59
ª. REUNIÃO DA EXCELSA CONGREGAÇÃO DOS SUPREMOS CONSELHOS DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO DO BRASIL A CONVENÇÃO DE LAUSANNE ( 1875 ) NA HISTÓRIA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO Jean-Paul Minsier, 33 Tradução: Moiz Halfon, 33

A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A CONVENÇÃO DE LAUSANNE ( 1875 ) NA HISTÓRIA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO Jean-Paul Minsier, 33Tradução: Moiz Halfon, 33Cortezia: Manoel Olegário da Costa, 33

Citation preview

Page 1: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

ª. REUNIÃO

 DA

 EXCELSA CONGREGAÇÃO DOS SUPREMOS CONSELHOS DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO DO BRASIL

 

 

 

A CONVENÇÃO DE LAUSANNE ( 1875 ) NA HISTÓRIA

 DO

 RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO

 

Jean-Paul Minsier, 33

Tradução: Moiz Halfon, 33

Cortezia: Manoel Olegário da Costa, 33

Page 2: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 

 

 

 

 A CONVENÇÃO DE LAUSANNE ( 1875 )

NA HISTÓRIA DO RITO ESCOCÊS

ANTIGO E ACEITO

 

 

POR JEAN-PAUL MINSIER

TRADUÇÃO MOIZ HALFON, 33

 

 

 

A Convenção de Lausanne constitui, mais que um título, uma etapa maior na História duas vezes centenária do Rito Escocês Antigo e Aceito; sua ressonância sobre a Ordem maçônica não foi negligenciada jamais. Para bem compreender todas as sessões é conveniente situá-la em seus contextos: histórico, maçônico, filosófico, religioso e político de 1875, mas também naqueles que a precederam. Nós limitaremos a evocar somente as razões que a motivaram no plano maçônico, suas conseqüências imediatas e suas repercussões ulteriores que influem ainda em nossos dias sobre as relações internacionais entre os Supremos Conselhos.

Page 3: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

A Convenção de Lausanne não é uma inovação devida ao acaso das circunstâncias: a possibilidade de convocar uma Convenção Universal foi prevista pelo “Tratado de Aliança e de Confederação maçônica” assinado em Paris em 24 de fevereiro de 1834 entre os Supremos Conselhos da França, da Bélgica, do Brasil e do contestado “ Supremo Conselho do Hemisfério Ocidental “ ( do Irmão conde Roume de Saint-Laurent) ao qual aderiram a seguir aqueles da Itália, das Duas Sicílias e da Espanha. Este Tratado foi uma primeira tentativa de união entre Supremos Conselhos. Seu Artigo I proclamava: “... desde este momento e a perpétuo, a união intensa e indissolúvel entre Supremos Conselhos... “. Idealistas, os contratantes declaram uma outra pretensão “se prestar apoio constante e firme em todas as ocasiões e “se defender mutuamente contra as associações maçônicas irregulares”. O Tratado recordava sobretudo que em virtude das Grandes Constituições, não poderia existir senão um único Supremo Conselho por país e que nenhuma Potência do Rito Escocês Antigo e Aceito poderia se fundir com uma Potência de outro Rito. Os signatários se engajaram em manter os princípios do Escocismo, a independência e a integridade de cada Supremo Conselho e adotaram como lei fundamental do Rito Escocês Antigo e Aceito a versão latina das Grandes Constituições do Irmão Roume de Saint-Laurent. Finalmente, este Tratado previa a troca de Grandes Representantes entre Supremos Conselhos e a reunião a cada cinco anos dos delegados dos Supremos Conselhos aliados. Infelizmente, todas estas prometidas disposições se revelaram mais fáceis de serem formuladas que concretizadas: foi necessário esperar por quatro décadas para que a Convenção de Lausanne realizasse a primeira tentativa.

 

A CONVENÇÃO DE LAUSANNE ( 6 a 22 DE SETEMBRO 1875 )

        

Face aos distúrbios políticos, sociais e religiosos que perturbavam fortemente a vida das Jurisdições, muitos Supremos Conselhos entenderam que havia chegado o tempo de reatualizar o “Tratado de União, de Aliança e de Confederação” de 1834 para permutar sobre a situação do mundo profano e da Maçonaria, proclamar os princípios do Rito Escocês Antigo e Aceito, harmonizar a prática, instaurar um modus vivendi entre Jurisdições, prever as trocas e os reencontros internacionais regulares.

Em primeiro lugar foi questionado o local da reunião. A Jurisdição Sul dos Estados Unidos propôs Washington para 1874; a distância dissuadiu os Supremos Conselhos europeus que sugeriram Bruxelas, mas o Supremo Conselho para a Bélgica declina a oferta em razão da complexidade da situação maçônica belga do momento. Finalmente, todo o mundo se une em torno da idéia de confiar a organização desta Convenção Universal ao último dos Supremos Conselhos em data de antigüidade, o da Suiça ( constituído em 30 de novembro de 1873 pelo Supremo Conselho da França ).

As reuniões da Convenção ocorreram em Lausanne de 6 a 22 de setembro de 1875 e se dividiram em onze sessões plenárias intercaladas por jornadas  de trabalhos em Comissões. Cinco pontos importantes foram tratados :

Page 4: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

1)    a redação de uma versão modificada das Grandes Constituições  de 1786.

2)     a elaboração de uma Declaração dos Princípios e de um Manifesto.

3)     a instauração de um novo “Tratado de União, de Aliança e de Confederação” entre os Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceito.

4)     o estabelecimento de um Telhador dos trinta e três graus do Rito Escocês Antigo e Aceito.

5)     o reconhecimento da regularidade de onze Supremos Conselhos dos vinte e dois existentes até então.

 

 

Os participantes

 

         Por ordem de antigüidade de criação :

-         o Supremo Conselho da França ( 1804 ), representado pelos Mui Ilustres Irmãos Georges Guiffrey ( Grande Chanceler ), Jules Le Batteaux, François Delongray, Eugène Barre, Louis Jousserandot. O Grande Comendador Adolphe Crémieux, impedido, apenas participou das duas últimas sessões.

 

-  o Supremo Conselho da Itália ( 1805 ), representado pelo Mui Ilustre Irmão Timothée Riboli.

 

-         o Supremo Conselho da Bélgica ( 1817 ), representado pelos Mui Ilustres Irmãos Henri-Joseph Pappaert, Édouart Cluydts, P.C. de Bie

-         o Supremo Conselho da Irlanda ( 1826 )

-         o Supremo Conselho do Peru ( 1830 )

-         o Supremo Conselho da Inglaterra ( 1845 ), representado pelos Mui Ilustres Irmãos John Pulteney Montagu, Robert Hamilton, Hugh David Sandeman.

Page 5: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

-  o Supremo Conselho da Escócia ( 1846 ), representado pelo Mui    Ilustre Irmão L. Mackersy

-         o Supremo Conselho de Colon ( Cuba ) ( 1859 ), representado pelo Mui Ilustre Irmão David Elias Pierre

-         o Supremo Conselho de Portugal ( 1869 )

-         o Supremo Conselho da Hungria ( 1871 )

-         o Supremo Conselho da Grécia ( 1872 )

-         o Supremo Conselho da Suiça ( 1873 ) representado pelos Mui Ilustres Irmãos Jules Besançon ( Mui Poderoso Soberano Grande Comendador ), Antoine Amberny ( Lugar Tenente Grande Comendador ), Jules Duchesne ( Grande Chanceler ), Louis Ruchonnet ( Grande Orador ), Eugène Dulon ( Grande Tesoureiro ), Henri Pachoud ( Grande Capitão das Guardas ).

