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A FAMÍLIA E ESCOLA: EM TEMPOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DA
CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Gabriela Dariva Pedroni1
Nilda Stecanela - Orientadora2
Lucas Josias Marin - Coorientador3
Resumo
O presente artigo resulta da experiência vivida no decorrer do Estágio IV do curso de Pedagogia, da Universidade de Caxias do Sul, entre os meses de março a julho de 2016. A partir das percepções vivenciadas em uma instituição de Educação Infantil da rede particular da mesma localidade, surge uma problematização que foi a temática da pesquisa realizada, por conseguinte, é norteadora deste artigo. Pôde-se perceber que grande parte das crianças que estão matriculadas na modalidade Educação Infantil, sofrem em decorrência de estarem institucionalizadas, em outras palavras, as famílias terceirizam o afeto e os cuidados primordiais da criança sob a responsabilidade da escola, que não consegue exercer tais funções. Autores como Philippe Áries, John Dewey, Içami, Vitor Henrique Paro, Jean Piaget, trazem conceitos e aporte teórico para o embasamento desta premissa, além do auxílio dos documentos como, as Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia e a Constituição da República Federativa do Brasil. A importância da família para com o desenvolvimento da criança vem atrelada com as consequências da falta da mesma, valorizando sempre o afeto e as relações entre família e escola. Apresenta-se então, uma pesquisa bibliográfica onde conceitos que se fazem importantes à compreensão do tema são explanados como, institucionalização da criança, a relação entre família e escola, de modo a fortalecer importância do trabalho conjunto entre ambas às instituições em proveito do melhor desenvolvimento e da aprendizagem da criança, além da pesquisa que realizou-se a partir de questionários com pais e professores da instituição, contemplando o percebido sobre ambos papéis na formação dos sujeitos.
Palavras-chave: Institucionalização da criança; Educação Infantil; Relação família-escola.
INTRODUÇÃO
Este trabalho acadêmico é o resultado de um percurso realizado no Estágio IV do
Curso de Pedagogia, da Universidade de Caxias do Sul no ano de 2016. A etapa em questão
tem como finalidade apresentar o tema proposto e os dados da pesquisa realizada na
instituição de Educação Infantil E. A.
A instituição escolhida para a realização do Estágio IV foi uma Escola que situa-se
na cidade de Caxias do Sul, onde atende a mais de cinco anos, crianças da creche (zero a três
anos) e da pré-escola (três anos até cinco anos e onze meses). Possui como sua característica a
grande parte dos alunos serem filhos de trabalhadores de metalúrgicas, já que a escola é
localizada em um dos pólos industriais da cidade. A instituição de ensino possui profissionais
1 Acadêmica de Pedagogia na Universidade de Caxias do Sul. 2 Doutora e mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi bolsista CAPES em Estágio de Doutorado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa em 2005 e 2006. Integra o corpo docente do Centro de Ciências Humanas e da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Coordena o Observatório de Educação da UCS. É coeditora da Revista Conjectura: Filosofia e Educação. Tem Pós-Doutorado em educação como bolsista CAPES pelo Institute of Education/University of London, onde atuou como Honorary Research Associate. 3 Possui graduação em Psicologia pela Universidade de Caxias do Sul (2013). Atualmente cursa Mestrado em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade de Caxias do Sul.
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da psicologia, fisioterapia, nutrição, pedagogia, educação física e letras-inglês conjuntamente
com as professoras e auxiliares de turmas, e atende cerca de cento e trinta crianças das 06
horas e 30 minutos até às 19 horas, de segunda a sexta-feira.
Dentre os detalhes que foram ressaltados na observação da referida escola,
conjuntamente com uma entrevista feita com a Coordenadora Pedagógica, surgiu à falta de
delineamento de papéis entre família e escola/professores. Narrativas dos professores
emergiram indicando que a família vem terceirizando o carinho e o afeto, pontos que são
fundamentais para o desenvolvimento da criança.
Isso poderia estar vindo a ocorrer por diversas motivações, dentre elas a entrada da
mulher no mercado de trabalho, a sobrecarga de atividades em casa e no trabalho e a falta de
tempo da família com a criança. Com isso, despontou a necessidade de haver um diálogo
entre os dois meios, para que houvesse um trabalho conjunto prevendo o bem-estar da
criança.
