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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO KÁTIA HELENA FERNANDES SIMÕES AMARO A ANÁLISE DA APOSENTADORIA ESPECIAL, COM ÊNFASE NA PROVA DO EXERCÍCIO DE ATIVIDADES SOB CONDIÇÕES ESPECIAIS SÃO PAULO 2012

A ANÁLISE DA APOSENTADORIA ESPECIAL, COM ÊNFASE NA … Helena Fernand… · de aposentadoria por invalidez antecipada, com reconhecimento de uma invalidez presumida. No mesmo sentido,

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

KÁTIA HELENA FERNANDES SIMÕES AMARO

A ANÁLISE DA APOSENTADORIA ESPECIAL,

COM ÊNFASE NA PROVA DO EXERCÍCIO DE ATIVIDADES SOB

CONDIÇÕES ESPECIAIS

SÃO PAULO

2012

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KÁTIA HELENA FERNANDES SIMÕES AMARO

A ANÁLISE DA APOSENTADORIA ESPECIAL,

COM ÊNFASE NA PROVA DO EXERCÍCIO DE ATIVIDADES SOB

CONDIÇÕES ESPECIAIS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Direito, sob a orientação do Professor Dr. Miguel Horvath Júnior.

SÃO PAULO

2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Banca Examinadora

___________________________________ Professor Orientador

Prof. Dr. Miguel Horvath Júnior ___________________________________

Professor Arguidor ___________________________________ Professor Arguidor

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Dedico essa dissertação a meus pais, Valéria Cristina e Luiz Alberto, detentores do meu profundo respeito e amor incondicional. Obrigada pela base sólida de minha existência.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente meu mestre orientador, Prof. Dr. Miguel Horvath Junior, que com maestria, sensibilidade e muita compreensão conduziu-me no árduo caminho trilhado até aqui. Meu profundo agradecimento e respeito.

Obrigada a Maria Rita Nascimento que jamais permitiu o esmorecimento,

a desistência dessa jornada antes do fim, mesmo quando o cansaço parecia vencer a determinação. A sua crença em mim foi fundamental.

Às amigas queridas e familiares amados, sobretudo meus sobrinhos e o

Miúdo, todos privados de minha presença, que tanto me apoiaram, lutando comigo minha batalha, chorando comigo minhas vitórias.

Ao Dr. Cleiton Leal Dias Junior responsável pelo meu direcionamento

profissional e acadêmico. Obrigada, sobretudo, por acender em mim a centelha da vida acadêmica, espero não decepcioná-lo.

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RESUMO

A presente dissertação visa ao estudo crítico da evolução histórica da norma que assegura a concessão de aposentadoria especial no Brasil, tendo como enfoque principal o exame dos meios de prova disponíveis ao segurado para a demonstração do exercício de atividades sob condições especiais, assim entendido como o trabalho em que há exposição a agentes agressivos à sua saúde ou integridade física do segurado, tanto no processo administrativo previdenciário quanto no processo judicial.

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ABSTRACT

This thesis aims to critical study of the historical evolution of the rule that

ensures the provision of special retirement in Brazil, having as its main focus the examination of evidence available to the insured to demonstrate the performance of activities under special conditions, as well understood as the work where there is exposure to aggressive agents to their health or physical integrity of the insured, both in administrative proceedings and in pension lawsuit

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................11

1. APOSENTADORIA ESPECIAL....................................................................13

1.1 Natureza Jurídica.......................................................................................13

1.1.1 Risco Social Protegido.....................................................................18

1.2 Análise Crítica da Evolução Histórico-legislativa.....................................24

1.3 Conceito de Aposentadoria Especial..........................................................41

1.4 Regra Matriz de Incidência da Norma Previdenciária...............................42

1.4.1 Estrutura da Norma Previdenciária...................................................42

1.4.2 Estrutura Atual da Norma Previdenciária de Concessão da

Aposentadoria Especial......................................................................51

1.4.2.1 Carência................................................................................51

1.4.2.2 Antecedente Normativo.......................................................52

1.4.2.2.1 Conceito de “Atividade sob Condições

Especiais”.............................................................54

1.4.2.2.2 O Critério de Nocividade......................................63

1.4.2.3 Consequente Normativo.......................................................66

1.5 Outras Atribuições para o Uso do Tempo Especial............71

2. A PROVA E SEUS MEIOS DE PRODUÇÃO...............................................74

2.1 Conceito de Prova.....................................................................................75

2.2 Classificação da Prova..............................................................................77

2.3 Produção da Prova ....................................................................................79

2.4 Ônus da Prova..........................................................................................84

2.5 Espécies de Prova.....................................................................................88

2.5.1 Prova Documental..........................................................................88

2.5.1.1 Instrumentos Públicos e Particulares...................................91

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2.5.1.2 Vícios dos Documentos ......................................................94

2.5.2 Exibição de Documento ou Coisa....................................................95

2.5.3 Prova Oral........................................................................................97

2.5.4 Prova Pericial..................................................................................101

2.5.5 Prova Emprestada..........................................................................105

2.6 Realização da Prova................................................................................107

2.6.1 Processo Administrativo Previdenciário – Lei 9.781/1999 e

IN 45/2010.....................................................................................108

2.6.2 Processo Judicial Previdenciário....................................................112

2.6.2.1 Rito Ordinário.....................................................................112

2.6.2.2 Juizado Especial Federal – Lei 10.259/2001.......................122

3. A PROVA DO TEMPO ESPECIAL.............................................................129

3.1 Início de Prova Material..........................................................................130

3.2 Prova da Exposição a Agentes Nocivos..................................................133

3.3 Prova Documental...................................................................................143

3.3.1 Formulários.....................................................................................143

3.3.1.1 SB-40 e DSS 8.030............................................................143

3.3.1.2 DIRBEN 8.030.................................................................148

3.3.1.3 Formulários Contemporâneos...........................................150

3.3.1.4 Perfil Profissiográfico Previdenciário..............................152

3.3.2 Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho................161

3.3.3 Outros Documentos........................................................................165

3.3.3.1 Programa de Prevenção a Riscos Ambientais – PPRA......169

3.3.3.2 Programa das Condições e Meio Ambiente de

Trabalho na Industria da Construção – PCMAT................170

3.3.3.3 Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR..................172

3.3.3.4 Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional

PCMSO...............................................................................174

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3.3.3.5 Programa de Conservação Auditiva – PCA......................178

3.3.3.6 Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia de

Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social

– GFIP...............................................................................179

3.4 Justificação Administrativa.....................................................................181

3.5 Justificação Judicial.................................................................................184

3.6 Prova Emprestada....................................................................................185

3.6.1 Força Probante da Sentença Trabalhista.........................................188

3.7 Prova Pericial............,,,,...........................................................................196

3.7.1 Prova Pericial Indireta....................................................................200

3.8 Pesquisa Externa......................................................................................203

4 CONCLUSÕES..............................................................................................205

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................216

5.1 Livros e Artigos.......................................................................................216

5.2 Monografias, Dissertações e Teses..........................................................220

5.3 Documentos em Meio Eletrônico............................................................220

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INTRODUÇÃO

A aposentadoria especial é um benefício deferido ao segurado que comprovar o

exercício de atividades realizadas sob condições especiais, de forma habitual e

permanente, por 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos.1

O objetivo do presente trabalho é o estudo da hipótese de incidência da norma

previdenciária que descreve a forma de concessão da aposentadoria especial,

examinando criticamente, sobretudo, a prova do critério material do antecedente

normativo: exercício de tempo prestado sob condições especiais.

Pois bem, seguindo esse objetivo, inicialmente parte-se do exame da natureza

jurídica da aposentadoria especial e do risco social protegido com a sua

concessão.

A fim de fixarmos a estrutura da norma previdenciária atual, será realizada uma

análise crítica da evolução histórico-legislativa das regras relativas à

aposentadoria especial.

A seguir, passaremos ao estudo da regra matriz de incidência da norma

previdenciária até chegarmos à estrutura atual da hipótese de incidência da

aposentadoria especial.

Será efetuado, ainda, um breve estudo das demais finalidades de uso do tempo

especial que não somente a concessão de aposentadoria especial.

Para o estudo dos meios de prova do exercício do tempo exercido sob condições

especiais, impende que primeiro examinemos a prova no direito brasileiro e seus

1 Doravante, passaremos a mencionar esses tempos de atividades sem colocar, por extenso, o número de anos.

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meios de produção, bem como a sua forma de realização tanto no processo

administrativo previdenciário quanto no processo judicial previdenciário, seja

aquele seguido pelo rito ordinário ou pelo rito previsto para os Juizados

Especiais Federais.

Por fim, adentraremos no estudo da prova direcionada ao processo

previdenciário concessivo da aposentadoria especial, quais sejam: as provas

documentais, orais (justificação administrativa e judicial) e periciais. No mesmo

capítulo, examinaremos, também, a admissão da prova emprestada no âmbito

judicial e administrativo e a realização da diligência externa pelo Instituto

Nacional do Seguro Social.

A cada meio de prova estudado, o leitor será direcionado para o seu modo de

realização, tanto no âmbito administrativo quanto no judicial.

1. A APOSENTADORIA ESPECIAL

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1. 1 Natureza Jurídica

A aposentadoria especial, como veremos adiante, sofreu, desde a sua inserção no

sistema protetivo brasileiro, em 1960, diversas modificações estruturais. Muitas

dessas modificações suscitaram inúmeros conflitos, sendo imprescindível a

atuação do Poder Judiciário para eliminar antinomias2 e conflitos hierárquicos

de normas.

Por tudo isso, o benefício da aposentadoria especial revela-se uma prestação

complexa, cuja natureza jurídica não é pacífica entre os doutrinadores pátrios.

Por conta justamente da complexidade anunciada, insta analisar a sua natureza

jurídica, a fim de elucidar a posição da aposentadoria especial dentro do Direito

Previdenciário, uma vez que, a partir do exame de sua natureza, poder-se-á

verificar as normas incidentes sobre a prestação.

Para Wladimir Novaes Martinez3 a aposentadoria especial é prestação

excepcional em relação à aposentadoria por tempo de contribuição, detendo

“alguma semelhança com a aposentadoria por invalidez. O segurado fica sujeito

às agressões nocivas do meio ambiente ou condição laboral artificial, sem estar

incapaz para o trabalho”.

Feijó Coimbra4 entende que a aposentadoria especial possui uma presunção de

invalidez, vejamos:

[...] a aposentadoria que se concede ao trabalhador, empenhado em atividades

que a lei julga incapacitantes após período mais curto de exercício, somente se

2 Conflito de normas. 3 Aposentadoria especial. 3ª ed. São Paulo: LTr, 2000, p. 29. 4 Direito previdenciário brasileiro. 5ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 1994, p. 173.

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poderá deferir quando o efetivo trabalho do segurado se tenha desenvolvido, não

apenas durante o prazo legal referido no texto, mas submetido, durante todo esse

prazo, às condições desfavoráveis a que a lei aludiu, como presunção do fator

invalidante. O texto legal deve ser entendido como presumindo que, após certo

tempo de trabalho (15, 20, 25 anos, conforme o caso), o trabalhador sujeito a

condições especialmente desfavoráveis de ambiente e esforço invalida-se para

qualquer ofício ou profissão, devendo ser aposentado. Tanto há, no caso, uma

presunção de incapacidade genérica para o trabalho, em tais casos, que se exige,

para conceder-se essa aposentadoria, deva o segurado afastar-se, não apenas da

atividade especial que determina a aposentadoria antecipada, mas também de

qualquer outra acaso exercida concomitantemente, o que demonstra considerá-lo

incapaz para o trabalho, genericamente.

Para referido autor, a aposentadoria especial possui, portanto, natureza jurídica

de aposentadoria por invalidez antecipada, com reconhecimento de uma

invalidez presumida.

No mesmo sentido, Celso Barroso Leite, apud Sérgio Pardal Freudenthal5,

afirma ser a aposentadoria especial “uma combinação de aposentadoria por

tempo de serviço e aposentadoria por invalidez”, razão pela qual já se cogitou a

possibilidade da sua absorção por esta última.

Miguel Horvath Junior6 entende que a aposentadoria especial é “espécie do

gênero aposentadoria por tempo de serviço. Tem aspecto especial porque requer,

além do tempo de serviço, a exposição ao risco”.

Neste contexto, a aposentadoria especial seria, portanto, uma espécie de

5 Aposentadoria especial. São Paulo: LTr, 2000, p. 16. 6 Direito previdenciário. 8ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 271.

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aposentadoria por tempo de contribuição em que se verifica risco social tutelado,

ou seja, uma aposentadoria por tempo de contribuição qualificada; qualificação

esta que se dá pelo risco social coberto, o que não existe na aposentadoria por

tempo de contribuição ordinária.

Segundo Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Júnior7, a

aposentadoria especial é, essencialmente, um tipo de aposentadoria por tempo de

serviço, com a redução deste, em virtude da peculiaridade das condições em que

o trabalho é prestado, “presumindo a lei que o seu desempenho não poderia ser

efetivado pelo mesmo período das demais atividades profissionais”.

Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari8 entendem que a

aposentadoria especial possui um intuito reparatório, muito embora seja, ainda,

uma espécie da aposentadoria por tempo de contribuição, vejamos:

[a aposentadoria especial] é uma espécie de aposentadoria por tempo de

contribuição, com redução do tempo necessário à inativação, concedida em

razão do exercício de atividades consideradas prejudiciais à saúde ou à

integridade física. Ou seja, é um benefício de natureza previdenciária que se

presta a reparar financeiramente o trabalhador sujeito a condições de trabalho

inadequadas.

Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro9 também coaduna do entendimento de que

a aposentadoria especial pressupõe uma compensação ao segurado do Regime

Geral da Previdência Social, em razão do desgaste por ele sofrido pelo tempo de

serviço prestado em condições prejudiciais à sua saúde ou integridade.

7 Comentários à lei de benefícios da previdência social. 6ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 243. 8 Manual de direito previdenciário. Florianópolis: Conceito Editorial, 2010, p. 637. 9 Aposentadoria especial: regime geral da previdência social. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2007, p. 26.

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Na mesma direção, Nilton Freitas, apud Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro10,

assevera que o instituto em comento é um benefício, em forma de compensação,

“para aqueles que se dispuseram ou não tiveram outra alternativa ocupacional, a

realizar atividades em que expunham sua saúde ou integridade física aos riscos

oriundos do trabalho, em prol do desenvolvimento nacional”.

Sérgio Pinto Martins11 também entende que a aposentadoria especial possui

caráter compensatório, mas ressalta a sua natureza extraordinária, deixando clara

a sua não relação com a aposentadoria por invalidez, vejamos:

Difere, também, a aposentadoria especial da aposentadoria por invalidez, pois

nesta o fato gerador é a incapacidade para o trabalho e na aposentadoria especial

este fato inexiste. A aposentadoria especial pressupõe agressão à saúde do

trabalhador por meio de exposição a agentes nocivos. A segunda decorre de

incapacidade e insusceptibilidade de reabilitação do segurado.

Assim como Sérgio Pinto Martins, Fábio Zambitte Ibrahim12 defende a

aposentadoria especial como um benefício extraordinário, que não advém de

qualquer outra prestação.

De nossa parte, considerando que a natureza jurídica de um benefício

caracteriza-se por sua hipótese de incidência, ou seja, pelo seu fato gerador –

que, na descrição legal é o exercício, por determinado lapso temporal, de

atividade que cause prejuízo à saúde ou integridade física do segurado –

concluímos estar, no caso em apreço, diante de uma aposentadoria por tempo de

contribuição qualificada ou excepcional.

10 Op. cit., p. 27. 11 Direito da seguridade social. 16ª ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 369. 12 Curso de direito previdenciário. 11ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008, p. 552.

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Efetivamente, não podemos dizer que a aposentadoria especial é uma

aposentadoria por invalidez antecipada, já que a hipótese de incidência desta é a

incapacidade, que, no caso da prestação estudada, não existe, pois, se ocorrida,

geraria outra tutela protetiva.

Ademais, a aposentadoria especial é vitalícia, qualidade esta que não possui a

aposentadoria por invalidez, por ser devida apenas enquanto perdurar a

incapacidade total e permanente. Bem por isso, não se aplicam as normas da

aposentadoria por invalidez à aposentadoria especial.

Tampouco vislumbramos qualquer caráter compensatório da aposentadoria

especial, uma vez que a compensação propriamente dita deve resultar da

existência de um prejuízo e, na hipótese, se este tivesse ocorrido (a

incapacidade), a tutela previdenciária seria outra.

Em síntese, para nós, a aposentadoria especial é uma prestação previdenciária,

destinada a prevenir a ocorrência de incapacidade laboral advinda do exercício

de atividades que imponham prejuízo à saúde ou integridade física do indivíduo

após determinado lapso temporal.

No mesmo sentido é a lição de André Studart Leitão13, que justifica a redução do

tempo laboral como medida essencialmente preventiva à “finalidade precípua do

benefício: afastar o indivíduo do exercício de atividade nociva antes que ele

venha a tornar-se incapaz”. (Grifamos).

E por levar em conta, na sua estrutura legal, um risco social – exercício de

atividade prejudicial à saúde ou integridade física por determinado tempo –

13 Aposentadoria especial: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Quartier Latin, 2007, p. 71.

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somos adeptos da corrente que entende ser a referida prestação, pelo risco nela

existente, uma aposentadoria por tempo de contribuição qualificada.

1.1.1 Risco Social Protegido

O estudo do risco mostra-se de suma relevância para a técnica do seguro,

constituindo, o risco social, o objeto de estudo das relações jurídicas

previdenciárias. Tal importância vem descrita na lição de Feijó Coimbra14:

Para estabelecimento da relação jurídica de proteção, como vimos, é necessário

que certa hipótese, na lei configurada, venha a verificar efetivamente, em

relação a um beneficiário da previdência social, isto é, certo fato suceda em

circunstâncias de tempo e lugar na lei previstas. Esses fatos são as hipóteses de

risco que o legislador deseja prever, para deles proteger o cidadão, mediante o

pagamento de prestações pecuniárias ou a prestação de serviços. Constituem os

denominados riscos sociais.

Conforme conceito trazido por Wladimir Novaes Martinez15, risco é a

probabilidade de ocorrência de determinado fato, previsível ou não, “relativo a

acontecimento usualmente incerto, futuro (a frente do observador), traumático

(produzindo efeitos sopesados pela técnica considerada), independentemente da

vontade do agente”.

14 Op. cit., p. 142. 15 Curso de direito previdenciário, tomo I: noções de direito previdenciário. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2001, p. 272-273.

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Assim, risco é um fenômeno incerto que, ocorrido, gerará dano, denominado, na

técnica jurídica, sinistro.

No âmbito do Direito Previdenciário, o risco toma contornos sociais relevantes,

uma vez que, ocorrido o sinistro (ou seja, realizado o risco descrito na norma),

verifica-se não apenas um prejuízo direto ao individuo por ele atingido, mas

também um dano indireto, que atinge toda a sociedade.

Com efeito, a sociedade é chamada a conter solidariamente os prejuízos

causados, porque, como exemplificado nos ensinamentos de Ulrich Beck16, “a

produção social de riqueza é acompanhada sistematicamente pela produção

social de riscos”. Tais riscos, sempre que uma de suas partes é afetada, atingem

toda a sociedade.

Sobre o assunto, Armando de Oliveira Assis17 assim se manifesta:

[...] a noção fundamental será a de que o perigo que ameaça o indivíduo se

transfere para a sociedade, ou por outra, se ameaça uma das partes componentes

do todo, fatalmente ameaçará a própria coletividade, o que faz com que as

necessidades daí surgidas, além e acima de serem do indivíduo, se tornem

igualmente necessidades da sociedade.

[...]

O risco social, conforme pretendemos modelar, é o perigo, é a ameaça a que fica

exposta a coletividade diante da possibilidade de qualquer de seus membros, por

esta ou aquela ocorrência, ficar privado dos meios essenciais à vida,

transformando-se, destarte, num nódulo de infecção no organismo social.

16 Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Trad. Sebastião Nascimento. São Paulo: Ed. 34, 2010, p. 23. 17 Em busca de uma concepção moderna de risco social, p. 28-30.

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O risco social, portanto, é o evento futuro e incerto (indeterminado ao momento

do seu acontecimento ou ao fato – incertus quando e incertus an) e involuntário

que, quando acontecido, ocasiona um dano, um prejuízo, que o seguro público

deve reparar ou mesmo evitar, a fim de salvaguardar a sociedade como um todo.

Como conceitua o mestre Miguel Horvath Junior18, “no seguro social clássico, o

sistema protetivo é contributivo e a entrega da prestação previdenciária funciona

como elemento eliminador do dano causado pelo evento protegido”.

Não podemos, contudo, confundir o risco social, protegido com a concessão da

aposentadoria especial, com uma contingência.

A contingência, também tutelada pelo seguro social, é um fato descrito na

norma, não danoso ao beneficiário do sistema, tal como a maternidade, muito

embora gere um aumento de despesa.

A diferença entre contingência e risco social situa-se justamente na

involuntariedade, que não existe na primeira, mas que está presente no segundo.

Além disso, o elemento danoso situa-se no risco, mas não na contingência,

muito embora haja nesta um aumento de despesa ou diminuição de renda. Isso

porque “as contingências sociais são eventos que normalmente provocam uma

necessidade econômica que se traduz na diminuição ou perda dos ingressos

habituais ou que geram gastos adicionais, alguns até com a participação volitiva

do protegido”19.

18 Dicionário Analítico de Previdência Social. São Paulo: Atlas, 2009, p. 157. 19 Ibid., p. 52.

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Feijó Coimbra20 divide os riscos sociais em: 1) riscos advindos de incapacidade

para o trabalho; 2) risco-morte; 3) riscos da maternidade ou da natalidade; e 4)

riscos decorrentes dos acréscimos familiares.

Observada tal classificação, verifica-se que o risco social protegido pela

concessão de aposentadoria especial insere-se na dos riscos advindos da

incapacidade, havendo, segundo o referido doutrinador21, uma presunção de

invalidez. Vejamos:

[...] mas não é apenas a velhice que serve de fundamento para presumir-se a

invalidez do trabalhador e conceder-lhe afastamento remunerado. Também o

prolongado exercício de certas atividades poderá ser tido como fator de

incapacidade, uma verdadeira antecipação daquela incapacidade que, numa

profissão comum, sobreviria ao termo de uma vida útil mais prolongada. A

prestação estabelecida como aposentadoria especial, tendo por destinatário o

trabalhador em atividades consideradas perigosas, penosas ou insalubres, tem

por causa uma invalidez presumida que, na hipótese, permite fácil assimilação a

uma velhice prematura [...]. A lei, para o caso, presume uma incapacidade

instalada em razão do exercício de certas profissões, especialmente danosas à

saúde, durante determinado tempo.

A Lei 8.213/1991, Lei de Benefícios da Previdência Social, determina o

cancelamento da aposentadoria nos casos de retorno do segurado a atividades

nocivas à sua saúde ou integridade física, mas não impede que ele exerça outros

trabalhos considerados “normais”, assim entendidas as atividades laborais em

que não se verifica a exposição do trabalhador aos referidos agentes maléficos22.

20 Op. cit., p. 142. 21 Op. cit., p. 146. 22 Art. 57. [...] § 8º. Aplica-se o disposto no artigo 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes nocivos constantes da relação referida no artigo 58 desta Lei.

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Bem por isso, verifica-se que a lei não presume a incapacidade laboral, pois, se

existisse tal presunção, não seria possível ao trabalhador a manutenção de

qualquer outra atividade, ainda que não sujeita a agentes agressores à sua saúde

ou integridade física.

Assim, a concessão da aposentadoria especial visa justamente a evitar a

aquisição de incapacidade laboral decorrente da exposição do segurado a

agentes nocivos à sua saúde ou integridade física, de forma a retirá-lo,

antecipadamente, dessa exposição, com a obrigatoriedade de término do

contrato de trabalho em que haja a exposição.

Ou, nas palavras de André Studart Leitão23: “o benefício de aposentadoria

especial apresenta-se como uma ‘medida profilática’ destinada ao combate

preventivo das situações de invalidez”.

Oswaldo de Souza Santos Filho24 complementa o assunto, afirmando que:

[os trabalhadores sujeitos a] condições tecnológica, temporal e espacial adversas

à saúde, precisam de uma proteção diferenciada da previdência social. Para eles,

o risco de acidente ou doença e, consequentemente de incapacidade para o

trabalho é no mínimo duas vezes maior em relação àqueles que trabalham,

segundo a lei, em condições normais de trabalho.

Na mesma direção, o Miguel Horvath Júnior25 afirma que o benefício da

aposentadoria especial destina-se a proteger a saúde ou a integridade física do

23 Op. cit., p. 98. 24 Aposentadoria especial do direito brasileiro. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001, fl. 86. 25 Direito Previdenciário, p. 272.

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trabalhador, bastando, para a sua concessão, a simples exposição ao risco,

independentemente do atingimento da capacidade laboral.

Segundo os ensinamentos de Simone Barbisan Fortes e Leandro Paulsen26, “o

risco social coberto pelo benefício em apreço é o exercício de atividades

laborativas com submissão a agentes nocivos à saúde e integridade física”,

tratando-se de uma “preocupação do sistema previdenciário com a saúde do

trabalhador no ambiente de trabalho”.

Wladimir Novaes Martinez27 classifica o risco da aposentadoria especial

segundo três vertentes de agressão do ambiente laboral, vejamos:

As atividades especiais, ditas de risco, designadas como perigosas, penosas e

insalubres, configuram a existência de três tipos, ou um só, se se preferir,

deflagrando por tríplice contingência distinta, na qual reclamados tempos de

trabalhos diferenciados, não necessariamente correspondentes, de 15, 20 ou 25

anos de serviço.

João Ernesto Aragonês Vianna28, por sua vez, assevera que o interesse social

coberto por esse benefício “é a incapacidade laboral decorrente de atividade que

prejudica a saúde ou integridade física do segurado submetido à exposição aos

agentes noviços químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes

prejudiciais”.

Não há voluntariedade no ato de expor a vida ou a integridade física aos agentes

agressores, posto que a clientela protegida é justamente aquela que não possui

26 Direito da seguridade social: prestações e custeio da previdência, assistência e saúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 200. 27 Aposentadoria especial, p. 30. 28 Curso de direito previdenciário. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 516.

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24

opção na ocorrência ou não dessa exposição.

Portanto, tal situação justifica a não seleção dos segurados contribuintes

individuais que podem dissociar seu trabalho do agente agressor pela referida

prestação, posto que nestes casos há opção pela exposição, ou seja,

voluntariamente expõem-se eles a atividades nocivas, como veremos no estudo

do critério subjetivo da hipótese de incidência da norma previdenciária.

Nos termos da Lei 10.666/2003, o mesmo não ocorre com os empregados,

trabalhadores avulsos e os cooperados, segurados expostos a tais agentes em

razão da atividade empresarial realizada por terceiros, detentores dos meios de

produção.

No dizer de Mattia Persiani29 considera-se risco profissional:

[...] alguns acontecimentos em cuja ocorrência a lei prevê a distribuição dos

benefícios previdenciários, estão ligados ao benefício de uma atividade

profissional. Outros, como a velhice, a doença comum e a morte, são riscos

genéricos aos quais estão expostos indiferentemente todos os cidadãos.

Quanto ao critério de dano, a concessão de aposentadoria especial visa,

conforme já exposto, a evitar a incapacitação do trabalhador em decorrência da

exposição de sua saúde ou integridade física a agentes nocivos. Portanto, há uma

presunção de que a manutenção do trabalhador, em determinadas condições, por

mais de 15, 20 ou 25 anos ocasionará a sua invalidez, razão pela qual lhe é

deferido o benefício em tela. Ressalte-se: a presunção não é de invalidez, mas

sim de que a manutenção do segurado em determinado trabalho nocivo

importará na ocorrência da incapacidade laboral, ou seja, do dano.

29 Direito da previdência social. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 187.

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1.2 Análise Crítica da Evolução Histórico-Legislativa

O legislador brasileiro passou a tutelar as pessoas expostas a agentes nocivos tão

somente a partir da década de 60, com a edição da Lei 3.807, de 26 de agosto de

1960, chamada Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), discutida quase

uma década antes, como lembra Anníbal Fernandes30: “em primeiro de maio de

1954 pelo Decreto n. 35.448 foi editado o Regulamento Geral do Instituto de

Aposentadorias e Pensões, que foi um autêntico ‘ensaio geral’ para a Lei

Orgânica da Previdência Social (1960)”.

O referido Decreto, em seu artigo 29, previa que:

Art. 29. A aposentadoria ordinária será concedida ao segurado que, contando, no

mínimo, 55 (cinqüenta e cinco) anos de idade, e 15 (quinze) anos de

contribuições, tenha trabalhado durante 15 (quinze) anos pelo menos, em

serviços que, para esse efeito, forem, por decreto, considerado penosos ou

insalubres.

Portanto, a primeira vez em que se reconheceu a necessidade de diminuição do

tempo laboral de atividades nocivas à saúde, para obtenção de aposentadoria, foi

em 1954, com a edição do mencionado Decreto. Contudo, tal previsão não

adveio de processo legislativo, posto que “elaborado nos gabinetes”31.

Advinda de um processo legislativo regular, a LOPS, em seu artigo 31, previa

que:

30 Aposentadoria especial. Revista de Previdência Social, São Paulo, a. 19, nº 173, abr./1995, p. 252. 31 Anníbal Fernandes, op. cit., mesma página.

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Art. 31. A aposentadoria especial será concedida ao segurado que, contando no

mínimo 50 (cinqüenta) anos de idade e 15 (quinze) anos de contribuições tenha

trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos pelo

menos, conforme a atividade profissional, em serviços, que, para êsse efeito,

forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder

Executivo. (sic)

Assim, em seu nascimento, a tutela dos trabalhadores expostos a agentes

nocivos durante o labor era concedida mediante o cumprimento de idade mínima

de 50 (cinquenta) anos e do exercício de tempo mínimo de 15, 20 ou 25 anos de

atividade profissional reconhecida como perigosa, insalubre ou penosa.

A carência32 exigida era de 180 (cento e oitenta) contribuições, e seu cálculo era

realizado do mesmo modo que o da aposentadoria por invalidez, assim

estabelecida no artigo 27, parágrafo 4º, da Lei 3.808/1960:

Art. 27. [...]

§ 4º. A aposentadoria por invalidez consistirá numa renda mensal

correspondente a 70% (setenta por cento) do salário de benefício, acrescida de

mais 1% (um por cento) deste salário, para cada grupo de 12 (doze)

contribuições mensais realizadas pelo segurado até o máximo de 30% (trinta por

cento), consideradas como uma única todas as contribuições realizadas em um

mesmo mês.

Menos de um mês depois da Edição da LOPS, foi publicado o Decreto 48.959-

A, que regulamentou as atividades profissionais consideradas penosas,

insalubres ou perigosas em seu Anexo II.

32 Carência é o número mínimo de contribuições exigidas por lei para acesso ao benefício previdenciário.

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Para André Studart Leitão33, “a primeira especificação de insalubridade,

periculosidade e penosidade” baseou-se na natureza do serviço, e não na

atividade profissional em si, como, por exemplo, os serviços de mineração em

subsolo, de fundição e laminação de chumbo, a construção e demolição de

navios e a queima de pinturas.

Isso porque o referido Decreto tão somente classificou os tipos de serviço (e não

a atividade profissional) como geradores do direito à aposentadoria especial. Um

exemplo é o “polimento e acabamento de metais contendo chumbo e as demais

indústrias que empreguem chumbo e seus sais”, hipótese em que o legislador

classificou o serviço prestado, e não a categoria profissional onde este poderia

ser inserido.

Quatro anos depois, o Decreto 53.831/1964, publicado em 25 de março,

estabeleceu, em seu anexo, a correlação entre os agentes nocivos, os serviços e

as atividades profissionais.

A partir deste regulamento, determinadas atividades profissionais passaram a ser

consideradas penosas, insalubres ou perigosas, e, assim, o seu exercício como

fato gerador do direito à aposentadoria especial.

Isso porque, a partir do referido Decreto, bastava a comprovação do exercício de

determinada atividade profissional, ou seja, o seu enquadramento como nocivo

(insalubre, perigoso ou penoso) no anexo do Decreto, pelo tempo mínimo

exigido, para fazer jus à prestação da aposentadoria especial. 34

33 Op. cit., p. 72. 34 Sem olvidar, é claro, a necessidade de cumprimento da carência e idade mínimo exigidas.

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Em 14 de março de 1967, foi editado o Decreto 60.501, de redação quase

idêntica ao anterior, tratando especificamente dos requisitos para a percepção de

aposentadoria especial.

Alteração relevante ocorreu com a edição da Lei 5.440-A35, de 23 de maio de

1968, que revogou o limite de idade como requisito para a percepção de

aposentadoria especial.

Tal mudança veio a atender à técnica do sistema de proteção previdenciária

destinada a tal prestação porque, existindo um período mínimo de exposição do

segurado a agentes nocivos, nada mais justificaria a inserção de idade mínima,

que somente se destina à cobertura de outro risco social.

Nesse contexto, a exigência de idade mínima impedia justamente que o sistema

protetivo atingisse a finalidade para a qual foi criada a aposentadoria especial: a

de evitar a acometimento de incapacidade decorrente do exercício de

determinados trabalhos nocivos.

Isso porque a idade mínima aqui permitia, em seu bojo, a possibilidade do

segurado exercer a atividade especial por 15, 20 ou 25 anos e ser obrigado a

manter a exposição nociva a sua saúde ou integridade física por um período

ainda maior devido à obrigação de cumprimento do quesito etário, o que

possibilitava o acometimento de incapacidade pela ocorrência do sinistro que se

procurava evitar com a concessão da aposentadoria especial.

A propósito, André Studart Leitão36 observa que: “antecipa-se o direito à

aposentadoria, por força da presunção absoluta de que a exposição superior ao

35 Art. 1º. No art. 31 da Lei 3.807, de 26.08.1960 (Lei Orgânica da Previdência Social) suprima-se a expressão “50 (cinqüenta) anos de idade e”. 36 Op. cit., p. 73.

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29

tempo legal (15, 20 ou 25 anos) provocará prejuízos à saúde do indivíduo”.

Portanto, a subtração do quesito etário para a percepção de aposentadoria

especial foi um importante passo para o aprimoramento do referido benefício.

Outra importante evolução legislativa foi a edição do Decreto 63.230, em 10 de

agosto de 1968, que classificou, em seu anexo I, as atividades profissionais

segundo os agentes nocivos, e em seu anexo II, as atividades segundo os grupos

profissionais, bem como efetuou a correlação de cada atividade com o tempo

mínimo de exercício para a percepção da aposentadoria especial.

Referida norma regulamentadora também passou a estabelecer a primeira

possibilidade de conversão de tempo de serviço especial em outra modalidade

de tempo especial, levando em conta a possibilidade de o segurado exercer duas

ou mais atividades especiais, com exigências de tempo mínimo diversas.

Confira-se:

Art. 3º. [...] § 1º. Quando o segurado houver trabalhado sucessivamente em duas ou mais atividades penosas, insalubres ou perigosas sem ter completado em qualquer delas o prazo mínimo que lhe corresponda, os respectivos tempos de trabalho serão somados, após quando fôr o caso, à respectiva conversão, segundo critério de equivalência a ser estabelecido pelos órgãos técnicos competentes do Ministério do Trabalho e Previdência Social.

O mesmo Decreto diminuiu, ainda, a cobertura subjetiva deste benefício,

extirpando a presunção de nocividade daqueles que exerciam as funções de

engenheiro de construção civil e de eletricista.37

A Lei 5.890, de 8 de junho de 1973, alterou a LOPS, reduzindo a carência para a

percepção da aposentadoria especial, de 180 para 60 contribuições mensais, e 37 Tais categorias profissionais tiveram a presunção de nocividade restabelecida com a edição da Lei 5.227/1968.

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30

instituindo que o rol de atividades profissionais, e serviços considerados

nocivos, seria estabelecido por decreto do Poder Executivo.

À época, o então Instituto Nacional de Previdência Social restabeleceu, sem

qualquer suporte legal, a exigência de idade mínima, o que foi afastado pelo

Poder Judiciário. Confira-se:

APOSENTADORIA ESPECIAL – EXAURIMENTO DA VIA

ADMINISTRATIVA – DESNECESSIDADE – ELETRICITÁRIO – [...]. A

exigência de idade mínima de cinqüenta anos para a obtenção de aposentadoria

especial foi banida de nosso ordenamento jurídico com o advento da Lei nº

5.890/73, pois esse texto legal deixou de consignar tal requisito, que existia na

legislação anterior, além de que o decreto nº 89.213/84, bem como a Lei nº

8.213/91, não reproduziram semelhante imposição. Não pode ser obstado o

benefício de aposentadoria especial do autor, que trabalhou por mais de 25 anos

em atividade insalubre, pelo simples fato de, à época do pedido, não contar com

idade acima de 50 anos38.

A conduta do instituto gestor da Previdência Social não possuía guarida legal, de

modo que absolutamente nada justificava o entendimento por ele adotado, que,

na prática representava a repristinação39 da redação original do artigo 31 da

LOPS pela Lei 5.890/1973.

Relembramos, a respeito, que a repristinação é, em regra, expressamente vedada

pelo artigo 2º da Lei de Introdução às Normas Brasileiras, vigente à época sob a

denominação de Lei de Introdução ao Código Civil, verbis:

38 Tribunal Regional Federal, 3ª Região, Apelação Cível nº 96.03.047926-8/SP,

1ª Turma, Rel. Juiz Aroldo Washington, DJU 01.08.2000. 39 Restauração do comando legal revogado, em virtude da revogação da lei revogadora.

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Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a

modifique ou revogue.

[...]

§ 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei

revogadora perdido a vigência.

Não havia conteúdo normativo autorizando a repristinação da norma e, portanto,

não poderia o instituto gestor (que deve obediência à estrita legalidade) passado

a adotar Lei há muito revogada40.

Em 06 de setembro de 1973, foi editado o novo Regulamento da Lei 3.807/1960,

por meio da publicação do Decreto 72.771, sem alterações relevantes em relação

à norma regulamentadora anterior.

Em 24 de setembro de 1975, a Lei 6.243 determinou que o Poder Executivo

expedisse, por decreto, em 60 dias, a Consolidação da Lei Orgânica da

Previdência Social41.

Tal determinação legal foi cumprida em 24 de janeiro de 1976, com a

publicação do Decreto 77.077, conhecido como Consolidação das Leis da

Previdência Social (CLPS).

Seguindo a dicção determinada pela Lei 6.243, não houve alteração substancial

das normas até então vigentes, mas tão somente a unificação de todas as

legislações previdenciárias em vigor num único texto. A aposentadoria especial

40 O artigo 127 do Decreto 77.077/1976 não autorizou a repristinação da norma que previa o requisito etário, mas tão somente restabeleceu o direito à aposentadoria especial de algumas categorias profissionais na forma da legislação vigente à data da realização do trabalho. 41 Art. 6º. O Poder Executivo expedirá, por decreto, dentro de 60 (sessenta) dias da data da publicação desta Lei, a Consolidação da Lei Orgânica da Previdência Social, com a respectiva legislação complementar, em texto único revisto, atualizado e renumerado, sem alteração da matéria legal substantiva, repetindo anualmente essa providência.

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passou, então, a ser tratada nos artigos 38 a 40 da CLPS.

Em 14 de maio de 1979, foi editada a Lei 6.643, que, alterando a Lei

5.890/1973, determinou o cômputo, como tempo especial, do período de licença

para o exercício de representação sindical realizado pelos segurados integrantes

das categorias profissionais relacionadas como insalubres, penosas ou perigosas.

Assim, foi ampliado o conceito de tempo de trabalho especial, pois até então

somente eram considerados especiais os períodos de efetivo labor nas categorias

classificadas como ensejadoras do direito à aposentadoria especial ou nos

períodos de afastamento por concessão de auxílio-doença ou aposentadoria por

invalidez decorrentes do exercício das referidas atividades consideradas

especiais42.

Portanto, com a edição da referida Lei foi alargado o mencionado conceito, de

modo a abranger os períodos de atividade de representação sindical, pois, na

ocasião, o segurado era prejudicado sempre que exercia tal função de interesse

público, posto que não era possível a conversão do tempo comum em especial43.

Em 24 de janeiro de 1979, foi editado o Decreto 83.080, que trouxe nova

classificação das atividades profissionais relacionadas aos agentes nocivos

especificados.

A classificação dos agentes nocivos trazida por este Decreto foi considerada

para o enquadramento do tempo especial até a edição do Decreto 2.172/1997.

42 Decreto 48.959-A/1960. Art. 65. [...] §1º. Considera-se “tempo de trabalho”, para os efeitos do artigo, o período ou períodos correspondentes a serviços efetivamente prestado nas atividades ali mencionadas, computados, contudo, os em que o segurado tenha estado em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, desde que concedidos esses benefícios como conseqüência do exercício daquelas atividades. 43 André Studart Leitão, op. cit., p. 78.

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Um marco importante na evolução da cobertura previdenciária foi a edição da

Lei 6.887, em 10 de dezembro de 1980. A partir da referida norma44, os

segurados que exerceram alternadamente atividades comuns e especiais

puderam utilizar-se do instituto da conversão do tempo para fins de percepção

de aposentadoria especial ou mesmo comum, mediante a conversão de tempo

comum em especial ou especial em comum, através da utilização dos critérios

de equivalência fixados pelo Ministério da Previdência Social.

Na lição de Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro45:

A lei 6.887/80 veio, assim, reparar os danos causados pelas condições adversas

de trabalho do segurado, permitindo-lhe aposentar-se antes da data em que se

aposentaria, se simplesmente somasse ao tempo comum os tempos de serviço

prestados em condições especiais, sem convertê-los.

Com a possibilidade de conversão dos períodos de tempo comum em especial ou

especial em comum não mais se justificava a manutenção da classificação, como

especial, do período relativo ao exercício de cargo de representação sindical.

Entretanto, não houve, na ocasião, qualquer alteração legislativa neste sentido,

mantendo-se como especial os períodos de mandato sindical dos segurados

integrantes das categorias exercentes de trabalhos penosos, insalubres ou

perigosos.

O tempo de trabalho especial passou a ser considerado como trabalho

permanente e habitual, prestado de acordo com os quadros anexos ao Decreto

44 Art. 9º. [...] §4º. O tempo de serviço exercido alternadamente em atividades comuns e em atividades que, na vigência desta Lei, sejam ou venham a ser consideradas penosas, insalubres ou perigosas, será somado, após a respectiva conversão, segundo critérios de equivalência a serem fixados pelo Ministério da Previdência Social, para efeito de aposentadoria de qualquer espécie. 45 Op. cit., p. 80.

