A Abordagem Clínica das Interações Pais-Bebê

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    As interaes pais-beb bem como o desenvol- vimento social e afetivo da criana pequena tm sidoobjeto de numerosos estudos nas ltimas trs dcadas.Grande parte destes estudos teve impulso a partir doreconhecimento do potencial social inato do beb e deseu papel ativo j nas suas primeiras interaes com ospais (Brazelton, 1982). A partir de ento, multiplicaram-

    se os estudos sobre o desenvolvimento psicolgico dacriana no incio do ciclo vital e suas interaes com omundo adulto. Estes estudos adotaram inicialmente umaperspectiva didica (em particular a dade me-beb) emais recentemente, passaram a considerar a trade me-pai-beb ou o grupo familiar como um todo (Fivaz-Depeursinge, 1998a). Paralelos aos estudos observacionais e experimentais, muitos progressos nessa rea tmtido origem na colaborao cada vez mais prxima entrepesquisadores e clnicos que trabalham com a primeirainfncia (Lebovici, Mazet & Rosevgue, 1990; Maury,

    Visier & Montagner, 1989). Por sua vez, as implicaesclnicas desses trabalhos tm sido evidenciadas na medidaem que se reconhece o potencial diagnstico, preventivoe mesmo teraputico de avaliaes da qualidade dainterao pais-beb.

    Neste artigo, examinamos alguns aspectos da evoluodos estudos na rea das interaes pais-beb de um pontode visto terico e metodolgico. Desde j, cabe ressaltar

    A Abordagem Clnica das Interaes Pais-Beb:Perspectivas Tericas e Metodolgicas

    Jaqueline Wendland1

    Universidade de Lille III, Frana

    Resumo

    A influncia das interaes pais-beb no desenvolvimento social e afetivo infantil tem sido objeto de estudo de numerosos

    trabalhos nas ltimas trs dcadas. Neste artigo, examina-se, de um ponto de vista terico e metodolgico, a evoluo dos

    estudos na rea das interaes pais-bebs, particularmente no campo da clnica. Aponta-se tambm para os temas de pesquisa

    que tm se revelado promissores no estudo das interaes pais-beb.

    Palavras-chave: Interao; pais-beb; desenvolvimento scio-emocional.

    The Clinical Approach of Parent-Infant Interaction: Theoretical and Methodological Perspectives

    Abstract

    The influence of parent-infant interaction on social and affective child development has been the object of a significant

    number of studies in the past three decades. This paper focuses on the evolution of the studies in the parent-infant interactionsdomain. This evolution is examined from a theoretical and methodological point of view, particularly in the clinical field. Some

    research themes that seem to be promising in this domain are also highlighted.

    Keywords:Interaction; parent-infant; socio-emotional development.

    que optamos por privilegiar os estudos realizados emnossa rea de atuao, ou seja, a abordagem clnica dasinteraes.

    Das Concepes Psicanalticas Pioneiras ao Estudo

    das Interaes

    Dentre as diversas perspectivas tericas que estudam

    o desenvolvimento social e afetivo do beb, ascontribuies da escola psicanaltica ocupam sem dvidaum lugar de destaque. Muito embora concepes originaisde psicanalistas como Spitz (1965), Mahler (1963) e Klein(1969a, 1969b) sejam hoje em parte contestadas, as teoriaspsicanalticas tm o mrito de ter insistido na importnciadas primeiras relaes da criana enquanto experinciasfundamentais no desenvolvimento do ser humano.

    Uma reviso da literatura permite observar que, adespeito das discordncias sobre a existncia ou no deego no beb e de sua capacidade de diferenciao entreseus processos internos e o mundo externo, todos ospensadores psicanalticos conferem especial ateno sprimeiras vivncias entre a me e o beb. Estas seriam oprottipo, o modelo a partir do qual a criana construiriasuas relaes ulteriores. Alm disto, alguns dos autorespsicanalticos foram pioneiros no uso da observao parafins de pesquisa clnica.

    Para autores como Freud (1911/1959), Spitz (1965),Mahler (1963) e Winnicott (1965, 1987), ainda que o bebapresentasse intensa atividade psquica e que esta seconstruisse a partir da sua relao com o adulto, ele era

    1 Endereo para correspondncia: Unit Petite Enfance, Groupe

    Hospitalier Piti-Salptrire, 28, Alle Vivaldi, 75012, Paris, Frana. E-

    mail: [email protected]

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    descrito em situao bastante passiva e pouco evoluda. A concepo de Spitz do neonato como isolado domundo exterior e incapaz de perceber estmulos sensoriais hoje ultrapassada. Sua ignorncia quanto possibilidadede aparecimento de sorrisos face a estmulos sociais (voze rosto humano) muito antes da oitava semana de vidatambm foi criticada (Mazet & Stoleru, 1993). Todavia,apesar dessas crticas, Spitz merece destaque por ter sidoum dos primeiros psicanalistas a ter utilizado, de maneirasistemtica, a observao direta de bebs, ao vivo eatravs de filmes. Alm disso, apontou para o carter

    vital da relao me-filho, conforme ilustram seus estudossobre a depresso anacltica e o hospitalismo (Spitz).Pode-se tambm notar que Spitz j buscava identificar aspatologias da interao no que ele chama

    va descarrilamentos do dilogo me-beb (Spitz, 1964).Da mesma forma, embora noes como autismo

    normal e fase simbitica sejam hoje criticadas, os demaisperodos do processo de separao-individuao descritopor Mahler permanecem atuais (Mazet & Stoleru). Almdisto, por ter descrito estes perodos a partir daobservao de crianas pequenas, Mahler tambm podeser considerada como uma precursora na utilizao destaabordagem.

