A EMERGÊNCIA DE UMA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA NO BRASIL

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A EMERGNCIA DE UMA SOCIOLOGIA DA INFNCIA NO BRASIL. QUINTEIRO, Jucirema - UFSC GT: Sociologia da Educao /n.14 Agncia Financiadora: No contou com financiamento

Introduo possvel falar sobre a emergncia de uma sociologia da infncia no Brasil? Em que medida a apario deste objeto pode ser uma contribuio para a sociologia da educao e da sociologia geral? Como se constri as culturas infantis e quais so as especificidades deste grupo social? Como ver a articulao com a totalidade social das cincias humanas? Como tratar as dificuldades tericometodolgico? Certamente, o debate sobre a infncia como um fenmeno sociolgico exige tanto uma reflexo de filosofia poltica quanto um esforo de investigao emprica. Entretanto, somente em 1990, os socilogos da infncia reuniram-se pela primeira vez no Congresso Mundial de Sociologia para debater sobre os vrios aspectos que envolvem o processo de socializao da criana e a influncia exercida sobre esta pelas instituies e agentes sociais com vistas sua integrao na sociedade contempornea. A partir da, realizou-se um verdadeiro boom na produo estrangeira, mais do que isto, iniciou-se, como disse Sarmento (2000), "um olhar caleidoscpico sobre a Sociologia, no sentido de identificar a presena da infncia no desenvolvimento do pensamento sociolgico e descortinar as razes da sua gritante ausncia nas correntes clssicas da Sociologia". Um exemplo deste boom na produo europia pode ser constatado mediante os dois nmeros publicados pela Revista ducation et Socits em 1998 e 1999, respectivamente, onde esto reunidos vrios artigos que tratam sobre a emergncia deste campo de estudos: a Sociologia da Infncia. Mais recentemente, dois de seus mais importantes artigos foram traduzidos e publicados como tema de destaque no Cadernos de Pesquisa n 112. Os textos de Rgine Sirota e Cloptre Montandon constituem-se, sem dvida, referenciais de anlise para a pesquisa devido

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retrospectiva que apresentam a partir das publicaes sobre a infncia na rea da Sociologia, focalizando, sobretudo, as produes de lnguas francesa e inglesa, respectivamente. Rgine Sirota (2001), ao realizar um balano da produo dos socilogos franceses ressalta que a infncia ser essencialmente reconstruda por tais pesquisadores como objeto sociolgico atravs dos seus dispositivos institucionais, como a escola, a famlia e a justia. A releitura crtica do conceito de socializao e de suas definies funcionalistas entre os pesquisadores franceses contribuiu fundamentalmente na considerao da criana como ator. Cloptre Montandon (2001), aps examinar os principais trabalhos sobre a criana escrito em lngua inglesa, identifica elementos similares queles encontrados na produo de lngua francesa, associados a uma abordagem renovada da socializao e a uma crtica da viso clssica desse processo. Aps realizar leituras dos trabalhos sobre as crianas, Montandon depara-se com a "predominncia do emprico" e com uma "grande diversidade de questes exploradas". Ressalta-se que as principais temticas presentes na produo de lngua inglesa do ltimo quarto de sculo so apresentadas a partir de quatro categorias bastante amplas: relaes entre geraes; relaes entre crianas; grupo de idade e aquelas que analisam os diferentes dispositivos institucionais dirigidos s crianas. Cabe observar que os primeiros elementos para uma Sociologia da Infncia, tanto em lngua inglesa quanto francesa, vo surgir em oposio concepo de infncia considerada como um simples objeto passivo de uma socializao orientada por instituies ou agentes sociais. A questo central dos textos analisados por estas duas pesquisadoras aponta para a construo social da infncia como um novo paradigma, com nfase na necessidade de se elaborar a reconstruo deste conceito marcado por uma viso ocidental e adultocntrica de criana. importante destacar que a crtica fundamental diz respeito viso de criana considerada como tbula rasa a qual os adultos imprimem a sua cultura. Embora indiferente aos ideais democrticos tributrios dos princpios de liberdade, igualdade e fraternidade promulgados pela Revoluo Francesa, bem como contrrio necessidade de respeitar os elementos constitutivos do ser criana, tal como os concebemos hoje, mile Durkheim (1858-1917), foi quem primeiro buscou tecer os

