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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIA JURÍDICA – PPCJ CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIA JURÍDICA – CMCJ ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FUNDAMENTOS DO DIREITO POSITIVO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TRANSNACIONAL COMO INSTRUMENTO DE EFETIVIDADE DO DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO PATRÍCIA SILVA RODRIGUES Itajaí-SC 2014

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TRANSNACIONAL COMO …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Silva Rodrigues.pdf · Glossário. 8 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 130. 14 Biólogo,

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIA JURÍDICA – PPCJ

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ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FUNDAMENTOS DO DIREITO POSITI VO

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TRANSNACIONAL COMO

INSTRUMENTO DE EFETIVIDADE DO DIREITO

FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO

PATRÍCIA SILVA RODRIGUES

Itajaí-SC

2014

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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TRANSNACIONAL COMO

INSTRUMENTO DE EFETIVIDADE DO DIREITO

FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO

PATRÍCIA SILVA RODRIGUES

Dissertação submetida ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Ciência Jurídica da Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI – como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre em Ciência Jurídica.

Orientador: Professora Doutora Denise Schmitt Siqueira Garcia

Coorientador: Professor Doutor Gabriel Real Ferrer

Itajaí-SC

2014

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus.

Agradeço ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina – TJSC – na pessoa

de seu Presidente, Desembargador Nelson Juliano Schaefer Martins, pela

oportunidade concedida.

Agradeço à minha família pelo apoio incondicional na conquista de mais

esta etapa acadêmica.

Agradeço à toda equipe de colaboradores do Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica – PPCJ – da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI – na pessoa do Coordenador, Professor Doutor Paulo Márcio Cruz,

pelo apoio constante.

Agradeço, por fim, à minha orientadora e coorientador, Professores

Doutores Denise Schmitt Siqueira Garcia e Gabriel Real Ferrer, pelos diálogos

enriquecedores.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa a minha família que sempre me tem apoiado nos

estudos.

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“O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa,

inteligente, interferências na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu

papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre mas também o de quem

intervém como sujeito de ocorrências”

(Paulo Freire, in Pedagogia da Autonomia, p. 76-77)

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a Coordenação do Curso de Mestrado em Ciência Jurídica, a Banca

Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí-SC, setembro de 2014.

Patrícia Silva Rodrigues

Mestranda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

(A SER ENTREGUE PELA SECRETARIA DO PPCJ/UNIVALI)

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SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................... 15

RESUMEN ................................................................................................................ 16

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17

CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 20

DO MEIO AMBIENTE ................................................................................................ 20

1.1 Introdução ........................................................................................................ 20

1.2 Conceito de Meio Ambiente ............................................................................. 20

1.2.1 Evolução do Direito Ambiental................................................................... 25

1.2.1.1 A Primeira “ola” ....................................................................................... 25

1.2.1.2 A Segunda “ola” ...................................................................................... 28

1.2.1.3 A Terceira “ola” ....................................................................................... 31

1.3 ABORDAGEM PEDAGÓGICA do Meio Ambiente ........................................... 35

1.3.1. A Multidisciplinaridade/Pluridisciplinaridade ............................................. 35

1.3.2. A Interdisciplinaridade .............................................................................. 36

1.3.3. A Transdisciplinaridade/Transversalidade ................................................ 37

1.4 Princípios do Direito Ambiental ........................................................................ 39

1.4.1. Introdução à Principiologia Ambiental ...................................................... 39

1.4.2. Princípios Específicos .............................................................................. 42

1.4.2.1. Princípio da Prevenção ......................................................................... 42

1.4.2.2. Princípio da Precaução ......................................................................... 46

1.4.2.3. Princípio da Participação ....................................................................... 49

1.4.3. Princípios Implícitos ................................................................................. 53

1.4.3.1. Princípio da Globalidade ....................................................................... 53

1.4.3.2. Princípio da Solidariedade .................................................................... 55

1.4.3.3. Princípio do Desenvolvimento Sustentável ........................................... 58

CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 64

DIREITOS FUNDAMENTAIS E CIDADANIA ............................................................. 64

2.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................................................................... 64

2.1.1 Construção Histórica ................................................................................. 64

2.1.2 Terminologia e Conceito ............................................................................ 70

2.1.3 Características .......................................................................................... 75

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2.1.4 Do Direito Fundamental ao Meio Ambiente Equilibrado ............................ 78

2.2 CIDADANIA ..................................................................................................... 81

2.2.1 Conceito de Cidadania .............................................................................. 82

2.2.2 Elementos Constitutivos da Cidadania ...................................................... 91

2.2.3 A Crise da Cidadania ................................................................................. 92

2.3 DA CIDADANIA AMBIENTAL GLOBAL ............................................................ 98

2.3.1 O fenômeno da Transnacionalidade.......................................................... 98

2.3.2 Cidadania Ambiental Global .................................................................... 100

CAPÍTULO 3 ........................................................................................................... 108

DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A CIDADANIA ................................................ 108

3.1 DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL TRANSNACIONAL ......................................... 108

3.1.1 Introdução ............................................................................................... 108

3.1.2 Escorço Histórico sobre a Educação Ambiental ...................................... 110

3.1.3 Da Educação Ambiental no Brasil ........................................................... 122

3.1.4 Do Conceito, Objetivos e Princípios da Educação Ambiental ................. 128

3.1.5 Da Educação Ambiental para a Cidadania .............................................. 133

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 141

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ................................................................. 145

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CAPÍTULO 1

DO MEIO AMBIENTE

1.1 INTRODUÇÃO

Como é cediço: “La presencia del hombre sobre la tierra, como la de

cualquier outra especie, supone inexcusablemente su interacción con la natureza”11.

Contudo, as ações do homem sobre o Meio Ambiente são inevitáveis, visto que o ser

humano carece, obrigatoriamente, de suprir suas necessidades básicas/vitais e,

facultativamente, outras tantas denominadas artificiais/criadas12, o que se traduz em

interrelações diversas e complexas com o Meio Ambiente que, não raro, causa-lhe

sua, paulatina, destruição.

Assim, e considerando que o fio condutor desta pesquisa será a análise

da Educação Ambiental Transnacional como instrumento (viável) na efetividade (ou

não) do Direito Fundamental ao Meio Ambiente equilibrado e sadio para as

presentes e futuras gerações, buscar-se-á lançar luzes sobre o cenário

transnacional de proteção do Meio Ambiente por meio de uma Educação Ambiental

para a Cidadania.

1.2 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE

O conceito de Meio Ambiente está intimamente relacionado ao conceito

de Ecologia, mas dele se distingue. De fato, conforme ensina Édis Milaré13, o termo

Ecologia foi usado pela primeira vez no ano de 1866, por Ernst Heinrich Haeckel

(1834-1917)14, em sua obra “Morfologia Geral dos Seres Vivos”, a partir dos radicais

11 FERRER, Gabriel Real. La construcción del derecho ambiental. Revista NEJ – Eletrônica, Vol. 18,

n. 3, p. 347-368, set-dez 2013, Univali, Itajaí. Tradução livre da autora: A presença do homem sobre a terra, como a de qualquer outra espécie, supõe inexcusavelmente sua interação com a natureza.

12 HELLER, Agnes. Teoria das necessidades em Marx . 2.ed. Barcelona: Penínsola, 1986. p. 145. 13 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente . A gestão ambiental em foco – Doutrina – Jurisprudência –

Glossário. 8 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 130. 14 Biólogo, filósofo, médico, professor e artista alemão que ajudou a popularizar o trabalho de Charles

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gregos “oikos” (casa) e “logia” (estudo). Ecologia significa, pois, o “estudo da casa”,

ou seja, o estudo das relações entre seres vivos e meio ou ambiente em que vivem,

bem como suas recíprocas influências e relações.

Édis Milaré15 destaca, ainda, que a expressão Meio Ambiente (milieu

ambient) foi, ao que tudo indica, utilizada pela primeira vez pelo naturalista francês

Geoffroy de Saint-Hilaire (1772-1844) na obra “Études Progressives d´un

Naturaliste”, abrangendo um campo muito amplo de estudo.

A expressão Meio Ambiente integra uma daquelas categorias cujo

significado é de difícil definição, haja vista a riqueza e complexidade que envolve o

assunto. Tanto isso é verdade que doutrinadores ainda não entraram em consenso

quanto ao seu sentido uma vez que o conceito desse termo varia de estudioso para

estudioso de acordo com o conhecimento acerca da matéria, suas expectativas,

incompreensões e, acima de tudo, paixões16.

Nesse sentido, a lição de José Afonso da Silva17 para quem a palavra

“ambiente” indica “a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca, em que vivemos”,

razão pela qual nela já se encontra inserto o significado da palavra “meio”. Assim,

haveria certa redundância, um verdadeiro pleonasmo ao se empregar a expressão

Meio Ambiente, o que é ressaltado por Ramón Martín Mateo18, que assim se

manifesta:

Advertiremos que aquí se manejan los términos: ambiente y medio como equivalentes, pero no los de medio ambiente o medioambiental, pese a que el primero ha sido recibido por la Academia de la Lengua Española y por la própria Constitución, que estimamos no obstante reiterativos y redundantes.

Darwin e um dos grandes expoentes do cientismo positivista. Ernest Haeckel . 2014. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ernst_Haeckel. Acesso em: 16 set. 2014. 15 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente . p. 133. 16 PRIEUR, Michel. Droit de l’environnement . 6. ed., Paris: Dalloz, 2011. p. 1. 17 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional . p.19. 18 MATEO, Ramón Martín. Manual de derecho ambiental , Madrid: Editorial Trivium, S.A. 2003. p. 21.

Tradução livre da autora: Salientamos que aqui se manejam os termos ambiente e meio como equivalentes, mas o mesmo não se diga em relação ao termo meio ambiente ou “meioambiental”, muito embora o primeiro tenha sido recebido pela Academia de Língua Espanhola e pela própria Constituição. Entendemos que, apesar disso, tais termos são repetitivos e redundantes.

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Por outro lado, é de conhecimento corrente que o vocábulo “meio” tem um

determinado significado, enquanto que o vocábulo “ambiente” tem outro (trata-se de

termos equívocos, não unívocos). De fato, nos termos da lição preconizada por Édis

Milaré19:

[...] meio pode significar: aritmeticamente, a metade de um inteiro; um dado contexto físico ou social; um recurso ou insumo para alcançar ou produzir algo. Já ambiente pode representar um espaço geográfico ou social, físico ou psicológico, natural ou artificial.

Nessa esteira de ensinamento, pode-se entender não ser redundante,

como pensam alguns doutrinadores, o uso da expressão Meio Ambiente. Ademais, é

fato que essa expressão restou consagrada na língua corrente e seu uso encontra-

se pacificado nos diversos segmentos do saber, notadamente pelo legislador pátrio

que a utiliza em diversos diplomas legais, sendo, portanto, empregada nesta

pesquisa.

José Afonso da Silva20 conceitua Meio Ambiente, sob uma perspectiva

biológica e jurídica, como sendo “a interação do conjunto de elementos naturais,

artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas

as suas formas.”

Por sua vez, José Ávila Aguiar Coimbra21 define Meio Ambiente, sob uma

perspectiva relacional/social, nos seguintes termos:

[...] Meio Ambiente é o conjunto dos elementos abióticos (físicos e químicos) e bióticos (flora e fauna), organizados em diferentes ecossistemas naturais e sociais em que se insere o Homem, individual e socialmente, num processo de interação que atenda ao desenvolvimento das atividades humanas, à preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno, dentro das leis da natureza e de padrões de qualidade definidos.

Já o conceito legal de Meio Ambiente está registrado, em nível nacional,

19 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente . p. 135. 20 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional . p. 20. 21 COIMBRA, José Ávila Aguiar. O outro lado do meio ambiente . Campinas: Millennium, 2002. p. 32.

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23

no artigo 3º, caput, da Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente)22. Nele,

o termo Meio Ambiente encontra-se definido como “o conjunto de condições, leis,

influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e

rege a vida em todas as suas formas”.

Essa definição legal, que fica à parte das referidas controvérsias

doutrinárias acerca do conceito de Meio Ambiente, caracteriza-se por sua

objetividade e, ao mesmo tempo, por sua amplitude. Nesse sentido, a assertiva de

Paulo Affonso Leme Machado23: “a definição é ampla, pois vai atingir tudo aquilo que

permite a vida, que a abriga e rege”, engloba o Meio Ambiente físico/natural, o

artificial, o cultural e o do trabalho por decorrerem das interrelações humanas.

Por sua inigualável propriedade, cumpre ressaltar a lição de Michel Prieur

acerca do amplitude do conceito de Meio Ambiente24:

Dans la mesure ou l’environnement est l’expression des interactions et des relations des êtres vivants (dont l’homme), entre eux et avec leur milieu, Il n’est pas surprenant que le droit de l’environnement soit un droit de caractere horizontal, recouvrant les différentes branches classiques du droit (prive, public et international) et un droit d’interactions qui tend à pénétrer dans tous les secteurs du droit pour y introduire l’idée environnementale [...].

Prossegue referido autor25 ao pontuar a definição e finalidade do Direito

ao Meio Ambiente:

Le droit de l’environnement doit alors se definir selon un critère finaliste: c’est celui que par son contenu contribue à la santé publique et au

22 BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981 . Congresso Nacional, 1981. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 10 fev. 2014. 23 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro . 14 ed., revista, atualizada e

ampliada. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 150. 24 PRIEUR, Michel. Droit de l’environnement . p. 7. Tradução livre da autora: Na medida em que o ambiente é a expressão de uma visão global das intenções e das relações dos seres vivos (homens) entre eles e seu meio, não é surpreendente que o Direito o Ambiente seja um Direito de caráter horizontal, que recubra os diferentes ramos clássicos do Direito (Direito Privado, Direito Público e Direito Internacional), e um Direito de interações, que tende a penetrar todos os setores do Direito para introduzir a ideia do ambientalismo [...]. 25 PRIEUR, Michel. Droit de l’environnement . p. 8. Tradução livre da autora: O Direito ao Meio Ambiente deve ser definido por um critério finalista: é aquele que, pelo seu conteúdo, contribui para a saúde pública e para a manutenção dos equilíbrios ecológicos; é um direito para a progressiva melhora do ambiente ou Direito Ambiental.

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24

maintien des equilibres écologiques, c’est un droit pour l’amélioration progressive de l’environnement ou droit environnemental.

Por derradeiro, no findar do século 19, começou-se a falar num conceito

holístico de Meio Ambiente. Isso porque, segundo Fritjof Capra26, o mundo,

superpovoado e globalizado, está interligado de tal forma que não mais é possível

concebê-lo como uma coleção de partes dissociadas, mas sim como um todo

interdependente, em que se reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e

se concebe os seres humanos como um fio particular na “teia da vida”.

Com essa nova visão acerca do conceito de Meio Ambiente, quer-se

enfatizar o caráter abrangente, multidisciplinar que a problemática ambiental

necessariamente requer27, ao qual, ousa-se acrescentar o adjetivo “transnacional”.

Assim, diante dessa nova concepção de Meio Ambiente, caracterizado

como um todo unitário, interligado e conectado, destacam-se alguns pontos

idealizados por José Rubens Morato Leite28, os quais devem servir de guia para a

conduta humana:

1. O ser humano pertence a um todo maior, que é complexo, articulado e interdependente; 2. A natureza é finita e pode ser degradada pela utilização perdulária de seus recursos naturais; 3. O ser humano não domina a natureza, mas tem de buscar caminhos para uma convivência pacífica, entre ela e sua produção, sob pena de extermínio da espécie humana; 4. A luta pela convivência harmônica com o Meio Ambiente não é somente responsabilidade de alguns grupos `preservacionistas`, mas missão política, ética e jurídica de todos os cidadãos que tenham consciência da destruição que o ser humano está realizando, em nome da produtividade e do progresso.

Ante o exposto, constata-se que os doutrinadores têm-se debruçado

sobre a tarefa de (re) pensar o Meio Ambiente sob diversos enfoques, buscando um

melhor detalhamento de seu objeto, com vias a contribuir para a busca de um 26 CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução de

Newton Roberval. São Paulo: Cutrix, 1996. p. 25-26. 27 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente . p. 137. 28 LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental : do individual ao coletivo extrapatrimonial. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 76.

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25

conceito real e completo sobre o tema abordado.

1.2.1 Evolução do Direito Ambiental

A “fulgurante evolução” do Direito Ambiental, apropriando-nos da

adjetivação ofertada por Gabriel Real Ferrer29, pode ser analisada sob diferentes

perspectivas, a saber: 1) a cronológica, que ele chama de “olas” (“ola”s); 2) sua

progressão técnico-jurídica e, finalmente, 3) sua evolução conceitual e sua

incorporação ao sistema social atual. O referido doutrinador adverte que essa

análise não é algo estanque, mas ao contrário, há um entrelaçamento entre as

categorias.

Nesta pesquisa, analisar-se-á apenas a primeira perspectiva acima

noticiada, nos termos teóricos propugnados pelo referido estudioso espanhol,

conforme doutrina mencionada30.

1.2.1.1 A Primeira “ola”

Os Informes do Clube de Roma tiveram grande influência na convocação

e no desenvolvimento da Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente ocorrida em Estocolmo, Suécia, em 16 de junho de 197231, sendo um

marco temporal na emergência do Direito Ambiental.

Segundo Gabriel Real Ferrer32, pode-se destacar como “data de

nascimento” desse novel Direito um fato memorável ocorrido nos Estados Unidos da

América, nos idos de dezembro de 1969, a saber, a adoção do texto legislativo

29 FERRER, Gabriel Real. La construcción del derecho ambiental. Revista NEJ – Eletrônica, Vol. 18,

n. 3, p. 347-368, set-dez 2013, Univali, Itajaí. 30 FERRER, Gabriel Real. La construcción del derecho ambiental. Revista NEJ – Eletrônica, Vol. 18,

n. 3, p. 347-368, set-dez 2013, Univali, Itajaí. 31 País que outrora foi palco de graves danos ambientais em seus lagos em decorrência de chuvas

ácidas resultantes da intensa poluição atmosférica na Europa Ocidente. 32 FERRER, Gabriel Real. La construcción del derecho ambiental. Revista NEJ – Eletrônica, Vol. 18,

n. 3, p. 347-368, set-dez 2013, Univali, Itajaí.

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26

denominado “National Environmental Policy Act” (Lei Federal de Política do Meio

Ambiente)33.

Naquela época, em nível mundial, começaram a surgir os primeiros

pronunciamentos científicos a respeito de questões ambientais, bem como novas

figuras importantes no âmbito jurídico.

Foi nesse contexto fértil que ocorreu a mencionada Conferência, com a

participação de 113 países, 250 Organizações não governamentais e organismos da

ONU. Essa Conferência sagrou-se como um verdadeiro marco histórico “no

reconhecimento da relevância internacional da questão ambiental”, como bem

assinala a Norma Sueli Padilha34, autora da obra vencedora do Prêmio Jabuti 2011,

porquanto, prossegue, ela: “pela primeira vez, países desenvolvidos e em via de

desenvolvimento se reuniram para discutir os impactos no Meio Ambiente,

decorrentes da ação humana”.

A respeito do assunto, importa trazer à baila a lição de Simone Silveira

Veja35, in verbis:

O evento resultou diretamente na criação do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), e marcou igualmente uma transição do novo ambientalismo emocional, e ocasionalmente ingênuo dos anos 60 para uma perspectiva de realmente empreender ações corretivas. Acima de tudo, trouxe o debate entre os países menos desenvolvidos e mais desenvolvidos com suas percepções diferenciadas das prioridades ambientais para um fórum aberto e causou um deslocamento fundamental na direção do ambientalismo global.

Essa Conferência traçou os princípios comuns que “inspirariam e guiariam

os esforços dos povos do mundo, a fim de preservarem e melhorarem o Meio

Ambiente”36, bem como “reconheceu a indissociabilidade do ser humano em relação

33 Esta lei passou a exigir, nos Estados Unidos da América, a Avaliação de Impacto Ambiental para a

realização de determinadas atuações. 34 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . Rio de

Janeiro: Elsevier, 2010. p. 48. 35 VEJA, Simone Silveira. Breve histórico da evolução da política ambiental . Congresso

Internacional de direito ambiental. São Paulo: Imprensa oficial do Estado de são Paulo, 2007. p. 741.

36 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 48.

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27

ao ambiente” e, ainda, “sua responsabilidade sobre as transformações nele

provocadas”37.

Importa ressaltar que essa Primeira Conferência também foi de suma

importância porque alçou o Direito Ambiental como um Direito Fundamental do

Homem, uma vez que seus 26 princípios38 constituem um desdobramento da

Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Durante essa Conferência foram votados importantes documentos, quais

sejam: 1) a Declaração de Princípios de Estocolmo (Declaração da ONU sobre o

Meio Ambiente); 2) o Plano de Ação para o Meio Ambiente; e 3) a criação do

Programa da ONU sobre o Meio Ambiente (PNUMA).

A principal preocupação dessa Conferência foi o controle da demografia,

muito embora ela também tenha abundado em “sensatas propostas dirigidas aos

países industrializados para que reduzam sua pressão sobre os recursos naturais”39

por ser evidente que a maioria dos problemas ambientais estão relacionados ao

subdesenvolvimento.

A partir de então, ocorreu uma proliferação de legislação ambiental no

ordenamento jurídico de diversos países, bem como o surgimento das primeiras

constituições que em seu bojo exararam a matéria ambiental, assim como a tomada

de consciência por parte de alguns juristas acerca da “importantíssima evolução

jurídica” do Direito Ambiental. Como afirma Gabriel Real Ferrer40: “Pela primeira vez,

a comunidade internacional organizada toma uma postura comum frente às

agressões que sofre o planeta”.

A primeira “ola” destacou a necessidade de se estabelecer limites ao

37 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 48. 38 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração da Conferência de ONU no Ambiente

Humano. Estocolmo, 5-16 de junho de 1972. Disponível em: <www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc.> Acesso em: 31 jul. 2014.

39 FERRER, Gabriel Real. La construcción del derecho ambiental. Revista NEJ – Eletrônica, Vol. 18, n. 3, p. 347-368, set-dez 2013, Univali, Itajaí.

40 FERRER, Gabriel Real. La construcción del derecho ambiental. Revista NEJ – Eletrônica, Vol. 18, n. 3, p. 347-368, set-dez 2013, Univali, Itajaí.

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crescimento, tanto que na Conferência mencionada foi assinada a Convenção

denominada de Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na qual os

países signatários reconheceram que ela poderia ser propulsora de ações mais

efetivas no futuro quanto aos chamados “gases causadores do efeito estufa”41.

Por fim, tem-se que o maior fruto dessa primeira “ola” foi, sem dúvida, a

constitucionalização do direito ao Meio Ambiente em nível global.

1.2.1.2 A Segunda “ola”

Como visto, um dos legados da primeira “ola” foi um “rastro normativo” em

diversos ordenamentos jurídicos na temática ambiental, porém, não se mudaram as

tendências dos países, notadamente dos ricos e desenvolvidos, no tocante a esse

assunto.

Assim, diante da problemática ambiental que só se agrava com o passar

do tempo, surgiram novas organizações civis (ONG’s) com um grande poder de

mobilização no que tange à proteção ambiental, bem como novos agentes sociais

interessados na proteção ambiental global.

Nesse contexto, ocorreu a Segunda Conferência das Nações Unidas

sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), no período compreendido

entre 03 a 14 de junho de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, também

cunhada de Rio-92, Eco-92 e/ou Cúpula da Terra, que reuniu cerca de 178 países,

mais de 100 chefes de Estado e, aproximadamente, vinte mil pessoas de todo o

mundo representando as ONG´s.

