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E M E N T A Órgão : 3ª TURMA CRIMINAL Classe : HABEAS CORPUS N. Processo : 20150020103792HBC (0010489-08.2015.8.07.0000) Impetrante(s) : ROMULO PINHEIRO BEZERRA DA SILVA Autoridade Coatora(s) : JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DE ENTORPECENTES DO DISTRITO FEDERAL Relator : Desembargador JESUINO RISSATO Acórdão N. : 862662 PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO EM FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISÓRIA DENEGADA.GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. REITERAÇÃO DELITIVA. RISCO CONCRETO. 1. O risco fundado de reiteração delitiva, extraído da folha penal do paciente, que registra condenação com trânsito em julgado e processo em andamento,é fundamento idôneo para a manutenção da prisão cautelar, com vistas à preservação da incolumidade da ordem pública. 2. Na espécie, as circunstâncias do caso concreto, principalmente a natureza da droga (" crack") vendida pelo paciente evidencia a periculosidade e a situação de acentuado risco à incolumidade pública, suficientes para justificar a segregação cautelar. 3. Ordem denegada. Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Fls. _____ Código de Verificação :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 1

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  1. 1. E M E N T A rgo : 3 TURMA CRIMINAL Classe : HABEAS CORPUS N. Processo : 20150020103792HBC (0010489-08.2015.8.07.0000) Impetrante(s) : ROMULO PINHEIRO BEZERRA DA SILVA Autoridade Coatora(s) : JUIZ DE DIREITO DA 3 VARA DE ENTORPECENTES DO DISTRITO FEDERAL Relator : Desembargador JESUINO RISSATO Acrdo N. : 862662 PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRFICO DE DROGAS. PRISO EM FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISRIA DENEGADA.GARANTIA DA ORDEM PBLICA. REITERAO DELITIVA. RISCO CONCRETO. 1. O risco fundado de reiterao delitiva, extrado da folha penal do paciente, que registra condenao com trnsito em julgado e processo em andamento, fundamento idneo para a manuteno da priso cautelar, com vistas preservao da incolumidade da ordem pblica. 2. Na espcie, as circunstncias do caso concreto, principalmente a natureza da droga ("crack") vendida pelo paciente evidencia a periculosidade e a situao de acentuado risco incolumidade pblica, suficientes para justificar a segregao cautelar. 3. Ordem denegada. Poder Judicirio da Unio Tribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios Fls. _____ Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 1
  2. 2. A C R D O Acordam os Senhores Desembargadores da 3 TURMA CRIMINAL do Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios, JESUINO RISSATO - Relator, JOS GUILHERME - 1 Vogal, NILSONI DE FREITAS - 2 Vogal, sob a presidncia do Senhor Desembargador JESUINO RISSATO, em proferir a seguinte deciso: CONHECIDO. DENEGOU-SE A ORDEM. UNNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigrficas. Brasilia(DF), 23 de Abril de 2015. Documento Assinado Eletronicamente JESUINO RISSATO Relator Fls. _____ Habeas Corpus 20150020103792HBC Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 2
  3. 3. Sustenta, em sntese, ilegalidade da constrio cautelar haja vista a ausncia dos requisitos autorizadores da priso preventiva - notadamente o periculum libertatis - no se mostram presentes, alm do que a fundamentao utilizada pela autoridade coatora para justificar a necessidade da medida extrema est despida de elementos concretos que denotem sua necessidade. Alega constrangimento ilegal decorrente de excesso de prazo uma vez que a priso cautelar j perdura por mais de seis meses sem que se formule o juzo da culpa. Sustenta, ainda, que o paciente possui residncia fixa e trabalho lcito. Liminar denegada s fls. 28/29. A autoridade apontada coatora prestou informaes fl. 31 e juntou os documentos de fls. 32/35. A douta Procuradoria de Justia oficia pela denegao da ordem (fls. 37/40). o relatrio. R E L A T R I O Cuida-se de habeas corpus impetrado em favor de ANTNIO DE PDUA DIAS DO NASCIMENTO em face de deciso do MM. Juzo da 3 Vara de Entorpecentes do Distrito Federal que converteu sua priso em flagrante em preventiva por suposta infrao ao delito previsto no artigo 33, caput, da Lei 11.343/06. Fls. _____ Habeas Corpus 20150020103792HBC Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 3
