A analise do modelo brasileiro de Celso Furtado

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  • 5/11/2018 A analise do modelo brasileiro de Celso Furtado

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    CARLOS E . S ILVE IRAA "ANALISE DO MODELO BRASILEIRO"DE CELSO FURTADO

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    o ultimo livro de Celso Furtado tem alcaneado indicesde venda bastante expresslvos, e em sua tercelra ediclocontinua a manter os primeiros lugares em venda. Nilo ~dificil encontrar suas razoes. "Modelo Brasileiro", "MilagreBrasileiro" ou "Desenvolvimento Recente", como quer que sedenomine, a verdade ~ que 0debate em torno desse tematern predomlnado entre aqueles que se interessam pelos desti-nos do pais, e este interesse se redobra quando um intelectualdo porte de Celso Furtado se propoe a analisa-lo, indo asraizes, aos fundamentos e ao futuro da economla e da socie-dade nacional. 0 livro tern lei tor certo entre 0 pliblicocansado do bombardeio das vozes rnonofonicas a entoar Ioase auto-eloglos, e sequioso de interpretaeoes independentes ehonestas.o Ilvro ~ composto de dols artlgos: "AnAlise do ModeloBrasileiro" e "A Estrutura Agraria no SubdesenvolvimentoBrasileiro". Para Celso Furtado 0 Ilvro representa maisuma abordagem de problemas naclonais que trazem comomarco metodol6gico a tentativa de identificarem-se, a partirde uma globalizaCao hist6rica, "os elementos estruturais quepermitem, num corte 'temporal, reduzir a realidade sociala urn sistema a que se podem aplicar as instrumentos daanalise econOmlca".

    No prlmeiro ensaio, Furtado procura situar 0 diagn6s-tico da recente expansse da economla brasUeira no contextode nossa formaCao hist6rica especifica, como pais subde-senvolvldo, 0 tema do subdesenvolvimento e sua 6ticaparticular fornecem 0 principal marco conceitual da analise.Para ele, 0 subdesenvolvlmento serla uma das principalsconsequencias da nova Divisiio Internacional do Trabalhoestabelecida pela Revolueao Industrial. Esta assume desdeo inlcio duas formas: - como transtormecao de tecnicasprcdutlvas e como modlficacao nos padrOes de consumo --,mas s6 uma delas se espalharia pelo mundo, ficando asmudancas tecnol6gicas limitadas a certas Areas do globo.>Forma-se entao 0 desequilibrio estrutural, reconhecido naexlstencla dos paises desenvolvidos (com acesso a novatecnologia) e subdesenvolvidos.

    o subdesenvolvimento se apresenta asslm como urna"transtormacao nos padrOes de con sumo (mesmo que taltranstormacao afete apenas uma minorla da populacao daarea em questao) sem que concomitantemente se modifi-quem as tecnicas de producao". 0 consumo de uma mino-ria se diversfica ao nlvel da situacao dos "desenvolvidos",mas nao se difunde ao conjunto do sistema econemleo talqual ocorre naqueles palses. 0 duali8mo estruturaZ - jllque ha dlversiflcacllo sem dlfusao - e portanto inerente aosubdesenvolvlmento, Mesmo a industrializacao havida emalgumas dessas economias nao Ihes alterou 0 carater, namedida que se fizeram pelo mecanismo de substltuleaode Importacoes. Tanto pelo Iado do consumo - imitativoe altamente influenclado pelo chamado "efelto-demonatracjio"- como pelo controle do capital, a "dependencia" perma-nece, e este e meramente um Dutro aspecto do mesmofenOmeno, qual seja 0 subdesenvolvimento.

