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Um Desafio a Servir a Deus no Mundo ABU TIVE FOME Não se pode negar que estes são dias críticos. Há razão para a chamada "febre apocalíptica". O mundo enfrenta ameaças e perigos que seriam inimagináveis nos tempos neotestamentários: a crise ecológica, a crise de alimentação e populacional, e o perigo nuclear. Cada um destes exemplos está ligado a outros e tudo se . omplica ainda com a crise energética. Cada um é uma bomba-relógio capaz de praticamente acabar com a vida humana, ou pelo menos om a vida civilizada. O que o cristão deve fazer nestas circunstâncias? E, especificamente, como deve viver? Esta é a questão que estes ensaios nfocam com visão e sensibilidade bíblica, colocando a vida cristã da era apocalíptica no contexto apropriado do Reino de Deus, e sob o exemplo e senhorio de Jesus Cristo, falando com especial objetividade para a situação latino-americana atual. "Então'dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque TIVE FOME e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; preso e fostes ver-me." (Mateus 25: 34-36) Samuel Escobar Iohn R W Stott Valdir R Steuernagel Carlyle C Dewey Prefácio de Howard A Snyder

Tive Fome - Série Lausanne, Ed. ABU

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Um Desafio a Servir a Deus no MundoABU

TIVEFOMENão se pode negar que estes são dias críticos. Há razão para

a chamada "febre apocalíptica". O mundo enfrenta ameaçase perigos que seriam inimagináveis nos tempos neotestamentários:a crise ecológica, a crise de alimentação e populacional, e o perigonuclear. Cada um destes exemplos está ligado a outros e tudo se .omplica ainda com a crise energética. Cada um é uma bomba-relógio

capaz de praticamente acabar com a vida humana, ou pelo menosom a vida civilizada.

O que o cristão deve fazer nestas circunstâncias?E, especificamente, como deve viver? Esta é a questão que estes ensaios

nfocam com visão e sensibilidade bíblica, colocando a vida cristãda era apocalíptica no contexto apropriado do Reino de Deus, e sobo exemplo e senhorio de Jesus Cristo, falando com especialobjetividade para a situação latino-americana atual.

"Então'dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditosde meu Pai! entrai na posse do reino que vos está preparadodesde a fundação do mundo. Porque TIVE FOME e me destesde comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiroe me hospedastes; estava nu e mevestistes; preso e fostesver-me." (Mateus 25: 34-36)

Samuel EscobarIohn R W Stott

Valdir R SteuernagelCarlyle C Dewey

Prefácio deHoward A Snyder

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Tive FomeUm desafio a servir a Deus no mundo

Direitos reservados pelaABU Editora S/C.O segundo capítulo, A Compaixão de Jesus,foi traduzido do original em inglês,Walk in His Shoes, C Inter- Varsity Press,1975, sendo publicado com apermissão de Universities and ColIegesChristian FelIowship, 38 De Montfort Street,Leicester, Inglaterra.

A ABU Editora é a publicadora daAliança Bíblia Universitária do Brasil - A. B. U. B.

O artigo, Integridade de Compromisso, foitraduzido por Renira Appa Cirelli

1.a Edição -19832. a Reimpressão - 19863. a Reimpressão - !l!!2-ABU Editora S/CCaixa Postal 3050501051 São Paulo SP.CGC 46.394.169/0001-74

VISÃO MUNDIALCaixa Postal 848,

.' 30.000 Belo Horizonte, MG

ÍndicePrefácio. . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . .. 51. Servir a Deus no Mundo - Samuel Escobar . . . . . . . . . . . . 92. A Compaixão de Jesus -lohn R. W. Stott 213. Cristo e Anticristo na Proclamação -

Valdir R. Steuernagel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 334. Integridade de Compromisso - Carlyle C. Dewey. . . . . . .. 43

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Prefácio

Não somos os primeiros cristãos a viver os tempos apocaIípticos.A Igreja primitiva esperava o retorno iminente de Jesus. Osescritores do Novo Testamento viam os eventos mundiais cami-nhando celeremente para um clímax. Guerras e rumores deguerras abundavam. Mas aqui estamos, dois mil anos depois,aproximando-nos do ano 2.000. O mundo ainda existe e Cristoainda não voltou.

Encarando estas realidades, a Igreja é confrontada com duastentações. Uma é desistir e perder a esperança da volta de Cristo,ou viver como se ela não estivesse próxima. A outra, igualmenteperigosa, é pegar a febre apocaIíptica: ver cada notícia como queapontando para um repentino clímax da História e nos preocu-parmos, não em salvar o mundo, mas apenas em esperar a sua-destruição. Esta preocupação pode ser uma cilada do inimigo,paraJizando a Igreja e impedindo-a de fazer exatamente otrabalho para o qual Deus a designou nestes dias críticos. '

Não se pode negar que estes são dias críticos. Há razão para afebre apocaIíptica. O mundo enfrenta ameaças e perigos queseriam inimagináveis nos tempos neotestamentários: a criseecológica, a crise de alimentação e populacional, e o perigonuclear, por exemplo. Cada um destes exemplos está ligado aoutros e tudo se complica ainda com a crise energética. E cadaum é uma bomba-relógio capaz de praticamente acabar com a

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vida humana, pelo menos a vida civilizada.O que o cristão deve fazer nestas circunstâncias? E, especifi-

camente, como deve viver? Esta é a questão que estes ensaiosenfocam com visão e sensibilidade bíblica, colocando a vida cristãda era apocalíptica no contexto apropriado do Reino de Deus, esob o exemplo e senhorio de Jesus Cristo, falando com especialobjetividade para a situação latino-americana atual.

Dissertando sobre "servir a Deus no mundo", Samuel Esco-bar analisa o atual interesse apocalíptico na sociedade e na Igreja.Ele demonstra como o dualismo medieval entre o "sagrado e osecular" tem infestado, "de contrabando", a Igreja evangélica naAmérica Latina. Isto tem levado a uma espiritualidade nãobíblica que restringe a missão cristã à evangelização apenas.Escobar acertadamente aponta para a necessidade de recuperar osentido bíblico mais amplo da missão dada à igreja. Fazendoassim, ele não despreza a evangelização, mas mostra como seencaixa na missão do Reino. Usando o exemplo de Paulo,conclama a um ministério cristão marcado pela integridade, pelainiciativa, pela esperança, e pelo realismo.

John Stott, que em muitas de suas obras tem demonstradosensibilidade pelo problema social, pelo pobre e pela AméricaLatina, insiste em que os cristãos devem seguir os passos de Jesusse desejam ser dignos de se chamarem de cristãos hoje. E istosignifica seguir o exemplo de Jesus nas questões de estilo de vida ede ministério.

Nós precisanios ser, como Jesus, aqueles que "andavamfazendo o bem". Stott faz uma crítica pertinente à tendência detomar a Grande Comissão de Mateus 28: 19 como a definiçãototal ou primordial da missão da Igreja. A Grande Comissãoprecisa ser vista à luz de outros mandamentos que Jesus nos deu,e especialmente à luz do grande mandamento de amar a Deus eao próximo acima de tudo o mais. Seguir a Jesus requer este tipode sensibilidade ao que Jesus disse e fez.

",Analisando a questão "Cristo e Anticristo", Valdir Steuerna-gel afirma que vivemos na era da Igreja, e que a Igreja é chama-da para a missão como povo peregrino. "Estar a caminho é anossa vocação"; "a Igreja é de vanguarda e não de retaguarda".A essência da Igreja e o centro da proclamação são a pessoa deJesus Cristo. Mas esta essência e esta proclamação estão orienta-das para o futuro. O evangelho é uma mensagem escatológicaporque se focaliza não apenas no relacionamento pessoal comDeus, mas no futuro e no objetivo final do cosmo mesmo.Steuernagel apresenta uma visão bíblica equilibrada, observando

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PREFÁCIO

que salvação envolve não apenas reconciliação com Deus e com osoutros mas também com o mundo natural. Então ele aplica estaperspe'ctiva à América Latina ~ à quest~o do Anticristo de ~I?amaneira útil e provocante. AqUI temos alimento p.ara um p~SlCIO-namento apocalíptico cristão que é fiel aos propósitos do Remo deDeus revelados em Jesus Cristo.

Carlyle Dewey analisa as im~licações prát~cas do envolv}men-to cristão em serviço a comumdades necessitadas, com enfaseespecial em situações rurais. Em pinceladas rápid~s, co~ta .ahistória de vários projetos no interior, mostrando a importânciada identificação e do trabalho em equipe.

Recomendo este livro calorosamente aos meus irmãos e irmãsda igreja latino-americana, e especialmente à igreja evangélica noBrasil. O Brasil, tem-se dito, tem o segundo lugar em popula~ãocristã evangélica no mundo (Global Report da World EvangelI~alFellowship, Julho/Agosto 1981). A igreja evangélica da ~m~ncaLatina tem uma importância estratégica para a causa da JUSt1ç~edo direito no mundo hoje. Mas ela s6 poderá ter o seu revolucio-nário papel-chave no Reino de Deu: se for fiel ao se.u Senhor JesusCristo, conforme revelado nas ESCrituras. Ela precls.a ter sabedo-ria para fixar um rumo que seja fiel tanto à Escntu~a como àrealidade latino-americana; desenvolver uma teologia e uma"práxis" de libertação que seja radicalmente mais bíblica e, porisso mais efetiva e redentiva que as opções (tanto estrangeirasqua~to nacionais) atualmente competindo por aceitação na Amé-rica Latina.

Acima de tudo, estes ensaios proporcionam uma necessáriacorreção ao tipo de apocalipticismo que tão facilmente se tornamoda e causa um desvio do trabalho para o qual Deus chamou aIgreja. Interesse apocalíptico? Sim, mas com a razão. E, prec~sa-mente por isso, a Igreja precisa seguir. os .passos ~e Jesus, a.tnlhado serviço, da reconciliação, e do sacrifício próprio pelo Remo;deDeus em um mundo sofrido e em perigo. t

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Servir a Deus no MundoSamuel Escobar

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No final de uma emocionante mensagem sobre o arrebata-mento, um certo missionário exclamou: "No céu não haverápontes. Para que então perder tempo estudando engenharia?Deixe tudo e venha à nossa escola bíblica. Prepare-se para salvaralmas, que isso é o que importa." Vários adolescentes alipresentes foram à frente, em resposta ao apelo. Alguns, efetiva-mente, abandonaram os estudos e foram à escola bíblica daquelemissionário.

A jovem universitária que me descreveu a cena estava conven-cida de que o argumento do missionário não era bíblico, nemmesmo lógico porque, em última análise, tanto a escola bíblicacomo o missionário dependem da gente comum que trabalhafazendo pontes, dirigindo negócios, curando doentes ou criandoos filhos. Porém, dizia ela, para um adolescente tornava-se dificilresistir à pressão do grupo naquele acampamento, onde seconsiderava pouco espiritual quem não fosse à escola bíblica,"entregando-se totalmente". A atmosfera apocalíptica criadapelos estudos, assim como os hinos e os filmes, tudo era dirigido aprod uzir uma "decisão" nos ouvintes.

Lamentavelmente, este tipo de "ministério juvenil" começa aproliferar na América Latina, fazendo-se necessário recuperar oconceito bíblico e evangélico do que seja servir a Deus no mundode hoje com os dons, estudos e oportunidades de cada crente.

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Estamos falando de uma "atmosfera apocalíptica" e, portan-to, vale a pena considerar essa expressão. Atualmente vivemosnuma época apocalíptica. Hoje, não é somente o cristão fervoro-so que fala do "fim do mundo", de um beco sem saída, de umiminente final caótico para toda a raça humana. Este tipo delinguagem apocalíptica está na boca dos jornalistas, dos homensde ciência, das pessoas do chamado Clube de Roma, do secretáriodas Nações Unidas, e assim por diante. Tem crescido a consciên-cia de que nós, os seres humanos, pela nossa forma irracional deexplorar a criação, pelo egoísmo nacionalista, racista ou classista,pela fabricação descontrolada de material bélico, estamos quaseprestes a varrer a vida humana do planeta. Algum estrategistaou general descontrolado, da Rússia ou dos Estados Unidos,poderá colocar em funcionamento um horrível maquinário dedestruição. A pressão dos terroristas de todo tipo, num lugarcomo o Oriente Médio, poderá provocar o caos de uma guerramundial, que será a última, pois poucos sobrarão. Como ojornalista, a literatura, e todos os meios de comunicação de massanos dão acesso a dados que comprovam esta possibilidade de umcaos, a ansiedade das pessoas que se detêm a pensar no assuntoteI? se transformado em angústia, em nosso tempo. Na culturaocidental, a palavra "apocalipse" relaciona-se com o último livroda Bíblia e com a consumação da Hist6ria; daí utilizar-se oadjetivo apocalíptico para descrever o estado de ânimo de umaépoca como a nossa.

A Hist6ria nos diz que houve outras épocas similares, geral-mente localizadas numa região ou cultura determinada. Porexemplo, quando os bárbaros começaram a invadir o ImpérioRomano, e este começou a desmoronar-se, tanto pelos ataquesexternos como pela decadência moral e cívica interna, muitosacreditavam que havia chegado o fim do mundo. Foi nessa at-mosfera que Santo Agostinho escreveu o seu famoso livro ACidade de Deus, que é um intento magistral de formular umavisão "cristã da Hist6ria. Alguns historiadores assinalam que,quando se aproximava o ano 1.000 da nossa era, isto é, o primeiro~ilênio, proliferaram na Europa os livros de tendência apocalíp-tica e estudos sobre as profecias bíblicas a respeito do fim domundo. A revolução e o despontar de Napoleão coincidem com oaparecimento de uma literatura apocalíptica no mundo de falainglesa. Dessa época datam alguns dos sistemas de interpretaçãodas profecias bíblicas, hoje populares em certos círculos ingleses enorte-americanos, e em igrejas de outras partes do mundo quetêm recebido essa influência. A diferença em nossa época é que

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esta sensação de um fim próximo da história humana estáafetando setores cada vez mais amplos da raça humana, transcen-dendo as barreiras nacionais e culturais. Além disso, as possibili-dades reais de que o próprio homem destrua o planeta e a vida deseus habitantes, como também a informação generalizada acercade tais perspectivas, aumentaram consideravelmente.

A Atitude Evangélica

O cristão que leva a sério a palavra de Deus, caracteriza-se pormanter uma atitude vigilante quanto ao fim da História. Tanto oensinamento de Jesus quanto o dos apóstolos, e a forma como elesinterpretam o Antigo Testamento, assinalam um fim da Históriavinculado com a manifestação final, contundente, do trinfo deJesus Cristo sobre a morte, sobre o pecado e sobre as forças domal. O ensino de Jesus nas parábolas sobre o juízo final, comotambém nos seus discursos chamados escatológicos, coincide coma firme advertência: "Vigiai". Ao mesmo tempo, exorta-nosrepetidas vezes contra a tentação de especular sobre tempos edatas. Cremos que é importante lembrar estes dois elementos doensino do Senhor.

Tem-se especulado muito sobre os detalhes, esquecendo-se aclara intenção que a maioria das passagens reflete, e que se notade imediato, comparando os mesmos textos. No ensino apostóli-co, ambas as expressões - vigiar e não especular - permanecemdistintivas, agregando-se a elas uma dimensão de conseqüênciaséticas, e relacionando a verdade do Senhor com a atitude práticacorrespondente à vida diária, enquanto ele não vern.!

Observemos dois aspectos numa' atitude do apóstolo Paulo:por um lado, a certeza e a expectativa da vinda de Cristo; e poroutro, um sentido prático da vida, que não se perde em especula-ções ociosas ou num escapismo irresponsável. Assim, por exem-plo, há uma clara advertência em Corintios: "O tempo seabrevia ... a aparência deste mundo passa ... " (1 Co 7:29-31). Semdúvida, quando a especulação escatol6gica leva alguns à ociosida-de e a andar desordenadamente, tentando viver às custas dbpr6ximo sob uma capa de espiritual idade, o seu ensino é contun-dente: "Se alguém não quiser trabalhar, não coma também" (2Ts 3:6-13). Como pastor, pregador e apóstolo, Paulo sabe que oseu trabalho é digno e que a igreja está sendo justa ao sustentá-Io.Algumas vezes, entretanto, por razões não muito claras, Pauloprefere realizar algum trabalho cotidiano, em vez de depender deofertas dos irmãos (1 Ts 2:9 e 2 Co 11:9). Porém, na parte ética do

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final de quase todas as suas epístolas, Paulo exorta ao cumpri-mento consciente dos deveres cotidianos, a fazer- bem as coisas,sejam elas grandes ou pequenas. Na vida dos crentes para quemescreve não deve existir uma atitude de exaltação ao trabalhoespiritual, na igreja, e fazer de má vontade e de qualquer jeito astarefas do dia-a-dia. Em outras palavras, Paulo crê na iminênciada chegada do Senhor. e também que, quando ele vier, deve nosencontrar vigiando e realizando com eficiência o que ele nosconfiou. Logo, deixar a profissão, o neg6cio ou o serviço, eingressar numa escola bíblica a fim de dedicar-se à evangelização,porque a chegada de Cristo está iminente, -não é um ensino quecorresponde ao espírito do ensino de Jesus ou dos apóstolos. Tema aparência de espiritualidade, mas é uma traição ao espírito e àforma do ensino bíblico.

