Upload
cris-ilhesca
View
221
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Análise crítica do Marxismo, por um anarquista.
Citation preview
AFALNCIADEUMAUTOPIA
MARXREVISITED
ERNESTO KRAMER
Edies universo separado
AFALNCIADEUMAUTOPIA
MARXREVISITED
Ernesto Kramer MaringPRAbril2004(fimdesemanasanta)
PELOSFRUTOSQUESERECONHECEAQUALIDADE
DEUMARVORE
CONTEDO
INTRODUO 2REVOLUO 4QUEMFAZAREVOLUO 12VELHASUTOPIAS 18LIMITESDOMARXISMO 23OSCRATAS 25OSCOMUNISTAS 31AOBSESSODEMARX 35
OROLDAUTOPIA 40
A Falncia de uma Utopia - ek 1
INTRODUOExistempalavrasdemaisoumenosfcilesimplesdefinio.Outras, pelo contrrio, apresentam srias dificuldades quando sepretendechegaraumconsensosobreseusignificado.Palavraseconceitosnovos,recentementeincorporadoslinguagem humana, geralmente no apresentammaiores problemas.Comoexemplovalemostermosempregadosnareadainformtica.Outras,maisantigas,tiveramseussignificadosoriginaismodificadosoudeturpadosao longodahistria,obedecendoadiversoscontextosondeforaminseridas,eataosinteressesparticularesdequemasutilizou,visandofinsdiversos.Hpalavrascomo,porexemplo,moral,ticaouidoneidade,queso conceitos imateriais e s ganham sentido ou significadoquando colocadasem relao a fatosou aesdomundo real.Mastambmhoutras,queconceitualizam fatosouaesconcretas, sobre asquaishoje existeuma confuso extrema e soempregadascomfinseintenesdiversaspelaspessoas.Emestetextoprecisaremosnosesclarecersobrevriosconceitosque se incluementreestasltimas, comoutopia, socialismo,anarquismo,democracia,revoluooucomunismo.Devemostentarcoloclasemumcontextohistrico,examinarfatosquelevaram a lhes dar significados atualmente de uso comum, comotambmconsiderarcomousarestesconceitosnavriasvezesmilenar e ainda no acabada luta pela construo de ummundomelhor, mais autenticamente humano, justo, fraterno, noviolentoelibertrio.
A Falncia de uma Utopia - ek 2
Todasaspalavrasmencionadasacima(maisalgumasoutras)tmemcomumquesurgiramcomoantnimosasituaesnoqueridas,queostensivelmenteprejudicavamagrandepartedapopulaoterrestre.Elasexpressamformasnovasdeestruturaosocial, diferentes formas de relacionamento humano, e indicamcomosepoderiachegarrealizaodestasquestes.Os termosaosqueprincipalmentenos referimos,almdediferentes significados, tambm incorporam apelidos,queexplicitamsuarelaocomdiferentesfatosouintenes,comorevoluoburguesa,proletriaounoviolenta,ouanarquiasindicalista,comunista,utpica,etc.Fundamentalmente,tentaseexplicarasviaspropostasparachegaraconstituirummundonovo,totaleradicalmentedistintodoqueestamosvivenciando,comoraahumana,atravsdemuitosmilharesdeanos.Usadosathoje,poramigoseinimigos,foramcontextualizadase/oudeturpadas segundo as intenes e finalidadesdaspartesinteressadas.Porumlado,aquelasquequeremconservarasituaodomodoqueseencontrahojee,sepossvel,aumentaraindamaissuasvantagens;pelooutro,osqueaspiramaestenderosbenefciosparceladapopulaoque,almdeteroacessonegado,usadavilmenteparaproduziro luxoeariquezausufrudospelosmencionadosanteriormente.Entreosnoprivilegiados,ouoprimidos, aindano surgiuumasntesequepermitaumacionarconsensual.Hevidentesconflitosedivergnciasentreas idiasexpostaspordiferentes filsofos,pensadoreseativistasquesepreocuparam(eaindasepreocupam)peloassunto.Cadacertotemposurgemnovascontribuies,emformadereinterpretaes,adequaesameios,mbitosoumomentoshistricosdiferentes,ou atnovaspropostas
A Falncia de uma Utopia - ek 3
deaobaseadasemprincpiosqueanteriormenteno tinhamsidoexpostosouincludosnopanoramageral.Consideramos interessante uma releitura das propostas apresentadas,especialmentenosltimos250anos,paranosesclarecersobreasorigensdaheranaquenosdeixaramantepassadosintelectuaisecombatentesdacausaquepretendelevarhumanizaodoplaneta.Consideramosnecessrioinserirestesconceitosnocontextodasituaoplanetriaatual,comfinsdefundamentarasaese formasquesejamasmaisrealistaspossveis,escolhendo,preferentemente,aquelasqueapresentempotenciaisefetivosnosmenoresprazosecomosmenoresprejuzoseinvestimentospossveis.
REVOLUOEstapalavrasempreseaplicoueaindaestemusoparadesignarumamudanadrstica, radical,profunda,abrangente,naestruturadeumasociedade.Masparecequeesseonicopontoconsensualexpressadopelotermo.Destaconceituaobsicaaparecemdiversasinterpretaes,quedivergemsobreseoatorevolucionrioseriaeminentementeviolento,ousehaveriapossibilidadedeumarevoluobaseadaematosnoviolentos.Maisdivergnciasaparecemquandoseconsideraquemseriamoudeveriamseros implementadoresdatalrevoluo,comotambmquandosoconsideradososafazeres necessrios para realizla, existindo questionamentos atnosfinsalmejadosporesta.
A Falncia de uma Utopia - ek 4
Cabe considerarque, sea revoluo,exclusivamente,umatoviolento,seriadifcilcatalogarcomessetermoasrevolues industrial,comercial,dostransportes,dascomunicaesoudatecnologiaemgeral.Se examinarmosdetidamente toda ahistriadahumanidade luz da primeira frase deste captulo, facilmente entenderemosquea talrevoluosocialaindano foirealizada.Apenaspodemos registraralgumasexcees, localizadasemespaos reduzidose implementadaspor(relativamente)pequenosagrupamentoshumanos.Vemosque,desdeamaisremotaantiguidade,atosdiasdehoje,associedadesconstrudaspeloshumanostiveram,comoaindatm,umacaractersticabsicadeverticalidade,emsuaconcepoe implementao.Essaverticalidade,queassume formapiramidal, nunca foi modificada suficientemente para configurarumanovaformaderelacionamentossocial.Oquesimobservamosuma interminvel lutapelopoder,empreendidaporindivduos,gruposdetodotipoimaginvel,ouporclasses sociais.Confundira tomadopoder, feitaporquem for,comumarevoluo,errocomum.Ficandopreservadaumaestrutura hierrquica, que privilegia unas sobre outros, fica claroquenohouveatorevolucionrio.Podesergolpe,levantepopular,rebeliovitoriosa,masrevoluooutracoisadiferente.A estrutura social, que com tanto cime conservamos, facilmenteentendidaporumgrficoque representaumapirmide:
A Falncia de uma Utopia - ek 5
Paraexplicarasrelaesverticaisentreosdiferentescomponentesdasociedade,podemossegmentarestapirmide,colocandoemseupiceaminoriaprivilegiada,queusufruioprodutodetodooresto.Nabasecolocaramosamaioriamarginalizada,ostrabalhadoresprodutoresservidorese,nos segmentos intermedirios,diferentesclassesconstitudasparaserviraopodermximo,numaescalaque,asuavez,configurapodereprivilgiossobreosqueseencontramembaixo.Umapropostadeinversodapirmidenomudaaestruturadepoderdehumanossobreoutroshumanos,conservandoaverticalidadena relao social.Elaapenasdeslocaopoderparaoutrogrupo social, sem configurar, por isto, um ato revolucionriocompleto.Seguindocomoapoiogrfico,poderamosconsiderarcomorealamudana(drstica,radical,abrangente,profunda)dapirmideparaumcrculo,porexemplo.Este,vistodamesmaperspectivadapirmide,seapresentacomoumalinha:__________________peloquesefalaemorganizaohorizontal.precisoobservlodesdecimaparaenxergarsuarealdimenso:
A Falncia de uma Utopia - ek 6
