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Dom Washington nos apresenta Carlo Acutis, o beato dos nossos dias Paróquia São Pedro e São Paulo acolhe seu novo administrador Frei fala sobre inspirações do Santo de Assis no pontificado de Francisco pág. 2 pág. 3 pág. 7 PALAVRA DO ARCEBISPO ARQUIDIOCESE VIDA CRISTÃ Capa: Carlos Henrique semanal Edição 334ª - 11 de outubro de 2020 www.arquidiocesedegoiania.org.br Siga-nos A Carta Encíclica do papa Francisco sobre a Fraternidade Universal FRATELLI TUTTI págs. 4 e 5 EDICAO 334 - DIAGRAMADO.indd 1 09/10/2020 11:36:01

A Carta Encíclica do papa Francisco sobre a Fraternidade Universal cisco, na cidade de Assis, Itália. Carlo nasceu, no ano de 1991, em Londres, e era de família italiana. Desde

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Page 1: A Carta Encíclica do papa Francisco sobre a Fraternidade Universal cisco, na cidade de Assis, Itália. Carlo nasceu, no ano de 1991, em Londres, e era de família italiana. Desde

Dom Washington nosapresenta Carlo Acutis,o beato dos nossos dias

Paróquia São Pedro eSão Paulo acolhe seunovo administrador

Frei fala sobre inspiraçõesdo Santo de Assis no

ponti�cado de Franciscopág. 2 pág. 3 pág. 7

PALAVRA DO ARCEBISPO ARQUIDIOCESE VIDA CRISTÃ

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semanalEdição 334ª - 11 de outubro de 2020 www.arquidiocesedegoiania.org.br Siga-nos

A Carta Encíclica do papa Francisco sobre a

Fraternidade Universal

FRATELLI TUTTI

págs. 4 e 5

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que se veste sobre a alva e a estola. A ca-sula acompanha a cor litúrgica do dia.

Dalmática: veste própria do diácono. É colocada sobre a alva e a estola. Usa-se a dalmática sobretudo nas celebrações mais solenes.

Pluvial ou capa de asperges: capa lon-ga que o sacerdote usa nas procissões; ao dar a bênção com o Santíssimo; ao asper-gir a assembleia e em outras ações sagra-das, conforme as rubricas de cada rito.

Véu umeral ou véu de ombros: manto retangular que o sacerdote usa sobre os ombros, ao dar a bênção com o Santíssi-mo ou ao transportar o ostensório com o Santíssimo Sacramento.

A Instrução Geral do Missal Romano nº 346 dispõe, dessa forma, sobre as cores das vestes sagradas: “Quanto à cor das vestes sagradas, mantenha-se o uso tradicional, isto é: a) Usa-se a cor branca nos Ofícios e Missas do Tempo Pascal e do Natal do Senhor. Além disso: nas celebrações do Se-nhor, exceto as da Paixão, nas celebrações da bem-aventurada Virgem Maria, dos An-jos, dos Santos não Mártires, nas solenida-des de Todos os Santos (1 de Novembro), de S. João Batista (24 de Junho), nas festas de S. João Evangelista (27 de Dezembro), da Cátedra de S. Pedro (22 de Fevereiro) e da Conversão de S. Paulo (25 de Janeiro); b) Usa-se a cor vermelha no Domingo da Pai-xão (ou de Ramos) e na Sexta-Feira da Se-mana Santa, no Domingo do Pentecostes, nas celebrações da Paixão do Senhor, nas festas natalícias dos Apóstolos e Evangelis-tas e nas celebrações dos Santos Mártires; c) Usa-se a cor verde nos Ofícios e Missas do Tempo Comum; d) Usa-se a cor roxa no Tempo do Advento e da Quaresma. Pode usar-se também nos Ofícios e Missas de defuntos; e) A cor preta pode usar-se, onde for costume, nas Missas de defuntos; f) A cor de rosa pode usar-se, onde for costu-me, nos Domingos Gaudete (III do Adven-to) e Laetare (IV da Quaresma).

Por fi m, que este ciclo de breves consi-derações sobre os objetos litúrgicos, usa-dos nas celebrações, nos ajude a aumen-tar nossa piedade e reverência diante da santidade dos mistérios celebrados.

(Pe. João Batista de Lima)

PALAVRA DO ARCEBISPO

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As vestes sagradas, usadas na ação litúrgica, não são meras indumentárias. São sinais da beleza, da dignidade e da variedade de funções na ação sagrada, como expresso na Instrução Geral do Missal Romano (n. 335): “Na Igreja, que é o Corpo de Cristo, nem todos os mem-bros desempenham a mesma função. Esta diversidade de funções na celebra-ção da Eucaristia manifesta-se exterior-mente pela diversidade das vestes sagra-das, que por isso devem ser um sinal da função de cada ministro”.

No documento 43 da CNBB, “Anima-ção da vida litúrgica no Brasil”, em seu número 146, consta que: “As vestes litúr-gicas com suas formas especiais e cores variadas, são sinais para o povo e para os próprios ministros de que eles agem aqui e agora em nome e na pessoa de Cristo e da Igreja. Indicam ainda a diversida-de dos serviços prestados na celebração através do ministro”.

As vestes sagradas, pela dignidade do serviço religioso em que serão utili-zadas, devem ser abençoadas: “As vestes usadas pelos sacerdotes, os diáconos, bem como pelos ministros leigos são oportunamente abençoados antes que sejam destinados ao uso litúrgico, con-forme o rito descrito no Ritual Romano” (IGMR, n. 335).

AS PRINCIPAIS VESTES SAGRADAS SÃO:

Alva ou túnica: veste longa, de cor bran-ca, comum aos ministros ordenados e instituídos de qualquer grau.

Cíngulo: cordão com o qual se prende a alva ao redor da cintura. Conforme o feitio da alva ou túnica, dispensa-se o uso do cíngulo.

Amito: pano que o padre coloca ao re-dor do pescoço antes de revestir outros paramentos. Estola: veste litúrgica dos ministros or-

denados. O bispo e o presbítero (isto é, o padre) a colocam sobre os ombros de modo que caia pela frente em forma de duas tiras. Os diáconos usam a estola a tiracolo sobre o ombro esquerdo, pen-dendo-a do lado direito.

