88
A CONEXÃO CRIATIVA (1) (2) Natalie Rogers INTRODUÇÃO: “A resposta me leva a responder. O movimento me move. Sinto-me deliciada e encantada olhando o meu/nosso mistério. Tambores são esmurrados, estrondam, Minha raiva emerge e mexe comigo... com você... comigo... com você. Medo do tremor... tremor do medo.” “Deixar acontecer é uma liberação da vida. Deixar acontecer nos faz líricos, macios, um rio impetuoso correndo, cambaleante, circunavegante, canção cânone, vindo e indo “A resposta me leva a responder encontrando mais de mim mesmo, sendo totalmente eu Meu corpo é a mensagem... a mensagem, meu corpo. (massageia meu corpo)” “Dor? Raiva? Amor? Conforto? Sacodem partes novas em mim/nós. Eu posso fazer isto. Meu corpo se esforça, se arrisca a ser, a ver, e a sentir a mensagem.”

A CONEXÃO CRIATIVA

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Terapia Expressiva Centrada na Pessoa: contribuição de Natalie Rogers, através da conexão Criativa

Citation preview

Page 1: A CONEXÃO CRIATIVA

A CONEXÃO CRIATIVA (1) (2) Natalie Rogers

INTRODUÇÃO:

“A resposta me leva a responder. O movimento me move. Sinto-me deliciada e

encantada olhando o meu/nosso mistério. Tambores são esmurrados, estrondam,

Minha raiva emerge e mexe comigo... com você... comigo... com você. Medo

do tremor... tremor do medo.”

“Deixar acontecer é uma liberação da vida. Deixar acontecer nos faz líricos,

macios, um rio impetuoso correndo, cambaleante,

circunavegante,

canção cânone,

vindo e indo

“A resposta me leva a responder encontrando mais de mim mesmo, sendo

totalmente eu Meu corpo é a mensagem... a mensagem, meu corpo. (massageia meu

corpo)”

“Dor? Raiva? Amor? Conforto? Sacodem partes novas em mim/nós. Eu posso

fazer isto. Meu corpo se esforça, se arrisca a ser, a ver, e a sentir a mensagem.”

“Criando o espaço, descobrindo, explorando... aonde ir, o que encontrar, como

viver... como ser eu mesmo, totalmente ou livremente... respondendo, dando, recebendo,

prestigiando, acariciando, fazendo, desfazendo, deixando fluir, fazendo sons. Isto pode

ser feito. Posso ajudar isto acontecer. Soando a profundidade, indo ao fundo do poço.”

“Esta é a primeira vez que eu tive um grupo de três dias para eu mesma fazer

este trabalho (seria isto um trabalho?). Estou pronta para orquestrar estes dias de

abertura para si mesmo e para os outros. Que ambiente fabuloso! E as pessoas estão

querendo o que eu tenho a oferecer...”

Page 2: A CONEXÃO CRIATIVA

____________________

1 Trabalho apresentado no I Fórum Internacional da Abordagem Centrada na Pessoa, México, 1982.

2 Tradução de Maria do Céu Lamarão Battaglia e Revisão de Marcia Tassinari – Abril – 1989

Escrevi estas linhas após uma manhã de trabalho com um grupo de quinze

pessoas através de alguns movimentos (vagarosos e rápidos) com e sem sons e música.

Depois do movimento, nós utilizamos lápis cera e expressamos nossos sentimentos

usando cor, linha e ritmo sobre o papel. Depois de criarmos nosso painel, nós

escrevemos por dez minutos sem parar para editar o que escrevemos ou nos preocupar

com a grafia ou pontuação. Então o poeta em mim e nos outros, transbordou. Meu

entusiasmo, por ser possível ter pessoas que queriam aprender comigo num ambiente

convidativo, estava aparente.

Este grupo em particular ocorreu em Averbad, na Bélgica. Nós estávamos em

um mosteiro do século XIV, no 5º andar, avistando um pátio. A antiga parede de pedra

circundava alguns celeiros para os carneiros, alguns chalés para os fazendeiros, o

gigantesco mosteiro e a igreja. Nosso quarto era uma grande capela, de teto bem alto e

um tapete vermelho cor forte. Os bancos da capela e todos os símbolos religiosos foram

removidos no fim de semana para utilizarmos o espaço com o nosso workshop, “The

Creative Connection”. Nossa reclusão num lugar como este, onde as pessoas têm

pensamentos voltados para encontrar sua verdade interior e se conectar com o universo,

parecia bastante apropriado. O processo que desenvolvo visa nos ajudar a fazer a

conexão com nosso inconsciente e com o universo. É como descobrir o quão profundo

nossas raízes precisam ir para nos possibilitar alcançar as estrelas.

É difícil colocar em palavras (desde que as palavras são lineares) um processo

que necessita ser experienciado para ser totalmente compreendido. Contudo é o que

tentarei fazer neste artigo. Eu realmente necessito de música, slides, um local para

dançar e uma forma de envolver vocês para descobrirmos juntos o processo de

desabrochar. E, a medida que escrevo, sinto-me como desembrulhando uma criança que

está iniciando seu desenvolvimento. Mesmo tendo trabalhado uma meia dúzia de anos

com este processo, não tenho “respostas”. Estou dividindo com vocês minhas

descobertas.

Page 3: A CONEXÃO CRIATIVA

COMO A ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA EVOLUIU PARA A

TERAPIA EXPRESSIVA?

Em 1974 iniciei, com meu pai Carl Rogers e mais cinco colaboradores,

workshops de verão residenciais chamados “The Person Centered Approach”. Por sete

estações nós nos reunimos em várias partes do mundo (de San Diego, Califórnia até

Nottingham, Inglaterra) com a participação de sessenta a cento e cinqüenta pessoas.

Estes workshops foram grandes experiências de aprendizagem para mim como um dos

membros do staff. Nós tínhamos encontros da comunidade (grupão), grupos de

encontro, grupos de interesse e bons momentos. Jared Kass (um dos membros do staff)

e eu sentimos necessidade de algo mais que falar e, logo oferecemos um “grupo de

movimento” (o qual era muito mais que movimento, e alertava as pessoas para o fato de

que elas não teriam que ficar apenas sentadas e falando) ou um “grupo de arte e

movimento”, ou “espaço-studio” que envolveria toda a mídia.

Jared e eu não sabíamos como descrever o que fazíamos. Se tivéssemos que

escrever uma brochura para divulgar nosso trabalho, nos atrapalharíamos. Como haviam

muitas pessoas nestes workshops que se empolgavam conosco como pessoas

experimentando coisas novas elas vieram aprender conosco. Jared e eu morávamos em

lugares distantes e esta era a única oportunidade que tínhamos de nos encontrar em cada

ano que trabalharmos juntos. Para mim, cada verão era a centelha que mantinha fogo

aceso para este tipo de trabalho durante o ano. Após um dia estimulante em San Diego

solicitei uma sessão de feedback acerca de trinta e cinco pessoas. Dei por mim tentando

explicar o que eu e Jared estávamos fazendo, o que foi gravado: “Sinto que alguma

coisa está acontecendo no intimo desta experiência intensa e que é realmente um tipo de

experiência extraordinária, que não sei exatamente o que é. Conheço alguma coisa do

que estamos fazendo. Estou atenta de que a forma que estamos operando, é uma forma

de hemisfério-direito. Usamos um processo não linear intuitivo e integrativo. Jared e eu

nos complementávamos e usamos nossa energia para criarmos essa experiência.

Posso lhes falar um pouco sobre o que isto é. Não é brincar, não é teatro, não é

realmente uma improvisação, dança ou mímica. Não é arte terapia, não é diário escrito,

não é trabalho de corpo, não é estimulação sensorial, e ainda (a esta é uma parte

importante) é tudo isso junto.

Page 4: A CONEXÃO CRIATIVA

“Jared e eu somos treinados em todas estas áreas e já vivenciamos tudo isso,

tanto como participantes, quanto como professores. Mas o que me empolga é

exatamente integrar, todas estas áreas e verificar que esta soma é mais do que qualquer

um destes métodos em separado. Eu não compreendo exatamente o que ocorre e, é por

isso que preciso de vocês para nos ajudar. Está bem para mim estar neste período

duvidoso e de questionamento sobre o nosso trabalho.

“Estou consciente que estamos usando o sentido intuitivo, sensorial e

cinesterico... Em nossa longa sessão diurna chamada “The Creative Connection” nós

nos voltamos para: a criança em nós, o primitivo em nós, o mitológico, o alegórico, o

psique e nossa conexão com o cosmos. Isto é, algumas vezes, eu sinto e me abro para

receber o que estiver para emergir. Também percebo que algumas vezes nós

encontramos nossas facetas primitivas e regredimos. Outras vezes nos sintonizamos

com a natureza. Às vezes sinto mesmo que estamos conectados com nossas vidas

passadas, se é que existe tal coisa”.

A carta seguinte a meus colegas também dará ao leitor o contexto no qual esta

abordagem evoluiu:

“Queridos amigos e colegas,

Este programa reflete meu desenvolvimento pessoas como psicoterapeuta. Como

uma forte seguidora da teoria de meu pai, Carl Rogers, a Terapia Centrada no Cliente,

eu primeiramente percebi que sendo uma ouvinte empática (isto é, ouvindo a “música”

da mesma forma que ouça as palavras) e, partindo do ponto de referencia interno do

cliente, possibilito que ele encontre sua verdade interior. É também imprescindível

oferecer um clima seguro e de amor, onde o cliente e eu possamos ser abertos e

autênticos.

A partir daí, tornei-me consciente do contexto político /social no qual vivemos.

Nossas teorias de crescimento pessoas evoluíram fora das crenças, das necessidades e

dos valores de nossa época. Em nossa era, os papéis masculino e feminino têm muito a

ver com nossos problemas e patologias pessoais. Olhando para minhas próprias

dificuldades nos relacionamentos, escrevia meu diário e, criava quadros ligeiros de meu

humor, que capturavam meus sentimentos naquele momento. Sobre isto escrevi alguma

Page 5: A CONEXÃO CRIATIVA

coisa no livro “Emerging Woman” e fiz uma exposição artística: “Self Understanding

through Expressive Art” (A mulher emergente).

Acredito que estamos na era da transformação. Como uma espécie nós ou

alteraremos nosso estado de conscientização ou perecemos. Existem, evidentemente,

muitas formas de transformar a conscientização de uma pessoa. Como terapeuta, olho

novamente para a minha própria experiência, para encontrar minha relação com o

universo. Descubro que, a medida que uso meu corpo em movimento com consciência,

debato-me em emoções inexploradas, as quais podem então ser expressadas por meio da

arte, escrita, sons ou movimentos/dança. Seguir esta sequência abriu-me as portas para

meu intuitivo e criativo self (eu). Denominei esto de “The Creative Connection” ( A

Conexão Criativa).

Nos grupos que facilitei, constatamos que o processo martela em nosso self

primitivo, nosso self criança, nosso lado de sombra e nosso lado de luz. Uma

conscientização de grupo emerge. Este processo é, para muitas pessoas uma integração

de mente, corpo, emoção e espírito. Agora estou me juntando com outros para

compartilhar nosso aprendizado. Queremos ensinar aquilo que queremos aprender.

Você é parte do processo. Eu imagino uma árvore; as raízes são a filosofia centrada no

cliente, tão básica para o crescimento humano; o tronco é o contexto social no qual

existimos e os inúmeros galhos e flores são os modos de criatividade e beleza que temos

dentro de nós. Estamos ainda para descobrir os frutos verdadeiros.

Sinceramente, Natalie Rogers”,

Uma vez que as raízes da minha filosofia vêem da Abordagem Centrada na

Pessoa ou Centrada no Cliente, de meu pai e uma vez que esta abordagem muito

especificamente permite ao cliente encontrar seu caminho, tornou-se um dilema durante

meus primeiros anos de profissional, de como eu poderia conduzir a pessoa em

exercícios estruturados e ser também centrada na pessoa. Na década de 70, quando eu

estava trabalhando em uma Universidade na unidade de pacientes internos, eu era uma

terapeuta de grupo fazendo experiências com o uso da arte terapia e da ioga para ajudar

a libertar estes jovens adultos de suas amarras emocionais. A medida que eu dava as

instruções para que se movessem ou desenhassem, uma vozinha dentro de mim dizia,

“Você não está sendo uma terapeuta centrada no cliente. Você está dizendo a esta

pessoa o que fazer”. Eu sentia como se estivesse traindo a filosofia de meu pai. Os

Page 6: A CONEXÃO CRIATIVA

clientes, no entanto, me davam um feedback de que eu era muito tímida na maneira

como passava as instruções para as pessoas. Eles me diziam: “Aquilo que você tem para

oferecer é bom, não se desculpe por isso, mas fale alto e claro”.

A confusão na minha mente vinha da observação de meu pai como facilitador de

grupo. Sua maneira pessoal de iniciar seus grupos de “crescimento pessoal” era dizendo

as pessoas: “Sou Carl e estou aqui para conhecer você o mais profundamente possível e

para deixar que vocês me conheçam”. Esta era toda a estrutura. Deste ponto ele seguia a

liderança dos participantes. Este estilo, como eu vejo, é profundo no sentido de que

imediatamente coloca toda a responsabilidade da direção do grupo nas mãos de cada

individuo. Eventualmente eles começam a perceber que: “Se eu quero que aconteça

alguma coisa, tenho que fazer com que isto aconteça”. Algumas pessoas aprendem

rapidamente a se tornarem potentes, e outras nunca tiram proveito dessa oportunidade.

Uma vez eu aprendi muito por mim nestes grupos “não estruturados” sobre me

potencializar, ainda levou algum tempo para que eu entendesse que existem meio de ser

um “facilitador centrado na pessoa”. Centrado na pessoa, na minha mente, não quer

dizer sem estrutura. Em minha opinião, a não estrutura de Carl é muito claramente uma

estrutura com alguns resultados previsíveis.

Acredito que seja importante entender a diferença entre liderança e facilitação.

Carl tem um estilo de liderança que abrange sua filosofia mas é também uma projeção

da personalidade dele.

Sinto que quando aplico a filosofia dele a meus grupos, minha personalidade irá

determinar a estrutura. Meus valores, minha filosofia, o modo que sou como facilitadora

é aceitador, congruente, empático e vindo do coração (Não gostei das palavras

consideração positiva incondicional). O que faço como facilitadora é oferecer as pessoas

algum movimento, técnicas de arte e escrita, que irão dar a elas uma maneira de se

expressar sem verbalizar. Eu as conduzo em exercícios estruturados em movimentos de

modo que eles tenham o “vocabulário” com o qual poderão falar através de seus corpos.

Eu os levo, através de experiências de arte, fantasia e escrita, que irão possibilitar a elas,

a exploração de seu mundo interior. Deste modo, respondo a eles no meu modo

(centrado na pessoa). Ser um psicoterapeuta e um facilitador de grupo é uma forma de

arte baseada na filosofia e não na metodologia.

Page 7: A CONEXÃO CRIATIVA

Para aqueles leitores que não sejam estreitamente familiarizados com a

Abordagem Centrada na Pessoa, esta discussão pode parecer desnecessária. Para

aqueles de nós que batalharam com o fato de terem um estilo diferente com o pai da

Abordagem Centrada na Pessoa, isto faz sentido.

