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38 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral ESTUDOS CULTURAIS Antônio Hohlfeldt Doutor em Teoria da Literatura pela PUCRS. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da FAMECOS-PUCRS. A fermentaçªo cultural da dØcada brasileira de 60 RESUMO A principal característica da década de 60 é a contradição. Ela se expressa através de variadas e múltiplas posições em todos os campos da atividade política, econômica e cultural. Este ensaio aborda o conjunto dessas especificidades que constituíram um dos mais ricos e paradoxais períodos da história brasileira contemporânea. ABSTRACT In Brazil, many activities within the field of politics, economics and culture typify the 1960’s as a decade of contradiction. So the aim of this article is to approach this period of the Brazilian contemporary history in order to show the cultural ferment. Nós fomos uma geração que quisemos ter acesso à cultura. Vera Sílvia Magalhães in “Estrangeira em seu próprio país”, Revista de Cultura Vozes, No.1, Ano 92, Vol. 92, p.111. I A PRINCIPAL CARACTERÍSTICA da década de 60 é a contradição. Ela se expressa através de variadas e múltiplas posições em todos os campos da atividade política, econômica e cultural. Daí a perspectiva de oposição en- tre diferentes princípios e ideologias, que acaba se expressando numa tensão constan- te. De um lado, o corte com a tradição. De outro, a retomada dessa mesma tradição. Ideologicamente, nada melhor para expres- sar este princípio do que a conhecida ima- gem do General Golbery do Couto e Silva que, embora aplicada a um outro contexto, expressa com absoluta fidelidade o que vi- vemos naquela década: os movimentos de sístole e diástole 1 . Havia, efetivamente, uma vontade de abertura para o mundo e, ao mesmo tempo, um voltar-se para dentro de si mesmo. Em 21 de abril de 1960 inaugurara-se Brasília, a nova capital brasileira. O slogan de Juscelino Kubitschek era significativo: 50 anos em 5. O desenvolvimentismo afir- mava-se no Brasil a partir daquele desafio concretizado. Logo em 1964, contudo, a na- ção sofreria um golpe de estado. O inter- regno destes quatro anos ilustra, à sacieda- de, as contradições e as tensões vividas pela nação. Na verdade, este tensionamento não era novo. Pelo menos desde as décadas de 10 e 20 ele se colocava em especial para os intelectuais e os políticos brasileiros, como bem relembra Celso Furtado: 2 em 1922 tivé- ramos a Semana de Arte Moderna em São Paulo, mas em 1928 Paulo Prado editaria o pessimista Retrato do Brasil. De um lado, Mário de Andrade fizera a descoberta do Brasil a partir da cultura popular e da Amazônia, mas pouco antes Oliveira Vian- na decretara a ideologia conservadora e mi- litarista expressa especialmente em Popula-

A Fermentação Cultural Da Década de 60

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Artigo sobre o processo cultural dos anos 1960 no Brasil, especialmente a emergência de movimentos conceitualistas.

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  • 38 Revista FAMECOS Porto Alegre n 11 dezembro 1999 semestral

    ESTUDOS CULTURAIS

    Antnio HohlfeldtDoutor em Teoria da Literatura pela PUCRS.Coordenador do Programa de Ps-Graduao emComunicao Social, da FAMECOS-PUCRS.

    A fermentaocultural da dcadabrasileira de 60RESUMOA principal caracterstica da dcada de 60 a contradio.Ela se expressa atravs de variadas e mltiplas posies emtodos os campos da atividade poltica, econmica e cultural.Este ensaio aborda o conjunto dessas especificidades queconstituram um dos mais ricos e paradoxais perodos dahistria brasileira contempornea.

    ABSTRACTIn Brazil, many activities within the field of politics,economics and culture typify the 1960s as a decade ofcontradiction. So the aim of this article is to approach thisperiod of the Brazilian contemporary history in order to showthe cultural ferment.

    Ns fomos uma gerao que quisemos teracesso cultura.

    Vera Slvia Magalhes in Estrangeira em seu prpriopas, Revista de Cultura Vozes, No.1, Ano 92, Vol. 92,

    p.111.

    I

    A PRINCIPAL CARACTERSTICA da dcada de 60 a contradio. Ela se expressa atravs devariadas e mltiplas posies em todos oscampos da atividade poltica, econmica ecultural. Da a perspectiva de oposio en-tre diferentes princpios e ideologias, queacaba se expressando numa tenso constan-te. De um lado, o corte com a tradio. Deoutro, a retomada dessa mesma tradio.Ideologicamente, nada melhor para expres-sar este princpio do que a conhecida ima-gem do General Golbery do Couto e Silvaque, embora aplicada a um outro contexto,expressa com absoluta fidelidade o que vi-vemos naquela dcada: os movimentos desstole e distole1. Havia, efetivamente, umavontade de abertura para o mundo e, aomesmo tempo, um voltar-se para dentro desi mesmo.

    Em 21 de abril de 1960 inaugurara-seBraslia, a nova capital brasileira. O slogande Juscelino Kubitschek era significativo:50 anos em 5. O desenvolvimentismo afir-mava-se no Brasil a partir daquele desafioconcretizado. Logo em 1964, contudo, a na-o sofreria um golpe de estado. O inter-regno destes quatro anos ilustra, sacieda-de, as contradies e as tenses vividaspela nao.

    Na verdade, este tensionamento noera novo. Pelo menos desde as dcadas de10 e 20 ele se colocava em especial para osintelectuais e os polticos brasileiros, comobem relembra Celso Furtado:2 em 1922 tiv-ramos a Semana de Arte Moderna em SoPaulo, mas em 1928 Paulo Prado editaria opessimista Retrato do Brasil. De um lado,Mrio de Andrade fizera a descoberta doBrasil a partir da cultura popular e daAmaznia, mas pouco antes Oliveira Vian-na decretara a ideologia conservadora e mi-litarista expressa especialmente em Popula-

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    es meridionais do Brasil (1920). Em 1924 des-cobrramos o antropofagismo oswaldiano,mas em 1937 sofreramos o intervencionis-mo do Estado Novo.

    Carlos Guilherme Motta, em Ideologiada cultura brasileira,3 divide em trs pocasdistintas a histria brasileira recente (consi-derando o perodo por ele estudado): a) de1957 a 1964, ampliao e reviso reformis-tas; b) de 1964 a 1969, revises radicais; c)de 1969 a 1974, impasses da dependncia.Complementarmente, Anamaria Fadul,com pequenas diferenas, admite quatrodiferentes momentos em nossa histria re-cente4: a) 1964 a 1968, do golpe militar aoAI-5; b) 1968 a 1974, do AI-5 at a posse doGeneral Geisel; c) 1974 a 1979, da posse deGeisel posse do General Figueiredo; d)perodo de Figueiredo anunciada possede Tancredo Neves.

    Numa ou noutra diviso, verificamosque o mesmo movimento de composio edecomposio pode ser claramente obser-vado. Como se disse, este movimento eraverificvel desde muito antes, embora elev se clarificando medida em que avana-mos no tempo (tomando como referencial ogolpe de 1964).

    Na dcada de 50, o pas buscara confi-gurar alguns horizontes de desenvolvimen-to cientfico bastante significativos: em 1951criara-se o CNPq Conselho Nacional dePesquisa Cientfica, simultneo ao surgi-mento da CAPES- Coordenao de Aperfei-oamento de Pessoal de Nvel Superior. Areforma universitria, desdobrada a partirde 1965, atravs do execrado acordo MEC-USAID pode ser vista, ao mesmo tempo,como uma continuidade e uma ruptura emrelao quela primeira tendncia, eis que,de um lado, tende a abandonar o enfoquehumanista de nossa educao, buscando aformao profissionalizante e tecnicista,mas, ao mesmo tempo, propiciar o surgi-mento de nossos primeiros cursos de ps-graduao.

    Da mesma maneira, assistimos, nombito da administrao Juscelino Kubits-chek, o surgimento, em 1956, e a solidifica-

    o do ISEB - Instituto Superior de EstudosBrasileiros, idealizado e concretizado porum conjunto de militares5 claramente liga-dos aos tenentes dos anos 20. A ideologianacionalista destes intelectuais no impe-diu que o governo JK se constitusse noprimeiro grande momento de internaciona-lizao de nossa economia, inclusive medi-ante a substituio de importaes pela in-dustrializao acelerada do pas, a partirda instalao das montadoras de autom-veis.

    O perodo JK se caracteriza por umainternacionalizao da economia brasileirajustamente no momento em que se procurafabricar um iderio nacionalista para sediagnosticar e agir sobre os problemas nacionais.6

    Assim, a contradio se apresentanum tensionamento em que o ISEB preten-de influenciar o governo, enquanto estebusca uma legitimao atravs do ISEB. Acrise surgida j ao final daquela adminis-trao bastante conhecida, estendendo-seao longo do perodo seguinte, at a disso-luo da instituio aps o golpe de 1964.7

    Se a industrializao recebe forte im-pulso do governo, o segmento agrrio, aomesmo tempo, organiza-se para a sua luta,criando-se, a partir de 1955, a primeira LigaCamponesa, sediada no Engenho Galilia,8

    culminando com a I Conferncia de Lavra-dores e Trabalhadores Agrcolas Brasilei-ros, em Belo Horizonte, em novembro de1962. A reforma agrria seria includa nasreformas de base, mas o primeiro docu-mento importante sobre o tema seria pro-duzido apenas no perodo do General Cas-tello Branco, aps o golpe de 1964.

    Por outro lado, a cultura alienada, a quemais tarde referir-se- o CPC- Centro Popu-lar de Cultura da UNE, entra em discusso.A ideologia nacionalista queria ser o idio-ma poltico dominante.9 Ao longo dosanos 50, construra-se uma espcie de oni-potncia da intelectualidade, que sentiauma vocao para conduzir os destinos danao, ainda segundo o brazilianist francs(p. 114), sentimento que seria seguido deoutro, absolutamente oposto, o da precarie-

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    dade de sua prpria subsistncia, aps ogolpe de 1964 e, em especial, aps o AI-5de dezembro de 1968. Uma sntese precriaadviria com a organizao dos cursos deps-graduao nas universidades, s quaisse confinariam os intelectuais, enquantoprofessores, no sem sofrerem controlesideolgicos e processos de cassao, comoos verificados logo aps o AI-5. De qual-quer forma, eles se tornariam profissionais eespecialistas, limitando-se, parcialmente, aum papel bem menos vanguardista do quehaviam pretendido antes.

