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A Ação Afirmativa e o respeito aos princípiosde Igualdade e Dignidade da PessoaHumana

Estudo das Ações Afirmativas no direito brasileiro, tendo como objetivoprecípuo verificar se este mecanismo respeita os PrincípiosConstitucionais da Igualdade e da Dignidade da Pessoa Humana.

Por Willian Lofy

RESUMO

Tratará a presente pesquisa do estudo das Ações Afirmativas no direito brasileiro, tendo comoobjetivo precípuo verificar se este mecanismo respeita os Princípios Constitucionais daIgualdade e da Dignidade da Pessoa Humana. Será utilizado nesta pesquisa o método indutivo,utilizando-se das técnicas do fichamento, das categorias, do conceito operacional e doreferente. Espera-se, ao final, ter investigado se as Ações Afirmativas respeitam os referidosprincípios ou se, ao contrário, reforçam as desigualdades entre as pessoas humanas.

ABSTRACT

It will say the present research the study of the Affirmative Actions in the Brazilian Right, having asobjective to a preferential share to verify if this mechanism respects the Constitutional Principles ofthe Equality and the Dignity of the Person Human Being. The inductive method will be used in thisresearch, using itself of the techniques of the notation, the categories, the operational concept andthe referring one. One expects, to the end, to have investigated if the Affirmative Actions respect thecited principles or if, in contrast, they strengthen the inaqualities between the people human beings.

INTRODUÇÃO

Este artigo científico fará análise das Ações Afirmativas perante a Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil (BRASIL, 2002), especialmente no que tange aos seus artigos 1º e 5º.

A presente análise justifica-se devido à necessidade da observância dos Princípios de Igualdadee Dignidade da Pessoa Humana plasmados na Constituição da República Federativa do Brasil. Aobservância dos referidos princípios será considerada em face à adoção de Ações Afirmativasque visam minimizar alguns problemas sociais decorrentes das diferenças que as pessoashumanas apresentam, tais como as diferenças da cor da pele e as limitações motoras e/ou

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mentais decorrentes de doenças e/ou deficiências intelectuais ou físicas.

O problema que enseja este artigo questiona se as Ações Afirmativas respeitam os Princípiosde Igualdade e Dignidade da Pessoa Humana, ou se o referido mecanismo consiste no reforçodas desigualdades entre as pessoas humanas.

Neste sentido, a partir do exposto, reforça-se a importância e relevância da presente pesquisapara investigar se o mecanismo de Discriminação Inversa respeita tanto o princípio daIgualdade, como o da Dignidade da Pessoa Humana, para, então, refutar ou não a hipótese deque este venha a reforçar as desigualdades entre as pessoas humanas.

No desenvolvimento da pesquisa será utilizado o método dedutivo, com as técnicas dapesquisa bibliográfica, do fichamento, das categorias, do conceito operacional e do referente(PASOLD, 2002).

1 A IGUALDADE COMO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL IDENTIFICADO NA CRFB/88

De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa [1], o verbete igualdade, de origemlatina aequalitate, é um substantivo feminino significando: 1. Qualidade ou estado de igual,paridade; 2. Uniformidade, identidade; 3. Eqüidade, justiça.

O artigo 1º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 02/10/1789, cunhou oprincípio de que os homens nascem e permanecem iguais em direito (Déclaration des droits del’Homme et du citoyen. Article premier – Les hommes naissent et demeurent libres et égaux endroits).

A Igualdade (égalité) foi um dos lemas da Revolução Francesa, de 1789, considerada a maisimportante realização da história contemporânea. Com base nos ideais iluministas, igualdadeecoou em todo o mundo, derrubando os regimes absolutistas.

A Constituição Federal de 1988 alberga vários valores fundamentais, dentre os quais está oPrincípio da Igualdade. No preâmbulo desta Carta, já encontramos destaque ao referidoprincípio:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte parainstituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais eindividuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiçacomo valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundadana harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacíficadas controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil. [grifo nosso]

Já em art. 5º, a Constituição Federal de 1988, estatui:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-seaos brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,à igualdade, à segurança e à propriedade [...]. (BRASIL, 2002, p. 15) [grifo nosso]

Assim, podemos perceber a preocupação basilar legislativa constituinte, em dirimir as espéciesde discriminação, seja ela qual for a natureza.

