64122590 O Bilinguismo

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    O Bilingismo (num sentido escrito) uma proposta de ensino usada por escolas que se

    propem a tornar acessvel criana duas lnguas no contexto escolar. Os estudos tm

    apontado para essa proposta como sendo mais adequada para o ensino de crianas

    surdas, tendo em vista que considera a lngua de sinais como lngua natural e parte desse

    pressuposto para o ensino da lngua escrita. No entanto, o reconhecimento dos surdos

    enquanto pessoas surdas e da sua comunidade lingstica esto inseridos dentro de um

    conceito mais geral de bilingismo.

    Esse conceito mais geral de bilingismo determinado pela situao scio-

    cultural da comunidade surda como parte do processo educacional. O fato de serem

    pressupostas duas lnguas no processo educacional da pessoa surda, a Lngua Brasileira

    de Sinais e a Lngua Portuguesa, est inserido num processo educacional. Bilingismo

    para surdos atravessa a fronteira lingstica e inclui o desenvolvimento da pessoa surda

    dentro da escola e fora dela dentro de uma perspectiva scio-antropolgica. A educao

    de surdos deve ser pensada em termos educacionais e no mais em termos de lnguas.

    Dentro desse contexto, o bilingismo est sendo apresentando como um caminho de

    reflexo e anlise da educao de surdos.

    O bilingismo, tal como entendemos, mais do que o uso de duas lnguas. uma

    filosofia educacional que implica em profundas mudanas em todo o sistema

    educacional para surdos. A educao bilnge consiste, em primeiro lugar, na aquisio

    da lngua de sinais, sua lngua materna. Surdo, em contato com outros surdos, passa por

    um processo de identificao com sua comunidade de surdos. Essa comunidade est

    inserida na grande comunidade de ouvintes que, por sua vez, caracteriza-se por fazer

    uso de linguagem oral e escrita.

    O bilingismo prope que o surdo comunique-se fluentemente na sua lnguamaterna (lngua de sinais) e na lngua oficial de seu pas. Ser ela oral? Ser escrita?

    Essas so duas questes polmicas que dividem os educadores de surdos. No entanto,

    todos concordam que o desenvolvimento cognitivo, afetivo, socio-cultural e acadmico

    das crianas surdas no dependem necessariamente de audio, mas sim do

    desenvolvimento espontneo da sua lngua. A lngua de sinais propicia o

    desenvolvimento lingstico e cognitivo da criana surda, facilita o processo de

    aprendizagem, serve de apoio para a leitura e compreenso.Em sntese, a integrao plena da pessoa surda passa, necessariamente, pela

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    garantia de convvio em um espao, onde no haja represso de sua condio de surdo,

    onde possa expressar-se da maneira que mais lhe satisfaa, mantendo situaes

    prazerosas de comunicao e de aprendizagem.

    Para Vygotsky que se opunha veementemente avaliao das crianas portadoras

    de incapacidades com base em seus defeitos ou deficincias, seus menos; ele as

    avaliava, em vez disso, com base no que elas tinham de intacto, seus mais. Ele no as

    via como deficientes e sim como diferentes. Uma criana com uma incapacidade

    representa um tipo qualitativamente diferente, nico de desenvolvimento. E era essa

    diferena qualitativa, essa singularidade, na opinio de Vygotsky, que qualquer esforo

    educacional ou reabilitador devia privilegiar: Se uma criana cega ou surda atinge o

    mesmo nvel de desenvolvimento de uma criana normal, escreve ele, ento a criana

    com uma deficincia atinge-o de outro modo, por outro caminho, por outro meio; para o

    pedagogo, particularmente importante conhecer a singularidade do caminho pelo qual

    deve conduzir a criana. Essa singularidade transforma o menos da deficincia no meio

    da compensao.

    O desenvolvimento de funes psicolgicas superiores, para Vygotsky, no algo

    que ocorre naturalmente, de um modo automtico requer mediao, cultura, um

    instrumento cultural. E o mais importante desses instrumentos culturais a lngua. Mas

    os instrumentos culturais e as lnguas, explica Vygotsky, foram desenvolvidos para

    pessoa normal, a pessoa que tem intactos todos os rgos dos sentidos, todas as suas

    funes biolgicas. O que, ento, ser melhor para o deficiente, para a pessoa diferente?

    A chave para seu desenvolvimento ser a compensao o uso de um instrumento

    cultural alternativo. Assim, Vygotsky chega educao especial dos surdos: o

    instrumento cultural alternativo, para eles, a lngua de sinais uma lngua que foi

    criada para e por eles. A lngua de sinais est voltada para as funes, as funes

    visuais, que ainda se encontram intactas; constitui o modo mais direto de atingir ascrianas surdas, o meio mais simples de lhes permitir o desenvolvimento pleno, e o

    nico que respeita sua diferena, sua singularidade. Por isso, educar a criana na sua

    prpria lngua favorece seu desenvolvimento emocional (construo de sua identidade,

    segurana, auto-estima, etc), cognitivo e social