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A EMPATIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO Prof. Heloisa B.C. Chiattone Adaptado de “Posturas Profissionais no Contexto da Psico-Oncologia” Dóris Lieth Peçanha Boletim Eletrônico da SBPO Ano III Edição 3 – Maio/Junho 2006 A EMPATIA é uma postura profissional de extrema importância no contexto da saúde e também no contexto da Psicologia Clínica. Carl Rogers (2002) discorreu muito sobre essa condição básica no cuidado humano . A partir de seus trabalhos podemos definir a empatia como sendo: a capacidade do ser humano de se colocar integralmente no lugar do outro de compreender e sentir o que o outro pensa e sente comunicando-lhe e assumindo como sua tal compreensão (“entendo o que senhor sente”). O fato do terapeuta assumir a responsabilidade por sua compreensão é fundamental no sentido de resguardar a liberdade do outro, evitando, assim, impingir-lhe uma leitura de sentimentos que pode ser equivocada.

A EMPATIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO

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A EMPATIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO

Prof. Heloisa B.C. ChiattoneAdaptado de “Posturas Profissionais no Contexto da Psico-Oncologia”

Dóris Lieth Peçanha

Boletim Eletrônico da SBPO

Ano III Edição 3 – Maio/Junho 2006

A EMPATIA é uma postura profissional de extrema importância no

contexto da saúde e também no contexto da Psicologia Clínica.

Carl Rogers (2002) discorreu muito sobre essa condição básica no

cuidado humano. A partir de seus trabalhos podemos definir a empatia como

sendo:

a capacidade do ser humano de se colocar integralmente no

lugar do outro

de compreender e sentir o que o outro pensa e sente

comunicando-lhe e assumindo como sua tal compreensão

(“entendo o que senhor sente”).

O fato do terapeuta assumir a responsabilidade por sua compreensão é

fundamental no sentido de resguardar a liberdade do outro, evitando, assim,

impingir-lhe uma leitura de sentimentos que pode ser equivocada.

A empatia é de grande importância para a prática clínica.

Esse conceito, tomado de empréstimo da Psicologia Humanista, tendo

Rogers como seu principal representante, tem sido amplamente difundido e

utilizado nas mais diferentes abordagens teóricas, desde as cognitivo-

comportamentais até a psicanálise.

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Para Rogers, os indivíduos ao longo de sua existência requerem amor

e aceitação por parte daqueles com os quais convivem. Tal aceitação deve

ser positiva e incondicional, constituindo-se num princípio a ser compartilhado

com o próximo (mãe/pai, família, amigos) e estendendo-se a todos os seres

humanos.

É essa aceitação que possibilitará aos indivíduos o sentimento de

auto-confiança e segurança para enfrentarem com coragem os desafios

propostos diariamente em suas vidas.

NA VIVÊNCIA DO ADOECER E HOSPITALIZAÇÃO, ESSA

CONDIÇÃO É IMPRESCINDÍVEL.

No entanto, é fundamental destacar que há uma confusão generalizada

entre aceitação e aprovação.

Acostumamo-nos a buscar a aprovação como forma de obter o amor dos

outros e, nessa busca, muitas vezes violentamos o nosso próprio ser, fazendo

o que não era o nosso desejo, dizendo o que não sentíamos, expressando

idéias que não eram as nossas.

Assim se constitui o falso self, cujas doenças ou infortúnios são muitas

vezes possibilidades de encontro com o verdadeiro ser. Para tanto, importa

aceitar o outro na sua diferença, sem julgamentos e de forma aberta e

confiante na capacidade de atualização desse organismo para se tornar aquilo

que tem possibilidade de ser. A aceitação incondicional do ser, que não se

confunde com a aprovação de comportamentos, é tarefa muito difícil e que

demanda paciência em sua aprendizagem, pois fomos educados para

resultados e não para a vivência de processos, com suas idas e vindas,

avanços e recaídas, saúde e doença, alegrias e infortúnios.

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No que tange ao processo terapêutico, essa aceitação torna-se

essencial para o estabelecimento de um vínculo efetivo entre terapeuta e

cliente, capaz de possibilitar o crescimento ou a cura.

Rogers propôs o termo cliente para referir-se a um indivíduo agente e

não apenas paciente.

O cliente precisa sentir-se alvo da empatia e merecedor de respeito,

atenção e aceitação por parte do terapeuta, pois só assim será capaz de se

despir de máscaras e de se entregar ao processo de integração e crescimento,

entrando em contato com as mais diversas experiências, mesmo aquelas

avaliadas como negativas ou inadequadas e programadas para entrar no

esquecimento.

Não basta ao terapeuta aceitar incondicionalmente as experiências do

cliente. É preciso sintonizar-se com elas e demonstrar a ele que há

compreensão de seus dramas, como se fossem seus (“Vamos juntar pensar

que caminhos temos para buscar resolver esse problema (...)”). Envolver-

se sensivelmente é necessário - ou melhor, ser empático - mas igualmente

importante é não se deixar tomar pelos sentimentos exacerbados do cliente.

Preferimos a palavra EMPATIA, guardando o sentido positivo que lhe foi

dada por Rogers.

A palavra ENVOLVIMENTO, embora usada positivamente no contexto

da filosofia existencial, tem, quotidianamente, uma conotação negativa e pode

indicar uma indiferenciação nada saudável entre terapeuta e cliente. O papel

daquele é auxiliar seu cliente a solucionar problemas de forma clara e positiva,

porém sem se desligar de sua realidade e da realidade existencial do outro.

Trata-se de um movimento dialético entre eu e tu; tu e eu, mantendo a

melhor sintonia possível com cada agente do processo.

Vejam como isso funciona em nível esquemático:

Page 4: A EMPATIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO

Mergulho no ser do outro e o

carrego inteiro para mim

Mas aí encontro um EU que

pensa e sente diferentemente

ENTÃO ME MODIFICO – POIS SOU EU E ELE

Volto-me então ao outro, REFLETINDO seus

sentimentos, como se eu fosse o seu espelho

Ele se sente feliz (mesmo em situação de sofrimento), por

se sentir compreendido, talvez pela 1ª vez em sua vida

Então lhe respondo a partir do meu conhecimento ou

acrescento um questionamento

Ele me recebe, empaticamente, pois já

experienciou o valor dessa atitude

Mas minha fala causa-lhe um impacto (espécie de novidade,

mudança ou desequilíbrio) e ele vai buscar uma nova homeostase

Primeiramente mobilizando defesas, pondo em ação o falso eu de

sempre e, aos poucos, no processo dialético, vai

respondendo com seu verdadeiro eu, assumindo a

responsabilidade por sua vida, expressando seus

sentimentos, ouvindo a voz de seu organismo... e, assim, se

produz a mudança, o crescimento rumo à individuação, no

encontro entre os seres