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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
A ENFERMAGEM E O CLIENTE TRAQUEOSTOMIZADO: UMA
PROPOSTA DE COMUNICAÇAO ENTRE O CLIENTE, FAMILIA E
EQUIPE DE ENFERMAGEM.
Cristiane Ferreira Souza
Edilene Casas
BIGUAÇU (SC), 2007
1
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
A ENFERMAGEM E O CLIENTE TRAQUEOSTOMIZADO: UMA PROPOSTA
DE COMUNICAÇAO ENTRE O CLIENTE, FAMILIA E EQUIPE DE
ENFERMAGEM.
Cristiane Ferreira Souza
Edilene Casas
Monografia apresentada, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem pela Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Educação de Biguaçu, sob a orientação da professora Christiane Riggenbach Veríssimo Ribeiro.
BIGUAÇU (SC), 2007
2
CRISTIANE FERREIRA SOUZA
EDILENE CASAS
A ENFERMAGEM E O CLIENTE TRAQUEOSTOMIZADO: UMA PROPOSTA
DE COMUNICAÇAO ENTRE O CLIENTE, FAMILIA E EQUIPE DE
ENFERMAGEM
Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem
e aprovada pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí,
Centro de Ciências da Saúde.
Área de Concentração: Enfermagem
Biguaçu, novembro de 2007.
____________________________ Profª Christiane Riggenbach Veríssimo Ribeiro
UNIVALI - Biguaçu Orientadora
____________________________ Profª Sâmara E. Rabelo Suplicy
UNIVALI - Biguaçu Co-orientadora e Membro
____________________________ Profª Maristela Assunção de Azevedo
UNIVALI - Biguaçu Membro
3
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus, por nos proporcionar o dom da vida e
permanecer conosco nos momentos mais difíceis da nossa trajetória;
A Professora Orientadora Christiane Riggenbach Veríssimo Ribeiro pelo incentivo,
contribuição, apoio e amizade, sem você esta conquista não seria possível;
Agradecemos também as participantes da banca examinadora: Professora Sâmara
Eliane Rabelo Suplicy e Maristela Assunção de Azevedo pela contribuição e parceria nesta
caminhada;
A todos os Professores do Curso de Graduação em Enfermagem UNIVALI -
Biguaçu, por compartilharem seus conhecimentos, e engrandecendo nossa escolha
profissional, em especial a coordenadora do curso Professora Maria Ligia Reis
Bellaguarda;
A todos os colegas e funcionários do Hospital Florianópolis que nos auxiliaram no
alcance deste objetivo;
Aos clientes traqueostomizados que participaram deste estudo, pois com eles
aprendemos muito.
Aos familiares e acompanhantes que aceitaram fazer parte desta pesquisa, mesmo
vivenciando momentos de intensa dor e angústia. Sem vocês esta conquista não seria
possível.
4
AGRADECIMENTOS DE CRISTIANE
À Deus, por guiar-me em todos os momentos e por permitir a realização deste
curso;
Aos meus filhos Phillyp e Amanda por compartilhar amor, carinho e afeto para o
alcance deste sonho;
Aos meus pais pelo incentivo de nunca desistir;
Em especial as minhas irmãs Fabiana e Francielle, que sempre compartilharam as
minhas ansiedades me dando muito amor durante essa trajetória;
Aos cunhados Edinei e Roberto;
Ao meu querido namorado Alexandre sabemos que o nosso amor é grande, e aos
seus familiares;
À colega Edilene e seus familiares, obrigada pelo apoio em todos os momentos;
À minha orientadora Christiane Riggenbach Veríssimo Ribeiro pela orientação
desta monografia. Juntas aprendemos muito, jamais esquecerei do teu carinho;
À banca examinadora Professora Maristela e Sâmara;
À Professora Tereza Gaio por compartilhar um momento tão difícil da minha vida
dando-me estímulo para superar um problema, muito obrigada;
Aos colegas de trabalho do Hospital Florianópolis e Hospital Universitário.
5
AGRADECIMENTOS DE EDILENE
A Deus pela oportunidade de renascimento a cada dia;
A minha mãe Dona Adelaide, pela força que representa em nossa família e por ter
sido duas vezes mãe, minha e de meus filhos, durante esta caminhada;
Ao Michael, meu marido, pelo estímulo, companheirismo e auxílio constante nesta
trajetória;
Aos meus filhos Jeyson e Leonardo por compreenderem a minha ausência em
certos momentos; amo vocês!
A minha orientadora Christiane Riggenbach Veríssimo Ribeiro pelo carinho,
estímulo e colaboração, pelos conhecimentos que transmitiu e pela compreensão que me
ajudaram a superar os difíceis momentos desta conquista. Obrigada;
À banca examinadora Professora Maristela e Sâmara.
A amiga e parceira deste trabalho Cristiane F. de Souza, obrigada pelo apoio em
todos os momentos, pelo ombro acolhedor e paciência em me ouvir nos momentos mais
difíceis;
Não poderia deixar de agradecer a minha prima Mayana Costa. Agradecer é admitir
que houve um momento em que se precisou de alguém, é reconhecer que o homem jamais
poderá lograr para si o dom de ser auto-suficiente. Você minha prima e amiga é também
grande responsável por este triunfo alcançado por mim! Obrigada.
6
“Conhecer, compreender e cuidar do
outro a partir de sua realidade cultural é
fundamental para o estabelecimento da
harmonia e paz mundial”.
Madeleine Leininger
7
RESUMO
SOUZA, Cristiane F.; CASAS, Edilene. A ENFERMAGEM E O CLIENTE
TRAQUEOSTOMIZADO: UMA PROPOSTA DE COMUNICAÇAO ENTRE O
CLIENTE, FAMILIA E EQUIPE DE ENFERMAGEM. 2007. Trabalho de Conclusão
de Curso - Graduação em Enfermagem - Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu.
O presente estudo trata-se da monografia de conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem para a obtenção do título de bacharel em Enfermagem. O tipo de pesquisa realizada neste estudo foi convergente assistencial e quanto à abordagem, o método utilizado foi qualitativo. A pesquisa foi realizada em um Hospital da grande Florianópolis, no período de 01 de outubro à 30de outubro de 2007. Os sujeitos deste estudo foram os clientes submetidos à cirurgia de traqueostomia e que se encontravam na Unidade de Clínica Cirúrgica e Unidade de Terapia Intensiva daquele Hospital. O Objetivo desta pesquisa foi desenvolver uma proposta de comunicação entre o cliente traqueostomizado, família e equipe de enfermagem, utilizando como referencial teórico a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger. Para a coleta de dados foi elaborado um questionário semi-estruturado, aplicado durante as entrevistas com os clientes traqueostomizados. Nesta oportunidade, foram utilizados critérios de manter, adaptar, ou repadronizar o cuidado prestado de acordo com as necessidades vivenciadas pelos clientes e seus familiares. O Processo de Enfermagem nesta pesquisa foi denominado de Processo de Cuidar composto de quatro etapas: conhecendo a situação do cliente traqueostomizado e sua família, definindo a situação, propondo e desenvolvendo o cuidado e refletindo a situação e o cuidado. Ao término do estudo constatamos que o referencial teórico utilizado possibilitou-nos compartilhar e interagir com as famílias ao prestarmos uma assistência de enfermagem aos clientes traqueostomizados, diante do corte abrupto da comunicação verbal, propondo novas formas de comunicação, respeitando seus hábitos de vida, suas crenças e valores culturais, tornando assim o cuidado mais humanizado.
Palavras-chave: Equipe de Enfermagem, Traqueostomia, Família, Cuidado.
8
ABSTRACT
SOUZA, Cristiane F.; CASAS, Edilene. NURSING AND THE TRACHEOTOMIZED
CLIENT: A PROPOSAL OF COMMUNICATION AMONG CLIENT, FAMILY
AND THE NURSING TEAM. 2007. Graduation Monograph – Graduation in Nursing
Course, University of Itajaí Valley, Biguaçu.
The present study is a final monograph of the Nursing Graduation Course to get the title of Bachelor in Nursing. The kind of research accomplished in this study was converging assistance and in relation to the approach, the method used was qualitative. The research took place in a hospital in Florianópolis from 1st to 30th October 2007. The subjects of this study were the clients who were submitted to tracheotomy and were in the Surgical Clinic Unit and Intensive Care Unit at that hospital. The objective of this study was to develop a communication proposal among the patient submitted to tracheotomy, the family and the nursing team, using as theoretical reference the Theory of Diversity and the Tran cultural Care Universality of Madeleine Leininger. For the data collection, a semi-structured questionnaire was elaborated and applied during interviews with the clients submitted to tracheotomy. At that opportunity, some criteria to keep, maintain and re-standardize the care given, according to the necessities lived by the clients and their families. The nursing process in this research was named Care Process and was composed of four stages: getting to know the situation of the client and his family, defining the situation, proposing and developing the care and reflecting upon the situation and the care. By the end of this study, we concluded that the theoretical reference used made it possible for us to interact and share with the families, during the nursing assistance to the client submitted to tracheotomy, before a sudden cut of verbal communication , proposing new ways of communication, respecting life habits, beliefs and cultural values, making this care more humanized.
Word-key: Child Nursing team, Tracheotomy, Family, Care.
9
SUMÁRIO
RESUMO..............................................................................................................................6
RESUMO..............................................................................................................................7
ABSTRACT..........................................................................................................................8
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................11
2 JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................14
3 OBJETIVOS....................................................................................................................15
3.1 Objetivo Geral..............................................................................................................15
3.2 Objetivos Específicos ...................................................................................................15
4 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................................16
4.1 Família ..........................................................................................................................16
4.2 Comunicação ................................................................................................................18
4.3 Traqueostomia .............................................................................................................22
4.3.1 Histórico e definição...................................................................................................22
4.3.2 Indicação.....................................................................................................................24
4.3.2.1 Obstrução das vias aéreas ........................................................................................24
4.3.2.2 Limpeza das vias aéreas...........................................................................................25
4.3.3 Técnica cirúrgica.........................................................................................................25
4.4 Marco Conceitual.........................................................................................................27
4.4.1 Modelo Sol Nascente "Sunrise" e o Processo de Enfermagem ..................................28
4.5 Conceitos-Chaves .........................................................................................................29
4.6 Pressupostos .................................................................................................................36
4.6.1 Pressupostos de Madeleine Leininger.........................................................................36
4.6.2.Pressupostos Pessoais: ................................................................................................37
5 METODOLOGIA...........................................................................................................37
10
5.1 O processo de cuidar em enfermagem e suas etapas ................................................38
5.2 Tipo de pesquisa...........................................................................................................38
5.3 Local da pesquisa .........................................................................................................39
5.5 Sujeito da pesquisa.......................................................................................................40
5.6 Coleta e análise dos dados ...........................................................................................41
5.7 Aspectos éticos da enfermagem ..................................................................................42
6 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ........44
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................56
11
1 INTRODUÇÃO
Através do Curso de Graduação em Enfermagem começamos a dar a devida
importância e dimensão em relação à enfermagem aplicada à família, o qual terminou por
definir o tema para esta pesquisa.
Compartilhando nossas inquietações com profissionais da saúde e colegas do curso,
percebemos ressonância e recebemos incentivos para investigar a possibilidade de um
estudo que ultrapassasse formalmente a comunicação estabelecida e se incorporasse às
necessidades sentidas na própria prática.
Delimitando esta questão dentro das formas de comunicação, nos centramos nos
interesse pelas famílias dos clientes traqueostomizados, durante o período de internação,
tendo como foco central as dificuldades apresentadas na comunicação não-verbal entre o
indivíduo traqueostomizado, família e enfermagem, objetivando resgatar as várias formas
da comunicação, proporcionando-lhes um cuidado dentro de um contexto cultural.
Para o ser humano conseguir acompanhar o processo acelerado de
desenvolvimento tecnológico e científico, precisa desenvolver maiores habilidades de
comunicação, pois esta é uma necessidade humana básica. E o bem-estar deste ser,
depende da qualidade de comunicação, tanto no processo inter-pessoal, individual, como
no grupal em que ele se vê imerso.
Na área da saúde, compete à enfermagem também proporcionar a este ser humano e
sua família, uma forma de comunicação que seja clara e objetiva. Stefanelli (1993, p.15)
declara, ao examinar certas situações como “insatisfatórias no campo hospitalar, que
muitas vezes percebemos que a falha estava na comunicação”.
No momento em que há um cliente, cuja linguagem verbal esta bloqueada por uma
cânula (tubo) endotraqueal, a enfermagem precisa lançar mão de recursos alternativos de
comunicação.
Há uma preocupação por parte da enfermagem para com o ser humano
traqueostomizado e sua família, porque esta situação representa "déficit" na comunicação
verbal. Prejudica não só o contato com as pessoas que o rodeiam, como a família, a
enfermagem e a comunidade.
Para compensar esta insuficiência, o ser humano lança mão de outras estratégias
comunicacionais, que muitas vezes não são compreendidos pela família e/ou pela
12
enfermagem. Acreditamos que este fato ocorra devido à falta de preparo e conhecimento,
evidenciando um vazio que a enfermagem precisa explorar.
Stefanelli (1993) nos fala sobre a importância da comunicação na enfermagem e
recomenda que as enfermeiras dediquem-se mais ao desenvolvimento deste precioso
instrumento, a fim de utilizá-lo com maior habilidade na prática diária com os clientes,
famílias, comunidade, equipe de saúde, supervisores e chefias. Portanto é necessário
buscar apreender o significado da mensagem em todos os aspectos. Esta mensagem deverá
ser muito clara e bem expressa caso contrário, ela poderá atingir inadequadamente o
receptor e o sentimento que ela irá gerar, sem dúvida, influenciará negativamente no
processo da comunicação.
Davis apud SILVA (1989), afirmam haver 700.000 sinais diferentes combinando-se
aos gestos das mãos e dos braços, para fornecer informações sobre o estado emocional de
uma pessoa, sua origem étnica e seu estilo pessoal, entre outras coisas.
Como acadêmicas, o nosso interesse em pesquisar sobre a comunicação não-verbal
de clientes traqueostomizados, foi despertada a partir das declarações de familiares que
acompanhavam estes clientes em uma unidade de clinica cirúrgica, no estágio da quarta e
quinta fase do curso de graduação de enfermagem.
