão corretas.

    Questão 3

     A competência normativa da Justiça do Trabalho, consubstanciada no

    chamado poder normativo, tem previsão constitucional e significa:

    a)  A possibilidade dos tribunais trabalhistas editarem súmulas e

    prejulgados com força normativa e vinculante em relação às instâncias

    superiores.b)  A prerrogativa dos tribunais do trabalho de se auto-organizarem,

    elaborando, de forma soberana, seus próprios regimentos internos.

    c)  A competência de editar normas e obrigações através das chamadas

    sentenças normativas, proferidas em dissídios coletivos.

    d)  Que o enunciado é falso, visto que a competência e o poder

    normativos não foram recepcionados pela Carta de 1988.

    e)  A prerrogativa de enunciar normas de caráter meramente

    programático, contendo recomendações para as categorias profissional

    e econômica.

    Questão 4

    Determinado princípio geral do Direito do Trabalho prioriza a verdade real

    diante da verdade formal. Assim, entre os documentos que discorrem sobre a

    relação de emprego e o modo efetivo como, concretamente, os fatos

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    ocorreram, deve-se reconhecer esses em detrimento daqueles. Trata-se do

    princípio:

    a)  Da razoabilidade.b)  Da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas.

    c)  Da primazia da realidade.

    d)  Da prevalência do legislado sobre o negociado.

    e)  Da condição mais benéfica.

    Questão 5: O Direito do Trabalho tem seus próprios princípios, sem o que

    não seria possível atribuir-lhe autonomia científica. Com base no conceituado

     jurista uruguaio Américo Plá Rodriguez, reconhecido como autoridade no

    tema em razão da relevância do estudo que publicou sobre a matéria, é

    correto afirmar que:

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    I.  O princípio da proteção se concretiza em três idéias ou regras, a saber:

     “in dubio pro operario”, regra da norma mais favorável e regra da

    condição mais benéfica.II.   A regra da condição mais benéfica se dá pela adesão ao contrato de

    trabalho, quando de seu curso, de todas as transformações benéficas

    ao trabalhador, tornando-se cláusulas contratuais e, como tais,

    submetidas a todo o sistema de proteção.

    III.  O princípio da irrenunciabilidade de direitos tem como escopo a

    presunção de que a vontade do trabalhador pode ser submetida a

    vícios de consentimento, dada a sua condição de inferioridade, emespecial, quando manifestada no curso do contrato de trabalho.

    IV.  O princípio da primazia da realidade revela o predomínio das relações

    concretas travadas pelas partes sobre as formais, ou mesmo da própria

    realidade sobre a documentação escrita, o que se traduz, inclusive, no

    art. 442 da CLT.

    a)  Todas as afirmativas estão corretas.b)  Apenas as afirmativas II e IV estão corretas.

    c)  Apenas as afirmativas II e III estão corretas.

    d)  Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.

    e)  Apenas as afirmativas I e II estão corretas.

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    Introdução

    Continuaremos nossos estudos de Teoria Geral do Direito do Trabalho

    abordando a temática relativa à aplicação da Lei Trabalhista.

    Trata-se de assunto de grande relevância, tendo em vista que o contrato de

    trabalho é um pacto de trato sucessivo, o que suscita examinar os impactos

    das novas normas trabalhistas às relações que já estão em curso, tema

    inserido na aplicação temporal da lei.

    Destaca-se, ainda, em relevância, por força do contemporâneo fenômeno da

    globalização e das consequentes contratações para serviços em outras

    localidades, inclusive no exterior  –  Aplicação Espacial  –  e, ainda dentro do

    âmbito interno, no que tange ao raio de aplicação territorial da lei.

     A seguir, examinaremos a relação de trabalho em sentido amplo e estrito,destacando os requisitos caracterizadores da relação de emprego, visando

    identificar as relações contratuais que serão objetos de regulamentação pela

    CLT e legislação extravagante.

    Objetivo:

    1.  Apresentar e explicar as regras de aplicação do Direito do Trabalho, no

    âmbito de sua execução temporal, territorial e espacial para, a seguir,abordar a relação de trabalho, em sentido amplo e estrito,

    diferenciando-as e abordando os requisitos específicos para a

    caracterização do vínculo de emprego.

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    Conteúdo

    Aplicação da norma trabalhista

    Campo de Aplicação Territorial da Norma TrabalhistaNo que se refere ao campo de aplicação territorial da norma trabalhista,

    estabelece o art. 22, I, da Constituição Federal, que compete privativamente

    à União legislar sobre Direito do Trabalho. Desta feita, as normas de direito

    do trabalho, oriundas de fonte estatal, abrangem, em seu campo de aplicação

    e como regra geral, todo o território nacional. Este compreende também o

    raio de aplicação atribuído aos demais preceitos obrigatórios, como decretos e

    regulamentos.

     A regra suscitada, no entanto, comporta exceções. Na forma estabelecida

    pelo parágrafo único do dispositivo constitucional em comento, “a lei

    complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões

    específicas das matérias relacionadas neste artigo”. É o caso da Lei

    Complementar nº 103, de 14 de julho de 2000, que autorizou os Estados e o

    Distrito Federal a instituir o piso salarial a que se refere o inciso V do art. 7º

    da Constituição Federal, aos empregados que não tenham piso salarial

    definido em lei ou norma coletiva de trabalho, com aplicabilidade adstrita ao

    âmbito territorial do respectivo ente da Federação.

