A arte perdida de fazer discípulos le roy eims

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1. APELO IMPORTANTE Para voc que disponibiliza o fruto do nosso trabalho em seu site, blog, etc.: Continue vontade para redistribuir nossos e-books, mas seja um cristo honesto e NO RETIRE os crditos de quem teve o trabalho de digitalizar (ou reeditar) e distribuir esta obra! NO QUEIRA RECEBER OS CRDITOS POR ALGO QUE VOC NO FEZ! Ns no vamos tomar nenhuma atitude contra voc, mas Deus est vendo! Doao de Andr S. Lima Reeditado por SusanaCap www.semeadores.net Nossos e-books so disponibilizados gratuitamente, com a nica finalidade de oferecer leitura edificante a todos aqueles que no tem condies econmicas para comprar. Se voc financeiramente privilegiado, ento utilize nosso acervo apenas para avaliao, e, se gostar, abenoe autores, editoras e livrarias, adquirindo os livros. Semeadores da Palavra e-books evanglicos A Arte perdida de fazer discpulos Uma orientao prtica queles que querem discipular LeRoy EimsTraduzido do original em ingls: The Lost Art of Disciple Marking Copyright 1978 por LeRoy Eims Todos os direitos reservados. Prefcio de Robert E. Coleman Traduo: Joo A. de Souza Filho Reviso: Helosa Wey Capa: Holy Design Segunda edio: Setembro de 2002 Todos os direitos em lngua portuguesa reservados Editora Atos Ltda. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida por qualquer meio - eletrnico, mecnico, fotocpias, etc. - sem a devida permisso dos editores, podendo ser usada apenas para citaes breves. Publicado com a devida autorizao e com todos os direitos reservados pela Editora Atos Ltda. Caixa Postal 402 30161-970 Belo Horizonte MG Telefone: 0800-315580 www.editoraatos.com.br NDICE Agradecimentos 5 Prefcio edio brasileira 6 2. Apresentao 7 Prefcio 9 1. necessidade da multiplicao de discpulos 11 2. Exemplos bblicos de treinamento no discipulado 22 3. Fazendo discpulos na igreja primitiva 34 4. Pessoas ajudam pessoas 48 5. O processo na formao de discpulos 59 6. Alvos no treinamento de um discpulo 75 7. Trabalhadores so poucos 92 8. A arte de preparar obreiros 102 9. Alvos no treinamento do obreiro 114 10. A necessidade de liderana 131 11. Como treinar lderes 147 12. Confiana e ousadia 160 Apndice 1 - Alvos para o treinamento de discpulos 166 Apndice 2 - Multiplicao de discpulos 199 Apndice 3 Perfil: convertido, discpulo, obreiro e lder202 Apndice 4 - Tempo previsto nas trs etapas do treinamento 205 Contracapa 207 * * * Ao Dr. Clyde W. Taylor, valoroso servo de Deus, usado poderosamente no mundo inteiro, em cujo ministrio muitos obreiros foram qualificados e levantados para a glria de Deus. AGRADECIMENTOS Em 1973, passei a primavera e o vero na companhia de Marvin Smith. Ele era o diretor dos Navegadores na frica e, na ocasio, usufrua com sua famlia um tempo de merecido descanso nos Estados Unidos. Juntos, gastamos muitas horas de comunho e amizade, conversando sobre as vrias formas de preparao de obreiros e em como levantar homens e mulheres altamente qualificados para a obra de Deus. Marvin dedicara meses analisando os mais diversos conceitos; de minha parte, durante seis meses esforcei-me por encontrar os passos e detalhes necessrios na formao de discpulos. Ns dois andvamos envolvidos na formao de discpulos h anos, mas nunca havamos colocado no papel os elementos que utilizvamos e que, passo a passo, contribuem para a formao de discpulos. Foi conversando que chegamos a um denominador comum: nossas descobertas se encaixavam perfeitamente. Agora, poderamos escrever e comunicar de forma clara os princpios bblicos que estvamos praticando e que aprendramos no decorrer dos anos. Boa parte do contedo deste livro, incluindo o quadro multiplicativo do Apndice 2, fruto desse estudo que Marvin e eu fizemos. PREFCIO EDIO BRASILEIRA Editado pela primeira vez em 1978, este livro apresenta uma fundamentao bblica sobre o discipulado que jamais envelhece. Nessa poca, houve uma nfase ao discipulado em todas as partes do mundo, e os ensinamentos de LeRoy espalharam-se pelos quatro cantos. Vale destacar que a organizao Navegadores marcou presena no grande avivamento que se esboou desde ento. Os membros do Navegadores eram treinados para levar o Evangelho a todos os lugares e a treinar os novos convertidos a serem testemunhas eficazes do Senhor Jesus. A edio deste livro em portugus preenche uma lacuna na igreja evanglica brasileira, trazendo um tema to antigo quanto atual, mas sem os vcios e mazelas que contaminaram o verdadeiro discipulado em algumas igrejas do Brasil. O enfoque de LeRoy bblico e, levado a srio, corrigir os desacertos to comuns entre os que fizeram do discipulado apenas um mtodo ou estrutura, com o fim de engordar as estatsticas da igreja. Todo lder deveria reproduzir-se em outros homens, aumentando o nmero de pessoas na grande ceifa deste final dos tempos. Formar homens para o ministrio tarefa de todos ns. E LeRoy buscou nas pginas da Bblia os mtodos para a formao desse potencial para a igreja: discpulos que se reproduzem em novos discpulos, obreiros que se reproduzem em 3. novos obreiros e lderes que se reproduzem noutros homens. Esse livro no deve ser lido; deve ser estudado e levado a srio. O futuro da Igreja depende da qualidade dos lderes que formamos! Os editores APRESENTAO Jesus veio a este mundo com o propsito de morrer, e em sua jornada para a cruz dedicou sua vida na formao de alguns discpulos, os quais foram comissionados a proceder da mesma maneira, para que, pelo processo de reproduo, o Evangelho do Reino alcanasse os confins da Terra. O estilo de vida do Filho de Deus foi o modelo a ser imitado por todos os seus seguidores princpio claramente expresso na ordem de "fazer discpulos de todas as naes". A forma, claro, fica condicionada aos dons de cada indivduo e ao papel de cada pessoa na sociedade onde est inserida; no entanto, cada pessoa que cr em Cristo chamada a desempenhar um papel condizente com sua vocao e estilo de vida. Lamentavelmente, poucos entendem o que isso significa, especialmente quando diz respeito ao viver dirio. Muitas pessoas em posio de liderana na igreja no tm a menor idia do que seja ensinar algum a observar e a guardar tudo o que Jesus ordenou. Nesse sentido, no causa surpresa o fato de tantos crentes no conseguirem ir muito longe em sua peregrinao de f, nem aprenderem a desenvolver o potencial de seu ministrio. Por isso estou recomendando este livro. Nele, o autor aborda o verdadeiro sentido do discipulado, no como programa institucional vago, mas como orientao prtica queles que querem discipular. O tratamento simples e prtico. O mandamento de nosso Senhor no ser uma arte perdida; basta que as pessoas sigam, de todo corao, os conselhos apresentados neste livro. A experincia do autor autentica a importncia da obra. LeRoy Eims no um terico do tema, mas um homem que pratica o que aconselha, j que durante vrios anos vem se envolvendo na formao de homens para Cristo. Muitos so os obreiros em vrias partes do mundo que atestam a fidelidade e o cuidado que LeRoy a eles dedicou. Sua maneira de abordar o tema reflete a estratgia dos Navegadores, da qual representante ministerial internacional. O que diz, no entanto, no direito exclusivo de nenhuma organizao, mas discipulado bsico do Novo Testamento. Qualquer pessoa lucrar com a leitura deste livro. Melhor ainda: a aplicabilidade das verdades aqui apresentadas trar novo sentido e prazer o prazer de viver a grande comisso. Robert E. Coleman Seminrio Teolgico de Asbury Autor de O Plano Mestre de EvangelismoPREFCIO Quando minha filha Becky ainda cursava o Ensino Fundamental, costumvamos fazer longas caminhadas juntos. Passevamos entre imponentes pinheiros, sob carvalhos antigos torcidos pelo vento, observando a grande quantidade de rvores e flores que embelezavam a regio nas cercanias de nossa casa. Certo dia, conversamos sobre um arbusto esquisito, que insistia em crescer beira do caminho. Expliquei minha filha que deveramos nos orgulhar daquele arbusto, pois, mesmo no sendo uma rvore imponente, tinha crescido at atingir o seu potencial. Era um arbusto adulto que se destacava das demais rvores pelas folhas que permaneciam verdes o ano inteiro. O sol e as chuvas constantes levaram-no a alcanar seu tamanho natural. Os bebs so assim tambm. Crescero se algum os ajudar. Vibram de alegria quando algum lhes oferece a mamadeira ou abre a tampa do iogurte e, com a colher, leva-lhes o alimento boca. Agora que Becky cresceu, casou-se e tem uma filha, observo admirado a forma como ela alimenta a criana. Quando a pequena Joy Elise v a comida, fica retorcendo-se de alegria, como se um circo novo chegasse cidade. Tudo o que a me faz colocar a comida ao alcance de Joy, e ela faz o resto. Toda pessoa que se converte a Cristo precisa ter a oportunidade de se 4. alimentar e de crescer. Todo novo crente anela chegar maturidade e ao seu potencial em Deus. Muitos alcanariam a maturidade crist se algum apenas lhes desse a chance de alcanar a comida, ou os ajudasse em seus problemas, ou lhes desse treinamento necessrio, ou se dispusesse a sofrer e a se sacrificar um pouco, ou ainda mais: se esse algum estivesse disposto a orar bastante. Neste livro, queremos analisar o processo de crescimento da vida crist desde o momento em que a pessoa vem a Cristo, at se tornar um discpulo ou discpula, trabalhando e cooperando eficazmente com Jesus. Examinaremos o que alimenta e educa, os cuidados necessrios para que a pessoa se torne espiritualmente qualificada e desenvolva seu potencial como obreiro na Igreja do Senhor Jesus Cristo. Os conceitos e princpios que estaremos sugerindo e examinando diferem da filosofia do crescimento rpido e da maturidade instantnea. O verdadeiro crescimento exige tempo e lgrimas, amor e pacincia. Exige-se do lder que ele veja, pela f, as pessoas, sob a tica de Deus; como Deus quer que elas sejam na vida adulta. E, claro, alguns conhecimentos ajudar-nos-o a levar as pessoas a se tornarem adultas, como Deus almeja. No pretendemos, com este livro, apresentar toda a cadeia do processo de treinamento, nem somos presunosos a ponto de pensar que temos a soluo para todos os problemas do crescimento espiritual. Na realidade, no temos a soluo para todos os problemas. O que nos propomos com este livro apresentar algumas informaes que ajudem os lderes cristos a fortalecer algum elo da cadeia de seu ministrio com as pessoas. O livro no apresenta a cadeia completa, mas trata apenas de um elo da corrente: como treinar e qualificar as pessoas para a obra de Deus. O livro se fundamenta no estudo da Palavra de Deus e na experincia de obreiros envolvidos numa organizao cuja misso fazer discpulos e levar pessoas a serem eficazes na obra de Deus. Nosso maior desejo e orao que o Esprito Santo use este livro para fortalecer os elos fracos, na corrente do crescimento espiritual, equipando os crentes para que sejam mais ativos e eficazes no servio do Senhor. LeRoy Eims Colorado Springs, Colorado, janeiro, 1978 CAPTULO 1 A NECESSIDADE DA MULTIPLICAO DE DISCPULOS Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalm, se multiplicava o nmero dos discpulos (At 6.7). - ARA Certo dia, um pastor (desses que vivem muito