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87.374/198246, que alterou o Decreto 83.080/1979.

Em 13 de janeiro de 1984, foi editado o Decreto 89.312, que expediu nova

Consolidação das Leis da Previdência Social, sem alterações quanto à

aposentadoria especial.

A Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, levou alguns a

acreditar que ao beneficio em exame foi conferida uma nova roupagem.

A preocupação do legislador constituinte foi a concessão de cobertura social em

prazo inferior à aposentadoria ordinária para os segurados que exerçam

trabalhos sob condições especiais, causadoras de prejuízos à saúde ou

integridade física. 47

Com a mudança da dicção constitucional, que não mais utilizou a locução

“atividades insalubres, perigosas ou penosas”, alguns doutrinadores passaram a

acreditar que, a partir do novo sistema instituído, da proteção teria sido afastada

a tutela especial das atividades penosas e perigosas, posto que estas

supostamente não ocasionariam prejuízos à saúde e à integridade física.

Quando do estudo da hipótese de incidência da norma previdenciária melhor

analisaremos a alteração promovida na Constituição Federal e seus efeitos.

Também a previsão do que vêm a ser tais atividades prejudiciais ficou ao

encargo da lei, e não mais de decreto do Poder Executivo.

46 Art. 60. [...] §1º. Considera-se tempo de trabalho, para efeitos deste artigo: a) o período ou períodos correspondentes a trabalho permanente e habitualmente prestado em atividades constantes dos Quadros a que se refere este artigo, contados também os períodos em que o segurado tenha estado em gozo de benefício por incapacidade decorrente do exercício dessas atividades. 47 Art. 202. [...] II – após trinta e cinco anos de trabalho, ao homem, e, após trinta, à mulher, ou em tempo inferior, se sujeitos a trabalho sob condições especiais, que prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidas em lei. (redação originária).

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O artigo 59 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias determinou

que:

“Os projetos de lei relativos à organização da seguridade social e aos planos de

custeio e de benefício serão apresentados no prazo máximo de seis meses da

promulgação da Constituição ao Congresso Nacional, que terá seis meses para

apreciá-los”.

Com isso, foram editadas as Leis 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991.

A primeira, destinada a regular o custeio da Previdência Social e a segunda, a

normatizar as prestações previdenciárias.

Assim, os artigos 5748, 5849 e 15250 da Lei 8.213/1991 passaram a regular a

concessão da aposentadoria especial, nos termos previstos pela Constituição

Federal.

O parágrafo 3º do artigo 57 da Lei 8.213/1991 autorizou a conversão do tempo

comum em especial e do especial em comum, segundo critérios de equivalência

48 Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta lei, ao segurado que tiver trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme a atividade profissional, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. § 1º A aposentadoria especial, observado o disposto na Seção III deste capítulo, especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal de 85% (oitenta e cinco por cento) do salário-de-benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12 (doze) contribuições, não podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do salário-de-benefício. § 2º A data de início do benefício será fixada da mesma forma que a da aposentadoria por idade, conforme o disposto no art. 49. § 3º O tempo de serviço exercido alternadamente em atividade comum e em atividade profissional sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão, segundo critérios de equivalência estabelecidos pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, para efeito de qualquer benefício. § 4º O período em que o trabalhador integrante de categoria profissional enquadrada neste artigo permanecer licenciado do emprego, para exercer cargo de administração ou de representação sindical, será contado para aposentadoria especial. 49 Art. 58. A relação de atividades profissionais prejudiciais à saúde ou à integridade física será objeto de lei específica. 50 Art. 152. A relação de atividades profissionais prejudiciais à saúde ou à integridade física deverá ser submetida à apreciação do Congresso Nacional, no prazo de 30 (trinta) dias a partir da data da publicação desta lei, prevalecendo, até então, a lista constante da legislação atualmente em vigor para aposentadoria especial.

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fixados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social51.

O artigo 152 da Lei 8.213/1991 não foi cumprido, tendo sido, inclusive,

revogado pela Lei 9.528/1997, como veremos adiante.

A Lei 8.213/1991 foi regulamentada em um primeiro momento pelo Decreto

357, de 7 de dezembro de 1991. Tal norma regulamentadora determinou a

observância dos anexos I e II do Decreto 83.080/1979 e do anexo único do

Decreto 53.831/1964, até o advento de lei que relacionasse as atividades

prejudiciais à saúde e integridade física do segurado.

Na evolução legislativa do benefício de aposentadoria especial nova

modificação relevante foi realizada com a edição da Lei 9.032, em 28 de abril de

1995, que modificou a redação do artigo 57 da Lei 8.213/1991:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência

exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais

que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte)

ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei.

A sutil mudança redacional acabou por gerar a alteração de toda a estrutura do

benefício. Isso porque o texto original previa a concessão do benefício após o

cumprimento da carência e do tempo mínimo de exercício de atividade

profissional que causasse prejuízo à saúde ou à integridade física do segurado,

enquanto a redação prevista pela Lei 9.032/1995 extirpou a locução “conforme a

atividade profissional”.

Portanto, o legislador reformador extinguiu do ordenamento jurídico a

presunção, até então existente, de que determinadas categorias profissionais

51 Atualmente Ministério da Previdência Social.

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geravam prejuízo à saúde ou integridade física dos segurados, transferindo a

estes o dever de comprovar que o seu trabalho é causador de prejuízo à sua

saúde ou integridade física, bem como o exercício do mesmo de forma

permanente, não ocasional ou intermitente.

Assim, a Lei 9.032/1995 passou a tutelar o direito individual à aposentadoria

especial, e não mais o direito de uma categoria52.

Também foi retirada do sistema a possibilidade de contagem fictícia de tempo

especial para o representante sindical, bem como a possibilidade de conversão

de tempo comum em especial53.

Foi estabelecida, ainda, a proibição de que o segurado que receba aposentadoria

especial, continue trabalhando em atividades que prejudiquem a sua saúde ou

integridade física54.

Mesmo com a edição da referida norma, continuaram vigorando os anexos dos

decretos que correlacionavam a atividade laboral ao respectivo agente nocivo,

mas, a partir da edição da Lei 9.032/1995, passou a ser necessária a

demonstração da exposição ao agente, e não mais a prova de integração simples

a determinada categoria profissional.

Em 11 de outubro de 1996, foi editada a Medida Provisória 1.523, que remeteu

ao Poder Executivo o dever de definir a listagem dos agentes nocivos, em

flagrante inconstitucionalidade, tendo em vista a Carta Magna estabelecer a

52 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Aposentadoria especial, p. 27. 53 Art. 57. [...] § 5º. O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício. 54 Art. 57. [...] § 6º. É vedado ao segurado aposentado nos termos deste artigo continuar no exercício de atividade ou operações que o sujeitem aos agentes nocivos constantes da relação referida no artigo 58 desta Lei.

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necessidade de lei para tanto.

A mencionada norma também modificou o conteúdo do artigo 58 da Lei

8.213/1991, determinando que a comprovação da nocividade passasse a ser

realizada de acordo com regulamentação estabelecida pelo Instituto Nacional do

Seguro Social, por meio de formulários elaborados obrigatoriamente pelas

empresas ou preposto destas, fundamentada em laudo técnico de condições

ambientais do trabalho, elaborado por médico ou engenheiro de segurança do

trabalho.

Portanto, entre a publicação da Lei 9.032/1995 até a edição da Medida

Provisória 1.523/1996, qualquer meio de prova da nocividade do trabalho

prestado deveria ser aceito. Mas, depois da edição desta, passou-se a exigir das

empregadoras a elaboração de laudos técnicos, até então exigidos somente

quando o agente nocivo fosse o ruído, calor ou qualquer outro que necessitasse

de medição técnica, neles devendo constar a implantação e utilização de técnicas

coletivas de neutralização da nocividade a limites de tolerância. Foi igualmente

determinado que as empresas elaborassem e mantivessem atualizado o perfil

profissiográfico, nele constando as atividades exercidas pelos trabalhadores55.

Mais tarde, a referida Medida Provisória foi convalidada pela Medida Provisória

1.596-14, de 10 de novembro de 1997, e, posteriormente, convertida na Lei

9.528/1997.

55 Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo. § 1° A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social — INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. § 2° Do laudo técnico referido no parágrafo anterior deverão constar informação sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância e recomendação sobre a sua adoção pelo estabelecimento respectivo.

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Foi publicado, em 5 de março de 1997, o Decreto 2.127, que classificou os

agentes nocivos em químicos, físicos e biológicos, em seu anexo IV.

Assim, como resume Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro56:

[...] os agentes nocivos à saúde ou à integridade física e as categorias e

ocupações previstas no Anexo do Decreto 53.831/64 e nos Anexos I e II do

Decreto 83.080/79 continuaram a ensejar a aposentadoria especial até a edição

do Decreto 2.172/97, mas, a partir da Lei 9.032/95, deveria ser comprovado o

trabalho sujeito a condições prejudiciais à saúde ou à integridade física.

Em 28 de maio de 1998, foi publicada a Medida Provisória n.º 1663-10, que

revogou o parágrafo 5º do artigo 57 da Lei 8.213/1991, ou seja, que retirou do

ordenamento jurídico a possibilidade de conversão de tempo de serviço especial

em comum.

Na edição 13 da referida Medida Provisória foi instituído que, por decreto,

poderia ser estabelecida uma regra de transição para o tempo especial anterior a

28 de maio de 1998, possibilitando, para estes, a conversão, mas manteve a

proibição para os períodos posteriores.

Com a edição do Decreto 2.782, em 14 de setembro de 1998, a regra de

transição previu a possibilidade de conversão, desde que o segurado houvesse

completado, até a edição da Medida Provisória, ao menos 20% (vinte por cento)

do tempo exigido para a percepção de aposentadoria especial.

Entretanto, a Medida Provisória 1.663, que revogou o parágrafo 5º do artigo 57

da Lei 8.213/1991, foi convertida na Lei 9.711, de 20 de novembro de 1998,

56 Op. cit., p. 90.

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sem manter em seu texto a revogação do direito à conversão do tempo especial

em comum. Assim, continuou vigendo o conteúdo do parágrafo 5º do artigo 57

da Lei 8.213/1991, ou seja, o legislador deixou clara a sua intenção de manter o

permissivo legal que autorizava a conversão do tempo especial em comum.

Em 2 de dezembro de 1998, foi editada a Medida Provisória 1.729, depois

convertida na Lei 9.732, em 11 de dezembro do mesmo ano, que instituiu uma

contribuição adicional das empresas geradoras de atividades nocivas aos seus

empregados, com a finalidade exclusiva de custear o benefício de aposentadoria

especial.

Em 15 de dezembro de 1998, foi promulgada a Emenda Constitucional n.º 20,

que reformulou o sistema constitucional previdenciário então existente.

O parágrafo 1º do artigo 201 da Carta Magna passou a ter a seguinte redação:

§ 1º. É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão

de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social,

ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidos em lei complementar.

E o artigo 15 da referida Emenda Constitucional determinou que, até a entrada

da Lei Complementar mencionada no parágrafo 1º do artigo 201,

permaneceriam em vigor os artigos 57 e 58 da Lei 8.213/1991, com a redação

existente à data da vigência da reforma constitucional57.

Em 7 de maio de 1999, foi publicado o Decreto 3.048, que regulamentou as Leis

57 Art. 15. Até que a lei complementar a que se refere o art. 201, § 1º, da Constituição Federal, seja publicada, permanece em vigor o disposto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8213, de 24 de julho de 1991, na redação vigente à data da publicação desta Emenda.

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8.212 e 8.213, ambas de 1991.

O referido Decreto, em seu artigo 7058, proibia, em sua redação original, a

conversão do tempo especial em comum, contrariando a própria Lei 8.213/1991

e a Constituição Federal, que não estabeleceram tal vedação.

Em 26 de novembro de 2001, foi editado o Decreto 4.032, que regulamentou a

confecção do Perfil Profissiográfico Previdenciário, formulário exigido para a

comprovação do exercício do tempo especial, como veremos mais adiante59.

Em 12 de dezembro de 2002, foi editada a Medida Provisória 83, convertida, em

08 de maio de 2003, na Lei 10.666, que estabeleceu uma contribuição adicional

devida pela cooperativa de produção incidente sobre a remuneração paga,

devida ou creditada, do cooperado que exerça atividade que permita a obtenção

da aposentadoria especial.

Mencionada norma também fixou um adicional, devido pela empresa tomadora

de serviços de cooperado, incidente sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura

de prestação de serviço deste tipo de trabalhador que exerça atividade

prejudicial à sua saúde ou integridade física. Determinou, ainda, que a perda da

qualidade de segurado não deve ser considerada para a percepção de

aposentadoria especial.

Em 3 de setembro de 2003, foi editado o Decreto 4.827, que alterou o artigo 70

58 Art. 70. É vedada a conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum. 59 Parágrafo 2º do artigo 68 do Decreto 3.048/1999 (alterado pelo Decreto 4.032/2001): § 2º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário denominado perfil profissiográfico previdenciário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho.

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do Decreto 3.048/199960, excluindo a proibição da conversão do tempo especial

em comum e, assim, extirpando o desrespeito que a norma regulamentadora

possuía em relação à lei regulamentada e à própria Constituição Federal.

Por fim, a Emenda Constitucional 47, de 5 de julho de 2005, modificou

novamente o parágrafo 1º do artigo 201 da Constituição Federal, que passou a

ter a seguinte dicção:

§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão

de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social,

ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados

portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.

1.3 Conceito de Aposentadoria Especial

Tendo em vista a evolução, no Brasil, das normas que conferem o direito à

aposentadoria especial, podemos asseverar, atualmente, que a aposentadoria

especial é um benefício de índole alimentar, destinado à substituição da renda do

segurado efetivamente exposto a agentes prejudiciais à sua saúde ou integridade

física após 15, 20 ou 25 anos de atividade laboral, dependendo da intensidade da

nocividade.

Insta salientar que as aposentadorias devidas aos professores, aeronautas e ex-

combatentes, entre outros, a par de terem sido conceituadas como especiais em

60 Art. 70. A conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum dar-se-á de acordo com a seguinte tabela: [...]. § 1º A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislação em vigor na época da prestação do serviço. § 2º As regras de conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum constantes deste artigo aplicam-se ao trabalho prestado em qualquer período.

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determinada época em nosso sistema, não são consideradas aposentadorias

especiais.

Tais benefícios, muito embora extraordinários, como acontece com a

aposentadoria especial, não são objeto do presente trabalho, uma vez que

qualificados, apenas, pelo exercício de determinadas atividades, e não pelos

prejuízos que essas possam vir a causar à saúde ou integridade física do

segurado.

Portanto, conforme a evolução histórico-legislativa examinada, atualmente,

aposentadoria especial é o benefício devido ao segurado que exercer trabalho

prejudicial à sua saúde ou integridade física por 15, 20 ou 25 anos, de forma

permanente, não ocasional nem intermitente.

1.4 Regra Matriz de Incidência da Norma Previdenciária

1.4.1 Estrutura da Norma Previdenciária

A norma jurídica descreve fatos hipotéticos relevantes para o ordenamento

jurídico (endonorma), bem como determina as suas consequências (perinorma)

advindas da realização dessas hipóteses.

Em outras palavras, a norma jurídica descreve uma hipótese, que é a descrição

legal de um fato (comportamento humano) que, quando ocorrido, gera um

direito e/ou uma obrigação.

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Geraldo Ataliba61 assevera a existência de dois momentos normativos, vejamos:

[...] uma lei descreve hipoteticamente um estado de fato, um fato ou um

conjunto de circunstâncias de fato, e dispõe que a realização concreta, no mundo

fenomênico, do que foi descrito, determina o nascimento de uma obrigação de

pagar um tributo.

Portanto, temos primeiramente (lógica e cronologicamente) uma descrição

legislativa (hipotética) de um fato; ulteriormente, ocorre, acontece, realiza-se

este fato concretamente.

Para examinar a estrutura da norma jurídica previdenciária torna-se

imprescindível o seu desdobramento em três níveis: carência; antecedente

normativo (endonorma); e consequente normativo (perinorma).

A carência é o número mínimo de contribuições necessárias para a obtenção do

direito às prestações previdenciárias62, sendo, portanto, um pressuposto para a

incidência da norma protetiva63.

Augusto Venturi64 denuncia a carência como a mais importante condição do

direito à prestação, justificando que:

Para que surja el derecho a las prestaciones, además de la verificación de la

contingencia prevista a tal fin respecto de una persona que reúne los requisitos

61 Hipótese de Incidência Tributária. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 53. 62 Lei 8.213/1991, artigo 24, verbis: Art. 24. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências. 63 Alguns doutrinadores inserem no antecedente normativo a carência como parte do critério material. Essa é, exemplificativamente, a lição de André Studart Leitão: “a carência também se enquadra como antecedente normativo, integrando o critério material e, consequentemente, a hipótese de incidência”. Aposentadoria especial, p. 61. 64 Los Fundamentos Cientificos de La Seguridad Social. Madrid: Ministerio de Trabajo y Seguridad Social, 1994, p. 213.

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exigidos para ser sujeto de uma relación de seguro, frecuentemente se requierem

condiciones específicas.

La más importante, de entre tales condiciones, es la que subordina el derecho a

las prestaciones al hecho de que transcurra um mínimo período de espera

(Wartezeit, delai de stage, qualifying period) desde el inicio del seguro.

Isso porque, sem a realização do número mínimo de cotizações para o custeio do

sistema e manutenção do seu equilíbrio financeiro e atuarial, não haverá sequer

a ocorrência do antecedente normativo. Portanto, a carência é um antecedente de

incidência da norma previdenciária, sem aquela, esta não ocorre65.

Nas palavras de Miguel Horvath Júnior66:

Carência é o pré-requisito legal para acesso às prestações previdenciárias. Tal

exigência decorre da natureza contributiva e tem como finalidade a manutenção

do equilíbrio financeiro-atuarial. A exigência de carência é flexível de acordo

com a análise levada a cabo pelo legislador infraconstitucional, sob o enfoque

do impacto da ocorrência do sinistro junto à sociedade.

No mesmo sentido é a lição de Augusto Venturi67:

La justificación de esta condición hay que buscarla em el propósito de evitar que

se vean inducidos a entrar a formar parte del círculo de sujetos del seguro

personas que buscan obtener em brevíssimo plazo el disfrute de las prestaciones

aseguradoras, más que asegurar um mínimo de correspondencia entre la carga

que las prestaciones representa para el instituto asegurador y las cotizaciones

65 Fábio Lopes Vilela Berbel. Teoria Geral da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 195 assevera com propriedade que “na seara do direito previdenciário social brasileiro, o antecedente normativo de incidência é denominado ‘carência’. As prestações previdenciárias, salvo exceções exauridas na norma jurídica, podem ser deferidas somente após a satisfação da carência, pois fatos juridicamente ocorridos anteriormente ao cumprimento desse pressuposto não enseja subsunção”. 66 Direito Previdenciário, p. 197. 67 Op cit, p. 213.

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recibidas de quien requiere el disfrute.

O antecedente normativo somente será relevante (do ponto de vista da produção

de efeitos) para o ordenamento jurídico a partir do momento em que realizadas

as contribuições mínimas previstas em lei, salvo as hipóteses de isenção desse

pagamento68.

A hipótese de incidência, ou antecedente normativo, é o momento anterior à

formação da relação jurídica em que ocorre a descrição do fato jurídico, seu

tempo e local de ocorrência. Nele, estão descritos os requisitos ou pressupostos

sem os quais não haverá que se falar na formação de uma relação jurídica

previdenciária.

Já o consequente normativo é a própria proteção social descrita na norma de

incidência. Decorre do cumprimento da carência e do antecedente normativo,

onde há a formação do direito à prestação previdenciária.

Para a formação da relação jurídica impende, ainda, que o beneficiário exerça o

seu direito através de requerimento administrativo, ou que a Administração

Pública o conceda de ofício69.

Antes disso, o que se verifica é a aquisição do direito, mas não o seu exercício,

68 Lei 8.213/1991, artigo 26 e incisos, verbis: Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações: I - pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente; II - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como os casos de segurado que, após filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Previdência Social a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado; III - os benefícios concedidos na forma do inciso I do artigo 39, aos segurados especiais referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei; IV - serviço social; V - reabilitação profissional; VI - salário-maternidade para as seguradas empregada, trabalhadora avulsa e empregada doméstica. 69 Como bem assinala André Studart Leitão, op. cit., p. 59.

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que pode até não ocorrer, pois depende do caráter volitivo de seu titular.

O antecedente normativo é formado pelos critérios material, espacial e temporal,

sendo inimaginável, como ressalta Fábio Lopes Vilela Berbel70, a compreensão

isolada destes dentro da hipótese legal. A análise do fato jurídico abstrato,

portanto, “deve se dar pela compreensão harmônica de todos os elementos

(critérios) que compõem a hipótese normativa, pois, se assim não fosse, haveria

um esvaziamento do conteúdo jurídico”.

O critério material é a descrição do fato na perspectiva do direito, que, realizado

em determinado tempo e lugar, gerará a tutela previdenciária de proteção. É

formado pela cumulação de um verbo (comando) com um complemento (o risco

social tutelado).

Com propriedade, o Damares Ferreira, apud Fábio Lopes Vilela Berbel71,

informa: “o verbo que compõe o critério material há de ser pessoal, transitivo e

com predicação incompleta, afastando, assim, conseqüências jurídicas

impessoais”.

O próprio Fábio Lopes Vilela Berbel72, ao descrever o critério material, assim se

manifesta:

Cada espécie normativa previdenciária será constituída de uma hipótese

diferenciada (verbo + complemento). Entretanto, os complementos dessas

hipóteses necessariamente, como será demonstrado, guardará liame com o

fenômeno do trabalho, posto que este é o elemento (fato) central de todas as

70 Op. cit., p. 105. 71 Aposentadoria do Professor, in Revista de Direito Social 07. Porto Alegre: Nota Dez. 2002. p. 64. apud Fabio Lopes Vilela Berbel, op. cit., p. 106. 72 Op. cit., p. 107.

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relações ou situações jurídicas previdenciárias.

Já o critério temporal é, num primeiro momento, o tempo cronológico

necessário para a aquisição da tutela previdenciária. É o instante em que o fato

torna-se relevante para o direito, quando ocorre o início do consequente

normativo, a formação da relação jurídica previdenciária e a constituição do

direito adquirido.

Este critério apura o momento em que ocorre a materialidade descrita na norma,

mas é importante ressaltar, como adverte Daniel Pulino73, que “quando se fala

em preenchimento de todos os requisitos, não está incluído nessa expressão o

exercício do direito, expresso a apresentação do requerimento do benefício pelo

interessado”.

Assim, o critério temporal da hipótese de incidência da norma previdenciária

determina, sob esse enfoque, o momento em que são preenchidos todos os

pressupostos para a concessão do benefício, a lei aplicável nos casos de conflitos

normativos e, assim, informa-se o tempo em que se constitui o direito adquirido.

Outro enfoque do critério temporal é a fixação da data de início da prestação

previdenciária, e até mesmo a sua data final (nos casos de benefícios com prazos

pré-definidos74), momento em a norma estabelece o início (e em alguns casos o

seu fim) da tutela previdenciária, mas neste caso estamos diante da necessidade

do exercício do direito formado.

Por fim, o critério espacial é a delimitação do local ou lugar onde o fato ocorrido

gerará o consequente normativo.

73 A aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro. São Paulo: LTr, 2001, p. 77. 74 Como no caso de salário-maternidade e seguro-desemprego.

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Geraldo Ataliba75 ensina que “designa-se por aspecto espacial a indicação de

circunstâncias de lugar – contidas explícita ou implicitamente na h.i. –

relevantes para a configuração do fato imponível”.

Pois bem, estudada a hipótese de incidência e suas partes integrantes, passemos,

agora, ao exame dos critérios de formação da relação jurídica previdenciária,

denominada consequente normativo.

É no consequente normativo que “se encontra o mandamento, o comando

jurídico, determinando que, acontecido o fato jurídico-previdenciário, deve

seguir-se a instauração de relação jurídica concessiva da prestação, pela

Previdência Social, ao beneficiário”76.

Assim, a formação do consequente normativo dá-se através da comunhão do

critério pessoal (sujeito ativo e sujeito passivo) com o critério quantitativo (base

de cálculo e alíquota), constituindo-se, desta forma, a relação jurídica

previdenciária.

O critério pessoal é formado pelos destinatários da norma previdenciária,

denominados sujeito ativo e sujeito passivo. Tal critério objetiva estabelecer as

pessoas integrantes da relação jurídica previdenciária, afetadas diretamente pela

incidência legal, bem como posicioná-las em face do objeto jurídico77.

O sujeito ativo é o credor do direito subjetivo à tutela previdenciária. Para a

obtenção da qualidade de credor de qualquer prestação de proteção

previdenciária impende que, primeiramente, a pessoa seja segurada da

75 Op. cit., p. 104. 76 Daniel Pulino, op. cit., p. 81. 77 Fábio Lopes Vilela Berbel, op. cit., p. 112.

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Previdência Social ou detenha a qualidade de dependente78 de um segurado.

A condição de segurado é obtida através do vínculo jurídico formado,

denominado filiação, obtido obrigatoriamente em razão do exercício de

atividade remunerada, que enquadre o sujeito em uma das categorias de

segurado previstas no artigo 11 da Lei 8.213/1991, ou que deseje ingressar nesse

sistema, obtendo a sua proteção, mesmo não realizando qualquer trabalho

remunerado79.

Isso porque a proteção social conferida pela Previdência Social não é destinada a

todos, como a saúde, ou a todos os necessitados, como a Assistência Social, mas

tão somente à parcela da sociedade que é obrigada80 a ingressar no sistema por

conta do exercício de atividade remunerada, ou que exerça seu desejo de

ingressar no campo de proteção, no caso dos segurados facultativos.

Já o sujeito passivo das normas previdenciárias de proteção é o ente obrigado

por lei à prestação da tutela de proteção social, ou seja, a pessoa de quem se

exigirá o cumprimento da obrigação previdenciária81.

Em nosso sistema jurídico, o ente competente para administrar o Regime Geral

de Previdência Social é a União Federal82, que acabou por descentralizar83 esse

78 Lei 8.213/1991, artigo 16, verbis: Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; II - os pais; III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente 79 Caso dos segurados facultativos. Lei 8.213/1991. Art. 13. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, desde que não incluído nas disposições do artigo 11. 80 Na forma da Constituição Federal, nosso sistema de Previdência Social é de filiação obrigatória. 81 Daniel Pulino, op. cit., p. 87. 82 Constituição Federal, artigo 22, verbis: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: [...] XXIII - seguridade social;

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seu poder pela criação de uma autarquia federal, denominada Instituto Nacional

do Seguro Social, a quem compete administrar todo o sistema de Previdência

Social.

Mesmo com essa descentralização, a União Federal continua atuando como

garantidora das prestações previdenciárias, na forma estipulada pelo artigo 16,

parágrafo único, da Lei 8.212/199184.

Integra, ainda, o consequente normativo o critério quantitativo, que é o

estabelecimento do valor monetário da tutela devida quando esta tiver cunho

financeiro85, como é o caso dos benefícios previdenciários.

Fala-se em critério quantitativo para as prestações de entrega de dinheiro

(benefícios) e critério objetivo para as obrigações de fazer que não se expressam

em valores monetários, como os serviços sociais, por exemplo.

Divide-se o critério quantitativo, dado seu caráter monetário, em base de cálculo

e alíquota, justamente com vistas ao estabelecimento do valor a ser recebido

pelo sujeito ativo e a ser pago pelo sujeito passivo86.

A base de cálculo é a fórmula de cálculo adotada pelo legislador previdenciário,

83 Constituição Federal, artigo 194, verbis: Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: [...] VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. 84 Art. 16. A contribuição da União é constituída de recursos adicionais do Orçamento Fiscal, fixados obrigatoriamente na lei orçamentária anual. Parágrafo único. A União é responsável pela cobertura de eventuais insuficiências financeiras da Seguridade Social, quando decorrentes do pagamento de benefícios de prestação continuada da Previdência Social, na forma da Lei Orçamentária Anual. 85 O que não ocorre, por exemplo, nos casos de reabilitação social e serviços sociais. 86 Há benefícios, como o salário-família, que não utilizam esse critério quantitativo, tendo em vista a prefixação do valor do benefício.

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que leva em conta as contribuições realizadas pelos segurados. À exceção dos

benefícios cujo valor é prefixado pelo legislador e o salário-maternidade das

seguradas empregadas e trabalhadoras avulsas, os benefícios previdenciários

levam em conta o denominado salário de benefício.

O salário de benefício é uma média das contribuições realizadas pelo segurado

num determinado lapso temporal, nos termos do artigo 29 da Lei 8.213/199187.

Já a alíquota é uma parcela, um coeficiente estipulado pelo legislador, incidente

sobre a base de cálculo, que denotará a cota de proteção social determinada ao

sujeito ativo do direito.

1.4.2 Estrutura Atual da Norma Previdenciária de Concessão da Aposentadoria

Especial

1.4.2.1 Carência

A carência pressupõe o preenchimento de dois critérios: o material (pagamento

de contribuição), e o temporal (fluência de um prazo fixado por lei).

Para que ocorra a hipótese de incidência da norma previdenciária de concessão

da aposentadoria especial, impende que o segurado efetue 180 contribuições

mensais, nos termos do artigo 25, inciso II, da Lei 8.213/1991.

Para os segurados empregados, avulsos e contribuintes individuais, que prestam

87 Art. 29. O salário-de-benefício consiste: I - para os benefícios de que tratam as alíneas b e c do inciso I do artigo 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário; II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do inciso I do artigo 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo.

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serviços à empresa, há presunção de ocorrência do antecedente normativo, ou

seja, do recolhimento, nos termos do artigo 33, parágrafo 5º da Lei 8.212/199188

e do artigo 4º da Lei 10.666/200389, respectivamente.

Entretanto, por conta da existência do critério temporal, essas contribuições não

podem ser realizadas de uma só vez, mas sim no prazo fixado pela própria regra,

que nem sempre coincide com o prazo cronológico ou natural90. Isso porque,

para o direito previdenciário, por força de uma ficção (de um tempo lógico-

jurídico), um mês não significa o curso de 30 ou de 31 dias91.

Assim, consoante esclarecem Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista

Lazzari92, “mesmo que o segurado tenha começado a exercer atividade no dia 31

de um mês tem contabilizado, para efeito de carência, todo o período daquele

mês”.

Portanto, antes da incidência da norma previdenciária é imprescindível que o

segurado recolha 180 contribuições, num prazo lógico-jurídico de 180 meses93.

1.4.2.2 Antecedente normativo

Cumprida a carência, haverá a incidência da norma previdenciária, quando 88 Art. 33. [...] §5º. O desconto de contribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância que deixou de receber ou arrecadou em desacordo com o disposto nesta Lei. 89 Art. 4º. Fica a empresa obrigada a arrecadar a contribuição do segurado contribuinte individual a seu serviço, descontando-a da respectiva remuneração, e a recolher o valor arrecadado juntamente com a contribuição a seu cargo até o dia 20 (vinte) do mês seguinte ao da competência, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia. 90 Para o segurado filiado após o advento da Lei 8.213/1991. 91 Como observa André Studart Leitão, op. cit., p. 111. “Por tudo isso, verifica-se que a carência, dada a sua natureza jurídica híbrida, possui dupla significação: uma de ordem material, referente ao pagamento da contribuição, e outra de cunho temporal, referente ao transcurso do tempo lógico-jurídico previsto na legislação”. 92 Op. cit., p. 517. 93 Respeitada, como visto, a hipótese de presunção legal.

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preenchidos os seus critérios material, temporal e espacial.

O critério material é constituído, como vimos, por um verbo e seu complemento.

Assim, no caso da aposentadoria especial, o critério material é a conduta

humana de exercer (verbo) atividade sujeita a condições prejudiciais à saúde ou

integridade física (complemento e o risco social tutelado).

Note-se que o simples exercício de qualquer atividade especial não gera para o

segurado o direito à aposentadoria especial, sendo imprescindível a fluência do

critério temporal previsto em lei.

E esse critério temporal é a realização do verbo e do seu complemento por 15,

20 ou 25 anos, de acordo com a intensidade danosa do agente agressivo para a

saúde ou integridade física do trabalhador.

Com o requerimento administrativo forma-se o segundo critério temporal, que

nada mais é que a fixação da data de inicio da aposentadoria especial94,

determinada da seguinte forma: 1) para o segurado empregado, a partir do

desligamento do emprego, quando o benefício for requerido em até 90 dias,

contados a partir da ruptura contratual; ou a partir da data do requerimento,

quando solicitada a prestação em prazo superior a 90 dias, ou não houver a

ruptura contratual; 2) para os demais segurados, a partir da data do requerimento

administrativo de concessão.

Segundo o critério espacial, a concessão de aposentadoria especial é devida,

quando preenchidos seus pressupostos, em todo o território nacional.

94 Artigo 57, parágrafo 2º da Lei 8.213/1991.

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Tendo em vista a relevância do conteúdo do critério material, sobretudo as

especificidades do complemento previstas para a obtenção da aposentadoria

especial, impende uma análise do enquadramento das atividades nocivas à saúde

ou integridade física na norma em estudo.

1.4.2.2.1 Conceito de “atividade sob condições especiais”

Como vimos, o critério material da hipótese de incidência da norma

previdenciária para a concessão, hoje, da aposentadoria especial é o exercício,

por um determinado lapso temporal, de trabalho sujeito a condições especiais,

que prejudiquem a saúde ou integridade física do segurado95.

Mas nem sempre foi essa a dicção legal96. Isso porque, como já estudado, o

benefício em exame sofreu inúmeras modificações legislativas desde a sua

criação em 1960, ora tutelando o trabalhador de categorias que exercem

trabalhos insalubres, penosos e/ou perigosos, ora assegurando o benefício aos

sujeitos que trabalham em atividade que imponha prejuízo à sua saúde ou

integridade física, sem qualquer menção ao trabalho insalubre, penoso e

perigoso.

Registramos, a propósito da quantidade de alterações legais, o desabafo de João

Ernesto Aragonês Vianna97: “em outra oportunidade, afirmamos que estudar

Direito Previdenciário, no Brasil, significa sobreviver num campo de batalha. A

interpretação das normas jurídicas referentes à aposentadoria especial, no tempo,

95 Lei 8.213/1991. Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. 96 CLPS. Art. 35. A aposentadoria especial é devida ao segurado que, contando no mínimo 60 (sessenta) contribuições mensais, trabalhou durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviço para esse efeito considerado perigoso, insalubre ou penoso em decreto do Poder Executivo. 97 Op. cit, p. 515.

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é prova robusta do afirmado”.

De qualquer forma, essa batalha tem que ser enfrentada, principalmente pela

busca do significado da expressão “trabalho sob condições especiais” para o

estabelecimento seguro do critério material da hipótese de incidência da norma

previdenciária de concessão de aposentadoria especial.

Inicialmente, é necessário um esclarecimento: o trabalho que imponha qualquer

prejuízo à vida do trabalhador é exceção, presumindo-se, como regra geral, a

normalidade do trabalho prestado. Normalidade esta no sentido de ausência de

prejuízo à saúde ou integridade física do trabalhador.

Tal normalidade “é presumida e implícita”, como esclarece Oswaldo de Souza

Santos Filho98: “somente a condição ‘especial’ é explícita no ordenamento

jurídico, sem deixar de ressaltar que o direito ao meio ambiente sadio é previsto

constitucionalmente (art. 225)”.

Pois bem, levando em conta que o benefício de aposentadoria especial possui,

em seu critério material, uma exceção à realidade - de trabalho exercido sob

condição especial -, impende perquirir se os agentes insalubres, perigosos e

penosos ainda se encontram insertos em sua hipótese de incidência normativa.

A legislação previdenciária tomou, por empréstimo, da Consolidação das Leis

do Trabalho o conceito de trabalho insalubre e perigoso. Vejamos:

Trabalho insalubre:

Art. 189. Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que,

98 Op. cit., p. 95.

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por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a

agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da

natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos

Trabalho perigoso

Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da

regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua

natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com

inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado.

Já o trabalho penoso, muito embora a Constituição Federal99 tenha previsto o

pagamento de um adicional para o seu exercício100, não possui denominação

legal, sendo admitido, pela doutrina, como o trabalho que imponha acentuado

desgaste físico ou mental101, ocasionando dor e sofrimento.

Nesse passo, surgiram duas correntes acerca do conceito de “trabalho sob

condições especiais”. Uma, entendendo que não importa a mudança simples da

dicção da lei, e que, portanto, o critério material da norma em estudo engloba o

exercício de atividade insalubre, perigosa ou penosa.

Outra, entretanto, assegurando que a mudança da dicção legal alterou a estrutura

da norma, uma vez que o legislador passou, a partir da Lei 8.213/1991, a tutelar

os trabalhadores expostos somente a agentes que acarretem violação à sua saúde

ou integridade física, o que não abrangeria, por conceito legal, as atividades

99 Art. 7º. [...] XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; 100 Lei 8213/91. Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. 101 Sérgio Pinto Martins, op. cit., p. 370.

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perigosas e penosas, mas tão somente as insalubres.

Pois bem, adepto da primeira corrente, o Miguel Horvath Júnior102 entende que a

locução “condições especiais” nada mais é que a referência àquelas atividades

em que há exposição a agentes insalubres, perigosos ou penosos.

No mesmo sentido é o ensinamento de Wladimir Novaes Martinez103:

As atividades especiais, ditas de risco, designadas como perigosas, penosas e

insalubres, configuram a existência de três tipos, ou um só, se se preferir,

deflagrado por tríplice contingência distinta, no qual reclamados tempos de

trabalho diferenciados, não necessariamente correspondentes, de 15, 20 ou 25

anos de serviço.

Sérgio Pardal Freudenthal104, por sua vez, defende que: “as ‘atividades em

condições especiais que prejudiquem a saúde ou integridade física’,

evidenciadoras do direito à Aposentadoria Especial, ficam bem representadas

nos termos técnicos: insalubridade, periculosidade e penosidade”.

Por fim, vale a transcrição do pensamento traçado por Oswaldo de Souza Santos

Filho105:

Embora a lei previdenciária assim não se refira, é certo que, historicamente, a

aposentadoria especial é benefício para aqueles segurados que trabalham em

condições insalubres, perigosas e penosas. Estes conceitos se amoldam

perfeitamente ao que a lei previdenciária quis abranger na sua expressão ‘sujeito

a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.

102 Direito Previdenciário, p. 272. 103 Aposentadoria especial, p. 30. 104 Op. cit., p. 32. 105 Op. cit., p. 96.

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Para a segunda corrente, entretanto, o trabalho perigoso ou penoso não mais

integra a hipótese de incidência, uma vez que somente o trabalho insalubre

acabou sendo abarcado pela locução “prejuízo à saúde ou integridade física”

previsto na Lei 8.213/1991.

Nesse sentido, Fábio Zambitte Ibrahim106, entende que a tutela protetiva é

direcionada aos segurados expostos “a agentes físicos, químicos ou biológicos,

ou uma combinação destes, acima dos limites de tolerância aceitos, o que se

presume produzir a perda da integridade física e mental em ritmo acelerado”.

Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Júnior107, taxativamente,

afirmam que:

As relações que disciplinavam as atividades consideradas especiais, para fins

previdenciários, integrantes dos Decretos n.º 53.831/64 e 83.080/79, ficaram

prejudicadas com a revogação do art. 152 da LBPS e da Lei n.º 5.527/68,

operadas pela MP nº 1.523/96 (convertida na Lei nº 9.528/97). Desde que a lista

do anexo do Decreto n.º 2.172, de 5 de março de 1997, foi editada, não há mais

referência a agentes perigosos e penosos. Nessa linha, encontramos no elenco do

anexo IV do Decreto 3.048/99 apenas agentes insalubres (físicos, químicos e

biológicos).

André Studart Leitão108 assevera, com muita veemência, que:

[...] ora, por que então o constituinte originário resolveu substituir “atividades

perigosas, insalubres e penosas” por “atividades prejudiciais à saúde ou à

106 Op. cit., p. 552. 107 Op. cit., p. 247. 108 Op. cit., p. 117.

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integridade física”? A modificação terminológica foi proposital. Quis-se, sem

soçobro de dúvida, modificar o tratamento normativo da prestação,

privilegiando unicamente as atividades insalubres.

De qualquer sorte, verificamos que nem todas as condições insalubres para o

Direito do Trabalho (que acarretam no pagamento de adicional de insalubridade)

importam em reconhecimento do direito à tutela previdenciária, a exemplo do

adicional pago até 26/02/1991 aos trabalhadores expostos à baixa luminosidade,

que não possuíam a mesma proteção no âmbito da Previdência Social.

Nesse sentido, o julgado proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª

Região109:

PREVIDENCIÁRIO – TEMPO DE SERVIÇO RURAL EM REGIME DE

ECONOMIA FAMILIAR – RECOLHIMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES –

PRESCINDÍVEL – TEMPO ESPECIAL – RUÍDO – ILUMINAÇÃO

DEFICIENTE. [...]. 8- A insalubridade para fins trabalhistas, mesmo se

reconhecida na Justiça do Trabalho (no caso, causada por iluminação

deficiente), não configura necessariamente existência de agente nocivo nos

regulamentos de direito previdenciário.

É essa, inclusive, a lição de Rodrigo Garcia Schwartz110:

Não se confundem, ainda, as condições que ensejam a concessão de

aposentadoria especial, relacionadas no Anexo IV do Regulamento da

Previdência Social, com as condições insalubres ou perigosas que ensejam, nos

109 TRF 4ª R, 5ª T., Ap-RN 2003.71.12.002826-2/RS, Rel. Juiz Fed. Hermes Siedler da Conceição Júnior, DJe 02.09.2010, p. 286. 110 Os marcos atuais da aposentadoria especial: breves apontamentos. Revista Justiça do Trabalho, Porto Alegre, ano 25, nº 294, jun./2008, p. 125.

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termos dos arts. 192/193 da Consolidação das Leis do Trabalho, o pagamento,

ao trabalhador, dos adicionais de insalubridade ou de periculosidade.

Para os adeptos da primeira corrente, o rol de agentes nocivos previstos na

legislação previdenciária (todos agentes insalubres) é meramente

exemplificativo, podendo o segurado demonstrar o trabalho perigoso ou penoso

exercido111.