    Na verdade, ao ISEB opor-se-ia oIBAD Instituto Brasileiro de Ao Demo-crtica, fundado em 1959, com cobertura di-reta da CIA, e que se desdobraria ainda noIPES- Instituto de Pesquisas e Estudos Soci-ais, de 1961, tambm apoiado pelos norte-americanos, quando a ascenso inevitvelde Joo Goulart vinha radicalizar o tensio-namento entre o pensamento nacionalista eo internacionalista.10

    importante lembrar-se que os acon-tecimentos brasileiros integravam-se a umcontexto internacional, e especialmente lati-no-americano igualmente contraditrio: em1959 ocorrera a revoluo cubana lideradapor Fidel Castro, o que fizera com que osEstados Unidos voltassem seus olharesmais diretamente para o continente, resul-tando na criao, em 1961, da Aliana parao Progresso.

    Os debates que se sucediam no conti-nente equilibravam-se entre a teoria da de-pendncia e o desenvolvimentismo. Assim,ao nacionalismo exacerbado, complementa-do pelo pan-americanismo que se tornar evi-dente no Brasil durante o perodo de JnioQuadros, por exemplo, ope-se um interna-cionalismo crescente. Contra o localismo de-fende-se o cosmopolitismo,11 ao ufanismoope-se o criticismo, entendendo-se a neces-sidade de um ponto de ruptura que se orien-te, simultaneamente, pelo nacional e o po-pular, apontando, ao mesmo tempo, parauma ampliao da experincia democrtica( o que se far nos turbulentos anos da ad-ministrao de Joo Goulart, sobretudo

    aps o plebiscito de janeiro de 1963), masresultando na concretizao ditatorial dogolpe de maro de 1964.

    Quatro conceitos centralizam os deba-tes: povo - nao - Estado e revoluo,12 di-vidindo-se, o ltimo, entre a utopia socia-lista e a reforma democrtico-burguesa. Ascontradies ficam especialmente eviden-tes quando se examina, j h distncia, oconhecido Manifesto do CPC, assinado,dentre outros, por Carlos Estevam Martins.Pretende-se falar em nome do povo e emdefesa do povo, mas o texto se dirige otempo todo aos intelectuais e aos artistas,especialmente aqueles a quem se consideraalienados,13 numa espcie de chamamento conscientizao e ao engajamento.

    A modernizao convivia com o arcas-mo,14 da mesma maneira que o ideologismocom o esteticismo na produo artstica da-quele perodo. De um lado, aspirava-se assimilao cultural, de outro, explicitaodos conflitos e das contradies.15

    Era consensual, contudo, entre as dife-rentes correntes ideolgicas, que uma solu-o deveria ocorrer. A esquerda nacionalis-ta tratou de pressionar cada vez mais o go-verno Joo Goulart em direo s reformasde base. Os conservadores, por outro lado,organizaram-se, fartamente financiadosatravs da CIA, nas manobras que resultari-am no golpe de 1964. O desenlace, uma vezmais, apresenta-se contraditrio: pode servisto enquanto a ruptura com a tendncianacionalista e populista, na medida em quea ditadura modificaria profundamente oespao de interferncia tanto da intelectua-lidade quanto dos segmentos sindicais ereligiosos brasileiros. No entanto, se visua-lizado em relao dcada de 50, nadamais faz do que retomar, expandir e apro-fundar a industrializao e a internacionali-zao, atravs de acordos bilaterais e deum conjunto de medidas poltico-adminis-trativas que, at 1968, ter modificado sig-nificativamente o pas, possibilitando osurgimento do que verdadeiramente se po-der desde ento denominar como indstriacultural enquanto um livre mercado16 anima-

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    do, protegido e articulado atravs do Esta-do, na medida em que a forma produtiva acionada pela motivao econmica do re-torno do capital, o lucro (p. 140), cujas con-seqncias so, no mnimo, trs:

    a) superabundncia de oferta de pro-dutos;

    b) iluso da transformao do real;c) reconhecimento autoritrio da vali-

    dade de sua prpria produo, pela aceita-o tautolgica do mercado (p.142).

    Evidentemente, cada campo artsticodesenvolver seus prprios mecanismos,contando inclusive com a exploso da ati-vidade publicitria que assumiu uma fun-o econmica fundamental na implemen-tao do modelo de desenvolvimento ado-tado.17 O mercado de consumo brasileiro caracterizado por sua enorme dimenso,mesmo que se considere o relativamentepequeno percentual da populao capazde absorver os novos produtos de consu-mo que se lanaro. Trata-se de um conjun-to diferenciado e cada vez mais amplo, quejustifica o projeto de integrao nacional que,a partir de ento, ser concretizado, atravsda EMBRATEL - Empresa Brasileira de Te-lecomunicaes, constituda enquanto em-presa pblica a partir de 16 de setembro de1965. A nova empresa desenvolve uma fan-tstica rede de torres de retransmisso, li-gadas a um satlite de comunicaes, en-quanto, em conjunto com as empresas pri-vadas, e mediante a poltica de concessese reviso das mesmas, criam-se as redes na-cionais de televiso e os grandes conglo-merados de comunicaes, colocando emmos de um grupo selecionado de empre-srios emissoras de rdio e televiso, bemcomo grandes empreendimentos de jorna-lismo grfico, de que emergiro gruposcomo a Abril Cultural ou a TV Globo. Ainiciativa se completa com a criao, a 15de janeiro de 1968, da AERP AssessoriaEspecial de Relaes Pblicas da Presidn-cia da Repblica, que logo se tornaria omaior anunciante do pas.18

    Neste episdio, uma vez mais, a con-tradio evidente. De um lado, deve-se

    levar em conta que fora o governo JooGoulart que, atravs da lei n. 4.117, de 27de agosto de 1962, editara o Cdigo Brasi-leiro de Telecomunicaes e criara o CON-TEL - Conselho Nacional de Telecomunica-es, buscando a institucionalizao donovo Cdigo Brasileiro de Comunicaes apartir de 1962, a que se seguiria a regula-mentao do mesmo Cdigo em 20 de mar-o de 1963, atualizando-se a regulamenta-o dos servios de radiodifuso em 31 deoutubro daquele ano. No entanto, a coloca-o em prtica dessas determinaes, evi-dentemente adaptadas ideologia donovo poder, dar-se-ia apenas aps 31 demaro de 1964. Por outro lado, os gruposempresariais brasileiros interessados emampliar sua presena no novo campo dascomunicaes tomara iniciativas desdemuito antes: j em 18 setembro de 1950, As-sis Chateaubriand e os Dirios e EmissorasAssociados haviam investido no novo meiode comunicao que era a televiso, com ainaugurao da TV Difusora, mais tardeTV Tupi, canal 3, em So Paulo e, logo emseguida, no Rio de Janeiro. Em 1953, surgi-ria a TV Record do Rio de Janeiro. Outrospases da Amrica Latina inaugurariamseus sistemas comerciais de televiso namesma dcada: a Venezuela a partir de1955 e o Uruguai em 1956, sendo o sistemaargentino deste mesmo ano.

    Em 1962, a TV Globo firma o acordo,depois cancelado, com o grupo norte-ame-ricano Time-Life, o que lhe daria no ape-nas um significativo aporte financeiroquanto permitir-lhe-ia um salto qualitativona tecnologia empregada para as transmis-ses, o que a transformaria, imediatamente,no principal adversrio do grupo das emis-soras Associadas. Naquele mesmo ano de1962, criava-se a ABERT Associao Bra-sileira de Emissoras de Rdio e Televiso,como resposta dos empresrios19 que deti-nham as concesses governamentais, crescente presena e presso governamen-tal naquele campo de atividade, sempremais e mais regulamentada pelo Estado.

    Os Estados Unidos, por outro lado, a

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    partir de agosto de 1962, aprovam a Lei doSatlite de Comunicaes, que permite quese considere como de interesse governa-mental iniciativas de empresas particularesneste novo campo tecnolgico, ampliandosua presena e predomnio internacionalem fevereiro de 1963, com a criao doCOMSAT Communications Satelitte Cor-poration e, em 20 de agosto de 1964, doINTELSAT International CommunicationsSatelitte Consortium, englobando paseseuropeus e latino-americanos enquanto po-tenciais clientes para seus satlites de co-municaes.20 O Brasil associar-se-ia aoconsrcio em 4 de fevereiro de 1965 e a 25de fevereiro de 1967 cria o Ministrio dasComunicaes, por decreto-lei.

    Temos, assim, iniciativas norte-ameri-canas no desenvolvimento de tecnologiasde ponta, ao mesmo tempo em que outras,inditas no Brasil, so aqui implantadas,ainda no decorrer da administrao JooGoulart. Quando se d a ruptura institucio-nal, os novos governantes encontram dis-ponibilizadas as tecnologias de que neces-sitam para concretizar o controle ideolgi-co sob a capa do discurso da integrao na-cional: o sistema de torres de retransmis-so, a discagem direta distncia e os sat-lites de comunicao permitem que aque-les concessionrios de rdio e televiso,considerados confiveis pelo sistema, pos-sam ampliar sua presena, viabilizados, si-multaneamente, pelo desenvolvimento dainfra-estrutura tecnolgica, a cargo do go-verno, e pela expanso do mercado deconsumo, ampliado pela incrementao daatividade publicitria, j organizado em re-des regionais, e logo depois nacionais.

    Se as primeiras telenovelas haviamsurgido, atravs da TV Excelsior e Tupi,logo seguidas pelos shows musicais da Ex-celsior, em 1965 seria a vez do jornalismo,com o Telejornal da TV Globo. No ano de1967 atingir-se-ia o auge da programaomusical, com programas como JovemGuarda, O Fino da Bossa e os festivais demsica popular brasileira, em especialatravs da TV Record. A contradio, con-

    tudo, perdura: de um lado, compositores eintrpretes como Chico Buarque de Holan-da e Gilberto Gil encontram intrpretescomo Elis Regina e Jair Rodrigues, com li-nhas que se equilibram entre o potico e omilitante. De outro, Caetano Veloso rompeas barreiras mais tradicionais de nossa m-sica popular, estabelecidas desde 1956,com a bossa nova de Joo Gilberto, abrindocaminho para o Tropicalismo, a partir de1968, aps o sucesso da cano Alegria, ale-gria.

