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Número 1 – Año 2016 – Versión digital https://boletingeoecon.wordpress.com 18 A Arquitetura Da Crise Financeira Zeno Soares Crocetti Universidade Federal da Integração Latino Americana/Foz do Iguaçu/Brasil Professor/ILATIT/Geografia/ [email protected] Introdução O estudo sistemático das crises do sistema capitalista fez parte do projeto teórico que Marx não pôde concluir. Não obstante, ao longo de sua principal obra, O Capital, é possível recolher elementos que permitem uma aproximação consistente da explicação sobre esse fenômeno próprio do modo de produção em questão. Esses elementos estão distribuídos não apenas de modo esparso ao longo dos vários capítulos que compõem a obra, mas também encadeados como o desenvolvimento lógico a partir dos momentos fundamentais da economia capitalista, identificadas pelo autor desde o primeiro parágrafo. Para Marx a crise no sistema capitalista, ou as três modalidades de crises, são o momento de reunificação dos polos contrários autonomizados. A concorrência é a forma como a lei geral de funcionamento da acumulação capitalista se impõe aos capitais individuais na concretude do sistema. Assim como a lei da queda da taxa de lucro, a lei geral da acumulação está sempre operante, manifeste-se ou não. Isso nos levou a compreender as crises a partir do elemento básico da produção capitalista, a mercadoria. As crises representam apenas, ainda que de modo extremamente violento, a irrupção dessa contradição entre produção e realização, desdobrada da contradição básica entre valor de troca e valor de uso, decorrente da diferenciação entre trabalho concreto e trabalho abstrato, característica central do modo de produção. As modalidades de crises do capitalismo para Marx são;

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Número 1 – Año 2016 – Versión digital

https://boletingeoecon.wordpress.com

18

A Arquitetura Da Crise Financeira

Zeno Soares Crocetti

Universidade Federal da Integração Latino Americana/Foz do Iguaçu/Brasil

Professor/ILATIT/Geografia/ [email protected]

Introdução

O estudo sistemático das crises do sistema capitalista fez parte do projeto teórico

que Marx não pôde concluir. Não obstante, ao longo de sua principal obra, O Capital, é

possível recolher elementos que permitem uma aproximação consistente da explicação

sobre esse fenômeno próprio do modo de produção em questão. Esses elementos estão

distribuídos não apenas de modo esparso ao longo dos vários capítulos que compõem a

obra, mas também encadeados como o desenvolvimento lógico a partir dos momentos

fundamentais da economia capitalista, identificadas pelo autor desde o primeiro

parágrafo.

Para Marx a crise no sistema capitalista, ou as três modalidades de crises, são o

momento de reunificação dos polos contrários autonomizados. A concorrência é a forma

como a lei geral de funcionamento da acumulação capitalista se impõe aos capitais

individuais na concretude do sistema. Assim como a lei da queda da taxa de lucro, a lei

geral da acumulação está sempre operante, manifeste-se ou não. Isso nos levou a

compreender as crises a partir do elemento básico da produção capitalista, a

mercadoria. As crises representam apenas, ainda que de modo extremamente violento,

a irrupção dessa contradição entre produção e realização, desdobrada da contradição

básica entre valor de troca e valor de uso, decorrente da diferenciação entre trabalho

concreto e trabalho abstrato, característica central do modo de produção. As

modalidades de crises do capitalismo para Marx são;

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1. As crises conjunturais cíclicas de superprodução,

2. A crise estrutural do capitalismo, intrínseca ao capitalismo e que

tenderia a ser cumulativa.

3. A crise final, onde aconteceria o colapso do capitalismo, que seria

substituído pelo socialismo através da "revolução do proletariado".

Esse trabalho pretende abordar a questão das crises a partir das pesquisas de

Marx, Schumpeter, Kondratiev, Piketty, Rangel, Mamigonian, Wood, Mandel,

Hobsbawm e Amin e associando-as com a lei geral de acumulação capitalista, cujo

fundamentalismo ocidental, é o consumo. Para explicar a conexão lógica que une o

fenômeno das crises à contradição básica do sistema, retomaremos as formas mais

abstratas dessa oposição para, em seguida, abordar seus desdobramentos ao longo do

desenvolvimento da teoria sobre o capital.

Considero esse tema complexo e excessivamente explorado. Sendo estas análises

provisórias no conjunto do conhecimento, uma vez que essa pesquisa encontrasse em sua

fase inicial e podem ser alteradas e aprofundadas posteriormente, com a continuidade

dos estudos no campo das relações da sociedade, do território, da economia e das

tecnologias. Este texto é ainda um esboço, portanto peço que o considerem com

generosidade nos debates.

Palavras-chave: Geografia econômica, economia política, globalização,

neoliberalismo e território usado.

Neoliberalismo a Gênese da crise

Poucos observadores, em 1849, poderiam ter predito que 1848 iria ser a

última revolução geral no ocidente. As reivindicações políticas do

liberalismo, radicalismo democrático e nacionalismo, apesar de excluírem

a "república social", viriam a ser gradualmente realizadas nos 70 anos

seguintes na maioria dos países desenvolvidos, sem maiores distúrbios

internos, e a estrutura social da parte desenvolvida do continente iria

provar a si mesma ser capaz de resistir às explosões catastróficas do século

XX, pelo menos até o presente (1974). A razão principal para isso reside na

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transformação e expansão econômica extraordinárias dos anos entre 1848

e o início da década de 1870, que é o assunto principal deste capítulo. Foi o

período no qual o mundo tornou-se capitalista e uma minoria significativa

de países "desenvolvidos" transformou-se em economias industriais.

