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1 A ATUAÇÃO DO GUIA DE TURISMO COMO EDUCADOR PATRIMONIAL GUILHERME ZETTERMANN 1 No Brasil, a proposta de uma educação patrimonial, ou seja, de ações educacionais voltadas para o uso e a apropriação dos bens culturais que compõem o nosso patrimônio, dito cultural, foi introduzida por ocasião do 1 o . Seminário sobre o “Uso Educacional de Museus e Monumentos”, realizado em julho de 1983, em Petrópolis, RJ. Nesta forma de educação, é frequente os educadores desenvolverem várias práticas educativas e sociais que visem aos educandos a se identificarem com o patrimônio cultural, por meio do contato físico direto ou indireto e de algumas experiências culturais, em diferentes situações de ensino/aprendizagem. Porque a falta de uma identificação, mesmo que seja por uma pequena parcela de indivíduos, na maioria das vezes, quase sempre provoca a desvalorização do patrimônio cultural e, por consequência, pode gerar possíveis casos de vandalismo e destruição. Assim, na educação patrimonial, o patrimônio cultural precisa se transformar em uma ferramenta educacional, atuando como peça chave no desenvolvimento do aprendizado e não como um mero objeto de ilustração. E as situações de 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGE/UFSC), na Linha de Pesquisa Sociologia e História da Educação, cuja orientação está nos encargos do professor Elison Antonio Paim, professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), Mestrado Profissional em Ensino de História (Profhistória/UFSC) e de Estágio Supervisionado em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutor em Educação (Unicamp). Mestre em História (PUC- São Paulo).

A ATUAÇÃO DO GUIA DE TURISMO COMO EDUCADOR …

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A ATUAÇÃO DO GUIA DE TURISMO COMO EDUCADOR PATRIMONIAL

GUILHERME ZETTERMANN1

No Brasil, a proposta de uma educação patrimonial, ou seja, de ações

educacionais voltadas para o uso e a apropriação dos bens culturais que compõem o

nosso patrimônio, dito cultural, foi introduzida por ocasião do 1o. Seminário sobre o

“Uso Educacional de Museus e Monumentos”, realizado em julho de 1983, em

Petrópolis, RJ.

Nesta forma de educação, é frequente os educadores desenvolverem várias

práticas educativas e sociais que visem aos educandos a se identificarem com o

patrimônio cultural, por meio do contato físico direto ou indireto e de algumas

experiências culturais, em diferentes situações de ensino/aprendizagem. Porque a falta

de uma identificação, mesmo que seja por uma pequena parcela de indivíduos, na

maioria das vezes, quase sempre provoca a desvalorização do patrimônio cultural e,

por consequência, pode gerar possíveis casos de vandalismo e destruição.

Assim, na educação patrimonial, o patrimônio cultural precisa se transformar

em uma ferramenta educacional, atuando como peça chave no desenvolvimento do

aprendizado e não como um mero objeto de ilustração. E as situações de

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina

(PPGE/UFSC), na Linha de Pesquisa Sociologia e História da Educação, cuja orientação está nos encargos do

professor Elison Antonio Paim, professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE),

Mestrado Profissional em Ensino de História (Profhistória/UFSC) e de Estágio Supervisionado em História da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutor em Educação (Unicamp). Mestre em História (PUC-

São Paulo).

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ensino/aprendizagem devem estar centradas em ações que promovam a sensibilização e

conscientização do indivíduo, e também da comunidade, sobre a importância de se valorizar,

preservar e conservar o patrimônio cultural.

Uma vez que é a partir do patrimônio cultural que se encontra ao seu redor que os

indivíduos e as suas futuras gerações (re)conheçam o seu passado, e consequentemente, a sua

herança cultural, nas suas múltiplas manifestações, evidências, sentidos e significados, como

forma de compreender melhor o presente e, ao mesmo tempo, contribua para a valorização e

fortalecimento contínuo de sua identidade cultural, tanto na forma individual quanto

coletivamente (MACHADO, 2004; CASTRO, 2006).

Alguns autores, como por exemplo, Castro (2006), Dias (2006), Ribeiro et al. (2008),

Costa (2012), afirmam que o turismo, sobretudo o turismo cultural, é uma interessante

estratégia de educação patrimonial, podendo ser empregada tanto aos moradores locais

(autóctones) quanto aos turistas2.