    Também com relação às sentenças normativas proferidas pela Justiça do

    Trabalho em sede de dissídio coletivo, restringem-se, no que tange ao campo

    de aplicação territorial, aos limites da jurisdição do Tribunal do qual se

    originam. Assim, se, no dissídio de âmbito nacional, seu raio de ação

    territorial se confunde com o das leis, oriundas que são do TST, nos dissídios

    adstritos a uma região específica, sua aplicabilidade limita-se pelo âmbito de

     jurisdição do TRT respectivo.

    No que tange às fontes autônomas do Direito do Trabalho, a saber, aos

    acordos e convenções coletivas, o campo de aplicação de suas normas não

    poderá ultrapassar os limites da base territorial do sindicato.

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    Aplicação da Norma Trabalhista no Tempo

    É comum, no âmbito do Direito do Trabalho, o surgimento de novas normas

    disciplinando os direitos e obrigações entre trabalhadores e empregadores,

    quando ainda em curso a relação de emprego. Neste caso, surge para o jurista o desafio de solucionar o conflito entre a lei nova e a lei anterior.

    Esse desafio decorre do fato de ser a relação de emprego uma relação

     jurídica continuativa ou de trato sucessivo  – ou seja, a relação jurídica que se

    estende no tempo, através de prestações e contraprestações sucessivas de

    parte a parte.

    Em vista dessa peculiaridade, a solução de conflitos de normas trabalhistas no

    tempo obedece a dois princípios básicos, a saber:

    O princípio da irretroatividade  –  pelo princípio da

    irretroatividade, a lei nova não se aplica aos contratos de trabalho

     já terminados, nem aos atos já praticados nos contratos de

    trabalho em curso;

    O princípio do efeito imediato – de acordo com esse princípio,

    o surgimento de norma posterior revoga a anterior, aplicando-se

    imediatamente aos contratos de trabalho em curso.

    Deve-se notar que ambos os princípios são complementares e decorrem

    especificamente da circunstância de ser o contrato de trabalho uma relação

    de trato sucessivo. Dessa forma, é inconcebível que um contrato de trabalho

    permaneça regido pelas mesmas normas vigentes ao tempo de sua

    celebração, quando normas posteriores estabelecem novos direitos e

    obrigações de parte a parte.

     Vejamos de forma mais detida esses princípios:

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    Princípio da Irretroatividade

    De acordo com o artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal de 1988, “a

    lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa

     julgada ”. Isto implica que, o fato de a lei nova não se aplicar aos contratos játerminados, sendo o contrato de trabalho uma relação jurídica continuativa,

    os atos já consumados ao tempo da lei vigente não são mais atingidos pela lei

    nova. 

    Um exemplo clássico que tivemos dessa questão foi o da aplicação da

    prescrição quinquenal estabelecida pela Constituição de 1988, em contraste

    com a prescrição bienal, vigente até então. Em 4 de outubro de 1988,encontravam-se prescritos todos os créditos trabalhistas anteriores a 5 de

    outubro de 1986; a vigência da nova regra prescricional da Constituição não

    tornou exigíveis os créditos existentes de 5 de outubro de 1983 a 4 de

    outubro de 1986, posto que já alcançados pela prescrição, de acordo com a

    regra então vigente.

    Segundo DÉLIO MARANHÃO,5 ao se estabelecer que a lei não é retroativa, tal

    fato significa que a mesma não se aplica às controvérsias referentes àssituações jurídicas definitivamente constituídas antes de sua entrada em

    vigor, assim como, dentro de certos limites, aos fatos verificados

    posteriormente, quando sejam consequência de fatos anteriores.

    E se a lei não se aplica às controvérsias referentes a situações jurídicas

    constituídas de forma definitiva antes de sua entrada em vigor, não poderia

    tornar exigíveis os créditos alcançados pela prescrição na vigência da lei

    anterior.

     Algumas situações, entretanto, oferecem maiores dificuldades para aplicação

    do princípio da irretroatividade. É o caso, por exemplo, das leis interpretativas

     – aquelas que não produzem inovações no ordenamento jurídico, mas apenas

    5 MARANHÃO, Délio et al . Instituições de Direito do Trabalho. São Paulo, 16ª Edição, Vol. I, pág.172.

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    fixam o alcance e o significado de normas já existentes. Neste caso, não se

    trata de revogar uma lei existente, nem de ampliar seu alcance, mas

    simplesmente de declarar o exato conteúdo de outra norma. Embora,

    aparentemente, o efeito da norma interpretativa seja retroativo, na verdadenão o é: os efeitos a serem observados são o da norma preexistente, cujo

    alcance a nova norma explicitou.

    O Princípio do Efeito Imediato da Lei Nova

     A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº

    4.657/42), em seu art. 6º, dispõe que a lei nova terá efeito imediato e geral  – 

    devendo-se, entretanto, resguardar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido

    e a coisa julgada. Dessa forma, a lei nova é aplicável ao contrato em curso,

    embora os atos já praticados tenham produzido os efeitos previstos na

    legislação em vigor à época em que observados.