Esta era de desmedido avanço econômico começou com um boom que

viria a ser o mais espetacular ocorrido até então, e, sobretudo por ter sido

temporariamente impedido pelos eventos de 1848. As revoluções haviam

sido precipitadas pela última e talvez maior das crises econômicas do tipo

antigo. O novo mundo do "ciclo do comércio" que apenas os socialistas

haviam reconhecido como o ritmo básico e modo de operação da

economia capitalista tinham seu tipo próprio de flutuações econômicas e

suas próprias dificuldades. Porém, em meados da década de 1840, embora

a difusa e incerta era do desenvolvimento capitalista desse a impressão de

estar chegando a um fim, ao contrário, o grande salto para a frente

estava apenas por começar. 1847-48 viu um severo tropeço do ciclo do

comércio, provavelmente agravado por problemas remanescentes mais

antigos. De qualquer modo, de um ponto de vista puramente capitalista,

era apenas uma depressão aguda naquilo que já parecia uma

tumultuada economia de negócios. James de Rothschild, que olhava a

situação econômica de 1848 com bastante complacência, era um homem

de negócios sensível, mas profeta político bem pobre. O pior do "pânico"

parecia ter passado e as perspectivas em longo prazo eram mais róseas.

Porém, embora a produção industrial tivesse se recuperado bem

rapidamente, mesmo depois da virtual paralisia dos meses revolucionários,

a atmosfera geral permanecia incerta.

Hobsbawn, A Era do Capital, p. 9-14.

A fase atual do capitalismo, como sistema político hegemônico mundial, é na

realidade o neoimperialismo, que se alimenta da conquista de territórios, mas não mais

territórios extensões de terras como no passado, mas sim de territórios produtivos,

territórios de consumo, o “fundamentalismo Ocidental hoje é o Consumo”. O fim da

Guerra Fria, não significou, de maneira alguma, que o mundo tenha superado a

bipolaridade e reencontrado a estabilidade, sob a hegemonia dos Estados Unidos. Pois,

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se há vencidos, é difícil nomear quem é o vencedor. Os Estados Unidos? A União

Europeia? O Japão? A tríade juntos?

A derrota do "império do mal" abre novos mercados, cuja conquista pode

provocar uma nova guerra mundial.

O globalitarismo, essa Nova Ordem Mundial, regrediu no tempo e no espaço, essa

estranha modernidade, que dá dois passos para frente, três para trás. Há primeira

década no novo milênio assemelha-se mais aos séculos bárbaros precedentes do que ao

futuro racional, descrito por tantos romances de ficção científica. Pois, centenas de países

e nações, riquezas e, sobretudo, uma imensa força de trabalho disponível aguardam seu

novo patrão. Única é a função de mestre do mundo, numerosos são os candidatos. Vem

ai uma nova guerra entre os que pretendem fazer parte do "império do bem".

Ela tem início logo após o fim da 2ª Guerra Mundial, na Europa, depois nos EUA,

onde o capitalismo imperava com maior vigor. Essa ordem surge como reação teórica e

política contra o Estado intervencionista e de bem estar social. Sua tese original é o texto

de Friedrich Hayek, O Caminho da Servidão, datado de 1944.

É um ataque velado e radical contra os mecanismos de controle do Estado,

imposto pelo Mercado. Prega liberdade total de comércio, sem limites, sem controles.

Sobrevivem de estratégias, orquestradas pelas mídias de aluguel, que em uni som vivem

denunciando, esbravejando que qualquer tentativa de barrar os avanços do

neoliberalismo globalizado é uma ameaça letal à liberdade, econômica e política. Sua

mensagem é drástica apesar de suas boas intenções, o projeto de administração do

Estado moderado, imposta via Consenso de Washington aos países da periferia do

sistema capitalista, poderá conduzir ao mesmo desastre que o Nazismo Alemão, ou seja,

a servidão moderna.

Hayek inconformado com o avanço do Estado de Bem-estar na Europa, em 1947

convocou alguns simpatizantes de sua orientação ideológica para uma reunião na Suíça.

Entre os participantes estavam também inimigos declarados do (novo programa – New

Dean, estadunidense). Nesse encontro se fundou a sociedade de Mont Pèlerin, uma

espécie de Franco-maçonaria Neoliberal, retamente organizada e dedicada. Seu

objetivo básico era combater o keynesianismo e o solidarismo reinantes e preparar as

bases do novo capitalismo, duro e livre de regras.

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Quadro I os modelos Cíclicos de Kondratieff

CICLOS ECONÔMICOS DE KONDRATIEFFPrimeiro Ciclo Segundo Ciclo Terceiro Ciclo Quarto Ciclo

Fase(a)1790-1815

Fase(b)1815-1848

Fase (a)1848-1873

Fase (b)1873-1896

Fase (a)1896-1920

Fase (b)1920-1948

Fase(a)1948-1973

Fase(b)1973- (?)

FONTE: MAMIGONIAN: 1987, p. 63-71.

Nesse período, (1945-60), o mundo vivia sua idade do ouro, apresentado o

crescimento mais rápido da economia, ou seja, estávamos surfando na onda do ciclo

longo de Kondratieff em sua fase “A” expansiva. Por essa razão, a polêmica contra a

regulação social, tem uma receptividade maior, e Hayek e seus companheiros pregam

que o novo igualitarismo deste período, promovido pelo Estado, de Bem-estar, destruía

a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência. Desafiando o consenso oficial da

época, eles argumentavam que a desigualdade era um valor positivo – Na realidade

imprescindível em si, pois disso precisavam as sociedades ocidentais. Essa tese

permaneceu na teoria Neoliberal por mais de 20 anos.

Crise Estrutural

Com a crise cíclica estrutural do Capitalismo, deflagrada com a primeira e

segunda crise do petróleo de 1973/74 e 1978-79, fase “B” do ciclo longo de Kondratieff,

que levou o mundo a uma bruta recessão, combinando com baixas taxas de crescimento

da economia aliada as altas taxas de inflação, pela primeira vez, abriu caminho para as

ideias Neoliberais, que passaram a ganhar maior visibilidade. As raízes da crise, afirmava

Hayek e seus companheiros, estavam localizados no poder excessivo e nefasto dos

sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento social organizado, que corroeram as

bases da acumulação capitalista com suas pressões reivindicativas sobre os salários, e com

sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez os gastos sociais.