Casula: veste própria do sacerdote que preside a celebração. Espécie de manto

Série Objetos Litúrgicos

AS VESTES SAGRADAS

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BEATO CARLO ACUTIS,ROGAI POR NÓS

DOM WASHINGTON CRUZ, CPArcebispo Metropolitano de Goiânia

EditorialA matéria de capa desta edição traz

chaves de leitura para os oito capítulos da nova Carta Encíclica do papa Francis-co, Fratelli Tutt i, que foi lançada no último dia 4 de outubro. Mas o que traz o con-teúdo desse novo documento? O Santo Padre, mais uma vez, inspirado em São Francisco de Assis, refl ete sobre a huma-nidade que ele sonha, que caminha na mesma carne humana. O documento le-vanta temas sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivên-cia comum. O conteúdo é direcionado a todas as pessoas de boa vontade. Dom Washington Cruz, em sua Palavra sema-nal, nos brinda com um artigo sobre Car-lo Acutis, que foi beatifi cado no dia 10 de outubro. O jovem, que faleceu aos 15 anos

de idade, tinha a Santa Eucaristia como o centro de sua vida. Na série Objetos Litúr-gicos, padre João Batista de Lima explica sobre as vestes sagradas que são usadas na ação litúrgica. “Não são meras indu-mentárias”, destaca no texto. Frei Edgar Alves, OFM, escreve artigo, na seção Vida Cristã, sobre as inspirações franciscanas no pontifi cado do papa Francisco.

Boa leitura!

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Arcebispo de Goiânia: Dom Washington CruzBispos Auxiliares: Dom Levi Bonatto e Dom Moacir Silva Arantes

Coordenadora de Comunicação: Talita Salgado (MTB 2162 GO)Consultor Teológico: Pe. Warlen MaxwellJornalista Responsável: Fúlvio Costa (MTB 8674/DF)Redação: Fúlvio Costa / Marcos Paulo MotaSuzany MarquesRevisão: Camila Di Assis

Diagramação: Ana Paula Mota e Carlos HenriqueFotogra� as: Rudger Remígio e colaboradores

Contatos: [email protected]: (62) 3229-2683/2673

No dia 10 de outubro, foi bea-tifi cado o jovem Carlo Acutis. A beatifi cação aconteceu na Basílica Papal de São Fran-

cisco, na cidade de Assis, Itália. Carlo nasceu, no ano de 1991, em Londres, e era de família italiana. Desde o dia em que recebeu a primeira comunhão, aos 7 anos, nunca faltou a um encon-tro com a Santa Missa diária. Procurou sempre, antes ou depois da celebração eucarística, fazer uma pausa diante do Tabernáculo para adorar Jesus, verda-

deiramente presente no Santíssimo Sacramento. Nossa Senhora foi sua grande confi dente e ele nunca deixou de honrá-la, reci-tando o Terço todos os dias.

Para citar as próprias palavras de Carlo: “Nosso objetivo deve ser o infi nito e não o fi nito. O Infi nito é nossa pátria. Sem-pre somos esperados no céu ”. Outra frase sua era: “Todas as pessoas nascem como originais, mas muitas morrem como fo-tocópias”. Para avançar em direção a esse objetivo e não “mor-rer como fotocópias”, Carlo disse que nossa bússola deve ser a Palavra de Deus, para que possamos sempre estar à sua altura. Mas, para atingir tal objetivo elevado, são necessárias medidas muito especiais: os sacramentos e a oração. Em particular, Car-lo colocou o Sacramento da Eucaristia no centro de sua vida e ele chamou de “minha estrada para o céu”. Por isso, ele dedi-cou sua vida a promover a adoração eucarística. Sua devoção à Eucaristia e ao Rosário o levou a aplicar seus conhecimentos em informática para realizar iniciativas virtuais para evangelizar.

Carlo era muito dotado com tudo relacionado ao mundo da computação, de modo que tanto seus amigos quanto adultos com graduação em engenharia da computação o consideravam um gênio. Todos fi caram surpresos com sua capacidade de compreender os segredos dos computadores, que normalmente só são acessíveis a quem possui diplomas universitários espe-cializados. Com suas capacidades, dedicou-se também à edição de fi lmes, criação de sites, edição e apresentação de pequenas publicações, para ajudar os mais necessitados, especialmente crianças e idosos. Os modos modernos e atualizados de Carlo combinaram perfeitamente com sua profunda vida eucarística e devoção mariana, o que ajudou a torná-lo aquele menino mui-to especial que todos admiraram e amaram.

Doente de leucemia, ofereceu seu sofrimento pelo papa e pela Igreja. Morreu de uma leucemia galopante, no dia 12 de outubro de 2006, quando tinha 15 anos. Contemplando esse adolescente, que se sentiu atraído pela amizade de Cristo, e por isso mesmo experimentou uma alegria mais verdadeira, nossos fi lhos serão colocados em contato com uma experiência que em nada desvaloriza a vida deles, mas a aprimora ainda mais. A vida de Carlo mostra como o Senhor continua agindo em sua Igreja e na vida de quem o procura. Mostra, ainda, que a san-tidade é possível, em todas as idades, e que os jovens podem encontrar na amizade com Jesus sua verdadeira alegria.

Beato Carlo Acutis, rogai por nós!

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3ARQUIDIOCESE EM MOVIMENTO

Paróquias de Goiânia celebramSão Francisco de Assis com a bênção dos animais

AIgreja celebrou, no dia 4 de ou-tubro, a memória de São Fran-cisco de Assis. Algumas paró-quias, em nossa arquidiocese,

realizaram a tradicional bênção dos ani-mais, com a intenção de que os animais e seus donos sejam protegidos contra qualquer tipo de perigo.

A Paróquia São Francisco de Assis, do Setor Leste Universitário, realizou, no dia 3, a bênção, por meio de drive-th-ru, no estacionamento da paróquia e no Parque Flamboyant. Foram abençoados mais de 400 animais nesse dia.