O QUE É A TERAPIA EXPRESSIVA?

As palavras “Terapia Expressiva” ou “Terapia da Arte Expressiva” foram usadas

para descrever as terapias não verbais: Dança-terapia, Arte-terapia e em particular,

músico-terapia. Este termo inclui também terapia através da escrita (particularmente

poesia), drama e teatro improvisado.

Minha própria definição evoluiu com o passar dos anos e inclui as palavras

“Abordagem Centrada na Pessoa para a Terapia Expressiva”, para distinguir a minha

abordagem da escola analítica de psicoterapia e das artes. Estou combinando o processo

de psicoterapêutico centrado na pessoa com o uso de formas de expressão artística.

Meu processo é assim:

“O Terapeuta Expressivo combina o movimento arte-escrita, imaginação guiada

pela música, meditação, trabalho corporal, comunicação verbal e não verbal, para

facilitar o auto-conhecimento interior, a auto-expressão, a criatividade e estados mais

alteados da consciência. Este é um processo integrador que utiliza nossas habilidades

intuitivas tanto quanto nossos processos de pensamento lógico lineares. Envolvemos

nossa mente, corpo, emoções e espírito: A Abordagem Centrada na Pessoa,

desenvolvida por Carl Rogers, enfatiza ao papel do facilitador como sendo empático,

congruente, aberto e honesto, na medida em que ele/ela escuta em profundidade e

facilita o crescimento do indivíduo ou do grupo. Esta filosofia incorpora a crença de

que cada indivíduo tem valor, dignidade e a capacidade de se auto dirigir”.

A medida que observo aquilo que outros terapeutas expressivos estão fazendo e

escrevendo, chego a conclusão que eu e uns poucos colegas desenvolvemos um

processo bastante singular. Os departamentos das Universidades de Terapia Expressiva

oferecem cursos separados de dança-terapia, arte-terapia, etc. Estou interessada em

combinar as diversas formas de expressão para desencadear o potencial criativo que

Page 8: A CONEXÃO CRIATIVA

existe em cada indivíduo. Estou intrigada com aquilo que chamo “a conexão criativa”.

Quer dizer, a conexão entre o movimento, escrita e arte. Quando toma consciência de

meus movimentos, me abro para sentimentos profundos que poderão então ser

expressos em cor, linha ou forma. Quando escrevo imediatamente após o movimento e a

expressão artística, existe um fluir (algumas vezes poesia). Quando descobri este

processo, por mim mesma, quis expandi-lo e criar uma atmosfera onde outros poderiam

se explorar do mesmo modo.

Mais adiante irei discutir as várias sequências que desenvolvi para atingir entre

processo de abertura. Por agora, quero frisar que estou dando ênfase a um processo, não

aos produtos da arte ou execução da dança. Desejo permitir que as pessoas possam se

desinibir (descascar a cebola) e usar os sentimentos que estão aflorando como uma fonte

para seu auto-conhecimento e criatividade. Frequentemente isto leva também a uma

sensação de unidade com o Universo.

Cito uma descrição em um curso de fim de semana:

“Se você dança mas não escreve, se você escreve mas não pinta, se você pinta

mas não se move, este é um curso para você descobrir as conexões. Ou se você pensa

que não faz ou não pode fazer nenhuma dessas coisas, junta-se a nós e você ficará

surpreso. Nós criamos para conectar as nossas fontes interiores e para alcançar o mundo

e o Universo. Iremos discutir como estas formas de expressão poderão ser usadas no seu

trabalho e em suas casas”.

A estrutura improvisada fornece um caminho para usar todas as nossas partes

livremente. Esta pode ser uma jornada alegre, cheia de vivacidade, onde aprenderemos

em muitos níveis: o sensorial, cinestésico conceitual, emocional e místico.

Aqui alguns participantes descrevem o que aconteceu para eles nestes

workshops: “Explorando meus sentimentos descobri que eu poderia romper estruturas

ou barreiras interiores, que havia imposto a mim mesmo, através do movimento/dança

das emoções. Desenhar aquele sentimento após o movimento fez com que continuasse a

fluir o processo de desdobramento. Aprendi a buscar novamente, a abrir Mao daquilo

que “sei”, meus sucessos, minhas realizações e meus conhecimentos. Descobri a

importância de ser capaz de recomeçar.

Page 9: A CONEXÃO CRIATIVA

É muito mais fácil para mim lidar com algumas emoções fortes “fazendo” do

que falando/pensando”.

Acredito que todos nós somos capazes de ser profunda e lindamente criativos

quer visando esta criatividade no modo como nos relacionamos com nossa família, ou

pintando um quadro. As sementes da maior parte de nossa criatividade vem do

inconsciente, de nossos sentimentos e intuições. O inconsciente é o nosso poço

profundo. Muitos de nós pusemos uma tampo sobre este poço. Os sentimentos também

são uma finte de nossa criatividade, amor, ódio, medo, mágoa, alegria, todas elas são

emoções que podem ser canalizadas em feitos criativos dança, música, arte ou escrita.

Quais são os meus objetivos quando eu encaminho as pessoas através deste

processo?

Eu espero prover um clima onde as pessoas possam:

■ Explorar suas forças interiores (o que inclui olhar para o seu lado

sombrio);

■ Experienciar a si próprio e aos demais de maneiras significativas;

■ Abrir-se para suas habilidades intuitivas;

■ Aprender a se expressas por diversos meios;

■ Experienciar uma consciência de grupo;

■ Integrar suas mentes, corpos, emoções e espírito.

O que uma terapeuta expressiva faz é ajudar as pessoas a abrir o hemisfério

direito de seu cérebro que é a parte que nos permite ser intuitivos holísticas, emocionais

subjetivos. Acredito que se o mundo deve sobreviver e ir além desta era tecnológica

nós, como indivíduos, devemos ampliar o lado direito de nosso cérebro. Porque, a

medida que cada um de nós encontra seu equilíbrio interno, também o mundo entrará

mais harmoniosamente em equilíbrio.

Resumindo, um indivíduo que se torna um terapeuta expressivo centrado na

pessoa se encontrará guiando as pessoas através do movimento consciente, das

experiências artísticas pela improvisação com a musica e dramatização, numa atmosfera

que compreende as diferenças e respeita a visão do mundo e os problemas pessoais de

cada um. Tal terapeuta irá criar uma atmosfera de confiança e comunicação entre as

Page 10: A CONEXÃO CRIATIVA

pessoas e estará preparado para aprender dos participantes, permitindo ao processo do

grupo emergir em um esforço criativo geral.

PREPARANDO O CENÁRIO PARA UM PROGRAMA DE TERAPIA

EXPRESSIVA CENTRADA NA PESSOA

O ambiente físico:

O local em que estamos afetam nosso modo de sentir e aquilo que podemos

fazer. Portanto um ambiente apropriado para nossas atividades criativas é essencial. Dos

espaços que tenho usado três deles se sobressairiam como sendo muito adequados às

nossas atividades. Um foi o espaço da Capela na Bélgica mencionado no início deste

artigo, outro foi o espaço em uma velha capela em New College, em São Francisco e o

terceiro foi o espaço dormitório em Ashland, no Oregon. Ambas as capelas tinham tetos

bem altos, boa acústica, um grosso tapete no assoalho (que torna o sentar, deitar e

movimentos no chão muito mais confortável), de um lado um palco baixo e uma

iluminação que poderia variar. Ar fresco, alguma vista e privacidade são também pré-

requisitos. Se nós quisermos cantar alto ou agir como ursos cinzentos, devemos poder

fazer isso sem incomodar os outros. O espaço deve ser grande o bastante para um grupo

de vinte pessoas poderem se movimentar rapidamente sem bater nos outros. Ainda

assim deverá ser íntimo o bastante de modo que, ao sentarmos em um canto falando

sobre nossas descobertas interiores, não iremos sentir uma frieza impessoal no aposento.

Um ginásio é muito grande e a maioria das salas de reunião são muito pequenas. O

salão dormitório vazio, revestido de lajotas e as grandes janelas nos serviam muito bem.

No caso de respingar tinta no chão, tornava-se fácil limpar.

Preparei a sala previamente de modo que, as pessoas ao chegar pudessem

receber a mensagem (que fosse necessário que eu dissesse nada): aquele era um lugar

para se brincar, para tentar alguma coisa nova, onde todos eles seriam ajudados no

processo. Nas paredes, alguns cartazes que discutem o processo criativo e fornecem

subsídios para o processo do grupo que estamos para começar. Alguns desses cartazes

dizem:

CRIATIVIDADE - “Não acho que a experiência do processo criativo significa o

fenômeno sobrenatural que irá acontecer apenas em momentos muitos muito especiais.

Também não acredito que ele seja frágil no sentido de que irá se dissolver ou

Page 11: A CONEXÃO CRIATIVA

desaparecer se tentarmos compreendê-lo... Ao invés, parece-me que criatividade é um

predicado que todos nós temos. É um fenômeno humano que deverá ser experienciado

por todos nós, que traz alegria e compreensão as nossas vidas” (COELLEN KIBERT).

“O motivo principal da criatividade parece ser a mesma tendência que nós

descobrimos tão profundamente como a força curativa em psicoterapia: a tendência do

homem de se atualizar, de reconhecer suas potencialidades” (CARL ROGERS).

BRINCADEIRA – “O principio dinâmico da fantasia é a brincadeira que pertence a

criança e, como tal, parece ser inconsciente com o principio do trabalho. Porém sem

este brincar com a fantasia, nenhum trabalho criativo jamais nasceu. (CARL JUNG)

Em volta das paredes da sala estão localizadas mesas com vários equipamentos,

material artístico, instrumentos musicais e fantasias. A medida que os participantes

começam a se movimentar em volta do aposento para explorar o ambiente (o que eu os

convido a fazer) isto é o que eles veem:

■ Uma mesa com material artístico incluindo tintas e óleo, vários tamanhos e cores

de fita gomada, grampeadores, hifrocor, papel, argila, pratos de papel (para usar

embaixo das peças de barro ou qualquer outro propósito) e talvez algum material

para colagem como revistas, fazendas, algodão e lixas de papel;

■ Uma mesa com instrumentos musicais que qualquer pessoa seja capaz de tocar

como: tambores, pratos, sinos, tamborins, triângulos, blocos de madeira, latas e

jarras e flautas simples;

■ Equipamentos de som incluindo um gravador, um cassete e um sistema stereo

com discos;

■ Uma mesa com fantasias, maquiagem e um espelho na parede. Quando eu digo

“fantasias” não menciono item complicador de teatro, porém peças colecionadas

durante anos para mudar o vestuário, coisas que podem ser convertida em

muitos usos, tais como xales, chapéu de todos os tipos perucas, grandes pedaços

de pano, bijuterias antigas, roupões de banho ou quimonos, um guarda chuva ou

bengala, grandes jaquetas e mascaras. Esperamos que o aposento tenha um

espelho bem grande assim como espelho de parede que providenciei

anteriormente;

■ Algumas vezes tivemos materiais que poderiam ser usados para construir

estruturas, coisas tais como escadas e pranchas de madeira, caixas ou módulos

Page 12: A CONEXÃO CRIATIVA

de papelão grosso, uma rede de tênis ou um para quedas. Estes itens podem ser

usados para modificar totalmente o ambiente se os participantes assim o

desejarem;

■ Uma mesa cheia de livros e artigos em exposição para consulta e leitura. Tenho

livros com quadros de mascaras e grupos primitivos praticando seus próprios

rituais e também os livros que constam das referências deste artigo. Os tópicos

são: arte-terapia, terapia do movimento, músico-terapia, criatividade, discussões

sobre o hemisfério direito do cérebro e artigos sobre o processo de grupo e

psicoterapia centrada no cliente;

■ É conveniente também ter um colchão ou grandes travesseiros onde as pessoas

possam cochilar, relaxar ou cair com segurança sem se machucar;

■ Caso meu sonho se realize, algum dia terei equipamento de vídeo e uma pessoa

que goste de participar ficando atrás da câmera. Uma das mais eficazes

ferramentas para a aprendizagem neste tipo de trabalho é o feedback pelo vídeo.

Tive a ocasião de experienciar isto numa das aulas de movimento de Anna

Halprin e achei de um valor incalculável. Usei esta técnica treinando

conselheiros mas nunca tive a oportunidade de usar este sistema no meu trabalho

de Conexao Criativa. Como participante você irá explorar este ambiente e as

possibilidades de tentar novas coisas irão ocorrer. Talvez seja amedrontador

antecipar o que pode vir a acontecer, se você não estiver se sentindo bloqueado

no uso de qualquer desses materiais ainda assim a variedade de materiais é

tentadora. Sua tendência natural será: pegá-los, olhá-los, tocá-los e experimentá-

los. Algumas pessoas têm a reação “Oh! Que bacana”, outras poderão pensar

“Meu Deus! Em que espécie de bobagem eu fui me meter!” Outros podem se

sentir tímidos, porém curiosos.

O ambiente, no entanto, compõe a atmosfera para o trabalho/brincadeira que irá

acontecer. Apesar de eu estar coordenando um grupo sob luz florescente, num espaço

sem janelas, de ar condicionado no Hyatt Hilton Hotel, gosto de criar um ambiente que

proporcione comunicação, divertimento e intimidade, esteja eu na minha casa ou no

trabalho. Ar fresco, luz natural e cores quentes ajudam.

O CLIMA PSICOLÓGICO

Estou ciente, como facilitadora de grupo, que muitas pessoas se sentem

inibidas, encabuladas ou bloqueadas quando se trata de usar seus corpos em

Page 13: A CONEXÃO CRIATIVA

movimento, ou usando materiais de arte, ou fazendo qualquer tipo de

“performance”, ou mesmo escrevendo. Faço o possível para ajudar as pessoas a se

sentirem bem-vindas, seguras, compreendidas e amparadas. Estou sempre lá para

saudar as pessoas a medida que vão chegando. A medida, que o grupo inicia,

apresento-me num nível pessoal contando aos participantes algumas coisas de minha

vida corrente, sabendo que isso irá ajudá-los a falar sobre suas próprias vidas.

Algumas vezes falo sobre vencer minhas inibições no movimento e na dança.

Quando começo a usar meu material de arte, posso dizer: “Sei que seu professor de

arte no ginásio disse que você não sabe desenhar, mas isto não é desenhar... é apenas

um produto da arte”. Enfatizo que não estamos aqui para nos compararmos aos

outros, mas para dar um passo adiante onde quer que estejamos agora.

Frequentemente participo na movimentação, nos exercícios de arte e de escrita com

um ou mais parceiros. Isto é divertido e frutífero para mim (muitas vezes chego a

novos insights) e também permite aos participantes me conhecerem como pessoa

tanto como professora.