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fios da infncia aos fios da escola com objetivos de "moralizar" e disciplinar a criana, j que esta, alm de questionadora, ela [a criana] passa de uma impresso para outra, de um sentimento para outro, de uma ocupao para outra, com a mais extraordinria rapidez. Seu humor no tem nada de fixo: a clera nasce e aquieta-se com a mesma instantaneidade; as lgrimas sucedem-se ao riso, a simpatia ao dio, ou inversamente, sem razo objetiva ou (...) sob a influncia da circunstncia mais tnue. (1984, p.110) (grifo meu). Para controlar "os humores endoidecidos" das crianas, Durkheim(1984) props trs elementos fundamentais para desenvolver a educao moral das novas geraes, que devero ser capazes de adequar-se s regras do jogo social, poltico e econmico. Portanto, educar a criana passa a significar moraliz-la no sentido de inscrever na subjetividade desta os trs elementos da moralidade. Explica o autor: educar inscrever na subjetividade da criana os trs elementos da moralidade: o esprito de disciplina (graas ao qual a criana adquire o gosto da vida regular, repetitiva, e o gosto da obedincia autoridade); o esprito de abnegao (adquirindo o gosto de sacrificar-se aos ideais coletivos) e a autonomia da vontade (sinnimo de submisso esclarecida). (idem) (grifo meu). Diante deste legado sociolgico no qual "a hiptese de uma doena social" foi que permitiu articular a infncia escola e, ainda, do desafio em rever o carter funcionalista do conceito de socializao, ser que ainda "seremos capazes de inventar uma cultura capaz de acolher a criana como um sujeito animado de um desejo a exprimir e no como um objeto narcisisticamente investido?" (ADOLFO, F., Apud. FERNANDES, H. 1996, p.66-76) (grifo no original) 1. Por um lado, afirmam os pesquisadores, "a infncia um outro mundo", sobre o qual produzimos uma imagem mtica, por outro, no h este "outro mundo", porque no campo das relaes sociais que a criana cresce e se constitui como sujeito. Por isto que se pode afirmar que a participao das crianas no processo educativo no se limita aos aspectos exclusivamente psicolgicos, mas sociais, econmicos, polticos e histricos. Nesta mesma direo, alerta Sarmento e Pinto,1

Consultar o artigo "Infncia e Modernidade: doena do olhar" e a Tese de doutoramento intitulada Sintoma social dominante e moralizao infantil: um estudo sobre a educao moral em mile Durkheim. Todos os dois foram escritos por Heloisa Fernandes (1996 e 1994)

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a considerao das crianas como actores sociais de pleno direito, e no como menores(...)implica o reconhecimento da capacidade simblica por parte das crianas e a constituio das suas representaes e crenas em sistemas organizados, isto , em culturas.(...) Os estudos da infncia, mesmo quando se reconhece s crianas o estatuto de actores sociais, tem geralmente negligenciado a auscultao da voz das crianas e subestimado a capacidade de atribuio de sentido s suas aces e aos seus contextos. (...) As culturas infantis assentam nos mundos de vida das crianas e estes se caracterizam pela heterogeneidade.(...) A interpretao das culturas infantis, em sntese, no pode ser realizada no vazio social e necessita de se sustentar nas anlises das condies sociais em que as crianas vivem, interagem e do sentido ao que fazem. (1997, p.20, 21 e 22).(grifos meus).

Na realidade, pouco se sabe sobre as culturas infantis, porque pouco se ouve e pouco se pergunta s crianas e, ainda assim, quando isto acontece, a "fala" apresentase solta no texto, intacta, margem das interpretaes e anlises dos pesquisadores. Estes parecem ficar prisioneiros de seus prprios "referenciais de anlise". No mbito da Sociologia, h ainda resistncia em aceitar o testemunho infantil como fonte de pesquisa confivel e respeitvel. Alm disso, apesar de a etnografia e de a histria oral serem indicadas pelos pesquisadores adeptos da abordagem interpretativa como recursos metodolgicos eficientes no registro do "ponto de vista" das crianas, a entrevista, tal qual a concebemos, tem se mostrado como um instrumento pouco adequado quando utilizada junto a este "pequeno sujeito" ou "pequeno objeto" emergente. Muitos pesquisadores, ao utilizarem a entrevista com a criana em suas pesquisas, no problematizam os dados e tampouco descrevem em seus textos os elementos constitutivos do processo de recolha da voz da criana2. Mesmo sem dispor de trabalhos do tipo "balano da produo", to comum entre os europeus, possvel afirmar que, nas duas ltimas dcadas, os estudos sobre a infncia no Brasil parecem ter ampliado o seu campo de pesquisa e adquirido um certo estatuto terico-metodolgico. Neste perodo, os estudos sobre a infncia como uma questo pblica e no apenas privada comeam a pipocar na produo acadmica brasileira. O longo levantamento realizado na busca de compreender a evoluo do objeto e construir um outro olhar sobre a infncia mediante produo bibliogrfica eSobre as questes relacionadas ao "ouvir" a criana na pesquisa acadmica numa perspectiva sociolgica, recentemente foi publicada uma coletnea de textos intitulada Por uma cultura da infncia:2

