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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A ATUAÇÃO DA MODA COMO TECNOLOGIA DE GÊNERO NA CONSTRUÇÃO DE FEMINILIDADES E MASCULINIDADES JOVENS NA REVISTA “GERAÇÃO POP” (1972-1979) Maureen Schaefer França 1 Marinês Ribeiro dos Santos 2 Resumo: A discussão aqui apresentada faz parte de uma pesquisa maior que tem como objetivo a problematização da representação de juventude forjada pela revista “Geração Pop”. Como primeiro periódico voltado especificamente para o público jovem editado no Brasil, esse título circulou entre os anos de 1972 e 1979 na esteira dos movimentos de contracultura e do milagre econômico promovido pelo regime militar. Nesse texto, nos interessa dar relevo para o emprego da moda e das práticas corporais na construção de feminilidades e masculinidades jovens articuladas às transformações comportamentais em curso naquele período. Envolvida em processos de regulação cultural, a moda pode contribuir ora para a manutenção, ora para subversão das regras sociais. Sendo assim, alinhadas à abordagem de Teresa de Lauretis, queremos argumentar que a moda atua como um tipo de tecnologia de gênero, num processo complexo e contraditório que combina a afirmação e o tensionamento de normas hegemônicas, sempre em diálogo com o contexto mais amplo das dinâmicas culturais. Palavras-chave: Tecnologia de gênero. Moda. Juventude. Revista Geração Pop. Anos 1970 1. Moda de vestuário como mediação material das relações sociais Nós nos construímos coletivamente por meio das relações sociais e das mediações materiais, que estão circunstanciadas cultural e historicamente, sendo perpassadas por relações de poder. O estudo social do ordinário, daquilo que se tornou invisível por excesso de visibilidade, nos permite desnaturalizar modos de ver e entender o mundo. As materialidades e as sociedades transformam-se mutuamente, portanto as mediações materiais não são neutras e tampouco ingênuas, sendo construídas mediante interesses e desigualdades sociais (Winner, 1985). Logo, a cultura material é um caminho possível para entendermos parte da humanidade. A moda, fenômeno sociocultural presente no cotidiano desde o final da Idade Média, deveria ter importância crucial neste sentido. Pois, historicamente, o estudo do vestuário o domínio arquetípico da moda 3 tem se mostrado fundamental para a compreensão de questões atreladas à 1 Doutoranda do curso de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Curitiba, Brasil) e professora do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial da mesma universidade. 2 Doutora em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina (2010) e professora do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Curitiba, Brasil). 3 A moda não é só uma questão de vestuário, até porque existiram roupas muito antes que ela surgisse. Moda é uma forma específica de mudança social, que se aplica a quase todas as áreas concebíveis do mundo moderno. Moda é um mecanismo social caracterizado por um intervalo de tempo particularmente breve e pela busca incessante para alcançar o “novo”. Esse mecanismo foi particularmente óbvio na área do vestuário (Svendsen, 2010, p. 10-14).

A ATUAÇÃO DA MODA COMO TECNOLOGIA DE GÊNERO NA … · Sendo assim, alinhadas à abordagem de Teresa de Lauretis, queremos argumentar que a moda atua como um tipo de tecnologia

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A ATUAÇÃO DA MODA COMO TECNOLOGIA DE GÊNERO NA

CONSTRUÇÃO DE FEMINILIDADES E MASCULINIDADES JOVENS NA

REVISTA “GERAÇÃO POP” (1972-1979)

Maureen Schaefer França1

Marinês Ribeiro dos Santos2

Resumo: A discussão aqui apresentada faz parte de uma pesquisa maior que tem como objetivo a

problematização da representação de juventude forjada pela revista “Geração Pop”. Como primeiro

periódico voltado especificamente para o público jovem editado no Brasil, esse título circulou entre

os anos de 1972 e 1979 na esteira dos movimentos de contracultura e do milagre econômico

promovido pelo regime militar. Nesse texto, nos interessa dar relevo para o emprego da moda e das

práticas corporais na construção de feminilidades e masculinidades jovens articuladas às

transformações comportamentais em curso naquele período. Envolvida em processos de regulação

cultural, a moda pode contribuir ora para a manutenção, ora para subversão das regras sociais.