A respeito dessa Conferência, importa transcrever a síntese idealizada por

Denise S. Siqueira Garcia42, por ocasião de sua tese de doutorado:

41 SILVA, José Afonso. Direito ambiental constitucional . p. 68. 42 GARCIA, Denise Schmitt Siqueira Garcia. El principio de sostenibilidad y los puertos: a

atividade portuária como garantidora da dimensão econômica e social do princípio da sustentabilidade. 2011. 451 f. Tese – (Doctorado en Derecho Ambiental y Sostenibilidad de la

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Essa Conferência surgiu em decorrência da Assembleia das Nações Unidas que ocorreu em 1984 e criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, hoje conhecida como “Comissão de Brundtland”. [...] Esse relatório foi apresentado à ONU em 1987 e teve como maior mérito o de cristalizar o princípio do desenvolvimento sustentável. [...] A conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO 92, resultou em uma série de convenções, acordos e protocolos. Alguns dos quais não foram efetivados pelos países signatários, como o Protocolo de Kyoto – destinado à redução da emissão de gases e outros ratificados como o da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB). [...] Nos moldes do que foi apresentado pelo relatório essa Conferência estabelece estreita conexão entre a pobreza mundial e a degradação ambiental no planeta, cabendo providências sérias e permanentes no que se refere à cooperação, na busca de maior equilíbrio entre os Estados no campo do desenvolvimento sustentável.

Como ressaltado por Norma Sueli Padilha43:

Os debates se centraram na necessidade de se firmarem regras mais claras e objetivas para o enfrentamento da problemática ambiental internacional de se desenvolveram estratégias para um novo modelo de desenvolvimento.

Um dos resultados visíveis dessa Conferência foi que os países se

apressaram em adotar uma abundante e moderna legislação ambiental, no que se

denominou chamar de “geração da fotocópia”44 porquanto apenas se reproduziu os

textos jurídico-ambientais sem se levar em consideração a realidade social, política,

cultural, jurídica, econômica e, sobretudo, ambiental de cada país.

Durante essa Convenção foram aprovados documentos oficiais não

vinculantes e vinculantes de suma importância no tocante à orientação normativa

ambiental. Dentre os primeiros, encontram-se: 1) a Declaração do Rio sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento45 (conjunto de princípios que define os direitos e

deveres dos Estados); 2) a Agenda 2146 (programa de ação mundial para promover

Universidad de Alicante – UA) – Universidade de Alicante, Espanha, 2011. p. 57-58.

43 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . . p. 61. 44 FERRER, Gabriel Real. La construcción del derecho ambiental. Revista NEJ – Eletrônica, Vol. 18,

n. 3, p. 347-368, set-dez 2013, Univali, Itajaí. 45 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento. Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

46 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Agenda 21. Brasília: Câmara Dos Deputados, 1995. Disponível em:

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o desenvolvimento sustentável); e 3) a Declaração de Princípios sobre as Florestas47

(conjunto de princípios básicos para apoiar o manejo sustentável das florestas em

nível mundial). E, dentre os documentos vinculantes (convenções multilaterais),

citam-se a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB)48 e a Convenção-

Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima49.

Tais documentos firmados no Rio-92 consagram, de forma definitiva, o compromisso do ´desenvolvimento sustentável´, ou seja, a necessidade de mudança do paradigma de desenvolvimento econômico, passando a se considerar o Meio Ambiente como uma vertente indissociável da conquista de uma vida digna50.

Talvez o maior legado da Convenção tenha sido a superação do enfoque

demográfico como único ou maior desafio da atualidade no tocante à problemática

ambiental. Tomou-se consciência de que a pobreza e o desenvolvimento também

fazem parte desse assunto, devendo ser repensados conjuntamente em nível global.

Como na primeira, a segunda “ola” fez irromper um novo paradigma, a

saber, o do Desenvolvimento Sustentável que, nos dizeres de Gabriel Real Ferrer51,

perpassa por renúncias e sacrifícios que exigiriam de nossa opulenta sociedade e

seus orgulhosos consumidores um (re) pensar de seu consumo desenfreado, na

crítica aberta e destemida feita pelo espanhol. Cumpre ressaltar que foi nessa

segunda “ola” que se iniciou a discussão, mesmo tímida, acerca da dimensão

econômica e social do tema Desenvolvimento Sustentável.

Para finalizar esse tópico, importa dizer que, após cinco anos da Rio-92,

<http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/agenda21.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

47 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. O futuro que queremos. Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro, de 20 a 22 de junho de 2012. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/03/Rio+20_Futuro_que_queremos_guia.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

48 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Convenção sobre diversidade biológica. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/cdbport_72.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

49 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção sobre a mudança do clima . Nova York, 09 de maio de 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/convencao_clima.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

50 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 62. 51 FERRER, Gabriel Real. La construcción del derecho ambiental . p. 352.

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oitenta países se reuniram novamente na cidade do Rio de Janeiro, Brasil,

precisamente em março de 1997, para avaliar o cumprimento dos acordos

elaborados na mencionada Conferência, evento denominado Rio+5. Nesse evento

foi firmada uma “Declaração de Compromisso”, na qual foram reafirmados os

acordos da Conferência ocorrida em 1992, garantindo a continuidade da

implementação de suas determinações.

1.2.1.3 A Terceira “ola”

A terceira “ola” caracteriza-se pelos ostensivos esforços que vêm sendo

realizados em nível internacional pelos diversos países no tocante a uma “reação

coletiva” frente aos desafios e problemas ambientais globais.

Nesse contexto, em setembro de 2002, ocorreu a Terceira Conferência

Mundial das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, na

cidade de Johannesburgo, África do Sul, também denominada de Rio+10 e/ou

Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, com o escopo de reafirmar os

compromissos anteriormente assumidos.

A respeito dessa importante Conferência, importa transcrever a síntese

desenvolvida por Denise S. Siqueira Garcia52:

O evento teve como enfoque a necessidade de avaliação do progresso tido na década que já havia transcorrido desde a ECO 92, bem como a produção de mecanismos que implementassem a Agenda 21, pois na Assembleia das Nações Unidas chamada Rio+5, percebeu-se que haviam diversas lacunas nos resultados da Agenda 21. Porém, o avento tomou outro direcionamento, debatendo quase que exclusivamente os problemas de cunho social. Houve também a formação de blocos de países que quiseram defender exclusivamente seus interesses, sob a liderança dos Estados Unidos da América.

Ela prossegue:

52 GARCIA, Denise Schmitt Siqueira Garcia. El principio de sostenibilidad y los puertos: a

atividade portuária como garantidora da dimensão econômica e social do princípio da sustentabilidade. p. 63.

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Foi nessa Conferência realizada na África do Sul que realmente houve a integração entre os três grandes componentes da sustentabilidade: o social, o econômico e o ambiental. Ela foi uma continuidade do debate que começou com a Conferência realizada no Rio de Janeiro em 1992.

Durante essa terceira “ola” ocorreu a incisiva atuação do Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), programa ligado à ONU, cujo

objetivo principal é o combate à pobreza, sendo essa, como é cediço, uma das

maiores responsáveis pela degradação ambiental.

Foi também no transcorrer dessa terceira “ola” que ocorreu a Conferência

das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, no período de 13 a 22 de

junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, também cunhada de Rio+20.

Consoante consta do site oficial da Rio+2053:

O objetivo da Conferência foi a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o do assunto e do tratamento de temas novos e emergentes.

Dois temas permearam as discussões da Conferência, a saber: 1) a

economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da

pobreza; e 2) a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

Vários foram os resultados da Rio+2054:

1) foram ratificados cerca de 700 compromissos voluntários por parte de governos, empresários, grupos da sociedade civil, universidades e outros parceiros envolvidos, o que mobilizou estimados 513 bilhões de dólares;

2) foram renovados compromissos anteriores com o desenvolvimento sustentável, bem como ratificados os princípios enunciados na Cúpula da Terra de 1992;

3) houveram debates sobre o que está (e o que não está) envolvido no

53 BRASIL. Rio +20. Sobre a Rio +20. Rio de Janeiro. Disponível em:

<www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20.html>. Acesso em: 3 fev. 2014. 54 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. Além da Rio +20: avançando rumo a um

futuro sustentável. 29 de agosto de 2012. Disponível em: <www.onu.org.br/alem-da-rio20-avancando-rumo-a-um-futuro-sustentavel/>. Acesso em: 3 fev. 2014.

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desenvolvimento de uma economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza;

4) foi acordado entre os países sobre a necessidade da criação de um novo organismo de tomada de decisões globais, bem como o fortalecimento da capacidade da ONU de monitorar, avaliar e lidar com questões ambientais;

5) foi acordado entre os países sobre a necessidade de se estabelecer alguns objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) que são “ações orientadas, concisas e de fácil compreensão” e que sejam de natureza global e universalmente aplicáveis a todos os Estados;

6) foi acordado entre os países sobre a necessidade de se desenvolver uma estratégia de financiamento do desenvolvimento sustentável para atender aos compromissos firmados na Convenção;

7) foi adotado um quadro de programas sobre produção e consumo sustentáveis para guiar os países nos próximos 10 anos com o escopo de tornar seus padrões mais sustentáveis;

8) foi acordado entre os países sobre o fortalecimento da colaboração em pesquisa internacional sobre tecnologias ambientalmente saudáveis e solicitações relevantes de agências da ONU para identificar opções para um mecanismo de facilitação de transferências de tecnologia;

9) foi reconhecido entre os países que as medidas atuais, como o Produto Interno Bruto (PIB), não refletem o progresso nas dimensões social e ambiental do desenvolvimento econômico, sendo que eles acordaram que medidas mais amplas de progresso são necessárias para complementar o PIB. A Comissão de Estatística da ONU foi requisitada a lançar um programa de trabalho nesta área a partir de iniciativas existentes;

10) houve um encorajamento das empresas, especialmente de capital aberto e grandes companhias, a considerar a integração de informações de sustentabilidade em seus relatórios periódicos;

11) houve um comprometimento dos países com relação à iniciativa da ONU denominada “energia sustentável para todos”, bem como em relação à iniciativa denominada de “transporte sustentável de baixo carbono” (SioCaT)’

12) foi declarado apoio à nova parceria global pelos oceanos;

13) firmou-se compromissos para o desenvolvimento sustentável (p. ex., a Kingfischer, maior varejista europeia de matéria de construção e itens de melhoria para casas, prometeu usar 100% de madeira e papel de fontes responsáveis em todas as suas operações até 2020; a Nike tem a meta

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de zero descarga de substâncias químicas perigosas em toda sua cadeia de suprimentos até 2020);

14) foi aprovada a Declaração para Instituições de Ensino Superior por meio da qual escolas e universidades de todo o mundo se comprometeram a incorporar questões de sustentabilidade no ensino, pesquisa e em suas próprias gestões e atividades organizacionais;

15) o lançamento pelo Secretário-Geral da ONU do “Desafio Fome Zero”, por meio da qual se apelou a todas as nações para que sejam corajosamente ambiciosas ao trabalharem por um futuro onde todas as pessoas desfrutem do direito à alimentação e todos os sistemas alimentares sejam resilientes;

16) foi lançada uma nova plataforma para coordenar a pesquisa científica para a sustentabilidade global chamada de “Terra do Futuro” com o objetivo de alertar previamente os países sobre os riscos ambientais, bem como encontrar as melhores soluções científicas para os problemas transdisciplinares de satisfazer as necessidades humanas de comida, água, energia e saúde.

17) foi acordado pelos prefeitos das maiores cidades do mundo, durante um dos eventos paralelos que ocorreu durante a Rio+20, denominado de Cúpula dos Prefeitos (grupo C40), a redução da emissão de gases de efeito estufa em 12% até 2016, e em 1,3 bilhão de toneladas até 2010;

18) foi assumido pelos países a criação do primeiro Banco de Investimentos Verdes (Green Investment Bank), cujo objetivo é o financiamento de empreendimentos de infraestrutura com baixa emissão de carbono.

Como visto, vários foram os resultados da Rio+20, sendo que, ao término

desse marco histórico da terceira “ola”, foi firmado um documento oficial denominado

de “O Futuro de Queremos”55, contendo 53 páginas, acordado por 188 países que

norteia a cooperação internacional com relação ao desenvolvimento sustentável.

Os desafios ambientais atuais continuam sendo numerosos. O pensar

soluções globais em conjunto, que façam frente a tais desafios transnacionais,

continua sendo a ‘ordem do dia’. Mobilizações internacionais como as idealizadas

pela ONU, nos últimos quarenta anos, têm sua importância porque sinalizam um

55 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. The future we want. United Nations Conference on

Sustainable Development. Rio de janeiro, de 20 a 22 de junho de 2012. Disponível em: <http://www.rio20.gov.br/documentos/documentos-da-conferencia/o-futuro-que-queremos/at_download/the-future-we-want.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2014.

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caminho sensato a ser percorrido na busca de um processo desenvolvimentista

sustentável. Aliás, convém aqui destacar o pensamento de Gabriel Real Ferrer56:

En la dimensión internacional la única esperanza realista a corto plazo es que se prosiga con procesos como los de Kyoto, buscando compromisos cada vez de más amplio espectro y implicando a un número creciente de países en la reducción de los impactos al medio y en la progresiva protección de los elementos comunes , aunque esta sea parcial.

À luz do exposto, constata-se que a construção do Direito Ambiental é

algo paulatino, crescente e envolve atores de todo o planeta. verifica-se, outrossim,

que, diante dos problemas ambientais que transpassam as fronteiras soberanas dos

Estados, está-se buscando globalmente fortalecer uma nova postura de

desenvolvimento econômico sustentável umbilicalmente ligado à proteção efetiva do

Meio Ambiente.

1.3 ABORDAGEM PEDAGÓGICA DO MEIO AMBIENTE

Para a presente pesquisa, far-se-á uma breve abordagem pedagógica do

Meio Ambiente por meio da qual se analisará a

multidisciplinaridade/pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a

transdisciplinaridade/transversalidade.

1.3.1. A Multidisciplinaridade/Pluridisciplinaridad e

Na precisa lição preconizada por Norma Sueli Padilha57:

O fenômeno da multidisciplinaridade entre o conhecimento científico de diversas ciências (disciplinas) diz respeito ao estudo de um objeto de uma

56 FERRER, Gabriel Real. La construcción del derecho ambiental. Revista NEJ – Eletrônica, Vol. 18,

n. 3, p. 347-368, set-dez 2013, Univali, Itajaí. Tradução livre da autora: Na dimensão internacional a única esperança realista a curto prazo é que se prossiga com processos como os de Kyoto, buscando compromissos cada vez de mais amplo espectro e implicando em um número crescente de países na redução dos impactos ao meio ambiente e na progressiva proteção dos elementos comuns, ainda que esta seja parcial.

57 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 229.

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única e mesma disciplina, efetuado por diversas disciplinas ao mesmo tempo.

Assim, diante do complexo fenômeno ambiental, é preciso estudar o Meio

Ambiente não apenas sob a perspectiva jurídica, ou seja, da Ciência do Direito, mas

em conjunto com as demais disciplinas que produzem conhecimento científico de

suma importância para fazer frente aos desafios transnacionais que o tema implica.

Deve haver, pois, uma cooperação entre o Direito, a Ecologia, a Biologia,

a Geografia, a Economia, o Urbanismo, a Antropologia, a Engenharia Ambiental, a

Física, a Química, a Estatística, a Sociologia, a Antropologia, a História, a Saúde

Pública e, porque não dizer, também com a Ética e a Filosofia.

Enfim, o estudo do Meio Ambiente caracteriza-se como sendo um direito

em movimento58, onde “o equilíbrio ambiental, enquanto seu objetivo primordial,

depende do conhecimento científico produzido em inúmeras outras áreas da

atividade humana”59.

1.3.2. A Interdisciplinaridade

Nesse ponto, dada a clareza do pensamento, convém novamente

mencionar a lição propagada por Norma Sueli Padilha60:

A interdisciplinaridade significa a transferência de métodos de uma área científica (disciplina) para outra, a necessidade da existência do diálogo entre os diferentes campos do saber, para promover interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas. Portanto, uma possibilidade de busca de conhecimento, que não pode, em absoluto, ser ignorada pelo Direito.

Assim, a questão ambiental deve ser analisada de forma integrada com

os demais (e diversos) campos do saber, com vias a se construir, paulatinamente e

por meio do diálogo, um “saber jurídico ambiental”. 58 Expressão idealizada por Norma Sueli Padilha. In: Fundamentos constitucionais do direito

ambiental brasileiro. 59 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 230. 60 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 231.

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A construção desse novo saber propiciará a idealização de soluções para

os grandes desafios ambientais globais que assolam a vida na Terra e que, direta e

indiretamente, impactam a vida do Homem.

A respeito desse aspecto, a Rio-92 aprovou a já mencionada Declaração

do Rio61, cujo Princípio nº 9 assim proclama:

Os Estados devem cooperar para reforçar a criação de capacidades endógenas para obter o desenvolvimento sustentável, aumentando o saber mediante o intercâmbio de conhecimentos científicos e tecnológicos, intensificando o desenvolvimento, a adaptação, a difusão e a transferência de tecnologias, notadamente as tecnologias novas e inovadoras.

Verifica-se, pois, a importância de existir uma abertura, um diálogo, uma

ponte entre os diferentes ramos do saber.

1.3.3. A Transdisciplinaridade/Transversalidade

A busca por essa ponte entre os diferentes ramos do saber remete à

teoria da complexidade postulada por Edgard Morin62 e teoria da

transdisciplinaridade de Jean Piaget63 que se propaga nos meios acadêmicos face

aos avanços do conhecimento e dos desafios postos pela globalidade. Ambas se

contrapõem à fragmentação do conhecimento, ao modo de pensar dicotômico: parte-

todo, razão-emoção, certo-errado, local-global cuja origem remonta ao século XVII

(Descartes 1596-1650). Esse princípio de fragmentação cristalizou-se nas

academias em disciplinas escolares com fronteiras epistemológicas delimitadas,

bem como no modo de pensar e agir dos homens.

A necessidade urgente que se apresenta, em nível global, de proteção ao

61 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento. Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

62 MORIN, Edgar; LE MOIGNE, Jean-Louis. A inteligência da complexidade . São Paulo: Petrópolis, 2000.

63 Por ocasião do I Seminário Internacional sobre Pluri e Interdisciplinaridade, ocorrido em Nice, França, de 7 a 12 de setembro de 1970.

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Meio Ambiente exige a articulação dos opostos cartesianos, das dualidades dos

saberes disciplinares; exige mais que a transferência de métodos de uma disciplina

à outra (interdisciplinaridade) e mais que o estudo de um objeto de uma disciplina

realizado por outras sob múltiplos pontos de vista, mas cuja finalidade enriquece

somente os limites daquela disciplina – multidisciplinaridade/pluridisciplinaridade.

Exige principalmente uma postura de respeito pelas diferentes culturas,

solidariedade e integração à natureza, uma mudança conceitual das disciplinas, uma

postura transdisciplinar. Aliás, o prefixo “trans” diz respeito àquilo que está ao

mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de

qualquer disciplina64, visto que o conhecimento resulta do enredamento de aspecto

físico, biológico, social, espiritual e artístico, inseparáveis e ao mesmo tempo

simultâneos.

A respeito do tema, importa ressaltar o conteúdo da Carta da

Transdisciplinaridade65, fruto do Primeiro Congresso Mundial sobre a

Transdisciplinaridade, ocorrido no período entre 2 a 6 de novembro de 1994, nas

dependências do no Convento da Arrábida, Portugal, a qual foi redigida pelos

renomados pesquisadores Edgar Morin, Basarab Nicolescu e Lima de Freitas e que

teve o apoio da Direção-Geral da UNESCO.

Consta do artigo 5º da referida Carta que:

A visão transdisciplinar está absolutamente aberta na medida em que ela ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não somente com as ciências humanas, mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual.

Por outro lado, o artigo 8º da dita Carta exara que:

A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e planetária. O aparecimento do ser humano sobre a Terra é uma das etapas da história do Universo. O reconhecimento da terra como pátria é um dos imperativos da transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma

64 NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade . Triom: São Paulo, 1999. 65 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA –

UNESCO. Educação e Transdisciplinariedade. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001275/127511por.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2014.

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nacionalidade, mas, a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O reconhecimento pelo direito internacional da dupla cidadania – referente a uma nação e a Terra – constitui um dos objetivos da pesquisa transdisciplinar.

Um outro aspecto da transdisciplinaridade é o entendimento de que a

questão ambiental diz respeito também à interação do Direito Ambiental com os

demais ramos do Direito, como, aliás, afirma Paulo de Bessa Antunes66 nos

seguintes termos: “[...] as normas ambientais tendem a se incrustar em cada uma

das demais normas jurídicas, obrigando a que se leve em conta a proteção

ambiental em cada um dos demais ‘ramos’ do Direito.”

Assim, observa-se que o Direito Ambiental tem um estreito vínculo de

aproximação com os demais ramos do saber e com o próprio Direito, notadamente

com o Direito Constitucional, Administrativo, Processual, Tributário e Financeiro,

Penal, Civil e, ainda, Internacional, por meio dos quais se busca, de forma integrada

e holística, a solução global para os problemas ambientais que assolam o planeta.

1.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

1.4.1. Introdução à Principiologia Ambiental

O termo princípio, deriva do latim principium, principii, e encerra a ideia

de começo, origem, base. Em linguagem ordinária é, de fato, o ponto de partida, o

fundamento e/ou o alicerce de um dado processo. Todavia, em linguagem técnico-

jurídica, princípios, como ensina José Joaquim Gomes Canotilho67:

[...] são normas jurídicas impositivas de uma optimização, compatíveis com vários graus de concretização, consoante os condicionalismos fácticos e jurídicos. Permitem o balanceamento de valores e interesses (não obedecem, como as regras, à ‘lógica do tudo ou nada’), consoante o seu peso e ponderação de outros princípios eventualmente conflitantes.

66 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental . 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2006. p.

24. 67 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição . 7. ed.

Coimbra: Almedina, 2003. p. 1.161.

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Eles podem ser compreendidos, outrossim, como “proposições

básicas, fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturas

subsequentes”68, ou, como “diretrizes centrais de um sistema jurídico que lhe

conferem uma compreensão sistêmica, além de ser essencial apoio para a

integração e interpretação da ordem jurídica”69.

Nesse diapasão, destaca-se a definição idealizada por Celso Antonio

Bandeira de Mello70:

Princípio é mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.

Como é cediço, os princípios possuem, basicamente, três funções

primordiais, a saber: 1) fundamento da ordem jurídica; 2) orientador interpretativo

e 3) fonte em caso de insuficiência legal.

Várias as suas classificações entre os doutrinadores.

Com efeito. Para Ricardo Guastini71 a classificação dos princípios

ambientais pode ser feita da seguinte maneira: princípios expressos e princípios

implícitos. Os primeiros caracterizam-se como sendo os explicitamente exarados

no ordenamento jurídico, enquanto que os segundos como sendo aqueles

resultados da construção jurídica dos intérpretes da lei.

Já Paulo Márcio Cruz e Rogério Zel Gomes72 classificam os princípios

em: 1) políticos-ideológicos; 2) fundamentais gerais; e 3) específicos. Os

68 CRETELLA, José Júnior. Comentários à constituição brasileira de 1988 . Rio de Janeiro:

Forense Universitária, 1989, vol. I. p. 129. 69 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p.

241. 70 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo . 14. ed., São Paulo:

Malheiros, 2002. p. 827. 71 GUASTINI, Ricardo. Das fontes às normas . Tradução de Edson Bini. São Paulo: Editora Quartier

Latin do Brasil, 2005. p. 191-193. 72 CRUZ, Paulo Márcio; GOMES, Rogério Zel. Princípios constitucionais e direitos

fundamentais . Contribuições ao debate. Curitiba: Juruá, 2007. p. 27.

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primeiros caracterizam-se como sendo aqueles dotados de dimensão axiológica

fundamental (“princípios dos princípios”). Os segundos têm um grau de

concretude e aplicabilidade mais elevadas. E, por fim, os terceiros caracterizam-

se como sendo aqueles que norteiam uma determinada parte do Direito

Constitucional (in casu, o Direito Ambiental).

Por derradeiro, merece referência a já bastante conhecida classificação

propugnada pelo novel ministro da Corte Suprema brasileira Luiz Roberto

Barroso73:

a) Princípios fundamentais – os que contêm as decisões políticas estruturantes do Estado (o republicano, o federativo, o da separação dos poderes, o presidencialista e o da livre iniciativa);

b) Princípios constitucionais gerais – desdobramentos menos abstratos dos princípios fundamentais (legalidade, isonomia, autonomia estadual e municipal, acesso ao Judiciário, irretroatividade das leis, juiz natural e o devido processo legal);

c) Princípios setoriais ou especiais – os que presidem um específico conjunto de normas afetas a um determinado tema, capítulo ou título da Constituição, onde se incluem os relativos à defesa do Meio Ambiente, dentre vários outros (p. ex.: função social da propriedade, os relativos à ordem social, à ordem econômica etc.