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cultural existente permitiu, por um lado, constatar o crescente interesse por estudos sobre a infncia no campo das Cincias Sociais e Humanas e, por outro lado, vislumbrar as suas mltiplas dimenses3. Constata-se uma produo caracterizada por uma diversidade de temas pautados por estudos empricos e ausncia de debates tericos, voltados para problemas relativos histria social da infncia; s pssimas condies de vida e existncia das crianas e de suas famlias; ao profundo desrespeito por parte do Estado criana como sujeito de direitos; e, sobretudo, aos diversos aspectos e especificidades que envolvem a educao da criana de zero a seis anos de idade4. Contudo, diante das questes colocadas por Sirota e Montandon sobre a reviso do conceito de socializao, instigante constatar a vasta produo existente sobre a Sociologia Escolar e a ausncia de estudos sobre a infncia como condio social da criana na sociedade em geral e no interior da escola pblica em particular e, ainda, sobre as possibilidades de esta vir a ser um lugar da infncia nos nossos tempos. Isto posto, possvel reafirmar que no s na Sociologia, mas no campo das Cincias Humanas e Sociais os estudos sobre a criana e a infncia no tm merecido, por parte dos pesquisadores, ao longo de todo o sculo XX e incio do XXI, uma ateno mais regular e sistemtica. De qualquer modo, no Brasil, os saberes constitudos sobre a infncia que esto ao nosso alcance at o momento nos permitem conhecer objetivamente as precrias condies sociais das crianas, sua histria e sua condio profundamente adversa de "adulto em miniatura", e precariamente a infncia como construo cultural, sobre seus prprios saberes, suas memrias e lembranas, suas prticas e possibilidades de criar e recriar a realidade social na qual se encontram inseridas. Afinal, o que sabemos sobre as culturas infantis? O que conhecemos sobre os modos de vida das crianas indgenas, negras e brancas? O que sabemos sobre as crianas que frequentam a escola pblica? Como aprendem? O que aprendem? O que sentem? O que pensam? Ressalta-se, ainda, que as relaes de poder entre o adulto e a criana, caracterizadas pela condio de subalternidade desta em relao quele, constituem-se tema elementarmetodologias de pesquisa com crianas, destaco aqui um dos seus artigos por sua singularidade: Infncia, pesquisa e relatos orais, escrito por Zeila de Brito Fabri Demartine (2002). 3 Refiro-me a uma pesquisa bibliogrfica realizada no perodo de 1996 a 2000 sobre "A criana como objeto da pesquisa educacional: tendncias, dilemas e perspectivas". mimeo 4 A produo sobre a temtica vasta e grande parte dela est representada pelos pesquisadores que investigam as crianas pequenas. Buscando construir uma pedagogia para a educao infantil, Eloisa Rocha caracteriza e define o campo no prprio ttulo da sua tese de doutorado ao realizar um importante

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para a compreenso das culturas infantis, porm tais estudos ainda esto por serem realizados, tanto local quanto internacionalmente. Isto posto, e independentemente das implicaes que envolvem as questes sobre se "estamos ou no diante de mais uma especialidade da Sociologia", cabe indagar: quais as caractersticas principais de uma Sociologia da Infncia brasileira? Como a produo existente vem tratando este "pequeno sujeito" emergente? Quais so os seus temas, tendncias e referncias terico-metodolgicas? Quais crianas vm sendo investigadas pelas Cincias Sociais? O que se sabe sobre as culturas infantis participao infantil e sobre as suas representaes sociais? O objetivo deste texto apresentar alguns elementos e questes que resultam da emergncia de uma Sociologia da Infncia, particularmente sobre a evoluo do objeto e do olhar a partir da anlise da produo mediante uma breve retrospectiva histrica de algumas disciplinas e dos principais trabalhos sobre a infncia brasileira nas Cincia Sociais. Dentre as questes levantadas destacam-se aquelas referentes ao processo de socializao da criana e institucionalizao da infncia no interior da escola pblica. Considerando tais objetivos e ainda os limites deste artigo, apresento uma leitura sobre como as disciplinas que compem o campo das Cincias Sociais e Humanas foram se apropriando e elaborando sociologicamente o conceito de infncia, pois tais estudos "mesclam-se de imediato fatores ligados tanto histria das cincias sociais, sociologia geral e sua divises de campo, quanto a evoluo especfica da sociologia da educao, os quais refletem diretamente a evoluo do objeto social e os debates pblicos particularmente intensos que o envolvem" (SIROTA, 2001 p. 8). 2 A incorporao da infncia pelas Cincias Sociais e Humanas. De certo modo, demorou para que as Cincias Sociais e Humanas focassem a criana e a infncia como objetos centrais de suas pesquisas. Demorou mais tempo ainda para que os socilogos centrassem suas anlises nas relaes entre sociedade, infncia e escola, entendendo a criana como sujeito histrico e de direitos, tendo como eixo de suas investigaes o registro das "falas" das crianas, especialmente dos estudantes do ensino fundamental, buscando interpretar suas representaes de mundo, objetivando entender o complexo e multifacetado processo de construo social dainventrio sobre a Pesquisa em Educao infantil no Brasil: trajetria recente e perspectivas de