    Neste mesmo ano de 1968, a disputapelos mercados televisivos cresceria, com apresena do telejornalismo da Bandeiran-tes, atravs do Titulares da Notcia, respon-dendo a TV Globo com o incremento quali-tativo de suas telenovelas, por exemplo,atravs das emisses de Os Irmos Cora-gem. O surgimento do vdeo tape, em 1969,possibilitaria o Jornal Nacional da TV Glo-bo, a 1 de setembro, ampliando-se suaqualificao com a chegada da cor, em1972,21 o que completaria a revoluo, solidi-ficada desde 1967, com a implantao doprimeiro satlite brasileiro de telecomuni-caes,22 no chamado padro Globo de quali-dade. A morte de Assis Chateaubriand, o in-contestvel lder das Associadas, em 1967, neste sentido, emblemtica. A partir deento, cresce a estrela do conglomerado deRoberto Marinho, culminando o processode transposio do controle das telecomu-nicaes de um grupo ao outro, com a no-renovao da concesso da TV Tupi e, logoem seguida, a idntica medida com outrasempresas do grupo Associado, que ser re-distribudo, resultando em novas redescomo o SBT de Slvio Santos:23 atingia-se,verdadeiramente, a integrao nacional.24

    II

    Se a televiso apresenta, em sua implanta-o, as mesmas contradies que os demaissistemas culturais brasileiros, ser ela, tal-vez, o nico sistema, no entanto, que semanter em relativa unidade ao longo dos

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    anos 60. que todos os demais segmentosda produo cultural do pas, do teatro msica popular, passando pela literatura eas artes plsticas, sem esquecermos o cine-ma, estaro marcados pelo mesmo tensio-namento que indicamos na abertura destetexto. Na verdade, enquanto parte da supe-restrutura produtiva, estes segmentos refle-tem e concretizam aquelas contradiesque a sociedade brasileira evidenciava.

    Literatura Apesar do alto grau deanalfabetismo, a literatura sempre teve umprivilegiado status no pas.25 Nossos escri-tores experimentaram forte influncia sobreo pensamento nacional, provavelmenteporque desenvolviam, paralelamente produo mais estritamente literria, umaatividade jornalstica, de que o sucesso depblico da crnica melhor traduz esta situa-o. Alis, exatamente no decorrer dosanos 60 que este produto, simultaneamenteliterrio e jornalstico, recebe a consagraodos leitores, com nomes como Otto LaraRezende, Carlos Drummond de Andrade,Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e ou-tros tantos. Desde os revolucionrios de1922, a poesia brasileira oscilava entre amilitncia e o esteticismo, dividindo-se,por isso mesmo, pedagogicamente, as dife-rentes geraes segundo estes mesmos crit-rios: o experimentalismo de 22 se ope, decerto modo, crescente conscincia socialde 30, abrindo caminho para uma espciede sntese que se esboa com a gerao de45, de que Joo Cabral de Melo Neto seriao exemplo mais significativo. Mas o tensio-namento entre as diferentes tendncias nose havia esgotado: em 1956 surge o Mani-festo Concreto, liderado pelos irmos Cam-pos, complementado no ano seguinte pelogrupo Tendncia, de Belo Horizonte, deAffonso vila. 1961 marca o manifesto doPoema Prxis, de Mrio Chamie, mas em1962 editam-se os trs cadernos da coleoViolo de Rua, que se opunha a todas aque-las tendncias, reunindo, dentre outros, apoetas como Ferreira Gullar e Moacyr F-lix.26

    Quanto prosa, o chamado romance de30, essencialmente rural, com o ciclo de au-tores nordestinos, ganharia conotaes ur-banas com o grupo sulino, em especial Eri-co Verissimo e Dyonlio Machado. Na d-cada de 60, passaria a sofrer o tensiona-mento de um experimentalismo crescenteao lado de um conjunto de obras claramen-te engajadas na denncia do projeto ditato-rial ento em desenvolvimento, valendo ci-tar, como exemplos, do primeiro grupo, aWally Salomo (Me segura que eu vou dar umtroo) e Jos Agrippino de Paula (Pan Am-rica) e, do outro, o Quarup de AntonioCallado.27 Gradualmente, as duas tendnci-as encontrar-se-o pela necessidade de dri-blar a censura e a proibio de livros, utili-zando-se da tcnica do romance reportagemexemplificados em Ivan Angelo e Ignciode Loyola Brando, dentre outros. O pro-duto final desta poca, por seu lado, gerarigualmente contraditrias avaliaes com opassar do tempo. Flora Sussekind entendecomo francamente dispersiva aquela pro-duo,28 enquanto Antonio Candido temum entendimento contrrio.29

    Ao mesmo tempo, um sem-nmerode iniciativas alternativas vo se desdo-brar: a poesia reproduzida em mimegrafo,movimentos como o varal de poesia ou a chu-va de poesia, a poesia-postal, e assim por di-ante, produes manifestamente artesanais,opunham-se s obras produzidas editorial-mente em empresas que haviam sofridoforte modernizao de seus parques grfi-cos no decorrer da dcada, como o casoexemplar da Record.

    Teatro Tambm o teatro vai experi-mentar este tensionamento. Desde 1948, aproduo teatral brasileira experimentavauma qualificao crescente, com a incluso dramaturgia internacional de novos dra-maturgos brasileiros e uma mise-en-scne re-lativamente atualizada encenao euro-pia, graas ao TBC Teatro Brasileiro deComdia, de Franco Zampari. A influnciadessa instituio desdobrar-se-ia, nos anossubseqentes, pelo menos at 1967, com a

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    criao de inmeros grupos de atores oudiretores-empresrios, boa parte dos quaisoriundos do TBC, os chamados filhotes doTBC. No entanto, fundara-se em 1953 o Te-atro de Arena, em So Paulo, cuja direoser assumida, a partir de 1956, por Augus-to Boal, jovem diretor ento recm-egressode curso nos Estados Unidos, onde convi-vera especialmente com a dramaturgia deArthur Miller. A partir de 1958, desenvolveaquele grupo os Seminrios de Dramatur-gia, de que emergiriam, ao final da dcadae, em especial nos primeiros anos da dca-da seguinte, dramaturgos como Gianfran-cesco Guarnieri (Eles no usam black-tie;1958), Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha(Chapetuba Futebol Clube;1958), Bilbao, via Co-pacabana (Augusto Boal; 1958) e Edy Lima(A farsa da esposa perfeita; 1958). Esses drama-turgos integrar-se-iam, logo depois, aoCPC da UNE, somando-se a Paulo Pontes,desenvolvendo uma obra de intensa de-nncia ideolgica, de modo que se torna-ro os nomes referenciais de toda a drama-turgia brasileira ao longo das duas prxi-mas dcadas, ainda que alguns deles te-nham experimentado o exlio, como Au-gusto Boal, ou terminado por se adaptarem televiso, como Guarnieri, Dias Gomes,Vianinha ou Paulo Pontes, que entende sera televiso, apesar de tudo, um veculo es-sencialmente democrtico; pode ser ligado porqualquer um.. O grande tema o que interessa maioria da populao, o que no quer dizer queexiste contradio entre qualidade e televiso,mas sim entre a TV e a linguagem aristocrti-ca.30

    Criara-se, assim, a nova dramaturgiatelevisiva, que resultar nos casos especiais enas sries brasileiras.

    O Teatro de Arena inovou no apenasna dramaturgia, tocando em temas essenci-almente vinculados realidade brasileira,quanto buscou criar novas linguagens eformas de espetculo, surgindo as experi-ncias da srie Arena conta..., a partir da exi-tosa experincia de um show potico-musi-cal, Opinio, que reuniu dramaturgos, can-tores de mpb e intelectuais brasileiros de

    renome na poca (dezembro de 1964), deum lado, e dos caminhos abertos pelos es-petculos do CPC da UNE, especialmenteaqueles que se valiam da msica popular,para repassar os seus recados populao,sobretudo a dos estudantes, resultando emexperincias como o disco O povo canta, de1962. Opinio teve a participao de ZKti, Joo do Vale e da cantora Nara Leo,que se tornaria a musa da bossa nova, inter-pretando textos de Oduvaldo Viana Filho,Arnaldo Costa e Paulo Pontes, dentre ou-tros.

    O TBC, confrontado com sua tradio,reage, produzindo, em 1964, Vereda da sal-vao, de Jorge Andrade, mais tarde o prin-cipal dramaturgo brasileiro contempor-neo, ao lado de Nelson Rodrigues que, en-quanto isso, prosseguia sua carreira deobras provocativas, quase sempre proibi-das pela censura ou fortemente prejudica-das por cortes absurdos em seu texto.

    A tendncia de reunir msica e dra-maturgia chegaria ao auge com o sucessoinesperado, primeiro fora do pas, num fes-tival de teatro em Nancy, Frana, e depoisno prprio Brasil, de um espetculo cha-mado Morte e vida Severina, que se baseavanum texto de Joo Cabral de Melo Neto,que recebera msicas do ento compositor-revelao, Chico Buarque de Hollanda. Era1965 e a pea, dirigida por Silney Siqueira,tornar-se-ia rapidamente um referencialporque, ao mesmo tempo em que ratificavaa denncia contra as mazelas sociais brasi-leiras, encontrava uma forma inovadora eatrativa para comunicar-se com o pblico,fugindo, ao mesmo tempo, do maniques-mo to caracterstico das esquerdas, segun-do avaliao de Paulo Francis.31 A experi-ncia geraria um ciclo de espetculos que,somados srie j mencionada dos Arenaconta... resultaria em trabalhos como Liber-dade, liberdade (1965) e Homem do princpio aofim (1966), culminando no contraditrioRoda Viva do Teatro Oficina, de 1968, comtexto e msica de Chico Buarque de Ho-llanda e direo de Jos Celso MartinezCorra, alis, outra referncia do teatro des-

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    te perodo, que oscilou, constantemente,entre o ativismo poltico-ideolgico, comobras como Pequenos burgueses (1963), deGorki, ou Galileu, Galilei (1968), de Brecht, eo experimentalismo radical da linguagemteatral, com a revelao de O Rei da Vela,texto de Oswald de Andrade, de 1933, es-treado em 29 de setembro de 1967, at ocontraditrio Gracias, Seor, com que o gru-po encerraria suas atividades no Brasil, di-ante do exlio de Jos Celso. Isso, no semantes ter revelado as idias de Artaud eGrotowski e ter trazido ao pas o grupoingls The Living Theater, de Judith Malinae Julian Beck, que enfrentou sucessivasperseguies policiais, sob as mais diver-sas acusaes.

