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No dia 17 de setembro completou-se um ano do martírio, na Somália, de Irmã Leonella Sgorbati, 66 anos, missionária da Consolata. Irmã Leonella trabalhava em um hospital pediátrico, em Mogadíscio, capital do país, quando foi assassinada por homens armados. Segundo testemunhas a religiosa, antes de apagar como uma vela, em três ocasiões repetiu: “perdôo, perdôo, perdôo”. A sua missão terminou no hospital onde tantas vezes consolou e cuidou de numerosas pessoas. Mulher de coração grande, missionário e alegre, espalhava ajuda à sua volta, numa cidade privada dos serviços públicos fundamentais. A exemplo de Jesus que nos amou até entregar a vida na cruz, Irmã Leonella doou sua vida a serviço da missão Ad Gentes.

Leonella Sgorbati, batizada Rosa, nasceu em Ga-zzola, Piacenza, Itália, em 9 de dezembro de 1940. Em maio de 1963, entrou para a congregação das missio-nárias da Consolata em San Frè, Cuneo, e fez os votos perpétuos em novembro de 1972. Depois da escola de enfermagem na Inglaterra de 1966 a 1968, foi envia-da, em 1970, ao Quênia. De 1970 a 1983, serviu nos hospitais da Consolata em Mathari, Nyeri e Nazareth, na periferia de Nairóbi. Em 1985, tornou-se professora principal na escola de enfermeiras do hospital Meru, em Nkubu. Aos 26 de novembro de 1993, foi eleita superiora regional no Quênia, função que desempenhou por seis anos. Em 2001, Irmã Leonella passou vários meses em Mogadíscio, para verificar a possibilidade de criar uma escola de enfermagem no hospital. Em abril de 2002, iniciaram-se os primeiros cursos da escola profissional, cujos alunos se diplomaram em 2006. Em agosto, pouco antes de morrer, Irmã Leonella conseguiu obter para seus alunos o diploma internacionalmente reconhecido pela Organização Mundial da Saúde.

Um ano do martíriode Irmã Leonella

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3- Outubro 2007

SUMÁRIOoutubro 2007/08

MURAL DO LEITOR -------------------------------------04 Cartas

OPINIÃO -------------------------------------------------05 Quando os excluídos aparecem Dirceu Benincá

PRÓ-VOCAÇÕES ---------------------------------------07 Um entre mil Rosa Clara Franzoi

VOLTA AO MUNDO ------------------------------------08 Notícias do Mundo CIMI / Fides / Notícias do Planalto

ESPIRITUALIDADE ---------------------------------------10 Em Deus, eu também sou você Albino Brás

TESTEMUNHO ------------------------------------------12 Missionária entre os muçulmanos Célia Cristina Báez

FÉ E POLÍTICA ------------------------------------------14 Os preparativos da Igreja para 2008 Humberto Dantas

FORMAÇÃO MISSIONÁRIA ---------------------------15 Exigências do discipulado missionário Ramón Cazallas Serrano

JUVENTUDE MISSIONÁRIA ---------------------------19 "Os venenos da vida!" Patrick Gomes Silva DESTAQUE DO MÊS ----------------------------------20 Deus Ama sem Fronteiras: da Amazônia para o Mundo Guido Labonté

ATUALIDADE ---------------------------------------------22 Mártires da fé Teresinha Salete Sperry

INFÂNCIA MISSIONÁRIA ------------------------------24 O que "tá" pegando? Roseane de Araújo Silva

A TURMA DO bIbLINCANDO ------------------------25 Mês Missionário COMDEUS

ENTREVISTA OSCAR CLAVIJO ------------------------26 Missão na Etiópia José Tolfo

AMAZÔNIA ----------------------------------------------28 Um pastor no coração da Amazônia Cecília Tada

VOLTA AO bRASIL --------------------------------------30 Notícias do Brasil CIMI / CNBB / Notícias do Planalto / POM

E D I T O R I A L

MISSãO SeM fROnteIRaS

1 - Representação de um olhar aberto ao mundo.

Foto: iStockphoto/Duncan Walker

2 - Irmã Célia Cristina Báezmissionária em Djibuti, África.

Foto: Arquivo Pessoal

Igreja é, por sua natureza, missionária. Com o objetivo de recordar aos cristãos essa identidade, todos os anos, no mês de outubro, realiza-se a Campanha Missionária. Temos ainda bem presente em nossa memória o tema da CF 2007: “Amazônia, Vida e Missão nesse chão”. Inspi-rado por esse convite, o tema da Campanha Missionária

alarga os horizontes da fé com um surpreendente desafio: “Deus Ama sem Fronteiras: da Amazônia para o Mundo”. Como assim? Há poucos meses a CF nos convocava a fazer missão na Amazônia, e agora a Campanha Missionária nos incentiva a partir da Amazônia para o mundo? Como é possível convidar uma Igreja pobre, com necessidades urgentes a enviar missionários para outras partes do planeta? Esse apelo somente tem sua lógica quando colocado no contexto da Missão universal. Os ensinamentos de Jesus nos ajudam a entender essa Missão quando ele ordena: “Ide, pregai a

Boa Nova a toda criatura” (Mt 28), a todos os povos e culturas de todos os tempos. A Igreja sabe que as palavras de Cristo “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus”, tornaram-se sua Missão. O Apóstolo dos gentios, Paulo, consciente dessa ordem chega a afirmar: “é um dever que me incumbe, e ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9, 16). Conforme nos recorda a Encíclica Evangelii Nuntiandi, “evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais

profunda identidade. Ela existe para evangelizar” (13) Essa é uma indicação clara de que toda a Igreja, mesmo as mais necessitadas, deve ser missionária, do contrário não é a Igreja de Cristo. Con-seqüentemente ou o cristão é missionário ou não é cristão. Nesse âmbito, o que podemos dizer da Igreja no Brasil, o país mais católico do mundo, mas que tem apenas 1.853 missionários e missionárias além-fronteiras? A maior conversão seria passar de uma Igreja de batizados para uma Igreja de discípulos missionários.

Na sua mensagem para o 81º Dia Mundial das Missões, a ser celebrado no dia 21 de outubro, o papa Bento XVI nos recorda que “toda comunidade cristã nasce missionária e é, justamente, com base na coragem de evangelizar que se mede o amor dos fiéis”. A mensagem traz no seu título uma afirmação carregada de significado: “Todas as Igrejas para o mundo inteiro”. Nesse sentido qualquer comunidade cristã que se forma, por menor que seja, mesmo aquela da Mongólia com pouco mais de 300 cristãos ou aquela da Amazônia com suas carências e riquezas, nunca deve fechar-se em si mesma. Afinal de contas, a Amazônia tem muito a contribuir para o mundo! A tentação de nos voltarmos somente para os nossos problemas locais nos faz esquecer o compromisso com a Missão Ad Gentes, a cooperação missionária de todo o povo de Deus e o envio de missionárias e missionários além-fronteiras. O amor de Deus não tem fronteiras e a nossa fé é universal. Por isso a participação na Missão universal não é opcional, deixada à livre escolha na generosidade da comunidade cristã, mas uma lei fundamental de vida e identidade.

A Conferência de Aparecida, ao tratar da Missão Ad Gentes reafirma Puebla (1979). “Somos Igrejas pobres, mas ‘devemos dar desde a nossa pobreza e a partir da alegria de nossa fé’, (Puebla 368) e isto sem descarregar sobre alguns poucos enviados o com-promisso que é de toda a comunidade cristã” (DA 379). “Deus Ama sem Fronteiras: da Amazônia para o Mundo”.

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Ano XXXIV - Nº 08 Outubro 2007

Rua Dom Domingos de Silos, 11002526-030 - São PauloFone/Fax: (11) 6256.8820Site: www.revistamissoes.org.brE-mail: [email protected]

Redação

Diretor: Jaime Carlos Patias

Editor: Maria Emerenciana Raia

Equipe de Redação: José Tolfo,Ramón Cazallas, Patrick Gomes Silva e Rosa Clara Franzoi

Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz Balsan, Joaquim F. Gonçalves, Roseane de Araújo Silva, Humberto Dantas, Luiz Carlos Emer, Camilo Solano

Agências: Adital, Adista, CIMI,CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA,Pulsar, Vaticano

Diagramação e Arte: Cleber P. Pires

Jornalista responsável:Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)

Administração: Eugênio Butti

Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata(CNPJ 60.915.477/0001-29)

Impressão: Edições LoyolaFone: (11) 6914.1922

Colaboração anual: R$ 40,00BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2Instituto Missões Consolata(a publicação anual de Missões é de 10 números)

MISSõES é produzida pelosMissionários e Missionárias da ConsolataFone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP (11) 6231.0500 - São Paulo/SP (95) 3224.4109 - Boa Vista/RR

Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missionária Latino-Americana) e da UCBC (União Cristã Brasileira de Comunicação Social)

Mural do LeitorRevista Missões

Recebo Missões e a leio com pra-zer. Digo que é maravilhoso o trabalho de vocês, tanto na moderna impressão, como nos conteúdos, sempre atuais e muito proveitosos. O que mais aprecio na revista, é que ela nos mantém em contínuo contato com a querida família Consolata espalhada pelo mundo. Volto ao ano de 1947, quando fui coroinha do valente mis-sionário, padre Dionísio Peluso, em Pouso Redondo e Aterrado, Santa Catarina. Ele acabou levando-me para o seminário em Rio do Oeste, no mesmo estado. Em 1940 tive a graça de ser batizado pelo padre Domingos Fiorina, pioneiro dos padres da Consolata no Brasil. Assim, através da revista Missões, Nossa Senhora continua viva e presente, invocada e venerada nas famílias e nas comunidades. Há poucos meses, precisamente dia 8 de julho, inau-guramos uma belíssima igreja, em Três Vendas, Erechim, Rio Grande do Sul. Na ocasião foi entronizada a imagem da Consolata, a mesma que se encontrava no antigo seminário, na época em que os missionários trabalhavam aqui entre nós. E mais, estamos organizando o 1º Encontro dos Amigos da Consolata, que estudaram no seminário de Erechim. Sabe-se que muitos deles hoje se destacam por este Brasil afora, carregando no coração o profundo reconhecimento por continuarem sendo filhos devotos da Mãe Consolata, torcendo e pedindo para que o dono da Messe envie muitas forças jovens para o trabalho da seara missionária em várias partes do mundo. Continuem! A informação e a formação missionária têm a força de transformar corações.

Vitor NardelliErechim, RS.

Estou estudando no Seminário Filosófi-co Nossa Senhora Consolata, em Curitiba, Paraná. Venho, antes de tudo, agradecer às pessoas que colaboram com este belo trabalho que faz a revista Missões, desde o mural dos leitores, passando por assuntos relacionados à política, espiritualidade, testemunho, formação missionária, entre tantos outros que nos ajudam a interagir com a realidade em que vivemos. As rubricas testemunho e pró-vocações têm grande parcela de colaboração no meu discernimento vocacional e acredito que

ajuda e motiva muitos jovens que vivem e anseiam por suas vocações, especialmente as sacerdotais, religiosas e missionárias. A todos os assinantes, colaboradores, leitores e redatores um forte abraço. Que Deus continue nos abençoando.

Luiz Antônio de Brito, seminarista IMC Curitiba, PR.

Recebo a revista Missões regularmen-te, a cada mês. Neste, quis dedicar um pouco mais de tempo à leitura dos vários artigos. Gostei de todos, pela mensagem que transmitem através de reflexões, testemunhos, experiências e dicas, até para solucionar nossos problemas (boa a reflexão da Ir. Rosa Clara). Achei muito inte-ressante a Formação Missionária a partir da Conferência de Aparecida preparada pelo padre Ramón Cazallas. Está sendo muito útil para mim a página de espiri tualidade, na preparação de retiros, pois os temas são atuais, iluminados pela Palavra de Deus e traduzidos em pistas de ação para a vivência pessoal e comunitária. Além disso, o conteúdo vem apresentado com uma veste que agrada aos olhos através de belas imagens e apresentação gráfica de fácil leitura. Faço votos que a revista continue sendo, antes de tudo, um bom meio de formação e animação missioná-ria para a Igreja brasileira, mas também para outros países de língua portuguesa e onde ela chegar. Para quem viveu no Brasil durante algum tempo, ela continua sendo um bom meio de informação da caminhada de sua Igreja e da realidade em geral. Enfim, como revista missionária, ela mantém acesa a chama da Missão e convida a olhar sempre além de nossas visões ou mentalidades restritas.

Padre Michelangelo Piovano, IMCCasa Generalizia, Roma.

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de Dirceu Benincá

uem não é visto, não é lembrado”, ensina o provérbio popular. Porém, nem sempre os que são esquecidos estão ocultos. No caso dos excluídos, acham-se por toda parte. Mesmo assim, não são lembrados e não contam no sistema capitalista. Quem são eles, afinal? Por que se multiplicam tanto? O que tem a

Igreja a dizer sobre essa realidade? Como ajudar a tirá-los dos “porões da humanidade?” As questões pululam em busca de respostas objetivas.

Há cerca de 500 anos está em curso, no Brasil, um processo de exclusão social. A colonização imprimiu essa marca, que está difícil de superar. Em tempos mais recentes – anos 60/70

do século passado – com o estímulo à urbanização e à indus-trialização, surgiu um número cada vez maior de pobres. Em suas análises, os sociólogos caracterizaram esse contingente como exército industrial de reserva. Nos anos 80, com a cha-mada “década perdida”, passaram a ser vistos como oprimidos. Ganharam corpo a “Pedagogia do Oprimido” e a “Teologia da Libertação”, mostrando a necessidade de se lutar pela superação

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da opressão e do capitalismo. Chegados aos anos 90, auge do sistema neoliberal e da reestruturação produtiva, os pobres tornaram-se, sem mais, excluídos. Agora são tratados como excedentes, descartáveis, não-gente, incômodos...

Rostos da América LatinaReunidos na V CELAM, em Aparecida – fazendo jus a quem

“apareceu” e aos que fizeram a imagem negra aparecer – os bispos falaram dos rostos sofridos presentes em nossa América Latina e Caribe. No documento final, identificaram como novos excluídos, entre outros, os povos indígenas e afro-americanos, mulheres, jovens, desempregados, migrantes, estrangeiros, re-fugiados, desaparecidos, sem-terra, moradores de rua, crianças submetidas à prostituição, portadores de doenças, dependentes de drogas, vítimas da violência, idosos, presos... (DA 65 e 402).