Outroscrculosconcntricos,neleinseridos,serviriamparaexplicararelaohorizontaldaorganizaointernadestetipodesociedade.Fundamentalmente, se quisermos tipificar uma revoluo verdadeira,temosqueconsiderlacomooatoquenos leveestruturao de uma sociedade totalmente diferente atual. Senossoobjetivoforodeproduzirumarevoluo libertadora,queelimineasclassessociais,nopodemospensaremtermosverticais/piramidais,poisnema inversodapirmidenos levaaalcanaroobjetivoalmejado.Assime simplificando grosseiramente,opretenso revolucionriotemantesiatarefadetransformarumapirmidenumcrculo,colocando ladoa ladooselementosqueanteriormenteestavamempilhadosunssobreoutros.Uma das controvrsiasmais acentuadas, surgidas entre os quepreconizam a necessidade de revoluo, reside na necessidadedequeestaserealizeemformaviolenta,ounapossibilidadequeaaorevolucionriasejaempreendidapormeiosnoviolentos.Pior ainda, entre os adeptos e os contrrios a uma ou outradestas formas,existeuma gamadeposicionamentosque influem,especialmente,notemponecessrioparaimplementla.Ahistrianosmostraclaramentequenuncaumaououtraformaproduziuosresultadosapetecidos,queridosoualmejados.Atatal revoluo bolchevique, realizada na Rssia imperial, no
A Falncia de uma Utopia - ek 7
conseguiumaisqueuma transformaoestruturaldasociedadecapitalista,priorizandoumcapitalismodeEstadosobreumcapitalismodeLivreMercado,pormeiodeuma reacomodaodosatoressociais.Nuncaconseguiue,pior,conscienteeautoritariamenteimpediuodesenvolvimentoaformashorizontaisdeestruturaoerelacionamento.Pelooutrolado,oslibertriosantiautoritriosnotmmuitoparamostrar,masessepoucomuitomaisqueoalcanadopelosmarxistas autoritriosduranteos80 anosque tiveramopoderabsolutonasmos.Comoexemplopodemosnosreferirasociedadescriadasantesdaguerracivilespanhola,ounaUcrnia.Estasnofracassaramporinviabilidade,masporsereliminadasviolentamente pelo sanguinrio tirano Francisco Franco, pela sanguinriaintervenodasBrigadasoudoExrcitoVermelhos.Parasua formao,osgrupossociais libertriosusaram tantodaviolncia extrema, como do consenso entre os participantes. Dependeram,para isso, tantodascondiesobjetivasencontradasemumlugardado,comodaconstruoideolgicaqueosimpulsavaao.Acontrarevoluono fezdiferenas:semmisericrdiamassacrouatodos.CabeaquisalientarqueomesmotratamentoreceberamoslibertriosqueousaramsemanifestarnaextintaUnioSovitica.Istonodeseestranhar,setratandodeumasociedadequepreconizouademocraciadamaioria,aqual, inevitavelmente, levaopresso,marginalizaoeaosilenciamentodasminorias.Pioraindaseumaminoriadissidenteecontestatria.dessemesmotipodedemocraciaqueseservemosatuaisburguesesparasustentarsuaprpriaexistncia.Um revolucionrionopodepretenderalavancar sua luta,apoiadonesseautoritarismo velado; como tambm no pode, sob nenhum ponto de
A Falncia de uma Utopia - ek 8
vista,pretenderqueessasejaabasereferencialquejustifiqueasdecisestomadasnasociedadequequerconstruir.Desdeestaperspectiva,ademocraciaburguesaeadoproletariado(propostaporMarxeEngels)soformasdeviolnciadiferenciadasapenasporgrausdaprpriaviolnciafsica.Nofundoestointimamenterelacionadas.Emsuaessncia,ademocracia,daformaqueestimplementadahojeetalcomofoinoImprioSovitico, um instrumento da violncia usada paramanipular esubmeteramaioriaaoscaprichosdeumaminoriaquesebeneficiadestasituao.Emresumidascontas,omodelodemocrtico impostoansnopermitebrechasquepossamviabilizara revoluoporessavia.Astravasdeseguranasofortesdemais.Nasescassasvezesquea possibilidade revolucionria pretendeu se realizar por via democrtica,estafoisangrentamenteimpedidaeeliminada.PodemverosacontecimentosemSofia,Bulgria,poucosanosantesdaSegundaGuerraMundial,comotambmoqueaconteceunoChile,noscomeosdosanos70.Ademocracianegouseasimesma.Elaspermitidaquandoeatondesirvaaosdetentoresdopoder.Apropostaderevoluonoviolentabaseadaemacionarmaissutil, mas no por isso isenta de resposta violenta da contrarevoluo. Por falta de esclarecimento, freqentemente confundidacomopacifismo,bandeiraprpriadehippiesecristos.Reconhecemoscomonoviolentooatoquenoapresentevestgiosdeviolnciafsica,econmica,religiosa,psicolgicaouecolgica.Relacionadocomotermorevoluo,esclareceadinmicadosatosquelevamconcretizaodesta.
A Falncia de uma Utopia - ek 9
Neste sentido, inextremisuma revoluoquepretenda serrealizada pormeios no violentos, pode assumir caractersticasquepodemser reconhecidasemummbito ldico.bviodemaisqueosferrenhosdefensoresdanecessidadedoempregodaviolnciabrutaatacaredestruirprimeiro,paradepoisconstruirnopossamdarchancealgumanoviolncianaexecuodarevoluo. Istoumacontradioemsi,poisoatoviolentonoconfigurapropriamente a revoluo,mas,na teoria autoritria,representaapenasumpassointermediriopara,posteriormente,chegararealizla.Aviolnciasseriaempregadaparaconstruirummbitosocialcomcondiesdeconcretizarapretendidarevoluopormeiosrelativamentemaispacficos.Quemcolocaarevoluoemtermosdeconfrontoentreburguesiaeproletariado,apenassubstituiumaclassedominanteporoutra.Noscasosqueissofoialcanadoconstatamos,comoconstantehistrica,queaclassenopodertendeaseperpetuar,travandoouimpedindoarealizaodaverdadeirarevoluopretendidanodiscurso.O talperodode transioproposto tendeaseeternizar,favorecendoaconstruodeumapirmidesocialanlogaaoperodoanterior,mudandoapenasosatoresparticipantes.Tambm,geralmente,anovasociedaderevestidadecaractersticas tantooumaisviolentas,autoritriaseopressivasqueasdoprpriopoderderrotado.Esta constatao uma realidade histrica e constitui assuntotratadopordiversoslibertrios,crticosdascolocaesmarxistas,aindaquandoMarxestavavivo,muitoantesdesequersecogitara existncia daUnio de Repblicas Socialistas Soviticas.Masnosdaquesurgeaoposioetapatransitriaentendidacomoabsolutamentenecessriapelofilsofo,sendoqueestaconsideradadispensvelporoutrostericos.
A Falncia de uma Utopia - ek 10
Hoje,novosdadossurgidosdoprpriodesenvolvimentohumano,atraemmuitaspessoasaumposicionamentomaisimediatista.Ovelho fantasmadofimdostemposameaaahumanidadeeoPlaneta inteiro.A autodestruio se vislumbra pelo estado quenossa civilizao est deixando o meio ambiente. Desde essepontodevista,entendesequeumarevoluodecortemarxistas conseguiria produzir condies melhores de sobrevivnciahumana emmomento concomitante com a destruio total davidanaTerra.Observamos tambmqueesta colocao se fundamenta em objetivos dados cientficos, obtidos da realidadeconcretadomundorealquenosdadovivenciar.daquesurgea opinio que a revoluo realizada nos termos propostos porKarlMarxeCia.nosejaaferramentamaisidneaouapropriadaparaalcanarosfinspretendidos.Ouseja,nocaso,evitaraextinodaespcieeconstruirumasociedadelivre,justa,multifactica em seu contedo cultural, e que estabelea condies paraquetodososhumanospossamsobreviverdamelhorformapossvel.Esseimediatismoexigidopelosatuaisrevolucionriosecossociaiseporseusancestraislibertrioscatalogadocomoilusrioeutpico pelos autoritrios de cunhomarxista.Mas a nicaformaemquearevoluofoirealizadaemsuatotalidade.Acurta durao das sociedades horizontais produzidas deve ser entendidaemrelaoscaractersticasdomomentohistricoondeestasemergiram.De jeitonenhumpodem serusadascomoumexemploquepretendademonstrara invalidadedametodologiaempregadaparacrilas.Pelo contrrio,osmtodosempregados, apartirdaspropostasdeMarxeEngels,demonstraramamplamenteseucontedo ilusrio(utpicosnosentidopejorativoqueMarxdeuaotermo).Oprprioprocessoprrevolucionrio tomadepodereetapa
A Falncia de uma Utopia - ek 11
intermediriano sdificultaemextremo,mas inviabiliza totalmenteaexecuodaverdadeirarevoluo.