Como ponto inicial realizou-se uma pesquisa de campo com pais e professores da
instituição, que teve como sua metodologia, a elaboração de dois questionários distintos que
continham vinte uma questões cada, um para alcance das famílias e outro para os professores,
com a finalidade de investigar as percepções a respeito do assunto. Foram entrevistados um
total de vinte pessoas, dentre elas quinze familiares de alunos, e cinco professores, todas as
entrevistas ocorreram nas dependências da escola.
Com a premissa de elencar o tema proposto à realidade já referida anteriormente,
inicia-se este artigo com a explanação do que se entende por institucionalização da criança e
porque ela se dá no âmbito das Escolas de Educação Infantil. Contempla-se a importância do
trabalho conjunto entre família e escola, para o desenvolvimento e aprendizagens do
educando, trazendo conceitos importantes para o entendimento, com o auxilio do
embasamento teórico de Philippe Áries (1981), John Dewey (1959), Içami Tiba (1996, 2002,
2005), Vitor Henrique Paro (1988), Jean Piaget (2007), entre outros autores, além dos
documentos norteadores como, as Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia (2006) e a
Constituição da República Federativa do Brasil (1988). E, por conseguinte, surgem as análises
feitas a partir da pesquisa realizada com docentes e família, onde se torna visível que deve
haver um diálogo entre família e escola para a melhor aprendizagem e desenvolvimento da
criança.
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1 Institucionalização da criança: o que é?
Para sustentar a ideia de institucionalização da criança, faz-se necessária uma
retomada histórica com a pretensão de contextualizar como surgiu a institucionalização da
criança no mundo e no Brasil. E assim, desde as primeiras constatações da existência da
institucionalização da criança, foi possível verificar que surgiram com a premissa de sanar as
necessidades da família e do Estado em relação à criança.
Segundo Daros e Paludo (2012) a institucionalização da criança surge a partir das
Rodas dos Expostos, roda que surgiu no século XVII como forma de regulamentação do
abandono em uma época onde criança era vista com descaso, sendo muitas vezes abandonada
nas ruas a mercê da morte e até de animais. A roda era um equipamento rotativo, onde a
pessoa que abandonava a criança, não era vista pela pessoa que estava no outro lado da roda.
Sendo assim, a criança era encaminhada a todos os seus primeiros cuidados, batismo e
registro, e encaminhada a uma ama que zelava por ela até os seis anos de idade. Muitas dessas
instituições eram intituladas como caritativas, e depois que o Estado se tornou responsável por
repassar fundos a elas, chamaram-se filantrópicas.
Depois de muitos anos, com a Revolução Industrial, os familiares tinham que trabalhar
e as crianças ficavam sozinhas em suas casas, então, surge outra instituição para guardar as
crianças enquanto as mães estavam trabalhando nas fábricas, as creches. Essas se faziam
distintas para o proletariado e a burguesia.
A classe trabalhadora então, na Europa e no Brasil por vezes, tinha a disposição as
creches ou pré-escolas onde eram propostos atendimentos em relação a higiene, alimentação e
segurança física, para que assim a mãe desta criança pudesse ir ao trabalho. Já o Jardim de
Infância, é o mais próximo do temos hoje com a Educação Infantil, as crianças eram atendidas
e sobrepostas a atividades que condiziam com seus aspectos cognitivo, educativo e moral.
Depois da criação de muitas políticas públicas voltadas para a infância, além de conter
na Constituição Federal de 1988, assegurou-se a garantia de educação para todas as crianças.
A criança passa a ser compreendida como um cidadão de direitos, que possui suas
especificidades e deve ser preparada para a vida adulta. Só então, a educação infantil passa de
atendimento assistencial a uma instituição para educar crianças de zero a seis anos.
Na atualidade, é responsabilidade da Educação Infantil, segundo Campos (1994)
“todas as atividades ligadas à proteção e apoio necessários ao cotidiano de qualquer criança:
alimentar, lavar, trocar, curar, proteger, consolar, enfim, ‘cuidar’, todas fazem parte integrante
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do que chamamos de ‘educar’”, se tornando então uma institucionalização da criança, de
forma que a escola está responsável de todos os processos da rotina do educando.
Faz-se necessário o esclarecimento de que, a criança que fica o dia todo na escola não
é considerada institucionalizada na concepção clássica do termo, mas, os comportamentos
familiares estão se aproximando disso, pois é crescente a delegação de atribuições para a
escola.