    Algum tempo depois, estas experin-cias seriam retomadas, j em outra perspec-tiva, por Gianfrancesco Guarnieri, com Cas-tro Alves pede passagem (1970).

    Um pouco mais distante destes doiscentros - o Arena, no permetro da Boca doLixo de So Paulo e a PUC-SP, onde seproduzira a pea de Siqueira, um outroponto mexeria com o teatro brasileiro dadcada: era o teatro da atriz e empresriaRuth Escobar que, a partir de 1968, traria aoBrasil diretores de renome, em especial oespanhol Victor Garcia, que realizaria tra-balhos experimentais de grande enverga-dura, buscando espaos alternativos na ci-dade para as suas encenaes, como ocor-reu com Cemitrio de Automveis, de Jos Ar-rabal (1968), encenado em uma garagem,ou recriando os espaos disponveis, comoaconteceu com O Balco, de Jean Genet(1969), que obrigou destruio-reconstru-o total do teatro de Ruth Escobar.

    Uma quarta referncia da criao tea-tral brasileira, como se viu, era o GrupoOficina que, tendo iniciado na tradio deum mtodo de encenao revolucionrioquando de sua criao, mas j clssico nadcada de 60, o mtodo Stanislawski, con-tava com a presena de um dos atores maiscompletos que o teatro brasileiro j teve,Eugnio Kusnet. Clssicos como Brecht eGorki constituam o forte de seu repertrio,

    mas a revelao de O Rei da Vela, deOswald de Andrade, quebraria a linha decriao at ento seguida pelo Oficina, le-vando o grupo a um experimentalismo ra-dical, resultando em sua dissoluo, apsprofunda contribuio ao nosso teatro, em1974.

    Na continuidade dessas diferentes econtraditrias tendncias, produziram-seespetculos que, impedidos de falar da si-tuao ditatorial brasileira, inspiravam-seem outros casos internacionais para provo-carem nossa reflexo. Assim foi com O Vi-grio, de Rolf Hochut (1965), imediatamenteproibido pela censura, O Bero do Heri, deDias Gomes (1968), tambm proibido, Ohque delcia de guerra, de Adhemar Guerra(1966), Marat-Sade, de Peter Weiss, com di-reo do mesmo Adhemar Guerra (1967) ouO Interrogatrio, ainda de Peter Weiss, sobdireo de Celso Nunes (1970), abrindo ca-minho para a posterior experincia de Ma-cunama, j na dcada seguinte, sem esque-cermos a montagem de O Arquiteto e o Impe-rador da Assria, de Jos Arrabal, dirigidopor Ivan de Albuquerque (1970), com quetambm se conclua a dcada.

    Por outro lado, um sem-nmero dedramaturgos foram sendo revelados a par-tir do talvez ano mais trgico do teatro bra-sileiro, na expresso do crtico Yan Michal-ski, 1968,32 auge da crise provocada pelasconstantes interdies da censura, produ-zindo uma dramaturgia cuja principal ca-racterstica era o enredo baseado em ape-nas duas personagens, afim de viabilizar asprodues, aprofundando, metaforicamen-te, a condio ditatorial do pas. Foram oscasos de Antonio Bivar (Abre a janela, Cord-lia Brasil, e deixa entrar o sol da manh, 1968),Jos Vicente (O Assalto, 1969), Leilah Assun-o (Fala baixo seno eu grito, 1969), Consuelode Castro ( flor da pele, 1969), Isabel Cma-ra (As moas, 1969) e, muito especialmente,Plnio Marcos, com Jornada de um imbecil ato entendimento (1968), a que se seguiriam,apesar das proibies, Navalha na carne,Quando as mquinas param, Barrela, Dois perdi-dos numa noite suja, etc. Plnio Marcos tor-

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    nar-se-ia, at o final da dcada de 80, numaespcie de pedra no sapato da ditadura:proibido de ter peas representadas, tor-nou-se jornalista. Proibido de atuar na re-vista Veja, mediante ameaas do corte deverbas publicitrias governamentais, pas-sou a freqentar os bares do Bexiga e BelaVista, vendendo textos na forma de ediesde cordel, dando entrevistas e publicandosuas peas por uma editora paulista, numcircuito alternativo que se desdobrava pe-las universidades, com os livros passandode mo em mo. Continuariam, tambm, osdramaturgos do Arena, em especial Viani-nha, a produzir seus textos, como A longanoite de Cristal (1970) e muito especialmenteCorpo a Corpo, do mesmo ano, vencedor deum concurso nacional de dramaturgia, ime-diatamente proibido, mais tarde, quandoencenado, considerado como a melhor me-tfora das contradies das diferentesgeraes daquele perodo.

    O perodo que se seguiria, na dcadade 70, seria marcado pela reorganizaodas entidades representativas da categoria,com o surgimento da ACET, reunindo pro-dutores teatrais cariocas, a FENATA, rea-proximando realizadores do teatro amador,e a indicao de Orlando Miranda para adireo do Servio Nacional de Teatro.

    Cinema as contradies no segmen-to cinematogrfico so ainda mais eviden-tes. Na dcada de 50, ao lado das produ-es das chamadas chanchadas da Atlntida,que popularizavam e divulgavam conjun-tos musicais brasileiros, como o Trio Iraki-tan, ou intrpretes oriundos especialmentedo teatro de revistas, como Grande Othelo,Dercy Gonalves, Zez de Macedo e Osca-rito, dentre tantos, buscava-se um projetomais conseqente para uma cinematografianacional, com a criao dos Estdios VeraCruz (1950). Para tanto, trouxera-se um con-junto de realizadores italianos, dentre osquais o j citado Franco Zampari, VitorioGassman e Ruggero Jacobi, a que se somouo brasileiro Alberto Cavalcanti, j consagra-do internacionalmente a partir de seu tra-

    balho desenvolvido na Inglaterra. O proje-to, contudo, apesar de ter produzido algu-mas obras de referncia em nossa cinema-tografia, naufragaria em torno de 1957, coma debandada dos integrantes da experin-cia.

    O CPC da UNE concretizaria, em1962, uma experincia curiosa, o filme delonga-metragem 5 vezes favela, compostopor cinco diferentes episdios (mdia me-tragens) assinados por cinco diferentes rea-lizadores. Um ano antes, Glauber Rocha fil-mara Barravento, sendo do mesmo ano Oscafagestes de Ruy Guerra, e Arraial do Cabo,de Paulo Csar Sarraceni, um dos diretoresde 5 vezes favela. O resultado entusiasmariaos jovens realizadores, sobretudo centrali-zados no Rio de Janeiro ( ao contrrio doteatro, cuja maior produo naquela dca-da esteve situada em So Paulo), e sob oslogan Uma idia na cabea e uma cmerana mo eles dariam incio ao que se cha-maria de cinema novo brasileiro, sob a inspi-rao de uma Esttica da fome, na acepo deGlauber Rocha (1965). Jovens universitri-os, leitores dos Cahiers du Cinma francs,fortemente influenciados por Jean-Luc Go-dard, dentre outros realizadores, eles bus-cariam fazer um cinema de denncia socialmas com uma experimentao to radicalde linguagem, que este cinema acabaria ab-solutamente afastado do pblico sobre oqual falava, mas com o qual no estabelece-ria dilogo: o povo brasileiro, em especialseus segmentos populares. Houve exce-es, como o Vidas secas de Nelson Pereirados Santos (1963), o Deus e o diabo na terra dosol (1964) ou Terra em transe (1967), ambosde Glauber Rocha, que se tornariam refe-renciais do movimento. Mas o cinema novofoi-se isolando cada vez mais, de sorte que,na metade da dcada seguinte, era pratica-mente inevitvel sua dissoluo em outrasestticas, sobretudo aps a morte de Glau-ber Rocha.

    Houve, contudo, algumas experinci-as significativas, como a produo alternati-va de A margem, de Ozualdo Candeias(1967), ou o chamado ciclo da boca-do-lixo, a

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    partir de O bandido da luz vermelha, de Rog-rio Sganzerla (1968), que buscariam umaesttica mais condizente com a experinciapopulista que, por exemplo, programas tele-visivos como o de Chacrinha trazia aos v-deos de todos os brasileiros, semanalmen-te.

    O AI-5 de dezembro de 1968, contudo,aguou uma outra tendncia, igualmentecontraditria tanto em seus produtos quan-to em sua avaliao histrica posterior: apornochanchada. Tratava-se de filmes quesugeriam uma eroticidade que, de fato, notraziam. Pelo contrrio, muitas vezes, ape-lavam a um mau gosto lamentvel. Mas aolongo de quase uma dcada, apesar de seufalso moralismo, mantiveram a indstria ci-nematogrfica brasileira em funcionamen-to, vindo a experimentar um certo requintedo gnero, por exemplo, com uma srie defilmes que, a partir de Os paqueras, de Regi-naldo Farias (1969), passam a ser ento pro-duzidos. A reformulao da EMBRAFILME- Empresa Brasileira de Filmes, no mbitodo I PNC - Plano Nacional de Cultura, em1972, permite um melhor planejamento deproduo, numa simbiose entre a busca delegitimao do regime autoritrio e umacerta flexibilidade de produo, resultan-do, ainda uma vez, em produtos contradi-trios, de um lado, com o ciclo dos filmeshistricos, cuja partida se d com a produ-o de Independncia ou Morte, de 1972, co-memorativo ao sesquicentrio da indepen-dncia brasileira, dirigido por OsvaldoMassaini, e, de outro, a uma srie de obrasque comeariam, gradualmente, a abrir-separa uma verdadeira indstria cinemato-grfica brasileira, e cujo processo seria in-terrompido na gesto Collor de Melo, paraser retomada na de Fernando HenriqueCardoso. A EMBRAFILME vai se colocarcontra o esteticismo e o filme ideolgicopara poder ocupar o mercado33.