O pior da exclusão é que não se trata de uma ocorrência conjuntural, passageira. É um problema estrutural, que perma-nece e se amplia. Diante disso, os bispos perceberam grandes desafios. Disseram que a Igreja é chamada a promover uma educação de qualidade centrada na pessoa humana (cf. DA

334). Adiante, reafirmaram a opção do amor preferencial pelos pobres e o compromisso de caminhar com eles até o martírio, se for o caso, sendo sacramento de solidariedade e justiça entre os povos (cf. DA 396).

Os excluídos seguem gritando. São gritos pela independência e pela qualidade de vida. Simultaneamente, gritos de socorro e por direito a ter direito. A propósito, surgiu no Brasil há 13 anos o “Grito dos Excluídos”, que já toma proporções continentais. Nesse ano ouviu-se um brado forte contra as pri-vatizações, em específico, a da Companhia Vale do Rio Doce. O mote foi: “Isso não Vale - queremos participação no destino da nação”.

Quando os excluídos aparecem em cena, talvez não passem de um fato social, evo-cando atitudes assistencialistas. Porém, se estiverem unidos e articulados entre si, podem mudar a história. Para tanto, é fundamental organizar os gritos e dar-lhes uma direção

política. Por sua vez, à Igreja cabe nunca deixar de ouvi-los e empenhar-se decididamente para refazer a imagem despedaçada de Cristo presente nos milhões de novos excluídos. Então, sua aparência poderá mudar!

Dirceu Benincá é sacerdote e doutorando em Ciências Sociais pela PUC/SP. Autor do livro “Reciclando a (des)ordem do progresso”, Editora IFIBE, Passo Fundo, RS.

Quando osexcluídos aparecemOs pobres de hoje continuam a gritar, embora para o sistema neoliberal eles não existam.

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Dom Pedro Stringhini com crianças guaranis, que se apresentaram no Grito dos Excluídos 2007, Catedral da Sé, SP.

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erca de 100 pessoas participaram do 27º encontro estadual missionário organizado pelo Conselho Mis-sionário Regional - COMIRE Sul 1 da CNBB na casa Bakhita, em Ribeirão Preto, São Paulo. O evento, realizado entre os dias 17 e 19 de agosto, discutiu as conclusões da V Conferência de Aparecida e a

Juventude Missionária. O arcebispo de Ribeirão Preto, dom Joviano de Lima Júnior,

deu as boas vindas aos participantes e ressaltou a importância de dar um rosto cada vez mais missionário às nossas Igrejas particulares. Disse ainda que esse encontro veio revigorar o Projeto Ser Igreja Missionária (SIM) da arquidiocese, nesse Ano Jubilar em que a Igreja de Ribeirão Preto celebra seus 100 anos de instalação.

Os jovens já são IgrejaDom José Maria Pinheiro, bispo da diocese de Bragança

Paulista e presidente do COMIRE, acolheu os participantes e abriu oficialmente o evento.

No segundo dia, Magali Aparecida Pereira, assessora da Pastoral da Juventude - PJ - Estadual apresentou a “Reali-dade do Setor Juventude do Regional Sul 1”, fundamentada no documento da CNBB, Evangelização da Juventude e das Diretrizes e Orientações para a PJ do Regional Sul 1. No perfil socioeconômico, Magali apresentou um dado importante: dentro da faixa etária que vai dos 15 aos 29 anos há 47 milhões de jovens brasileiros. Segundo o documento, trata-se de um con-tingente populacional bastante significativo, em idade produtiva, que se constitui em uma importante força a ser mobilizada no processo de desenvolvimento de nosso país. Por isso, para ela, os jovens já são os protagonistas da história. “Os jovens não são apenas o futuro da Igreja, mas, o presente. Não é no futuro que eles vão atuar, eles já são protagonistas da Evangelização da Igreja”, afirmou.

Enriqueceu a palestra o testemunho de Aparecida Severo, missionária leiga que atuou durante três anos na Prelazia de Tefé, AM, integrando o Projeto Missionário Norte 1 – Sul 1 da CNBB que envia missionários e missionárias à Região da Amazônia. Ainda no segundo dia, padre Sávio Corinaldesi, xaveriano das Pontifícias Obras Missionárias de Brasília, focou o tema sobre Juventude Missionária. Com vasta experiência, ele empolgou os participantes, instigando-os a dar testemunho do mandato de Jesus, “Ide pelo mundo inteiro”. No encerramento da sua palestra, padre Sávio sugeriu que cada um fizesse um gesto concreto, comunicando-se com um missionário ou missionária além-fronteiras.

Conclusões de AparecidaNo último dia do encontro, houve a palestra do padre Jaime

Carlos Patias, IMC, que apresentou o documento das conclusões da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, realizada em Aparecida. Após traçar algumas considerações sobre o clima da Conferência e as polêmicas alterações que se reali-

zaram no documento final, padre Patias ressaltou a importância do projeto Aparecida, o qual “coloca a Igreja do continente em estado permanente de Missão e exorta a passar da pastoral de conservação na administração de paróquias para uma pastoral decididamente missionária em vista da missão Ad Gentes. Isso exige a criação de comunidades de base, nova mentalidade e mudança de comportamento”, afirmou.

Segundo a coordenadora regional, Maria Aparecida Gomes da Silva, foram registrados, durante este encontro, alguns avanços: cresce a implantação de núcleos da Infância, Adolescência e Juventude Missionária; pretende-se dar continuidade à parceria do COMIRE com a OSIB SP (Organização dos Seminários e Institutos do Brasil) para assegurar os cursos de formação mis-sionária aos seminaristas, como complemento da disciplina de Missiologia, ministrada nos cursos de Teologia dos Seminários e Casas de Formação; os COMIDIs (Conselhos Missionários Diocesanos) sentiram-se motivados para estudar o documento da V Conferência e assim caminhar em comunhão com os bispos de suas dioceses; os testemunhos dados pelos seminaristas Adriano Dídimo Kutassi, angolano dos missionários claretianos e Edgar Filomeno Soares Alves da Silva, canossiano do Timor Leste; relato de experiência dos diferentes COMIDIs e a apre-sentação de um grupo de crianças da Infância Missionária da paróquia Nossa Senhora do Jubileu: Mãe da Divina Graça, de Ribeirão Preto.

Conselho Missionário Regional Sul 1 - CNBB.

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Conselho Missionáriorealiza encontro estadual

Encontro do COMIRE Sul 1 em Ribeirão Preto, São Paulo, analisa a V Conferência

do CELAM, o papel dos jovens na Igreja e as experiências missionárias.

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Participantes no encontro do COMIRE em Ribeirão Preto, SP.

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Um entre milde Rosa Clara Franzoi

Bíblia, no Livro do Eclesiástico, faz um belíssimo elogio ao amigo fiel: Diz: “Dá-te bem com todos, mas escolhe por confidente e conselheiro, um entre mil” (Eclo 6, 6). E mais adiante: “Um amigo fiel é uma poderosa prote-ção e quem o tem, encontrou um tesouro” (Eclo 6, 14). Uau! Isso tem peso! A afirmação é maravilhosa. Seria

interessante perceber-lhe o sentido na vida prática. Comecemos tentando entender como isso funciona. O que é a amizade? O que significa ter um amigo/a? E o que é ser amigo/a? Sabemos que a amizade é um dos dons mais preciosos que Deus colocou no coração do ser humano. É um nobre sentimento que aproxima e

a

Quer ser um missionário/a?

Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva MoratelliAv. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui02611-001 - São Paulo - SPtel. (11) 6231-0500 - E-mail: [email protected]

Centro Missionário “José allamano” - Pe. José TolfoRua Itá, 381 - Pedra Branca02636-030 - São Paulo - SPtel. (11) 6232-2383 - E-mail: [email protected]

Missionários da Consolata - Pe. César AvellanedaRua da Igreja, 70-A - CXP 325369072-970 - Manaus - AMtel. (92) 624-3044 - E-mail: [email protected]

ajuda as pessoas a se realizarem. Há quem diga que muitos não conseguem ter e nem ser nada, porque nunca tiveram um amigo verdadeiro. A amizade é comparada a uma fonte borbulhante: ela não retém a água só para si, transborda e se doa gratuitamente, renovando a vida de quem a dá e de quem a recebe num movi-mento recíproco. Para a amizade, não existem barreiras de cor, sexo, idade, cultura, classe social...

Você tem amigos?Claro que estamos falando da boa amizade, porque existem

também os falsos amigos, que se aproveitam dos sentimentos alheios em benefício próprio. Com certeza, você já topou com um amigo-tenaz, que usa sua amizade só para ganhar uma colinha na hora da prova; ou um amigo-caixa, para você pagar a conta no bar; ou ainda, um amigo-pronto socorro, para que o salve nas horas de aperto; um amigo-calculista, que se dá alguma coisa, mais tarde é capaz de cobrá-la com juros; um amigo da onça, que procura sua amizade só quando lhe convém; ou então, um amigo-iô-iô, que fica

sempre de olho no que voltará para ele; dá, se vê a probabilidade de retorno... Não, não estamos falando e nem queremos falar desses tipos de amigos, cuja amizade não transforma nem faz crescer.

Você é bom amigo?Parafraseando o que diz a Bíblia, existem algumas

qualidades que definem o amigo de verdade. Eis algumas: amizade não é querer alguém construído, pronto, mas é construir-se junto. O amigo verdadeiro vive em sintonia com seu amigo, acolhe-o como é sem preconceitos; porém, se ele erra, procura ajudá-lo. Ele acredita mais nas possibilidades de vitória do amigo, do que em derrotas. As divergências de idéias não o abalam, pois ele crê que elas servem para aprofundar a amizade. Ele sabe perdoar, minimizar as falhas do outro, porque tem consciência das próprias e também porque sabe que a reconciliação é capaz de restabelecer a amizade rompida. Ele se aborrece com a mentira, as máscaras, o disfarce que quebra a confiança mútua. Enfim, o amigo de

verdade, chega a colocar em risco a própria vida para defender e salvar a do amigo.

Conta uma lenda, que um soldado de nome Jacques, vendo que seu amigo não voltara da batalha, disse ao oficial: “Peço permissão para ir procurá-lo”. O oficial negou a permissão: “Não quero que arrisque a vida por um homem que já deve estar morto”. Inconformado Jacques burlou o guarda do turno e foi procurá-lo. Algumas horas depois, voltou ferido, carregando nas costas o ca-dáver do amigo. Furioso, o oficial esbravejou: “Eu não disse que estava morto? Agora ao invés de um, perdi dois homens. Diga-me: Valeu a pena expor sua vida, para trazer um cadáver?” Jacques respondeu: “Valeu, capitão, porque ao encontrá-lo ele ainda estava vivo e me disse: Jacques, eu tinha certeza que você viria”. Se quiser continuar a reflexão, veja o capítulo 6 do Livro do Eclesiástico.

Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

Eu tinha certeza que você viria!

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8 Outubro 2007 -

Nova York - ONUDireitos dos Povos Indígenas

A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, no dia 13 de setembro, a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas. Este instrumento internacional protegerá os mais de 370 milhões de indígenas do mundo. “A Declaração é um importante instrumento para a luta dos povos indígenas por seus direitos”, avalia Saulo Feitosa, representante do CIMI na Comissão Nacional de Política Indigenista. Ele destaca que o texto aprovado reconhece o auto-governo e a livre determinação dos povos. “A ONU recomenda, com esta decisão, que as nações do mundo respeitem as formas políticas, sociais e jurídicas de cada povo”, completa. O texto foi aprovado por 143 votos a favor, 4 contra – Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália – e 11 abstenções. Um dos pontos mais importantes do documento se refere ao direito à terra. Segundo a Declaração, os Estados devem assegurar aos povos a proteção jurídica de seus territórios e recursos. Pelo texto, nenhuma ação deve ocorrer em terras indígenas sem consentimento prévio e informado dos povos. As formas de consultá-los devem ser de acordo com a organização de cada povo. A aprovação da Declaração é considerada uma vitória para os povos indígenas. "Isso mostra que os Estados e a comunidade internacional percebem que a nossa articulação buscando nossos direitos está cada vez mais forte", comemora Sandro Tuxá, da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo.

Sri Lanka Apelo à comunidade internacional

As igrejas cristãs de Sri Lanka pedem à comunidade internacional que não se esqueça da castigada ilha do subcontinente indiano, na qual um conflito civil está provocando sofrimentos inenarráveis à população e a morte de tantos inocentes. Uma delegação do Conse-lho Mundial das Igrejas esteve recentemente no país, visitando as áreas de conflito e encontrando-se com líderes civis e religiosos, constatando as dificuldades de sobrevivência da população, as desastrosas con-dições das crianças, a pobreza praticamente crônica dos refugiados. “Estamos felizes que vocês vieram aqui e perceberam a situação” - disse, acolhendo a delegação, dom Ryappu Joseph, bispo de Mannar, no Centro-Norte da ilha. Mannar é um distrito de Fontes: CIMI, Fides, Notícias do Planalto.

maioria tâmil, controlado parcialmente pelos rebeldes do “Liberation Tigers of Tamil Eelam”, que combatem contra o exército regular. É, portanto, uma espécie de “primeira linha do conflito”, área na qual há freqüentes operações militares, muitos refugiados e a carência de bens de necessidade primária. As autoridades civis declararam que “fazem o possível para salvar os civis inocentes”, mas há vítimas. Boa parte da população não pode viver normalmente e teve que abandonar suas casas. A Igreja de Mannar acolheu mais de 400 famílias de desalojados.

PeruJovens ajudam vítimas do terremoto

A Pastoral Juvenil Missionária das Pontifícias Obras Missionárias, Jovens Sem Fronteiras (JSF) encerrou a campanha de solidariedade “Olhe o mundo com o mesmo olhar de Cristo”. Um grupo de jovens do movi-mento visitou os lugares atingidos pelo terremoto que abalou o Peru no dia 15 de agosto. O grupo de jovens esteve principalmente na localidade de El Carmen, em Ica, um dos lugares mais atingidos pelo sismo, onde ajudaram as pessoas da comunidade. Para os Jovens Sem Fronteiras que tiveram a oportunidade de viver esta experiência, foram dias inesquecíveis, e eles pe-dem ajuda a todas as pessoas “para que continuem a colaborar com nossos irmãos, porque precisam ainda de todos, e nada é pouco quando se trata de ajudar as pessoas”. Diversos grupos da arquidiocese de Lima, formados por cerca de 12 sacerdotes cada um, realizaram já mais de 30 viagens às regiões atingidas para oferecer assistência espiritual às vítimas. Alguns dos sacerdotes foram às regiões do desastre com pequenos grupos de jovens voluntários. Prevê-se que este apoio continue até que a situação nas áreas devastadas pelo terremoto retorne à normalidade. A Cáritas do Peru elaborou um documento que resume a situação no país andino: as notícias oficiais indicam 519 mortos e 1.844 feridos. 59.800 famílias foram atingidas, com 59.795 casas destruídas, e outras 20 mil ficaram parcialmente danificadas.