Atualmente, diante do pós-positivismo, os princípios ganharam um

novo tratamento hermenêutico-constitucional com o resgate de valores e

ideologias (sociais) que passaram a gozar de normatividade e hegemonia

axiológica, conforme ensina Norma Sueli Padilha74.

Assim, fala-se, hoje em dia, em norma jurídica como gênero e

princípios e regras como espécies, sendo que aqueles podem ser, sucintamente,

cunhados de “mandatos de otimização” (Robert Alexy) e estas como normas de

relativa generalidade, que podem ser cumpridas ou não.

Dessa feita – e considerando o já mencionado objetivo desta pesquisa

73 BARROSO, Luiz Roberto. Princípios constitucionais brasileiros (ou de como o papel aceita

tudo). Revista Jurídica Themis . Curitiba, n° 7, p. 17-39, out. 1991, esp., p. 37-38. 74 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 239.

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–, importa destacar alguns princípios específicos do Direito Ambiental (setoriais

ou especiais, na classificação de Barroso), bem como alguns implícitos (na

classificação de Guastini), os quais têm inegável importância na proteção jurídica

do Meio Ambiente.

1.4.2. Princípios Específicos

1.4.2.1. Princípio da Prevenção

Inicialmente, cumpre ressaltar que há quem prefira a denominação

“prevenção” (p. ex. Édis Milaré75), enquanto outros, “precaução” ou “cautela” (p.

ex. Cristiane Derani76). Há, ainda, quem adote ora uma, ora outra denominação,

indistintamente, como sendo expressões sinônimas (p. ex. Paulo Affonso Leme

Machado77). É inegável, porém, que, em nível da semântica, existe diferença

entre tais termos. Com efeito, na precisa lição de Édis Milaré78:

Prevenção é substantivo do verbo prevenir, e significa ato ou efeito de antecipar-se, chegar antes; induz uma conotação de generalidade, simples antecipação no tempo, é verdade, mas com intuito conhecido. Precaução é substantivo do verbo precaver-se (do Latim prae = antes e cavere = tomar cuidado), e sugere cuidados antecipados, cautela para que uma atitude ou ação não venha a resultar em efeitos indesejáveis. A diferença etimológica e semântica (estabelecida pelo uso) sugere que prevenção é mais ampla do que precaução e que, por seu turno, precaução é atitude ou medida antecipatória voltada preferencialmente para casos concretos.

O pesquisador português Vasco Pereira da Silva79, no artigo intitulado

“Mais vale prevenir do que remediar: Prevenção e Precaução no Direito do

Ambiente”, igualmente, entende que há diferença entre os termos acima

mencionados, fazendo um acurado estudo diferenciando ambas as expressões.

75 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente . p. 165. 76 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico . São Paulo: Max Limonad, 1997. p. 165. 77 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro . p. 146-147. 78 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente . p. 262. 79 SILVA, Vasco Pereira da. Mais vale prevenir do que remediar. Prevenção e precaução no direito

do ambiente. In: PES, João Hélio Ferreira; OLIVEIRA, Rafael Santos de (Org.). Preservação e precaução no direito ambiental contemporâneo . Curitiba: Editora Juruá, 2008. p. 18-22.

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Ainda a respeito da diferenciação semântica e de conteúdo do princípio

da prevenção, importa ter em mente a lição de Paulo Bessa de Antunes80:

O princípio da prevenção é próximo ao princípio da precaução, embora com ele não se confunda. O princípio da prevenção aplica-se a impactos ambientais já conhecidos e dos quais se possa, com segurança, estabelecer um conjunto de nexos de causalidade suficientes para a identificação dos impactos futuros mais prováveis.

Por fim, a respeito desse assunto, ressalte-se a lição de Annelise

Monteiro Steigleder81:

O princípio da prevenção se dá em relação ao perigo concreto, enquanto, em se tratando do princípio da precaução, a prevenção é dirigida ao perigo abstrato [...]. Na prevenção a configuração do risco e os objetivos das opções cautelares são profundamente diferenciados, na medida em que não se atua para inibir o risco de perigo pretensamente imputado ao comportamento, ou o risco de que determinado comportamento ou atividade sejam um daqueles que podem ser perigosos (abstratamente) e, por isso, possam produzir, eventualmente, resultados proibidos e prejudiciais ao ambiente, mas, ao contrário, para inibir o resultado lesivo que se sabe possa ser produzido pela atividade. Atua-se, então, no sentido de inibir o risco do dano, ou seja, o risco de que a atividade perigosa (e não apenas potencialmente ou pretensamente perigosa) possa vir a produzir, com seus efeitos, danos ambientais.

Como é cediço, o Direito Ambiental preocupa-se com o risco e também

com o dano ambiental, pelo quê está intimamente relacionado com a prevenção,

ou seja, com o princípio ora analisado.

A finalidade primordial do princípio da prevenção, conforme lição de

Vasco82, é a evitação de:

[...] lesões ao meio-ambiente, o que se traduz na capacidade de antecipação de situações potencialmente perigosas, de origem natural ou humana, capazes de pôr em risco os componentes ambientais, de

80 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental . p. 8. 81 STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Responsabilidade civil ambiental : as dimensões do dano

ambiental brasileiro. Livraria do Advogado: Porto Alegre, 2004. p. 188. 82 SILVA, Vasco Pereira da. Mais vale prevenir do que remediar. Prevenção e precaução no direito

do ambiente. In: PES, João Hélio Ferreira; OLIVEIRA, Rafael Santos de (Org.). Preservação e precaução no direito ambiental contemporâneo . p. 16.

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modo a permitir a adoção dos meios mais adequados para afastar a sua verificação ou, pelo menos, minorar as suas conseqüências. O que está aqui em causa é a tomada de medidas destinadas a evitar a produção de efeitos danosos para o ambiente, e não a reacção a tais lesões, ainda que a prevenção e a repressão possam andar associadas, na medida em que a existência de mecanismos eficazes e atempados de contencioso ambiental possui um efeito dissuasor de eventuais comportamentos ilícitos, desta forma desempenhando também, ainda que indirectamente, uma função preventiva.

Esse princípio foi adotado como diretriz ambiental por ocasião da

Declaração do Meio Ambiente em Estocolmo (1972) e decorre do Princípio nº 15

da Conferência do Rio-9283, caracterizado como sendo uma “cláusula aberta” de

conteúdo a ser preenchido caso a caso, que assim preceitua:

De modo a proteger o Meio Ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

Segundo Paulo Affonso Leme Machado84, o princípio da prevenção é

“o dever jurídico de evitar a consumação de danos ao Meio Ambiente”.

Aplica-se, o referido princípio, a impactos ambientais já conhecidos, ou

seja, quando já existe uma base de conhecimento sobre as lesões que

determinada atividade pode vir a causar no ambiente85

O princípio em tela encontra-se previsto em diversos diplomas legais

internacionais, como, por exemplo, (1) a Convenção da Basiléia sobre o Controle

de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito86,

83 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento. Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

84 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro . p. 72. 85 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental . p. 37. 86 BASEL CONVENTION. Home. Switzerland. Disponível em:

<http://www.basel.int/Home/tabid/2202/mctl/ViewDetails/EventModID/8051/EventID/330/xmid/8052/Default.aspx>. Acesso em: 31 jul. 2014. Esta Convenção foi internalizada na íntegra, em nível nacional, por meio do Decreto Nº 875/1993, sendo também regulamentada pela Resolução Conama Nº 452/2012, bem como, ao depois, também foi regulamentada pelo Decreto Nº 4.581, de

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firmada em 1989; (2) a Convenção da Diversidade Biológica87; (3) o Tratado de

Maastricht sobre a União Europeia88; (3) o Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente

do Mercosul89.

Já em nível nacional, o referido princípio encontra-se expressamente

previsto no ordenamento jurídico pátrio, haja vista a ratificação pelo Congresso

Nacional da Conferência sobre Mudanças do Clima, aceita pelo Brasil quando da

ECO-9290, bem como encontra-se inserido na Lei nº 11.105/2005, que trata da

Lei de Biossegurança91, cujo artigo 1º exara:

Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no Meio Ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científica na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do Meio Ambiente.

O principal instrumento administrativo de concreção desse princípio é o

licenciamento ambiental e os estudos de impacto ambiental (EIA), previstos na

Resolução CONAMA nº 237/97. Nesse sentido, José Rubens Moratto Leite92 para

quem o EIA possibilita avaliar de forma antecipada os efeitos negativos que o

desenvolvimento de uma atividade econômica pode vir a trazer, permitindo a

adoção de medidas preventivas e mitigatórias.

27 de janeiro de 2003. 87 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Convenção sobre diversidade biológica. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/cdbport_72.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

88 UNIÃO EUROPEIA. Tratado da União Europeia. Conselho das Comunidades Europeias, Luxemburgo, 1992. Disponível em: <http://europa.eu/eu-law/decision-making/treaties/pdf/treaty_on_european_union/treaty_on_european_union_pt.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

89 MERCOSUL. Acordo-quadro sobre meio ambiente do Mercosul. Assunção, 2001. Disponível em: <http://www.mercosur.int/msweb/Normas/normas_web/Decisiones/PT/Dec_002_001_Acordo%20Meio%20Ambiente_MCS_Ata%201_01.PDF>. Acesso em: 31 jul. 2014.

90 Ratificação feita por meio do Decreto-legislativo n° 1, de 3.2.1994. 91 BRASIL. Lei n. 11.105, de 25 de março de 2005. Congresso Nacional, Brasília, 2005. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm>. Acesso em: 12 fev. 2014.

92 LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental : do individual ao coletivo extrapatrimonial. p. 50-51.

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Constata-se, pois, na esteira de entendimento de Paulo de Bessa

Antunes93 que:

O princípio da precaução tem sido prestigiado pelo legislador brasileiro que, em muitas normas positivas, determina uma série de medidas com vistas à avaliação dos impactos ambientais reais e potenciais gerados pelos diferentes empreendimentos. Ainda que extremamente relevante – o que é reconhecido por toda a doutrina brasileira e pelo nosso ordenamento jurídico -, o princípio da precaução não é dotado de normatividade capaz de fazer com que ele se sobreponha aos princípios da legalidade (um dos princípios setoriais reitores da administração pública) e, especialmente, aos princípios fundamentais da República, repita-se. A aplicação do princípio da precaução somente se justifica constitucionalmente quando observados os princípios fundamentais da República e ante a inexistência de norma capaz de determinar a adequada avaliação dos impactos ambientais.

Finalmente, apropriando-se da ideia da lição de Paulo Affonso Leme

Machado94, pode-se dizer que a prevenção, por não ser estática, deve sempre

estar sendo atualizada e reavaliada, a fim de influenciar a formulação de novas

políticas públicas ambientais, as ações conscientes dos empreendedores, as

atividades pontuais da Administração Pública, os legisladores e o Judiciário ao

apreciar as lides ambientais.

1.4.2.2. Princípio da Precaução

Conforme consta da página oficial do Ministério do Meio Ambiente95, o

princípio da precaução foi inicialmente idealizado pelos gregos e, na era

moderna, desenvolvido na Alemanha, na década de 70, onde ficou conhecido como

VorsorgePrinzip.

Em linhas gerais, pode-se afirmar que o princípio da precaução diz

respeito à ligação intrínseca que há entre o homem e o ambiente (natureza) em

93 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental . p. 28. 94 MACHADO, Affonso Leme Machado. Direito ambiental brasileiro . p. 83. 95 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Princípio da Precaução. Brasília. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biosseguranca/organismos-geneticamente-modificados/item/7512>. Acesso em: 10 fev. 2014.

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que está inserido, concretizando-se por meio de ações antecipatórias pensadas

para proteger a saúde das pessoas e dos ecossistemas indesejáveis danos

ambientais. Ele envolve um atuar prudente, cauteloso por meio de avaliação de

possíveis impactos/agressões ao Meio Ambiente96.

Tal princípio constitui a “essência do Direito Ambiental”, na pontual

colocação de Cristiane Derani97, a qual ensina que:

Precaução é cuidado (in dúbio pro securitate). O princípio da precaução está ligado aos conceitos de afastamento do perigo e segurança das gerações futuras, como também da sustentabilidade ambiental das atividades humanas. Este princípio é a tradução da busca da proteção da existência humana, seja pela proteção de seu ambiente como pelo asseguramento da integridade da vida humana. A partir dessa premissa, deve-se também considerar não só o risco iminente de uma determinada atividade como também os riscos futuros decorrentes de empreendimentos humanos, os quais nossa compreensão e o atual estágio de desenvolvimento da ciência jamais conseguem captar em toda densidade.

O mencionado princípio encontra-se inserto na Declaração do Rio/9298

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, tendo sido proposto na

Conferência no Rio de Janeiro, em junho de 1992, que o definiu como "a garantia

contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não

podem ser ainda identificados".

A respeito do tema, Maria Alexandre de Sousa Aragão, autora da obra

“O princípio do poluidor-pagador”, citada por José Rubens Morato Leite99, aduz

que o princípio da precaução determina que “a ação para eliminar possíveis

impactos danosos ao ambiente seja tomada antes de um nexo causal ter sido

estabelecido com evidência científica absoluta”.

96 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico . p. 248. 97 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico . p. 165-167. 98 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento. Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

99 ARAGÃO, Maria Alexandre de Sousa. O princípio do poluidor-pagador: Pedra angular da política comunitária do ambiente. Coimbra: 1997, p. 68. Apud: LEITE, José Rubens Morato; MELO, Melissa Ely. As funções preventivas e precaucionais da responsabilidade civil por danos ambientais. Revista Seqüência , n. 55, p. 195-218, dez. 2007, p. 205.

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Assevera José Rubens Morato Leite100:

No entender de Rehbinder, o princípio da precaução significa mais que uma política do ambiente que visa a prevenir, reduzir ou eliminar a poluição já existente ou iminente, mas ‘assegura que a poluição é combatida na sua incipiência e que os recursos naturais soam utilizados numa base de produção sustentada’. Com efeito, a precaução objetiva prevenir já uma suspeita de perigo ou garantir uma suficiente margem de segurança da linha de perigo. Seu trabalho é anterior à manifestação de perigo e, assim, prevê uma política ambiental adequada a este princípio.

Paulo Affonso Leme Machado101 aduz que:

A implementação do princípio da precaução não tem por finalidade imobilizar as atividades humanas. Não se trata da precaução que tudo impede ou que em tudo vê catástrofes ou males. O princípio da precaução visa à durabilidade da sadia qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza existente no planeta.

A respeito do princípio da precaução há um documento cujo conteúdo

é assaz interessante. Trata-se do texto intitulado The PrecautionaryPrinciple,

elaborado pela Comissão sobre Ética do Conhecimento Científico e Tecnologia

da UNESCO (COMEST)102. Tal documento ressalta, de início, que inexiste um

consenso internacional quanto ao significado do princípio da precaução, bem

como que tal princípio não tem por objeto um atuar passivo e, ainda, que não se

deve confundir prevenção com inação no sentido de que se espere a ocorrência

de um dano ambiental para só então tomar-se uma medida efetiva e concreta.

Nessa toada, alguns doutrinadores buscaram traçar algumas diretrizes

para a correta aplicação de tal princípio. Ei-las: 1) avaliar riscos ambientais em

relação a riscos socioeconômicos; 2) avaliar os riscos da ação em relação aos da

inação; 3) avaliar os riscos de curto prazo em relação aos de longo prazo; 4)

avaliar como os órgãos ambientais e outros compreendem o princípio; 5) avaliar

o conhecimento técnico sobre a gestão de riscos; 6) avaliar as implicações da

100 LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental : do individual ao coletivo extrapatrimonial. p. 49. 101 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro . p. 63. 102 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA –

UNESCO. The precautionary principle. Paris, 2005. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001395/139578e.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2014.

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precaução para a governabilidade, considerando as partes que serão mais

afetadas pela atividade pretendida; 7) considerar as exigências de monitoramento

e pesquisas, sem a necessária capacidade técnica e financeira para implementá-

los; 8) operacionalizar a precaução por meio de instituições locais e do

gerenciamento; 9) considerar as relações entre o princípio da precaução e a

gestão flexível e adaptável aos riscos; 10) considerar a necessidade de

estabelecer normas legais baseadas no princípio103.

Esse princípio é um dos principais, senão o principal, instrumento de

precaucional104 do direito brasileiro com relação à avaliação dos riscos e

impactos ambientais e, no Brasil, além de encontrar guarida no artigo 9º, incisos

III, IV, e V, da Lei nº 6.938/81, bem como no artigo 225, § 1º, incisos I e V, da Carta

Magna, ele também tem sido amplamente utilizado por nossos Tribunais

Superiores.

Em nível internacional, apesar de não haver consenso a respeito de

seu exato conteúdo, como salientado há pouco, o princípio da precaução resta

previsto em alguns diplomas legais, como, por exemplo, (a) nos tratados

constitutivos da União Europeia (artigo 174º, nº 2); (b) na Convenção sobre

Diversidade e (c) no Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (artigos 10 e 11).

1.4.2.3. Princípio da Participação

Esse princípio, igualmente conhecido como princípio democrático ou

princípio da cooperação, restou consagrado, em nível nacional, quando o legislador

constituinte de 1988 exarou, no artigo 1º, caput, inciso I, parágrafo único, da Carta

da Primavera105, o princípio da Soberania Popular e do Estado Democrático de

Direito e, por consequência, o da Democracia Participativa.

103 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental . p. 31-32. 104 Termo idealizado por Annelise Monteiro Steigleder. In: Responsabilidade civil ambiental . 105 BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil : promulgada em

5 de outubro de 1988. Coleção Saraiva de Legislação. 49 ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

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A respeito desse princípio, Paulo Affonso Leme Machado106 aduz que é:

[...] garantido o exercício do princípio democrático da participação, o qual, por sua vez, tem origem nos movimentos reivindicatórios da sociedade civil e, como tal, é essencialmente democrático. Ele concretiza-se através do direito à informação e do direito à participação.

Por sua vez, Paulo de Bessa Antunes107 assinala que:

O princípio democrático é aquele que assegura aos cidadãos o direito pleno de participar na elaboração das políticas públicas ambientais. E tal participação, em nível nacional, ocorre de diversas formas, como, por exemplo, o dever jurídico de proteger e preservar o meio-ambiente; o direito de opinar sobre as políticas públicas, por meio da participação em audiências públicas; o uso de mecanismos judiciais e administrativos de controle dos diferentes atos praticados pelos Executivos; as iniciativas legislativas que podem ser patrocinadas pelos cidadãos.

O conteúdo do princípio ora analisado abarca tanto o direito de

participação como também o de informação, o que resulta no fortalecimento da

sociedade quanto aos processos de tomada de decisão relacionados aos assuntos

de interesse público. A participação, assim, é uma forma de democratizar a

sociedade porquanto oportuniza aos cidadãos, tanto individual quanto coletivamente,

o mister de defender seus interesses como tal, pelo quê “a efetivação do princípio da

participação traduz a garantia do exercício da liberdade civil de opinar”108.

A respeito desse princípio e o princípio do Estado Democrático de Direito,

José Joaquim Gomes Canotilho109 doutrina que:

Em primeiro lugar, o princípio democrático acolhe os mais importantes postulados da teoria democrática - órgãos representativos, eleições periódicas, pluralismo partidário, separação de poderes. Em segundo lugar, o princípio democrático implica democracia participativa, isto é, estruturação de processos que ofereçam aos cidadãos efetivas possibilidades de aprender a democracia, participar nos processos de decisão, exercer controle crítico na divergência de opiniões, produzir

106 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro . p. 8. 107 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental . p. 33. 108 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como liberdade . São Paulo: Editora Companhia das

Letras, 2000. p.121. 109 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição . 14 ed.

Coimbra: Editora Almedina, 2010. p. 282.

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51

inputs políticos democráticos.

Na atualidade, é evidente a necessidade da participação dos cidadãos

nos processos de tomada de decisão, notadamente de decisões que envolvem a

questão ambiental. Assim, é mister o exercício de uma democracia ambiental,

essência da consolidação de um Estado Democrático do Ambiente. E esta

participação nesses processos, segundo a Constituição Federal, dá-se, por exemplo,

por meio do referendo, do plebiscito, dos Conselhos compostos pela sociedade civil

e de organizações não governamentais, com direito a voto.

O princípio em comento é reconhecido tanto pelo ordenamento jurídico

nacional quanto pelo internacional.

De fato. A Carta Magna110, notadamente em seu artigo 225, prevê

expressamente o princípio da participação vinculado à questão ambiental. Já a

Declaração do Rio de Janeiro111, na Conferência das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento de 1992, em seu artigo 10, também tratou desse

importante princípio. A Lei nº 6.938/1981, da Política Nacional do Meio Ambiente

(PNMA), bem como as Resoluções nº 01/1986, 09/1987 e 237/1997, todas do

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), tratam dos instrumentos de

participação popular.

Nesse particular – e considerando o escopo desta pesquisa –, importa

dizer que a lei que instituiu a PNMA, desde seu nascedouro, já previa o princípio em

voga porquanto em seu artigo 2º, inciso X, preceituava que o cidadão deve, por meio

da Educação Ambiental, em todos os seus níveis, ser efetivamente levado a

participar das decisões que envolvem o Meio Ambiente. Ademais, ao prever, em seu

artigo 6º, que o CONAMA deve ser composto por membros do poder público, da

sociedade civil organizada, dos órgãos de classe e das organizações não-

governamentais (ONG’s), novamente consagra o princípio democrático da

110 BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil : promulgada em

5 de outubro de 1988. Coleção Saraiva de Legislação. 49 ed. São Paulo: Saraiva, 2014. 111 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento. Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

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participação. Cumpre salientar, nesse ponto, que a Lei nº 7.347/1985 e a Agenda 21

também trataram desse princípio.

O princípio da participação, atrelado aos demais, é de suma importância

ao exercício da cidadania e, reflexamente, à proteção do Meio Ambiente. E isso se

afirma porque, por meio dele, os cidadãos devem participar dos procedimentos e das

decisões ambientais, não apenas por serem os destinatários diretos dessas, mas

também pelo compromisso que todos devem ter para com a defesa e a proteção do

Meio Ambiente112.

Com efeito, segundo Jürgen Habermas113: “Participar significa que todos

podem contribuir, com igualdade de oportunidades, nos processos de formação

discursiva da vontade”. Na mesma esteira de entendimento, a lição de Gustavo Luiz

Gutierrez114, para quem “[...] participar consiste em ajudar a construir,

comunicativamente, o consenso quanto a um plano de ação coletivo”.

Esse princípio pode ser implementado de outras formas, além das

estabelecidas pelo Estado, como, por exemplo, por meio de “[...], por exemplo,

denúncias à imprensa, manifestações públicas, pressão por intermédio dos políticos,

manifestações, etc.”115 – o que, na realidade brasileira é uma constante. A respeito

dos instrumentos de participação, Odete Medauar116 ensina que:

[...] pela existência de instrumentos que permitam qualquer pessoa, ou cidadão, influir, controlar ou fiscalizar a atividade estatal, mormente na atividade desenvolvida pela Administração Pública, em âmbito federal, distrital, estadual e municipal.

Com esses instrumentos colocados à disposição dos cidadãos torna-se 112 BODNAR, Zenildo. Princípio da participação e o acesso à Justiça Ambiental. In: PES, João Helio

Ferreira; OLIVEIRA, Rafael dos Santos. (Coord.). Preservação e precaução no direito ambiental contemporâneo: aspectos principiológicos. Curitiba: Editora Juruá, 2008. p. 40.

113 HABERMAS. Jürgen. Problemas de legitimación en el capitalismo tardío . Traduccíon de José Luis Etcheverry. Madrid: Ediciones Cátedra, 1999. p. 159.

114 GUTIERREZ, Gustavo Luis. Gestão comunicativa: maximizando criatividade e racionalidade. Uma política de recursos humanos a partir da teoria de Habermas. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1999. p. 56.

115 SANCHÈZ. Luis Enrique. Os papéis da avaliação de impacto ambiental. Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Editora RT, n° 0, 2009. p. 140.