QUEMFAZAREVOLUOObviamentearevoluo feitaporsereshumanos.Poderamosagregarqueelesteriamobjetivoscomuns,osqueseriamamodificaodascondiesdesupervivnciadosprprioshumanoseque,para isso,entendamquenecessriaareestruturaodasrelaes entre eles. Subentendese que, nas estruturas relacionais, sejam includos e afetados os mbitos social, econmico,poltico,religiosoe,hoje,tambmsejaconsideradaarelaodoshumanoscomomeioambiente,nestecontexto.Pretendercolocaremumaclassesocialosatributosrevolucionriosfoiuma idealizaodascondiesapresentadasnodecorrerdossculos18e19.Essa leituradeumarealidadepretritapretende, at agora mesmo, antagonizar os chamados proletrioscontraostaisburgueses.Da lutaentreestasduastribosdeveriaemergiroresultadorevolucionrio,nobementendidoquealutaemsinoarevoluo.Considerase que s a camada inferior da pirmide social teriacondioe capacidadepara detonaras camadas superpostas,que constituem o atual tipo de sociedade. Inferese que quemnoforproletrionopodeserrevolucionrio.Comojustificaoalegaseaquantidadedemassamaiorquepodeserempregadamilitarmentenoscombatesconsideradosnecessrios. Issoumreflexo de tempos antigos, quando exrcitosmaiores costuma
A Falncia de uma Utopia - ek 12
vamganharasguerras;questoamplamentesuperadanaatualidade,peloaparelhamentoincrveldosopressores.Especulamtambmcomtodaagamadeaesnecessriasparaconscientizaressamassadorolqueahistrialheteriareservada.S isso representauma tarefapelomenosdezvezesmaiorquenomomentoquando foiboladaa teoria.Nodecorrerde200anosacoisasecomplicoumuitomaisdoqueostericoscientificistasconseguemreconheceroupuderamprever.Oinimigoestaria identificadonaclasseburguesa,queseriaorestodemundo.Mas,aoexaminaradefiniodeburguesia,achamosqueestadetentoradepoderporserproprietriadosmeiosdeproduoedaterra,sendoacusadatambmdemanipularosistemafinanceiro,amdia,areligioeosprocessosdemocrticos,emseuprpriobenefcio,constituindoorganizaesparaseproteger,comoapolciaeoexrcito.Jvimosqueo fatodecolocarestesassuntosemmosdopovo,ouseja,aclasseproletriasegundoosmarxistas,nuncamodificouessencialmenteaestruturasocial,nemaopresso,nemarepresso. Os pretensos revolucionrios marxistas ainda estodevendoaalmejadarevoluo.Agora,seformoscontarosburguesestipificadosanteriormente,vamosacharquenemo10%doshumanospodemser includosnessacategoria.Entreesteseoproletariadoexisteumacamada,tambmchamadapequenoburguesa,quepoderamosentendermelhorseachamssemosdeburguesespsicolgicos.Achamquesoouquepodemchegaraserburgueses,masapenassoservidorescomqualificaessuperioresaoproletariadocomum.Soretribudosporseusamosquesoosmesmosamosdosproletasem funodovalor relativomaiordosserviosprestados.
A Falncia de uma Utopia - ek 13
Isto lhesconfereapossibilidadedegozardeumamelhorqualidadedevidaeoacessoaquisiodebens(materiaiseimateriais)inacessveisclassemaisbaixa.Rejeitar o potencial revolucionrio desta classe uma atitudesectaristaquenegaodireitoparticipaode1/3dahumanidadequesobrevivenasociedadecapitalista.Istonosrepresentaumalamentvelperdanumrica,masofatoagravado,poisessenmerocolocado,gratuitamente,emmosdoinimigodeclarado. Em lugar de tentar arregimentar a maior quantidade departidriosdarevoluo,apropostaclassistaclaramenteexcludente.Todomritotericoconcedidospropostasmarxistasbaseadoem leiturasmeramenteespeculativasdeuma realidade ilusria,quenuncaconduziramcomonuncaconduziro realizaoderevoluoalguma.Se bem que a teoriamarxista reconhece o papel representadopelareligiocomoinstrumentodealienao,dominaoeopresso,elanoconsiderasuficientementeenempodiapreverousodamdia,emsua formaatual,paraosmesmos fins.Encontramos a um fator contrarevolucionrio importantssimo, queproduzumaalienaoextremadosatoressociais.Qualquerpretensodeconscientizao,sejasomentedosoperrios,doproletariadoemgeral,oudetodaahumanidade,vai,necessriaeinevitavelmente,terqueseenfrentarcomafabulosaestruturaformadapelosveculosdecomunicaoqueestoemmosdosinteressescapitalistas,foramcriadoseformadosporeles,eporelessomanipulados.Noexiste,nomarxismo,umapropostaclaraparaaatuaorevolucionrianessesetor.
A Falncia de uma Utopia - ek 14
Simplificando,poderamosdizerque,ondeantesbastavaadistribuiodeumpanfleto,hojenecessriaumaemissoradeteleviso.Ocomplexomovimentohistrico,exacerbadoafinsdosculo20enoscomeosdoterceiromilniodaEraVulgar,tambmfoiacompanhadoporantes inimaginveisavanos tecnolgicos,noscamposcivilemilitar.Novassituaesobjetivassoproduzidaseostericosmarxistastentamseadaptaraelas,semconseguir,noentanto, um consenso que embase / fundamente solidamenteumaaorevolucionriaunitriaerealista.Adiscusso terica (ou retrica)questiona cada nfimodetalhedapropostainicial,deixandodeladoou,nomelhordoscasos,atrasandopor tempo imprevisvel, todaequalqueraopositivaquepossaoupretenda ser implantadaem favordo surgimentodanovasociedadehumana.Asprincipais ferramentasde luta,desenhadasparadefender,apoiare facilitaraaodosrevolucionriospartidospolticosesindicatos, na cabea hoje no passam de instrumentos quepropiciamaadaptaoeaceitaodostatusquo.Penetradospelosistemahegemnico,seupoderfoianulado.A tarefade reconstruir estas instituies e voltar adotlasdopodertransitrioquealgumaveztiveram,requerumesforobemmaiorqueaditaclasserevolucionriapoderealizar.Insistirporessecaminhoincorrernatolicedesedeixarofuscarporelementos que foram superados no devir da histria, demonstrandoevidente incapacidadepara inventarecriarnovos instrumentos,capazesdeenfrentar,comobjetividadeecoerncia,osdesvioscolocadospelasituaoatual.
A Falncia de uma Utopia - ek 15
Apretensarevoluomarxista(etal.)setornaassimamaishipcrita encenao realizada na histria das civilizaes. Esta proclamaoobjetivoderealizarumautopia(ocomunismo),duranteum perodo de ascenso pretensamente revolucionrio; praticaumaideologiaquemistificameiosefins,emseuperododeconsolidao; alcana alguns aspectos modernizadores, em certosnveisouaspectos,quando chegaaopoder;mas se revela conservadora, reacionria e at contrarevolucionria quando confrontadacomosatoresquereivindicamaefetivarealizaodaspropostasrevolucionrias.Para os espritos libertrios, as (pseudo)revolues comunistasno representaram coisadiferentedas aesda Inquisio, implementadasna idademdiaocidentalpela igrejacatlicaapostlicaromana.Sempiedade,eles foramdeportados,torturados,internados emmanicmios, assassinados,marginalizados, pelasforasquerepresentavamaditaduradoproletariado.Estamesmaditadura,consideradatransitrianocaminhodarealizao revolucionria,ostentaaspiorescaractersticas fascistoides,prpriasdoselementosmaisbrutalmente reacionriosqueumasociedadehumanapossaalbergar.muito,masmuitssimodifcil,acreditarquedestaexcreosocialpossasurgirumtipodesociedade que pretenda ser melhor, superior ou mais perfeitaquequalqueroutraantesexperimentada. to ilusrioesperarqueoproletariadonopoderseautodestruacomoclasse,comopretenderqueaburguesiafaaamesmacoisa.Contrariando a observao conservadora (at reacionria) docamarada Lnin (quem afirmavaque as situaes revolucionriasnoseproduzemporencomenda),umautnticorevolucionrio (que pode ser oriundo de qualquer classe) sabe perfeitamente que a semente revolucionria pode eclodir em todo e
A Falncia de uma Utopia - ek 16
qualquermomentoelugar.Basta,paraisso,quearevoluoaindanohajasidofeita.Oembateentreburgueseseproletrios,eentreosimpriosquetentavamdemonstrarumasupostasuperioridadedosrespectivoscapitalismosdeLivreMercadoedeEstado,relegouopensamentolibertrioaumaprolongadapenumbrahistrica.Mas,sehojenopodemosescutaras vozesde suaspersonalidadesmais representativas,aindapodemosencontrarasobrasescritasqueelesproduziram,paranosdocumentar sobre esse assunto e vercomoseadaptarealidadequevivenciamosnaatualidade.NoescritoASagradaFamlia,MarxeEngelsreconheciamque:Acimadetudo,ohomem,ohomemrealevivo,quemfazarevoluo.Agora,pretenderqueessehomem (ouaquelapessoa,num termo menos machista) s possa pertencer a uma nicaclassesocial,obedeceunicamenteaumaconstruotericacujoaspectoprticohojeseencontratotalmentefalido.convenienteeaconselhvelseconsultarcomosquehistoricamentediscordaramdessaduplafantasiosa.Pelaconcepodestespensadores,nohaveriapossibilidadederevoluosemaatuaodeumamassahumana,destinadaaconfrontarfisicamenteo inimigo.Discutese,athoje,anecessidadedestamassapossuirmaioroumenor conscincia revolucionria,masosfinsdesuautilizaosempreestiveramclaros:oembatecorpoacorpo.Complicando ainda mais a questo, Marx e Engels criam maisumaclasse:adoscomunistas,queseriasuperiorporpossuiravantagemdeumacompreensontidadascondies,damarchadoprocessoedosfinsgeraisdomovimentoproletrio,solidifi
A Falncia de uma Utopia - ek 17
candoseaamistificaodavanguardaquedeveriaencabearedirigirabatalhafinaledecisivavisualizadaporLnin.