     Algumas vezes a solução não é tão fácil, gerando controvérsias na

     jurisprudência. Um exemplo típico diz respeito ao regime de férias anterior àConstituição de 1988: a aplicação da remuneração adicional de 1/3 (artigo 7º,

    inciso XVII) às férias adquiridas antes da vigência da Constituição. Veja o

    conflito de interpretações que surgiu à época no TST:

     “A CONCESSÃO DA COMPLEMENTAÇÃO DE FÉRIAS

     ADQUIRIDAS EM PERÍODO ANTERIOR A VIGENCIA DA

    CONSTITUIÇÃO ATENTA CONTRA O PRINCÍPIOCONSTITUCIONALMENTE CONSAGRADO DA

    IRRETROATIVIDADE DAS LEIS. RECURSO DE REVISTA

    CONHECIDO E PROVIDO.”   (TST - PRIMEIRA TURMA -

     ACÓRDÃO 3317 - DECISÃO: 28 10 1992 - RR 44426 - ANO:

    1992 Rel. MINISTRO FERNANDO VILAR).

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     “FÉRIAS - ADICIONAL DE UM TERÇO. NÃO AFRONTA OS

    PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA IRRETROATIVIDADE DA

    LEI, DO DIREITO ADQUIRIDO E O DA RESERVA LEGAL A

    DETERMINAÇÃO DO PAGAMENTO DO ADICIONAL DE UMTERÇO SOBRE FÉRIAS VENCIDAS ANTES DA

    CONSTITUIÇÃO FEDERAL VIGENTE, PORÉM CONCEDIDAS

     APÓS O ADVENTO DESTAS. RECURSO DE REVISTA A QUE

    SE NEGA PROVIMENTO.”   (TST - PRIMEIRA TURMA -

     ACÓRDÃO 2301 - DECISÃO: 31 08 1992 - RR 30755 - ANO:

    1991 - Rel. MINISTRO FERNANDO VILAR).

    Diante da polêmica, que irremediavelmente se repete com relação a outros

    dispositivos na seara trabalhista, a análise da questão é oportuna. Note que o

    TST pacificou a matéria por via da Súmula 328, determinando ser cabível

    o pagamento da gratificação. 

    O art. 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro estabelece que

    a lei tenha efeito imediato e geral, respeitado o direito adquirido.

     A teoria do direito adquirido significa que se a controvérsia recai sobre um

    direito adquirido à época da lei anterior, não se deve aplicar a lei nova; mas,

    por outro lado, se o fato ao tempo da lei anterior expressava mera

    expectativa de direito ou faculdade, aplica-se a lei vigente.

     Amauri Mascaro Nascimento e Túlio de Oliveira Massoni, em recente artigo

    publicado na Revista LTr,6 comentam de forma brilhante a questão relativa à

    aplicação da lei que disciplinou o Aviso Prévio Proporcional, a saber, a Lei

    12.506, de 11 de outubro de 2011.

    6 NASCIMENTO, Amauri Mascaro e MASSONI, Túlio de Oliveira. O Aviso Prévio Proporcional. RevistaLTr, Vol. 76, nº 01, janeiro de 2012, págs. 76-01/7 a 76-01/16.

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    O que os autores explicam, em síntese, e de forma correta, é que vem

    ocorrendo um equívoco na aplicação da Lei 12.506/11. E por quê?

    Ora, se a lei iniciou a sua vigência em 11 de outubro de 2011, somente apartir dessa data deverá ser contado o tempo de serviço para fins de

    ampliação dos 30 dias do Aviso Prévio ora previsto no Artigo 7º, inciso XXI,

    da Constituição Federal. À guisa de exemplo, se interpretarmos que uma

    pessoa contratada em janeiro de 2008 e demitida em março de 2012 tem 39

    dias de aviso prévio, como vêm decidindo vários tribunais e a própria OAB,

    isso significa que estamos dando efeito retroativo à Lei 12.506/11, já que ela

    está, de fato, produzindo efeitos no passado. Vejamos um trecho do artigo:7 

    “Logo, os aumentos de duração do Aviso Prévio, quer para

    cumprimento no tempo, quer para indenização, tomarão por base

    a mesma data acima indicada, que é a da publicação da nova lei.

    Somente a partir dela é que se iniciará a contagem do tempo de

    serviço. E se não for assim, haverá inconstitucionalidade.”  

    E, mais adiante:

    “Dito de outro modo, pelo princípio da irretroatividade não se

    aproveitará o prazo anterior a 11 de outubro de 2011 para fins de

     Aviso Prévio Proporcional; e pelo princípio do efeito imediato, a

    contagem do tempo de serviço tem início com a publicação da

    nova lei.”  

    Outro ponto que merece destaque e que também sofreu modificações

    recentemente diz respeito às normas trabalhistas de vigência temporária  – 

    sendo caso clássico a aplicação das sentenças normativas, acordos e

    7 NASCIMENTO, Amauri Mascaro e MASSONI, Túlio de Oliveira. Ob. Cit. pág. 76-01/10

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    convenções coletivas de trabalho. Neste caso, se está diante de uma norma

    cuja vigência tem termo prefixado.