    A partir desse enquadramento est rut ural, a experienciabrasileira e entaD analisada,165

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    Numa breve lncursao hist6rica, Furtado remonta aVargas em seu primeiro governo. Nesse periodo, dada aausencia de hegemonia de qualquer grupo, 0 Estado passaa assurnlr responsabllidades novas e crescentes, gozando deconslderavel Independencia em suas. declsoes. Estabelece-seuma allanea entre "a classe politica tradicional e as forcasarmadas", definindo-se uma nova politica, tavoravel alndustriallzaefio, 0 Estado, com novas responsabilidades econduzldo n uma rnalor lnterferencla na economia atravesdos mecanismos fiscal e cambial e na realizacao de Inves-timentos diretos.

    A orientacjio industrializante teria como ponto de par-tidas as restrtcoes havldas no comerclo exterior, e por meca-nlsmo baslco a "substltuicao de Importecees". A inflacaooporarla no sentido de favorecer a acumulaclio no novopolo dinamico constituido pela industria moderna, fato queagravara ainda mais a concentraeao de renda caracteristicadas estruturas subdscnvolvidas. Esta concentracao seria 0principal fator a llrnltar a difusiio do progresso tecnico aoconjunto da socledade, Com Isso, 0 consume das camadasprivilegladas gera uma demanda efetiva extremamentesofisticada e diversificada, mas que se revel a inca paz deabsorver todo 0 potencial produtlvo inscrito na economla,dada a sua inslgnificlincia quantitativa. 0 decUnio da taxade crescimento industrial no periodo 1961-1967 se prenderiaa esse conjunto estrutural que tern como causa baslca alnsuflciencia "cronlca" da demanda. Outros fatOres deordem conjuntural - dificuldades momentllncas de acesso.ao credlto externo, 0 deficit do setor publico, a pressfioInflaclonarla - se Inscrevem dando forma a crise, cujalatencla ja se estabelecia pela propria situacao estruturalde subdescnvolvlmento.

    A partir de 1964 ocorre nova recomposicao na estru-tura de poder, com 0 grupo industrial ganhando a hege-monia nessa estrutura, reunindo entao eondlcdes para "urnensalo de reformas estruturais vlsando a eliminar os pontesde estrangulamcnto rosponsavels pela perda de dlnamlsmodo sistema". A estrategla segulda orlentou-se entao emtres sentidos: 1) Reorientacjio do processo de concentracao,favorecenda. POI' urn lado a formacao de capital fixo, e POI'outro, promovcndo a ampllnc:ao do mercndo consumidor debcns duravets. A redlstrlbulcfio se faria ern favor das"classes medias altas" principal mente, e a reformulaejio dosistema flnanceiro seria 0 principal agente promotor;2) Reducfio da taxa de salartos reais em relacao a pro-dutivldade media, sendo parte dos recursos asslm liberadostransformados em investimentos sob ortentacao do governo,com 0 flm especiflco de ampliar 0 emprego, rnlssao estaconfiada ao novo sistema habitacional em formacao; 3) Fo-mento as exportacdes de produtos industrializados tradl-clonais - calcados, textels - que enfrentam restrlcoesde demanda "conjunturals e 'estruturals". Esses Incentivosvlsarlam tarnbem equilibrar a balanca de pagamentos. 0

    As politlcas de preeos, camblo, credlto, e 0 Instltutoria correcfio monetarta permitlrlio que a Infiacao opereposltlvamente no senUdo redistribuidor desejado. 0 arrochcsalarlal estaria llgado il . necessidade de "saneamento finan-ceiro" das empresas instaladas na epoca ern que eram con-1 6 6

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    cedldos substdlos ~s Importacoes de equlpamentos, e que aoencerrar-se essa "fase", vlram-ss agravadas financelra-mente pel os custos mais elevados de reposi~io do capitaldesgastado. Em segulda a este curto perlodo dlz Furtado"que os salarios hajam continuado a baixar constitui slm-plesmente aspecto da politica social, sem. qualquer vfncuJO(grifo nosso) com 0 mecanismo de expansio". A retomadadesta se deveu antes "a inj~iio de gastos autenomos reali-zados pelo governo e classe media alta", 0 que permitiu asustentacao e amplia~iio de uma demanda agregada, adequadaa estrutura do sistema industrial instalado.