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infncia e o papel que a escola vem desempenhando diante desta inveno da modernidade. Nesta direo, como afirmado anteriormente, os estudos so raros. A anlise da produo existente sobre a Histria da Infncia permite afirmar que a preocupao com a criana encontra-se presente desde o sculo XIX, tanto no Brasil como em outros lugares do mundo, entretanto, mesmo a infncia constituindo-se em um problema social desde o sculo XIX, isto no foi suficiente para torn-la, ao mesmo tempo, um problema de investigao cientfica. Estudos apontam que at o incio da dcada de 60 a Histria da Infncia e a Histria da Educao pareciam ser dois campos distintos e inconciliveis de pesquisa. Com a publicao, tanto na Frana(1960) quanto nos E.U.A (1962), do livro de Philipe Aris sobre Histria social da infncia e da famlia, e na dcada seguinte, em 1974, acrescida da publicao do texto de Lloyd De Mause sobre a "evoluo da infncia", os historiadores da educao, principalmente os norte-americanos, encontravam-se (...)en el proceso de reconstruir la definicin precisa de su campo. Alguno, como Lawrence Cremin, expuso la opinin de que la historia de la educacin se comprendera mejor si los historiadores ampliasen su interpretacin de la educacin incluyendo el anlisis de la transmisin cultural tal como se efectuaba en las familias, iglesias, instituciones de enseanza superior, medios de comunicacin de masas, museos, bibliotecas y colegios. (FINKELSTEIN, 1986, p.19). No entanto, at este perodo, poucos historiadores da educao haviam manifestado algum interesse pelo tema da infncia ou o tinham colocado como objetivo de suas pesquisas. Segundo Brbara Finkelstein, "slo muy pocos historiadores han sido sistemticos en una tentativa de conectar la historia de la infancia y la formacin de los nios con la historia de la educacin, centrndose en los aprendices y el aprendizaje como aspectos fundamentales en el estudio de la historia educativa." (ibid., p.21). Assim que, para Aris e De Mause, a histria da infncia e a histria da educao esto relacionadas tanto conceitual quanto socialmente, la historia de la infancia y la historia de la educacin estaban conectadas de modo inextricable, y en varios niveles. En primer lugar, estaban conectadas conceptual y psicolgicamente. En segundo lugar, estaban relcionadas en el tiempo. En tercer yconsolidao de uma pedagogia (1999).

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ltimo lugar, estaban unidas social e institucionalmente. Tanto Aris como De Mause enfatizaron la simultaneidad en el tiempo del descubrimiento o reconocimiento de la infancia moderna y de la aparicin de instituciones protectoras donde cuidar y formar a la generacin ms joven. (ibid., p. 20) (grifo meu). Depois de organizar e analisar a bibliografia italiana para compreender a evoluo do objeto, Simonetta Ulivieri (1986) escreve que os historiadores daquele pas, at a dcada de 80, ainda no privilegiavam a criana em suas pesquisas. O enfoque da histria social no apenas chegou com atraso na Itlia, como tambm, existe uma certa indiferena com o tema. "Muchas veces se relega la historia de la familia al sector de estudios sociolgicos. (...) la historia de la infancia, en fin, an no se han abordado directamente y a fondo, sino tan solo en artculos o estudios cronolgicamente sectoriales."(p.48)5. Mas, principalmente, afirma a autora, no se estuda a criana "como objeto de examen histrico en sus condiciones reales de vida, que en muchos casos son condiciones de supervivencia." Para Ulivieri, a falta de uma histria da infncia e seu registro historiogrfico tardio "son un indicio 'de la incapacidade por parte del adulto de ver al nio en su perspectiva histrica'. (...) cabe decir que, al no existir el nio con todas sus caractersticas infantiles, tampoco exista su historia" (1986, p. 48). Somente nos ltimos anos o campo historiogrfico rompeu com as rgidas regras da investigao tradicional, institucional e poltica, para abordar temas e problemas vinculados histria social. Narodowski (1994), aps ter realizado um trabalho indito centrando suas anlises na relao entre Infncia, Poder e Pedagogia, resultando em sua tese de doutoramento publicada sob o ttulo Infancia e poder: la conformacin de la pedagoga moderna, identifica um ncleo de consenso entre os historiadores acerca da definio de infncia. Para o autor, a infncia um fenmeno histrico e no meramente natural, e as "caractersticas da mesma no ocidente moderno podem ser esquematicamente delineadas a partir da heteronomia, da dependncia e da obedincia ao adulto em troca de proteo" (1994, p.173).

