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EDUCAÇÃO, LINGUÍSTICA E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL CADERNOS DE PESQUISA E EXTENSÃO DESAFIOS CRÍTICOS - CPEDeC ISSN 1808-8511

A EDUCAÇÃO NA ERA DA INFORMÁTICA_ O ENSINO A DISTÂNCIA NOS cursos superiores

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EDUCAÇÃO, LINGUÍSTICA

E QUALIFICAÇÃO

PROFISSIONAL

CADERNOS DE

PESQUISA E EXTENSÃO

DESAFIOS CRÍTICOS -

CPEDeC

ISSN 1808-8511

2

ISSN 1808-8511

REVISTA INTERDISCIPLINAR DA

FACULDADE ESTÁCIO DE SERGIPE

ESTÁCIO FaSe

ANO 5 V.5 N.5 janeiro/junho de 2010 Aracaju

3

PUBLICAÇÃO SEMESTRAL

Ficha Catalográfica

___________________________________________________

Caderno de Pesquisa e Extensão Desafios

Críticos – CPEDeC.__ v.5, n.5 (jan./jun. 2010).__ Aracaju:

Faculdade Estácio de Sergipe, 2006-

Periodicidade: Semestral

ISSN 1808-8511

1. Ciências Sociais Aplicadas. I.FaSe.

CDU 009(05)

___________________________________________________

O CPEDeC não se responsabiliza pelas opiniões emitidas pelos autores.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer

meio, sem a prévia autorização da ESTÁCIO FaSe.

CPEDeC Aracaju v.5 n.5 p.141 jan./jun. 2010

4

CPEDeC REVISTA INTERDISCIPLINAR DA

FACULDADE ESTÁCIO DE SERGIPE

ESTÁCIO FaSe

Direção Geral da FaSe

Prof. Ruy Gomes Chaves

Direção Acadêmica Prof. MSc. Paulo Rafael Monteiro Nascimento

Conselho Consultivo Prof.MSc. Paulo Rafael Monteiro Nascimento

Profª. Dr. Hortência de Abreu Gonçalves

Conselho Editorial Profª. MSc. Dayse Coelho de Almeida

Prof. MSc. Eduardo Carpejani

Prof. Dr. Orlando Pedreschi Neto

Profª. MSc. Célia Carvalho do Nascimento

Prof. MSc. Amintas Figueiredo Lira

Comissão Científica Profª. MSc. Betânia Costa Leite

Profª Dr. Daniela Carvalho Almeida da Costa

Comissão de Revisão Profª MSc. Rosilene Pimentel S. Rangel

Profª Michelle de Araújo Góes

Comissão de Projeto Gráfico Prof. Paulo Amaral Costa

RP Ticiane Tojal Rodrigues Santos

Instituição Faculdade Estácio de Sergipe – ESTÁCIO FaSe

Rua Teixeira de Freitas, n.10

Cep. 49020-530 Bairro: Salgado Filho

Fone: (79) 3246-8100 Aracaju - Se

Home page: www.revistadesafioscriticos.fase-se.edu.br

E-mail: [email protected]

5

CPEDeC

CADERNOS DE PESQUISA E EXTENSÃO

DESAFIOS CRÍTICOS

v. 5 n. 5 jan./jul. 2010

www.revistadesafioscriticos.fase-se.edu.br

CULTURA Quilombolas de Sergipe: Remanescentes Históricos

e Culturais

Hortência de Abreu Gonçalves...................................9

A Importância dos Museus e Sua Preservação Para

o Turismo Cultural

Kátia Geórgia Sá Azevedo..........................................28

EDUCAÇÃO A Educação no Processo de Reprodução do Ser

Social

Rosilene Pimentel Santos Rangel................................34

A Educação na Era da Informática: O Ensino a

Distância nos Cursos Superiores

Carmen Regina de Carvalho Pimentel

Cleberton Carvalho Soares..........................................44

Estresse e Qualidade de Vida do Docente de Nível

Superior

José Paulo Andrade de Araújo

Luciene Aparecida Ribeiro...................................................56

GESTÃO Controladoria Empresarial: Gestão Econômica

para as Micro e Pequenas Empresas

José Morais Monteiro.................................................64

Empreendedorismo Social Sustentável: Um Estudo

Multicasos em ONG´S Sergipanas

José Álvaro Jardim de Almeida

Paulo Rafael Monteiro Nascimento

Wanusa Campos Centurión.........................................85

Aspectos Teóricos da Estrutura Organizacional da

Empresa Telemar/Oi no Período Pós-Privatização José de Arimatéia Dias Valadão

Paulo Rafael Monteiro Nascimento

Sérgio Luiz Elias de Araújo.....................................103

LINGUÍSTICA Língua Inglesa, Globalização e o Processo de

Formação do Profissional Docente

Maria Amália Façanha Berger..................................119

SUMÁRIO

6

MEIO AMBIENTE Indicadores de Chão de Fábrica: Um Estudo da

Incerteza em Indicadores de Desempenho

Ambiental

Eduardo Carpejani

Ricardo Kalid..................................................................128

NORMAS PARA

SUBMISSÃO

Linha Editorial........................................................137

Estilo de Apresentação dos Artigos.......................137

Estilo de Apresentação das Resenhas....................141

7

APRESENTAÇÃO

A Faculdade Estácio de Sergipe.- ESTÁCIO FaSe preocupada com o

desenvolvimento pedagógico e institucional, contemplado na tríade ensino, pesquisa e

extensão, tem o prazer de apresentar a revista científica, intitulada Caderno de Pesquisa e

Extensão Desafios Críticos - CPEDeC em sua quinta edição, cumprindo mais uma vez o

objetivo de estimular a produção científica e cultural de seu quadro docente e discente,

visando ao alcance do pensamento reflexivo, norteado em seus princípios filosóficos e

teórico-metodológicos, contribuindo, assim, para ampliação do saber em sua formação

continuada.

Para tanto, contou com a colaboração de vários autores, oriundos da comunidade

acadêmica interna e externa, privilegiando uma multiplicidade de áreas do conhecimento,

perpassando por aspectos culturais, educacionais, de gestão e linguística, até a questão da

qualificação profissional para o mercado de trabalho contemporâneo.

Assim, com essa publicação, a Estácio FaSe abre um espaço relevante para a

difusão do conhecimento, pautado na construção do pensamento crítico, reflexivo e dialético,

dinamizado nas diferentes áreas do saber.

Os Editores

8

ARTIGOS

9

QUILOMBOLAS DE SERGIPE: REMANESCENTES HISTÓRICOS E CULTURAIS

Hortência de Abreu Gonçalves1

RESUMO

No escravismo doméstico originou-se uma construção social com a presença do chefe da

família e o uso do escravo negro. Em muitos casos, após a morte dos senhores, esses escravos

recebiam Cartas de Alforria, além de bens materiais para sustento e sobrevivência, dentre

eles, parcelas de terra. Objetivou-se localizar geograficamente os quilombolas de Sergipe,

identificando suas origens históricas e culturais. Pesquisa que contempla os testamentos “post

mortem” e inventários do Arquivo Judiciário do Estado de Sergipe – AJES, utilizando os

métodos hipotético-dedutivo e estatístico, associados à análise de conteúdo e à história do

cotidiano. Até o momento, foram aplicados formulários nos quilombolas Pontal da Barra

(Barra dos Coqueiros), Mussuca (Laranjeiras), Povoado Forte (Cumbe) e Brejão dos Negros

(Brejo Grande). Essas doações contribuíram para alterar a paisagem dominante, abrigando

uma população livre que cresceu na periferia dos engenhos. Escravos e ex-escravos de

Sergipe que receberam parcelas de terras para uso próprio foram remetidos à condição de

proprietários na organização fundiária da economia do setor primário, promovendo em alguns

casos, a formação de quilombolas.

Palavras-chave: Remanescentes de Quilombos. Identidade histórica e cultural. Quilombolas

de Sergipe.

1 INTRODUÇÃO

Os territórios quilombolas tiveram “seu primeiro reconhecimento com a

Constituição Federal de 1988, por intermédio do artigo 68 nas suas Disposições Transitórias,

que atribuiu ao Estado o dever de emitir os títulos respectivos” 2, consagrando aos

remanescentes das comunidades de quilombos o direito à propriedade de suas terras, bem com

da “manutenção de sua própria cultura por meio dos artigos 215 e 216 da Constituição”. 3

Comunidades quilombolas “são grupos étnicos, predominantemente constituídos

pela população negra rural ou urbana, que se autodefinem a partir das relações com a terra, o

parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias”.4 O

conceito de quilombo designa territórios de comunidades negras insurgidas contra a

escravidão colonial brasileira, significando um recurso útil para sobrevivência física e cultural

daquelas pessoas, bem como de preservação de uma cultura tradicional. Muitas comunidades

remanescentes desta época permanecem agregadas até os dias atuais,

1 Faculdade Estácio de Sergipe-Estácio FaSe; Universidade Tiradentes-UNIT/ Fundação de Apoio à Pesquisa e à

Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe-FAPITEC/SE /Instituto de Tecnologia e Pesquisa-ITP/Programa

Avançado de Cultura Contemporânea-PACC/Fórum de Ciência e Cultura-FCC/Universidade Federal do Rio de

Janeiro-UFRJ. 2 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA. Brasília: PPIGRE, 2005. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/aegre /

index. php? sccid= 580 >. Acesso em: 3.11.200, p.1. 3PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA. Brasília: PPIGRE, 2005b. Disponível em:

<http://www.mda.gov.br/aegre / index. php? sccid=587 >. Acesso em: 3.11.2006, p.14. 4 Idem, p.1.

10

algumas, inclusive, guardando resquícios arqueológicos. O seu reconhecimento não

se materializa mais pelo isolamento geográfico – apesar das grandes dificuldades de

acesso para alcançar o núcleo residencial de algumas delas – nem pela

homogeneidade física ou biológica dos seus habitantes. É possível afirmar que a

ligação com o passando reside na manutenção de práticas de resistência e

reprodução do seu modo de vida num determinado local, onde prevalece a

coletivização dos bens materiais e imateriais.5

Por conta disso, em 22 de novembro de 1995, o INCRA publicou a Portaria n°

307, para que fosse efetuada a titulação das terras quilombolas. Porém, não especificou os

passos a serem adotados nesse processo. Associado a isso, em 13 de julho de 2000, a

Fundação Cultural Palmares publicou a portaria interna n° 40 (DOU de 14.07.2000), visando

a estabelecer os procedimentos para demarcação das referidas terras e sua titulação.6

Em 20 de novembro de 2003, pelo Decreto n° 4.887, o Governo Federal

atribuiu ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Incra, a

implementação das ações de regularização fundiária dos quilombos e garantiu a

possibilidade de desapropriação de áreas particulares para esse fim. [...] essas ações

foram incorporadas ao Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), garantindo um

processo participativo e gestão específica para essas comunidades.7

Com essas características foi criado o Programa de Promoção de Igualdade de

Gênero, Raça e Etnia do MDA, o qual “coordena em conjunto com o INCRA, a

implementação de uma política de regularização fundiária que garanta o direito de uso e

posse, bem como o acesso aos instrumentos de política pública que favoreçam a permanência

dos quilombolas na terra”.8 E em 2004, foi criado o Programa Brasil Quilombola, coordenado

pela Subsecretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais (Seppir), tendo como principal

objetivo a coordenação das ações governamentais – articulações, com ênfase na participação

da sociedade civil, o qual integra

um conjunto de ações de vários órgãos federais para fazer valer os direitos das

comunidades quilombolas. [...] [visando] [...] [melhorar] as condições de vida e

fortalecer a organização das comunidades remanescentes de quilombos por meio da

promoção do acesso aos bens e serviços sociais necessários ao desenvolvimento,

considerando os princípios sócio-culturais dessas comunidades.9

No conjunto de suas ações prevalecem:

Regularização Fundiária – resolução dos problemas relativos à emissão do título de

posse das terras e é a base para a implantação de alternativas de desenvolvimento,

além de garantir a reprodução física, social e cultural de cada comunidade.

Intra – Estrutura e Serviços – consolidação de mecanismos efetivos para destinação

de obras de infra-estrutura e construção de equipamentos sociais destinados a

atender as demandas.10

Além disso, privilegia ainda as questões que envolvem o desenvolvimento

econômico e social, com ênfase para o modelo de desenvolvimento sustentável, baseado nas

características territoriais e na identidade coletiva, visando à sustentabilidade ambiental,

5 Idem, p.9.

6 Idem, p.12.

7 Op. Cit., nota 1, p.1.

8 Idem, p.1.

9 Op. Cit., nota 2, p.1.

10 Op. Cit., nota 2, p.13.

11

social, econômica e política local.11

Com o propósito de controle e participação social,

promove também o estímulo “à participação ativa dos representantes quilombolas nos fóruns

locais e nacionais de políticas públicas, promovendo o seu acesso ao conjunto das ações

definidas pelo governo e seu desenvolvimento no monitoramento daquelas que são

implementadas em cada município brasileiro”.12

Em setembro de 2008, foi publicada nova instrução normativa via INCRA que

passou a regulamentar o Decreto 4.887 de 2003, a qual estabeleceu os

procedimentos [atuais] para titulação das terras ocupadas por quilombolas, conforme

previsto no Artigo 68 da Constituição. A elaboração da instrução foi feita por um

grupo de trabalho formado por mais de 20 setores do governo, coordenado pela

Advocacia-Geral da União (AGU) e apresentada aos quilombolas antes da

publicação.13

O novo texto determinou também a solicitação de laudo elaborado por

antropólogos sem vínculos com os interessados, além de consultas a órgãos ambientais,

indígenas e, se for o caso, até mesmo militares, além de um certificado da Fundação Cultural

Palmares. Por conta disso,

diversos órgãos públicos deverão ser consultados, como o Instituto do Meio

Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), o Instituto Chico Mendes, a

Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (Iphan). Setores militares poderão apresentar parecer, se a área

reivindicada for considerada de interesse de alguma das três Forças.Além desta

dificuldade e burocracia, a AGU - Advocacia-Geral da União instituiu uma norma

que limita e muito a possibilidade do Incra em celebrar convênios para a realização

do RTID [Relatório Técnico de Identificação e Delimitação] .14

Essas mudanças tornaram mais difíceis o processo de certificação de terras

quilombolas, principalmente em áreas de conflito, como é caso dos quilombos localizados na

Ilha de Marambaia (sul fluminense/RJ) e Alcântara (MA). O movimento quilombola estima

atualmente a “existência de três mil comunidades quilombolas no país, das quais menos da

metade (1,2 mil) foi certificada pela Fundação Cultural Palmares desde 1988”. 15

Entretanto,

cabe mencionar que permanece com a referida fundação, a responsabilidade pelo início do

processo fundiário de certificação dos remanescentes quilombolas existentes no país.

1.1 Metodologia

Este artigo objetiva localizar geograficamente os quilombolas Pontal da Barra,

Mussuca e Brejão dos Negros do Leste Sergipano, com o intuito de identificar suas origens

históricas e culturais. Pesquisa aprovada no Comitê de Ética e Pesquisa - CEP sob No.

080708 e realizada com base em fontes secundárias originárias de acervos contidos em

bibliotecas públicas e particulares, bem como em bases de dados virtuais, dentre elas:

Agenciabrasil, Cedefes, MDA e Palmares, pertencentes a instituições universitárias e a órgãos

11

Idem, p.13. 12

Idem, p.13. 13

MOVIMENTO QUILOMBOLA DIZ QUE NOVAS REGRAS DO INCRA TORNAM REGULARIZAÇÃO

MAIS LENTA. Brasília, DF: Agência Brasil, 2008 Disponível em: <http://www.agenciabrasil.gov.br>. Acesso

em: 10.01.2009, [n.p.]. 14

PRIOSTE, Fernando. Cessão de terra será mais difícil a quilombola. Brasília, DF: Cedefes, 2008 Disponível

em: <http://www.cedefes.org.br/new/index.php?conteudo=materias/index&secao=3&tema=31&materia=5359>.

Acesso em: 10.01.2009, [n.p.]. 15

Op. Cit., nota 12, [n.p.].

12

do Governo Federal. Concomitante, foram aplicados 118 (cento e dezoito) formulários por

meio de amostragem não-probabilística acidental, acompanhados de entrevistas informais.

O critério de inclusão baseou-se no tempo de moradia da família no quilombola

há pelo menos 20(vinte) anos, independente do gênero e na assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados coletados e as informações obtidas foram

analisados, criticados e interpretados com base nos métodos hipotético-dedutivo e estatístico

associados à análise de conteúdo, levando-se em conta o referencial teórico da área.

2 QUILOMBOLAS DE SERGIPE: REMANESCENTES HISTÓRICOS E

CULTURAIS

A localização e identificação de área quilombolas na atualidade tem sido de

grande importância para o mapeamento desses remanescentes no território nacional. Em

Sergipe, a Fundação Cultural Palmares reconhece no Estado 14 (quatorze) comunidades,

sendo uma delas composta de 08 (oito) grupos remanescentes de escravos, em 14 (quatorze)

municípios. São elas: Mocambo (Porto da Folha), Serra da Guia (poço Redondo), Lagoa dos

Campinhos (Amparo de São Francisco), Lusienses (Rua da Palha, Pedra Furada, Castro,

Cajazeiras, Taboa, Pedra D'água, Bode e Botequim - Santa Luzia do Itanhi), Desterro

(Indiaroba), Caraíbas (Canhoba), Mussuca (Laranjeiras), Povoado Forte (Cumbe), Pontal da

Barra (Barra dos Coqueiros), Ladeiras (Japoatã), Patioba (Japaratuba), Catuabo (Frei Paulo),

Brejão dos Negros (Brejo Grande), Pirangy (Capela), além de Maloca, localizado no

município de Aracaju, totalizando 22 (vinte e duas) comunidades.

Outros 17 (dezessete) municípios de Sergipe possuem quilombolas, em vias de

reconhecimento, sendo eles: São Cristóvão, Riachuelo, Estância, Lagarto, Itabaiana, Monte

Alegre, Graccho Cardoso, Carmopólis, Tobias Barreto, Itaporanga d‟Ajuda, Poço Verde,

Simão Dias, Pinhão, Cristinápolis, Santana do São Francisco, Barra dos Coqueiros e Feira

Nova.16

É importante ressaltar o reconhecimento do Quilombola Maloca, por se tratar da

primeira comunidade urbana de Sergipe e segunda reconhecida no País. Esse reconhecimento

foi efetivado no dia 07 de fevereiro de 2007, pela Fundação Cultural Palmares e com

esse ato a comunidade já vislumbra em curto prazo muitos de seus problemas serem

resolvidos, como revogação do Mandado de Reintegração de Posse contra a

comunidade, a demarcação de seu território quilombola pelo INCRA e a

implantação de projetos sociais do Governo Federal de promoção do

desenvolvimento sócio-econômico e cultural. A comunidade é situada na área do

centro de Aracaju, conta com uma ONG chamada CRILIBER (Criança Liberdade),

que desenvolve ações de resgate da cultura negra e com pessoas engajadas nas

questões da comunidade, que depõem a favor de tal comunidade e que a partir de

agora terão seus direitos assegurados e valorizados. 17

Dentre os quilombolas de Sergipe reconhecidos pela Fundação Cultural Palmares,

foram selecionadas as comunidades denominadas Pontal da Barra, Brejão dos Negros e

16

COMUNIDADES QUILOMBOLAS DE SERGIPE RECEBEM BIBLIOTECAS RURAIS. Brasília:

PPIGRE, 2006a. Disponível em: <http:www.mda.gov.br/ aegre/index. php? ctuid = 10096 & sccid=622 &

imprimir= t>. Acesso em: 04.11.2006, p.1. 17

SILVA, Marcos Santos. Cirurgia tem o 2º quilombo urbano do país. Jornal da Cidade (Caderno B) Aracaju:

historiadesergipedois, 2007. Disponível em: <http://historiadesergipedois.blogspot.com/2007_04_01_archive.

html>. Acesso em: 20.04.2007, [n.p.].

13

Mussuca, pertencentes aos municípios de Barra dos Coqueiros, Brejo Grande e Laranjeiras

respectivamente, por se localizarem na Mesorregião do Leste Sergipano, onde se destaca a

Região do Cotinguiba, a qual nos idos coloniais esteve sempre ligada à presença da mão de

obra escrava e a cultura canavieira, beneficiada pelo clima chuvoso e pelo solo de massapé

necessário nessa exploração agrícola em todo o Nordeste, como também pela presença do rio

Cotinguiba, importante via de penetração na Bacia do Rio Sergipe e de chegada e saída para o

mar.

2.1 Pontal da Barra

O município de Barra dos Coqueiros possui um quilombola denominado Pontal da

Barra, colônia de pescadores localizada próxima ao rio Pomonga, travessia para os povoados

de Pirambu e São Sebastião, possuindo em torno de 200 (duzentas) famílias que estão sendo

cadastradas com o intuito de

[...] [além] de oferecer às famílias a oportunidade do auto-reconhecimento como

remanescentes de quilombos, o cadastramento também fornecerá dados importantes

para a definição do território a ser ocupado pelos quilombolas e para a elaboração,

pelo governo federal, de políticas públicas voltadas à preservação cultural e à

promoção do desenvolvimento sustentável da comunidade.18

Pela proximidade do mar suas casas são construídas sobre palafitas (figura 1) com

o intuito de conviver com as enchentes, principalmente durante a preamar (nível máximo da

maré cheia). Em sua maioria são de taipa, com cobertura de cerâmica ou palha de coqueiro e

ainda, algumas com telha industrializada. Além disso, somente algumas das casas visitadas

possuem móveis em boas e/ou melhores condições de uso (cama, mesa, cadeiras e outros);

nas demais, são rudimentares e seus moradores dormem em esteiras e redes. Outro aspecto

relevante recai sobre o fato de que, muitos moradores ocupam o espaço da casa com um

pequeno quintal, geralmente destinado a criação de galinhas e aves.

Figura 1: Casas sobre palafitas

Fonte: Jônatas Soares de Oliveira Domingos (2008)

A principal atividade produtiva da comunidade é a pesca e seus moradores

confeccionam redes de pesca e gererés para uso pessoal e venda. Em outras ocasiões, fazem

18

CARVALHO, Sueli. Iniciado cadastramento de famílias em comunidade quilombola de barra dos

coqueiros (SE). Aracaju: Informe Sergipe, 2007. Disponível em: <http://www.informesergipe.com.br/

pagina_data.php?sec=2&&rec=18584&&aano=2007&&mmes=2> .Acesso em: 20.10.08, [n.p.].

14

uso também de anzol com linha e carretel de modo artesanal. O domínio e o conhecimento

dessas técnicas são repassados aos moradores e às crianças da localidade com o intuito de

preservação das mesmas.

Entrando no âmbito do gênero dos pesquisados, foram aplicados até o momento

18 (dezoito) formulários dos 50 (cinquenta) propostos inicialmente, em virtude da recusa dos

mesmos por medo e/ou insegurança em participar; outros por serem moradores recentes.

Considerando o número dos participantes, o gênero dos pesquisados ficou assim especificado:

9 (nove) homens ou 50% e 9 (nove) mulheres ou 50%, totalizando 18 (dezoito) pessoas

(figura 2), sendo um deles bisneto de escravo.

Figura 2: Gênero dos pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Das 18 (dezoito) pessoas pesquisadas, 7 (sete) delas estão na faixa etária de 21

(vinte e um) a 32 (trinta e dois) anos; 4(quatro) entre 33 (trinta e três) e 43 (quarenta e três) e

7 (sete) entre 44 (quarenta e quatro) e 61 (sessenta e um) anos (figura 3).

Figura 3: Faixa etária dos pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Quanto ao modo de vida, foi unânime a confirmação de que os homens pescam e

as mulheres dissecam o camarão e tratam do peixe para alimentação e cuidam da casa. Em

geral a terra foi ocupada pela posse, existindo, entretanto, duas aquisições por compra verbal.

Na comunidade prevalece o acordo de que, caso algum morador se retire definitivamente da

mesma, deixando casa e terra, outra pessoa pode ocupá-las; se o antigo morador retornar,

perde o direito sobre o que deixou. Além disso, a comunidade não desenvolve atividade

15

agropecuária pela impossibilidade mineral da terra, baixo poder aquisitivo e proporção do

número de moradores da comunidade.

2.2 Brejão dos Negros

Por sua formação geológica, o município de Brejo Grande possui muitas dunas e

restingas,

entremeadas por lagoas e apicuns. A vegetação é de manguezal (nas partes sob

influência da água do mar), vegetação de restinga e vegetação típica de lagoas de

água doce. Uma parte substancial deste ecossistema ainda está preservado [sic],

embora haja no município extensas plantações de coco e de arroz.19

Historicamente falando, a sua origem remonta aos

[...] índios Tupinambás [que] viviam na Ilha de Paraúna, doada a António Cristóvão

de Barros em 1590. Pertencendo inicialmente a Pernambuco, passou em 1812 para o

governo da Bahia, e também devido à ação de José Alves Tojal, um homem local e

influente que aterrou parte do canal do rio São Francisco, unindo a ilha à margem

sul. Em 1826 tentou-se implantar aí a república, graças aos imigrantes

pernambucanos que vieram para Brejo Grande. Em 1926 passou a chamar-se São

Francisco; em 1943, Parapitinga; voltou ao nome original em 1954.20

Em suas terras, destaca-se uma comunidade quilombola denominada Brejão dos

Negros, representada por pescadores artesanais, localizada na Foz do Rio São Francisco.

Aliada à atividade da pesca, desenvolve-se o cultivo alimentício do feijão, arroz, coco, manga,

mamão e mandioca, acompanhado de uma criação de pequeno porte voltada para ovinos e

suínos, em paralelo a uma avicultura pouco desenvolvida.

Brejão dos Negros possui mais de cento e cinquenta famílias distribuídas na zona

urbana e rural do povoado. Na zona urbana as residências já estão sendo construídas com

blocos e tijolos, com a presença de praças e ruas calçadas, inclusive luz elétrica e telefone

(figuras 4).

Figura 4: Zona urbana e praça local de Brejão dos Negros

Fonte: Jônatas Soares de Oliveira Domingos (2008)

19

BREJO GRANDE. [S.l.]: Wikipédia, 2008. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Brejo_Grande>.

Acesso em: 20.10.08, [n.p.]. 20

Idem, [n.p.].

16

Na zona rural ainda predominam casa de adobe, taipa e sopapo, com a presença de

fruteiras e, em algumas moradias, ervas medicinais para uso doméstico (figuras 5).

Figura 5: Plantio de fruteiras nas imediações da casa de morada

Fonte: Jônatas Soares de Oliveira Domingos (2008)

Em quase todas as residências localizadas nos perímetros desse povoado, ainda

predomina o uso do fogão a lenha, porém com a presença da panela de alumínio concomitante

a de barro.

Outro aspecto relevante recai sobre o artesanato produzido pela comunidade e

vendido para completar as necessidades básicas de sustento familiar com a utilização da

palha, sucatas de plástico, vidro, madeira, bem como de outros materiais orgânicos ou não. O

Centro Comunitário da localidade é responsável pelos ensinamentos dessa produção artesanal.

Entrando no âmbito do modo de vida da comunidade, Brejão dos Negros mantém

hábitos camponeses e pesqueiros com o uso comum dos recursos naturais e da terra. Com o

intuito de visualizar e compreender melhor essa comunidade foram aplicados 50 (cinquenta)

formulários com seus moradores, assim especificados: 14 (quatorze) homens ou 28% e 36

(trinta e seis) mulheres ou 72% dos participantes da pesquisa (figura 6).

Figura 6: Gênero dos pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Com relação à faixa etária dos pesquisados, foram inquiridas 50 (cinquenta)

pessoas, variando de 20 (vinte) a 81(oitenta e um) anos (figura 7).

17

Figura 7: Faixa etária dos pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Quando questionados sobre a origem da terra quilombola, 35 (trinta e cinco)

afirmaram não saber ou não lembrar e 12 (doze) que surgiu como local de refúgio de escravos

fugitivos dos engenhos; 1 (um) afirmou que se originou como refúgio de escravos e índios da

redondeza; 1(um) de uma terra comprada por uma ex-escrava e refúgio de escravos e 1 (um)

em terras de um engenho e fundada por negros da redondeza (figura 8).

Figura 8: Origem da terra Quilombola

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

No aspecto da ancestralidade escrava, 36 (trinta e seis) afirmaram que não

sabem/não lembram; 10 (dez) que são bisnetos e 4 (quatro) que são netos (figura 9).

18

Figura 9: Ancestralidade escrava e ex-escrava dos pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

No que se refere à forma de acesso à terra em que residem, 24 (vinte e quatro)

afirmaram tê-la recebido em herança; 20 (vinte) por meio de compra e 6 (seis) disseram não

saber ou não lembrar (figura 10).

Figura 10: Origem da terra em que residem

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Além disso, é importante mencionar que, dentre os 50 (cinquenta) pesquisados, 46

(quarenta e seis) residem em pequenas glebas e 4 (quatro) não as identificaram em suas

respostas.

2.3 Mussuca

Além da vocação para a cultura da cana-de-açúcar, o município de Laranjeiras

também foi canário de vários conflitos que envolveram desde questões raciais até as sociais,

dentre elas:

revoltas urbanas de escravos negros e mulatos livres foram registradas em 1835 e

1837. Os „escravos‟ fugitivos organizavam-se em mocambos e quilombos nas matas

dos próprios engenhos. Os mais famosos líderes negros foram João Mulungu,

Laureano, Dionísio e Saturnino. Para recuperar seus escravos, muito senhores

chegavam a colocar anúncios nos jornais. O grande ano de fugas de escravos foi

1867. Ficam célebres alguns atos, como o enforcamento dos escravos Crispim e

Malaquias, que eram acusados de assassinar seus senhores brancos; a fuga do

escravo João Mulungu do Engenho Flor da Roda em 1868, sendo que muito tempo

19

depois foi capturado e enforcado. Mas as ações cruéis dos senhores com os escravos

provocou [sic] protestos da população até a chegada da „abolição‟.21

Vários escravos fugitivos da Região da Cotinguiba, acabaram por originar

mocambos ou quilombos, como foi o caso da Mussuca, povoado localizado a 7(sete)

quilômetros da sede do município de Laranjeiras, tendo como vizinhos os povoados de Cedro

e Várzea. Possui aproximadamente mil famílias, totalizando uma população em torno de

2.400 pessoas, em sua maioria, formada por trabalhadores braçais, tendo como principal

atividade o setor primário, voltado para a agricultura de subsistência e a criação de animais de

pequeno porte.

Em 2006, recebeu a certificação de autorreconhecimentos como comunidade

remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares, quando da visita do governo

federal na localidade. Com essa certificação, Mussuca foi automaticamente incluída no

Programa Brasil Quilombola, que prevê uma série de projetos, tais como: regularização

fundiária, infraestrutura e serviços, desenvolvimento econômico e social e controle e

participação social.22

A comunidade local desenvolve uma agricultura de subsistência também

denominada de cultivo alimentício pautada na produção do arroz, feijão, milho, mandioca,

além de hortaliças, verduras e frutas. Esse tipo de agricultura é reconhecido como familiar ou

aquele em que a família é ao mesmo tempo proprietária dos meios de produção e responsável

pelo trabalho no estabelecimento produtivo. Na Mussuca o plantio da mandioca é privilegiado

dentre as culturas alimentícias, servindo para a produção de farinha, tapioca, amido e puba,

que são usadas na confecção de bolos, beijus e mingaus, muitas vezes cultivada nas

imediações da própria moradia (figura 11).

Além disso, faz parte do complemento da moradia, a casa de farinha, com seus

utensílios rudimentares e artesanais, fogão a lenha e tacho para o cozimento. O tacho,

utensílio colonial, ainda é usado com frequência na Mussuca, aliado ao uso de rodete para o

manuseio da farinha.

Figura 11: Plantio de mandioca e de fruteiras nas imediações da casa de morada

Fonte: Jônatas Soares de Oliveira Domingos (2008)

A presença da bananeira na localidade é observada na maior parte das moradias,

demonstrando uma preferência por essa fruta, que tanto serve para a produção de doce

21

LARANJEIRAS. [S.l.]: Wikipédia, 2008. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Laranjeiras_(sergipe). >. Acesso em: 20.10.08, [n.p.] grifo do autor. 22

QUILOMBOLA MUSSUCA. Associação Brasileira de Imprensa- ABI. [S.l.:s.n.], 2006. Disponível em:

<http://www.abi.org.br/images/MarcosMichelin3_Quilomb...>. Acesso em: 10.12.2006, [n.p.].

20

caseiro, como para completar o sustento da família. Em relação à pecuária, à criação de

animais de pequeno porte está representada pelos suínos, ovinos e caprinos, acompanhada da

criação rudimentar de aves. De modo geral, predominam na periferia do povoado casas de

taipa, sopapo, adobe e alvenaria. Em muitas delas inexiste água potável, exigindo do seu

morador o armazenamento prévio para consumo pessoal e alimentar, bem como o uso de

chafariz.

A visão panorâmica da zona urbana permite identificar a presença de casas de

alvenaria com grades e juntas uma das outras numa estrutura de cidade, inclusive com rua

calçada de paralelepípedo (figura 12).

Figura 12: Zona urbana da Mussuca

Fonte: Jônatas Soares de Oliveira Domingos (2008)

O povoado Mussuca já dispõe de escola e transporte público, telefone, água

potável, luz elétrica e cemitério local. Com o seu reconhecimento como comunidade

quilombola, passou a receber os benefícios oferecidos pelos convênios com ministérios do

governo federal, bem como a disponibilidade de ações e serviços nas áreas da educação e

saúde:

O acompanhamento da saúde [...] é oferecido através dos projetos do ministério da

saúde (chamadas nutricionais, avaliação de peso em bebês, redução de morbilidade e

mortalidade precoce) e financiamento de projetos de melhorias sanitárias

domiciliares (MDS) e abastecimento de água através da Funasa (Fundação Nacional

de Saúde). [Além] [de] uma ação educativa na área de saneamento e saúde através

do Programa de educação em saúde e moblilização social (PESMS) da Fundação. 'O

objetivo do trabalho é preparar a comunidade para receber e utilizar o sistema de

abastecimento de água'.23

Com o intuito de complementar as informações sobre o Quilombola Mussuca,

foram aplicados formulários com 50 (cinqüenta) moradores, sendo 28 (vinte e oito) ou 64%

para o gênero feminino e 18 (dezoito) ou 36% para o masculino (figura 13).

23

Idem, [n.p.].

21

Figura 13: Gênero dos pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Na faixa etária, os pesquisados variaram entre 21 (vinte e um) e 88 (oitenta e oito)

anos, perfazendo o total de 50 (cinquenta) pessoas para ambos os sexos (figura 14).

Figura 14: Faixa etária dos pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Quando perguntado sobre a origem da Mussuca, um morador de 80 (oitenta) anos

explicou que esse quilombola se originou “das terras doadas por uma mulher a uma parteira

chamada Maria Benguela”, que lhe salvou a vida num parto difícil; outro de 76 (setenta e seis)

que, “após serem alforriados, os libertos receberam de Maria Benguela, era dona da região,

uma escritura da Mussuca para os negros, pois não tinham aonde ir”; uma moradora de 24

(vinte e quatro) anos explicou que, “os escravos moravam na fazenda Ilha, onde eram

castigados, quando fugiam da fazenda se abrigavam na Mussuca para posteriormente ir para

Laranjeiras para não serem escravizados”.

Os demais, disseram que muitos escravos fugindo dos coronéis da região vieram

para a Mussuca, onde construíram casas e se estabeleceram; outros que, com a abolição, os

escravos libertos se estabeleceram na Mussuca, existindo, entretanto, a prevalência dos que

não sabiam ou não lembravam ou 28 (vinte e oito) dos pesquisados.

Em relação à ancestralidade escrava e ex-escrava, 10 (dez) deles afirmaram serem

bisnetos de escravo; 2 (dois) netos; 2 (dois) sobrinhos e 1(um) parente de sexto grau. Os

demais, não se lembram do grau de parentesco ou não sabem (figura 15).

22

Figura 15: Ancestralidade escrava e ex-escrava dos pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Sendo que dos 50 (cinquenta) pesquisados, 7 (sete) são agricultores e 8 (oito)

vivem da pesca, 17 (dezessete) cuidam da casa (cultura de alimentos), 7 (sete) são ex-

agricultores, atualmente aposentados e 11 (onze) exercem outras atividades (figura 16).

Figura 16: Modo de vida dos Pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Quanto à terra em que residem, 50 (cinquenta) ou 100% dos pesquisados

afirmaram serem moradores (sitiantes) em pequenas glebas, muitas delas, sem o termo de

posse. Destes, 37 (trinta e sete) a receberam em herança de parentes e 13 disseram tê-las

comprado de antigos moradores (figura 17).

23

Figura 17: Origem da terra em que residem

Fonte: Dados da pesquisa (2008)

Entrando no âmbito cultural, as manifestações folclóricas estão presentes na

região, representadas pelo grupo São Gonçalo, “conhecido nacionalmente como Grupo de

Promessa que cultua o Santo São Gonçalo em suas músicas, composto de homens vestidos de

mulheres e o Samba de Parelha, grupo de festa junina composta por homens e mulheres”.24

Lembrando ainda que na Mussuca, o Grupo de Mulheres Produtoras Quilombolas

(GRUMAQ), além da agricultura de subsistência, também costuma produzir artesanatos,

principalmente sob encomenda, vendendo na própria comunidade.25

De modo geral, a religiosidade impera na Mussuca com predomínio do

catolicismo, seguida de evangélicos e de praticantes do Candomblé, Umbanda e Quimbanda,

também reconhecidos pela denominação de xangôs, os quais procuram preservar suas

identidades culturais.26

Assim, a Mussuca é hoje uma das mais importantes comunidades quilombolas de

Sergipe, com uma identidade própria, repleta de informações que resgatam o seu passado, não

apenas enquanto origens históricas, como também pela sua importância cultural.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), em 1994, definiu o termo

“remanescentes de quilombo”, assim especificando: “consistem em grupos que

desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida

característicos num determinado lugar”.27

Significando em outras palavras que, é a identidade

étnica que os distingue do restante da sociedade, levando-se em conta tanto a ancestralidade

comum quanto à forma de organização política, linguística e os elementos religiosos

compartilhados pelo grupo autodenominado.

Os remanescentes quilombolas possuem vivências camponesas e extrativistas

desde seus antepassados. Ao longo do tempo, esses grupos mantiveram a prática da

agricultura de subsistência e o uso comum da terra, muitas vezes comercializando o excedente

produzido com povoados próximos ou mesmo com comerciantes que passavam pela

24

LARANJEIRAS. Laranjeiras: sua história, sua cultura, sua gente. Laranjeiras: Prefeitura Municipal de

Laranjeiras: SEMEC, 2000, p.59. 25

COMUNIDADES QUILOMBOLAS MOSTRAM SUA DIVERSIDADE NA FEIRA. Brasília: PPIGRE,

2006b. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/ aegre/index. php? ctuid= 9631 & imprimir = t>. Acesso em:

04.07.2008, p.1. 26

Op.Cit., nota 23, p.59. 27

ESTRELLA, Sylvia. Como funcionam os quilombolas. [S.l.]: Como tudo funciona, 2008. Disponível em:

<E:\HowStuffWorks - Demarcação das áreas quilombolas.mht>. Acesso em: 20.10.08, [n.p.].

24

localidade em que se assentavam. Em muitas ocasiões, “[...] [as] formas de apropriação dos

recursos naturais foram, na maioria das vezes, resultado do ambiente em que se encontraram,

na medida em que as famílias se refugiaram em áreas de florestas e matas a montante de

cachoeira ou em serras”.28

Nessa perspectiva, a interação entre o meio e a terra quilombola possibilitou o

domínio sobre os recursos naturais, bem como o vínculo entre os indivíduos e o território

ocupado, promovendo ao longo do tempo uma identidade histórica e cultural própria. Essa

identidade aponta para as diversas formas de origem dessas comunidades, dentre elas: as

doações de glebas a escravos e ex-escravos preferenciais e/ou considerados merecedores

desse ato de benevolência, por parte de antigos senhores em vida ou via testamentos “post

mortem”; decadência da lavoura da cana-de açúcar, mandioca e/ou algodão em decorrência de

crises econômicas internas e/ou externas, com a permanência dos cativos em alguns engenhos

e/ou fazendas abandonadas por seus proprietários; originárias de terras doadas a santos em

prol da manifestação da religiosidade cristã dos benfeitores e ainda, pela posse e/ou ocupação

da terra por iniciativa própria, dentre outras formas.

Os quilombolas adotaram o modo de vida camponês, ligado à posse da terra como

forma substancial de se reproduzirem física e culturalmente. Ao longo do tempo,

estabeleceram-se em pequenas glebas, face da disponibilidade de terras, pautadas na

agricultura de mantimentos, muitas vezes consubstanciada na troca e na venda de excedentes,

havendo ainda os que se dedicaram as atividades urbanas.

Essas aglomerações foram fortalecidas pelas dinâmicas das redes de relações

comunitárias cujo núcleo é a família, unidade que procura agregar terra e trabalho, mas que

também se move em níveis crescentes de parentescos e de atividades culturais, políticas e

econômicas, representadas do ponto de vista histórico, pelo direito a terra, direito este que

vem sendo reconhecido e legitimado na atualidade pelo resgate dessas comunidades.

A essa população, são atribuídas possibilidades de permanência prioritária na terra

em que vivem, por parte dos órgãos públicos e das políticas governamentais por meio de

títulos territoriais de posse. A presença de remanescentes quilombolas em terras sergipanas

comprova a existência do roçado negro escravo e ex-escravo no âmbito do escravismo

colonial e provincial, atuando na produção agrícola com o objetivo de sustento familiar

agregado a pequenas trocas de produtos e mesmo, quando possível, venda do excedente.

Esse fato pode ser comprovado no confronto dos quilombolas Pontal da Barra,

Brejão dos Negros e Mussuca, quando destacam a prática da agricultura de subsistência,

também reconhecida pelo nome de cultivo alimentício, chegando inclusive ao patamar da

agricultura familiar com prevalência de tubérculos, hortaliças, verduras e frutas, além da

atividade pesqueira, com exceção do Pontal da Barra em que predomina a pesca artesanal. Em

geral, a ocupação da terra ocorreu via doação de glebas a escravos, como também pela posse

voluntária, existindo, entretanto, casos de aquisição de pequenas áreas por compra verbal.

Concomitante, verifica-se também a origem da terra como local de refúgio de escravos

fugitivos de engenhos da redondeza.

