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C O N F E R Ê N C I A S

A Expansão da História. BARROS, José D'Assunção

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Conferência de Abertura para o I Colóquio Internacional de História: Sociedade, Natureza eCultura, realizado na Universidade Federal de Campina Grande entre 28 a 31 de Julho de 2008

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Revista do Mestrado de História, Vassouras, v.10-n°11, p.119-139, 2008

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A EXPANSÃO DA HISTÓRIA

Os Campos Históricos na Atualidade – diálogos interdisciplinares, novas possibilidades teórico-metodológicas e projeções para o futuro

Conferência de Abertura para o I Colóquio Internacional de História: Sociedade, Natureza e Cultura, realizado na Universidade Federal de Campina Grande entre 28 a 31 de Julho de 2008.

José D’Assunção Barros1

Resumo: A conferência buscou encetar uma discussão panorâmica sobre o Campo da História na atualidade, trazendo oportunamente exemplos da historiografia brasileira, e examinando as diversas modalidades historiográficas que surgiram e se revalorizaram com a historiografia contemporânea e com o contexto de aceleração e multidiversificação do conhecimento – particularmente aquelas modalidades que se encontram em maior evidência nas últimas décadas. Palavras-Chaves: Campos Históricos; Interdisciplinaridade; historiografia futura.

Abstract: The conference have searched to establish a discussion about the Field of History in the present moment, bringing examples of the Brazilian historiography and examining the various modalities of History that have grown with the contemporary historiography and with the context of acceleration and diversification of knowledge – particularly those ones that are in major evidence in the last decades. Key-Words: Historichal fields, Interdisciplinary, future historiography.

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A EXPANSÃO DA HISTÓRIA

Os Campos Históricos na Atualidade – diálogos interdisciplinares, novas possibilidades teórico-metodológicas e projeções para o futuro.

Gostaria de agradecer, inicialmente, o convite para apresentar algumas

considerações historiográficas neste importante evento, certamente o primeiro de uma

série que permanecerá para o futuro como um importante espaço de diálogos entre

historiadores. A forma como o evento foi organizado, procurando cobrir através dos

seus ‘Grupos de Trabalho’ alguns dos setores de interesse que mais têm despertado a

atenção e o trabalho dedicado dos historiadores nas últimas décadas, trouxe-me a idéia

de retomar aqui uma reflexão que tem sido um dos meus maiores interesses na História

da Historiografia, e que se refere aos modos como a historiografia tem se organizado e

reorganizado sucessivamente em função das demandas do Presente, gerando uma

variedade de modalidades históricas em permanente reconfiguração.

Um exame atento às diversas temáticas percorridas neste Encontro revela

precisamente a sua sintonia com as várias modalidades historiográficas mais em voga na

atualidade, e evidencia a vontade e necessidade, em seus organizadores e participantes,

de constituir um saber histórico mais completo e atento à pluralidade, à complexidade, à

necessidade de constante reatualização de uma historiografia em permanente

transformação. Ao mesmo tempo, a possibilidade de realização de um Encontro desta

magnitude em Campina Grande também traz à tona um forte indício da destacada

importância que a História tem preservado nos nossos dias, atraindo o interesse não

apenas de historiadores e estudantes de História, mas também de um grande público

formado por grupos cada vez mais diferenciados de interessados no conhecimento

histórico. A descentralização dos locais que têm sediado os grandes encontros de

História é ainda – esse é um ponto que me chama bastante atenção – um dado

igualmente significativo nesta mesma direção.

Tudo tem uma História, e dessa História dependem não apenas o Presente,

como também o Futuro. É esta consciência que parece vir se fortalecendo em todos

nestas décadas iniciais de um novo milênio, repercutindo concomitantemente seja na

realização de eventos, seja na ampliação do número de periódicos acadêmicos

especializados ou de revistas voltadas para o público mais amplo, ou seja, é claro, na

multiplicação de pesquisas e reflexões historiográficas com bom nível de excelência. De

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fato, no mundo contemporâneo a História – como campo de conhecimento e como

disciplina científica – tem adquirido não apenas uma importância crescente e bastante

evidente, como também tem assumido uma função importante para o fortalecimento de

identidades de diversos tipos, para preservação do meio ambiente, e para a tomada de

decisões relacionadas ao aprimoramento da qualidade de vida (o que inclui a sempre

renovada atuação dos historiadores comprometidos com a luta contra as desigualdades

sociais). Daí que é igualmente sintomática a escolha do tema de base deste congresso:

“Sociedade, Natureza e Cultura”. Respeito ao meio ambiente e às diferenças culturais,

acompanhado pelo comprometimento com as lutas sociais e com as grandes questões de

interesse da sociedade, estão entre as preocupações humanas fundamentais no momento

em que vivemos, e a referência à ‘Cultura’ e à ‘Natureza’ é mais do que oportuna.

O tema que escolhi para esta reflexão de abertura é o da “expansão da

História”. Pretendo refletir sobre a diversificação interna da historiografia atual, e

propor, ao final, também algumas projeções para o futuro, já ao nível de uma

imaginação historiográfica que avalia o presente como fonte de indícios para o que pode

estar por vir em termos de novas possibilidades.

Para parodiar uma imagem da Astrofísica, pode-se dizer que “a História é um

universo em expansão”. Não porque as suas galáxias internas afastam-se uma das outras

em seu movimento de expansão, tal como ocorre com o universo físico, mas porque a

História tem tanto conquistado gradualmente espaços externos, com a renovada prática

da interdisciplinaridade, como também reconfigurado seus espaços internos,

diversificando-se também por dentro. É sobre esta questão de fundo que gostaria de

discorrer na presente oportunidade.

O século XIX fora chamado por muitos de “século da História”, em vista do

fato de que trouxera a História para primeiro plano ao desempenhar um importante

papel na reestruturação das nações européias e americanas, na constituição de arquivos

imprescindíveis para a construção das identidades nacionais, e em função do seu papel

fundamental para a compreensão das revoluções e movimentos de Independência que

estavam começando a impactar o Ocidente. O século XX, por outro lado, iria trazer para

a prática historiográfica novas revoluções, estas agora direcionadas para uma

reconfiguração do próprio saber histórico, de seus métodos, aportes teóricos, temas de

estudo. São bem conhecidas as contribuições fundamentais da Escola dos Annales e dos

novos marxismos na primeira metade do século, e novas contribuições não cessariam de

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surgir nas últimas décadas do século XX, fazendo da História um campo de estudos em

permanente e rápida transformação.

