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Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012. A Doutrina de Segurança Nacional e sua influência sobre os cursos de formação de agentes do Serviço Nacional de Informações, 1972-1978 Fabiana de Oliveira Andrade * 1) A Doutrina de Segurança Nacional e seu desenvolvimento no Brasil A criação da Escola Superior de Guerra A criação da Escola Superior de Guerra, segundo Eliezer Rizzo de Oliveira em “As forças armadas: política e ideologia no Brasil (1964-1969)”, surgiu, principalmente, em razão dos seguintes fatos: 1) participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Estados Unidos; 2) debate político a respeito da exploração do petróleo. De fato, após a Segunda Guerra Mundial, muitos oficiais retornaram ao Brasil convictos da necessidade de acelerar o desenvolvimento econômico do país, pois isso proporcionaria o desenvolvimento do próprio aparato militar. Por sua vez, os Estados Unidos, que almejavam a aproximação com o Exército Brasileiro desde o governo de General Eurico Gaspar Dutra (1946-1950), ofereceram acesso aos oficiais brasileiros as suas escolas militares, a fim de substituir a influência francesa no Exército. A partir dessa influência da escola de guerra norte-americana, oficiais brasileiros retornaram com proposta de desenvolver um sistema de segurança nacional inspirado na National War College. Para a consecução desse objetivo, foi enviado ao Brasil uma missão norte-americana, no ano de 1948, com o fim de orientar, doutrinária e ideologicamente, a fundação da Escola Superior de Guerra. A ESG, desde os primeiros anos de seu funcionamento: esquematizou a doutrina americana: objetivos nacionais, poder nacional, segurança nacional, conceito estratégico nacional. Essas categorias englobam todos os aspectos da realidade nacional. O esquema abstrato do Estado futuro já está claramente concebido (COMBLIN, 1978: 155-156) Em razão da ausência legal de previsão da grade curricular a ser ministrada na ESG, houve uma ampla liberdade atribuída àdireção da Escola, assim como conferiu-se poderes de * Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista – UNESP, bolsista do CNPq. Orientador: Prof. Dr. Samuel Alves Soares

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Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012.

A Doutrina de Segurança Nacional e sua influência sobre os cursos de formação de

agentes do Serviço Nacional de Informações, 1972-1978

Fabiana de Oliveira Andrade *

1) A Doutrina de Segurança Nacional e seu desenvolvimento no Brasil

A criação da Escola Superior de Guerra

A criação da Escola Superior de Guerra, segundo Eliezer Rizzo de Oliveira em “As

forças armadas: política e ideologia no Brasil (1964-1969)”, surgiu, principalmente, em

razão dos seguintes fatos: 1) participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos

Estados Unidos; 2) debate político a respeito da exploração do petróleo.

De fato, após a Segunda Guerra Mundial, muitos oficiais retornaram ao Brasil

convictos da necessidade de acelerar o desenvolvimento econômico do país, pois isso

proporcionaria o desenvolvimento do próprio aparato militar. Por sua vez, os Estados

Unidos, que almejavam a aproximação com o Exército Brasileiro desde o governo de

General Eurico Gaspar Dutra (1946-1950), ofereceram acesso aos oficiais brasileiros as suas

escolas militares, a fim de substituir a influência francesa no Exército.

A partir dessa influência da escola de guerra norte-americana, oficiais brasileiros

retornaram com proposta de desenvolver um sistema de segurança nacional inspirado na

National War College. Para a consecução desse objetivo, foi enviado ao Brasil uma missão

norte-americana, no ano de 1948, com o fim de orientar, doutrinária e ideologicamente, a

fundação da Escola Superior de Guerra. A ESG, desde os primeiros anos de seu

funcionamento:

esquematizou a doutrina americana: objetivos nacionais, poder nacional, segurança

nacional, conceito estratégico nacional. Essas categorias englobam todos os aspectos da

realidade nacional. O esquema abstrato do Estado futuro já está claramente concebido

(COMBLIN, 1978: 155-156)

Em razão da ausência legal de previsão da grade curricular a ser ministrada na ESG,

houve uma ampla liberdade atribuída àdireção da Escola, assim como conferiu-se poderes de

* Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista – UNESP, bolsista do CNPq. Orientador: Prof. Dr. Samuel Alves Soares

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direção ao próprio Estado Maior das Forças Armadas. É possível, ainda, verificar, com base

na estrutura educacional, que havia uma tendência de formação de uma elite dirigente,

composta por civis e militares, com fins de estudo de assuntos referentes à segurança

nacional.

