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Celso Furtado a esperança militante (Depoimentos) Vol 2

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  • Celso Furtadoa esperança militante

    (Depoimentos)

    Vol 2

  • Universidade Estadual da ParaíbaProf. Antonio Guedes Rangel Junior | ReitorProf. Flávio Romero Guimarães | Vice-Reitor

    Editora da Universidade Estadual da ParaíbaLuciano Nascimento Silva | Diretor

    Antonio Roberto Faustino da Costa | Editor AssistenteCidoval Morais de Sousa | Editor Assistente

    Conselho EditorialLuciano Nascimento Silva (UEPB) | José Luciano Albino Barbosa (UEPB)

    Antonio Roberto Faustino da Costa (UEPB) | Antônio Guedes Rangel Junior (UEPB) Cidoval Morais de Sousa (UEPB) | Flávio Romero Guimarães (UEPB)

    Conselho CientíficoAfrânio Silva Jardim (UERJ) Jonas Eduardo Gonzalez Lemos (IFRN)

    Anne Augusta Alencar Leite (UFPB) Jorge Eduardo Douglas Price (UNCOMAHUE/ARG) Carlos Wagner Dias Ferreira (UFRN) Flávio Romero Guimarães (UEPB)

    Celso Fernandes Campilongo (USP/ PUC-SP) Juliana Magalhães Neuewander (UFRJ)Diego Duquelsky (UBA) Maria Creusa de Araújo Borges (UFPB)

    Dimitre Braga Soares de Carvalho (UFRN) Pierre Souto Maior Coutinho Amorim (ASCES)Eduardo Ramalho Rabenhorst (UFPB) Raffaele de Giorgi (UNISALENTO/IT)

    Germano Ramalho (UEPB) Rodrigo Costa Ferreira (UEPB)Glauber Salomão Leite (UEPB) Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de Alencar (UFAL)

    Gonçalo Nicolau Cerqueira Sopas de Mello Bandeira (IPCA/PT) Vincenzo Carbone (UNINT/IT)Gustavo Barbosa Mesquita Batista (UFPB) Vincenzo Milittelo (UNIPA/IT)

    Expediente EDUEPBErick Ferreira Cabral | Design Gráfico e Editoração

    Jefferson Ricardo Lima Araujo Nunes | Design Gráfico e EditoraçãoLeonardo Ramos Araujo | Design Gráfico e Editoração

    Elizete Amaral de Medeiros | Revisão LinguísticaAntonio de Brito Freire | Revisão Linguística

    Danielle Correia Gomes | Divulgação

    Editora filiada a ABEU

    EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBARua Baraúnas, 351 - Bairro Universitário - Campina Grande-PB - CEP 58429-500

    Fone/Fax: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: [email protected]

  • Cidoval Morais de SousaIvo Marcos Theis

    José Luciano Albino Barbosa(Organizadores)

    Campina Grande - PB2020

    Celso Furtadoa esperança militante

    (Depoimentos)

    Vol 2

  • Depósito legal na Camâra Brasileira do Livro, confome Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004.FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA HELIANE MARIA IDALINO SILVA - CRB-15ª/368

    Estado da ParaíbaJoão Azevêdo Lins Filho | Governador

    Ana Lígia Costa Feliciano | Vice-governadoraNonato Bandeira | Secretário da Comunicação Institucional

    Claudio Benedito Silva Furtado| Secretário da Educação e da Ciência e TecnologiaDamião Ramos Cavalcanti | Secretário da Cultura

    EPC - Empresa Paraibana de ComunicaçãoNaná Garcez | Diretora Presidente

    William Costa | Diretor de Mídia ImpressaAlexandre Macedo| Gerente da Editora A UniãoAlbiege Fernandes | Diretora de Rádio e TV

    BR 101 - KM 03 - Distrito Industrial - João Pessoa-PB - CEP: 58.082-010

    Copyright © EDUEPB

    A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98.

    C766 Celso Furtado: a esperança militante (Depoimentos). [Livro eletrônico]./Cidoval Morais de Sousa, Ivo Marcos Theis, José Luciano Albino Barbosa (Organizadores). – Campina Grande: EDUEPB, 2020.6200 kb. p.: 392 - V. 2 il.