O clima psicológico de segurança é realçado pelo meu respeito pessoal em

relação a cada pessoa do grupo. Meu treinamento centrado na pessoa tem sido sempre o

alicerce para a facilitação das habilidades do meu grupo. Quando eu me apresento ou

quando as pessoas estão falando a respeito de seus problemas ou alegrias, deixo que elas

percebam que eu realmente estou escutando, frequentemente acrescentando um

comentário meu aquilo que eles disseram, demonstrando que escutei a “essência” de seu

dilema. Isto foi denominado “escutar ativamente”. Qualquer que seja o nome que se dê

a isto, sei que eu devo escutar a “música” tanto quanto as palavras, tenho que responder

como coração. Algum feedback que tenha recebido de meus participantes ilustram o

clima psicológico que tento criar.

“Natalie, seu equilíbrio entre participação e liderança esteve excelente. Sua

energia acalma e é agradável”.

“Você (e Jared Kass) são excelentes lideres de grupos e professores logo a

classe, realmente, tornou-se um processo ativo e coeso de aprendizagem”.

“Natalie esteve valorosa e receptiva, Jared esteve energético e inspirador”.

Page 14: A CONEXÃO CRIATIVA

“Eles nos deram a liberdade e o auxilio necessário para todo este

esclarecimento e crescimento pessoal”.

“O ponto alto foi a sua habilidade em facilitar o grupo em termos como nos

relacionarmos uns com os outros”.

MEU ESTILO DE LIDERANÇA

Como facilitadora de grupo, eu nos guio através de varias experiências

(movimentos, arte, etc.), participo nestas experiências e então facilito e participo nas

discussões que seguem. Revelo meus próprios sentimentos de ansiedade, raiva, o quanto

me preocupo ou fico confusa quando falo sobre minha própria dança ou pintura.

Também esclarecer os pensamentos e os sentimentos de alguns membros do grupo de

um modo que mostre, “compreendo aquilo que você está dizendo como uma pessoa

total”. Aprendi que quando eu ouço com sensibilidade e verbalizo aquilo que estou

percebendo, outros membros do grupo seguem este exemplo, o que, em troca, leva um

tipo orgânico de crescimento entre os membros do grupo, onde eles, eventualmente,

tomam a responsabilidade por eles mesmos e por todos. Frequentemente questiono as

pessoas para ajudá-los a localizar a tensão física ou seus corpos que podem estar

acompanhando sua dor emocional ou sua raiva. No entanto, raras vezes interpreto aquilo

que estão dizendo (ou dançando ou pintando ou escrevendo), se tenho uma suspeita

sobre aquilo que eles estão sentindo, irei esclarecer com eles. Poderei dizer: “Suas

palavras soam muito calmas e controladas, mas você me parece muito triste. Você tem

consciência disto? “o participante então poderá entrar em contato com seus próprios

sentimentos e verificar minha suspeita ou negá-la. Ele ou ela poderá dizer “não eu não

estou triste. No fundo estou mesmo com muita raiva”. Este seu sentimento é aceito.

Pela minha maneira de trabalhar através de uma escuta sensível, respeito pelo

outro e frequentemente dividindo o grupo em pequenos subgrupos de dois ou três para

um compartilhar mais pessoal, os participantes muitas vezes tornam-se conselheiros

entre si e a confiança no grupo impera. Quando o clima é psicologicamente seguro, os

indivíduos podem assumir novos riscos. Se eles sabem que estão sendo respeitados,

encorajados, empatizados e confrontados de maneira amável, estarão mais disponíveis a

Page 15: A CONEXÃO CRIATIVA

enfrentar o desconhecido. A seguir vem comentários de participantes que encontraram o

ambiente seguro o bastante para desenvolver novos aspectos sobre eles próprios:

“Fiz coisas que sempre temi, como ficar em pé diante de um grupo e atuar”.

“Senti-me vivo e energético a medida que interpretei meu desenho ou

representei um papel da nossa vila”.

“Liberar-me e criar espontaneamente apreciando aquilo que eu tinha criado

foi muito importante para mim”.

“Quantos anos eu vivi tentando estar OK nos padrões de outras pessoa?”

Embora eu frequentemente participe das estruturas ou exercícios que eu

mesmo dirijo, nunca perco contato com o fato de que como facilitadora sou a única

responsável pelo clima psicológico do grupo. Com isto quero dizer que deixar a

comunicação aberta entre a pessoas (particularmente no desenrolar de uma situação

durante o encontro) é responsabilidade apenas minha. Isto implica no estabelecimento

de algumas regras para a liberdade a segurança emocional e física. Tenho um pôster

com minhas regras escrita como um primeiro passo para que as pessoas possam

compreender o que se espera delas no processo do grupo. Creio que todos os

facilitadores de grupo desejam obter dos participantes um certo comportamento e

atitudes (tal como ser honesto e aberto com relação a seus sentimentos) e é de ajuda que

se tenha algumas destas expectativas colocadas em aberto. O mistério em relação ao

processo do grupo então desaparece.

Estas são as regras que estou usando no momento:

1. Estar ciente de seus sentimentos são uma fonte para que a expressão criativa seja

canalizada para a arte (pintura, argila ou colagem) ou escrita ou movimentação.

Por exemplo se você está se sentindo confuso, você pode dançar ou desenhar a

confusão. Mesmo se você estiver cansado, você pode dançar este cansaço. Se

você estiver triste ou alegre você pode usar cores ou um poema, uma canção ou

um movimento para expressar estes sentimentos.

2. Esteja ciente de seu próprio corpo e cuide de si próprio neste grupo. Você é a

única pessoa que sabe se está sofrendo alguma dor e precisará adaptar os

movimentos às possibilidades de seu próprio corpo.

Page 16: A CONEXÃO CRIATIVA

3. Todas as instruções dadas são sempre sugestões. Você tem a opção de não as

seguir.

4. Se você escolher observar, seja um observador participante. Isto poderá ser um

importante aprendizado para você e para o grupo. Você pode:

a. Identificar-se com alguém no grupo e experienciar através do outro;

b. Estar atento a interação e dinâmica do grupo;

c. Observar sem julgar.

5. Estas experiências e, em particular a movimentação, mexem com muitos

sentimentos. Se você sentir vontade de chorar ou emitir sons altos, isto é

definitivamente OK! Deixe que cada pessoa tenha seu próprio espaço para

experienciar estes sentimentos em profundidade sem interrupção para que ele/ela

possa encontrar uma maneira de colocar estes sentimentos dentro da arte,

movimento, música, sons ou escrita. Não se apresse muito em “ajudar”. Preste

atenção aos outros e seja atencioso, porém use seu bom julgamento ao permitir a

eles o tempo suficiente para experienciar seus sentimentos.

COMPONENTES BÁSICOS DO PROGRAMA DA TERAPIA EXPRESSIVA

CENTRADA NA PESSOA

A maioria dos programas de arte-terapia movimento, arte, escrita e

musica-terapia como cursos separados. Isto merece legitimo. Eu mesma estudei

movimento e arte-terapia separadamente. Gosto de pensar que estou oferecendo

alguma coisa única neste campo pela pesquisa da conexão entre estes modos de

expressão. Uma vez que eu gostei de dançar, pintar e escrever, me parece natural

que eu deseje colocar todas estas boas coisas no trabalho que faço como psicóloga.

Afinal, não é a orientação da vida, fazer todas as coisas que se gosta e receber algum

pagamento por isso?

Gostaria de discutir a terapia orientada humanisticamente atrás de cada

modo de terapia que utilizo. Gostaria de falar sobre cada modo separadamente,

descrevendo mais tarde como eu as coloco em sequência.

Existe uma diferença entre workshop de terapia expressiva e um

programa de treinamento. Os workshops são basicamente para o crescimento

individual dos participantes. Num programa de treinamento gastamos o tempo

Page 17: A CONEXÃO CRIATIVA

discutindo cada uma das modalidades de terapia separadamente, rebuscando dentro

da teoria a aplicação.

ARTE COMO TERAPIA

Cor, linha e forma fala a nós. A arte é uma linguagem. Ao pendurar

quadros nas nossas paredes ou indo a exposições de arte, estamos absorvendo a

mensagem daquela linguagem. Quando pegamos um giz vermelho na nossa Mao e

passamos no papel, nós estamos falando. Esta, é uma linguagem que não necessita

passar pelo processo de fazer palavras. É direta. Quando rabiscamos no bloco de

telefone estamos falando a nós mesmos (não sabemos aquilo que estamos dizendo

mas se olharmos realmente para os rabiscos poderemos ter uma impressão geral da

mensagem). As crianças se sentem confortáveis com esta linguagem. Durante um

tempo de sua vida, você não tinha consciência disso. Crianças pegam as cores e

brincam. Elas não estão preocupadas com a aparência do desenho ou aquilo que os

outros pensam sobre ele. Elas estão “explorando” livremente. A medida que vamos

crescendo, começamos a procurar aprovação imitando os outros e nos tornamos

preocupados com aquilo que fazemos.

Como uma arte-terapeuta, estou tentando criar uma atmosfera onde

passamos a re-experienciar a comunicação direta com a cor e a linha que tínhamos

como crianças. Não podemos de maneira nenhuma ser aquela criança novamente.

Nós sabemos demais. Mas existe umas maneira de nos permitirmos o luxo e a

alegria de nos expressarmos através da arte: pintura, pastel, colagem e barro.

Janie Rhyne, em seu livro “Gestalt Art Experience” (2), define cada uma

destas três palavras. Ela resume dizendo:

“Gestalt Art Experience, então, é todo o conjunto pessoal que você traz

nas formas de arte, estando envolvido nas formas que você cria como eventos,

observando o que você faz, na esperança de perceber através de suas próprias

produções artísticas não apenas sua própria pessoa como é no momento, mas,

também, alternando os caminhos que estão à sua disposição, criando aquela pessoa

que você gostaria de ser”.

Janie continua,

“Imagino que estou usando a comunicação artística como uma ponte

entre as realidades internas e externas, encorajando as pessoas a criarem sua própria

Page 18: A CONEXÃO CRIATIVA

forma de arte visual e usá-las como mensagens que estão mandando para si próprios.

Tomadas visíveis, as mensagens podem ser percebidas por quem as faz uma vez que

quem envia e quem recebe são a mesma pessoa, as chances de perceber o conteúdo

total da mensagem (gestalt), são grandes”. (3)

Como participante de um dos programas de treinamento da Janie, há

alguns anos, fui encorajada a manter uma coleção de meus trabalhos de arte.

“Durante o dia”, ela disse: “Pegue as canetas hidrocor ou o pastel e façam um

rabisco. Guarde estes rabiscos por muitas semanas e vejam o que acontece”.

O que me aconteceu foi que eventualmente deixei de me preocupar como

produto e apenas me divertir como processo. “Divertir” talvez seja a palavra errada.

Eu usei esse processo para descarregar alguns de meus sentimentos a respeito de

meu divórcio, de frustração, perda de identidade e de amor. Durante muitos anos

deixei de olhar os rabiscos. Quando o fiz, notei uma progressão como uma onda. Os

sentimentos chegando a um pico, se quebrando, se revolvendo, se espalhando e

então chegando a um pico novamente. Alguns dos rabiscos são barrados e feios,

alguns são gráficos, outros cheios de paixão e êxtase. Os blocos de papel que usei

cresceram de cindo ou seis polegadas para taboas muito maiores. Aparentemente os

de tamanho pequeno não mais puderam conter meu processo (4).

Agora passo para vocês o presente que Janie me deu. Eu encorajo os

outros a manterem seus arquivos de arte e sou a eles exemplos suficientes de

experiências nos meus workshops para que eles possam realmente utilizar esta nova

forma de linguagem, para que possam ver e entender a si próprios

O barro é algo que me interessa muito. A maioria das pessoas tem menos

preconceito sobre o que é “bom” e “mau” em esculturas e acham mais fácil apenas

brincar com o barro. A arte terapeuta Margaret Frings Keyes diz: “Materiais de arte

vivificam o processo e atingem diferentes níveis de personalidade muito mais do

que podem as palavras. O barro é usado pelas suas qualidades sensoriais, táteis e

capacidade de exprimir o não verbal. Eu particularmente gosto de usá-lo quando

tenho alguém que se mantém afastado de seus sentimentos pela análise e

especulação dos porquês de seu comportamento”. (5)

As palavras dos participantes do workshop descrevem o processo:

“Fiz dez rabiscos que disseram uma historia real sobre mim mesmo, a

qual eu não estava ciente durante o processo de fazê-los”.

Page 19: A CONEXÃO CRIATIVA

“... Desenhar com a minha mão esquerda abriu minha criatividade, me

fez mais solto”.

“Criar arte após me movimentar leva a criação mais espontâneas”.

Frances Fuchs,minha filha feminista e arte-terapeuta coloca isto poeticamente:

“A maior parte de minha dor psicológica chegou quando eu senti minhas

próprias possibilidades se estreitarem, quando o mundo pareceu pequeno e se

fechando. Foi naquele tempo, em que mais usei meu diário de arte, que a cor e a

forma abriram portas até então desconhecidas para mim, o auto conhecimento”.

Um propósito de arte-terapeuta é ajudar o individuo a liberar sua energia

criativa (daí para frente a escolha é sua, até mesmo para adquirir a habilidade e

disciplina necessárias tornando essa criatividade um produto profissional). A perda

da inibição pelo uso de materiais de arte é um grande passo. Fomos condicionados,

por muitos anos, para nos tornarmos inibidos principalmente por nossos professores

que nos graduaram em trabalhos de arte ou que nos disseram que não poderíamos

desenhar. Agora, leva tempo desatar estes fios apertados que nos amarram. Algumas

pessoas arrebentam estes fios, outras vão se enrolando lentamente.

Eu jamais presumi que tivesse me desatado. Ao contrario, criei um

ambiente para que eu também possa desenrolar os fios do condicionamento social

que diz: “O produto é aquilo que valemos, o processo meramente nos leva aquele

produto”.

MOVIMENTO COMO TERAPIA

Todos nós nos movemos todo o tempo. Tente ficar perfeitamente parado

e verá que isto é impossível. Movimento é vida e vida é movimento. Nossos corpos

estão expressando nosso estado interno todo o tempo. Mesmo assim a maioria de

nós fica congelada se alguém nos pede para nos mover ou dançar ou expressar

aquilo que estamos sentindo.

Atualmente, a movimentação pelo exercício físico está nos levando para

fora da cadeira de escritórios, durante hora de almoço para correr ou para as

academias, para nos esticarmos e adquirir força com exercícios aeróbicos. As

pesquisas dizem que as pessoas se sentem melhor, não apenas fisicamente mas

também psicologicamente; os corredores falam a respeito de estados alterados de

consciência durante a corrida ou de refletirem sobre um problema obtendo então

insights durante o percurso.

Page 20: A CONEXÃO CRIATIVA

Mary Whithehouse, uma dança-terapeuta de orientação humanista disse:

“Expressão criativa no movimento físico é linguagem sem palavras”. Ela está

dizendo que temos um completo sistema de linguagem (nossos corpos) que ainda

não havíamos percebido como tal. Estamos falando com ou através de nossos corpos

com cada bocejo, cada gesto, nossa distancia ou proximidade, e ainda assim poucas

vezes percebemos ser esta uma forma de falar.