A Doutrina de Segurança Nacional e a Escola Superior de Guerra

Trabalhos acadêmicos já esclareceram que a Escola Superior de Guerra foi a criadora e

principal propagadora da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), pois a própria escola

militar foi criada com a finalidade de implantar a doutrina, assim como para aprimorá-la,

embora seja difícil, conforme salienta Eliezer Rizzo de Oliveira em “As forças armadas:

política e ideologia no Brasil (1964-1969)” , avaliar a profundidade de penetração da DSN na

Escola, pode-se observar que a principal crença da doutrina era a integração do Brasil ao

cenário político internacional, pelos seguintes motivos: a) grande população e extensão

territorial do Brasil; b) posição geopolítica, fornecendo uma posição estratégica perante as

relações políticas internacionais; c) sua vulnerabilidade ao comunismo, pelas dificuldades

intrínsecas da vida social brasileira, como, por exemplo: pobreza da população e políticos

corruptos.

Diante dessas situações, a ESG elaborou teorias que ofereceriam possíveis soluções

para tal amplitude de problemas. Para que se atingisse o ideal de segurança definido pela

ESG, primeiramente deveria haver o desenvolvimento econômico do país a fim de que o

destino brasileiro de “grande potência” fosse reforçado, concomitantemente, dever-se-ia

construir mecanismos internos para o combate ao comunismo.

A partir de 1964, com a crise de hegemonia do Estado brasileiro, o Estado é tomado

pelas Forças Armadas, fundamentadas pelos pressupostos elaborados pela Doutrina de

Segurança Nacional. A intervenção das Forças Armadas inicia-se, no Estado Brasileiro, a

partir da ideologia criada pela Escola Superior de Guerra onde a atuação da Escola é ponto

chave na definição dos novos rumos políticos do país, devido à sua posição estratégica nas

Forças Armadas e ao desenvolvimento de uma doutrina que defendia a subordinação política

da classe operária e a participação do Brasil na estratégia do mundo ocidental capitalista, cuja

supremacia pertencia aos Estados Unidos.

A Doutrina de Segurança Nacional é concebida num momento em que se operam transformações profundas na sociedade brasileira e no contexto internacional. A

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insistência no combate ao ‘neutralismo’, a propugnação do envolvimento incondicional do Brasil no Bloco Ocidental, a ênfase na defesa do continente americano de agressões ‘externas’, apontam para além de uma identificação ideológica com o ‘Mundo Livre’ (OLIVEIRA, 1976: 26)

É observada, na doutrina, a interligação entre o Estado e a tendência à predominância do

grande capital, este considerado indispensável para a concretização dos objetivos nacionais,

quais sejam, objetivando o desenvolvimento econômico e a implementação de uma política de

segurança nacional, já definidos pelas Forças Armadas.

Para minimizar as influências da ESG e da Doutrina de Segurança Nacional dentro do

aparato estatal e na sociedade, haveria a necessidade de aprofundamentos da democracia,

quer pela institucionalização e desenvolvimento de mecanismos de representação política e

alternativas de participação direta da população nas esferas do poder de Estado. Entretanto, o

tipo de regime que se estabelecera no Brasil culminara com o afastamento das massas da

condução e do controle das decisões do Estado.

