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    Anlise

    A Revista Acadmica da FACE

    Porto Alegre, v. 22, n. 1, p. 72-88, jan./jun. 2011

    A comercializao de crditos de carbono e seuimpacto econmico e social

    The carbon credits trade and the main economic and social impacts

    Bruno Silveira Goulartea

    Augusto Mussi Alvimb

    RESUMO: A comercializao de certificados de reduo de emisso atravs dos mercados decarbono vem servindo como um instrumento alternativo para a mitigao do aquecimentoglobal e das mudanas climticas, que ameaam a sobrevivncia da humanidade no planeta.Este trabalho objetivou apresentar o cenrio atual da comercializao de crditos de carbono

    e suas relaes com aspectos econmicos e sociais atravs de um levantamento de dadosencontrados na literatura existente. O aumento dos nveis de emisso de gases de efeitoestufa nos ltimos anos preocupante, apesar dos esforos tomados pelas principaiseconomias. necessrio um maior consenso entre as naes, alm de uma regulamentaoadequada que permita uma maior participao de agentes interessados, para que o problemado aquecimento global no chegue a uma condio irreparvel.Palavras-chave:Mercado de carbono. Aquecimento global. Emisso de carbono.

    ABSTRACT:The trading of certified emission reduction through carbon markets is proving a veryeffective tool for mitigating global warming and climate change, that threatening the survivalof humanity on the planet. This study aimed to present the current picture of the marketingof carbon credits and their relationship to economic and social aspects through a survey ofdata found in literature. The increase in emission levels of greenhouse gases in recent years isworrying, despite the efforts taken by major economies. It is necessary a greater consensus

    among nations, and an appropriate regulation to allow greater participation of stakeholders,so that the problem of global warming does not get an irreparable condition.Keywords:Carbon market. Global warming. Carbon emissions.

    JEL Classification: Q5, Environmental Economics; Q54, Climate; Global warming.

    a Mestre em Economia do Desenvolvimento. E-mail: .b Doutor em Economia pela UFRGS e Ps-Doutorado pela Universidade de Massey, NZ. Professor do Departamento de Economia e

    do Programa de Ps-Graduao em Economia na PUCRS. E-mail: .

    1 Introduo

    Ao observar o avano das economias nas l-timas dcadas, principalmente de pases mais

    populosos como China e ndia, notvel o cres-cimento exponencial do produto interno bruto.Para atender a demanda crescente do consu-mo em massa, a extrao dos recursos naturaistorna-se sua principal fonte, mas sem o devidocuidado de reposio ou tratamento, inevit-vel a escassez dos recursos para as prximasgeraes.

    Para tentar equilibrar o crescimento econmi-co com a sustentabilidade dos recursos naturais,vrios esforos tm sido feitos nos ltimos anos.Os esquemas de comrcio de emisses, apesar

    de polmicos, vm sendo uma das principaisalternativas encontradas pelos formuladores depolticas para buscar o equilbrio desejado. Osmercados de carbono alm de movimentarem bi-lhes de dlares nos ltimos anos, tambm com-pensaram a emisso de bilhes de toneladas dedixido de carbono. No ano de 2010 o valor dosmercados de carbono alcanou US$ 120 bilhes,

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    negociando cerca de 7 bilhes de toneladas m-tricas de dixido de carbono (POINT CARBON,2011).

    A regulamentao e transparncia destesinstrumentos econmicos so cruciais para suaevoluo. O Brasil, como grande detentor de re-

    cursos naturais, vem crescendo no debate am-biental, apesar de possuir uma regulamentaoainda incipiente e uma poltica inadequada decontrole de poluentes.

    O objetivo deste estudo apresentar o ce-nrio atual da comercializao de crditos decarbono e suas possveis inter-relaes com osaspectos econmicos e sociais. Para isto foi rea-lizado um levantamento de dados encontradosna literatura existente atravs de pesquisas bi-bliogrficas, procurando ressaltar principalmen-te o avano dos mercados de carbono no Brasil

    e no mundo e de que forma a sociedade comoum todo pode interagir para evoluir de formasustentvel.

    2 Mudanas climticas globais

    As alteraes na temperatura da terra po-dem ocorrer por fenmenos naturais em res-posta a fatores externos incluindo variaesda rbita em torno do sol, erupes vulcnicase concentrao de gases de efeito estufa naatmosfera (ALLEY et al., 2002). Mas o que tem

    se constatado no ltimo sculo um aumen-to significativo de concentrao de Dixido deCarbono (CO2) na atmosfera. De acordo comKeeling (2002), o ano de 2008 terminou com385,2 ppm (partes por milho) de CO2na atmos-fera, um aumento de aproximadamente 40% emrelao ao ano de 1750 onde a concentrao erade 280 ppm.

    Este aumento na concentrao de CO2 naatmosfera se deve principalmente queima decombustveis fsseis. De acordo com o relatriodo Painel Intergovernamental de Mudanas Cli-

    mticas Intergovernmental Panel on Climate

    Change(IPCC, 2007) a temperatura global mdiaaumentou 0,74C entre 1906 e 2005, justamenteo perodo ps-industrial, e deve subir de 1,8Ca 4,0C at 2100. O ltimo relatrio do CentroNacional de Dados Climticos dos Estados Uni-dos (NCDC, 2010) diagnosticou que o perodoentre janeiro e setembro de 2010 se igualou aoano de 1998 e apontou a sequncia mais quentej registrada na histria para os primeiros novemeses do ano. Neste perodo a temperatura da

    Terra ficou 0,67C acima da normal registradanos ltimos 131 anos.

    As consequncias do aquecimento globalatingem a sade humana, economia e meio am-biente, por isso os debates em torno de comomitigar os seus efeitos tm sido cada vez mais

    frequntes e relevantes. Entre as principais evi-dncias diagnosticadas est o aumento do nvelmdio das guas do mar devido ao derretimentodas calotas polares. O nvel dos mares est au-mentando em 1,0 a 2,5 centmetros a cada dca-da e a expectativa para o fim do sculo de umaumento entre 14 e 43 centmetros. Isto seria osuficiente para algumas ilhas e cidades litor-neas desaparecerem ocasionando a migraode comunidades vulnerveis e agravando aindamais os problemas sociais (UNFCC, 2010).

    O relatrio do IPCC tambm informa que h

    evidncias de um aumento do nmero de ciclo-nes tropicais no Atlntico norte desde a dcadade 1970 e este aumento est relacionado com aelevao da temperatura do mar nos trpicos.Secas mais intensas e mais longas, aumentode precipitao sobre a maior parte das reasterrestres, impactos na agricultura, incndiosflorestais de difcil controle, escassez de guapotvel, perda de biodiversidade, extino deespcies e propagao de doenas como malriae dengue so tambm consequncias do aque-cimento global.

    2.1 Mudanas climticas no Brasil

    A economia brasileira pode ser muito afetadapelas mudanas climticas devido a sua grandedependncia dos recursos naturais, sobretudo adisponibilidade de gua, terras agriculturveise boa qualidade do clima. O Instituto Nacionalde Pesquisas Espaciais (INPE) desenvolveu mo-delos climticos projetando os possveis impac-tos do aquecimento global no Brasil. De acordocom o INPE a temperatura no Brasil deve subirentre 2C e 3C em quase toda a faixa litornea,

    podendo chegar a 6C no norte do Amazonas.Longas secas transformariam o semirido nor-destino em regio rida, prejudicando a planta-o de trigo, feijo, milho soja e arroz (RAMIREZe ORSINI, 2007).