    Por outro lado, contrastando com os autoresmencionados acima, a concepo de Klein (1969a, 1969b)dava ao beb uma vida psquica bastante elaborada, poisdescrevia o ego como j presente desde o nascimento.

    Apoiada em observaes feitas durante tratamentospsicanalticos de adultos e crianas, para Klein o beb eracapaz de sentir angstia, empregar mecanismos de defesae estabelecer relaes primitivas de objeto tanto na fantasiacomo na realidade. Ainda que certos aspectos dasconcepes de Klein paream hoje inverossmeis, comoa complexidade da vida psquica que ela atribui ao bebem um perodo em que a maturao cerebral no parecepermitir tal riqueza, suas idias deixaram marcasprofundas nos estudos sobre a relao me-beb,sobretudo no campo dos distrbios psicticos precoces(Mazet & Stoleru, 1993).

    Dentre as concepes psicanalticas, a teoria do apegode Bowlby (1969) aquela que mais deu impulso spesquisas com implicaes clnicas nas ltimas trs dcadas.Suas idias so responsveis por avanos significativosno estudo da relao pais-criana, pois integram s noespsicanalticas as abordagens tericas e metodolgicas deoutras escolas, tais como a etologia e a teoria dos sistemas.

    Tcnicas como a observao direta e sistemtica decomportamentos interativos tornaram-se corriqueiras noestudo da relao pais-criana e contriburam muito paraa qualidade metodolgica destes estudos. Mas, sem

    dvida, o destaque que tm merecido as concepes deBowlby deve-se sobretudo s repercusses em termosde sade mental para as quais apontaram suas idais sobreo desenvolvimento do vnculo afetivo (Cicchetti &Greenberg, 1991). Por outro lado, embora tenha sidoconcebida por um clnico e para auxiliar no diagnsticoe tratamento de distrbios emocionais, o prprio Bowlbyse disse surpreso ao constatar que sua teoria tinha dadoimpulso to grande pesquisa em psicologia dodesenvolvimento, mas apenas muito lentamenteinfluenciava o progresso da psicopatologia e dapsicoterapia (Bowlby, 1988). Na medida em que ospadres de apego que a criana estabelece na sua relaocom o parceiro adulto passaram a ter um valordiagnstico, suas idias reforaram o intercmbio entre aclnica e a pesquisa.

    As concepes do apego de Bowlby foram bastante

    criticadas quando apresentadas comunidade psicanaltica,especialmente porque elas divergiam das teorizaes dopai da psicanlise. Em correspondncia endereada aLebovici, Spitz e Anna Freud chegam a acusar Bowlbyde ser um traidor da psicanlise de Freud (Lebovici,1996). Segundo Bowlby (1969), toda criana nasce comuma necessidade social primria que, de modo freqente, satisfeita pelos contatos sociais com a me, a qual setorna usualmente sua figura de apego. Para Freud (1911/1959), o apego decorrente do prazer proporcionadopela satisfao das necessidades pulsionais orais e

    fisiolgicas. A repetio de experincias de satisfaopromove o desenvolvimento do apego figura que ligada aos momentos de prazer, a qual , portanto, inves-tida libidinalmente. Contrastando com estas noes, paraBowlby, o apego decorre de predisposies biolgicasno ligadas satisfao de necessidades bsicas, mas manuteno do contato e proximidade com o parceiroadulto.

    Alm disto, a teoria do apego contrasta com as noesde autismo normal e perodo simbitico propostas porMahler (Mahler, Pine & Bergman, 1975), assim comocom as teorizaes psicanalticas de Winnicott (1965, 1987),

    Spitz (1965) e Freud (1911/1959), que postularam o bebcomo essencialmente dependente e incapaz de discernira realidade interna da externa. Tericos do apego vemo perodo dos primeiros meses de vida no como umarelao inicialmente simbitica, da qual a criana emergecomo diferenciada e separada, mas como uma relaoque, desde seu incio, permite autonomia aos parceirosno contexto de sua interao (Bretherton, 1987). Assim,a nfase de Bowlby nas competncias precoces, natendncia inata do recm-nascido para entrar emcomunicao bem como na observao de seus

    Jaqueline Wendland

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    comportamentos interativos influenciou profundamenteos estudos sobre as interaes pais-beb.

    O Estudo das Interaes: Algumas Consideraes

    Metodolgicas

    Pode-se notar que, retrospectivamente, os estudos dobeb e de suas interaes evoluem de uma perspectivaindireta, essencialmente psicanaltica, para uma abordagemmais direta e aberta a diversos campos das cincias. Naprimeira perspectiva, sustentada por psicanalistas deabordagem ortodoxa, trata-se de reconstruir o bebpresente em cada ser humano atravs das lembranasdas experincias infantis e de relatos de pacientesadolescentes ou adultos submetidos psicanlise.

