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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES IVONE YUKIKO OHIRA A CONTRIBUIÇÃO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA DA COCAÍNA Mogi das Cruzes, SP 2014

A CONTRIBUIÇÃO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA … · diminuir o seu sofrimento. O que diferencia o uso das drogas no passado e o uso atual, é que este deixou de ser um elemento

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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

IVONE YUKIKO OHIRA

A CONTRIBUIÇÃO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO

DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA DA COCAÍNA

Mogi das Cruzes, SP

2014

UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

IVONE YUKIKO OHIRA

A CONTRIBUIÇÃO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO

DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA DA COCAÍNA

Monografia apresentada ao Programa de

Pós-Graduação da Universidade de Mogi

das Cruzes, como parte dos requisitos

para a obtenção do título de Especialista

em Acupuntura.

Orientadores: Profa. Bernadete Nunes Stolai

Mogi das Cruzes, SP

2014

IVONE YUKIKO OHIRA

A CONTRIBUIÇÃO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO

DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA DA COCAÍNA

Monografia apresentada ao Programa de

Pós-Graduação da Universidade de Mogi

das Cruzes, como parte dos requisitos

para a obtenção do título de Especialista

em Acupuntura.

Aprovado em ..............................

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Bernadete Nunes Stolai

UMC – UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

Profa. Romana de S. Franco

UMC – UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

RESUMO

O consumo de drogas tornou-se um problema da saúde pública, doença social, desintegração e epidemia do século. A cocaína e seus derivados, principalmente o crack, mata. Quase um terço dos consumidores morrem num prazo entre cinco a dez anos. Os objetivos deste trabalho foram avaliar, a eficácia da acupuntura auricular como instrumento coadjuvante no tratamento da dependência de cocaína, estudar sobre esta substância, suas conseqüências e tratamento, numa visão ocidental e oriental da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Para a elaboração deste trabalho foi feito um levantamento da literatura científica disponível na biblioteca da Universidade de Mogi das Cruzes, nos sites da Bireme, Scielo, PubMed, Cochrane Library, Imesc, Portal dos Psicólogos, livros e monografias. A dependência química é uma doença crônica e recidivante do cérebro, identificada a partir de um padrão de consumo constante e descontrolado. O uso continuado de substâncias psicoativas provoca mudanças na estrutura e funcionamento deste órgão. O tratamento na medicina ocidental envolve uma equipe multidisciplinar com procedimentos como: desintoxicação, intervenções farmacológicas e acompanhamento psicológico. Não existe uma farmacoterapia efetiva, específica, para tratar a dependência de cocaína. Os tratamentos mais atuais são extensões de tratamentos aplicados à dependência de álcool ou de opiáceos e os resultados são bastante limitados, o abandono ao tratamento é recorrente. Na MTC todos os sintomas mentais decorrentes do uso da cocaína e seus derivados são ocasionados da Fleuma obstruindo os orifícios do Coração e afetando a Mente. O Qi do Baço deficiente é incapaz de transformar os Fluídos Corpóreos que se acumulam como Fleuma. O princípio de tratamento é resolver Fleuma, eliminar Calor do Coração, acalmar a Mente. No resultado da análise dos trabalhos revisados, apesar de se ter encontrado mais resultados negativos frente a eficácia da acupuntura auricular no tratamento de cocaína, não foi possível dar uma resposta definitiva sobre o tema. A primeira pesquisa documentada em acupuntura auricular e vício em cocaína começou na década de 1970, desde então, outros estudos têm tentado replicar essas descobertas de uma forma mais rigorosa, pois muitas falhas foram encontradas, minando os resultados. Estudos mais recentes apontaram efeitos positivos do tratamento como: equilíbrio emocional, alívio das dores e regularidade da fome e sono.

Palavras Chave: acupuntura, dependência química.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................07

2 METODOLOGIA ...........................................................................11

3 DROGA: HISTÓRIA, DEFINIÇÕES E EFEITOS ......................... 12

3.1 CONTEXTO HISTÓRICO........................................................12

3.1.2 Droga................................................................................... 15

3.1.3 Definições importantes...................................................... 16

3.2 DROGAS PSICOTRÓPICAS................................................ 16

3.2.1 Drogas psicoativas e funcionamento do SNC ............. . 17

3.3 DROGAS LÍCITAS/ILÍCITAS E ABUSO............................... . 19

3.4 EFEITOS DO USO ABUSIVO ........................................... . 20

3.5 DEPENDÊNCIA QUÍMICA .................................................. 20

3.5.1 A ação das drogas sobre o sistema de recompensa do

cérebro ................................................................... ...................... 22

3.6 A COCAÍNA ......................................................................... .. 24

3.6.1 A cocaína na medicina ........................................................ 24

3.6.2 Formas de apresentação da cocaína ..... ..........................26

3.7 FARMACODINÂMICA: A AÇÃO DA COCAÍNA NO

ORGANISMO E SUAS IMPLICAÇÕES ..................... ......... 27

3.8 SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA DA COCAÍNA ................. . 29

3.8.1 Complicações e intoxicação aguda ............................... . 29

3.8.2 Overdose ........................................................................ .. 31

3.8.3 Tratamento na medicina ocidental ................................. 32

4 MEDICINA TRADICIONAL CHINESA................................................ 34

4.1 DIAGNÓSTICO NA MTC .................................................... 35

4.2 COCAÍNA COMO CAUSA DE DOENÇA-PERSPECTIVA

MTC.. ............................................................................................... 35

4.3 AGRESSÕES AO CORAÇÃO (XIN) ........... .......................... 36

4.4 SÍNDROMES ENERGÉTICAS X EFEITOS COLATERAIS

DO USO ABUSIVO DE COCAÍNA ...................................... 38

4.5 TRATAMENTO DA MTC.............. ........................................... 39

5 ACUPUNTURA AURICULAR ............................................................ 42

5.1 CONTEXTO HISTÓRICO ..................................................... 42

6 REVISÃO DE TRABALHOS: ACUPUNTURA NO TRATAMENTO

DE ABSTINÊNCIA........................................................................ 43

6.1 RESULTADO DAS REVISÕES ............................................. 46

7 CONCLUSÃO .................................................................................... 48

REFERÊNCIAS . ............................................................................... 49

7

1 INTRODUÇÃO

O uso de substâncias psicoativas é uma prática milenar e universal, desde a

pré-história os membros das diferentes culturas humanas utilizavam plantas para

provocar alterações de consciência. O consumo de drogas sempre existiu em todas

as culturas e religiões, com finalidades específicas, religiosa, medicamentosa, no

alívio do corpo, o homem sempre buscou maneiras de aumentar o seu prazer e

diminuir o seu sofrimento. O que diferencia o uso das drogas no passado e o uso

atual, é que este deixou de ser um elemento de integração, um fator de coesão

social e emocional da população, passando a constituir-se num elemento de doença

social, de desintegração. (CARRANZA e PEDRÃO, 2005, p.836-844).

O consumo de drogas antes restrito a pequenos grupos, atualmente é usado

em larga escala por pessoas de diferentes grupos e realidades tornando-se um

problema da saúde pública a epidemia do século. O consumo de álcool, de tabaco e

de outras substâncias psicotrópicas está presente em todos os países do mundo.

Mais da metade da população das Américas e da Europa já experimentou álcool

alguma vez na vida e cerca de um quarto é fumante. O consumo de drogas ilícitas

atinge 4,2% da população mundial. A maconha é a mais consumida (144 milhões de

pessoas), seguida pelas anfetaminas (29 milhões), cocaína (14 milhões) e os

opiáceos (13,5 milhões, sendo 9 milhões usuários de heroína. (MARQUES e

RIBEIRO, 2006, p.91).

A cocaína e seus derivados, principalmente o crack, mata. Quase um terço

dos consumidores morrem num prazo entre cinco a dez anos. Os efeitos fisiológicos

são devastadores: quase todos os dependentes desenvolvem transtornos psíquicos

e têm os sistemas respiratório e cardiovascular comprometidos. Entre os

dependentes que resolvem fazer tratamento, 90% sofrem recaídas no primeiro ano.

Metade abandona o tratamento, transformando-se em verdadeiros farrapos

humanos. (LARANJEIRA e REIS, 2012).

Na prática clínica diária, é impossível não incluir no diagnóstico de jovens

atendidos em serviços de emergência com queixa de dor torácica, com isquemia

miocárdica aguda ou com manifestações indicativas de um acidente vascular

cerebral isquêmico com a possibilidade de exposição à cocaína ou anfetaminas.

(LÓDI et al, 2012).

8

O consumo de cocaína no Brasil aumentou muito. O segundo Levantamento

Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), elaborado pela Universidade Federal de São

Paulo (UNIFESP), mostrou que 5,6 milhões de adultos e 442 mil menores, que têm

entre 14 e 17 anos, admitiram ter consumido cocaína, na forma de produtos

derivados como crack, óxi e merla, 2,8 milhões fizeram uso da droga no último ano,

o que situa o Brasil como segundo consumidor mundial da substância entorpecente

e seus derivados, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O número de usuários

no Brasil representa 20% do consumo mundial. (LARANJEIRA e MADRUGA, 2012).

De acordo com levantamentos realizados pela OMS (2007), há indícios de que

8,9% do prejuízo causado por doenças provêm do uso de substâncias psicoativas.

Estes mesmos levantamentos apontam ainda que, há uma grande variedade de

problemas sociais e de saúde resultando da dependência dessas substâncias

ilícitas.

Relatório, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc),

sobre o uso de drogas ilícitas no mundo, aponta o Brasil como parte das principais

rotas da exportação da cocaína produzida na América latina para a Europa. A droga

produzida pelo Peru e Bolívia vai para o hemisfério norte através da Venezuela e

países do Caribe, bem como do Brasil. O fato de o Brasil ser usado como rota para

o tráfico, justifica, segundo a ONU, o aumento na quantidade da droga apreendida

no país nos últimos anos que triplicou desde 2004, chegando a 27 toneladas em

2010. (UNODC, 2010).

A falta de políticas públicas de combate ao tráfico, o fácil acesso às drogas, a

pobreza, a falta de perspectiva, estão entre os motivos do aumento exponencial do

número de usuários de cocaína e, de derivados como o crack que é de baixo custo.

Multiplicam-se as “cracolândias” (áreas específicas da cidade, degradadas,

sobretudo nos grandes centros urbanos do país), onde grandes contingentes

humanos, se reúnem em “áreas livres” para adquirir drogas e se drogarem, valendo-

se de todos os meios possíveis para adquirir o produto de seus anelos.

Além dos danos irreparáveis sofridos pelos dependentes, sob o ponto de vista

social, neste momento, a sociedade está suficientemente esclarecida e sofre os

efeitos deletérios do álcool e das demais drogas, que vêm colocando parcela

considerável da população em um estado de extremada miséria. Famílias inteiras

são destruídas.

9

Seus efeitos são devastadores em todos os aspectos: econômicos, humanos e

culturais da sociedade, visto que promovem um aumento da violência de toda a

ordem, com perdas incalculáveis de potencial humano. Todos são ameaçados,

inclusive bebês, que herdam doenças ou a dependência química de suas mães (a

cocaína atravessa a placenta e alcança o feto em desenvolvimento). Tais efeitos

devastadores atingem todos os seguimentos da comunidade. Homens e mulheres

de diferentes etnias, de todas as classes sociais, jovens, adultos e idosos, pessoas

com e sem instrução, qualificadas ou não. As perdas e sofrimentos gerados pela

drogadição são incomensuráveis.