O tipo de movimento que estou usando em meus grupos é um

movimento com consciência. A pessoa que está na aula de aeróbica não está

propriamente “sentindo” o movimento ale da preocupação em realizá-lo. O

“movimento consciente focaliza intencionalmente os sentimentos evocados quando

alguém se move. Quando estou tentando alcançar o céu com meus braços estendidos

como me sinto? Onde eu sinto o movimento? Quando eu estou na posição fetal, no

solo, como me sinto? Sozinha? Segura? O que acontece quando começo a me esticar

gradualmente? Se estou satisfeita que movimentos irão expressar este sentimento

para poder me comunicar com meus amigos? Se eu estiver zangada, que

movimentos irão demonstrar a zanga, soltá-la e me levar para outro nível?

Cheguei a conclusão que o modo como a pessoa se move, reflete seu

estado interior e sua personalidade. A dança-terapeuta Susan Wallock diz o

seguinte:

“O corpo e a psiquê são uma totalidade e a condição física é analogia à

condição psicológica. A comunicação não verbal revela como é o indivíduo, mesmo

que suas palavras digam outras coisas. Um principio na dança-terapia é que o corpo

não mente e que o movimento pode ser uma representação gráfica, uma metáfora,

para a dinâmica intra-psiquica da personalidade”. (6)

O primeiro passo na terapia do movimento é nos tornarmos conscientes

de nosso corpo – nossos movimentos no dia a dia tornam-se tão automáticos que

não temos consciência de como nos movemos ou qual o conteúdo emocional que

este movimentos passam. Podemos nos tornar conscientes de nossos corpos

focalizando nossa atenção em nossos movimentos. Se por exemplo, estou

caminhando com a cabeça para frente guiando meu corpo, preciso focalizar sobre

como me sinto. Posso exagerar, para entender o que isto está causando a meu corpo.

Posso reverter o processo pressionando meu queixo ao peito firmemente. Então,

posso sentir as emoções que estou carregando e demonstrando, ao viver a vida

“esticando meu pescoço para frente”.

Page 21: A CONEXÃO CRIATIVA

O segundo passo no processo é confiar no impulso interno do corpo e

deixar que o movimento aconteça.

Pedi aos participantes que fizesse um movimento “isto sou eu”

começando com um impulso e deixando que o movimento leve a dança a diante. A

emissão de sons ajuda a conscientização dos sentimentos que estão ligados ao

movimento. O inconsciente fornece a centelha que põe o corpo em movimento. É a

diferença entre fazer alguma coisa e deixar que alguma coisa aconteça.

O terceiro passo é fazer a conexão externa com o que estava ocorrendo

intra-psiquicamente, (7). Por exemplo, um dos participantes começou o movimento

“isto sou eu” no chão enrolado como uma bola apertada. Ele experimentou isto

fazendo sons diferentes durante o movimento. Gradualmente ele tornou-se ciente da

ligação com sua vida real, a segurança que sentiu enquanto se esticava ficando

aberto e vulnerável. Foi deste modo que ele relacionou seu movimento espontâneo

com sua realidade psicológica.

Este homem agora pode criar um movimento ou dança que irá exagerar e

demonstrar os elementos de segurança e medo que vem de alguma resolução interna

cinestesicamente. Quando dançamos nossos sentimentos, pode-se mudar o estado

emocional, por varias vezes, permanentemente. O movimento espontâneo ou

improvisado, particularmente em um grupo, pode ser o caminho de conexão com

nosso inconsciente e nosso conteúdo espiritual. Diversos comentários dos

participantes falam sobre este tema:

“O movimento foi o parteiro de meus sentimentos, a arte tornou-se a

expressão dos mesmos”.

“Através de meu corpo tive minhas experiências mais profundas: os

exercícios que me tornaram pequeno e me fizeram sentir dor e os movimentos

expansivos que me trouxeram uma sensação de alegria e poder”. É interessante

notar que o mesmo exercício evocou sentimentos opostos no homem que discutimos

acima).

“Devo dizer que não dancei. Quando você nos pediu que fossemos

semestre e começássemos a crescer, eu era a semente no solo: isto me dançou! Sou

apenas um homem de negócios. Nunca vi um fantasma ou um espírito mas “isto”

dança. Fiz algo, importante para mim. Isto me deu um imenso prazer”.

Um outro participante fala de sua experiência retirado de uma fita

gravada de uma sessão de feedback em São Diego.

Page 22: A CONEXÃO CRIATIVA

Ray: Entrei em contato com quão poderosa é a inibição que tenho sendo um homem

de nível acadêmico, com todo o processo de socialização que me inibe. Sempre me

choquei com a experiência estética, que é para mim olhar as pessoas dançarem. Fico

nostálgico e me pergunto: “Porque nunca aprendi a fazer isto? Por que eu conservo

esta parte em mim mesmo reprimido?”.

Natalie: Você poderia descrever sua experiência ontem? O que aconteceu com

você?

Ray: Eu me lembro de ter sentido muita raiva. Eu estava dando nós com minhas

próprias mãos e com as mãos de outras pessoas. Estou desatando os nós. Quando fiz

este gesto com meu corpo e minhas mãos, tomei consciência de como estes nós são

apertados e que grande fonte de raiva é isto. Eu poderia sentar e pensar sobre esta

minha raiva durante vinte e duas horas e jamais estar tão consciente do que esta, na

realidade, fosse! Mas a medida que eu me senti a mim mesmo me opondo ( ele fez

uma demonstração juntando as duas mãos e separando uma da outra fortemente.

Natalie: Quando olho para você afastando suas mãos dessa maneira, realmente

entendo o que você quer dizer sobre se opor a você mesmo e o sentimento interno de

raiva.

Ora (uma mulher de uns 60 anos) fala a respeito da alegria que sentiu a respeito da

experiência: de movimento:

Há alguns anos e anos que venho desejando que um homem forte me

segurasse pela cintura e rodopiasse comigo, preferivelmente na praia. Tenho tido

esta visão ou desejo há muito tempo. Aqui eu expressei este desejo verbalmente. A

realização desse desejo infantil foi maravilhosa. Emocionalmente eu voei! O

despertar desta criança em mim foi uma delicia”.

Eu citei estes participantes para ilustrar o valor da pessoa se tornar

consciente e se expressar através do movimento. A excitação do homem de negócios

que descobriu que aquela experiência “o dançou”... Que experiência maravilhosa.

Susan Wallock, citou sua professora Mary Whitehouse: “Quando o

momento em que “sou movida” aconteceu, é espantoso tanto para os que dançam

como para os que não tem a intenção de dançar. É o momento quando o ego perde o

controle, para de escolher, para de exercer de mandar, permitindo ao self tomar a

iniciativa, movendo o corpo físico à sua vontade. É um momento de rendição da

premeditação que não pode ser explicada, descrita exatamente, buscada ou tentada...

Page 23: A CONEXÃO CRIATIVA

Isto é humilhante e libertador para a personalidade que exige perfeição, controle,

conformidade e todas as doenças de nosso condicionamento social”.

Tenho notado que, prestando atenção a experiência do movimento, nós

podemos encontrar níveis mais profundos de nosso ser e então usar este

conhecimento como um recurso para criar outros movimentos ou dançar (ou pintar,

escrever, criar música).

O homem que se percebeu com nós se opondo a si mesmo, poderia, se

estivéssemos tempo, expressar aquele conflito e talvez mover seu caminho dentro de

um novo sentido de si mesmo. A medida em que ele foi, mais cinestesicamente

entrando nessa experiência de se atar em nós, ele poderia ter sido encorajado a

encontrar um caminho e viver a experiência de libertar-se fisicamente, dissolvendo

estes nós. Esse tipo de aprendizado cinestésico dura muito tempo. É uma espécie de

“ah há” que permite a uma pessoa “saber” o que é certo e apropriado para si mesmo.

Existe uma mudança para o hemisfério direito o aprendizado intuitivo neste tipo de

experiência. Uma vez mais eu cito Wallock, descrevendo sua professora:

“Foi como se, na sessão, houvesse uma mudança da conscientização para

a forma do hemisfério direito, tanto em Mary quando no cliente. Houve uma

vontade de suspender o julgamento, de se relacionar com as coisas como elas eram

no momento presente, de entender os relacionamentos metafóricos, de ver as coisas

em relação as outras coisas e perceber como as partes poderiam se juntar para

formar um todo. De fato, a abordagem de Mary, movimento em profundidade,

encorajou a mudança do processo analítico verbal para um processo espacial e

global. Ela sempre falou a respeito de se confiar na intuição das pessoas, trazendo

insights muitas vezes baseados em padrões incompletos, palpites, sentimentos,

imagens visuais que seriam funções do hemisfério direito”. (8)

Desde que, descobrir novos aspectos de mim mesma, através d

movimento, não me surpreende, é que eu desejo encontrar maneiras de criar um

ambiente propício para outros. Em meu livro, “A mulher Emergente – Uma década

de transição na meia idade”, eu descrevo uma das experiências que tive no Anna

Halprins Dancer`s Workshop; em São Francisco. Aos 42 anos de idade, eu estava

reencontrando meu corpo e aprendendo a delícia do movimento. Eu teria adorado

dançar como criança, mas deixei de lado, à medida que me tornei adulta e mãe

“responsável”. No workshop de Anna desenhei um auto-retrato de tamanho natural

Page 24: A CONEXÃO CRIATIVA

de meus lados direito e esquerdo. Pendurei esse retrato na parede, o estudei e dancei

aquilo que tinha desenhado, sendo filmada pelo vídeo.

Devido à câmera, pude ver minha atuação de 10 minutos. Foi uma

experiência profundamente movimentada, sacudida e tremula. Eu dancei o meu lado

direito.

“Estou rígida, circunspecta, me acuso, me culpo e me coloco para baixo.

Eu sou energética comigo mesma, bato meus pés para mim mesma, ma por dentro

estou trêmula. Sinto pânico. Me ponho no chão e me arrasto, batendo meus punhos.

Meu lado direito julga, é circunspecto e duro para comigo. Eu me canso. Então

levanto e me movo para atirar meu lado esquerdo.

“Estou livre coando, alegre e lírica, graciosa. Relaxo gradualmente. Sinto meu eu

espiritual, sensual, indo através do espaço. Divirto-me por muitos minutos. Faço um

contato visual com algumas das pessoas da sala. Este foi o primeiro movimento em

que me atrevi a olhar para qualquer pessoa... Sinto-me muito exposta, como se todas

as pessoas estivessem vendo um eu interior que eu acabava de começar a ver”.

“A medida em que danço meus dois lado tomo consciência que isto é o dialogo

continuo entre estes dois aspectos de mim mesma, que é parte de minha fonte de

criatividade. Se um lado de mim dominasse totalmente os outros aspectos, aí então

eu deveria começar a me preocupar comigo mesma. Se eu me tornasse

completamente lógica, linear em pensamento, pragmática, moralista e circunspecta,

eu iria me achar simplória e monótona. Se eu fosse predominantemente intuitiva,

receptiva, sensual e espiritual, eu iria me sentir fora da realidade, desligada e

estranha. É esta confrontação ocasional face a face de ambas as minhas partes que

traz grande excitação.” (1)

É desta forma que sei, tanto pela minha própria experiência quanto pela

condução da experiência de outros, que ao expressar nossos sentimentos através de

movimentos, descobrimos, em um nível cinestésico novos aspectos de nós mesmos.

ESCRITA COMO TERAPIA

Eu aprendi sobre a escrita livre de Patsy Cumming e seu grupo de

colegas do Departamento de Humanidade do MIT (10). Eles haviam me pedido que

co-liderasse um workshop de cinco dias com eles para aumentar suas habilidades no

Ensino Centrado na Pessoa. Os doze ou mais professores de redação e literatura se

Page 25: A CONEXÃO CRIATIVA

reuniram no meu local de trabalho o dia inteiro, durante uma semana. Foi um

período muito significante para mim como professora/aluna. Próximo ao fim de

semana, me atrevi a mostrar um trabalho que havia escrito para Patsy, que encorajou

a continuar. Eventualmente esta redação se tornou um livro: A Mulher Emergente.

Patsy descreve a “escrita livre” que ela e seus colegas visam em seus

grupos:

“A escrita livre é um exercício básico e muito simples, assim como tocar

o dedão do pé alternadamente com suas mãos ou a respiração diafragmática, que

todos deveriam fazer todos os dias, porque é fácil (leva apenas 10 minutos) e os

benefícios morais, espirituais e físicos são incalculáveis. Isto ajuda você a se

conhecer, pode livrar você do mundano ou mostrar que você está perdidamente

emaranhado nele. É melhor que aspirina para tensão e não tem contra indicação.

Ajuda quando você está deprimido e algumas vezes a encontrar o motivo de sua

preocupação. Estas são as instruções que damos para os grupos, os amigos e para

nós mesmos:

“Escreva durante dez minutos. Não pare de escrever. Não se preocupe

com a ortografia, a pontuação, as frases e com a gramática. Se você não pode

lembrar de nada para dizer, escreva “Eu não tenho nada para dizer”, uma porção de

vezes, até que você vai se lembrar de alguma coisa. Não releia aquilo que você

escreveu (pelo menos por algum tempo).

“A escrita livre não é apenas um meio de se saber aquilo que se está

pensando, mas também como, em que ritmo, em que palavras, em que frase; é uma

saída para pessoas que estão bloqueadas pelas linguagens dos livros, de textos ou

pensamentos dos outros para encontrar os seus próprios”.

“Para pessoas, cujo treinamento serviu, principalmente para torná-los

mais conscientes de sua redação, pode acontecer que pensamentos e sentimentos que

eles acreditavam jamais poder expressão irão aparecer muitas vezes de maneira

fluída e coerente no papel. Alguns dos melhores textos que vi foram escritos quando

eu parei de “ensinar” e pedi que o grupo escrevesse por dez minutos”.

“Especialmente no começo é importante que as pessoas encontrem

receptividade em suas escritas livres...” (11)

Eu concordo com Patsy. Nós, definitivamente, precisamos de um

auditório empático e encorajador para nossos poemas recém-nascidos. Nos grupos

de terapia expressiva eu tento estabelecer este tipo de segurança psicológica.

Page 26: A CONEXÃO CRIATIVA

Quando peço às pessoas para fazerem sua escrita livre, sempre aviso: “Não censure

aquilo que você escreve. Você não irá compartilhar aquilo que escreveu com

ninguém a não ser que deseje. Seja honesta consigo mesmo, no que escrever; mais

tarde você poderá decidir se deseja ler seu artigo para outra Pessoa”.

Após o processo de redação, peço as pessoas que se encontrem em

grupos de três e quatro. Em geral elas preferem compartilhar seus escritos em

grupos mais íntimos. Se não quiserem ler, sua privacidade é respeitada. Caso o autor

leia seu trabalho com a voz muito tímida, algumas vezes pergunto se posso ler para

eles com minhas próprias entonações. Então o poder daquilo que eles escreveram e

o ritmo que deram à sua redação tem um impacto maior. As pessoas ficam surpresas

com aquilo que transparece e como isto emerge.

Minha própria teoria é que movimento e arte aumentam o ritmo e

liberam a, expressão, aumentando a criatividade para a redação. Por exemplo, a

redação livre com a qual eu iniciei este artigo oferece um estilo que, me é muito

pouco familiar. Ela veio a mim do ritmo que foi estimulado, eu acho, pela dança que

vínhamos fazendo.