Para atender as necessidades do cliente e da família de uma pessoa
traqueostomizada, é que viemos propor uma pesquisa que resgate formas não-verbais de
comunicação. Segundo Henckemaier (1999, p.17) a enfermagem muitas vezes esquece das
"pessoas que fazem parte das ligações e vínculos destes indivíduos, nos quais gostaríamos
de estar participando deste atendimento ou até recebendo alguma informação ou apoio para
amenizar-Ihes a angústia" e, esta pesquisa, contemplou tanto o indivíduo quanto sua
família.
Na prática profissional, essas situações cotidianamente, confrontam-nos com vários
problemas do cliente e da sua família, os quais nos deixam profundamente frustrados e
impotentes como acadêmicas e como pessoas. Afinal, é nosso compromisso ajudar esta
família, mas assim como eles, não sabemos o que fazer, pois não nos achamos preparados
para exercer esta atividade.
Diante desses fatos, entendendo que o papel do enfermeiro vai além do simples ato
de aplicar técnicas é que questionamos: Como a enfermagem pode ajudar a família no
cuidado ao cliente traqueostomizado diante da ausência de comunicação verbal?
Neste sentido, é de fundamental importância para o cuidado de enfermagem a
comunicação, que é compreendida como um conjunto de sinais verbais ou não-verbais
13
emitidos e percebidos com a intenção de expor idéias, de torná-las comuns. Por uma
questão didática, a comunicação pode ser dividida em verbal e não-verbal; porém, na
realidade, ambas acontecem concomitantemente, devendo ser congruentes.
O aspecto inter-pessoal da comunicação não-verbal impossibilita sua análise fora
do contexto na qual foi utilizada, pois a maioria dos sinais desta forma de expressão têm
significado cultural e está diretamente ligada à situação na quais as pessoas estão
envolvidas, portanto relacionada às experiências da pessoa e de cada momento
(STEFANELLI, 1993).
Vários autores, entre eles Davis (1978) e Silva (1989) afirmam que as emoções são
transmitidas através dos canais não-verbais. Muitas vezes são emitidos sinais emocionais
inconscientes, e também recebemos sinais emocionais sem consciência de estarmos
reagindo a eles. Sendo assim, torna-se necessário que as enfermeiras resgatem
conscientemente a comunicação não-verbal emitida por eles e pelos clientes, para entender
melhor a relação enfermeiro-cliente (SILVA, 1989).
A mesma autora afirma que a comunicação sem palavras é de grande significado
para os enfermeiros, muitas vezes o cliente é incapaz de expressar seus verdadeiros
sentimentos e desejos em palavras, utilizando para tal o corpo, através dos gestos. Essa
afirmação serviu de sustentação e estímulo para o presente estudo.
Desta maneira espera-se com esta pesquisa, ampliar o corpo de conhecimento da
enfermagem no tocante à comunicação não verbal do cliente. Pretendeu-se mostrar
também, que para a prestação de uma assistência com qualidade, devem-se levar em
consideração as crenças e os valores culturais do cliente e da família, com relação à sua
situação saúde-doença, além de considerar a família como primeira unidade de cuidado. A
seguir apresentaremos a justificativa desta pesquisa.
14
2 JUSTIFICATIVA
O processo cirúrgico é algo ainda pouco conhecido pelo cliente podendo causar
medo e insegurança. Ao buscar se comunicar com o cliente, com a família, o profissional
da enfermagem passa a compreendê-lo melhor, reforçando sentimentos de confiança,
apoio, segurança, auto-estima e conforto. Esta relação positiva entre acadêmicas com os
clientes, família e equipe de enfermagem, repercute diretamente na qualidade da
assistência de enfermagem e, no processo ensino-aprendizagem de todos os envolvidos.
Obter habilidades de desenvolver uma boa entrevista, ou de esclarecer, orientar, informar
com clareza e objetividade, são requisitos básicos para que o profissional de enfermagem
obtenha sucesso na assistência do cliente, inovado com conhecimentos de comunicação
(ALONSO, 1999).
O interesse pelo tema surgiu a partir das atividades teórico-práticas da quarta e
quinta fase do Curso de Enfermagem, da Universidade do Vale do Itajaí, vivenciada pelas
acadêmicas em uma unidade de Clinica Cirúrgica.
Naquela ocasião observamos que os clientes cirúrgicos apresentavam um nível de
estresse no período pós-operatório, independentemente do grau de complexidade da
cirurgia, devido à falta de informação sobre os fatos que poderiam acontecer no período
perioperatório, bem como pelas demais situações que a internação hospitalar proporciona.
A palavra cirurgia é algo que leva todo o ser humano a fazer infinitas reflexões. Por
mais simples que seja a cirurgia, poderá ser acompanhada de anseios, dúvidas e medo
(BELLUOMINE; TANAKA, 2003).
15
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Desenvolver uma proposta de comunicação entre o cliente traqueostomizado,
família e equipe de enfermagem baseada em alguns conceitos da Teoria da Diversidade e
Universalidade do Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger.
3.2 Objetivos Específicos
• Identificar as dificuldades de comunicação apresentadas pelo cliente
traqueostomizado diante do corte abrupto da comunicação verbal.
• Elaborar um plano de cuidados de acordo com os diagnósticos de
enfermagem levantados, visando um atendimento mais humanizado ao cliente
traqueostomizado.
• Buscar formas não verbais da comunicação, para facilitar a interação
família/cliente e equipe de enfermagem.
16
4 REVISÃO DE LITERATURA
4.1 Família
Neste momento da história em que a tecnologia dá mostras de pretender superar o
calor das relações humanas, vêem-se também fortalecer os sentimentos de família na
essência, no amor entre seus membros diante de situações de crise. Por maiores mudanças
que a família venha sofrendo, concordamos com Kaloustiam (apud GRÜDTNER, 1997,
p.16), ao afirmar ser a família, a "base de tudo".
Segundo Patrício (1990), a família brasileira ainda se caracteriza pela forma
nuclear, mesmo apresentando outras formações diversificadas. Quanto ao contexto
socioeconômico e cultural há uma variação em seu modo de viver de acordo com as
características referentes ao seu ciclo de desenvolvimento. Existe uma redefinição de
papéis e tarefas de seus membros, de acordo com os padrões intra e extra familiar.
Algumas famílias incluem entre seus membros pessoas com quem mantém laços
afetivos, enquanto outras pessoas definem como família apenas seu círculo de amigos
íntimos, não possuindo nenhuma consangüinidade com os mesmos.
A família em seu ciclo de vida passa por diversas etapas de desenvolvimento, com
características próprias e papéis que são desempenhados por cada um de seus membros,
passando assim para uma etapa seguinte. Uma das funções mais importantes da família é a
transformação das crianças em pessoas adultas, como participantes da sociedade. É a
socialização primária, na qual se incluem a socialização em relação à saúde, e neste
processo, os membros da família, transmitem para as gerações futuras, a sua cultura,
hábitos e modos de vida (VANZIN; NERY, 1998).
De acordo com Prado (1981) a família não é um simples fenômeno natural, ela é
uma instituição social, variando através da história, apresentando formas e finalidades
diversas, conforme o grupo social que esteja sendo observado. É possível encontrar na
literatura várias formas de estrutura familiar. Prado (apud NITSCHKE 1991) faz um
resumo: a forma de família nuclear é aquela composta de um casal, seus filhos; família
extensa é a família em que várias gerações convivem num mesmo espaço; e famílias
alternativas que ocorrem sob variadas circunstâncias como: casamento experimental -
união de pessoas, só é legalizada após o nascimento do primeiro filho, bem como, família
de homossexuais com filhos adotivos ou resultantes de união anterior.
17
Para entender a sua própria família é fundamental que todos os seus membros
conheçam primeiramente a si próprios, buscando sempre o melhor para a satisfação de toda
a família, procurando não se acomodar, tornando assim o elo de ligação cada vez mais
próximo e ideal. Este elo de ligação pode não ser somente através da consangüinidade, mas
também através de laços de amizade que as pessoas se ajudam mutuamente, constituindo
assim um vínculo de ligação extremamente necessário nos dias em que vivemos.
Nitschke (apud CRISTÓVÃO 1999, p.14), em seu trabalho com família, afirma
que: as mesmas se definem como sendo família:
[...] aquela que convive conosco no dia-a-dia, nos ensinando, encorajando, pessoas que fazem com que a gente se dê bem, que nos conhecem e nos faz bem, que nos entendem, que é amigo, que nos faz crescer, enfim, família é aquela que cuida e que quer ver a gente sempre bem, torcendo pela nossa felicidade, sendo esta considera-a a família do coração, pessoas que realmente gostamos e estão sempre ali para nos auxiliar no que der e vier.
Concordando com Kaloustian (1994), quando afirma que a família é o espaço
indispensável para a garantia de sobrevivência, desenvolvimento e da proteção integral dos
filhos e dos demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como
vem se estruturando. É a família que propicia os apartes afetivos e, sobretudo materiais
necessários ao bem-estar dos seus componentes.
Em seus estudos e pesquisas com famílias, Elsen et al (1994), afirmam que a
unidade familiar é uma instituição que ajuda a cuidar da saúde dos indivíduos através do
carinho, comida, moradia e segurança. A família serve como referência para seus
membros, tendo sempre alguém que acolhe.
Menciona ser a família a primeira a observar a mudança no humor e disposição dos
seus membros e a desempenhar as primeiras ações no sentido de aliviar os sintomas ou
tratá-las. Pode-se afirmar ser a família a que faz a avaliação inicial de saúde de seus
membros e toma as primeiras providências sobre os cuidados de saúde que o indivíduo
necessita.
Por outro lado, a doença exige arranjos no cotidiano de todos os outros membros e
por isso influencia a vida familiar. Além dos aspectos práticos como decidir quem
acompanhará o doente no hospital; a família responsabiliza-se pelos demais membros que
permanecem em casa. A influência do significado da doença, o efeito da permanência, às
vezes longa, do doente no hospital, acarretam, igualmente, alterações na vida da família
identificadas por Carter e Goldrick (1995) como as mudanças da vida familiar apontando
18
para a necessidade de atendimento da unidade familiar por membros da equipe de
enfermagem.
Com base nessa compreensão, a enfermagem necessita de novas estratégias para
atender a família, porque sua saúde, além de estar vinculada a recursos internos,
compreende suas relações com outras famílias, comunidade e adequada utilização dos
recursos disponíveis na sociedade (ELSEN et al, 1994).
4.2 Comunicação
A comunicação é um processo natural, uma arte, uma tecnologia, um sistema e uma
ciência social. Deve-se considerar que cada momento da comunicação é único e não se
repete.
A comunicação para Silva (1997) é o instrumento principal que a enfermagem
possui para assistir ao cliente de forma integral, envolvendo todos os seus aspectos que não
somente os da doença, podendo ser efetuado em todos os momentos que o Enfermeiro e
equipe de enfermagem estiverem junto ao cliente; seja através de um procedimento, ou
atendendo a um chamado. A Enfermagem ao atender um cliente, deve saber decodificar e
perceber o significado da mensagem que este envia, para então posteriormente, estabelecer um
plano de cuidados adequado e coerente, com suas reais necessidades (SILVA, 2002)
Esta mesma autora destaca a importância dos sentimentos envolvidos no
binômio Enfermeiro/cliente no processo comunicacional. Acredita que fazer enfermagem
implica no reflexo das próprias crenças, sentimentos, pensamentos e conhecimento. Ao encontrar
em si mesma o sentido da interpretação do corpo, afeto, pensamento e espírito, o enfermeiro
interage melhor com o cliente, uma vez que entenderá seus sentimentos, afetos, pensamentos
expressos na fala, gestos ou mímica facial.
Na enfermagem, deve-se realizar a comunicação terapêutica que difere da
comunicação social, pois tem como objetivo prestar assistência para melhorar a qualidade da
saúde do cliente ou buscar a solução de seus problemas específicos de saúde, enquanto que a
segunda promove relações de amizade, de recreação ou relaxamento. Na comunicação
terapêutica, a responsabilidade é do enfermeiro que presta a assistência e planeja e implementa a
assistência (ATKINSON e MURRAY, 1989)
Ordhahi (2006), cita que na comunicação terapêutica o cuidar em enfermagem
é a possibilidade de oferecermos uma atenção de qualidade àqueles que necessitam da assistência
19
de enfermagem. Os profissionais de enfermagem, entre todos os profissionais da área da saúde,
são os que mais tem oportunidade de desenvolver um relacionamento próximo ao cliente seja
pelo longo período que este permanece internado, seja porque na enfermagem tem se dado
destaque especial a concepção de ser humano como um ser bio-psico-socio-espiritual, fatos estes
que causam a necessidade de uma maior interação cliente e equipe de enfermagem,
intensificando o relacionamento.
Compartilhar idéias torná-las comum, ou seja, comunicá-las, pode ser realizado por
meio das formas verbal e não-verbal, havendo neste processo, inúmeros elementos que
precisam ser estudados e avaliados (STEFANELLI, 1993).
Elementos do processo de comunicação: Emissor ou remetente - é a fonte da
emissão da mensagem, é quem a codifica, a produz e a emite para o outro e; Receptor ou
destinatário - aquele que recebe a mensagem.
A mensagem - as mensagens são enviadas e recebidas, tanto nas formas verbais
como nas não-verbais, por meio de canais. Em geral, na comunicação interpessoal, os
canais referem-se aos órgãos dos sentidos, principalmente à visão, audição e tato, embora o
olfato e paladar tenham de ser considerados. O uso efetivo dos nossos sentidos é que
assegura a captação acurada da mensagem. É imperioso, que a enfermagem seja hábil na
percepção dos indícios verbais e não-verbais contidos na mensagem.
Signos ou códigos - dependem de um acordo das pessoas que vão usá-los:
"positivo" e "negativo" não significa "bom" e "mau", simplesmente refletem o modo como
a resposta afeta o comportamento das pessoas envolvidas no processo de comunicação.
Para o efetivo intercâmbio de mensagens, é necessário que as palavras, signos tenham
significação comum.