    A agropecuria, que corresponde por cercade 5% do Produto Interno Bruto (IBGE, 2011),seria largamente prejudicada com grandes per-das nas principais commoditiesexportadas pelopas. Com a elevao de apenas 1C na tempe-ratura mdia, as reas de plantio de caf reduzi-

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    riam em 25%, assim como se tornariam inviveisculturas de trigo no sul do pas, alm de perdasde 30% nas plantaes de arroz em So Pauloe Bahia, 40% das plantaes de feijo no nor-deste e 70% de perda nas plantaes de milho(RAMIREZ e ORSINI, 2007).

    Nmeros como estes so alarmantes dadoque o Brasil um grande produtor de commo-dities agrcolas. As quebras de safras j tmgerado um aumento no nvel dos preos dos ali-mentos contribuindo fortemente para o aumentoda inflao. O ndice de Preos ao ConsumidorAmplo (IPCA), que medido pelo Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e ser-ve como ndice oficial de inflao pelo GovernoFederal para medio das metas inflacionrias,acumulou alta de 5,91% em 2010, com avanoespecial dos preos dos alimentos que subiram

    10,39%, impulsionados pela forte demanda inter-na e externa e, principalmente, pelos problemasclimticos que limitaram a oferta (IBGE, 2011).

    A alta nos preos dos alimentos s agrava asituao de fome em um mundo cada vez maisdependente de petrleo e com uma taxa decrescimento populacional ainda em expanso. Osproblemas de fome e da insegurana alimentar tmuma dimenso global e so questes que tendema persistir e mesmo a aumentar em algumasregies. Medidas urgentes devem ser tomadas,tendo em conta o crescimento da populao e

    a presso exercida sobre os recursos naturais.2.2 Origem das emisses

    Os gases de efeito estufa (GEE) tm origem,principalmente, da ao antrpica e provm em

    sua maior parte da queima de combustveis fs-seis como carvo, petrleo e gs natural. Taiscombustveis so indispensveis para a manu-teno da atividade econmica mundial como aproduo e fornecimento de energia em usinastermoeltricas, indstrias, meios de transporte

    terrestre, areo e martimo, atividades agrope-curias, entre outros.De acordo com o IPCC (2007) aproximada-

    mente 75% das emisses dos ltimos 20 anosoriginaram-se da queima de combustveis fs-seis. De 1970 a 2004, as emisses do setor deenergia subiram 145%, do setor de transportes120% e da indstria 65%, condizente com o au-mento da demanda populacional.

    A Tabela 1 apresenta a oferta interna de ener-gia no Brasil e no mundo. No Brasil houve forteaumento na participao de energia hidrulica

    e de gs natural e nos pases da Organizaopara a Cooperao e Desenvolvimento Econ-mico (OCDE), diferentemente, houve grandeincremento de energia nuclear e gs natural. relevante a presena de energias renovveisno Brasil registrando 47,2% de participao em2009 contra 7,2% nos pases da OCDE em 2007e 12,7% no mundo tambm em 2007. Enquantoque no mundo a participao dos combustveisfsseis representa 81,4%, no Brasil ela represen-ta 51,3% da matriz.

    Embora o Brasil, como a maioria dos pases

    do mundo, apresente ainda os combustveis fs-seis como base de sua matriz energtica (51,3%),pode ser considerado como um privilegiadoprincipalmente quanto ao seu potencial de utili-zao de energia hidreltrica.

    Tabela 1 Oferta interna de energia no Brasil e no mundo (% e tep).

    EspecifcaoBrasil OCDE Mundo

    1973 2009 1973 2007 1973 2007

    Petrleo e derivados 45,6 37,8 52,5 37,3 46,1 34,0

    Gs natural 0,4 8,8 19,0 23,7 16,0 20,9Carvo mineral 3,1 4,8 22,6 20,9 24,5 26,5

    Urnio 0,0 1,4 1,3 10,9 0,9 5,9

    Hudrulica e eletricidade 6,1 15,2 2,1 2,0 1,8 2,2

    Biomassa/elica/outras 44,8 32,0 2,5 5,2 10,7 10,5

    Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

    TOTAL milhes tep 82,0 244,0 3.724,0 5.433,0 6.115,0 12.029,0

    * tep: toneladas equivalentes de petrleo.

    Fonte: Ministrio de Minas e Energia, 2009 Balano energtico nacional.

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    Seguindo as tendncias futuras, particular-mente em virtude do cenrio mundial de expan-so dos mercados de carbono, provvel queessa matriz energtica seja cada vez mais sus-tentvel. Estimativas da Empresa de Pesquisae Energia EPE (2010) apontam que a parcela

    de alternativas renovveis seja cada vez maissignificativa.Mas apesar de uma matriz energtica mais

    limpa, comparado com o restante dos pases, oBrasil ocupa a 15 posio no ranking de emis-so de CO2, conforme ilustrado na Tabela 2.Os Estados Unidos, China e Rssia lideram oranking somando aproximadamente 50% do to-tal das emisses mundiais.

    Atravs da Tabela 2 percebe-se claramenteque os pases industrializados so os grandesresponsveis pela maior parte das emisses de

    CO2na atmosfera, devido a sua relativa depen-dncia da queima de combustveis fsseis.

    Tabela 2 Emisso total de CO2por pas.

    Posio Pas Montante*

    1 Estados Unidos 5.762.050

    2 China 3.473.600

    3 Rssia 1.540.360

    4 Japo 1.224.740

    5 ndia 1.007.980

    6 Alemanha 837

    7 Reino Unido 5588 Canad 521

    9 Itlia 447

    10 Mxico 385

    11 Frana 363

    12 Ucrnia 348

    13 frica do Sul 345

    14 Austrlia 332

    15 Brasil 328

    16 Espanha 305

    17 Polnia 304

    18 Indonsia 286

    19 Arbia Saudita 26620 Turquia 224

    CO2: emisses totais (excluindo o uso da terra).* Unidades: mil toneladas mtricas de CO2.Fonte: Nat ional Master.

    Considerando apenas a emisso per capita,o Brasil cai para 91 no ranking com uma m-dia de 1,76 tCO2, em linha com o esperado pelospases em desenvolvimento. J os Estados Uni-dos tem uma emisso per capita de 19,2 tCO2,

    mesmo sendo um dos pases mais populosos1.A polmica em relao aos maiores emissores um dos principais motivos de embate nas dis-cusses globais sobre o clima. A China recente-mente anunciou ser a maior emissora de GEE domundo, mas o risco de arrefecimento econmi-

    co em troca de um plano de corte de emissesvem frustrando os principais acordos globais doclima.

    3 Formas de mitigao

    Com a finalidade de tentar mitigar os efeitosdo aumento das emisses dos gases de efeitoestufa, o Painel Intergovernamental sobre Mu-dana do Clima (IPCC) apresentou ao longodos ltimos anos uma srie de relatrios sobremedidas criadas a fim de atenuar as mudanas

    climticas. Entre as principais medidas est oProtocolo de Quioto considerado um importan-te mecanismo de abrangncia internacional nosentido de fazer com que cada pas reduza seusnveis de emisso de GEEs. Ainda que longe doideal, ele representa um primeiro passo no sen-tido de harmonizar os impactos ambientais dasemisses atmosfricas.