  4. 4. No mrito, porm, no vejo como conceder a ordem requerida. Consta dos autos que, o paciente foi denunciado por estar supostamente vendendo crack na estrutural (fl. 12-v). Prestadas as informaes e ouvida a douta Procuradoria de Justia, remanescem os fundamentos para a manuteno da custdia provisria do paciente. No caso, esto presentes a materialidade e os indcios de autoria do crime de trfico de drogas. Quanto aos fundamentos da custdia, a deciso se baseia na natureza da droga apreendida - crack - indutora de rpida e extrema dependncia qumica, com resultados devastadores no s sade pblica, mas tambm paz social, em vista do incremento da criminalidade decorrente de seu uso. Alm disso, enfoca situao indutora de risco concreto de reiterao delitiva do paciente, haja vista os registros de condenaes anteriores anotados em sua folha penal, o que, sem dvida, constitui vetor razovel na prognose de periculosidade que embasa o juzo de pertinncia da medida cautelar extrema. Confira-se, a propsito, a fundamentao da priso preventiva (fls. 12/15): Conforme os policiais, o autuado estaria efetuando a venda de entorpecente na Estrutural. Eles teriam pedido informao a um indivduo na praa, o qual os teria levado ao traficante do local. O indiciado preferiu permanecer calado perante a autoridade policial, a declarao da testemunha e os fatos visualizados pelos policiais, no permitem, neste momento, afastar os indcios de envolvimento no comrcio ilcito. A habitualidade no suposto comrcio ilcito de droga, considerando as circunstncias do fato e as informaes iniciais do seu envolvimento neste delito revelariam o risco de perpetuao na prtica de novas infraes penais, com srio risco sade coletiva. Em segundo lugar, a natureza da substncia, conhecida como "crack", de forte efeito viciador e alucingeno aponta para a periculosidade daquele que V O T O S O Senhor Desembargador JESUINO RISSATO - Relator Presentes os requisitos legais, admito a impetrao. Fls. _____ Habeas Corpus 20150020103792HBC Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 4
  5. 5. est envolvido na sua difuso. A nocividade do "crack" denota a indiferena do autuado para com as conseqncias dos seus atos, principalmente no tocante sade do seu prximo e a pblica. O modus operandi, os motivos do crime e o tipo de entorpecente - "crack" - exaltam a preocupao deste Juiz para com a situao narrada no auto de priso, pelos riscos que o autuado representaria para a sade da comunidade. Para se ter uma dimenso do problema social e segurana pblica que assola a difuso do "crack", j existem locais pblicos conhecidos com o nome de "crackolndia", como, p.ex. a rodoviria do plano piloto. (...). Considerando que o autuado buscaria atingir pessoas j castigadas pela misria e/ou a baixa renda, as conseqncias de seus comportamentos refletiriam de modo mais gravoso sobre um juzo de reprovao e periculosidade. Todo este quadro despontaria para o perigo do trfico de "crack", assim como a caracterstica da personalidade daqueles que se voltam sua difuso, porque demonstraria total desvalor pelo prximo. A liberdade implicaria no sacrifcio da sade e segurana da comunidade, colocando em risco a ordem pblica. As circunstncias da infrao j apontam a periculosidade, o desprezo do agente pela sade do prximo, arrimada unicamente na cupidez e satisfao do interesse prprio. Por conta disso, a jurisprudncia ptria sedimentada no sentido de que a periculosidade motivo suficiente para a sustentao da medida