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VIDA NO PÂNTANO Caravana do Oeste desbrava o Pantanal CLÃ DOS RAUBER Tal pai, tal filho em M. C. Rondon VOCAÇÃO ECONÔMICA A tilápia subiu até a rodovia 467 A FORÇA DA Cascavel, 28 de março de 2018 - Ano XXII - Nº 2140 - R$ 12,00 Capilarizado, numeroso e atuante, movimento carismático lota igrejas e cadencia o catolicismo em Cascavel RENOVAÇÃO

A FORÇA DA RENOVAÇÃO - pitoco.com.brpitoco.com.br/arquivos/edicoes/20180329_113312_96.pdf · hierarquia da igreja. Em Cascavel, o bispo é chamado de “pai”. Vocação para

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Vida no PÂnTanoCaravana do Oeste desbrava o Pantanal

clà doS RaUBERTal pai, tal filhoem M. C. Rondon

VocaçÃo EconômicaA tilápia subiuaté a rodovia 467

A FORÇA DA

Cascavel, 28 de março de 2018 - Ano XXII - Nº 2140 - R$ 12,00

Capilarizado, numeroso e atuante, movimentocarismático lota igrejas e cadencia o catolicismoem Cascavel

RENOVAÇÃO

EspiritualidadE

Hiperativa e capilarizada, a Renovação Carismática Católica reúne e influencia multidões em Cascavel

A frase é bem conhecida. E poderia ser adaptada da seguinte forma em Cascavel:

“onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, um será carismático”. A Renovação Carismática Católica (RCC) é o mais numeroso e influente movimento que orbita obediente no entorno da autoridade eclesiástica de dom Mauro Aparecido dos Santos, arcebispo de Cascavel.

Nos dias 10 e 11 de março, o movimento deu

CARiSMA DA RENOVAÇÃO

Gita

na d

e li

ma

04 | [email protected]

obtido dentro da RCC com muita doutrinação. É preciso esquadrinhar 12 apostilas em 18 me-ses papirando no “mini-curso básico”.

A formação destas lideranças intermediá-rias é fundamental no crescimento vegetativo da RCC, movimento que nasceu nos Estados Unidos e rapidamente se encorpou em mais de 100 milhões de fieis, segundo a Wikipédia.

No Brasil, os carismáticos são particular-mente numerosos e levam muita gente para dentro das missas. De longe, é o movimento religioso mais expressivo, ramificado e capila-rizado de Cascavel.

“Rebanhão” nos dias 10 e 11 de março: retiro dos carismáticos no bairro Aclimação

“Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou

no meio deles” (Mt 18,20).

mais uma demonstração de força. Foi na Capela Nossa Senhora das Graças, no bairro Aclima-ção, em um retiro denominado “Rebanhão”.

Para dar a dimensão do encontro, basta dizer que a liderança nacional da RCC estava ali representada, bem como a presidente do movimento no Paraná e o “cacique” do catoli-cismo no Oeste, dom Mauro.

Dizer que mil pessoas participaram ativa-mente do “Rebanhão” pode ser bem significa-tivo. Mas não é na quantidade que a RCC mos-trava seus músculos. É na qualidade. Os quase mil convivas são servos, um degrau hierárquico

29 de março de 2018 | 05

Reação conservadoracontra os “vermelhos”?

Quando a Renovação Carismática começou a ganhar corpo no Brasil, nos anos 1980/90, um outro setor da Igreja Católica fazia um trabalho forte no rebanho católico operário: as Comuni-dades Eclesiais de Base (CEBs)

Dali surgia um embasamento teórico que ar-repiou os conservadores do Vaticano: a Teologia da Libertação, a versão terceiro-mundista para a Teologia da Prosperidade, do bispo Macedo e seus asseclas. As CEBs atuaram muito forte em Cascavel. Naquele meio dos anos 80, fizeram nascer aqui, no Seminário São José, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Sim, o MST foi fundado em Cascavel, sob a batina dos padres católicos ditos “progressistas”.

Então a RCC foi eleita pelo Vaticano para – abraçada ao Espírito Santo – enfrentar os “verme-lhos” da igreja? Era uma reação conservadora aos padres barbudos? Marcinho, o articulado coorde-nador carismático de Cascavel, acredita que não.

“Não tem fundamento. A RCC remete para as cartas de Helena Guerra para o Papa Leão em 1883, clamando por uma linguagem mais simples para o povo entender o papel central do Espírito Santo no catolicismo. Então, até pelas datas, antes inclusive da guerra fria, percebe-se que não há conexão entre os fatos”, diz o líder.

Gita

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Marcio Ribeiro e o arcebispodom Mauro no “Rebanhão”

Os grupos de oração estão em todos os bairros, em todas as capelas. Onde houver três católicos rezando, um será carismático.

A RCC Cascavel, com abrangência na Ar-quidiocese de Cascavel, abrange 17 municípios. São 110 grupos de oração para jovens e adultos.

Os grupos são células de dimensões varia-das, de apenas algumas dezenas até mil inte-grantes cada. Marcio Ribeiro, o Marcinho da RCC, menino articulado, profundo conhecedor do seu papel de coordenador do movimento na arquidiocese, estima que – um pelo outro – cada grupo tenha 100 integrantes, em média.

Assim sendo, há mais de 10 mil carismá-ticos sob a égide da RCC Cascavel. O número bate com a quantidade de seguidores na pá-gina que o movimento mantém no Facebook: 10.187, em consulta realizada dia 20 de março.

Se os números falam alto, gritam até, dada a animação dos atos organizados pelo movi-mento, a força mesmo está no engajamento. Quando se fala em 10 mil carismáticos, é seguro dizer que esta multidão estará toda semana envolvida em ações da RCC.

É a face mais engajada do catolicismo, religião que precisou conviver nas respostas para o censor do IBGE com a idiossincrática máxima do “católico não praticante”.

Vanderson Faria

EspiritualidadE

06 | [email protected]

Postura em relaçãoa gays e separados

O rótulo conservador, no sentido de atrasado, também é refutado pela RCC. Mas no sentido de tradicional, é bem aceito. Essas características, porém, não confrontam com as supostas dicotomias doutrinárias de papas diferentes, o tradicional Bento XVi ou o acolhedor Francisco.

Se mudou o Papa e a linha de pensamen-to, não é problema da RCC. O movimento é obediente ao Vaticano e respeitoso com a hierarquia da igreja. Em Cascavel, o bispo é chamado de “pai”.

Vocação para a militância evangelizadora

Outra característica peculiar dos carismáti-cos, e que talvez explique sua rápida expansão, é o caráter “militante”. Mais correto seria dizer missionário ou evangelizador, fatores que apro-ximam o movimento do “modus operandi” de algumas denominações evangélicas.

Esta proximidade é admitida pela lide-rança. “Trata-se de uma característica do cristianismo, neste ponto somos parecidos mesmo”, diz Marcinho. Para ele, ninguém irá se surpreender se ver um carismático pregando em uma penitenciária ou em um “inferninho” da periferia.

A propósito, segundo a Wikipédia, a enci-clopédia da internet, a CNBB já andou “puxan-do a orelha” da cúpula da RCC por citar uma divergência, digamos, “demoníaca”.

“Procure-se, ainda, formar adequadamen-te as lideranças e os membros da RCC para superar uma preocupação exagerada com o demônio, que cria ou reforça uma mentalida-de fetichista, infelizmente presente em muitos ambientes”, escreveu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Sobre o “coisa ruim”, certamente a RCC acatou e alinhou-se, já que preza pela “unidade e obediência aos bispos locais”, nas palavras de Marcinho.

Já o primeiro ponto, aquele de disputar ovelhas no rebanho dos evangélicos, seja no barzinho do Interlagos, seja na cela fria da Rua Bandeira, a RCC mostra não temer ingressar no terreno das Testemunhas de Jeová, para os quais foi dedicada uma música sertaneja de Marcos & Belutti: “E eu prefiro estar aqui, te perturbando, domingo de manhã/ é que eu prefiro ouvir sua voz de sono, domingo de manhã...”

Urnas abençoadas: a RCC e a política

Numerosa, influente, capilarizada. A RCC sabe que tais qualidades podem lhe expor a projetos políticos pessoais e oportunistas. Desta forma, preferiu “regu-lamentar” sua atuação nessa área, à luz de preceitos bíblicos.

Existe um projeto de acompanhamento de vocacionados para a política, que esti-mula a atuação dos leigos, entendida aqui como a busca do bem comum.

Em um dos muitos compartimentos da RCC há o Serviço de Fé e Política. Na legislatura anterior da Câmara de Cascavel, o mecanismo elegeu Fernando Winter. Ele buscou a reeleição, mas as urnas lhe ne-garam um segundo mandato. Que pecado!

Não estava fácil mesmo. Havia seis candidatos abençoados pelos carismáticos e outros dois desgarrados do rebanho, cujos nomes não foram ungidos no projeto. De toda forma, oito na disputa. Apesar da pulverização, um servo restou eleito, Olavo Santos, com 1.082 sufrágios.