Sendo assim, alinhadas à abordagem de Teresa de Lauretis, queremos argumentar que a moda atua

como um tipo de tecnologia de gênero, num processo complexo e contraditório que combina a

afirmação e o tensionamento de normas hegemônicas, sempre em diálogo com o contexto mais

amplo das dinâmicas culturais.

Palavras-chave: Tecnologia de gênero. Moda. Juventude. Revista Geração Pop. Anos 1970

1. Moda de vestuário como mediação material das relações sociais

Nós nos construímos coletivamente por meio das relações sociais e das mediações materiais,

que estão circunstanciadas cultural e historicamente, sendo perpassadas por relações de poder. O

estudo social do ordinário, daquilo que se tornou invisível por excesso de visibilidade, nos permite

desnaturalizar modos de ver e entender o mundo. As materialidades e as sociedades transformam-se

mutuamente, portanto as mediações materiais não são neutras e tampouco ingênuas, sendo

construídas mediante interesses e desigualdades sociais (Winner, 1985).

Logo, a cultura material é um caminho possível para entendermos parte da humanidade. A

moda, fenômeno sociocultural presente no cotidiano desde o final da Idade Média, deveria ter

importância crucial neste sentido. Pois, historicamente, o estudo do vestuário – o domínio

arquetípico da moda3 – tem se mostrado fundamental para a compreensão de questões atreladas à

1 Doutoranda do curso de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná

(Curitiba, Brasil) e professora do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial da mesma universidade. 2 Doutora em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina (2010) e professora do Departamento

Acadêmico de Desenho Industrial e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia na Universidade Tecnológica

Federal do Paraná (Curitiba, Brasil). 3 A moda não é só uma questão de vestuário, até porque existiram roupas muito antes que ela surgisse. Moda é uma

forma específica de mudança social, que se aplica a quase todas as áreas concebíveis do mundo moderno. Moda é um

mecanismo social caracterizado por um intervalo de tempo particularmente breve e pela busca incessante para alcançar

o “novo”. Esse mecanismo foi particularmente óbvio na área do vestuário (Svendsen, 2010, p. 10-14).

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construção das identidades de gênero e das práticas corporais. Pois, as roupas, os calçados e os

acessórios medeiam a construção do eu, constituindo nossa identidade pessoal e não sendo,

portanto, externos à ela (Svendsen, 2010).

A partir disso, nós temos o objetivo de enfatizar o emprego da moda de vestuário enquanto

tecnologia de gênero na construção de feminilidades e masculinidades jovens. Para isso, optamos

por analisar três editoriais de moda veiculados pela “Geração Pop”, a primeira revista voltada

especificamente para as/os adolescentes brasileiras/os, que circulou no país entre 1972 e 1979

(Mira, 2001, p. 154). Os editoriais escolhidos - um deles de fevereiro de 1972 e os outros dois de

setembro do mesmo ano - abordam modos de vestir compartilhados entre garotos e garotas, um

fenômeno que vinha acontecendo desde os anos 1960 no Brasil e que foi rapidamente incorporado

pela indústria da moda, que o denominou “estilo unissex” (Rainho, 2014, p. 293). Por meio do

diálogo da moda de vestuário “unissex” com o contexto mais amplo das dinâmicas culturais dos

anos 1960 e 1970, buscamos enfatizar que ela contribuiu ora para a manutenção ora para a

subversão das normas hegemônicas de gênero do cenário social em questão.

A análise do vestuário “unissex” presente na “GP” possibilita perceber os trânsitos e as

interdições que ocorreram entre o guarda-roupa feminino e masculino naquele contexto específico.

A partir desta análise é possível enfatizar o gênero enquanto construção social e tensionar visões

essencialistas e dicotômicas sobre feminilidades e masculinidades, que subjugam experiências de

gênero que não se encaixam em padrões normativos, reforçando desigualdades sociais.