Apesar de haver tratamentos tradicionais envolvendo esta problemática:

(desintoxicação, intervenções farmacológicas e acompanhamento psicológico,

pesquisa de novos medicamentos), o trabalho é árduo e o resultado, nem sempre, é

animador. Intensas pesquisas foram feitas nos últimos anos, não há ainda nenhum

medicamento aprovado para o tratamento da dependência de cocaína. Não existe

uma farmacoterapia, com evidência sólida o bastante, para tratar usuários desta

substância. Durante os últimos 15 anos, os esforços de pesquisa clínica na busca

para desenvolver uma farmacoterapia efetiva, para a dependência de cocaína, tem

provado que se trata, realmente, de uma tarefa bastante difícil. (LARANJEIRA e

REIS, 2012).

Não há fármaco específico, comportamental, ou terapia psicossocial que tenha

demonstrado consistentemente benefícios ao tratamento. Abordagens de

tratamentos mais atuais são extensões de tratamentos normalmente aplicados à

dependência de álcool ou de opiáceos. Os sucessos limitados no tratamento de

dependência de cocaína levaram pacientes e médicos para examinar abordagens

alternativas. (EBBERT et al, 2005).

Diante desta problemática, todo o esforço no sentido de se combater este

grande “mal” é bem vindo e, a acupuntura se torna neste aspecto, uma grande e

importante aliada. A acupuntura é um sistema experimentado e testado pela

medicina tradicional, que tem sido usado na China e em outras culturas orientais a

milhares de anos, para restaurar, promover e manter uma boa saúde. Esta técnica

tem sido usada há mais de duas décadas para tratar o alcoolismo e a dependência

de drogas. Acredita-se que ela reduz o consumo e outros sintomas associados à

abstinência, reduzindo também a dependência. (GELINSKI e SANTOS, 2012).

10

Atualmente muitos trabalhos estão sendo realizados, discutidos e publicados,

mostrando a eficácia da acupuntura no tratamento de pessoas dependentes de

drogas psicotrópicas, com resultados animadores.

Assumpção et al (2007) em seu trabalho demonstra que acupuntura auricular

mostrou-se eficaz como adjuvante no tratamento de dependência química.

Segundo Albuquerque, Lima, Saraiva (2012), o tratamento com acupuntura

auricular trouxe equilíbrio emocional, alívio das dores, regularidade da sensação de

fome e de sono, aliviando sintomas como: nervosismo, depressão, mialgias,

impaciência, ansiedade, cãibras, inquietação, que caracterizam a dependência

psicológica, manifestados devido a interrupção do uso das drogas.

Na análise de Cho, Whang (2009), três dos quatro ensaios clínicos

randomizados demonstraram que a acupuntura associada com a terapia

convencional apresentou reduções significativas no desejo de álcool, em

comparação ao tratamento da terapia convencional sozinha. A acupuntura aparece

como uma modalidade eficaz para alguns clientes que buscam desintoxicação por

abuso de substâncias.

O presente estudo é sobre o uso abusivo da cocaína e seus derivados, a

dependência química e suas conseqüências, com o objetivo de analisar o

tratamento, numa visão ocidental e oriental da Medicina Tradicional Chinesa (MTC).

Avaliar, também, através de estudos já realizados, se a acupuntura contribui no

tratamento da dependência da cocaína e seus derivados, aliviando os sintomas da

abstinência.

11

2 METODOLOGIA

Para a elaboração deste trabalho foi feito um levantamento da literatura

científica disponível na biblioteca Universidade de Mogi das Cruzes, nos sites da

Bireme, Scielo, PubMed, Cochrane Library, Imesc, Portal dos Psicólogos, livros e

monografias.

O texto foi escrito de acordo com as normas da ABNT, segundo o Manual de

Trabalhos Acadêmicos da UMC.

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3 DROGA: HISTÓRIA, DEFINIÇÕES E EFEITOS

3.1 CONTEXTO HISTÓRICO

Segundo Pratta (2009), falar sobre o uso de drogas, particularmente sobre a

dependência química, traz questões relacionadas ao campo da saúde e doença

vigentes ao longo da história do homem.

As primeiras representações de saúde e doença estavam ligadas a uma

questão mágica. Os antigos povos da Mesopotâmia acreditavam que as doenças

eram provocadas por influências de entidades sobrenaturais. Posteriormente, a

doença passou a ser explicada no âmbito das crenças religiosas, sendo,

determinação dos deuses. A partir dos egípcios essa visão começou a mudar. Eles

evidenciaram uma naturalização das doenças, aliada às crenças sobrenaturais,

religiosas e mágicas. (PRATTA, 2009).

Os gregos embasaram as explicações sobre saúde e doença com uma

fundamentação religiosa. Os deuses eram responsáveis pela manifestação das

doenças houve a sacralização das doenças. O homem curvava-se às divindades e

se submetia aos mais diversos tipos de sacrifícios, com a finalidade de se livrar de

alguma enfermidade, do castigo e das impurezas. (PRATTA, 2009).

Essa visão mudou a partir das idéias de Hipócrates que formulou um conceito

de causas naturais para os eventos presentes em nosso mundo. O homem era

constituído de quatro humores corporais: o sangue, a bílis amarela, a bílis negra e a

fleuma, os quais eram oriundos de quatro qualidades específicas da natureza: calor,

frio, umidade e aridez. A saúde seria resultado da harmonia, do equilíbrio entre

esses quatro humores e, por outro lado, a doença teria origem no excesso ou na

escassez de um deles ou na falta de mistura dos mesmos no organismo, sendo a

cura ligada à busca do equilíbrio. Hipócrates preocupava-se com a doença

individual, com a forma de curá-la, bem como com a manutenção da saúde.

(CAIRUS e RIBEIRO, 2005, p.50).

A doença e a cura seriam resultados, então, de processos naturais o que

levou a nova medicina a receitar o pharmakón (palavra que significa remédio ou

13

veneno) para o tratamento das enfermidades em busca da cura. (TOSCANO JR,

2001).

Para os gregos e os romanos, que empregavam vários tipos de drogas, a

ação de uma determinada substância poderia ser utilizada como remédio ou veneno,

dependendo de sua dosagem. Isso porque era essa dosagem que determinava o

efeito curativo de uma determinada substância utilizada e o envenenamento

provocado pela mesma. (MACRAE, 2001, p.25-34).

No final da Antiguidade e durante toda a Idade Média (século V ao XV)

concebia-se a doença como algo sagrado, embora continuasse sendo encarada

como a manifestação de alterações globais do organismo na sua relação com o

meio físico e social (QUEIROZ, 1986, p. 309-317).

Durante a Idade Média a Igreja Católica passou a condenar o uso das plantas

consideradas como “diabólicas”, as quais eram vistas como sinônimo de feitiçaria.

Essas plantas passaram a ser estigmatizadas, gerando perseguições intensas. No

século X, o emprego de drogas para fins terapêuticos tornou-se sinônimo de heresia,

visto que o sofrimento era concebido como uma maneira de aproximação a Deus. A

única droga permitida era o álcool, que simboliza o sangue de Jesus Cristo Deus.

(MACRAE, 2001, p.25-34).

No final da Idade Média, a Europa é assolada pela peste negra, a peste

bubônica, que levou medo e morte. Os princípios da medicina galênica não

conseguiram dar conta dessa nova vivência.

Sydenhan baseou-se nas obras de Bacon e Locke e concebeu a doença

através de dois elementos: o empirismo clínico que se apoiava na observação, e

uma nova classificação das doenças, agudas e crônicas, ainda hoje utilizada.

(ORNELLAS, 1999, p.20).

Do final do século XV ao início do XVI (Renascimento) houve a queda

gradativa do poder da Igreja Católica. Aconteceram grandes mudanças em todos os

âmbitos da sociedade, o contato com as culturas orientais, possibilitou uma

retomada gradual do uso de drogas. Nesse período ocorreu um grande avanço

científico, evidenciando-se a necessidade de laicização do saber, o que levou ao

nascimento da ciência moderna com a sistematização do conhecimento com normas

e regras específicas para a produção do mesmo. (ORNELLAS, 1999, p.20)

A partir do século XVII, a evolução da medicina acompanhou de perto o

desenvolvimento ocorrido nas ciências, principalmente na biologia.

14

Antes de Descartes os pacientes eram tratados no contexto do meio ambiente,

social e espiritual. Sua filosofia de dualismo mente e corpo levou os médicos a se

concentrarem no corpo. Essa visão criou uma concepção da doença como um mau

funcionamento das “peças” da máquina humana, o qual poderia ser reparado por

meio de uma intervenção específica da medicina. Isto levou os médicos a

direcionarem sua atenção para a máquina corporal, para o biológico, negligenciando

aspectos psicológicos, sociais e ambientais da doença, o que demonstra uma visão

reducionista dela. (MACRAE, 2001, p.25-34),

No decorrer do século XVIII, ocorreu uma diminuição na perseguição aos

indivíduos considerados hereges, fato que propiciou uma volta do uso médico e

lúdico das drogas, ou seja, os próprios avanços científicos começaram a apontar a

necessidade de se explorar a questão medicamentosa. (MACRAE, 2001, p.25-34),

No início do século XIX a medicina incorporou o conceito de função,

desenvolvendo, a visão de saúde como um processo. Neste século, cientistas

conseguiram isolar os princípios psicoativos de inúmeras plantas, passando a

produzir determinados fármacos como a morfina, a codeína, a cafeína, a cocaína, os

barbitúricos, o uso anestésico do éter, do clorofórmio e do óxido nitroso.

Segundo Capra (1982, p.120), os grandes avanços da biologia durante o

século XIX foram acompanhados pela grande evolução na tecnologia médica. Por

outro lado, os conhecimentos produzidos no século XIX foram aplicados de maneira

diferenciada no século XX, gerando o desenvolvimento de uma série de

medicamentos e vacinas para o combate de doenças infecciosas, e descobertas

importantes como a da penicilina em 1928 e a produção de medicamentos

psicoativos, a partir da década de 50.

No século XX, falar sobre saúde e doença era tomar como referencial o

modelo biomédico. A doença, então, passou a ser o foco de interesse do

profissional, como se fosse, segundo Backes, Lunardi e Lunardi Filho (2006),

desconectada do ser que a abriga e no qual a mesma se desenvolve. Esse contexto

de certa forma levou a uma desumanização do homem na sociedade, não

coincidindo diretamente, com as necessidades reais de saúde de uma população.

O uso de álcool vem desde a pré-história até a atualidade, mas começou a

aparecer na literatura como uma condição clínica, a partir dos séculos XVIII e XIX.

Com a urbanização decorrente da Revolução Industrial que possibilitou que os

médicos observassem mais os pacientes com consumo excessivo de álcool.

15

Produziram-se os primeiros textos referentes aos problemas de saúde advindos do

uso de bebidas alcoólicas. Os indivíduos que apresentassem problemas com álcool

ou outras drogas eram encaminhados para instituições psiquiátricas com a finalidade

primordial de retirá-los do convívio social e promover o abandono do uso, utilizando,

para tanto, as mesmas técnicas empregadas com os outros internos. Sendo assim,

ainda segundo Ferreira e Luis (2004), a assistência ao uso de drogas, vinculada à

assistência psiquiátrica, traz consigo a questão da violação dos direitos humanos,

além do problema da má qualidade dos serviços prestados aos usuários, pois tem

como base o modelo hospitalocêntrico.

Pode-se dizer, então, que a droga, como qualquer outro elemento presente na

sociedade, segue a evolução das culturas, ou seja, os padrões, a freqüência de

utilização e os tipos de drogas consumidas mudam de uma época para outra, de

acordo com as condições sócio-culturais existentes. O que diferencia do passado é

que se tornou elemento de doença e desintegração social. Isso ocorreu,

principalmente, a partir da segunda metade do século XX, tendo contribuído para a

desintegração do tecido social e o aniquilamento da subjetividade em um mundo

profundamente alienado. (RIBEIRO, 2004, p.50-62).