As funções da comunicação são: investigação, informação, persuasão e
entretenimento. A investigação é à procura dos dados sobre o cliente, a informação
consiste no envio das mensagens ao receptor para o emissor. Contém quatro formas: a) a
vocal-verbal, as palavras; b)a vocal não-verbal, a entonação, a ênfase, a qualidade da voz;
c) a não vocal-verbal, as palavras escritas ou impressas, d)a não vocal - não verbal,
expressão facial, gestos e postura. A persuasão é motivar o receptor a adotar
comportamento sobre o qual ele não havia pensado antes e o entretenimento é um misto de
persuasão e informação.
Há três formas da comunicação: a) Comunicação verbal ou lingüística refere-se à
linguagem escrita e falada, aos sons e palavras que usamos para nos comunicar. É possível
o envio das mensagens de forma não-verbal sem a utilização da verbal, mas o contrário é
20
impossível. b) Comunicação paraverbal ou paraligüística é a comunicação verbal que se
dá por meio de palavras, depende da linguagem que é fortemente influenciada pela cultura,
exemplo: a linguagem nordestina diferencia da fala de algumas regiões interioranas do
Brasil (STEFANELLI 1993, p. 32 a 35). c) Comunicação não-verbal ou não lingüística é
definida como a linguagem do corpo e é considerada como o foco central deste estudo.
Síntese da comunicação não-verbal:
A comunicação não-verbal envolve todas as manifestações de comportamento não expressas por palavras (STEFANELLI. 1993, p. 36)
A comunicação não-verbal se refere à transmissão de mensagens sem o uso das
palavras. Comunicação fisiológica é decorrente do relacionamento entre as diferentes
partes do nosso corpo e sua manifestação externa como rubor, sudorese, tremores
lacrimejamento, palidez. Nem sempre estamos conscientes de que a comunicação não-
verbal ocorre, nem de como acontece, ela é definida como a linguagem do corpo. Pode
haver coerência entre a comunicação verbal e a não-verbal, quando ela ocorre associada à
palavras. A coerência entre ambas denota efetividade na comunicação.
A expressão facial e a corporal (cinésica ou postura física e gestos), são
manifestações dos movimentos do nosso corpo. Na expressão facial deve-se considerar
principalmente movimentos da cabeça, do globo ocular e das pálpebras, modo de olhar,
sorriso, movimentos da boca, dos lábios, bucal, e sobrecenho (STEFANELLI 1993, p. 37).
A comunicação não-verbal só pode ser examinada no contexto em que ocorre,
porque a sua significação está diretamente vinculada a essa. Ela pode suplementar uma
informação verbal (completando ou refletindo-a), contradizer, enfatizar, substituir, oferecer
indícios sobre as emoções ou mesmo controlar ou regular um relacionamento.
O toque - é talvez, uma das facetas mais importantes da comunicação não-verbal. É
um dos meios mais concretos de transmitir nossos sentimentos de empatia e confiança. O
toque pode ser usado para: obter e manter a atenção da pessoa; comunicar. "Cuidado" e
"apoio", e a "calma".
Nas ações de enfermagem, nós tocamos o cliente, e este modo de comunicação não-
verbal - tátil - transmite muito do nosso estado emocional e pensamentos ao cliente como:
"estamos com você", "estamos tentando ajudá-lo", "você não está sozinho"
(STEFANELLI, 1993, p.37).
Comunicação proxêmica - é o seu espaço pessoal e território delimitado e
reconhecido pelo cliente. Através do estudo pudemos perceber, por exemplo, que, a ação
de transferirmos o cliente de um leito ou quarto para outro, nós o invalidamos,
21
principalmente, pela sua expressão não-verbal. Neste caso, ele pode tornar-se ansioso e até
mesmo agressivo.
Hall (1986, p.56) apresenta oito categorias para o estudo da comunicação não-
verbal, no que denomina "análise proxêmica".
1) Fatores postura - sexo: incluem o gênero do participante e a posição básica (de
pé, sentado, deitado).
2) Eixo sociófugo-sociópeto - refere-se ao ângulo dos ombros em relação à outra
pessoa. O desenvolvimento dos aspectos visuais, cinestésicos, táteis e térmicos do homem
podem ser inibidos ou encorajados pelo meio ambiente.
3) Fatores cinestésicos - incluem o posicionamento de partes do corpo, assim como
partes que se tocam.
4) Comportamento de contato - táteis, roçar acidentalmente, acariciar, agarrar,
apalpar, segurar demoradamente, apertar contra, tocar localizado, ou nenhum contato. O
aumento de calor do corpo de outras pessoas é detectado de três maneiras:
a) os detectores térmicos da pele, percebem as alterações de temperatura da pele;
b) a interação olfativa é intensificada pelo aumento da temperatura corporal;
c) o exame visual capta alterações do corpo pelo aumento da temperatura.
5) Contato visual - "olho no olho". Os olhos são, em geral o meio principal para o
homem recolher informações; eles captam e enviam mensagens. Um olhar pode emitir
mensagens com significado de punição ou encorajar uma ação e até estabelecer domínio.
6) Código térmico - envolve a transmissão e a percepção do calor entre os
comunicadores. O processo dos receptores térmicos é um dos mais complexos; neles estão
envolvidos secreções da tireóide, sexo, idade, química individual e cultura.
7) Código olfativo - o odor é um dos métodos básicos da comunicação, sendo
denominado sentido químico. O odor pode revelar o estado emocional das pessoas. Odores
do dia-a-dia de alimentos podem dar um senso de vida; as mudanças e transições dos
odores não só ajudam a situar alguém no espaço, mas também acrescentam encanto à vida
diária.
8) Volume da voz - indica toda a emoção que é transmitida numa mensagem. O
volume e o tom da voz podem ser utilizados para alterar a distância entre as pessoas.
Para ressaltar a importância desta, Gamble (apud STEFANELLI, 1993) declara que
somente 35% do significado da mensagem são transmitidos verbalmente e que os 65% do
restante é comunicação não-verbal. Em face destes resultados, os indícios não-verbais
facilitam a compreensão do que está sendo dito. Esse fato aponta a importância da
22
enfermagem aprofundar seus estudos nas formas verbal e não-verbal da comunicação, para
que possa prestar uma assistência humanizada ao cliente, levando em conta seus problemas
e sentimentos, de acordo com sua visão de mundo (DAVIS; SILVA apud STEFANELLI,
1993).
Neste sentido, enfatizamos também a necessidade da enfermagem em buscar mais
conhecimentos relacionados à comunicação não-verbal em clientes entubados. Souza
(1997) argumenta que a enfermagem deveria resgatar os aspectos expressivos ao cuidar de
clientes entubados, e ou traqueostomizados e a seus familiares, para proporcionar-lhes um
cuidado mais digno, e assim amenizar suas angústias e tensões.
Stefanelli (1993) declara que, muitas vezes, é por meio da comunicação não-verbal,
como a expressão facial e a corporal, que identificamos se a pessoa está com dor, com
medo, irritada, ansiosa ou preocupada.
Ainda de acordo com essa autora, temos de considerar que na realização de quase
todos os procedimentos de enfermagem, nós tocamos o cliente, que é um modo de
comunicação não-verbal, a tátil. Se o profissional e o cliente forem de culturas diferentes,
transmite muito o nosso estado emocional e pensamentos ao cliente, pois pode também
despertar nele inúmeros sentimentos e pensamentos.
Henckemaier (1999), declara que a assistência à saúde do cliente e da sua família
tem sido um desafio para os profissionais de enfermagem. Pois ela parte do princípio de
que o cuidado ao ser humano não é apenas tratar de seu corpo, mas também de seu
universo, incluindo a família, a qual ele se integra. Por esta razão, para atender as
necessidades humanas básicas dos indivíduos e da família em todas as suas dimensões,
devemos levar em consideração a cultura e o ambiente no qual estão inseridos
(STEFANELLI, 1993).
Wosny (2000), afirma que as atividades de enfermagem de um modo geral, em
especial aquelas executadas no espaço hospitalar, são atos do cuidado humano relevantes e
reconhece a necessidade de se desenvolver conhecimentos que contribuam para a melhoria
da qualidade dos cuidados de enfermagem.
4.3 Traqueostomia
4.3.1 Histórico e definição
23
Segundo Souza (2006) o termo traqueostomia refere-se à operação que realiza uma
abertura e exteriorização da luz traqueal. A primeira descrição cirúrgica com sucesso data
de 1546, por um médico italiano, Antonio Musa Brasavola, que operou um paciente com
"abscesso na garganta".
Entretanto, a aceitação universal só veio com os trabalhos de Chevalier e Jackson,
no início do século XX, que descreveram pormenores da técnica, suas indicações e
complicações.
Souza (2006) descreve que a laringe é composta por um esqueleto cartilaginoso
rígido, com função de permeio das vias aéreas, fonação, além de participar da primeira e da
segunda fase da deglutição.
As três principais cartilagens envolvidas na função respiratória e vocal são: a
cartilagem tireóide, a cartilagem cricóide e um par de cartilagens aritenóides.
A membrana cricotireóidea faz a ligação da borda inferior da cartilagem tireóide à
cartilagem cricóide. O espaço subglótico inicia-se abaixo das cordas vocais e se estende até
à margem inferior da cartilagem cricóide. Ele é o local de menor diâmetro interno (no
adulto, entre 1,5 e 2,0 cm), e é circundado pela cartilagem cricóide, que é o único anel
cartilaginoso completo das vias aéreas, características que predispõem este espaço a
inúmeras complicações.
A traquéia estende-se da borda inferior da cartilagem cricóide até à carina. A parede
posterior é membranosa e faz relação com a parede anterior do esófago. Em nível do
segundo anel traqueal, situa-se o istmo da tireóide. Outro aspecto interessante é a sua
mobilidade; é sabido que toda sua extensão cervical pode se localizar no mediastino, pela
simples flexão cervical, assim como a hiperextensão pode trazer uma porção significativa
situada no mediastino para a região cervical. A irrigação sangüínea da traquéia tem íntima
relação com o suporte sanguíneo do esôfago; a sua porção cervical é irrigada,
predominantemente, por ramos da artéria tireóidea inferior. Digno de nota, é que esta rede
anastomótica penetra na traquéia na sua margem lateral, o que nos leva a evitar a dissecção
extensa nessa região, assim como uma dissecção circunferencial da traquéia durante a
traqueostomia. Outro aspecto interessante é a característica predominantemente submucosa
desta rede anastomótica, o que torna compreensível o porquê dos anéis traqueais poderem
ser lesados por isquemia, devido à hiperinsulfIação de um cuff endotraqueal. Durante a
realização de uma traqueostomia as estruturas que serão encontradas, por ordem de
aparição, são: pele e subcutâneo, platisma, musculatura pré-traqueal, eventualmente o
istmo tireoideano (que se situa entre o 1º e o 2º anel traqueal), e a fáscia pré-traqueal.
24
4.3.2 Indicação
Segundo Souza (2006) historicamente, a traqueostomia foi desenvolvida para
promover a desobstrução das vias aéreas. Com os avanços técnicos atuais, tais como
laringoscópio e broncoscópio de fibra ótica, as indicações tradicionais da traqueostomia
(como por exemplo, a epiglotite aguda e obstruções tumorais) sofreram uma grande
mudança. Nestas situações, a broncoscopia de fibra ótica possibilita reservar a
traqueostomia para uma situação eletiva, fugindo da maior incidência de morbidade e
mortalidade da traqueostomia de urgência. A traqueostomia, portanto, não é o
procedimento de escolha no manejo da obstrução aguda das vias aéreas.
Hoje em dia, a sua principal utilização é no manejo de pacientes que necessitam
períodos prolongados de suporte ventilatório mecânico. Há, ainda, a utilização da
traqueostomia com o intuito de promover uma adequada limpeza das vias aéreas, mesmo
na ausência de necessidade de ventilação mecânica.
4.3.2.1 Obstrução das vias aéreas
Conforme Souza (2006) a obstrução das vias aéreas podem ocorrer por:
Disfunção Laríngea. A paralisia abdutora das cordas vocais, que ocorre na lesão do nervo laríngeo recorrente (por exemplo, durante a realização de uma tireoidectomia) pode levar desde a obstrução leve das vias aéreas até a uma obstrução completa, necessitando de uma traqueostomia.
Trauma: 1) Lesões maxilofaciais graves; 2) Fraturas ou transecções da laringe ou da
traquéia, que podem estar presentes nos traumas da porção anterior do pescoço; 3) Lesões
da medula cervical que impeçam uma manipulação do pescoço são situações encontradas
no trauma onde a abordagem das vias aéreas por intubação oro ou nasotraqueal torna-se
difícil ou inviável. A preferência nestas situações seria pela cricotireoidostomia, mas,
freqüentemente, também não é possível realizá-la. Nestes casos, está indicada a
traqueostomia de urgência.
Queimaduras e Corrosivos: Inalação de gases quentes, gases tóxicos ou corrosivos
podem resultar em edema glótico significativo. Caso os métodos translaríngeos falhem ou
sejam inviáveis, podemos fazer uso da traqueostomia.
25
Corpos Estranhos: Tentativas de retirada dos corpos estranhos são realizadas,
inicialmente, por manobras mecânicas ou endoscópicas. Comumente, ao chegar ao
hospital, a vítima já passou da fase aguda, por isso a traqueostomia, nessas situações, é
pouco utilizada.
Anomalias Congênitas: Estenose da glote ou subglótica são exemplos de entidades
conhecidas no recém-nato que podem necessitar de traqueostomia.
Infecções: Modernamente, a intubação orotraqueal em pacientes com epiglotite ou
difteria pode ser realizada com o auxílio de um broncoscópio, não havendo esta
disponibilidade, a traqueostomia pode ser utilizada
Neoplasias: A traqueostomia pode ser uma opção eficaz de alívio em casos de
tumores avançados da laringe e orofaringe.
Apnéia do Sono: Alguns pacientes possuem as vias aéreas livres quando acordados,
mas pode haver obstrução das vias aéreas por flacidez e colapsamento dos músculos
faríngeos durante o sono. Apenas os pacientes com distúrbios severos é que são candidatos
à traqueostomia.