    Artes plsticas tambm este segmen-to experimentar a permanente contradioem nosso pas. Observe-se que, at a dca-da de 60, no se pode falar em mercado de

    artes no pas, em sentido estrito. Os mar-chands haviam comeado atividades na d-cada anterior, mas de maneira isolada esem continuidade, sobretudo em centroscomo o Rio de Janeiro e So Paulo.34 Algu-mas galerias abriram suas portas, igual-mente, na dcada anterior. Ser apenas nodecorrer dos anos 60, contudo, que a ativi-dade do mercado de artes plsticas implan-tar-se- efetivamente no Brasil.

    Desde 1951, com o surgimento da Bie-nal Internacional de So Paulo, o modernis-mo chegara s artes plsticas entre ns.Mas no se refletia ainda no mercado, ape-sar dos investimentos feitos pelo MASP-Museu de Arte de So Paulo, idealizadopor Assis Chateaubriand, e que investiafortemente na aquisio de obras do impres-sionismo europeu e do modernismo brasilei-ro.

    As premiaes concedidas pela Bienaltrazem o artista para o mercado de arte e,consequentemente, a partir de 1961, come-am as atividades dos leiles de arte, alter-nativa encontrada pelos marchands para co-locar em evidncia um determinado nome,cuja obra acabava valorizada, na maioriados casos artificialmente, com os diferenteslances que alcanava. Os leiles comerciaisganham espao em 1965, primeiro em SoPaulo, e o boom do mercado surgir logo naabertura da dcada seguinte. A maioria dasgalerias comerciais de grande porte, contu-do, foram fundadas ainda na dcada de 60,a partir de 1967, mas enfrentam alguns pro-blemas:

    a) o mercado catico, porque no huma nica cidade reconhecida como centrocultural do pas e atuando como referencialde valorizao e reconhecimento de umaobra;

    b) no h marchands que empresariemverdadeiramente movimentos de vanguar-da, limitando-se a promover o j razoavel-mente estabelecido;

    c) no h magnatas que tenham em-presariado de maneira significativa a aqui-sio de colees ou atrado grandes com-pras ou financiado a produo de determi-

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    nados artistas.35

    Desde 1956, com o manifesto concre-tista, surgira uma aproximao entre a lite-ratura e as artes plsticas, sobretudo com odesdobramento do movimento em diferen-tes tendncias, destacando-se, por exem-plo, as experincias do arquiteto Julio Pla-za36 ou dos prprios irmos Campos, deDcio Pignatari e do manifesto da poesiasemitica de 1964. O figurativismo, tradici-onalmente presente na paisagem plsticabrasileira, invadido pelo abstracionismo.As tcnicas utilizadas combinam-se dife-rentemente, inclusive na distribuio geo-grfica do pas: os artistas plsticos maisengajados ideologicamente, situados, porexemplo, no sul, preferem as tcnicas maistradicionais da gravura e da escultura, en-quanto que os experimentalismos formalis-tas do centro do pas vo optar pela pintu-ra, utilizando novos materiais ento lana-dos no mercado, ou desenvolvendo experi-ncias com objetos,37 respondendo, de certomodo, a incentivos que as bolsas de estudode instituies norte-americanas, em espe-cial a Fullbright, colocavam a sua disposi-o.

    Entre 1965 e 1966, o teatro Opinio pa-trocina duas grandes exposies no Museude Arte Moderna do Rio de Janeiro, quepodem ser lidas enquanto balizadoras dasnovas tendncias. Em 1967 ocorre a exposi-o Nova Objetividade Brasileira, ainda noMAM carioca, antecedida pela experinciados parangols de Hlio Oiticica, influencia-do pelo construtivismo e o dadasmo, noque ento se denominou de neoconcretis-mo38, alcanando uma sntese das diferentestendncias no desdobramento de seu traba-lho.

    Para Rubens Gershman, um dos prin-cipais ativistas de ento, o perodo entre1964 e 1968 foi o da utopia absoluta.39

    Alternam-se, opem-se e se complemen-tam, ao mesmo tempo, a pesquisa formal eo contedo poltico-ideolgico.40 Pode-seconsiderar que este tensionamento ganhasua maior expressividade na exposio co-letiva Opinio 66, onde Hlio Oiticica apre-

    senta um ambiente baseado no jogo de bi-lhar.

    O bilhar: mais que mistrio vital, quesegredo oculta na sua plasticidade, nasua atrao aos que aele se dedicam? Nestaobra fica patente o que considero antiarte: ahabilidade de cada jogador o que interes-sa no jogo em si, mas na totalidade a aoreal do jogo que interessa: desde que estatermine, temporariamente ou de vez, cessaa obra em sua ao - no h pois o prop-sito esteticista de apreciar o jogo na suabeleza, mas apenas realiz-lo (depoimen-to de Hlio Oiticica).41

    A estas duas figuras, soma-se MrioPedrosa, crtico de formao marxista quevinha promovendo uma reviso dos valoresplsticos, nas linhas at ento seguidas pordiferentes figuras de nossa cultura, em es-pecial Ferreira Gullar, em obras como Cul-tura posta em questo (1965) e sobretudo Van-guarda e subdesenvolvimento (1969). Preten-dia-se distinguir trs nveis de produo ecirculao artstica, quais sejam, a) a arte dopovo: rural e marginal, em que artista epovo se confundem identitariamente; b)arte popular, em que o artista profissionalassume a identidade do povo e fala em seunome; e c) arte popular revolucionria, emque o artista assume um compromisso realcom o povo, falando em sua defesa, valori-zando, consequentemente, o contedo daobra de arte.42

    III

    Aps o golpe de maro de 1964, de certomodo a intelectualidade brasileira se reen-controu na Revista de Civilizao Brasileira,que o editor Enio Silveira e o poeta MoacyrFlix passaram a publicar, j a partir da-quele mesmo ano, numa primeira fase, quese desenvolver at 1968, quando do AI-5.

    Depois da Marcha da Famlia, comDeus e pela Liberdade, organizada pelossetores mais reacionrios da sociedade bra-sileira, e do golpe de maro de 1964, no seinterromperia, de um momento para outro,

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    o movimento de anlise crtica da socieda-de brasileira. Naquele mesmo ano de 1964,e apesar do golpe de estado, publicar-se-iao livro de Caio Prado Jr. que se tornariauma espcie de bblia da esquerda brasilei-ra, A Revoluo brasileira. Na seqncia dosanos dos festivais brasileiros de mpb, tam-bm surgiriam os festivais internacionais,j com patrocinadores multinacionais, e emmaio de 1968 no ocorreriam apenas osgrandes debates em torno dos movimentosestudantis em Paris, quanto a invaso daUnio Sovitica Tcheco-eslovquia, o queretiraria boa parte do discurso da esquerdabrasileira.

    A Guerra do Vietn de um lado, coma posterior derrota norte-americana, e omovimento yippie internacional responderi-am, por outro lado, expectativa de maiorliberdade e criatividade. A morte do estu-dante secundarista Edson Lus, no restau-rante Calabouo, no Rio de Janeiro, e o mo-vimento que se seguiu, no dia 29 demaro de 1968, culminaria na grande mar-cha dos 100 mil, animada pelo lder estu-dantil Vladimir Palmeira, em 26 de junho,cujo desdobramento seria a negativa doCongresso Nacional em permitir o proces-so contra o deputado federal Mrcio Morei-ra Alves, o que serviria de desculpa para oGoverno editar o Ato Institucional n. 5, dedezembro de 1968, fechando o Congresso elegitimando, de vez, a interveno gover-namental em todos os segmentos poltico-partidrios brasileiros.

    A estratgia isebiana de escamotear asoposies de classe em nome de um gen-rico conceito de nao estava definitivamen-te sepultada. Sua incapacidade de levar emconta a orientao em direo industriali-zao nacional, mediante investimentos in-ternacionais, adotada pela administraoJK, a confuso entre um discurso cientficoe outro, ideolgico, ignorando a dissocia-o ideolgica do Brasil,43 fez com que asdiferenas ganhassem um foro de legitimi-dade e uma concretude que culminaria nogolpe de 1964, que as esquerdas no sou-beram nem antever nem evitar.

    A reforma universitria iniciada nametade da dcada de 60, modernizou auniversidade brasileira, permitindo a cria-o dos programas de doutorado. O inte-lectual, definitivamente, profissionalizou-se. Depois de 1974, com a rpida implanta-o da indstria cultural no pas, no cabiamais aos intelectuais qualquer negativa so-bre a existncia de instituies como a tele-viso: a identidade demirgica do intelec-tual brasileiro cedia espao para o intelec-tual orgnico que, vinculado a um ou outrosegmento social, produziria segundo suaidentificao grupal. Surgia, por exemplo,dentre outros tantos exemplos, a chamadaimprensa nanica, segundo expresso de JooAntonio, to bem estudada pioneiramentepor Srgio Caparelli.44 O Brasil entrara, de-finitivamente, na era da indstria cultural ese, durante as dcadas de 60 e 70, a impren-sa alternativa ocuparia importante espao,com o surgimento de diversas publicaesneste campo, como Opinio, a partir de 1972e at 1977, o jornal Ex, logo proibido esubstitudo por Mais um, igualmente proi-bido, alm de inmeros jornais francamen-te polticos como o Jornal de Debates (1973) eo Poltika (1973), De Fato, de Belo Horizonte(1975), ou o Coojornal, de Porto Alegre(1975), que sofreria constante perseguiopolicial, tendo inclusive ameaados seusanunciantes com cortes de verbas de publi-cidade governamental, ou revistas cultu-rais, como a Argumento, a partir de outubrode 1973, que no passaria do quarto nme-ro, a contradio entre um e outro aspectode nossa imprensa permaneceria. Na ver-dade, tudo comeara com a publicao doPasquim, a partir de junho de 1969, nova ex-perincia de Millr Fernandes e um grupode jornalistas que j haviam, anteriormente,feito a inovao de Pif-Paf, de vida efmera.

    A cultura alternativa ganharia, ainda,publicaes especializadas como Versus,de 1976, dando prosseguimento, de certomodo, ecloso das histrias em quadri-nhos que, desde a grande exposio doMASP em 1970, alcanara um status privile-giado em nosso pas. Versus possibilitou a

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    veiculao, no Brasil, de quadrinhos j cls-sicos internacionalmente e que, no entanto,ainda eram praticamente desconhecidosem nosso pas.