 

 

As Sessões Plenárias

 

A Sessão inaugural de 6 de setembro

 

         Ela foi consagrada ao discurso de boas vindas do Grande Comendador do Supremo Conselho da Suiça, Jules Besançon, o qual precisou o quadro e o objetivo dos Trabalhos da Convenção, seguido daquele do Grande Orador Louis Ruchonnet que evocou as metas da Franco Maçonaria. Em resposta, e em nome dos Supremos Conselhos presentes, o Grande Chanceler do Supremo Conselho da França, Georges Guiffrey, agradece aos Irmãos suíços pela sua hospitalidade depois evoca a grandeza da empreitada que aguarda os delegados:

“Nos erguemos, diz ele, em nome da consciência, em nome do livre pensamento.

Page 6: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Pregamos o empenho de difundir a instrução e a ciência ao nosso  redor, único meio de ensinar aos homens a conhecer seus direitos e seus deveres”.

Estes três discursos, revelam já as empreitadas dos delegados :

-         proclamar os princípios do Rito Escocês Antigo e Aceito

-         promover a união mais íntima dos Supremos Conselhos

-         dissipar as prevenções  e as desconfianças que poderá suscitar a Convenção

-         participar de regeneração e do progresso da humanidade pelo desenvolvimento das faculdades individuais

-         superar as divisões e realizar a universalidade maçônica para além das fronteiras e as distâncias

-         se comprometer em difundir a instrução e a ciência em nome da consciência e do livre pensamento.

Uma comissão de verificação dos poderes dos delegados é formada a seguir: são admitidos como regulares as delegações dos Supremos Conselhos da França, da Inglaterra, da Bélgica, da Escócia, da Hungria, da Itália e da Suíça; a de Colon ( Cuba ) é colocada em discussão. Depois o Grande Comendador Besançon anuncia a abertura da Convenção.

Muitas decisões são então tomadas: a Secretaria da Convenção será composta dos Oficiais titulares do Supremo Conselho organizador, cada Potência maçônica só poderá emitir um voto ( qualquer que seja o número de seus representantes ), três Comissões serão criadas :

-         a Primeira ( composta de três membros ), encarregada de verificar os poderes dos delegados podendo  ser colocados em discussão,

-         a Segunda ( composta de cinco membros ) encarregada de estudar as modificações a serem apresentadas às Constituições, Estatutos e ao Tratado de Aliança de 1834,

-         a Terceira ( composta de cinco membros ) para examinar todas as outras questões.

 

Segunda Sessão ( 7 de setembro )

 

Page 7: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

         Foi decidido enviar um telegrama ao Mui Ilustre Irmão Adolphe Crémieux e discutir o relatório da Comissão de verificação dos poderes :

-         o Supremo Conselho da Grécia transferiu os poderes ao Mui Ilustre Irmão Mackersy ( do supremo Conselho da Escócia ) para o representar, este pedido é aceito ( mas foi decidido que, qualquer que seja o número de Supremos Conselhos que represente, todo delegado só terá direito a um voto ),

-         a solicitação do Supremo Conselho de Palermo foi recusado bem como a do Grande Oriente Nacional do México do Rito Escocês Antigo e Reformado; a do Supremo Conselho de Colon ( Cuba ) foi aceita malgrado um litígio jurisdicional com o Supremo Conselho da França concernente à ilha de Saint-Thomas.

          

 

Terceira Sessão ( 9 de setembro  )

 

         O delegado da Escócia ( também representando a Grécia ) deixa  a Convenção e se explica com uma carta que será lida dia 13.

-         O Mui Ilustre Irmão Benjamin Odio 33º , foi reconhecido na qualidade de delegado do Supremo Conselho de Colon ( Cuba ).

-         O Mui Ilustre Irmão David Elias Pierre do Supremo Conselho de Colon ( Cuba ) evoca as perseguições que sofrem os Irmãos de Porto Rico. Considerando que os deveres políticos ou religiosos estão fora de suas atribuições,  a Convenção passa à ordem do dia.

 

Quarta Sessão ( 11 de setembro )

 

         A solicitação de admissão à Convenção do Supremo Conselho da Espanha, não reconhecido, é recusada.

Page 8: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

O trabalho da Segunda Comissão ( encarregada do exame e da revisão das Grandes Constituições de 1786 ) é instruído. O projeto é discutido  e adotado artigo por artigo depois em seu conjunto, por unanimidade dos Supremos Conselhos representados na Convenção. A redação definitiva ( formulada em francês e assinada pelos delegados ) será  disponibilizada nos arquivos do Supremo Conselho da Suíça e terá força de lei para os Supremos Conselhos Confederados; um exemplar traduzido para o latim será endereçada a cada Supremo Conselho.

 

Quinta Sessão ( 13 de setembro )

 

         A mensagem do Mui Ilustre Irmão Mackersy (que deixou a Convenção em 9 de setembro ) é lida: o delegado da Escócia e da Grécia justifica sua saída pelo fato que não poderia subscrever, em nome dos Supremos Conselhos que representava, a ausência da afirmação de um Deus pessoal nas definições do Grande Arquiteto do Universo adotadas pela Comissão.

A solicitação de representação do Supremo Conselho da Itália no Vale de Sebeto ( Oriente de Nápoles ) é rejeitada. As dos Supremos Conselhos do Peru e de Portugal são aprovados ( o Mui Ilustre Irmão Amberny, do Supremo Conselho da Suíça os representará ).

O Mui Ilustre Irmão Henri-Joseph Pappaert, do Supremo Conselho da Bélgica, relator da terceira Comissão, expõe a “Declaração dos Princípios do Maçom escocês” ; esta é discutida artigo por artigo e aprovada por unanimidade depois de emendas e modificações.

Sobre a proposta do Supremo Conselho da França de adotar o lema “Liberdade – Igualdade – Fraternidade “ para o Rito, a Convenção decide que o lema geral de todos os Supremos Conselhos permanecerá “Deus Meumque Jus “ mas que cada Supremo Conselho será livre para escolher como sub-lema aquele que lhe parecer melhor.

Foi decido que a bandeira da Ordem permanecerá a mesma mas que a Águia será de ouro ( em lugar de preto ) e que uma bandeirola saindo dos dois bicos da Águia será semeada de tantas estrelas quantos forem os Supremos Conselhos Confederados.

Os diferentes graus do Escocismo atualmente em vigor são examinados um após o outro e adotados. São determinados de maneira formal os sinais, palavras toques e aclamações afim de tornar uniformes os meios pelos quais os Maçons possam se reconhecer no mundo inteiro. Cada Supremo Conselho regulará por decretos especiais as questões e os pontos deixados em suspenso. O Supremo Conselho da Suíça é encarregado de estabelecer um Telhador geral do Rito Escocês Antigo e Aceito.

 

Sexta Sessão ( 15 de setembro )

Page 9: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 

         A ordem do dia trata da discussão sobre as relações que poderiam existir entre os Supremos Conselhos Confederados e os Grandes Orientes de outros Ritos. Sobre a proposta do Mui Ilustre Irmão Guiffrey, modificada no decorrer da análise, a seguinte redação é mantida artigo por artigo depois aprovada em seu conjunto por unanimidade dos delegados :

-         § 1) Os Supremos Conselhos Confederados poderão, após declaração prévia, continuar as relações amistosas com certos corpos maçônicos, emboras estes corpos não sejam regulamente reconhecidos, mas desde que tenham sido  estabelecidas anteriormente à presente Convenção.