A maioria dos participantes diz que a escrita livre é bem diferente de

qualquer outra escrita que já tenha sido feita por eles. Aqui vão três exemplos de

participantes do grupo. O primeiro é de um homem, Bermard Bronimel, que co-

escreveu Family Communications. Ele é professor na Northeastern Illinois

University:

“Eu me sinto como um diamante multifacetado, cinzelas e brilhantes.

Nem sempre me senti assim e, depois de ontem à noite, eu nem mesmo tinha

motivos para me sentir tão brilhante, reluzente ou facetado. Esta manhã, com meu

filho também não foi muito boa mas, diabos, basicamente eu tenho a pedra. Sou eu.

Eu venho escavando naquela rocha - eu – por 51 anos.

“Muito tempo já passou desde aqueles dias em uma fazenda em Iowa e a

escravidão, a miséria, que eram parte de minha vida lá. Porém, depois de inúmeras

mudanças, direções e graus, eu agora sei quem sou e já é tempo de faturar algumas

das facetas, começar a usá-las e então aproveitar também aquilo que foi criado”.

“Eu sou eu ainda que imperfeito, o diamante simboliza aquela luta pela

perfeição. Obrigado, mamãe, por aquele senso do que é certo – faça sempre o

melhor que puder – é a vontade de Deus – você é inteligente – e daí – seja humilde.

Os que são realmente grandes são sinceramente humildes. (Eu tinha que continuar

Page 27: A CONEXÃO CRIATIVA

movendo a caneta). Não quero nem mesmo olhar para o que ficou para trás e usar o

que ficou guardado nas facetas da pedra”.

“Deixe que a pedra ilumine o caminho com seus reflexos para me ajudar

a encontrar os meios e os propósitos para que eu seja mais autentico. Crie tempo e

espaço para mim e deixe de lado a missão de resgate para tantos outros. Deixe

algum tempo para a preguiça – para olhar o Lago Michigan da janela. Melhor,

ainda, para sentir a água nos meus pés, para correr pelas suas viagens e me

embriagar com a beleza do seu pôr do sol e do seu amanhecer”.

“Deixa que eu lide com a solidão sem que seja necessário ter alguém

significativo para compartilhar comigo. Vamos compartilhar juntos e encontrar

algum significado misto”.

O segundo exemplo é elegante em sua simplicidade. O autor participava

de uma Conferência de Liderança em Chicago:

“Os altos e os baixos - notas

“O perto e o longe – alcance

“O céu e a terra – toque

“O preto e o branco – mistura

“O mesmo e o diferente – todos os homens são criados iguais

“O fraco e o forte – espaço

“Vida e morte – Homem”

O próximo trabalho foi escrito por um oficial de justiça no Condado de

Main. Eu estava particularmente satisfeita em trabalhar com dois grupos de oficiais

de justiça, cujo trabalho era muito desgastante e não muito compensador. Eu

esperava que o material que estava dando a eles durante o programa de dois dias

seria útil para seus clientes. Eles disseram: “Não, nós não podemos adaptar seu

material para trabalhar com nossos clientes, mas precisamos muito deste sentido de

renovação e criatividade que estamos obtendo com seu trabalho.

Joseph Doherty escreveu:

“Sua beleza é como uma rosa que, cortada, nasce vagarosamente do solo,

atirando seus caules em direção ao sol, e logo as minúsculas pétalas entrelaçadas

desabrocham em botão. Este pequenino ser surge e envia um grito para todos os

seus vizinhos “aqui estou eu” e todos vem correndo. Primeiramente a fuga

precipitada, indo a procura do suprimento, prossegue volta e parte novamente,

depois pára, os chifres contorcidos no fulgor matinal apressam-se, para trás e para

Page 28: A CONEXÃO CRIATIVA

frente, no mesmo caminho. Outros juntam-se, um a um e, depois a cavalgada, todos

vindo de lá para cá, ansiosos para saudar o recém chegado. E sempre o recém-

chegado é um amigo não para um, mas para milhares de habitantes que, diariamente

se revezam para cumprimentar. Por agora, o botão rompido transborda de excitação

e tamanho. Ele está notável, ainda que desajeitado, uma sensação de espanto no que

está para acontecer. Novos amigos chegam, cada um com uma saudação diferente –

cada um maior em sua acolhida do que o anterior – algumas vezes deixando

presentes e saudações para o menino em crescimento.

“Dentro de semanas, o botão se separou e cresceu, olha em volta e vê que

está numa multidão, existem muitos outros, todos iguais, porém na verdade todo

diferentes. Novamente bem abaixo, este botão maior começa a mostrar sinais de cor.

Ele vigia, à medida que as semanas passam e devaneia , enquanto as pétalas macias,

leves e sensuais começam a se abrir”.

Existem outras formas de escrever, que eu aconselho as pessoa as

experimentar também. Freqüentemente nós escrevemos cinco ou mais comentários

“Eu...” nas costas do trabalho que criamos tais como “Eu me sinto só” ou “eu me

sinto esquisito e inseguro” ou “Eu estou voando alto”. Isto pode ajudar os

indivíduos a vivenciar seu trabalho mais do que analisá-lo ou interpretá-lo.

MÚSICA E SOM COMO TERAPIA

Discuti algumas das teorias e práticas que adotei nas terapias de arte,

movimento e escrita. Tenho menos experiência ou conhecimento sobre música e

som como terapia, mas sei, intuitivamente, que isto é básico para o conhecimento de

nós mesmos. Espero aprender mais com minha filha Janet Fuchsns nesta área. Como

musicista, ela e suas colegas estão explorando o uso terapêutico do som.

Eu encorajo os participantes a usarem os instrumentos musicais que

coloco à sua disposição. Quando estamos comendo ou jogando, ou quando um

pequeno grupo está “dançando suas pinturas” eu escolho o grupo que observa para

participar, usando instrumentos ou as vozes para apoiar o movimento. Isto evita que

eles pensem que estão fazendo um solo. Eles sentem o apoio entusiástico que

estamos dando, fazendo sons.

Naturalmente, nós também usamos discos e fitas como fundo musical

para muitos dos movimentos, e frequentemente, faço com que as pessoas emitam

Page 29: A CONEXÃO CRIATIVA

sons para expressar os sentimentos que são evocados com seus movimentos. Um

dos participantes disse: “A música acordou parte de mim, que jaziam estagnadas por

uma década”.

IMPROVISAÇÕES

Os “happenings” que acontecem mais no fim do programa são muito

difíceis de serem descritos. Jared e eu elaboramos um plano que chamamos “a vila”.

Nunca é o mesmo. As instruções nunca são as mesmas e certamente os resultados

variam também. As instruções são mais ou menos assim:

“Temos estado juntos por algum tempo e compartilhado algo de nós

mesmos de maneira importante. Agora nós gostaríamos de levantar vôo numa

aventura co-criativa. Você tem vinte minutos para decidir que tipo de pessoa

gostaria de ser nesta vila que criaremos juntos (algumas vezes conduzo as pessoas

numa fantasia dirigida para ajudá-los a descobrir alguma sub-personalidade que eles

talvez gostariam de representar). Temos maquiagem, perucas e fantasias. Use

qualquer coisa que você encontrar ou criar, Depois, que tiver criado o personagem

gostaria de ser, todos nós deixamos o recinto”.

“Quando ponho a música para tocar, encontramos no recinto como se

estivéssemos chegando numa vila de uma terra estranha. Não existe uma linguagem

comum. Você pode fazer qualquer som que desejar, mas as palavras, como tais, não

existem”.

O que acontece é sempre surpreendente. Por um lado, dando as pessoas,

mesmo às tímidas, a permissão para se vestir e ser alguma coisa diferente daquilo

que elas são, é uma experiência estonteante. Em cada cena da vila figuras arquetipas

emergiram: a virgem, a prostituta, o papa, o rei e a rainha, o diabo, a sombra, o

ladrão, o mendigo, o professor, o bêbado, o campeão de atletismo, a menininha, o

velho sábio, lobo feroz.

Em Nottimgham, na Inglaterra, Jared e eu vínhamos oferecendo um

“grupo de movimento” todas as manhãs, durante três dias. Quando Jared

subitamente teve a inspiração de levar todos para fora. Era o primeiro dia de sol

brilhando numa semana de muita chuva. Durante uma das brincadeiras que

estávamos fazendo ele disse: “sigam-me escada abaixo para a terra do faz de conta”.

Todos compreendemos a sua intenção e alegremente descemos as escadas em

Page 30: A CONEXÃO CRIATIVA

caracol desta antiga universidade de pedra cinza. Chegamos a relva verde do jardim

e antes que soubéssemos o que estava acontecendo, uma mulher holandesa, de

cabelos prateados, pediu para ser a rainha de nós e erguemos em nossas mãos e

andamos em volta da calçada. Quando olhei para traz, vi que estamos fazendo um

desfile: As pessoas fingiam tocar cornetas, marchando no compasso. A procissão

estava linda. A rainha liderou a corte, um papa foi entronado (destronado),

apareceram os ladrões e os mendigos, houve harmonia de piche e pena, um

casamento e uma morte. Um piano apareceu no gramado, foi roubado e recapturado.

Tudo isso com muito poucas palavras! Os acontecimentos se sucediam. Foram duas

horas de “representação” mais concentrada que tínhamos jamais vivido.

Embora eu nunca tenha entendido completamente este e outros eventos

assim, sei que estamos criando, no nível metafórico e mitológico. Nesta atmosfera

de brincadeira, podemos representar nossa sub-personalidade, quer seja ela o diabo

ou um santo, pomposo ou humilde. Tentar estes papéis, parece que nos ajuda a

redescobrir partes de nós mesmos e a nós dar uma nova perspectiva. Mais

importante ainda, é divertido.

Eu gravei as discussões havidas após duas destas “vilas”. Durante um

grupo de New College, uma mulher preferiu ser uma observadora, em vez de se

juntar ao grupo. Ela levou a sério o esquema do programa ao invés de observar

apenas, ela tornou-se uma observadora participante, tomando notas do que ia vendo.

Ela tornou-se então a escrivã da “vila”.

Natalie: Eu gostaria de receber um feedback organizado sobre o que

passou. O que sentiu? O que aconteceu? Cada um de nós estava tão envolvido com

as cenas, que ficou difícil ver tudo que se passou.

Observadora: (lendo as suas notas): O dia está ensolarado e agradável. A

vila encheu-se de vida, o cão acordou. Vê-se um bispo caminhando nas ruas. A

prostituta arranjou outro freguês barato. A primavera começa a trazer as floes em

botão. O bispo alcançou o seu palácio. Ele encontra o mal em diversas formas e

tenta evitá-los. Ele conforta os pobres e os tristes. O pequeno cãozinho marrom

parece estar procurando algum amigo. Parece que uma sombra vai cair sobre a

cidade. A bandeira parada atrás do bispo é seguida pela sombra da morte. O bispo

cai, revive, é tentado pela prostituta, cai novamente, tentado pelo pecado e pelo

mal... até o cãozinho vai atrás dele. Ele é consolado apenas pela força.

Natalie: Whew! É realmente útil ter este apanhado.

Page 31: A CONEXÃO CRIATIVA

Mulher: A morte continuou morrendo e levantando sua cabeça

novamente.

Homem: Não se pode matar as ervas daninhas.

Mulher: Tenho a impressão que tudo isto aconteceu em outro tempo.

Segunda Mulher: Eu desempenhei dois papéis. Comecei como um

homem. Então passei a ser uma jovem que era muito boa no serviço de garçonete,

servindo os outros... Eu me senti jogada fora da ação. O maior impacto foi quando

percebi como eram desrespeitosas as pessoas as quais eu servia.

Segundo Homem: O que achei melhor foi estar dentro da representação...

porque sempre estive marginalizado, um imigrante ou vivendo em culturas diferentes.

Mas com esta peça eu estive sempre dentro do jogo. Eu era a sombra. Eu sempre soube

a respeito desta sombra em mim, mas recentemente em um trabalho de terapia, pude

observar o fato com os olhos da minha mente. Foi uma experiência poderosa extravazar

este conhecimento por algum tempo.

***

É difícil para mim teorizar a respeito destes “happenings”. De certo

modo, preferi não o fazer. Caso eu analise o processo até um certo grau, receio não ter

habilidade para descrevê-lo. Estou ciente porém,que muitos de nós escolhemos o nosso

lado mais “pastier” para representar. Nós nos damos permissão para representar os

papeis aos quais poucas vezes tomamos conhecimento. As pessoas roubam do cego,

destroem o rei ou tapeam o homem velho. Em uma das cenas na “vila” aconteceu um

nascimento e alguém roubou o bebê do peito da mãe! Nós permitimos que nosso lado

sombrio apareça de uma maneira brincalhona, mas autêntica.

Também nos permitimos ser poderosos: um ditador, um bispo, uma

rainha surge então. Ou experimentamos representar um ser humilde: o cego, o pobre ou

o aleijado. Quando eu escolhi ser o mendigo cego, fiquei surpresa ao notar que havia me

sentido muito poderosa naquele papel. O pessoal da “vila” constantemente vem me

relatar meus sentimentos de piedade, culpa, desgosto. Este não é o tipo de poder que eu

gostaria, mas é, na verdade, uma forma de poder.

Novamente, quero citar uma fita gravada de uma discussão no dia de São

Diogo (12). (Muita coisa aconteceu em um dia.) Novamente, uma mulher resolveu ser

observadora e foi nos relatando aquilo que havia visto.

Page 32: A CONEXÃO CRIATIVA

Ora: Tudo começou com um homem segurando um copo o vazio de

plástico e ele batia gentilmente no copo e foi batendo mais alto. A próxima coisa que

notei foi que eu estava batendo no chão com meus pés, e batendo palmas e então todo o

movimento começou... foi como uma corrente... que não passou até que outra coisa

acontecesse. Houve uma corrente. Eu não quis participar porque eu não queria NÃO ser

o que acontecia. Eu estava aturdida porque se existe isto de conscientização de grupo,

isto era o que estava acontecendo.

Natalie: A um certo ponto pareceu haver uma mudança da dança livre

para o teatro e a mímica e então cenas e cenários... foi como num crescendo. A energia

subia ora descia e então retomava outro crescendo. Você diria que foi como uma

conscientização de grupo que nunca nos deixava.

Rosa (da Espanha): A respeito da palavra “conscientização de grupos: no

flamenco cigano, na terceira ou quarta noite de um festival flamenco acontece um

momento místico, mágico. Nós o chamamos “duende”, que não se pode traduzir, mas

que é mais ou menos a alma. Isto somente acontece quando não estamos esperando,

vem por sua própria vontade, mas nós recebemos”.

Natalie: Trata-se então de receber... de se abrir para que aconteça?

Rosa: Não foi julgamento, nem constrangimento. Vem de algum lugar

polifônico. Não apenas a harmonia que está correndo no recinto. O duende é um

fantasma, ou espírito. O mágico.

Maureen: Quando eu estava falando a respeito do “isto”. Isto pode ser

descrito como consciência do grupo. A abertura para este tipo de conscientização de

grupo pode estar presente, a despeito do que o grupo esteja fazendo. Se o anestésico é o

corpo, é deixado de fora, isto não irá acontecer para mim. Caso minha atenção seja a de

estar receptiva. Eu tenho que me preparar para tal, e o trabalho do corpo me ajuda neste

sentido.