Segundo o documento “Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais” do Ministério

do Turismo (2006), o turismo cultural se define como todas “as atividades turísticas

relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e

cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da

cultura” (BRASIL, 2006, p. 13). E neste tipo de turismo, o patrimônio cultural assume um

papel de extrema importância, sendo ele o principal responsável pela motivação dos turistas e

visitantes de se deslocarem para os destinos turísticos.

2 Embora se use o termo “turista” para qualquer visitante que visita outra localidade turística, a

Organização Mundial do Turismo (OMT) recomenda que este termo seja empregado apenas para o visitante que

permanece pelo menos 24 horas no local visitado, desde que não seja o de sua residência, independentemente do

motivo da viagem. Já para o visitante que permanece menos de 24 horas no local visitado e que possuem as

mesmas finalidades do turista, se utiliza o termo de “visitante de um dia” ou “excursionista”.

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Porém, para que o patrimônio cultural seja empregado turisticamente como um

produto turístico permanente e sustentável, é indispensável que todos os agentes

envolvidos no contexto turístico, tanto das agências governamentais quanto das não

governamentais, desenvolvam elementos educacionais que contribuam cada vez mais

para a sua valorização e a sua preservação (DIAS, 2006).

Entretanto, na maioria das viagens turísticas atuais, o patrimônio cultural e a

cultura em geral não são a principal motivação da maioria dos turistas no mundo

(McKERCHER et al., 2002). Geralmente, este patrimônio se encontra de maneira

integrada ao sistema de consumo de lazer e entretenimento do destino turístico, sendo

oferecido aos turistas e visitantes apenas como mais um produto turístico para ser

consumido, sem nenhuma preocupação com a sua preservação e da cultura local.

Assim, bem no meio deste contexto emblemático, centrado na importância da

valorização ou não do patrimônio cultural pelos turistas, que se encontra o guia de

turismo.

Desde 1993, nos termos da Lei Federal nº 8.623 (1993), o guia de turismo é

definido dentro do território brasileiro como todo “o profissional que exerça as

atividades de acompanhamento, orientação e transmissão de informações a pessoas ou

grupos, em visitas, excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais,

internacionais ou especializadas” (BRASIL, 2014, p. 110).

Mas, embora oficial, esta definição não representa todas as atribuições que este

profissional possui quando se está atuando diretamente ao lado dos turistas. Hoje, as

atribuições de um guia de turismo são mais complexas, indo muito além de atuar como

um mero acompanhante, que orienta e assiste os turistas nos mais diversos lugares

turísticos (históricos, culturais ou ambientais), chamando-lhes a atenção para o que

olhar, onde olhar e quando olhar e como se comportar (VALLE, 2003; CHIMENTI &

TAVARES, 2007; MONTES, 2013).

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Além disto, o guia de turismo também deve ser capaz de coordenar a mediação de

todos os vários prestadores de serviços turísticos, tais como agências, hotéis, restaurantes,

casas de espetáculos, museus, dentre outros, para com isso os turistas possam aproveitar ao

máximo sua viagem.

Deste modo, o guia de turismo adquire uma responsabilidade para com os turistas,

uma vez que ele é essencial na formação de toda a imagem e a experiência que eles terão da

viagem e da localidade visitada, contribuindo significativamente para que as expectativas

deles sejam, no mínimo, alcançadas satisfatoriamente (VALLE, 2004). Em outras palavras, se

o guia de turismo realiza um bom trabalho, promovendo um atendimento de qualidade

turística, social e cultural, o turista, ao voltar para seu lugar de origem, levará consigo ótimas

lembranças de tudo que viu, ouviu e recebeu das pessoas que lhe prestaram atendimento, além

de divulgar para os outros à impressão do lugar visitado.

Paralelamente a tudo isso, existe um papel que o guia de turismo também realiza no

qual, na maioria das vezes, não se dá conta que está realizando. Este papel, o de educador

patrimonial, se faz em todos os instantes do seu guiamento quando necessita desenvolver

diversas estratégias educacionais, tais como a interpretação do patrimônio, fazendo com que

os turistas deixem de ver o patrimônio cultural da localidade visitada apenas como objeto de

contemplação, mas também, como fonte de conhecimento, de forma a motivar a eles a terem

respeito pelos elementos multiculturais do destino turístico visitado, reconhecendo a

importância deste patrimônio cultural para a comunidade local e, assim, consequentemente,

sentirem-se também responsáveis pelo mesmo.