    Segundo Cramer (1982), neste mtodo, o material transmitido via linguagem e, portanto, mediado peladimenso simblica de seus significados, dizendo-nos

    mais acerca do funcionamento psquico infantil do quesobre os contedos propriamente das experincias. Sepor um lado estas experincias seriam, portanto,deformadas pelas elaboraes sucessivas do paciente(trata-se da histria de uma histria, feita e refeita diversas

    vezes), por outro lado, poder-se-ia argumentar que omaterial evocado tambm enriquecido pela dimensosimblica da linguagem e pelo contexto teraputico etransferencial da situao analtica. Estes ltimos permitemao analista o uso de interpretaes para elucidar ossignificados latentes dos comportamentos ou eventos

    relatados pelos pacientes. No entanto, a singularidade darelao analista-paciente faz com que princpios bsicosda pesquisa cientfica, tais como o grau de concordnciaentre os observadores e a replicabilidade do protocolode estudo, no possam ser atingidos. Esta corrente temsido defendida por psicanalistas como Green, para quema psicanlise desenvolvimentista no estuda o beb deFreud, que s pode ser apreendido pela sua ausncia e,portanto, retrospectivamente (Green, 1979).

    Contrastando com esta perspectiva mais clssica,grande parte de pesquisadores e clnicos interessados noestudo do beb tm se servido da observao direta.

    Nesta abordagem, os autores voltam-se especialmentepara a codificao e anlise dos comportamentos visveisdo beb, definidos operacionalmente em detalhe,podendo-se obter a descrio, seqncia e freqncia doseventos observados (Cosnier, 1984; Gottman & Ringland,1981). Todavia, a dificuldade de se registrar e definiroperacionalmente comportamentos no observveisdiretamente, tais como a tonalidade afetiva2 das interaes

    (Mazet, Cukier-Hemeury, Latoch, Rosemblum & Sitbon,1989), bem como a restrio da dinmica docomportamento humano a um conjunto de categoriasconstituem algumas das limitaes metodolgicas destaabordagem.

    Seguindo em paralelo as diferenas destas duasabordagens, o emprego de termos bsicos comointerao tambm deu origem a algumas controvrsias.Nas abordagens psicanalticas, o termo interao ou inter-relao foi, durante dcadas, empregado para designarrelaes de objeto, ou seja, para expressar o investimentolibidinal de representaes mentais (objetos) pertinentesao relacionamento entre os sujeitos (Birraux, 1995). Soba perspectiva que estuda diretamente o beb, a interao definida como representando as trocas de compor-tamentos visveis entre o adulto e a criana, ou seja, ofoco de investigao voltado para a descrio da

    interao observvel (Tronick & Cohn, 1989).A despeito das divergncias, vantagens e limitaes

    destes mtodos, pode-se dizer que, em ltima instncia,pouca rivalidade persiste entre as perspectivas diretas eindiretas, uma vez que pesquisadores e clnicos tm tiradoproveito de ambas as abordagens. Se por um lado, osclnicos passaram a admitir a necessidade do uso de umametodologia mais rigorosa, objetiva e comparvel, ospesquisadores reconheceram progressivamente aimportncia de, ao se estudarem as interaescomportamentais, ouvir a histria dos pais e das geraes

    que os precederam, assim como as representaesassociadas criana, sua chegada ao mundo e os projetospara seu futuro. Todavia, cabe ressaltar que objetivos,linguagem e mtodos distintos ainda tm dificultado odilogo entre pesquisadores e clnicos, sobretudo nocampo da pesquisa em psicoterapia (Goldfried, Borkovec,Clarkin, Johnson & Parry, 1999; Newman & Castonguay,1999).

    Muito embora avanos indiscutveis tenham sidoobservados nesta rea, uma parte considervel dosestudos ainda suscetvel de receber algumas crticasmetodolgicas. Entre as crticas geralmente feitas, pode-

    se salientar a questo do ambiente artificial (em geral emlaboratrio) e as situaes de observao muitoestruturadas, que podem ser consideradas como poucorepresentativas do contexto em que ocorrem as interaesdirias entre os pais e o beb (Belsky, 1985). Outras crticasque persistem referem-se ao nmero reduzido de sujeitos,aos perodos de tempo de observao, em geral curtos,ou ainda ausncia de grupos controle satisfatoriamentecomparveis aos grupos experimentais, embora estasltimas limitaes derivem das dificuldades prprias spesquisas clnicas envolvendo humanos (Lebovici, Mazet

    2 A noo de tonalidade afetiva descreve o clima emocional ou afetivo no

    qual se do as interaes entre os dois parceiros (ex.: prazer, alegria, bem-

    estar, tristeza, indiferena, aborrecimento, insegurana, distncia, etc).

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    & Visier, 1989; Stoleru & Le Mer, 1995). A busca desolues para estes problemas deu origem a umamultiplicao de metodologias de coleta e de anlise dedados, freqentemente utilizadas de maneira associada(Lebovici e cols.). Mais recentemente, os estudos nestarea tm podido contar com o auxlio de programasinformticos que permitem um ganho de tempoimportante na codificao e anlise estatstica dos dados(ex: Interact, Dumas, 1987; The Observer, Noldus, 1996).

    Como j foi mencionado, a observao ocupa umlugar central nestes estudos e atualmente ela tem sidoutilizada em diversos contextos: em laboratrio, eminstituies como creches e hospitais, assim como noambiente familiar. Na maioria dos casos, a observaotem por objetivo avaliar a qualidade mais ou menossaudvel das interaes, as competncias ou as atitudesde cada participante. Todavia, mais recentemente, a

    observao tambm tem sido utilizada como instrumentoteraputico, uma vez reconhecidos os efeitos positivosda ateno e do investimento afetivo que ela podecomportar (Houzel, 1989; Jardin, 1994; Lamour &Barraco, 1995; Lebovici, 1995).