Ao ler os evangelhos, observamos como Jesus chama os dozede suas ocupações e realidades mais diversas, quando eles estãoem pleno trabalho, para se dedicarem inteiramente à tarefa depreparar-se e pregar (Me 1:16-20; 2:13-17: 3:13-19 e passagensparalelas nos demais evangelhos). No âmbito da nação israelitado primeiro século, este tipo de comunidade ao redor de ummestre ou profeta era legítimo e admissível. Inclusive, ajuda-nosmuito considerar o âmbito do Antigo Testamento e da históriajudaica da época anterior a Jesus, para encontrarmos as caracte-rísticas especiais do seu chamado - as mesmas que ocorreramantes na chamada divina do profeta, do levita ou do servo especial.O que não há no Antigo Testamento, nem tão pouco nos evange-lhos, nem na prática e no ensino apostólico é a idéia de que a vidado servo de Deus, que dedica todo o seu tempo à tarefa proféticaou apostólica, é superior ou mais importante do que a do maiscomum dos mortais. É uma questão de chamada, de uma vocaçãoespecífica a uma tarefa específica. Porém, não se espera que todosse dediquem a ela com a sua máxima inspiração. Por isso, Paulopôde dar forma à sua equipe de colaboradores com todanaturali-dadê, e escrever as suas cartas a todos os crentes, não importandoa atividade deles na vida. Por isso mesmo, ele pôde intercalarperíodos de dedicação exclusiva â pregação e ao estabelecimentode igrejas, com períodos de trabalho manual para o qual estavacapacitado: a confecção de tendas. Por isso, também, quando aajuda social na igreja de Jerusalém requereu pessoas com talentoadministrativo, a fim de que os apóstolos pudessem dedicar-se aoensino e ã oração, nomeou-se uma equipe de diáconos cujatarefa administrativa e de relações humanas requeria uma espiri-tualidade semelhante à dos apóstolos (At 6). De onde, então,

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apareceu o desprezo aos trabalhos chamados seculares, que setorna cada vez mais agudo em nossa época apocalíptica?

Dualísmo Medieval Reeditado

Esse desprezo pelo secular vem, em parte, da influência medievalsobre o ambiente católico. É uma característica de nossa culturaíbero-americana desprezar o trabalho manual e exaltar as tarefasintelectuais e religiosas. Isso se manifestou claramente na épocacolonial, onde se reproduziram e se conservaram atitudes típicasda Idade Média. Posteriormente, mesmo com a secularização,ainda persiste a exaltação "espiritual" e o desprezo do mate-rial. Na época medieval, isso correspondia a um dualismo deorigem grega que considerava a realidade material como "má".Por não atender ao ensino bíblico sobre a criação, havia surgidouma teologia que fazia uma divisão acentuada entre o material eo espiritual. Essa posição é claramente antibíblica. A reformaprotestante transformou essa atitude desenvolvendo, naquelespaíses onde teve influência, uma nova ética de trabalho e deatividade econômica, uma revalorização das atividades não espe-cificamente religiosas, um descobrimento do mundo seculardentro do desígnio divino.? Com Lutero e Calvino, a Europaaprendeu a valorizar tanto a mulher que varre a casa, como omonge que canta as suas orações.

O dualismo voltou a entrar na teologia de muitos evangélicoslatino-americanos, de contrabando, através de uma "espirituali-dade" que, embora seja tida como evangélica e seja popular emcírculos evangélicos, é verdadeiramente grega e medieval. Encon-tramo-Ia, por exemplo, entre os que aceitam as idéias deWatchman Nee e os que adotaram a forma extrema do dispensa-cionalismo da Bíblia Scofield. J

Este dualismo dá um valor extremo ao "espiritual", enfati-zando a evangelização como a atividade suprema, à qual deveriadedicar-se o cristão. Melhor dizendo, reduz a missão à evangeli-zação. Ao não dar a devida importância à ética bíblica, simples-mente adota a ética do mundo, e faz com que as pessoas vivamuma existência dicotômica. Na vida profissional, nos negócios, naindústria, adota-se a ética do mundo, e no domingo busca-se umacompensação com uma intensa atividade religiosa. O trágico éque então encontramos muitos dos chamados crentes com umavida dupla.

O desprezo pela atividade material ou secular, em muitoscasos, leva também à mediocridade, pois se faz de má vontade o

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que se tem que fazer todos os dias. S6 se sente "realizado" aosdomingos, estando na igreja. Tem-se uma leve suspeita de queDeus vê com bons olhos o seu serviço religioso, não se importandomuito com a qualidade do seu serviço profissional ou da ética neleaplicada. Numa atmosfera imbuída de tal mentalidade, não é dese estranhar que a pregação escapista de missionários, como acitada anteriormente, encontre eco e aceitação.

O corretivo para essa atitude é, em primeiro lugar, comotambém o foi na época da reforma, regressar ao ensino bíblicopleno. O dualismo escapista tem espiritualizado a leitura daBíblia, e geralmente não dá a devida atenção ao Antigo Testa-mento, nem à totalidade do Novo Testamento.

O Novo Dicionário Bíblico nos diz em seu verbete Homem:"No desenvolvimento da doutrina do homem, a Igreja ficoudebaixo da influência do pensamento grego com seu contrastedualista entre a matéria e o espírito. Colocava-se ênfase sobre aalma com sua 'faísca divina,' e havia tendência do homem serconsiderado como uma entidade individual auto-contida, cujaverdadeira natureza podia ser entendida pelo exame dos elemen-tos separados constituintes de seu ser." 4 Este dualismo se vê commais força hoje no mundo católico,

A verdadeira antropologia bíblica "de nenhum modo ensina oconceito de que o corpo é um impedimento inútil e um estorvopara a alma, que deve eliminar-se na primeira oportunidade. Éimportante observar que nunca nos induz a desonrar ou maltra-tar o corpo. Pelo contrário, o período da vida no corpo terreno éde considerável importância. No trono do juizo, por exemplo,seremos recompensados pelas ações "feitas no corpo". Obvia-mente considera-se que o corpo provê os meios pelos quais podemexpressar-se os valores morais inerentes à alma.">

A consideração desta antropologia bíblica reflete-se na ma-neira em que se concebe a vida cristã, tanto a salvação como o quevem depois da salvação. O biblista Hoke Smith diz claramente:"A salvação que Cristo oferece abarca a totalidade do homem,sim, sua vida carnal, o que come, suas dores, suas fraturas, suasenfermidades corporais ou mentais. Cristo Jesus veio para quetenhamos vida e para que a tenhamos em abundância; nãoparcial, para uma parte do nosso ser, mas vida abundante queabrange a totalidade do nosso ser. Tudo o que Deus criou é objetodo seu amor e de sua obra redentora." 6

A tarefa teol6gica e pastoral de evidenciar as conseqüênciasdessas verdades na vida diária é urgente na América Latina. Umde seus aspectos é reanimar o ensino bíblico sobre ética pessoal e

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social, que nos oriente quanto à qualidade de vida do cristão nomundo.

Paulo: Homem do Mundo.

Já que falamos de Paulo, e já que ele é usado muitas vezes com.obase do dualismo que estarnos criticando, tomemos a personali-dade do pr6prio apóstolo corno exemplo do que significa servir aCristo no mundo.

A.o ressaltar certas características de Paulo, não o estam osapresentando como um modelo a seguir à risca, mas ~omo opossuidor de certas virtudes básicas que nos podem servir comoponto de referência. Assinalamos algumas marcas de um carátercristão, o que realmente é preciso para servir a Cristo no mundode hoje.

O capítulo 27 do livro de Atos narra a viagem de Paulo deJerusalém a Roma. O relato da viagem por mar entre Bons Portose Malta é uma peça literária, aclamada desde a antigüida~e comouma pequena obra-prima da literatura. Em nossas leltu:as eestudos deste capítulo, vemos aflorar todo um retrato magistralda personalidade de Paulo, refletida numa situação crítica. Comefeito, a tormenta que caiu sobre o pequeno barco em que estavaviajando era tão grande que, em determinado momento, apod~-rou-se deles o desespero. O autor diz: "E, não aparecendo, haviajá alguns dias, nem sol nem estrelas, caindo sobre nós grandetempestade, dissipou-se afinal toda a esperança de salvamento"(At 27:20). É precisamente nessa situação crítica que se vê toda agrandeza da pessoa de Paulo. A crise traz à luz o que as p~ssoassão em verdade. No relato de Lucas, Paulo aparece de maneira VI-

sível e palpável, no meio do barco castigado pela tormenta. Háquatro momentos que revelam quatro sinais do caráter de Paulo.São eles:(1) Integridade. Paulo, viajando como prisioneiro, estava emsituação inferior em relação às outras pessoas. Não obsta~te,Lucas nos diz que o centurião Júlio tratou Paul? c~mhumaDlda~de, permitindo-lhe ir ver os amigos e obter assistência (v.J), FOIum prisioneiro que ganhou a confiança do guarda, a ponto dereceber um tratamento especial. É evidente, para quem lê o relatoda sua prisão e o longo período de espera em Jerusalém (cap. 21 a26), que Paulo foi ganhando respeito, mesmo das. autondadescorruptas e subornáveis. Não se tratava d~ um pr~slonelro quetivesse "padrinhos" no sistema, ou que tivesse dinheiro parasubornar os carcereiros; a integridade do caráter, a firmeza das

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convicções e a decência revelada na vida diária é que conquista-ram essa consideração especial por parte do centurião. Ao longodesses capítulos, o apóstolo testemunhou em situação bastantedesvantajosa. Testemunhar e evangelizar quando somos donos datribuna e temos pessoas à escuta, é uma coisa; mas quandoestamos nas mãos dos demais, é outra coisa!

Lembremos a ênfase de Paulo na sua integridade. Mais deuma vez colocou Deus por testemunha. Aos tessalonicenses, disseclaramente que nem o seu estilo nem a sua motivação tinhamsegundas intenções (1 Ts 2:3-6). Que diferença! Há tantos"apóstolos" modernos, cujas finanças e truques publicitários nãorefletem integridade, ainda que sejam muito "espirituais"! E omundo daqueles tempos, como o mundo de hoje, necessitavadesesperadamente de homens íntegros. Homens dignos de con-fiança, ainda que sua missão os houvesse colocado como prfsio-neiros.

É possível que um teólogo, com a pretensão de ser "atualiza-do" sorrie frente ao termo integridade, achando-a uma virtudeburguesa, e provavelmente dirá: "Não temos por que falar dela".Porém, a menos que existam homens íntegros em nossa AméricaLatina, não haverá revolução nem mudança estrutural que nosconsiga tirar do naufrágio político e institucional em que estam os.E, para viver a vida de servo no mundo, precisamos pedir a Deuso dom da integridade de caráter, ainda mais que o dom delínguas, atrevemo-nos a dizer. Porque não há algo mais destrutivopara o testemunho evangélico do que um misticismo e umaespiritualidade sem ética, sem integridade.

Um pouco mais tarde, no primeiro século, os escritos doapóstolo Pedro insistem na integridade como marca da vidacristã, ainda que, esclarece-nos ele, quando uma sociedade estáem decadência moral e espiritual, a integridade não garante que ocristão será aceito e respeitado (1 Pedro 2 e 3, especialmente3: 1-3-18).

(2) Iniciativa. Os responsáveis pelo navio, o capitão, o dono da.carga e o centurião, verificam qual o rumo que a viagem há detomar, porque a tempestade perigosa estava já avançada (vs,7-12). Não sabemos se convidado à deliberação, ou adiantando-sepor conta própria, Paulo interveio. Havia-se perdido muito tempoe já era perigoso viajar por mar, porque se aproximava o inverno.Por isso Paulo lhes aconselhou, dizendo: "Senhores, vejo que aviagem vai ser trabalhosa, com dano e muito prejuízo, não só dacarga e do navio, mas também das nossas vidas" (vs 9,10).

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Os responsáveis não escutaram o conselho desse viajanteexperimentado, que era apóstolo. Que razões e motivos prevalece-ram? Levando em conta que a carga era trigo e o destino eraRoma, bem poderia tratar-se de razões financeiras. O que sedestaca é a iniciativa tomada por Paulo. Quando sente que énecessário, dá o seu conselho, intervém, fala com clareza eautoridade sobre um assunto tão prosaico e mundano como anavegação; e fala também com muita sensibilidade e delicadeza.As breves palavras refletem a iniciativa própria do líder; se háalgo que dizer ou fazer e não há quem o faça, a responsabilidade ésua. Mas há um tom de respeito, de apelação tanto à preocupaçãomaterial, como à sensibilidade humana mais profunda dos seusouvintes.

Há uma tradição evangélica de iniciativa de serviço nas maisdiversas áreas da vida humana: educação, minorias indígenas,menores abandonados, medicina rural, meios de comunicação demassa, e assim por diante. Lamentavelmente, parece haver-seperdido esse espírito de iniciativa. Por um lado, os evangélicos emcertos países, ao alcançarem um "status" mínimo, passam a sepreocupar mais com a manutenção desse "status" do que com oserviço ao próximo em áreas de necessidade. Há algumas décadascostumava-se criticar os suntuosos templos católicos onde, a suasportas, os miseráveis mendigos, tremendo de frio, estendiam asmãos a pedir pão. Hoje, muitos evangélicos possuem tambémsuntuosos templos, cuja construção e conservação requeremfortunas, diminuindo porém suas iniciativas nas áreas de necessi-dade. Estas mudanças são justificadas, na maioria das vezes, poruma espiritualidade que esqueceu o claro testemunho bíblicoquanto à justiça e à misericórdia.

Para haver iniciativa, deve haver sensibilidade. Paulo não sóera sensível às necessidades espirituais das pessoas, mas sua cartaa Filemom reflete a sua grande sensibilidade social, assim como asua preocupação constante por levar uma oferta aos pobres daJudéia. No capítulo 8 de Romanos, vemos o seu coração sensívelaos gemidos de toda a criação à espera de uma libertação (Rrn8: 18-23).

O homem que crê ser Deus o Criador de todo ser humano é,por força, um homem sensível, "nada humano lhe é alheio". Porisso vê a própria vida como um serviço constante: uma missão quenão é unicamente "espiritual", senão integral. O falso espiritua-lismo medieval, introduzido de contrabando no mundo evangéli-co, é que tem produzido a insensibilidade, destruído a iniciativado crente de hoje de servir a Deus no mundo, e levado ao

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SERVIR A DEUS NO MUNDO

desconhecimento de que a fé no Deus criador faz com que ohomem, salvo por Cristo, leve a sério as realidades humanas que ocercam.

Em aberto contraste com esta atitude temos múltiplos exem-plos no livro de Atos. Por exemplo, o ministério e a qualidade devida de Barnabé se percebem primeiro na generosidade destediscípulo no plano material (At 4:34-37). Igualmente, a igreja deAntioquia não foi somente uma igreja missionária, como se vê nocapítulo 13 de Atos, mas também uma igreja que atuou frente àsnecessidades materiais de seus irmãos (At 11 :27-30).(3) Esperança. Quando o fragor da tempestade levou os tripulan-tes a perder toda a esperança de salvação, Paulo, que haviarecebido uma visão e uma mensagem do Senhor, volta-se; é oúnico homem com esperança no meio daquela companhia! e diz:"Senhores, na verdade era preciso terem-se atendido e não partirde Creta, para evitar este dano e perda. Mas, já agora vosaconselho bom ânimo, porque nenhuma vida se perderá de entrevós, mas somente o navio. Porque esta mesma noite o anjo deDeus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo ... " (vs.21-26). Que peso tremendo em suas palavras, no seu testemunho!Falar de Deus, esse Deus a quem pertence e serve, nesse contextodeve ter provocado um impacto poderoso entre os seus ouvintes!

