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1 A eficácia eleitoral da “distritalização” em eleições legislativas paulistanas: 2000-2004 Lara Mesquita* Sérgio Praça ** Resumo: Parte da vasta literatura sobre a geografia do voto em São Paulo considera que os vereadores com votação concentrada ou “distritalizada” têm grande vantagem em relação aos concorrentes eleitos com votação dispersa pelo município. Observamos que a taxa de sucesso de reeleição dos “distritalizados” é maior do que a taxa de sucesso dos “dispersos” nas eleições de 2000 e 2004. A geografia do voto pode explicar o sucesso na reeleição? É esta a pergunta que o artigo pretende responder. Analisando o padrão de votação de 13 vereadores com votação distritalizada, vemos que as características sociais e demográficas dos distritos administrativos onde eles concentram apoio pode ser parte da explicação sobre o sucesso/insucesso na reeleição. Em suma, o texto revela o peso que podemos conferir à geografia do voto como preditora do sucesso eleitoral. Palavras-Chave: geografia do voto; eleições legislativas municipais; reeleição; São Paulo. *Lara Mesquita é mestranda em Ciência Política pela USP e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole – CEM/Cebrap. **Sérgio Praça ([email protected] ) é mestre e doutorando em Ciência Política pela USP.

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A eficácia eleitoral da “distritalização”

em eleições legislativas paulistanas: 2000-2004

Lara Mesquita*

Sérgio Praça **

Resumo:

Parte da vasta literatura sobre a geografia do voto em São Paulo considera que os vereadores com

votação concentrada ou “distritalizada” têm grande vantagem em relação aos concorrentes eleitos

com votação dispersa pelo município. Observamos que a taxa de sucesso de reeleição dos

“distritalizados” é maior do que a taxa de sucesso dos “dispersos” nas eleições de 2000 e 2004. A

geografia do voto pode explicar o sucesso na reeleição? É esta a pergunta que o artigo pretende

responder. Analisando o padrão de votação de 13 vereadores com votação distritalizada, vemos que

as características sociais e demográficas dos distritos administrativos onde eles concentram apoio

pode ser parte da explicação sobre o sucesso/insucesso na reeleição. Em suma, o texto revela o peso

que podemos conferir à geografia do voto como preditora do sucesso eleitoral.

Palavras-Chave: geografia do voto; eleições legislativas municipais; reeleição; São Paulo.

*Lara Mesquita é mestranda em Ciência Política pela USP e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole – CEM/Cebrap. **Sérgio Praça ([email protected] ) é mestre e doutorando em Ciência Política pela USP.

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Dada a predominância da ciência política norte-americana e a adoção de seus pressupostos, objetos

de estudo e metodologias por cientistas políticos não pertencentes ao campo acadêmico dos Estados

Unidos, quase tudo que sabemos sobre legisladores e os interesses eleitorais por eles considerados

se restringe aos eleitos em sistemas majoritários. No entanto, boa parte dos parlamentares no mundo

se elegem em distritos multinominais. Quando a magnitude do distrito é alta e as eleições ocorrem

em grandes territórios1, é natural que ao menos uma parte dos parlamentares represente

informalmente certas circunscrições geográficas por terem recebido muitos votos provenientes

destas – incorrendo, assim, em uma distritalização informal da disputa.

Os vereadores da cidade de São Paulo são eleitos em um distrito eleitoral de magnitude igual a 55.

Magnitude altíssima. Observamos o desempenho eleitoral dos 55 vereadores que conseguiram

cadeiras em 2004, além de 23 vereadores que não conseguiram se reeleger2. 25 dos 78 vereadores

analisados apresentaram 50% ou mais dos seus votos em até seis distritos contíguos espacialmente

no pleito de 2004, sendo que 5 deles se elegeram pela primeira vez; 11 se reelegeram; e 9 não se

reelegeram. Sabemos ainda que dos 55 vereadores eleitos em 2004, 16 deles apresentam padrão

distritalizado de votação.

Em que medida os parlamentares com votação concentrada em partes da cidade se beneficiam dessa

condição para se reelegerem? Esta é a principal questão que o texto procura responder.

O texto organiza-se em quatro partes. A primeira realiza uma breve revisão da vasta literatura sobre

geografia do voto em São Paulo. Em seguida, analisamos a dimensão da ambição parlamentar dos

vereadores paulistanos, para então verificar se há relação entre o padrão de votação desses

legisladores e a conquista da reeleição. Na última parte, destacamos alguns aspectos que podem

influenciar a reeleição de alguns vereadores com votação concentrada em detrimento de outros.

a) a geografia eleitoral paulistana

Estudos sobre a composição social do voto e sua geografia datam do final da década de 1970 e têm

Bolívar Lamounier como precursor. Nessa época, indagava-se se o eleitorado brasileiro apresentava

1 Nas eleições para os parlamentos da Holanda e Israel, assim como para o senado colombiano, o distrito é a nação. Ver, respectivamente, os trabalhos de Latner e McGann (2005) e Crisp e Desposato (2004). 2 Não consideramos os suplentes que assumiram vaga na Câmara Municipal de São Paulo em nossa análise porque o texto trata de sucesso, de eficácia na reeleição. Quem não consegue se eleger no pleito T e só concorre na eleição T+1 por ter assumido a suplência não pode ser considerado reeleito strictu sensu.

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as características necessárias ao funcionamento da democracia. Após o fim do processo de distensão

da ditadura militar o foco dessas pesquisas tornou-se mais específico. Buscou identificar e explicar

a ascensão e a consolidação do voto de direita na cidade3.

Em detalhada análise dos votos na cidade de São Paulo nas eleições de 1970, 1974 e 1978 para a

disputa das cadeiras ao Senado, Lamounier (1980) demonstra que, na capital, quanto mais rica e

servida de infra-estrutura é a região, maior é o voto na Arena e menor o voto no MDB4.