África do SulVacina contra Aids

Testes de uma vacina contra a Aids realizados por pesquisadores da África do Sul mostraram resultados animadores. A pesquisa foi feita com 480 pessoas não contaminadas pelo vírus HIV e a maioria teve resposta imunológica positiva. A vacina HVTN 204 conseguiu ativar o sistema de defesa do organismo para a produção de anticorpos contra o vírus. Os efeitos colaterais mostraram-se moderados. Os resultados foram anunciados em um encontro patrocinado pela Iniciativa Sul-Africana da Vacina contra Aids, realizado em Johanesburgo. De acordo com os pesquisadores, um sistema imunológico saudável contribui para evitar a contaminação, enquanto pessoas com um siste-ma imunológico comprometido têm chances muito maiores de contraírem o vírus. Para os cientistas os testes mostraram que a vacina pode, futuramente, ser eficiente no controle dos níveis do vírus e até mesmo na sua prevenção, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

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9- Outubro 2007

INTENÇÃO MISSIONÁRIAA fim de que o Dia Missionário Mundial

seja uma ocasião propícia para suscitar uma consciência missionária cada vez mais

profunda em cada um dos batizados.

de Vitor Hugo Gerhard

elos dados estatísticos, somos no mundo de hoje cerca de 6,5 bilhões de habitantes. Destes, aproximadamente 30% professam a fé cristã, nas suas variadas formas e expres-sões. Parece que ainda falta

um bocado até cumprirmos o mandato missionário de Jesus de fazer com que todos se tornem discípulos, sejam bati-zados e sigam seus ensinamentos.

Segundo os dados fornecidos pela Igreja Católica, temos no mundo 400.000 padres e, no Brasil, 400.000 catequistas leigos. Isso corresponde a um padre para cada 15.000 habitantes no mundo e um catequista para cada 500 brasilei-ros. São números que soam bem aos ouvidos, mesmo sabendo que há um problema crônico de distribuição dos recursos humanos.

O Dia Mundial das Missões nos quer lembrar mais uma vez que: É necessário repensar a distribui-

ção dos recursos humanos e materiais entre as Igrejas locais; É necessário repensar a presença

das congregações religiosas, levando em conta os fenômenos das migrações

P

internas e externas e das necessidades destes novos tempos; É necessário investir fortemente na formação dos agentes

de pastoral, no sentido de fazer-lhes compreender que são cha-mados a uma vocação universal de santidade e de serviço; É necessário ajudar os padres e tornarem-se eles, os pri-

meiros missionários em seus próprios territórios de apostolado e também diante das necessidades de toda a Igreja. Afinal de contas, o que define o nosso sacerdócio não é a incardinação territorial, mas a universalidade do sacerdócio de Cristo no qual somos formatados (para usar uma palavra moderna); É necessário aproveitar bem o material produzido pelas

Pontifícias Obras Missionárias e não desperdiçá-lo. Preparar bem as homilias, motivar bem os grupos de apostolado leigo nas

paróquias, incentivar a coleta missioná-ria, preparando-a com a antecedência devida e promover as quatro obras pontifícias; É necessário divulgar e promo-

ver os meios de comunicação mis-sionários, pois eles são um recurso necessário para o aprofundamento da consciência; É necessário e urgente incluir

nos currículos de formação, nos semi-nários e casas religiosas, a disciplina de Missiologia.

Eis algumas indicações que nos podem ajudar neste mês missionário. Esperamos que, com eles, com nossas orações e com a ajuda indispensável da Providência Divina, nossa Igreja e todos os batizados se tornem missionários e missionárias capazes de contribuir positivamente na evangelização dos povos.

Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.

ai Nosso MissionárioPai Nosso - Pai dos seis bilhões depessoas que povoam a terra inteira.Que estais nos céus - na nossa família,no nosso país, e em todo o mundo.Santificado seja o vosso nome - sobre-tudo na pessoa dos mais pobres e dos mais abandonados.Venha a nós o vosso reino - e aos irmãos dos cinco continentes, sobretudo, os que não vos conhecem. Seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu - para que todos vivam na justiça, na paz e no amor e sigam pelo caminho da verdade.O pão nosso de cada dia nos dai hoje - às vítimas da fome e do ódio, da violência

e da guerra, da miséria e da perseguição, da exclusão e da injustiça, do analfabetis-mo e do abandono, da droga e do álcool, do desespero e da falta de sentido para a vida.Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido - mesmo a quem nos faz mal, nos odeia e nos persegue.E não nos deixeis cair em tentação - de cruzar os braços diante dos problemas por egoísmo, por medo ou por cansaço.Mas livrai-nos do mal - sobretudo de es-quecer ou ignorar o vosso apelo missio-nário de amar e servir todas as pessoas.Amém.

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Irmã Lúcia Bartolomasi, MC, com crianças na Mongólia.

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Outubro 2007 -

Outubro missionário é um mês que nos convida a

alargar os horizontes da fé e a sentir o outro em nós.

de Albino Brás

m 11 anos como religioso mis-sionário, graças a Deus, tenho tido a oportunidade de aprender com cada pessoa que Deus vai colocando no meu caminho. E descubro que cada um encontra

a Deus de uma maneira diferente. Porém, só quem faz experiência profunda do Seu amor incondicional começa a abrir-se ao mundo com um olhar samaritano e missionário.

Descubro, ainda, que não é fácil o caminho da santidade cristã. O autêntico amor a Cristo levou-me a superar um co-ração tribal para inaugurar um horizonte universal. O Cristo crucificado, ressuscitado e missionário, é o mesmo Cristo que um dia me desafiou a ter um coração aberto, escancarado à universalidade do Reino. Caso contrário a minha espiritualidade não seria mais que a soma de piedades egoístas e abstratas. E a espiritualidae missionária não passa por aí.

Santo é o missionárioSabemos que a vida da Igreja tem sido

marcada, ao longo da história, por homens e mulheres extraordinários. Pessoas que decidiram seguir o Mestre, na fidelidade à Palavra, sem reservas. Muitos estão nos altares para veneração.

O certo é que me encontrei estes dias a pensar numa questão, lançada à reflexão e ao debate, por um colega num curso em que também participei. Está na encíclica

e

Em Deus,eu também sou você

Redemptoris Missio: “O verdadeiro mis-sionário é o santo”. É uma expressão não muito diferente de uma outra, proferida há mais de 100 anos por José Allamano, fundador dos missionários e missionárias da Consolata, quando exortava os seus pupilos a “serem primeiro santos e de-pois missionários”. Alguém na sala, com razão, no meu modo de ver, arrematou que também se poderia inverter a frase da RM, que ficaria assim: “O verdadeiro santo é o missionário”. Explicação sim-ples: às vezes pode-se pensar, de forma individualista e até narcisista que, como nunca chegarei a ser santo, nunca serei missionário. Acomodo-me. Então, é na prática missionária que se faz caminho de santidade. É entrando na água que se aprende a nadar, não a seco! O verdadeiro santo é o que se faz santo com outros.

Ninguém se faz santo sozinho. Thomas Merton dizia, com absoluta razão: ninguém é uma ilha.

Descobrir-me no outroAtribuem a Tony de Mello a história

que trago aqui para ilustrar o que pretendo transmitir. Contava ele que, certo dia, um grupo de rapazes deslocara-se para uma pequena cidade do interior a fim de par-ticipar de uma festa. Divertiram-se numa atmosfera estimulante, eufórica. Com o cair da noite, caminhando, voltavam para a sua cidade. O percurso era longo. Com o frio e a chuva que impiedosamente co-meçava a cair, procuravam um abrigo no meio do caminho. Avistaram uma cabana. Servia! O frio da noite levou-os a se acon-chegarem, por mais calor. Amanheceu e, ainda meio dormindo, com a ressaca do

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Padre Moisés Fachini, missionário da Consolata na Tanzânia.

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11- Outubro 2007

álcool, o frio e o lugar diferente, não con-seguiam recuperar a consciência corporal. A um camponês madrugador, que por ali passava a caminho da roça, pediram ajuda, para sair daquele novelo em que se encontravam. Disseram-lhe que estavam mareados e não conseguiam reconhecer o seu próprio corpo. A solução do sábio camponês foi fácil: tirou um arame da sela do burro, aproximou-se do grupo de rapazes confusamente entrelaçados e picando um pé notou que rapidamente alguém acusava o golpe. Ai!, ouvia o murmúrio. O homem perguntava: Quem se manifestou? Fui eu! Pois, então, esse pé é seu!, rematava o camponês. Em seguida picava uma mão. Ui! É minha! E, pouco a pouco, foi encontrando os membros de cada unidade corporal.

Pois bem, na perspectiva da santidade e da espiritualidade missionária, o “nós” aparece quando alguém pica o nosso pé, ou a nossa mão, a dor aparece no coração do outro e somos nós que dizemos: ai! É aí que começa o “nós”: quando a dor ou a alegria, a angústia ou a esperança do outro, como por vasos comunicantes, chega à nossa consciência e nos faz responder como se fosse nosso. É o dinamismo da parábola do samaritano. É o momento em que se dá o passo do “eu” ao “nós”. Do individualismo à comunidade. Do tribal ao universal.

Das Igrejas para o mundo Nesta linha, a mensagem do papa Bento

XVI, para o Dia Mundial das Missões, a celebrarmos no dia 21 de outubro, é clara. O tema da mensagem “Todas as Igrejas para o mundo inteiro”, convoca todos à Missão.

À Igreja toda, e a todas as Igrejas locais foi-lhes dada a missão de evangelizar, sem exceção, até aos confins do mundo. E as Igrejas jovens, já evangelizadas, devem assumir agora o compromisso de serem, elas também, missionárias.

Isto já não é novidade para nós: a missão é tarefa de todos. Onde é que o processo emperra, então? Se a teo-logia da missão descobriu, faz tempo, esta urgência da missão, o mesmo não acontece com a pastoral e, até mesmo, com a espiritualidade. Há muito caminho a percorrer. Não raro, muitos cristãos, movimentos e Igrejas locais vivem uma espiritualidade de gueto, muito centrada em piedades fáceis, em liturgias frias, ritualizadas e pouco vitais, em pastorais meramente sacramentalistas, pouco da-das ao desafio da evangelização: do ir ao encontro daquele que não experimentou o Evangelho da consolação, da ação transformadora e libertadora de Deus. Enfim, “a espiritualidade” - diz o papa na mensagem - “do envio e do êxodo”.

Precisamos de uma espiritualidade que leve a Igreja a manifestar a salvação de Cristo ao homem do nosso tempo “em

tantas partes do mundo, humilhado e opri-mido por causa das pobrezas endêmicas, da violência e da negação sistemática dos direitos humanos”, frisa Bento XVI. A Igreja, toda ela, - prossegue o papa - “não pode subtrair-se” a essa missão universal. O amor dos fiéis avalia-se na sua “coragem para evangelizar”. E reconhece o trabalho dos missionários no mundo: “O Dia Missionário Mundial seja ocasião para recordar na oração estes nossos irmãos e irmãs na fé e quantos continuam a prodigalizar-se no vasto campo missio-nário. Peçamos a Deus que o seu exemplo suscite em toda a parte novas vocações e uma renovada cons ciência missionária no povo cristão”. Novas vocações? Claro! Missionários santos!

Universalidade do ReinoA Missão não é uma comunidade de

interesses, mas sim a descoberta de um "nós", de uma Igreja-comunidade geradora de vida, porque evangelizadora, de pes-soas, povos, culturas com quem se partilha a força do Evangelho consolador, criando fraternidade, comunhão. Com Deus em tudo e em todos. Encarnado. Inculturado. Feito pão, chão, oração. É aprender a olhar o mundo com os olhos do pobre, a partir do seu universo de referências. E acolhê-lo no meu universo afetivo, oferecendo-lhe gratuitamente a energia amorosa do Pai, na misericórdia e na compaixão: vibrar com, padecer com, alegrar-se com, nas múltiplas formas de manifestar o rosto de Deus-Amor.

Outubro missionário é um mês que nos convida a viajar. Mas, “sem devo-rar quilômetros”, como diria dom Hélder Câmara. E pensar em gentes, tantas! Por isso lembro, agora, o livro “Todos os Nomes”, de um ateu, porém, humanista: José Saramago, que me faz viajar por todos esses nomes, tantos! Que, de tão desconhecidos, de tão diferentes, de tão distantes do coração estão certamente no coração de Deus, antes mesmo de entrarem no nosso. Ali estão as vítimas da perseguição em Darfur, do terremoto no Peru, da violência gratuita das nossas cidades, do terrorismo no Iraque, ou nas profundezas da Amazônia ferida. Sentir com eles é ter coração Eucarístico. Um coração capaz de compaixão e de indig-nação. Um coração que sente o outro e, sobretudo, que sente com o outro. Permitam-me dizer quase em segredo: em Deus, Pai amoroso, eu também sou você. A propósito, alguém picou o seu pé? É que eu senti!

Albino Brás é missionário, animador e coordenador da Secretaria da Missão do IMC em Portugal; Mestre em Teologia Moral, com especialização em Bioética Teológica.Irmã Sônia Fávero, Franciscana Angelina, em seu trabalho na R.D. do Congo, África.

Precisamos de uma espiritualidade que leve a Igreja a manifestar a salvação de Cristo na

sociedade atual.

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12 Outubro 2007 -

de Célia Cristina Báez

jibuti é um país sem atrações, sem encanto, sem a cor verde que caracteriza os demais países africanos. É impactan-te pisar neste chão. O povo enfrenta secas terríveis e

intermináveis, curvado debaixo de uma pobreza sem tamanho. Como esquecer aquele dia? O calor era sufocante, tudo seco e cinzento, um vento irritante roçando meu rosto sem dó nem piedade. Eu dizia a mim mesma: Meu Deus, aonde vim parar! O que se poderá fazer aqui, com esse calor tão intenso? E, entretanto, eu estava aqui! Esta era a missão que o Senhor havia preparado para mim. Ele me precedera e preparara este lugar; e aqui, eu deveria permanecer.