    Que condi~oes requer este sistema para se manter emexpansiio? Furtado formula tr~s condie6es: 1) Que acapacidade de pagamentos no exterior cresca a uma taxasuperior a do Produto Interno Bruto; 2) Que 0 SetOl'Publico continue se expandindo como fonte geradora deempregos; 3) Que 0 setor industrial "de ponta" mantenhaseu dlnamlsmo.A longo prazo 0 @xlto do sistema parece llgar-se atransformacjio dos assalariados de alto nivel em titularesde neoes que the garantam a participacao nas rendas docapital, na condtcao de "semi-rentlstas". 0 objetivo centraldo modele estaria na "criaciio de um capitallsmo popularem beneflcio de uma minoria". Ao Estado caberia entao:1) Assegurar que a demand a de bens duravels de consumose expanda adequadamente; 2) Promover a criacio de umfluxo minima de empregos. 0 modele brasileiro terlnseg.uldo uma "variante de capitallsmo de estado, que requerpara 0 seu funclonamento normal uma intima artlcutacaoentre a classe empresarial e os poderes publlcos".

    Furtado discute ainda as posslbllidades que se abrema generallzacjio do modelo a outros paises, centrando-senos casos mexicano e argentino. Sua aprectacao glra emtorno da resposta brasileira a uma questao estrutural dosubdesenvolvimento, presente tambem nos outros subdesen-'volvldos, ou seja: Dado que 0 "modelo brasileiro" consisteem ultima instiincla na tentative de restabe1ecer 0 "ane1de feedback fundamental" (nome dado a "Interacao q.ueexiste entre 0 fluxo de salarios e 0 cresclmento da produ-tivldade do trabalho", e que envolve desenvolvimento tecno-16gico, disputes entre "Iorcas socials" pelos Incrementos doproduto, etc ... ), atraves de "urn esforco de ndaptaeao dademanda a estrutura da oferta - crescimento mats rapidodo poder de compra dos consumidores de bens duraveis -e uma aeao rna Is ampla do Estado na geraeao de empregos".Em que medida entao 0 "modelo" se constitui numa res-posta geral, vallda a outras particulares formacoes hist6ri-cas subdesenvolvldas? Ao marcar as difereneas existentesentre os dois paises cuja estrutura mais os aproxima docaso brasileiro, Furtado nao deixa duvldas quanto ~ suaespecificldade e partlcularidade.

    Ao final da analise, urn certo otlmismo parece trans-parecer. Como nossas classes dirigentes tern como "para-digma" - refletlndo e imltando - as cong~neres "desenvol-vldas", e de se erer que 0 debate emergente nesses paises,acerca do "sentldo do desenvolvlmento e da qualldade da vidaproduzida pelo atual sistema Industrial" termine por nos al-1 67

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    cancar, provocando retormulacoes e readaptaeoes no sentidode aplicar 0 "potencial produtivo da civiliza!;ao industrial iisatisfaciio das autentlcas necessldades do homem, ou seja,num estorco para elova-lo da condlcfio Infra-human a emque se encontra grande parte da populacao desses paises".Temos assistido ultlmamente, por parte de autores des-

    vinculados do esquema oficial, .um esrorco bastante serioe posltlvo no sentido de buscar os pontos relevantes deanalise que permitam a Inteligenela do processo de ores-cimento intenso do produto havido nos ultimos cinco anos.Reconhecer as categorias essenciais para 0 entendimentodo processo hlst6rico e enquadra-las na realldade brasilelra,pensando parnlelamente nas opcoes concretas que se apre-sentam, como alternativas capazes de serem conduzidassocialmente, tal tern sido, nos parece, 0 caminho trilhado.Da leitura do ensalo de C. Furtado, a lmpressaoque nos