ocupados) chamou-me por telefone. Poderamos nos encontrar, perguntou, em algum lugar, para falarmos sobre como treinar obreiros em sua igreja? Ele se dispunha a tomar um avio e a encontrar-me em qualquer lugar dos Estados Unidos, a fim de conversarmos sobre esse tema durante um dia ou mais. Estava desesperadamente cata de ajuda, por isso marcamos uma data. Descobri, depois de passarmos algum tempo juntos, que seu problema era bastante comum. Ele era pastor de uma igreja que crescia em ritmo acelerado e saudvel. Muita gente se convertia a Cristo, o nmero de pessoas aumentava a cada reunio, e havia dois cultos aos domingos de manh. Deus o estava abenoando de forma maravilhosa. Mas ele enfrentava um srio problema: estava ciente de que se no treinasse obreiros, homens e mulheres de sua congregao, muitos membros no seriam ajudados nos primeiros estgios do crescimento cristo. Com isso no se tornariam discpulos robustos e fortes de Cristo. O pastor sabia que ele era a chave de tudo. Todo o processo teria de comear com ele, e no poderia ser delegado nem entregue a um "departamento" da igreja. Como lder espiritual dessa gente, teria de assumir a liderana do treinamento. No entanto, ele apresentou mais uma dificuldade era muito ocupado! Os assuntos da igreja demandavam-lhe todo o tempo. Como qualquer pastor, gastava muito tempo apagando focos de incndios que surgiam aqui e ali. Mal terminava de resolver um problema, outro surgia. Consternado e frustrado, descobriu que se ocupava demais com as mesmas pessoas e com os mesmos problemas, apaziguando, ajudando nos relacionamentos, 5. aconselhando situaes difceis entre casais e muitos outros problemas. Mas ele alimentava um sonho. As vezes trancava-se no gabinete imaginando um ministrio diferente. Que bom seria, pensava, se eu tivesse um grupo de pessoas dedicadas, homens e mulheres maduros e qualificados espiritualmente que pudessem me ajudar a resolver alguns dos problemas 'espirituais' que surgem todos os dias na igreja. Ele no estava pensando naqueles membros da igreja que compravam as fitas com seus sermes e as distribuam entre pessoas carentes, ou naqueles que trabalhavam no ministrio social, prestando ajuda financeira, levando agasalhos e alimentos, ou ainda nos que colaboravam na escola dominical ou nas questes administrativas. Ele imaginava ter uma igreja cheia de pessoas que soubessem levar algum a Cristo, guiando-o passo a passo desde a converso at a maturidade em Cristo; levando o convertido a uma vida de completa dedicao, compromisso, frutificao; a um discipulado maduro, e que, por sua vez, repetisse o mesmo processo com outras pessoas. Ele ficava ali, rindo consigo mesmo na privacidade de seu gabinete, pois os sonhos que acalentava eram to vividos que quase podia toc-los com as mos. Mas caa na realidade logo que o telefone tocava: Mais um problema na igreja, e ele era a nica pessoa capaz, em toda a congregao, para socorrer e ajudar. Deixava de lado seu sonho, pegava a Bblia, fechava a porta do gabinete e saa para tratar de mais um caso. Discpulos em ao Vejamos uma outra cena. Quatro casais se renem para um estudo bblico numa noite qualquer da semana. Durante os ltimos quatro meses vm-se reunindo com freqncia e trs deles j entregaram a vida a Cristo. Um dos homens da igreja dirige os estudos, e acabaram de se encontrar para um bate-papo informal sobre a vida crist. Na hora de comear o estudo bblico, o telefone toca. "O Joo est a?" (Joo um dos que se converteram h quatro meses). "Est sim. Mas neste momento est ocupado. Est estudando a Bblia". Do outro lado da linha, uma voz desesperada suplica: "Por favor! Preciso falar com ele agora". "S um momento". Joo pega o telefone e ouve. "Est bem", diz. "Estarei a num instante". Joo volta para a sala e explica ao grupo o que est acontecendo. Um colega de trabalho precisa de ajuda urgente. Ele e a esposa tiveram uma discusso acirrada, e a mulher dele quer expuls-lo de casa. A coisa j no andava bem nos ltimos dias, e Joo sente que hora de agir. O lder do grupo concorda que hora de fazer alguma coisa, e enquanto Joo sai em socorro do amigo o grupo comea a orar. Assim, Joo, convertido h pouco tempo, toma sua Bblia e sai na tentativa de salvar um casamento. O estudo bblico se transforma numa reunio de orao. Isso realmente aconteceu. O lder do grupo me contou alguns dias depois. Joo foi poderosamente usado por Deus e conduziu aquele casal a Cristo. Agora os dois desejam participar de um grupo de estudo bblico. O lder percebeu que teria de dedicar um tempo extra ajudando Joo com alguns questionamentos, j que ele e sua esposa estavam conduzindo novas pessoas a Cristo. Joo, que era vido no aprendizado da Palavra de Deus, queria saber mais, e sentia que precisava de muita ajuda. O lder vibrava de alegria ao perceber que o Senhor estava usando aquele tempo para aprofundar o relacionamento entre ele e Joo, em Cristo. Esse acontecimento caiu como uma luva no grupo de estudo bblico de Joo. Ficou evidente, ento, que cada um deles teria a oportunidade de compartilhar as boas novas que estavam aprendendo com outras pessoas. O estudo bblico despertou maior interesse em todos eles. Cenas como essa se repetem todos os dias. No um caso isolado. Na realidade, a histria do pastor que queria um encontro comigo teve um final feliz. Depois de um dia juntos, conversando sobre o discipulado e treinamento de obreiros, comeou a colocar em prtica os princpios que compartilhei com ele, os mesmos que apresento neste livro. Hoje, de forma contnua, discpulos e obreiros so erguidos como fruto do seu ministrio, cujo impacto pode ser sentido na vizinhana e entre seus amigos. Os membros de sua igreja so usados por Deus para levar outras pessoas a Cristo, ajudando os novos convertidos a repetir o mesmo processo com aqueles que eles ganham. 6. Esse conceito de multiplicao de discpulos no foi to aceito no passado como o em nossos dias. Poucos foram os que se envolveram com o discipulado. Muitos, no entanto, esto voltando prtica bblica. A importncia da ajuda pessoal Logo que minha esposa Virgnia e eu aceitamos a Cristo, encontramos Waldron Scott, um homem de nossa idade que demonstrou grande interesse em nos ajudar. Ele fora ajudado na f crist por um de seus colegas, enquanto estavam aquartelados na Ilha de Guam, durante a Segunda Guerra Mundial. ramos colegas de classe na faculdade e ele vinha nossa casa uma vez por semana, para nos ajudar em nosso crescimento espiritual. Tudo comeou quando lhe perguntei por que havia tanta diferena entre seu modo de vida e o nosso. ramos to diferentes. Ele citava as Escrituras de cor e salteado, e aquilo me impressionava. Estava sempre falando de como Deus respondia suas oraes e conhecia muito bem a Bblia. Ele veio nos visitar e fez algumas perguntas: Voc l Bblia regularmente? No. Raramente. Voc estuda algum texto bblico? Outra vez, no. Voc memoriza os versculos bblicos? Ah! Finalmente pude dizer sim. No domingo anterior, o pastor havia pregado sobre Mateus 6.33; fiquei to impressionado que vim recitando o texto enquanto dirigia o carro. "timo", disse-me Scott. "Repita-o para mim". No conseguia me lembrar do versculo. Notei que alguma coisa estava faltando no banco de dados de minha memria. Ento ele me perguntou: "Voc ora?" "Claro que oro", respondi. "Antes das refeies, costumo orar uma orao que memorizei". Estvamos tomando nossos lugares mesa, por isso orei: "Abenoa esse alimento. Em nome de Jesus, amm". Durante os momentos que passamos juntos l em casa, ficou evidente que orar no se resumia quelas palavras. Logo meu amigo se disps a se reunir comigo e com minha esposa para compartilhar algumas coisas que tanto o ajudaram. Ficamos na expectativa do prximo encontro. Comeamos. Scotty nos ensinou a ler a Bblia e a entender o que estvamos lendo. Ensinou-nos a estudar sozinhos e, com o auxlio do Esprito Santo, a aplicar as lies aprendidas em nossas vidas. Aprendemos como memorizar a Palavra de forma que o Esprito Santo usasse os textos no dia-a-dia de nossas vidas. Aprendemos tambm a assimilar os textos e a injet-los em nosso corpo espiritual atravs da meditao. Tambm ensinou-nos a orar e a esperar em Deus. Que ano abenoado tivemos! Tnhamos fome e Scotty nos alimentava. Scotty se disps a gastar muitas horas conosco. Entrei para o segundo ano da universidade, e mesmo assim Scotty continuava a se encontrar conosco. Crescamos espiritualmente, e a cada dia novas descobertas espirituais deixavam-nos empolgados. Descobrimos a emocionante aventura da vida crist abundante, e o Senhor se tornava cada vez mais pessoal e real em nossas vidas. Na metade do primeiro semestre, um colega fez-me a seguinte observao: "Sabe, LeRoy, ando observando-o e vejo que sua vida crist bem diferente da minha". Comeou a fazer-me perguntas, praticamente as mesmas que eu fizera a Scotty no ano anterior. Ri e perguntei: "Voc l a Bblia de forma regular e constante?" "No". "Nem estuda a Bblia?" No, outra vez. "Voc memoriza textos bblicos?" Tambm no. "Voc dedica tempo orao?" Outro no como resposta. Sugeri que deveramos nos encontrar para conversar sobre esses temas. Ele demonstrou entusiasmo e disposio, e comeamos. Compartilhei com ele tudo o que Scotty me ensinara, e ele comeou a crescer na vida crist. Passou a pesquisar a Palavra, a orar, a testemunhar de Cristo, e o Esprito Santo operou grandemente em sua vida naquele ano. No ano seguinte, passei a freqentar a Universidade de Washington, e meu amigo tambm se transferiu para outra escola. Alguns meses depois que as aulas comearam, recebi uma carta interessante enviada por ele. Ele estava freqentando as reunies de estudo bblico na universidade e um colega o procurara buscando conhecer melhor a vida crist. Parece que aquele estudante notou algo diferente em sua vida e queria descobrir o segredo. Meu amigo fez as 7. mesmas perguntas que eu lhe fizera sobre ler, estudar, memorizar as Escrituras e orar. Por haver demonstrado interesse nesses temas, meu amigo comeou a compartilhar com ele as coisas que aprendera comigo, as mesmas que eu havia aprendido com Scotty. Nesse nterim, um estudante cristo se encontrou comigo no campo universitrio... e assim continuou. So anos de envolvimento com pessoas, ajudando-as em sua vida pessoal e no crescimento espiritual. Noto que pastores, missionrios, estudantes universitrios, seminaristas e militares andam pelo mesmo caminho, ajudando seus colegas. Hoje, vemos um grande interesse na multiplicao de discpulos em muitas igrejas. Multiplicar ou no eis a questo Falando com um crente piedoso, tempos atrs, perguntei: "Bob, o que lhe d mais prazer na vida?" " fcil, LeRoy: levar uma pessoa a Cristo". Concordei com ele. A gente se alegra quando isso acontece o novo convertido e os cus tambm. Mas disse a Bob: "Existe algo maior que isso". Ele ficou surpreso. O que seria maior do que levar uma pessoa a Cristo? Continuei: "Quando a pessoa que voc levou a Cristo se torna um crente dedicado, comprometido e um discpulo maduro a ponto de poder levar outros a Cristo, conduzindo-os maturidade. Isso o que vale". "Claro! Nunca havia pensado nisso", exclamou. No de admirar que nunca ouvira falar disso antes. Naquela poca esse conceito era desconhecido, mas ele estava disposto