Sem considerar aspectos socioeconômicos, Ames (2001) propõe uma tipologia para explicar como

se dá a distribuição espacial de votos para os deputados federais do Brasil nos municípios. Analisa

duas dimensões: (1) dominância/compartilhamento dos votos em uma cidade e (2)

concentração/dispersão dos votos de um candidato em municípios. No que se refere à primeira, o

autor deseja descobrir se determinado parlamentar obteve a maioria dos votos dados em

determinado município. Caso isso aconteça, configura-se uma situação na qual, para Ames, este

parlamentar buscará concentrar seus esforços legislativos para atender este município. Caso ocorra

o contrário, ou seja, diversos candidatos dividem, de maneira mais ou menos equânime, os votos de

um município, Ames classifica a situação como “compartilhamento”. Quanto à segunda dimensão,

o autor analisa se determinado candidato teve a maior parte de sua votação concentrada em poucos

municípios contíguos ou dispersa pelo estado.

Existem, portanto, municípios concentrados/dominantes, concentrados/compartilhados,

dispersos/dominantes e dispersos/compartilhados. O autor afirma que o primeiro tipo é o “clássico

reduto eleitoral brasileiro” (Ames, 2001: 66), onde predomina o clientelismo e empreguismo. A

tipologia de Ames permite diferenciar os tipos de incentivos resultantes do sistema eleitoral para

cada legislador diferente.

Um dos principais problemas do texto é que ele dimensiona de uma maneira muito vaga a parcela

de deputados com votação do tipo concentrada/dominante, concentrada/compartilhada etc. Diz que

“grande parte” dos deputados cearenses recebe votos dispersos e “a maioria” se encaixa na

distribuição dispersa-dominante (Ames, 2001: 91). Carvalho (2003) se dedica a fazer o que Ames

não fez: 1) estabelecer quantos deputados têm padrão espacial de votação de cada tipo e 2) verificar

como o legislador se vê incentivado pelo padrão de votação que recebeu. O autor resolve a 3 Ver Pierucci (1987, 1989, 1991 e 1993) e Sadek (1986). 4 Esse tipo de estudo foi retomado em meados da década de 1990 por Novaes (1996), que sugere uma nova divisão da cidade em oito regiões e atenta para a possível existência de voto partidário consistente na cidade.

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curiosidade de quem leu Barry Ames e quis saber quantos deputados, exatamente, têm padrão

concentrado e dominante: 16% (eleitos em 1998). Concentrados e não dominantes são 31%;

fragmentados e dominantes, 35%; por fim, fragmentados e não-dominantes são 18% de nossos

deputados. Carvalho conclui que, nas duas legislaturas analisadas, o padrão de votação

fragmentado/dominante é o mais comum.

Considerando essa tipologia, a peculiaridade do caso paulistano é que a dimensão da dominância

não existe, se considerarmos – como faz boa parte da literatura sobre geografia do voto na cidade –

os distritos administrativos como as unidades onde ocorre a competição política5. Segundo Kinzo et.

al (2003:54), a menor média de número efetivo de candidatos por distrito administrativo entre 1992-

2000 ocorreu em 1992, com 8.2 competidores efetivos por distrito. Para esses autores, “tem pouca

sustentação empírica a tese de que haveria uma distritalização informal do voto, com base na

suposição de que os representantes controlam clientelisticamente determinados territórios de modo

a garantir vaga no Legislativo” (Kinzo et. al, 2003: 56).

Teixeira (1999) aponta, no entanto, uma estratégia do Executivo paulistano que, ao mesmo tempo

em que lhe permite maior governabilidade e poder de agenda legislativo na Câmara Municipal, teria

a função de dividir informalmente a cidade em alguns redutos eleitorais: o loteamento das

administrações regionais (após 2002, denominadas subprefeituras). Vereadores da base governista

obtêm controle das 31 ramificações do Executivo e, com isso, a vantagem de proporcionar pequenas

melhoras para os locais onde concentram suas campanhas eleitorais.

No entanto, seu critério para considerar concentrada a votação de um candidato nos parece um tanto

generoso. Divide a cidade em quatro regiões: norte, sul, leste, oeste. Se o vereador X controlou a

administração regional de Pinheiros, por exemplo, e nas eleições seguintes obteve um grande

acréscimo de votos na zona oeste, Teixeira considera esse ganho um fruto do controle

administrativo da administração regional. Porém, não é verdade que o controle de apenas uma

administração regional consiga influenciar os eleitores de uma área tão abrangente.

Este autor se inscreve em uma corrente que acredita que os dois únicos mecanismos possíveis de

relação entre Executivo e Legislativo no nível municipal em São Paulo são a “negociação pontual”

ou a formação de uma “coalizão fisiológica de governo”. A negociação pontual se pautaria pela

5 É importantíssimo lembrar que, ao contrário dos municípios, os distritos administrativos não têm autonomia política e não são distritos eleitorais. São apenas divisões geográficas.

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ausência de coalizão governista, com o chefe do Executivo negociando projeto por projeto de sua

agenda legislativa, oferecendo, para os parlamentares que com ele cooperam, a liberação de

recursos orçamentários, entre outras vantagens (Andrade, 1998:18). Por sua vez, a coalizão

fisiológica de governo se assemelha ao “presidencialismo de coalizão”, no qual o governo conta

com apoio estável no Legislativo tendo oferecido cargos no Executivo para os

partidos/parlamentares que votam favoravelmente a seus projetos. No caso do município de São

Paulo, esses cargos podem ser tanto secretarias quanto o comando de administrações regionais.

Desde a redemocratização, segundo os autores dessa corrente, apenas o governo de Luiza Erundina

(1989-1992) estabeleceu relação do tipo “negociação pontual” com o Legislativo da cidade, tendo

os governos subseqüentes de Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-2000) sido do tipo

“coalizão fisiológica de governo”.

