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Índice 1. Introdução.................................................. 1 1.1 Metodologia................................................2 1.2 Objectivos.................................................2 1.3 Estrutura do Trabalho......................................2 2. Dívida externa – Origem e implicações....................... 3 3. A dívida externa e os Programas de Ajustamento Estrutural. . . 5 4. A Crise da dívida externa em Moçambique..................... 7 4.1 Ajustamento Estrutural................................... 7 4.2 A iniciativa HIPC........................................ 8 4.3 Plano de Acção para Redução da Pobreza Absoluta.......... 9 5. Conclusão.................................................. 10 6. Referências Bibliográficas.................................11

A Crise Da Dívida e Ajustamento Estrutural – O Caso de Moçambique

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O presente ensaio visa abordar a questão da crise da dívida e ajustamento estrutural nos países do terceiro mundo, tomando Moçambique como estudo de caso. Os anos de 1970 e 1980 foram marcantes para grande parte dos países do terceiro mundo, visto que foi neste período que a crise do petróleo e o agravamento das taxas de juros internacionais originaram a crise do endividamento.

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Page 1: A Crise Da Dívida e Ajustamento Estrutural – O Caso de Moçambique

Índice1. Introdução...............................................................................................................................1

1.1 Metodologia........................................................................................................................2

1.2 Objectivos...........................................................................................................................2

1.3 Estrutura do Trabalho......................................................................................................... 2

2. Dívida externa – Origem e implicações..................................................................................3

3. A dívida externa e os Programas de Ajustamento Estrutural..................................................5

4. A Crise da dívida externa em Moçambique............................................................................7

4.1 Ajustamento Estrutural....................................................................................................7

4.2 A iniciativa HIPC............................................................................................................8

4.3 Plano de Acção para Redução da Pobreza Absoluta........................................................9

5. Conclusão.............................................................................................................................10

6. Referências Bibliográficas....................................................................................................11

Page 2: A Crise Da Dívida e Ajustamento Estrutural – O Caso de Moçambique

1. Introdução

O presente ensaio visa abordar a questão da crise da dívida e ajustamento estrutural nos países do

terceiro mundo, tomando Moçambique como estudo de caso. Os anos de 1970 e 1980 foram

marcantes para grande parte dos países do terceiro mundo, visto que foi neste período que a crise

do petróleo e o agravamento das taxas de juros internacionais originaram a crise do

endividamento.

Com o início das independências várias estratégias de desenvolvimento sucederam-se pelo

continente africano, desde as estratégias de inspiração socialista às de inspiração capitalista,

reflectindo os desenrolamentos geopolíticos da guerra fria. Assim estas estratégias levaram a um

grande endividamento dos países do terceiro mundo favorecido pelos altos saldos dos bancos do

Ocidente Macuane (2006: 1).

Porém, as crises do petróleo de 1973 e 1979 propiciaram uma mudança no cenário internacional

e o consequente aumento das taxas internacionais de juro. Esse aumento nos juros fez aumentar

os encargos da dívida externa e consequentemente urgência por divisas, necessitando um ajuste

nas economias (UVB: 2006: 36).

Segundo Mosca (2005), os Programas de Ajustamento Estrutural (PAE) surgem com o objectivo

central de reequilibrar a balança de pagamentos e na tentativa de solucionar os problemas

relativos a dívida externa.

Moçambique, tal como muitos países do terceiro mundo, aderiu aos PAE. Na década 80

Moçambique atravessava uma grave recessão económica e consequentemente se agravava a sua

dívida externa. A crise económica que gerou alta de preços do petróleo no mercado global; a

crise económica que arruinou o país entre os anos de 1982 a 1987, decorrente da guerra de

desestabilização política e económica associadas a outros factores domésticos, regionais e

globais, levaram a que Moçambique aderisse aos PAE e como consequência implementasse

reformas neoliberais (Matsinhe: 2011: 42).

Neste contexto pretende-se com o trabalho compreender as implicações políticas da dívida

externa, analisar a relação entre a dívida externa e ajustamento estrutura e a relação entre

ajustamento estrutural e desenvolvimento.

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1.1 Metodologia

A pesquisa foi conduzida usando o método histórico e a técnica documental. O método histórico

defende que as actuais formas de vida social, as instituições e os costumes têm origem no

passado, é importante pesquisar suas raízes para compreender sua natureza e funções. Este

método consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar

sua influência na sociedade actual (Marconi e Lakatos, 2009: 91). Portanto, este método permitiu

indagar sobre o histórico da crise da dívida nos países em desenvolvimento, em particular em

Moçambique.