4.3.2.2 Limpeza das vias aéreas
Segundo Souza (2006) devido à idade; fraqueza, ou doenças neuromusculares,
certos pacientes são incapazes de expelir, adequadamente, secreções traqueobrônquicas
decorrentes de pneumonia, bronquiectasia ou aspiração crônica. Nestes casos, a
traqueostomia pode ser benéfica, pois permite a limpeza e aspiração das vias aéreas,
sempre que necessário.
4.3.3 Técnica cirúrgica
Conforme Souza (2006) a traqueostomia eletiva convencional deve ser realizada em
um ambiente cirúrgico, que possui instrumental, iluminação e assistência adequada. O
procedimento começa com o posicionamento do paciente, que deve estar em decúbito
dorsal com um coxim sob os ombros e o pescoço em extensão.
Após a assepsia e antissepsia do campo operatório, realiza-se a infiltração
anestésica do campo operatório. A incisão deve ser transversal, com 3 a 5 cm, a uma polpa
26
digital abaixo da cartilagem cricóide. Nos casos onde a cartilagem cricóide é palpada na
altura da fúrcula esternal, a incisão é realizada a uma polpa digital acima da fúrcula
esternal. A incisão prolonga-se na pele subcutânea, até encontrar o plano dos músculos
pré-traqueais.
Fonte: Souza (2006).
Figura 1: Cartilagem da laringe. Visão anterior.
Fonte: Souza (2006).
Figura 2: Veias superficiais e nervos cutâneos do pescoço.
Fonte: Souza (2006).
Figura 3: Posição adequada
27
4.4 Marco Conceitual
Pena (apud ELSEN et al 1994) descreveu marco conceitual como sendo a
organização sistemática de conceitos e suas definições, fundamentados em uma filosofia e
pressupostos, que dão direção à prática. Os pressupostos são entendidos como crenças pré-
concebidas e aceitas como verdades, não sendo, portanto, testadas empiricamente, mas
geralmente confirmadas.
Neves e Gonçalves (apud ELSEN et al 1994) referem que o marco conceitual
proporciona maneiras de olhar as coisas, de focalizar o pensamento. É útil tanto no sentido
de nortear a prática, como para desenvolver ou testar uma teoria, através da pesquisa.
Ainda, é um suporte teórico para o desenvolvimento do processo de enfermagem.
A nossa compreensão de enfermagem é de que esta, como todos os ramos da
ciência e profissão, necessita ter suas ações embasadas em referenciais teóricos que sejam
comprovados na prática. Assim como Cristóvão et. al (1999), pensamos que o marco
teórico consiste em um conjunto de crenças, valores, conhecimentos e técnicas que guiam
o pensar-fazer dos indivíduos. Por essa razão adotamos a Teoria da Diversidade e
Universalidade do Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger, a fim de dar o
direcionamento a este estudo. Acreditamos que o cuidado cultural é o mais amplo meio de
conhecer, compreender, justificar e prever fenômenos de cuidado de enfermagem e de
orientar as atividades de cuidado de enfermagem. Portanto, as pessoas submetidas a uma
traqueostomia passam pela necessidade de rever seus valores e crenças, devido ao corte
abrupto da voz.
Madeleine Leininger graduou-se em Enfermagem em 1948, na ST. Asthony' s
School of Nursing em Denver - Colorado, e em 1950 conseguiu o grau de Bacharel em
ciências, no Benedictine College, Atchinson - Kansas. Em 1953 foi mestre em
Enfermagem na Catholic University em Washington - D.C. e em 1965, obteve o grau de
Doutora em Antropologia, na University of Washington - Steatlle. Foi a primeira
enfermeira a elaborar uma teoria que aborda as questões culturais no cuidado de
enfermagem. (LEININGER, 1985).
O interesse pela pesquisa cultural de Leininger, surgiu em meio aos anos 50,
quando vivenciou o que chama de choque transcultural. Enquanto trabalhava em um lar
para crianças perturbadas e seus pais, observou diferenças repetidas de comportamento
entre crianças e concluiu que essas diferenças tinham uma base cultural. A partir daí,
28
percebeu uma grande ausência de conhecimento da enfermagem, pois ao conhecer os
aspectos culturais das crianças, a enfermagem compreenderia as variações no cuidado às
crianças. Após esta vivência tornou-se Doutora em Antropologia e desenvolveu um novo
campo para a enfermagem, ou seja, o transcultural, como sendo um sub-campo da
enfermagem. Desta forma percebemos que a teoria nasceu a partir da prática e derivou da
Antropologia.
Sua primeira publicação com a definição de enfermagem transcultural foi em 1979.
Em 1985 publicou a primeira apresentação do seu trabalho como teoria, e em 1988
apresentou mais explicações sobre esta idéia quando publicou seu livro. No ano de 1991
fez sua última publicação, a qual norteia uma reestruturação da teoria, inclusive
denominando-a como "Teoria da Universalidade e Diversidade do Cuidado Transcultural".
Atualmente Leininger encontra-se em plena atuação nos Estados Unidos. É diretora
geral do Transcultural Nursing of Offerings, fundou a revista Nursing, organiza cursos de
treinamento e Doutorado de Enfermagem Transcultural, divulgando dessa forma seu modo
de trabalho.
4.4.1 Modelo Sol Nascente "Sunrise" e o Processo de Enfermagem
Leininger (1985) salienta que o modelo Teórico do Sol Nascente não é a teoria, mas
uma descrição dos componentes da Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado
Tanscultural. O objetivo do modelo é auxiliar o estudo, demonstrando a maneira como os
componentes influenciam o estado de saúde dos indivíduos, família, grupos e instituições,
bem como o cuidado oferecido a eles, numa cultura.
Este modelo pode ser entendido como tendo quatro níveis, sendo o primeiro deles o
mais abstrato e o quarto o menos abstrato. Os níveis de um a três, oferecem a base
necessária de conhecimentos para o planejamento e a execução de cuidado cultural
coerente. O nível um e a visão de mundo é o nível do sistema social que direciona o estudo
das percepções do mundo para fora da cultura é o supra-sistema, em termos de sistema
geral. Este nível leva o estudo da natureza do significado e dos atributos do cuidado. O
nível dois oferece conhecimento sobre os indivíduos, família, grupos e instituições, em
vários sistemas de saúde. Esse nível propicia significados e expressões culturalmente
específicos em relação ao cuidado e a saúde. O nível três focaliza o sistema popular, o
sistema profissional e a enfermagem. As informações do nível três incluem as
29
características de cada sistema, bem como os aspectos específicos do cuidado de cada um.
Essa informação possibilita a identificação de semelhanças e diferenças, ou diversidade
cultural de cuidado e universalidade cultural do cuidado. O nível quatro é o nível das
decisões e ações de cuidado em enfermagem, e envolve a preservação/manutenção,
acomodação/negociação e repadronização/restruturação cultural do cuidado. É nesse nível
que ocorre o cuidado de enfermagem (GEORGE, 2000, p.302).
"O modelo do sol nascente ‘sunrise’" e o processo de enfermagem apresentam
semelhanças porque ambos apresentam o processo de solução de problemas. O foco do
processo de enfermagem é o cliente, sendo este o alvo do cuidado de enfermagem. Para
nós o cliente é também o foco do modelo Sol Nascente, embora a importância do
conhecimento e da compreensão da cultura dele constitua uma força inovadora importante.
Os níveis um, dois e três do modelo Sol Nascente são semelhantes às fases de
avaliação e diagnóstico do processo de enfermagem.
A partir do primeiro nível, está se obtendo e avaliando informações sobre a
estrutura social e a visão de mundo da cultura do cliente. Outras informações necessárias
incluem o idioma e contexto ambiental do cliente e sua família, bem como os fatores da
tecnologia, religião, filosofia, parentesco, estrutura social, valores e crenças culturais,
políticas, sistema legal, economia e educação. [...] O conhecimento do nível um precisa ser
aplicado à situação de cliente, seja ele um indivíduo, uma família, um grupo ou uma
instituição sócio-cultural (nível dois). Em seguida, é visto que o cliente existe num sistema
de saúde, e os valores, crenças e práticas populares e profissionais identificadas daquele
sistema de saúde precisam ser identificada (nível três). Uma vez feito o diagnóstico,
ocorrem o planejamento e a implementação, no nível quatro, nas decisões do cuidado de
enfermagem e nas ações. As decisões e ações do cuidado de enfermagem precisam ter base
na cultura para melhor satisfazer as necessidades do cliente e proporcionar um cuidado
cultural coerente. Os modelos de ação são preservação /manutenção,
acomodação/negociação e repadronização/restruturação cultural do cuidado (GEORGE.
2000, p. 292).
4.5 Conceitos-Chaves
As teorias possuem um conjunto de conceitos próprios que servem como meio para
comunicar o conhecimento específico de cada teoria. Henckemaier (1999, p.43) define
30
conceito como: “construções lógicas, estabelecidas de acordo com um quadro de
referências. Adquirem seu significado dentro do esquema de pensamento no qual são
colocados".
CULTURA - refere-se aos valores, crenças, normas e modos de vida praticados,
que foram apreendidos, compartilhados, e transmitidos por grupos particulares que guiam
pensamentos, decisões e ações de formas padronizadas (LEININGER,1985).
Segundo Leininger (1985) alguns valores são herdados e os conservamos durante a
nossa vida. Eles se fazem presente no nosso cotidiano, expressando-se nos nossos
sentimentos, nas nossas maneiras.
Quando nos relacionamos com outras pessoas, aprendemos o seu comportamento,
assim como as nossas experiências são a elas transmitidas.
Com base nessa afirmação, acreditamos que a comunicação também permite o
homem a compartilhar experiências transmitir idéias e sentimentos repadronizar padrões de
vida e de saúde, para padrões que são mais saudáveis, e no estudo em questão, aprender
um modo de se comunicar.
A cultura ou padrões culturais são conhecidos ou crenças que alguém deve ter para
atuar de maneira aceitável dentro de uma sociedade. Leininger (apud WEIHERMANN,
2000, p.52) afirma que "a cultura fornece uma base mais ampla do conhecimento holístico
para construir um conhecimento preciso e correto, do cuidado ético e para guiar decisões
sobre o cuidado humano, saúde, morte e fatores diários da vida".
O homem ao nascer apresenta comportamentos irracionais e com o seu
desenvolvimento passa a incorporar normas, valores, padrões do seu ambiente cultural. Ele
passa a internalizar padrões de sua própria cultura conforme vai interagindo com ela.
As crenças são definidas como algo que por representarem verdades faz com que as
pessoas se comportem de maneira congruente com elas. É acreditar em algo, tendo opinião
sobre o fenômeno com fé e convicção. As normas são regras de procedimentos a serem
seguidas. E o que é tomado como modelo, é exemplar.
Modo de vida é a maneira como nos manifestamos em relação aos fenômenos. São
as formas através das quais manifestamos nosso jeito de proceder nas mais variadas
situações.
A mesma autora com base ainda em Leininger (1878) afirma que a cultura é uma
força penetrante e contínua que influencia e molda a vida dos seres humanos de maneiras
significantes, especialmente com respeito a comportamento de cuidado de saúde.
31
No processo de cuidar, as pessoas entram em confronto com outras culturas e
Madeleine Leininger chama este confronto de choque cultural ou imposição cultural. O
choque cultural pode resultar quando um indivíduo que vem de outra cultura tenta
compreender um grupo cultural diferente, ou adaptar-se efetivamente a ele. O indivíduo
provavelmente experimentará sensações de desamparo, e algum grau de desorientação,
porque haverá diferenças nos valores, crenças e práticas culturais (GEORGE, 2000).
Por outro lado, a imposição cultural refere-se aos esforços do indivíduo de outra
cultura, sutis ou não, para impor seus próprios valores, crenças e comportamentos culturais
a um indivíduo, família ou grupo de outra cultura. A imposição cultural de cuidado tem-se
apresentado particularmente predominante, nos esforços de imposição de práticas
ocidentais de cultura sobre outras culturas. Ainda, a imposição cultural usualmente leva à
insatisfação do cliente, o não cumprimento do que lhe é solicitado, estresse, e uma série de
outros problemas éticos que limitam o bem-estar do cliente. Durante a prestação de
cuidados, os profissionais de saúde, podem sobrepor seu conhecimento científico ao
conhecimento popular.
COMUNICAÇÃO - é um processo de compreender e partilhar mensagens que
exercem influência nas pessoas no momento em que o processo ocorre ou em momentos
subseqüentes e só podendo ser estudado no contexto em que esta ocorre (STEFANELLI,
1993). A comunicação é uma necessidade básica do ser humano. Aqui ela é vista como um
ato contínuo, no qual o paciente traqueostomizado compartilha suas inseguranças, medos e
angústias, pois sua fala está bloqueada por um tubo, impondo-lhe a linguagem do corpo,
que são os sinais e os gestos.
CUIDADO - para Leininger (1991, p. 40) "é o coração e a alma da enfermagem".
O cuidado pode ser propiciado por profissionais de saúde que fazem parte de um sistema
profissional de saúde. A autora refere ainda que o conhecimento e habilidades são
formalmente ensinados, aprendidos e transmitidos e estão relacionados ao cuidado
profissional, saúde, doença, bem-estar e habilidades práticas que predominam, usualmente,
em instituições profissionais com equipe multidisciplinar para servir clientes.
Esta mesma autora cita que há o sistema popular de saúde que se refere ao
conhecimento e habilidades indígenas (ou tradicionais), popular (baseado em casa)
culturalmente aprendido e transmitido, usando para promover "assistência, apoio (suporte),
capacitar ou facilitar atos a indivíduos, grupos ou instituições com necessidades evidentes
32
ou antecipadas para melhorar ou promover o estilo de vida humano; condições de saúde
(ou bem-estar) ou para tratar com situações de incapacidades ou morte" (LEININGER.
1991, p.48).
Leininger (1991, p. 49) refere e nos concordamos que a enfermagem deve prestar
um cuidado cultural congruente que é baseado em "atos ou decisões feitos sob medida para
assistir, apoiar, facilitar ou capacitar o indivíduo, grupo ou instituições, levando em
consideração a cultura, crenças e estilo de vida para promover ou dar suporte significativo,
benéfico ou satisfazendo cuidado de saúde e serviços de bem-estar". O cuidado é tido por
Leininger como o domínio central e unificador da enfermagem.