Em governos desse último tipo, existem incentivos para a “distritalização informal” da cidade

porque o Executivo divide o comando das administrações regionais entre os parlamentares que o

apóiam. No entanto, alguns autores que utilizam esse quadro teórico para analisar o município

defendem que a distritalização não se resumiria aos que apóiam o governo, estando presente no caso

de todos os legisladores, que responderiam “às demandas localizadas e aleatórias de suas bases

político-eleitorais” (Couto, 1998:59). Ou, mais explicitamente, afirmam que “grande parte dos

vereadores tem uma base eleitoral regionalizada na capital; ou seja, há uma espécie de

‘distritalização, na prática, do pleito eleitoral” (Pralon e Nunes Ferreira, 1998: 83). Quanto maior a

distritalização do pleito, maior a dimensão do voto pessoal.

Voto pessoal cuja dimensão em São Paulo é colocada em xeque por recente pesquisa de Figueiredo

et. al (2002)6. Os autores examinaram, por meio de análise fatorial, os resultados das votações

paulistanas para prefeito, governador, presidente, vereador, deputado estadual e deputado federal7

entre 1994 e 2000. PT, PPB e PSDB obtiveram, considerados todos os pleitos e somando votos

brancos e nulos, 80% dos votos nas eleições para cargos executivos e 69% nas disputas de cadeiras

nos legislativos. A análise mostrou “alta correlação entre as eleições majoritárias e proporcionais

intra-partidos, o que indica coerência eleitoral bem maior do que afirma a visão folclórica sobre a

falta de consistência do eleitor brasileiro” (Figueiredo et. al, 2002:156).

6 Esta pesquisa expandiu a análise da geografia política e composição social do voto para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e desagregou os votos em 96 distritos administrativos na capital e mais de 1400 locais de votação na cidade. 7 Apenas as eleições para o Senado Federal foram excluídas da análise.

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Assim, afirmam que “PSDB, PT e PPB parecem contar com bases geográficas claramente definidas,

onde o desempenho de cada um é bem acima de sua média para qualquer cargo disputado em

qualquer dos pleitos realizados. Podemos falar em reduto eleitoral porque os três partidos têm

nesses locais uma alta votação garantida, mesmo nos pleitos em que registraram índices mais baixos

de votação” (Figueiredo et. al, 2002: 158).

Observam que o reduto tucano se localiza nos distritos de Alto de Pinheiros, Pinheiros e Jardim

Paulista; o reduto petista está na região leste da cidade, especialmente nos distritos de São Rafael,

Iguatemi, Sapopemba e São Mateus; por último, o reduto pepebista está concentrado na Água Rasa,

Tatuapé e Vila Maria. A conclusão dos autores é: “Há uma alta associação entre votações em

diferentes eleições e cargos em disputa quanto aos três partidos que controlam a grande maioria dos

votos na cidade. Essa associação é mais alta no partido mais fortemente organizado, o PT, e mais

baixa no mais dependente de liderança individual, o PPB. Ainda assim, parece ser possível afirmar

que os partidos estruturam os votos na cidade” (Figueiredo et. al, 2002:160)8.

Qual a validade da conclusão de que três partidos têm bases geográficas definidas em São Paulo em

relação apenas às eleições legislativas municipais de 1992, 1996 e 2000? É fundamental destacar

que 1992 não foi um ano estudado pelos autores. Em 1992, PT, PSDB e PPB foram responsáveis

por 56.62% dos votos válidos para vereador em São Paulo; em 1996, esse percentual subiu para

63.35% e diminuiu para 53.58% em 2000. Entretanto, em 2004 esses mesmos partidos foram

responsáveis por apenas 37,35% dos votos válidos para vereador.

8 Neste artigo não estão relacionados todos os distritos administrativos identificados com cada um dos partidos analisados. A metodologia utilizada foi a analise fatorial, na qual é possível trabalhar concomitantemente com vários fatores, que englobam os diversos cargos e pleitos em disputa ao longo do período analisado. A análise fatorial não cria uma classificação dos distritos como foi feita em matéria publicada pela Folha de S.Paulo em 7/8/2004. Nessa matéria a metodologia utilizada foi a análise de clusters. Criou-se, para a disputa majoritária de 2000 na cidade de São Paulo, 4 agrupamentos de distritos administrativos. Cada um desses agrupamentos se caracteriza por concentrar o melhor desempenho de um dos três partidos identificados como as principais forças políticas da cidade, a saber, PT, PSDB e PPB, ou, no caso do quarto “cluster”, pela ausência de predominância dos partidos. A partir dessa análise, os grupos criados para 2000 foram replicados para a disputa de 1996 e 2002. O que se observou foi a manutenção dos redutos ao longo do período, ou seja, os agrupamentos criados para 2000 eram válidos também para 1996 e 2002, o que caracteriza que os partidos de alguma maneira ordenam as preferências, ou, que o voto não varia livremente conforme o candidato que o partido apresenta.É importante ressaltar que não se pode afirmar que foram os mesmos eleitores que votaram no partido em um pleito que votaram nos outros, seria o velho problema da inferência ecológica. O que se afirma é apenas a presença de consistência no comportamento grupos de distritos analisados.

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Mas o fato de naquelas três eleições estudadas PT, PSDB e PPB conseguirem mais da metade dos

votos para vereador corrobora a afirmação de Figueiredo et. al (2002) segundo a qual são estes os

três partidos que estruturam as eleições paulistanas.

Cabe agora analisar, partido por partido, se a divisão da cidade em redutos9 no caso da disputa

legislativa também é válida tal qual os redutos do PPB, redutos do PT, redutos do PSDB e distritos

“disputados” como definidos para a disputa majoritária. A hipótese de Figueiredo et. al (2002) será

tanto mais sustentável quanto maior a diferença entre a votação de um partido nos distritos que

compõem seu reduto e a votação do mesmo partido nos distritos restantes.

No caso do PPB, o partido não encontra muito mais apoio em “seus” distritos do que nos demais.

Em 1992, o PPB obteve 26.67% dos votos dos distritos “malufistas” e 24.76% dos votos dos outros

distritos; em 1996, uma ligeira diferença: 35.97% contra 30.98%. Nas eleições de 2000, o apoio ao

PPB e seus candidatos decaiu tanto nos distritos “malufistas” (11.51%) quanto nos distritos

restantes (8.35%), apesar de ainda ser maior em seu reduto.