Deus acompanha sempreContudo, nesse clima árido e quen-

te, pouco a pouco, fui descobrindo a riqueza do povo, no rosto amável das pessoas, no calor humano, na amizade e na história. História ouvida no mercado, no ônibus, no orfanato onde trabalho. História de poucas palavras, mas com necessidade de tempo para escutar. Como boa argentina, cada encontro é para mim uma celebração, onde o tempo já não conta, o que conta na verdade é a descoberta do outro, a partilha da vida estampada nos olhos, especialmente das mulheres, das crianças e dos jovens, na alegria, no sofrimento que a própria vida lhes oferece. Entre eles, encontrei Deus, inseparável companheiro de caminhada. “In sha Allah” = Se Deus quiser, é a frase que eles repetem a todo instante.

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entre os muçulmanosMissionária

O povo de Djibuti é muito religioso, crê na grandeza e onipotência de Deus. Vivendo lado a lado, vou descobrindo os muitos valores que possui sua cultura, como a simplicidade, o perdão, a hospi-talidade, a partilha, a grande confiança em Alá. O toque do Muezin que chama à oração, cinco vezes por dia, é para mim um convite a crescer na minha relação com Deus. Aqui se aprende a dar sem esperar nada em troca, sem sequer ouvir um obrigado; esta palavra nem existe na

língua somali. Porém, existe o gesto, o olhar, o beijo, o abraço; e isto, creio eu, enriquece a comunicação.

Rosto feminino da MissãoAtualmente trabalho no "Orfanato a

Mãe e a Criança", uma instituição gover-namental fundada depois da independên-cia, em 1978, com o objetivo de acolher jovens, oferecendo-lhes assistência social e educativa para reduzir a miséria, a delinqüência juvenil e a prostituição. No

Irmã Célia Cristina Báez, missionária da Consolata, é

argentina e está há três anos em Djibuti, na África.

“Deixa a tua terra, a casa do teu pai e vai para a terra que eu te

indicar” (Gn 12).

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Ir. Célia com jovens em Djibuti.

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13- Outubro 2007

momento são duzentas meninas e jovens, entre dois a 20 anos. Algumas são órfãs, outras estão aqui porque não têm condi-ções de se sustentar, foram abandonadas pela família. Procuramos dar a elas uma formação social e cultural, para poderem se assegurar no futuro. Já são quase três anos que estou colaborando neste centro.

Nome oficial ------------------------------------- República do DjibutiCapital -------------------------------------------- Djibuti, 200.000 haboutras cidades --------------------------------- Kikhil, Ali-Sabieh, Tadjourah e ObockSistema de governo -------------------------- República ParlamentarSuperfície --------------------------------------- 23.200 Km2Moeda -------------------------------------------- Franco djibutinoPopulação --------------------------------------- 693.000 habPovos --------------------------------------------- Issa (50%); Afar (40%); restante (10%),

árabes e de outras nacionalidades.Distribuição da população ----------------- Urbana (84,2%), Rural (15,8%)Analfabetismo ---------------------------------- 23% homens; 43,2% mulheresLínguas ------------------------------------------- Cositica (oficial), árabe e francêsExpectativa de vida --------------------------- 45,7 anosreligião ------------------------------------------- 96,6% muçulmanos, 2,5% católicos, 0,5%

ortodoxos e 0,1% protestantesMédicos------------------------------------------- 14 para cada 1.000.000

As minhas primeiras impressões foram positivas, porque senti que neste país, exclusivamente muçulmano, a mulher é mais valorizada que em outros países islâmicos. Comecei este trabalho com muito interesse e entusiasmo. Quando cheguei as jovens ficavam me olhando com muita curiosidade. Admiravam-se

ao ver que eu conversa-va e brincava com todas, indistintamente, até com as menorzinhas. Aos poucos, fui ganhando a sua confiança e estima. Agora, tudo é diferente; a desconfiança e suspeita desapareceram. Muitas vezes elas me procuram para pedir orientação nas suas decisões e dificul-dades. Elas me dizem: “Célia, você parece ser do nosso grupo”. Iniciei com elas um caminho de testemunho e diálogo. Tes-temunhar o amor de Deus e a sua ternura; fazendo esse percurso com elas, no seu ritmo. Tudo isso, me ajudou e continua me ajudando a conhecer, mais a fundo esta cultu-ra árabe, mesclada com a cultura dos Afar, tribo autóctone destas terras, muito diferente das de-mais culturas africanas. As meninas maiores já me abordam, para uma série de perguntas sobre a minha vida particular: O que significa ser religiosa? Por que não tenho filhos? Elas me contam a vida de Maomé, o que ele fez e o que disse. Através dessas conversas, estou enten-

dendo mais porque é tão importante um conhecimento real da fé cristã e da vida social do outro para saber testemunhar e falar com uma linguagem que todos entendam. Claro que para me aproximar de alguém, com eficácia, tenho que co-nhecê-lo, porque quanto mais o conheço, mais posso amá-lo respeitando sua fé, suas convicções e sua cultura. Creio que a nossa presença, de religiosas missio-nárias em terras muçulmanas seja um sinal. Estou convencida que aqui temos uma missão a cumprir, que é a de asse-gurar uma presença viva do Evangelho de Jesus, através do nosso empenho vivido com alegria e muito amor. Tudo isso se demonstra na acolhida alegre e serena; na disponibilidade total, na vida simples que levamos.

Às vezes pergunto a mim mesma: o que significa ser missionária aqui em Djibuti? Para mim, penso que a resposta seja esta: ser missionária nesta terra é um convite contínuo ao reconhecimento e gratidão ao Senhor que me elegeu. Porém, é também, um chamado a voltar constantemente ao essencial: Cristo e seu Evangelho. É acreditar, com convicção, que o amor de Deus chama a nós cristãos, a não nos fecharmos em nós mesmos; mas, a nos abrir e sair, ir além das nossas fronteiras, ao encontro dos outros irmãos e irmãs; é aceitar até, de não poder falar da própria fé e viver fraternalmente no meio de um povo cuja fé se oponha à nossa. A cruz de Jesus que eles rejeitam, é o que me purifica, me sustenta e me convida a pôr toda a confiança nele e dizer-lhe: “Faze Senhor, que hoje eu olhe meus irmãos e irmãs com um olhar de amor. Faze que os acolha como quem tu queres amar por meu intermédio. Faze, sobretudo, Senhor, que eu seja compreensiva, serena e que todos os que me encontram, sintam tua presença e teu amor”.

Célia Cristina Báez, MC, é missionária em Djibuti, África.

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14 Outubro 2007 -

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isolamento. Por vezes nos sentimos enxugando gelo. Nós mis-sionários, que acreditamos no princípio fundamental da educação como base da democracia, nos percebemos sozinhos em um país que entende a política como arena de corrupção e descaso. Encontros dessa natureza servem como elo capaz de arrefecer o desânimo e fortificar a alma justa, a mesma que inspirava São Thomas More (1478-1535) na Inglaterra.

A construção de um Brasil mais justo passa por esse esforço, que sob a égide da democracia requer cidadãos compromissados com o bem coletivo.

Papel político da IgrejaEm minha rápida participação no evento fiquei responsável

por estabelecer uma relação entre a democracia, a cidadania e a educação. Tarefa teoricamente fácil e árdua do ponto de vista da realidade. O desafio por vezes esbarra na resistência da sociedade, dos dirigentes políticos e até mesmo de setores de nossa Igreja Católica. Ouvi relatos de cidadãos que se diziam ameaçados e desencorajados por cristãos. Difícil aceitar que isso ainda exista. Preocupante pensar que alguns de nossos irmãos ainda tenham dúvidas sobre o papel político suprapartidário e educador de nossa Igreja Católica.

A despeito de tal constatação, que representa minoria diante dos esforços conjuntos, alegra-me saber que diversas cidades e grupos rumam numa mesma direção. O caminho da justiça passa pela conscientização do cidadão comum. Outro assunto interessante para se discutir é a reforma política, algo que para mim representa mais um imenso acordo da elite política brasileira para afastar o povo do verdadeiro compro-misso que cada eleitor tem com o país. A Igreja Católica não apóia formalmente os candidatos, mas se sente na obrigação de prepará-los sob seus princípios. O eleitor tem a liberdade de escolher o que lhe parece melhor, mas o postulante não pode se comprometer com algo diferente da verdade existente na disseminação da justiça e dos valores cristãos. Fiquemos muito atentos, pois de nada adianta um esforço magnânimo da Igreja em orientar seus filhos interessados na representação se os verdadeiros fiscais de seus trabalhos, que somos nós eleitores, não estivermos dispostos a contribuir com missão significativamente maior que os partidos: o Brasil.

Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo. Co-autor do livro Introdução à Política Brasileira, Paulus, 2007.

m agosto participei de um encontro de Escolas de Fé e Política no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Apesar da rápida passagem pelo evento, tive a oportunidade de conhecer cristãos verdadeiramente preocupados com a formação de nossos leigos e religiosos para a democracia. Já mostramos aqui, em outros artigos, que o papel político

da Igreja tem como tema central a educação suprapartidária. Tal posicionamento pôde ser verificado nas palavras do papa Bento XVI e em tantos outros momentos e ações marcantes. Na revista Vida Pastoral, em número destinado à Fé e Política, reafirmei tal posição em artigo assinado com o filósofo Neivor Schuck.

No encontro do Ipiranga estiveram presentes representantes das Escolas do Rio de Janeiro e de São Paulo. A primeira grande contribuição se concentrou no sentido de fortalecer a rede de cristãos que acredita no papel político da Igreja. Os trabalhos de Fé e Política, quando desarticulados, transmitem a sensação de

de Humberto Dantas

e

O papel político suprapartidário e educador da Igreja Católica.

Os preparativos da Igreja

para 2008

Frei Johanson com cartaz de plebiscito sobre Vale do Rio Doce, Praça da Sé, SP.

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Entre os dias 10 e 11 de novembro realiza-se o6º Encontro Nacional de Fé e Política, emNova Iguaçu, RJ. Informações e inscrições:tel.: (21) 2669.2259Site: www.fepolitica.org.br

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15- Outubro 2007

FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

de Ramón Cazallas Serrano

Conferência de Aparecida nos fala do discipulado e da missão de todo batizado no seguimento do Senhor para dar vida aos povos da América Latina e do Caribe. O

ícone que queremos seguir para traçar as exigências do discipulado e da missão é o mesmo do discípulo Lucas. Ele, na sua obra do Evangelho e dos Atos dos Apóstolos, nos acompanhará no estu-do e exposição das exigências dessa vocação. Não podemos pretender ser “discípulos missionários” de Jesus sem parar para refletir sobre as exigências concretas para seguir seus passos e sobre as forças com que devemos con-tar para essa tarefa. Nunca Jesus quis seguidores autômatos, mas, pessoas lúcidas e responsáveis. Com freqüên-cia devemos sentar para refletir sobre as verdadeiras exigências, os riscos e as forças com as quais contamos para realizar a missão. Não podemos “construir uma torre” sem sentar-nos para ver os meios que temos.

Na primeira parte, o terceiro Evange-lho nos descreve a proposta que Jesus faz aos seus discípulos se querem ser seus seguidores e construtores do Reino de Deus; na segunda parte, nos Atos dos Apóstolos, Lucas relata concreta-mente os primeiros missionários e as primeiras experiências da missão.

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A Conferência de Aparecida

Exigências dodiscipulado missionárioA partir do evangelista Lucas, vamos aprofundar a vocação do discípulo missionário de Jesus Cristo.

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16 Outubro 2007 -

e anuncia o Evangelho aos pobres. O acompanham até Jerusalém onde experimentarão o triunfo da Cruz e a glória da Ressurreição.

Projeto pedagógicoO projeto pedagógico da formação

dos discípulos não estará apoiado em estruturas externas nem em grandes obras, mas, na força única da persona-lidade de Jesus. Neste caminho Jesus vai colocar exigências para quem quiser segui-lo e os discípulos vão ver quais são os preferidos da sua atividade: os pobres, os pequenos, os que não contam. Jesus ressuscita mortos, faz milagres e conta parábolas. Tudo isto são sinais de que o “Reino de Deus está no meio de vocês”.

Este caminho de Jesus deve ser o caminho dos discípulos e discípulas. O projeto pedagógico nasce nos caminhos. Jesus não leva livros consigo, leva o projeto do Pai que vai encontrando respostas nas situações com que se depara no mesmo caminho. E a forma-ção dos missionários e missionárias deverá confrontar-se continuamente com esta caminhada de Jesus. E no final todos deveríamos prosseguir na Missão falando por parábolas, ressuscitando mortos e fazendo milagres.

Pensemos nos caminhos da nossa América Latina que vai da Patagônia ao Rio Grande, na fronteira com os Estados Unidos, passando por milhares de situações de pobreza, de raças, de

problemas sociais apoiados em estru-turas onde os que perdem são sempre os pobres, de sistemas políticos que pensam e programam quase sempre para os privilegiados. O caminho de Jesus na nossa América Latina tem muitas encruzilhadas, curvas, subidas e descidas. Como ser discípulo e missionário em todas estas situações? Precisaremos de muita coragem e profecia para anunciar que o Reino de Deus está perto, ou de muita vocação martirial para denunciar os sinais do “contra-Reino” que encontraremos com freqüência. Aparecida fala do olhar do discípulo missionário sobre a realidade, e todas estas realidades tão diferentes existentes no nosso continente devem seguir o olhar de Jesus. Tão claro, direto e incisivo foi seu olhar que tantos ficaram entusias-mados com a sua mensagem e outros também ficaram perturbados nas suas acomodações sociais, políticas e até religiosas. Jesus não foi nunca indife-rente perante a realidade, olhou para ela com amor que o impelia a falar, agir e denunciar. Os “ai de vocês...” que proclamava, eram claras denúncias dos diferentes sistemas. Quanta coisa linda encontrará o discípulo olhando para a nossa realidade e “quantos ais de vocês...” deverá também proclamar perante certas situações.

Abramos Aparecida no seu segundo capítulo para ver o olhar da Assembléia sobre o nosso continente.