a aprender. E aprendeu. Hoje, muitos crentes amadureceram e se comprometeram, tornando-se discpulos frutferos em dois continentes, pelo exemplo e ardor de Bob e sua viso multiplicadora de discpulos. Por outro lado, a falta desse conhecimento pode acarretar srias conseqncias. Falei com um missionrio experiente, no pas onde trabalhava, e ele me contou uma histria que no consigo esquecer. Parece-me que estava no campo missionrio h quinze anos e seu trabalho seguia uma rotina normal. Logo que ali chegou, encontrou Johnny, um jovem envolvido em coisas bem diferentes. Johnny era um discpulo de Cristo, comprometido, mas no agia conforme as "regras". Em contraste com a abordagem missionria da poca, Johnny gastava a maior parte de seu tempo encontrando-se com outros jovens daquele pas. O missionrio tentava de todas as formas fazer com que Johnny se endireitasse, mas o jovem continuava com suas prticas e abordagens "diferentes". Os anos se passaram, e o veterano missionrio precisou deixar o pas, pois seu visto expirara. Sentado diante de mim, sorvendo uma xcara de caf, ele me disse: "LeRoy, todo esse tempo nesse pas e nenhum resultado positivo. Claro, muita gente freqenta os cultos, mas no sei o que acontecer com esse pessoal quando eu partir. No so discpulos. Freqentam os cultos, ouvem meus sermes, mas no falam de Jesus a ningum. Poucos sabem conduzir algum a Cristo. Agora que estou de partida, percebo que gastei meu tempo sem obter resultados". E continuou: "Ento olho para o ministrio do Johnny. Um dos homens que ele ajudou agora professor na universidade. Essa pessoa usada poderosamente por Deus e est ganhando muitos universitrios Para Cristo. Um outro lidera um grupo evangelstico e tem uma equipe de discpulos composta de quarenta pessoas. Outro, numa cidade prxima, vive cercado de trinta e cinco discpulos comprometidos. Trs jovens foram para o campo missionrio e esto liderando equipes naqueles pases, multiplicando o nmero de discpulos. Deus os tem abenoado ricamente". "Existe um enorme contraste entre minha vida e a dele. uma tragdia. Sempre achei que eu estava certo. O que ele fazia parecia sem sentido algum, insignificante, mas agora olho os frutos e fico admirado!" Uma nuvem de tristeza se abateu sobre ns. Em outra ocasio, eu era o conferencista de um congresso no Meio-Oeste. Um pastor, que investira os melhores anos de sua vida trabalhando como missionrio no Oriente Mdio, e que agora residia numa cidade prxima, veio conferncia. Na reunio de abertura compartilhei esse texto com os participantes: "E ele designou alguns para apstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministrio, para que o corpo de Cristo seja edificado" (Ef 4.11,12). Procurei explicar que a nfase do texto era que Deus havia concedido lderes igreja com o fim de nos treinar e edificar para o ministrio. Expus 8. que o ministrio era tarefa de todos ns clero e leigos. Uma irmandade de pessoas que testemunham de Cristo o que precisamos ser mas que necessitam de treinamento. Depois da palestra, esse homem veio falar comigo trazendo nas mos o Novo Testamento em grego. " exatamente isso o que diz aqui", declarou. A seguir, virou as costas, entrou no quarto, pegou suas malas e comeou a abandonar o local da conferncia. Reagi assustado, fui atrs dele e perguntei se o havamos ofendido em alguma coisa. Queramos pedir-lhe perdo por alguma palavra ofensiva. "Vocs no me ofenderam", respondeu. "J tenho tudo de que preciso. Meu povo ter de ouvir sobre esse tema!" Dizendo isso, entrou no carro e foi embora. Ele queria voltar para sua congregao e, naquele mesmo domingo, pregar aquela mensagem, comeando uma nova etapa na vida de sua igreja. Nos ltimos tempos, o pas em que servia como missionrio fragmentara-se numa guerra racial, e o dio levou muita gente morte. s vezes, imagino se aquele pas no seria diferente se, h trinta anos esse homem tivesse implantado uma viso de discipulado num grupo de homens e mulheres, como Johnny fez em outro campo missionrio. Um colega de ministrio e eu fomos palestrantes em um curso de evangelismo. Os seminrios de evangelizao duraram trs dias, e cada palestra duas horas e meia. Havia muitos participantes. Nosso tema era: "O discipulado na igreja local". Durante a sesso de perguntas e respostas, um pastor mais velho ps-se de p e comeou a falar de sua experincia em discipular alguns homens de sua igreja. Ele comeara esse trabalho h trs anos e dispunha, agora, de um grupo de homens corajosos, destemidos e fiis, que num estalar de dedo estavam de prontido. Tudo comeou com um homem; mais tarde ele e esse homem treinaram outros dois que demonstraram algum interesse. O processo de discipulado continuou, e depois de algum tempo os quatro comearam a se reunir com outros quatro. O ministrio se multiplicou, e agora ele tinha sua disposio vrios homens altamente qualificados e treinados na vida espiritual, ajudando-o no ministrio da igreja. O pastor nos contou que esse tipo de trabalho traz grandes recompensas e senso de realizao. Foi a melhor coisa que lhe acontecera em trinta e cinco anos de ministrio. Depois daquele relato, os olhos de todos comearam a brilhar, antecipando a glria futura. Mal podiam esperar para entrar no ministrio pastoral e comear a tarefa de multiplicao de discpulos. H alguns anos um homem me procurou, motivado por uma grande idia. Estava muito entusiasmado e queria ter certeza de que eu participaria de seu projeto na obra de Deus. Escutei-o atentamente. Quando terminou, recusei o convite que me fizera. Perguntou, surpreso, por que eu no queria trabalhar com ele. "Por duas razes", respondi. "Primeiro, porque sua proposta no bblica. Segundo, porque no funciona". Gosto do ministrio de multiplicao de discpulos porque bblico e funciona. uma abordagem das Escrituras que nos ajuda a cumprir a Grande Comisso (Mt 28.18-20) e a treinar obreiros (Mt 9.37, 38), que hoje, como nos dias de Cristo, so raros. Venho praticando isso h vinte e cinco anos, e funciona. Quando alguns de ns nos envolvemos no ministrio de multiplicao de discpulos na dcada de 50, muita coisa estava para ser descoberta. No havamos ainda codificado e organizado o mtodo, e o chamvamos de "mtodo de trabalhar com homens e mulheres". Desde ento, vejo pastores, donas de casa, missionrios, enfermeiras, professores e donos de mercearias, todos envolvidos na vida de outras pessoas. Esse remdio no "cura tudo", mas cura algumas coisas. De uma coisa estou certo: quando voc gasta tempo individualmente com outro crente, com o fim de edificar a vida dessa pessoa estudando a Palavra, orando, mantendo comunho e fazendo um treinamento sistemtico algumas coisas comeam a acontecer em sua vida tambm. Que Deus lhe conceda pacincia, amor e perseverana para comear a compartilhar as bnos que Ele lhe concedeu com outras pessoas. CAPTULO 2 EXEMPLOS BBLICOS DE TREINAMENTO NO DISCIPULADO Ao amanhecer, chamou seus discpulos e escolheu doze deles, a quem tambm 9. designou apstolos (Lc 6.13). Quando um pastor observa a congregao no culto de domingo noite, o que v? Muitas coisas. V pessoas que no so membros de sua igreja, algumas curiosas, outras que vieram apenas observar e ainda outras que vieram trazidas por amigos preocupados com elas. V pessoas cujos coraes esto tomados de tristeza, gente deprimida, desiludida e outros cujos alicerces familiares desmoronaram. V crentes recm-convertidos, vidos pela palavra e entusiasmados com a nova vida em Cristo. V os "velhos" crentes que h anos ouvem a mensagem da palavra de Deus e reagem s chamadas de desafios com um bocejo, e v pessoas fiis que chegam cedo, antes de as portas se abrirem. V os recm-casados e aqueles cujos casamentos esto em crise. V famlias com problemas financeiros, contas vencidas em hospitais e homens de negcios cujas empresas no saem do vermelho. V pais que foram despedidos de seus empregos e o agricultor que aguarda com expectativa a chuva, do contrrio perder toda a safra. Seus olhos percorrem a congregao. Ele a tudo v. Quando se levanta diante do povo, um pensamento o inquieta: Como trazer uma mensagem ou duas por semana, que responda s inquietaes desse povo? A congregao transpira suas necessidades na proporo das pessoas ali presentes. O que responder a esse dilema? Se quisermos responder a essa questo, primeiramente temos de perguntar: "Jesus enfrentou alguma vez esse tipo de situao? As multides que vinham a Ele tinham tambm seus problemas e necessidades?" Os evangelhos dizem que sim. Seu ministrio era repleto de milagres, de multides, de longas horas com o povo, canseira e conflitos espirituais. Leprosos esperavam ser tocados por Ele; cegos gritavam seu nome ao ouvirem-no passar; advogados tentavam incrimin-lo; pecadores de ambos os sexos o amavam, alguns cuidavam de suas necessidades, outros molhavam seus ps com lgrimas. Multides entusiasmadas a seguiam; mais tarde uma multido exigiu sua morte. Sua vida era permeada de variadas emoes, oposio e atividade. Quase no final de seu ministrio, Jesus dirigiu ao Pai a orao conhecida como "orao sacerdotal", intercedendo por seus discpulos. Nela, Jesus faz a surpreendente declarao: "Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer" (Jo 17.4). Qual a importncia dessa declarao? Acaso Jesus no glorificava a Deus em cada pensamento, palavra e obras, cada hora do dia? Sim. E surpreendente ver tudo isso luz de nossos fracassos. Mas a declarao mais verdadeira e chocante : "consumando a obra que me confiaste para fazer" (ARA). Muitos de ns estamos familiarizados com a obra redentora de Cristo e lembramos muito bem de suas palavras na cruz: "Est consumado!" (Jo 19.30) Nesse glorioso ato final Ele realizou a nossa redeno; morreu por nossos pecados; libertou-nos! O que Jesus queria dizer com a expresso "consumando a obra que me confiaste para fazer"? Observando atentamente, vejamos que Ele no menciona milagres e multides, mas sim, por quarenta vezes, os homens que Deus lhe havia dado no mundo. Esses homens eram sua obra. Seu ministrio tocou milhares de pessoas, mas treinou apenas doze. Ele se entregou na cruz em favor de milhes de pessoas, no entanto, durante os trs anos e meio de seu ministrio, entregou-se totalmente em favor de doze homens. Sempre que ensinamos e pregamos, enfatizamos com clareza o ministrio redentor de Jesus Cristo, algo que jamais deveremos negligenciar. Precisamos, no entanto, estudar, entender e proclamar o ministrio de ensino que Ele exerceu com alguns homens. Trs princpios podem ser observados nesse treinamento. O princpio da seleo Os homens escolhidos por Jesus eram pessoas comuns pescadores, coletores de impostos e outros. Quando chegou a hora de escolher os que deveria treinar, passou a noite em orao. "Num daqueles dias, Jesus saiu para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discpulos e escolheu doze deles, a quem tambm designou apstolos" (Lc 6.12,13). Este um dos pontos importantes da seleo. Jesus no pegou a primeira pessoa que demonstrou interesse; para Ele, aquele era um momento decisivo, com conseqncias imprevisveis. Conseqncias eternas. No podemos mensurar; sabemos, no entanto, que os resultados daquele ministrio se mantm at o dia de 10. hoje e, pela graa de Deus, continuaro na vida de muitas pessoas