    Por aplicação do artigo 2º da Lei de Introdução às Normas do DireitoBrasileiro, o qual estabelece que “não se destinando à vigência temporária, a

    lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue ”, as cláusulas de

    convenções coletivas somente vigoravam durante o tempo da sua vigência,

    na forma do artigo 613, inciso II, da CLT. Era o entendimento do TST,

    expresso na Súmula 277, em sua antiga redação.

    Por essa razão, a jurisprudência do TST vinha  negando a tese daincorporação permanente de tais cláusulas no contrato individual de trabalho:

    “ RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE - ESTABILIDADE

    PROVISÓRIA - INSTRUMENTO COLETIVO - VIGÊNCIA -

    LIMITAÇÃO. Os acordos e as convenções coletivas de trabalho são

    instrumentos que estipulam normas de caráter provisório, uma vez

    que, de acordo com o art. 613 da CLT, todo acordo ou convençãocoletiva deve assinalar seu prazo de vigência. Assim sendo, as

    normas criadas mediante esses instrumentos normativos se

    incorporam ao contrato de trabalho somente pelo seu prazo de

    vigência ficando os direitos referentes à estabilidade provisória

    limitados ao seu período de vigência, pois, do contrário, estaríamos

    diante de estabilidade permanente, repelida pela Carta Política de

    1988 (CF, art. 7º, I). Não há, nesse passo, como se reconhecer

     julgamento fora dos limites da lide quando o TRT limita a

    estabilidade provisória ao período de vigência da norma coletiva,

    independentemente de pedido limitativo do Reclamado. Revista

    não conhecida. (...) ”  

    (TST - QUARTA TURMA - PROC: RR 721058 - ANO: 2001 - Rel.

    MINISTRO IVES GANDRA MARTINS FILHO)

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    No entanto, esse entendimento foi modificado por força da Resolução 185 do

    TST, de 14 de setembro de 2012, passando, a Súmula 277 do TST a vigorar

    com a seguinte redação:

    Súmula nº 277 do TST

    CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE

    TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na sessão

    do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT

    divulgado em 25, 26 e 27.09.2012.

    “  As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas

    integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser

    modificados ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho.”  

    Com essa nova redação e frisando-se vir expresso no próprio Enunciado da

    Súmula, o que se observa é que o TST passa, a partir desse momento, a

    admitir a ultratividade  dessas normas, ou seja, que os direitos e regrasnelas estipulados se perpetuem para além do seu termo prefixado, ressalvada

    a hipótese de norma posterior modificar o teor do direito assegurado.

    Aplicação da Norma Trabalhista no Espaço

     A solução de conflitos de leis trabalhistas no espaço é matéria que vem

    alcançando maior complexidade, na medida em que a globalização da

    economia cria situações cada vez mais dinâmicas, deixando ao aplicador do

    direito a tarefa de solucionar a questão.

    O TST, através da Súmula nº 207, hoje cancelada, havia pacificado o

    entendimento de que “a relação jurídica trabalhista é regida pelas leis

    vigentes no país da prestação de serviço, e não por aquelas do local da

    contratação”. 

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    Essa regra era correspondente ao princípio da lex loci executionis (lei do

    local da execução), o qual, na verdade, a despeito do cancelamento Súmula,

    ainda encontra hipóteses de aplicação, como será demonstrado.

    E por que a Súmula 207 do TST foi cancelada?

     A Súmula 207 foi cancelada por força da modificação do art. 1º da Lei

    7064/82, determinada pela Lei 11.962/2009, que ampliou o âmbito de

    aplicação da primeira, conforme se extrai de sua previsão expressa. Senão

    vejamos:

    “Art. 1 º Esta Lei regula a situação de trabalhadores

    contratados no Brasil ou transferidos por seus

    empregadores para prestar serviço no exterior.  (Redação

    da pela Lei nº 11.962, de 20090).

    Parágrafo único. Fica excluído do regime desta Lei o empregado

    designado para prestar serviços de natureza transitória, porperíodo não superior a 90 (noventa) dias, desde que:

    a)   tenha ciência expressa dessa transitoriedade;

    b)   receba, além da passagem de ida e volta, diárias durante o

    período de trabalho no exterior, as quais, seja qual for o

    respectivo va lor, não terão natureza salarial.”  

    Por força da modificação implementada em 2009, a Lei 7064/82, antes

    aplicável restritamente aos trabalhadores de empresas de engenharia, passou

    a ser aplicável, de forma global, a todos os trabalhadores contratados no

    Brasil para prestar serviços no exterior ou, ainda, para aqueles

    transferidos para o exterior, ressalvadas as exceções na própria lei

    estabelecidas.

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    Ocorre que a Lei 7064/82, em lugar de aplicar o princípio da lex loci

    executionis , aplica a regra da norma favorável, acrescida de direitos

    previstos na legislação brasileira, conforme previsto em seu artigo 3º,vejamos:

    “Art. 3º - A empresa responsável pelo contrato de trabalho do

    empregado transferido assegurar-lhe-á, independentemente da

    observância da legislação do local da execução dos serviços:

    I.  os direitos previstos nesta Lei;

    II.  a aplicação da legislação brasileira de proteção ao

    trabalho, naquilo que não for incompatível com o

    disposto nesta Lei, quando mais favorável do que a

    legislação territorial, no conjunto de normas e em

    relação a cada matéria.