As condiçõesTomamos o seguimento de Jesus

como condição para ser discípulo e missionário. “Jesus escolheu seus dis-cípulos para que estivessem com Ele e para enviá-los a pregar” (Mc 3, 14) para que o seguissem com a finalidade de “ser dEle” e fazer parte “dos seus” e participar de sua missão. O discípulo experimenta que a vinculação íntima com Jesus no grupo dos seus “é par-ticipação da Vida saída das entranhas do Pai, é formar-se para assumir seu estilo de vida e suas motivações (cf. Lc 6, 40), correr sua mesma sorte e assu-mir sua missão de fazer novas todas as coisas” (DA 131). Estar com Jesus e ser enviado em Missão é a síntese perfeita do discípulo cristão.

O tema do discipulado está intima-mente unido ao anúncio do Reino. Jesus veio ao mundo para anunciar este Reino de Deus. Quando Jesus o anuncia e o povo vai ao seu encontro, nunca o vê sozinho, mas sempre rodeado de discí-pulos. Um dos primeiros resultados da missão de Jesus, e o mais duradouro, é o discipulado. O discipulado é, pois, uma conseqüência do projeto do Rei-no de Deus e uma necessidade para implantá-lo. No Evangelho de Lucas, Jesus envia em missão não só os 12 apóstolos, mas também outros 72 com diversos poderes.

O seguimento de homens e mu-lheres não é só para estar com Ele. É também para anunciar o Reino de Deus, são duas faces da mesma moeda. Jesus precisa de anunciadores do Reino para que o projeto do Pai seja realizado, não quer anunciadores de qualquer jeito, mas, do jeito Dele. Estar com Jesus e partir. Contemplá-lo e anunciá-lo porque Jesus é a perfeita imagem do Reino. O anúncio se realiza de dois em dois, em comunidade, por-que será na comunidade onde melhor se expressarão mais sensivelmente os valores do Reino.

Lucas nos apresenta a imagem do caminho como momento e “estrutura” da formação dos seus discípulos. Da Galiléia a Jerusalém. É o caminho formativo de Jesus que apóstolos e discípulos percorrem. Contemplam Jesus orante que precisa entrar em contato para conhecer a vontade e o projeto do Pai. Falará do serviço e da grandeza de ser pequeno, do ser-viço como categoria social para eles. Contemplam Jesus que acolhe, cura

Aparecida Severo, missionária leiga, durante encontro do COMIRE em Ribeirão Preto, SP.

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17- Outubro 2007

FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Em Jerusalém termina o aprendiza-do ou a formação, é o ponto de chegada do caminho de Jesus. De Jerusalém saem para a Missão, derrubando fron-teiras e construindo pontes para que todos os povos possam fazer parte do Reino de Deus que Jesus anunciou pagando com a própria vida. E tudo isto realizado em comunhão, como nos fala Aparecida: “Jesus no início do seu ministério, escolhe os 12 para viver em comunhão com Ele” (cf. Mc 3, 14). Para favorecer a comunhão e avaliar a missão... Jesus age da mesma forma com o grupo dos 72 discípulos (cf. Lc 10, 17-20): “ao que parece, o encontro a sós indica que Jesus quer falar-lhes ao coração” (cf. Os 2, 14), (DA 154). Os envia de dois em dois, mostrando a comunhão também na Missão. Esta comunhão se estenderá depois com a própria comunidade, com a Igreja local e universal. Não existe discípulo nem missionário solitário, mas, sempre em comunhão com outros e outras que formam a mesma Igreja.

Exigências do discipuladoSeguindo Lucas como ícone da

nossa reflexão encontramos algumas exigências sobre o discipulado que nascem do seu contato com pessoas que querem seguir o seu caminho ou se perguntam sobre o que fazer para segui-lo. São perguntas simples e respostas claras. Mas podemos completá-las com outras dos outros evangelistas, sobretudo no que se re-

fere ao serviço à missão. “A admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo, uma adesão a toda a sua pessoa ao saber que Cristo o chama pelo nome” (cf. Jo 10, 3). É um “sim” que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14, 6). É uma resposta de amor a quem o amou primeiro “até o extremo”. A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: “Eu te seguirei por onde quer que vás” (Lc 9, 57) (DA 136).

Renúncia e cruz“Se alguém quer vir após mim, re-

nuncie a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me” (Lc 9, 23). A pessoa que o busca, que quer conhecê-lo deve segui-lo pelo mesmo caminho, carregar a cruz de cada dia e arriscar a vida. Só quem se arrisca, que perde a sua vida vai encontrá-la. Perder a vida não significa a eliminação de si mesmo e de sua identidade como pessoa humana, mas, sim abraçar o projeto do Pai, que é projeto de Jesus, deixando à parte outros projetos pessoais ou maneiras de enfocar a própria vida.

Despojamento“As raposas têm tocas e as aves

do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 57-58). Sempre no caminho, subindo

para Jerusalém, alguém lhe afirma: “Te seguirei para onde quer que vás” (Lc 9, 57). É uma abertura total ao segui-mento, demonstra uma confiança plena daquele que quer seguir Jesus, mas, Ele responde com contundência: “as raposas têm tocas e as aves do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 58). Perante o seguimento são desfeitas por Jesus todas as ilusões das pessoas que querem segui-lo. Tem um preço o seguimento e o ser seu discípulo: a pessoa estará menos segura que as raposas e os pássaros, nem sequer uma cama em que possa descansar tranqüila. Para aqueles que pergun-tam, Jesus expõe o radicalismo e as durezas das condições para segui-lo: abandonar o conforto, para participar da existência daquele que escolheu ser pobre entre os pobres, solidário com todos os marginalizados. Não teorias, palavras ou ideologia, Jesus quer que os seus discípulos vivam como ele vive.

Vida e morte“Segue-me. Deixa que os mortos

enterrem seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus” (Lc 9, 59-60). A vocação do discípulo para a missão exige rapidez na resposta, está antes a vida que a morte, mesmo que enterrar um morto seja um dever sagrado. É mais importante pregar o Reino da vida que enterrar um morto corporalmente. O anúncio do Reino está acima de qualquer valor humano. Ele dá a vida incondicionalmente e têm muitas pessoas que precisam dessa vida urgentemente, como para perder tempo em enterrar um corpo humano. Aparecida nos dirá: “A vida se acres-centa dando-a, e se enfraquece no isolamento e na comodidade. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam da margem a segurança e se apaixonam pela missão de comu-nicar vida aos demais. O Evangelho nos ajuda a descobrir que o cuidado excessivo e doentio com a própria vida depõe contra a qualidade humana e cristã dessa mesma vida. Vive-se muito melhor quando temos liberdade interior para doá-la... Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: que a vida se alcança e amadurece a medida em que é entregue para dar vida aos ou-tros. Isso é, definitivamente a missão” (DA 360).

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Participantes da V Conferência, Aparecida, SP.

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Outubro 2007 -

Mão no arado“Quem põe a mão no arado e olha

para trás, não é apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 62). Arar na Palestina era um trabalho duro, exigia uma atenção concentrada sem dirigir o olhar à direita ou à esquerda, muito menos para trás, com risco de comprometer o preparo da terra para receber a semente. A aradura devia ser perfeita. O Reino de Deus está pedindo que todas as energias humanas se concentrem nesse Reino. Jesus tem um compromisso com o Pai e não pode condescender às exigências pessoais. Quem ara deve olhar para frente e ir abrindo espaços para que os que encontrarem no caminho possam entrar nos sulcos traçados pelo mesmo Reino. Às vezes pode parecer que Jesus é duro apresentando exigências inumanas, é a urgência da exigência missionária em relação ao Reino o que Ele quer sublinhar.

Bens materiais“Uma coisa ainda te falta. Vende

tudo o que tens, distribui aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-me” (Lc 18, 23). No diálogo de Jesus com o rico, Lucas nos apresenta um Jesus que faz um julgamento evan-gélico dos bens. Em relação a outros Evangelhos, é Lucas quem carrega na dose de abandonar os bens e vendê-los ou dá-los aos pobres. Não por nada Lucas é chamado o evangelista dos pobres. O discípulo ou seguidor deve ser uma pessoa solidária e a solidariedade começa com a partilha de tudo aquilo que se tem ou possui. Só se pode seguir Jesus depois de haver distribuído os

bens aos pobres. Os bens escravizam e quem está escravizado por eles não pode seguir totalmente Jesus. Os bens pesam demais para poder realizar o caminho do seguimento. O seguidor-discipulo tem que ser uma pessoa ligeira de bagagem. Os caminhos da solidariedade são os caminhos da mis-são, que exigem o despojamento e a partilha. Lembremos a imagem de Jesus quando fala do camelo e da agulha: “É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha que um rico entre no Reino de Deus” (Lc 18, 25). Há certamente um exagero semítico nesta figura. Mas a finalidade é gravar na memória dos ouvintes a influência sinistra que, muitas vezes, as riquezas podem ter até sobre as pessoas que desejam sinceramente seguir Jesus Cristo. A mesma coisa podemos dirigir

às instituições religiosas, econômicas e políticas da nossa sociedade. Houve intuições no Concilio Vaticano II quando o papa João XXIII falava da Igreja dos pobres. Dom Hélder Câmara é para todos os que caminhamos com Jesus nesta América Latina um daqueles que melhor plasmou na sua vida e no seu ministério a opção preferencial pelos pobres e excluídos deste mundo. Ele abraçou a causa de Jesus, tomou a sério a sua prática diante de todas as categorias de pessoas com as quais tinha contato.

ConclusãoO papa Bento XVI esteve entre os

dias 1 e 2 de setembro participando de um encontro de jovens na cidade italiana de Loreto. No Santuário do mesmo nome está uma capelinha onde se venera a Santa Casa, a casa de Nazaré onde se realizou a Anuncia-ção e foi a morada de Jesus, Maria e José. Segundo uma tradição muito enraizada no povo, os anjos levaram até lá a casa da Sagrada Família. O papa fez um discurso visitando a capela. Ela tem só três paredes, falta a quarta que é uma grande porta de entrada e saída. O papa aproveitou para fazer um bonito discurso que tem muita relação com o nosso tema de discípulos missionários. Disse o papa: “antes de terminar esta nossa Assembléia, deixemos, portanto, por um momento, esta praça e entremos idealmente na Santa Casa. Há uma união recíproca entre a praça e a casa. A praça é grande, é aberta, é o lugar do encontro com os outros, do diálogo, da confrontação; a casa, em vez, é o lugar do recolhimento e do silêncio interior, onde a Palavra pode ser acolhida em profundidade. Para levar Deus na praça, é necessário tê-lo antes interiorizado na casa, como Maria na Anunciação. E ao contrário, a casa é aberta para a praça: o sugere o fato que a Santa Casa de Loreto tem só três paredes, não quatro: é uma casa aberta, aberta ao mundo, à vida” (discurso em Loreto no dia 2 de setembro de 2007). Assim é a vida do discípulo missionário: de Jesus ao mundo e do mundo voltar a Jesus. Da contemplação à missão e da missão tornar à contemplação.

Ramón Cazallas Serrano é missionário, mestre em Teologia Dogmática e diretor do Centro Missionário José Allamano, em São Paulo, SP.

Irmãs Maria Shimit, Odonia Avelino e Nicoleta e padre Luís Ferraz, missionários em Matola, Moçambique.

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Padre Renzo Meneghini, Gambo, Etiópia.

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“Os venenos da vida!”

de Patrick Gomes Silva

juventude é umas das etapas fundamentais na vida de cada um. Ela se caracteriza por ser um tempo em que se busca um sentido para a existência. Nessa busca, o jovem está suscetível de encontrar venenos que não lhe permitam alcançar seus objetivos, em outras pala-vras, venenos que o impedem de ser feliz. Ser jovem

hoje não é fácil, apesar de nos quererem fazer crer o contrário. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Londrina, apresenta cinco venenos que podem ser obstáculos na vivência da juventude e que, portanto, devem ser banidos do nosso dia-a-dia:

o apego: é a raiz de todo o sofrimento moral, de ciúmes, invejas, agressões. O apego nos torna escravos de coisas e pessoas, roubando-nos a liberdade e a paz. Pior ainda, o apego é uma dependência emocional servil, que nos deixa angustiados, ansiosos, atemorizados. A única solução está em tomar cons-ciência de nossos apegos e urgentemente abandoná-los.

A rotina: torna a vida, as pessoas e a existência corriquei-ras e chatas. Faz as pessoas perderem o elã vital e viver na mesmice, na superficialidade, na falta de sentido. A rotina reduz a beleza da vida, acaba em cansaço e quando não em depres-são. O mistério da vida acaba em trivialidade e pessimismo. A rotina corrói a vida como a traça, a ferrugem, o cupim e a cárie. Há muitas maneiras de superação da rotina, como: a oração, o amor ao trabalho, a valorização do cotidiano, a gratuidade do agir, a intenção de dar glória a Deus e servir a humanidade em tudo que fazemos. Sem a esperança na glória futura, seremos vítimas da rotina.

A mediocridade: é a falta de empenho, de interesse e de cuidado. Muito parecida com a preguiça e com a indolência, a mediocridade nos coloca no patamar da acomodação, da ética do jeito, da instalação, da meia ciência, da inconsciência. O me-díocre diz: “as coisas são assim mesmo, deixa como está para ver como é que fica”. É o aburguesamento, a vida soft e light, o levar tudo com a barriga, sob o comando da alienação, da lei do menor esforço, da facilidade, da brincadeira. Só o sofrimento, a conscientização, um choque emocional, e a graça da conversão podem mudar o ritmo da pessoa medíocre.

As preocupações: nada trazem de soluções, pelo contrário, aumentam os problemas que são antecipados. É falta de sabe-doria e de discernimento deixar-se afetar pelas preocupações que tiram o sono, apressam o estresse, precipitam o nervosismo, destroem a paz e o bom senso, acarretando a velhice antes do

atempo. Nosso lema deve ser: ocupação sim, preocupação não. Evitemos lamentar os problemas e busquemos as soluções cabíveis. Mudar o que pode ser mudado e aceitar o que não pode ser mudado. Libertar-se das preocupações é terapia, é sabedoria.

A omissão: é deixar de fazer o bem, fazê-lo pela metade, contentar-se com o mínimo, não usar os dons, as qualidades, as graças, as oportunidades que nos são dadas. Os maus são atrevidos, os bons são omissos, eis o drama! Quem prejudica alguém pela omissão tem a obrigação moral de reparar os da-nos. A educação e a religião podem nos libertar do veneno da omissão. (Adaptado de Missão Jovem, agosto 2004).