116 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 13. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 340.

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possível a participação dos cidadãos na vida política, social e ambiental da

sociedade transnacional, notadamente no processo de formulação, tomada de

decisão, planejamento, execução, monitoramento e avaliação de políticas,

programas e projetos que visem à sustentabilidade, à sua gestão coletiva, com vias

a um caráter efetivo e duradouro117. Com isso, é possível “construir a cidadania e

fortalecer os direitos sociais”118.

1.4.3. Princípios Implícitos

1.4.3.1. Princípio da Globalidade

Cediço que a problemática dos diversos impactos ambientais que

assolam o planeta transpassa as fronteiras dos países até então hermeticamente

delimitados por suas soberanias, pelo que, hodiernamente, o Direito Internacional

não mais é suficiente para resolver esta situação.

Diante dessa realidade, a doutrina passou a formular esse novel princípio

que, basicamente, impõe a responsabilidade dos Estados de se sujeitarem “ao

necessário fomento de políticas ecológicas conexas ou comuns, tendentes à efetiva

tutela dos componentes naturais em escala internacional”119. Assim, como o objetivo

do Direito Ambiental é a proteção e salvaguarda de um Meio Ambiente equilibrado

para as presentes e futuras gerações tem-se que ele deve ser estudado e pensado

necessariamente de forma global, integrada, transnacional. Nesse sentido, o

pensamento de Tiago Fensterseifer120:

117 LIMA, Ricardo Barbosa de. O princípio da participação em gestão ambiental: a fronteira entre

gerir e gestar. Disponível em: <http://www.ecoeco.org.br/conteudo/publicacoes/encontros/iv_en/mesa4/4.pdf>. Acesso em: 13 fev. 2014.

118 MILANI, Calos R. S. O princípio da participação social na gestão de pol íticas públicas locais: uma análise de experiências latino-americanas e europeias. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rap/v42n3/a06v42n3.pdf/>. Acesso em: 13 fev. 2014.

119 OLIVEIRA, André Pinto de Souza. Direito ambiental constitucional: uma análise principiológica da consolidação do estado protetor do ambiente nas constituições brasileira e portuguesa. Revista da Faculdade de Direito da UFMG. Belo Horizonte, nº 51, p. 46-68, jul. – dez., 2007. p. 65.

120 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção ambiental : a dimensão ecológica

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Por fim, registra-se que a superação da concepção moderna do Estado nacional e sua inaptidão e limitação para lidar com a problemática ambiental global, coloca, diante da dimensão universalista da problemática ambiental, a ideia, de uma República Ambiental Mundial, impulsionando o princípio democrático e a tutela dos direitos fundamentais para além das fronteiras nacionais.

A respeito desse princípio importa transcrever a lição de Ramón Martin

Mateo121:

Ahora bien, las constituciones tienen ambito y objetivos solo de relevancia nacional, se dirigen sobre todo a los ciudadanos de cada país y sus autoridades, intrinsecamente están pensadas para este tipo de interlocutores cuyas relaciones con el poder se pretende llevar por los cauces de los derechos fundamentales. Por el contrario, el enfoque que hoy parece necesario implica a todos los habitantes de nuestro planeta y a todos los poderes públicos que en este espacio habitan la respuesta debería venir de un ordenamiento supranacional o al menos internacional que incorporen los grandes principios rectores necesarios, a partir de los cuales se establezcan políticas y programas, cuya aplicación, Estado por Estado, podría venir facilitada el obligatorio cumplimiento de lo decidido en instancias mundiales o regionales ya establecidas sistema este que parcialmente es el que hoy corresponde a la dinâmica de la Unión Europea pero que habría de ser recibido a otros niveles y concretamente en el seno de las Naciones Unidas.

Assim, diante da atual problemática ambiental transnacional, verifica-se

que a criação, o desenvolvimento e a utilização desse novel princípio é de suma

importância para fazer frente aos desafios globais envolvendo a questão ambiental.

da dignidade humana no marco jurídico constitucional do estado socioambiental de direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008. p. 142.

121 MATEO, Ramón Martín, Manual de derecho ambiental . Navarra: Editorial Aranzadi, 2003, p. 41. Tradução livre da autora: As constituições possuem âmbito e objetivos somente de relevância nacional, são dirigidas, sobretudo, aos cidadãos de cada país e suas autoridades, intrinsecamente estão pensadas para este tipo de interlocutores cujas relações como poder pretendem-se levar pelos caminhos dos direitos fundamentais. Pelo contrário, o enfoque que hoje parece necessário implica a todos os habitantes de nosso planeta e a todos os poderes públicos que neste espaço residem, a resposta deveria vir de um ordenamento supranacional ou pelo menos internacional que incorpore os grandes princípios reitores necessários, a partir dos quais possam se estabelecer políticas e programas, cuja aplicação, Estado por Estado, poderia vir facilitada do cumprimento obrigatório do que foi decidido em instancias mundiais ou regionais já estabelecidas. Este sistema hoje é o que parcialmente corresponde à dinâmica da União Europeia, mas que teria que ser recebido a outros níveis e concretamente no seio das Nações Unidas.

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1.4.3.2. Princípio da Solidariedade

A solidariedade é de suma importância no que tange às relações

interpessoais e, sobretudo, às relações transnacionais entre os Estados,

notadamente no que diz respeito às questões ambientais, a ponto de ser

considerada como um “novo marco jurídico-constitucional do Estado Socioambiental

de Direito contemporâneo”122, que se contrapõe ao modelo clássico de soberania

nacional dos Estados. Nesse sentido, Ramón Martin Mateo123 ensina que:

Más allá de los limites que acotan las soberanías de los Estados nacionales, la solidariedad debe ser un imperativo no solo ético, sino también practico, impuesto por la base internacional de la mayoría de los sistemas naturales y por la necesidad de limitar, en aras del desarrollo sostenible, un excesivo uso de los recursos, lo que requiere obligadamente de asistencias y transvases. Así la solidariedad aparece como complemento y a la vez consecuencia y corolário de la puesta en vigor de los principios antes enunciados (ubicuidad, sostenibilidad, globalidad y subsidiaridad).

Atualmente, diante da globalização, o homem está inserido numa “aldeia

global”124 e, assim, por estar inserto num emaranhado de relações complexas,

conhecido como “teia da vida”125, a conexão entre os diversos ecossistemas

mundiais de forma cooperativa parteja e impõe a solidariedade como princípio de

fundamental importância no contexto ambiental planetário.

A respeito da solidariedade Gabriel Real Ferrer126 aduz que:

122 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção ambiental . p. 111. 123 MATEO, Ramón Martin. Manual de derecho ambiental . p. 44. Tradução livre da autora: Além das

fronteiras que limitam as soberanias dos Estados-nação, a solidariedade deve ser um imperativo não apenas ético, mas também prático, imposta pela base internacional para a maioria dos sistemas naturais e pela necessidade de limitar o bem do desenvolvimento sustentável, o excessivo uso dos recursos, o que requer obrigatoriamente a assistência e transvases. Assim, a solidariedade aparece como complemento e corolário da aplicação dos princípios acima enunciados (ubiquidade, sustentabilidade, globalidade e subsidiariedade).

124 Termo idealizado por Luigi Ferrajoli. In: FERRAJOLI, Luigi. A soberania no mundo moderno . São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 46-47.

125 CAPRA, Fritjof. A teia da vida . 126 FERRER, Gabriel Real. La solidariedad em el derecho administrativo. Revista de Administración

Publica (RAP) , n° 161, mayo-agostro 2003, p. 123-179. Tradução livre da autora: A solidariedade, o agir solidário, está na origem: é a técnica necessária para materializar esse ideal e idealizado, materialmente inexistente, porém, latente, Contrato Social que está na origem da sociedade, da sociedade politicamente organizada, dessa comunidade de interesses que é o Estado. Um pacto

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La solidariedad, el actuar solidario, está en el origen: es la técnica necesaria para materializar ese ideal e idealizado, materialmente inexistente pero latente, Contrato Social que está en el origen de la sociedad, de la sociedad politicamente organizada, de esa comunidad de intereses que es el Estado. Un pacto que se renueva periódicamente, diariamente, diría. Pacto que está en la Constitución y en las leyes, y que debe tenerse presente a diario pues es el único capaz de trasmutar la naturaleza de nuestra actividad. La solidariedad convierte la acción colectiva, lo privado en público.

Para esse doutrinador a solidariedade coletiva é materializada pelo Direito

Administrativo e, assim, pode-se falar em solidariedade prestacional ou igualitária,

solidariedade reparadora e solidariedade compensadora127.

O princípio da solidariedade aparece, primeiramente, na Carta de

Intenções da Constituição da República Federativa do Brasil128, onde se encontra o

seguinte texto:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Já no artigo 3º, inciso I, da referida Carta, o princípio em tela foi

expressamente previsto quando se estatuiu que um dos objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil é “construir uma sociedade livre, justa e solidária”,

afora a previsão de que a “erradicação da pobreza e da marginalização social e a

redução das desigualdades sociais e regionais” também constitui um dos objetivos

da República pátria. Por sua vez, os artigos 4º, incisos II, IV e IX e 225, da Carta da

Primavera, onde se vê a imposição de “um dever solidário de implementação da

que é renovado periodicamente, diariamente, diria. Pacto que está na Constituição e nas leis, e que deve estar presente no dia a dia já que é o único capaz de transmutar a natureza de nossa atividade. A solidariedade torna a ação coletiva, o privado em público.

127 REAL FERRER, Gabriel. La solidariedad en el derecho administrativo . p. 123-179. 128 BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil : promulgada em

5 de outubro de 1988.

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proteção do Meio Ambiente que atinge o Estado e a sociedade”129 igualmente tratam

da solidariedade.

Diante disso, pode-se afirmar que há uma preocupação do legislador

pátrio com a efetivação dos direitos sociais ou de segunda dimensão, bem como

com os de terceira dimensão, dentro do qual se insere os direitos ecológicos. Nesse

sentido, a precisa lição de Tiago Fensterseifer130:

[...] outro aspecto fundamental por trás do princípio constitucional da solidariedade, especialmente na sua aplicação voltada para a questão ambiental, diz respeito à solidariedade entre as gerações humanas presentes (ou viventes) e as gerações humanas futuras, à luz, inclusive, do reconhecimento da dignidade de tais vidas potenciais.

Assim, o princípio da solidariedade pode ser compreendido também como

um princípio de responsabilidade intergeracional ou princípio de equidade

intergeracional, uma vez que reforça a responsabilidade que a atual geração tem em

salvaguardar um Meio Ambiente equilibrado para as futuras gerações. Nesse

particular, a precisa lição de José Adércio Leite Sampaio131:

As presentes gerações não podem deixar para as futuras gerações uma herança de déficits ambientais ou do estoque de recursos e benefícios inferiores aos que receberam das gerações passadas. Esse é um princípio de justiça ou equidade que nos obriga a simular um diálogo com nossos filhos e netos na hora de tomar uma decisão que lhes possa prejudicar seriamente”.

A doutrina defende ainda que o princípio da solidariedade pode ser

entendido como um princípio de cooperação entre os Estados, uma vez que todos

têm interesse na proteção do Meio Ambiente e na solução dos problemas ambientais

reconhecidamente globais. Nas palavras de Tiago Fensterseifer132: “o princípio da

solidariedade deve ser projetado para além das fronteiras dos Estados nacionais”.

129 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 265. 130 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção ambiental . p. 118. 131 SAMPAIO, José Adércio Leite. Constituição e meio ambiente na perspectiva do direito

constitucional comparado. In: SAMPAIO, José Adércio Leite; WOLD, Chris; NARDY, Afrânio. Princípios de direito ambiental na dimensão interna cional e comparada. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 53.

132 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção ambiental . p. 117.

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Por fim, cumpre exarar que, em nível internacional, há a previsão da

solidariedade no documento oficial firmado por ocasião da Conferência de

Estocolmo de 1972133, bem como na Agenda 21 firmada quando da Eco-92 e nos

Princípios nº 5º, 7º, 9º, 12, 14 e 27 dessa Declaração134. A Convenção sobre

Diversidade Biológica, adotada durante a Eco-92, também prevê, em seu artigo 18, a

cooperação entre os Estados na conservação e utilização sustentável da diversidade

biológica.

1.4.3.3. Princípio do Desenvolvimento Sustentável

O princípio do Desenvolvimento Sustentável, também conhecido como

princípio da sustentabilidade, exsurge da imemoriável tensão existente entre o direito

do homem de desenvolver-se e realizar as suas potencialidades, individual ou

socialmente, e o direito de assegurar aos seus descendentes semelhantes ou,

mesmo, idênticas condições ambientais favoráveis135. É dizer: a tensão entre a

proteção ao Meio Ambiente e o crescimento econômico.

Segundo o doutrinador Marcelo Dias Varella136:

O princípio do desenvolvimento sustentável vem da fusão de dois grandes princípios jurídicos: o direito ao desenvolvimento e o da preservação do Meio Ambiente. O primeiro é originário do direito internacional econômico, mais especificadamente do direito do desenvolvimento, um ramo do direito originado dos movimentos de independência após a Segunda Guerra Mundial. O segundo vem do direito ambiental, trabalhando, sobretudo, a partir dos anos 1970.

Todavia, já na década de 30 é possível visualizar-se a busca da

conjugação entre a proteção ao Meio Ambiente e o Desenvolvimento, consoante a

133 Princípio nº 20, 22 e 24. 134 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento. Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014.

135 MILARÉ, Édis, Direito do ambiente . p. 82. 136 VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional econômico ambiental . Belo Horizonte: Del Rey,

2003. p. 5-6.

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seguinte lição de Cristiane Derani137:

A Convenção sobre a preservação da fauna e da flora em 1933, a Convenção internacional para a Regulação da Caça das Baleias, de 1946, e os acordos para o estabelecimento de um Conselho Geral de pescas para o Mediterrâneo, de 1949, já contêm referências ao desenvolvimento.

A partir da década de 50 pesquisadores europeus e estatudinenses

passaram a dedicar mais tempo às questões ambientais globais. Porém, foi na

década de 60, com a publicação da obra “Primavera Silenciosa”, no ano de 1962,

pela bióloga Rachel Carson138, que se lançou a “semente” do que, posteriormente,

tornar-se-ia a revolução do Movimento Ambientalista transnacional.

Em 1972, por ocasião da Conferência sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento realizada em Estocolmo, na Suécia, lançou-se o “embrião” para a

construção do conceito de Desenvolvimento Sustentável139.

Em 1983, a Assembleia Geral da ONU ordenou a criação de uma

comissão especial para o estudo do tema diante da preocupação crescente com as

tendências do desenvolvimento econômico e populacional e suas conseqüências em

relação ao Meio Ambiente global, indicando, para sua presidência, Gro Harlem

Brundtland, então primeira-ministra da Noruega140.

Em 1987, a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento publicou o estudo “Nosso Futuro Comum”141, conhecido como

“Relatório Brundtland”, onde restou exarado os graves empecilhos do então vigente

137 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico . p. 32. 138 Esta obra propiciou o debate público acerca da “responsabilidade da ciência, dos limites do

progresso tecnológico e da relação entre o ser humano e a Natureza. Mais especificamente, Carson descreveu como o uso de determinadas substâncias químicas (hidrocarbonetos clorados e fósforos orgânicos utilizados na composição de agrotóxicos, como o DDT) alteravam os processo celulares de plantas e animais, atingindo o ambiente natural como um todo e, consequentemente, o ser humano” apud: FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente . p. 21-22.

139 Princípios nº 2º, 3º, 4º e 5º. 140 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental brasileiro . p. 243. 141 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. The future we want. United Nations Conference on

Sustainable Development. Rio de janeiro, de 20 a 22 de junho de 2012. Disponível em: <http://www.rio20.gov.br/documentos/documentos-da-conferencia/o-futuro-que-queremos/at_download/the-future-we-want.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2014.

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modelo de desenvolvimento econômico e a sugestão de um novel modelo de

desenvolvimento econômico, a saber: o Desenvolvimento Sustentável.

Assim foi que a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento142 consagrou o conceito de Desenvolvimento Sustentável como

“aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade

de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”, sendo certo que

esse novel paradigma passou a permear vários dos 27 princípios da Declaração de

Princípios, como por exemplo, os princípios n° 1º, 3º, 4º, 5º, 7º, 8º, 9º, 12, 20, 22, 24

e 27.

Importa registrar aqui que a Convenção sobre a Biodiversidade143, firmada

também na Rio-92, define no artigo 10, o uso sustentável dos recursos naturais.

A respeito do tema, Édis Milaré144 aduz que:

[...] nos últimos anos, a sociedade vem acordando para a problemática ambiental. O mero crescimento econômico, mito generalizado, vem sendo repensado com a busca de fórmulas alternativas, como o ecodesenvolvimento ou o desenvolvimento sustentável, cuja característica principal consiste na possível e desejável conciliação entre o desenvolvimento integral, a preservação do Meio Ambiente e a melhoria da qualidade de vida – três metas indispensáveis.

E, diante de novo paradigma, o Brasil consagra-se como sendo um dos

pioneiros em exarar no bojo de sua Carta Magna o Direito Humano Fundamental ao

Meio Ambiente ecologicamente equilibrado ao tratar do assunto nos artigos 225, 170

e 186. Verifica-se, outrossim, que, em nível infraconstitucional, o compromisso com a

sustentabilidade ambiental foi concretizado por meio da edição das seguintes leis: nº

6.803/1980 (Diretrizes Básicas para o Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de

Poluição), nº 6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente), nº 9.795/1999

(Política Nacional de Educação Ambiental), nº 9.433/1997 (Política Nacional de

142 COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro

comum . 2. Ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991. p. 46. 143 “A utilização de componentes da diversidade biológica de modo e em ritmo tais, que não leve, no

longo prazo, à diminuição da diversidade biológica, mantendo, assim, seu potencial para atender às necessidades e aspirações de gerações presentes e futuras”

144 MILARÉ, Edis. Direito do ambiente . p. 57.

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Recursos Hídricos), nº 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação),

nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade), nº 11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico)

[Decreto nº 6.040/2007 (Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos

Povos e Comunidades Tradicionais)] e nº 11.771/2008 (Política Nacional de

Turismo)145.

Diante desse contexto, percebe-se que a cada dia se acentua a tensão

entre a proteção ao Meio Ambiente e o Desenvolvimento Econômico, uma vez que

os Estados (e os cidadãos) não querem baixar seu patamar de conforto e consumo.

Por outro lado, é inegável que esses mesmos Estados (e os cidadãos) sentem a

premente necessidade de se buscar um Meio Ambiente equilibrado não só para

gozo atual, mas, sobretudo, para as futuras gerações, bem como um crescimento

econômico sustentável. A respeito do assunto, a pontual lição de Édis Milaré146:

Com efeito, parece superada a noção romântica de que a natureza é um intocável santuário. O Brasil – assim como outros países menos desenvolvidos precisa gerar riquezas e enfrentar os desafios da mudança social, cujos símbolos mais evidentes são a taxa de crescimento da população e a consolidação de uma pobreza estrutural. Há brasileiros vivendo em situação de miséria extrema; urge melhorar suas vidas, dando-lhes condições mais dignas. Nossa ação concreta, porém, não pode ser feita sobre bases de “crescimento a qualquer preço”. O Meio Ambiente, que é patrimônio não só da geração atual, mas também das gerações futuras, precisa ser considerado nas suas dimensões de espaço e tempo, em sucessivos “aqui e agora‟. Ou seja, é preciso crescer, sim, mas de maneira planejada e sustentável, com vistas a assegurar a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a proteção da qualidade ambiental em todo instante e em toda parte. Isto é condição para que o progresso se concretize em função de todos os homens e não à custa do mundo natural e da própria humanidade, que, com ele, está ameaçada pelos interesses de uma minoria ávida de lucros e benefícios.

Para finalizar, é mister ter em mente que esse princípio está

umbilicalmente ligado ao princípio do consumo sustentável, haja vista que no

entendimento de Tiago Fensterseifer147:

[...] as práticas de consumo impetradas pelo indivíduo também conformam 145 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 247. 146 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente . p. 59-60. 147 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente . p. 131.

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um espaço de atuação política. Uma atuação consciente do consumidor ajustada a um padrão de qualidade ambiental dos produtos e serviços de que dispõe no âmbito das suas práticas de consumo é também um instrumento de controle individual e social do comportamento de fornecedores de bens e serviços.

Como bem adverte Édis Milaré148:

Da mesma forma, se a produção deve ser sustentável, também o consumo o deve ser. Não se pode produzir o que não se consome (não produzir desperdício nem criar necessidades artificiais de consumo), não se pode consumir o que não se produz (acrescentaríamos: adequadamente ou sustentavelmente).

O conceito de consumo sustentável foi elaborado pela Comissão de

Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (CDS/ONU), em

1995, e assim se caracteriza:

Consumo sustentável é o uso de serviços e produtos que resp”ola”m às necessidades básicas de toda população e trazem a melhoria da qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduzem o uso dos recursos naturais e de materiais tóxicos, a produção de lixo e as emissões de poluição em todo ciclo de vida, sem comprometer as necessidades das gerações futuras.

Na esteira de entendimento consignado na própria Agenda 21, firmada

por ocasião da Eco-92, é mister, ao novo tipo de desenvolvimento almejado pelos

países signatários dos diversos compromissos, “padrões de consumo sustentáveis”,

sob pena de se tornar sem sentido os esforços até então empreendidos na busca da

solução entre a tensão alhures mencionada.

À luz do exposto, constata-se que o Meio Ambiente sagrou-se como um

objeto de estudo fundamental no contexto atual do macroprocesso de proteção

ambiental planetária. Assim, presenciou-se, no transcorrer do último século, a

institucionalização do Direito Ambiental em nível mundial, o qual é alicerçado em

princípios como o da prevenção, da precaução, participação, globalidade,

solidariedade e desenvolvimento sustentável, fundamentais na construção sólida de

um novo paradigma sócio-econômico-ambiental transnacional. Com visto alhures, o

148 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente . p. 81-82.

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Direito Ambiental propugna que todos têm o Direito Fundamental a um Meio

Ambiente equilibrado e sadio para gozo imediato e, sobretudo, futuro, o que

perpassa pelo campo de estudo da Cidadania, conforme será abordado na

sequência.

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CAPÍTULO 2

DIREITOS FUNDAMENTAIS E CIDADANIA

2.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS

Como visto no capítulo anterior, a evolução da discussão sobre o Meio

Ambiente e, como corolário, do Direito Ambiental, deu-se, no transcorrer do século

XX, através das chamadas “olas”. Nesse período, ocorreu a primeira Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, onde esse novel

Direito foi alçado ao patamar de Direito Fundamental do Homem.

A respeito desse tema, é inquestionável que o panorama jurídico-

constitucional atual é resultado, mesmo que indireto, da afirmação, conquista e

concretização paulatina desses direitos como proteção da pessoa humana.

Antonio Enrique Pérez Luño149 aduz que a expressão “Direitos

Fundamentais” (droits f”ola”mentaux) surgiu em França, em 1770, por ocasião do

movimento político e cultural que deu origem à Declaração Universal dos Direito do

Homem e do Cidadão de 1789.

Assim – e para fins desta pesquisa –, entende-se oportuno tecer breves

comentários acerca da evolução histórica dos Direitos Fundamentais, sua

terminologia e conceito, suas características e, finalmente, sobre a caracterização do

Meio Ambiente sadio e equilibrado como Direito Humano Fundamental.

2.1.1 Construção Histórica

Norberto Bobbio150 adverte que “os direitos não nascem todos de uma vez

nem de uma vez por todas. Nascem quando devem ou podem nascer”. Hannah

149 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos humanos, estado de derecho y constitución. 10 ed.

Madrid: Tecnos, 2005. p. 30. 150 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos . Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 32.

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Arendt151, por sua vez, ensina que os direitos humanos “não são um dado, mas um

construído, uma invenção humana em constante processo de construção e

reconstrução”.

Destarte, os Direitos Fundamentais são o resultado de exigências, lutas e

reivindicações ocorridas ao longo dos anos de existência da humanidade sobre a

terra, razão pela qual são tidos como frutos de uma “maturação histórica”, na

expressão cunhada por Paulo Gustavo Gonet Branco152.