    Neste sentido, no mais possvel ignorar que aobservao exerce uma influncia e, em certa medida,modifica o objeto da observao. O observador, quandodescreve ou filma uma dade em interao, traz consigoseus afetos, seus modos de comunicao e expresso

    verbal, gestual e visual, aos quais os sujeitos observados

    reagem, fazendo o observador reagir em contra-partida. Ambos esperam algo do outro nesta relao: oobservador procura o objeto de sua pesquisa e reageface ao que observa (por exemplo privilegiando ouevitando certos ngulos de filmagem), enquanto oobservado espera uma ajuda, sente-se curioso ou mesmoinconscientemente estigmatizado ao ser objeto daobservao. Neste sentido, pode-se falar em fenmenosde transferncia e contra-transferncia entre o observadore o observado (Lebovici, 1995; Lieberman, 1998).

    Uma ocasio propcia para se investigar os sentimentosde ambas as partes com relao observao quando

    os pais e o observador (em geral com formao clnica)observam juntos o filme das interaes pais-beb. Estatcnica, chamada autovideoscopia, tem mostrado suautilidade em terapias breves pais-beb (Field, 1980;Lebovici, 1983, 1995). Por outro lado, quando se tratade utilizar a observao em grande escala e com finspreventivos, clnicos e pesquisadores procuram estabelecercritrios mais ou menos simples e objetivos, por exemplo,para a deteco precoce de perturbaes interativas ligadasao autismo (Baron-Cohen e cols., 1996) ou doenamental materna no ps-parto (Kumar & Hipwell, 1996).

    Examinando-se a histria - bastante recente - dostrabalhos na rea das interaes pais-beb, observa-seque os primeiros estudos (cf. referncias citadas noprximo tpico), tanto de profissionais da clnica comoda pesquisa em psicologia do desenvolvimento, muitoraramente descreviam a interao do beb com seu parceiroadulto. Na verdade, podemos dizer que esses estudosfocalizavam o comportamento do beb, ou do adulto quese ocupava dele, mas pouco se sabia sobre como umreagia em presena do outro. Ora, o conceito de interaopressupe a existncia de dois parceiros ou doisfenmenos que reagem reciprocamente (von Bertalanffy,1973; Mazet e cols., 1989). Segundo Carvalho (1988), ainterao um evento que ocorre entre indivduos, e nonos indivduos (p. 514). Por outro lado, se o carterbidirecional portanto parte implcita no conceito deinterao, durante dcadas prevaleceu o modelo do

    parceiro adulto (em geral a me) todo-poderoso eorganizador das interaes (ao mesmo tempo atorprincipal, mas tambm nico culpado em caso deperturbaes). Assim, falava-se em interao (ou relao),mas estudavam-se comportamentos ou atitudes do bebou da me em determinadas situaes. Todavia,ocorrendo dentro de um contexto social, estescomportamentos podem ser considerados como sociaisou interativos (Carvalho).

    Atualmente, supe-se que os estudos nesta rea tenhamultrapassado a soma de fatores maternos e infantis (Mazet

    e cols., 1989). Muitas das teorias e modelos hoje proeminentes se inspiram na teoria transacional (Sameroff,1975), por sua vez derivada da noo de espiraltransacional introduzida por Escalona (1968). Esta teoriasupe que o ambiente e o indivduo influenciam um aooutro num processo contnuo de desenvolvimento e demudana. De acordo com Emde (1992), a perspectivatransacional bastante adequada para o estudo dasinteraes e do desenvolvimento precoce, em seusaspectos de continuidade, de adaptao e de mudana,pois pressupe que a individualidade no pode ser

    compreendida sem que sejam levados em conta osconfrontos da criana aos diferentes ambientes(materno, mas tambm num sentido mais amplo, p.70)que ela conhecer ao longo de sua infncia. Destas noessurgiram novos conceitos na literatura, tais como sincronia(Isabella, Belsky & von Eye, 1989), ritmicidade (Censullo,Lester & Hoffman, 1985) e harmonizao (Haft & Slade,1989; Stern, 1985). No entanto, dada a complexidadedos comportamentos da criana e do adulto aindapermanece a dificuldade de se conceber uma tcnica deanlise que capte o fenmeno interao.

    Jaqueline Wendland

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    Por fim, tambm importante ressaltar que os aspectosticos das pesquisas so raramente evocados, embora aconsiderao dos riscos e a tomada de precaues sejamimprescindveis, mesmo em situaes aparentementebanais, mas sobretudo quando trabalhamos compopulaes que apresentam patologia ou risco (Lebovici,1995). A garantia do anonimato, o direito de conheceros resultados da pesquisa e de ser consultado quanto aouso futuro das observaes (para fins de ensino ou dedivulgao cientfica) no podem ser negligenciados.

    Interaes Pais-Beb: Contextos e Temas de

    Pesquisa

    Pode-se tambm traar algumas observaes quanto evoluo dos temas e contextos dos estudos na readas interaes pais-beb. De fato, como no poderiadeixar de ser, no somente a motivao pessoal do

    pesquisador, mas mudanas sociais bem comocircunstncias histricas direcionaram as primeiraspesquisas. O contexto de ps-guerra, a crescentenecessidade de se deixar as crianas na creche e apreocupao com os efeitos negativos das separaesdecorrentes destas situaes tiveram um papeldeterminante na escolha de temas e contextos de pesquisa.