Quanto ao PT, a diferença da votação nos distritos que compõem seu reduto e a votação nos outros

distritos parece ser mais significativa, ao menos nos pleitos de 1992 e 1996. No primeiro caso, o

partido obteve 24.98% dos votos dos distritos “petistas” e apenas 19.73% dos demais distritos. Em

1996, o PT conseguiu 22.36% do apoio dos distritos de seu reduto e 15.63% dos distritos restantes.

Essa tendência não se confirmou em 2000, quando a diferença do apoio do partido em distritos

“petistas” (30.69%) em relação aos outros distritos (29.14%) foi ínfima. A hipótese de Figueiredo e

Limongi se aplica quando observamos o padrão de votação do PSDB. Nos redutos tucanos, a

votação do partido foi, de 1992 a 2000, de 18.35%, 23.39% e 25.44%. Grande diferença em relação

aos demais distritos, onde o partido obteve, respectivamente, 8.52%, 11.21% e 13.07% dos votos.

Kinzo, Martins Jr. e Borin (2003) testaram a dimensão da distritalização informal em São Paulo.

Esses autores descobriram que, embora alguns parlamentares realmente tenham votação

concentrada em certas regiões da cidade, não se trata de um fenômeno abrangente, que afete toda a

cidade. De acordo com esse estudo, 18 dos 55 vereadores (33%) obtiveram 50% ou mais de seus

votos em até seis distritos administrativos contíguos nas eleições de 1992 e 1996. Em 2000, esse

número diminuiu para 17 vereadores (31%) com votação concentrada. 9 Quando se referem a redutos partidários, Figueiredo et al. (2002) consideram que nesses distritos, independentemente do seu desempenho na eleição, é onde se concentram os melhores desempenhos obtidos pelo partido na cidade. O que não significa que o partido, necessariamente, venceu os demais nesses distritos.

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Qual a dimensão dessa concentração de votos em relação à população eleitoral de São Paulo? Em

1996, os 18 vereadores que tiveram votação “distritalizada” concentraram seus votos em 38 dos 96

distritos administrativos existentes na cidade. Nesses 38 distritos estavam presentes 2.819.398 dos

5.660.935 votantes naquelas eleições – ou seja, 49.80% dos votantes. Em 2000, os 17 vereadores

com votação concentrada obtiveram a maioria de seus votos em 37 dos 96 distritos administrativos

de São Paulo. Nesses 37 distritos estavam presentes 3.209.987 dos 6.109.265 votantes naquelas

eleições – 52.55%.

Embora se trate de distritos populosos, com praticamente metade dos votantes da cidade nessas

duas eleições, não é possível afirmar, como queria Teixeira, que o padrão da distritalização atinge

São Paulo como um todo. Porém, para ter mais certeza disso, é necessário observar – como fizeram

Kinzo et. al (2003) – o número efetivo de candidatos por distrito. Se a maioria dos distritos tem um

baixo número efetivo (NE) de candidatos, podemos defender que o sistema proporcional em São

Paulo tem fortes incentivos majoritários. Assim, a fim de identificar o número de competidores que

efetivamente disputaram os votos nos distritos paulistanos, Kinzo et. al (2003: 53-54) utilizaram o

índice N de Laakso e Taagepera (1979), considerando todos os candidatos que obtiveram num

distrito pelo menos 0.5% dos votos. O N médio em 1996 é 11.0 e, em 2000, é 12.9. Ora, se há mais

de dez candidatos efetivos por distrito, em média, a disputa não segue um padrão majoritário.

Nos distritos controlados por candidatos com votação concentrada em 1996, o número médio de

competidores efetivos foi 9.1, contra 11.0 na cidade como um todo. Em 2000, o número médio de

candidatos efetivos nos distritos controlados por candidatos com votação concentrada foi 14.8,

contra 12.9 em São Paulo. Embora em 1996 o NE desses distritos controlados tenha sido

ligeiramente menor do que a média da cidade, não é possível afirmar que a disputa segue um padrão

majoritário em certos redutos.

Na próxima seção, analisaremos quão avidamente os vereadores paulistanos buscam a reeleição.

Nenhum trabalho sobre a eficácia eleitoral da distritalização faria sentido se os parlamentares

simplesmente não quisessem manter suas vagas na Câmara Municipal de São Paulo, competindo

por outros postos. Veremos se é este o caso.

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b) a busca pela reeleição em São Paulo

Nas eleições referidas, respectivamente, 72.7% (40/55), 76.3% (42/55) e 78.1% (43/55) dos

vereadores eleitos no pleito anterior buscaram se reeleger. A ambição progressiva (Leoni et. al,

2004) dos parlamentares, portanto, não é algo a ignorar. Qual a dimensão da renovação parlamentar

na Câmara Municipal de São Paulo? De 1996 a 2004, respectivamente, 47.2% (26/55), 43.6%

(24/55) e 49.0% (27/55) dos parlamentares eleitos conseguiram a reeleição no pleito subseqüente.

Em relação àqueles que tentaram a reeleição, temos que, respectivamente, 65% (26/40), 57.1%

(24/42) e 62.7% (27/43) obtiveram sucesso.

É pertinente diferenciar o comportamento e sucesso dos vereadores “distritalizados” em relação aos

parlamentares que obtiveram votação dispersa no pleito anterior. Para isso, observemos as tabelas 1,

2 e 3 em anexo.

Exceção feita à eleição de 1996, quando foi praticamente idêntica a porcentagem de vereadores

distritalizados e dispersos tentando a reeleição (respectivamente 72.2% e 72.9%), os parlamentares

com votação concentrada em determinados distritos administrativos da cidade mostraram mais

vontade em garantir assento na Câmara Municipal de São Paulo. Em 2000 e 2004, 88.8% e 88.2%

dos vereadores “distritalizados” buscaram se reeleger, contra 70.2% e 71.05% dos representantes

com votos dispersos pela cidade.

