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Câmpus de Presidente Prudente Curso de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado) Convênio: UNESP/INCRA/Pronera Parceria: Escola Nacional Florestan Fernandes A FORMAÇÃO NO INSTITUTO EDUCAR E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O TERRITÓRIO CAMPONÊS JOSENE A. DOS SANTOS Monografia apresentada ao Curso Especial de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado), do Convênio UNESP/INCRA/Pronera, para a obtenção do título de Licenciado e Bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Clifford Andrew Welch Monitor: Annelise Mariano Presidente Prudente 2011

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Câmpus de Presidente Prudente Curso de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado)

Convênio: UNESP/INCRA/Pronera Parceria: Escola Nacional Florestan Fernandes

A FORMAÇÃO NO INSTITUTO EDUCAR E SUAS

CONTRIBUIÇÕES PARA O TERRITÓRIO CAMPONÊS

JOSENE A. DOS SANTOS

Monografia apresentada ao Curso Especial de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado), do Convênio UNESP/INCRA/Pronera, para a obtenção do título de Licenciado e Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Clifford Andrew Welch

Monitor: Annelise Mariano

Presidente Prudente

2011

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A FORMAÇÃO NO INSTITUTO EDUCAR E SUAS

CONTRIBUIÇÕES PARA O TERRITÓRIO CAMPONÊS

JOSENE A. DOS SANTOS

Trabalho de monografia apresentada ao Conselho do curso de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia, campus de Presidente Prudente da Universidade Estadual Paulista, para obtenção do título de Licenciado e Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Clifford Andrew Welch

Presidente Prudente

2011

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Josene A. dos Santos

A FORMAÇÃO NO INSTITUTO EDUCAR E SUAS

CONTRIBUIÇÕES PARA O TERRITÓRIO CAMPONÊS

Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho,” submetida à aprovação da banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Presidente Prudente, novembro de 2011

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DEDICATÓRIA

Aos que cultivam a resistência e o sonho que

Roseli Nunes nos deixou, em

concretizar a partir da luta

do povo na conquista da terra

liberta de todos as cercas.

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AGRADECIMENTOS

Quero deixar meus agradecimentos:

Ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, pela oportunidade de

poder ocupar este espaço de estudo também na universidade.

Aos militantes da Regional Roseli Nunes, a qual me forjou dirigente do MST,

por esta região, tendo em suas práticas a luta e a pertença ao movimento dos

trabalhadores Rurais Sem Terra, estes são valores que me fortalecem.

Aos dirigentes de instância estadual e da Regional Roseli Nunes, por me

proporcionarem fazer parte da construção do coletivo do Instituto Educar, espaço que

nos desafia diariamente à pesquisa e à socialização do conhecimento. Meu

agradecimento especial a todos os trabalhadores internos e a turma Filhos de Rose,

por serem as pessoas que dinamizam e dão vida a este espaço e que contribuírem na

elaboração feita nesta pesquisa.

À minha família, que me deu incentivo para levar adiante esse desafio,

principalmente, meus país: Ivone Veigas Dos Santos e Leonildo Dos Santos e meus

pais adotivos Ivanir Salete de Fragas e Sebastião dos Santos Fragas, camponeses (as)

que conquistaram a terra, dignidade na luta pela terra no MST, sempre me deram

força, suporte nesta caminhada. Com muito carinho e amor agradeço ao meu Filho

Everton Santos de Fragas, que soube compreender minha ausência e partilhar com a

mamãe a dor da saudade, Junto ao Everton o seu pai, um companheiro que marcou e

também fez parte da construção desta caminhada Helvio de Fragas.

Às pessoas que para além de companheiros de luta, exercitaram na integra a

solidariedade em momentos os quais mais necessitei, acolhendo eu e meu filho como

parte das suas famílias, reafirmando assim a grande família sem-terra. Entre eles são:

Cristina de Fragas, Enizelia de Fragas, Mariza Broc e família, Maria Salete

Campigotto, Família COOPTAR, em nome do Darci Maschio os cooperados da

Cooperativa de leite COPERLAT, Dulcimar dos Santos, Aline Tamires Pereira

Krauzer, Mateus Pereira dos Santos, Rodrigo Veigas dos Santos, Gerônimo Pereira

da Silva, Oderleia da Silva e Jandir Bueno e família. Exemplo deste companheirismo

que levarei comigo para sempre.

A turma Milton Santos pela convivência, e a humildade em construirmos o

saber geográfico, socialização de suas experiências, pelos momentos felizes, festa

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roda de viola, mística de uma militância que traz com sigo a cultura dos vários cantos

do Brasil, para mim este foi a segunda faculdade, a toca de conhecimento da

realidade de cada integrante da turma, companheiras e companheiros, amizades que

levarei no coração.

A Escola Nacional Florestan Fernandes – por ser a escola da classe

trabalhadora, na formação de quadros, internacionalista rumo a uma sociedade

socialista.

À Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Presidente Prudente,

pela abertura e construção de espaço aos Movimentos Sociais na busca do

conhecimento. Em especial a todos os educadores, monitores que contribuíram

conosco em mais esse curso de Licenciatura e Bacharelado em Geografia em especial

Annelise Mariano e Liciane que acompanharam e contribuíram com esta construção.

