3
I «A engenharia é m acto colectivo» Apaixonado desde pequeno pela engenharia, RuiFurtado tem revelado um percurso invejê Obras como as do Estádio Municipalde Bragae a Casa da Música provam o mérito de um prc que indiscutivelmente encara a engenharia como uma actividade pluridisciplinar I - - "" CarinaTra.ça O que o motivou a seguir a carreira de engenheiro dvil? Rui Furtado: Não tive nenhum motivo em especial. O meu avô foi engenheiro civil, mas tive muito pouco contacto com ele, daí acre- ditar que não tenha sido qualquer influência familiar. Desde peque- no sempre fui um engenhocas e cedo senti vocação pela engenha- ria. Para além disso tive também sempre muita apetência para as áreas das matemáticas e físicas, portanto quando chegou a altura de decidir pela minha carreira profissional já sabia que a enge- nharia era claramente o meu sec- tor. E.. .adorei o curso. Porquê a op{ão pela espe- daliza{ão em estruturas? A escolha pela vertente das estru- turas foi mais ou menos evidente, porque de todas as áreas de en- genharia civil a de estruturas é talvez a opção mais científica e, , li. ~ para uma pessoa que gosta de matemáticas e físicas era claro que fosse esta a opção. As outras áreas por estarem mais direccio- nadas para a parte prática não se identificavam muito comigo, daí enveredei pelo trabalho de gabi- nete, que foi aquilo que me fasci- nou na altura. No seu percurso profissio- uallecdouou e trabalhou durante algum tempo, mas depois acabou por deixar a carreira acadé- m.ica. Porquê? Depois de acabar o curso na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto concorri para dar aulas e adorei ser pro- fessor. Mas por uma questão per- sonalidade não consegui na altu- ra conciliar as duas actividades. Na altura, comecei também por trabalhar numa empresa ligada à Efanor e ao mesmo tempo tam- bém para a Mobil, com a tarefa ~ de realizar projectos e fiscaliza- ções de postos de abastecimento. A experiência na Móbil deu-me uma visão muito à americana, ou seja, a empresa em termos de organização e de resultados apre- sentava uma eficiência e pragma- lismo absolutamente fascinante e, por isso considero que foi uma grande experiência. Entretanto, o engenheiro Adão da Fonseca desafiou-me para lançarmos em conjunto uma empresa de con- sultaria de engenharia civil, eu aceitei, e em 1985 arrancou o pro- jecto. Ao fim de algum tempo, decidi que tinha que abandonar a carreira académica porque a minha aposta era fazer nascer e desenvolver a nova empresa AFA,na qual ainda hoje estou. Foi uma dedsão difícil? Não. A minha decisão foi fácil porque o meu sonho era fazer nascer um projecto como esta empresa, embora tenha tido -.J muita pena de abandonar o ensi- no, porque se houve coisa de que eu gostei foi leccionar nas disci- plinadas de desenho. Desde então passaram. 21 anos. Ao longo deste tempo dedicou-se a 100 por cento à AFA, que balan- {O faz da sua actividade? Faço um balanço muito positivo. Eu acho que uma das coisas fun- damentais da actividade é a pes- soa gostar do que faz, e eu franca- mente gosto muito do que faço e indiscutivelmente sinto-me um privilegiado. Obviamente que ao longo de cerca de vinte anos houve momentos bons e maus, mas durante este tempo todo con- segui fazer projectos que na altura não imaginava vir executar; por isso deste ponto de vista sinto-me realiz.ado. Contudo, continuo a sonhar e a lutar pela concretização de muito mais coisas.. .Tenho orgulho de trabalhar com uma equipa bastant, nível técnico m no e, por isso es rançado face aa Considera. da AFA? É verdade que gouaserom da empresa, m que eu não priamente com me de facto equipa e isso te importante. Projectos pluridiscip Como enca acta colectivo Enquanto que seria possível nheiro numa, tica de profiss em dia an

«A engenharia é acto colectivo» - Projetos de Engenharia – … · porque o meu sonho era fazer nascer um projecto como esta empresa, embora tenha tido-.J muita pena de abandonar

Embed Size (px)

Citation preview

I

«A engenharia é macto colectivo»

Apaixonado desde pequeno pela engenharia, RuiFurtado tem revelado um percurso invejêObras como as do EstádioMunicipalde Bragae a Casa da Músicaprovam o mérito de um prc

que indiscutivelmenteencara a engenharia como uma actividade pluridisciplinar

I--

""

CarinaTra.ça

O que o motivou a

seguir a carreira de

engenheiro dvil?Rui Furtado: Não tive nenhum

motivo em especial. O meu avô foi

engenheiro civil, mas tive muito

pouco contacto com ele, daí acre-

ditar que não tenha sido qualquer

influência familiar. Desde peque-

no sempre fui um engenhocas e

cedo senti vocação pela engenha-ria. Para além disso tive também

sempre muita apetência para asáreas das matemáticas e físicas,

portanto quando chegou a altura

de decidir pela minha carreira

profissional já sabia que a enge-nharia era claramente o meu sec-

tor. E.. .adorei o curso.