no porvir. Qualquer pessoa que queira se envolver no ministrio de fazer discpulos (Mt 28.19) deve analisar o aspecto seletivo com ateno. mais fcil pedir a algum para entrar que do que para sair: atravs da seleo evitam-se desapontamentos e tristezas na escolha da pessoa errada. Por que Jesus escolheu alguns homens to humanos e sujeitos a fracassos? Imaginemos uma escolha feita com base na cultura, na capacidade intelectual e no poderio econmico: pessoas que nunca foram assediadas pelo medo, que nunca erraram ou disseram coisas erradas, que nunca sofreram enfermidades nem tiveram desejos, problemas e pecados. Como reagiramos? Nunca nos identificaramos com gente assim. Seramos tentados a deixar tudo de lado e acharamos que seria bem melhor continuar a viver nossa vida medocre de sempre! No eram apenas homens comuns, eram diferentes uns dos outros; no doze cpias! No eram doze soldadinhos de chumbo moldados na mesma forma, doze rplicas de retratos impressos na mesma mquina, ou doze esttuas de plstico reproduzidas igualmente. Um exemplo disso que Simo, o Zelote, odiava os romanos que governavam a Palestina, enquanto Mateus, coletor de impostos, trabalhava para Roma. O que depreendemos disso? Que lies prticas inferimos desses exemplos? Uma lio parece bvia: ao fazermos discpulos, no devemos selecionar os que tm temperamentos e personalidades iguais aos nossos, nem escolher apenas os que agem de maneira cordial e que se encaixam em nossos padres de vida. Sempre bom ter na equipe alguns "cabeas-duras" ao lado de pessoas calmas e estudiosas. A obra de Cristo tem aspectos multiformes e, s vezes, uma pessoa rude e disponvel se encaixa mais adequadamente numa tarefa especfica do que um filsofo erudito, e vice-versa. Deus ama a variedade. Voc pode encontrar na natureza rosas selvagens ao lado de violetas azuis, palmeiras e pinheiros, cactos e magnlias, e um campo de girassis. No zoolgico, maravilhamo-nos com a variedade de animais: a girafa, o hipoptamo, a gazela, o macaco, o bem-te-vi e a guia. Na hora de escolher homens e mulheres para discipular, necessrio abandonar nossa propenso ao conformismo e seguir o exemplo de Jesus. Os homens que Jesus escolheu eram chamados de galileus, a quem os sofisticados irmos de Jerusalm consideravam provincianos e atrasados. Eram trabalhadores rudes, comparados aos filsofos e aos eruditos da cidade grande. Por saberem pouco, eram mais facilmente ensinveis do que a elite cultural de Jerusalm. No estou afirmando que Jesus despreza aqueles que tm cultura e conhecimento. Ele conversou durante um bom tempo com Nicodemos, membro do sindrio e mestre em Israel. Mais tarde escolheu a Saulo, de Tarso, e o colocou como lder da igreja. O princpio da associao Com que propsito Jesus escolheu doze apstolos? "Escolheu doze, designando-os apstolos, para que estivessem com ele, os enviasse a pregar..." (Mc 3.14). Jesus escolheu esses homens para que estivessem com ele. Essa idia no era novidade na poca, pois no Antigo Testamento existem vrios exemplos de homens treinados para o ministrio associados com outros homens de Deus. Deus ordenou a Elias que escolhesse Eliseu como seu ajudante e para que levasse a termo o ministrio depois que partisse. Eliseu no foi encontrado na escola de profetas, estudando e meditando, mas trabalhando na lavoura (1 Rs 19.15, 16, 19). Os discpulos tambm foram chamados para estar com Jesus enquanto ocupados em seus trabalhos (Mt 4.18-22; 9.9). Elias, ao aproximar-se de Eliseu, no suplicou que este o acompanhasse, nem usou de sua autoridade proftica forando-o a entrar no ministrio. Toda pessoa precisa calcular o preo e entrar no treinamento do discipulado voluntariamente. Percebe-se, pelo dilogo entre eles, que Elias no ligava se Eliseu quisesse continuar a arar a terra. J que seria seu colaborador, Eliseu deveria aprender de forma voluntria (1 Rs 19.19-21). Eliseu pagou um alto preo para seguir a Elias. Com a perversa rainha Jezabel aterrorizando o reino de Israel, no era uma poca favorvel para algum se dispor a ser profeta de Deus ou associar-se a um deles. Se fosse consultar carne e sangue, Eliseu seria aconselhado a permanecer atrs do arado, cuidando da lavoura, o que afinal era mais seguro e lucrativo. Eliseu, entretanto, estava ciente da tremenda riqueza espiritual a seu 11. dispor, se gastasse tempo com o profeta de Deus. Assim, depois de quebrar o arado e matar os bois, seu ganha-po numa demonstrao de entrega total , seguiu a Elias (1 Rs 19.21). Para fazer o que? Servi-lo. Os que lideram, primeiro devem aprender a servir. Tambm verdade que quando treinamos indivduos temos de nos conscientizar de que devemos gastar horas com eles, conversando e associando-nos s atividades normais de seu dia-a-dia. Este um dos motivos de no se poder escolher muitas pessoas de uma s vez. Voc ter de se desdobrar de muitas formas, e mesmo assim no poder dedicar tempo de qualidade a cada uma delas. Suas reservas emocionais so limitadas, e assim como as horas gastas em treinamento com cada um. Esse limite, claro, imposto pela sua prpria capacidade espiritual e emocional. um grande erro tentar fazer muitas coisas rapidamente e com tantas pessoas. Ao estudarmos a forma associativa desses dois homens, descobrimos que Elias numa exigiu que Eliseu continuasse ao seu lado, Ao contrrio, em trs ocasies, pediu que Eliseu reavaliasse seu relacionamento com ele e o deixasse, se assim o desejasse. Eliseu soube escolher. Tanto em Gilgal quanto em Betel e Jeric, Eliseu teve a oportunidade de desistir, mas decidiu permanecer ao lado de Elias (2 Rs 2.1-6). Permanecer ao lado de Elias foi uma deciso irreversvel. Ele calculara o preo e decidira que aquele era seu ministrio. Portanto, ao escolher alguns homens e associar-se a eles no ministrio, voc deve deix-los livres para que ouam a Deus em vrias questes; deve saber dimensionar o envolvimento que ter com eles e conscientizar-se de que os encontros entre vocs no devero servir para seu benefcio pessoal, mas sim para o deles. Moiss e Josu ilustram bem esse ponto. Josu foi a resposta de Deus orao de Moiss, e uma das primeiras coisas que Moiss fez foi honrar seu discpulo (Nm 27.15-20). Esse um ponto importante. Conversei com homens que confessaram ter medo de treinar outros para a liderana, receosos de perderem a lealdade e o respeito do povo. Tais lderes queriam ser o centro das atenes, sentiam o prazer ao ver as pessoas totalmente dependentes deles. Moiss, no entanto, delegou sua autoridade a Josu. Percebe-se, nesse contexto, que Moiss se sentia seguro em Deus e alegravase por Josu poder ajud-lo a carregar o fardo de cuidar do povo. Nessa associao, Josu estava ao lado de Moiss ajudando-o e se preparando para cuidar do ministrio depois de sua partida. "Sucedeu, depois da morte de Moiss, servo do Senhor, que este falou a Josu, filho de Num, servidor de Moiss, dizendo: Moiss, meu servo, morto; dispe-te, agora, passa este Jordo, tu e todo este povo, terra que eu dou aos filhos de Israel" (Js 1.1, 2). O Antigo Testamento fornece ampla evidncia de que o treinamento ministerial no era uma novidade nos dias de Jesus. No momento de abordar seus discpulos com essa idia, estes sabiam o que isso significava e se regozijaram diante da oportunidade que Jesus lhes oferecia. No tinham a menor idia de tudo o que lhes aconteceria, mas alegraram-se e sentiram-se honrados com o convite que lhes fora feito. Anos depois, quando a f crist se espalhou sob a liderana daqueles homens, o processo continuou. Pedro estava acompanhado de alguns homens quando foi casa de Cornlio: "O Esprito me disse que no hesitasse em ir com eles. Estes seis irmos tambm foram comigo, e entramos na casa de um certo homem" (At 11.12). Mais tarde, o apstolo Paulo deu continuidade a esse ministrio de treinamento de homens que com ele se associaram. "Sendo acompanhado por Spatro, filho de Pirro, de Beria; Aristarco e Secundo, de Tessalnica; Gaio, de Derbe; e Timteo, alm de Tquico e Trfimo, da provncia da sia" (At 20.4). Escrevendo pela ltima vez a Timteo, Paulo lembrou-o das coisas que com ele compartilhara: "Voc tem seguido de perto o meu ensino, a minha conduta, o meu propsito, a minha f, a minha pacincia, o meu amor, a minha perseverana..." (2 Tm 3.10) O efeito do ministrio de formao de discpulos sobre os homens poderoso, dramtico e transformador. quase inacreditvel a transformao vista na vida dos doze apstolos. certamente um dos maiores milagres das Escrituras. V-los saindo das praias humildes da Galilia para o centro sofisticado de Jerusalm, e mais, v-los discutirem no respeitvel sindrio de Jerusalm um dos maiores milagres do discipulado que tiveram com Jesus. O Antigo Testamento registra um fenmeno semelhante. Davi acolheu ao seu 12. lado um bando de homens perseguidos, descontentes e desanimados, tornando-se o chefe de todos eles. Depois de algum tempo, aqueles homens comearam a ser transformados. Associando-se a Davi e servindo sob suas ordens, tornaram-se os grandes heris daqueles dias. Davi conseguiu transmitir seu esprito de guerra e de vitria queles homens. Foram transformados em guerreiros hericos e bravos, e seus feitos entraram para a histria. A Bblia nos diz: "So estes os principais valentes de Davi, que o apoiaram valorosamente no seu reino, com todo o Israel, para o fazerem rei, segundo a palavra do Senhor, no tocante a esse povo" (1 Cr 11.10). O restante do captulo registra os feitos desses homens fortes, valentes e corajosos. A transformao na vida desses homens foi tambm um milagre, pois agarraram-se a Davi e o fizeram rei de Israel. Todo pastor tem em sua congregao homens que so meros espectadores do reino de Deus. No entanto, esses homens, se receberem ajuda, estaro dispostos a se envolver de todo corao com o pastor no ministrio. Mas o pastor precisa pagar um preo. Esses homens precisam de seus sermes e de seus ensinamentos, mas o pastor ter tambm de compartilhar sua vida com eles. E h um preo a ser pago. O apstolo Joo disse: "Nisto conhecemos o que o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por ns, e devemos dar a nossa vida por nossos irmos" (1 Jo 3.16). No vale a pena? Quais os resultados ou dividendos desse tipo de ministrio? Jesus escolheu doze homens para que andassem com Ele e fossem enviados a pregar. O treinamento dos doze tinha dois propsitos: primeiro, torn-los teis a Ele, ajudando-o em sua misso; segundo, que continuassem a obra depois que Ele partisse. Eles seriam enviados a pregar ao alto escalo poltico e religioso dos judeus, aos filsofos de Atenas, aos adoradores de dolos, aos brbaros, aos soldados romanos a todos quantos quisessem ouvi-los. Jesus estava ciente de que o treinamento teria de muito profundo, pois aqueles homens enfrentariam toda sorte de oposio. Seriam apedrejados nas ruas, violentamente surrados e lanados nas prises. Por isso a preparao era to vital. Um treinamento superficial e uma entrega parcial no suportariam as provaes. Foram salvos para salvar a outros, mas a estrada que iriam palmilhar era pedregosa e cheia de espinhos. O princpio da instruo Alm de fazer daqueles homens seus discpulos, levando-os a participar com Ele no dia-a-dia de seu ministrio, Jesus dedicava tempo instruo dos doze. "Ele lhes disse: "A