A partir da segunda metade do século XX, O consumo de substâncias

psicoativas cresceu assustadoramente e o conceito de dependência deixou de ser

enfocado como um desvio de caráter, ou apenas como um conjunto de sintomas,

para ganhar contornos de transtorno mental com características específicas.

(RIBEIRO, 2004, p.50-62).

3.1.2 Droga

Há várias interpretações para termo droga. No senso comum é uma

substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as funções,

as sensações, o humor e o comportamento.

Em medicina, refere-se a qualquer substância, natural ou sintética, com

potencial de prevenir ou curar doenças ou aumentar o bem-estar físico ou mental.

Em farmacologia, refere-se a qualquer agente químico que altera os processos

bioquímicos e fisiológicos de tecidos ou organismos. Contudo em um contexto legal

e no sentido corrente, o termo “droga” refere-se, geralmente, a substância

16

psicoativas e, em particular, às drogas ilícitas por provocarem alterações do estado

de consciência do indivíduo, aliviar a dor, dissipar o medo através desta prática

levando-o, eventualmente, à dependência química. As drogas naturais são obtidas

através de determinadas plantas, de animais e de minerais. A cafeína extraída

do café, o THC ou tetrahidrocanabinol da Cannabis, a nicotina encontrada no

tabaco, o ópio na papoula. As drogas sintéticas são fabricadas em laboratório,

exigindo para isso técnicas especiais. (BERTOLOTE, 2010).

3.1.3 Definições Importantes

Drogas Psicoativas são aquelas que alteram comportamento, humor e

cognição. Elas agem preferencialmente nos neurônios, afetando o sistema nervoso

central.

Drogas Psicotrópicas agem no Sistema Nervoso Central produzindo alterações de

comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora

sendo passíveis de auto-administração (levam a dependência).

Drogas de Abuso qualquer substância que altera o humor, o nível de percepção ou o

funcionamento do sistema Nervoso Central (desde medicamento até álcool ou

solvente). (OMS, 2004).

3.2 DROGAS PSICOTRÓPICAS

Há várias classificações existentes, porém segundo Carlini (1994, p.93-97),

podem-se dividir as drogas toxicomanógenas (indutoras de toxicomanias) em três

grandes grupos: drogas depressoras, drogas perturbadoras e drogas estimulantes.

As drogas depressoras diminuem a atividade do Sistema Nervoso Central

(SNC), ou seja, esse sistema passa a funcionar mais lentamente, produzindo sinais

dessa diminuição: sonolência, lentidão psicomotora. Podem ser indicado para

epilepsias, insônias, excesso de ansiedade.

As drogas estimulantes compreendem as drogas que estimulam as atividades

do SNC, fazendo com que o estado de vigília fique aumentado (portanto, diminui o

sono), produzindo “nervosismo”, aumento da atividade psicomotora, etc. Em doses

mais elevadas chegam a produzir sintomas perturbadores do SNC, tais como

17

delírios e alucinações. A droga estimulante mais usada por jovens, adultos e

meninos em situação de rua é a cocaína e seus derivados, como o cloridrato, o

crack, a merla, pasta. (CARLINI, 1994, p.93-97).

No grupo das drogas perturbadoras temos as drogas que produzem

mudanças qualitativas no funcionamento do SNC. Assim as alterações mentais que

não fazem parte da normalidade, como por exemplo, delírios, ilusões e alucinações,

são produzidos por essas drogas. Por essa razão, são chamadas de

psicoticomiméticas, ou seja, as drogas que mimetizam psicoses. As drogas

perturbadoras mais usadas são: maconha e alguns medicamentos anticolinérgicos

(triexifenidil – Artane). (CARLINI, 1994, p.93-97).

3.2.1 Drogas psicoativas e funcionamento do SNC

As drogas psicoativas afetam o cérebro alterando as comunicações entre os

neurônios, podendo produzir diversos efeitos de acordo com o tipo de

neurotransmissor envolvido e a forma como a droga atua. Para podermos entender

como as drogas psicoativas interferem nas funções do SNC é importante se ter

noções de como funciona esse sistema. OMS (2007).

O SNC é formado por bilhões de células interligadas, formando uma

complexa rede de comunicação. Essas células responsáveis pelo processamento

das informações são chamadas neurônios. Quando um indivíduo recebe um

estímulo através de seus órgãos do sentido, a mensagem é enviada ao SNC, dentro

do cérebro os neurônios se comunicam uns com os outros em milésimos de

segundos onde ocorre o processamento da informação interpretação, elaboração,

memorização, associações. A esse mecanismo se dá o nome de neurotransmissão.

O potencial de ação é um impulso elétrico que permite que um neurônio se

comunique com outro pela ação de um neurotransmissor.

Os neurônios não estão continuamente ligados, há um espaço (fenda

sináptica) que os separa. Nessa fenda ocorre a neurotransmissão, troca de

informações entre os neurônios. Para realizar tal tarefa, o neurônio pré sináptico

libera substância químicas denominadas neurotransmissores que agem como

mensageiros, transmitindo a mensagem para o neurônio subseqüente (pós

18

sináptico) que recebe a informação através de sítios específicos denominados

receptores. (CARLINI, 2001, p.9-35).

As drogas psicotrópicas interferem na ação de alguns neurotransmissores:

a) Acetilcolina: neurotransmissor que age na capacidade de aprendizado,

memória, humor, sono.

b) Dopamina: é um neurotransmissor relacionado à noradrenalina. Relacionada

com os movimentos, o aprendizado e a motivação. A dopamina é a base na

neurobiologia da dependência porque um dos efeitos é a euforia. O seu

excesso produz comportamento psicótico, alucinações e paranóia.

c) Noradrenalina: A cocaína aumenta a concentração de noradrenalina que

aumenta os efeitos estimulantes e recompensadores. Causa também

sensação de nervosismo, comportamento impulsivo e ansiedade. Atua nas

respostas de vigília e estresse

d) Serotonina: Age inibindo as atividades e comportamentos. Regulação do

humor, da vigília, da impulsividade, da agressividade, do apetite e da

ansiedade.

e) Norepinefrina: Atua na concentração, vivacidade, as emoções positivas e a

analgesia. A deficiência de norepinefrina está associada à depressão,

dificuldade de concentração, o excesso pode gerar comportamento impulsivo

e ansiedade.

Cada uma dessas substâncias é responsável por funções específicas, estão

distribuídas de forma heterogenia no SNC. (CARLINI, 2001, p.9-35).

As drogas podem provocar mudanças na expressão gênica do cérebro.

Mudanças na expressão gênica podem ocasionar mudanças na síntese protéica,

que podem ter conseqüências tanto a curto, como em longo prazo no

comportamento. A diferença genética entre os indivíduos, é que faz com que as

respostas ás drogas, levando a dependência ou não, seja diferente.

Os efeitos primários de ação para a maioria das drogas são os processos de

comunicação dos neurônios e associados. Os efeitos secundários surgem com a

dependência de substancias são, geralmente, acarretados por alterações na

expressão genética alterada e mudanças subseqüentes na síntese de proteínas.

Como essas proteínas afetam a função do neurônio, essas mudanças se

manifestam ao final por meio de comportamentos alterados do individuo. (OMS,

2007).

19

3.3 DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS E O ABUSO DELAS

Na 3a. edição revista do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação

Psiquiátrica Norte-Americana (DSM-III-R), “abuso de substância psicoativa” é

definido como “padrão desajustado de uso, pela continuação desse uso apesar do

reconhecimento da existência de um problema social, ocupacional, psicológico ou

físico, persistente ou recorrente, que é causado ou exacerbado pelo uso recorrente

em situações nas quais ele é fisicamente arriscado”.

As drogas ilícitas são substâncias psicoativa proibidas tanto para a produção,

venda ou uso. Não é a droga que é ilícita, mas sua produção, venda ou uso em

circunstâncias específicas em uma dada jurisdição (substâncias controladas). O uso

ilegal, ou ilícito, de drogas, é ditado pelas convenções internacionais. Muitas nações

se comprometem com o controle e extinção do tráfico de drogas como opióides,

cannabis, alucinógenos, cocaína e de vários outros estimulantes, hipnóticos e

sedativos. Alguns países adicionam também à sua lista outras substâncias proibidas

como bebidas alcoólicas e alguns inalantes. (OMS, 2007).

No Brasil, a legislação define como droga "as substâncias ou produtos

capazes de causar dependência”, relacionados em listas atualizadas pelo Poder

Executivo da União segundo o parágrafo único do art. 1.º da Lei n.º 11.343, de 23 de

agosto de 2006. (SISNAD, 2006).

Quanto às drogas lícitas, são aquelas que estão legalmente disponíveis por

receita médica. Há uma ampla variedade de medicamentos à venda sob prescrição

médica ou de venda livre e de remédios populares e fitoterápicos que são drogas

psicotrópicas e que não produzem dependência tais como: os antidepressivos,

laxativos, neurolépticos, analgésicos, esteróides e outros hormônios, as vitaminas

e antiácidos. Há outras formas de uso legal da droga, a bebida alcoólica, o tabaco

embora seu uso seja legal os prejuízos biopsicossociais são bastante conhecidos.

BERTOLOTE (2010).

Conceitos de uso e abuso de drogas:

[...] Uso Prejudicial: Um padrão de uso de substância psicoativa que causa

dano à saúde. O dano pode ser físico ou mental [...] Uso Perigoso: Um padrão de uso de substância psicoativa que

aumenta o risco de conseqüências prejudiciais ao usuário. [...] Intoxicação: Uma condição que se segue à administração de

substâncias psicoativas e resulta em distúrbios no nível de consciência,

20

cognição, percepção, afeto ou comportamento, ou outras funções ou respostas psicofisiológicas. Os distúrbios são relacionados ao efeito farmacológico agudo às respostas aprendidas as substancia e se resolve com o tempo, com recuperação completa, exceto quando ocorre lesão de tecido ou outras complicações médicas. A natureza dessas complicações depende da classe farmacológica da substancia e do modo de administração. [...] Abuso de Substância: Uso persistente ou esporádico de droga, de maneira inconsistente ou não relacionada às práticas médicas aceitáveis. Um padrão adaptativo do uso de substância acarretando comprometimento ou sofrimento clinicamente significante. Principais comportamentos: falhas em executar as obrigações principais em casa, na escola ou no trabalho; uso da substância em situações nas quais seja fisicamente arriscado; problemas legais recorrentes relacionados com a substância; uso continuado da substância apesar de problemas sociais ou interpessoais

acarretados pelo uso das drogas. (LÓPEZ, 2010).

3.4 EFEITOS DO USO ABUSIVO

O uso abusivo de uma substância psicoativa sempre acarreta danos. O crack,

é uma droga poderosa, apresenta alta taxa de mortalidade, principalmente, durante

os primeiros anos de consumo (LARANJEIRA e RIBEIRO, 2010). Os efeitos

biopsicossociais do uso de drogas são extensos e afeta todos os níveis: efeitos

crônicos à saúde, por exemplo, o álcool, promovendo cirrose hepática e outras

doenças crônicas; efeitos biológicos agudos, overdose de cocaína levando a morte;

conseqüências sociais adversas como o aumento da violência no trânsito,

problemas na família (desintegração), abandono do trabalho, decadência, aumento

da violência. Há um último efeito biopsicossocial decorrente do mecanismo do uso

de drogas que envolve a dependência da substância. (OMS, 2007).