-         § 2) Este acerto entre um Supremo Conselho Confederado e outros corpos maçônicos da Jurisdição  não compromete em nada os outros membros da Confederação. 

-         § 3) Todo corpo maçônico estranho ao Escocismo que não reconhece o Supremo Conselho de seu país, não poderá ser admitido a nenhum gênero de relações por nenhum dos Supremos Conselhos Confederados.

-         § 4) Os Graus similares àqueles do Escocismo, acima do grau de Mestre, conferidos por um  corpo maçônico local não são reconhecidos pelos Supremos Conselhos Confederados ; em conseqüência, não serão

Page 10: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

admitidos nas Oficinas Escocesas os Irmãos, até e inclusive o grau de Mestre, dependentes de uma outra Potência maçônica  e na extensão da Jurisdição de cada um dos Supremos Conselhos Confederados.

-         § 5) Os Maçons pertencentes a corpos não regularmente reconhecidos não poderão gozar dos privilégios reservados aos Membros que fazem parte da Confederação, sem se colocarem sob a obediência do Supremo Conselho Escocês constituído no território onde estão estabelecidos, e obtendo a regularização de seus títulos maçônicos a partir do terceiro grau.

( As cinco decisões acima serão intercaladas no Tratado de Aliança dos Supremos Conselhos Confederados do qual formarão o Artigo XVIII ).

O Presidente da Convenção propõe que, como símbolo do trabalho ao  qual são sujeitos os Maçons de todos os graus, os Irmãos possuidores um dos graus acima daquele de Mestre, continuem a usar seu Avental em Loja simbólica: proposta adotada por unanimidade.

 

Sétima Sessão ( 16 de setembro )

 

         A discussão é aberta sobre o projeto de “Tratado de União, de Aliança e de Confederação “. O Mui Ilustre Irmão Jules Le Battteaux, relator da segunda Comissão, dá conhecimento de cada

Page 11: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

um dos artigos que são discutidos, corrigidos por emendas e adotados um após outro, depois o Tratado é aprovado definitivamente em seu conjunto por unanimidade.

A Convenção convenciona como base de suas deliberações e de suas resoluções os sete pontos principais das doutrinas antigas e imprescritíveis da Ordem e uma declaração de princípios, a saber :

Para os pontos da doutrina :

1º ) A Franco Maçonaria é uma instituição de fraternidade universal cuja origem remonta ao berço da humanidade; ela tem como doutrina o reconhecimento de uma força superior da qual ela proclama a  existência sob o nome de “Grande Arquiteto do Universo “;

2º ) Todos os verdadeiros Maçons, qualquer que seja sua pátria, formam uma só família de Irmãos espalhados sobre a superfície da Terra; eles compõem a Ordem maçônica;

3º ) Cada Supremo Conselho governa, através dos estatutos gerais, as Oficinas de sua Obediência; seu poder é soberano e independente em toda extensão de sua jurisdição territorial, mas sem poder atingir as leis gerais do Escocismo e os estatutos fundamentais do Rito;

4º ) Atentar à independência de um Supremo Conselho regular e reconhecido, é atentar à

Page 12: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

independência de todos os outros; é perturbar a Ordem em seu todo;

5º ) A Ação de um Supremo Conselho não pode legalmente se estender além dos Maçons de sua Obediência;

6º ) O primeiro dever de um verdadeiro Maçom é a fidelidade à sua pátria ; ele tem entre numerosas obrigações as mais sagradas o respeito aos juramentos que o unem ao seu Rito, à sua Loja onde recebeu a Luz, á Potência maçônica da qual recebeu seus poderes ;

7º ) A missão de todas as Oficinas do Rito Escocês Antigo e Aceito é trabalhar para a Ordem  ; a dos Supremos Conselho é lhes ensinar a doutrina maçônica e direcionar suas ações para a pureza dos princípios e para a observação dos estatutos fundamentais da Ordem.

O “Tratado  de União, de Aliança e de Confederação “ é assinado pelos delegados de nove Supremos Conselhos ( dos quais três por representação ) além  dos vinte e dois que serão reconhecidos no dia seguinte. Após o lema do Rito Escocês Antigo e Aceito “Deus Meumque Jus “, assinarão em nome :

-         do Supremo Conselho da França : Adolphe Crémieux, Geoges Guiffrey, Julles Le Batteaux.

-         do Supremo Conselho da Itália : Timthée Riboli e David Levy.

Page 13: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

-         do Supremo Conselho da Bélgica e dos Países Baixos : Henri-Joseph Pappaert, Édouard Cluydts.

-         do Supremo Conselho da Inglaterra e do País de Gales : Robert Hamilton, John Pulteney Montagu, Hugh David Sanderman.

-         do Supremo Conselho de Colon ( Cuba ) : David Elias Pierre, Benjamin Odio.

-         do Supremo Conselho da Suíça : Jules Besançon, Jules Duschesne, Henri Pachoud, Louis Ruchonnet.

Assinarão à margem igualmente os Mui Ilustres Irmãos Suíços Eugène Baud ( representante do Supremo Conselho da Hungria ) e Atoine Amberny ( representante dos Supremos Conselhos de do Peru e de Portugal ).

 

Oitava Sessão (17 de setembro )

 

         Por proposta do Supremo Conselho da França, a Convenção apresenta uma lista de vinte e dois Supremos Conselhos Reconhecidos     

Regulares com delimitação de sua Jurisdição territorial. Fica decidido que esta lista irá figurar no apêndice do Tratado.

 

Page 14: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Nona Sessão ( 20 de setembro )

 

         Anunciada a chegada de Adolphe Crémieux que assistirá a próxima Sessão da Convenção.

O Mui Ilustre Irmão Le Batteaux  desenvolve esta proposta :

“Autorizar os Supremos Conselhos a fazer no texto dos Juramentos e Compromissos maçônicos de cada grau, as modificações que julgarem necessárias, para os deixar em harmonia com os hábitos de seu respectivo país “.

Esta é adotada. O Mui Ilustre Irmão Pappaert propõe um aditivo que também será consagrado por unanimidade :

“Nas fórmulas do Juramento, os Supremos Conselhos, sempre levando em conta os usos, costumes e crenças dos Maçons de sua Obediência, terão a preocupação, como sanção, de invocar ainda e sem a omitir, a honra e a lealdade de homem e de Maçom. Quando um Supremo Conselho tiver reformado ou revisado as fórmulas dos Juramentos, todas as Lojas, bem como todos os Capítulos, Conselhos, Areópagos, ou todas as outras Oficinas de sua Obediência não poderão mais empregar as outras “.

 

Page 15: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Décima Sessão ( 21 de setembro )

 

         A ordem do dia designa a leitura do relatório sobre o estado da Maçonaria na Espanha pelo Mui Ilustre Irmão Benjamin Odio. A Convenção decide de não levar em consideração o pedido de reconhecimento de um poder neste país pelo fato de que os Irmãos do 33º grau que constituíram um Supremo Conselho não conseguiram comprovar a sua regularidade. O Supremo Conselho da Suíça fica encarregada de obter as provas.