VELHASUTOPIASAposioantiutopistadeMarxpodesermaisbemcompreendidasecolocarmososujeitonoseucontextohistrico.Quandooainda jovemMarxcomeouatentarfazerfuncionarseucrebroeatentarcolocarnopapel,pormeiodaescrita,seuspensamentosesentimentossobreassuntosdosmundosmaterialeimaterial, ento as refernciasutpicas eram realmente escassas e aspropostasbastantedeficientes.Desdeos temposdos gregosprcristos,que viram Plato escrevendo sua famosa Repblica, temos que dar um pulo atpoucoantesda invasoeuropiadocontinenteamericano,paraachar um senhor ingls (Thomas Morus) escrevendo sua obra,nomenosfamosa,quechamouUtopia.Maisoutrosdoissculospassaramsemmuitasourelevantescontribuiesaognero.Estes dois clssicos da literatura contm certas descries deconglomeradoshumanos,organizadossocialmentecomofimdeproduziramelhorqualidadedevidapossvel, comomenoresforopossvel,dentrodeparmetrosqueasseguremaconvivncia humana nas condies de liberdade, justia, no violncia,respeito, igualdade,segurana,etc.edemais.Amboscontmositens, tpicos,pontos e situaesqueno encaixamnas visespsrevolucionriasdos socialistas, comunistas,ou cooperativis
A Falncia de uma Utopia - ek 18
tas,comotampoucoencaixavamnasvisesdavanguardasocialistalibertria,surgidanasegundametadedosculo19.Se fossemosaoextremode incluirnasutopiasapropostaclaramenteabsolutistadoitalianoTomsCampanella(feitanosculoXVI, em sua obra O Estado do Sol) teramos que esperar atdepoisda tentativaprrevolucionria francesa,para incluirnovosnomeseobrasnalista.Sapartirdessemomentocomeaasurgirumaproduo intelectualquepodesercaracterizadacomocrticasocial,dopontodevistasocialista.Demodogeral,amonarquia,areligio,oabsolutismo,a tirania,eramalvodosataquese considerados responsveispelamisriadamaioriadapopulao.Japarecemopiniesque consideramquenenhuma formade Estado,nem amaisdemocrtica,poderiaresolveraquesto.Aindanosfinaisdosculo18,oitalianoBuonarottiescreveepublicaolivroAConspiraodeBaboeuf.Neledescreveosideaisquepropulsaramumatentativade instalarumgovernodecartersocialistanaFrana,apsamortedeRobespierre.Estesrevolucionriospopulares,queenfrentaramacontrarevoluo francesa,apresentaramumatcnicarevolucionria,porprimeiraveznahistria.ForamarefernciaqueinfluiuMarxeEngels,osqueadotamascaractersticasdeoperaomilitardarevoluoproletriasocialistaeanecessidadedeumaditaduradoproletariado.IdiasdehomenscomoThompson,DavidRicardoeOweninfluramemmobilizaes sociaisque,almdealgumaspasseataseapresentaesdepeties,apenasproduziramalgumas tentativasde revoltaspopulares.Amisturade revolucionriose reformistas, juntorepressodogovernobritnico, terminoucoma
A Falncia de uma Utopia - ek 19
movimentaonadcadade1840,eproduziramumafastamentodosoperriosdasidiassocialistas.Aindaantesdaeramarxista,SaintSimon,Fourier,Proudhoneo prprioOwen, tentarammisturar seus ingredientes no caldorevolucionriodapoca.SaintSimon,comobomcristomilitante,nopassaalmdeproporumnovocristianismoquemelhoreasituaodosmenosfavorecidos.Ovalorquedadoasuacontribuioresideemsuainterpretao da revoluo francesa como a luta entre duasclasses; previu a primazia futura da economia sobre a poltica;comotambmafuturatransformaodogovernopoltico(doEstado)numagestoadministrativada sociedade. certoquealgunspontosfazemavanarateoriasocialista,masprecisoumadosedeboavontadeparaachar,emseustextos,umarealcrticasocialistaaocapitalismo.No fundo,nopassoudeumapstolodocapitalismoeumprofetadatecnocracia,comfortestraospaternalistasqueoimpulsavamaprotegerapropriedade.JCharlesFourierutilizaadialticacomomtododecompreensodahistria.Preconizaumateoriabaseadanoassociativismoenocooperativismo.ViajanamaionesepropondoacriaodeFalanstrios, comunidades rigidamenteplanejadase regulamentadas.Todosseusprojetosfracassaram,quandotentouexperimentlosem formatpica.VistoopoucodesenvolvimentodoCooperativismo (napoca aindano caracterizado comodoutrina),nomuitocomoquepodecontribuircausarevolucionria.AquestodosocialismotpicocomeaaficarmaissriacomPierre Proudhon. consideradoumutopistaporMarx,principalmenteporacreditarqueadivisosocialemclassespoderiasersuperadaporsimplesconciliaoentreestas,semprecisardavio
A Falncia de uma Utopia - ek 20
lenta revolta revolucionria preconizada pelo cientista social.TotalmentedeacordocomMarxempontosneurlgicosecruciais referentes finalidadeeobjetivosda revoluo, cainadesgraaquandoprevacriaodecomunidadesrelacionadas(noisoladascomoosutopistasatento),squaisdotadecaractersticas ideais,alcanadasporacordodasconscincias individuais.Eleseantecipavisomarxista(alis,nofaltaquemafirmequeMarxasrouboudele)sobreofimdapropriedadeprivada,dosalrioedasujeiodohomemmquina;dasubmissodocapitaledoEstadoaocontroledostrabalhadores;edaigualdadedecondiesparatodosnaeducaopblica.EmseulivroContradiesEconmicas lanaoconceitodemaisvalia(plusvalia),queMarxeEngelsapanhamsemhesitar.RobertOwenpoderiaseconsiderarhojecomoopai(ouav)dasocialdemocraciamoderna.Diretoresciodeumaindstriatxtil,humanizouasrelaeseascondiesdetrabalho,diminuiuohorriodetrabalho,deucondiesdecentesdemoradiaesadeaseusoperrios,preocupandoseatdaeducaodeseusfilhos.Baseadonoxitodeseuempreendimentoradicalizounodiscurso, pregou o comunismo, combateu as instituies burguesas,crioucooperativasoperriasdeconsumo,ealavancouimportantesavanosnalegislaotrabalhistadaInglaterra.Tomandoemcontaesteresumobastantesintticodasprincipaiscabeaspensantesdaeraprmarxiana,spodesechegaraconcluirqueosexpoentes,defensoresepropagandistasdoutopismonoeramdegrandevalor,desdeumpontodevistaestritamenterevolucionriocientificista.O problema surge quando apareceu o questionamento: se amentalidadeutopistade tipo socialistacomunista identificadaexemplarmente nos projetosmarxistas.Mannheim afirma que,
A Falncia de uma Utopia - ek 21
de fato, a teoriamarxista configura uma utopia. Acha que nenhumoutroprojetodesociedadeseencaixamaisperfeitamentenamentalidadeutopista,doqueomarxista.Afirmaque,seestenoseamoldaatalclassificao,nenhumoutroofar.Osmarxistasnoseriammaisqueosexecutoresdeumaquartaviadarevoluoutpica.Jaduplafantsticasempreprocurousedistanciardaspropostasqueclassificavamcomoutpicas,criticandoespecialmenteafaltaouarejeiodaaopoltica,eafaltadecomprometimentonaao revolucionria por eles proposta. Criticavam os utopistaspor considerlosmeros inventoresde sociedades,paternalistasoufilantrpicos,sempassarsequerpelaorganizaodaclasseoperria.Criticavamaindaaconsideraoqueasmudanaspudessemserfeitasdemodopacfico,atravsdepequenosexperimentosquenoserviammaisdoquecastelosdeareia,irremediavelmentefadadosaofracasso.ReferindoseaFourier,criticavamoqueconsideravamseitasreacionrias,quesubstituamalutadeclassesporumaconciliaoentreestas.Reconheciamaexistnciaentreos socialistasecomunistasutpicosdeelementoscrticosteis(paraacompreensodasociedadeeparaaelaboraodasmudanasalmejadas).Masnuncaviramcomoestesmovimentospoderiamtranscenderos limitesdossimplessonhos.AvisocrticadeMarxaindaalcanouoProjetodeEmigraodoCidado,do francsE.Cabot,umutopistaisolacionista,queformou comunidadenos EstadosUnidosdaAmrica, em 1848.Ospontos levantadosporMarx,nessemomento,ainda servemcomo guia e advertncia a todos e qualquer um que pretendaempreenderprojetosimilar.Paraoutopismocontemporneoestclaroqueacoisanomesmopora,nemdessaforma.
A Falncia de uma Utopia - ek 22
NoseencontranosescritosdeMarxmnimosvestgiosdepretenderdescreverumanovasociedade.umacrticaqueeleaindahojerecebe,poisficamossemidiasobrecomopoderiaseravidanasociedadepsrevolucionria.Suapreocupaonopassoualmdetentarconfigurarcientificamenteumcaminhoquelevasseauma revoluo implementadapelaclassemenos favorecidadostrabalhadores,narepartiodosbensqueelamesmaproduz.Limitandoseaisso.Poroutro ladoficam latentesasqueixaseos lamentosdoLninmoribundo,sobreasuanovasociedade,aqualsehaveriatransformadonumautopiaburocrtica.