3.5 DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Dependência química é uma doença crônica e recidivante do cérebro. O uso

continuado de substâncias psicoativas provoca mudanças na estrutura e

funcionamento deste órgão. (LARANJEIRA e RIBEIRO, 2010)

Segundo Buchele (2004, p.233-240), dependência química é o vício por

qualquer substância psicoativa, qualquer droga que altere o comportamento do

indivíduo. A dependência química é um transtorno crônico que leva o usuário a uma

dificuldade em administrar as barreiras que surgem durante a tentativa de

recuperação. Desta forma, a dependência é identificada a partir de um padrão de

21

consumo constante e descontrolada, uma relação disfuncional entre um indivíduo e

seu modo de consumir uma determinada substância psicotrópica, visando

principalmente a aliviar sintomas de mal-estar e desconforto físico e mental,

conhecidos por síndrome de abstinência.

O diagnóstico de dependência deve ser feito se três ou mais dos seguintes

requisitos tenham sido experienciados ou exibidos em algum momento:

Critérios do CID – 10 para dependência de substâncias:

a) desejo intenso ou compulsão para consumir a substância;

b) dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância e níveis de

consumo;

c) estado de abstinência fisiológica com o cessar ou a redução do uso da

substância, como evidenciado por: síndrome de abstinência com a intenção de

aliviar ou evitar sintomas de abstinência;

d) evidência de tolerância, doses crescentes são necessárias para atingir os mesmo

efeitos obtidos por doses menores;

e) abandono de prazeres e interesses alternativos em prol do uso da substância

psicotrópica, aumento da quantidade de tempo necessária para se recuperar de

seus efeitos;

f) persistência no uso da substância mesmo quando se evidência claramente as

conseqüências nocivas. Esforços devem ser feitos para determinar se o usuário tem

consciência da natureza e extensão do dano.

O desenvolvimento do estado de dependência pode ser considerado como

parte de um processo de aprendizagem no sentido em que alterações duráveis

resultam da interação de substâncias psicoativas com seu ambiente. Uma pessoa

consome uma substância e sente um efeito psicoativo altamente satisfatório ou

reforçador que, ativando os circuitos no cérebro, torna mais provável que tal

comportamento se repita. Como fator da dependência das drogas teorias iniciais

deram ênfase maior aos efeitos físicos da abstinência, entretanto teorias mais

recentes retiram a ênfase dos sintomas físicos de abstinência em favor da

dependência motivacional produzida por estados de humor negativos induzidos pela

abstinência, como a disforia. Este estado poderia manter a auto-administração da

droga, porque remove o estado emocional negativo da ausência da droga.

(FERREIRA, 2007).

22

A dependência física indica que o corpo se adaptou fisiologicamente ao

consumo habitual da substância, surgindo sintomas quando o uso da droga termina

ou é diminuído. Houve adaptação biológica consequente ao uso prolongado de uma

substância e o seu grau de intensidade vai depender do tipo de droga e da via de

utilização habitual inclui sempre a compulsão para consumir a substância, a fim de

reencontrar os seus efeitos e, muitas vezes, evitar o mal-estar da privação.

(FERREIRA, 2007).

A dependência psicológica consiste na ideação que o utilizador desenvolve no

sentido de necessitar da substância para chegar a um equilíbrio ou percepção de

bem-estar. A dependência psicológica traduz-se, então, numa adaptação gradual ao

estímulo das substâncias, uma adaptação negativa, que envolve a recordação do

prazer provocado pelo estímulo em determinadas situações. (FERREIRA, 2007).

No contexto da dependência, ainda, é importante salientar que muitas

pessoas experimentam uma variedade de drogas causadoras de dependência, mas

não se tornam dependentes. Uma complexa inter-relação de fatores psicológicos,

neurobiológicos e individuais parece ser responsável. A genética individual e o fator

ambiental influenciarão a expressão comportamental final dessas influências. A

dependência é resultante, então, de uma ação complexa de fatores psicológicos,

neurobiológicos e sociais. (OMS, 2007).

3.5.1 A ação das drogas sobre o sistema de recompensa do

cérebro.

O entendimento das bases neurológicas da drogadição continua desafiando

clínicos e pesquisadores. O cérebro tem sistemas que se desenvolveram para

orientar e dirigir o comportamento para estímulos vitais para a sobrevivência.

Alimentos, água e parceiros sexuais ativam vias especıficas, e reforçam os

comportamentos que levam a obtenção dos objetivos correspondentes. Há

processos complexos envolvidos, de planejamento, elaboração, disciplina,

execução, resignação. As substâncias psicoativas ativam artificialmente tais vias de

maneira muito forte. As drogas corrompem os mecanismos fisiológicos do cérebro

visando a produção de um prazer químico em detrimento de aprendizados

23

fundamentais para o amadurecimento pessoal dentro do contexto social.

(LARANJEIRA e RIBEIRO, 2010).

O cérebro é levado pelas substâncias a reagir como se estas e seus

estímulos associados fossem biologicamente necessários. Com exposição repetida,

a associação torna-se cada vez mais forte suscitando uma maior resposta

comportamental e neuroquímica, isto é conhecido como sensibilizacão de estímulo.

(LARANJEIRA e RIBEIRO, 2010).

O circuito de recompensa interage direta e indiretamente com várias áreas e

sistemas do cérebro, incluindo as relacionadas à vivacidade, emoções, memória,

motivação, movimento, equilíbrio e controle dos hormônios. Funciona através de

neurotransmissores, especialmente a dopamina. Para que uma droga usada de

modo abusivo interaja com o circuito de recompensa, basta ingerir a droga. Os

efeitos da droga no cérebro alteram a atividade do circuito de recompensa e, assim o

prazer, euforia, passam a ser vivenciados. (OMS, 2004).

Figura 1: como as drogas reforçam o próprio consumo

Desejo de consumir a droga

Efeitos indiretos da droga

Efeitos diretos positivos da droga no cérebro

Efeitos indesejáveis da droga

Ingestão da droga

Esquema de Reforço do Uso de Drogas

Fonte: LÓPEZ (2010)

24

3.6 A COCAÍNA

O nome coca deriva de uma palavra aimará, “khoka”, cujo significado seria “a

árvore”. A cocaína tem suas raízes nas grandes civilizações pré-colombianas dos

Andes que, há mais de 4500 anos, já conheciam e utilizavam a folha extraída da

planta Erythroxylon coca ou coca boliviana, como testemunham as escavações

arqueológicas do Peru e da Bolívia. A planta de coca cresce na forma de arbusto ou

em árvores ao leste dos Andes e acima da Bacia Amazônica em uma área extensa

onde confluem a Bolívia, Peru e Colômbia. Cultivada em clima tropical e altitudes

que variam entre 450 m e 1.800 m acima do nível do mar, continua sendo usada

pelos nativos da região que a mascam. (ALONSO et al, 2012).

Para os incas, a planta era sagrada, um presente do Deus Sol. Até a chegada

dos espanhóis à América, seu uso era privilégio da nobreza. No período colonial,

porém, o consumo entre os índios se popularizou.

Os primeiros relatos europeus sobre esse vegetal são de autoria de Américo

Vespúcio, publicados em 1507, nos quais descreve a coca sendo mastigada com

cinzas. Os hispânicos não reconheceram esse valor cultural proibindo o seu uso,

porém a proibição não durou muito tempo, os espanhóis constataram que os índios

não conseguiam fazer o trabalho pesado sem o uso de coca. Em 1569, o Rei Felipe

II da Espanha declarou o ato de mascar a coca como um hábito essencial à saúde

do índio. No final do século XVI, a coca foi introduzida na Espanha pelos

conquistadores para fins medicinais e como suposto afrodisíaco, mas, seu uso não

se difundiu nessa época. ( FERREIRA e MARTINI, 2001, p.96-99).

3.6.1 A cocaína na medicina

Em 1902, Willstatt (prêmio Nobel) produziu cocaína sintética em laboratório

sob a forma de cloridrato de cocaína, um pó branco cristalino. No início, a cocaína foi

considerada um fármaco milagroso, e os americanos prescreviam-na para

enfermidades particularmente difíceis de tratar. (NICASTRI, 1999)

Freud em 1884 publicou um livro chamado “Uber coca” (sobre a cocaína), no

qual defendeu seu uso terapêutico como estimulante, afrodisíaco, anestésico local,

assim como indicado no tratamento de asma, desordens digestivas, exaustão

25

nervosa, histeria, sífilis e mesmo o mal estar relacionado a altitudes. O próprio Freud

utilizava cocaína em doses de 200 mg por dia. Ele recomendava doses orais da

substância entre 50-100 mg como estimulante e euforizante em estados

depressivos. Após quatro anos de sua publicação original, ele voltou atrás,

rendendo-se às evidências de que a “droga milagrosa” tinha uma série de

inconvenientes, começando pelo seu potencial de criar dependência –

“cocainomania.”. Alguns autores, como Bucher (1992), defendem a tese de a

cocaína ter contribuído indiretamente para que Freud realizasse a descoberta dos

processos inconscientes, permitindo a criação da psicanálise.

Em 1884, Karl Koller descobriu que o olho humano tornava-se insensível à

dor com o uso de cocaína, representando o primeiro passo para a anestesia local.

Por volta de 1880 Wiliam S. Halsted, que seria conhecido como um dos pais da

cirurgia moderna e um dos fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade

Johns Hopkins, estabeleceu o uso da droga como anestésico local e não ficando

restrito somente à oftalmologia, passou a administrar cocaína em amigos e nele

próprio. Ele e seus colegas obtiveram sucesso no bloqueio da dor, iniciando a era

das cirurgias oculares, entre outras, mas o preço desse achado foi uma intensa

dependência e, conseqüentemente, a deterioração profissional. NICASTRI (1999).

Em 1886, John Styth Pemberton criou um “soft drink” isento de álcool, mas

com cocaína (60 mg por garrafa de oito onças, aproximadamente 240 ml) e com

extrato de noz de cola, que era usado como tônico para o cérebro e os nervos.

Assim nasceu a coca cola.

Em 1885, um químico, trabalhando para indústria farmacêutica Parke Davis,

descobriu uma maneira de produzir cocaína semi-refinada os preços caíram, e o

consumo de cocaína semi-refinada aumentou substancialmente. Houve uma rápida

explosão de fábricas de medicações utilizando a cocaína em diversos produtos.

Operando na ausência de leis ou regulamentos que limitassem a venda ou o

consumo, a cocaína tornou-se presente em farmácias, mercearias e bares, cigarros,

charutos, inalantes, cristais, licores e soluções. No início dos anos 20, revistas

médicas passaram a relatar episódios de toxicidade, tolerância, dependência e, até

mesmo, morte pelo uso de tais produtos. Os problemas tornaram-se ainda mais

graves quando, na mesma época, surgiram comercialmente seringas hipodérmicas,

facilitando a chegada de uma maior quantidade de cocaína na corrente sangüínea.

(FERREIRA e MARTINI, 2001, p. 96-99).

26

3.6.2 Formas de apresentação da cocaína

A cocaína é um alcalóide obtido das folhas da planta Erythroxylon coca ou

epadú. Pode chegar até o consumidor sob forma de um sal o cloridrato de cocaína,

“talco”, “neve”, “farinha”, “branquinha”. Atinge o sistema nervoso central após ser

absorvida pela mucosa do nariz (inalada – “cafungado”), pelas vilosidades intestinais

(ingestão oral) ou pelos capilares pulmonares (fumada). Se injetada entra na

circulação venosa. O pico de ação da cocaína refinada é de cerca de 15 minutos e

dura até 45 minutos. Já as formas fumadas e injetáveis têm ação imediata, mais

intensa e efêmera (5 minutos), potencialmente mais dependógenas. (MARQUES e

RIBEIRO, 2006, p.92).

