21
1 A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE RENDA Contexto e projeto de ação do professor de moda em regiões empobrecidas por meio da Economia Criativa Santos, Heloisa Helena de Oliveira; Doutora; Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ); [email protected] 1 . Resumo: O artigo tem como objetivo apresentar o contexto e proposta de atuação do professor de moda como mediador dos processos de redução de desigualdade e geração de renda. Para tal, discute as noções em torno da economia criativa e propõe um projeto de curso que atenda as demandas de formação de uma região empobrecida localizada no Grande Rio. Palavras chave: docente; atuação; economia criativa; geração de renda; desigualdade; Abstract: The article aims to present the context and proposal of action of the fashion teacher as mediator of the processes of reduction of inequality and income generation. To this end, it discusses the notions around the creative economy and proposes a project that meets the demands of formation of an impoverished region located in the Grande Rio. Keywords: teacher; performance; creative economy; income generation; inequality; Introdução O tema central deste artigo é a atuação do professor de moda como mediador dos processos de qualificação socioprofissional e geração de renda, centralmente entre a população de baixa renda, por meio da formulação dos cursos com a preocupação de não apenas formar mão de obra para o mercado. A 1 Doutora em Design pela PUC-Rio, é mestre em Sociologia e Antropologia pela UFRJ, instituição em que fez sua primeira graduação, em Ciências Sociais. Também é Tecnóloga em Produção de Vestuário pelo SENAI CETIQT, área de conhecimento em que hoje é docente no Instituto Federal do Rio de Janeiro, Campus Belford Roxo, ministrando, atualmente, cursos de Formação Inicial e Continuada e Cursos Técnicos.

A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

1

A ATUACcedilAtildeO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERACcedilAtildeO DE RENDA

Contexto e projeto de accedilatildeo do professor de moda em regiotildees empobrecidas

por meio da Economia Criativa

Santos Heloisa Helena de Oliveira Doutora Instituto Federal do Rio de

Janeiro (IFRJ) heloisahosantosgmailcom1

Resumo O artigo tem como objetivo apresentar o contexto e proposta de atuaccedilatildeo do professor de moda como mediador dos processos de reduccedilatildeo de desigualdade e geraccedilatildeo de renda Para tal discute as noccedilotildees em torno da economia criativa e propotildee um projeto de curso que atenda as demandas de formaccedilatildeo de uma regiatildeo empobrecida localizada no Grande Rio

Palavras chave docente atuaccedilatildeo economia criativa geraccedilatildeo de renda desigualdade Abstract The article aims to present the context and proposal of action of the fashion teacher as mediator of the processes of reduction of inequality and income generation To this end it discusses the notions around the creative economy and proposes a project that meets the demands of formation of an impoverished region located in the Grande Rio Keywords teacher performance creative economy income generation inequality

Introduccedilatildeo

O tema central deste artigo eacute a atuaccedilatildeo do professor de moda como

mediador dos processos de qualificaccedilatildeo socioprofissional e geraccedilatildeo de renda

centralmente entre a populaccedilatildeo de baixa renda por meio da formulaccedilatildeo dos

cursos com a preocupaccedilatildeo de natildeo apenas formar matildeo de obra para o mercado A

1 Doutora em Design pela PUC-Rio eacute mestre em Sociologia e Antropologia pela UFRJ instituiccedilatildeo

em que fez sua primeira graduaccedilatildeo em Ciecircncias Sociais Tambeacutem eacute Tecnoacuteloga em Produccedilatildeo de Vestuaacuterio pelo SENAI CETIQT aacuterea de conhecimento em que hoje eacute docente no Instituto Federal do Rio de Janeiro Campus Belford Roxo ministrando atualmente cursos de Formaccedilatildeo Inicial e Continuada e Cursos Teacutecnicos

2

motivaccedilatildeo central da pesquisa eacute a atuaccedilatildeo da docente em um novo espaccedilo

profissional a cidade de Belford Roxo muniacutecipio localizado no Grande Rio ou

seja nos arredores da capital do estado do Rio de Janeiro

O objetivo do artigo eacute apresentar o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da

docente como este mediador por meio da discussatildeo de um projeto de curso Como

fundamentos para esta proposta de qualificaccedilatildeo e geraccedilatildeo de renda estatildeo os

conceitos acerca da Economia Criativa e do Empreendedorismo ferramentas que

quando utilizadas sob a oacutetica da promoccedilatildeo social e da reduccedilatildeo da desigualdade

podem ser instrumentos reais de modificaccedilatildeo do status quo

Este artigo vai se organizar da seguinte maneira na primeira seccedilatildeo

apresentaremos a proposta de atuaccedilatildeo social que fundamenta a criaccedilatildeo dos

Institutos Federais de Educaccedilatildeo (IF) oacutergatildeo ao qual a autora estaacute atualmente

vinculada Os IFs orientam sua accedilatildeo educacional no sentido de modificar a

realidade do local onde o mesmo se encontra valorizando o potencial local

Na segunda seccedilatildeo apresentaremos a cidade de Belford Roxo espaccedilo de

atuaccedilatildeo da docente e do instituto O municiacutepio localizado na Baixada Fluminense

apresenta um dos iacutendices de desenvolvimento humano (IDH) mais criacuteticos do

estado estando na 71ordm entre os 92 municiacutepios que compotildeem atualmente o Rio de

Janeiro segundo os dados desenvolvidos pelo PNUD (2013) com referecircncia no

censo de 2010 Na terceira parte abordaremos alguns conceitos de Economia

Criativa Esta uacuteltima em sua relaccedilatildeo com o design e a moda no paiacutes foi tema da

tese de doutoramento da autora defendida em 2015 As noccedilotildees aqui

apresentadas seratildeo centralmente aquelas discutidas na tese

Na uacuteltima sessatildeo apresentaremos o projeto propriamente dito Uma

siacutentese da proposta de trabalho seraacute apresentada por meio do plano de curso e

matriz a fim de que possamos discutir a proposta de atuaccedilatildeo do docente de moda

junto agrave populaccedilatildeo de baixa renda em regiotildees empobrecidas pelo Estado Eacute

fundamental destacar desde jaacute que a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ldquoregiotildees

empobrecidas pelo Estadordquo natildeo eacute apenas ocasional mas poliacutetica a ideia que se

deseja afirmar eacute a de que a pobreza natildeo eacute uma essecircncia do ser ou local mas uma

3

accedilatildeo do Estado na figura de seus governantes que por ausecircncia de vontade

poliacutetica produzem e reproduzem as desigualdades sociais por meio das quais

alimentam a si e aos seus Esperamos com este trabalho poder dialogar com os

pares sobre esta proposta de atuaccedilatildeo e discutir sua construccedilatildeo e viabilidade

Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local

Apoacutes sete anos de embate em 2004 inicia-se a reorientaccedilatildeo das poliacuteticas federais para a educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica primeiro com a retomada da possibilidade da oferta de cursos teacutecnicos integrados com o ensino meacutedio seguida em 2005 da alteraccedilatildeo na lei que vedava a expansatildeo da rede federal (SILVA 2009 p 78)

Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo (IF) podem ser considerados uma das

principais resultantes das mudanccedilas politico-institucionais no acircmbito da educaccedilatildeo

promovidas pelo governo Lula Um marco do descaso no Era FHC momento em

que foi vedada a expansatildeo da rede federal de educaccedilatildeo profissional no paiacutes que

foi relegada aos Estados e agrave rede privada2 a educaccedilatildeo profissional em niacutevel meacutedio

torna-se ainda durante a primeira gestatildeo um dos focos principais de atuaccedilatildeo do

governo federal

A Lei que regulamento os institutos federais natildeo apenas apontava a criaccedilatildeo

de dezenas de escolas de niacutevel teacutecnico e tecnoloacutegico que ofertam ensino meacutedio

integrado e subsequente como tambeacutem associa as unidades jaacute existentes ndash

inclusive a rede CEFET os coleacutegios de aplicaccedilatildeo (CAP) vinculados agraves

universidades federais e o Coleacutegio Pedro II - alterando a perspectiva tradicional de

abandono poliacutetico das obras realizadas por governos anteriores Considerado parte

da poliacutetica de naccedilatildeo empreendida pelo governo os IFs satildeo percebidos como

instrumentos de desenvolvimento de paiacutes e ferramenta desta poliacutetica Os institutos

podem oferecer educaccedilatildeo profissional em todos os niacuteveis e modalidades da

educaccedilatildeo profissional atuando contudo de maneira compromissada com o

desenvolvimento integral do cidadatildeo trabalhador

2 Aleacutem de retirar a responsabilidade da esfera federal a gestatildeo FHC dificultou a oferta do

ensino meacutedio geral integrado ao ensino teacutecnico o que favorecia as entidades privadas de ensino que ofertam cursos teacutecnicos concomitantes e subsequentes

4

Em siacutentese esse novo desenho constituiacutedo traz como principal funccedilatildeo a intervenccedilatildeo na realidade na perspectiva de um paiacutes soberano e inclusivo tendo como nuacutecleo para irradiaccedilatildeo das accedilotildees o desenvolvimento local e regional O papel que estaacute previsto para os Institutos Federais eacute o de garantir a perenidade das accedilotildees que visem a incorporar antes de tudo setores sociais que historicamente foram alijados dos processos de desenvolvimento e modernizaccedilatildeo do Brasil o que legitima e justifica a importacircncia de sua natureza puacuteblica e afirma uma educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica como instrumento realmente vigoroso na construccedilatildeo e resgate da cidadania e da transformaccedilatildeo social (Pacheco sa p 14)

A regiatildeo em que se insere um IF eacute de fundamental importacircncia para a

proacutepria organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo Tal fato ocorre porque a proposta dos

mesmos envolve uma atuaccedilatildeo cujo foco esteja na melhoria do lugar em que o

mesmo se encontra instalado de modo que o IF se torne um local de

referecircncia para os habitantes A educaccedilatildeo desta maneira entra como um

agente de modificaccedilatildeo regional devendo por esta razatildeo ser instalado natildeo nos

grandes centros urbanoscapitais mas preferencialmente em localidades mais

distantes destes centros onde o ensino puacuteblico e de qualidade eacute escasso e

onde a desigualdade socioeducacional seja uma evidente desenvolvedora da

proacutepria desigualdade econocircmica A proposta envolve ainda uma preocupaccedilatildeo

em investigar os potenciais locais de maneira a natildeo impor qualificaccedilotildees que

natildeo estejam de acordo com a realidade do lugar mas formaccedilotildees coerentes

com o mercado de trabalho dos arredores

O territoacuterio de abrangecircncia das accedilotildees de um Instituto eacute em resumo a mesorregiatildeo onde se localiza mas pode ir aleacutem dela quando se concebe sua atuaccedilatildeo em rede Em sua intervenccedilatildeo os Institutos devem explorar as potencialidades de desenvolvimento a vocaccedilatildeo produtiva de seu loacutecus a geraccedilatildeo e transferecircncia de tecnologias e conhecimentos e a inserccedilatildeo nesse espaccedilo da matildeo de obra qualificada Para tanto o monitoramento permanente do perfil socioeconocircmico-poliacutetico-cultural de sua regiatildeo de abrangecircncia eacute de suma importacircncia (Pacheco sa p 156)

Assim observa-se uma percepccedilatildeo de instituiccedilatildeo educacional como parte

e instrumento de uma poliacutetica puacuteblica orientada por uma perspectiva de naccedilatildeo

inclusiva e democraacutetica que atua modificando o local em que se instala por

meio da qualificaccedilatildeo profissional dos moradores de uma regiatildeo aproveitando

sempre que possiacutevel os potenciais locais A educaccedilatildeo neste sentido se torna

a mediadora de um processo maior de reduccedilatildeo das desigualdades sociais

5

Como o lugar em que se instala o instituto eacute fundamental para a

proposta poliacutetico pedagoacutegica e seleccedilatildeo dos cursos a serem oferecidos vamos

apresentar na proacutexima seccedilatildeo alguns dados e caracteriacutesticas do municiacutepio de

Belford Roxo

Belford Roxo localizando

Belford Roxo eacute historicamente falando um municiacutepio jovem Antes distrito

de Nova Iguaccedilu cidade tambeacutem localizada na regiatildeo da Baixada Fluminense

Belford Roxo apenas se constituiu como municiacutepio autocircnomo em 1990 (IBGE

2016) Com cerca de 470 mil habitantes de acordo com o Censo de 2010 a

cidade eacute essencialmente urbana Belford Roxo dista cerca de 30 km do centro da

capital de carro e a linha feacuterrea que conecta a Central do Brasil ateacute Belford Roxo

faz o percurso em cerca de uma hora

Figura 1 Localizaccedilatildeo de Belford Roxo tendo a capital do Estado como referecircncia

Fonte Google Maps

A cidade faz divisa com Nova Iguaccedilu Mesquita Duque de Caxias e Satildeo

Joatildeo de Meriti todos importantes municiacutepios da regiatildeo metropolitana do Rio de

Janeiro No uacuteltimo deles se localiza um grande polo de confecccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans e roupas em geral qual seja Vilar dos Teles

6

Considerando a importacircncia do potencial local para definiccedilatildeo dos cursos do

instituto compreendemos a criaccedilatildeo dos cursos na aacuterea de moda e Belford Roxo

Figura 2 Municiacutepio de Belford Roxo com destaque para a localizaccedilatildeo do IF e de Vilar dos Teles

Fonte Desenvolvido pela autora a partir de imagens do Google Maps

Durante muito tempo o bairro de Vilar dos Teles dominava a produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans na cidade No entanto vem atualmente dividindo espaccedilo

com outros centros como aponta mateacuteria do Jornal o Dia sobre o comeacutercio de

jeans no estado

A busca por preccedilos mais baixos cresceu tanto que o comeacutercio desse tipo de roupa antes concentrado em Vilar dos Teles em Satildeo Joatildeo de Meriti se expandiu para outros locais como a Saara no Centro do Rio e os bairros Alcacircntara e Nova Cidade ambos em Satildeo Gonccedilalo (Sorosini 17092015)

Os dados sociais de Belford Roxo natildeo satildeo os mais animadores Ainda

segundo informaccedilotildees do Censo de 2010 do IBGE um pouco mais de 6000

pessoas frequentavam o Ensino Superior na cidade e menos de 250 pessoas

estavam cursando Mestrado ou Doutorado A estes dados se agregam a triste

informaccedilatildeo de que cerca de 200 mil pessoas com mais de dez anos (total em torno

de 440 mil) foram categorizadas como sem instruccedilatildeo ou natildeo completaram o ensino

fundamental Os dados apontam ainda um total de mais de 18 mil pessoas

analfabetas com mais de 15 anos de idade sendo a maioria mulheres (10407

mulheres) Satildeo mulheres ainda que chefiam mais de 62 mil domiciacutelios na cidade

Vilar dos Teles

7

a maior parte entre elas eacute preta ou parda Vale destacar ainda que o rendimento

meacutedio de todas as fontes de mulheres acima de 10 anos em 2010 era de R$

71057 (a dos homens era R$ 1016 20) Causa ou consequecircncia mais de 11 mil

domiciacutelios tinham agrave eacutepoca renda per capita de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo dentre

estes mais de 6 mil natildeo tinham pavimentaccedilatildeo no entorno e mais de 2300 ainda

conviviam com esgoto a ceacuteu aberto

A localidade de Belford Roxo tambeacutem jaacute foi considerada uma das mais

violentas do Estado Segundo tabela desenvolvida pelo Laboratoacuterio de Anaacutelise de