Para refletir:- Quais destes venenos estão presentes na sua vida? - Você acha que existem outros venenos? Quais?- Um veneno tem que ser combatido com um remédio que

elimine seus efeitos. Quais remédios você pode apontar como soluções para estes venenos?

Rezar o Pai Nosso Missionário (pag.9)

Oração ConclusivaSenhor, desperta em nós o ideal missionário para que

possamos viver, testemunhar e anunciar corajosamente a Sua palavra. Aceita o nosso coração para amar, as nossas mãos para servir, os nossos lábios para rezar, os nossos bens para repartir, a nossa vida para louvar. Amém.

Patrick Gomes Silva é missionário, membro da equipe de formação do Centro de Animação Missionária José Allamano, SP.

Sabendo das dificuldades de alguns jovens nas paróquias na preparação dos encontros de reflexão, esta página de Missões sugere dinâmicas para facilitar esses momentos de partilha.

roteiro de Encontrotema do mês: “Venenos da vida!”a) Acolhidab) Invocação do Espírito Santoc) Dinâmicad) Apresentação do tema, questionamentos e debatee) Pai Nosso Missionáriof ) Oração conclusiva

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Encontro da juventude com o papa no Estádio do Pacaembú, SP.

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20 Outubro 2007 -

de Guido Labonté

odos os cristãos são chama-dos a serem missionários e a testemunharem o Evangelho” são palavras bem conhecidas que nos convidam a refletir e a entrar em comunhão com to-

dos os povos, num compromisso com a construção do Reino de Deus.

Há 15 anos, por ocasião da visita de dom Gutemberg Freire Régis, cssr, na quela altura bispo de Coari, Amazonas, à minha terra natal no Canadá, fiquei impressionado quando ele conversou sobre a situação sociocultural e nos falou das necessidades, tanto materiais quanto humanas para toda a região da Amazônia.

Fraternidade e AmazôniaA Campanha da Fraternidade des-

te ano, tendo como tema a Amazônia, destacou o lema “Vida e Missão neste chão” com a preocupação de provocar uma reflexão e chamar a atenção dos cidadãos de nosso país e também do mundo para a solidariedade. Foi “um convite para que se conheça, se aprecie e se respeite toda a vida que a Amazônia guarda: seus povos, sua biodiversidade, sua beleza”. Foi também um chamado que continua para que “aprendamos, com eles, a fortalecer uma cultura que proteja a vida e a garanta para toda a humanida-de”. Tornou-se uma ocasião para que a Igreja não só na Amazônia, mas em todo o Brasil “reveja com confiança, ousadia e destemor sua ação pastoral, de modo a ser sinal vivo da presença do Reino de Deus na Amazônia” (CF 266).

“As Igrejas da Amazônia respondem por um território de quase metade de nosso país e, ao lado de dificuldades antigas, enfrentam novas situações que exigem redobrada presença pastoral. Diante do

"tenorme desafio, os bispos da Amazônia têm contribuído com a comunhão eclesial, mediante inúmeras iniciativas... A Igreja na Amazônia surge no horizonte de outras Igrejas do Brasil, repe-tindo o clamor: vem à Amazônia! Socorre-nos!” (Comissão Epis-copal da Amazônia, A missão da Igreja na Amazônia, p. 9-10).

Missão além-fronteiras

Porém, eu fiquei muito mais comovi-do quando o mesmo bispo amazonense, aquele que eu tinha encontrado na minha terra e com quem eu estava colaborando na Prelazia, demonstrou uma notável abertura e um real apoio aos leigos da Amazônia que queriam se prepa-rar e se dedicar para a missão além-fronteiras Ad Gentes. Ele entendeu muito bem que a nossa Igreja da América Latina e mesmo da Amazônia têm um “dever” de “dar de sua pobreza” partilhando sua experiência e oferecendo algo de original e importante (Puebla, 368).

Na sua Mensagem para o Dia Mun-dial das Missões 2007, o papa ressalta claramente que “o compromisso missio-nário permanece o primeiro serviço que a Igreja deve à humanidade para orientar e evangelizar as transformações culturais, sociais e éticas; para oferecer a Salvação

de Cristo ao homem do nosso tempo, em muitas partes do mundo humilhado e opri-mido por causa de pobrezas endêmicas, da violência e da negação sistemática dos direitos humanos”.

A Igreja não pode omitir-se e nem perder tempo diante da urgência da missão e de sua responsabilidade universal de anun-ciar a Boa Nova a todos os povos. “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulas” (Mt 28, 19a). O mandato de Jesus é eminentemente missionário. E esta missão que Jesus deixou a seus discípulos continua ainda hoje para nós

Deus Ama sem Fronteiras da Amazônia para o MundoCampanha Missionária 2007 lança um olhar sobre a Amazônia e convida a alargar os horizontes da Missão.

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21- Outubro 2007

que reconhecemos a dimensão missionária de nosso batismo. “Fazer que todas as nações se tornem discípulas” é uma tarefa que não está terminada e que ainda hoje os cristãos têm o “dever” de continuar. Na nossa atualidade latino-americana, essa mesma fé que animou a vida e a cultura de nossos povos tem como responsabili-dade e missão “enfrentar sérios desafios, pois estão em jogo o desenvolvimento harmônico da sociedade e a identidade católica de seus povos” como afirmava o papa no seu discurso inaugural da V Conferência de Aparecida.

A Campanha MissionáriaA Campanha Missionária resgata o

tema da Campanha da Fraternidade e aprofunda em leitura e chave missionária: "Deus Ama sem Fronteiras: da Amazônia para o Mundo".

“A relação entre a Igreja que está na Amazônia e as demais Igrejas particulares de nosso país e do mundo, com todas as implicações, é uma relação de mão dupla. A Amazônia tem muito a ensinar e a aprender” (CF 309). É só lembrar do que os bispos da Amazônia refletiram e escreveram em 1997 no Documento “A Igreja se faz carne e arma sua tenda na Amazônia”. Nesta ocasião, os bispos pedem perdão pela omissão em relação à violência que sofrem os povos da Região; proclamam a necessidade de uma teologia amazônica da criação e de uma espiritu-alidade e pastoral ecológica; denunciam a biopirataria, a privatização das florestas públicas, a devastação realizada pelas madeireiras, a exploração do subsolo nas terras indígenas, o aumento do narcotráfi-co, da prostituição infantil e da corrupção; apóiam os movimentos populares e as pastorais sociais, comprometendo-se a lutar contra todo tipo de violência na defesa dos direitos humanos.

Certo, “na Amazônia, a nossa Igreja é pobre e seus pastores são simples e conscientes de seus limites. Para cumprir a missão que Deus lhes confia, preci-sa que toda a Igreja seja missionária e participativa”. Esse apelo não pode ser esquecido, menos ainda ignorado pelas pessoas que acreditam no envio missionário de Jesus a todas as nações da Terra. A Igreja amazônica interpela,

com a sua realidade de fragilidade e de vitalidade, a Igreja que está nas outras regiões do Brasil. E isso se faz em nome da missionariedade e da solidariedade, características essenciais da vida cristã. Esta situação se confina não somente a uma realidade interna de nossa Igreja local do Brasil, mas tem a sua incidência com toda a Igreja universal.

Fraternidade missionária“A fraternidade missionária é essen-

cial para a Igreja. É urgente construir um renovado relacionamento entre a Igreja da Amazônia e as demais Igrejas de nosso país” e do mundo. É o chamado a renovar o compro-misso missionário com as populações. E a Conferência de Aparecida nos trouxe uma reflexão que vai dinamizar e alimentar o nosso espírito missionário e universal.

Para nos ajudar durante a Campa-nha Missionária, eu sugiro alguns elementos relacio-nados à missão dos discípulos e inspira-dos no Documento da V Conferência (DA):

Reflexão e aprofundamento: O tema da missão atravessa todo o Documento e o projeto é ambicioso. Ele orienta nossa Igreja para uma reflexão que exigirá uma mudança de mentalidade e de compor-tamento e também propõe elementos de formação para uma visão aberta e missionária. Isso necessita não só ter conhecimento da Palavra de Deus, mas fazer e aprofundar o seu relacionamento com Jesus Cristo.

Proximidade e comunhão: Jesus foi muito humano nas suas relações com todas as pessoas encontradas, fazendo-se próximo da realidade de seu povo, ao mesmo tempo, consciente de sua missão. Ele foi sempre fiel à vontade de seu Pai que deseja a instauração do Reino. “A proposta de Jesus Cristo a nossos povos, o conteúdo fundamental desta missão, é a

oferta de uma vida plena para todos” (DA 361). Hoje, somos convidados a continuar a missão de Jesus em comunhão com as pessoas que vivem marginalizadas, que vivem na rua, particularmente das grandes cidades, dos migrantes, dos enfermos, dos dependentes de drogas e detidos em prisão (DA 407-430).

Questionamentos e desafios: A conversão pessoal à qual a V Conferên-cia deu tanta atenção e ênfase no seu texto chama os discípulos de Cristo a se questionar sobre a sua própria vocação missionária de seguidores. O grande de-safio da decisão missionária é de inserir e impregnar todas as estruturas eclesiais. O documento fala de conversão pastoral e renovação missionária das comunidades. De fato, “a conversão pastoral requer que as comunidades eclesiais sejam comuni-dades de discípulos missionários ao redor de Jesus Cristo, Mestre e Pastor. Dali nasce a atitude de abertura, de diálogo e de disponibilidade para promover a co-responsabilidade e participação efetiva de todos os fiéis na vida das comunidades

cristãs” (DA 368). É urgente uma pastoral decididamente missionária.

Compromisso e envio: Os discípulos, que por essência são missionários por causa do Batismo e da Confirmação, “são formados com um coração universal, aberto a todas as culturas e a todas as verda-des, cultivando a capacidade de contato humano e de diálogo” (DA 377). O desejo dos bispos é que a V Conferência seja um estímulo para que muitos discípulos das Igrejas locais latino-americanas partam, sejam enviados e evangelizem em outras regiões até outras “margens”. A fé não tem fronteiras. Ela se dinamiza e se fortalece quando é partilhada.

Guido Labonté, da Sociedade das Missões Estrangeiras - SME de Quebec, Canadá, missionário no Amazonas e no Japão. Secretário-executivo do Centro Cultural Missionário – CCM, em Brasília, DF.

Angelo Casadei, celebração em Itacoatiara, AM.

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Deus Ama sem Fronteiras da Amazônia para o Mundo

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22 Outubro 2007 -

de Teresinha Salete Sperry

onoai, município situado ao norte do Rio Grande do Sul, com 459 km2, e uma popu-lação com cerca de 13.000 habitantes, numa distância de 416 km da capital, Porto

Alegre, abriga, no Santuário Nossa Senho-ra da Luz os restos mortais dos mártires Manuel Gómez Gonzalez e Adílio Daronch, sacerdote e coroinha respectivamente, que serão beatificados no dia 21 de outubro próximo, em Frederico Westphalen, RS, sede da diocese.

Padre Manuel nasceu aos 29 de maio de 1877, em São José de Riberteme, dio-cese de Tuy, Província de Fontevedra, na Espanha. Foi ordenado sacerdote em 24 de maio de 1902, recebendo a nomeação de Coadjutor da Paróquia das Neves. Em 1904 passou para a vizinha arquidiocese de Braga, em Portugal, onde se incardi-nou e foi pároco de Nossa Senhora dos Extremos, nos Arcos de Valdevez (1905 a 1911) e Santo André e São Miguel de Taias e Barrocas (1911 a 1913). Devido à perseguição religiosa em Portugal, a partir da República proclamada em 1910, no ano

n

necessitados. Tinha espírito apostólico e criativo. Atendeu ao seu rebanho com muita dedicação, cuidou dos pobres e defendeu a justiça num tempo de muitas revoluções e perseguições.

O coroinha Adílio Daronch, filho de Pedro e Judite, nasceu em 25 de outubro de 1908 na localidade de Dona Francisca, RS. Ainda criança veio residir em Nonoai com sua fervorosa e muito colaboradora

de 1913 recebeu licença e veio trabalhar no Brasil, na Paróquia de Soledade, dio-cese de Santa Maria, RS. Durante dois anos trabalhou em Soledade. Em fins de 1915, foi nomeado pároco da Paróquia Nossa Senhora da Luz, de Nonoai, RS, onde foi zeloso e empreendedor. Vendo a necessidade do povo carente, criou escola, foi professor e catequista, orga-nizou uma olaria para fazer casas aos

Mártires da féOs Servos de Deus padre Manuel Gómez Gonzalez e o coroinha Adílio Daronch são exemplos de coragem, profetismo e espírito missionário.

Santuário Nossa Senhora da Luz, Nonoai, RS.

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23- Outubro 2007

vingança, pois para ele aqueles mortos não mereciam as honras do sepultamento. Outro fato que também ajudou a marcar o padre Manuel deu-se por ocasião de um sermão que ele proferiu na Igreja Matriz de Palmeira, RS: admoestou os revolucionários a usarem de moderação e respeito com os adversários, já que eram todos irmãos, cristãos e brasileiros, agravando ainda mais o atrito com o chefe chimango. Mataram o padre porque não gostavam do seu modo de ensinar. Outro provável motivo foi porque Manuel falava contra o banditismo de então e contra os homicídios que aconteciam. Fora do grupo ninguém o acusou de ser político ou partidário. Pelo contrário, todos diziam: o padre Manuel não manifesta suas opiniões sobre política, ou é neutro politicamente. A verdade é que o Servo de Deus nunca se deixou envolver pelas tramas políticas, outros eram seus ideais (extraído do livro Servos de Deus, de padre Arlindo Rubert).

Mesmo sabendo do perigo que corria, continuou com a missão até o assassinato. Os restos mortais ficaram enterrados no município de Três Passos até o ano de 1964, quando o pároco de Nonoai, padre Miguel de Cock com a aprovação do primeiro bispo de Frederico Westphalen, transladou-os para Nonoai. Desde então, todos os anos, este município celebra no terceiro domingo de maio uma romaria penitencial ao Santuário Nossa Senhora da Luz e aos Servos de Deus padre Manuel e coroinha Adílio.

A beatificaçãoSão 43 anos de romarias pela bea-

tificação, sempre com cerca de 50 mil pessoas, que culmina neste ano. Em 1996, foi iniciado o processo pela dio-cese de Frederico Westphalen, e em 24 de fevereiro de 2001, foi dada pelo papa João Paulo II, pela Congregação para a Causa dos Santos, a posição afirmativa à Causa de Martírio.