Além disso, ao longo do tempo essas comunidades negras tenderam a confundir-se

no universo das comunidades rurais com perda da memória histórica, e consequente

esquecimento da própria gênese, diluída no âmbito da comunidade campesina.29

Assim,

dentre as múltiplas origens da terra quilombola, as doações a escravos e ex-escravos, não

28

CARRIL, Lourdes F.B. Trabalho e excedente econômico: remanescentes de quilombos no Brasil. Revista

Eletrônica de Geografia y Cienciás Sociales. Barcelona, v. VI n. 119, 1 ago., 2002. Disponível em:

<http://www.ub.is/geocrit/sn 119-39.htm>. Acesso em: 15.12.2006, p.4. 29

MAESTRI, Mario. La formación del campesinato en Brasil. Centro de Estudos Marxistas. Passo Fundo:

UPF, 2002. Disponível em::<http://www.mas.org.ar/revista/sob%2017_18/maestri.htm>. Acesso em:

25.12.2006, p.27.

25

apenas via testamentos “post mortem” e inventários, como também por outros meios, se

constituíram como um dos importantes embriões da agricultura familiar, bem como

contribuíram para a organização do espaço rural e estrutura fundiária de Sergipe, com

consequente reflexo no comportamento fundiário que o Estado possui nos dias atuais.

SITUATION GEOGRAPHIQUE ET ORIGINES HISTORIQUES ET CULTURELLES

DES « QUILOMBOLAS » DE SERGIPE, BRÉSIL

RESUMÉ

L´esclavage domestique a donné origine à la construction sociale, avec la présence du chef de

famille et utilisation de l´esclave noir. Dans de nombreux cas, après la mort des seigneurs, les

esclaves recevaient des Lettres d‟Emancipation, ainsi que des biens matériels pour assurer

l´entretien et la survie, parmi lesquels, les parcelles de terre. L´objectif de cette recherche était

de localiser géographiquement les « quilombolas » de Sergipe, identifiant ses origines

historiques et culturelles. La recherche contemple les testaments « post mortem » et les

inventaires de l´Archive Judiciaire de l´Etat de Sergipe – AJES, utilisant les méthodes

hypothétiques et déductives, associés à l´analyse de leur contenu et à l´histoire de la vie

quotidienne. Jusqu´à présent, les formulaire ont été appliqués au « quilombolas » de Pontal da

Barra (Barra dos Coqueiros), Mussuca (Laranjeiras), Povoado Forte (Cumbe) et Brejão dos

Negros (Brejo Grande). Ces donations ont contribué à la modification du paysage dominant,

hébergeant une population libre, qui s´est développé dans les environs de fermes. Esclaves et

anciens esclaves de Sergipe ont reçu des parcelles de terre pour leur usage personnel et ont été

rehaussés à la condition de propriétaires dans l´organisation foncière de l´économie du secteur

primaire, et ont pu promouvoir, dans certains cas la formation des « quilombolas ».

Mots Clès: Remanescents de « Quilombo ». Identité Historiques et Culturelles.

« Quilombolas » de Sergipe.

REFERÊNCIAS

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26

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27

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SILVA, Marcos Santos. Cirurgia tem o 2º quilombo urbano do país. Jornal da Cidade

(Caderno B) Aracaju: historiadesergipedois, 2007. Disponível em: <http://historiade

sergipedois.blogspot.com/2007_04_01_archive.html>. Acesso em: 20.04.2007.

28

IMPORTÂNCIA DOS MUSEUS E SUA PRESERVAÇÃO PARA O TURISMO

CULTURAL

Kátia Geórgia Sá Azevedo30

RESUMO

Este artigo está baseado em pesquisa bibliográfica como também de campo, realizada no

Museu de São Cristovão, o qual mostrará a importância da preservação e conservação dos

museus e monumentos no que se refere à proteção das tradições vinculadas ao turismo

cultural. Assim, é de fundamental importância compreender o valor de um patrimônio

histórico no sentido de ampliar o valor social da obra de arte à sua existência histórica e

cultural.

Palavras-chave: Museus. Preservação. Turismo cultural. Cultura popular. Patrimônio

histórico.

1 INTRODUÇÃO

Desde que o homem surgiu, há três milhões de anos, ele vem criando utensílios,

instrumentos, arma, tecnologia e desenvolvendo mitos, crenças e comportamentos, gerando

conhecimento e cultura. Muito do que se sabe hoje, sobre culturas pré-históricas e antigas, foi

reconhecido através das edificações, dos objetos e dos vestígios deixados por essas culturas.

Com o rápido desenvolvimento tecnológico e as consequentes transformações sócio-

econômicas e ambientais demandam, cada vez mais, o registro e a documentação dos

processos de mudança da realidade cotidiana e a preservação das referências e valores

culturais dos diferentes grupos sociais.

É na seleção, aquisição, conservação e divulgação de referências culturais, que

entra o Museu, enquanto local direcionado a preservação da memória cultural de uma

sociedade. Assim, pode-se afirmar que:

Os primeiros museus, concebidos e criados pelos poderosos da época

(colecionadores, grande senhores e soberanos), tinham a mesma inspiração: reunir o

maior número possível de objetos e obras raras, curiosas, ricas e memoráveis e, por

intermédio destes, reafirmar seu poder. Criado pelos reis da França, para deleite dos

nobres da corte, o Louvre foi a primeira instituição designada como Museu (MACHADO, 1998 apud QUINTELA, 2010, [n.p.]) .

Durante muito tempo os museus voltaram-se, quase que exclusivamente, para a

preservação do passado, dos interesses e da memória das classes dominantes. Contudo,

atualmente, os museus tiveram seu conceito modificado. Inicialmente o conceito foi elaborado

na década de 1970 pelo ICOM – Conselho Internacional de Museus – organismo ligado à

Unesco, que trata dos Museus:

O museu é uma instituição permanente, aberta ao público, sem fins lucrativos, a

serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, que adquire, conserva, pesquisa, expõe e

divulga as evidências materiais e os bens representativos do homem e da natureza, com a

30

Administradora e professora da Faculdade Estácio de Sergipe-Estácio FaSe.

29

finalidade de promover o conhecimento, a educação e o lazer, conforme os Estatutos do

ICOM, art.3 §1(MIRABILE, 2010, p.1).

Um museu não é um depósito, uma coisa morta, um repositório de memórias

inúteis. Tem que ser algo vivo, capaz de reproduzir com a maior fidelidade possível, além dos

objetos expostos, a atmosfera, o clima em que eles se inseriam. Um museu deve ser uma

recriação. No caso, uma recriação de momentos do nosso povo no que tange à religiosidade.

No Brasil,

existem cerca de 1.300 instituições museológicas que apresentam uma grande

diversidade: são museus de caráter nacional, regional e comunitário, públicos e

particulares, históricos, artístico, antropológicos e etnográficos, científicos,

tecnológicos, e com museus, museus de tudo e de todos (FRIZZO; ERMEL, [s.d.],

[n.p.]).

2 MUSEUS: TURISMO CULTURAL E CULTURA POPULAR

Os museus nasceram há cinco séculos, sob a forma privada de galerias e de

gabinetes de curiosidades, constituindo-se de início como um utensílio didático exibindo

elementos de conhecimento, conservados para ajudar ao bom funcionamento da memória

(DESVALLÉS, 2003).

O turismo é um feito social, humano, econômico e cultural irreversível. Sua

influência no campo dos monumentos e sítios é particularmente importante e só pode

aumentar dados os conhecidos fatores de desenvolvimento de tal atividade. Segundo consta:

O turismo cultural é aquela forma de turismo que tem por objetivo, entre outros fins,

o conhecimento de monumentos e sítios histórico-artísticos. Exercem um efeito

realmente positivo sobre estes tanto quando contribui – para satisfazer seus próprios

fins – a sua manutenção e proteção. Esta forma de turismo justifica, de fato, os

esforços que tal manutenção e proteção exigem da comunidade humana, devido aos

benefícios sócio-culturais e econômicos que comporta para toda a população

implicada (CARTA..., 2001, [n.p.]).

O turismo está entre as atividades econômicas que mais cresceram desde o final

de Segunda Guerra Mundial. O turismo, nos anos 90 do século XX, segundo a World Trade

Organization (2001, [n.p.]), “foi um mercado que movimentou em nível mundial cerca de

US$3,5 trilhões, representando 5,5% do PIB mundial e empregando mais de 130 milhões de

pessoas em atividades direta ou indiretamente ligadas ao turismo visando atender a um fluxo

médio de 600 milhões de turista que circulam pelo mundo anualmente.” A exemplo disso,

podemos destacar o museu de São Cristóvão como ponto de referência para visitação de obras

de arte sacras.

Primeira capital provincial do Estado, fundada por Cristovão de Barros, em 1º de

Janeiro de 1590, São Cristovão preserva um inimaginável patrimônio de arte sacra. O museu

instalado na Igreja e Convento de São Francisco é considerado o terceiro mais importante do

Brasil em número e qualidade de peças expostas.

Tombada pelo patrimônio histórico nacional desde 1939, São Cristovão

desenvolveu-se segundo o modelo urbano português, em dois planos: cidade alta, com sede

do poder civil e religioso; e cidade baixa, com o porto, fábricas e população de baixa renda. O

casario guarda nas fachadas e nos telhados a divisão social do Brasil Colônia, com os telhados

representando cada grupo de poder. Os “tribeiras”, os “beiras” e os “ eiras” indicavam aos

passantes quem ali morava. Se fossem (era) rico ou pobre, poderoso ou não. (SÃO

CRISTOVÃO, 2010, [n.p.]; ENSETUR, 2004, [n.p.]).

30

A maioria dos monumentos de São Cristovão está concentrada na Praça de São

Francisco, centro histórico da cidade. Entre as construções, destaca-se a Santa Casa da

misericórdia, belo conjunto barroco. Construído no século XVII, a Igreja e o Convento São

Francisco, datado de1693, local em que funciona o Museu de Arte Sacra.

Na cidade há também o Museu Histórico, instalado no antigo palácio província.

Entre as construções que também merecem uma visita, estão as igrejas de Nossa Senhora da

Vitória e de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, o Mosteiros de São Bento e o

Convento da Ordem Terceira do Carmo. Além dos sobrados, entre os quais o da antiga cadeia

pública, o da rua das flores e da Castro Alves e o Sobrado de Balcão Corrido, com forte

influência mourisca, provavelmente do século XIX (SÃO CRISTOVÃO, 2010, [n.p.];

EMSETUR, 2004, [n.p.]).

São Cristovão é a quarta cidade mais antiga do país e foi a primeira capital de

Sergipe. Cidade tombada pelo patrimônio histórico nacional desde 1939, foi fundada por

Cristóvão de Barros, no dia 1º de Janeiro de 1590.

A capela de São Cristovão com a belíssima linha arquitetônica, cujo teto é

decorado com pinturas atribuídas a um discípulo de José Teófilo de Jesus, um dos maiores

pintores sacros da época. As peças restauradas do museu são grande de importância histórica

e artística, que compõe a vasta e selecionada coleção do museu.

Há objetos que se distinguem pela alta qualidade artística, outros pelo sentido

histórico ou pela riqueza do material empregado em sua confecção como ouro, a prata e

pedras preciosas.

Cabe destacar nesse momento que, a cultura tradicional e popular é o conjunto de

criação que emana de uma comunidade cultural fundada na tradição, expressa por um grupo

ou por indivíduos que reconhecidamente respondem às expectativas da comunidade enquanto

expressão de sua identidade cultural e social; às normas e aos valores transmitidos oralmente,

por imitação ou de outras maneiras. Suas formas compreendem, entre outras, a língua, a

literatura, a música, a dança, os jogos, a mitologia, os rituais, os costumes, o artesanato, a

arquitetura e outras artes. (CARTA..., 2001) Por isso, ressaltamos a ideia de que devemos

preservar os museus, mantendo sempre acesa a cultura tradicional popular existente entre as

comunidades locais.

3 CONSERVAÇÃO DA CULTURA TRADICIONAL E POPULAR

A conservação refere-se à documentação relativa às tradições vinculadas à cultura

tradicional e popular, e seu objetivo, no caso da não utilização ou de evolução destas

tradições, consiste em que os pesquisadores e os detentores da tradição possam dispor de

dados que lhes permitam compreender o processo de modificação da tradição.

Ainda que a cultura tradicional e popular viva, dado seu caráter evolutivo, nem

sempre permite uma proteção direta à cultura que foi objeto de fixação devendo ser protegida

com eficácia.

É necessário que criassem museus ou seções de cultura tradicional e popular

privilegiando as formas de apresentar as culturas tradicionais e populares que realçam os

testemunhos vivos ou passados (localizações históricas, modos de vida, saberes matérias ou

imaterias); que harmonizem os métodos de cópia e arquivo; proporcionando a

recompiladores, arquivistas, documentalistas e outros especialistas na conservação da cultura

tradicional e popular, uma formação que abranja desde a conservação física até o trabalho

analítico; fornecimento de meios para preparar cópias de segurança e de trabalho de todos os

31

materiais da cultura tradicional e popular, e cópias para as instituições regionais, garantindo

assim à comunidade cultural o acesso aos materiais recompilados.

A conservação refere-se à proteção das tradições vinculadas à cultura tradicional e

popular e de seus portadores, segundo o entendimento de que cada povo tem direitos sobre

sua cultura e de que sua adesão a essa cultura pode perder o vigor sob a influência da cultura

industrializada difundida pelos meios de comunicação de massa. Por isso, é necessário adotar

medidas para garantir o estado e o apoio econômico das tradições vinculadas à cultura

tradicional e popular, tanto no interior das comunidades que as produzem quanto fora delas.

A cultura tradicional e popular, na medida em que se traduz em manifestações da

criatividade intelectual ou coletiva, merece proteção análoga à que se outorga as outras

produções intelectuais. Uma proteção deste tipo é indispensável para desenvolver, manter e

difundir em larga escala este patrimônio, tanto no país como no exterior, sem atentar contra

interesses legítimos.

4 PATRIMÔNIO HISTÓRICO: CONSTRUÇÃO DO CONCEITO A PARTIR DA

NOÇÃO DE PRESERVAÇÃO DE MONUMENTOS

Ultimamente, os jornais, as revistas e a própria televisão enfatizam um assunto até

há pouco sem interesse maior para o povo, tema ligado à construções antigas e a seus

pertences, representativos de gerações passadas e que englobadamente recebe o nome de

“Patrimônio Histórico” (LEMOS, 2000, p.7).

O Patrimônio Histórico ou Cultural de uma sociedade ou de uma região é bastante

diversificado, sofrendo alterações. Nunca houve ao longo de toda a história da humanidade

critérios e interesses permanentes voltados para a preservação.Assim, preservar não é só

guardar uma coisa, um objeto, uma construção. Preservar também é gravar depoimentos, sons,

músicas populares e eruditas. Preservar é manter vivos, mesmo que alterados, usos e costumes

populares. (LEMOS, 2000, p.29).

Devemos, então, garantir a compreensão de nossa memória social preservando o

que for significativo dentro de nosso vasto repertório de elementos componentes do

patrimônio cultural. Essa justificativa do “por que preservar”. Mas, a quem interessa essa

preservação? Tudo indica que hoje em dia preserva-se, em atendimento às exigências do

turismo, a grande industria moderna, que maneja quantias incríveis enquanto vai forjando nos

sítios visitados imagens, às vezes ressuscitadas, aptas a estar sempre despertando a

curiosidade dos viajantes ávidos de novidades.

O turismo nasceu em volta de bens culturais paisagísticos e arquitetônicos

preservados, e hoje, cada vez mais vai exigindo a criação de cenários, de exotimos,

provocando quadros artificiais, inclusive. (LEMOS, 2000, p.30). Pelo visto, nenhum país

pode se vangloriar de possuir preservado o seu patrimônio cultural, representado de modo

condigno por acervos museológicos, arquivos, mostruários, construções e urbanizações

participes de ecomuseus que sejam realmente representações corretas de todo o seu

desenvolvimento cultural.

Pensar a preservação na esfera globo pode significar perder o sentido das

limitações nacionais, regionais e locais. Contudo, conhecer as correspondências entre as

decisões internas e as diretrizes indicadas pelas organizações internacionais torna-se

importante para a percepção do processo de formação dos conceitos preservacionistas.

Durante muito tempo a comunidade científica e a ingerência das esferas públicas

têm sido cegas em acreditar que a preservação depende única e exclusivamente dos avanços

laboratoriais, das ciências exatas – como a química, a física ou biologia – e dos equipamentos

32

sofisticados. Nada é possível sem a consciência do sentido da preservação; sem a educação;

sem o debate amplo e sincero sobre nossos limites e possibilidades e, principalmente, sem o

envolvimento da sociedade (FRONER, [s.d.], [n.p.]).

A preservação, a exposição, a pesquisa ou o restauro de bens culturais não devem

ser feitos apenas para o deleite, o exercício criativo e investigativo ou a afirmação do ego de

cientistas e homens cultos. Via de regra, é a sociedade civil que paga este trabalho e ela

deveria ser a primeira a se beneficiar com a preservação de seus bens. Assim, é fundamental

compreender que o sentido da preservação perpassa questões profundas, subordinadas aos

conceitos de valor, poder político e econômico. No entanto, a ordem primeira que orienta os

debates institucionais é o princípio ético sob o qual estão sedimentadas a origem, as bases e as

intenções ou os fins a que se propõem essas instituições: são os regimentos internos, as cartas

de intenções, os códigos éticos que conformam os princípios balizadores que norteiam as

ações preservacionistas. O conceito moderno

de Conservação e Restauro provém da reunião de 1930 acima citada, quando

intelectuais, cientistas e agentes governamentais compreendem o perigo das

intervenções inadequadas e da necessidade de critérios mais rígidos, dado o

montante de restaurações nos anos após a I Guerra. Por sua vez, finda a Segunda

Guerra Mundial, a Organização das nações Unidas foi criada como um instrumento

organizacional para a busca da paz; dentro da ONU, a UNESCO – United Nations

Educational, Scientific and cultural Organzation (Organização das Nações Unidas

para Educação, a Ciência e a Cultura) – foi fundada com intuito de ampliar o

conhecimento entre as nações, baseado no respeito às culturas e ao modo de vida de

cada povo. Dentre as ações propostas pela UNESCO, as nações de preservação do

patrimônio cultural e natural fazem parte das políticas fundamentais do órgão.

Assim, os conceitos que envolvem a preservação do patrimônio artístico perpassam

pela construção de um discurso que adquiriu força e coesão no decorrer do século

XX a partir de iniciativas da UNESCO, com a criação de órgãos como o ICOMOS,

o ICOM e o ICCROM (FRONER, [s.d.], [n.p.]).

Pensando nessa especificidade, podemos observar, através dos documentos

elaborados pela UNESCO e incorporados pelas comunidades científicas como um todo, as

diretrizes tomadas em relação ao Patrimônio Histórico: Monumentos. Perceber sua inserção

na noção de patrimônio cultural não é suprimir o valor daquelas que são consideradas obras

únicas, mas ampliar o valor social da obra de arte à sua existência histórica e cultural.

5 CONCLUSÃO

Convém salientar que um museu é uma reunião de elementos e de bens culturais

interrelacionados, dispostos de variadas maneiras, em diversos lugares apropriados à visitação

de modo que possa apreender todo o seu processo evolutivo cultural.

É preciso, então, que haja uma maior conscientização tanto por parte do governo

quanto dos órgãos no que concerne a preservação dos bens públicos. Nem só de cidades e

monumentos é formado o patrimônio histórico: quadros, livros ou mesmo fotografias que

documentam a memória e os costumes de uma época também fazem parte do acervo cultural e

artístico. Devem ser preservados, não importa a forma, se através de coleções particulares, do

mercado de arte ou de proteção de entidades governamentais.

Devemos, portanto, garantir a compreensão de nossa memória social, preservando

o que for significativo dentro de nosso vasto repertório de elementos do patrimônio cultural.

O necessário é conservar, já que o que não é patrimônio histórico desaparece com o tempo.

33

THE IMPORTANCE OF MUSEUMS AND THEIR PRESERVATION FOR THE

CULTURAL TOURISM

ABSTRACT

This article Will be based on a bibliographical research as well as in a field research

accomplished in São Cristovão‟s Museum, where it will show the importance of the

preservation and conservation of the museums and monuments refered to the protectionof the

traditions linked to the cultural tourism. Thus, it is fundamental to understand the value of a

historical and cultural existence.

Keywords:Museums. Preservation. Tourism cultural. Popular cultura. Historical patrimony.

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34

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20.05. 2001.

35

A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE REPRODUÇÃO DO SER SOCIAL

Rosilene Pimentel Santos Rangel31

RESUMO

O presente estudo tem como objeto refletir sobre a educação, considerada ontologicamente

como um complexo do ser social que age na formação dos sujeitos. O complexo da educação

é compreendido intimamente relacionado ao processo de reprodução sócio-humano,

integrando o conjunto das posições teleológicas derivadas do trabalho e produzidas pelos

homens para a continuidade do ser social. O texto procura mostrar como a educação se situa

na sociedade capitalista e de que forma ela vem respondendo ao novo patamar tecnológico

com imposição de novas exigências à formação dos indivíduos.

Palavras-chave: Educação. Ontologia. Reprodução social. Ser social.

1 INTRODUÇÃO

A direção que orienta esta primeira aproximação ao problema da educação em

sentido ontológico está fundamentada na Ontologia do Ser Social 32

, conforme pensada pelo

filósofo húngaro Georg Lukács. Este autor concebe o ser social e seu processo de reprodução

a partir do trabalho como categoria fundante do mundo dos homens. Nessa perspectiva, a

exposição apresenta o trabalho como o momento central da gênese ontológica do ser social,

significando que ele como posição teleológica primária funda outras posições teleológicas,

entre as quais o complexo da educação, como momento integrante da reprodução social.

No processo de investigação sobre educação, tomou-se inicialmente por referência

um universo categorial que ontologicamente compreende a totalidade social como complexo

de complexos, de modo que a educação emerge no interior de tal complexo compondo o

mundo dos homens como totalidade dinâmica e contraditória. Utilizou-se a pesquisa

bibliográfica e a análise imanente de texto. Entende-se por análise imanente o procedimento

no qual o texto se converte em campo de investigação do pesquisador, tornando-se o palco de

experiências que permitem a explicitação e a demonstração de conceitos nas suas inter-

relações teóricas internas.

No percurso da análise, tomando por base o ser social como “um complexo de

complexos” de caráter histórico e dinâmico, estabelece-se o ponto de partida para analisar a

reprodução do homem na sociedade, compreendendo que o ser social é composto de inúmeros

complexos inter-relacionados entre si, em contínuo movimento, no qual os momentos sociais

se sobrepõem aos momentos naturais. Nessa perspectiva, com apoio na visão de Lukács, a

reprodução é uma categoria do ser relativa às esferas orgânica e social, pois, originalmente,

31

Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe e professora da Faculdade Estácio de Sergipe –

Estácio FaSe. [email protected] 32

Para a Ontologia do Ser Social não foi publicada integralmente em Português. Há uma tradução do capítulo VI

da primeira parte da obra feita por Carlos Nelson Coutinho. Partes da obra têm traduções para o português não

publicadas. A versão italiana é Per l‟ontologia dell‟essere sociale, trad. de Alberto Scarponi, Roma: Riuniti,

1981. Usaremos aqui traduções de alguns capítulos da obra por Sergio Lessa e Ivo Tonet, porém a numeração

das citações corresponderá à versão da obra em italiano.

36

ela está associada à própria reprodução biológica. Entretanto, a reprodução social é

essencialmente diferente da reprodução biológica, posto que se caracteriza pela incessante

produção de coisas novas.

O processo de reprodução social tem por base o trabalho, que se configura como

um momento central na gênese ontológica do ser social, uma posição teleológica que pertence

exclusivamente ao homem e que é realizado em resposta a suas necessidades.

Por ser uma atividade fundante, o trabalho funda todas as outras posições, ou seja,

ele é uma posição teleológica primária que gera a partir dele uma cadeia de complexos

denominados de posições teleológicas secundárias. Um aspecto que precisa ser levado em

consideração é que estas posições ao acompanharem o desenvolvimento das forças produtivas

estabelecem novos comportamentos sociais, que incidem sobre a totalidade social, colocando

o homem diante de situações nas quais necessita propor alternativas que servirão como

elementos de continuidade da sua reprodução e da sociedade.

Estreitamente ligada a esta questão Lukács destaca o complexo da educação,

estabelecendo a distinção entre a educação dos animais como processo espontâneo para

assegurar sua reprodução natural e a educação dos homens como parte do processo de

reprodução social. Assim, o filósofo húngaro nos alerta para o fato de que a diferença que

marca o comportamento das espécies animais e do homem é o trabalho, e com ele uma

consciência que já não é mais um epifenômeno como nos animais. Uma vez que com o

trabalho se dá o “salto ontológico” para uma nova esfera do ser – o ser social.

2 A REPRODUÇÃO DO HOMEM NA SOCIEDADE

O ser social, na concepção do filósofo húngaro George Lukács (1981, p.177), é um

complexo de complexos de caráter histórico e dinâmico que,

só existe na sua ininterrupta reprodução, a sua substância enquanto ser está sempre

em transformação e consiste precisamente nisto: a mudança incessante no curso da

reprodução produz continuamente os traços substanciais específicos do ser social,

numa escala quantitativa e qualitativa cada vez mais ampla.

Isto é, o ser social é composto de inúmeros complexos inter-relacionados entre si,

em contínuo movimento, no qual os momentos sociais se sobrepõem aos momentos naturais.

Embora evolua continuamente na medida em que os momentos sociais se sobrepõem aos

naturais, o caráter natural do homem não pode ser inteiramente abolido, mas este se afasta da

simples naturalidade e se torna mais e mais social em decorrência do seu desenvolvimento

como um todo.

A reprodução social é um processo que compreende dois momentos

indissociáveis, a individuação e a sociabilidade, com uma dinâmica própria de

desenvolvimento não encontrada anteriormente na natureza. A distinção entre o homem e

outros seres naturais com relação ao processo reprodutivo começa a ser feita quando Lukács

(1981, p.135) afirma que,

enquanto na vida orgânica as tendências para preservar a si e a espécie são

reproduções em sentido estrito, específico, ou seja, são reproduções daquele

processo vital que perfaz a existência biológica de um ser vivo, enquanto, portanto,

neste caso só mudanças radicais do ambiente provocam, via de regra, uma

transposição radical destes processos, no ser social a reprodução implica, por

princípio, mudanças internas e externas.

37

No decurso dessas mudanças, a reprodução na perspectiva lukacsiana é uma

categoria do ser relativa às esferas orgânica e social. Isto acontece porque, originalmente, ela

está associada à própria reprodução biológica. Outro ponto importante é que, o trabalho é

considerado a “base ontológica do ser social, em sua justa posição na síntese da totalidade

social, na relação recíproca daqueles complexos de cujas ações e reações esta emerge e tem

força”, pois o trabalho “tem um significado fundante para a especificidade do ser social, do

qual funda todas as determinações”. Além disso, “todo o fenômeno social pressupõe, direta ou

indiretamente, às vezes muito indiretamente, o trabalho, com todas as suas consequências

ontológicas” (LUKÁCS 1981, p.135).

Essa caracterização do trabalho como momento central da gênese ontológica do

ser social e, portanto, uma posição teleológica que pertence exclusivamente ao homem, foi

apontado por Marx (1988, p. 142-43) ao enfatizar que,

uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha

mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o

que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o

favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho

obtém-se um resultado que já no início deste existiu na cabeça do trabalhador, e,

portanto, idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria

natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que

determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem que

subordinar a sua vontade. E essa subordinação não é um ato isolado. Além do

esforço dos órgãos que trabalham, é exigida a vontade orientada a um fim, que se

manifesta como atenção durante todo o tempo de trabalho, e isso tanto mais quanto

menos esse trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução,

atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele o aproveita como jogo de suas

próprias forças físicas e espirituais.

Para Lukács, é nesse momento em que Marx indica o trabalho como categoria

ontológica central, como modelo de toda práxis social, ressaltando que todo trabalho é uma

atividade que se destina a um fim previamente idealizado. E nesse momento específico,

somente o homem é capaz de conscientemente determinar os meios e os objetos necessários

para que seu trabalho se realize, reafirmando que na gênese de toda ação humana existe

sempre a orientação para um fim específico, e a partir dessa determinação primeira são

definidos ou selecionados os meios para efetivar a ação pretendida.

Lukács (1981, p.49) reflete sobre a dupla função que a busca dos meios representa

durante o processo de trabalho, por um lado evidenciando “aquilo que governa os objetos em

questão independentemente de toda consciência”; e do outro lado, descobrindo “neles aquelas

novas conexões, aquelas novas possíveis funções que, quando postas em movimento, tornam

efetivável o fim teologicamente posto”. No processo de trabalho, a objetividade é

reorganizada sob novas formas e relações, transformando-se em objetivações. Neste sentido,

por meio do trabalho o homem tem a possibilidade de agregar novas propriedades a estes

objetos e, dessa forma, conferir a eles novas funções, novos modos de atuar. No entanto,

Lukács (1981, p.27) nos diz que,

isto só pode acontecer no interior do caráter ontológico insuprimível das leis da

natureza, a única mudança das categorias naturais só pode consistir no fato de que

estas – em sentido ontológico – tornam-se postas; o seu caráter de ser-postas é a

mediação da sua subordinação à determinante posição teleológica, mediante a qual,

ao mesmo tempo em que se realiza um entrelaçamento, posto, de causalidade e

teleologia, se tem um objeto, um processo, etc., unitariamente homogêneo. Natureza

e trabalho, meio e fim, chegam desse modo, a algo que é em si homogêneo: o

processo de trabalho e, por fim, o produto do trabalho.

38

Por intermédio dessa reflexão, Lukács suscita alguns pontos interessantes a

respeito do duplo caráter da posição do fim no processo de trabalho. Insiste o autor que, esta

posição mesmo tendo sua origem a partir de uma necessidade social, ela também requer a

satisfação dessa necessidade, mesmo reconhecendo que, “a simples subordinação dos meios

ao fim” não seja “tão simples como parece à primeira vista”. E por esse motivo, ele alerta

para o fato de que a “finalidade torna-se realidade ou não dependendo de que, na busca dos

meios, se tenha conseguido transformar a causalidade natural em uma causalidade

(ontologicamente) posta” (LUKÁCS, 1981, p.28).

Portanto, ao nascer de uma necessidade humano-social, a finalidade, na

perspectiva lukacsiana, necessita para que seja uma “verdadeira posição de fim” que,

a busca dos meios, isto é, o conhecimento da natureza, tenha chegado a um certo

nível adequado; quando tal nível ainda não foi alcançado, a finalidade permanece

um mero projeto utópico, uma espécie de sonho, como, por exemplo, o sonho de

Icaro até Leonardo, e até um bom tempo depois. Em suma, o ponto no qual o

trabalho se liga ao pensamento científico e ao seu desenvolvimento é do ponto de

vista da ontologia do ser social, exatamente aquele campo designado por nós como

busca dos meios (LUKÁCS, 1981, p.29-28).

Conforme exposto, percebe-se que, os meios utilizados no mais simples processo

de trabalho serão sempre determinados e regulados pela posição do fim. Em função disso, o

homem determinará os meios para atingir um determinado fim sempre em consonância com o

conhecimento que possui sobre eles. E nesse intercâmbio orgânico, nesse processo entre o

homem e a natureza já apontado por Marx em O capital, o momento social é o momento

predominante.

3 POSIÇÕES TELEOLÓGICAS SECUNDÁRIAS E EDUCAÇÃO

Em termos ontológicos, no ato do trabalho surgem os elementos que tornam o

homem um ser social. Este ato teleológico primário, portanto, constitui-se na gênese

ontológica deste ser, fundando a partir dele uma cadeia de complexos denominados de

posições teleológicas secundárias. Tais posições, segundo Lukács (1981, p.56), “estão muito

mais próximas da práxis social dos estágios mais evoluídos do que o próprio trabalho”.

Diante dessa constatação, o filósofo nos leva a refletir sobre as teleologias secundárias como

posições que têm sua origem nas necessidades apresentadas no plano da vida real.

O processo de educação do ser social, no sentido mais lato possível, é infinito, ou

seja, ele é contínuo e somente é interrompido quando morremos. Portanto, o convívio em

sociedade nos impulsiona a aprendermos sempre algo novo e assim a educação assume seu

sentido lato, mais amplo. Lukács ainda menciona o sentido estrito da educação, representado

pelas escolas, pela educação formal com determinações que abrangem seus conteúdos,

métodos etc., ao mesmo tempo em que corresponde às necessidades sociais dos próprios

membros da sociedade. Sendo assim,

a problemática da educação reenvia à questão sobre a qual ela se funda: a sua

essência consiste em influenciar os homens a fim de que, frente às novas alternativas

da vida, reajam de modo socialmente desejado. Ora, este propósito se realiza sempre

– em parte – e isto contribui para manter a continuidade na transformação da

reprodução do ser social; mas ele a longo prazo fracassa – ainda uma vez, como

sempre, parcialmente - , e isto é o reflexo psíquico não só do fato de que tal

reprodução se realiza de modo desigual, que ela reproduz continuamente

movimentos novos e contraditórios, aos quais nenhuma educação, por mais

prudente, pode preparar suficientemente, mas também do fato que nestes momentos

39

novos se exprime – de tal maneira desigual e contraditória – o progresso objetivo do

ser social no curso de sua reprodução (LUKÁCS, 1981, p.153-54).

Este progresso, por sua vez, corresponde à própria reprodução do ser social,

fazendo com que ele se torne cada vez mais social, colaborando na construção de um ser com

categorias próprias, isto é, sociais. Com efeito, Tonet (2001, p.140) esclarece que “a

autoconstrução do indivíduo como membro do gênero humano é um processo subordinado à

reprodução mais ampla da totalidade social”, e que o pólo norteador desse processo de

autoconstrução não será “o próprio indivíduo nem aqueles que atuam diretamente na

dimensão educativa, mas a concreta totalidade social, cuja matriz é a economia”.

Tal interpretação permite identificar que a questão econômica mantém uma

intrínseca relação com a formação dos indivíduos, pois por intermédio das suas determinações

são traçadas as diretrizes educacionais que permitirão a continuidade do gênero humano.

No curso ontológico do desenvolvimento social, Lukács (1981, p.261) acentua

que,

desde o primeiro trabalho, enquanto gênese da humanização do homem, até as mais

sutis decisões psicológicas e espirituais, o homem constrói o seu mundo externo,

contribui para edificá-lo e para aperfeiçoá-lo e, ao mesmo tempo, com estas mesmas

ações constrói a si mesmo, passando da mera singularidade natural à individualidade

no interior de uma sociedade.

O homem resulta das ações que realiza na sociedade e a forma como ele reage ao

ambiente social possuirá sempre um caráter alternativo, ele reage ao ambiente social fazendo

escolhas entre as alternativas que efetivamente são criadas pela sociedade na qual vive e age.

A partir desta constatação, Lukács menciona a articulação presente na formação de um tipo de

homem para uma determinada sociedade em consonância com as circunstâncias históricas e

sociais que se apresentam.

De fato, a constituição do sujeito é um processo social cuja continuidade é

composta por uma cadeia de decisões alternativas sob duplo aspecto:

Por um lado a educação do homem é dirigida a formar nele uma disponibilidade

para decisões alternativas de um determinado gênero, em que a educação não é

entendida em sentido estrito, como atividade consciente, mas como totalidade das

influências exercidas sobre o novo homem em formação. Por outra parte, a criança

já na sua primeiríssima infância reage a sua educação, neste sentido muito amplo,

também ela com decisões alternativas, pelo que a sua educação, a formação do seu

caráter, é um processo de reações recíprocas que se desenvolve como continuidade

entre estes dois complexos (LUKÁCS, 1981, p.271-72).

Ou seja, Lukács especifica a existência da educação em sentido amplo, não aquele

sentido estrito da educação como atividade consciente, mas o resultado de todas as influências

sobre o homem em formação. Desse modo, a formação do sujeito por meio da educação se dá

mediante a interação entre o indivíduo e o gênero do qual ele faz parte. Em função desta

afirmação, nosso autor destaca o erro que cometemos ao considerar apenas como resultados

da educação os efeitos positivos e esperados para aquele tipo de educação.

Dadas essas condições, as posições teleológicas secundárias, caracterizadas pela

ação de uma consciência sobre outras consciências põem em movimento outras posições a

serem realizadas por outros indivíduos que fazem suas escolhas ante as condições socialmente

existentes. Isso acontece porque, as posições teleológicas secundárias, aquelas típicas da ação

dos homens sobre a consciência de outros homens, somente podem pôr em movimento outras

posições teleológicas, os indivíduos e grupos respondem com atos que dependem das escolhas

que fazem diante das situações conforme também sua própria consciência. Aí reside uma

40

contradição inerente ao processo educativo, não há garantias de que os sujeitos irão se

comportar ou agir exatamente como os grupos ou a sociedade espera deles.

4 MUNDO DO TRABALHO E NOVAS EXIGÊNCIAS À EDUCAÇÃO

O que se evidencia nas escolas, atualmente, é um tipo de preparação que produz

expectativas que o mercado de trabalho satisfaz apenas parcialmente. O que ocorre é que hoje

o mercado de trabalho apresenta certa “versatilidade”, pois as constantes mudanças e

substituições dos postos de trabalho enfatizam cada vez mais que não se pode ocupar um

mesmo cargo por toda uma vida como acontecia antes. Enguita (1989, p.231) ao analisar este

fenômeno diz:

nem a organização do trabalho nem o acesso ao ensino têm se mantido invariantes

no processo de desenvolvimento capitalista. A questão agora é saber se evoluíram

em consonância ou, pelo contrário, tal evolução abriu um fosso entre a educação e o

trabalho. Este parece ser o caso no que concerne às funções cognitivas da escola, à

instrução propriamente dita: a brecha abriu-se ao evoluir em sentido diferente a

qualificação dos postos de trabalho e a qualificação dos trabalhadores.

Nesse contexto, a evolução tecnológica não pode ser desconsiderada. As novas

tecnologias têm colaborado intensamente neste processo de mudança nas concepções de

ensino e aprendizagem, uma vez que elas provocam transformações no cenário educacional

determinando um novo tipo de formação. É claro que existem outros fatores que associados

ao novo padrão tecnológico contribuem para que as mudanças se efetivem: a organização do

trabalho na sociedade capitalista, a crise do capital e as transformações que ela provoca no

mundo do trabalho.

Ainda sobre esse tipo de sociedade, Tonet (2001, p.146) afirma que na sua forma

atual,

sem dúvida interessa à perspectiva do trabalho a apropriação, o mais ampla, sólida e

profunda possível deste patrimônio humano e do que há de mais rico e sólido nele,

por parte de todos os indivíduos [...] Além do mais, esta apropriação é muito

importante como arma de luta ideológica. O mesmo não se pode dizer da perspectiva

do capital. É de sua natureza não apenas limitar o acesso quanto ao número de

pessoas, mas também quanto à qualidade do conteúdo, tendo sempre em vista que o

objetivo último – imposto pela sua própria lógica interna – não é a realização plena

de todos os indivíduos e, pois, do gênero humano, mas a sua própria reprodução.

Com base nessas afirmações, pode-se verificar que o capital regula as ações do

campo educativo em conformidade com o campo produtivo direcionando-as para o seu

próprio desenvolvimento. Dessa maneira, a educação dos indivíduos encontra-se pautada nos

ditames do capital, que a restringe a uma formação tecnológica voltada para atender as

necessidades do mercado de trabalho.

Assim, manter-se em constante processo de aprendizagem passou a ser condição

obrigatória para aqueles que pretendem ingressar no mercado de trabalho ou permanecer nele.

No entanto, apesar dos investimentos em escolarização e aperfeiçoamento, o trabalhador não

possui qualquer garantia de que vai ingressar ou continuar no competitivo mercado de

trabalho. As novas exigências que hoje são impostas à educação direcionam as suas atividades

para o atendimento das demandas mais complexas do setor produtivo.

Essa adequação da educação ao novo padrão neoliberal de desenvolvimento

mundial e nacional é facilmente perceptível na maneira como o Estado reorganiza as leis que

41

regem o sistema educacional brasileiro em todos os níveis de ensino, sobretudo no que se

refere à formação profissional, no sentido de que hoje ela encontra-se voltada,

exclusivamente, para a preparação mecânica dos indivíduos para o trabalho. Diante dessa

reformulação, a educação começou a ser a responsável pelo sucesso ou insucesso dos

indivíduos em face da incorporação e uso eficiente das inovações tecnológicas de base

microeletrônica e de informática.

Outra consideração importante que ganhou espaço a partir dos anos de 1990 foi a

empregabilidade. Conforme Gentili (2002, p.52), o conceito de empregabilidade foi definido

“como o eixo central de um conjunto de políticas supostamente destinadas a diminuir os

riscos sociais do grande tormento deste final de século: o desemprego”.

Nesse ponto cumpre registrar que, este conceito representa para os indivíduos

melhores condições de competição para se obter os poucos empregos disponíveis no mercado

de trabalho, ao mesmo tempo em que reconhece em seu discurso a possibilidade do fracasso,

pois boa parte das “pessoas que, apesar de ter investido no desenvolvimento de suas

capacidades „empregatícias‟, não terão sucesso na disputa pelo emprego e, consequentemente,

acabarão sendo desempregados, empregados em condições precárias”(GENTILI, 2002, p.55)

ou jamais obterão o tão almejado emprego. Logo, evidencia-se que,

o indivíduo é um consumidor de conhecimentos que o habilitam a uma competição

produtiva e eficiente no mercado de trabalho. A possibilidade de obter uma inserção

efetiva no mercado depende da capacidade do indivíduo em “consumir” aqueles

conhecimentos que lhe garantam essa inserção. Assim, o conceito de

empregabilidade se afasta do direito à educação: na sua condição de consumidor o

indivíduo deve ter a liberdade de escolher as opções que melhor o capacitem a

competir (GENTILI, 2002, p.55).

Portanto, a educação quando colocada dentro da lógica competitiva serve como

instância de integração econômica dos indivíduos, mas quando esse papel não é realizado as

outras formas de integração (cultural, política e social) se veem comprometidas, obstruindo o

“desenvolvimento efetivo dos indivíduos e as nações” (GENTILI, 2002, p.55).

Não se ignora aqui a importância que o conhecimento e o domínio das tecnologias

possuem para o desenvolvimento da sociedade contemporânea, pois isto já constitui uma

necessidade básica dos indivíduos. Mas alerta-se para o fato de como essas exigências em

torno da formação profissional desse novo trabalhador vêm sendo realizadas, já que o

incremento tecnológico tem se constituído em mais uma forma de controle do capital,

revelando mais uma nova face da sua crueldade, pois além de ampliar a jornada de trabalho e

de impor ao trabalhador o desempenho de funções cada vez mais complexas, sua polivalência,

sua habilidade em aprender, ele também colabora para a sua completa exaustão ao lhe atribuir

funções que anteriormente eram realizadas por mais de um trabalhador.

Além desses agravantes, observa-se algo extremamente contraditório, o

incremento tecnológico ao mesmo tempo em que estabelece critérios rigorosos na preparação

dos indivíduos para o setor produtivo, reduz os postos de trabalho fazendo com que uma

grande parcela da mão de obra que é lançada no mercado não seja inserida, gerando um misto

de angústia, desespero e sensação de fracasso. Parte dessa mão de obra desloca-se então para

o trabalho informal, sem garantias sociais, por tempo determinado, isto é, sem elementos que

lhe assegurem condições dignas e estáveis de suprir suas necessidades básicas e garantir a sua

sobrevivência.