Discussão sobre um conflito de competência entre o Supremo Conselho dos Estados Unidas ( Jurisdição Sul ) e o Supremo Conselho da França com respeito ao direito de jurisdição territorial sobre as Ilhas Sandwich ( Hawai ) ; foi decidido que o Supremo Conselho da França conservará este direito até o estabelecimento de um Supremo Conselho Nacional neste território ( que será anexado aos Estados Unidos em 1898 ).

Acolhida do Mui Ilustre Irmão Adolphe Crémieux.

A Convenção constata a existência de um Supremo Conselho no Brasil mas que duas autoridades pretendem este título: um acordo mútuo entre eles é esperado e, em caso de insucesso, eles serão convidados a apelar dentro

Page 16: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

das normas previstas ao Artigo VII do Tratado de Aliança.

 

A obrigatoriedade da frase “À Glória do Grande Arquiteto do Universo“ é colocado em discussão. Foi decidido a tornar obrigatória para as Oficinas que estão sob a direção imediata dos Supremos Conselhos Confederados.

No futuro os Supremos Conselhos seguirão o calendário gregoriano.

 

Decima Primeira Sessão ( 22 de setembro de 1875 )

 

         A direção dos Trabalhos é confiada ao Mui Ilustre Irmão Adoplhe Crémieux.

A questão de saber se convém liberar para publicidade um sumário dos Trabalhos da Convenção é levantada. O Mui Ilustre Irmão Adolphe Crémieux, reconhecendo que o sumário não ofereceria um grande atrativo para o público, prefere que seja redigido um “Manifesto” contendo a “Declaração de Princípios”. É encarregado, com os Mui Ilustres Irmãos Besançon e Montagu, de redigir este “Manifesto”.

Page 17: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

O Mui Ilustre Irmão Besançon, retomando a direção dos Trabalhos, anuncia que o jornal maçônico A Verdade se tornará o Boletim Oficial da Confederação dos Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceito.

O Mui Ilustre Irmão Guiffrey, em nome dos Supremos Conselhos, agradece ao Supremo Conselho da Suíça pela acolhida aos delegados bem como pela preocupação tida para a organização e o sucesso da Convenção.

Inicia-se então o encerramento da Convenção :

O Mui Ilustre Irmão Besançon pronuncia a alocução final evidenciando os resultados obtidos :

 

-         conclusão da obra de 1786 adequando as Grandes Constituições às aspirações da época ;

-         fortalecimento das bases do Tratado de Aliança entre os Supremos Conselhos e maior estreitamento dos laços que os unem ;

-         redação  de um “Manifesto” caloroso endereçado a todos os amigos da “Luz e do Progresso “ afim de lutar juntos contra a intolerância e os preconceitos.

 

Page 18: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Anuncia o encerramento da Convenção de Lausanne pela fórmula :

 

“Em nome de Deus, de São João e dos Supremos Conselhos Confederados “ depois fecha os Trabalhos conforme o Ritual do 33º e último grau do Rito Escocês Antigo e Aceito.

 

 

 

 

O BALANÇO DA CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 

         Pode-se estimá-lo muito positivo, realista e futurista. Infelizmente, sua sabotagem e, por conseqüência, sua não aplicação, provaram, embora não o digam seus difamadores, que era visionário e previdente, como o confirmará a seguir a História do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Se bem que somente nove Supremos Conselhos dos vinte e dois reconhecidos participaram ( deve-se a um dado momento, constituir um núcleo inicial para que venham a seguir se agregar outros Supremos Conselhos ), esta Convenção Universal conseguiu um trabalho considerável :

Page 19: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 adaptar à sua época o primeiro “Tratado de União, de Aliança e de Confederação” de 1834 ( que ainda não tinha sido aplicado quarenta anos após sua assinatura ) ;

 definir os princípios do Rito ; formular os fundamentos de sua co-gestão através do conjunto dos Supremos Conselhos ;

 ratificar as relações passadas estabelecidas entre Jurisdições ou Potências maçônicas de outros Ritos e fixar as condições destas a porvir ;

 encontrar as disposições jurídicas para desfazer as diferenças entre Jurisdições. Desta forma, tomam-se as medidas capitais que irão garantir ( se elas fossem aplicadas ) uma harmonização da prática do Rito no mundo, o respeito mútuo da soberania e da independência dos Supremos Conselhos, as condições e meios para instaurar laços estreitos e iguais entre eles, as bases jurídicas da perpetuação do Rito, a saber :

 

-         definição coletiva dos Princípios do Rito Escocês Antigo e Aceito e dos critérios de sua regularidade ;

-         delimitação dos territórios devolutos às Jurisdições ;

-         garantia da soberania inalienável dos Supremos Conselhos ;

Page 20: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

-         instituição de um tribunal para solucionar as diferença e examinar os recursos ;

-         determinação das condições de criação de novos Supremos Conselhos : nenhum Soberano Grande Inspetor do 33º grau poderá tomar pessoalmente a iniciativa de uma criação sem o aval de todos os membros da Confederação e sem ter obtido a aprovação da maioria ;

-         determinação das condições de nomeação: nenhum cidadão de um país compreendido na Jurisdição de um Supremo Conselho Confederado poderá ser promovido a nenhum dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito pela autoridade de um outro Poder maçônico, sem o consentimento daquele da Jurisdição do qual desfruta os direitos de cidadão, mesmo que resida temporariamente na Jurisdição deste outro Poder ;

-         decisão de tornar obrigatório a dedicação dos Trabalhos “À Glória do Grande Arquiteto do Universo “ para todas as Oficinas que estão sob a direção imediata de um Supremo Conselho ( o que torna a dizer que sua própria regularidade, relativamente ao Grande Arquiteto do Universo, não é necessariamente ligada àquela de uma Obediência gerando os três primeiros graus do Rito) ;

-         escolha das definições do “Grande Arquiteto do Universo” não exclusivamente teístas mas abertas a outra aproximações da espiritualidade

Page 21: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

dentro do respeito da liberdade de consciências individuais.

 

A ausência desta regulamentação internacional vai arruinar toda possibilidade de assentar a universalidade do Rito sobre bases jurídicas sólidas, elaboradas coletivamente para uma aplicação livremente consentida pelos contratantes. Todas as divisões ( notadamente aquela, catastrófica para o rito, consecutiva aos acontecimentos de 1965 na França ), todos os desvios que resultaram da não observância de um Telhador comum, todos os abusos de poder que se apropriaram de certas Jurisdições, resultaram da contra ofensiva anglo-americana de Edimburgo, que em 1877, desmoronará a obra de Lausanne.

 

EDIMBURGO (1877) OU A NEGAÇÃO DE LAUSANNE

 

         De volta para seus respectivos Supremos Conselhos, os participantes da Convenção de Lausanne prestaram conta a seus pares dos frutos seus trabalhos elaborados, discutidos e corrigidos em comum depois todos adotados por unanimidade.

Infelizmente, este belo acordo não resiste por muito tempo : reviravoltas se produzem

Page 22: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

rapidamente a propósito das definições do “Grande Arquiteto do Universo” (como foi previsto pela partida antecipada do representante do Supremo Conselho da Escócia ).