Os salários e os encargos sociais segundo a análise neoliberal destruíram os níveis

necessários de lucros das empresas e desencadearam processos inflacionários que levaram

a uma crise geral das economias capitalistas, esses argumentos foram usados em rede

mundial articulados em comum acordo com a Mídia de Aluguel coorporativa mundial

para mascarar a crise Estrutural do Capitalismo, diagnosticada por Marx, e estudada por

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Kondratiev e Schumpeter. O remédio era claro; manter o Estado forte; sim; mas só na

sua capacidade de romper e esmagar o poder dos sindicatos e o controle monetário, mas

sem ação e fraco para investimentos, intervenções econômicas e gastos sociais. Mas o

receituário só terá sucesso se vir associado à estabilidade monetária, controle

inflacionário, que irá garantir as bases do intervencionismo Neoliberal.

Cerca de 61% de todos os estadunidenses eram “classe média” em 1971,

enquanto, hoje (2015), o número caiu para 49%. A classe média está

envolvida em uma guerra até a morte nos Estados Unidos com os

agentes de Wall Street que pretendem privá-los do trabalho, tirar seus

ativos, executar a hipoteca de suas casas, e deixá-los sem nenhum

dinheiro para enfrentar a velhice. É apenas uma boa e velha luta de

classes – e como Warren Buffett opinou – a classe dele está ganhando.

Mike Whitney, Washington Post, 2015.

Sendo assim; uma nova a saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as

economias avançadas, que naquele momento (1973-79), estavam às voltas com uma

estagflação, resultados das políticas de Keynes, ou seja, a intenção anticíclica de

redistribuição social, as outras haviam desgraçadas o mundo normal da acumulação e

do livre mercado. Anulavam pela força do controle da circulação das ideias, vide

controle da mídia de aluguel, e a compra de pesquisadores vassalos, na periferia do

Sistema Capitalista e no Centro do Império também (John Williamson, Milton Friedman,

etc.) para reafirmar e legitimar sua tese, Dessa maneira, o crescimento da economia

cresceria quando a estabilidade monetária (fim da Inflação) e os incentivos essenciais

para retomada do desenvolvimento e da modernidade.

O modelo neoliberal levou mais de uma década para ser implantado, pois a

maioria dos países europeus adotava a cartilha Keynesiana. O pioneiro do modelo foi o

Chile, sob a tutela militar de Pinochet, no início dos anos 1970, começou de modo

avassalador, desregulamentação econômica, profissional, desemprego em massa,

repressão sindical, concentração de renda em favor da elite, privatização de bens

públicos, tudo isso inspirado no modelo neoliberal estadunidense de Milton Friedman.

O crescimento da década de 1990 foi celebrado como a expressão de um triunfo

inexcedível da experiência capitalista dos Estados Unidos sobre o resto do mundo.

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Avaliações peremptórias não hesitaram em apontá-la como superior não só à

experiência socialista, como também a de outros tipos de capitalismo, como o japonês e

os modelos europeus de sociedade e de economia.

Esse modelo estrutural do capitalismo cíclico foi diagnosticado estudado por

Schumpeter. Conforme demostraremos na figura I e no quadro II no final do texto. O

crescimento desse período teve início na segunda metade de 1992, foi lento até mais ou

menos 1995/1996 e, paradoxalmente, começou a se acelerar após as crises mexicana,

asiática e brasileira. Em boa medida a economia estadunidense se nutriu das crises na

periferia do sistema para ganhar nervos e musculatura. O período que vai do final dos

anos 1970 até esse salto, marca uma lenta recuperação do poderio econômico, militar e

financeiro dos Estados Unidos. Ele se fez não só com as transformações política e

econômica da URSS, mas também com a imposição do padrão capitalista de

financeirização estadunidense do país às demais nações.

Desde os anos 1970, os Estados Unidos já vinham abandonando certas referências

que marcaram seu crescimento no pós-guerra, bem como desmontando regras

prudenciais de gestão financeiras adotadas a partir dos anos 1930 e consolidadas durante

o esforço bélico. Tais características haviam contribuído significativamente para a

recuperação da Europa no pós-guerra, além de abrirem espaços para a industrialização

de países periféricos. A existência de um bloco socialista competindo com o capitalismo

foi igualmente decisiva na ampliação das oportunidades de desenvolvimento no

planeta.

É importante lembrar que a direção política do capitalismo estadunidense nesse

período era bem mais heterogênea do que a atual. Havia, por exemplo, dentro do

governo Roosevelt, uma fração muito importante do Partido Democrata que

preconizava um futuro salvaguardado pela aliança entre os Estados Unidos e a União

Soviética. O inimigo verdadeiro, desse ponto de vista, seria o velho imperialismo europeu,

o que explica, em parte, as dificuldades do representante inglês em Bretton Woods, John

Keynes, para viabilizar suas propostas de reforma do sistema monetário internacional.

Ao contrário do que ocorreu no final da I Guerra Mundial, porém, e que levou à

crise do capitalismo desregulado de então, cujo ápice foi a Depressão de 1929 e dos anos

1930 - em 1944 os EUA tomaram a decisão política de não repetir os erros do passado. O

Plano Marshall e o impulso dado à reconstrução europeia para a unificação econômica

foram decisivos para a economia alemã e a francesa se rearticular. Da mesma forma, o

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financiamento estadunidense foi o divisor que permitiu a reconstrução econômica

japonesa.

A impressão dominante naquele momento era a de que o capitalismo estava

diante de um sólido e prolongado ciclo de expansão a salvo das flutuações cíclicas

violentas inerentes à sua dinâmica de crescimento. Novas formas de regulação e controle

do sistema haviam sido introduzidas sob o impulso de forças sociais que emergiram ao

final da Guerra, entre elas os partidos comunistas, que tiveram papel relevante na

definição das estratégias de reconstrução do capitalismo europeu. Entre as principais

características dessa nova institucionalidade estava a admissão de que o Estado,

obrigatoriamente, deveria promover a regulação do ciclo econômico.