2. “Geração Pop”: a revista feita para a juventude brasileira dos anos 1970

Alguns registros consideram que a juventude é um fenômeno biológico, natural e universal,

subordinando os componentes psicológicos e socioculturais às transformações físicas geradas na

puberdade. Nesta concepção, a juventude assume um caráter de fixidez com elementos bem

delineados, a partir da naturalização de algo que é produzido culturalmente (Oliveira e Egry, 1997).

A juventude, diferentemente da puberdade, não é fundada na biologia dos corpos, mas construída

histórica e socialmente, sendo específica de um tempo e de um lugar. A faixa etária que

supostamente compreende a juventude e o que é apropriado ou não para uma/um jovem pode variar

de acordo com o cenário social. Em algumas sociedades, inclusive, ela pode nem existir, passando-

se da infância para a fase adulta.

A exposição de um grupo de jovens a um mesmo contexto histórico é capaz de incitar

maneiras de agir e pensar compartilhadas, embora isso não implique a formação de grupos

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homogêneos (Motta, 2004 apud Santos, 2010). Pois, as experiências de vida transcendem a classe

de idade do sujeito, se realizando de acordo com a sua posicionalidade. A posicionalidade se refere

aos pré-conceitos e aos diferentes graus de privilégios e restrições que os indivíduos vivenciam em

função da intersecção dos seus construtos identitários em um determinado contexto (Hulko, 2009

apud Sardenberg, 2015), que não atuam separadamente, se modificando uns aos outros mutuamente.

Portanto, quando existem variadas juventudes, com suas mais distintas vivências, é bastante

reducionista se falar sobre juventude e seus mitos comuns de modo universal. As formas de viver a

condição juvenil são, portanto, múltiplas, mutáveis e relacionais.

No segundo pós-guerra, o fenômeno da/o teenager4 transformou o modo como parte dos

países capitalistas percebia as/os jovens. A ideia da/o adolescente enquanto consumidor vinha ao

encontro das necessidades políticas e econômicas dos Estados Unidos. Por um lado, o consumismo

dirigido a eles era uma forma de desvio à sua atitude questionadora sobre os efeitos da Segunda

Guerra Mundial; por outro, era uma forma de escoar a produção industrial estadunidense, fato que

se relaciona à exportação do fenômeno teenager para diversos países capitalistas (Savage, 2009).

A relevância da juventude em termos demográficos nos anos 1960 aliada ao seu

reconhecimento como agente consumidor, contribuíram para a afirmação de uma cultura juvenil

específica. A revista “GP”, editada entre novembro de 1972 e agosto de 1979 no Brasil, reiterou a

afirmação de uma cultura exclusiva para as/os jovens. A “GP” foi o primeiro periódico voltado

especificamente para garotas e garotos das camadas médias na faixa etária “entre 15 e 20 poucos

anos de idade” (Revista Geração Pop, n. 1, p. 12), sendo lançada mensalmente pela Editora Abril.

Entretanto, muitas/os jovens que não estavam incluídos na faixa etária sugerida pela “GP”, se

identificavam com ela, ampliando ainda mais seu mercado de leitoras/es.

A “GP” trazia assuntos variados como música, moda, comportamento, sexualidade, teatro,

cinema, televisão, literatura, viagens, esportes, religião, orientação profissional, horóscopo e

quadrinhos. Contudo, assuntos sobre a situação política vivida no país quase não apareciam na

revista, apesar da luta dos movimentos estudantis e das organizações revolucionárias contra o

regime militar. Apesar de não trazer informações a respeito das políticas colocadas em prática pelo

regime militar, a “GP” tensionou, de certa forma, valores conservadores dialogando com

movimentos de contracultura.

As influências dos movimentos de contracultura vindas de fora (movimentos feminista e

hippie, por exemplo) foram responsáveis por uma revolução comportamental de implicações

4 O termo faz referência a faixa compreendida entre 13 (thirteen) e 19 (nineteen) anos.

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profundas para a sociedade brasileira (Santos, 2010, p. 32), na qual foi patente a contestação por

parte dos/as jovens ao decoro burguês e às atribuições tradicionalmente entendidas como femininas

e masculinas. Mediada por estas transformações, a “GP” favoreceu assuntos como liberação sexual,

uso de drogas, vida comunitária, misticismo e o maior contato com a natureza, criando identificação

com o público jovem por meio do emprego de gírias e da linguagem pop, conotando ideias de

descontração e maior liberdade.