    A cidade de Quioto, no Japo, representou aterceira sesso da Conferncia das Partes (COP)realizada pela Conveno-Quadro das NaesUnidas sobre Mudana Climtica (CQMC). Em

    fevereiro de 2005 ocorreu a ratificao do Pro-tocolo de Quioto com 55% de adeso dos pasesmais poluidores2 que se comprometeram emreduzir as emisses dos gases que contribuempara o efeito estufa em 5,2%, no perodo de 2008at 2012, em relao aos nveis existentes em1990 (PROTOCOLO DE QUIOTO, 1997).

    De acordo com o Protocolo apenas os paseslistados no Anexo A (pases industrializados)so obrigados a reduzir suas emisses. Pasesem desenvolvimento, como o Brasil, podem par-ticipar voluntariamente no incorrendo na obri-

    gao. Para que os pases do Anexo A possamatingir suas metas, trs mecanismos de mer-cado foram criados: o Comrcio de Emisses, oMecanismo de Desenvolvimento Limpo e a Im-plementao Conjunta.

    1 Disponvel em . Acesso em: set.2010.

    2 Os Estados Unidos da Amrica no ratificou sua participaono Protocolo, apesar de responder por 25% do total das emis-ses mundiais.

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    Entre as bases conceituais de qualquer ins-trumento de gesto ambiental est a da respon-sabilidade de cada poluidor pela degradaoambiental do planeta. O Princpio do PoluidorPagador (PPP) encontra-se, inclusive, previstona Constituio Federal de 19883, segundo o

    qual os poluidores ou usurios de recursos na-turais, sejam estes pessoas fsicas ou jurdicas,esto sujeitos s sanes penais e administra-tivas, independente da obrigao de reparar osdanos causados.

    A questo polmica que envolve o ProtocoloQuioto que o tratado uma alternativa para aimplantao do PPP, mas que no compensaras emisses realizadas no passado e nem de for-ma igualitria aos verdadeiros poluidores. Ape-sar disso os pases do Anexo A, para cumpriremsuas metas, podero adquirir direitos de poluir

    no mercado e, assim, financiar um maior con-trole ambiental nos pases em desenvolvimen-to atravs do Mecanismo de DesenvolvimentoLimpo (MDL).

    De acordo com o Protocolo de Quioto (1997)a ideia bsica dos Mecanismos de Flexibilizaoseria a de estabelecer um comrcio internacio-nal de emisses de modo que aqueles pasesque no conseguissem cumprir 100% de suasmetas atravs de aes domsticas pudessemadquirir direitos de poluir financiando o controleambiental em outros pases fora do Anexo A.

    O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo o mecanismo onde se inserem os pases emdesenvolvimento, como o Brasil. Ele permite acertificao de projetos para a reduo de emis-ses de carbono (CO2) ou de seus equivalentese sua posterior venda como Redues Certifi-cadas de Emisses (RCEs). Entre os comprado-res estariam as organizaes ou pases que es-to emitindo acima de sua meta de reduo deemisses de GEEs e os vendedores que seriamas organizaes ou pases que apresentam pro-jetos com potencial comprovado de reduo das

    emisses de GEEs, tomando como referncia onvel de emisses na ausncia da implantaodo projeto. De acordo com o Ministrio de Cin-cia e Tecnologia (2010), em abril de 2010, o Brasilestava numa posio de 3 maior provedor deprojetos de MDL, atrs apenas da China e n-dia, com 445 projetos registrados (participaode 7% no total). Os projetos de energia renov-vel lideram com 49,9% seguido por Suinocultura

    3 Constituio Federal, art. 225, 3, 1988.

    (16,6%) e troca de combustveis fsseis (9,9%).So Paulo o estado que mais obteve registro deprojetos (22%) seguido de Minas Gerais (16%) eRio Grande do Sul (9%).

    Outro Mecanismo de Flexibilizao, a Imple-mentao Conjunta, possibilita aos pases do

    Anexo A compensar suas emisses adquirindode outro pas do Anexo A Unidades de Redu-o de Emisses (UREs) tambm resultantesde projetos que contribuam para a reduo deemisses dos GEEs. Adquirindo os direitos deemisso (allowances), o pas que necessita deapoio para cumprir suas metas de emisso estpagando pelo investimento realizado pela or-ganizao, para financiar a implementao dosmecanismos que geraram essa URE (UNFCCC,2010).

    3.1 O comrcio de emisses

    O comrcio de emisses veio com o prop-sito de corrigir falhas de mercado geradas porexternalidades. A poluio emitida por uma em-presa, no seu processo produtivo, gera uma ex-ternalidade negativa sociedade. Dessa forma,a sociedade incorre em um custo pela poluiogerada pelas empresas. A empresa, atravs deuma escolha tecnolgica, pode reduzir seus n-veis de emisso deixando o ar mais limpo para asociedade, mas isto representa um custo margi-nal adicional ao seu processo produtivo.

    Para encorajar as empresas a reduzirem seusnveis de emisso, existem basicamente trs al-ternativas: fixao de padro de emisses depoluentes, imposio de taxas para a emissode poluentes e distribuio de permisses trans-ferveis (PINDYCK e RUBINFELD, 2002).

    Atravs de um padro de emisses de po-luentes a empresa pode poluir at um determi-nado limite legal, sofrendo multas e penalida-des caso este limite seja ultrapassado. J noesquema de taxa para emisso de poluentes, aempresa paga por unidade de poluente emitido,

    justificando a reduo das emisses. Por ltimo,no padro de permisses transferveis cada em-presa recebe uma permisso para emitir poluen-tes estabelecendo um nvel mximo especficode emisses. Como estas permisses podem sernegociadas entre as empresas que emitem po-luentes, aquelas menos capazes de reduzir suasemisses se tornam compradores de permissesnegociveis.

    O debate em torno de qual instrumento eco-nmico adotar abrange a incerteza em relao

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    aos preos futuros, volatilidade, regulamenta-o, eficcia das agncias de controle, limiteimposto pelos governos, corrupo entre outrosfatores.

    No esquema conhecido como Cap and Trade,ou limite e comrcio, o rgo responsvel fixa um

    limite para a emisso de gases de efeito estufa(GEE) em um determinado setor de empresas ouat mesmo entre pases (EPA4, 2010).

    O grande problema de impor um limite aemisso dos gases de efeitos estufa que amaior parte da economia global funciona quei-mando combustveis fsseis, emitindo o CO2eseus equivalentes. Impor simplesmente um limi-te pode afetar a atividade econmica, sendo as-sim para garantir que as emisses fiquem abai-xo do limite, uma alternativa seria a distribuiode uma quantidade determinada de permisses

    para poluir por parte dos governos. Empresasinovadoras mais preocupadas com a questoambiental podem criar alternativas mais limpase mais eficientes ao seu processo de produocumprindo a meta sobre o limite imposto e, emmuitos casos, tendo o seu excedente de permis-ses negociadas no mercado. Como a quanti-dade de permisses fornecidas pelos governos limitada, a medida que o tempo passa, aspermisses ficam mais valiosas tendo seu pre-o formado por oferta e demanda. A questo que como o CO2atua globalmente, seu impacto

    no meio ambiente similar em qualquer parte,desta forma desde que as emisses fiquem abai-xo do limite determinado no importa quem oagente poluidor ou o despoluidor, mas a com-pensao dos efeitos.