Os delegados franceses, retornando confiantes a Paris, pensavam que a calma poderia voltar em suas Oficinas com o retorno ;

 o Grande Chanceler Guiffrey, na Festa Solsticial de 22 de dezembro de 1875, declara com satisfação :

 

“... Esta fórmula é tão geral e tão vaga que às vezes deixa a porta aberta a todas as explicações, a todas as declarações. Quem pode sondar o insondável que está encerrado nestas palavras, o Grande Arquiteto do Universo ? É conveniente respeitar a consciência individual em qualquer acantonamento que ela possa ser colocada... “

 

 o Grande Comendador Crémieux, em 1º de maio de 1876 :

 

“... Nossos braços estão abertos para todas as convicções. Nos não damos nenhuma forma ao Grande Arquiteto do Universo, nos deixamos a cada um a inquietação de pensar o que quiser.

Page 23: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Quanto a nós, nos inclinamos diante do Infinito, do Incompreensível e não impomos mais a religião de Júpiter que aquela de Adonai : todas são iguais perante nossos olhos.. “ .

 

Foi esquecida o ponto de vista teísta dos partidários decididos das Religiões do Livro. O Supremo Conselho dos Estados Unidos (Jurisdição Sul ), que não havia participado da Convenção de Lausanne e não se fez representar, foi o primeiro a contestar as decisões, seguido dos Supremos Conselhos da Escócia e da Grécia ( todos os dois representados em Lausanne pelo Mui Ilustre Irmão Mackersy que abandonou o local sem ter participado da discussão plenária onde poderia dar sua opinião e curvar as opiniões da Convenção ), da Irlanda, da América Central ( Costa Rica ) ou seja cinco Supremos Conselhos dos vinte e dois reconhecidos em Lausanne ( menos de ¼ portanto ).

 

Estes decidiram reformular a Declaração de Princípios num sentido mais restritivo e resolutamente teísta, impondo as crenças em um Deus pessoal e no dogma cristão de imortalidade da alma, em desprezo da liberdade de consciência dos Irmãos :

 

Page 24: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 “A Franco Maçonaria proclama, como tem proclamado desde as origens, a existência de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, e a imortalidade da alma”; acrescentando depois uma cláusula de fé, declarando “necessário e fundamental a crença em Deus, verdadeiro e vivente” sempre deixando a cada um a preocupação “de adorar Deus na forma que julgar em sua consciência devendo Ele ser o mais agradável”.

 

Uma cisão desta forma se instaura entre os Supremos Conselhos partidários de impor as crenças religiosas a seus membros, e aqueles,  mais tolerantes e não dependentes das Igrejas que, sem serem ateus, entendiam entretanto preservar as liberdades de pensamento e de consciência individuais.

 

 Expliquemos as posições de uns e de outros. O Grande Comendador Albert Pike da Jurisdição Sul dos Estados Unidos ( adepto episcopal que, por outro lado, não apreciou que a jurisdição das Ilhas Sandwich fora confiada ao Supremo Conselho da França ) se emociona :

 

“Nenhum Maçom de língua inglesa desejoso em proclamar sua não crença ao deus de seus pais, nem sua fé em um princípio criador, frase

Page 25: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

sem significado que anula o Deus da Justiça e da bondade, a Providência protetora de nossa existência cotidiana, destrui com mesmo golpe a Religião e derruba os altares de toda Fé e de toda a Maçonaria “.

 

constatamos, por sua viva reação, que Pike não adota uma posição filosófica neutra mas que se apresenta como partidário de um Deus pessoal e se coloca como defensor da religião que então, prudentemente, Lausanne quis descartar a Maçonaria deste terreno. Como o “Tratado de União, de Aliança e de Confederação “ define o “Grande Arquiteto do Universo” ? Ao utilizar expressões diferentes que à primeira vista poderiam fazer crer a ambigüidade, mas que, de fato, permitem admitir e manipular os pontos de vista teísta, deísta ou agnóstico.

 Eis as formulações :

1º no preâmbulo :

 

“A Franco Maçonaria é uma instituição de Fraternidade universal cuja origem remonta ao berço da sociedade humana; ela tem por doutrina o reconhecimento de uma Força Superior a qual proclama a existência sob o nome de Grande Arquiteto do Universo “.

 

Page 26: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 

2º na Declaração de Princípios :

 

“A Franco Maçonaria proclama, como tem proclamado desde sua origem, a existência de um Princípio Criador sob o nome de Grande Arquiteto do Universo “.

 

3º no Manifesto :

 

“Para elevar o homem diante de seus próprios olhos, para o torna digno de sua missão sobre a Terra, a Maçonaria afirma em princípio que o Criador Supremo deu ao homem como bem mais precioso, a liberdade, patrimônio da humanidade toda, reinando do alto, o qual nenhum poder tem o direito de extinguir nem de reduzir e que é a busca dos sentimentos de honra e de dignidade “.

( estas três definições são grifadas por mim ) .

 

Para entender o não emprego da palavra “Deus” sujeito a polêmica por alguns Supremos Conselhos, nos coloquemos no contexto da época ; analisaremos a seguir o sentido exato das três definições de substituição.

Page 27: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 

O contexto de 1875 :

-         campanhas antimaçônicas redobradas, nos países católicos, depois que o papa perdeu em 1870 seu poder temporal ;

 

-   atitude ultra conservadora da Igreja católica  que não se pronuncia globalmente contra a modernidade, as liberdades individuais e coletivas, os direitos do Homem, a democracia, o sufrágio universal, a ciência, a filosofia ; em conseqüência, a luta contra a empresa da Igreja surge, a esta época, como a condição obrigada da emancipação das pessoas e dos povos ;

 

-         a radicalização da doutrina católica ( infalibilidade pontifical, proclamação da afirmação : “ fora da Igreja sem salvação “) que vai de encontro à liberdade religiosa.

 

Será pouca surpresa que estas tomadas de posição que afetaram sobretudo os países maioritariamente católicos e originaram ( nas populações como na Lojas maçônicas ) uma rejeição à palavra “Deus” em nome de que eles eram proferidos, que eles tinham formado o leito do positivismo, do cientismo e do materialismo e que haviam motivado o envio do laicismo nos

Page 28: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Estados. Estes fenômenos não afetaram ( nas décadas que precederam Lausanne ) as nações protestantes, em particular anglo-americanas, permaneceram ligadas às suas raízes religiosas  e não cumpriram na justa medida a causa da exacerbação dos espíritos nos países católicos.

 

Teve a Convenção de Lausanne vontade de erradicar toda espiritualidade, de fazer professar o ateísmo ou abrir o caminho ? Absolutamente não ; nós daremos conta que sua neutralidade religiosa não excluía nem o teísmo, nem o deísmo mas que ao evitar toda proclamação explícita, não queria mais impor uma crença precisa mas respeitar a liberdade de consciências  individuais em matérias religiosas e filosóficas. Como primeiras provas :

 

-         a Convenção manteve o lema geral do Rito “Deus Meumque Jus” : “Deus e meu direito”;

 

-         o Presidente Besançon encerra a Convenção “ Em nome Deus , São João e dos Supremos Conselhos Confederados” .

 

Quanto às três formulações utilizadas, elas deixam o campo livre às interpretações nas quais

Page 29: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

cada Maçom poderá encontrar seu entendimento :

 

-         “Criador Supremo “ para o teísta

 

-         “O Princípio Criador “ para o deísta

 

-         “ A Força Superior “ para o agnóstico.