O dado mais importante para nosso trabalho é o que mostra a taxa de sucesso na reeleição dos dois

grupos de parlamentares, os “distritalizados” e os com votação dispersa. Os vereadores com votação

concentrada obtiveram, nas três eleições analisadas, uma taxa de sucesso (vereadores que

conseguiram reeleição/vereadores que tentaram a reeleição) significativamente maior do que os

parlamentares com votos dispersos. Entre 1996 e 2004, respectivamente, os “distritalizados”

obtiveram índice de 84.6%, 62.5% e 73.3% de reeleição, contra 55.5%, 53.8% e 59.2% dos

vereadores com votação dispersa.

A distritalização informal não é suficiente para decretar a independência eleitoral do parlamentar

com relação a seu partido, e também não é garantia de permanência na Câmara Municipal

indefinidamente. Mas será um fator que confere certa vantagem ao vereador quando este busca se

reeleger? Na seção seguinte, analisaremos se a “distritalização” do voto é suficiente para garantir a

independência eleitoral de certos vereadores que concorrem à reeleição.

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c) a relação entre distritalização e reeleição

Parte da literatura sobre a geografia do voto considera que os parlamentares com votação

concentrada ou distritalizada têm grande vantagem na reeleição em relação aos concorrentes. Se

levarmos esse argumento às últimas conseqüências, podemos aferir que os vereadores

“distritalizados” conseguiriam, com suas bases eleitorais geograficamente delimitadas, um adicional

de votos suficiente para garantir sua independência eleitoral de qualquer partido. Em outros termos,

os parlamentares com votação concentrada conseguiriam se eleger apenas com os votos amealhados

em seus distritos de maior apoio, sem necessitar dos votos dos demais companheiros de

partido/coligação. No entanto, não é este o caso.

Observando a Tabela 4 em anexo, verificamos que nenhum dos 18 vereadores com perfil

concentrado em 1996 obteve, nos distritos que concentrou sua votação, votos suficientes para

atingir nem mesmo a metade dos 88.272 votos necessários para conseguir sozinho uma cadeira na

Câmara Municipal de São Paulo em 1996. Desses 18 parlamentares, oito pertenciam ao PPB,

partido mais identificado com o escândalo da “máfia dos fiscais” investigado na Câmara Municipal

antes das eleições de 200010. No entanto, 5 dos 18 vereadores distritalizados amealharam, apenas

nos distritos em que obtiveram melhor desempenho eleitoral, votos suficientes para a eleição em

seus respectivos partidos. Domingos Dissei (PPB), Wadih Mutran (PPB), Viviani Ferraz (PL),

Edvaldo Estima (PPB) e Antonio Paiva (PL) dependeram somente dos distritos nos quais

concentraram votos para se eleger em 1996. Com os 36.936 votos que conseguiu nos distritos de

Cangaíba, Penha, Ponte Rasa e Tatuapé, Paiva obteve mais do que o mínimo necessário para se

eleger por qualquer partido em 1996. Poderia, assim, barganhar sua entrada em qualquer legenda –

isso, é claro, se o candidato garantisse a mesma votação nos mesmos distritos indefinidamente. Não

foi o caso. Em 2000, Paiva se candidatou pelo PFL e obteve 12.618 votos nos distritos citados

acima. Suficiente para a reeleição, mas não para assegurar sua independência dos outros distritos

onde obteve votos.

Observando a tabela 5, notamos que os 15 parlamentares com votação distritalizada em 2000, em

média, obtêm nos distritos onde têm maior apoio eleitoral 70,93% dos votos necessários para se

eleger pelo partido/coligação com o qual tiveram sucesso naquele ano. O vereador Rubens Calvo

(PSB), por exemplo, conseguiu 18.465 votos nos seis distritos onde concentrou apoio. Como em 10 Para um bom resumo acerca da investigação da “máfia dos fiscais” no legislativo paulistano, ver Cardozo (2000). Sobre as conseqüências da “máfia dos fiscais” no comportamento estratégico da elite política e dos eleitores, ver Praça (2005).

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11

2000 o mínimo necessário para se eleger pela coligação PSB/PDT foi de 18.127 votos, Calvo teria

sido eleito mesmo sem nenhum voto nos demais 90 distritos paulistanos. No entanto, essa

independência gozada por Calvo em 2000 não se repetiu na eleição seguinte, quando não conseguiu

se reeleger. Esse tipo de argumento relativiza o peso da “distritalização” no pleito como um todo.

Ter voto “distritalizado” não significa reeleição automática nem independência do desempenho do

partido/coligação ao qual está filiado, pois todos herdam votos. Mas significa algo?

d) comparando distritalizados reeleitos e não-reeleitos

Não podemos ainda afirmar que a geografia do voto explica a reeleição de alguns parlamentares e a

não-reeleição de outros. Devemos, para isso, comparar o padrão de votação dos 13 vereadores

eleitos com votação concentrada em 2000 que disputaram a reeleição em 200411. Desses, 10 foram

reeleitos, sendo que apenas 8 mantiveram-se distritalizados. Três deles não foram reeleitos embora

tenham mantido o padrão concentrado de votação. O objetivo desse trabalho é verificar a eficácia da

distritalização como estratégia que garante sucesso eleitoral na disputa de eleições proporcionais.

Portanto, nosso universo se restringe aos 13 vereadores eleitos em 2000 que tentaram a reeleição em

2004 e mantiveram o padrão de votação concentrado. São eles:

Partido em

2004 Candidato Situação

PL Antonio Paes da Cruz Não Reeleito

PT José Laurindo Não Reeleito

PSB Roger Lin Não Reeleito

PT Rubens Calvo Não Reeleito

PL Viviani Ferraz Não Reeleito

PT Beto Custódio Reeleito

PT Carlos Giannazi Reeleito

PSDB Marcos Zerbini Reeleito

PMDB Milton Leite Reeleito

PP Wadih Mutran Reeleito

11 Dois tucanos reeleitos deixaram de ser distritalizados em 2004: William Woo e Gilson Barreto. Esses candidatos expandiram suas bases de apoio, incorrendo em votação dispersa. Também verificamos que outros dois vereadores reeleitos em 2004 passaram a apresentar padrão de votação concentrado: os petistas Arselino Tatto e Paulo Fiorilo.