A técnica documental consiste na análise de documentos originais, que ainda não receberam

tratamento analítico, com o objectivo de seleccionar, tratar e interpretar as informações buscando

extrair valores para as mesmas, (Gil, 1999: 37). Esta técnica consistiu no uso de fontes

secundárias tais como relatórios, trabalhos elaborados e jornais.

1.2 Objectivos

Geral

Analisar a questões da dívida externa e ajustamento estrutural

Específicos

Reflectir sobre as implicações políticas da dívida externa;

Analisar a relação entre a dívida externa e ajustamento estrutural;

Estudar a crise da dívida e o ajustamento estrutural em Moçambique.

1.3 Estrutura do Trabalho

O presente trabalho foi organizado em três partes, sendo que na primeira indagamos sobre a

origem e implicações da dívida externa. Na segunda analisamos os programas de ajustamento

estrutural e; por fim, analisamos o caso particular da divida externa em Moçambique, bordando

os Programas de Reabilitação Económica (PRE), surgindo no contexto do PAE, o PARPA e a

iniciativa HIPC como soluções propostas para o alívio da dívida dos países pobres.

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2. Dívida externa – Origem e implicações

Mosca (2005) afirma que a crise da dívida foi produto de um inicial excesso de oferta de crédito

com taxas de juro baixas no sistema financeiro internacional, parcialmente estimulada pela

entrada de grande quantidade de dólares, provenientes das receitas do petróleo. Assim, durante

este período, os países menos desenvolvidos começaram a pedir somas substanciais a bancos

comerciais no mercado financeiro europeu.

Deste modo, grande parte do crédito era destinada a empresas estatais que cresciam

continuamente enquanto o investimento directo estrangeiro reduzia. Se substituía uma forma de

capital estrangeiro pela outra. Esta substituição de empréstimos pelo investimento directo

conferiu aos gestores do Estado mais controlo sobre actividade económica doméstica e mais

controlo, pelo menos inicialmente, sobre a articulação entre as economias nacional e mundial

Lipson (1985: 200).

A consequência disso viria à tona na década 80 depois da segunda crise de petróleo. Os termos

de pagamento eram claramente fixados contratualmente e não tinha conexão com a performance

económica nacional. Estes tornavam-se crescentemente caros na medida em que as taxas

elevavam e os ganhos de exportação caíam.

Lipson (Ibid.) afirma que em momentos de crise, o devedor necessita tipicamente de algum

espaço de manobra e em troca os credores querem alguma garantia de que se renegociarem serão

pagos prontamente. Eles demandaram e receberam um acordo dos devedores para levar a cabo

severos programas de austeridade.

Na prática isto significa que o devedor deve aproximar-se ao Fundo Monetário Internacional

(FMI) para um suporte condicional da balança de pagamentos. Para assegurar este suporte, um

país membro deve alcançar um acordo com o FMI sobre as suas futuras políticas económicas e

metas de performance. Ao recusar assinar um pacote de estabilização, o FMI podia

efectivamente sabotar qualquer acordo entre os credores e o devedor e assim colocar em causa os

interesses dos credores (Ibid: 202).

Deste modo, o papel do FMI durante 1980 reflectia largamente a preocupação dos governos

ocidentais e de bancos privados para assegurar o pagamento da dívida virtualmente a todos

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custos. Para tal, o FMI propôs principalmente as seguintes medidas: renegociação da dívida e

revisão das taxas de câmbio e de juro (Mosca: 2005).

Estava claro que empréstimos ao terceiro mundo implicavam perdas; o que não estava claro é

quem seria o jogador na baixa ou seja, quem ia se responsabilizar pelas perdas. Esta era a

questão que se colocava entre credores e devedores, entre credores e suas autoridades

monetárias, e entre os credores.

Para Walton e Seddon (1994), as respostas das Instituições de Bretton Woods (IBW) para a crise

resultaram no aumento da diferenciação no terceiro mundo: diferentes regimes de acumulação de

capital e diferentes formas de Estado seguindo diferentes políticas e diferentes trajectórias.

Geralmente, aqueles países com um crescimento económico forte estavam em melhores

condições para prover condições através das quais grupos sociais vulneráveis podiam sobreviver

e defender os seus padrões de vida; e aqueles cuja crise económica apenas agudizou-se durante a

década 1980 enfrentaram o completo rigor do ajustamento.