***

Fico intrigada com um aspecto desta e de outras discussões que

acontecem após um “happening da vila”, ou seja, as pessoas de outras culturas

comparam os acontecimentos místicos ou rituais que vamos criando espontaneamente,

ao seu próprio folclore e costume. Por exemplo, a conversa sobre os “duendes” ou

espíritos que descem sobre o grupo que está pronto para recebê-los. Em uma outra

sessão, uma pessoa disse: Na Cultura “Hopi” existem alguns “Kachinas” que agem

Page 33: A CONEXÃO CRIATIVA

como vocês. Eles irão fingir que estão tendo relações sexuais com os mais velhos, as

mulheres mais respeitadas da vila. Eles não respeitam ninguém. Este é o modo deles

equalizarem. Eu achei que vocês estavam fazendo o mesmo na sua representação”.

Outra pessoa comentou: “Tem um personagem no México, que

representa o idiota, como você o fez. Ele usa um grande chapéu... ele é praticamente um

coringa”.

Parece que os personagens que escolhemos para freqüentar esta “vila” se

assemelham aos personagens arquétipos de todas as culturas. E os rituais que

começamos a criar têm similaridade com os rituais de outras culturas. Será que isto vem

de algum inconsciente coletivo? Nossa própria cultura tão falha em rituais que parece

que estas atividades não vêm de nossa experiência imediata. O processo de algum

modo, nos liga a nossos irmãos e irmãs de todo o mundo e de tempos há longos anos

passados.

Outro aspecto que me intriga é a co-criação destes espetáculos. Na

verdade, a consciência do grupo é como o nevoeiro que rola sobre as montanhas de

Sausalito, gradualmente absorvendo cada árvore em seu caminho. Minha própria

experiência sobre a consciência grupal não é provavelmente tão grande quanto aquela

dos participantes que a relatam, uma vez que é sempre difícil para mim não sentir

“responsável” pelo que acontece. Eu, naturalmente, participo do ato,mas acho que ainda

não me rendi completamente aquilo que vem surgindo. Outras pessoas parecem sentir

que o processo é como a batida de um tambor que não para nunca; varia de e para cada

pessoa. Parece que não existe nada a “fazer” com esta experiência. A pessoa

simplesmente recebe, e se sente grata.

As pessoas, algumas vezes, perguntam o que fazemos para criar esta

conscientização de grupo, estas vilas. Qual é a metodologia? Dou a seguinte explicação

para os participantes:

- Natalie: Eu gostaria de descrever este acontecimento numa metáfora,

porque este é o único jeito que conheço para falar a respeito disto. Para mim o que

fazemos é como dirigir uma orquestra, que dizer, nós levamos um grupo a criar sua

própria sinfonia. Primeiro nós damos à orquestra algumas instruções sobre como tocar

algumas notas e acordes. Em outras palavras, nós damos a eles algum vocabulário sobre

movimento porque movimento é aquilo que mais nos inibe, damos a ele a permissão

para tocar. Nós guiamos o grupo em exercícios que ajudam seus membros a abrirem-se

para si mesmos.

Page 34: A CONEXÃO CRIATIVA

Então, nós escutamos a música. Nós escutamos o que as pessoas estão

tocando, ou vemos de maneira intuitiva o que eles estão fazendo. Então começamos a

responder à sua música com nossas próprias batutas. Trabalhamos com a batuta

incentivando o grupo e produzir uma música um pouco mais forte ou induzimos o grupo

a ser um pouco mais criativo, ou uma outra pessoa a expandir o seu movimento ou som.

Então acontece um segundo movimento. Pegamos uma frase e ajudamos

a fazê-la mais alta ou mais baixa ou expandi-la ou aprofundá-la. Jared sempre diz,

“pegue aquilo que você acabou de fazer e veja se pode aprofundar mais”.

Para mim é como se eu pegasse uma frase e dissesse “vamos brincar com

isto, vamos dar a isto um maior volume”.

Uma mulher descreve o processo de ir em direção ao seu interior,

resultando de uma vontade de alcançar os outros.

Anna Marie: Tenho tentado me convencer que é mais fácil para mim me

expressar em arte e escrita do que verbalmente. Antoine de Saint-Exupery diz: “A

linguagem traz uma fonte de mal entendidos”, e isto para mim faz sentido. Quando eu

tenho um conflito, tento esclarecê-lo com palavras. Porém as palavras tem tantos

sentidos que nós, meu marido e eu, acabamos discutindo. Para mim a utilização da arte

e dos movimentos vai além das palavras. Então você pode compartilhar aquilo que você

realmente pensa!... A metáfora sobre a orquestra tem me ocorrido constantemente

mostrando-me que cada pessoa é realmente importante com seu próprio instrumento.

Pode ser que eu toque a flauta ou a guitarra; eu não posso tocar toda a sinfonia. Nós

precisamos estar afinados entre nós, mas nossos instrumentos são uma parte necessária

do conjunto.

Jared, numa carta que me escrever, descreveu o processo como sendo:

“O que nós temos feito com a arte é nivelar a intensidade. Por trás das

palavras, nós encontramos maior intensidade. Pintura, barro, dança, teatro, poemas são

expressões ainda mais profundas da vida quando nos desinibimos o suficiente para

alcançá-las. Parte daquilo que fazemos juntos é ajudar as pessoas a se desinibirem.

Então você e eu seremos pessoas profundas o suficiente para responder ao sentimento

natural, deixar que ele seja real, e trabalhar com ele. Deixar que ele borbulhe e

transborde até que alguém possa ver. Então este é quem eu sou agora, isto é o que sou

agora! E ao fazer tal descoberta ele ou ela dão um passo novo em direção a

conscientização. E, sendo confirmado neste passo (seja ele para escuridão ou para a luz)

a pessoa estará livre para dar outro passo. É um exemplo perfeito da crença de pessoa-

Page 35: A CONEXÃO CRIATIVA

centrada, e cliente-centrado que nós compartilhamos. Cada passo revela uma nova

faceta e talvez remova um velho entrave. Cada passo é parte do processo de expansão”.

JUNTANDO AS PEÇAS: EXEMPLO DE WORKSHOPS

As pessoas perguntaram, “Quais são as sequências de movimento, arte,

redução e improvisação que você fala a respeito? Eu também posso ensiná-los?

O que eu ensino é material que você pode usar em casa, sozinha, com

crianças, ou em trabalho com clientes de psicoterapia, grupos de crescimento pessoal,

ou qualquer grupo de trabalho que deseje traduzir seu estresse ou aperfeiçoar suas

habilidades de comunicação. Estes métodos são aplicáveis a todos os grupos ou

indivíduos interessados em desenvolver o hemisfério direito de seus cérebros, seu

processo intuitivo e sua criatividade. Nem todos os métodos são apropriados para todos

os grupos. É necessário que o líder/professor tenha capacidade para adaptar e criar

novas formas para cada grupo. Isto é que se torna divertido. Muitos dos métodos que

venho usando me foram passados por professores meus e eu os adaptei para o “Creative

Connection”.

Caso você seja um participante do workshop Creative Connection,

(Conexão Criativa) ou programa de treinamento (este último sendo uma versão muito

mais extensa do primeiro, com discussão e teoria e aplicação), você irá entrar no

ambiente conforme descrevi, explorar um pouco o que está vendo, e então – sentar em

um círculo, provavelmente no chão. A sequência do primeiro dia poderá transcorrer

assim:

9:00 da manhã sintonização ou fantasia dirigida Eu encaminho o grupo numa

jornada dirigida de fantasia que o irá ajudar a se desligar de suas preocupações fora

daquele recinto, de modo a estar plenamente presente.

9:10 da manhã apresentações Eu me represento de qualquer modo bem pessoal

e convido os outros a fazerem o mesmo. Caso eu note nervosismo e ansiedade, eu dou a

perceber que os compreendo. Então eu declaro os objetivos do workshop.

10:00 vamos nos conhecer verbalmente Talvez você tenha um ou dos exercícios

que permitam que as pessoas se dêem a conhecer de um modo não verbal para reduzir

as tensões e trazer para o grupo um sentimento de confiança. Talvez uma forma de

Page 36: A CONEXÃO CRIATIVA

“conversação com as mãos” onde duas pessoas sentam-se frente a frente e exploram as

mãos um do outro, sem palavras.

10:30 visão geral O primeiro dia é essencialmente uma exploração interior. Todas

as estruturas para ajudar as pessoas a alcançarem seu interior. O segundo dia dará ênfase

ao relacionamento com as outras pessoas, não verbalmente, e o terceiro dia dará ênfase

à coesão do grupo a sua comunicabilidade.

10:40 sequência “Este sou Eu” movimentos aquecimentos Este sou Eu: uma

sequência de movimento, arte, fantasia em redação.

Movimento: movimentos energéticos para relaxar ansiedades, para que as pessoas

acordem e se divirtam. Prestar atenção aos sentimentos evocados durante os

movimentos. (Eu conduzo estes movimentos) – ser uma criança num balanço, com sons;

- imaginar que está colhendo frutos de uma árvore; - uma pessoa cortando lenha, com

seus ruídos; - andar com música conscientemente: rápido, devagar, mais devagar ainda,

correndo, mancando, andando com atitudes diferentes. (como um velho, uma pessoa

sexy, uma pessoa ferida, uma criança). Movimentos vagarosos no chão. Esteja atento

aos sentimentos evocados, agora que você está mudando:

- faça uma bola com seu corpo, uma posição fetal (com música).

Gradualmente, vá se esticando. Repita este movimento 2 ou 3 vezes. Levante os braços

acima da cabeça e respire. Estique-se. Enrole-se mais e mais, vagarosamente.

11:30 Fantasia dirigida Quem sou eu agora? Uma fantasia dirigida. “Feche os

olhos, respire profundamente por uns poucos minutos. Conforme a música vai tocando,

imagine que sua mente é um projeto de slides e que várias cenas de sua vida durante

esta última semana, estão sendo passadas. Não se detenha em nenhuma cena por muito

tempo, porém preste atenção aos sentimentos que cada cena está despertando em você.

Ai então passe para outra cena. Agora focalize uma cena que tenha algum conteúdo

emocional que você deseje entender mais a fundo. Conserve este sentimento por alguns

segundos. Talvez seja um sentimento de alegria, de pena, de acanhamento, esperança,

dor, raiva – qualquer que você deseje explorar dentro de você.

11:45 “Este sou Eu” movimento Agora, gradualmente, deixe que seus olhos se

abram apenas o suficiente para que você possa começar a se mover. Gradualmente

coloque um pouco do sentimento antes experimentado dentro de algum movimento,

Page 37: A CONEXÃO CRIATIVA

sentada, deitada ou em pé. Pode ser um movimento bem simples, mas conserve-o para

que você possa estar consciente de que seu corpo está falando. Ou talvez seja um

movimento complexo. Lembre-se, no movimento você tem espaço – alto, baixo, largo

ou estreito, e você terá ritmos e atitudes que pode usar, como fizemos nos

aquecimentos. Você pode emitir sons para acompanharem os movimentos. Eu sou a

única pessoa que estou olhando. Esta é a minha Dança Agora”.

12:00 “Este sou Eu” Quadro com mão não-dominante “Agora pare e sente-se

quieto por um minuto. Deixe a sua mente fantasiar cor, linha, ritmo, movimentos que

emergem de seus sentimentos. Vá então para a mesa de arte, pegue uma caixa de tintas e

papéis. Com sua mão esquerda (ou sua mão não-dominante) use as cores para expressar

“É assim que me sinto neste momento”. Pode ser um abstracionismo ou simbolismo –

qualquer coisa que brote dos seus sentimentos naquele momento. Não se trata de um

desenho ou produto como tal. É a expressão de como você se sente naquele momento.

12:20 Redação livre “Quando você tiver terminado o quadro, pegue uma folha

de papel de escrever, e tire uns dez minutos para redação livre”. (Eu dou instruções para

redação livre).

12:30 Entrando no padrão de referência dos artistas. Pequenos comentários “A

seguir, coloque seu trabalho onde os outros possam ver e leve algum tempo olhando a

sua volta, para cada um dos outros. Imagine-se como tendo feito cada um daqueles

trabalhos. O que você sentiria se aquela fosse a sua pintura. Pegue um pedaço de papel e

escreva uma ou duas palavras nele dizendo o que sente quando olha a pintura – e deixe

este comentário para o artista. Deste modo, cada um de vocês do grupo ficará ciente do

que os outros pensam sobre o seu trabalho.

1:00 tarde Pausa para o almoço

2:00 Processo da arte-gestalt de pintura compartilhada Forme grupos de três e

fale sobre sua pintura. Leia nas notas de feedback. Tente falar a respeito do seu quadro

na primeira pessoa, usando as palavras, “Eu sou...” em vez de “Isto é...”. Esta é a

abordagem gestalt com experiência artística. É difícil, no começo, portanto as pessoas

do grupo precisarão lembrá-lo. Por exemplo, posso descrever o que vejo como sendo eu,

Page 38: A CONEXÃO CRIATIVA

dizendo, “Eu sou uma árvore com as raízes bem enterradas no solo. Tenho muitos

galhos que estão crescendo, mas um dos galhos me parece estar quebrado ou morto”.

Ou, “eu sou estas linhas azuis que emergem de um miolo de energia vermelho vibrante.

O amarelo é meu lado ensolarado...” etc. Você irá ver que, se falar sobre sua pintura

desta maneira, você terá mais insights de você mesma do que se falasse sobre ela assim:

“Eu desenhei esta linha primeiro, porque....” Tente fazer deste modo e veja o que

acontece. Então os membros do grupo podem comentar a sua pintura ou instigá-lo a

fazer isto. Caso eles interpretem a pintura e dêem a você suas impressões sobre o que

ela representa para eles, lembre-se, tais interpretações são projeções daquele que está

comentando. Você é livre de aceitar, ponderar ou rejeitar o que ouvir como não endo

uma parte do seu eu. Sejam bons ouvintes entre si. Dêem a cada pessoa 10 ou 15

minutos para explorar o seu trabalho.

3:00 Aprendizados O grupo inteiro retorna ao círculo para falar sobre o que cada

uma aprendeu daquela sequência. “O que você aprendeu sobre si mesmo? Algo de

novo?”

4:00 Feedback de avaliação O grupo todo: “Quais foram os altos e baixos do

dia? Que sugestões você tem para mim, como facilitadora?” Existe algo especial que

você gostaria que fosse incluído amanhã para ajudá-lo a abrir-se para você mesmo e

para os outros? ”

5:00 Pausa para jantar até as 7:00 p.m

7:00 Dança de Sombras solo “Esta noite iremos nos aprofundar mais ainda com

a pintura que você criou, agora que temos os subsídios dados pelos membros do seu

grupo. Você pode pendurar sua pintura na parede e estudá-la sob estes novos aspectos.

Iremos usar os spots de luz no assoalho para criar sombras. Você irá se mover olhando

para sua própria sombra, improvisando movimentos que expressam como você se sente.