Segundo Laranjeira e Ribeiro (2010) as folhas de coca possuem de 0,5- 0,2%

de alcalóide cocaína. A extração ocorre em duas fases:

1) Por meio de maceração das folhas de coca com solvente, ácido sulfúrico e

carbonato de sódio obtém-se pasta básica de cocaína que contém 90% de sulfato

de cocaína.

2) O sulfato de cocaína recebe ácido clorídrico, éter, acetona. Filtrada e seca,

obtém-se o cloridrato de cocaína. Sal branco e cristalino solúvel em água e estável

quando aquecido, administrado por via endovenosa ou intranasal.

FOLHAS MASCADAS mascar folhas de coca libera a cocaína continuamente. A

cocaína sendo liberada na saliva é absorvida pelo organismo e por sua baixa

concentração de cocaína (0,5 - 2%) são consideradas plantas medicinais.

Consumida também na forma de chá.

PASTA DE COCA produto intermediário da fabricação da cocaína refinada e por sua

natureza alcalina pode ser fumada, em geral misturada com tabaco ou maconha.

COCAÍNA REFINADA (“PÓ”) produto final do refino da cocaína, inalada ou diluída

em água para uso endovenoso.

CRACK pouco solúvel em água, mistura de cocaína refinada e substâncias alcalinas

como o bicarbonato de sódio, que por aquecimento provoca precipitação de cristais

de cocaína, que são volatizados quando aquecidos, fumados em cachimbos.

A euforia desencadeada reforça o desejo por um novo episódio de consumo e

quanto mais rápido o início da ação, maior a sua intensidade. Quanto menor a sua

duração, maior será a chance do indivíduo evoluir para situações de uso nocivo e

27

dependência, aspectos que são influenciados pela via de administração escolhida.

(MARQUES e RIBEIRO, 2006, p.93).

Figura 2: A obtenção da cocaína passa por duas etapas, originando diversos

subprodutos.

Esquema de refino da cocaína e subprodutos.

Fonte: MARQUES e RIBEIRO (2006)

3.7 FARMACODINÂMICA: A AÇÃO DA COCAÍNA NO ORGANISMO E

SUAS IMPLICAÇÕES.

As substâncias psicoativas que causam dependência atuam sobre o sistema

de recompensa (sistema mesolímbico mesocortical de natureza dopaminérgica). A

cocaína atua sobre este sistema aumentando a quantidade de dopamina e

bloqueando a receptação deste neurotransmissor, aumentando sua concentração e

tempo de ação na fenda sináptica. Este aumento causa intenso prazer e é

responsável pelos efeitos euforizantes da cocaína. Com o bloqueio da recaptação da

dopamina há um aumento dos transportadores, resultando no aparecimento da

fissura e outros sinais e sintomas da abstinência da cocaína. A cocaína também

28

inibe a recaptação da serotonina e noradrenalina. O aumento da noradrenalina

produz efeitos euforizantes e diversos efeitos físicos: dilatação da pupila, aumento

da pressão arterial, sudorese, inquietação psicomotora. A ação serotoninérgica,

também reforça o uso da cocaína, pois produz efeitos estimulantes e euforizantes.

(LARANJEIRA e RIBEIRO, 2010).

Os fenômenos de neuroadaptação (tolerância) estão presentes na cocaína.

Há o desenvolvimento da tolerância e necessidade de uma dose maior para obter os

efeitos euforizantes. O que causa sensitização ou tolerância reversa com aumento

exacerbado da atividade motora, comportamentos estereotipados, crises convulsivas

e alucinações resultantes de um fenômeno chamado Kindling, que são disparos

elétricos neurais mais intensos após a exposição à cocaína. (LARANJEIRA e

RIBEIRO, 2010).

De acordo com Menéndez e Mosquera (2005), uma dose (do pó inalado)

aumenta da vivacidade, há sensação de bem estar, aumento da energia, agitação

psicomotora, sentimentos de competência e de auto-estima aumentados, supressão

do apetite. A falta do apetite induzida pela cocaína pode provocar grande perda de

peso levando a desnutrição. Após a euforia inicial pode surgir a ansiedade,

irritabilidade, agitação, delírio, psicoses, tremores, rigidez muscular ou hiperatividade

e convulsões. A ansiedade varia desde um estado leve até um estado de pânico que

acompanha um delírio (paranóia). Pode ocorrer um delírio maníaco, como pode

apresentar desorientação em casos mais severos. A cocaína possui múltiplas ações

periféricas e centrais: é um potente anestésico local com propriedades

vasoconstrictoras e também um estimulante do sistema nervoso central. Na

ausência de novo consumo aparecem os sintomas de depressão, um período de

hipersonolência, desânimo, lentificação, piora de atenção, concentração e fome.

Os sintomas psíquicos decorrentes do uso de cocaína são: aumento do

estado de vigília, euforia, sensação de bem estar, autoconfiança elevada,

aceleração do pensamento. Quanto aos sintomas físicos observados: aumento da

freqüência cardíaca, aumento da temperatura corpórea, aumento da freqüência

respiratória, sudorese, tremor leve de extremidades, espasmos musculares,

(especialmente língua e mandíbula), tiques. (MARQUES e RIBEIRO, 2006, p.93).

29

3.8 SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA DA COCAÍNA (SAC)

A descrição de um quadro definido de abstinência, assim como sua duração

ainda não é consenso. Após a cessação do uso de cocaína, é comum o

aparecimento de anedonia e fissura.

O quadro é descrito como trifásico. A primeira fase, denominada “crash”, tem

duração de horas a cinco dias e se caracteriza por fissura intensa no início,

irritabilidade e agitação, evoluindo para hipersonolência, depressão, aumento ou

inibição de apetite e agitações psicomotoras, anedonia e exaustão, acompanhados

de uma redução na fissura. A segunda fase é a Abstinência, que se inicia com a

emergência da fissura e sintomas depressivos e ansiosos, podendo durar até dez

semanas. Após este período, há a terceira fase, quando há uma redução gradativa

da fissura e tendência a normalização do humor, sono e ansiedade. Os tratamentos

farmacológicos raramente trazem benefícios para o manejo dos sintomas de

abstinência à cocaína. (AMARAL, ANDRADE, MALBERGIER, 2010, p.104).

Os efeitos na síndrome de abstinência do crack são os mesmos provocados

pela cocaína, podendo produzir, em particular, um aumento das pupilas (midríase),

afetando a visão que fica prejudicada, a chamada “visão borrada”. Ainda pode

provocar dor no peito, contrações musculares, convulsões e coma. Mas é sobre o

sistema cardiovascular que os efeitos são mais intensos, a pressão arterial pode

elevar-se, o coração pode bater muito mais rapidamente e, em casos extremos,

chega a produzir parada cardiovascular por fibrilação ventricular. A morte também

pode ocorrer devido à diminuição da atividade de centros cerebrais que controlam a

respiração (CARLINI et al, 2001, p.9-35).

3.8.1 Complicações e intoxicação aguda

As vias de administração da droga contribuem para a toxidade do órgão tanto

quanto reforçam a intensidade. Acredita-se que o consumo ao redor de 2-4mg/kg

traga uma redução discreta do fluxo coronariano e um aumento da mesma

magnitude na freqüência cardíaca e na pressão arterial. Doses maiores são mais

perigosas e tóxicas tornando seus portadores mais susceptíveis a complicações

como hipertensão arterial sistêmica, coronariopatias, aneurismas, epilepsias e

30

doenças pulmonares obstrutivas crônicas, edema pulmonar fatal. (MARQUES e

RIBEIRO, 2006, p.94).

A cocaína por ser um estimulante do sistema nervoso ao ser absorvida passa

para o sangue e se distribui por todo o organismo. O uso crônico pode levar à

perfuração do septo nasal, sinusite crônica, hipertensão arterial, desnutrição e AIDS

(pelo uso de seringas compartilhadas). Em usuários de crack e merla, há a perda

acentuada de peso (entre 8 a 10 kg) em menos de um mês. Seus usuários exalam

mau cheiro (devido aos componentes de querosene, ácidos), ponta dos dedos

amarelada, olhos lacrimejantes e irritados, perda seus dentes (pois na merla existe o

ácido sulfúrico que fura os dentes), aumento da temperatura corporal, podendo levar

a um acidente vascular cerebral, destruição dos neurônios, degeneração dos

músculos do corpo (rabdomiólise - aparência cadavérica). (LÓPEZ, 2010).

Ainda segundo Longenecker (1998, p.71), os usuários apresentam capacidade

respiratória reduzida isto forma um quadro agudo conhecido como “Pulmão de

Crack”, que é uma inflamação do pulmão que produz quadro semelhante ao da

pneumonia infecciosa, com febre, expectoração, dor intensa no peito, falta de ar e

tosse sanguinolenta. Freqüentemente os usuários, também, se queixam de

impotência sexual, incapacidade de ejaculação ou de obter o orgasmo.

A cocaína afeta os vasos sanguíneos de muitos órgãos. A isquemia, ou falta

de suprimento de sangue para o aparelho digestivo, pode causar a morte das

vísceras ou choque. A insuficiência renal pode ser um resultado de efeitos

semelhantes nos vasos sanguíneos e/ou efeitos secundários destrutivos da cocaína

nas células musculares. (LONGENECKER, 1998, p.71)

As Complicações relacionadas ao consumo de cocaína são imensas atingem

o aparelho cardiovascular e o sistema nervoso central com cefaléias,

convulsões, acidente vascular cerebral, hemorragia intracraniana, hemorragia

subaracnóideo; o aparelho respiratório com broncopneumonias, hemorragia

pulmonar, edema pulmonar, pneumotórax, asma, bronquite, depósito de resíduos,

corpo estranho, Lesões térmicas; o aparelho digestivo, com Isquemia mesentérica,

esofagite; o aparelho excretor e distúrbios metabólicos, Insuficiência renal aguda

secundária, hipertermia, hipoglicemia, acidose láctica, hipocalemia; Necrose de

septo nasal, rinite, sinusite, Laringite, Lesões térmicas; doenças infecciosas, aids,

Hepatite B e C. (MARQUES e RIBEIRO, 2006, p. 94-95).

31

A cocaína, como grande parte das drogas, é metabolizada pelo fígado.

Conjuga-se com o etanol, presente nas bebidas alcoólicas, formando cocaetileno,

ainda mais tóxico. (MENÉNDEZ e MOSQUERA, 2005).

3.8.2 Overdose

Dentre as complicações relacionadas ao consumo de cocaína está a

overdose que é a falência de um ou mais órgãos decorrentes do uso agudo da

substância. Seu mecanismo de ação está relacionado ao excesso de estimulação

central e simpática. A overdose de cocaína é uma emergência médica e requer

tratamento das principais complicações. (MARQUES e RIBEIRO, 2006, p.95-96).

Figura 3: Principais complicações decorrentes da overdose de cocaína.

Fonte: CREMESP/AMP, 2003.

32

3.8.3 Tratamentos na Medicina Ocidental

Não existe um tratamento único, mas, envolve uma equipe de profissionais

qualificados: médico clínico geral, psicólogo, psiquiatra e terapeuta familiar,

abordando o usuário dependente da maneira mais ampla possível.

Menéndez e Mosquera (2005) citam que o trabalho inicial é desintoxicar o

paciente, abstendo-o de todas as drogas. Distanciar de antigos companheiros de

drogas, mudança de ambiente, enfim, procurar novas redes de relações

interpessoais pelo motivo de não ver reaceso (fissura) o desejo de usar a droga.