Nos finais da década 80 e início da década 90, o argumento geral do Banco Mundial era de que

uma implementação rigorosa do ajustamento estrutural reduzia efectivamente os custos sociais

do ajustamento e assegurava uma melhor recuperação económica.

Na década 80, quando a recessão mundial tornou-se uma baixa global, o processo de

reestruturação que acompanhou a crise e pretendia restaurar a base para acumulação de capital

nos países industriais e capitalistas afectou o resto do mundo. Em partes do terceiro mundo, este

reestruturamento foi acompanhado por uma contínua crise económica, notavelmente na África

Subsaariana, Norte de África e Médio Oriente, e América Latina. Na Ásia do Leste, as altas taxas

de crescimento ajudaram a superar ou a adiar problemas económicos. Na antiga Europa Oriental

e na União Soviética, o reestruturamento global também teve o seu impacto Walton e Seddon

(1994: 8).

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3. A dívida externa e os Programas de Ajustamento Estrutural

O agravamento dos desequilíbrios na balança de pagamentos dos países em desenvolvimento,

principalmente a partir do final dos anos 70, engrandeceu a preocupação dos bancos credores e

dos governos dos países-sede de tais bancos, uma vez que se aproximava a virtual insolvência

dos países devedores. Foi neste contexto que se colocou a sujeição aos programas de ajustamento

do FMI como pré-condição para a renegociação da dívida do terceiro mundo Munhoz (2008: 86).

A implementação dos PAE traduziu, segundo Macuane (2006: 1), a solidificação do designado

Consenso de Washington, a cartilha do paradigma neoliberal que passou a inspirar os destinos do

continente africano, com grande influência das instituições financeiras internacionais, FMI e o

BM.

Os programas de ajustamento estrutural eram, portanto, pacotes de reforma de políticas com o

objectivo de alcançar estabilidade macroeconómica e um modelo de crescimento alicerçado nas

exportações, acreditando-se que esta receita poderia reduzir a pobreza.

Segundo as IBW, os PAE têm como objectivos o restauração dos equilíbrios macroeconómicos

como condição necessária (mas não suficiente) para a saída da crise e para o crescimento

económico; a racionalização das economias através da alocação e utilização eficaz dos recursos

para torná-las competitivas e estimular a sua integração no mercado internacional e; a introdução

de mudanças estruturais para assegurar o crescimento estável a longo prazo e evitar novos

desequilíbrios Mosca (2005).

Assim, entre as medidas avançadas com os PAE, consta a incisão nos gastos públicos, a

implementação de políticas monetárias e fiscais restritivas, liberalização da economia, desajuste

dos preços internos e a privatização das empresas do Estado e da provisão de alguns serviços

públicos essenciais, como condições para o acesso ao crédito. São os designados

condicionalismos Macuane (Ibid.).

Mosca (2005) afirma que as medidas económicas são seguidas por reformas políticas: fim dos

regimes monopartidários, aumento das liberdades individuais, eleições, respeito pelos direitos

humanos, etc. Assim, a “democratização” significa essencialmente a substituição dos regimes de

partido único por um sistema multipartidário.

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Basicamente, trata-se de permitir às novas classes capitalistas locais, um maior acesso ao poder,

e por esta via, aos interesses económicos com o objectivo de substituir ou transformar

paulatinamente as oligarquias políticas e os monopólios económicos estatais Mosca (Ibid.).

Contudo, Munhoz (2006: 86) declara que os PAE não solucionaram o problema do

endividamento, provocaram, porém, profunda desordem económica e social nos países

devedores. O insucesso dos PAE deveu-se ao facto de a materialização de saldos comerciais

depender da estrutura das exportações do país e não de programas de depauperamento que

procuram compelir a criação de excedentes exportáveis. Desse modo, à medida que a crise se

provava recorrente, passaram a emergir propostas nos países credores, com as mais diversas

fórmulas voltadas a garantir a recepção dos empréstimos concedidos pelos bancos Munhoz

(2006: 86).

Assim, a persistência destes problemas e as críticas ao FMI e BM conduziram estas instituições a

lançarem em 1996 a iniciativa dos países pobres mais endividados, a HIPC (Highly Indebted

Poor Countries), que visava ajudar os países pobres a cumprir com as suas reformas económicas

GMD (2006: 8).

Em 1999 o BM propôs aos Governos que pretendessem adquirir financiamento em termos

concessionais ou o alívio da sua dívida que apresentassem às IBW Documentos de Estratégias de

Redução da Pobreza (DERP) ou em inglês Poverty Reduction Strategy Papers (PRSP)

(Macuane; 2006: 2).