A pintura é apenas um ponto de inicio. Você pode imaginar uma conversa com sua

sombra. Nós seremos seu grupo de apoio. A medida que você se move, iremos usar

instrumentos ou nossas vozes para dar apoio aos seus movimentos. Tentaremos ser

sensíveis aquilo que você fizer e não iremos forçá-lo em uma outra direção. Se você não

gostar da nossa música, diga-nos”. (Esta sugestão geralmente cria pânico nas pessoas,

porque agora elas estarão por sua própria conta. Mas depois que uma pessoa mais

Page 39: A CONEXÃO CRIATIVA

corajosa começa, torna-se evidente que é divertido. Eles não irão notar a “audiência”

porque estarão – olhando para sua enorme sombra), brincando com ela.

9:30 a 10 p.m - Discussão e encerramento

Esta é uma sequência típica de um primeiro dia. Eu começo com muitas

estruturas que mantêm as pessoas se movendo dentro de seu próprio mundo interior. A

maior parte do tempo se passa sem que sejam ditas palavras, exceto durante o processo

da tarde. Ë interessante notar que jamais tive qualquer reclamação a respeito da falta de

palavras.

Aqui vai um exemplo do tipo de redação que segue uma sessão de

movimento e pintura “Isto sou Eu”. O jovem desenhou a figura de uma criatura longa e

estreita, com uma saliência pontiaguda. (Mais tarde ele me disse que parecia uma figura

fálica). Ao longe vê-se o planeta terra como se estivesse sendo visto de uma

espaçonave: “Apenas eu existo no mundo para mim. Posso convidar as pessoas

temporariamente. Meu refugio é forte, - você não poderá entrar e não ser que eu o

convide, e eu sei, as vezes, preciso de um refugio e você é louco se pensa que ninguém

precisa de ninguém ou que quem não é “gay” sabe que não o é. Está certo ser diferente

se você têm seu refugio e eu enviarei mensagens pelo rádio contando este fato para todo

mundo, mas isto não quero dizer que todos poderão entrar na minha cápsula especial.

Apenas aqueles que escutarem a minha mensagem poderão entrar. Não, eu voltarei

minhas costas pontiagudas para eles. Os olhos podem ver, mas as costas não... por favor

venha pela porta da frente. Deixe-me vê-lo. Veja-me por inteiro”.

Ou, uma mulher escreve:

“Sou abençoada, feliz, merecedora, porque sou amada e apoiada. Posso

crescer e desabrochar e experenciar a plenitude porque tenho quem me apóie com os

braços estendidos para o mundo. O círculo é forte e capaz de dar em retorno amor,

ambição, sonhos. Fantasias, energias, criatividade, mas fica tudo indefinido porque o

círculo muda como um caleidoscópio”.

***

O dia, ou dias, do “Este sou Eu” é um começo profundo para a maioria

das pessoas. Parece-me certo gastar algum tempo ajudando as pessoas a encontrarem o

seu interior, a explorarem-se a si mesmos, antes de pedir-lhes que alcancem os outros.

Temos que nos encontrar primeiro, antes de podermos realmente nos comunicar com os

outros.

Page 40: A CONEXÃO CRIATIVA

No segundo dia haverão ainda menos palavras. As pessoas ficam muito

absorvidas com o que estão criando e detestam serem interrompidas. No entanto, eu os

interrompo eventualmente para movê-los para algum outro ângulo. Se o tempo do

workshop for suficiente, o total de tempo utilizado em uma atividade aumentará à

medida que o nível de conforto e de perícia aumente. E também, eu costumo seguir o

fluxo de grupo e improvisar, a partir de sugestões, à ______ que “co-criamos” o dia.

OS LADOS DIREITO/ESQUERO DE NÓS MESMOS

Esta é uma sequência que nos ajudará a compreender as funções dos

hemisférios direito/esquerdo de nossos cérebro, para nos ajudar a descobrir nossas

polaridades internas, a ver se somos fortes ou fracos e a encontrar os meios de nos

integrarmos.

9:00 am Meditação Feedback Começarei a meditação dirigida que irá nos ajudar

a relaxar e nos afinarmos com nosso eu e com cada pessoa do grupo. Então eu pergunto,

“Onde está você agora? O que está sentindo com relação ao dia de ontem? Você

sonhou? Quaisquer outras reações?”

9:45 Movimento – Aquecimento Brincar de pegar (com música animada tocando)

Exercício tipo ioga (com música suave)

Exercícios no espelho Exercícios no espelho: “Fique de pé de frente para um

parceiro como se estivesse olhando para um espelho. Cada um de vocês levante as mãos

até a altura do peito, com as palmas viradas para o seu parceiro. Sem falar, cada um

decide mover as mãos. O companheiro acompanha como se fosse o espelho. Mantenha

contato com os olhos. Quando você estiver acostumada com o movimento das mãos no

espelho, tente expandir os movimentos agora com o braço todo, suas pernas, seu corpo

todo. Brinque. Use expressões faciais e sons, se assim o desejar.

10:30 guiando o movimento com a direita e com a esquerda Dirigindo com a

direita, e com a Esquerda: “Leve cinco minutos movendo-se com a música, usando seu

lado direito para guiá-lo. Use seu braço ou ombro direito, ou, seu quadril direito, perna

ou pé para guiar seus movimentos”. (Depois de 5 minutos): “Agora faça o mesmo com

o lado esquerdo. Lembre-se, você poderá se mover depressa, devagar, para o alto ou

para baixo”.

Page 41: A CONEXÃO CRIATIVA

10:40 No chão Alongamento “Deite-se em decúbito dorsal, feche os olhos, levante

os braços acima de sua cabeça, inalando profundamente. Estique-se bastante. Relaxe.

Faça isto cinco vezes, seguindo seu próprio ritmo. Com cada inalação sinta a energia

que vem dos dedos dos pés até o seu pescoço e cabeça. Quando expirar, imagine a

respiração levantando todo o seu corpo, ajudando-o a relaxar. Agora imagine que existe

um espelho do seu tamanho instalado acima de você. Você está deitado, nú, olhando-se

no espelho. Comece com seu cabelo e cabeça e vá se estudando à medida que seus olhos

fores descendo pelo seu corpo. Continue respirando profundamente. Tente não se julgar.

Apenas observe a você mesma, o corpo no qual você vive.

10:50 Direita/Esquerda – Corpo Imagem Colorida “Agora, que já terminei minhas

instruções vá até a mesa de trabalhos de arte e pegue tinta á óleo e um pedaço grande

de papel para impressão de jornais. Dobre o papel ao meio, verticalmente”. (Ou então

eu já terei dobrado os papéis para eles). “Com sua mão direita escolha as cores para

desenhar o lado direito do seu corpo. O centro de seu corpo será a dobra. Colora

qualquer coisa que você sinta sobre o seu corpo do lado direito, usando sua mão direita.

(Após dez minutos)

“O segundo passo será virar o papel e selecionar cores com sua mão esquerda e então

passe a desenhar o seu lado esquerdo. Novamente, use o desenho o quanto quiser,

retratando todos os seus sentimentos com cores e linhas. Coloque um D no lado direito

de sua imagem e um E no lado esquerdo”.

11:30 Conceitos sobre o seu “Eu” “O próximo passo será escrever cinco conceitos

sobre cada um de seus lados, começando sempre com “Eu”. Por exemplo: “Eu sou forte

e atarracado”. Eu estou nua, sentindo empertigado. “Eu sou graciosa”, etc. Estes

conceitos deverão se referir ao lado de seu corpo para o qual você esteja olhando. “O

próximo passo será abrir o papel e ver se existem diferenças entre os dois lados”.

Observando cada retrato “Agora deixe seu retrato de lado e dê uma volta pela sala

para o quê as outras pessoas fizeram. Tente se imaginar como se fosse aquela pessoa do

desenho. O que você sente?

Page 42: A CONEXÃO CRIATIVA

12:00 Pequenos grupos – Compartilhar “Forme pequenos grupos de três pessoas

e passe cinco minutos cada um falando sobre o seu retrato e obtendo dados dos outros

grupos”.

12:30 p.m Grupo todo: “O que você descobriu sobre você mesma? Como se

sentiu a este respeito?”

1:00 Pausa para o almoço

2:00 “Agora vocês irão formar grupos de seis. Eu Gostaria que cada um de vocês

se alternassem na colocação do seu retrato na parede, e ajudado pelo grupo, dançasse o

lado direito e o esquerdo. Vocês agora têm os conceitos “Eu” e subsídios de todos os

membros do grupo e gostaria que vocês se aprofundassem mais neste tema. Estudem

realmente o retrato e os conceitos que obtiveram para o lado direito. Então passem

algum tempo elaborando os sentimentos relativos a este lado. Façam alguns

movimentos, alguns sons, também se o desejarem para retratar os sentimentos deste

lado seu. Os membros do grupo podem ajudar talvez participando de sua dança, se você

quiser, ou usando instrumentos e suas vozes para acompanhar seus movimentos”.

Quando você houver terminado a dança de cada lado de você mesma e tiver sentido a

diferença, tente então um movimento que integre a esquerda e a direita, e veja como

você se sente”.

4:00 pm Discussão de todo o grupo: “O que aconteceu a você? O que de melhor

aconteceu a você hoje? Onde estão as coisas que você considerou inúteis? Quais são as

funções dos hemisférios direito e esquerdo? Quais são as implicações para nossa cultura

e o mundo?

Tenho usado estes exercícios por anos e anos. Mas somente agora estou

começando a colecionar alguns dos retratos e conceitos de participantes de grupos. Os

resultados são tão interessantes que fundamentam o estudo e alguma relação com os

construtos teóricos de Ornstein e outros. Conceitos típicos de participantes seguem:

Lado Esquerdo Lado Direito

Estou escondido e encabulado Sou forte

Page 43: A CONEXÃO CRIATIVA

Sinto alegria Sinto o poder

Sinto prazer Sinto dor

Sou amável, sensível Sou uma pessoa forte

Sinto-me bem e feliz Fiz muitas descobertas

Sinto-me leve Estou me expandindo

Estou em foco Quero ser mais uniforme

Estou agudamente Sinto-me cheio de energia fora de meu ambiente Ocupo estaco demais

Quero me projetar para fora Estou feliz

Estou em paz Sou colorido

Sou baixo Sou alto

Sou irregular Ouço música

Me movo vagarosamente Sou morno e indeciso

Eu sou a luz Eu sou sensível

Eu sou a beleza Eu sou forte

Eu sou livre Eu sou inteligente

Eu sou alegre e feliz Eu sou teimoso

Eu sou amável Eu sou arrogante

Eu sou generoso

Vejo que meu antebraço Sinto-me astuto está quebrado Vejo longe

Acho minha cabeça muito curta Alcanço meu joelho

Desejaria ter planejado antes Sou fino no ombro

Pensei que poderia combinar Pareço divertido meus dois lados melhor

Sei que meu lado esquerdo é diferente

Page 44: A CONEXÃO CRIATIVA

Naturalmente os retratos são muito mais interessantes do que as palavras

que os descrevem. Com poucas exceções, o lado direito do corpo (que é ligado ao

hemisfério do cérebro) é experienciado pelas pessoas como linear, forte, masculino ou

yang, do bom senso e abstrato. O lado esquerdo do corpo (ligado ao hemisfério direito

do cérebro) é experienciado como mais fluente, não linear, subjetivo, etc. Eu não

acredito que muitos dos participantes tenham uma noção muito grande sobre o

funcionamento dos hemisférios direito e esquerdo. Aquilo que eles desenham ou

escrevem vem mais de sua experiência cinestésica.

Observei que a maioria das pessoas canhotas são menos polarizadas nos

seus desenhos, mas este fato necessita ser verificado com algumas pesquisas. Não tenho

certeza da significância desta observação e, se ela é verdadeira.

Nossas discussões, depois deste exercício, abordam os sentimentos de

polaridade que cada um de nós tem dentro de si. Algumas pessoas ficam chocadas com

a diferença marcante que vêem. Eu chamo a atenção de que estamos acentuando as

polaridades propositalmente, de maneira a podermos nos compreender e que poderemos

então caminhar para a integração de nossas experiências. Tentamos algum diálogo entre

nossos lados direito e esquerdo. Criamos danças que irão integrar ambos os lados.

Também levantamos a questão da diferença entre as culturas ocidentais e

orientais. Nossa sociedade nos encoraja a todos, particularmente aos homens, a usar o

hemisfério esquerdo do nosso cérebro. Como adquirir o equilíbrio interno em nós

mesmos e no mundo? Falamos a respeito da necessidade de nos abrirmos para as

qualidades holísticas, femininas, ying, em nós mesmos; ou talvez algumas pessoas,

particularmente as mulheres, precisarão desenvolver suas qualidades Yang.

Uma “escrita livre” que me ocorreu após conduzir um grupo na

Academia Americana de Psicoterapeutas com respeito e experiência direita/esquerda:

DIÁLOGO ENTRE O HEMISFÉRIO DIREITO

E ESQUERDO DO MEU CÉREBRO

“Eu estou aqui no lóbulo esquerdo de meu cérebro!

Eu abro caminho caminho como um trem cheio de propósito .

Eu sou lógico, linear, de bom senso, até os pés.

Este trem caminha com seu apitar usual!

Page 45: A CONEXÃO CRIATIVA

Eu sou conscienciosa, assertiva com o yang masculino

A vida é excitante, Eu gosto do grande

Estampido!”

*******

Hey, você! Alma assimétrica.

Eu estou aqui e seu empurrão

está deixando seu tributo.

Por favor pare, preste atenção em mim

Eu sou macio como um salgueiro

Eu me curvo como uma árvore

Eu sou uma lua no deserto

Eu sou canção no céu

Minha imagem subjetiva é,

“todos voam!”

Você precisa de mim para o equilíbrio

o mundo está guiando

A luta terminará

Quando saborearmos nosso yin”.

*****

ENCONTRANDO SEU ESPAÇO VITAL

Uma outra sequência que Jared criou e nós dois expandimos, demonstrou

ter profundas implicações para os participantes. Nós denominamos isto “Encontrando

seu espaço Vital”.

Depois da sequência usual do tempo de meditação seguido de, pelo

menos quarenta minutos de movimento consciente, dei instruções como o que se segue:

1. “Encontre um lugar na sala, no qual você irá explorar ser próprio espaço. Você

pode usar qualquer item: móveis, paredes, portas, etc. Agora feche seus olhos e

explore o espaço físico que você quer e precisa para você mesmo. Este é seu

espaço vital. Isto é uma metáfora. Experiencie isto por cinco minutos. Esteja

atento a seus sentimentos durante este tempo. Você pode se aborrecer, mas

Page 46: A CONEXÃO CRIATIVA

permita que o aborrecimento surja. Experiencie o espaço que você criou para

você mesmo em todos os aspectos. Faça sons em seu espaço”.

2. (depois de cinco minutos) “Agora pare. Esteja consciente de como você se

moveu para explorar aquele espaço e os limites que você criou. Agora, use o

método oposto para explorar seu espaço – Se você foi pequeno, seja grande. Se

você foi expansivo, seja pequeno. Emita sons. Veja isto leva você. Novamente

mantenha seus olhos fechados o máximo possível para aumentar a sua

conscientização interior”.