De acordo com Santos (2015, p. 45), consideramos que A GP atuou como mídia de estilo de

vida, divulgando e legitimando formas particulares de valores e comportamentos, guiando as/os

leitoras/os quanto às suas escolhas dentro de uma vasta gama de possibilidades que incluíram

produtos, serviços e experiências. A GP mostrou como vivenciar tipos de feminilidades e

masculinidades jovens, mediando a constituição material das narrativas particulares de identidade

de gênero das/os suas/seus leitoras/es.

A atuação do vestuário como tecnologia de gênero a partir da moda “unissex” na revista

“Geração Pop”

Neste texto, gênero é entendido como um conjunto de discursos, práticas e materialidades

que regulam as percepções e as atuações dos sujeitos a respeito do corpo, da sexualidade e do

gênero em variados contextos, contribuindo ora para manutenção ora para a subversão das

convenções hegemônicas. Logo, o sexo anatômico não fundamenta o gênero, mas é resultado dele.

Estes discursos, práticas e materialidades, que regulam o campo do significado social,

produzem, promovem e legitimam representações de gênero, podendo ser compreendidos como

tecnologias de gênero, que se dedicam à produção de pessoas enquanto homens e mulheres como

também daquelas que não se identificam com essas classificações (De Lauretis, 1987; Preciado,

2014).

As auto-representações de gênero são produzidas por meio da interação dos sujeitos com as

tecnologias de gênero. As representações sociais de gênero medeiam a construção das auto-

representações de gênero e vice-versa, num movimento mútuo e dinâmico. Neste sentido, a

construção de gênero é o produto e o processo tanto da representação quanto da auto-representação

(De Lauretis, 1987) .

As masculinidades e as feminilidades são investimentos feitos pelos sujeitos, que ocorrem

em negociação com as regulações que estabelecem limites para suas atuações a respeito das

idealizações do que é ser “homem” e “mulher” (Bento, 2006). O investimento se dá pela

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identificação com certas posições-de-sujeito, algo entre um comprometimento emocional e um

interesse no poder relativo que tal posição promete, mas não necessariamente garante (Hollway

apud De Lauretis, 1987, p. 225).

Contudo, como as masculinidades e as feminilidades não se tratam de características

ontológicas, não existe uma forma mais verdadeira de ser “homem” ou “mulher”. Tratam-se de

feminilidades/masculinidades no plural e não de uma feminilidade/masculinidade fixa, universal e

unitária. As feminilidades/masculinidades são múltiplas, mutáveis, relacionais e podem ser

hierarquizadas, se diferenciando de acordo com as relações de gênero em um cenário social

particular (Connell e Messerschmidt, 2013). E como as feminilidades e as masculinidades não são

naturais, não é algo que podemos perder. Logo, também é possível que masculinidades sejam postas

em ato por bio-mulheres e feminilidades sejam assumidas por bio-homens, causando fissuras nas

normas de gênero (Bento, 2006).

O vestuário atua como um tipo de tecnologia de gênero ao evocar materialmente variados

tipos de feminilidades e masculinidades com as quais as pessoas podem se identificar ou não, sendo

capaz de produzir efeitos em corpos, comportamentos e nas relações sociais. A relação entre corpo

e vestuário é parte de um processo generalizado de produção de identidade de gênero. Logo, um dos

efeitos da moda de vestuário enquanto tecnologia de gênero é a produção de um saber interior sobre

si mesmo. Os artefatos de moda podem ser usados pelas pessoas não apenas como recursos na

citação das normas hegemônicas de gênero, mas na subversão das mesmas. Logo, as tecnologias

não atuam necessariamente como dispositivos de dominação, podendo funcionar como um lócus

potencial de mudança, como um investimento político. Deste modo, as tecnologias são, ao mesmo

tempo, o resultado das estruturas de poder e os possíveis bolsões de resistência desse mesmo poder

(Preciado, 2014).