Na Paróquia Nossa Senhora Auxilia-dora – Catedral Metropolitana de Goiâ-nia, o padre Carlos Gomes realizou a bênção dos animais no estacionamento da igreja. Dezenas de pessoas levaram seus bichinhos para serem abençoados. A iniciativa também foi realizada na Pa-róquia Jesus Bom Pastor, no Setor Novo Mundo, em Goiânia. Ali, o padre Antô-nio Alexandre concedeu a bênção aos animais e aos donos.

No Santuário-Basílica Sagrada Fa-mília, a bênção foi realizada no esta-cionamento, durante todo o dia, com a

Em uma celebração presidida pelo bispo auxiliar de Goiânia, Dom Moacir Silva Arantes, no dia 4 de outubro, Me-mória de São Francisco de Assis, tomou posse como administrador paroquial da Paróquia São Pedro e São Paulo, no Vila Finsocial, em Goiânia, o padre Thiago Martins Borges.

Dom Moacir, ao iniciar a Santa Mis-sa, louvou e agradeceu a Deus pela Pa-róquia São Pedro e São Paulo estar aco-lhendo o novo administrador paroquial. “Hoje nos alegramos por nossa igreja ter um pastor, um sacerdote, para cami-nhar na construção do Reino de Deus”, disse o bispo.

Em sua refl exão, ele saudou todos os que estavam presentes e refl etiu sobre as leituras: “Um coração verdadeira-

mente alegre não tem tempo para fazer o mal”. Para encerrar, ressaltou que: “A comunidade é uma família, que é uma vinha do Senhor. O padre, na paróquia, na Igreja, é uma vinha, e deve ser cuida-da e amada por todos”, disse, refl etindo sobre o Evangelho (Mt 21,33-43).

Após a homilia, o atual administra-dor, diante de todos, renovou as pro-messas sacerdotais e recebeu os objetos para desempenhar bem a sua função de pastor do povo de Deus a ele confi ado.

Padre Thiago disse suas primeiras palavras como administrador paro-quial, ao fi nal da Santa Missa, agrade-cendo e encorajando o povo de Deus, para que possa caminhar em unidade na construção do Reino.

(Marcos Paulo Mota)

Pe. Thiago Martins é o novo administradorda Paróquia São Pedro e São Paulo

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presença de um padre ou diácono, que usou a relíquia de São Francisco para abençoar. (Marcos Paulo Mota)

Inspiração FranciscanaFrei Edgar Alves, OFM, pároco respon-

sável pela Paróquia São Francisco de Assis, do Setor Leste Universitário, explica que a iniciativa é inspirada na oração “Cântico das Criaturas”, composta por São Francisco de Assis em 1224, e tem o objetivo de cons-cientizar a população sobre a importância de respeitar e reconhecer os animais como criaturas amadas por Deus, de acordo com os ensinamentos de São Francisco de Assis.

Francisco fez a oração em seu leito de morte, ao lado dos frades franciscanos Ân-gelo e Leo, louvando a Deus pela criação dos animais e de toda a natureza, chamando a todos de “irmãos”. Posteriormente, no sécu-lo XX, a oração foi transformada em música pela compositora russa So� a Gubaidulina.

O título de “padroeiro dos animais e da natureza” foi conferido a São Francisco de Assis pelo papa João Paulo II, no ano de 1979, pelo fato de que o santo sempre lou-vou a Deus por todos os animais e seres. 

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CAPA4

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O papa também fez questão de comentar sobre a inspiração de São Francisco de Assis, mais uma vez, em um documento pontifício. “Este santo do amor fraterno, da simplici-dade e da alegria, que me inspirou a escrever a encíclica Laudato Si’, volta a inspirar-me para dedicar esta nova encíclica à fraternidade e à amizade social. Com efeito, São Francisco, que se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e an-dou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, dos últimos.”

Fratelli Tutt i é um documento que expressa o pensamento do papa

Francisco e seu sonho de uma úni-ca humanidade. Muito do conteúdo da nova encíclica traz aquilo que expressa o Santo Padre por onde passa. Portanto, não se trata de re-fl exões novas. Ele mesmo diz, no documento, que as questões relacio-nadas com a fraternidade e a ami-zade social sempre estiveram entre suas preocupações. Se Laudato Si’teve fonte de inspiração no Patriarca Ortodoxo Bartolomeu, Fratelli Tutt item inspiração no Grande Imã Ah-mad Al-Tayyeb. Ao se encontrarem em Abu Dhabi, tocou fortemente Francisco a expressão: “Deus criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignida-

de, e os chamou a conviver entre si como irmãos” (4/02/19).

A cultura do encontro é outro ponto bastante presente na nova encí-clica e Francisco lembra que quando escrevia o documento, veio de forma inesperada o novo coronavírus que reafi rmou aquilo que é evidente: não é possível viver sozinho e a pande-mia nos mostra isso de forma con-creta, deixando descobertas as nossas falsas seguranças. Ainda com a pan-demia, conforme o papa, fi cou clara a incapacidade de agir em conjunto. “Apesar de estarmos super conecta-dos, verifi cou-se uma fragmentação que tornou mais difícil resolver os problemas que afetam a todos” (n. 7).

No último dia 4 de outubro, Memória de São Francisco de Assis, o papa Francisco lançou sua terceira Carta

Encíclica, Fratelli Tutt i – sobre a frater-nidade e a amizade social. O documen-to é o segundo inspirado no Santo de Assis, contém uma introdução geral e oito capítulos, distribuídos em 117 páginas. A expressão i talia-na traduzida para o português quer dizer “Todos irmãos”. “Fratelli Tut-ti escrevia São Francisco de Assis, dirigindo-se a seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida com sabor de Evangelho”, explicou o Santo Padre logo nas primeiras li-nhas da encíclica.