    deixa e de que nao se lncorpora a essa corrente renovadora.Mesmo reconhecendo sua Importancla no debate ressur-gente, e que pelo momento politico vivido torna-se maiorainda ao abrir canals de discussao pelo seu prestigio e al-cance, nlio podcmos deixar de notar em sua analise autilizaciio de concertos extremamente lmprecisos e carrega-dos por vezes de subjetivismo. A analise economlca e fre-quentemente dissociada da analise politica e social, nummemento em que os fenamencs politicos se encontramImersos na mare dos fatos econemtcos . As classes socialssao praticamente excluidas, preferindo-se falar em "mas-sas desprivilegtadas", "classe alta", "classe politica", etc. 0Estado surge quase como 6rgao de vida propria, autonomo,cnpaz de mllagrcs (este slmr), tals como deflnir e concre-tlzar, por sua obra e Intoncao, urn modelo cujo objetlvo Ca "crlaclio de urn capltalismo popular em beneficio de umaminoria", como se 0 sistema capltalista pudesse ser cons-truido por declsoes centrallzadas, e mesmo, - mantendoseus tormos lmpreclsos e ambiguos - pudesse s6 occ-8io1talmente funclonar em beneflcio de uma minoria, aforao qualitative 'popular' aposto ao capitalismo, palavra sufi-clentemente vaga para ser eficiente em discursos, masvazla em anallses concretas.

    Toda a expllcacfio da crise e posterior expansao ba-sela-se no comportamento da demanda, para 0autor a espinhadorsal do sistema. A adequacfio de seu perfil Ii estruturada oferta - varlavel ex6gena, pre-Iixada pela tecnologiaimportada -, foi tornada posslvel pela redlstribulcao fun-clonal da renda em beneficio das classes medias, que viraGa compor urn numero suficientemente grande de pessoasdotadas de poder uquisltivo capaz de absorver a produefiode hens duravels de consumo, scm restrlcdes. Do ponto d~vista te6rico e ralso procurar os fundamentos reais da di-namica do sistema atraves da otica do consumo, ja que 0movel basico a impulsionar 0 sistema capitalista e a acumu-lac;:iio prlvada, Por outro lado e dificll imaginar-se 0 me-canismo pelo qual tal redlstribui~iio, de assalariados paraassalariados, encontraria curso pela simples intencionalldadede uma politica economica 1. A descricao que Celso Fur-tado procura fazer esbarra num equivoco: 0 veiculo a

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    carrear renda dos baixos estratos de renda para os altos(5% superiores, diz Furtado) seria 0 sistema financeiro aoprom over a partlclpaclto, na quaUdade de "semt-renttstas",dos assalariados de alto nivel, 0que os farla partlelpar dopolo privllcgiado do sistema, como co-partlcipantes dos Iucrosdo capital. Entretanto, se e verdade que os rendimentos da-queles que Furtado chama de "assalariados de alto nivel" seeleva ram bastante, eles provieram antes de suas pr6prias re-muneraeoes como trabalhadores, como consequencla de umaoutra ordem de fenomenos, qual seja da escassez relativade mao de obra qualificada requerida pela matriz tecnica-Instltuctonal de producao, e nao de uma lmprovavel partl-paeao nos lucros do capital. Na verdade a eoncentracao emtermos dos 5% superiores e urn dado 'ex-post' a que Fur.tado atribui uma tntencao, no sentido'ex-ante'.Viabilizando aquela transterencla Furtado cita, p. exem-

    plo, os incentivos fiscais I.' 0 Decreta-lei 157 que permltea dedueao de 12% do impesto de renda devido, para apll-ca~ao em aeoes de sociedades anenfmas, Ora, a massa dedividendos-rendimentos devolvida sob a forma de rendapara 0 contribuinte e nbsolutamente desprezlvel para for-talecer qualquer demanda (2).Mais adiante, ao analisar as condlcdes de permanenclada expansao do produto, Furtado levanta tres condicOes,todas elas de ordem econemica, mesmo que nelas interfira

    o Estado, mas este e meramente tratado cemo agente ceo-nomico promotor de ernpregos, 0 que transluz urn econo-o miclsmo Indlsf'arcado,