Em 1998 foi nomeado como Postular da Causa o frei padre Paolo Lombardo, neste mesmo ano foi reconhecida a vali-dade jurídica dos atos processuais e em 8 de dezembro de 1999 foi apresentado o Positio (processo escrito). Em 13 de abril de 2001 os consultores históricos votaram e aprovaram o reconhecimento do martírio, faltando a aprovação da comissão teológica. Uma importante carta assinada pelos bispos do Brasil solicitando prioridade para os processos do país impressionou o papa, que enviou ao cardeal Saraiva Martins, Prefeito da Congregação, o pedido de urgência dos processos brasileiros. Em 26 de setembro de 2006 a Comissão Teológica deu o

família, ajudava o padre e, às vezes, acompanhava-o nas visitas às capelas. Numa dessas, encontraram a morte. Foram cruelmente assassinados, no cumprimento do dever sacerdotal, em nome da fé, no dia 21 de maio de 1924, na localidade de Feijão Miúdo, perto de Três Passos, RS, por um grupo anticlerical.

Motivos do assassinatoEm 1923, perto da Vila Nonoai, houve

um combate entre chimangos e maragatos. Na escaramuça, os primeiros mataram alguns soldados maragatos. O chefe do partido contrário ordenou que os corpos ficassem sem sepultura para serem de-vorados pelos cães e aves de rapina. O

parecer positivo e em 16 de dezembro de 2006 o papa Bento XVI promulgou o decreto sobre o martírio. A cerimônia de beatificação acontecerá no dia 21 de outubro na sede da diocese em Frede-rico Westphalen, RS. Adílio é o primeiro coroinha bem-aventurado do mundo e o primeiro do Rio Grande do Sul.

Diariamente o Santuário Nossa Senhora da Luz e dos Beatos é visitado por pes-soas de várias regiões do Brasil; também nos finais de semana caravanas vêm de várias regiões do Estado. A Comissão de Beatificação de Nonoai montou um site www.martiresdenonoai.com.br que pode ser acessado para mais informações. Vi-sitas e Romarias ao Santuário podem ser agendadas pelo telefone da Paróquia de Nonoai: (54) 3362.1284 ou 3362.2516.

Teresinha Salete Sperry é professora e presidente da Comissão de Beatificação de Nonoai, RS.

fato foi comunicado ao padre Manuel, que ficou horrorizado, pois tratava-se de gente pobre, certamente católica. Com-padecido foi ao local, acompanhado de algumas pessoas, fez a encomendação dos corpos já em decomposição, depois piedosamente os sepultou. Chegando o ocorrido aos ouvidos do chefe da tropa, este considerou o padre um adversário político, o qual merecia uma exemplar

Oração pelacanonização

Ó Deus de bondade, que Vos comprazeis de acudir às necessida-des de vosso povo em atenção aos méritos dos justos, concedei-nos, por intermédio de vossos Servos Pe. Manoel Gómez Gonzalez e Coroinha Adílio Daronch, a graça Que Vos pe-dimos, pois eles foram fiéis na terra, testemunhando com o próprio sangue sua fé no Redentor. Fazei que, para vossa maior glória e proveito dos fiéis, sejam glorificados na terra com as honras da canonização. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

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InfânciaMissionáriaInfânciaMissionária

24 Outubro 2007 -

om, “tá” pegando ultimamente entre os nossos pe-queninos e os adolescentes uma tendência crescente de individualismo e consumo preocupantes. Em uma sociedade que valoriza o ter em detrimento ao ser, os valores transmitidos por nós adultos a nossas crianças e adolescentes, vêm sendo substituídos pela televisão e internet. São muitas informações, o que não significa

dizer que possam compor a formação deles. Neste mês dedicado às Missões quero falar de algo considerado antagônico em relação a este tema.

Observamos de fora (ou nem tanto) a gradativa invasão em nossos espaços domésticos de aparelhos eletrônicos: computado-res, mp3s e outros trequinhos que enchem os olhos e o dia-a-dia da nossa criançada. Com estes aparelhos, chega também uma nova linguagem, quase corriqueira para uma parcela dos nossos leitores: blogs, flogs, orkut, downloads, chats etc. Outro dia refleti sobre o quanto é paralelo este universo da internet, ao qual estão submetidos as nossas crianças e adolescentes (aliás não só eles).

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“Deixa eu plantar no presente uma canção dolorida!Um instante de silêncio e esta canção pela vida!” (Zé Vicente)

de Roseane de Araújo Silva

É um mundo totalmente desconhecido para a grande maioria dos adultos, que acabam por deixar que suas crianças e adolescentes se distraiam diante da tela mágica dos computadores (ou PC, abre-viatura de Personal Computer). É bacana, é “manero” conhecer o bloguês, falar através de monossílabos quase enigmáticos aos olhos menos atentos, a rapidez de um bate-papo no Messenger (apesar dos arrepios causados aos mestres defensores da nossa língua materna). Os meninos e meninas que dominam esta linguagem “se acham”, como diriam os seus colegas de escola.

Obscuro revelado ou revelado obscuro?Vamos lembrar aqui o momento que o menino Samuel despertou

a sua vocação profética, sendo chamado pelo próprio Javé (I Sm 3, 1-4, 1). Ele demorou a perceber que a voz de Deus nos coloca a serviço do seu Reino e outras vozes que ouvimos muitas vezes contribuem para uma estrutura de sociedade que escraviza. Em nossos dias, a sedutora voz da internet se apresenta também como uma terra sem lei, cheia de impunidade, um mundo que presta um desserviço à formação das nossas crianças e adolescentes quando não a acompanhamos. Não se trata de diabolizar a internet, mas de fomentar a reflexão entre a utilização da mesma pelos nossos meninos e meninas, quando pajeados por estes equipamentos eletrônicos. Vamos contribuir de fato para que as nossas crianças tornem-se jovens e adultos sujeitos ativos de sua própria história? Assim como Jesus em Cafarnaum trouxe ao centro a criança desva-lorizada na época (Mc 9, 36), quero reforçar aqui que este modelo de sociedade não serve a este propósito porque nos quer apenas como consumidores. Um dos nossos desafios como missionárias e missionários, é estar atento ao novo que nos cerca, abertos ao “serviço, testemunho e palavras, partilhando a fé com os irmãos e irmãs” (Diretrizes e Orientações da IM), sendo, no entanto, “prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10, 16b). De todas as crianças do mundo – sempre amigas!

Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

O que “tá” pegando?

Sugestão para o grupoAcolhidaMotivação (objetivo): refletir com as crianças a vocação mis-sionária de cada uma, o mundo da internet e suas novidades e o serviço ao próximo, a exemplo de Maria.oração: Ó Deus, Pai Todo Poderoso, neste mês em que co-memoramos as Missões, abençoa todos os missionários e mis-sionárias crianças, adolescentes, jovens e adultos que animam e contribuem na construção do teu Reino em nosso meio.Partilha dos compromissos semanais.Leitura da Palavra de Deus: Lucas 1, 39-45 e 46-56 É Deus que se manifesta.Compromissos missionários: Neste mês também dedicado a Maria, nossa Mãe, Missionária fiel à causa do Reino de Deus saibamos assumir o nosso sim como ela soube. O gesto corajoso de Maria renovou a esperança dos que esperavam a vinda de Jesus, Boa Nova do Pai, glorificando-o plenamente. Neste mês Mariano convidaremos uma líder da Pastoral da Criança para falar do trabalho junto às mães da comunidade ou paróquia. Preparar na seqüência um teatrinho falando do trabalho das líderes no acompanhamento às futuras mamães e a pesagem dos bebês (outro grupo que poderia ser convidado seria aquele que visita os doentes, por exemplo, a Legião de Maria). É no gesto concreto de doação ao próximo que ma-nifestamos o nosso chamado missionário e tornamos Jesus mais conhecido.Momento de agradecimento a Deus, que é Pai e Mãe da gente, pela vida das crianças e adolescentes do continente africano, sobreviventes dos altos índices de mortalidade infantil.Canto e despedida.

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epois de escutar, cheio de entu-siasmo, as aventuras missioná-rias da Bem-aventurada Madre Laura, grande figura da Igreja colombiana e latino-americana, Oscar Clavijo, conheceu os

missionários da Consolata e se consagrou para a missão Ad Gentes. Terminando seus estudos elementares em seu país, foi cursar Teologia em Nairóbi, no Quênia, e após sua ordenação sacerdotal, em 1991, se dedicou à missão na Etiópia, um país do leste africano, onde permanece até hoje. Participando de um curso de atualização em São Paulo, padre Oscar concedeu entrevista à Missões:

Padre Oscar, quais foram as suas expectativas e temores diante do tra-balho na Etiópia?

D

Seguindo a dinâmica da missão Ad Gentes e além-fronteiras, o padre colombiano Oscar Clavijo é missionário na Etiópia.

Missãona Etiópia

Eu recebi a notícia do meu envio com muita alegria de poder ser uma pequena presença de esperança num país que estava saindo de uma sangrenta guerra civil que deixou milhares de mortos, mu-tilados, órfãos e viúvas. Entre os temores estava a dificuldade para entrar no país e o aprendizado da língua amharico (se-mítica), nada fácil.

Como foi a sua adaptação e incultu-ração na realidade daquele povo?

Eu creio que tal processo continua e nunca se acaba. A Etiópia tem um povo acolhedor, respeitador, humilde, orgulhoso de sua cultura, de suas tradições milenares e de sua história, o que o faz único na África. Este encontro cultural tem sido para mim uma experiência enriquecedora e de purificação (às vezes, dolorosa) que tem me ajudado a buscar razões mais profundas do meu ser e fazer a missão.

A Etiópia situa-se numa importante área do leste africano conhecida como “Chifre da África”. Como está a situa-ção sociopolítica hoje, principalmente a relação com os vizinhos Eritréia e Somália?

A tensão com os países fronteiriços é ainda forte e, às vezes, teme-se pelo reinício dos conflitos armados. Um pouco de história nos ajuda a entender melhor a situação atual. A Eritréia esteve sob a influência italiana desde o final do século XIX até a II Guerra Mundial. Em 1952, ela entrou na Confederação com a Etiópia. Porém, em 1961, o imperador Haile Selas-sie anexou-a unilateralmente, dando início à guerra pela independência, que durou até 1991. Em 1993, a Eritréia realizou um referendo (99%) e conseguiu a liberdade. Porém, algumas zonas limítrofes não

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Padre Oscar na Missão de Shambu, Etiópia.

de José Tolfo

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foram demarcadas. Em 1998, a Eritréia atacou algumas delas, especificamente a região de Badme, que estava sob a administração da Etiópia, o que provocou a guerra das trincheiras, causando mais de 80.000 mortos, de ambas as partes. Em 2000, a Etiópia recuperou os territórios invadidos e um frágil acordo de paz, com a supervisão das Nações Unidas e uma comissão internacional designou diversas partes das zonas disputadas a ambas as partes. Porém, o povo de Badme foi entregue a Eritréia. Tal demarcação de fronteira continua sendo uma das razões do conflito latente entre os dois países. As relações com a Somália também causam conflitos. Em 2006, a Etiópia enviou ajuda militar (soldados e armas) para apoiar o governo de transição que estava isolado em Baidoa, já que as cortes islâmicas tinham tomado o controle da grande parte do país e da capital, Mogadíscio. Com a ajuda da Etiópia, o governo de transição obteve uma grande vitória em pouco tempo. Mas, os seguidores da corte islâmica se organizaram e atacaram diversas vezes as tropas etíopes, que prometeram deixar o território tão logo a situação se normalizasse e uma força de paz africana continuasse com a transição. Para agravar o problema, a região etíope de Ogaden, na fronteira com a Somália, com uma população étnica somali, formou grupos armados indepen-dentes e está incrementando ataques contra as forças da Etiópia.

Como é a convivência entre os cris-tãos católicos (minoria) e os cristãos ortodoxos (maioria)?

São respeitosas e cordiais. Os católi-cos somam 0,9% da população, ou seja, meio milhão de habitantes, enquanto os ortodoxos são 61%. Alguns poucos têm medo, pois recordam ainda o aconte-cimento de 1624, quando o imperador Susenyos se converteu à Igreja Católica Romana e intentou (com os jesuítas) de “romanizar” a igreja local provocando uma rebelião e uma guerra civil. Sobre as diferenças e semelhanças pode-se dizer que a Igreja Católica tem dois tipos de presença: ao norte e centro do país, ela é parte das Igrejas Orientais e segue o rito litúrgico etíope, portanto, bastante semelhante. Já o sul do país segue o rito latino (onde a liturgia é diversa). Outras diferenças referem-se às questões de disciplina eclesiástica.

Como está a relação e a convivên-cia entre as duas maiores religiões da Etiópia: islamismo e cristianismo?

As relações atuais entre ambas são de respeito, principalmente por parte do povo. Não é o islamismo de linha fun-

Aids (aproximadamente um milhão e meio de pessoas infectadas) e o fenômeno da aceleração urbana.

Que trabalho específico realizam os missionários no país?

Os missionários estão comprometi-dos em muitos e variados serviços: na primeira evangelização (sul do país), nas lutas pela erradicação da pobreza, das enfermidades e do analfabetismo. Porém, o específico dos missionários (muito mais que o trabalho em si) é a mesma presença: sinal e testemunho do amor de Deus e da Igreja que não conhece clã, tribo, nação ou continente.

Sendo latino-americano o que você aprendeu na convivência com o povo etíope?

Nesses anos de missão, eu aprendi que as grandes obras sociais (mesmo feitas com boas intenções e vontade) não são suficientes para chegar ao coração das pessoas. Necessita-se de “algo mais”. Aprendi que para se viver a missão hoje não podemos estar atrelados às posições do poder religioso, econômico e social. Na convivência com o povo etíope, aprendi a ser mais humilde. Chegando lá, eu tinha a idéia de ser o missionário que ia ensinar. Hoje me sinto como um dos peregrinos de Emaús, que no caminhar com os ou-tros e na busca constante espera ver a presença de Jesus. Uma atitude que se expressa muito bem parafraseando uma canção latino-americana: Hermano, dame tu mano, vamos juntos a buscar uma cosa pequeñita que se llama la verdad.