 

 

Mesmo o Supremo Conselho da Inglaterra admite o erro do delegado da Escócia Mackersy em uma circular enviada em 26 de janeiro de 1876 as Oficinas de sua Jurisdição :

 

“Se o delegado escocês permaneceu até o fim da Conferência, não deveria Ter ousado emitir a declaração insustentável que o congresso não havia expresso sua crença em um Deus pessoal... pois o único ponto sobre o qual o Congresso insistiu fortemente, era de se colocar, como princípio fundamental do Rito Escocês Antigo e Aceito, a crença na pessoa de Deus, o Criador Supremo, o Grande Arquiteto do Universo “,

Page 30: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 

e a circular de reconhecer :

 

“Um dos grandes intentos do Congresso foi de provar ao mundo através de seu Manifesto, que o Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria não admitiria jamais em suas fileiras qualquer pessoa que não acredite em Deus como um Deus pessoal, o Criador, o Autor e o Governador de toda coisa, o Jeová “.

 

Para apoiar sua afirmação, a circular recorda as três definições contidas no Tratado : Força Superior, Princípio Criador e Criador Supremo, antes de concluir :

 

 “Se estas palavras não designam o único Deus, que está acima de tudo, e que é um Deus pessoal, nenhuma língua será capaz de fazer “.

          

          

   E durante este tempo Mackersy conseguiu fazer passar a desconfiança do ateísmo ( ainda mais imperdoável porque ele não tinha participado da Convenção até o término) aos Supremos Conselhos um pouco excessivamente empenhados em acreditar em sua palavra. Bem rápido, duas atitudes muito conciliatórias deram ganho de causa aos partidários de Edimburgo. Para evitar uma divisão que predizia fatalmente a existência de duas Declarações de Princípios diferentes para o mesmo Rito, o novo Grande Comendador do Supremo Conselho da Suíça, Antoine Amberny, suplica ao Supremo Conselho da França de se opor à Declaração de Edimburgo, por ser um erro aceitar este último, mesmo

Page 31: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

provisoriamente, na esperança que a Convenção prevista para 1878 em Roma ou em Londres possa encontrar uma solução consensual. Duas atitudes conciliatórias mas falíveis em vez de deixar isolados alguns Supremos Conselhos muito minoritários e ausentes em Lausanne, irão suspender a aplicação do Tratado, farão hesitar os novos aderentes e permitir a qualquer signatário trocar de opinião. A Convenção de 1878 não pode se reunir: tendo terminado a Convenção de Lausanne. Desde então mais nenhuma Convenção universal do Rito Escocês Antigo e Aceito não consegui se reunir. Assistiremos doravante ao aumento progressivo da força dos Supremos Conselhos teístas apoiados pelas Jurisdições americanas; estes últimos acabarão por se tornar lideres nas Conferências Internacionais, após o golpe de força de 1965 que isolou o último partidário da Convenção de Lausanne : o Supremo Conselho da França.

 

QUAIS PERSPECTIVAS PARA O SÉCULO XXI ?

 

“Nele havia Vida, e a Vida era a Luz dos Homens,

E a Luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.”

Prólogo do Evangelho de João, I , 4 – 5

 

Constatações prévias

 

         Não estamos mais no século XIX, acabamos de deixar o século XX, e não obstante muitos ainda não examinaram o Rito Escocês Antigo e Aceito aqui e agora na nossa época mas relativamente a um período completo. Confundindo Tradição e conformismo, perenidade e conservadorismo, eles não medem a amplitude da mutação acelerada na qual a Humanidade inteira está empenhada, mutação

Page 32: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

radical com a qual a Franco Maçonaria de todos os países está confrontada. Trata-se de nos contradizermos de nossas raízes, de evitar artificiosamente ou renegar dois séculos de nossa História, de pregar um modernismo de circunstância para responder aos desafios de nosso século ? Certamente não, mas somente não nos curvarmos sobre nós mesmos nem sobre um passado idealizado afim de olhar a realidade, a realidade de hoje, bem de frente, de opor aos desvios do mundo profano as virtudes iniciáticas e espirituais do nosso Rito e fazer dessa forma um instrumento portador do futuro para os nossos Irmãos em dúvida. Em fase com o dinamismo da vida e aberto ao paradigma da não dualidade universal, o Rito Escocês Antigo e Aceito poderá então se regenerar de si próprio e realizar sua vocação mundialista, tornado-se através de seus diversos componentes da Ordem maçônica o exemplo concreto de uma metamorfose de êxito.

 

Se as religiões institucionalizadas são as primeiras vítimas da mundialização materialista e se omitem, se as sociedades são arrancadas  de suas tradições ancestrais, se  a fecunda diversidade das culturas tende a se uniformizar ao redor de um modelo único, em toda parte se desperta uma necessidade por uma reação, ainda difusa e multiforme, de espiritualidade vivente. Não esqueçamos o que já declarou Albert Schweitzer em 1934:

Page 33: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 

“Uma verdade é inabalável : tudo que se passa na História é baseada sobre o espiritual. Se o espiritual é forte, ele cria a História, se ele é fraco, ele a submete. A questão é saber se nós devemos fazer a História ou a submeter. Nosso pensamento deve ser de uma nova ética e religiosa ? Reconquistaremos um ideal que se oporá à realidade ? Eis a questão que está aberta diante de nós hoje “. ( “Religion in Modern Civilisation “, The Christian Century, Chicago, p. 1483 ).

 

Esta constatação se aplica também, de forma bem evidente, à Maçonaria do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Todos os pensadores atuais concordam em dizer que, para escapar dos perigos que a ameaçam, a Humanidade deve induzir uma nova maneira de pensar. Desta forma Edgar Morin em Terre Patrie :

 

“A reforma do pensamento é um problema antropológico e histórico. Isto implica uma revolução mental ainda mais considerável que a revolução coperniquiana. Jamais na história da humanidade as responsabilidades do pensamento foram tão esmagadoras. O coração da tragédia está também no pensamento “.

Page 34: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 

Teremos nós também, no seio da Ordem Escocesa, reformar nossa maneira de pensar, nos tornarmos lúcidos e inovadores para afrontar o século XXI ?

 

O século XX foi marcado por um fracasso da maior parte das ideologias religiosas, filosóficas, científicas e políticas cujos resultados foram calamitosos para a Humanidade. Felizmente, sinais de uma renovação surgiram aqui e lá : a ciência ( admitindo doravante que uma certeza generalizada é um mito ), reinventa outros paradigmas para explicar a realidade complexa; o racionalismo constata seus limites e apela inclusive para uma lógica paradoxal ; a filosofia, esclarecida pelas últimas descobertas científicas, reconhece que a matéria perseguida em suas últimas barricadas se apaga e se absorve em uma substância única de natureza espiritual ; as religiões ( quando elas não se radicalizam mais no integralismo e fundamentalismo para represar um  mundo e adeptos que lhe escapam ) se abrem ao conceito de um Deus de Amor mais próximo, mais humano e mais tolerante.