Este capítulo trata de um mundo cada vez mais distante, embora estejamos “su-per conectados”, Francisco diz que a economia global impõe um modelo cultural único que divide as pessoas e as nações, “porque a sociedade cada vez mais globa-lizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos”. O papa enfatiza que nos encon-tramos cada vez mais sozinhos e individualistas e as relações sociais e comunitárias estão cada vez mais debilitadas. Tudo isso é consequência do globalismo, que fa-vorece normalmente a identidade dos mais fortes, que se protegem, mas procura dissolver as identidades das regiões mais frágeis e pobres, tornando-as mais vul-neráveis e dependentes. Neste cenário, há um desprezo pela história, rejeição pela riqueza espiritual e humana, ignorando, assim, tudo o que os precedeu. É uma luta de interesses que coloca todas as pessoas contra nós e vencer se torna sinônimo de destruir. O Santo Padre diz que, para reverter a situação, é urgente cuidar do mun-do que nos rodeia, o que signi� ca cuidar de nós mesmos. “Mas precisamos de nos constituir como um ‘nós’ que habita a casa comum” (n. 17). Neste capítulo, o papa ainda abre espaço para falar dos migrantes, convidando-nos à abertura aos outros, abandonando o pensar e o agir intolerantes. “O medo priva-nos do desejo e da ca-pacidade de encontrar o outro” (n. 41). Sobre os meios de comunicação, sobretudo os digitais, Francisco faz um alerta: “eles podem expor ao risco de dependência, iso-lamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta, di� cultando o desenvolvimento de relações interpessoais autênticas” (n. 43). Para lançar pontes é preciso muito mais que o ambiente digital, conforme o papa.

O segundo capítulo da nova Carta Encíclica começa com a narração da parábola do Bom Samaritano (Lc 10,29-37). O papa Francisco faz uma re� exão profunda sobre o cuidado com o outro. Desde a resposta de Jesus na parábola do Bom Samaritano: “vai e faz tu também o mesmo” (Lc 10,25-37) e volta ao Antigo Testamento e lembra do episódio em que Caim mata seu irmão Abel e quando o Senhor pergunta pelo irmão, Caim responde: “Sou, porventura, guarda do meu irmão?” (Gn 4,9). Francisco exorta-nos dizendo que essa resposta é a mesma que damos muitas vezes. Neste ca-pítulo, o papa provoca-nos sobre as relações com o próximo. “Nós sabemos que pas-samos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte” (1Jo 3,14). Esse amor a que se refere o Santo Padre deve ser ofertado a todas as pessoas, principalmente àquelas que mais sofrem. “Precisamos reconhecer que somos constantemente tentados a ignorar os outros, especialmente os mais frá-geis” (n. 64). É uma história que se repete ao longo dos séculos. “Enquanto caminha-mos, inevitavelmente embatemos no homem ferido. Hoje, há cada vez mais feridos. A inclusão ou a exclusão da pessoa que sofre na margem da estrada de� ne todos os projetos econômicos, políticos, sociais e religiosos. Dia a dia enfrentamos a opção de ser bons samaritanos ou viandantes indiferentes que passam ao largo” (n. 69).

FÚLVIO COSTA

CAPÍTULO I CAPÍTULO IIAs sombras de um mundo fechado Um estranho no caminho

A seguir, trazemos chaves de leitura para os oito capítulos da nova encíclica

A EncíclicaSocialque nos convidaa amar uns aosoutros comoDeus nos ama

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CAPA

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O estar em sintonia e comunicar com o próximo, considerando sempre o outro, é a essência do terceiro capítulo. “Só comunico realmente comigo mesmo, na medida em que comunico com o outro” (n. 87). A vida só subsiste, segundo o papa, “onde há vínculo, comunhão, fraternidade; e é uma vida mais forte do que a morte, quan-do se constrói sobre verdadeiras relações e vínculos de � delidade. Pelo contrário, não há vida quando se tem a pretensão de pertencer apenas a si mesmo e de viver como ilhas: nessas atitudes prevalece a morte” (n. 87). É preciso partir de si mesmo, ir ao encontro do outro. Como diz o papa, “deixar-se levar”. A teia de relações deve ser ampla para além do meu pequeno grupo, da minha família para que eu possa compreender-me a mim mesmo. Neste capítulo ressalta-se também o valor da cari-dade, que é o dinamismo capaz de construir a vida em comum. O papa cita a palavra de Deus para reforçar esse pensamento. “Todos nós, crentes, devemos reconhecer isto: em primeiro lugar está o amor, o amor nunca deve ser colocado em risco, o maior perigo é não amar” (cf. 1Cor 13, 1-13). Para São Tomás de Aquino, o movimento de amar centra a atenção no outro “considerando um só comigo mesmo” (n. 93). O amor, portanto, deve colocar-nos em tensão para a comunhão universal. “Ninguém amadurece nem alcança sua plenitude, isolando-se” (n. 95).

Nesse longo caminho para a fraternidade universal, a política tem um papel in-dispensável. Não a política populista, mas aquela que tem como causa o bem co-mum, que se coloca a serviço de todos. O papa re� ete sobre a política que pensa um mundo aberto onde haja lugar para todos, que inclua os mais frágeis e respeite as diferentes culturas. Isso se faz com trabalho. “Por mais que mudem os sistemas de produção, a política não pode renunciar ao objetivo de conseguir que a organização de uma sociedade assegure uma maneira de contribuir com as suas capacidades e o seu esforço” (n. 162). A pior pobreza, escreve o papa, “é aquela que priva do trabalho e da dignidade do trabalho. Numa sociedade realmente desenvolvida, o trabalho é uma dimensão essencial da vida social, porque não é só um modo de ganhar o pão, mas também um meio para o crescimento pessoal, para estabelecer relações sadias, expressar-se a si próprio, partilhar dons, sentir-se corresponsável no desenvolvimen-to do mundo e, � nalmente, viver como povo” (n. 162). Pensar uma política melhor é mais do que necessária. Só a partir dela é possível transformar a sociedade. “A tarefa educativa, o desenvolvimento de hábitos solidários, a capacidade de pensar a vida humana de forma mais integral, a profundidade espiritual são realidades necessá-rias para dar qualidade às relações humanas, de tal modo que seja a própria socie-dade a reagir diante das próprias injustiças, das aberrações, dos abusos dos poderes econômicos, tecnológicos, políticos e mediáticos” (n. 167).