    Alis, no campo da chamada grandeimprensa, desde a dcada de 50, com asfortes mudanas sofridas pelos jornais docentro do pas,45 surgindo os suplementosculturais como o do Jornal do Brasil, que setornaria praticamente o rgo oficial doconcretismo, as reformas haviam ocorridode maneira profunda e radical, na dcadade 60. De 1965 a 1968, desenvolvera-se aexperincia pioneira da revista Realidade, aprimeira tentativa, depois da morte de OCruzeiro, de se publicar um veculo com ca-rter nacional. Realidade somava, tradiode O Cruzeiro, a perspectiva crtica e a qua-lidade do texto, distanciando-se do perfilpopulista da revista dos Associados. Mas oAI-5 de 1968 viria a tornar impossvel a so-brevivncia de Realidade, logo substituda,pela Editora Abril, por uma outra revista,Veja, que marca, por seu lado, a entrada dagrande imprensa nas tiragens massivas enum projeto verdadeiramente nacional decirculao.

    Na dcada de 70, por fim, ocorrer osurgimento dos jornais alternativos locali-zados em determinados segmentos popu-lacionais, como os feministas Brasil, mulhere Ns, mulheres de 1975, dentre tantos ou-tros.

    Uma das grandes novidades do pano-rama cultural brasileiro na dcada de 60 foia criao, a partir de 1966, do Conselho Fe-deral de Cultura, oficialmente implantadono ano seguinte.46 A este projeto, que bus-cava a integrao cultural brasileira emuma nica ao abrangente, seguir-se-ia o IPNC Plano Nacional de Cultura, de 1972,seguido do Programa de Ao Cultural, de1973. O governo federal, senhor da situaopoltico-administrativa, permitia-se liberaros espaos para a produo cultural, agili-zando e patrocinando o fomento cultural,numa perspectiva de mercado capitalistade bens de consumo (p. 237).

    O Brasil saltaria dos quatro milhes

    de jornais dirios de 1960 para os 1,2 bi-lhes de jornais-dia de 1976.47 Ocupava umlugar destacado na indstria cultural mun-dial, eis que em 1975 era o nono mercadomundial de televiso, o quinto mercadomundial do disco e o sexto mercado mun-dial de publicidade.48

    O governo federal alcanara sua legi-timao atravs de trs iniciativas bsicas:

    a) incentivo produo cultural;b) dinamizao dos circuitos de distri-

    buio;c) consumo de bens culturais.49

    Na verdade, a montagem de benssimblicos em ritmo industrial nos forneceum modelo de tempo cultural acelerado,segundo bem observa Alfredo Bosi,50 queacrescenta: o sempre novo, contudo, nemsempre original. Na verdade, constitua-se neste processo uma nova oposio entreproduo industrial e ciclos e enraizamento, demaneira que o novo jamais tinha a oportuni-dade de aprofundar-se, sendo logo substi-tudo por outro produto, ou seja, jamais seexperimentava uma continuidade de pro-cesso, mas sim, o constante lanamento deoutros produtos que substituam artificial-mente os anteriormente veiculados. Aps1964, produz-se no interior do Brasil todo equalquer produto cultural, embora o trata-mento que lhes dado esteja muito maisvinculado ao mercado internacional do queao local, eis que se trata de produtos pa-dronizados e estandardizados segundomodelos universais: os meios de comunicaode massa em geral, e a televiso, em particu-lar, constituem os veculos de uma ao pe-daggica a servio do processo de unifica-o do mercado material e simblico, quese traduz pela imposio diferencial da cultu-ra dominante.51

    A complementaridade do processo dada pelo prprio governo federal, atravsde produes como Minerva em ao culturalou Domingo Mobral, de que resulta um pascolorido e tropical, pleno de manifestaesfolclricas que podem ser aproximadas eassimiladas pelas produes da indstriacultural, na medida em que no se diferen-

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    ciam, para o grande pblico, os circuitos desua circulao.52

    Para muitos, o ano de 1968, marcadopelo AI-5, o ano de verdadeiro incio dadcada de 60 que se expandiria, assim,pela dcada seguinte. Neste sentido, pre-ciso considerar que a dcada de 50 e seuufanismo contraditrio havia se estendido,efetivamente, ao longo de mais da metadeda dcada seguinte, e que a dcada de 60,aberta em 1968, seria, sobretudo, a pocada negao, segundo Jos Celso MartinezCorra.53

    De fato, os anos 60 sero anos de vi-rada, como querem alguns54. O Brasil no mais um pas subdesenvolvido. O outdoorganha cidadania (p.6). O pas possui 30 mi-lhes de espectadores de televiso (p. 33) elogo o slogan este um pas que vai prafrente torna-se parcialmente realidade (p.93).

    A experincia da primeira grandecampanha publicitria de fundo poltico-partidrio, desenvolvida pela sul-rio-grandense MPM Propaganda, quando doplebiscito em torno da frmula parlamenta-rismo x presidencialismo, no decorrer de1962, culminando na histrica deciso de 6de janeiro de 1963, em favor do retorno aopresidencialismo, inaugurara a ostensivapresena das empresas publicitrias no ho-rizonte da opinio pblica brasileira. No de se surpreender, portanto, que, depoisde maro de 1964, elas se aliem ao novogoverno e auxiliem, de maneira decisiva, aconstruir o novo perfil do pas. Atingia-se,na dcada de 70, cerca de 500 mil mensa-gens-dia de propaganda, segundo Celso Ja-piassu.55 Existiam, contudo, problemas aserem ultrapassados, segundo Muniz So-dr:

    a) controle central das emisses;b) existncia de um s emissor, mas

    receptores diferenciados;c) imobilizao dos indivduos, consi-

    derados isoladamente;d) revoluo passiva de costumes e

    hbitos cotidianos;e) despolitizao social;

    f) produo televisiva feita exclusiva-mente por especialistas;

    g) controle da televiso exercido ex-clusivamente por seus proprietrios e nopelos receptores.56

    A dcada de 60 termina com um ba-lano extraordinrio: 30 milhes de brasi-leiros economicamente ativos, 12 milhesde cidados integrados nacionalmente emrede por televiso, trs milhes de cida-dos contribuintes do imposto de renda,500 mil leitores, tiragens de cinco milexemplares nas edies dos chamados best-sellers.57 Ao longo da dcada, 24% do valortotal alocado para a publicidade estariaconcentrado na televiso, percentual queaumentaria nos anos seguintes,58 atingindo90% na dcada seguinte.

    A introduo da televiso no conti-nente, alis, provocara uma retrao demais de metade da circulao de jornais59.O grande negcio da televiso expandira-se em trs lucrativos campos de atividades:a venda de aparelhos, que vo sendo bara-teados medida em que sua produo nacionalizada e se massifica, inclusive de-pois da introduo da televiso a cores;venda de filmes para veiculao nas dife-rentes estaes; venda dos espaos de pu-blicidade, em especial para o governo.

    O balano da dcada, no obstante, re-serva ainda um panorama de contradies:o Estado crescera, mas no os direitos dasociedade civil.60 Contudo, alguns jornalis-tas como Lus Carlos Maciel preferem lem-brar a dcada dos 60 sob outro prisma: agrande lio que se tentou aprender, nos anos 60,foi a liberdade. Verificou-se o seguinte: o que aspessoas fazem socialmente pura loucura,um escudo usado como proteo contra averdadeira natureza da realidade, espont-nea e incontrolvel. As instituies cristali-zam essa proteo, para que ela possa serutilizada pelas massas. S pode haver co-nhecimento de verdade, clareza, quando osescudos so dispensados. Um escudo til, como defesa, mas tambm cobre a vi-so. A experinia vital dos 60 foi distorci-da, diluda e, finalmente, esquecida nos

  • 52 Revista FAMECOS Porto Alegre n 11 dezembro 1999 semestral

    anos seguintes. Os caminhos da liberdadeforam perdidos mais uma vez.61

    Para Maciel, os anos 70 so os anosmestres e os 80 os anos da diluio.Para ns, os anos 60 continuaro sendo osanos da contradio, quando descobrimosa liberdade e as inmeras alternativas devida, mas quando tambm sofremos a in-terdio, a proibio e a negao n

    Acontecimentos Poltico-Econmicos eCulturais da dcada de 60 no Bra-sil e Amrica Latina:

    1948 constituio do TBC/Teatro Brasileiro de Comdia/ S. Paulo

    1951 criao CNPq1951 criao CAPES1961 criao FINEP1968 criao FAPESP1968 reforma universitria1975 abertura da SBPC s cincias humanas1950/1957 Cia. Cinematogrfica Vera Cruz09/1950 TV Tupi, canal 3 (at 1980)/So Paulo1951 TV Tupi do Rio de Janeiro1951 Bienal de So Paulo/So Paulo1953 TV Record do Rio de Janeiro1953 fundao do Teatro de Arena /S. Paulo1955 formao da 1a. Liga Camponesa Engenho Galilia1955 criao da TV na Venezuela1956 criao da TV no Uruguai1956 Augusto Boal assume direo do Arena/SP1956 surgimento do ISEB

    Instituto Superior de Estudos Brasileiros1956 L/Manifesto da Poesia concreta1957 L/manifesto do grupo Tendncia

    Affonso Avila Belo Horizonte1958 Seminrios de Dramaturgia do Arena/SP22/02/1958 T/Eles no usam black-tie

    Gianfrancesco Guarnieri/Arena/So Paulo1958 T/Chapetuba Futebol Clube

    Oduvaldo Viana Filho/Arena/So Paulo1958 T/Quarto de empregada

    Roberto Freire/Arena/So Paulo1958 T/Bilbao, via Copacabana

    Augusto Boal/Arena/So Paulo1958 T/Gente como a gente Roberto Freire Arena So Paulo

    1958 T/A farsa da esposa perfeita Edy Lima/Arena/So Paulo

    1959 L/manifesto da poesia neo-concretista1959(1956?) M/surgimento da bossa nova1959 Revoluo Cubana1959 surgimento do IBAD Instituto Brasileiro de Ao Democrtica, ligado CIAdcada de 60 surgimento dos brazilianists21/04/1960 Inaugurao de Braslia por JK1960 criao do Mercado Comum Centroamericano