Muitas causas explicam a divisão atual do Rito. Primeiro o insucesso da Convenção de Lausanne. Ao definir uma espiritualidade específica ao Rito Escocês Antigo e Aceito desligado da esfera religiosa mas conservando o

Page 35: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Espírito sua supremacia sobre a matéria, ao conciliar uma plena liberdade de consciência ( hoje admitido ) relativamente à idéia que cada um podia se tornar a Última realidade, colide de frente com os Supremos Conselhos  desejosos de manter a concepção teísta do Grande Arquiteto do Universo. Ora, em nossos dias, o antagonismo dualista entre teísmo personalista e deísmo não personalista é assimilado numa interpretação mais ampla, assim já o sugeriu Albert Shweitzer em Aus meinem Leben und Denken ( Minha vida e meu Pensamento, Leipzig 1931 ) :

 

“Todo cristianismo verdadeiramente vivente é panteísta na medida onde deve conceber tudo aquilo que existe como existente no Ser universal. Mas ao mesmo tempo, toda piedade verdadeiramente ética se coloca acima de toda mística panteísta. Pois ela não encontra o Deus do Amor na natureza; ela somente o conhece porque ele se revela em nos  como vontade de Amor. O Ser universal, tal qual se manifesta na natureza, é para nos sempre qualquer coisa de impessoal. Mas, com o Ser universal que se revela em nos como vontade de Amor, nos, nos colocamos em relação como que com uma personalidade ética. O teísmo não está em oposição com o panteísmo, mas ele surgiu de seu solo, como a determinação ética saída da indeterminação natural “.

Page 36: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

 

Para aqueles que alguma vez tentaram compreender a relação entre deísmo e teísmo sem fazer objeto de polêmica religiosa, a questão não oferece muito para tomar partido; infelizmente, alguns de nossos contemporâneos condizem dificilmente que não existe antilogia entre o pessoal e o impessoal, o sujeito e o objeto, a causa e o efeito, o absoluto e o relativo, o finito e o infinito, o temporal e o eterno, o material e o espiritual; optando por um ou por outro deste termos aparentemente antônimos, eles se enclausuram numa percepção dualista, linear, mecanista do mundo e não conseguem içar ao nível superior de  uma Realidade complexa, animada pela inter-relação dinâmica de fatores multidimensionais, a aceitar o caráter incompleto e provisório de todo conhecimento. É portanto o que afirma agora a ciência moderna, reencontrando assim os ensinamentos das Grandes Tradições da Humanidade. O Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito não pode se erguer à concepção de uma substância ou de uma Realidade universais sem no entanto as encerrar numa terminologia religiosa particular e ignorar aquilo que a ciência contemporânea, certa filosofias ou o pensamento oriental concebem a este propósito ? Se o Rito Escocês Antigo e Aceito quiser se fazer ouvir a todas as grandes correntes  de pensamento e se tornar verdadeiramente universalista, não lhe caberá aceitar, ao lado da concepção tipicamente e exclusivamente religiosa de antigamente, a

Page 37: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

possibilidade de uma formulação espiritualmente neutra do Grande Arquiteto do universo, portanto aberto a todas as aproximações e a todas as sensibilidades humanas? Neste domínio também a mundialização em marcha fará pouco caso das querelas  de capelas.

 

A situação bloqueada na qual se encontra o Rito Escocês Antigo e Aceito tem outras causas, bem atuais, que o fracasso de Lausanne. Ela provém notadamente da França onde uma Obediência, se glorificando do reconhecimento anglo-americano e confundindo a intenção de regularidade e reconhecimento, afirma que a invocação do “Grande Arquiteto do Universo “ se dirige exclusivamente ao Deus pessoal das Religiões do Livro ( portanto mesmo que cada uma desta três religiões monoteístas tenha uma concepção diferente das outras duas ! ) e faz crer que esta posição permanece firmemente como aquela da Maçonaria anglo-americana, então que esta aqui, apreciada pelas instituições religiosas com perda de audiência em seus próprios países, reconhece pouco a pouco o bom fundamento da posição de Lausanne.

 

Esta Obediência francesa não hesita em conservar a exclusividade de suas apadrinhações, destilar controvérsias ao estrangeiro para prejudicar aqueles que, permaneceram fundamentalmente e

Page 38: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

sinceramente espiritualistas e fieis aos valores constitutivos do Rito Escocês Antigo e Aceito não sendo menos permanentes dos mais regulares. Persistindo nas falsas alegações durante decênios, eles acabaram por fazer acreditar as novas gerações de Maçons que não estão sempre preparados em conhecer a verdade histórica e os anteriores pensamentos estratégicos: é assim que nascem as lendas enganosas e tenazes.

 

Uma outra causa de bloqueio reside no fato de que existe uma confusão no espírito de certas Jurisdições entre a presença protocolar que implica sempre naturalmente à anterioridade de sua criação e um direito de primogenicidade sobre as Jurisdições mais recentes, se traduzindo por uma fixação unilateral de critérios de regularidade por uma retirada de seu reconhecimento, se houver a menor divergência de ponto de vista ou uma tentativa de não dependência. Nesta matéria, Lausanne conseguiu consagrar plena soberania, igualdade e colegialidade entre todas as Jurisdições.

 

Exceder as probabilidades da História ou sucumbir ?

 

Page 39: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

         O século XXI entrou em uma era planetária com os efeitos felizes e nefastos que o conheceram. Não restam meios para que as instituições, quer sejam religiosas, sociais, econômicas, políticas, não governamentais (O . N. G. ) ou maçônicas, que  possam mais arcar sobre si mesmos com o risco de serem condenadas à estagnação, a regressar, ver desaparecer ; doravante uma visão global e futurista das coisas se impõe, as aproximações e os reagrupamentos tornam-se necessários para sobreviver e gerar novos dinamismos. A tendência não é recente: assim, as duas guerras mundiais fizeram compreender a necessidade de instaurar uma Sociedade de Nações ou de uma Organização das Nações Unidas para tentar regular as relações internacionais. Não enxergam hoje as religiões institucionais, com perda da credibilidade e de efetivos, outrora em conflitos permanentes entre elas, mas no presente confrontadas ao perigo comum do materialismo, do consumismo e da economia ultra liberal induzindo a uma forte desespiritualizaçã o do Homem, escutar-se mutuamente e tentar descobrir os critérios e perspectivas que poderiam os aproximar, fazendo passar a um segundo plano suas diferenças doutrinárias ? Não podiam lamentar que o mundo maçônico, rico em sua diversidade, portador dos ideais do Século da Luzes, podendo se orgulhar de ter sido no passado a vanguarda da conquista dos Direitos do Homem, da justiça social e da democracia, não poder ser para si próprio um

Page 40: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

fermento inovador ? E o Rito Escocês Antigo e Aceito que, bem antes, estava entretanto dotado de uma constituição mundialista visionária, que uso fez dela e qual promessa para o futuro fará ? Continuará ela a se atormentar nas quer ela de um outro tempo, padecer ainda e sempre os trâmites do passado, decepcionar a geração de Maçons já com um pé no século XXI ou lhes oferecer uma formidável perspectiva por vir ? Teríamos nós, no seio de nosso próprio Rito, nos tornados menos clarividentes e menos tolerantes que as Igrejas que outrora nos combateram mas que hoje entenderam a necessidade de revisar seu posicionamento ( Encíclica Ecclesiam Suam de Paulo VI, 1964, e criação de um Conselho pontifical sobre o diálogo interreligioso, Encontro de Assis ), menos capazes que as nações que tentam se federar ( construção européia ), menos hábeis que o mundo da finança ( Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu ), menos audaciosos que a Organização Mundial do Comércio, etc ... ? Teríamos nos tornados incapazes de aplicar a nós mesmos nossos próprios ideais para nos colocarmos em adequação com os nossos princípios, de abrir simplesmente nosso coração ao diálogo, à conciliação e à Fraternidade antes de perseguir conflitos irrelevantes ao olhares mundiais e de nos refugiarmos passivamente atrás de teses obsoletas ? Não é necessário ser um grande sábio para predizer que se continuarmos a nos ignorar ou a nos anatemizar mutuamente, daremos desta forma a

Page 41: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

demonstração que nos cortamos nossas raízes vivificantes do Espírito e da Vida: o enfraquecimento e a marginalização inexoráveis do Rito Escocês Antigo e Aceito serão as funestas conseqüências.