Realizar exame físico completo, especialmente a parte neurológica. Em casos de

intoxicação mais grave (overdose), o tratamento compõe-se de apoio respiratório,

controle da hipertensão, manejo das arritmias cardíacas, correção da acidose

metabólica e controle agressivo da hipertermia e das convulsões. Na Overdose, é

preciso hidratar o paciente. O tratamento da alteração mental inclui a sedação do

paciente para o qual se recomenda o uso de diazepam. Quando o paciente

apresenta psicose é preciso adotar o uso de um neuroléptico. Com a fase de

abstinência, é preciso tratar as complicações que o uso da droga promoveu nesse

individuo, como a insônias, alucinações, hipertensão, devendo receber a medicação

necessária.

De acordo com Gomes e Riggoto (2002) é preciso ingressar o paciente em

terapias de apoio para se evitar a recaída, resgatando valores éticos, familiares e

emocionais. Trabalhar suas motivações, hábitos saudáveis e produtivos com. terapia

individual ou em grupo, grupo de auto-ajuda, “os doze passos” NA (narcóticos

anônimos), atividades esportivas e físicas e prevenções de recaídas. Faz-se

necessário a determinação por mudança, apoio familiar e planos claros para o

futuro. Todas essas práticas amenizam os comportamentos desencadeados pela

dependência química. Dessa forma, o paciente, com dificuldade em lidar com a sua

realidade, descobre os bloqueios e introspecções que atrapalham sua recuperação e

a postura de enfrentamento que deve adquirir, na dificuldade em lidar com

sentimentos e situações de vida.

Ainda segundo Gomes e Riggoto (2002) em Contexto de Abstinência e

Recaída na Recuperação da Dependência Química, transcrevem depoimentos de

pacientes em que abster-se da droga pode ser entendido como uma ruptura no

33

sentido da existência. É o mesmo que deparar-se com o vazio, com o nada. Ao

suprimir o tóxico, é necessário enfrentar os mesmos problemas dos quais estava

tentando fugir, fragilidade vivências de vazio, déficit crônico de estima e depressão.

AM8: “Quando tu ficas sóbrio, os problemas começam a aparecer. Tu sempre

teve os problemas, mas só não tinha coragem de pensar neles. Daí tu bebias

ou usava drogas e amortecia os problemas”.

AM1: “Quando passou os três meses eu encontrei uma pessoa lá dentro (na

comunidade terapêutica) que eu não gostei de ter visto: eu mesmo. Eu

encontrei e vi o que realmente eu era (...) Eu fiquei assustado com o que eu

tinha me tornado. E aí eu passei a mudar o meu comportamento.”.

AF11: “Hoje em dia a gente sente a dor da vida, encara ela. Essa é a ma ior

dificuldade. É tu encarar a dor da vida, de cara! E dizer que eu não quero

mais, é só por hoje, mas eu não quero mais droga”. ( GOMES e RIGOTTO,

2002, p. 99 -106).

Três condições estão relacionadas a mobilidade pessoal para remissão do

consumo. A primeira quando a droga é leve e o abuso por pouco tempo. A mudança

nas circunstâncias do adicto pode levar à remissão completa. A segunda quando a

droga é muito severa, é necessária a decisão sobre a urgência de fazer alguma

coisa por si mesmo. A terceira refere-se à ocorrência fortuita, na vida do adicto, de

experiências que possam romper com hábitos enraizados. As condições de

remissão incluíram os seguintes aspectos: adoção de comportamentos substitutos

que venham competir com a adição, disponibilidade para supervisão compulsória,

engajamento em projetos significativos, recuperação da auto-estima. (GOMES e

RIGOTTO, 2002, p.95-106)

34

4 MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é considerada uma das mais antigas

formas de medicina oriental, praticado na China por milhares de anos. Fundamenta-

se na observação dos fenômenos da natureza e no estudo e compreensão dos

princípios que regem a harmonia nela existentes. O universo e o Ser Humano estão

submetidos às mesmas influências. Dessa forma o corpo humano é um todo e parte

da natureza. Para manifestar-se saudável é preciso conservar a harmonia das

funções do corpo e entre o corpo e a natureza. (YAMAMURA, 2001, p. 43)

A concepção filosófica chinesa está embasada no pensamento Taoísta,

conceitos como o Tao, o Qi, o movimento cíclico entre o Yin e o Yang, a teoria dos

Cinco Movimentos, conceito do Zang Fu (Órgãos e Vísceras) e das Vísceras

Curiosas, do sistema da energia pelos meridianos do corpo humano. (YAMAMURA,

2001, p.43-44).

O pensamento chinês reflete a visão preventiva, principalmente na área da

saúde, desta forma aborda desde o modo pelo qual indivíduo possa crescer e

desenvolver-se de maneira normal até o processo de adoecer. Assim, são

destacados cinco fatores essenciais: a alimentação, o tai chi chuan, a acupuntura,

as ervas medicinais e o tao yin (treinamento interior), além do estudo da fisiologia e

da fisiopatologia energética dos Zang Fu. O fator causal da doença nada mais é do

que o desequilíbrio da energia interna, induzido pelo meio ambiente (origem

externa), ou pela alimentação desregrada, emoções retidas, fadigas (origem interna).

(YAMAMURA, 2001, p.55).

A acupuntura visa o tratamento e a cura das doenças através da aplicação de

agulhas e de outras técnicas. Regula o equilíbrio do organismo, melhorando a

circulação sanguínea, aumentando a resistência corpórea trabalhando, também, o

aspecto emocional do paciente, a fim de restaurar e manter a saúde. ((YAMAMURA,

2001, p.56).

A cocaína e drogas afins afetam profundamente a mente. O uso prolongado

delas, mesmo sendo chamadas de “leves” (maconha), gera confusão mental, e

perda da memória e da concentração. Em combinação com outras causas de

doenças, as drogas contribuem para os problemas mentais e emocionais, podendo

35

levar a distúrbios psicóticos decorrentes da dependência da droga conhecida como

síndrome de Abstinência, que obscurecem a mente. (MACIOCIA, 2009, p. 267-268).

4.1 DIAGNÓSTICO NA MTC

A terapêutica da MTC inicia-se com a diagnose a qual utiliza ferramentas de

observação, interrogatório, palpação e audição/olfato; anamnese. Usando essas

ferramentas, identifica-se os padrões de desarmonia. Posteriormente há a

necessidade de identificar e avaliar a Raiz (sintomas e sinais), e a Manifestação que

diferencia entre Excesso e Deficiência o que levará a elaboração de um princípio de

tratamento. (MACIOCIA, 2005, p.181-207).

Figura 04: diagnose na MTC

Fonte: SOUZA, 2011

4.2 COCAINA COMO CAUSA DE DOENÇAS – PERSPECTIVA MTC

De acordo com os sintomas descritos na medicina ocidental, e segundo

Maciocia (2005, p.273) a cocaína e seus derivados, são drogas estimulantes e por

ser Yang levam padrões de excesso como Fleuma e Fogo para o organismo. Atua

sobre as emoções e sensações. Cada emoção tem estreita, relação com

determinado órgão. O medo está relacionado com os Rins (Shen), a raiva com o

Fígado (Gan), a alegria excessiva com o Coração (Xin), a preocupação excessiva

36

com o Baço/Pâncreas (Pi) e a tristeza com o Pulmão (Fei). O uso prolongado da

cocaína leva a formação de Fleuma-Fogo no Coração. O Fogo perturbando e a

Fleuma obstruindo os orifícios do Coração. Embora as principais manifestações

derivem da disfunção do Coração, esse padrão também é caracterizado pelo Qi

deficiente do Baço. Todo fator patogênico fere o Qi o qual é incapaz de transformar

e transportar os fluidos que se acumulam em Fleuma. O Calor interno facilita tal

processo. (MACIOCIA, 2005, p. 273)

O Fogo sendo um fator patogênico Yang, sua tendência é de subir causando

manifestações clinicas na cabeça, como o Fogo do Fígado, causando vermelhidão e

lacrimejamento nos olhos. O Fogo seca, danifica-se o Sangue e o Yin,

especialmente o Sangue do Fígado e o Yin do Rim, possui também, potencial para

gerar Vento, dessa forma, o Fogo afeta a Mente causando a inquietude mental,

agitação, irritabilidade e explosões de raiva. Em condições crônicas o Fogo pode

gerar Calor Tóxico. (MACIOCIA, 2005, p. 272)

Fleuma é um fator patogênico ao mesmo tempo um fator etiológico. Forma-

se quando os Fluidos Corpóreos não são transformados ou transportados ou

excretados adequadamente dentro do organismo. A deficiência do Baço é a principal

causa para a formação de Fleuma. Quando o Baço falha na formação e transporte

dos Fluidos do corpo, eles se acumularão e se transformarão em Fleuma. O Pulmão

e o Rim também estão envolvidos na sua formação. Fleuma Substancial pode ser

visto, catarro é Fleuma dos Pulmões. Fleuma Não-Substancial pode ser retido de

maneira subcutânea ou nos canais podendo obstruir orifícios dos Rins, Coração e

Vesícula Biliar, e se instalar nas articulações. Fleuma que obstrui os canais provoca

entorpecimento; obstruindo os orifícios do Coração obscurece a Mente. Em casos

graves origina doenças mentais, como: esquizofrenia, depressões, epilepsia ou

ansiedade. (MACIOCIA, 2005, p. 273)

4.3 AGRESSÕES AO CORAÇÃO (XIN)

O coração é considerado o mais importante de todos os sistemas internos, é

como o monarca e governa a mente. Tem como função governar o sangue, controlar

os vasos sanguíneos (Xue Mai), abrigar a consciência (Shen), controlar a sudorese,

abre-se na língua e manifesta-se na face. Suas principais funções são harmonizar o

37

Sangue (Xue) e os vasos sanguíneos e de conservar o Shen. Há uma relação de

mútua dependência entre a função de controlar o Sangue (Xue) e a de abrigar a

Mente (Shen). Como a atividade mental e a consciência “residem” no Coração (Xin),

o estado Coração (Xin) e do Sangue (Xue) afeta, diretamente, as atividades mentais

e o estado emocional do individuo: emoções, consciência, pensamento, memória,

inteligência, sono. (MACIOCIA, 2005, p.93-95)

Droga como a cocaína afeta diretamente o coração causando Fogo Fleuma

no Coração, que obstruem o Coração e a Mente. A Fleuma (mucosidade) obstrui os

orifícios da mente e o Fogo obstrui o Coração. A Mente se agita, elevando o Yang

para cima provocando distúrbios do Espirito. Esses fatores combinados causam

palpitação, gosto amargo, sono com sonhos inquietantes, inquietação e confusão

mental, insônia, loquacidade, discurso incoerente, déficit da memória e

concentração, entorpecimento das emoções com dificuldade nas suas expressões,

irritabilidade, comportamento maníaco, alternando com depressão, em alguns casos

depressão severa, psicoses e delírios, alucinações, desordens comportamentais de

todo o tipo, tendência a bater ou xingar outras pessoas, risadas ou choro

descontrolados, incapacidade auto-reconhecimento, perda da capacidade de insight,

desordens compulsivas, ideação suicida e por fim a dependência e muitas vezes a

morte. (MACIOCIA, 2005, p.273)

Quadro 01: Agressões causadas pelo uso de drogas

Fonte: SOUZA, 2011.

38

4.4 SÍNDROMES ENERGÉTICAS X EFEITOS COLATERAIS DO USO

ABUSIVO DA COCAÍNA

Apesar de a agressão primária ser evidenciada como Fleuma Fogo no

Coração, o uso crônico da cocaína leva a um desiquilíbrio geral do sistema.