À Clifford Andrew Welch, meu orientador, que teve muita calma e me

transmitia confiança em colocar o que pensava no papel, pela paciência, atenção, na

contribuição na minha formação como geógrafa. Ao mestrando Tiago E. A. Cubas,

que esteve aberto a socializar seu conhecimento e suas habilidades de geógrafo na

organização e qualificação do texto; e, ao doutorando Rodrigo Simão Camacho, que

esteve presente na banca de qualificação da 9º etapa, ajudando na amplitude das

leituras e conceitos.

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RESUMO Este trabalho é o estudo da pedagogia vivenciada na escola técnica do Instituto Educar do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pontão, Rio Grande do Sul. O objetivo do estudo é de avaliar como se dá a educação do IE e sua pedagogia em vista da questão do fortalecimento do território camponês através dos princípios da agroecologia e educação do campo. Para isso, a obra aborda o histórico do espaço e a escola, algumas matrizes pedagógicas que dão sustentação para a realização do trabalho com os educandos, os motivos e a forma que o MST inicia o estudo, práticas e a defesa da agricultura ecológica e o Projeto Político Pedagógico do Instituto Educar. Na elaboração desta pesquisa, a partir da prática da escola, procuramos entender o aprendizado agroecológico dos educandos do Instituto e os desafios da construção do conhecimento agroecológico a partir da analise de uma turma em reta final de curso. Através da aplicação de questionários, documentamos as principais mudanças em suas vidas e suas concepções e noções em relação à agricultura sustentável, que interaja e respeite a natureza e os seres humanos. Em conclusão, oferecemos apontamentos para contribuir com a melhoria do IE, em uma pequena amostra de educandos já formados, suas realidades e a análise da contribuição do curso em suas vidas e suas observações em torno do fortalecimento do campesinato em seus territórios. Palavras chaves: Educação do Campo, Agroecologia, Território, Campesinato.

ABSTRACT

This work is the study of the educational experience cultivated by the agro-ecology technical training program of the Instituto Educar of the Landless Workers Movement (MST). The main objective of the thesis is to examine the pedagogy and educational practices of the institute in order to evaluate their contributions toward strengthening peasant territory in the areas served by the school. To do this, we analyze the history of space occupied by the institute, some of the matrices that orient its work with the students, some of the reasons why the MST came to develop a school dedicated to ecological farming, including the creation of the school’s pedagogical policies. Administrators, teachers and students were interviewed as part of the research. To assess the effectiveness of the course, we examined the experience of a class in the final stages of training. We discovered that agro-ecological knowledge as well as participating in the alternative pedagogy of the program produced significant changes in their lives and their conceptions of agriculture, contributing to a much greater appreciation of what makes for a truly sustainable farming model that respects both nature and human society. The study concludes with some suggestions for improving the course in order to strengthen the peasantry in their territories.

Key - words: Rural Education, Agro-ecology, Territory, Peasantry

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Lista de Siglas

CAMP Centro de Assessoria Multiprofissional CETAP Centro de Pesquisa e Técnicas Alternativas Populares CNBT Coordenação dos Núcleos de Base da Turma

COCEARGS Cooperativa Central de Assentados da Reforma Agrária do Rio Grande do Sul

CONCRAB Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil LTDA COPERLAT Cooperativa de Produção Laticínio Ltda. COPTEC Cooperativa de Prestação de Serviços Técnicos Ltda. COOPTAR Cooperativa de Produção Agropecuária Cascata COOPAN Cooperativa de Produção Agropecuária de Nova Santa Rita COONATERRA Cooperativa Agroecológica Nacional Terra e Vida Ltda COOPAC Cooperativa dos Assentados de Charqueadas

COOTAP Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre Ltda

COOPAT Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes CPP Coordenação Político Pedagógica CPT Comissão Pastoral da Terra EAFS Escola Agrotécnica Federal de Sertão FUNDEP Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa da Região Celeiro IBGE Instituto Brasileiro Geografia e Estatística IE Instituto Educar INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ITERRA Instituto Técnico de Estudo e Pesquisa da Reforma Agrária MAB Movimento dos Atingidos por Barragens MMC Movimento de Mulheres Camponesas MMTR Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais MPA Movimento dos Pequenos Agricultores MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MTD Movimento dos Trabalhadores Desempregados NB Núcleo de Base ONG Organização não Governamental PADROP Pequenos Agricultores, Desenvolvimento Rural, Organização Popular PPP Projeto Político Pedagógico PRONERA Programa Nacional Educação e Reforma Agrária PRV Pastoreio Racional Voisin UEP Unidades Educativas de Produção UFSM Universidade Federal de Santa Maria

Lista de Figuras

Figura 1 Instituto Educar - Pontão - RS 12

Figura 2 Aula de Práticas de Campo com o Professor Luis Carlos Pinheiro Machado 42

Figura 3 Tempo Limpeza 42

Figura 4 Seminário - Instituto Educar 43

Figura 5 Jornada Socialista - Instituto Educar 43

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Figura 6 Tempo Trabalho Instituto Educar 44

Figura 7 Oficina Instituto Educar 44

Figura 8 Estudo no Instituto Educar 45

Figura 9 Oficina Instituto Educar 45

Figura 10 Símbolo da turma Filhos de Rose - 2011 52

Figura 11 Timbre e Logomarca da CONATERRA 54

Figura 12 Logomarcas das cooperativas do Grupo de Arroz Agroecológico 55

Figura 13 Logomarca do Arroz Terra Livre 55

Mapas

Prancha 1 Localização do município do estudo 12

Organograma

Organograma 1 Organicidade do Instituto Educar 40

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10

1. HISTÓRICO DO MST NA REGIÃO, O ESPAÇO CONQUISTADO E A PEDAGOGIA VIVENCIADA NO INSTITUTO EDUCAR ............................................ 12