A intenção de refletir panoramicamente sobre a diversidade da historiografia

contemporânea, particularmente sobre os novos encaminhamentos concretizados nas

últimas décadas, leva-me a principiar esta reflexão com uma ênfase naqueles que me

parecem ser os dois fatos mais salientes da História da Historiografia contemporânea: a

‘multidiversificação de modalidades internas ao saber histórico’ e a ‘permanente e

acelerada reconfiguração do Campo da História ao longo do século XX’, ambos os

aspectos assinalados pelo surgimento e devir de campos diferenciados como a História

Cultural, a História Política, a História Econômica, a Micro-História, a História das

Mentalidades, a História Conceitual, e inúmeros outros. Estes são, segundo creio, dois

aspectos que fazem contrastar fortemente o modelo predominante de História do século

XIX e aquela História que começa a se afirmar a partir do século XX e que chega aos

nossos dias impulsionada pelo mesmo movimento de expansão: embora o conhecimento

histórico seja importante para estas duas eras historiográficas, é mais especificamente na

historiografia contemporânea – a partir daqui definida como aquela que se inicia com o

século XX – que a História passa a ser vista, inclusive pelos próprios historiadores que a

praticam, como um campo disciplinar que pode ser subdividido em inúmeras

modalidades e que se encontra em contínua e acelerada transformação. Em duas

palavras, ‘aceleração’ e ‘complexidade’ parecem ser os signos de nosso tempo, e

conseqüentemente de nossa historiografia. Para entender este fenômeno será útil, em um

primeiro momento, compreender o contexto e as forças que presidem essa

diversificação interna – sincrônica e diacrônica – da História.

Sobre a aceleração na velocidade de transformação da Historiografia teremos

oportunidade de falar mais adiante. Mas desde já parece evidente que a uma História

que se acelerou com a vida contemporânea, com as revoluções tecnológicas, com as

mudanças ambientais e com as reconfigurações políticas em mais curto intervalo de

tempo, deve necessariamente corresponder uma Historiografia que se reconfigura a todo

instante2. O homem contemporâneo é singular em relação ao homem de outras épocas.

Se no passado uma grande ‘Era’ continha várias gerações humanas, já que a

transformação histórica era de alguma maneira menos acelerada e cada período possível

de ser identificado pelos historiadores abarcava centenas ou muitas dezenas de anos, nos

dias de hoje pode-se dizer que ocorre precisamente o contrário: uma única geração

humana ou um único homem nascido em nosso tempo pode tornar-se testemunha da

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passagem de várias épocas, por assim dizer. Um ser humano de oitenta anos, na

atualidade, já viveu seguramente em mundos bem diferenciados – isto no sentido, por

exemplo, de que toda a vida e materialidade que nos envolve na década atual, contra o

pano de fundo de sua configuração política ambiental e tecnológica, é radicalmente

diferente da que tínhamos nos anos oitenta, nos anos sessenta, no Pós-Guerra, ou no

período que contextualiza as Grandes Guerras. Desta maneira, a esse homem

contemporâneo que viveu muitos mundos corresponde um historiador contemporâneo

que presenciou como ser humano grandes e radicais transformações no decurso de sua

própria vida – um historiador que se acostumou à mudança mais acelerada e que,

concomitantemente, produz uma historiografia em permanente reconfiguração.

Vivemos em um mundo que, além de se mostrar mais acelerado à maior parte

daqueles que o habitam, é também um mundo que se torna cada vez mais complexo.

Desta maneira, além da “aceleração”, a “complexidade” é outro dos signos do nosso

tempo. Para um mundo que se impõe ao homem como mais complexo, torna-se

igualmente mais adequado um conhecimento mais complexo, e, em particular, uma

historiografia mais complexa. Uma das respostas a esta complexidade, no universo de

trabalho dos historiadores, foi a multiplicação de espaços internos à própria História – a

sua subdivisão imaginária em História Econômica, História Política, História Cultural,

História Conceitual, História Ambiental, ou quantas histórias se queira considerar, e,

sobretudo, a formação de conexões múltiplas entre estas modalidades. Essa

individuação de novos espaços internos corresponde à imagem que atrás propus de que

“a História é um Universo em expansão”. E é também no mundo contemporâneo, com o

surgimento desta nova modalidade que é a História da Historiografia, que o historiador

começa a tomar consciência de que trabalha com um universo em expansão. Não é por

acaso que a reflexão sobre as diversas modalidades de estudo em que se divide a

História é também uma singularidade do período que se iniciou com o último século.

Documentam essa singularidade as várias coletâneas sobre a diversidade de

modalidades historiográficas que surgiram e têm surgido na Europa e nas Américas,

incluindo no Brasil.

Será oportuno observar, desde já, que a diversificação em modalidades internas

ou especialidades não foi apanágio da História, mas sim um fenômeno que de alguma

maneira afeta cada um dos diversos campos do saber ao longo do seu moderno

desenvolvimento no Ocidente. Também as demais ciências sociais e humanas, as

ciências da natureza e as ciências exatas conheceram o fenômeno do surgimento de

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campos internos bem definidos. A Física assistiu ao surgimento de modalidades como a

Mecânica, a Termodinâmica, a Ótica, a Física Nuclear; a Medicina se subdividiu em

inúmeras especialidades como a Pediatria, a Gerontologia, a Ginecologia, a Cirurgia, a

Pneumologia, e tantas outras; e por aí poderia seguir uma sucessão de exemplos. Uma

característica do desenvolvimento do conhecimento na modernidade, portanto, é

precisamente esta multidiversificação em um grande número de subcampos

disciplinares e modalidades internas a cada campo de estudos.

Sustentarei a idéia de que as três grandes forças que presidem a esse fenômeno

na história do conhecimento, e em particular na reconfiguração da Historiografia na

contemporaneidade, são a ‘tendência à especialização’, a chamada ‘crise do paradigma

único’, e as aberturas oferecidas pela ‘interdisciplinaridade’. Vejamos cada um destes

fatores em separado, embora eles se combinem, se confrontem e interajam entre si todo

o tempo.

O primeiro fator que contribuiu para incrementar a multiplicação de campos e

sub-campos de saber foi certamente o fenômeno da “especialização”. Ao antigo modelo

do homem de letras ou do filósofo que, à época do Iluminismo, freqüentava vários

campos de saber com igual desenvoltura, a Contemporaneidade parece ter oposto não

apenas a figura do intelectual especializado em um único campo da atuação, como

também a figura do especialista em uma modalidade específica dentro de cada campo

de saber, ou mesmo em uma temática única. A figura do Especialista – por oposição às

figuras do Generalista ou à do Pensador Polivalente – parece ter se afirmado com

especial vigor e recebido um significativo estímulo das Instituições e do Mercado

Cultural no mundo contemporâneo. Será bastante oportuno refletir, neste momento,

sobre as vantagens e desvantagens da especialização para a vida humana, e para a

História em particular.