Contudo, Macuane (Ibid.: 3), citando World Development Movement (2005)1 afirma que as

Estratégias de Redução da Pobreza (ERP), embora sejam resultado das críticas e insucesso dos

PAE, conservam ainda muitas características dos seus antecessores, designadamente, políticas

fiscais e monetárias restritivas, liberalização do comércio, privatização da propriedade do Estado

e mesmo de alguns serviços essenciais.

1WDM – World Development Movement (2005). One Size Fits All: a study of IMF and World Bank6

Page 8: A Crise Da Dívida e Ajustamento Estrutural – O Caso de Moçambique

4. A Crise da dívida externa em Moçambique

Após a independência do país em 1975, Moçambique engajou-se numa luta para restaurar a

economia dos danos deixados pelos colonos. Até os anos de 1980/81 a economia moçambicana

tinha crescido e o país tinha conseguido sair da crise económica do período pós independência

(Matsinhe; 2011: 42).

Contudo, na década 80, verificou-se acumulação da dívida externa de Moçambique. GMD

(2006: 5) aventa razões para a crise da dívida moçambicana, dividindo-as em razões de âmbito

interno: calamidades naturais e politicas económicas ineficientes; e razões de âmbito externo: a

dinâmica político-económica regional, a crise do petróleo dos anos 70, aumento das taxas de juro

internacionais e deterioração dos termos de troca e redução dos ganhos das exportações.

Portanto, segundo Matsinhe (2011: 54), a dívida de Moçambique era, em 1984, de 2,4 biliões de

dólares. A dívida era tida com países específicos, com países da Organização de Comércio e

Desenvolvimento Económico (OCDE), com países da Organização de Produtores e Exportadores

de Petróleo (OPEP) e com países do bloco Leste. Assim, o árduo fardo da dívida e a

incapacidade de pagamento, associados a fome e guerra, tornaram a adesão às IBW a única

solução para implementação de políticas de desenvolvimento para a sobrevivência do país

Matsinhe (Ibid.: 55).

Neste contexto Moçambique adere às instituições financeiras internacionais como forma de ter

acesso a ajuda internacional e implementa os PAE que foram acompanhados de reformas

neoliberais.

4.1 Ajustamento Estrutural

O PAE em Moçambique teve lugar em 1987 com o objectivo de ajudar Moçambique a alcançar

estabilidade macroeconómica. Nesse contexto surge o Programa de Reabilitação Económica

(PRE) que tinha como objectivos realizar reformas económicas no quadro do ajustamento

estrutural do FMI e BM e preparar Moçambique para receber ajuda externa ao desenvolvimento.

Deste modo a economia foi reestruturada com base em princípios do Consenso de Washington e

políticas neoliberais.

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Matsinhe (Ibid.: 44), afirma que embora a ajuda destinava-se a resolver problemas económicos e

sociais ela aumentou a pobreza e diminuiu o poder do Estado sobre corporações multinacionais.

A dívida externa cresceu e Moçambique passou a depender económica e financeiramente da

ajuda externa dos países ocidentais.

Os PAE foram ruinosos, não só em Moçambique como em muitos países do terceiro mundo.

Estes programas receberam muitas críticas e não resolveram o problema da dívida dos países em

desenvolvimento.

4.2 A iniciativa HIPC

Segundo GMD (2006: 8), a iniciativa HIPC foi uma das propostas que visava aliviar a dívida dos

países pobres. Foi uma iniciativa lançada pelo BM e FMI e baseia-se no reconhecimento da

severidade do problema de endividamento para os países pobres, não obstante todas as iniciativas

desenhadas até então.

Esta iniciativa reforçou a de Nápoles (anterior) elevando as possibilidades de alívio do serviço da

dívida vencida nos últimos quatro anos para cerca de 80%, bem como reduzir ainda mais as taxas

de juro aplicáveis (Ibid.).

Pela primeira vez o alívio incidia tanto sobre o serviço da dívida como sobre o próprio stock

acumulado. Um quadro de indicadores de alto endividamento foi desenvolvido, segundo o qual,

um país seriam então considerado altamente endividado, ou seja, com uma dívida insustentável,

e assim ser elegível para esta iniciativa, quando o serviço da dívida e o valor actual da dívida

externa fosse superior, respectivamente, a 25% e 250 % da receita das exportações (Ibid.).