Violecircncia da UERJ em 2004 a cidade estava em 4ordm lugar no iacutendice de homiciacutedios

Os dados satildeo referentes ao ano de 2001

Figura 3 Tabela com registro de taxa de homicidio em cidades do Estado

Fonte Cano Sento-Seacute Ribeiro 2004

Como pode ser visto na tabela Belford Roxo foi ultrapassada apenas por

municiacutepios proacuteximosvizinhos todos localizados tambeacutem na Baixada Fluminense

Queimados Satildeo Joatildeo de Meriti e Nova Iguaccedilu Historicamente a Baixada como eacute

frequentemente denominada a regiatildeo pelos moradores da cidade eacute conhecida por

ainda ser um loacutecus de pobreza e violecircncia

8

Figura 4 Municiacutepios da baixada Fluminense

Fonte Wikipedia

Considerando a proposta poliacutetico-pedagoacutegica dos IF eacute possiacutevel identificar

na cidade de Belford Roxo uma seacuterie de elementos que justificam a instalaccedilatildeo de

um polo de educaccedilatildeo de referecircncia que possa qualificar as cidadatildes e cidadatildeos do

local e das redondezas Vale destacar que tambeacutem foram criados institutos

federais em outras seis cidades da regiatildeo da Baixada Fluminense Neste sentido a

atuaccedilatildeo politicamente atuante dos docentes pode ser de fundamental importacircncia

para a promoccedilatildeo da qualidade de vida dos mesmos

Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades

A unidade de Belford Roxo estaacute reunindo diversos cursos que atuam

direta ou indiretamente com os setores da Economia Criativa O crescimento

ou melhor a popularizaccedilatildeo da economia criativa estaacute diretamente relacionada

com as mudanccedilas propostas pelo governo britacircnico no final dos anos 1990

Ainda que as primeiras reflexotildees tenham ocorrido na Austraacutelia e o conceito de

naccedilatildeo criativa tenha sido laacute pela primeira vez mencionado foram as discussotildees

no Reino Unido que trouxeram ao centro do debate o tema da criatividade

como insumo para as atividades produtivas Tal processo ocorre jaacute no final do

seacuteculo XX apoacutes o processo de desindustrializaccedilatildeo inglecircs momento em que haacute

uma reduccedilatildeo generalizada de empregos no paiacutes Com a crise financeira global

de 2008 torna-se necessaacuterio pensar em alternativas para o reaquecimento da

9

economia Eacute exatamente neste momento que surge a reflexatildeo sobre a

criatividade como insumo para o trabalho

Eacute quando as ditas ldquoeconomias avanccediladasrdquo se desindustrializam que ldquofazer dinheiro com ideiasrdquo torna-se plausiacutevel senatildeo necessaacuterio Eacute no momento em que se desmantela a ldquocondiccedilatildeo salarialrdquo [] que ldquojaacute natildeo podemos mais falar em empregados das 8h agraves 18hrdquo mas de empregos criativos e flexiacuteveis Eacute quando o PIB cresce enquanto a renda das famiacutelias e os empregos diminuem que se torna preciso pensar em outros tipos de trabalho Natildeo eacute agrave toa que os ventos da economia criativa sopram inicialmente da desindustrializada e financeirizada Londres (MICHETTI 2012b p 176)

Este contexto de desindustrializaccedilatildeo inglecircs conduziu agrave eleiccedilatildeo dos

trabalhistas comandados pelo primeiro ministro Tony Blair e eacute concomitante agrave

emergecircncia da denominada sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do

conhecimento Esta nova ordem social eacute caracteriacutestica dos contextos poacutes-

industriais europeus e seu crescimento se deu com o advento das tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Como indica De Marchi (2012a) esta sociedade

estaacute fundamentada essencialmente nas atividades do setor de serviccedilos sendo

que este ambiente se caracteriza por uma mudanccedila fundamental ao inveacutes da

utilizaccedilatildeo intensiva do capital trabalho orientado para uma fabricaccedilatildeo de

produtos em massa como origem da produccedilatildeo de mais valor a economia se

volta para o uso da informaccedilatildeo mdash um capital de base intelectual mdash e para a

comunicaccedilatildeo dos conhecimentos que satildeo utilizados com o fim de produzir bens

criativos e inovadores Neste momento as atividades ditas simboacutelicas passam

a ser consideradas como recurso para o desenvolvimento e no caso britacircnico

satildeo percebidas como ldquocapazes de tornar a economia poacutes-industrializadas do

Reino Unido competitiva em uma economia globalizadardquo (DE MARCHI 2012a

p 34) de maneira que se passa a investir natildeo mais centralmente no

desenvolvimento de produtos industrializados mas sim em uma inserccedilatildeo no

mercado de bens e serviccedilos criativos devido a seu alto valor agregado valor

este centralmente angariado por meio dos ativos da propriedade intelectual

Para o autor dentro desta sociedade do conhecimento uma ecircnfase

maior eacute fornecida agrave criatividade e tal centralidade estaacute alinhada com o objetivo

dos governos de promover desenvolvimento econocircmico nesta loacutegica entende-

se que a criatividade conduz agrave inovaccedilatildeo sendo que esta uacuteltima eacute percebida

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 2: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

2

motivaccedilatildeo central da pesquisa eacute a atuaccedilatildeo da docente em um novo espaccedilo

profissional a cidade de Belford Roxo muniacutecipio localizado no Grande Rio ou

seja nos arredores da capital do estado do Rio de Janeiro

O objetivo do artigo eacute apresentar o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da

docente como este mediador por meio da discussatildeo de um projeto de curso Como

fundamentos para esta proposta de qualificaccedilatildeo e geraccedilatildeo de renda estatildeo os

conceitos acerca da Economia Criativa e do Empreendedorismo ferramentas que

quando utilizadas sob a oacutetica da promoccedilatildeo social e da reduccedilatildeo da desigualdade

podem ser instrumentos reais de modificaccedilatildeo do status quo

Este artigo vai se organizar da seguinte maneira na primeira seccedilatildeo

apresentaremos a proposta de atuaccedilatildeo social que fundamenta a criaccedilatildeo dos

Institutos Federais de Educaccedilatildeo (IF) oacutergatildeo ao qual a autora estaacute atualmente

vinculada Os IFs orientam sua accedilatildeo educacional no sentido de modificar a

realidade do local onde o mesmo se encontra valorizando o potencial local

Na segunda seccedilatildeo apresentaremos a cidade de Belford Roxo espaccedilo de

atuaccedilatildeo da docente e do instituto O municiacutepio localizado na Baixada Fluminense

apresenta um dos iacutendices de desenvolvimento humano (IDH) mais criacuteticos do

estado estando na 71ordm entre os 92 municiacutepios que compotildeem atualmente o Rio de

Janeiro segundo os dados desenvolvidos pelo PNUD (2013) com referecircncia no

censo de 2010 Na terceira parte abordaremos alguns conceitos de Economia

Criativa Esta uacuteltima em sua relaccedilatildeo com o design e a moda no paiacutes foi tema da

tese de doutoramento da autora defendida em 2015 As noccedilotildees aqui

apresentadas seratildeo centralmente aquelas discutidas na tese

Na uacuteltima sessatildeo apresentaremos o projeto propriamente dito Uma

siacutentese da proposta de trabalho seraacute apresentada por meio do plano de curso e

matriz a fim de que possamos discutir a proposta de atuaccedilatildeo do docente de moda

junto agrave populaccedilatildeo de baixa renda em regiotildees empobrecidas pelo Estado Eacute

fundamental destacar desde jaacute que a utilizaccedilatildeo da expressatildeo ldquoregiotildees

empobrecidas pelo Estadordquo natildeo eacute apenas ocasional mas poliacutetica a ideia que se

deseja afirmar eacute a de que a pobreza natildeo eacute uma essecircncia do ser ou local mas uma

3

accedilatildeo do Estado na figura de seus governantes que por ausecircncia de vontade

poliacutetica produzem e reproduzem as desigualdades sociais por meio das quais

alimentam a si e aos seus Esperamos com este trabalho poder dialogar com os

pares sobre esta proposta de atuaccedilatildeo e discutir sua construccedilatildeo e viabilidade

Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local

Apoacutes sete anos de embate em 2004 inicia-se a reorientaccedilatildeo das poliacuteticas federais para a educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica primeiro com a retomada da possibilidade da oferta de cursos teacutecnicos integrados com o ensino meacutedio seguida em 2005 da alteraccedilatildeo na lei que vedava a expansatildeo da rede federal (SILVA 2009 p 78)

Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo (IF) podem ser considerados uma das

principais resultantes das mudanccedilas politico-institucionais no acircmbito da educaccedilatildeo

promovidas pelo governo Lula Um marco do descaso no Era FHC momento em

que foi vedada a expansatildeo da rede federal de educaccedilatildeo profissional no paiacutes que

foi relegada aos Estados e agrave rede privada2 a educaccedilatildeo profissional em niacutevel meacutedio

torna-se ainda durante a primeira gestatildeo um dos focos principais de atuaccedilatildeo do

governo federal

A Lei que regulamento os institutos federais natildeo apenas apontava a criaccedilatildeo

de dezenas de escolas de niacutevel teacutecnico e tecnoloacutegico que ofertam ensino meacutedio

integrado e subsequente como tambeacutem associa as unidades jaacute existentes ndash

inclusive a rede CEFET os coleacutegios de aplicaccedilatildeo (CAP) vinculados agraves

universidades federais e o Coleacutegio Pedro II - alterando a perspectiva tradicional de

abandono poliacutetico das obras realizadas por governos anteriores Considerado parte

da poliacutetica de naccedilatildeo empreendida pelo governo os IFs satildeo percebidos como

instrumentos de desenvolvimento de paiacutes e ferramenta desta poliacutetica Os institutos

podem oferecer educaccedilatildeo profissional em todos os niacuteveis e modalidades da

educaccedilatildeo profissional atuando contudo de maneira compromissada com o

desenvolvimento integral do cidadatildeo trabalhador

2 Aleacutem de retirar a responsabilidade da esfera federal a gestatildeo FHC dificultou a oferta do

ensino meacutedio geral integrado ao ensino teacutecnico o que favorecia as entidades privadas de ensino que ofertam cursos teacutecnicos concomitantes e subsequentes

4

Em siacutentese esse novo desenho constituiacutedo traz como principal funccedilatildeo a intervenccedilatildeo na realidade na perspectiva de um paiacutes soberano e inclusivo tendo como nuacutecleo para irradiaccedilatildeo das accedilotildees o desenvolvimento local e regional O papel que estaacute previsto para os Institutos Federais eacute o de garantir a perenidade das accedilotildees que visem a incorporar antes de tudo setores sociais que historicamente foram alijados dos processos de desenvolvimento e modernizaccedilatildeo do Brasil o que legitima e justifica a importacircncia de sua natureza puacuteblica e afirma uma educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica como instrumento realmente vigoroso na construccedilatildeo e resgate da cidadania e da transformaccedilatildeo social (Pacheco sa p 14)

A regiatildeo em que se insere um IF eacute de fundamental importacircncia para a

proacutepria organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo Tal fato ocorre porque a proposta dos

mesmos envolve uma atuaccedilatildeo cujo foco esteja na melhoria do lugar em que o

mesmo se encontra instalado de modo que o IF se torne um local de

referecircncia para os habitantes A educaccedilatildeo desta maneira entra como um

agente de modificaccedilatildeo regional devendo por esta razatildeo ser instalado natildeo nos

grandes centros urbanoscapitais mas preferencialmente em localidades mais

distantes destes centros onde o ensino puacuteblico e de qualidade eacute escasso e

onde a desigualdade socioeducacional seja uma evidente desenvolvedora da

proacutepria desigualdade econocircmica A proposta envolve ainda uma preocupaccedilatildeo

em investigar os potenciais locais de maneira a natildeo impor qualificaccedilotildees que

natildeo estejam de acordo com a realidade do lugar mas formaccedilotildees coerentes

com o mercado de trabalho dos arredores

O territoacuterio de abrangecircncia das accedilotildees de um Instituto eacute em resumo a mesorregiatildeo onde se localiza mas pode ir aleacutem dela quando se concebe sua atuaccedilatildeo em rede Em sua intervenccedilatildeo os Institutos devem explorar as potencialidades de desenvolvimento a vocaccedilatildeo produtiva de seu loacutecus a geraccedilatildeo e transferecircncia de tecnologias e conhecimentos e a inserccedilatildeo nesse espaccedilo da matildeo de obra qualificada Para tanto o monitoramento permanente do perfil socioeconocircmico-poliacutetico-cultural de sua regiatildeo de abrangecircncia eacute de suma importacircncia (Pacheco sa p 156)

Assim observa-se uma percepccedilatildeo de instituiccedilatildeo educacional como parte

e instrumento de uma poliacutetica puacuteblica orientada por uma perspectiva de naccedilatildeo

inclusiva e democraacutetica que atua modificando o local em que se instala por

meio da qualificaccedilatildeo profissional dos moradores de uma regiatildeo aproveitando

sempre que possiacutevel os potenciais locais A educaccedilatildeo neste sentido se torna

a mediadora de um processo maior de reduccedilatildeo das desigualdades sociais

5

Como o lugar em que se instala o instituto eacute fundamental para a

proposta poliacutetico pedagoacutegica e seleccedilatildeo dos cursos a serem oferecidos vamos

apresentar na proacutexima seccedilatildeo alguns dados e caracteriacutesticas do municiacutepio de

Belford Roxo

Belford Roxo localizando

Belford Roxo eacute historicamente falando um municiacutepio jovem Antes distrito

de Nova Iguaccedilu cidade tambeacutem localizada na regiatildeo da Baixada Fluminense

Belford Roxo apenas se constituiu como municiacutepio autocircnomo em 1990 (IBGE

2016) Com cerca de 470 mil habitantes de acordo com o Censo de 2010 a

cidade eacute essencialmente urbana Belford Roxo dista cerca de 30 km do centro da

capital de carro e a linha feacuterrea que conecta a Central do Brasil ateacute Belford Roxo

faz o percurso em cerca de uma hora

Figura 1 Localizaccedilatildeo de Belford Roxo tendo a capital do Estado como referecircncia

Fonte Google Maps

A cidade faz divisa com Nova Iguaccedilu Mesquita Duque de Caxias e Satildeo

Joatildeo de Meriti todos importantes municiacutepios da regiatildeo metropolitana do Rio de

Janeiro No uacuteltimo deles se localiza um grande polo de confecccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans e roupas em geral qual seja Vilar dos Teles

6

Considerando a importacircncia do potencial local para definiccedilatildeo dos cursos do

instituto compreendemos a criaccedilatildeo dos cursos na aacuterea de moda e Belford Roxo

Figura 2 Municiacutepio de Belford Roxo com destaque para a localizaccedilatildeo do IF e de Vilar dos Teles