    Haveriamos que descer rna is a detalhes, que a Intcn-cao I.' Ilmltacao de uma resenha nao permitem, para sus-ten tar, clarear I.' aprafundar nossas dlseordanclas. Sabre.este ensaio gostariamos somente de acrescentar a incon-gruencla nit ida existente entre 0 corpo e 0 sentido do textocom suns conclusdes finais, referidas anterlormente nestaresenha. Se 0 metodo seguido foi 0 de procurar cs "ele-mentos estruturais" que vao determinar 0 comportamentogeral da eeonomia, como entender que a "superacao dacrise" se de a partir de urn debate ao nivel ideol6gicotravado nos paises desenvolvidos, como elemento totalmenteexogeno? Furtado pareee mesmo se aperceber de certainconsistencia I.' procura estabelecer 0 vinculo at raves deuma atlrmacao subjctiva I.' abstrata, qual seja, ade que "0 homem aprende com a experiencla" - por qua-lidade que the e inerente como ser, so 0 podemos entenderassirn _. Pelas suas proprias palavras : "0 esquema quevimos de esbocar da enfase, evidentemente, as atuals ten-dencias estruturais, sem ter em devida conta que 0 homemaprende pela experiencia e que em todo sistema socialem crise 0 horizonte de opeoes tende a ampllar-se, emer-gindo combinacoes tmprevislvcls de rorcas sociais que po-dem dar origem a novos anels de feedback que slgnificamautentlcas modltlcacoes qualltatlvas do sistema em seueonjunto". E cvldcnte que 0 horizonte de Furtado e fOS!!'sistema, pols os nnels de feedback so nelo se estaheleccm.16 9

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    Em seu segundo ensaio, Furtado faz um conciso esboeohist6rico da forma~ao agraria brasileira, principalmente noque se relaciona ~ estrutura de propriedade, propondo aofim "objetivos" a serem perseguidos por uma politica agra.ria que vise levar 0 "desenvolvimento" ao campo. As inter-rela~oes com 0 setor urbane (e portanto com 0 conjuntodo sistema) sao praticamente deixadas de lado, sendo bas-tante criticada pelo autor a visjio que reduz a analise daagrlcultura it mera verificacao da efici~ncla de seu compor-tamento funclonal com relacao ao desenvolvlmento Industrial- como mercado consumldor, como llberadora de mao deobra, por manter crescente a oferta de produtos agricolasBern aumcntos de preeos, etc ...

    A forma com que a exploracfio do 'novo' territ6rio des.coberto e domlnado por Portugal se revestiu - como ern-presa agricola comercial que visa a produefio para exportacfio tendo como eornblnaclio Msica de fatores de pro-dueno, a mao de obrn escrava, a terra abundnnte e quaseillmltada, e grandes Imoblllzncoes de capital -, no. reall-dade condlcionaria toda a ulterior evolucao brasilelra. Pra-tlcada sob a forma de agricultura predat6ria e itinerante,a empresa agricola criava it sua volta (oU permitia a exis-tencia) uma atividade de subslstencla, parcel aria e porvezes agregada, que, do ponto de vista da estrutura do-minante, constltuida pelo latifundio, cumpriria as funeaesde abastecer as "plantations", manter uma reserva de mAode obra e preparar a terra para futuras exploracees emgrande escala,