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12

PL Antonio Paiva Reeleito*

PFL Domingos Dissei Reeleito*

PPS Edvaldo Estima Reeleito*

* Vereador reeleito em 2004 por partido diferente pelo qual se elegeu em 2000.

Três perguntas orientam esta seção: a) esses vereadores mantiveram a votação absoluta de 2000?; b)

mantiveram os distritos cujas votações os caracterizaram como distritalizados em 2000? e c) quais

distritos são esses? À exceção de um caso, todos os candidatos observados (reeleitos ou não)

aumentaram a votação absoluta e mantiveram os distritos onde concentraram votos em 200012.

As características demográficas dos distritos podem ser parte da explicação do sucesso/insucesso na

reeleição. Observamos na tabela 6 em anexo (que lista os seis distritos de melhor desempenho dos

13 vereadores que tentaram a reeleição e mantiveram o padrão concentrado de votação) que esses

vereadores disputam votos nas mesmas regiões da cidade.

Os distritos localizados no norte e noroeste do município são bons exemplos. Das três regiões da

cidade onde se concentram os distritalizados, a região noroeste é a que apresenta menor eleitorado.

Essa região concentra 20% do comparecimento dos eleitores na eleição de 200413 e é onde está a

dimensão distritalizada da votação de 6 dos 13 vereadores com padrão concentrado em 2000 que

tentaram a reeleição em 2004 e mantiveram esta característica. Apenas 2 se reelegeram.

Outra característica interessante é que a distribuição dos distritos em que os vereadores

“distritalizados” concentram seus votos não é uniforme pela cidade. Eles se encontram fora do

centro expandido nas áreas mais periféricas das regiões leste, sul e norte/noroeste. Dos 25

vereadores com padrão distrital de votação, sete deles tem base territorial nos distritos do

norte/noroeste da cidade. Desses sete (dois petistas, dois peessedebistas e três liberais), apenas dois

(os tucanos) conseguiram assento na Câmara Municipal de São Paulo.

A questão que resta é: existe diferença significativa entre o desempenho dos vereadores observados

com padrão concentrado de votação que obtiveram sucesso eleitoral e os que não obtiveram? 12 Torna-se evidente que o desempenho do partido/coligação como um todo é importante para a definição do sucesso ou não de cada candidato, pois três candidatos distritalizados em 2000 não se reelegeram ainda que tenham aumentado o número de votos. 13 Dos 96 distritos da capital, 59 aparecem pelo menos uma vez na lista dos distritos onde os vereadores com padrão distrital concentram seus votos. A tabela 7 em anexo apresenta esses distritos, quantas vezes cada um aparece e o percentual do comparecimento total da cidade que lhes coube em 2004.

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Contrapomos dois casos de sucesso – Carlos Giannazi (PT) e Beto Custódio (PT) – a dois casos de

insucesso – José Laurindo (PT) e Viviani Ferraz (PL).

Em ambos os casos de insucesso, os vereadores concentraram sua base de apoio na região noroeste

da cidade (ver figura 1). Obtiveram aumento da votação em relação a 2000: 19.5 pontos percentuais

no caso de José Laurindo e 36.4 pontos percentuais para Viviani Ferraz. Esses vereadores

concentraram, respectivamente, nos seis distritos onde obtiveram somados 50% ou mais dos seus

votos, 58.9% e 79.1% de suas votações totais.

O aumento relativo na votação também foi observado nos dois casos de sucesso – 40.7 pontos

percentuais para Beto Custódio e 64.4 pontos percentuais no caso de Carlos Giannazi. Esses

vereadores concentraram, respectivamente, nos seis distritos de melhor desempenho 70.3% e 51.9%

de suas votações totais.

As únicas grandes dessemelhanças observadas entre os casos de sucesso e insucesso são: a

diferença significativa no acréscimo na votação e a região da cidade onde concentram seus votos.

Este último fator pode apresentar importante explicação para o insucesso de José Laurindo e

Antonio Paiva. Como mostra a tabela 7, a oferta de votos na região noroeste da cidade é a menor

(20%) das três onde os vereadores com padrão distritalizado de votação se concentram.

Se supormos que um vereador com padrão concentrado foca seus esforços de campanha nos

distritos onde já possui garantia de um retorno mínimo, concluiremos que essa estratégia é ineficaz

em regiões em que muitos candidatos, independente do sucesso eleitoral, concentram seus votos.

Quando ocorre uma situação semelhante à de 2004, onde as legendas não contavam com

expressivos “puxadores de votos”, cada candidato necessita se aproximar o máximo possível do

quociente eleitoral para garantir a sua cadeira. Distritos com alta incidência de candidatos com

padrão concentrado e baixa oferta de votos dificultam o crescimento necessário para o sucesso

eleitoral.

A zona sul e a zona leste, que ofertam respectivamente 27% e 30% dos votos disponíveis na cidade,

concentram proporcionalmente menos disputa. Isso garante a maior eficiência da estratégia eleitoral

suposta acima, uma vez que a oferta de votos é maior e a incidência de candidatos que concentram

seus esforços eleitorais na mesma região é menor, permitindo assim que o crescimento do

patrimônio eleitoral seja mais significativo.

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Qual o peso que podemos conferir à geografia do voto como preditora do sucesso eleitoral? Não

podemos fazer afirmações definitivas sobre o que determina a reeleição dos vereadores paulistanos.

Diversas outras variáveis devem ser consideradas para tanto. Mostramos que o padrão geográfico da

votação de um vereador deve ser uma dessas variáveis.