Novo encontro para o papa Francisco não signi� ca voltar ao período anterior aos con� itos. Ele diz que, com o tempo, todos mudamos e as tribulações e os con� itos nos transformam. A verdade é muito importante neste sentido porque ela não deve levar à vingança, mas à reconciliação e ao perdão. Já a violência e o ódio levam ao caminho oposto do encontro. “A violência gera mais violência, o ódio gera mais ódio e a morte, mais morte. Temos de quebrar essa corrente que aparece como inelutável” (n. 227). O percurso para a paz exige trabalhar juntos e superar o que nos divide sem perder a identidade de cada um. O Santo Padre dá o exemplo da família que entre uma briga e outra se reconcilia e as alegrias e penas de cada um são assumidas por todos. A so-ciedade seria melhor se também ela fosse assim. “Oh, se pudéssemos conseguir ver o adversário político ou o vizinho de casa com os mesmos olhos com que vemos os � -lhos, esposas, maridos, pais ou mães, como seria bom! Amamos a nossa sociedade, ou continua a ser algo distante, algo anônimo, que não nos corresponde, não nos insere, não nos compromete?” (n. 230). Mas para conseguirmos a paz há ainda outro cami-nho a ser percorrido: “Aqueles que pretendem paci� car uma sociedade não devem es-quecer que a desigualdade e a falta de desenvolvimento humano integral impedem que se gere a paz. Na verdade, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há de provocar a explosão” (n. 235). Francisco enfatiza que a verdadeira reconciliação é alcançada dentro do con� ito, superando-o através do diálogo e de negociações trans-parentes, sinceras e pacientes. “A unidade é superior ao con� ito” (n. 245).

“Somos irmãos e irmãs”. Não é difícil ouvir por aí esta a� rmação, mas até ela se tornar prática, parte das nossas vidas, muito caminho precisa ser percorrido. Neste quarto capítulo, papa Francisco nos provoca sobre isso e nos exorta a não deixar essa a� rmação somente no campo das abstrações. Precisamos assumir novas pers-pectivas e produzir novas reações. Muitas das limitações em relação a isso partem de preconceitos. Os migrantes são um bom exemplo. O papa escreve, na encíclica, que o ideal seria não haver migrações, mas para isso é necessário criar reais possibi-lidades de viver e crescer em seus países de origem, a � m de se poder encontrar lá as condições para o próprio desenvolvimento integral. “O caminho não é desenvolver programas assistenciais vindo do alto, mas construir cidades e países que saibam respeitar as diferenças e valorizá-las em nome da fraternidade humana”. (cf. n. 129). O Santo Padre aponta caminhos práticos no número 130 do documento, que be-ne� ciam aqueles que fogem de graves crises humanitárias. Citando o exemplo de seu país de origem, ele diz que “se forem ajudados a integrar-se, os imigrantes são uma bênção, uma riqueza e um novo dom que convida a sociedade a crescer” (n. 135). O intercâmbio entre países é fecundo na visão do papa e a ajuda mútua bene-� cia todas as pessoas. Neste capítulo está uma de suas frases mais emblemáticas na nova encíclica: “Precisamos fazer crescer a consciência de que, hoje, ou nos salvamos todos ou não se salva ninguém”. (n. 137). Isso porque “a pobreza, a degradação, os sofrimentos de um lugar da terra são um silencioso terreno fértil de problemas que, � nalmente, afetarão todo o planeta” (n. 137).

O diálogo ajuda o mundo a viver melhor, a� rma Francisco neste sexto capítulo de Fratelli Tutti. É por meio dele que é possível “aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato” (n. 198). “Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre pos-sível: o diálogo”, ressalta o papa. Mas o diálogo muitas vezes é confundido. Não se trata de troca de opiniões nas redes sociais. Isso não é diálogo, mas monólogo. “O diálogo social autêntico pressupõe a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro, aceitando como possível que contenha convicções ou interesses legítimos. A partir da própria identidade, o outro tem algo para dar, e é desejável que aprofunde e exponha a sua posição para que o debate público seja ainda mais completo” (n. 203). A busca do diálogo leva a um caminho sem erro: a cultura do encontro tão defendida e buscada pelo papa Francisco. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida. Já várias vezes convidei a fazer crescer uma cultura do en-contro que supere as dialéticas que colocam um contra o outro. É um estilo de vida que tende a formar aquele poliedro que tem muitas faces, muitos lados, mas todos compõem uma unidade rica de matizes, porque ‘o todo é superior à parte’” (n. 215).

O diálogo tem objetivos profundos e entre religiões, então, ele pode levar ao caminho da paz e da fraternidade universal. No último capítulo de Fratelli Tutti, o papa Francisco diz que o diálogo entre religiões deve acontecer para estabelecer amizade, paz, harmonia e partilhar valores e experiências morais e espirituais num espírito de verdade e amor. Neste caminho, tornar Deus presente na sociedade, sem instrumentalizá-lo ou ofuscá-lo com as nossas ideologias é um bem para as nossas sociedades e ajuda-nos a reconhecer-nos como companheiros de estrada, verdadei-ros irmãos. Por outro lado, quando em algumas sociedades as pessoas são privadas de liberdade de consciência e de liberdade religiosa, seus membros são radicalmen-te empobrecidos, privados de esperança e de ideais. Eis o papel da Igreja a serviço da fraternidade no mundo: “A Igreja tem um papel público que não se esgota nas suas atividades de assistência ou de educação, mas busca a promoção do homem e da fraternidade universal. Não pretende disputar poderes terrenos, mas oferecer-se como uma família entre as famílias – a Igreja é isto –, disponível (…) para testemu-nhar ao mundo de hoje a fé, a esperança e o amor ao Senhor, mas também àqueles que Ele ama com predileção. Uma casa com as portas abertas... A Igreja é uma casa com as portas abertas, porque é mãe” (n. 276).

O papa encerra sua terceira Carta Encíclica lembrando do Beato Carlos de Fou-cauld, que teve como ideal de vida a entrega total a Deus, identi� cando-se com os últimos, os mais abandonados no interior do deserto africano. Como São Francisco de Assis, ele também sentia todo o ser humano como um irmão. Foucauld queria ser assim, o irmão universal, e o papa Francisco conclui pedindo que Deus inspire em cada um de nós esse ideal.