Conceitos da Doutrina de Segurança Nacional

Conceito de Segurança Nacional

Dentro da Doutrina de Segurança Nacional não consta a explicação ou conceituação do

termo “Segurança Nacional”; este conceito está sempre implícito. O objetivo da Segurança

Nacional é proporcionar a conquista e manutenção dos Objetivos Nacionais2.Segundo

Antônio de Arruda, no momento de implantação da Escola Superior de Guerra, o conceito

tradicional de Segurança – ligado à Defesa, de cunho estritamente militar, vinculado à

exploração do potencial econômico – já era substituído por outro mais abrangente – político –

que defendia o resguardo de toda a nação, à participação do Brasil no bloco ocidental e à

continuidade da sociedade capitalista: “A noção de Segurança é mais abrangente que a de

Defesa, esta entendida como um ato diretamente ligado a determinado tipo de ameaça,

caracterizada e medida.” (Manual Básico da ESG, 1975: 95).

Joseph Comblin tenta definir conceito de Segurança, baseado nos estudos de José

Alfredo Amaral Gurgel: “A Segurança Nacional é a capacidade que o Estado dá à Nação para

impor seus objetivos a todas as forças oponentes [...] Trata-se da força do Estado, capaz de

2 Golbery do Couto e Silva acredita que os objetivos nacionais consistem em “integração nacional, autodeterminação ou soberania, bem-estar, progresso

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derrotar todas as forças adversas e de fazer triunfar os Objetivos Nacionais” (COMBLIN,

1978: 54). A segurança é a força do Estado aplicada, e essa força está presente em todos os

lugares onde se suspeite haver focos comunistas. Embora sejam vagos os conceitos que

versam sobre a onipresença do comunismo e a atuação da Segurança Nacional, conseguem

estabelecer a crença, estimulada pela DSN, da presença do comunismo em todos os setores,

em todos os fragmentos da sociedade. Nas palavras de Comblin:

O conceito de segurança nacional torna-se muito operacional desde o momento em que se define o inimigo. A segurança nacional talvez não saiba muito bem o que está defendendo, mas sabe muito bem contra quem: o comunismo. Sua indefinição é que faz sua eficiência: o comunismo pode aparecer em todos os setores da sociedade. [...] A segurança nacional é a força do Estado presente em todos os lugares em que haja suspeita do fantasma do comunismo. (COMBLIN, 1978: 55)

Perante a evidência da presença constante do comunismo na sociedade, a Segurança

Nacional também deve ser onipresente, permeando todos os aspectos da vida social. Nesta

ideia se faz presente aspectos comuns entre a análise de Comlin e o estudo de Arruda. Para

Comblin, o propósito da ESG é que todos os cidadãos cooperem em prol da segurança,

considerando que o comunismo e a subversão ideológica sejam problemas onipresentes na

sociedade, como versa a DSN.

“Guerra revolucionária” e a atividade de informação

A partir da década de 60, o sentimento de “guerra contra o Comunismo Internacional”

fortaleceu-se a partir da incorporação do conceito de guerra revolucionária, entendida como

uma nova estratégia do comunismo internacional, sendo o melhor método de conquista do

mundo ocidental. A guerra revolucionária personificava apenas um inimigo: o comunismo

internacional, agora internalizado ao país. Todos os processos revolucionários (subversão,

terrorismo, guerra de libertação nacional, guerrilhas, etc.) são apenas fases distintas do

processo da guerra revolucionária.

Nesta modalidade, o Serviço de Inteligência é extremamente necessário, pois é

responsável pela identificação dos inimigos. Cabe à Inteligência a detecção de todos os

envolvidos com a subversão, através da “espionagem” dos locais profissionais, sociais, entre

outros frequentados pelos suspeitos. Perante à guerra revolucionária, a arma mais importante

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é a capacidade de coletar informações, e diante desse fim necessário e indispensável, o

emprego de quaisquer meios é considerado válido.

A análise da ESG é que a guerra revolucionária deforma a realidade. Na América

Latina não houve movimentos semelhantes aos da China e de Cuba; não havia uma guerrilha

revolucionária, porém a realidade nacional é tratada como se essa ameaça fosse iminente e

que colocava em risco todos os setores da sociedade.

2) Montagem e estruturação do Serviço Nacional de Informações

O golpe militar de 1964 foi resultado de uma conspiração que estava sendo articulada

desde o momento em que fora assegurada a posse do presidente João Goulart. Os conhecidos

fatos de março de 1964 apenas contribuíram para o emprego da força.