    Atualmente o maior mercado de negociaode crditos de carbono o Mercado Europeu,conhecido como European Union EmissionTrading Scheme (EU-ETS), formulado em 2000a partir do lanamento do Programa Europeupara as Alteraes Climticas. Entrou em vi-gor em janeiro de 2005 em conformidade com a

    diretiva 2003/87/EC16, onde todos os Estados-Membros da Unio Europeia foram obrigados aestabelecer um regime de comrcio de emissesque seriam reduzidas a partir de quatro grandessetores: energia, produo e transformao demetais, minrio e celulose e papel. O programaser implementado em trs fases sendo a pri-meira j cumprida de 2005 a 2007, a segundafase de 2008 a 2012, semelhante ao perodo de

    4 EPA Environmental Protection Agency.

    cumprimento do Protocolo de Quioto e a terceirafase que ocorrer nos prximos cinco anos ps-Quioto (WEISHAAR, 2007).

    Dessa forma as UREs resultam em um merca-do baseado em mecanismos legais particularesde cada pas, onde os compradores so as firmas

    de pases que emitem acima de suas metas deemisses e os vendedores so aqueles que estoemitindo abaixo de suas metas de reduo deemisses.

    As negociaes europeias ocorrem na In-tercontinental Exchange (ICE) com um cresci-mento expressivo nos ltimos anos. S em 2010,5,3 bilhes de tCO2 foram negociadas contra94,35 milhes de tCO2em 2005, primeiro ano denegociaes (ICE, 2011).

    Alm dos Mecanismos de Flexibilizaopropostos pelo Protocolo de Quioto, como alter-

    nativa nasceram os Mercados Voluntrios. Ummercado de carbono voluntrio funciona fora dombito regulado pelo Protocolo de Quioto e per-mite que empresas e indivduos negociem cr-ditos de carbono em uma base voluntria. Commais de 20 bilhes negociados em 2006 (THEWORLD BANK, 2007), os mercados voluntriosde carbono j representam uma fora econmicasignificativa com perspectivas de forte cresci-mento nos prximos anos.

    De acordo com o relatrio do World WildlifeFund(2008), os mercados voluntrios de carbo-

    no contam com a possibilidade de ampla parti-cipao de setores no regulados ou de pasesque no ratificaram o Protocolo de Quioto coma possibilidade de compensao de emisses.Alm disso, faz com que as empresas e pasesparticipantes ganhem experincia eKnow Howcom questes como estoque de carbono e ne-gociao de direitos e crditos de carbono fa-cilitando a participao futura em um mercadoregulamentado ou em um sistema do tipo Capand Trade, com muito mais flexibilidade na im-plantao dos projetos por no ter o mesmo tipo

    de regulamentao e superviso que existe nosistema de Quioto.Ainda com relao s vantagens desse tipo

    de mercado, por ter um custo de reduo muitomais baixo, as compensaes podem criar umaregulao politicamente mais flexvel com metasvoluntrias mais atraentes acelerando o ritmoem que as empresas e pases cumpram seuscompromissos de reduo (WWF, 2008).

    Como primeiro comprometimento legal, comregras bsicas de funcionamento preestabele-

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    cidas para o funcionamento de um mercado decrditos de carbono que visa reduzir a emissode GEEs, nasceu a Bolsa do Clima de Chicago(Chicago Climate Exchange CCX), constituin-do-se um mecanismo alternativo a Quioto. Avantagem bsica da negociao de crditos na

    CCX que, por ser um mercado alternativo, no necessria a certificao dos crditos a partirde projetos de MDL.

    As empresas participantes da CCX assu-mem compromissos de reduo de emissesde GEEs, em relao a uma baseline de acordocom um cronograma previamente estabeleci-do. Como regulada e auditada pela Financial

    Industry Regulatory Authority(FINRA), a mes-ma que audita CBOT5e NASDAQ6, a Bolsa deCrditos Voluntrios Americana diferencia-se deoutros mercados voluntrios pelo rigor e transpa-

    rncia de suas normas e procedimentos (CCX,2010).Constituda em 2003 com a adeso inicial de

    20 empresas7, a CCX conta hoje com algumasempresas brasileiras como Aracruz Celulose ePapel, Arcelor Mittal, Klabin, Suzano Papel e Ce-lulose e Duratex S.A.. Alm disso, a adeso deuma empresa ao CCX no impede a implemen-tao de projetos8de MDL ou sua participaoem outros mercados voluntrios. De acordo coma CCX, desde o incio das negociaes j foramtransacionadas mais de 120 milhes de tonela-

    das de CO2.As diferenas bsicas entre as caractersti-cas principais do Protocolo de Quioto em relao CCX esto nas questes regulatrias e buro-crticas. Enquanto o protocolo de Quioto abran-ge pases do mundo inteiro com metas compul-srias de reduo de emisses, a CCX se baseianum protocolo privado, tambm de abrangnciamundial, mas com foco nos Estados Unidos ecom metas de reduo de cunho voluntrio ecom cronograma padronizado. Estas caracters-ticas esto apresentadas na Tabela 3.

    5 Chicago Board of Trade Bolsa de commodities de Chicago.6 National Association of Securities Dealers Automated

    Quotations Bolsa Eletrnica Americana.7 American Eletric Power, Baxter International, City of Chicago,

    DuPont, Ford Motor Co., International Paper, Manitoba HydroCorp., MeadWestvaco Corp., Motorola Inc., STMicroeletron-ics; Stora Enso North America, Temple-Inland Inc., Wast Man-agement Inc. (CCX, 2010)

    8Emisso de carbono na agricultura e no solo agrcola, efi-cincia energtica, substituio de combustveis, projetos deflorestamento e reflorestamento, emisso de metano em ater-ros sanitrios e em minas de carvo, energias renovveis eemisso de demais substncias nocivas Camada de Oznio(CCX, 2010).

    Tabela 3 Diferenas entre o Protocolo de Quioto e CCX.

    Protocolo de Quioto CCX

    Tratado internacional Protocolo privado

    Metas de reduo compulsrias Redues voluntrias deacordo com cronogramapadronizado

    Abrangncia mundial Abrangncia mundial comfoco nos EUA

    Crditos de carbonodiferenciados (allowances, CER)

    Crditos de carbonopadronizados (CFI)

    Negociaes descentralizadas Um nico local denegociao

    Fonte: Schindler, 2009.

    As principais diferenas entre os mecanis-mos de reduo de emisses originados peloProtocolo de Quioto e pela CCX referem-se aotipo de projeto, flexibilidade em relao a ques-

    tes de adicionalidade, prazos, retroatividadee rigor das regras. A CCX, por ser uma bolsavoluntria, tem uma filosofia de atrair empresasinteressadas em inovao sustentvel, por talmotivo necessita de regras mais flexveis que,em compensao, podem refletir num preomais baixo para o carbono negociado.

    As diferenas das caractersticas entre oMDL e o CCX encontram-se na Tabela 4.

    Tabela 4 Diferenas entre MDL e CCX.

    MDL CCX

    Foco no projeto Foco na empresa comoum todo

    Interferncia governamental Processo 100% privado

    Baseline projetada Baseline xa

    Comprovao deadicionalidade

    Nenhuma exigncia deadicionalidade para membros /sem adicionalidade nanceira

    para projetos de offset

    Marco inicial claramentedemonstrado e comprovado

    Possibilidade de retroatividade

    Burocracia / Prazos longosat a efetiva venda dos CER

    Menos etapas/prazos menoresat a efetiva venda dos CFI

    Regras geralmente inexveis Relativa exibilidade

    nas regras

    CER tm preo de vendamais elevado

    CFI tm preo de vendamais reduzido

    Fonte: Schindler, 2009.