O embate na Educação Infantil entre o assistencialismo e o educativo, junto aos
movimentos que constituem o aumento da demanda pela educação pré-escolar, abrangem as
tensões que perpassam a expansão do serviço de atendimento à infância. Muitas vezes tendo
um foco apenas assistencial, sanando especificidades de responsabilidade da família, sem o
auxilio de um trabalho conjunto da mesma.
2 Escola e família: instituições que se complementam
A família e a escola são muito antigas, que se modificaram em decorrência das
evoluções da sociedade. Estas, por sua vez, sempre estiveram relacionadas de alguma forma,
principalmente no que diz respeito à educação das crianças.
A instituição família é tão antiga quanto à própria sociedade. As crianças, porém, não
eram vistas como crianças, mas sim adultos em miniaturas e dessa forma participavam da
vida social do adulto como se fossem tais. Conforme as sociedades foram evoluindo as
preocupações com relação à escola foram aumentando. Foi no século XVII que a educação
passou a ser um setor e sua função de educar foi destinada a especialistas, assim aquilo que
antes era feito por todos (geralmente famílias e Igreja) em qualquer ambiente (geralmente em
casa ou nos seminários) passou a ser feito em um único ambiente e por professores.
Já no final do século XIX e inicio do século XX surgiu no Brasil a Escola Nova, que
possuía características distintas do que se apresentava no momento, bem como a educação a
partir da experiência e a valorização da espontaneidade do aluno. Nessa concepção, o aluno
precisa ser educado como um todo, ou seja, fisicamente, espiritualmente e intelectualmente.
Dessa forma, a escola foi comprometendo-se a preencher as lacunas que a sociedade e a
família não conseguiam suprir, agregando ao longo dos anos um aumento de
responsabilidades (DEWEY, 1959).
Desde o movimento feminista tomou força e com a ascensão da mulher no mercado
de trabalho, a família está delegando a função de educar à escola, pois alega-se que as mães
trabalham fora e não conseguem dedicar mais tanto tempo à criação de seus filhos. “A família
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está passando por grandes transformações e, muitas vezes, delega sua função educativa
tradicional a outros agentes.” (GÓMEZ-GRANEL, VILA, 2003, p.15) Nesse caso, os agentes
são os professores.
Porém, atualmente, a educação das crianças é dever tanto da família, quanto da
sociedade, e consequentemente da escola. Isso está assegurado no artigo 227 da Constituição
Federal de 1988: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
É importante ressaltar que esta não pode ser delegada a somente uma das partes, ela
deve ser responsabilidade de todas (PIAGET, 2007). Para isto acontecer de forma satisfatória
é necessário um bom diálogo entre família e professor (ou família e escola) onde todos se
sintam seguros em dividir a educação dos envolvidos.
As famílias têm diferentes constituições e cada uma agrega à educação de seus filhos
diferentes valores e pontos de vista: “O que os pais ensinam penetra na criança como
informação que, quando entra em ação, é que se pode transformar em conhecimento.” (TIBA,
2005, p.170). Tudo o que ocorre dentro de casa, por sua vez, reflete na escola, já que as
crianças passam grande parte de suas vidas nesse ambiente.
Sobre a disciplina, Içami Tiba afirma que: É dentro de casa, na socialização familiar, que um filho adquire, aprende e absorve a disciplina para, num futuro próximo, ter saúde social. Seus maiores treinadores, professores, mestres e modelos são os pais ou alguém que cative sua admiração. (1996, p. 178).
Considera-se que os valores e a disciplina aprendidos pela criança são provenientes
dos exemplos que elas têm no decorrer do seu desenvolvimento, tanto dentro quanto fora do
âmbito familiar. Então, pode-se perceber que quando há abandono por parte da família a
respeito da educação de seus filhos, estes irão seguir outros exemplos, podendo ser o do
professor, que também é uma referência de adulto na vida da criança. Por isso, o docente
acaba também fazendo parte da educação dos principais valores de uma sociedade, que estão
implícitos no currículo da escola, não podendo assim culpar apenas a família pela indisciplina
dos alunos. “A relação família-escola fica, portanto, marcada por culpas e não
responsabilização compartilhada.” (SARAIVA, WAGNER, 2013. s/p)
Há casos em que “Os pais, no lugar de reconhecer a importância da escola na
educação dos filhos e reforçá-la, acabam sendo aliados dos filhos na delinquência.” (TIBA,
2005, p. 209). Ou seja, quando seus filhos têm alguma atitude que não é adequada ao
ambiente escolar, os pais ao invés de repreendê-los agem como se o professor fosse
responsável pelo mau comportamento dessa criança. Por vezes, esses pais acabam entrando
em conflito com os professores, e essa interferência acarreta em uma convivência cada vez
mais conturbada entre aluno/professor e família/professor, prejudicando assim o trabalho do
docente e o desenvolvimento do caráter do aluno.