1.1 - A origem da pedagogia vivenciada no Instituto Educar ........................................... 18

1.2 - Os camponeses e a agroecologia: território em disputa (Revolução verde x agricultura ecológica no MST) .......................................................................................... 22

1.3 - Projetos político pedagógico do IE ............................................................................ 28

2. A APRENDIZAGEM DOS EDUCANDOS (AS) NO INSTITUTO EDUCAR ......... 34

2.1 - Os desafios da construção do conhecimento agroecológico ...................................... 45

2.2 - Educandos em formação suas experiências neste período ........................................ 49

2.3 - Educandos já formados ............................................................................................. 52

CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................... 57

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 60

ANEXOS ............................................................................................................................ 64

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INTRODUÇÃO

A escola técnica do Instituto Educar do MST é resultado da luta e suas conquistas.

Há cinco anos vem trabalhando com a formação de jovens e adultos do campo, na Escola

Técnica do MST, localizada no Assentamento Nossa Senhora Aparecida - da Área 09,

Fazenda Annoni, município de Pontão, RS.

A escola foi criada devido à demanda dos assentados e dos pequenos agricultores

em formarem técnicos dos movimentos sociais do campo com condições de discutir e

implantar a agroecologia nos assentamentos, acampamentos e pequenas propriedades.

Também queriam ter um espaço de qualidade que esteja comprometido com a

transformação social. Pois ao longo da história da educação o processo de acesso ao

conhecimento é desigual, como afirma Acacia Kuenzer:

O impedimento do acesso ao saber enquanto totalidade é uma estratégia, por um lado, inerente ao próprio desenvolvimento da ciência no capitalismo, com a metodologia que lhe é peculiar, e por outro, uma estratégia de manutenção da hegemonia do capital. O domínio do saber científico e tecnológico e da informação são estratégias vitais para a manutenção do domínio do capital e para a sua reprodução ampliada (1997, p.36).

O que recebemos até hoje foi o direito de ter acesso à escola, quando possível, uma

escola que prepara para o mercado de trabalho, independente do espaço de vivência e para a

manutenção de uma estrutura social já determinada. Enquanto existir a contradição entre

capital e trabalho determinando a divisão social e técnica do trabalho que, por sua vez,

determina o tipo e a qualidade de saber que cada um tem de direito, em função de sua origem

de classe e de seu lugar social. A seleção dos conteúdos será política (KUENZER, 1997).

A pesquisa tem como objetivo estudar a organização dos espaços de formação no

Instituto Educar, a fins de ajudar a compreender como se dá a territorialização da

agroecologia na agricultura camponesa, sua importância e como ambas se relacionam. Neste

processo, queremos entender como esta foi concebida junto aos educandos, os desafios que o

Instituto encontra para trabalhar a organicidade deste espaço de formação dos educandos,

junto à proposta da agroecologia.

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Para alcançar os objetivos propostos na pesquisa de saber de que forma se dá a

formação no Instituto Educar e se de fato, o mesmo contribui para o fortalecimento do

território camponês, dividimos a monografia em dois capítulos com os seguintes temas e

subtemas. O 1º capítulo é o “Histórico do MST na Região, o Espaço Conquistado e a

Pedagogia Vivenciada no Instituto Educar.” Ele está subdivido em três partes: A Origem da

Pedagogia Vivenciada no Instituto Educar; Os Camponeses e a Agroecologia: Território em

Disputa (revolução verde x agricultura ecológica no MST) e Projeto Político Pedagógico do

Instituto Educar. O 2º capítulo trás: “A Aprendizagem dos Educandos (as) no Instituto

Educar,” o qual tem como subdivisões: Os Desafios da Construção do Conhecimento

Agroecológico e Educandos em Formação e Educandos já Formados.

Na abordagem destes capítulos trazemos uma analise geográfica, tendo o Instituto

Educar, seu currículo e os educandos, como territórios em disputa. Compreender como se dá à

interação destes participantes na formação da prática agroecológica, sabendo que a escola se

mantém sob as proposições da Pedagogia de Alternância, a qual é um lugar de refletir a

prática e buscar elementos para contribuir com a mesma.

Procuramos com este estudo mostrar esta experiência e contribuir com a qualificação

do Instituto Educar e sua missão de transformar e emancipar indivíduos e fortalecer o

território camponês através dos valores e relações trazidas pelo desenvolvimento da

agroecologia. Fazer reflexões a respeito da organicidade e princípios educativos do IE, junto à

escola e os educandos, e melhorar nossa compreensão de como se dá a territorialização da

agroecologia na consolidação da agricultura camponesa como projeto que concebe a vida em

suas várias dimensões.

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1. HISTÓRICO DO MST NA REGIÃO, O ESPAÇO CONQUISTADO E A PEDAGOGIA VIVENCIADA NO INSTITUTO EDUCAR

O Instituto Educar está localizado no município de Pontão (observe a Prancha 1) , com

uma população de 3.857 habitantes (Brasil, IBGE, 2010), sendo que em torno de 1.800 dos

habitantes estão nas áreas de Reforma Agrária. O município qual teve sua emancipação no

dia 20 de março de 1992, no mesmo ano da desapropriação da Fazenda Annoni. A escola está

em um assentamento chamado Nossa Senhora Aparecida área 09, o assentamento fica a 8 km

do município de Pontão, região norte do estado do Rio Grande do Sul (RS).