LIMITESDOMARXISMOUmdosprincipaiserrosdeKarlMarxfoiodeafirmarauniversalidadedesuateorizaosobreodesenvolvimentohistrico.Noenxergouanecessidadedorompimentohistricopararealizaronovo.Suaconstruotericasobrearevoluo,adinmicarevolucionriaeosprprioscomponenteseexecutoresdestapretensarevoluoseriabastantediferente,secomumahumildadedaqualevidentemente carecia tivesse reconhecidoos limitesdeseusestudos.Marx nasceu, cresceu e se desenvolveu (movimentou) estritamentedentrodoslimitesdoberodacivilizaoocidentaljudeucrist.Comopesquisadordahistriabempoucoseaventuroufo
A Falncia de uma Utopia - ek 23
radesteslimites.Todasuaelaboraotericasebaseiaemfatos,conhecimentoseprocessosregistradosnaEuropaCentral.Aindaquefaarefernciaaalgunsoutrospovos,seuolharpoucoultrapassaavizinhana imediata.Assimmesmo,pretendedesvendarumprocessodedesenvolvimentohistricomundial,queseguiriaosmesmospassosqueoncleoporeleconsideradopadro.Faltoulhe, claraeobviamente,umestudo comparadodasdiferentescivilizaes,paraobterumabasequepossafundamentarumaconcepomaisuniversalistadesuaselucubraestericas.Elenoconseguiureconhecerqueahistriadospovosnounilinedarnemunifactica;muitomenosque(ainda)existamsociedadestotalmentediferentessqueforamconstrudasnaEuropaeseuraiodeinfluncia.Sestepequenodetalhe levouaofracasso inumerveistentativas revolucionrias, acompanhadas pelo conseguinte sacrifciodos militantes; pessoas humanas eliminadas pela contrarevoluo.Morreramporacreditarpiamentena leituraerradaedistorcida,feitaporumeglatra.ColocarnummesmosacoaEuropacrist,aChinamilenar,osrabesesuainflunciaislmica,asociedadehindueahistriadoseupovo,asdiferentescivilizaesafricanas,vmdamesmafaltadevisoquecolocareis,princesas,deusesebruxosnasestruturassociaisdosndiosamericanos.
OUSEJA,DAREALIDADEOBJETIVANOESTENXERGANDOCOISANENHUMA.
A Falncia de uma Utopia - ek 24
OSCRATASQuestionamentosreferentesautoridadeeprpriaexistnciadoEstadodividiramprofundamenteasforassociaisqueantagonizaramocapitalismoeopoderdaburguesia,entoemergente.Ostermosanarquia,anarquismoeanarquistasfoicunhadodogregoanarchos,comsignificadooriginaldesemgoverno,designandoospartidriosdeumaestruturasocialquenopossussegovernoalgumquesecolocasseporcimadaspessoas.Deumacrticasimplriaaestaaspiraopopularsurgeacrenaqueaausnciadeautoridadespoderiaproduzirocaossocial.Esta imagem fica fortalecidapela ao revolucionriados anarcasmodernosque,emparte,foramviolentosouapoiaramousoda violncia. Com objetivos de destruio da ordem imperanteconseguiram,muitasvezes,produzirocaosentreosdetentoresdopoderdominante.Foramqualificadoscomobaderneirosirresponsveispelosafetados,quedefendiamsuasprerrogativaseosprivilgiosconquistados.Obramximadestalinhafoioassassinato de um arquiduque, o que precipitou o comeo da primeiraguerrachamadamundial.Vistosemconjuntoesemaindaentrarnaconsideraodesuasdivergncias, so o segmento prrevolucionrio que detm amaior,maisconstanteeentusiastaproduo filosfica,cheiadequestionamentoseprofundamentecrtica.O choque coma concepo verticalistaeautoritriadeMarxeEngels,nocomeo (ecomseusherdeirosdepois), foi fatorpreponderantequelevouquasetotalextinodoscratasnosculo20.Aspotnciascapitalistaspartidriasdolivremercadotam
A Falncia de uma Utopia - ek 25
bm no deixaram pormenos, contribuindo decididamente nomassacre.Literaleverdadeiro.Existeaindaumaoutraformapoucoconsideradadeanarquismo,quehojeseencontranopodernamaiorpartedoplaneta.Porsetratardeumaaberraovergonhosa,poucosconseguemenxergarqueoneoliberalismoeocapitalismototalso,essencialmente, pranarquistas. ilustrativa a afirmao de Thomas Jefferson,feitanoscomeosdosculo19,deque:omelhorgovernooquemenosgoverna.MasoenfraquecimentodopoderdoEstadospretendidoemfuno de uma liberdade econmica dirigida explorao domercado,semnenhum tipoderestriesouconsideraespelapessoahumana,oupelanatureza.ToleramumcertoEstadoporquepodemseservirdele.Embenefcioprprio,claro.Naconcepoanarcocapitalista,oEstado relegadoa funesmeramenteadministrativasmnimaseaomantimentodastropaspoliciais emilitares, necessrias para defender os regimes noqueridospelamaioriapopular.Hoje podemos testemunhar as conseqncias deste chamadoanarquismoazul,queestproduzindoumaevidentedestruiodotecidoqueformaasociedadehumana,vtimadaviolnciaeconmicaepolticadeumaelitearrogante,egosta,megalomanacaecriminosa.Do outro lado, os anarquistas (teramos que chamlos clssicos?)manifestaramespecialinteressenaconstruodeumasociedadesadiaesustentvel,naqualapazpudesseserpreservadapormtodosqueorganizassemasociedadeemsuasprpriasra
A Falncia de uma Utopia - ek 26
zes.Elesconsideraramedemonstraramque,sendopossvelaorganizaosocialemformahorizontal,anecessidadedeumEstado ficavaobsoleta.Assim, todososanarquistas concordamqueos sereshumanos so capazesde viverem liberdadee concordnciasocial.Adivisoentre anarquistas seproduz apenaspordivergnciasnastticasaseremempregadasparaestabeleceronovotipodesociedade revolucionada. Anarcocristos no aceitavam mtodos violentos de nenhuma espcie. William Goldwin propunhaprovocarmudanaspormeiodediscussespblicas.Proudhonpropagandeavaopoderrevolucionriodocooperativismo,entoembrionrio.KropotkineBakuninaceitaramaviolncia,apraticaramemvriasdesuasaes;mastambmmanifestaramsriasrestries filosficasvalidadedeseuempregonaaorevolucionria.Ambos se justificamafirmandoque foramobrigadosausla. Bakunin chega a culpar a estupidez humana por isso.Obviamentenosereferiaasimesmocomooestpido,masaoscapitalistasliberalizanteseaosque,segundoaleituraanarquista,spretendiamestatizarocapitalismo,sobumaformaautoritriadegoverno.A histria no desmentiu a viso destes cratas. Carimbados edescartados comoutopistasporMarx, tinham sriasdiscordnciascomossocialistasutpicosquepreconizavamumasociedadepretensamentemelhor.Pretendiam,com seuacionar revolucionrio,estabelecerumaformasocialquepossibilitasseumdesenvolvimento harmnico da humanidade.A perfeio, diziam, representa,automaticamente,ofimdodesenvolvimento,ofimdacriaodacriatividadeedetodomovimentoquerepresenteavida.