Os Estados nacionais passaram então a se apropriar e a dispender uma fatia do

produto nacional muito superior àquela observada nos anos 1920. O maior controle

público sobre o excedente evitaria que as flutuações do ciclo econômico redundassem em

ajustes baseados na contração quase automática da renda e do emprego como ocorrera

até 1929. A segunda característica associada às coligações sociais e políticas que

emergiram nesse período foi o crescimento do salário real e dos benefícios sociais,

paralelamente ao aumento da produtividade do trabalho. Um terceiro pilar

fundamental de sustentação dessa arquitetura foi à instituição do controle dos

movimentos de capitais entre os países, sobretudo dos capitais de curto prazo.

Vale lembrar que a reforma que Keynes e Dexter White tentaram aprovar em

Breton Woods envolvia, grosso modo, as seguintes balizas: o dinheiro internacional seria

simplesmente uma moeda de conta, permitindo que os países trocassem mercadoria por

mercadoria. O dinheiro funcionaria assim apenas como referência de cálculo. Os países

que tivessem déficit registrariam num banco internacional, em sua conta, a dívida com

os demais. A compensação entre os déficits e superávits tornaria desnecessário saldar

dívidas através de movimentos de capitais de curto prazo. Keynes, a partir da

experiência nefasta dos anos 1920, estava convencido de que não era prudente delegar

aos mercados a regulação do fluxo monetário internacional. Tampouco eles deveriam

assumir a responsabilidade pelo fornecimento de liquidez aos países que porventura

registrassem déficit na balança de pagamentos.

Como se sabe esse sistema não foi aceito em sua totalidade nem pelos Estados

Unidos, nem pela Inglaterra. Mesmo assim o acordo de Bretton Woods permitiu que os

países controlassem suas contas de capital, proporcionando-lhes maior autonomia na

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fixação das políticas monetária e fiscal. A prerrogativa de proibir a entrada e a saída de

capitais manteve-se até meados da década de 1980, inclusive no Brasil, garantindo certo

grau de proteção à política econômica contra ondas de volatilidade e movimento

especulativo no plano internacional. Ao contrário do que ocorre hoje, caso houvesse uma

crise na Bolsa de Nova York, os governos não tinham que elevar a taxa de juro –

dispunham de instrumentos para impedir que os efeitos da turbulência fossem

integralmente internalizados.

O que se verifica agora é exatamente o oposto. Capitais se movem livremente

pelo planeta apostando na desvalorização das moedas; promovendo chantagem

explícita contra políticas de juro baixo; ou ainda tomando posição nos mercados à vista,

ou de contratos futuros, contra economias supostamente dotadas de moedas frágeis. Se

esses mercados funcionam livremente, a especulação é inevitável - por definição, eles são

mercados especulativos. Falar em controle de capitais tornou-se um anátema a partir

dos anos 1970 – pelo menos foi assim até a emergência da nova crise acionada pelo

estouro da bolha imobiliária nos EUA. Na verdade, os grandes protagonistas do processo

econômico, a grande empresa internacional e os grandes bancos, frequentemente

ganham mais dinheiro no mercado financeiro do que na produção de mercadorias.

Quando uma empresa está localizada em vários mercados, como ocorre hoje,

poderá ter um ganho fenomenal se estiver bem posicionada diante de uma alteração

cambial – o que não é difícil considerando-se que têm acesso a boas informações e

relações estreitas com grandes bancos. Em caso de aposta equivocada, todavia, as

perdas, como estamos vendo, podem assumir contornos sistêmicos imprevisíveis.

Para os reformadores de Bretton Woods a estabilidade do câmbio e dos juros era

fundamental para a tomada de decisão na esfera produtiva do capitalismo. Uma

decisão de longo prazo, como é o caso de um grande investimento, requer um horizonte

razoável de segurança e para isso duas taxas devem oferecer certo grau de

previsibilidade: a taxa de juros e a taxa de câmbio. Esses são dois preços-chave da

economia que informam fundamentalmente a decisão capitalista: a taxa de juros indica

qual é a conveniência do detentor da riqueza mantê-la sob a forma de capital

monetário ou investi-la sob a forma produtiva, ou qualquer outra forma. Para isso a

estabilidade da taxa de juro em um patamar moderado é fundamental. No caso da

taxa de câmbio, o que se espera é que ela amplie o horizonte de paridade entre o

dinheiro particular – as moedas nacionais – e a moeda de referência mundial. Se esses

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preços flutuam erraticamente, a decisão do capitalista torna-se totalmente

desordenada.

A lógica do controle dos capitais que prevaleceu nos anos 1950/60 permitiu que

as economias pudessem crescer de maneira mais ou menos equilibrada gerando, não por

acaso, aquilo que se convencionou chamar de milagre alemão, milagre japonês, milagre

italiano... Tudo ancorado na arquitetura de um capitalismo domesticado, quer dizer, do

capitalismo controlado politicamente pela intervenção do Estado em cada país. Essa

institucionalidade impediu que fossem reproduzidas as crises dos anos 1920, e mesmo as

crises do final do século XIX em boa parte do século XX.

A Arquitetura da Crise

Segundo os analistas da economia mundial, prêmios Nobel em economia a Crise

Financeira que estourou em 2007/08 caracteriza-se como a principal crise econômica e

financeira internacional desde 1929. Se não fosse a intervenção massiva e concertada dos

poderes públicos, que se tornaram o seguro dos bancos corruptos, a atual crise teria já

proporções muito mais amplas.

Também aqui, a interligação é impressionante. Entre 31 de Dezembro de 2007 e

fins de setembro de 2008, todas as bolsas do mundo sofreram uma baixa muito

significativa, entre 25 a 35% - por vezes mais - para as bolsas dos países mais

industrializados, até 60% como a China, passando por 50% para a Rússia e a Turquia. A

montagem colossal de dívidas privadas, criação pura de capital fictício (securitizações de

derivativos, sub-prime, ancoragem em fundos de opções hedge), acabou por explodir de

país em país industrializado, começando pelos EUA, a economia mais endividada do

mundo. Com efeito, a soma das suas dívidas pública e privada elevou-se, em 2008, a 50

trilhões de dólares, ou seja, 350% do PIB. Secundo cálculos otimistas feitos pelo BID, o

rombo mundial da pilantragem financeira chega a 1 quatrilhão de dólares, cifra só

pensada no Patinhas de Disney.