Esse, aliás, é pensamento de Miguel Horvath Júnior112:

[...] as atividades penosas desapareceram do Anexo IV do Decreto 2.172/97 e do

Decreto nº 3048/99. Assim, com estas alterações, cabe aos vigias, motoristas de

caminhões e ônibus e telefonistas, entre outros, buscar o reconhecimento à

aposentadoria especial pela via judicial ou subsidiariamente, caso não haja o

reconhecimento à aposentadoria que pelo menos reconheça o direito de

conversão do tempo especial para comum em relação ao período anterior às

mudanças supramencionadas.

Entretanto, os adeptos da segunda corrente entendem que os trabalhos penosos e

perigosos não expõem o segurado a agentes agressores à sua saúde ou

integridade física, o que somente acontece em relação aos agentes insalubres,

razão pela qual não caberia produzir qualquer prova nesse sentido, já que tais

agentes não estão mais inseridos no critério material da hipótese de incidência.

Esse é, exemplificativamente, o pensamento de André Studart Leitão113:

111 Nesse sentido, a Súmula 198 do extinto Tribunal Federal de Recursos: “atendidos os demais requisitos, é devida a aposentadoria especial, se a perícia judicial constatar que a atividade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não inscrita em Regulamento”. 112 Direito Previdenciário, p 273. 113 Op. cit., p. 116-117.

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Quanto ao aspecto estritamente gramatical, não resta dúvida de que a lei apenas

confere caráter especial às atividades insalubres, afinal apenas elas prejudicam a

saúde do trabalhador. O trabalho perigoso, sem duvida, gera riscos, porém não

tem o condão de provocar danos à saúde do obreiro, motivo por que não se

insere no conceito de atividade especial. Da mesma forma, o exercício de

atividade penosa, apesar do desgaste excessivo, não expõe o trabalhador a

agentes nocivos à saúde.

Em que pese a argumentação dos defensores da segunda corrente, temos que a

legislação previdenciária alterou a locução “atividades insalubres, perigosas e

penosas” para “atividades sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou

integridade física”, justamente porque a legislação trabalhista não vinha sendo

utilizada com satisfação no âmbito do Direito Previdenciário.

Como vimos, em algumas situações, o que para a legislação laboral era

considerado insalubre (baixa luminosidade) ou perigosa (contato com

eletricidade), não o era para fins de reconhecimento do tempo especial, criando

uma aparente antinomia.

A dicção legal atual, de qualquer sorte, a par de resolver a autonomia do Direito

Previdenciário em relação ao Direito do Trabalho, não desprezou as atividades

perigosas e penosas como geradoras do direito à percepção de aposentadoria

especial.

Isso porque, ao contrário do entendimento de André Studart Leitão114, o conceito

de integridade física não é idêntico ao de saúde. Não há, na lei, palavras

colocadas ao acaso ou mesmo despiciendas, posto que se o legislador quisesse

tão somente englobar as questões de insalubridade não necessitaria afirmar que

114 Op. cit., p. 114.

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as atividades que oferecem prejuízo à integridade física estão inseridas no

conceito de trabalho sob condições especiais.

O conceito de saúde engloba “o estado do indivíduo cujas funções orgânicas,

físicas e mentais se acham em situação normal”115; refere-se, portanto, às

funções físicas, orgânicas e mentais. Uma atividade que prejudica a saúde do

trabalhador ocasionando-lhe, portanto, a perda dessas funções.

Já a manutenção da integridade física é a permanência da normalidade do corpo,

da estrutura que carrega as funções orgânicas, físicas e mentais, atuando como

uma caixa protetora delas.

Portanto, as atividades consideradas perigosas e penosas oferecem risco à

integridade física do segurado, razão pela qual não há que se acreditar que tais

trabalhos tenham sido desprezados pelo legislador quando da alteração

constitucional.

A aposentadoria especial visa à retirada antecipada do trabalhador do exercício

de atividades que poderão lhe ocasionar incapacidade laboral, sendo que, para

tanto, considerou as atividades insalubres como aquelas que afetam a saúde do

segurado.

Já as atividades perigosas, como aquelas aptas a prejudicar a integridade física

do trabalhador, em que a periculosidade está diretamente vinculada “à

possibilidade, eminente e real, do segurado sofrer algum dano resultante da

atividade que venha a exercer, [...] basta apenas que o segurado esteja

habitualmente e permanentemente acometido pela possibilidade real do

115 Estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal; estado do que é sadio ou são. Dicionário Aurélio “on line”. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/prova/>. Acesso em: 20.10.2011.

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dano”116.

As atividades penosas, dependendo da causa do sofrimento acentuado, poderão

causar dano à saúde ou à integridade física, ou mesmo a comunhão desses dois

institutos, de modo que o segurado obterá a antecipação de sua aposentadoria,

com vistas a evitar o mal.

A legislação atual presume o prejuízo à saúde em algumas atividades arroladas

no Decreto 3.048/1999, de modo que não há obstáculo para que o segurado

comprove a exposição a atividades ditas perigosas e penosas, para obter a

aposentadoria especial.

Outro não era o entendimento do extinto Tribunal Federal de Recursos,

conforme se verifica na dicção da Súmula 198, verbis: “Atendidos os demais

requisitos, é devida a aposentadoria especial, se a pericia judicial constatar que a

atividade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não

inscrita em Regulamento”.

Essa é, também, a interpretação de nossas Cortes Superiores, vejamos:

PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE

INSTRUMENTO. APOSENTADORIA. ATIVIDADE ESPECIAL.

CONVERSÃO. AUSÊNCIA DE ENQUADRAMENTO FORMAL.

CONCESSÃO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO

IMPROVIDO.

1. “É que o fato das atividades enquadradas serem consideradas especiais por

116 Arthur Bragança de Vasconcellos Weintraub e Fábio Lopes Vilela Berbel. Manual de aposentadoria especial. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 88.

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presunção legal, não impede, por óbvio, que outras atividades, não enquadradas,

sejam reconhecidas como insalubres, perigosas ou penosas por meio de

comprovação pericial” (REsp 600.277/RJ, Sexta Turma, Rel. Min. HAMILTON

CARVALHIDO, DJ 10/5/04). 2. Agravo regimental improvido. 117

Portanto, a alteração da dicção legal da hipótese de incidência do benefício em

exame, realizada com a extração da locução “atividades insalubres, perigosas e

penosas”, não modificou a própria hipótese, uma vez que a atual norma engloba,

no conceito de “atividades sob condições especiais”, o trabalho exercido com

exposição a agentes insalubres (violação à saúde), perigosos (violação à

integridade física) e penosos (combinação de violação à saúde e integridade

física), ou a associação destes.

Basta, então, que o segurado comprove a existência de nocividade (presença de

agentes físicos, químicos ou biológicos) na sua atividade, mesmo que não haja o

seu enquadramento legal, tendo em vista a impossibilidade normativa de

abrangência de todas as situações nocivas no mundo concreto118.

1.4.2.2.2 O Critério de Nocividade

A hipótese de incidência da norma em estudo alberga, ainda, a necessidade de

que a exposição aos agentes nocivos (insalubres, perigosos e penosos) seja

habitual, permanente e acima dos limites de tolerância humana no ambiente

laboral119.

117 STJ, 5ª T., Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 707613 (2005/0154169-7), Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 19.10.2009. 118 Arthur Bragança de Vasconcellos Weintraub e Fábio Lopes Vilela Berbel, op. cit., p.86-87. 119 Até a Lei 9.032/1995, a legislação previdenciária não fazia menção aos requisitos de permanência, habitualidade e não intermitência.

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Isso porque a mera presença do agente nocivo não basta para a demonstração de

que o trabalho desenvolvido pelo segurado pode lhe acarretar algum mal. Por

vezes, ocorre a exposição, mas em limites insignificantes. Neste caso, estamos

diante da presença de um agente nocivo, mas não do exercício de uma atividade

sob condições especiais, pois lhe falta o elemento nocividade.

Os agentes nocivos são divididos em agentes físicos, químicos e biológicos,

sendo que os critérios de habitualidade, permanência e intolerância modificam-

se de acordo com a classificação desses agentes.

Os agentes físicos são aqueles fenômenos materiais que acarretam a presunção

de violação à saúde ou à integridade física do segurado, quando realizados

acima dos limites de intolerância, tais como ruído, calor, frio, trepidação,

radiações ionizantes, umidade etc.

Já os agentes químicos são as substâncias líquidas, gasosas ou sólidas – tais

como amianto, hidrocarbonetos, compostos de carbono, névoas, neblinas e

poeiras – que, inalados, absorvidos pela pele ou ingeridos pelo trabalhador

podem acarretar prejuízo às suas funções físicas, orgânicas ou mentais.

Os agentes biológicos, por fim, são os organismos vivos infecciosos que, em

contato com o organismo humano, podem lhe alterar as funções, tais como

fungos, bactérias, parasitas e etc.

Arthur Weintraub e Fábio Berbel120, seguindo a lição de Wladimir Novaes

Martinez121, ressaltam, ainda, a existência de agentes psicológicos:

120 Op. cit., p. 98-99. 121 A prova no direito previdenciário. São Paulo: LTr, 2007, p. 43.

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O agente psicológico, portanto, é aquele que causa uma grande degradação

físico-psicológica no obreiro exposto, em decorrência do estresse gerado pela

prática da atividade. O que gera a nocividade, portanto, é a presença de agente

psicológico que, de modo direto, contribuem para um sacrifício acentuado à

pratica de determinado labor que, em circunstâncias diferenciadas seriam

executadas de forma tranqüila.

A presunção de nocividade desses agentes decorre da fixação dos limites de

tolerância em relação ao homem médio, e não no caso concreto, como defendem

Arthur Bragança de Vasconcellos Weintraub e Fábio Lopes Vilela Berbel122.

Os requisitos de habitualidade e permanência referem-se primordialmente à

exposição, pelo trabalhador, do tempo mínimo que possibilite o prejuízo à sua

saúde ou integridade física. Não se utiliza a ideia de que a exposição nociva

deva ocorrer durante toda a jornada de trabalho, posto que há agentes nocivos

em que, independentemente do tempo, a mera exposição a níveis altos de

concentração já podem acarretar prejuízos à saúde do segurado.

Assim, quanto maior é a intensidade do grau de nocividade, menor é o tempo

necessário para que tal exposição ofereça risco à saúde ou à integridade física do

segurado. A propósito, ensina o Miguel Horvath Júnior123:

O tempo de exposição será importante para observar o grau de nocividade do

agente. Assim, verifica-se a duração da exposição para constatar-se o limite de

tolerância ao agente. Ultrapassado este limite, o tempo de execução do trabalho

deixa de ter relevo, passando a ser considerado especial.

Portanto, a habitualidade e a permanência devem ser entendidas como fatores de

122 Op. cit., p. 87. 123 Direito Previdenciário, p. 278.

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exposição do segurado a agentes nocivos indissociável da produção do bem ou

da prestação do serviço, observando o tempo de exposição em relação ao grau

de nocividade do agente e não em relação ao tempo de trabalho diário.

1.4.2.3 Consequente Normativo

Não há unanimidade doutrinária quanto aos detentores do direito à

aposentadoria especial, ou seja, no que respeita aos seus sujeitos ativos.

A própria Lei 8.213/1991, em seu artigo 18124, não restringe o âmbito de

distribuição da referida prestação, como o fez em relação ao auxílio-acidente,

mas a hipótese de incidência, por si só, efetua tal tarefa.

Inicialmente, temos que, para ser beneficiário da referida prestação, impende

que haja a realização da hipótese de incidência, ou seja, o exercício de atividade

sob condições especiais, o que, de plano, já retira desse cenário protetivo os

segurados facultativos (por ausência de atividade laboral), os domésticos e os

segurados especiais (por ausência de exposição).

Uma questão interessante é sobre a possibilidade, ou não, da obtenção do

benefício pelos segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes

124 Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços: I - quanto ao segurado: a) aposentadoria por invalidez; b) aposentadoria por idade; c) aposentadoria por tempo de contribuição; d) aposentadoria especial; e) auxílio-doença; f) salário-família; g) salário-maternidade; h) auxílio-acidente; II - quanto ao dependente [...] III - quanto ao segurado e dependente: b) serviço social; c) reabilitação profissional. § 1º. Somente poderão beneficiar-se do auxílio-acidente os segurados incluídos nos incisos I, VI e VII do artigo 11 desta Lei. § 2º. O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado. § 3º O segurado contribuinte individual, que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado, e o segurado facultativo que contribuam na forma do § 2º do art. 21 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, não farão jus à aposentadoria por tempo de contribuição.

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individuais expostos a agentes nocivos, acima dos limites de tolerância, no

exercício de suas atividades laborais.

Sobre o assunto, nenhum dissenso existe quanto ao direito dos empregados e

trabalhadores avulsos expostos a agentes nocivos acima dos limites de

tolerância, justamente porque a exposição a atividades prejudiciais à saúde ou à

integridade física para tais sujeitos decorre da subordinação ao empregador, que

determina a realização do serviço sob condições especiais. Assim, a exposição

não resulta de sua própria vontade, mas do interesse de terceiro.

A partir da vigência da Lei 10.666/2003, os cooperados filiados às suas

respectivas cooperativas de trabalho e de produção e que trabalham sujeitos a

condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou a sua integridade física

passaram a ser beneficiários da prestação.

Dúvidas residuais, portanto, só restaram quanto à tutela de proteção dos demais

contribuintes individuais.

Para Miguel Horvath Júnior125, André Studart Leitão126, Carlos Alberto Pereira

de Castro e João Batista Lazzari127, são sujeitos ativos da referida prestação os

segurados empregados, trabalhadores avulsos e os contribuintes individuais

cooperados nos termos da Lei 10.666/2003128, excetuando-se os demais.

Sobre o assunto, assevera André Studart Leitão129 que “o contribuinte individual

assume o risco da própria atividade econômica, não podendo valer-se disso para

125 Direito Previdenciário, p. 287. 126 Op. Cit., p. 178. 127 Op. Cit., p. 637. 128 Art. 1º As disposições legais sobre aposentadoria especial do segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social aplicam-se, também, ao cooperado filiado à cooperativa de trabalho e de produção que trabalha sujeito a condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou a sua integridade física. 129 Op. cit., mesma página.

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beneficiar-se de uma situação a que dá causa (trabalhadores por conta própria)

ou que pode evitar (a serviço de outrem)”.

Já Simone Barbisan Fortes e Leandro Paulsen130, Sérgio Pardal Freudenthal131,

Fábio Zambitte Ibrahim132, Wladimir Novaes Martinez133 e Arthur Bragança de

Vasconcellos Weintraub e Fábio Lopes Vilela Berbel134, acrescentam aos

sujeitos ativos da prestação os demais contribuintes individuais que se expõem a

atividades nocivas à saúde ou à integridade física.

Esse entendimento é consubstanciado no fato de que a prestação previdenciária

em comento está intimamente ligada ao trabalho prestado135, e não à pessoa que

o presta, de modo que, havendo trabalho sob condições especiais,

imprescindível é a incidência da norma em exame, sob pena de violação ao

princípio da isonomia, como asseverado por Fábio Zambitte Ibrahim136:

Seria flagrante violação à isonomia e à Lei 8213/91 não estender esta prestação

a outros contribuintes individuais que, devido a sua profissão, tenham

necessariamente que se expor a agentes nocivos. Acredito que tudo dependerá

do caso concreto, cabendo à extensão se provada a nocividade inerente à

atividade desenvolvida, de modo permanente.

A jurisprudência também não é pacífica acerca da problemática enfrentada,

vejamos:

Pelo reconhecimento da tutela aos contribuintes individuais:

130 Op. cit., p. 209. 131 Op. Cit., p. 145. 132 Op. Cit., p. 555-556. 133 Aposentadoria Especial, p. 28. 134 Op. cit., p. 74. 135 Arthur Bragança de Vasconcellos Weintraub e Fábio Lopes Vilela Berbel, op. cit., p. 74. 136 Op. cit., p. 558.

[EAL1] Comentário: Exclui palavras.

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PREVIDENCIÁRIO – ATIVIDADE URBANA – CONTRIBUINTE

INDIVIDUAL – ATIVIDADE ESPECIAL – AUTÔNOMO – CONCESSÃO

DE APOSENTADORIA MAIS VANTAJOSA – TUTELA ESPECÍFICA – 1-

A parte autora tem o direito do cômputo do tempo em que contribuiu na

condição de contribuinte individual para fins de aposentadoria. 2- Uma vez

exercida atividade enquadrável como especial, sob a égide da legislação que a

ampara, o segurado adquire o direito ao reconhecimento como tal e ao

acréscimo decorrente da sua conversão em comum. 3- Constando dos autos a

prova necessária a demonstrar o exercício de atividade sujeita a condições

especiais, conforme a legislação vigente na data da prestação do trabalho, deve

ser reconhecido o respectivo tempo de serviço. 4- O segurado empresário ou

autônomo, que recolheu contribuições como contribuinte individual, tem direito

à conversão de tempo de serviço de atividade especial em comum, quando

comprovadamente exposto aos agentes insalubres, de forma habitual e

permanente, ou decorrente de categoria considerada especial, de acordo com a

legislação. [...]137.

Pelo não reconhecimento da tutela protetiva aos contribuintes individuais:

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO –

REVISÃO – ATIVIDADE ESPECIAL – CONTRIBUINTE INDIVIDUAL –

IMPOSSIBILIDADE – DEMAIS PERÍODOS NÃO COMPROVADOS –

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – I- Para que a atividade seja considerada

especial não basta a comprovação do seu exercício, mas também a necessária

comprovação da presença de elementos que demonstrem o modo como a

atividade era exercida, com a indicação de eventuais agentes agressivos ou

137 TRF 4ª R, 6ª T., AC 2006.71.10.004064-6/RS, Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira – DJe 02.08.2010, p. 298.

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condições penosas ou perigosas. II- Restou demonstrado que o autor era o dono

da empresa, tendo vertido recolhimentos como contribuinte individual (CNIS-

acostado ao voto). O contribuinte individual, antigo "autônomo", não é sujeito

ativo do benefício de aposentadoria especial, razão pela qual não pode haver

reconhecimento de períodos dessa natureza para fins de conversão. [...]. V-

Apelo do INSS e remessa oficial providos138.

De nossa parte, entendemos que a prestação em exame é destinada a evitar a

incapacidade laboral daqueles que prestam serviços nocivos à sua saúde ou

integridade física, ou seja, a proteção está ligada essencialmente ao trabalho

desenvolvido, e não à pessoa que o exerce.

Entretanto, temos que a prestação em comento visa à prevenção de um risco, e

não de uma contingência e, como já estudado, nas contingências a tutela de

proteção mitiga a involuntariedade do sujeito, como no caso da proteção à

maternidade, que pode ser programada e desejada, mas o mesmo não ocorre no

risco.

No caso específico da proteção conferida pela concessão de aposentadoria

especial, o seguro social não visa a outorgar prestações a situações de dano

(sinistro) criadas pelo próprio beneficiário, sendo imprescindível a

involuntariedade do beneficiário para a percepção da aposentadoria especial.

Bem por isso, temos que, num primeiro momento, não estariam incluídos no

benefício os contribuintes individuais. Entretanto, no mundo fenomênico as

situações não são tão objetivas, de modo que não seria correto afirmar que todo

e qualquer contribuinte individual estaria excluído da proteção securitária.

138 TRF 3ª R, 9ª T., AC 2005.03.99.018962-0/SP, Rel. Des. Fed. Marisa Santos, DJe 01.10.2010, p. 1889.

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Isso porque o contribuinte individual que exerça atividades sob condições

especiais, sem qualquer chance de abstenção da exposição ou da eliminação da

nocividade, deverá obter a tutela protetiva. É o caso, exemplificativamente, dos

operadores de Raio X, que não podem exercer o oficio sem, obrigatoriamente,

expor-se à radiação.

Já os trabalhos exercidos por contribuintes individuais cuja exposição a agentes

nocivos ocorra tão somente por seu descuido, e não pela indissociabilidade das

tarefas que executam, não farão jus à benesse, pois não é conferido ao

beneficiário gerar o risco a ser protegido.

Esse é o caso, por exemplo, dos empresários que permitem, em seu ambiente

laboral, por total negligência com a sua saúde e a de seus empregados, a

manutenção de ruído acima dos limites de tolerância, já que simples medidas

corretivas de atenuação dos riscos ambientais importariam em ausência de

nocividade no local de trabalho.

Nessa hipótese, temos que os empregados estão expostos aos agentes nocivos

por subordinação do empresário, fazendo jus, portanto, ao benefício, mas o

empresário não será considerado beneficiário da prestação, posto que provocou

a ocorrência do sinistro.

Pois bem, o sujeito passivo é a União Federal, representada por sua autarquia

federal, o Instituto Nacional do Seguro Social.

O critério quantitativo da regra matriz de incidência da norma previdenciária é

formado pelo salário-de-benefício (base de cálculo) e da alíquota de 100% (cem

por cento) sobre aquele, sem a aplicação do fator previdenciário.

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1.5 Outras Atribuições para o Uso do Tempo Especial

A prova do tempo especial, ou seja, do exercício de atividades sob condições

especiais, não se presta somente à comprovação do preenchimento da hipótese

de incidência da aposentadoria especial, muito embora seja esta, por excelência,

a sua destinatária.

Durante o transcurso da vida laboral, um segurado pode exercer inúmeras

atribuições; em algumas é possível que haja a exposição a agente nocivo à sua

saúde ou integridade física, e em outras não.

Também é possível que o segurado exerça algumas atividades especiais com

graus diversos de nocividade, ou seja, que permitam a percepção de

aposentadoria especial com 15, 20 ou 25 anos.

Bem por isso, em 1980 foi editada a Lei 6.887139, que autorizou, aos segurados

que exerciam alternadamente atividades comuns e especiais, a utilização do

instituto da conversão do tempo para fins de percepção de aposentadoria

especial ou mesmo comum, mediante a conversão de tempo comum em

especial, ou especial em comum, por meio da utilização dos critérios de

equivalência fixados pelo Ministério da Previdência Social.

Muito se discutiu acerca da possibilidade de retroação da Lei 6.887 para eventos

ocorridos antes de sua edição até que, em três de setembro de 2003, foi editado o

Decreto 4.827, que, alterando o artigo 70 do Decreto 3.048/1999, colocou uma

139 Antes dessa norma, o Decreto 63.230/1968 previa somente a possibilidade de conversão do tempo especial em outro especial, em razão dos diferentes graus de nocividade.

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pá de cal sobre a discussão, autorizando a retroação da lei. Vejamos:

Artigo 70. A conversão de tempo de atividade sob condições especiais em

tempo de atividade comum dar-se-á de acordo com a seguinte tabela:

§ 1º A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições

especiais obedecerá ao disposto na legislação em vigor na época da prestação do

serviço.

§ 2º As regras de conversão de tempo de atividade sob condições especiais em

tempo de atividade comum constantes deste artigo aplicam-se ao trabalho

prestado em qualquer período.

A partir da Lei 9.032/1995, a possibilidade de conversão do tempo comum em

especial foi extirpada do nosso ordenamento, de modo que, atualmente, os

segurados podem somente converter o tempo especial em comum140, para fins de

obtenção de aposentadoria por tempo de contribuição e por idade.

A conversão do tempo especial em comum é a demonstração de que um ano de

trabalho comum não corresponde a um ano de trabalho exercido sob condições

especiais.

140 Lei 8.213/1991, art. 57, § 5º: O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício.

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2. A PROVA E SEUS MEIOS DE PRODUÇÃO

A norma previdenciária regulamenta a proteção social conferida ao ser humano,

diante da ocorrência de certos riscos sociais ou na hipótese de contingências,

ambos previamente definidos.

Entretanto, não é possível ao sistema previdenciário o oferecimento da proteção

social a todos os sujeitos necessitados, ou mesmo a entrega de uma prestação de

cunho econômico, na ocorrência de toda e qualquer situação geradora de

aumento de despesa ou diminuição de renda.

Assim, somente aqueles que possuem a qualidade de segurado farão jus às

prestações sociais e de acordo com a seleção dos riscos cobertos pelo legislador,

após o cumprimento dos requisitos dispostos na lei141.

Como se vê, a norma é um comando geral e abstrato, que depende da ocorrência

de fatos nela definidos para gerar efeitos.

Desta forma, para a demonstração do direito à percepção de uma prestação

previdenciária impende que o segurado comprove o cumprimento da carência

(primeiro fato) e o cumprimento integral da hipótese de incidência da norma do

benefício almejado (segundo fato). Sem a ocorrência destes, ou na ausência de

prova destes, a norma previdenciária continua sendo uma regra abstrata, sem

produção de efeitos, ou seja, não há a subsunção da norma.

Essa comprovação, portanto, é a demonstração, pelo beneficiário, da ocorrência

de uma situação de fato, que deve ser levada ao conhecimento do sujeito passivo

da relação previdenciária para a geração dos efeitos previstos na norma, no caso

141 Por exemplo: carência e tempo de contribuição.

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em apreço, a outorga de proteção social.

No momento em que a parte postula administrativamente um benefício, ela

deverá provar o cumprimento da carência e dos requisitos para a percepção da

prestação previdenciária.

Bem por isso mostra-se de extrema relevância o estudo da prova, uma vez que

através dela é que se demonstra a veracidade dos fatos havidos na vida do

segurado, que serão levados ao conhecimento da Administração Pública

Previdenciária e, na hipótese de recusa desta, na concessão do benefício, aos

órgãos do Poder Judiciário.

Sem prova não há como demonstrar o fato gerador do direito142. O direito pode

até existir, mas sem comprovação não pode ser exercido.

2.1 Conceito de prova

Segundo o Dicionário Aurélio, prova é “aquilo que atesta a veracidade ou a

autenticidade de alguma coisa; demonstração evidente” 143.

Em outras palavras, prova é todo instrumento por meio do qual uma pessoa

demonstra para outra a ocorrência de um fato relevante para o direito ou, na

clássica definição de Mittermayer, apud João Batista Lopes144, “prova é o

complexo dos motivos produtores da certeza”.

142 “Pela máxima jura novit cúria (‘o tribunal conhece os direitos’), tem-se que o direito alegado não é objeto da prova, mas apenas os fatos, ou seja, aquilo que ocorreu no mundo”. Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamani. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento, v. I. 11ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 479. 143 Dicionário Aurélio “on line”. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/prova/>. Acesso em: 20/10/2011. 144 A prova no direito processual civil. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p.22.

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A prova é o meio de percepção e apreensão da verdade de um fato, mas não é o

evento em si, como deixa muito claro Francesco Carnelutti145:

[...] a prova deve diferenciar-se do procedimento utilizado para a verificação da

proposição (afirmada); [...] a prova da afirmação acerca da existência de um

fato, se faz mediante o conhecimento de um mesmo fato; o conhecimento não é

a prova, porém dá a prova da afirmação.

Acerca da prova judicial, temos que esta constitui “o instrumento por meio do

qual se forma a convicção do juiz a respeito da ocorrência ou inocorrência dos

fatos controvertidos no processo”146, ou, ainda, nos ensinamentos de Luiz

Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini147, “o instrumento processual adequado

a permitir que o juiz forme convencimento sobre os fatos que envolvem a

relação jurídica objeto da atuação jurisdicional”.

Entretanto, no âmbito do Direito Previdenciário, a prova não é destinada à

formação da convicção do magistrado. Isso porque o benefício pretendido pelo

segurado, ou mesmo pelo seu dependente, deve ser requerido primeiramente em

face da Administração Pública.

Essa é a lição de Wagner Balera148, com a qual concordamos inteiramente:

O requerimento [administrativo] é um pressuposto indispensável à constituição

do crédito previdenciário do beneficiário. Sem que essa providência esteja

formalizada, o Poder Público, representado pela autarquia legalmente incumbida

145 A prova civil. Trad. Lisa Pary Scarpa. Campinas: Bookseller, 2002, p.67. 146 Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco. Teoria geral do processo. 18ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 348. 147 Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento, v. I. 11ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 475. 148 Processo administrativo previdenciário: benefícios. São Paulo: LTr, 1999, p. 28.

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de fornecer as prestações – o Instituto Nacional do Seguro Social – não pode,

salvo situações excepcionalíssimas de outorga de oficio do benefício, exercer a

função administrativa.

Desse modo, verifica-se que a prova, no processo administrativo previdenciário,

é destinada inicialmente ao Poder Público, concessor das prestações

previdenciárias e, posteriormente, na recusa de reconhecimento do direito por

este, ao Poder Judiciário, sendo, então, a este destinada.

De qualquer forma, seja no âmbito do processo administrativo, seja na formação

do processo judicial, a prova é o instrumento pelo qual o beneficiário deverá

demonstrar o cumprimento da carência e dos requisitos integrantes da hipótese

de incidência da norma previdenciária (fatos descritos na norma).

Bem por isso, os meios de prova a serem examinados no presente estudo levarão

em conta a normatização condensada no Código de Processo Civil, na Lei

9.784/1999 (que regula o processo administrativo no âmbito da Administração

Pública Federal) e na Instrução Normativa n.º 45/2010 do INSS/PRES.

2.2 Classificação da prova

Podemos classificar a prova segundo seu objeto, sujeito e forma149.

O objeto da prova é o fato a ser provado150. No caso deste estudo, o fato

probando é o exercício de trabalho exercido sob condições especiais.

149 Classificação adotada por Moacyr Amaral dos Santos. Primeiras linhas de direito processual civil, v. I. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 329. 150 Fato probando.

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Quanto ao seu objeto, a prova é classificada em direta (aquela que demonstra o

próprio fato probando objetivamente) e indireta (prova que não se dirige ao fato

probando em si, mas a circunstâncias outras que, subjetivamente, levam a uma

conclusão, que é a situação a ser provada, dependendo de um movimento

intelectual do destinatário, como a dedução, indução etc).

Como bem enfatiza Francesco Carnelutti151, a prova direta possui notória

superioridade sobre a prova indireta, posto que naquela o destinatário da prova

tem contato imediato ou muito próximo com o fato a ser provado, enquanto que

nesta, seus sentidos são levados ao entendimento buscado através de deduções152

necessárias à compreensão do fato.

Já o sujeito da prova é a pessoa ou coisa que serve de fundamento à ela, ou seja,

que demonstra a verdade dos fatos. Assim, a prova pode ser, ainda, classificada

como prova real (comprovação emanada de coisas) e pessoal (comprovação

emanada de uma pessoa).

Por fim, segundo as formas de apresentação da prova ao seu destinatário, esta se

classifica em testemunhal, documental e material.

Prova testemunhal é toda aquela em que o seu destinatário colhe oralmente a

afirmação ou a negação dos fatos, como na oitiva de testemunhas, nos

depoimentos pessoais das partes e na confissão.

Prova documental é a afirmação ou negação do fato, de forma escrita ou

gravada.

151 Op. cit., p. 83. 152 “O Juiz constrói um silogismo, no qual a premissa menor está constituída pela posição do fato percebido diverso do fato a provar, e a conclusão pela afirmação da verdade ou não (existência ou inexistência) do fato a provar, enquanto que serve de premissa maior uma norma, que o juiz considera aplicável ao fato percebido”. Ibid., p. 91.

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Já a prova material é toda e qualquer forma de evidência física, que possa

demonstrar o fato probando, como as perícias, corpo de delito, documento

contemporâneo ao fato probando etc.

2.3 Produção da prova

Em nosso sistema processual civil153, admite-se a produção de toda e qualquer

prova, desde que lícita e moralmente legítima.

No âmbito administrativo, conforme determinação contida na Lei 9.784/1999154

e na Instrução Normativa (IN) n.º 45/2010155, do INSS, também é aceita a

produção de todo e qualquer meio de prova.

Portanto, não somente as provas previstas no Código de Processo Civil e na

legislação acima citada podem ser produzidas pelas partes para a demonstração

dos fatos, mas também todas aquelas de que o beneficiário dispuser, desde que

lícitas e moralmente legítimas.

Não poderia ser diferente, uma vez que, como ressaltado por Eduardo Cambi156,

“a ideia de taxatividade do rol dos meios de prova é contrária à busca da

máxima potencialidade do mecanismo probatório, inerente à noção de direito à

prova”.

153 Código de Processo Civil, art. 332, verbis: Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa. 154 Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as provas obtidas por meios ilícitos. 155 Art. 588. São admissíveis no processo administrativo todos os meios de prova que se destinem a esclarecer a existência do direito ao recebimento do benefício ou serviço, salvo se a lei exigir forma determinada. 156 A prova civil: admissibilidade e relevância. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 40.

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A produção probatória passa, assim, pelo critério de admissibilidade pelo seu

destinatário. Aqui não estamos a falar somente da licitude ou ilicitude da prova,

mas sim da sua relevância para os fins a que se destina a sua produção.

Neste contexto, é conferido ao juiz, destinatário da prova judiciária, indeferir as

provas inúteis ou protelatórias157 e ao Administrador Público, destinatário da

prova administrativa, recusar as provas ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou

protelatórias158.

Casos há em que a própria lei impede a realização de determinados meios de

prova, a exemplo da comprovação do exercício do tempo de contribuição

através de prova exclusivamente testemunhal159.

Assim, cabe à parte a observância dos meios de prova admitidos, sob pena de a

prova ser completamente desprezada.

Como regra geral, não há hierarquia entre os meios de prova, bem como os seus

meios de produção não estão restritos àqueles previstos em lei, podendo ser

comprovados os fatos alegados por instrumentos dos mais diversos, desde que,

repita-se, não sejam ilícitos ou moralmente inadmissíveis160.

Muito embora não haja hierarquia entre os meios de prova, verificam-se, na

prática, diferenças quanto ao poder de persuasão que os diferentes meios de

prova possuem. Um bom exemplo disto é dado por Wladimir Novaes

157 Código de Processo Civil, art. 130: Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias. 158 Artigo 38, parágrafo 2º da Lei 9.784/1999. 159 Lei 8.2131991 Art. 55. § 3º. A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o disposto no artigo 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no Regulamento. 160 Constituição Federal. Art. 5º, LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; Código de Processo Civil. Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.

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Martinez161:

Existem então provas frágeis (a anotação da palavra “lavrador” no título de

eleitor de um trabalhador rural), de eficácia mediana (recibos de pagamento

como inícios razoáveis) e provas contundentes, vale dizer, exaustivas,

suficientes, convincentes (caso da anotação do registro do empregado na CTPS e

na Ficha Registro de Empregados).

Entretanto, o poder de persuasão de uma prova depende do seu destinatário,

sendo possível que um magistrado, por exemplo, dê mais valor aos recibos de

pagamento que ao registro do contrato de trabalho, quando houver notória

ilegalidade da empregadora na admissão e formalização dos contratos de

trabalho. Assim, os meios de prova não são hierarquizados pela lei, cabendo ao

seu destinatário conferir a persuasão probatória diante do conjunto de atos

produzidos, seja no processo administrativo ou judicial162.

Isso porque em nosso sistema processual, tanto judicial quanto administrativo,

impera a ideia da persuasão racional do destinatário da prova, em que esta é

apreciada livremente, mas os motivos de convencimento do órgão julgador

devem ser motivados, e, assim, justificados, ao contrário do que ocorre no

sistema da livre convicção163.

Nesse contexto, o destinatário da prova deve decidir sobre a veracidade dos

fatos probandos de acordo com a prova existente nos autos, sejam eles

161 A prova no direito previdenciário, p. 40. 162 No âmbito judicial, a lei autoriza o livre convencimento do magistrado acerca das provas produzidas, vejamos o que determina o Código de Processo Civil. Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento. 163 “Onde o juiz é soberanamente livre quanto à indagação da verdade e apreciação das provas. A verdade jurídica é a formada na consciência do juiz, que não é, para isso, vinculado a qualquer regra legal, quer no tocante à espécie de prova, quer no tocante à sua avaliação”. Moacyr Amaral dos Santos, op. cit., p. 379.

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administrativos ou judiciais, não podendo dispensar o modo pelo qual a prova

deve ser produzida, quando a lei indicar forma específica.

Portanto, os destinatários da prova podem apreciá-la livremente, desde que

constante dos autos e de acordo com a exigência de forma, quando a lei assim

determinar, devendo motivar suas decisões.

No âmbito do processo previdenciário, por exemplo, não é conferido ao juiz, ou

mesmo ao servidor encarregado da decisão de concessão de benefício, dispensar

o início de prova material do tempo de contribuição (salvo caso fortuito ou força

maior), já que esta é uma forma exigida por lei.

Como já dito, no âmbito do processo administrativo a prova é destinada ao

sujeito passivo da relação, sem a intervenção de um terceiro imparcial, como

ocorre no âmbito do Poder Judiciário.

Por conta de tais nuances, o legislador constitucional assegurou, também no

âmbito do processo administrativo, a observância do contraditório, da ampla

defesa e do devido processo legal164.

Em razão justamente do princípio do contraditório, é conferida à parte contra

quem se produziu uma prova, a realização de contraprova e a interposição dos

recursos, onde poderão ser requeridas novas diligências.

A contraprova é a demonstração, por outro meio de convicção, de que o fato

provado inicialmente não corresponde à realidade.

No âmbito do processo administrativo previdenciário, o órgão responsável pela

164 Art. 5º. [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

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concessão dos benefícios deve diligenciar na busca da verdade dos fatos, e não

na busca da demonstração da mentira supostamente contida nas provas

produzidas pelo segurado165. Descabe, portanto, qualquer presunção de má-fé.

Em havendo indícios de irregularidade, cabe à Administração Pública

diligenciar a fim de esclarecer o ocorrido.

Portanto, à autarquia previdenciária, por ser a destinatária das provas produzidas

no âmbito administrativo, não compete o papel de produzir contraprovas das

alegações levadas ao seu conhecimento, pois não está ela, num primeiro

momento, em conflito com o segurado.

Assim, no âmbito do processo administrativo, a contraprova surge quando a

autarquia previdenciária, no exame do direito postulado, depara-se com provas

contrárias aos interesses do segurado.

Um exemplo da ocorrência de invalidação da prova produzida pelo segurado é a

apresentação, no momento do requerimento da concessão de aposentadoria por

tempo de contribuição, de holerites de pagamento de salário sem que haja

anotação do contrato laboral na Carteira de Trabalho e Previdência Social do

segurado, ou quando esta anotação encontra-se rasurada.

A princípio, os documentos apresentados comprovam a existência de um

contrato de trabalho, muito embora não registrado, e do tempo de contribuição

nele inserido. Acaso restem dúvidas, à autarquia previdenciária cabe diligenciar

junto à empregadora, de modo a obter provas mais robustas da existência do

pacto trabalhista.

165 Tanto que a IN n.º 45/2011 preceitua a busca pela validade do documento. Vejamos: Art. 591. Em caso de dúvida quanto à veracidade ou contemporaneidade dos registros constantes na CTPS, inclusive de empregado doméstico, e outros documentos apresentados pelo requerente, deve o servidor, obrigatoriamente, buscar a obtenção da confirmação de sua validade, utilizando as informações constantes em bancos de dados colocados à sua disposição ou mediante realização de Pesquisa Externa.

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Nessa circunstância, pode ocorrer da autarquia previdenciária deparar-se com

uma verdade totalmente diferente daquela apresentada pelo segurado, quando,

então, terá sido produzida uma contraprova.

Note-se: a autarquia não buscou a prova negativa dos fatos narrados pelo

segurado, mas sim a prova positiva, para corroborar aquelas juntadas aos autos

administrativos166. Diante da ausência da prova positiva surgiu, então, a

contraprova.

Enquanto destinatária da prova, a autarquia previdenciária não busca a

contraprova. Quando a produção desta ocorre, é porque foi necessária a

realização de diligências para a solução de dúvidas advindas das provas

realizadas pelo segurado.

Já no curso do processo judicial, a autarquia previdenciária passa a ser parte,

cabendo a ela a produção das provas que entender necessárias ao deslinde do

feito, bem como de contraprovas da ausência dos fatos que dão sustento ao

direito postulado.

2.4 Ônus da prova

A fim de estabelecer regras claras quanto à produção da prova no processo

judicial, o legislador processual determinou a divisão do encargo probatório,

denominando-o “ônus da prova”.

166 Até porque a boa-fé do segurado se presume. Vejamos o conteúdo do artigo 564 da IN 45/2010. Art. 564. Nos processos administrativos previdenciários serão observados, entre outros, os seguintes preceitos: I – presunção de boa-fé dos atos praticados pelos interessados.

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De acordo com o dicionário Aurélio167, ônus é o “encargo ou obrigação pesada,

de cumprimento difícil ou desagradável”.

Assim, quando o Código de Processo Civil anuncia a divisão do “ônus da

prova”, ele determina a tarefa de cada parte na demonstração dos fatos levados

ao conhecimento do Poder Judiciário. É uma tarefa anunciada pela norma, mas

não um dever, posto que a prova é realizada com vistas a comprovar os fatos

alegados e, com isso, obter o reconhecimento de um direito, e não como uma

obrigação da parte.

Eduardo Cambi168 deixa bem claro o conceito de ônus no direito processual

civil:

A noção de ônus integra a teoria geral do direito, porém a sua principal

aplicação se dá no campo processual. Essa situação jurídica está no mesmo

grupo dos poderes e das faculdades, porque o sujeito tem liberdade para a

realização do ato, que reverte em seu próprio beneficio e cuja não realização

pode acarretar-lhe, apenas, conseqüências desfavoráveis.

Portanto, a parte não tem a obrigação de realizar a prova, mas, se não o fizer,

assumirá os prejuízos dessa tomada de conduta, razão pela qual impende que ela

reflita sobre seu próprio interesse e conveniência na produção da prova.

Note-se, inclusive, que, no campo das obrigações, a parte sabe qual o efeito do

cumprimento ou não de sua obrigação, o que não ocorre na esfera probatória,

posto que, apesar de cumprido o ônus da prova, a parte que a produziu

dependerá, ainda, da valoração realizada pelo seu destinatário.

167 Dicionário Aurélio “on line”. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/prova/>. Acesso em: 20/10/2011. 168 Op. cit., p. 315.

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Assim, “o cumprimento do ônus da prova é somente um instrumento para a

obtenção de uma decisão favorável, mas que não retira a possibilidade de o juiz,

dentro do seu livre convencimento motivado, dar razão à parte contrária”169.

Feitas tais ponderações, ressaltamos que as regras da divisão do ônus da prova

devem ser consideradas sob dois fundamentos: o subjetivo, que leva em conta a

relação da parte com o fato a ser provado, e o objetivo a ser tomado pelo órgão

julgador no momento do julgamento.

A Lei 9.874/1999 não estruturou a divisão do ônus da prova como o fez o

legislador processual civil, tanto que, em seu artigo 36, determina unicamente

que:

Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo

do dever atribuído ao órgão competente para a instrução e do disposto no artigo

37 desta Lei.