A Falncia de uma Utopia - ek 27
Colocaes como esta exacerbaram o antagonismo de Marx,quem tomouas coisaspelo ladopessoal, sendoqueacreditavacegamentenaperfeiodesua teoria revolucionria,concebida(sempresegundoelemesmo)sob fundamentosestritamentecientficos.Oscratas,ouanarquistas,foramosnicosaenxergarumasociedadeestruturadahorizontalmente,semEstado,GovernoouAutoridade superior. Da boca de Bakunin escutamos o brado:NEMDEUS,NEMESTADO!Nomundocontemporneosencontramosanalogianodizerdosneohumanistas: NADA POR CIMA DO SER HUMANO, E NENHUM SERHUMANOACIMADEOUTRO.Oscratas foramosnicosquedemonstraram,naprtica,queumasociedadesemgovernoeraalgorealmentesustentvel.Obvioquealgunsexperimentosfalharamlastimosamente;masoutrossnovingaramporque foramsangrentamenteesmagadospor foras nazifascistas e bolcheviques, com ativa participaodosliberaiscapitalistas.Arepressofoitoefetiva,quehojeteramosextremadificuldadedeacharalgumncleoconstitudosobospreceitosapontadospelosvanguardistassociais.Seincluirmos(combenevolncia)algumkibutzisraelenseeascooperativasdegradadas, subordinadas a interesses capitalistasmultinacionais,muitopoucosobrouparaserapreciado.Masosonhopersisteeahistrianofoiapagadacomonumadistopaorwelliana.Podemos aindamencionar que os libertrios consideram o comunismoalmejadoporMarxcomoumaverdadeirautopia,enofaziamistocomoobjetivodedegradarotermo.Porque,ouparaqueperguntavamelesimplementartodaessaetapatransitria,queapresentatantasdificuldadesecomplicaes,seoassun
A Falncia de uma Utopia - ek 28
topodeserequacionadoagoramesmo?Masacinciamarxistoide nunca aceitou isso, tornandose ilusria na sua contradiocomarealidadeexperimental.Muito pelo contrrio, as teorias desta cincia revolucionrianunca foramcomprovadascomoefetivasnaprticados termospropostos. Deixaram de alcanar seus objetivos especficos: aconstruodeumasociedademelhor.Afinal,esteomesmoobjetivoperseguidopelossocialistaslibertriosanarcoutopistas,queMarxseaprazemcombater,porachareleserrados.Aqueomarxismosenegaasimesmocomomotordarevoluo.Istononovidade,poisjfoicompreendidohmaisdecemanosatrs.Partindodoconceitoda lutadeclasses, inspiradonosacontecimentosfrancesesdofimdosculo18,Marxapenaschegaapropororeordenamentodoroldosatoressociais.Aprpriaeverdadeira revoluoelecolocanum futuro indeterminado,nosemanifesta sobre a formaqueestapudesse, concretamente, serrealizada,nemsedetm,emmomentoalgum,emmaioresconsideraessobreomundopsrevolucionrio.Eleusa,sim,todasuaevidentecapacidadeintelectual,paraconstruiruma complicadssima e tortuosa via,pelaqualuma classesocialpoderiaalcanaropoder.Oresto,depoisseresolve...masanteviaqueesserestoincluaaconsolidaodaclassenopoderenumaposteriorouconcomitantetomadeconscinciadoproletariado no poder, que permitiria a transio ao comunismo.Como?:Oproletariado,conscientizadodeseupapelhistrico,entregariavoluntariamentetodasasinstnciasdepoderaoscomunistas.EstesMarx concebe comoumaelite,maisoumenosno
A Falncia de uma Utopia - ek 29
moldeecortedaSShitleriana,osnicosquesaberiamoquefazerposteriormente.Oscratasnoengoliramestesonhodoprofetacomdiscursocientfico,epreferiram seguirosprprios sonhosutpicosque arazo lhes confirmava,baseadanaexperinciaprtica,na realidadeconcretadoacionarprrevolucionrio.Esteconfrontocontnuocomarealidadedeu lugaraodesenvolvimentodasteoriaslibertrias,quesetornaramempostuladosbemmaiscientficosqueasteoriasnoevolutivaspropostasporMarxecia.Osentidodalutapropostapelosanarquistasqueotrabalhadorsubvertaaorganizaosocialimpostadesdecimapelossenhoresedoutores,peloscapitalistas,peloEstado,pelosburocrataseostecnocratas,pelospadresepastoresdasigrejas.Bakuninesclarecebemoassunto,propondoaaboliodoEstado,aextinodefinitiva da autoridade e a tutela, como tambm a abolio depropriedadepessoalrecebidaemherana.Elecolocaqueapropriedadecoletivaousocialdeveriaestarorganizadadesdeabaixo,pormeiodalivreassociao.Marx se posicionou contra estes fundamentos do coletivismo,que substituioEstadoporumaFederao LivredeAssociaesColetivistasAutnomas.Nelassegarantiriatantoatotal liberdadepessoal, comoa liberdadede separao.MenosaindaMarxaceitouapossibilidadedeestabeleceranoobrigatoriedadedetrabalhar,nemasubstituiodoprincpiosalarialpeloprincpiodas necessidades proposta de Kropotkin, sempre imbudo deumgenerosootimismo.Pelocontrrio,KarlMarxnuncademonstrafeconfiananascapacidadesdoserhumano.Elenuncaconfiounaquelesquediziaquerer libertar,nemnascapacidadesdestesdesecomportara
A Falncia de uma Utopia - ek 30
dequadamenteemummbitode liberdadesmaisoumenos irrestritas.Suaprpriapersonalidadeegocntricaeautoritriafreqentementeolevouaempregarmtodosemecanismospoucorecomendveispelatica,amoraleadecncia,contraseusadversrios. O postulado por ele empregado: o fim justifica osmeios,aindamanchaesujaoprocederdemuitosdeseuscorreligionrios.Aindahquem subentendaealegueque, semapresenamilitantedosanarquistas,dificilmenteMarxteriaconsideradoofimdoEstadoeaaboliodasclassessociaisapsaconsolidaodaditaduradoproletariado.Semestes ingredientesbsicosnoexistearevoluo,eumarevoluosem idiaclaradoque fazerestirremediavelmentecondenadaaofracasso.
OSCOMUNISTASSenosativermosexclusivamenteaumavisomarxistadahistria,teramosqueafirmarqueocomunismooltimoestgiodedesenvolvimentodasociedadehumana.Mas,dentrodaprofusaproduo tericodoutrinriadomarxismo (emgeralenosltimos150anos)bempoucosdetalhesencontramossobrecomoasociedade comunista seria estruturada.O tema, tratado em linhasgerais,semaprofundaresementraremdetalhes,resumidonaafirmaoqueessasociedadenoestariadivididaemclasses(asquenomais iamexistir);nelanomaisexistiriaEstado;todas as pessoas seriam iguais e poderiam desenvolver plenamentesuaspotencialidades.
A Falncia de uma Utopia - ek 31
A imensa construo terica, que comeou com o filsofoprofetaeaindaprossegue,sepreocupapraticamenteem formaexclusivaemcomochegarl,mas,emmomentoalgumesclareceosdetalhesdoquesehaveriadeencontrar,umavezchegadol.Poresse ladonopodemosobtermaiores informaes,poisnenhuma das revolues triunfantes pelametodologiamarxistaconseguiu chegarnempertoda realizaodo comunismomaiselementar.Desdeuma leitura libertria, a falha estariana conservaodoEstado,oqualnopodeexistirsemfortaleceraclassedosburocratasetecnocratas.Estes,umaveznopoder,recorrematodoequalquersubterfgioparaconservarefortaleceraindamaissuasposies.Aniquilaseassim,defato,apossibilidadedelevararevoluoaseuobjetivo:acriaodeumasociedadecomunista igualitria.Conservaseadivisode classeseaspotencionalidadesdaspessoas ficamautoritariamente reprimidasporumaestruturatotalitriaelitista.Podemos,ainda,agregarcomofatordofracassonaaplicaodadoutrinamarxista,a inaptidodas ferramentas criadas, comoopartidonicoeossindicatos.Opiorqueestes,semcontarcomo aporte de uma viso clara da realidade concreta, avanaramcegamente,acumulandofracassotrs fracassoetravando,ondebempuderam,todoavanopossvelemdireorevoluo.Vimos,noprimeiropargrafodestecaptulo,quenomencionamosaliberdadeentreascaractersticasdeumasociedadeenxergadaporMarx.EssafobialiberdadepelaspessoasedassociedadesporelasconstitudasficaclaraemalgunsepisdiostiradosdoscomeosdatentativaderevoluonaRssiasovitica.
A Falncia de uma Utopia - ek 32
GUILIAIPOLEENESTORMACHNAUcrnia teveaexperinciadaplenitudedosprincpiosdo comunismolibertrio.Durantetrsanos,oscamponesesseorganizaramemcomunasesovietslivres,federadosemdistritoseestesconfederadosemregies.Aautogestototalfoipraticada,numaindependnciaorganizativaqueno sofreu interfernciadenenhumaautoridade.Cadasovietoucadacomunasexecutavaosdesejosdeseusmembros.Aseguranaeragarantidaporumexrcitodeguerrilhas,quechegouatercercade50milhomensemulheresativos.Olderdestemovimentoanarcocomunistafederacionista,ouseja: libertrioNestorMachn ,noapoiavanenhumsovietousindicatoqueestivessesobinflunciapartidria.TambmsemanifestoucontraaformaodeExrcitoVermelho,propondogruposde guerrilheiros com estruturamaisdemocrtica.PorduasvezesderrotouosRussosBrancos, salvandooquasederrotadoexrcitodosrevolucionriosvermelhos,quenoderamcontadorecadosozinhos.Oproblema,nofundo,foiqueMachnnoseguiuriscaacartilha marxista. Ousou chegar ao comunismo diretamente, semprimeiro industrializaranao,nemdeixaraparecerumaclasseoperria que poderia derrotar uma burguesia emergente, paralogoestabeleceratransiosocialistasobumEstadoautoritrioetirnico.Pior,osucranianosteimavamempreservarsuaautonomiaeindependnciaorganizativa,comrelaoaosvermelhos.No comeo, Lnin rejeitouo fanatismovaziodosanarquistas,masfoiTrotskiquemimplementouogolpefinal.Numamaquinaodeinspiraomitolgica,convidou600oficiaismachnovistasparaconversarecelebraravitriasobreoexrcitobranco.No
A Falncia de uma Utopia - ek 33
foimaisqueumacovardecilada,poistodosforamsumariamentefuzilados.Aomesmo tempoTrotskiatacouosguerrilheiros,quenoconseguiramresistirpormaisnovemeses.Seesterelatofosseumepisdio isolado,quiatpoderiamcaberexplicaesoujustificativas,ouno;masestaformadeaoobservadacomopadrodurantetodaahistriadosinsuportveisautoritriosmarxistas.Deixambem claroquenoh lugarpara libertriosnassuasfileiras,comotampouconassociedadesporelescriadas;comotampoucoconseguemaceitarsociedadesutpicas,criadasporoutraslinhasdepensamentoeao.Tentamdisfarar, cacarejando sobre suapretensademocraciaque,se formos analisar, aindamaismanipulada que a famigeradademocracia que a burguesia atualmente nos permite.Mas, emnenhumdeamboscasos,achamosexplicitadaoupossibilitadaaliberdadedomodoqueosutopistaslibertriosacolocam.OutrosdoisassuntosqueMarxnoousouencararforamaaboliodapropriedadeedaherana.Elelimitouseaproporaabolio da propriedade privada, passando esta amos do Estado,que afirmava ser transicional. Jos anarquistas, em todas suasdiferentesexpresses,noaceitavamestaproposta,cunhandoonovoconceitodePROPRIEDADESOCIAL,segundooqualnohaveria indivduoou instituio,mas todaa sociedadeemconjunto,queseriaproprietriadetudo.Sendoestaadministradapelassuas razes, por todos seus membros componentes, asseguraseumademocraciaparticipativaquedecidapelosusos edestinosdapropriedade comum. Fica,assim, abolidooprprio conceitodepropriedadequeoscapitalistasnosimpem.