A esperança específica de Paulo naquela situação deveu-se auma visão particular. Temos que entender este contexto particu-lar para não chegar a conclusões erradas. Nem todos os crentesexperimentam revelações e visões através de sonhos, porém, foraeste fato particular, Paulo sempre é um homem de esperança.Essa esperança na nova criação de Deus é a esperança aberta atodo cristão. É a esperança da ressurreição, que nos sustenta enos transforma (Rm 8:11-18; 1 Co 15:58; 1 Pe 1:3). Essaesperança leva-nos a uma nova atitude para com o mundo. Oespírito apocalíptico de uma época não contagia o cristão comtemor, escapismo ou cinismo. Porque tenho a esperança de umanova criação de Deus, levo a sério a sua atual criação. Porquetenho a esperança de julgar com Deus o mundo um dia, esperoque hoje, no seio da comunidade cristã, haja paz e justiça (1 Co6:1-2).

Por causa dessa atmosfera apocalíptica de que falávamos nocomeço, faltam homens com esperança. O homem com umafirme e verdadeira esperança pode ser prudente e realista quandoos demais cedem ao pânico e ao desespero. O mundo de hojeprecisa desse tipo de homem. O fato de que a vinda de Cristo estápróxima não justifica uma atitude espiritualista que afirma:

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SAMUEL ESCOBAR

"Não devemos estudar, nem levar a sério a criação hoje, porqueafinal tudo acabará amanhã." Também não deve haver orgulho,sem compaixão, daquele que grita aos homens de longe: "Nóshavíamos predito toda essa aflição". Vale a pena lembrar quecertos "especialistas" em profecias bíblicas sobre o fim doplaneta terra enchem os bolsos de dinheiro, desfrutando de famae de comodidades terrenas, enquanto proclamam o fim de todasas coisas.

Possuído da verdadeira esperança, o autêntico cristão atualesforça-se como os outros, ou ainda mais que eles, em procurarque a vida humana neste planeta desesperançado conserve ummínimo de sensatez, ao invés de cinismo e desespero. Esse é otestemunho de sua firme esperança.(4) Realismo. Fazendo-se dono da situação pelas circunstâncias,Paulo assumiu com realismo o seu papel de líder em meio à crise.Frente à realidade, manteve-se desperto e alerta. É ele quemobservou que os marinheiros, com humano e característicoegoísmo, queriam abandonar o navio. Paulo então se acercou docenturião e disse-lhe claramente: "Se estes não permanecerem abordo, vós não podereis salvar-vos" (v.31).

Só aí prestaram atenção a Paulo e, tendo o centurião impedi-do os marinheiros de escapar, foi possível chegarem salvos à terra.

A espiritualidade de Paulo é como a de Jesus, uma espirituali-dade realista. Paulo sabe o que é o coração humano. Paulo sabe oque se precisa para viver diariamen~e num mU,ndo d~ paixões esentimentos humanos. Se é necessário recorrer a autoridade paraimpedir que a negligência e a desumanidade cheguem a um atode covardia, o apóstolo intervém. O mesmo realismo se observarána sua maneira de ensinar as igrejas novas que vai fundando. Osconselhos a Timóteo e a Tito nas cartas pastorais mostram esserealismo no conhecimento do coração humano e no uso derecursos para a liderança aos demais.

O mundo de hoje precisa de homens realistas. As utopiashumanas terminam tantas vezes em fracassos colossais por faltade realismo quanto à natureza humana! Disse um historiador que,no grande evangelista e líder espiritual João Wesley, combinava-se, ao mesmo tempo, a certeza calvinista quanto à natureza caídado homem, que o tornava pessimista acerca das utopias políticasdo seu tempo, com o otimismo da graça. Wesley, sabia, comoPaulo, que quando a graça de Deus envolve um homem, podetransformá-Io e fazer maravilhas. E foi essa certeza que deu aoavivamento espiritual Wesleyano uma dimensão social única,que os modernos espiritualistas esquecem com facilidade.

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SERVIR A DEUS NO MUNDO

Servir no Mundo de HojeEis. os quatro aspectos do caráter cristão de que o mundoapocalíptico atual necessita. Eis aqui quatro virtudes que o povode Deus deve ter hoje na América Latina. São elas o fruto da açãodo Espírito Santo no coração dos homens remidos. Eis aqui umaespiritualidade imbuída de toda a riqueza da mensagem bíblica, enão de fragmentos recortados com as tesouras de um dualismoespiritualizante.

Não há base bíblica nem teológica para contrapor as tarefascotidianas chamadas "seculares" com a obediência ao chamadode Deus. Não há base para fazer crer que quem não é missionário,ou pregador de tempo integral, é cidadão de segunda categoria noReino de Deus.

Deus continua chamando homens e mulheres para se dedica-rem integralmente à pregação, à obra pastoral ou ao estabeleci-mento de igrejas, como Paulo. Mas também, no barco do mundoque se enche de cinismo, de temor e de desespero, há falta depassageiros com as virtudes de Paulo, em todos os campos dasociedade, em todas as áreas do saber e da situação humana.Faltam testemunhas do Deus vivo, homens e mulheres de integri-dade, de iniciativa, de esperança e de realismo.

NOTAS

1 "Há inúmeras referências à vinda do Senhor nas epístolas, quase todassublinhando o aspecto mais importante da promessa, o efeito moral que terá navida do crente", disse Ernesto Trenchard, Estudios de Doutrina Bíblica. Madrid,Literatura biblica, 1976, pág. 374.

2 Ocupamos-nos detidamente deste assunto em Diálogo entre Cristo y Marx.Lima, AGEUP, 1969, capo 2; artigo "Concepto Cristiano dei Trabajo", publicadoem Certeza. n.? 18, 1964.

3 Em quase todos os livros atribuídos a Watchman Nee há uma formadualista de entender o ensino bíblico acerca do homem. e parece- nos haver umaberto desprezo ao corpo e ao material. ou uma suspeita quanto a essasrealidades. Veja-se, por exemplo, especialmente os seus conceitos sobre o "homemexterior" e o "homem interior" em La Liberacion dei Espiritu, Logos. B. Aires.1968. No caso da Bíblia Scofield, um exagerado dispensacionalismo quase anula ovalor do Antigo Testamento e dos Evangelhos como fonte de ensino ético.

4 Novo Dicionàrio da Bíblia ~ J.D. Douglas. editor (Edições Vida Nova. SãoPaulo. 3. a edição 1979). Artigo "Homem" item (e). págs. 720· 722.

5 T.e. Hammond, Como Compreender Ia Doctrina Cristianu, Ed. Certeza. B.Aires, 1978 pág. 101.

6 Hoke Smith Jr., EI Hombre: u na Perspectiva Bíblica. Cuadernos de Certeza.B. Aires, 1972. pág. 22.

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2A Compaixão de Jesus

John R. W. Stott

"Falsos cristos se levantarão", profetizou Jesus. E assim temacontecido. Têm surgido charlatões religiosos com ares de gran-deza e pobres enfermos mentais que afirmam ser Jesus Cristo.Temos enfrentado imagens distorcidas do Jesus verdadeiro, que oapresentam como um guerrilheiro zelote, como um fracassado"super star" ou COmo um palhaço de circo. E é possível que atémesmo a gente tenha conceitos distorcidos de Jesus.

"Segue-me", disse ele. "Sim, Senhor, te seguiremos", temsido a nossa resposta. Mas a que Cristo seguimos? O Cristo quealguns seguem inspira amor, mas não justiça; oferece alívio, masnão desafios. Outros estão muito dispostos a cumprir a ordempara evangelizar, mas não ouvem o chamado a ocupar-se dospobres, dos enfermos, dos famintos e dos desesperados. ,

Os apóstolos deram muita ênfase ao discipulado cristão. Asvezes queremos "irnitá-lo", mas a ênfase deve ser em "segui-Io/',em prosseguir nas suas pisadas, no caminho que ele nos traçou. Oque isso significa depende em grande parte de nossa própriacomunicação com ele e do nosso conhecimento deste Jesus, aquem devemos seguir. Assim, busquemos o Jesus real, o autênticoJesus dos relatos dos evangelhos, e não o Jesus fictício que muitostêm apresentado. Realmente, nosso estilo de vida como cristãosdepende da imagem que temos de Cristo, do Cristo no qualdepositamos a nossa fé.

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A COMPAIXÃO DE JESUS

o Exemplo de Jesus

No sermão de evangelização que Pedro pregou a Cornélio e a seusfamiliares, o ap6stolo apresentou Jesus como "aquele que an-dou ... fazendo o bem" (At 10:38). Esta é uma bela descrição.Jesus nunca fez mal a ninguém; pelo contrário, a todas as pessoascom que se encontrou, e em cada circunstância, sempre realizou obem.

Se Pedro o descreveu como o que "andou fazendo o bem",Mateus, em forma mais elaborada, nos conta que "percorriaJesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas,pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças eenfermidades" (Mt 9:35). Este é um balanço do ministériopúblico de Jesus. A ênfase de Jesus estava no anúncio do reino deDeus, no chamado ao arrependimento e na aceitação das boasnovas. Mas à proclamação acrescentou o ensino, porque lheinteressava a mente dos homens. Estes deviam compreender ascaracterísticas do reino de Deus, os requisitos para o ingresso nelee as bases para o seu crescimento. Foi em completa coerência como seu próprio ensino que Jesus se comprometeu com um serviçoprático aos necessitados: curou os enfermos, alimentou os famin-tos, consolou os tristes e desernpenhéu o humilde trabalho deescravo, quando com água e uma toalha lavou os pés dos seusdiscípulos.

Mas não estaria perdendo tempo? Não seria mais urgenteempenhar-se na tarefa de evangelização, considerando a grandequantidade de aldeias que deveria visitar e o pouco tempo queteria para isso? Não deveria ter-se concentrado nisso, deixando aoutros a solução dos problemas materiais? Evidentemente Jesusnão considerou assim. Seu enfoque foi integral porque considerouque suas palavras e atos constituíam um só ministério. As obrasque fazia eram "sinais" do reino que proclamava. "Se, porém, euexpulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado oreino de Deus sobre vós" (Lc 11:20).

Olhos, Ouvidos e Mãos que Atuam

Sem dúvida, as boas obras de Jesus não devem ser entendidassomente como evidência da presença do reino de Deus e daderrota do reino de Satanás. Foram, além disso, e principalmen-te, frutos de sua própria compaixão. Esta era a motivaçãosuprema de seus serviços! Jesus se comovia profundamente ao vera necessidade humana, e isso o movia à ação. Ao examinarmos

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JOHN R. W. STOTT

algumas passagens que nos servem de exemplo, encontramossempre o mesmo esquema de ação. Em cada caso foi umatremenda necessidade humana que despertou o interesse deJesus.

Marcos 1:40,41: "Aproximou-se dele um leproso rogando-lhe, dejoelhos: Se quiseres, podes purificar-me. Je.sus, profundamentecompadecido, estendeu a mão, tocou-o, e disse-lhe: Quero, ficalimpo!"Lucas 7:11-14: " ... dirigia-se Jesus a uma cidade chamada Naim,e ... como se aproximasse da porta da cidade, eis que saía oenterro do filho único de uma viúva; e grande multidão da cidadeia com ela. Vendo-a, o Senhor se compadeceu dela e lhe disse:Não chores! Chegando-se, tocou o esquife e, parando os que oconduziam, disse: Jovem, eu te mando: Levanta-te."

Não eram somente as necessidades individuais que desperta-vam a compaixão de Jesus, mas também as necessidades dasmultidões, que ele viu como "ovelhas sem pastor", ou "porquehavia muitos enfermos entre eles" ou "porque não haviamcomido por vários dias e estavam famintos".

Mateus 9:36: "Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas,porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têmpastor. "

Marcos acrescenta: "E passou a ensinar-lhes muitas coisas."

M ateus 14: 14: "Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão,c "compadeceu-se dela e curou os seus enrermos,

Marcos 8:2-3 e Mateus 15:32: "Naqueles dias, quando outra vezse reuniu grande multidão, e não tendo eles que comer, chamouJesus os discípulos e Ihes disse: Tenho compaixão desta gente,porque há três dias que permanecem comig~ ~ não têm o quecomer. Se eu os despedir para suas casas em Jejum, desfalecerãopelo caminho; e alguns deles vieram de longe."

Quer se tratasse de multidões ou de indivíduos, a seqüênciaera a mesma. A primeira coisa que fazia era ver. O verdadeiroamor está sempre observando com atenção, e os olhos de Jesusjamais estiveram fechados ante a necessidade humana. Nir:guémpodia acusá-Ia de ser como o sacerdote ou como o levita daparábola do bom samaritano. De am bos se diz "vendo-o ... " masnão viram corretamente, porque passaram "de largo" (Lc 10:31,32). Em contraste, Jesus viu corretamente, pois não temia

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A COMPAIXÃO DE JESUS

encontrar-se cara a cara com a necessidade humana e toda a suaangustiosa realidade. E, quando viu, inevitavelmente foi movido àcompaixão e a um serviço efetivo. Algumas vezes expressou o seusentimento com palavras; mas jamais sua compaixão se diluiusomente em palavras. Sempre foi concretizada em atos. Viu,sentiu e agiu. A motivação para a ação passou dos olhos aocoração e daí para as mãos. Tinha sempre compaixão ao ver anecessidade humana, e sempre a demonstrava com uma açãopositiva.

E assim o apóstolo João, inspirado pela inexorávellógica destacompaixão, volta ao tema em sua primeira carta. CertamenteJoão assimilou bem a lição, ao escutar e observar Jesus em seusensinos e ações. Por isso escreve: "Nisto conhecemos o amor, emque Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelosirmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seuirmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como podepermanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos depalavra, nem de língua, mas de fato e de verdade" (1 Jo 3:16-18).

Estes versículos são precedidos da surpreendente afirmaçãode que pelo sacrifício de Jesus nós "conhecemos o amor". O queJoão quer dizer é que o mundo jamais teria conhecido o verdadei-ro significado de amor se não tivesse sido pela cruz de Cristo."Mas isto é ridículo" - poderá replicar alguém - "todos nósconhecemos o verdadeiro significado do amor. Não necessitamosde que' Jesus nos ensine." Dificrlmente estas palavras críticaspoderiam mudar a opinião do apóstolo João. E a explicaçãoconsiste em que todos os amores humanos tornam-se pequenosperto do amor supremo. Muito amor humano é bom e nobre, masem algum grau oculta motivos ulteriores ou é uma mescla degenerosidade e egoísmo. Somente um ato de amor puro foirealizado na história humana, e este é o sacrifício de Jesus nacruz, Na cruz Jesus amou - e amou com amor perfeito. Ali eledeu tudo o que tinha: deu-se a si mesmo, por aqueles que não-mereciam nada, que eram simples pecadores como nós.

Serviço, Não Sentimento

O verdadeiro amor, então, é o serviço até o sacrifício, serviçobaseado na entrega de si mesmo em benefício dos demais. Oapóstolo João disse que "devemos dar nossa vida pelos irmãos" eestas palavras parecem ter um alcance mais amplo do que sugerea expressão "irmãos cristãos". Este chamado à entrega de nossasvidas não supõe necessariamente atos espetaculares (ainda que

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alguns possam ser chamados assim), senão atos de serviço quepodem parecer-nos quase anônimos, mas que nem por issodeixam de ser heróicos. Damos nossa vida quando nos damos aosoutros livremente em serviço. Mas onde ninguém dá ou serve, alinão há amor, ainda que existam muitas palavras em contrário.

Agora chegamos a um ponto importantíssimo: com devasta-dora força João aplica este princípio ao cristão mais poderoso!Descreve-o em termos de duas características.

Primeiro: possui "recursos deste mundo"; segundo: vê "seuirmão padecer necessidade". Esta é a situação: vê a necessidade etem com o que satisfazê-Ia. Vê o enfermo e tem medicamentos oumeios para curá-lo; vê a ignorância e possui conhecimentos; vê afome e tem comida; vê a pobreza e tem recursos econômicos; vê acarência do conhecimento técnico e possui a tecnologia adequa-da.

Resumindo: o que João diz é que uma pessoa tem duasopções: vendo a necessidade e tendo com o que satisfazê-Ia, podedispor-se a supri-Ia com o que tem, ou pode negar-se a fazê-lo.

Sabemos o que fez Jesus: "Viu, sentiu e agiu". E nós? Se nãoestamos dispostos a suprir a necessidade com o que temos,estamos cerrando nossos corações ao irmão necessitado. E, sefazemos isso, atinge-nos a indignada pergunta de João: "Comomora o amor de Deus nele?" Não mora! Não pode morar, já que oamor divino é serviço, não sentimento. Mas se o amor de Deus éreal nas nossas vidas, nos impulsionará a uma ação positiva parasuprir com o que temos a necessidade dos outros. E João concluicom um apelo direto: "Não amemos de palavra, nem de língua,mas de fato e de verdade".