Esta autora propõe modos de decisões e ações de cuidado de enfermagem referindo
que estes cuidados podem ser mantidos, adaptados ou repadronizados.
A teórica afirma que o cuidado pode ser postulado como uma necessidade humana
essencial para seu pleno desenvolvimento, manutenção da saúde e sobrevivência dos seres
humanos em todas as culturas do mundo, sendo então a essência da enfermagem e
imprescindível para o crescimento, desenvolvimento e sobrevivência humana.
Diversidade Cultural do Cuidado se refere à variabilidade das ações de assistência,
apoio, ou facilitadas para com o outro indivíduo ou grupo, que são decorrentes de uma
cultura específica, para melhorar ou amenizar a condição humana de vida (LEININGER,
1985).
Universalidade Cultural do Cuidado se refere aos fenômenos uniformes, ou
comumente dirigidos a outros indivíduos de grupo, que são decorrentes de uma cultura
específica, para melhorarem ou amenizarem a condição humana de vida (LEININGER,
1985).
Portanto, nós acadêmicas, futuras enfermeiras entendemos o cuidado como
compartilhar conhecimentos populares e profissionais visando o bem-estar do cliente
traqueostomizado e sua família.
SER HUMANO - Leininger (apud GEORGE, 1993), na sua teoria, faz entender
que:
[...] cada ser Humano é um membro de uma cultura. Ele é moldado por meio de uma carga de conhecimentos, crenças, valores, normas, modos de vida que lhes são transmitidos, infundidos, compartilhados por outros seres humanos que o precederam e que o cercam. Este, por sua vez guia, consciente ou inconscientemente seus pensamentos, decisões e ações de forma padronizada. E ainda, este ser humano tem necessidade de desenvolver cuidado, (próprio de sua cultura) colocando a família
33
também como provedora do cuidado.
Santini, (1998), considera que o ser humano é um ser inconcluso, educável, em
constante evolução, com capacidade de agir e refletir, de relacionar-se, comunicando-se, a
fim de ser sujeito de sua própria ação.
Os homens são seres culturais capazes de sobreviver ao passar do tempo, através de
sua capacidade de prestar cuidado aos outros, de todas as idades, em vários ambientes e de
muitas maneiras (GEORGE, 1993).
Ainda, o ser humano, pela sua sociabilidade, desde o nascimento participa de
grupos, famílias, criam grupos e famílias. E é vivendo em diferentes grupos culturais e
sociais que o ser humano procura a satisfação do amor, de necessidades fisiológicas e
sociais. É sendo participante de grupos sociais que o ser humano pode ser opressor ou
oprimido.
É este ser humano, que tem inserido uma cânula ou tubo em sua traquéia a fim de
garantir a respiração e remoção das secreções traqueobrônquicas, por tempo limitado ou
definitivamente e como conseqüência tem sua linguagem verbal bloqueada
(BRUNNER/SUDDARTH 2003).
ENFERMAGEM - Leininger (apud GEORGE, 1993) define enfermagem como
uma profissão e uma disciplina humanística científica, aprendida, a qual enfoca o
fenômeno do cuidado humano em atividade a fim de assistir, manter, facilitar ou tornar
capazes indivíduos ou grupos para manter ou recuperar seu bem-estar (ou saúde) de
maneira culturalmente significativas ou benéficas, para ajudar pessoas em situações de
incapacidade ou morte.
Para a autora, enfermagem transcultural, é definida como a esfera da enfermagem
que focaliza a análise e o estilo comparativo de diferentes culturas e subculturas no mundo,
com respeito aos seus comportamentos de cuidado, cuidado de enfermagem e valores de
saúde-doença, crenças e modelos de comportamento com o objetivo de desenvolver um
corpo de conhecimento científico e humanístico a fim de prover cultura específica e cultura
universal na prática de enfermagem do cuidado.
Ainda para ela é necessário que a enfermagem descubra as dimensões e
multifacetas de existência e cuidado humano e como as pessoas vivem, face a morte ou
enfrentam doenças ou incapacidades nos diversos contextos.
Os profissionais de enfermagem trazem na sua bagagem cultural crenças, costumes,
34
valores e uma formação profissional que faz parte do processo oficial de saúde. No
processo de cuidar, interagimos com pessoas com suas bagagens culturais em que a
diversidade e a universalidade de culturas se fazem presentes. Com isto é necessário
estarmos atentos para evitarmos a imposição cultural e o choque cultural, portanto a
enfermagem deve manter em mente as idéias de cuidado cultural e ajudar os clientes a
restaurar sua saúde e não o conceito de cuidado da enfermagem.
A mesma autora apresenta três modos de agir que podem conduzir à execução do
cuidado em enfermagem que melhor se adapte à cultura do cliente diminuindo assim o
estresse cultural e o potencial para o conflito entre o cliente, a. família e o provedor do
cuidado. Estas três formas de intervenção congruentes propostas por Leininger (1991) são
as práticas de cuidado cultural de manter, acomodar e repadronizar. Se estes procedimentos
forem observados não haverá imposição cultural ou choque cultural.
Neste sentido, acreditamos que é tarefa da enfermagem codificar, decifrar e
perceber a significação da mensagem que o cliente envia, para poder estabelecer um plano
de cuidados adequado e coerente com as necessidades demonstradas por ele. Reconhecer a
importância de conhecer e estar atenta às comunicações verbal e não-verbal emitidas por
ele e por nós durante a interação enfermeiro/cliente (STEFANELLI, 1993).
FAMÍLIA - é uma unidade dinâmica formada por pessoas que se percebem como
família e compartilham de um meio familiar, trocando saberes, práticas, valores, crenças e
desenvolvendo papéis sociais que são definidos mutuamente entre os membros que
compõe-na e que repercute no seu processo de crescimento e desenvolvimento (ELSEN et
al I994).
A família em sua história de vida pode em um determinado momento estar
apresentando problemas relacionados à saúde, necessitando assim, das intervenções de
cuidado existente nas instituições de saúde. A família em situação de hospitalização é
aquela que vivencia a partir de um de seus membros, determinados problemas de saúde.-
em um ambiente hospitalar, tendo necessidades de cuidar de seu membro, bem como de ser
cuidada pelo sistema profissional.
A capacidade da família, de efetuar atividades ou alcançar objetivos e padrões de
vida em busca de seu bem viver, o qual é definido pela própria família, é a maneira com
que a família se cuida para manter-se saudável. Esta capacidade está fundamentada na
prática do cuidado, a partir dos recursos da família como unidade com suas crenças,
valores conhecimentos e modos de cuidar, envolvendo a utilização de cuidado do sistema
35
popular e o sistema profissional.
SAÚDE - estado de bem-estar culturalmente definido, avaliado e praticado e que
reflete a capacidade que os indivíduos (ou grupos) possuem para realizar suas atividades
ou alcançar objetivos ou padrões de vida desejados (LEININGER, 1985).
Para Leininger (1985, p.262) "a saúde se refere ao estado percebido, ou cognitivo,
de bem-estar, que capacita um indivíduo ou grupo a efetuar atividades, ou a alcançar
objetivos e padrões de vida desejados". As culturas que percebem comportamento de
doença que são derivadas de origem extrapessoal tendem a ter maior número e variedade
de regras de vigilância social do que outras culturas nas quais doenças são vistas como
uma experiência intrafisica ou interpessoal.
O contexto de cuidado e cura e o sistema de saúde conforme Leininger (apud
WEIHERMANN, 2000, p. 56) são definidos como "a totalidade de experiências ou o
ambiente no qual o indivíduo se encontra, em situações diversas, incluindo os sistemas e
organizações nos quais as pessoas procuram cuidar e tratar de outras".
No processo de viver com saúde, as diversas culturas se utilizam do sistema
profissional de saúde e do sistema popular de saúde e entre os mais diferentes grupos
encontramos formas universalizadas e formas diversificadas de cuidar preservar ou para
obter saúde.
AMBIENTE - é definido por Leininger como a totalidade de um acontecimento,
situação ou experiência particular que confere sentido às expressões humanas, incluindo
interações sociais nas suas dimensões físicas, ecológicas emocionais e culturais
(GEORGE, 1993).
Neste estudo é o meio físico, social, cultural, econômico e político no qual a família
em situação de hospitalização e o sistema profissional interagem dinamicamente. É
constituído por todos os seres e as relações existentes entre eles, formando um conjunto de
crenças, valores que determinam o processo de viver, sem negar a própria condição
humana reflexiva de auto determinar-se e reagir, conhecendo e criando novos valores e
crenças que podem provocar mudanças onde estão inseridos.
O ambiente é constituído por seres animados em interação no qual acontecem
trocas de matéria, energia, informações, levando a estilos de vida diferentes. E permeando
estes estilos observamos preferências, hábitos, costumes e modos de viver que são
peculiares a cada ser humano ou a determinada comunidade/cultura.
36
4.6 Pressupostos
4.6.1 Pressupostos de Madeleine Leininger
Pressupostos básicos da teoria de Leininger adaptados de Henckemaier (1999) são
as idéias que a autora acredita e defende para definir seus conceitos. Estes pressupostos
dão apoio à sua previsão de que “culturas diferentes percebem, conhecem e praticam o
cuidado de maneiras diferentes, apesar de haver pontos comuns no cuidado de todas as
culturas do mundo" (LEININGER, 1985, p.210).
• A família é composta de seres culturais, capazes de sobreviver ao passar do
tempo, através de sua capacidade de prestar cuidados aos outros, de todas as idades em
vários ambientes e de muitas maneiras.
• A família é formada por pessoas que se percebem como família,
compartilhando crenças, valores conhecimentos adquiridos em sua trajetória de vida.
• Cuidado humanizado é característica central, dominante e unificador da
enfermagem. Enquanto a cura não pode ocorrer sem o cuidado, este pode ocorrer sem ser
para a cura.
• Cuidado cultural é o mais amplo meio de conhecer, compreender, justificar e
prever fenômenos de cuidado de enfermagem e de orientar as atividades de cuidado de
enfermagem.
• A prática de cuidado entre os seres humanos é um fenômeno universal, porém
as expressões, processos e modelos variam de uma cultura para outra.
• Enfermagem é uma profissão que envolve cuidado cultural coerente, uma vez
que as enfermeiras oferecem cuidados a povos de culturas diferentes.
• Cuidado é essencial à sobrevivência dos homens, bem como para seu
desenvolvimento e habilidades para lidar com acontecimentos graves e freqüentes da vida,
inclusive as doenças, as deficiências e a morte.
• Existem possibilidades e limitações da enfermagem ao aplicar um referencial
transcultural na instituição hospitalar.
37
4.6.2.Pressupostos Pessoais:
Para este estudo, os pressupostos pessoais surgiram a partir da vivencia das
acadêmicas nos Estágios Curriculares, tendo como pano de fundo uma proposta de
comunicação entre o cliente traqueostomizado, sua família e equipe de enfermagem no
ambiente hospitalar. São eles:
� A comunicação é o denominador comum de todas as ações de Enfermagem,
influindo decisivamente na qualidade da assistência prestada àqueles que necessitam do
cuidado profissional de saúde;
� O cliente traqueostomizado requer um cuidado específico por estar
impedido de comunicar-se verbalmente;
� O cuidado ao cliente traqueostomizado está permeado por sua
estigmatização e pelo choque cultural diante do culto à beleza, vigente na sociedade atual;
� A comunicação não-verbal requer maior compreensão da equipe de
enfermagem com clientes traqueostomizados, por ela representar um ponto de apoio para
estes clientes e sua família;
� A família informada sobre o estado de saúde do cliente, sentir-se-á mais
calma e apta a ajudar nos cuidados com o doente;
� A família, sendo a primeira unidade assistencial de cuidado, desenvolverá
habilidades para lidar com acontecimentos graves e freqüentes da vida, inclusive as
doenças, as deficiências e a morte;
� A enfermagem busca aprofundar seus estudos em comunicação nas formas
verbal e não verbal para que possa prestar uma assistência humanizada ao cliente de acordo
com sua visão de mundo;
� Família é a primeira unidade destinada a prover o cuidado de saúde a seus
membros.
5 METODOLOGIA
A metodologia é vista como “caminho do pensamento e a prática exercida na
abordagem da realidade. Inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de
técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo
do investigador” (MINAYO, 1998).
38
No período da coleta de dados nós acadêmicas além de aplicar o roteiro de
entrevista semi estruturada, utilizamos um diário de campo nos quais foram registrados
todos os dados relevantes relacionados à comunicação e assistência com os clientes
traqueostomizados, familiares e equipe de enfermagem.
5.1 O processo de cuidar em enfermagem e suas etapas
Para operacionalizar o marco conceitual utilizamos o processo de enfermagem
denominando-o Processo de Cuidar, baseado na teoria de Leininger adaptado por
Monticelli (1994), com a finalidade de nortear o desenvolvimento desta pesquisa que
abordou as dificuldades apresentadas na comunicação não-verbal entre o cliente
traqueostomizado, família e equipe de enfermagem no ambiente hospitalar, em uma
Unidade de Clinica Cirúrgica e UTI.
O processo de enfermagem pode ser definido como uma atividade intelectual
deliberada por meio da qual a prática de enfermagem é abordada de maneira ordenada e
sistematizada. É ainda, o "instrumento" e a metodologia da profissão da (o) enfermeira (o)
e como tal auxilia o profissional a tomar decisões, prever e avaliar as conseqüências de seu
cuidado. A Teoria da Diversidade e Universalidade Cultural do Cuidado no nível quatro
visa às decisões e ações de cuidado em enfermagem, de preservar/manter,
acomodar/negociar, repadronizar/reestruturar culturalmente o cuidado (GEORGE, 1993).
Neste nível, durante a pesquisa realizamos algumas ações de conscientização para
mudança, relacionadas especificamente à assistência de enfermagem prestada ao cliente
traqueostomizado,e foi neste momento que ocorreu o cuidado de enfermagem. Os clientes
foram orientados com relação à minimização dos desconfortos pós-operatórios,
estimulando exercícios circulatórios e de deambulação, além dos cuidados das 24 horas já
existentes nas rotinas de unidade de clinica cirúrgica.