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Todavia, uma leitura menos comprometida pode nos fazer acreditar, ao interpretarliteralmente esta norma, que devemos tratar igualmente a todos. Contudo, Aristóteles (2001, p.139), em sua Ética a Nicômaco já afirmava:

Se as pessoas não são iguais, não receberão coisas iguais; mas isso é origem de disputas dequeixas (como quando iguais têm recebem partes desiguais, ou quando desiguais recebempartes iguais).

Tal jusfilósofo, nada mais quer dizer que, devemos tratar os desiguais de forma diferenciadapara que possamos, enfim, alcançar a almejada isonomia.

Da mesma forma disse Rui Barbosa em seu discurso Oração aos Moços, quando paraninfo daFaculdade de Direito de São Paulo, em 1920:

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medidaem que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é quese acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou daloucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdadeflagrante, e não igualdade real. (BARBOSA, 2003, p.19)

Para conceituar o Princípio de Igualdade, melhor é a definição de Bandeira de Mello (1984, p.39):

Em síntese: a lei não pode conceder tratamento específico, vantajoso ou desvantajoso, ematenção a traços e circunstâncias peculiarizadoras de uma categoria de indivíduos se nãohouver adequação racional entre o elemento diferencial e o regime dispensado aos que seinserem na categoria diferenciada.

Assim, entende-se que o Princípio de Igualdade, mais que uma expressão do Direito, é umamaneira digna de se viver em sociedade, onde visa num primeiro momento “propiciar garantiaindividual” e num segundo “tolher favoritismos” (MELLO, 1984, p.23). Quanto ao conceito deDignidade, trataremos no tópico a seguir.

2 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO VALOR-GUIA DA ORDEMJURÍDICA

A origem etimológica do termo dignidade é a expressão latina dignitas, que significa“respeitabilidade”, “prestígio”, “consideração”, “estima”. Porém, neste estudo, aplicaremos oconceito de Dignidade da Pessoa Humana, encontrado na doutrina jurídica-constitucional(ALMEIDA, 2004, p. 24).

É correto se referir à Dignidade da Pessoa Humana como Valor ou Princípio, pois assim salientaAlves (2002, p.125):

[...] parece acertado concluir que a designação de “valor” ou de “princípio”, quando referida aopapel reservado à idéia de dignidade da pessoa humana inscrita no ordenamentoconstitucional, quase sempre é feita em sentido unívoco, na medida em que tais expressões seprestam a indicar, quase que de maneira uniforme em todos os doutrinadores que sedebruçam sobre essa temática, um sentido de normatividade e cogência, e não de meras

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cláusulas retóricas ou de estilo, ou manifestações de bons propósitos. Reveste-se, pois, aocontrário, verdadeira força vinculante, de caráter jurídico, apta a disciplinar as relações sociaispertinentes, como “fonte de direito subjetivo, ou seja, como supedâneo e pretensões jurídicasdeduzíveis em juízo”.

Isto posto, precisamos diferenciar “princípio” de “valor”, o que vem ignorando-sediuturnamente na doutrina, como se ambos tivessem o mesmo conteúdo semântico. RizzatoNunes (2002, p.5) bem faz esta distinção quando diz que

[...] enquanto o valor é sempre um relativo, na medida em que ‘vale’, isto é, aponta para umarelação, o princípio se impõe como um absoluto, como algo que não comporta qualquer tipode relativização. [...] O valor sofre toda a influência de componente histórico, geográfico,pessoal, social, local, etc. e acaba se impondo mediante um comando de poder que estabeleceregras de interpretação – jurídicas ou não [...]. O princípio, não. Uma vez constatado, impõe-sesem alternativa de variação.

Segundo a doutrina de Sarlet (2001, p.27), a Dignidade é “qualidade intrínseca e indissociávelde todo e qualquer ser humano”, constituindo-se em “meta permanente da humanidade, doEstado e do Direito”, sendo ainda a Dignidade “algo real”, inerente à pessoa humana.

Assim, trataremos nesta pesquisa, a Dignidade da Pessoa Humana, como Princípio e Valor,seguindo o posicionamento de Sarlet (2001).