Como se vê, a regra para o processo administrativo é simples, cabe ao

interessado a prova dos fatos alegados. No caso de a prova estar em poder de

algum órgão da administração pública, impende que o interessado informe tal

situação, momento em que o destinatário da prova a requererá170.

Contudo, tal norma, se lida conjuntamente com os artigos 2º, parágrafo único,

inciso XII e 26 da Lei 9.784/1999 (que informam o principio da oficialidade),

pode ocasionar alguma incompreensão, posto que se é dado ao interessado a

169 Eduardo Cambi, op. cit., p. 316. 170 Lei 9.784/1999. Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão registrados em documentos existentes na própria Administração responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o órgão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos documentos ou das respectivas cópias.

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demonstração dos fatos alegados, não caberia ao Administrador Público

impulsionar de oficio o processo, principalmente no campo da produção das

provas.

Irene Patrícia Nohara e Thiago Morrara171 entendem que o princípio da

oficialidade somente é aplicável nos processos administrativos em que haja

interesse público. Nesse caso, é dever do órgão público impulsionar o processo

na busca da verdade dos fatos, o que não ocorreria no caso dos interesses

individuais, onde o ônus da prova retornaria exclusivamente para o interessado.

Neste estudo, tratamos do direito de alguns segurados à percepção de

aposentadoria especial, ou seja, da concessão de cobertura social de proteção de

um segurado exposto por 15, 20 ou 25 anos a tempo de trabalho exercido em

condições desfavoráveis à sua saúde ou integridade física.

Tendo em vista a evolução do Direito Previdenciário e do conceito de risco, o

interesse da Administração Pública na concessão de proteção social diante do

risco é imenso, posto que, como observa Armando de Oliveira Assis172:

O perigo que ameaça o indivíduo se transfere para a sociedade, ou por outra, se

ameaça uma das partes componentes do todo, fatalmente ameaçará a própria

coletividade, o que faz com que as necessidades daí surgidas, além e acima de

serem apenas do individuo, se tornem igualmente necessidades da sociedade.

Portanto, entendemos que se aplica no processo administrativo previdenciário o

princípio da oficialidade, donde é dever do administrador público dar andamento

ao processo administrativo, mesmo na hipótese de inércia do

interessado/segurado.

171 Processo administrativo, Lei n.º 9.784/99 comentada. p. 253. 172 Op. cit., p. 28.

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Assim, verificamos que, no âmbito administrativo, todas as provas deverão ser

produzidas, seja pelo interessado, seja de ofício pela Administração Pública.

O mesmo não ocorre no processo judicial previdenciário, no qual,

sinteticamente, a regra de divisão do encargo probatório pode ser condensada da

seguinte forma: compete ao autor a prova do fato constitutivo do direito e ao

réu, as causas extintivas, impeditivas ou modificativas do direito do autor173.

Assim, no caso específico deste estudo, compete ao segurado a prova do

exercício de atividade sob condições especiais por 15, 20 ou 25 anos e, ao

Instituto Nacional do Seguro Social, demonstrar que o trabalho desempenhado

não pode ser classificado como “atividade sob condições especiais”.

2.5 Espécies de prova

Como já dito, todos os meios de prova são admitidos, mesmo aqueles não

previstos em lei, desde que moralmente legítimos e lícitos.

Assim, nosso ordenamento jurídico processual prevê as seguintes provas como

possíveis de serem produzidas no processo judicial: depoimento pessoal,

confissão, documental, exibição de documento ou coisa, testemunhal, pericial e

a inspeção judicial.

No processo administrativo previdenciário temos, como meios de provas

nominados ou típicos: os documentos, as diligências externas, o requerimento de

173 Art. 333 do CPC, verbis: O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

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prestação de informações ou documentos a terceiros e justificação

administrativa (em que ocorre a produção de provas testemunhais, como

veremos adiante).

Passemos ao exame das provas nominadas em nossa legislação.

2.5.1 Prova documental

Documento é o registro físico de um fato ocorrido. Como assinala Moacyr

Amaral dos Santos174, “documento – de documentum, do verbo doceo, ensinar,

mostrar, indicar – significa uma coisa que tem em si a virtude de fazer conhecer

outra coisa”.

Portanto, a prova documental é o modo pelo qual se leva ao seu destinatário o

registro físico de um evento, para conhecimento e verificação da verdade nele

contida.

Muito embora, como vimos, não haja hierarquia expressa entre os meios de

prova, a prova documental possui relevância sobre as demais, como bem

assinalam Ailton Aparecido Laurindo175 e Francesco Carnelutti176.

Como asseguram Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamani177: “é preciso

afastar a idéia de que documento é apenas a palavra escrita. É mais, pois muitos

são os modos de se registrarem os fatos ocorridos”.

Bem por isso, para ser considerado documento, pouco importa o material em

174 Op. cit., p. 384. 175 Das provas no processo previdenciário. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006, p. 105. 176 Op. cit., p. 150-151. 177 Op. cit., p. 509.

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que é produzido, sendo considerado prova documental o registro de um fato

realizado em papel, em uma foto, em uma parede, uma gravação, entre outros. A

forma mais comum de produção de documento é o meio escrito, mas tal não

inibe a apresentação de outras formas de registro da ocorrência de um fato.

Um documento pode possuir um autor material e um intelectual. O autor

material é aquele que realiza o registro, redige o contrato, grava a cena. Já o

autor intelectual é aquele criador do conteúdo, sobre quem o documento lança e

comprova os fatos.

Tal distinção mostra-se pertinente “na exata medida em que um documento fará

prova contra o autor intelectual quando contiver sua assinatura”178. A subscrição,

assim, é de extrema importância para a prova de assunção de obrigações quanto

ao conteúdo do documento.

Um documento escrito pode possuir conteúdo narrativo, de somente ciência de

um fato, ou constitutivo, de expressão de vontade. Nessa segunda hipótese,

deve-se observar a forma de declaração da vontade, pois muitas vezes o

documento com conteúdo constitutivo deve seguir uma forma solene de

formação (como o casamento, por exemplo), sob pena de sua ineficácia jurídica.

O conteúdo do documento é indivisível, não podendo a parte pretender a

utilização de parcela do documento que lhe é favorável, desconsiderando a que

não lhe interessa. Somente se admite a cisão do conteúdo do documento se a

parte prejudicada oferecer contraprova à parte do conteúdo documental.

Na forma do artigo 157, do Código de Processo Civil179, e do artigo 582, da

178 Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini, op. cit., p.511. 179 Código de Processo Civil. Art. 157. Só poderá ser juntado aos autos documento redigido em língua estrangeira, quando acompanhado de versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado.

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Instrução Normativa n. 45 INSS/PRES180, de 06/08/2011, os documentos

estrangeiros devem ser apresentados com a respectiva tradução para nosso

vernáculo oficial.

Relevante ressaltar que instrumento é uma espécie de documento, só que criado

com a finalidade de constituir uma prova futura. O documento por si mesmo não

é originado da vontade de produzir uma prova futura, muito embora possa vir a

ter força probante.

Moacyr Amaral dos Santos181 ensina que a formação do instrumento “reclama

forma especial, que exige solenidades estabelecidas em lei, simples umas,

maiores outras, conforme o ato apresentado, e sua finalidade é a de criar,

extinguir ou modificar um ato jurídico, servindo-lhe de prova”.

No âmbito do Direito Previdenciário, todos os formulários exigidos ao longo da

evolução do modo de comprovação do exercício de atividade especial são

instrumentos, pois sua formação destina-se à comprovação de um ato já

ocorrido: o exercício de tempo especial, e sempre exigiram uma forma solene, a

ser determinada pelo sujeito passivo da relação previdenciária.

Impende ressaltar que, como veremos no capitulo seguinte, muito embora em

diversos períodos a legislação previdenciária tenha tarifado a prova do tempo

especial, ou seja, indicado o meio de sua comprovação, em momento algum

impediu que outras fossem realizadas pelo segurado.

Importante, portanto, para o estudo a ser traçado no próximo capítulo, a

classificação dos instrumentos e a sua força probante, tendo em vista que a

180 IN 45/10. Art. 582. Os documentos expedidos em idioma estrangeiro devem ser acompanhados da respectiva tradução, efetuada por tradutor público juramentado. 181 Op. cit., p. 391.

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prova do tempo especial depende, num primeiro momento, do documento

nominado, pela legislação previdenciária atual, “perfil profissiográfico

previdenciário”.

2.5.1.1 Instrumentos públicos e particulares

Essa classificação leva em conta a formação do instrumento. Quando realizado

por um oficial público no exercício de suas funções denomina-se instrumento

público, ausente essa função pública, temos o instrumento particular.

Em nosso estudo, os formulários e laudos técnicos criados para a prova do

exercício de atividades sob condições especiais são elaborados por particulares,

razão pela qual não trataremos aqui dos instrumentos públicos, mas sim das

especificidades dos instrumentos particulares e de sua força probante.

O instrumento particular, como já dito, é o documento elaborado com a

finalidade de provar atos e, assim, constituir, extinguir ou modificar direitos,

devendo obedecer, para que produza eficácia, à forma prevista em lei.

Os instrumentos particulares, portanto, devem ser sempre escritos e, quando

exigida uma forma especial, esta deverá ser observada.

Um exemplo desse tipo de exigência é o determinado na legislação

previdenciária para a realização do perfil profissiográfico previdenciário, na

forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social, e segundo atos

normativos do INSS182.

182 Decreto 3.048/1999. Art. 68. [...] § 2º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário denominado perfil profissiográfico previdenciário, na forma estabelecida pelo

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Segundo a classificação realizada por Moacyr Amaral dos Santos183, os

instrumentos particulares podem ser: (a) escritos e assinados pela parte; (b)

escritos por outrem, e assinados pela parte; (c) escritos pela parte, mas por ela

não assinados; e (d) nem escritos, nem assinados pelas partes.

Esse último caso é o instrumento indicado na norma previdenciária como forma

a ser utilizada pelos segurados para comprovação do exercício de tempo

especial, tendo em vista que os formulários exigidos pela legislação não são nem

escritos e nem assinados pela parte interessada, pois dependem de um

conhecimento técnico imparcial.

Em relação à força probante dos documentos particulares, presume-se como

verdadeiro o conteúdo do instrumento em relação à parte signatária184. Neste

caso, para que o instrumento seja declarado autêntico, impende que o tabelião

declare que a assinatura foi colhida em sua presença185.

Isso porque autenticidade de um documento é a certeza quanto à autoria de seu

conteúdo, o que, em princípio, não se encontra em documentos particulares.

No curso de um processo judicial, na admissão de um documento, cabe ao

magistrado levar ao conhecimento da outra parte a sua juntada, para que sobre

ele esta se manifeste, declarando a autenticidade da assinatura e a veracidade de

seu conteúdo. Não impugnando nem uma coisa nem outra, deverá o destinatário Instituto Nacional do Seguro Social, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. § 3º Do laudo técnico referido no § 2º deverá constar informação sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva, de medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho, ou de tecnologia de proteção individual, que elimine, minimize ou controle a exposição a agentes nocivos aos limites de tolerância, respeitado o estabelecido na legislação trabalhista. [...]. § 7º O laudo técnico de que tratam os §§ 2º e 3º deverá ser elaborado com observância das normas editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e dos atos normativos expedidos pelo INSS. 183 Op. cit., p. 397. 184 Código de Processo Civil. Art. 368. As declarações constantes do documento particular, escrito e assinado, ou somente assinado, presumem-se verdadeiras em relação ao signatário. 185 Art. 369 do CPC.

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da prova considerá-la verdadeira.

Quando o conteúdo de um documento for meramente enunciativo, ou

declaratório de ciência de um fato, não se considera o fato provado, mas tão

somente a declaração nele oposta. Neste caso, a parte deverá provar, ainda, o

fato declarado, já que o documento não tem força probante do fato.

Há força probante no instrumento assinado pelas partes e subscrito por duas

testemunhas. Entretanto, essa força probante dirige-se às partes e não a terceiros,

pois, para que gere efeitos em relação a estes, impende que o instrumento seja

levado a registro público.

Os documentos (nestes incluídos os instrumentos) devem ser apresentados,

judicialmente, com a petição inicial no caso do autor da demanda, ou juntamente

com a defesa no caso do réu.

Já no processo administrativo, como visto, não pode haver negativa ao protocolo

de qualquer requerimento por ausência de documentos, mas no caso de

postulações previdenciárias cabe a emissão de carta de exigências a serem

cumpridas, hipótese em que o administrado deverá trazer aos autos os

documentos necessários ao exame do seu direito.

2.5.1.2 Vícios dos documentos

Os documentos podem conter vícios inerentes ao preenchimento de suas

formalidades, caso em que se diz que o documento apresenta vícios externos ou

extrínsecos, bem como inerentes à sua essência, ao conteúdo apresentado,

quando, então, estaremos diante de vícios intrínsecos.

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Os vícios externos, a princípio, não afetam a eficácia probante do documento,

salvo quando a forma for essencial à prova e esta não tiver sido observada.

Já o vício intrínseco macula por completo o documento elaborado, ante a

ocorrência de uma falsidade ideológica. Na lição de Moacyr Amaral dos

Santos186 “a falsidade ideológica diz respeito à substância do ato ou fato

representado no documento. Materialmente o documento é perfeito; no entanto

traduz idéias, declarações, notícias falsas”.

Um exemplo de documento ideologicamente falso é a elaboração de perfil

profissiográfico previdenciário em desacordo com a realidade do ambiente

laboral, mascarando a exposição dos trabalhadores a agentes nocivos, com a

intenção de diminuição da carga tributária. O documento elaborado é

materialmente perfeito, segundo as regras de confecção do perfil

profissiográfico previdenciário, mas o seu conteúdo não reflete a verdade, posto

que distante da realidade vivida pelos empregados expostos a condições

especiais.

A solução processual, em casos como este, será examinada no capítulo seguinte.

2.5.2 Exibição de Documento ou Coisa

Em razão das regras de divisão do ônus probatório, incumbe à parte a produção

da prova dos fatos constitutivos do seu direito e aos réus, a comprovação dos

fatos que obstam esse direito.

186 Op. cit., p. 414.

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Assim, como regra, impende que a parte produza a prova. Ocorre que em dadas

situações a parte encontra-se impossibilitada de produzir a prova, posto não estar

ela disponível fisicamente àquele que deve produzi-la.

Bem por isso, o Código de Processo Civil187, bem como a Lei 9.784/1999188 e a

IN n.º 45/2010189, autorizam que o destinatário da prova requisite (pelo juiz) ou

solicite (no caso da Administração Pública) o documento ou coisa que se

encontra em poder de terceiro.

No caso do processo civil, o juiz pode requisitar até mesmo a prova que se

encontra em poder do réu.

A parte em desfavor de quem foi requisitada a exibição do documento ou coisa

poderá recusar a exibição nos casos autorizados por lei190. Tais hipóteses de

recusa justificam-se porque a exibição do documento ou coisa importaria em

maior dano ao portador da prova que solução para o processo com o ato de

exibição, violando, assim, conteúdo intimo e prejudicial à pessoa.

No âmbito do processo previdenciário, verifica-se uma importante utilização da

referida prova, especialmente na demonstração do exercício de atividade sob 187 Art. 355. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa, que se ache em seu poder. 188 Art. 39. Quando for necessária a prestação de informações ou a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros, serão expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo, forma e condições de atendimento. 189 Art. 594. Quando for necessária a prestação de informações ou a apresentação de documentos por terceiros, poderá ser expedida comunicação para esse fim, mencionando-se data, prazo, forma e condições de atendimento. Parágrafo único. Não sendo atendida a solicitação, o servidor deverá buscar as informações ou documentos solicitados por meio de Pesquisa Externa. 190 Código de Processo Civil. Art. 363. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a coisa: I - se concernente a negócios da própria vida da família; II - se a sua apresentação puder violar dever de honra; III - se a publicidade do documento redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus parentes consangüíneos ou afins até o terceiro grau; ou lhes representar perigo de ação penal; IV - se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado ou profissão, devam guardar segredo; V - se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da exibição.

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condições especiais. Isso porque o empregador, muitas vezes, nega-se a entregar

o perfil profissiográfico previdenciário ou o emite em desacordo com a

realidade, mas detém informações acerca dos riscos ambientais a que estão

expostos os seus empregados e que não foram postos no referido formulário.

Na negativa deste em entregar o perfil profissiográfico previdenciário, ou

mesmo cópia dos demais documentos requeridos pelo segurado, pode o INSS

solicitar a sua entrega e o magistrado exigi-la, colocando fim à angustia do

trabalhador, que não pode requerer tal cumprimento diretamente ao empregador.

2.5.3 Prova Oral

A prova oral é dividida, no Código de Processo Civil, em depoimento pessoal e

prova testemunhal.

O depoimento pessoal é a oitiva direta, pelo destinatário da prova, das partes

litigantes. Bem por isso, somente as partes prestam o depoimento pessoal;

qualquer outra pessoa ouvida no processo judicial não presta depoimento.

Tanto a Lei 9.784/1999 quanto a Instrução Normativa do INSS n.º 45/2010 não

autorizam o depoimento pessoal da parte interessada. Inclusive, a norma interna

da autarquia federal191 proíbe, expressamente, o testemunho da parte interessada

na justificação administrativa, de modo que não se mostra viável no processo

administrativo a ocorrência desse meio de prova.

Já a prova testemunhal é o contato indireto do seu destinatário com o fato a ser

provado, por meio da oitiva de pessoas diversas das partes interessadas, que

191 Art. 607. Não podem ser testemunhas: [...] VI - o que é parte interessada;

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conhecem os fatos a serem provados, por terem presenciado sua ocorrência.

A prova testemunhal é sempre tomada com reservas pelo destinatário da prova,

não por conta de testemunhos dolosos, que ocultem a verdade, mas porque a

memória humana é falha, bem como contaminada por emoções que não

permitem captar, imparcialmente, a realidade.

A reserva na colheita dessa prova é comentada pelos mestres Luiz Rodrigues

Wambier e Eduardo Talamini192, em relação ao próprio Código de Processo

Civil:

Já foi chamada de “prostituta das provas”, pois é a mais sujeita a imprecisões,

seja pela natural falibilidade da memória humana, seja porque, talvez até sem

malícia, pode a testemunha deturpar os fatos com o fito de favorecer a parte.

Talvez isso justifique a reserva, quase preconceituosa, que o Código tem para

com a prova testemunhal.

Eduardo Cambi193 vai ainda mais longe, informando que “a desconfiança para

com o testemunho, presente nos sistemas processuais da civil law, não envolve

apenas uma questão técnica, mas também pode ser atribuída ao aspecto cultural,

vinculado à própria desconfiança social nas relações humanas”.

Deixando de lado essa sombria visão sobre a crença nas relações humanas,

temos que a prova testemunhal detém força probante, muito embora possa

apresentar falhas ou vícios, como todas as outras.

Um exemplo da importância dessa prova, no âmbito do direito previdenciário, é

192 Op. cit., p. 520. 193 Op. cit., p. 139.

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a demonstração do exercício de atividade laboral quando o segurado não mais

detém documentos que comprovem o tempo de contribuição realizado por conta

de um caso fortuito ou força maior, podendo, nesse caso especialíssimo, provar

o tempo através, exclusivamente da oitiva de testemunhas194.

De qualquer sorte, o legislador previdenciário também se mostrou reticente em

relação à referida prova, dispensando o inicio de prova material195 somente na

hipótese de demonstração documental da ocorrência de caso fortuito ou força

maior, que acarrete na impossibilidade de exibição de documento como prova

do tempo de trabalho.

São características da prova testemunhal196: a) realizada por pessoa física capaz;

b) realizada por pessoa estranha ao processo; c) realizada por pessoa

conhecedora dos fatos controvertidos; d) chamada para depor.

Tais características são aplicadas tanto no processo judicial de colheita da prova

testemunhal, como no processo administrativo197, onde é realizada a referida

prova através de um incidente denominado “justificação administrativa”198.

Há pessoas que não possuem capacidade199 para testemunhar e outras que estão

194 Essa é a dicção da Lei 8.213/1991. art. 55 [...] .§ 3º. A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o disposto no artigo 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no Regulamento. 195 Prova material deve ser entendida como prova documental. 196 Segundo Moacyr Amaral dos Santos, op. cit., p. 450 e Eduardo Cambi, op. cit., p. 140. 197 IN 45/2010 do INSS. Art. 605. As testemunhas indicadas pelo interessado, em número não inferior a 3 três e nem superior a seis, deverão ser ouvidas separadamente, de modo que o depoimento de uma nunca seja presenciado ou ouvido por outra. 198 IN 45/2010 do INSS. Art. 596. A Justificação Administrativa - JA é o procedimento destinado a suprir a falta de documento ou fazer prova de fato ou circunstância de interesse do beneficiário perante o INSS. 199 Código de Processo Civil. Art. 405. [...] § 1º São incapazes: I - o interdito por demência; II - o que, acometido por enfermidade, ou debilidade mental, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia discerni-los; ou, ao tempo em que deve depor, não está habilitado a transmitir as percepções; III - o menor de 16 (dezesseis) anos; IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam.

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impedidas200 de realizar a prova.

As causas de incapacidade são aquelas em que as pessoas não detêm maturidade

suficiente para o exercício da função de testemunha, ou que, por alguma

alteração mental ou física, não conseguem captar a realidade ocorrida e

representá-la em palavras ao destinatário da prova.

Já as impedidas de testemunhar são aquelas pessoas que a lei presume terem

interesse na solução do litígio, por possuírem alguma relação ou laços de afeto

com as partes. Assim, a lei não reconhece a isenção de ânimo ou a

imparcialidade necessárias à produção de toda e qualquer prova, razão pela qual

não é permitido o testemunho de tais pessoas.

Por fim, a legislação processual civil201 indica, ainda, as pessoas suspeitas: o

condenado, com trânsito em julgado por crime de falso testemunho, o indigno de

fé, o inimigo capital da parte, ou o seu amigo íntimo e o que tiver interesse no

litígio.

Não se verifica uma diferenciação lógico-jurídica entre pessoas suspeitas e

pessoas impedidas, uma vez que, em ambos os casos, existe presunção de

parcialidade, de ausência de boa-fé em suas declarações.

A Instrução Normativa n.º 45/2010, do INSS, é ainda mais severa em relação às

causas de impedimento e incapacidade previstas na legislação processual, posto

que, enquanto a legislação civil admite a oitiva das pessoas suspeitas ou

200 Código de Processo Civil. Art. 405 [...] §2º São impedidos: I - o cônjuge, bem como o ascendente e o descendente em qualquer grau, ou colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consangüinidade ou afinidade, salvo se o exigir o interesse público, ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova, que o juiz repute necessária ao julgamento do mérito; II - o que é parte na causa; III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor na causa do menor, o representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros, que assistam ou tenham assistido as partes. 201 Art. 405, parágrafo 3º do CPC.

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impedidas em casos especialíssimos, a regra interna da autarquia previdenciária

entende que:

Art. 607. Não podem ser testemunhas:

I - o que, acometido por enfermidade ou por debilidade mental à época de

ocorrência dos fatos, não podia discerni-los ou, ao tempo sobre o qual deve

depor, não estiver habilitado a transmitir as percepções;

II - os menores de dezesseis anos;

III - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes

faltam;

IV - o cônjuge, bem como o ascendente e o descendente em qualquer grau;

V - o colateral, até terceiro grau, assim como os irmãos e as irmãs, os tios e tias,

os sobrinhos e sobrinhas, os cunhados e as cunhadas, as noras e os genros ou

qualquer outro por consanguinidade ou por afinidade;

VI - o que é parte interessada; e

VII - o que intervém em nome de uma parte, como tutor na causa do menor.

Portanto, a legislação administrativa é clara ao preceituar que tais pessoas não

serão ouvidas, sem fazer qualquer ressalva como a existente no Código de

Processo Civil, que possibilita que as pessoas suspeitas ou impedidas sejam

ouvidas como informantes. Confira-se:

Art. 405. [...] § 4º Sendo estritamente necessário, o juiz ouvirá testemunhas

impedidas ou suspeitas; mas os seus depoimentos serão prestados

independentemente de compromisso (artigo 415) e o juiz lhes atribuirá o valor

que possam merecer.

Entretanto, a legislação administrativa cala em relação às pessoas consideradas

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suspeitas pelo Código de Processo Civil, de modo que estas poderão ser ouvidas.

2.5.4 Prova Pericial

A maioria das provas é examinada ou colhida diretamente pelo seu próprio

destinatário. Entretanto, fatos existem que não podem ser captados e conhecidos

por uma mente destreinada, não especializada.

Assim, a demonstração da existência ou inexistência de um fato técnico (dotado

de especificidades de dada profissão, por exemplo), que foge ao conhecimento

comum ou jurídico, deve ser realizada através da visão de um especialista, que

terá por obrigação repassar seus conhecimentos para o destinatário da prova.

Essa é a prova pericial, realizada por um terceiro, estranho às partes,

denominado perito, que trará, ao destinatário da prova, o conhecimento técnico

necessário para o encontro da verdade de um fato especialíssimo.

Esclarecem Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini202 que:

É até possível que o juiz, eventualmente, tenha o conhecimento técnico ou

científico para esclarecer o ponto controvertido. Nem por isso, todavia, está

afastada a hipótese de perícia, pois esse meio de prova tem dupla função: ao

mesmo tempo em que serve para dirimir as dúvidas que o juiz tenha a respeito

dos fatos, também se presta a mostrar para as partes a realidade do acontecido.

[...] Em verdade, trata-se de uma forma de criar segurança também para as

partes (e não apenas ao juiz) a respeito da verdade dos fatos.

202 Op. cit., p. 528-529.

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Acrescente-se, também, que o destinatário da prova não é somente o juiz da

causa, mas também os integrantes do Tribunal que a examinarão quando da

interposição de um recurso. Assim, pode o juiz da causa deter conhecimento

técnico, mas não se pode presumir isso das demais pessoas responsáveis pela

solução da controvérsia.

Muito embora a prova pericial seja utilizada com muito maior intensidade no

processo judicial, é necessário pontuar a sua importância no processo

administrativo.

Isso porque os benefícios por incapacidade203, por exemplo, não serão deferidos

sem a realização de prova pericial médica acerca da existência ou inexistência

do risco social protegido. Neste caso, entretanto, diferentemente do que ocorre

no processo judicial, o perito não é um auxiliar, distante das partes, mas sim, um

integrante dos quadros de servidores da autarquia previdenciária.

Tal condição não lhe retira a imparcialidade com que deve atuar em relação à

verdade dos fatos, que devem ser examinados e dispostos para que a autarquia

previdenciária possa deferir ou indeferir o benefício pretendido pelo segurado.

Até porque, neste momento, não há lide, de modo que a prova ser produzida por

um servidor da entidade administrativa previdenciária não lhe retira a

imparcialidade nem o dever de compromisso com a verdade.

Como dito alhures, a prova produzida pela autarquia previdenciária não busca

demonstrar a inexistência do direito, mas sim, a certeza da ocorrência do fato

gerador da proteção previdenciária.

203 IN 45/2010. Art. 202. [...] § 2º Concluindo a perícia médica inicial pela existência de incapacidade total e definitiva para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será devida:

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A prova pericial administrativa relacionada ao tempo especial será examinada

nos próximos tópicos.

Ao contrário das testemunhas, o perito não narra os fatos, mas sim esclarece as

dúvidas técnicas ou científicas que circundam o fato a ser provado.

O Código de Processo Civil divide a prova pericial em exames, vistorias e

avaliação.

Os exames são as provas periciais por excelência, em que se examina o fato,

coisa ou pessoa, em comunhão aos conhecimentos técnicos do perito. É nesta

modalidade de perícia que nos deteremos com maior cuidado nos tópicos

seguintes, tendo em vista ser ela a responsável pela detecção de trabalho em

condições especiais, ou seja, do exercício de atividade especial.

A vistoria é o exame de bens móveis, e a avaliação é a valoração econômica da

coisa, direito ou obrigação submetida a pericia.

Em determinadas atividades, como a de motorista de caminhão, por exemplo, a

prova para verificação do exercício de atividade especial será a vistoria, já que o

objeto da perícia é um ambiente móvel e não imóvel (que depende de exame).

Para o cabimento dessa prova, impende que a mesma seja útil, necessária e

possível de ser praticada e, no âmbito do processo judicial, é assegurado que a

parte participe da diligência204.

204 Código de Processo Civil. Art. 431-A. As partes terão ciência da data e local designados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da prova.

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Muito embora nada diga a Lei 9.784/1999205 acerca da possibilidade de

realização da prova pericial com a presença da parte, concluímos que, em razão

da Constituição Federal assegurar o contraditório e a ampla defesa aos processos

administrativos, as provas periciais administrativas deverão ser realizadas

levando em conta tais princípios, com a necessária intimação do interessado para

que presencie a prova realizada, se assim o desejar. Isso, lógico, quando a sua

presença não for indispensável, como ocorre na prova pericial médica para

aferição da incapacidade.

2.5.5 Prova emprestada

A prova emprestada não está inserida entre as provas típicas descritas no Código

de Processo Civil, mas encontra-se arrolada (não com essa nominação) na

Instrução Normativa nº 45/2010 do INSS, vejamos:

Art. 256. Para instrução do requerimento da aposentadoria especial, deverão ser

apresentados os seguintes documentos:

[...]

§ 1º Observados os incisos I a IV do caput, e desde que contenham os elementos

informativos básicos constitutivos do LTCAT poderão ser aceitos os seguintes

documentos:

I - laudos técnico-periciais emitidos por determinação da Justiça do Trabalho,

em ações trabalhistas, acordos ou dissídios coletivos;

205 A referida lei nada diz acerca da realização da pericia, mas determina a intimação da parte da realização de prova ou diligência. Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, mencionando-se data, hora e local de realização.

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A prova emprestada consiste na utilização de uma prova constituída em outro

processo ou, na lição de Eduardo Cambi206, “a produzida em um processo, para

nele gerar efeitos, sendo, depois, transportada documentalmente a um outro

processo, em que visa gerar efeitos”.

Muito embora haja a previsão na instrução normativa acima citada de utilização

do laudo produzido na Justiça do Trabalho como prova do tempo especial, seu

uso, pelo INSS, não é amplo nem desprovido da necessidade de que a prova

emprestada preencha diversos requisitos para que adquira força probante.

A problemática enfrentada no âmbito do direito previdenciário é a possível

violação207 ao contraditório e à ampla defesa nos casos de utilização de laudos

proferidos na Justiça do Trabalho, por exemplo, em que a prova não foi

realizada com a participação do Instituto Nacional do Seguro Social.

Isso porque a prova emprestada, apesar de não nominada na lei processual civil,

tem ampla aceitação, desde que respeite os referidos princípios, o que pressupõe

identidade de partes em ambos os processos – naquele em que é realizada a

prova e naquele em que se tomará a prova por emprestada.

Tal não ocorre quando o segurado utiliza prova produzida por outro segurado

em processo ajuizado em face da autarquia previdenciária. Neste caso, são

respeitados os princípios do contraditório e da ampla defesa da parte cuja prova

emprestada lhe é desfavorável, posto que pode exercê-los na primeira demanda.

Outro empecilho ao uso da prova emprestada é o preceito esculpido no artigo

206 Op. cit., p. 53. 207 Eduardo Cambi, op. cit. p. 54, afirma, inclusive, que “a prova emprestada não vale quando foi colhida sem a participação da parte contra quem deve operar, sob pena de gerar a nulidade da decisão por inobservância do contraditório, na formação da prova”.

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131 do Código de Processo Civil, que determina ao Juiz que, ao julgar, se atenha

aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, sendo que, a princípio, esse tipo

de prova estaria fora desses limites processuais.

Ocorre que a utilização da prova emprestada, especialmente no âmbito judicial,

não altera a determinação de que o Juiz somente pode julgar de acordo com o

conteúdo do processo.

Isso porque, segundo nosso entendimento, a prova emprestada, uma vez

admitida nos autos, passa a integrar o processo, sendo que a partir daí será

valorada pelo seu destinatário.

Portanto, não haverá valoração de prova fora dos contornos processuais, posto

que, assim que admitida, a prova emprestada passa a fazer parte da realidade

processual.

No capítulo seguinte trataremos mais detalhadamente da prova emprestada

relativamente à demonstração do exercício de atividades sob condições

especiais.

2.6 Realização da Prova

O processo, seja ele administrativo ou judicial, é um conjunto ordenado de atos,

praticados com a finalidade de obtenção do reconhecimento de um direito, que,

no caso em estudo, é a concessão de aposentadoria especial.

Tanto no âmbito do processo administrativo, como no âmbito do processo

judicial previdenciário, a prova do exercício do tempo especial deve ser

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realizada no momento designado pela norma aplicável em cada esfera de

atuação.

Assim, examinemos o momento de produção da prova no processo

administrativo previdenciário e no processo judicial.

2.6.1 Processo Administrativo Previdenciário – Lei 9.784/1999 e IN n.º 45/2010

Processo administrativo previdenciário é um conjunto ordenado de atos,

praticados pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, com vistas à

concessão de uma prestação previdenciária.

Tem inicio com a postulação do segurado ou de seu dependente, pela atuação de

um terceiro interessado, ou de ofício, pela própria Administração Pública208.

Seguindo o objeto de nosso estudo, o segurado (ou uma das pessoas legitimadas,

de acordo com o artigo 117 da Lei 8.213/1991), formalizará o requerimento de

concessão de aposentadoria especial através de um dos canais disponibilizados

pelo INSS209, ocasião em que o segurado obterá um agendamento com data, hora

208 Prescreve o artigo 117 da Lei 8.213/1991 serem legitimados a empresa, o sindicato ou a entidade de aposentados devidamente legalizada para o início do processo administrativo, além dos beneficiários da prestação postulada. 209 Art. 572. O requerimento ou agendamento de benefícios e serviços poderão ser solicitados pelos seguintes canais de atendimento: I - Internet, pelo endereço eletrônico www.previdencia.gov.br; II - telefone, pela Central 135; e III - Unidades de Atendimento: a) APS; b) APS Móvel - PREVmóvel; e c) PREVcidade.

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e agência do INSS à qual deverá comparecer, para início do processo.

Trata-se de uma nova dinâmica de processamento dos requerimentos de

benefícios e serviços da Previdência Social, com vistas à diminuição das filas

que diariamente superlotavam as agências do INSS. O segurado, agora, é

obrigado a efetuar um agendamento prévio de seu requerimento, por telefone ou

pela internet, devendo comparecer à agência indicada para formalizá-lo, na data

e hora designada.

A fim de não causar prejuízo aos beneficiários, a data de entrada do

requerimento210 (DER) será sempre considerada aquela do agendamento, e não a

do comparecimento à agência do INSS.

A fase inicial ou postulatória só se finda após a formalização do requerimento

diretamente na agência do INSS, com a entrega dos documentos necessários à

comprovação do cumprimento da carência e o exercício de atividade especial

pelo prazo de 15, 20 ou 25 anos, conforme dispuser a norma que regula a

atividade e o agente nocivo a que o segurado esteve exposto.

Acaso esse deixe de apresentar, no momento da formalização do requerimento,

os documentos necessários para a comprovação do seu direito à aposentadoria

especial, o Instituto Nacional do Seguro Social não poderá recusar-lhe o

protocolo inicial do processo administrativo, devendo, na mesma ocasião, emitir

carta de exigência, concedendo-lhe o prazo de 30 (trinta) dias211 para

apresentação das provas necessárias.

210 Conforme dispõe o artigo 574 da Instrução Normativa INSS n.º 45/2010, salvo as hipóteses de não comparecimento do segurado ou dependente no dia designado, de reagendamento por solicitação do interessado e incompatibilidade entre o beneficio agendado e aquele que é devido. 211 Somente prorrogável mediante pedido justificado do segurado.

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Note-se que o requerimento formulado pelo segurado não pode ser indeferido de

plano, sem que antes a autarquia previdenciária emita a carta de exigência. Isso

porque, mesmo diante do descumprimento, ou da inércia no cumprimento da

carta de exigência, deverá, ainda, o Instituto Nacional do Seguro Social,

diligenciar para obter as informações relevantes sobre o benefício postulado em

seu sistema informatizado, bem como requisitar os documentos que se

encontrem em poder de autoridades públicas e, até mesmo, comparecer no local

de trabalho do segurado para realização de pesquisa externa.

Tal decorre do interesse público que reveste a concessão de um benefício

previdenciário, bem como do princípio da oficialidade212 do processo

administrativo, segundo o qual o Poder Público é obrigado a impulsionar o

processo até seu termo final, independentemente da vontade do segurado.

A instrução normativa INSS n.º 45/2010 elenca os documentos mínimos

necessários à formalização do requerimento administrativo, são eles:

Art. 578. [...]

I - requerimento formalizado e assinado, na forma do § 1º do art. 572;

II - procuração ou documento que comprove a representação legal, se for o caso;

III - comprovante de agendamento, quando cabível;

IV - cópia do documento de identificação do requerente e do representante legal,

quando houver divergência de dados cadastrais;

V - declaração de não-emancipação do dependente, se for o caso;

VI - extrato das informações extraídas de outros órgãos, obtidas por meio de

convênios, que contribuam para a decisão administrativa;

212 Lei 9.784/1999 - Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar e comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se de oficio ou mediante impulsão do órgão responsável pelo processo, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atuações probatórias.

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VII - contagem do tempo de contribuição utilizado para decisão, informação

sobre salários-de-contribuição e resumo de benefício, vedada a inclusão no

processo de simulações, sem que esta hipótese esteja devidamente ressalvada; e

VIII - informações dos membros do grupo familiar, quando se tratar de processo

relacionado a benefício assistencial de prestação continuada e nos requerimentos

formulados por segurado especial.

O rol da norma supra citada não é taxativo em relação a todos os requerimentos,

pois, no caso do benefício em estudo, resta completamente desnecessária a

apresentação de informações dos membros do grupo familiar e a declaração de

não-emancipação do dependente, por exemplo.

Após a formalização do requerimento, inicia-se a fase instrutória do processo

administrativo previdenciário, com a emissão de carta de exigência, acaso esta

se faça necessária.

Os dados constantes do Cadastro Nacional de Informação Social – CNIS são

suficientes para a prova do cumprimento da carência, bem como comprovantes

da relação de emprego, tempo de serviço ou de contribuição e dos salários-de-

contribuição. Assim, acaso as informações constantes nesse banco de dados

estejam corretas, desnecessária será a realização de outras provas quanto à

carência e aos vínculos laborais exercidos.

Entretanto, para a percepção de aposentadoria especial necessária, ainda, a

comprovação do exercício de atividades especiais, que se dará através da prova

documental juntada com o requerimento.

Durante a instrução do processo administrativo, poderá o Administrador Público

requisitar à empresa empregadora documentos que se encontrem em seu poder,

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ou mesmo certificar-se, através de pesquisa externa ou inspeção, sobre o

exercício de atividades especiais.

Colhidas todas as provas, será realizado, pelo perito previdenciário, um relatório

sobre a exposição ou não do segurado a atividades nocivas à sua saúde ou

integridade física, momento em que terá início a fase decisória213.

Como se verifica, no processo previdenciário as provas documentais são

juntadas pelo segurado quando da efetivação do seu requerimento de concessão

de aposentadoria especial ou, na ausência destas, no momento do requerimento,

quando expedida a carta de exigência.

Acaso o segurado não possua todos os documentos solicitados, poderá requerer

a abertura de Justificação Administrativa, onde serão colhidas as provas orais,

desde que exista, no bojo do processo administrativo, início de prova material,

como veremos no capítulo seguinte.

Portanto, no âmbito do processo administrativo previdenciário, a prova

documental, consistente nos formulários e laudos técnicos, possui persuasão

probatória sobre as demais, uma vez que o legislador tarifou a prova do tempo

exercido sob condições especiais. Tal tarifação, contudo, não impede que outras

provas sejam realizadas, de modo a comprovar o exercício, pelo segurado, de

atividades profissionais com exposição a agentes nocivos à sua saúde ou

integridade física.

2.6.2 Processo Judicial Previdenciário

213 Tendo o Instituto Nacional do Seguro Social 30 dias para proferir sua decisão, permitida a prorrogação por igual prazo desde que seja esta motivada, nos termos do artigo 628, parágrafo 3º da Instrução Normativa INSS n.º 45/2010.

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O processo judicial previdenciário para concessão da aposentadoria especial

pode ser conduzido sob dois diferentes ritos processuais, dependendo do valor214

atribuído à pretensão: (a) pelo rito ordinário, previsto no Código de Processo

Civil ou (b) pelo rito especial, previsto na Lei 10.259/2001, que regulamenta os

Juizados Especiais Federais.

2.6.2.1 O rito ordinário

O rito ordinário terá cabimento sempre que o valor da causa atribuída pela parte

suplantar o equivalente a 60 (sessenta) salários mínimos, vigente na data da

distribuição da ação.

É um rito processual dividido em quatro fases: postulatória, saneamento,

instrutória e decisória, sendo que Moacyr Amaral dos Santos215 ressalta os três

momentos pelos quais passa a prova: proposição, admissão e produção.

Sobre esta espécie de rito, vale registrar a observação de Luiz Rodrigues

Wambier e Eduardo Talamini216:

Por ser um procedimento mais completo, estruturado em fases lógicas, tende a

permitir o melhor desenvolvimento do processo de conhecimento, uma vez que

fornece, às partes e ao juiz, mais ferramentas para buscar a verdade real e, dessa

forma, uma composição da lide mais justa.

Tendo em vista esta completude, o rito ordinário apresenta-se mais seguro

214 Código de Processo Civil. Art. 258. A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato. 215 Op. Cit., p. 273. 216 Op. cit., p. 186.

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quanto à produção das provas, especialmente quando necessários laudos

periciais complexos para apuração da nocividade do meio ambiente laboral, o

que parece difícil de ser executado no âmbito da ritualística do Juizado Especial

Federal.

Neste caso, o segurado, já na petição inicial, deverá indicar os meios de prova a

serem realizados no processo que se inicia217.

Apesar da ressalva feita por Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini218, no

sentido de que o protesto genérico sobre os meios de prova a serem produzidos

pode ocasionar preclusão, “não sendo lícito o deferimento de provas requeridas

em outro momento procedimental”, o segurado deverá protestar pelos meios de

prova que entender necessários, mesmo que de forma genérica, o que vem sendo

reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL - PROVA - MOMENTO DE PRODUÇÃO - AUTOR –

PETIÇÃO INICIAL E ESPECIFICAÇÃO DE PROVAS - PRECLUSÃO. - O

requerimento de provas divide-se em duas fases: na primeira, vale o protesto

genérico para futura especificação probatória (CPC, Art. 282, VI); na segunda,

após a eventual contestação, o Juiz chama à especificação das provas, que será

guiada pelos pontos controvertidos na defesa (CPC, Art. 324). - O silêncio da

parte, em responder ao despacho de especificação de provas faz precluir do

direito à produção probatória, implicando desistência do pedido genérico

formulado na inicial219.(Grifamos).