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O Instituto Educar (Figura 1) está dentro do contexto de um dos marcos da luta por

Reforma Agrária nesta região, uma das maiores ocupações realizadas no Rio Grande do Sul.

Isso aconteceu no período de retomada da luta pela terra no Brasil, após a fundação do MST

em 1984. Essa ocupação ocorreu em outubro de 1985, na Fazenda Annoni, uma área de 9.700

hectares, um dos maiores latifúndios improdutivos localizados na região norte do estado do

RS. Assim se formou o maior acampamento de sem-terras da época, com 1.500 famílias

vindas de 32 municípios, a partir da necessidade dessas famílias sem-terra, unificadas em

torno de um mesmo objetivo, buscaram o tão sonhado pedaço de chão para poderem plantar e

ter uma vida digna, onde pudesse viver bem, com comida na mesa, sendo sujeito de sua

própria história, organizar suas comunidades na busca da sobrevivência com suas familiar.

Figura 1 – Instituto Educar - Pontão - RS

Fonte: Arquivo Instituto Educar - 2009.

Várias mobilizações foram realizadas e aos poucos foram saindo os primeiros

assentamentos na região e em outras regiões do estado, oriundas do acampamento da Fazenda

Annoni. As famílias do Assentamento Nossa Senhora Aparecida permaneceram acampadas

por anos lutando por mais desapropriações de latifúndios, bem como esperando a própria

desapropriação da Fazenda Annoni. Foi então que em 1992 saiu à desapropriação oficial da

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Fazenda Annoni com 396 lotes, sendo que 30 eram para o parceleiros que moravam na

fazenda, 50 para as famílias dos desalojados pela hidroelétrica do Passo Real e 316 famílias

do MST (dialogo com os assentados da região - (Marlisa da Silva Broc, Sebastião Santos de

Fragas).

Desapropriada a fazenda, deu-se origem a nove assentamentos, um deles o

assentamento Nossa Senhora Aparecida, que foi contemplado e 43 famílias se instalaram

num total de 645 hectares, uma média de 15 hectares por família com 215 pessoas

envolvidas. As famílias no processo inicial se organizaram em forma de grupos e associações

a fim de viabilizar as discussões do movimento, buscar recursos, cooperação e a

comercialização de sua produção.

A luta pela Reforma Agrária no RS e especialmente nesse território obteve várias

conquistas, e uma delas foi o CETAP - Centro de Pesquisa e Técnicas Alternativas

Populares. O centro desde sua construção e inauguração teve a duração de um ano (1989 a

1990), em uma área de 42 hectares, destinada à Reforma Agrária no qual é hoje o

assentamento Nossa Senhora Aparecida, a área mais próxima do acesso ao asfalto e

também mais próxima à cidade de Pontão. Através de mutirões foi construído o prédio e as

demais estruturas mínimas para o funcionamento do centro de formação o qual foi

denominado de CETAP (CAMPIGOTTO, 2009, p. 37).

O objetivo era resgatar os saberes populares e a apropriação do conhecimento de

tecnologias alternativas e produtivas numa dimensão agroecológica. No final dos anos oitenta

estava construído, o prédio e elaborado a proposta de assessoria para o acompanhamento aos

camponeses. Neste mesmo local hoje funciona a Escola Técnica em Agroecologia do MST -

Instituto Educar.

Como vimos, a história dessa Escola tem suas raízes nos anos 80 quando junto com

a conquista da terra na região vieram às reivindicações pelas necessidades básicas como:

moradia, escolas, saúde, centros comunitários, espaços para lazer e também da assessoria

técnica para produzir na terra. A assessoria técnica era uma necessidade tanto dos

assentados da fazenda Annoni, quanto dos assentados e pequenos agricultores das

proximidades. Assim, somando-se a eles estavam também o Movimento dos Pequenos

Agricultores (MPA) organizados através de seus sindicatos, o Movimento de Mulheres

trabalhadoras Rurais, (MMTR) - (atualmente Movimento das Mulheres Camponesas --

MMC) e Comissão Pastoral da Terra (CPT) (CAMPIGOTTO, 2009, p.36, 37).

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O grupo técnico (agrônomos, veterinários e administradores do CETAP) realizou o

trabalho de assessoria; construíram um banco de sementes; experiências na área de adubação

verde, suínos ao ar livre, produção de leite a base de pasto, controle biológico das lagartas da

soja, dias de campo, troca de sementes, acompanhamento às propriedades, reuniões, encontros

e cursos de formação. Foram aproximadamente dez anos de atividades na região (SANTOS,

2009). Depois de vivenciar essa experiência no ano de 1995, CETAP transferiu-se para a

cidade de Passo Fundo, ficando mais próximo dos agricultores. Que forneciam assistência que

já não era nas áreas de assentamento, deixando na área uma família de empregado que

cuidava das estruturas, dos animais, da horta e plantava a terra.

No inicio do ano 2000, o prédio que estava ocioso foi alugado para a FUNDEP

(Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa da Região Celeiro), escola que atende educandos

vindos dos movimentos sociais do campo e da cidade, que devido ao difícil acesso, estava se

mudando do município de Braga para um lugar mais próximo dos movimentos sociais.