A Dignidade da Pessoa Humana como princípio fundamental, constitui valor-guia de toda aordem jurídica, caracterizando-se indispensável para a ordem social:

O que se percebe, em última análise, é que onde não houver respeito pela vida e pelaintegridade física e moral do ser humano, onde as condições mínimas para uma existênciadigna não forem asseguradas, onde não houver limitação do poder, enfim, onde a liberdade ea autonomia, a igualdade (em direitos e dignidade) e os direitos fundamentais não foremreconhecidos e minimamente assegurados, não haverá espaço para a dignidade da pessoahumana e esta, por sua vez, poderá não passar de mero objeto de arbítrio e injustiças. (SARLET,2001, p.59).

Ressalta-se ainda a importância da Dignidade da Pessoa Humana com os seguintesensinamentos de Sarlet (2001, p.101):

[...] principio da dignidade da pessoa humana assume posição de destaque, servindo comodiretriz material para a identificação de direitos implícitos (tanto de cunho defensivo comoprestacional) e, de modo especial, sediados em outras partes da Constituição.

Finalmente, ainda seguindo Sarlet (2001), podemos dizer que a Dignidade da Pessoa Humanaestá na qualidade intrínseca de indissociável de todo ser humano, por este ser titular dedireitos e deveres fundamentais, que, sendo respeitados e assegurados pelo Estado,proporcionam condições mínimas para uma vida digna em harmonia com os demais sereshumanos.

3 AS AÇÕES AFIRMATIVAS E O RESPEITO AOS PRINCÍPIOS DE IGUALDADE E DIGNIDADE DAPESSOA HUMANA

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Buscando atender aos Princípios da Igualdade e da Dignidade da Pessoa Humana, o Estadoacaba por promover o bem comum, para que todos os cidadãos venham a conviversocialmente em paz e harmonia.

Para que se alcance tais objetivos, o Estado promove um conjunto de estratégias políticaschamadas de Ações Afirmativas, com origem nos Estados Unidos da América, dandotratamento diferencial àqueles que vêm sofrendo derrotas seculares na luta pelos bens sociais(empregos, vagas em universidade, etc.), ou seja, estipulando cotas para as minorias sociais(SELL, 2002, p. 9).

Segundo Sell (2002, p.15), podemos conceituar a Ação Afirmativa:

A Ação Afirmativa consiste numa série de medidas destinadas a corrigir uma forma específicade desigualdade de oportunidades sociais: aquela que parece estar associada a determinadascaracterísticas biológicas (como raça e sexo) ou sociológicas (como etnia e religião), quemarcam a identidade de certos grupos na sociedade.

As Ações Afirmativas são, portanto, uma chance combater certas injustiças sociais no presente,atacante o problema social da exclusão por discriminação e servindo, conseqüentemente, a umobjetivo social útil:

Todo cidadão tem o direito constitucional de não sofrer desvantagem, pelo menos nacompetição por algum benefício público, porque a raça, religião ou seita, região ou outro gruponatural ou artificial ao qual pertença é objeto de preconceito ou desprezo. (DWORKIN, 2000,p.448)

Assim, analisaremos então se as Ações Afirmativas violam o Princípio da Igualdade, previsto naConstituição Federal.

Celso Antônio Bandeira de Mello (1984, p.17) afirma que desde que seja apresentado “umvínculo de correlação lógica entre a peculiaridade diferencial acolhida por residente no objeto,e a desigualdade de tratamento em função dela conferida”, deve ser reconhecido comoconsoante ao Princípio da Igualdade.

Ainda devemos considerar o conceito de Renata Malta Villas-Bôas acerca das Ações Afirmativas“[...] como sendo um conjunto de medidas especiais e temporárias tomadas ou determinadaspelo Estado com o objetivo específico de eliminar as desigualdades que foram acumuladas nodecorrer da história da sociedade”.

Mas perante aos Valores e Princípios da Igualdade e da Dignidade da Pessoa Humana, estariamas Ações Afirmativas realmente diminuindo as diferenças entre os desiguais, ou estará apenasservindo o papel de preconceito racial de forma invertida?