    Assim, pode-se observar que Spitz (1965) conjugou seuinteresse na psicopatologia precoce observao do bebem condies bem particulares: em situao deisolamento e carncia, em instituies que em nada

    lembram o ambiente familiar. Outros precursores taiscomo Anna Freud (1936/1949), Burlingham (Burlingham& Freud, 1942), David e Appell (1964), Goldfarb (1945),Robertson e mesmo Bowlby (Robertson & Bowlby,1952) tambm fizeram observaes notveis de bebs ecrianas pequenas, mas muitas vezes tratava-se de observaro beb separado de sua me ou em interao com umcuidador substituto. De fato, Anna Freud e Burlinghamtiveram a oportunidade de observar bebs afastados deseus pais durante os bombardeios de Londres(Burlingham & Freud). Pouco depois, a pedido daOrganizao Mundial da Sade, Bowlby redigiu uma

    importante monografia sobre as implicaes doscuidados maternos e de sua carncia para a sade mentalda criana (Bowlby, 1951).

    Assim, pode-se dizer que a maior parte dos estudosclnicos nesta rea tiveram como ponto de partida aquesto dacarncia de cuidados maternos (por privaoou separao) e suas conseqncias para a criana. Na

    verdade, nesta poca, mesmo antroplogos estudiososdo comportamento cultural como Mead dirigiam suaspesquisas para este tema (Mead, 1962). As repercussesdestes trabalhos, embora um pouco lentas, contriburam

    de maneira decisiva para mudanas nos servioshospitalares e escolares que acolhem bebs e crianaspequenas.

    Um pouco mais tardias, as contribuies da etologiapara o estudo das interaes pais-beb tambm setornaram numerosas e relevantes tanto em nvel conceitualquanto metodolgico (cf. estudos pioneiros de Lorenz(1981), Tinbergen (1951) e Harlow (Harlow & Harlow,1966)). Antes de mais nada, cabe lembrar que da etologiaque veio a nfase na principal, mais simples e direta maneirade se estudar as interaes: a observao. Somente atravsda observao minuciosa, prpria etologia, pudemoschegar noo de competncia da criana e reconhecero papel ativo desta ltima na interao com o adulto oucom outras crianas (Bell & Harper, 1977). Outro mritoda etologia de ter salientado a importncia da observaoem contexto natural, ou seja, o mais prximo possvel

    do ambiente familiar da pessoa observada. No entanto,deve-se notar que a etologia, buscando estabelecerpadres de comportamentos normais e comuns a todosos seres humanos, limita-se freqentemente observaode populaes normais, em detrimento dos estudospsicopatolgicos. Estes mtodos e noes contrastambastante com aqueles dos pioneiros psicanalistas, cujasteorizaes mostravam o beb como essencialmentepassivo e dependente, e cujas observaes se davam emsituaes muitas vezes problemticas ou artificiais, por

    vezes trgicas para a criana observada.

    Do ponto de vista conceitual, a etologia tambmforneceu conceitos tais como os de fase crtica e padrofixo de ao, que tiveram repercusses sobretudo para apsicologia do desenvolvimento, mas tambm para a reaclnica. Por exemplo, a noo de fase crtica est na basede alguns estudos bastante conhecidos como os de Klause Kennel (1982), que mostram a importncia do tempode contato me-recm-nascido no ps-parto para aqualidade do vnculo ulterior da me com a criana. Estesestudos estimularam mudanas nas prticas hospitalares,tais como a adoo do alojamento conjunto. Emboranecessitem grande disponibilidade de tempo e utilizem

    um repertrio de comportamentos extenso que torna acomparao de situaes por vezes difcil, os estudosnesta rea nos tm ensinado muito a respeito doscomportamentos de apego (Cyrulnik, 1989; Montagner,1988), de imitao (Nadel, 1986) e de interao de crianasentre si (Campos de Carvalho & Rubiano, 1996; Stamback& Barrire, 1983). A abordagem etolgica tambm temse mostrado til enquanto complemento do trabalhoclnico de diagnstico e de terapia, por exemplo, naobservao das interaes a domiclio de dades comdificuldades interativas (Maury e cols., 1989).

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    Paralelamente aos estudos etolgicos e psicanalticos,a partir da dcada de 60, os trabalhos em psicologia dodesenvolvimento passaram a apontar para diferenasinter-individuais presentes desde os primeiros dias de vidado beb, tanto do ponto de vista biolgico comocomportamental (Wolff, 1966). Destes estudos emergiua noo de temperamento que, por sua vez, foifundamental para o reconhecimento da individualidadede cada beb (Chess, 1967; Thomas, 1968). Assim,reconheciam-se em cada beb reaes, preferncias eritmos prprios. Pouco a pouco, a constatao da com-plexidade dos comportamentos elementares (p.ex.: suco,olhar), da precocidade dos comportamentos perceptivose imitativos (Fantz, 1963; Meltzoff & Moore, 1977), edo carter imediato do interesse pelo companheirohumano, fizeram do beb um parceiro ativo na interao(Lewis & Rosenblum, 1974). Investigavam-se tambm

    nesta poca os comportamentos reflexos (Prechtl &Beintema, 1968) e os estados de vigilncia do beb(Wolff). Estes ltimos, como se sabe, determinam emgrande parte a qualidade das respostas e reaes do bebaos estmulos e comportamentos do adulto. O bebdeixou de ser, portanto, uma criatura limitada, capazapenas de comer, chorar e dormir e passou a ser o bebativo, competente e maravilhoso, que pode fazer de suame a mais feliz e orgulhosa do mundo (Brazelton, 1997).