Afinal, quando aquilo que a escola cobra como valor importante para a vida do aluno
não for tratado com a mesma importância no ambiente familiar, o aluno pode se sentir
enganado e confuso, sem saber qual deve ser sua posição, o que também acaba atrapalhando
seu desenvolvimento escolar.
Porém, nem toda interferência dos familiares é negativa, ela é necessária para um
melhor aproveitamento do desempenho do aluno, como por exemplo, em situações que as
relações de diálogos entre professores, familiares e alunos conseguem se estabelecer, e um
membro apóia o outro nesse processo. A participação dos pais na vida escolar de seus filhos,
também tem relação com as aprendizagens que estes irão construir na escola, bem como com
a construção de um modelo de estrutura escolar que atenda às necessidades da comunidade.
Sobre isso, Vitor Henrique Paro afirma que: Levar o aluno a querer aprender implica um acordo tanto com educandos, fazendo-os sujeitos, quanto com seus pais, trazendo-os para o convívio da escola, mostrando-lhes quão importante é sua participação e fazendo uma escola pública de acordo com seus interesses de cidadão. (1998, p. 307)
Além da interferência dos pais na escola ser de grande importância na parte da
aprendizagem, quando feita de maneira adequada, ela também pode ser essencial para firmar
laços relacionais entre a família e a escola. Isso pode ser uma forma de fazer com a criança
sinta-se segura de fazer parte deste vínculo, segundo Içami Tiba:
Se a parceria entre família e escola for formada desde os primeiros passos da criança, todos terão muito a lucrar. A criança que estiver bem vai melhorar e aquela que tiver problemas receberá a ajuda tanto da escola quanto dos pais para superá-los. Quando a escola, o pai e a mãe falam a mesma língua e têm valores semelhantes, a criança aprende sem grandes conflitos e não quer jogar a escola contra os pais e vice-versa. (2002, p. 183).
A partir dos últimos anos a educação vem ganhando destaque nos noticiários e cada
vez mais tem se falado na importância da presença da família na escola e quanto o trabalho
entre pais e professores precisa ser feito de forma conjunta, deve haver uma empatia. A
respeito disso, é interessante que se criem laços positivos entre família e escola, fazendo com
que haja cooperação entre as partes. Estas precisam ter um olhar que contemple a
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interdependência da família e da escola. Precisa-se de docentes e famílias que saibam
trabalhar juntos, para evitar conflitos e promover uma melhor educação para nossas crianças.
3 Delineando o percebido pelas famílias e professores
Para a execução desta pesquisa, com fins de conhecer melhor a realidade tanto das
famílias, quanto da escola, foram realizadas entrevistas com dois roteiros de perguntas
distintos, um para cada grupo. Foram entrevistados um total de vinte pessoas, dentre elas
quinze familiares e cinco professoras. Houve uma maior participação das mulheres na
pesquisa, sendo também o gênero predominante dos profissionais da instituição. A
participação masculina se mostrou tênue em relação a feminina, com apenas dois
participantes. A idade dos familiares predominou entre 26 a 35 anos em 66,66%, e das
professoras entrevistadas entre 21 e 25 anos, se faz uma característica marcante das docentes
participantes o fato de todas estarem cursando Pedagogia.
Será apresentada uma análise das respostas, mostrando um retrato dos modos como as
relações entre família, escola e criança vem se constituindo. A análise ocorreu de forma
horizontal, perpassando por os pontos dignos de destaque até as percepções no ato da
entrevista.
Evidenciou-se que grande parte dos pais não tem noção que o professor tem função
pedagógica no dia a dia da criança. E intitulam ser papel tanto da família como dos
professores: a formação cidadã do aluno, delimitar normas e limites e ser um exemplo para o
aluno se espelhar.
Já os professores colocam essas funções, sendo atribuídas às famílias, pois a escola já
esta sendo responsável por outras funções como, a parte pedagógica, cuidados, alimentação.