Mister se faz ressaltar que a própria Carta Constitucional, em seu art. 3º, IV determina comoobjetivo fundamental do Estado, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Assim, com uma leitura do referido artigo, à luz do Princípio da Igualdade, podemos afirmarque o mesmo não só autoriza a criação das Ações Afirmativas, mas sim obriga o Estado apromover tal política.

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Por fim, diante o exposto, podemos perceber que a Constituição Federal na busca alcançar aIgualdade material, permite a criação das políticas das Ações Afirmativas que restrinjam aIgualdade formal, não ensejando assim a violação aos valores de Igualdade e Dignidade daPessoa Humana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estado brasileiro, desde que foi promulgada a Constituição Federal de 1988, prega pelaequiparação jurídica dos segmentos da população socialmente excluídos de longa data, comoaqueles fatores de raça, cor e sexo.

Assim, ao invés de promover políticas públicas que venham beneficiar a todos os cidadãos, oEstado passa a considerar estes fatores na hora de legislar, visando diminuir as diferençassociais entre o mais e os menos favorecidos.

Com isto, a política das Ações Afirmativas vem fazer com que esta diferença entre classes,raças, etc. seja reduzida. Um exemplo disto, é o art. 37, VIII da CRFB/88 (regulamentado pela Lei7835/89) que institui a reserva legal de vagas em concursos públicos para os deficientes físicos.

Diante toda a pesquisa realizada, nos parece claro que o ordenamento jurídico brasileiro nãosó autoriza o Estado a promover as políticas das Ações Afirmativas, mas sim as impõem a fimde que sejam alcançados o direitos fundamentais fulcrados no artigo 3º de nossa Carta Magna,pois na sua redação temos o emprego de verbos como “erradicar, reduzir e promover”,devendo o Estado desenvolver um comportamento ativo, positivo [2].

Pudemos observar nesta pesquisa, tanto o Princípio da Igualdade, fundado no art. 5º daCRFB/88, quanto o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, este com alicerces no art. 1º, IIIda Carta Magna.

Ao somarmos estes Princípios e verificando-se que é imperioso construir uma sociedade combases na Dignidade da Pessoa Humana, assim podemos notar que a isonomia almejada no art.5º da CRFB/88, nos autoriza tratar as pessoas iguais de forma idêntica e as diferentes entre si,de forma diferenciada.

Por fim, entendemos que as políticas das Ações Afirmativas não só respeitam os princípios emestudo, mas também são capazes de produzir medidas que diminuam as barreiras dadesigualdade social, afastando-se assim a tese de que possam vir a reforçar as desigualdadeentre as pessoas humanas.

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS

ALMEIDA, Evelise. A legislação aplicável às pessoas portadoras de necessidades especiais:o respeito aos Princípios da Dignidade da Pessoa Humana e da Igualdade, à luz da TeoriaGarantista. Itajaí: UNIVALI, 2004.

ALVES, Cléber Francisco. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: oenfoque da doutrina social na igreja. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2001.

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BARBOSA, Rui. Oração aos Moços. Martin Claret: São Paulo, 2003.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de1988. 29. ed. atual. e amp. São Paulo: Saraiva, 2002.

DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípio. Trad. Luís Carlos Borges. São Paulo: MartinsFontes, 2000.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3.ed. Curitiba: Positivo, 2004, p.1232.

FRANÇA. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. De 26 de agosto de 1789.Disponível em: < http://www.fm-fr.org/fr/article.php3?id_article=33>

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio de igualdade. 2.ed. SãoPaulo: Revista dos Tribunais, 1984.

NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana:doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2002.

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para opesquisador do Direito. 7 ed. rev. atual. e amp.Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002.

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais naConstituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.

SELL, Sandro Cesar. Ação afirmativa e democracia racial: uma introdução ao debate noBrasil. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2002.

VILAS-BÔAS, Renata Malta. Ações Afimativas. Revista Jurídica Consulex. Nº 163, de 31 deoutubro de 2003. p.57-59.

[1] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3.ed. Curitiba: Positivo, 2004, p.1232.

[2] ROCHA, Maria Elizabeth Guimarães Teixeira, em entrevista à Revista Jurídica Consulex, nº159 de 31 de agosto de 2003.

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