cautelar de segregao, j que primaria pela proteo do corpo social e a ordem pblica : (...). A Suprema Corte tambm j afirmou que a periculosidade nsita personalidade dos agentes envolvidos com o trfico de drogas e formao de quadrilha para este fim: TXICOS - ASSOCIAO CRIMINOSA (ART. 14 DA LEI N. 6.368/76) - CONDENAO JUDICIAL - RECUSA DO BENEFICIO DE APELAR EM LIBERDADE - INEXISTNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. O BENEFICIO DE APELAR EM LIBERDADE PODE SER VALIDAMENTE RECUSADO A QUEM SOFRER CONDENAO PENAL PELA PRATICA Fls. _____ Habeas Corpus 20150020103792HBC Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 5
  6. 6. DO DELITO DE ASSOCIAO CRIMINOSA, TIPIFICADO NO ART. 14 DA LEI N. 6.368/76. A EXTREMA GRAVIDADE OBJETIVA DESSE FATO E AS CIRCUNSTANCIAS PERTINENTES AO CRIME E A PERSONALIDADE DO AGENTE CONSTITUEM ELEMENTOS A QUE OS JUIZES E TRIBUNAIS NO PODEM FICAR INDIFERENTES. A PERICULOSIDADE DO AGENTE ENCONTRA-SE INSITA NA PROPRIA AO CRIMINOSA POR ELE DESENVOLVIDA, EM FACE DA GRAVE REPERCUSSAO SOCIAL DE QUE SE REVESTE QUALQUER COMPORTAMENTO ILICITO ASSOCIADO AO TRAFICO DE ENTORPECENTES. O FATO DE SER INAPLICAVEL AO PACIENTE A REGRA INSCRITA NO ART. 35 DA LEI ANTITXICOS NO INIBE O MAGISTRADO DE RECUSAR-LHE O BENEFICIO DA APELAO EM LIBERDADE, DESDE QUE O FAA EM ATO DECISORIO PLENAMENTE MOTIVADO. PRISO CAUTELAR E A PRESUNO DE NO-CULPABILIDADE. HABEAS CORPUS DENEGADO.(HC 67750, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 28/11/1989, DJ 09-02-1990 PP-00574 EMENT VOL- 01568-02 PP-00265) As circunstncias que cercariam a priso do autuado apontariam, a princpio, para possvel engajamento no comrcio de substncia proscrita, haja vista a natureza do entorpecente, o seu grau de nocividade, a forma de agir, o local e hora em que efetuaria a difuso da droga, a periodicidade do comrcio ilcito, etc. Soma-se a esse quadro a suspeita de que, caso esteja realmente envolvido na difuso de droga, teria escolhido esse delito como forma de obter meios para a prpria subsistncia, uma vez que no possuiria trabalho certo. Nos termos da folha de antecedentes penais, Antnio ostenta condenao. A liberdade, portanto, seria um incentivo para prosseguir na senda criminosa, sendo a priso o meio nico e necessrio para impedir a prtica de novas infraes. Ademais, a reiterao criminosa no s atenta contra a paz pblica, como demonstra a periculosidade do agente: (...). Por conseguinte, a concesso da liberdade provisria em crimes cercados por certas circunstncias, como no caso presente, desprestigia no s a Justia , como todo aparelhamento repressivo estatal, j que se espera, no mnimo, uma prvia resposta do Estado, antes do seu retorno ao convvio social. Fls. _____ Habeas Corpus 20150020103792HBC Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 6
  7. 7. Avilta a conscincia mdia permitir que algum com traos de periculosidade, habitualidade e possvel reincidncia, preso nas circunstncias em que teria ocorrido o fato, seja posto incontinenti em liberdade, sem a prvia resposta Estatal. A priso cautelar atende o escopo de garantir a ordem, a sade pblica, a instruo e a aplicao da lei penal. Ante o exposto, converto a priso em flagrante em priso preventiva, nos termos do artigo 312 do Cdigo de Processo Penal. De fato, no caso em exame, conclui-se pela extrema gravidade da conduta do paciente, uma vez que o crack entorpecente de alto poder vulnerante, cujos efeitos deletrios sade pblica so por demais conhecidos, a reclamar, portanto, das autoridades envolvidas no combate ao trfico de drogas, uma atuao eficaz na represso e preveno dessa espcie de crime, com o fito de resguardar a sade pblica, abrangida no conceito aberto de ordem pblica, previsto no art. 312 do CPP. Conclui-se, assim, que na espcie, no vivel a proteo da ordem pblica por meio da aplicao de medidas cautelares diversas da priso, uma vez que nenhuma delas impedir o paciente de praticar novo crime, sendo