A partir do primeiro mandato presidencial do regime autoritário, com o general

Humberto de Alencar Castelo Branco, escolhido pelo Congresso em 11 de abril de 1964,

posturas dualistas – legalistas, que apoiavam Castelo Branco e a linha-dura, liderada por

Costa e Silva, que se originaram pela ausência de uma ideologia homogênea dentro das

Forças Armadas, o que suscitou, ao final, a construção de um aparelho repressivo que se

mostrava como incompatível com o regime democrático defendido com o golpe.

O campo de ideias dos autores da “Revolução de 64” vai se delineando

progressivamente, e, nas palavras de Jacob Gorender, era permeado pela “... obsessão

anticomunista, a obsessão da imposição à sociedade civil da disciplina e hierarquia

características do ethos militar, [...] a obsessão da construção de uma grande nação” (FICO,

2001: 13), ideias estas que só encontraram solo fecundo a partir da lógica da Guerra Fria, da

Doutrina de Segurança Nacional e da influência política norte-americana sobre todo o

continente.

Em junho de 1964, o recém-nomeado chefe do Serviço Nacional de Informações, o

general Golbery do Couto e Silva recorreu ao auxílio norte-americano para a montagem do

novo órgão de informações brasileiro. Através de um acordo entre EUA e Brasil, os Estados

Unidos se comprometeram em “fornecer pistas operacionais” que tratavam da subversão para

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o Serviço e, em troca, o SNI também forneceria à CIA informações coletadas sobre a ação

esquerdista em território nacional.

Com a finalidade de orientar as ações, foi estabelecido o primeiro Plano Nacional de

Informações (PNI), aprovado em junho de 1970. O Plano foi sendo elaborado pelo SNI por

iniciativa de sua Agência Central, contando, concomitantemente, com o auxílio de diversas

pessoas, tanto civis quanto militares. Sua intenção era otimizar e regular a coleta, a análise e a

divulgação das informações, estabelecer os canais de exploração das fontes e de estabelecer e

coordenar as prioridades do SNI.

Uma das atribuições mais importantes do PNI foi a definição do órgão responsável

pela elaboração da doutrina de informação brasileira. Segundo Lucas Figueiredo, esta

responsabilidade não poderia ser atribuída à Agência Central do SNI, pois o chefe deste órgão

era ligado ao Presidente da República. Restava ao EMFA a incumbência de tal tarefa, porém,

o almirante que o chefiava a negou, julgando ser uma responsabilidade demasiada para o

Estado Maior, propondo, dessa forma, ao general Médici, presidente à época, a criação de

uma nova escola, a Escola Nacional de Informações, que seria responsável pela elaboração da

doutrina nacional de informações brasileira.

Porém, a urgência da criação de uma escola de informações não se devia apenas à necessidade

de formulação do Plano Nacional de Informações. Priscila Antunes nos esclarece:

Paralelamente à necessidade de uma agência responsável pela elaboração da Doutrina Nacional de Informações, oficiais responsáveis pela atividade de informações se encontravam extremamente preocupados com a qualificação de seus agentes, que até então era feita principalmente no exterior. Havia poucas alternativas na área de treinamento de informações no Brasil. Na Escola Superior de Guerra, antes mesmo de 1964, funcionava um curso de informações considerado de bom nível, mas que não abordava necessariamente a área de operações e contra informações. (ANTUNES, 2002: 56)

A criação da Escola Nacional de Informações

No dia 31 de março de 1971 foi criada a Escola Nacional de Informações – EsNI,

através do decreto n° 68.448/71. A escola incorporou o acervo dos cursos ministrados na

ESG. Os objetivos da Escola, parafraseando Ayrton Baffa, eram: “cooperar no

desenvolvimento da Doutrina Nacional de Informações e na pesquisa para a obtenção de

melhor rendimento das atividades do sistema nacional de informações”(BAFFA. 1989: 15).