vocs foi dado o mistrio do Reino de Deus, mas aos que esto fora tudo dito por parbolas" (Mc 4.11). Eles estavam cientes de seu compromisso. "Eu os estou enviando como ovelhas entre lobos. Portanto, sejam astutos como as serpentes e sem malcia como as pombas. Tenham cuidado, pois os homens os entregaro aos tribunais e os aoitaro nas sinagogas deles. Por minha causa vocs sero levados presena de governadores e reis como testemunhas a eles e aos gentios" (Mt 10.16-18). Jesus sabia que no seria assim to fcil. Ele os preparou para enfrentai" oposio e rejeio. "E, se algum povoado no os receber nem os ouvir, sacudam a poeira dos seus ps quando sarem de l, como testemunho contra eles" (Mc 6.11). bem melhor quando os homens sabem que no podem entrar no treinamento do discipulado com a cabea nas nuvens. Quando Jesus escolheu a Paulo, deu, por intermdio de Ananias, um vislumbre do que o esperava no fim do caminho. Dizendo a Ananias o que teria de dizer a Paulo, assim Jesus se manifestou: "V! Este homem meu instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e seus reis, e perante o povo de Israel. Mostrarei a ele o quanto deve sofrer pelo meu nome" (At 9.15,16). Quando treinar discpulos e trabalhadores em potencial, deixe-os enfrentar algumas das tribulaes e lutas que voc enfrentou ou enfrenta no ministrio. Fale das vezes em que voc foi rejeitado e expulso de certos lugares. Conte-lhes sobre o custo do discipulado. Dawson Trotman, fundador dos Navegadores, costumava nos levar a um lugar retirado, onde falava das lutas e vitrias de seu ministrio, sempre apontando para Deus, que nos d a vitria. Suas lutas sempre terminavam com grandes vitrias. O versculo que mais gostava de compartilhar conosco era: "Toda arma forjada contra ti no prosperar; toda lngua que ousar contra ti em juzo, tu a 13. condenars; esta a herana dos servos do Senhor e o seu direito que de mim procede, diz o Senhor" Is 54.17). Jesus falou aos seus discpulos: "Vocs no me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permanea, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome" (Jo 15.16). Jesus treinava os seus discpulos no ardor da batalha. s vezes levava-os a algum lugar especial, mas o treinamento se dava no "campo". Participavam ativamente de seu ministrio. Joo guardava na memria a cena daqueles dias: "O que era desde o princpio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mos apalparam isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. A vida se manifestou; ns a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocs a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada" (1 Jo 1.1,2). Jesus estava disposio de seus homens. A Palavra eterna se tornou audvel, visvel e tangvel. Eles viviam prximos de Jesus. Foram escolhidos para estar com Ele, com o objetivo grandioso de serem preparados para o ministrio. Era um treinamento direcionado, a fim de que o fruto deles fosse permanente. Ele no os escolheu para que vivessem reclusos, em comunho apenas entre eles, por isso o treinamento no foi num "mosteiro", mas onde a batalha se travava. Nesse sentido, cometi muitos erros. Tentei treinar discpulos reunindo-os uma vez por semana num lugar tranqilo, para conversar sobre a vida crist, ministrando-lhes algumas lies suplementares em seminrios ou em reunies especiais. No funcionou. Aqueles que estavam ao meu lado nos momentos de dificuldades e de lutas do ministrio, no campo da batalha, onde se perde e se ganha, so hoje pessoas frutferas para Deus. Com alegria observo os frutos do ministrio delas. Concluindo, trs coisas so obrigatrias quele que quer treinar discpulos corajosos, fortes, leais e produtivos no ministrio de Jesus Cristo: 1. Saber com clareza o que transmitir aos discpulos, entender o propsito de Deus e saber quais os ingredientes bsicos do discipulado. 2. Ter uma viso ampla e completa do que espera desses homens. Conhecer os elementos fundamentais do carter cristo, e o tipo de pessoas que os discpulos devem ser. 3. Ter uma viso clara do que esses homens precisam aprender a fazer e um plano funcional no qual estejam envolvidos. Vimos neste captulo a maneira como Jesus trabalhou com seus apstolos, e tivemos uma viso clara dessa prtica no Antigo Testamento. Todos costumavam selecionar cuidadosamente seus seguidores; usavam o princpio de estar "com eles" o conceito de associao e exemplo, e juntos separavam tempo para uma instruo slida, clara e eficaz. O que mais nos empolga que nenhuma dessas coisas est fora do alcance do crente comum. Todos ns podemos partilhar com algum o que aprendemos e podemos orar para que nossa vida seja um exemplo de maturidade, ajudando as pessoas a crescer na devoo a Cristo, para que sejam eficientes na causa do Mestre. CAPTULO 3 FAZENDO DISCPULOS NA IGREJA PRIMITIVA Eles se dedicavam ao ensino dos apstolos e comunho, ao partir do po e s oraes (At 2.42). Meu pai era mestre-carpinteiro e construiu muitas casas na cidade onde nasci. Era um operrio altamente qualificado e primava pelos detalhes. No entanto, no nasci com suas habilidades. J trabalhei numa equipe de carpinteiros, mas nunca tive muito sucesso com a profisso. Na realidade, no sei como os construtores conseguem colocar em p aquelas casas de madeira. Fico admirado vendo os prdios serem edificados e pasmado com a ateno que se d s fundaes. Parece que a equipe de trabalhadores inoperante, pois chega a gastar meses trabalhando na escavao do solo. Quanto maior o edifcio, mais tempo gastam trabalhando na fundao que suportar toda a estrutura. Cerca de dois mil anos atrs, Jesus comeou um movimento que se espalharia pelos confins da Terra. Seu Evangelho deveria ser pregado ao mais humilde trabalhador e ao nobre palaciano. Deveria cobrir todo o mundo com as boas novas 14. de salvao a todos os homens. O exemplo e o comissionamento de Jesus O ministrio de Jesus durou pouco mais de trs anos. A chave de trabalho foi o treinamento dos Doze, denominados apstolos. Esse treinamento foi o fundamento de todo o seu ministrio, e na maior parte do tempo Jesus esteve concentrado nesses homens. Ele sabia que o sucesso de seu trabalho dependeria da dedicao, lealdade, coragem e f das pessoas que escolhera e treinara. Esse aspecto causou forte impresso em minha vida logo que me converti. Participei de uma conferncia em que, numa das mensagens, o preletor enfatizou a importncia desses homens na vida de Jesus, e contou-nos uma histria que mexeu com nossa imaginao. Falou do retorno de Jesus ao cu sua ascenso e a empolgao dos anjos quando o viram chegar. Como bom orador, ele retratou a cena. Contou-nos de um anjo que fez a Jesus a seguinte pergunta, logo de sua chegada ao cu: "Que planos voc tem para dar continuidade ao trabalho que comeou na Terra?" Sem hesitar, Jesus respondeu: "Deixei a tarefa nas mos dos apstolos". Outro anjo perguntou: "E se eles fracassarem?" Sem titubear, Jesus respondeu: "No tenho plano alternativo algum". O preletor fez questo de afirmar que era apenas uma histria, mas conseguiu nos comunicar sua mensagem. O futuro do cristianismo, na Terra cresceria ou diminuiria sob o ministrio desses homens. As ltimas palavras de Jesus aos seus discpulos foram: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vs o Esprito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalm como em toda a Judia e Samaria e at aos confins da terra" (At 1.8 - ARA). As palavras e sereis minhas testemunhas so a chave para a propagao da misso de Jesus no livro de Atos. A estratgia expansionista deveria comear por Jerusalm, depois Judia e Samaria, e finalmente at os confins da Terra. Que reao os apstolos tiveram a esse comissionamento? O que se passava na mente deles? Certamente imaginaram que a misso que Jesus tinha para eles era, de fato, enorme. Era um vasto mundo, com gente e idiomas diferentes. Quem dentre eles saberia falar aos partos e medos? Algum sabia falar o idioma da Mesopotmia e da Capadcia? Se essa era a preocupao deles, estavam errados. Jesus sempre tinha um plano. Ele dissera aos seus discpulos: "No saiam de Jerusalm, mas esperem pela promessa de meu Pai, da qual lhes falei. Pois Joo batizou com gua, mas dentro de poucos dias vocs sero batizados com o Esprito Santo" (At 1.4, 5). O dia de Pentecostes A promessa da vinda do Esprito Santo cumpriu-se dez dias depois da ascenso de Jesus. Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num s lugar. De repente veio do cu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia lnguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Esprito Santo e comearam a falar noutras lnguas, conforme o Esprito os capacitava (At 2.1-4). Durante a festa de Pentecostes como em outras festas judaicas os judeus das naes prximas vinham para Jerusalm. Ficavam para a festa, alegravam-se com a bondade e com as bnos de Deus e regressavam. Esta festa no era diferente, mas nela aconteceu um elemento surpresa. Os apstolos, por terem sido cheios do Esprito Santo e recebido capacitao para falar em outras lnguas, estavam nas ruas de Jerusalm, pregando o Evangelho. Havia em Jerusalm judeus, tementes a Deus, vindos de todas as naes do mundo. Ouvindo-se o som, ajuntou-se unia multido que ficou perplexa, pois cada um os ouvia falar em sua prpria lngua. Atnitos e maravilhados, eles perguntavam: "Acaso no so galileus todos estes homens que esto falando? Ento, como os ouvimos, cada um de ns, em nossa prpria lngua materna? Partos, medos e elamitas; habitantes da Mesopotmia, Judia e Capadcia, do Ponto e da provncia da sia, Erigia e Panflia, Egito e das partes da Lbia prximas a drene; 15. visitantes vindos de Roma, tanto judeus como convertidos ao judasmo; cretenses e rabes. Ns os ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa prpria lngua!" (At 2.5-11) O povo de Jerusalm ficou extasiado. Muitos deles estavam acostumados a participar das festas e nunca tinham visto uma coisa dessas. Para alguns, os apstolos estavam bbados. Ouvindo essa acusao, Pedro se levantou e pregou o primeiro sermo registrado no livro de Atos. Em resposta queles acusadores, Pedro cita um texto das Escrituras. Um pescador galileu, sem muito conhecimento de gramtica, levanta-se no centro de Jerusalm, ergue a voz e enche as ruas com a mensagem do Cristo ressurreto. Como lhe ocorreu responder aos zombadores usando um texto das Escrituras? A resposta bvia: havia andado com Jesus mais de trs anos e o ouvira responder tantas vezes aos crticos. Vivera trs anos com Aquele que freqentemente citava as Escrituras. Pedro aprendera muito bem sua lio e agora citava um texto do profeta Joel (2.28-32). Pedro foi logo ao centro da questo a mensagem do Evangelho: Israelitas, ouam estas palavras: Jesus de Nazar foi aprovado por Deus diante de vocs por meio de milagres, maravilhas e sinais que Deus fez entre vocs por intermdio dele, como vocs mesmos sabem. Este homem lhes foi entregue por propsito determinado e pr-conhecimento de Deus; e vocs, com a ajuda de homens perversos, o mataram, pregando-o na cruz. Mas Deus o ressuscitou dos mortos, rompendo os laos da morte, porque era impossvel que a morte o retivesse (At 2.22-24). Pregou uma mensagem sobre o Cristo crucificado e ressuscitado, luz das Escrituras, comprovando o que dizia. Os resultados foram