Fonte Desenvolvido pela autora a partir de imagens do Google Maps

Durante muito tempo o bairro de Vilar dos Teles dominava a produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans na cidade No entanto vem atualmente dividindo espaccedilo

com outros centros como aponta mateacuteria do Jornal o Dia sobre o comeacutercio de

jeans no estado

A busca por preccedilos mais baixos cresceu tanto que o comeacutercio desse tipo de roupa antes concentrado em Vilar dos Teles em Satildeo Joatildeo de Meriti se expandiu para outros locais como a Saara no Centro do Rio e os bairros Alcacircntara e Nova Cidade ambos em Satildeo Gonccedilalo (Sorosini 17092015)

Os dados sociais de Belford Roxo natildeo satildeo os mais animadores Ainda

segundo informaccedilotildees do Censo de 2010 do IBGE um pouco mais de 6000

pessoas frequentavam o Ensino Superior na cidade e menos de 250 pessoas

estavam cursando Mestrado ou Doutorado A estes dados se agregam a triste

informaccedilatildeo de que cerca de 200 mil pessoas com mais de dez anos (total em torno

de 440 mil) foram categorizadas como sem instruccedilatildeo ou natildeo completaram o ensino

fundamental Os dados apontam ainda um total de mais de 18 mil pessoas

analfabetas com mais de 15 anos de idade sendo a maioria mulheres (10407

mulheres) Satildeo mulheres ainda que chefiam mais de 62 mil domiciacutelios na cidade

Vilar dos Teles

7

a maior parte entre elas eacute preta ou parda Vale destacar ainda que o rendimento

meacutedio de todas as fontes de mulheres acima de 10 anos em 2010 era de R$

71057 (a dos homens era R$ 1016 20) Causa ou consequecircncia mais de 11 mil

domiciacutelios tinham agrave eacutepoca renda per capita de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo dentre

estes mais de 6 mil natildeo tinham pavimentaccedilatildeo no entorno e mais de 2300 ainda

conviviam com esgoto a ceacuteu aberto

A localidade de Belford Roxo tambeacutem jaacute foi considerada uma das mais

violentas do Estado Segundo tabela desenvolvida pelo Laboratoacuterio de Anaacutelise de

Violecircncia da UERJ em 2004 a cidade estava em 4ordm lugar no iacutendice de homiciacutedios

Os dados satildeo referentes ao ano de 2001

Figura 3 Tabela com registro de taxa de homicidio em cidades do Estado

Fonte Cano Sento-Seacute Ribeiro 2004

Como pode ser visto na tabela Belford Roxo foi ultrapassada apenas por

municiacutepios proacuteximosvizinhos todos localizados tambeacutem na Baixada Fluminense

Queimados Satildeo Joatildeo de Meriti e Nova Iguaccedilu Historicamente a Baixada como eacute

frequentemente denominada a regiatildeo pelos moradores da cidade eacute conhecida por

ainda ser um loacutecus de pobreza e violecircncia

8

Figura 4 Municiacutepios da baixada Fluminense

Fonte Wikipedia

Considerando a proposta poliacutetico-pedagoacutegica dos IF eacute possiacutevel identificar

na cidade de Belford Roxo uma seacuterie de elementos que justificam a instalaccedilatildeo de

um polo de educaccedilatildeo de referecircncia que possa qualificar as cidadatildes e cidadatildeos do

local e das redondezas Vale destacar que tambeacutem foram criados institutos

federais em outras seis cidades da regiatildeo da Baixada Fluminense Neste sentido a

atuaccedilatildeo politicamente atuante dos docentes pode ser de fundamental importacircncia

para a promoccedilatildeo da qualidade de vida dos mesmos

Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades

A unidade de Belford Roxo estaacute reunindo diversos cursos que atuam

direta ou indiretamente com os setores da Economia Criativa O crescimento

ou melhor a popularizaccedilatildeo da economia criativa estaacute diretamente relacionada

com as mudanccedilas propostas pelo governo britacircnico no final dos anos 1990

Ainda que as primeiras reflexotildees tenham ocorrido na Austraacutelia e o conceito de

naccedilatildeo criativa tenha sido laacute pela primeira vez mencionado foram as discussotildees

no Reino Unido que trouxeram ao centro do debate o tema da criatividade

como insumo para as atividades produtivas Tal processo ocorre jaacute no final do

seacuteculo XX apoacutes o processo de desindustrializaccedilatildeo inglecircs momento em que haacute

uma reduccedilatildeo generalizada de empregos no paiacutes Com a crise financeira global

de 2008 torna-se necessaacuterio pensar em alternativas para o reaquecimento da

9

economia Eacute exatamente neste momento que surge a reflexatildeo sobre a

criatividade como insumo para o trabalho

Eacute quando as ditas ldquoeconomias avanccediladasrdquo se desindustrializam que ldquofazer dinheiro com ideiasrdquo torna-se plausiacutevel senatildeo necessaacuterio Eacute no momento em que se desmantela a ldquocondiccedilatildeo salarialrdquo [] que ldquojaacute natildeo podemos mais falar em empregados das 8h agraves 18hrdquo mas de empregos criativos e flexiacuteveis Eacute quando o PIB cresce enquanto a renda das famiacutelias e os empregos diminuem que se torna preciso pensar em outros tipos de trabalho Natildeo eacute agrave toa que os ventos da economia criativa sopram inicialmente da desindustrializada e financeirizada Londres (MICHETTI 2012b p 176)

Este contexto de desindustrializaccedilatildeo inglecircs conduziu agrave eleiccedilatildeo dos

trabalhistas comandados pelo primeiro ministro Tony Blair e eacute concomitante agrave

emergecircncia da denominada sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do

conhecimento Esta nova ordem social eacute caracteriacutestica dos contextos poacutes-

industriais europeus e seu crescimento se deu com o advento das tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Como indica De Marchi (2012a) esta sociedade

estaacute fundamentada essencialmente nas atividades do setor de serviccedilos sendo

que este ambiente se caracteriza por uma mudanccedila fundamental ao inveacutes da

utilizaccedilatildeo intensiva do capital trabalho orientado para uma fabricaccedilatildeo de

produtos em massa como origem da produccedilatildeo de mais valor a economia se

volta para o uso da informaccedilatildeo mdash um capital de base intelectual mdash e para a

comunicaccedilatildeo dos conhecimentos que satildeo utilizados com o fim de produzir bens

criativos e inovadores Neste momento as atividades ditas simboacutelicas passam

a ser consideradas como recurso para o desenvolvimento e no caso britacircnico

satildeo percebidas como ldquocapazes de tornar a economia poacutes-industrializadas do

Reino Unido competitiva em uma economia globalizadardquo (DE MARCHI 2012a

p 34) de maneira que se passa a investir natildeo mais centralmente no

desenvolvimento de produtos industrializados mas sim em uma inserccedilatildeo no

mercado de bens e serviccedilos criativos devido a seu alto valor agregado valor

este centralmente angariado por meio dos ativos da propriedade intelectual

Para o autor dentro desta sociedade do conhecimento uma ecircnfase

maior eacute fornecida agrave criatividade e tal centralidade estaacute alinhada com o objetivo

dos governos de promover desenvolvimento econocircmico nesta loacutegica entende-

se que a criatividade conduz agrave inovaccedilatildeo sendo que esta uacuteltima eacute percebida

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 3: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

3

accedilatildeo do Estado na figura de seus governantes que por ausecircncia de vontade

poliacutetica produzem e reproduzem as desigualdades sociais por meio das quais

alimentam a si e aos seus Esperamos com este trabalho poder dialogar com os

pares sobre esta proposta de atuaccedilatildeo e discutir sua construccedilatildeo e viabilidade

Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local

Apoacutes sete anos de embate em 2004 inicia-se a reorientaccedilatildeo das poliacuteticas federais para a educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica primeiro com a retomada da possibilidade da oferta de cursos teacutecnicos integrados com o ensino meacutedio seguida em 2005 da alteraccedilatildeo na lei que vedava a expansatildeo da rede federal (SILVA 2009 p 78)

Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo (IF) podem ser considerados uma das

principais resultantes das mudanccedilas politico-institucionais no acircmbito da educaccedilatildeo

promovidas pelo governo Lula Um marco do descaso no Era FHC momento em

que foi vedada a expansatildeo da rede federal de educaccedilatildeo profissional no paiacutes que

foi relegada aos Estados e agrave rede privada2 a educaccedilatildeo profissional em niacutevel meacutedio

torna-se ainda durante a primeira gestatildeo um dos focos principais de atuaccedilatildeo do

governo federal

A Lei que regulamento os institutos federais natildeo apenas apontava a criaccedilatildeo

de dezenas de escolas de niacutevel teacutecnico e tecnoloacutegico que ofertam ensino meacutedio

integrado e subsequente como tambeacutem associa as unidades jaacute existentes ndash

inclusive a rede CEFET os coleacutegios de aplicaccedilatildeo (CAP) vinculados agraves

universidades federais e o Coleacutegio Pedro II - alterando a perspectiva tradicional de

abandono poliacutetico das obras realizadas por governos anteriores Considerado parte

da poliacutetica de naccedilatildeo empreendida pelo governo os IFs satildeo percebidos como

instrumentos de desenvolvimento de paiacutes e ferramenta desta poliacutetica Os institutos

podem oferecer educaccedilatildeo profissional em todos os niacuteveis e modalidades da

educaccedilatildeo profissional atuando contudo de maneira compromissada com o

desenvolvimento integral do cidadatildeo trabalhador

2 Aleacutem de retirar a responsabilidade da esfera federal a gestatildeo FHC dificultou a oferta do

ensino meacutedio geral integrado ao ensino teacutecnico o que favorecia as entidades privadas de ensino que ofertam cursos teacutecnicos concomitantes e subsequentes

4

Em siacutentese esse novo desenho constituiacutedo traz como principal funccedilatildeo a intervenccedilatildeo na realidade na perspectiva de um paiacutes soberano e inclusivo tendo como nuacutecleo para irradiaccedilatildeo das accedilotildees o desenvolvimento local e regional O papel que estaacute previsto para os Institutos Federais eacute o de garantir a perenidade das accedilotildees que visem a incorporar antes de tudo setores sociais que historicamente foram alijados dos processos de desenvolvimento e modernizaccedilatildeo do Brasil o que legitima e justifica a importacircncia de sua natureza puacuteblica e afirma uma educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica como instrumento realmente vigoroso na construccedilatildeo e resgate da cidadania e da transformaccedilatildeo social (Pacheco sa p 14)

A regiatildeo em que se insere um IF eacute de fundamental importacircncia para a

proacutepria organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo Tal fato ocorre porque a proposta dos

mesmos envolve uma atuaccedilatildeo cujo foco esteja na melhoria do lugar em que o

mesmo se encontra instalado de modo que o IF se torne um local de

referecircncia para os habitantes A educaccedilatildeo desta maneira entra como um

agente de modificaccedilatildeo regional devendo por esta razatildeo ser instalado natildeo nos

grandes centros urbanoscapitais mas preferencialmente em localidades mais

distantes destes centros onde o ensino puacuteblico e de qualidade eacute escasso e

onde a desigualdade socioeducacional seja uma evidente desenvolvedora da

proacutepria desigualdade econocircmica A proposta envolve ainda uma preocupaccedilatildeo

em investigar os potenciais locais de maneira a natildeo impor qualificaccedilotildees que

natildeo estejam de acordo com a realidade do lugar mas formaccedilotildees coerentes

com o mercado de trabalho dos arredores

O territoacuterio de abrangecircncia das accedilotildees de um Instituto eacute em resumo a mesorregiatildeo onde se localiza mas pode ir aleacutem dela quando se concebe sua atuaccedilatildeo em rede Em sua intervenccedilatildeo os Institutos devem explorar as potencialidades de desenvolvimento a vocaccedilatildeo produtiva de seu loacutecus a geraccedilatildeo e transferecircncia de tecnologias e conhecimentos e a inserccedilatildeo nesse espaccedilo da matildeo de obra qualificada Para tanto o monitoramento permanente do perfil socioeconocircmico-poliacutetico-cultural de sua regiatildeo de abrangecircncia eacute de suma importacircncia (Pacheco sa p 156)

Assim observa-se uma percepccedilatildeo de instituiccedilatildeo educacional como parte

e instrumento de uma poliacutetica puacuteblica orientada por uma perspectiva de naccedilatildeo

inclusiva e democraacutetica que atua modificando o local em que se instala por

meio da qualificaccedilatildeo profissional dos moradores de uma regiatildeo aproveitando

sempre que possiacutevel os potenciais locais A educaccedilatildeo neste sentido se torna

a mediadora de um processo maior de reduccedilatildeo das desigualdades sociais

5

Como o lugar em que se instala o instituto eacute fundamental para a

proposta poliacutetico pedagoacutegica e seleccedilatildeo dos cursos a serem oferecidos vamos

apresentar na proacutexima seccedilatildeo alguns dados e caracteriacutesticas do municiacutepio de

Belford Roxo

Belford Roxo localizando

Belford Roxo eacute historicamente falando um municiacutepio jovem Antes distrito

de Nova Iguaccedilu cidade tambeacutem localizada na regiatildeo da Baixada Fluminense

Belford Roxo apenas se constituiu como municiacutepio autocircnomo em 1990 (IBGE

2016) Com cerca de 470 mil habitantes de acordo com o Censo de 2010 a

cidade eacute essencialmente urbana Belford Roxo dista cerca de 30 km do centro da

capital de carro e a linha feacuterrea que conecta a Central do Brasil ateacute Belford Roxo

faz o percurso em cerca de uma hora

Figura 1 Localizaccedilatildeo de Belford Roxo tendo a capital do Estado como referecircncia

Fonte Google Maps

A cidade faz divisa com Nova Iguaccedilu Mesquita Duque de Caxias e Satildeo

Joatildeo de Meriti todos importantes municiacutepios da regiatildeo metropolitana do Rio de

Janeiro No uacuteltimo deles se localiza um grande polo de confecccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans e roupas em geral qual seja Vilar dos Teles

6

Considerando a importacircncia do potencial local para definiccedilatildeo dos cursos do

instituto compreendemos a criaccedilatildeo dos cursos na aacuterea de moda e Belford Roxo

Figura 2 Municiacutepio de Belford Roxo com destaque para a localizaccedilatildeo do IF e de Vilar dos Teles

Fonte Desenvolvido pela autora a partir de imagens do Google Maps

Durante muito tempo o bairro de Vilar dos Teles dominava a produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans na cidade No entanto vem atualmente dividindo espaccedilo

com outros centros como aponta mateacuteria do Jornal o Dia sobre o comeacutercio de

jeans no estado

A busca por preccedilos mais baixos cresceu tanto que o comeacutercio desse tipo de roupa antes concentrado em Vilar dos Teles em Satildeo Joatildeo de Meriti se expandiu para outros locais como a Saara no Centro do Rio e os bairros Alcacircntara e Nova Cidade ambos em Satildeo Gonccedilalo (Sorosini 17092015)

Os dados sociais de Belford Roxo natildeo satildeo os mais animadores Ainda

segundo informaccedilotildees do Censo de 2010 do IBGE um pouco mais de 6000

pessoas frequentavam o Ensino Superior na cidade e menos de 250 pessoas

estavam cursando Mestrado ou Doutorado A estes dados se agregam a triste

informaccedilatildeo de que cerca de 200 mil pessoas com mais de dez anos (total em torno

de 440 mil) foram categorizadas como sem instruccedilatildeo ou natildeo completaram o ensino

fundamental Os dados apontam ainda um total de mais de 18 mil pessoas

analfabetas com mais de 15 anos de idade sendo a maioria mulheres (10407

mulheres) Satildeo mulheres ainda que chefiam mais de 62 mil domiciacutelios na cidade