A Falncia de uma Utopia - ek 34
Comoassuntoherana,Marxnoquisnemmexer,visivelmentepor razes polticas referentes a acordos e coligaes que, emcerto momento, poderiam ser afetadas. Com esse subterfgiotambmconseguiubarrardaPrimeiraInternacionalgruposanarcas (principalmentedoBakunin)queameaavam suaprpria liderana.Semconcessesemproldarevoluo.
MARXESUAOBSESSONenhuma teoria sobreoprocesso revolucionrio recebeu tantacrtica comoomarxismoe realmentepoucas teorias,emgeral,foramtocrueleviolentamentereprimidascomoaquelasqueocontradizemdesdeumpontodevistaestritamenterevolucionrio.Detodosos ladoseportodososmeiosomarxismofoiconsiderado ineficiente, inadequadoeatnocivoaoprocessoevolutivohumano.Dezenasdeautoresepensadores(contemporneosdeM&Eeposteriores)denunciaram, sobvriosaspectos,a farsadessa teoria,expondoqueMarx schegoua se imporgraasaumafrtil imaginao,amparadanaobsessodeseronicocapazdeformularcientificamenteoprocessorevolucionrio.Marxpodesercaracterizadocomoumcasopatolgico,esuadoutrinanoserviunemparalevarumastentativarevolucionriaafinalfelizdurante150anosdelutas,emtodooPlaneta.Apesar das evidncias do insucesso revolucionrio pela formaproposta, h uma grande resistncia a abandonla, por parte
A Falncia de uma Utopia - ek 35
dospolticos,paraosqueelasetornouummeiodevidaaltamenterentvel.Podesercamaleonicamenteadaptadaaqualquersituao, semoferecermaiorperigopara amanutenodeumaestruturadepoderverticalistaecorruptvel.Oprestgiodomarxismo, como ferramenta revolucionria, vemsofrendoinevitveldeclnio.Ofatoreconhecidopelosquetmconhecimentodasvriascorrentesdepensamentoquesepreocupamcomaviabilizaourgentee imediatadeprofundasmudanasnaestruturasocialhumana.AsteoriasdeMarxeEngelshojenoenganammaiscomsuaalegadaqualidade cientfica,pois carecemdeste fundamento,nooferecendoamenorgarantiadeconseguirnosencaminhare levar ao fim almejado.No passam de bem elaboradas retricasficcionais.Marxfoi,semdvida,umaespciedegnio,masnodacincia,esimdapropaganda;nodaprova indiscutvel,masdapersuaso;nodacomprovaoexperimental,masdaarteliterria;nodaticaedahonestidadequevisaummundonovomaishumano,masdaspioresaesque lheasseguravamotriunfodeseusinteresseseaderrotadosquelhefossemcontrrios.Suapropostade realizaodeprofundaseduradourasmudanasnopassou de um grande engodo formulado por uma mente doente,megalomanaca,quenopoderiaserusadacomorefernciadosquequeremvivenciarumarealidademaishumana.Nodecorrerdemaisdeumsculodetentativasmaisoumenosrevolucionriasbaseadasnaautoritriadoutrinamarxista,constatasequenohumasprovaqueessametodologiadosresultados apetecidos (e alardeados).O profeta revolucionrio (eseusseguidores)erigiriugrandiososesquemaseteoriassembase
A Falncia de uma Utopia - ek 36
defundamentaofactualobjetivae,porissomesmo,indignadecrdito.Todos,absolutamentetodos,osacontecimentosposterioresdorazoaestaafirmao.Hojeesteantiprofetadaliberdadepodeserlembradocomouminteressantefilsofodosculo19,pioneirodamaisamplaaplicaodeumnovomtododeinvestigaoecompreensodoprocessohistricohumano.Masoserrosfundamentaiscometidosseespalharamatravsdenaesegeraesathoje,quandoaindaexistempreguiososdementequedefendem fervorosamenteatesedaeficinciaesantacientificidadedomarxismo,emboraseuxitonunca tenhasidocomprovado.Existematosquesustentam que omtodo proposto no consegue atingir os objetivosrevolucionrios,masqueelepermitiriaaoserhumanovivermelhordentrodombitohostilporelemesmoproduzido.Almdisso,alegamqueomarxismofazdoconvertidoumapessoamelhor(quemnomarxistaruim,nopresta),emboranodeixemmuitoclarasasespecificaesemqueestamelhoraconsistiria.Tambmno sepodepedirdemais aosqueno esto claros nemsequermedianamenteelucidadossobreoaspectodeummundoposterior revoluoquepretenderiam realizar.Menosainda poderiam ter uma imagem bsica do ser humano que iahabitaresedesenvolvernessemundo.Faltouvisoaoprofetaeentendimentoquelesqueoseguirameaindaseguemseguindo(!).Marxsempresemostrouavaronoreconhecimentodascontribuiesdeseusantecessoresecontemporneos,emboraeleshouvessem antecipado suas investigaes. Pelo contrrio, semprecombateufervorosamenteosrepresentantesdasfontesondealimentouasrazesdesuaconstruoliterriadegneroligadoao
A Falncia de uma Utopia - ek 37
romantismoutpico.Ofatoquedesenvolveuumgrandedomniodalinguagem,utilizandonoesecriaesdeterceiros,paraalavancarumaobraqueathoje,erroneamente,consideradacomoprodutodeumasasuamenteprivilegiada.AtoprprioManifestoComunista foiadaptado,compoucasalteraes,deumapublicaoitaliana.Oaparentetriunfo,domarxismosobreoutrasteoriasrevolucionrias,nosedeunocampodasidiasoudasrealizaesconcretas,mas pormeio do esmagamento, da erradicao fsica, dosque ousavam dissidir ou dissentir da nova verdade apregoada.Nissono sediferenciadenenhumoutromtodo autoritrioetirnicoquepossaserencontradonahistriahumana.Acreditarqueumametodologiaquecontecomassuascaractersticaspossaseraquevaiproduzirummundomelhormuitaingenuidade.Suagrandereputaocomoograndeinventordeumanovacinciae/oudeumanovaformadeentendervriascinciasmaisantigas,ssesustentanaaplicaodeummtodoqueeleno inventou,massimutilizouporprimeiraveznaformaerelaoqueelefaz.Squetevequeconstruirumelaboradoaparatodejustificativas intelectuais para sua nova cincia. Na verdade, nodevesernada fcil (edeumuito trabalho)erguerumasuperestrutura de teorias e procedimentos supostamente cientficos apartir de pressupostos elaborados pela mente que trabalhavaconfinadanuma imensabiblioteca,pretendendoseronicoespecialista em saber o que nunca tinha acontecido. Mas ele (eseusseguidoresedescendentes)venceupelapersistnciaviolenta,construindotodoumsistemabaseadoempremissas incorretaseteoriasbaseadasemelucubraesmentais ilusrias, inconcebveis,asquaisutilizamathojeparaatacarabasedavidaedacoexistnciahumana.
A Falncia de uma Utopia - ek 38
Naverdade,todasasteoriasmarxistasemarxistoidesnuncapassaramde indemonstrveis fices.Suasobrasprincipaisprimamdeumaverdadeiraapoteosemental,despertandofrteisensejosimaginativos nos que se deixam contaminar por esse vrus. Spodemos encarlos como autnticos literatos, que idearamtransformara revoluoem literatura.Nesse sentido,omarxismonopassadeumavocaoquefoipermeadapela influnciadevriasescolas literrias.Vale lembrarqueabagagemdopersonagememquestoessencialmenteintelectual,hajavistasuas contnuas citaes e suas constantes e virulentas discussescomoutrosautores(sempreporescrito).NoemvotrabalhavanombitofechadodeumadasmelhoresbibliotecasdaEuropaenuncacogitououtrolugarprpriopararealizarseutrabalho.Maisinclinadoadefendersuapersonalidadeoportunistaedesonestarecorreemulaodeumapretensarigideztcnicaqueoassemelhadeumverdadeirohomemdecinciadopassado.Porm, tantoelecomoasuacriao,devemserconsideradosumverdadeirofracasso.Afinal,oqueelenoslegoufoiocaminhodaspedrasque conduz aodesertoque antecedeo abismo infinito.Nos legouteorias ilgicase incoerentes,almdeumgrupoditatorialeintolerantedeseguidorespreocupadosnocomaverdade,mascomadivulgaoemanutenodeste(des)conhecimento.Este legadotemconseqnciasextremamentenegativassobreaprpriarevoluo libertadora,causandoum imensoatrasoeumdescrditoemsuapossibilidadeefactibilidade.horadereconsiderarmos,nosasuautilidadecientfica,mastambmseuniilismo tico. As seitas criadas a partir deste pensador descaminhadospodemestaradesaparecer,apesardetodooaparatodemarketingetodooapiotendenciosoe interesseirodeumaesquerdaegosta,reacionria,fragmentadaeisolada.