A direção estadual do MST, já influenciada pelas demandas de sua base, vinha

sentindo a necessidade de se ter uma escola com abertura para militantes da Via Campesina

do Brasil. Da Via, já participaram educandos do próprio MST, o MPA e MAB - Movimento

dos Atingidos por Barragens. Recebeu também educandos do MTD – Movimento dos

Trabalhadores Desempregados. Assim foi o processo de construção de uma proposta para a

criação dos cursos técnicos direcionados aos jovens, um dos objetivos era a ampliação das

opções profissionalizantes e a motivação em torno do estudo, visando a permanência dos

jovens no campo e na escola.

Neste contexto, no segundo semestre de 2004, foi criado o Instituto Educar1

Estava tudo acertado com a parceria do PRONERA, porém as negociações com a

UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) não avançavam. Após uma reunião com

representantes do MST e a Universidade, em 17 de março de 2005 chegou-se à conclusão de

sob

administração do MST. Iniciando assim a organização do curso técnico em Agropecuária com

Habilitação em Agroecologia para implementar na prática o conhecimento teórico com

princípios de respeito às leis da natureza, para viabilizar a produção de alimentos sem uso de

agrotóxicos que daria suporte para uma vida no campo mais saudável. Neste período foi

elaborado o PPP (Projeto Político Pedagógico) do instituto.

1 A origem deste nome é fruto de discussões no setor de produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra assim como outros Institutos já existentes que buscam parceria com o INCRA (Instituto de Colonização e Reforma Agrária), através do PRONERA (Programa de Educação na Reforma Agrária).

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que se deveria buscar nova parceria. Foram feitos contatos com a Escola Agrotécnica Federal

de Sertão (EAFS) que se localiza a uma distância de 100 km do Instituto Educar. Em poucos

dias a situação foi resolvida. No mês de maio, foi aprovado o curso no Conselho de Educação

da escola e referendado no Ministério de Educação e Cultura.

Assim iniciam-se os trabalhos com os educandos de ensino médio, cuidando de dar

respostas na formação da juventude e capacitação técnica para as famílias e principalmente

dos filhos de agricultores assentados para que os mesmos tenham condição de garantir sua

sobrevivência com dignidade.

Os assentados(as) do MST se organizam em seus municípios e regiões formando suas

regionais, é nestes espaços que se realiza a sondagem dos jovens interessados a ingressarem

no curso no Instituto Educar. Levantamento este que é feito pelos dirigentes(as) das

comunidades dos assentamentos, nos espaços de divulgação com escolas e comunidade da

região, estes são os primeiros passos a serem dados pelos educandos para chegarem até a

escola é o contato com suas regionais de origem.

A juventude vai para a escola no intuito de inicialmente fazer uma etapa preparatória

para conhecer a proposta do curso e o método pedagógico de funcionamento da escola. Esta

etapa dura trinta dias, algumas vezes os educandos retornam para suas regiões e outros dão

inicio a primeira etapa do curso, realizando suas provas e matrículas exigidas.

Os cursos do instituto de ensino médio tem uma duração de três anos e meio, e pós

médio de 2 anos, isso acontece alternando o regime de 70 dias no tempo escola e 70 dias no

tempo comunidade. Nesta “pedagogia de alternância,” os alunos estudam parte do tempo na

escola e parte na comunidade. Este é um momento que exige um bom acompanhamento,

reflexões junto às turmas, disciplina, combinados coletivos, tempos a serem cumpridos, e a

partir disso elaborar a crítica da opressão cotidiana que vai até o entender de como funciona a

sociedade como um todo, entender mesma a partir das conflitualidades.

O Instituto Educar é composto por uma coordenação pedagógica, que dá direção às

estruturas da casa e aos setores de trabalho, estes são: a secretaria, biblioteca, administrativo,

cozinha, ciranda, e coordenadores da produção. Estes trabalhadores(as) compõem o núcleo de

base interno do Instituto Educar composto por quinze trabalhadores(as).

Atualmente a escola possui duas salas de aula, uma sala de apoio pedagógica, uma sala

de atividades administrativas e secretaria, uma sala de serviço de apoio, uma biblioteca, uma

sala de informática com dez computadores conectados na Internet, sete UEPs - Unidades

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Educativas de Produção, sendo lavoura, horta, pomar, padaria, animais, embelezamento, horto

medicinal – , sete alojamentos para estudantes e quatro para educadores e outros usuários, e

uma área para a cozinha e refeitório. A primeira turma – “Herdeiros da Mãe Terra” – do

Instituto Educar começou estudar em 1 de março de 2005, com curso de ensino médio com

71 educandos. Após seis meses matriculou-se a primeira turma de pós-médio - Herdeiros da

Luta - com 48 educandos e assim se fortalece a escola e sua pedagogia, junto a sua produção

agrícola.

Até o momento, estão registrados 143 educandos formados com duas turmas de pós

médio e uma de ensino médio, 153 educandos estudando com três turmas de ensino médio em

andamento, totalizando 129 educandos e uma turma de pós médio com 24 educandos.

Com o passar do tempo vamos trabalhando e aprendendo juntos, que a vinda destes

jovens para a escola está para além do acesso ao conhecimento, pois vivemos intensamente

um processo de disputa desta juventude com esta sociedade e seus princípios capitalistas. O

território disputado não é somente físico, mas também disputamos ideias, projetos, uma

educação que mostre o seu papel na sociedade, de como podemos agir. Por isso o desafio é

maior no aspecto da permanência do mesmo na escola para uma vivência coletiva.