    Brazelton, ao publicar e divulgar a utilizao da Escalade Avaliao do Comportamento Neonatal (Brazelton, 1973)

    junto aos pais, deu impulso a numerosos estudos queintegraram os conhecimentos sobre as competncias dobeb possibilidade de intervir e prevenir junto a dadesnormais ou em situao de risco (Brazelton, Nugent &Lester, 1987; Gomes-Pedro e cols., 1987; Wendland &Piccinini, 1998; Wendland-Carro, Piccinini & Millar, 1999;

    Worobey & Belsky, 1982). Permitir aos pais que elesdescubram e admirem as competncias interativas de seubeb pode ser um passo determinante na construo darelao que eles estabelecero com seu beb, sobretudoem situaes onde estas capacidades podem estar menos

    visveis, como na prematuridade (Brazelton, 1997). Por

    sua vez, ao mostrarem a possibilidade de mudanassignificativas na qualidade da interao, assim como napercepo dos pais sobre seus bebs, estes estudosestimularam a colaborao entre profissionais da clnicae da pesquisa da primeira infncia.

    Se por um lado, a descoberta do beb competentecontribuiu de maneira decisiva para a evoluo dosestudos nesta rea, por outro reconheceu-se cada vez maisa necessidade do ajustamento da resposta que o adultofornece ao beb como garantia do bom desenvolvimentoemocional deste ltimo (Bell & Ainsworth, 1972; Belsky,

    Rovine & Taylor, 1984). Para se revelar, as competnciasdo beb necessitavam de um parceiro adulto atento edisponvel. Assim, dois conceitos, considerados comoindissociveis, deram origem a numerosas pesquisasexplorando as contribuies do adulto interao pais-beb: a sensibilidade (sensitivity ) e a responsividade(responsiveness), sobretudo da figura materna (Ainsworth,Bell & Stayton, 1974). Estes conceitos esto intimamenteassociados teoria do apego, na qual so descritos comodiretamente implicados na formao dos diferentespadres de apego no beb (Ainsworth, Blehar, Waters &

    Wall, 1978; Bretherton, 1987). Muitos estudos comintervenes e propostas de preveno e de tratamentodos distrbios interativos tm por objetivo a promoodestas capacidades no adulto que se ocupa com oscuidados do beb (McDonough, 1995; Trad & Kernberg,1995; Whitt & Casey, 1982). Estas noes tambm

    puderam ser mais ou menos rapidamente aproximadasde conceitos de base psicanaltica que descrevem a boadisponibilidade e o ajustamento da resposta da me taiscomo, o estado de preocupao materna primria e anoo de me suficientemente boa ( good enough mother,

    Winnicott, 1969), as antecipaes criativas e a empatia(Lebovici, 1983), a harmonizao afetiva (affect attunement,Stern, 1985) e a disponibilidade emocional (Emde &Sorce, 1983). Estas noes descrevem diferentes aspectosdo dilogo de intenes, afetos e sinais emocionais quese estabelece entre o beb e seu parceiro adulto desde

    cedo e que condiciona o desenvolvimento afetivo sadioda criana (Emde, 1992).

    Vivemos hoje um momento de integrao destasperspectivas e dos conhecimentos que pudemos adquirirsobre o beb e as relaes que ele estabelece com seumeio. Assim, a dicotomia entre interaes observveis econtedos intrapsquicos cede pouco a pouco lugar anovas concepes, que procuram integrar tanto aspectoscomportamentais quanto psicodinmicos.

    Numa perspectiva diagnstica e teraputica, Mazet eStoleru (1993) descrevem diferentes perturbaes ou

    desarmonias da qualidade das interaes, que podem seexpressar atravs do excesso ou carncia de estimulaes(ex.: famlias carentes, David, Lamour, Kreisler &Harnisch, 1984; mes deprimidas, Murray, 1998), docarter descontnuo (ex.: mes psicticas, Lamour, 1989),no-contingente (ex.: comportamento de esquiva do olhardo outro; Greenspan & Lieberman, 1980), paradoxal(ex.: as respostas de um membro so contraditrias harmonia; Stern, 1977) ou regressivodas trocas didicas(ex.: relao simbitica persistente com relao aoprocesso de individuao-separao, Mahler e cols., 1975).

    Jaqueline Wendland

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    Por sua vez, Lamour e Lebovici (1991) preconizam oestudo das interaes em trs nveis: comportamental,afetivo e fantasmtico. No primeiro, observam-se asinteraes visuais (ex.: troca de olhares, comportamentode esquiva do contato olho-a-olho), as interaescorporais (ex.: qualidade dos contatos fsicos, posturasadotadas), as interaes vocais ou verbais (ex.: contedodas verbalizaes maternas, choro do beb, contingnciadas respostas vocais), os comportamentos de ternura(beijos, afagos, abraos) e os sorrisos. As interaes afetivasdizem respeito ao clima afetivo das interaes e influnciarecproca da vida emocional do adulto e do beb.Situaes patolgicas como a de uma me deprimidacom seu beb mostram o quanto este ltimo capaz deperceber e de sofrer em conseqncia dos afetos negativos,da no-contingncia ou da inexpressividade que lhedirige sua me (Field, 1987).

