3
 A economia da inteligência coletiva http://lexias.tumblr.com/  Uma das questões clássicas da economia social é como os comportamentos dos indivíduos e das instituições são afetados pelas relações sociais atuando naquele contexto. Estas relações estão invariavelmente presentes na economia e a situação criada por sua ausência poderia ser imaginada somente por meio de esquemas mentais de ideação. Grande parte da tradição utilitarista, inclusive a economia clássica e a neoclássica, pressupõe um comportamento racional e individualista para o s atos econômicos que são, minimamente, afetados pelas relações sociais. A nova sociologia econômica substituiu o ator individual por um coletivo pensante. No cerne destas novas configurações reside a proposta do embeddedness que é o entrelaçamento de um g rupo ou uma firma com redes sociais participando em conjunto dos atos da ação econômica. A ideia marc a um comportamento das instituições de hoje comprometidas com suas relações sociais e onde seria um terrível mal-entendido interpretar sua conduta como centrada em elementos independentes. A sociologia econômica pode ser entendida de modo conciso como a aplicação de ideias, conceitos e métodos sociológicos aos fenômenos econômicos: dos mercados, empresas, lojas, sindicatos, sistemas de informação e assim por diante. Segundo os sociólogos da economia, o homo economicus não explica mais, como ator individual racionalmente explicado, as nuances do mercado a produção, distribuição e consumo. Ele foi substituído pelo homo socialis que em co nvivência e "enraizado" em redes de convivência passa a determinar os feitos de uma nova economia. Uma das críticas centrais à visão da economia clássica é a de que esta teria tomado como modelo de ação da economia de mercado um radicalismo do individualismo racional e postulado a partir daí que esta seria a base de toda condição humana nos negó cios. Marcel Mauss *, por exemplo, mostra como nas sociedades não mercantilizadas os povos estabelecem relações de troca pautadas por outra lógica que não a mercantil individualista. Nelas se estabeleceriam tais relações baseadas em um princípio da reciprocidade conhecido como o "Dom"*. A economia do Dom é baseada no valor de uso dos objetos ou ações. Contrapõe-se portanto à economia de mercado, que se fundamenta no valor de troca de bens e serviços; é na realidade uma troca recíproca com algumas características definidas por convenções e não por regras escritas. Politicamente já se explicou este agir coletivo através da condição do viver do homem na terra. Hanna Arendt * relaciona três atividades fundamentais da condição humana como sendo a vida ativa do indivíduo: o labor o trabalho e a ação. O labor é a condição tácita, que corresponde ao proce sso biológico do corpo predeterminado para o estado do poder fazer. A condição humana do labor é o viver a vida na terra.

a economia da inteligência coletiva

Embed Size (px)

Citation preview

8/6/2019 a economia da inteligência coletiva

http://slidepdf.com/reader/full/a-economia-da-inteligencia-coletiva 1/3

A economia da inteligência coletivahttp://lexias.tumblr.com/

Uma das questões clássicas da economia social é como os comportamentos dos indivíduos e das instituições sãoafetados pelas relações sociais atuando naquele contexto. Estas relações estão invariavelmente presentes naeconomia e a situação criada por sua ausência poderia ser imaginada somente por meio de esquemas mentais deideação. Grande parte da tradição utilitarista, inclusive a economia clássica e a neoclássica, pressupõe um

comportamento racional e individualista para os atos econômicos que são, minimamente, afetados pelas relaçõessociais. A nova sociologia econômica substituiu o ator individual por um coletivo pensante. No cerne destas novasconfigurações reside a proposta do “ embeddedness ” que é o entrelaçamento de um grupo ou uma firma com redessociais participando em conjunto dos atos da ação econômica. A ideia marca um comportamento das instituições dehoje comprometidas com suas relações sociais e onde seria um terrível mal-entendido interpretar sua conduta comocentrada em elementos independentes.