Enfim, a escola se sente sobrecarregada em ter que desempenhar papéis que a família não
cumpre. Essa situação gera desconforto em ambas as partes, pois um delega ao outro as
responsabilidades e no fim ninguém as executa realmente.
Em um dos momentos da entrevista, quando os pais foram desafiados a fazerem
sugestões para o melhor relacionamento entre as partes integrantes desse eixo, família-escola-
aluno, foi demonstrado que os pais e mães, destituam de si próprios à responsabilidade de dar
limites e impor regras às crianças. É convertido esse papel, aos professores, que além da parte
pedagógica, se tornam responsáveis por impor limites e, para que isso ocorra, devem se valer
da imposição de medo, como cita este entrevistado: “Ensinar para as crianças com mais
disciplina, eu acredito que para ter respeito é preciso uma pitada de medo.” Entrevista, Pai 1. 7
Já os professores, falam, em conjunto, sob a mesma ótica, de que deve haver respeito
entre famílias e professores, que o diálogo que é realizado é ineficaz e por isso deveriam
ocorrer mais oportunidades para que esse diálogo aconteça de maneira pacífica, sem a
interferência dos alunos ou de outras famílias.
Sob o foco de como as famílias acompanham o dia a dia dos seus filhos, os
professores demonstraram na pesquisa, que assim como 40% dos pais acompanham o dia a
dia do seu filho pela agenda, com conversas com a professora, e telefonemas quando
necessário, outros 40% trazem a tona que desconhecem totalmente o que ocorre no dia a dia,
que não mantem contato com a professora ao levar ou buscar as crianças, não responde os
recados na agenda e só em casos extremamente graves, como acidentes ou doenças, mantem
contato pelo telefone. Essa falta de aproximação entre as partes pode desestimular o interesse
da criança pela escola, pelas aprendizagens, e faz com que a realidade dele em casa e na
escola seja diferente, e descontínua. Todo trabalho pedagógico realizado, deve ter uma
sequência em casa, ao menos em uma conversa sobre como foi o dia a dia da criança.
Com base nas afirmativas feitas pelas famílias, foi perceptível que os pais não
possuem momentos com os filhos para conversar sobre o que ocorreu no dia a dia, para
brincar com eles, para estar com eles, e isso acaba levando problemas para dentro da sala de
aula. E a escola não consegue suprir o papel de família e deixa o seu papel também de lado.
Por isso se faz necessário o trabalho conjunto entre família e escola.
Diante do tema “diálogo entre as partes”, tanto professores como familiares
compreendem que há a necessidade de haver um número maior de reuniões, que deve partir
da escola a iniciativa de momentos ‘diferentes’ do cotidiano que aconteça uma aproximação
entre as partes, onde possa acontecer o exercício de conhecer as pessoas que compõem a
comunidade escolar como um todo. Assim como, se faz importante que os familiares
reconheçam o trabalho realizado pelos professores, que a criança não vai para a Educação
Infantil para brincar só para passar o tempo e sim que essa brincadeira é a prática de todo um
planejamento pedagógico que ocorre por de traz da rotina infantil.
A cultura de participar de pesquisas, dando opiniões, respondendo perguntas, ainda
gera, para familiares e principalmente professores, a sensação de desconforto ao se
questionarem sobre suas práticas e suas rotinas em torno da criança. Durante o período de
entrevistas na instituição, houve uma recusa muito grande das pessoas em participar, trazendo
como desculpa a falta de tempo ou o não conhecimento sobre o tema. Devido a isso se dá o
número relativamente pequeno de entrevistados, frente ao grande número de famílias que a
instituição atende.
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A participação em pesquisas foi o tema abordado em uma das perguntas elencadas no
questionário. E, diferente do que se esperava observando o número de pessoas que se
propuseram a participar, a participação foi vista como uma forma de refletir sobre os papéis
de ambas as partes, sobre a forma como abordagens estavam sendo realizadas em relação a
criança, sobre o tempo destinado exclusivamente à criança e sobre o auxilio a melhorias no
atendimento da escola.
Com a intenção de expandir os olhares em torno do assunto, e sob a observação do
cotidiano da escola e a pesquisa realizada, tornou-se viável a realização de uma intervenção
no cotidiano desta escola. Contemplando as demandas que o Estágio IV em Pedagogia exige,
a ‘pedagogia fora da sala de aula’ ou em espaços não escolares, articulou-se a devolução dos
dados levantados com a pesquisa e a exaltação de temas relacionados.