O Código de Processo Civil prevê, também, que a petição inicial deverá ser

217 Código de Processo Civil. Art. 282. A petição inicial indicará: [...] VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; 218 Op. cit., p. 339. 219 STJ, 3ª T., Recurso Especial 329034/MG, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 13.02.2006, DJ 20.03.2006, p. 263.

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instruída com todos os documentos indispensáveis à propositura da ação220.

Documentos indispensáveis à propositura da ação são aqueles que permitem ao

Magistrado a perfeita compreensão221 da causa e a ampla defesa do réu222.

No caso do processo judicial previdenciário, podemos mencionar a cópia do

processo administrativo que indeferiu a concessão do benefício almejado como

documento indispensável à propositura da demanda, muito embora a ausência

deste não impeça que o Juízo, destinatário da prova, compreenda o conflito, e

que o réu se defenda, até porque este tem acesso ao referido documento.

Aliás, muito se discute na doutrina e na jurisprudência sobre a necessidade de

que, na petição inicial, o segurado comprove, como demonstração do seu

interesse de agir, a postulação prévia do benefício junto à Administração

Pública, representada pelo Instituto Nacional do Seguro Social223.

220 Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. 221 EMBARGOS À EXECUÇÃO – Ausência de documentos indispensáveis à verificação da controvérsia, nos termos do art. 283 do CPC. Não-conhecimento. Como ação autônoma que é, os embargos à execução devem ser instruídos com as peças necessárias à verificação da controvérsia, nos termos do art. 283 do CPC. Não há como prover a apelação em embargos à execução que, hostilizando cálculos do contador e a este fazendo referência na peça recursal, não junta sequer cópia da planilha e da respectiva sentença homologatória impossibilitando, dessa forma, o deslinde da controvérsia em grau de recurso. (TRF 1ª R. – AC 96.01.46420-4 – DF – 1ª T. – Rel. Juiz Conv. Ricardo Machado Rabelo – DJU 29.11.1999). 222 PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR IDADE – TRABALHADOR RURAL – INÉPCIA DA INICIAL – AGRAVO RETIDO – PRÉVIO REQUERIMENTO – INÍCIO DE PROVA MATERIAL – DEPOIMENTO PESSOAL – IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO – 1- A petição inicial preenche os requisitos estabelecidos nos arts. 282 e 283 do CPC, de modo a permitir a perfeita identificação da controvérsia e o pleno direito de defesa do réu. Sentença mantida. 2- A ausência de requerimento administrativo não afasta o interesse de agir do trabalhador rural que pleiteia aposentadoria. 3- Para a aposentadoria de rurícola, a lei exige idade mínima de 60 (sessenta) anos para o homem e 55 (cinquenta e cinco) anos para a mulher, requisito que, in casu, está comprovado nos autos. 4- Existência, nos autos, de início de prova documental favorável à pretensão da autora, não corroborada, entretanto, pelo depoimento pessoal, que não confirma o exercício da atividade rural, uma vez que a requerente informou que por aproximadamente oito anos exerceu função de servente em uma escola municipal, tendo sua carteira profissional registrada. Observe-se que não há documentos posteriores a tal período que comprovem que a requerente voltou a laborar como trabalhadora rural. 5- Ausente conjunto probatório harmônico a respeito do exercício de atividade rural no período, não se reconhece o direito ao benefício de aposentadoria rural por idade. Precedente desta Corte. 6- Apelação do INSS não provida. Remessa provida. Agravo retido conhecido e não provido. Recurso adesivo prejudicado. (TRF 1ª R. – Ap-RN 2008.01.99.029803-1/MG – Relª Desª Fed. Monica Sifuentes – DJe 18.08.2011 – p. 82). 223 O que não se confunde com exaurimento da via administrativa, que seria a necessidade de que o segurado percorra todas as instâncias administrativas para então poder levar sua pretensão ao exame do Poder Judiciário.

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José Antônio Savaris224 assinala que o interesse de agir, em matéria

previdenciária, não se confunde e não é solucionado pela análise literal do

contido nos artigos 3º225 e 267, inciso VI226, ambos do Código de Processo Civil,

tendo em vista o caráter social da relação jurídica formada.

Mesmo diante desse caráter social, é preciso reconhecer que, se a Administração

Pública não tomou conhecimento da pretensão do segurado e, sequer se

manifestou a respeito do assunto, nenhum conflito existe, sendo absolutamente

dispensável o acionamento do Poder Judiciário, que somente deve ser chamado

a intervir na ocorrência de lesão ou ameaça de lesão a direito227, ou seja, quando

não mais for possível a percepção do direito sem essa intervenção.

Nesse passo, a concessão de benefícios pelo Poder Judiciário, sem o exame

prévio administrativo, importa, em nosso sentir, em violação à divisão de

poderes prevista na Constituição Federal228, já que é competência da

Administração Pública, através do Instituto Nacional do Seguro Social, a

concessão de benefícios previdenciários.

Neste sentido, transcrevemos a seguinte opinião doutrinária229:

O Poder Judiciário não tem como função típica a concessão de quaisquer

benefícios previdenciários, tampouco analisar o preenchimento dos requisitos

necessários para tanto, devendo o segurado, primeiramente, buscar o órgão

responsável pela sua concessão (sua função típica), que, no caso, é a Agência da

224 Direito processual previdenciário. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 66. 225 Art. 3º. Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade. 226 Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: [...] VI - quando não ocorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; 227 Constituição Federal, artigo 5º, inciso XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; 228 Art. 2º. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 229 Processo Previdenciário. Teoria e Prática. Wagner Balera e Ana Paula Oriola de Raefray (Coords.). São Paulo: Conceito Editorial, 2012, p.322.

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Previdência Social.

Este não é, contudo, o entendimento do Supremo Tribunal Federal que, ademais

de reconhecer a repercussão geral da matéria230, vem decidindo no sentido da

desnecessidade sobre a prévia postulação administrativa. Confira-se:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

DESNECESSIDADE DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO PRÉVIO

DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO PARA O ACESSO

AO JUDICIÁRIO. PRECEDENTES. 1. A jurisprudência desta nossa Corte

firmou-se no sentido de ser desnecessário para o ajuizamento de ação

previdenciária o prévio requerimento administrativo do benefício à autarquia

federal. Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido. 231

Em que pesem as considerações tecidas pela mais alta corte do Poder Judiciário

Brasileiro, entendemos que, nas lides concessivas de prestação previdenciária, o

segurado deverá comprovar ter submetido sua pretensão ao ente administrativo,

uma vez que inexiste lesão ou ameaça de lesão a direito diante da inércia do

segurado em postular sua pretensão perante a autoridade administrativa

previdenciária e, consequentemente, da inexistência de parecer que, de algum

modo, possa representar afronta ao art. 5º, inciso XXXV, da Lei Maior.

230 CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PREVIDÊNCIÁRIO. PRÉVIA POSTULAÇÃO ADMINISTRATIVA COMO CONDIÇÃO DE POSTULAÇÃO JUDICIAL RELATIVA A BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. EXISTÊNCIA. Está caracterizada a repercussão geral da controvérsia acerca da existência de prévia postulação perante a administração para defesa de direito ligado à concessão ou revisão de benefício previdenciário como condição para busca de tutela jurisdicional de idêntico direito. (Recurso Extraordinário 631.240/MG, Plenário Virtual, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 10/12/2010, DJE 15/04/2011). 231 Agravo Regimental no Recurso Extraordinário 549.055/SP, STF, 2ª T., Rel. Min. Ayres Britto, j. 05.10.2010.

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Além, portanto, do indeferimento administrativo ou da demonstração de que o

Instituto Nacional do Seguro Social excedeu no prazo do exame do

requerimento levado ao seu conhecimento, sem culpa do segurado, para as

demandas que envolvam o reconhecimento de tempo de serviço/contribuição,

requisito indispensável à propositura da ação é o início de prova material,

conforme será estudado no capitulo seguinte. Confira-se, nesse sentido, a

seguinte ementa:

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ –

TRABALHADORA RURAL – INDEFERIMENTO DA INICIAL –

APELAÇÃO PROVIDA – SENTENÇA ANULADA – 1- Tendo a petição

inicial cumprido os requisitos previstos nos artigos 282 e 283 do CPC, não cabe

ao juiz estabelecer requisitos outros não previstos em lei. 2- A prova das

alegações quanto ao fato constitutivo do direito em que se funda a ação é ônus

da parte e somente é de se lhe exigir tais documentos com a inicial quando

indispensáveis à propositura da ação, o que não ocorre com relação à

comprovação da condição de trabalhadora rural nas ações em que se pleiteia a

concessão de benefício previdenciário. 3- Nos casos em que se pleiteia a

concessão de benefício previdenciário de aposentadoria por invalidez, na

condição de trabalhadora rural, a comprovação da qualidade de segurado se dá

com o início razoável de prova documental, corroborado pelas provas

testemunhal e pericial a serem produzidas no momento processual próprio. 4-

Apelação provida, para anular a sentença e determinar o retorno dos autos à

Vara de origem para o regular prosseguimento do feito232.

Levando em conta o objeto do processo em estudo, temos que, com a petição

inicial, deverão ser encaminhados todos os formulários e documentos exigidos

232 TRF 1ª R., Apelação Cível 0023689-73.2011.4.01.9199/GO – Rel. Des. Fed. Francisco de Assis Betti – DJe 04.08.2011 – p. 1841, v91.

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pela legislação previdenciária para a prova do exercício de tempo sob condições

especiais.

Na ausência destes, deverá o segurado justificar a impossibilidade de juntá-los,

como, por exemplo, não ter a empresa emitido o documento tal como lhe obriga

a lei, ou que o documento foi emitido, mas não corresponde à realidade laboral,

entre outras situações a serem examinadas no capitulo seguinte.

Após a formação da relação processual, com a citação do Instituto Nacional do

Seguro Social, este deverá apresentar sua defesa, quer contrapondo-se à

pretensão autoral, quer com ela concordando233, hipótese em que se verifica a

sua submissão à pretensão do autor, sem a necessidade de produção de outras

provas.

Acaso o réu reconheça o fato que serve de base ao direito postulado, mas alegue

fatos modificativos, impeditivos ou extintivos do direito do segurado/autor, o

Magistrado deverá possibilitar a este, em réplica, a manifestação sobre o

alegado, bem como a juntada de documentos que contraprovem tais

alegações234.

Assim, a fase da proposição da prova inicia-se com o requerimento do autor, na

petição inicial, das provas que pretende produzir, bem como aquelas já juntadas

com o início do processo, e termina com a indicação, na contestação, ou nos

casos em que se fizer necessária a réplica, dos fatos a serem provados e o

requerimento das provas a serem produzidas pelas partes.

233 Código de Processo Civil. Art. 269. Haverá resolução de mérito: [...] II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido; 234 Código de Processo Civil. Art. 326. Se o réu, reconhecendo o fato em que se fundou a ação, outro lhe opuser, impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido no prazo de 10 (dez) dias, facultando-lhe o juiz produção de prova documental.

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Após a tomada dessas providências, o Código de Processo Civil determina que o

Magistrado designe audiência preliminar235.

Entretanto, no caso das ações ajuizadas com a finalidade de condenação da

autarquia previdenciária na concessão de aposentadoria especial, tal audiência

deverá ser substituída pelo despacho saneador, como previsto no parágrafo 3º do

artigo 331 do Código de Processo Civil236, uma vez que se mostra difícil a

possibilidade de conciliação237.

Nessa hipótese de substituição da audiência preliminar, antes do despacho

saneador, usualmente são as partes intimadas a especificar as provas que

pretendem produzir.

Aqui, não mais estaremos diante de um protesto genérico por provas, mas frente

à necessária individualização das mesmas em relação aos fatos a serem

provados.

Após a especificação das provas, o Magistrado fixará os pontos controvertidos,

ou seja, os fatos que dependem de prova, e avaliará aquelas especificadas pelas

partes, de modo a verificar a sua pertinência e utilidade, deferindo ou

indeferindo a sua produção, ou seja, admitindo ou não a prova.

235 Código de Processo Civil. Artigo 331.. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes, e versar a causa sobre direitos que admitam transação, o juiz designará audiência preliminar, a realizar-se no prazo de 30 (trinta) dias, para a qual serão as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir. 236 Art. 331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes, e versar a causa sobre direitos que admitam transação, o juiz designará audiência preliminar, a realizar-se no prazo de 30 (trinta) dias, para a qual serão as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir. [...] § 3º Se o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da causa evidenciarem ser improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo, sanear o processo e ordenar a produção da prova, nos termos do § 2º. 237 Salvo nas hipóteses em que a Administração Pública não tomou conhecimento da pretensão no segurado na via administrativa, quando, então, o INSS poderá resolver o processo acaso verifique a existência do direito.

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A especificação de provas238 também deverá ser realizada quando, citado o

Instituto Nacional do Seguro Social, este não apresentar sua defesa, uma vez que

embora declarada a sua revelia, esta não produzirá o seu principal efeito: o de

considerarem-se verdadeiros os fatos narrados pelo segurado. Isto face à

indisponibilidade239 de direitos por parte do INSS, pessoa jurídica de direito

público240.

Após a audiência preliminar, ou o despacho saneador que a tenha substituído,

inicia-se a fase instrutória do processo, quando serão realizadas as provas

deferidas. Mas é possível, também, que, caso não existam outras provas a ser

produzidas, esta fase sequer se inicie, partindo o Magistrado diretamente para o

julgamento241.

Na fase de instrução probatória, ou de produção da prova, o Magistrado

determinará a realização das provas anteriormente deferidas, a fim de buscar a

verdade dos fatos descritos pelo autor/segurado na petição inicial, e na defesa

apresentada pelo réu/Instituto Nacional do Seguro Social.

Nesta etapa probatória, inicialmente será realizada a prova pericial e, em

238 Código de Processo Civil. Art. 324. Se o réu não contestar a ação, o juiz, verificando que não ocorreu o efeito da revelia, mandará que o autor especifique as provas que pretenda produzir na audiência. 239 Código de Processo Civil. Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente: [...] II - se o litígio versar sobre direitos indisponíveis; 240 PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE TERCEIRO – FAZENDA PÚBLICA – EFEITOS DA REVELIA – ART. 319 DO CPC – INAPLICÁVEL – INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE EM DISCUSSÃO – NULIDADE DA SENTENÇA – REMESSA OFICIAL – PROVIMENTO – 1- O Juízo "a quo" aplicou ao INSS os efeitos da revelia, com fundamento no artigo 319 do CPC ("se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor"), considerando que, conquanto citado, não apresentou contestação. Contudo, ao teor do que estabelece o inciso II, do art. 320 do Código de Processo Civil, não se opera a revelia contra a Fazenda Pública. 2- A inexistência de contestação pelo INSS, por se tratar de pessoa jurídica de direito público, cujos direitos são indisponíveis, não acarreta os efeitos da revelia. Precedente: AC nº 0004680-72.2005.4.01.3303/BA, Rel. Des. Federal Neuza Maria Alves da Silva, 2ª Turma do T.R.F. da 1ª Região, e-DJF1 de 23/09/2010, pág. 83. 3- Declarada a nulidade da sentença. 4- Remessa oficial provida. 5- Peças liberadas pelo Relator, em 25/07/2011, para publicação. (TRF 1ª R. – APL-RN 2000.01.00.068282-2/MG – Rel. Juiz Fed. Andre Prado de Vasconcelos – DJe 03.08.2011 – p. 236). 241 Código de Processo Civil. Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença: I - quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência; [...]

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seguida, será designada audiência para a colheita das provas orais.

A prova pericial é realizada primeiramente, posto que é na audiência que , se

preciso for, se complementará, na forma do artigo 435 do Código de Processo

Civil, verbis:

Art. 435. A parte, que desejar esclarecimento do perito e do assistente técnico,

requererá ao juiz que mande intimá-lo a comparecer à audiência, formulando

desde logo as perguntas, sob forma de quesitos.

Na audiência de instrução e julgamento serão colhidos os depoimentos do perito,

autor e réu, bem como os das testemunhas que se fizerem necessárias, de acordo

com a avaliação do Magistrado, podendo as partes intervir na colheita do

depoimento do adverso, bem como na de todas as testemunhas e na do

experto242.

Na esfera do processo previdenciário faz-se desnecessário o depoimento do

Instituto Nacional do Seguro Social, uma vez que todas as suas alegações

encontram-se na defesa apresentada, e, porque, também, a ele não pode ser

aplicada a pena de confissão.

O depoimento do segurado poderá vir a ser realizado caso o representante do

Instituto Nacional do Seguro Social, fundamentadamente, o requeira, bem como

entenda o destinatário da sua utilidade, o que não é usual.

A oitiva das testemunhas é realizada depois do depoimento das partes, quando,

242 Código de Processo Civil. Art. 452. As provas serão produzidas na audiência nesta ordem: I - o perito e os assistentes técnicos responderão aos quesitos de esclarecimento, requeridos no prazo e na forma do artigo 435; II - o juiz tomará os depoimentos pessoais, primeiro do autor e depois do réu; III - finalmente, serão inquiridas as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu.

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então, estas serão advertidas do seu dever de dizer a verdade.

Encerrada a instrução processual, poderá o Magistrado converter o julgamento

em diligência, ordenando a produção de provas de ofício, por entender serem

necessários alguns esclarecimentos adicionais, ou determinar os debates orais

para, então, passar ao julgamento da pretensão levada ao seu conhecimento.

2.6.2.2 Juizado Especial Federal – Lei nº 10.259/2001

O artigo 98, inciso I, da Constituição Federal autorizou a criação dos Juizados

Especiais Federais para julgamento de causas cíveis de menor complexidade, ou

infrações penais de menor potencial ofensivo, através de procedimento mais

célere que aquele utilizado nos processos tradicionais. Posteriormente, a

Emenda Constitucional n.º 22/1999, estabeleceu que caberia a lei federal dispor

sobre a criação desses juizados, o que foi cumprido com a edição da Lei 10.259,

de 12 de julho de 2001.

O rito seguido nos Juizados Especiais Federais, que tem competência para o

julgamento de causas cujo valor não exceda 60 (sessenta) salários mínimos243,

segue os princípios da oralidade, simplicidade e informalidade dos atos

processuais, da economia processual e da celeridade, previstos na lei 9.099/1995

que instituiu os Juizados Especiais Estaduais244.

Em razão de tais princípios norteadores, o segurado poderá requerer oralmente o

reconhecimento, pelo Poder Judiciário, do seu direito à prestação previdenciária,

243 Lei 10.259/2001. Art. 3º Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças. 244 Lei 10.259/2001. Art. 1º São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

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sem assistência, inclusive, de advogado, sendo que a defesa também poderá ser

realizada oralmente.

Não há na Lei 10.259/2001, diante da informalidade dos atos que regula, a

exigência de que a petição inicial venha instruída com documentos

indispensáveis à propositura da ação, tal como a prova do requerimento

administrativo prévio.

De qualquer sorte, entendemos que o processo célere criado com a instituição

dos Juizados Especiais Federais não desnatura a divisão de competências entre

os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, de modo que subsiste o dever de

o segurado submeter primeiramente sua pretensão à autoridade administrativa

competente para a concessão do benefício, para somente depois, se necessário

for, levar eventual resistência ao conhecimento do Poder Judiciário.

Demonstrando a informalidade que segue a esse processo, o artigo 11 da Lei

10.259/2001245 determina que a entidade pública forneça ao Juizado a

documentação que está em seu poder até a data da audiência de conciliação, ou

seja, não tem o segurado o dever de, com a petição inicial, juntar a cópia do

processo administrativo, mas deverá anexar aos autos, com a petição inicial, os

documentos de que disponha para a solução do processo e que não estejam em

poder do Instituto Nacional do Seguro Social.

Igualmente em virtude da celeridade do rito regente desse processo judicial, os

documentos poderão ser juntados a qualquer momento, desde que antes do

julgamento da pretensão, sendo conferido à outra parte o direito de examiná-los.

245 Art. 11. A entidade pública ré deverá fornecer ao Juizado a documentação de que disponha para o esclarecimento da causa, apresentando-a até a instalação da audiência de conciliação.

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Após a citação, será determinada a realização da prova pericial e, seguida a esta,

a audiência de conciliação, quando o réu terá a oportunidade de apresentar sua

defesa, escrita ou oral, na hipótese de ausência de conciliação.

Acaso não haja prejuízo para a defesa, poderá ocorrer a instrução do processo na

mesma oportunidade246, com a realização de todas as provas orais. Havendo

possibilidade desse prejuízo, deverá ser designada audiência de conciliação e

julgamento para data não superior a 15 dias.

É na audiência de instrução e julgamento que serão realizadas todas as provas247,

requeridas ou não anteriormente, ou seja, é o momento processual em que serão

colhidos os depoimentos das partes e das testemunhas, bem como juntados

documentos em poder das partes, necessários ao deslinde da controvérsia.

Também é nessa ocasião que será conferida à parte contrária a oportunidade de

manifestar-se sobre os documentos juntados.

Ainda em audiência, o Magistrado passará ao julgamento do processo.

A par da celeridade que reveste o processo instaurado no Juizado Especial

Federal, temos que, quanto à concessão de aposentadoria especial, que depende

de produção de provas documentais tarifadas por lei e de provas periciais

complexas diante da falta de provas documentais, a ausência de representação

do segurado por um advogado pode causar-lhe inúmeros prejuízos, que muitas

vezes importam em improcedência da pretensão, seja por ausência de

documentos necessários ao deslinde do feito, seja porque os documentos em

246 Lei 9.099/95. Art. 27. Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á imediatamente à audiência de instrução e julgamento, desde que não resulte prejuízo para a defesa. Parágrafo único. Não sendo possível a sua realização imediata, será a audiência designada para um dos quinze dias subseqüentes, cientes, desde logo, as partes e testemunhas eventualmente presentes. 247 Lei 9.099/95. Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.

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poder do INSS, e entregues no processo, não são suficientes à prova dos fatos

que fundamentam o direito do segurado.

Como dissemos, a competência dos Juizados Especiais Federais é fixada em

razão do valor da causa, e não em razão da complexidade da demanda levada ao

seu conhecimento, ou da complexidade da prova a ser produzida,248 o que

importa, muitas vezes, em que o segurado desacompanhado de assistência

técnica não consiga desincumbir-se do seu encargo probatório e, assim, não ter

seu direito reconhecido.

Portanto, cabe ao Magistrado a cautela de verificar a situação do segurado que

busca o Juizado Especial Federal para a obtenção da concessão de aposentadoria

especial, orientando-o sobre as provas que são necessárias ao deslinde da

controvérsia, de modo a equilibrar a relação processual instaurada, uma vez que

o Instituto Nacional do Seguro Social sempre estará acompanhado por

procuradores com capacidade técnico-jurídica.

Se porventura entender o Magistrado Federal não ser esse sua atribuição, deverá

ele aplicar ao processo federal o instituído nos parágrafos 1º e 2º do artigo 9º da

Lei 9.099/1995, que determinam:

Art. 9º. Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão

pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a

assistência é obrigatória.

§ 1º. Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por

advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte,

248 Turma Recursal de São Paulo. Súmula n.º 20 - "A competência dos Juizados Especiais Federais é determinada, unicamente, pelo valor da causa e não pela complexidade da matéria (art. 3º, da Lei nº 10.259/2001)." (Origem Enunciado 25 do JEFSP).

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se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado

Especial, na forma da lei local.

§ 2º. O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado,

quando a causa o recomendar.

Portanto, diante do comparecimento da autarquia previdenciária assistida por um

procurador federal, deverá o Magistrado possibilitar que a parte não assistida

seja representada pela Defensoria Pública da União, recomendando essa

atuação, ante a complexidade da causa que envolve a concessão de

aposentadoria especial.

Essa, inclusive, foi a orientação contida no julgamento da Ação Direta de

Inconstitucionalidade n.º 3.168-6/DF, interposta pelo Conselho Federal da

Ordem dos Advogados do Brasil contra o conteúdo do artigo 10 da Lei

10.259/2001, que torna desnecessária a assistência do segurado por um

advogado, vejamos:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. JUIZADOS ESPECIAIS

FEDERAIS. LEI Nº 10.259/2001, ART. 10. DISPENSABILIDADE DE

ADVOGADO NAS CAUSAS CÍVEIS. IMPRESCINDIBILIDADE DA

PRESENÇA DE ADVOGADO NAS CAUSAS CRIMINAIS. APLICAÇÃO

SUBSIDIÁRIA DA LEI 9.099/1995. INTERPRETAÇÃO CONFORME A

CONSTITUIÇÃO.

É constitucional o art. 10 da Lei nº 10.259/2001, que faculta às partes a

designação de representantes para a causa, advogados ou não, no âmbito dos

juizados especiais federais.

No que se refere aos processos de natureza cível, o Supremo Tribunal Federal já

firmou o entendimento de que a imprescindibilidade de advogado é relativa,

podendo, portanto, ser afastada pela lei em relação aos juizados especiais.

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Precedentes.

Perante os juizados especiais federais, em processos de natureza cível, as partes

podem comparecer pessoalmente em juízo ou designar representante, advogado

ou não, desde que a causa não ultrapasse o valor de sessenta salários mínimos

(art. 3º da Lei nº 10.259/2001) e sem prejuízo da aplicação subsidiária integral

dos parágrafos do art. 9º da Lei nº 9.099/1995.

Já quanto aos processos de natureza criminal, em homenagem ao princípio da

ampla defesa, é imperativo que o réu compareça ao processo devidamente

acompanhado de profissional habilitado a oferecer-lhe defesa técnica de

qualidade, ou seja, de advogado devidamente inscrito nos quadros da Ordem dos

Advogados do Brasil ou defensor público. Aplicação subsidiária do art. 68, III,

da Lei nº 9.099/1995.

Interpretação conforme, para excluir do âmbito de incidência do art. 10 da Lei nº

10.259/2001 os feitos de competência dos juizados especiais criminais da Justiça

Federal.249

Dessa forma, impende que no processo previdenciário de competência dos

Juizados Especiais Federais seja observada a condição processual desfavorável

do segurado na postulação e prova dos fatos que fundamentam o seu direito à

aposentadoria especial, de modo a impedir que não lhe seja possibilitado acesso

à prestação que lhe é devida, por ausência de conhecimento do meio de

produção processual da prova do exercício do tempo especial.

Uma situação é não fazer jus à prestação por ausência de prova, outra é a

impossibilidade de acesso à aposentadoria especial por desconhecimento de

como a prova deva ser produzida, especialmente provas complexas como as

necessárias para a demonstração da exposição do segurado a agentes nocivos à

sua saúde ou integridade física.

249 STF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro Joaquim Barbosa, j. 07.06.2006, Dje 02.08.2007.

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No próximo capítulo, passamos ao estudo dos meios de prova do exercício de

atividade especial, tanto na esfera processual-administrativa quanto na judicial.

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3. A PROVA DO TEMPO EXERCIDO SOB CONDIÇÕES ESPECIAIS

Neste capítulo, conforme dissemos, analisaremos as especificidades dos meios

de prova nominados em nosso ordenamento jurídico aptos a demonstrar o

exercício de atividades especiais nocivas à saúde ou integridade física do

segurado, tanto no âmbito do processo administrativo quanto no judicial.

Como já visto, para a percepção da aposentadoria especial, o segurado deverá

demonstrar o cumprimento do pressuposto de incidência da norma

previdenciária – a carência – e, em seguida, comprovar a ocorrência do fato

descrito na hipótese de incidência da norma – exercício por 15, 20 ou 25 anos de

atividades nocivas à sua saúde ou integridade física.

A primeira prova, a da carência, é a mais simples de ser realizada, na justa

medida em que os dados constantes do Cadastro Nacional de Informação

Social250, se corretos, são suficientes para a sua comprovação.

Acaso haja alguma divergência, necessária será a retificação dos dados, através

da apresentação, pelo segurado, dos documentos que comprovem o efetivo

tempo de contribuição, sendo que para os empregados, trabalhadores avulsos e

contribuintes individuais cooperados, bastará a prova do exercício da atividade,

posto que a contribuição é presumida251.

250 Na forma do artigo 29-A, da Lei 8.213/1991: Art. 29-A. O INSS utilizará as informações constantes no Cadastro Nacional de Informações Sociais - CNIS sobre os vínculos e as remunerações dos segurados, para fins de cálculo do salário-de-benefício, comprovação de filiação ao Regime Geral de Previdência Social, tempo de contribuição e relação de emprego. 251 Lei 8.212/1991: art. 33. [...] § 5º. O desconto de contribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância que deixou de receber ou arrecadou em desacordo com o disposto nesta Lei.

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Os demais segurados que fazem jus à prestação deverão comprovar o

recolhimento das contribuições sociais pelo tempo mínimo exigido para o

cumprimento da carência, através de documentos denominados guias de

recolhimento.

Já a prova do exercício de atividades nocivas à saúde e integridade física do

segurado, bem como da habitualidade e da permanência dessa exposição, é

disciplinada no parágrafo primeiro do artigo 58 da Lei 8.213/1991252, ou seja, o

legislador estabeleceu quais meios de prova são necessários para a obtenção da

aposentadoria especial.

Assim, a prova exigida para a percepção do benefício em estudo é considerada

tarifada, isto é, cujas diretrizes foram traçadas pelo próprio legislador. Isto não

impede, contudo, que o segurado comprove o exercício habitual e permanente

de atividade nociva à sua saúde e integridade física por meio de quaisquer outras

espécies probatórias, desde que lícitas ou moralmente admissíveis.

3.1 Início de Prova Material

Início de prova material é um dos requisitos determinados pela Lei n.º

8.213/1991 para a comprovação do tempo de contribuição/serviço253. De acordo

252 Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior, será definida pelo Poder Executivo. (Redação dada ao "caput" pela Lei nº 9.528, de 10.12.1997, DOU 11.12.1997). § 1º. A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho nos termos da legislação trabalhista. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 9.732, de 11.12.1998, DOU 14.12.1998). 253 Art. 55. [...]

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com a referida lei, essa prova, para a obtenção da respectiva aposentadoria,

deverá ser lastreada em início de prova documental contemporânea ao exercício

da atividade, vedado o uso exclusivo da prova testemunhal, salvo ocorrência de

caso fortuito ou força maior254.

José Antônio Savaris255 explica as razões pelas quais se torna necessário o início

de prova material:

A necessidade de prova material é justificada pela circunstância de que a

entidade previdenciária não reúne condições de apresentar testemunhas para

infirmar a alegação dos segurados, e, em relação a fatos distantes no tempo,

tampouco conta com estrutura hábil para realizar diligências que contribuam

para avaliação acerca da procedência dos fatos alegados pelos particulares.

Tendo em vista a localização dessa exigência legal – situada na seção III da Lei

nº 8.213/1991, que trata somente da aposentadoria por tempo de contribuição –

pergunta-se se ela também se aplicaria para a percepção de aposentadoria

especial?

Em um exame perfunctório, poderíamos responder negativamente, seja porque

essa obrigação está inserida nas regras que tratam da aposentadoria por tempo de

contribuição – e não das que regulam a aposentadoria especial – seja porque a

prova do exercício de atividade especial ocorre, na grande maioria dos

processos, tanto na esfera judicial quanto na administrativa, através de

documentos ou de perícia lastreada em documentos, o que tornaria letra morta

§ 3º. A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o disposto no artigo 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no Regulamento. 254 Entretanto, o caso fortuito e a força maior devem ser comprovados através de documentos. 255 Op. cit., p. 253.

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impor tal cumprimento à percepção da aposentadoria especial.

Ocorre que, como já estudado no primeiro capítulo, antes da entrada em vigor da

Lei n.º 9.032/1995, para a obtenção da aposentadoria especial impendia

comprovar, apenas, o exercício de determinadas categorias profissionais, e não a

exposição efetiva do segurado a agentes nocivos à sua saúde ou integridade

física, como atualmente.

Ora, em não se exigindo a prova da efetiva exposição do segurado a tais agentes

nocivos para a obtenção do benefício, mas apenas a comprovação do tempo de

serviço/contribuição de determinadas funções, pelo prazo mínimo exigido em

lei, conclui-se que incide, nestes casos, a norma contida no artigo 55 da Lei

8.213/1991, de modo que esta prova (tempo de serviço) não será possível sem

lastrear-se em início de prova material.

Em síntese, para a obtenção da aposentadoria especial envolvendo períodos

temporais em que não se exigia a prova de efetiva exposição do segurado a

agentes nocivos à sua saúde e integridade física, mas tão somente do

desempenho de determinadas categorias profissionais, a exigência de início de

prova material torna-se imprescindível, devendo o segurado apresentar, no

mínimo, as anotações dos contratos de trabalho na sua CTPS, contemporâneas

ao desempenho do trabalho, ou seja, que estas tenham sido firmadas obedecendo

à ordem cronológica da prestação do serviço.

A contemporaneidade do documento é o que o qualifica como prova material,

por ser um vestígio deixado pela ação humana ao tempo em que realizado o

serviço a ser provado.

Portanto, no âmbito do processo previdenciário, quanto mais contemporânea for

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a prova, ou mais próxima da data da produção do evento que se pretende

comprovar, maior será a sua eficácia ou força probatória.

Resumidamente, entendemos que, para os períodos anteriores à Lei n.º

9.032/1995, impende que o segurado demonstre, através de início de prova

material (contemporânea), o exercício de categoria profissional diferenciada, em

que há presunção da exposição do trabalhador aos agentes nocivos à sua saúde

ou integridade física.

3.2 Prova da Exposição a Agentes Nocivos

Cabe ao segurado a prova da exposição a agentes nocivos, de acordo com a lei

vigente à época da prestação do serviço, tal como determina o princípio tempus

regit actum, segundo o qual deve ser assegurada a aplicação da norma existente

no momento da realização do ato, que, no caso de aposentadoria especial, é a

prestação do trabalho considerado nocivo à saúde ou integridade física do

empregado.

É esse, inclusive, o comando contido no parágrafo 1º, do artigo 70, do Decreto

3.048/1999, após a alteração realizada em 03.09.2003 pelo Decreto 4.827:

§ 1º A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições

especiais obedecerá ao disposto na legislação em vigor na época da prestação do

serviço.

Assim, deverão ser respeitadas as exigências normativas, acerca dos meios de

prova do tempo especial existentes à época do exercício da atividade, e não

aquelas vigentes ao tempo do requerimento da concessão do benefício.

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Outro não é o entendimento de nossos Tribunais pátrios, vejamos:

PREVIDENCIÁRIO – TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL – CÔMPUTO – LEI

EM VIGOR AO TEMPO DO EFETIVO EXERCÍCIO – APOSENTADORIA

ESPECIAL – INSTITUIÇÃO – LEI ORGÂNICA DA PREVIDÊNCIA

SOCIAL – ARTIGO 162 DA LEI 3.807/1960 (LOPS) – RETROATIVIDADE –

IMPOSSIBILIDADE – INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL – OFENSA

AO ARTIGO 6º DA LICC – RECURSO PROVIDO – I- O tempo de serviço é

disciplinado pela lei vigente à época em que efetivamente prestado, por força do

princípio tempus regit actum. Desta forma, integra, como direito autônomo, o

patrimônio jurídico do trabalhador. A lei nova que venha a estabelecer restrição

ao cômputo do tempo de serviço não pode ser aplicada retroativamente. II- A

aposentadoria especial somente surgiu no mundo jurídico em 1960 pela

publicação da Lei 3.807 (Lei Orgânica da Previdência Social-LOPS). III- O

artigo 162 da Lei 3.807/60 não garantia a retroação de seus benefícios, mas tão-

somente resguardava os direitos já outorgados pelas respectivas legislações

vigentes. Assim, verifica-se que antes da Lei Orgânica da Previdência Social

(LOPS), não existia a possibilidade de concessão do benefício aposentadoria

especial. IV- Considerando que o tempo de serviço é disciplinado pela lei

vigente à época em que efetivamente prestado, impossível retroagir norma

regulamentadora sem expressa previsão legal, sob pena de ofensa ao disposto no

artigo 6ª da Lei de Introdução ao Código Civil. V- Recurso conhecido e

provido256.

PREVIDENCIÁRIO – RECONHECIMENTO DE TEMPO LABORADO EM

CONDIÇÕES ESPECIAIS – AGENTES QUÍMICOS – UTILIZAÇÃO DE EPI

256 STJ, 5ª T., Recurso Especial 1.205.482 – (2010/0151145-0), Rel. Min. Gilson Dipp, DJe 06.12.2010 – p. 662.

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– NÃO DESCARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE ESPECIAL – 1- O

cômputo do tempo de serviço para fins previdenciários deve observar a

legislação vigente à época da prestação laboral, tal como disposto no § 1º, art. 70

do Decreto nº 3.048/99, com redação do Decreto nº 4.827/03. 2- Até o advento

da Lei nº 9.032/95 era desnecessária a apresentação de laudo pericial para fins

de aposentadoria especial ou respectiva averbação, sendo suficiente que o

trabalhador pertencesse à categoria profissional relacionada pelos Decretos

53.831/64 e 83.080/79. 3- Com o advento da Lei nº 9.032/95 passou a se exigir a

exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de

agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao

exigido para a concessão do benefício. 4- A necessidade de comprovação da

atividade insalubre através de laudo pericial foi exigida após o advento da Lei

9.528, de 10.12.97. 5- O autor comprovou através de Declaração patronal, CTPS

e contracheque que desde 22.06.78 labora como Químico de Petróleo da

Petróleo Brasileiro S.A - Petrobrás, estando exposto a agentes químicos

conforme estabelecido no Decreto 53.831/64, códigos 1.2.11 e 1.1.3. 6- O

fornecimento de equipamentos de proteção individual - EPI ao empregado não é

suficiente para afastar o caráter insalubre da prestação do trabalho. 7- O STF já

esposou entendimento no sentido de que o segurado pode agregar tempo de

serviço até mesmo posterior à EC 20/98, submetendo-se, no entanto, ao novo

ordenamento (RE 575089), não sendo necessário que todo o período especial

seja computado antes da Lei 9.032/95. 8- Apelação não provida257.

PREVIDENCIÁRIO – ATIVIDADE ESPECIAL – LEI Nº 9.711/98 –

DECRETO Nº 3.048/99 – INTERMITÊNCIA – APOSENTADORIA

ESPECIAL – CONCESSÃO – 1- A Lei nº 9.711/98 e o Regulamento Geral da

257 TRF 1ª R., Apelação Cível 2001.33.00.005317-0/BA, Relª Desª Fed. Mônica Sifuentes, DJe 21.09.2011 – p. 491.

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Previdência Social aprovado pelo Decreto nº 3.048/99 resguardam o direito

adquirido de os segurados terem convertido o tempo de serviço especial em

comum, mesmo que posteriores a 28/05/1998, observada, para fins de

enquadramento, a legislação vigente à época da prestação do serviço. 2- É

possível o reconhecimento da especialidade do labor, mesmo que não se saiba a

quantidade exata de tempo de exposição ao agente insalutífero (intermitência),

sendo suficiente a sujeição diuturna do segurado às condições prejudiciais à

saúde. 3- Comprovado o exercício de atividade especial por mais de 25 anos, o

segurado faz jus à concessão da aposentadoria especial, nos termos do artigo 57

e § 1º da Lei 8.213, de 24-07-1991, observado, ainda, o disposto no art. 18, I,

"d" c/c 29, II, da LB, a contar da data do requerimento administrativo258.

Pois bem, os meios de prova, entre eles os necessários à comprovação do

exercício de atividade especial, possuem natureza jurídica de direito processual.

Bem por isso, qualquer alteração normativa sobre a forma de produção da prova

incide a partir da vigência da modificação legislativa, por ser alteração de

aplicação imediata.

Também por conta dessa natureza jurídica, e dos efeitos dela decorrentes,

ponderam Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Júnior parecer

razoável, dependendo das particularidades do caso concreto, “flexibilizar a

interpretação da regra, por exemplo, quando a quase totalidade do tempo do

serviço foi desempenhada na mesma profissão, em período anterior à alteração

efetuada pela Lei nº 9.032/95259”.

Nesse caso explicitado, a incidência da nova norma, trazendo maior rigor

258 TRF 4ª R., 5ª T., Apelação Cível 0010656-92.2009.404.7100/RS, Rel. Des. Fed. Rômulo Pizzolatti, DJe 11.11.2010, p. 225. 259 Op. cit., p. 264.

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probatório à demonstração do exercício de tempo especial, não teria incidência

imediata, pois, caso contrário, estar-se-ia impedindo que a parte que estivesse a

ponto de obter a proteção social, não a conseguisse.

Em que pesem tais considerações, o Supremo Tribunal Federal tem entendido,

com base na ausência de “direito adquirido a regime jurídico”, ter aplicação

imediata a lei que altera o regime probatório para a percepção de um benefício

previdenciário, vejamos:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 54 DO ADCT.

PENSÃO MENSAL VITALÍCIA AOS SERINGUEIROS RECRUTADOS OU

QUE COLABORARAM NOS ESFORÇOS DA SEGUNDA GUERRA

MUNDIAL. ART. 21 DA LEI Nº 9.711, DE 20.11.98, QUE MODIFICOU A

REDAÇÃO DO ART. 3º DA LEI Nº 7.986, DE 20.11.89. EXIGÊNCIA, PARA

A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO, DE INÍCIO DE PROVA MATERIAL E

VEDAÇÃO AO USO DA PROVA EXCLUSIVAMENTE TESTEMUNHAL.

A vedação à utilização da prova exclusivamente testemunhal e a exigência do

início de prova material para o reconhecimento judicial da situação descrita no

art. 54 do ADCT e no art. 1º da Lei nº 7.986/89 não vulneram os incisos XXXV,

XXXVI e LVI do art. 5º da CF. O maior relevo conferido pelo legislador

ordinário ao princípio da segurança jurídica visa a um maior rigor na verificação

da situação exigida para o recebimento do benefício. Precedentes da Segunda

Turma do STF: REs nº 226.588, 238.446, 226.772, 236.759 e 238.444, todos de

relatoria do eminente Ministro Marco Aurélio. Descabida a alegação de ofensa a

direito adquirido. O art. 21 da Lei 9.711/98 alterou o regime jurídico probatório

no processo de concessão do benefício citado, sendo pacífico o entendimento

fixado por esta Corte de que não há direito adquirido a regime jurídico. Ação

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direta cujo pedido se julga improcedente260.