A sociologia econômica pode ser entendida de modo conciso como a aplicação de ideias, conceitos e métodossociológicos aos fenômenos econômicos: dos mercados, empresas, lojas, sindicatos, sistemas de informação e assimpor diante. Segundo os sociólogos da economia, o homo economicus não explica mais, como ator individualracionalmente explicado, as nuances do mercado a produção, distribuição e consumo. Ele foi substituído pelo

homo socialis que em convivência e "enraizado" em redes de convivência passa a determinar os feitos de uma novaeconomia.

Uma das críticas centrais à visão da economia clássica é a de que esta teria tomado como modelo de ação daeconomia de mercado um radicalismo do individualismo racional e postulado a partir daí que esta seria a base detoda condição humana nos negócios. Marcel Mauss *, por exemplo, mostra como nas sociedades nãomercantilizadas os povos estabelecem relações de troca pautadas por outra lógica que não a mercantilindividualista. Nelas se estabeleceriam tais relações baseadas em um princípio da reciprocidade conhecido como o"Dom"*. A economia do Dom é baseada no valor de uso dos objetos ou ações. Contrapõe-se portanto à economia demercado, que se fundamenta no valor de troca de bens e serviços; é na realidade uma troca recíproca com algumascaracterísticas definidas por convenções e não por regras escritas.

Politicamente já se explicou este agir coletivo através da condição do viver do homem na terra. Hanna Arendt *relaciona três atividades fundamentais da condição humana como sendo a vida ativa do indivíduo: o labor o trabalhoe a ação. O labor é a condição tácita, que corresponde ao processo biológico do corpo predeterminado para oestado do poder fazer. A condição humana do labor é o viver a vida na terra.

8/6/2019 a economia da inteligência coletiva

http://slidepdf.com/reader/full/a-economia-da-inteligencia-coletiva 2/3

O trabalho corresponde ao saber fazer com o experienciado pelos conhecimentos culturalmente absorvidos edesenvolvidos. Com o trabalho o homem exerce sua condição de realizar para poder trocar e manter suapermanência na terra. A ação é a única atividade da condição humana que só pode ser exercida em conjunto comoutros homens. É a condição da pluralidade e a qualidade da vida política do homem na terra. Com a ação o homemexerce seu estatuto de inteligência para introduzir o conhecimento no seu espaço de convivência estruturando ascondições de produzir e trocar em conjunto.

A sociologia econômica fornece a base teórica para a nova economia da das trocas no espaço digital e um agir emmercado pautado por uma lógica de interação de grupos ou de um pensar coletivo. Introduz, ainda, instrumentospráticos para delimitar esta atuação. Dos seus vários recursos destacamos: o Crowdsourcing, o crowdfunding e aestigmergia.

Estigmergia é um mecanismo de coordenação indireta entre os atores ou suas ações. O nome é derivado do gregopara mark e ergon : "marcar" uma "ação" e indica a ideia que um agente deixa sinais no meio ambiente que outrosagentes percebem e guiam a ação subsequente. O princípio é que os traços deixado por um ato no meio ambienteindica como será o seguimento da próxima ação pelo mesmo agente ou seu próximo. Dessa forma, as açõessubsequentes tendem a reforçar ou construir a trilha, criando uma emergência de eventos espontânea, coerente esem hierarquia. A estigmergia é uma forma de auto-organização sem qualquer coordenação quando segue os rastros

de ações anteriores; produz estruturas complexas e inteligentes, sem necessidade de qualquer planejamento oucontrole ou comunicação direta entre os agentes. É uma colaboração eficiente entre os atores/ações eextremamente simples que não se baseia em memória ou na inteligência a individual.

O instrumental da estigmergia foi desenvolvido pela observação de enxames de insetos. Por exemplo, ao trocar"informação"as formigas, deixam uma trilha de feromônio como marca de seu atuar, uma forma de agir que formaráuma inteligência em coletiva em rede. Uma formiga sozinha nada explica, mas seu conjunto exala um entendimentode inteligência coletiva, de planejamento, controle e ação. A rede de funções se delineia sem memória prévia emostra ao observador um curso da ação ou seu seguimento.