Esta crise econômica e financeira que já afetou todo o planeta afetará ainda

mais os países em desenvolvimento que se achavam protegidos. A mundialização

capitalista não soltou ou não desligou as economias. Pelo contrário, países como China,

Brasil, Índia ou Rússia não estão ao abrigo da crise e isto é só o início. Todos serão

afetados, cada qual dentro da sua realidade.

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“o verdadeiro limite da produção capitalista é o próprio capital; é o fato

de que, nela, são o capital e a sua própria valorização que constituem o

ponto de partida e a meta, o motivo e o fim da produção. O meio

empregado - desenvolvimento incondicional das forças sociais produtivas -

choca constantemente com o fim perseguido, que é um fim limitado: a

valorização do capital existente”.

Marx, O Capital, Volume 3, 1988.

A primeira coisa que é preciso recordar é que a crise de 1929 se desenvolveu como

um processo que começou em 1929, mas cujo ponto culminante se deu bastante depois,

em 1933 e 1937-38, e que logo abriu caminho a uma longa fase de recessão. Digo isto

para sublinhar que vivemos hoje (2016) o ápice da crise, provavelmente chegamos ao

fundo do poço, não necessariamente ao seu fim, isso é somente um aspecto e talvez não

seja o aspecto mais importante - do que se deve interpretar como um processo histórico.

Mesmo assim tratasse de uma crise estrutural, não final do capital.

O verdadeiro limite da produção capitalista é o próprio capital; é o fato

de que, nela, são o capital e a sua própria valorização que constituem o

ponto de partida e a meta, o motivo e o fim da produção; o fato de que

aqui a produção é só produção para o capital e, inversamente, não são os

meios de produção simples meios para ampliar cada vez mais a estrutura

do processo de vida da sociedade dos produtores. Daí que os limites dentro

dos quais tem de mover-se a conservação e a valorização do valor-

capital, a qual descansa na expropriação e na depauperação das grandes

massas de produtores, choquem constantemente com os métodos de

produção que o capital se vê obrigado a empregar para conseguir os seus

fins e que tendem para o aumento ilimitado da produção, para a

produção pela própria produção, para o desenvolvimento incondicional

das forças produtivas do trabalho. O meio empregado - desenvolvimento

incondicional das forças sociais produtivas - choca constantemente com o

fim perseguido, que é um fim limitado: a valorização do capital existente.

Por conseguinte, se o regime capitalista de produção constitui um meio

histórico para desenvolver a capacidade produtiva material e criar o

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mercado mundial correspondente, envolve ao mesmo tempo uma

contradição constante entre esta missão histórica e as condições sociais de

produção próprias deste regime.

Marx, Grundrisse, 2011, p. 517-48

Bom, certamente que há algumas palavras que hoje já não utilizamos, como

"missão histórica". Mas creio que o que vamos ver nos próximos anos vai dar-se

precisamente na base de já ter sido criado em toda a sua plenitude esse mercado

mundial intuído por Marx. Quer dizer, temos um mercado e uma situação mundial

diferente da de 1929, porque nessa altura países como a China e a Índia eram ainda

semicoloniais, agora já não têm esse caráter; são grandes países que, mais além de terem

um caráter combinado que requer uma análise cuidadosa, são agora participantes de

pleno direito dentro de uma economia mundial única, uma economia mundial unificada

num grau desconhecido até esta etapa da história. A citação pode ajudar-nos a

entender o momento atual, e a crise que se iniciou precisamente neste marco de um só

mundo.

Para interpretar esse quebra cabeças, vamos partir, por exemplo, dos cíclicos de

média duração, ou aqueles de tendências estruturais de longa duração. A economia-

mundo capitalista teve, durante vários séculos, formas de vai-e-vem cíclico. O que

iremos usar são os chamados ciclos de Kondratieff, que historicamente teriam uma

duração de 50-60 anos aproximadamente.

Marx ao analisar as crises do capitalismo dos séculos XVIII e XIX, além de fatores

conjunturais, formulou a tese da queda da taxa de lucro, como um fator determinante,

em suas reflexões;

Queda da taxa de lucro e acumulação acelerada são, nessa medida, apenas

expressões diferentes do mesmo processo, já que ambas representam o desenvolvimento

da força produtiva. A acumulação, por sua vez, acelera a queda da taxa de lucro, à

medida que com ela está dada a concentração dos trabalhos em larga escala e, com isso,

uma composição mais elevada do capital. Por outro lado, a queda da taxa de lucro

acelera novamente a concentração de capital e sua centralização (...) (Marx, 1988; L. III. t.

1, p. 183).

De acordo com a formulação de Kondratieff cada ciclo tem uma fase de ascensão

e declínio. A dinâmica interna dos ciclos (chamado de ciclo de Kondratieff depois dos

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Crocetti

30

estudos dele) é baseada no princípio de flutuações, no mecanismo de acumulação,

concentração, dispersão e desvalorização do capital como um fator chave para o

desenvolvimento do mercado capitalista da economia.

Além disso, sua interpretação do desenvolvimento da crise do capitalismo indicou

que essa regularidade cíclica vai existir enquanto o modo de produção capitalista

percistir. "Cada nova fase do ciclo é pré-determinado com acúmulo de fatores da fase

anterior, e cada novo ciclo está seguindo o precedente tão naturalmente como uma fase

de cada ciclo após o outro. No entanto, ele tem que ser entendido separadamente, pois

cada novo ciclo surge com especiais e novas condições históricas, e se desenvolve num

novo nível das forças produtivas e, portanto, não é uma simples repetição do ciclo

anterior". Portanto não se trata de uma repetição simples de uma crise anterior, como

muitos pesquisadores vêm repetindo, mas, de novas condições históricas que o processo

capitalista criou. (KONDRATIEFF, 2010; p.12-17).

FIGURA 1 – Kondratieff

Fonte: Mamigonian: 1987 p. 63-71 e Rangel: 1990 p. 33-35. FMI, 2016. Elaboração Crocetti 2016.Obs. A linha do gráfico Kondratieff foi construída pelas médias trienais do crescimento econômico mundial,com base nos gráficos do Banco Mundial 2016 e das tabelas de Mamigonian: 1987 p. 63-71 e Rangel: 1990 p.