O território imaterial está presente em todas as ordens de território, está relacionado com o controle, o domínio sobre o processo de construção do conhecimento e suas interpretações. Portanto, inclui teoria, conceito, método, metodologia e ideologia. O processo de construção do conhecimento é também uma disputa territorial que acontece no desenvolvimento de paradigmas ou correntes teóricas (FERNANDES, 2009, p.210).

Esta disputa é para fortalecer os territórios camponeses, é um território imaterial, que

caminha junto com o material e ambos se complementam, alimentam as esperanças e a

transformação da consciência e da ação destes jovens. É no campo do território imaterial que

se faz a disputa de ideias, com intencionalidade no pensar e executar as ações no mundo

sendo também produtor de relação de poder.

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1.1 - A origem da pedagogia vivenciada no Instituto Educar

A concepção de educação no MST é construída a partir de uma história de luta, o

acesso à educação e a própria construção de uma nova pedagogia pelo e para o Sem Terra2 os

quais são determinantes para construção de sua concepção educativa. A educação para o MST

é uma de suas principais bandeiras de luta. A escola está presente desde os acampamentos, na

forma de escola itinerante3

Caldart (2000) elenca quatro elementos que dão origem ao nascimento do trabalho do

MST com a educação:

, passando pelas escolas públicas nos assentamentos, até os centros

de formação e “escolas” do próprio MST.

1 Respeito ao contexto social, a realidade do meio rural, nos diversos aspectos a questão

agrária e a educacional brasileira os quais dão origem ao MST e a preocupação com a

escolarização dos seus integrantes.

2 Á preocupação direta das famílias com a escolarização dos seus filhos, e estas

preocupações se tornam uma preocupação de toda a coletividade.

3 O MST transformar a necessidade em uma tarefa da organização e lutar por educação

e a escola.

4 Remete ao fato de que os dirigentes deste processo depositaram um valor necessário

no estudo desta educação que queremos, transformando ele num princípio para a

organização, compromissos com a formação humana voltada para uma organização

social de massa.

Nessa trajetória, foram conquistadas inúmeras escolas, muitos cursos de formação

política e profissional. As conquistas são grandes, mas insuficientes pelo número de Sem

Terras que ainda não conseguiram conquistar este direito.

A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá, dois momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se na práxis, com a sua transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta

2Sem Terra, é entendido como o indivíduo que passa a adquirir pertença orgânica a luta pela reforma agrária. É um sujeito social, protagonista da luta pela reforma agrária. Distingue-se de sem-terra, que se retrata a uma mera condição, a de estar sem a terra (Roseli Salete Caldart, 2000). 3 Itinerante, no sentido de mobilidade física. Esta escola acompanha o acampamento para onde quer que ele movimente (CALDART, 2000).

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pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação (FREIRE, 1987, p.23)

Na leitura de Paulo Freire ele nos revela, que quanto mais identificamos o que nos

oprime, vamos construindo formas de no libertarmos e o projeto político pedagógico da

escola vem fundamentado nesta práxis, junto a esta filosofia também é edificado nos

princípios pedagógicos assumidos pelo MST e as convicções e linhas de ações da educação

do campo as quais são 13 linhas tiradas em 2002, a qual queremos destacar a 5º:

Quando dizemos Por uma Educação do Campo estamos afirmando a necessidade de duas lutas combinadas: pela ampliação do direito á educação e a escolarização no campo; e pela construção de escola que esteja no campo, mas que também seja do campo: uma escola politica e pedagogicamente vinculada á história, á cultura e ás causas sociais e humanas dos sujeitos do campo, e não de um mero apêndice da escola pensada na cidade; uma escola enraizada também na práxis da Educação Popular e da pedagogia do Oprimido (KOLLING, CERIOLI e CALDART, 2002, p. 19).

Neste, temos a necessidade de apresentar a educação profissionalizante a partir da

proposta de educação do campo implantados em outros institutos, como exemplo o

ITERRA - Instituto o Josué de Castro -. Reafirmando a forma que historicamente o MST

vem formando, o sujeito social de nome Sem Terra e seu movimento de luta.

É como retrata o Caderno de Educação, número 09, que traz a nossa concepção de

escola:

A relação do MST com a educação é, pois, uma relação de origem: a história do MST é a história de uma grande obra educativa. Se recuperarmos a concepção de educação como formação humana é sua prática que encontramos no MST desde que foi criado: a transformação “dos desgarrados da terra” e dos “pobres de tudo” em cidadãos, dispostos a lutar por um lugar digno na história. É também educação o que podemos ver em cada uma das ações que constituem o cotidiano da formação da identidade dos sem - terras do MST (MST, 1999, p. 5).

Esta é a pedagogia que se forja na luta dos Sem Terra, busca a humanização,

fortalecida em uma identidade e em movimento, a chamada Pedagogia do Movimento.

Esta pedagogia tem matrizes pedagógicas fundamentadas em várias pedagogias retratadas

por Caldart (2000) as quais segue:

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• Pedagogia da luta social na perspectiva da luta em busca de conquistas,

mostrando que é possível subverter a desordem e reinventar a ordem, a

partir de valores verdadeiros e radicalmente humanista, que tenha a vida

como um bem muito mais importante do que qualquer propriedade.