Como adverte Robert Alexy153, é possível formular diversas teorias sobre

os Direitos Fundamentais, dentre as quais o autor menciona: teorias históricas (que

explicam o desenvolvimento dos direitos fundamentais); teorias filosóficas (que se

empenham em esclarecer seus fundamentos); e teorias sociológicas (que buscam

descobrir a função dos direitos fundamentais no sistema social). Todas elas, e tantas

outras existentes, contribuem para a discussão, construção e fortalecimento dos

Direitos Fundamentais.

Gregorio Peces-Barba154, por sua vez, idealizou uma importante

contribuição à teoria e/ou à Filosofia dos Direito Fundamentais, qual seja, o estudo

desses direitos sob o enfoque de suas linhas de evolução. Esse autor entende que

os Direitos Fundamentais são um conceito histórico do mundo moderno e surge

progressivamente a partir do trânsito à modernidade, o que se dá por meio das

referidas linhas de evolução dos direitos fundamentais.

A mencionada contribuição foi sintetizada por Marcos Leite Garcia155 que

acrescentou, às linhas pensadas pelo professor espanhol, uma linha denominada de

151 ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo . São Paulo Companhia das Letras, 2006. p. 55. 152 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Teoria geral dos direitos fundamentais. In: MENDES, Gilmar

Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. p. 265.

153 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais . 5 ed. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 31.

154 PECES-BARBA, Gregorio. Curso de derechos fundamentales: Teoria General. Madrid: Universidad Carlos III de Madrid. p. 154-199.

155 GARCIA, Marcos Leite. A contribuição de Christian Thomasius ao processo de formação do ideal dos direitos fundamentais. Novos Estudos Jurídicos . v. 10, n. 2, p. 417-450, jul/dez. 2005, Univali, Itajaí.

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“Formação do Ideal dos Direitos Fundamentais”:

Resumidamente estas (linhas) são: a. processo de positivação: a passagem da discussão filosófica ao Direito positivo (primeira geração, direitos de liberdade); b. processo de generalização: significa a extensão do reconhecimento e proteção dos direitos de uma classe a todos os membros de uma comunidade como conseqüência da luta pela igualdade real (direitos sociais ou de segunda geração); c. processo de internacionalização: ainda em fase embrionária, de difícil realização prática e que implica na tentativa de internacionalizar os direitos humanos e que ele esteja por cima das fronteiras e abarque toda a Comunidade Internacional (tentativa de universalização dos direitos humanos); d. processo de especificação: pelo qual se considera a pessoa em situação concreta para atribuir-lhe direitos seja como titular de direitos como criança, idoso, como mulher, como consumidor, etc., ou como alvo de direitos como o de um meio ambiente saudável ou à paz (direitos difusos ou de terceira geração). [...].

Toma-se por relevante fazer nota, outrossim, acerca da importância do

Cristianismo para o tema. De fato, essa doutrina cristã propaga o ensinamento de

que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus156, bem como que Este, na

pessoa de seu Filho, fez-se carne, habitou no meio da raça humana157 com o fim

último de salvá-la158. Assim, a noção de dignidade do homem ganhou novos

contornos de importância e, quiçá, proteção. Ademais, o Cristianismo propagou a

noção de amor e igualdade entre todos, cuja máxima se expressa no versículo

“amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o

teu entendimento”, bem como “amarás o teu próximo como a ti mesmo”159. Todavia,

é mister exarar que a igreja católica apostólica romana, por ocasião do nascimento

dos Direitos Fundamentais, foi contundentemente contrária à proteção desses

direitos, a ponto de criar a Santa Inquisição, cujas práticas bárbaras e cruéis são

notórias.

Por sua vez, Paulo Gustavo Gonet Branco160 aduz que:

156 BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de Padre Antônio Pereira de Figueredo. Rio de

Janeiro: Encyclopaedia Britannica, 1980. Edição Ecumênica. Gênesis 1:26. 157 BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. João 1:14 158 BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. João 3:16. 159 BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Mateus 22:37 e 39. 160 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Teoria geral dos direitos fundamentais. In: MENDES, Gilmar

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Nos séculos XVII e XVIII, as teorias contratualistas vêm enfatizar a submissão da autoridade política à primazia que se atribui ao indivíduo sobre o Estado. A defesa de que certo número de direitos preexistem ao próprio Estado, por resultarem da natureza humana, desvenda característica crucial do Estado, que lhe empresta legitimação – o Estado serve aos cidadãos, é instituição concatenada para lhes garantir os direitos básicos.

Prossegue o referido autor161:

Essas idéias tiveram decisiva influência sobre a Declaração de Direitos de Virgínia, de 1776, e sobre a Declaração francesa, de 1789. Talvez, por isso, com maior freqüência, situa-se o ponto fulcral do desenvolvimento dos direitos fundamentais na segunda metade do século XVIII, sobretudo com o Bill of Rights de Virgínia (1776), quando se dá a positivação dos direitos tidos como inerentes ao homem, até ali mais afeiçoados a reivindicações políticas e filosóficas do que a normas jurídicas obrigatórias, exigíveis judicialmente.

Os Direitos Fundamentais firmaram-se, pois, ao longo dos anos, sendo

que, especialmente no final dos séculos XVII e XVIII, quando se observou uma

“radical inversão de perspectiva, características da formação do Estado moderno, na

representação da relação política, ou seja, na relação estado/cidadão ou

soberano/súditos”162, a sedimentação de tais direitos restou consagrada.

Outra perspectiva histórica analisa a evolução dos Direitos Fundamentais

em três gerações/dimensões163, levando em consideração o surgimento de

determinados tipos de direitos e seu acolhimento pelo ordenamento jurídico dos

Estados. Fala-se, pois, em Direitos Fundamentais de primeira, segunda, terceira e,

atualmente, quarta geração/dimensão.

Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. p. 266.

161 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Teoria geral dos direitos fundamentais. In: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. p. 266.

162 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos . p. 4. 163 A princípio, a doutrina desenvolveu a categoria geração dos Direitos Fundamentais. Todavia, ao

depois, concluiu-se que o uso desse termo equivalia à substituição e/ou extinção das gerações anteriores, o que não é verdadeiro. Por tal motivo, parte da doutrina tem optado pelo termo dimensão, ao invés de geração. Importa salientar que a locução gerações de direitos foi idealizada por Karal Vasak por ocasião da aula inaugural da 10ª Sessão de Estudos do Instituto Internacional de Direitos do Homem, em Estrasburgo, em 1979.

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Os Direitos Fundamentais de primeira geração/dimensão, assim

cunhados porque foram os primeiros a serem positivados são frutos da reivindicação

da burguesia, por ocasião das revoluções liberais francesas e norte-americana,

ocorridas no final do século XVIII. Eles objetivaram, precipuamente, salvaguardar os

direitos e liberdades individuais dos cidadãos em face dos então constantes abusos

e interferências arbitrárias perpetradas pelo Estado. Traduziram postulados de

abstenção por parte dos governantes, ou seja, uma obrigação de não fazer. Como

exemplos, citam-se o direito à liberdade de consciência, de crença, direito à

inviolabilidade de domicílio, à liberdade de reunião, entre outros, como os ditos

direitos civis e políticos. O valor aqui é a liberdade e vigia do Estado Liberal de

Direito.

Os Direitos Fundamentais de segunda geração/dimensão, por sua vez,

nasceram em meio a outra realidade política, social, cultural e, sobretudo,

econômica. Momento em que ocorreu a Revolução Industrial e com ela observou-se

o agravamento das desigualdades sociais, resultando, assim, na reivindicação por

parte dos cidadãos, em relação ao Estado, de outro tipo de direito fundamental que

impusesse ao Estado prestações sociais positivas; é dizer, uma obrigação de fazer.

Eles objetivaram, precipuamente, garantir igualdade real e efetiva para todos os

cidadãos mediante a intervenção do Estado. Como exemplos, citam-se o direito à

assistência social, ao trabalho, à educação, ao lazer, à moradia, entre outros. Eles

são conhecidos como direitos sociais “não porque sejam direitos de coletividades,

mas por se ligarem a reivindicações de justiça social”164. O valor aqui é a igualdade

e vigia o Estado Social de Direito.

Os Direitos Fundamentais de terceira geração/dimensão, surgidos e/ou

fomentados pela evolução tecnológica das últimas décadas e, ainda, como resposta

à premente “necessidade de se atenuar as diferenças entre as nações

desenvolvidas e subdesenvolvidas, por meio da colaboração de países ricos com os

164 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Teoria geral dos direitos fundamentais. In: MENDES, Gilmar

Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. p. 268.

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países pobres”165, caracterizam-se como sendo “direitos da coletividade” porquanto

idealizados para proteger não o homem individualmente, mas sim coletivamente. O

valor aqui é a solidariedade/fraternidade e vige o Estado Socioambiental de Direito.

Como exemplos, citam-se o direito à autodeterminação dos povos, à paz, à

liberdade de informática, à conservação do patrimônio histórico e cultural da

humanidade, ao desenvolvimento/progresso, à comunicação, e o direito à qualidade

do meio ambiente166. Antonio Enrique Pérez Luño167 elenca, ainda, como exemplos

dessa dimensão (que segundo ele não é hermética) os seguintes direitos:

[...] las garantías frente a la manipulación genética, el derecho a morir con dignidad, el derecho al disfrute del patrimonio histórico y cultural de la humanidad, el derecho de reivindicación de los colectivos feministas de un derecho al aborto libre y gratuito [...].

Atualmente, parte da doutrina sinaliza a existência de Direitos

Fundamentais de quarta geração/dimensão, caracterizando-os como sendo direitos

à democracia, à informação e ao pluralismo, os quais foram “introduzidos no âmbito

jurídico em razão da globalização política”168, bem como outra parte, como Paulo

Bonavides169 e Antônio Carlos Wolkmer170, à luz dos denominados Novos Direitos,

sustentam uma quinta geração/dimensão dos Direitos Fundamentais, citando como

exemplo, o direito à paz enquanto axioma da democracia participativa.

O que se percebe é que, ao longo dos anos, essas referidas

gerações/dimensões vêm se complementando umas às outras, não se podendo

165 NOVELINO, Marcelo. Direito constitucional . 6. ed. revista, atualizada e ampliada São Paulo:

Editora Método. 2012. p. 404. 166 Neste sentido já entendeu o Supremo Tribunal Federal: RE 134.297, Rel. Celso de Mello, DJ de

22.9.1995 e MS 22.164-0/SP, Rel. Celso de Mello, DJ de 17.11.1995. 167 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Las generaciones de derechos humanos. In: PÉREZ LUÑO,

Antonio Enrique. La tercera generación de los derechos humanos. Cizur Menor (Navarra): Aranzadi, 2006. p. 25-48. Tradução livre da autora: [...] as garantias frente à manipulação genética, o direito de morrer com dignidade, o direito de desfrutar do patrimônio histórico e cultural da humanidade, o direito de reivindicação dos coletivos feministas do direito ao aborto livre e gratuito [...].

168 NOVELINO, Marcelo. Direito constitucional . p. 405. 169 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional . 28 ed., São Paulo: Malheiros, 2013. p 523.

BONAVIDES, Paulo. O direito à paz como direito fundamental de quinta geração. Revista Interesse Público , n. 40, Porto Alegre: Editora Notadez, Nov-Dez., 2006. p. 15-22.

170 WOLKMER, Antônio Carlos. Introdução aos fundamentos de uma teoria geral dos “novos” direitos. In: WOLKMER, Antônio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (orgs.). Os “novos” direito no Brasil: natureza e perspectiva. São Paulo: Saraiva. p. 1-30.

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falar, portanto, em superação nem em extinção de umas pelas outras, sendo todas

necessariamente importantes para a construção histórica do conceito de Direitos

Fundamentais.

2.1.2 Terminologia e Conceito

Como é cediço, não há consenso entre os doutrinadores a respeito da

terminologia acerca da locução Direitos Fundamentais/Direitos Humanos/Direito do

Homem e, tampouco, sobre seu conceito e conteúdo material.

Adverte Antonio Enrique Pérez Luño171 que a significação heterogênea da

expressão “Direitos Humanos” tem contribuído para fazer desse conceito um

paradigma de equivocidades. Norberto Bobbio172, por sua vez, aduz que a

expressão “Direitos do Homem” é muito vaga e acaba conduzindo a definições

tautológicas, formais e teleológicas.

Essa expressão, outrossim, muitas vezes, é utilizada de forma equivocada

nos diversos segmentos da sociedade moderna, notadamente na imprensa, fazendo

com que uma carga negativa se lhe impregne ao significado. De fato, não raro, a

locução “Direitos Humanos” é vinculada à falsa ideia de proteção de marginais em

detrimento da proteção das reais vítimas de determinada situação aviltante à

dignidade da pessoa humana, fomentando, pois, a concepção de que injustiça e

impunidade restam acobertadas pelos tais direitos.

Dessa feita, importa trazer à baila terminologias e conceitos idealizados

por alguns doutrinadores acerca do assunto.

A respeito da distinção entre as expressões: Direitos Humanos, Direitos

do Homem e Direitos Fundamentais cumpre transcrever a lição de Paulo Gustavo

171 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos humanos, estado de derecho y constitución . p. 27. 172 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos . p 17.

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Gonet Branco173:

A expressão direitos humanos, ou direitos do homem, é reservada para aquelas reivindicações de perene respeito a certas posições essenciais ao homem. São direitos postulados em bases jusnaturalistas, contam índole filosófica e não possuem como característica básica a positivação numa ordem jurídica particular. A expressão direitos humanos, ainda, e até por conta da sua vocação universalista, supranacional, é empregada para designar pretensões de respeito à pessoa humana, inseridas em documentos de direito internacional. Já a locução direito fundamentais é reservada aos direitos relacionados com posições básicas das pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Estado. São direitos que vigem numa ordem jurídica concreta, sendo, por isso, garantidos e limitados no espaço e no tempo, pois são assegurados na medida em que cada Estado os consagra.

No mesmo sentido, a lição de Marcos Leite Garcia174:

[...] Diversas expressões foram utilizada através dos tempos para designar o fenômeno dos direitos humanos, e diversas também foram suas justificações. Na nossa opinião três são as expressões corretas para serem usadas atualmente: direitos humanos, direitos fundamentais e direitos do homem. Respaldamos nossa opinião no consenso geral existente na doutrina especializada no sentido de que os termos direitos humanos e direitos do homem se utilizam quando fazemos referência àqueles direitos positivados nas declarações e convenções internacionais, e o termo direitos fundamentais para aqueles direitos que aparecem positivados ou garantidos no ordenamento jurídico de um Estado. [...].

A respeito do tema, Ana Maria D”Ávilla Lopes175 afirma que:

A expressão direitos humanos faz referência aos direitos do homem em nível supranacional, informando a ideologia política de cada ordenamento jurídico, significando o pré-positivo, o que está antes do Estado, ao passo que os direitos fundamentais são a positivação daqueles nos diferentes ordenamentos jurídicos, adquirindo características próprias em cada um deles.

173 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Teoria geral dos direitos fundamentais. In: MENDES, Gilmar

Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. p. 278.

174 GARCIA, Marcos Leite. Efetividade dos direitos fundamentais: notas a partir da visão integral do conceito segundo Gregorio Peces-Barba. In: VALLE, Juliano Keller do; MARCELINO JR., Julio César. Reflexões da pós-modernidade: Estado, Direito e Constituição. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008, p. 189-209.

175 LOPES, Ana Maria D’Ávila. Os direitos fundamentais como limites ao poder de l egislar . Porto Alegre: Fabris, 2001. p. 42.

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Nessa mesma linha, Ingo Wolfgang Sarlet176 leciona que

[...] os direitos humanos guardam relação com uma concepção jusnaturalista (jusracionalista) dos direitos, ao passo que os direitos fundamentais dizem respeito a uma perspectiva positivista. Neste sentido, os direitos humanos (como direitos inerentes à própria condição e dignidade humana) acabam sendo transformados em direitos fundamentais pelo modelo positivista, incorporando-os ao sistema de direito positivo como elementos essenciais, visto que apenas mediante um processo de “fundamentalização” (precisamente pela incorporação às constituições), os direitos naturais e inalienáveis da pessoa adquirem a hierarquia jurídica e seu caráter vinculante em relação a todos os poderes constituídos no âmbito de um Estado Constitucional, portanto, os direitos fundamentais são todas aquelas posições jurídicas concernentes às pessoas, que, do ponto de vista do direito constitucional positivo, foram, por seu conteúdo e importância (fundamentalidade em sentido material), integradas ao texto da Constituição e, portanto, retiradas da esfera de disponibilidade dos poderes constituídos (fundamentalidade formal), bem como as que, por seu conteúdo e significado, possam lhes ser equiparados, agregando-se à Constituição material, tendo, ou não, assento na Constituição formal.

Para finalizar, é importante destacar também a lição de Fábio

Comparato177 ao analisar o assunto sob a ótica da doutrina alemã:

É aí que se põe a distinção elaborada pela doutrina jurídica germânica entre direitos humanos e direitos fundamentais (Grundrechte). Estes últimos são os direitos humanos reconhecidos como tal pelas autoridades, às quais se atribui o poder político de editar normas, tanto no interior dos Estados quanto no plano internacional; são os direitos humanos positivados nas Constituições, nas leis, nos tratados internacionais. Seguindo outra terminologia, fala-se em direitos fundamentais típicos e atípicos, sendo estes os direitos humanos ainda não declarados em textos normativos.

À luz do exposto, e para fins desta pesquisa, utilizar-se-á a expressão

“Direitos Fundamentais” para designar o conjunto de direitos e valores relacionados

à proteção da dignidade da pessoa humana, umbilicalmente ligados à vida, à

liberdade e à igualdade, consagrados/positivados no ordenamento jurídico de cada

176 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais : uma teoria geral dos direitos

fundamentais na perspectiva constitucional. 10 ed. revista, atualizada e ampliada. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. p. 77.

177 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos . 8. ed., revista e ampliada. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 56.

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Estado. Enquanto que a expressão “Direitos Humanos”, para designar tais direitos e

valores consagrados/positivados em tratados e convenções internacionais.

No que concerne ao conceito de Direitos Fundamentais, Antonio Enrique

Pérez-Luño178 entende os Direitos Humanos como:

[...] un conjunto de facultades y instituciones que, en cada momento histórico, concretan las exigencias de la dignidad, la libertad y la igualdad humanas, las cuales deben ser reconocidas positivamente por los ordenamientos jurídicos a nível nacional y internacional.

Já para Gregorio Peces-Barba179 os Direitos Fundamentais são:

1. Una pretensión moral justificada, tendente a facilitar la autonomia y la independencia personal, enraizada en las ideas de libertad e igualdad, con los matices que aportan conceptos como solidariedad y seguridad jurídica, y construida por la reflexión racional en la historia del mundo moderno, con las aportaciones sucesivas e integradas de la filosofia moral y política liberal, democrática y socialista. [...]. 2. Un subsistema dentro del sistema jurídico, el Derecho de los derechos fundamentales, lo que supone que la pretensión moral justificada sea técnicamente incorporable a una norma, que pueda obligar a unos destinatarios correlativos de las obligaciones jurídicas que se desprenden para que el derecho sea efectivo, que sea susceptible de garantía o protección judicial, y, por supuesto que se pueda atribuir como derecho subjetivo, libertad, potestad o inmunidad a unos titulares concretos. [...] 3. [...] los derechos fundamentales son una realidad social, es decir, actuante en la vida social, y por tanto condicionados en sua existência por factores

178 PÉREZ-LUÑO, Antonio Enrique. Derechos humanos, estado de derecho y constitución . p. 50.

Tradução livre da autora: [...] um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humana, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional.

179 PECES-BARBA, Gregorio. Curso de derechos fundamentales : teoría general. p. 109-112. Tradução livre da autora: 1. Uma pretensão moral justificada, tendente a facilitar a autonomia e a independência pessoal, enraizada nas ideias de liberdade e igualdade, com os matizes que aportam conceitos como solidariedade e segurança jurídica, e construída pela reflexão racional na história do mundo moderno, com as sucessivas contribuições e integradas da filosofia moral e política liberal, democrática e socialista. [...]. 2. Um subsistema dentro do sistema jurídico, o Direito dos direitos fundamentais, o que supõe que a pretensão moral justificada seja tecnicamente incorporável a uma norma, que possa obrigar a uns destinatários correlativos das obrigações jurídicas que se desprendem para que o direito seja efetivo, que seja susceptível de garantia ou proteção judicial, e, sem dúvida que possa ser atribuído como direito subjetivo, liberdade, potestade ou imunidade a uns titulares concretos. [...] 3. [...] os direitos fundamentais são uma realidade social, quer dizer, atuante na vida social, e por isso condicionado na sua existência por fatores extrajurídicos de caráter social, econômico ou cultural que favorecem, dificultam ou impedem sua efetividade. [...].

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extrajurídicos de carácter social, econômico o culural que favorecen, dificultan o impiden su efectividad. [...].

Dalmo de Abreu Dallari entende que:

A expressão direitos humanos é uma forma abreviada de mencionar os direitos fundamentais da pessoa humana. Esses direitos são considerados fundamentais porque sem eles a pessoa humana não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida. Todos os seres humano devem ter asseguradas, desde o nascimento, as condições mínimas necessárias para se tornarem úteis à humanidade, como também devem ter a possibilidade de receber os benefícios que a vida em sociedade pode proporcionar. Esse conjunto de condições e de possibilidades associa as características naturais dos seres humanos, a capacidade natural de cada pessoa e os meios de que a pessoa pode valer-se como resultado da organização social. É a esse conjunto que se dá o nome de direitos humanos.

Para Carlos Santiago Niño180, os direitos humanos são uma construção

consciente vocacionada a assegurar a dignidade humana e a evitar sofrimentos em

face da persistente brutalidade da espécie humana. Já para Alexandre de Moraes181,

adotando a locução Direitos Humanos Fundamentais, os direitos humanos são o

conjunto de direitos e garantias do Homem que tem por escopo o respeito à sua

dignidade por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o

estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade

humana.

À luz do exposto, percebe-se que os Direitos Fundamentais, como

salientados por Marcos Leite Garcia182 não são um conceito estático, imutável ou

absoluto. Ao contrário, trata-se de um fenômeno que acompanha a evolução da

sociedade, das novas tecnologias, bem como as novas necessidades de positivação

para proteger a dignidade humana, a liberdade, a igualdade e fazer da solidariedade

uma realidade entre todos.

180 NIÑO. Carlos Santiago. The ethics of human rigths. Oxford, Clarendon Press. 1991. Apud:

PIOVESAN, Flávia. Ações Afirmativas e Direitos Humanos. Revista USP , São Paulo, n. 69, mar/mai, 2006. p. 36-43.

181 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais e democracia . 10 ed., São Paulo: Atlas. 2013. p. 5.

182 GARCIA, Marcos Leite. Efetividade dos direitos fundamentais: notas a partir da visão integral do conceito segundo Gregorio Peces-Barba. In: VALLE, Juliano Keller do; MARCELINO JR., Julio César. Reflexões da pós-modernidade: estado, direito e constituição. p. 189-209.

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75

2.1.3 Características

Assim como é tormentoso conceituar os Direitos Fundamentais, também o

é fixar-lhes as características. Buscar descobrir suas particularidades básicas não se

traduz em tarefa meramente acadêmica, mas “pode revelar-se importante para

resolver problemas concretos. O esforço é necessário para identificar direitos

fundamentais implícitos ou fora do catálogo expresso da constituição”183.

Dessa feita, para fins dessa pesquisa, pinçou-se, dentre o extenso quadro

doutrinário existente a respeito, as seguintes características dos Direitos

Fundamentais:

a) Universalidade

Significa que todas as pessoas são titulares de Direitos Fundamentais,

sendo que a qualidade de ser humano (livre) constitui condição suficiente e

necessária para a titularidade desses direitos. A respeito, importa trazer à lume a

lição de Marcelo Novelino184 no sentido de que “[...] a existência de um núcleo

mínimo de proteção à dignidade deve estar presente em qualquer sociedade, ainda

que os aspectos culturais devam ser respeitados [...], pelo que a validade universal

não significa uniformidade.