    Os crditos de carbono voluntrios negocia-dos fora do mbito da CCX constituem o chama-do Mercado de Balco (Over The Counter Market OTC). Este mercado no movido por nenhumtipo de regulamentao nem limite de emissestornando-se um mercado de compensao vo-

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    luntria. Os crditos negociados neste mercadoso os Verified Emission Reduction(VER), masos compradores e vendedores tambm podemnegociar crditos de mercados regulados comoo MDL.

    O interesse e objetivo principal dos agentes

    esto na preocupao com a qualidade ambien-tal, inovao de tecnologia alm de uma prepa-rao para uma possvel regulamentao futurano mercado em que agem. Alm disso, crditoscomprados hoje podem ter um valor expressivono futuro. Apesar do mercado de balco atuarsem muita regulamentao, com o seu cresci-mento expressivo ao longo dos ltimos anos, asorganizaes tm desenvolvido uma srie depadres e normas de procedimentos para atu-ao dos agentes ajudando a garantir a quali-dade e transparncia deste mercado, garantin-

    do benefcios socioambientais dos projetos decompensao. Entre os padres criados cita-seo Voluntary Carbon Standard (VCS), VER +,Green Climate, CCX, California Climate Action

    Registry(CCAR), Voluntry Offset Standard, ISO140464 (padro para concepo do projeto), eoAustralian Governments Greenhouse FriendlyCertification(WWF, 2008).

    Com as normas estabelecidas os registrosoficiais dos crditos de carbono esto se tornan-

    do mais rigorosos a fim de rastrear as operaescom os crditos, reduzindo o risco de um nicocrdito ser vendido mais de uma vez para ummesmo comprador (ECOSYSTEM MARKETPLA-CE, 2010).

    A evoluo dos mercados voluntrios traduz-

    se no expressivo aumento dos volumes transa-cionados nos ltimos anos. A Figura 1 mostraque no ano de 2006, 10 MtCO29foram transacio-nadas na CCX e 16 MtCO2foram transacionadasem mercados de balco (OTC). No ano de 2008,126 MtCO2foram transacionadas nos mercadosvoluntrios enquanto que em 2009, 93 MtCO2foram transacionados nos mercados voluntriorepresentando uma queda de 26% em relaoao ano de 2008. Esta queda pode ser atribuda crise mundial bem como incerteza em tornode legislao e regulamentao destes merca-

    dos. Contudo, ainda assim, o volume de 2009representa um crescimento de 40% em relaoa 2007.

    Entre os principais projetos negociados embolsa esto os projetos de energia solar, biomas-sa, eficincia energtica, energia elica, metano,aterro sanitrio, silvicultura, manejo florestal,desmatamento evitado, recuperao de esgo-tos, entre outros (ECOSYSTEM MARKETPLACE,2010).

    Figura 1 Crescimento histrico do volume do Mercado Voluntrio de Carbono.

    Fonte: Ecosystem MarketPlace and Bloomberg New Energy Finance, 2010.

    9

    9 Milhes de toneladas de CO2 Dioxido de Carbono.

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    3.2 Produo mais limpa

    O princpio bsico do conceito de ProduoMais Limpa (PML) o de eliminar a poluio du-rante todo o processo de produo, e no apenasno final. Busca-se expandir o processo para todo o

    ciclo de vida do produto, desde a extrao da ma-tria-prima at a disposio final, gerando econo-mia de material e energia e o reaproveitatamentode resduos. Em relao aos servios, direcionaseu foco para incorporar as questes ambien-tais dentro da estrutura e entrega de servios.

    O aspecto mais importante da PML que elarequer no somente a melhoria tecnolgica, masa aplicao de conhecimento e mudana de ati-tudes, com melhoria de eficincia, tcnicas degesto, polticas diversas e novos procedimen-tos (CEBDS, 2011).

    Diversas empresas tm adotado esta posturade forma voluntria enxergando benefcios eco-nmicos e ambientais. A necessidade de repen-sar o modelo de estratgia do negcio pensandonos impactos que as mudanas climticas po-dem causar est se tornando uma idia muitoaceita no mundo corporativo, demonstrando quesuas atividades vo alm do simples cumpri-mento da regulamentao ambiental.

    A empresaBritish Petroleumdetectou algu-mas oportunidades para reduzir emisses, au-mentar a eficincia do processo e economizar

    recursos. Os custos iniciais das mudanas noprocesso somaram em torno de US$ 20 milhes,mas, em contrapartida, significou para a empre-sa uma economia de US$ 65 milhes em poucosanos. Em 2006, os valores economizados supera-vam US$1,5 bilhes (ESTY E WINSTON, 2006).

    Um dos aspectos importantes para a imple-mentao do PML a realizao de um invent-rio de emisses de gases de efeito estufa (GEE)para se determinar as fontes de emisso nas ati-vidades produtivas e a quantidade de GEE lan-ada atmosfera. Dentre as diferentes metodo-

    logias existentes o GHG Protocol, desenvolvidopelo World Resources Institute(WRI) em parce-ria com o World Business Council for Sustainable

    Development(WBSCD), uma das ferramentasmais utilizadas mundialmente para a realizaodestes inventrios (GHG PROTOCOL, 2011). Emmaio de 2008 foi lanado o Programa BrasileiroGHG Protocolcom o objetivo de promover umacultura permanente de inventrios de GEE lan-ando o primeiro registro pblico de emissesno Brasil.

    De forma voluntria, a empresa ThyssenKruppElevadores, localizada na cidade de Guaba, noRio Grande do Sul, zerou suas emisses de ga-ses de efeito estufa ao adquirir crditos de car-bono da usina hidreltrica BAESA, neutralizan-do 100% dos gases emitidos por sua planta. No

    total, a organizao adquiriu 2.130 crditos decarbono, que correspondem s emisses totaisda fbrica entre outubro de 2009 e setembro de2010 (THYSSENKRUPP, 2011).

    Empresas pr-ativas vm percebendo queestar a frente das leis e regulamentos ambien-tais pode economizar recursos financeiros, evitarrestries a linhas de crdito, perda de mercadocomo tambm inmeros inconvenientes.

    Outro segmento que vem ganhando muitoespao so os chamados econegcios, focadosna soluo de problemas ambientais. So opor-

    tunidades de negcios onde a conscincia ecol-gica est presente como um componente bsicodo mesmo. Os ecoprodutos vo desde embala-gens de material reciclado at alimentos semagrotxico, empresas que recuperam reas de-gradadas, tratamento de resduos, equipamen-tos de controle de poluio e biotecnologia.

    Um exemplo de ecoproduto o plstico verdeda indstria de plsticos Braskem, que lanou,em julho de 2007 o polietileno verde, o primeiroa ser feito 100% a partir de fontes renovveis.A empresa investiu cerca de R$500 milhes na

    planta de Triunfo, no Rio Grande do Sul, produ-zindo cerca de 200 mil toneladas de polietilenode etanol de cana de acar (BRASKEM, 2011).

    Os econegcios so uma consequncia deprocessos que do um novo sentido aos proble-mas ambientais existentes, convertendo-os emsolues, gerando oportunidades para a criaode novos empregos, maximizao da eficinciade processos produtivos e reduo de seus im-pactos ambientais.

    Um dos assuntos mais discutidos na ltimaConferncia das Partes (COP 16), realizada em

    Cancun, no Mxico, em dezembro de 2010, foia possibilidade de inserir projetos de floresta-mento e reflorestamento como Certificado deReduo de Emisses. O Brasil, dado sua exten-sa rea florestal, seria largamente beneficiadofacilitando a reduo das emisses conforme de-cretado pelo Governo Federal atravs da PolticaNacional de Mudana do Clima.

    O instrumento conhecido como REDD (ReduceEmissions for Deforestation and Degradation)cria valores econmicos para a floresta em p, ou

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    para o desmatamento evitado. De maneira vo-luntria, um projeto de carbono lanado no cor-redor Emas-Taquari, formado pelo Parque Nacio-nal das Emas, o Parque Estadual das Nascentesdo Taquari e a Reserva Particular do PatrimnioNatural Ponte de Pedra, tem como meta reflores-

    tar quase 600 hectares com rvores nativas doCerrado. Com a certificao do VCS (VoluntaryCarbon Standard), calcula-se que podero serremovidos da atmosfera 206.114,60 toneladasde CO2equivalente, sendo 30% dos crditos jadquiridos de forma voluntria pela empresaNatura Cosmticos S/A. (GAZETA DO PANTA-NAL, 2011).

    Outro projeto que pode resultar em crdi-tos de carbono em troca de compensao deemisso de GEE o de biomassa. Resultantede resduo de natureza orgnica, a biomassa

    pode ser aproveitada de processos industriaisou agropecurios, ao invs de serem destinadosdiretamente a aterros ou lixes, contaminandosolos e recursos hdricos. O uso da biomassapara produzir energia possibilita maior equil-brio ecolgico e estabilidade do ciclo do carbono medida que acelera a mineralizao da mat-ria orgnica, resultante do processo produtivo(ANEEL, 2004).

    Um exemplo de utilizao da biomassa oProjeto Piratini que consiste na gerao de ele-tricidade com uma central termeltrica que in-

    cinera resduos de madeira de nove empresasde processamento na cidade de Piratini, no RioGrande do Sul. O relatrio de validao do pro-jeto atestou a reduo de pouco mais de 1,2 mi-lhes de tCO2durante um perodo de sete anos(MCT, 2011).

    4 Regulamentao e comprometimento

    Com a finalidade de dar mais transparncias negociaes dos crditos voluntrios e ain-da atender a um plano nacional de reduo das

    emisses dos GEEs alguns governos instituramregras para o funcionamento adequado destetipo de mercado.

    A soluo encontrada pelo governo Japonspara cumprir sua meta de reduo de emissesde 6% em relao s emisses de 1990, atravsdo Protocolo de Quioto, foi atravs do Plano deAo Ambiental Voluntria (Japans KeidanrenVoluntary Action Plan on the Environment, 2010)que abrange 61 associaes empresariais que secomprometem a reduzir seus nveis de emisses

    com base no ano de 1990. Os crditos so com-prados voluntariamente, no entanto, as com-pensaes so viveis atravs de Crditos deQuioto ou atravs de Crditos gerados por meiodo Programa de Crdito Interno do Ministrio daEconomia, Indstria e Comrcio e contabiliza-

    dos atravs de um sistema de registro nacionalutilizados para cumprir os compromissos assu-midos.

    A Agncia de Proteo Ambiental America-na (US Environmental Protection Agency EPA,2010) premia as empresas que desenvolvem es-tratgias de inovao ambiental atravs da ges-to de qualidade de suas emisses de GEEs eda consequnte emisso de crditos voluntriosde compensao. No ano de 2009 o programarecebeu 60 novas empresas somando mais de250 instituies.

    Com o intuito de melhorar a eficincia ener-gtica das empresas australianas, em 1995 foicriado o programa governamental AustraliasGreenhouse Challenge Plus (2007) que incluium relatrio com as emisses reduzidas e umaampla assistncia tcnica aos agentes interes-sados. Apesar de ter sido finalizado em 2009,mais de 700 organizaes obtiveram o registropara obter a certificao de emisses reduzidaspor parte de programas voluntrios no regula-mentados.

    No Canad, empresas que desejam obter re-

    conhecimento de seus esforos para reduo desuas emisses de GEEs atravs de um sistematransparente e organizado podem participar doprograma de governo The Canadian GHG CleanStart Registry(2010). Para isto o programa incluia adequao nas normas ISO 14064 para mensu-rar e controlar os esforos de reduo.

    Como se pode perceber vrios pases j es-to engajados no esforo de tentar mitigar osefeitos nocivos da constante e progressiva emis-so de CO2na atmosfera. O Protocolo de Quioto,vigente em sua primeira etapa at 2012 constri

    um primeiro passo em termos de instrumentoeconmico para viabilizar o controle de emis-ses e ainda assim sem prejudicar o desenvol-vimento econmico. Mas apenas os esforos deQuioto no so suficientes devido a alta buro-cracia, excessiva regulamentao e incertezassobre o que acontecer aps o prazo de 2012.Deste modo, os esforos voluntrios de mitiga-o se tornam to importantes na construodeste cenrio de equilbrio entre o ecossistemae industrializao.

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    4.1 Avanos ambientais no Brasil

    O Brasil, apesar de no ser um dos pasesincludos no Anexo I do Protocolo de Quioto,vem aos poucos tomando medidas para tentarmitigar os GEEs. Em se tratando de regulamen-

    tao, o Instituto Brasileiro do Meio Ambientee dos Recursos Naturais Renovveis (IBAMA) responsvel pelo licenciamento de grandes pro-jetos de infraestrutura no pas (IBAMA, 2011).

    Estes rgos pblicos so responsveis tam-bm pela fiscalizao e autuao caso algumaempresa esteja atuando fora da legislao am-biental. Mas na prtica, a falta de rigor na fisca-lizao e, inclusive, questes burocrticas e decomplexidade da Lei frustram as devidas aes.A regulamentao devida e principalmente trans-parncia com a poltica ambiental extremamen-

    te necessria para que as aes desenvolvidaspelas empresas no fiquem, na maioria das ve-zes, ligadas a questes de mera obrigatoriedade.

    Com isso, em 29 de dezembro de 2009 foisancionada a Lei 12.187/09 instituindo a PolticaNacional sobre Mudana do Clima (PNMC) esta-belecendo seus princpios, objetivos, diretrizese instrumentos.

    Entre os principais itens a PNMC visar re-duzir as emisses antrpicas de GEEs em suas

    diferentes fontes, estimular o desenvolvimentodo Mercado Brasileiro de Reduo de Emisses(MBRE) atravs dos compromissos assumidosna Conveno-Quadro das Naes Unidas so-bre Mudana do Clima e no Protocolo de Quio-to, promover pesquisas cientficas, formar uma

    cooperao internacional com a difuso detecnologias para implementao de aes demitigao. Entre os instrumentos esto o Pla-no Nacional e o Fundo Nacional para Mudanado Clima, medidas fiscais e tributrias, meca-nismos financeiros e econmicos, padres am-bientais e de metas especficas. A lei tambminclui a negociao dos ttulos mobilirios re-presentativos de emisses evitadas certifica-das de GEEs em bolsas de Mercadorias e Fu-turos.

    Para alcanar este objetivo da PNMC, o pas

    adotar o compromisso nacional voluntrio coma finalidade de reduzir entre 36,1% e 38,9% assuas emisses com base na projeo para 2020.A Tabela 5 apresenta a proporo de reduode tCO2para atingir a meta brasileira propostapelo PNMC. Os valores percentuais das ltimascolunas so referentes ao total das emissesprevistas. Alm disso, a tabela disponibiliza aamplitude da reduo por setor da economia emrelao tendncia prevista.

    Tabela 5 Aes para mitigao de emisses at 2020.

    Aes de mitigao (NAMAs)2020

    (tendncia)

    Amplitude dareduo 2020

    (mi tCO2)

    Proporo dereduo

    Uso da terra 1084 668 668 24,8% 24,8%

    Reduo Desmatamento Amaznia (80%) 564 564 20,9% 20,9%

    Reduo Desmatamento no Cerrado (40%) 104 104 3,9% 3,9%

    Agropecuria 627 133 166 4,9% 6,0%

    Recuperao de pastos 83 104 3,0% 3,8%

    ILP Integrao Lavoura Pecuria 18 22 0,7% 0,8%

    Plantio direto 16 20 0,6% 0,7%

    Fixao biolgica de nitrognio 16 20 0,6% 0,7%

    Energia 901 165 207 6,1% 7,7%

    Ecincia energtica 12 15 0,4% 0,6%

    Incremento do uso de biocombustveis 48 60 1,8% 2,2%

    Expanso da oferta de energia por hidroeltrica 79 99 2,9% 3,7%

    Fontes alternativas (PCH, bioeltrica elica) 26 33 1,0% 1,2%

    Outros 92 8 10 0,3% 0,4%

    Siderurgia substituio carvo desmate por plantado 8 10 0,3% 0,4%

    Total 2704 974 1051 36,1% 38,9%

    Fonte: MMA, MAPA, MME, MF, MDIC, MCT, MRE, Casa Civil, 2009.

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    A proposta do governo brasileiro audacio-sa para reduo das emisses de CO2para umprazo de 10 anos. Para isto medidas como incen-tivos fiscais e inovao tecnolgica devero sertomadas para atingir tal objetivo. Mecanismoseconmicos como a comercializao de crditos

    de carbono, seja por meio de MDL ou por meiovoluntrio, reduziriam os custos de produolimpa para os setores produtivos da economia.

    Outro passo importante dado pelo Brasil,em resposta a crescente preocupao ambien-tal, foi uma parceria estabelecida entre o Ban-co Nacional de Desenvolvimento Econmico eSocial (BNDES) e a BM&FBovespa para a cria-o do ndice Carbono Eficiente (ICO2), formadopor uma carteira terica constituda por aesde empresas do IBrX-50 (composto pelas 50aes mais negociadas na bolsa) que aderiram

    iniciativa. O indicador ponderado pelo freefloat10e pelo coeficiente de emisses de gasesde efeito estufa (GEE) das empresas. Alm dis-so, futuramente ser obrigatria a realizao deinventrio incluindo emisses diretas e emis-ses geradas pelo consumo de energia eltrica(BMFBOVESPA, 2011).

    A criao do ndice foi inspirado no S&PCarbon Efficient Index (ndice de carbono efi-ciente), que funciona desde 2009, lanado pelaempresa Standard & Poors. O mtodo parte dacomposio doS&P500 e seleciona para sua car-

    teira um subconjunto de aes de empresas commenor emisso, excluindo as empresas mais po-luentes, mas mantendo a preocupao de quetodos os setores econmicos estejam represen-tados na sua carteira (S&P, 2011).

    Um ndice tambm importante que funcio-na desde 2005 o ndice de SustentabilidadeEmpresarial (ISE) criado pela BM&FBovespaem parceria com entidades profissionais almda Fundao Getlio Vargas, Instituto Ethose Ministrio do Meio Ambiente. Este ndicevisa fornecer uma opo de carteira composta

    por aes de empresas que apresentam reco-nhecido comprometimento com a responsabi-lidade social e a sustentabilidade empresarial,eficincia econmica e equilbrio ambiental(BMFBOVESPA, 2011).

    A importncia da construo destes ndices,que considera as emisses de gases de efeito

    10Em portugus, flutuao livre, uma terminologia utilizadano mercado de capitais quando uma empresa deixa deter-minada quantidade de aes livre negociao no mercado(BMFBOVESPA, 2010).

    estufa das empresas mais negociadas no Bra-sil, vai desde contribuio para o fortalecimentodo mercado de capitais brasileiro, mas tambmpara mostrar que as principais empresas do pasesto se preparando para uma economia de bai-xo carbono.

    5 Concluso

    Os impactos diretos e indiretos do aqueci-mento global tendero a se agravar ao longo dosprximos anos se medidas urgentes no foremtomadas, principalmente pelas naes mais res-ponsveis pelos nveis atuais de emisso dosgases de efeito estufa. As discusses avanamna medida em que os principais lderes mundiaisse renem cada vez mais para discutir solues,mas os interesses individuais de cada pas e o

    risco de arrefecimento econmico em troca deum plano de corte de emisses vm frustrandoos principais acordos globais do clima.

    Embora o Protocolo de Quioto represente umpasso importante no sentido de tentar mitigaros efeitos do aquecimento global, encontra-selonge de uma soluo definitiva para o proble-ma. Questes como regras rgidas, burocraciae dvidas aps o perodo de vigncia tem tor-nado sua evoluo mais lenta que o esperado.O crescimento das aes voluntrias e de ini-ciativas diversas, principalmente de pases em

    desenvolvimento, com leis mais rgidas e metasde reduo de emisso para os prximos anos,tem contribudo para delinear um quadro me-nos destrutivo para o meio ambiente. Mas todoo cuidado deve ser tomado para que o cresci-mento dos mercados de carbono no se trans-forme no problema. A transparncia e rigidez nocontrole das compensaes de carbono so fun-damentais para garantir sua existncia e evo-luo.

    Reduzir as emisses de carbono mantendoo padro de consumo mundial nos nveis atuais

    ser uma tarefa difcil para a humanidade.Aprender a conviver com a natureza, respeitan-do os seus limites, representar a maior evolu-o do homem e a condio indispensvel paragarantir a existncia das prximas geraes.

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    APNDICE ALinha do Tempo das Discusses Climticas

    Tempo Histrico

    FinalSculo XIX

    O cientista sueco Svante Arrhenius foi o primeiro a comparar o aquecimento causado pelo CO2com uma estufa.

    1750 Terremotos e Fortes Tempestades em Lisboa e Londres.

    1823 Advertncia de Jos Bonifcio sobre grandes secas.

    1824 Joseph Fourier publica a teoria sobre o efeito estufa. Fourier achava um mistrio como a Terra se mantinha aquecidao suciente para possibilitar a vida. Sua teoria dizia que uma parte da energia solar que era reetida pelos oceanos esuperfcie terrestre para o espao cava aprisionada na atmosfera devido ao vapor dgua e outros gases, comparandoo efeito a um vaso de vidro fechado, que aprisionava o calor em seu interior quando deixado exposio do Sol.

    1878 Foi estabelecida a Organizao Meterolgica Internacional.

    1896 Svante Arrhenius (1859-1927) foi o primeiro cientista a levantar a hiptese de que a queima de combustveis fsseispoderia potencializar o aquecimento global ao propor uma relao entre concentrao de dixido de carbono e tempe-ratura. A base de sua inspirao foi a enorme quantidade de chamins que observava, em plena poca da RevoluoIndustrial. Segundo seus clculos, o dobro da concentrao de dixido de carbono causaria um aumento de 5C. Estetema permaneceu esquecido durante muitas dcadas, pois naquela poca supunha-se que os efeitos da atividadehumana eram insignicantes em relao contribuio de efeitos naturais.