Não conheço crítica mais contundente e mais poética à especialização e ao

isolamento disciplinar do que uma célebre passagem do filósofo Friedrich Nietzsche,

em seu livro Assim Falou Zaratustra3. Nesta passagem, Zaratustra estava caminhando

por certa região que tinha fama de possuir entre seus habitantes alguns grandes homens

e gênios, notabilizados por sua inteligência e capacidade, quando subitamente esbarrou

em alguma coisa e quase tropeçou. Ao voltar-se para ver o objeto no qual tinha

tropeçado, viu-se obrigado a exclamar perplexo: “Mas ... isso aí é uma orelha”. De fato,

parecia ter diante de si uma gigantesca orelha, e estava de tal modo perplexo que um

dos seus acompanhantes lhe disse que na verdade não se tratava de uma orelha, mas sim

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de um grande homem, na verdade de um gênio. Zaratustra então percebeu que havia

mesmo um pequenino caule preso a orelha, e ao firmar melhor a vista compreendeu que

na verdade ali estava um pequenino homem grudado à orelha, fitando-o com um olhar

arrogante. Entendeu, então, que o que o povo chamava de grandes homens eram na

verdade uma espécie bizarra de “aleijões ao avesso” – homens que sabiam muito de

uma única coisa, e nada de todas as outras.

Nietzsche está chamando atenção nesta passagem do Zaratustra para um dos

grandes perigos da hiper-especialização: o ser humano que se torna ele mesmo um

fragmento, isolado no seu pequeno saber e desconhecedor da vida como um todo,

incapaz de produzir um conhecimento mais completo e complexo. Por outro lado, se o

risco de empobrecimento de perspectivas – do ponto de vista do profissional que o

produz – acompanha bem de perto os processos de hiper-especialização que se dão no

interior de cada campo de conhecimento, não há como negar que este mesmo grande

processo de especialização do conhecimento trouxe uma grande vantagem para o

desenvolvimento da ciência moderna: afirma-se aqui a possibilidade de aprofundar uma

dada perspectiva, de explorá-la ao máximo e produzir assim um conhecimento preciso e

multidiversificado na sua totalidade, isto é, no somatório ou na combinação de todos os

trabalhos produzidos. A pergunta que se coloca, nos dias de hoje, refere-se justamente à

possibilidade de incorporar as diversas especializações em uma perspectiva mais rica,

que não fragmente ou desumanize o ser humano que produz individualmente o

conhecimento. Para evocar o exemplo da Medicina, poderíamos nos perguntar se o

médico especializado deve excluir necessariamente a possibilidade do Clínico Geral; se

não há objetos de estudo e práticas médicas que se constituem precisamente na fronteira

entre duas ou mais modalidades médicas; e se, mesmo, não há áreas de atuação da

Medicina que devem ser constituídas em interface com outros campos de saber.

Guardemos esta indagação para aplicá-la a História, mais adiante.

O segundo fator que preside a formação de várias modalidades no interior de

cada campo de conhecimento, e da História em particular, é o que poderíamos chamar

de uma ‘multiplicação de paradigmas’, ou, dito de outra forma, de “crise do paradigma

único”. Esse fenômeno – já a partir das últimas décadas do século XIX e ainda mais

intensamente a partir do decurso do século XX – iria encontrar expressão seja nas Artes,

seja na Ciência. Assim, será possível citar o exuberante exemplo dos novos paradigmas

modernistas que surgem com a Arte Moderna. A História da Arte, a partir do século

XX, já não pode mais encontrar uma meta-narrativa em termos de estilos de época que

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se sucedem. Os artistas modernos vão explorar sincronicamente o investimento em

novas e diferentes instâncias capazes de mobilizar a criatividade humana – não mais

apenas a capacidade de ‘imitar a realidade’ (que é a perspectiva clássica e neoclássica),

mas também as instâncias da ‘imaginação radical’ (expressa pelo Surrealismo), da

‘desconstrução ou invenção de formas’ (explorada pelo Abstracionismo e pelo

Cubismo), da ‘exploração dos instintos’ (investimento que tipificou o Fauvismo), e da

‘expressão radical de sentimentos e padrões de subjetividade’ (que dá sentido à

experiência do Expressionismo)4. De igual maneira, em uma Ciência como a Física, que

durante um longo período pôde ser dominada por um único paradigma – o da Mecânica

Clássica proposta por Newton – começam desde o início do século XX a emergir novos

paradigmas, bem distintos uns dos outros: não mais apenas a Física Clássica, mas a

Relatividade, a Física Quântica, e outras.

Também a História iria assistir no século XX a uma multiplicação de teorias da

história e de paradigmas historiográficos. Afirmam-se maneiras distintas de conceber a

História e de abordá-la, de organizá-la em torno de quadros conceituais definidos, ou, ao

contrário, de fundá-la essencialmente no trabalho empírico ou na discursividade5.

Mesmo em seu arco mais amplo, a História assiste à proposta de novos paradigmas para

além do tradicional viés hipotético-dedutivo conduzido por um único analista-narrador

(que corresponde à perspectiva da Macro-História tradicional), e afirmam-se como

alternativas importantes o ‘paradigma da complexidade’, à maneira de Edgar Morin, o

‘paradigma micro-historiográfico’ que se estabelece em torno de uma abordagem que

privilegia o indício como ponto de partida para aquilo que Carlo Ginzburg denominou

de “paradigma indiciário”6, e as propostas de uma escritura polifônica da História, tal

como sugere Dominick LaCapra a partir de uma inspiração bakhtiniana7. A seu tempo,

também as meta-narrativas, que na primeira metade do século haviam almejado explicar

a História de maneira soberana e definitiva, começam a ser questionadas por uma

historiografia que muitos chamarão de Pós-Moderna8.

Essa crítica ao paradigma único, com a concomitante multiplicação de modos

de ver a História, também repercute na multidiversificação do seu campo interno, vindo

acrescentar um elemento de complexidade à tendência à especialização que já vinha em

curso na história do conhecimento moderno.

Por fim, um terceiro fator importante que contribui para a multidiversificação

do conhecimento histórico é o afloramento cada vez mais intenso da Inter-

disciplinaridade9. Em alguns pontos, este aspecto parece se confrontar com o primeiro –

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o da hiper-especialização do conhecimento – e se propor como um contrapeso

importante para o isolamento disciplinar. Mas também não há como negar que a

Interdisciplinaridade – presente com significativo vigor desde as novas propostas

historiográficas que vão surgindo no decurso do século XX – foi também essencial para

a possibilidade de multi-diversificação de perspectivas e de modos de trabalho

disponíveis para a historiografia. Algumas das modalidades da história que adquirem

especial expressão no decorrer do século XX são mesmo constituídas a partir do diálogo

da História com outras ciências humanas e sociais como a Geografia, a Psicologia, a

Antropologia, a Sociologia, a Economia, ou mesmo ciências da natureza como a

Biologia. A Geo-História, a História Econômica, a Psico-História, e, mais recentemente,

a História Ambiental, são exemplos óbvios.