A RCC embala as disputas eleitorais em

um vistoso manto sagrado. “Somos apar-

tidários, a Renovação não tem partido,

mas entendemos que a política interfere

diretamente na realidade humana e tem o

condão de promover o bem comum. Pode

ser uma das formas mais elevadas da ca-

ridade. Amadurecemos na vida espiritual

intensa, mas também na vida concreta: fé

e obras”, resume Marcinho.

Assim sendo, o recorte paranaense da RCC elegeu em 2014 o primeiro deputado federal carismático: Diego Garcia. E um estadual, Evandro Araújo. Ambos rece-berão o apoio do “rebanhão” de Cascavel este ano também, na busca da reeleição.Então pode-se esperar uma votação es-

petacular daqueles que antigamente ca-rimbaríamos como “paraquedistas”? Não necessariamente. A RCC é tão heterogênea quanto a própria sociedade.

Se os 72% que se declaram católicos em Cascavel, segundo o Censo de 2010 (hoje devem ser menos), fossem um uníssono, talvez não teríamos um evangélico na chefia do Executivo. E na Câmara de Cascavel, os evangélicos enfileiram três pastores influentes: Celso Dal Molin, Romulo Quintino e Misael Pereira Junior.

A RCC tem seus pudores políticos. Não é prática do movimento, nas reuniões abertas e numerosas, indicar candidatos.

Perto da forma explícita e desenvolta com que os evangélicos atuam no mundo político-partidário, dá para chamar o Ser-viço de Fé e Política da RCC de “serviço secreto”.

Evandro e Diego Garcia poderão pedir votos aqui, sim. Mas em reuniões fechadas, específicas para debater eleição.

Em tempo: Evidência de que a Re-novação Carismática não é um monobloco coeso, é que Olavo Santos, o vereador do movimento, irá disputar a eleição para a Câmara dos Deputados, enfrentando o indicado oficial da RCC no Paraná, Diego Garcia: sal e luz, óleo e água...

Gita

na d

e li

maAs posturas mais abertas de Francisco com

os gays e com os católicos que não esperaram a morte para separar as escovas de dentes, também não constrangem a Renovação Ca-rismática Católica.

“A sociedade é cada vez mais plural. Antes os casamentos eram para a vida toda. Hoje não é mais assim em todos os casos. Entre os carismáticos há membros em segunda união, até terceira. Temos servos de segunda união. Nós os acolhemos. Já pregamos em um grupo com presença de homossexuais. Acolhemos. Onde está um ser humano, está uma pessoa gerada por Deus e amada por Deus”, diz Marcinho.

Somos apartidários, a Renovação não tem

partido, mas entendemos que a política interfere

diretamente na realidade humana e tem o condão

de promover o bem comum. Pode ser uma das formas mais elevadas da

caridade.”

Práticas da RCC lembram o “modus operandi” dos evangélicos

29 de março de 2018 | 07

cursinho

O final do ensino médio, o período pré-vesti-bular e os exames do Enem estabelecem um

momento crucial na vida estudantil. A pressão por desempenho e a intenção de ingressar em boas universidades, somadas à fragilidade da escola pública, exigem cursinhos preparatórios. Aqui o sistema educacional brasileiro é coloca-do diante de sua mais explícita contradição: a universidade dita gratuita (paga pela sociedade) acaba recebendo um grande contingente de es-tudantes que poderiam pagar o ensino superior.

Os alunos do ensino médio público, calcanhar de Aquiles do sistema, que não dispõem do capital financeiro necessário para pagar o cursinho, travam uma disputa desigual com a classe média alta e me-lhor escolarizada pelas cadeiras do ensino superior. Em Cascavel, esse dilema vem sendo suplanta-do por um grupo de professores que se uniu no Instituto Federal do Paraná (IFPR) para propor-cionar aulas gratuitas a alunos de baixa renda.

A ideia surgiu em meados de 2016. O cur-sinho não é apenas direcionado para alunos do IFPR, mas para toda a comunidade. O público alvo são alunos de escolas públicas que estão concluindo o ensino médio, ou que já concluíram.

As vagas ofertadas, em torno de 110 por ano, são ministradas tanto no IFPR, para facilitar a locomoção de alunos da região Norte da cidade, quanto em salas cedidas pela Universidade Para-naense (Unipar) onde se concentram alunos de outras localidades.

Para entrar no cursinho os alunos passam por um processo seletivo, e então podem começar as aulas, recebendo apoio de professores experientes, a maio-ria com mestrado e doutorado, e pesquisadores na área de educação, que compõem o quadro do IFPR.

De acordo com o professor Marcelo Hansen, os cursos têm proporcionado não somente aos alunos, mas também a toda comunidade a capa-citação inicial e continuada que tantos necessitam para uma melhor inserção no mercado de trabalho, bem como uma melhora em sua qualidade de vida

“Levando-se em consideração que atualmente a cidade de Cascavel é um pólo universitário, a inserção de nossos alunos nas faculdades e universidades públicas e privadas tem sido uma probabilidade cada vez mais presente, por meio da nota do Exame Nacional do Ensino médio (Enem). Acreditamos nas inúmeras possibilidades de ganho para nossos alunos e a comunidade em geral com a oferta de um curso preparatório.” explica o professor.

Plano B para estudantesEm Cascavel, professores do Instituto Federal do Paraná ofertam

gratuitamente cursinho preparatório para Enem e vestibular

Elas encararame chegaram lál As alunas Juliana Fonseca e

Jordana Roza passaram pelo cursinho da região Norte e ingressaram este ano em concorridas universidades públicas. Julia-na passou via Enem no curso de Ciências Biológicas na Unioeste e Jordana no ves-tibular de Medicina Veterinária da Uni-versidade Estadual de Londrina (UEL).

l As alunas relatam que o cursinho desenvolvido no IFPR foi determinante. “O curso é muito bom, com professores excelentes, com todas as matérias que são cobradas no Enem, as apostilas também são disponibilizadas. O cursinho sem duvidas me ajudou a cursar a Unioeste, pois a gratuidade é fundamental para eu prosseguir os estudos” conta Juliana.

l “Quando foram na minha escola divulgar o cursinho, logo vi que era uma ótima oportunidade, sendo rea-lizado pelo IFPR que já tem um nome consolidado. Os professores são muito eficientes, tiram todas as dúvidas. O curso preparatório foi essencial para passar no concorrido vestibular de Me-

dicina Veterinária na UEL, que era meu sonho desde criança” ressalta Jordana. As informações sobre o cursinho prepa-ratório estão disponibilizadas na página do IFPR: www.cascavel.ifpr.edu.br e no Facebook do IFPR, Campus Cascavel.

Mariana Rezende

Juliana: “O cursinho sem dúvida me ajudou a cursar a Unioeste”

Jordana passou no vestibular de Medicina Veterinária da UEL

08 | [email protected]

EntrEVista / ilmo WErlE WEltEr

10 | [email protected]

Se toda crise vislumbra uma oportunidade, a Primato está

aí para confirmar a regra. Quando a Copagro foi à bancarrota nos anos 1990, deixando o rico agronegócio toledense órfão, surgiu a Coamo para assumir algumas áreas da “falecida”.

Porém, segmento expressivo do PIB agroepecuário de Toledo, o pes-soal da proteína animal e da bacia leiteira, ficou à margem do resgate da cooperativa de Umuarama, que foca na comercialização de grãos.

Era a janela aberta para o coope-rativismo se reinventar. Surgia, no inverno de 1997, a Cooperlac, depois redesenhada para Primato. Impul-sionada por um crescimento chinês, a caçula das cooperativas do Oeste saltou, em apenas duas décadas, de 29 associados para quase 7 mil.

E o faturamento, acima de R$ 500 milhões, caminha a passos largos para, já no início da próxima década, beliscar o primeiro bilhão, incluindo Toledo no seleto time das cooperativas bilionárias.

O Pitoco entrevistou o gaúcho nascido na região de Santa Rosa, ilmo Werle Welter, presidente da Primato. Radicado ainda menino em Santa Helena, o primeiro contato dele com o cooperativismo se deu já no primeiro emprego, nos super-mercados da Lar em Medianeira e Missal.

Graduado na área de contabi-lidade, residindo em Toledo, ele preside a nova potência cooperativa do Oeste. Acompanhe a entrevista:

A falência da Copagro nos anos 90 desencadeou o nascedouro da Primato?Em um primeiro momento, foi necessário o sistema cooperativo se restabelecer em Toledo, a partir da falência da Copagro. Havia uma oportunidade, pois quando a Coamo assumiu o espólio da Copagro, foca-da no setor de grãos, ficaram fora os produtores de leite e de suínos, onde Toledo tinha uma representação muito forte. Então surgiu em 1997

Caçula mira o bilhãoImpulsionada por um crescimento chinês, a Primato

devolve a Toledo papel de protagonismo no setor cooperativista

Já chegamos a 6,6 mil associados. Então, nossa meta de chegar a 7 mil

provavelmente será atingida em 2018, três anos antes do

estipulado.”