Mas, para atuarem neste papel, o guia de turismo precisa de uma formação que lhe

proporcione condições de atuar com eficiência, beneficiando satisfatoriamente tanto os que

visitam quanto a comunidade que os recebe.

Embora tenha crescido a sua importância dentro do contexto turístico nos últimos

anos, o guia de turismo e o seu cotidiano profissional ainda é um tema pouco analisado em

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estudos acadêmicos. No Brasil, geralmente os estudos estão centralizados nos

conceitos e na caracterização do perfil deste profissional (VALLE, 2003;

NASCIMENTO et al., 2014), nas diferenças relacionadas a sua classificação (DE

LAMARE LEITE et al., 2014), nos requisitos legais para o exercício desta profissão

(CARDOSO et al., 2011) ou na análise qualitativa referente no grau de satisfação dos

turistas pelos serviços prestados pelos guias de turismo (BRAZ, 2007).

Assim, com o intuito de estudar o cotidiano profissional do guia de turismo, em

especial o entendimento e a compreensão que estes profissionais possuem em relação

ao seu papel de educador patrimonial, se está realizando esta pesquisa.

Para tal, se adotou o uso da história oral, sobretudo como “uma metodologia de

pesquisa e de constituição de fontes (orais) para o estudo da história contemporânea”

(ALBERTI, 2005, p. 155).

De acordo como Meihy (2007), as fontes orais são todos os registros de

manifestações da oralidade humanas que são gravados por meio de gravações

eletrônicas, geralmente realizado por meio de entrevistas. Contudo, dependendo dos

procedimentos metodológicos empregados, elas podem assumir a forma de: a)

depoimento oral, quando se busca através das entrevistas, elucidar a problemática de

interesse do estudo do pesquisador; b) história da vida, quando se consiste somente em

ouvir a própria história do entrevistado, para que desta maneira se possam absorver em

algum momento, as informações necessárias para desenvolver seu estudo; e c) relato

de vida, quando se concentra também na história do entrevistado, porém, focalizado

sob um prisma de interesse definido pelo estudo do pesquisador.

Entretanto, independente de qual procedimento metodológico, é importante

salientar que as fontes orais não se constituem na história em si. Como o seu próprio

nome diz, as fontes orais servem somente como o ponto de partida para o pesquisador

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buscar respostas a sua pesquisa a partir de uma construção que o indivíduo faz de seu passado

com base nas experiências guardadas pela sua memória (ALBERTI, 2004).

Como já informado, a entrevista se configura como um dos principais instrumentos

para o emprego desta metodologia. Assim, os critérios que serão utilizados para selecionar os

entrevistados, como também a elaboração de boas perguntas, devem ser realmente

representativos aos interesses de que se deseja pesquisar pelo pesquisador.

E, com todas as fontes orais nas mãos do pesquisador, compete a ele realizar a

avaliação delas, decidindo se as utilizam como está e/ou as reexaminam através de outras

fontes externas ou com as falas de outro entrevistado (LODI, 1977)

Desta forma, o primeiro passo desta pesquisa foi a definição do perfil dos

entrevistados, que no caso será o guia de turismo, e descobrir quantos deles atualmente

trabalha na cidade de Florianópolis (SC), para depois, definir a quantidade necessária de

entrevistados.

A escolha da cidade de Florianópolis, a capital do Estado de Santa Catarina, nesta

pesquisa se deu basicamente por ela ser um dos mais importantes destinos turístico nacional,

visitada anualmente inúmeros turistas e visitantes brasileiros e estrangeiros. Fundada em

1673, a cidade possui uma rica história e uma herança cultural diversificada, porém a maioria

dos turistas que a procuram como destinação turística, cerca de 90%, buscam nela somente

para passar férias de sol e praia (WTTC, 2009).