 

O tempo é chegado para o Rito Escocês Antigo e Aceito reconsiderar positivamente e criativamente o por vir das relações internacionais entre os Supremos Conselhos regulares. Se temos realmente o desejo e a vontade, um desbloqueio da situação poderá se efetuar progressivamente, sem mudar de atitude nem incriminar nossos primórdios : primeiramente esquecer o passado para poder imaginar criativamente o por vir; cessar a seguir de declarar irregulares as Jurisdições preenchendo todos os critérios tradicionais da Regularidade ; tornar possível as intervisitas ; deixar contatos confiantes e  fraternais se unirem ; nos reconhecermos mutuamente como co-herdeiros e co-responsáveis de um mesmo Rito ; viabilizar e realizar finalmente a reconciliação da família escocesa. Certamente, as Grandes Constituições não autorizam senão um Supremo Conselho por país, mas se quisermos um dia voltar a este ideal, tornar-se-á necessário começar por nos reencontrarmos e dialogar durante um período intermediário; se não pudermos conseguir, resta a solução de adaptar as Grandes Constituições à realidade dos fatos : nossos antecessores em seu tempo legislaram a

Page 42: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

este respeito, por que não poderemos fazer o mesmo, visto que aquilo que se reclama das Grandes Constituições antes de 1875 está longe de poder os aplicar tais quais estando portanto na irregularidade que denunciam. A mundialização em curso, a situação internacional deletéria e o estado atual da Franco Maçonaria pleiteiam em favor de uma concentração pacífica : não podem faltar reuniões se não se deseja ser ultrapassado ou esquecido no curso dos acontecimentos. Pertence aos Maçons Escoceses de boa vontade, lúcidos e criativos, tomar o destino em suas mãos.

 Quem abrirá seus olhos sobre nosso mundo porvir ?

 Quem estenderá uma mão fraternal ?

 Quem responderá ao apelo da História ?

 

Não poderíamos apoiar melhor nosso apelo em renovar a diálogo no seio da Família Escocesa senão lembrando a alocução de encerramento do Grande Comendador do Supremo Conselho da Suíça, organizador da Convenção de Lausanne :

 

 “A Convenção maçônica de Lausanne terminou seus trabalhos ; antes de os fechar, vosso presidente exprime seu reconhecimento ; nunca  uma empreitada tão temida  se tornou tão fácil

Page 43: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

graças ao vosso espírito fraternal e vossa indulgência.

 

Elas eram de uma grande gravidade, as questões submetidas à vossa deliberação e que felizmente resolvestes :

 

-         finalizar a obra de 1786, apropriando as Grandes Constituições às aspirações de nossa época e sem os privar desta característica de elevada sabedoria que distinguia nossos ancestrais em maçonaria. Nossos esforços foram, assim o esperamos, coroados do maior sucesso ; não tivemos de vencer nenhuma resistência, e cada um de nos pode levar sua pedra ao edifício comum ;

 

-         firmar as bases do Tratado de Aliança entre os Supremos Conselhos Escoceses e estreitar mais ainda os laços que os unem. Lá ainda, grandes progressos foram realizados; a Maçonaria Escocesa será doravante um feixe indestrutível, uma só família, apesar da distância, apesar das diferenças de usos e  costumes, de nacionalidades, de religiões; é o ideal da Maçonaria.

 

Page 44: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

A Convenção não desejou se separar sem antes dirigir um manifesto caloroso a todos os amigos da luz e do progresso. A Maçonaria Escocesa os associa a seus trabalhos e os convida a lutar com ela contra a intolerância e os preconceitos.

 

Estas grandes, estas importantes decisões foram tomadas de um só coração, de uma só alma, como convém a verdadeiros Maçons. A Arte real possuirá novas forças para lutar contra as trevas da superstição e da ignorância. A fé Maçônica se reacenderá, todas as Oficinas serão doravante focos de luz, cuja influência benfeitora invadirá o mundo e o transformará. Possa o Grande Arquiteto do Universo satisfazer nossas esperanças e fecundar o campo onde trabalhamos ! “

 

Infelizmente, as esperanças do Grande Comendador da Suíça e dos iniciadores de Lausanne foram frustradas bem rápido !

Neste caso que o Concílio Vaticano II conseguiu corrigir Vaticano I e se colocou em harmonia com a sua época, o Conselho Pontifical para o Diálogo interreligioso não teve receio de escrever, a propósito de uma aproximação positiva das tradições religiosas:

 

Page 45: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

“Estas tradições devem ser aproximadas com grande respeito, por causa dos valores espirituais e humanos que contêm. Elas requerem nossa consideração pois, através dos séculos, elas foram a testemunha dos esforços para encontrar respostas aos enigmas escondidos da condição humana... O diálogo interreligioso não tende simplesmente a uma compreensão mútua e às relações amigáveis. Ela chega a um nível muito mais profundo, àquele do espírito, onde a permuta e a partilha consistem em um testemunho mútuo daquilo que cada um crê e uma exploração comum das convicções  religiosas respectivas. ..

 

O diálogo sincero implica de um lado que se  aceite a existência de diferenças e mesmo de contradições, e por outro lado que se respeite a livre decisão que as pessoas tomam de acordo com os imperativos de sua consciência.. . É num diálogo atento que é necessário saber reconhecer e acolher os valores culturais que favorecem a dignidade do homem e de sue destino transcendente. .. Poderá também ajudar a promover valores culturais tradicionais ameaçados pela modernidade e o nivelamento por baixo que toda internacionalizaçã o indiferenciada pode trazer consigo... “ ( Atas da Santa-Matriz : “Diálogo e Anuncio “19 de maio 1991 ) .

 

Page 46: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Neste caso em que esta abertura em andamento na Igreja católica, e já comprometida do lado protestante e ortodoxo, leva a contatos regulares entre o cristianismo e o judaísmo, o islamismo e o budismo para um melhor conhecimento recíproco, quem é por nós ? As religiões que aceitam hoje a tolerância mútua que defendíamos no século XVIII, foram um surpreendente avanço para os Maçons que pareciam tem regressado neste domínio !

 

         Os Maçons Escoceses serão incapazes de seguir uma evolução semelhante ? Serão eles devassados por aqueles que, tornados conscientes da necessidade de resistir à dominação técnico-econômico, já se compõem para a instauração de uma cidadania mundial humanista e espiritualista ? Irão deixar escapar a oportunidade e a vantagem que lhes dão suas Grandes Constituições internacionalistas pelo fato de os ajustar e se adaptar eles mesmos à realidade e às exigências do mundo contemporâneo ? Um mínimo de realismo e de fraternidade lhes irá permitir aceitar um diálogo interjurisdicional e se abrir um dia à esperança de um Lausanne II ?    

 

As reuniões internacionais dos Supremos Conselhos regulares do mundo, impulsionados pelo Supremo Conselho da França desde 1995 e reunindo a este momento vinte e seis Supremos

Page 47: A CONVENÇÃO DE LAUSANNE

Conselhos distribuídos sobre três continentes trazem um elemento de resposta a esta questão essencial.