Ao analisar o impacto da incorrigível lógica do capital sobre a educação,

Mészáros (2005, p.25) reforça a ligação existente entre os processos sociais mais abrangentes

e a educação afirmando que, uma reformulação significativa da educação é inconcebível sem

42

a correspondente transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da

sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança.

Porém, é necessário que o modo de reprodução estabelecido pela sociedade seja

levado em consideração a fim de que sejam evitados “ajustes menores em todos os âmbitos,

incluindo o da educação” (MÉSZÁROS, 2005, p.25). Nesta direção,

as mudanças sob tais limitações, apriorísticas e prejulgadas, são admissíveis apenas

com o único e legítimo objetivo de corrigir algum detalhe defeituoso da ordem

estabelecida, de forma que sejam mantidas intactas as determinações estruturais

fundamentais da sociedade como um todo, em conformidade com as exigências

inalteráveis da lógica global de um determinado sistema de reprodução. Podem-se

ajustar as formas pelas quais uma multiplicidade de interesses particulares

conflitantes se deve conformar com a regra geral preestabelecida da reprodução da

sociedade, mas de forma nenhuma pode-se alterar a própria regra geral

(MÉSZÁROS, 2005, p.25-26).

Mészáros (2005, p.27), ao considerar que as determinações fundamentais do

capital são irreformáveis, conduz a uma reflexão sobre as reformas educacionais alertando

para o fato de elas serem conciliadas com o ponto de vista do capital. Portanto, na visão do

autor, “limitar uma mudança educacional radical às margens corretivas interesseiras do capital

significa abandonar de uma só vez, conscientemente ou não, o objetivo de uma transformação

social qualitativa”. Porque “é necessário romper com a lógica do capital se quisermos

contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente”.

Sendo assim, no contexto atual da crise estrutural do capital, as exigências do

sistema produtivo recaem no sistema educacional reformulando e direcionando as suas ações

no intuito de colaborar na formação de um novo tipo de trabalhador, atendendo assim as

novas demandas do mercado de trabalho. Nessa perspectiva, a escola atualmente tem sua base

de funcionamento dentro de padrões semelhantes aos de uma empresa, enfatizando ainda mais

a sua função de formar o cidadão produtivo para o exercício profissional.

O que se depreende desse tipo de estrutura educacional é que por um lado ela

favorece uma maneira peculiar de se administrar o saber e, consequentemente, de se apropriar

do conhecimento condizente com a realidade, mas por outro lado o domínio estipulado do

saber esconde a face perversa do capital de conseguir sempre se apropriar de mecanismos

eficazes de controlar a sociedade e reproduzir seu sistema.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No tipo de sociabilidade, regida pelo capital e voltada para a sua reprodução, a

exploração do homem pelo homem é subsidiada pela educação. Isto acontece porque é através

do âmbito educativo que o capital encontra os elementos necessários para reproduzir as

desigualdades sociais. Sendo assim, os possíveis resultados da educação passam a ser

mediados pela sua capacidade, ou não, de preparar os indivíduos para os desafios

contemporâneos frente ao desenvolvimento tecnológico e às novas exigências postas pelas

transformações sociais em curso.

A formação educacional encontra-se bastante direcionada para o hoje, o agora, o

que leva a refletir que dentro da constante reestruturação do trabalho, a maior parte da

atividade educativa está condicionada às mutações no interior do mundo do trabalho

demandadas pelo setor produtivo. Como estas mutações são cada vez mais complexas,

inquieta o fato de que essa educação esteja contribuindo para o agravamento das expressões

43

da questão social em função do aprofundamento das desigualdades em torno de quem tem ou

não acesso à escolarização, ao emprego e aos benefícios que ele possa oferecer.

No contexto do capitalismo, a educação responde às necessidades que são

gradativamente criadas por um conjunto de aspectos econômicos, sociais e políticos.

Evidentemente, ao procurar suprir estas necessidades o complexo da educação, enquanto

componente da totalidade social, acaba por colaborar com a lógica do capital. Isto acontece

porque nas sociedades regidas pelo modo de produção e acumulação capitalista existe uma

preocupação em estabelecer um processo preparatório que viabilize a inserção dos indivíduos

nas relações sociais de produção, determinando assim novas formas de ensinar e aprender

convergentes com as necessidades de reprodução daquela sociedade. Ao mesmo tempo, as

relações sociais acabam por condicionar os indivíduos a aceitarem as condições determinadas

pelas relações sociais vigentes.

Nessa perspectiva, observa-se como resultado a submissão dos indivíduos às

determinações impostas pelo processo de ensino e aprendizagem, que podem constituir-se em

formas de controle e manipulação das consciências. Essa determinação não pode ser absoluta

porque o processo educativo é contraditório na sua essência, visto que a ação sobre as

consciências, diferentemente do trabalho, que age sobre a objetividade material, põe em

movimento novas posições teleológicas a serem operadas pelos sujeitos do processo

educativo, ou seja, os educandos. Estes tendem a reagir às ações educativas ajustando-se ou

rebelando-se contra elas.

EDUCATION IN THE SOCIAL BEING PROCESS OF REPRODUCTION

ABSTRACT

The object of this study is to reflect on education ontologically considered as a social being

complex that acts in the individuals‟ formation. The educational complex is understanding as

a moment related to the human social reproduction process, composing the set of teleological

positions coming from labour and created by men to the continuation of the social being. The

text tries to show how education is situated in the capitalism society and how it responds to

the new technology level with the imposition of new demands to the individual formation.

Keywords: Education. Ontology. Social reproduction. Social being.

REFERÊNCIAS

ENGUITA, Mariano Fernandez. A face oculta da escola: educação e trabalho no capitalismo.

Porto Alegre: Artesmédicas, 1989.

GENTILI, Pablo. Três teses sobre a relação trabalho e educação. In: José Claudinei Lomberdi,

Demerval Saviani, José Luís Sanfelice (orgs.). Capitalismo, trabalho e educação. Campinas,

SP: Autores Associados, HISTEDBR, 2002. Coleção educação contemporânea.

LUKÁKS, Georg. La riproduzione. Capítulo II do volume II de Per l‟ontologia dell‟essere

sociale. Versão italiana de Alberto Scarponi, a partir de cópia datilográfica da redação em

44

alemão, preparada por Ferenc Bródy e Gábor Révai e revista por G. Lúkacs. Editora Riunit, 1.

ed. Roma: 1981.

MARX, Karl. O capital: crise da economia política. Trad. Regis Barbosa; Flávio R. Kothe. 3.

ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. V. 1.

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. Trad. Isa Tavares. São Paulo:

Boitempo, 2005.

TONET, Ivo. Educação, cidadania e emancipação humana. 2001. 164f. Tese de Doutorado

– Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista - UNESP, Campus de

Marília – São Paulo.

45

A EDUCAÇÃO NA ERA DA INFORMÁTICA: O ENSINO A DISTÂNCIA NOS

CURSOS SUPERIORES

Carmen Regina de Carvalho Pimentel

33

Cleberton Carvalho Soares34

RESUMO

As novas tecnologias de informação e comunicação, notadamente os computadores e

softwares, têm transformado de forma radical a vida de nossa sociedade nos últimos anos. As

novas tecnologias estão trazendo nova visão e novos desafios para os professores nas

universidades, principalmente no que concerne à educação a distância. O ensino está se

transformando e, com ele, a maneira de se ensinar. Os professores, em qualquer curso, seja ele

presencial ou a distância, necessitam está preparados para dirigir vários espaços, e

acompanhar, de forma equilibrada, as inovações tecnológicas para que haja um estímulo à

troca de saberes e aprendizagem. Neste contexto, este artigo tem como objetivo analisar a

educação na era da informática, mostrar como a linguagem audiovisual pode ser utilizada

como ferramenta didática no processo de ensino-aprendizagem, a partir do ensino a distância.

Com essa perspectiva teórico-metodológica, fontes históricas e bibliográficas foram

utilizadas, as quais nos deram subsídios para conduzir o trabalho em evidência. Através deste

estudo chega-se à conclusão que o uso da Internet na educação facilita a interação do

professor com os estudantes, possibilitando-lhe verificar e organizar melhor seu trabalho em

sala de aula, bem como, esclarecer as dúvidas e direcionar os estudantes a pensar e a aprender

a aprender.

Palavras-Chave: Educação. Informática. Ensino a distância.

1 INTRODUÇÃO

A discussão sobre o uso de novas tecnologias no espaço educacional não é

recente, mas tem, nos últimos tempos, assumido contornos mais definidos, em torno das

chamadas novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC35

) (OLIVEIRA, 2005). As

novas tecnologias estão trazendo nova visão, novos desafios para os professores nas

universidades. O ensino está se transformando e com ele a maneira de ensinar. Os professores,

em qualquer curso, seja ele presencial ou a distância, precisam utilizar novas ferramentas para

direcionar seu ensino, principalmente, a distância. Por isso, este artigo surgiu da necessidade

de se discutir a EaD e as novas tecnologias, atreladas ao processo de ensino-aprendizagem

utilizados nos cursos superiores..

No Brasil, com maior intensidade, a partir da década de 1980, o computador

passou a ser uma ferramenta pedagógica importante na educação. A partir de meados da

década seguinte, surge com força o ensino não presencial mediado pelas novas tecnologias. A

partir daí a educação não presencial se intensificou e se tornou uma modalidade de ensino que

transformou a visão de se ensinar. Hoje, percebe-se a importância das Tecnologias da

Informação e Comunicação (TIC), pois, através delas, o ensino a Distância leva um

33

Aluna de Pós-graduação em Docência do Ensino Superior. Faculdade Estácio de Sergipe - ESTÁCIO FaSe. 34

Bacharel em Sistemas de Informação. Especialista em Educação a Distância. Coordenador/Professor da

Faculdade Estácio de Sergipe - ESTÁCIO FaSe. 35

O símbolo NTIC foi usado para identificar Nova Tecnologia da Informação e Comunicação.

46

contingente maior de estudantes às Universidades, ao mesmo tempo que auxilia na inclusão

social.

O ensino a Distância faz parte da realidade brasileira. Vivemos em uma sociedade

de constante aprendizagem. Esta demanda de aprendizagens contínuas e massivas é uma das

características que definem a sociedade atual. Entretanto, não se trata apenas de aprender

muitas coisas, senão de aprender coisas diferentes em um tempo escasso, dado ao grande

volume de informação que devemos processar e a velocidade de mudanças, que nos leva a

necessitar de um aperfeiçoamento constante ao longo de nossas vidas.

Notadamente, com o surgimento muito veloz de novas tecnologias, assistimos a

uma reprise do que já ocorreu incontáveis vezes em relação as “invenções” da humanidade:

sempre que algo surge, alterando padrões estabelecidos, instaura-se uma polêmica,

polarizando, de um lado, os defensores entusiastas que enfatizam os benefícios do invento e,

de outro, os críticos obstinados, que ressaltam os problemas trazidos, como se a

“modernidade” ou “pós-modernidade” apenas pudesse ser, em sua essência, perniciosa.

Voltando a um passado bem remoto, Platão se insurgiu contra a escrita, temendo a

perda de memória, porque o homem passaria a ter um instrumento que “gravaria” suas ideias.

No entanto, foi essa “primeira ferramenta” que permitiu ao homem a transmissão, no tempo e

no espaço, de ideias e de conhecimentos. Por meio dela, a comunicação adquiriu novas

dimensões (geográfica, social e histórica) e, depois dela, outras tantas inovações foram

alterando o modo de vida da humanidade, entre elas, a tecnológica.

Outro fato pessimista, especificamente em relação a tecnologias, remonta ao

início do século XX, com a invenção das primeiras máquinas industriais, na Inglaterra,

quando operários têxteis se mobilizaram para destruí-las temendo a perda de seus empregos,

fenômeno conhecido como “ludismo”. É preciso, assim, considerar que esse sentimento

negativo surge, não do nada, mas do fato de que, realmente, “cada nova invenção tecnológica

vai além do escopo para o qual foi pensada e escancara perspectivas negativas juntamente

com as positivas” (SIMONELLI, 1998, p. 187).

Nesse sentido, Santaella (2007, 2009, [n.p.]) também afirma que vivenciamos, em

pouco mais de um século, cinco revoluções tecnológicas e/ou culturais:

1ª - Revolução Industrial – que marca a relação do homem com as

máquinas.

2ª - Revolução eletro-eletrônica – em que se intensifica a comunicação

em massa, especialmente marcada pelo rádio e TV.

3ª - Cultura das mídias – que marca a transição da cultura de massa para

a cibercultura,com a hegemonia do vídeo cassete, máquina de xerografia e

do controle remoto e suas implicações.

4ª e 5ª - Cibercultura – que é a cultura do computador e das mídias

digitais e Internet, que pode ser desmembrada em dois estágios: a) o

desktop e b) as interfaces para comunicação.

Assim, nosso tempo tem sido marcado por transformações rápidas e significativas

no que tange à relação com a informação e com o outro. A relação com a Internet nos trouxe,

num primeiro instante, outras possibilidades de trabalhar com a informação e com os fluxos

de dados. A relação com a informação, com outras culturas e espaços, nos possibilitou

integrações ainda não vivenciadas, ampliando as formas de relacionamento com o outro, entre

eles temos a aprendizagem colaborativa.

É o que afirmam também, com contundência, Siboldi e Salvo (1998, p.13):

Se é verdade que a manipulação dos símbolos, próprio da linguagem informática ,

não pode deixar de modificar a linguagem e a comunicação humana que atingem

47

um elevado nível de codificação e abstração, é igualmente verdadeiro que resulta

difícil dar como certo que o nosso futuro será dominado tão-só pela realidade e as

imagens intangíveis e ilusória, e que seremos imersos numa evanescência

comunicacional, visionária, e tecida de alucinações, mais ou menos coletivas.

Nesse contexto, cabe lembrar, portanto, o óbvio, como meio de sinalizar a

perspectiva desta análise: as inovações educacionais decorrentes da utilização dos mais

avançados recursos técnicos para a educação (o que inclui as Novas Tecnologias de

Informação e Comunicação NTIC), constituem um fenômeno social que transcende o campo

da educação propriamente dita, para situar-se no nível mais geral do papel da ciência e da

técnica nas sociedades industriais modernas.

Observa-se que, o computador não é a primeira tecnologia a ser introduzida no

ambiente educacional e, como as demais, não será, sozinho, a solução para os problemas da

educação. Com muita propriedade Moran (2000, p.12) afirma que “se ensinar dependesse só

de tecnologias já teríamos achado soluções há muito tempo”. Não se trata aqui de minimizar

sua importância e sim de compreender que “ensinar e aprender são desafios que enfrentamos

em todas as épocas, em especial neste novo modelo de gestão que enfatiza a informação e o

conhecimento” (MORAN, 2000, p. 12) .

De maneira mais ampla, um olhar atento logo revela que as alterações ocorrem em

todos os cenários da educação: há consequências em termos de processo de aprendizagem, de

perfil do professor, de expectativas em relação ao aluno. Para o docente que vê na tecnologia

uma forma de qualificar melhor suas práticas pedagógicas, é fundamental enxergar a realidade

que se apresenta, bem como, observar as mudanças e tentar inseri-las no seu dia-a-dia, sem

atropelos nem medos.

Nesse processo de aprendizagem, assim como no ensino regular, o professor ou o

tutor da aprendizagem atua como "mediador", isto é, aquele que estabelece uma rede de

comunicação e aprendizagem multidirecional, através de diferentes meios e recursos da

tecnologia da comunicação, não podendo assim se desvincular do sistema educacional e

deixar de cumprir funções pedagógicas no que se refere à construção da ambiência de

aprendizagem. Essa mediação tem a tarefa adicional de vencer a distância física entre

educador e o educando, que deverá ser auto-disciplinado e auto-motivado para que possa

superar os desafios e as dificuldades que surgirem durante o processo de ensino-

aprendizagem.

No entanto, quando pensamos no ensino a distância e nas implicações que este

pode ter no processo ensino-aprendizagem, nos confrontamos com uma série de dúvidas, mas

também adquirimos algumas certezas. Uma é que o aproveitamento otimizado destas novas

tecnologias implica uma mudança drástica na nossa forma de ensinar e aprender (SILVA,

1997). O uso dessas novas tecnologias integra novos saberes à prática educacional,

proporcionando ao professor uma maior capacidade crítica de sua ação pedagógica e um leque

maior de possibilidades na busca pelo interesse de seus alunos. Com este olhar, este artigo

tem como objetivo analisar a educação na era da informática, mostrar como a linguagem

audiovisual pode ser utilizada como ferramenta didática no processo de ensino-aprendizagem

do ensino a distância. Para isso, apresentou-se os conceitos de ensino a distância, para um

maior entendimento do referido estudo, bem como, em um segundo momento desenvolveu-se

o tema: o uso das novas tecnologias no ensino a distância, afim de discorrer sobre o assunto

abordado, sua importância e necessidade no mundo atual; e finalmente as considerações

finais, na qual conclui-se que o ensino a distância propicia uma maior interatividade entre

alunos e professores, bem como, amplia as oportunidades para aqueles alunos que se

encontram distantes, geograficamente, dos centros Universitários ou que se acham

impossibilitados, pelo trabalho, para assistirem aulas presenciais.

48

2 O QUE É ENSINO A DISTÂNCIA?

Diversas são as denominações que encontramos relacionadas a essa modalidade

educacional. Fala-se frequentemente, em Ensino a Distância e Educação a Distância como se

fossem sinônimos, expressando um processo de ensino-aprendizagem. Ensino representa

instrução, socialização de informação, aprendizagem, enquanto Educação é “estratégia básica

de formação humana, aprender a aprender, saber pensar, criar, inovar, construir

conhecimento, participar” (MAROTO, 1995). É nesta segunda opção que se pretende discutir

o significado e as dimensões que abordam a EaD.

A EaD pode ser compreendida como uma modalidade de ensino-aprendizagem

que tem por característica básica a separação física entre professores e alunos e a existência de

algum tipo de tecnologia que possibilita uma interação entre eles. A definição de Moore

complementa este sentido:

Educação a distância pode ser definida como a família de métodos instrucionais nos

quais os comportamentos de ensino são executados em separado dos

comportamentos de aprendizagem, incluindo aqueles que numa situação presencial

seriam desempenhados na presença do aprendiz, de modo que a comunicação entre

o professor e aluno deve ser facilitada por dispositivos impressos, eletrônicos,

mecânicos e outros. (MOORE apud. BELLONI, 1999, p. 24).

Enquanto prática mediatizada, deve ser entendida como um processo lógico de

planejamento, como um modo de pensar os currículos, os métodos, os procedimentos, a

avaliação, os meios, na busca de tornar possível o ato educativo (MAROTO, 1995). Exige-se,

pois, uma organização de apoio institucional e uma mediação pedagógica que garantam as

condições necessárias à efetivação do ato educativo, no ensino a distância.

Para Aretio (1995), a EaD distingue-se da modalidade de ensino presencial, por

ser:

Um sistema tecnológico de comunicação bidirecional que pode ser massivo e que

substitui a interação pessoal na sala de aula entre professor e aluno como meio

preferencial de ensino pela ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos

e o apoio de uma organização e tutoria que propiciam uma aprendizagem

independente e flexível. (ARETIO, 1995, p. 2).

Conforme Nunes (1993-1994), é comum conceituar a educação a distância a

partir de referências da educação convencional desenvolvida com a presença física de

professores e alunos em um mesmo espaço segundo determinada abordagem educacional. A

utilização de determinada tecnologia como suporte a EaD ''não constitui em si uma revolução

metodológica, mas reconfigura o campo do possível'' (Peraya, 2002, p. 49). Assim, pode-se

usar uma tecnologia tanto na tentativa de simular a educação presencial com o uso de uma

nova mídia para criar novas possibilidades de aprendizagem por meio da exploração das

características inerentes às tecnologias empregadas. A Legislação Brasileira define a educação a distância como:

uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de

recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes

suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos

diversos meios de comunicação. (Diário Oficial da União decreto n.º. 2.494, de 10

de fevereiro de 1998).

49

Educação a distância é o processo de ensino-aprendizagem, mediado por

tecnologias, as quasi professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente.

Analisando as diferentes definições de Educação a Distância, verifica-se que cada

uma corresponde a um contexto e/ou a uma instituição. A validade de cada uma depende do

quanto representem o significado de seu trabalho junto aos alunos e à comunidade onde

atuam.

Assim, a EaD apresenta-se como um conjunto de métodos, técnicas e recursos,

postos a disposição de populações estudantis dotadas de um mínimo de maturidade e

motivação, para que neste regime de autoaprendizagem, possam adquirir conhecimentos ou

qualificações em qualquer nível educacional. Enfim, essa modalidade de ensino, cobre

distintas formas de ensino-aprendizagem, em todos os níveis, que não tenha a contínua

participação imediata de professores tutores, mas que, no entanto, se beneficiam do

planejamento, manuais, tutorias e avaliação de uma organização educacional. Caracterizando-

se, portanto, pelo estabelecimento de uma comunicação de múltiplas vias, como uma

modalidade alternativa para superar limites de tempo e espaço.

Embora óbvio, é preciso dizer que nenhum curso, quer presencial ou a distância,

pode haver aprendizagem sem a efetiva participação do aluno. O aluno possui grande

autonomia neste tipo de curso. A flexibilidade é um atrativo a mais para os alunos adultos,

que trabalham e que não se adequam aos horários tradicionais; que precisam de atualização de

conhecimento relativos à sua prática profissional ou que buscam qualificação profissional e

que se encontram geograficamente distantes de instituições de formação tradicional, bem

como, procuram esse tipo de curso por terem uma mensalidade mais acessível, além de

escolherem onde e em que horário desejam estudar, estabelecendo assim o seu próprio ritmo

de estudo, no qual o estudante será o protagonista do ensino-aprendizagem.

No entanto, é também verdade que a flexibilidade pode representar um problema:

exigem do aluno uma maior disciplina e responsabilidade pelo próprio desenvolvimento

educacional. Conforme o perfil, o estudante, acostumado com uma educação em que exerce

um papel passivo, pode encontrar dificuldades na Educação a Distância. Por outro lado, o

aluno também pode se tornar mais ativo, através do desenvolvimento de iniciativa, atitudes,

interesses, valores e hábitos educativos. Cursos a distância, efetivamente, não são para todos

os tipos de indivíduos. Porter (1997, p. 28) pondera:

Os alunos que são independentes e motivados por um interesse em saber mais

sobre um determinado assunto ou em adquirir novas habilidades freqüentemente

apresentarão melhor desempenho em um curso a distância do que um presencial.

Eles podem trabalhar mais rapidamente e obter um progresso maior em um curto

período de tempo.

O resultado a ser conseguido em EaD depende muito da iniciativa individual do

aluno e da sua habilidade de trabalhar por si próprio, com autonomia. Trata-se de um fator até

mais preponderante do que a atuação do professor tutor, embora o sucesso ou não de cada

curso sempre depende de um conjunto de aspectos.

Quanto aos docentes36, na EaD, ao contrário da educação presencial,

desempenham um papel de suporte e orientação da aprendizagem (tutoria). Essa modalidade

educacional demanda processos complexos de concepção, produção e difusão dos cursos,

exigindo dos docentes o desenvolvimento de capacidades administrativas. Estes devem

possuir, portanto:

36

Quando se faz referências a Docentes quer-se dizer tutores.

50

Flexibilidade para enfrentar problemas que podem aparecer durante o curso. Por

exemplo, algumas vezes a tecnologia não funcionará conforme o esperado, assim, o

professor tutor terá que agir e ter flexibilidade para mudar o processo, caso haja

necessidade.

Tempo para elaborar novos materiais e métodos. Os materiais do curso devem ser

desenhados especificamente para a Internet; além disso, os recursos da Internet

alteram-se diariamente e o hardware e software mudam com frequência, o que

requer dos educadores a atualização constante dos materiais37.

Habilidade para aprender novas tecnologias. Constatamos que um curso a distância

pressupõe tempo para elaborar novos materiais e métodos, dado que os materiais de

um curso pela Internet apresentam especificidades o que requer um permanente

aprendizado de novas tecnologias, embora não seja, evidentemente, necessário que

os professores saibam tudo sobre computadores e eletrônica. Vale, também, acentuar

que a EaD supõe uma mudança de mentalidade, por parte dos educadores, nem

sempre fácil, não só pelo preconceito e medo da máquina, mas, sobretudo, pela

concepção de educação como tutela.

Condições de pesquisa a fim de procurar novas informações, uma melhor maneira de

apresentar um conteúdo, bem como, novas metodologias. Por isso, o professor

envolvido neste processo, necessita atuar junto a uma equipe de trabalho em que haja

profissionais que o auxiliem nas tarefas de selecionar todo material a ser utilizado no

curso a distância, bem como, definir as regras de seu uso, procurando atender às

necessidades levantadas para o bom funcionamento do curso, especialmente quanto

aos recursos de interação. Enfim, uma parceria que assegure a qualidade técnica e

didático-pedagógica do curso.

Contudo, integrar as mídias ao processo pedagógico não significa simplesmente

trazer as tecnologias para a sala de aula. É necessário que se ultrapasse o aspecto meramente

instrumental (como usar as tecnologias) para fazer com que elas se tornem ferramentas que

ampliem a capacidades crítica e criativa dos jovens.

Como vemos, várias são as mudanças com que se depara o educador, como formador

que é de cidadãos críticos e atuantes, capazes de agir como transformadores da sociedade e

não como meros reprodutores do já visto e dito. A sala de aula deixa de ser o cenário único de

formação, e os participantes do processo – professor e alunos – perdem a interlocução direta,

face a face e passam a se comunicar via on-line.

Por isso, Lévy (1997) considera o computador e a rede de informações (Internet)

como um terceiro processo de desenvolvimento das “tecnologias intelectuais”, sendo o

primeiro a passagem da oralidade para a utilização da escrita e o segundo momento o advento

da imprensa, dinamizando enormemente a disseminação do conhecimento através da

impressão de livros. Estes momentos denotam modificações históricas nas formas de

apreensão e construção do conhecimento, devido à utilização de processos cognitivos

distintos (linguagem oral, escrita e “simulação” por computador).

Por outro lado, em muitas universidades brasileiras já é possível ter nas

disciplinas presenciais, em paralelo à oferta de cursos a distância, a incorporação de

ferramentas da Internet, como o correio eletrônico para comunicação extraclasse, página da

Web para disponibilizar conteúdos e ambientes virtuais de aprendizagem a fim de estender a

sala de aula além de seus limites físicos. Há quem afirme que a EaD, longe de ser um

37 Os materiais aqui abordados referem-se à matéria de ensino e não aos trabalhos desenvolvidos pelos

técnicos em Computação.

51

apêndice do ensino tradicional, passará a ser, senão a regra, o agente impulsionador de

mudanças (LITTO; FORMIGA, 2009, p. 87).

Com esta perspectiva, a instituição universitária vem assistindo ao movimento de

inserção de tecnologias em seu ambiente sem, de fato, compreender as implicações destas

tecnologias no trabalho de seus profissionais e na própria formação de seus alunos. “Nossa

experiência na área de História mostra ser difícil escrever e compreender a própria época em

que se vive, mesmo porque vivemos em movimentos inacabados” (ANDERSON, 1995).

Segundo Sales (2009), o processo de uso da internet na instrução é um fenômeno

espantoso, sobretudo no ensino superior, frente ao processo de democratização do saber, à

valorização da informação e ao uso das novas tecnologias de informação e comunicação na

sociedade do conhecimento.

Exatamente dentro deste aspecto insere-se nossa pesquisa, pois, antes de aceitar o

novo – representado pelo computador e a Internet – precisamos buscar suas implicações no

cotidiano das universidades em específico no dia a dia do docente. Mercado (1999, p.15)

defende que: “Os professores tutores são facilitadores deste processo educativo, e o trabalho

destes não poderá mais ser concebido isoladamente, mas em conjunto com os colegas e a

partir de proposições mais amplas que extrapolam os limites de uma disciplina ou sala de

aula”.

Esse tipo de aprendizagem não é mais uma alternativa para quem não faz uso da

educação formal, mas se tornou uma modalidade de ensino de qualidade que possibilita a

aprendizagem de um número maior de pessoas. Antes a EaD não tinha credibilidade, era um

assunto polêmico e trazia muitas divergências, mas hoje esse tipo de ensino vem conquistando

o seu espaço. Porém, não é a modalidade de ensino que determina o aprendizado, seja ela

presencial ou a distância, aprendizagem se tornou hoje sinônimo de esforço e dedicação de

cada um.

Deste modo, cabe ao educador fazer escolhas coerentes com relação ao lugar

apropriado e a metodologia de aplicação da tecnologia. Essas escolhas são fundamentais para

que os alunos possam conquistar, gradativamente, o domínio das ferramentas oferecidas pela

informática, tendo a sensibilidade ética e social de que as nossas instituições de ensino

formam a maioria dos "futuros cidadãos" deste país.

3 O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO A DISTÂNCIA

O ensino a distância surgiu da necessidade de transformação do sistema

educacional tradicional em um sistema democrático, no qual as tecnologias sejam utilizadas

para aproximar as diferenças culturais, melhorando as possibilidades de comunicação e

contribuindo para a formação de indivíduos.

Numa sociedade cada vez mais mediatizada, as mudanças ocorridas no processo

econômico, na organização e gestão do trabalho, e no acesso ao mercado de trabalho requer

transformações nos sistemas educacionais que, inevitavelmente, vão assumindo novas funções

e enfrentando novos desafios. Visto que, a sociedade atual requer um novo tipo de indivíduo e

de trabalhador em todos os setores. A ênfase está na necessidade de competências múltiplas,

no trabalho em equipe, na capacidade de aprender e adaptar-se a situações novas. Isto

significa dizer que os sistemas de educação terão necessariamente que expandir sua oferta de

serviços, ampliando e criando novas modalidades de formação continuada para atender esta

demanda.

Assim, surge a EaD. A Educação a Distância é uma modalidade não tradicional,

típica da era industrial e tecnológica, capaz de cobrir distintas formas de ensino-

aprendizagem, dispondo de métodos, técnicas e recursos postos à disposição da sociedade.

52

Contribuindo inestimavelmente para a transformação dos métodos de ensino, bem como para

a utilização adequada das tecnologias de mediatização na educação.

Entretanto, para compreender a questão do Ensino a Distância, é preciso

estabelecer uma relação de comunicação entre as chamadas inovações e os avanços no campo

das tecnologias e da percepção humana: frente ao processo de produção de novos meios,

técnicas e instrumentos que transformam os processos de aprendizagem, da

profissionalização, da autonomia e também da inclusão social. Para isso, é preciso considerar

os contextos, as situações, as encenações, os papéis de cada um nesta caminhada em direção

ao saber. São inevitáveis as mudanças de paradigmas e também de se adaptar a uma nova

postura, por exemplo: de diálogo, de autonomia, seja ela maior ou menor, dependendo do

grau de envolvimento do aluno no processo de ensino-aprendizagem. De hoje em diante,

conhecer a filosofia da proposta de Ensino a Distância é uma maneira eficaz de ultrapassar as

fronteiras sociais e levar o indivíduo a um crescimento contínuo.

Neste contexto, na sociedade da informação, as novas tecnologias vêm a oferecer

à educação um espaço enriquecedor, com os mais variados instrumentos de informação,

possibilitando aos alunos um aprendizado amplo. Segundo Munhoz (2002, p. 49), “as mídias

devem ser utilizadas não como meros instrumentos tecnológicos”. Elas podem servir como

meio de incentivar e despertar o desejo pela pesquisa e participação, tornando o ambiente de

aprendizagem colaborativo. “A educação voltada às novas tecnologias vem a ser uma

educação colaborativa e participativa” (MUNHOZ, 2002), pois os ambientes de redes que os

alunos utilizam para desenvolverem seus conhecimentos fornecerão a eles várias informações

ao mesmo tempo, fazendo com que ocorra uma aprendizagem interativa, autônoma, criativa e

uma construção coletiva do conhecimento. Machado (2004, p. 99), salienta também que: não parece haver dúvidas sobre as imensas possibilidades da tecnologia na sala de

aula. Os recursos para instrumentar a ação do professor, nos diversos níveis de

ensino, são cada vez mais numerosos. Os computadores são ótimos para acumular

dados, [...]. Os computadores impregnam a comunicação de tal forma que,

caprichosamente, hoje, eles são mais imprescindíveis [...].

Evitar a emergência de um mero conhecimento superficial dos dados ou

informações adquiridas depende somente do interesse do aluno e do incentivo do professor

em fazer com que aquele vá além, buscando mais informações para sanar suas dúvidas, levá-

lo na sala de aula a debater com todos os colegas os assuntos, questionar e levar em

consideração todas as reflexões, aprofundar-se em posições cientificamente comprovadas

sobre os tópicos estudados, pois o saber não é estático, uma vez que está sempre em constante

modificação (MUNHOZ, 2002).

Munhoz (2002, p.39) diz ainda: “a utilização destes recursos deve incentivar os

alunos a uma maior participação em projetos, portanto, trabalhando na construção individual

do conhecimento”. “O professor tutor deve ter em mente que é um orientador, ao invés de um

detentor do saber, tem que assumir a postura de que a educação não é um ato neutro e sim,

extremamente político” (FREIRE, 1982). Assumindo tal atitude, deve, junto aos seus alunos,

definir como estes meios irão ajudá-los a desenvolver o conteúdo proposto, fazendo com que

atinjam seus objetivos.

No entanto, é essencial compreender que a simples adoção de recursos

tecnológicos em atividades pedagógicas, não significa a ocorrência de mudanças ou rupturas

com as formas convencionais de ensino e aprendizagem. Esclarecendo equívocos oriundos da

promessa de modernização das organizações através da adoção das tecnologias de informação

e comunicação, Morais afirma que (2000): “não é suficiente adquirir televisão, videocassetes,

computadores, sem que haja uma mudança básica na postura do educador”. É preciso mais.

53

A comunicação precisa ser instaurada, desejada, conquistada. É necessário entender

o educando como ser histórico, ativo e como tal, a atenção não pode centrar-se

apenas no instrumento e na técnica [...]. Deve-se, necessariamente considerar a

influência das imagens no cotidiano do educando. E mais, deve-se observar o

reflexo dessa influência de compreender a realidade na sua forma perceptiva,

sensorial e cognitiva [...] multidimensional. (MORAIS, 2000, p. 132).

A utilização das novas tecnologias tornou possível a troca de informações através

da participação em listas de discussão, do correio eletrônico ou em chat, que permite a

conversa pela Internet. Pode-se observar o desenvolvimento de programas no ensino a

distância, online, em que, através dos computadores, ocorre a comunicação do professor com

o aluno, resultando que as classes virtuais formam cada vez mais alunos no ensino não

presencial.

Assim, o uso das novas tecnologias na educação deve ter como objetivo mediar a

construção do processo de conceituação dos alunos, buscando a promoção da aprendizagem e

desenvolvendo habilidades importantes para que ele participe da sociedade do conhecimento e

não simplesmente facilitando o seu processo de ensino e de aprendizagem.

Para que as novas tecnologias promovam as mudanças esperadas no processo

educativo, devem ser usadas não como máquinas para ensinar ou aprender, mas como

ferramenta pedagógica para criar um ambiente interativo que proporcione ao aprendiz, diante

de uma situação problema, investigar, levantar hipóteses, testá-las e refinar suas ideias

iniciais, construindo assim seu próprio conhecimento.

As tecnologias estão aqui, no tempo presente, e não vão embora. Portanto, a tarefa

dos educadores é assegurar que, ao entrar na sala de aula, ela esteja lá por razões políticas,

econômicas e educacionalmente criteriosas. Devemos estar conscientes de que o futuro que a

tecnologia promete para nossos estudantes é real, não fictício.

Como dizia Alvin Toffler (1972) em seu livro “O Choque do Futuro”:

Já não é suficiente entender o passado. Não basta nem mesmo compreender o

presente, é preciso aprender a antecipar as direções e o ritmo das mudanças. É

preciso aprender a fazer suposições repetidas, prováveis, de um alcance cada vez

mais amplo a respeito do futuro.

Assim, a educação deve avançar procurando se adequar à realidade dos tempos de

inovação tecnológica e consequentemente adaptar-se às mudanças da sociedade sem, contudo,

negligenciar a transmissão dos conhecimentos em função das descobertas da humanidade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem dúvida, a EaD, realizada por meios de novos recursos tecnológicos, propicia

não só a reflexão sobre os papéis do professor e do aluno, como também a reflexão sobre

como pode ocorrer o ensino, a partir do processo de escrita/leitura a ser constituído nesse

novo meio. Essa escrita/leitura traz consigo o princípio da navegação, em oposição ao

princípio de linearidade e faz-nos pensar em metodologias para o contexto virtual que

destaquem a atividade do professor de elaboração do material de estudo, com base em

estratégias textuais, enunciativas e interacionais.

O uso do meio eletrônico em sala de aula é, de fato, uma alternativa para a

elaboração de novos planejamentos para a educação e, consequentemente, uma resposta nova

para velhos problemas, porque pressupõe o ensino em rede, por navegação e sequencialmente,

ou seja, não diretamente aluno/professor, e, assim, o planejamento aberto, a redifinição do

54

papel do professor e a constituição de uma nova prática interacional. Portanto, deve ser usada

para a melhoria da qualidade e da eficácia desse processo, com destaque para os objetivos

educacionais e as formas linguísticas a serem usadas, a fim de alcançá-los, e não somente para

as suas características técnicas.

Desse modo, acredita-se que, para aqueles que se propõem a transformar o ensino

utilizando as novas tecnologias, o grande desafio situa-se no plano de uma abordagem

comunicativa que tem como foco o interesse de grupos e suas necessidades, o que,

necessariamente, leva ao privilégio da interação como fator de interlocução verdadeira para o

ensino a distância.. Nesse sentido, focaliza-se a atenção nos professores, uma vez que o

profissional que operacionaliza um programa de educação por meio eletrônico não é apenas

um conhecedor do assunto, nem tampouco um mero instrutor que faz uso de recursos que a

máquina disponibiliza; é, sobretudo, um educador que busca novas formas de ensino,

moldando-os à sociedade contemporânea.

A modalidade de Educação a Distância conquista mais espaço nas instituições de

ensino superior, por apresentar uma proposta viável do ponto de vista econômico, estrutural,

de flexibilidade de tempo e espaço e por possibilitar a aquisição e troca de conhecimentos

científicos aos que dela participam. Além disso, constitui-se uma estratégia para ampliar a

oferta de ensino superior às pessoas que ainda não tiveram acesso a cursos regulares,

adequando sua proposta educacional para atender a demanda do mercado de trabalho atual,

que busca a qualificação permanente dos professores e demais profissionais e proporcionar

um avanço na democratização do saber escolarizado.

Enfim, o processo de mudança na educação a distância não é uniforme nem fácil.

Mudaremos aos poucos, em todos os níveis e modalidades educacionais. Há uma grande

desigualdade econômica, de acesso, de maturidade, de motivação das pessoas. Alguns estão

preparados para a mudança, outros muitos não. É difícil mudar padrões adquiridos

(gerenciais, atitudinais) das organizações, dos governos, dos profissionais e da sociedade. E a

maioria não tem acesso a esses recursos tecnológicos, que podem democratizar o acesso à

informação. Por isso, é da maior relevância possibilitar a todos o acesso às tecnologias, à

informação significativa e à mediação de professores efetivamente preparados para a sua

utilização inovadora. Essa tarefa significa avançar no sentido de uma educação para uma

efetiva cidadania, que só pode se realizar por meio da autonomia.

LA EDUCACIÓN EN LA ERA DE LA TECNOLOGÍA DE LA INFORMACIÓN: LOS

CURSOS A DISTANCIA EN ALTAS

RESUMEN

Las nuevas tecnologías de información y comunicación, principalmente las basadas en los

ordenadores y softwares, han transformado de manera radical la vida de nuestra sociedad en

los últimos años. Estas nuevas tecnologías estan produciendo una nueva visión y nuevos

desafio para los profesores de las universidades, principalmente en relación a educación a

distancia. La enseñanza está cambiando y con ella hay um cambio en los métodos de enseñar.

Los profesores, en cualcuer asignatura, sea ella presencial o a distancia, necesitan está

preparados para dirigir varios espacios y acompañar de manera equilibrada las innovaciones

tecnológicas para que haya un impulso en la disipación de la información y de la aprendizaje.

De esa forma, esto artículo tiene el objetivo de analisar la educación en la época de los

ordenadores como también ensiñar como la lenguaje audiovisual pode ser utilizada como

herramienta didáctica en el proceso de enseño-aprendizaje, apartir de la enseñanza a distancia.

En relación las questiones metodológicas, en esa investigación se utilizó datos históricos y

55

bibliográficos, los cuales fueran importante para el desarrollo de la investigación. De esa

manera se concluió que el uso de la Internet en la educación posibilita la interación del

profesor con los estudiantes, esta estrategia posibilita al profesor una mejor observación y

organización de su trabajo en clase, además, esclarecer las dudas y direccionar los estudiantes

a pensar más sobre el tema.

Mot-Clés:: Educación. Informática. Educación a distancia.

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57

ESTRESSE E QUALIDADE DE VIDA DO DOCENTE DO NÍVEL SUPERIOR

José Paulo Andrade de Araújo

38

Luciene Aparecida Ribeiro39

RESUMO

Estresse não é doença ou algo ruim em sua origem. É apenas uma reação fisiológica e

biológica diante de certas situações consideradas perigosas ou que exijam certa adaptação (é a

reação de lutar ou fugir). Entretanto, mesmo não sendo um inimigo, o estresse pode tornar-se

ameaçador, dependendo de sua intensidade e frequência. Desta forma, este artigo tem como

objetivo trazer uma reflexão a respeito dos riscos do estresse quando este excede os limites

tolerados e torna-se crônico, afetando as funções normais do corpo, como a pressão

sanguínea, memória, imunologia, entre outras. Este artigo ainda procura chamar a atenção

para o estresse entre Docentes do ensino superior e para a “Síndrome de Burnout.”, a qual é

uma forma especial, intensa e perigosa do estresse, e que afeta principalmente alguns

profissionais, inclusive professores.

Palavras-chave: Estresse. Reação. Ameaçador. Docentes. Síndrome de Burnout.

1 INTRODUÇÃO

O docente do ensino superior inicia sua prática, muitas vezes, sem uma

“preparação” que lhe possibilite uma “percepção” da demanda Universitária. Nem sempre

esses docentes iniciais estão prontos, pedagógica e psiquicamente para efetivarem essa

prática. Muitas vezes, baseiam-se nessa trajetória apenas em seus sentimentos, seus desejos,

suas relações com outro, com ato de pensar ser professor, com a demanda do seu querer

conhecer, querer reconstruir com sua ética, seus valores e seus costumes.