A Declaração de Viena, adotada por ocasião da Conferência Mundial de

Direitos Humanos de 1993, exarou o princípio da universalidade dos Direitos

Humanos, nos seguintes termos: “todos os Direitos Humanos são universais,

indivisíveis, interdependentes e interrelacionados [...] e que [...] a comunidade

internacional deve tratar os direitos Humanos globalmente, de modo justo e

equitativo, com o mesmo fundamento e a mesma ênfase185.

183 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Teoria geral dos direitos fundamentais. In: MENDES, Gilmar

Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito constitucional . p. 270.

184 NOVELINO, Marcelo. Direito constitucional . p. 402. 185 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos . p. 67.

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b) Historicidade

Os Direitos Fundamentais têm sua origem na História e vão se afirmando

gradualmente em face da evolução das conjunturas sociais, políticas, culturais e

econômicas. É pertinente dizer: eles “[...] surgem e se desenvolvem conforme o

momento histórico”186. A respeito, convém destacar os seguintes diplomas

internacionais sobre o assunto: a “Magna Carta Libertatum”, de 1215, a Declaração

dos Direitos do Bom Povo da Virgínia, de 1776, a Declaração de Direitos do Homem

e do Cidadão, de 1789 e a Declaração Universal de Direitos do Homem, da ONU, de

1948187

c) Inalienabilidade

Os Direitos Fundamentais não possuem um conteúdo patrimonial, razão

pela qual são inalienáveis, não podendo ser transferidos, quer a título oneroso ou

gratuito. Porém, é fato que o ser humano pode deixar de exercer esses direitos,

caso assim entenda por bem.

d) Imprescritibilidade

Os Direitos Fundamentais não são sujeitos à prescrição, isto é, não se

esgotam ou perdem pelo transcurso do tempo.

e) Irrenunciabilidade

Os Direitos Fundamentais são irrenunciáveis porquanto não se pode falar

em renúncia à vida ou à liberdade. Todavia, como salientado por Marcelo Novelino,

“[...] por encontrarem limitações em outros direitos constitucionalmente consagrados,

os direitos fundamentais não podem ser considerados absolutos [...]”, pelo quê fala-

se em irrenunciabilidade relativa.

186 NOVELINO, Marcelo. Direito constitucional . p. 402. 187 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional .

7. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 88.

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f) Inviolabilidade

Os Direitos Fundamentais devem ser observados, respeitados e, mais,

fomentados pelo legislador e Poder Público, sob pena de responsabilização civil,

administrativa e criminal.

g) Indivisibilidade

A respeito dessa característica, Mariella Carvalho de Farias Aires188 aduz

que: “Não há grupos estanques de Direitos Humanos, nem hierarquia entre os

mesmos, sejam direitos civis, políticos, econômicos, sociais ou culturais. Todos são

essenciais à dignidade do homem. [...]”. É dizer: “[...] a indivisibilidade dos diversos

direitos fundamentais implica na necessidade de se respeitar todas as categorias de

direitos fundamentais (p. ex., os direitos de proteção, de prestação, etc.), numa

relação complementar, interdependente e interrelacional”189.

h) Efetividade

Os Direitos Fundamentais carecem, não apenas de previsão abstrata,

mas também de efetiva atuação do Poder Público para sua concreção, inclusive

com o uso de mecanismos coercitivos, caso seja necessário190.

i) Complementariedade

Como mencionado alhures, a Declaração de Viena exarou o princípio da

complementariedade solidária dos Direitos Humanos. Assim, os Direitos Humanos

jamais podem ser analisados ou mesmo interpretados de forma estanque, isolada,

mas sim, de forma conjunta, global e holística, com o escopo de sua plena

concretização em nível planetário.

188 AIRES, Mariella Carvalho de Farias. Direitos humanos. In: PIOVESAN, Flávia Cristina; GARCIA,

Maria (orgs.). Doutrinas Essenciais – Direitos Humanos. v.1, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 783-803.

189 ROTHENBURG, Walter Claudius. Direitos fundamentais e suas características. In: PIOVESAN, Flávia Cristina; GARCIA, Maria (orgs.). Doutrinas Essenciais – Direitos Humanos. v. 1, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 1033-1048.

190 AIRES, Mariella Carvalho de Farias. Direitos humanos. In: PIOVESAN, Flávia Cristina; GARCIA, Maria (Orgs.). Doutrinas Essenciais – Direitos Humanos. p. 783-803.

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j) Aplicabilidade imediata

As normas que definem Direitos Fundamentais são normas que, sob o

enfoque jurídico-normativo, tendencialmente completas, aptas a incidir, podendo ser

desde logo alegadas pelos cidadãos191. Ademais, por serem normas advindas do

ideário do poder constituinte originário, expressão maior da soberania de um povo,

estão acima dos poderes constituídos, não podem ficar à mercê absoluta de uma

atuação legislativa para produzir efeitos. Elas têm caráter preceptivo e não

meramente programático. Todavia, é evidente que algumas normas de Direitos

Fundamentais não geram automaticamente direitos subjetivos, imediatos, concretos

e definitivos192 e necessitam de norma legislativa para produzirem seus efeitos.

Como consequência dessa característica é mister a previsão de mecanismos de

garantia dos Direitos Fundamentais pela Lei Fundamental dos Estados a fim de

garantir-lhes a plena realização.

2.1.4 Do Direito Fundamental ao Meio Ambiente Equil ibrado

Conforme asseverado alhures, “os direitos não nascem todos de uma vez.

Nascem quando devem e podem nascer”193, pelo que, nesse ponto, calha relevante

mencionar as palavras de Tiago Fensterseifer194:

O processo histórico-civilizatório das sociedades determina e legitima os direitos que devem integrar o rol destacado dos direitos fundamentais, tendo-se em conta um horizonte normativo-conceitual mutável e aberto materialmente em face dos novos desafios existenciais postos a cada novo avanço civilizatório.

Vasco Pereira da Silva195, por sua vez, afirma que a consagração do meio

ambiente equilibrado como Direito Humano Fundamental é resultado da

191 ROTHENBURG, Walter Claudius. Direitos fundamentais e suas características. In: PIOVESAN,

Flávia Cristina; GARCIA, Maria (Orgs.). Doutrinas Essenciais – Direitos Humanos. p. 1033-1048. 192 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição . p. 400. 193 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos . p. 6. 194 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente . p. 143. 195 PEREIRA DA SILVA, Vasco. Verdes são também os direitos do homem. In: Revista Portugal-

Brasil , ano 2000. p. 130.

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“necessidade de repensar a posição do indivíduo na comunidade perante os novos

desafios colocados com as modernas sociedades”.

A esse respeito, Antonio Enrique Pérez-Luño196 advoga que a incidência

direta do ambiente na existência humana (sua transcendência para o seu

desenvolvimento ou mesmo possibilidade) é que justifica a sua inclusão no estatuto

dos Direitos Fundamentais, considerando o ambiente como todo o conjunto de

condições externas que conformam o contexto da vida humana.

É de sabença geral que o atual contexto (in) civilizatório da humanidade

constitui terreno fértil para o surgimento e desenvolvimento da proteção ao Meio

Ambiente como um dos valores que compõem o rol exemplificativo dos Direitos

Fundamentais do Homem. De fato, a alarmante e crescente degradação ambiental

vinculada, sobretudo, a um consumo desenfreado, que (a) fragiliza a qualidade sadia

e equilibrada da vida humana, (b) impede o pleno desenvolvimento do ser humano,

e (c) avilta a dignidade da pessoa humana, constituem o mote da referida proteção

ambiental.

O Direito Fundamental ao Meio Ambiente equilibrado e sadio caracteriza-

se, pois, como sendo um direito de terceira geração/dimensão, transindividual

(difuso e coletivo), altamente complexo, de caráter humanista e universal. Direito

esse baseado na fraternidade/solidariedade e de índole eminentemente

transnacional ou, nas palavras de Tiago Fensterseifer197, “transfronteiriço ou

supraterritorial, o que se dá em razão da globalidade da degradação e poluição

ambiental.

Norma Sueli Padilha198 ensina que o direito ao Meio Ambiente

ecologicamente equilibrado traduz-se como um Direito Fundamental em sua “dupla

dimensionalidade”, ou seja, ele detém uma dimensão tradicional subjetiva

(individual) e uma dimensão objetiva, que “expressa valores almejados por toda a

comunidade política”. E prossegue a autora:

196 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos humanos, estado de derecho y constitución . p. 463. 197 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente . p. 149-150. 198 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 173.

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[...] o direito fundamental ao meio ambiente possui, ao mesmo tempo, a dimensão subjetiva, enquanto um direito subjetivo que pode ser defendido por qualquer cidadão (via ação popular ambiental) e uma dimensão objetiva, enquanto um direito de toda a coletividade. [...]

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano,

ocorrida em Estocolmo, na Suécia, em 1972, foi um marco histórico-normativo no

tocante à proteção do Meio Ambiente como Direito Humano Fundamental, como

asseverado alhures.

De fato. Consta o seguinte no bojo de seu Princípio nº 1:

O homem tem o direito fundamental à liberdade, igualdade e adequadas condições de vida, num meio ambiente cuja qualidade permita uma vida de dignidade e bem-estar, e tem a solene responsabilidade de proteger e melhorar o meio ambiente, para a presente e as futuras gerações.

Ao depois, por ocasião da Conferência das Nações Unidas, ocorrida no

Rio de Janeiro, Brasil, em 1992, restou consignado na Declaração do Rio de Janeiro

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que “os seres humanos estão no centro

das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Tem direito a uma vida

saudável e produtiva em harmonia com a natureza” (Princípio nº 1).

Um ano após, por ocasião da Conferência Mundial sobre Direitos

Humanos, ocorrida em Viena, exarou-se no artigo 11 da Declaração e Programa de

Ação de Viena a seguinte diretriz:

O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a satisfazer eqüitativamente as necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações presentes e futuras. A Conferência Mundial sobre Direitos Humanos reconhece que ilícito despejo de substâncias tóxicas e perigosas e resíduos constitui potencialmente uma séria ameaça para os direitos humanos à vida e à saúde de todos.

À luz do exposto, afirma-se que o Meio Ambiente integra o rol de numeros

apertus dos Direitos Fundamentais do Homem o que, sem dúvida, é uma singular

conquista em nível de proteção à humanidade, porém, o grande desafio é dar

efetividade também a esse direito básico do ser humano. Nesse particular, adverte

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Tiago Fensterseifer199 que, “na medida em que não há instrumentos para a sua

efetivação, os direitos fundamentais não passam de meras “aspirações ideais”, não

alcançando um patamar de direitos propriamente ditos”.

Desse modo, buscar-se-á nesta pesquisa contribuir, de uma forma

despretenciosa, com essa inquietação doutrinária, ao se sustentar que a Educação

Ambiental Transnacional e, inserta nesta, a Educação para a Cidadania é caminho

viáveis a ser percorridos para se alcançar a efetividade do Meio Ambiente

equilibrado e sadio como Direito Fundamental.

2.2 CIDADANIA

Nos últimos tempos, é notória a multiplicação de estudos sobre o tema

Cidadania talvez para fazer frente à necessidade contemporânea de se (re) pensar o

assunto diante da realidade transnacional em matéria ambiental, característica da

(pós) modernidade e da crise do modelo teórico adotado pelas sociedades

democráticas.

Carlos Zeron200 chama a atenção para um fato curioso acerca do tema.

Ele assevera que “o Dicionário de Política dos filósofos italianos Norberto Bobbio,

Nicola Matteucci e Gianfraco Pasquino, cuja obra é também um dicionário histórico,

não consta o verbete “cidadania” ou outro termo correlato”.

A busca de um conceito hermético e delimitado sobre Cidadania é tarefa

complexa. É oportuno trazer à baila a percuciente observação feita por Leandro

Karnal201 no sentido de que, mesmo que se alinhassem, numa discussão hipotética,

clássicos defensores da Cidadania como Péricles de Atenas, Barão de Montesquieu,

Thomas Jefferson e Robespierre, possivelmente eles discordariam em itens

fundamentais a respeito do tema. 199 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente . p. 152. 200 ZERON, Carlos. A cidadania em Florença e Salamanca. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B.

(orgs.). História da Cidadania . São Paulo: Contexto, 2005. p. 97. 201 KARNAL, Leandro. Estados Unidos, liberdade e cidadania. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B.

(orgs.). História da Cidadania . São Paulo: Contexto, 2005. p. 135-136.

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De qualquer forma, buscar-se-á trazer à baila alguns conceitos sobre

essa categoria jurídico-social denominada Cidadania, bem como seus elementos

constitutivos, sua alegada crise e, finalmente, a construção de uma nova categoria

denominada de Cidadania Ambiental Global, partejada no contexto transnacional

atual.

2.2.1 Conceito de Cidadania

É necessário, contudo, nesta pesquisa, aclarar o termo Cidadania, como

bem salientado por Atonio-Enrique Pérez Luño202:

Uno de los principales retos de la actual teoria de las libertades consiste en precisar el significado y alcance de la noción de ciudadanía, para que, una vez clarificado este término, pueda acometerse la tarea de hacer efectivas las garantias jurídicas y políticas que de ese concepto se desprenden.

Na esteira de entendimento desse professor da faculdade de Sevilha203 é

mister fazer uma análise lexical do termo Cidadania, com vias a distinguir alguns

usos linguísticos levados a efeito no contexto da teoria dos direitos fundamentais, no

afã de se evitar que o sentido dessa expressão seja “ofuscado” pelos significados

arbitrários e confusos que se disseminam no meio jurídico.

Assim, o referido autor traz a seguinte classificação linguística sobre o

termo Cidadania:

1. Descritivo/prescritivo

2. Teórico/pragmático

3. Natural/político

202 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha, p. 5. Tradução livre da autora: Um dos principais desafios da atual teoria das liberdades consiste em precisar o significado e alcance da noção de cidadania para que, uma vez clarificado este termo, se possa cometer a tarefa de tornar efetivas as garantias jurídicas e políticas que deste conceito se desprendem.

203 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho , n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 5-6.

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4. Global/local

5. Universal/particular

6. Unilateral/multilateral

7. Explicativo

Acerca do sentido descritivo/prescritivo204, o autor assevera que o

vocábulo Cidadania usado na vertente descritiva é mais frequente na teoria jurídica

juspublicista. Para os estudiosos do Direito Constitucional e Direito Administrativo a

Cidadania se traduz em um conjunto de normas que regulam o status jurídico-

político dos cidadãos. Trata-se, portanto, de uma categoria ou instituição que dimana

do direito positivo estatal e cuja definição se elabora a partir da análise empírica e da

exegese desse setor normativo do ordenamento jurídico. Por outro lado, na filosófica

moral e política abundam as concepções prescritivas da Cidadania. Nelas, o termo

se reveste de significado deontológico e contrafactual de um modelo ideal de status

em que deveriam reconhecer-se os membros da sociedade política.

Sobre o sentido teórico/pragmático205, o professor espanhol aduz que o

uso teórico da noção de Cidadania tem sido construído por meio de contribuições

doutrinárias multidisciplinares: filosóficas, jurídicas, sociológicas, políticas, entre

outras, enquanto que o uso pragmático do termo Cidadania está ligado à luta

reivindicatória pela consecução de determinadas liberdades ou situações jurídico-

políticas.

No que tange ao uso natural/político206 do termo Cidadania, o mestre

espanhol aduz que ele está ligado às teorias contemporâneas de orientação

comunitária, onde se concebe a Cidadania como um fator/vínculo inato/originário e

necessário que determina a inserção do indivíduo no grupo étnico e/ou cultural à

sociedade a que pertence. A acepção natural da Cidadania tem como pressuposto

204 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 7. 205 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 9. 206 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 9.

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ideológico e se embasa na tradição nacionalista, enquanto que a política, sustentada

pelo pensamento liberal, tem como antecedente o humanismo cosmopolita kantiano.

Sobre o sentido global/local207, Antonio-Enrique Pérez Luño verbera que a

versão global se sustenta nas elaborações doutrinárias que concebem a Cidadania

como o conjunto de todos os Direitos Fundamentais (direitos pessoais, civis,

políticos, econômicos, sociais e culturais). Já a versão local do termo significa que a

Cidadania deve quedar-se circunscrita a seu sentido técnico-jurídico que implica a

determinação da qualidade de “cidadão”, ou seja, o vínculo de adesão a uma

determinada organização política e aos direitos de participação democrática que

dessa condição derivam.

A respeito do uso universal/particular208, o autor ensina que há alguns

doutrinadores que fazem abordagem ampla do termo, sustentando uma visão

cosmopolita ligada ao projeto humanista da modernidade, onde se fala em uma

universalis civitatis. Não obstante, há quem entenda a Cidadania de forma particular,

ou seja, de forma tradicional como advoga o Direito Público onde há coincidência

entre a idade de Cidadania com a adesão a um Estado.

No tocante ao uso unilateral/multilateral209, o professor doutrina que,

durante muito tempo, fez-se uso do termo Cidadania de forma unilateral, ou seja, ela

fazia referência apenas ao vínculo único e exclusivo que havia entre o indivíduo e o

Estado. Todavia, hodiernamente, é possível falar-se em uma pluralidade de

cidadanias (ou cidadania multilateral) que consiste em ir além de uma mera

Cidadania no interior de um Estado. Nas palavras do professor espanhol210:

207 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 11. 208 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 12-13. 209 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p.13. 210 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 14. Tradução livre da autora: O reconhecimento do transpordamento político e jurídico do Estado através dos fenômenos da “supraestatalidade” (subordinação do Estado a organizações internacionais) e de “infraestatalidade” (aceitação de competências jurídico-políticas por entes menores que o Estado) [Pérez Luño, 1993], leva a admitir esse uso linguístico multilateral da ideia de cidadania.

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El reconocimiento del desbordamiento político y jurídico del Estado a través de los fenómenos de “supraestatalidad” (supeditación del Estado a organizaciones internacionales) y de “infraestatalidad” (asunción de competencias jurídico-políticas por entes menores que el Estado) [Pérez Luño, 1993], invita a admitir esse uso linguístico multilateral de la idea de ciudadanía.

Por fim, o mencionado professor advoga que a definição explicativa do

termo Cidadania é construída sobre duas bases, a saber, a sistemática e a histórica.

Esta diz respeito ao desenvolvimento do termo ao longo dos tempos, iniciando pela

análise de Cidadania nos tempos dos gregos e romanos. Aquela envolve a análise

sincrônica dos fatos ocorridos no mundo após o Iluminismo (modernidade), marcado

pelo exercício efetivo da liberdade política, o surgimento dos Direitos Humanos e do

Estado de Direito.

Diante do exposto, o que se percebe é que o termo Cidadania é resultante

de uma construção histórica variável de acordo com o tempo, a cultura, as

circunstâncias sociais, políticas e econômicas; é um conceito contraditório, dinâmico,

cujo conteúdo restringe-se ou amplia-se conforme a força dos movimentos sociais

que a reivindicam. Nesse sentido, a lição de Gregorio Peces-Barba211:

El proceso de construcción de la ciudadanía, de la condición de ciudadano, ha sido largo y se ha desarrolado, en la modernidad, en diferentes escenarios de progresiva liberación de la persona de las ataduras políticas, religiosas o corporativas que le impedían cualquier autonomía individual.

Alguns advogam que a história da Cidadania confunde-se muito com a

história das lutas pelos direitos humanos e que ser cidadão é ter consciência de que

é sujeito de direitos: à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim, direitos

civis, políticos e sociais. Todavia, como se sabe, a Cidadania pressupõe também

deveres, ou seja, o cidadão tem de estar consciente de suas responsabilidades

enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo denominado

211 PECES-BARBA, Gregorio. Educación para la ciudadanía y derechos humanos . Espasa Calpe,

Madrid: 2007. p. 309. Tradução livre da autora: O processo de construção da cidadania, da condição de cidadão, vem ocorrendo há muito e tem se desenvolvido, na modernidade, em diferentes cenários de progressiva liberação da pessoa das ataduras políticas, religiosas ou corporativas que a impediam de ter qualquer autonomia individual.

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coletividade.

Assim, após esse escorço lexical do termo, importa discorrer sobre o

conceito de Cidadania entre alguns doutrinadores.

Nos idos de 1751/1780, os filósofos Denis Diderot e Jean-Baptiste Le

Rond d’Alambert escreveram alguns artigos políticos inseridos na denominada

“Enciclopedia Francesa”212 com o intuito de criar o “cidadão esclarecido” e, com isso,

contribuíram notavelmente para o desenvolvimento do tema em comento.

Tais autores213 definem cidadão, em termos precisos e rigorosos, como

sendo: “es el miembro de una sociedade libre compuesta de muchas familias, que

participan de los de esa sociedade”, bem como aduzem que desse conceito derivam

três grandes princípios sobre Cidadania, a saber:

1. La ciudadanía es una condición de la persona que vive en una sociedad libre. En las ciudades o en las comunidades políticas donde impera el arbitrio o la tirania no existen ciudadanos. Para que tal condición se dé, es preciso que se garantice un orden político democrático que permita el ejercicio de las liberdades.

212 “Encyclopédie” ou “Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers”, texto

paradigmático da Modernidade/Iluminismo, formado por 35 volumes, contendo praticamente todos os dados sobre as ciências naturais e humanas da época (séculos 17 e 18). Nele o homem passou a ser o “centro da ordenação”. A partir das três faculdades humanas centrais, a saber, a memória, a imaginação e a razão, se ordenam os conhecimentos e se estabelecem o critério de ordenação das “vozes”. A memória cria a história, a razão a filosofia e a imaginação as belas artes. O cidadão, tornado responsável por meio da educação e do saber, teria direito a participar das decisões políticas de sua sociedade de forma “esclarecida”.

213 DIDEROT, D.; D’ALEMBERT, J. L. R. (1751/1780). Artículos políticos de la ‘Enciclopedia’ . Ed. Cast. A cargo de R. Soriano y A. Porras, Tecnos, Madrid: 1986, apud: PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho , n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 22-23. Tradução livre da autora: É o membro de uma sociedade livre composta de muitas família, que participam dessa sociedade: e, ainda: 1. Uma pretensão moral justificada, tendente a facilitar a autonomia e a independência pessoal, enraizada nas ideias de liberdade e igualdade, com os matizes que aportam conceitos como solidariedade e segurança jurídica, e construída pela reflexão racional na história do mundo moderno, com as sucessivas contribuições e integradas da filosofia moral e política liberal, democrática e socialista. [...]. 2. Um subsistema dentro do sistema jurídico, o Direito dos direitos fundamentais, o que supõe que a pretensão moral justificada seja tecnicamente incorporável a uma norma, que possa obrigar a uns destinatários correlativos das obrigações jurídicas que se desprendem para que o direito seja efetivo, que seja susceptível de garantia ou proteção judicial, e, sem dúvida que possa ser atribuído como direito subjetivo, liberdade, potestade ou imunidade a uns titulares concretos. [...] 3. [...] os direitos fundamentais são uma realidade social, quer dizer, atuante na vida social, e por isso condicionado na sua existência por fatores extrajurídicos de caráter social, econômico ou cultural que favorecem, dificultam ou impedem sua efetividade. [...].

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2. La ciudadanía es una condición voluntaria que no pude imponerse a ninguna persona. La cualidad de ciudadano se funda en el pacto social, en un acuerdo libre de las personas para integrarse y participar en un determinado modelo de organización política. Por ello, se postula em la Enciclopedia la existencia de un derecho natural a la emigración, porque a nadie se le puede obligar a ser ciudadano de un Estado por la fuerza. Toda persona tiene derecho al cambio de ciudadanía: a renunciar a la que posee para adquirir otra, que sea más acorde com sus convicciones y preferências políticas. De ahí, que existen dos modalidades de ciudadanía: la originaria, que surge com el nacimiento, y la adquirida, que procede de manifestaciones expresas de voluntad.

3. La ciudadanía se desglosa em un conjunto de derechos y deberes de las personas que pertenecen a un determinado Estado. Conviene advertir, que según se indica expresamente en la enciclopédia, no todas las personas son ciudadanos, puesto que las mujeres, los ninos y los siervos no poseen tal condición; participan de ella a través de los vínculos que les unen con quienes ostentan la condición de ciudadanos.

Antonio-Enrique Peréz Luño, por sua vez, assevera que as contribuições

de Immanuel Kant sobre o tema Cidadania também foram de suma importância.