Vilar dos Teles

7

a maior parte entre elas eacute preta ou parda Vale destacar ainda que o rendimento

meacutedio de todas as fontes de mulheres acima de 10 anos em 2010 era de R$

71057 (a dos homens era R$ 1016 20) Causa ou consequecircncia mais de 11 mil

domiciacutelios tinham agrave eacutepoca renda per capita de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo dentre

estes mais de 6 mil natildeo tinham pavimentaccedilatildeo no entorno e mais de 2300 ainda

conviviam com esgoto a ceacuteu aberto

A localidade de Belford Roxo tambeacutem jaacute foi considerada uma das mais

violentas do Estado Segundo tabela desenvolvida pelo Laboratoacuterio de Anaacutelise de

Violecircncia da UERJ em 2004 a cidade estava em 4ordm lugar no iacutendice de homiciacutedios

Os dados satildeo referentes ao ano de 2001

Figura 3 Tabela com registro de taxa de homicidio em cidades do Estado

Fonte Cano Sento-Seacute Ribeiro 2004

Como pode ser visto na tabela Belford Roxo foi ultrapassada apenas por

municiacutepios proacuteximosvizinhos todos localizados tambeacutem na Baixada Fluminense

Queimados Satildeo Joatildeo de Meriti e Nova Iguaccedilu Historicamente a Baixada como eacute

frequentemente denominada a regiatildeo pelos moradores da cidade eacute conhecida por

ainda ser um loacutecus de pobreza e violecircncia

8

Figura 4 Municiacutepios da baixada Fluminense

Fonte Wikipedia

Considerando a proposta poliacutetico-pedagoacutegica dos IF eacute possiacutevel identificar

na cidade de Belford Roxo uma seacuterie de elementos que justificam a instalaccedilatildeo de

um polo de educaccedilatildeo de referecircncia que possa qualificar as cidadatildes e cidadatildeos do

local e das redondezas Vale destacar que tambeacutem foram criados institutos

federais em outras seis cidades da regiatildeo da Baixada Fluminense Neste sentido a

atuaccedilatildeo politicamente atuante dos docentes pode ser de fundamental importacircncia

para a promoccedilatildeo da qualidade de vida dos mesmos

Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades

A unidade de Belford Roxo estaacute reunindo diversos cursos que atuam

direta ou indiretamente com os setores da Economia Criativa O crescimento

ou melhor a popularizaccedilatildeo da economia criativa estaacute diretamente relacionada

com as mudanccedilas propostas pelo governo britacircnico no final dos anos 1990

Ainda que as primeiras reflexotildees tenham ocorrido na Austraacutelia e o conceito de

naccedilatildeo criativa tenha sido laacute pela primeira vez mencionado foram as discussotildees

no Reino Unido que trouxeram ao centro do debate o tema da criatividade

como insumo para as atividades produtivas Tal processo ocorre jaacute no final do

seacuteculo XX apoacutes o processo de desindustrializaccedilatildeo inglecircs momento em que haacute

uma reduccedilatildeo generalizada de empregos no paiacutes Com a crise financeira global

de 2008 torna-se necessaacuterio pensar em alternativas para o reaquecimento da

9

economia Eacute exatamente neste momento que surge a reflexatildeo sobre a

criatividade como insumo para o trabalho

Eacute quando as ditas ldquoeconomias avanccediladasrdquo se desindustrializam que ldquofazer dinheiro com ideiasrdquo torna-se plausiacutevel senatildeo necessaacuterio Eacute no momento em que se desmantela a ldquocondiccedilatildeo salarialrdquo [] que ldquojaacute natildeo podemos mais falar em empregados das 8h agraves 18hrdquo mas de empregos criativos e flexiacuteveis Eacute quando o PIB cresce enquanto a renda das famiacutelias e os empregos diminuem que se torna preciso pensar em outros tipos de trabalho Natildeo eacute agrave toa que os ventos da economia criativa sopram inicialmente da desindustrializada e financeirizada Londres (MICHETTI 2012b p 176)

Este contexto de desindustrializaccedilatildeo inglecircs conduziu agrave eleiccedilatildeo dos

trabalhistas comandados pelo primeiro ministro Tony Blair e eacute concomitante agrave

emergecircncia da denominada sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do

conhecimento Esta nova ordem social eacute caracteriacutestica dos contextos poacutes-

industriais europeus e seu crescimento se deu com o advento das tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Como indica De Marchi (2012a) esta sociedade

estaacute fundamentada essencialmente nas atividades do setor de serviccedilos sendo

que este ambiente se caracteriza por uma mudanccedila fundamental ao inveacutes da

utilizaccedilatildeo intensiva do capital trabalho orientado para uma fabricaccedilatildeo de

produtos em massa como origem da produccedilatildeo de mais valor a economia se

volta para o uso da informaccedilatildeo mdash um capital de base intelectual mdash e para a

comunicaccedilatildeo dos conhecimentos que satildeo utilizados com o fim de produzir bens

criativos e inovadores Neste momento as atividades ditas simboacutelicas passam

a ser consideradas como recurso para o desenvolvimento e no caso britacircnico

satildeo percebidas como ldquocapazes de tornar a economia poacutes-industrializadas do

Reino Unido competitiva em uma economia globalizadardquo (DE MARCHI 2012a

p 34) de maneira que se passa a investir natildeo mais centralmente no

desenvolvimento de produtos industrializados mas sim em uma inserccedilatildeo no

mercado de bens e serviccedilos criativos devido a seu alto valor agregado valor

este centralmente angariado por meio dos ativos da propriedade intelectual

Para o autor dentro desta sociedade do conhecimento uma ecircnfase

maior eacute fornecida agrave criatividade e tal centralidade estaacute alinhada com o objetivo

dos governos de promover desenvolvimento econocircmico nesta loacutegica entende-

se que a criatividade conduz agrave inovaccedilatildeo sendo que esta uacuteltima eacute percebida

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 4: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

4

Em siacutentese esse novo desenho constituiacutedo traz como principal funccedilatildeo a intervenccedilatildeo na realidade na perspectiva de um paiacutes soberano e inclusivo tendo como nuacutecleo para irradiaccedilatildeo das accedilotildees o desenvolvimento local e regional O papel que estaacute previsto para os Institutos Federais eacute o de garantir a perenidade das accedilotildees que visem a incorporar antes de tudo setores sociais que historicamente foram alijados dos processos de desenvolvimento e modernizaccedilatildeo do Brasil o que legitima e justifica a importacircncia de sua natureza puacuteblica e afirma uma educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica como instrumento realmente vigoroso na construccedilatildeo e resgate da cidadania e da transformaccedilatildeo social (Pacheco sa p 14)

A regiatildeo em que se insere um IF eacute de fundamental importacircncia para a

proacutepria organizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo Tal fato ocorre porque a proposta dos

mesmos envolve uma atuaccedilatildeo cujo foco esteja na melhoria do lugar em que o

mesmo se encontra instalado de modo que o IF se torne um local de

referecircncia para os habitantes A educaccedilatildeo desta maneira entra como um

agente de modificaccedilatildeo regional devendo por esta razatildeo ser instalado natildeo nos

grandes centros urbanoscapitais mas preferencialmente em localidades mais

distantes destes centros onde o ensino puacuteblico e de qualidade eacute escasso e

onde a desigualdade socioeducacional seja uma evidente desenvolvedora da

proacutepria desigualdade econocircmica A proposta envolve ainda uma preocupaccedilatildeo

em investigar os potenciais locais de maneira a natildeo impor qualificaccedilotildees que

natildeo estejam de acordo com a realidade do lugar mas formaccedilotildees coerentes

com o mercado de trabalho dos arredores

O territoacuterio de abrangecircncia das accedilotildees de um Instituto eacute em resumo a mesorregiatildeo onde se localiza mas pode ir aleacutem dela quando se concebe sua atuaccedilatildeo em rede Em sua intervenccedilatildeo os Institutos devem explorar as potencialidades de desenvolvimento a vocaccedilatildeo produtiva de seu loacutecus a geraccedilatildeo e transferecircncia de tecnologias e conhecimentos e a inserccedilatildeo nesse espaccedilo da matildeo de obra qualificada Para tanto o monitoramento permanente do perfil socioeconocircmico-poliacutetico-cultural de sua regiatildeo de abrangecircncia eacute de suma importacircncia (Pacheco sa p 156)

Assim observa-se uma percepccedilatildeo de instituiccedilatildeo educacional como parte

e instrumento de uma poliacutetica puacuteblica orientada por uma perspectiva de naccedilatildeo

inclusiva e democraacutetica que atua modificando o local em que se instala por

meio da qualificaccedilatildeo profissional dos moradores de uma regiatildeo aproveitando

sempre que possiacutevel os potenciais locais A educaccedilatildeo neste sentido se torna

a mediadora de um processo maior de reduccedilatildeo das desigualdades sociais

5

Como o lugar em que se instala o instituto eacute fundamental para a

proposta poliacutetico pedagoacutegica e seleccedilatildeo dos cursos a serem oferecidos vamos

apresentar na proacutexima seccedilatildeo alguns dados e caracteriacutesticas do municiacutepio de

Belford Roxo

Belford Roxo localizando

Belford Roxo eacute historicamente falando um municiacutepio jovem Antes distrito

de Nova Iguaccedilu cidade tambeacutem localizada na regiatildeo da Baixada Fluminense

Belford Roxo apenas se constituiu como municiacutepio autocircnomo em 1990 (IBGE

2016) Com cerca de 470 mil habitantes de acordo com o Censo de 2010 a

cidade eacute essencialmente urbana Belford Roxo dista cerca de 30 km do centro da

capital de carro e a linha feacuterrea que conecta a Central do Brasil ateacute Belford Roxo

faz o percurso em cerca de uma hora

Figura 1 Localizaccedilatildeo de Belford Roxo tendo a capital do Estado como referecircncia

Fonte Google Maps

A cidade faz divisa com Nova Iguaccedilu Mesquita Duque de Caxias e Satildeo

Joatildeo de Meriti todos importantes municiacutepios da regiatildeo metropolitana do Rio de

Janeiro No uacuteltimo deles se localiza um grande polo de confecccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans e roupas em geral qual seja Vilar dos Teles

6

Considerando a importacircncia do potencial local para definiccedilatildeo dos cursos do

instituto compreendemos a criaccedilatildeo dos cursos na aacuterea de moda e Belford Roxo

Figura 2 Municiacutepio de Belford Roxo com destaque para a localizaccedilatildeo do IF e de Vilar dos Teles

Fonte Desenvolvido pela autora a partir de imagens do Google Maps

Durante muito tempo o bairro de Vilar dos Teles dominava a produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans na cidade No entanto vem atualmente dividindo espaccedilo

com outros centros como aponta mateacuteria do Jornal o Dia sobre o comeacutercio de

jeans no estado

A busca por preccedilos mais baixos cresceu tanto que o comeacutercio desse tipo de roupa antes concentrado em Vilar dos Teles em Satildeo Joatildeo de Meriti se expandiu para outros locais como a Saara no Centro do Rio e os bairros Alcacircntara e Nova Cidade ambos em Satildeo Gonccedilalo (Sorosini 17092015)

Os dados sociais de Belford Roxo natildeo satildeo os mais animadores Ainda

segundo informaccedilotildees do Censo de 2010 do IBGE um pouco mais de 6000

pessoas frequentavam o Ensino Superior na cidade e menos de 250 pessoas

estavam cursando Mestrado ou Doutorado A estes dados se agregam a triste

informaccedilatildeo de que cerca de 200 mil pessoas com mais de dez anos (total em torno

de 440 mil) foram categorizadas como sem instruccedilatildeo ou natildeo completaram o ensino

fundamental Os dados apontam ainda um total de mais de 18 mil pessoas

analfabetas com mais de 15 anos de idade sendo a maioria mulheres (10407

mulheres) Satildeo mulheres ainda que chefiam mais de 62 mil domiciacutelios na cidade

Vilar dos Teles

7

a maior parte entre elas eacute preta ou parda Vale destacar ainda que o rendimento

meacutedio de todas as fontes de mulheres acima de 10 anos em 2010 era de R$

71057 (a dos homens era R$ 1016 20) Causa ou consequecircncia mais de 11 mil

domiciacutelios tinham agrave eacutepoca renda per capita de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo dentre

estes mais de 6 mil natildeo tinham pavimentaccedilatildeo no entorno e mais de 2300 ainda

conviviam com esgoto a ceacuteu aberto

A localidade de Belford Roxo tambeacutem jaacute foi considerada uma das mais

violentas do Estado Segundo tabela desenvolvida pelo Laboratoacuterio de Anaacutelise de

Violecircncia da UERJ em 2004 a cidade estava em 4ordm lugar no iacutendice de homiciacutedios

Os dados satildeo referentes ao ano de 2001

Figura 3 Tabela com registro de taxa de homicidio em cidades do Estado

Fonte Cano Sento-Seacute Ribeiro 2004

Como pode ser visto na tabela Belford Roxo foi ultrapassada apenas por

municiacutepios proacuteximosvizinhos todos localizados tambeacutem na Baixada Fluminense

Queimados Satildeo Joatildeo de Meriti e Nova Iguaccedilu Historicamente a Baixada como eacute

frequentemente denominada a regiatildeo pelos moradores da cidade eacute conhecida por

ainda ser um loacutecus de pobreza e violecircncia

8

Figura 4 Municiacutepios da baixada Fluminense

Fonte Wikipedia

Considerando a proposta poliacutetico-pedagoacutegica dos IF eacute possiacutevel identificar

na cidade de Belford Roxo uma seacuterie de elementos que justificam a instalaccedilatildeo de

um polo de educaccedilatildeo de referecircncia que possa qualificar as cidadatildes e cidadatildeos do

local e das redondezas Vale destacar que tambeacutem foram criados institutos

federais em outras seis cidades da regiatildeo da Baixada Fluminense Neste sentido a

atuaccedilatildeo politicamente atuante dos docentes pode ser de fundamental importacircncia

para a promoccedilatildeo da qualidade de vida dos mesmos

Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades

A unidade de Belford Roxo estaacute reunindo diversos cursos que atuam

direta ou indiretamente com os setores da Economia Criativa O crescimento

ou melhor a popularizaccedilatildeo da economia criativa estaacute diretamente relacionada

com as mudanccedilas propostas pelo governo britacircnico no final dos anos 1990

Ainda que as primeiras reflexotildees tenham ocorrido na Austraacutelia e o conceito de

naccedilatildeo criativa tenha sido laacute pela primeira vez mencionado foram as discussotildees

no Reino Unido que trouxeram ao centro do debate o tema da criatividade

como insumo para as atividades produtivas Tal processo ocorre jaacute no final do

seacuteculo XX apoacutes o processo de desindustrializaccedilatildeo inglecircs momento em que haacute

uma reduccedilatildeo generalizada de empregos no paiacutes Com a crise financeira global

de 2008 torna-se necessaacuterio pensar em alternativas para o reaquecimento da

9

economia Eacute exatamente neste momento que surge a reflexatildeo sobre a

criatividade como insumo para o trabalho

Eacute quando as ditas ldquoeconomias avanccediladasrdquo se desindustrializam que ldquofazer dinheiro com ideiasrdquo torna-se plausiacutevel senatildeo necessaacuterio Eacute no momento em que se desmantela a ldquocondiccedilatildeo salarialrdquo [] que ldquojaacute natildeo podemos mais falar em empregados das 8h agraves 18hrdquo mas de empregos criativos e flexiacuteveis Eacute quando o PIB cresce enquanto a renda das famiacutelias e os empregos diminuem que se torna preciso pensar em outros tipos de trabalho Natildeo eacute agrave toa que os ventos da economia criativa sopram inicialmente da desindustrializada e financeirizada Londres (MICHETTI 2012b p 176)