    Nota: "Projeto editorial 100 anos de Celso Furtado"Nota: EDUEPB/UNIÃO (Selo 100 Anos de Celso Furtado)ISBN: 978-65-86221-11-4 (E-book)ISBN: 978-65-86221-09-1 (Impresso)

    1. Desenvolvimento Regional - Brasil, Nordeste. 2. Celso Furtado (1920-2004). 3. Economista paraibano. 4. Celso Furtado - Cientista social. 5. Desenvolvimento econômico. 6. Desigualdades regionais. 7. Políticas de desenvolvimento - Brasil, Nordeste. I. Sousa, Cidoval Morais de (Organizador). II. Theis, Ivo Marcos (Organizador). III. Barbosa, José Luciano Albino (Organizador).

    21. ed. CDD 338.99813

  • Projeto Editorial 100 anos de Celso FurtadoCoordenação

    Cidoval Morais de SousaIvo Marcos Theis

    José Luciano Albino BarbosaEquipe

    Antonio Guedes Rangel JúniorAngela Cristina Moreira do Nascimento

    Thales Haddad Novaes de AndradeArão Azevedo

    Hipólito LucenaAntônio Roberto Faustino da Costa

    Andreza Dantas AlbuquerqueMilena Barros Marques dos SantosÂngela Maria Cavalcante Ramalho

    Andrea Carla de AzevêdoJoão Morais de Sousa

    Apoito Técnico - Volume 2Mahatma Gandhi Vieira (Cinegrafista CODECOM UEPB)

    Fábio Emerenciano (Degravação e transcrição de entrevistas)

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    Immanuel Wallerstein

    Enquanto o neoliberalismo está sob os holofotes, é defen-dido em todos os lugares e implementado até mesmo na América Latina, ouso afirmar e prever que em uma década, esse modelo da moda hoje parecerá completamente obso-leto e que as ideias de Celso Furtado voltarão a encontrar seu lugar.

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    O cepalismo e Celso Furtado1

    Immanuel Wallerstein2

    Estamos reunidos aqui para falar sobre desenvolvimento desigual, mas serei breve, porque, em grande parte, o que tenho a dizer sobre esse assunto está de acordo com o pensamento de Celso Furtado, cujas análises ainda são fundamentalmente relevantes.

    Em vez de fazer uma análise de seus escritos, que já foi feita aqui, eu preferiria refletir sobre o contexto em que Celso Furtado trabalhou. Ele obteve seu doutorado no final da Segunda Guerra Mundial e toda sua vida científica ocorreu neste período pós-guerra, durante o qual ele também desempenhou um papel de alguma importância. Participou intensamente das atividades iniciais da CEPAL e escreveu um livro par-ticularmente notável sobre esse assunto: “Fantasia Organizada”. Neste livro, C. Furtado enfatiza o grande jogo político que presidiu a imple-mentação da CEPAL. Ele nos conta como os governos, especialmente o Brasil, o México e a Argentina, contando com o apoio dos cidadãos de seu país, tiveram que lutar contra o governo dos Estados Unidos para criar essa instituição, cuja existência parece hoje tão óbvia. Claro que não foi o caso na época, pois temíamos precisamente o que aconteceu com o CEPAL: o desenvolvimento de outra perspectiva analítica, o “ce-palismo” como pode ser chamado e no qual Celso Furtado desempe-nhava um papel fundamental.

    Lembro aqui as ideias centrais do “cepalismo”. Obviamente, trata-se da dualidade centro/periferia como um conceito para estruturar, visu-alizar e analisar a economia-mundo. O que isso significa? Na minha opinião, isso pode ter vários significados: primeiro, o comércio inter-nacional não tem efeitos neutros; em outras palavras, esse comércio,

    1 Le cépalisme et Celso Furtado. Publicando originalmente em Cahiers du Brésil Contemporain, 1998, n° 33-34, p. 69-71. Tradução: Fábio Pádua dos Santos

    2 Historiador e Sociólogo, Fernand Braudel Center, Binghamton University, EUA, Presidente da Associação Internacional de Sociologia

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    como está estruturado, tem efeitos de grande importância na econo-mia-mundo e no desenvolvimento desigual. Segundo, essa antinomia implica que é preciso pensar em termos de mudanças estruturais para modificar essa situação de desenvolvimento desigual; por fim, e isso mostra o quão original é sua abordagem como economista, C. Furtado nos mostra que a história importa e é fundamental. Tendemos a não nos surpreender que Furtado tenha feito história econômica, mas isso não é óbvio e a maioria dos economistas rejeita absolutamente tal abor-dagem, considerando-a sem importância. No entanto, neste contexto, assume todo o seu significado e se encaixa, na minha opinião, nesse todo que chamo de “cepalismo”. Ele explica que se pode pensar em criar, em construir um desenvolvimento nacional no qual o Estado é inevita-velmente chamado a desempenhar um papel importante. Por fim, isso implica que é necessário pensar na distribuição de bens no mundo e em cada país, que essa é a essência do esforço político e econômico que gostaríamos de promover.