CAPÍTULO III

CAPÍTULO V

CAPÍTULO VII

CAPÍTULO IV

CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VIII

Pensar e gerar um mundo aberto

A política melhor

Percursos de um novo encontro

Um coração aberto ao mundo inteiro

Diálogo e amizade social

As religiões a serviço da fraternidadeno mundo

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Page 6: A Carta Encíclica do papa Francisco sobre a Fraternidade Universal cisco, na cidade de Assis, Itália. Carlo nasceu, no ano de 1991, em Londres, e era de família italiana. Desde

na sua riqueza. E quem vive para explorar a natureza, acaba por explorar as pessoas e tratá-las como escravas. Esta é uma lei universal: se não se sabe contemplar a natureza, será muito difícil saber contem-plar as pessoas, a beleza das pessoas, o irmão, a irmã.

Quem sabe contemplar, mais facil-mente se porá em ação para mudar o que produz degradação e danos à saúde. Com-prometer-se-á a educar e promover novos hábitos de produção e consumo, a contri-buir para um novo modelo de crescimen-to econômico que garanta o respeito pela casa comum e o respeito pelas pessoas. O contemplativo em ação tende a tornar-se o guardião do ambiente: isto é muito bom! Cada um de nós deve ser guardião do am-biente, da pureza do ambiente, procuran-do conjugar saberes ancestrais de culturas milenares com novos conhecimentos téc-nicos, de modo que o nosso estilo de vida seja sempre sustentável.

Por fi m, contemplar e cuidar: essas são duas atitudes que mostram o caminho para corrigir e reequilibrar a nossa rela-ção como seres humanos com a criação. Muitas vezes, a nossa relação com a cria-ção parece ser uma relação entre inimi-gos: destruir a criação em meu benefício; explorar a criação em meu proveito. Não esqueçamos que isso se paga caro; não es-queçamos aquele ditado espanhol: “Deus perdoa sempre; nós perdoamos de vez em quando; a natureza nunca perdoa”. Hoje estava lendo no jornal sobre aqueles dois

CATEQUESE DO PAPA CURAR O MUNDO N. 7

Outubro de 2020 Arquid iocese de Go iânia

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Audiência GeralPátio São Dâmaso

16 de setembro de 2020

Julgamos que estamos no centro, preten-dendo ocupar o lugar de Deus e assim arruinamos a harmonia da criação, a har-monia do desígnio de Deus. Tornamo-nos predadores, esquecendo a nossa vocação como guardiões da vida. Certamente, po-demos e devemos trabalhar a terra para viver e nos desenvolver. Mas trabalho não é sinônimo de exploração e está sempre acompanhado de cuidado: lavrar e pro-teger, trabalhar e cuidar... Essa é a nossa missão (cf. Gn 2,15). Não podemos conti-nuar a crescer a nível material, sem cui-darmos da casa comum, que nos acolhe. Os nossos irmãos e irmãs mais pobres e a nossa mãe terra gemem pelos danos e injustiças que causamos e reclamam outro rumo. Reclamam de nós uma conversão, uma mudança de rumo: cuidar também da terra, da criação.

É, pois, importante recuperar a dimen-são contemplativa, ou seja, olhar para a terra, para criação como um dom, e não como algo a ser explorado para fi ns lucra-tivos. Quando contemplamos, descobri-mos nos outros e na natureza algo muito maior do que a sua utilidade. Eis o cerne do problema: contemplar é ir além da uti-lidade de uma coisa. Contemplar a bele-za não signifi ca explorá-la: contemplar é gratuidade. Descobrimos o valor intrínse-co das coisas que lhes foi dado por Deus. Como muitos mestres espirituais nos en-sinaram, o céu, a terra, o mar, cada cria-tura possui essa capacidade icônica, essa capacidade mística de nos reconduzir ao Criador e à comunhão com a criação. Por exemplo, Santo Inácio de Loyola, no fi nal dos seus exercícios espirituais, con-vida-nos a “Contemplar para chegar ao amor”, ou seja, a considerar como Deus olha para as suas criaturas e alegrar-se com elas; a descobrir a presença de Deus nas suas criaturas e, com liberdade e gra-ça, amá-las e cuidar delas.

A contemplação, que nos leva a uma atitude de cuidado, não signifi ca olhar para a natureza de fora, como se não es-tivéssemos imersos nela. Mas estamos dentro da natureza, somos parte da natu-reza. Pelo contrário, partimos do interior, reconhecendo-nos como parte da criação, tornando-nos protagonistas e não meros espectadores de uma realidade amorfa apenas para ser explorada. Aqueles que contemplam dessa forma sentem-se ma-ravilhados não só pelo que veem, mas também porque se sentem parte inte-grante desta beleza; e inclusive se sentem chamados a preservá-la, a protegê-la. E há uma coisa que não devemos esquecer: quem não sabe contemplar a natureza e a criação, não sabe contemplar as pessoas

Amados irmãos e irmãs!

Para sair de uma pandemia, é pre-ciso cuidar-se e cuidar uns dos outros. E devemos apoiar aqueles que cuidam dos mais débeis, dos

doentes e dos idosos. Há o hábito de dei-xar os idosos de lado, de os abandonar: isso é mau. Essas pessoas – bem defi nidas pelo termo espanhol “cuidadores”, aqueles que cuidam dos doentes – desempenham um papel essencial na sociedade atual, mesmo que muitas vezes não recebam o reconhecimento nem a remuneração que merecem. Cuidar é uma regra de ouro da nossa condição humana e traz consigo saúde e esperança (cf. Enc. Laudato Si’, 70). Cuidar dos doentes, dos necessitados, dos abandonados: essa é uma riqueza huma-na e também cristã.