A Falncia de uma Utopia - ek 39
OROLDAUTOPIAProvavelmente foi comocasiodaRevoluoFrancesa,ou concomitantemente aos de ento, que a utopia comeou a se enquadrarnopensamentorevolucionrio.De imaginativaspropostasdemundosideais,passou,poucoapouco,nosculoseguinte,aexigirsuapresenarealnomundoconcreto.Sua caracterstica crtica e suaoposio realidade vivenciada,inspirouedeu forasaosmais radicais revolucionrios conhecidosnahistria.Estessenutriamda realidadenoqueridaedapossibilidadedeumamudanaextremamenteradical,paradesenharumarupturasemprecedentescomopassado.Enxergaram,nesta quebra com as estruturas existentes, uma oportunidaderealdeaperfeioamentohumano,umasociedadelibertria,sempredominao de classe alguma, nem privilgios a indivduos,grupossociaisoupovoseleitos.Das crticas s falhas,errosoudesvios cometidosporutopistasanteriores comearam a ser sintetizadas algumas linhas principais,apoiadasemprincpiosconsensuais.Pormeracomodidade,ou por ser um destacado ponto de referncia, pode se usar aComuna de Paris, no ano 1878, como o ponto que dividiria aspropostasdosantigosutopistasromnticosdaquelesnovosutopistasquetentaram,porviasdefato,realizarsuaspropostasdeformarevolucionria.A expresso revoluo subentende que as mudanas engendramumasociedadenova,diferente.O imaginrioutopistanasceucomo tomadadeconscinciadesteprocessode ruptura.Asdimenses objetivas das transformaes pretendidas projetamumaforacapazdealterarprofundamentearealidade.Assim,a
A Falncia de uma Utopia - ek 40
revoluopodeservistacomoumalinhadivisrianotempo,estabelecendoummarcoentredoismomentosabsolutamenteantagnicos,semconciliaopossvel.Atualmentepersisteoestadode conformismoe conservadorismoreacionriodepolticos,militares,banqueiros,advogados,juzes,etc.,enfrentandoagrandemassadopovoaflitoeindefeso.Ou,nodizerdeFourier:ariqueza,aopulnciaeoluxoopondoseaotrabalho,misriaefome.O fracassodosprojetosde transformaosocialengendraasutopias contemporneas. Sem confundlas com romnticos utopistasparadisacos,partemdanegaoradicaldopresenteedainterrogaosobreofuturo.Enxergamapossibilidadederupturacomasformasdeorganizaosocialestabelecidas,abandonando radicalmente as convenes e comportamentosmais tradicionais.Aoesboarapossibilidadedeumaoutraordemaserconstruda deixam espao suficientepara a reflexo sobre aspossibilidadesdecompletatransformaodasociedadeedoserhumano.A multiplicidade e variedade das propostas utpicas rompemcom o ideal nico e universalda sociedade estabelecida,desacreditandoomodelocapitalistahegemnicoeseuespelhomarxista. Contrria a toda tentativade reduo e uniformizao, autopia,antesdetodo,umatoautnticodecriao,comprometidoapenascomaliberdadeeharmoniaquepretendeinstaurar.A frustraocomos ideaisrevolucionriospregadosporMarxeseusasseclas,descaminhadosnosseusdesvios, fazamenteenveredarpeloscaminhosda imaginaoeda inveno,procurandocriarnovasformasdelutaparacombateroopressivoeinjustosistemavigente.
A Falncia de uma Utopia - ek 41
Ressurgindo dos fracassos de transformao social, a utopia seapresenta hoje como Criao Social, descrevendo o queridoquenoexisteecombatendoadescrenaeoniilismo,napossibilidadedechegararealizlo.Ogosto libertriode inventarseaventuranaprocuraeproclamadeummundofuturototalmentediferenteaoatual,queestclaramenteencaminhadoauma falnciatotal.essepotencialimaginativo,delineadonompetodaelaboraoutpicanummergulhodacriaoereflexointelectual,queforneceaenergiaparatodasasconstruesutpicas.Sempretemoingrediente inseparvel da crtica e da superao da sociedadeexistente.Faz issoseconfrontandocomocapitalismo total,depredadordosrecursosessenciais,tantocomoseconfrontacomomarxismomessinico,aindasobreviventedepocasmaisromnticas.Hojeatravessamosumasituaoemqueasrevoluesfrustradaspodemdinamizaro sonhoeasaesdasnovasgeraes.Estamos em um espao intermedirio que potencializa o ressurgimentoda tradio revolucionria libertria.Noum caminhofcil,comonunca foi,masconstituiumarespostautpicavlidaslimitaesefronteirasimpostasporummundosemjustiasocial.A imagemdeoPovoseconstituiuemuma imagemmticadoutopismo romnticomarxista.Comoentidadecoletivaorgnica,projetadaaofuturo,viriaaseconstituircomosalvadornafasefinaldoamploeuniversalprocessodaemancipaohumana.Masestepovo,apsos fracassos revolucionriosepolticosdosculo20,seencontraimpotente,quebradosseuslaosdesocia
A Falncia de uma Utopia - ek 42
bilidade,semtraosmaisprofundosdesolidariedadeecooperao. Ludibriado pelos partidos e os sindicatos, explorado pelosindustriaisecomerciantes,postosobsuspeitapelosgovernos,eadormecido,alienado,pelamdia, iludidopelaspropostasdaesquerdavermelha(hojeapenasroscea),elenomaissemexe,noseachacomcapacidadedeagir.Todasasforasdasociedadeestoapontadascontraoinstintosocial.NosprimeirosescritosdeMarxpodemosencontrarumaespciedeidolatriadotempoedahistria,traduzidanaconcepomessinicadapoltica,dopovoedeseuslderes.Estaconceporeacionriaenfatizaahistriacomoumalongamarchaemdireoa um fim supremo. Com roupagens cientificistas tentou transcenderostemascentraisdoutopismo,masficoupresoutilizao intencional de uma construo do pensamento, exaustivamente trabalhadaparaseadaptaraosprprios fins (atospessoais), mas incapaz de superar as barreiras que se coloca a simesma.Afilosofiamarxistaextraviouarazodeseuverdadeirocaminho;suasteoriasereceitasnuncapassaramderomnticaspropostasutpicas, como aquele messianismo coletivo que coloca emmosdasclassespopularesarealizaodosdesgniosdahistria.Masasimplesdescriodeuma idiasobreumasociedadeharmoniosa,quepossibiliteaperfectibilidadehumana,nuncafoiobjeto de sua considerao, nem cogitao!Neste sentido, representaumadecisiva implosodo iderioutpico imediatista.No encontramos emMarx outra concluso de que o povo spode ser governado pela fora.Omarxismo prope, com estefim,todosostoquesimaginveisdeviolentarepresso.
A Falncia de uma Utopia - ek 43
HOJECABENOSPERGUNTAR:
Tantaenergiadesperdiada,paraterminarnagulodicedaNomenklatura,essamfiadeburocratasetecnocratas?
Tamanhoesforoempregado
paraimaginarearquitecturaratransformaoextrema,paraacabarpraticamenteemnada?
Queesterilidademaiorqueumaintelignciadesprovidadeutopias?
Asutopiascontemporneasseesforamporimaginarummundomelhor,maisprximoeacessvelapessoasreais,queestoafetadas pela extrema imbecilidade do momento atual. A utopia,comotal,nosedesgastounotempo,masestvivaenfrentandograndes obstculos e poderosos impedimentos, lanandose aofuturoporimprevisveiscaminhosdeinvenopolticaesocial.Autopialibertriasaifortalecidadedcadasdeostracismo,energizadapela falnciadeumcapitalismoselvagem,predadoredestruidor, tanto comoda falnciadapropostautpica autoritriasugeridapelospseudorevolucionriosmarxistas.Estesdoistiposderegimessgeraramadominaosocialeumobscurantismopoltico,comtiraniaseautoritarismosdetodaespcie; geraram e sustentam esse pesadelo doentio de quererdomesticareentravarofuturosocial,semencararaurgnciaderealizaras transformaesglobaisque,nestemomento,so tonecessriasparaasobrevivnciadaraahumananestePlaneta.
A Falncia de uma Utopia - ek 44
pelosfrutosquesereconheceaqualidadedeumarvore.
A Falncia de uma Utopia - ek 45
CapaContedoIntroduoRevoluaQuem faz a RevoluoVelhas UtopiasLimites do MarxismoOs cratasOs ComunistasMarx e sua ObsessoO Rol da Utopia