Eis, portanto – por vezes imbricados e algumas vezes produzindo tensões – os

três fatores fundamentais que amparam o movimento de multiplicação de campos

históricos: a ‘hiper-especialização’, a ‘multiplicação de paradigmas’, a

‘interdisciplinaridade’. No interior deste quadro em movimento, a historiografia iria

assistir ao surgimento de inúmeras modalidades, por vezes embaralhadas, e que

doravante passariam a ser consideradas essenciais para a constituição da identidade de

cada historiador.

Foi a uma análise de conjunto destas diversas modalidades que me propus em

trabalho relativamente recente10, e desde cedo um problema precisava ser enfrentado: a

‘diversidade de critérios’ que parecia presidir a emergência das inúmeras modalidades

historiográficas. De fato, desde que a História da Historiografia começou a se afirmar

como um setor importante da reflexão historiográfica, inúmeras subdivisões

historiográficas começavam a aparecer como auto-referências dos historiadores e como

campos a serem definidos pelas grandes coletâneas de ensaios historiográficos que

buscavam apresentar uma reflexão dos diversos historiadores sobre o seu próprio ofício.

O elemento complicador, naturalmente, sempre foi a intrincada variedade de critérios

que parecia presidir a emergência das inúmeras modalidades historiográficas.

Compreender esta diversidade foi tarefa a que me propus a enfrentar, e desde logo

surgiu uma alternativa viável: a avaliação das modalidades internas da História de

acordo com três critérios a partir dos quais poderiam ser constituídas divisões

historiográficas: as Dimensões, as Abordagens e os Domínios temáticos.

Uma ‘Dimensão’ corresponde a uma dada modalidade da história que é

definida pelo enfoque que orienta a leitura do historiador, por aquilo que ele traz a

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primeiro plano, em sua análise, em termos de dimensões da vida social. O que preocupa

este ou aquele historiador essencialmente – que grande noção oculta-se em seu trabalho

como conceito fundamental: a População, o Poder, a Cultura, a Economia, os Modos de

Pensar e de Sentir? Para cada um destes enfoques, teríamos respectivamente

modalidades historiográficas que poderiam ser definidas como Dimensões: a História

Demográfica, a História Política, a História Cultural, a História Econômica, a História

das Mentalidades. Costumo pensar que as dimensões correspondem aos aspectos mais

irredutíveis que surgem em uma relação, real ou imaginária, envolvendo dois ou mais

seres humanos. Quando dois seres humanos se encontram, ainda que como náufragos

em uma ilha deserta, ou quando um determinado grupo social se estabelece em certo

território, afirmam-se ou insinuam-se de imediato determinadas relações de Poder,

estabelecem-se certas identificações ou estranhamentos relacionados à Cultura,

impõem-se determinados regimes de Trabalho e de troca de serviços que poderemos

facilmente enquadrar no âmbito da Economia.

O recuo à pré-história, por exemplo, ou o artifício de imaginar a vida de dois

náufragos em uma ilha deserta, costuma ser bem elucidativo para a identificação destas

dimensões irredutíveis. Podemos imaginar sociedades ou grupos humanos sem Religião

ou sem Música, mas não é possível imaginar sociedades humanas nas quais não se

vejam instituídas relações de Poder (uma Política em sentido amplo), ou que não

desenvolvam uma Cultura e uma Economia. Podemos imaginar sociedades sem

Literatura e sem pensamentos científicos, mas não uma sociedade que não gere certos

Modos de Sentir e de Pensar. Por isso a História da Religião, a História da Música, a

História da Literatura ou a História da Ciência não chegam a constituir ‘dimensões’,

mas sim ‘domínios temáticos’. Enquanto isso, a História Política, a História Cultural, a

História Econômica, são modalidades que se referem claramente a dimensões mais

abrangentes da vida humana – aspectos irredutíveis da vida social. Do mesmo modo,

não há grupo humano que prescinda de produzir seus objetos ou de se apropriar dos que

lhe oferece a natureza, de modo que também podemos localizar como uma dimensão a

modalidade da História da Cultura Material.

Um segundo critério que permite criar ou identificar modalidades da História

refere-se ao que chamamos de ‘Abordagens’. O modo como o historiador trabalha, o

tipo de fontes que ele constitui, a maneira como ele observa a realidade – em uma

palavra, o “fazer histórico” – é o que está essencialmente por trás de todo um conjunto

de modalidades históricas surgidas nas últimas décadas. Exemplos eloqüentes são os da

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História Oral – que corresponde a determinado modo de fazer a História e a certo tipo

de fonte (os depoimentos orais) – o da Micro-História, que corresponde a certa maneira

de observar a realidade a partir de uma redução na escala de observação, ou ainda o da

História Comparada, que corresponde a uma duplicação ou multiplicação de recortes de

observação. As modalidades da História que classificaremos como Abordagens,

portanto, estão em sintonia com modos de fazer, com decisões metodológicas.

Os ‘domínios temáticos’, que correspondem ao terceiro critério que gera

subdivisões ma História, referem-se aos inúmeros assuntos ou âmbitos temáticos pelos

quais os historiadores podem se interessar. São na verdade inumeráveis, e entre eles

podemos encontrar desde domínios já tradicionais e bastante abrangentes – como a

História da Religião, a História do Direito, a História da Música, a História Urbana – até

domínios mais recentes na história da historiografia, bem como outros que surgem com

a moda e que com ela se vão, ou ainda domínios tão esdrúxulos, transitórios ou

fragmentários que uma parte dele bem se enquadraria naquilo que François Dosse

denominou “uma história em migalhas”11. O setor mais móvel dos campos históricos,

mais sujeito a oscilações e reconfigurações em ritmo acelerado, mais flutuante

relativamente às modalidades que ganham ou perdem destaque, é o dos Domínios

Temáticos.

Dimensões, Abordagens e Domínios, enfim, correspondem aos três principais

critérios geradores de modalidades historiográficas – à parte, é claro, os critérios

relacionados a temporalidades e espacialidades, como História Antiga e História da

América, que apontam para um tipo de especialismo paralelo, bastante comum entre os

historiadores. Mas para nos concentrarmos da tríade que estamos examinando, já deve

ter ficado claro que nenhum objeto de estudo da História pode se resumir a uma única

modalidade: no mínimo, um certo objeto de pesquisa estará implicado em uma conexão

mínima entre uma Dimensão, uma Abordagem e um Domínio temático. Digamos que o

interesse de um Historiador é examinar a “Música de Protesto na época da ditadura

militar no Brasil”, e que pretende realizar entrevistas com os atores sociais que viveram

aqueles acontecimentos. Temos aqui, no mínimo, uma clara conexão entre a História

Política (uma dimensão), a História Oral (uma abordagem), e a História da Música.