    Essas ideias nasceram entre as décadas de 1940 e 1950 e deram a volta ao mundo, mas que mundo? Um mundo em plena expansão, o mundo dos gloriosos trinta anos, um mundo claramente marcado por um sistema de dominação dentro do qual o capitalismo poderia se beneficiar de uma ascensão fabulosa, um mundo onde os Estados Unidos detinham um poder hegemônico sem limites e onde, obvia-mente, eles organizaram as coisas mais ou menos como queriam. Mas, ao mesmo tempo, este mundo viu o desenvolvimento sem precedentes dos chamados movimentos antisistêmicos: movimentos comunistas, movimentos social-democratas na Europa Ocidental, movimentos de libertação nacional na Ásia, na África, movimentos nacional-populares na América Latina, etc. Todos esses movimentos tinham um elemento comum, a saber, o compromisso com a luta contra o desenvolvimento desigual. Assim, paralelamente ao florescimento do capitalismo, esses movimentos estavam em plena expansão e, naturalmente, se aproxi-mavam, de uma maneira ou de outra, das teses da CEPAL, não na teoria, mas na prática. No entanto, na década de 1960, a extensão desses movi-mentos começou a assustar, então pensamos em abrandá-los e fizemos isso de várias maneiras. em particular pelos golpes de estado, dos quais o Brasil foi um dos primeiros a sofrer e de maneira duradoura. Isso per-mitiu à França receber o Sr. Furtado por um tempo, uma pequena com-pensação quando o povo brasileiro não estava na situação mais feliz. Também é necessário, juntamente com os vários golpes de estado em

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    todo o mundo durante e após a década de 1960, observar, a partir de um certo momento, o início da autoexplosão desses movimentos de li-bertação, esses movimentos antisistêmicos. Seria inútil insistir no que 1968 representava; lembrarei simplesmente que entramos, no final da década de 1960 e no início da década de 1970, em um período de es-tagnação, de regressão na economia-mundo, entramos no ciclo de de-semprego, o de menos lucro industrial e em uma segunda fase do ciclo financeiro. Como destacou o Sr. Destaing, nos anos 80 testemunhamos a dívida do Terceiro Mundo, mas também a dos Estados Unidos e, em particular, das grandes empresas. Uma espiral descendente, bastante normal, mas significativa, que deu origem a uma contraofensiva ideoló-gica, a miragens em que predominam as ideias – forças de mercado e o papel do FMI. Também causou o declínio do “cepalismo” mesmo dentro da CEPAL. O que aconteceu com os grandes conceitos pregados por C. Furtado na década de 1950 hoje? Eles parecem condenados ao esqueci-mento porque, para ser franco, essas não são ideias da moda.

    Essas ideias, os fatos que evocam, estão um pouco esquecidas, man-tendo sua precisão e valor. É como se tivéssemos esquecido a história, primeiro esquecido a existência de ciclos normais, essas funções ine-rentes à economia-mundo capitalista. Os ciclos que ocorreram ao redor do mundo, que tiveram consequências ideológicas, obedecem ao “efeito Kondratieff”. Após um período de expansão, há sempre um período re-cessivo, que deve ser lembrado. É também um esquecimento dos traços de longa duração dessa economia-mundo e talvez uma crise tanto do de-senvolvimentismo quanto do sistema capitalista. Há um elemento sobre o qual o Sr. Furtado talvez tenha sido um pouco otimista demais: era a possibilidade dos governantes de um Estado como o Brasil, colocar em prática, apesar de suas boas intenções, o que eles queriam alcançar em termos de desenvolvimento nacional, porque inevitavelmente eles só podiam enfrentar forças muito profundas e vigorosas. Era menos sim-ples do que se pensava na década de 1960, e essa é provavelmente a lição a ser aprendida com os fracassos.

    Mas enquanto o neoliberalismo está sob os holofotes, é defendido em todos os lugares e implementado até mesmo na América Latina, ouso afirmar e prever que em uma década, esse modelo da moda hoje parecerá completamente obsoleto e que as ideias de Celso Furtado vol-tarão a encontrar seu lugar.