Porquê a op{ão pela espe-

daliza{ão em estruturas?

A escolha pela vertente das estru-turas foi mais ou menos evidente,

porque de todas as áreas de en-

genharia civil a de estruturas é

talvez a opção mais científica e,

,li. ~

para uma pessoa que gosta dematemáticas e físicas era claro

que fosse esta a opção. As outras

áreas por estarem mais direccio-

nadas para a parte prática não se

identificavam muito comigo, daí

enveredei pelo trabalho de gabi-

nete, que foi aquilo que me fasci-nou na altura.

No seu percurso profissio-uallecdouou e trabalhou

durante algum tempo,

mas depois acabou pordeixar a carreira acadé-

m.ica. Porquê?

Depois de acabar o curso na

Faculdade de Engenharia daUniversidade do Porto concorri

para dar aulas e adorei ser pro-

fessor. Mas por uma questão per-

sonalidade não consegui na altu-ra conciliar as duas actividades.

Na altura, comecei também por

trabalhar numa empresa ligada à

Efanor e ao mesmo tempo tam-

bém para a Mobil, com a tarefa

~

de realizar projectos e fiscaliza-

ções de postos de abastecimento.

A experiência na Móbil deu-meuma visão muito à americana, ou

seja, a empresa em termos de

organização e de resultados apre-

sentava uma eficiência e pragma-lismo absolutamente fascinante e,

por isso considero que foi uma

grande experiência. Entretanto, o

engenheiro Adão da Fonseca

desafiou-me para lançarmos em

conjunto uma empresa de con-

sultaria de engenharia civil, eu

aceitei, e em 1985 arrancou o pro-

jecto. Ao fim de algum tempo,

decidi que tinha que abandonar a

carreira académica porque a

minha aposta era fazer nascer e

desenvolver a nova empresa

AFA,na qual ainda hoje estou.

Foi uma dedsão difícil?

Não. A minha decisão foi fácil

porque o meu sonho era fazer

nascer um projecto como esta

empresa, embora tenha tido

-.J

muita pena de abandonar o ensi-

no, porque se houve coisa de que

eu gostei foi leccionar nas disci-

plinadas de desenho.

Desde então já passaram.

21 anos. Ao longo deste

tempo dedicou-se a 100

por cento à AFA, que balan-

{O faz da sua actividade?

Faço um balanço muito positivo.

Eu acho que uma das coisas fun-

damentais da actividade é a pes-

soa gostar do que faz, e eu franca-

mente gosto muito do que faço eindiscutivelmente sinto-me um

privilegiado. Obviamente que ao

longo de cerca de vinte anoshouve momentos bons e maus,

mas durante este tempo todo con-

segui fazer projectos que na altura

não imaginava vir executar; por

isso deste ponto de vista sinto-merealiz.ado. Contudo, continuo a

sonhar e a lutar pela concretizaçãode muito mais coisas.. .Tenho

orgulho de trabalhar com uma

equipa bastant,nível técnico m

no e, por isso es

rançado face aa

Considera.

da AFA?

É verdade que

gouaserom

da empresa, m

que eu não

priamente com

me de facto

equipa e isso

te importante.

ProjectospluridiscipComo enca

acta colectivo

Enquanto que

seria possível

nheiro numa,

tica de profissem dia a n

,'ntr, o~ projectos são

Iflmai~pluridisciplinares e

plinarese, portanto um

:Dpdra se levar a bom

~drprndentemente de

~'mpl'\'um responsável de

lo,trm que envolver a

IO,l(dOde um conjunto

drgddode pessoas que

Ifrsgotdmnum só, Tenho

quI'ainda não se tenha

Uldofazer com que esta E

'1mfosse passada para o ~'Irmgrral e interiorizada. ~

il'nlrqur a Ordem dos 8h'lro~ trm uma visão mais

Ildl.li em relação a esta

. porque atribui respon-

,,1d(~dr uma forma perso-

ia mas eu defendo que a

I.,oilidadr deve ser colec-

t nio mdividual,

dgOraqual é o seu

o de elei{ão?