Nosso ordenamento jurídico tutela o respeito ao direito adquirido, mas não ao

“quase-direito”, de forma que as alterações legislativas quanto à produção da

prova do exercício de tempo especial têm, sim, aplicação imediata, sendo

inexigíveis somente as alterações que tornem impossível comprovar a

realização do direito.

Mas, nesse caso, as alterações seriam afastadas não pela existência de um

“quase-direito”, mas porque a norma processual tornaria impossível comprovar

o direito material formado, havendo, assim, sobreposição da forma ao conteúdo

da norma protetiva, o que é inadmissível.

Pois bem, conforme evolução legislativa do benefício em exame, até a entrada

em vigor da Lei n.º 9.032/1995 bastava ao segurado a prova do exercício de

função integrante de categoria profissional elencada nos Decretos 53.831/1965 e

83.080/1979 para a obtenção da aposentadoria especial, salvo no caso de

exposição a ruído, ou outro agente que necessitasse de avaliação quantitativa,

em que se fazia necessária prova da exposição ao agente acima dos limites de

tolerância, por meio de um documento denominado laudo técnico.

Também havia o rol de agentes insalubres, em que a exposição do segurado

determinava a incidência da norma previdenciária analisada, devendo, a

comprovação da exposição, ser realizada através de prova documental.

Em ambos os casos, bastava que a empresa, em que o segurado trabalhasse,

emitisse um formulário padronizado, declarando a atividade exercida ou o

agente nocivo incidente. Como já dito, somente era exigido o laudo técnico em

260 STF, Tribunal Pleno, ADIN 2555/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 02.04.2003, DJ 02.05.2003.

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caso do agente nocivo dependente de avaliação quantitativa. Aos demais,

bastava a emissão do formulário padronizado pela autarquia previdenciária.

Isso porque, até a entrada em vigor da citada norma, havia presunção juris et

jure de exposição a agentes nocivos durante o exercício das categorias

profissionais descritas no Quadro Anexo ao Decreto 53.831/1965 e nos Anexos I

e II do Decreto 83.080/1979261, cabendo ressaltar a desnecessidade de prova da

permanência e habitualidade dessa exposição.

Tal situação foi modificada, como dito, a partir da edição da Lei n.º 9.032/1995,

que passou a exigir prova da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos

à sua saúde ou integridade física, de forma permanente e habitual.

Ocorre que a Lei n.º 9.032/1995 não tarifou a prova do tempo especial,

determinando, apenas, que a exposição efetiva do segurado a agente nocivo à

sua saúde ou integridade física fosse comprovada, sem, contudo, estabelecer o

modo pelo qual essa prova deveria ser produzida.

Acerca da ausência de indicação do meio de prova da efetiva exposição, a ser

realizada após a edição da Lei 9.032/1995, ponderam Daniel Machado da Rocha

e José Paulo Baltazar Júnior262:

é fato que a imposição da apresentação do laudo só foi expressamente exigida

por lei, com o advento da MP nº 1.523, de 11 de outubro de 1996. Entretanto, tal

exigência, por não ser desarrazoada para os períodos posteriores a 28 de abril de

1995, poderia ser interpretada como implicitamente decorrente do novo perfil

delineado ao benefício pela Lei nº 9.032/95.

261 Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro, op. cit., p. 260. 262 Op. cit., p. 258.

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Como muito bem assinalado pelos referidos autores, a prova somente foi

tarifada em 1996, com a edição da Medida Provisória n.º 1.523, mas a Lei n.º

9.032/1995 instituiu um novo panorama sobre o que deveria ser considerado

tempo especial, exigindo a realização de prova da exposição, de modo habitual e

permanente, de forma que impende, a partir da edição dessa norma, que o

segurado produza tal prova, mesmo que ela não tenha indicado o modo pelo qual

esta deva ser realizada.

Bem por isso, concordamos com Daniel Machado da Rocha e José Paulo

Baltazar Júnior, quando anunciam a necessidade da prova anterior à Medida

Provisória 1.523/1996, posto que, mesmo diante da ausência de indicação do

meio de prova a ser produzida, a lei é clara ao exigir a comprovação da efetiva

exposição. Contudo, entendemos que pode o segurado realizá-la por todos os

meios probatórios lícitos e moralmente aceitos, tais como laudos periciais,

declarações da empresa, entre outros, e não somente na forma tarifada a partir de

1996, sob pena de retroatividade não autorizada da norma.

Seguindo esse entendimento, por conta da celeuma criada pela omissão da Lei

n.º 9.032/1995 em ditar o meio de prova da efetiva exposição do trabalhador ao

agente nocivo, o Conselho de Recursos da Previdência Social editou o

Enunciado n.º 20, com o seguinte teor:

20 – Salvo em relação ao agente agressivo ruído, não será obrigatória a

apresentação de laudo técnico pericial para períodos de atividades anteriores à

edição da Medida Provisória n. 1.523-10, de 11.10.96, facultando-se ao

segurado a comprovação de efetiva exposição a agentes agressivos à sua saúde

ou integridade física mencionados nos formulários SB-40 ou DSS – 8030,

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mediante o emprego de qualquer meio de prova em direito admitido.

Entretanto, tal não foi suficiente para sanar o enorme dissenso doutrinário acerca

da necessidade de prova da efetiva exposição no período que vai da edição da

Lei n.º 9.032/1995 até o surgimento do Decreto Regulamentador n.º 2.172/1997.

Alguns estendem essa desnecessidade até além da data da Medida Provisória n.º

1.523/1996. Tanto é assim que Hermes Arrais Alencar263 afirma que:

A comprovação da insalubridade do exercício laboral realizado após 29.04.1995,

ressalvados os benefícios requeridos anteriormente à edição da Medida

Provisória n.º 1.523/96, de 11.10.96, mister se faz a apresentação de laudo

técnico-pericial, comprovando a exposição do segurado aos agentes nocivos

descritos nos anexos dos Decretos nº 53.831/64 e nº83.080/79.

Da mesma forma entendem Arthur Bragança de Vasconcellos Weintraub e

Fábio Lopes Vilela Berbel264.

João Ernesto Aragonês Vianna265, por sua vez, afirma que a obrigatoriedade de

prova da exposição a agente nocivo através de laudo técnico somente ocorreu

com a Lei n.º 9.528/1997.

Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro266 e Simone Barbisan Fortes e Leandro

Paulsen267 asseveram que a exigência de laudo técnico somente adveio com o

Decreto Regulamentador n.º 2.172, de 05.03.1997, sendo que, até a referida

data, bastava a entrega dos formulários SB-40 ou DSS- 8030.

263 Benefícios previdenciários. 3ª ed. São Paulo: Universitária de Direito, 2007, p. 443. 264 Op. cit., p. 149. 265 Op. cit., p. 527. 266 Op. cit., p. 259. 267 Op. cit., p. 207.

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Sobre o assunto, o Superior Tribunal de Justiça268 passou a adotar, em seus

julgados, o entendimento de que o enquadramento por atividade, em que a

exposição era presumida, estendeu-se até a edição do Decreto Regulamentador

n.º 2.172, de 05.03.1997, desprezando, inclusive, o conteúdo da Medida

Provisória n.º 1.523/1996. Confira-se:

RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE EXERCIDA EM

CONDIÇÕES ESPECIAIS ATÉ O ADVENTO DA LEI Nº 9.032/95.

DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA INSALUBRIDADE,

PRESUMIDA PELA LEGISLAÇÃO ANTERIOR. TEMPO DE SERVIÇO.

CONVERSÃO EM TEMPO COMUM. POSSIBILIDADE. DIREITO

ADQUIRIDO AO DISPOSTO NA LEGISLAÇÃO EM VIGOR À ÉPOCA DO

TRABALHO ESPECIAL REALIZADO. NÃO-INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO

DA APLICABILIDADE IMEDIATA DA LEI PREVIDENCIÁRIA. ROL

EXEMPLIFICATIVO DAS ATIVIDADES ESPECIAIS. TRABALHO

EXERCIDO COMO PEDREIRO. AGENTE AGRESSIVO PRESENTE.

PERÍCIA FAVORÁVEL AO SEGURADO. NÃO-VIOLAÇÃO À SUMULA

7/STJ. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL AO QUAL SE DÁ

PROVIMENTO.

1. O STJ adota a tese de que o direito ao cômputo diferenciado do tempo de

serviço prestado em condições especiais, por força das normas vigentes à época

da referida atividade, incorpora-se ao patrimônio jurídico do segurado. Assim, é

lícita a sua conversão em tempo de serviço comum, não podendo ela sofrer

qualquer restrição imposta pela legislação posterior, em respeito ao princípio do

direito adquirido.

2. Até 05/03/1997, data da publicação do Decreto 2.172, que regulamentou a Lei

nº 9.032/95 e a MP 1.523/96 (convertida na Lei nº 9.528/97), a comprovação do

tempo de serviço laborado em condições especiais, em virtude da exposição de

268 STJ, 6ª T., Recurso Especial 354737/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe 09/12/2008.

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agentes nocivos à saúde e à integridade física dos segurados, dava-se pelo

simples enquadramento da atividade exercida no rol dos Decretos 53.831/64 e

83.080/79 e, posteriormente, do Decreto 611/92. A partir da referida data,

passou a ser necessária a demonstração, mediante laudo técnico, da efetiva

exposição do trabalhador a tais agentes nocivos, isso até 28/05/1998, quando

restou vedada a conversão do tempo de serviço especial em comum pela Lei

9.711/98. (Grifamos).

3. A jurisprudência se pacificou no sentido de que as atividades insalubres

previstas em lei são meramente explicativas, o que permite afirmar que, na

análise das atividades especiais, deverá prevalecer o intuito protetivo ao

trabalhador. Sendo assim, não se parece razoável afirmar que o agente insalubre

da atividade do pedreiro seria apenas uma característica do seu local de trabalho,

já que ele está em constante contato com o cimento, em diversas etapas de uma

obra, às vezes direta, outras indiretamente, não se podendo afirmar, com total

segurança, que em algum momento ele deixará de interferir na saúde do

trabalhador.

4. Não constitui ofensa ao enunciado sumular de nº 7 desta Corte a valoração da

documentação apresentada que comprova a efetiva exposição do trabalhador a

agentes prejudiciais à saúde.

5. Recurso especial ao qual se dá provimento.

Dessa forma, no âmbito do processo administrativo, a partir da entrada em vigor

da Lei 9.032/1995, impende que o segurado comprove a exposição a agentes

nocivos à sua saúde ou integridade física por qualquer meio de prova, desde que

lícita.

Já no âmbito do processo judicial, basta ao segurado provar o exercício de

trabalho pertencente a uma das categorias descritas nos Decretos 53.831/1964 e

83.080/1979 e, posteriormente, do Decreto 611/1992 até a edição de Decreto

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2.172/1997.

Pois bem, como já demonstrado, a Lei n.º 8.213/1991, após as alterações

patrocinadas pelas Leis n.º 9.032/1995 e 9.732/1998, estabeleceu,

expressamente, que a prova do exercício, habitual e permanente de atividade

nociva à saúde ou integridade física do segurado será realizada por meio de

prova documental, consistente em formulários, elaborados pela empregadora,

cuja forma deverá ser estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social –

INSS.

Tais formulários deverão ser fundamentados em laudo técnico de condições

ambientais do trabalho, emitidos por médico ou engenheiro de segurança do

trabalho, na forma estabelecida pela legislação trabalhista.

Muitos foram os formulários já exigidos pela Previdência Social para aferição

do exercício de atividade especial, ao longo da evolução legislativa do benefício

em estudo.

Dessa forma, passaremos ao estudo dos formulários exigidos pela norma

previdenciária para a demonstração do tempo especial e demais provas do

exercício de atividades com exposição a agentes nocivos à saúde ou integridade

física do segurado.

3.3 Prova documental

3.3.1 Formulários

A prova do exercício de categoria profissional ou da exposição efetiva a agente

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nocivo até há bem pouco tempo dava-se através da entrega, pelo segurado, de

documentos emitidos pelas empregadoras ou pessoas determinadas em lei como

obrigadas à sua emissão, denominados “Formulário Informações sobre

Atividades com Exposição a Agentes Agressivos – Aposentadoria Especial”,

conforme modelos substituídos no tempo.

Assim passaremos, agora, ao exame dos modelos desses formulários,

padronizados pelo Instituto Nacional do Seguro Social.

3.3.1.1 SB-40 e DSS 8.030

As siglas “SB-40” e “DSS 8.030” denominavam os formulários padrão, exigidos

pelo Instituto Nacional do Seguro Social para a comprovação do exercício de

atividades em que o segurado esteve exposto a agentes nocivos à sua saúde e

integridade física.

O dever de entrega do SB-40 vigeu até a Medida Provisória 1.523/1996, depois

convertida na Lei n.º 9.528/1997, quando, então, passou a ser denominado DSS

8030.

Na prática, o SB-40 e o DSS 8.030 eram formulários dotados das mesmas

características e instituídos com a mesma finalidade: fazer prova do exercício de

atividade especial.

A obrigação do seu preenchimento era da empresa empregadora ou de um

preposto eleito, onde constavam as funções exercidas pelo empregado, suas

atribuições e as condições em que o trabalho era executado.

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Para os trabalhadores avulsos, a obrigatoriedade de emissão do documento era

do Sindicato da Categoria ou do Órgão Gestor de Mão de Obra – OGMO.

Já em relação aos contribuintes individuais, Arthur Bragança de Vasconcellos

Weintraub e Fábio Lopes Vilela Berbel269 entendem ser dever dos próprios

segurados a emissão do documento, com o que discordamos, por entender que

tal encargo deve ser executado por um terceiro, que não tenha interesse nos

efeitos do conteúdo do documento, mesmo que contratado pelo contribuinte.

Se pudessem os próprios segurados preencher os referidos formulários, não teria

a lei imposto a terceiro, estranho à relação securitária (sindicato, Órgão Gestor

de Mão de Obra, ou empregador), a obrigação do seu preenchimento para os

empregados e trabalhadores avulsos.

Os segurados possuem interesse no conteúdo do formulário e, por isso, não

detêm, independentemente de quem sejam, a imparcialidade necessária para a

emissão da declaração contida no formulário.

Aliás, o documento particular emitido pela parte somente gera efeitos somente

em relação àquele que o produziu, na forma do artigo 368 do Código de

Processo Civil, razão pela qual o formulário preenchido pelo segurado não

estenderia seus efeitos à autarquia previdenciária, a quem impenderia realizar

diligências externas a fim de averiguar os fatos descritos no referido documento.

Assim, os referidos formulários sempre serão elaborados por um terceiro,

estranho à relação previdenciária, que declarará, sob as penas da lei, que o

conteúdo do documento é verdadeiro.

269 Op. cit., p. 148.

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Durante o tempo em tais formulários eram exigidos, vigia, como já dito, norma

que enquadrava o tempo especial de acordo com o exercício de determinadas

categorias profissionais, sem qualquer indicação do meio de prova a ser

realizado acerca da atividade exercida.

Consequentemente, até o advento da Lei 9032/1995, comprovando o segurado o

exercício de determinada categoria, mesmo sem a apresentação dos formulários

SB-40 ou DSS 8.030, não cabia ao Instituto Nacional do Seguro Social indeferir

a concessão da aposentadoria especial, salvo dúvida razoável como, por

exemplo, diante de alguma rasura na CTPS, Carteira de Trabalho e Previdência

Social. O relevante, portanto, era a prova do exercício de função integrante de

categoria diferenciada, protegida pela legislação social, que presumia o

exercício de atividade sujeita a agente nocivo.

Bem por isso, toda e qualquer prova bastava à demonstração do exercício de

função integrante de categoria profissional, como sempre foi reconhecido pela

jurisprudência, vejamos:

PREVIDENCIÁRIO – AGRAVO INTERNO – TEMPO DE SERVIÇO –

COMPROVAÇÃO DE CONDIÇÕES ESPECIAIS – AGENTE FÍSICO

ELETRICIDADE – CONJUNTO PROBATÓRIO SUFICIENTE – RECURSO

DESPROVIDO – I- Em sua peça recursal, o agravante argumenta que a decisão

agravada se baseou em uma ilegível cópia de uma declaração fornecida pela área

de distribuição da CERJ (fl. 13 dos autos). Aduz que deve ser mantida a

sentença de primeiro grau, que julgou improcedente o pedido do autor sob o

argumento de que a atividade de motorista eletricista não está prevista no rol de

atividades enquadradas nos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 e que inexistem nos

autos documentos que comprovem a efetiva e habitual exposição do autor à

eletricidade acima de 250 volts, de forma habitual e permanente, no período

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pleiteado. II- O documento de fl. 13 dos autos comprova de maneira clara e

inequívoca, que o autor, no período de 30/12/88 à 30/12/97, desempenhou

atividades profissionais, de modo habitual e permanente, em que esteve exposto

aos efeitos da eletricidade sob tensão acima de 250 volts. Também ficou claro

que este agente físico está enquadrado no código 1.1.8 do Decreto nº 53.831/64

e sua comprovação sem a apresentação de formulário SB-40 e DSS-8030 é

permitida até o advento da Lei nº 9.032, em 29/04/1995, razão pela qual faz jus

o autor ao reconhecimento do período de 30/12/88 a 31/07/94 como trabalhado

em condições especiais.. III- O argumento do recorrente de que o documento é

uma cópia ilegível revela-se sem sentido, uma vez que não há qualquer rasura e

o mesmo se encontra em boas condições de leitura e entendimento. IV- Agravo

Interno desprovido270. (Grifamos).

AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO QUE DETERMINOU A

JUNTADA DE DOCUMENTOS APTOS A DEMONSTRAR O

DESEMPENHO DAS TAREFAS EXERCIDAS COM EXPOSIÇÃO A

AGENTES NOCIVOS, EXEMPLIFICANDO COM LAUDOS TÉCNICOS,

FORMULÁRIOS SB-40 E DSS8030 – 1- A CTPS do autor/agravante mostra

que o mesmo trabalhou em empresas privadas como pintor em vários períodos

iniciados em 16 de novembro de 1978 até 24 de maio 1982. 2- Posteriormente,

foi admitido como "pintor de manutenção" no Centro Técnico Aeroespacial,

assim trabalhando de 4 de abril de 1983 até 15 de abril de 2002, quando passou

para outra função, tudo conforme declaração do próprio setor de recursos

humanos do CTA. 3- O que se verifica é que o agravante trabalhou como pintor

- Tanto na iniciativa privada quanto no CTA - Por longo tempos antes do

advento das restrições a prova de insalubridade ventiladas pela Lei nº 9.032/95.

270 TRF 2ª R., 1ª T. Esp., Ação Cível 2006.51.08.000070-8 – (497694), Rel. Des. Fed. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, E 02.02.2011, p. 11.

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4- não há que se exigir do trabalhador que apresente formulários ou laudos

referentes a período laboral insalubre desempenhado antes da lei que passou a

exigi-los. 5- De outro lado, verifica-se que o agravante trabalhou como pintor no

CTA depois da vigência da Lei nº 9.032/95 (até 14 de abril de 2002); Só que

quanto a isso tem a seu favor informações descritivas da atividade laboral que a

apontam, sem dúvida alguma, como insalubres. Trata-se do documento de f. 56,

assinado por engenheiro de segurança do trabalho, calcada no resultado de

perícia de local efetuada às 15h32 do dia 31 de maio de 2006. Quanto a esse

período, portanto, o autor está coberto em face da lei nova, inclusive da Lei nº

9.528/97. 6- Nesse passo, a exigência contida na decisão agravada não se

justifica. 7- Agravo de instrumento provido271. (Grifamos).

Note-se, também, que a tutela previdenciária advinda da concessão de

aposentadoria especial visa a proteger o trabalhador exposto a agentes nocivos à

sua saúde ou integridade física ocorrida factualmente no trabalho desenvolvido.

Portanto, o conteúdo dos formulários deve espelhar a realidade vivida pelo

segurado.

Dessa forma, todas as imprecisões ou inverdades constantes nos formulários

emitidos pelas pessoas obrigadas a tanto deverão ser sanadas através de ação

trabalhista, ou mesmo por meio de pesquisa externa, a ser realizada pelo

Instituto Nacional do Seguro Social.

Também é possível que o segurado, por meio de quaisquer outros documentos

em seu poder, demonstre as imprecisões constantes dos formulários, de forma a

demonstrar não a exposição a agentes nocivos, que depende de conhecimento

técnico, mas o exercício de atividade diversa daquela mencionada no referido

271 TRF 3ª R., 1ª T., Agravo de Instrumento 2010.03.00.012984-0/SP, Rel. Des. Fed. Johonsom Di Salvo, DJe 27.05.2011, p. 298.

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formulário.

De qualquer forma, responderá, inclusive criminalmente272, o emitente do

formulário, pelas informações equivocadas nele prestadas.

Por fim, a partir da publicação da Medida Provisória n.º 1.523/1996, que passou

a exigir que os formulários SB-40 e DSS 8030 fossem fundamentados em laudo

técnico, editou o Instituto Nacional do Seguro Social a Ordem de Serviço n.º

98/1999, que estabeleceu:

15.2. Quando a empresa preencher o formulário DSS 8.030, porém sem possuir

o laudo técnico, ou se negar a preenchê-lo, o órgão de execução deverá

comunicar a situação à área de fiscalização e à DRT, para realizar a inspeção

necessária no ambiente de trabalho.

Tal ordem de serviço deixa clara a aplicação do princípio da oficialidade ao

processo administrativo previdenciário, em que a Administração Pública deverá

dar prosseguimento ao processo instaurado, mesmo diante da ausência de prova

exigida em lei, a qual não é conferida ao segurado exigir a entrega.

3.3.1.2 DIRBEN 8.030

Em 2001, o Instituto Nacional do Seguro Social editou a Instrução Normativa

n.º 42, onde instituiu, com efeitos a partir de 29.04.1995, a necessidade de

comprovação do segurado à exposição a agentes nocivos, por meio de um novo

formulário denominado DIRBEN 8.030.

272 Código penal. Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa, se o documento é particular.

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Inicialmente, consideramos um equívoco a exigência de emissão do DIRBEN

8.030 desde 1995, uma vez que, até a entrada em vigor da Medida Provisória

1.523/1996, não era obrigatória a realização de laudo técnico.

O DIRBEN 8.030 continha, obrigatoriamente, a descrição do local onde os

serviços eram realizados, as atividades executadas pelo segurado, os agentes

nocivos presentes na jornada de trabalho, se a exposição aos agentes nocivos era

habitual e permanente, bem como a transcrição da conclusão do laudo técnico

que o fundamentou.

Além disso, tinha que ser assinado pelo responsável da empresa, inclusive com a

sua identificação pessoal, bem como conter a indicação do CGC (CNPJ) ou

matrícula da empresa no Instituto Nacional do Seguro Social.

O referido formulário era individualizado em relação ao segurado e à atividade

por ele exercida, o que obrigava as pessoas responsáveis pela sua emissão a

preencher tantos formulários quantas fossem as atividades exercidas pelo

empregado, mesmo que todas tivessem sido executadas no mesmo local e sob a

incidência dos mesmos agentes nocivos.

Na ocorrência de divergência entre o conteúdo descrito no DIRBEN 8.030 e o

informado em qualquer outro documento entregue pelo segurado, tal como

Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS - e laudo técnico, entre

outros, cabia à autarquia previdenciária diligenciar à empresa emissora do

documento273 e, na extinção274 desta, a realização de Justificação Administrativa,

273 IN 42/2001. Art. 6º. Quando for constatada divergência entre os registros constantes na Carteira Profissional/Carteira de Trabalho e Previdência Social e no Formulário DIRBEN 8.030, esta deverá ser esclarecida, por meio de diligência prévia, junto à empresa, a fim de verificar, em documentos contemporâneos, a evolução profissional do segurado, bem como os setores de trabalho.

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desde que existisse laudo técnico contemporâneo à existência da empresa.

Como se pode verificar, para a realização de Justificação Administrativa, exigia

o Instituto Nacional do Seguro Social, o laudo técnico contemporâneo, o que

demonstra, num primeiro momento, atitude completamente descabida.

Isto porque, se o segurado estivesse de posse de laudo técnico comprovando a

sua exposição a agentes nocivos à sua saúde ou integridade física, a Justificação

Administrativa tornava-se completamente desnecessária e inútil, posto que já

provada, através de documento hábil, a exposição.

Portanto, somente deve ser realizada a Justificação Administrativa nos casos em

que os laudos técnicos não individualizem o trabalhador, isto é, sejam

elaborados levando em conta as funções dos trabalhadores, mas sem conter a

nominação das pessoas que as exerciam. Nessa situação específica, a

Justificação Administrativa terá por finalidade, tão somente, provar a função

exercida.

Ocorre que a maior dificuldade dos segurados é justamente comprovar o seu

direito em relação às empresas que deixaram de existir, sobretudo se estas não

elaboraram nenhum formulário ou laudo técnico que comprove a exposição do

empregado a agentes nocivos à sua saúde ou integridade física. Tal situação será

avaliada pormenorizadamente em um tópico específico sobre o tema.

O formulário DIRBEN 8.030 foi extinto a partir de 1º de janeiro de 2004,

quando criado o Perfil Profissiográfico Previdenciário.

274 IN 42/2001. Art. 8º. Quando se tratar de empresa extinta, desde que comprovada a sua extinção em documentos oficiais, será dispensada a apresentação do Formulário DIRBEN 8.030, podendo ser processada a Justificação Administrativa, desde que na Carteira Profissional conste registro relativo ao setor de trabalho do segurado e exista laudo técnico contemporâneo emitido à época da existência da empresa.

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3.3.1.3 Formulários Contemporâneos

Os formulários exigidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social, para a prova

do exercício de função com exposição do segurado a agentes nocivos à sua

saúde ou integridade física, são emitidos quando da rescisão do contrato de

trabalho, ou quando por ele solicitados para apresentação do requerimento de

concessão de sua aposentadoria especial.

Dessa forma, seu preenchimento ocorre anos depois da realização do trabalho, o

que muitas vezes serviu de fundamento para o Instituto Nacional do Seguro

Social para negativa do reconhecimento do tempo especial, já que a prova

documental seria considerada extemporânea à prestação do serviço.

Contudo, a relação previdenciária que se estabelece de forma concomitante ao

contrato de trabalho é de trato sucessivo, muitas vezes longo, podendo durar

anos a fio, até que o segurado requeira a sua aposentação.

Tendo em vista a possibilidade de um contrato de trabalho estender-se por

muitos anos, resta impossível a emissão de formulários contemporâneos à

prestação do correspondente serviço, sob pena de imputar à empresa

empregadora, ao Órgão Gestor de Mão de Obra, ao sindicato ou à empresa

contratada pelo contribuinte individual a obrigação de emissão de documento a

cada certo período de tempo.

Portanto, o requisito temporal do formulário emitido deve respeitar o momento

da extinção do contrato de trabalho, ou aquele em que o segurado necessitar

produzir prova perante a autarquia previdenciária, sendo que o documento deve

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descrever o ambiente laboral e os agentes nocivos existentes à época da

prestação do trabalho.

A jurisprudência é firme nesse sentido:

PREVIDENCIÁRIO – REVISÃO DE BENEFÍCIO – TEMPO ESPECIAL –

FRENTISTA – VALIDADE DO FORMULÁRIO – RECURSO ADESIVO

NÃO CONHECIDO – AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR – JUROS E

CORREÇÃO MONETÁRIA – 1- O cômputo do tempo de serviço para fins

previdenciários deve observar a legislação vigente à época da prestação laboral,

tal como disposto no § 1º, art. 70 do Decreto nº 3.048/99, com redação do

Decreto nº 4.827/03. 2- Até o advento da Lei nº 9.032/95 era desnecessária a

apresentação de laudo pericial para fins de aposentadoria especial ou respectiva

averbação, sendo suficiente que o trabalhador pertencesse à categoria

profissional relacionada pelos Decretos 53.831/64 e 83.080/79. 3- Com o

advento da Lei nº 9.032/95 passou a se exigir a exposição aos agentes nocivos

químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à

integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do

benefício. 4- A apresentação dos formulários e laudos técnicos, emitidos pela

empresa ou seu preposto, acerca das condições ambientais do trabalho expedido

por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho, somente foram

previstos pela Medida Provisória nº 1.523, de 11/10/1996. 5- A necessidade de

comprovação da atividade insalubre através de laudo pericial foi exigida após o

advento da Lei 9.528, de 10.12.97. 6- Para validade do formulário, fornecido

pelo empregador, que indica a condição insalubre da atividade laboral não é

condição essencial que seja contemporâneo ao exercício das atividades

laborativas que se refere, podendo ser reconhecido o tempo especial nele

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indicado, desde que preenchidos os requisitos legais formais. [...]275 (Grifamos).

Dessa forma, sempre deverá ser aceito o formulário emitido com a declaração de

que seu conteúdo refere-se às condições do ambiente laboral existentes à época

do trabalho prestado.

3.3.1.4 Perfil Profissiográfico Previdenciário

A Medida Provisória n.º 1.523/1996, convertida na Medida Provisória n.º

1.596/1997 e, depois, na Lei n.º 9.528/1997, instituiu a expressão “perfil

profissiográfico” ao acrescentar o parágrafo 4º ao artigo 58, da Lei n.

8.213/1991, vejamos:

Art. 58. [...]

§ 4º. A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico,

abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este,

quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica desse documento.

Pela própria dicção legal, o perfil profissiográfico tinha por pressuposto a

criação de um documento que retratasse fidedignamente toda a vida laboral do

segurado, e que lhe fosse entregue, quando da rescisão do contrato de trabalho,

ou quando solicitado pela Previdência Social (no caso das perícias médicas) para

produção de efeitos previdenciários.

Pois bem, mesmo com a referida alteração legal, permaneceu a exigência de

275 TRF 1ª R., Apelação Cível 2001.38.00.041682-5/MG, Rel. Juiz Fed. Conv. Miguel Ângelo de Alvarenga Lopes, DJe 24.08.2011 – p. 197.

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preenchimento dos formulários já estudados, bem como de laudo técnico que os

fundamentasse.

A princípio, portanto, o perfil profissiográfico não se mostrou de muita utilidade

técnica, tanto que, ao compará-lo com o DSS 8030, asseverou Wladimir Novaes

Martinez276:

Além da tradicional CTPS, o Decreto n. 2.172/97 prevê 3 (sic) documentos,

praticamente com a mesma finalidade: a) DSS 8030 (art. 62, §2º); b) laudo

técnico pericial (art. 66, §4º); c) perfil profissiográfico (art. 66, §5º).

Suas características são muito assemelhadas e implicam a reedição de

informações, e crescente e desnecessária papelada.

Um avanço trazido pelo referido documento foi a desnecessidade de emissão de

um perfil profissiográfico para cada função exercida pelo segurado, como

ocorria com os formulários anteriormente citados.

Isso porque o perfil profissiográfico tinha por finalidade a descrição

pormenorizada de toda a vida laboral do segurado, e não a individualização de

suas funções, como ocorria com os formulários SB-40, DSS 8030 e DIRBEN

8030.

Ocorre que tal avanço tornou-se desnaturado, por conta da necessidade, ainda,

de emissão dos formulários diante da falta de regulamentação do novo instituto.

Tanto é assim, que a Ordem de Serviço INSS/DSS n.º 623/1999, indicava que:

276 Op. cit., p. 49.

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25.2.1. Enquanto não for definido o modelo próprio, para emissão do documento

referido no subitem 25.2 (perfil profissiográfico), a empresa poderá fornecer ao

empregado o formulário DSS0-8030.

Assim a modificação legislativa, a princípio, veio, tão somente, para aumentar

“a papelada” a ser emitida e entregue ao Instituto Nacional do Seguro Social,

sem grande utilidade prática.

Em dezembro de 2001, foi editado o Decreto 4.032, que, alterando o Decreto

3.048/1999, introduziu o conceito de perfil profissiográfico previdenciário, da

seguinte forma:

Art. 68.

[...]

§ 2º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será

feita mediante formulário denominado perfil profissiográfico previdenciário, na

forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social, emitido pela

empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais

do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do

trabalho.

[...]

§ 6º A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico

previdenciário, abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e

fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste

documento, sob pena da multa prevista no art. 283.

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Em razão da modificação regulamentar, o perfil profissiográfico, existente desde

1997, passou a ser denominado perfil profissiográfico previdenciário, modelo de

formulário de comprovação do exercício de atividade nociva à saúde ou

integridade física do segurado.

A Instrução Normativa INSS/DC n.º 78/2002 determinou que, a partir de janeiro

de 2003, fosse exigido unicamente o perfil profissiográfico previdenciário.

Entretanto, tal exigência foi prorrogada até julho de 2002, ante o que preceituava

a Instrução Normativa INSS/DC n.º 84/2002. Por fim, a exigência restou fixada

a partir de 1º de janeiro de 2004, face à sua regulamentação através da edição da

Instrução Normativa INSS/DC n.º 99, de 05.12.2003.

Paulo Gonzaga277, otimista com a modificação normativa, ressaltou:

Os dados técnicos exigidos no preenchimento desse formulário deverão

constituir o maior avanço prevencionista dos últimos anos, pois o mesmo

incorpora dados de medições ambientais e de exames periódicos

complementares, visando monitorar o ambiente e as condições de saúde

ocupacional dos trabalhadores.

Em comparação ao formulário anterior, o perfil profissiográfico previdenciário

apresenta-se mais completo, porque impõe às empresas a obrigatoriedade de

relatarem os exames periódicos realizados, bem como os acidentes do trabalho

ocorridos, introduzindo o Instituto Nacional do Seguro Social em uma esfera de

atuação mais protetiva, ante a possibilidade de rastreamento das situações de

exposição dos segurados a agentes nocivos à sua saúde ou integridade física.

277 Perfil profissiográfico previdenciário. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2003, LTR, p. 13.

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O perfil profissiográfico previdenciário, além de ter como finalidade a prova do

exercício de atividade sob condições especiais, também é destinado à concessão

de benefícios por incapacidade de natureza acidentária, como base para o

estabelecimento do nexo da incapacidade com o meio ambiente laboral pela

perícia médica.

A emissão do perfil profissiográfico previdenciário deve ser realizada com base

no Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho, também conhecido

pela sigla LTCAT, além, ainda, de observar o conteúdo do Programa de

Prevenção a Riscos Ambientais (PPRA), do Programa de Gerenciamento de

Riscos (PGR) e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

(PCMSO).

São obrigados à emissão do perfil profissiográfico previdenciário a empresa, em

relação a seus empregados e aos seus contribuintes individuais prestadores de

serviços, a cooperativa de trabalho ou produção, para seus cooperados filiados, o

Órgão Gestor de Mão de Obra ou Sindicato, para os trabalhadores avulsos.

Quanto aos demais contribuintes individuais expostos a agentes nocivos em

razão da especificidade de sua função, entendemos que eles deverão contratar

engenheiros de segurança do trabalho ou médicos do trabalho para a emissão do

referido formulário.

A norma que instituiu a obrigatoriedade de emissão do perfil profissiográfico,

bem como a do perfil profissiográfico previdenciário, em momento algum

declarou que este era destinado exclusivamente aos segurados expostos a

agentes nocivos.

Bem por isso, as empresas, os sindicatos e os órgãos gestores de mão de obra

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deverão emitir o referido documento para todos os trabalhadores

indistintamente, tendo eles sido expostos a atividades nocivas ou não.

Isso porque também, como bem ressaltaram Arthur Bragança de Vasconcelos

Weintraub e Fábio Lopes Vilela Berbel278:

O enquadramento do que é especial (nocivo à saúde humana) não é incumbência

do emitente do PPP, mas da autarquia previdenciária, logo permitir ao emitente

discriminar quem receberá o PPP é a mesma coisa que transferir ao emitente a

atribuição de analisar a h.i. da aposentadoria especial e, por conseguinte,

delimitar quem terá o direito de aposentar-se.

Portanto, às pessoas jurídicas obrigadas à emissão do Perfil Profissiográfico

Previdenciário cabe, tão somente, descrever fidedignamente o ambiente laboral

de todos os seus empregados, entregando-lhes o formulário quando da extinção

do vínculo laboral, do requerimento de concessão de aposentadoria especial ou

sempre que solicitado pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro

Social.

Ressalte-se que, a princípio, o artigo 272 da Instrução Normativa INSS279 n.º

45/2010 dá a entender que a emissão do perfil profissiográfico previdenciário

somente é obrigatória para os segurados expostos a agentes nocivos. Entretanto,

o parágrafo 10 do mesmo artigo deixa claro que após a implantação do perfil por

meio magnético, a emissão estende-se a todos os segurados, vejamos:

278 Op. cit., p. 167-168. 279 Art. 272. A partir de 1º de janeiro de 2004, conforme estabelecido pela Instrução Normativa nº 99, de 2003, a empresa ou equiparada à empresa deverá preencher o formulário PPP, conforme Anexo XV, de forma individualizada para seus empregados, trabalhadores avulsos e cooperados, que laborem expostos a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de concessão de aposentadoria especial, ainda que não presentes os requisitos para a concessão desse benefício, seja pela eficácia dos equipamentos de proteção, coletivos ou individuais, seja por não se caracterizar a permanência.

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Art. 272

[...]

§ 10. Após a implantação do PPP em meio magnético pela Previdência Social,

este documento será exigido para todos os segurados, independentemente do

ramo de atividade da empresa e da exposição a agentes nocivos, e deverá

abranger também informações relativas aos fatores de riscos ergonômicos e

mecânicos.

Portanto, como se verifica, há a obrigação de emissão do perfil profissiográfico

previdenciário para todos os segurados, indistintamente.

A eficácia probatória do referido documento será declarada somente pela

autoridade administrativa destinatária da prova.

Outro benefício advindo da criação do perfil profissiográfico previdenciário foi

a ampliação da proteção ao segurado, em caso de extinção ou desaparecimento

da empresa empregadora ou prestadora do serviço.

Como já demonstrado no capítulo 1, o benefício de aposentadoria especial é

concedido após o segurado exercer por 15, 20 ou 25 anos atividades sob

condições especiais à sua saúde ou integridade física, de modo que somente no

momento do requerimento de seu benefício é que deverá fazer prova dessa

exposição.

Bem por isso, por muitos anos os segurados foram prejudicados no momento do

requerimento do benefício, porque somente nessa ocasião o Instituto Nacional

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do Seguro Social avaliava os formulários expedidos e, diante de dúvida acerca

do seu conteúdo, realizava pesquisas externas para comprovação da exposição

ou requisitava outros documentos.

O prejuízo ocorria porque muitas empresas encerravam suas atividades ou

substituíam-nas por outras, impedindo o Instituto Nacional do Seguro Social de

apurar a veracidade dos dados constantes dos formulários, que, lembre-se, eram

extremamente singelos.

Com a obrigatoriedade de entrega do perfil profissiográfico previdenciário, a

partir da extinção do contrato de trabalho essa situação mudou, posto que nele

constam todos os dados relevantes à prova do ambiente laboral, bem como os

documentos que lhe servem de fundamento.

Acaso o segurado discorde do seu conteúdo, ou no caso de omissão na sua

entrega, ele poderá ingressar com ação trabalhista em face da emissora do

documento e denunciar a entidade omissa ao Instituto Nacional do Segurado

Social para cobrança da penalidade administrativa prevista no artigo 68,

parágrafos 4º e 5º, do Decreto 3.048/1999280.

Fábio Zambitte Ibrahim281 recomenda outra postura:

Havendo discordância do trabalhador quanto à negativa de exposição a agentes

nocivos, poderá o mesmo, por meio de seu sindicato ou, ainda, diretamente

solicitar a confecção de novo laudo técnico, confrontando-o com o elaborado

280 Art. 68 [...] § 4º A empresa que não mantiver laudo técnico atualizado com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir documento de comprovação de efetiva exposição em desacordo com o respectivo laudo estará sujeita à multa prevista no artigo 283. § 5º O INSS definirá os procedimentos para fins de concessão do benefício de que trata esta Subseção, podendo, se necessário, inspecionar o local de trabalho do segurado para confirmar as informações contidas nos referidos documentos. (Redação dada ao parágrafo pelo Decreto nº 4.882, de 18.11.2003, DOU 19.11.2003). 281 Op. cit., p. 556.

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pela empresa. O INSS, na dúvida, deverá utilizar-se de seus técnicos para

conferir ambos os documentos. Convém observar que o INSS não admite a

utilização de laudo técnico solicitado pelo próprio segurado.

Em que pese tal possibilidade, entendemos que a via mais célere e menos

onerosa para o segurado é o ajuizamento de ação trabalhista em face do

responsável pela emissão do documento, solicitando a citação do Instituto

Nacional do Seguro Social como terceiro interessado.

Tal situação é amplamente aceita pela nossa jurisprudência, vejamos282:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – DECISÃO DENEGATÓRIA DE

RECURSO DE REVISTA EM AÇÃO DECLARATÓRIA – RECLAMAÇÃO

PLÚRIMA MOVIDA CONTRA O EMPREGADOR PARA APURAÇÃO

TÉCNICA DE CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE TRABALHO – RECURSO

DO INSS – COMPETÊNCIA JURISDICIONAL – AÇÃO DE NATUREZA

NITIDAMENTE TRABALHISTA, E NÃO PREVIDENCIÁRIA – INGRESSO

DO INSS NO FEITO, COMO MERO ASSISTENTE, QUE NÃO COMPORTA

O DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL –

AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 109, I, DA CONSTITUIÇÃO,

MERECENDO CONFIRMAÇÃO O DESPACHO AGRAVADO AO

ENTENDER AUSENTES, NA HIPÓTESE, OS PRESSUPOSTOS DE

CABIMENTO DO RECURSO DE REVISTA – O acórdão regional, ao

proclamar que não estão em discussão aspectos técnicos acerca da viabilidade,

ou não, para os autores, de aposentadorias especiais - Esta, sim, uma questão

previdenciária - , mas tão somente a obrigação patronal de reconhecer, a partir

de verificação por perito do Juízo, condições ambientais nocivas de trabalho dos

282 TST, Agravo de Instrumento no Recurso de Revista 607/2005-132-03-41.6 , Rel. Min. Flávio Portinho Sirangelo, DJe 26.11.2010 – p. 1666.

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empregados para que eles possam, noutra esfera, acionar o estudo acerca da

viabilidade de aposentadorias especiais, deixa clara a observância, no caso, dos

limites jurisdicionais da competência trabalhista, não incidindo, portanto, em

vulneração do art. 109, I, da Constituição. Decisão que limitou-se a julgar

cabível, no âmbito trabalhista, a apuração pericial das condições de trabalho e a

emissão de formulário antes conhecido como DSS (DIRBEN) 8030, hoje, PPP

(Perfil Profissiográfico Previdenciário) para que, aí sim ao leito da legislação

previdenciária e em contraditório outro, os trabalhadores venham a discutir a

questão previdenciária daí resultante junto ao INSS. Precedentes. Agravo de

instrumento não provido.