    Por fim, a interao fantasmtica se define como ainfluncia recproca da vida psquica da me e de seubeb. Nesta perspectiva, estuda-se a maneira como oscontedos psquicos de ambos os parceiros se manifestamnas interaes observveis e o modo como os fantasmasde um respondem ou modificam os fantasmas do outro(Brazelton & Cramer, 1991; Kreisler & Cramer, 1981).O lugar ocupado pelo beb na problemtica psquica desua me (em particular, na resoluo do conflito edipiano),do casal e na histria transgeracional de sua famlia soaspectos fundamentais nesta abordagem. Alm destes

    aspectos, conceitos como o do beb imaginrio e bebfantasmtico, assim como o de mandato transgeracionalilustram a importncia que dada s representaes nesteponto de vista (Lebovici, 1983, 1994a, 1994b). Acompreenso de como se articulam representaes,fantasmas, projees, afetos, desejos e comportamentosno desenrolar das interaes constitui ao mesmo tempoo desafio e o mrito do estudo das interaes segundoesta abordagem. Para tanto, a formao clnicapsicodinmica do pesquisador considerada comoindispensvel.

    Se as contribuies da me foram privilegiadas em

    detrimento do papel do beb durante dcadas, pode-sedizer que a figura do pai tambm foi negligenciada atrecentemente. Em 1975, Lamb designava os pais, comrazo, como contribuidores esquecidos dodesenvolvimento infantil. Pouco a pouco, os estudosenvolvendo o pai se multiplicaram e, atualmente, o papeldo pai durante a gravidez e posteriormente junto me,ao beb e relao me-beb no pode mais sernegligenciado. Enquanto instituio sociocultural, apaternidade tem se transformado rpida e constantementeao longo da histria da civilizao ocidental (Knibiehler,

    1988). As profundas mudanas de ordem social, culturale familiar tm questionado a identidade do homemenquanto pai. Estas transformaes encontram umparalelo na literatura psicolgica e sociolgica: dos novospais ou pais modernos da dcada de 70, passamos afalar da paternagem, designando o caregivingdo pai(Hurstel, 1996; 1997), da paternidade de proximidade,noo psicanaltica que explora as relaes entre a recenteproximidade fsica pai-criana e a distncia simblicanecessria instalao da autoridade paterna (Cupa-Prarde cols., 1994) e dos pais implicados nos cuidados masdiferenciados da me quanto a seu papel (Le Camus,1995, 1997), para chegarmos hoje aos paissuficientemente presentes (Zaouche-Gaudron, 1997),conceito que se inspira nas noes de Winnicott a respeitoda sensibilidade materna nas primeiras semanas de vidado beb (1969).

    O lugar ocupado pelo pai tem sido estudado a partirde trs perspectivas: seu papel, sua funo e seuscomportamentos (Le Camus, 1995; Le Camus, Labrell& Zaouche-Gaudron, 1997). Enquanto o primeiro dizrespeito s condutas socialmente prescritas e publicamenteanunciadas, a funo est ligada aos mecanismos de aoe efeitos da presena do pai sobre o desenvolvimento dacriana (Le Camus, p. 27). Por fim, os comportamentospaternos e a paternagem se referem s trocas e aoscuidados fornecidos pelo pai ao beb e so estudadosno nvel das interaes observveis. A ausncia ou

    deficincia do pai em um destes trs registros parece ter,em muitos casos, repercusses negativas para a me e amaneira como ela vive a gravidez e a maternidade, parao desenvolvimento psquico, social e cognitivo do beb,assim como para a relao que a me estabelece com suacriana (Clment, 1993; Levy-Shiff, 1982; Mamelle, 1990;

    Wendland, 1995, 1999).O crescente reconhecimento do papel do pai

    contribuiu sem dvida para novos direcionamentos,sobretudo para o estudo da trade me-pai-beb e deoutras interaes tridicas, bem como das relaes da

    famlia como um todo. A partir de uma abordagemfamiliar sistmica, os trabalhos de Fivaz-Depeursinge(1998a, 1998b), embora limitando-se microanlisecomportamental, tm mostrado como o beb capazde partilhar sua ateno quando se encontra na presenade seus dois pais. Por outro lado, os estudos com a famliatambm levaram a reconsiderar as interaes dos paisentre si enquanto casal e o modo como a chegada dobeb modifica o equilbrio conjugal e conduz assunode novos papis (Bydlowski, 1997; Clment, 1993;Lemaire & Fivaz, 1989; Stoleru, 1995).

    A Abordagem Clnica das Interaes Pais-Beb: Perspectivas Tericas e Metodolgicas

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    Apesar destas mudanas, levando a perspectivas cadavez mais amplas, observamos que o contexto social emque ocorrem as interaes, no sentido ecolgicopreconizado por Bronfenbrenner h mais de duasdcadas, continua pouco considerado nestas pesquisas(Bronfenbrenner, 1977). Embora os estudos interculturaiscorrespondam em parte a esta perspectiva, raramente afamlia tem sido estudada enquanto parte inserida emum sistema mais amplo (bairro, comunidade, subgrupocultural).

    Perspectivas Atuais e Consideraes Finais

    Os estudos atuais parecem dedicar menos interesse a

    questes metodolgicas e divergncias tericas e focalizamsua ateno nas repercusses da qualidade das interaesnos primeiros perodos da vida para o desenvolvimento

    ulterior do beb. O estudo das interaes entre o beb eas pessoas que se ocupam dele em diferentes contextos esituaes de vida tem implicaes significativas do pontode vista clnico. Sabe-se hoje que as perturbaes destasinteraes constituem, em muitos casos, o nico eprimeiro indcio de dificuldades ou perturbaes em viasde instalao no beb ou na criana pequena. Assim, oestudo das interaes pais-beb, na rea da clnica,comporta uma dimenso preventiva evidente (Mazet &Feo, 1996), que tem influenciado tanto os objetivos quantoas metodologias de pesquisa empregados.