33-35.

Para fundamentar sua teoria, Kondratieff procurou examinar o comportamento

de variáveis econômicas e sua dinâmica, efetuando, ao longo dos anos, a análise do

movimento médio das séries e indicadores de preços e mercadorias. Tais como taxas de

juros, investimentos dos bancos, salários dos trabalhadores em atividades agrícolas e

industriais, alterações populacionais, importação e exportação, depósitos e poupanças

Ciclos Longos de Kondratieff 1815-2010

Fase

Fase "B"

Fase

Fase

Terceiro Quarto Kondratieff

Fase "B"

SegundoPrimeiro

Fase "B"

Fase "A"

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A Arquitetura da crise financeira

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bancárias, total de comércio exterior, consumo e produção de carvão e petróleo;

produção de ferro gusa; produção de cereais por acres e produção líder. Nestes ciclos a

fase de expansão é caracterizada por superinvestimentos em bens de capital e, na fase

de depressão, por um processo de depreciação. Ver teorização esboçada na Figura 1.

"Modificações nas técnicas têm sem dúvida um papel muito influente

sobre o curso do desenvolvimento do capitalismo. Mas ninguém provou

que elas têm uma origem acidental e externa. Modificações nas técnicas

de produção presume (1) que relevantes descobertas e invenções científicas

foram feitas, e (2) que é economicamente viável usá-las. Seria um erro

óbvio negar o elemento criativo das descobertas e invenções científico-

técnicas. Mas de um ponto de vista objetivo, ocorreria ainda um grande

erro se alguém acreditasse que a direção e a intensidade destas

descobertas e invenções fossem meramente acidentais; é muito mais

provável que a direção e a intensidade sejam uma função das

necessidades da vida real e do desenvolvimento precedente da ciência e

da técnica. Invenções científico-técnicas por si mesmas, portanto, são

insuficientes para trazer uma mudança real na técnica de produção. Elas

podem se manter inativas tanto quanto as condições econômicas

favoráveis de suas aplicação estiverem ausentes. Isto está revelado no

exemplo das invenções científico-técnicas do século XVII e XVIII que foram

usadas em larga escala somente durante a revolução industrial e início do

século XVIII. Se isto é verdade, então a suposição de que as modificações

técnicas são de caráter aleatório e não de fato a fonte nascente de

necessidades econômicas perde o seu peso. Nós vimos antes que o

desenvolvimento das técnicas em si é parte do ritmo das ondas longas."

KONDRATIEFF, 1984; 35-36).

Para a determinação dos anos de tais tendências, ele concluiu que os limites

destes ciclos podiam, todavia ser representados como sendo as variáveis de 40 a 60 anos

aproximadamente, e estabeleceu um gráfico provável dos ciclos. Ver figura 1 e quadro 1.

Ao examinar a natureza dos longos ciclos, do ponto de vista das modificações nas

técnicas de produção, Kondratieff observou que as regularidades do processo ajudam a

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Crocetti

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estabelecer algumas regras empíricas para o movimento das longas ondas. E dentro

desta perspectiva, em um curto, mas importante trecho, Kondratieff revelou o papel das

modificações nas técnicas nos longos ciclos:

Para (SCHUMPETER, 1984; p. 62-77) – economista e professor de Harvard –, que

desenvolveu a teoria da Inovação, interpretou que os longos ciclos resultam da

conjugação ou da combinação de inovações, e cria um setor líder na economia, ou um

novo paradigma, ou inovação tecnológica que impulsiona o crescimento rápido desta

economia. Este setor promove, antes de consolidar a sua hegemonia, uma avalanche de

transformações e de destruições criativas, para ele a crise geral do capitalismo é também

fruto do esgotamento tecnológico, ou seja;

"O Capitalismo, então, é, pela própria natureza, uma forma ou método de

mudança econômica, e ele nunca pode estar estacionário. E tal caráter evolutivo do

processo capitalista não se deve meramente ao fato de a vida econômica acontecer num

ambiente social que muda e, por sua mudança, altera os dados da ação econômica; isso

é importante e tais mudanças (guerra, revoluções e assim por diante) frequentemente

condicionam a mudança industrial, mas não são seus motores principais. Tampouco se

deve esse caráter evolutivo a um aumento quase automático da população e do

capital ou dos caprichos dos sistemas monetários, para os quais são verdadeiras

exatamente as mesmas coisas. O impulso fundamental que inicia e mantém o

movimento da máquina capitalista decorre de novos bens de consumo, dos novos

métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de

organização industrial que a empresa capitalista cria (...). A abertura de novos mercados

-- estrangeiros ou domésticos -- e o desenvolvimento organizacional, da oficina artesanal

aos conglomerados (...), ilustram o mesmo processo de mutação industrial (...) que

incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, incessantemente

destruindo a velha, incessantemente criando uma nova. Esse processo de Destruição

Criativa é o fato essencial do capitalismo. É nisso que consiste o capitalismo e é aí que

têm de viverem todas as empresas capitalistas." (SCHUMPETER, 1984; p.112-113).

A tese marxista do “lumpen proletariado”, proletariado esfarrapado, que não

consome e provoca a saturação do mercado dos mais ou menos ricos continua válida. A

diferença relativa ao Século XIX é que agora a situação é global, e são os ricos que estão

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A Arquitetura da crise financeira

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com os mercados mais saturados. Segue quadro esquemático adaptado da tese de

Schumpeter.

Quadro II: Longos Ciclos Adaptados de Schumpeter

FASES DECOLAGEM EXPANSÃO RECESSÃO DEPRESSÃO

CICLOS A B C D

1o 1770-1785 1786-1800 1801-1813 1814-1827

2o 1828-1842 1843-1857 1858-1869 1870-1885

3o 1886-1897 1898-1911 1912-1925 1926-1937

4o 1938-1974 1974-1998 1998-2007 2007...

Fontes: Baseado em, STOFFAES (2009: 337 e 362); GOLDSTEIN (1988: 94).