A emissão do perfil profissiográfico previdenciário decorre da relação de

trabalho, sendo obrigação acessória ao contrato laboral, permitindo, assim, o

ajuizamento de ação trabalhista, nos termos do artigo 114 da Constituição

Federal, com requerimento, inclusive, de expedição de ofício ao Ministério

Público para apuração do crime de falsidade ideológica no caso de conteúdo

falso do documento.

Os efeitos da sentença trabalhista como prova do tempo especial serão

examinados mais adiante.

O conteúdo do perfil profissiográfico previdenciário mantido pela empresa deve

ser atualizado anualmente, ou sempre que ocorrer qualquer alteração das

informações nele constantes, o que importa dizer que não mais se justifica a

recusa do conteúdo do documento pelo Instituto Nacional do Seguro Social, sob

a alegação de não ser considerado contemporâneo, como muito ocorreu em

relação aos formulários anteriores.

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3.3.2 Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho

Até a entrada em vigor da Lei n.º 9.032/1995 somente era necessária a

comprovação do exercício de atividade profissional, pelo tempo mínimo

exigido, que possuísse presunção de nocividade, ou a apresentação de laudo

técnico nos casos de agentes nocivos que dependessem de avaliação

quantitativa, como o ruído, por exemplo, para a obtenção de aposentadoria

especial.

Do período que vai da Lei 9.032/1995 até a edição da Medida Provisória n.º

1.523/1996, o segurado deve comprovar a efetiva exposição através de todos os

meios de prova em direito admitidos, já que a legislação previdenciária não

tarifou a prova a ser produzida nesse período.

Já a partir da edição da Medida Provisória 1.523/1996, a prova da efetiva

exposição passou a ser expressamente disciplinada, com a determinação de que

os formulários sejam emitidos com base em Laudos Técnicos das Condições

Ambientais do Trabalho - LTCAT, elaborados por médicos do trabalho ou

engenheiros de segurança do trabalho.

A referida Medida Provisória determinou, ainda, que os laudos técnicos

contivessem declaração acerca da existência de equipamentos de proteção

coletiva que atenuassem o risco de exposição aos agentes nocivos aos limites

toleráveis ao organismo humano.

Em 1998, a Lei n.º 9.732, alterou o artigo 58, parágrafo 1º da Lei n.º

8.213/1991283, determinando que os laudos técnicos fossem elaborados nos

283 Art. 58 [...] § 1º. A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, emitido pela empresa ou seu

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termos da legislação trabalhista, ou seja, com observância das normas

regulamentadoras editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e também

dos atos normativos expedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social.

Por conta dessa alteração legislativa, ressaltou José Antônio Savaris que:

A insalubridade previdenciária parece coincidir agora com a insalubridade

trabalhista, ainda que a doutrina previdenciária possa ter uma leitura diferente

daquela operada pela trabalhista. Um exemplo disso é a utilização do

equipamento de proteção individual como fator que descaracteriza a

insalubridade trabalhista, mas não a especialidade da atividade para fins

previdenciários [...]284.

Ocorre que, ao contrário do que entende o referido autor, até mesmo o Poder

Judiciário Trabalhista não descaracteriza a nocividade em caso de simples

entrega do equipamento de proteção. Confira-se, a respeito, o teor da Súmula

abaixo transcrita:

Súmula n.º 289 do Tribunal Superior do Trabalho:

INSALUBRIDADE. ADICIONAL. FORNECIMENTO DO APARELHO DE

PROTEÇÃO. EFEITO. O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo

empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade. Cabe-lhe

tomar as medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade,

entre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado.

Para a Justiça do Trabalho, portanto, para que ocorra a descaracterização da

preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho nos termos da legislação trabalhista. 284 Op. cit., p. 243.

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nocividade, impende que sejam provadas as medidas que diminuam a exposição

e a prova do uso efetivo do equipamento de proteção.

Entretanto, se comparada à sumula trabalhista supra citada, a jurisprudência da

Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Federais, é mais protetiva,

como se verifica no teor da Súmula 9:

O uso de Equipamento de Proteção Individual EPI, ainda que elimine a

insalubridade, no caso de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de

serviço especial prestado.

Referida Súmula deixa clara a existência de uma corrente doutrinária que

reconhece que, mesmo neutralizada a nocividade, deverá ser reconhecido o

tempo como especial.

Alinhamo-nos, contudo, ao entendimento de Arthur Bragança de Vasconcellos

Weintraub e Fábio Lopes Vilela Berbel285, segundo o qual, uma vez neutralizada

a nocividade, não há que se falar na incidência da norma previdenciária de

concessão da aposentadoria especial, vejamos:

Equivocada é a tese [contida na Súmula 9], pois o elemento nocividade laboral é

o que discrimina qual tempo de serviço poderá constituir a h.i da aposentadoria

especial. É a existência da nocividade laboral que impõe à atividade laboral o

status de especial, inexistindo aquela, certamente, inexistira essa.

Pois bem, no âmbito da tutela previdenciária temos que a Lei n.º 9.732/1998

criou um mecanismo que impede a concessão da aposentadoria especial: a

existência de equipamento de proteção que diminua ou neutralize a nocividade

285 Op. cit., p. 173.

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171

do agente causador do mal à saúde ou integridade física do segurado.

A bem da verdade, não seria este um obstáculo criado com a finalidade de evitar

a concessão de aposentadoria especial, mas sim com vistas a impedir a

exposição da saúde ou da integridade física do segurado a agentes nocivos.

Não havendo risco a ser tutelado, descabe a concessão de aposentadoria

especial.

A prova da existência desse equipamento, a sua entrega, efetivo uso e eficácia

na neutralização do agente cabe à autarquia previdenciária, uma vez que a

nocividade é presumida nos locais onde exista o agente agressor acima dos

limites de tolerância.

Portanto, provar que a existência dos agentes nocivos não ameaçaram a saúde ou

integridade física do segurado é trabalho conferido ao Instituto Nacional do

Seguro Social, até mesmo por ser um fato impeditivo do direito do segurado.

Com a criação do perfil profissiográfico previdenciário, não mais é obrigatória a

entrega do Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho juntamente

com o formulário, devendo, entretanto, ser este arquivado na entidade emissora,

ficando à disposição do Instituto Nacional do Segurado Social para eventual

fiscalização.

3.3.3 Outros documentos

Além dos formulários já estudados conforme sua exigência intertemporal e do

Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho, a comprovação da

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exposição do segurado a agentes nocivos pode ser realizada através de outras

provas, também documentais, como veremos a seguir.

No âmbito do processo administrativo, há a exigência de demonstração da

exposição a agentes nocivos, mediante a juntada de documentos certos e

determinados pela legislação previdenciária, como podemos verificar na

Instrução Normativa INSS n.º 45/2010.

Art. 256. Para instrução do requerimento da aposentadoria especial, deverão ser

apresentados os seguintes documentos:

I - para períodos laborados até 28 de abril de 1995, véspera da publicação da Lei

nº 9.032, de 1995, será exigido do segurado o formulário de reconhecimento de

períodos laborados em condições especiais e a CP ou a CTPS, bem como, para o

agente físico ruído, LTCAT;

II - para períodos laborados entre 29 de abril de 1995, data da publicação da Lei

nº 9.032, de 1995, a 13 de outubro de 1996, véspera da publicação da MP nº

1.523, de 1996, será exigido do segurado formulário de reconhecimento de

períodos laborados em condições especiais, bem como, para o agente físico

ruído, LTCAT ou demais demonstrações ambientais;

III - para períodos laborados entre 14 de outubro de 1996, data da publicação da

MP nº 1.523, de 1996, a 31 de dezembro de 2003, data estabelecida pelo INSS

em conformidade com o determinado pelo § 2º do art. 68 do RPS, será exigido

do segurado formulário de reconhecimento de períodos laborados em condições

especiais, bem como LTCAT, qualquer que seja o agente nocivo; e

IV - para períodos laborados a partir de 1º de janeiro de 2004, conforme

estabelecido por meio da Instrução Normativa INSS/DC nº 99, de 5 de

dezembro de 2003, em cumprimento ao § 2º do art. 68 do RPS, o único

documento será o PPP.

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A norma acima transcrita autoriza, no período compreendido entre 29.04.1995 e

13.10.1996, a prova do exercício de atividades especiais através da juntada de

“demais demonstrações ambientais”, regulamentadas pela Portaria nº 3.214, de 8

de junho de 1978, editada pelo Ministério do Trabalho.

Entre os referidos documentos, temos o Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais – PPRA, Programa das Condições e Meio Ambiente de Trabalho na

Indústria da Construção – PCMAT, Programa de Gerenciamento de Riscos –

PGR, Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional, Programa de

Conservação Auditiva – PCA e Mapa dos Riscos Ambientais.

Todos esses documentos poderão ser utilizados, no âmbito administrativo, para a

demonstração da exposição a agentes nocivos no ambiente de trabalho, para a

prova do tempo especial no período de 29.04.1995 a 13.10.1996, e, no âmbito

do processo judicial, a qualquer momento, tendo em vista o princípio do livre

convencimento motivado do órgão jurisdicional.

Pois bem, como se verifica, no âmbito do processo administrativo, a exigência

da realização da prova documental, na forma como tarifada, é imperativa, não

sendo, inclusive, aceitos outros documentos sem que esses tenham sido

juntados ao processo concessório.

Ocorre que muitas vezes o segurado extravia o formulário exigido e a empresa

encontra-se desativada, ou, ainda, mesmo ainda na ativa e obrigada a fazê-lo,

nega-se a entregar o perfil profissiográfico previdenciário, ficando o segurado

impossibilitado de receber o benefício a que faz jus, ante a existência dessa

rígida formatação probatória do tempo especial no âmbito administrativo.

Tal rigidez é evidenciada pela Instrução Normativa INSS n.º 45/2010, que muito

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embora relacionando diversos outros documentos que podem servir de prova ao

segurado, exige que, para atingir a eficácia probatória desejada, tais documentos

sejam ser entregues acompanhados dos formulários acima descritos e mais o

Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho, quando ainda não

existente o perfil profissiográfico previdenciário.

Ora, a exigência de manutenção da entrega dos formulários e do Laudo Técnico

de Condições Ambientais do Trabalho, ou do perfil profissiográfico

previdenciário junto aos demais documentos, torna completamente inútil a

prova, já que basta ao legislador a entrega dos primeiros.

A própria Instrução Normativa INSS n.º 45/2010 considera como aptas à

demonstração do tempo especial os seguintes documentos: laudo técnico-

pericial, emitido por determinação da Justiça do Trabalho em ações trabalhistas,

acordos ou dissídios coletivos, laudo emitido pela Fundação Jorge Duprat

Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – FUNDACENTRO, laudos

emitidos por órgãos do Ministério do Trabalho e Emprego, laudos individuais,

os programas de prevenção de riscos ambientais, de gerenciamento de riscos, de

condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção e controle

médico de saúde ocupacional.

Entretanto, tais documentos gerarão efeitos probatórios somente quando também

acostados ao processo administrativo os formulários e laudos técnicos, ou o

perfil profissiográfico.

Portanto, esses “outros” documentos terão serventia real somente no momento

em que o Instituto Nacional do Seguro Social tiver dúvida sobre os formulários,

Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho ou perfil profissiográfico

previdenciário apresentados, quando, então, serão utilizados como prova do

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conteúdo dos formulários ou até mesmo contraprova em favor da autarquia

previdenciária.

No âmbito do processo judicial, ao contrário, a exigência de cumprimento da

prova tarifada na forma da legislação não encontra substrato, sendo permitido

que o segurado demonstre a exposição a agentes nocivos à sua saúde ou

integridade física de todas as formas lícitas e moralmente aceitas.

Nesse sentido, transcrevemos a seguinte ementa de julgado, do Tribunal

Regional Federal da 3ª Região286:

APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO – TEMPO DE SERVIÇO

RURAL – PROVA – TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL – MECÂNICO –

PROVA – EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – CARÊNCIA –

QUALIDADE DE SEGURADO – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – 1. A

Súmula nº 149 do egrégio Superior Tribunal de Justiça censura o

reconhecimento do tempo de serviço com base em prova exclusivamente

testemunhal, mas não se esta for respaldada por início de prova material. Espera-

se do juiz, diferentemente do que sucede com o subalterno agente

administrativo, que aprecie todo o conjunto probatório dos autos para formar sua

convicção, dominada pelo princípio da livre persuasão racional. O rol de

documentos indicados na legislação previdenciária não equivale ao sistema da

prova tarifada ou legal, sistema que baniria a atividade intelectiva do órgão

jurisdicional no campo probatório. 2. Embora a atividade de mecânico não se

encontre indicada como profissão ou ocupação especial, desde que

adequadamente se comprove a efetiva sujeição do segurado a ação de agentes

nocivos, deve ser assim considerando o tempo de serviço correspondente. [...].

286 TRF 3ª R., 1ª T., Apelação Cível 2000.03.99.031362-0/SP, Rel. Conv. Juiz André Nekatschalow, DJU 18.11.2002.

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176

(Grifamos).

Portanto, na ausência de um dos formulários exigidos não deixará o Poder

Judiciário de examinar os demais documentos juntados aos autos que

demonstrem a exposição, especialmente nos casos em que houve recusa na

entrega do documento pela pessoa jurídica responsável, ou desativação da

empresa em que ocorria a prestação do serviço.

Vejamos as características de cada um dos documentos que poderão ser

utilizados pelos segurados para prova do exercício de tempo especial perante o

Poder Judiciário ou, ainda, perante a Administração Pública, desde que

encaminhados juntamente com o Laudo Técnico de Condições Ambientais do

Trabalho, ou Perfil Profissional Prossifiográfico:

3.3.3.1 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA

O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, ou PPRA, foi estabelecido

pela Norma Regulamentadora n.º 9, com redação atual conferida pela Portaria

SSST287 nº 25, de 20.12.1994, aprovada pela Portaria MTB n.º 3.214/1978.

Referida norma determina a obrigatoriedade de elaboração e implementação,

pelos empregadores, de um programa visando à preservação da saúde e

integridade física dos empregados, por meio de levantamento dos riscos

existentes no meio ambiente laboral.

Com esse levantamento é possível, aos responsáveis pelo ambiente laboral, a

tomada de medidas preventivas, de modo a controlar a atuação dos agentes

287 Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho.

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agressivos ou mesmo neutralizá-los.

São etapas da elaboração do PPRA, nos termos da NR-9:

9.3.1 - O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais deverá incluir as

seguintes etapas:

a) antecipação e reconhecimento dos riscos;

b) estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e controle;

c) avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores;

d) implantação de medidas de controle e avaliação de sua eficácia;

e) monitoramento da exposição aos riscos;

f) registro e divulgação dos dados.

Na última etapa – registro e divulgação de dados – o empregador terá formado

um histórico técnico do PPRA, que será constantemente atualizado, ficando à

disposição dos trabalhadores e autoridades competentes, nesse incluído o

Instituto Nacional do Seguro Social, pelo período de 20 anos, no mínimo.

Dessa forma, tanto no âmbito administrativo quando no judicial, poderá o

segurado valer-se das demonstrações obtidas no Programa de Prevenção a

Riscos Ambientais para a prova do exercício de atividade especial, ressalvando,

como visto no tópico anterior, que tal prova não é aceita isoladamente no

processo administrativo.

3.3.3.2 Programa das Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção - PCMAT

O Programa das Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção, regulamentada pela NR – 18, aprovada pela Portaria MTB n.º

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3.214/1978, visa à implementação de medidas de antecipação dos riscos e seu

controle no âmbito dos estabelecimentos destinados à realização de serviços

especializados em engenharia e das atividades e serviços de demolição, reparo,

pintura, limpeza e manutenção de edifícios em geral, de qualquer número de

pavimentos ou tipo de construção, inclusive manutenção de obras de

urbanização e paisagismo, com mais de 20 funcionários.

É um documento complementar ao Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais, o que significa dizer que não substitui este, sendo exigido em razão

da especificidade do trabalho desenvolvido e prestado na construção civil.

De acordo com a NR – 18 são documentos que integram o PCMAT:

a) memorial sobre condições e meio ambiente de trabalho nas atividades e

operações, levando-se em consideração riscos de acidentes e de doenças do

trabalho e suas respectivas medidas preventivas;

b) projeto de execução das proteções coletivas em conformidade com as etapas

da execução da obra;

c) especificação técnica das proteções coletivas e individuais a serem utilizadas;

d) cronograma de implantação das medidas preventivas definidas no PCMAT;

e) layout inicial do canteiro de obra, contemplando, inclusive, previsão de

dimensionamento das áreas de vivência;

f) programa educativo contemplando a temática de prevenção de acidentes e

doenças do trabalho, com sua carga horária.

Como se verifica, é realizado um estudo prévio do canteiro de obras, de forma a

evitar, especialmente, os acidentes do trabalho.

Tal documento visa, precipuamente, a prevenir a ocorrência de doenças e

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acidentes do trabalho, através da demonstração das medidas preventivas

tomadas pelo empregador antes do início da obra, sendo este obrigado a

disponibilizar o programa ao Órgão Regional do Ministério do Trabalho, quando

solicitado. Bem por isso, sua entrega aos trabalhadores/segurados não se

encontra conferida pela norma, tal como o Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais.

Portanto, quando necessária a exibição do referido documento, deverá o

segurado requerer à autoridade administrativa, ou ao Poder Judiciário, a sua

requisição, uma vez que o empregador não se encontra obrigado a entregá-lo aos

trabalhadores.

3.3.3.3 Programa de Gerenciamento de Riscos - PGR

Programa regulamentado pela NR – 22, aprovada pela Portaria MTB n.º

3.214/1978, destinado especificamente à indústria da mineração, com a

finalidade de “disciplinar os preceitos a serem observados na organização e no

ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o

desenvolvimento da atividade mineira com a busca permanente da segurança e

saúde dos trabalhadores”288.

Sua aplicação engloba todos os trabalhos relativos à mineração, seja subterrânea

ou a céu aberto, em garimpos, em beneficiamentos minerais e na pesquisa

mineral.

Na execução desse programa devem ser avaliadas e implementadas atuações

preventivas por parte dos empregadores, com vistas à minimização da exposição

288 NR – 22, item 22.1.1.

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dos trabalhadores a riscos ocupacionais, de modo a mantê-la dentro dos limites

de tolerância humanos.

Essas atuações impõem, entre outras obrigações, a realização de monitoramento

periódico da exposição a agentes nocivos e de controle médico, bem como a

prestação de informações aos trabalhadores.

No levantamento a ser realizado pelo programa é imperiosa a avaliação dos

seguintes itens289:

a) riscos físicos, químicos e biológicos;

b) atmosferas explosivas;

c) deficiências de oxigênio;

d) ventilação;

e) proteção respiratória, de acordo com a Instrução Normativa nº 1, de

11.04.1994, da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho;

f) investigação e análise de acidentes do trabalho;

g) ergonomia e organização do trabalho;

h) riscos decorrentes do trabalho em altura, em profundidade e em espaços

confinados;

i) riscos decorrentes da utilização de energia elétrica, máquinas, equipamentos,

veículos e trabalhos manuais;

j) equipamentos de proteção individual de uso obrigatório, observando-se no

mínimo o constante na Norma Regulamentadora nº 6;

l) estabilidade do maciço;

m) plano de emergência e

n) outros resultantes de modificações e introduções de novas tecnologias.

289 NR – 22, item 22.3.7.

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As empresas obrigadas à observância do Programa de Gerenciamento de Riscos

estão isentas da elaboração do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais,

uma vez que a realização do PGR engloba as etapas de avaliação do PPRA.

Tal como ocorre no Programa das Condições e Meio Ambiente de Trabalho na

Indústria da Construção, o PGR deve ser mantido e atualizado pela empresa

empregadora, ficando à disposição somente das autoridades competentes, sem

que haja obrigatoriedade de disponibilizá-lo aos empregados.

Bem por isso, no caso de o segurado necessitar utilizar o PGR como meio de

prova do exercício de atividade especial, até porque a função de minerador

envolve, reconhecidamente, a exposição a agentes nocivos, impende que sua

entrega ao trabalhador, para instrução do processo de concessão do benefício de

aposentadoria especial, seja requisitada por intermédio do Administrador

Público ou do Poder Judiciário.

3.3.3.4 Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional - PCMSO

O Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional, conhecido pela sigla

PCMSO, foi regulamentado pela NR – 7, com a redação atual conferida pela

Portaria nº 24, de 29.12.1994, da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho,

aprovada pela Portaria MTB nº 3.214/1978.

Tem por finalidade, assim como os demais programas aqui mencionados, a

preservação da saúde dos trabalhadores. Sua diferenciação reside no fato de o

programa ser acompanhado por um médico do trabalho, empregado ou

contratado pela empresa empregadora, destinado à avaliação de seus

trabalhadores, desde a sua admissão até a sua demissão, com vistas à

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implementação de um planejamento de atuações preventivas na área de saúde.

Bem por isso, é obrigatória a realização de exames médicos admissional,

periódicos290, de retorno ao trabalho (quando o afastamento for superior a 30

dias, em decorrência de acidente ou doença do trabalho ou não), de mudança de

função291 e demissional.

A cada exame médico realizado, será entregue ao trabalhador o Atestado de

Saúde Ocupacional, com indicação dos seus resultados, os riscos da função

exercida e se o trabalhador encontra-se apto ou inapto para o desempenho de sua

função.

Todos esses exames serão registrados em um formulário individual do

trabalhador, que deverá ser mantido pela empregadora por, no mínimo, 20 anos.

Durante os exames periódicos, na constatação de alguma disfunção biológica ou

agravamento de doença por conta do trabalho, incumbe ao médico

responsável292:

a) solicitar à empresa a emissão da Comunicação de Acidente do Trabalho -

CAT; 290 NR – 7. 7.4.3.2 - no exame médico periódico, de acordo com os intervalos mínimos de tempo abaixo discriminados: a) para trabalhadores expostos a riscos ou situações de trabalho que impliquem o desencadeamento ou agravamento de doença ocupacional, ou, ainda, para aqueles que sejam portadores de doenças crônicas, os exames deverão ser repetidos: a.1 - a cada ano ou a intervalos menores, a critério do médico encarregado, ou se notificado pelo médico agente da inspeção do trabalho, ou, ainda, como resultado de negociação coletiva de trabalho; a.2 - de acordo com a periodicidade especificada no Anexo 6 da NR-15, para os trabalhadores expostos a condições hiperbáricas; b) para os demais trabalhadores: b.1 - anual, quando menores de dezoito anos e maiores de quarenta e cinco anos de idade; b.2 - a cada dois anos, para os trabalhadores entre dezoito anos e quarenta e cinco anos de idade. 291 NR – 7. 7.4.3.4.1 - Para fins desta NR, entende-se por mudança de função toda e qualquer alteração de atividade, posto de trabalho ou de setor que implique a exposição do trabalhador a risco diferente daquele a que estava exposto antes da mudança. 292 NR – 7. Item 7.4.8.

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b) indicar, quando necessário, o afastamento do trabalhador da exposição ao

risco, ou do trabalho;

c) encaminhar o trabalhador à Previdência Social para estabelecimento de nexo

causal, avaliação de incapacidade e definição da conduta previdenciária em

relação ao trabalho;

d) orientar o empregador quanto à necessidade de adoção de medidas de

controle no ambiente de trabalho.

Como se pode verificar, o Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional é

um importante instrumento de prevenção a riscos ambientais à saúde ou

integridade física do trabalhador, posto que criado com a finalidade de que a

empresa responsável pelo ambiente laboral acompanhe a saúde do trabalhador,

da sua admissão até a sua demissão.

Tendo em vista a obrigatoriedade, dentro do programa, de entrega ao

trabalhador de todos os Atestados de Saúde Ocupacional, onde há a indicação

dos agentes agressivos á saúde ou integridade física, temos que, além do

Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional, os referidos atestados

formam importante meio de prova documental da exposição do trabalhador a

agentes nocivos, ou seja, de que a atividade laboral foi desenvolvida sob

condições especiais.

Até porque o referido atestado é assinado pelo médico responsável pelos

exames, que responderá pela emissão293 do documento com falsidade de

conteúdo.

A Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), na Sugestão de

293 Artigo 131 do Código. Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos signatários.

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Condutas Médico-Administrativas n.º 6, deixa claro que a emissão de Atestado

de Saúde Ocupacional faz parte de um ato médico, incidindo sobre ele a

responsabilidade cível, criminal e ética conferida a esse ato.

Sugere, ainda, a mencionada associação, que antes de expedir o Atestado de

Saúde Ocupacional, deverá o profissional responsável:

a) Conhecer o posto de trabalho daquele trabalhador em especial;

b) Conhecer o processo de trabalho, a organização do trabalho, os

dados epidemiológicos, a literatura atualizada e os riscos

presentes na atividade daquele trabalhador em especial.

Atividades com o mesmo ‘nome’ podem ser diferentes entre si,

encerrando riscos diferentes. (Por exemplo, Auxiliar de

Enfermagem de Unidade de Quimioterapia versus de Unidade de

Internação Clínica). O mesmo se aplica para nomes genéricos de

atividades, como ‘Auxiliar Geral’;

c) Ter realizado o exame clínico com base nos seus conhecimentos

das patologias ocupacionais que podem provocar determinados

sinais e sintomas;

d) Ter realizado o exame clínico com base nos seus conhecimentos

das patologias não relacionadas ao trabalho, mas que podem

influir negativamente neste mesmo trabalho, colocando em risco

a saúde do trabalhador e de seus colegas de trabalho ou da

população em geral. (Ex.: motorista e epilepsia);

e) Ter interpretado os exames complementares e avaliações

médicas especiais solicitados já em função dos riscos a que o

trabalhador estará, está ou esteve exposto;

f) Ter deduzido a aptidão para a função com base nas suas

observações;

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g) Ter indicado possíveis restrições à atividade do trabalhador,

citando-as claramente na ASO para ciência do examinado e da

empresa;

h) Ter indicado a inaptidão do trabalhador para a função que

exerce, irá exercer ou exerceu, baseado em diagnóstico de

certeza, pelo qual detectou o risco para o trabalhador ou para

terceiros (Ex.: estivador e cardiopatia isquêmica).

Assim, como se verifica, o Atestado de Saúde Ocupacional é uma importante

prova entregue aos segurados acerca dos riscos a que estão expostos, o qual

pode, inclusive, demonstrar que os agentes nocivos já atingiram a saúde do

trabalhador, nos casos de acometimento de doenças do trabalho, mesmo que

ainda não incapacitantes.

Entretanto, como o referido programa é realizado por um médico integrante da

empresa empregadora, casos ocorrem em que este não seja conduzido com a

imparcialidade exigida para um ato médico.

Portanto, nem sempre a ausência de anotação de exposição a agentes nocivos

nos atestados importa em contraprova dessa exposição, na justa medida em que,

apesar do dever de declaração da verdade pelo médico que o emite, este muitas

vezes sofre pressões da empresa para a qual trabalha para mascaramento da

situação real vivida pelos empregados, a fim de diminuir os encargos fiscais

decorrentes da manutenção de um ambiente laboral nocivo.

Desse modo, sempre que os Atestados de Saúde Ocupacional forem emitidos

sem qualquer menção aos riscos ambientais, impende que o segurado produza

outras provas para demonstrar a exposição a atividades especiais, não podendo o

Administrador Público ou o Poder Judiciário vetar a realização, por exemplo, de

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outras provas, como a pesquisa externa e a pericial.

3.3.3.5 Programa de Conservação Auditiva - PCA

O Instituto Nacional do Seguro Social, através da Ordem de Serviço 608/98, que

aprovou a Norma Técnica sobre Perda Auditiva Neurossensorial por Exposição

Continuada a Níveis Elevados de Pressão Sonora de Origem Ocupacional,

determina que toda a empresa emitente de pressão sonora elevada, implemente o

Programa de Conservação Auditiva.

No desenvolvimento desse programa, deverá ser feito, pela empresa

empregadora, um levantamento e monitoramento anual da exposição dos

trabalhadores a pressão sonora elevada, onde serão fixados os métodos de

controle ou diminuição da exposição, através de medidas de engenharia.

Serão, ainda, avaliados os equipamentos de proteção individual mais adequados

e confortáveis de acordo com a função de cada trabalhador, bem como deverá

ser realizada uma etapa de educação e motivação dos empregados na adoção de

medidas de prevenção a essa exposição.

O conteúdo do Programa de Conservação Auditiva e os resultados das

audiometrias deverão ser arquivados pela empresa por um período, mínimo, de

30 anos, lapso em que estarão à disposição dos trabalhadores e dos órgãos de

fiscalização e vigilância.

Os levantamentos realizados no referido programa também formam uma

importante prova documental da exposição do segurado ao agente nocivo ruído,

melhor nominado pela ordem de serviço do INSS n.º 608/98 como pressão

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sonora elevada, causador de perda auditiva.

3.3.3.6 Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço e

Informações à Previdência Social - GFIP

As empresas são obrigadas, a partir da Lei n.º 9.528/1997, que alterou o artigo

32294, inciso IV, da Lei nº 8.213/1991 (e que possui redação atual conferida pela

Lei nº 11.941, de 27.05.2009), a informar mensalmente ao Instituto Nacional do

Seguro Social, os dados relacionados aos fatos geradores das contribuições

sociais, entre eles o enquadramento e exposição a agentes nocivos à saúde ou

integridade física dos trabalhadores.

O documento que levará essas informações ao seu destinatário é regulamentado

pela autarquia previdenciária, de modo que atualmente este é denominado Guia

de Recolhimento do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço e Informações à

Previdência Social – GFIP.

A Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço e

Informações à Previdência Social foi criada com a finalidade primordial de

servir de base ao recolhimento do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço dos

Trabalhadores, mas nela há uma obrigação acessória, com contornos

previdenciários, que é a alimentação do Cadastro Nacional de Informações

Sociais – CNIS.

Com base na GFIP, o Instituto Nacional do Seguro Social pode verificar se o

segurado exerceu ou não atividades especiais, conforme as informações que

294 Art. 32. IV - declarar à Secretaria da Receita Federal do Brasil e ao Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, na forma, prazo e condições estabelecidos por esses órgãos, dados relacionados a fatos geradores, base de cálculo e valores devidos da contribuição previdenciária e outras informações de interesse do INSS ou do Conselho Curador do FGTS.

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abasteceram a sua base de dados, isso porque o conteúdo do Laudo Técnico das

Condições Ambientais do Trabalho fundamenta, também, a GFIP.

Dessa forma, é possível ao segurado a demonstração, através da GFIP, do

exercício de atividade com exposição a agentes nocivos à sua saúde ou

integridade física, mas tal somente será necessário acaso o Cadastro Nacional de

Informações Sociais não tenha sido corretamente alimentado.

André Studart Leitão entende que295:

mesmo em caso de pagamento do adicional de contribuição específico da

aposentadoria especial, não sendo constatada a especialidade da função

exercida, não há como considerar a atividade como especial. O que caracteriza o

direito ao benefício é o exercício de atividade em condições prejudiciais à saúde,

e não o pagamento da contribuição.

Para o referido autor, a GFIP somente serviria de início de prova material do

exercício de atividade nociva à saúde ou integridade física do trabalhador, uma

vez que o fato de pagar contribuição a maior não importaria, automaticamente,

no reconhecimento do exercício de atividade especial.

Discordamos desse entendimento, na justa medida que a GFIP é elaborada a

partir das informações contidas no Laudo Técnico das Condições Ambientais do

Trabalho, de modo que se o LTCAT reconhece a exposição nociva, o conteúdo

da GFIP, consequentemente, deve ser aceito como prova cabal, e não somente

como indício de prova material.

295 Op. cit., p. 160.

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Tendo em vista o dever das empresas de pagar as contribuições sociais de

acordo com as informações prestadas na Guia de Recolhimento do Fundo de

Garantia de Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social, impende que

a autarquia previdenciária verifique, quando da apresentação e requerimento de

concessão do benefício, a regularidade das informações prestadas, requisitando-

as junto às empresas, quando verificado não constar, em nome do segurado, o

exercício de atividade especial. Isso porque, neste caso, há um ilícito fiscal

praticado pela empregadora, que sonega informações na GFIP com a finalidade

de esquivar-se de suas obrigações tributárias.

3.4 Justificação Administrativa

A Justificação Administrativa é um processo incidente, instaurado pelo segurado

ou beneficiário, tendo por pretensão a prova de algum fato do seu interesse, por

meio da oitiva de testemunhas.

Na lição de Wladimir Novaes Martinez296:

A JA é um meio administrativo de prova de fatos da vida profissional ou não,

que interessam aos beneficiários ou contribuintes e à Previdência Social. Em

face dessa natureza, submete-se a uma decisão superior e distinta do Poder

Judiciário. Faz parte do contencioso administrativo, reduzindo-se à condição de

procedimento interno comandado pela autarquia federal de largo emprego e

caracterizando-se pela simplicidade de atuação dos processantes.

Conforme o próprio nome descortina, a Justificação Administrativa é realizada,

unicamente, no interior do processo administrativo, sendo regulamentada,

296 A prova no direito previdenciário, p. 212.

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atualmente, pelo artigo 108 da Lei n.º 8.213/1991 e pelos artigos 596 e seguintes

da Instrução Normativa INSS n.º 45/2010.

No caso específico de concessão de aposentadoria especial, a Justificação

Administrativa pode ser processada para prova do exercício de função cujo

enquadramento por categoria já pressupõe a exposição a agente nocivo anterior

à edição da Lei n.º 9.032/1995, bem como para fazer suprir a ausência da prova

documental obrigatória.

No primeiro caso, impende o início de prova material, como já dito, posto que,

nesse caso, a demonstração será de tempo de serviço e não da exposição ao

agente nocivo, que é presumida.

Para suprir a ausência de um dos documentos considerados obrigatórios pelo

Administrador Público para a concessão de aposentadoria especial impende

avaliarmos a existência ou não da empresa.

Acaso a empresa esteja legalmente desativada, a Instrução Normativa INSS n.º

45/2010 autoriza a dispensa da entrega dos formulários, mas deverá o segurado

diligenciar para provar a existência da empresa no período em que pretende

demonstrar a realização do trabalho.

Entretanto, para os agentes agressivos que dependem de avaliação quantitativa,

como o ruído, a qualquer tempo e para a prova da exposição a agentes nocivos a

partir da edição da Lei 9.032/1995, exige o Instituto Nacional do Seguro Social

que a Justificação Administrativa seja instruída com cópia do laudo técnico de

condições ambientais do trabalho.

Como se verifica, o Instituto Nacional do Seguro Social, nesse caso, não exige

simples início de prova material para a prova da exposição, pois torna

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obrigatória a juntada do Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho

para processamento da Justificação Administrativa.

Muito provavelmente o segurado que não possuir o formulário exigido não

deterá, também, o LTCAT, o que demonstra que, neste caso, a Justificação

Administrativa, no âmbito do processo administrativo de concessão da

aposentadoria especial, não possui muita utilidade prática.

Entretanto, nos casos em que o segurado possui o Laudo Técnico das Condições

Ambientais do Trabalho coletivo, haverá a prova do agente nocivo incidente no

meio ambiente laboral, cabendo ao segurado produzir a prova oral da função por

ele desempenhada entre aquelas descritas no laudo técnico.

Possuindo o segurado o Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho

individual, relativo especificamente ao seu trabalho, descabe a necessidade de

realização de Justificação Administrativa, pois todos os itens necessários à prova

do tempo especial nele se encontram, lembrado que os formulários exigidos têm

por fundamento o conteúdo do LTCAT. Portanto, na ausência dos formulários, o

Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho individualizado supre

essa ausência.

Seja como for, a Justificação Administrativa é processada sem qualquer ônus ao

segurado, devendo ser indicadas no mínimo três e no máximo seis testemunhas a

serem ouvidas.

A autoridade administrativa colherá o depoimento das testemunhas e examinará

a prova oral com os demais documentos existentes no processo administrativo,

quando, então, considerará provado ou não o fato objeto da justificação.

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3.5 Justificação Judicial

A justificação judicial é um processo de jurisdição voluntária, em que a parte

procura realizar uma prova, sendo conferido ao Poder Judiciário, tão somente, o

dever de sua homologação, sem qualquer manifestação quanto ao mérito da

prova produzida, ou seja, o Juiz somente colhe a prova, mas não considera ou

não provado o fato alegado pela parte.

Por ser um processo de jurisdição voluntária, não há condenação do Instituto

Nacional do Seguro Social, pois o Poder Judiciário limita-se à verificação do

cumprimento das formalidades legais quanto à produção da prova, cabendo à

autoridade administrativa, quando submetida a prova judicial realizada,

examinar a sua força probante.

Assim, poderá o Instituto Nacional do Seguro Social não considerar provado o

fato objeto da Justificação Judicial, cabendo ao segurado, nesse caso, levar tal

situação ao conhecimento do Poder Judiciário em processo contencioso, ocasião

em que efetivamente será avaliado o conteúdo da prova.

A nosso ver, para a prova do exercício de atividades nocivas, a justificação

judicial mostra-se completamente inútil, posto que é um processo judicial que

não possui desfecho meritório. Nele somente se é colhida a prova, sem qualquer

exame de mérito acerca do fato a ser provado.

Entendemos, aliás, que a via da justificação administrativa é muito mais efetiva

e célere para o segurado que pretender a realização da prova de tempo especial

através do enquadramento por categoria profissional, pois, diante da negativa

administrativa de concessão do benefício, poderá buscar a resolução do conflito

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instaurado junto ao Poder Judiciário, através de regular processo de jurisdição

contenciosa.

Ao realizar a justificação judicial, o segurado trilhará um caminho mais longo,

desnecessário e até mesmo inútil, posto não ser obrigado o Administrador

Público a admiti-la.

3.6 Prova emprestada

Como já examinado no capítulo anterior, a prova emprestada é aquela produzida

em processo que não aquele em que se pretende o seu uso, ou seja, é prova

realizada fora dos muros processuais em que se pretende seu uso, seja ele

administrativo ou judicial.

É exemplo de prova emprestada a juntada de cópia do laudo pericial produzido

em ação trabalhista movida pelo próprio segurado contra sua ex-empregadora.

Pois bem, o uso da prova emprestada é aceito pela doutrina297 e pela

jurisprudência298, desde que observados alguns requisitos: a) tenha sido

produzida em processo envolvendo as mesmas partes; b) tenham sido

respeitados, no processo anterior, os princípios do contraditório e da ampla

defesa.

297 Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini, op. cit., p. 481: “para a validade da prova emprestada é necessário que: (a) tenha sido validamente produzida, no processo de origem, (b) a parte contra a qual ela vai ser usada tenha podido participar, em regime de contraditório, do processo de origem e (c) seja submetida ao crivo do contraditório, no processo para o qual é trazida”. 298 Excerto de Ementa: “A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça encontra-se consolidada no sentido de que, respeitado o contraditório e a ampla defesa, é possível a utilização de "prova emprestada" devidamente autorizada na esfera criminal, como ocorreu na hipótese em apreço”. (STJ, 3ª. Seção, Mandado de Segurança 10.128 - DF (2004/0167239-7), Rel. Min. Og Fernandes, j. 14.12.2009, DJe 22.02.2010).

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João Batista Lopes299 ressalta, ainda, que:

é de rigor que não seja possível a reprodução ou renovação da prova

(ex.:impossibilidade de inquirir a testemunha já ouvida em processo anterior, em

razão de seu falecimento) ou que seja excessivamente onerosa a sua produção.

Por último, é curial que a admissibilidade da prova emprestada fique

condicionada a serem idênticos os fatos provados e probandos.

Realmente, quando for possível a renovação da prova, impende que o segurado a

faça, seja no âmbito administrativo ou no judicial, com vistas a impedir a

discussão acerca de sua admissibilidade.

Contudo, no caso de processo para obtenção de aposentadoria especial, à prova

emprestada é atribuída relevante utilidade, por conta das modificações do

ambiente laboral – que impedem a produção de prova pericial - do falecimento

da testemunha que poderia provar a integração do segurado a determinada

categoria profissional diferenciada, ou até mesmo por conta da extinção da

empresa empregadora.

De qualquer sorte, terá o segurado de comprovar que as suas atividades laborais

eram as mesmas que as examinadas na ação em que foi produzida a prova que

pretende tomar emprestada.

No processo administrativo previdenciário, a prova emprestada é aceita, desde

que contenha elementos informativos básicos do Laudo Técnico das Condições

Ambientais do Trabalho, ou seja, desde que o laudo produzido na esfera federal

comum ou trabalhista contenha os dados exigidos para a formatação do LTCAT.

Sem esses dados não será aceita a prova emprestada.

299 Op. cit., p. 64-65.

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Já no âmbito do processo judicial, a prova emprestada deve observar os

requisitos legais, ou seja, somente será admitida quando, no processo anterior,

tiverem sido respeitados os princípios do contraditório e da ampla defesa.

Entendemos que o Instituto Nacional do Seguro Social deverá ser intimado a

manifestar-se sobre a prova emprestada requerida, mesmo antes de sua admissão

na lide, nos casos em que não houve a sua participação no processo anterior.

Diante do requerimento de admissão da prova emprestada, poderá a autarquia

concordar ou discordar da sua admissão. Acaso discorde, por ausência de

respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa, o Poder Judiciário

deverá acatar essa manifestação, não admitindo a prova.

O maior entrave à utilização da prova emprestada é a ausência de identidade de

partes entre o processo previdenciário e aquele em que ela foi realizada. Assim,

por exemplo, não haverá identidade de partes entre a lide trabalhista e o

processo previdenciário, porque, na grande maioria das vezes, o Instituto

Nacional do Seguro Social não é chamado para integrar a primeira.

Esse problema, aliás, poderia ter sido preventivamente evitado, com o pedido de

citação da autarquia previdenciária, na ação trabalhista, como terceiro

interessado, de modo a possibilitar futura admissão do uso da prova produzida

na esfera trabalhista nos processos administrativos ou judiciais previdenciários.

Assim, a admissão da prova emprestada encontra limitações severas, tanto no

âmbito judicial quanto no administrativo.

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3.6.1 Força probante da sentença trabalhista

Prescreve o Código de Processo Civil:

Art. 468. A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos

limites da lide e das questões decididas.

Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não

beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de

pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário,

todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.

Na forma dos preceitos supratranscritos, a sentença somente produzirá efeitos

nos limites da lide em que foi proferida, não podendo atingir, seja para

beneficiar seja para prejudicar, terceiros.

Entretanto, conforme muito bem ressalta Moacyr Amaral Santos300:

(...) a realidade não pode ser ignorada. Do fato da coexistência social decorre

que as relações humanas não são isoladas mas, ao contrário, se interpenetram.