Discemimento

O único limite que a nossa liberdade tem para dar e servir é olimite imposto pelo nosso próprio amor. É possível que muitostenhamos passado por uma etapa que podemos chamar "carida-de indiscriminada". Talvez tenhamos tomado literalmente algu-mas frases do Sermão do Monte, especialmente a que diz: "Dá aquem te pede:" e temos querido dar algo a cada mendigo, ouresponder com algo a cada necessidade. Realmente esse amor,ainda que seja assim "indiscriminado", é melhor do qu.e nad.a.Mas o certo é que o verdadeiro amor é aquele que pode discernir.Tem a capacidade de ver a necessidade real. Reconhece que nemsempre é o mais conveniente para o que pede que todas as suasdemandas sejam satisfeitas; pode ser um jogador ou um bêbado.

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o verdadeiro amor limita sabiamente o dar, não para evadir-se daresponsabilidade, mas para criar e desenvolver uma maior res-ponsabilidade no que pede.

o Ensino de Jesus

Já vimos que Jesus "andava fazendo o bem". Os evangelhos oapresentam desenvolvendo um equilibrado ministério de prega-ção, de ensino e de serviço. E o apóstolo João disserta sobre estegrande princípio do "amor que age". Agora vejamos o que Jesusensinou e exemplificou no Sermão do Monte: "Eu, porém, vosdigo: Amai os vossos inimigos e ora i pelos que vos perseguem"."Amai ... os vossos inimigos, fazei o bem ... "

"Fazer o bem" soa agradavelmente. Mas sabemos que muitostêm querido "fazer o bem" e têm" feito de uma maneira paterna-lista, que tem provocado o descrédito no mandato de Jesus. Assimsucedeu, por exemplo, com os que praticaram a "caridadevitoriana" dos séculos XVIII e XIX. Claro que não devemosridicularizar os esforços dos homens da época. Levemos em contaque estavam profundamente interessados na solução de muitosdos problemas causados pela Revolução Industrial. Além disso,foi admirável a grande provisão de assistentes sociais, atençãomédica domiciliar, comida, vestidos, agasalhos e escolas. Oinaceitável para nós é sua atitude paternalista, produto de umasociedade estratificada que pensava que Deus a havia ordenadorigi~~men~e dessa forma. Mas é justo agradecer ao Senhor peloespírito cnstão e empreendedor desses homens.

Os filantropos posteriores à era vitoriana pareciam muitoseguros de sua própria justiça: eram arrogantes em sua maneirade. atuar. I:so fez co~ que o poee pusesse em dúvida o compro-misse genumo de muitos outros que eram sinceros. As pessoas dob~ir:~ mais a:istocrático de Londres f~ziam periódicas "expedi-çoes aos bairros pobres, talvez mais para tranqüilizar suaspróprias consciências do que para atender às necessidades reais.Logo voltavam tranqüilamente à comodidade burguesa e ao luxode su~ vida ante~ior. É conveniente esclarecer que houve grandese gloriosas exceçoes, mas estas não lograram calar o inconformis-mo e o rechaço que os anteriores estimulavam com a sua maneirade proceder.

Para tanto, parece-nos indicado resgatar o mandato de Jesusde "fazer o bem" do rechaço e desprezo em que tem caído'devemos fazer várias coisas. Antes de tudo devemos desernbara-çar-nos de atitudes paternalistas, orgulhosas e arrogantes. De-

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vemos deixar de Jado nossa auto-suficiência, e prescindir definiti-vamente da mentalidade daqueles que se "comprometem" semrealmente se comprometerem. Além do mais, numa sociedade naqual se tem degradado o significado do amor, devemos deixarclaro que este não é um sentimento, senão um auto-sacrifício, quequer servir a outros construtivamente. Somente então nossasobras brilharão como a luz e nosso Pai será glorificado.

A Quem Devemos Ajudar?

O mandato de Jesus de "fazer o bem" como expressão de amorencerra duas interrogações. A primeira refere-se à extensão danossa responsabilidade: a quem devemos amar? Na realidade, oNovo Testamento concebe o "amor fraternal" como uma classeespecial de amor cristão. Então, de acordo com nossas possibili-dades, "façamos o bem a todos, mas principalmente aos dafamília da fé" «n 6:10).

A caridade começa em casa. Nossa primeira responsabilidadeé para com a família da fé. Mas não podemos ficar aí. No tempode Jesus, os fariseus trataram de limitar a definição de "próximo"a nada mais que seus compatriotas judeus. Isto os levou aformular uma interpretação distorcida do segundo mandamento:"Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo". Mas Jesusrechaçou totalmente essa d istorção: "Eu, porém, vos digo: Amaios vossos inimigos ... " Segundo Jesus, se seus discípulos amassemapenas os que os amavam, nada estariam fazendo melhor do queos pagãos. Se queremos ser verdadeiros filhos de Deus, devemosentão amar também os que nos odeiam. Como o Pai Celestial fazbrilhar o sol e cair a chuva sobre os bons e os maus, assim devemser seus discípulos: perfeitos no amor, como Deus é perfeito.

Jesus ilustrou este ensino da universalidade do amor cristãona mais conhecida de todas as suas parábolas: a do bomsamaritano. A pergunta que deseja responder é: "Quem é o IJleupróximo?" O ponto principal da história é que o samaritanodesprezado fez por um judeu o que jamais um judeu havia feito aum samaritano. A vítima dos ladrões era um judeu, mas" nãosabemos mais nada sobre ele. Era um "certo homem", qualquerhomem, sem nenhuma distinção nem identificação especial,exceto que era um ser humano e que estava em necessidade. Osamaritano não o conhecia e, para dizer claramente, não tinhaobrigação alguma de auxiliá-Ia em sua desgraça: pertencia a umaraça, posição social e religião bem diferentes da dele. Mas oestado de necessidade do judeu ferido e a capacidade do samari-

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tano de compreender e responder a essa necessidade fizeramdeste o pr6ximo daquele.

Que podemos aprender deste ensino de Jesus? O intento delimitar a área dos que devem receber nosso amor e serviço adeterminadas pessoas, como fizeram os fariseus, não é cristão.Mas, não é certo que às vezes ficamos reticentes quanto a servir apessoas que pertençam a outra religião, sejam animistas, hindus,budistas ou muçulmanos? Não existe certa hesitação em servi-Ios,a menos que possamos usar nossa ajuda como uma espécie deanzol para abrir seus corações a fim de receberem o evangelho? É16gico que queiramos compartilhar com eles o evangelho; mas, amenos que estejamos motivados por um genuíno interesse porsuas pessoas (o que estará ausente, se não formos capazes deajudá-los em toda situação), nossos esforços serão inúteis, e aindadesonrosos para a pessoa de Deus. O amor nos obriga a comparti-lhar, com os demais, ambas as coisas: as bênçãos materiais e asriquezas espirituais. Porém, o que devemos dar? Isto nos levadiretamente à segunda pergunta: se não podemos limitar nossaresponsabilidade a uma àrea particular da humanidade, como semanifestará nosso amor? Aceitamos que amar significa dar eservir: mas como podemos servir, e o que dar? A parábola do bomsamaritano responde também a estas perguntas, porque eviden-temente o serviço do bom samaritano está determinado pelanecessidade do homem. Este foi assaltado e ferido; jaz sernimor- .to. É 6bvio que sua necessidade mais urgente é a atenção médica.Assim que o samaritano ata as suas feridas, leva-o a um albergue,cuida dele, paga ao hospedeiro para que continue atendendo-o ecompromete-se a pagar qualquer outro gasto que demande otratamento. A única coisa que o samaritano não faz é evangelizá-lo! Põe óleo e vinho nas feridas, mas não enche os bolsos do judeucom folhetos!

Nosso descuido das necessidâdes sociais e todas as discussõesacerca da evangelização e ação social têm sido estéreis e desneces-sárias."'É claro, temos muita razão quando rechaçamos o chama-do "evangelho social" quando este tenta substituir as boas novasde salvação por uma mensagem de simples promoção social. Noentanto, é incrivel que tenhamos chegado ao extremo de colocar aevangelização e a ação social em oposição, como se mutuamentese excluíssem. Ambas devem ser autênticas expressões de amor aopr6ximo. Quem é meu pr6ximo, a quem devo amar? Não é umcorpo sem alma, nem uma alma descarnada, nem um indivíduosolitário alienado de um contexto social. Deus o criou como umaunidade integral e físico-espiritual, que vive em comunidade. E

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não posso dizer que amo a meu pr6ximo se estou interessadosomente em um aspecto da sua pessoa, quer seja a alma, quer sejao seu corpo ou a sua posição na comunidade.

Mas alguém pode replicar: e a Grande Comissão? Não nosindica ela, como prioridade, nossa responsabilidade em evangeli-zar? Sim e não. A Grande Comissão de Jesus: "Ide por todo omundo e fazei discípulos" refere-se, certamente, à tarefa deevangelização do mundo como uma responsabilidade de toda aIgreja, de todos os cristãos; mas seria exato chamá-Ia nossaprimeira responsabilidade? É verdade que estas foram as últimaspalavras do Senhor ressuscitado antes de retomar ao Pai. Aindaassim, este não foi o único mandamento que Jesus nos deixou. Porque devíamos imaginar, então, que este mandamento tem prece-dência sobre todos os outros e que até os invalida? Sem dúvida, o"grande mandamento" (ao menos em relação ao nosso próximo)é: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo". Este, disse Jesus, éo segundo grande mandamento, precedido unicamente por"amar a Deus sobre todas as coisas".

Agora, é correto que igualemos o "amor a nosso próximo"com "evangelizar"? Claro que a morte e ressurreição de Jesus, e agrande salvação assegurada por estes eventos, trazem uma novadimensão ao amor ao próximo. Foi colocado em nossas mãos umnovo e precioso dom a ser compartilhado com o próximo: as boasnovas. Porém, não imaginemos que dar o evangelho ao pr6ximonos exime da nossa responsabilidade por ele; que se dermos oevangelho já fizemos o suficiente.

Muitos de n6s temos sido insensíveis quanto a estes assuntos.Temos pensado e atuado como se Deus s6 fosse o Redentor, e nãoo Criador de todos os homens; como se Jesus s6 tivesse pregado enão tivesse sido movido pela compaixão a alimentar os famintos esarar os enfermos. Naturalmente, se tivéssemos que escolher entreevangelização e serviço social, teríamos presente que a vidaespiritual e eterna é mais prioritária que a material e temporal.Mas não temos que escolher, ou pelo menos, serão contadíssimasas ocasiões em que teremos que fazê-lo, Jesus não escolheu:manteve as duas coisas juntas. Uma não serviu de desculpa oudissimulação para a outra: ambas foram expressões genuínas desua profunda compaixão pelos homens.

Ovelhas e Cabritos?

Devemos mencionar um aspecto a mais do ensino de Jesus.Podemos considerá-Io como o sermão sobre o juízo. Nada destaca

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A COMPAIXÃO DE JESUS

mais a força de seu ensino e de seu exemplo do que a forma naqual faz destes dois a base de seu juízo. Em Mateus 25, Jesus falade seu regresso, para julgar o mundo. Será o retorno do Filho dohomem em sua glória, para sentar-se como Rei sobre o trono, etodas as nações terão que comparecer ante ele. A base daseparação no juízo será a presença ou ausência de obras de amorna vida dos homens. "Então dirá o Rei aos que estiverem à suadireita: Vinde, benditos de meu Pai! entrai na posse do reino quevos está preparado desde a fundação do mundo. Porque TIVEFOME e me destes de comer. .. Em verdade vos afirmo quesempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, amim o fizestes." Esta passagem também é chamada de "aparábola das ovelhas e dos cabritos". O único elemento que éclaramente parabólico é a comparação ,da salvação e condenaçãocom a separação de ovelhas e cabras. A parte disso, é um relatodireto e solene do juízo final. Muitos têm tratado de se eximir daadmoestação desafiadora de Jesus, aplicando-a a outras situa-?ões. Segundo estes, "meus pequeninos irmãos" se refere ao povoJudeu apenas, e as nações serão julgadas de acordo com amaneira como tiverem tratado o povo judeu na História. Mas esteconceito, de que o juízo final será mais de nações do que deindivíduos, carece de sólida fundamentação bíblica. Além domais, a expressão "um destes meus pequeninos" é muito pessoale particular.

Existe outro problema que contribui para a perplexidade dealguns. Se a nossa justificação (nossa aceitação por parte de Deus)é somente pela fé em Cristo, e pela fé somente, à parte das obras,não é esta passagem estranha àquela? Não! Nossa justificação érealmente só pela fé. No entanto, onde quer que os escritores doNovo Testamento se referem à fé verdadeira, a fé vivente esalvadora, esta vem acompanhada, inevitavelmente, por boasobras. No relato do juízo final, Jesus indica que nossa atitude realfrent~· a ele será revelada através da nossa atitude para com osseus l:mão.s, ;eferindo-se.,.sem dúvida, em primeiro lugar, a seuspróprios discípulos, mas não se restringindo a eles.

O apóstolo Tiago aponta a máxima cristã: "Eu, com as obras,te mostrarei a minha fé", e Paulo declara que o realmenteimportante é "a fé que atua pelo amor" (Tg 2: 18 e GI 5:6).Assim é que a única e sólida evidência de realidade da nossa fé~ão .as obras d~ amor. Esta é a razão pela qual, ainda que nossajustificação seja pela fé somente, nosso juízo será com base nasboas obras. Assim Paulo, em sua carta aos Romanos, na qual dáênfase e explica a justificação pela fé, diz que o povo ao qual Deus

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JOHN R. w. STOTT

dará vida eterna no último dia incluirá aqueles que, "perseveran-do em fazer o bem, procuram gl6ria, honra e incorruptibilidade"(Rm 2:7).

Em Seu Passos

Recapitulando, recordamos a obrigação cristã de "fazer o bem".Jesus mesmo andou fazendo o bem. Ele nos ordenou seguir seuexemplo e mostrar amor a nosso pr6ximo por meio de um eficaz evariado serviço prático. Jesus também nos preveniu de que asobras serão, no último dia, a evidência para provar a autenticida-de de nossa fé nele, para a salvação.

Como conseqüência incontrovertível, se começarmos a seguiro Jesus verdadeiro e a caminhar em seus passos, aproveitaremoscada oportunidade para "fazer o bem". Porque é assim que asnossas boas obras mostrarão a genuinidade do nosso amor, e agenuinidade do nosso amor mostrará a genuinidade da nossa fé.

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Cristo e Anticristo naProclamação

Vald ir R. Steuernagel

A preocupação com o Anticristo entrou em moda nos últimostempos. Há uma espécie de clima apocalíptico no ar. A altavendagem de livros que se preocupam com o amanhã, tantoseculares como religiosos, aponta nesta direção. A crise noOriente Médio e a sua relação com as questões energéticas, osproblemas econômicos, a quebra dos últimos princípios éticos emrelação à diplomacia internacional, a corrupção política, a ques-tão da finitude e limitação dos recursos alimentícios nos fornecemelementos para nos preocuparmos com o futuro e até fazermosprevisões catastróficas. A grande bilheteria aJcançada por filmessensacionalmente apocalípticos - A Profecia, O Anticristo -reflete a insegurança e as perguntas quanto ao futuro. ,

Por vezes preocupar-se com o Anticristo tem se constituídoum verdadeiro "hobby". A intenção de descobri-Ia, identificá-Ia- uma vez citou-se M ao Tse- Tung, outra vez, Kissinger - temconsumido tempo e energia.

Neste tempo de crise, medo e angústia, no qual as pessoas sevoltam inquiridoras para o futuro, desconfiadas e esperançosas, onosso tema torna-se atual. Mais do que isso, ajuda-nos a colocarcada assunto abordado no seu lugar, e a dar-lhe a devidaimportância. Primeiro, por ressaltar a antecedência e prioridadede Cristo; segundo, porque nos identifica a serviço da proclama-ção. Não é a intenção de especular em torno do Anticristo que nos

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CRISTO E ANTICRISTO NA PROCLAMAÇÃO

motiva. A autoridade bíblica para tal é negada. Há um compro-misso primeiro e intencional com Cristo: comprados pelo sanguede Jesus, somos devedores do evangelho a todos os homens. OAnticristo deve ser detectado e desmascarado em nome de Jesus.

o Primado da Proclamação

Jesus Cristo é o Senhor: eis a nossa primeira, última e suficientepalavra. Com ela começamos e com ela terminamos (At 3:6; 4:12,20; 17:28). É fundamental que a cosmovisão e o estilo de vida daIgreja estejam determinados por essa confissão básica.