Contudo, ser “professor” perpassa a formação pedagógica, vem desde dos contos

de fada, ao primeiro dia da escola, identificação com professor querido, o ensinar o amiguinho

da sala, indo às dicas do vestibular. Tangenciando nível superior, o sonhar em construir um

saber semelhante ao docente da sua graduação. Ser docente vem de uma panacéia, de uma

pluralidade de fatos e ações na vivência de cada um.

A carreira do docente possui um crescimento em transformação pedagógica

constante, levando em conta o processo de vida pessoal, social, psíquico e institucional. Essa

interação produz uma série de demandas, de quebra de paradigmas, de transformações. O

docente em alguns momentos não difere de sua identidade pessoal, social e familiar, sendo

um “produto” da sua própria construção pedagógica.

Dentre tudo isso, ocorrem sintomas de estresse, podendo levar em casos

específicos a uma patologia. O estresse é uma condição presente e necessária da vida humana,

ele diz respeito a uma reação de adaptação às novas circunstâncias e desafios que se colocam

diante do sujeito. É um reflexo automático diante do perigo, que vem da herança filogenética.

Está no gene para evitar que sejamos feridos ou coisa pior. Além disso, é um dos principais

38

Professor da Faculdade Estácio de Sergipe – FaSe; especialista em Gestão em Saúde Pública e da Família pela

FANESE. 39

Professora da Faculdade Estácio de Sergipe – FaSe; especialista em Gestão Estratégica de Recursos Humanos

pela FANESE.

58

responsáveis pela sobrevivência da espécie. Contudo, como qualquer coisa que passe para a

condição de excesso, pode tornar-se, e geralmente se torna, prejudicial ao sujeito.

Diante de uma situação percebida como desafiadora ou perigosa, o corpo, por

ordem direta do psíquico, coloca-se em uma condição de lutar ou correr (fight or fly), segundo

Cannon (1929 apud MYERS, 1998, p.363). O coração acelera, a pressão arterial aumenta, por

consequência a respiração também aumenta, o sangue é desviado da pele e das vísceras para

os músculos esqueléticos e o cérebro,por conta desse processo, a gordura do corpo é liberada,

há envolvimento do fígado, baço, ocorre dilatação dos brônquios e das pupilas, o sistema

imune se ativa (MYERS, 1998), preparando o corpo para a batalha ou para a fuga.

Possivelmente herança primitiva da espécie.

O presente artigo visa a repensar as formas de atuação docente no contexto das

IES.

2 ESTRESSE

O estresse não é doença, e, sim, uma reação instintiva ao perigo real ou

imaginário ou a uma situação de desafio. "Uma cascata bioquímica que prepara o corpo para

lutar ou fugir” (ZAKABI, 2004).

Do ponto de vista físico, o estresse é um banho de pura energia. Doses maciças

de adrenalina são despejadas na corrente sanguínea. Reservas de açúcar são convertidas em

glicose para fornecer energia extra ao organismo. O sistema circulatório desvia para o cérebro

e para os músculos o sangue de funções não-essenciais para a batalha, como a digestão, que é

interrompida. A visão, a audição e até o raciocínio ficam aguçados.

Essa reação é natural ao homem. Entretanto, o que torna o estresse perigoso e

danoso à saúde é a constância e a intensidade dos estímulos estressores. Quanto mais crônicos

e repetitivos mais danosos, podendo levar o indivíduo a um processo de exaustão, no qual

começam a surgir dificuldades de resposta diante das situações, falhas no funcionamento

orgânico, que vão desde simples esquecimentos e falta de atenção a alterações mais

complexas como problemas de pressão, podendo mesmo chegar à morte.

O estresse pode tornar-se devastador para a saúde e para a qualidade de vida.

Cada batida do coração com a pressão sanguínea acima do normal cobra um preço das

artérias. O alto nível de glicose é um passo em direção a diabetes e à obesidade. A mucosa do

intestino fica vulnerável ao aparecimento de úlceras. A inundação de hormônios causa mau

humor, ansiedade, irritabilidade. O cortisol, um dos hormônios liberados durante as situações

de estresse, permanece muito tempo em circulação e se transforma numa toxina que mata

neurônios – daí os lapsos de memória associados ao stress crônico.

O estresse possui quatro fases ou etapas, sendo elas:

Alerta - a pessoa se depara com a fonte estressora e, nesse enfrentamento, se

desequilibra internamente, apresentando sensações características, (sudorese

excessiva, taquicardia, respiração ofegante e picos de hipertensão).

Resistência - uma tentativa de recuperação do organismo após o desequilíbrio sofrido

na fase anterior. Ocorre um gasto de energia que pode ocasionar cansaço excessivo,

problemas de memória e dúvidas quanto a si próprio.

Quase exaustão - O sujeito não mais consegue adaptar-se ou resistir ao estressor,

podendo começar o aparecimento de doenças devido ao enfraquecimento do

organismo. Nessa fase a produtividade do indivíduo encontra-se bastante

comprometida.

59

Exaustão - quando ressurgem sintomas ocorridos na fase inicial, no entanto com maior

agravamento. Importante ressaltar que na fase de exaustão ocorre um grande

comprometimento físico que se manifesta em forma de doenças.

2.1 Sintomas do Estresse

Respiração rápida, sudorese palmar, taquicardia, hiperacidez gástrica, inapetência,

cefaléia, dificuldade de relacionamento interpessoal, sensação de estar doente sem presença

de distúrbio físico. Em sentido emocional, o estresse pode causar: apatia, depressão,

desânimo, sensação de desalento, hipersensibilidade emotiva, raiva, ira, irritabilidade e

ansiedade, podem, em pessoas predispostas, ter o potencial para o desencadeamento de surtos

psicóticos.

2.2 Estresse e Docência

Pesquisas demonstram que a profissão de professor é uma das mais afetadas pelo

estresse por conta da qualidade e estilo de vida ao qual é submetido. Segundo Oiticica e

Gomes (2004 apud YAEGASHI, 2008), o estresse do professor está relacionado a inúmeras

variáveis vinculadas ao seu trabalho, dentre as quais se destacam a questão dos salários,

precariedade das condições de trabalho, alto volume de atribuições burocráticas, elevado

número de turmas assumidas e de alunos por sala, mau comportamento, além de treinamento

inadequado, pressões por qualificações, capacitação, atualização, produção científica. Tudo

isso além das pressões de tempo, de pais de alunos e as preocupações pessoais.

Outro fato agravante é a vida sedentária a qual inúmeros professores encontram-

se submetidos. Falta de exercícios físicos, de lazer, devido à grande carga de trabalho (BRITO

2006 apud YAEGASHI, 2008). Todos esses fatos prejudicam muito a qualidade e estilo de

vida do docente.

De acordo com Lipp (2006 apud YAEGASHI, 2008), a profissão e o trabalho

determinarão grande parte de nossas vidas. Portanto, o trabalho satisfatório determina prazer,

alegria e saúde. Entretanto, quando o trabalho é desprovido de significação, não é reconhecido

ou é fonte de ameaças à integridade física e/ou psíquica, acaba gerando sofrimento no

trabalhador.

3 A SÍNDROME DE BURNOUT

É um distúrbio psíquico caracterizado por um esgotamento físico e mental

extremamente intenso e está diretamente ligado à vida profissional, sendo também conhecida

como síndrome do esgotamento profissional. Burnout é uma reação final do indivíduo em

face das experiências estressantes que se acumulam ao longo do tempo. Efetivando a

síndrome aos profissionais que interagem de forma ativa com as pessoas que necessitam de

um cuidado intenso e/ou auxiliam diretamente a resolução de conflitos dessas pessoas,

utilizando-se de técnicas e conceitos mais coerentes e ou fortes, sendo colaboradores de

organizações de trabalho que são submetidas às avaliações constantes. Objetivando assim, a

uma situação tensional crônica levando ao indivíduo desinteresse ativo da sua relação com o

trabalho, todo o acontecimento deixa de ter importância, levando a uma insatisfação pessoal.

O Burnout apresenta sinais e sintomas comuns ao quadro depressivo, porém não é

tão simples. A princíipio o sujeito apresenta uma dedicação extrema ao trabalho, procurando

apresentar um nível elevado de desempenho e buscando sempre ser reconhecido em suas

atividades. Contudo, quando esse reconhecimento não se faz presente abertamente ou mesmo

60

quando não ocorre, o sujeito entra em um estado compulsivo de trabalho. As atividades já não

são realizadas por prazer ou realização, mas como uma necessidade de mostrar serviço de

forma obstinada e compulsiva. A sua autoestima passa a ser medida em termos de sucesso

profissional.

Todo esse funcionamento acaba por conduzir o sujeito a um grau de esgotamento

físico e mental de tal forma que passa a necessitar de ajuda médica e psicológica. O nome

BURNOUT proveniente da língua inglesa significa exatamente isto: queimar até o final. É

isso que o indivíduo que desenvolve tal síndrome apresenta.

Porém, antes que se chegue ao estágio mais grave dessa síndrome, alguns

sintomas já são alertas para que o indivíduo perceba para onde está se encaminhando. Alguns

deles são: necessidade de se afirmar por meio de seu trabalho, o indivíduo quer fazer tudo

sozinho. Outro ponto importante a se observar é quando o sujeito passa a negligenciar suas

próprias necessidades como o sono, a alimentação e o lazer. Todas essas necessidades passam

a perder o sentido para tal sujeito. Só importa o que tem que fazer em nível profissional.

Mesmo percebendo que algo não está bem consigo, muitas vezes, tal sujeito

procura não dar importância ao fato e daí começa o agravamento do processo com o

surgimento dos sintomas físicos, isolamento, agressividade, mudança de comportamento,

despersonalização. Surge o sentimento de um vazio interior, a depressão, a desesperança, até

que por fim o sujeito entra em colapso físico e mental.

Importante ressaltar que há três fatores relacionados ao Burnout. O primeiro deles

é a despersonalização, citado acima, seguido da exaustão emocional e do baixo envolvimento

pessoal no trabalho, ou seja, o indivíduo passa a não se importar com a qualidade profissional.

Algumas profissões são mais propensas ao desenvolvimento dessa síndrome. Os

profissionais da área da saúde, por exemplo, estão propensos a tal situação e, entre outros os

docentes também estão inseridos no grupo de risco, pelo grande número de atividades a que

estão submetidos em sua atividade profissional.

3.1 Quadro Cliníco

O quadro clínico da Síndrome de Burnout costuma obedecer à seguinte

sintomatologia:

1. Esgotamento emocional;

2. Despersonalização ou desumanização, o sujeito passa a ter ações negativas, age de

maneira insensível e sem empatia com os colegas de trabalho;

3. Surgem sintomas típicos relacionados ao estresse, tais como cansaço e mal estar geral;

4. Na esfera emocional o indivíduo passa por um turbilhão de sentimento do tipo: falta de

realização pessoal, perceber o trabalho de forma negativa, sujeito não se sente realizado

profissionalmente, sentimentos depressivos, esgotamento mental e físico, fracasso,

impotência, autoestima baixa, descaso pessoal;

5. Reações de inquietude, irritabilidade, problemas para concentrar-se, baixa tolerância à

frustração, ideias persecutórias e comportamento agressivo com os clientes, colegas de

trabalho e inclusive com a família;

6. Frequentes dores de cabeça, insônia, processos de úlceras digestivas e gastrintestinais,

hipertensão arterial, arritmias cardíacas, perda de peso, fibromialgias, processos alérgicos;

7. Indivíduo passa a comporta-se evitando aproximação, passando inclusive a utilização de

substâncias estimulantes como café e ou substâncias psicoativas como álcool, remédios

tranquilizantes e drogas ilícitas;

61

8. Incidências de faltas e licenças médicas aumentam;

9. Lapsos de memória;

10. Erros operacionais freqüentes;

11. Absenteísmo - indivíduo deixa e/ou recusa-se a participar de trabalhos em equipe;

12. Psicalgias.

4 COMO PREVENIR O ESTRESSE

Segundo alguns autores os sintomas e a própria patologia possui uma influência

muito exacerbada com a sociedade atual, essa dinâmica social intensa, mercado de trabalho

agressivo e competitivo, era dos cartões de crédito e gastos excessivos, levam o indivíduo a

deixar de existir para passar a sobreviver.

As mudanças sociais ocorrem de forma mais acelerada e muitas vezes podem ser

ajustadas no emocional humano, as metas são para serem efetuadas com prazo curto de

tempo, dentro de uma rotina profissional do docente, o ambiente do trabalho é agressivo

dentro de uma simbolização de luta profissional: ser capaz de fazer, de cumprir, de não deixar

de fazer, de perder o posto efetivo do professor.

Os efeitos dessas mudanças provocam consciente e inconscientemente respostas

prontas ao corpo humano. Instala-se no indivíduo uma necessidade de adaptação nessa selva

da sobrevivência existencial e profissional. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que o estresse é

algo fundamental para a existência humana, a ausência total dele pode levar o indivíduo a

óbito.

Percebido o desafio do estresse, e sabendo que a profissão e o trabalho fazem parte

do cotidiano do docente e das profissões em geral, afirmasse que alguns momentos

conflitantes podem ser prevenidos. Ressalta-se alguns pontos a serem elaborados na

prevenção:

1. Elimine os açúcares na alimentação, assim como as gorduras saturadas (manteiga, leite

integral, queijos gordurosos, carnes gordas etc.). O abuso no uso desses alimentos pode

produzir uma letargia, e consequentemente, à capacidade de lidar naturalmente com

estresse diminui, aumentando o desprazer. Corte as gorduras saturadas. Coma muitos

legumes, verduras, frutas e fibras, use azeite de oliva, óleo de girassol.

2. Faça atividades físicas regulares.

3. Consuma alimentos ricos em fibras, pois eles além de equilibrar o funcionamento do

aparelho digestivo auxiliam no combate ao colesterol, contribuindo para a redução de

acumulo de gordura no sangue, além de ajudar para que o indivíduo sinta menos

necessidade de comida.

4. A utilização diária de uma pequena porção de nozes auxilia o organismo a diminuir a

pressão arterial, que aumenta muitas vezes, consideravelmente, em situações

estressantes de estresse.

5. Hidratos de carbono podem elevar o aumento do nível da serotonina no cérebro,

substância que auxilia no relaxamento.

6. Controle o consumo de álcool.

7. Abuso no uso da cafeína, substância que ativa controle emocional e psíquico do

indivíduo, aumenta o estado de inquietação.

8. EVITE O EXCESSO DE PERFECCIONISMO, invista no processo de realizar suas

atividades com mais prazer.

9. Organize seu tempo. Torne seu trabalho mais produtivo, lembrando que o lazer

também é uma forma de produzir novos pensamentos e ações.

62

10. Cuide de suas relações afetivas com o outro e consigo. Cada ser humano deve

perceber-se como ser de mudanças, aceitar-se e aceitar o outro como Carl Rogers

menciona ao falar do pôr do sol: “não podemos mudá-lo apenas podemos apreciar sua

beleza, pois ele é único a cada dia.”

11. Seja generoso. A generosidade aumenta a autoestima e contribui para a redução do

estresse. A autoestima elevada contribui para uma percepção interior, a busca constante

da relação eu e o outro de maneira agradável e carinhosa.

12. Relaxe. Eis algumas dicas: faça pequenas pausas durante o horário de trabalho;

controle suas despesas; estimule sua criatividade praticando seus hobbies preferidos;

selecione suas leituras e informações, viva cada momento como único; divida seu

tempo entre você e sua existência, pratique boas ações com o coração, com sentimento.

13. Encare a vida como um ciclo, curta as dificuldades e não faça de um obstáculo o fim

das suas justificativas, que nada dá certo na sua vida, fale para você: “sou capaz de

mudar e perceber mudanças como forma de crescimento profissional, emocional e

espiritual.”

14. Aaja com sentimentos positivos e vivos.

5 ALGUNS CIDS RELACIONADOS AO ESTRESSE

Considerando o Código Internacional de Doenças (CID, 2009), pode-se destacar

as nomenclaturas patológicas que seguem, como sendo referentes ao estresse:

F43 Reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação

F43. 0 Reação aguda ao “stress”

F43. 8 Outras reações ao “stress” grave

F43. 9 Reação não especificada a um “stress” grave 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em pleno século XXI, parece que algo não aconteceu como o esperado. Ao que

parece as tão faladas facilidades da vida moderna, não trouxeram de fato um alívio para o

trabalho. Muito pelo contrário, na prática, o que se deu realmente foi um aumento na

quantidade de estresse ao qual o homem “moderno” tem sido submetido constantemente.

O mundo do século XXI é um mundo marcado pela aceleração dos

funcionamentos. Tudo é muito rápido. Informação em tempo real, novos equipamentos a cada

instante. É necessário ter reflexos rápidos. Tudo é muito instável e inseguro como em um

campo minado. Ninguém nunca sabe o que encontrará no próximo passo.

Toda essa aceleração também vem acompanhada de um aumento proporcional do

estresse. A cada instante o sujeito precisa decidir se enfrentará ou fugirá (fight or fly) das

situações que se apresentam diante dele. O aumento da ansiedade é consequência certa de

tudo isso, bem como as consequências físicas, as quais podem ser muito sérias como as que

acontecem nas fases mais graves de estresse. A síndrome de burnout é um grande exemplo

disto.

O estresse, na verdade não é um vilão em si, e sim uma condição presente e

necessária da vida humana. Configura-se enquanto uma reação de adaptação às novas

circunstâncias e desafios que se colocam diante do sujeito. Ele é um reflexo automático diante

do perigo. Porém, em excesso, esse aliado pode tornar-se um grande inimigo.

63

STRESS AND THE QUALITY OF LIFE FOR PROFESSORS

ABSTRACT

Stress is not an illness or something bad as well. It‟s just a physiological and biological

response face some situations which are considered dangerous or that demand an adaptation

process (flight or fly reaction). However, even not being an enemy, stress can become

threatening depending on its intensity and frequency. This way, this article has as its purpose

bringing a reflection about the risks of the stress when it overcomes the tolerated limits and

starts being chronic, affecting the normal body functions, like blood pressure, memory,

immunology among others. This article also aims to call the attention to the stress among

professors and to the Burn out Syndrome that is a special, intense and dangerous form of

stress and affect mainly some professionals, including teachers and professors as well.

Keywords: Stress. Reaction. Threatening. Professors. Burn Out Syndrome.

REFERÊNCIAS

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Centro Universitário de Caratinga – UNEC. Mestrado em meio ambiente e

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tde_busca/arquivo.php?codArquivo=28>. Acesso em: 10.05.2010.

PORQUE NOS PODEM FAZER SENTIR LETÁRGICOS E COM MENOS CAPACIDADE

DE LIDAR COM O STRESS. DE ENTRE MUITO EFEITOS, O STRESS AUMENTA A

NOSSA PRESSÃO ARTERIAL E AUMENTA OS NÍVEIS DE COLESTEROL NO

64

SANGUE, PROVOCANDO DISTÚRBIOS NAS NOSSAS ARTÉRIAS, E AUMENTANDO

O RISCO DE ATAQUE CARDÍACOSÍNDROME DE BURNOUT. Disponível em:

< http://www.webartigos.com/articles/1180/1/a-sndrome-de-burnout/pagina1.html>.

Acesso em: 15. 03. 2010.

STRESS, NINGUÉM ESTÁ A SALVO DESSE MAL MODERNO. MAS É POSSÍVEL

APRENDER A CONVIVER COM ELE. Revista Veja. Edição 1840, 11 de fevereiro de

2004. Disponível em:<veja.abril.com.br/110204/p_066.html>. Acesso em: 25.10.2010.

65

CONTROLADORIA EMPRESARIAL: GESTÃO ECONÔMICA PARA AS

MICRO E PEQUENAS EMPRESAS.

José Morais Monteiro40

RESUMO

O presente trabalho condensa a dissertação de mestrado do autor, que teve por objetivo

identificar a importância da Controladoria Empresarial para o universo das empresas de

pequeno porte, no tocante à aplicabilidade das suas ferramentas para aperfeiçoar o processo

da gestão. Apresentam-se, assim, alguns conceitos coletados de referências consolidadas em

livros específicos sobre Controladoria, formando a base teórica, para comparativos entre

trabalhos realizados na mesma linha de observação e a presente investigação, agregando ao

leitor maiores percepções sobre o tema abordado.De posse da consolidação dos resultados da

pesquisa observou-se que as ferramentas da Controladoria Empresarial (planejamento,

orçamento, análise financeira, gestão da informação), não são utilizadas por completo pelas

micro e pequenas empresas pesquisadas – mesmo levando-se em conta as restrições sobre a

composição e tamanho daquelas organizações – em prol de melhores e eficientes resultados,

fato corroborado com as constatações dos autores de trabalhos similares, referenciados neste

artigo.

Palavras-Chave: Controladoria Empresarial. Planejamento. Micro e pequenas empresas.

1 INTRODUÇÃO

Na conjuntura atual, em que o processo da concorrência é extremamente

agressivo, a utilização de decisões estratégicas antevendo cenários contrários ou favoráveis

tem mostrado uma nova realidade para as empresas, ditando a sua permanência no mercado.

Assim, a sobrevivência das empresas depende cada vez mais de uma gestão

subsidiada de informações gerenciais eficientes e precisas para o desempenho das mesmas,

que tornem o processo de tomada de decisão o mais racional possível, proporcionando a

maximização da lucratividade e da rentabilidade do negócio.

Para consolidar esse propósito, as empresas interagem com diversos agentes

internos e externos, que geram uma série de fenômenos econômicos, sociais, políticos,

educacionais, tecnológicos, ecológicos e regulatórios, obrigando-as na busca da eficácia e de

atingir seus objetivos, a procurarem conhecimentos que a administração, contabilidade e

economia, sozinhas, não disponibilizam.

Surge, nesse contexto, a Controladoria Empresarial como conjunção de diversos

estudos, que são direcionados para a melhoria de performance das organizações, bem como

oferecer perenidade às atividades, a partir das suas ferramentas específicas de gestão.

No seu início, a Controladoria Empresarial direcionou-se, principalmente, para as

médias e grandes empresas, por possuírem estrutura mais completa e complexa, encaixando

seus preceitos àqueles segmentos organizacionais.

A partir dos anos 90, a abertura mercadológica gerou oportunidades para

empresas de pequeno porte, através do processo de empreendedorismo, permitindo aos

40

Mestre em Desenvolvimento Regional e Gestão de Empreendimentos Locais pela UFS

Professor da Faculdade Estácio de Sergipe – Estácio FaSe.E-mail: [email protected]

66

profissionais com prática nas suas atividades criarem empresas no intuito de conquistar novos

horizontes, gerar riqueza para o ambiente onde estão instaladas, bem como para os próprios

empreendedores.

Porém, muitas dessas organizações foram criadas sem a pertinente orientação

sobre os problemas que adviriam quando da instalação, tais como: comportamento do setor

em relação ao volume de empresas; condições da política de investimento de longo prazo;

necessidade de recursos de curto prazo para financiar a capacidade operacional do

empreendimento; e capacidade de absorção pelos clientes dos produtos/serviços

disponibilizados.

Assim, as empresas de pequeno porte necessitam de apoio estrutural e orientativo

ainda maior que as de outros portes, considerando-se as dificuldades encontradas no processo

concorrencial, que interferem de forma contundente no seu crescimento e, por vezes, tolhe a

oportunidade de permanecer no mercado.

Porém, o planejamento estruturado não é privilégio apenas das empresas de médio

e grande portes, podendo ser delineado dentro de uma proporcionalidade de tamanho e

funções exercidas, também, pelas micro e pequenas empresas, nas esferas estratégica, tática e

operacional.

Para muitos empreendedores, administrar uma empresa, planejando seus objetivos,

mobilizando os meios necessários para atingi-los e controlando os resultados obtidos, tem sido

considerada tradicionalmente mais uma arte ou uma qualificação adquirida pela experiência

do que um conjunto de técnicas baseadas no conhecimento científico.

No mundo contemporâneo, os gestores das empresas de pequeno porte, se desejam

permanecer atualizados, aproveitando todas as oportunidades e enfrentando a concorrência,

necessitam conhecer técnicas relativamente complexas, como a controladoria empresarial, a

mercadologia, a análise financeira e outras que exigem a formação profissional e aprendizado

permanente.

A importância do segmento de micro e pequenas empresas para o mercado é

refletida no entendimento de autores conhecidos, como Chiavenato (1995, p. 3), que afirma o

seguinte: “As pequenas empresas constituem o cerne da dinâmica da economia dos países, as

impulsionadoras dos mercados, as geradoras de oportunidades, as proporcionadoras de

empregos mesmo em situações de recessão.”

Com esse propósito, quaisquer atividades que venham beneficiar as micro e

pequenas empresas apresentam-se em campo muito vasto de estudo, levando-se em

consideração a quantidade de organizações inseridas no segmento de MPE, bem como seus

benefícios para a sociedade e para a economia.

Nesse direcionamento, vê-se quanto a Controladoria Empresarial, a partir da

gestão econômica e financeira, pode auxiliar na obtenção de melhores resultados nos negócios

das micro e pequenas empresas, principalmente aplicando conceitos de gestão, planejamento,

finanças e controle.

Apesar de constituir-se, originalmente, das Ciências Contábeis, a Controladoria é

composta por um conjunto de conhecimentos interdisciplinares oriundos da Administração de

Empresas, Economia, Informática, Estatística e, principalmente, da própria Contabilidade.

Nas organizações maiores representa o segmento responsável por propiciar um

processo decisório eficaz, mediante o fornecimento de informações previamente analisadas.

Na controladoria, trabalham-se os dados e informações fornecidas pela

contabilidade e pela administração, visando sempre a mostrar aos gestores os pontos de

estrangulamento presentes e futuros que podem colocar em risco ou reduzirem a rentabilidade

da empresa.

A Controladoria gera, a partir de dados contábeis, o exercício de um perfeito

controle da empresa através do desenvolvimento de um sistema de informações gerenciais

67

que proporcione a visão ampla da área econômica e financeira, fundamentando os gestores

das MPEs no processo decisório.

As ferramentas da Controladoria requerem a aplicação de princípios éticos e

sadios, os quais abrangem todas as atividades empresariais, desde o planejamento inicial até a

obtenção do resultado final, sem se descuidar da cultura organizacional já existente na

empresa, fato que auxiliará na receptividade, principalmente em consultorias externas.

Entende-se, portanto, como missão da Controladoria a coordenação de esforços na

busca da sinergia, que corresponderá ao resultado global igual ou superior à soma dos

resultados individuais das áreas da empresa, garantindo a perpetuidade da organização.

Assim, este trabalho apresenta a gestão econômica e financeira – princípio da

Controladoria – como uma proposta, a partir do conhecimento, por parte dos micro e

pequenos empresários e, principalmente, aos desconhecedores do tema, de buscarem o

desenvolvimento, operacionalização e implementação de planos, ações, táticas, padrões,

posicionamento e perspectivas que visem ao crescimento e à manutenção das micro e

pequenas empresas no mercado.

Portanto, a Controladoria, a partir da orientação da teoria agregada às práticas já

absorvidas pela rotina diária, direcionará os micro e pequenos empresários a alguns caminhos

que poderão ser seguidos através do planejamento, criação, programação, implantação,

organização, comando, coordenação e controle da empresa.

2 REVISÃO DA LITERATURA

Para fazer abordagens sobre organizações definidas como micro e pequenas,

torna-se importante entender o conceito básico de empresa, na sua amplitude.

O Artigo 6º da Lei n.º 4.137, de 10/09/1962 define empresa como "... toda

organização de natureza civil ou mercantil destinada à exploração por pessoa física ou jurídica

de qualquer atividade com fins lucrativos".

Diversos autores têm suas próprias definições e buscam abordar as distinções

que se efetivam por classificações ou mesmo para determinar as dimensões que cercam o

tema. O conceito de empresa, surgido na área econômica, é de difícil aprovação do ponto de

vista jurídico, uma vez que a condição da lucratividade interpretada se restringe à financeira,

desconsiderando-se os lucros sociais, que, por exemplo, as ONGs conquistam no exercício

das suas atividades.

Reflete, portanto, por um conjunto de bens, que tem regimentação pelas normas do

direito civil, na vertente do direito comercial, assim como uma empresa é também uma

reunião de pessoas, regulamentada pelo direito societário, composição, também, do código

civil. Constitui-se, assim, de uma entidade de conteúdo econômico, ao mesmo tempo, social,

que se reporta à aplicação ao campo empresarial de diversos ramos da ciência jurídica, além

dos já citados, o direito trabalhista. Por outro lado a diversidade, a forma que uma empresa

pode assumir determina também as normas legais a ela aplicáveis.

Na abordagem dos preceitos da economia e seus fundamentos Krepsky (1992, p.

14) cita que empresa é "... um organismo econômico que sob o seu próprio risco recolhe e põe

em atuação, sistematicamente, os elementos necessários para obter um produto destinado à

troca."

Portanto, de forma bastante geral, uma empresa nada mais é do que uma pessoa

ou um grupo de pessoas que, realizando trabalhos de forma conjunta, busca atingir metas

estabelecidas, gerindo e compartilhando recursos humanos, materiais e financeiros. Estas

metas empresariais geralmente têm novas atribuições de desafios à medida que a empresa se

desenvolve. Ainda assim, as metas empresariais são propostas que geram e ampliam

68

funcionalidade, pois estão diretamente ligadas à atividade principal da organização, sendo

definidas em: venda de bens de consumo e de produção, prestação de serviços, atendimento às

necessidades dos clientes/consumidores, finalidades sociais, lucro e sobrevivência.

Torna-se coerente, no entanto, que os objetivos e metas empresariais tenham uma

dimensão adequada ao tamanho ou porte da organização, a fim de que venham a ser

determinados como um conjunto de princípios factíveis e geradores de novas oportunidades.

a. Micro e Pequenas Empresas

De acordo com Gonçalves e Koprowski (1995, p. 34), as pequenas empresas: “são

definidas como aquelas que, não ocupando uma posição de domínio ou monopólio no

mercado, são dirigidas por seus próprios donos, que assumem o risco do negócio.”

Existem várias características a serem estudadas para identificar uma

microempresa e uma pequena empresa. Segundo Matias e Lopes Júnior (2002), fazem parte

dessas características número de empregados, investimento, receita anual, capital registrado e

quantidade produzida. As mais utilizadas são número de empregados – utilizada pelo

SEBRAE – e receita bruta anual, fonte de informações para a Receita Federal e Bancos.

De grande importância para a economia brasileira, as micro e pequenas empresas

(MPEs) têm sido cada vez mais alvo de políticas específicas para facilitar sua sobrevivência, a

exemplo da Lei Geral para Micro e Pequenas Empresas (123/2006), que cria facilidades

tributárias como o Super Simples.

Sob a ótica tributária, a Lei Complementar 123/2006 beneficiou as empresas de

pequeno porte através da unificação de oito impostos federais, estaduais e municipais com

alíquotas que variam entre 4% e 16,85%, conforme a receita bruta anual e o tipo de

empreendimento.

Esta Lei prevê ainda a redução do tempo gasto para abertura e fechamento de

empresas e a preferência para as empresas de micro e pequeno porte em licitações públicas de

até R$ 80 mil.

Ao reduzir os tributos que incidem sobre os pequenos negócios, a Lei 23/2006

tem um importante papel tanto para os contribuintes como para os agentes fiscais, o que

resultará em aumento de concorrência das pequenas empresas e aumento da capacidade

produtiva do setor.

Enfim, é oportuno destacar que, apesar da legislação anteriormente apresentada, o

mercado estabelece uma diversidade de formas para enquadrar o que venha a ser uma

empresa de micro ou pequeno porte.

Acrescente-se também a este segmento a regulamentação, com a Lei Geral de

dezembro de 2006, da figura do “pequeno empresário” e, com as alterações promovidas pela

Lei Complementar nº 128, de 19 de dezembro de 2008, o “pequeno empresário” foi

rebatizado como “MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL – MEI” e teve seu tratamento

diferenciado e favorecido fixado, através da Resolução nº 58, de 27 de abril de 2009.

A resolução instituiu o SIMEI, que é o Sistema de Recolhimento em Valores

Fixos Mensais dos Tributos abrangidos pelo Simples Nacional, independentemente da receita

bruta auferida pelo microempreendedor individual (desde que dentro do limite de R$

36.000,00/ano).

Com a regulamentação do MEI, abre-se a possibilidade das pessoas, que se

encontram na informalidade empresarial, abrirem seus negócios. Com isso, o país garante a

livre iniciativa de microempreendedores, reconhecendo-lhes ainda os princípios

constitucionais da cidadania e da dignidade da pessoa humana como fundamentos da justiça

social.

As medidas que vêm de encontro à constatação que boa parte das MPEs morre

69

prematuramente têm surtido efeito: 78% dos empreendimentos abertos no período de 2003 a

2005 permaneceram no mercado, segundo pesquisa do SEBRAE realizada em agosto de 2007

(o índice anterior era 50,6%). Essa política também espera tirar uma série de empreendedores

da informalidade no Brasil.

A importância das micro e pequenas empresas no Brasil é refletida/consolidada

pelos dados que compõem a Tabela 1, a seguir:

Tabela 1 - Principais Números das MPE no Brasil

b. Controladoria Empresarial: Origem, Conceito e Funções

Historicamente, diz-se que a controladoria surgiu no início do século XX nos

Estados Unidos, com o crescimento empresarial e mais tarde com fusões ocorridas entre as

empresas criadas, formando grandes organizações e consequentemente aumentando a

complexidade de suas atividades. No Brasil, a função da Controladoria foi incorporada à

prática empresarial com a instalação das multinacionais americanas no país.

Mendes (2002, p. 51), relata que: “Após o crash da Bolsa de Nova York, em

1929, a profissão contábil torna-se focada na proteção do investidor minoritário e nos

aspectos fiscais e legais da organização, portanto, voltada aos usuários externos da

informação contábil.“

Com esta abordagem iniciou-se, no século passado, o preâmbulo da

Controladoria, que de certa maneira passou a focar a informação contábil como forma de

preservação dos investidores e organizações e seus respectivos recursos de possíveis

ocorrências que viessem a prejudicar os seus capitais.

Conceitualmente, de acordo com Mosimann e Fish (1999, p. 99), a controladoria

pode ser explicada como “o conjunto de princípios, procedimentos e métodos oriundos da

Administração, Economia, Psicologia, Estatística e, principalmente, da Contabilidade, que se

ocupa da gestão econômica das empresas, buscando orientá-las para a eficácia.”

Peleias (2002, p; 13) define a Controladoria como “uma área da organização à

qual é delegada autoridade para tomar decisões sobre eventos, transações e atividades que

possibilitem o adequado suporte ao processo de gestão”. O autor também cita algumas formas

de decisão em relação à organização, dentre elas, “critérios de identificar, prever, registrar e

explicar eventos, transações e atividades”, buscando assegurar eficácia nas diversas áreas

organizacionais da empresa.

70

A controladoria pode ser visualizada sob dois enfoques: como ramo do

conhecimento e como órgão administrativo.

A controladoria como ramo do conhecimento orienta-se nas demais ciências,

Economia, Administração, Estatística, Psicologia e Contabilidade. Pode-se dizer que a sua

base teórica mais importante seria a Ciência da Contabilidade, que é responsável pela

formação de conceitos relativos ao Modelo de Gestão Econômica e dos Sistemas de

Informações.

Como órgão administrativo é responsável pela coordenação e disseminação da

teoria formada, devendo garantir as informações necessárias ao processo de gestão e

propiciando aos gestores informações úteis à eficácia empresarial.

A interdisciplinaridade de conhecimentos gerados pela Administração, Economia,

Informática, Estatística e Contabilidade gera a Controladoria, com abrangência diversificada

em prol das organizações, a partir do fornecimento de informações que promovam um

processo decisório qualificado e consistente.

O objeto principal da Controladoria é o estudo e a prática das funções de

planejamento, controle, registro e a divulgação dos fenômenos da administração econômica e

financeira das empresas em geral.

Define-se, dessa forma, que os principais objetivos e funções da controladoria

são:

Desenhar, implantar e manter estrutura de informação que oriente o

desempenho dos gestores;

Coordenar o processo de planejamento e controle;

Coordenar a padronização de procedimentos de mensuração;

Garantir a informação adequada para avaliação de desempenho e apuração de

resultados;

Identificar ações corretivas;

Verificar se as áreas estão identificando as potencialidades e fraquezas da

Empresa perante oportunidades e ameaças;

Garantir o cumprimento do processo de tomada de decisão. Responsabilizar-se

pela coordenação da elaboração do planejamento (Orçamento, Procedimentos,

etc.);

Atuar em conjunto com as demais na elaboração de atribuições e

responsabilidade para cargos de decisão dentro da organização;

Responsabilizar-se pelos critérios de mensuração adotados pela Empresa;

Monitorar o controle do desempenho das unidades a partir de interação com as

mesmas;

Estruturar e coordenar métodos eficientes de comunicação entre as unidades, e

destas com a alta direção;

Promover a Garantia Patrimonial e o Controle Interno; e

Responsabilizar-se pelos graus de eficiência e eficácia da Empresa como um

todo, base para avaliação de desempenho.

Dessa maneira, a Controladoria constitui-se em um importante instrumento do

processo de gestão, cujo objetivo é auxiliar na obtenção de melhores resultados econômicos e

financeiros provenientes das diversas ações realizadas dentro das organizações de qualquer

setor da economia.

Porém, apesar de traduzir-se em facilitador do processo de gestão, alguns autores

pressupõem que a Controladoria não pode subsidiar o segmento econômico das

71

microempresas, alegando alguns pressupostos: custos são elevados; estrutura e organização

insuficiente da empresa de pequeno porte; e, principalmente, formação gerencial deficiente de

seus administradores. Dessa forma, à micro e pequena empresa cabe apenas a utilização de

serviços de contabilidade terceirizada, que se vinculam apenas a cuidar das obrigações fiscais

das empresas, ausentando-se de todas as informações gerenciais.

c. Aplicabilidade da Controladoria nas Micro e Pequenas Empresas

Em seu trabalho, Wahlmann (2003), abordou, além da conceituação da

Controladoria, a sua utilização nas microempresas da cidade de Ubatuba-SP, a partir do

volume considerável de mortalidade de empresas do segmento naquele município, utilizando-

se, como amostra, quarenta empresas do município enquadradas no segmento, de um universo

estabelecido de 1558.

Apesar de aferir que os empresários analisados possuem experiência profissional e

que boa parte possui formação nas áreas de administração e economia, a forma de gestão

observada na prática pouco lembra as técnicas acadêmicas e apresenta várias contradições,

conforme elencadas por Wahlmann (2003):

A preocupação dos microempresários está voltada em primeira linha para a receita

de vendas, desconhecendo e desprezando os conceitos de custos e sua

aplicabilidade;

Desejam o crescimento, mas, com pouca visão estratégica, preferem a estagnação

aguardando atitudes de terceiros;

Afirmam entender a importância de Sistemas de Informações Gerencias, porém

não organizam e utilizam as informações do dia a dia;

Demonstram pouco interesse em adquirir novos conhecimentos que beneficiariam

o seu negócio.

Conduz o trabalho à percepção de que o processo decisório não se utiliza das

informações gerencias disponíveis, que fundamentam sobremaneira estratégias calcadas em

dados consistentes, eliminando a dependência das ocorrências dos fatores externos na

condução dos destinos das organizações.

Conclui-se, a partir do trabalho, que depende em boa parte do contador mudar a

imagem dos serviços contábeis, buscando qualificação para orientar o cliente

microempresário a possuir uma estrutura simples de Sistema de Informação Gerencial. Com

esse propósito, a figura do contador se sobreporia a do consultor, capacitando o gestor a ponto

de se tornar o seu próprio controller.

Oliveira (2005) propôs em seu trabalho elaborar uma proposta de controladoria

empresarial para uma empresa de pequeno porte do setor metal-mecânico, situada no Médio

Vale do Itajaí-SC, que proporcione aos administradores um perfeito suporte aos atos de

decisão na gestão da empresa.

A pesquisa de Oliveira (2005) consolida que a Controladoria, que tem como função

primordial o gerenciamento dos sistemas de informações, de controle e de avaliação do

desempenho empresarial passa a ter o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento contínuo

dos processos internos, na busca da otimização do lucro, mediante a eliminação de todas as

atividades que não adicionam valor.

Assim, os insumos informacionais passados pela Controladoria Empresarial para

auxiliar os gestores na tomada de decisões, reveste-se de importância dentro do contexto

empresarial, uma vez que são considerados todos os aspectos relevantes como a visão do

ambiente interno e externo da organização.

72

O trabalho de pesquisa realizado por Lima (2007), junto às micro, pequenas e médias

indústrias de São Caetano do Sul, teve o objetivo de dar conformidade à condição de que a

utilização de instrumentos de controle gerencial fundamenta os gestores das empresas no

processo de decisão.

De acordo com os resultados obtidos, Lima (2007) identificou posições contrárias de

afirmações: as empresas estudadas, no seu processo decisório fundamentam-se a partir da

utilização de ferramentas de controle; a literatura constante do trabalho apontou para o revés

da consolidação da pesquisa.

d. Instrumentos da Controladoria

A Controladoria, como apoio à consecução de resultados positivos nas empresas,

tem como instrumentos o Processo de Gestão e Sistemas de Informações.

O processo de gestão é composto pelas etapas do planejamento, execução e

controle, através dos quais os gestores planejam suas ações, implementam os planos e avaliam

o resultado do que foi idealizado e orçado.

Como suporte, os Sistemas de Informações servem para o bom desempenho da

gestão econômica. A controladoria disponibiliza aos gestores sistemas de informações

gerenciais, que fundamentarão os mesmos a tomarem decisões e avaliarem aquelas já

executadas, através de controles específicos.

Catelli (2002) esclarece que os sistemas de informações são subdivididos em

simulação, orçamentos, padrões e controle. Este conjunto de subsistemas viabiliza as

seguintes ações:

a) induzir os gestores à decisão correta;

b) apurar os resultados econômicos dos produtos, atividades, áreas, empresas etc.;

c) refletir o físico-operacional;

d) permitir a avaliação de resultado dos produtos e serviços;

e) promover avaliação de desempenho.

Segundo Fernandes (2007), torna-se relevante na condução dos negócios das

empresas disporem dos mais adequados instrumentos para uma gestão estratégica eficaz,

dentre os quais se destaca a Controladoria.

O seu trabalho constituiu-se de pesquisa a 70 pequenas e médias empresas do

segmento industrial, das áreas específicas de fabricação de produtos alimentícios, fabricação

de produtos têxteis, fábrica de plásticos, fabricação de produtos químicos e confecção de

artigos do vestuário.

Indagados sobre as principais atribuições da Controladoria em suas empresas,

Fernandes (2007) constatou, de acordo com as respostas dos gestores, que a Controladoria

pode ser útil em termos de produto, objetivo, processo, atividades, requisitos e, finalmente

instrumentos, porém nenhuma afirmação descreveu algo que seja estratégico do ponto de vista

da vantagem competitiva.