Este contexto de desindustrializaccedilatildeo inglecircs conduziu agrave eleiccedilatildeo dos

trabalhistas comandados pelo primeiro ministro Tony Blair e eacute concomitante agrave

emergecircncia da denominada sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do

conhecimento Esta nova ordem social eacute caracteriacutestica dos contextos poacutes-

industriais europeus e seu crescimento se deu com o advento das tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Como indica De Marchi (2012a) esta sociedade

estaacute fundamentada essencialmente nas atividades do setor de serviccedilos sendo

que este ambiente se caracteriza por uma mudanccedila fundamental ao inveacutes da

utilizaccedilatildeo intensiva do capital trabalho orientado para uma fabricaccedilatildeo de

produtos em massa como origem da produccedilatildeo de mais valor a economia se

volta para o uso da informaccedilatildeo mdash um capital de base intelectual mdash e para a

comunicaccedilatildeo dos conhecimentos que satildeo utilizados com o fim de produzir bens

criativos e inovadores Neste momento as atividades ditas simboacutelicas passam

a ser consideradas como recurso para o desenvolvimento e no caso britacircnico

satildeo percebidas como ldquocapazes de tornar a economia poacutes-industrializadas do

Reino Unido competitiva em uma economia globalizadardquo (DE MARCHI 2012a

p 34) de maneira que se passa a investir natildeo mais centralmente no

desenvolvimento de produtos industrializados mas sim em uma inserccedilatildeo no

mercado de bens e serviccedilos criativos devido a seu alto valor agregado valor

este centralmente angariado por meio dos ativos da propriedade intelectual

Para o autor dentro desta sociedade do conhecimento uma ecircnfase

maior eacute fornecida agrave criatividade e tal centralidade estaacute alinhada com o objetivo

dos governos de promover desenvolvimento econocircmico nesta loacutegica entende-

se que a criatividade conduz agrave inovaccedilatildeo sendo que esta uacuteltima eacute percebida

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 5: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

5

Como o lugar em que se instala o instituto eacute fundamental para a

proposta poliacutetico pedagoacutegica e seleccedilatildeo dos cursos a serem oferecidos vamos

apresentar na proacutexima seccedilatildeo alguns dados e caracteriacutesticas do municiacutepio de

Belford Roxo

Belford Roxo localizando

Belford Roxo eacute historicamente falando um municiacutepio jovem Antes distrito

de Nova Iguaccedilu cidade tambeacutem localizada na regiatildeo da Baixada Fluminense

Belford Roxo apenas se constituiu como municiacutepio autocircnomo em 1990 (IBGE

2016) Com cerca de 470 mil habitantes de acordo com o Censo de 2010 a

cidade eacute essencialmente urbana Belford Roxo dista cerca de 30 km do centro da

capital de carro e a linha feacuterrea que conecta a Central do Brasil ateacute Belford Roxo

faz o percurso em cerca de uma hora

Figura 1 Localizaccedilatildeo de Belford Roxo tendo a capital do Estado como referecircncia

Fonte Google Maps

A cidade faz divisa com Nova Iguaccedilu Mesquita Duque de Caxias e Satildeo

Joatildeo de Meriti todos importantes municiacutepios da regiatildeo metropolitana do Rio de

Janeiro No uacuteltimo deles se localiza um grande polo de confecccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans e roupas em geral qual seja Vilar dos Teles

6

Considerando a importacircncia do potencial local para definiccedilatildeo dos cursos do

instituto compreendemos a criaccedilatildeo dos cursos na aacuterea de moda e Belford Roxo

Figura 2 Municiacutepio de Belford Roxo com destaque para a localizaccedilatildeo do IF e de Vilar dos Teles

Fonte Desenvolvido pela autora a partir de imagens do Google Maps

Durante muito tempo o bairro de Vilar dos Teles dominava a produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans na cidade No entanto vem atualmente dividindo espaccedilo

com outros centros como aponta mateacuteria do Jornal o Dia sobre o comeacutercio de

jeans no estado

A busca por preccedilos mais baixos cresceu tanto que o comeacutercio desse tipo de roupa antes concentrado em Vilar dos Teles em Satildeo Joatildeo de Meriti se expandiu para outros locais como a Saara no Centro do Rio e os bairros Alcacircntara e Nova Cidade ambos em Satildeo Gonccedilalo (Sorosini 17092015)

Os dados sociais de Belford Roxo natildeo satildeo os mais animadores Ainda

segundo informaccedilotildees do Censo de 2010 do IBGE um pouco mais de 6000

pessoas frequentavam o Ensino Superior na cidade e menos de 250 pessoas

estavam cursando Mestrado ou Doutorado A estes dados se agregam a triste

informaccedilatildeo de que cerca de 200 mil pessoas com mais de dez anos (total em torno

de 440 mil) foram categorizadas como sem instruccedilatildeo ou natildeo completaram o ensino

fundamental Os dados apontam ainda um total de mais de 18 mil pessoas

analfabetas com mais de 15 anos de idade sendo a maioria mulheres (10407

mulheres) Satildeo mulheres ainda que chefiam mais de 62 mil domiciacutelios na cidade

Vilar dos Teles

7

a maior parte entre elas eacute preta ou parda Vale destacar ainda que o rendimento

meacutedio de todas as fontes de mulheres acima de 10 anos em 2010 era de R$

71057 (a dos homens era R$ 1016 20) Causa ou consequecircncia mais de 11 mil

domiciacutelios tinham agrave eacutepoca renda per capita de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo dentre

estes mais de 6 mil natildeo tinham pavimentaccedilatildeo no entorno e mais de 2300 ainda

conviviam com esgoto a ceacuteu aberto

A localidade de Belford Roxo tambeacutem jaacute foi considerada uma das mais

violentas do Estado Segundo tabela desenvolvida pelo Laboratoacuterio de Anaacutelise de

Violecircncia da UERJ em 2004 a cidade estava em 4ordm lugar no iacutendice de homiciacutedios

Os dados satildeo referentes ao ano de 2001

Figura 3 Tabela com registro de taxa de homicidio em cidades do Estado

Fonte Cano Sento-Seacute Ribeiro 2004

Como pode ser visto na tabela Belford Roxo foi ultrapassada apenas por

municiacutepios proacuteximosvizinhos todos localizados tambeacutem na Baixada Fluminense

Queimados Satildeo Joatildeo de Meriti e Nova Iguaccedilu Historicamente a Baixada como eacute

frequentemente denominada a regiatildeo pelos moradores da cidade eacute conhecida por

ainda ser um loacutecus de pobreza e violecircncia

8

Figura 4 Municiacutepios da baixada Fluminense

Fonte Wikipedia

Considerando a proposta poliacutetico-pedagoacutegica dos IF eacute possiacutevel identificar

na cidade de Belford Roxo uma seacuterie de elementos que justificam a instalaccedilatildeo de

um polo de educaccedilatildeo de referecircncia que possa qualificar as cidadatildes e cidadatildeos do

local e das redondezas Vale destacar que tambeacutem foram criados institutos

federais em outras seis cidades da regiatildeo da Baixada Fluminense Neste sentido a

atuaccedilatildeo politicamente atuante dos docentes pode ser de fundamental importacircncia

para a promoccedilatildeo da qualidade de vida dos mesmos

Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades

A unidade de Belford Roxo estaacute reunindo diversos cursos que atuam

direta ou indiretamente com os setores da Economia Criativa O crescimento

ou melhor a popularizaccedilatildeo da economia criativa estaacute diretamente relacionada

com as mudanccedilas propostas pelo governo britacircnico no final dos anos 1990

Ainda que as primeiras reflexotildees tenham ocorrido na Austraacutelia e o conceito de

naccedilatildeo criativa tenha sido laacute pela primeira vez mencionado foram as discussotildees

no Reino Unido que trouxeram ao centro do debate o tema da criatividade

como insumo para as atividades produtivas Tal processo ocorre jaacute no final do

seacuteculo XX apoacutes o processo de desindustrializaccedilatildeo inglecircs momento em que haacute

uma reduccedilatildeo generalizada de empregos no paiacutes Com a crise financeira global

de 2008 torna-se necessaacuterio pensar em alternativas para o reaquecimento da

9

economia Eacute exatamente neste momento que surge a reflexatildeo sobre a

criatividade como insumo para o trabalho

Eacute quando as ditas ldquoeconomias avanccediladasrdquo se desindustrializam que ldquofazer dinheiro com ideiasrdquo torna-se plausiacutevel senatildeo necessaacuterio Eacute no momento em que se desmantela a ldquocondiccedilatildeo salarialrdquo [] que ldquojaacute natildeo podemos mais falar em empregados das 8h agraves 18hrdquo mas de empregos criativos e flexiacuteveis Eacute quando o PIB cresce enquanto a renda das famiacutelias e os empregos diminuem que se torna preciso pensar em outros tipos de trabalho Natildeo eacute agrave toa que os ventos da economia criativa sopram inicialmente da desindustrializada e financeirizada Londres (MICHETTI 2012b p 176)

Este contexto de desindustrializaccedilatildeo inglecircs conduziu agrave eleiccedilatildeo dos

trabalhistas comandados pelo primeiro ministro Tony Blair e eacute concomitante agrave

emergecircncia da denominada sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do

conhecimento Esta nova ordem social eacute caracteriacutestica dos contextos poacutes-

industriais europeus e seu crescimento se deu com o advento das tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Como indica De Marchi (2012a) esta sociedade

estaacute fundamentada essencialmente nas atividades do setor de serviccedilos sendo

que este ambiente se caracteriza por uma mudanccedila fundamental ao inveacutes da

utilizaccedilatildeo intensiva do capital trabalho orientado para uma fabricaccedilatildeo de

produtos em massa como origem da produccedilatildeo de mais valor a economia se

volta para o uso da informaccedilatildeo mdash um capital de base intelectual mdash e para a

comunicaccedilatildeo dos conhecimentos que satildeo utilizados com o fim de produzir bens

criativos e inovadores Neste momento as atividades ditas simboacutelicas passam

a ser consideradas como recurso para o desenvolvimento e no caso britacircnico

satildeo percebidas como ldquocapazes de tornar a economia poacutes-industrializadas do

Reino Unido competitiva em uma economia globalizadardquo (DE MARCHI 2012a

p 34) de maneira que se passa a investir natildeo mais centralmente no

desenvolvimento de produtos industrializados mas sim em uma inserccedilatildeo no

mercado de bens e serviccedilos criativos devido a seu alto valor agregado valor

este centralmente angariado por meio dos ativos da propriedade intelectual

Para o autor dentro desta sociedade do conhecimento uma ecircnfase

maior eacute fornecida agrave criatividade e tal centralidade estaacute alinhada com o objetivo

dos governos de promover desenvolvimento econocircmico nesta loacutegica entende-

se que a criatividade conduz agrave inovaccedilatildeo sendo que esta uacuteltima eacute percebida

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 6: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

6

Considerando a importacircncia do potencial local para definiccedilatildeo dos cursos do

instituto compreendemos a criaccedilatildeo dos cursos na aacuterea de moda e Belford Roxo

Figura 2 Municiacutepio de Belford Roxo com destaque para a localizaccedilatildeo do IF e de Vilar dos Teles

Fonte Desenvolvido pela autora a partir de imagens do Google Maps

Durante muito tempo o bairro de Vilar dos Teles dominava a produccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo de jeans na cidade No entanto vem atualmente dividindo espaccedilo

com outros centros como aponta mateacuteria do Jornal o Dia sobre o comeacutercio de

jeans no estado

A busca por preccedilos mais baixos cresceu tanto que o comeacutercio desse tipo de roupa antes concentrado em Vilar dos Teles em Satildeo Joatildeo de Meriti se expandiu para outros locais como a Saara no Centro do Rio e os bairros Alcacircntara e Nova Cidade ambos em Satildeo Gonccedilalo (Sorosini 17092015)

Os dados sociais de Belford Roxo natildeo satildeo os mais animadores Ainda

segundo informaccedilotildees do Censo de 2010 do IBGE um pouco mais de 6000

pessoas frequentavam o Ensino Superior na cidade e menos de 250 pessoas

estavam cursando Mestrado ou Doutorado A estes dados se agregam a triste

informaccedilatildeo de que cerca de 200 mil pessoas com mais de dez anos (total em torno

de 440 mil) foram categorizadas como sem instruccedilatildeo ou natildeo completaram o ensino

fundamental Os dados apontam ainda um total de mais de 18 mil pessoas

analfabetas com mais de 15 anos de idade sendo a maioria mulheres (10407

mulheres) Satildeo mulheres ainda que chefiam mais de 62 mil domiciacutelios na cidade

Vilar dos Teles

7

a maior parte entre elas eacute preta ou parda Vale destacar ainda que o rendimento

meacutedio de todas as fontes de mulheres acima de 10 anos em 2010 era de R$

71057 (a dos homens era R$ 1016 20) Causa ou consequecircncia mais de 11 mil

domiciacutelios tinham agrave eacutepoca renda per capita de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo dentre

estes mais de 6 mil natildeo tinham pavimentaccedilatildeo no entorno e mais de 2300 ainda

conviviam com esgoto a ceacuteu aberto

A localidade de Belford Roxo tambeacutem jaacute foi considerada uma das mais

violentas do Estado Segundo tabela desenvolvida pelo Laboratoacuterio de Anaacutelise de

Violecircncia da UERJ em 2004 a cidade estava em 4ordm lugar no iacutendice de homiciacutedios

Os dados satildeo referentes ao ano de 2001

Figura 3 Tabela com registro de taxa de homicidio em cidades do Estado

Fonte Cano Sento-Seacute Ribeiro 2004

Como pode ser visto na tabela Belford Roxo foi ultrapassada apenas por

municiacutepios proacuteximosvizinhos todos localizados tambeacutem na Baixada Fluminense