Assim como os atos jurídicos em geral, a sentença, proferida entre as partes,

influi mais ou menos intensamente nas relações de terceiro.

Efetivamente no mundo fenomênico temos que os efeitos das sentenças

produzidas pela Justiça do Trabalho acabam por atingir os interesses de terceiro

estranho à relação laboral - os do Instituto Nacional do Seguro Social.

Isso porque um dos efeitos da sentença trabalhista é o estabelecimento de

300 Vol. III, p. 68.

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incidência da norma tributária – o dever de pagar contribuição social sobre as

verbas deferidas no comando judicial que integram o conceito de salário-de-

contribuição.

Pois bem, sendo o fato ocorrido causador do dever de pagar contribuição social

e tendo em vista a bilateralidade da relação jurídico-previdenciária, haverá o

correspondente reflexo na relação securitária?

Nisso estabelece-se um impasse: a sentença trabalhista obriga ao pagamento da

contribuição social, mas, em contrapartida, o Código de Processo Civil proíbe

que à Previdência Social seja imposta a coisa julgada, por não ter sido parte na

demanda.

A teoria de Liebamn, examinada por Moacyr Amaral Santos301, nos mostra que

inexiste efetivamente um impasse, quando deixa claro que a coisa julgada não é

um efeito da sentença, mas sim uma qualidade desta, de modo que ao terceiro

interessado não se pode atribuir os efeitos da coisa julgada, muito embora o

INSS seja atingido pela eficácia natural da sentença.

Para melhor compreensão do tema, primeiro impende que distingamos a eficácia

natural da sentença da autoridade da coisa julgada, vejamos302:

Dessa distinção extrai dois princípios: 1º) a eficácia natural da sentença vale

para todos; 2º) a autoridade da coisa julgada forma-se e existe somente para as

partes.

De tal modo, o que vale para todos (erga omnes) é a eficácia natural da sentença,

não a coisa julgada, que vale somente entre as partes.

301 Op. cit., v. III, p. 72-73. 302 Op. cit., v. III, p. 72-73.

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Seguindo a teoria de Liebman, o Instituto Nacional do Seguro Social é atingido

somente pela eficácia natural da sentença trabalhista, por ser terceiro

juridicamente interessado, o que não ocorre com a autoridade da coisa julgada

que somente produz efeitos entre as partes do processo.

O Instituto Nacional do Seguro Social, muito embora seja atingido pela eficácia

natural da sentença trabalhista, não é obrigado agir de acordo com a coisa

julgada formada na lide da qual não participou, podendo, inclusive, opor-se

contra a sentença em caso de prejuízo jurídico, tendo em vista o seu interesse

jurídico.

Assim, por exemplo, em uma ação trabalhista onde houve o reconhecimento de

vínculo laboral na função cujo enquadramento seja especial antes da Lei n.º

9.032/95 ou naquela em que se dá o reconhecimento da exposição efetiva do

trabalhador a agentes nocivos a sua saúde ou integridade física, a coisa julgada

gera somente seus efeitos entre as partes envolvidas, ou seja, trabalhador e

empresa empregadora.

O Instituto Nacional do Seguro Social poderá opor-se aos efeitos previdenciários

da sentença que reconheceu o exercício de atividade especial, caso haja prejuízo

jurídico, razão pela qual não há que se falar em imutabilidade da sentença para o

terceiro juridicamente interessado.

Portanto, segundo a teoria de Liebman, não é possível obrigar o Instituto

Nacional do Seguro Social a aceitar os vínculos de emprego, ou mesmo o

exercício de atividade sob condições especiais, reconhecidos pelo Poder

Judiciário Trabalhista, posto que não foi parte nesse, sendo atingindo somente

pela eficácia natural da sentença, que nada mais é que o recebimento das

contribuições sociais.

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O que demonstra ser o Instituto Nacional do Seguro Social terceiro

juridicamente interessado e sobre ele incidir a eficácia natural da sentença é o

conteúdo do artigo 879303304 da CLT, com alteração patrocinada pela Lei n.º

11.035, de 25.10.2000.

Segundo referido comando legal todos os cálculos de liquidação das sentenças

trabalhistas deverão abranger os valores devidos à Previdência Social, sendo o

Instituto Nacional do Seguro Social305 intimado para manifestação sobre os

cálculos realizados.

Dessa forma, desde o ano 2000 a Previdência Social vem recebendo as

contribuições sociais oriundas das sentenças proferidas pela Justiça do Trabalho

e sobre elas tem a permissão legal de se manifestar e até opor-se. Entretanto,

mesmo nessa situação o Instituto Nacional do Seguro Social não pode ser visto

como parte, pois o comando legal tão somente possibilitou ao terceiro a

manifestação quanto à legalidade da arrecadação, ou seja, quanto à satisfação de

seu interesse jurídico-tributário, tendo em vista os contornos sociais dessa

atuação.

Assim, a única forma de impor a autoridade da coisa julgada trabalhista ao

Instituto Nacional do Seguro Social é fazer dele parte do processo, ou seja, o

trabalhador, quando do ajuizamento da demanda trabalhista, deverá integrar a

autarquia previdenciária como terceiro juridicamente interessado no resultado

judicial, possibilitando a este a participação nas provas produzidas e demais atos

303 § 1º-A. A liquidação abrangerá, também, o cálculo das contribuições previdenciárias devidas. 304 "§ 3º Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho, o juiz procederá à intimação por via postal do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, por intermédio do órgão competente, para manifestação, no prazo de dez dias, sob pena de preclusão. 305 Atualmente esta intimação é realizada diretamente à União Federal, face a modificação legislativa patrocinada pela Lei nº 11.457, de 16.03.2007.

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processuais.

Somente então passará o INSS de órgão meramente arrecadador a terceiro

interveniente do processo, a quem a autoridade da coisa julgada lhe será

imposta.

Contudo isso não é o que costumeiramente acontece.

Ante a impossibilidade da imutabilidade da sentença trabalhista ser imposta à

Previdência Social quando esta não for parte da lide laboral, o comando judicial

trabalhista vem sendo aceito no processo previdenciário como prova

emprestada, muito embora existam entendimentos jurisprudenciais306

determinando a extensão da autoridade da coisa julgada à Previdência Social.

Nesses termos a sentença proferida pelo Poder Judiciário Trabalhista não poderá

obrigar a Previdência Social, mas deverá ser respeitada a sua eficácia probante

na esfera tanto do processo administrativo quanto judicial previdenciário,

vejamos:

Tendo em vista o Direito Previdenciário exigir como prova do tempo de

serviço/contribuição o início de prova material, impende que, para possuir força

probante, a sentença trabalhista tenha sido pautada em provas documentais,

conforme entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça307.

306PREVIDENCIÁRIO – PROCESSO CIVIL – AGRAVO DO §1º DO ART. 557 DO C.P.C – SENTENÇA TRABALHISTA – PROVA MATERIAL – 1- Válido para efeitos previdenciários contrato de trabalho, conforme anotado em CTPS, em cumprimento à decisão da Justiça de Trabalho, por força de ação trabalhista de natureza condenatória, com pagamento das respectivas verbas. 2- O vínculo empregatício reconhecido em ação trabalhista de natureza condenatória, deve ser computado para todos os efeitos previdenciários, ainda que a autarquia previdenciária não tenha integrado a lide, independentemente da prova das respectivas contribuições, ônus do empregador. Precedentes do STJ. 3- 4- Agravo (CPC, art. 557, §1º) interposto pelo INSS improvido. TRF 3ª R. – AG-ApRN 2003.03.99.027336-1/SP – Rel. Juiz Fed. Conv. Fernando Gonçalves – DJe 21.10.2011 – p. 391. 307 AgRg nos EDcl no REsp 811508 / PR AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL 2006/0014273-8, DJe 31/08/2011.

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PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL.

RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.

INEXISTÊNCIA. ANÁLISE DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL.

IMPOSSIBILIDADE. FUNDAMENTO INATACADO (SÚMULA 182/STJ).

SENTENÇA TRABALHISTA HOMOLOGATÓRIA. INÍCIO DE PROVA

MATERIAL. INVIABILIDADE (PRECEDENTES). REEXAME DE

MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE (SÚMULA 7/STJ).

1. (...)

4. Conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a sentença

trabalhista somente pode ser utilizada no âmbito previdenciário quando fundada

em elementos que demonstrem o direito que se pretende comprovar.

5. A análise das questões trazidas pelos recorrentes demandaria o revolvimento

de matéria fático-probatória, o que é impedido, em âmbito especial, pela Súmula

7/STJ.

6. Agravo regimental improvido.

Contudo, nesse específico caso, as provas que foram utilizadas no processo

trabalhista já serviriam para o processo previdenciário, de modo que

completamente descabido o aguardo da prolação da sentença trabalhista quando

de plano já se pode utilizar os elementos de prova no processo previdenciário.

Portanto, muito embora haja os recolhimentos previdenciários, a

jurisprudência308 vem sendo cautelosa na admissão da sentença trabalhista,

validando-a tão somente como início de prova material para efeitos

previdenciários, vejamos:

https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200600142738&dt_publicacao=31/08/2011. Acessado em 13.02.2012. 308 A contrario sensu a Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais editou a Súmula 31: A anotação na CTPS decorrente de sentença trabalhista homologatória constitui início de prova material para fins previdenciários.

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROVA

EMPRESTADA. RECLAMATÓRIA TRABALHISTA. PROVA MATERIAL

EXISTENTE. POSSIBILIDADE.

- Havendo, como no caso, provas que demonstrem o exercício da atividade

laborativa na função e períodos alegados na ação previdenciária, a sentença

trabalhista pode ser considerada como início de prova material.

- Agravo regimental desprovido309.

PREVIDENCIÁRIO – AGRAVO (CPC, ART. 557, §1º) – APOSENTADORIA

POR TEMPO DE SERVIÇO – RECONHECIMENTO DE TEMPO DE

SERVIÇO EM SENTENÇA TRABALHISTA – INÍCIO DE PROVA

MATERIAL – REVISÃO DA RMI DEVIDA – 1- Quando a Justiça do

Trabalho, no exercício de sua competência constitucional, reconhece que

determinada prestação de serviço, a sentença produz efeitos também na relação

previdenciária, de modo que possibilita a revisão do benefício deferido pelo

INSS. 2- A sentença trabalhista transitada em julgado se constitui como início

de prova material para a comprovação de tempo de serviço. 3- Devida a inclusão

do período reconhecido na sentença trabalhista para fins de elevação do

coeficiente de sua aposentadoria, desde a citação. 4- Agravo (CPC, art. 557, §1º)

interposto pelo INSS improvido310.

Já em relação ao reconhecimento, pelo Poder Judiciário Trabalhista, do direito

do trabalhador à percepção de adicional de insalubridade ou periculosidade, a

jurisprudência não confere força probante à sentença trabalhista, posto que como

309 Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1057741 / ES AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2008/0106662-9, DJe 27/04/2009. 310 TRF 3ª R. – AG-AC 2001.61.02.011370-0/SP – Rel. Juiz Fed. Conv. Fernando Gonçalves – DJe 21.10.2011 – p. 380.

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já visto, nem sempre a tutela previdenciária compreende o que a legislação

trabalhista entende por ambiente insalubre, perigoso ou penoso.

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO –

SENTENÇA TRABALHISTA – INÍCIO DE PROVA MATERIAL –

EXISTÊNCIA – ATIVIDADE ESPECIAL – NÃO APRESENTAÇÃO DE

DSS-8030 E SB-40 – RECURSO PROVIDO – 1- O Superior Tribunal de

Justiça já firmou jurisprudência no sentido de que a sentença trabalhista pode ser

considerada como início de prova material para a concessão do benefício

previdenciário, desde que fundada em provas que demonstrem o exercício da

atividade laborativa na função e períodos alegados na ação previdenciária, sendo

irrelevante o fato de que a autarquia previdenciária não interveio no processo

trabalhista. 2- No caso, o autor, titular do ônus da prova (art. 333, I, do CPC),

não juntou aos autos os formulários SB-40 ou DSS8030 ou ainda o laudo

pericial que indicou a natureza especial da atividade, muito embora a sua

existência seja mencionada na sentença trabalhista. 3- Sem a comprovação da

natureza especial nos presentes autos, o eventual direito reconhecido a título de

adicional de periculosidade ou insalubridade não configura a comprovação, para

fins previdenciários, do tempo especial. 4- Desse modo, não procede a pretensão

do autor de conversão de aposentadoria em especial e de elevação do percentual

do salário-de-benefício. 5- Considerando a sucumbência integral do autor, resta

sua condenação em honorários advocatícios fixados em 10% do valor da causa

atualizado, observado o disposto no artigo 12 da Lei 1.060/50. 6- Remessa

oficial e apelação provida311.

A sentença trabalhista somente terá força probante no processo judicial

previdenciário quando houver identidade entre o Direito do Trabalho e

311 TRF 3ª R. – Ap-RN 2006.03.99.014471-9/SP – Rel. Juiz Fed. Conv. Miguel Di Pierro – DJe 02.09.2011 – p. 3236.

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Previdenciário quanto ao conceito do que vem a ser nocivo à saúde ou

integridade física do segurado/trabalhador.

No âmbito do processo administrativo há um procedimento, previsto no artigo

90 e seguintes da Instrução Normativa INSS n.º 45/2010, no qual a sentença

trabalhista é levada ao conhecimento do administrador público, que avaliará a

sua aptidão para gerar efeitos na relação previdenciária.

Pois bem, quando a sentença trabalhista, já transitada em julgado, reconhecer

filiação e tempo de contribuição, o Instituto Nacional do Seguro Social avaliará

se houve início de prova material, sem a qual a averbação do tempo não será

realizada.

Para tanto deverá o segurado apresentar junto ao Instituto Nacional do Seguro

Social a sentença trabalhista e as provas que a fundamentaram, sendo que tais

documentos não impedem que a autarquia previdenciária contraponha as provas

judiciais com os dados constantes em seu sistema.

Assim, além da sentença ter que ser pautada em início de prova material, poderá,

ainda, o administrador público indeferir o requerimento administrativo de

averbação do tempo reconhecido em ação trabalhista, acaso haja dúvida

razoável.

De qualquer sorte, tal procedimento previsto dentro do processo administrativo

previdenciário somente serviria para a averbação de tempo de

serviço/contribuição especial anterior à edição da Lei n.º 9.032/95, para fins de

inclusão de tempo exercido em uma das funções que gere o enquadramento em

atividade especial por categoria profissional, posto que como visto a prova do

tempo especial não pode ser realizada a partir da sentença trabalhista, já que o

Direito do Trabalho não possui a mesma cobertura protetiva patrocinada pelo

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Direito Previdenciário.

3.7 Prova Pericial

Após a prova documental, a prova pericial é o mais importante meio de prova

para a concessão de aposentadoria especial, dada à complexidade do fato a ser

provado: a exposição do segurado a agentes nocivos à sua saúde ou integridade

física, de forma habitual e permanente.

A aferição da existência de agentes químicos, físicos ou biológicos depende de

conhecimento técnico específico, bem como a nocividade e a permanência

destes.

Por óbvio, descabe a realização de prova pericial para comprovação de categoria

profissional em que a exposição a agentes nocivos seja presumida, sendo exigida

no período anterior a Lei n.º 9.032/95 somente quando havia o enquadramento

em razão da exposição a agente quantitativo, ou seja, que dependia de medição,

como o ruído.

A prova pericial, no âmbito do processo judicial, é necessária somente quando a

prova documental da efetiva exposição foi negada ao segurado, ou quando a

mesma não reflete a realidade do ambiente laboral, ou seja, quando o segurado

resta impossibilitado de cumprir a tarifação prevista na norma administrativa.

Pois bem, sendo a prova pericial substituidora da prova documental -

formulários Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho e perfil

profissiográfico previdenciário -, já que se existente essa, e condizente com a

realidade do trabalhador, a prova pericial será inútil, deverá a mesma ser

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elaborada de modo a comprovar todos os itens integrantes do LTCAT e do perfil

profissiográfico previdenciário, posto que lhe fará as vezes.

Dessa forma, entendemos que a prova pericial deverá ser realizada levando em

conta o conteúdo do parágrafo 03º do artigo 68 do Decreto 3048/99 que

determina:

Art. 68 [...]

§ 3º Do laudo técnico referido no § 2º deverá constar informação sobre a

existência de tecnologia de proteção coletiva, de medidas de caráter

administrativo ou de organização do trabalho, ou de tecnologia de proteção

individual, que elimine, minimize ou controle a exposição a agentes nocivos aos

limites de tolerância, respeitado o estabelecido na legislação trabalhista.

Concordamos com Arthur Bragança de Vasconcellos Weintraub e Fábio Lopes

Vilala Berbel312, quando afirmam:

o aspecto mais importante do laudo e, que ausente, o tornará inválido, é a

conclusão. O perito tem que se ater somente às situações técnicas, deixando de

lado suas opiniões alheias à questão. Deve concluir, sinteticamente, se o local de

trabalho é nocivo ou não, ou seja, se o tempo de serviço é comum ou especial.

No processo judicial, o destinatário da prova designará um perito de sua

confiança para a realização da prova. No dia e hora determinados, realizará o

experto o exame ou vistoria do ambiente laboral do segurado, colhendo as

informações necessárias sobre o mesmo, a partir das informações prestadas pelo

segurado e pela empresa empregadora.

312 Op. cit., p. 156.

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Entendemos como de extrema importância a presença, tanto do segurado quando

de representantes da empresa empregadora, no momento da realização da prova,

tendo em vista que o perito deverá ser informado sobre a realidade vivenciada

pelo trabalhador, principalmente nos casos de mudança ou alteração do

ambiente laboral.

Assim, no momento da pericia deverá o segurado fazer-se presente (muito

embora sua ausência não impeça a conclusão da prova), assim como a empresa

empregadora.

Poderá o perito judicial requerer à empresa a entrega de documentos e

formulários que se encontrem em seu poder, assim como fotos e mapas do local

anteriores às alterações identificadas.

O perito elaborará um laudo pericial contendo a descrição da visita realizada, o

objetivo da perícia, a descrição pormenorizada do ambiente laboral no momento

da pericia e aquele existente quando da prestação do trabalho, as técnicas

empregadas de constatação dos agentes nocivos e se efetivamente o trabalhador

esteve ou não exposto a agentes nocivos à sua saúde ou integridade física, de

modo habitual e permanente.

Entregue o laudo, as partes serão intimadas a sobre ele se manifestar, quando

então, no momento da sentença, a prova produzida será valorada.

No âmbito do processo administrativo previdenciário, o administrador público

designará um perito médico previdenciário a quem incumbirá realizar um

relatório conclusivo do processo que trata da concessão de aposentadoria

especial.

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Esse médico perito previdenciário313 poderá, diante das informações constantes

do processo administrativo, requisitar outros documentos à empresa

empregadora e, ainda, realizar inspeção no ambiente laboral.

A prova pericial, no âmbito administrativo, não ocorre por requerimento do

segurado, como aquela produzida no âmbito judicial, posto que a referida prova

é realizada a partir das dúvidas suscitadas no exame dos documentos juntados

aos autos administrativos.

Também não será intimado o segurado, por falta de previsão legal, para

acompanhar a inspeção ou mesmo para manifestação sobre o relatório

confeccionado, muito embora entendamos que tal medida é necessária posto

que, muito embora nada diga a Lei n.º 9.784/1999314 acerca da possibilidade de

realização da prova pericial com a presença da parte, concluímos que, em razão

da Constituição Federal assegurar o contraditório e a ampla defesa aos processos

administrativos, as provas periciais administrativas devem ser realizadas

levando em conta tais princípios, com a necessária intimação do interessado para

que presencie a prova realizada, se assim o desejar.

3.7.1 Prova Pericial Indireta

Como já mencionado anteriormente, a prova pericial terá lugar sempre que

inexistentes os documentos exigidos pela legislação previdenciária como prova

da exposição a agentes nocivos à saúde ou integridade física, quando ocorrerem

313 Instrução Normativa INSS n.º 45/2010. Art. 250. O PMP poderá, sempre que julgar necessário, solicitar as demonstrações ambientais de que trata o § 1º do art. 254 e outros documentos pertinentes à empresa responsável pelas informações, bem como inspecionar o ambiente de trabalho. 314 A referida lei nada diz acerca da realização da pericia, mas determina a intimação da parte da realização de prova ou diligência. Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, mencionando-se data, hora e local de realização.

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divergências entre esses, ou quando os documentos confeccionados não

revelarem a realidade vivida pelo segurado.

Pois bem, na ocorrência de alguma dessas situações o perito, seja judicial seja

administrativo, realizará a perícia diretamente no local da prestação do trabalho,

concluindo ou não, através do contato com as instalações de trabalho, pela

exposição do segurado a nocividade habitual e permanente no ambiente laboral,

acima dos limites de tolerância humana.

Ocorre que, como já falado, a relação jurídica previdenciária para a incidência

da hipótese normativa de concessão de aposentadoria especial envolve o

trabalho prestado continuamente por 15, 20 ou 25 anos, sendo que nesse período

poderá haver a desativação do ambiente laboral do segurado ou até mesmo o

encerramento das atividades comerciais da empresa.

Neste caso, a perícia não poderá ser realizada no local da prestação do trabalho,

ou seja, o perito estará impossibilitado de ter contato direto com o ambiente

laboral, o que o levará a, necessariamente, realizar a perícia indireta.

Prova pericial indireta, no processo previdenciário de concessão de

aposentadoria especial, portanto, é aquela realizada quando não mais existente a

empresa ou as instalações em que eram exercidas as funções do segurado.

A regra é a realização da prova pericial direta, no local onde foi prestado o

trabalho. Contudo, quando não houver meios de reconstituição das condições

físicas do local de trabalho do segurado será necessária a realização de prova

pericial indireta, ou seja, realizada em estabelecimento similar àquele em que o

segurado laborou ou por meio de deduções, através de levantamento documental

das condições de trabalho em dado local.

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Apesar da dificuldade da prova assevera Wladimir Novaes Martinez315:

Desde que desenvolvido por profissional habilitado idôneo, com

reconhecimentos científicos e que disponha dos meios, é sempre possível

reconstruir um ambiente de trabalho não mais existente a partir de outro. Tal

tarefa reclama cuidados arqueológicos de restauração, a partir de informações

hodiernas que possam convencer na medida em que se baseie em fatos e

depoimentos reconhecíveis pelo senso comum.

Assim, nos casos em que não exista estabelecimento similar àquele em que o

segurado prestou seu trabalho, o perito terá um trabalho dificílimo de levantar

todas as informações existentes acerca do trabalho desenvolvido pelo segurado e

a empresa desativada, realizando um laudo pericial a partir de deduções, como

bem assinala Wladimir Novaes Martinez316:

Por prova indireta entende-se quando inexistente ambiente similar ou análogo,

socorrendo-se o perito de raciocínios indiciários, tabelas preexistentes,

experiência histórica, balanços de ocorrências, repetições de acontecimentos,

requerimentos de auxílio-doença, casos semelhantes, situações parecidas ou

iguais.

No âmbito do processo judicial, há aceitação da prova pericial indireta realizada

em empresa similar:

PROCESSUAL CIVIL – PREVIDENCIÁRIO – PERÍCIA TÉCNICA POR

SIMILARIDADE – COMPROVAÇÃO DE ATIVIDADE ESPECIAL – A

315 A prova no direito previdenciário, p. 157. 316 Aposentadoria especial. P. 57/58.

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perícia técnica deve ser elaborada de forma indireta, em empresa similar àquela

em que laborou o segurado, quando não há meio de reconstituir as condições

físicas do local de trabalho em face do encerramento das suas atividades317.

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO –

RECONHECIMENTO DE ATIVIDADE ESPECIAL – PRODUÇÃO DE

PROVA PERICIAL – INDEFERIMENTO – CERCEAMENTO DE DEFESA –

O caráter alimentar dos benefícios previdenciários imprime ao processo em que

são vindicados a necessidade de serem facultados todos os meios de prova, não

só a documental, a fim de que o autor possa devidamente comprovar os fatos por

ele alegados - A produção de prova pericial é fundamental para a comprovação

de desenvolvimento de atividades laborativas em condições especiais -

Possibilidade de perícia judicial ser realizada em outra unidade ou em empresa

similar à da prestação do serviço, para comprovação das condições de trabalho -

O indeferimento das provas devidamente requeridas acarreta violação ao

princípio constitucional do contraditório e do devido processo legal, tornando a

sentença nula - Agravo de instrumento a que se dá provimento318.

Contudo, na esfera do processo administrativo,319 não é aceita sequer a

utilização de documentos que provem a exposição dos trabalhadores a agentes

nocivos em empresa similar àquela do segurado, o que, consequentemente,

importa no reconhecimento da impossibilidade de realização de prova pericial 317 TRF 4ª R., 6ª T., Agravo de Instrumento 0005196-16.2011.404.0000/RS , Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira, DJe 27.07.2011, p. 221. 318 TRF 3ª R., 8ª T., Agravo de Instrumento 2010.03.00.008028-0/SP, Relª Desª Fed. Therezinha Cazerta, DJe 27.10.2010, p. 1033. 319 Instrução normativa 45/2010. Art. 256. Para instrução do requerimento da aposentadoria especial, deverão ser apresentados os seguintes documentos: [...] § 2º Para o disposto no § 1º deste artigo, não será aceito: I - laudo elaborado por solicitação do próprio segurado, sem o atendimento das condições previstas no inciso IV do § 1º deste artigo; II - laudo relativo à atividade diversa, salvo quando efetuada no mesmo setor; III - laudo relativo a equipamento ou setor similar; IV - laudo realizado em localidade diversa daquela em que houve o exercício da atividade; e V - laudo de empresa diversa.

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indireta.

Portanto, não havendo meios de prova do tempo exercido sob condições

especiais, através de documentos ou por perícia direta na esfera administrativa, o

segurado será obrigado a provar o tempo especial através de perícia indireta a

ser requerida perante o Poder Judiciário.

3.8 Pesquisa Externa

A pesquisa externa é um ato administrativo realizado pelo próprio servidor

integrante do Instituto Nacional do Seguro Social quando constatada alguma

divergência entre as provas documentais apresentadas pelo segurado.

No caso do processo administrativo instaurado para a obtenção da aposentadoria

especial ou reconhecimento de atividade sob condições especiais, a pesquisa

externa será realizada sempre que houver dúvida entre os dados constantes da

CTPS do segurado e os formulários de exercício de atividades sob condições

especiais.

Portanto, a pesquisa externa somente é realizada como forma de sanar

divergências, e não para produzir provas em favor ou desfavor do segurado, pois

consiste na realização de diligências pelos servidores do Instituto Nacional do

Seguro Social junto às empresas empregadoras ou Órgão Gestor de Mão de

Obra, para exame dos livros de empregados que contenham a evolução

profissional do segurado, bem como das avaliações ambientais já estudadas.

Sua precípua atuação reside, portanto, não na produção de provas, mas sim na

pacificação das dúvidas geradas pelo exame conjunto de outras provas.

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Tendo em vista a sua finalidade, e consequentemente o seu resultado, a pesquisa

externa acaba desvendando uma verdade não encontrada a priori nos

documentos juntados pela parte, razão pela qual é considerada prova, pois tem

aptidão de possibilitar ao Administrador Público Previdenciário a descoberta da

verdade contida nos fatos levados ao seu conhecimento.

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4. CONCLUSÕES

A aposentadoria especial é uma espécie de aposentadoria por tempo de

contribuição, qualificada pela exposição do segurado a agentes nocivos à sua

saúde ou integridade física.

Por conta dessa especialidade, ao contrário do que ocorre na aposentadoria por

tempo de contribuição ordinária, para que seja concedida ao segurado a

aposentadoria especial, impende que este comprove a exposição, pelo tempo

mínimo fixado em lei, a risco social descrito na norma: exercício de atividade

sob condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou integridade física.

Os meios de prova do exercício de atividades sob condições especiais mostram-

se imprescindíveis para a obtenção do direito à tutela previdenciária em questão.

Isso porque não basta somente a comprovação do cumprimento da carência e do

tempo de contribuição, como ocorre na aposentadoria por tempo ordinária, mas

também a nocividade, acima dos limites de tolerância humana, existente durante

todo o tempo laboral desempenhado.

Antes mesmo do exame da prova legalmente apta à demonstração do exercício

de atividade sob condições especiais, impende ressaltarmos a ocorrência tão

somente nominal do critério material da hipótese de incidência da norma

previdenciária concessiva da aposentadoria especial pela Constituição Federal

de 1988, mas sem alteração de seu conteúdo (do fato a ser provado).

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Explicamos. Inicialmente a dicção legal asseverava que a aposentadoria especial

era concedida ao segurado que trabalhasse exposto a agentes insalubres,

perigosos ou penosos pelo tempo fixado em lei e a Constituição Federal passou

a utilizar a locução “atividades sob condições especiais”, sem que isso

implicasse em qualquer restrição do trabalho especial a atividades insalubres.

Muito embora existam vozes em sentido contrário, acreditar na mudança da

hipótese de incidência da norma importa reconhecer a possibilidade de

retrocesso da norma social, já que, para aqueles que sustentam a mudança do

critério material da hipótese de incidência, os agentes perigosos e penosos não

mais integrariam, a partir da Constituição Federal, o rol de agentes nocivos à

saúde ou integridade física do segurado que possibilitam a obtenção da

aposentadoria especial, enquanto que outra corrente (que não admite tamanho

retrocesso), adepta à alteração nominal somente, sustenta que na locução

“agentes nocivos à saúde o integridade física” encontram-se os conceitos de

insalubridade, periculosidade e penosidade.

Apesar da mudança da dicção constitucional, continuam os segurados, expostos

a agentes insalubres, penosos e perigosos, acima dos limites de tolerância

humana, tutelados pela Previdência Social através da concessão de

aposentadoria especial.

Não houve qualquer alteração do critério material da hipótese de incidência

normativa pela Constituição Federal para a concessão da aposentadoria especial.

A prova do exercício de trabalho “sob condições especiais” abarca não somente

a demonstração de exposição aos agentes insalubres, mas também todos aqueles

que possam atingir a integridade física do segurado, de forma a prejudica-la,

neles incluídos os agentes penosos e perigosos, que, por não estarem descritos

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no regulamento da Previdência Social, deverão pautar-se em prova contundente

dessa sua nocividade.

Sem a prova do exercício de atividades sob condições especiais, o segurado não

poderá exercer o seu direito, razão pela qual a prova do tempo exercido “sob

condições especiais” mostra-se imprescindível ao gozo do benefício de

aposentadoria especial, ou seja, sem a prova dos fatos que fundamentam seu

direito o segurado não poderá obter a cobertura previdenciária devida ao risco a

que tenha ficado exposto durante 15, 20 ou 25 anos.

Para a obtenção da aposentadoria especial, impende que o segurado, que tenha

exercido atividades nocivas á sua saúde ou integridade física, pelo prazo

determinado em lei, comprove a exposição a esse risco, primeiramente, à

Administração Pública, através de protocolo de requerimento de concessão do

benefício.

A postulação administrativa sempre será dirigida à concessão da aposentadoria

especial, e não à produção da prova, já que esta somente pode ser realizada no

cotejo de um processo administrativo instaurado para a obtenção de uma

prestação social.

A prova é o meio de demonstração dos fatos que geram o direito à concessão do

benefício, não podendo ser produzida, na esfera administrativa, de forma

autônoma à pretensão de recebimento de um benefício.

A prova produzida pelo segurado, primeiramente, tem como destinatário o

Administrador Público, que a examinará frente à tarifação imposta por lei,

quando, então, proferirá a decisão administrativa concessória ou não da

aposentadoria especial.

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A apreciação da prova no processo administrativo é tarifada, ou seja, deve ser

realizada com obediência estrita às diretrizes determinadas na Lei n.º

8.213/1991, Decreto n.º 3.048/1999 e Instrução Normativa n.º 45/2010. Já no

âmbito do processo judicial, a sua apreciação é livre, mas motivada a decisão,

possibilitando ao segurado a utilização de provas outras que não somente

aquelas formatadas pelo legislador.

A principal modificação legislativa quanto à prova ocorreu com a edição da Lei

n.º 9.032/1995, que passou a exigir a comprovação da efetiva exposição do

segurado a agentes nocivos a sua saúde ou integridade física, o que antes

somente era exigido para a prova de exposição a agentes nocivos que dependiam

de mensuração como o ruído.

Até a edição da referida norma, bastava ao segurado comprovar o exercício de

atividade integrante de categoria diferenciada, onde a exposição já era

presumida pela norma. Nesse caso específico, por depender de prova exclusiva

de tempo de contribuição/serviço, impende que a prova produzida, tanto na

esfera administrativa quanto judicial, seja apoiada em um início de prova

material (documento contemporâneo à prestação do serviço).

Toda prestação de serviço sob “condições especiais” posterior à Lei n.º

9.032/1995 dependerá, para sua qualificação como especial, de prova efetiva da

exposição a agentes insalubres, perigosos ou penosos.

Somente com a Medida Provisória n.º 1.523/1996 é que se passou a tarifar o

modo de comprovação dessa exposição, passando a norma a exigir a

apresentação de documentos padronizados pelo Instituto Nacional do Seguro

Social, pautados, sempre em laudo técnico de condições ambientais do trabalho.

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No período compreendido entre a publicação da Lei n.º 9.032/1995 e a Medida

Provisória n.º 1.523/1996, a prova da exposição a atividades nocivas pode ser

realizada livremente.

Como meios de prova documentais tarifadas pela norma previdenciária,

seguiram a formatação de diversos formulários denominados SB-40, DSS 8.030,

DIRBEN 8.030, perfil profissiográfico, até que instituído o perfil

profissiográfico previdenciário.

O SB-40 e o DSS 8030 são idênticos em seu conteúdo, diferenciando-se do

DIRBEN 8.030 em razão deste ter sido criado com o dever da empresa emitente

confeccioná-lo a partir do laudo técnico de condições ambientais do trabalho, o

que não acontecia com os formulários anteriores.

O Perfil Profissiográfico, sucedido pelo perfil profissiográfico previdenciário,

modificou a forma de prova do exercício de atividades sob condições especiais,

posto que o segurado passou a contar com um único documento capaz de revelar

todas as funções exercidas ao longo de sua carreira, bem como os agentes

nocivos à sua saúde ou integridade física a que fora exposto em todas elas, o que

o diferencia do DIRBEN 8030, que era emitido levando em conta a função do

segurado e não todo o trabalho desenvolvido.

O principal meio de prova do exercício de atividades “sob condições especiais”

é a documental, expedida pelas pessoas obrigadas a tanto, e tarifada segunda a

legislação previdenciária de regência.

Os documentos padronizados pelo legislador são de confecção obrigatória da

empresa empregadora, para os segurados empregados, ou o OGMO ou Sindicato

para os segurados trabalhadores avulsos.

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Já os contribuintes individuais, cuja exposição a atividades nocivas a sua saúde

ou integridade física sejam indissociáveis do trabalho, ou seja, em que não há

livre submissão ao risco, deverão contratar empresas especializadas para a

emissão dos formulários com a finalidade de prova do exercício de atividades

sob condições especiais, posto que não é possibilitado ao segurado, seja em que

categoria for, fazer prova em seu favor, tendo sempre a lei atribuído tal tarefa a

um terceiro imparcial.

Além dos formulários padronizados pelo Instituto Nacional do Seguro Social, é

possível a prova do tempo especial através de outras provas documentais, tais

como o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, o Programa das

Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção – PCMAT,

o Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR, o Programa de Controle

Médico e Saúde Ocupacional – PCMSO, e o Programa de Conservação Auditiva

– PCA.

Tendo em vista a estrita legalidade que norteia o processo administrativo

previdenciário, tais documentos somente serão admitidos como prova acaso o

segurado junte a eles o Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho –

LTCAT ou o perfil profissiográfico previdenciário - PPP.

Existindo o LTCAT ou o PPP, completamente dispensáveis tornam-se as

referidas demonstrações ambientais, uma vez que o conteúdo destas encontra-se

incluído naqueles.

Somente no âmbito do processo judicial as demonstrações ambientais poderão

ser utilizadas acaso inexista o LTCAT ou o PPP, posto que nesse âmbito de

atuação a prova a ser produzida é de apreciação livre pelo seu destinatário, sem

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as exigências contidas na Instrução Normativa n.º 45/2010.

Nem sempre é possível ao segurado a produção da prova documental, seja

porque a pessoa obrigada a sua emissão não o fez ou o fez em desacordo com a

realidade vivenciada pelo trabalhador. Nesse caso, o segurado deverá valer-se de

outros meios de provas a fim de demonstrar o seu direito à concessão da

aposentadoria especial.

A justificação administrativa poderá ser requerida, no âmbito administrativo,

acaso o segurado pretenda demonstrar o exercício de trabalho anterior a Lei n.º

9.032/1995, quando a exposição nociva era presumida, por meio de oitiva de

testemunhas.

A mesma prova testemunhal também pode ser realizada através de justificação

judicial, mas nesse caso o Administrador Público destinatário da prova não é

obrigado a admiti-la, o que entendemos tornar a justificação judicial um meio de

prova ineficaz, posto que dependerá de chancela administrativa, quando poderia

o segurado diretamente produzi-la no próprio processo administrativo e, na

negativa de sua eficácia probatória, reproduzi-la junto ao Poder Judiciário em

processo contencioso, ao qual cabe ao Instituto Nacional do Seguro Social acatar

a decisão, face a autoridade da coisa julgada.

Em ambos os casos, deve o segurado possuir início de prova material, uma vez

que a demonstração é de tempo de serviço/contribuição, ou provar, por

documentos, a ocorrência de caso fortuito ou força maior que desobrigue a

juntada do início de prova material.

O exercício de atividades sob condições especiais pode ser comprovado,

também, através do uso de prova emprestada, ou seja, prova produzida em outro

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processo que não aquele para o qual se pretende o seu uso. Entretanto, para sua

admissibilidade impende que haja identidade de partes, que no processo onde

fora realizada a prova tenha havido respeito ao contraditório e à ampla defesa e

que a mesma não possa ser renovada.

Na ausência de qualquer desses indicadores, a prova não poderá ser admitida,

sendo, no máximo, utilizada como indícios.

No processo administrativo previdenciário há um óbice maior à admissão da

prova emprestada, que ela contenha todos os informativos básicos integrantes do

Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho.

Já na esfera do processo judicial, a prova emprestada poderá ser produzida,

exigindo-se que, na ausência de identidade de partes entre os processos, o

Instituto Nacional do Seguro Social concorde ou não com a sua admissão, a fim

de evitar violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa.

A sentença trabalhista que reconhece o exercício de função integrante de

categoria em que a exposição a agentes nocivos é presumida, somente poderá

ser imposta ao Instituto Nacional do Seguro Social quando este tenha sido parte,

caso contrário, a autoridade da coisa julgada não lhe atingirá, até porque não

participou da produção da prova.

Mesmo que o Instituto Nacional do Seguro Social não tenha sido parte, a

sentença será considerada início de prova material do tempo de serviço, acaso

ela tenha sido proferida com base em prova documental.

Na hipótese de não ser possível a produção dessas provas documentais, poderá o

segurado realizar prova pericial no local de trabalho, de modo a provar a

exposição a agentes nocivos a sua saúde ou integridade física de modo habitual

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e permanente, através de exame ou vistoria do local de trabalho por pessoa

detentora de conhecimentos técnicos especializados.

Tanto na via administrativa quanto na judicial, a prova pericial deverá ser

realizada na presença do segurado, que será intimado a acompanhá-la, face ao

que determinam os princípios do contraditório e da ampla defesa.

Na impossibilidade de realização da prova pericial no ambiente laboral em que

prestado o serviço, poderá ser realizada, na via judicial, a prova pericial indireta

em estabelecimento similar ou, na existência desse, a prova técnica será

fundamentada em levantamentos das condições de trabalho no local, quando

então procederá o perito a utilização do método dedutivo para a conclusão

acerca da existência ou inexistência de exposição do segurado a agentes nocivos

a saúde ou integridade física.

No âmbito do processo administrativo, a prova pericial indireta não é permitida.

Há um meio de prova utilizado somente pelo Administrador Público, consistente

na realização de pesquisas externas, junto aos locais de trabalho, para exames de

livros de empregados e outros documentos, em caso de divergência entre o

conteúdo dos documentos apresentados pelo segurado.

Essa prova tem por finalidade tão somente sanar dúvidas ocorridas no exame de

outras provas, e não produzir prova favorável ou desfavorável ao segurado.

A produção da prova do exercício de tempo sob condições especiais,

precipuamente a documental e pericial, mostra-se indissociável à incidência da

norma em apreço, uma vez que sem aquela não é possível o segurado vir a

aposentar-se de forma especial, sobretudo após a alteração patrocinada pela Lei

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n.º 9.032/95, que passou a exigir a prova da efetiva exposição do segurado a

agentes nocivos a sua saúde ou integridade física, de forma habitual e

permanente.

Deverá o segurado, utilizando-se das provas colocadas à sua disposição,

comprovar o exercício de atividades sob condições especiais pelo tempo fixado

em lei, de modo a obter a aposentadoria especial.

Reconhecemos as dificuldades que terão os contribuintes individuais na

realização dessa prova, na justa medida que boa parte da doutrina e

jurisprudência sequer reconhece esses como beneficiários da referida prestação.

O custo de contratação de engenheiro ou médico do trabalho, também, será um

fator de inibição à realização da prova, contudo não poderá esta ser realizada

pelo próprio segurado, tendo em vista o seu interesse jurídico que elimina a

imparcialidade que o formulário deverá conter.

A modificação legislativa também impôs gravame aos segurados empregados e

trabalhadores avulsos que muitas vezes são prejudicados pela não emissão dos

formulários ou mesmo pela sua emissão desprovida de conteúdo real,

consequência do interesse empresarial de diminuição da tributação que só

aumenta com a emissão de formulários onde haja o reconhecimento de ambiente

laboral nocivo.

De qualquer sorte, a legislação previdenciária relativa à aposentadoria especial

caminhou para a tutela de proteção do risco de exposição do trabalhador a

agentes nocivos a sua saúde ou integridade física e não para a concessão de

benefício face à presunção de um risco, que muitas vezes sequer existia.

Assim, houve uma aproximação da tutela protetiva à realidade dos segurados,

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com a ampliação de normas que fazem do Instituto Nacional do Seguro Social

não somente um agente arrecadador de contribuições e concessor de benefícios,

mas também atuante na fiscalização da existência de ambientes nocivos, posto

que somente com a mudança legislativa é que foi possível a verificação real das

condições de trabalho e a maior tributação nesses casos um estímulo à

eliminação da nocividade.

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