'nlr o projecto que me

I1\dlor ~tisfação foi o Estádio

pdlde Braga, É um projec-

~U('é difíàl racionalizar o

la aconteceu. Acho que

uma simbiose muito gran-

,In'a arquitectura e a enge-

'111que se assistiu a uma

,~ muito grande em termos

obwctivos, bem como uma

mobilização muito grande ao

nível da equipa. Questões técni-

cas, contratuais, do mais compli-

cado que há, vinte e quatros

horas por dia com uma intensida-de absolutamente brutal...é sem

dúvida indiscutivelmente o pro-

jecto que até agora me deu mais

«prazel'" e acho que será dificil-

mente ultrapassável. De facto

como experiência pessoal foi um

projecto absolutamente único.

Mas estou à procura de outro.

Por outro lado, gostei também

muito de participar no projecto

da Casa da Música. Do ponto devista do relacionamento com

entidades estrangeiras foi óptimo

e gratificante. Adorei trabalhar

/

... ~1

o Estádio Municipalde Braga foi o projectoque lhe deu maiorsatisfação. Consideraque seria uma injustiçase a obra não fosse

premiada na área daengenharia

com o holandês Rem Koolhaas e

foi gratificante ter participado

num projecto que eu pessoal-mente considero como «uma his-

tória de amizade», uma vez que

houve uma grande sintonia entre

pessoas culturalmente diferentes.

Ainda hoje nos correspondemos

quase diariamente.

Depois de ter participado

nestas duas grandesobras, alDbiciona lDais

algulD projecto. Qual?

llá de facto alguns projectos que

eu gostava muito de ver construí-dos. É o caso de um restaurante,

em Matosinhos Sul, uma ponte

pedonal em Valença e o projecto

do Parque Mayer em Lisboa. Estes

são sem dúvida os projectos das

minhas novas paixões.

o que representa para si ofado de te sido galardoa-do COlOo Prémo Sem?

IIIIII

Engenhari

Para dizer a verdade, já esque

prémio e hoje já estou ntra...Mas na altura foi ml

importante, pois nós (Afacomestávamos convencidos de

não íamos ganhar; porque

ano passado o Estádio til

ganho o prémio na categoria

arquitectura. Considero,

entanto, que seria uma injus

se a obra não fosse premiada

termos de engenharia.

Já recebeu algulD tipo

convite para trabalhar

estrangeiro?

Não. Já recebemos alguns com

para trabalhar em parceria (

outras empresas estrangeiras, r

a título pessoal não. Mas já

muitas experiências no estran!

ro, como por exemplo, na co

trução do Pavilhão de Portugal

Expo 2000 em Hanover COIT

arquitecto Siza e Souto Moura.Macau tive também uma ex

riência fantástica através do p

jecto de reforço da estrutura

pala de cobertura e estruturabancadas do Estádio de Ma(

para a Mota & Companhia, co

em África com uma ponteCabinda, entre outras. Acho (

profissionalmente é fundamer

projectarmos lá fora para nos ai

as perspectivas. Obviamente que

tenho esse sonho muito presente.

o que pensa sobre o merca-

do da engenharia ao nível

da intemarionalização?

O mercado da engenharia é um

mercado extremamente complexo

e difícil.E quando se fala na inter-

nacionalização, temos que ter

consciência que Portugal não tem

uma notoriedade enquanto país

que permita alavancar a credibili-

dade das empresas de engenharia

portuguesa. Por outro lado, as

empresas nacionais não têm uma

dimensão, regra geral, que lhes

permita investir na intemacionali-

zação, que a meu ver é um factorfundamental. A intemacionaliza-

ção da arquitectura é muito mais

fácil porque é um produto que é

perfeitamente caracterizado, como

é o caso das obras dos arquitectosSiza e Souto de Moura. No caso da

engenharia, esta área não tem as

características únicas que têm as

obras de um arquitecto. Para além

disso, existe a tal questão que estárelacionada com a dimensão das

empresas, pois internacionalizar

no caso da engenharia sih1J1ifica

ocupar o território, e isto implica

um investimento muito grande.

Contudo, Portugal tem melhores

preços do que a Holanda, que têm

empresas com milhares de pes-

soas, mas por outro lado não

temos ainda melhores preços do

que uns chineses ou indianos, que

têm boa capacidade técnica, entreoutras valências.

mas e, portanto uma atitude

perante as coisas diferente da cul-

tura portuguesa. A capacidade de

resolver problemas e de correrrisco e até a forma como o faze-

mos é na minha opinião tão boa

ou melhor do que a deles. Aliás a

formação dos técnicos portugue-

ses é provavelmente superior face

a muito técnicos estrangeiros.

No seu entender, como

avalia a engenharia rivil

portuguesa?