Queimados Satildeo Joatildeo de Meriti e Nova Iguaccedilu Historicamente a Baixada como eacute

frequentemente denominada a regiatildeo pelos moradores da cidade eacute conhecida por

ainda ser um loacutecus de pobreza e violecircncia

8

Figura 4 Municiacutepios da baixada Fluminense

Fonte Wikipedia

Considerando a proposta poliacutetico-pedagoacutegica dos IF eacute possiacutevel identificar

na cidade de Belford Roxo uma seacuterie de elementos que justificam a instalaccedilatildeo de

um polo de educaccedilatildeo de referecircncia que possa qualificar as cidadatildes e cidadatildeos do

local e das redondezas Vale destacar que tambeacutem foram criados institutos

federais em outras seis cidades da regiatildeo da Baixada Fluminense Neste sentido a

atuaccedilatildeo politicamente atuante dos docentes pode ser de fundamental importacircncia

para a promoccedilatildeo da qualidade de vida dos mesmos

Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades

A unidade de Belford Roxo estaacute reunindo diversos cursos que atuam

direta ou indiretamente com os setores da Economia Criativa O crescimento

ou melhor a popularizaccedilatildeo da economia criativa estaacute diretamente relacionada

com as mudanccedilas propostas pelo governo britacircnico no final dos anos 1990

Ainda que as primeiras reflexotildees tenham ocorrido na Austraacutelia e o conceito de

naccedilatildeo criativa tenha sido laacute pela primeira vez mencionado foram as discussotildees

no Reino Unido que trouxeram ao centro do debate o tema da criatividade

como insumo para as atividades produtivas Tal processo ocorre jaacute no final do

seacuteculo XX apoacutes o processo de desindustrializaccedilatildeo inglecircs momento em que haacute

uma reduccedilatildeo generalizada de empregos no paiacutes Com a crise financeira global

de 2008 torna-se necessaacuterio pensar em alternativas para o reaquecimento da

9

economia Eacute exatamente neste momento que surge a reflexatildeo sobre a

criatividade como insumo para o trabalho

Eacute quando as ditas ldquoeconomias avanccediladasrdquo se desindustrializam que ldquofazer dinheiro com ideiasrdquo torna-se plausiacutevel senatildeo necessaacuterio Eacute no momento em que se desmantela a ldquocondiccedilatildeo salarialrdquo [] que ldquojaacute natildeo podemos mais falar em empregados das 8h agraves 18hrdquo mas de empregos criativos e flexiacuteveis Eacute quando o PIB cresce enquanto a renda das famiacutelias e os empregos diminuem que se torna preciso pensar em outros tipos de trabalho Natildeo eacute agrave toa que os ventos da economia criativa sopram inicialmente da desindustrializada e financeirizada Londres (MICHETTI 2012b p 176)

Este contexto de desindustrializaccedilatildeo inglecircs conduziu agrave eleiccedilatildeo dos

trabalhistas comandados pelo primeiro ministro Tony Blair e eacute concomitante agrave

emergecircncia da denominada sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do

conhecimento Esta nova ordem social eacute caracteriacutestica dos contextos poacutes-

industriais europeus e seu crescimento se deu com o advento das tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Como indica De Marchi (2012a) esta sociedade

estaacute fundamentada essencialmente nas atividades do setor de serviccedilos sendo

que este ambiente se caracteriza por uma mudanccedila fundamental ao inveacutes da

utilizaccedilatildeo intensiva do capital trabalho orientado para uma fabricaccedilatildeo de

produtos em massa como origem da produccedilatildeo de mais valor a economia se

volta para o uso da informaccedilatildeo mdash um capital de base intelectual mdash e para a

comunicaccedilatildeo dos conhecimentos que satildeo utilizados com o fim de produzir bens

criativos e inovadores Neste momento as atividades ditas simboacutelicas passam

a ser consideradas como recurso para o desenvolvimento e no caso britacircnico

satildeo percebidas como ldquocapazes de tornar a economia poacutes-industrializadas do

Reino Unido competitiva em uma economia globalizadardquo (DE MARCHI 2012a

p 34) de maneira que se passa a investir natildeo mais centralmente no

desenvolvimento de produtos industrializados mas sim em uma inserccedilatildeo no

mercado de bens e serviccedilos criativos devido a seu alto valor agregado valor

este centralmente angariado por meio dos ativos da propriedade intelectual

Para o autor dentro desta sociedade do conhecimento uma ecircnfase

maior eacute fornecida agrave criatividade e tal centralidade estaacute alinhada com o objetivo

dos governos de promover desenvolvimento econocircmico nesta loacutegica entende-

se que a criatividade conduz agrave inovaccedilatildeo sendo que esta uacuteltima eacute percebida

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 7: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

7

a maior parte entre elas eacute preta ou parda Vale destacar ainda que o rendimento

meacutedio de todas as fontes de mulheres acima de 10 anos em 2010 era de R$

71057 (a dos homens era R$ 1016 20) Causa ou consequecircncia mais de 11 mil

domiciacutelios tinham agrave eacutepoca renda per capita de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo dentre

estes mais de 6 mil natildeo tinham pavimentaccedilatildeo no entorno e mais de 2300 ainda

conviviam com esgoto a ceacuteu aberto

A localidade de Belford Roxo tambeacutem jaacute foi considerada uma das mais

violentas do Estado Segundo tabela desenvolvida pelo Laboratoacuterio de Anaacutelise de

Violecircncia da UERJ em 2004 a cidade estava em 4ordm lugar no iacutendice de homiciacutedios

Os dados satildeo referentes ao ano de 2001

Figura 3 Tabela com registro de taxa de homicidio em cidades do Estado

Fonte Cano Sento-Seacute Ribeiro 2004

Como pode ser visto na tabela Belford Roxo foi ultrapassada apenas por

municiacutepios proacuteximosvizinhos todos localizados tambeacutem na Baixada Fluminense

Queimados Satildeo Joatildeo de Meriti e Nova Iguaccedilu Historicamente a Baixada como eacute

frequentemente denominada a regiatildeo pelos moradores da cidade eacute conhecida por

ainda ser um loacutecus de pobreza e violecircncia

8

Figura 4 Municiacutepios da baixada Fluminense

Fonte Wikipedia

Considerando a proposta poliacutetico-pedagoacutegica dos IF eacute possiacutevel identificar

na cidade de Belford Roxo uma seacuterie de elementos que justificam a instalaccedilatildeo de

um polo de educaccedilatildeo de referecircncia que possa qualificar as cidadatildes e cidadatildeos do

local e das redondezas Vale destacar que tambeacutem foram criados institutos

federais em outras seis cidades da regiatildeo da Baixada Fluminense Neste sentido a

atuaccedilatildeo politicamente atuante dos docentes pode ser de fundamental importacircncia

para a promoccedilatildeo da qualidade de vida dos mesmos

Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades

A unidade de Belford Roxo estaacute reunindo diversos cursos que atuam

direta ou indiretamente com os setores da Economia Criativa O crescimento

ou melhor a popularizaccedilatildeo da economia criativa estaacute diretamente relacionada

com as mudanccedilas propostas pelo governo britacircnico no final dos anos 1990

Ainda que as primeiras reflexotildees tenham ocorrido na Austraacutelia e o conceito de

naccedilatildeo criativa tenha sido laacute pela primeira vez mencionado foram as discussotildees

no Reino Unido que trouxeram ao centro do debate o tema da criatividade

como insumo para as atividades produtivas Tal processo ocorre jaacute no final do

seacuteculo XX apoacutes o processo de desindustrializaccedilatildeo inglecircs momento em que haacute

uma reduccedilatildeo generalizada de empregos no paiacutes Com a crise financeira global

de 2008 torna-se necessaacuterio pensar em alternativas para o reaquecimento da

9

economia Eacute exatamente neste momento que surge a reflexatildeo sobre a

criatividade como insumo para o trabalho

Eacute quando as ditas ldquoeconomias avanccediladasrdquo se desindustrializam que ldquofazer dinheiro com ideiasrdquo torna-se plausiacutevel senatildeo necessaacuterio Eacute no momento em que se desmantela a ldquocondiccedilatildeo salarialrdquo [] que ldquojaacute natildeo podemos mais falar em empregados das 8h agraves 18hrdquo mas de empregos criativos e flexiacuteveis Eacute quando o PIB cresce enquanto a renda das famiacutelias e os empregos diminuem que se torna preciso pensar em outros tipos de trabalho Natildeo eacute agrave toa que os ventos da economia criativa sopram inicialmente da desindustrializada e financeirizada Londres (MICHETTI 2012b p 176)

Este contexto de desindustrializaccedilatildeo inglecircs conduziu agrave eleiccedilatildeo dos

trabalhistas comandados pelo primeiro ministro Tony Blair e eacute concomitante agrave

emergecircncia da denominada sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do

conhecimento Esta nova ordem social eacute caracteriacutestica dos contextos poacutes-

industriais europeus e seu crescimento se deu com o advento das tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Como indica De Marchi (2012a) esta sociedade

estaacute fundamentada essencialmente nas atividades do setor de serviccedilos sendo

que este ambiente se caracteriza por uma mudanccedila fundamental ao inveacutes da

utilizaccedilatildeo intensiva do capital trabalho orientado para uma fabricaccedilatildeo de

produtos em massa como origem da produccedilatildeo de mais valor a economia se

volta para o uso da informaccedilatildeo mdash um capital de base intelectual mdash e para a

comunicaccedilatildeo dos conhecimentos que satildeo utilizados com o fim de produzir bens

criativos e inovadores Neste momento as atividades ditas simboacutelicas passam

a ser consideradas como recurso para o desenvolvimento e no caso britacircnico

satildeo percebidas como ldquocapazes de tornar a economia poacutes-industrializadas do

Reino Unido competitiva em uma economia globalizadardquo (DE MARCHI 2012a

p 34) de maneira que se passa a investir natildeo mais centralmente no

desenvolvimento de produtos industrializados mas sim em uma inserccedilatildeo no

mercado de bens e serviccedilos criativos devido a seu alto valor agregado valor

este centralmente angariado por meio dos ativos da propriedade intelectual

Para o autor dentro desta sociedade do conhecimento uma ecircnfase

maior eacute fornecida agrave criatividade e tal centralidade estaacute alinhada com o objetivo

dos governos de promover desenvolvimento econocircmico nesta loacutegica entende-

se que a criatividade conduz agrave inovaccedilatildeo sendo que esta uacuteltima eacute percebida

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 8: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

8

Figura 4 Municiacutepios da baixada Fluminense

Fonte Wikipedia

Considerando a proposta poliacutetico-pedagoacutegica dos IF eacute possiacutevel identificar

na cidade de Belford Roxo uma seacuterie de elementos que justificam a instalaccedilatildeo de

um polo de educaccedilatildeo de referecircncia que possa qualificar as cidadatildes e cidadatildeos do

local e das redondezas Vale destacar que tambeacutem foram criados institutos

federais em outras seis cidades da regiatildeo da Baixada Fluminense Neste sentido a

atuaccedilatildeo politicamente atuante dos docentes pode ser de fundamental importacircncia

para a promoccedilatildeo da qualidade de vida dos mesmos

Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades

A unidade de Belford Roxo estaacute reunindo diversos cursos que atuam

direta ou indiretamente com os setores da Economia Criativa O crescimento

ou melhor a popularizaccedilatildeo da economia criativa estaacute diretamente relacionada

com as mudanccedilas propostas pelo governo britacircnico no final dos anos 1990

Ainda que as primeiras reflexotildees tenham ocorrido na Austraacutelia e o conceito de

naccedilatildeo criativa tenha sido laacute pela primeira vez mencionado foram as discussotildees

no Reino Unido que trouxeram ao centro do debate o tema da criatividade

como insumo para as atividades produtivas Tal processo ocorre jaacute no final do

seacuteculo XX apoacutes o processo de desindustrializaccedilatildeo inglecircs momento em que haacute

uma reduccedilatildeo generalizada de empregos no paiacutes Com a crise financeira global

de 2008 torna-se necessaacuterio pensar em alternativas para o reaquecimento da

9

economia Eacute exatamente neste momento que surge a reflexatildeo sobre a

criatividade como insumo para o trabalho

Eacute quando as ditas ldquoeconomias avanccediladasrdquo se desindustrializam que ldquofazer dinheiro com ideiasrdquo torna-se plausiacutevel senatildeo necessaacuterio Eacute no momento em que se desmantela a ldquocondiccedilatildeo salarialrdquo [] que ldquojaacute natildeo podemos mais falar em empregados das 8h agraves 18hrdquo mas de empregos criativos e flexiacuteveis Eacute quando o PIB cresce enquanto a renda das famiacutelias e os empregos diminuem que se torna preciso pensar em outros tipos de trabalho Natildeo eacute agrave toa que os ventos da economia criativa sopram inicialmente da desindustrializada e financeirizada Londres (MICHETTI 2012b p 176)

Este contexto de desindustrializaccedilatildeo inglecircs conduziu agrave eleiccedilatildeo dos

trabalhistas comandados pelo primeiro ministro Tony Blair e eacute concomitante agrave

emergecircncia da denominada sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do

conhecimento Esta nova ordem social eacute caracteriacutestica dos contextos poacutes-

industriais europeus e seu crescimento se deu com o advento das tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Como indica De Marchi (2012a) esta sociedade

estaacute fundamentada essencialmente nas atividades do setor de serviccedilos sendo

que este ambiente se caracteriza por uma mudanccedila fundamental ao inveacutes da

utilizaccedilatildeo intensiva do capital trabalho orientado para uma fabricaccedilatildeo de

produtos em massa como origem da produccedilatildeo de mais valor a economia se

volta para o uso da informaccedilatildeo mdash um capital de base intelectual mdash e para a

comunicaccedilatildeo dos conhecimentos que satildeo utilizados com o fim de produzir bens

criativos e inovadores Neste momento as atividades ditas simboacutelicas passam

a ser consideradas como recurso para o desenvolvimento e no caso britacircnico

satildeo percebidas como ldquocapazes de tornar a economia poacutes-industrializadas do

Reino Unido competitiva em uma economia globalizadardquo (DE MARCHI 2012a

p 34) de maneira que se passa a investir natildeo mais centralmente no

desenvolvimento de produtos industrializados mas sim em uma inserccedilatildeo no

mercado de bens e serviccedilos criativos devido a seu alto valor agregado valor

este centralmente angariado por meio dos ativos da propriedade intelectual

Para o autor dentro desta sociedade do conhecimento uma ecircnfase

maior eacute fornecida agrave criatividade e tal centralidade estaacute alinhada com o objetivo

dos governos de promover desenvolvimento econocircmico nesta loacutegica entende-

se que a criatividade conduz agrave inovaccedilatildeo sendo que esta uacuteltima eacute percebida

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 9: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

9

economia Eacute exatamente neste momento que surge a reflexatildeo sobre a

criatividade como insumo para o trabalho

Eacute quando as ditas ldquoeconomias avanccediladasrdquo se desindustrializam que ldquofazer dinheiro com ideiasrdquo torna-se plausiacutevel senatildeo necessaacuterio Eacute no momento em que se desmantela a ldquocondiccedilatildeo salarialrdquo [] que ldquojaacute natildeo podemos mais falar em empregados das 8h agraves 18hrdquo mas de empregos criativos e flexiacuteveis Eacute quando o PIB cresce enquanto a renda das famiacutelias e os empregos diminuem que se torna preciso pensar em outros tipos de trabalho Natildeo eacute agrave toa que os ventos da economia criativa sopram inicialmente da desindustrializada e financeirizada Londres (MICHETTI 2012b p 176)