Moçambique foi capaz de reduzir a sua dívida através desta iniciativa. “Ao cumprir as condições

alargadas da iniciativa HIPC, o país beneficiou de uma redução acentuada, tendo o valor actual

do stock em dívida em Dezembro de 2001 caído para 916 milhões de dólares, e o rácio do

serviço da dívida, sobre as exportações, passado para 5,2%” (Metier; 2002: 10).

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4.3 Plano de Acção para Redução da Pobreza Absoluta

O PARPA é uma política pública do governo de Moçambique que, segundo Francisco (2012: 2),

se inspira nos DERP concebidos e adoptados pelo FMI e BM em 1999 como uma nova estratégia

para nortear sua assistência aos países de baixa renda.

Francisco (Ibid. 5) afirma que para além de dar continuidade à função de mobilização de

recursos financeiros, os DERP foram motivados por um novo contexto observado no final do

século XX. As dívidas públicas acumuladas por vários Estados muito endividados tinham

atingido níveis insustentáveis.

Esta situação forçou os credores internacionais a optarem pelo reescalonamento, ou mesmo

cancelamento parcial ou totalmente, de um conjunto de dívidas públicas, incluindo a de

Moçambique (Ibid.).

A redução da pobreza absoluta faz parte do objectivo mais amplo de melhoria do nível de vida e

do bem-estar dos cidadãos. Este objectivo alcança-se através do crescimento económico e

desenvolvimento humano sob condição das despesas nacionais serem pagas com o rendimento

da aplicação dos factores produtivos pertencentes aos próprios cidadãos. Devido à sua elevada

exigência, este objectivo é alcançável no longo prazo, através de uma progressão gradual com

metas de curto e médio prazo.

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5. Conclusão

Vimos durante o trabalho que durante as décadas 70 e 80 assistiu-se no mercado financeiro

internacional um excesso de oferta de crédito proveniente das receitas do petróleo, com taxas de

juro baixas. Nesse contexto os países menos desenvolvidos começaram a pedir somas

substanciais a bancos comerciais no mercado financeiro europeu. Seguiu-se a aplicação

ineficiente e ineficaz dos financiamentos por parte destes países, bem como a redução de oferta e

a subida das taxas de juro (resultante dos choques do petróleo). Assim os efeitos combinados

dificultaram o cumprimento dos compromissos por parte dos países devedores (Mosca; 2005).

Estava instalada a crise da dívida nos países do terceiro mundo. Tratando-se de um momento de

crise os devedores necessitavam de espaço de manobra e os credores da garantia de que seriam

pagos prontamente, daí a renegociação da dívida.

Os PAE foram impostos como condições para acesso ao crédito. Moçambique também foi palco

dos PAE e ficou provado que estes programas não resolvem o problema da dívida e têm efeitos

nefastos para os países em desenvolvimento. Estas políticas forçam os países pobres a adoptar

um padrão insustentável de produção virada para a exportação, com impactos perversos sobre o

valor desses produtos no mercado internacional, sobre a vida das populações e sobre os recursos

não renováveis, e que tais políticas enfraquecem as economias domésticas, o poder de compra

dos salários, o património público e a capacidade do Estado de investir, regular, e proteger o

meio ambiente.

Dado a ineficácia destas políticas e as criticas as mesmas as IBW implementaram outras.

Durante o trabalho foi destaque a iniciativa HIPC e os DERP. Estas iniciativas também têm o

objectivo de aliviar a dívida dos países pobres e nortear a assistência a esses países. Contudo,

tem se verificado nestas iniciativas as características severas das anteriores.

Importa realçar que a crise da dívida é um assunto complexo e atractivo que desperta interesse

aos académicos das Relações Internacionais Contemporâneas. Este assunto permite-nos

compreender o pano de fundo das relações entre os Estados do terceiro com as IBW e o Ocidente

no Geral.

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6. Referências Bibliográficas

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GIL, António Carlos (1999) Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5a Edição, Atlas,

São Paulo.

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Moçambique: Evolução, Desafios e Necessidades de Uma Estratégia Consistente e

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MACUANE, José Jaime (2006). Os Paradoxos do Desenvolvimento à La Carte. Pdf

MARCONI, Marina de Andrade e Eva Maria Lakatos (2009). Metodologia do Trabalho

Científico. 7ª Edição. Editora Atlas. São Paulo.

MATSINHE, Leví Salomão (2011). Moçambique: Uma longa caminhada para um futuro

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MOSCA, João (2005). Economia de Moçambique, Século XX. Lisboa. Editora Piaget.

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WALTON, John & David Seddon (1994). Free Markets and Food Riots: The Politics of

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