No Brasil, a indústria da moda jovem surgiu na década de 60, representando uma mudança

radical (Prado e Braga, 2011). A moda jovem lançou tendências a partir das ruas ao invés de se

pautar nas criações da alta-costura, que ao longo dos anos 1960 deixou de ser o foco principal da

moda. O elemento central da moda jovem consistiu na referência a concepções de existência

opostas aos padrões dominantes das regras estética e moral. Foi um fenômeno que assumiu

propostas dos movimentos de contracultura (Calanca, 2008, p. 191) como o movimento hippie, o

feminismo, o movimento negro e de libertação gay.

O impulso de uma cultura jovem no decorrer dos anos 1950 e 1960 contribuiu para dar uma

nova fisionomia à moda, que ganhou conotação jovem, exprimindo um estilo de vida mais

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audacioso, espontâneo, humorado, menos preocupado com as regras e a perfeição (Lipovetsky,

2009, p. 139-140).

O modo parecido de vestir de garotos e garotas, que vinha acontecendo desde os anos 1960,

foi rapidamente incorporado pela indústria da moda, que denominou este fenômeno de estilo

“unissex” (Rainho, 2014, p. 293). Nos anos 1960, o crescimento das políticas de gênero e a

revolução sexual - associadas aos movimentos gay e feminista assim como a comercialização da

pílula anticoncepcional e a renúncia das/dos jovens das camadas médias dos valores parentais -

colaboraram para o tensionamento dos estereótipos de gênero (Paoletti, 2015) e para a promoção de

uma maior aproximação entre novos tipos de feminilidades e masculinidades jovens.

A moda “unissex”, que buscou borrar os limites de gênero, foi divulgada em diversos

periódicos brasileiros, inclusive nas seções de moda da revista “GP”. No editorial “Olha aí: mil

cores na nossa roupa nova”, da edição número 11 (setembro de 1973), um garoto veste calça jeans

boca-de-sino modelo unissex e uma garota usa macacão jeans unissex abotoado na frente (Figura

01). John Fairchild, editor de um jornal comercial da indústria da moda estadunidense, declarou em

1965, no seu livro The Fashionable Savages, que as calças deveriam ser usadas pelas mulheres

apenas em casa, em práticas esportivas ou no campo, mas jamais nas ruas da cidade. As saias eram

preferidas pelas mulheres maduras, mas entre as garotas o uso de calças e de shorts já era mais

comum, embora tivessem um corte diferenciado das peças masculinas (Paoletti, 2015, p. 39-40).

Além disso, o uso de cintas elásticas por baixo das calças era recomendado para evitar um aspecto

“espartilhado” do corpo feminino. No Brasil e em outros países capitalistas, a partir de meados dos

anos 1960, mulheres jovens e adultas passaram a desafiar tais regras, usando calças nas escolas, nas

universidades e em locais de trabalho, visto que eram mais práticas, conferindo maior liberdade e

despreocupação com o corpo (Rainho, 2015; Paoletti, 2015, p. 40).

Para Paoletti (2015, p. 49), a calça jeans constituiu a base das roupas “unissex”. No final dos

anos 1960, o jeans conquistou um amplo mercado de massas, superando divisões de classe,

raça/etnia, gênero e idade, transcendendo limites regionais e nacionais, tornando-se aceito

amplamente. O jeans, inicialmente associado a um produto barato e resistente destinado às classes

operárias, foi ressignificado por meio de produções culturais como o filme Juventude Transviada

(1955) e o livro On The Road (1957) (Rainho, 2015), passando a evocar sentimentos populares de

independência, liberdade e democracia (Calanca, 2011, p. 193-194) como também conforto,

contestação e rebeldia, transfigurando-se em objeto de desejo de muitas/os jovens.