• Pedagogia da organização coletiva tem suas raízes no acampamento com

as necessidades do movimento, se tornando uma grande família do MST,

esta está vinculada com a pedagogia da cooperação, é o desafio permanente

de quebrar, pelas novas relações de trabalho, pelo jeito de dividir as tarefas

e pensar no bem estar do conjunto das famílias, e não de cada um por si. É

quando a escola funciona como uma cooperativa de aprendizado, onde o

coletivo assume a corresponsabilidade de educar o coletivo, formando uma

visão de mundo, de uma cultura e no bem de todos.

• Pedagogia da terra, buscar perceber a historicidade do cultivo da terra e da

sociedade, o manuseio cuidadoso da terra, natureza para garantir mais vida e

educação ambiental.

• Pedagogia do trabalho e da produção brota do valor fundamental do

trabalho que gera produção, que é necessária para garantir qualidade de vida

social. Pelo trabalho se produz conhecimento, cria habilidades e forma sua

consciência. Em si mesmo o trabalho tem uma potencialidade pedagógica, e

a escola pode torná-lo mais plenamente educativo, á mediante que as

pessoas ao perceber o seu vinculo com as demais dimensões da vida

humana: sua cultura, seus valores, suas posições políticas. Por isso as nossas

escolas precisam se vincular ao mundo do trabalho e se desafiar a educar

também para o trabalho e pelo trabalho.

• Pedagogia da cultura tem suas dimensões na pedagogia do gesto, símbolos

e do exemplo as quais se exercitam na prática e exercício do dialogo, no

mistério da mística que materializa da vida.

• Pedagogia da escolha esta se manifesta á medida que reconhecemos que as

pessoas se educam se humanizam mais quando exercitam a possibilidade de

fazer escolhas e de refletir sobre elas. Ao ter que assumir a responsabilidade

pelas próprias decisões as pessoas aprendem a dominar impulsos,

influências, e aprendem pela coerência entre os valores que se defende com

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palavras e os valores que se efetivamente se vive, é um desafio sempre em

construção reflexão permanente.

• Pedagogia da história ela nasce do cultivo da memória e da compreensão

do sentido da história e da percepção de ser parte dela, não apenas como

resgate de significados, mas como algo a ser cultivado e produzido.

Ninguém ou nada é lembrado em si mesmo, deslocado das relações sociais,

deve ser trabalhada a história em todo o processo educativo na busca de

compreender a história e seu movimento.

• Pedagogia da alternância está brota do desejo de não cortar raízes. É uma

das pedagogias produzida em experiência de escola do campo que buscaram

integrar a escola com a família, e a comunidade do educando. No nosso

caso ela permite uma troca de conhecimentos e fortalecimento dos laços

familiares e do vínculo dos educandos com os assentamentos e

acampamentos, seus movimentos e a terra.

Nesta caminhada o MST forjam seus princípios filosóficos e pedagógicos da educação

no interior do movimento, atribuem cinco princípios filosóficos a sua proposta educacional ao

afirmar que a educação deva ser para a transformação social:

• Aberta para o novo; • Para o trabalho e a cooperação; • Aberta para o mundo; • Voltada para as várias dimensões da pessoa humana; • Um processo permanente de formação/transformação humana.

Estes princípios filosóficos, evidentemente, estão repletos de uma visão de mundo, das

concepções mais gerais em relação à pessoa humana, à sociedade e ao que entende-se que seja

educação. São os fundamentos dos objetivos estratégicos do trabalho educativo para o MST

(MST, 1999).

Desta forma vai se materializando as necessidades, quem as dita é a própria realidade

vivida, fundamentando os princípios norteadores da nossa pedagogia, ela caminha com a

demanda da classe trabalhadora e é assim que se materializa o Instituto Educar.

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1.2 Os camponeses e a agroecologia: território em disputa (revolução verde x agricultura ecológica no MST)

Neste momento, em que o capitalismo avança no campo através da produção da

monocultura em grande escala (ex: cana, soja, eucalipto), as políticas públicas de incentivo

para a produção agrícola estão em grande parte voltadas para este modelo de apropriação das

relações sociais. Mesmo assim, os camponeses continuam lutando e resistindo. A contradição

do modelo de desenvolvimento capitalista cria as condições para existência deste campesinato

e da ocupação de novos territórios.

Em estudos sobre o uso e a intencionalidade dos territórios em seu artigo, “Entrando

nos territórios do território”, Bernardo Mançano Fernandes nos dá a seguinte definição:

O conceito de território é usado como instrumento de controle social para subordinar comunidades rurais aos modelos de desenvolvimento apresentados pelas transnacionais do agronegócio. Em suas diferentes acepções, o território sempre foi estudado a partir das relações de poder, desde o Estado ao capital, desde diferentes sujeitos, instituições e relações. Na essencialidade do conceito de território estão seus principais atributos: totalidade, multidimensionalidade, escalaridade e soberania. Portanto, é impossível compreender o conceito de território sem conceber as relações de poder que determinam a soberania (2010, p.5).

Nesse sentido é necessário fazer uma diferenciação da realidade do campesinato nas

diversas escalas, condicionado às influências externas e as dinâmicas internas. Para nós, o

campesinato existe e luta, para continuar existindo, mas não podemos negar que as

transformações mudam as condições de vida destes camponeses. Não é mais possível pensar

em campesinato na lembrança das relações de décadas atrás, mas no camponês que hoje vive

as transformações do século XXI e resistem. Os vários movimentos sociais que travam a luta

pela Terra, pela Soberania Energética e Alimentar, que lutam pela igualdade de gênero das

mulheres camponesas, são a prova, que os camponeses continuarão existindo.