Hipocrisia do Capital

FIGURA 2: Participação no PIB mundial (Peso Em %) - Economias Emergentes eAvançadas - 2008 – 2015

FONTE: FMI E DEPEC 2014.

Ficou provado com as sucessivas Crises Estruturais do Capitalismo, que essa

história de que o mercado regula e o Estado é dispensável é um grande engodo, uma

bobagem. Em nenhuma economia existe o mercado exclusivamente ou o Estado

exclusivamente. Na União Soviética não era assim — existia o mercado e existia o Estado.

Nessa crise o capitalismo está se saindo razoavelmente bem. Isto é, eles estão sabendo

PROJEÇÕES PARTICIPAÇÃO NO PIB MUNDIAL - DESENVOLVIDOS X EMERGENTES - NOVA PPP -HIPÓTESES DEPEC - 2009-2017 - fonte depec e FMI

49.6%

53.1% 51.9%54.7%

50.3%

46.6%

49.7%

47.8%

45.3%

40.0%

43.0%

46.0%

49.0%

52.0%

55.0%

58.0%

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

HIPÓTESES: ALTERNATIVAS

Mundo Desenvolvidos Emergentes2009 -0.50% -3.30% 2.40%2010-2017 3.68% 2.50% 5.00%

DESENVOLVIDOS

EMERGENTES

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Crocetti

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que não podem deixar estourar o sistema bancário. Mas, o sistema bancário não pode

ser controlado pelos Estados. Há uma força de autonomia do sistema bancário no

capitalismo, diferentemente do socialismo. Na China não se pode imaginar um sistema

bancário, um sistema financeiro, que faça o que quiser. Isso não existe. O socialismo

controla os eixos principais das decisões econômicas, dos mecanismos econômicos. No

capitalismo isso não acontece. A grande vantagem, do socialismo sobre o capitalismo é

essa capacidade de juntar o poder do Estado com o poder do mercado. As figuras a 2 e

3, ondem aparecem cenários da participação do PIB mundial e o impacto da crise tanto

nas economias periféricas como centrais, bem como o papel da China.

FIGURA 3: Participação no PIB mundial (Peso Em %) – EUA e China Vançadas - 2008 –2021

FONTE: FMI E DEPEC 2014.

Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um

pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente

elevado sobre a economia global. A conclusão é de três pesquisadores da área de

sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça.

Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318

grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma

delas tem 20 conexões com outras empresas.

PROJEÇÕES PARTICIPAÇÃO NO PIB MUNDIAL - CHINA E EUA - NOVA PPP - HIPÓTESES DEPEC -2008-2020 - fonte depec e FMI

17.8%

12.2%

16.7%15.2%

14.3%

13.0%

11.4%

17.2%17.6%

20.3%

18.0%18.7%

19.1%19.8%

20.9%

10.0%

13.0%

16.0%

19.0%

22.0%

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

chinaeua

HIPÓTESES:

Mundo EUA China2009 -0.5% -2.9 6.5%2010-2021 3.7% 2.5% 7.0%

China

EUA

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A Arquitetura da crise financeira

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Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre

apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a

maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chipsnos

mercados de ações.

Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge

60% de todas as vendas realizadas no mundo todo. VITALI, GLATTFELDER e

BATTISTON, 2011.

Piketty o queridinho da mídia, tenta dissimular ser de "esquerda", mas não está

fora da confraria dos economistas ortodoxos, clássicos e neoclássicos, e digamos burgueses.

Afirma-nos: "A desigualdade não é necessariamente má em si: "a questão das

desigualdades depende das representações dos atores".

Para Piketty (O Capital no século XXI) a compra e a venda da força de trabalho

não existem. Mais ainda, ele assimila totalmente o capital ao patrimônio, ele chama-lhes

na pág. 84 "sinônimos perfeitos" e utiliza-os de modo intercambiável. Para ele, o capital

ou património representa o conjunto dos ativos não humanos que podem ser possuídos

ou trocados num mercado. Divide depois esse capital global em capital público e

privado. Esta confusão entre capital e patrimônio não é inocente. Constatamos ao ler a

obra que o autor joga astuciosamente com esta confusão patrimônio/capital utilizando

um ou outro dos dois termos (que ele acha permutáveis) para dar um sentido particular

à sua demonstração.

Na crise profunda do sistema capitalista, na luta encarniçada que o capital trava

para restabelecer as taxas de lucro, os ideólogos burgueses, conscientes da rejeição das

suas medidas políticas por uma parte crescente da população, estão à procura de um

compromisso social que lhes permita neutralizar a luta de classes ou desviá-la para que

in fine a dominação do capital permaneça. Nessa luta, é preciso a todo o custo mostrar

que não há outra saída senão aceitar a lei do capital. Assim, é necessário

sistematicamente desqualificar as análises apoiando-se na existência das classes sociais e

seu caráter antagônico no sistema capitalista, e substitui-lo por uma análise em termos

de grupos sociais. É também necessário "purificar" a economia da política e afastá-la de

uma análise global da sociedade e do seu movimento.

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Crocetti

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Crise no Brasil

Armen Mamigonian (2011) faz sua Interpretação das consequências da crise no

Brasil que resumo e atualizo a seguir; Na crise de 1930 a revolução significou a ascensão

ao poder dos industriais, como um setor de inserção secundário no pacto de poder. O

setor principal eram os latifundiários, sobretudo os estancieiros gaúchos e Minas, que

recebeu apoio também do sertão do nordeste; então esse pacto de poder foi um pacto

desenvolvimentista. Pois havia interesse do próprio latifúndio. Porque ao latifúndio

interessava exportar mais, ao latifúndio interessava os investimentos na rodoviarização

do país, valorizaria as suas terras, mas por outro lado, não interessava nenhuma

proposta de reforma agrária, nesse ponto o pacto era sagrado: ninguém ia propor uma

reforma agrária que passasse por esse pacto de poder.