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As calças jeans, que eram destinadas inicialmente somente para o público masculino,

também passaram a ser consumidas pelas mulheres. Ao perceber que as mulheres gostavam da

modelagem das peças, diversas lojas no final dos anos 1960 e início da década de 1970, começaram

a criar jeans que servissem tanto para o público masculino quanto feminino, a partir de numerações

específicas. Em menos de uma década, o jeans passou de algo visto apenas como masculino para

algo “neutro” e sexy (Paoletti, 2015, p. 49-50). Esta mudança possibilita a reflexão a respeito da

maleabilidade das feminilidades/masculinidades como também o maior compartilhamento dos

espaços por homens e mulheres. Nos permite pensar também sobre mulheres, especialmente a das

camadas médias, ocupando universidades e o mercado de trabalho, e experimentando uma

sociabilidade que exigia roupas mais práticas (Rainho, 2015, p. 229).

O macacão, uma peça larga, econômica, durável e com muitos bolsos, foi usada inicialmente

como uniforme utilitário por mecânicos, fazendeiros e pedreiros, auxiliando a realização de suas

tarefas. Consumido também por operárias a partir da Primeira Guerra Mundial, a peça se tornou um

ícone da moda a partir dos anos 1960, fazendo sucesso também entre as/os jovens no Brasil

(Chataignier, 2010). Na “GP”, o macacão aparece associado a uma peça de roupa prática e a uma

atitude mais casual e relaxada em contraposição ao refinamento burguês. Mas apesar do periódico

considerá-la uma peça “unissex”, é possível notar interdições de gênero quanto ao corpo feminino.

Enquanto a garota utiliza a jardineira com uma blusa por baixo (Figura 01), um garoto aparece

vestindo apenas o macacão (Figura 02), deixando parte do seu peito à mostra.

Figura 01: Imagens das páginas do editorial

“Olha aí: mil cores na nossa roupa nova”.

Fonte: Revista Geração Pop, n. 11,

setembro de 1973, p. 43 e p. 45. Acervo

pessoal.

Até meados dos anos 1960, era muito difícil que os homens expressassem seu interesse por

moda, sendo esta relegada ao domínio feminino. Desde o final do século XVIII, os homens vinham

deixando de se apresentar com roupas coloridas e com elementos decorativos em troca de um

guarda-roupa austero, uma espécie de uniforme do trabalho do burguês (Rainho, 2015, p. 153; p.

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231). No editorial “É primavera”, também na edição número 11 (setembro de 1973), destaca-se

aspectos da moda jovem: “Estampados, xadrez, bordados, tudo muito colorido, é a pedida para as

novas calças, blusas e camisas que a gente vai usar” (p. 34). É importante destacar que a chamada

não faz distinção de gênero quanto à variedade de cores, estampas e bordados, considerando que

tais elementos se destinam tanto aos garotos quanto às garotas.

Nos anos 1960 e 1970, os homens jovens e adultos passaram a apreciar a breve “revolução

do pavão”5, ousando mais do que de costume (Rainho, 2015), usando roupas mais justas e

coloridas, colares e pulseiras, tamancos com salto pequeno e cabelos compridos, materializando

novos tipos de masculinidades, neste sentido. No editorial em questão, os garotos e as garotas foram

fotografados/as em um parque com árvores, lago e artefatos de lazer, fazendo menção ao título “É

primavera”. Os garotos vestem macacões e calças jeans bordados (Figura 02). No macacão, o

bordado consiste em um sol que surge entre as nuvens na altura do peito; na calça jeans, no bolso

traseiro esquerdo, há um sol com flores bordados em tonalidades pastéis de rosa e verde. As

mesmas cores são usadas no bordado do bolso direito, que configura uma estrada em direção ao sol.

O uso de referências da “natureza” nas peças masculinas parece dialogar com o movimento

hippie como também tensionar certos estereótipos de gênero. Historicamente, as narrativas

positivistas do desenvolvimento tecnológico construíram relações entre as mulheres e a natureza,

associando-as a seres selvagens e a objetos da dominação dos homens, sendo estes, em

contraposição, a representação da razão e da tecnologia. Esta visão dicotômica, que considera a

natureza como diametralmente oposta à tecnologia, fundamenta relações de poder, ao reduzir as

variadas, intrincadas e complexas diferenças a duas possibilidades opostas e ao hierarquizá-las:

cultura (primitiva/moderna), espécie (não-humana/humana), gênero (feminino/masculino)

(Preciado, 2014, p. 147-148).