tremendos. "Quando ouviram isso, ficaram aflitos em seu corao, e perguntaram a Pedro e aos outros apstolos: 'Irmos, que faremos?'" (At 2.37) O teste de uma mensagem no se boa ou ruim, mas se Deus a usa. A bno de Deus est nela? Aqui Deus abenoou tremendamente, pois trs mil pessoas responderam ao Evangelho (At 2.41). A seguir vem uma das declaraes mais interessantes das Escrituras: "Eles (os convertidos) se dedicavam ao ensino dos apstolos e comunho, ao partir do po e s oraes" (At 2.42). O que fascina nessa passagem o que no est registrado. O que aconteceu entre os versculos 41 e 42? O que fizeram os apstolos para manter esse povo em singela comunho? Voc j tentou realizar uma reunio com novos convertidos, depois de uma campanha evangelstica ou de alguma reunio especial? Quantos compareceram? Provavelmente poucos. Mas os apstolos, depois de treinados por Jesus, tiveram grande sucesso. Como isso foi possvel? O ministrio do acompanhamento Os apstolos viram-se, de repente, com trs mil novos convertidos diante deles. O que essa gente pretendia fazer? Possivelmente o que sempre fizeram participar da festa e voltar para suas casas, espalhadas por todo o mundo. Mas os apstolos tinham outros planos. Qual era seu comissionamento? Conseguir convertidos? No. Sua misso (e a nossa) era fazer discpulos (Mt 28.19). Jesus deixara isso bem claro, e eles o ouviram falar de discipulado muitas vezes, conheciam o padro de exigncia de Jesus e o que Ele esperava de seus seguidores. Os padres de Jesus Se vocs permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocs, pediro o que quiserem, e lhes ser concedido. Meu Pai glorificado pelo fato de vocs darem muito fruto; e assim sero meus discpulos (Jo 15.7, 8). Disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: "Se vocs permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente sero meus discpulos. E conhecero a verdade, e a verdade os libertarei" (Jo 8.31, 32). Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocs 16. devem amar-se uns aos outros. Com isso todos sabero que vocs so meus discpulos, se vocs se amarem uns aos outros (Jo 13.34, 35). Se algum vem a mim e ama o seu pai, sua me, sua mulher, seus filhos, seus irmos e irms, e at sua prpria vida mais do que a mim, no pode ser meu discpulo. E aquele que no carrega sua cruz e no me segue no pode ser meu discpulo (Lc 14.26, 27). Da mesma forma, qualquer de vocs que no renunciar a tudo que possui no pode ser meu discpulo (Lc 14.33). Os planos de Jesus O que os apstolos deveriam fazer com os novos convertidos? Esperar at que esses trs mil novos crentes que visitavam Jerusalm voltassem para suas cidades? Creio que no. Num dos encontros de Jesus com os discpulos, depois de haver ressuscitado, Ele fez a Pedro algumas perguntas diretas. Depois de comerem, Jesus perguntou a Simo Pedro: "Simo, filho de Joo, voc me ama mais do que estes?" Disse ele: "Sim, Senhor, tu sabes que gosto muito de ti". Disse Jesus: "Cuide dos meus cordeiros". Novamente Jesus disse: "Simo, filho de Joo, voc realmente me ama?" Ele respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que gosto muito de ti". Disse Jesus: "Pastoreie as minhas ovelhas". Pela terceira vez, ele lhe disse: "Simo, filho de Joo, voc me ama?" Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez "Voc me ama?" e lhe disse: "Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que gosto muito de ti". Disse-lhe Jesus: "Cuide das minhas ovelhas" (Jo 21.15-17 -parfrase). A primeira coisa que Jesus pediu a Pedro foi que alimentasse suas ovelhas e cordeiros. Portanto, ali estavam trs mil novos cordeiros, recm-nascidos para o reino de Deus, e a ordem de Jesus para que fossem alimentados e discipulados. A atividade dos apstolos Com o objetivo de prover alimentao e hospedagem aos que precisavam ser alimentados e discipulados os que originalmente no pretendiam ficar em Jerusalm por muito tempo , os apstolos decidiram tomar algumas decises urgentes. Criaram condies para que os novos convertidos ficassem e recebessem o treinamento ps-converso, e fossem ajudados em suas necessidades. Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias, continuavam a reunir-se no ptio do templo. Partiam o po em suas casas, e juntos participavam das refeies, com alegria e sinceridade de corao, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos (At 2.44-47). Nos registros seguintes do livro de Atos esses novos convertidos no so muito visveis, mas devem ter sido como crianas numa famlia, observando tudo, ouvindo atentamente, e depois a tudo imitando. O nmero deles comeou a crescer, e numa outra ocasio mais cinco mil foram acrescentados (At 5.14). Exemplos para os novos convertidos medida que milhares eram trazidos para o reino, o que acontecia com os novos convertidos? Viam os apstolos sendo surrados, ameaados e lanados nas prises por causa do testemunho de Cristo (At 4.17; 5.18, 40). Observavam como os apstolos pregavam o Evangelho em todas as oportunidades (At 3.14, 15; 4.10, 33; 5.30, 31). Estavam presentes quando os apstolos reagiram com alegria diante da perseguio que lhes foi imposta. "E eles se retiraram do Sindrio regozijandose por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome" (At 5.41 - ARA). Ouviam atentamente os apstolos ensinarem a Palavra de Deus: "Todos os dias, no templo e de casa em casa, no deixavam de ensinar e proclamar que Jesus o Cristo" (At 5.42). 17. Qual o efeito de todas essas coisas na vida desses discpulos em fase de crescimento? Que lies aprenderam? As respostas parecem bvias, medida que os vemos agindo como discpulos e obreiros no corpo de Cristo. O treinamento dos apstolos foi bem assimilado. Eram como gravadores de fita cassete, gravando tudo o que ouviam. Logo estariam levando a mensagem a todas as partes do mundo. A hora do teste E ento chegou o momento de serem provados. Depois da morte de Estvo, uma tremenda perseguio sobreveio a toda a igreja. "Naquela ocasio desencadeou-se grande perseguio contra a igreja em Jerusalm. Todos, exceto os apstolos, foram dispersos pelas regies da Judia e de Samaria" (At 8.1). bom observar que esse acontecimento o passo seguinte para o cumprimento da grande comisso dada em Atos 1.8. Todos foram dispersos, menos os apstolos. Por que no foram dispersos? Por haverem recebido apoio religioso de Gamaliel que declarara: "Deixem esses homens em paz e soltem-nos. Se o propsito ou atividade deles for de origem humana, fracassar; se proceder de Deus, vocs no sero capazes de impedi-los, pois se acharo lutando contra Deus" (At 5.38,39). Os lderes religiosos concordaram com ele, no entanto no havia proteo para os crentes comuns, por isso fugiram, mas no em disparada correria. "Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra" (At 8.4 - ARA). Por que fizeram isso? Por que saram por toda parte pregando a palavra? Por haverem se convertido numa atmosfera de testemunho e percebido que era a coisa mais natural que poderiam fazer. Era como entendiam o cristianismo. Aprenderam e viram o testemunho de seus lderes, por isso agiram dessa forma. Precisamos levar esse ponto a srio se quisermos fazer discpulos nos dias de hoje. Se quisermos uma certa atitude na vida das pessoas com as quais estamos trabalhando, temos de levar em conta o poder do exemplo pessoal. Esses novos crentes apenas seguiram o exemplo de seus lderes. O ministrio de Filipe O Esprito de Deus, ento, nos leva a olhar para um desses homens, um dicono. "Indo Filipe para uma cidade de Samaria, ali lhes anunciava o Cristo" (At 8.5). Iremos encontr-lo pregando o nome de Cristo naquela regio, e "houve grande alegria naquela cidade" (At 8.8). Mais tarde, encontramos Filipe testemunhando a um homem que viajava numa carruagem. "Ento Filipe, comeando com aquela passagem da Escritura, anuncioulhe as boas novas de Jesus" (At 8.35). Filipe seguiu o exemplo dos apstolos. Tornou-se uma testemunha efetiva do nome de Jesus. O treinamento que tivera levou-o a ser um obreiro responsvel. Outros ministrios Algumas pessoas que estavam em Jerusalm no dia de Pentecostes eram de Cirene (At 2.10), receberam o Evangelho e foram treinadas pelos apstolos. Depois que foram dispersas por causa da perseguio, reaparecem pregando em outro lugar. Os que tinham sido dispersos por causa da perseguio desencadeada com a morte de Estvo chegaram at a Fencia, Chipre e Antioquia, anunciando a mensagem apenas aos judeus. Alguns deles, todavia, cipriotas e cinereus foram a Antioquia e comearam a falar tambm aos gregos contando-lhes as boas novas a respeito do Senhor Jesus. A mo do Senhor estava com eles, e muitos creram e se converteram ao Senhor (At 11.19-21). Vemos que os que foram dispersos pregavam o Senhor Jesus, tinham um poderoso testemunho e a mo do Senhor estava com eles. A mensagem era bem simples: pregavam a Cristo, e muitos creram. O interesse contnuo dos apstolos Outro fato precisa ser observado no treinamento desses discpulos. Foram dispersos, mas os apstolos no os abandonaram, pelo contrrio acompanharam aqueles discpulos com orao e cuidados: Notcias desse fato chegaram aos ouvidos da igreja em Jerusalm, e eles enviaram 18. Barnab a Antioquia. Este, ali chegando e vendo a graa de Deus, ficou alegre e os animou a permanecerem fiis ao Senhor, de todo o corao. Ele era um homem bom, cheio do Esprito Santo e de f; e muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor (At 11.22-24). Um importante princpio para o treinamento emerge desse texto. Essas pessoas moravam longe de Jerusalm, mas no foram esquecidas. Quando ficou evidente que precisavam de ajuda ministerial, os apstolos trataram de cuidar de suas necessidades. Resumo da aplicao Agora que j vimos o ministrio dos apstolos depois da ascenso de Jesus e o subseqente trabalho dos discpulos por eles treinados, podemos verificar que muito do que fizeram pode ser aplicado s nossas vidas e ministrios. Alguns pastores me perguntam: "Voc cr que esse treinamento de discipulado funciona na igreja de hoje?" Minha resposta sempre a mesma: funcionou na igreja de Jerusalm e tambm na igreja de Antioquia. Essa prtica teve incio na igreja do Novo Testamento, cresceu e fez as igrejas prosperarem. No h por imaginar que no funcionaria na igreja de hoje. A Grande Comisso a mesma. A mensagem do Evangelho tambm Ns ministramos no poder do mesmo Esprito Santo. Temos a mesma Palavra de Deus e a promessa que Jesus deixou aos seus discpulos: "Eu estarei sempre com vocs, at o fim dos tempos" (Mt 28.20). Ento, qual o problema em nossos dias? Por que no vemos essa prtica na Igreja? Por que so to raros os discpulos produtivos, dedicados e maduros? A razo principal que dependemos de programas e materiais, ou de outros mtodos, para fazermos a obra. O ministrio deve continuar atravs de pessoas, no de programas. Deve ser levado adiante por algum, no por coisas. Discpulos no so produzidos em massa nem em srie. No podemos "jogar" a pessoa dentro de um programa e esperar que ela saia como discipulado no fim da linha de montagem. Fazer um discpulo demanda tempo. Precisamos dedicar-lhe ateno espiritual e nos envolvermos com ele. Passar horas orando por ele. Precisamos pacincia e entendimento para ensin-lo a buscar por si mesmo a riqueza da Palavra de Deus; pacincia