28 de março de 2018 | 11

Atingiremos o faturamento de R$ 1 bilhão em 2021.

Tivemos nos últimos anos um crescimento médio

acima de 23%.”

a oportunidade de se criar uma cooperativa para atender em primeiro momento aqueles produtores que estavam desamparados e trabalhavam com a parte da pecuária, suínos e leite. Essa demanda foi a porta de entrada da Primato.

Grãos e rações eram uma questão de tempo...Sim, com o passar do tempo desenvolvemos um trabalho para preparar nossa entrada no setor de grãos. Em 2006, em conjunto com o conse-lho, definimo-nos inicialmente pela entrada na área de produção de rações. Foi quando entrou em operação a da unidade fabril de rações. Naquele momento já tínhamos projetado e desenhado a unidade de grãos. Porém, com os pés sempre firmes no chão, trabalhamos primeiramente com a abertura da fábrica de rações, com capacidade de produção de 16 mil toneladas. Essa unidade começou a operar em 2008. Em 2015, começamos o projeto grãos. Abrimos então uma nova fase, que nos desvin-cula totalmente, operando independente da cooperativa de Campo Mourão, que, diga-se de passagem, cumpriu um papel importante e é uma parceira nossa.

Foi preciso restabelecer a confiança do agricultor toledense no cooperativismo após a quebra da Copagro?Sim, houve pessoas naquele momento que ti-

veram prejuízos e precisaram arcar com aquilo. Foram poucos, mas houve casos. Os credores que tiveram direito a receber foram à Justiça. Mas tivemos a felicidade da interferência da Coamo, que assumiu as unidades e conseguiu cobrir os custos de atraso. Ou seja, o próprio cooperativismo deu solução para o problema, mostrando dessa maneira a confiabilidade do sistema.

A Copacol ou Coopavel, que estavam tão próximas da oportunidade, não po-deriam ter feito as vezes da Primato e ocupado o espaço em Toledo?

A história que ouvi falar, muito embora dela eu

não tenha participado, é que a oportunidade

foi dada a todas elas. Porém, existia naquele

momento, no inicio dos anos 1990, uma crise

financeira muito acentuada em todo o País. Por essa razão, acredito que ninguém quis dar o passo além. A Coamo teve essa oportunida-de, estava melhor calçada e aproveitou, mas a oportunidade se apresentou para todas.

Como distinguir a Primato em meio às gigantes bilionárias da região?De fato somos a menor aqui e estamos no meio das gigantes. Temos a necessidade de ir além. E esse algo a mais nos mostra lá no horizonte algumas oportunidades. Assim, implantamos o supermercado. Entramos também com nossas marcas próprias de produtos. É uma satisfação enorme ver o crescimento espetacular em termos de inclusão e de oportunidade para os cooperados, já que a grande maioria desses produtos que registramos com nossa marca são oriundos dos próprios produtores nossos, a exemplo da carne e ovos.

E como o consumidor final reagiu às marcas próprias? Elas são rentáveis?São muito rentáveis. Sentimos nosso forte crescimento no varejo. Nós começamos a comercializar a carne produzida pelos coope-rados nos supermercados em 24 de fevereiro de 2010. O faturamento no primeiro momento era algo em torno de R$ 200 mil. Hoje temos um faturamento de R$ 14 milhões mensais.

Há projeto para uma unidade do super-mercado Primato em Cascavel?Já tivemos oportunidade de estabelecer um su-permercado em Cascavel. Naquele momento o conselho considerou que este passo não estava maduro ainda e não deu respaldo suficiente para viabilizá-lo. Mas é uma questão de tempo,

12 | [email protected]

EntrEVista / ilmo WErlE WEltEr

a gente trabalha com esta perspectiva futura. Sabemos que se trata de uma praça disputada. Mas há espaço para todos. Cada um deve fazer a sua gestão, aquele que mostrar capacidade se estabelece, o resto é trabalho sério e respeito ao consumidor.

A cultura associativista do oestino está na essência desse crescimento rápido da Primato?Sem dúvida. Nosso associado tem essa cultura, e o Oeste do Paraná como um todo produziu grandes cooperativas, fruto da força associativa de nosso povo e da confiança que o sistema co-operativo conquistou aqui. Essa força permitiu a industrialização das cooperativas, provendo--as da auto-suficiência. Quando avançamos na industrialização, abrimos oportunidades de novos negócios na propriedade. Aí o produtor, mesmo o pequeno, tem sua oportunidade para melhorar a renda e se fixar. Esse é um traço muito forte na nossa região.

Qual a próxima inovação da Primato?Dentro de um planejamento elaborado enxer-gamos oportunidades na área de peixe. Estu-damos as experiências positivas da Copacol, da C.Vale, temos também empresas muito fortes no município de Toledo que são sólidas em relação a esse negócio. E a Primato tem uma demanda muito grande. Muitos associados já têm esse serviço na propriedade. Então esta-

mos trabalhando em cima de um planejamento para no futuro industrializarmos essa matéria prima.

O modelo de gestão da caçula é seme-lhante ao das bilionárias? Muito parecida com as demais. O que temos diferente, logo abaixo da diretoria executiva, é

a figura de um gestor, um diretor executivo que faz parte da direção. Trata-se de um profissio-nal com formação e conhecimento do mercado. Construímos uma gestão compartilhada entre a diretoria e o executivo. Estamos sempre muito próximos; então, nossa decisão é mais rápida. Nutrimos um sentimento de realização que nos fortalece, porque realmente aquilo que planejamos nós cumprimos.

A evolução do quadro associativo sur-preendeu?De alguma forma, sim. Tínhamos uma meta de atingir 7 mil associados em 2021, mas surgiu a oportunidade de entrarmos na região de Verê, no Sudoeste, quando compramos uma unidade fabril de rações, e tivemos uma demanda de crescimento muito grande. Hoje já chegamos a 6,6 mil associados, então nossa meta pro-vavelmente será atingida em 2018, três anos antes do estipulado.

Quando a Primato ingressa no “clube do bilhão”?O planejamento nos mostra que isso acontecerá no final de 2021. Naquele ano atingiremos fa-turamento de R$ 1 bilhão. Tivemos nos últimos anos um crescimento médio acima de 23%. Se em 2017 tivemos um crescimento de 6,62%, no ano anterior crescemos 49%. Ou seja, na média dá acima de 25%. Temos dentro do planeja-mento a ousada meta de crescer 18% em 2018.

“Já tivemos oportunidade de estabelecer supermercado em Cascavel. É questão de tempo,

a gente trabalha com esta perspectiva.”

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28 de março de 2018 | 13

JAIROEDUARDO

Jornalista, editor do Pitoco e cronista nas Rádios Colméia e T. Interaja com o editor: [email protected]. WhatsApp: 991131313

O Pantanal precisa ser olhado de dentro para fora se quisermos decifrá-lo. Eu, particularmente, já

o conhecia por cima, dos 10 mil pés regulamentares de uma aeronave.

Do alto, o que se enxerga basicamente é o sol refle-tindo na planície encharcada. Palmilhar, esquadrinhar o local, perceber no limite do olhar humano naquela imensidão, é outro sentimento.

De um ângulo, percebendo a vastidão das áreas alagadas, podemos ter a falsa percepção que o local está auto-protegido pela inacessibilidade.

Trata-se de uma visão ingênua. Na verdade, todo o largo entorno, incluindo a bacia Amazônica, influencia diretamente o bioma pantaneiro.

E o seu povo, os nativos? Os ribeirinhos – em grande medida – vivem como os primeiros sapiens: são caça-dores-coletores. Enfrentam a possibilidade real de se deparar com onças pintadas, cobras gigantes, piranhas famintas, para obter iscas vivas e vendê-las aos turistas.

Não precisa procurar aldeias isoladas na Amazônia

Vida no pântano

para saber como vivíamos 15 mil anos atrás. Basta olhar os ribeirinhos do Rio Paraguai, no Pantanal, como “seo” Severo, nome apropriado, relatado na reportagem desta edição.

Ou como a senhora na foto acima. Perdão, não ano-tei o nome dela. Ela enfrenta a escuridão do pântano, muitas vezes sozinha, para obter à unha a tal tuvira, uma minhoca grande, que muitos de nós teríamos asco de tocar com as mãos desnudas, como ela faz. É a vida como ela é, da pantaneira sem nome, no pântano Brasil.

Ribeirinhos vivem como os sapiens caçadores-coletores de 15 mil anos atrás

Particularmente gosto de uma célebre frase do ex--presidente Getúlio Vargas: “Eu não sou um

oportunista. Sou um homem das oportunidades. Se um cavalo passar encilhado em minha frente, eu monto”.