3 Alguns aspectos da sociologia da infncia no Brasil.Este texto de Simonetta Ulivieri traz anexa uma lista bibliogrfica italiana sobre o assunto em pauta e ainda as tradues existentes, vindas do ingls e do francs.5

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No Brasil, o fenmeno da pauperizao infantil emerge como um problema social e objeto de discusso poltica, num contexto marcado pelo advento da Repblica, pelo crescimento acelerado de suas metrpoles, pela Abolio da Escravatura e a conseqente criao de uma fora de trabalho livre urbana constituda, significativamente, por contingentes de imigrantes estrangeiros. Mas somente na dcada de 20 os problemas relacionados criana tornam-se objeto de alada jurdica, surgindo assim a categoria social denominada menor, em outras palavras, o filho do pobre. interessante observar como a palavra menor passa ao vocabulrio corrente, tornando-se uma categoria classificatria da infncia pobre. Tal categoria foi criada em 1921, quando os adultos daquele perodo definiram mudar "o cdigo civil determinando que se considere abandonado o menor sem habitao certa ou meios de subsistncia, rfo ou com o responsvel julgado incapaz de sua guarda" (ALVIM e VALLADARES, 1988, p.5-9). Embora, no Brasil, a "criana pobre tenha sido motivo de preocupao por parte do Estado desde meados do sculo XIX, a produo brasileira na perspectiva de uma Sociologia da Infncia apresenta o seu primeiro relatrio somente em 1939, elaborado por Sabia Lima sob o ttulo A infncia desamparada. Na dcada de 70 aparece mais um relatrio de pesquisa realizado com o objetivo de subsidiar a definio de polticas e programas sociais, mediante diagnstico da criana em situao de risco. Encomendada pelo Tribunal de Justia da cidade de So Paulo e realizada pelo Cebrap, e publicada em 1972 sob o ttulo A criana, o adolescente, a cidade, esta pesquisa teve por objetivo contribuir para a ao dos juizados de menores, num perodo em que a questo do menor colocava-se como um problema social grave. interessante observar que na cidade do Rio de Janeiro tambm se empreende, no mesmo perodo, uma pesquisa semelhante, publicada em 1973, com o ttulo Delinqncia Juvenil na Guanabara. Estas pesquisas marcam, sem dvida alguma, os primeiros passos das Cincias Sociais em direo elaborao de diagnsticos referentes condio social da criana, reunindo, deste modo, os interesses do Estado aos dos assistentes sociais, psiclogos, pedagogos, antroplogos e socilogos. Mas, ao que tudo indica, parece que a grande contribuio da Sociologia, no sentido de reconhecer a criana como um sujeito humano de pouca idade e um agente de socializao importante, vem de um trabalho realizado na dcada de 40 por Florestan Fernandes, no tempo em que a rua, alm da famlia e da escola constituam-se em