    Parágrafo único. Respeitadas as disposições especiais destaLei, aplicar-se-á a legislação brasileira sobre Previdência

    Social, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS e

    Programa de Integração Social - PIS/PASEP.”

    Portanto, após a modificação da Lei 7064/82, com a sua ampliação, o local da

    contratação passa a ser relevante, já que, se o empregado for contratado no

    Brasil para prestar serviços no exterior ou, segunda hipótese, no caso de ser

    transferido para o exterior, iremos aplicar as regras oriundas do seu artigo 3º,

    não a lei do local da execução do contrato.

    O princípio da lex loci executionis  continua a ser aplicado se o empregado

    for contratado diretamente no exterior.8 

    8 Para aprofundamento do tema, leia: CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 8ª Ed., São Paulo:Método, 2013, pág. 134-152.

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    Por fim, pode ocorrer que o trabalho, por sua natureza, deva ser exercido em

    diferentes países, sem um local principal de prestação dos serviços, hipótese

    na qual será aplicável a lei do país ao qual se reporta o funcionário.9

     Nesse caso, distinta da transferência para determinado local no exterior, a

    hipótese é de efetiva ausência de base fixa para a prestação dos serviços.

    Relação de Trabalho e Relação de Emprego: Requisitos da

    Relação de Emprego

     A relação de emprego é espécie do gênero “relação de trabalho”, vale dizer,

    dentre as diversas modalidades de contrato de trabalho – em sentido amplo – 

    temos o contrato de emprego que é o trabalho com subordinação.

    Relação de Trabalho  – é uma expressão genérica, abarcando as relações de

    emprego e diversas relações de trabalho em sentido amplo, tais como a

    relação de empreitada, de trabalho autônomo, dentre outras.

    Relação de Emprego – é a relação jurídica estudada e regulada pelo direito do

    trabalho, marcada pela pessoalidade do empregado, pela habitualidade ou

    não eventualidade, pela subordinação jurídica e pela onerosidade.

    Portanto, embora CLT signifique Consolidação das Leis do Trabalho, ela se

    aplica à Relação de Trabalho em sentido estrito, caracterizada a partir da

    presença dos requisitos estabelecidos nos artigos 2º e 3º da CLT:

    a)  Pessoalidade  – o contrato de trabalho é intuitu  personae  com relação

    ao trabalhador, o que significa que, contratado o empregado A, é a este que

    cabe a prestação laboral, como consequência da confiança nele depositada

    pelo empregador. Do lado do empregador não existe essa característica, como

    será analisado na aula sobre o tema.

    9 Vide CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. Ob. Cit. Pág. 135.

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    Somado a isso, é importante destacar que o artigo 3º da CLT é claro quando

    conceitua a figura do empregado: “Considera-se empregado toda pessoa

    física…”. Assim, não pode haver contrato de emprego quando figura comocontratado uma pessoa jurídica. Poderá ser um contrato de prestação de

    serviços, um contrato de empreitada, etc., mas nunca um contrato de

    trabalho em sentido estrito.

    Ressalva-se aqui a prática adotada por algumas empresas que determinam ao

    empregado que o mesmo constitua uma “empresa” para a prestação dos

    serviços, quando na verdade, é o trabalhador, pessoalmente, que está sendocontratado.

    Se a constituição de firma for simples expediente destinado a afastar a

    aplicação da lei trabalhista, estamos diante de um caso de “fraude

    trabalhista” , ora prevista no artigo 9º da CLT.

     A contratação com essa finalidade será nula, sendo assegurado aotrabalhador postular o reconhecimento de vínculo empregatício em juízo,

    desde que comprove a finalidade fraudulenta e a presença dos requisitos dos

    artigos 2º e 3º da CLT.

    b)  Habitualidade  –  correspondente ao trabalho não eventual, sendo

    definido, doutrinariamente, a partir da inserção do serviço contratado na

    atividade permanente da empresa, conjugado com a repetição da atividade

    laboral. Assim, ainda que o trabalho não seja prestado diariamente, o requisito

    irá se caracterizar se presentes os elementos acima declinados, mesmo que o

    trabalho se dê, por exemplo, um único dia na semana.

    É o caso, por exemplo, do professor que ministra aulas em uma universidade

    em apenas um dia na semana. Conforme descrito acima, ele está inserido na

    atividade permanente e existe a expectativa de repetição do serviço.

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    Portanto, ainda que tal serviço não seja contínuo (ou diário), ele será

    habitual, preenchendo o requisito da não eventualidade.

    c)  Subordinação Jurídica  –  A subordinação é, em alguns casos, orequisito mais subjetivo da Relação de Emprego. Isso porque, quando estamos

    diante de um funcionário integrante de uma alta posição hierárquica dentro da

    empresa, ela se torna muito sutil, o mesmo se dizendo daqueles profissionais

    que possuem um conhecimento próprio, como é o caso de advogados,

    médicos, dentre outros.