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Anexos

Tabela 1

Concentração do voto e reeleição no Legislativo paulistano: 1996

Vereadores com votação

concentrada

Vereadores com votação

dispersa

% de vereadores que buscam a

reeleição

72,2% (13/18) 72,9% (27/37)

% de vereadores que conseguem

a reeleição

61,1% (11/18) 40,5% (15/37)

Taxa de sucesso 84,6% (11/13) 55,5% (15/27)

Tabela 2

Concentração do voto e reeleição no Legislativo paulistano: 2000

Vereadores com votação

concentrada

Vereadores com votação

dispersa

% de vereadores que buscam a

reeleição

88,8% (16/18) 70,2% (26/37)

% de vereadores que conseguem

a reeleição

55,5% (10/18) 37,8% (14/37)

Taxa de sucesso 62,5% (10/16) 53,8% (14/26)

Tabela 3

Concentração do voto e reeleição no Legislativo paulistano: 2004

Vereadores com votação

concentrada

Vereadores com votação

dispersa

% de vereadores que buscam a

reeleição

88,2% (15/17) 71,05% (27/38)

% de vereadores que conseguem

a reeleição

64,7% (11/17) 42,1% (16/38)

Taxa de sucesso 73,3% (11/15) 59,2% (16/27)

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Tabela 4

Votação e dependência dos vereadores distritalizados em 1996-2000

Vereadores distritalizados

em 1996

Votação

absoluta

nos

distritos

nos quais

concentra

apoio

% dos

votos nos

distritos

controlad

os em

relação ao

total do

candidato

% dos

votos nos

distritos

em

relação ao

necessário

para

atingir o

quociente

eleitoral

em 1996

% dos

votos nos

distritos

em

relação ao

necessário

para se

eleger por

qualquer

partido

em 1996*

% dos votos

nos distritos

em relação ao

necessário para

se eleger por

seu partido em

1996

Reeleito

em 2000?

Domingos Dissei (PPB) 29.949 65,18% 33,9% 82,43 110,73 Sim

Archibaldo Zancra (PPB) 20.440 63,25% 23,1% 56,25 75,57 Não

Pierre de Freitas (PSDB) 9.716 61,21% 11,0% 26,74 30,86 Não

Wadih Mutran (PPB) 35.067 60,41% 39,7% 96,51 129,66 Sim

Milton Leite (PMDB) 18.970 56,80% 21,4% 52,21 52,21 Sim

Vicente Candido (PT) 10.347 56,51% 11,7% 28,47 44,26 Sim

Emilio Meneghini (PPB) 20.178 56,30% 22,8% 55,53 74,61 Não

Luiz Paschoal (PTB) 8.133 56,30% 9,2% 22,38 31,92 Não

Viviani Ferraz (PL) 16.152 56,05% 18,2% 44,45 103,00 Sim

Benedito Ide (PPB) 25.061 55,40% 28,3% 68,97 92,66 Não

Gilson Barreto (PSDB) 14.901 55,12% 16,8% 41,01 47,32 Sim

Maria Helena P, Fontes (PL) 7.115 54,67% 8,0% 19,58 45,37 Não

Edvaldo Estima (PPB) 28.655 53,39% 32,4% 78,86 105,95 Sim

Devanir Ribeiro (PT) 11.821 52,28% 13,3% 32,53 50,56 Sim

Mario Poerner Dias (PPB) 17.454 51,14% 20,7% 48,04 64,53 Não

Arselino Tatto (PT) 13.576 50,91% 15,3% 37,36 58,07 Sim

Jose Ferreira do Nascimento

(PPB)

24.085 50,81% 27,2% 66,29 89,05 Não

Antonio Paiva (PL) 36.936 49,1% 41,8% 101,66 235,55 Sim

Fonte: Banco de dados de Kinzo et, al, (2003); TRE-SP

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* Este cálculo foi feito dividindo os votos dos vereadores nos distritos onde obtiveram melhor

desempenho pelo mínimo de votos necessário para se eleger pelo PMDB em 1996, o que

corresponde à maior votação mínima dentre todos os partidos para garantir uma cadeira na Câmara

Municipal daquele ano conforme a tabela 1 de Kinzo et, al (2003: 51),

Tabela 5

Votação e dependência dos vereadores distritalizados em 2000-2004

Vereadores distritalizados

em 2000

Votação

absoluta

nos

distritos

nos quais

concentra

apoio

% dos

votos nos

distritos

em

relação ao

necessário

para

atingir o

quociente

eleitoral

em 2000

% dos votos nos

distritos em

relação ao

necessário para

se eleger por

qualquer

partido em 2000

% dos votos

nos distritos

em relação ao

necessário

para se eleger

por seu

partido em

2000

Milton Leite (PMDB) 29.572 30,06 78,71 78,71

Marcos Zerbini (PSDB) 21.384 21,74 56,91 79,03

Gilson Barreto (PSDB) 20.977 21,32 55,83 77,53

Edivaldo Estima (PP) 20.944 21,29 55,74 87,5

Domingos Dissei (PP) 19.901 20,23 52,97 83,22

Rubens Calvo (PSB) 18.465 18,77 49,14 101,86

Wadih Mutran (PP) 17.446 17,73 46,43 72,95

Carlos Giannazi (PT) 17.440 17,73 46,42 91,38

Beto Custódio (PT) 16.206 16,47 43,13 84,91

Antonio Paiva (PFL) 15.445 15,7 41,11 41,11

Viviani Ferraz (PL) 15.041 15,29 40,03 64,40

William Woo (PSDB) 13.891 14,12 36,97 51,34

José Laurindo de Oliveira

(PT)

10.595 10,77 28,20 55,51

Roger Lin (PPS) 7.743 7,87 20,61 66,42

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20

Antonio Paes da Cruz

(PRONA)