Prossegue o autor214 afirmando que para Kant :

“[...] la situación de los ciudadanos, considerada como situación puramente jurídica, se funda en los siguientes principios a priori:

1. La libertad de cada miembro de la sociedad, como hombre (Die Freiheijedes Gliedes der Societat, als Menschen).

2. La igualdad de el mismo frente a cualquier otro, como súbdito (Die Gleichheit desselben mitjedem andern, als Untertan).

3. La independencia de cada miembro de la comunidad, como ciudadano (Die Selbstundigkeit jedes Gliedes eines gerneinen Wesens, als Burger).

Com tais bases, é pertinente afirmar que o termo Cidadania encontra-se

214 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 23-24. Tradução livre da autora: [...] a situação dos cidadãos, considerada como situação puramente jurídica, é fundada nos seguintes princípios a priori: 1. A liberdade de cada membro da sociedade, como homem (Die Freiheijedes Gliedes der Societat, als Menschen). 2. A igualdade do mesmo diantequalquer outro, como súdito (Die Gleichheitdesselbenmitjedemandern, alsUntertan). 3. Aindependência de cada membro da comunidade, como cidadão (Die Selbstundigkeit jedes Gliedes eines gerneinen Wesens, als Burger).

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umbilicalmente ligado ao de Estado de Direito, liberdade, independência e Direitos

Humanos Fundamentais

O professor espanhol215 aduz que foi Georg Jellinek quem contribuiu de

forma decisiva para a distinção entre a Cidadania em sentido genérico (status

civitatis), que compreende o conjunto de direitos públicos subjetivo dos cidadãos, e a

Cidadania em sentido estrito (status active civitatis), que se refere aos direitos

políticos (como, por exemplo, o sufrágio ativo e passivo). Segundo o mestre referido:

“La condición de ciudadano implica, por tanto, un protagonismo activo en el curso y

la determinación de la política estatal”216.

Gregorio Peces-Barba217, por sua vez, entende que:

Ciudadanía representa el vínculo que une a una persona con un Estado; es el vínculo radical entre esta y la organización política y jurídica a la que pertenece. [...] es el resultado del paso de creyente y de súbdito como vínculo fundamental y excluyente del orden al que está sometida la persona al de ciudadano, en el marco de una organización política liberal donde la persona tiene derechos, y participa directamente o por represetación en la formación del poder político. [...] Ser ciudadano significa poder ejercer con garantía jurídica y política una serie de derechos humanos básicos y fundamentales y tener ciertos deberes políticos y jurídicos.

Thomas Janoski218 define Cidadania como sendo: “a pertença passiva e

ativa de indivíduos em determinado Estado - nação com certos direitos e obrigações

universais em um específico nível de igualdade”. Pedro Paulo Funari219, por sua vez,

215 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 25-26. 216 Tradução livre da autora: A condição de cidadãos implica, portanto, um protagonismo ativo em

curso e a determinação da política estatal. 217 PECES-BARBA, Gregorio. Educación para la ciudadanía y derechos humanos . p. 310-311.

Tradução livre da autora: Cidadania representa a ligação que une uma pessoa com o Estado; é o vínculo radical entre esta e a organização política e jurídica à que pertence. [...] é o resultado do passo do crente e do súdito como vínculo fundamental e excludente da ordem à que está submetida a pessoa ao de cidadão, no marco de uma organização política liberal onde a pessoa tem direitos, e participa diretamente ou por representação na formação do poder político. [...] Ser cidadão significa poder exercer com garantia jurídica e política uma série de direitos humanos básicos e fundamentais e possuir certos deveres políticos e jurídicos.

218 JANOSKI, Thomas. Apud LISZT, Vieira. Os argonautas da cidadania . A sociedade civil na globalização. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 34.

219 FUNARI, Pedro Paulo. A cidadania entre os romanos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B. (orgs.). História da Cidadania . São Paulo: Contexto, 2005. p. 49.

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entende que Cidadania, no sentido moderno, “é um conceito derivado da Revolução

Francesa (1789) para designar o conjunto de membros da sociedade que têm

direitos e decidem o destino do Estado”. Antonio-Enrique Pérez Luño220 advoga que

a Cidadania consiste no “vínculo de pertenencia a un Estado de derecho por parte

de quienes son sus nacionales, situación que se desglosa en un conjunto de

derechos y deberes”, arrematando que “ciudadano será la persona física titular de

esa situación jurídica”221.

Nos termos da lição de Dalmo de Abreu Dallari222:

a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social. Por extensão, a cidadania pode designar o conjunto das pessoas que gozam daqueles direitos. [...].

Roberto Braga e Pompeu Figueiredo de Carvalho223 aduzem que

Cidadania:

[...] consiste num conjunto indissociável de direitos e deveres do indivíduo, perante o Estado e a Sociedade, os quais caracterizam a democracia. A cidadania fundamenta-se nos princípio da lei e da igualdade: todos são iguais perante a lei e todos têm o direito de participar, direta ou indiretamente, do processo de elaboração dessas mesmas leis (participação política). A cidadania implica, ainda, direitos sociais [...].

O professor Norberto Luiz Guarinello224, após discorrer sobre as “Cidades-

Estado na Antiguidade Clássica”, assevera que:

Cidadania implica sentimento comunitário, processos de inclusão de uma 220 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 25. 221 Tradução livre da autora: Vínculo de pertencimento a um Estado de Direito por parte de seus

nacionais, situação que se desemboca em um conjunto de direitos e deveres” e, ainda, “cidadão será a pessoa física titular desta situação jurídica.

222 DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania . p. 22. 223 BRAGA, Roberto; CARVALHO, Pompeu Figueiredo de. Cidade: espaço da cidadania. In:

GIOMETTI, Analúcia B.R; BRAGA, Roberto (orgs.). Pedagogia Cidadã: Cadernos de Formação: Ensino de Geografia. São Paulo: UNESP-PROPP, 2004. p. 105-120.

224 GUARINELLO, Norberto Luiz. Cidades-estado na antiguidade clássica. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B. (orgs.). História da Cidadania . São Paulo: Contexto, 2005. p. 46.

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população, um conjunto de direitos civis, políticos e econômicos e significa também, inevitavelmente, a exclusão do outro. Todo cidadão é membro de uma comunidade, como quer que esta se organize, e esse pertencimento, que é fonte de obrigações, permite-lhe também reivindicar direitos, buscar alterar as relações no interior da comunidade, tentar redefinir seus princípios, sua identidade simbólica, redistribuir os bens comunitários. A essência da cidadania, se pudéssemos defini-la, residiria precisamente nesse caráter público, impessoal, nesse meio neutro no qual se confrontam, nos limites de uma comunidade, situações sociais, aspirações, desejos e interesses conflitantes.

Cidadania assim, além de ser um conjunto de direitos e deveres, implica

também participação responsável na esfera pública e na vida social (coletividade),

nas quais o cidadão “deverá desenvolver atividade no sentido de lutar pela

integração social, conservação do ambiente, justiça social, solidariedade, segurança,

tolerância, afirmação da sociedade civil versus arbitrário do poder”225.

A esse respeito, a lição de José Alfredo de Oliveira Baracho226 para quem

a Cidadania está ligada com a Democracia e essa:

[...] implica a participação dos cidadãos, não apenas nos negócios públicos, mas na realização de todos os direitos e garantias consagrados na Constituição e nos diversos segmentos do ordenamento jurídico global. O direito constitucional moderno inclui a garantia dos direitos fundamentais, que se efetiva por meio de ações constitucionais típicas, que se concretizam, também, por intermédio das ações, processos e procedimentos, que tornam possível a participação da cidadania, em seus diversos aspectos e conseqüências. A completa proteção da cidadania depende de práticas institucionais, constitucionais, jurídicas, processuais e políticas, que protegem o ser humano nas mais variadas situações e posições.

A Cidadania está relacionada, outrossim, com a concretização dos

Direitos Humanos e com a Educação, como visto alhures. Com efeito, na esteira de

entendimento de Milena Petters Melo227:

225 FERREIRA, Manuela M.; MIRANDA, Branca M.; ALEXANDRE, Fernando. Educação para a

cidadania: tendências actuais. TETSDAIS - Active citizenship, sustainable development and cultural diversity 2002, p. 2-3. Disponível em: <http://www.igu-net.org/cge/TETSDAIS/IIE-DH2000_Fernando.pdf>. Acesso em 23 fev. 2014.

226 BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria geral da cidadania : a plenitude da cidadania e as garantias constitucionais e processuais. São Paulo: Saraiva. 1995. p. 63.

227 MELO, Milene Petters. et al. Cidadania: subsídios teóricos para uma nova práxis. In: SILVA,

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Falar em cidadania é reafirmar o direito pela plena realização do indivíduo, do cidadão, dos entes coletivos e de sua emancipação nos espaços definidos no interior da sociedade. Os conceitos de cidadania, democracia e direitos humanos estão intimamente ligados, um remete ao outro, seus conteúdos interpenetram-se: a cidadania não é constatável sem a realização dos Direitos Humanos, da mesma forma que os Direitos Humanos não se concretizam sem o exercício da democracia” [...] pode-se afirmar, portanto, que a realização plena dos direitos de cidadania envolve o exercício efetivo e amplo dos direitos humanos, nacional e internacionalmente assegurados. No âmbito do direito constitucional positivo, a cidadania, em sua forma integral, pressupõe o exercício de todos os direitos fundamentais e garantias que caracterizam o Estado Democrático de Direito [...].

Para finalizar esse tópico, tem-se que, em nível nacional, a Constituição

Federal do Brasil de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, exara, em seu

artigo 1º, inciso II, que a Cidadania é um dos fundamentos da República Federativa

do Brasil, ou seja, um dos pilares que sustenta o Estado Democrático Brasileiro.

2.2.2 Elementos Constitutivos da Cidadania

É de conhecimento geral que o termo Cidadania pressupõe dois

elementos constitutivos, a saber: sua titularidade e seu conteúdo.

Com o trânsito do Estado Liberal de Direito para o Estado Social de

Direito houve uma ampliação do conteúdo do termo Cidadania, quando os cidadãos

passaram a ter a chamada “Cidadania Social”. Essa deve ser entendida como “una

nueva modalidad de ejercicio de los derechos políticos en el seno de un nuevo

modelo de Estado de derecho, pero no como una ampliación de su objeto”228. A

Cidadania Social engloba uma série de direitos de índole econômica, política, social

e cultural e, nos dizeres de John Rawls, implica uma “cultura cívica da sociedade” e

no “exercício informado e consciente dos direitos da Cidadania”.

Reinaldo Pereira e (Org). Direitos humanos como educação para a justiça . São Paulo: LTr, 1998. p. 77 e seg.

228 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho , n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 59. Tradução livre da autora: Uma nova forma de exercício dos direitos políticos dentro de um novo modelo de Estado de Direito, mas não como uma ampliação de seu objeto.

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A respeito, a lição de Gregorio Peces-Barba229:

La socialización del papel del ciudadano, es decir, su incorporación a la sociedad, como portador de intereses colectivos, aunque también individuales y particulares, exige instrucción y educación, exige enseñar cultura cívica, para ser reconocidos como sujetos morales y poder razonar con categorias universales, para ser sujetos activos y participativos en la sociedad democrática.

No que tange à titularidade, tem-se que, desde a origem da construção do

termo Cidadania, que remonta à democracia ateniense, sempre houve algum tipo de

exclusão. De fato. No princípio, mulheres, crianças, escravos, analfabetos,

estrangeiros e imigrantes não gozavam do status de cidadão. Só muito tempo depois

é que eles conseguiram alçar esse patamar.

Atualmente, porém, diante da fragmentação das sociedades

democráticas, tem havido uma ampliação nas formas de titularidade. Fala-se, assim,

em Cidadania Multilateral230, citando-se, como exemplo, o que ocorre para as

pessoas residentes na Europa, que possuem tanto a cidadania de seus respectivos

países quanto à cidadania europeia.

2.2.3 A Crise da Cidadania

Atualmente há quem sustente que o conceito de Cidadania está em crise

visto que, segundo Antonio-Enrique Pérez Luño231:

229 PECES-BARBA, Gregorio. Educación para la ciudadanía y derechos humanos . p. 311.

Tradução livre da autora: A socialização do papel do cidadão, ou seja, sua incorporação à sociedade, como portador de interesses coletivos, embora também individuais e particulares, exige instrução e educação, exige ensinar cultura cívica, para serem reconhecidos como sujeitos morais e poder raciocinar com categorias universais, com o objetivo de serem sujeitos ativos e participativos na sociedade democrática.

230 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho , n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 66.

231 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho , n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 35-36. Tradução livre da autora: Nas sociedades complexas e plurais de nosso tempo, cujos Estados englobam fenômenos mais ou menos amplos e influentes de multiculturalidade e multinacionalidade, a equação cidadão/nacional tem restado invertida. O novo âmbito de exercício da cidadania é, por si, muito mais complexo que em épocas anteriores e isso tem repercutido na própria necessidade de revisão de seu conceito.

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En las sociedades complejas y plurales de nuestro tiempo, cuyos Estados engloban fenomenos más o menos amplios e influyentes de multiculturalidad y multinacionalidad, la ecuación ciudadano=nacional ha quedado desvirtuada. El nuevo ámbito de ejercidio de la ciudadanía es, por ello, mucho más complejo que en épocas anteriores y ello ha repercutido en la propia necesidad de revisión de su concepto.

Para bem compreender a questão da crise atual da Cidadania é mister

volver o pensamento para a Antiguidade Clássica, que partejou a ideia de Cidadania.

A esse respeito, leciona Denise Lacerda232:

Na política clássica grega, aqueles que se ocupam apenas dos próprios afazeres, consumidos no próprio interesse particular, não passam de indivíduos privados. A “polis” integralmente constituída correspondia a uma sociedade politizada; na qual, a esfera pública ocupava um território muito mais amplo nas vidas dos cidadãos, e estava situada, num plano muito mais elevado de importância do que os assuntos privados. Público e privado jamais existiram na “polis” grega como duas esferas separadas significativas de ação. As duas principais esferas de ação eram “polites” e “idiotes”. Ou seja, a ação e o discurso de uma pessoa eram políticos ou “idióticos”, isto é, voltados para o coletivo ou autocentrados, autocontidos ou inconseqüentes em si mesmos para a coletividade.

Prossegue a autora233:

A contradição entre indivíduo e cidadão começa a ter lugar na Antiguidade Clássica somente com a lei romana. A “polis” baseava-se na ação coletiva, portanto, na liberdade coletiva. A cidadania refletia a integração do indivíduo à coletividade política. A lei romana rompeu com a tradição da cidadania política, isto é, coletiva, e prescreveu direitos individuais. Na “civitas” romana, as esferas pública e privada da vida tornam-se diferenciadas e igualmente significativas em si mesmas, tanto na teoria como na prática. A lei romana regulamentou tanto a “res publica” como a “res privata” como atividades independentes, com um significado próprio real. As atividades individuais, econômicas e políticas, foram assim, devidamente separadas. A cidadania grega representava a comunidade e a participação. Não era externa ao indivíduo, algo que se precisasse reclamar como direito. A cidadania romana, ao contrário, parece externa aos indivíduos, uma questão de direitos e reivindicação, ao invés de participação. Numa o indivíduo é um cidadão, na outra, ele tem direitos de

232 LACERDA, Denise. Cidadania, participação e exclusão . Itajaí: Editora da Univali, 2000. p-29. 233 LACERDA, Denise. Cidadania, participação e exclusão . p. 29.

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cidadania.

Antonio-Enrique Pérez Luño234 também doutrina a respeito quando diz

que: “La idea romana de ciudadanía hace referencia a un status integrado por un

núcleo compacto e indesmembrable de derechos y deberes que definían la posición

de las personas libres en la República”. Naquela época, como preleciona Denise

Lacerda235:

A cidadania era adquirida pelo nascimento, pela naturalização ou por disposição de lei. Na Roma antiga, somente o “quiris”, o “civis”, o cidadão romano, tinha a “caput”, cujo significado primitivo era o indivíduo fisicamente considerado. Posteriormente, os romanos encontraram outro vocábulo para significar o titular de direitos e obrigações: “persona”, pessoa. A “caput” era formada de três elementos chamados “status”: o “status libertatis”, que divide os homens em livres e escravos. O “status civitatis”, que dividia os homens em cidadãos e estrangeiros. Os cidadãos romanos gozavam da “civitas” e possuíam todos os direitos civis e políticos. O “status familae” determina a posição que ocupa o cidadão romano, se depende de si mesmo ou se está sujeito ao poder de outro. Para que o homem pudesse gozar de modo completo os direitos concedidos pelo “Jus Publicum” e pelo “Jus Privatum” era necessário estar na posse desses três “status”, porque somente desse modo tinha a “caput”.

Com a Modernidade surgiu o Estado de Direito Liberal quando houve uma

tendência a “[...] liberar del privilegio y de la opresión la vida política colectiva,

asegurando la igualdad formal de los ciudadanos”236 (sem grifo no original) e assim

construiu-se uma nova maneira de visualizar o Estado e a cidadania. Nesse

momento histórico surgiram os pensadores clássicos do Liberalismo, dentre os quais

ressaltam por sua importância Thomas Hobbes e John Locke, no século 17, na

Inglaterra e Jean-Jacques Rousseau, no século 18, em França, bem como Karl

Marx, na Alemanha.

234 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 17. Tradução livre da autora: A idéia romana de cidadania faz referência a um status integrado por um núcleo fechado e incindível de direitos e deveres que definiam a posição das pessoas livres na República.

235 LACERDA, Denise. Cidadania, participação e exclusão . p. 39. 236 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 33. Tradução livre da autora: [...] liberar do privilégio e da opressão da vida política coletiva, assegurando a igualdade formal dos cidadãos.

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A respeito desse momento histórico acerca da Cidadania, cumpre

ressaltar a seguinte observação feita por Antonio-Enrique Pérez Luño237:

En las primeras etapas del Estado Liberal, subsisteiron profundas desigualdades entre los seres humanos, que impedían un ejercicio real y efectivo de la libertad a quienes se hallaban desposeídos de bienes econômicos. [...] El Estado liberal-burgués, como es notorio, negaba el pleno ejercício de la ciudadanía y discriminaba juridicamente a las mujeres, a los analfabetos y a los pobres (sufrágio censatario).

Após, o desencadeamento das revoluções inglesa, americana e francesa

houve o trânsito do Estado Liberal para o novo modelo social denominado de Estado

Social de Direito, quando se pretendeu remover os obstáculos e desequilíbrios

sócio-econômicos que se opunham a um desfrute efetivo da liberdade por parte de

todos os cidadãos, promovendo uma igualdade real.

Nesse momento histórico, surge na Inglaterra, em 1949, o pensador

Thomas Marshall com a obra “Citzenship and Social Class”, onde sustentou uma

ampliação do conceito de cidadania (conceito global). Para ele a Cidadania

compreendia três tipos de direitos, a saber: 1) direitos civis, que correspondiam às

liberdades individuais, liberdades de ir e vir, de imprensa, de pensamento, de fé,

direito ter propriedade, de fazer contratos, de ter acesso à justiça, entre outros; 2)

direitos políticos, que se traduziam na possibilidade de o cidadão participar por meio

do exercício da política (votar e ser votado); e 3) direitos sociais, que compreendiam

o direito de ter o mínimo de bem estar social. Com isso, Marshall abriu o caminho

para o debate e revisão da noção liberal de cidadania.

Hodiernamente, renomados juristas, economistas e filósofos, de diversas

culturas e linhas de pensamento, inclinam-se ficticiamente compungidos sobre o que

eles consideram como o “cadáver do Estado Social de Direito” e a condição da

Cidadania surgida em seu seio, condição essa que eles não geraram nem

237 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 28-29. Tradução livre da autora: Nas primeiras etapas do Estado Liberal subsistiram profundas desigualdades entre os seres humanos que impediam um exercício real e efetivo da liberdade a quem se achava desprovidos de bens econômicos [...] O Estado liberal-burguês, como é notório, negava o pleno exercício da cidadania e discriminava juridicamente as mulheres, os analfabetos e os pobres (sufrágio censitário).

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alimentaram238. Para eles, as leis infalíveis do mercado são o sintoma e a causa da

morte. Mas, frente a esse determinismo fatalista de sinal economista, tem que se

recordar que as leis econômicas não são leis físicas, produto de uma causalidade

inelutável, mas sim leis criadas por homens que servem a fins humanos. Nesse

momento histórico, surgem pensadores expoentes discorrendo sobre o assunto,

como, por exemplo, o alemão Hermann Heller e os italianos Lelio Basso e Norberto

Bobbio.

Ademais, no contexto da atual crise da Cidadania, há doutrinadores que

defendem a Cidadania Fragmentada, como o filósofo-político canadense Will

Kymlicka, conhecido por sua obra sobre o multiculturalismo.

O referido autor239 lança a ideia que nas grandes sociedades complexas

atuais, integradas por coletividades multirraciais, multiculturais e plurilinguísticas,

com culturas diversas que formam a comunidade internacional, propugna-se pelo

reconhecimento da diversidade cultural como fundamento de uma diferenciação dos

cidadãos.

Ele defende o conceito de uma Cidadania Diferenciada que significa,

basicamente, a diversidade de valores culturais que existem no seio dos grandes

Estados das sociedades desenvolvidas nos tempos atuais. Nelas, a população

integra-se por uma multiplicidade de grupos que ostentam características peculiares

de identidade e marcam notáveis divergências. A população das sociedades

democráticas do presente tem deixado de ser a imagem abstrata de um todo

compacto e indiviso para mostrar sua realidade complexa e heterogênea. Em suma,

com a Cidadania Diferenciada o autor canadense pretende garantir o respeito às

minorias em um sistema de pluralismo, tolerância e tutela de direitos individuais.

Ainda a respeito da crise sobre o conceito de Cidadania há que se

registrar a posição de alguns pensadores no sentido de negar e/ou mesmo abolir tal

238 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 34. 239 KYMLICKA, Will. Cidadania multicultural : uma teoria liberal dos direitos das minorias. Oxford:

Oxford University Press, 1995.

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categoria. Dentre esses pensadores, encontra-se o professor da Roma Tré, Luigi

Ferrajoli que, em algumas de suas últimas publicações, sustenta a superação da

ideia de Cidadania por considerá-la inadequada tanto do ponto de vista da teoria

jurídica como responsável por práticas políticas indesejáveis.

O mencionado professor italiano240 preleciona que, desde a Declaração

de Direitos de 1789 da Revolução Francesa, sustenta-se uma divisão entre o

homem e o cidadão e, a partir de então, existem dois tipos de Direitos

Fundamentais, a saber:

[...] los derechos de la personalidad, que correspondem a todos los seres humanos en cuanto indivíduos o personas, y los derechos de ciudadanía, que correspondem en exclusiva a los ciudadanos. Englobar en una única categoria a los “derechos del hombre y del ciudadano”, a partir de una “noción genérica y amplia de ciudadanía”, según la propuesta de Marshall, le parece a Ferrajoli una idea contrapuesta a la evolución actual de los derechos.

A esse respeito, Antonio-Enrique Pérez Luño241 aduz que:

La Declaración Universal de los Derechos Humanos de la ONU de 1948, así como el constitucionalismo democrático contemporáneo, han convertido a la “persona” en sujeito titular de derechos universales, frente al “ciudadano”, que circunscribía los derechos a una relación del Estado con sus indivíduos. La própria erosión de la soberania estatal, motivada por las tendencias supranacionales del presente, así como la exigencia de la dignidad e igualdad de todos los hombres que garantice no solo sus derechos individuales, sino también los de naturaleza económica y social, determinan la necesidad de sustituir los derechos de ciudadanía por los derechos de la personalidad.

240 FERRAJOLI, Luigi, Direitos e garantias . A lei do mais fraco. Madrid: Trotta, p. 99-100. Tradução

livre da autora: [...] os direitos de personalidade, que correspondem a todos os seres humanos enquanto indivíduos ou pessoa, e os direitos de cidadania, que correspondem exclusivamente aos cidadãos. Englobar em uma única categoria os ‘direito do homem e do cidadão’, a partir de uma ‘noção genérica e ampla de cidadania’, segundo a proposta de Marshal, parece a Ferrajoli uma ideia contraposta à evolução atual dos direitos.