     A subordinação é a relação através da qual o empregado acata ordens edeterminações do empregador. Isso não se confunde com subordinação

    econômica (já que existem pessoas que trabalham sem esse aspecto de

    dependência), nem subordinação técnica (nesta, muitas vezes, o empregado

    é bem mais qualificado para a realização das tarefas, como no caso de

    serviços profissionais de médicos, auditores, contadores, advogados, como

    acima mencionado).

    Por isso se diz que a subordinação, na verdade, é o estado de sujeição

    decorrente do contrato de trabalho, ou seja, sujeição jurídica. O empregado

    que trabalha com subordinação difere do trabalhador autônomo, justamente

    por decorrência desse requisito que resulta na impossibilidade de se

    autodeterminar na execução do trabalho.

    Por força da subordinação, o empregado fica subordinado às ordens do

    empregador, bem como sujeito a sua fiscalização nos trabalhos realizados.

    d) Onerosidade  –  caracterizada a partir da existência de uma

    contraprestação para o serviço prestado.

    Destaca-se que a onerosidade refere-se a uma contraprestação de fundo

    econômico, cuja retribuição pode ser em dinheiro ou mista. Neste caso,

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    composta por dinheiro, vales-alimentação, vales –transporte ou auxílios

    diversos (moradia, alimentação), todos de conteúdo econômico.

    Em várias ações judiciais aparecem casos em que houve trabalho econtraprestação, ainda que em utilidades. Portanto, esse trabalho não foi

    gratuito, o que permitirá ao magistrado, caso preenchidos os demais

    requisitos, declarar o vínculo.

    e)   Alteridade  – Destacamos, por fim, a alteridade que, na verdade, não

    é propriamente um requisito do vínculo, mas um princípio que determina que

    os riscos da atividade do empregador correm por sua conta, não sendo oempregado responsável por eventual sucesso ou insucesso do

    empreendimento.

     Assim, independente de o empregador ter grande lucro ao final do mês ou

    um prejuízo, o salário do empregado será sempre devido. Nesse sentido, vide

    artigo 2º da CLT.

    Atividade proposta

     Analise e resolva o caso concreto proposto.

    No dia 02/02/2014, o Dr. Manoel Pereira procura a entidade sindical

    representativa de sua categoria profissional, o Sindicato dos Médicos, a fim de

    obter uma assessoria jurídica sobre a situação à qual foi submetido na

    empresa em que laborava.

     Ao explicar a situação, o Dr. Manoel diz ter sido admitido em 02/02/2000,

    para desempenhar a função de Clínico Geral, na sede da empresa situada na

    cidade de Itaperuna, Rio de Janeiro, sendo dispensado, imotivadamente, no

    dia 02/04/2012. Todavia, no dia 30/04/2012, a empresa o procurou a fim de

    saber sobre eventual interesse em retomar ao emprego, mas sob a condição

    de filiar-se à Cooperativa de Prestadores de Serviços da Saúde. No seguinte,

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    o Dr. Manoel Pereira compareceu à referida Cooperativa, aderindo à

    sociedade, uma vez que esta era a única maneira de ser recontratado pela

    empresa.

    Mister esclarecer que as condições de trabalho permaneceram as mesmas,

    quais sejam, horário de trabalho das 8h às 17h, com trinta minutos de

    intervalo intrajornada, labor de segunda à sexta-feira, remuneração no

    montante de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) mensais e elaboração de

    relatórios semanais encaminhados ao seu superior hierárquico.

    No dia 12/12/2013, o Dr. Manoel Pereira foi desligado da empresa sob aalegação de descumprimento de norma interna, posto que forneceu

    medicamentos à Sra. Juliana, enfermeira, sem autorização de seu superior

    hierárquico. Diante dos fatos narrados pelo Dr. Manoel e considerando que

    nada recebeu quando da dispensa, elabore um parecer apontando se ele

    pode ser enquadrado como empregado, mencionando seus direitos e os

    fundamentos jurídicos pertinentes.

    Aprenda mais 

    - Leia os objetivos e o conteúdo da aula;

    - Leia os capítulos 5 e 9 do livro “Direito do Trabalho”, de

     Vólia Bonfim Cassar, Editora Método;

    - Leia o texto: “O Aviso Prévio Proporcional” de NASCIMENTO, Amaury Mascaro e MASSONI, Túlio de Oliveira. Revista LTr,

     Vol. 76, nº 01, janeiro de 2012, págs. 76-01/7 a 76-01/16.

    - Faça os exercícios propostos e estude os gabaritos, pois eles

    complementam a aula;

    - Avalie se você assimilou o conteúdo proposto;

    - Tire suas dúvidas no Fórum e participe do debate proposto;

    - Leia a chamada para a aula seguinte.

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    Exercícios de fixação

    Questão 1

    Diz-se, em relação ao empregado, que o contrato de trabalho é concluído

    intuitu personae . Analise as proposições abaixo, assinalando a respostacorreta:

    I.   A pessoalidade é uma das notas típicas da relação de emprego.

    II.  O pacto de trabalho origina para o empregado uma obrigação de fazer

    que não é fungível.

    III.   A obrigação de prestar o serviço é personalíssima e, portanto,

    intransmissível.IV.   A morte do empregado dissolve, ipso facto , o contrato.