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lugares privilegiados da infncia. Escrito originalmente em 1944 para o concurso Temas Brasileiros, institudo pelo Depto. de Cultura do Grmio da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da Universidade de So Paulo, este trabalho foi publicado em 1947 sob a denominao As "Trocinhas" do Bom Retiro. Trata-se do registro indito de elementos constitutivos das culturas infantis, captadas a partir de observaes sobre grupos de crianas residentes nos bairros operrios da cidade de So Paulo que, depois do perodo da escola, juntavam-se nas ruas para brincar. Entendendo a criana como participante ativo da vida social, o jovem Florestan observa, registra e analisa o modo como se realiza o processo de socializao das crianas, como constrem seus espaos de sociabilidades, quais as caractersticas destas prticas sociais, afinal, como se constituem as culturas infantis. Ao prefaciar o texto em pauta, Roger Bastide observa o quanto o estudo sobre o folclore infantil negligenciado e o quanto necessrio reconhec-lo, principalmente quando se trata do estudo sobre as culturas infantis. Constata o autor: "h entre o mundo dos adultos e o das crianas como que um mar tenebroso, impedindo a comunicao. Que somos ns, para as crianas que brincam ao nosso redor, seno sombras?". Contrariando Durkheim (1984), Bastide entrega-se "aos humores endoidecidos" das crianas e defende a necessidade de se multiplicarem as pesquisas deste tipo, ressaltando a importncia de se estudar as representaes infantis, conhecer mais sobre as paixes do mundo dos brinquedos, das brincadeiras e jogos. Segundo sua orientao, "para poder estudar a criana preciso tornar-se criana. Quero com isso dizer que no basta observar a criana, de fora, como tambm no basta prestar-se a seus brinquedos; preciso penetrar, alm do crculo mgico que dela nos separa, em suas preocupaes, suas paixes, preciso viver o brinquedo." (BASTIDE, 1979, p.154). (grifo meu). Explicando como se constituem as culturas infantis e as representaes sociais das crianas pesquisadas, afirma Fernandes (1979): h entre as crianas (at 7 ou 8 anos entre os meninos e at mais entre as meninas) brinquedos cujos motivos so aspectos da vida do indivduo adulto, tais como "fazer comidinhas", "brincar de casinha" etc. (...) nos brinquedos, a criana no imita seu pai ou sua me. Pai e me so entes gerais, representam uma funo social. As crianas abstraem da pessoa A, B ou C, para falar de "pai" e "me" de modo genrico, desempenhando nos folguedos as suas funes. (ibid., p. 387) (grifo meu).

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O carter original das "Trocinhas" do Bom Retiro representa uma abordagem singular na literatura sobre educao, cultura e infncia. Apesar de o foco de anlise no estar centrado na relao entre infncia e escola, mas sim nas culturas infantis, expressas nos brinquedos e brincadeiras que as crianas realizavam nas ruas dos bairros operrios, paulistanos e ainda no extenso material etnogrfico e de anlise de dados a contidos, curioso constatar o quanto tal trabalho desconhecido por intelectuais, professores e estudantes, principalmente por aqueles responsveis pela formao de professores para a educao bsica neste pas. Vale a pena insistir nas idias e nos ensinamentos de Florestan Fernandes, principalmente no que diz respeito ao seu entendimento sobre educao e cultura infantil, e o modo como o pesquisador deve eleger e focalizar a criana na sua investigao. Expressa o autor: Concebendo a educao como um sistema de aquisio de elementos culturais, podemos estudar a educao das crianas tambm como um processo de seus prprios grupos, atravs de atualizaes da cultura infantil (nos folguedos em geral). Mas no se trata, simplesmente, da aquisio de elementos culturais. O importante, para o socilogo, que esses elementos, adquiridos pelas crianas em seus prprios grupos, so justamente os padronizados pelo grupo social, correspondendo aos usos e costumes das pessoas adultas. Desse modo, o grupo infantil se apresenta, ao pesquisador, como um grupo de iniciao, ou como uma antecipao vida do adulto. (1979, p.386).

Depois de mais de uma dcada, Jos de Souza Martins, ao organizar a coletnea de textos sobre O massacre dos inocentes, elegeu a criana como testemunha da histria por reconhecer que so elas, nos dias atuais, os principais portadores da crtica social. Afirma o autor: "(...) as crianas que comparecem aos diferentes estudos aqui reunidos, na maior parte dos casos, falando elas prprias a respeito de sua situao, so na verdade os filhos da dvida externa, os filhos do Estado oligrquicodesenvolvimentista, os filhos da ditadura. Geraes inteiras foram e continuam sendo irremediavelmente comprometidas pela supresso de sua infncia". (1993, p.15) (grifo do autor). Deste modo, este socilogo desafiou a tendncia at ento presente entre os cientistas sociais de interessar-se por informantes que esto no centro dos acontecimentos, que tm um certo domnio das ocorrncias, que tm, supostamente,