O autor, ainda por sua vez, questionou os micro e pequenos empresários

pesquisados sobre as questões comportamentais, estruturais e contextuais que interferem e

dificultam o processo de funcionamento da área da Controladoria e possibilidade de gerar e

interagir com aspectos estratégicos da organização. As respostas levaram a deduzir que o

nível de participação da Controladoria no processo de gestão estratégica nas empresas é

limitado e demonstra imaturidade, bem como percebeu pouca correlação entre a teoria e a

prática.

Os resultados demonstraram que a Controladoria interfere pouco nas estratégias

73

das empresas analisadas, necessitando que esta área desenvolva modelos e ferramentas

práticas aplicáveis que estimulem a compreensão e o seu uso pelos tomadores de decisão. As

informações fornecidas pela Controladoria atendem às necessidades da própria Controladoria

e não aos propósitos da estratégia e da vantagem competitiva.

Evidencia-se, no trabalho de Fernandes (2007), que a Controladoria pode ser

aplicada e implementada em empresas de pequeno porte, porém, adequando-se às

peculiaridades e aos processos de funcionamento, com o objetivo de tornar mais fácil a

identificação dos preceitos e ferramentas aplicáveis ao segmento empresarial sob estudo.

e. Planejamento Estratégico nas Micro e Pequenas Empresas

O processo globalizado provoca a necessidade de sobrevivência e permanência de

um modelo de negócio em um ambiente de concorrência, gerando significativos desafios,

obrigando os gestores das empresas a buscarem alternativas estratégicas, a fim de manter a

empresa viva no mercado, satisfazendo seus clientes e atenta aos fatos da economia.

O contexto empresarial apresenta-se problemático para as empresas de pequeno

porte em decorrência de fatores externos e internos, que independem ou não de procedimentos

específicos das organizações. Dentre esses fatores apresentam-se a legislação, a concorrência,

as exigências por padrões superiores de qualidade dos produtos e serviços e o atendimento aos

clientes. Com o propósito de transpor essas barreiras, torna-se necessário entender os

preceitos de Planejamento Estratégico e que benefícios podem-se auferir a partir de suas

aplicações direcionadas ao contexto das pequenas empresas

Conceitualmente, planejamento trata da capacidade de organizar e prever as

consequências de uma série de ocorrências, atuando preventivamente aos possíveis efeitos

indesejáveis resultantes dos eventos.

Oliveira (2007) esclarece que o planejamento estratégico é uma metodologia

gerencial que estabelece o rumo a ser seguido pela empresa, objetivando o grau de interação

perfeito com o ambiente, levando-se em conta a capacidade estrutural da organização para

administrar coerentemente o processo de adequação a essa nova metodologia.

Catelli (2002, p. 59) esclarece que: “A fase de planejamento estratégico tem como

premissa fundamental assegurar o cumprimento da missão e da continuidade da empresa.”

O planejamento estratégico consiste na análise das oportunidades e ameaças

(ambiente externo) com a consequente identificação dos pontos fortes e fracos (ambiente

interno) da organização, visando a elaborar as diretrizes estratégicas para assegurar o

cumprimento da missão da empresa, bem como atingir a sua visão, que vem a ser o que se

vislumbra no longo prazo (SCHIMIDT, 2002).

Contudo, a falta de preparo dos profissionais responsáveis pela gestão das micro e

pequenas empresas faz com que não sejam tomadas as decisões via modelo formal, e sim

buscam apoio exclusivamente na experiência e na observação, baseadas em preocupações de

curto prazo dos proprietários, comprometendo o foco de longo prazo para o empreendimento.

Portanto, os gestores das empresas de pequeno porte devem estar atentos ao

adequado levantamento dos dados importantes que fomentarão as ações que se pretende

implementar. Assim, informações inadequadas levarão a conclusões erradas e,

consequentemente, gerando prejuízos que excluem as empresas do mercado.

O Planejamento Estratégico, para gerar eficiência, eficácia e efetividade, deve

modelar-se essencialmente por informações coerentes que fundamentem a transformação em

decisões e transcrevam os resultados planejados em um plano contendo as decisões e as ações

a serem executadas.

Por sua vez, o Planejamento Estratégico leva em consideração as percepções

organizacionais vinculadas à visão sistêmica da empresa, em que se priorizam inicialmente as

decisões que revelem maior abrangência e influência nos objetivos e metas organizacionais.

74

Torna-se importante fundamentar todas as decisões de maneira a abranger desde a estrutura

organizacional da empresa até os processos operacionais e administrativos.

Santos (2004) abordou que usualmente o Planejamento Estratégico, que faz parte

das ferramentas da Controladoria, é visto como um instrumento de aplicação complexa, típica

de grandes empresas. No entanto, os benefícios decorrentes de aplicação dessa ferramenta

podem também ser usufruídos por Empresas de Pequeno Porte (EPP) com utilização de

metodologia e mecanismos simplificadores.

Enaltecendo a importância do planejamento estratégico no segmento de empresas

de pequeno porte, Barbosa e Teixeira (2003) buscaram identificar, na elaboração do PE, a

missão e os objetivos das pequenas e médias empresas – PMEs – industriais sergipanas, o

ambiente empresarial, a influência da conjuntura econômico-financeira nas PMEs, a

colocação das empresas no mercado e as possibilidades de crescimento.

No tocante à missão, verificaram as autoras que poucos gestores a formalizam, e

que 52% compartilham deste instrumento do PE. Quanto aos objetivos, destacam-se os

econômicos, resumidos por crescimento e lucro, apesar de ter citações dos objetivos não

econômicos (sociais), destacando-se a geração de empregos.

Ficou patente às autoras que o gestor da PME é sempre o principal responsável

pelos caminhos estratégicos a seguir, bem assim pela análise das informações sobre ameaças e

oportunidades geradas pelo ambiente.

Portanto, Barbosa e Teixeira (2003) concluíram que o pensamento estratégico é

artesanal, reativo ao ambiente, e a gestão é direcionada para a resolução de problemas

cotidianos, apesar de destacarem que os empresários estão despertando para a necessidade de

formular estratégias empresariais.

f. Gerenciamento dos Recursos Financeiros nas Micro e Pequenas Empresas

O adequado planejamento é uma das condições preponderantes para que a gestão

das empresas tenha resultados eficientes e eficazes. Assim, a gestão financeira, por envolver

principalmente o objetivo primordial das organizações – o resultado – deve ser

cuidadosamente planejada, executada, acompanhada e avaliada.

A gestão financeira fundamenta-se em assegurar o objetivo de liquidez da

empresa, identificando o quanto o fluxo de caixa é impactado pelas decisões das diversas

áreas, ou seja, tem como foco a análise e o acompanhamento da entrada e saída de recursos

financeiros da empresa.

O desempenho perfeito da área ou função financeira terá efeitos favoráveis à

obtenção de liquidez adequada com a concomitante geração dos lucros empresariais, somente

se ocorrer um processo de informações contábeis funcional, a fim de que sejam planejadas

ações coerentes e consistentes que mensurem as receitas, os custos e as despesas.

Apresenta-se, portanto, para as empresas de pequeno porte, a necessidade de que

os seus gestores, em tempos competitivos como os atuais, busquem cada vez mais

informações mercadológicas e úteis, a fim de gerar efetividade nos propósitos empresariais,

para se manterem competitivas no mercado, condição básica para a sobrevivência da empresa

moderna.

Nessa linha de raciocínio, trabalhar as ferramentas financeiras na gestão das

atividades da empresa poderá facilitar as decisões estratégicas, tais como a seleção de

alternativas de investimentos, decisões de financiamentos de longo prazo, além das operações

de curto prazo, como gestão do caixa e o gerenciamento do risco.

As informações são geradas a partir de metodologias criadas no âmbito das

finanças e contabilidade com o objetivo principal de fornecer subsídios aos gestores, que

fundamentarão suas decisões e promoverão à gestão financeira o direcionamento para as

75

atividades dos níveis operacionais, preponderantemente aos resultados empresariais.

Para tanto, apresentam-se alguns dos controles específicos e operacionais que

coordenam o fluxo financeiro das micro e pequenas empresas, levando-as ao perfeito controle

do seu ciclo operacional, evitando a utilização desorganizada do capital de giro próprio.

O controle do “Contas a Pagar”, que se referem a valores de obrigações ainda não

quitadas, provenientes do uso ou consumo de bens e serviços originados de terceiros, que

compõem, dessa forma, a estrutura de capitais de curto prazo. Segundo Assaf Neto e Silva

(2006, p. 97),

Crédito diz respeito à troca de bens presentes por bens futuros. De um lado uma

empresa que concede crédito, troca produtos por uma promessa de pagamento

futuro. Já uma empresa que obtém crédito recebe produtos e assume o compromisso

de efetuar o pagamento no futuro.

Pelo critério da liquidez a melhor modalidade de recebimento das vendas é à vista.

Porém, a concorrência acirrada das empresas regula condições no tocante a essas vendas e

promove, também, o recebimento a prazo. Assim, qualquer empresa para gerar receitas ao

vender bens e serviços tem a opção, de acordo com o cliente, de receber o pagamento no ato

da venda ou esperar o prazo negociado para recebimento posterior, concedendo, dessa

maneira, crédito aos clientes. Para Assaf Neto e Silva (2006, p. 97),

A venda a prazo pode ser justificada como importante estratégia de mercado. É

bastante comum particularmente no varejo, o uso da venda a prazo visando

proporcionar um volume médio de vendas superior à venda a vista. Nesta situação, a

empresa pode optar por oferecer crédito como uma forma de incentivar as vendas

por impulso.

O escalonamento dos vencimentos futuros das dívidas circulantes das empresas,

dentro de uma coerência dos possíveis recebimentos no curto prazo torna-se fator

imprescindível para a perfeita administração do fluxo de caixa.

3 METODOLOGIA

A pesquisa possibilitou recolher, selecionar e interpretar algumas das

contribuições já existentes sobre o assunto proposto, além de apresentar uma orientação

teórica sobre o tema, que caracteriza os conceitos analisados.

O trabalho foi delimitado a quarenta micro e pequenas empresas dos municípios

de Aracaju e Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe, dos setores industrial, comercial e

prestação de serviço, realizada em 2009, tornando-se possível elaborar a pesquisa e

determinar a importância da Controladoria Empresarial para aqueles segmentos em seus

diversos aspectos.

No intuito de alcançar os objetivos deste trabalho, fez-se necessária a formulação

de questões de pesquisa. Marconi e Lakatos (2007) descreveram as questões de pesquisa

como indagações amplas, que, para serem respondidas, exigiram a colocação de um conjunto

de perguntas específicas no questionário. Dessa forma, são apresentadas as seguintes

indagações:

Quais as características dos micro e pequenos empresários e seus

empreendimentos?

Quais são os processos de gestão utilizados nas empresas?

Qual o suporte gerencial prestado às micro e pequenas empresas pelo

76

segmento contábil?

Quais são os controles financeiros e orçamentários utilizados pelas

empresas?

Em que estágio se encontra a aplicação das ferramentas da Controladoria

nas micro e pequenas empresas?

Os dados foram analisados de forma estatística, através dos estudos de séries e

frequências, a partir das respostas colocadas pelos pesquisados, promovendo ainda

cruzamentos entre variáveis com o intuito de melhor identificar os problemas que possam

gerar, no contexto da gestão, a utilização dos conceitos e técnicas da Controladoria

Empresarial como forma de auxílio às micro e pequenas empresas nos processos de decisões e

organização, visando a permanência no mercado concorrencial.

De outra forma, buscou-se também a utilização de fatores comparativos,

consistindo em investigar alguns fenômenos oriundos das respostas de questões abertas e

explicá-los segundo suas semelhanças e suas diferenças, como forma de manter uma

coerência de procedimentos em prol das micro e pequenas empresas que porventura

apresentam maior solidez.

Para tanto, foi utilizado o aplicativo SPSS, na sua versão 16, como forma de

facilitar a condensação dos dados, de maneira a qualificar as variáveis questionadas aos

respondentes da pesquisa e obter melhores fundamentos para identificar o problema e,

consequentemente, focar a análise na sua possível solução para que os objetivos sejam

efetivamente atingidos.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A partir dos dados coletados através da pesquisa realizada com quarenta micro e

pequenos empresários de Aracaju e Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe, serão

apresentados, a seguir, resultados que servirão como subsídio à caracterização dos

entrevistados e seus empreendimentos, o comportamento empresarial, além das percepções

dos gestores sobre a aplicação da Controladoria em suas empresas.

a. Caracterização dos Empresários e Empresas Pesquisadas

As características de indivíduos e empresas neste trabalho têm como fundamento

a busca de informações particulares, que designem a atuação dos gestores em suas funções

empresariais, como também apresentar a empresa gerida e sua situação perante o mercado,

definindo, portanto, o quanto a influência do ser humano no ambiente é efetiva,

transformando o empreendimento administrativamente a partir de ações e decisões.

Os empresários pesquisados, compondo totalidade de quarenta pessoas, são, na

sua maioria, do sexo masculino (80%). Encontram-se na faixa etária situada entre os 20 a 40

anos (70%) e existe uma diversificação da atividade anterior dos entrevistados, tais como:

estudantes; empregados da mesma atividade; filhos de empreendedores; desempregados.

Apresenta-se como fato relevante o percentual de 50% dos gestores possuírem

experiência na área, uma vez que advieram da mesma atividade, que os habilita a entender as

dificuldades enfrentadas pelas micro e pequenas empresas no âmbito gerencial e encontrar

alternativas para a solução destes problemas.

Foram identificados os dados de formação dos micro e pequenos empresários

pesquisados, revelando que a busca do conhecimento, seja ele técnico ou acadêmico, nos dias

atuais, evidencia-se pela perspectiva de melhores condições empresariais, que venham

auxiliar os gestores no seu processo administrativo. Destaca-se assim na pesquisa que 97,5%

77

da amostra possui formação acima do ensino médio.

A influência do conhecimento através da formação complementar (treinamentos

específicos) é um fato inegável que auxilia o ser humano no desempenho de qualquer

atividade, através do conhecimento explícito, que é aquele formal, claro, regrado, fácil de ser

comunicado.

Porém, no caso específico das microempresas, o conhecimento quase na sua

totalidade, e por consequência de que o gestor muda da condição de empregado para

empresário, advém da forma tácita, que o indivíduo adquiriu ao longo da vida, que está na

cabeça das pessoas. Geralmente é difícil de ser formalizado ou explicado a outra pessoa, pois

é subjetivo e inerente às habilidades de uma pessoa, como "know-how".

A caracterização de empresas define parâmetros essenciais e individualizados de

qualquer ramo empresarial. Conhecer e compreender tais particularidades são de fundamental

importância para oferecer o apoio adequado, a partir da formulação de políticas, programas e

ações que efetivamente estejam direcionadas ao segmento.

As micro e pequenas empresas têm características específicas que as distinguem

de organizações maiores, principalmente no tocante ao aspecto organizacional. Tem-se,

portanto, alguns padrões estabelecidos em pesquisas ou vistos por órgãos que orientam a

gestão daquele segmento:

a) a característica básica das MPEs é a falta de estrutura na empresa, falta de visão e

ausência de conhecimento técnico. Geralmente o empresário é responsável por

todas as áreas da empresa;

b) as MPEs têm dificuldade de comprovar, por meio de demonstrativos contábeis ou

técnicos, suas necessidades e aptidões;

c) falta de percepção das empresas (gestores) sobre a importância da inovação, não

a reconhecendo como elemento que alimenta a longevidade dos seus negócios.

Foram analisadas algumas características das empresas, principalmente para aferir

a permanência das micro e pequenas no mercado até os dois primeiros anos, a partir das

informações apresentadas pelo SEBRAE (2007), constatando-se que 60% das empresas

entrevistadas já ultrapassaram o tempo crítico da pesquisa, refletindo, de alguma forma, que

as empresas com contabilidade aplicada dentro dos procedimentos legais (amostra

selecionada) têm obtido melhores resultados em relação ao padrão nacional.

O ramo de atividade é um fator preponderante para complementar a análise anterior,

visto que alguns segmentos podem ser prejudicados em face de instabilidades econômicas,

crises e outros fatores que independam da gestão mais efetiva do micro e pequeno empresário.

Cruzando-se ramo de atividade com a idade de funcionamento da empresa, identifica-

se que na idade crítica – de 1 a 2 anos – o ramo industrial concentra maior número de

empresas, diferente da prestação de serviços, que concentra fora da “faixa de risco” o

equivalente a 53%, conforme demonstrado na Figura 1, contrapondo-se aos resultados

nacionais do SEBRAE (2007) o setor que mais apresenta fechamento de empresas é o

comércio.

78

5

9

2

1

1

5

3

0

2

1

0

2

1

0

1

1

1

1

00

1

00

1

0

1

0

1

00

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5 6 8 10 12 15

Idade da Empresa

Comércio Indústria Prestação de Serviço

Figura 1 - Cruzamento de tabelas (Idade da MPE x Segmento)

Fonte: pesquisa de campo

b. A Controladoria no Âmbito das Micro e Pequenas Empresas

Por ser parte principal da investigação deste trabalho, a verificação da utilização

das ferramentas da Controladoria pelos empresários entrevistados foca aspectos observados

que serão comparados com os estudos realizados, citados neste artigo, e os conteúdos já

divulgados na teoria literária da área, bem como fundamenta a percepção do autor sobre a

possível influência do uso da controladoria como fator de redução da mortalidade das

empresas do segmento de micro e pequeno porte.

Assim, foram analisados e comentados os aspectos importantes e as dificuldades

que os micro e pequenos empresários entendem como aplicáveis nas suas organizações,

focando, principalmente, os instrumentos que pertencem à Controladoria Empresarial, a saber:

Planejamento Estratégico, Processos de Controle, Suporte da Contabilidade, Custos e

Finanças, consolidado por um questionamento que apresenta o nível de conhecimento e

aplicação da Controladoria pelos entrevistados.

Para a condução do processo de elaboração do plano estratégico, faz-se necessário

o envolvimento direto dos principais gestores da empresa, mesmo porque cabe aos mesmos a

compra da ideia e a motivação aos demais participantes da organização, a fim de que a

implementação e o acompanhamento gerem resultados pretendidos.

Os gestores terão a obrigação de, ao constituírem o planejamento estratégico,

definirem missão, visão, objetivos e metas relacionados ao negócio e ao mercado em que se

encontra a empresa.

Das empresas pesquisadas, no tocante a possuir planejamento estratégico, o

resultado apresentou que 40% das empresas participantes da pesquisa utilizam na sua gestão o

referido planejamento (Figura 2).

Consolidando-se as informações daquelas que possuem planejamento estratégico,

verificou-se que o apoio do SEBRAE ainda se torna um instrumento de suma importância na

área de consultoria para as micro e pequenas empresas, com representatividade nos

planejamentos implementados de 62% (Figura 3), apesar de 60% das empresas não receberem

orientações sobre planejamento estratégico, desconhecendo assim essa prática de gestão.

79

Figura 2 - Planejamento estratégico implementado

Fonte: pesquisa de campo

Figura 3 - Responsável pela implementação do PE

Fonte: pesquisa de campo

A declaração de visão de futuro é a direção em que a empresa pretende seguir, ou

ainda, um quadro do que a empresa deseja ser. Trata-se ainda da personalidade e caráter da

empresa. Assim, a declaração de visão de uma empresa deveria refletir as aspirações da

empresa e suas crenças.

Vê-se, portanto, que uma das ferramentas mais importantes da controladoria, o

planejamento estratégico estruturado, não é utilizado pelas MPE, pois 2,5% da

representatividade de uma empresa de quarenta consultadas tem “visão de futuro”,

componente básico do PE, conforme Figura 4. Configura-se, dessa forma, a visão imediatista

das MPEs, apresentando visão de curto prazo, pois trabalham pensando apenas no que está

ocorrendo agora, sem planejamento futuro e de longo prazo.

2,50%

97,50% Estabelecida

Não estabelecida

Figura 4 - Estabelecimento de Visão de Futuro

Fonte: pesquisa de campo

80

O controle de gestão é a ferramenta essencial para o desenvolvimento de qualquer

organização, apresentando uma análise contínua dos resultados esperados, fornecendo aos

gestores a realidade da empresa, permitindo a tomada de decisões que conduzam aos

objetivos traçados no planejamento.

Os princípios e fundamentos do controle interno não são uniformes para todas as

empresas e cada empresa deverá estabelecê-los dentro de sua realidade e estrutura. É de

responsabilidade da administração o estabelecimento e a manutenção do sistema de controle

interno adequado às atividades desenvolvidas pela empresa.

Para tanto, o controle empresarial fundamenta-se em bases consistentes, que a

controladoria, na sua essência, sugere para que as micro e pequena empresas possuam

melhores desempenhos estruturais e financeiros:

a) Existência de um plano de organização com uma adequada

distribuição de responsabilidades, visando a execução das tarefas

com coerência e cumprimento dos prazos estabelecidos;

b) Regime de autorização e de registros capazes de assegurar um

controle contábil sobre os investimentos, financiamentos e sistemas

de resultados da empresa (custos e receitas), ou de metas das

instituições (orçamentos), promovendo acompanhamentos das metas

estabelecidas e a respectiva consecução dos objetivos;

c) Preocupação contínua com as pessoas que fazem as empresas, bem

como o perfeito acompanhamento do desempenho das funções a elas

atribuídas;

d) Qualidade e responsabilidade do pessoal, em nível adequado.

Relativamente aos processos de controle que as empresas elegeram como

importantes para a gestão dos negócios, na demonstração da Figura 5 são apresentados os

resultados que determinam preocupação dos gestores com receitas de vendas.

Figura 5 - Procedimentos de Controle

Fonte: pesquisa de campo

Na pesquisa efetuada, quando indagados sobre o suporte gerencial oferecido pelo

Contador a metade das empresas, através dos seus gestores, expressou que o contador é um

mero emissor de guias de pagamento e salários, que as remete para a quitação por parte das

MPEs, conforme demonstra a figura 6.

81

Gráfico 6 - Suporte da Contabilidade

Fonte: pesquisa de campo

Vê-se, portanto, que a Contabilidade não deve ter característica apenas para gerir

as obrigações fiscais das empresas e cumprir as determinações legais, mas, principalmente

atuar como instrumento administrativo, que venha a controlar efetivamente o patrimônio da

empresa, com o objetivo de fazer a diferença no mercado tão competitivo.

Além dos aspectos legal e fiscal/tributário, as orientações aos gestores de MPE na

área econômico-financeira traduzem-se em importantes instrumentos de controle e de

acompanhamento dos rumos da empresa, permitindo à administração a detecção e correção de

procedimentos, que muitas vezes, poderiam levar a perdas irreparáveis.

Nessa ótica, o Contador gerencial, que pode ser comparado ao Controller

realmente assume e entende as noções de risco, incerteza e custo de oportunidade, munido de

um ferramental mais poderoso de análise econômico-financeira, com o objetivo principal de

auxiliar os administradores no processo de tomada de decisão, melhorando o desempenho das

micro e pequenas empresas.

A gestão coerente dos custos objetiva, principalmente, a maximização dos lucros,

levando-se em consideração que empresas com centros de custos mais ajustados são eficientes

na formação do preço de seus produtos ou serviços, sendo esta a principal estratégia

competitiva para a conquista de mais clientes e permanência garantida no mercado.

No questionamento, sobre o cálculo dos custos dos produtos, realizado pelas

empresas obtiveram-se respostas, na sua maioria, que geram preocupação, pois

empreendimentos que não utilizam nenhuma metodologia de avaliação dos custos poderão

praticar preços abaixo do ponto de equilíbrio, fato que gera prejuízos contínuos.

As técnicas e modelos para apuração de custos, contábeis ou gerenciais, aplicam-

se a todos os ramos de negócios, de forma a fundamentar o processo de planejamento e

controle das atividades econômicas geradas em cada empreendimento, independentemente se

os segmentos explorados forem industrial, comercial ou prestação de serviço. Consolida-se,

portanto, que as receitas resultantes das vendas de bens e/ou serviços são efetivamente as

fontes geradoras de recursos, tarefas conhecidas como atividades “fim”.

Os valores gastos com as atividades principais denominam-se “custos”. De outra

forma, os gastos consumidos pelas atividades não operacionais são caracterizados como

“despesas”. Assim, estabelece-se que os controles vinculados aos gastos, custos e despesas,

são ferramentas da Controladoria Empresarial.

O fluxo de caixa representa a movimentação financeira de uma empresa, ou seja, a

conciliação entre as receitas e as despesas, ou, de outra forma, o ajuste financeiro entre as

entradas de dinheiro e os desembolsos.

82

Sobre essa importante ferramenta foi indagado aos gestores sobre a sua utilização

nas suas empresas, como forma de controlar o “contas a pagar” e o “contas a receber”, sendo

unânime a utilização nas organizações. Porém, a periodicidade da utilização variou

consideravelmente, traduzindo, para alguns casos, defasagem no acompanhamento, conforme

se apresenta na Figura 7:

Figura 7 - Frequência do Fluxo de Caixa

Fonte: pesquisa de campo

A maioria dos pesquisados não soube responder como a Controladoria auxiliaria o

desempenho das micro e pequenas empresas, alegando, principalmente, o desconhecimento

das suas premissas e ferramentas.

Contudo, abordaram subjetivamente que alguns dos procedimentos conhecidos da

área financeira facilitariam de forma mais contundente o crescimento e a permanência das

MPEs no mercado, citando alguns como: análise econômico-financeira, avaliação de

necessidade de crédito pelos bancos, aumentando os limites creditícios a partir de

metodologias menos conservadoras e mais abrangentes para o segmento.

Observa-se que a abrangência do tema para as micro e pequenas empresas

fortalece o pressuposto do objetivo principal deste trabalho, no tocante à importância da

Controladoria aplicada ao segmento empresarial sob estudo, como forma de gerar

informações para o processo decisório dos gestores. Assim, a presunção de que os

instrumentos da controladoria auxiliariam as empresas de pequeno porte na obtenção de

melhores resultados advém da consolidação verificada na pesquisa nacional do SEBRAE

(2007), as falhas gerenciais, representando 68% das respostas dos empresários, como a

principal razão para o encerramento das atividades.

5 CONCLUSÕES

As dificuldades conjunturais do mercado, atreladas à globalização, às crises

econômicas, ao acirramento da competição e rapidez com que a tecnologia vem se

transformando e evoluindo podem afetar o desempenho das micro e pequenas empresas.

Além desses aspectos macro, fatores internos às empresas, tais como

planejamento de atividades, descuido com o caixa, não utilização de assessoria,

desconhecimento do ramo em que trabalha, falta de análise das informações e sistema de

custos não implantado e que dependem da efetiva atuação dos gestores demonstram o quanto

os micro e pequenos empresários necessitam de ferramentas gerenciais e processos dinâmicos

que facilitem sobremaneira as decisões, a fim de não sucumbirem.

Neste sentido, a Controladoria Empresarial como ramo do conhecimento tem seu

83

papel preponderante na micro e pequena empresa de, a partir das suas ferramentas e preceitos,

promover o apoio aos administradores na busca por resultados econômicos corretamente

mensurados, focado no planejamento e controle da gestão.

Visualiza-se, a partir desta percepção, que a Controladoria Empresarial tem

perfeita utilidade dentro das micro e pequenas empresas, uma vez que a mesma possui

instrumentos valiosos para modificar a condição de organizações reativas, que vivem em

estado de inércia.

Fica patente, também, que a organização dos dados contábeis, fomentadores das

informações financeiras passíveis de análise e previsões próximas da realidade, diminuirá

certamente o volume de óbitos empresariais daquele segmento, desde que utilizados para

qualificar a gestão efetiva das empresas.

É notório que as informações já consolidadas sobre Controladoria Empresarial,

dispostas nas referências utilizadas neste trabalho são importantes para o processo de gestão

empresarial. Cabe aos empresários intercambiarem cada vez mais os conteúdos de

publicações às experiências de órgãos criados para promoverem sustentabilidade ao

segmento, tais como SEBRAE, SENAI e SENAC.

Levando-se em conta a velocidade com que os fatos acontecem, cada vez mais a

controladoria deve adequar-se a este ambiente, agilizando suas informações aos gestores das

MPEs, no intuito de prognosticar as decisões estratégicas das empresas, reduzindo, se

necessário for, o tempo de disponibilização das informações.

Espera-se que haja uma maior conscientização da importância e da necessidade da

Micro e Pequena Empresa no cenário mercadológico brasileiro, principalmente pela sua

representatividade para a economia nacional. Em contrapartida, cabe aos Micro e Pequenos

Empresários gerirem seus empreendimentos com maior formalidade e organização,

valorizando o planejamento, a fim de reduzir erros administrativos constantes.

CONTROLLING BUSINES ECONOMIC MANAGEMENT FOR MICRO AND

SMALL ENTERPRISES

ABSTRACT

This paper condenses the author's dissertation, which aimed to identify the importance of

Corporate Controller for the universe of small businesses, as regards the applicability of their

tools to improve the process of management. They appear, therefore, collected some of the

concepts of references consolidated in specific books Comptroller, forming the theoretical

basis for comparative work in the same line of observation and the present investigation,

adding to the reader more insight into the subject. Consolidation of ownership of research

results showed that the tools of the Controller Enterprise (planning, budgeting, financial

analysis, information management) are not fully utilized by micro and small companies

surveyed - even taking into account the restrictions on the composition and size of those

organizations - towards better and efficient results, corroborated with the findings of the

authors of similar studies, referenced in this article.

Keywords: Corporate Controller. Planning. Micro and small enterprises.

84

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86

EMPREENDEDORISMO SOCIAL SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO MULTICASOS

EM ONG´S SERGIPANAS

José Álvaro Jardim de Almeida41

Paulo Rafael Monteiro Nascimento42

Wanusa Campos Centurión43

RESUMO

Nos últimos anos, tem-se verificado um crescimento das organizações do Terceiro Setor no

Brasil, particularmente, das Organizações Não-Governamentais (ONG´s). O trabalho das

organizações do Terceiro Setor é desafiador por estar ligado às questões que envolvem justiça

social, dentre outros aspectos. As ONG´s, em especial, ao buscarem solucionar problemas

sociais, tentam com isso minimizar as dificuldades da população excluída, desenvolvendo

projetos que visam a melhorar a qualidade de vida da população. Nesse sentido, as ONG´s

têm apresentado uma preocupação crescente em criar ações empreendedoras voltadas para a

sustentabilidade nas perspectivas ambientais, sociais e econômicas. Diante desse desafio, o

empreendedorismo social tem sido reconhecido por alguns autores como um paradigma

emergente para o desenvolvimento das organizações do Terceiro Setor. Por outro lado, essas

organizações têm sofrido pressões de seus principais stakeholders no sentido de melhorarem a

qualidade dos serviços oferecidos à comunidade e, ao mesmo tempo, carecem de mecanismos

e ferramentas eficazes para que possam dar maior tangibilização às suas ações, de modo a

efetivamente mudarem o quadro atual de grande ênfase ao assistencialismo. Diante desse

contexto, o presente estudo teve como objetivo investigar até que ponto as ações

empreendedoras de três ONG´s da cidade de Aracaju (SE) são sustentáveis. Foram analisadas,

sob a ótica da sustentabilidade, as ações empreendidas pelas ONG´s: Fundação Brasil

Criativo, Sociedade SEMEAR e Instituto Luciano Barreto Júnior. A pesquisa caracteriza-se

por sua natureza teórico-empírica, na forma de um estudo de caso múltiplo, de caráter

qualitativo e descritivo. Foram realizadas análises documentais, bem como, entrevistas semi-

estruturadas com os gestores das organizações. Durante as entrevistas foram abordadas

questões relacionadas a nove categorias de sustentabilidade, a saber: captação de recursos e

geração de receitas; interação com a sociedade; preservação e manutenção do meio ambiente;

orientação estratégica; transparência; voluntariado; avaliação de resultados e monitoramento;

estrutura organizacional e; profissionalização. Os resultados obtidos apontam para uma

grande preocupação dos gestores das ONG‟s em proporcionar serviços de qualidade à

sociedade local. Apesar de serem detectadas algumas falhas gerenciais, as ações

empreendedoras das organizações investigadas estão no caminho da sustentabilidade, uma vez

que a maioria dessas categorias está sendo parcial ou plenamente atendida. Também

destacamos que os critérios de sustentabilidade referentes à preservação e a manutenção do

meio-ambiente, ao voluntariado e à captação de recursos e geração de receitas carecem de

maior atenção por parte dos dirigentes das organizações pesquisadas.

41

Doutorando PROPAD-UFPE. 42

Doutorando PROPAD-UFPE. 43

Mestranda PROPAD-UFPE.

87

1. INTRODUÇÃO

Os dados fornecidos no relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de

2009 mostram que o Brasil é um país empreendedor. O Brasil é considerado atualmente como

o sexto país mais empreendedor do mundo, quando comparado aos países com nível de

desenvolvimento econômico semelhante. Além disso, o empreendedorismo brasileiro é

considerado de melhor qualidade, uma vez que a população brasileira está empreendendo

mais por oportunidade do que por necessidade (GEM, 2009).

Conforme a atual conjuntura econômica, social e política, o empreendedorismo

tem sido visto como um meio de desenvolvimento socioeconômico. Ao induzir mudanças na

estrutura do negócio e da sociedade, com maior crescimento e produção de riquezas, o

empreendedorismo surge como uma opção para a geração de empregos, para a diminuição do

índice de mortalidade das empresas e para o desenvolvimento local (PAIVA JÚNIOR,

CORRÊA; SOUZA, 2006).

Roesch (2002) afirma haver um avanço das mudanças que ocorrem nas

instituições do Terceiro Setor, despertando o interesse da academia, bem como da sociedade

em geral quanto ao tema. Ela explica que a expansão deve-se, principalmente, ao fato da

descentralização da gestão de políticas sociais pelo governo. A visibilidade dos trabalhos das

ONGs favorece uma crescente pressão por melhorias no cenário social, provocando maiores

exigências em busca de melhor qualidade nos serviços oferecidos e um melhor

posicionamento político. (ROCHE, 2002; ARMANI, 2003). Acredita-se que tais fatos levam

essas organizações a um difícil desafio: gerir com qualidade, mesmo estando inseridas em um

cenário de grande instabilidade, limitação de recursos, pouca profissionalização da gestão,

visão assistencialista, pouco reconhecimento de instituições públicas e privadas e da

comunidade em geral.

De acordo com este cenário de desafios e paradoxos para as organizações do

Terceiro Setor, está sendo cada vez mais cobrada uma atitude dos dirigentes destas

organizações pautada no empreendedorismo e na sustentabilidade, com práticas efetivas e

inovadoras visando à solução de problemas sociais (MELO NETO; BRENNAND, 2004).

Ainda esses autores (2004, p. 116) afirmam que, “é dentro deste novo escopo de

sustentabilidade que a Responsabilidade Social evolui para o conceito de empreendedorismo

social.” Eles reforçam dizendo que ações sociais empreendedoras são sustentáveis quando

estão relacionadas à abertura e ao desenvolvimento de novos negócios, à formação e

capacitação profissional, ao incentivo do trabalho autônomo voltados à solução dos problemas

sociais, dentre outros. Alves Júnior (2008, p.14) compartilha com o mesmo pensamento,

relatando que essas ações devem ser bem planejadas e com ética, “para satisfazer os anseios

da comunidade, evitando assim as barreiras da inércia política, social e cultural”.

Sendo assim, percebendo a relevância do empreendedorismo social para as

ONG‟s e para a sociedade em geral, este estudo procurou responder a seguinte questão de

pesquisa: Até que ponto as ações empreendedoras das três ONG´s sergipanas pesquisadas são

sustentáveis?

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A contextualização do estudo dar-se-á a partir da discussão de pontos

fundamentais para a compreensão dos aspectos do empreendedorismo social e da

sustentabilidade. Dessa forma, serão apresentadas nas seções seguintes algumas concepções

sobre empreendedorismo social, sustentabilidade organizacional e organizações não

governamentais.

88

2.1. Empreendedorismo Social

A “palavra empreendedor (entrepreneur) é de origem francesa e quer dizer aquele que

assume riscos e começa algo novo” (DORNELAS, 2001, p. 27). Paiva Júnior (2004, p.54)

acrescenta que “[...] a inovação e o empreendedorismo caminham lado a lado, como processos

interdependentes, que se autodefinem pela capacidade de ruptura e colocação do novo, seja

em produtos, processos, matérias primas ou mercados, [...].”

Bessant e Tidd (2009, p. 336) afirmam que o empreendedorismo social:

não é apenas filantropia ou trabalho do bem, trata-se da mobilização de princípios

empreendedores adequados. [...] É mais do que a preocupação humana básica de se

doar aos outros, menos afortunados – é voltar-se para a realização de mudanças

sustentáveis, de longo prazo, em vez de buscar o alívio de problemas no curto prazo.

Todos os empreendedores, sejam eles sociais ou capitalistas, buscam novas

oportunidades e têm como essência a inovação. Os empreendedores sociais distinguem-se dos

outros pelo seu interesse de justiça social. São capazes de mobilizar-se a partir de uma visão

ou projeto, transformar problemas sociais em soluções, responder às necessidades coletivas

não satisfeitas pelas organizações públicas e privadas, bem como, gerar riqueza para a

comunidade em seu entorno, buscando a cada dia superar as dificuldades de acesso de capital

(ZEN; FRACASSO, 2008).

O empreendedorismo social para Melo Neto e Froes (2002) é visto como um

paradigma emergente de um novo modelo de desenvolvimento humano, social e sustentável.

Eles afirmam que somente através do desenvolvimento de ações empreendedoras sociais será

possível viabilizar uma comunidade autossustentável. Os empreendedores sociais buscam

liderar pelo exemplo, atacando problemas intratáveis e almejando alcançar metas de longo

prazo, como a sustentabilidade econômica, ambiental e a equidade social (HARTIGAN;

ELKINGTON, 2009).

É importante destacar que o papel do empreendedor social e sua responsabilidade para

com o desenvolvimento não reduzem ou extinguem a responsabilidade do Estado e de outras

instituições. Todos têm responsabilidades e são essenciais no fomento de uma sociedade

sustentável (ALVES JÚNIOR, 2008).

2.2. Por um Entendimento da Sustentabilidade Organizacional

Não “obstante as controvérsias e desentendimentos sobre o conceito de

desenvolvimento sustentável é indiscutível a sua influência exercida no interior das

organizações e, consequentemente, na postura do gestor” (OLIVEIRA, 2007). Mas, o que

vem a ser sustentabilidade organizacional? O conceito de sustentabilidade organizacional é

complexo e pode ser considerado por diferentes ângulos. Claro et al. (2008) lembram que,

mesmo existindo inúmeras definições de sustentabilidade, a maior parte dos conceitos afirma

que a sustentabilidade é composta de três dimensões relacionadas, a saber: econômica,

ambiental e social.

Algumas definições focam mais os aspectos sociais enquanto outras levam em

consideração as questões ambientais ou econômicas. Adotar práticas de gestão sustentável

voltadas apenas para as questões ambientais não é suficiente para garantir a sustentabilidade

de um negócio. É preciso fazer muito mais, a exemplo de integrar os aspectos sociais,

ambientais e gerenciais num modelo consistente capaz de melhorar o gerenciamento da

organização e otimizar seus resultados, sejam eles financeiros, sociais ou ambientais (MELO

NETO; BRENNAND, 2004). Hart (2006) complementa que para uma organização atingir

89

sustentabilidade ela deve ir além dos desafios econômicos, sociais e ambientais. Pois,

segundo o autor, somente as organizações que reconhecerem a sustentabilidade como

catalizador de novos negócios permancerão no mercado de forma competitiva.

Rattner (1999) lembra que a falta de exatidão do conceito de sustentabilidade

evidencia a ausência de um quadro de referência teórico que relacione as diferentes

contribuições dos discursos e campos de conhecimentos específicos. O problema da

multiplicidade de conceitos de sustentabilidade de cada teoria, doutrina ou paradigma leva a

diferentes implicações para a implementação e o planejamento da ação social.

Para permitir uma conceituação de referência para a presente pesquisa, optou-se

por adotar o entendimento do Relatório Brundtland sobre sustentabilidade. Segundo Claro et

al. (2008), o Relatório Brundtland contem a definição de sustentabilidade mais difundida

mundialmente. O relatório foi desenvolvido em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas. No relatório, sustentabilidade é entendida

como o desenvolvimento econômico, ambiental e social que procura satisfazer as

necessidades da geração presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de

satisfazerem as suas próprias necessidades (CMMAD, 1991). O conceito geral de

sustentabilidade dado pelo Relatório Brundtland pode muito bem ser estendido às

organizações, sejam elas econômicas ou não.

Na visão de Rossetto et al. ( 2004, p.4):

uma empresa pode ser considerada sustentável se atender aos critérios de ser

economicamente viável, ocupar uma posição competitiva no mercado, produzir de

forma que não agrida o meio ambiente e contribuir para o desenvolvimento social da

região e do país onde atua.

Barbieri (2007) reforça dizendo que uma organização sustentável é aquela que

busca ser eficiente economicamente, que preserva as questões ambientais e procura ser

instrumento de justiça social, estimulando a promoção da inclusão social, a proteção das

minorias, o equilíbrio entre os gêneros, entre outros aspectos. Ele (2007, p. 105) ainda avança

dizendo que uma organização inovadora sustentável “não é a que introduz novidades de

qualquer tipo, mas novidades que atendam as múltiplas dimensões da sustentabilidade em

bases sistemáticas e colham resultados positivos para ela, para a sociedade e o meio

ambiente”

McKinsey; Company (2001) afirmam que uma organização sustentável é aquela

capaz de: manter suas operações sem depender totalmente de recursos externos, através da

necessidade de diferenciar as fontes de financiamento; desenvolver novas fontes de receita;

qualificar todos os membros da organização; atrair novas pessoas para compor a organização;

revisar o processo de comunicação; revisar e monitorar resultados; e melhorar o

gerenciamento através de práticas efetivas.

Para Armani (2003), a sustentabilidade também deve ser entendida sob o enfoque

sistêmico e gerencial. No enfoque sistêmico, devem ser observados os fatores

impulsionadores dos processos de mudança social, a exemplo da inserção política, a

credibilidade e o fortalecimento da base social das organizações. No enfoque gerencial, são

destacados os desafios da gestão e a sua eficiência organizacional. O mesmo autor relata as

dimensões para analisar a sustentabilidade diante desses enfoques. Sob a perspectiva

sistêmica, o autor considera: a base social, a legitimidade e a relevância da missão; a

autonomia e a credibilidade; o poder para influenciar processos e políticas públicas; e a

capacidade para estabelecer parcerias e ações conjuntas. Do ponto de vista gerencial, são

consideradas as seguintes dimensões: a sustentabilidade financeira; a organização do trabalho

e a gestão democrática eficiente; o quadro de recursos humanos adequados; um Sistema de

90

Planejamento, Monitoramento e Avaliação (PMA) participativo e eficiente; a capacidade de

produção e sistematização de informações e conhecimentos.