É tempo de missão: desde a realidade da encarn ação de JesusCristo, sua morte e ressurreição, e agora na esperança pela suavolta, vivemos no tempo da Igreja. Neste tempo importa anun-ciar, para que o mundo creia ser Jesus Cristo o Senhor.

A Igreja, convocada à submissão e atingida pelo envio deJesus Cristo, responde em obediência, com o anúncio integral devida e de palavra. A primeira preocupação da Igreja não é,portanto, defensiva, mas ofensiva. Anuncia, proclama, convoca.A Igreja é de vanguarda, não de retaguarda.

A Igreja é peregrina. Ela capta o evangelho, submete-se aoSenhor e se desloca para convocar todos os joelhos a se dobraremdiante do Senhor Jesus (Fp 2:5,11; 2 Tm 3:2). Ou, em outraspalavras, o mandato fundamental dado à Igreja leva-a à missão.Em adoração e obediência ao Senhor, a vida da Igreja deve visar atransmissão do objetivo de salvação da parte de Deus. Estacaracterística fundamental da Igreja sempre deve ser preservada:estar a caminho é a nossa vocação. Seu senhor e sua sede não sãodaqui.

O centro e o sentido dos evangelhos reside na pessoa e obra deJesus Ccisto. Assim vamos encontrar, na igreja primitiva, umacomunidade radicalmente identificada com a pregação de Jesuscomo 'O Cristo, tornado a pedra angular e o caminho único eexclusivo de salvação. Para essa identificação, a morte e aressurreição de Jesus constituem-se em elementos básicos eindispensáveis. É na morte de Jesus, como aparente fracasso, e na .sua ressurreição, que representa o sim de Deus ao seu caminho, ena descida do Espírito Santo, que a Igreja encontra o toquec1arificador para a confissão de Jesus como o Cristo.

A salvação trazida .por Jesus pode ser assim qualificada: .a) Tem objetivo universal (2 Tm 2:4);b) Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, é o conteúdo ún ico,

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VALDlR R. STEUERNAGEL

suficiente e exclusivo da salvação que Deus oferece ao homem (At4: 12);.c) A salvação efetuada por Jesus tem uma dimensão pessoal ec6smica (Cl I: 13-20) e afeta o homem em três áreas: reconciliaçãocom Deus, com o próximo e sentido de mordomia em relação ànatureza. ed) A estratégia da salvação é a morte expiat6ria de Jesus: "E,estando nós mortos em nossos delitos e pecados, nos deu vidajuntamente com Cristo: pela graça sois salvos" (Ef 2:5).

O Evangelho é uma mensagem soteriol6gica porque a presen-ça de Jesus e sua morte expiatória representam a concretização doobjetivo salvífico da parte de Deus. Jesus mesmo é o conteúdo desalvação do evangelho, que "é o poder de Deus para a salvação detodo aquele que crê" (Rrn 1:16), e visa a reconciliação dahumanidade. O evangelho é uma mensagem escatológica. Dáuma perspectiva de vida, para o homem, que transcende ao ima-nente e imediato.

o Evangelho se Anuncia num Mundo Caído

O Evangelho nunca é proclamado no espaço vazio. Ele semprevisa do homem específico, que vive num lugar concreto. Este"lugar concreto" sempre é dúbio. Por um lado é preciso afirmarque Deus, o criador dos céus e da terra, não abandonou a suacriação; que ela continua sendo objeto do amor de Deus (Jo 3:16)e mantém resquícios da sua beleza original. As palavras deGênesis 1:31 " ... e eis que era muito bom" ainda continuam aecoar.

Mas, por outro lado, o mundo está caído, e "é mau o desígniodo homem desde a sua mocidade" (Gn 8:21). Sabemos, do relatoda queda em Gênesis 3, a profunda transformação que se operoua partir do pecado do homem. Alterações se processaram tanto nonível do relacionamento com Deus, e na comunhão entre oshomens, como no relacionamento com a natureza.

É nesse mundo conflitante que n6s vivemos e anunciamos oevangelho. Por isso toda a proclamação do verdadeiro evangelhotrará ambas as respostas: aceitação e rejeição. Se anunciamos oevangelho como se todos prontamente o aceitassem, somosingênuos. Se o fazemos como se ninguém quisesse saber nada aseu respeito, desvalorizamos o amor de Deus e o sacrifício deJesus.

É preciso ressaltar que a posição que se configura na atuaçãode Satanás é real. A luz da experiência de J6, Deus concede

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espaço de atuação ao maligno, até ao ponto de tentar o próprioJesus. O conflito patente no ministério de Jesus, entre a suaatuação soberana e poderosa e a ofensiva dos demônios à suapessoa, caracteriza também a nossa atuação. O reinado doprincípe das trevas, mesmo que provisório, é real; quer todos oshomens sob o seu domínio.

Sempre lá onde o evangelho é pregado, o círculo do mal serompe, e a autoridade de Satanás é derrotada. Todo anúncio doevangelho rompe o círculo das trevas e provoca conflito abertosobre o qual de antemão nós temos, em nome de Jesus, a vitória.

A Oposição e os Últimos DiasA oposição não é nenhuma novidade para aqueles que decidirampagar o preço do evangelho e "tomar a sua cruz". Considero aspalavras de Jesus, por ocasião do envio dos setenta, claras edefinitivas: "Eis que vos envio como cordeiros para o meio delobos" (Lc 10:3).

As cartas de João preocupam-se em orientar os fiéis asobreviverem fielmente neste último tempo. A grande preocupa-ção de João é discernir "o verdadeiro e o falso", numa preocupa-ção pastoral com a Igreja. As heresias devem ser trazidas à claraluz para serem conhecidas de todos. É nesse contexto de preser-vação dos fiéis, de detecta r das heresias e fortificação dos crentes,que ele fala do Anticristo.

De fato, é apenas nas cartas de João que o termo aparece, ouseja, em três diferentes ocasiões.110 2:18-23. No/versiculo 18 ele comenta que os º-!:l.vintes jáouviram falar da vinda do Anticristo. Mesmo que com terminolo-gia diferente, sabemos que a igreja primitiva se caracterizava pelaesperança na volta de Cristo e estava devidamente alertada sobreas dificuldades dos últimos dias. O texto de 2 Tessalonicenses 2:4é uma demonstração desse ensinamento.210 7- O assunto é o mesmo que o anterior, com a novidade deque n"este contexto o enganador e o Anticristo são identificados.Isso lança Iuz sobre a característica do Anticristo, que anda demãosdadas com o enganador. João nos ajuda ao colocar as coisasdesta maneira. O estabelecimento da relação entre o Anticristo eos anticristos evita que estejamos apenas contemplando o futuro.dizendo-nos que já agora devemos vigiar e discernir os espíritos.O texto nos impele ainda adiante, levando-nos a pensar sobrequem sãoe como atuam os inimigos da causa.

A respeito do Anticristo. ele é breve em sua referência, mesmoque seja da mesma família dos anticristos. Recorrendo, no

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entanto, a Paulo, ou seja, 2 Tessalonicenses, podemos caracteri-zar o Anticristo. Ele é oriundo das fileiras da fé. Torna-seapóstata e tem como objetivo destruir tudo que tenha relação comDeus. Sentado no "santuário de Deus", quer ser igual a Deus,usando "a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais e prodí-gios da mentira ... " .

Mas, ainda que a mensagem bíblica o localize no "cur:ar. dodia" da História, essa mesma palavra nos adverte que o Anticristojá está dando os seus sinais .de vi~a; sua influência. já. se faz s.entir,e por isso João alerta os fiéis: CUIdado com o Anticristo! CUIdadocom os anticristos, ei-Ios ai a confundir! São filhos do mesmotronco; sinal dos últimos tempos, "Os muitos anticristos sãoprecursores do que ainda há de vir. Os poderes das trevas estavamcerrando fileiras. As forças do mal estavam se agrupando. Se aprimeira vinda de Cristo havia evidenciado a chegada dos 'últimosdias', a aparição de muitos anticristos demonstrava que era 'aúltima hora'" (Stott).Gostaria de me deter ainda por um pouco na caracterização dosanticristos, que não poderá ser muito diferente. João, no entanto,nos enriquece com detalhes. São conhecidos pela mentira. Tendose associado aos do Caminho, não resistiram ao seu intentoenganador. "Não são dos nossos", diz João, "e a sua intenção énegar que Jesus é o Cristo". João nos transmite duas coisasimportantes:a) O saudável povo de Deus detecta a oposição. Os anticristos sãodesmascarados no seio da comunidade: por mais que se esforcem,acabam sendo reconhecidos como mentirosos.b) A chave para discernir a integridade e a intenção das pessoas éa confissão de Jesus como o Cristo. Pai e Filho são indispensáveis.Todo aquele que os quiser separar, tirando ° título de "Cristo" doJesus histórico, está a serviço do inimigo.

Ao mesmo tempo que a mensagem apresenta a realidade daoposição e detecta o povoamento de anticristos neste mun?o, ~Iaproclama a vitória do próprio Senhor e o recurso de. saude dopovo de Deus: Jesus é o Cristo: E~s a chave que. d.lscernei osespíritos. Sintetizando, poder-se-Ia dizer que os antlcnst.os são oprelúdio do Anticristo. A presença de. amb?s. é um sm~l ?OSúltimos tempos, conSIderando-se que a vinda última do anticristonos introduzirá na contagem final do "tempo".

A Soberania de DeusAs palavras de Lutero, no hino "Castelo Forte", dispensamcomentários:

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Se nos quisessem devorarDemônios não contados,Não poderiam derrotar,Nem ver-nos assustados.O príncipe do mal,com seu plano infernalJá condenado está;vencido cairáPor uma só palavra.

Nunca o mal teve autonomia suficiente para se emancipar dasoberania de Deus. Jamais se deve entender que o homem estáprensado entre o poder do bem e do mal, devendo irremediavel-mente optar ou cair nas "garras" de um deles. Deus nunca abriumão de sua soberania. Ele tem a primeira e a última palavra _sen: c.omentários. Que se saiba bem claramente: Já agora osantlc~lstos são rel~tlVJzados, desmascarados e subjugados pelaautondade que reside em o nome de Jesus. A presença soberanade Deus em e através do nome de Jesus Cristo irrompe noaparentemente "tranqüilo terreiro de Satanás", e proclama suapresença vitoriosa: "Cala-te e sai desse homem (Me 1:25).

Essas incursões parciais de Jesus no mundo de Satanásprenunciam a derrota final e inapelável deste. A palavra dizexplicitamente que o inimigo será aniquilado pelo Senhor Jesusque .o "matará com ? sopro da sua boca e o destruíra pel~manifestação de sua vinda" (2 Ts 2:8).

Ser Igreja no Final dos Tempos

Em ~lgun~ lugares da A.mérica Latina já houve tempo para que aIgreja se instalasse, cnasse raízes e crescesse no conceito doshomens. O tempo pioneiro jaz no passado e com ele as suasexperiências de sofrimento e persistência concomitante.Aos "a~tigos" coube a tarefa de instalar as bases da proclamaçãoevangélica, e a nós parece caber usufruir das bênçãos da "terra deCan~ã". A geração atual corre o risco de descansar por sobre oslouros conquistados e já o fervor missionário começa a minguar.Hoje é preciso acordar! O tempo não está parado e a tarefa se avo-luma à nossa frente. É preciso que se enxergue a massa latino-a-mericana como carente desse evangelho do senhorio de Jesus Cris-to.

Percebe-se muito claro a clericalização ou profissionalizaçãoda .fé. Perdemos de vista os nossos pioneiros, quando o sacerd6ciouniversal de todos os santos era uma realidade de sobrevivênciapara a pr6pria igreja. Não havia tempo para descansar em

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pastores ou missionários. Cada cristão devia ser um atuante da fé.Missão não é apenas tarefa de especialistas, é vocação de cadacristão, a ser exercida lá onde se passa o dia-a-dia.

É necessário reenfatizar que a vida do cristão é uma s6: Deusafeta todas as áreas do seu ser e quer senhorear todos os seus dias.Que a missão não é tarefa apenas para especialistas, mas paratodos. E a encarnação de Jesus nos serve de modelo para acompreensão da tarefa que temos a cumprir entre os homens.Encarnação é o ato de desprendimento no qual eu posso desistirdos meus direitos em função do objetivo de transmitir a alguémuma mensagem compreensiva.

Quanto não carecemos desse espírito entre n6s, que preferi-mos descarregar o evangelho de longe, de preferência semcompromisso, sem precisar arregaçar as mangas. 1:: na vidacotidiana de Jesus que vemos como ele concretizou o textomessiânico: dando tempo aos fracos e pobres, recebendo prostitu-tas e publicanos, crianças e doentes, anunciando o evangelho egastando a sua vida para os demais. Será que o envio dele aindaencontra ouvidos nos nossos dias? Encontrar-nos-á servindo, ouquerendo ser servidos; junto àquelas camadas da sociedade queapresentam maior carência, tanto física, material, como espiri-tual, ou instalados nos "palácios do bem estar" sem conflitos deconsciência? Missão se faz com disposição para a desinstalação,no interesse de se identificar com a dor do pr6ximo onde eleestiver. Missão se faz com o espírito de serviço, que arregaça asmangas e suja as mãos, desde que a ovelha perdida volte aorebanho paterno. Missão se faz olhando para Jesus.

O Preço do Evangelho

Não ponha a mão no arado se não estiver disposto a pagar opreço; eis a mensagem do evangelho. Pois este não é um produtode supermercado a se adquirir no final do mês, ou mais um artigoda exposição a ornamentar a casa da nossa vida. Creio ,quepassamos por dias delicados nesta área. Há uma tentação m'uitogrande" de não mostrar as coisas logo como elas são". Quer-seprimeiro cativar os ouvintes, apresentando-lhes os direitos, sem osdeveres. 1:: preciso cuidar com a penetração da .graça barata nonosso meio. O evangelho que ela anuncia não faz justiça a JesusCristo e não respeita a sua exclusividade.

A Perseguição

A perseguição não é estranha ao cristão. O pr6prio Jesus nosdeixou prevenidos: "se me perseguiram a mim, também persegui-

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rão a v6s outros" (Lc 15:20). Quase que poderíamos apontarpara dois estágios dessa perseguição. Uma seria a cotidiana, queocorre no trabalho, na família, pelo fato de se ter abraçado a fé.Jesus faz alusão a ela em Mateus 1O:24ss, quando alude ao fato dea disc6rdia poder vir a habitar numa casa por causa dele mesmo.A outra, no entanto, caracteriza os "últimos" dos "derradeirosdias". Lucas 21:7 diz que antes de "levantar-se nação contra na-ção", os cristãos serão violentamente perseguidos. Não que issodeva levar os cristãos ao susto e ao desespero, pois o texto diz queDeus proverá as palavras e a sabedoria necessárias (v. 14). A pró-pria perseguição tem como objetivo a prestação de testemunho (v.13).

A Denúncia dos Anticristos e a Vigilância Pelo Anticristo

Missão cristã é anunciar a boa nova. Mas é também denunciar. Amissão profética deve ser revalorizada nos nossos círculos evangé-licos, onde ela está tão ausente. Por missão profética entendemosaquele ministério que era próprio dos profetas quando, em nomede Deus, denunciavam uma situação anômala. A vinha deNabote havia sido vilmente arrebatada? Era preciso que esse atocovarde fosse profeticamente denunciado (1 Rs 21).

O ministério profético estende seus braços para fora dafamília da fé, a Igreja. Ele abraça este mundo criado por Deus.Entre n6s ele tem os braços curtos demais, devido a dois fatoresbásicos:a) Não sabemos o que fazer com o mundo. Aceitarno-lo comocriado por Deus, mas não conseguimos nos movimentar nele:"Vai ser destruído mesmo ... que apodreça desde já!"b) Nosso conceito de autoridade é estreito e castrativo. Vivemosnum clima de medo em relação à sociedade e aos seus desafios, enão sabemos ocupar o devido espaço na comunidade dos homens.Pleiteamos uma submissão paralizante que não impele à ação eao compromisso missionário encarnado. Somos muito mais comoo trabalhador do zool6gico, que alimenta a fera jogando-lhe acomida pelas grades da jaula, e sai correndo.

Falando sobre os anticristos e o Anticristo, precisamos "olhar"para o mundo, pois os anticristos a serem denunciados não estãoapenas no seio da Igreja. Claro que lá estão também, com suasheresias e confüsões, mas não s6 lá. Numa sociedade secular, osanticristos podem vir pintados de outra cor.