José Tolfo é missionário e animador vocacional no Centro Missionário José Allamano, São Paulo.

damentalista e chegou ao país em 615, quando o profeta Maomé recomendou a um pequeno grupo que se refugiasse em Axum, escapando da perseguição na Arábia. Forma hoje a segunda religião do país (entre 35% e 40%).

O que significa rito copta e Igreja Copta?

O termo copto faz referência aos cris-tãos nativos do Egito que pertenciam à Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria (que não aceitou a interpretação sobre as duas naturezas de Cristo dadas pelo Concílio Ecumênico de Calcedônia, em 415). Os cristãos da Etiópia e Eritréia também foram chamados de coptos, pro-vavelmente pela sua relação histórica com o patriarcado de Alexandria. A maioria dos cristãos na Etiópia pertence à Igreja Ortodoxa Etíope que chegou ao país no IV século. O termo rito copta se refere à liturgia da Igreja Ortodoxa Copta, que é uma maneira própria e inculturada de celebrar os mistérios da fé.

Quais são os desafios mais urgen-tes que o governo e a Igreja devem responder para o bem de todo o povo etíope?

A Etiópia é um país com a maioria da população constituída por jovens sem futuro. São milhares que terminam cada ano a escola média e técnica e a univer-sidade, e não conseguem um trabalho. Eles passam a fazer parte da grande massa dos desempregados e subem-pregados do país. Até quando resistirão a tal situação? Mesmo que a economia tenha crescido nos últimos anos, ela não consegue absorver esta força de trabalho. Entre outros desafios estão a epidemia da

Mães em Missão de Shambu, Etiópia.

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Dom Alcimar Caldas Magalhães, bispo de Tabatinga é exemplo de fé e humildade, vivendo com simplicidade entre os ribeirinhos e indígenas.

Texto e fotos de Cecília Tada

stamos em Tabatinga, Alto Solimões, na encantadora Amazônia. Encantadora por sua riqueza cultural, étnica, ambiental. Não há como não se embevecer pela exube-rância de seus povos, suas matas, rios e tudo que faz desta Região o pulmão do mundo. Como seria bom se houvesse apenas essa Amazônia! Um olhar mais atento

para a realidade do Alto Solimões, porém, nos faz enxergar outra Amazônia, fruto da ganância dos que, sem escrúpulos e sem consciência ecológica, depredam a natureza, dizimam culturas, matam povos. Aqui, a maior parte da população constitui-se

e

da AmazôniaUm pastor no coração

de Povos Indígenas ou de descendentes, numa miscigenação peruana e colombiana, vivendo, ainda, de maneira bastante tradicional, apesar da ciência e da tecnologia ter mostrado seu rosto na Região.

Como no resto do país, também no Alto Solimões, vive-se o drama do desemprego, da falta de educação e tantas outras carên-cias que desfiguram populações, causando-lhes dor e sofrimento que clamam aos céus. A pobreza é estampada nas precárias condições de vida da população. Por causa disso, a maioria do povo vive sem perspectivas, em constante mobilidade. A violência cresce e os suicídios aumentam em número assustador.

Como devolver a este povo sem voz e vez a dignidade de filhos de Deus? De que maneira ajudá-los a resgatar sua auto-estima e a convicção do próprio potencial quando estão desempregados, marginalizados e humilhados diante da situação subumana de vida? Qual teria sido a atitude de Jesus, se hoje viesse até nós? O que ele diria? São perguntas que, inevitavelmente, vêm à nossa mente e ao nosso coração, cristãos que somos comprometidos com a vida na justiça e no amor.

Despojamento totalDeus, que nunca abandona seu povo, especialmente os

pobres e oprimidos, ontem e hoje, continua suscitando profetas e pastores, reavivando a esperança na vitória do bem. No Alto Solimões não é diferente. E esse profeta-pastor tem um nome: dom Alcimar Caldas Magalhães.

Filho da terra e, por isso, conhecedor profundo dos reais problemas, plenamente identificado com as lutas de seu povo, dom Alcimar assume seus costumes e sua cultura. Por isso, fora do templo, faz do chapéu de roceiro sua mitra, do arado e da enxada seu cajado, da capa de chuva sua casula e da bota de borracha seu calçado. É desta forma que ele se apresenta junto aos pequenos e aos trabalhadores, que se sentem à vontade diante da simplicidade e da pobreza de seu bispo.

Vê-se que dom Alcimar despojou-se do seu status de mestre em Teologia Dogmática pela Universidade Lateranense de Roma e de jornalista formado pela Rede Audiotelevisiva Italiana (RAI) para assumir a condição de um “peão” entre os peões, fazendo-se semelhante ao povo, em tudo. O discurso sobre aculturação e inculturação tão necessários na vida missionária, é muito bonito na teoria, mas quando vemos dom Alcimar totalmente esvaziado de si, entendemos o alcance desta exigência para assumir a condição do povo, tornando-se um irmão entre os irmãos.

Um jeito diferente, sem dúvida, de exercer o múnus episcopal que nos faz compreender que não podemos viver de idéias, de teorias, de devoções e piedades, mas da ação que, pela força

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Amar servindoContemplando a ação deste incansável bispo e olhando a

extensão do Alto Solimões com seus desafios, vem-nos à men-te a imagem do Cristo que reconhece a imensidão do campo contrastando com a escassez de operários.

Nesse momento, mais uma vez, é dom Alcimar quem nos ensina quando diz que, “realmente, é preciso rogar ao Senhor da Messe que envie operários para a sua vinha, mas que sejam operários despidos das vestes de mestres e senhores e reves-tidos do mais nobre sentimento de quem quer amar servindo o outro a partir de sua necessidade e pobreza. Nós estamos numa escola espetacular de convivência evangélica, de encontro de raças, de cultura e etnias. A realidade de sermos poucos é uma oportunidade de sermos humildes e abertos para receber a ajuda de quem queira ser irmão nosso, viver a experiência de Deus conosco, aqui nessa terra”.

A Conferência de Aparecida falou de um grande mutirão missionário na América Latina. No Alto Solimões temos a encru-zilhada dessa América Latina, de um Peru que está descendo da montanha e vem para a floresta de Loreto, em Iquitos, e uma imigração que converge para a fronteira brasileira. Nossos caminhos se cruzam com os caminhos da Colômbia por causa dos fugitivos da guerrilha que buscam entre nós uma convi-vência mais fraterna, mais tranqüila, com mais paz. Na parte brasileira temos todas as etnias de indígenas, principalmente a tribo Tikuna, que hoje se diz a mais numerosa de todo o país, com 40 mil indígenas aproximadamente e que espera muito de nós. Etnias como os Marubo, os Matiz, os Kanamari e outras que renascem das cinzas como os Cambebas, os Cocamas. Essa é uma Messe, com um campo de ação muito parecido com aquilo que Aparecida indica como uma miscigenação de raças dessa nossa América Latina e, portanto de desafio maior para a missionariedade da nossa Mãe Igreja.

Cecília Tada é misssionária CMST e secretária-executivada Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB.

do amor, pela força do Evangelho, ajuda a transformar a realidade, atualizando a promessa de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”.

Na Amazônia, só se evangeliza pelo amor que se traduz em soli-dariedade. Sem isso, as pregações e palavras bonitas não ressoarão nesta realidade sofrida do povo sem perspectivas, no meio da floresta, sem energia, sem escola, sem hos-pitais e com os serviços públicos que funcionam mal. Como ensinar o Pai Nosso aos que estão de barriga vazia e a um povo que não encontra saída para seus dramas?

A solução não está na criação de meios que tornem o povo mais dependente. Ao contrário, é preciso, com dedicação, torná-lo autônomo, independente, libertando-o de todo sistema que escraviza. É para essa direção que aponta o trabalho de dom Alcimar. Sua inteligência e sabedoria são usadas para arti-cular os homens públicos, prefeitos e vereadores, em fóruns de debate como, por exemplo, o Solifórum e o SEVAS – Seminário de Vereadores do Alto Solimões, criando a Meso-Região do Alto Solimões. Todo seu esforço é voltado para desenvolver projetos sociais que recuperem a auto-estima dos índios, ribeirinhos e marginalizados urbanos e para planejar ações eficazes que

evitem o esvaziamento das comunidades indígenas.Dom Alcimar se preocupa, também, com iniciativas que

garantam a segurança alimentar nas sedes municipais e comu-nidades, ameaçadas pelo esgotamento das reservas naturais e pelo abandono da agricultura familiar. Consciente de que, quanto mais gente houver na luta pela defesa do povo do Alto Solimões, ele está permanentemente atento às novas lideranças que vão surgindo, oferecendo-lhe capacitação a fim de que, a partir de sua formação ética e cristã, atuem nos meios políticos. Conhecedor profundo do potencial da juventude, dom Alcimar tem presença constante nos meios universitários da região.

Café da manhã dos índios Tikunas.

Dom Alcimar em reunião com líderes.

Informações: Tel.: (61) 2103-8300E-mail: [email protected]

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Manaus - AMEncontro dos bispos da Amazônia

Entre os dias 11 e 13 de setembro, realizou-se em Manaus, o Encontro Inter-Regional dos Bispos da Ama-zônia, do qual participaram prelados dos Regionais Norte 1 (norte do Amazonas e Roraima), Norte 2 (Amapá e Pará) e Noroeste (Acre, sul do Amazonas e Rondônia). O Encontro foi marcado “por momentos fortes de estudo e reflexão em torno de questões que atingem a Amazô-nia e sua população, sobretudo os povos tradicionais”, afirmou a assessora da Comissão Episcopal Pastoral para a Amazônia, Ir. Cecília Tada.

No documento final do evento, os bispos ressaltaram aspectos da Conferência de Aparecida e convocaram os amazônicos para o discipulado, a missionariedade e a inculturação, “não como algo esporádico ou ex-traordinário, mas como novo padrão pastoral, de uma Igreja em estado de missão”, esclareceu a assessora. Os bispos constataram, ainda, “com perplexidade, o imenso jardim, a biodiversidade do planeta, verdadeira dádiva divina que abriga diversos povos e culturas, mais do que nunca ameaçados pela devastação”. Também denunciaram “a morosidade do governo na busca de soluções para os problemas sociais que atingem as famílias como o alcoolismo que cresce, o narcotráfico, a prostituição e exploração sexual de menores”. Apelaram “por justiça para uma ação eficaz diante das vidas de índios e colonos ceifados por interesses do capital”. Por fim, conclamaram os povos para “defenderem seus direitos e continuarem promovendo um desenvolvimento sustentável, diante dos grandes projetos do governo e a expansão do agronegócio”.

Aparecida – SP2º Congresso Missionário Nacional

Foi confirmada a realização do 2º Congresso Mis-sionário Nacional em preparação ao CAM3-COMLA8, entre os dias 1 e 4 de maio de 2008, na cidade de Aparecida. A organi-zação do evento estará a cargo das Pontifícias Obras Missionárias e do Conselho Missionário Nacional. Os trabalhos do Congresso serão de-senvolvidos em torno do tema: “Do Brasil de batizados ao Brasil de discípulos missionários” e do lema: “Igreja no Brasil, escuta, segue e anuncia”.

Roraima – RRInvasores deixam Raposa Serra do Sol

No dia 12 de setembro, lideranças indígenas da Raposa Serra do Sol, o presidente Luís Inácio Lula da Silva e representantes de órgãos federais e estaduais assinaram um documento que define as responsa-bilidades da União e dos indígenas na retirada dos invasores que ainda estão na terra indígena. Pelo acordo, as organizações indígenas irão trabalhar para que não haja confrontos envolvendo indígenas durante a retirada dos não-índios. Durante a desocupação,

também se comprometem a não entrar na zona de segurança que será definida pela Polícia Federal. As lideranças devem convencer os indígenas que estão em fazendas de não-índios a saírem destas áreas. O governo se comprometeu a garantir a segurança, proteção e vigilância das terras indígenas. Também irá desenvolver políticas públicas e projetos de de-senvolvimento sustentável e, por meio de parcerias com órgãos governamentais, fomentar a economia e sustentabilidade das comunidades. “As ações do acordo são como um complemento. Além de retirar os fazendeiros da nossa terra, o governo vai promover ações para melhorar a situação das aldeias. E nós, vamos unir as forças de todos os povos, de todas as organizações. Não vamos mais ficar separados”, disse Terêncio Salamão Manduca, vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima, uma das sete organizações indígenas que assinaram a carta.

Mais uma vez uma decisão no Supremo Tribunal Federal (STF) favoreceu a reivindicação dos indígenas da Raposa Serra do Sol. O ministro Carlos Ayres Britto negou, liminarmente, o pedido do Estado de Roraima de suspender, em parte, a homologação da terra, que aconteceu em 15 de abril de 2005. A Raposa abriga aproximadamente 18 mil indígenas, numa área de 1,74 milhão de hectares.

Rio de Janeiro - RJExército atua com repressão no Haiti

Enviado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ao Haiti, o conselheiro efetivo da entidade no Rio de Janeiro, Aderson Bussinger, entregou no dia 6 de setembro um relatório com duras críticas à atuação naquele país da Missão de Estabilização da ONU, liderada pelo Brasil. Bussinger viajou em uma delega-ção de representantes de entidades da sociedade civil brasileira com objetivo de verificar as condições sociais e a relação das tropas com os haitianos. Na sua opinião, a intervenção brasileira utiliza o mesmo método das tropas estadunidenses em outros países. “Trata-se de uma presença fundamentalmente militar. Ela não tem, a meu ver, nada de humanitário. O que eu vi no Haiti é que 85% dos componentes destas forças são destinados às atividades repressivas. Então, aquela imagem que é passada aqui, de que é uma força de paz, humanitária, não é real! Eu não vi a Força construindo escolas, não vi construindo hospitais. Eu conversei com pessoas que foram espancadas pelos soldados”. Bussinger afirmou que os militares brasileiros responsabilizaram a polícia haitiana pela violência. Porém, ele destacou que as tropas estrangeiras normalmente dão suporte à ação policial. Ele relatou que quando há movimentos reivindicatórios no país a polícia atua na repressão direta, enquanto o Exército se movimenta na retaguarda, em uma tenta-tiva de constranger a manifestação. O representante da OAB questionou a falta de ações humanitárias dos militares, que afirmaram ter realizado basicamente uma campanha de vacinação e a tentativa de cavar alguns poços artesianos. As tropas brasileiras estão há mais de três anos no Haiti.

Fontes: CIMI, CNBB, Notícias do Planalto, POM.

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