Coral (2002) enfatiza que para uma organização ser sustentável ela deve inserir no

seu processo decisório questões ambientais, estimular o desenvolvimento da comunidade de

entorno e investir a longo prazo no desenvolvimento global. O autor destaca ainda que uma

organização de sucesso geralmente alinha as ações de cunho sustentável na sua gestão

estratégica.

2.3. Organizações do Terceiro Setor: as Organizações Não Governamentais

O Terceiro Setor é formado por organizações autônomas de caráter privado que

não visam ao lucro para os seus membros. São autogovernáveis, com independência para

traçar seu futuro e tem como uma das principais características o voluntariado, tanto para a

realização do trabalho como para doações (SALAMON, 2005). Ampliando esse conceito

clássico, Fernandes (1994, p. 27) afirma que o Terceiro Setor:

é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na

participação voluntária, num âmbito não governamental, que dão continuidade às

práticas tradicionais de caridade, da filantropia e do mecenato e expandem o seu

sentido para os domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de

cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil.

No Terceiro Setor existe uma certa imprecisão sobre as organizações que o compõe.

São organizações que nem fazem parte do poder público e nem do mercado. Dessa forma, o

Terceiro Setor é composto de diversos tipos de organizações, como por exemplo: ONG‟s,

OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), igrejas, sindicatos,

associações, cooperativas, fundações, entre outras organizações sem fins lucrativos

(MURARO; LIMA, 2003; CAZZOLATO, 2009). Diante dessa heterogeneidade, Souza

(2008, p. 77) afirma que as organizações do Terceiro Setor “têm liderança democrática,

processos de gestão centrados na experiência dos membros, estrutura flexível e informal e

processos gerenciais voltados para o alcance de resultados sociais”.

Armani (2003) ressalta que é importante entender o conceito de algumas entidades

acima referenciadas, uma vez que termos como ONG e OSCIP vem sendo utilizados de forma

pouco consensual. Segundo a ABONG (2005, p.5), uma ONG:

é um grupo social organizado, sem fins lucrativos, constituído formal e

autonomamente, caracterizado por ações de solidariedade no campo das políticas

públicas e pelo legítimo exercício de pressões políticas em proveito de populações

excluídas das condições de cidadania. é uma associação civil ou fundação.

Com a Lei 9.790/99 houve um avanço significativo para o Terceiro Setor, devido

à qualificação das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos como Organizações

da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), excluindo assim alguns tipos de

organizações, a exemplo de sociedades comerciais, cooperativas, sindicatos e instituições

religiosas. As OSCIPs também são conhecidas como a forma jurídica das ONG‟s (MOURA;

FERNANDES, 2009). Como OSCIP, as organizações possuem algumas vantagens, são elas:

facilidade de obter recursos públicos e privados para financiamento de projeto; possibilidade

de remunerar dirigentes; receber doações da União, entre outras (SZAZI, 2006 apud

MOURA; FERNANDES, 2009).

91

3. ORGANIZAÇÕES ANALISADAS

Nesta sessão serão caracterizadas as organizações objeto de estudo da pesquisa,

são elas: A Fundação Brasil Criativo (FBC), a Sociedade Semear (SEMEAR) e o Instituto

Luciano Barreto Júnior (ILBJ). As informações foram retiradas dos estatutos das

organizações, dos sites institucionais e através das entrevistas.

O surgimento da FBC deu-se no ano 2000, através da concretização do sonho de

um grupo de pessoas que participaram do projeto “Criatividade não é dom!”. E que, a partir

dos resultados positivos do projeto acreditaram que esse conhecimento deveria ser oferecido

ao público em geral. A FBC foi criada como uma instituição de direito privado, sem fins

lucrativos, com o objetivo de atuar na disseminação do conhecimento sobre o pensamento

criativo e inovador, como uma das maneiras de ajudar às pessoas a organizarem a qualidade

do seu pensamento, de buscarem soluções ainda não pensadas para as suas vidas do ponto de

vista pessoal, profissional ou empresarial. Hoje a FBC é uma organização premiada pelos seus

serviços à comunidade, sendo reconhecida nacional e internacionalmente, possui uma

estrutura organizacional composta de 3 empregados , 10 voluntários e 01 prestador de serviço

(FBC, 2010).

A sociedade SEMEAR atua em vários segmentos e atividades, sempre visando ao

fortalecimento da cidadania, estimulando a participação ativa, livre e consciente de cada

pessoa na construção coletiva do social, na promoção da cultura e na melhoria das condições

ambientais. A SEMEAR foi fundada em 8 de dezembro de 2001, como uma Organização da

Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Desde então, atua em três segmentos: Estudos

Múltiplos – desesenvolve atuações em educação e capacitação profissional; Meio Ambiente –

desenvolve atuações voltadas para a melhoria do meio ambiente; e Cultura e Arte –

desenvolve atuações voltadas para a cultura e as artes. Com relação ao seu quadro de pessoal,

este é composto por 22 empregados, 5 diretores remunerados, 25 estagiários remunerados e

25 voluntários (SOCIEDADE SEMEAR, 2010).

O Instituto Luciano Barreto Júnior (ILBJ) foi constituído no dia 23 de janeiro de

2003, tendo como objetivo principal possibilitar a infoinclusão social de adolescentes e jovens

sergipanos, através de diversos cursos, palestras, atividades sócioeducativas, artes, preparação

para o mundo do trabalho e cidadania. É uma instituição sem fins lucrativos, na qual todos os

recursos financeiros necessários para a manutenção e implementação das suas ações são

providos pela Construtora Celi Ltda. Desde sua criação, o ILBJ já formou cerca de seis mil

alunos. O ILBJ é o resultado concreto do sonho de Luciano Júnior, um dos diretores da

Construtora Celi. Ele via a necessidade de constituir uma entidade para sistematizar e ampliar

as ações sociais já realizadas pela empresa. O instituto dispõe em seu quadro de pessoal de um

total de 35 funcionários e 3 estagiários (ILBJ, 2010).

4. METODOLOGIA

Em função do objetivo de pesquisa, foi escolhida uma abordagem qualitativa por

ser mais adequada para o entendimento das ações empreendedoras das organizações do

Terceiro Setor em Aracaju (SE). Foi realizada uma análise analítico-reflexiva, buscando

entender melhor o fenômeno estudado a partir da perspectiva dos participantes (CRESWELL,

2007a; RICHARDSON, 2008).

Segundo a taxonomia proposta por Vergara (2007), a presente pesquisa é

considerada como descritiva, por apresentar uma descrição do fenômeno estudado, a partir da

visão dos entrevistados. Quanto aos meios de investigação, diante da contemporaneidade e

complexidade do fenômeno estudado optou-se pelo método do estudo de caso múltiplo, uma

vez que a investigação sobre se as ações empreendedoras são realmente sustentáveis foi

92

estudada em diferentes organizações não governamentais da cidade de Aracaju, em Sergipe.

Para Creswell (2007b), no estudo de caso múltiplo, o pesquisador foca um assunto, mas

escolhe vários casos para ilustrá-lo. A escolha das empresas investigadas deu-se a partir do

destaque que elas possuem na mídia local e nacional, pelas premiações recebidas, bem como,

pela facilidade de acesso.

Os dados para análise foram obtidos por meio de pesquisa documental e

entrevistas semi-estruturadas. Como explica Creswell (2007a), o pesquisador qualitativo pode

colher documentos públicos, como jornais, atas de reunião, relatórios oficiais ou documentos

privados para realizar o estudo. No caso, foram utilizados os seguintes documentos: os

estatutos sociais e relatórios de planejamento estratégicos. Foram também realizadas

entrevistas em profundidade, guiadas através de roteiro semi-estruturado, realizadas

diretamente com os presidentes das instituições FBC e SEMEAR, e com a assessora da

gerência geral do ILBJ. As entrevistas realizadas foram, posteriormente, transcritas. No

trabalho proposto, acreditou-se que as entrevistas em profundidade foram mais úteis, pois,

além de ser um método para a obtenção de dados qualitativos, buscou-se detalhes sobre a

percepção, crenças, motivações dos entrevistados na questão a ser trabalhada, permitindo

explorar o problema de forma mais profunda (MALHOTRA, 2006).

Foram entrevistadas três representantes legais das ONG´s investigadas, sendo 2

presidentes e 1 assistente social, exercendo a função de assessora da gerência geral. Todos os

entrevistados possuem nível superior e faixa etária entre 30 e 65 anos.

No que se refere à análise de dados, foi realizada uma análise de conteúdo,

buscando explicitar o conteúdo das entrevistas, através da análise das comunicações verbais

dos entrevistados. Essa técnica foi realizada de acordo com metodologia baseada em Bardin

(1977), iniciando-se através da transcrição dos relatos dos entrevistados com a identificação

dos pontos mais importantes abordados na entrevista. Em seguida, os dados foram

categorizados e embasados na literatura pertinente ao estudo, sendo feita a interpretação

destes dados e confrontados os resultados obtidos com a teoria, formulando-se, por fim, as

considerações finais.

5. RESULTADOS

Para analisar até que ponto as ações empreendedoras são sustentáveis nas

organizações sergipanas investigadas, não obstante a utilização de várias referências teóricas

para a definição de critérios de sustentabilidade, identificou-se que na pesquisa realizada por

Alves Júnior (2008) havia uma convergência com a presente proposta de estudo, pelo fato

desse autor já ter consolidado os referidos critérios. Então, diante disso, optou-se pelas

categorias de sustentabilidade propostas por Alves Júnior (2008). São elas: geração de receitas

e captação de recursos, interação com a sociedade, preservação e manutenção do meio

ambiente, orientação estratégica, transparência, voluntariado, avaliação de resultados e

monitoramento, estrutura organizacional e profissionalização.

Confrontamos as informações obtidas pelas entrevistas com a fundamentação

teórica realizada no intuito de analisar aspectos convergentes e divergentes, inerentes ao

empreendedorismo social e à sustentabilidade das ONG`s sergipanas estudadas. Os resultados

foram divididos quanto às categorias temáticas.

5.1. Quanto à Captação de Recursos e Geração de Receitas

Quando questionados a respeito das ações empreendedoras, geração de receitas e

captação de recursos, o discurso dos entrevistados apontou para o reconhecimento da

93

relevância dos recursos financeiros, ao mesmo tempo em que as organizações almejam obter

independência de fontes externas de financiamento de suas atividades:

A captação de recursos e geração de receitas é extremamente relevante para a

viabilidade financeira e sustentatibilidade da instituição. [...] nosso objetivo é viver

sem dependência. [...] existem recursos de fontes externas captados do Banco do

Nordeste do Brasil, Banco do Brasil e da Petrobrás. (Presidente da Fundação Brasil

Criativo).

As organizações, no sentido de alcançar a autossuficiência financeira,

desenvolvem ações empreendedoras para gerar receita. Por exemplo, a Fundação Brasil

Criativo realiza “[..] cursos de Pós-Graduação em Gestão da Criatividade e de Inovação,

Gestão da Liderança Inovadora, bem como, soluções educacionais e a realização do Fórum

Internacional de Inovação e Criatividade” como forma de obter receita. Na organização

SEMEAR a obtenção de receita:

[...] se dá através de participação em editais/carta-convite para realização de projetos

para entidades públicas, além da realização de projetos para entidades privadas. Os

espaços físicos são locados complementando a geração de recursos. (Presidente da

SEMEAR).

Os projetos principais da SEMEAR para a geração de receitas envolvem as áreas

de estudos múltiplos (Projetos de capacitação de recursos humanos, dentre eles o Projovem

Urbano, que envolve a profissionalização de 3.000 alunos, realizados por 830 profissionais e

100 prestadores de serviços); meio ambiente (Projeto de recuperação da mata ciliar: Adote o

Manancial); e projetos relacionados à cultura e a arte.

Já o ILBJ é uma instituição totalmente mantida pela Construtora Celi. Portanto,

não há necessidade de outra fonte de geração da receita ou de captação de Recursos. Suas

ações empreendedoras são de cunho estritamente social, a exemplo do projeto Conectando

com a Vida que inclui: oficinas de canto coral, oficinas de teatro e cerâmica, dinâmicas de

grupo/oficinas temáticas, aulas de Português, aulas de Matemática, aulas de Cidadania e

Trabalho, aulas de Informática e palestras.

Para ser considerada sustentável, a organização deve demonstrar viabilidade

econômica e possuir capacidade para não depender totalmente de recursos externos

(BARBIERI, 1997; McKINSEY; COMPANY, 2001). A análise das falas dos entrevistados

deixa claro o reconhecimento da necessidade de primeiro se obter a sustentabilidade

econômica, pois mesmo não visando a lucros, qualquer organização inserida no mercado

capitalista atual depende de recursos mínimos para operar. Apesar dessa consciência dos

dirigentes em relação aos aspectos econômicos da sustentabilidade, todas as organizações

ainda dependem fortemente de recursos externos, o que conta negativamente na avaliação da

sustentabilidade gerencial do negócio (McKINSEY; COMPANY, 2001). Dessa forma,

constatou-se que apesar de ainda dependerem de recursos externos, as organizações utilizam

estratégias para captação de recursos e geração de receitas visando a ter condições adequadas

para operar e satisfazer os clientes, com isso conseguem atender parcialmente a esse critério.

5.2. Quanto à Interação com a Sociedade

Todos as organizações analisadas destacaram a relevância da interação com a

sociedade, possuindo diferentes práticas. Nesse sentido, o Presidente da FBC afirmou que

[...] além da realização do Fórum de Criatividade, que atende cerca de 1.000

pessoas, existe uma parceria com a Fundação Municipal do Trabalho (FUNDAT)

94

que visa transferir e adaptar os moradores em condições precárias do bairro Coroa

do Meio para o Bairro 17 de Março, através de doações de residências com

melhores estruturas físicas. Além desses projetos foi realizado o projeto social

mundo silencioso (PROMUSI) que aconteceu nos anos de 2006 e 2007, e dele

participaram 36 jovens surdos. Esses jovens participaram de um programa especial

desenhado pela FBC para o resgate e desenvolvimento da criatividade e da auto-

estima de 36 jovens surdos. [...]Todos os jovens foram incluídos no mercado de

trabalho e segundo depoimentos dos mesmos e de suas famílias foi grande a

transformação porque passou esses jovens por conta do programa.

A FBC também desenvolveu vários outros projetos obtendo êxito, a exemplo do

PROJETO SOCIAL JOVENS LÍDERES – PROJOLI que foi aplicado a 40 jovens com idade

entre 18 e 25 anos que estavam cursando, pelo menos, o 3º ano do ensino médio, com

potencial de liderança e disposição para desenvolvê-lo. O resultado do PROJOLI foi a

preparação de 40 jovens líderes transformadores que possuem como diferencial a consciência

da importância da atitude de liderança. “[...] foram feitas duas pesquisas anuais, como

resultado constatou-se que todos os jovens participantes deste projeto são destaques em suas

atividades profissionais e exemplo para os demais” (Presidente da FBC).

A sua maneira, cada organização desenvolve práticas visando a estreitar a relação

com a sociedade. No caso da organização SEMEAR, esta desenvolve projetos tais como:

Pequeno Empreendedor, no município de Itabaiana/SE, com o objetivo de preparar jovens

para o mercado de trabalho; realiza levantamento de documentação fundiária com o objetivo

de regularizar a situação cadastral e imobiliária de terrenos; Projeto Golfinhos, que consiste

da realização de cursos que abordam noções básicas de salvamento aquático, cidadania,

primeiros socorros e conscientização sobre a importância do meio ambiente. Para o ILBJ, a

interação com a sociedade acontece por meio da capacitação e profissionalização de cerca de

900 jovens, estudantes da rede pública, com idades entre 15 e 25 anos.

Para Costa (2004), uma diferença essencial entre as ONGs e as organizações

econômicas reside no fato de que as ONGs têm uma maior diversidade de relacionamentos

com a sociedade, desenvolvendo articulações em diversas redes. Melo Neto e Froes (2002)

reforçam ainda que o empreendedorismo social, através de ações empreendedoras, é uma

nova maneira de se pensar na comunidade de forma a integrar os diversos atores e segmentos

da sociedade.

As organizações analisadas, pelo próprio motivo de existir como organizações

com visão social fortemente sedimentada, contribuem para o desenvolvimento local. As

práticas de relacionamento com a sociedade local por um lado cumprem os objetivos

organizacionais e por outro, criam condições para a geração de receitas (CORAL, 2002;

BARBIERI, 2007). Também foi percebido um alto grau de criatividade inovadora nessas

organizações. A inovação surge como forma de permanecerem no “mercado”, uma vez que

elas dependem do desenvolvimento de novos projetos pioneiros para participar de editais de

financiamentos. É importante destacar que na fala dos entrevistados ainda tem muito a se

fazer quanto à interação com a sociedade. Diante desse contexto, percebe-se que há

confirmação do conceito de empreendedorismo social sustentável, apesar que nas

organizações pesquisadas essa categoria ainda está se consolidando.

5.3. Quanto à Preservação e Manutenção do Meio Ambiente

Apesar de todos as organizações considerarem a preservação e manutenção do

meio ambiente uma questão vital, e também possuirem algumas ações ambientais em seus

planejamentos estratégicos, na prática, foi verificado que apenas a organização SEMEAR tem

projetos estruturados sobre a questão ambiental, a exemplo do projeto Sala Verde. O projeto

visa a conscientizar alunos da rede pública estadual de ensino no município de Propriá (SE)

95

sobre a importância da preservação do meio ambiente e da sustentabilidade do planeta. A

organização SEMEAR também é organizadora dos projetos Gofinhos e do Adote o Manacial,

já mencionados anteriormente.

Se forem adotados os critérios de sustentabilidade de Rosseto et al. (2004), as

organizações analisadas podem ser consideradas sustentáveis em termos ambientais, uma vez

que suas atividades não causam impactos significativos ao meio ambiente. Por outro lado, se

forem adotados os critérios desenvolvidos por Coral (2002), apenas a organização SEMEAR

desenvolve projetos estruturados que assumem uma posição mais definida quanto às questões

ambientais.

Em síntese, tanto a FBC como o ILBJ precisam investir em ações que contribuam

com a preservação do meio ambiente. Já a SEMEAR, apesar de ser a mais estruturada em

questões ambientais, para podermos concluir se quanto a esse aspecto ela é sustentável ou

não, será necessário uma análise mais aprofundada em termos da legislação e dos seus

impactos ambientais. Segundo Melo Neto e Froes (2001), só há gestão ambiental sustentável

quando a organização faz o gerenciamento da diminuição dos custos e dos passivos

ambientais, dos recursos naturais, dos produtos ecologicamente corretos e dos resíduos e

efluentes, ou seja, quando a empresa faz um gerenciamento da saúde ambiental da

organização. Pelo que foi dito e observado durante as entrevistas, esse critério de

sustentabilidade ainda não está sendo atendido pelo menos em duas das três organizações

pesquisadas.

5.4. Quanto à Orientação Estratégica

As organizações analisadas possuem planejamento estratégico, realizado de forma

estruturada e participativa. Os planejamentos possuem missão, visão, valores, objetivos e

ações definidos e disseminados em toda a organização. A transparência das informações da

orientação estratégica das organizações é garantida pela divulgação dessas informações ao

público em geral, através do site de cada organização. Quanto a orientação estratégica, o

Presidente da FBC acredita que:

[...] a orientação estratégica é fundamental para uma organização, dá um norte. [...]

O planejamento estratégico foi realizado com a participação de todos os membros,

alguns amigos e alguns clientes foram convidados. Essas pessoas passaram dois dias

trabalhando (sábado e domingo) e o PE foi totalmente concluído e validado. Foi

divulgado internamente e também uma parte dele foi colocada no portal e o PE na

integra foi disponibilizado numa área restrita do portal aberta a todos os membros e

alguns convidados.

Da mesma forma, a Assessora da Gerência Geral do ILBJ lembra que “[...] o

planejamento estratégico foi reformulado há três anos por uma consultoria externa”,

demonstrando o cuidado da organização com seu posicionamento estratégico na sociedade.

Como lembra Costa (2004), assim que surgiram as primeiras ONGs no Brasil, nos

anos 1950, estas tinham uma gestão bastante informal. Rossi Júnior (2001) ressalta ser o

planejamento estratégico fundamental para o sucesso de uma organização. Hoje, verifica-se

uma busca por maior formalização da gestão como requisito para uma atuação eficiente na

sociedade. Por não apresentarem modelos específicos de gestão, as ONGs absorvem os

modelos e as práticas das empresas com fins lucrativos e tentam adaptá-los aos seus

funcionamentos. Através das entrevistas foi possível confirmar a presença desse critério.

96

5.5. Quanto à Transparência

Percebeu-se que todas as organizações demonstraram cuidado em ser

transparentes nas suas prestações de contas, tanto para os órgãos públicos quanto para a

sociedade. As demonstrações de contas das organizações possuem linguagem clara e são

acessíveis para toda a organização e também para o público externo, através do site oficial da

organização. A presença de processo regular de auditoria de contas reforça o posicionamento

transparente das organizações. No caso da organização FBC, seu Presidente afirma que “[...]

desde que foi instituída, possui um planejamento estratégico. [...] a FBC é fiscalizada

anualmente e possui auditoria externa”. Da mesma forma o Presidente da SEMEAR afirma

que “[...] são realizadas auditorias internas e externas. [...] apresentados relatórios gerenciais

acessíveis ao público e os balanços sociais estão disponíveis no site da SEMEAR”. A ILBJ,

por ser mantida pela Construtora CELI, somente presta contas a sua mantenedora. Porém,

segundo a Assessora da Gerência Geral, “[...] a prestação de contas é feita para a própria

Construtora CELI e os balanços estão disponíveis no site do ILBJ”.

Esses resultados convergem com as ideias de Salamon (2005) um vez que ele

cita que um dos desafios grandiosos das instituições do Terceiro Setor é a formalização legal e

a transparência dos resultados. Os resultados também convergem com a ideia de Falconer

(1999) quando este diz que a transparência é um dos aspectos fundamentais para as

organizações do Terceiro Setor. Destaca-se nas palavras de Campos (1990) que, o processo de

accountability (transparência) dar-se-á dentro de uma organização a partir da vigilância

consciente dos cidadãos. Para as organizações do Terceiro Setor, ser transparente é condição

crucial de sobrevivência, uma vez que “elas dependem de apoio público e de credibilidade

para conseguirem recursos e mobilizarem opiniões” (CARVALHO, 2006, p. 54).

É importante destacar que todos os entrevistados dispensaram bastante atenção a

esse critério, revelando a preocupação da organização através de práticas comprovadas.

Diante desse contexto, quanto à transparência, confirma-se que as práticas empreendedoras

adotadas pelas três organizações pesquisadas atendem a tal critério de sustentabilidade.

5.6. Quanto ao voluntariado

As organizações possuem em seus quadros de colaboradores certa quantidade de

voluntários que desempenham atividades diversificadas. As organizações pesquisadas

consideram o voluntariado relevante para a gestão, pois os voluntários ajudam na consecução

dos objetivos e na realização das ações empreendedoras. Na FBC, por exemplo, existem cerca

de 10 voluntários que disponibilizam, de forma frequente, ao menos 1 hora de trabalho

semanal. Porém, como afirmou o Presidente da FBC: “[...] trabalhamos com voluntários por

demanda de trabalho, as pessoas são muito ocupadas, é mais eficaz. [...] as contribuições são

pontuais, mas robustas, a exemplo de doação de salas para vídeo conferência e palestras sem

custo. “

Com relação à SEMEAR, esta possui 30 profissionais voluntários. Segundo seu

Presidente: “[...] é muito difícil contar com trabalhadores voluntários para projetos que

exigem um elevado grau de profissionalismo, com prazos e qualidades muito bem definidos.

Os profissionais voluntários adequam-se a trabalhos específicos de curta duração.”

Já para o ILBJ, identificou-se que, “a participação de profissionais voluntários se

verifica apenas nas realizações de palestras, em média 1 hora por mês” (Assessora da

Gerência Geral do ILBJ).

Diante dos resultados, percebe-se uma coerência com o pensamento de Salamon

(2005) quando este diz que o voluntariado é uma das características das organizações do

97

Terceiro Setor. Porém, não foi identificada durante as entrevistas a existência de políticas de

incentivo ao voluntariado. Foi percebida certa dificuldade para a manutenção do trabalho

voluntário de forma efetiva na organização, seja pela falta de capacitação, seja pelo próprio

interesse da instiuição e do voluntário.

O voluntariado nas organizações sem fins lucrativos é uma questão delicada, pois

ao mesmo tempo em que a organização precisa de um quadro mínimo de profissionais para

ofertar serviços de qualidade para a sociedade, a organização que depende muito fortemente

do voluntariado não consegue dispor dessa mão de obra com completa efetividade. De acordo

com o observado, este critério não é atendido em sua plenitude. Por outro lado, foram

identificados trabalhos voluntários pontuais, sem uma política estruturada de incentivo ao

voluntariado. É preciso desenvolver uma ação estratégica com políticas definidas e

gerenciadas para estímulo do voluntariado e capacitação dos mesmos visando, assim, ao

atendimento deste critério.

5.7. Quanto à avaliação de resultados e monitoramento

Todas as organizações analisadas consideram importantes os processos de

controle das atividades. Porém, apenas a FBC e a SEMEAR mostraram que possuem

planilhas de controle, com o uso de check list como ferramenta gerencial. Adicionalmente,

seus presidentes afirmaram que realizam reuniões gerenciais mensais para avaliação dos

resultados. O Presidente da FBC afirma que,

[...] cada projeto tem um centro de custo e ele tem que se manter. [...] temos

intenção de comprar um software contábil, mas é muito caro, [...] temos investido

em laptops. Todos os nossos serviços são avaliados pelos nossos parceiros e nunca

tiramos menos de 9,0 como nota, o que é muito bom.

O ILBJ afirmou que seus resultados são avaliados através de pesquisas de opinião

realizadas junto aos alunos dos projetos que desenvolvem.

Costa (2004) afirma que as organizações sem fins lucrativos possuem dificuldade

em construir indicadores e avaliar seu desempenho. A dificuldade da avaliação está na

incapacidade desse tipo de organização em medir seu desempenho, já que não se utilizam do

lucro financeiro como medida. No mesmo sentido, Tomassini et al. (2007) lembram que, não

possuindo o lucro como fim, as organizações sem fins lucrativos precisam basear seus

resultados nos programas bem elaborados e nos serviços prestados com qualidade para a

sociedade. Armani (2003) reforça a necessidade do desenvolvimento de sistemas de

planejamento, monitoramento e avaliação como suporte para o bom desempenho

organizacional.

Fowler (1997, 2000 apud Carvalho, 2006, p.50-51) diz que os instrumentos de

monitoração, entre outros aspectos, exercem grande importância na capacidade de sustentação

das instituições. Porém, ele reforça que os instrumentos de monitoração ainda não são uma

prática nas organizações do Terceiro Setor. Ele também complementa informando que as

opiniões dos principais stakehoders que afetam e são afetados pela organização devem ser

consideradas, principalmente se o objetivo da organização é a satisfação das partes

interessadas, constituindo-se, assim um instrumento de gestão.

Conforme os resultados obtidos, todas as organizações pesquisadas avaliam seus

resultados. Porém, foi percebida maior profissionalização nessa avaliação e monitoramento

em duas das três organizações pesquisadas. Estas organizações demonstraram planilhas de

controle e formas de monitoramento, ou seja, percebeu-se uma gestão sobre seus resultados.

A qualidade dos serviços de uma instituição deve ser sempre mensurada. É um aspecto de

extrema importância para a gestão da organização, tanto para facilitar a captação de recursos

98

junto aos financiadores como para a geração de novas receitas junto aos clientes, uma vez que

quando um cliente está satisfeito, ele geralmente retorna, trazendo mais pessoas para se

beneficiar do serviço. Então, baseado em Fowler (1997, 2000 apud Carvalho, 2006) e

Tomassini et al. (2007), confirma-se a presença do critério “avaliação dos resultados e

monitoramento”. Entretanto, detectou-se que essa avaliação no ILBJ ainda é feita de forma

incipiente, carecendo de melhorias e de novos modelos de gestão, visando a um controle mais

efetivo dos resultados.

5.8. Quanto à Estrutura Organizacional

Todas as organizações pesquisadas possuem um organograma formalizado,

hierarquizado e com cargos e funções definidas. Existem normas e procedimentos internos

definidos e disseminados entre seus colaboradores. Segundo os entrevistados, é de grande

relevância para a organização ter estatuto, normas, procedimentos e hierarquia bem definidos.

Temos um estatuto social que é praticado. [...] toda a responsabilidade fiscal é do

Presidente. Nossa estrutura é formada por um conselho deliberativo, uma diretoria

executiva, um conselho consultivo e um conselho fiscal (Presidente da FBC).

A estrutura é constituída por uma coordenação diretiva composta de três conselhos

consultivos, uma auditoria e Diretor-Presidente. O Diretor administrativo,

Representantes do Conselho de Entidades e Orientação, Diretor de Estudos

Múltiplos, Diretor de Meio Ambiente e Diretor de Cultura e Arte (Presidente da

SEMEAR).

A estrutura é composta por gerente, coordenadora pedagógica, psicóloga, asssistente

social, professores de diversas áreas do conhecimento, bibliotecária, jornalista,

curador interpessoal, secretária, apoio e segurança (Assessora da Gerência Geral do

ILBJ).

Na visão de McKinsey & Company (2001), as ONG‟s precisam desenvolver

estruturas gerenciais altamente eficientes, caso queiram alcançar a sustentabilidade

organizacional. Pela análise das organizações pesquisadas, estas desenvolveram estruturas

organizacionais burocratizadas, possivelmente como consequência da importação de modelos

estruturais de organizações de mercado. Sendo assim, foi confirmada a presença do critério

“estrutura organizacional”, uma vez que se detectou a distribuição das responsabilidades pela

liderança, procedimentos revisados e disseminados, com organograma e funções definidos.

5.9. Quanto à profissionalização

Nas organizações analisadas há uma preocupação a respeito da questão da

qualificação profissional interna, visando a retenção do pessoal. Além disso, a valorização e a

satisfação da equipe são preocupações das organizações:

Todos os voluntários para liderar projetos da FBC e ser professor são qualificados

na metodologia de resolução criativa de problemas, com duração de 1 ano e 6

meses. [...] existe uma avaliação informal através de feedbacks instantâneos, e está

funcionando. [...] os empregados recebem benefícios além dos legais e pagamos

acima do salário mínimo (Presidente da FBC).

Existe uma clara política de valorização dos profissionais e plano de carreira.

Grande parte dos coordenadores de projeto iniciaram as suas atividades na

Sociedade Semear como estagiários. Há um processo de avaliação de desempenho

permanente e rotineira, de modo que o feedback é trabalhado de forma contínua

(Presidente da SEMEAR).

99

A Assessora da Gerência Geral do ILBJ acrescentou que “há um processo de

desenvolvimento pela equipe de assistentes sociais e psicólogos, além de uma consultoria da

equipe de professores”.

Tomassini et al. (2007) afirmam que para que os serviços oferecidos à sociedade

tenham qualidade, a organização precisa contar com um quadro de pessoal competentes e

engajados. Todos os recursos humanos da organização, sejam eles empregados ou

voluntários, devem ser qualificados devidamente para garantir a qualidade dos serviços

oferecidos. Assim, é importante haver um instrumento eficaz de avaliação do desempenho das

pessoas com ações de desenvolvimento, para que se procure sempre oferecer os melhores

serviços à comunidade. No caso das organizações estudadas, percebeu-se que apesar das

práticas existentes visando à profissionalização das atividades desenvolvidas, ainda se faz

necessário investir na capacitação do voluntário, buscando incessantemente novos e eficazes

modelos de gestão. Diante do exposto, verifica-se que esse critério nas organizações em

estudo requer melhorias para o alcance da sustentabilidade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo procurou analisar até que ponto as ações empreendedoras das

organizações investigadas do Terceiro Setor, sediadas em Aracaju (SE), são sustentáveis.

Contribuindo, assim, para um maior esclarecimento dessas práticas visando à sustentabilidade

dos empreendimentos sociais. Dessa forma, através da análise teórica e dos dados empíricos

levantados, fizeram-se algumas considerações de forma a responder a pergunta norteadora da

pesquisa.

Dos nove critérios de sustentabilidade considerados no estudo, foi identificado

que as três organizações pesquisadas atendem plenamente a quatro deles: interação com a

sociedade, orientação estratégica, transparência e estrutura organizacional. No caso da

avaliação de resultados e monitoramento, apenas duas organizações atendem com plenitude. É

importante destacar que realizar um trabalho sustentável, além de contribuir para a viabilidade

econômica e visibilidade do empreendimento, ajuda no atendimento de algumas das

necessidades da principal parte interessada, ou seja, a comunidade local.

Quanto aos critérios de sustentabilidade atendidos de forma parcial nas três

organizações pesquisadas, foram detectados os seguintes: geração de receitas e captação de

recursos, voluntariado e profissionalização. Ressalta-se que foram encontradas evidências

dessas categorias de sustentabilidade, porém ainda se faz necessário investir em algumas

ações estratégicas de forma a atingir a sustentabilidade em sua plenitude em cada critério

citado. Recomenda-se uma análise minuciosa em cada uma dessas categorias visando a

identificar o que precisa ser melhorado de fato. Quanto ao critério “avaliação dos resultados e

monitoramento”, apenas o ILBJ atende parcialmente, uma vez que ainda age de forma

incipiente na gestão dos seus resultados, considerando, somente, a pesquisa de opinião dos

clientes para avaliar a eficácia dos seus serviços. Nesse sentido, essa organização acaba

divergindo quanto às considerações de Tomassini et al. (2007) e Armani (2003) sobre a

questão de controles bem elaborados para um efetivo gerenciamento de resultados

organizacionais.

Sobre o critério “preservação do meio ambiente”, somente a SEMEAR atende

parcialmente, uma vez que foram evidenciados alguns projetos estruturados na área

ambiental. Porém, ainda existe uma série de ações sugeridas por Melo Neto e Froes (2001)

que não foram identificadas na pesquisa. No que se refere às demais organizações

pesquisadas, verificou-se que esse critério ainda não é atendido. É importante que todas essas

instituições elaborem um mapeamento dos aspectos e impactos ambientais de acordo com a

100

legislação pertinente para definir ações sustentáveis relacionadas a essa questão dentro do

planejamento estratégico da instituição.

Reforçamos que a sustentabilidade de uma organização está diretamente

relacionada a uma gestão com decisões integradas entre as suas áreas. Isso favorece a

interdependência de suas ações. Além disso, sua capacidade de sustentabilidade está

relacionada ao seu posicionamento rápido e inovador com relação às demandas externas.

Vale ressaltar que uma das limitações deste estudo foi a pesquisa ter sido

realizada apenas em três ONG´s sergipanas. O que impossibilita a generalização dos

resultados para o Terceiro Setor como um todo. Diante disso, recomenda-se a realização de

novas pesquisas abrangendo os demais tipos de organizações do Terceiro Setor. Também

sugere-se analisar outros indicadores alinhados ou não a essas categorias de sustentabilidade,

visando a cobrir toda a questão da sustentabilidade, uma vez que é um assunto ainda

considerado polissêmico quanto à definição dos seus critérios.

Espera-se que este estudo tenha contribuído para o entendimento da questão da

sustentabilidade nas ações empreendedoras das ONG´s. Bem como, sirva de subsídio para

futuras pesquisas e, sobretudo, para a melhoria da gestão sustentável das organizações

pesquisadas e das demais do Terceiro Setor.

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2010.

104

ASPECTOS TEÓRICOS DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA EMPRESA

TELEMAR/OI NO PERÍODO PÓS-PRIVATIZAÇÃO

José de Arimatéia Dias Valadão

44

Paulo Rafael Monteiro Nascimento

Sérgio Luiz Elias de Araújo

RESUMO

Grandes transformações econômicas, políticas, sociais e organizacionais ocorreram no país a

partir do final do século passado. Com a chegada ao poder de um governo de política

neoliberal a partir dos anos 90, o governo passou a adotar uma política de Estado mínimo,

atuando apenas nos serviços essenciais e deixando os setores produtivos sob o controle da

iniciativa privada. Um dos maiores ícones do processo de privatização foi o setor de

telecomunicações, que deixou de ser uma área de interesse estratégico estatal, passando para o

controle de empresas e consórcios particulares, sob a supervisão da Agência Nacional de

Telecomunicações – ANATEL. Desde então, as empresas de Telecom passaram por diversas

e profundas mudanças em sua estrutura organizacional. O objetivo deste artigo é analisar os

aspectos teóricos estruturais de centralização e burocratização que se desenvolveram na

empresa Telemar/Oi após o processo de privatização, em relação aos seus contextos macro,

meso e micro ambientes, sendo que o nível macro compreende os aspectos institucional e

extra-institucional, suas políticas, sua credibilidade e suas relações com grupos de interesse. O

nível meso é o setor brasileiro de telecomunicações, no qual as políticas de governo, a

estrutura e a governança são fatores extremamente importantes. O nível micro compreende a

própria empresa Telemar/Oi, principalmente sua estrutura organizacional e seus aspectos de

burocracia e centralização. Foi desenvolvida também uma perspectiva teórica que apresenta

elementos conceituais da estrutura organizacional e como se desenvolvem as mudanças no

que concerne o processo de centralização e as estruturas burocráticas. Quanto aos

procedimentos metodológicos, o presente estudo foi desenvolvido por meio de uma análise

em nível micro do setor de telecomunicações brasileiro, tendo como objeto de estudo a

empresa Telemar/Oi. O estudo foi desenvolvido tendo como forma de abordagem do

problema a pesquisa qualitativa. A investigação foi desenvolvida de forma descritiva e para

análise foram usados dados secundários presentes em documentos internos da empresa, em

estudos realizados sobre a empresa e em meios eletrônicos de divulgação de informações. No

período estudado, os aspectos burocráticos da empresa passaram por duas fases. Uma

primeira, que definiu a modernização e desburocratização frente a cultura estatal que ainda

persistia. Neste período, os aspectos de formalização e controle foram diminuídos para dar

mais flexibilidade e autonomia para a empresa. Posteriormente, por outro lado, os aspectos de

formalização voltaram a ser fundamentais e, controles antes extintos, foram reintroduzidos e

novos foram criados e os procedimentos foram padronizados por meio de um modelo de

arquitetura de processos. Assim, enquanto, por um lado, cresceu a formalização, padronização

e centralização da empresa, por outro, o nível de autonomia para a tomada de decisão nas

atividades operacionais tornaram-se ainda mais evidentes.

Palavras-chave: Estrutura Organizacional. Burocracia. Centralização. Telecomunicações.

44

Doutorandos em Administração da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.

105

1 INTRODUÇÃO

A elevada demanda por acessos telefônicos e os novos serviços de telecomunicações,

sobretudo a forte concorrência do setor, motivaram uma reformulação do modelo de gestão

estratégica, mercadológica e de qualidade do serviço das empresas de telecomunicações como

um todo (NASCIMENTO, 2006).

Segundo Nascimento (2006), o setor de telecomunicações experimentou grandes

incertezas provenientes das mudanças tecnológicas cada vez mais rápidas e da abertura do

mercado promovida pela privatização. Por se tratar de um setor altamente inovador, em razão

das novas tecnologias e alternativas de serviços, as organizações que desenvolveram suas

atividades nessa área vivenciaram mudanças diversas para se adaptarem às novas exigências

estabelecidas pelo processo de globalização.

A intensificação do movimento global, tanto do lado produtivo como do financeiro,

aliada ao crescente progresso tecnológico, em especial na área de microeletrônica, colocou as

telecomunicações em uma posição estratégica no cenário mundial, dado que sua utilização

passou a ser, cada vez mais, uma vantagem competitiva. Os avanços nesse setor, associados

aos recursos oferecidos pela tecnologia da informação propiciaram e vem propiciando o

desenvolvimento econômico dos países. Deste modo, a comunicação instantânea, os serviços

multimídia, a mobilidade, a transferência de dados de alta velocidade e a possibilidade de

realizar teleconferências passaram a ser, dentre outros, instrumentos decisivos no processo

concorrencial (HOREWICZ, 2002).

Até a década de 1980, os serviços de telecomunicações no Brasil eram considerados

monopólio natural, basicamente, por exigirem a implantação de redes de cobre e por

apresentarem custos fixos relevantes em relação ao tamanho da demanda (BNDES, 2000). A

oferta dos serviços de telecomunicações aumentou de forma substancial em virtude da quebra

do monopólio estatal das empresas de telecomunicações e, consequentemente, do elevado

volume de investimento no setor. A convergência tecnológica e o compartilhamento de redes

foram conseqüências também desse processo, à medida que as empresas deveriam buscar

formas mais competitivas de reduzir os preços.

A mudança do modelo estatal para o privado se deu apenas quando os órgãos

reguladores puderam entender melhor esse mercado mais fragmentado e criar os novos

elementos de arquitetura para garantir o pleno desenvolvimento da competição. Os processos

pelos quais passaram as empresas de telecomunicações, no que tange à privatização do setor,

impuseram a essas organizações uma forte orientação para o mercado e para o cliente,

contrariamente ao foco no produto, como era até então adotado (RODRIGUES, 2004).

Rodrigues (2004) ressalta que, a transição de uma organização da condição de

empresa estatal para a condição de empresa privada pode ser compreendida como o processo

de transformação organizacional, genericamente visto como uma mudança radical que atinge

de uma só vez seu sistema de governança, sua estrutura, e todo o seu sistema de gestão e,

ainda o seu ativo humano, à medida que a organização se adapta à realidade de uma economia

de mercado em que o fator competitividade é central.

Existem os períodos em que a ideologia como uma força muito poderosa de

transformação nas organizações, incentivam mudança na mentalidade, na estrutura e em

ambas (CHILD, 2000). Os eventos ideológicos criam a base para mudanças de propriedade ou

mudanças estruturais, que requerem a adaptação nos significados, nas inter-relações e nas

interações dentro das organizações (RODRIGUES, 2004).

Nesse novo ambiente de mercado é de fundamental importância, sobretudo para as

organizações do setor de telecomunicações, compreenderem numa perspectiva crítica, os

impactos no nível micro que a privatização do setor de telecomunicações promoveu nas

empresas, no sentido de proporcionar novos elementos de análise e entender com maior

106

aprofundamento as mudanças das estruturas organizacionais, bem como as adequações

efetuadas pelas empresas do setor e as ferramentas utilizadas (NASCIMENTO, 2006).

A mudança de governos, por exemplo, pode exercer pressão para mudanças de

propriedade e de controle, especialmente por meio da privatização, que tende a desencadear

novas políticas organizacionais com implicações para as formas da organização

(RODRIGUES; CHILD, 2003).

Este artigo foi impulsionado pelo seguinte problema de pesquisa: Como os aspectos

teóricos estruturais de centralização e burocratização se desenvolveram na empresa

Telemar/Oi após o processo de privatização?

O objetivo geral deste artigo foi analisar os aspectos teóricos estruturais da

centralização e burocratização que se desenvolveram na Telemar/Oi após o processo de

privatização.