Já no caso do guia de turismo, de acordo com o artigo 2º da Lei nº 8.623 (1993), para

que ele seja reconhecido como tal no Brasil é obrigatório que o mesmo se encontre

devidamente cadastrado no Cadastro de Prestadores de Serviço Turístico (CADASTUR) do

Ministério do Turismo. Para Silva et al., (2013),

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o CADASTUR trouxe transparência à sociedade consumidora, hoje é muito

fácil verificar a legalidade de um prestador de serviços turísticos, por

exemplo, se um consumidor quer saber a legalidade do guia de turismo em

uma cidade do Brasil, basta acessar o sitio eletrônico

www.cadastur.turismo.gov.br, escolher o tipo de serviço e localidade e terá

acesso aos dados do Guia e ao certificado que elenca as habilitações

técnicas. O acesso é gratuito e disponível a qualquer cidadão do Brasil e do

mundo (p. 227).

No entanto, para fazer este cadastramento atualmente, é necessário que o requerente

apresente no momento do seu cadastramento o certificado de conclusão de curso de educação

profissional de nível técnico de Guia de Turismo, na categoria para a qual ele se encontra

habilitado. De acordo com o Decreto Nacional nº 946 (1993), em seu artigo 4º, o guia de

turismo pode ser categorizado de três maneiras3, sendo que:

a) Guia de Turismo Regional – quando as suas atividades compreenderem a

recepção, o traslado, o acompanhamento, a prestação de informações e

assistência a turistas, em itinerários ou roteiros locais ou intermunicipais de

uma determinada unidade da federação, para visita a seus atrativos

turísticos;

b) Guia de Excursão Nacional – quando as suas atividades compreenderem o

acompanhamento e a assistência a grupos de turistas, durante todo o

percurso da excursão de âmbito nacional ou realizada nos países da América

do Sul, adotando, em nome da agência e turismo responsável pelo roteiro,

3 Existe também uma quarta categoria, denominado de Guia de Turismo Especializado em Atrativos

Turísticos, no qual consiste basicamente nas atividades de recepção, acompanhamento e prestação de

informações técnico-especializadas sobre determinado tipo de atrativo natural, tais como parques nacionais, ou

culturais, tais como museus, sítios arqueológicos, entre outros, aos turistas. No entanto, como a própria

denominação apresenta, esta categoria é basicamente uma especialização destinada apenas aos guias de turismo

que se encontram cadastrados no CADASTUR como Guia de Turismo Regional.

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todas as atribuições de natureza técnica e administrativa necessárias à fiel

execução do programa;

c) Guia de Excursão Internacional – quando as suas atividades compreenderem

o acompanhamento e a assistência a grupos de turistas, durante todo o

percurso da excursão realizada em países que não sejam da América do Sul.

Feito estas considerações, então, no dia 01 de abril de 2016, numa consulta

exploratória inicial, realizada no sítio eletrônico do CADASTUR

(www.cadastur.turismo.gov.br), figura 01, descobriu-se que existem mais de 15 mil guias de

guias de turismo cadastrados no Brasil, independentemente da sua categoria. Entretanto,

Entretanto, alguns critérios de seleção precisam ser empregados.

Figura 01: página inicial do sítio eletrônico do CADASTUR (Fonte: www.cadastur.turismo.gov.br)

Como nesta pesquisa a área de atuação do guia de turismo se restringe a cidade de

Florianópolis (SC), o primeiro critério de seleção foi a definir qual será a categoria que os

possíveis candidatos a serem entrevistados deveriam possuir, conforme se encontra no

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CADASTUR. Desta maneira, e seguindo as atribuições definidas pelo Decreto

Nacional nº 946 (1993), se estabeleceu que os candidatos devessem apresentar a

categoria de Guia de Turismo Regional Santa Catarina, já que eles são os únicos

autorizados a transmitir as informações (históricas, geográficas, econômicas, sociais)

referentes a todos os municípios de Santa Catarina. Então, com esta restrição, e

empregando novamente o CADASTUR, o número de guias de turismo que, outrora

era de mais de 15 mil, passou para apenas 271.