3. (depois de cinco minutos) “Escolha se você irá usar cores, barro ou colagem

para expressar aquilo que você vem experienciando, Você terá meia hora para

usar meios de arte para expressar a experiência de seu espaço vital”.

4. “Escreva um estilo livre por dez minutos. Não censure aquilo que você escreve.

Não se preocupe com a ortografia, pontuação ou gramática. Você não irá

compartilhar sua redação com ninguém a menos que deseje, mais tarde.”

Algo de fascinante acontece nesta experiência para a maioria das

pessoas. O que é esta coisa chamada espaço vital afinal de contas? Não sei realmente.

Ainda assim cada um de nós parece estar consciente; em nossa dança, que temos um

modo de viver que é típico e limites que criamos para nós mesmos. Tenho visto pessoas

fecharem-se com móveis construindo uma fortaleza e então rastejar dentro dela. Outros

movem-se alegremente pela sala passando pelos espaços vitais das outras pessoas na

sala. Um homem permaneceu no topo de uma mesa durante vinte e cinco minutos.

Quando eu digo “agora explore de maneira oposta” a luz interior realmente esmaece. As

pessoas que estavam entrincheiradas derrubam as paredes e se atiram para fora. As

pessoas quietas tornam-se barulhentas e as barulhentas tornam-se suaves. Parece haver

uma conscientização interna do tipo de energia que nós usamos e do tipo que

reprimimos quando mudamos de uma forma de exploração para outra.

Uma pessoa escreveu, depois de experienciar este exercício:

“Do meu trabalho emergiu o modo como eu me fechava para a minha própria

criatividade e alegria. Como eu me bloqueio, mantendo-me chateada, dizendo: “Eles são

muito crônicos estes pacientes. Não mostram nenhum progresso, são criadores de

problemas! Eu não tenho que estar tão envolvido, entretanto eu crio minha própria

atadura não deixando-me sentir livre para experimentar coisas pouco convencionais

como estes pacientes doentes mentais. Eu estou me impedindo e sinto-me aborrecido e

Page 47: A CONEXÃO CRIATIVA

desconfortável. Então tento encontrar parentesco – almas orientadas humanisticamente

– criar minha própria abordagem – procuro workshop ou crie os meus próprios”.

Outra pessoa escreveu uma página de associação livre”

“A rocha de pedra calcária molhada fria dura pingando pra baixo, pra baixo, pra

baixo criaturas prestas escuras petrificadas fossilizadas transformadas, transfixadas e

transfiguradas sobre o solo dolorido inchado de muitas décadas a rocha a rocha a rocha

estalando rolando quebrando trovejando. O trovão quebrando rachando em colapso

agora em algumas peças e mais por todos os lados combinado colecionando a umidade

sempre a umidade até que as pedras reluzentes amaciaram a queda na praia de paixão

não falada e desespero interior agora a maré juntando e rolando gentilmente levando os

sonhadores para longe da margem embora esta margem possa estar quieta sempre e

ontem e agora e mesmo agora as pedra na areia do tempo juntaram-se em testemunho

mudo do mistério não falado da pedra dos tempos toda quebrada transformada em

cascalho melhor do que foder a pedra de qualquer maneira indo rindo embora e eu não

vou voltar até que você diga tio ou talvez para toda essa maldita cena dilacerada e aí que

ela está e você naturalmente sabe que não sabe porque não está em lugar nenhum

certamente nem aqui nem lá porém irmão e irmã isto é tudo que nós temos portanto

agarre seu par e acerte seus meias e deixe que ela se dilacere outra vez e aqui vamos nós

não indo ainda por um longo caminho embora indo em direção ao absoluto pré último

final e totalmente sem limite mais um maldito tempo sempre sempre e sempre mais e

ainda sempre e daí porque eu assim o digo portanto ponho isto no seu cachimbo e fume

até o rabo a mim não importante mas ainda assim isto aí está e você vê que eu preciso

de você estúpido bastardo será que você não pode ver como eu estou amedrontada e

encolhido sempre me escondendo olhando de soslaio para ver se passa outra sombra

correndo do passado algumas vezes respingando porcaria em você ou talvez em mimou

talvez em nós ambos porém limpe isto porque aqui vamos nós novamente e segure seus

biscoitos que é uma viagem dos diabos e quem quer fugir disso não eu não senhor não

quero porque isto aí está a sua volta e estou aqui enquanto isto durar e então alguns

esticam se esticam até que estouram e aí vem ela e lá vai ela e onde eu paro ninguém

sabe portanto tudo está bem ok etc. Saindo ou voltando não indo não vindo não a não a

vão a a filha da puta da rocha nunca mais considere as pedras na praia deitadas ao luar

dourado parecendo o sol elas são inofensivas mas por favor oh por favor seja gentil”.

Page 48: A CONEXÃO CRIATIVA

Portanto para algumas pessoas isto surge do fato de encerrar face a face os

limites que se cria na vida. Para uma outra pessoa é um desenrolar e, “Por favor, oh por

favor seja gentil”.

Outro homem escreveu:

“O poder e a força de ser energiza e é uma experiência compensadora e

excitante. Existe o receio de que a força que eu tenho irá sobrepujar os outros que eu

amo e aqueles com quem eu trabalho”.

Uma outra mulher escreveu livremente:

“Pois, se eu devo escrever isto deve ser vindo do coração e da alma m_____as

no domínio de Deus não existe regra nem quem dê as regras apenas ele e o anjo da

morte, a morte pela orgulhosa e livre oh meu Deus. Posso dar um salto mortal, dar um

salto mortal sobre o candelabro e continuar dando salto mortal até o fim do que na terra

ou não na terra seja o receio eu tenho medo de desistir e tem aqui uma galinha e talvez

você prefira ser uma galinha, e por que não um demônio? Demônios são galinhas

dignificadas que são muda dura espalhada e triste eu não serei uma galinha escura

estúpida estúpida soco soco pontapé. __________________________ devo obedecer e

aprender a ser diligente ou ________________________ livre, ser só

O lutador eu odeio, não o conheço?

Não gosto dele? Prendo ele

em mim

O que é esta coisa misteriosa chamada espaço vital que podemos

expressar em movimento e dança? E como é que nós podemos dançar aquilo que Não

É? Como é que nossos corpos podem nos dizer aquilo que nossas mentes não sabem e

que as palavras não explicam?

Page 49: A CONEXÃO CRIATIVA

CONCLUSÃO

Como psicólogos, psicoterapeutas e educadores com valores

humanísticos, temos uma responsabilidade para conosco, nossos clientes e o universo,

de contribuir para a necessária mudança na conscientização que irá evitar que

explodamos para fora deste planeta. Existem crenças que têm sido dominantes no nosso

país pelos últimos 50 anos. Estes valores parecem ser que: maior é melhor; temos que

nos defender eu os outros vão nos atacar; nós temos que estar no controle; os

suprimentos da terra são ilimitados; e o poder nuclear é seguro e necessário. Eu acredito

exatamente o oposto. Existem momentos quando eu penso que aqueles de nós que

veneram a terra, as amizades, e as soluções não violentas para os problemas, estamos

vivendo no mundo errado. Sinto vontade de gritar, “Quando nós iremos acordar?”

Quando penso a respeito de mudar o mundo, algumas vezes sinto-me

sem poder. Outras vezes,penso que se eu mudar a mim mesma (a única pessoa que

posso mudar) estarei afetando os outros de maneira positiva.

Descobri em mim mesma que sou mais desenvolvida no lado esquerdo

do cérebro, como é a maioria de nós, nessa cultura. Estamos fora de equilíbrio. O tipo

de trabalho que estou fazendo como psicóloga é nos ajudar a ficar equilibrados, como

indivíduos e como uma sociedade.

Outras culturas estão fora de equilíbrio na outra direção, preocupando-se

apenas com a jornada interior, esquecendo o fato de que seres humanos necessitam de

alimento, roupas, e moradia antes que possam chegar a um estado de consciência que os

leve a compreensão dos valores do mundo ou espirituais.

Veja o processo criativo, abertura para o lado direito do cérebro, como

um caminho para estágios mais elevados de conscientização. Estou ciente de que a

criatividade por si só, não é necessariamente uma coisa positiva. As pessoas podem ser

criativas descobrindo novas maneiras de matar ou torturar os outros. No entanto,

acredito que descobrindo o aspecto criativo de cada um, em um ambiente orientado,

onde a raiva, a dor e o lado sombrio pode ser explorado de maneira segura, irá permitir

que a pessoa se abra para o espírito universal. Este espírito é positivo e amável.

Quando usamos nosso lado esquerdo do cérebro, nós estamos avaliando,

analisando, sendo cauteloso, suspeitoso, evitando surpresas e riscos. Nós precisamos de

todas estas qualidades. Nós temos usado mal nossas habilidades de ser intuitivos,

imaginativos, brincalhões, nos arriscar, curiosos e conscientes da experiência total.

Page 50: A CONEXÃO CRIATIVA

Sendo do Signo de Balança, eu estou trabalhando pelo equilíbrio interno

e externo.

Tenho experienciado, e gostaria que existem elementos místico, mágicos

e mitológicos no processo, que eu chamo de Conexão Criativa. Quem sabe, se nós

praticarmos criativamente poderemos receber a visita do Duende? Talvez iremos

experimentar a excitação e o mistério de ter “isto”, nos dançando. A transformação

pessoal pode ocorrer quando existe a fusão da intenção e da possibilidade em uma

mudança da realidade experenciada. O processo propriamente dito poderá ser

estonteante.

NOTAS

1. No passado recente, os livros e artigos de Carl Rogers, utilizavam o termo

“centrado-no-cliente” e, mais tarde, mudou para “centrado-na-pessoa”,

refletindo a utilização mais ampla de seus métodos na educação (ensino-

centrado), na indústria, etc. Assim, quando uso as palavras “centrado-no-

cliente”, estou me referindo a esta abordagem particular como uma

psicoterapeuta nos seus primeiros anos profissionais.

2. Ryne, Janie. The Gestalt Art Experience. Brooks Cole Publis – hing Co.,

Monterey, CA, 1973, p. 9.

3. Ibid, p. 8.

4. Em 1981, eu selecionei 30 quadros de meus 10 anos de trabalho artístico

para expor numa exposição denominada: “auto-compreensão através da arte

expressiva”.

5. Keys, Margaret Frings. The Inward Journey. Celestial Arts, Millbrae, CA

1974, p. 5.

6. Wallock, Susan Fireder. Reflections on Mary Whitehouse. American Journal

of Dance Therapy. 1981, vol. 4, n0 2, p. 50.

7. Esses estágios são discutidos mais amplamente no Wallock`s Reflection on

Mary Whitehouse, ibid.

8. Wallock, ibid.

Page 51: A CONEXÃO CRIATIVA

9. Rogers, Natalie. Emerging Woman: A Decade of Midlife Transitions, p.161.

10. Brown, J. et al. Free Writing: A group Approach. Hayden Book Co.,

Rochelle Park, New Jersey, 1977.

11. Brown, J. et al. Free writing: A Group Approach, supra.

12. Outras citações do dia de São Diego aparecem nas pags. 13 e 29. Este dia foi

parte do Programa de Aprendizagem Ao Instituto de Rogers, agosto, 1980.

SELECTED BIBLIOGRAPHY

A Personal Journey

Rogers, Natalie Emerging Woman: A Decade of Modlife Transitions, Box 789, Point

Reys Station, CA 94956, 1980.

Art Therapy

Keyes, Margaret Frings The Inward Journey, 1974, Celestial Arts, Millbrae, CA.

Rhyne, Janie The Gestalt Art Experience, 1973, Brooks/C Publishing C. Monterey,

California.

Movement and Dance Therapy

Barber, Elaine “Moving Through and Empty Space: A Creative Cyclo,”

Ph. D. thesis, International College, Los Angeles, California, 1981.

Barlin, Anne Lief and tamara Robbin Greenber Move and Be Moved, 1980.

Learning Through Movement, 5757, Ranchito, Van Nuys, CA 91401.

Halprin, Anna E Others Collected Wrirings, San Francisco Dancers Workshop, Fort

Mason Center, San Francisco, CA 94123.

Halprin, Anna Exit To Enter. San Francisco Dancers Workshop, Fort Mason Center,

San Francisco CA 94123

Mason, Kathleen Criddle, (ed.) Dance Therapy, 1974, American Alliance for Health,

Physical Education and Recreation, 1201 16th Street, N.W., Washington, D.C. 20036.

Schoop, Trudi Won`t YOU Join The Dance, 1974, National Press Books, 850 Hanson

Way, Palo Alto, CA 94304.

Page 52: A CONEXÃO CRIATIVA

Wallock, Susan Frieder “Reflections on Mary Whitehouse”, American Journal of Dance

Therapy, 1981, vol. 4, no 2. 45-56 (Requests for reprints should be sent to Dr. Wallock,

Dance/Movement Therapy Masters Program, John F. Kennedy University, 12 Altarinda

Road, Orinda, CA 94563).

Whitehouse, Mary “C. G. Jung and Dance Therapy: Two Major Principles”, In

Bernstein (ed.) Eight Theoretical Approaches in Dance Movement Therapy, Dubuque:

Kandal Hunt, 1979, 51-70.

Right/Left Brain

Bruner, Jerome On Knowing: Essays for the Left Hand. New York, Atheneum, 1965.

Edwards, Betty Drawing On the Right Side of the Brain, J.P. Tarcher, Inc. Los Angeles,

1979.

Ornstein, Robert The Psychology of Consciousness, New York: Viking, 1972.

Savary, Louis M. and Miller, Margaret Ehlen. Mindways, Harper e Row: San Francisco,

1979.

Creativity

Keibert, Coellen All of A Sudden: The Creative Process, self published, Sentient

Systems, Inc., 2955 Park Ave., Soquel, CA 95073, 1980.

Fuchs, Frances Exploring Women`s Creative Process: A Personal and Universal

Journey, Master`s Thesis, unpublished, Sonoma State University, Rohnert Park, CA

1982.

May, Rollo The Courage To Create, New York, W.W. Norton, 1975.

Rogers, Carl R. “Toward a Theory of Creativity, “ETC: A Review of General

Semantics, vol. XI, n0 4, 1954.

Simples. Bob The Metaphoric Mind, Addison-Wesley Co., Reading, Mass., 1976.

Vernon, P.E. (ed.) Creativity, Penguin Modern Psychology Readings, Penguin Books

Inc., 7110 Ambassador Road, Baltimore, MD 21207, 1970.

Expressive Therapy

Anderson, Walt (ed.) Therapy and The Arts: Tools of Consciousness, Harper Colophon

Books, Harper e Row, NY 1977.

Feder, Elaine E Bernard The Expressive Arts Therapies: Art, Music and Dance as

Psychotherapy, Prentice-Hall Inc., Englewood Cliffs, New Jersey 07632.

Page 53: A CONEXÃO CRIATIVA

Robbins, Arthur, and Sibley, Linda Beth Creative Art Therapy, Brunner/Mazel Pub.,

NY, 1928.

Robbins, Arthur (with contributors) Expressive Therapy: A Creative Arts Approach to

Depth-Oriented Treatment, Human Sciences Press, 72 5th Ave., New York, NY 10011,

1980.