Os anticristos, hoje, estão no sistema educacional, que crê sero homem a realidade última; no espírito aquisitivo, que diz que o

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dinheiro pode comprar a felicidade plena; nas propagandassedutoras, que anunciam depender o sentido da vida de um novocigarro qualquer; na política, quando exige para si uma fidelida-de indevida e se arroga um poder absoluto que não lhe compete;na miséria dos homens, quando desfigura o ser humano e oexplora até ao desespero.

Muitos são os anticristos latino-americanos carentes dedenúncia. A falta de respeito pela vida, a desconsideração pelopr6ximo, a injustiça institucionalizada, a miséria crescente, ariqueza desproporcional mente concentrada, e muitos outros. Ecumpre dizer ainda que os anticristos que habitam num continen-te de uma abundante religiosidade popular são múltiplos. Nocaso específico do Brasil, eles estão presentes num amplo proces-so desincretismo. Este mistura principalmente elementos dasreligiões africanas, do espiritismo Kardecista e do catolicismo.

E o Anticristo? Vigiai!A expectativa pelo Anticristo não pode desenfocar a nossa

ênfase missionária, nem paralizar a implantação de sinais doreino, seja, por exemplo, através do envio de missionários para oestrangeiro, ou da implantação de projetos missionários quevisem ser de ajuda para toda uma comunidade. Hoje é preciso quese diga: cuidado com a especulação. Ela é muito tentadora nestesdias apocalípticos, quando todos querem ter um veredito arespeito do amanhã. Devemos deixar registrado, em primeirolugar, que a nossa palavra é de confiança na soberania de Deus.Por isso, venha quando vier, seja quem for, seu destino estátraçado; morrerá sob a decisiva atuação do único e verdadeiroDeus.

Ser Igreja no final dos tempos significa arregimentar todos osrecursos disponíveis para que o mundo todo ouça que Jesus Cristoé o Senhor. Em palavra e ação, todas as oportunidades devem seraproveitadas para que este continente seja ganho para JesusCristo.

O Evangelho, no entanto, deve ser apresentado com integrida-de, não deixando de fazer referência ao seu preço. Precisamosestar conscientes de que o sofrimento nos espera, podendo chegara implicações físicas, sabendo, porém, que nem essa oportunida-de será perdida para o testemunho. Ser Igreja no final dos tempossignifica ainda ser a voz de Deus em meio a um mundo com milvozes. Os opositores deverão ser denunciados, os anticristosdesmascarados e os homens, por mais poderosos que sejam,devem se entender despidos e de mãos vazias diante de Deus. Aigreja também é aquela que anuncia o juízo de Deus, por mais

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claro e duro que seja. A certeza de viver nos últimos diasdetermina a vida da Igreja. A mensagem é, ao mesmo tempo, dealegria e de vigilância pelos sinais dos tempos.

A reação de Jesus ao sistema apocalíptico do judaísmo foiforte. Não é possível ficar a observar céus e mundos, especulan-do arrogantemente. A vinda do reino de Deus não é conseqüên-cia deste tipo de observação, diz Jesus. E mais ... " o reino de Deusestá entre vós" (Lc 17: 20,21). Jesus traz os fariseus de volta para ochão e lhes aponta a sua própria pessoa. Em vez de especular, étempo de me aceitar, quer ele dizer.

A esse tipo de posicionamento somos convocados: viver comos olhos fixos em Jesus, tanto no sentido de esperá-lo na sua volta,como cumprindo o seu mandato missionário nos dias atuais. Amelhor maneira de esperar pelo senhor é estar gastando a vida noseu serviço. E isso não significa apenas produzir uma articulaçãotéorica do evangelho, mas também procurar fazer com que sevisualizem sinais concretos do reino de Deus aqui no mundo,tornando, inclusive, a vida dos homens melhor por um pouco.Enquanto o Senhor Jesus não vier, nós somos chamados aproclamar o evangelho e viver um estilo de vida que testemunhedo amor de Deus.

Creio que a preocupação com o Anticristo s6 tem sentidoquando determinada pelo anseio missionário de desmascarâ-Io;nunca, no entanto, quando feita com espírito especulativo.

Deslumbremo-nos com a sabedoria de Deus e a salvação quereside em nome de Jesus Cristo. Estejamos com toda a vida aserviço da proclamação deste nome, firmados na esperança pornovos céus e terra. Tenhamos discernimento para identificar todae qualquer oposição do inimigo, afastando os anticristos deamanhã, visando à saúde da Igreja.

Na América Latina não temos tempo para especular. Há mui-to por fazer. Somos chamados a colocar a nossa fé a serviço de ho-mens redimidos e de um mundo melhor; até que ele venha.

H6je, no entanto, se fala no Anticristo que deverá nascer"naquela cidade" e se vive tão bem instalado nesta sociedade deconsumo. Nenhuma preocupação com o Anticristo é legitima anão ser que pergunte imediatamente pelo espaço que o espírito doanticristo esjeja querendo ocupar hoje, aqui e agora. Quanto aoAnticristo é preciso, para não ser pego de surpresa, zelar pelapureza da Igreja. Quanto aos anticristos, eles obstaculizam amissão e devem, por isso, ser identificados e desmascarados.Quanto a n6s, vivemos na esperança, anunciando para que todosouçam: Jesus Cristo é o Senhor.

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4Integridade deCompromisso

Carlyle C. Dewey

o que é que faz com que vejamos, com que vejamos de fato?Obviamente é uma questão de claridade em nossa visão. Só vemoso que está ao nosso redor se os olhos estiverem primeiramentefixos em nosso Senhor. "São os olhos a lâmpada do corpo. Se osteus olhos forem maus, todo o teu corpo estára em trevas ... " (Mt6:22-23a). "Desvenda os meus olhos, para que eu contemple asmaravilhas da tua lei" (SI 119: 18).

Desde que já estejamos vendo, e nosso Senhor já nos tenhachamado a um curso de ação, o que faz com que este compromis-so dure? Estaremos abordando aqui a questão de um compromis-so permanente e eficaz, Além disso, consideraremos um tipoespecial de compromisso, o compromisso com o ministério queatende às necessidades espirituais e físicas de pessoas que vivemem comunidades rurais afastadas.

Acredito firmemente que há duas verdades que devemosentender, duas disciplinas às quais devemos nos entregar/ sedesejarmos viver esta vida de compromisso permanente e eficaz.Estas disciplinas são encarnação e unidade. Primeiramente apre-sentarei estes princípios, depois compartilharei minha experiên-cia com breves descrições dos ministérios de vários servos de·nosso Senhor que demonstraram tal compromisso. Finalmenteconcluirei discutindo algumas maneiras práticas pelas quais estesprincípios se interagem mutuamente.

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INTEGRIDADE DE COMPROMISSO

Encarnação

"E o verbo se fez carne, e habitou entre nós ... " (10 1: 14a). Aencarn~ção, ~o sent~d~ ?riginal, é um termo teológico que serefere a realidade histórica de Deus fazendo-se homem. Mas,co.mo cristãos, somos compelidos a seguir o exemplo de Cristo, ematitude e em comportamento (1017: 18). Ele caminha conosco. Oseu trabalho torna-se o nosso trabalho. Ele torna-se responsávelpelo sucesso do mesmo.

Vá até o povoViva com O povoAprenda com o povoPlaneje com o povoTrabalhe com o povoComece com aquilo que o povo sabeConstrua sobre aquilo que o povo possuiEnsine demonstrando: aprenda fazendoNão improvisando, mas estabelecendo um sistemaNão se utilizando de esforços fragmentados, mas delima abordagem integradaNão dando assistência, mas trabalhando para a sua liberação.Estas palavras foram escritas pelo Dr. James Yen, fundador

do Movimento Internacional de Reconstrução Rural, cujo escritó-rio está situado nas Filipinas, Embora este movimento não sejauma organização religiosa, o Dr. Yen afirmou claramente a umgrupo de cristãos dedicados ao desenvolvimento, reunidos em seucentro de treinamento em 1978, que em essência esse desafio écristão, Jesus Cristo é o nosso modelo. Ele é a luz do mundo,mesmo quando diz a seus discípulos: "Vós sois a luz do mun-do ... " (Mt 5:14).

O apóstolo Paulo delineia o padrão que Cristo pretende paranós:

"Tende em vós o mesmo sentimento que houve também emCristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus não

julgou como usurpação o ser igual a Deus;antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo,

tornando-se em semelhança de homens;e, reconhecido em figura humana,

a si mesmo se humilhou, tornando-se obedienteaté à morte, e morte de cruz" (Fp 2:5-8).

Poucos de nós são chamados a morrer numa cruz. Ao invésdisso, somos mandados a identificarmo-nos com aqueles a quem

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CARL YLE C. DEWEY

fomos chamados a servir. Esta é a atitude que marcou a vida deJesus e o seu sacrifício. A maioria de nós acha isto mais difícil quea própria morte. Seríamos capazes de lançar um desafio a nósmesmos por meio das palavras de Paulo?

"Pois ele, provindo de boa família e sendo graduadonuma das melhores universidades,

não equiparou-se com os seus mestres,antes a si mesmo se esvaziou,

assumindo a forma de um camponês,tornando-se em semelhança de homens(não definido pelo status),

E, reconhecido em figura de homem comum,a si mesmo se humilhou,

disposto a ouvir. a aprender e a servir."

Às vezes as barreiras que nos separam da humildade são eco-nômicas. Os psicólogos Tom Ludwig e David Myers de Rape Col-lege, em Holland, no estado de Michigan, EUA, inventaram a ex-pressão "fala de pobre", que significa "chorar de barriga cheia".Myers diz que o termo refere-se a pessoas ricas que falam como sefossem pobres. Os estudos destes psicólogos mostram que nosEstados Unidos muitas pessoas reagem às pressões geradas pelainflação (e tornam-se frustradas) comparando-se constantementeàs poucas pessoas que possuem mais do que elas, ao invés de secompararem aos muitos outros que possuem menos. Amigosreclamam entre si sobre a alta dos preços e sentem prazer emfazer uma relação do que não podem comprar (The Other Side,março. 1980).

Surpreendo-me fazendo o mesmo jogo. Quando tomo decisõessobre como minha família e eu deveríamos viver ou sobre quaisrecursos preciso para realizar o meu trabalho, sinto-me levado acomparar-me com amigos executivos ao invés de comparar-mecom os pastores e com os supervisores de projeto com quem Deusme chamou para trabalhar. Estou "chorando de barriga cheia"em meu comportamento. .

As barreiras à humildade podem também ser intelectJais,disfarçadas de especialização acadêmica ou padrões profissio-nais. Tentamos aplicar nossas soluções sem compreendermosrealmente os problemas dos pobres. Esquecemos que eles estão defato sobrevivendo a situações que provavelmente derrotariam amaioria de nós. Freqüentemente aceitamos os valores que asdisciplinas acadêmicas nos apresentam. as quais são influencia-das por ideologias não-cristãs. Por exemplo, medicina. direito e

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adm!nistra.ção de empresas, entre outras, são freqüentem entedominadas por pressuposições capitalistas. Muitos professores deciência social e humana são simpáticos ao Marxismo. Umaaceitação ingênua dos valores de qualquer desses sistemas restrin-ge a .nossa visã? Nenhum dos dois oferece valores que noscapacitam a OUVIr,a aprender e a servir.

Unidade

Se o nosso ministério for o desenvolvimento da comunidade.então temos um grande desafio no Sermão do Monte e em outraspassagens das Escrituras. O mundo está mudando tão depressaque deixa a todos desnorteados. Os modelos que aprendemos nosestudos acadêmicos não são adequados. Certamente precisamosouvir o povo como sugeriu o Dr. Yen, mas precisamos mais doq~e isso. Precisamos do modelo de Deus para uma comunidade, enos o temos, em sua Palavra.

O Sermão do Monte é um desafio a cada um de nós, nãoapenas individualmente, mas também como comunidade. Aspalavras de Jesus a seus seguidores sobre ser a luz do mundo estãotodas no plural (Mt 5:16). John Stott, no seu livro ContraculturaCristã. a Mensagem do Sermão do Monte, refere-se, na Introdu-ção, às muitas pessoas que pensam que os ensinamentos de JesussãO. impossíveis de serem vividos. Cheguei também a pensaraSSIm. Os mandamentos de Deus às vezes me imobilizavam, aoinvés de me ativarem, porque eu os via aplicados a mim, sozinho.Mas Stott explica o significado do Sermão do Monte:

"... 0 Sermão do Monte descreve como ficam a vida e acomunidade humana quando se colocam sob o governo dagraça de Deus ... é o esboço mais completo, em todo o NovoTestamento, da contracultura cristã. Eis aí um sistema devalores. cristãos, um padrão ético, uma devoção religiosa,uma atitude para com o dinheiro, uma ambição, um estilo~ vida e uma teia de relacionamentos: tudo completamentediferente do mundo que não é cristão" (ContraculturaCristã. págs 5 e 6; grifo meu).

Assim, o nosso compromisso estará mais apto a criar raízes e acrescer, se for plantado no bom solo da comunhão com osmern bras do Corpo de Cristo. O próprio Senhor Jesus pretendeuque fosse assim. Falando de nós, que já cremos por causa damensagem pregada pelos discípulos, Jesus diz:

"Eu lh.es tenho transmitido a glória que.me tens dado, paraque sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em mim, a

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fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que omundo conheça que tu me enviaste, e os amaste comotambém amaste a mim" (Jo 17:22-23).

Este tipo especial de unidade deve caracterizar aqueles queestão trabalhando juntos em obediência ao mandamento de Deuspara testemunhar e servir. Isto quer dizer que procuraremosconstruir pontes com outros crentes e, se trabalhamos longe deigrejas estabelecidas, precisamos nos encontrar com outros cren-tes, seja pessoalmente, seja pelo correio, e fazer visitas paramantermos relacionamentos de apoio com outros membros doCorpo de Cristo.

* * * * *Modelos

Os exemplos a seguir mostram como os princípios da encar-nação e da unidade têm sido postos em prática por cristãos queresponderam à chamada de Deus para servir e, através doserviço, têm demonstrado o poder do Reino de Deus.

* * * * *Japaratuba, SE

Dona Zênia Birzniek tinha quase quarenta anos quando começoua preparar-se para o serviço missionário. Como não possuíaqualquer qualificação formal, ela freqüentou um curso de enfer-magem de nível técnico e um curso de técnica de laboratório. Suaintenção desde o início era atender tanto às necessidades fisicasquanto às espirituais. Ela recebe o seu sustento da Junta deMissões Nacionais da Convenção Batista Brasileira.

Embora tenha um nome estrangeiro, é brasileira, tendochegado da Lituânia com a idade de cinco anos.

Quando Dona Zênia mudou para Japaratuba, no interior .deSergipe, as pessoas eram tão hostis aos evangélicos que ~senegaram a vender pão a ela. Doze anos mais tarde, contudo, foinomeada cidadã honorária da cidade. I

Naturalmente o seu ministério social era na área da saúde,tanto curativa como preventiva. Por muitos anos ela foi a únicapessoa a fazer exame de fezes para os médicos e clínicas da área.Ela prestou assistência em outras cidadezinhas ao redor deJaparatuba, onde especializou-se em ajudar o povo a livrar-se deparasitas intestinais e em modificar a forma de vida a fim deevitar novos vermes. Ela também ajudou as mães para melhorcriarem os seus filhos.

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Uma igreja e três congregações ativas resultaram dos cultosque Dona Zênia fazia antes ou depois do trabalho. Cada umdestes grupos possui entre 25 e 30 membros batizados. Hátambém quatro outros pontos de pregação que poderão se tornarcongregações. Ela tem realizado reuniões especiais para criançase já passou muitas horas visitando as pessoas em seus lares.

Dona Zênia não tentou fazer tudo sozinha. Muitas vezes elaconta com a ajuda de uma ou duas garotas na clínica e nasreuniões para crianças. No momento há um leigo da capital que aajuda fazendo a maioria das pregações.

Dona Zênia tem feito amizade com outros cristãos durante osseus 16 anos no interior. Além dos missionários estrangeiros epastores da capital que a visitam (ou lhe dão hospedagem) de vezem quando, ela desenvolveu um relacionamento íntimo comalguns dos crentes dos primeiros dois grupos que começaram sobo seu ministério.

Ela vive modestamente. Apenas recentemente a Junta lheforneceu um carro. Antes disto ela fazia a maioria das viagens acavalo. Embora esteja perto da idade em que a maioria daspessoas se aposenta, esta invencível senhora está fazendo planospara continuar o ministério que o Senhor lhe deu.

* * * * *Paraíso do Norte, GO

Rubens Ferreira Ferraz foi criado num cidadezinha do Rio Doce,ao leste de Minas Gerais. Sua família é presbiteriana, muitodedicada ao testemunho e ao serviço cristão. Ele graduou-se emAdministração na União de Neg6cios e Administração-UNA e emum curso bíblico no IBEL, um instituto bíblico presbiterianoem Patrocínio, MG. Sua esposa Dalva Ferraz é enfermeira diplo-mada, com curso de pós-graduação em saúde pública.