    Tudo isto veio garantir a permanencia no setor agrl-cola de niveis tecnicos bastante primitlvos, apesar da 'fun-clonalidade' de seu desempenho em termos do desenvolvl-mente urbano, Furtado question a entao 0 fato de que:"crescer sem capitallzar-se, mediante a destruicfio de re-cursos nao reprodutiveis, dificilmente poderia ser interpre-tado como desenvolvlmento ( ... ) ademais, ao pagar salariesde subsistencia, este tipo de agricultura Impede 0 auto-aper-Ielcoamento humane. Ora, estc aperteteoamcnto constituluma das Cormas import antes na agricultura de asslmlla-cao de progresso tecnico".Como fazer entao com que 0 progresso tecnico ehegueit agricultura, melhorando 0 padriio de vida de sua popu-laciio? A resposta estaria na "ellmlnaclio da tutela quea empresa agro-mercantil exerce sobre a massa da popu-lacao rural", 0 que se darla mediante a possibilidade quea massa rural tivesse de trabalhar por conta pr6pria emcondlcoes favoravels. Isto requer "urn arnplo esforco deasslstenela tecnica e de ajuda financeira", sendo 0 grandeproblema a ser enfrentado 0 aumento de salaries scm quefossem onerados os custos de producao, 0 que so se torn ariaviAvel pcla elevacao do padriio tecnlco. Os objctivos cntaoso resumlrlarn a: "1) Assegurar a expansdo da producao:2) Criar novos empregos em escala adequada; 3) Melhorarprogressivamente 0 nivel tecnico; 4) Assegurar a elevacaodo nivel de vida da populaeao rural em fu 1U ;ao (grifo nosso)do aumento da produtlvidade."o rumo adotado desde seus principios, pela agriculturabrasileira, esta na raiz da extrema concentracao da renda170

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    naclonal, e so se delxar de ataear 0 problema do campo."dlftellmente desenvolvimento significari no BrasU mals doque modemilac;ao de uma fachada, A margem do qual per-maneee a grande mass a da populacao do pais", concluiFurtado.Alnda neste segundo artigo Furtado comete, a nosso

    ver, 0 pecado da parcialldade, Ao referir-se apenas margt-nalmente ao conjunto do sistema econemleo, mas propondoobjetlvos amptos e gerais para 0 setor que, para se toms-rem vlavets tern de passar por decisdes e Influencias socials,econOmlcas e politicas do sistema considerado em seu todo,na verdade ellmlna elementos que se acham indissoluvel-mente ntndos ao problema. Se em certos momentos parececompreender a influencia que as esferas nao eeonemlcascxorcem na propria economia 8trictu 86118", no descreverpor excmplo 0 mecanisme de formacao e consolldaclio doregime de produclio e propriedade agricola que ~ mantido eformado em grande mcdlda pela concr~lio de um domlniopolitico que se preserva, por outro lado propOe "objetl-vos" para 0 desenvolvimento agrarlo onde despreza com-pletamente questoos como: quem tomara a sl a tarefa deconduzl-los? a que grupo de interesses tal polltlca efetiva-mente responderla? A supcrflclalldade (de resto quase lne-vltavel, a permaneeer na generalldado em que foram su-geridos) dcsses objctivos, os fazem passiveis de aceltachopor muitos que se trausformariam em radicals oposltores,caso elos fosscm concretlzados, Esta generalldsde fala amesma linguagcm dos discursos oficiais sobre a agriculturabraslleira, pois qual doles nfio propoe aumento de produtlvi-dade, melhora na situa

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    do pensamento econemlco brasileiro, que desperta renovadasesperancas e para a qual suas anterlores analises tanto con-tribuiram. Por Isso sua contribulcao neste lIvro, emboraOtll e valida, delxa de ter 0 alcance e a Importancla quepoderia ter se 0 autor tlvesse sldo rnals explicito e radicalna sua critica.Carlos E. Silveira

    NOTAS: -(1) Vor Il usc 1'l!8pplto 0 trabalho de Francisco de Oliveira: "A Economl. Brullelr.: Orltlc. l RazAo Duallsta", publlcRdo nos !DltudoBCcbrap 2.(2) Embor. as emprcsal lejam beneflcladu com 0 noTO f1uxo de capital,nlo Ie dllcutindo tamponco 0 tato du a~llel ullm cenBcguldu tranltor-maremse em llqUidel posterlDrmente, JI1