Este contexto de desindustrializaccedilatildeo inglecircs conduziu agrave eleiccedilatildeo dos

trabalhistas comandados pelo primeiro ministro Tony Blair e eacute concomitante agrave

emergecircncia da denominada sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do

conhecimento Esta nova ordem social eacute caracteriacutestica dos contextos poacutes-

industriais europeus e seu crescimento se deu com o advento das tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Como indica De Marchi (2012a) esta sociedade

estaacute fundamentada essencialmente nas atividades do setor de serviccedilos sendo

que este ambiente se caracteriza por uma mudanccedila fundamental ao inveacutes da

utilizaccedilatildeo intensiva do capital trabalho orientado para uma fabricaccedilatildeo de

produtos em massa como origem da produccedilatildeo de mais valor a economia se

volta para o uso da informaccedilatildeo mdash um capital de base intelectual mdash e para a

comunicaccedilatildeo dos conhecimentos que satildeo utilizados com o fim de produzir bens

criativos e inovadores Neste momento as atividades ditas simboacutelicas passam

a ser consideradas como recurso para o desenvolvimento e no caso britacircnico

satildeo percebidas como ldquocapazes de tornar a economia poacutes-industrializadas do

Reino Unido competitiva em uma economia globalizadardquo (DE MARCHI 2012a

p 34) de maneira que se passa a investir natildeo mais centralmente no

desenvolvimento de produtos industrializados mas sim em uma inserccedilatildeo no

mercado de bens e serviccedilos criativos devido a seu alto valor agregado valor

este centralmente angariado por meio dos ativos da propriedade intelectual

Para o autor dentro desta sociedade do conhecimento uma ecircnfase

maior eacute fornecida agrave criatividade e tal centralidade estaacute alinhada com o objetivo

dos governos de promover desenvolvimento econocircmico nesta loacutegica entende-

se que a criatividade conduz agrave inovaccedilatildeo sendo que esta uacuteltima eacute percebida

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 10: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

10

como o motor do crescimento Como decorrecircncia a cultura perde espaccedilo como

objeto de poliacuteticas puacuteblicas jaacute que a criatividade e a economia criativa por

extensatildeo passam a ser equiparadas agrave proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento

Com esta percepccedilatildeo do setor criativo como a grande forccedila econocircmica da nova

Gratilde-Bretanha foi lanccedilado o projeto Creative Britain em que o Estado se torna o

principal responsaacutevel por fomentar os setores criativos Ainda que possua este

papel de incentivador caberia contudo aos empreendedores individuais a

tarefa de abrir os novos negoacutecios criativos neste sentido a economia criativa

concede ao indiviacuteduo o papel de motor da economia localizando no centro

deste modelo a iniciativa privada enquanto o poder puacuteblico se torna apenas

um facilitador do processo (DE MARCHI 2012b) Assim a soluccedilatildeo para uma

crise de empregos deixa de estar centrada no trabalho do governo como um

fomentador das atividades produtivas tradicionais e se direciona para um

incentivo agrave autonomia individual aquilo que vem sendo recentemente

denominado mdash e estimulado no Brasil cabe salientar mdash como

empreendedorismo Como resultado criacuteticos ingleses apontaram que este

caminho tomado pelo Estado britacircnico indicava para uma retirada do mesmo

da responsabilidade com relaccedilatildeo agraves atividades culturais em prol da iniciativa

privada o que privilegiava especialmente as grandes corporaccedilotildees de

comunicaccedilatildeo e miacutedia Tal postura poderia conduzir como consequecircncia a

uma maior segregaccedilatildeo cultural na medida em que o governo estaria indo na

contramatildeo da democratizaccedilatildeo do acesso especialmente quando se fornece

grande importacircncia como ocorre no caso inglecircs aos direitos de propriedade

intelectual (DE MARCHI 2013)

A definiccedilatildeo dos setores que comporiam a induacutestria criativa inglesa ficou

sob a responsabilidade do Departamento de Cultura Miacutedia e Esporte (DCMS)

que encomendou uma pesquisa a fim de definir o setor No entendimento do

oacutergatildeo os setores criativos podem ser definidos como as aacutereas ldquoque tecircm sua

origem na criatividade na periacutecia e no talento individuais e que possuem um

potencial para a criaccedilatildeo de riqueza e empregos atraveacutes da geraccedilatildeo e da

exploraccedilatildeo da propriedade intelectualrdquo (DCMS apud FIRJAN 2008 p 7 mdash

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 11: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

11

grifos nossos) o que revela grande ecircnfase agraves caracteriacutesticas individuais e aos

rendimentos privados como podemos perceber A seleccedilatildeo incluiacutea os setores

de publicidade arquitetura mercado de artes e antiguidades artesanato

design moda filmagem softwares interativos de lazer muacutesica artes

performaacuteticas editoraccedilatildeo serviccedilos de computaccedilatildeo e raacutedio amp televisatildeo Esta

abrangecircncia como indicado foi costurada por meio da noccedilatildeo de criatividade

Desde logo o documento resultante [da discussatildeo do DCMS] definia as induacutestrias criativas em primeiro lugar a partir da uniatildeo de diversas atividades culturais (pintura muacutesica danccedila cinema etc) de comunicaccedilatildeo (imprensa raacutedio televisatildeo) de desenho (desenho industrial moda diversas especialidades de design) e de tecnologias da informaccedilatildeo (conteuacutedos para internet jogos eletrocircnicos produccedilatildeo de hardwares e softwares) A despeito da singularidade de cada uma dessas atividades afirmava-se que todas comungavam de ldquocriatividaderdquo termo que era definido como sendo originado a partir da habilidade e talento individuais cujos produtos apresentavam potencial para geraccedilatildeo de empregos e riquezas por meio da exploraccedilatildeo de propriedade intelectual outro aspecto que definia essas atividades (DE MARCHI 2014 198 mdash grifos nossos)

Como eacute assinalado no documento da Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Rio

de Janeiro mdash FIRJAN (2008 p 7) as aacutereas consideradas parte do nuacutecleo

criativo pelo DCMS compreendiam centralmente ldquoatividades de serviccedilos e

comeacuterciordquo sendo que esta foi a primeira classificaccedilatildeo realizada que incluiu

aacutereas que ateacute aquele momento natildeo eram entendidas como primordialmente

culturais podendo ser mencionadas aqui centralmente a grande induacutestria

como eacute o caso do setor de design Assim percebemos que eacute nesse momento

que se iniciou a construccedilatildeo de uma nova abordagem sobre a cultura que deixa

de conter apenas as aacutereas tradicionais e passa a incluir atividades que delas

satildeo aproximadas Contudo estes setores natildeo satildeo apropriados sem uma

avaliaccedilatildeo de um ldquograu de cultura envolvidordquo aquilo que foi denominado pelo

DCMS como ldquotestes da culturardquo Vale citar um trecho da publicaccedilatildeo do DCMS

citado em Reis (2012)

As ldquoinduacutestrias criativasrdquo satildeo analiticamente primas-irmatildes das induacutestrias culturais diferentes mas obviamente da mesma famiacutelia ou atividade O que elas produzem tem alto grau de valor simboacutelico e funcional Arquitetura design moda serviccedilos de computaccedilatildeo e propaganda satildeo tipicamente setores criativos que no mercado tecircm de passar pelos testes da cultura e funcionalidade Anuacutencios tecircm de vender produtos mas funcionam melhor quando expressam firmemente a cultura Edifiacutecios devem ser tanto esteticamente agradaacuteveis como funcionais Design deve incorporar cultura mas eacute inuacutetil se os produtos natildeo funcionam direito Roupas devem ser culturalmente de vanguarda mas ao mesmo

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 12: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

12

tempo trajaacuteveis Nem todo edifiacutecio roupa anuncio ou peccedila de design passa por ambos os testes mas as induacutestrias criativas satildeo mais saudaacuteveis e vitais quando o maior nuacutemero possiacutevel deles passa (DCMS a apud REIS 2012 p 43)

Tal definiccedilatildeo foi tomada como referecircncia por toda a reflexatildeo posterior

sobre as induacutestrias criativas ainda que natildeo tenha se tornado unacircnime Apenas

para citar um exemplo os Estados Unidos da Ameacuterica mesmo apoacutes a

popularizaccedilatildeo da versatildeo britacircnica optaram por uma classificaccedilatildeo mais

tradicional em que o foco de atuaccedilatildeo da economia criativa se restringiu aos

negoacutecios envolvidos na produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das artes e como decorrecircncia

natildeo consideraram aacutereas como a pesquisa cientiacutefica mdash que embora natildeo

apareccedila na classificaccedilatildeo inicial do DCMS eacute considerada profissatildeo criativa por

alguns autores que refletem sobre o tema mdash e a computaccedilatildeo ambas aacutereas

que embora criativas natildeo satildeo habitualmente tratadas como artiacutesticas Haacute uma

grande discussatildeo sobre se as aacutereas de pesquisa cientiacuteficas poderiam fazer

parte dos setores criativos No entendimento de seus defensores qualquer

pesquisa possui ideias e criatividade como insumo principal e estes

ingredientes conduzem agrave inovaccedilatildeo o que justificaria a inserccedilatildeo da pesquisa

entre os setores criativos Para os opositores natildeo haacute duacutevida sobre a presenccedila

da criatividade na produccedilatildeo da pesquisa o problema se encontra no fato de

que a criatividade quando enfatizada como componente fundamental destes

setores acabar por ldquoengolirrdquo os recursos que poderiam ser investidos nas

aacutereas que natildeo satildeo tatildeo inovadoras como eacute o caso das artes tradicionais

podendo conduzir a um cenaacuterio em que tendem a receber mais investimentos

do que estas uacuteltimas em razatildeo de o retorno econocircmico (lucro) por elas

produzido ser muito maior Esta eacute uma das criacuteticas frequentemente retomadas

dentro do parlamento inglecircs

Como eacute possiacutevel perceber toda a loacutegica da economia criativa inglesa mdash

e logo a postura que se passou a adotar em relaccedilatildeo aos bens culturais mdash

envolveu uma realocaccedilatildeo que pode ser resumida mdash ainda que possamos

incorrer momentaneamente em um simplismo mdash em uma passagem das

principais responsabilidades referentes agrave produccedilatildeo e circulaccedilatildeo dos artefatos

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 13: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

13

culturais para o setor privado Desta maneira o governo retirou de si mesmo

em certa medida o papel de financiador central das manifestaccedilotildees culturais e

relegou ao empreendedorismo individual e agraves grandes corporaccedilotildees da iniciativa

privada esta funccedilatildeo Por outro lado abriu espaccedilo mdash por meio da manipulaccedilatildeo

de um entendimento da noccedilatildeo de criatividade que a aproxima bastante com o

conceito de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mdash para que o Estado respalde aacutereas que jaacute

recebem grande financiamento essencialmente os setores de tecnologia de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Aleacutem destes elementos grande centralidade foi

fornecida aos direitos de propriedade restringindo agrave populaccedilatildeo de modo mais

amplo o acesso agraves manifestaccedilotildees culturais

Ainda que estes fatores sejam razatildeo para um enfrentamento por parte

da sociedade civil com relaccedilatildeo ao modo como a economia criativa foi

inicialmente tomada algumas instituiccedilotildees demonstraram um grande interesse

nos benefiacutecios que a mesma poderia gerar para os paiacuteses em

desenvolvimento como eacute o caso da ONU Sob o ponto de vista da ecircnfase

fornecida agrave criatividade na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio a economia criativa

permite valorizar uma seacuterie de atividades produtivas que podem ser uma

importante alternativa para a geraccedilatildeo de trabalho e renda Esta eacute a perspectiva

central da ONU que em 2008 lanccedila um documento em que incentiva que os

governos dos paiacuteses em desenvolvimento invistam nestas aacutereas Apesar das

criacuteticas as noccedilotildees de economia criativa satildeo avaliadas no relatoacuterio por meio

de uma visatildeo bastante positiva cujo objetivo parece ser abrir uma nova

possibilidade de atuaccedilatildeo para as economias em desenvolvimento

possibilidade esta que teria a cultura e a criatividade mdash proacutepria de qualquer

atividade humana mdash a seu serviccedilo Nesta perspectiva define-se as induacutestrias

criativas

[] como os ciclos de criaccedilatildeo produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de bens e serviccedilos que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangiacuteveis e intangiacuteveis intelectuais e artiacutesticos com conteuacutedo criativo e valor econocircmico (UNCTAD 2010 p XVI)

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 14: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

14

Considerando este crescimento e a expansatildeo em potencial da Economia

Criativa o relatoacuterio destaca em diversos momentos a importacircncia dos governos

criarem poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o setor Para tal devem avaliar as

particularidades de suas economias reconhecendo suas necessidades reais

alinhadas com suas diferenccedilas culturais e identitaacuterias a fim de investir nos

produtos com maior possibilidade de retorno desta maneira cada naccedilatildeo deve

analisar onde estaacute o seu potencial particular Este posicionamento se alinha

com uma perspectiva que natildeo mais valida poliacuteticas internacionais de

desenvolvimento baseadas em modelos generalistas que se vendem como

salvacionistas especialmente quando se conhece que as teorias econocircmicas

tradicionais jaacute se demonstraram incapazes de dar conta das assimetrias natildeo

apenas econocircmicas mas tambeacutem culturais das diversas sociedades Ainda

que direcionados para o setor criativo estes investimentos natildeo devem apenas

se voltar para a esfera do econocircmico uma vez que a natureza multidisciplinar

da economia criativa demanda accedilotildees interministeriais Deste modo o relatoacuterio

orienta que os governos desenvolvam poliacuteticas puacuteblicas para os setores

cultural tecnoloacutegico ambiental educacional e social de modo mais amplo

aleacutem de accedilotildees voltadas para o crescimento de uma economia que se

desenvolva de maneira sustentaacutevel Assim se de um lado haacute um incentivo para

que os paiacuteses em geral invistam na economia criativa como alternativa de

outro estimula-se a busca por soluccedilotildees locais para este estiacutemulo baseando-se

em aacutereas que se revelem lucrativas para cada caso em particular

No Brasil a discussatildeo sobre a economia criativa ganha espaccedilo no setor

puacuteblico com o lanccedilamento do Plano da Secretaria de Economia Criativa Em

coerecircncia com a mudanccedila iniciada com a gestatildeo de Juca Ferreira no PSEC

constroacutei-se uma nova percepccedilatildeo sobre o MinC de modo que o oacutergatildeo deixa de

ser um ator secundaacuterio dentro do planejamento poliacutetico de governo e passa a

ser compreendido como um articulador de projetos interministeriais alinhados a

outros planos de governo como eacute o caso do ldquoBrasil sem Miseacuteriardquo e do ldquoBrasil

Maiorrdquo que satildeo nominalmente mencionados O objetivo como eacute destacado eacute

inserir a cultura dentro da perspectiva do desenvolvimento de modo a atender

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 15: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

15

a premissa expressa na Constituiccedilatildeo Federal que entende ser aquela um

direito do cidadatildeo Neste sentido a reflexatildeo sobre o desenvolvimento passa a

envolver dentro de sua concepccedilatildeo o entendimento de que a esfera do

simboacutelico-cultural contribui para a sua produccedilatildeo Como indica De Marchi (2012

p 1) entendida a partir de uma perspectiva desenvolvimentista a cultura em

decorrecircncia passa a ser percebida como um ativo econocircmico de modo que as

produccedilotildees que possuem como principal valor seus aspectos simboacutelicos

passam tambeacutem a ser posicionadas em local privilegiado segundo o autor No

caso brasileiro a anaacutelise e desenvolvimento de uma poliacutetica para a economia

criativa fica a cargo do MinC

Figura 5 Escopo dos setores criativos segundo a Secretaria de Economia Criativa

Fonte MinC 2012 p 30

O Ministeacuterio da Cultura se coloca o desafio de formular implementar e

monitorar as poliacuteticas puacuteblicas para um modelo de desenvolvimento cujas