Entretanto, mesmo que exista a possibilidade de que todos os guias de turismos

que se encontram cadastrados como Guia de Turismo Regional Santa Catarina estejam

autorizados a atuar como guia de turismo dentro da cidade de Florianópolis (SC), a

quantidade encontrada é enorme. Então, para facilitar a logística com as entrevistas,

um novo critério de seleção foi adotado, excluindo todos aqueles que residam fora da

Região Metropolitana de Florianópolis4 (figura 02). Ao fazer isso, e novamente

retornando ao CADASTUR, o número de possíveis candidatos a serem entrevistados,

passou de 271 para 74, sendo que 61 deles informaram no seu cadastramento que

moram em Florianópolis, 09 em São José, 03 em Palhoça e 01 em Biguaçu. No

entanto, embora menor, a quantidade encontrada ainda é considerado grande,

obrigando estabelecer outros critérios de seleção mais específicos.

4 Criada pela lei complementar estadual n° 495 de 2010, a Região Metropolitana de Florianópolis é composta pelos

municípios de Florianópolis, São José, Palhoça, Biguaçu, Santo Amaro da Imperatriz, Governador Celso Ramos, Antônio

Carlos, Águas Mornas, São Pedro de Alcântara.

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Figura 01: Mapa da Região Metropolitana de Florianópolis (Fonte:

http://agenciaal.alesc.sc.gov.br/index.php/infografico/rmf)

Para resolver este impasse, se retornou novamente aos objetivos da pesquisa para

então definir mais um novo critério de seleção. Assim, pensando na formação dos guias de

turismo, se decidiu agrupar os guias de turismo de acordo com as instituições de ensino em

que eles realizaram a sua formação profissional. Ao fazer isso, acredita-se que, embora cada

entrevistado seja um indivíduo único com experiências únicas, pelo menos a sua formação

fora a mesma.

Ainda que o CADASTUR seja bastante útil, algumas informações mais específicas,

tais como a instituição de ensino e o ano que os realizaram os seus cursos de formação

profissional de guia de turismo, não se encontram disponíveis para serem consultados no seu

sitio eletrônico. Então, para que eu pudesse consultar estas outras informações, foi necessário

entrar em contato com o escritório regional do MTUR em Santa Catarina e,

consequentemente, pedir a autorização para consultar os seus arquivos físicos. Então, um

ofício foi mandado ao MTUR pedindo a autorização para consultar os seus arquivos físicos.

Graças à análise destes arquivos físicos foi possível estabelecer uma cronologia

significativa que configurasse as instituições de ensino que ofertaram cursos de formação

profissional de guia de turismo em Florianópolis. Na tabela 01 estão listados todos os nomes

das 15 instituições de ensino (embora alguns sejam repetitivos), que ofertaram este curso na

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cidade até o ano de 2015. Além do nome da instituição, também se encontram os anos

que eles realizaram os seus respectivos cursos de formação, as suas cargas horárias

totais e a quantidade de estudantes que cada instituição formou e que atualmente se

encontram cadastrados no CADASTUR.

Tabela 01: Cronologia das Instituições de Ensino que ofertaram cursos de formação

profissionalizante de guia de turismo em Florianópolis (SC)

Instituição de Ensino Ano

Carga

Horária

Total

Quantidade de Guias de

Turismo formados e

cadastrados no CADASTUR

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 1972 15 h/a 01

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC) 1986 205 h/a 08

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC) 1990 20 h/a 01

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC) 1992 200 h/a 01

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC) 1996 350 h/a 01

Escola Superior de Turismo e Hotelaria

Florianópolis (ESTH) 1998 350 h/a 02

Escola Técnica Federal de Santa Catarina

(ETFSC) 2000 460 h/a 01

Centro Federal de Educação Técnica de Santa

Catarina (CEFET-SC) 2003 696 h/a 01

Instituto de Formação Turística e Hoteleira de

Florianópolis (IFTHF) 2004 400 h/a 04

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC) 2005 506 h/a 02

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC) 2005 506 h/a 04

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC) 2007 506 h/a 06

Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) 2011 800 h/a 07

Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) 2012 800 h/a 03

Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) 2013 800 h/a 13

Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) 2014 828 h/a 13

FONTE: arquivos físicos do CADASTUR

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Com esta tabela em mãos, o próximo passo foi definir: se escolheria um entrevistado

de cada uma destas 15 instituições de ensino, que se tornaria dispendioso e cansativo, ou se

agruparia as instituições de ensino em períodos e entrevistaria um de cada grupo, que talvez

os entrevistados selecionados não expressem representatividade a pesquisa.