     V.  O empregado não pode fazer-se substituir na empresa em que

    trabalha - salvo se o empregador consente.

    a)  Todas as alternativas estão corretas.

    b) 

    Todas as alternativas estão incorretas.

    c)  Apenas as alternativas I e IV estão corretas.

    d)  Apenas as alternativas II e V estão corretas.

    e)  Apenas a alternativa II está incorreta.

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    Questão 2

    Leia atentamente as afirmativas abaixo:

    I.   A distinção entre os contratos de mandato e de trabalho diz respeito àgratuidade daquele e onerosidade deste.

    II.  Trabalhador avulso é aquele que presta serviços de caráter

    permanente, a determinada empresa, sem qualquer subordinação.

    III.   A distinção entre o contrato de trabalho e o de empreitada se dá pela

    natureza da atividade, pelo fim do contrato e pelo grau de

    subordinação.

    Responda:

    a)  Todas as afirmativas estão erradas.

    b)  Apenas as afirmativas I e II estão corretas.

    c)  Apenas as afirmativas II e IIII estão corretas.

    d)  Apenas a afirmativa III está correta.

    Questão 3Um pianista trabalhou ininterruptamente num restaurante, recebendo a

    retribuição ajustada e sem se fazer substituir durante 10 anos, executando

    músicas apenas nos sábados e domingos, de 20 horas de um dia as 5 horas

    do dia seguinte. Neste caso:

    a) 

    Não é empregado, mas trabalhador autônomo.

    b)  É sócio de fato do restaurante.

    c)  Não é empregado por faltar o requisito da não eventualidade da

    prestação laboral.

    d)  É empregado.

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    Questão 4

     Amarildo, policial militar, trabalhava para a empresa Boliche e Cia. como

    agente de segurança, nos horários em que não estava a serviço da

    corporação militar. Na referida empresa, Amarildo cumpria expressamente asordens emanadas da direção, recebia um salário mensal e trabalhava de

    forma contínua e ininterrupta, todas as vezes que não estava escalado na

    corporação. Considerando a situação apresentada, assinale a opção correta:

    a)  Não existe vínculo empregatício entre Amarildo e a empresa Boliche e

    Cia., já que o trabalho prestado por Amarildo para essa empresa

    constitui trabalho eventual autônomo.b)  A justiça do trabalho não pode reconhecer nenhuma espécie de vínculo

    empregatício entre Amarildo e a empresa Boliche e Cia., já que

     Amarildo é policial militar.

    c)  Existe vínculo empregatício entre a empresa Boliche e Cia. e Amarildo,

    porém esse vínculo jamais poderá ser reconhecido, em razão da

    situação de militar de Amarildo.

    d)  É legítimo o reconhecimento da relação de trabalho entre Amarildo e aempresa Boliche e Cia., independentemente do eventual cabimento de

    penalidade disciplinar prevista no estatuto do policial militar.

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    Questão 5

    Genésio, empregado da empresa XXX, recebe de seu empregador a

    determinação de assinar contrato social de uma cooperativa na qualidade de

    cooperativado. A partir de então, embora Genésio permanecesse realizandoas mesmas funções e recebendo salário, a empresa não mais efetuou o

    pagamento das férias, 13º salário e adicional de horas extras. Sobre a

    hipótese, pode-se afirmar como VERDADEIRO:

    a)  Genésio deixou de ser empregado posto que sua qualidade de

    cooperativado exclui a relação de emprego, nos termos do art. 442,

    parágrafo único, da CLT.b)  Houve sucessão de empregadores, nos termos dos arts. 10 e 448 da

    CLT, passando Genésio a subordinar-se à cooperativa.

    c)  Constatou-se a permanência dos elementos fático-jurídicos

    caracterizadores da relação de emprego e incompatíveis com o

    cooperativismo, tal qual imposto pela Lei 5.764/71.

    d)  Genésio acumulou o contrato de emprego com o contrato de

    cooperativado.

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    Introdução

    Em nossa terceira aula daremos continuidade aos nossos estudos de Teoria

    Geral do Direito do Trabalho com o tema Empregador. Nessa aula

    verificaremos que Empregador é um dos sujeitos da relação de emprego,

    analisando a sua despersonalização, as regras pertinentes aos grupos

    econômicos e os efeitos da sucessão dos titulares da empresa.

    Objetivos:

    1.  Conhecer quem são considerados como empregadores nas relações de

    emprego e as regras aos mesmos aplicáveis, destacando a

    caracterização do grupo econômico para fins trabalhistas, a

    responsabilização solidária daí decorrente, a sucessão de titulares da

    empresa e seus efeitos e, por fim, poderes patronais oriundos do

    artigo 2º da CLT e do Contrato de Trabalho.

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    Conteúdo

     A figura do “Empregador” está prevista no art. 2º da CLT, que assim

    estabelece:

     Art. 2º Considera-se empregador a empresa, individual ou

    coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica,

    admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

    § 1º Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da

    relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de

    beneficência, as associações recreativas ou outras instituições

    sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores comoempregados.

    § 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada

    uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a

    direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo

    industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica,

    serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente

    responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas.