Falar de oportunismo nos dias de hoje é algo delica-do, visto que esse conceito tem se propagado de forma errada nos meios políticos nacionais. O oportunismo deve andar de mãos dadas com a ética, senão ele perde sua principal virtude – estar atento a oportunidades que surgem nos momentos propícios a gerar bons negócios.

A vida do empreendedor, segundo John Maxwell, é semelhante a um labirinto, onde você vai testando todos os caminhos, alguns bons e outros ruins, poden-do até chegar num ponto sem saída. Porem as várias tentativas, em algum momento podem te trazer vitórias. A grande questão é estar sempre estudando todo o ambiente onde a empresa está inserida.

O conceito de oportunidade não está ligado apenas àquela venda feita na hora certa. Está muito mais liga-da a estudo e planejamento, pois aquele que está com o seu radar em plena operação, está mais propício a absorver informações que estão circulando livres por aí. Oportunidades dificilmente surgem por sorte. Elas estão ligadas a um processo de

captação bem estruturado, até

porque se ela surgir apenas pelo

acaso, você pode não estar prepa-

rado para abraçá-la.

O inventor da lâmpada elé-

trica, Thomas Edison, disse:

“A oportunidade é perdida pela

maioria das pessoas, porque ela

está vestida de macacão e se pa-

rece com trabalho”. Tudo aquilo

que vem para trazer crescimento

à empresa, normalmente vai estar

Oportunidades dificilmente surgem por sorte. Elas estão

ligadas a um processo de captação bem

estruturado, até porque se ela surgir apenas pelo

acaso, você pode não estar preparado para

abraçá-la.”

MáRcIO DAnIEl FOllE

Natural de Campo Erê (SC) e cascavelense há 18 anos. Graduado nas áreas de administração, marketing e vendas.Coordenador comercial da Funcional Consultoria e coordenador de Planejamento, Desenvolvimento e Inovação da Funcional Contabilidade.

A essência do oportunismoA oportunidade é perdida pela maioria das pessoas,

porque ela está vestida de macacão e se parece com trabalho

EmprEEndEdorismo

14 | [email protected]

acompanhado de trabalho duro, vai te fazer pensar mais, debruçar mais horas sobre um problema e até rever alguns conceitos que eram praticados há tempos.

Outro ponto importante é disseminar essa cultura dentro da equipe. Quando você desperta sozinho para novos ares, o risco de obter rejeição é grande. Para a grande maioria é mais fácil esperar a atitude do outro. É necessário que todos estejam engajados e as visões alinhadas, para criar o clima necessário e cultivar esse hábito. Pessoas propagando ideias tornam-se catalisa-dores da mudança.

Buscar uma oportunidade é um hábito diário. No livro “Pense e Fique Rico”, de Napoleon Hill, ele alerta: “Ficar à espera do ‘momento certo’ para come-çar, até que esperar se torna um hábito permanente”. Recentemente passamos por uma crise econômica, que para alguns foi o ponto final dos seus negócios e para outros foi a oportunidade de rever as estratégias da organização e até mesmo de crescer.

Para os que cresceram, tenho plena convicção de que o cenário estava desenhado um tempo antes, e bastou apenas colocar na prática. Todas as informações que você precisa para se tornar um oportunista (no

bom sentido do termo) estão livres por aí. Vá atrás!

16 | [email protected]

pEscaria

Comitiva de Cascavel eregião “internada” na maiorplanície alagada do planeta

Final da tarde de uma sexta-feira de março.

Ansioso grupo de pouco mais de 20 pescadores adentra o ônibus para percorrer os 1.041 qui-lômetros que separaram Cascavel de Cáceres (MT), cidade-portal do Pantanal.

Os homens estão com pressa. Afinal, se trata basicamente de uma pescaria de fim de semana, e o destino está distante. Entre os pescadores, empresários, profissionais de comunicação, prefeitos da região. A reportagem do Pitoco estava lá para relatar os fatos que seguem.

As rodovias 163 e 262, sentido norte, vão devorar uma noite inteira de viagem. A dezenas de quilômetros depois de Guaíra já se percebe nas margens a mudança do bioma: vastas áreas de “banhado”, como se fala por aqui, e inúmeras placas alertando os condutores para os cuidados com os animais. Como placa de sinalização não comove a todos, há muitos radares na rodovia.

Início de sábado, breve parada para o café da manhã no “Pioneiros”, espartano e isolado restaurante no município de Miranda. Ali, o biotipo das pessoas denuncia que o Sul bran-co de olhos azuis ficou para trás. Os nativos são “cor de cuia”, descendentes de indígenas, fisicamente “parrudos”, de fala “cantada”. O

“s” sai meio assoviado, lembrando o sotaque carioca e de algumas regiões de Minas Gerais.

No meio da manhã, breve parada na zona rural do município de Miranda, onde uma placa avisa: “Dona Maria que passa no Globo Rural é aqui”. A placa também informa que os

Um gringoentre os “bugres”

Cáceres era um vilarejo em 1778, quando o Brasil colonial ainda susten-tava a Coroa portuguesa. A Princesinha do Rio Paraguai, como foi batizada, recebeu visitas ilustres ao longo de sua história, em razão do ponto estratégico de ligação fluvial. Em 1914, lá esteve o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, que participava da Expedição Roosevelt-Rondon.

A pacata cidade já foi o principal polo urbano do Mato Grosso unificado (antes da divisão). Depois, perdeu população, e hoje conta com pouco mais de 91 mil almas, segundo o IBGE. Sua economia vive das belezas e incertezas do Rio Paraguai, da exploração de minério e manganês pela Vale do Rio Doce e principalmente do turismo do Pantanal.

jacarés Bruto, Junior e Ronaldinho moram ali.Sinal de fumaça: a comitiva chega ao “Laço de Ouro”, churrascaria fundada por gaúchos em Cáceres. Trata-se de um dos últimos contatos com a dita “civilização”. A partir dali, o porto às margens do rio Paraguai e a “remada” na direção do Brasil profundo.

DESBRAVANDO O

Em Cáceres (MT): meninas observam, curiosas, a chegada de sulistas

PANTANAL

mau

rício

pan

ka

28 de março de 2018 | 17

Paola I é o batis-mo de uma das

chalanas da empre-sária Joana D’Arc Santana. Ela estava ali, na “boca do rio”, aguardando seus ilustres clientes de Cascavel e região.

A trajetória empreendedora de Joana faz lembrar a heroína francesa em cujo nome provavelmente seus pais se inspi-raram ao batizá-la. Acompanhe o relato em primeira pessoa, de quem viu mais que camalotes e dourados nas águas do Paraguai: “Eu queria e desejava crescer. Então determinei meu destino. Vendi um terreno e comprei um motor de popa, parcelado, juntamente com um bote. Eu alugava esse barquinho completo, com motor ou sem motor. Ou apenas o motor. E com o trabalho na agência e com o dinheiro do aluguel desse bote, comprei mais um bote. E outro motor. E outro bote. E nessa brincadeira de comprar e alugar, em 1991 eu já estava com 16 barcos e motores e muitos clientes fixos, fossem eles da região ou que ficavam em hotéis próximos e alugavam meus barquinhos. A brincadeira tinha ficado séria e era hora de abrir minha própria empresa”.

Na sequência, a mulher dos barqui-

nhos financiou o Paola, um barco-hotel

modesto. De garantia, ela deu os barqui-

nhos. Assim Joana D’Arc se agigantou às

margens do imponente Rio Paraguai. Hoje

ela soma 28 barquinhos e seus motores

de popa, um barco-hotel com capacidade

para 20 passageiros, e um barco para pas-

seio no Pantanal em condições de receber

40 turistas.

Foi o Paola I, da Joana D’Darc, que

recebeu os pescadores sulistas. Em algo

que podemos chamar de marketing do Ma-

rio Zan – embarcações assim são tratadas

como “chalanas”, o nome consagrado na

música. O Paola I pode ser apresentado

como um navio de cruzeiro em miniatura,

resguardadas as devidas proporções. A em-

barcação tem áreas com ar condicionado,

TV (Sky) via parabólica, som ambiente,

telefone via satélite (R$ 25 o minuto) e seis

camarotes com ar condicionado e frigobar.

Nada mal para a heroína que vendeu seu

único imóvel para adquirir um “barqui-

nho” no início dos anos 1990...

A chalana de Joana D’Arc

Sombra, cerveja e conversa de pescador

O pacote turístico vendido em parcelas de R$ 505, a exemplo dos cruzeiros marítimos, permite alimentação e bebidas inclusas. Não há sofisticação nos pratos, mas come-se bem e o cardápio é diver-sificado. A bebida disponível é abundante. A peça líquida de resistência é a Brahma. Há um imenso freezer “até a tampa” de cerveja gelada à disposição de esbaforidos pescadores no deck dotado de chur-rasqueira e chuveiro servido de água do rio.