Embasado nas Diretrizes da Pedagogia (2006), o pedagogo pode estar em frente ao
“planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e
experiências educativas não-escolares”. Isso quer dizer, que dentro e fora da escola, a um
leque diverso de maneiras da inserção do pedagogo e não apenas dentro da sala se aula. O
pedagogo além de formado para a docência, é apto a atuar em apoio escolar e em todas as
áreas que prevêem conhecimentos pedagógicos.
Com isso, a intervenção se realizou a partir de um mini curso voltado aos familiares e
professores contemplando o tema “O Papel da Família no Desenvolvimento da Criança”.
Neste evento, que aconteceu na instituição em questão, os resultados da pesquisa foram
apresentados aos participantes, além de tópicos que se fizeram importantes ao debate como,
rotina, valorização dos momentos com a criança, o brincar como ação pedagógica, entre
outros. Além da participação de uma psicopedagoga que trouxe o tema na visão da psicologia.
A participação no evento ocorreu em menor dimensão que as entrevistas, houve
menos de dez mães, apenas um pai e duas professoras. A pouca participação nos eventos
realizados pela escola, foi um ponto que os participantes trouxeram ao debate. Percebeu-se
que familiares e professores que pedem mais momentos de diálogo entre as partes, que
questionam a pouca frequência de reuniões, não se dispõem a participar quando as mesmas
são realizadas. E mesmo obtendo um número de participantes menor do que o idealizado,
tronou-se claro a necessidade que as famílias tem em dialogar entre si e com a escola. Essa
aproximação entre as duas instituições, escola é família, é de total enriquecimento para a
criança, tanto no aspecto cognitivo, como no emocional, além de auxiliar no dia a dia das
famílias. 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa surgiu com a proposição de diagnosticar como ocorrem as relações entre
escola e família nas instituições de Educação Infantil, e como é vista a divisão dos papeis
entre família e escola. Tendo em vista o que é trazido pelas Diretrizes da Pedagogia, que o
pedagogo deve “educar e cuidar”, quais são as fronteiras desse fazer pedagógico? E qual a
responsabilidade dos familiares na educação e no cuidado da criança?
Com o surgimento das instituições para sanar as necessidades de “guardar” as crianças
até que um adulto responsável, em geral as mães, tivessem tempo para ampará-las, surgem às
creches. Que apesar das inúmeras politicas públicas organizadas no decorrer dos anos para a
regularização desta modalidade, as creches se mostram ter muito mais proximidade das
escolas de Educação Infantil do século XXI do que se pensa.
Considerando o fato de que por lei, é dever de todos, sociedade, família e escola a
educação das crianças, a escola acaba sendo a encarregada de responsabilidades que a
sociedade e as famílias não conseguem suprir. Ela muitas vezes se torna uma instituição de
cunho assistencialista e não mais educativo. Isso ocorre porque as relações que permeiam
essas três instituições, são muito distintas umas das outras, e não há um diálogo aberto entre
elas para a definição de papéis e responsabilidades.
Demonstrou-se que a participação das famílias na vida escolar das crianças, assim
como a valorização dos momentos com a mesma, tem relação com as aprendizagens que estes
irão construir na escola. É importante a existência de diálogo entre escola/família,
família/aluno e escola/aluno, a participação das famílias na vida escolar de seus filhos, além
de momentos de prazer ao lado deles.
Sendo a família parte crucial da educação das crianças, assim como a escola, as duas
devem assegurar conjuntamente a permanência da criança na escola, as suas aprendizagens,
os seus valores construídos. O trabalho conjunto entre as duas instituições faz com que a
criança se sinta parte integrante de um só universo. Logo, se a família valoriza o trabalho
realizado pela escola e pelos professores, a criança também terá essa empatia sobre a escola e
suas aprendizagens serão muito mais significativas.
O tema, relação família-escola, se faz cada vez mais importante para pedagogos e
outros profissionais da educação, especialmente na formação, pois faz com que o sujeito
compreenda que a família é tão importante quando o professor em sala de aula. E o mesmo,
10
oportunize momentos de diálogo, onde os familiares possam participar, e não apenas conhecer
o que está sendo vivenciado no cotidiano escolar.
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