Este instrumental tem sido utilizado em diversas áreas. Em um ambiente hospitalar, por exemplo, colhe-se

informação superposta que é a suplementar a outra quando seguimos as marcas deixadas em prontuários médicos,que sozinhos não indicam um problema de saúde generalizado, mas ao seguirmos as pegadas dos procedimentos emtodos os prontuários teremos um histórico da saúde de um grupo que não está escrita explicitamente emseguimento, mas em pistas que podem revelar importantes tendências.

Na administração a observação dos traços dos procedimentos formado por um caminho de links ou pela compra deinsumos, patenteamento ou a documentação formal e informal de uma empresa revela ao administrador um cursode ação a seguir, uma indicação do estado motivacional da equipe, alternativas para o planejamento e secorretamente direcionado revela o modo de proceder e o comportamento da concorrência e do mercado.

Outro instrumento é o crowdsourcing . Até uma época recente se usava só o outsourcing que designa a ação por

parte de uma organização em usar mão de obra terceirizada para realizar determinados tipos de serviço; está ligadoa ideia de subcontratação de serviços. Em outras palavras, outsourcing é a transferência das atividades meio parauma empresa terceirizada quando a relação custo, benefício, competência forem favoráveis. Porém estaterceirização não permite repassar a outsiders a autoridade sobre as questões estratégicas da organização.

O instrumental do crowdsourcing , utiliza a inteligência e os conhecimentos de um coletivo para obter subsídiosinclusive para suas decisões estratégicas. Para isso a empresa, o grupo o ou o indivíduo, forma e indaga a uma redeespecífica que é formada por clientes, fornecedores, colaboradores, fomentadores e técnicos da produção, porexemplo. O problema que se quer debater é colocado e soluções são apresentadas em um ambiente de colaboraçãocom coordenação. Aqui a grande diferença da estigmergia: no crowdsorcing há uma coordenação, uma memória euma comunicação entre os atores. De fácil implantação e gerenciamento, após montada a rede de consulta fornece

dados para o planejamento, troca de insumos, preço, nichos de mercado, etc..

Um variante é o crowdfunding em que uma coordenação procura fomento para lançamento ou modificação doproduto ou serviço através de clientes potenciais que participam da rede em troca de uma remuneração em cotas.

8/6/2019 a economia da inteligência coletiva

http://slidepdf.com/reader/full/a-economia-da-inteligencia-coletiva 3/3

Aqui nichos de demanda com interesses entrelaçados podem financiar a oferta. Estes instrumentos já funcionam noexterior e existem com menor impetuosidade no Brasil.

Isto não é uma previsão para o futuro é a tendência atual de uma nova economia que que inicia um novo ciclo e éformatada por configurações operativas em ambiente digital e de racionalidade de redes de inteligência coletiva. __________________________________________

* Notas:

- Maus, M., Ensaio sobre a dádiva: Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas, ver emhttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69091998000300001

Economia do Dom - http://pt.wikipedia.org/wiki/Economia_do_dom

- ARENDT, Hanna, A Condição Humana, Forense Universitária, Rio de Janeiro, 1989.

- Exemplos no Brasil: “ Crowdsourcing – a sabedoria das multidões” http://bit.ly/k1rhMk

Revisão de artigos em C&T através de Crowdsourcinghttp://www.sympoze.com/

- Uma ação de estigmergia é difícil de ser mostrada pois envolve um observador e as coisas observadas para aprendizagem oudecisões estratégicas ou proprietárias. Poderíamos citar como ações semelhantes, as informações entrelaçadas no Twitter, aWikipédia, a Facebook, mas todos baseados em um software e assim fruto de um coordenação e hierarquia. Contudo, aobservação destas redes para uma finalidade específica seria um exemplo de um processo de estigmergia.