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Desta forma, era responsável também pela capacitação dos recursos humanos que integrariam

os órgãos de informações e contrainformações do Sistema Nacional de Informações, uma vez

que a intenção era a transformação do Serviço Nacional de Informações em uma agência civil

semelhante a CIA norte-americana.

O general Ênio dos Santos Pinheiro foi o militar responsável pela montagem da EsNI.

Convidado pelo presidente norte-americano Richard Nixon e pelo FBI, viajou, juntamente

com o almirante Sérgio Doherty, a Washington no início de 1971. Através desse contato, os

instrutores norte-americanos propuseram ao general Enio Pinheiro eixos e perspectivas para a

montagem de uma escola de inteligência. Além de orientações institucionais e

administrativas, os parceiros norte-americanos ofereciam ensinamentos práticos, como por

exemplo, a abordagem durante um interrogatório:

A primeira providência, ensinaram os americanos, era tirar toda a roupa do prisioneiro – um modo de evitar acidentes com objetos escondidos ou mesmo cintos e cadarços e também uma forma de humilhar o preso, quebrando sua resistência. Enquanto um interrogador fazia perguntar, outro tomava nota e um terceiro assistia a tudo numa sala contigua escondido por um espelho falso. [...] em outra aula, o general e o almirante viram como os agentes secretos americanos faziam o controle da embaixada russa em Washington e vigiavam os espiões de Moscou disfarçados de diplomatas. Era uma operação ultra complexa que impressionou os militares brasileiros [...]” (FIGUEIREDO, 2005: 222-223)

Ao retornar ao Brasil, o general Ênio responsabilizou-se pela formulação do material

da escola brasileira baseando-se em informações, relatórios e documentos trazidos dos

Estados Unidos, sem deixar claro, como ele próprio confessa à Maria Celina d’Araujo, a

fonte. Portanto, é nítido o embasamento teórico provindo dos materiais da CIA e do FBI

permeando o primeiro material da escola de informações brasileira.

Lucas Figueiredo nos apresenta outro material ideológico e metodológico de apoio

utilizado pela Escola: o livro A produção de Informações Estratégicas, de Washington Platt,

general de reserva do Exército americano, escrito em 1957 e publicado pela Biblioteca do

Exército em 1967. Através de um texto complexo, o livro apresentava técnicas para a

produção de informações por via ostensiva.

A Escola se instalou em uma área com mais de duzentos mil metros quadrados, no

Setor Policial Sul, em Brasília. Por questões de segurança e de confiabilidade, a obra foi

executada em vários blocos separados, pois a construção e estruturação do prédio da EsNI

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deveria seguir o quesito básico do campo da inteligência: a compartimentação da informação.

A preferência na escolha da equipe de instrutores da Escola era de pessoas que tinham

experiência na área de informações, porém, Ênio Pinheiro chama a atenção para a intenção de

mesclar militares e civis dentro do quadro de funcionários. Ademais, para entrar na escola, era

necessária a realização de exame psicotécnico, psicológico, para que se estabelecesse o perfil

do homem brasileiro integrante do sistema de informações. Quando questionado, o general

discute dois tipos de pessoas admitidas na Escola: “um, intelectual, e outro, que trabalhava no

campo de operações”, após a seleção era “feito um código de honra e um código de ética para

o pessoal”.

Cursos para formação de agentes de informação até 1970

O jornalista Lucas Figueiredo, em seu livro “Ministério do Silêncio” atribui a

formação dos agentes do Serviço Nacional de Informações e do Sistema Nacional de

Informações, durante o período anterior à inauguração da Escola Nacional de Informações, às

academias militares, tendo em vista o combate a subversão.

Até 1967, os temas abordados nas aulas versavam sobre conceitos, planejamento

estratégico, análise comparativa de serviços secretos estrangeiros, entre outros. Porém, a partir

deste momento o material didático do curso de informação passa a incorporar o debate sobre a

subversão, seus métodos de combate e a forma de organização dos grupos subversivos.