Devemos, de igual modo, dirigir esse cuidado à nossa casa comum: à terra e a cada criatura. Todas as formas de vida estão interligadas (cf. LS, 137-138), e a nossa saúde depende da saúde dos ecos-sistemas que Deus criou e dos quais ele nos encarregou de cuidar (cf. Gn 2,15). Por outro lado, abusar deles é um peca-do grave que prejudica e que nos deixa doentes (cf. LS 8; 66). O melhor antídoto contra este mau uso da nossa casa comum é a contemplação (cf. LS, 85; 214). Mas por quê? Não há vacina para isto, para o cui-dado da casa comum, para não a pôr de lado? Qual é o antídoto contra a doença de não tomar conta da casa comum? É a contemplação. “Quando não se aprende a parar a fi m de admirar e apreciar o que é belo, não surpreende que tudo se transfor-me em objeto de uso e abuso sem escrú-pulos” (LS, 215). Também no respeitante ao “descartável”. No entanto, a nossa casa comum, a criação, não é um mero “recur-so”. As criaturas têm um valor em si mes-mas e “refl etem, cada uma à sua maneira, um raio da infi nita sabedoria e bondade de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, 339). Esse valor e esse raio de luz divina devem ser descobertos e, para os descobrirmos, precisamos estar em silêncio, precisamos ouvir e contemplar. Também a contem-plação cura a alma.

Sem contemplação, é fácil cair num antropocentrismo desequilibrado e so-berbo, o “Eu” no centro de tudo, que so-bredimensiona o nosso papel como seres humanos, posicionando-nos como do-minadores absolutos de todas as outras criaturas. Uma interpretação distorcida dos textos bíblicos sobre a criação contri-buiu para essa má interpretação, que leva à exploração da terra a ponto de a sufocar. Exploração da criação: este é o pecado.

grandes glaciares na Antártida, perto do Mar de Amundsen: eles estão prestes a desabar. Será terrível, porque o nível do mar subirá e isso causará muitas, mui-tas difi culdades e muito mal. E por quê? Por causa do sobreaquecimento, por não se cuidar do ambiente, por não se cuidar da casa comum. Por outro lado, quando tivermos esta relação – deixem-me dizer a palavra – “fraterna” no sentido fi gura-tivo com a criação, tornar-nos-emos guar-diões da casa comum, guardiões da vida e guardiões da esperança, preservaremos o patrimônio que Deus nos confi ou para que as gerações futuras o possam desfru-tar. E alguns podem dizer: “Mas, eu safo--me desta maneira”. Mas o problema não é como te safas hoje – isto foi dito por um teólogo alemão, protestante, competente: Bonhoeff er – o problema não é como te desenrascas hoje; o problema é: qual será a herança, a vida da geração futura? Pen-semos nos fi lhos, nos netos: que lhes dei-xaremos se explorarmos a criação? Prote-jamos esse caminho para nos tornarmos “guardiões” da casa comum, guardiões da vida e da esperança. Preservemos o pa-trimônio que Deus nos confi ou, para que as gerações futuras possam usufruir dele. Penso de modo especial nos povos indíge-nas, com os quais todos nós temos uma dí-vida de gratidão – até de penitência, para reparar o mal que lhes fi zemos. Mas estou também pensando nos movimentos, asso-ciações, grupos populares, que estão com-prometidos a tutelar o próprio território com os seus valores naturais e culturais. Essas realidades sociais nem sempre são apreciadas, por vezes são até impedidas, porque não produzem dinheiro; mas na realidade contribuem para uma revolução pacífi ca, poderíamos chamar-lhe a “revo-lução do cuidado”. Contemplar para cui-dar, contemplar para salvaguardar, pre-servar a nós, a criação, os nossos fi lhos, os nossos netos, e tutelar o futuro. Contem-plar para cuidar e para preservar e deixar uma herança à futura geração.

Mas não se deve, contudo, delegar a al-guns aquilo que é tarefa de cada ser huma-no. Cada um de nós pode e deve tornar-se um “guardião da casa comum”, capaz de louvar a Deus pelas suas criaturas, de con-templar as criaturas e de as proteger.

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VIDA CRISTÃ

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Acredito que nosso pai São Francisco de Assis exerceu e exerce uma enorme ins-piração nestes oito anos de

pontifi cado do papa Francisco. A começar pelo nome escolhido pelo cardeal Bergoglio, que, pela primei-ra vez adotou o nome de Francisco, uma sugestão dada pelo cardeal emérito de São Paulo, Dom Frei Cláudio Hummes, franciscano, que pediu para que não se esquecesse dos pobres.

O papa Francisco imprimiu uma personalidade mais carismática e aberta ao diálogo sobre questões mundiais urgentes, como a defesa da ecologia e dos refugiados da crise migratória.

Assim como São Francisco em sua época, o papa Francisco trouxe para a Igreja uma visão revigoran-te, diferente e atraente. Um chama-do ao retorno radical e simples ao Evangelho.

O famoso encontro de São Fran-cisco com o lobo na cidade de Gub-bio parece uma fonte inspiradora do papa Francisco, que tenta atrair as pessoas por meio do encontro, priorizando o diálogo e chaman-do a atenção para o testemunho. O

lobo deixou um rastro de confl ito, agressividade e inimizades, mas São Francisco levou amor onde ha-via somente ódio. Em outras pala-vras, o diálogo foi mais forte que a intolerância. Para o papa Francisco, a pessoa humana “deve criar narra-ções belas, verdadeiras e boas”, ou seja, histórias de relações fraternas.

São Francisco afi rma, em seu testamento, que “aquilo que pare-cia amargo se converteu em doçu-ra”, e foi viver entre os leprosos, os desprezados de sua época. O papa Francisco convida a Igreja para ser uma Igreja em saída, acolhendo os mais fracos, os pobres, os doentes, os descartados, os leprosos de nosso tempo.

O chamado à uma Igreja humil-de é outra grande inspiração de São Francisco. O que mais o agradava não era a grandeza de Deus, mas a sua humildade. Num pequeno texto escrito a próprio punho e conserva-do até hoje em Assis, São Francisco cita as perfeições de Deus, e lá escre-ve “Tu és humildade!” Certamente o papa Francisco quer uma Igreja hu-milde, quando insiste que devemos retornar ao Evangelho e viver com simplicidade.