Fleuma fogo no Coração leva à Mente Obstruída, caracterizada por estados de

confusão mental. A Fleuma (mucosidade) obstrui os orifícios da mente e o Fogo

agita. Esses fatores causam inquietação e confusão mental, psicoses e delírios,

comportamento maníaco alternando com depressão, insônia, discurso incoerente,

memória e concentração enfraquecidas, perda das noções de higiene, irritabilidade,

violência física. Entorpecimento das emoções, perda da capacidade de “insight”,

incapacidade de auto-reconhecimento interferindo no equilíbrio do desejo levando à

dependência e vício da droga. Os principais sintomas são: sensação de opressão no

tórax, hipertensão, angina, palpitações, superexcitação. (MACIOCIA 2005, p.272)

Golpe de Vento – O uso crônico da cocaína, que é um estimulante, pode predispor

ao excesso de Yang, como no Fogo, levando agitação, calor, estresse físico,

superexcitação emocional, para o organismo. Promove um desequilíbrio geral,

conduz à deficiência de yin do Rim que por sua vez não nutre o yin do fígado, que

leva à ascensão do yang do fígado, ao vento no fígado e ao golpe de vento. Ocorre

Isquemia dos vasos cerebrais, degeneração neurológica, derrames e acidentes

vasculares cerebrais (AVC). Fleuma Calor nos Pulmões. O uso crônico de cocaína

pode levar à perfuração do septo nasal, rinite e sinusite crônica, inflamação do

pulmão que produz um quadro semelhante ao da pneumonia infecciosa, edema

pulmonar, asma, tosse com catarro amarelado, dor no peito, dificuldade respiratória,

diminuição da capacidade respiratória. Vento Calor e Mucosidade Calor no

Pulmão - tosse com sangue e pneumonia infecciosa. Deficiência de Qi e Yin, do

Baço/Pâncreas e Estômago- Falta de apetite, perda de peso e perda de massa

muscular. Deficiência de Qi e de Yin do Rim - insuficiência renal e perda dos

dentes. Fogo do Fígado e ascensão do Yang do Fígado - olhos lacrimejantes e

irritados. Calor no Pulmão - estimulando Vento Interno, perda da capacidade de

insight; mau cheiro e aumento da temperatura corporal. Vento interno isquemia dos

órgãos e vísceras. Deficiência do Yin e do Yang do Rim, Deficiência de Jing do

Rim, Estagnação do Qi do Rim, Fleuma Fogo do Coração - impotência

39

anorgasmia sexual. Deficiência de Qi geral - No período de ausência da droga

hipersonolência e letargia. Estagnação do Qi do Fígado e Fogo no Estômago -

fome no período de ausência da droga. Fogo e Deficiência de yin no Coração -

agitação e depressão. (LÓPEZ, 2010).

4.5 TRATAMENTO

O princípio de tratamento é resolver Fleuma, eliminar Calor do Coração,

acalmar a Mente, abrir os orifícios da Mente. E40- Harmoniza o Qi do Estômago,

acalma o Shen, fortalece o Qi do Baço e do Pâncreas e transforma a mucosidade do

Coração. Faz a limpeza do Calor do Estômago e do calor perverso. Transforma e

dissolve a Umidade, a Umidade Calor e a Mucosidade, drena a Umidade e a

Umidade Frio. VG20- Remove e dispersa o excesso de Yang dos Canais de Energia

Principais Yang. Estabiliza a subida do Yang Qi, acalma o Shen, as emoções e

clareia a mente. Reanima a inconsciência, circula o Qi do Fígado e dispersa o Yang

Qi excessivo do Fígado, dispersa o vento interno do Fígado e o vento perverso.

Relaxa os tendões e músculos. VG24- Fortalece o Yang Qi, restaura o Qi, clareia a

mente e as emoções, elimina o Calor Perverso. B15- Harmoniza o Qi e o Xue,

harmoniza e tonifica o Qi do Coração, ativa a circulação de sangue nos vasos

sanguíneos, acalma o Shen, fortalece e clareia a mente. C5- Harmoniza e tonifica o

Qi do Coração, acalma o Shen e fortalece a Mente, tonifica o Yong Qi, faz a limpeza

do Calor do Coração, dissipa o Vento Perverso. CS5- Harmoniza o Qi do Coração e

do Estômago, acalma o Shen, aumenta o Wei Qi, dispersa a Estagnação de

Mucosidade, dispersa a Energia Perversa. CS8- Harmoniza o Qi do Coração,

acalma o Qi do Estômago, harmoniza e clareia o Shen, refresca o Calor do Sangue,

dispersa o Vento Perverso e a Umidade Calor. R1- Tonifica o Qi dos Rins e a

essência, fortalece o Yin Qi, restaura o colápso do Yang Qi, acalma o Shen, faz a

limpeza do Calor Perverso e do Fogo, dissipa a Umidade Calor. C9- Harmoniza o Qi

do Coração, promove a circulação de Qi e Xue, reanima o estado de inconsciência e

clareia a Mente, faz a limpeza do Calor do Coração e refresca o Calor do Sangue,

redireciona o Qi contra corrente. CS9- Harmoniza o Qi do Coração, restaura o

colapso do Yang Qi, harmoniza o Qi contra corrente, faz a limpeza do Calor do

Coração. (LÓPEZ, 2010)

40

Quadro 02: Tratamento em MTC com a seleção de pontos

Síndromes Pontos Indicados

Fleuma Fogo no Coração E40s, VG20s, VG24s, B15s, C5s, CS5s, CS8s,

R1s; sangrias em C9 e/ou CS9.

Fleuma no Coração VC17s, B15s, C5s, C9s, CS5s, E40s, VC12t

Fogo no Coração VC14s, CS8s, R1s, R6t, Bp6t

Deficiência de Yin no Coração VC14h, VC17h, C7h, C3t, BP6t, R6t

Fogo no Fígado VG20s, CS8s, R1s, F3s, F2s, BP6t

Síndromes Pontos indicados

Hiperatividade do Yang do Fígado, Ascensão do

Yang do Fígado.

VG20s, VB20s, VB34s, BP6s, F3s, E8h,

Vento no Fígado VG16h, Vg20h, VB20h, IG4h, BP6h, F3H

Estagnação do Qi do Fígado CS6s, F3s, F14s

Deficiência de Yin do Fígado VG20h, IG4t, BP6t, F8t

Fogo no Estômago VC12s, VG20s, CS8s, E8s, E21s, BP6t, E44t,

Sangria E45

Deficiência do Qi do Estômago VC12t, E36t, BP3t, VC12t,

Calor Vazio Resplandecente no Rim R2s, C8s, R10t, BP6t, C3t, VC4t, VG20h

Deficiência do Jing do Rim VC4t, R3t, R6t, VB39t, E36t

Deficiência do Qi do Rim VG4t, B11t, B23t, B52t, VC4tm, R3tm, E36tm

Deficiência do Yin do Rim R3t, R10t, VC4t, BP6t, C6h, R2s

Deficiência do Qi do Baço/Pâncreas VC12t, E36t, BP3t, usar moxa

Afundamento do Qi do Baço/Pâncreas BP3t, R7t, E36t, VG20t, VC6t,

Fleuma Calor no Pulmão P1s, VC17s, B13s, P6s, E40s, CS6s,

Calor no Pulmão P1s, P6s, P10s, IG4s, IG11s, VC23sP11sangria,

C6t, BP6t, R6t

Deficiência de Qi e de Yin do Pulmão VC4t, VC17t, P9t, E36t, P5t, R6t, P10s, R2s

Vento Calor no Pulmão P6s, F3s, F14s, VC17s, VC22s, E40s, CS6s,

Vento Secura P7s, IG4s, P5t, R6t

Deficiência de Qi geral VC12t, IG4t, E36t, BP3t, VG20h, VB20h, na

tonificação usar moxa.

Deficiência de Xue Yin Tang h, IG1h, BP1h, E45h, VC4t, VC12t,

BP6t, E36t

Deficiência de Yin BP6t, VG20t, VC4t, IG4t, E36t, R6t

Distúrbios do Espírito VC14h, C6h, R6h, E36t, C7h, B44h

Fleuma Obstruindo a Cabeça E8s, E40s, BP6s, R1s, F3s, CS6s, IG4s

Fonte: LÓPEZ, 2010.

41

Neste trabalho foram especificadas, somente, as funções energéticas da

Síndrome Fleuma Fogo do Coração. Outros pontos podem ser usados. De acordo

com Maciocia (2005), deve-se utilizar acupuntura nos pontos: PC-5 e C-8 para

eliminar Calor do Coração e resolver Fleuma. REN-12 e E-40 resolvem Fleuma. VB-

13, REN-15 e DU-24 acalmam a Mente e resolvem Fleuma na cabeça.

A alteração de comportamento pode ser manifesta por agressão do Intelecto

do Baço (Yi), o ponto de Acupuntura BP-6 é o principal ponto de canal do Baço para

acalmar a Mente, é particularmente indicado quando o indivíduo estiver afetado por

excesso de pensamentos, também promove o sono e combina bem com C-7.

(MACIOCIA, 2005, p. 274).

42

5 ACUPUNTURA AURICULAR

5.1 CONTEXTO HISTÓRICO

O primeiro registro de acupuntura auricular foi registrado no Huang Di Nei

Jing Capítulo 28 do Eixo Espiritual (cerca 100 a.C). "Todas as embarcações se

reúnem no ouvido." Durante a década de 1950, Nogier desenvolveu pela primeira

vez a prática da acupuntura auricular utilizando o conceito de que cada parte do

corpo está representada na orelha. When e Cheung utilizaram à acupuntura

auricular no alívio da dependência de drogas opiáceas. ( ATTILIO, 2004).

Em 1985 Michael Smith, do hospital Lincoln em Nova York, desenvolveu o

Protocolo de desintoxicação (NADA). O procedimento desenvolvido envolve a

inserção de agulhas em cinco pontos da orelha "pulmão", "fígado", "rim", "simpático"

e " shenmen ". O método é considerado como um tratamento para a dependência

geral e não é específico para a cocaína. Acupuntura auricular é um tratamento

amplamente utilizado para a dependência de cocaína, disponível hoje em mais de

400 clínicas de abuso de substâncias nos EUA e Europa. (FOXCROFT, GATES,

SMITH, 2005).

Ainda não se conhece o mecanismo neurobiológico de como a acupuntura

funciona, mas há hipótese de que a liberação de beta-endorfinas, um opióide

endógeno, seria o mecanismo envolvido na analgesia promovida pela acupuntura.

Verificou-se que os níveis de endorfina aumentavam no líquor após estimulação com

eletro-acupuntura. A medicina ocidental também reformulou o antigo conceito, da

Medicina Tradicional Chinesa, de que a acupuntura funcionaria através de

estimulação de meridianos energéticos, harmonizando a energia corpórea.

Atualmente é aceita a hipótese de que a estimulação do ponto de acupuntura

(terminação nervosa), tanto por fricção da agulha como por corrente elétrica

estimularia a expressão de genes destes neuropeptídeos no SNC. (ASSUMPÇÃO et

al, 2007).

43

6 REVISÕES DOS TRABALHOS PUBLICADOS SOBRE A

ACUPUNTURA NO PROCESSO DE ABSTINÊNCIA.

Assumpção et al. (2007), procurou comprovar a eficácia da acupuntura

auricular no tratamento da dependência de substâncias psicoativas. O estudo foi

realizado no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo, no período de setembro de 1998 a julho de

1999.

Critérios de inclusão/exclusão deste serviço: ter entre 18 e 60 anos,

preencher critérios diagnósticos para dependência de cocaína de acordo com o

DSM-IV, possuir endereço fixo e não ter diagnóstico de rebaixamento intelectivo.