Não era, entretanto, a totalidade dos funcionários do SNI que tinham a oportunidade

de cursar os bancos escolares da ESG, e quando tinham, seus ensinamentos eram difusos e

pouco contundentes. “O serviço secreto carecia de um centro de formação que ensinasse as

técnicas de espionagem, que lecionasse várias línguas, que formasse analistas de informações

ultra-especializados e ainda fosse capaz de reciclar as chefias” (FIGUEIREDO, 2005: 221).

Era notável a necessidade de uma escola que fornecesse cursos específicos para o SNI.

No ano de sua inauguração, em 1972, a EsNI funcionou com apenas um curso piloto,

passando, apenas em 1973, a contar com duas turmas - os cursos “B” e “C”.

Os futuros alunos da Escola foram indicados pelo comandante de suas unidades

militares, e suas sua faixa etária abrangia entre 21 e 24 anos. Eles deveriam ter cumprido o

serviço militar obrigatório em corpos de elite do Exército, além de ainda ocuparem, nas

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Forças Armadas, o posto de segundos-tenentes. Posteriormente, havia uma rigorosa seleção

que incluía investigação social, exames médicos na Policlínica da Aeronáutica e psicotécnico.

Após aprovados, Lucas Figueiredo nos indica que os candidatos eram convidados a abandonar

seus postos nas Forças Armadas e cursar a Escola, entretanto, o curso na escola de informação

não garantia efetivamente um emprego na SISNI ou no SNI.

Segundo o general Enio Pinheiro informa na coletânea realizada por Maria Celina

D’Araujo3, além do funcionamento do curso de idiomas, também eram oferecidos cursos

permeados por uma doutrina anticomunista, divididos em três categorias: A) Altos Estudos,

com duração de um ano letivo; B) Fundamentos e, C) Operações. Os dois últimos com

duração de um semestre. Todos tinham aula de segunda à sexta feira, em período integral,

contando com turmas de, no máximo, trinta alunos. Formando, por ano, cerca de 120 pessoas.

O curso “A” era voltado para a formação de chefias, sendo como uma pós-graduação,

já que se exigia que o aluno-estagiário fosse formado no curso “B” ou “C”, no ensino superior

ou, no caso de militares, no curso de Estado-Maior. O tema das aulas abordava assuntos

políticos, econômicos e sociais da realidade brasileira, tendo em vista a análise de conjuntura

e estudo de casos.

A segunda categoria de cursos, “B”, era destinada à formação de analistas de

informações, com a abordagem de matérias como sociologia, história, geografia e ciências

políticas. Inicialmente, o aluno estudava a história do comunismo, desde o surgimento da

doutrina, com Karl Marx, perpassando pela Revolução Russa em 1917, e finalizando com a

Revolução Cubana e seus efeitos na América Latina. Também se analisava e debatia-se a

questão de propagandas ideológicas soviéticas presentes nos meios de comunicação.

Neste momento, focamos a temática do trabalho. Através da análise da “Apostila da 2ª

Jornada de Estudos de Informações”, de 1973 podemos observar a descrição da história do

comunismo do Brasil, estudada neste curso, enfatizando o surgimento do Partido Comunista

Brasileiro (PCB), enfatizando a constante preocupação com a propaganda comunista:

3 D’ARAUJO, Maria Celina, SOARES, Glaucio Ary Dillon, CASTRO, Celso. Os anos de chumbo: a memória militar sobre a repressão. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

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Na América Latina, a atual propaganda comunista, usando da técnica de denúncias de tortura e perseguições, que em certa época foi preponderante contra o Brasil, visa no momento também o Chile [...] a orquestração das numerosas fontes[comunistas], de todos os órgãos de apoio da propaganda da URSS e de seus agentes de influência, tem como um dos principais objetivos no momento a desmoralização do atual governo do Chile e também do Brasil, a maior potencia emergente na América do Sul. (Apostila da 2ª Jornada de

Estudos de Informações IN: FIGUEIREDO, 2005: 226)

Para a abordagem mais específicados materiais e das informações, o curso ensinava como

analisar um documento, redigir um relatório de forma clara e concisa, a cruzar informações e

analisá-las, e ainda, analisar as fontes. A terceira modalidade de cursos era responsável pelo

campo prático da atividade de informações e contava com um processo de seleção mais

rígido, ou seja, seu objetivo era a formação dos “agentes de rua” do SNI, a atividade mais

perigosa e delicada.