5.2 Tipo de pesquisa
O tipo de pesquisa realizada neste estudo foi uma pesquisa convergente
assistencial. Segundo Trentini e Paim (1999), nesta modalidade de investigação, o
pesquisador “mantém durante todo o processo, uma estreita relação com a situação social,
com intencionalidade de encontrar soluções para problemas, realizar mudança e introduzir
inovações na situação social”.
39
Estas mesmas autoras referem que nesta modalidade há uma complementaridade
entre pesquisa-ação e processo de assistência (no caso específico da proposta, o processo
de enfermagem), pois requer a participação ativa dos envolvidos na busca de resolução de
problemas de assistência.
Quanto à abordagem desta pesquisa foi através do método qualitativo, pois desta
forma conseguimos compreender a melhor forma ou perspectiva de prestar um cuidado de
qualidade aos clientes que se submeteram a uma traqueostomia e que, portanto estavam
com sua comunicação prejudicada.
Os métodos qualitativos de pesquisa se preocupam basicamente em investigar,
explicar e analisar as reações sociais consideradas essência e resultados da atividade
humana criadora, afetivos e racionais, que pode ser aprendida através do cotidiano, da
vivência, e da explicação do senso comum.
Para nortear a pesquisa foi elaborado um roteiro flexível do tipo questionário semi-
estruturado aplicado durante as entrevistas, permitindo o estreitamento da relação
acadêmica e atores sociais (neste caso Enfermagem, cliente e família).
5.3 Local da pesquisa
O estudo foi desenvolvido em um hospital escola da grande Florianópolis-SC, que
realiza diversos tipos de cirurgias inclusive procedimentos de traqueostomias em clientes
internados na Unidade de Clinica Cirúrgica ou Unidade de Terapia Intensiva.
40
5.4 Caracterização da Unidade de Clínica Cirúrgica e Unidade de Terapia Intensiva
A Unidade de Clínica Cirúrgica e Unidade de Terapia Intensiva onde foi realizada a
pesquisa fazem parte de um Hospital público de pequeno porte com atendimento exclusivo
pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e se propõe a seguir a diretriz por este estabelecido.
Na Unidade de Clínica Cirúrgica a equipe de enfermagem é composta por cinco
enfermeiros, vinte auxiliares de enfermagem e trinta e nove técnicos de enfermagem,
totalizando sessenta e quatro profissionais.
A clínica cirúrgica possui vinte e seis leitos para internação os quais são divididos
por especialidades e a Unidade de Terapia Intensiva 05 leitos.
A unidade de Terapia Intensiva está localizada no terceiro andar ao lado do Centro
Cirúrgico. A equipe de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva é composta por 2
enfermeiras ( nos demais períodos (noturno), sob sistema de supervisão ) 14 técnicos de
enfermagem, 03 auxiliares de enfermagem e uma escrituraria (no período matutino).
5.5 Sujeito da pesquisa
Os sujeitos desta pesquisa foram clientes submetidos ao procedimento de
traqueostomia, internados na Unidade de Clinica Cirúrgica ou Unidade de Terapia
Intensiva de um Hospital Escola, situado em Florianópolis-SC. Por ocasião da entrevista,
os sujeitos receberam informações acerca da pesquisa e seus objetivos, bem como sua
participação foi por livre iniciativa e de acordo com a Resolução 196/CNS/96 que
estabelece diretrizes e normas de pesquisa envolvendo os seres humanos.
Como critério de inclusão dos participantes lista-se a seguir, os critérios de inclusão
dos sujeitos que foram considerados nesta investigação cientifica: Clientes internados
somente nos locais destinados para esta pesquisa e que se submeteram a traqueostomia
eletiva ou não no período de 01 à 30 de outubro de 2007, independentemente de sexo e
idade e que após a apresentação da proposta da pesquisa, aceitaram participar deste estudo.
Nesta pesquisa alguns cuidados se tornaram imprescindíveis no que tange ao
respeito à cultura e valores dos participantes. Ao responderem as perguntas do roteiro de
entrevista, procuramos desenvolver um clima de confiança que permitisse aos participantes
a expressão livre dos fatos e garantia do anonimato, com esclarecimento e acordos claros
sobre o uso dos dados.
41
Para garantir o anonimato e respeito à individualidade dos sujeitos, estes foram
identificados por codinomes do zodíaco: peixes, aquário, capricórnio, escorpião e sagitário.
5.6 Coleta e análise dos dados
Após a autorização formal da Direção Geral da instituição, esta pesquisa foi
submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIVALI-CEP-Parecer: nº
458-2007.
Num primeiro momento foram apresentados os objetivos da pesquisa para o Diretor
do Hospital, bem como solicitado o consentimento desta instituição para a realização da
pesquisa neste local (apêndice B).
Foi agendada, antes da coleta de dados, uma visita a Clinica Cirúrgica e Unidade de
Terapia Intensiva para conhecer a equipe de enfermagem, com o objetivo de convidá-los a
participar do estudo em questão, orientando-os sobre a importância de sua participação
assim como apresentado a metodologia que foi utilizada.
A coleta dos dados foi realizada através da técnica de entrevista informal e
estruturada, utilizando um roteiro de entrevista semi estruturada com perguntas abertas e
fechadas, conforme (Apêndice D). Leopardi, Beck e Gonzales (2001), citam que a
entrevista na investigação qualitativa é um recurso importante e pode ser construída de
diferentes maneiras, porém sempre vista como um encontro social. Possui três
características: a) intersubjetividade, que é fundamental, pois há a busca do que está no
íntimo da pessoa informante, b) a intuição, que é uma forma de contemplação da
experiência com um olhar não descritivo, c) a imaginação, que é a representação do real.
A análise dos dados nesta pesquisa teve um tratamento com abordagem qualitativa
quando, de forma simultânea, foi feita uma inter-relação teoria-prática, a qual permitiu a
nós acadêmicas compreender o processo e sugerir a implementação de novas ações para o
atendimento humanizado e a relação inter-pessoal entre equipe de enfermagem, cliente
traqueostomizado e família.
Na pesquisa Convergente Assistencial de Trentini e Paim (2004), a análise das
informações segue o processo de apreensão, síntese, teorização e recontextualização. A
primeira refere-se à apreensão dos dados em que neste estudo se utilizou de notas de
entrevista. Na segunda fase de síntese os pesquisadores se familiarizaram com os dados
que emergiram e iniciou-se o envolvimento intelectual que se intensificou no processo de
42
teorização. Neste momento verificamos a relação dos achados com a literatura existente.
Ao final, organizamos a recontextualização dando significado aos achados. Então surgiram
as categorias e os resultados desta pesquisa.
Foram estabelecidas categorias gerais no que diz respeito às variáveis de
mensuração relativo às variáveis qualitativas, abrangendo elementos ou aspectos com
características comuns ou que se relacionaram entre si.
Conforme o referencial de Trentini e Paim (2004), de opção para este estudo, o
caminho metodológico seguiu as seguintes etapas:
1ª etapa: Aproximação da Instituição; apresentação deste estudo ao Centro de
Ensino e Pesquisa; projeto aprovado e entrada em campo.
2ª etapa: Apresentado o projeto à equipe de enfermagem da Unidade de Clinica
Cirúrgica e Unidade de Terapia Intensiva; selecionado os clientes; realizado convite aos
clientes e famílias para participarem do estudo; apresentado o termo de consentimento livre
e esclarecido.
3ª etapa: Agendado previamente entrevista com os sujeitos que aceitaram participar
deste estudo; aplicado o roteiro de entrevista semi estruturada aos sujeitos da pesquisa.
4ª etapa: Realizado a codificação dos dados; organizado as categorias; analisado os
dados.
5ª etapa: Apresentação dos resultados na instituição; apresentação dos resultados
em banca fechada e pública.
5.7 Aspectos éticos da enfermagem
Hudach e Gallo (1997, p.82) afirmam que "respeitar a autonomia é tratar o outro
com respeito e respeitar o plano de ação que ele escolhe. O princípio da autonomia origina
a regra do consentimento informado", mencionado no Código de Ética da Enfermagem, no
capítulo IV, que descreve os deveres daqueles que se submetem a este código. Em seu
artigo 35, dispõe que devemos solicitar consentimento do cliente ou do seu representante
legal, de preferência por escrito, para realizar ou participar de estudo ou atividades de
ensino em Enfermagem mediante apresentação da informação completa dos objetivos,
riscos e benefícios, garantia de anonimato e sigilo, do respeito à privacidade e intimidade,
e sua liberdade de participar ou desistir de sua participação na hora que desejar.
Polit e Hungler (1995) enfocam a necessidade de levar-se em consideração, no
43
processo de pesquisa, o aspecto ético de proteção dos direitos daquelas pessoas que
participam de trabalhos de ensino-pesquisa.
Nesta pesquisa foi solicitado aos participantes e/ou envolvidos, o consentimento
verbal, livre e esclarecido, bem como foi explicado a eles que seria respeitado os princípios
básicos da ética, tais como: o principio da beneficência: não causar danos aos participantes
da pesquisa e/ou trabalho e não explorá-los e o princípio do respeito à dignidade humana.
As famílias participantes ficaram bem a vontade para participarem ou não da pesquisa. Foi
respeitado o direito de permanecerem anônimos e considerado o princípio da justiça que é
tratamento justo e igual para todos. Explicamos a todos os aspectos e finalidades do nosso
estudo e mantivemo-nos abertos para qualquer esclarecimento.
Este estudo seguiu o que dita o Conselho Nacional de Saúde, em sua Resolução nº
196, de 10 de outubro de 1996, relacionado às pesquisas envolvendo seres humanos,
atendendo as exigências éticas e científicas.
44
6 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS
RESULTADOS
Este capítulo tem como objetivo apresentar os dados, a análise e interpretação dos
resultados obtidos por intermédio das entrevistas realizadas com os clientes
traqueostomizados de um hospital da grande Florianópolis.
O presente estudo procurou desenvolver uma proposta de comunicação entre o
cliente traqueostomizado, família e equipe de enfermagem, baseada em alguns conceitos
da Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Transcultural de Madeleine
Leininger.
Esta pesquisa nos possibilitou também buscar medidas para prevenir e minimizar o
estresse no corte abrupto da fala ao cliente traqueostomizado e seus familiares, durante a
assistência de enfermagem prestada a estes clientes no período pós-operatório.
A assistência de enfermagem desenvolvida nesta pesquisa contemplou cinco
clientes traqueostomizados e suas respectivas famílias, sendo três deles em uma unidade de
terapia intensiva e dois em uma unidade de clinica cirúrgica, no período de 01 a 30 de
outubro de 2007. As famílias foram abordadas antes do horário da visita, convidando-as a
fazerem parte deste estudo, respeitando as normas da ética no desenvolvimento de um
trabalho científico.
Os setores onde os clientes se encontravam, em sua estrutura física não havia
espaço para que os familiares pudessem acompanhá-los no período pós-operatório. Na
maioria das vezes a enfermagem tentou adequar condições para que o familiar tivesse o
mínimo de conforto. Apesar desta deficiência, alguns familiares decidiram permanecer
junto ao seu parente.
Nesta pesquisa os clientes traqueostomizados receberam a denominação dos
elementos dos signos do zodíaco: escorpião, sagitário, capricórnio, aquário e peixes.
Para nortear o estudo, durante as entrevistas foi aplicado um roteiro de entrevista
flexível semi-estruturado sendo utilizado com o intuito de direcionar o diálogo,
identificando os estímulos que poderiam estar modificando os comportamentos durante a
entrevista, permitindo o estreitamento da relação acadêmica e sujeitos deste estudo (neste
caso enfermagem, cliente e família).
Procuramos identificar as dificuldades apresentadas na comunicação não-verbal
entre o cliente traqueostomizado, família e equipe de enfermagem durante os horários de
45
visitas, visando manter um melhor contato com esses familiares, vivenciando o dia-a-dia
destas famílias junto a um indivíduo traqueostomizado, pois entendemos que essa situação
gera também outros problemas além da ausência da comunicação verbal.
Por se tratar de um estudo convergente assistencial, segundo Trentini e Paim
(1999), nesta modalidade de investigação, o pesquisador “mantém durante todo o processo,
uma estreita relação com a situação social, com intencionalidade de encontrar soluções
para problemas, realizar mudança e introduzir inovações na situação social”. Durante os
encontros realizados, com a equipe de enfermagem e familiares dos traqueostomizados
foram identificadas variações e semelhanças das informações, expondo as intervenções
realizadas durante a assistência (manutenção, negociação e repadronização do cuidado
cultural).
Os dados obtidos através das entrevistas foram transcritos para a análise das
mensagens e classificação dos elementos constitutivos por representatividade, pertinência,
diferenciação e agrupamento de caracteres ou temas comuns, definindo as categorias
abaixo relacionadas:
1)Dimensão da estrutura cultural e social dos clientes traqueostomizados:
Caracterização do Sujeito
DENOMINAÇÃO
SEXO
IDADE
RELIGIÃO
ESTADO CIVIL
GRAU DE INSTRUÇÃO
ESCORPIÃO FEMININO 83 CATÓLICA CASADO 1º GRAU INC. SAGITÁRIO MASCULINO 52 ESPÍRITA CASADO NÍVEL SUPER.
CAPRICÓRNIO MASCULINO 42 CATÓLICA CASADO 1º GRAU COMP
AQUÁRIO MASCULINO 33 CATÓLICA DIVORCIADO 1ºGRAU COMP
PEIXES MASCULINO 79 CATÓLICA VIÚVO ANALFABETO Quadro I – Caracterização do Sujeito Fonte – Dados das autoras (2007)
O modelo do sol nascente (Sunrise) de Madeleine Leininger descreve os seres
humanos como inseparáveis de suas referências culturais e sua estrutura social, visão do
mundo, história e contexto ambiental. O sexo, a religião a idade, o grau de instrução, a
classe social são considerados fatores preponderantes no interior de uma dada estrutura
social e cultural e, portanto, são essenciais para a prática dos cuidados culturais em
enfermagem. Nesta pesquisa a dimensão biológica do cliente traqueostomizado e outras
correlacionadas a ela, foram consideradas do ponto de vista holístico, e não como se
fossem autônomas e separáveis.
46
Nem todos os clientes são católicos praticantes inclusive um deles o denominado
sagitário acredita também em alguns preceitos de outras religiões.