Apesar de reforçar a oposição natureza versus tecnologia, de modo geral, a revista GP

constrói a ideia de que a natureza é um antídoto capaz de sanar as tensões oriundas da experiência

urbana. Por meio das imagens do editorial, podemos perceber a construção de uma relação

prazerosa entre os garotos e a “natureza”, que é reforçada pelo uso de tons pastéis, que conotam

culturalmente ideias de delicadeza e doçura.

5 A popularização do termo “peacock revolution” é creditada ao jornalista George Frazier para descrever estilos

promovidos pelos/as jovens designers da Carnaby Street, situada em Londres, que prometeram retomar a “glória

perdida” do vestuário masculino (Paoletti, 2015, p. 59).

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Figura 02: Imagens de algumas páginas do

editorial “É primavera”. Fonte: Revista

Geração Pop, n. 11, setembro de 1973, p. 35

e p. 38. Acervo pessoal.

O texto do editorial “A moda certa para pular no carnaval”, da edição 4 (fevereiro de 1973),

constrói ideias a respeito da moda “apropriada” para as/aos jovens desfrutarem do seu dia-a-dia: “A

ordem é vestir roupa fresca, que a gente usa e não sofre com o calor. A nossa moda é isso: coisas

leves e alegres do tipo que se usa sempre, que se aproveita até depois da festa” (p. 65). O texto do

editorial enfatiza dois aspectos da moda jovem: leveza e alegria. A ideia de alegria diz respeito ao

prazer, à felicidade e ao dinamismo, sendo associada culturalmente a um modo jovem de viver a

vida. A juventude, nesta acepção, transcende a classe de idade, tornando-se um valor, uma estética

da vida cotidiana, podendo, inclusive, ser comprada e vendida (Rainho, 2015, p. 257).

Nos anos 1960 e 1970, foram comercializados produtos jovens em uma gama cromática

bastante vibrante conotando ideias de bom-humor e prazer, em diálogo com a arte pop e com o

psicodelismo, emulando por vezes a experiência com LSD (Eiseman e Recker, 2011). Mediada por

este contexto, a “GP” empregou amplamente as cores vívidas em seu layout, que apareceram

também em diversas peças de vestuário divulgadas por meio dos editoriais de moda, evocando

ideias de otimismo, entusiasmo e felicidade (Figura 03).

O uso de mais cores no vestuário masculino nos anos 1960 e 1970 tensionou a cromofobia,

ou seja, a aversão às cores das décadas anteriores, que fundamentada historicamente na associação

cultural das cores com o feminino e o primitivo, as considerou indignas das preocupações mais

“superiores” da mente (Batchelor, 2007 apud Bueno, 2014) e desmerecedoras das inquietações

masculinas. Entendemos a partir de Lipovetsky (2009, p. 132-133) que o maior uso de cores no

vestuário - que desestabilizou, em parte, a cromofobia - está associado não somente à “revolução do

pavão” mas também à nova dinâmica democrática-individualista estimulada pela recente cultura

hedonista de massa.

Ainda no texto do editorial, há a exposição da ideia de que as/os jovens devem usar roupas

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leves e frescas para não sofrerem com o calor. O texto afirma: “Camiseta tipo frente-única não é

privilégio de mulher. Você, cara, use a sua listrada com bermuda branca (Drugstore)”. No editorial

(Figura 03), um garoto e uma garota vestem blusas justas e curtas que marcam a silhueta do corpo e

deixam parte do abdômen à mostra. Entre meados dos anos 1960 e início dos anos 1970, a moda

voltou a ser um elemento de sedução erótica masculina. Parte dos garotos, e também dos adultos,

usaram o corpo com maior despudor, fazendo dele um capital nos jogos amorosos e também um

componente de satisfação pessoal, uma vaidade que os homens estavam se sentindo mais a vontade

em usufruir (Rainho, 2015, p. 279). Esta questão também pode ser notada na figura 01, na qual o

garoto, que veste uma calça “unissex”, é representado em perfil, destacando a modelagem mais

ajustada da peça na altura dos glúteos, que realça suas curvas. Além disso, é interessante destacar

que, de modo geral, as garotas e os garotos dos editoriais de moda da “GP” são pessoas brancas e

magras, estando de acordo com os cânones de beleza vigentes da época que valorizam corpos

jovens, permitindo-se, neste sentido, que elas/es estejam em exposição (Rainho, 2015).