Os temas do curso abordavam métodos de escutas telefônicas, do uso de microfone

para gravação de conversa, técnicas de vigilância, métodos de interrogatórios, de disfarces,

etc. Nas aulas que versavam sobre entrevistas e interrogatórios, o agente era ensinado sobre os

melhores métodos de aproveitamento das fragilidades do interrogado. A apostila

“Interrogatório de suspeitos (2) – Técnicas e processos”, de 1973, instruía sobre o

reconhecimento de mentiras, verificados através dos sintomas como: pulsação da carótida,

atividade excessiva do pomo-de-adão, secura na boca, juras pela verdade, memória ruim, etc.

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Reproduzido BAFFA, Ayrton. Nos porões do SNI: o retrato do monstro de cabeça oca. Rio de

Janeiro: Objetiva, 1989. P. 27, 28 e 29.

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Este curso ainda ensinava técnicas de combate e defesa, como jiu-jítsu, contando com

aulas teóricas e práticas, observadas na apostila “Programa de Defesa Pessoal e Exercícios

Correlatos”.

Além dos cursos regulares, a EsNI oferecia os denominados “cursos extraordinários”,

ministrados para adidos militares e funcionários públicos que trabalhavam com informações

estratégicas.

Outro curso extraordinário era destinado os Ministros de Estado, contanto com uma

carga horária de 48 horas. Segundo o general Enio Pinheiro, todos os ministros deveriam

fazer esse curso, embora separados, para lhes ensinar o que era informação, como usar essas

informações que lhes eram repassados, sua utilidade e importância.

Desde sua criação, a EsNI teve sua missão de elaborar uma doutrina de informações

para o Brasil, porém, apenas em 10 de dezembro de 1976 foi publicado o Manual de

Informações da EsNI – já utilizado em caráter experimental desde 1973 – que, segundo o

general Enio Pinheiro, regulamentava a doutrina de informações brasileira.

A partir das considerações apresentadas neste trabalho, é claramente observável a

presença norte-americana em vários aspectos ideológicos e da infraestrutura do serviço de

informações no Brasil: desde o auxílio para a montagem da Escola Superior de Guerra, em

1958, o envio de um oficial para atuar em conjunto com Golbery do Couto e Silva com vistas

à estruturação do Serviço Nacional de Informações, e até mesmo em cursos oferecidos ao

general Ênio Pinheiro para a constituição da Escola Nacional de Informações.

As ideias presentes nos relatórios e nas apostilas são permeadas de atitudes

anticomunistas, a própria ideia de ameaça constante de uma guerra já demonstra, em termos

gerais, a presença da Doutrina de Segurança Nacional no Brasil. Emtretanto, também se

constata a presença de conceitos chave, tais como guerra revolucionária, guerra absoluta,

Objetivos Nacionais, que demonstram a relação entre a prática dos oficiais membros do

Serviço Nacional de Informações e os teóricos que as formularam a partir do material de

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ensino coletado nos Estados Unidos até os cursos e a bibliografia fornecida pela Escola

Superior de Guerra, no Brasil. Assim, pode-se enxergar a aplicação da ideologia da segurança

nacional nas instituições de ensino responsáveis pela formação de agentes, que posteriormente

integrariam não somente o SNI, mas todo Sistema Nacional de Informações.

Referências bibliográficas

ANTUNES, Priscila. Ditaduras militares e institucionalização dos serviços de informações na

Argentina, no Brasil e no Chile. In: FICO, Carlos et al. (org). Ditadura e democracia na

América Latina. Rio de Janeiro: FGV, 2008.

ANTUNES, Priscila. SNI e ABIN: uma leitura da atuação dos serviços secretos brasileiros

ao longo do século XX. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002

ARRUDA, Antônio de. A Escola Superior de Guerra: historia de sua doutrina, 2ª edição, São Paulo: GRD; Brasília, INL, 1983.

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