O deck é o melhor lugar da embarcação. Dali, em uma posição mais elevada, o vivente enxerga longe o horizonte e assiste a embarcação deslizar sobre o rio de águas lentas, que parece desprovido de correnteza, dada a topografia quase plana do Pantanal. É também o deck que recebe todas as histórias dos pescadores, ao final do dia, na boca da noite. Ali eles contam suas proezas. Em tempos de celular a bordo, ficou mais difícil passar a conversa na turma: “mostra o vídeo, mostra foto”, já “truca” o incrédulo, diante de uma narrativa mais pitoresca.

O deck hospeda ainda intermináveis rodadas de truco. Aquele ponto deslizante do mapa, com cerveja free, carteado e pescaria, é o paraíso do pescador. Alguns, se pudessem, passariam o resto de seus dias ali.

Ela vendeu um terreno para comprar seu primeiro motor de popa

Aperto geralOs camarotes lembram as gavetas

em que os moradores de Tóquio dormem em seus micro-apartamentos. Cada ca-marote, de menos de nove metros qua-drados, absorve quatro pescadores. Ali, o caçador se assemelha à caça, no caso, o pescador vira sardinha. Provavelmente as celas que recebem os “peixes grandes” da Lava Jato são mais espaçosas.

Mas nós viemos aqui para pescar ou para dormir? Na prática, os camarotes estão quase sempre vazios, ou par-cialmente ocupados. A partir de 3h30 da madruga, já é possível encontrar “zumbis” no deck, são os pescadores cuja ansiedade subtraiu o sono, com o olhar perdido na vastidão do Pantanal, aguardando o amanhecer para mais um dia de anzóis ao rio.

18| [email protected]

O barco Paola I, sua

tripulação, bem como

as demais embarcações do

gênero que singram o rio

Paraguai dia e noite, foram moldados para

atender vossa excelência, o pescador, lá cor-

dialmente tratado como “turista”.

A chalana “arrasta” 12 barcos de alumí-

nio de seis metros cada, dotados de motores

Yamaha de 40 hp e capacidade de dois pas-

sageiros e um piloteiro. Já na saída, a dupla

de pescadores é apresentada ao seu piloteiro.

A dupla e o profissional do barquinho serão

sempre os mesmos, até o final.

As duplas se formam por afinidades: uma

delas pesca junto faz muito: Edson Morais

(Colméia/Tarobá) e Evandro Roman, o

deputado. De longe, Moraes é o mais voraz, o

mais intenso. Ele pesca o dia inteiro e à noite

também, se o piloteiro “aguentar o tranco”.

Outra dupla reúne ex e atual prefeito de Céu

Azul: Rogério Pasquetti e Germano. Tem

também os duetos Violar Sarturi e Oreste

Hotz; Suco e Genésio; Marcio Rauber

(Marechal C. Rondon) e Tadeu.

Também estavam presentes na pescaria de

fim de semana os prefeitos Renato Toniden-

tel, de Santa Lúcia, e Chiquinho, o “paraíba”

de São Pedro do Iguaçu, entre outros menos

votados.

Quem cedo madruga...

Bússola mentalorienta piloteiros

Para os novatos é difícil entender como os piloteiros, também chamados de “piran-gueiros” se orientam para encontrar o local da pesca. Nem tampouco como fazem para retornar com segurança ao ponto de origem. São centenas de quilômetros de canais, os corixos, todos em paisagens muito semelhan-tes, que não permitem estabelecer pontos de referência. Só o que se vê é água e vegetação flutuante.

O piloteiro Rangel Maria de Campos, nativo da região, tenta explicar a bússola mental dos profissionais do ramo : “A gente conhece tudo aqui, a gente sabe que tá ali. Tem que conhecer as entradas e saídas, não marcamos ponto, tem que saber o caminho, conhecer a estrada da água”.

Rangel falou, se empenhou na explicação, mas não se fez entender. Continuamos sem compreender como eles se localizam no oce-ano de água doce do Pantanal. É um mistério que vai morrer com eles.

Amanhece o dia, a turma desce da

chalana para os barquinhos. O astro rei

inclemente eleva a temperatura ambiente

– agravada pelos raios solares refletidos

na água – facilmente para acima de 4o

graus.

Os piloteiros, que preferem ser trata-

dos como “guias de pesca”, então rumam

para os corixos – canais que ligam o rio

aos lagos e pontos de pescaria. A pesca

não se dá no canal do rio, com raras exce-

ções. Em tempos de adequada – fenôme-

no que extrai oxigênio da água e gera uma

evasão de peixes do leito do rio Paraguai

– é preciso queimar muita gasolina dos

barquinhos em busca de águas limpas,

onde os cardumes estão refugiados.

Enquanto o barquinho manobra

para driblar a vegetação flutuante nos

corichos, os tripulantes recebem vento

na cara, atenuando o calor. Mas quando

o barquinho para no lugar da pesca e o

sol bate, o calorão separa homens de me-

ninos. Tem que gostar muito de pescaria

para suportá-lo.

Em cada barco, um piloteiro e a dupla de pescadores

pEscaria

Morais, o ‘Bródi’vidrado em pesca

“É aí que se refiro!”. A voz grave, o jargão repetido com entusiasmo, só pode partir dele: Edson Morais. O veterano apresentador de rádio e TV é de longe o mais entusiasmado dos pescadores pantaneiros.

Fala-se que se um dia ele parar de pescar, umas três lojas do setor fechariam as portas em Cascavel. Exageros à parte, vale descrever o “arsenal” de pesca de Morais: 36 carreti-lhas, 24 varas, 215 iscas, mais de 50 quilos de chumbada.

Morais traz no coração o espírito solidário do pescador. Generoso, ele leva para a pescaria peças sobressalente exatamente porque tem prazer de emprestar para os colegas. A pescaria faz grandes amigos, consolida amizades, é o terreno da solidariedade e do companheirismo.

Tratando a todos como “Bródi”, corruptela aportuguesada do vocábulo inglês brother (ir-mão), Morais foi homenageado com o nome do grupo da pescaria. Ficou assim, na camiseta do grupo: Amigos do Bródi.

Morais já atravessou o Brasil pescando. Lançou anzóis em rios como o Paraná, Pa-raguai, Paru e Jari (Amazônia), Teles Pires

(Pará) e tantos outros. Já viajou mais de 3 mil quilômetros para pescar na bacia Amazônica, parte do trecho de avião, camionete e barco. “Na véspera da pescaria eu não durmo. Passo a noite em claro, como um zumbi. É tenebroso!”, relatou ele para o grupo.

Barco da Marinha do Brasil em missão de patrulha no Pantanal: o “Bródi” saúda com continência

ores

te h

otz

20 | [email protected]

Flora pantanEira

Quando o rio Paraguai

entra no campo de

visão dos neófitos em pes-

caria logo uma cena chama

atenção: são ilhas em movimento, a maioria

pequenas, mas algumas com dezenas de metros

quadrados. A vegetação flutuante descendo

o rio é composta pelo camalote, uma planta

aquática onipresente em todo o Pantanal. O

camalote tem suas graças: uma bela flor em es-

piga de coloração rosada a lilás ou azul-celeste

com uma mancha amarela no lóbulo superior.

Suas belezas levam os mais encantados a

utilizá-la como planta ornamental. O passeio

da planta pelo rio também é uma forma vege-

tativa de reprodução. As pequenas ilhas em

movimento são os estolhos, fragmentos que

se soltam da planta mãe.

O estolho do camalote permite cenas “fofas”

para os observadores mais atentos. As belas

garças-brancas pegam carona na descida do

camalote para um passeio no rio Paraguai,

O reino do camaloteEncantos e desencantos da planta dominante noterritório do Pantanal

sem que seja necessário consumir energia

batendo asas.

Mas a planta tem também seus desencan-

tos. Sua capacidade de reprodução é infinita.

Cada planta pode produzir milhares de semen-

tes. Estas, por sua vez, mantêm-se férteis por

mais de 28 anos.

O camalote é uma das plantas de cresci-

mento mais rápido que se conhece. Ela pode

se alastrar cinco metros por dia e pode duplicar

o tamanho a cada duas semanas. A flora do

Pantanal está dominada pelo camalote. É o

reino do camalote.

Em alguns grandes lagos do continente

africano, como o Victória, a planta dominou

80% do espelho d’água. Por essa razão, o ca-

malote foi listado entre as 100 espécies exóticas

invasoras mais perigosas do planeta, segundo a

União Internacional para Conservação da Na-

tureza, que a qualificou como “praga vegetal”.

Devido ao seu potencial colonizador consti-

tuir grave ameaça para as espécies nativas, o

governo espanhol, através de um decreto real

de 2013, proibiu a introdução do camalote em

meio natural, bem como sua posse, transporte,

tráfico e comércio.