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uma viso mais ampla das coisas, que so os arquitetos da cena e da encenao social. Partindo de entrevistas gravadas e de quase duas centenas de depoimentos escritos pelas prprias crianas, filhas e filhos de colonos do Mato Grosso e posseiros do Maranho, o autor de Regimar e seus amigos: a criana na luta pela terra e pela vida estimula e orienta que se d a palavra criana nas pesquisas. Entretanto, deixa transparecer uma certa melancolia ao escrever: "nas entrevistas (gravadas), as crianas foram tmidas, mas, a 'fala' foi uma fala tristemente adulta, privada da inocncia infantil que eu, ingenuamente, imaginava encontrar nelas". Neste texto, Martins escreve sobre o que sentem, pensam e dizem as crianas, das remotas regies das frentes de ocupao da Amaznia. No entanto, ao explicitar a metodologia de pesquisa utilizada, o autor faz questo de frisar o mtodo de investigao e de exposio adotado, salientando: "Falo da fala das crianas, que por meio delas me falam (e nos falam) do que ser criana (e adulto)". (cf. MARTINS, 1993, 51-80) (grifo meu). Foi neste contexto que Martins ouviu de Antnio, menino de onze anos de idade, esta afirmao terrvel: "nunca fui feliz em minha vida". Diante disso, Martins assevera que "a alegria da brincadeira como exceo circunstancial que define para as crianas desses lugares a infncia como um intervalo no dia e no como um perodo peculiar da vida, de fantasia, jogo e brinquedo, de amadurecimento". Primeiro trabalham, depois vo escola, e depois, no final do dia, aproveitando o exguo tempo restante, brincam. Por isso, continua o autor, para essas crianas "a infncia o resduo de um tempo que est acabando". De qualquer modo, tanto para as crianas dos colonos, quanto para as crianas dos posseiros, o futuro o mesmo que o passado. O tempo se transfigura. J outro tempo, embora parea o mesmo. A infncia o resduo de um tempo em que houve infncia, um tempo que est no fim. (cf. ibid., p. 51-80) (grifo meu). Este alerta do autor adquire na atualidade maior relevncia diante dos inmeros diagnsticos existentes sobre as precrias condies sociais da criana e de seus famlias e, ainda, a ausncia de trabalhos que enfoquem tais problemas como um fenmeno sociolgico. 3.1. Antropologia da criana: em busca de uma etnografia das culturas infantis Para alm de uma concepo reducionista da cultura passa-se a uma perspectiva mais abrangente, a de que "a cultura imediatamente linguagem", isto , a

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cultura no deve ser entendida, somente, nos limites das expresses orais e escritas. Estas so apenas duas das muitas formas de linguagem do Homem moderno. Por outro lado, o conceito de cultura se complexifica quando entendemos que "a Linguagem no toda a cultura, seno uma das formas pelas quais ela se expressa." (GUSMO, 1999, p. 44). Esta parece ser a abordagem pela qual a Antropologia vem tentando articular educao, infncia e alteridade, abarcando temas e problemas relacionados ao modo como o adulto percebe, sente e v a criana. Entretanto, a histria de como a infncia passou a ser incorporada pela Antropologia tem seu marco na dcada de 30, a partir dos trabalhos de Margaret Mead, que introduziu em suas anlises o elemento cultura nas investigaes que empreendeu, possibilitando uma outra leitura dos fatos observados, diferenciando-se dos trabalhos dos evolucionistas e explicitando a necessidade de forjar um "novo olhar" sobre a criana, conjugada aos estudos psicolgicos sobre personalidade, to efervescentes e comuns naquela poca. Angela M. N. Machado Pereira (1997), ao elaborar sua dissertao de mestrado sobre A sociedade das crianas A'uwe-Xavante, apresenta uma importante retrospectiva da "Antropologia da Infncia" a partir de uma anlise da produo, caracterizada fundamentalmente pelos trabalhos de Mead, Goodmann e Hardman. Independentemente dos objetivos, por vezes, classificatrios e seletivos impregnados no interior dos trabalhos de Margaret Mead, e ainda, de suas bases psicologizantes, estes constituem, sem dvida alguma, exemplos singulares de "trabalho sistemtico, contnuo e concentrado em temas como infncia e adolescncia, dentro da Antropologia". Outra autora interessada no universo da infncia e na criana como "informante" Mary Goodman. Inspirada, tambm, pela vertente culturalista de Mead, os trabalhos desta autora so recorrentes quanto s denncias sobre a ausncia da criana nas pesquisas antropolgicas e sobre os resultados positivos que se poderiam obter, caso este conhecimento fosse prtica das pesquisas antropolgicas. A autora defende as crianas como sendo informantes to qualificados quanto os adultos, podendo a sua ingenuidade revelar aspectos da vida societria que de outro modo no se revelariam (cf. p.14-16). No mbito da Antropologia, Hardman talvez seja a primeira a defender a existncia de uma dimenso exclusiva da criana, na medida em que defende a possibilidade da interpretao do entendimento que as crianas tm do mundo. Ao realizar pesquisa etnogrfica durante os perodos de recreio em um escola urbana,

