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A política do “pão e circo“ No apogeu do Império, um em cada cinco romanos vivia à custa da assistência do Estado. Esse exército de desempregados, que comprava a preços mais baixos ou recebia gratuitamente suas porções de vinho e de cereais, nãotinha ocupação e isso passou a se refletir no aumento da criminalidade: o ócio tornou-se um problema político. Pão e circo: as famosas palavras de um contemporâneo expressavam perfeitamente todos os desejos da plebe urbana miserável. A generosidade que os césares tinham demonstrado no princípio logo passou a ser encarada como um direito do povo: o príncipe tinha o dever de divertir seus súditos e quanto mais exótico, mais selvagem e divertido fosse o entretenimento, melhor para o imperador! Terminados os espetáculos, entravam em cena arautos conduzindo seus carros. Esses veículos vinham abarrotados de presentes, de gaiolas com aves exóticas, de guloseimas procedentes das províncias romanas, de estojos de jóias e valiosas roupas. Tudo isso, em meio ao trajeto que percorriam, ia sendo atirado ao povo; muita coisa terminava rasgada, despedaçada, pisoteada. Os espectadores brigavam mais entre si quando Ihes atiravam pequenos rolos de papiro, onde podiam encontrar cupons que valiam um escravo ou um navio. Alguns desses desocupados deixavam a arena transformados em ricaços, pois tinham apanhado um cupom que valia um terreno ou mesmo um imóvel valioso. Esses espetáculos existiam desde a República, mas na era dos imperadores eles adquiriram uma nova significação, que ultrapassava seu valor como mero entretenimento. As grandes encenações, presenciadas pelo imperador e seus conselheiros, representavam uma excelente oportunidade para identificar os sentimentos e as tensões que predominavam entre o povo. Dado que, na arena, o povo gozava da mais completa liberdade de expressão, os cidadãos podiam ali, durante a saudação oficial, no início dos jogos, ovacionar ou apupar as personalidades presentes. Por outro lado, o lugar que essas personalidades ocupavam, mais perto ou mais longe do imperador, um olhar que subentendesse uma promessa ou o gesto de quem ignora um visitante, falavam mais alto que muitos dos boletins da corte sobre os efêmeros favores do imperador. No teatro, faziam-se reivindicações das mais diversas espécies e mesmo o príncipe, ficava inteiramente exposto à opinião pública predominante; ali, poucos ousavam contrariar a massa: Augusto teve de revogar uma lei matrimonial, tida como demasiado rigorosa; Tibério teve de devolver uma valiosa estátua grega que ele transportara, às escondidas, para seu palácio. Pressionado, na arena, a baixar os impostos, Calígula mandou prender e matar os que tinham gritado mais alto: sofreu no mesmo dia um atentado fatal. Num sistema que reduzira a participação popular a mera formalidade, não havia melhor lugar para se realizarem manifestações políticas do que no teatro. [Adaptado de VANDENBERG, Phillip. Nero. São Paulo, Círculo do Livro, 1981. p. 105-8] IT0509 1.a Série História Ana Cíntia / Marina Este mosaico, descoberto na Tunísia, mostra dois gladiadores matando um leopardo. Eram apresentadas batalhas entre diferentes espécies de animais e entre animais e homens.

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Page 1: 6383 Pao Circo

A política do “pão e circo“

No apogeu do Império, um em cada cinco romanos vivia à custa da assistência doEstado. Esse exército de desempregados, que comprava a preços mais baixos ou recebia gratuitamentesuas porções de vinho e de cereais, nãotinha ocupação e isso passou a se refletir no aumento dacriminalidade: o ócio tornou-se um problema político.

Pão e circo: as famosas palavras de um contemporâneo expressavam perfeitamente todosos desejos da plebe urbana miserável. A generosidade que os césares tinham demonstrado no princípiologo passou a ser encarada como um direito do povo: o príncipe tinha o dever de divertir seus súditos equanto mais exótico, mais selvagem e divertido fosse o entretenimento, melhor para o imperador!

Terminados os espetáculos, entravam em cena arautos conduzindo seus carros. Essesveículos vinham abarrotados de presentes, de gaiolas com aves exóticas, de guloseimas procedentesdas províncias romanas, de estojos de jóias e valiosas roupas. Tudo isso, em meio ao trajeto quepercorriam, ia sendo atirado ao povo; muita coisa terminava rasgada, despedaçada, pisoteada. Osespectadores brigavam mais entre si quando Ihes atiravam pequenos rolos de papiro, onde podiamencontrar cupons que valiam um escravo ou um navio. Alguns desses desocupados deixavam a arenatransformados em ricaços, pois tinham apanhado um cupom que valia um terreno ou mesmo umimóvel valioso.

Esses espetáculos existiam desde a República, mas na era dos imperadores elesadquiriram uma nova significação, que ultrapassava seu valor como mero entretenimento. As grandesencenações, presenciadas pelo imperador e seus conselheiros, representavam uma excelenteoportunidade para identificar os sentimentos e as tensões que predominavam entre o povo. Dadoque, na arena, o povo gozava da mais completa liberdade de expressão, os cidadãos podiam ali,durante a saudação oficial, no início dos jogos, ovacionar ou apupar as personalidades presentes. Poroutro lado, o lugar que essas personalidades ocupavam, mais perto ou mais longe do imperador, umolhar que subentendesse uma promessa ou o gesto de quem ignora um visitante, falavam mais altoque muitos dos boletins da corte sobre os efêmeros favores do imperador.

No teatro, faziam-se reivindicações das mais diversas espécies e mesmo o príncipe, ficavainteiramente exposto à opinião pública predominante; ali, poucos ousavam contrariar a massa:Augusto teve de revogar uma lei matrimonial, tida como demasiado rigorosa; Tibério teve de devolveruma valiosa estátua grega que ele transportara, às escondidas, para seu palácio. Pressionado, naarena, a baixar os impostos, Calígula mandou prender e matar os que tinham gritado mais alto: sofreuno mesmo dia um atentado fatal.

Num sistema que reduzira a participação popular a mera formalidade, não havia melhorlugar para se realizarem manifestações políticas do que no teatro.

[Adaptado de VANDENBERG, Phillip. Nero. São Paulo, Círculo do Livro, 1981. p. 105-8]

IT05091.a SérieHistóriaAna Cíntia / Marina

Este mosaico, descoberto na

Tunísia, mostra dois gladiadores

matando um leopardo. Eram

apresentadas batalhas entre

diferentes espécies de animais e

entre animais e homens.

Page 2: 6383 Pao Circo

Fonte: Forman, Joan. Os romanos. 23.a ed. Tradução Carla Zaccaria. São Paulo, Melhoramentos, 1999. pp. 32-33. (ColeçãoPovos do Passado).

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O Coliseu mostra como os

romanos usavam um grande

número de arcos redondos para

sustentar um enorme edifício.

Esta reconstituição artística é

baseada nos documentos

arquitetônicos e escritos.

1. Passadiço ao redor do topo das

paredes exteriores, ao longo do qual

ficavam dispostos os arqueiros.

2. Saídas e vomitórios.

3. O toldo ou velarium.

4. Mastros de madeira para suportar o

toldo.

5. Suportes de pedra para os mastros de

madeira.

6. Camarotes do Imperador.

7. Entradas dos animais.

8. Pódio no qual pessoas importantes

podiam circular.

9. Grande entrada para os gladiadores.

10. Estátuas dos deuses em nichos.

11. Mármore revestindo as paredes

exteriores.