“Fauna” esculpida pela vegetação

Urso, cavalo, dinossauro no Panta-nal? Com um pouquinho de imaginação, sim. O cipoal encobre as árvores baixas do pântano e desenha formas de bicho como uma escultura verde.

Lembra um pouco aqueles animais esculpidos em pingos-de-ouro (cerca viva), na entrada de Itaipulândia, com a diferença de que não há mão humana ali.

Outra estrela da fauna pantaneira é a vitória-régia, celebrizada na Amazô-nia. Há mesmo uma misturança ali. A vegetação é um mosaico de cinco regiões distintas: Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Chaco.

Olhar para o pantanal, passear pelos corixos (canais que interligam baías e rios) é enxergar exatamente o que os primeiros caçadores-coletores indí-genas viram 12 mil anos atrás. Vastas regiões do Pantanal estão intocadas. Trata-se de um dos últimos santuários ecológicos do planeta.

os natiVos

Vida de pantaneiroSó as piranhas põem medo em Edinho, 73 anos,homem que já viu tudo

Entre todos os mais de

20 pantaneiros que

prestaram serviço aos pes-

cadores na chalana Paola

I, possivelmente o guia de pesca Edinho é o

que mais tem história para contar. Ele nasceu

a menos de 30 metros do rio Paraguai, sete

décadas atrás. Viu de tudo no longo convívio

com o Pantanal. Teve três mulheres e dez filhos.

Uma delas fugiu com um boliviano no varão da

bicicleta para o país vizinho. Bem humorado,

Edinho até hoje não sabe dizer se foi ruim ou

bom para ele a fuga inesperada. Acompanhe o

relato obtido ao sacolejo da pequena embar-

cação que vara camalotes na busca incessante

do peixe.

Origens remotas - Nasci 73 anos atrás no Porto Esperança, lugar que acabou, perto de Corumbá, quase dentro do rio. Minha casa ficava 30 metros do Rio Paraguai. Trabalho na pesca desde sete anos de idade, com meus 10 irmãos. Só saí daqui uma vez na vida para tratar um infarto em Campo Grande.

O rugir da onça - Falam muita coisa do Pantanal. Dizem que a onça tá em extinção. Mentira! Só quem não véve (sic) no Pantanal acredita. Capivara aqui nem sobe no barranco, pois sabe que vai ser comida. Só fica na água. Só o que tem no Pantanal é criame de peixe, jacaré e onça.

Peixe sumiu - Existe mesmo essa tal de “adequada”, é quando alaga tudo e falta oxigênio na água. Aí peixe fica bobo e morre. Peixe diminuiu mesmo. Era muito peixe. Peixe que sobrava no rio. Agora não põem nada, só tiram. Se cada empresário de Corumbá colocasse 5 mil alevinos no rio, e, de cada lote desses, mil peixes prosperassem, povoava de novo. Mas só tira, tira, tira...

Peixe distante - Agora tem que subir o rio 350 km para pescar. Só as lagoas estão reproduzindo peixe. Se fosse depender da procriação no rio, já tinha acabado. Antigamente subia peixe do rio Paraná. Depois que fizeram aquela barragem lá (Itaipu) nunca mais subiu. Do Paraguai também não sobe nada, lá é livre a pesca predatória, não sobra nada.

Medo de piranha - Nada me assusta neste rio, mas não pode facilitar. Facilitou, a água leva. O que morreu de gente afogada aqui é loucura. Respeito o rio, mas não tenho medo. Nem de onça eu tenho medo, medo mesmo eu tenho de piranha. Já vi um tio meu

ser comido por piranha. Vi um cunhado meu ser comido por piranha.

Afogamento i - Assisti três moças lindas tomando banho. Saíram da água, estavam se enxugando, quando uma disse: - Vou me atirar mais uma vez na água. Então ela se descuidou, começou a se bater, eu não podia acudir, era menino ainda. Outra foi acudir, não sabia que a afogada iria abraçar. Quando vi que estavam morrendo, eu gritei. Mas ninguém me ouviu. A casa mais próxima estava fechada.

Afogamento ii - Dali a pouco pipocou a água, borbulhou. Afundaram. Corri pra casa e falei: - As moças morreram afogadas. Fomos tirar os corpos, nem os dedos tinham mais. Piranha comeu, ficou o esqueleto limpo. Se o rio tá cheio e você cair na água, você vai boiar. Se o rio tá seco, cai e não volta mais. Nunca mais. Pode por uma cruz ali no barranco que não volta mais, as piranhas vão devorar.

Acidente no rio i - Não esqueço o acidente que aconteceu comigo. Morreram três pessoas, o piloteiro que era meu amigo e dois turistas de Campinas. Eram três da madrugada, eu descendo o rio com 700 quilos de peixe e vinha subindo o piloteiro com os turistas e chocou comigo de frente. O piloteiro sumiu logo, quebrou o pescoço. Um turista desceu rio abaixo pedindo socorro, uns 100 metros ainda escutei. O outro, que era um senhor, ficou agarrado no barco.

Acidente no rio ii - Eu nadei para beira do rio com meu companheiro de barco e gritei pra ele: - Não força o barco, que vira. A quatro metros da margem, virou. Perdi

todo meu peixe, 700 quilos... não adiantava eu tentar buscar o senhor que ele me levaria junto pro fundo.

Solidão - Viver sozinho, como vivo, não é fácil. Casei três vezes, mas não tive sorte. Essa vida minha, um dia em casa, 30 fora, qual mulher vai querer? Ainda assim tive 10 filhos, três casais com uma, dois casais com outra.

Artistas no barco - Ganho um salário marítimo, entre R$ 1,5 e R$ 2 mil. Tem muito agrado (gorjeta). Maior agrado que ganhei foi do Fabiano (da dupla com Cézar Menotti) Ele me deu R$ 500. Trabalhei com os cantores Zezé di Camargo, Paraná (do Chico Rei), um bando de artistas, seus empresários e aquela mulherada nas chalanas que a gente só podia olhar de baixo para cima.

Caçada ao jacaré - Quando ainda podia caçar jacarés, saíamos em três chalanas de noite. A gente caçava até 80 jacarés com espingarda de 15 tiros, calibre 22. Foi tanta caça, que quase acabou com os jacarés. Então proibiram a caça, mas a gente continuava caçando escondido para contrabandistas de couro do Paraguai. Era perigoso. Se pegassem a gente caçando, ninguém era preso, pois matavam ali mesmo. Então a gente se despedia da família para uma temporada de caça sem nunca ter a certeza que voltaria. A caça ao jacaré, mesmo a clandestina, parou faz muito tempo.

Piloteiro e pescador - Agora estou de piloteiro, de guia de pesca, mexendo com turista. Faço com amor, gosto do que faço e aproveito a viagem para pescar também, é o que fiz uma vida inteira...

28 de março de 2018 | 21

Edinho: “Nada me assusta neste rio, mas não pode facilitar. Facilitou, a água leva”

22 | [email protected]

Piloteiro, o anjoda guarda do turista

Trate bem o piloteiro. Seja ele o “Bodão” ou o “Gardenal”. O matuto é quem vai levar você ao éden do cardume. Ou não. O guia é seu anjo da guarda. Uma espécie de chofer aquático.

Alguns pescadores “marrentos” arrogam-

-se no saber mais que o nativo do Pantanal.

Ledo engano. Na travessia da gigantesca Baía

Uberaba, quando o piloteiro dribla as ondas

que tudo fazem para afundar a embarcação, é

A severa vida do catador de caranguejos

Severo é um nome indicado para este senhor. A vida que ele leva é mesmo severa. Com ajuda da esposa, passa horas e horas en-roscado em camalotes para extrair dali o caranguejo pantaneiro.

Sob calor intenso e adversidades mil, inimagináveis para seres urbanos como nós, Severo encostou seu barco na chalana e pediu pelo chefe da cozinha. Trouxe sua carga do dia. Contou na presença do tripulante, um a um, os bichos ainda vivos, abrigados em um vasilhame cobertos de capim.

pEscaria

que você percebe por que o guia está ali. Ele do-mina aquele terreno inóspito como o campeão do rodeio submete o boi bravo. “Pirangueiro”, nome popular para o ofício, é também maitre, chef de cozinha. Ele pesca a piranha e prepara um sashimi com a “dentuça” ali mesmo, no barquinho. É isso aí, carne crua de piranha, com atribuídas qualidades afrodisíacas.

Em tempo: “Seo” Nelson Bacarin, ve-

terano pescador, jamais esquecerá a pintada.

Logo no segundo dia de pescaria, ele se depara

com a onça atravessando o corixo a nado, a

poucos metros do barquinho. Não era dia da

caça nem do caçador, todos sobreviveram.

Foram entre-gues 84 carangue-jos, vendidos por 80 centavos cada. O dia

de trabalho sob tem-peraturas desumanas

lhe rendeu R$ 67.

Cutucado pela mulher, Severo criou coragem para chamar pelo comandante. Foi então que pediu uma carona na chalana, na volta para Corumbá. Resposta negativa. Não havia lugar na embarcação para o homem da vida severa.