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 16: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

16

bases estatildeo ldquona inclusatildeo social na sustentabilidade na inovaccedilatildeo e

especialmente na diversidade cultural brasileirardquo (MINC 2012 p 7)

Aproveitando as classificaccedilotildees realizadas pelas diversas instituiccedilotildees ao redor

do mundo mas se guiando pela sugestatildeo da ONU de observar as

especificidades e o potencial local a Secretaria de Economia Criativa

apresenta esta classificaccedilatildeo para os setores criativos A moda eacute uma das aacutereas

inseridas na Economia Criativa no Brasil Considerando esta inserccedilatildeo o projeto

docente desenvolvido visa a constituiccedilatildeo da qualificaccedilatildeo socioprofissional

orientada para o desenvolvimento de negoacutecios criativos cuja ecircnfase natildeo esteja

no individualismo dos empreendedorismos tradicionais mas que se volte para

a realizaccedilatildeo de parcerias entre os produtores envolvidos Estas parcerias aleacutem

de beneficiar os negoacutecios tambeacutem tecircm como objetivo promover a localidade

seja pelo aumento da oferta de empregos seja pela oportunizaccedilatildeo de

alternativas agrave violecircncia e pobreza

Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda

O projeto foi desenvolvido no ano de 2017 com o objetivo de ser analisado

e corrigido ainda neste ano e desenvolvido em 2018 Seu foco central estaacute na

qualificaccedilatildeo na aacuterea de moda em diaacutelogo com a economia criativa e o

empreendedorismo buscando ainda a formaccedilatildeo integral dos alunos isto eacute uma

qualificaccedilatildeo que natildeo se centre apenas no desenvolvimento de competecircncias

teacutecnicas mas tambeacutem a formaccedilatildeo humana socioprofissional e politica A proposta

do projeto eacute atuar na formaccedilatildeo de mulheres puacuteblico mais vulneraacutevel socialmente

Aleacutem disso como visto pelos dados do Censo de 2010 aquelas que apresentam

renda meacutedia cerca de 30 inferior a dos homens na cidade de Belford Roxo Eacute

relevante destacar que a aacuterea de moda tradicionalmente emprega muitas

mulheres seja na produccedilatildeo ndash modelagem costura etc - seja nas aacutereas de

pesquisa e design

Entre as costureiras profissionais fundamentais para o desenvolvimento

das roupas eacute comum encontrarmos mulheres com poucos anos de estudo De

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 17: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

17

acordo com dados apresentados na pesquisa ldquoTerritoacuterios da Modardquo (2011)

desenvolvida pela PrefeituraRJ em parceria com o SebraeRJ um dos principais

problemas do setor de acordo com os confeccionistas eacute a falta de profissionais

qualificados o que acaba por se refletir em baixos salaacuterios Na mesma pesquisa

sabemos que os baixos valores pagos satildeo vistos como o principal problema da

profissatildeo segundo as costureiras Tal fator revela sua faceta mais criacutetica e cruel

quando sabemos que entre as 5160 costureiras pesquisadas 514 tem na

costura sua uacutenica fonte de renda3

Considerando estes dados eacute possiacutevel afirmar que qualificar estas

profissionais ou qualificar futuras profissionais pode ser uma maneira de reduzir os

problemas relacionados aos salaacuterios Contudo natildeo basta formar estas

profissionais apenas para o exerciacutecio da funccedilatildeo dentro das confecccedilotildees

produzindo assim mais matildeo de obra barata para a induacutestria da moda Assim a

proposta do curso a ser desenvolvido estaria na qualificaccedilatildeo para a autonomia de

maneira que a profissional estivesse capacitada natildeo apenas para receber a

produccedilatildeo como faccionista mas tambeacutem ser capaz de criar o produto

considerando as tendecircncias e o puacuteblico comprar a mateacuteria-prima calcular os

custos precificar sua matildeo-de-obra eou do produto e mais importante buscar

meios de se associar a outras profissionais em benefiacutecio proacuteprio e da coletividade

de modo que a qualificaccedilatildeo permitisse o aumento da renda ou mesmo a geraccedilatildeo

de renda por parte de mulheres dos arredores de Belford Roxo Considerando

estes aspectos foram desenvolvidos o projeto e matriz de curso abaixo

O principal diferencial proposto estaria em oferecer um momento inicial do

curso em que se discutisse a noccedilatildeo de projeto de vida Embora possa parecer

oacutebvio para os membros das classes medias e altas a noccedilatildeo de projeto de vida natildeo

eacute natural mas construiacuteda por meio da educaccedilatildeo inicia-se mesmo quando algueacutem

pergunta ldquoo que vocecirc quer ser quando crescerrdquo Quando natildeo discutida ela natildeo

necessariamente se desenvolveraacute

3 Eacute interessante ressaltar que a principal vantagem apontada pelas pesquisadas em atuar com

costura externa (facccedilatildeo) foi poder cuidar dos filhos o que revela a importacircncia da moda como profissatildeo para as mulheres

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 18: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

18

Curso ConfeccionistaResumo Programa socioprofissional na aacuterea de confecccedilatildeo de roupas femininas com duraccedilatildeo de 200h voltado a mulheres entre 16 e XX anos que buscam iniciar uma nova carreira se (re)integrando no mercado de trabalho ou receber qualificaccedilatildeo formal certificando-se em sua aacuterea de atuaccedilatildeo possibilitando o acesso ao desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas baacutesicas aleacutem de formaccedilatildeo geral para o mundo do trabalho

Puacuteblico-alvo mulheres de baixa renda entre 16 a 60 anos moradoras de Belford Roxo e redondezas

Certificaccedilatildeo Agravequele que concluir o programa receberaacute o certificado de conclusatildeo do curso de Confeccionista

Composiccedilatildeo da oferta (unidades curriculares) I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas pesquisa de mercado e custo (24h)IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura (76h)V) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)

Objetivos socioprofissionais- Construir projeto de vida e de carreira- Desenvolver o produto em sua integralidade- Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias- Precificar os artigos que confecciona

Perfil do egresso o aluno egresso seraacute capaz tanto de prestar serviccedilos de facccedilatildeo de roupas de vestuaacuterio quanto de desenvolver os proacuteprios produtos iniciando negoacutecio na aacuterea de moda

Organizaccedilatildeo e composiccedilatildeo curricular o curso seraacute composto de trecircs moacutedulosMoacutedulo Ia) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)b) Mateacuteria prima I (8h)c) Produto de Moda (32h)

Moacutedulo IIa) Mateacuteria prima II (16h)b) Empreendedorismo para negoacutecios criativos (20h)c) Desenvolvimento de Produto I (36h)

Moacutedulo IIIa) Desenvolvimento de Produto I (40h)b) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)

Detalhamento das unidades curriculares

I) Projeto de vida e mundo do trabalho (28h)- Desenvolver a noccedilatildeo de Projeto de Vida- Inserir o projeto profissional dentro dos objetivos pessoais- Compreender a sauacutede e seguranccedila fiacutesica como projeto de vida- Desenvolver a identidade de gecircnero e raccedila como marcos referenciais do ser

II) Produto de moda pesquisa e design para negoacutecios criativos (32h)- Reconhecer a moda como um setor criativo- Compreender o produto de moda suas partes e etapas de desenvolvimento- Pesquisar tendecircncias nas miacutedias e no mercado- Identificar o puacuteblico-alvo e segmentar mercado- Criar produto e desenvolver ficha teacutecnica

III) Mateacuteria-prima caracteriacutesticas e pesquisa de mercado (24h)- Diferenciar fibra fio e tecido- Reconhecer os tipos de beneficiamentos- Desenvolver fornecedores e negociar preccedilos

IV) Desenvolvimento de produto modelagem introdutoacuteria noccedilotildees de corte e costura em tecidos planos (76h)- Reconhecer tabelas de medidas e bases de modelagem feminina- Interpretar modelos sobre as bases de modelagem- Enfestar o tecido- Posicionar os moldes e cortar as partes do modelo manualmente sobre os tecidos- Costurar em maacutequina reta e overloque (acabamento)

V) Empreendedorismo para negoacutecios sociais criativos (20h)- Compreender e distinguir os negoacutecios sociais e criativos- Identificar oportunidades de negoacutecios- Desenvolver plano de negoacutecios- Desenvolver parcerias de negoacutecios e produtivas

VI) Custo e Precificaccedilatildeo (20h)- Identificar elementos que interferem no custo do produto- Desenvolver planilha de custos

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 19: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

19

O projeto de vida tambeacutem envolve nossa constituiccedilatildeo como ser como

profissional e mesmo nossa percepccedilatildeo de gecircnero raccedila e ateacute nossa relaccedilatildeo

com a sauacutede e seguranccedila engravidar ou natildeo proteger-se nas relaccedilotildees

sexuais etc Esta relaccedilatildeo com o projeto impacta em toda a construccedilatildeo do

indiviacuteduo como cidadatildeo portador de direitos e mesmo de um indiviacuteduo que

prospecta um futuro para si

Aleacutem disso o curso pretende abordar todas as etapas do processo a fim

de fornecer agraves alunas uma percepccedilatildeo integral do desenvolvimento do produto

de modo a natildeo alienar as mesmas do processo produtivo compartimentando

os conhecimentos entendemos que deste modo contribui-se ainda para a

autonomia das alunas como profissionais

A discussatildeo e proposiccedilatildeo de uma abordagem comercial social e criativa

tambeacutem eacute um diferencial buscaremos desenvolver uma perspectiva centrada

na cooperaccedilatildeo e natildeo na pura concorrecircncia desenvolvendo a perspectiva do

trabalho em equipe Busca-se ainda reduzir a proacutepria noccedilatildeo de competiccedilatildeo a

qual satildeo expostas agraves mulheres em culturas machistas como a brasileira

A partir da proposta acima articularemos o curso como se segue

Matriz de Articulaccedilatildeo

Moacutedulo I Moacutedulo II Moacutedulo III

Construir projeto de vida e de carreira

Desenvolver o produto em sua integralidade

Precificar os artigos que confecciona

Identificar oportunidades de negoacutecios e de parcerias

Obj

etiv

os

Organizaccedilatildeo Curricular

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 20: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

20

Consideraccedilotildees Finais

Neste artigo apresentamos o contexto e proposta de atuaccedilatildeo da docente

como mediador dos processos de geraccedilatildeo de renda e reduccedilatildeo de desigualdade

por meio da discussatildeo de um projeto de curso de moda Para tal apresentamos a

proposta institucional e as caracteriacutesticas locais do local onde o mesmo estaacute

inserido Tambeacutem apresentamos as noccedilotildees que pautam a economia criativa

conceitos que nortearatildeo o curso Por fim apresentamos a estrutura do curso a fim

de podermos discuti-lo com os pares

Referecircncias

CANO Ignaacutecio SENTO-SEacute Joatildeo Trajano RIBEIRO Eduardo Mapeamento da criminalidade na aacuterea metropolitana do Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwlavuerjbrdocsrel2004map_crim_rio_2004pdf Acesso em 09 Jul 2017 DE MARCHI Leonardo ldquoEntre o desenvolvimento econocircmico e o direito agrave cultura uma anaacutelise dos usos do termo lsquoeconomia criativarsquo pelo governo brasileirordquo In Anais do XI Congreso Latinoamericano de investigadores de la comunicacioacuten 2012a Disponiacutevel em httpalaic2012comunicacioneduuysitesdefaultfilesleonardo_de_marchi_economia_criativa_e_politicas_de_cultura_artigo_1pdf Acesso em 10072014 ___________________ ldquoConstruindo o conceito de economia criativa no Brasil poliacutetica cultural no contexto neodesenvolvimentista brasileirordquo In Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ciecircncia da ComunicaccedilatildeoINTERCOM 2012b Disponiacutevel em wwwintercomorgbrsis2012resumosR7-2053-1pdf Acesso em 10072014 ___________________ Construindo um conceito neodesenvolvimentista de economia criativa no Brasil Poliacutetica Cultural na era do novo MinC Novos Olhares Satildeo Paulo v 2 n 2 juldez 2013 Disponiacutevel em wwwrevistasuspbrnovosolharesarticleviewFile6982672486 Acesso em 10072014 FIRJAN A Cadeia da Induacutestria Criativa no Brasil In Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro n2 mai 2008 Disponiacutevel em httpwwwfirjanorgbrdatapages2C908CEC3286DF68013286FCB8CE2E1Chtm Acesso em 23072014 IBGE Cidades Belford Roxo 2016 Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=330045ampsearch=||infogrE1ficos-informaE7F5es-completas Acesso em 08 Jul 2017 MICHETTI Micheli ldquoDa mesticcedilagem como panaceia agrave diversidade como (anti) commodity notas sobre economia criativa no Brasilrdquo In Latitude v 6 n 2 pp 175-190 2012b Disponiacutevel em

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 21: A ATUAÇÃO DOCENTE COMO MEDIADORA DOS PROCESSOS DE GERAÇÃO DE … de Moda - 2017/GT... · 2018. 3. 18. · o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

21

httpwwwseerufalbrindexphplatitudearticleview877573 Acesso em 11072014 MINC Plano da Secretaria de Economia Criativa Poliacuteticas diretrizes e accedilotildees 2011-2014 Brasiacutelia MINC 2012 PACHECO Eliezer Os institutos federais uma revoluccedilatildeo na educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica Brasiacutelia MEC sa PNUD Ranking IDHM Municiacutepios 2010 2013 Disponiacutevel em httpwwwbrundporgcontentbrazilpthomeidh0rankingsidhm-municipios-2010html Acesso em 08 Jul 2017 PREFEITURARJ SEBRAERJ Territoacuterios da moda a induacutestria da moda na cidade do Rio de Janeiro [Relatoacuterio de Pesquisa Etapa Quantitativa] Rio de Janeiro PrefeituraRJ 2011 REIS Ana Carla Fonseca (Org) Economia Criativa como estrateacutegia de desenvolvimento uma visatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Satildeo Paulo Itauacute Cultural 2008

SILVA Caetana Juracy Resende Institutos Federais Lei 11892 de 29122008 comentaacuterios e reflexotildees Natal IFRN 2009

SOROSINI Marcela Polos de Jeans no Rio vendem calccedila a R$20 O dia [Caderno Economia] 17092015 Disponivel em httpsextraglobocomnoticiaseconomiapolos-de-jeans-no-rio-vendem-calcas-partir-de-20-8287085html Acesso em 08 Jul 2017

UNCTADConferecircncia das Naccedilotildees Unidas para Comeacutercio e Desenvolvimento Relatoacuterio de economia criativa 2010 Naccedilotildees Unidas 2010 WIKIPEDIA Baixada Fluminense 2152017 Disponiacutevel em httpsptwikipediaorgwikiBaixada_Fluminense Acesso em 09 Jul 2017

  • Introduccedilatildeo
  • Institutos Federais educaccedilatildeo e mudanccedila da realidade local
  • Belford Roxo localizando
  • Economia Criativa mudanccedila social ou individualizaccedilatildeo das responsabilidades
  • Docecircncia e atuaccedilatildeo social a qualificaccedilatildeo em moda como geradora de renda
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias