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DECOMTEC - Departamento de Competitividade e Tecnologia A COMPETITIVIDADE E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ALGUMAS QUESTÕES PA RA REFLEXÃO outubro de 2005

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D E COMTEC - De p a rt a m e nto de Co m petitividade e Te c n o l og i a

A COMPETITIVIDADE E O DESENVO LV I M E N TOE CO N Ô M I COA LGUMAS QUESTÕES PA RA R E F L E X Ã O

o u t u b ro de 2005

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Fe d e ração das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP

PRESIDENTE Fe d ra Paulo Ska f

D E CO M T E C

D I R E TOR T I T U LA RJosé Ri ca rdo Ro riz Coe l h o

D I R E TOR T I T U LAR ADJUNTOPi e rangelo Ro s s e t t i

D I R E TO R I AAl e s s a n d ra Fe rre i raCa rlos Fre d e ri co Qu e i roz de Ag u i a rCa rlos William de Ma cedo Fe rre i raCa rlos Za b a n iCláudio José de GóesDenis Pe rez Ma rt i n sDimas de Mello Pi m e nta IIIEd u a rdo Ra b i n ov i c hElias Miguel Ha d d a dFra n c i s co Xavier Lo pes Za p at aLa é rcio Ba r bo s aLuiz Ca rlos Tri pod oMa n oel Canosa Mi g u ezM á rio Ce ratti Be n e d e t t iMaurício Linn Bi a n c h iNew ton de Me l l oPe d ro Ma rtins da Si l vaS é rgio Paulo Pe re i ra de Ma g a l h ã e sWilson José Fa rh at Júnior

ÁREA DE CO M P E T I T I V I D A D E

G E R E N T ERe n ato Co rona Fe rn a n d e s

EQUIPE T É C N I CAAl e s s a n d ra Al va re sAnita Te reza De d d i n gJoão Al f redo Sa ra i va Delgado Paulo Se rgio Pe re i ra da Roc h aPaulo He n rique Rangel Te i xe i raPe d ro Gu e rra Du val Kobler Co rr ê aSilas Lozano Pa zVagner Bo rges de Ca s t ro

E S TAG I Á R I O SM á rcio Ga rc i aRo be rta Augusta Oller de Ba rro s

A P O I OMa ria Cristina B. M . Fl o re sRe n ato Wagner Da ntas dos Sa ntos

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Sumário

A P R E S E N TA Ç Ã O 5

SUMÁRIO EXECUTIVO 6

I - A COMPETITIVIDADE BRA S I L E I RA 9

I . 1 – O ÍNDICE DE COMPETITIVIDADE DAS NAÇÕES – IC-FIESP 2005 9

I . 2 – A AGENDA PA RA MELHORIA DA CO M P E T I T I V I D A D E, ou POR QUE O BRASIL NÃO CRESCE? 12

I I - O DESENVO LV I M E N TO ECO N Ô M I CO – ALGUMAS QUESTÕES PA RA REFLEXÃO 1 7

I I . 1 - O AMBIENTE MAC RO E CO N Ô M I CO 1 7

I I . 2 - A INSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA INDUSTRIAL 1 9

I I . 3 - INVESTIMENTO E CRÉDITO 2 5

I I . 4 - POLÍTICA T R I BU T Á R I A 3 9

I I . 5 - INOVAÇÃO E DESENVO LV I M E N TO T E C N O L Ó G I CO INDUSTRIAL 4 1

I I . 6 - POLÍTICA DE APOIO AOS ARRANJOS PRO D U T I VOS LO CA I S 4 8

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APRESENTAÇÃO

Es te trabalho deve ser entendido como uma co nt ribuição do DECO M T E C / F I E S P,

De p a rt a m e nto de Co m petitividade e Te c n o l ogia da Fe d e ração das Indústrias do Es t a d o

de São Pa u l o, p a ra o debate nacional sobre a Po l í t i ca Industri a l , Te c n o l ó g i ca e de

Co m é rcio Exte rior (PITC E ) , quando já deco rre mais de um ano do seu lançamento pe l o

g ove rno fe d e ral e seu impacto na Co m petitividade Bra s i l e i ra .

Não se trata de um doc u m e nto ex a u s t i vo de avaliação da PITC E. Menos do que

ava l i a r, a pre ocupação maior deste re l at ó rio é pro por idéias para re f l exão dos empre-

s á ri os e das lideranças nacionais, tendo por base a PITCE e os fato res que influenciam

nossa posição co m pe t i t i va .

A ex pe ct at i va do DECOMTEC é que surjam co nt ribuições valiosas para que o Bra s i l

possa avançar na promoção do desenvo l v i m e nto industrial e, por co n s e q ü ê n c i a , ava n-

çar na sua tra j e t ó ria de desenvo l v i m e nto nacional.

Ne s te trabalho são apre s e ntadas as questões que pare ce ram ao DECOMTEC co m o

as mais impo rt a ntes para serem tratadas no âmbito de uma po l í t i ca industri a l .Tod av i a ,

não houve a intenção de abranger toda a diversidade te m á t i ca envolvida na pro m o ç ã o

do desenvo l v i m e nto industri a l . Como todos sabe m o s, a po l í t i ca industrial resulta de

uma série de medidas que co b rem ca m pos de distintas nat u rez a s, desde questões ma-

c roe co n ô m i cas até questões re l at i vas às empresas e seus merca d o s.

Desta fo rm a , o DECOMTEC acredita que está cumprindo a sua missão institucional

e co nt ribuindo para o ape rfe i ç o a m e nto da po l í t i ca de desenvo l v i m e nto industrial em

nosso país.

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

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SUMÁRIO EXECUTIVO

O objetivo da FIESP ao divulgar o pre s e nte doc u m e nto é co nt ribuir para uma re-

f l exão sobre o que tem sido a Po l í t i ca Industri a l , Te c n o l ó g i ca e de Co m é rcio Exte ri o r

( P I TCE) e,p ri n c i p a l m e nte, realizar algumas pro postas para debate,o b j e t i vando o desen-

vo l v i m e nto e a maior co m petitividade do setor industrial bra s i l e i ro.

No que tange a Co m petitividade Bra s i l e i ra como um tod o, A FIESP desenvo l ve u

uma metod o l ogia que pe rm i te co m p a rar 43 países, re s po n s á veis por 95% do PIB mun-

d i a l , a partir de 83 va ri á veis quant i t at i va s. Estas va ri á veis compõem o IC-FIESP, Í n d i ce de

Co m petitividade FIESP. Da análise das va ri á veis ident i f i camos uma dife rença básica en-

t re a agenda dos países mais bem posicionados e a agenda nece s s á ria para o Bra s i l .

Grosso mod o, o fator que mais afeta nossa posição no ra n king é o fator Capital basica-

m e nte co m po s to por juros e crédito, que para os países mais co m pe t i t i vos apare ce

como penúltima pre oc u p a ç ã o.

O desenvo l v i m e nto e a co m petitividade são conquistados com a realização de in-

ve s t i m e ntos em capacidade prod u t i va e em capacitação te c n o l ó g i ca . Pa ra a re a l i z a ç ã o

de inve s t i m e nto s, é nece s s á rio que as condições macroe co n ô m i cas estejam favo r á ve i s

p a ra que se reduza a ince rtez a . A ince rteza sobre o futuro, s o b re as posições em que es-

tarão as taxas de juro s, a taxa de câmbio e os preços re s t ringe os inve s t i m e nto s.Ape s a r

das condições exce pc i o n a l m e nte favo r á veis da economia mundial, a combinação de

j u ros reais ext re m a m e nte elevados e de um fo rte mov i m e nto de apreciação ca m b i a l ,

aliado à dificuldade de acesso a crédito para a maioria absoluta das empre s a s, i n i be os

i nve s t i m e nto s.

A po l í t i ca eco n ô m i ca do atual gove rno pare ce estar ori e ntada para o alca n ce de re-

sultados mais imediatos no curto pra zo, d e s p rovida de qualquer sentido estrat é g i co. As

p ri o ridades reveladas pela PITC E, sejam em te rmos de áreas estrat é g i ca s, ou dos pilare s

da po l í t i ca – inova ç ã o, co m é rcio exte rior e mod e rnização – precisam de maior objetivi-

dade e co n c re t i z a ç ã o. Ainda com as re s t rições que pesam sobre a po l í t i ca macroe co n ô-

m i ca , há espaços para outras iniciat i vas vo l t a d a s,por exe m p l o :ao inve s t i m e nto em ca p a-

cidade prod u t i va ; à maior capacitação te c n o l ó g i ca das empre s a s ; à maior ra c i o n a l i d a d e

e coo rdenação das po l í t i cas pública s, em especial da po l í t i ca de CT&I. Além disso, é fun-

d a m e ntal desenvo l ver po l í t i cas para os APLs,e a ex pe riência re ce nte da FIESP nessa áre a

é uma demonstração real das possibilidades ex i s te nte s.

No que diz re s pe i to ao inve s t i m e nto,ex i s tem condições objetivas para a ampliação

e redução do custo do crédito.Os estudos detalhados no pre s e nte doc u m e nto mostra m

a existência de recursos do FAT que pod e riam ser dire c i o n a d o s, s o b retudo para o finan-

c i a m e nto de empresas de micro, pequeno e médio po rte, em prog ramas destinados à

m od e rn i z a ç ã o, c re s c i m e nto e até criação de novas empre s a s. A estimat i va de que ex i s-

tem R$ 11 bilhões do FAT exce d e ntes aplicados em títulos do gove rno é evidência de

que pode haver maior disponibilidade de fundos para o inve s t i m e nto prod u t i vo.

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

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De outra parte, é nece s s á rio que se reduza o custo dos financiamento s, b a s i ca-

m e nte at ravés da redução do co m po n e nte de ri s co da T J L P. Uma prov á vel co n s e q ü ê n-

cia desse custo é a previsão de não realização de R$ 20 bilhões do orçamento do BNDES

d e s te ano. Ad i c i o n a l m e nte, d evem ser criados mecanismos e instru m e ntos que re d u-

zam a assimetria de info rmação em relação às empresas de menor po rte e devem ser

c redenciados outros agentes como ope ra d o res dos recursos do FAT (coo pe rat i vas de

c r é d i to, agências de fo m e nto e bancos pri va d o s ) . Co n fo rme edito rial da Ga ze t a

Me rca ntil de 18.10.05 a taxa atual da TJLP é um obstáculo int ra n s po n í ve l ,haja vista que

com a diminuição do IPCA o juro real deve saltar de 2% em 2004 para mais de 4% em

2 0 0 5 .Ta nto o Pre s i d e nte do BNDES como os pre s i d e ntes das Fe d e rações das Indústri a s

a l e rt a ram que nestas condições o custo do consumo cai e o da produção aument a .

Ainda para estimular os inve s t i m e ntos deve ser realizada uma revisão dos proce-

d i m e ntos do CADIN e deve haver completa desoneração fiscal dos inve s t i m e ntos pro-

d u t i vo s, no co ntexto de uma re fo rma tri b u t á ri a , que é tard i a . Os delineamentos dessa

re fo rma tri b u t á ria são conhecidos e enco nt ram-se resumidos neste texto.

Em relação à po l í t i ca te c n o l ó g i ca , há que consolidar o excesso de legislação em vi-

g o r. Eram grandes as ex pe ct at i vas em relação aos ince nt i vos fiscais e à subvenção eco-

n ô m i ca para a inovação na re g u l a m e ntação da Lei de Inova ç ã o. I n fe l i z m e nte o gove rn o

vem fru s t rando essas ex pe ct at i va s.

“A FIESP encaminhou ao Co n g resso Nacional algumas sugestões que pod e ri a m

ser inco rpo radas no ape rfe i ç o a m e nto da MP 252. A MP 252 não foi vo t a d a , sendo seus

benefícios à inovação inco rpo radas na MP 255, que foi votada e aprovada re ce nte-

m e nte pelo Senado Fe d e ral e pela Câmara dos De p u t a d o s.“

Ent re essas sugestões podem ser destaca d a s : a possibilidade de crédito fiscal para

e m p resas não optantes pelo regime fiscal de lucro re a l ; c r é d i to fiscal equiva l e nte a co n-

t ribuições prev i d e n c i á rias pat ronais incidentes sobre pessoal dire t a m e nte engajado

em atividades inovat i va s ; t rat a m e nto tri b u t á rio espe c í f i co sobre re s g ates de quotas de

fundos de inve s t i m e nto destinados exc l u s i va m e nte a aplicações em empresas inova-

d o ras e aprovação imediata para pro j e tos inova d o res com co m p rovação a po s te ri o ri .

O u t ras pro postas também fo ram sugeridas para a constituição de uma indústri a

mais inova d o ra : a l ocação de parcela do co nt i n g e n c i a m e nto e da re s e rva de co nt i n-

g ê n c i a dos fundos seto riais para reduzir custos nos financiamentos de P&D; adoção de

p rog ramas de difusão te c n o l ó g i ca , tais como ce nt ros de inovação em APLs; fo rt a l e c i-

m e nto e definição de plano estrat é g i co para a infra - e s t ru t u ra te c n o l ó g i ca nacional etc.

Pa ra os APLs, o exemplo das atividades da FIESP deve ser ava l i a d o. Trabalhar co m

e m p resas de pequeno po rte implica em trabalhar dife re ntes dimensões dos negócios

s i m u l t a n e a m e nte : i n ova ç ã o, m od e rn i z a ç ã o, recursos humanos, g e s t ã o, a cesso a crédito

e, p ri n c i p a l m e nte, foco no merca d o.

En f i m , p a ra implementar as pro postas há necessidade de uma nova gove rn a n ç a ,

uma nova institucionalidade para a po l í t i ca industri a l . Os atuais conselhos – CNDI e

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

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Conselho da ABDI – são muito grandes e inope ra nte s. Além disso, a própria ABDI

( Agência Bra s i l e i ra de De s e nvo l v i m e nto Industri a l ) , como instituição pri va d a , po u co

pode realizar de po l í t i cas públicas para a promoção do desenvo l v i m e nto industri a l .

Ca be ria à ABDI a pro posição de idéias de po l í t i ca s, mas o grande problema é uma es-

t ru t u ra adequada de gove rnança da po l í t i ca industrial nas instituições pública s.

O Mi n i s t é rio do De s e nvo l v i m e nto, I n d ú s t ria e Co m é rcio Exte rior deve ser melhor apa-

relhado para ce nt ralizar o comando ope racional da po l í t i ca industrial e deve se co n s-

tituir no inte rl oc u tor básico do gove rno fe d e ral com o meio empre s a ri a l .

Ob j e t i vando pro por uma alte rn at i va ao atual quadro institucional da PITC E, e n-

co nt ra-se neste doc u m e nto uma nova pro posta que pre tende adequar e ape rfeiçoar a

e s t ru t u ra ex i s te nte.

En f i m , i m p l e m e ntar po l í t i ca industrial é,em qualquer lugar do mundo,a rticular di-

fe re ntes instituições do setor público que detêm instru m e ntos dife re n c i a d o s, p a ra o

a l ca n ce de dire t ri zes estrat é g i cas definidas pela Na ç ã o. A ausência desta art i c u l a ç ã o

i nt ra setor público é uma das principais lacunas ex i s te nte s.

A FIESP deseja com esta publicação estimular o debate sobre a PITC E, p re te n d e

p ro m over reuniões te m á t i cas e localizadas e enco nt ra-se abe rta para re ce ber crítica s

às pro postas aqui apre s e nt a d a s, assim como novas sugestões para o ape rfe i ç o am e n-

to da PITC E.

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

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I - A COMPETITIVIDADE BRASILEIRA

I.1 – O ÍNDICE DE COMPETITIVIDADE DAS NAÇÕES – IC-FIESP 2005

Re ce nte m e nte a FIESP divulgou seu Índice de Co m petitividade das Na ç õ e s, o

I C - F I E S P, que avalia 83 va ri á veis quant i t at i vas agrupadas em 21 subg ru pos e estes co m-

pondo 8 gru pos pri n ci p a i s, a s a be r ( Gr á f i co I.1-1):

Gr á f i co I.1-1

O Índice 2005 foi calculado para os dados re fe re ntes a 2003, d i s po n í veis nos siste-

mas estat í s t i cos inte rn a c i o n a i s. Pa ra pod e rmos co m p reender sua evolução o índice fo i

calculado re t ro at i va m e nte para cada ano a partir de 1997. Todas as va ri á veis que co m-

põem o índice fo ram analisadas de fo rma re l at i va ,assim sendo,um país pode piorar sua

posição mesmo que em te rmos absolutos tenha melhora d o, bastando para isso que

m e l h o re num ritmo abaixo da média dos demais países.

A seguir apre s e ntamos o ra n king do IC-FIESP 2005 ( Gr á f i co I.1-2),a g rupando os paí-

ses em quat ro cate g o rias co rre s po n d e ntes aos quartis da distribuição no índice, a sabe r:

Q1 – quadra nte co rre s po n d e nte aos países de co m petitividade eleva d a

Q2 – quadra nte dos países de co m petitividade sat i s f at ó ri a

Q3 – quadra nte dos países de co m petitividade média

Q4 – quadra nte dos países de co m petitividade baixa

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Estrutura do Banco de Dados

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Ap re s e nt a m o s, t a m b é m , o índice médio do IC FIESP de 1997 à 2003 bem como o

re s pe ct i vo PIB per Capita e seu Cre s c i m e nto médio no pe r í odo (Gr á f i co I.1-3).

Gr á f i co I.1-2

Gr á f i co I.1-3

Podemos observar que o Brasil se enco nt ra em to rno da média dos países menos

co m pe t i t i vos da nossa amostra junt a m e nte com vários países lat i n o - a m e ri canos tais

como Ch i l e, M é x i co, Ve n ezuela e Co l ô m b i a . Países tais como Estados Un i d o s, Japão e

Alemanha se enco nt ram no quartil de co m petitividade eleva d a .

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Competividade e Crescimento

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Ao plotarmos os países num gráfico ( Gr á f i co I.1-4) de aco rdo com seus PIBs per ca-

pita e seus índices de co m petitividade pe rce bemos que a fo rte relação ent re o IC-FIESP

e a renda per capita nos países. As s i m , países mais co m pe t i t i vos como Estados Un i d o s,

No ruega e Irlanda tendem a apre s e ntar um PIB per capita maior que países menos

co m pe t i t i vos tais como Bra s i l , Colômbia ou Indonésia.

Gr á f i co I.1-4

Além da fo rte co rrelação com a re n d a , pe rce bemos também a fo rte relação ent re

o IC-FIESP e o desenvo l v i m e nto dos países medidos pelo IDH1 (Gr á f i co I.1-5).

Gr á f i co I.1-5

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

IC-FIESP vs. PIB Per Capita - 2003

IC-FIESP vs. IDH - 2003

1 O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é composto por 3 indicadores: 1. Expectativa de Vida; 2.Taxa de Alfabetização(pessoas com 15 anos ou +); 3. PIB per capita.

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I.2 – A AGENDA PARA MELHORIA DA COMPETITIVIDADE,ou POR QUE O BRASIL NÃO CRESCE?

O Brasil cre s ceu em média 2,9% a.a. e nt re 1997 e 2003, o que é mais que a média

dos países lat i n o - a m e ri canos de nossa amostra que foi de 1,2% a.a., mas menos que

c re s ce ram em média os países em desenvo l v i m e nto também da nossa amostra , 5 , 4 %

a . a . . Índia e China cre s ce ram em média re s pe ct i va m e nte 4,5 e 11,3% a.a. ao longo dos

mesmos sete anos.

Além disso,em 2004,a pe rfo rm a n ce bra s i l e i ra foi ainda pior.En q u a nto o PIB bra s i l e i-

ro cre s ceu 4,9%, o da Am é ri ca Latina cre s ceu 5,6% e o dos países em desenvo l v i m e nto

7 , 2 % . Índia e China nova m e nte cre s ce ram acima dos demais, re s pe ct i va m e nte 7,4 e 9,5%.

I n fe l i z m e nte, as pe r s pe ct i vas para 2005 e 2006 não são melhore s : O Brasil deve

c re s cer re s pe ct i va m e nte 3,3 e 3,5%;a Am é ri ca Lat i n a ,4,1 e 3,8%; os países em desenvo l-

v i m e nto, 6,4 e 6,1%; Í n d i a , 7,1 e 6,4%; e Ch i n a , re s pe ct i va m e nte 9,0 e 8,2%.

A questão sobre o po rque não cre s cemos pode ser analisada sobre diversos pri s-

m a s. A análise de indica d o res de fo rma isolada é sempre pe ri g o s a , p ri n c i p a l m e nte

quando é difícil separar causa e efe i to. Mas uma análise co m p a rat i va da co nt ri b u i ç ã o

dos indica d o res individuais na co m posição do IC-FIESP revela uma dife rença básica en-

t re o Brasil e o re s to dos países: a questão re fe re nte a Ca p i t a l é efe t i va m e nte um garg a-

lo para o Bra s i l . Is to nos pe rm i te leva ntar algumas questões:

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Renda Per Capita 2003 vs. Taxa de Crescimento 1997-2003

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• Quais fato res co nt ribuem para a co m petitividade dos países por ord e m ;

• Quais fato res re p re s e ntam "gargalos" ao nosso cre s c i m e nto co m pe t i t i vo.

Assim apo ntamos que, p a ra os países em gera l , Pa rticipação no Co m e rc i o

I nte rn a c i o n a l , Economia Do m é s t i ca e Gove rno re p re s e ntam os três fato res mais impo r-

t a ntes da agenda. Pa ra o Bra s i l , a po ntamos outras pri o ri d a d e s : Ca p i t a l , Gove rno e

Economia Do m é s t i ca .

Em te rmos do Fator Ca p i t a l ,os países que apre s e nt a ram os maiores prog ressos fo-

ram Irl a n d a , Coréia e Rússia. Na Irl a n d a , o spread bancário caiu de ce rca de 6,1% em

1997 para meros 2,8% em 2003.No Bra s i l ,o spread que era de 53,8% em 1997,caiu para

4 5 , 1 % . Um grande prog resso mas uma imensa distância. O crédito ao setor pri va d o

também apre s e nta enorme dife re n ç a . Na Irlanda houve aumento de 83,5 para 117,6%

do PIB. No Bra s i l , segundo dados do Ba n co Mu n d i a l2, o crédito ao setor pri vado estava

em to rno de 33,1% do PIB em 1997 e passou a 34,6% em 2003. Nova m e nte ca m i n h a-

mos no sentido co rre to mas a desva ntagem é imensa.

A análise das dife renças ent re os países mais e menos co m pe t i t i vos e ent re o Bra s i l

e os países mais co m pe t i t i vos nos pe rmitiu separar os fato res em dois gru pos :

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Agendas - Brasil x Paises mais Competitivos (1 a 22o)

2 Embora esses dados apresentem divergência em relação ao calculado pelo Banco Central, a ordem de grandeza é próxima.

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Os fato res impo rt a ntes são aqueles que ex p l i cam a dife rença ent re os países co m-

pe t i t i vos e os países não co m pe t i t i vo s. Cl a s s i f i camos como fato res urg e ntes aqueles fa-

to res part i c u l a res ao Brasil que ex p l i cam suas dife renças em relação aos países co m pe-

t i t i vo s. As s i m , se tratássemos apenas os fato res urg e ntes estaríamos em igual co n d i ç ã o

com os demais países na busca por uma posição melhor.

Algumas re f l exões podem ser feitas a partir da co m p a ração inte rnacional de al-

guns indica d o re s. Pri m e i ro, temos consumo de países co m pe t i t i vo s, inflação de países

de baixa co m petitividade e os maiores juros e spreads do mundo ( g r á f i co I.2-1). O co n-

sumo do gove rno do Bra s i l , 19,9% do PIB, é semelhante à média dos países mais co m-

pe t i t i vo s,1 9 , 1 % , mas muito maior que o dos países de baixa co m pe t i t i v i d a d e, 13,5% do

P I B. Os juros para depósito no Bra s i l , por sua vez , g i ravam em to rno de 22,0% a.a., o que

e ra aprox i m a d a m e nte o dobro daquele apre s e ntado pelos países menos co m pe t i t i vo s,

9,6 % a.a. Já os juros para empréstimo de curto pra zo, 67,1% a.a. e ram quase o tri p l o.

Fi n a l m e nte, o spread bra s i l e i ro também é o maior do mundo.

Gr á f i co I.2-1

Se g u n d o, em te rmos de po u p a n ç a , o Brasil se assemelha aos países menos co m-

pe t i t i vo s ( g r á f i co I.2-2). En q u a nto o Brasil po u p ava ce rca de 22,0% do PIB, os países me-

nos co m pe t i t i vos po u p avam em média 21,1% do PIB. Am bos enco nt ravam-se muito

d i s t a ntes da média dos países co m pe t i t i vo s, ou seja, ce rca de 24,6% do PIB. Di fe re n ç a

ainda maior oco rria em te rmos de capitalização do mercado de capitais e de crédito.

A capitalização do mercado de capitais no Brasil atingia ce rca de 47,6% do PIB,o que re-

p re s e nt ava menos que 40%do valor dos países co m pe t i t i vos cuja capitalização girava

em to rno de 105,5% do PIB.O crédito no Brasil por sua vez ,25,8% do PIB,e ra po u co mais

que um terço dos 89,1% do PIB dos países co m pe t i t i vo s. O resultado prático era uma

Fo rmação Bruta do Capital Fi xo – FBCF – de 17,8% do PIB fre nte ao inve s t i m e nto médio

de 24% do PIB dos países de co m petitividade média.

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Governo, Inflação e Juros

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Te rce i ro, em te rmos de gove rn o, a ca rga tri b u t á ria do Bra s i l , 34,9% do PIB, a s s e m e-

lha-se ao de país de elevada co m pe t i t i v i d a d e, 34,66% do PIB ( g r á f i co I.2-3). O co n s u m o

do gove rn o, como visto ante ri o rm e nte, também se aprox i m ava daquele ve ri f i cado para

os países co m pe t i t i vo s.Ent re t a nto, os gastos em educação e saúde pública (re s pe ct i va-

m e nte 3,77 e 3,60% do PIB) se assemelham aos de países de baixa co m petitividade (re s-

pe ct i va m e nte 3,59 e 3,03% do PIB). O re s u l t a d o, como não pod e ria deixar de ser, foi um

IDH semelhante ao dos países menos co m pe t i t i vos (re s pe ct i va m e nte de 0,792, e 0,769).

As maiores mudanças em te rmos de Gove rno fo ram apre s e ntadas por Irl a n d a ,

Polônia e Au s t r á l i a . Na Irl a n d a , os fato res que mais co nt ri b u í ram para a melhora do fa-

tor Gove rno fo ram a redução do Impo s to sobre o Lu c ro das Em p resas e da Ca rg a

Tri b u t á ri a . Segundo dados do IMD, a alíquota sobre os lucros antes do impo s to (LA I R )

na Irlanda caiu de ce rca de 38% para 12,5%. A ca rga tri b u t á ri a , por sua vez , caiu de 37,4

p a ra 27,5% do PIB. No Bra s i l , ainda segundo os dados do IMD, a alíquota do impo s to so-

b re os lucros po u co se alte rou e a ca rga tri b u t á ria subiu de 29,2 para 36,1% do PIB.Al é m

d i s s o,e n q u a nto na Irlanda o consumo do gove rno caia ligeira m e nte de 15,2 para 15,0%

do PIB, no Brasil ele subia de 18,2 para 19,0% do PIB.

Gr á f i co I.2-2

Qu a rto, mesmo com gastos em P&D (1,1% do PIB) maiores que a média dos paí-

ses de co m petitividade média (0,93% do PIB), temos produzimos um número re l at i va-

m e nte menor de pate ntes de re s i d e ntes (re s pe ct i va m e nte 6.500 e 7893) ( g r á f i co I.2-4).

Seguindo a mesma lógica do esforço e resultado utilizada acima, o maior número de

p ate ntes deve ria se refletir numa participação maior dos prod u tos de alta inte n s i d a d e

te c n o l ó g i ca na pauta de ex po rt a ç õ e s.

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Poupança, Crédito e Investimento

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Gr á f i co I.2-3

Gr á f i co I.2-4

Ent re t a nto,o b s e rvamos que a participação dos prod u tos de alta te c n o l ogia na pau-

ta bra s i l e i ra (5,43%) é menor que a média dos países de baixa co m petitividade (10,72%).

En f i m , é preciso que essas condições sejam alte ra d a s. Como já afirmado ante ri o r-

m e nte o fator Capital é o que mais nos distancia dos países mais co m pe t i t i vo s.

Apesar desta enorme distancia, f ru to de uma po l í t i ca macroe co n ô m i ca re s t ri t i va ,

a c reditamos que há espaço para outras iniciat i vas tratadas no âmbito da PITCE que po-

dem alava n car nossa co m pe t i t i v i d a d e.

A despe i to do ce n á rio macroe co n ô m i co, analisado sinte t i ca m e nte a seguir, m e d i-

das co m o : Me l h o ria da Institucionalidade da PITC E, o Inve s t i m e nto e Cr é d i to, a Po l í t i ca

Tri b u t á ri a , a Inovação e De s e nvo l v i m e nto te c n o l ó g i co e o apoio aos APLs; podem co n s-

tituir-se em impo rt a ntes ve to res do cre s c i m e nto industrial e po rt a nto do Pa í s.

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Governo e Desenvolvimento Humano

Tecnologia

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II - O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOALGUMAS QUESTÕES PARA REFLEXÃO

II.1 - O AMBIENTE MACROECONÔMICO

Favo recida por um ce n á rio inte rnacional exce pc i o n a l m e nte favo r á ve l , a eco n o m i a

b ra s i l e i ra ex pe ri m e ntou uma taxa de cre s c i m e nto real de 4,9% em 2004, m u i to supe ri o r

à média observada ent re 2001 e 2003 – 1,3% – e o melhor resultado re g i s t rado desde

1 9 9 4 .Essa re c u pe ração foi liderada pelas ex po rt a ç õ e s,e s t i m u l a d a s,de um lado,pela fo r-

te expansão da demanda exte rna e pelo aumento ex p re s s i vo no preço das co m m od i-

ties nos mercados inte rnacionais e, por outro, pela depreciação da taxa de câmbio do-

m é s t i ca ve ri f i cada dura nte a maior parte do ano passado. Ent re os principais prod u to s

da pauta de ex po rtações em 2004, co m m odities agrícolas (como soja) e metálica s

( como minério de fe rro e aço), além de auto m ó veis e av i õ e s.

O fôlego exibido pelo setor exte rno também pe rmitiu a re at i vação dos demais

co m po n e ntes da demanda agre g a d a , o que se refletiu na re c u pe ração da massa real de

re n d i m e ntos e na expansão dos seto res ligados ao mercado inte rn o.

Co nt u d o, co nt ra riando as fo rtes ex pe ct at i vas de que a economia bra s i l e i ra final-

m e nte estaria re co b rando a capacidade de suste ntar uma tra j e t ó ria de cre s c i m e nto

mais pro l o n g a d a , o hori zo nte para 2005 não é tão auspicioso: as projeções mais otimis-

tas dos analistas eco n ô m i cos são po u co supe ri o res a 3%. Ainda que os resultados mais

re ce ntes do setor exte rno indiquem que as empresas co ntinuam aproveitando o ambi-

e nte exte rno favo r á vel e a utilização de capacidade prod u t i va ociosa para expandir os

volumes ex po rt a d o s,há sinais de que o dinamismo do mercado inte rn o, que hoje já é

b a s t a nte baixo, pode estar próximo de se esgotar.

De aco rdo com dados divulgados para a balança co m e rcial de junho, as ex po rt a-

ções alca n ç a ram o valor re co rde de US$ 10,2 bilhões. Com isso, o saldo co m e rcial po s i-

t i vo acumulado no pri m e i ro semestre de 2005 foi de US$ 19,7 bilhões, o que re p re s e n-

tou um cre s c i m e nto da ordem de 31% sobre o mesmo pe r í odo do ano passado.No en-

t a nto, a co ntinuidade do notável desempenho das ex po rtações co nt rasta com o co m-

po rt a m e nto do inve s t i m e nto, que exibiu quedas pe r s i s te ntes no último tri m e s t re do

ano passado e no pri m e i ro tri m e s t re deste ano. Apesar de alguns indícios de melhora

re ce nte, não pare ce haver base para se espe rar uma re c u pe ração vigorosa do inve s t i-

m e nto nos próximos meses. Além da ince rteza do ce n á rio po l í t i co, exe rce fo rte desestí-

mulo sobre o inve s t i m e nto a combinação de juros reais ext re m a m e nte elevados e um

fo rte mov i m e nto de apreciação ca m b i a l .

Ca be chamar atenção que as empresas que estão com capacidade plenamente

ocupada fazem algum mov i m e nto de ampliação de capacidade prod u t i va . A maior de-

manda gerada por esses inve s t i m e ntos tem sido inte rp retada como um sinal de aqueci-

m e nto da economia bra s i l e i ra , o que acaba justificando a manutenção de taxas de j u ro s

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e l evadas pelo gove rno – para evitar o supo s to ri s co de aquecimento exce s s i vo da at i v i-

d a d e. A conseqüência é que os empre s á ri o s, d i a nte das altas taxas de juro s,a cabam de-

sistindo de efe t i var os inve s t i m e ntos inicialmente planejados.

Ent re sete m b ro de 2004 e maio de 2005, o Ba n co Ce nt ral pro m oveu um proce s s o

de alta co ntínua da taxa Se l i c, com o fim de fazer co nve rgir para a meta ajustada de

5,1% as ex pe ct at i vas de inflação para este ano, p ressionadas pelas pe r s pe ct i vas de au-

m e ntos dos preços administrados e pelo impacto da elevação dos preços inte rn a c i o-

nais das co m m od i t i e s.Como essas ex pe ct at i vas se mostra ram mais re n i te ntes fre nte ao

c h oque de preços exte rn o s, o BC tro u xe o juro real para um nível ext re m a m e nte eleva-

d o, s u pe rior a 13% ao ano. Em bo ra no mês de junho o mov i m e nto de elevação do juro

b á s i co tenha sido inte rro m p i d o, e mais re ce nte m e nte caído timidamente, ainda se

m a ntém um enorme dife rencial ent re as taxas inte rna e exte rn a .

Dadas as condições do quadro exte rn o, no qual se associam um cre s c i m e nto ain-

da ex p re s s i vo da economia mundial,condições muito favo r á veis de liquidez e uma bai-

xa aversão ao ri s co,o nível elevado das taxas reais de juros exe rce uma fo rte pressão de

baixa sobre a cotação cambial doméstica ,at raindo recursos para aplicações nos merca-

dos futuro s.Essa pressão é re forçada pelo significat i vo fluxo co m e rcial associado aos re-

sultados po s i t i vos da balança.Di a nte dos po tenciais efe i tos be n é f i cos da va l o rização do

câmbio sobre os preços inte rn o s, a auto ridade monetária assumiu uma po s t u ra de to-

lerância em relação ao co m po rt a m e nto do real fre nte ao dólar no pri m e i ro semestre

d e s te ano.

No ent a nto, p a re ce muito arri s cada a estratégia de re co rrer à ânco ra cambial para

b u s car o alvo da po l í t i ca monetári a .Em pri m e i ro lugar,as empresas que tive ram de co n-

ter suas margens de lucro agora proc u rarão elevar seus preços quando a taxa de câm-

bio começar a se desva l o ri z a r. Isso sugere que mesmo sob a ótica estrita do co nt role da

i n f l a ç ã o, a estratégia de forçar quedas de preços via efe i to do câmbio não pare ce sus-

te nt á vel numa pe r s pe ct i va de te m po mais longa,po rque projeta pressões inflacionári a s

p a ra fre nte. Com isso, a po l í t i ca monetária prende-se a um enfoque de curto pra zo,

alheia à necessidade de gara ntir um hori zo nte de estabilidade mais longo para os in-

ve s t i m e ntos prod u t i vo s.

Co nt u d o,o maior ri s co da combinação de juros reais elevados e de um câmbio em

a p reciação está associado aos seus efe i tos pe rversos e dire tos sobre a atividade eco n ô-

m i ca . Essas po l í t i cas macroe co n ô m i cas já leva ram o Ba n co Ce nt ral a reduzir de 4% para

3,4% sua estimat i va para a expansão do PIB em 2005. O u t ras revisões ainda deverão se

s u ce d e r, co nve rgindo as projeções de cre s c i m e nto eco n ô m i co do BC para as ex pe ct at i-

vas do merca d o,uma vez que ainda pe rm a n e cem re l at i va m e nte mais otimistas.E a evo-

lução do quadro po l í t i co tende a ser um fator a mais de desestímulo para a tomada de

decisões empre s a ri a i s.

O Bra s i l , como visto nos indica d o res do IC-FIESP, vem cre s cendo a taxas muito in-

fe ri o res a países como Índia, China e grande parte dos "velhos tigres asiáticos" e não

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a p roveita este momento para ocupar novos espaços e se re posicionar no ce n á rio eco-

n ô m i co. As po l í t i cas de câmbio e juro s,ao lado da po l í t i ca fiscal limitada, são clara m e n-

te insuficientes para mitigar o ce n á rio de ince rteza que ainda preva l e ce e apo ntar para

um hori zo nte mais promissor para os inve s t i m e ntos prod u t i vo s.

De fo rma gera l , pode-se dizer que a po l í t i ca eco n ô m i ca do atual gove rno pare ce

estar ori e ntada para o alca n ce de resultados mais imediatos no curto pra zo, d e s p rov i d a

de qualquer sentido estrat é g i co. Mesmo os bons resultados colhidos no ano passado,

na este i ra de uma co n j u nt u ra inte rnacional ext ra o rd i n a ri a m e nte be n i g n a ,ainda pod e m

ser avaliados como tímidos e insuficiente s, p ri n c i p a l m e nte co n s i d e rando as po l í t i ca s

a g re s s i vas implementadas por outros países emerg e ntes na at ração de inve s t i m e nto s,

na capacitação te c n o l ó g i ca e na criação de condições favo r á veis para a co m pe t i t i v i d a-

de de sua indústria e para o seu co m é rcio exte ri o r.

Precisamos ext rair as lições dos países de desempenho mais dinâmico e eleger o

c re s c i m e nto eco n ô m i co como pri o ridade da po l í t i ca eco n ô m i ca , fo rt a l e cendo a ca p a c i-

dade de co m petição da indústria bra s i l e i ra , mas para tal se faz nece s s á rio re s o l ve rm o s

de vez a questão que nos separa dos demais países:Ju ro s,Cr é d i to, I nve s t i m e nto e Ca rg a

Tri b u t á ri a . De outra fo rm a , pe rm a n e ce remos na rota de cre s c i m e nto episódico, i n ca p a-

zes de supe rar os dilemas macroe co n ô m i cos dos últimos dez anos.

Não obstante as re s t rições que ainda pesam sobre a po l í t i ca macroe co n ô m i ca e

as limitações dos recursos público s, há espaço para outras iniciat i vas mais po ntuais vo l-

t a d a s : ao inve s t i m e nto em capacidade prod u t i va ; à maior capacitação te c n o l ó g i ca das

e m p re s a s ; e à aplicação de maior racionalidade e coo rdenação das po l í t i cas pública s,

em part i c u l a r, a po l í t i ca de C,T&I.Além disso, tendo em vista o peso das pequenas e mé-

dias empresas na estru t u ra industrial bra s i l e i ra , é fundamental desenvo l ver po l í t i cas in-

te g radas para os APL’s,p a ra o que pode-se co ntar com a larga ex pe riência da Fiesp nes-

se ca m po.

II.2 - A INSTITUCIONALIDADE DA POLÍTICA INDUSTRIAL

No bojo da pro posição da Po l í t i ca Industri a l , Te c n o l ó g i ca e de Co m é rcio Exte ri o r,

o gove rno bra s i l e i ro anunciou à Nação um novo marco institucional para essa po l í t i ca .

Em abril de 2004 encaminhou ao Co n g resso Nacional um Pro j e to de Le i , instituindo o

Conselho Nacional de De s e nvo l v i m e nto Industrial - CNDI e a Agência Bra s i l e i ra de

De s e nvo l v i m e nto Industrial - ABDI.

Esse pro j e to de lei foi aprovado pelo Co n g resso em deze m b ro de 2004 e o Pod e r

Exe c u t i vo sancionou a Lei nº 11.080, em 30 de deze m b ro de 2004, com um ve to re fe-

re nte às at ribuições da ABDI. O texto aprovado ori g i n a l m e nte no Co n g resso at ribuía à

ABDI a co m petência de coo rdenar a execução das po l í t i cas de desenvo l v i m e nto indus-

t ri a l .No ent a nto,essa pre rrog at i va foi vetada pelo Poder Exe c u t i vo,uma vez que a ABDI,

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na qualidade de Se rviço Au t ô n o m o,não pe rte n ce à estru t u ra do Estado e,po rt a nto,n ã o

pod e ria ter pod e res para a exe rcer a coo rdenação ou a execução de po l í t i cas pública s.

O ve to é muito significat i vo po rque explicita os limites do ca m po de atuação da

A B D I . Ou seja,a nova agência não tem pod e res para definir ou executar a po l í t i ca indus-

t ri a l , d evendo se re s t ringir a pro por medidas para o gove rno fe d e ra l , o qual pod e, o u

n ã o, a cat á - l a s. Mesmo que as suas pro postas venham a ser ace i t a s, a ABDI não pode se

re s ponsabilizar pela sua implementação ou pela fiscalização das ações pública s.

Es te problema se manifesta desde a instituição da ABDI, pois a tarefa de imple-

m e ntar a po l í t i ca industrial implica coo rdenar diversas instituições do setor público

p a ra que trabalhem de aco rdo com as dire t ri zes definidas pelo gove rno (a PITCE mane-

ja instru m e ntos de po l í t i ca que pe rte n cem a dife re ntes órgãos do setor público ) . Co m o

uma instituição "pri vada" pod e ria coo rdenar essas ações? Essa limitação reduz bastan-

te a impo rtância e fru s t ra as ex pe ct at i vas criadas em to rno do novo marco institucional

p a ra a PITC E.

Mas há outras dificuldades de ordem institucional. Em pri m e i ro lugar, a ABDI (que

foi re g u l a m e ntada pelo De c re to nº 5.352,de 24 de janeiro de 2005) define seu Co n s e l h o

De l i be rat i vo, constituído por quinze membro s, com 8 re p re s e nt a ntes do Pod e r

Exe c u t i vo (MDIC, M C T, M F, M P O G , M I , Casa Ci v i l , BNDES e IPEA) e 7 da sociedade civil

( C N E,A P E X - Bra s i l ,C N C ,Se b ra e,C U T,IEDI e ANPROT E C ) .Es te é um conselho bastante am-

plo e hete rogêneo para definir dire t ri zes ou estrat é g i cas de desenvo l v i m e nto industri a l

a serem pro postas para o gove rno fe d e ra l .

Além disso, pela mesma lei que instituiu a ABDI, o gove rno bra s i l e i ro criou "o

Conselho Nacional de De s e nvo l v i m e nto Industrial – CNDI, vinculado à Presidência da

Re p ú b l i ca e presidido pelo Mi n i s t ro de Estado do De s e nvo l v i m e nto, I n d ú s t ria e

Co m é rcio Exte ri o r, com a at ribuição de pro por ao Pre s i d e nte da Re p ú b l i ca po l í t i cas na-

cionais e medidas espe c í f i cas destinadas a pro m over o desenvo l v i m e nto industrial do

País" (Artigo 18 da Lei 10.080,de 30/12/04).O CNDI é constituído por 13 Mi n i s t ros e pe l o

Pre s i d e nte do BNDES,como re p re s e nt a ntes do setor público,e mais 14 membros da ini-

c i at i va pri vada e dos tra b a l h a d o re s. Em bo ra a criação deste Conselho tenha sido re g u-

l a m e ntada pelo De c re to nº 5.353, a penas em 24/01/05, i n fo rm a l m e nte ele iniciou suas

reuniões em abril de 2004. Ou seja, o CNDI começou se reunir sem que tivesse amparo

legal para tanto.

Em bo ra o Conselho De l i be rat i vo da ABDI deva se voltar mais ao trabalho da

Agência pro p ri a m e nte dita, é nat u ral que este Conselho venha a assumir uma agenda

de discussão parecida com a do CNDI.

Se isso for ve rd a d e i ro, a nova institucionalidade da PITCE é co m posta por uma

agência pri va d a , sem pod e res de comando de po l í t i cas pública s, e por dois co n s e l h o s

constituídos por um número bastante elevado de membro s. Dessa maneira , to rn a - s e

p rat i ca m e nte impo s s í vel obter uma pro posta de po l í t i ca industrial ao mesmo te m po

a b ra n g e nte e co n s i s te nte. Mais do que isto, não há gara ntias de que as pro po s t a s

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discutidas sejam implementadas de fato.

Na ótica da relação do setor público com o setor pri va d o, as empresas co nt i n u a m

sem um único inte rl oc u tor no aparelho de Es t a d o. Isso não somente dificulta a negoc i a-

ç ã o das empresas com o gove rn o,como também as instituições públicas podem ter po-

sições ant a g ô n i cas diante de um mesmo pro j e to empre s a ri a l .

O ideal é que houvesse um inte rl oc u tor único do gove rno para o setor empre s a-

ri a l , com auto ridade para negociar com diversas agências pública s. Is to requer que o

Poder Exe c u t i vo tenha condições de se articular inte rn a m e nte e de re s po n d e r,com agi-

l i d a d e, aos pleitos do setor pri vado dent ro das re g ras estabelecidas pela PITC E.

Até ce rto po nto é ilusória a participação de membros da indústria em todos esses

co n s e l h o s. Em pri m e i ro lugar, po rque são conselhos muito gra n d e s, d i f í ceis de sere m

coo rd e n a d o s. Em segundo lugar, po rque a prática desses conselhos é de homolog a ç ã o

de decisões prev i a m e nte tomadas pelo gove rno fe d e ra l . De outra parte,não resta dúvi-

da de que os empre s á rios devam ser ouvidos sobre a PITCE po rque a diversidade de si-

tuações enfre ntadas pelo setor industrial impede que uma única instituição tenha co n-

dições de assumir tarefa tão abra n g e nte.

Ob j e t i vando co nt ribuir para a discussão sobre uma nova organização institucional

p a ra a implementação da PITC E, a p re s e nta-se abaixo uma pro posta alte rn at i va .

UMA POSSÍVEL ALT E R N AT I VA PA RA A GESTÃO DA PITC EEm te rmos gera i s, completada a estru t u ra industri a l , não se trata mais de a po l í t i ca

i n d u s t rial privilegiar o inve s t i m e nto de seto res ausentes no Bra s i l .Trata-se agora de to r-

nar a indústria local mais co m pe t i t i va inte rn a c i o n a l m e nte e mais dinâmica sob o po nto

de vista da inova ç ã o, tal como definido no doc u m e nto da PITCE do gove rno fe d e ra l .

Pa ra tanto,o gove rno deverá trabalhar com a hete rogeneidade da estru t u ra da in-

d ú s t ria bra s i l e i ra . Por exe m p l o, as empresas industriais com 5 a 29 pessoas oc u p a d a s,

em 2003,re p re s e nt avam quase 80% do número total de empresas da indústria bra s i l e i-

ra . As empresas de capital estra n g e i ro chegam a re s ponder por quase metade do PIB

i n d u s t ri a l .Esta hete rogeneidade exige po l í t i cas e instru m e ntos de ação bastante distin-

tos para melhorar a co m petitividade da indústria bra s i l e i ra como um tod o, e nvo l ve n d o

a articulação de dife re ntes entidades do setor público.

Pa ra dar co nta dessa diversidade de situações, a institucionalidade da po l í t i ca in-

d u s t rial bra s i l e i ra deve partir de alguns pre s s u po s to s :

a) Coo rdenação ent re instituições públicas – o manejo de instru m e ntos de finan-

c i a m e nto,de coo rdenação de elos de cadeias prod u t i va s,de inovação e difusão de te c n o-

l og i a s, de regulação dos merca d o s, de ince nt i vos fisca i s, de promoção do inve s t i m e nto

e mod e rnização industrial em regiões menos desenvolvidas etc, exigem o envo l v i m e n-

to de dife re ntes instituições e coo rd e n a ç ã o,p a ra evitar o despe rdício de recursos públi-

cos e para que um instru m e nto venha a po tencializar os impactos de outros e, a s s i m ,

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evitar a dive rgência ent re instituições pública s.Essa coo rdenação deve ser efetuada po r

uma instituição que pe rtença à estru t u ra do setor público. À ABDI deve ca ber o asses-

s o ra m e nto ao gove rno fe d e ral na pro posição de dire t ri zes e prog ramas de uma po l í t i-

ca de desenvo l v i m e nto industri a l ;

b) Fl ex i b i l i d a d e – o manejo de dife re ntes instru m e ntos e o foco em empresas ou

algum co n j u nto pré-definido de empre s a s, exige flexibilidade por parte do gove rn o. As

ações públicas destinadas à promoção do desenvo l v i m e nto industrial devem admitir o

manejo de dife re ntes possibilidades de instru m e ntos e be n e f i c i á rios da po l í t i ca indus-

t ri a l , tal como prev i s to no doc u m e nto da PITC E.Em deco rr ê n c i a , será nece s s á ria alguma

adaptação em proce d i m e ntos do setor público,po s t u ra flex í vel dos fo rm u l a d o res e im-

p l e m e nt a d o res da po l í t i ca industrial e disposição para a coo pe ração ent re agentes do

s e tor público.As rotinas definidas para a obtenção de apoio do setor público devem ser

s u f i c i e nte m e nte adequadas, por exe m p l o, p a ra pequenas e grandes empre s a s. Dado o

po rte dife re n c i a d o, o benefício à pequena empresa deve prever trat a m e nto mais sim-

p l i f i ca d o. As empresas de pequeno po rte enfre ntam obstáculos buroc r á t i cos para te r

a cesso aos instru m e ntos de po l í t i ca industri a l . A constituição de co n s ó rcios de pe q u e-

nas empresas não tem re co n h e c i m e nto legal diante do Estado e das agências do seto r

p ú b l i co. Por outro lado, também devem ser co ntempladas po l í t i cas para dete rm i n a d o

s e tor industri a l , i n d e pe n d e nte m e nte das ca ra cte r í s t i cas das empresas que co n s t i t u e m

esse setor – tal como at u a l m e nte é realizado at ravés da Lei de Info rm á t i ca , que co n ce-

de benefício fiscal incidente sobre o prod u to, i n d e pe n d e nte m e nte do tipo de prod u to r;

c) Transparência – em uma sociedade democ r á t i ca , a transparência nas po l í t i ca s

p ú b l i cas é pre s s u po s to para sua legitimidade. Além disso, a transparência viabiliza o

a co m p a n h a m e nto e a avaliação das po l í t i ca s, f u n d a m e ntais para a busca de eficiência

na implementação da po l í t i ca industri a l . Desta fo rm a , os gesto res da po l í t i ca industri a l

d evem estru t u rar um sistema de info rmações que inte rligue todas as instituições públi-

cas que irão ope rar a po l í t i ca industri a l . Dificuldades técnicas para esse sistema não

ex i s te m ; t a l vez as principais dificuldades sejam de nat u reza institucional ou cultura l .

Qu a nto ao sigilo das info rmações também pare ce não haver pro b l e m a s, desde que o

s i s tema envo l va dois níveis de ace s s o :as info rmações sigilosas seriam ace s s í veis ape n a s

p a ra algumas instituições e pe s s o a s ; as demais pod e riam ser de acesso público,b a s t a n-

do definir fo rmas de segurança do sistema de info rm a ç õ e s. Os be n e f i c i á rios e o mon-

t a nte dos benefícios co n cedidos pelo gove rno constituem info rmações básicas e po r

isso deve riam ser publica d a s. Ho j e, por exe m p l o, o País não tem o devido co n h e c i m e n-

to quanto à parcela dos recursos dos Fundos Se to riais de De s e nvo l v i m e nto Ci e nt í f i co e

Te c n o l ó g i co que ate n d e ram aos inte resses dire tos e indire tos do setor empre s a ri a l ; a l-

te rn at i va m e nte, não se sabe qual o mont a nte dos recursos que objetiva ram pri o ri t a ri a-

m e nte a pesquisa cient í f i ca e quais fo ram as instituições be n e f i c i á ri a s.Divulgar essas in-

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fo rmações constitui re q u i s i to para a prática efe t i va de uma po l í t i ca pública tra n s p a re nte ;

d) Pa rce ria ent re setor público e setor pri va d o – a diversidade de ações e de situa-

ções enfre ntadas pelos dife re ntes seto res industriais exige um co n h e c i m e nto da re a l i-

dade que não se enco nt ra dispo n í vel apenas nas instituições pública s.Ad i c i o n a l m e nte,

a decisão gove rn a m e ntal de que a po l í t i ca industrial exigirá co nt ra p a rtidas das empre-

sas e,f i n a l m e nte,a co m p reensão de que a co m petitividade da indústria resulta de coo pe-

ração ent re setor público e setor pri vado justificam que as definições estrat é g i cas da

po l í t i ca industrial sejam tomadas pelo gove rn o, tendo o setor pri vado como parce i ro.

Esta parce ria deve se mate rializar no marco institucional da po l í t i ca industri a l .

A sociedade re co n h e ce a impo rtância da EMBRA PA para o desenvo l v i m e nto te c-

n o l ó g i co alcançado pelo Bra s i l , com os inve s t i m e ntos realizados pelo setor pri va d o,e m-

basados pelas pesquisas dessa instituição. O desenvo l v i m e nto dos moto res a álcool e

os antigos Núcleos de Articulação com a Indústri a , ex i s te ntes no âmbito das empre s a s

e s t atais são outros exemplos de sucesso na parce ria ent re os seto res público e pri va d o

p a ra o desenvo l v i m e nto te c n o l ó g i co ;

e) Pa rce ria ent re dife re ntes esfe ras de gove rn o – a re ce nte guerra fiscal travada en-

t re as Unidades da Fe d e ração demonstrou a necessidade de os gove rnos estaduais e

municipais tra b a l h a rem de fo rma articulada com o gove rno fe d e ra l . O gove rno fe d e ra l ,

por sua vez , d eve inserir no co ntexto da po l í t i ca industri a l , a po l í t i ca de desenvo l v i m e n-

to re g i o n a l ; ou seja, a po l í t i ca industrial também deve ter dimensão re g i o n a l . Desta fo r-

m a , co ntar com as instituições fe d e rais voltadas ao desenvo l v i m e nto regional e co nt a r

com a coo pe ração das outras esfe ras de gove rno também é estrat é g i co e deve enco n-

t rar re b at i m e nto na institucionalidade da po l í t i ca industri a l . Is to será cada vez mais fá-

c i l , à medida que o País disponha de uma po l í t i ca de desenvo l v i m e nto re g i o n a l .

Esses princípios devem ori e ntar a fo rmulação de po l í t i cas públicas voltadas ao de-

s e nvo l v i m e nto industri a l . O próprio gove rno re co n h e ce ex p l i c i t a m e nte a impo rt â n c i a

de vários deles, porém não tem tido êxito na sua implement a ç ã o.Nesse sent i d o,a ques-

tão da articulação inte rinstitucional é das mais impo rt a nte s : todos re co n h e cem a sua

re l ev â n c i a , mas o difícil é fazer com que ela se to rne uma re a l i d a d e. Proc u rando co nt ri-

buir para a co n s t rução de um arca bouço institucional mais adequado às nece s s i d a d e s

de uma po l í t i ca industri a l , e n co nt ram-se a seguir algumas sugestões.

É pro posta a criação ou ape rfe i ç o a m e nto dos seguintes espaços institucionais no

â m b i to do Poder Exe c u t i vo Fe d e ra l :

• Conselho de Po l í t i ca I n d u s t ri a l

Em nível hierárq u i co mais eleva d o, o Conselho deve ria ser re s po n s á vel pelas dire-

t ri zes estrat é g i cas da po l í t i ca industri a l . Pa ra sinalizar a impo rtância que o gove rno at ri-

bui a esta po l í t i ca e para dete rminar o cumpri m e nto das suas decisões, o Co n s e l h o

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d eve ria ser presidido pelo Pre s i d e nte da Re p ú b l i ca , tendo como secre t a ri a - exe c u t i va o

Mi n i s t é rio do De s e nvo l v i m e nto, I n d ú s t ria e Co m é rcio Exte rior – MDIC.

A co m posição do Conselho deve ser ampla o suficiente para abranger os pri n c i-

pais ministérios seto riais vinculados ao desenvo l v i m e nto industri a l . Por outro lado, n ã o

pode ser muito grande po rque isto dificulta o seu funcionamento. Desta fo rm a , os ou-

t ros ministérios que deve riam fazer parte deste conselho seriam os seguinte s :

Mi n i s t é rio da Fa ze n d a , Mi n i s t é rio do Pl a n e j a m e nto, Mi n i s t é rio da Ciência e Te c n o l og i a ,

Mi n i s t é rio da Inte g ração Na c i o n a l , Mi n i s t é rio do Meio Am b i e nte e o Ba n co Nacional de

De s e nvo l v i m e nto Eco n ô m i co e Soc i a l .

Na re a l i d a d e, esse Conselho se assemelha ao CNDI, porém com número bastante

m e n o r. O u t ra dife rença é que o poder decisório sobre as po l í t i cas públicas é de fato do

g ove rn o, d evendo o meio empre s a rial apenas ser ouvido antes da tomada de decisões.

Se o Conselho julgar nece s s á ri o, pod e ria indicar gru pos de trabalho envo l ve n d o

o u t ros ministérios e outras re p re s e nt a ç õ e s ; n e s te ca s o, o gru po de trabalho deve ria te r

tema definido, além de objetivos e pra zo de funcionamento pré-dete rm i n a d o s.

Como instituição de alto níve l , o Conselho deve se re s t ringir às dete rminações es-

t rat é g i cas re fe re ntes à po l í t i ca industri a l , definindo até as suas dire t ri ze s.Uma vez esco-

lhidas as dire t ri ze s, o MDIC seria o principal re s po n s á vel pela articulação das instituições

p ú b l i cas envolvidas com a definição e implementação da po l í t i ca industri a l .

Esta é outra dife rença em relação ao atual CNDI, que chegou a ter como item de

pauta de reunião a indicação de re s po n s á vel para dirigir o INPI.Esta é uma questão me-

nor e o alto nível do Conselho re comenda que suas atenções estejam voltadas para es-

t ratégias de desenvo l v i m e nto de longo pra zo. Envo l ver o Conselho em questões ope-

racionais é o início da sua pe rda de impo rtância e banalização.

• Comitê Exe c u t i vo da Po l í t i ca Industri a lO Comitê Exe c u t i vo da Po l í t i ca Industri a l , co m po s to pelos secre t á ri o s - exe c u t i vo s

dos ministérios que compõem o Conselho e por um dire tor do BNDES, d eve ter co m o

at ribuição a ope racionalização da po l í t i ca industri a l , definida nas suas grandes linhas

pelo Co n s e l h o. O secre t á ri o - exe c u t i vo do MDIC seria o pre s i d e nte do comitê e pri n c i p a l

a rticulador para a implementação da po l í t i ca industri a l .

Pa ra tanto, e s te comitê te ria por função básica tra n s fo rmar as dire t ri zes em pro-

g ra m a s, ações e atividades de dife re ntes instituições do setor público. O Co m i t ê

Exe c u t i vo se co n s t i t u i ri a , po rt a nto, em espaço institucional privilegiado para a negoc i-

ação ent re os vários órgãos públicos que se relacionam com o tema da po l í t i ca indus-

t ri a l . Co n s e q ü e nte m e nte, a freqüência de reuniões do comitê será muito maior do que

a das reuniões do Co n s e l h o.

• Mi n i s t é rio do De s e nvo l v i m e nto, I n d ú s t ria e Co m é rcio Exte ri o r

O MDIC deve ser o órgão ce nt ral da po l í t i ca industri a l . É no âmbito deste ministé-

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rio que as empresas devem pleitear os benefícios da po l í t i ca industri a l . Também deve

ca ber a ele a condução das negociações com o meio empre s a rial a re s pe i to de pri o ri-

d a d e s, benefícios e po s s í veis co nt ra p a rtidas exigidas pela po l í t i ca industri a l , t a m b é m

mencionadas no doc u m e nto da PITC E.

Se houver nece s s i d a d e, o MDIC deve possuir condições e legitimidade para cri a r

conselhos seto ri a i s, f ó runs de cadeias prod u t i vas etc, e nvo l vendo re p re s e nt a ntes do

s e tor público e agentes pri va d o s, p a ra se aconselhar a re s pe i to do detalhamento da

po l í t i ca industri a l .

• CAMEX – Câmara de Co m é rcio Exte ri o r

Ó rgão presidido pelo MDIC, com a função de coo rdenar as ações do gove rno re-

l at i vas ao co m é rcio exte ri o r. Suas decisões deverão assumir a fo rma de re s o l u ç õ e s.

Pa pel fundamental terá o Comitê Exe c u t i vo de Gestão da CA M E X , tal como definido no

De c re to Nº 4.732, de 10 de junho de 2003.

• CATEC – Câmara de De s e nvo l v i m e nto Te c n o l ó g i co

An á l oga à CA M E X ,p ropõe-se a Câmara de De s e nvo l v i m e nto Te c n o l ó g i co para coo r-

denar as ações do setor público no que diz re s pe i to à promoção do desenvo l v i m e nto

te c n o l ó g i co industri a l . Ela deverá ser co m posta pelos seguintes ministéri o s : M D I C ,

Mi n i s t é rio da Ciência e Te c n o l og i a , Mi n i s t é rio da Fa ze n d a , Mi n i s t é rio do Pl a n e j a m e nto

e Mi n i s t é rio do Meio Am b i e nte. Essa Câmara deverá discutir a utilização de parte dos

recursos dos fundos seto riais para a promoção do desenvo l v i m e nto te c n o l ó g i co indus-

t ri a l , assim como assumir a re s ponsabilidade pelo adequado aprove i t a m e nto dos in-

ce nt i vos fiscais e subve n ç õ e s, p rev i s tos em lei, p a ra a promoção do desenvo l v i m e nto

te c n o l ó g i co industri a l . A presidência desta Câmara deve ficar com o Mi n i s t é rio da

Ciência e Te c n o l og i a .

II.3 - INVESTIMENTO E CRÉDITO

O cre s c i m e nto médio do Bra s i l , como já visto, tem sido pe q u e n o, e s pe c i a l m e nte

em relação a países mais dinâmicos como a China e a Índia. Mesmo na co m p a ra ç ã o

com países da Am é ri ca Latina (ex :Ch i l e,M é x i co ) ,o Brasil tem apre s e ntado taxas de cre s-

c i m e nto infe ri o re s.É urg e nte a necessidade de o País adotar algumas medidas de po l í-

t i cas voltadas à re tomada do cre s c i m e nto, i n ce nt i vando o inve s t i m e nto prod u t i vo.

Di versos estudos indicam que para um cre s c i m e nto suste ntado de 5% ao ano, s e-

riam nece s s á rias taxas de inve s t i m e nto próximas a 25% do PIB. No Bra s i l , após ex pe ri-

m e ntar uma queda em 2002 e 2003, essa taxa vo l tou a se elevar em 2004 e deve se

m a nter pe rto de 20% do PIB em 2005.

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A taxa de inve s t i m e nto viabiliza o cre s c i m e nto eco n ô m i co e,em deco rr ê n c i a , a cri a-

ção de empre g o.Es t i m at i vas da FIESP indicam que para cada 1% de cre s c i m e nto do PIB,

o emprego fo rmal aumenta 0,44%, o que co rre s ponde à criação de aprox i m a d a m e nte

350 mil novos empre g o s.

O inve s t i m e nto do setor industrial é o principal re s po n s á vel pelo alca n ce de ele-

vadas taxas de cre s c i m e nto eco n ô m i co de fo rma suste nt á ve l . A ampliação do inve s t i-

m e nto na indústria co nt ribui para reduzir pressões inflacionárias (que podem provoca r

a u m e ntos da taxa de juro s ) , seja pela ampliação da capacidade (ofe rta) seja pelo au-

m e nto da prod u t i v i d a d e,incluindo ainda a maior capacidade ex po rt a d o ra .

Tod av i a , é nece s s á rio que a po l í t i ca de ince nt i vo ao inve s t i m e nto prod u t i vo co n s i-

d e re a estru t u ra do setor industri a l . Em bo ra as micro e pequenas empresas re p re s e n-

tem a grande maioria dos estabe l e c i m e ntos industriais no Bra s i l , os seus inve s t i m e nto s

são de baixo valor e de menor peso em relação ao fat u ra m e nto,co m p a rado com as mé-

dias e grandes empre s a s.

Por outro lado, as PMEs se destacam na criação de empre g o : e nt re 1996 e 2002,

esse segmento empre s a rial foi re s po n s á vel por mais de 88% do aumento médio anual

do emprego no setor industri a l .

Fo nte : I B G E,P I A . El a bo ração De co mte c / F I E S P

Apesar da impo rtância das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs ) , há um

p rofundo co n s t ra n g i m e nto à sua capacidade de inve s t i m e nto. Elas não co ntam co m

m e canismos adequados de financiamento, restando a possibilidade de auto f i n a n c i a-

m e nto, o que limita o seu po tencial de cre s c i m e nto.

Medidas como a revisão dos proce d i m e ntos do CA D I N , a ampliação de gara nt i a s

at ravés de Fundos de Ava l , o estímulo a canais alte rn at i vos de crédito, a custo m i z a ç ã o

de linhas, e nt re outra s, pod e riam co nt ribuir para facilitar o acesso ao crédito e, po rt a n-

to, f avo re cer o inve s t i m e nto das MPMEs.

Re conhecida a impo rtância da estru t u ração de mecanismos adequados de finan-

c i a m e nto, o texto a seguir proc u ra destacar problemas na estru t u ra bra s i l e i ra de finan-

c i a m e nto do desenvo l v i m e nto eco n ô m i co e pro por medidas de ape rfe i ç o a m e nto, v i á-

veis no curto pra zo.

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

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II.3.1 Oferta e Custo de Crédito

De nt re os principais fato res que inibem os inve s t i m e ntos no Bra s i l , d e s t a ca-se a

re s t rição da ofe rta de crédito, aliada aos juros e spreads bancários mais altos do mun-

d o. Os únicos recursos de menor custo para financiamento de inve s t i m e ntos são públi-

co s,o riundos do FAT e ope rados pelo BNDES e por bancos oficiais e pri va d o s.

No ent a nto,o investidor bra s i l e i ro não pode co ntar exc l u s i va m e nte com esses re c u r-

sos público s, pois há limites à participação do BNDES em pro j e tos de inve s t i m e ntos (na

faixa de 50% a 60% do to t a l ) , além de outras re s t rições no que diz re s pe i to aos re c u r s o s

do FAT repassados via bancos oficiais para prog ramas de geração de emprego e re n d a .

Ainda que fosse po s s í vel obter a totalidade dos financiamentos via recursos públi-

cos (FAT / B N D E S ) , o custo do financiamento co nt i n u a ria maior do que o de outros paí-

s e s. Isso po rque as taxas do BNDES e de prog ramas do FAT via bancos oficiais, e m bo ra

m e n o res que as prat i cadas nas ope rações com recursos livres pelos bancos co m e rc i a i s,

e n co nt ram-se acima dos padrões inte rnacionais de financiamento de longo pra zo.

Recursos próprios têm sido a principal fo nte de financiamento de inve s t i m e nto

das empresas no Bra s i l , seguidos pelo uso do endividamento e, por último, pela emis-

são de ações.

Este padrão se assemelha ao observado em países desenvolvidos e, portanto,

não constitui, por si só, um fator negativo. As evidências empíricas, contudo, sugerem

que as empresas brasileiras sofrem, de fato, um constrangimento financeiro associa-

do aos limites relativamente estreitos impostos pelo autofinanciamento,uma vez que

elas não possuem a escala das empresas americanas e européias. Este problema é

mais grave nas MPMEs.

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Juros Reais - Benchmark Internacional* - 2003*

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II.3.2 Fundos Públicos

II.3.2.1 BNDES

Como já observa d o, o BNDES é a única fo nte de financiamento de menor custo do

i nve s t i m e nto industrial e de ope rações de longo pra zo no Bra s i l , p rovendo re c u r s o s

p a ra a implant a ç ã o, expansão e mod e rnização da indústria e de outros seto re s.

No pe r í odo 1996 a 2004, a participação do BNDES no inve s t i m e nto total do país

fo i , em média, de 11%. Esta participação pode ser co n s i d e rada baixa, dado que te m

g rande impacto no cre s c i m e nto da FBCF, ca ra cte rizando-se como um "ace l e rador" da

taxa de inve s t i m e nto s.

Apesar do cre s c i m e nto dos recursos desembolsados pelo banco de fo m e nto, a par-

ticipação direta da indústria vem caindo (de 47% em 1999 para 40% em 2004) em função

da pri o ridade do gove rno para outros seto res (infra - e s t ru t u ra , a g ro n e g ó c i o s ) .Tod av i a , e s-

ses seto re s, ao re a l i z a rem inve s t i m e nto s, g e ram demanda para o setor industri a l .

Co n s t ata-se que o BNDES tem sido usado para fazer po l í t i cas de gove rno sem se

p re ocupar com fato res estru t u rais – ao canalizar recursos para pri vatizações e re a l i z a r

i nve s t i m e ntos emergenciais no setor de energia e de infra - e s t ru t u ra , p ri o rizam-se as

ações po ntuais em detri m e nto de uma visão sistêmica do desenvo l v i m e nto da estru t u-

ra prod u t i va do Bra s i l .

De forma análoga, observam-se baixa participação e declínio dos desembolsos

do BNDES para micro, pequenas e médias empresas do setor industrial, o que limita

o seu crescimento e, conseqüentemente, o seu potencial de geração de empregos,

como já visto.

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As empresas de menor po rte, incluindo o segmento industri a l , b a s i ca m e nte só

têm acesso aos recursos at ravés das ope rações indire t a s, via agentes credenciados do

B N D E S , incluindo aí bancos pri vados e público s. Os agentes que ope ram estas linhas

destinadas a MPEs avaliam como elevado o ri s co envolvido nessas ope ra ç õ e s, dada a

a s s i m e t ria de info rmação e as dificuldades de obter gara ntias das MPEs, além do maior

c u s to ope racional re l at i vo.

De nt re os mais de tri nta bancos pri vados que ope ram as linhas do BNDES, a pe n a s

Bra d e s co e Un i b a n co mantêm participações co m p at í veis no total dos re p a s s e s,co m p a-

rat i va m e nte à sua posição no mercado total de crédito no Bra s i l . De nt re os bancos ofi-

ciais e coo pe ra d o s,que re p re s e nt a ram apenas 21% do total dos repasses do BNDES em

2 0 0 4 , o b s e rva-se que apenas o Ba n co do Brasil tem posição mais re l eva nte, e m bo ra

aquém da sua impo rtância re l at i va no mercado total de crédito.

O BNDES tem anunciado uma redução da sua meta orçament á ria de R$ 60 bilhões

p a ra 2005, p revendo-se a não realização de R$ 20 bilhões em inve s t i m e nto s.Dada esta prov á vel situação,é nece s s á rio avaliar e implementar ações que estimu-

lem a captação dos recursos e inte resse dos agentes nos re p a s s e s, tais co m o :

• Diminuir o custo finance i ro (incluindo T J L P + s p reads) para MPEs, além da dife re n c i a-

ção que atualmente já é pra t i ca d a ;

• Reduzir valor mínimo para ope rações dire t a s, f l exibilizando acesso aos re c u r s o s ;

• Ampliar limites de financiamento e capital de giro das linhas dispo n í ve i s ;

• Implantar mecanismos de ince n t i vo para aumentar a participação dos agentes pri va-

dos e públicos nos repasses – tais como o prog rama de milhagem e uma po s s í vel libe ra ç ã o

de co m p u l s ó ri o s.

II.3.2.2 Recursos FAT

Além de prover recursos ao BNDES,at ravés da tra n s ferência constitucional de 40%

da arre cadação do PIS/PA S E P, o FAT também financia diversos prog ramas visando à ge-

ração de emprego e re n d a , at ravés de depósitos especiais nos agentes finance i ros ofi-

c i a i s, com base em recursos exce d e ntes à re s e rva mínima de liquidez do Fu n d o.

A reserva mínima de liquidez legalmente exigida estabelece que o valor a ser

mantido em Títulos do Tesouro Nacional (Aplicações Extramercado) deve ser equiva-

lente ao montante necessário para garantir o pagamento por seis meses de benefíci-

os do seguro desemprego e do abono salarial. No entanto, o saldo das aplicações ex-

tramercado do FAT apresentou expressivo crescimento nos últimos dois anos, en-

quanto a média de despesas entre 2000-2004 foi de R$ 9,6 bilhões por ano, ou R$ 4,8

bilhões por semestre.

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Em 31/03/2005 (De m o n s t rat i vo finance i ro do FAT, março 2005), o saldo de aplica-

ções ext ra m e rcado situou-se em R$ 16,3 bilhões, p a ra um total de despesas semestra i s

de R$ 5 bilhões (valor próximo à média semestral do pe r í odo 2000-2004, que foi de

R$ 4,8 bilhões). As s i m , os va l o res das re s e rvas em março de 2005 co b ri riam um pe r í od o

de 19,5 meses, quando a exigência legal seria de seis meses.

As s i m ,os R$ 11,3 bilhões exce d e nte s, ao invés de estarem aplicados em títulos pú-

b l i co s, pod e riam ser direcionados para prog ramas de inve s t i m e nto, em especial em

M P M Es, focando mod e rn i z a ç ã o, c re s c i m e nto e criação de empre s a s.

A avaliação do desempenho dos prog ramas financiados pelo FAT,via os depósito s

e s pe c i a i s, m o s t ra também que ex i s te significat i va ociosidade de recursos nos agente s,

totalizando quase R$ 6 bilhões em 31 de março de 2005. Isso re p re s e nt ava ce rca de 18%

do saldo total dos depósitos espe c i a i s, co n s i d e rando a dife rença ent re os va l o res depo-

sitados pelo fundo e os emprestados pelos agentes aos be n e f i c i á rios dos prog ra m a s.

Po rt a nto, do total não aplicado de R$ 5.964,5 milhões, os agentes declara ra m

como recursos não emprestados o mont a nte de R$ 3.217,8 milhões, restando um mon-

t a nte de R$ 2.692,7 milhões, que requer melhores esclare c i m e nto s.

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

G4 - Evolução do Saldo das Aplicações Extramercado vs. Despesas doFAT - em R$ millhões

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Medidas re ce ntes do CO D E FAT devem co nt ribuir para reduzir a ociosidade dos re-

cursos declarados como dispo n í veis pelos agentes (BB, CA I XA , B N B, BA S A ) , na medida

que hori zo ntalizam os prog ramas e vinculam a pe rmanência dos recursos ao ate n d i-

m e nto de metas tri m e s t rais de aplicação por prog ra m a , além de estabe l e cer pe n a l i d a-

des para recursos para d o s, que deverão ser re e m bolsados ao FAT com re m u n e ra ç ã o

pela Selic ao invés da T J L P, válida somente para os recursos aplica d o s.

No ent a nto, d i a nte da ociosidade ve ri f i ca d a , o CO D E FAT também pod e ria cre d e n-

ciar outros agentes como ope ra d o res de recursos do FAT, tais co m o :

• Coo pe rat i vas de crédito

• Agências de fo m e nto

• Ba n cos pri va d o s

Alguns desses agentes já são at u a l m e nte credenciados pelo BNDES (cuja ori g e m

de recursos é o FAT) , h avendo assim uma estru t u ra de gestão que pe rm i t i ria esse re p a s-

s e. Além disso, por serem recursos para repasse dire to do FAT aos novos agente s, n ã o

h ave ria o spread do BNDES (como oco rre em relação ao BNDES-agente ) , re d u z i n d o - s e

o custo final de ope ra ç ã o.

II.3.2.3 FAT/PROGER Urbano

Ent re os prog ramas financiados pelos depósitos especiais do FAT, é de part i c u l a r

i nte resse o PROGER Urbano que destina recursos para micro e pequenas empre s a s.

Trata-se de uma linha com as seguintes ca ra cte r í s t i ca s :

• So m e n te para MPEs com fatura m e n to bru to anual de até R$ 5 milhões;

• Fi n a n c i a m e n to limitado a R$ 400 mil, com carência de até 60 meses no Ba n co do

Brasil e 48 meses na CEF;

• En ca rgos finance i ros (incluindo T J L P + s p read agente) de 15,08% ao ano no Ba n co do

Brasil e 14,75% na CEF;

• Capital de giro associado ao inve s t i m e n to limitado a 40% do valor financiado.

No final de março de 2005 havia um mont a nte supe rior a R$ 538 milhões de re-

cursos ociosos junto aos agentes que ope ram o PROGER Ur b a n o, p ri n c i p a l m e nte no

Ba n co do No rd e s te, que é o agente menos at i vo do prog ra m a .

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Po rt a nto, do total não aplicado de R$ 538,5 milhões, os agentes declaram co m o

recursos não emprestados o mont a nte de R$ 502,5 milhões, restando um mont a nte de

R$ 36 milhões, que requer melhores esclare c i m e nto s.

Além das ações já sugeridas para reduzir a ociosidade nos prog ramas financiados

com os depósitos especiais do FAT, será impo rt a nte :

• Efe t i var as medidas re ce n te m e n te anunciadas, que hori zontalizam os prog ramas au-

to rizados entre os agentes e vinculam a permanência dos recursos ao ate n d i m e n to de me-

tas tri m e s t rais por parte dos agentes finance i ro s, e s t a be l e cendo penalidades para re c u r s o s

mantidos oc i o s o s ;

• Monito rar saldos dos va l o res depositados pelo Fundo e movimentados pelos agente s

p a ra cada prog rama auto ri z a d o,permitindo a mobilidade de recursos para os prog ramas de

maior inte re s s e.

II.3.2.4 PROGER Urbano Investimento

Re p re s e ntando a totalidade do PROGER Urbano até 2002, a parcela dos re c u r s o s

destinada a inve s t i m e nto aumentou em valor nos dois últimos anos, mas reduziu sua

i m po rtância no prog rama (incluindo recursos para capital de giro ) .

A indústria vem mostrando cre s c i m e nto de sua participação nos recursos para in-

ve s t i m e nto, e m bo ra ainda re p re s e nte menos de 20% do to t a l .

Tendo em vista o elevado po tencial de geração de empregos das micro e pe q u e-

nas empresas do setor industri a l , será impo rt a nte ampliar e estimular a aplicação dos

recursos do PROGER Urbano Inve s t i m e nto, com foco nessas empre s a s, co n s i d e ra n d o :

• Es t a be l e cer metas tri m e s t rais na execução do prog rama por setor prod u t i vo – ampli-

ando os recursos destinados ao setor industri a l ;

• Tra n s fe rir recursos ociosos de outros prog ramas para o PROGER Urbano Inve s t i m e n to,

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Execução Proger Urbano investimentovalor e participação indústria

Fonte: MTE-Coordenação PROGER (extrapolação com base no peso da indústria sobre o total)

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i n ce n t i vando os agentes mais ativo s, que tenham atingido as metas tri m e s t ra i s ;

• Es t a be l e cer sistema de ince n t i vos para esse gru po de empre s a s, reduzindo custos e

ampliando pra zos para pro j e tos de melhor impacto na geração de emprego e re n d a .

II.3.3 Redução da TJLP

A TJLP utilizada como re ferência para empréstimos do BNDES e FAT está at u a l-

m e nte em 9,75% a.a. e tem va l o res supe ri o res a taxas inte rnacionais de financiamento

de longo pra zo. Ela é fixada tri m e s t ra l m e nte pelo Conselho Mo n e t á rio Nacional co m

base na meta de inflação da economia e na avaliação de um prêmio de ri s co. Es s e

Prêmio de Ri s co, por sua vez , d eve ria refletir dois fato re s :as taxas de juros inte rn a c i o n a i s

( L i bor) e o ri s co-país (medido pela re m u n e ração dos títulos do Brasil no Exte ri o r ) .

Apesar de o Ba n co Ce nt ral ter deixado de divulgar a co m posição da TJLP a part i r

de 2003, ao se re co n s t ruir a série com base nas resoluções a re s pe i to pode-se observa r

que a parcela re fe re nte à meta de inflação vem caindo re l at i va m e nte, ao co nt r á rio da-

quela re fe re nte ao prêmio de ri s co que oscila fre q ü e nte m e nte (gráfico abaixo ) . Al é m

d i s s o, em apenas 5 dos 22 tri m e s t res a meta da inflação foi maior que o ri s co.

Ao se testar a relação ent re o prêmio de ri s co e seus supo s tos dete rm i n a nte s, o b-

s e rva-se que seus mov i m e ntos não se re l a c i o n a m . En q u a nto o ri s co-país vem ca i n d o

desde 2002, o prêmio de ri s co sofre um sobre s s a l to em fins do mandato FHC e início do

g ove rno Lu l a . Além disso, d u ra nte todo esse inte rva l o, a Libor apre s e nta queda prat i ca-

m e nte co n s t a nte, subindo ligeira m e nte a partir de meados de 2004.

Quando se co m p a ra o co m po rt a m e nto do Prêmio de Ri s co ao da Selic acumulada,

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

TJPL - Composição - 1999-2000

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o b s e rva-se que seus co m po rt a m e ntos são prat i ca m e nte idênt i co s, exce to pelo fato de

que a TJLP é definida tri m e s t ra l m e nte. Isso leva a crer que a parcela da TJLP co rre s po n-

d e nte ao Prêmio de Ri s co já esteja vinculada à Se l i c.

Não há razões apare ntes para incluir no cálculo da TJLP o prêmio de ri s co po rq u e

o grande volume de recursos de empréstimos de longo pra zo tem origem no FAT e

e s te, por sua vez , é constituído por recursos captados inte rn a m e nte.

Daí a pro posta de alte rar a fo rma de cálculo da TJLP para meta de inflação mais

1 % . Com isto, em va l o res de julho de 2005, a TJLP seria de 6,1% (5,1%+1%). A re d u ç ã o

de custo dos empréstimos pod e ria co nt ribuir po s i t i va m e nte para o aumento do inve s-

t i m e nto e, po rt a nto, do cre s c i m e nto da economia e do empre g o.

A pro posta mantém a re m u n e ração do FAT acima da meta da inflação no pe r í od o,

p re s e rvando o seu valor pat ri m o n i a l . Ad i c i o n a l m e nte, a ex pe ct at i va de cre s c i m e nto au-

m e nta a arre cadação do FAT.

Co n fo rme edito rial da Ga zeta Me rca ntil de 18.10.05 a taxa atual da TJLP é um obs-

táculo int ra n s po n í ve l , haja vista que com a diminuição do IPCA o juro real deve saltar

de 2% em 2004 para mais de 4% em 2005.Ta nto o Pre s i d e nte do BNDES como os pre-

s i d e ntes das Fe d e rações das Indústrias alert a ram que nestas condições o custo do co n-

sumo cai e o da produção aument a .

II.3.4 Redução do Spread do BNDES

É nece s s á rio reduzir os s p re a d s segundo o po rte das empre s a s, a b rangendo a li-

nha do PROGER Urbano Inve s t i m e nto (só Ba n cos Públicos) e as linhas do BNDES, s o b re

as quais incidem s p re a d s do próprio Ba n co para ope rações diretas e dos agentes (ban-

cos públicos e pri vados) para ope rações indire t a s.Esta situação pode ser visualizada no

q u a d ro abaixo.

Tendo em vista que o BNDES teve re to rno de 11% sobre o PL em 2003, e admi-

tindo-se uma lucratividade menor, há espaço para a redução de seu s p re a d, o qual in-

clui o ri s co para ope rações indiretas realizadas pelos banco s, i m po s to s, re m u n e ração e

demais taxas.

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A pro posta que aqui se apre s e nta é de que: o s p re a d p a ra MPEs seja fixado em

0 , 5 % ; p a ra médias, em 1%; e, no máximo, em 1,5% para as grandes empresas que re a l i-

zam ope rações indire t a s. Há espaço para isto, co n s i d e rando que o MODERMAQ ope ra

com 0,25% e prog ramas como o PROSOFT e PRO FARMA com 1%.

Com base em estudo de 2004 do Ba n co Ce nt ra l3 , que avaliou o s p re a d p a ra re c u r-

sos de crédito livre s, são apre s e ntadas as seguintes pro postas que objetivam reduzir o

s p read dos agente s :

• De s o n e ração da ca rga tri b u t á ria do s p re a d.Segundo o estudo citado, 11,8% do

s p read re fe re-se a impo s tos indire tos (2,01%) e dire tos (9,16%).Um prog rama de ince n-

t i vo aos inve s t i m e ntos deve desonerar esta parce l a .

• Redução do valor re fe re nte à inadimplência,que co rre s ponde a 27,63% do spre a d.

A Lei de Fa l ê n c i a ,a p rovada re ce nte m e nte,d eve co l a bo rar para a redução deste va-

l o r, mas medidas adicionais podem ser implement a d a s,tais co m o :

• metade do risco para empréstimos do BNDES devem ser amparadas por garanti-

as reais;

• ri s co ze ro para ope rações garantidas por fundo de ava l .

Portanto com a proposta teríamos uma redução do custo do financiamento,

conforme apresentado a seguir ( Na situação atual a TJLP é de 9,75%, na proposta a

TJLP é de 6,1% ):

De nt ro de uma previsão co n s e rva d o ra esta redução pod e ria re p re s e ntar aprox i-

m a d a m e nte R$ 7 bilhões na captação de recursos para financiamento s.

II.3.5 Outras Propostas

II.3.5.1 Liberação dos compulsórios para estimular agentes do BNDES

• Libe ração de R$ 1,00 do co m p u l s ó rio não re m u n e rado para cada R$ 1,00 de re-

curso do BNDES repassado para inve s t i m e nto de pequenas e médias empresas in-

d u s t ri a i s. Os juros co b rados em empréstimos fe i tos com esses recursos estari a m

s u j e i tos à T J L P.

A pro posta atende aos inte resses do gove rno e da sociedade em manter a inflação

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

3 “Revisitando a metodologia de decomposição do spread bancário no Brasil” Ana Carla Abrahão e Márcio Nakane 2004.

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sob co nt role e em alava n car a mod e rnização e a expansão do setor prod u t i vo, do em-

p rego e das ex po rt a ç õ e s.Atende aos inte resses de banco s, pois implica em redução de

c u s tos que re p re s e ntam o re co l h i m e nto não re m u n e rado e, po rt a nto,um estímulo ao fi-

n a n c i a m e nto de micro, pequenas e médias empresas do setor industri a l .

II.3.5.2 Es t ru t u ração de bancos públicos para ampliar financiamentos a MPMEs

Os bancos públicos re p re s e ntam apenas 15% do total dos repasses do BNDES.

Apenas o Ba n co do Brasil tem posição mais re l eva nte, e m bo ra aquém da sua impo rt â n-

cia re l at i va no mercado total de crédito. Deve-se aproveitar a ca p i l a ridade e, s o b re t u d o,

o tamanho dos bancos públicos para executar uma po l í t i ca de crédito, que ce rt a m e nte

co nt ribuirá para o incre m e nto da co n co rrência no sistema e para o acesso das MPEs a

f i n a n c i a m e ntos de menor custo, vitais para seu cre s c i m e nto e a geração de empre g o s.

É nece s s á rio avaliar e desenvo l ver mecanismos para aumentar a participação dos

b a n cos oficiais nos repasses de créditos direcionados para inve s t i m e ntos prod u t i vo s,

que além de estimular a co n co rrência e reduzir custos no sistema finance i ro, pe rm i t a m

também o dire c i o n a m e nto de recursos para seto res e prog ramas pri o ri t á rios de po l í t i ca

i n d u s t ri a l . Ne s te sent i d o, será impo rt a nte uma re e s t ru t u ração técnica dos bancos para

também desenvo l ver um co rpo técnico e ope racional nas agências que co ntemple a po-

l í t i ca de crédito de ate n d i m e nto às MPMEs e, s o b re t u d o, a customização das linhas.

II.3.5.3 Incentivos ao uso de Fundo de Aval

A utilização de fundos de aval no sistema bancário é ainda muito tímida po rq u e

as re g ras para o leva nt a m e nto dos re c u r s o s, re p a rtição das gara ntias realizadas e de re-

c u pe ração do crédito ent re agentes e os fundos de ava l , l evam os agentes a solicitar ga-

ra ntias adicionais. O custo do aval é re l at i va m e nte alto no Bra s i l .

Quando se calcula o custo anual do aval (o FGPC), por exe m p l o, chega-se a um

e q u i va l e nte de s p re a d de 2,88% ao ano, o que re p re s e nta um custo exce s s i vo para o to-

mador do empréstimo. A Lei de Falência pode co nt ribuir com a redução de custos en-

volvidos na re c u pe ração dos crédito s, via execução de gara nt i a s, por exe m p l o. A seguir

são apre s e ntadas algumas pro postas re l at i vas a este te m a :

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• Revisão da fo rma de co nt ribuição - pro po rcional ao te m po e saldo deve d o r;

• Pro posição de apo rtes anuais, co n fo rme estudo de longev i d a d e ;

• Redução dos custos dos fundos de ava l ;

• Re co n h e c i m e nto pelos bancos de que esta é uma modalidade de ofe rta adicional

de gara nt i a ,exigindo menos provisão e classificando melhor as ope rações de crédito,p a ra

as micro,pequenas e médias empresas do setor industri a l , com redução do s p re a d ( p a rt i-

cipação de inadimplência);

• I m p l a ntação de mecanismos de aco m p a n h a m e nto e pro teção dos prog ra m a s ;

• Revisão do processo de saque co nt ra o fundo. No ca s o, por exe m p l o, do FGPC

( B N D E S ) , são realizadas po u cas ope ra ç õ e s, pois o gara ntidor é o Te s o u ro, o que to rna o

te m po de re c u pe ração moro s o. O Fundo deve ficar sob re s ponsabilidade do BNDES, d e

fo rma a gerar maior confiança dos bancos quanto ao menor te m po de re c u pe ra ç ã o.

• Atuação junto ao Ba n co Ce nt ral para que se co n s i d e re a parcela do emprés-

timo co be rta pelo Fundo de Aval como ri s co nulo, não havendo necessidade de

p rovisão pelos banco s.

II.3.5.4 Revisão dos procedimentos do CADIN

As inscrições no Ca d a s t ro dos Inadimplentes da União (CADIN) constituem um fo r-

te impe d i m e nto às ope rações de crédito. Muitas vezes as empresas nem sabem que

constam deste ca d a s t ro e a re t i rada de inscrição no CADIN é sempre demora d a .A co m u-

n i cação prévia gara ntirá o dire i to de co ntestação e a possibilidade de imediata co rre ç ã o.

Em p resas que aderi ram ao REFIS têm dificuldades de sair do ca d a s t ro,o que as im-

pede de tomar linhas oficiais de crédito. Muitas vezes a delegacia da Re ceita Fe d e ra l

l eva muito te m po para consolidar a dívida da empresa e a inscrição no ca d a s t ro co nt i-

nua indev i d a m e nte.

Ob j e t i vando amenizar esses pro b l e m a s, a inscrição no CADIN deve oco rrer so-

m e nte após julgamento de ação da dívida em questão. Além disso, o órgão que inscre-

ver a empresa no CADIN deve comunicá-la com ante ce d ê n c i a , avisando o motivo, va l o r

e tc. A inclusão só se daria após julgamento da defesa da empre s a . Em p resas com dívi-

das de até R$ 20 mil não deverão ser impedidas de captar crédito. Todos os proce d i-

m e ntos de co b rança pe rm a n e ce riam os mesmos. Ao aderir ao REFIS, d eve existir um

p ra zo máximo, por exemplo de 60 dias, p a ra que a empresa seja re t i rada do ca d a s t ro.

II.3.6 Desoneração de Investimentos Industriais

Além das pro postas ante ri o res visando facilitar e estimular o acesso a créditos pú-

b l i co s, e de outras pro postas de desoneração tri b u t á ria que serão analisadas no tópico

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e s pe c í f i co, é impo rt a nte revisar e ampliar o esco po de alguns itens que já estão em vi-

gor na PITC E,o b j e t i vando ace l e rar a mod e rnização e inovação do parque industrial bra-

s i l e i ro. Ent re essas iniciat i va s, d e s t a ca m - s e :

Redução do impo s to de impo rtação para máquinas sem similar nacional – Visa fa-

cilitar a aquisição de bens de capital sem similar no Brasil por meio da redução da alí-

quota dos "ex - t a ri f á rios" de 4% para 2%, no caso de haver produção em algum país do

Me rco s u l , e para 0%,quando não houver produção em nenhum país do bloco.Em vigor

desde 19 de feve re i ro, pela Resolução Ca m ex n° 5.

De s o n e ração do IPI de Máquinas e Eq u i p a m e nto s – Redução de 30% das alíquo-

tas de IPI para 643 máquinas e equipamentos destinados a atividades prod u t i vas (de

5% para 3,5%). A medida foi anunciada em 15 de janeiro de 2004; em agosto, h o u ve

n ova redução para 2% e a lista foi ampliada para 672 máquinas e equipamento s.

• Pro po s t a : Criar uma siste m á t i ca de co m pensação do IPI co b rado sobre bens de

capital ou eliminar co m p l e t a m e nte a sua incidência.

Ampliação do pra zo de re co l h i m e nto do IPI para 30 dias – em vigor desde

o u t u b ro de 2004.

Co m pensação do PIS e da CO F I N S – Redução de dez para quat ro, e po s te ri o rm e n-

te para dois anos,do pra zo de co m pensação dos créditos tri b u t á rios do PIS e da CO F I N S

i n c i d e ntes na aquisição de bens de capital nacionais e impo rt a d o s, medidas adotadas

re s pe ct i va m e nte em abril e sete m b ro de 2004.

• Pro po s t a: Re c u pe ração inte g ral e imediata do crédito de PIS e COFINS sobre má-

quinas e equipamento s. Segundo estudos do IEDI, a re c u pe ração imediata do crédito

em substituição à re c u pe ração em 24 meses, re d u z i ria o custo do inve s t i m e nto, t ra z i d o

a valor pre s e nte, e m 2 %.

De p reciação ace l e ra d a – Diminuição para metade do pra zo usual de depre c i a ç ã o

dos bens de capital adquiridos até deze m b ro de 2005,p a ra fins de cálculo do IR e da CSLL.

• Pro po s t a :De p reciação ace l e rada pelo triplo da taxa usualmente utilizada.O mes-

mo estudo do IEDI estima que este ince nt i vore d u z i ria em 11% o custo do inve s t i m e n-

to em máquinas e equipamento s, f re nte ao impacto de 7% pela adoção do dobro da

taxa de depre c i a ç ã o.

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39

II.4 - POLÍTICA TRIBUTÁRIA

O tema da po l í t i ca e necessidade de re fo rma tri b u t á ria já se enco nt ra bastante de-

b atido no Brasil e ex i s te uma série de po ntos com os quais todos co n co rd a m , seja em

relação ao diagnóstico e distorções int roduzidas pela atual estru t u ra tri b u t á ri a , seja nas

p ro posições de mudanças.

Há uma co n co rdância geral de que é exce s s i va a ca rga tri b u t á ria no Brasil – no fi-

nal de 2004,ela alcançou 35,9% do PIB –,s o b retudo po rque ela incide mais pe s a d a m e n-

te sobre alguns segmentos da soc i e d a d e.A produção industrial em particular está su-

jeita a elevada ca rga tri b u t á ri a ,e n q u a nto outras atividades eco n ô m i cas são menos one-

radas pelos impo s to s.Até como deco rrência da exce s s i va ca rga tri b u t á ri a , há um gra n-

de número de empresas que trabalham na info rmalidade e co n co rrem em co n d i ç õ e s

desleais com as empresas fo rm a l m e nte co n s t i t u í d a s.

Além disso, as co n s t a ntes mudanças int roduzidas no sistema tri b u t á ri o,com o ob-

j e t i vo de aumentar a arre cadação e obter mais recursos para o financiamento do seto r

p ú b l i co, g e rou uma estru t u ra tri b u t á ria ext re m a m e nte co m p l i cada de ser geri d a . As

e m p resas são obrigadas a alocar recursos significat i vos na gestão tri b u t á ria dos seus

n e g ó c i o s, e nvo l vendo depart a m e ntos jurídico, co ntábil e finance i ro. Não resta dúvida

de que a simplificação do sistema tri b u t á rio é uma necessidade urg e nte.

Ex i s tem diversas pro postas para re fo rmular o sistema tri b u t á rio nacional de fo rm a

a to rná-lo mais justo, i s o n ô m i co e favo r á vel à produção de bens e serv i ç o s, co nt ri b u i n-

do para o aumento do PIB. A FIESP já publicou várias sugestões para o debate nacional

e ex i s tem outras em discussão como medidas de po l í t i ca fisca l . Algumas delas faze m

p a rte das sugestões seguinte s :

• Ampliação da base de arre ca d a ç ã o,pela inco rpo ração do setor info rmal ao

fo rm a l ;

• Di s t ribuição mais isonômica dos tri b u tos sobre as dife re ntes at i v i d a d e s

e co n ô m i ca s. Por exe m p l o, os serviços e as instituições finance i ras devem co nt ri b u i r

com maior arre cadação do que at u a l m e nte. Ainda que se mantenha a mesma ca r-

ga tri b u t á ria no Bra s i l , a sua melhor distribuição aument a ria a co m petitividade da

i n d ú s t ria bra s i l e i ra ;

• A re ce nte medida prov i s ó ria que suspende a co b rança do PIS e da CO F I N S

i n c i d e ntes sobre bens de capital utilizáveis em pro j e tos destinados à ex po rt a ç ã o

de 80% da sua produção deverá atingir um número bastante reduzido de empre-

s a s. São po u cas as empresas que têm esse coe f i c i e nte de ex po rtação em re l a ç ã o

a seu fat u ra m e nto. É maior a probabilidade de que empresas ex po rt a d o ras de

p rod u tos com baixo valor agregado – co m m od i t i e s i n d u s t riais – sejam as maiore s

be n e f i c i á rias desse ince nt i vo.A pe rg u nta que fica é a seguinte : por que desonera r

o inve s t i m e nto das co nt ribuições sociais apenas para as empresas que ex po rt a m

m o nt a ntes significat i vos do fat u ra m e nto? Qualquer empresa que adquire um

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bem de capital co nt ribui po s i t i va m e nte para a economia e pode a vir a ser tam-

bém ex po rt a d o ra . Se a empresa adquire máquinas e equipamentos para aumen-

tar a sua capacidade prod u t i va , ela está co nt ribuindo para o cre s c i m e nto da re n-

d a , do emprego e da re ceita tri b u t á ria por co n s e q ü ê n c i a . De outra parte, se a em-

p resa adquire novos equipamentos para melhorar sua co m pe t i t i v i d a d e, ela está

a u m e ntando a produtividade no seu processo de trabalho e isto significa maior

n í vel de re n d a , maior valor agregado por tra b a l h a d o r. Nesse sent i d o, os bens de

capital deve riam ser co m p l e t a m e nte isentos de qualquer tipo de impo s to indire-

to ou co nt ribuições soc i a i s. As principais pro postas para redução da ca rga tri b u t á-

ria sobre inve s t i m e ntos já foi vista no item II.3.6.

• Ra c i ocínio análogo deve ser empregado em relação aos prod u tos e pro-

cessos co n s i d e rados inova d o re s. A redução ou eliminação dos impo s tos que inci-

dem sobre os prod u tos inova d o res é uma fo rma de estimular a inova ç ã o. Isso te-

ria o efe i to de reduzir as ince rtezas re l at i vas aos pro j e tos destinados à inovação de

p rod u tos e processos prod u t i vo s. Re ce nte trabalho do IPEA4 d e m o n s t ra que as

e m p resas que inovam tendem a deter maior co m petitividade e maior nível de ex-

po rtação de prod u to s. Is to oco rre po rque a inovação to rna a empresa mais co m-

pe t i t i va , seja pelos menores custos de prod u ç ã o, seja por deter prod u tos dife re n-

ciados no merca d o. Esta também é uma das linhas mestras da Po l í t i ca Industri a l ,

Te c n o l ó g i ca e de Co m é rcio Exte ri o r, q u e, e nt re t a nto, p recisa tra n s fo rmar os seus

o b j e t i vos estrat é g i cos em medidas objetiva s ;

• Si m p l i f i cação e racionalização do sistema tri b u t á ri o,p a ra não onerar a ges-

tão das empre s a s, co nt ribuir para maior facilidade da fiscalização e para reduzir as

possibilidades de elisão tri b u t á ri a ;

• Os impo s tos devem incidir sobre a renda das pessoas ou devem incidir

a penas sobre o valor agregado dos prod u to s. A sua co b rança deve aco nte cer no

consumo e não na produção de merca d o ri a s ;

• Fi n a l m e nte, ca be mencionar a necessidade de desonerar co m p l e t a m e nte

as ex po rt a ç õ e s.Apesar de haver essa hipóte s e,de fato as empresas não estão co n-

seguindo desonerar co m p l e t a m e nte os seus prod u tos ex po rt a d o s. V á rias empre-

sas ainda estão acumulando créditos fiscais com os gove rnos estaduais que ale-

gam não dispor de condições finance i ras para pe rmitir a sua utilização. Is to, d e

f ato, e q u i vale a dizer que o Brasil co ntinua ex po rtando impo s tos que incidem so-

b re os prod u tos destinados ao mercado exte rn o, co nt ra riando a tendência inte r-

n a c i o n a l . As s i m , e n q u a nto as empresas bra s i l e i ras ex po rtam merca d o rias ainda

com impo s tos incidentes sobre seus insumos, as empresas estra n g e i ras que ex-

po rtam para o Brasil o fazem com total libe ralização de impo s to s. É uma absoluta

falta de isonomia no co m é rcio inte rn a c i o n a l , p ro m ovida pela dificuldade de ope-

ração do sistema tri b u t á rio nacional, que envo l ve dife re ntes esfe ras de gove rn o

com po s t u ras distintas em relação à tri b u t a ç ã o.Sem dúvida,é urg e nte acabar co m

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

4 De Negri, J.A. e Salerno, M.S. (orgs). Inovações, Padrões Tecnológicos e Desempenho das Firmas Industriais Brasileiras. Brasília:IPEA, 2005.

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essa situação em que as empresas isentas de impo s tos incidentes sobre prod u to s

ex po rtados acumulam créditos fisca i s.

En f i m , essas pro postas já fo ram amplamente debatidas na sociedade bra s i l e i ra e

há um re l at i vo consenso de que elas são nece s s á ri a s. Um dos maiores obstáculos às

mudanças tri b u t á rias diz re s pe i to à distribuição dos recursos ent re as três esfe ras de go-

ve rn o. Esta é uma questão que precisa ser equacionada pelos gove rn a nte s,em be n e f í-

cio da co m petitividade da indústria bra s i l e i ra e da própria arre cadação fiscal no futuro.

De outra parte, um sistema tri b u t á rio mais racional sob o po nto de vista eco n ô m i co,

co nt ribui po s i t i va m e nte para a at ração de inve s t i m e ntos dire tos do exte rior para a pro-

dução industri a l .

II.5 - INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO INDUSTRIAL

O Brasil já dispõe de indica d o res suficientes para atestar o seu at raso re l at i vo na

á rea de ciência, te c n o l ogia e inova ç ã o. Em bo ra , no passado, a indústria bra s i l e i ra te n h a

m o s t rado grande dinamismo na realização de inve s t i m e ntos em capacidade prod u t i va

e na int rodução de novos seto res e atividades prod u t i vas no Pa í s, isso não se re f l e t i u,

s a l vo ra ras exce ç õ e s, no desenvo l v i m e nto de estratégias empre s a riais inova d o ra s.

V á rios fato res são re s po n s á veis por essa tra j e t ó ri a , desde dete rm i n a ntes estru t u-

ra i s, tais como o modelo de desenvo l v i m e nto e a estru t u ra pat rimonial da indústri a , at é

f ato res de nat u reza microe co n ô m i ca ,como problemas de gestão nas empre s a s, i n ca p a-

cidade de ident i f i cação de opo rtunidades re nt á veis de negócios com a int rodução de

i n ovações etc.

Grosso mod o, são problemas de nat u reza estru t u ral e co n j u nt u ral assim co m o

m a c ro e microe co n ô m i cos que dificultam o maior dinamismo te c n o l ó g i co no setor in-

d u s t ri a l .

Essa pe rcepção também é co m p a rtilhada pelo gove rno fe d e ra l . No doc u m e nto -

base da Po l í t i ca Industri a l , Te c n o l ó g i ca e de Co m é rcio Exte ri o r, a inovação é apre s e nt a d a

como um dos pilares para o cre s c i m e nto e a tra n s fo rmação da indústria bra s i l e i ra e re-

q u i s i to para que ela possa alcançar outro patamar de co m petitividade inte rn a c i o n a l .

De fato, o atual gove rno tem o méri to de re co n h e cer o ca r á ter estrat é g i co do in-

ve s t i m e nto em inovação para o desenvo l v i m e nto nacional. Mas não foi o único. Es s a

pe rcepção também foi destacada no pe r í odo do II PND e, mais re ce nte m e nte, no se-

gundo gove rno Fe rnando He n rique Ca rd o s o.Co nt u d o,nos anos 70,a po l í t i ca de desen-

vo l v i m e nto te c n o l ó g i co era parte co n s t i t u t i va de uma po l í t i ca mais geral voltada à su-

pe ração do subd e s e nvo l v i m e nto – ainda que re p a ros possam ser fe i tos à po l í t i ca prat i-

ca d a , não há dúvida quanto à visão estrat é g i ca então ex i s te nte.

Ma s, no segundo mandato de Fe rnando He n rique Ca rd o s o, a po l í t i ca te c n o l ó g i ca

e s teve isolada e fechada em si mesma, uma vez que não havia po l í t i ca industri a l .Não se

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

o b s e rvo u, po rt a nto, um processo de dinamização e melhoria pe rm a n e nte da co m pe t i-

tividade industrial com base na inova ç ã o, a exemplo do que tem oco rrido não ape n a s

em países de maior grau de desenvo l v i m e nto,como em países de industrialização mais

re ce nte e nações emerg e nte s.

Ainda assim, h o u ve algum avanço nesse último pe r í od o. Ta l vez um dos mais im-

po rt a ntes tenha sido chamar a atenção de diversos seto res da sociedade para a impo r-

tância da inova ç ã o. Hoje no Brasil já não se fala apenas de po l í t i ca cient í f i ca e te c n o l ó-

g i ca , mas de po l í t i ca cient í f i ca , te c n o l ó g i ca e de inovação (C,T&I). A inovação foi co l oca-

da como um objetivo final das atividades cient í f i cas e te c n o l ó g i ca s. Sob a ótica institu-

c i o n a l , essa ênfase tem conseqüências impo rt a ntes no co m p a rt i l h a m e nto das ações e

na ident i f i cação dos be n e f i c i á rios das po l í t i cas pública s, e nvo l vendo as instituições de

ensino e pesquisa e as empre s a s, s o b retudo do setor industri a l .

Nesse co ntexto fo ram criados os chamados Fundos Se to riais para o

De s e nvo l v i m e nto Ci e nt í f i co e Te c n o l ó g i co,que re p re s e nt a ram eles próprios uma inova-

ção não apenas na fo rma de geração de recursos para a área de C,T&I, como também

na gestão desses re c u r s o s. Um exemplo disso foi a criação dos comitês gesto res que,

não obstante mant i vessem a predominância do setor público, co nt a ram com a re p re-

s e ntação do setor pri vado e da aca d e m i a . Mas essa metod o l ogia de gestão não tro u xe,

na prática , g randes ava n ç o s. Na re a l i d a d e, o meio empre s a rial não tem sido ouvido e,

mais do que isso, os comitês gesto res se tra n s fo rm a ram em instâncias legitimadora s

das decisões tomadas isoladamente pelo Poder Exe c u t i vo.

A pro posta original do Mi n i s t é rio da Ciência e Te c n o l ogia – MCT – era a de mobi-

lizar recursos novo s, i n d e pe n d e ntes da arre cadação tri b u t á ri a , de fo rma a pe rmitir am-

pliar os recursos aplicados em C,T&I, evitando a oscilação da ofe rta de recursos para a

á rea ao longo do te m po,d e ri vada dos problemas mais amplos de financiamento do go-

ve rno fe d e ra l .

Mas a prática tem demonstrado que os Fundos Se to ri a i s5 não têm sido utilizados

tal como fo ram co n cebidos e pro po s tos para a soc i e d a d e. O gráfico abaixo ajuda a en-

tender a situação at u a l .A linha ve rmelha mostra a execução orçament á ria do MCT sem

os Fundos Se to ri a i s. . A linha azul re p re s e nta o total da execução orçament á ria do MCT

(incluindo os Fundos Se to ri a i s )6.

Deve ser feita a re s s a l va de que os números apre s e ntados não co ntabilizam os re-

cursos do FUNTT E L , fundo seto rial que pe rte n ce ao orçamento do Mi n i s t é rio das

Co m u n i ca ç õ e s. Esse fundo tem fo rma distinta de aplicação re l at i va m e nte aos demais

fundos seto ri a i s,todos eles alocados no FNDCT – Fundo Nacional de De s e nvo l v i m e nto

Ci e nt í f i co e Te c n o l ó g i co.

5 Como os fundos setoriais só começaram a ser executados em 1999, até essa data os recursos orçamentários totais do MCTcorrespondiam apenas aos recursos do Tesouro.6 Em todos os três casos, os valores estão expressos a preços constantes de 2004 (deflacionados pelo IGP-DI, da FundaçãoGetúlio Vargas).

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Fo nte s : M C T, Mi n i s t é rio do Pl a n e j a m e nto e Senado Fe d e ra l

Ve ri f i ca-se que a instabilidade dos recursos aplicados pelo MCT não foi supe ra d a

com o funcionamento dos Fundos Se to ri a i s.De fato, o cre s c i m e nto observado na apli-

cação dos recursos depois de 1999 – ano em que ent rou em ope ração o CT-Pe t ro, o pri-

m e i ro dos fundos seto riais – é muito mais fo rte na execução do MCT com os Fu n d o s

Se to riais do que sem eles. Is to equivale a dizer que os Fundos Se to riais estão amplian-

do sua impo rtância como fo ntes de recursos para as ações de fo m e nto e de prog ra m a s

e s t rat é g i cos do MCT.

Em 2001, os Fundos Se to riais re p re s e nt a ram 15,2% da execução orçament á ria do

M C T; em 2004, 2 0 , 2 % .Ag regue-se a isto o fato de que em 2004 a execução do MCT sem

os Fundos Se to riais foi 7% infe rior à de 1999 e 13% infe rior à de 2001.

Esses dados sinalizam que os recursos do MCT sem os Fundos Se to riais têm dimi-

nuído em te rmos re a i s, e n q u a nto os recursos aplicados pelos Fundos Se to riais têm au-

m e nt a d o : e nt re 2001 e 2004, esse cre s c i m e nto foi de 23,2%.

A partir desses dados, é po s s í vel leva ntar alguns po ntos para re f l ex ã o :

• Os Fundos Se to riais têm substituído recursos orçament á rios ord i n á rios do MCT;

• Com isso, a comunidade cient í f i ca , que tra d i c i o n a l m e nte obteve financiamento

p a ra pesquisa e bolsas de fo rmação no MCT, vê-se obri g a d a , cada vez mais, a bus-

car nos Fundos Se to riais recursos para suas at i v i d a d e s ;

• Em outros te rm o s, a co ntenção dos recursos ord i n á rios do orçamento destina-

dos às atividades de pesquisas aca d ê m i cas pelas duas agências de fo m e nto do

M C T, o b riga a comunidade cient í f i ca a disputar os recursos dos Fundos Se to ri a i s

com o meio empre s a ri a l ;

• Nessas circ u n s t â n c i a s, a comunidade cient í f i ca pressiona o MCT, o Exe c u t i vo

também busca recursos nos Fundos Se to riais para suas ações prog ra m á t i cas e o

A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Orçamento do MCT e dos Fundos Setoriais

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meio empre s a rial não consegue se financiar adequadamente at ravés dos Fu n d o s

Se to riais para a realização de suas atividades inovat i va s.

Esta lógica co nt ra ria os objetivos da Po l í t i ca Industri a l ,Te c n o l ó g i ca e de Co m é rc i o

Exte rior – PITC E, que define a inovação como um de seus pilare s.Além disso, a PITCE faz

menção explícita à necessidade de inve s t i m e ntos em algumas te c n o l ogias po rt a d o ra s

de futuro.Não há inovação e não há como tra n s fo rmar essas novas te c n o l ogias em pro-

d u tos e processos prod u t i vos sem a atuação direta e efe t i va das empre s a s.

Mas a situação é ainda mais grave quando se co n s i d e ra que os próprios re c u r s o s

dos Fundos Se to ri a i s, submetidos à lógica de co nt i n g e n c i a m e nto do orçamento fe d e-

ra l , não têm sido dev i d a m e nte aplica d o s. A tabela abaixo mostra a discrepância ent re

os recursos captados da sociedade pelo gove rno e a efe t i va aplicação dos Fu n d o s7

Se to riais em pro j e tos de desenvo l v i m e nto cient í f i co e te c n o l ó g i co. Seja devido aos co r-

tes impo s tos espe c i f i ca m e nte à execução do orçamento dos fundos , seja devido ao

m e canismo da re s e rva de co ntingência – na prática , um "co nt i n g e n c i a m e nto ex - a nte " ,

que co nto rna a proibição de co rtes no orçamento do MCT prevista nas leis anuais de di-

re t ri zes orçament á rias desde 2003 – os números da tabela mostram que só foi exe c u-

tado um pe rce ntual dos recursos captados pelos Fundos Se to ri a i s.

Os va l o res ex p ressos na tabela acima dizem re s pe i to aos fundos seto riais que se

e n co nt ram sob a re s ponsabilidade do MCT exc l u s i va m e nte e, po rt a nto, não incluem o

F U N TT E L . Desde 1999, com a criação do CTPe t ro, até 2005, esses fundos fo ram co nt i n-

genciados na execução orçament á ria em um mont a nte acumulado de ce rca de R$ 4,0

bilhões (em reais de 2004).Pa ra ilustrar o significado dessa re te n ç ã o, a aplicação desses

recursos à taxa Selic gera ria um mont a nte de recursos equiva l e nte a 114% dos re c u r s o s

l i be rados para aplicação em 2005.

Tod av i a , t a nto a comunidade cient í f i ca como o meio empre s a rial devem leva ntar a

discussão de que o co nt i n g e n c i a m e nto desses recursos fe re o objetivo de suas leis de cri-

ação e limita fo rte m e nte os seus impacto s,uma vez que esses fundos somente podem ser

destinados ao financiamento de pro j e tos de desenvo l v i m e nto cient í f i co e te c n o l ó g i co.

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Tabela - Recursos dos Fundos Setoriais 1999-2005 (em reais de 2004)

7 Uma vez que a dotação dos fundos setoriais provém de receitas vinculadas, esses recursos não podem ter outra destinaçãoalém das previstas em Lei.

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A C O M P E T I T I V I D A D E E O D E S E N V O L V I M E N T O E C O N Ô M I C O

Deve ser ressaltado ainda que o volume de recursos dos fundos seto riais é de fato

s u pe rior àquele co n s t a nte da tabela acima, po rque se trata de uma previsão orçamen-

t á ri a . Em vários casos o valor arre cadado é supe rior ao estimado.

A FINEP é a principal agência pública voltada para o financiamento das at i v i d a d e s

de inovação das empre s a s. Além de ope racionalizar linhas de crédito8 , a FINEP funcio-

na como agência exe c u to ra do Fundo Nacional para o De s e nvo l v i m e nto Ci e nt í f i co e

Te c n o l ó g i co, que mov i m e nta recursos sem re to rno do orçamento da Un i ã o, e nvo l ve n-

do os recursos de "livre" aplicação e as fo ntes vinculadas dos fundos seto ri a i s. Esses re-

cursos não podem financiar dire t a m e nte as atividades de empresas que visam lucro s,

mas podem ser utilizados para desenvo l ver pro j e tos em parce ria com instituições de

pe s q u i s a , ou qualquer outra organização sem fins lucrat i vo s9.

As linhas de crédito da FINEP alca n ç a ram a cifra de R$ 463 milhões,em 2004 e ex i s-

te uma aprovação para 2005 de R$ 617 milhões.Nota-se que esses re c u r s o s,que pod e m

ser emprestados às empresas com re to rno e juros reais po s i t i vo s, não atingem os va l o-

res dispo n í veis nos Fundos Se to ri a i s, que têm se co n s t i t u í d o, nos últimos anos, na pri n-

cipal fo nte de recursos da FINEP.

Co nt u d o, não obstante o esforço de ampliação do esco po da po l í t i ca de C,T&I, o

o r ç a m e nto da Finep pare ce clara m e nte insuficiente para dar co nta do objetivo de esti-

mular as atividades inovat i vas das empre s a s.Além disso,é nece s s á rio mod e rnizar a ges-

tão da agência, pe rmitindo a adoção de proce d i m e ntos mais ágeis e melhoria da sua

capacidade ope ra c i o n a l , p ro m over o aumento da ca p i l a ridade da agência e desenvo l-

ver prod u tos mais adequados à realidade das pequenas e médias empre s a s. Os esfo r-

ços ex i s te ntes nas direções indicadas estão se demonstrando clara m e nte insuficiente s.

Di a nte da ausência de fato de uma po l í t i ca de desenvo l v i m e nto te c n o l ó g i co in-

d u s t rial e face à pre ca riedade dos recursos aplica d o s, a seguir são apre s e ntadas algu-

mas pro postas com a finalidade de co nt ribuir para o debate sobre a po l í t i ca te c n o l ó g i-

ca nacional. A pri m e i ra delas, re fe re nte às nanote c n o l og i a s, re p roduz a Ca rta de São

Pa u l o, assinada em 07 de julho de 2005 pela FIESP e pelo IEDI. A segunda traz as suges-

tões da FIESP ao Co n g resso Nacional para o ape rfe i ç o a m e nto da Medida Prov i s ó ria 252,

conhecida como "MP do Be m " .Apesar da MP 252 não sido votada no Co n g resso no pra-

zo, o que resulta na sua ext i n ç ã o, as sugestões aqui apre s e ntadas devem ser nova m e n-

te inco rpo radas nas pro postas encaminhadas em substituição a esta. Ao final, o u t ra s

p ro postas enco nt ram-se indica d a s.

• Desenvolvimento de ações integradas para estimular as nanotecnologiasAs nanote c n o l ogias desenvo l vem mate riais com novas pro p ri e d a d e s, a par-

tir da manipulação de átomos e moléculas. Esses novos co n h e c i m e ntos ava n ç a-

dos to rnam-se ra p i d a m e nte realidade de merca d o, com aplicações nos mais di-

versos prod u to s, e nt re as quais tintas à prova de ri s co s, v i d ros que não re t ê m

á g u a , aços elástico s, fios e tecidos inte l i g e nte s, p l á s t i cos ultra - re s i s te nte s, m i c ro e

8 De fato, cabe fazer a ressalva de que, com o novo instrumento de subvenção econômica é possível apoiar diretamente asempresas com recursos do FNDCT.9 Os financiamentos reembolsáveis são realizados com recursos próprios ou repasses de outras fontes, principalmente doFundo de Amparo ao Trabalhador – FAT.

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n a n o p a rtículas para medica m e ntos e muitos outro s.

Os impactos da nanote c n o l ogia sobre a sociedade e, em part i c u l a r, s o b re a co m pe-

titividade empre s a ri a l , d everão ser tão ou mais impo rt a ntes do que os trazidos pela onda

das te c n o l ogias de info rmação e co m u n i ca ç ã o. Es t i m at i vas da National Science

Fo u n d a t i o n dos EUA apo ntam que o mercado mundial para mate ri a i s,p rod u tos e proce s-

sos industriais baseados em nanote c n o l ogias será da ordem de um trilhão de dólares da-

qui a dez anos. O seu domínio será fundamental para a co m petitividade das nações.

O exemplo de outros países mostra que só a ação co n j u nta de diversos agente s

p ú b l i cos e pri vados pe rmitirá ao Brasil aproveitar as opo rtunidades nessa áre a . Isso ex i-

girá inve s t i m e ntos ex p re s s i vos e o co m p ro m e t i m e nto coo rdenado de órgãos de gove r-

n o, de institutos e ce nt ros de pesquisa e de empre s a s.

Essas ações devem incluir: o mape a m e nto das opo rtunidades de curto, médio e

longo pra zo s ; a ampliação da capacitação técnica multidisciplinar e gere n c i a l , a s s i m

como da infra - e s t ru t u ra de produção e apro p riação de co n h e c i m e nto, i n c l u s i ve no

ca m po das micro te c n o l og i a s ; o estabe l e c i m e nto de parce rias estrat é g i ca s, que art i c u-

lem a coo pe ração ent re empre s a s,u n i versidades e institutos de pesquisa nesse ca m po ;

a criação e o apri m o ra m e nto de mecanismos de financiamento adequados para o le-

que de iniciat i vas e ações re q u e ri d a s ; e o estímulo a ambientes amigáveis ao empre e n-

d e d o rismo inova d o r, em especial de empresas nasce nte s.

• Ape rfe i ç o a m e nto da medida prov i s ó ria nº 252, de 15 de junho de 2005 (estasp ro postas devem ser inco rpo radas nas pro postas que devem substituir a MP252 que

não foi votada no Co n g resso no pra zo )

1 . Cr é d i to fiscal de até 25% na modalidade de co m pensação de tri b u tos e

co nt ribuições fe d e ra i s, e q u i va l e ntes aos dispêndios com atividades de pe s-

q u i s a , d e s e nvo l v i m e nto te c n o l ó g i co e inovação de prod u tos e serv i ç o s, p a ra

e m p resas não optantes pelo lucro re a l .

2 .Cr é d i to fiscal sobre tri b u tos e co nt ribuições fe d e ra i s, e q u i va l e nte aos re co-

l h i m e ntos das co nt ribuições prev i d e n c i á rias pat ro n a i s, calculadas sobre o

dispêndio de pe s s o a l , e ao Fundo de Ga ra ntia sobre o Te m po de Se rviço re-

l at i vos ao pessoal dire t a m e nte engajado nas atividades ince nt i va d a s, a ser

co m pensado em até 10% do IPI dev i d o.

3 .Re c u pe ração da pro posta original co ntida no ante p ro j e to do MCT,co n fo rm e

d e s c ri to a seguir,uma vez que o re g u l a m e nto prev i s to pela "MP do Bem" pod e

co m p ro m e ter os avanços conseguidos pelos ince nt i vos fiscais à inova ç ã o :

" Art. 4º Os re n d i m e n tos de que trata o § 2º artigo 1º da Lei n. º 11.033, de 21 de

d eze m b ro de 2004 dos fundos de inve s t i m e n to, em condomínio fe c h a d o, d e s t i-

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nados exc l u s i va m e n te a aplicações em empresas inova d o ra s, serão tri b u t a d o s

exc l u s i va m e n te por ocasião do re s g a te das quotas ou por ocasião de tra n s fe r ê n-

cia das quotas na hipótese de vendas pelo quotista às seguintes alíquotas":

I . 10% (dez por ce n to) nas hipóteses de re s g a te e/ ou tra n s ferência em até 5

( c i n co) anos da emissão das quotas.

I I . 5% (cinco por ce n to) nas hipóteses de re s g a te e/ ou tra n s ferência entre 5

( c i n co) e 7 (sete) anos da emissão das quotas.

I I I . 0% (ze ro por ce n to) nas hipóteses de re s g a te e/ ou tra n s ferência após 7

( s e te) anos da emissão das quotas.

§ 1º- O art. 3º da Lei n.º 11.033, de 21 de deze m b ro de 2004, passa a vigorar co m

a seguinte re d a ç ã o :

" Art. 3 º . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . "

" ....................................................."

" III- os ganhos de capital aufe ridos pelas pessoas físicas ou jurídica s, em inve s-

t i m e n to efetuado a mais de 720 dias por clubes de inve s t i m e n to na aliena-

ção de participação soc i e t á ria dire t a , como capital inicial com ca ra cte r í s-

t i cas de alto ri s co, em micro e pequenas empresas inova d o ra s.

§ 2º- O Mi n i s t é rio da Ciência e Te c n o l ogia ce rt i f i ca r á , p a ra efe i tos deste art i g o,

as empresas inova d o ras passíveis de inve s t i m e n to nos termos do caput e

aquelas que exerçam atividade inova d o ra de alto ri s co nos termos do § 1º

d e s te art i g o, na forma de norma própri a . "

• Outras pro po s t a s :

1 . Al ocação de parcela dos R$ 4,0 bilhões de co nt i n g e n c i a m e nto em um fundo,

j u nt a m e nte com outros inve s t i d o re s, seja para reduzir custos dos financiamentos at u-

ais para P&D seja para prog ramas selecionados de desenvo l v i m e nto te c n o l ó g i co ;

2 . Criação de prog ramas estrat é g i cos em algumas te c n o l ogias ou para alguns se-

to res cri a d o res e gera d o res de prog resso técnico envo l ve n d o, s o b retudo as empre s a s

do setor industri a l ;

3 . Es t a be l e c i m e nto de prog ramas de difusão de te c n o l og i a s, at ravés do estímulo

aos arranjos prod u t i vos locais e da constituição de Ce nt ros Se to riais de Inovação e de

Ge s t ã o ;

4 . Fo rt a l e c i m e nto da infra - e s t ru t u ra te c n o l ó g i ca , at ravés de: expansão da rede de

te c n o l ogias industriais básica s ; e l a bo ração de um plano estrat é g i co para o co n j u nto

dos institutos de pe s q u i s a , racionalizando e planejando sua capacidade de utilização;

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m o ntagem de esquemas que estimulem a instalação de infra - e s t ru t u ra empre s a ri a l

p a ra P&D; m od e rnização do INPI e adequação de seu pessoal técnico ; e

5 . Ne g ociação com as empresas multinacionais para que elas estabeleçam algu-

ma base de pesquisa no Bra s i l .

II.6 - POLÍTICA DE APOIO AOS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS

A estru t u ra industrial bra s i l e i ra é bastante co n ce nt ra d a , como pode ser observa-

do na figura a seguir. Em bo ra as micro, pequenas e médias empresas (MPME’s) re p re-

s e ntem 99% do número de empresas e re s pondam por ce rca de 65% do emprego ge-

rado no Bra s i l , o seu valor adicionado alcança apenas 35%. A título de co m p a ra ç ã o, a

p a rticipação desse gru po de empresas nos EUA é semelhante ao Brasil (98%), mas o va-

lor adicionado por elas é de 65%.

Fi g u ra 1. Es t ru t u ra Industrial dos EUA , São Paulo e Brasil (exce to São Pa u l o )

Esta co n ce nt ração é ainda mais ex p re s s i va devido ao grande dife rencial de prod u-

tividade ex i s te nte ent re as empre s a s, tal como demonstrado pelo gráfico abaixo.As em-

p resas de menor tamanho (ent re 5 e 29 pessoas ocupadas) não alcançam 20% da pro-

dutividade que é obtida pelas empresas de maior po rte, i s to é, com mais de 500 pe s s o-

as oc u p a d a s.

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De fato, esse dife rencial de produtividade é dete rminado pelos níveis de inve s t i-

m e nto em te c n o l ogia e em fo rmação bruta de capital fixo (máquinas, e q u i p a m e nto s

e tc) que nas MPME’s são muito infe ri o res aos efetuados nas grandes empre s a s.

Não obstante esse problema estru t u ra l , o po tencial de geração de emprego nas

m e n o res vem indicando que algo é preciso ser fe i to para apoiar estas empre s a s,de fo r-

ma a estimular a criação de empregos de que o Brasil tanto nece s s i t a .

As políticas para as MPME’s no Brasil quase nunca levaram em consideração o

potencial de geração de empregos dessas empresas.Além disso,avaliavam que as pe-

quenas empresas eram uma forma pouco eficiente de produção e, estrategicamente,

inviável.

Com os novos modelos de desenvo l v i m e nto que surg i ram nas décadas de 70 e 80

– que pri v i l e g i avam o te rri t ó rio como locus para a implementação de po l í t i cas de de-

s e nvo l v i m e nto – re n a s ce a impo rtância das empresas de pequeno po rte,s o b retudo em

função de sua capacidade gera d o ra de empregos e da possibilidade de estimular um

padrão de desenvo l v i m e nto menos co n ce nt rado e desequilibrado re g i o n a l m e nte.

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Valor Adicionado por Pessoal Ocupado segundo o Porte das empresa

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Ne s te novo ce n á ri o, os arranjos prod u t i vos locais (APL’s)e as redes de MPME’s sur-

gem como uma alte rn at i va de desenvo l v i m e nto. Estas fo rmas de organização gera m

uma dinâmica local co n s t ruída pela inte ração ent re os dife re ntes agentes loca i s,na qual

o todo é muito maior do que a soma das parte s.

As po l í t i cas para APL’s são co n s i d e radas po l í t i cas industriais mais mod e rnas po r-

que são po l í t i cas desce nt ra l i z a d a s, com foco na inova ç ã o, e po rque co ntam com o ava l

da Organização Mundial do Co m é rc i o, que condena as po l í t i cas industriais mais tra d i-

c i o n a i s.

Desde o início do século XXI dife re ntes instituições têm trabalhado com APL’s no

Brasil e o gove rno fe d e ral vem proc u rando fazer a inte g ração das ações por meio do

G T P. Criado no início de 2003 ele proc u ra unir esforços e evitar a supe rposição de açõ-

es de recursos estru t u rando uma po l í t i ca única para os APL’s.

Em nove m b ro de 2003 o gove rno lançou as Di re t ri zes para a Po l í t i ca Industrial que

co ntempla ações para empresas em APL’s.Essas ações proc u ram facilitar a obtenção de

f i n a n c i a m e ntos por gru po de empresas e ince nt i var a atuação co n j u nta para a gera ç ã o

do desenvo l v i m e nto te c n o l ó g i co e da inova ç ã o. No ent a nto, essas ações ainda têm ca-

r á ter muito genéri co e não estão dev i d a m e nte estru t u radas de fo rma a se co n s t i t u í re m

em medidas ope ra c i o n a l i z á ve i s.

Como fo rma de incre m e ntar a atuação em APL’s de MPME’s enco nt ra-se a seguir

um co n j u nto de sugestões para ações objetiva s, que resultam da ex pe riência que a

FIESP está obtendo com o seu prog rama no Estado de São Pa u l o.

Me rca d o

De fo rma a facilitar o acesso aos mercados e incre m e ntar a visão do po s i c i o n a-

m e nto estrat é g i co que os arranjos estimulam, o gove rno deve realizar pesquisas de

m e rcado nos seto res de maior co n ce nt ração de APL’s, que servirão como dire c i o n a d o-

res das ações destes pólos.

Por meio da Agência de Promoção de Exportações do Brasil – APEX, o Executivo

pode disponibilizar e divulgar para os Arranjos Produtivos Locais, as informações so-

bre prospecção, pesquisas de mercado internacional, cadastro de compradores e

principais t ra d e r s.

I n ova ç ã o, te c n o l ogia e gestão

O u t ra po l í t i ca nece s s á ria é a realização co n j u nta com o Se rviço Nacional da

I n d ú s t ria- SENAI e o Se rviço Bra s i l e i ro de Apoio às Mi c ro e Pequenas Em p resas –

S E B RAE de ações de apoio e estímulo à qualidade e ao ape rfe i ç o a m e nto de proce s s o s

p rod u t i vos das empresas inseridas em Arranjos Prod u t i vos Loca i s, de fo rma a estru t u-

rá-las para a co m pe t i t i v i d a d e.

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Há que se estru t u rar uma Rede Nacional de Arranjos Prod u t i vos Loca i s,p a ra troca

de info rmações e ofe rta de serviços e prod u tos públicos (pesquisas de merca d o s, ca-

d a s t ro de co n s u l to re s, plano de negócios, a u to diagnósticos etc) e há que se qualifica r

a g e ntes locais para melhor ope rar esta Re d e.

Também é nece s s á rio criar mecanismos de apoio para pro j e tos de gru pos de em-

p resas que co ntemplem atividades co l e t i vas nas áreas de inovação e de te c n o l og i a .

Por fim, d eve-se apoiar a estru t u ração de Ob s e rvat ó rios de Co m pe t i t i v i d a d e

Se to rial (Te c n o l og i a , Me rcado e Inovação) e Ce nt ros Locais de Inovação dos APL’s.

Recursos finance i ro s

Uma das pri o ridades de prog ramas de apoio às empresas de menor e médio po r-

te é apoiar soluções para facilitar o acesso ao crédito de fo rma a ince nt i var ações coo-

pe radas (co n d o m í n i o s, co m p ra de máquinas, meio ambiente etc) tais co m o :

Coo pe rat i vas de Cr é d i to

Ga ra ntia So l i d á ri a

Fi n a l m e nte, s u g e re-se a customização das ações dos Ba n cos Públicos de Va re j o

( Ba n co do Brasil e Caixa Eco n ô m i ca Fe d e ral) para ate n d i m e nto de Mi c ro, Pequenas e

Médias Em p resas inseridas em Arranjos Prod u t i vos Loca i s.

Recursos Humanos

De fo rma a criar suste ntabilidade para as localidades deve-se pro m over ca p a c i t a-

ç ã o, p a l e s t ras e ações de divulgação para lideranças locais e re p re s e nt a nte s, o b j e t i va n-

do a qualificação dos ato res locais para obtenção de recursos públicos voltados para

g ru po de empresas e acesso aos serviços de apoio do gove rn o.

As instituições de apoio e fo m e nto à qualificação de pessoal (CNPq, Fa pe s p,

Ca pes) devem ser ince nt i vadas a ampliar suas atuações em Arranjos Prod u t i vos Loca i s,

estimulando maior inte g ração ent re a universidade e a empresa e pro m ovendo massa

c r í t i ca local nos arra n j o s.

Em te rmos de fo rmação técnica , d eve ser co n cebido um modelo de qualifica ç ã o

de mão-de-obra pelo Se rviço Nacional da Indústria - SENAI com recursos do Fundo de

Am p a ro ao Tra b a l h a d o r, ajustado às especificidades de cada APL.

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