Rubens tornou-se pastor da Igreja Presbiteriana em Paraísodo Norte, em 1977. A igreja já contava com uma escola na cidadee outra ligada à congregação em Rosalândia, ao sul. Este pastor eum pequeno gru29 de profissionais da igreja descobriu quecompartilhavam da crença de que a sua igreja deveria ter umpapel social tanto quanto um papel espiritual mais amplo naregião. Este grupo incluía um médico de Miracema do Norte, Dr.Franklin Amorim Sayão, que conhecera o Senhor através daamizade de Rubens e do testemunho de sua pr6pria esposa.

Foram feitas muitas visitas a famílias rurais com o intuito deidentificar os problemas e aspirações da população. Descobriu-se

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que nutrição e saúde eram as maiores necessidades. À medida emque a equipe ministrava, face a essas necessidades, surgiramamizades mais profundas com muita gente. Resultaram algumasconversões. As pessoas começaram a aceitar Jesus Cristo comoSalvador e Senhor, mesmo durante a fase explorat6ria. Hojeexistem várias novas congregações rurais resultantes desse minis-tério.

Atualmente o projeto tem atividades nas áreas de educaçãoagrícola, evangelização, recreação e saúde. Foram dados emprés-timos a pelo menos 40 famílias com o objetivo de aumentar aprodução de feijão, arroz e milho. Vinte famílias começaram acultivar legumes, tanto para consumo da família, como para finslucrativos também. Uma cooperativa está sendo formada.

Um novo currículo foi desenvolvido para as crianças da zonarural, mais de acordo com a vida e meio ambiente delas. Ascrianças estudam de acordo com um calendário que as liberaquando os seus pais precisam delas para ajudar no trabalho daterra. As pessoas da zona rural se reuniram para construirpequenos prédios escolares. Em conseqüência dessas mudanças,um maior número de crianças está estudando agora e aprendendomais em seus estudos. Elas também têm merendas especiais eatividades recreativas.

As atividades concernentes à saúde, especialmente aquelas denatureza preventiva, constituem talvez a parte social mais interes-sante desse projeto. Mais de uma dúzia de senhoras da área quevai de Rosalândia (40 km ao sul de Paraíso do Norte) a Miracemado Norte (135 km ao nordeste) estão sendo treinadas como"monitoras de saúde". Estas senhoras estão aprendendo quemuitas das doenças e problemas de saúde, aos quais elas e suasvizinhas estão sujeitas, podem ser, na verdade, evitados. Elasestão aprendendo o que podem fazer para mudar na sua maneirade viver para evitar esses problemas. Estão aprendendo tambémprimeiros socorros, como tratar certas doenças, e como saberquando um médico deve ser consultado.

O projeto e as igrejas cresceram e chegaram a um ponto dndemais liderança é necessária. E, ao mesmo tempo, alguns doslíderes originais começaram a procurar outras áreas de maiornecessidade onde poderão iniciar trabalhos novos.

O fato de atuar como pastor e administrador de um projetotão amplo e geograficamente disperso tem exigido demais deRubens e isso não tem sido justo nem para a igreja nem para oprojeto. Sentindo que Deus quer que ele continue no ministériode atividades de desenvolvimento comunitário cristão, Rubens

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concordou em aceitar a liderança de outro projeto em uma áreaainda mais necessitada do Brasil. Ele está entusiasmado poreste novo desafio, mas entristece-se por ter que deixar a sua igrejae o seu atual projeto. Ele contou que vai sentir muita falta doapoio espiritual e do estímulo profissional do pequeno grupo deamigos que o ajudou a começar aquele projeto de desenvolvimen-to.

O projeto Paraíso do Norte continuará sob a liderança deIsmael e Elza Silva. Paulista, Ismael estudou no Instituto BíblicoBetânia, no Paraná, e pastoreou uma igreja presbiteriana inde-pendente em Itapiranga, MA. Elza é mineira e serve-se de seutreinamento de técnica em saúde para dirigir as atividades detreinamento no campo de saúde.

* * * * *Míracema do Norte, GO

As cheias do Tocantins e de outros rios no começo de 1980deixaram milhares de pessoas desabrigadas, tendo destruído maisde 500 casas em Miracema do Norte. Rubens e Dalva, e aindaoutros de Paraíso do Norte, ajudaram o Dr. Franklin AmorimSayão a distribuir leite em p6 e outros alimentos aos desabriga-dos. Muitos foram abrigados temporariamente na escola e naigreja em Paraíso do Norte.

Iniciou-se agora um projeto, sob a liderança do Dr. Franklin,para ajudar vinte das famílias mais pobres a construir novascasas. Pastores e leigos das igrejas Assembléia de Deus e Batistaenvolveram-se neste projeto e farão parte de sua comissãoconsultiva. Monitoras de saúde já estão sendo treinadas atravésdo projeto Paraíso do Norte e planos estão sendo feitos para aimplantação de hortas.

É significativo que este esforço teve sua origem no trabalhoiniciado em Paraíso do Ntrte. Este projeto é um exemplo de comoaqueles que recebem ajuda de outros não ficam necessariamentedependentes, mas ao invés disso respondem com amor, dando-sea outros em necessidade. Uma característica de um projeto sadioé o desejo de atender a necessidades espirituais e fisicas em outrasáreas.

Nem todos os projetos têm tamanho sucesso. O que segue éum exemplo de um projeto que não começou determinandoacuradamente as necessidades da área por causa de uma falta deencarnação dos fundadores; e carece ainda de um grupo unidoque sustente o trabalho.

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Borsad, Gujarat, Índia

Dr. J.P. Lazarus e sua esposa Dra. Sosan J. Lazarus são médicos.Eles administram e servem em um hospital cristão p'erto de umacidade de aproximadamente 25.000 ao leste da India. Estãoambos com pouco mais de 40 anos. Cresceram nesta região e alivoltaram para trabalhar depois de cursarem a escola de medicina.Poderiam ter assumido posições com melhor remuneração emuma cidade maior.

Na mesma área onde o hospital está situado, estão localizadostambém um orfanato, um instituto de treinamento para professo-res, a igreja, algumas casas e ainda uma área aberta considerável..O projeto agrícola utilizava este terreno para o cultivo de verdurase arroz. Foi providenciado um poço para irrigar esta plantação.

A idéia do projeto agrícola era que os fazendeiros vissem aslavouras e observassem como o plantio estava sendo feito enquan-to passavam por esta propriedade no caminho para o hospital ououtros lugares da cidade. Houve também um dia especial dedemonstração para mostrar-lhes as sementes especiais e osfertilizantes. O Dr. Lazarus era o diretor deste projeto, emboradispusesse de pouco tempo, já que suas atividades médicas absor-viam a maior parte do seu tempo.

Infelizmente, poucos fazendeiros adotaram as novas semen-tes e os fertilizantes. Sua necessidade mais premente era águapara irrigar suas pr6prias plantações. Os únicos ben~ficiadosrealmente com este projeto foram as moças do Instituto deTreinamento e as crianças do orfanato que ajudavam a cuidar daslavouras, e podiam comer a colheita!

O relat6rio de avaliação ~ecomendou que este projeto admitis-se um técnico em agricultura como administrador. Este deveriaentrar em contato com os pequenos produtores das pequeI),ascidades da região tomando conhecimento de seus problemas. :S6então poderia começar a oferecer conselhos e assistência. Oprojeto e a organização patrocinadora deveriam considerar apossibilidade de ajudar as pessoas. d? campo a ~esenvolver u~fornecimento regular de água para Irrigação, mas Isto não deveriaser feito simplesmente como resultado de um rápido estudo porum estranho. Isto deveria ser considerado depois de se desenvol-ver um esquema de trabalho dentro do projeto com a participaçãodos próprios beneficiários.

O projeto continua sob a liderança do Dr. Lazarus. À medidaem que o princípio da encarnação é obedecido, há esperança

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crescente de sucesso no plano, que assim suprirá necessidadesreais. .

A igreja local tem sido fraca em expressar a unidade exigidapelo Novo Testamento. Dessa forma, o Dr. Lazarus tem enfrenta-do.muitos p:ob.lemas sem o ?enefício de outros dons do Corpo deCristo. Ele mciara este projeto com um espírito de amor e umdesejo real de ajudar a população rural. Por estar sozinho nãotinha tempo para desenvolver os contatos necessários ao projeto.Não .havia nen.hum grupo de apoio de cristãos compromissados,desejosos de ajudá-lo. O futuro deste projeto agora depende daformação de tal grupo de apoio, e de que o mesmo trabalhe emconjunto.

* * * * *Sabinópolis, MG

Há lugar para alguém ajudar num projeto que já esteja bemdesenvolvido? Sempre há lugar para quem possua um espírito dehumildade e de auxílio.

Ione Guimarães juntou-se ao projeto Sabin6polis quandoestava em um período de rápida expansão. A Missão PentecostalHolandesa havia começado um orfanato, uma creche para crian-ças ~obres, uma rede de i.grejas com mais de doze congregaçõesrurais, e estavam planejando várias formas de treinamentovocacional, educação no campo da saúde, atividades de melho-ramento de moradias e atividades no setor de agricultura.

Bem sucedida em sua carreira profissional, Ione deixou o seuemprego com o governo e com outras agências particulares deserviço social, bem como a oferta para lecionar em uma Universi-dade, para trabalhar neste projeto no interior. Ela tem tido a.oportunidade de trabalhar diretamente com o povo.

Passados dois anos, Ione continua sentindo que está no lugaronde :Qeus a quer. Os planos do projeto estão se concretizando.As pessoas estão conseguindo uma melhor alimentação por causadas chácaras. Algumas familias têm leite para as crianças porqueforam ensinadas a criar cabras. Os moradores vizinhos às congre-gações rurais podem comprar artigos de primeira necessidade aum preço mais baixo (e num local mais próximo de suas casas)gr.aças ao sistema de transporte estabelecido pelo projeto. Ascrianças da zona rural podem continuar os estudos, beneficiadaspelas hospedarias para meninos e meninas que funcionam atravésdo projeto na cidade. A igreja continua a crescer.

Há aproximadamente 14 anos, um missionário holandês, Pr.

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Nicolaas, percorreu essa região mineira propagando o evange-lho, sofrendo perseguições e superando difíceis barreiras. Alémda igreja local, foram formados diversos pontos de pregação nasregiões adjacentes a Sabinópolis, na zona rural. Além do trabalhoevangelístico, ali realizado, atende-se às necessidades dos irmãose das famílias carentes da região. Muitos cristãos analfabetosaprenderam a ler através da Bíblia e hoje são obreiros locaisexercendo papel de liderança nas áreas espiritual e social.

Hoje organiza-se ao lado de cada congregação, nas zonasrurais, um centro educativo para atender às necessidades de suascomunidades.

A Igreja Evangélica Missionária Pentecostal de Sabin6polistem crescido e procura formar s6lida liderança.

Meninas adolescentes dos bairros mais pobres da cidade estãosendo treinadas para servir como "monitoras sociais". O projetoajudou a população a construir centros sociais modestos emalguns desses bairros. As crianças que ficavam em casa enquantosuas mães trabalhavam, agora podem vir a estes centros onderecebem assistência e carinho das monitoras.

O Pastor Nicolaas Van Eyk é o lider da equipe deste projeto.Além de Ione, há duas outras assistentes sociais: Sirlei Tarragô, J

de São Paulo, e Mirna Filadélfia Leite, psicóloga de BeloHorizonte. A equipe do projeto também inclui um assistenteadministrativo e um médico.

* * * * *Iporá, GO

O Projeto Maranata é formado por um grupo de profissionaismédicos de Minas Gerais. O sonho de servirem juntos em umministério rural tomou conta de sua imaginação há algum tempoatrás:

"Tudo começou a partir da necessidade que sentimos,quando estudantes, de darmos um testemunho vivo ~deJesus, tentando atingir o homem na sua totalidade, emtodos os aspectos de sua personalidade. Isto foi amadureci-do com oração, com aquilo que aprendemos na ABU, eDeus foi confirmando em nossos corações a sua vontade."

Eles escolheram juntos suas áreas de especialização quandoainda estudantes, a fim de dar apoio uns aos outros e oferecer umserviço médico o mais amplo possível. O projeto definiu-se antesmesmo de se formarem, quando compraram um hospital emC6rrego de Ouro, no sudeste de Goiás, em 1975.

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Os primeiros estudantes que se formaram estabeleceramresidência na cidade, enquanto os outros iam ajudar durante operíodo de férias. Esta pequena equipe forneceu o primeiroserviço médico permanente na cidade. Além disso, iniciaram umaigreja, que hoje tem aproximadamente 50 pessoas freqüentandoregularmente os trabalhos.

Durante o período 1976-78 a equipe manteve um contratocom o Prefeito de uma cidade vizinha, Amorin6polis, para dirigiro pequeno hospital daquela cidade. Eles ajudaram esta cidade aestabelecer um sistema para coordenar o hospital, e ministrarama muitas pessoas durante o tempo que passaram lá. Estimam queatenderam por volta de 3.000 pessoas anualmente e que 40% deseu serviço era gratuito. O ministério não ficou limitado àmedicina, pois ajudaram a estabelecer outra congregação, embo-ra não tão forte quanto a de C6rrego de Ouro.

Em 1978 a equipe percebeu que deveria mudar para umacidade um pouco maior para estabelecer uma base melhor parauma equipe de tal porte. Juntos decidiram transferir o trabalho deC6rrego de Ouro para outros, que mantêm lá um centro de saúde,um pequeno hospital municipal e um médico de tempo integral.

Desde então têm trabalhado em Iporá, uma cidade de 25.000a 30.000 habitantes, a 200 km a oeste de Goiânia. Dirigem oHospital Evangélico sob contrato com seus três proprietários. Ossalários não são altos. Utilizam muitas vezes os seus pr6priosrecursos e tomam decisões em conjunto.

A equipe mantém a visão de um ministério integral, e procuraservir nas várias necessidades e treina estudantes que vêm nasférias. Todos os membros da equipe estão bastante envolvidoscom a igreja batista local e o pastor tem feito uma importantecontribuição à equipe. Dois membros da equipe lecionam ciên-cias no ginásio local. Supervisionam um projeto de dezessetealqueires de terra nos arredores da cidade, onde 2S vacas leiteirassão mantidas.

O objetivo central do projeto Maranata permanece o mesmo:prover um bom serviço médico a preço razoável, em uma pequenacidade onde não existia tal serviço. Este objetivo está sendoatingido. Reconhecem também que s6 o serviço médico não ésuficiente para preencher todas as necessidades da população.Esperam no Senhor para ver o que mais há para fazer, e orampara que Deus envie outras pessoas com outros dons a fim deampliar-lhes o ministério.

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Cidade X, interior

Somente neste relat6rio as pessoas e a localidade devem perma-necer anônimas. As pessoas envolvidas ainda não decidiram sedesejam ou não participar de um projeto patrocinado por umaorganização de fora. Está sendo incluído aqui para ilustrar algunsdos problemas básicos que precisam ser resolvidos no começo deum novo projeto.

As pessoas mais preocupadas com o bem-estar do povo destaregião são uma enfermeira missionária e o pastor da igrejafundada por ela. Ela é estrangeira. Já está aqui há 14 anos e servecomo administradora do hospital local. O Pastor "João" nasceuno interior, viveu em São Paulo por um determinado tempo,voltando à Cidade "X" para pastorear a igreja. A Cidade "X"está às margens de um dos maiores rios brasileiros. A maior partedas terras da região se encontra em mãos de um pequeno númerode proprietários. Eles costumavam plantar algodão e outros tiposde lavouras, empregando assim muita mão-de-obra. Outros traba-lhavam como meeiros. Agora estes mesmos fazendeiros se dedi-cam à criação de gado, não precisando assim de tanta mão-de-obra.

Assim, o que resta a estes desempregados para fazer? Não têmtrabalho aqui no interior, entretanto sabem que, se mudarempara Belo Horizonte, serão obrigados a morar em favela.

Aí vieram as enchentes. Muitos que já possuíam pouco eestavam sem trabalho, perderam tudo que Ihes restava. Depoissurgiu a oportunidade de comprar um pedaço de terra queforneceria alimento para algumas famílias desabrigadas. Masonde estas pessoas encontrariam dinheiro para comprar. a terra?Através do Pastor "João" e da enfermeira missionária, entraramem contato com uma agência de desenvolvimento, a VisãoMundial. No momento, o projeto está sob consideração. Há certasperguntas importantes para serem respondidas. Será viável esteprojeto? Quer dizer, será que ele corresponde às reais necessida-des das pessoas? Há liderança local para sustentar o projeto? Asrespostas parecem ser positivas.