    Amrica Central, pelos USA1960 I Conveno de Crtica Cinematogrfica17/08/1961 surgimento da Aliana para o Progresso

    na Conferncia Pan-Americana de Punta del Este25/08/1961 renncia de JQ e imediata posse do Presidente da Cmara Federal, Ranieri Mazzili02/09/1961 votao pelo Congresso Nacional do Parlamentarismo07/09/1961 posse de Joo Goulart29/11/1961 incio das atividades do IPES Instituto de Pesquisas e Estudios Sociais, ligado CIA04/1961 emprstimos ao Brasil de U$ 624,400 milhes e doao de U$ 152,600 milhes

    1961 decreto de JQ obriga percentuais de transmisso de mpb nas emissoras de rdio

    30/05/1961 DECRETO 50.666 cria o CONTEL1961 L/manifesto do poema prxis

    Mrio Chamie (1962?) /So Paulo1961 C/Barravento/Glauber Rocha1961 C/Os Cafajestes/Ruy Guerra1961 C/Arraial do Cabo/Paulo Csar Sarraceni1961 surgimento da TV Educativa12/1961 a 03/1964 fundao do CPC

    Centro de Cultura Popular da UNE06/07/1962 apresentao da emenda Constituio pelo Senador

    Argemiro de Figueiredo que extingue o Parlamentarismo1962 3 Cadernos do Violo de Rua/Rio de Janeiro08/03/1962 aprovao do regimento interno do CPC08/1962 Lei do Satlite de Comunicaes/Kennedy/USA11/1962 I Conferncia de Lavradores e Trabalhadores

    Agrcolas Brasileiros/Belo Horizonte1962 C/5 vezes favela (filme de episdios financiado pelo CPC/UNE)1962 MPB/ disco O Povo canta

    (financiado pelo CPC/UNE)1962 institucionalizao do Cdigo Brasileiro de Telecomunicaes1962 acordo tcnico grupo Time-Life/TV Globo1962 surgimento da ABERT1962 Jornal de Vanguarda - TV Excelsior /So Paulo06/11/1963 votao e aprovao do retorno ao Presidencialismo

  • 53Revista FAMECOS Porto Alegre n 11 dezembro 1999 semestral

    02/1963 criao do COMSATCommunications Satelitte Corporation

    20/03/1963 regulamentao do Cdigo de Telecomunicaes31/10/1963 regulamentao para servios de radiodifuso

    (atualizado 74)1963 produo de telenovelas /Excelsior e Tupi1963 produo de musicais pela TV Excelsior1963 C/Vidas Secas/Nelson Pereira dos Santos1963 T/Pequenos burgueses/Oficina19/08/1963 Semana Nacional de Poesia de Vanguarda10-11/ 1963 Conferncia Executiva Extraordinria do Rdio/Genebra1964 L/manifesto da poesia semitica13/03/1964 Comcio pelas reformas de base20/03/1964 Marcha das Famlias com Deus e pela liberdade31/03/1964 Golpe de estado20/08/1964 criao do INTELSAT International Communications Satelitte Consortium1964 C/Deus e o diabo na terra do sol/Glauber Rocha1964 Ensaio/A Revoluo Brasileira/Caio Prado Junior05/1964 revista Pif-Paf de Millor Fernandes31/03/1964 T/Os Azeredo mais os Benevides Oduvaldo Vianna Filho1964 T/Vereda da Salvao, de Jorge Andrade/ TBC/So Paulo12/1964 T/ Show Opinio/Rio de Janeiro01/04/1964 invaso e depredao do ISEB e da UNE, que incendiada/Rio de Janeiro1965 difuso mundial das pesquisas com LSD a alegria da descoberta da sexualidade

    08/1965 Revista REALIDADE/So Paulo1965 C/O desafio/Paulo Csar Sarraceni

    C/So Paulo SA/Luiz Srgio Person1965 T/Morte e Vida Severina, Silney Siqueira1965 T/Arena conta Zumbi1965 T/Liberdade, Liberdade1965 T/Arena conta Bahia26/04/1965 inaugurao da TV Globo/Telejornal da Globo1965 Ensaio: Cultura posta em questo/Ferreira Gullar1965 Ensaio: Esttica da fome/ Glauber Rocha1965 proibio total de peas como O Vigrio, O Bero do Heri1965-1968 Revista Civilizao Brasileira (1a. fase)/RJ1965 leiles de artes plsticas/So Paulo1965-1966 AP/exposies Opinio/MAM/Rio de Janeiro1966 influncia do Living Theater1966 influncia de Artaud e Grotowski1966 C/O Desafio/Paulo Csar Sarraceni1966 T/Onde canta o sabi/Gasto Tojeiro/Paulo Affonso Grisolli1966 T /Os Inimigos/Oficina1966 T/Homem do princpio ao fim

    1966 T/Oh que delcia de guerra/ Adhemar Guerra1966 criao do FUNTEV pelo CONTEL1966/1967 CPI sobre TV Globo1966 criao da Orquestra Sinfnica Brasileira/RJ1966 criao Conselho Federal de Cultura1967 fundao de galerias de arte comerciais/SP1967 incio do processo das grandes passeatas1967 L/manifesto do poema processo1967 C/A Margem/Ozualdo Candeias1967 C/Terra em Transe/Glauber Rocha1967 AP/exposio Nova Objetividade Brasileira/MAM/RJ29/09/1967 T/O Rei da Vela/Jos Celso Martinez Correa

    Oficina/So Paulo1967 T/Marat-Sade/Adhemar Guerra1967 T/Dois perdidos numa noite suja/Plnio Marcos1967 T/Navalha na carne1967 T/Homens de papel1967 T/Quando as mquinas param1967 T/dipo Rei/Flvio Rangel/ Paulo Autran1967 T/Rasto atrs/Jorge de Andrade/ Giani Ratto1967 T/O Fardo/Brulio Pedroso1967 MPB/Domingo no Parque/Gilberto Gil1967 MPB/Caetano Veloso/Alegria, Alegria1967 TV/Jovem Guarda1967 TV/O Fino da Bossa1967 TV/festivais de mpb/III Festival TV Record1967 morte de Assis Chateaubriand/Dirios Associados1967 implantao do satlite domstico brasileiro

    de telecomunicaes1968 C/O Bandido da Luz Vermelha/Rogrio Sganzerla1968 C/O Bravo guerreiro/Gustavo Dahl1968/1970 incio de pesados investimentos pelos USA

    em comunicaes na America do Sul04/01/1968 Lei de Censura15/01/1968 criao da AERP/Assessoria Especial de

    Relaes Pblicas da Presidncia da Repblica05/1968 Guerra do Vietn/ataque da URSS Tcheco-eslovquia/

    rebeldia dos jovens em Paris28 /03/1968 morte do estudante Edson Lus no ataque ao Restaurante Calabouo/RJ26/06/1968 passeata dos 100 mil/surgimento de Vladimir Palmeira10/1968 congresso da UNE em Ibina12/1968 negativa do Congresso Nacional em cassar o deputado Mrio Moreira Alves13/12/1968 Ato Institucional n. 51968 o ano mais trgico do teatro brasileiro1968 T/Roda Viva/Oficina/Chico Buarque/ Jos Celso1968 L e M - surgimento do Tropicalismo1968 T - Cemitrio de Automveis - Victor Garcia

  • 54 Revista FAMECOS Porto Alegre n 11 dezembro 1999 semestral

    /Arrabal/ Ruth Escobar/SP1968 T/Eu sou vida, eu no sou morte/redescoberta de

    Qorpo Santo1968 T/Jornada de um imbecil at o entendimento/Plnio

    Marcos1968 T/Feira Paulista de Opinio/s com peas proibidas1968 T/Cordlia Brasil/Antonio Bivar1968 T/Dr. Getlio, sua vida, sua glria/Dias Gomes1968 T/Galileu, Galilei - Oficina/Eugnio Kusnet1969 C/Os Paqueras/Reginaldo Farias1969 C/Macunama/Joaquim Pedro de Andrade1969 T/Hair/musical/So Paulo1969 T/O assalto/Jos Vicente/So Paulo1969 T/Fala baixo seno eu grito/ Leilah Assuno/S. Paulo1969 T/ flor da pele/Consuelo de Castro/So Paulo1969 T/As moas/Isabel Cmara/So Paulo1969 T/O Balco/Victor Garcia/Ruth Escobar/So Paulo1969 Ensaio/Vanguarda e subdesenvolvimento/Ferreira

    Gullar1969 organizao profissional da classe teatral26/06/1969 surgimento do PASQUIM1969 nacionalizao da TV Globo1969 surgimento do movimento yippie mundial1969 chegada do vdeo-tape no Brasil01/09/1969 Jornal Nacional da TV Globo/Rio de Janeiro1970 populao nacional economicamente ativa:

    30 milhes; 500 mil leitores 90% dos recursos de publicidade esto

    dirigidos para a TV1970 surgimento do BONDINHO1970 Titulares da Notcia/TV Bandeirantes/SP1970 incremento qualitativo da telenovela na Globo:

    TV/Irmos Coragem/TV Globo/Rio de Janeiro1970 transmisso internacional da Copa do Mundo1970 utilizao do out odor para publicidade1970 valorizao do filme histrico1970 T/A longa noite de Cristal/Oduvaldo Vianna Filho1970 T/O Interrogatrio/Peter Weiss/ Celso Nunes1970 T/O Arquiteto e o Imperador da Assria /Ivan de

    Albuquerque/ Rubens Corra e Jos Wilker/R. Janeiro1970 T/A resistvel ascenso de Arturo Ui/Brecht/

    despedida do ARENA1970/1 teatro-jornal do Arena/priso de A. Boal1970 boom mercado de artes/So Paulo/R. Janeiro1970 T/Castro Alves pede passagem/

    Gianfrancesco Guarnieri1972 criao do Conselho Nacional de Telecomunicaes1970 T/Corpo a Corpo/Oduvaldo Vianna Filho1972 C/Independncia ou Morte/Osvaldo Massaini

    1972/7 surgimento do OPINIO1972 I Plano Nacional de Cultura1973 surgimento do EX e MAIS UM1973 surgimento do JORNAL DE DEBATES1973 surgimento do POLITIKA1973 surgimento da TV a cores (ou 1971?)10/1973 Revista Argumento/Rio de Janeiro1974 dissoluo do Oficina, aps priso de Jos Celso1974 surgimento da ACET/Rio de Janeiro1974 posse de Orlando Miranda no SNT1974 fundao da CONFENATA1975 surgimento do MOVIMENTO1975 surgimento do BRASIL MULHER1975 surgimento do Ns, Mulheres1975 surgimento do DE FATO/Belo Horizonte1975 surgimento do COOJORNAL/POA1975 III Plano Nacional de Cultura (Ney Braga)1975 I Debate do Teatro Casagrande1976 surgimento do VERSUS1977 telenovela Irmos Coragem/TV Globo/R. Janeiro1977 surgimento do EM TEMPO/Os Cafajestes/Ruy Guerra

    Notas

    1 COUTO E SILVA, Golbery Conjuntura poltica nacional OPoder Executivo & Geopoltica do Brasil, Rio de Janeiro, JosOlympio. 1981.