Naturalmente que, em relação a este mesmo tema, ainda poderíamos pensar na conexão

de duas dimensões – a História Cultural e a História Política – e na combinação de

diversos domínios, afinal, teremos aqui não apenas uma “História da Música” como

também uma “História da Censura”, ou outros domínios que se possa imaginar.

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Esse aspecto me permitirá iniciar uma reflexão interessante sobre o contraste

entre Ciências Humanas e Ciências Exatas ou Naturais. De modo geral, em

contraposição em relação às Ciências Exatas (nas quais existem eventos ou processos

que podem ser examinados no interior de uma única modalidade como Física Nuclear, a

Astrofísica ou a Física Mecânica), já os objetos das ciências humanas não são em

nenhuma hipótese enquadráveis em uma única modalidade. Dito de outra forma, os

fatos e processos históricos são multidimensionais. Não existem, por exemplo, fatos

exclusivamente econômicos ou políticos, nem fatos ou processos que se restringem ao

universo da Cultura. Ao mesmo tempo, um historiador dificilmente se limita a uma

única abordagem. É por isto que, ao procurarmos construir um panorama dos campos

históricos, devemos ter em mente, aqui, uma nova noção de “campo”: não como lote

espacializado dentro de um certo território de saber, mas como ‘campo de força’ ou de

influências, permitindo-se conceber a interpenetração e interação entre campos.

Outro importante aspecto de contraste entre a História e as chamadas ciências

duras está no dinamismo interno da Historiografia – que apresenta uma intensa

flutuação e mutabilidade nos campos históricos. A constante redefinição de interesses

historiográficos a partir do Presente do Historiador faz com que a História, assim como

as demais Ciências Humanas, reorganize-se internamente com maior velocidade de

transformação do que as Ciências Exatas e as Ciências da Natureza. Em vista disto, a

história da historiografia assiste a uma infindável mudança de interesses historiográficos

e de sua repercussão na reconfiguração do quadro de modalidades históricas.

Poderia lembrar aqui alguns dos Campos Históricos que têm se fortalecido ou

adquirido evidência nas últimas quatro décadas. Entre estes, seria oportuno registrar (1)

algumas modalidades já tradicionais que têm se reafirmado: a História Cultural; a

História Política (uma renovada História Política), a História Econômica (com novas

perspectivas, que ultrapassam o fetiche quantitativo). Ao lado disto, (2) é preciso

destacar as novas modalidades que têm surgido ou se afirmado mais intensivamente nas

quatro últimas décadas. Encontram-se na ordem do dia a Micro-História; a História

Oral; a História Conceitual12; ou ainda as modalidades voltadas para o estudo de novos

tipos de fontes históricas, para além da escrita (Imagem pictórica, Fotografia, Cinema,

Patrimônio). Assistimos nas últimas décadas, a partir do diálogo com os chamados

“saberes psi” e com a Antropologia, ao surgimento e à afirmação de modalidades

voltadas para o estudo dos ambientes mentais e dos modos de sentir (como a História

das Mentalidades ou a História do Imaginário); mas também ao fortalecimento de

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modalidades voltadas para o estudo da sexualidade e da relação entre gêneros (como a

História de Gêneros e a História da Sexualidade). O agravamento dos problemas

relacionados à Desigualdade Social e a afirmação das Diferenças nas sociedades

democráticas têm proporcionado um interesse renovado em relação às modalidades

historiográficas voltadas para o estudo das Diferenças (como é o caso da História das

Etnias e das Identidades; ou da História da Religiosidade); E, certamente sob o contexto

das preocupações do novo milênio com a preservação e transformações no habitat

humano, afirmam-se os domínios temáticos voltados para os ambientes de vida do

homem: a História Ambiental; a História Urbana; a História da Vida Privada. Dentro do

mesmo contexto, não é possível esquecer os domínios temáticos relacionados às

necessidades básicas do homem, nem sempre atendidas para todos os grupos humanos,

e que tornam sempre atuais uma História da Educação ou uma a História da Saúde. As

grandes descobertas científicas, por fim, acenam com futuras promessas, entre as quais

pode ser citada uma História Genética do Homem (em interação possível com uma

renovada História Demográfica).

Também a historiografia brasileira tem se sintonizado com este quadro de

reconfiguração dos campos históricos em maior evidência. Apenas para citar um único

campo historiográfico a modo de exemplo, se a ‘História da Escravidão’ um dia se

concentrou apenas na imprescindível análise da dimensão econômica e eventualmente

nos relatos políticos relacionados ao processo de Abolição, hoje este domínio temático

atribui igual importância às questões culturais, às questões de gênero, à organização da

Família Escrava, à discussão conceitual em torno de noções como Escravidão e

Liberdade, aos aspectos relacionados ao Imaginário, às permanências que remetem às

Diferenças Étnicas. De igual maneira, os historiadores da Escravidão abrem-se para a

incorporação de novas abordagens: a assimilação da Micro-História, por exemplo,

aparece no trabalho de historiadores diversificados. Os movimentos sociais que trazem

como indícios mais importantes a formação de Quilombos – uma questão política

importante para o nosso próprio presente político – têm atraído a incansável

investigação de outro grupo de historiadores. Deste modo, a análise econômica da

sociedade escravista, sempre presente, e que até os anos 1970 concentrava-se nas

magistrais esforços generalizadores voltados para uma sistematização do Modo

Escravista-Colonial a partir dos trabalhos pioneiros de Caio Prado Júnior, Fernando

Novaes, Ciro Flamarion Cardoso e Jacob Gorender13, abre-se nas últimas décadas ao

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predomínio de um exame mais atento da complexidade, das singularidades locais, do

dinamismo interno do sistema escravista-colonial como um todo e de cada sub-sistema

em si mesmo.

*

Desenvolverei, nesta seção final, uma reflexão mais livre sobre algumas das

novas complexidades que devem ser consideradas pelos historiadores no presente e para

o futuro, já ao nível da Escritura da História e da apresentação de resultados do

conhecimento histórico. Uma série de rediscussões iniciais vem adquirindo destaque

nos últimos tempos: até que ponto se deve atentar para a dimensão literária da História?

A História é uma Arte? Comporta, no âmbito de sua construção historiográfica, alguma

dimensão artística? Está aberta a que novos padrões de Escritura? Que novos suportes,

para além do texto escrito e do formato livro, estarão disponíveis para o futuro texto

historiográfico? Como incorporar a dimensão da visualidade, e as alternativas trazidas

pela virtualidade, nestes novos tempos em que têm tido tanta importância o Visual e o

Virtual? Será possível incorporar ainda, de alguma maneira, a Música à estruturação do

texto historiográfico?