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demonstrou que "as crianas se movimentam dentro de um conjunto de crenas, valores e interaes sociais que, no obstante situadas e geradas dentro dos limites de uma sociedade especfica, so exclusivamente seus." (Apud PEREIRA, 1997, p.18-19). Deste modo, esta antroploga parece criar um campo terico que abriga esta proposta de investigao. Afinal, esta uma das polmicas existentes em torno deste assunto. At que ponto existe uma cultura infantil? Ou culturas infantis? At onde imitao e quando se faz a ruptura? Sob quais processos? Afinal, qual a influncia da escolarizao nas condies concretas da infncia? Apesar do importante papel desempenhado pelas Cincias Sociais e Humanas, para o conhecimento da criana como um ser humano, um sujeito social que pensa e pratica, fala, ouve e sente a presena ou a ausncia de seus direitos mais fundamentais, tais estudos acabaram no tendo continuidade, deixando alguns hiatos na produo que merecem ser retomados e revistos. Entre os trabalhos destacados neste texto, os de Florestan Fernandes, Jos de Souza Martins e Charlote Hardman apresentam-se como estudos inditos e marcos do desocultamento dos mecanismos das estruturas das culturas infantis, sendo os dois primeiros realizados com crianas fora da escola e o segundo nos momentos possveis do brincar na escola. CONSIDERAES

Depreende-se do exposto que essencial continuar a aprofundar a pesquisa no campo das Cincias Sociais e Humanas em toda a sua complexa multiplicidade, objetivando compreender a evoluo do objeto e do olhar sobre a infncia, particularmente a criana que est como aluno da escola pblica do ensino fundamental, e que, muitas vezes, tem sido roubada no direito, no apenas de brincar, mas tambm de ser criana. Alm disto, no campo da anlise das representaes sociais das crianas ainda estamos construindo os "faris de anlises" que permitem observar, ouvir e interpretar as vozes da infncia, recentemente registradas por pesquisadores em diferentes campos do conhecimento e das prticas sociais. Alm de um balano da produo, faltam-nos conquistas que possibilitem apreender os elementos constitutivos da relao entre infncia e escola, especialmente no que se refere ao conhecimento das culturas infantis e ao respeito criana. O que se verifica a existncia de uma produo relativa ao fenmeno da infncia que vem

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contribuindo para que inquietudes sejam instaladas no repensar dos conceitos, dos fins da educao e do sentido da escola na contemporaneidade. Finalmente, h que exercitar e construir um outro olhar atravs do qual se possa conhecer a infncia e os vrios contextos onde ela se constitui no sentido de poder intervir nas discusses e definies de polticas e programas sociais dirigidos criana, particularmente aquelas referentes a socializao escolar e a formao de professores, tanto a inicial quanto a continuada. Contudo, o conhecimento no se faz em qualquer tempo ou lugar, necessrio, prioritariamente, dirimir e explicitar conceitos, identificar valores e representaes estruturantes que constroem e constituem as culturas infantis. Referncias bibliogrficas: ALVIM, Maria Rosilene Barbosa; VALLADARES, Lcia do Prado. Infncia e sociedade no Brasil: uma anlise da literatura. Boletim bibliogrfico e informativo de Cincias Sociais. Rio de Janeiro : ANPOCS. n. 26, p. 3-43, 2 sem. 1988. ARIS, F. A Infncia. Revista de Educacin, Madrid, n. 281, p 5-17, 1986. _____. Histria social da infncia e da famlia. 2 ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1981. BASTIDE, Roger. "Prefcio". In: Fernandes, Florestan. Folclore e mudana social na cidade de So Paulo. Petrpolis : Vozes, 1979. CEBRAP. A criana, o adolescente e a cidade. So Paulo: Relatrio de Pesquisa, 1972. DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri. Infncia, Pesquisa e Relatos Orais. In: Por uma cultura da infncia: metodologias de pesquisa com crianas. Ana Lcia G. de Faria; Zeila de Brito F. Demartine e Patrcia D. Prado (organizadoras). So Paulo, Autores Associados, 2002. p. 1-17 DURKHEIM, mile. Sociologia, educao e moral. Portugal : Rs-editora Ltda, 1984. FERNANDES, Florestan. "As 'Trocinhas' do Bom Retiro". In: _____. Folclore e mudana social na cidade de So Paulo. Petrpolis : Vozes, 1979. p. 153-256. FERNANDES, Heloisa. Infncia e modernidade: doena do olhar. Revista Plural; Sociologia, So paulo, USP, n. 3, p.60-81, 1 sem. 1996 FINKELSTEIN, Barbara. La incorporacion de la infancia a la historia de la educacin. Revista de Educacin, Madrid, n. 281, p.19-46, 1986. GUSMO, Neusa Maria Mendes de. Linguagem, cultura e alteridade: imagens do outro. So Paulo, 1999. Mimeo. LIMA, Sabia. A infncia desamparada. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1939. (Relatrio de Pesquisa ) MARTINS, Jos de Souza (org.). O Massacre dos inocentes: a criana sem infncia no Brasil. So Paulo : Hucitec, 1993.

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