24 [email protected]

anÁlisE

Vai encarar a pintada?

Se você gosta de pescar, jogar truco e aprecia o

sistema de livre consuma-ção, com bebida a vontade, nem precisa pensar duas vezes. A esquadra da Joana D’arc é seu paraíso. Agora, se você é “piá de apartamento”, como o repórter que cobriu a pescaria pantaneira, previna-se: rio acima, 350 quilômetros Brasil profundo adentro, é “outro planeta”.

Ali você vai ficar um longo período sem pisar o solo. Seu mundo físico se resume ao chão metálico da chalana, ou aos 6 metros do barquinho de alumínio. Tudo o resto é água e vegetação flutuante. Internet? Esqueça, não existe sinal. Ótima oportunidade para uma desintoxicação digital.

Se você considera perigoso viajar em um barquinho de aparência frágil em um alagado repleto de onças pintadas, piranhas, jacarés e cobras gigantes, não ouse navegar por baías como a Uberaba, a maior do Pantanal. Ali, em dias de vento, formam-se ondulações que parecem colocar o barquinho e sua tripulação dentro de um liquidificador. Em caso de nau-frágio, não tem para onde correr, nem nadar. Não há onde se agarrar. Você pode virar isca de piranha.

Com tanto tempo olhando para machos (a tripulação é 100% masculina, os colegas de pescaria, igualmente), você, lá pelo quarto

dia de isolamento e já com o muito sol na “moleira”, pode chegar ao limite impensável de sentir saudades da esposa! Descontração à parte, aqui cai outro mito das pescarias: nesta configuração não tem festa com mulherada.

Pontos negativos: o repórter observou algumas cenas preocupantes na viagem. São 11 chalanas na região de Cáceres. Se cada uma transporta, em média, 40 turistas, são 440 pes-cadores. Será que isso é sustentável, apesar das limitações de peixes impostas a cada um deles e apesar das dimensões oceânicas do local?

A fiscalização do Ibama e da Polícia Am-

biental também parece insuficiente. Há muitos turistas pescando em áreas proibidas, como no Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, Reserva do Caracará. Afora isso, a reportagem do Pitoco presenciou o descarte de lixo na água, e o pior deles, o plástico.

A ninguém mais que aos pantaneiros - nativos, guias de pesca, empreendedores do turismo - compete preservar o Pantanal. É dali que eles tiram seu sustento. Compete a eles preservar a maior planície inundável do planeta, com 263 espécies de peixe catalogadas, entre eles os nobres pacu, pintado, dourado, cachara, jaú e piau.

Antes de embarcar na viagem ao Brasil profundo, atente para as observações do “piá de apartamento”

Renato Mayer Bueno, Valdecir Tinthola e Suco posam para fotos: para quem gosta de pescar, o Pantanal é um paraíso

Violar Sarturi imita cena de filme: o pântano é para os fortes

26 | [email protected]

Jairo

Edu

ardo

Oeste é forte na pisciculturaNove municípios, entre os dez maiores produtores de tilápias do Paraná, estão aqui

na região. Veja o gráfico com base em estudo promovido pelo Observatório Territorial do Programa Oeste em Desenvolvimento e executado pelo Parque Tecnológico Itaipu – PTI:

EmprEEndEdorismo

Vai longe aquele dia de 1990, quando a família Daga represou a fonte de água

para os primeiros açudes na propriedade de 5 alqueires, entre Cascavel e Toledo. Ali “semearam” tilápias, carpas, pacus e culti-varam até um ranário, cujos “frutos” deram muito ibope no cardápio do pesqueiro. Quase 28 anos depois, Roque Daga viu que precisava fazer uma “transposição”.

O pesqueiro, embora bem sucedido, ficava “enterrado”, alheio à movimentada rodovia, vizinha da propriedade dos Daga. Então o “canal da piracema”, clonado de Itaipu, levou as tilápias para consumo às margens da rodovia 467. E o peixe passou a ser servido em amplo restaurante para até 300 comensais, investimento superior a R$ 3 milhões, parte financiada pelo Sicredi.

É a mais ousada tacada da família que cultiva a modéstia, cujo líder (Roque, que não é o Santeiro), é a fotografia pronta e acabada do agricultor oestino em seus jeitos e trejeitos.

Numa quinta-feira em que o Pitoco esteve visitando o cardápio do restaurante, havia muitos outros comensais. Entre eles, o deputado rondonese Elio Rusch e o prefei-to de Iguatu, Vlademir Barella. “Só com a lavoura ninguém vive em propriedade pequena. Nossa propriedade encosta na pista, produzimos e abatemos o peixe com inspeção municipal, Cascavel e Toledo são

“Canal da piracema” faz transposição de peixes na rodovia

Tilápia sobe à BR 467

tros planos da gaveta, um hotel fazenda com piscina e bar molhado.

O restaurante ge-rou 20 novos postos de trabalho e aponta uma tendência para ocupação inteligente

no entorno da grande avenida que une Cascavel a Toledo: o eixo metropolitano, do clássico da soja, para a clássica tilápia.

cidades muito fortes, tem tudo para dar certo”, disse Roque.

Além da força das cidades vizi-nhas, há também o intenso movimen-to da rodovia 467. Estimativas apon-tam que pelo menos 12 mil veículos cruzam aquele trecho diariamente. Se a transposição da tilápia fisgar apenas uma fração deste montante, os Daga terão muito peixe para fritar. Surpresos com a movimentação, eles já começam a tirar ou-

Paradouro para 300 pessoas e Roque Daga: “transposição”

a procura aumentou, até eu receber um convite do Atlético para que eu levasse meu projeto pra lá. Aí ele re-almente se profissionalizou”. Para se especializar, Caiche passou pela Universidade do Futebol e fez também outros cursos. E foi toda essa

experiência que chamou a atenção do FC Cascavel, que o contratou em maio de 2017.

em dezembro de 2009 encerrei minha carreira”.

Foi a pedido de um amigo que Gustavo deci-diu usar seu conhecimento como um instrumento de transformação social: “Eu treinava os meninos e, pelo contato que tenho, acabava colocando-os nos clubes. Esse trabalho começou a crescer,

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Fc cascaVEl

Contelle Assessoria de Comunicação

Quando futebol é o assunto da roda de amigos, o foco quase sempre está lá: no

campo, no desempenho dos jogadores, nos comandos do treinador, nos gritos da torcida, na conduta da arbitragem. Quando um campe-onato está em curso, os olhos ficam voltados para o gramado e para as arquibancadas.Mas muito antes de chegar a essa etapa, um time depende dos “bastidores da bola”. E essa trabalhosa, burocrática, mas essencial tarefa é desempenhada no FC Cascavel pelo gerente de futebol Gustavo Caiche. “A gente se doa para que o atleta possa ter tranquilidade total para desempenhar seu papel. Meu trabalho começa a partir do monitoramento, de bus-car os atletas, fazer um mapeamento, para depois contratá-los. Aí vem a negociação com os jogadores e seus empresários, para que possamos trazê-los para o nosso elenco”, descreve Gustavo.

O olhar treinado para identificar talentos que possam contribuir com o time cascavelense foi adquirido no decorrer da carreira cheia de experiências. Nunca foi um plano trabalhar com futebol, mas o esporte foi entrando na-turalmente na vida de Gustavo. Quando pe-queno, em Ribeirão Preto, topou o convite de um primo para fazer um teste na escolinha de futebol de uma fábrica de bolachas. O projeto social deu visibilidade para que o garotinho fosse se destacando numa série de clubes: Palestra, Comercial, até chegar na categoria infantil do Botafogo, time que o levou até a fase profissional.

Daí em diante, a vida futebolística des-lanchou: jogou ainda no Atlético Paranaense, Palmeiras, Corinthians, São Caetano, Sport Club Recife, Boa Vista (RJ) e teve contato com técnicos renomados: Tite, Abrel Braga, Muricy Ramalho, Carpegiani, Geninho, Emerson Leão... Foi eleito o melhor zagueiro do Brasil em 2001, conquistando o troféu Bola de Prata e foi campeão brasileiro pelo Atlético-PR.

O trabalho de Gustavo Caiche, ex-jogador do Corinthians, Palmeiras e Atlético Paranaense que hoje é gerente de futebol do FC Cascavel

Mapear e gerenciar talentos

cont

elle

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esso

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ão

Fiquei seis meses no Al-Shamal. Contribuiu muito. Principalmente

porque tive de aprender a me virar sozinho.”