Após analisar os prós e contras, a escolha final foi a de agrupar as instituições de

ensino em quatro períodos, a partir das alterações que as leis, decretos e normas nacionais

provocaram na atuação do guia de turismo, destacando a lei de regulamentação da profissão

de guia de turismo – Lei nº 8.623 (1993) - e/ou nas semelhanças encontradas em cada

instituição, tais como os cursos realizados na mesma instituição ou que possuíam cargas

horárias totais parecidas. Assim, seguindo estas considerações, dividiu-se as instituições de

ensino em quatro períodos.

O primeiro período, denominado de Grupo Pré-regulamentação, consiste apenas das

instituições de ensino que ministraram cursos de formação profissionalizantes de guia de

turismo antes da Lei nº 8.623 (1993), que regulamentou a profissão de guia de turismo.

Embora a existência de cursos profissionalizantes, este período se destacava pela forma

amadora que as atividades de guiamento eram realizadas, na maioria das vezes por pessoas

que não possuíam alguma formação profissional (CARVALHO, 2003).

O segundo período, denominado de Grupo de Transição, será composto pelas

instituições de ensino que ministraram cursos de formação profissionalizantes depois da Lei

nº 8.623 (1993) até a alteração curricular promovida pelas Deliberações Normativas nº 426

(2001) e 427 (2001) nos cursos de formação profissional, que passaram a ser obrigatoriamente

de nível técnico, com planos de cursos e carga horária mínima (de 400 horas). Nestas

deliberações também forma estabelecidas as competências e habilidades necessárias para a

profissão, a quantidade de viagens técnicas, os procedimentos, as disciplinas que deveriam ser

ofertadas e até o perfil docente para cada uma destas disciplinas.

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Já o terceiro período e quarto período, denominados de Grupo SENAC e Grupo

IFSC respectivamente, serão compostos exclusivamente pelos cursos de formação

profissional de guia de turismo que foram ministrados pelo SENAC, entre os anos de

2005 a 2007, e pelo IFSC, entre os anos 2011 a 2015.

Na tabela 02, encontra-se a maneira como as 15 instituições de ensino foram

agrupadas nos quatros períodos, juntamente com o número total de guias de turismo.

Tabela 02: Divisão dos períodos promovidos nas Instituições de Ensino que ofertaram

cursos de formação profissionalizante de guia de turismo em Florianópolis (SC)

Instituição Educacional Ano

Quantidade de Guias de

Turismo formados e

cadastrados no

CADASTUR

Total

Grupo

Pré-

Regulamentação

UFSC 1972 01

11 SENAC 1986 08

SENAC 1990 01

SENAC 1992 01

Grupo

Transição

SENAC 1996 01

09

ESTH 1998 02

ETFSC 2000 01

CEFET 2003 01

IFTHF 2004 04

Grupo

SENAC

SENAC 2005 02

12 SENAC 2005 04

SENAC 2007 06

Grupo

IFSC

IFSC 2011 07

36 IFSC 2012 03

IFSC 2013 13

IFSC 2014 13

FONTE: arquivos físicos do CADASTUR

Após a realização desta periodização, em cada um destes grupos será sorteado,

de maneira aleatória, até 03 nomes de guias de turismo, sendo que o primeiro que fora

sorteado será o primeiro a ser convidado. A razão de sortear mais dois nomes deve-se

a necessidade de termos substitutos caso o primeiro que fora sorteado recuse o convite.

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Por fim, depois de realizada a seleção dos guias de turismos a serem entrevistados

estabeleceu o formato de entrevistas a ser utilizado nesta pesquisa, que no caso fora o do

questionário semidirigido. Neste tipo de questionário permite uma maior interação com o

entrevistado e que pode resultar numa maior exploração das informações transmitidas pelo

mesmo, pois a partir de respostas de uma base de questões comuns ao todo que integra a

amostra, podem-se construir outras no momento da entrevista.

Embora esta pesquisa esteja nos estágios iniciais, como parte do meu projeto de

mestrado, é importante demonstrar os procedimentos metodológicos realizados até o

momento.

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