Leininger (1985), afirma que os elementos que distinguem de forma genuína a
enfermagem das contribuições de outras disciplinas são: o conhecimento da cultura do
cliente que, também é um intera gente na prática terapêutica, tendo por base que a idéia de
que a assistência de enfermagem deve possibilitar uma percepção crítica para o
crescimento, o desenvolvimento e a sobrevivência dos seres humanos. Para tanto é
necessário compreender plenamente o conhecimento cultural e o papel que ele assume
tanto nas pessoas que recebem o cuidado como naquelas que prestam o cuidado em
diferentes meios culturais.
Com relação ao grau de instrução dos sujeitos desta pesquisa, constatamos que
assim como havia um cliente com nível superior, um deles era analfabeto, caracterizando
uma vez mais as diferenças existentes entre os seres humanos, e que, portanto o cuidado
cultural a eles oferecido foi de forma individualizada.
Nesta pesquisa realizada, os clientes em sua maioria pertencem à classe média,
moram em residência própria, possuem luz elétrica, esgoto, telefone, porém um deles
reside em casa cedida por parente e não possui água encanada e rede de esgoto. Uma
característica comum nos participantes deste estudo é que todos procuraram à rede
hospitalar pública, pois não possuem planos de saúde.
2) Resgate da fonte informativa destes clientes diante das principais dúvidas/
Necessidades educativas:
Ao iniciar o processo de teorização e transferência proposto por Trentini e Paim
(1999), socializou-se a pesquisa e concretizou-se o pensamento sobre a importância do
processo educativo como parte integrante do cuidado de enfermagem com o cliente
traqueostomizado com base nas principais dúvidas e necessidades dos mesmos, mantendo
a congruência e o saber popular.
A falta de conhecimento sobre técnicas de comunicação esteve presente na maioria
dos clientes participantes deste estudo. Ao propormos algumas formas de comunicação,
percebemos nitidamente uma nova forma de encarar as dificuldades que ora estavam se
apresentando;
Observamos também que a equipe de enfermagem apresentou dificuldades para
manter uma comunicação efetiva com os clientes traqueostomizados sendo necessária a
nossa interferência orientando-os com relação às novas técnicas. Neste momento
47
apresentamos aos mesmos algumas formas de comunicação, utilizando a prancheta, papel e
caneta, aproveitando também a disponibilidade do leptop pertencente ao familiar do cliente
aquário.
É com uma comunicação efetiva que o profissional poderá ajudar o paciente a
identificar suas necessidades, visualizar sua participação na experiência e participar na
seleção das alternativas de solução das mesmas.
Para Stefanelli (1993), os tipos de comunicação são: a comunicação verbal: refere-
se às palavras expressadas por meio da fala ou escrita; a comunicação não-verbal: referem-
se aos gestos, silêncio, expressões faciais, postura corporal e outros. No decorrer desta
pesquisa, todas estas técnicas foram utilizadas com os clientes traqueostomizados.
"Cabe ao enfermeiro desenvolver meios, instrumentos, técnicas, habilidades, capacidade e competência para oferecer ao paciente uma condição adequada de comunicação e o ajudando a identificar suas necessidades" (MELLES & ZAGO, 2001)
Quando entramos em contato com o cliente denominado Aquário o mesmo disse
que as pessoas tinham dificuldades de compreendê-lo através dos gestos e que ele já
conseguia se expressar através da escrita, relatando que:
“Eu mesmo busquei um jeito de me comunicar pedindo caneta e papel.
Descobri que podia trancar o buraco da garganta e aos poucos foi
saindo o som bem baixinho”.
Logo no primeiro contato com o cliente denominado Escorpião, imediatamente este
manifestou interesse em aderir à pesquisa mostrando um sorriso nos lábios, franzindo a
testa e apertando a nossa mão. Este cliente já estava conseguindo se comunicar através da
fala ocluindo o estoma da traqueostomia com os dedos. Referiu que conhecia poucas
maneiras de se comunicar, orientamos sobre outras formas de comunicação e nos dias
subseqüentes, quando estava se sentindo melhor, deu início a comunicação através da
escrita e de gestos, neste momento convidamos a equipe de enfermagem da unidade a
participar desta interação.
Com relação ao cliente Sagitário, além do fato de ter se submetido a uma
traqueostomia, apresentava déficit neurológico dificultando mais ainda a comunicação.
Observamos que sempre havia com ele um familiar, e conseguimos interagir com essa
família, orientando-os quanto aos cuidados com a traqueostomia, bem como demonstrando
através do toque uma forma de se comunicarem. As trocas de informações com os
familiares deste cliente foram bem intensas, os mesmos buscaram forças na sua religião, o
48
espiritismo, pois são kardecistas atuantes, conforme pode se constatar na fala de um dos
familiares:
“Nós realizamos algumas orações aqui no quarto e o meu marido mesmo
não conseguindo falar a gente percebe e sente a alegria dele só pelo seu
olhar...”.
Stefanelli (1993) relata que o olhar aliado à expressão facial, a um gesto ou
expressão corporal pode favorecer dados importantes para o cuidado dedicado a este ser
humano.
A expressão facial do sagitário indicava que ele sentia-se incomodado com a
posição no leito e quando solicitávamos para realizar a mudança de decúbito ele respondia
piscando os olhos. Essa foi uma maneira de interagir com esse cliente, realizando a
comunicação.
Interagindo com outro familiar do cliente sagitário, o mesmo nos relatou como
conseguiu se comunicar com o seu parente, utilizando o toque através do aperto de mão,
conforme sua fala a seguir:
“O meu primo chega a chorar quando falamos de deus para ele... Isso
nos deixa muito mais unidos e nesse momento ele até aperta a nossa
mão, tipo agradecendo, eu sei...”.
Com o cliente Capricórnio, conseguimos interagir e realizar a comunicação através
do olhar. Observamos que os familiares se preocupavam com o “déficit" na comunicação
verbal e entendiam que somente com o olhar, a comunicação tornava-se bastante difícil.
Stefanelli (1993) propõe que para compensar esta deficiência, o ser humano lança
mão de outras estratégias comunicacionais, que muitas vezes não são compreendidas pela
família. Acreditamos que este fato ocorra devido à falta de preparo e conhecimento,
evidenciando um vazio que a enfermagem precisa explorar com esses familiares.
Na tentativa de nos comunicarmos com este cliente, sentimos que ele nos ouvia
bem, e após alguns dias começou a escrever. Foi estimulado a ter coragem e junto com a
equipe de enfermagem se expressou através da escrita conforme o registro abaixo:
“tudo o que eu quero é que meus familiares tenham calma comigo... ‘’
O cliente denominado Peixes tentava se comunicar com a família através de gestos,
porém a família encontrava dificuldades para compreender seus gestos, então orientamos a
todos sobre a importância da calma para atender o seu parente, evitando o estresse do
mesmo, e enfatizando que este é um modo bastante eficaz para a comunicação e
conseqüentemente sua recuperação.
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Quando oferecido ao peixe à prancheta e caneta sabíamos que ele era analfabeto e
viúvo, mais ficamos ali ao se lado aguardando alguma forma de comunicação, foi quando
ele desenhou uma casa dando a entender que queria ir embora. Ao mostrar o desenho aos
seus familiares a filha relata:
“A gente sabe que tudo o que ele quer, é ir para a sua casa . A mãe não
esta mais lá, é ele que cuidava de tudo... ele tem amor por tudo lá...”.
A educação do cliente traqueostomizado e o planejamento para alta criam uma
função vital e emergente para nós enquanto acadêmicas e cuidadoras deste cliente, devido
à ênfase crescente com relação à redução da permanência no hospital e aos cuidados
domiciliares.
3) O cuidado cultural e educativo
Ao obtermos conhecimento sobre os indivíduos traqueostomizados e suas famílias,
proporcionamos significados e expressões culturalmente específicos em relação ao cuidado
e à saúde de cada um deles. Esta informação permitiu a identificação de similaridades e
diferenças ou a universalidade e a diversidade do cuidado cultural.
O Processo de Enfermagem nesta pesquisa foi denominado de Processo de Cuidar
composto de quatro etapas:
a) Conhecendo a situação do cliente traqueostomizado e sua família;
b) Definindo a situação;
c) Propondo e desenvolvendo o cuidado;
d) Refletindo a situação e o cuidado.
Atendendo a um dos objetivos desta pesquisa que foi de elaborar ações de
enfermagem visando um atendimento mais humanizado ao cliente traqueostomizado,
durante o convívio com aqueles clientes, o Processo de Enfermagem se fez presente
através do levantados de alguns diagnósticos e intervenções (Quadro I) bem como um
Plano de Cuidados, (Quadro II) visando prestar uma assistência de qualidade aos clientes
submetidos à traqueostomia, sujeitos deste estudo.
Silva (1996) afirma que para definir o plano de cuidados a um paciente ele precisa
primeiro decodificar, decifrar e perceber o significado das mensagens que o paciente envia.
DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM
Comunicação verbal prejudicada Manter o dispositivo de chamada da equipe de enfermagem ao alcance do paciente; Estabelecer com ele, já no pré-operatório, uma forma de comunicação: – Frases
50
uma forma de comunicação: – Frases expressando necessidades, já escritas, para ele apontar; códigos de sinais; prancheta, papéis, lápis.
Risco de Integridade da Pele Prejudicada
Manter técnica asséptica nos procedimentos envolvendo o estoma (curativo, limpeza e fixação da cânula, aspiração); Manter curativo e fixador da cânula limpos e secos; Manter ambiente arejado; Evitar penetração de água, pelos e partículas durante higienização;
Risco de Integridade da Pele Prejudicada relacionado a fatores mecânicos (cadarço) e
umidade
Fixar corretamente a cânula ao pescoço utilizando cadarço de material macio; Aspirar secreções sempre que necessário; Conservar a pele peri-traqueostomia hidratada com creme suave; Manter boa higiene na área ao redor da traqueostomia, limpado-a com sabonete neutro e água limpa, cuidadosamente, pelo menos duas vezes ao dia.
Risco de Integridade Tissular Prejudicada (mucosa traqueal)
Prevenir compressão da mucosa traqueal pelo balonete (“cuff”) insuflando-o adequadamente. OBS: Estudos tem demonstrado que pressões superiores a 30 cm de H2O (23 mm Hg) alteram a perfusão da mucosa traqueal gerando lesões isquêmicas. Estas lesões podem evoluir para granulomas ou fibromas, acarretando estenose da luz traqueal.
Risco Para Lesão
Cuidar para que os circuitos dos nebulizadores ou respiradores não exerçam tração sobre a traquéia ou que puxem para fora a cânula Cuidar para que não sejam usados cigarros ou aerosóis no ambiente.
Risco de infecção
Avaliar presença de secreções nas vias aéreas inferiores, e providenciar sua eliminação quando necessário (tosse, drenagem postural, fisioterapia respiratória e/ou aspiração); Incentivar o uso de máscara pelos profissionais ou visitantes que estejam com processos infecciosos respiratórios; Evitar locais fechados e aglomerações.
Risco de Sufocação
Avaliar presença de secreções nas vias aéreas e providenciar sua eliminação quando necessário (tosse, drenagem postural, fisioterapia respiratória e/ou aspiração);
Quadro I – Diagnósticos/Intervenções Fonte- Dados das Autoras- (2007)
51
PLANO DE CUIDADOS
01.Manter a cânula permeável. 02.Manter e respeitar a dependência do cliente para o auto cuidado devido a sua imobilização. 03.Negociar e incentivar o cliente para a comunicação não-verbal através da escrita, fornecendo papel e caneta. 04.Manter e apoiar a família quanto à compreensão dos gestos e expressões faciais podendo haver combinação de códigos para facilitar a interação. 05.Auxiliar a família, esclarecendo dúvidas quanto à assistência de enfermagem. 06.Capacitar e ouvir a família no enfrentamento das dificuldades. 07.Compartilhar com a família a importância da calma ao lado do cliente, para evitar o estresse do mesmo, sendo um modo eficaz para a recuperação. 08.Fazer e /ou auxiliar a família na realização da higiene do cliente. 09.Manter os cuidados quanto ao curativo ao redor da cânula e fazer a aspiração da secreção traqueal. 10.Conversar com a família a se manterem calmos, confiantes na recuperação dos clientes traqueostomizados. 11. Compartilhar com a família as dificuldades e esclarecer dúvidas 12. Dialogar com o cliente usando mais a comunicação escrita, depois os gestos e ou combinar códigos para facilitar a interação família cliente e enfermagem. 13. Esclarecer ao cliente para não forçar a voz 14. Auxiliar a família na alimentação do cliente. 15. Compartilhar com a família a existência de serviços especializados (Fonoaudiologia) para readaptar a voz ou reeducá-la 16. Esclarecer e incentivar o cliente quanto à comunicação por escrito para melhorar a interação com a enfermagem principalmente na ausência de familiares.
Quadro II – Plano de Cuidados Fonte – Dados das Autoras – (2007)
4) Adaptação à nova situação
Com relação à alteração da imagem corporal, foi citada diretamente por um dos
clientes, sabemos que será um fato relevante na vida destas pessoas e que precisará ser
trabalhada, buscando junto a eles a sensação de autovalor e auto-respeito aprendendo a
enfrentar uma imagem corporal e um estilo de vida alterado. Durante os contatos com os
clientes procuramos incentivá-los com relação à imagem corporal, sugerindo o uso de
diversos artifícios como, por exemplo, lenços, colares, utilizados como adornos no local da
traqueostomia.
Escorpião escreve então sobre a sua vaidade:
“Sei que vou custar a tirar esse caninho do meu pescoço, acho tão feio...
sou caprichosa comigo... eu tenho uns lenços em casa, vai ser bom para
disfarçar...”.
Donahoe, K.J, (1995) cita que a integridade psicossocial freqüentemente esta
52
entrelaçada à percepção que a pessoa tem de sua aparência física. O cliente
traqueostomizado precisa se adaptar à nova situação, pois sua auto-imagem poderá estar
afetada, conseqüentemente os sentimentos de ausência de atratividade podem diminuir a
auto-estima e contribuir para uma imagem corporal negativa.