Foram avaliados 61 pacientes, do sexo masculino, no período de 43

semanas.

A aplicação da acupuntura era semanal e os pacientes selecionados para

receber acupuntura submetiam-se à aplicação de cinco agulhas em cada pavilhão

auricular de uma hora de duração durante três meses (12 sessões). No tratamento

placebo, o paciente recebia as aplicações em cinco pontos de cada orelha, em

pontos na hélice, onde se encontra o menor efeito terapêutico. As agulhas também

permaneciam por uma hora, com sessões também semanais. Para se assegurar o

caráter “duplo-cego”, quem aplicava as agulhas em determinado paciente, não o

avaliava. O avaliador não conhecia a que grupo o paciente pertencia e o paciente

não sabia se estava recebendo o tratamento “ativo” ou “placebo”. Os pacientes eram

avaliados sempre ao final das sessões, quando as agulhas já haviam sido retiradas.

Os pacientes eram avaliados por uma escala utilizada para medir a eficácia

terapêutica. Esta escala – ESA–Drogas – avalia o paciente através de cinco

variáveis: uso de drogas, relações familiares, trabalho, lazer e complicações

orgânicas. Os pacientes, de acordo com suas respostas, recebiam notas que

variavam de 1/2 a 5, e a soma das notas em cada uma das variáveis fornecia o

escore.

Resultados - Comparações entre grupos

Dos 61 pacientes selecionados para o estudo, 21 completaram as 12 semanas de

tratamento. Dentre os 21 pacientes, 13 pertenciam ao grupo que recebeu tratamento

específico e 8 ao tratamento placebo.

44

A análise estatística utilizou o teste de ANOVA para medidas repetidas,

demonstrando diferença significativa na evolução de cada grupo ao longo do tempo,

ou seja, o grupo de pacientes que recebeu tratamento específico de acupuntura para

dependência de drogas apresentou uma melhora superior ao grupo que recebeu

tratamento placebo.

Os autores concluíram que a acupuntura auricular, com a utilização dos

pontos “simpático”, “shenmen”, “rim”, “fígado” e “pulmão”, mostrou-se eficaz como

coadjuvante no tratamento de dependência de drogas na amostra de pacientes

avaliados, quando comparado com o grupo placebo.

Albuquerque, Lima, Saraiva (2012), fizeram um estudo de campo de caráter

qualitativo, aprovado pelo CEP, tiveram como objetivo, conhecer o tipo de drogas

usadas pelos dependentes em estudo e demonstrar a contribuição da acupuntura

auricular como tratamento complementar no processo de abstinência das drogas

psicotrópicas. O estudo foi realizado em uma instituição do Maranhão para

dependentes químicos, foram avaliados 9 pacientes internos submetidos ao método

da pesquisa a partir do quarto mês em tratamento para dependência química.

Critérios de inclusão/exclusão: excluíram-se participantes que usavam

medicação coadjuvante como anti-hipertensivos, cardiotônicos e outros.

Durante as entrevistas aplicou–se um roteiro semi-estruturado cujos

depoimentos foram gravados para escuta atentiva e análise, a posteriori.

Como resultado emergiu quatro categorias como tipos de psicotrópicos

usados pelos participantes nas quais foram citados como as drogas mais

consumidas, o álcool (100%), maconha (100%), seguida de cocaína (60%) e crack

(40%); para a acupuntura auricular atuando na abstenção das drogas, os pacientes

referiram sintomatologias como nervosismo, depressão, mialgias, impaciência,

ansiedade, câimbras, alterações no ritmo do sono e inquietação que caracterizam a

dependência psicológica manifestada devido à interrupção do uso exagerado ou

prolongado das drogas, porém apontaram como benefícios para a saúde os efeitos

positivos do método já que o tratamento trouxe equilíbrio emocional, alívio das dores

e regularidade da fome e sono; quanto à recomendação do uso para outras pessoas

referiram aprovação da terapia que merece ser divulgada, pois perceberam

contribuições expressivas da acupuntura auricular, como tratamento complementar.

A conclusão dos autores foi que a acupuntura auricular é relevante na

efetivação da libertação da dependência por drogas psicotrópicas, enquanto terapia

45

complementar que tem uma aceitação significativa. Há potencial para utilização do

método em centros de reabilitação de pessoas em estado de abstenção das drogas

psicotrópicas, já que existe a possibilidade de contribuir representativamente para

que outros dependentes consigam a superação das dificuldades encontradas e pode

ser aliada a outros tratamentos.

Foxcroft, Gates, Smith (2005), publicaram uma pesquisa que teve como

objetivo determinar se a acupuntura auricular é eficaz comparando-a com o

tratamento placebo ou nenhum tratamento, na redução do uso de cocaína em

indivíduos dependentes de cocaína e verificar, ainda, se variações no tratamento,

como alterações no protocolo NADA influenciam na sua eficácia.

Critérios de inclusão: participantes escolhidos foram pessoas com

dependência de cocaína ou "crack", incluindo pacientes com diagnóstico adicional,

como dependência de opiáceos.

Foram incluídos sete estudos com um total de 1433 participantes. Todos os

estudos foram, em geral, de baixa qualidade metodológica. Não houve diferença

entre acupuntura auricular efetiva com a acupuntura placebo e nenhum tratamento,

nem em relação ao número de deserção, nem quanto às medidas de consumo de

cocaína, ou outras drogas. Segundo os pesquisadores as limitações metodológicas

não dão segurança necessária para se afirmar que a acupuntura auricular seja

eficaz ou, que traga riscos moderados.

Os autores concluiram que não existe qualquer prova de que acupuntura

auricular seja eficaz para o tratamento da dependência de cocaína. Porém a prova

não é de alta qualidade ou definitiva. É necessário outros ensaios aleatórios.

Attilio (2004) teve como objetivo revisar, em estudos já realizados, se a

acupuntura auricular é eficaz no tratamento da dependência de cocaína com a

utilização do Protocolo da Associação Nacional de Acupuntura de Desintoxicação

(NADA).

Os critérios de inclusão: As pessoas viciadas em cocaína ou crack como seu

principal vício.

Seis estudos preencheram os critérios de inclusão e foram incluídos nesta

revisão: Avants et al. (2000). “ A randomized controlled trial of auricular acupuncture

for cocaine dependence”. (Resultado positivo); Bullock et al. (1999). “Auricular

acupuncture in the treatment of cocaine abuse. A study of efficacy and dosing”.

(Resultado negativo); Brady et al. (2002). “The effect of auricular acupuncture on

46

phychophysiological measures of cocaine craving”. (Resultado negativo); Brewington

et al. (1994). “Acupuncture for crack-cocaine detoxification: experimental evaluation

of efficacy”. (Resultado positivo); Avants et al. (2002). “ Acupuncture for the

treatment of cocaine addiction: a randomized controlled trial”. (Resultado negativo);

Otto et al. (1998). “Auricular acupuncture as an adjunctive treatment for cocaine

addiction. A pilot study”. (Resultado negativo).

O autor não confirma que a acupuntura seja um tratamento eficaz para o

abuso de cocaína.

Avants et al. (2002) procurou investigar a eficácia da acupuntura auricular

como tratamento para a dependência de cocaína em seis clínicas na comunidade

nos Estados Unidos utilizando o protocolo NADA. Foram avaliados 620 pacientes,

412 eram usuários de cocaina e 208 associavam a cocaina com opiácios e eram

tratados com metadona.

Os pacientes foram aleatoriamente designados para receber acupuntura

auricular (n = 222), placebo (n = 203) onde agulhas foram inseridas na hélice das

aurículas em regiões que não são normalmente usados para tratamento da

dependência e sessões de relaxamento com vídeos e músicas suaves (n = 195).

O resultado da aferição de uso de cocaina durante o tratamento, foi feito com

base em resultados toxicológicos de urina. A análise das amostras de urina

mostrou uma redução mínima global do consumo de cocaina e os pacientes não

tiveram uma aderência maior ao tratamento.

Os autores, dentro do contexto clínico deste estudo, concluiram que a

acupuntura auricular não foi mais eficaz do que o grupo que recebeu tratamento

placebo ou o grupo que recebeu, somente, sessões de relaxamento, na redução do

uso de cocaína.

6.1 RESULTADO DAS REVISÕES

Assumpção et al. (2007), A acupuntura no tratamento de pacientes

dependentes de drogas. Resultado positivo.

Albuquerque, Lima, Saraiva (2012), “Contribuição da acupuntura auricular no

processo de abstinência das drogas psicotrópicas”. Resultado positivo.

47

Foxcroft, Gates, Smith (2005), “Auricular acupuncture for cocaine

dependence”. Resultado negativo.

Attilio, (2004), em “Auricular acupuncture in the treatment of cocaine/crack

abuse: a review of the efficacy, the use of the national acupuncture detoxification

association protocol, and the selection of sham points”, Engloba seis ensaios clínicos

randomizados:

Avants et al. (2000), “ A randomized controlled trial of auricular acupuncture

for cocaine dependence”. (Resultado positivo.)

Bullock et al. (1999), “Auricular acupuncture in the treatment of cocaine abuse.

A study of efficacy and dosing”. (Resultado negativo)

Brady et al. (2002), ¨The effect of auricular acupuncture on

phychophysiological measures of cocaine craving¨. (Resultado negativo)

Brewington et al. (1994), “Acupuncture for crack-cocaine detoxification:

experimental evaluation of efficacy”. (Resultado positivo)

Avants et al. (2002), “ Acupuncture for the treatment of cocaine addiction: a

randomized controlled trial”. (Resultado negativo)

Otto et al. (1998), “Auricular acupuncture as an adjunctive treatment for

cocaine addiction. A pilot study”.(Resultado negativo)

Quatro ensaios clínicos tiveram resultado positivo e cinco obtiveram

resultados negativos.

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7 CONCLUSÃO

Embora intensas pesquisas estejam sendo feitas na busca por novos

medicamentos para o tratamento da dependência de cocaína e seus derivados,

como o crack, ainda não há nenhum medicamento específico. Não há fármaco

específico, comportamental ou terapia psicossocial que tenha demonstrado

resultados efetivos. O fenômeno da drogadição é complexo: fatores psicológicos,

sociais, políticos, econômicos e ambientais, estão envolvidos, uma vez que

condições inadequadas do meio exercem influência direta na possibilidade de um

indivíduo adoecer e se restabelecer. Os tratamentos mais atuais são extensões de

tratamentos aplicados à dependência de álcool ou de opinácios e os resultados são

bastante limitados e o abandono ao tratamento é recorrente.

Quanto à eficácia da acupuntura no tratamento de cocaína, não se pode

negar que foi observada notável melhora no equilíbrio emocional, alívio das dores e

regularidade da fome e sono, com substancial melhora na qualidade de vida do

drogadicto.

Na revisão dos trabalhos, apesar dos resultados negativos frente à eficácia da

acupuntura auricular no tratamento de cocaína, não foi possível dar uma resposta

definitiva sobre o tema. A primeira pesquisa documentada em acupuntura auricular

e vício em cocaína começou na década de 1970 desde então, outros estudos têm

tentado replicar essas descobertas com maior rigor metodológico, pois muitas falhas

foram encontradas, minando os resultados. Os autores reconhecem a dificuldade de

se responder tal pergunta. Mais pesquisas devem ser realizadas para poder

comprovar a eficácia da acupuntura auricular como coadjuvante no tratamento da

dependência quimica, visto que, na prática, mais de 400 clínicas de abuso de

substâncias nos EUA e Europa utilizam este tratamento.

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