Reflitamos, em um primeiro momento, sobre os fatores textuais da construção

histórica. A consideração de aspectos como o estilo e a clareza literária, a incorporação

da habilidade literária pelo historiador, e a acessibilidade do texto historiográfico a uma

faixa de público que não constitua apenas uma elite dentro do conjunto de historiadores

profissionais, têm se afirmado como questões de grande importância para os

historiadores contemporâneos. Afinal, se tem crescido o interesse do público em geral

pela História, é preciso que este público encontre textos acessíveis, interessantes como

leitura (e não apenas importantes) e em linguagem compreensível – em poucas palavras,

textos que sejam claros e estimulantes, embora sem sacrificar a complexidade e

sofisticação que uma análise historiográfica precisa ter nestes tempos igualmente

complexos.

Nas décadas recentes, temos assistido ao fenômeno da ocorrência de vários

textos sobre grandes eventos ou processos históricos que foram produzidos por

jornalistas que não têm a História em sua formação curricular. A História, certamente, é

patrimônio de todos, e não há impedimento que a escrevam os não-historiadores. É

mesmo preciso lembrar que, até o início do século, no Brasil, um significativo número

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dos nossos maiores historiadores havia saído das fileiras de intelectuais titulados em

Direito e da área da Diplomacia (e mesmo hoje não é raro encontrar essas formações no

universo dos bons historiadores). Não trazemos aqui, desde já acrescentaremos,

nenhuma crítica corporativa.

A questão sobre a qual gostaria de refletir, no entanto, aponta para o fato de

que esse espaço historiográfico que vem sendo ocupado com significativo sucesso por

jornalistas sem formação historiográfica revela algo sobre o afastamento de alguns

setores da historiografia em relação àquele que poderia ser o seu grande público, e o nó

górgio deste afastamento parece-me residir em questões de linguagem e estilo.

Pergunto-me se a História não deveria ser mais audaciosamente literária, mais artística,

ou mesmo mais experimental com relação a seus processos de escritura. Essa pergunta,

já desde as últimas décadas, vem sendo feita por historiadores importantes, preocupados

não apenas com o conteúdo como também com a forma e o estilo dos seus textos. Os

micro-historiadores, por exemplo, são particularmente atentos aos modos de expor os

seus textos. Têm surgido propostas e experiências importantes voltadas para a

multiplicação de pontos de vista narrativos14. De igual maneira, experiências em torno

dos modos de trabalhar o tempo na narrativa historiográfica também têm sido feitas,

rompendo com a narrativa linear15. Setores da História da Historiografia, por outro lado,

tem atentado para a questão da discursividade da História e para a análise dos padrões

narrativos dos historiadores.

Pessoalmente, creio que estes aspectos são particularmente importantes, e

penso que se o historiador não ocupar a dimensão literária que a história lhe oferece,

outros profissionais estarão aproveitando estes espaços a custas da ausência de

historiadores. Mas para que o historiador se torne também um literato – capaz de trazer

mais criatividade e poder de sedução para o seu estilo historiográfico – arriscaria de

dizer que precisaríamos pensar na possibilidade de incluir nos currículos de Graduação

em História disciplinas voltadas para a Escritura da História – não para a “Escrita da

História”, mas para a “Escritura da História” mesmo, para os aspectos relacionados à

construção do texto, para a inventividade formal, para aquilo que contribuiria com a

afirmação da História não apenas como uma Ciência, mas também como uma Arte.

De igual maneira, acredito que seja interessante refletir sobre as

potencialidades da História relativamente aos tipos de suporte que estariam à disposição

dos historiadores no futuro. Será o formato livro o único destino de um bom trabalho

historiográfico? Não será possível trazer novos suportes para a História, para além do

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“escrito”, como a Visualidade – incluindo a Fotografia e o Cinema – a Materialidade,

convocando uma maior parceria entre historiadores, museólogos, arquitetos, ou como a

Virtualidade, chamando mais intensamente à História os recursos da Informática?

Assistiremos nas próximas décadas à possibilidade de teses de História apresentadas em

formato de Vídeo ou DVD, ao invés do tradicional formato-livro?

Retomando a questão dos campos históricos projetados para o futuro, imagino

a possibilidade de surgimento ou fortalecimento de modalidades historiográficas que

seriam definidas por novos tipos de suporte. Três propostas para o novo milênio, para

além da História Escrita, seriam a ‘História Visual’, a ‘História Material’ e a ‘História

Virtual’.

Quando me refiro a uma História Visual, não estou pensando em uma História

da Visualidade – que trabalhe com fontes históricas ligadas à visualidade – já que este

campo já começou a ser bem percorrido pelos historiadores nas últimas décadas e não

seria mais uma novidade. Estou me referindo mesmo a uma História Visual, ou Áudio-

Visual, que apresente a visualidade e possivelmente inclua a sonorização e a Música

como suportes mesmo, como meio principal para a transmissão dos resultados de uma

pesquisa histórica e como recursos para a produção do próprio discurso do historiador.

Certamente que, para tal fim, também seriam necessários enriquecimentos no currículo

das graduações de História, e o historiador poderia pensar em adquirir conhecimentos

mais sólidos de fotografia, e cinema, ou mesmo música, para o caso da incorporação da

sonoridade.

É evidente, por um lado, que os cineastas já se apropriaram com grande

eficiência da História, e já contam nas suas equipes técnicas com historiadores quando

estão empenhados em produzir filmes históricos, ou mesmo filmes de ficção que se

projetem de alguma maneira no passado. Mas não estaria aberta, neste novo milênio, a

possibilidade para que não apenas os Cineastas se apropriem da História, como também

os Historiadores se apropriem do Cinema? Não poderiam os Historiadores tomar a si o

caráter diretivo de grandes trabalhos historiográficos que tragam como suporte o

Cinema, e neste caso não seria o caso de trazer o Cineasta para a equipe técnica do

historiador, e não o contrário?

O mesmo pode ser pensado com relação a outros recursos de visualidade, como

a Fotografia. Imagino, por exemplo, neste mundo no qual o meio ambiente sofre

aceleradas transformações, a interconexão possível entre História Visual e História

Ambiental. Não deveria o Historiador – trabalhando também em um registro para a

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produção da Memória – comandar a produção sistemática de fotografias do meio

ambiente, já escrevendo através da visualidade a sua própria leitura histórica do meio

ambiente nas suas mudanças através do tempo, mas também disponibilizando fontes

visuais importantes para gerações futuras de historiadores?