Iniciamos uma perspectiva teórica que apresenta elementos conceituais da estrutura

organizacional e como são desenvolvidas as mudanças no que concerne o processo de

centralização e as estruturas burocráticas. Apresentamos o contexto “macro”, o qual demarca

elementos econômicos, políticos e sociais que estabelecem o momento histórico das grandes

transformações que impactaram o setor de telecomunicações. O contexto “meso”, que

compreende o setor de telecomunicações, que vai delimitar as políticas do setor, as agências

reguladoras, os mecanismos de competição e a cadência do desenvolvimento tecnológico. O

contexto “micro”, objeto deste artigo, refere-se às estratégias, à cultura, à estrutura

organizacional e as suas relações. Mostraremos como se estabeleceu o grau de centralização

da estrutura organizacional, bem como os elementos da teoria burocrática neste processo e

novos arranjos organizacionais que as empresas de telecomunicações foram submetidas após

o processo de privatização.

2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 Estrutura das Organizações

Uma organização pode ser entendida como uma composição de pessoas que

objetivam alcançar, de forma compartilhada, algum propósito por meio da divisão do

trabalho, integrando a tomada de decisões a partir de informações continuamente através do

tempo (GALBRAITH, 1977).

Para Morgan (1996), as organizações podem ser vistas como organismos que

possuem conjuntos de necessidades e podem desenvolver padrões de relacionamento que as

permitem se adaptar ao seu ambiente. Os sistemas orgânicos se dão num processo contínuo de

trocas e interações, importantes para a manutenção da vida do sistema e a estrutura de uma

organização, da mesma forma, deve estar em contínua sintonia com a natureza da atividade e

seu ambiente (VASCONCELLOS; HEMSLEY, 2003).

Oliveira (2006) define estrutura organizacional como sendo o instrumento

administrativo resultante da identificação, análise, ordenação e agrupamento das atividades e

dos recursos das empresas, incluindo os estabelecimentos dos níveis de alçada e dos processos

decisórios, visando ao alcance dos objetivos estabelecidos pelos planejamentos das empresas.

Bowditch e Buono (2006) entendem que a estrutura organizacional define a tomada de

decisão da empresa e serve como elemento de conexão entre a estratégia da companhia e as

ações e comportamentos de seus membros.

Segundo Hall (2004), entende-se por estrutura organizacional a distribuição, em

várias linhas, de pessoas entre posições sociais que influenciam os relacionamentos entre os

papéis dessas pessoas, também por meio dos vários níveis ou hierarquia, sobre as posições

107

que estas pessoas ocupam e as regras e regulamentos sobre as quais as mesmas devem se

submeter. Seiffert e Costa (2007) argumentam que estrutura organizacional é um instrumento

essencial para o desenvolvimento e a implementação do desenho organizacional da empresa.

De acordo com Vasconcellos e Hemsley (2003), a estrutura de uma organização pode

ser definida como resultado de um processo através do qual a autoridade é distribuída, as

atividades desde os níveis mais baixos até a alta administração são especificadas e um sistema

de comunicação é delineado, permitindo que as pessoas realizem as atividades e exerçam a

autoridade que lhes compete para atingir os objetivos organizacionais. Estruturas dão forma

aos atos das pessoas, ao mesmo tempo em que a forma como as pessoas agem constitui (e

reproduz) a estrutura. Nesta forma de conceber a estrutura, a ação do agente não se opõe à

estrutura, mas complementam-se.

Motta (2001) afirma que muitos estudiosos, como Merton, Gouldner e Selznick,

concentraram seus estudos de estrutura nas disfunções da burocracia, nos quais seus excessos

podem, dentre outros aspectos, estimular o apego às regras, o excesso de processos e

tramitações, a impessoalidade, a bifurcação de interesses via departamentalização e o aumento

da visibilidade do poder. Apesar disso, a burocracia também é entendida como capaz de

interagir com o ambiente (EISENSTADT, 1981), que se adapta e responde às complexidades

diárias (ESTRADA, 2008) e que busca a estabilidade e o equilíbrio (ARAUJO, 2006).

Para Meyer (2001), a burocracia de Weber era tratada como sinônimo de organização

racional, envolvendo a ideia de autoridade racional legal, em que todas as decisões, excetos as

decisões executivas, são baseadas nas regras que são internamente constantes e estáveis todo

o tempo. Segundo Estrada (2008), Weber pretendeu demonstrar a organização burocrática

como uma resposta racional às complexidades que se apresentam rotineiramente, percebendo-

a como um sistema adaptativo que buscava fazer uso das habilidades especializadas inerentes

do comportamento humano. Para Motta (2001), a burocracia trouxe vida própria para a

organização, separando e isolando interesses pessoais da vida profissional. Nessa visão, na

evolução dinâmica da organização (expansão, mais divisões e assim por diante) é a burocracia

que garante a funcionalidade.

Segundo Homburg, Workman e Jensen (2000), centralização é definida como o

inverso do grau de delegação da autoridade decisória através da organização e do grau de

participação dos membros da organização na tomada de decisão.

Para Callalan (2000), nem centralização nem descentralização são absolutas.

Entretanto, refletem a quantia de autoridade distribuída em cada nível organizacional. Como

constatado na literatura, o modelo centralizado adotado pela Telemar/Oi pretendia padronizar

as dezesseis empresas que tinham culturas organizacionais diferentes, realidades tecnológicas

diferentes, capital humano diferente, bem como processos diferentes.

2.2 Contexto Macro no Período das Privatizações

Para a análise dos aspectos teóricos da estrutura organizacional da empresa

Telemar/Oi no período pós-privatização, necessário se faz abordar os acontecimentos em

nível macro deste corte temporal. De acordo com Rodrigues et al. (2003), o período entre os

anos de 1995 e 1998 foi o início de uma época de maior estabilidade econômica e política

para o Brasil. A economia se abriu, surgiu uma nova moeda e um novo plano econômico,

alcançou-se a estabilidade dos preços, várias medidas foram tomadas pelo governo para

aumentar a atratividade do país ao capital estrangeiro, além de iniciar o período de pré-

privatização.

Além da reforma comercial, o programa de privatização também levou a mudanças

na governança corporativa. O programa de privatização foi iniciado cautelosamente no

108

começo dos anos 90, mas foi dado um novo ímpeto a partir da metade dessa década. As

empresas estatais começaram a ser vistas como uma carga econômica e como obstáculos ao

alcance de objetivos de desenvolvimento do país, sendo as companhias privadas e o capital

estrangeiro elevados como agentes do desenvolvimento e os empregados das empresas

estatais e os servidores civis passaram a sofrer críticas do governo e da imprensa por seu

desempenho deficiente e resistente a mudanças.

Com a privatização do setor de telecomunicações brasileiro, a ligação entre a

companhia e seu contexto macro e meso foi focalizada no estado da economia e em uma

função de longo alcance da regulamentação, em vez de intervenção política direta

(RODRIGUES, 2003). A partir deste ponto, o texto concentrar-se-á no contexto de nível meso

e micro, apresentando os aspectos do período pós-privatização até a atualidade.

2.3 Análise do Setor de Telecomunicações – Meso Contexto

O desenvolvimento do setor de telecomunicações no Brasil também tem um caráter

peculiar. Antes da privatização, a operação de serviços de telecomunicações no Brasil era

praticamente um monopólio estatal. As empresas do Sistema Telebrás tinham concessão para

a prestação de serviços em mais de 95% da área do país, atendiam a 92% da população e

operavam cerca de 90% dos terminais telefônicos em serviço no Brasil (BRASIL, 1997).

O processo da constituição do Sistema Nacional de Telecomunicações, no Brasil,

teve início no final dos anos cinquenta até o começo da década de sessenta. Até 1972,

existiam no Brasil 927 entidades explorando os serviços públicos de telecomunicações, sem

nenhuma integração sistêmica e com baixíssimo grau de padronização e qualidade (BRASIL,

1997).

Nessa época, foi criado o Código Nacional de Telecomunicações, substituído

posteriormente pela Lei Geral de Telecomunicações e se iniciou o movimento de

nacionalização das operadoras estrangeiras. Em 1972, também foi formado o Ministério das

Comunicações e a holding TELEBRÁS. As atribuições empresariais da Telebrás consistiam

em centralizar, coordenar e planejar todas as atividades do setor no país, com o controle da

Embratel, responsável pela comunicação estadual e internacional (NASCIMENTO, 2006).

A configuração organizativa original das telecomunicações no país caracterizava-se

pela extrema fragmentação do poder de outorgar concessões, na forma de exploração dos

serviços, nas diretrizes e metas de ampliação ou cobertura territorial dos serviços e no

estabelecimento de tarifas. Competia à União, aos Estados e aos Municípios, a garantia da

prestação do serviço, quer através da exploração direta, quer mediante outorga de concessões,

conforme estabelecido na Constituição de 1946. A participação de empresas estrangeiras era

predominante neste período.

A TELEBRÁS instituiu em cada Estado uma empresa-polo e promoveu a

incorporação das companhias telefônicas existentes, mediante aquisição de seus acervos ou de

seus controles acionários. Este período foi marcado por uma expansão expressiva da planta

telefônica, passando de 1,4 milhões para 5 milhões de terminais instalados.

Para Nascimento (2008), até o final dos anos 1970, telecomunicações era sinônimo

de monopólio da telefonia fixa. A evolução do setor era regida pelo conjunto fornecedor de

equipamentos por meio da estatal e, geralmente, das empresas multinacionais. Por um curto

período, esta estrutura de funcionamento se mostrou eficiente e de uma forma geral

inovadora, alcançando de certa forma a redução dos custos, difundindo e universalizando os

serviços, ajudando de certa maneira nas inovações incrementais.

Até a década de 1980, os serviços de telecomunicações no Brasil eram considerados

monopólio natural, basicamente, por exigirem a implantação de redes de cobre e por

109

apresentarem custos fixos relevantes em relação ao tamanho da demanda (BNDES, 2000). A

oferta dos serviços de telecomunicações aumentou de forma substancial em virtude da quebra

do monopólio estatal das empresas de telecomunicações e, consequentemente, do elevado

volume de investimento no setor.

A exploração da telefonia fixa no Brasil, até meados de 1998, era concessão do

Governo Federal, que operacionalizava as telefonias local e regional através de 27 empresas

estaduais, incluindo a Empresa Brasileira de Telecomunicações S/A (Embratel), que oferecia

serviços de telefonia de longa distância nacional e internacional, todas controladas pela

holding Telecomunicações Brasileiras S/A (TELEBRAS), autarquia ligada ao Ministério das

Comunicações.

Em 1998, o Ministério das Comunicações concluiu o processo de privatização da

telefonia pública no Brasil e as 27 empresas de telefonia fixa do Sistema TELEBRAS e a

Embratel foram fundidas em 3 empresas regionais e uma nacional, sendo que 16 estados da

Federação foram atendidos pela Tele Norte Leste que, a partir de abril de 1999, denominou-se

Telemar Norte e Leste S/A (Telemar). O quadro 1 mostra o panorama das regiões de atuação

das empresas de telefonia fixa.

Região Tele-regional Área Geográfica

I Telemar / Vésper Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia,

Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, rio Grande do

Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amapá,

Amazonas e Roraima.

I Brasil Telecom / GVT Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Santa Catarina,

Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás,

Tocantins, Rondônia e Acre.

III Telesp São Paulo.

IV Embratel / Intelig Nacional. Quadro 1: Regiões de atuação das empresas de telefonia fixa.

Fonte: Anatel (2005).

Antecedendo o processo de privatização, foi criada a Agência Nacional de

Telecomunicações (ANATEL), que elaborou o Plano Geral de Outorgas e definiu uma

modelagem (estratégia) de privatização de todas as subsidiárias do Sistema TELEBRAS. A

ANATEL permite ao governo manter a coordenação das atividades do setor e evitar o

oportunismo por parte das concessionárias. Esta agência concebeu e implementou em 1998

cinco contratos que formam a estrutura básica regulamentar do novo modelo da telefonia fixa

no Brasil e que servem de salvaguardas para o governo, à medida que, por exemplo, não é

rentável a prestação deste serviço em todas as regiões do país.

Durante a preparação para a privatização, houve um processo de reestruturação,

envolvendo um programa de grandes investimentos do Estado brasileiro para garantir que o

sistema se tornasse interessante economicamente para o mercado. O programa teve como

proposta, levar uma grande variedade de serviços aos vários segmentos da sociedade, de

maneira gradual, por meio de investimentos estatais e privados. Visou também tornar o país

competitivo no mercado internacional (BRASIL, 1999).

Esse plano assegurava uma retomada da interrupção na reestruturação do setor que

ocorreu nos anos 1980, provocada, segundo Ennes (1995), pela crise da dívida externa que

eliminou a principal fonte de financiamento de setores como o da energia e das

telecomunicações, pela descentralização das decisões e pela completa omissão de fiscalização

e de regulamentação.

110

Para Nascimento (2006), o processo da privatização do setor de telecomunicações

brasileiro ocorreu em duas etapas. Na primeira, ocorreu a privatização da banda B da telefonia

móvel celular. A segunda consistiu na separação da telefonia móvel celular da telefonia fixa

com posterior privatização da banda A e do sistema das operadoras fixas. A reestruturação

resultou na formação de doze holdings regionais: três para controlar as operadoras estaduais

de telefonia fixa, uma para controlar a Embratel e oito destinadas ao controle das empresas

estaduais de telefonia móvel da banda A.

Em janeiro de 1998, como preparação para a reestruturação e privatização do

Sistema Telebrás, as operações de telefonia celular das operadoras controladas pela

TELEBRÁS foram cindidas das operações de telefonia fixa, resultando na constituição das

operadoras celulares. Em maio de 1998, a Telebrás foi reestruturada para constituir 12 (doze)

novas empresas holdings controladoras das operadoras de telefonia fixa e de telefonia móvel,

por meio de um processo de cisão. As novas controladoras foram alocadas praticamente a

totalidade dos ativos e passivos da TELEBRÁS, inclusive as ações detidas pela TELEBRÁS

nas Companhias Operacionais do Sistema TELEBRÁS.

Essas Controladoras, juntamente com suas respectivas controladas, consistiram em

oito prestadoras de serviço de telefonia celular, cada uma operando em uma das regiões em

que o Brasil foi dividido para fins de serviço de telefonia celular; três companhias regionais

de telefonia fixa, cada uma prestando, inicialmente, serviços locais e intraregionais de

telefonia em uma das três regiões em que o Brasil foi dividido para fins de telefonia fixa e a

Embratel, que, inicialmente, prestava serviços de longa distância nacionais (inclusive intra-

regionais e inter-regionais) e internacionais (NASCIMENTO, 2006).

A Tele Norte Participações S/A (TNL) é uma das Novas Controladoras. Na cisão,

foram alocadas à TNL todas as ações do capital social detido pela TELEBRÁS nas

operadoras que prestavam serviços de telefonia fixa na região Nordeste e na maior parte das

regiões Norte e Sudeste do Brasil, com exceção dos Estados de São Paulo, Rondônia e Acre.

Em relação à exploração dos diferentes serviços, a decisão do Ministério era de que

as três empresas regionais deviam explorar os serviços locais e de interurbano intraestadual

(intrasetorial) e interestadual (intersetorial) dentro de sua área de concessão. A Embratel, por

sua vez, deveria explorar os serviços intraestaduais, interestaduais e internacionais. Esperava-

se, portanto, competição entre as empresas regionais e a Embratel em alguns serviços. Essa

competição não deveria ocorrer, inicialmente, nos serviços locais (restritos às empresas

regionais e aos novos operadores locais), nem nos de longa distância interáreas de concessão e

internacional (restritos à Embratel e aos novos operadores) (TATSCH, 2003).

Com o objetivo de garantir a competição no setor de telecomunicações, foi permitida

a entrada das empresas-espelho, que concorrerão com as companhias de telefonia fixa e serão

reguladas por regras mais flexíveis que as das concessionárias atuais. Assim, as empresas-

espelho operarão no serviço local usando a tecnologia semelhante à do celular, chamada de

WLL (Wireless Local Loop) e terão a oportunidade de escolher a área de cobertura.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo foi desenvolvido por meio de uma análise em nível micro do setor

de telecomunicações brasileiro, tendo como objeto de estudo a empresa Telemar/Oi. O estudo

foi desenvolvido tendo como forma de abordagem do problema a pesquisa qualitativa, com o

objetivo de aferir precisão aos resultados, evitando distorções de análise e interpretações,

possibilitando margem de segurança quanto às inferências (RICHARDSON, 2008). Com

relação ao objetivo, a pesquisa foi desenvolvida de forma descritiva para detalhamento das

características estruturais da empresa no que tange os aspectos de centralização e

burocratização da sua estrutura organizacional. Para a análise, foram utilizados dados

111

secundários presentes em documentos internos da empresa, em estudos realizados sobre a

empresa e em meios eletrônicos de divulgação de informações. O quadro 2 mostra as fontes

dos dados e conteúdos analisados em cada fonte.

Localização dos dados Fontes Conteúdos analisados

Bibliográficos

Teses, dissertações,

artigos publicados no

período de1998 a 2009.

Mudanças na estrutura organizacional,

descentralização e centralização,

burocratização e desburocratização,

agrupamento de atividades, sistemas

de planejamento e controle,

instrumentos de interligação,

transformações no ambiente interno.

Meio eletrônico

Sítios eletrônicos da Oi,

da Anatel, da Teleco.

Informações, unidades, distribuição de

atividades e funções, histórico da

empresa,

Documentos internos

Relatórios anuais, plano

geral de metas, estrutura

organizacional, relatórios

da administração.

Ações, mudanças ocorridas,

planejamento e execução,

centralização e descentralização de

atividades. Quadro 2: localização e conteúdos dos dados e fontes utilizadas na pesquisa.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para análise dos dados, as fontes secundárias bibliográficas e meios eletrônicos

foram relacionados aos documentos internos da empresa para validação e confirmação das

informações para posterior elaboração do relatório com as informações obtidas. A figura 1

mostra a sequência de análise utilizada.

Figura 1: Sequência de atividades utilizada para análise dos dados.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A partir da elaboração do relatório com as informações obtidas na empresa, os

principais aspectos estruturais sobre centralização e descentralização, burocratização e

desburocratização foram relacionados ao mesmo para conclusões e resultados das mudanças

ocorridas na empresa pós-privatização e os formatos adotados para atender às mudanças

ocorridas.

112

4 PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO DA EMPRESA TELEMAR/OI: NÍVEL

MICRO

Serão apresentados os dados coletados por meio da análise de documentos e

registros. No primeiro item são expostos os principais fatos que marcaram a história da

Telemar a partir de 1998 (Período Pós-Privatização). A seguir são abordadas as principais

modificações nas variáveis da estrutura organizacional, especificamente, os aspectos de

centralização e elementos da sua burocracia.

A empresa Telemar/Oi iniciou suas atividades sob o nome de Telemar. O ano de

1998 pode ser definido como o período de construção para Telemar, que foi concebida para

integrar 16 operadoras estaduais de telecomunicações. Desde a privatização, a empresa vem

sendo estruturada passo a passo, desde a escolha de uma sede à elaboração de diretrizes

operacionais e estratégicas de atuação. Além de ser a maior holding do setor no Brasil, a

Telemar é hoje a empresa Oi, um dos grandes conglomerados da área de telecomunicações do

mundo. A cobertura da empresa abrange uma área de 5,4 milhões de quilômetros quadrados, o

equivalente a 64% do território nacional. Mais de treze mil localidades, com uma população

de 87 milhões de habitantes – 54% da população brasileira – são atendidas pela Telemar/Oi

(Oi, 2010).

A reestruturação da Empresa Telemar/Oi inicia-se com a unificação das 16 empresas

com culturas, tradições e processos próprios. Dessa forma, a proposta foi padronizar

processos, otimizar recursos e utilizar-se do benchmarking da operadora, que dispunha do

melhor know-how no âmbito de sua área geográfica, uma vez que cada empresa dispunha de

diretoria própria, sistemas, tecnologia e fornecedores diferentes antes do processo de

privatização.

Concomitantemente aos processos de centralização e padronização, que visaram a

harmonizar e integrar a Empresa Telemar/Oi e objetivaram, sobretudo, a otimização dos

recursos, redução dos custos e evitar a duplicação de investimentos, a estratégia seguinte foi a

antecipação do Programa de Antecipação das Metas (PAM).

A Lei Geral das Telecomunicações (LGT) permitia que a empresa disputasse

mercado no serviço de longa distância, internacional e mobilidade, caso antecipasse as metas

de universalização previstas para 2003, ou seja, instalar telefone fixo na residência de pessoas

que morassem em localidades com mais de 600 habitantes e telefones públicos em todas as

localidades com mais de 300 habitantes. Nesse contexto, a estratégia adotada foi antecipar as

metas, no sentido de ampliar a oferta de serviços completos aos clientes: serviço de longa

distância, nacional e internacional, telefonia celular e transmissão de dados.

No biênio 2003/2004, a reestruturação da empresa para o mercado se deu com a

criação e consolidação das Unidades Estratégicas de Negócios (UENs), que revolucionaram a

atuação no mercado, mas, sobretudo o orçamento, acompanhamento e controle, por meio dos

planos de ação e dos itens de controle. No biênio 2005/2006, o direcionamento estrutural deu-

se no sentido da qualidade dos processos, produtos e serviços, mediante uma política de

qualidade, que dispusera de 4 (quatro) macro-grupos de indicadores: Reparo, Serviço,

Atendimento e Erro em Conta.

Um dos pilares para o desenvolvimento organizacional da empresa foi a estrutura,

considerando os segmentos de mercado, e não apenas a geografia e topologia de rede. Mas

também a criação das Unidades de Negócios - UNs de vendas para os mercados de varejo,

Telefonia de Uso Público, Empresarial, Corporativo e Atacado. Cada UN tem seu

demonstrativo de resultados da receita até o Economic Value Added – EVA, passando por

investimentos, qualidade e indicadores operacionais. As UOs (Unidades Operacionais) foram

focadas em venda varejo, Empresarial e Operação e Manutenção da rede.

113

O modelo de centralização delineado no processo de mudança da estrutura

organizacional após o processo de privatização pela Telemar/Oi tinha como principal objetivo

estabelecer um padrão de uniformidade das decisões e dos processos, uma vez que as

operadoras no período de gestão estatal possuíam elevado grau de autonomia e independência

no processo de tomada de decisões em relação a holding Telebrás (NASCIMENTO, 2006).

Em cada filial havia um gerente geral que se reportava ao superintendente da

regional. Esse, por sua vez, era subordinado a matriz. Essa relação de subordinação repetia-se

em todas as áreas, tanto da operação quanto de vendas ou de suporte. A centralização

começou pelas áreas de apoio, que aos poucos, foram se consolidando nas regionais e depois

na matriz (TEIXEIRA, 2006).

O nível de autonomia para a tomada de decisão nas atividades operacionais vem

aumentando desde a privatização da Telemar/OI. Diretores e gerentes têm autonomia para

tomar decisões que tenham baixo risco de impacto na imagem da empresa e dos resultados. A

formalização ajudou aumentar o nível de autonomia nas atividades operacionais, já que hoje

as unidades têm liberdade para atuar dentro de padrões pré-estabelecidos (TEIXEIRA, 2006).

A maior formalização e previsibilidade do comportamento do empregado encorajam

os níveis seniores a aumentar a delegação de autoridade para níveis hierárquicos cada vez

mais baixos, à medida que pode fazê-lo seguros de que aquela delegação será utilizada da

maneira desejada pelos delegadores, embora tal controle se torne imperfeito à medida que

aparecem as disfunções burocráticas (MOTTA, 2001).

Apesar de todo esforço na utilização de normas escritas ou verbais, havia variações

em relação às áreas. Os setores que desempenhavam atividades mais rotineiras tendem a ter

mais normas escritas. Na área de operações e manutenção, por exemplo, todos os

procedimentos estão disponíveis na rede interna da Telemar/Oi e eles são utilizados tanto por

ela quanto por seus prestadores de serviços. Quando se verifica algum conflito ou erro, essas

normas são reavaliadas, reescritas em um novo padrão. (TEIXEIRA, 2006).

Teixeira (2006) salienta que no caso da Telemar, a padronização não engessou a

empresa. Ela tinha como objetivo uniformizar as atividades para que fosse possível ter

controle sobre elas. Os processos estão sendo padronizados, mas os funcionários ainda têm

poder de decisão. A padronização fornece um direcionamento e, não, um caminho imutável,

já que as normas também oferecem flexibilidade para que a empresa responda com agilidade

às demandas do mercado. Em relação à formalização de atividades na Telemar, pode-se

identificar duas fases: uma de reestruturação e outra de desenvolvimento. Durante a fase de

reestruturação a norma era modernizar e desburocratizar a empresa e mudar a cultura estatal

vigente (TEIXEIRA, 2006).

Para Motta (2001), a excessiva formalização tende, em primeiro lugar, através da

imposição da disciplina via sistema de recompensas e punições, a estimular o apego às regras,

em prejuízo dos fins últimos da organização. Os meios se transformam em fins, dificultando a

adaptação da organização a novas regras.

Paradoxalmente, a empresa encontra-se inserida num contexto altamente competitivo

e inovador, mas ao mesmo tempo, verifica-se uma estrutura fortemente hierarquizada e

baseada em princípios e valores extremamente rígidos (NASCIMENTO, 2006). Considerando

os documentos consultados e o estudo teórico realizado, fica evidenciado que a estrutura

organizacional da Telemar/Oi evoluiu para um modelo híbrido (formal/matricial) dividido

através de segmentos de mercado.

Segundo Foss (2002), existe um fenômeno denominado “alta performance da prática

de trabalho” no qual verifica-se elevado envolvimento dos funcionários em tempos, círculos

de qualidade e iniciativa de qualidade total. A discussão acerca das novas formas

organizacionais preocupa-se com os modos de organização e transações gerenciais que

representam um “ofuscamento” das fronteiras entre mercados e hierarquias. A literatura sobre

114

as novas formas organizacionais afirmam que as hierarquias, essencialmente, estão tornando-

se crescentemente ligadas aos elementos de mercado, tais como incentivos de elevado

impacto às unidades empresariais com elevação de seus ativos e por outro lado os mercados

estão cada vez mais repletos de hierarquias, através de comunicações de banda larga (FOSS,

2002)

5 Discussão dos Achados

A discussão analítica de uma organização em relação aos aspectos de centralização e

descentralização, bem como burocratização e desburocratização não devem ser tratados como

absolutas, mas ao contrário, como extremos de um continuum (MINTZBERG, 2003). A

empresa, todavia, esteve ao longo do período estudado se movimentando, ora em direção a

um ora em direção a outro desses extremos.

Pode-se perceber que, ao longo da última década, a empresa Telemar/Oi passou por

fases importantes nos seus aspectos estruturais, desde a fase de ajuste de sua estrutura ao

panorama da privatização para posteriores períodos com foco no crescimento, nas vendas e

produtos até se voltar para focar o atendimento ao cliente e procurar, nos últimos anos, buscar

sua consolidação (o cliente é o patrão). Isso mostra que a movimentação interna que ocorreu

na organização teve preocupação com os seus arranjos burocráticos, mas também com as

forças externas que influenciam na sua estrutura interna e na sua relação com o ambiente

(EISENSTADT, 1981).

Uma das primeiras tarefas da empresa após a privatização foi unificar as 16 empresas

que a originou. Esse processo na empresa evidenciou um movimento de centralização física,

operacional e administrativamente, com a extinção e terceirização de algumas atividades e

introdução de novas e mais complexas por outro, sendo que isto demonstra que quanto maior

a complexidade técnica, maior a complexidade estrutural da empresa (ROBERT,

GRABOWSKI, 2009), exigindo dela articulação frente a extensa área geográfica com que

atuava. A sua movimentação em direção a burocracia, nesse caso, representou uma tentativa

de solução para novas complexidades que estavam surgindo (MARCH; SIMON, 1972).

No período estudado, os aspectos burocráticos da Telemar/Oi passaram por duas

fases. Uma primeira que definiu a modernização e desburocratização frente a cultura estatal

que ainda persistia. Neste período, os aspectos de formalização e controle foram diminuídos

para dar mais flexibilidade e autonomia para a empresa.

Posteriormente, por outro lado, os aspectos de formalização voltaram a ser

fundamentais e, controles antes extintos, foram reintroduzidos e novos foram criados e os

procedimentos foram padronizados por meio de um modelo de arquitetura de processos.

Assim, enquanto, por um lado, cresceu a formalização, padronização e centralização da

empresa, por outro, o nível de autonomia para a tomada de decisão nas atividades

operacionais aumentaram consideravelmente. A formalização também ajudou a aumentar a

autonomia a partir de padrões previamente estabelecidos. Enquanto a tomada de decisão

acontece de forma descentralizada nos níveis operacionais, as decisões estratégicas, por sua

vez, ocorrem de forma centralizada nos grupos próximos à presidência.

Esses aspectos mostram que, conforme Foss (2002), as novas formas organizacionais

preocupam-se com os modos de organização e transações gerenciais que representam um

relacionamento dos limites entre mercados e formas burocráticas. A literatura acerca de novas

formas organizacionais afirma que essencialmente as burocracias estão tornando

crescentemente infundidas com elementos de mercado, tais como incentivos de alta potência e

unidades empresariais com um elevado grau de discricionariedade na utilização de ativos e os

mercados estão também cada vez mais repletos de características burocráticas,

115

descaracterizando analisar as empresas em termos de centralização ou descentralização ou

burocratização ou desburocratização, como únicas possibilidades de análise.

A capacidade de operar formalmente (burocraticamente) e flexivelmente

(desburocratizada) ao mesmo tempo, dá-se também pela profissionalização do quadro de

pessoal, no qual todos possuem alta escolaridade, o que tem possibilitado a autonomia. Mas,

por outro lado, existe um processo de doutrinação para a adequação da estrutura da empresa

por meio do acompanhamento da performance e outras atividades que favorecem a

formalização. O que aconteceu na empresa é corroborado por Hall (2004), quando diz que a

formalização pode capacitar os indivíduos, pois os procedimentos formalizados ajudam as

pessoas a realizar seu trabalho. Ao mesmo tempo, ela é também coercitiva, pois as pessoas

são forçadas a obedecer, não se tratando, portanto, de uma ação neutra da empresa.

A reestruturação de área geográfica para unidades de negócios, criando um misto

estrutural por clientes e funções, fez reduzir drasticamente o número do quadro de pessoal, o

que facilitou a ligação entre as diversas áreas, o controle e o planejamento da empresa. O que

favorece ainda a sua transformação de serviços de telefonia fixa para telecomunicações

convergentes, direcionando o foco para o cliente e tentando satisfazer as suas necessidades na

área.

Assim, por um lado, enquanto o nível de complexidade organizacional foi reduzido

principalmente pela diminuição de diferenciação horizontal e vertical, ocasionada pela

redução de pessoal, atividades e custos, por outro, a formalização aumentou também a partir

da padronização e controle das atividades. Dessa forma, enquanto houve uma

descentralização nos níveis operacionais, houve centralização nos níveis superiores. Isso

significa que na empresa a descentralização vem ocorrendo à medida que aspectos mais

burocráticos se evidenciam, por outro lado, à medida que a empresa foi desburocratizando

alguns aspectos, tem havido a necessidade de centralização de outros na mesma medida. A

figura 2 ilustra essa realidade.

Figura 2: Relação dos fatores estudados na estrutura da empresa.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A empresa tem recentemente se preocupado, além da satisfação do cliente, em ser a

melhor empresa em serviços, numa tentativa de aproximação entre clientes, colaboradores,

sociedade e acionistas. Além de estar voltada para a inovação, tornou-se uma empresa

integrada no setor com diversificação no portfólio de atividades e serviços. Novos aspectos

como meritocracia, confiança e integridade foram introduzidos aos inicialmente estabelecidos

no início da privatização. Isso reporta a ideia de que, segundo Foss (2002), as mudanças nos

limites das firmas, o crescimento das alianças estratégicas durante a última década e o

aumento da utilização de práticas de trabalho com alto rendimento são indiscutivelmente

116

causadas pelas tentativas das firmas em aumentar a sua taxa de criação e de alavancagem de

novos conhecimentos, em um ambiente onde a inovação competitiva tem sido crescentemente

dominante. A centralização e a burocratização, nesse caso, juntamente aos demais aspectos

tradicionais estruturais da organização, conforme Perrow (1986), não tem dado conta de

explicar as transformações ocorridas, principalmente nessa última década.

6 CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo analisar os aspectos teóricos estruturais da

centralização e burocratização, que se desenvolveram na Telemar/Oi após o processo de

privatização, ressaltado principalmente pela importância desses aspectos na literatura sobre

teorias organizacionais e as transformações ocorridas a partir das novas formas

organizacionais. As vertentes teóricas recentes propõem novas configurações de organização,

mas o presente estudo colaborou em mostrar que a centralização e burocratização continuam a

fazer parte das mudanças ocorridas na empresa estudada, não sendo, contudo, absolutas na

estrutura da empresa, mas sendo remodeladas com a introdução de novos aspectos, como a

inovação e o conhecimento.

Percebe-se que as mudanças ocorridas nos contextos macro e meso do setor de

telecomunicações possibilitaram a empresa passar por processos de descentralização e

desburocratização, mas desenvolvendo esses dois contextos de forma inversa, caracterizado

no estudo pela necessidade de continuidade dentro da empresa de temas tradicionalmente

citados na literatura como formalização, padronização e controle. Se o contexto meso

permitiu identificar o desenvolvimento da empresa nesse contexto, isso se deu pela

flexibilidade da empresa em movimentar-se entre os dois continuum estudados e não

buscando irrestritamente um deles.

O estudo ficou limitado diante da impossibilidade de observação direta e da obtenção

de dados primários na empresa pesquisada, ficando limitado às informações publicadas e

visões de outros estudiosos sobre o assunto, sugestionando para que outros estudos

relacionem variáveis tradicionais da literatura com as emergidas nas novas formas

organizacionais e melhor mostrem como as organizações inovadoras e de sucesso conseguem

trabalhar com altos padrões burocráticos e de centralização.

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119

LÍNGUA INGLESA, GLOBALIZAÇÃO E O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO

PROFISSIONAL DOCENTE

Maria Amália Façanha Berger

45

RESUMO

O presente artigo é resultado de pesquisa bibliográfica e tem o objetivo de apresentar uma

reflexão a respeito do processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa como idioma

global, e do papel do profissional docente frente aos desafios de nossa sociedade globalizada,

que tem a troca de informações em nível internacional como uma de suas tônicas. Sua

importância está no fato de que ainda há ainda uma forte tendência por parte das escolas de

escolherem métodos baseados no ensino de gramática e no desenvolvimento apenas da

habilidade de leitura, o que vai contra às necessidades atuais de nossa sociedade em relação

ao desenvolvimento da competência comunicativa, a qual implica desenvolvimento das quatro

habilidades: compreensão oral, fala, leitura e escrita.

Palavras-chave: Língua Inglesa. Comunicação global. Competência comunicativa. Processo

de Ensino-Aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

A importância de se falar um idioma estrangeiro ganha proporções muito

maiores na atualidade, em nossa sociedade globalizada, uma vez que as relações

internacionais têm se intensificado, em vários âmbitos, quer pessoais, acadêmicos ou

profissionais, tendo a Internet como veículo facilitador desse processo. Nesse contexto, é a

língua inglesa que ganha o status de idioma global, por motivos políticos, econômicos e

tecnológicos. Segundo Richards; Rodgers (2001) estima-se que por volta de 60% da

população mundial é multilingual e que o inglês é a língua estrangeira mais estudada no

mundo.

Com isso, há uma preocupação crescente em relação à formação do profissional

docente de língua inglesa, no sentido de prepará-lo para melhor desenvolver a competência

comunicativa em seus aprendizes e a consciência do caráter de utilidade desse idioma como

elemento facilitador da comunicação global, fazendo com que seu aprendizado efetivo seja,

inclusive, elemento de inclusão social.

Entende-se aqui como aprendizado efetivo no contexto atual, aquele que capacite o

aprendiz a usar a língua inglesa para se comunicar, para negociar, ou seja, para interagir em

diferentes situações. Para tal, esse ensino deverá desenvolver nos seus aprendizes as quatro

habilidades linguísticas, que são: a fala (speaking), a compreensão oral (listening), a leitura

(reading) e a escrita (writing); quer dizer, a eficácia no ensino de línguas estrangeiras deve

levar, mais do que em outros momentos da história, à competência comunicativa.

Para embasar as reflexões que serão aqui apresentadas, buscamos autores que

discutem o status da língua inglesa como idioma de comunicação global, o papel da Internet e

a formação do profissional docente na atualidade. Dentre eles destacamos: Warschauer

(2000), Ianni (1999), Renato Ortiz (2000) e Richards; Rodgers (2001).

45

Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Licenciada em Letras Português-Inglês

(UFS). Professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS); Núcleo de Secretariado.

[email protected]

120

2 A NATUREZA DE IDIOMA GLOBAL

Historicamente, o ensino de língua estrangeira tem passado por transformações

para poder atender às necessidades sociais que surgem, em grande parte, impulsionadas pelos

avanços tecnológicos e trocas econômicas internacionais. Hoje, por exemplo, ser hábil apenas

nas habilidades de leitura (reading) e escrita (writing) não basta para suprir as necessidades

do mundo globalizado.

É preciso somar a essas habilidades mais duas: a fala (speaking) e a compreensão oral

(listening), ajudando a formar o falante competente, o que é um grande desafio quando

consideradas as dificuldades enfrentadas nas salas de aula, principalmente nas da rede pública

de ensino (turmas numerosas, salas e equipamentos precários, falta de material didático,

professores com nível de proficiência linguística inadequado, baixos salários, pouco ou

nenhum conhecimento metodológico etc.).

Tomando o último item para análise, entendemos que a formação de docentes de

língua inglesa precisa, efetivamente, instrumentalizar futuros professores, não só em termos

linguísticos, mas também metodológicos. É preciso, desde a graduação, fazer o que muitas

escolas de idiomas têm feito: treinar seu corpo docente metodologicamente, de preferência

dentro de métodos e abordagens que levem ao desenvolvimento da competência

comunicativa. Dessa forma, a escola estará em sintonia com as discussões sobre a adequação

do ensino às necessidades do mercado de trabalho mundial, que fazem parte da pauta relativa

aos destinos da educação, pois essa é a lógica que rege a sociedade globalizada.

A LDB nº 9.394/96, por exemplo, ao estabelecer as diretrizes e bases da educação

nacional, apresenta como uma das finalidades dos ensinos médio e superior, a preparação para

o trabalho, levando-se em consideração as demandas do mercado. Em relação às finalidades

do ensino médio, encontra-se no Capítulo II - Seção IV – Do Ensino Médio – Art. 35, II – que

esse ensino deve se ocupar com “a preparação básica para o trabalho e a cidadania do

educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a

novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores”.

Como uma das finalidades para o ensino superior, consta no Capítulo IV – Da

Educação Superior – Art.43, II: “formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento,

aptos a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da

sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua”. Outra finalidade, Art.43, V:

“suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a

correspondente concretização”.

Reforçando o que foi dito até aqui, uma forma de tentar garantir a qualidade do ensino

de inglês que atenda às necessidades comunicacionais da nossa sociedade globalizada, é

através da prática voltada para a integração das quatro habilidades linguísticas. Richards e

Rodgers, ao explicarem a questão da importância da adequação do ensino de línguas

estrangeiras relacionadas às necessidades sociais, afirmam ser essa uma consequência natural

advinda das modificações ocorridas no curso da história:

Mudanças em métodos de ensino de línguas através da história têm refletido o

reconhecimento de transformações no tipo de proficiência que os aprendizes

necessitam, como, por exemplo, uma mudança em direção à proficiência oral ao invés

da compreensão de leitura como o objetivo do estudo de línguas; elas têm também

refletido mudanças nas teorias da natureza da linguagem e do aprendizado de línguas46

(RICHARDS; RODGERS, 2001, p.3 tradução minha).

46

“Changes in language teaching methods throughout history have reflected recognition of changes in the kind

of proficiency learners need, such as a move toward oral proficiency rather than reading comprehension as the

121

Acompanhando essa linha de raciocínio, destacamos que as transformações sociais

que compõem o cenário do século XXI suscitam uma análise da condição de globalização em

que nos inserimos, a qual tem sua tônica na informação e na produção contínua de

conhecimento. Outro ponto importante é que as mudanças que ajudam a redesenhar os

caminhos da sociedade contemporânea carregam uma série de desafios que merecem reflexão,

pois segundo Ianni (2001, p.78 grifo nosso):

Dentre os desafios empíricos e metodológicos, ou históricos e teóricos, criados pela

formação da sociedade global, cabe perguntar sobre o lugar e o significado da

sociedade nacional. Quando se reconhecer que a sociedade global, em suas

configurações e em seus movimentos, envolve outra realidade histórica, geográfica,

demográfica, antropológica, política, econômica, social, cultural, religiosa e

lingüística, então cabe refletir sobre as modificações que essa nova realidade incute

na sociedade nacional.

Ao tratarmos da questão linguística, no caso específico deste estudo, referente ao

aprendizado da língua inglesa como idioma facilitador da comunicação internacional, é

interessante ressaltar que:

Um grande e crescente número de pessoas, mesmo que elas nunca pisem em um país

de língua inglesa, terão a necessidade de usar inglês em comunicação altamente

sofisticada e em colaboração com pessoas em todo o mundo. Elas precisarão ser

capazes de escrever persuasivamente, interpretar e analisar informações em inglês

criticamente, e lidar com negociações em inglês (WARSCHAUER, 2000).

Em primeiro lugar, o profissional docente precisa entender esse quadro para ser capaz

de direcionar seus estudos e esforços no sentido de se aperfeiçoar como falante fluente do

idioma alvo para poder, de fato, trabalhar a competência comunicativa de seus alunos.

Paralelamente, deve conhecer e saber fazer uso de metodologias adequadas que levem à

prática da comunicação.

Dessa maneira, ele estará colocando em prática o que os PCNs (1998) de língua

estrangeira apresentam sobre a importância da aquisição de pelo menos uma língua

estrangeira para a formação plena do cidadão: “O conhecimento de Língua Estrangeira é

crucial para se poder participar ativamente dessa sociedade em que, tudo indica, a

informatização passará a ter um papel cada vez maior” (PCN, 1998), questão assegurada pela

LDB nº 9.394/96 – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), tanto para o

ensino fundamental (capítulo IX – II) quanto para o médio (capítulo X – III).

Também se faz necessário compreender que a amplitude que o inglês conquistou

acompanha o processo de globalização, e que o mundo, conforme ressalta Ianni (2001, p.87),

“não é mais apenas, ou principalmente, uma coleção de estados nacionais [...]. As nações

transformaram-se em espaços, territórios ou elos da sociedade global”. Essa sociedade global

tem interagido amplamente através da língua inglesa e isso, por si só, explica porque a escola

precisa redefinir a forma como esse idioma tem sido ensinado, entendendo que a comunicação

plena deve ser, de fato, o objetivo maior do ensino de língua estrangeira.