Durante o decorrer desta pesquisa nossa preocupação foi além dos cuidados físicos,
pois foi preciso nos imbuir do discernimento e de uma compreensão da mente humana,
caracterizando novos desafios na promoção dos cuidados de enfermagem ao cliente
traqueostomizado.
A alteração das vias aéreas superiores, com comprometimento da troca gasosa
esteve presente no pós-operatório, necessitando de intervenções imediatas por parte da
equipe de enfermagem. Durante a entrevista com o cliente capricórnio, certo momento
realizou gestos dando a entender que necessitava ser aspirado. Após realizar a aspiração o
mesmo fez gesto de positivo como forma de agradecimento, havendo melhora na sua
expressão facial.
Todos os clientes apresentaram risco para infecção, visto que se submeteram a um
procedimento cirúrgico em uma área considerada potencialmente contaminada, e, portanto
foram necessárias intervenções de enfermagem voltadas unicamente para que estes clientes
não apresentassem nenhum sinal de infecção durante sua permanência no hospital, como
também orientações à família e ao cliente com relação aos cuidados com a traqueostomia
no retorno ao seu domicílio.
O trabalho realizado nesta pesquisa com os clientes traqueostomizados permitiu ajudá-
los a expressarem sentimentos e percepção com relação ao estoma, identificarem expectativas
sobre a alteração prevista da estrutura/função corporal, transmitir a eles senso de respeito pela
capacidade e força em adaptar-se a nova situação, conforme podemos constatar na fala do
cliente Aquário:
“Agora estou me sentindo mais seguro para enfrentar o que vem ainda
pela frente”.
53
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os clientes submetidos a procedimentos cirúrgicos como traqueostomias,
representam um desafio para a enfermeira perioperatória. Estes clientes apresentam
necessidades físicas e psicossociais que precisam ser trabalhadas. Os clientes
traqueostomizados enfrentam alteração da imagem corporal além da alteração das vias
aéreas superiores. O sangramento pós-operatório pode criar sentimentos de pânico e
sufocação. Com certeza haverá comprometimento da comunicação verbal, deixando-o
apreensivo com relação a um novo método de comunicação efetivo com a equipe e família.
A enfermeira perioperatória deve rapidamente avaliar, planejar e implementar ações
para assegurar uma via aérea adequada, e também tranqüilizar o cliente explicando as
ações e resultados esperados.
Esta pesquisa oportunizou as acadêmicas a prestarem uma assistência de
enfermagem de qualidade objetivando desenvolver uma proposta de comunicação entre o
cliente traqueostomizado, família e equipe de enfermagem, baseada em conceitos da
Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger.
Através deste estudo, conseguimos compreender, compartilhar mensagens enviadas
e recebidas realizando a comunicação, influenciando no comportamento das pessoas,
equipe de enfermagem, cliente e seus familiares.
Consideramos que a comunicação é um instrumento básico da assistência de
enfermagem, ou seja, o processo que possibilita o relacionamento enfermeira-paciente,
além de ser uma necessidade humana básica, que torna a existência humana possível. Para
nós a comunicação verbal depende da linguagem, pois ela é o recurso que os pacientes
utilizam para expor suas idéias e compartilhar experiências.
Para a enfermagem, o conceito de comunicação terapêutica consiste na habilidade
do profissional usar seu conhecimento sobre comunicação para ajudar a pessoa com tensão
temporária a conviver com outras pessoas e ajustar-se ao que não pode ser mudado, e a
superar os bloqueios à auto-realização para enfrentar seus problemas.
Durante a assistência de enfermagem prestada pelas acadêmicas, a comunicação
entre o cliente traqueostomizado, família e equipe de enfermagem, contemplou o propósito
de gerenciar os estímulos externos e internos, modificando e ampliando os fatores
desencadeadores do comportamento ineficaz do regime terapêutico para que os clientes
54
traqueostomizados obtivessem a capacidade em se adaptar com o corte abrupto da voz,
utilizando técnicas adequadas e compreendidas pelos mesmos e seus familiares.
Ao decidirmos sobre o tema abordado e que este seria desenvolvido junto à família
do cliente traqueostomizado, não sabíamos, que ao enfrentar uma situação tão especial
como foi a do cliente traqueostomizado e sua família, fosse ao mesmo tempo uma tarefa
tão difícil e fascinante.
Frente à importância de um meio de comunicação para os traqueostomizados no
pós-operatório visando a sua integração no contexto hospitalar, é fundamental que
busquemos também por recursos eficientes e de baixo custo para a instituição, suprindo
esta necessidade dos clientes traqueostomizados
A literatura de enfermagem aponta como um recurso possível à utilização de
prancheta, papel e caneta e ate um Lep Top, pelo fato deste recurso ter uma boa aceitação
entre os clientes. Assim, buscamos neste estudo avaliar a adequação e a aceitação desse
recurso pelos traqueostomizados. Os resultados nos mostraram que ele é adequado e aceito
pelos clientes sem limitações, necessitando apenas que este tenha a habilidade da escrita e
que a equipe de enfermagem proporcione liberdade ao mesmo para escrever, não o
interrompendo, procurando manter a punção venosa no membro não utilizado para a
escrita, e motivando-o para a sua utilização enquanto outros recursos não forem possíveis.
Trabalhar com as famílias na área da enfermagem é algo que está apenas
começando, apesar de várias enfermeiras já terem abordado este tipo de assistência em
seus trabalhos. Entretanto nesta pesquisa exigiu muito esforço, conhecimento e, acima de
tudo, interesse dos profissionais em saber compartilharem o cuidado a ser prestado.
Surgindo desta forma, um grande desafio no cuidado ao paciente traqueostomizado visto
que precisamos aprender a dividir e compartilhar esta responsabilidade com a família.
Ao fazer estas reflexões de como cuidar, observamos que o referencial teórico
adotado para guiar esta pesquisa foi adequado para cuidar clientes e suas famílias, porque
permitiu propiciar um cuidado individual, humanístico, e holístico, uma vez que, através
do conhecimento da cultura de quem necessita do cuidado, não ocorrerá por parte do
cuidador imposição cultural ou choque cultural.
Muitas vezes a enfermagem focaliza somente a patologia dos clientes apesar de
cuidar deste indivíduo de forma individualizada, esquecendo que holisticamente devemos
levar em consideração os fatores sócio-ambientais e sócio-culturais, econômicos e políticos
que interferem na saúde destas pessoas. Medeleine Leininger centra sua teoria nos seres
humanos levando em consideração os seus valores, crenças, sentimentos e linguagem, que
55
nesta pesquisa esteve presente no enfoque principal relacionado especificamente à
comunicação dos clientes traqueostomizados. Recomendamos o uso deste referencial, pela
enfermagem, como um guia para propiciar um cuidado culturalmente congruente no
cotidiano da prática assistencial.
Em relação aos conceitos propostos pela teórica, observamos ser o cuidado e a
cultura os de maior relevância da Teoria da Diversidade e Universalidade Cultural do
Cuidado, uma vez que a partir do momento que conhecemos a visão de mundo e o
contexto social de quem necessita, o cuidado será prestado de maneira adequada, sem a
interferência nos hábitos, valores, crenças do cliente/ser humano, família ou grupo. Com o
exposto, recomendamos que nós da enfermagem façamos uma análise de como o cuidado
está sendo propiciado, pois o que observamos muitas vezes, é que ele é oferecido conforme
a visão de mundo da enfermagem e não conforme as necessidades do cliente.
Foi nessa visão que buscamos inovar os conhecimentos na comunicação não-
verbal, para podermos proporcionar a estes clientes traqueostomizados um cuidado
conforme a sua necessidade, compartilhando com as famílias as formas da comunicação.
Consideramos que este estudo fez mudar o nosso jeito de pensar e agir como
profissional de saúde. Ele nos deu respaldo cientifico sobre os três níveis de ação propostos
por Leininger, e reconhecer que o cuidado deve ser planejado junto ao cliente e sua
família, pois somente assim ele será aceito e não imposto.
Durante o tempo em que permanecemos com estas famílias, percebemos como é
importante entender o cuidado culturalmente transmitido entre os seus membros, através de
suas crenças e valores, conflitando com a nossa cultura e nosso conhecimento profissional,
sendo fundamental nos vigiarmos para não cairmos no "compartilhar vertical", onde se
impõe o saber, sem avaliar junto às famílias como desejam receber o cuidado.
Ao sairmos desta experiência com famílias que vivenciam uma fase delicada da
doença de seus parentes, sabemos que nem sempre é possível "repadronizar uma situação",
apenas negociá-la, tentando "adaptar situações", de forma a tornar mais benéficos os
cuidados praticados de acordo com o contexto cultural onde estas famílias estão inseridas.
Como seres humanos e profissionais da área da saúde, obtivemos um grande
aprendizado com as famílias assistidas, durante o período de interação que mantivemos
com as mesmas, havendo trocas e constantes experiências e saberes. A execução desta
pesquisa contribuiu para o crescimento científico, intelectual, espiritual e pessoal das
acadêmicas.
56
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63
APÊNDICE A – Termo de compromisso de orientação
TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO
Eu, Chistiane R. V. Ribeiro, professora da disciplina. Saúde do Adulto e o Idoso, do
Curso de Graduação de Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, concordo em
orientar as acadêmicas Cristiane Ferreira Souza e Edilene Casas no decorrer do
desenvolvimento da pesquisa, conforme projeto ora submetido à aprovação. A pesquisa
tem como tema: A enfermagem e o cliente traqueostomizado: Uma proposta de
comunicação entre o cliente e família e equipe de enfermagem.
As orientandas estão cientes das Normas para Elaboração do Trabalho monográfico
de Conclusão de Curso de graduação de Enfermagem, da UNIVALI bem como do
calendário de atividades propostas.
Biguaçu (SC), ___/___/_____.
________________________ Profª Christiane R. V. Ribeiro
Orientadora
64
APENDICE B – Termo de aceite da instituição
TERMO DE ACEITE DA INSTITUIÇÃO
Declaro para devidos fins, que autorizo a realização do Projeto de Pesquisa: A
enfermagem e o cliente traqueostomizado: Uma proposta de comunicação entre o cliente e
família.
O estudo será realizado pelas acadêmicas Cristiane Ferreira Souza e Edilene Casas
do Curso de Graduação de Enfermagem, da UNIVALI, sob a orientação da Profª
Christiane R. Veríssimo Ribeiro.
Biguaçu (SC), ___/___/_____.
_____________________________ Assinatura e carimbo do responsável
65
APENDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma
pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer
parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e
a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado (a) de
forma alguma.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Título do Projeto: A Enfermagem e o Cliente Traqueostomizado: uma proposta de
comunicação entre o cliente e família, e equipe de enfermagem.
Pesquisador Responsável: Christiane Riggenbach Veríssimo Ribeiro
Telefone para contato: (048) 32227074
Pesquisadores Participantes: Cristiane Ferreira de Souza e Edilene Casas
Telefones para contato: (048) 33466805 e (048) 32962170
Esta pesquisa tem como objetivo desenvolver uma proposta de comunicação entre o
cliente traqueostomizado, família e equipe de enfermagem, baseada na Teoria da
Diversidade e Universalidade do Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger.
Através deste estudo pretende-se buscar medidas para prevenir e minimizar o
estresse no corte abrupto da fala dos clientes traqueostomizados e seus familiares no
período pós-operatório bem como ampliar o corpo de conhecimento da enfermagem no
tocante à comunicação não verbal do cliente traqueostomizado, visando prestar uma
assistência de enfermagem de qualidade.O presente estudo será realizado no período de
primeiro a trinta de outubro do corrente ano.As informações serão consideradas
confidenciais e de caráter científico, sendo obtidas através de entrevista com questões
abertas e fechadas. Não haverá identificação nominal, sendo sua participação voluntária,
podendo desistir a qualquer momento, pessoalmente ou através dos telefones acima, sem
que sofra algum tipo de sanção ou prejuízo durante a sua hospitalização. Os resultados
66
desta pesquisa serão encaminhados para as Instituições envolvidas bem como para os
participantes da mesma.
_________________________ Assinatura dos Pesquisadores
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu, ____________________________________________, RG______________, CPF
__________________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como
sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela
envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação.
Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto
leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento.
Local e data
Nome:
Assinatura do Sujeito
ou Responsável:
Telefone para contato:
67
APENDICE D – Roteiro para entrevista
Nome: Idade: Sexo: Fem. ( ) Masc. ( )
Casado Sim ( ) Não ( ) Divorciado Sim ( ) Não ( ) Filhos Sim ( ) Não ( ) Quantos
Possui ocupação? Sim ( ) Não ( ) Está aposentado? Sim ( ) Não ( ) Possui hábitos de lazer? Sim ( ) Não ( ) Quais?
Grau de Escolaridade: Alfabetizado: Sim ( ) Não ( ) Até o 1º Grau ( ) 1º Grau Incompleto ( ) 1º Grau Completo( ) Nível Superior ( )
Origem: Indígena ( ) Alemã ( ) Italiana ( ) Açoriana ( ) Outros:
Residência: Própria ( ) Cedida ( ) Invadida ( ) A residência possui: Água encanada: Sim ( ) Não ( )
Luz: Sim ( ) Não ( ) Telefone: Sim ( ) Não ( ) Esgoto: Sim ( ) Não ( )
Renda Familiar: Menos de um salário mínimo: Sim ( ) Não ( ) Até um salário mínimo? Sim ( ) Não ( ) Mais de um salário mínimo? Sim ( ) Não ( )
Religião: Católico: Sim ( ) Não ( ) Evangélico: Sim ( ) Não ( ) Espírita: Sim ( ) Não ( ) Praticante: Sim ( ) Não ( ) Outros: ( ) Quais:
Durante a entrevista havia familiares presentes? Sim ( ) Não ( ) Durante a entrevista havia amigos presentes? Sim ( ) Não ( ) A traqueostomia foi de urgência? Sim ( ) Não ( ) Eletiva: Sim ( ) Não ( ) Neste momento quais as formas que você encontrou para se comunicar? Você sentiu alguma dificuldade para se comunicar após ter sido submetido à traqueostomia? Sim ( ) Não ( ) Quais foram estas dificuldades? Você foi orientado sobre as formas de comunicação que existe? Sim ( ) Não ( ) Se a resposta for afirmativa, qual ou quais pessoas fizeram esta orientação?