Uma empresa similar, já relacionada a um possível campo que poderia ser

denominado História Material, corresponderia ao tipo de História que o historiador

poderia elaborar, mais freqüentemente do que já ocorre, em parceria com museólogos –

organizando exposições fixas ou temporárias que materializassem a discursividade

histórica através da cultura material. Ao invés de uma narrativa ou análise textual,

também a visualidade e a materialidade poderiam vir a se tornar elementos chave para o

discurso crítico e analítico do historiador. De igual maneira, a parceria com arquitetos

poderia confluir para a produção historiográfica de maquetes de cidades projetadas em

certos períodos do passado, ou mesmo, para retomar a conexão com a história ambiental

ecológica, poderia se pensar também o registro material de ambientes não-urbanos.

Um último Campo Histórico que se abre como possibilidade historiográfica

para o futuro, relativamente aos processos de escritura da História, seria o da História

Virtual. Entendo aqui que haveria um conjunto muito rico de alternativas para essa

modalidade de História que poderia ser definida pelo seu recurso mais direto à

informática e aos meios virtuais, não como ferramenta auxiliar, mas como ambiente e

meio para a própria escritura da História. Estava imaginando, para dar um exemplo,

uma possibilidade que poderia ser tomada a cargo por historiadores. Trata-se de um

Projeto que poderia se encaixar dentro de uma espécie de História Virtual Multi-

Autoral.

Conhecemos, nos dias de hoje, a chamada Wikipédia – que basicamente é um

conjunto de textos construídos a muitas mãos (ou muitas teclas), sem autoria e

submetidos a permanentes alterações que podem ser implementadas por qualquer

participante da rede mundial de computadores. No que tange ao conhecimento histórico,

a Wikipédia apresenta textos bem confiáveis, mas também um número ainda maior de

textos que não tem utilidade historiográfica porque nem sempre foram produzidos por

historiadores profissionais ou confiáveis, e tampouco dentro dos critérios aceitos pela

historiografia profissional. Minha idéia é que poderia ser construída uma Enciclopédia

Historiográfica Virtual a que só tivessem acesso, como autores, os historiadores que

comprovassem sua formação ou conhecimento historiográfico. Inseridos no sistema,

uma multidão de historiadores poderia trabalhar a elaboração espontânea de grandes

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textos virtuais, multi-autorais, sobre os diversos temas pertinentes à historiografia dos

vários períodos. Todos os textos desta Enciclopédia Virtual Multi-Autoral – à qual

teriam acesso todos os freqüentadores da Internet – seriam certamente confiáveis face a

suas condições de produção estritamente historiográficas, e poderiam ser checados

regularmente por equipes específicas de historiadores para verificar a precisão de suas

informações e a validade de suas análises. Essa idéia, não sei se já foi tentada, mas se

não foi, apresento como uma sugestão para os que puderem realizá-la. Estaríamos diante

das possibilidades de criação de um Projeto que abriria caminho no interior de uma

nova modalidade historiográfica, que estaria relacionada com a História Virtual, e que

através da sua realização estaria questionando a obrigatoriedade da fixidez textual e da

autoria única como aspectos necessários da Escritura da História.

Como se sabe, duas características da História até hoje, pelo menos o tipo de

História que se escreveu na história da civilização ocidental, sempre foram a “autoria

única” (um autor singular e específico que escreve o texto) e a “fixidez textual” – ou

seja, o fato de que aquilo que foi escrito fica imobilizado para ser lido sempre da mesma

maneira. Mas será necessário que sempre e em todos os momentos seja assim? Outro

recurso interessante proporcionado pela virtualidade, e que pode ser aproveitado para

uma escrita histórica futura, é a possibilidade de criar links – entradas para um labirinto

que pode ser percorrido pelo leitor, ele mesmo tornando-se, desta maneira, uma espécie

de co-autor que produz a sua própria leitura criativa da obra historiográfica que lhe foi

apresentada como caminho.

Há ainda possibilidades outras, como o aproveitamento da estrutura de “chat”

para a criação de textos dialógicos, que depois poderiam ser transformados em livros

(livros tradicionais ou livros digitais). Os progressos em termos de simulação

holográfica ou de projeção do usuário no interior de um ambiente virtual, à maneira das

possibilidades que foram bem ilustradas pelo filme Matrix e tantos outros, pode também

proporcionar um campo inesgotável de criação para os futuros historiadores. O

ambiente interativo proporcionado pelo computador, enfim, certamente ainda reserva

muitas surpresas para a Escrita da História, sem contar as possibilidades que já vão

sendo bem exploradas de utilização da informática e do computador como instrumentos

auxiliares importantes para a feitura da História.

História Visual, História Material, História Virtual ... estas são apenas idéias –

talvez exercícios iniciais de uma imaginação historiográfica projetada para o futuro e no

futuro. Minha intenção foi apenas a de imaginar, diante da permanente reconfiguração

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dos campos históricos, o que ainda estaria por vir. Que novas modalidades

historiográficas ainda estão por ser geradas e desenvolvidas pelos historiadores de agora

e do futuro? Agradeço-lhes a oportunidade de, através desta Conferência em um Evento

tão significativo, me inserir de alguma maneira neste debate que poderá pensar e

repensar o trabalho dos historiadores.