at que se alimente sozinho e saiba buscar no Esprito Santo o poder para viver. Acima de tudo, precisamos ser exemplo de vida para cada um, o que tambm leva tempo. O exemplo deixado por Paulo Fazer discpulos exige tempo e trabalho, mas os resultados so permanentes. O apstolo Paulo um exemplo de como esse trabalho demorado e do alto custo disse ministrio. Ele acabara de sair numa viagem missionria, e Deus o abenoara grandemente. Muitos se converteram ao Senhor. Milhares ouviram o evangelho. Ele quase perdera a vida, mas naquela viagem, depois de ser apedrejado e deixado como morto, retornou aos mesmos lugares onde enfrentara tanta oposio, Fortalecendo os discpulos e encorajando-os a permanecer na f" (At 14.22). Depois de sua viagem missionria, Paulo retornou para Antioquia. Algum tempo depois, preocupado com o estado espiritual dos irmos, ele convidou Barnab, e ele props uma nova viagem: "Voltemos para visitar os irmos em todas as cidades onde pregamos a palavra do Senhor, para ver como esto indo" (At 15.36). Sempre falamos dessa viagem como a segunda viagem missionria de Paulo, mas na realidade essa foi a primeira viagem de discipulado intensivo que ele fez. "Passou, ento, pela Sria e pela Cilcia, fortalecendo as igrejas" (At 15.41). Depois de uma viagem longa e difcil, retornou a Antioquia. O Esprito de Deus falou-lhe ao corao, e ele partiu em nova misso. "Depois de passar algum tempo em Antioquia, Paulo partiu dali e viajou por toda a regio da Galcia e da Frgia, fortalecendo todos os discpulos" (At 18.23). Claro que isso exigiu dele tempo e energia, mas o apstolo Paulo era um formador de vidas. Numa carta escrita anos depois, Paulo expe esse tipo de ministrio. Falando de Jesus, disse: 19. Ns o proclamamos, advertindo e ensinando a cada um com toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo. Para isso eu me esforo, lutando conforme a sua fora, que atua poderosamente em mim (Cl 1.28, 29). Veja cuidadosamente. Ele trabalhava e lutava com todas as foras que Deus lhe dava. O que fazia Paulo? Conduzia pessoas a Cristo e as levava maturidade. O processo era difcil e exigia dele muita energia. Certa ocasio, falando queles que trabalhavam na causa de Cristo, disse: "Por isso, vigiem! Lembre-se de que durante trs anos jamais cessei de advertir cada um de vocs disso, noite e dia, com lgrimas" (At 20.31). E fazia o mesmo com os irmos de Tessalnica: Pois vocs sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos, exortando, consolando e dando testemunho, para que vocs vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glria (1 Ts 2.11,12). Assim, terminamos de ver, de forma concisa, o ministrio levado a efeito pelos apstolos escolhidos por Jesus. Eles exerciam seu ministrio sendo aoitados, levados para as prises, sob ameaas, em meio a terremotos, naufrgios, compl de mortes, milagres e a muitas outras coisas, subindo e descendo as montanhas e navegando pelo mundo mediterrneo. O Diabo tentou de tudo para faz-los desistir, mas agentaram firmes! A ordem foi bem clara: "Vo e faam discpulos" (Mt 28.19), e foi exatamente isso que fizeram. Mostraram firmeza, dedicao, estabilidade e abundaram na obra do Senhor. CAPTULO 4 PESSOAS AJUDAM PESSOAS Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra, para que eu no a destrusse; mas a ningum achei (Ez 22.30). Em qualquer congregao encontramos todo tipo de interessados na obra do Senhor. Alguns no passam de meros espectadores; gente que vem apenas para olhar e ouvir. Esto ali por vrias razes: por hbito senso de dever cumprido, presso dos amigos, contatos comerciais, ou apenas para fazer amigos. Alguns so crentes, levados pela multido, outros descrentes, mas todos esto no culto da igreja. Ao lado desses, existem os participantes, pessoas que se dispem a fazer alguma coisa na igreja; em alguns casos, fazem o melhor que podem. Ajudam na escola dominical, recepcionam as pessoas no culto ou ajudam em outros departamentos da congregao. Alguns at ensinam na escola dominical ou se envolvem em vrios servios e atividades. Esses ajudantes so a espinha dorsal da igreja; sem eles ela no existiria. Por isso, quando falamos em discipulado na igreja, no podemos negligenciar essas pessoas nem a atividade que exercem. A igreja deve oferecer os mais diversos tipos de atividades, dando a cada um a sensao de sentir-se em casa. A escola dominical precisa continuar a funcionar com classes para todas as idades, e a igreja deve promover atividades nas quais as pessoas se sintam bem. Mesmo assim, essas pessoas esto ali desde o comeo, fazendo a mesma coisa. Elas no podem ser ajudadas por coisas; tm de ser ajudadas por algum. Numa de nossas mudanas, adquirimos uma casa que no tinha jardim; a frente e os fundos eram de terra batida. Um amigo nosso comprou as leivas de grama, e o vizinho ao lado fez o mesmo, comprando-as da mesma empresa. Quando colocadas, o jardim ficou lindssimo, tanto que a empresa usou nossos dois gramados como comercial em suas vendas. Nosso vizinho decidiu irrigar seu gramado com um sistema subterrneo, que foi instalado antes de a grama ser colocada. Eu comprei uma mangueira e a entreguei para minha esposa, Virgnia. Assim, uma loira aguava o meu jardim, enquanto meu vizinho apenas ligava e desligava os controles do sistema de irrigao. Depois de quatro anos, o gramado de meu vizinho voltou ao que era antes terra cheia de ervas daninhas. Nossa grama continuava esplendorosamente verde. 20. Qual era a diferena? O cuidado pessoal. Sempre que uma parte do gramado amarelava, Virgnia dava especial ateno irrigando-o parte. O sistema automtico no permitia que se desse ateno ao gramado, depois que alguns regadores enferrujaram ou entupiram com terra, certas partes do jardim no recebiam gua alguma. Logo, a grama secou e ficou destruda, enquanto do nosso lado tudo era verde. No se pode deixar um jardim merc de um sistema de irrigao, num clima to seco como o nosso, esperando que tudo fique verde. Cada leiva de grama precisa de cuidados especiais. Isto tambm verdadeiro com respeito s pessoas. Cada um de ns tem necessidades especiais que s podem ser preenchidas por outras pessoas. Nenhum sistema ou programa, mesmo que funcione maravilhosamente, atender s necessidades humanas. Por sermos indivduos, temos necessidades individuais que podem ser supridas apenas por pessoas. Existe o perigo de no reconhecermos que alguns no esto preparados, ou no querem o treinamento do discipulado. Alguns pastores, ao descobrirem o ministrio efetivo do discipulado, no af de iniciarem uma nova vida na igreja, dispensam alguns elementos ou os levam a imaginar que so pessoas do segundo escalo no reino de Deus. Outros so muito apressados e admitem no grupo de discipulado pessoas desqualificadas, quando as demandas so muito grandes, e nem todos conseguem a mesma performance no grupo. Algumas pessoas no conseguem atingir um bom desempenho e saem feridas no processo. Para que haja sucesso eficaz, a igreja deve adaptar-se de diversas maneiras, a fim de atender s necessidades dos no convertidos, dos novos crentes, dos crentes mornos e dos mais comprometidos. Para que algum se envolva no ministrio do discipulado e para se torne um discpulo, trs coisas so necessrias logo no comeo. A motivao do discipulado e o envolvimento das pessoas O primeiro passo, quando se quer comear um grupo de discipulado, a motivao. As pessoas devem ser motivadas em duas direes: interna e externa. A motivao interna a que leva as pessoas a se comprometerem com o Senhor Jesus Cristo; a externa a que as leva a testemunhar por Jesus Cristo. Todo esse processo deve ser executado debaixo de muita orao e reflexo, da mesma maneira que um novo prdio precisa ser bem planejado antes de ser edificado. Nossa igreja sabia da necessidade de se expandir a rea educacional, e isso foi comunicado aos irmos em todas as classes da escola dominical. Devido ao crescimento, tivemos de remanejar algumas classes, e a minha foi uma delas. Nossa classe de adultos tinha espao de sobra, por isso trocamos de sala com outro grupo. No entanto, isso foi tratado com meses de antecedncia, de sorte que quando chegou o dia da mudana, todos sabiam o que fazer. A princpio, sentimo-nos um tanto deslocados na nova sala, mas com o tempo nos acostumamos. Afinal, paga-se um preo pelo progresso. A escola dominical crescia, e Deus estava nos abenoando. Depois ficamos sabendo que havia se formado uma comisso para estudar a construo de novas salas. Levando em conta as possibilidades e alternativas, foi mencionado que a nova edificao ocuparia o espao das salas existentes. A troca de idias durou meses, e de vez em quando tnhamos um relatrio da comisso de construo pondo-nos a par das decises. Durante todo o processo, a congregao ficou ciente da necessidade de novos prdios. A igreja continuava a crescer, a situao ficava cada vez mais difcil, e a necessidade de expanso, urgente. Finalmente veio a deciso: vamos construir! Alguns membros achavam que no era preciso, mas a maioria tinha certeza de que este era o caminho. Fizemos um jantar, e quando levantamos as ofertas, todos os recursos surgiram. Naquela noite conseguimos todo o dinheiro! As pessoas tm um corao bondoso. Agora, o que teria acontecido se, de repente, sem que ningum soubesse, sem planejamento ou dilogo, durante um culto da igreja o pastor fizesse um apelo pedindo que os irmos se comprometessem a dar ofertas para a construo? Seramos pegos de surpresa com a novidade, e alguns, que costumam resistir a tudo que repentino ou sem consulta prvia, logo se oporiam. Se a igreja no fosse preparada, o povo no responderia positivamente. Se um pastor quiser comear um trabalho de discipulado em sua igreja, deve planejar e discutir com alguma antecedncia. O certo faz-lo lentamente, sem pressa, e no com um monte de gente ao mesmo tempo. Os espectadores esto l e 21. alguns querem continuar assim. Motivar as pessoas ao discipulado pode ser um projeto empolgante. Voc poder notar, no tempo certo, os que demonstram interesse no discipulado: So aqueles que sabem que precisam gastar tempo com a Palavra de Deus, estudando-a, memorizando-a e estabelecendo um tempo dirio de orao. (A forma para incutir isso na vida de seus discpulos est no captulo 5). Comunho com o Senhor Depois de observar se as pessoas de sua igreja tm interesse no discipulado, voc pode comear uma outra campanha, desta vez usando o tema da comunho com o Senhor como partida. Voc deve ter como alvo o surgimento de um grupo forte, formado por pessoas que demonstrem profundo interesse no estudo da Palavra de Deus e na vida de orao; pessoas em que a vida de Cristo flui com seu poder redentor e contagiam todos ao seu redor. Isso s ser possvel depois de se certificar de que os membros de sua igreja no dependem mais de seu sermo dominical para serem alimentados, mas que conseguem alimentar-se atravs do estudo dirio da Palavra de Deus. Certa vez, viajei com minha famlia de Fort Lauderdale at Tampa, na Flrida, e fiquei impressionado com o nmero de fazendas onde os laranjais desaparecem de vista, curvados com o peso das frutas. Paramos para dormir num hotel no condado de Orange. Pela manh, no restaurante do hotel, pedi suco de laranja e ovos. A garonete voltou