Outro motivo da humildade de São Francisco foi o exemplo de Cris-to. “Aprendei de mim, que sou man-so e humilde de coração” (Mt 11,29). O papa Francisco, em 2015, fez toda a Igreja se debruçar no Ano Santo da Misericórdia. O coração de Jesus nos mostrou a face de nosso Deus, a Misericórdia. E ainda mais, convi-dou-nos a uma visão de Igreja que faz opção pela misericórdia.

O ponti� cado do papa Francisco,inspirado em São Francisco de Assis

Mas, sem dúvida, vamos encon-trar nas Encíclicas do papa Fran-cisco toda a inspiração de nosso pai São Francisco. Escreveu o papa Francisco que “este Santo do amor fraterno, da simplicidade e da ale-gria” foi quem o inspirou a escrever a Laudato Si’ e, agora, a mais recente Encíclica Fratelli Tutt i.

São Francisco, na Admoestação 6, escreveu sobre a imitação de Cris-to, ressaltando que não devemos apenas contar as obras dos santos, mas devemos ter nossas ações con-

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cretas de amor. Na Fratelli Tutt i, o papa Francisco nos convida para a fraternidade e a amizade social, com o intuito de construir um mun-do melhor, pacífi co e justo. Mas ele vai além, propõe-nos a converter o amor em uma força universal.

Assim como o papa Francisco, que cada um de nós deixemos nos inspi-rar pelo nosso pai São Francisco e possamos buscar, no beijo do leproso dos dias atuais, a motivação para nos-so próprio caminho de fraternidade, penitência e santidade. Paz e bem!

FREI EDGAR ALVES PEREIRA, OFM

Pároco da Paróquia São Francisco de Assis – GoiâniaComissário da Terra Santa no Centro-Oeste

Na Fratelli Tutti, o papa Francisconos convida para a fraternidade e a

amizade social, com o intuito de construirum mundo melhor, pací� co e justo

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8 LEITURA ORANTE

Siga os passos para a leitura orante:

Texto para oração: Mt 22,15-21 (páginas 1377 – Bíblia das Edições CNBB).

1. Ambiente de oração: vá a um lugar reservado para fazer a Leitura Orante da Palavra. Faça piedosa-mente o sinal da cruz e peça que o Divino Espírito Santo o ilumine;

2. Leitura atenta da Palavra: leia, em voz alta, o tex-to duas vezes, pelo menos, e repita os trechos que mais chamaram sua atenção;

3. Oração: reze, agradecendo ao Espírito Santo por lhe dar a graça de ser fi lho de Deus e peça a coragem de assumir sua missão de anunciar Jesus com a vida;

4. Ação: “A Palavra de Deus é viva e efi caz” (Hb 4,12). Assuma o compromisso de viver como fi lho de Deus e de anunciar a maravilha da vida nova em Jesus, por meio do Espírito Santo.

29° Domingo do Tempo Comum – Ano A. Liturgia da Palavra: Is 45,1. 4-6; Sl 95 (96),1.2a.3.4-5.7-8.9-10a.c; 1Ts 1,1-5b; Mt 22,15-21 (O que é de César e o que é de Deus).

Liturgia da Semana: 2ª-f.: Est 5, 1b-2; 7,2b-3; Sl 44(45); Ap 12, 1-16a; Jo 2,1-11. (Bodas de Caná). 3ª-f.: Gl 5,1-6; Sl 118(119); Lc 11, 37-41. 4ª-f.: Gl 5,18-25; Sl 1, 1-6; Lc 11,42-46. 5ª-f.: Ef 1,1-10; Sl 97(98); Lc 11,47-54. 6ª-f.: Ef 1,15-23; Sl 32(33); Lc 12,1-7. Sábado: Ef 1,15-23; Sl 8, 2-7; Lc 12, 8-12. Domingo: 29º Domingo do Tempo Comum – Is 45,1.4-6; Sl 95(96); 1Ts 1,1-5b; Mt 22,15-21. (O que é de César e o que é de Deus).

Os fariseus têm inveja da sabedoria de Cristo e não têm a capacidade de enxergar o propósito da mis-são daquele homem de Nazaré.

Jesus conhece a intenção do coração deles e não se deixa enganar pela malícia velada. Ao perguntar sobre os impostos devidos ao Império Romano, esperavam que Jesus complicasse sua situação diante do povo. Pois, se fosse contra, certamente o partido dos fariseus teria motivo para denunciá-lo para as autoridades, por se opor a César; se fosse a favor, seria como se consentisse a opressão do seu próprio povo.

Entretanto, com sua resposta, Jesus evidencia que é importante que o cristão cumpra suas obrigações para com a so-

ciedade, “dando a César o que é de Cé-sar”, mas sem perder a sua relação com Deus, porque deve “dar a Deus o que é de Deus”.

Agora, sabemos que o ordenamento dos bens temporais está quase sempre submetido à lei dos homens e, por isso, sabemos nossas obrigações, mas qual é a parte de Deus? O que é devido ao Senhor? Ora, se a moeda é de César por conter a sua imagem, é evidente que o que deve-mos oferecer a Deus somos nós mesmos, pois, em nós, encontra-se gravada a ima-gem de Deus, desde a nossa criação.

Essa é a vontade de Deus expressa por Jesus no Evangelho de hoje: devemos ofe-recer a Deus o que há de mais importante e que nenhum dinheiro pode pagar, nossa fi delidade, nossa amizade, nosso amor e nosso serviço, pois somos dele e só dele.

Dar a Deus o que é de Deus‘‘Eu sou o Senhor, não há outro’’ ((Is 45,6)

ERICK MENESES SILVA (SEMINARISTA)Seminário Interdiocesano São João Maria Vianney

Deus Pai, Filho e Espírito Santo,fonte transbordante da missão,Ajuda-nos a compreender que a vida é missão,dom e compromisso. Que Maria, nossa intercessorana cidade, no campo, na Amazônia e em toda parte,ajude, cada um de nós, a ser testemunhasproféticas do Evangelho, numa Igreja sinodale em estado permanente de missão.Eis-me aqui, Senhor, envia-me!Amém.

OraçãoMês Missionário

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