    2 FURTADO, Celso - Que somos? , So Paulo, Folha deSo Paulo. Ilustrada. 28 de abril de 1984, p. 44. Revisto eretrabalhado em Cultura e desenvolvimento em poca de crise.Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1984, p.17 e ss.

    3 MOTA, Carlos Guilherme - Ideologia da cultura brasileira(1933-1974), So Paulo, tica. 1978, p.27 e ss.

    4 FADUL, Anamaria - Polticas culturais e processo pol-tico brasileiro in MELO, Jos Marques de - Comunicao etransio democrtica, Porto Alegre, Mercado Aberto. 1985,p.180 e ss.

    5 PCAUT, Daniel - Os intelectuais e a poltica no Brasil, SoPaulo, tica. 1990, p. 107 e ss.

    6 ORTIZ, Renato - Cultura brasileira & identidade nacional, SoPaulo, Brasiliense.1985, p. 46-47.

  • 55Revista FAMECOS Porto Alegre n 11 dezembro 1999 semestral

    7 SODR, Nelson Werneck - A verdade sobre o ISEB, Rio deJaneiro, Avenir.1978 e TOLEDO, Caio Navarro de Toledo- ISEB: Fbrica de ideologias, So Paulo, tica. 1977.

    8 OLIVEN, Ruben George - Industrializao, urbanizaoe meios de comunicao de massa in MELO, Jos Mar-ques de - Op. cit., p. 30 e ss.

    9 PCAUT, Daniel - op. cit., p. 105, apud WEFFORT,Francisco - Origens do sindicalismo populista no Brasil: a conjun-tura do aps-guerra, So Paulo, USP. 1972. Tese de Douto-rado, mimeo.

    10 DREIFUSS, Ren Armand 1964: A conquista do Estado,Petrpolis, Vozes. 1981 e CARONE, Edgard - A Repblicaliberal - II - evoluo poltica (1945-1964), So Paulo, DIFEL1985, p.185.

    11 CHAU, Marilena - O Nacional e o popular na cultura brasileira- Seminrios, So Paulo, Brasiliense. 1983, p.96/7 e ss.

    12 Idem, ibidem, ps. 73/4.

    13 Idem, ibidem, p. 86. Ver, tambm, BERLINCK, Manoel T.- O Centro Popular de Cultura da UNE, Campinas, Papirus.1984.

    14 FREITAS Filho, Armando; HOLLANDA, Helosa Buar-que de; et GONALVES, Marcos Augusto - Anos 70 -Literatura, Rio de Janeiro, Europa.1979/1980.

    15 BOSI, Alfredo et allii - Conjuntura Nacional - III Ciclo dedebates do Teatro Casa Grande, Petrpolis, Vozes. 1979, p.211e ss.

    16 SODR, Muniz - O mercado de bens culturais inMICELI, Srgio (Org.) - Estado e cultura no Brasil, So Paulo,DIFEL.1984, p. 138 e ss.

    17 RDIGER, Francisco Ricardo - Publicidade no Brasilps-64: funo econmica e projeto hegemnico inMELO, Jos Marques - op. cit. , p. 36 e ss.

    18 CAPARELLI, Srgio - Comunicao de massa sem massa, SoPaulo, Cortez.1980 e CAPARELLI, Srgio - Televiso e capi-talismo no Brasil, Porto Alegre, L&PM. 1982.

    19 15 ANOS DE HISTRIA, Rio de Janeiro, Rede Globo deTeleviso.1984, p. 347.

    20 SCHILLER, Herbert - O imprio norte-americano das comunica-es, Petrpolis, Vozes. 1976, p.145 e ss.

    21 A primeira transmisso a cores ocorreu oficialmente noBrasil no dia 10 de fevereiro de 1972, com a inauguraoda Festa da Uva, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul,pela Tv Globo.

    22 KEHL, Maria Rita - Anos 70 - Televiso, Rio de Janeiro,Europa.1979/1980.

    23 MESQUITA, Humberto Tupi: A greve da fome, So Paulo,Cortez.1982, em especial p.185 e ss.

    24 ORTIZ, Renato - op. cit., p. 83.

    25 CANDIDO, Antonio - Literatura e sociedade, So Paulo. Cia.Editora Nacional. 1980.

    26 Para uma boa anlise desta produo, ver SANTANNA,Affonso Romano de - Msica popular e moderna poesia brasilei-ra, Petrpolis, Vozes.1980.

    27 HOHLFELDT, Antonio - Relaes entre jornalismo e li-teratura na dcada dos 70 in KOHUT, Karl (Org.) -Palavra e poder - Os intelectuais na sociedade brasileira, Frankfurtam Main, Vervuert Verlag. 1991, p. 125 e ss.

    28 SUSSEKIND, Flora - Tal Brasil, qual romance?, Rio de Janei-ro, Achiam. 1984.

    29 CANDIDO,Antonio - Literatura e subdesenvolvimento in Re-vista Argumento, Rio de Janeiro, Paz e Terra, Ano 1, N. 1, p.7 e ss.

    30 KEHL, Maria Rita - Um s povo, uma s cabea, umas nao in CARVALHO, Elisabeth; KEHL, Maria Rita;et RIBEIRO, Santuza Naves (Org.) - Anos 70 - Televiso,Rio de Janeiro, Europa.1979/1980, ps. 20/1.

    31 FRANCIS, Paulo - Um balaio de nacionalismo eexperimentalismo, So Paulo, Revista Viso. Fevereiro de1970. Citado por HOLLANDA, Helosa Buarque de etGONALVES, Marcos Augusto - Poltica e literatura: afico da realidade brasileira in FREITAS FILHO, Ar-mando et allii - Anos 70 - Literatura, op. cit., p.7.

    32 MICHALSKI, Yan - O teatro sob presso, Rio de Janeiro, Jor-ge Zahar.1985, p. 33.

  • 56 Revista FAMECOS Porto Alegre n 11 dezembro 1999 semestral

    33 ORTIZ, Renato, op. cit., p. 113.

    34 DURAND, Jos Carlos - Expanso do mercado de arteem So Paulo in MICELI, Srgio - op. cit., p. 173 e ss.

    35 Idem, ibidem, p. 202 e ss.

    36 PLAZA, Julio e CAMPOS, Augusto - Caixa preta, So Pau-lo, Inveno. 1975.

    37 AYALA, Walmir - Arte gacha 74, catlogo da exposiode igual ttulo, Rio de Janeiro. MEC.1974. Ver tambm,HOHLFELDT, Antonio - Figuras e abstrao nas artesplsticas gachas in Mudanas, quatro ensaios de sociologia daarte, Caixas do Sul/Porto Alegre, UCS/EST. 1977, p. 53 ess. Deve-se consultar, igualmente, PONTUAL, Roberto -50 anos de arte brasileira, texto introdutrio ao catlo-go da exposio Arte/ Brasil/ hoje - 50 anos depois, So Paulo,Galeria Collectio 1973.

    38 ZILIO, Carlos - O nacional e o popular na cultura brasileira -Artes plsticas, So Paulo, Brasiliense. 1982, p. 26 e ss.

    39 HOLLANDA, Helosa Buarque de et GONALVES, Mar-cos A. - Cultura e participao nos anos 60, So Paulo, Brasili-ense. 1982, p. 89.

    40 ZILIO, Carlos - op. cit., p. 33.

    41 ZILIO, Carlos - idem, ibidem, p. 53.

    42 CHAU, Marilena - O Nacional e o popular na cultura brasileira- Seminrios, op. cit., p. 126 e ss., p. 126.

    43 PCAUT, Daniel - op. cit.; p. 132.

    44 Caparelli, Srgio - Comunicao de massa sem massa, op. cit. eHOHLFELDT, Antonio - op. cit. in nota 22.

    45 SILVA, Carlos Eduardo Lins da O adiantado da hora, SoPaulo, Summus. 1991. Ver, tambm, ABREU, Alzira Al-ves de (Org.) Imprensa em transio, Rio de Janeiro, Funda-o Getlio Vargas.1996.

    46 MICELI, Srgio - op. cit., p. 234 e ss.

    47 ORTIZ, Renato - op. cit., p. 83.

    48 Idem, ibidem, p. 84.

    49 Idem, ibidem, p. 115.

    50 BOSI, Alfredo - Cultura brasileira, So Paulo, tica. 1987,p.9.

    51 MICELI, Srgio - A noite da madrinha, So Paulo, Perspecti-va. 1972, p. 218.

    52 OLIVEN, Ruben George - op. cit., p. 82.

    53 FREITAS FILHO, Armando et allii - op. cit., p. 21.

    54 CARVALHO, Elisabeth et allii - op. cit. p. 12.

    55 JAPIASSU, Celso - I Ciclo de debates do teatro Casa Grande,Rio de Janeiro, Inbia. 1976, p. 209, II.

    56 SODR, Muniz - I Ciclo de debates do teatro Casa Grande, op.cit., ps. 122, I e II, e p. 123, I.

    57 CABRAL, Reinaldo - Literatura e poder ps-64, Rio de Janei-ro, Opo. 1977, p.17.

    58 CAPARELLI, Srgio - Comunicao de massa sem massa, op.cit., p. 10.

    59 CAPARELLI, Srgio - Televiso e capitalismo no Brasil, op.cit., p.152.

    60 CARDOSO, Ruth - Sociedade civil e meios de comunicao noBrasil in MELO, Jos Marques (Org.)- op. cit., p. 118 e ss.

    61 MACIEL, Lus Carlos - Anos 60, Porto Alegre, L & PM.1987, p. 117.