1.481 1,5 3,94 35,93

MÉDIA 16,70% 43,74 70,93

Tabela 6

Desempenho dos Vereadores com votação concentrada em 2004

Distrito

%

Votos* Distrito % Votos*

Wadih Jorge Mutran Antonio Paiva

Vila Maria 34,14 Penha 14,96

Vila Medeiros 18,76 Cangaiba 12,99

Vila Guilherme 15,91 Tatuape 9,40

Jacana 5,98 Ponte Rasa 7,20

Tucuruvi 4,68 Vila Matilde 6,67

Santana 2,36 Artur Alvim 4,67

Total 81,83 Total 55,91

Adalberto Angelo Custodio José Viviani Ferraz

Lajeado 31,18 Freguesia Do O 35,9

Guaianases 18,97 Brasilandia 25,38

Jose Bonifacio 6,35 Cachoeirinha 5,95

Itaquera 5,8 Limao 4,57

Cidade Tiradentes 4,75 Pirituba 4,21

Vila Curuca 3,26 Jaragua 3,19

Total 70,31 Total 79,19

Carlos Alberto Giannazi Edivaldo Alves Estima

Cidade Dutra 24,81 Cidade Dutra 19,45

Grajau 13,44 Parelheiros 16,08

Cidade Ademar 4,07 Grajau 14,78

Jabaquara 3,69 Socorro 6,28

Socorro 3,05 Jardim Sao Luis 6,13

Campo Grande 2,89 Capao Redondo 5,74

Total 51,95 Total 68,45

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Rubens Wagner Calvo Domingos Odone Dissei

Casa Verde 28,94 Sacoma 30,02

Limao 20,3 Ipiranga 28,88

Cachoeirinha 8,03 Cursino 9,48

Brasilandia 5,48 Vila Mariana 3,59

Santana 4,69 Saude 2,06

Freguesia Do O 3,92 Vila Prudente 1,6

Total 71,36 Total 75,64

José Laurindo De Oliveira Roger Lin

Pirituba 16,86 Cidade Ademar 41,06

Jaragua 13,49 Jabaquara 14,99

Freguesia Do O 9,58 Liberdade 3,65

Brasilandia 9,51 Vila Mariana 2,99

Sao Domingos 6,07 Campo Grande 2,76

Perus 3,48 Pedreira 2,67

Total 58,99 Total 68,12

Milton Leite Da Silva Marcos Antonio Zerbini

Jardim Angela 28,12 Pirituba 18,26

Jardim Sao Luis 26,13 Sao Domingos 16,49

Capao Redondo 7,66 Jaragua 11,75

Grajau 6,8 Anhanguera 9,02

Cidade Dutra 3,95 Freguesia Do O 8,64

Cidade Ademar 2,92 Brasilandia 6,9

Total 75,57 Total 71,06

Antonio Paes Da Cruz

Brasilandia 26,05

Freguesia Do O 18,38

Cachoeirinha 12,5

Jaragua 6,63

Casa Verde 4,8

Limao 3,41

Total 71,77

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22

* O percentual foi calculado sobre o total de votos recebido por cada candidato,

Tabela 7

Comparecimento dos Distritos Administrativos em 2004 e Incidência de casos de

concentração em cada distrito.

Distrito N* Comp %Comp Região Distrito N* Comp %Comp Região

Brasilândia 8 127.508 1,927 N/NO Cidade Ademar 6 143.636 2,17 S

Freguesia Do O 7 142.137 2,148 N/NO Cidade Dutra 6 136.001 2,055 S

Jaraguá 7 59.452 0,898 NO Grajaú 5 142.898 2,159 S

Pirituba 6 100.882 1,524 NO Jardim São Luis 4 141.309 2,135 S

Limão 5 57.024 0,862 N Capão Redondo 4 130.746 1,976 S/O

Cachoeirinha 4 76.055 1,149 N Jardim Ângela 4 112.759 1,704 S

Santana 3 107.608 1,626 N Jabaquara 3 140.720 2,126 S

Casa Verde 3 73.701 1,114 N Pedreira 3 62.045 0,938 S

São Domingos 3 46.327 0,7 NO Campo Grande 3 59.296 0,896 S

Anhanguera 3 14.448 0,218 NO Parelheiros 3 44.748 0,676 S

Tucuruvi 2 92.898 1,404 N Socorro 3 37.541 0,567 S

Jaçanã 2 69.247 1,046 N Vila Mariana 2 113.312 1,712 S

Perus 2 36.181 0,547 NO Campo Limpo 2 103.891 1,57 S/O

Vila Maria 1 97.714 1,476 N Sacomã 1 127.971 1,934 S

Vila Medeiros 1 83.727 1,265 N Ipiranga 1 84.411 1,275 S

Tremembé 1 82.559 1,247 N Cursino 1 78.460 1,186 S

Vila Guilherme 1 52,597 0,795 N Santo Amaro 1 74.526 1,126 S

19,946 Saúde 1 69.577 1,051 S

27,257

Distrito N* Comp %Comp Região Distrito N* Comp %Comp Região

São Rafael 2 50.500 0,763 L Sapopemba 2 138.248 2,089 L

Iguatemi 2 47.847 0,723 L Itaquera 2 123,186 1,861 L

Penha 1 103.877 1,57 L Itaim Paulista 2 121,248 1,832 L

Vila Matilde 1 94.859 1,433 L São Mateus 2 120.148 1,815 L

Jardim Helena 1 86.074 1,301 L São Lucas 2 97,848 1,479 L

Artur Alvim 1 84.923 1,283 L Cangaíba 2 83,994 1,269 L

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Ermelino Matarazzo 1 78.230 1,182 L Vila Prudente 2 82,182 1,242 L

São Miguel 1 75.713 1,144 L Vila Jacuí 2 80,574 1,217 L

Cidade Tiradentes 1 70.675 1,068 L Vila Curuçá 2 73.389 1,109 L

Jose Bonifácio 1 59.852 0,904 L Lajeado 2 71.693 1,083 L

Carrão 1 58,295 0,881 L Ponte Rasa 2 56.988 0,861 L

Guaianases 1 56.821 0,859 L 29,792

Tatuapé 1 54.461 0,823 L

• Este campo se refere ao número de vezes que o distrito aparece dentre os de melhor

desempenho dos vereadores com padrão de votação concentrada que tentaram a reeleição

em 2004,

Figura 1

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