Mas como constatamos mais tarde, a Reforma Agrária não era condição

indispensável para um crescimento econômico; está provado hoje, não precisou. Com a

substituição das importações, e a consequente produção de tecidos, cigarros, sapatos etc.,

no lugar de importar, passaram a produzir internamente. Que em uma etapa seguinte,

foi estendida para; cimento, material de construção, tinta, azulejo, etc. Então a

urbanização exigia; mais pra frente por conta da rodoviarização, seria necessária a

criação e produção, de refinarias de petróleo, ia precisar de aço, e coisa parecida e assim

foi indo.

Chegou o momento em que esse pacto sofreu uma crise em 1990, e ocorreu um

rompimento desse pacto, por parte do imperialismo estadunidense, que impôs a saída

dos industriais brasileiros e a substituição por eles, eles já estavam no poder pelo lado, das

suas relações com os bancos brasileiros. Então em 1990 houve uma contrarrevolução

neoliberal imposta pelos Estados Unidos, Collor, depois Fernando Henrique e etc.

Os industriais que eram minoritários no pacto de 30, precisaram de um

latifundiário como o Getúlio Vargas para alavancar o setor industrial, ou seja, a

Companhia Siderúrgica Nacional saiu das mãos desse latifundiário. Isto é, Getúlio sabia

em 1930 que podia jogar de um lado com o Japão e Alemanha e do outro lado com os

Estados Unidos e Inglaterra então o Brasil, por exemplo, exportou algodão em grandes

proporções para o Japão e Alemanha, e isso aí os intelectuais brasileiros fazem questão

de esquecer. Também se esquecem de dizer que ele era um líder muito competente

para os interesses nacionais.

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A Arquitetura da crise financeira

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Quando começa a Segunda Guerra não havia praticamente outra opção, apenas

o Imperialismo Estadunidense, mas Getúlio sabia que podia jogar e nesse jogo mandou

em 1938-39 um general a percorrer a Inglaterra, Estados Unidos, a Alemanha para ver

quem iria financiar a siderurgia brasileira, então ele arrancou a Companhia Siderúrgica

Nacional. O que podemos concluir com isso? Que esses latifundiários nacionalistas

alavancaram a indústria brasileira. Os industriais eram os sócios secundários. Tanto que

em 1932, na revolução constitucionalista, os industriais aderiram.

Agiram como um bando de ignorantes. Eles não sabiam que a revolução

constitucionalista contra o Getúlio seria contra eles. Aí o Roberto Simonsen foi obrigado a

sair, mas logo voltou. E agora quando terminou o governo do Fernando Henrique,

houve um novo fato, digamos inusitado. Assim como em 1930 um latifundiário, um

estancieiro foi o pai da industrialização brasileira, agora, sem que os industriais tivessem

consciência disso, precisou de um Lula, que sai do movimento operário, para que eles

pudessem ser novamente alavancados.

Podemos afirmar que os industriais brasileiros são extremamente competentes e

extremamente agressivos do ponto de vista empresarial. Por isso de certa forma o Lula

acabou sendo o representante dos interesses nacionais, que interessam tanto à classe

operária quanto à burguesia industrial brasileira. Mas ele ganha as eleições e o sistema

está dominada pelo neoliberalismo. Então Lula é obrigado a engolir, por exemplo, o

Banco Central. Ele poderia ter pressionado o Banco Central, ter mudado suas políticas há

mais tempo, mas o Banco Central foi o imperialismo dentro do governo. Quer dizer, o

pacto de poder em 1990 eliminou a burguesia industrial. Então, neoliberalismo, abriu a

economia, destruiu uma série de empresas. Essa burguesia incompetente do ponto de

vista político precisava de um governo de esquerda, de centro-esquerda. E esse governo

tem desempenhado esse papel, mas não conseguiu durante a gestão Lula (2002-2010)

desalojar o imperialismo estadunidense do governo, que está dentro que é o Banco

Central.

O Banco Central não pode ser controlado pelo sistema financeiro. Ele tem de ser

controlado pelo Estado brasileiro, tendo em vista os interesses nacionais, os interesses dos

trabalhadores, da criação de emprego. E podem-se assegurar interesses também dos

bancos. Mas eles não podem mandar. Eles não podem dizer qual vai ser a taxa dos juros,

se vão aumentar tanto, o câmbio vai ser do jeito que está aí e coisas parecidas. Esse

câmbio, por exemplo, é um câmbio desastroso.

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Considerações finais

Uma das razões pelas quais a crise do capitalismo não acabou foi que as novas

tecnologias continuam proporcionalmente atrasadas. Atrasadas porque a

financeirização foi prioridade para ter uma lucratividade imediata. O capitalismo está

atrasado do ponto de vista de revolução tecnológica. E só essa revolução tecnológica é

que vai permitir à economia mundial toda se recuperar. A atual crise da primeira

década dos 2000, essa crise vai acelerar a corrida tecnológica porque está demonstrado

que aqueles que ficarem esperando excessivamente vão ficar para trás.

A questão da revolução tecnológica é uma questão da qual não se escapa. Isso

não é uma coisa que se possa controlar ou deixar de controlar. São leis do capitalismo. O

capitalismo quando entra num período depressivo é obrigado a procurar novas fórmulas

de lucratividade. E uma delas são tecnologias novas. Nesse sentido, dá para dizer que o

fordismo já acabou, foi substituído pelo toyotismo. Dá pra dizer que a segunda

revolução industrial já acabou ela está sendo substituída pela terceira. Então, é um

fenômeno inexorável — não é coisa que dá pra ser a favor ou contra.

A relação produção/consumo para o capitalismo é fundamental. Não se pode

brincar. Consequentemente, o que vem por aí — num futuro relativamente próximo — é

uma diminuição da jornada de trabalho, como já houve nas outras revoluções

industriais. Porque para o capitalismo não interessa ter uma população desempregada

muito numerosa. Há uma margem de tolerância política. E, por outro lado, há uma

necessidade de que a relação entre produção que sobe verticalmente pela revolução

tecnológica seja acompanhada por uma capacidade de consumo. Essa capacidade de

consumo pode ser induzida pelos Estados, sob a forma de uma redução da jornada de

trabalho como aconteceu em todas as revoluções industriais.

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