(1) O Pastor é um bom administrador além de um conhece-dor da produção de legumes.

(2) A enfermeira é respeitada, não apenas pelos evangéli-cos, mas também pela comunidade.

(3) A área considerada para o projeto é suficientementegrande para sustentar 24 famílias se for corretamente

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ut!li~ada; fica perto da cidade e do rio, facilitando assima irrigação durante a época de seca.

(4) ~sse povo só entende de agricultura. Eles desejam con-tinuar fazendo aquilo que sabem fazer e estão desejososde aprender novos métodos de fazê-lo,

O projeto deveria beneficiar s6 crentes ou não-crentes tam-bém? Algun~ n:embr~s da igreja sentem que têm sido discrimina-dos pela marorra da cidade e não têm vontade de abrir o projeto~ara pessoas fora das três pequenas igrejas evangélicas. Esseshde.res _se assemelham a muitos outros evangélicos em suaheslta~ao de se exporem às complicações que adviriam de talenvolvirnento. É compreensível que se sintam desta .P é di maneira,

or .m, acre itamos que existam razões bíblicas e práticas paraservir descrentes e crentes em um projeto social.

No ~ermão do Monte, Jesus ensinou que a retidão de seusseguidores deveria ir além do que a das pessoas "religio-sas" que amavam apenas a si mesmas (Mt 5:38-43). Orde-n?u ainda aos cristãos: "Assim brilhe também a vossa luzdla~te dos homens, para que vejam as vossas boas obras eglonfiquem a. vosso Pai que está nos céus" (Mt 5:16).Devemos servir mesmo a quem pede exageradamente den6s (Mt 5:39-42). Jesus espera que vençamos os homens nãoapenas pregando a Palavra, mas também demonstrando doseu amor pela humanidade perdida.A igreja primitiva entendeu isso. Paulo pede que "façamoso,bem a todos", mesmo que dando prioridade à família dafe ~?l 6: 10). Ele adotou o padrão de encarnação, tornando-se tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos,salvar alguns" (1 Co 9: 22).~á tan;bém uma razão prática. Quando um benefício está~lsr:oDl;,el apenas aos crentes, freqüentemente as pessoas

c ~em para receber o benefício. São os chamados de"cr.lstãos por interesse". Não queremos estimular tal insin-cendade, que não é boa para a igreja, nem para essaspessoas.

AI.ém disso, um projeto que envolve atividades sociais, queerra novas organizações e recoloca famílias, precisará even-tualme~te r<?spon.der ao governo, pelo menos a nível local.I.ss~ sera mars fácil se os benefícios do projeto não estiveremlimitados apenas aos evangélicos, ou a pessoas de umadeterminada igreja.

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É claro que esperamos que, pela vida e pelo testemunhoverbal dos cristãos, todos aqueles que são envolvidos emdeterminado projeto venham a servir a Jesus Cristo comoSenhor e Mestre, e que as igrejas cresçam. Para que issoaconteça, as agências estrangeiras não devem criar falsasesperanças, ou prejudicar os esforços dos crentes pelaaplicação seletiva de seus recursos. Por essas razões, a VisãoMundial promete que sua assistência técnica e materialficará disponível a qualquer que necessitar e quiser partici-par do projeto.Mesmo que estas questões maiores sejam resolvidas, aindarestam muitas outras para serem solucionadas:_ Como poderemos ajudar o pastor a treinar um adminis-trador para o projeto para que ele não se distancie de suasresponsabilidades espirituais?_ Quem devem ser os primeiros a cultivar a terra?_ Que orientação devem receber e por quem deve ser elamin istrada?- O que devem cultivar?_ Como e quando devem vender os seus produtos?_ Por quanto tempo devem cultivar a terra antes deadquirir direitos sobre ela?_ A terra deve ser dividida em lotes ou deve ser adotado umsistema cooperativo de propriedade?_ Como podem os membros da igreja dar o seu testemunhoaos membros do projeto e ainda manter a sua promessa denão serem essas pessoas coagidas a se tornarem evangéli-cas?

Este grupo de pessoas decidiu não solicitar verba "de fora"para o projeto. Durante a primeira visita ao projeto, os represen-tantes da agência externa não explicaram devidamente que pelomenos a metade da verba concedida para a compra de terrenodeveria ser reembolsada ao projeto, para ajudar nos custos ~desaúde preventiva e outras atividades que não fossem de agricultu-ra. Se as pessoas da comunidade tivessem entendido isto noinício, poderiam ter aceito. Quando souberam disso mais tarde,durante as negociações, decidiram não aceitar a ajuda.

* * * * *ResumoEste trabalho não tem conclusão, porque a história não acabou.Outros jovens brasileiros estão se conscientizando da responsabi-

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Iidade de levar o evangelho em sua totalidade, através de açõestanto quanto de palavras, às pessoas que mais precisam. Novosmodelos de assistência serão testados, novos perfis serão escritos,alguns somente por Deus, que aguarda o relatório final. Entre-tanto, aqui vão os comentários finais.

Encamação e unidade interagem entre si sob algumas formasbem reais e práticas. Tomemos, por exemplo, o nosso própriojulgamento do valor ou beneficio trazido pelo nosso trabalho. Aquestão é se aprendemos ou não a escutar. Precisamos de amigosem quem possamos confiar para nos ajudar a avaliar, parareconhecer onde estam os desenvolvendo um trabalho eficaz eonde precisamos modificar a nossa abordagem, ou até mesmo sedevemos modificar as nossas atitudes. Se confiarmos somente emnossas avaliações poderemos nos tornar, sem razão, quer desen-corajados quer injustamente orgulhosos.

A unidade sugere a existência de uma equipe. Isso é possível,mas não imprescindível, pelo menos no sentido formal de umgrupo de indivíduos que estão trabalhando em regime de tempointegral num projeto no mesmo local.

Há muitos tipos de equipe. A equipe de Rubens em Paraíso doNorte, por exemplo, não era formada apenas por ele e os outrosempregados pelo seu projeto, mas também por um médico, umfazendeiro, um professor e um homem de negócios com empregosfora do projeto.

É possível também ter membros da equipe que não moramnas vizinhanças do projeto, mas que mantêm correspondênciacom os membros locais, que participam regularmente em oraçãoe talvez financeiramente, e que visitam o projeto de tempos emtempos para dar apoio técnico e pessoal.

A equipe deve ser a mais heterogênea possível. Isso cria umpotencial de assessoria sólida, a possibilidade de consultar umavariedade ampla de conhecimentos profissionais, bem como dedons espirituais. A equipe Maranata iniciou suas atividades tendocomo objetivo atender aos mais variados aspectos das necessida-des humanas, mas tentou alcançar esse objetivo com quase que s6os seus. conhecimentos médicos. Hoje reconhecem que a suaassistência teria sido muito mais eficaz se tivessem tido auxílio depessoas com diferentes tipos de especialização e treinamento. Suavida em grupo foi recentemente enriquecida por causa da lideran-ça espiritual que seu atual pastor está lhes dispensando, homemesse um pouco mais velho que eles próprios.

Poderíamos viver como o povo vive, ouvir suas aspirações,entender seus problemas perfeitamente e ainda assim não conse-

guir nada. Poderíamos participar num contexto de unidade emesmo assim descobrir que desperdiçamos o nosso tempo. So-mente se (como nos lembra 1 Coríntios 13) vivermos e trabalhar-mos sobre uma base de amor, o nosso trabalho dará frutos.

"V á até o povoViva com o povoAprenda com o povo ... "

Estas são condições bonitas e necessanas, mas difíceis decumprir. Somente quando trabalharmos em amor, numa basecontínua de auto-sacrifício, poderemos ter a coragem de falar em"encarnação".

A encamação é mais possível quando trabalhamos em equipedo que sozinhos. Recebemos de nossos irmãos e irmãs novasidéias e apoio. O impacto é mais amplo em conseqüência dapresença de uma gama mais ampla de capacidades profissionais edons espirituais.

Eis onde a unidade e a encarnação encontram-se. Como dizTimothy Dudley-Smith: "O que a maioria de n6s precisa não éde novas Escrituras, mas de novos olhos't.? Ao trabalhar emconjunto, imbuídos de servir àqueles em necessidade, nossa visãoaperfeiçoa-se. Vemos as necessidades mais claramente porqueolhamos através de mais olhos. Nossa resposta é mais efetivaporque temos mais mãos. Continuamos a servir porque o EspíritoSanto nos apoia através uns dos outros. 3

5958

J Timothy Dudley-Srnith, Someone wh o Beckons (Inter-Varsity Press, Ingla-terra) J 978.

2 Posteriormente Sirlei Tarragô tornou-se secretária da Diaconia em SãoPaulo.

3 Algumas das pessoas citadas neste capítulo agora trabalham em outraslocalidades.

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ALGUMAS ENTIDADES QUE DESENVOLVEM TRABALHO SOCIAL

Algumas Entidades queDesenvolvem Trabalho

Social

Fundo Cristão para Crianças

Entidade mantida por ajuda externa e nacional que financiaprojetos com crianças e suas famílias através do sistema deapadrinhamento. Atua também na área de desenvolvimento, comverbas especificas, empreendendo um amplo trabalho rural noVale do Jequitinhonha. Mantém escritórios nas cidades de BeloHorizonte e Fortaleza. Atua atendendo populações de bairrosperiféricos através de Centros Sociais.Endereço em B. Hte: Rua Curitiba 689, 5.o andar. Fone: (031)

201-4955Em Fortaleza: Av. Dom Luis, 73. Fone: (085) 224-9901

Associação Evangélica Beneficente de São Paulo

É uma entidade formada por evangélicos de São Paulo, mantendocreches, hospitais, lares e abrigos para anciãos.Endereço: Rua Barão de Iguape, 99 - São Paulo - SP.

Diaconia

Entidade mantida por ajuda externa e nacional que financiaprojetos na área de educação, saúde, nutrição, agricultura eformação profissional. A filosofia da entidade é a de ensinar a"pescar" e não "dar o peixe". Em alguns lugares trabalha comorganizações que possuem o sistema de apadrinhamento.Endereço emRecife:

Federação de Órgãos de Assistência Social e Educacional (FASE)

É uma entidade nacional, desligada já há algum tempo daCatholic Relief Service. A FASE desenvolve trabalho comunitáriocom população de baixa renda e grupos de periferia. Mantémescritórios no Rio, Recife e Fortaleza, e proporciona assessoriaaos grupos ou entidades que fazem trabalho comunitário.Endereço no Rio: Caixa Postal, 9010

Rua das Palmeiras, 90, Botafogo.Fone: (021) 286-6134; 286-679722270 Rio de Janeiro, RJNo Rio:

Rua Marquês de Amorim, 599, Caixa Postal,1348, Bairro Boa Vista (Ilha do Leite).Fone: (081) 221-0508

Av. Churchill, 129, Conjuntos 802, 803 e 80420.000 Rio de Janeiro, RJ. Fones: (021)220-2423 e 220-5223 Obras Sociais Fé e Alegria

Entidade rnantida por irmãos da Holanda que sustentam missio-nários holandeses e brasileiros na cidade de São João DeI Rey.Possue uma creche com cerca de 250 crianças aproximadamente.Dá assistência às famílias e a dois bairros periféricos de São JoãoDeI Rey. Mantém também projetos na área de saúde, evangeliza-ção e agricultura no Amazonas e Rondônia.Endereço: Caixa Postal, 28

36300 São João DeI Rei, MG

Em B. Hte.: Rua Curitiba, 778, sala 803 Fone: (031)201-4322 - 30.000 Belo Horizonte, MG

Sociedade do Bem Estar do Menor em Sabínôpolls<li

Entidade fundada pela Igreja Evangélica Missionária Pentecostalda Holanda. Esta sociedade mantém creche, casas lar, treinamen-to profissional, café-bar, projetos de agricultura e assistência àsfamílias. A filosofia de trabalho dessa organização orienta-se peloprincipio de fundar igrejas e, posteriormente, conforme as neces-sidades, articular-se trabalho de ação social.Endereço: Caixa Postal, 3

Rua Inácio Barroso, 267/28939750 Sabinópolis, MG

Visão Mundial

Entidade cristã humanitária, mantida por ajuda externa exclu-sivamente. Tem corno diretriz filosófica de trabalhar com o serhumano de forma integral ou holística, ou seja, o ser humano

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ALGUMAS ENTIDADES QUE DESENVOLVEM TRABALHO SOCIAL

D.E.O.F. - Departamento de Educação e Orientação à Família.

Vinculado à Sociedade de Senhoras Luteranas - O.A.S.E.(Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas de São Paulo).Possui um centro de orientação onde são administrados várioscursos profissionalizantes. O projeto oferece ainda assistênciamédica e dispõe de uma creche e realiza reuniões de Bandeiran-tes e Escoteiros.

ALGUMAS ENTIDADES QUE DESENVOLVEM TRABALHO SOCIAL

Rua Frei Marcelino 415Pq. Araxá60.000 Fortaleza, CE

precisa ser atendido em todas as dimensões: física, social, espiri-tual e emocional. Por isto mesmo a Visão Mundial tem trabalha-do no Brasil com agências evangélicas pois, nos seus projetos, in-cluem a evangelização. A Visão Mundial no Brasil trabalha atra-vés do sistema de apadrinhamento e com verbas para projetos dedesenvolvimento rural.

Escrit6rio Nacional:Caixa Postal, 848Rua Levindo Lopes, 358, 1. o e 2. o andares, Savassi.Fones: (031) 221-8944; 221-8755; 221-822430.000 Belo Horizonte, MG

Escrit6rio de Recife:Rua Carneiro Vilela, 638, Espinheiro.Fone: (081) 221-266550.000 Recife, PE

REBUSCA - Ação Social Evangélica Viçosense, Minas Gerais.

Organizada em dezembro de 1981, a Rebusca tem uma crechenas dependências da congregação do Vale do Sol, com 40crianças, de três diferentes bairros pobres. O programa daRebusca inclui assistência médica e odontol6gica, amparo aosmenores desamparados e à velhice, orientação e financiamento nacompra de lotes residenciais e na construção ou melhoria de casaspr6prias; organização de cursos profissionalizantes, abertura denovas frentes de trabalho para gerar emprego; construção de casasde recuperação para prostitutas, alco6latras e viciadas em drogas;criação de um centro de abastecimento. Atividades em estrutura-ção.

Endereço:Prof. Daison Olgany Silva,Departamento de Biologia,Universidade Federal de Viçosa,36.570 Viçosa, MG

Secretaria de Diaconia da ABUB

Entidade nacional que desafia estudantes e profissionais cristãosa envolver suas vidas e profissões a serviço de Deus no mundo,expressando sua fé através de projetos de desenvolvimento comu-nitário e programas de educação e promoção humana. Estáligada a vários projetos regionais tais como O Projeto Castelão (verabaixo).

Endereço:Serviço de DiaconiaAliança Bíblica UniversitáriaCaixa Postal 3050501051 São Paulo, SPFone: ('llll 571-1052

Igreja Batista de Cotia, Estado de São Paulo.

Essa igreja, juntamente com a Igreja Batista de Itapevi, juntasformaram a "Ação Comunitária Batista", que por sua vez realizaum sem número de projetos: Clube de Engraxates, Fazenda deAssistência ao Menor, Clube de Mães, etc.

Endereço:Rua das Flores n. o 3Bairro do Portão06.700 Cotia, SP

Projeto Castelão

Entidade criada pela Aliança Bíblica Profissional de Fortaleza,desenvolvendo atividades nas áreas de educação, saúde, serviçosocial e evangelização. A equipe prevê a colaboração de estagiá-rios para atuarem durante as férias de janeiro e fevereiro.Endereço:Coordenadora de DiaconiaMaria Leci Queiroz

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ALGUMAS ENTIDADES QUE DESENVOLVEM TRABALHO SOCIAL

Policlínica Batista Monte das Oliveiras, São Paulo.

Conta hoje com uma equipe de 70 profissionais entre médicos,enfermeiros, dentistas, psicólogos, advogados e outros, todosvoluntários. Oferece à comunidade serviços e atendimento naárea de saúde. Tem o propósito de prestar assistência médica,psicológica, odontológica, social e jurídica a pessoas carentes e debaixa renda, independente de sua religião, cor, raça e procedên-cia. Promove também treinamento e cursos de orientação.

Endereço:Policlínica Batista Monte das Oliveiras,Rua Joaquim Távora 588Vila Mariana,04.005 São Paulo, SP

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