Ao direcionar o ensino de língua inglesa para o desenvolvimento da proficiência

linguística, ajudando a formar o indivíduo bilíngue, a escola contribui para a integração do

aprendiz a essa rede de relações globais. Para uma melhor análise dessa questão, faz-se

necessário entender quais são as atuais exigências que o processo de ensino-aprendizagem de

línguas estrangeiras deve atender para proporcionar um aprendizado condizente com as

goal of language study; they have also reflected changes in theories of the nature of language and of language

learning” (RICHARDS; RODGERS, 2001, p.3).

122

necessidades atuais, fruto de modificações nas relações humanas promovidas pelos constantes

avanços tecnológicos e pela globalização.

Ortiz (2000, p.29) analisa a situação de uso do idioma inglês de forma cada vez mais

disseminada: “prefiro dizer que o inglês é uma „língua mundial‟. Sua transversalidade revela e

exprime a globalização da vida moderna; sua mundialidade preserva os outros idiomas no

interior desse espaço transglóssico.”47

Uma das implicações desse caráter de língua mundial

aponta para uma mudança muito importante e que também precisa ser discutida e

compreendida pelos docentes, o fato de que não se deve mais enfatizar, como tem sido feito

consciente ou inconscientemente, elementos das culturas norte-americana e britânica.

A natureza global da sociedade pede uma postura de respeito às diferenças culturais

para que possamos conviver bem com o que não nos é familiar. Entendemos, no entanto, que

não é tarefa fácil não atender os apelos provenientes da poderosa Indústria Cultural Norte-

Americana, a qual dissemina mais do que o idioma inglês, todo um modo de vida. No entanto,

é preciso entender que ao ganhar status de língua global ou mundial, o inglês não deve

representar uma ameaça à identidade cultural de povos não falantes desse idioma. Deve, ao

contrário, conviver pacificamente com as línguas maternas e ser elemento de inclusão nessa

rede mundial de interações que vivemos na atualidade.

2.1 O Ensino de Língua Inglesa e a Indústria Cultural Norte-Americana

A Indústria Cultural – termo usado pela primeira vez por Adorno e Horkheimer na

década de 40, na obra “A dialética do esclarecimento” – carrega, através de seus filmes,

músicas, revistas e outras formas de entretenimento, uma gama de elementos culturais que

hoje, por exemplo, dão ênfase à cultura norte-americana, pelo simples fato de ser esse o país

que mais investe, distribui e lucra com esse tipo de negócio.

Segundo a análise dos autores em destaque, o poder dessa indústria é avassalador, uma

vez que “O mundo inteiro é forçado a passar pelo filtro da indústria cultural” (ADORNO;

HORKHEIMER, 1985, p.118). Em outras palavras, não se escapa desse verdadeiro

bombardeio de informações que quase sempre carregam uma ideologia: a capitalista, no

sentido de solidificar uma proposta de vida.

Esse poder de alcance tem sido cada vez mais reforçado pela rapidez com que a

informação tem sido transmitida de um canto a outro do mundo, facilitada pelas rápidas

mudanças tecnológicas48

. Praticamente tudo que passa pela Indústria Cultural tem objetivo e

destino certos: vender algo até aos mais distraídos, através da máscara da diversão, que passa

a ser fonte muito lucrativa do capital.

A lógica dessa Indústria está em total conformidade com os efeitos da globalização,

que confere “a tudo um ar de semelhança” (nas palavras de Adorno e Horkheimer), criando

necessidades em comum, fruto de uma verdadeira padronização de produtos que visam a

atender um mercado que se configura como mundial. Andar pelas ruas de Manhattam, visitar

a Estátua da Liberdade e caminhar pelo Central Park, por exemplo, tendo a sensação de que

47

Para explicar diglossia, Ortiz apresenta definição que linguistas dão a “um conjunto de fenômenos que

ocorrem em sociedades nas quais coexistem duas línguas distintas” (ORTIZ, 2000, p.100) que são utilizadas sem

que haja conflito ou estranheza, cada qual em determinado contexto, a depender da necessidade imposta pelas

diferentes situações sociais de comunicação. Um exemplo disso está no uso do inglês no sul da Índia, onde as

pessoas preferem usar a língua mãe em contextos de relações privadas, familiares, e o inglês para a comunicação

nas demais interações sociais como trabalho, estudo, negócios, etc. 48

De acordo com informação apresentada por Ortiz (2000, p.63), “Entre 1980 e 1991 foram lançados 152

satélites, dos quais 28 com alcance mundial, 15 regional, 109, nacional. Dados da UNESCO”.

123

tudo isso já faz parte de nosso cotidiano, é fruto de uma situação fabricada pela Indústria

Cultural.

Nesse caso, o produto a ser consumido é a ideia de aceitação de uma cultura – a norte-

americana. Vende-se a ideia de que o jeito americano de viver é o ideal, é o que há de mais

moderno e a indústria da diversão faz excelente uso desse artifício para vender seus produtos,

que podem ser filmes, séries de tv, música, comida (fast-food), carros, enfim, todo um estilo

de vida, o capitalista:

[...] o sistema da indústria cultural provém dos países industriais liberais, e é neles que

triunfam os seus meios característicos, sobretudo o cinema, o rádio, o jazz e as

revistas. É verdade que seu projeto teve origem nas leis universais do capital

(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 124).

Certos ícones da cultura norte-americana foram transformados em figuras mundiais

como é o caso de Michael Jordan, Silvester Stalone, Madonna e Michael Jackson. Esportes,

cinema e música são formas de entretenimento que cativam pessoas de todas as

nacionalidades. Essas estrelas tornaram-se parte do cotidiano de milhões de pessoas, bem

como a calça jeans, o rock, o jazz, o rap, o McDonald‟s e tantos outros produtos norte-

americanos, o que encontra explicação na seguinte citação:

A globalização americana não é mais estritamente econômica ou política, pois no

século XX ela alcançou níveis sem precedentes de entretenimento, incluindo a

Internet. A homogeneização da cultura que está ocorrendo está agora acontecendo em

uma escala mais rápida com o advento da Internet e da disseminação mais rápida da

informação (HAMLETT, 2000, p.1 tradução minha).49

Diante do exposto, o papel que o docente de língua inglesa deve abraçar

conscientemente é o de facilitador do processo de ensino-aprendizagem desse idioma, que

deve ser entendido como ferramenta que viabiliza a comunicação global, sem ser vítima dessa

Indústria Cultural e das „armadilhas‟ que muitos materiais didáticos ainda trazem, no sentido

de enfatizar a cultura norte-americana dominante.

3 ABORDANDO O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA COMUNICATIVAMENTE

A preocupação com o aprendizado de uma outra língua, sob a perspectiva da

comunicação, da funcionalidade e da praticidade, está expressa nos PCNs de Língua

Estrangeira (1998, p.38):

O desenvolvimento de habilidades comunicativas, em mais de uma língua, é

fundamental para o acesso à sociedade da informação. Para que as pessoas tenham

acesso mais igualitário ao mundo acadêmico, ao mundo dos negócios e ao mundo da

tecnologia, etc., é indispensável que o ensino de Língua Estrangeira seja entendido e

concretizado como o ensino que oferece instrumentos indispensáveis de trabalho.

Porém, como pensar em um ensino público eficaz de língua estrangeira que seja

adequado ao momento presente de globalização, se são tantos os desafios que os professores

têm que enfrentar? Um deles, o que nos interessa discutir no momento, é o fato de que muitos

49

“American Globalization is no longer strictly economical or political, for in the twentieth century it reached

unprecedented levels in the entertainment and the Internet. The homogenization of culture that is occurring is

now happening at a faster rate with the advent of the Internet and the faster spread of information (HAMLETT,

2000).

124

desses profissionais não apresentam em sua formação amplo conhecimento metodológico.

Como pensar em adequar o ensino de língua inglesa ao cenário atual de comunicação global

quando nas escolas brasileiras ainda se lança mão de metodologia estruturalista antiquada,

baseada no método de Tradução e Gramática que dominou o ensino de línguas estrangeiras na

Europa no século XIX?

Trazer esse tipo de discussão para as salas de aula de cursos de Licenciatura é tão

importante quanto ensinar a língua alvo. É preciso mostrar que diferentes métodos de ensino,

abordagens e técnicas foram desenvolvidos baseados nas necessidades de cada período

histórico. O século XX, por exemplo, foi palco de avanços nos estudos científicos sobre

linguística aplicada, sociolinguística e comportamento humano. Segundo Totis (1991), de

1900 a 1980, foram desenvolvidos métodos, abordagens e técnicas que vieram a substituir o

tradicional ensino de regras gramaticais e tradução sem sentido e praticidade.

Em relação a que metodologia adotar hoje, o foco deste estudo está na Abordagem

Comunicativa, a qual vem crescendo em relevância na área de aprendizado de línguas devido

à importância que tal abordagem dá à comunicação funcional. Ela está em perfeita sintonia

com as necessidades linguísticas do momento atual, cuja ênfase está na informação, conforme

pontuado por Totis (1991, p.29):

A Abordagem Comunicativa, surgida nos últimos anos da década de 70, e ganhando

força total nos anos 80, procurou, com seu enfoque, não atravessar de um extremo a

outro do pêndulo. [...] O equilíbrio visado apóia-se no conceito da competência

comunicativa, que encara a realização lingüística como algo formalmente possível,

viável, adequado ao contexto e realmente factível.

O equilíbrio neste caso surge quando há o desenvolvimento de formas mais

comunicativas de ensino de língua estrangeira, transferindo o foco central do ensino da

gramática, e passando a incorporar visões de aprendizagem e de linguagem que tenham como

objetivo a promoção de uma educação que viabilize a habilidade de se comunicar

efetivamente com o outro.

Transformar a sala de aula em um ambiente de comunicação autêntica serve ao real

propósito de se aprender e ensinar línguas na atualidade. Lembramos que o ser humano tem

necessidade de se comunicar, de entender sua própria realidade, de interagir com o outro, que

tanto pode dominar os mesmos códigos linguísticos, como pertencer a grupos de culturas e

línguas diferentes. Segundo Berger e Luckmann (1985, p.57), “A vida cotidiana é, sobretudo

a vida com a linguagem, e é por meio dela que participo com meus semelhantes. A

compreensão da linguagem é, por isso, essencial para minha compreensão da realidade da

vida cotidiana”.

O enfoque central do processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira deve

estar, portanto, na questão da linguagem como capacidade de comunicação entre os seres

humanos e de sua importância, visto que ela é, segundo Saussure (2002, p.14), um fato social

que “... na vida dos indivíduos e das sociedades (...) constitui fator mais importante que

qualquer outro”. É nesse sentido que aulas baseadas na Abordagem Comunicativa, ao invés de

métodos estruturalistas, precisam fazer parte da prática pedagógica, não só de cursos

particulares de idiomas, mas de escolas públicas e privadas brasileiras, mesmo que com

adaptações, já que o ambiente ideal com poucos alunos não é comum nesses estabelecimentos

de ensino.

A flexibilidade encontrada em relação a essa abordagem explica-se no fato de não ser

ela um método, mas por estar ligada, segundo Richards; Rodgers (2001), a um conjunto de

princípios que reflete uma visão de linguagem permeada por uma visão de aprendizagem

comunicativa que pode se valer de técnicas e estratégia de diferentes métodos para facilitar o

aprendizado. Um exemplo disso está no uso da repetição, técnica intimamente ligada ao

125

Método Audiolingual, só que não em excesso, apenas quando o professor sentir que ela

contribuirá com o processo de aprendizagem. Explicações gramaticais e o uso da tradução

também acontecem, mas de forma contextualizada, sempre visando a facilitar a comunicação.

Seguindo a mesma linha de raciocínio de Totis em relação à adequação dessa

abordagem ao momento atual de intensa troca de informações e, portanto, de busca pela

competência comunicativa, destacamos a seguinte colocação de Warschauer (2000, tradução

minha):

A ênfase da Abordagem Comunicativa na interação funcional, ao invés de no alcance

da perfeição lingüística de falantes nativos, corresponde aos imperativos da nova

sociedade, na qual o inglês é compartilhado entre muitos grupos de falantes não

nativos em oposição ao inglês dominado pelos britânicos e americanos.50

O Método Audiolingual, ao contrário, coloca grande ênfase na „pronúncia perfeita‟, ou

seja, o falante deve ser forçado a imitar, no caso da língua inglesa, o sotaque de americanos

ou britânicos. Já a Abordagem Comunicativa entende que o objetivo é ter um tipo de

pronúncia que permita que a comunicação aconteça, não importando se a pessoa tem

pronúncia mais americana ou britânica. Na verdade, atualmente, quando tantos povos estão

falando inglês com diferentes sotaques, a busca pela imitação do sotaque deste ou daquele

povo não faz mais sentido.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que foi apresentado ao longo de nossa análise aponta para a necessidade de uma

postura consciente do educador de língua inglesa para que seu planejamento de ensino seja

construído com a compreensão do que é ensinar inglês como idioma global e de que a

metodologia empregada precisa levar ao desenvolvimento da proficiência linguística tão

almejada por nossa sociedade.

Enxergamos duas funções primordiais nesse sentido. Em primeiro lugar, é preciso

haver a compreensão de que a língua inglesa, ao ser entendida como idioma que possibilita a

comunicação em nível global, precisa se desvincular da transmissão fechada de elementos das

culturas inglesa e, principalmente, americana.

A outra função diz respeito à necessidade desse profissional de ajustar sua prática

pedagógica às atuais demandas de nossa sociedade, decorrentes das necessidades apontadas,

principalmente, pelo mundo do trabalho, buscando embasamento em metodologias que

tenham no desenvolvimento das competências comunicativas seu enfoque, no caso deste

estudo, a Abordagem Comunicativa.

Aprender inglês, portanto, ganhou relevância ainda maior dentro do processo de

formação do cidadão. Tal idioma constitui-se hoje em uma necessidade que faz parte da

formação geral dos indivíduos, dos profissionais, já que cresce a exigência do mercado de

trabalho, em relação ao perfil do trabalhador, que ele domine tal idioma. Concluindo, o

domínio linguístico em língua inglesa promove o acesso mais rápido às informações que estão

sendo trocadas em nível global, implicando uma situação de inclusão social que acontece não

só presencialmente, mas também de forma digital e a escola não pode ficar alheia a essa

realidade.

50

“The emphasis of the communicative approach on functional interaction, rather than on achieving native-like

perfection, corresponds to the imperatives of the new society, in which English is shared among many groups of

non-native speakers rather than dominated by British or Americans” (2000, p.1). Texto original disponível em:

<http://www.gse.uci.edu/markw/default.html> .

126

ENGLISH LANGUAGE, GLOBALIZATION, AND THE TEACHER TRAINING

PROCESS

ABSTRACT

This article is the result of a bibliographic research and it aims at presenting a reflexion upon

the teaching-learning process of English as a global language, and the role of the teacher in

face of the challenges of our globalized society, that has the international exchange of

information as one of its main tonics. Its importance is on the fact that there is still a strong

tendency from schools as for choosing methods based on the teaching of grammar and on the

development of the reading skill only, which goes against the current needs of our society as

for the development of communicative competence, which implies the development all the

four skills: listening, speaking, reading, and writing.

Keywords: English language. Global communication. Communicative competence.

Teaching-learning process.

REFERÊNCIAS

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1996.

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conhecimento.[tradução de Floriano de Souza Fernandes]. Petrópolis: Vozes, 1985.

HAMLETT, Tanner. The english language and the american entertainment industry.

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Último acesso em: novembro de 2004.

HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W. Dialética do esclarecimento: Fragmentos

filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

IANNI, Octávio. A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

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Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

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Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1980.

TOTIS, Verônica Pakrauskas. Língua inglesa: leitura. São Paulo, Cortez, 1991.

127

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USA: GSE, 2000. Disponível em: <http://www.gse.uci.edu/person/warschauer_m/global.

html>. Acesso em: 07 de setembro de 2009.

128

INDICADORES DE CHÃO – DE - FÁBRICA: UM ESTUDO DA INCERTEZA EM

INDICADORES DE DESEMPENHO AMBIENTAL

Eduardo Carpejani51

Ricardo Kalid52

RESUMO

Nos próximos anos, as energias do País e especialmente do setor produtivo estarão, cada vez

mais, concentradas na direção do crescimento sustentado da economia - o que, para a

indústria, significa dar novos saltos de produtividade e obter melhores níveis de

competitividade. As difíceis questões em que se cruzam os processos de transformação

industrial e os interesses relativos ao meio ambiente e sua utilização se multiplicarão,

afetando de modo crescente as micro e pequenas empresas, as mais atingidas pelas

dificuldades de adaptar os seus processos industriais, a sua cultura empresarial e o seu

profissionalismo gerencial aos novos desafios da conformidade ambiental e do

desenvolvimento sustentável. Neste contexto, nos deparamos com a necessidade de inserir

métricas ao desempenho ambiental visando a mensurar de forma tangível os resultados

apresentados pelo meio industrial, no entanto, torna-se de grande relevância o estudo da

incerteza dos referidos indicadores ambientais em detrimento de sua análise muitas vezes

superficial dos dados, gerando interpretações falhas e vulneráveis.

Palavras-chave: Indicadores de Chão - de - Fábrica. Desempenho Ambiental. Incerteza.

1 INTRODUÇÃO

Com o crescimento do ramo industrial no país e diante das iniciativas oriundas da engenharia

em relação à produção no contexto chão - de - fábrica, o cenário competitivo mundial passou

a necessitar de ações que busquem a vantagem competitiva sustentável, dentre essas, a

questão ambiental. Torna-se de grande importância o estudo aqui proposto, o qual visa a

proporcionar aos profissionais envolvidos na produção industrial, informações a respeito de

indicadores de desempenho operacional de chão - de - fábrica, visando a resposta ao impacto

da falta de conhecimento da incerteza dos indicadores de desempenho na tomada de decisão

operacional.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1Conceitos de Medições

Desde os tempos mais remotos, a Humanidade tem contato com algum tipo de

metrologia e obtido benefícios na quantificação, observações e no uso de medições para

melhorar a qualidade de vida da população.

51

Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento-UFS;doutorando em Engenharia Industrial-UFBA e professor

da Faculdade Estácio de Sergipe-Estácio FaSe. 52

Graduando em Administração pela Faculdade Estácio de Sergipe-Estácio FaSe.

129

Medições são usadas por praticamente todos os setores da sociedade, atendendo

diversas necessidades, entre as quais citamos transações comerciais, processos produtivos,

processos sociais, procedimentos ligados à saúde, ao meio ambiente, à segurança dos

trabalhadores e dos cidadãos e no setor científico envolve todos os resultados quantitativos.

Metrologia é a ciência da medição, abrangendo todos os aspectos teóricos e práticos relativos

às medições, qualquer que seja a incerteza, em quaisquer campos da ciência ou tecnologia

(MOSCATI, 1998).

A Metrologia permite a precisão do processo produtivo, a diminuição do índice de

incerteza, contribuindo para a redução do número de refugo nas empresas e, principalmente,

para a qualidade do produto.

Sua contribuição é fundamental, em função do crescente jogo de competitividade

no mercado e a internacionalização das relações de trocas. A competitividade cresce

proporcionalmente ao valor agregado do produto, sendo então a influência da Metrologia cada

vez mais necessária.

Com relação ao cidadão, a metrologia procura diminuir a vulnerabilidade de

abusos e explorações, que porventura possam ocorrer.

Esta preocupação está presente nas atividades do Bureau Internacional des Poids

et Mesures (BIPM) e, no Brasil, no INMETRO, onde a proteção do cidadão, trabalhador e

consumidor são prioritários. A atuação da Metrologia deverá aumentar com a maior

percepção por parte do cidadão, de seus direitos, o que depende muito de sua educação e

cultura.

São relativamente recentes as preocupações com o Meio Ambiente, porém a

metrologia também já atua nesta área, realizando medições corretas sobre o nível de poluição,

tolerável pelo ser humano. É essencial que as medidas sejam realizadas de forma padronizada,

confiável e reprodutível.

O impacto da qualidade das informações é de vital importância para tomada de

decisão gerencial. Segundo Willian Edwards Deming, o que se registra ao final de uma

determinada operação de medição é o último produto de uma longa série de operações, desde

a matéria-prima até a operação de medição propriamente dita. A medição é, pois, a parte final

deste processo. Assim, do mesmo modo como é vital controlar estatisticamente as outras

partes deste processo, é vital controlar-se estatisticamente o processo de medição; caso

contrário, não há medida que tenha significado comunicável (SILVA, 1998).

A confiabilidade metrológica abrange diversas etapas, tais como: especificação

correta dos instrumentos de medição, treinamento, controle estatístico das medições,

conscientização dos envolvidos no processo, rastreabilidade das medições, controle dos

instrumentos de medição.

Independente de qual seja o método utilizado para avaliar e expressar a incerteza

do resultado de uma medição, as primeiras iniciativas relacionam-se necessariamente a uma

adequada definição do mensurando e do procedimento de medição.

Neste sentido, torna-se importante resgatar o que Nielsen (2006) considera como

fontes de incerteza:

Incerteza da correlação: componente resultante da imperfeita correlação

entre a especificação e a função pretendida da peça ou material;

Incerteza da especificação: componente inerente a uma especificação

quando aplicada a um elemento geométrico real, i.e., refere-se à ambiguidade nos

requisitos definidos pela especificação ou, nos termos do GUM, à definição incompleta

do mensurando;

Incerteza do método: componente resultante dos desvios existentes

entre aquilo que está especificado na documentação técnica do produto e aquilo

efetivamente implementado para verificá-lo;

130

Incerteza da execução: componente resultante das imperfeições físicas

do equipamento de medição e/ou de erros na execução dos procedimentos de medição

pré-definidos.

No concernente aos balanços de incerteza característicos, voltados ao metrologista

industrial, apenas os dois últimos componentes de incerteza supramencionados são de

interesse, pois os outros dois estão vinculados a decisões do projetista (SPENCE, 2006).

2.1 Contextualizando a Incerteza

Segundo o Vocabulário Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de

Metrologia (VIM, 2000), a incerteza de medição é assim definida: “Parâmetro associado ao

resultado de uma medição, que caracteriza a dispersão dos valores que podem ser

fundamentadamente atribuídos a um mensurando.”

Para uma melhor compreensão do conceito de incerteza, torna-se necessário

diferenciá-la claramente da concepção de erro de medição. Sabe-se que um resultado de

medição, após correção dos efeitos sistemáticos reconhecidos, não é exatamente igual ao

valor do mensurando, por conta de interferências pseudo aleatórias, determinação imperfeita

de correções para efeitos sistemáticos ou ainda falta de conhecimento sobre certos fenômenos

físicos, caracterizados também por efeitos sistemáticos (GUM, 2003). Ao observar, ou mesmo

suspeitar, a presença de um erro de medição, tenta-se avaliar a incerteza, tomando por base o

conhecimento disponível sobre o processo de medição. Durante a avaliação da incerteza de

medição, pode acontecer que fontes significativas de erro passem despercebidas, em razão do

conhecimento limitado do avaliador.

O GUM estabelece regras gerais para avaliar e expressar a incerteza de medição.

O método de avaliação de incertezas, proposto por ele, toma por base a propagação de

incertezas (desvios padrões), através do modelo matemático da medição. Apesar de

representar um consenso da comunidade internacional na prática da expressão da incerteza de

medição, constituindo assim, a referência para a avaliação de incerteza, tal método apresenta

algumas peculiaridades que atentam contra sua difusão e correta aplicação. Entre outras,

destacam-se as seguintes:

• complexidade conceitual;

• necessidade de construir um modelo matemático da medição;

• utilização de conceitos de probabilidade e estatística nem sempre claros para os

profissionais da metrologia.

Além disso, na sua formulação mais usual, o método de propagação de incertezas

requer o atendimento de certas condições de validade, como a linearidade do modelo; e para a

expressão na forma de incerteza a normalidade (PDFs gaussianas) e independência entre as

grandezas de entrada e as suas incertezas padrão combinada, hipóteses raramente atendidas

em problemas reais, por isso, a sua aplicabilidade não é tão ampla como seria desejada. Para

superar as limitações do método LPU pode-se utilizar o método de Monte Carlo ou a Lei de

Propagação de PDFs (LPP).

2.2 Chão - de - Fábrica

A evolução do chão-de-fábrica tem sido significativa nas últimas décadas, quando

grandes investimentos têm sido realizados em infraestrutura, automação, treinamento e

sistemas de informação, transformando-o numa área estratégica para as empresas. O chão-de-

131

fábrica gera, hoje, grande quantidade de dados que, por estarem dispersos ou desorganizados,

não são utilizados em todo o seu potencial como fonte de informação. Com vistas nessa

deficiência, este trabalho propõe o reconhecimento da tomada de decisão operacional, ou seja,

no chão - de - fábrica. O objetivo é desenvolver um sistema que utilize os dados resultantes do

processo produtivo e os transforme em informações que auxiliem o operador na tomada de

decisões, de forma a garantir a competitividade da empresa (FORTULAN, 2005).

2.3 Indicadores e a Mensuração de Desempenho

A análise e a mensuração de desempenho podem ser definidas literalmente como

o processo de se quantificar uma ação, no qual mensuração é o processo de quantificação e a

ação é aquilo que provoca o desempenho, afirma Neely (1995).

Um bom gestor controla o desempenho dos sistemas sob sua responsabilidade

com a ajuda de medidas de desempenho. Como esses sistemas se desenvolveram e como

evoluíram pode ser mais bem compreendido por meio do conhecimento das forças que os

moldaram, afirma Kaplan (1983), sendo raro encontrar-se um único fator como responsável

por determinada ação. Normalmente, ocorre uma combinação de fatores e forças que levam a

organização a dirigir-se para determinada direção.

Uma síntese produzida por Waggoner (1999) identifica essas forças em quatro

categorias como possíveis formadoras e direcionadoras da evolução e das mudanças

incorridas pelos sistemas de mensuração de desempenho organizacional. São elas:

.influências internas, ou seja, relações de poder e coalizões de interesses

dominantes;

.influências externas, ou seja, a legislação e a volatilidade dos mercados;

.aspectos do processo, ou seja, formas de implementação e de gestão dos

processos políticos;

. aspectos da mudança, ou seja, graus de apoio dos níveis superiores e

riscos de ganho ou de perda decorrentes da mudança.

Mesmo que se entenda mensuração como processo de quantificação, seus efeitos

estimulam a ação e, a estratégia só existirá e será praticada, se for possível identificar um

padrão consistente de decisões e ações na organização (MINTZBERG, 1978).

A literatura acadêmica destaca exaustivamente o papel e a importância das

medidas de desempenho, ao focar pessoas e recursos na direção desejada. Kaplan e Norton

(1993) afirmam que o desenvolvimento e a aplicação de um conjunto equilibrado de medidas

propiciam o melhor uso das medidas existentes e que, ao ampliarem os sistemas de

mensuração, provocam a melhoria do desempenho da organização.

A plena utilidade daqueles sistemas se dá quando forem capazes de se ajustar às

influências externas ou mudanças ambientais, levando parte dos estudos contemporâneos, que

buscam explicar as mudanças organizacionais a serem realizadas tendo em vista aspectos

ambientais como a volatilidade e o posicionamento competitivo (BARNETT; CARROL,

1995).

Se por um lado as medidas de desempenho constituem a variável crítica para a

afirmação do sucesso pessoal, da equipe ou de grupos, por outro lado elas não podem deixar

de estar em permanente renovação na busca de ganhos ampliados, afirmam Teng, Grover e

Fiedler (1996).

Entre os obstáculos e a transformação que ocorrem com a implantação de novas

iniciativas e estratégias, está a intensidade da resistência oposta pelos membros de uma

132

organização, que está relacionada com a percepção dos ganhos e perdas decorrentes da

mudança e como a cultura corporativa provocará uma resposta.

Uma cultura que desencoraja a exposição ao risco e à inovação é obstáculo

essencial à mudança que visa à implantação de um sistema de mensuração de desempenho.

Kaplan e Norton (2001), ao analisarem cinco princípios que orientam uma organização focada

na estratégia, apontam que, para se alinhar uma organização a uma estratégia, é preciso

enfrentar reações funcionais, que constituem obstáculos à implementação estratégica, dados

os conjuntos de conhecimento funcional, a linguagem e cultura próprias.

2.4 Conceitos de Informação

O termo informação é conceituado por vários autores, entre eles: Wurman(1995,

p.43), o qual entende que esse termo só pode ser aplicado a aquilo que leva à compreensão

[...] o que constitui formação para uma pessoa poder não passar de dados para informação.

Páez Urdaneta também descreve o conceito de informação como dados ou matéria

informacional relacionada ou estruturada de maneira potencialmente significativa (apud

PONJUÁN DANTE, 1998, p.3). Da mesma maneira, Miranda (1999, p.285) conceitua

informação como sendo dados organizados de modo significativo, sendo subsídio útil à

tomada de decisão.

Ainda neste contexto, McGarry (1999, p.4) considera que o termo 'informação'

possui os seguintes atributos:

* considerada como um quase sinônimo do termo fato;

* um reforço do que já se conhece;

* a liberdade de escolha ao selecionar uma mensagem;

* a matéria-prima da qual se extrai o conhecimento;

* aquilo que é permutado com o mundo exterior e não apenas recebido

passivamente;

* definida em termos de seus efeitos no receptor;

* algo que reduz a incerteza em determinada situação.

Já as autoras Lastres e Albagli (1999, p.30) explicam que, Informação e

conhecimento estão correlacionados, mas não são sinônimos. Também é necessário distinguir

dois tipos de conhecimentos: os conhecimentos codificáveis - que, transformados em

informações, podem ser reproduzidos, estocados, transferidos, adquiridos, comercializados

etc. - e os conhecimentos tácitos. Para estes a transformação em sinais ou códigos é

extremamente difícil já que sua natureza está associada a processos de aprendizado,

totalmente dependentes de contextos e formas de interação sociais específicas.

Alguns teóricos da administração, como Davenport (1998), Nonaka & Takeuchi

(1997), Stewart (1998) e Sveiby (1998), apontam um novo direcionamento da comunicação,

voltado principalmente às questões relacionadas à transmissão da informação e do

conhecimento organizacional (ANGELONI; FERNANDES, 1999).

Os conceitos de dado, informação e conhecimento passam a estar estritamente

relacionados a sua utilidade no processo decisório e ligados ao conceito de comunicação. O

processo de comunicação então é uma sequência de acontecimentos no qual dados,

informações e conhecimentos são transmitidos de um emissor para um receptor.

Segundo Davenport (1998), uma das características da informação consiste na

dificuldade de sua transferência com absoluta fidelidade, e, sendo o conhecimento a

informação dotada de valor, consequentemente, a transmissão é ainda mais difícil.

133

A informação é valiosa precisamente porque alguém deu a ela um contexto, um

significado, acrescentou a ela sua própria sabedoria, considerou suas implicações mais

amplas, gerando o conhecimento. O conhecimento, consequentemente, é tácito e difícil de

explicitar. "Quem quer que já tenha tentado transferir conhecimento entre pessoas ou grupos

sabe como é árdua a tarefa. Os receptores devem não apenas usar a informação, mas também

reconhecer que de fato constitui conhecimento" (NONAKA apud DAVENPORT, 1998, p.

19).

Passando a ser utilizada pela administração no processo decisório estratégico com

o fim de minimizar as incertezas ambientais e identificar novas oportunidades de negócio. Em

geral, este tipo de informação tem relação direta com os elementos de ação da análise do

ambiente organizacional externo, compreendendo informações mercadológicas, informações

jurídicas, informações sobre produtos e serviços, informações governamentais, informações

contábeis e financeiras, informações estatísticas, informações tecnológicas, dentre outras.

Neste contexto, Rezende e Abreu (2003) completam dizendo que a informação e

seus respectivos sistemas desempenham funções fundamentais nas organizações. A

informação é um recurso estratégico que tem um valor altamente significativo. Pelo menos

são necessários três passos para valorização da informação: conhecer, selecionar e usar a

informação. No mesmo sentido, Davenport (1998) argumenta que a valorização da

informação se dá pelo seu gerenciamento, que envolve a determinação das exigências de

informação, sua obtenção, distribuição e utilização.

2.4.1 Comentários

Concluímos, salientando que diante das informações colocadas acima, as quais

provam a estreita relação entre incerteza, tomada de decisão e informação, podemos constatar

que a ausência de autonomia para tomada de decisão no nível operacional é uma limitação dos

processos produtivos.

E, nesse cenário, cabe a necessidade de um aprofundamento sobre a incerteza dos

indicadores de desempenho de chão - de - fábrica no tocante aos fatores de imprevisibilidade

inerentes à cultura, ao clima, ao meio ambiente, às condições de trabalho, dentre outros

fatores, peculiares a cada tipo de empresa e produto.

Por fim, acreditamos ser de caráter extremamente estratégico o estudo dos

parâmetros referentes aos desvios padrões pertinentes a cada indicador de desempenho

operacional, visando a busca pela sustentabilidade econômico.- financeira das organizações.

IINDICATORS OF SHOP FLOOR: A STUDY OF UNCERTAINTY IN

ENVIRONMENTAL PERFORMANCE INDICATORS

ABSTRACT

In coming years, the energies of the country and especially in the productive sector will be

increasingly concentrated in the direction of sustained economic growth - which, for the

industry, means to give new leaps in productivity and obtain better levels of competitiveness.

The difficult issues that intersect in the process of industrial transformation and interests

relating to the environment and its use will multiply, increasingly affecting micro and small

134

businesses hardest hit by the difficulties of adapting its processes industry, their business

culture and its managerial professionalism, the new challenges of environmental compliance

and sustainable development. In this context, we face the need to integrate environmental

performance metrics in order to measure the tangible results produced by the industrial

environment, however, it is of great importance to study the uncertainty of environmental

indicators to the detriment of his analysis often surface data, interpretations flaws and

vulnerable.

Keyword: Indicators of shop floor. Environmental Performance. Uncertainty.

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WURMAN, R. S. Ansiedade de informação: como transformar informação em

compreensão. 5.ed. São Paulo: Cultura Editores, 1995. 380p.

136

NORMAS PARA

SUBMISSÃO

137

LINHA EDITORIAL

Os artigos submetidos ao Conselho Editorial do CPEDeC deverão estar de acordo

com as normas editoriais e com a natureza dos trabalhos abaixo relacionados:

relatos de pesquisas teóricas e/ou empíricas que utilizem adequadamente os

pressupostos da metodologia científica;

ensaios que utilizem construtos teóricos na análise de temas relevantes;

resenhas críticas;

artigos de cunho científico com argumentação adequada ao tema proposto

(monografias, dissertações e teses).

Além disso, os artigos devem representar contribuição científica, com pesquisa

metodologicamente fundamentada e referencial teórico, refletindo o estado da arte do

conhecimento na área, com conclusões claras e adequadas, que demonstrem os resultados

alcançados.

A linha editorial do CPEDeC priorizará a discussão interdisciplinar e

transdisciplinar nas seguintes áreas temáticas: energia, agro-negócio, turismo, meio ambiente,

tecnologia, gestão, comunicação, educação, cultura, saúde, direito e sociedade. Os trabalhos

enviados para publicação não devem ter sido publicados em outras revistas científicas. Os

textos propostos para publicação serão selecionados pelo Conselho Editorial e submetidos aos

comitês técnico e científico. Os resultados do processo de seleção e de revisão científica serão

comunicados aos autores para eventuais reformulações no artigo (quando for o caso). Após a

publicação, os autores receberão 2 (dois) exemplares do número da revista no qual o artigo foi

publicado.

Os artigos deverão ser preparados em língua portuguesa, dentro das especificações

de estilo e normalização da revista, e enviados para [email protected],

informando os dados do autor principal para contato. A identificação dos autores será

separada do corpo do artigo, para que este seja avaliado de forma independente por

especialistas anônimos. Poderão ainda ser enviados pelo correio, gravado em disquete ou CD-

rom, versão Word for Windows, versão 7.0 ou mais atualizada, com três cópias impressas em

papel A4, para o endereço da Faculdade de Sergipe-FaSe.

ESTILO DE APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS (normas para

submissão)

Os trabalhos devem ser enviados pelo correio eletrônico ou em meio digital,

podendo estar no formato Rich Text Format (RTF) ou no formato do software Microsoft

Word, versão 6.0 ou posterior.

138

Formatação

O texto deve observar o mínimo de 10 (dez) páginas e o máximo de 15(quinze),

digitadas em Arial, com tamanho de letra 12 e 10 para os casos de ilustrações (tabelas,

quadros, figuras), utilizando espaço duplo entrelinhas para os parágrafos e simples nas

ilustrações, citações em destaque e notas de rodapé. Devendo ser justificado, com margem

superior e esquerda igual a 3cm e direita e inferior a 2 cm, utilizando linguagem impessoal (3a

pessoa do singular). A primeira linha de cada parágrafo deve ser recuada em 2 cm.

Para identificação do artigo, este deve ter uma página de rosto, contendo o título

(em português), a autoria, o resumo (em português) e uma relação de 3 a 5 (três a cinco)

palavras-chave (em português). Na nota de rodapé desta mesma folha, separada do texto por

um filete de 3cm, deve constar as credenciais do(s) autor(es), sendo elas: maior titulação,

endereço, telefone, e-mail e menção, de maneira precisa, de divulgação anterior do artigo se

for o caso. Após as conclusões, o título mencionado, o resumo e as palavras-chave são

transcritos para outro idioma, preferencialmente inglês, francês ou espanhol, seguindo a

mesma estrutura e organização utilizada na folha de rosto para esses itens.

Resumo

O resumo deve conter entre 250 e 300 palavras, com uma descrição cuidadosa do

problema abordado, das ideias principais para sua solução, bem como dos resultados e das

conclusões alcançadas. Deve apresentar ainda, o objetivo da pesquisa ou estudo, o problema

investigado e a metodologia utilizada.

Palavras-chave

São aquelas significativas da pesquisa, dando-se preferência às indexadas.

Texto

O artigo pode ser: original ou de revisão. Sendo original, no caso de pesquisas

científicas inéditas e de revisão, quando resultante de amplo estudo investigativo sobre

determinado tema executado sobre referencial teórico, com base nos paradigmas IDC

(Introdução, Desenvolvimento e Conclusão) ou IRMRDC (Introdução, Revisão da Literatura,

Materiais e Métodos, Resultados, Discussão (Resultados e Discussão) e Conclusão. Os títulos

de seção deverão ser numerados em até três níveis, formatados em negrito, com tamanho de

letra 14 (primeiro nível), com tamanho de letra 12 (segundo nível) e sem negrito com

tamanho de letra 12 (terceiro nível), com o uso de dois espaços duplos inter e intra títulos.

Tabelas, Quadros e Figuras

Poderão fazer parte do artigo, desde que em preto e branco, com numeração

sequencial, preferencialmente, inserida diretamente no texto, usando os recursos do editor

textos para essa finalidade. Se isso não for possível, os originais de cada figura deverão ser

enviados em separado, para editoração na revista. Neste caso, o autor deverá reservar o espaço

correspondente a cada figura no corpo do trabalho ou texto. Os títulos das tabelas com negrito

139

na palavra tabela e respectivo número, serão apresentados na margem superior da mesma

(Tabela 1: Título), com suas fontes em negrito, na margem inferior (conforme IBGE 1994);

já os dos quadros e figuras, deverão constar na margem inferior das mesmas, seguidos da

identificação de suas fontes.

Exemplo:

Figura 1: Título

Fonte: origem da figura

Notas de Rodapé

Serão somente do tipo notas explicativas, com numeração sequencial dentro do

artigo. Devem aparecer logo após as palavras-chave de acordo com a ordem utilizada no

texto.

Exemplo:

¯¯¯¯¯¯¯

1 __________

2 __________

3 __________

4 __________

Apêndices

Poderão ser empregados, desde que contidos no limite de páginas estabelecido.

Aparecem logo após as referências.

Citações no Corpo do Texto

As citações indiretas (interpretação das ideias de um ou mais autores) deverão ser

feitas com o uso do último sobrenome, seguido do ano de publicação do trabalho, com

identificação opcional da página, no parágrafo.

Exemplo:

Alves (2004, p. 30)

(ALVES, 2004, p. 30)

As citações textuais até três linhas, identificá-las entre aspas nos parágrafos e

destacar, ao seu final, a autoria conforme o item anterior, com página obrigatória.

140

Exemplo:

Destacar as citações textuais acima de três linhas logo após o parágrafo

correspondente, com identificação da autoria, conforme mencionado anteriormente. A página

é obrigatória. Utilizar tamanho de letra 10 e espaço simples na citação.

Exemplo:

Obs.: Evitar citações nas notas explicativas.

Referências

As referências devem ser arroladas no final do artigo, conforme NBR 6023 da

ABNT.

2 cm ___________________ __________________________________________________ “----------------------------------------------“(AUTORIA, ano, p.). ____________________

______ Autoria (ano, p.), “------------------------------------------------------------------------“

2 cm ___________________

____________________________

______________________,

---------------------------------

---------------------------------

---------------------------------

--------------------- (AUTOR,

ano, p.).

2 cm ___________________

____________________________

______________________.

4 cm (recuo)

141

Resumos de Dissertações e Teses

Serão selecionados para publicação as contribuições mais relevantes, com base

nas linhas de interesse editorial, a critério do CPEDeC, respeitando as limitações de espaço.

Só serão considerados resumos de dissertações e teses que já tenham sido defendidas.

Os resumos deverão ser apresentados compreendendo uma versão em português e

uma em outro idioma (preferencialmente inglês, francês ou alemão), contendo cada um entre

200 e 400 palavras.

Devem conter informações adicionais, assim dispostas: título, nome do autor,

nome da instituição (programa de pós-graduação), local e data da defesa, com uma relação de

3 a 5 (três a cinco) palavras-chave, contemplando os idiomas anteriores. Indicar a procedência

e finalidade.

ESTILO DE APRESENTAÇÃO DAS RESENHAS (normas para

submissão)

As resenhas submetidas para análise deverão seguir os parâmetros: conter título

de fantasia (criado pelo autor com base no assunto tratado na obra); conter identificação da

autoria na margem esquerda, com número de chamada no rodapé, com as credenciais (maior

titulação, endereço, telefone, e-mail);

conter a referência completa da obra;

indicar o campo de estudo no qual se enquadra a obra;

apresentar no texto:

o Introdução contextualizadora (comentário sobre o autor e apresentação

do assunto);

o Resumo da obra (descrição do seu conteúdo);

o Crítica da obra (apreciação dos seus pontos positivos e negativos);

o Indicação para leitura (público-alvo);

mínimo de 3 (três) e máximo de 5 (cinco) páginas;

formatar no mesmo estilo do artigo científico.

As resenhas deverão ser encaminhadas à revista, da mesma forma que os artigos

científicos. A sua avaliação é de responsabilidade da comissão editorial. Os casos omissos

serão resolvidos pela revista.