241 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho , n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 50-51. Tradução livre da autora: A Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU de 1948, bem como o constitucionalismo democrático contemporâneo, converteram à “pessoa” em sujeito titular de direitos universais, frente ao “cidadão”, que circunscrevia os direitos a um relacionamento do Estado com seus indivíduos. A própria erosão da soberania estatal, motivada pelas tendências supranacionais do presente, bem como a exigência da dignidade e igualdade de todos os homens que garanta não apenas seus direitos individuais, mais também os de natureza econômica e social, determinam a necessidade de substituir os direitos de cidadania pelos direitos da personalidade.

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Prossegue o professor da Universidade de Sevilha242:

En función de estos argumentos, Luigi Ferrajoli concluye denunciando el carácter discriminatório que hoy lleva aparejado el recurso a los derechos de ciudadanía. En una época en la que el problema más grave y urgente de las sociedades democráticas es el de dar una respuesta justa a los crecientes flujos migratórios que penetran en sus fronteras, la ciudadanía es utilizada como instrumento para negar derechos y libertades a los inmigrantes y asilados. De ahí, que Ferrajoli propugne: “la superación de la ciudadanía, la definitiva desnacionalización de los derechos fundamentales y la correlativa desestatalización de las nacionalidades”. Se trata, en suma, de tomar consciência de la “crisis irreversible” de la vieja noción de la ciudadanía y de certificar su compelta abolición”.

Dessa feita, constata-se que a categoria jurídico-social denominada

Cidadania vem sofrendo, ao longo dos anos, uma paulatina mudança em sua

essência, o que leva alguns pensadores a afirmar estar ela envolta numa “crise”.

Todavia, o que se observa diante das vicissitudes que envolve o tema é a premente

necessidade de se idealizar, construir e concretizar uma Cidadania Ambiental Global,

assunto que será abordado na sequência dessa pesquisa.

2.3 DA CIDADANIA AMBIENTAL GLOBAL

2.3.1 O fenômeno da Transnacionalidade

Ao discorrer sobre o fenômeno da Transnacionalidade é pertinente

pontuar que a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, desencadeou

uma radical mudança no panorama mundial em nível político, cultural, tecnológico e,

sobretudo, econômico. Intensificou-se o então conhecido fenômeno da

242 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Ciudadanía y definiciones. Cuadernos de Filosofía del derecho ,

n. 25, Doxa, 2002, Alicante, Espanha. p. 50-51. Tradução livre da autora: Em função destes argumentos, Luigi Ferrajoli conclui denunciando o caráter discriminatório que atualmente leva aparelhado o recurso aos direitos de cidadania. Numa época em que o problema mais grave e urgente das sociedades democráticas é o de dar uma resposta justa aos crescentes fluxos migratórios que penetram nas suas fronteiras, a cidadania é utilizada como instrumento para negar direitos e liberdades aos imigrantes e asilados. Daí, que Ferrajoli defende: ‘a superação da cidadania, a definitiva desnacionalização dos direitos fundamentais e a correlativa desestatização das nacionalidades’. Trata-se, em definitiva, de tomar consciência da “crise irreversível” da velha noção da cidadania e de assegurar a sua completa abolição.

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“globalização/mundialização”243 e o planeta tornou-se, de fato, uma “aldeia global”244.

Nesse contexto, o Estado Constitucional Moderno, com suas limitações e

insuficiências, não consegue sozinho dar respostas eficazes à sociedade atual,

caracterizada pela complexidade de relações e demandas, muitas vezes,

transnacionais245. Surge em decorrência a necessidade de se discutir, nos termos da

lição de Paulo Márcio Cruz e Zenildo Bodnar246,

[...] a organização de espaços públicos transnacionais que viabilizem a democratização das relações entre Estados, relação fundada na cooperação e solidariedade, com o intuito de assegurar a construção das bases e estratégias para a governança, regulação e intervenção transnacionais.

Os referidos autores aduzem, a respeito do tema em comento, que o

prefixo “trans” indica uma estrutura pública transnacional que perpassa vários

Estados, bem como a capacidade não apenas da justaposição de instituições ou da

superação/transposição de espaços territoriais, mas também, a possibilidade do

surgimento de novas instituições multidimensionais, capazes de dar respostas

eficazes às demandas transnacionais. Arrematam dizendo que “o prefixo “trans”

denota a emergência de um novo significado, construído reflexivamente a partir da

transferência e transformação dos espaços e modelos nacionais247.

A transnacionalidade caracteriza-se, portanto, como sendo um fenômeno

243 Entendido como sendo “[..] um processo paradigmático, multidimensional, de natureza

eminentemente econômico-comercial, que se caracteriza pelo enfraquecimento soberano dos Estados-nacionais e pela emergência dos novos focos de poder transnacional à luz da intensificação dos movimentos de comércio e de economia, fortemente apoiado no desenvolvimento tecnológico e no barateamento das comunicaçoes e dos meios de transportes, multiplicando-se em rede, de matriz essencialmente neurística”, nos termos do entendimento de Joana Stelzer in STELZER, Joana. O fenômeno da transnacionalização da dimensão jurídica. In: CRUZ, Paulo Márcio; STELZER, Joana (orgs.). Direito e Transnacionalidade . p. 15-53.

244 Termo idealizado pelo filósofo canadense Herbert Marshall 245 CRUZ, Paulo Marcio; BODNAR, Zenildo. A transnacionalidade e a emergência do Estado e do

Direito Transnacionais. In: CRUZ, Paulo Márcio; STELZER, Joana (orgs.). Direito e Transnacionalidade . p. 55-71.

246 CRUZ, Paulo Marcio; BODNAR, Zenildo. A transnacionalidade e a emergência do Estado e do Direito Transnacionais. In: CRUZ, Paulo Márcio; STELZER, Joana (orgs.). Direito e Transnacionalidade . p. 55-71.

247 CRUZ, Paulo Marcio; BODNAR, Zenildo. A transnacionalidade e a emergência do Estado e do Direito Transnacionais. In: CRUZ, Paulo Márcio; STELZER, Joana (orgs.). Direito e Transnacionalidade . p. 55-71.

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multifacetado, complexo, polêmico e que, ainda, encontra resistências para ser

aceito como realidade cotidiana248. Todavia, ao que parece, é um caminho viável

para a solução dos problemas transfronteiriços que caracterizam a atual sociedade

de consumo.

Nesse ponto, emerge a questão da proteção ao meio ambiente para as

presentes e as futuras gerações, sendo relevante trazer à baila o entendimento de

Arnaldo Miglino249 no sentido de que:

[...] o risco ambiental poderia induzir os Estados a ceder cotas de soberania em favor de organismos que possam, oportunamente e eficazmente, impor as medidas necessárias para a salvaguarda ecológica do planeta.

De fato, o Meio Ambiente caracteriza-se como sendo um bem público,

coletivo, difuso, transfronteiriço, transnacional, que exige uma proteção não apenas

em nível local, mas, sobretudo, planetária. E o fenômeno da transnacionalidade

surge como opção viável para tratar de assuntos que não se limitam às herméticas

bases territoriais soberanas dos Estados, notadamente aquelas relacionadas à

proteção ambiental. É nesse contexto, ainda, que parteja no campo acadêmico uma

novel categoria jurídico-social denominada de Cidadania Ambiental Global, a qual

será tratada a seguir.

2.3.2 Cidadania Ambiental Global

Nas últimas décadas, diante da crescente “ola” de degradação ambiental,

de poluição em limites alarmantes, de consumo desenfreado, de esgotamento

paulatino dos bens/recursos naturais não renováveis, de insustentável modelo

econômico capitalista adotado pelos países, do crescimento exponencial da

população, da pobreza maciça, dentre outros, percebeu-se a formação no ideário

248 STELZER, Joana. O fenômeno da transnacionalização da dimensão jurídica. In: CRUZ, Paulo

Márcio; STELZER, Joana (orgs.). Direito e Transnacionalidade . p. 15-53. 249 MIGLINO, Arnaldo. Uma comunidade mundial para a tutela do ambiente. In: CRUZ, Paulo Marcio.

Da soberania à transnacionalidade: Democracia, direito e Estado no século XXI. Itajaí: Univali, 2011. p. 131-145.

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humano de uma nova categoria denominada Consciência Ambiental.

A Consciência Ambiental caracteriza-se como sendo o pensamento

humano de preservar e proteger o Meio Ambiente em todas as suas manifestações,

“com o combate pela lei de todas as formas de perturbação da qualidade do meio

ambiente e do equilíbrio ecológico [...]”250. Nesse ponto, Norma Padilha aduz que “É

preciso construir um sentimento coletivo de responsabilidade, nascido do temor

contra o perigo que ameaça a continuidade da vida”251.

E na construção desse “sentimento coletivo de responsabilidade

ambiental” merece referência o importante papel desempenhado pelo Movimento

Ambientalista tanto em nível nacional como mundial. Nesse ponto, Wagner Costa

Ribeiro252 aduz que:

Ao proporem a manutenção das condições naturais, seja preservando-as, os ambientalistas colaboram, junto com outros segmentos sociais, para construir um mundo mais equilibrado na apropriação dos recursos naturais. Um mundo com mais qualidade de vida que possa ser experimentado também pelas gerações futuras.

E é exatamente essa Consciência Ambiental um dos substratos que

fundamentam a denominada Cidadania Ambiental Global, também cunhada de

Cidadania Planetária253, Cidadania Ambiental254, Cidadania Plena255, Cidadania

250 SILVA, José Afonso. Direito ambiental constitucional . p. 35. 251 PADILHA, Norma. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 428. 252 RIBEIRO, Wagner Costa. Em busca da qualidade de vida. In: PINSKY, Jaime. PINSKY, Carla

Bassanezi (orgs). História da Cidadania . São Paulo: Contexto, 2005. p. 546-547. 253 BOFF, Leonardo. Ethos mundial : um consenso mínimo entre os humanos. Petrópolis: Vozes,

2009; GADOTTI, Moacir. Cidadania planetária: pontos para a reflexão. Conferência Continental das Américas para a Carta da Terra . Cuiabá. Disponível em:<http:// siteantigo.paulofreire.org/pub/Institu/SubInstitucional1203023491It003Ps002/Cidadania_Plenataria_1998.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2014.

254 SOUZA, Jean Carlos Porto V. B. Cidadania verde na sociedade da comunicação: caminho para mudar o organismo global. UNIRevista , 2006. Disponível em: <http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_BoasSouza.PDF>. Acesso em: 3 jun. 2014.

255 MORIGI, V.J., VANZ, S.A.S. & GALDINO, K. Cidadania, novos tempos, novas aprendizagens: novos profissionais?. Em Questão , 2003. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/view/61/21>; FANTIN, M., Girardello, G. Diante do abismo digital: mídia-educação e mediações culturais. Perspectiva , 2009. Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/13128/12291>. Acesso em: 3 jun. 2014.

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Mundial256, Nova Cidadania257, Cidadania Ampliada258, Globalização Ecologizada259.

Outro substrato que fundamenta a Cidadania Ambiental Global é a Ética

Ambiental, que se contrapõe à Tradicional; aquela caracterizada pelo relacionamento

do homem com outro homem e consigo mesmo, fundada numa concepção filosófica

antropocêntrica, e onde a Natureza fica à parte da responsabilidade humana260.

Já a Ética Ambiental é materializada, nos dizeres de Hans Jonas261, pelo

princípio da responsabilidade que impõe um novo imperativo moral, adequado a um

novo agir humano. Nos dizeres do mencionado doutrinador: “[...] aja de modo que os

efeitos da sua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida

humana sobre a Terra”, ou seja, “[...] aja de modo a que os efeitos da tua ação não

sejam destrutivos para a possibilidade futura de uma tal vida” e, ainda, “não ponha

em perigo as condições necessárias para a conservação indefinida da humanidade

sobre a Terra”.

A respeito da diferenciação entre a clássica definição de Cidadania

Ambiental e a novel Cidadania Ambiental Global, José Rubens Morato Leite e

Patryck de Araújo Ayla262 entendem que esta última é mais abrangente do que

aquela, pois não está limitada espacialmente a determinado território ou vinculada a

determinado povo. A Cidadania Ambiental Global tem como “objetivo comum a

proteção intercomunitária do bem difuso ambiental”. Ela é fundamentada na

256 MORIGI, Valdir José; ROSA, R.. Cidadania midiatizada, cidadão planetário. Comunicação e

espaço público. Revista da FAC. 2004, Disponível em: http://www.fac.unb.br/site/images/stories/Posgraduacao/Revista/Edicoes/2004_revista.pdf. Acesso em: 3 jun. 2014.

257 SOUZA, Jean Carlos Porto V. B. Cidadania verde na sociedade da comunicação: caminho para mudar o organismo global. UNIRevista , 2006, Disponível em: <http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_BoasSouza.PDF>. Acesso em: 3 jun. 2014.

258 PERUZZO, Cicília M. K. Direito à comunicação comunitária, participação pop ular e cidadania . LUMINA, 2007. Disponível em: <http://www.ppgcomufjf.bem-vindo.net/lumina/index.php?journal=edicao&page=article&op=view&path[]=4&path[]=10>. Acesso em: 3 jun. 2014.

259 LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes, 2001.

260 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos constitucionais do direito ambiental br asileiro . p. 427. 261 JONAS, Hans. O princípio responsabilidade : ensaio de uma ética para a civilização tecnológica.

Rio de Janeiro: Contraponto. Ed. PUC-RIO, 2006. p. 47-48 262 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito ambiental na sociedade de

risco . 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 317-318.

Page 93: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TRANSNACIONAL COMO …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Silva Rodrigues.pdf · Glossário. 8 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 130. 14 Biólogo,

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“solidariedade e na participação responsável dos sujeitos políticos na proteção do

bem ambiental” e, por meio dela, o cidadão “não tem um compromisso de lealdade

nacional, mas sim, um compromisso de lealdade ecológica”.

O conceito de Cidadania Ambiental Global é algo ainda em construção,

porém, segundo Raúl Pacheco Vega263 nele devem estar inseridas duas

características, quais sejam: 1) a necessidade de se ter uma visão global e, ao

mesmo tempo, a capacidade de ação local; 2) o fomento de aproximações

transnacionais por meio de campanhas de temas globais relevantes que digam

respeito a todos os cidadãos do planeta; 3) o compartilhamento de interesses e

valores comuns e, ainda, a definição de direitos globais.

No cenário internacional, costuma-se mencionar o Convênio de Aarhus264

sobre o acesso à informação, à participação do público na tomada de decisões e o

acesso à justiça em matéria de Meio Ambiente, realizado na Dinamarca, no dia 25

de junho de 1998, como sendo o marco normativo da Cidadania Ambiental Global.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a partir

de 2002, idealizou o Projeto denominado “Cidadania Ambiental Global”265 cujo

principal objetivo foi o de apoiar a participação dos grupos sociais no cuidado com o

Meio Ambiente, bem como buscou inserir mudanças no trato indivíduo/natureza e,

com isso, fomentar a criação de cidadãos conscientes e ativos no que tange ao Meio

Ambiente.

O referido programa foi desenvolvido em 7 países, a saber: Argentina,

Chile, Costa Rica, Cuba, Equador, México e Peru. Dele participaram a União Mundial

para a Natureza (UICN), a Associação Mundial de Rádios Comunitários,

Consumidores Internacionais, Conselho Latino-Americano de Igrejas, a União 263 VEGA, Raúl Pacheco. Ciudadanía ambiental global: un recorte analítico para el estudio de la

sociedad civil transnacional. Espiral , México, v. IVV, n. 35, enero/abril. 2006. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=13803506>, p. 164-165.

264 COMISIÓN ECONÓMICA PARA EUROPA. Convención sobre el acceso a la información, la participación del público en la toma de decisiones y el acceso a la justicia en asuntos ambientales . Dinamarca, 1999. <http://www.unece.org/fileadmin/DAM/env/pp/documents/cep43s.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2014.

265 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE. Ciudadania ambiental global. Disponível em: <https://www.pnuma.org/ciudadania/def_concepto.html>. Acesso em 3 jun. 2014.

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Internacional de Autoridades Locais, o Parlamento Latino-Americano e, na República

Argentina, o Ministério da Saúde da Nação, por meio da Secretaria de Ambiente e

Desenvolvimento Humano. Os temas tratados foram mudança climática, camada de

ozônio, biodiversidade e águas internacionais.

O PNUMA266 desenvolveu um conceito de Cidadania Ambiental Global a

partir do pressuposto de que a Cidadania Ambiental parte do “conceito explícito de

direitos e responsabilidades de cada ator social frente ao meio ambiente, assim

como de duas noções chaves do conceito de cidadão: igualdade e participação”267.

Logo, a noção de Cidadania Ambiental Global “sugere não só o fato de ser cidadão

de um país, mas sim, que somos cidadãos do mundo”268. Ademais, tal noção

descreve “obrigações éticas que nos vinculam tanto com a sociedade quanto com os

recursos naturais do planeta”269.

Assim, nos termos do mencionado Programa Mundial270 Cidadania

Ambiental Global significa:

Adquirir um melhor conhecimento do meio ambiente e utilizar essa informação e conhecimento do meio ambiente como ferramenta para uma ação ambiental cidadã responsável, tanto individual quanto coletiva. A evolução da vida em sociedade que valoriza o assunto da relação político-social entre indivíduos e grupos, na perspectiva de construir um novo pacto social, no qual seja o ambiente um fator básico a preservar e, com isso, assegurar a sobrevivência da própria sociedade.

E tal Programa ainda exarou o conceito de Cidadão Ambiental Global

como sendo o cidadão “crítico e consciente que compreende, se interessa, reclama 266 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE. Ciudadania ambiental global.

Disponível em: <http://www.pnuma.org/ciudadaniaambientalglobal/def_ciudadano.php>. Acesso em: 3 jun. 2014.

267 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE. Ciudadania ambiental global. Disponível em: <http://www.pnuma.org/ciudadaniaambientalglobal/def_ciudadano.php>. Acesso em: 3 jun. 2014.

268 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE. Ciudadania ambiental global. Disponível em: <http://www.pnuma.org/ciudadaniaambientalglobal/def_ciudadano.php>. Acesso em: 3 jun. 2014.

269 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE. Ciudadania ambiental global. Disponível em: <http://www.pnuma.org/ciudadaniaambientalglobal/def_ciudadano.php>. Acesso em: 3 jun. 2014.

270 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE. Ciudadania ambiental global. Disponível em: <http://www.pnuma.org/ciudadaniaambientalglobal/def_ciudadano.php>. Acesso em: 3 jun. 2014.

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e exige seus direitos ambientais e que, por sua vez, está disposto a exercer sua

própria responsabilidade ambiental”271.

Em nível doutrinário, Raúl Pacheco Vega272 entende que um conceito

completo sobre Cidadania Ambiental Global deve enfatizar:

[...] los derechos y obligaciones para con el medio ambiente y considerar la obligación de preservar los recursos naturales, cuidar de los ecosistemas y minimizar los impactos ambientales debidos a la contaminación.

Gabriel Real Ferrer273, por sua vez, sustenta que os elementos

constitutivos da Cidadania Ambiental Global caracterizam-se pela junção dos

seguintes elementos: valores + sentimentos + direitos. Ou seja, a) união dos valores,

a saber: responsabilidade, compromisso, solidariedade, equidade e honestidade do

ser humano que compõem, assim, um sistema ético mínimo; (b) identidade e

sensação de pertencimento a um grupo social; e (c) competências para sua

participação na vida política, econômica, cultural, social, ambiental e espiritual,

consubstanciado em um estatuto jurídico, onde devem restar consignados os direitos

e, igualmente, os deveres do cidadão global/planetário.

Para que a Cidadania Ambiental Global reste efetivada, Maurício

Waldman274 defende ser necessária a participação de três esferas de atuação, a

saber: 1) da Administração Pública, em suas respectivas esferas de ação; 2) da

sociedade com seus atores e interlocutores a exemplo do que ocorre no ambiente

de escolas, associações, sindicatos, etc.; 3) do próprio indivíduo de “per si”, em sua

271 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE. Ciudadania ambiental global.

Disponível em: <http://www.pnuma.org/ciudadaniaambientalglobal/def_ciudadano.php>. Acesso em: 3 jun. 2014.

272 VEGA, Raúl Pacheco. Ciudadanía ambiental global: un recorte analítico para el estudio de la sociedad civil transnacional. Espiral , México, v. XII, n. 35, p. 149-172, enero/abril. 2006. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/pdf/138/13803506.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2014. Tradução livre da autora: “[...] os direitos e obrigações para com o meio ambiente e considerar a obrigação de preservar os recursos naturais, cuidar dos ecossistemas e minimizar os impactos ambientais devidos à contaminação”.

273 FERRER, Gabriel Real. Seminário de Direito Ambiental Contemporâneo , ofertado nas dependências do Auditório do Curso de Mestrado e Doutorado da Univali, Itajaí, SC, Brasil, ocorrido no dia 10 de março de 2014.

274 WALMAN, Maurício. Natureza e sociedade como espaço de cidadania. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B. (orgs.). História da Cidadania . São Paulo: Contexto, 2005. p. 555.

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esfera de atuação.

Por seu turno, José Rubens Morato leite e Patryck de Araújo Ayla275

entendem que o exercício da Cidadania Ambiental requer os seguintes pressupostos

como indispensáveis: a) a participação: do Estado, ao garantir por meio de

instrumentos eficazes a participação do cidadão nos assuntos relacionados ao Meio

Ambiente e, ao mesmo tempo, do próprio cidadão porquanto não se concebe mais a

existência de um cidadão alheio à questão ambiental; b) o acesso à educação e à

informação ambiental, necessárias à conscientização dos cidadãos acerca de seus

direitos e, sobretudo, de seus deveres ambientais globais.

Convém mencionar, nesse particular, a “escada de cidadania” idealizada

por Gabriel Real Ferrer276, em cuja base se destaca (1) a subsistência digna e, na

sequência, (2) os direitos humanos efetivos; (3) a educação humanista (de valores);

(4) a informação (veraz, fácil, completa); (5) a participação real; e, finalmente, (6) o

direito de ação política e jurídica. Graficamente, tem-se a seguinte figura ilustrativa:

Direito de Ação

Participação Informação Educação

Humanista

Direitos Humanos

Subsistência Digna

Dessa feita, o Cidadão Global tem a percepção de sua importância no

cenário transnacional em que vive; percebe que faz parte de um todo interligado;

sente-se responsável pela preservação do meio ambiente em que se encontra

inserto, bem como comprometido na busca de um planeta mais solidário, humano e

275 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito Ambiental na sociedade de

risco . p. 324. 276 FERRER, Gabriel Real. Seminário de Direito Ambiental Contemporâneo , ofertado nas

dependências do Auditório do Curso de Mestrado e Doutorado da Univali, Itajaí, SC, Brasil, ocorrido no dia 10 de março de 2014.

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justo; não se sente estrangeiro quando deixa sua terra natal por ter construído,

desde a meninice, um sentimento de pertencimento à humanidade o que enfraquece

eventuais diferenças culturais, geográficas, raciais e outras277. E, ainda, o cidadão

global sabe que, além de direitos, tem deveres a cumprir no afã de manter sua oikos

minimamente equilibrada e saudável para usufruto próprio e das futuras gerações.

Fica evidenciado, portanto, que diante dos fenômenos

globais/transnacionais/planetários em que o mundo encontra-se imerso a categoria

denominada Cidadania vem sofrendo sensíveis modificações, porém permanece

como sendo relevante e fundamental para o desenvolvimento da atual sociedade

humana global. E essa novel categoria cunhada de Cidadania Ambiental Global

aliada à Educação Ambiental serve de substrato necessário para a efetividade do

Direito Fundamental ao Meio Ambiente equilibrado e sadio, conforme será tratado no

próximo capítulo.

277 GADOTTI, Moacir. A ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra.

Fórum Nacional de Pedagogia . Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá. Disponível em: <http://www.ufmt.br/revista/arquivo/rev21/moacir_gadotti.htm>. Acesso em: 3 jun. 2014.

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145

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ABREU, Ivy de Souza; GONÇALVES, Luisa Cortat Simonetti. O direito fundamental

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e a educação ambiental no Brasil.

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