    Para uma melhor compreensão e sistematização da matéria, estudaremos

    esse conceito dividindo-o em tópicos.

    Despersonificação do Empregador

    O Empregador, como um dos sujeitos que integram a relação de emprego, seencontra no polo oposto ao do empregado. A previsão da legislação

    trabalhista o define como sendo a “empresa” individual ou coletiva que,

    assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a

    prestação pessoal de serviços.

    Observa-se que o caput  do artigo em referência prevê que o empregador é a

     “empresa”, o que gera críticas por parte da doutrina tradicional, porque, se

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    estamos falando dos polos de uma relação jurídica, esses deverão ser sujeitos

    de direito e a empresa não é sujeito e, sim, objeto de direito. Essa doutrina

    entende que somente uma pessoa natural ou jurídica pode revestir-se da

    qualidade de empregador. Mas a CLT utilizou a terminologia empresa.

    Na verdade, a escolha dessa qualificação pelo legislador se deve à proposta

    de proteger o empregado. Uma pessoa jurídica pode se desconstituir e nascer

    outra, mas o empregador é a empresa, a unidade econômica, a

    movimentação de bens e serviços. Não importa, portanto, para o direito do

    trabalho, a roupagem de que se reveste a empresa. O empregador pode e

    deve se apresentar com uma roupagem, que é sua personalidade jurídica.Mas o empregador será a empresa, a atividade, conjugada com o know-how ,

    a movimentação de bens e serviços.

    Portanto, o objetivo do Direito Empresarial não se confunde com o Celetista,

    a despeito das críticas daí oriundas. O objetivo do legislador trabalhista ao

    considerar a empresa, ente sem personalidade jurídica, como empregador,

    foi o de proteger a manutenção do contrato de trabalho doempregado, com base no princípio da continuidade da relação de

    emprego. A empresa pode ter sua duração ao longo de décadas, com

    sobrevida além dos seus fundadores, ou das pessoas jurídicas ou físicas que a

    representam ou administram. Uma vez mantida a empresa, a despeito das

    alterações formais que a pessoa jurídica possa sofrer, serão preservados os

    direitos decorrentes do contrato de trabalho, conforme expressamente prevê

    o artigo 10 da CLT.

    É preciso, ainda, distinguir empresa de estabelecimento. Empresa é a

    atividade organizada para a produção de bens e serviços para o mercado,

    com finalidade econômica.

    Por estabelecimento ou fundo de comércio (azienda ) entende-se o lugar em

    que o empresário exerce suas atividades. É o conjunto de bens operados pelo

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     Assim, o “Empregador” será todo ente, dotado ou não de personalidade

     jurídica, pessoa física ou jurídica, com ou sem finalidade de lucro, que tiver

    empregados.

    Grupo Econômico e Solidariedade

    O fenômeno da concentração econômica é característica clássica do

    capitalismo moderno. Assim, razões de interesse econômico levam empresas

    a se reunirem sob as mais diversas formas de concentração de poder,

    comando e deliberações, marcadas pela existência das holding company ,

    pool , konzen , consórcio, multinacionais, trusts , cartéis, etc.

    O direito do trabalho, diante do fenômeno da concentração econômica, tomou

    posição e estabeleceu a regra do art. 2º, § 2º, da CLT. Surge, pois, a questão

    da exata interpretação desse texto legal, cabendo destacar que a lei deve ser

    aplicada de acordo com os fins sociais a que se destina.

    O art. 2

    o

     estabelece “sempre que uma ou mais empresas”, o que significa quequando o grupo for formado por mais de uma empresa, as empresas serão

    diferentes. Somado a isso, o grupo tem finalidade econômica e se

    consubstancia a partir de uma relação estabelecida entre as empresas.

    Dois tópicos são fundamentais dentro da previsão do artigo 2º, parágrafo 2º,

    da CLT, a saber: 1) identificar os critérios que definem a caracterização do

    grupo econômico; 2) uma vez reconhecida a existência do grupo, estabelecero alcance da solidariedade entre as empresas do mesmo integrantes.

    Passemos, então, à analise do primeiro tópico: a que tipo de “grupo de

    empresas”   o artigo se refere? Em que caso deverá ser reconhecida a

    existência de grupo econômico para fins de solidariedade?

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    Há divergência quanto à interpretação acerca do tipo de relação entre as

    empresas que vai caracterizar o grupo. Existem, in casu , duas correntes

    doutrinárias acerca do tema:

       A primeira corrente, mais conservadora, interpreta que a relação

    descrita no artigo 2º, § 2º, da CLT, deve ser uma relação de

    subordinação, com a existência de uma empresa principal e outras

    subordinadas, partindo da literal interpretação da lei (serão, para os

    efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a

    empresa principal e cada uma das subordinadas). Assim, a regra

    da solidariedade seria aplicada de forma restrita, somente quando esseestado de sujeição estivesse presente, a exemplo do caso das

    holdings ;

       A segunda corrente amplia a proteção estabelecida pela CLT,

    admitindo que a mera relação de coordenação entre as empresas já é

    suficiente para caracterizar o grupo econômico. Para essa segunda

    corrente, são indícios da existência do grupo econômico a com