Eu acho que a engenharia portu-

guesa é muitíssimo boa. Contudo,

quando comparo as empresas

estrangeiras com as nacionais,

diria que a grande diferença está

na atitude e na abordagem dos

problemas e não tanto na capaci-

dade de os resolver. O que tenho

constatado é que na cultura

anglo-saxónica há uma aborda-

gem mais abrangente dos proble-

faz, advém de muitas outras coi-

sas, em que nós poderemos não

ser bons, e que estão relaciona-

das sobretudo com abrangência

de que frisei anteriormente. Por

outro lado, do ponto de vista da

inovação nós temos mostrado

também capacidade e possibili-

dade de vingar no futuro, mas

por outro lado, não nos podl~mos esquecer que nós temos

logo iJ partida a barreira da cre-

dibilidade enquanto país, e este é

um dos nossos grandes entraves.No entanto, não tenho dúvidas

que nós temos dos melhores téc-

nicos que há. Isso é reconhecido

por todos, da mesma forma que

o que falta então

à «nossa» engenharia?

Penso que há sem dúvida falta de

reconhecimento e neste aspecto é

que reside a grande diferença. Oreconhecimento não vem só

necessariamente daquilo que se

AFA reestruturada

C~r (DIn equilibrioFundada em 1985, a AFA- Consultores de

Engenharia SA começou por actuar no sec-

tor dos projectos de Engenharia, Coorde-nação e Fiscalização de Obras até 1998, data

em que face a uma reestruturação interna é

criada a Afassociados - Projectos de

Engenharia, SA Entretanto, há cerca de um

ano, pelo facto de se assistir a uma evolução

do mercado muito acelerada, a administra-

ção da empresa voltou a sentir necessidade

de efectuar uma nova reformulação, com o

objectivo de aproximar mais as duas empre-

sas - Afaplan (vocacionada para a área da

gestão de empreendimentos) e Afaconsult

(criada para prestar serviços na vertente do

projecto), que constituem actualmente o elo

de produção da AFA. Gonçalo Sousa Soares,

um dos administradores das empresas, refe-

re que o processo de reorganização visa,

sobretudo, juntar as empresas de forma a

criar um sistema de gestão por obtenção de

melhores resultados. «Queremos aproximar-nos mais do mercado e descentralizarmos

bastante todos os aspectos operacionais,

para constituirmos uma empresa cada vez

mais coesa e com responsabilidades cada

vez mais repartidas em todos os técnicos da

AFA»,sublinha o responsável.

Em relação à Afaconsult, a principal altera-ção está relacionada fundamentalmente com

a descentTalização, pela formação dos vários

colaboradores e, por outro lado por um pro-

cesso de viragem nos vários procedimentos

de trabalho. Relativamente à Afaplan, a

administração da empresa pretende consoli-

dar o mercado privado, já que nos últimos

anos assistiu-se a uma concentração maior

no mercado público. Contudo, no tecto da

reestruturação a equipa da AFA quer acima

de tudo obter o equihbrio entre ambos.Também é nas áreas do turismo e da indús-

tria que a empliCsa tem vindo a reforçar a

temos ainda prob

da organização e '

Ama que o IBolonha po~alguns destes,O Processo de Boi

não tem qualque

que é importantevai acontecer a se

com a posição c

Engenheiros, pois

Processo de Bolon

que que a forma

nheiros acabe ali,

apenas um passo.

que acontecer é

Ordem vai obrigi

pós-graduações p

guirem determin

Mas há outra di

tem a ver com um

tural do país que

universidades, qm

exigência. Hoje em

exigências nas unÍl

xou muito e isto p<decaiu em toda a

acho que as uni'

nham a obrigaçã(

mais em relação a

da exigência. Este I

simo para o Ocicrealmente a tendê!

ser a oposta, ou sej

níveis de exigêncji

que nos permitam (

tra a quantidade q

do Oriente. .

. Gonçalo Soares, Maria José Fonseca e RuiFurtado

sua posição. Para além disso, a empre-

sa também não descarta a hipótese de

reali7..ar a curto/longo prazo algunsnegócios no mercado internacional,nomeadamente através da Afaconsult.

Não obstante, a empresa tem vindo aconcorrer a vários concursos interna-

cionais, mas até ao momento ainda não

lhe foi adjudicado nenhum .projecto,

apesar de já terem conquistado vários

segundos lugares. Actualmente, a

empresa tem em curso vários projectos,

tais como: o ComplexEstoril Sol, o edifícioBu

da Boavista, no Porto,a

em Valença, a casaRonaldo, o edifício de

EDP em Cabo Ruivo, a Oi

Portucel em Setúbal. o

em Cabo Verde, entre ou

Maria José Fonseca, ad

empresa, revela que a

AFA para este ano, deve!ordem dos oito milhões