NOTAS

______________________ 1 Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Professor-visitante da Universidade Federal de Juiz de Fora (Juiz de Fora) e Professor Titular da Universidade Severino Sombra (USS) de Vassouras (Brasil). Entre as obras mais recentes contam-se os livros O Campo da História (Petrópolis: Vozes, 2004), O Projeto de Pesquisa em História (Petrópolis: Vozes, 2005), Cidade e História (Petrópolis: Vozes, 2007) e A Construção Social da Cor (Petrópolis: Vozes, 2008). 2 Para uma discussão acerca do conceito de “mudança histórica”, é oportuna a leitura do texto “Mudança Histórica – identidade e continuidade”, do historiador inglês Michael Oakeshott, ligado a Filosofia Crítica da História (Sobre a História e outros ensaios. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005, p.163-189). 3 NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Rideel, 2005. Discuti essa passagem no livro O Campo da História (Petrópolis: Vozes, 2008, 5ª edição). 4 No extremo, e para o período ou contexto que muitos denominam Pós-Modernidade, alguns autores e historiadores da Arte chamam atenção para o fim não apenas dos estilos de época, mas também dos próprios movimentos e correntes artísticas (embora não da Arte), o que permitiria pensar a possibilidade de um Fim da História da Arte. No extremo, fala-se também em “morte da arte”, uma questão já aventada por Hegel. Para esta discussão, as referências são Arthur Danto (Após o Fim da Arte – a arte contemporânea e os limites da História, São Paulo: EDUSP, 2006) e Hans Belting (O Fim da História da Arte, São Paulo: Cosac & Naif, 2006). Ver, ainda, VATTIMO, Gianni. "Morte ou ocaso da arte" in O Fim da Modernidade. Lisboa: Editorial Presença, 1987, p. 45 a 54. Contra a idéia de morte da arte, ver GULLAR, Ferreira. Argumentação contra a Morte da Arte, São Paulo: Revan, 2003. 5 Para um exemplo da radicalização do pensamento da História como Discurso, ver JENKINS, Keith. A História Repensada. São Paulo: Contexto, 2005. Referências importantes para o estudo da História como Discurso é a obra de Hayden White, particularmente A Meta-História – a imaginação histórica do século XIX (São Paulo: EDUSP, 1992), e Trópicos do Discurso – ensaios sobre a Crítica da Cultura (São Paulo: EDUSP, 1994). Podem-se citar, ainda, as obras de Dominick LaCAPRA: History and Criticism (Nova York: Ithaca, 1985) e Rethinking Intellectual History: Texts, Contexts, Language (New York: Ithaca, 1983). 6 GINZBURG, Carlo. “Sinais: raízes de um paradigma indiciário” In Mitos, Emblemas, Sinais. São Paulo: Cia das Letras, 1991, p.143-179. 7 (1) As referências-chave para o paradigma da complexidade podem ser encontradas nas obras de Edgar Morin (ver, particularmente, MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. São Paulo: Sulina, 2007) / (2) Para uma definição do “paradigma indiciário”, que está sintonizado com a proposta da Micro-História, ver GINZBURG, Carlo. “Sinais – Raízes de um Paradigma Indiciário” in Mitos, Emblemas e Sinais – morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, 143-179. Embora caminhando por outra constelação de possibilidades conceituais, também Foucault aponta perspectivas similares à da busca micro-historiográfica do indício quando desenvolve a sua tese de que o poder está disseminado através de uma rede. Diz ele que os interstícios do poder devem ser buscados “nos lugares [aparentemente] menos promissores” – inclusive “nos sentimentos, no amor, na consciência, no instinto” (O’BRIEN, Patrícia. “A História da Cultura de Michel Foucault” in HUNT, Lynn, A Nova História Cultural, São Paulo: Martins Fontes, 1995, p.49) / (3) sobre as propostas de LaCapra retomando o dialogismo de Bakhtin ver, além das obras do próprio LaCapra, o texto explicativo Lloyd S. Kramer (KRAMER, LLOYD. “Literatura, Crítica e Imaginação Histórica: o Desafio Literário de Hayden White e Dominick LaCrapa” in HUNT, Lynn (org.). A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p.131-17).

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8 Sobre um contexto que apontaria para a imprevisibilidade de um mundo em acelerada transformação, ver SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: no loop da montanha russa, São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Ver também JAMESON, Fredric. "Pós-modernidade e sociedade de consumo". In: Revista Novos Estudos CEBRAP. São Paulo, nº12, 1985. Uma referência para a discussão da crise das meta-narrativas, para além da obra de Janeson e numa outra direção por ele criticada, é a célebre obra de Lyotard sobre a Condição Pós-Moderna (LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998). 9 Para uma discussão sobre a Interdisciplinaridade na construção do conhecimento, ver JAPIASSU, Hilton, A Interdisciplinaridade e patologia do saber, Rio de Janeiro: Imago, 1976, ou ainda FAZENDA, Ivani C., A Interdisciplinaridade: História, teoria e pesquisa, Campinas: Papirus, 1994. Uma referência clássica ao papel da Interdisciplinaridade na historiografia contemporânea pode ser encontrada em BRAUDEL, Fernando. História e ciências sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1990. 10 BARROS, José D’Assunção. O Campo da História (Petrópolis: Vozes, 2008, 5ª edição). 11 DOSSE, François. A História em Migalhas. São Paulo: Ensaio, 1994. 12 Para a História Conceitual, ver (1) KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado – contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio De Janeiro: PUC, 2006; (2) JASMIN, Marcelo Gantus e FERES JUNIOR, João (orgs). História dos Conceitos – debates e perspectivas. Rio de Janeiro: PUC/Loyola, 2006. 13 Um contraponto importante a estes impulsos generalizadores de análise do sistema Escravista-Colonial, e que se dá no mesmo período que vai de 1930 a 1970, é constituído pelas obras de Alice Canabrava, Eulália Lobo e José Roberto do Amaral Lapa, que já são bastante atentos ao dinamismo do mercado interno e às singularidades locais. Mais tarde, no período que se inicia em 1970, este enfoque direcionado às complexidades e às singularidades locais passa a ser a regra, representada por autores como Kátia Matoso, Douglas Libby, João Fragoso, Manolo Florentino. 14 “Seria completamente iconoclasta ver aí uma tentativa de narrar, a partir de três pontos de vista, em três registros, a partir de três sistemas de regras diferentes, uma mesma história, explodida entre suas narrativas e depois recomposta? O problema merece em todo o caso ser colocado” (REVEL, Jacques. “Microanálise e construção social” in Jogos de Escalas – a experiência da microanálise, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998. p.36. Para trazer um exemplo já realizado, Como exemplo deste tipo de experiência, Peter Burke cita uma obra de Richard Price, na qual o autor constrói um estudo do Suriname setecentista a partir de quatro vozes que são simbolizadas por quatro padrões tipográficos, o que constitui também uma novidade em termos de utilização da visualidade da escrita (PRICE, Richard. Alabi’s World. Baltimore: 1990. 15 Vale destacar que toda “representação do tempo” é subjetiva, socialmente localizada, e que a própria representação do “tempo histórico” é ela mesma histórica (REIS, José Carlos. “Os Annales: a Renovação Teórico-Metodológica e ‘Utópica’ da História pela Reconstrução do Tempo Histórico” In SAVIANI, Dermeval, LOMBARDI, José Claudinei e SANFELICE, José Luís (orgs.). História e História da Educação – o Debate Teórico-Metodológico Atual. Campinas: Editora Autores Associados, 1998. p.20). / Sobre experiências recentes na historiografia voltadas para novos modos de tratamento da temporalidade, ver o excelente panorama elaborado por Peter Burke sobre algumas possibilidades (BURKE, Peter. “A História dos Acontecimentos e o Renascimento da Narrativa” in A Escrita da História novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992. p.327-348). Entre estas, ver a narrativa desenvolvida por Norman Davies em Heart of Europe. Nesta obra, o autor focaliza uma História da Polônia encadeada da frente para trás em capítulos que começam no período posterior à Segunda Guerra Mundial e recuam até chegar ao período situado entre 1795 e 1918 (DAVIES, N. Heart of Europe: a Short History of Poland. Oxford: 1984).