Figura 03: Imagens de algumas páginas do

editorial “A moda certa para pular no

carnaval”. Fonte: Revista Geração Pop, n.

4, fevereiro de 1973, p. 64 e p. 66 Acervo

pessoal.

Considerações Finais

Em diálogo com as dinâmicas socioculturais, as modas surgem, são reatualizadas e

sepultadas; por isso são chamadas moda. O flerte da moda com a tendência “unissex” durou pouco

tempo, contudo, seus efeitos são vivenciados ainda hoje. A moda “unissex” atuou de variadas

maneiras, se comportando ora de modo mais vanguardista e ora de maneira mais conservadora

(Paoletti, 2015). Na “GP”, a construção do imaginário unissex pareceu tensionar os valores

reacionários de maneira contida. De modo geral, brincos, maquiagens, vestidos e saias continuaram

restritos ao público feminino; e peças “unissex” como o macacão, por exemplo, foram usadas de

maneira distinta por garotos e garotas. Logo, é possível perceber que apesar das diversas

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apropriações do “mundo feminino” feitas pelos garotos, a suposta neutralidade de gênero parece ter

sido construída a partir de uma inclinação masculina. As roupas femininas pareceram não terem

sido “desfeminilizadas” suficientemente ao ponto de se tornarem “neutras”, diferentemente do que

aconteceu com parte da indumentária inicialmente prevista como masculina (Paoletti, 2015).

As tentativas de feminilizar a aparência dos homens tiveram curta duração. Para parte das

pessoas, a “revolução do pavão” elevou o espectro da “decadência” e da homossexualidade, temida

ainda mais pela ascensão do movimento gay (Paoletti, 2015). Neste sentido, percebemos que na

“GP”, o imaginário da moda “unissex” é construído de modo conservador por meio do uso da

representação de casais heterossexuais, na tentativa de amenizar qualquer associação com a

homossexualidade.

Na “GP”, a moda de vestuário “unissex”, enquanto tecnologia de gênero, regulou o trânsito

de peças entre os guarda-roupas feminino e masculino, dando visibilidade ao que poderia ou não ser

compartilhado entre garotos e garotas como também às maneiras, assimétricas ou não, que eles e

elas vestiram as peças “unissex”. A partir dessas manobras de gênero, a moda “unissex”

fundamentou, em parte, a construção de tipos de masculinidades (garotos vaidosos, divertidos,

sensuais) e feminilidades (garotas descontraídas, confiantes, práticas) jovens na “GP”, interpelando

adolescentes brasileiros/as dos anos 1970 a investirem nessas posições-de-sujeito.

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The performance of fashion as technology of gender in the construction of young femininities

and masculinities in the “Geração Pop” magazine

Abstract: The discussion presented here is part of a larger research that aims to problematize the

representation of youth forged by the "Geração Pop" magazine. As the first magazine dedicated

specifically to the young public edited in Brazil, this title circulated between the years of 1972 and

1979 in the wake of the counterculture movements and the economic miracle promoted by the

military regime. In this text, we are interested in highlight the use of fashion and body practices in

the construction of young femininities and masculinities articulated to the behavioral

transformations ongoing in that period. Involved in processes of cultural regulation, fashion can

contribute either to maintenance or to subversion of social rules. Therefore, according to Teresa de

Lauretis's approach, we want to argue that fashion acts as a type of technology of gender, in a

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complex and contradictory process that combines the affirmation and tensioning of hegemonic

norms, always in dialogue with the broader context of cultural dynamics.

Keywords: Technology of gender. Fashion. Youth.“Geração Pop” Magazine. 1970s.