    1940 O desenvolvimento da tecnologia de espectroscopia para medio de radiao de ondas longas permite que se prove

    que o aumento da concentrao de dixido de carbono na atmosfera resulta em maior absoro de radiao infra-vermelha. Tambm permite vericar que o vapor dgua absorve radiaes de tipos totalmente diferentes que o gscarbnico.

    1947 Foi criada, pela conveno de Washington, em 11 de outubro, a Organizao Metereolgica Mundial (OMM), comoorganismo sucessor da organizao Metereolgica Internacional.

    1955 Gilbert Plass conclui que o aumento da concentrao de gs carbnico na atmosfera intercepta raios infravermelhosque seriam liberados ao espao caso no houvesse tal aumento.

    1957 O Efeito Estufa foi monitorado pela primeira vez por Charles David Keeling, durante 27 anos ele monitorou o CO2econstatou um acrscimo de 8% desse gs.

    1970 Crispin Tickell se devota anlise da relao entre mudana do clima e as relaes internacionais.

    1971 Miguel Ozrio de Almeida demonstra preocupao com as conseqncias do aquecimento global.

    1972 Declarao de Estocolmo.

    1979 1 Conferncia Mundial sobre o Clima a mudana do clima foi reconhecido como um grave problema.1985 Conferncia de Villach.

    1988 Realizou-se, em Toronto, a 1 Conferncia Climatolgica Mundial, onde houve consenso em neutralizar as emissesde gases causadores do efeito estufa.

    Foi criado o Painel Intergovernamental sobre Mudanas Climticas - IPCC, responsvel pela avaliao e divulgaodos conhecimentos sobre clima.

    1989 Fevereiro: Conferncia de Ottawa e Conferncia de Tata.

    Maio: Conferncia e Declarao de Haia.

    Novembro: Conferncia Ministerial de Noordwijk.

    Dezembro: Pacto de Cairo.

    1990 Novembro: 2 Conferncia o Climatolgica Mundial, em Genebra, foi analisado o 1 Relatrio do IPCC, participarammais de 300 cientistas de 20 pases.

    Dezembro: A Assemblia Geral da ONU aprovou o incio das negociaes, criando-se o Comit Intergovernamentalde Negociaes (CIN) responsvel pela confeco da Conveno sobre mudanas Climticas.

    1992 EUA convocaram uma reunio em Virgnia, onde armaram seu no comprometimento com a reduo dos GEE,alegando precauo.

    Uma resposta internacional tomou forma com a Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana Climtica(CQMC) a partir da Rio 92.

    A conveno estabelece que no ano 2000, os pases industrializados deveriam retornar s suas emisses de gasesde efeito estufa aos nveis de 1990.

    1994 CQMC Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana Climtica entrou em vigor em 21 de maro de 1994.

    Fonte: Adaptado de . Elaborao prpria.

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    APNDICE BLinha do Tempo para as COPs

    COP Ano Local Desdobramentos

    1 1995 Berlim (Alemanha) Metas mais amplas do que apenas estabilizao dos GEEs

    2 1996 Genebra (Sua) Segundo relatrio do IPCC

    3 1997 Quioto (Japo) Protocolo de Quioto, criao do MDL e Implementao Conjunta

    4 1998 Buenos Aires (Argentina) Plano de ao Buenos Aires com cronograma para Quioto

    5 1999 Bonn (Alemanha) Cronograma mais agressivos para Quioto

    6 2000 Hai (Holanda) No conseguiu chegar a grandes decises; foi criado a COP 6,5 comforte teor poltico para nalizar elementos expressos sobre o Plano deAo Buenos Aires

    7 2001 Marrakesh (Marrocos) IPCC nalizou o 3 Relatrio; Acordo de Marrakesh com decisesinerentes aos mecanismos de exibilizao de Quioto

    8 2002 Nova Delhi (ndia) Colocar em prtica Acordo de Marrakesh; acordo sobre disposies eprocedimentos para o MDL

    9 2003 Milo (Itlia) Proposto de fazer inventrio de tecnologias existentes; discusso demecanismos de mercado e alianas entre o setor pblico e privado

    10 2004 Buenos Aires (Argentina) Marcada pela raticao Russa que fez com que o Protocolo de Quiotoentrasse em vigor

    11 2005 Montreal (Canada) Discusso de detalhes pendendes de Quioto; Protocolo de Quiotoentra em vigor em 16 de fevereiro de 2005

    12 2006 Nairobi (Qunia) Modestas medidas de adaptao de Quioto como reduo de desma-tamento e transferncia tecnolgica; discusso sobre rpida expansodos mercados de carbono.

    13 2007 Bali (Indonsia) Negociaes intensas e preocupao com falta de resultados dareunio. IPCC lana seu 4 relatrio sobre mudanas climticas;

    14 2008 Poznan (Polnia) Operacionalizao do Fundo de Adaptao; Incio da elaboraode um rascunho para um novo acordo climtico global; a crisenanceira e a falta de consenso frustou as propostas traadas para a

    Conveno15 2009 Copenhagen (Dinamarca) Falta de consenso entre os lderes dos pases participantes; proposta

    de Fundo emergencial de US$ 30 bi; Brasil se destaca pela aprovaode uma Poltica nacional sobre mudanas climticas j aprovada pelolegislativo

    16 2010 Cancn (Mxico) Adiamento sobre o segundo perodo do Protocolo de Quioto;segue indenio sobre o Fundo Emergencial; aprovao pacote dedecises sobre aes para enfrentar as causas e efeitos das mudanasclimticas; Criao de um Fundo Verde, Mecanismo de Adaptao eREED

    Fonte: Elaborao prpria. Disponvel em: . Acesso em: dez. 2010.

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    ANEXO A

    Total das Emisses de Dixido de Carbono das partes do Anexo I em 1990,para os fns do Artigo 25 do Protocolo de Quioto

    Parte Emisses (Gg) Porcentagem

    Alemanha 1.012.443 7,4

    Austrlia 288.965 2,1ustria 59.200 0,4

    Blgica 113.405 0,8

    Bulgria 82.990 0,6

    Canad 457.441 3,3

    Dinamarca 52.100 0,4

    Eslovquia 58.278 0,4

    Espanha 260.654 1,9

    Estados Unidos da Amrica 4.957.022 36,1

    Estnia 37.797 0,3

    Federao Russa 2.388.720 17,4

    Finlndia 53.900 0,4

    Frana 366.536 2,7

    Grcia 82.100 0,6

    Hungria 71.673 0,5

    Irlanda 30.719 0,2

    Islndia 2.172 0

    Itlia 428.941 3,1

    Japo 1.173.360 8,5

    Letnia 22.976 0,2

    Liechtenstein 208 0

    Luxemburgo 11.343 0,1

    Mnaco 71 0

    Noruega 35.533 0,3

    Nova Zelndia 25.530 0,2

    Pases Baixos 167.600 1,2

    Polnia 414.930 3

    Portugal 42.148 0,3

    Reino Unido da Gr-Bretanha e Irlanda do Norte 584.078 4,3

    Repblica Checa 169.514 1,2

    Romnia 171.103 1,2

    Sucia 61.256 0,4

    Sua 43.600 0,3

    Total 13.728.306 100

    Fonte: MCT, Artigo 28 do Protocolo de Quioto.