    A colaborao entre pesquisadores de diversas rease de profissionais que tratam o beb tem possibilitado arealizao de estudos originais, interinstitucionais einterdisciplinares, por vezes seguindo novas modalidades,tais como a de pesquisa-ao-formao (Job-Spira,Lamour, Gabel, Chambrun & Lebovici, 1988). Nesteltimo caso, o estudo pode comportar, alm da pesquisapropriamente dita, uma ao sobre o meio ambiente,bem como a formao do pessoal engajado nos serviosque atendem pais e bebs.

    Dentre os temas que tm merecido ateno crescentenesta rea, podemos citar as diversas situaes encontradas

    freqentemente nas sociedades ocidentais atuais queexpem pais e beb ao risco, tais como: a depressomaterna (Cummings & Davies, 1994; Mazet, Conquy,Latoch & Rosemblum, 1990; Murray, 1998); os distrbiosmentais presentes em um dos pais (Lamour, 1989); asmes portadoras de HIV (Mandelbrot, 1998; Weil-Halpern, Veber, Blanche, Dulige & Griscelli, 1989); asmes alcolatras ou toxicmanas (Manzano & Palacio,1990); os bebs que apresentam anomalias congnitas,mal-formaes ou doenas crnicas (Gillot de Vries,Detraux, Vanden-Eynde, 1998); famlias migrantes ou em

    ruptura com seu meio de origem (Moro & Mazet, 1998);famlias com problemas mltiplos (Greenspan e cols.,1987; Stoleru & Morales-Huet, 1989); famliasmonoparentais e mes adolescentes (Clment, 1993;Deschamps, 1993; Wendland, 1999); bebs prematuros(Harrisson & Magill-Evans, 1996); bebs concebidos

    atravs de tcnicas de reproduo assistida como ainseminao artificial (Roegiers, 1998), entre outrassituaes. Estes estudos tm mostrado que tantodificuldades ligadas ao contexto (familiar, cultural, scio-econmico) quanto a presena de problemas fsicos oumentais no beb ou em sua famlia tendem a repercutirnegativamente nas interaes pais-beb. Em conseqncia,podem-se observar no somente perturbaes da relaoou do vnculo afetivo (ex.: carncia de cuidados maternos,negligncia e maus-tratos, apego inseguro, problemas docomportamento), mas tambm a presena de problemas

    psico-funcionais no beb, que evidenciam a estreita relaoentre o psquico e o somtico nas crianas pequenas (ex.:problemas do sono, perturbaes digestivas erespiratrias, alergias) (Kreisler, 1995; Robert-Tissot e cols.,1989; Wendland, no prelo). Alm destes aspectos, o campodas interaes pais-beb tambm convida o pesquisadore o clnico ao desafio de examinar as relaes entrecontedos representados (ex. representaes maternas dobeb imaginrio e fantasmtico) e comportamentosinteragidos (interao comportamental com o beb real)(Ammaniti, 1991; Stoleru, Morales & Grinschpoun, 1985).

    Por fim, deve-se lembrar que permanecem muito

    atuais os estudos interculturais (Bornstein e cols., 1992,1998; Fracasso, Lamb, Schoelmerich & Leyendecker,1997; Stevenson-Hinde, 1998), uma vez que aspectossociais e particularidades culturais no somente continuama gerar estudos comparativos, mas tambm tm sidolevados em conta na formulao de novas abordagensteraputicas do beb e de sua famlia, tais como aetnopsiquiatria (Moro, 1993; Nathan & Moro, 1989).

    Ao concluirmos este artigo, cabe ressaltar que estareviso no pretende ser exaustiva dos trabalhos realizadosnesta rea. Naturalmente, ela no pode cobrir a vasta ediversificada contribuio dos numerosos estudos

    desenvolvidos nas vrias disciplinas que se interessam pelobeb e suas interaes. Neste sentido, deve-se tambmnotar que ao privilegiarmos a perspectiva da clnica e dodesenvolvimento scio-emocional do beb, por ser estanossa rea de atuao, no abordamos outros camposbastante proeminentes como o das relaes entre asinteraes pais-beb e o desenvolvimento cognitivo e dalinguagem (Lyra, Pantoja, Cabral & de Souza, 1995;Papousek, 1998). Assim, o estudo das primeiras relaesda criana com seu meio, enquanto experinciasfundamentais no desenvolvimento do ser humano, nos

    Jaqueline Wendland

    Psicologia: Reflexo e Crtica, 2001, 14(1), pp. 45-56

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    parece ser um campo frtil e relevante para a pesquisa ea prtica de novas abordagens psicolgicas.

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    Sobre a autora:Jaqueline Wendland

    Psicloga, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento (Universidade Federal do Rio Grande do Sul,Porto Alegre, Brasil) e Doutora em Psicologia Clnica (Universidade de Paris XIII, Frana). Professorade Psicologia Clnica e Psicopatologia na Universidade de Lille III (Frana) e psicloga clnica na UnitPetite Enfance, Hospital Piti-Salptrire, Paris (Frana).

    Recebido em 01.08.2000

    Revisado em 05.11.2000

    Aceito em 05.12.2000

    Jaqueline Wendland

    Psicologia: Reflexo e Crtica, 2001, 14(1), pp. 45-56