Gustavo Caiche: longa experiência como jogador agora a serviço do FC Cascavel

Seis meses suando a camisa no Qatar

Quando Gustavo Caiche estava prestes a parar com a bola, surgiu a oportunidade que faltava: jogar fora do Brasil. “Fiquei seis meses no Al-Shamal do Qatar. Contribuiu muito. Principalmente porque tive que aprender a me virar sozinho, aprender outra língua, outros costumes. Mas nessa época já estava com muitas contusões e

29 de março de 2018 | 31

Amigo PedroEm Marechal Cândido Rondon, os Rauber protagonizam uma

equação curiosa: o filho é prefeito e o pai preside a Câmara

Raul Seixas e Paulo Coelho faziam uma bela dupla. São da lavra deles clássicos

como “Sociedade Alternativa”, “Eu Nasci há 10 mil anos atrás” e “Gita”. Também é deles a icônica composição “Amigo Pedro”.

Na biografia “O Mago”, o escritor Fernando Morais revela que “Amigo Pedro” foi inspirada no pai de Paulo, Pedro Coelho. “Pedro, onde cê vai eu também vou”, diz o refrão, “mas tudo acaba onde começou”, segue a canção, relatando o conflito de gerações do filho moderninho com o pai careta de rotina previsível.

Não é bem esse o desenho em Marechal

Cândido Rondon. Mas onde foi o pai Pedro

(vereador de oito mandatos), foi o filho, Mar-

cio Rauber, eleito vereador em 2012 e agora

prefeito do município.

Pedro foi comandar um poder (preside o

Legislativo) e Marcio comandar o Executivo,

eleito em votação consagradora dois anos atrás.

E assim se criou uma equação curiosa, algo que

certamente renderia inspiração para mais uma

letra da dupla Raul/Paulo Coelho: o filho é o

prefeito, o pai é o presidente da Câmara.

O Pitoco aproveitou-se de um momento

descontraído do prefeito Marcio Rauber para

lhe perguntar à queima-roupa: a relação paternal

influencia a necessária independência entre os

poderes em Marechal Rondon?

Rauber admite que a questão vem sendo

explorada por setores da oposição. Em voz grave, ele põe ênfase nas palavras da resposta. “Quem fala isso não conhece o Pedro Rauber. Quem

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acha que é fácil ser prefeito com o pai presidente da Câmara, não conhece o Pedro”.

O filho descreve o pai como austero. “Meu pai tem 40 anos de vida pública. Nesse período, não acumulou patrimônio, não responde ação judicial nenhuma, é um homem firme e íntegro,

Prefeito Márcio e o veterano Pedro Rauber: vocação política está no DNA

jamais atentaria contra a indepen-dência dos poderes”.

Segundo o prefeito, o pai presi-dente da Câmara é o mesmo homem exigente que o criou. “Quem possa imaginar qualquer acobertamento com o filho, não desconhece o Pedro. Ele foi muito exigente como pai, e agora é muito exigente comigo no meu exercício do mandato”.

Marcio afirma que sofre cobran-

ças do Pedro, porém restritas ao cam-

po institucional, sem ingerência nas

decisões que cabem ao prefeito e sua

equipe. “Da mesma forma que não

cometo ingerências na condução

do Legislativo e nem ele aceitaria

isso”. O filho cita como exemplo de

austeridade do pai a devolução de

R$ 2 milhões do Legislativo para o

Executivo, fruto da condução com

mão de ferro do veterano homem

público de Rondon.

Márcio aplica o DNA dos Rauber no dia a dia da administração. Onde vai o Pedro com a tesoura de cortes nos gastos da Câmara, vai o filho com o tesourão nos gastos da Prefei-tura.Assim sendo, Marechal Cândido Rondon, a “Alemanha do Oeste”, segue em ritmo de Raul e Paulo Coelho com o hit da estação: “Pedro, onde cê vai eu também eu vou...”

Cumprindo seu compromisso de buscar recursos para atender as necessidades dos moradores de Cascavel, o deputado federal Nelson Padovani (PSDB) esteve, na segunda quin-zena de março, juntamente com o prefeito Leonaldo Paranhos na entrega oficial de uma motoniveladora que será utilizada na manutenção das estradas daquele importante distrito.

“Satisfação muito grande em estarmos fazendo a entrega deste equipamento, o qual foi solicitado ao deputado em visita que fizemos ao seu gabinete em Brasília” – disse o prefeito de Cascavel, reforçando seu compromisso de assegurar uma patrulha rural para todos os distritos. “Estamos começando por aqui essa grande transformação em nossas estradas rurais” – acrescentou.

Acompanhado também pelo líder do prefeito na Câmara, Alécio Espínola e pelo subprefeito de Sede Alvorada, Áureo Schmitz, o deputado federal Nelson Padovani (foto) manifestou sua alegria em viabilizar o equipamento, reiterando o compro-misso de continuar atuando na Capital Federal para viabilizar recursos e equipamentos.

“Na condição de membro da Comissão de Agricultura e por força de minha atividade profissional conheço muito bem a importância de cuidar das necessidades do homem do campo, que é quem produz boa parte das riquezas necessárias para

Nelson Padovani entrega motoniveladora para Sede Alvorada

Patrulha rural

diVulGaÇÃo

que possamos fazer frente às necessidades em áreas como a saúde e educação” – frisou o parlamentar.

Tanto o prefeito Paranhos como o deputado Padovani reafirma-ram o compromisso de trabalhar em conjunto no sentido de obter novos equipamentos contemplando outras localidades da zona rural de Cascavel. “Estarei sempre atento e disposto a colaborar” – res-saltou o deputado federal.

28 de março de 2018 | 31

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General Affonso da Costa e o delegado chefe da 15ª SDP, Rodrigo Baptista

caFÉ com pitoco

Braço forte& segurança

O “Café com Pitoco”, já tradicional espaço mensal de debates em Cascavel, recebeu

o general comandante da 15ª Brigada de Infan-taria Motorizada, Affonso da Costa. Ele falou sobre o momento de protagonismo do Exército Brasileiro, a partir da intervenção na segurança do Rio de Janeiro.

Lembrando o slogan da instituição secular, “Braço forte, mão amiga”, o general delineou a área de atuação do Exército e apresentou as limitações constituicionais da força.

Outras autoridades da segurança pública acompanharam o evento, como mostram as imagens de Vanderlei Faria. O Café com Pitoco tem o apoio do Sicoob Credicapital, Construtora JN e Bourbon Hotel.

Juliana Lombardi e a arquiteta Lilian Sirtoli

Professor Beto Pompeu com ocontabilista Rafael Lorenzo, do Conseg

Empresário Luiz Carlos Volpato,Márcio Ribeiro e vereador Madril

Capitão PM Astori e o coronel PM Washington Lee Abe

Beto Pompeu e o advogado Andre Beck Lima (OAB)

Escrivão Reinaldo Bernardin de Andradee o professor Nilson de Faria, da Adesg

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sociEdadE orGanizada

Ponto culminante do Oeste

O empresário cascavelense Alci Rotta Jr. subiu rapidamente os degraus hie-

rárquicos das principais entidades da região. Entre outras, presidiu a Associação Comercial e Industrial de Cascavel (Acic). Agora está eleito para a presidência da Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Oeste, a Caciopar.

De fato, no sentido literal da palavra, Rotta não tem medo de altura. Um dos hobbies dele é escalar os tetos do planeta. Como mostram as fotos, o líder empresarial já acessou os pontos culminantes mais desafiadores da Terra.

Uma das proezas dele, em conjunto com a repórter da TV Globo, Sonia Bridi, foi a escalada do Kilimanjaro, conhecido como “teto da África”. A façanha foi narrada pela jornalista no livro “Diário do Clima”, editado em 2012. Rotta Jr. também escalou o Monte Everest, no Nepal, a montanha mais alta do planeta, com o pico em 8.848 metros acima do nível do mar.

Em todos os desafios aventureiros, Rotta levava, literalmente, as bandeiras das entida-des do Oeste. Assim, após vencida a dantesca

Novo presidente da Caciopar não tem medo de altura.Seu hobby é escalar os tetos do planeta, incluindo o Everest

batalha das alturas, eles posava para fotografias com bandeiras do Sicoob Credicapital, da Acic e do Brasil.

Alci Rotta Jr. e sua diretoria serão empossados no dia 6 de abril, em evento no Tuiuiti Esporte Clube. O vice é o empresário toledense Flávio Gotardo Coelho de Souza Furlan.

ALTiTUDE - Suspeita-se que o ponto mais elevado do Oeste do Paraná esteja em Guaraniaçu, na fazenda São Luiz, de propriedade do empresário Vilson Albiero. O morro está a 980 metros acima do nível do mar. Recentemente, Albiero instalou um mirante, que elevou o local para 995 metros. O ponto mais elevado de Cascavel (781 metros) está nas imediações do Colégio Nossa Se-nhora Auxiliadora, no centro.

Rotta Jr. no campo-base do Everest, no Nepal, e no monte Malchin, na Mongólia: vocação para encarar desafios

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coluna do assinantEcoluna do assinantE

Cascavel (PR), quarta-feira, 28 de março de 2018 Ano XXII - Nº 2135 | Clipping News Agência de Notícias

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