certo que, em liberdade, ele encontrar estmulo para a renovao do intento delitivo. Ademais, saliente-se que residncia fixa e a ocupao lcita no so impeditivos para a manuteno da priso preventiva, quando presentes os requisitos do art. 312 do CPP, conforme na hiptese dos autos. J com relao alegao de excesso de prazo, a anlise da situao em exame no revela a mcula alegada pelo impetrante. Com efeito, o prazo para a formao da culpa no observa regra aritmtica rgida, tendo como norte o princpio da razoabilidade, que deve levar em considerao a complexidade da causa, dentre outras circunstncias. Esse o entendimento preconizado por este Tribunal de Justia: HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. EXCESSO DE PRAZO DA INSTRUO CRIMINAL. NO CONFIGURAO. PRINCPIO DA RAZOABILIDADE. PECULIARIDADES DO PROCESSO. 1. Consoante pacificado entendimento jurisprudencial, a durao do Fls. _____ Habeas Corpus 20150020103792HBC Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 7
  8. 8. processo criminal no se mede atravs de simples clculo aritmtico. Ao revs, h que se observar a complexidade de cada caso concreto. Na hiptese, a presena de dois rus patrocinados por advogados distintos e a necessidade de oitiva de testemunhas e do prprio ru por carta precatria justificam o excesso de prazo e no caracteriza constrangimento ilegal. 2. Ordem denegada. (Acrdo n. 555586, 20110020233039HBC, Relator SANDOVAL OLIVEIRA, 1 Turma Criminal, julgado em 09/12/2011, DJ 10/01/2012 p. 164). Nessa esteira, eventual excesso de prazo poderia ser constatado caso a mora processual decorresse de diligncias suscitadas exclusivamente pela acusao, pela inrcia do Poder Judicirio ou, ainda, quando a demora fosse incompatvel com o princpio da razovel durao do processo (nesse sentido, STF, HC 86915, Relator: Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma), o que no foi o caso dos autos. No caso concreto, consta das informaes prestadas pela autoridade impetrada que, aps o recebimento da denncia, a seqncia cronolgica dos atos processuais se deu mediante a realizao de audincia no dia 26 de janeiro de 2015. Posteriormente, as partes apresentaram alegaes finais, aguardando-se, agora, a concluso dos autos para sentena. Ademais, constata-se que a audincia de instruo j foi realizada no dia 26/01/2015, na qual se procedeu ao interrogatrio do ru e deu-se vista dos autos s partes para a apresentao de alegaes finais, o que faz incidir espcie, portanto, a Smula 52 do STJ, a qual enuncia que " encerrada a instruo criminal, fica superada a alegao de constrangimento por excesso de prazo". Em casos semelhantes, assim j se pronunciou esta Turma Criminal, verbis: HABEAS CORPUS. TRFICO DE DROGAS. PRISO PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO. NO CONFIGURADO. DENEGAO DA ORDEM. I - Os prazos processuais no resultam de mera soma aritmtica, sendo possvel a sua flexibilizao, observados os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade que a lei empresta aos atos judiciais de forma em geral. II Fls. _____ Habeas Corpus 20150020103792HBC Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 8
  9. 9. - Encerrada a instruo criminal, no h falar-se em excesso de prazo. Inteligncia da Smula n 52 do Superior Tribunal de Justia. III - Ordem denegada." (Acrdo n.653830, 20130020014823HBC, Relator: NILSONI DE FREITAS, 3 Turma Criminal, Publicado no DJE: 18/02/2013. Pg.: 233). Destarte, ausente a alegada situao de constrangimento ilegal, hei por bem denegar a ordem. como voto. O Senhor Desembargador JOS GUILHERME - Vogal Com o relator. A Senhora Desembargadora NILSONI DE FREITAS - Vogal Com o relator. Fls. _____ Habeas Corpus 20150020103792HBC Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 9
  10. 10. D E C I S O CONHECIDO. DENEGOU-SE A ORDEM. UNNIME. Fls. _____ Habeas Corpus 20150020103792HBC Cdigo de Verificao :2015ACOC2M70W8HCWDFG3GBFNKH GABINETE DO DESEMBARGADOR JESUINO RISSATO 10