instantes depois, se desculpando: "Lamento, mas nossa mquina de espremer laranjas quebrou". A princpio perdi a fala. Sabia que estvamos cercados por milhares de ps de laranja e que havia laranjas na cozinha (colocaram fatias de laranjas na decorao do prato que trouxeram), mas no tinham como fazer suco de laranja para o meu caf da manh. Refleti sobre o caso. Qual era o problema? No havia suco de laranja? Estvamos em meio a milhes de litros de suco de laranja que no haviam sido processados. O problema que a garonete se tornara dependente do espremedor de frutas. Agora que estava quebrado, ela no sabia como preparar um copo de suco! isso que acontece com alguns crentes: tm Bblias por todos os cantos da casa, mas, se o pastor no puder pregar no culto dominical, voltam para casa sem alimento espiritual. No conseguem alimentar suas almas. Se ningum se levantar, abrir as Escrituras e lhes trouxer uma mensagem da Palavra de Deus, regressam famintos! O problema no que a despensa do cu esteja vazia, e no haja alimento espiritual; o problema que os crentes, por si s no sabem encontrar alimento. So como bebs, cercados por latas e vidros cheios de alimento carnes, frutas e vegetais , mas que morrem de fome se ningum lhes oferecer a comida. Jesus, depois de ressuscitar, pediu a Pedro que alimentasse seus cordeiros e ovelhas, deixando implcita a idia de que deveria conduzir o rebanho para que encontrasse alimento. Quando uma pessoa vem a Cristo, necessita de que algum a ajude a encontrar alimento, mas na congregao pessoas que nunca aprenderam a buscar o seu prprio alimento nas Escrituras. Nossa responsabilidade principal, como crentes, sermos capazes de manter uma dieta saudvel e diria, em comunho com o Senhor Jesus e a sua Palavra, levando outros irmos a fazerem o mesmo. Testemunhando de Cristo Treinar os irmos para que sejam eficazes no testemunho cristo um dos aspectos mais gratificantes da tarefa do discipulado. E no h como testemunhar se no gastarmos tempo em comunho com o Senhor Jesus Cristo. Dois princpios devem ser ensinados aos crentes: primeiro, que Deus opera, e segundo, Ele usa as pessoas. Deus quem faz a obra. As pessoas devem saber que Deus quem opera; esse o primeiro princpio do testemunho. Por no ter sido inventado por homens, no deve ser realizado na fora humana. Se analisarmos a grande mensagem que Pedro pregou no dia de Pentecostes (Atos 2), o que veremos? Ousadia. Vibramos com as palavras e com a coragem de Pedro na proclamao do Evangelho de Jesus Cristo. Sentiramos orgulho dele, e 22. diramos: "Que homem!" Ento perceberamos o que o escritor inspirado declarou daqueles dias: "E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos" (At 2.47). No era Pedro, era Deus! Se qualquer coisa de alto valor espiritual acontece neste mundo porque Deus permitiu. isso o que vemos tanto no Antigo como no Novo Testamento. Vejamos a vida de Davi e de seus valentes guerreiros. Um deles era Eleazar, filho de Dod. Ele foi um dos que lutaram contra os filisteus depois que os israelitas fugiram, e lutou to poderosamente que a espada grudou-lhe na mo. Admiramos a coragem e o vigor desse valente guerreiro de Deus. "Naquele dia, o Senhor efetuou grande livramento" (2 Sm 23.10). O Senhor? Pensvamos que fosse Eleazar, mas o escritor afirma ter sido Deus. Sam, filho de Ag, foi outro valente de Davi, que lutou vitoriosamente contra os filisteus depois de todo o povo de Israel ter fugido. A declarao da vitria vem nas seguintes palavras: "E o Senhor efetuou grande livramento" (2 Sm 23.12). Deus foi quem concedeu a vitria pelas mos de Sam. Se algum quiser produzir frutos e testemunhar com ousadia de Jesus, deve observar o que acabo de dizer. Quando um discpulo entende esse princpio, perde o medo e o nervosismo de testemunhar s pessoas, porque aprende a depositar sua confiana em Deus, e no em si mesmo. Deus opera atravs de nossas vidas. Deus usa pessoas. O segundo princpio do testemunho que Deus usa as pessoas. Homens e mulheres escolhidos por Deus so meios que Ele usa para a proclamao das boas novas. Um exemplo poderoso e dramtico desse princpio a converso de Cornlio, um centurio romano temente a Deus, homem de boas obras e de orao. Uma tarde, numa viso, um anjo apareceu a ele, dando-lhe algumas instrues: "Suas oraes e esmolas subiram como oferta memorial diante de Deus. Agora, mande alguns homens a Jope para trazerem um certo Simo, tambm conhecido como Pedro, que est hospedado na casa de Simo, o curtidor de couro, que fica perto do mar" (At 10.4-6). Sempre que estudamos esse acontecimento, nos deparamos com uma indagao. Por que o anjo no disse apenas: "Cr no Senhor Jesus e sers salvo, tu e tua casa"? (At 16.31 - ARA) Por que o anjo no disse: "Arrependam-se, e cada um de vocs seja batizado..." (At 2.38)? Afinal, Cornlio estava humildemente ajoelhado, dava ofertas, era honesto e tinha devoo a Deus. Por que o anjo no lhe pregou diretamente a mensagem do Evangelho, ao invs de deixar informaes detalhadas num mapa complicado? E se ele se esquecesse do nome da cidade, ou da pessoa com quem Pedro estava? A razo de o anjo no explicar a Cornlio a mensagem do Evangelho simples: Deus no usa a anjos como testemunhas do Evangelho, e sim pessoas. Imagine o que Deus poderia ter feito para que as boas novas de Jesus chegassem a este mundo perturbado. Ele poderia fazer com que as estrelas no cu ficassem de tal forma que o texto de Joo 3.16 seria escrito em todas as lnguas e visto por todos. Poderia colocar em rbita um anjo com um megafone, proclamando a mensagem de Cristo em todos os idiomas. Mas escolheu pessoas. As pessoas so as verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, e isso se deve ao fato de manterem comunho com Ele. Jesus falou aos seus discpulos: "Permaneam em mim, e eu permanecerei em vocs. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se no permanecer na videira. Vocs tambm no podem dar fruto, se no permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocs so os ramos" (Jo 15.4, 5). Dar frutos resulta permanecermos em Cristo, por isso nossa comunho com Ele deve estar em primeiro lugar; testemunhar no andar sobrecarregado, mas transbordar. Cristo, por nosso intermdio, ministrando aos outros. Paulo disse: "No me atrevo a falar de nada, exceto daquilo que Cristo realizou por meu intermdio em palavra e em ao, a fim de levar os gentios a obedecerem a Deus" (Rm 15.18 Grifo do autor). Era Cristo, por intermdio de Paulo, agindo em outras pessoas. A importncia do testemunho ensinada em muitas passagens das Escrituras. As ltimas palavras de Jesus a seus discpulos no Monte das Oliveiras foram: "E sereis minhas testemunhas" (At 1.8 -ARA). Anos depois, escrevendo igreja de Roma, Paulo disse que fora "chamado 23. para ser apstolo, separado para o evangelho de Deus". (Rm 1.1). Foi de acordo com essa perspectiva que viveu toda sua vida separado para pregar o Evangelho. Desde quando Paulo comeou a pensar dessa maneira? Em seu testemunho diante do rei Agripa, ele mencionou algumas das palavras que Jesus lhe falou no caminho de Damasco. Jesus lhe disse: "Agora, levante-se, fique em p. Eu lhe apareci para constitu-lo servo e testemunha do que voc viu a meu respeito e do que lhe mostrarei" (At 26.16). Vale observar que as ltimas palavras de Cristo aos crentes e apstolos, no Monte das Oliveiras, e as primeiras palavras ditas a Paulo, na estrada de Damasco, tm a ver com testemunho. Isso o que Deus tem no corao para todos os redimidos por seu Filho. Deus salvou a Paulo com o fim de us-lo na grande tarefa de levar o Evangelho a todos os povos. Ele foi salvo a fim de testemunhar. a evangelizao que manter vivo seu programa de discipulado Sem isso o propsito de Deus no se realizar. O povo de Deus no um balde onde as riquezas de Cristo so depositadas, mas canal de bnos, para levar Cristo s naes. O testemunho deve estar acompanhado por uma vida de orao, reflexo e planejamento, e os mais capacitados para evangelizar, certamente, sero os seus discpulos. As oportunidades so ilimitadas; as necessidades, enormes. Discpulos comprometidos, em perfeita comunho com o Senhor, so os que mais vantagem tm, sempre que a oportunidade surgir. Costumo fazer a seguinte pergunta aos pastores: "O que voc prefere: ter em sua congregao cem pessoas comprometidas noventa por cento, ou dez cem por cento comprometidas?" A resposta a essa pergunta determinar a filosofia do seu ministrio e estabelecer quanta energia voc deve dedicar a um grupo de trabalhadores espiritualmente qualificados para o reino. As pessoas, hoje, esto muito interessadas no que a Bblia diz, e muitas gostariam de viver uma vida de maior comunho com Cristo e sua Palavra. Muitas almejam ser mais efetivas na orao. Sonham em se tornar valentes guerreiros de Deus imbatveis na f, cheios do Esprito e profundos em sua devoo a Cristo. Esses irmos enchem as livrarias em busca das ltimas novidades em publicaes crists; freqentam seminrios evanglicos, institutos bblicos e conferncias em que pregadores famosos pregam a Palavra de Deus. A resposta, no entanto, para aqueles que esto buscando uma realidade espiritual mais profunda, pode ser encontrada no programa de discipulado slido, sem alardes, de qualquer igreja local. Esse o desafio proposto a essa gerao! * * * Este e-book foi digitalizado pela equipe do Semeadores da Palavra e-books evanglicos. Se no encontrou essa informao na 2 pgina, ento voc o baixou de um site desonesto, que no respeita o trabalho dos outros, e retirou os crditos. Venha se abastecer de literatura evanglica diretamente da fonte: www.semeadores.net/blog Frum (para pedidos e trocas de idias): www.semeadoresdapalavra.top-forum.net Mas o livro ainda no acabou. Continue na pgina seguinte! * * * CAPTULO 5 O PROCESSO NA FORMAO DE DISCPULOS Portanto, assim como vocs receberam Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, enraizados e edificados nele, firmados na f, como foram ensinados, transbordando de gratido (Cl 2.6, 7). Imagine uma fbrica de calados de sua cidade. O diretor investiu enormes somas em dinheiro e contratou muitos empregados para fabricar os calados mais luxuosos do pas. Ele gasta com pagamento dos funcionrios, na compra de 24. mquinas e de couro da melhor qualidade. A fbrica est a pleno vapor, com centenas de funcionrios correndo de um lado para outro. As mquinas cortam, costuram e colam a plena capacidade. Certo dia, o presidente pergunta ao diretor: "Quantos pares de calados fabricamos at agora?" "Nenhum", responde o diretor. "Nenhum!", exclama o presidente. "H quanto tempo voc est operando as mquinas?" "H dois anos". Dois anos e nenhum par de sapato pronto?" Exatamente", diz o diretor. "Ainda no fabricamos nenhum par de sapatos, mas estamos bastante ocupados. Quase esgotados de tanto ar. Nenhum de ns tem folga, todos trabalhamos ativamente." O diagrama dessa fbrica que no produz nenhum par de sapatos poderia ser assim: O que o proprietrio deveria fazer num caso assim? Ter um enfarte? Zangarse? Despedir os funcionrios? Descobrir onde est problema? Poderia fazer todas essas coisas, afinal a razo da existncia da fbrica produzir calados. O proprietrio quer que seu investimento tenha resultados. Por isso a fbrica deveria ser assim: Agora, c