Entre os intelectuais que tem a preocupação de estudar o campesinato, Ariovaldo

Umbelino Oliveira é um que dedicou suas pesquisas e elaborações sobre a questão agrária.

Segundo ele, para entender o desenvolvimento desigual do capitalismo, pressupõe entender

sua reprodução ampliada, e ela só é possível se articulada com relações sociais de produção

capitalistas e não capitalistas simultaneamente, e o campo tem sido o lugar privilegiado para

isso se materializar. Isso coloca uma contradição clara, pois ao mesmo tempo em que o

capitalismo avança pelo território brasileiro, as relações de produção não capitalista também

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avançam. “(...) as relações de produção não capitalistas, como o trabalho familiar praticado

pelo pequeno lavrador, camponês também avança mais” (OLIVEIRA, 1996, p 11).

Mas esta contradição também expõe a fusão e subordinação camponesa pelo capital,

através da sujeição da renda da terra, e expropriando todo excedente, reduzindo a condição do

camponês a sua reprodução física. Conforme afirmação de Oliveira, estamos diante de dois

mecanismos de monopólio do capital em relação à produção do campo. “O monopólio na

produção, que está subordinando a circulação à produção. E monopólio na circulação,

subordinando a produção à circulação” (OLIVEIRA, 1996, p.12). É através desta lógica que o

capital entra na realidade do camponês, mas ao mesmo tempo faz o movimento contrário.

Esta contradição acontece entre a luta capitalista pela apropriação privada da terra ocorrendo

aumento do número de posseiros, de sem-terras que travam uma luta desigual pela conquista

da terra. Esta luta é passo fundamental no processo contra os capitalistas (apropriação

capitalista).

O processo de desenvolvimento do capitalismo na agricultura está marcado pela

industrialização e pela mundialização. Para avançar na produção em grande escala, a

industrialização da agricultura muda hábitos alimentares da população. Neste

desenvolvimento do capitalismo há processos de territorialização e monopólio ou só o

monopólio do território.

Fernandes trabalha em suas diversas obras sobre a questão agrária e o território do

campesinato, mas especificamente ele vai debater essa problemática no artigo “Questão

Agrária: Conflitualidade e Desenvolvimento Territorial.” Para o autor, o campesinato é fruto

das contradições do capitalismo, em que este destrói, cria e recria o campesinato e,

contraditoriamente, os camponeses destroem e constroem o capitalismo, porém, em menor

proporção. É na conflitualidade que se cria o capitalismo e o campesinato (FERNANDES,

2008).

Para Fernandes a conflitualidade é o processo de enfrentamento perene que explicita o

paradoxo das contradições e as desigualdades do sistema capitalista, evidenciando a

necessidade do debate permanente, nos planos teóricos e práticos, a respeito do controle

político e de modelos de desenvolvimento.

Segundo Horacio Martins de Carvalho de acordo com os modos de apropriação da natureza e dos saberes para usá-los para seu aproveitamento, as famílias camponesas desenvolveram uma racionalidade que lhe é própria, ainda com diversidade histórica, étnica e territorial, a racionalidade

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camponesa. Esta racionalidade se baseia em dois elementos centrais: a garantia da continuidade de reprodução social da família, e a posse sobre os recursos naturais. A reprodução social da unidade de produção camponesa não é movida pelo lucro, mas pela possibilidade crescente de melhoria das condições de vida e de trabalho da família (2005, p.170)

Em um projeto organizado pela CAMP – Centro de Assessoria Multiprofissionais

(Formação, planejamento, e Organização Popular), chamado PADROP – Pequenos

Agricultores, Desenvolvimento Rural, Organização Popular, lançou uma cartilha em 1996

chamada: Desenvolvimento Sustentável Concepções dos Movimentos Sociais Populares

Rurais do Rio Grande do Sul (SANTOS, 2011). É aqui que o MST coloca sua concepção

referente aos processos que no campo vem passando. Foram José Campos e Antônio

Parcianello, ambos dirigentes estaduais do MST neste período, que passaram as informações

ao projeto.

Em primeiro lugar, eles colocam a análise que a organização via fazendo do modelo

de desenvolvimento do capitalismo nos últimos anos na agricultura, a modernização da

agricultura pela revolução verde. Esse é um pacote implantado no nosso país patrocinado pelo

Governo Militar, a base deste pacote é a monocultura, ampliação dos agrotóxicos, a

modernização dos maquinários, pautado para desenvolver a agricultura para poucos (CAMP,

1996).

As consequências deste modelo são: destruição da natureza por causa dos agrotóxicos,

concentração da terra, êxodo rural e a descapitalização total dos agricultores, junto ao pacote

o tripé para o desenvolvimento do capitalismo, a associação do capital financeiro, articulado

com a indústria e o comércio (CAMP, 1996).

Neste período o MST debatia junto à sociedade que a Reforma Agrária fosse uma

bandeira de todos e não somente do MST. Apresentando um programa que se resumia em

três itens: 1º) modificar a estrutura e propriedade da terra democratizá-la; 2º) organizar a

produção agrícola para a produção de alimentos e agroindustrializar a produção; 3º) garantir a

segurança alimentar, produzir no campo com a reforma agrária, para alimentar os

trabalhadores do campo e da cidade (CAMP, 1996).

O modelo tecnológico de produção para o movimento não estava definido, iniciavam-

se experiências pontuais no estado com a agroecologia, e assim a busca por ter um projeto

alternativo, mas se avaliava que a discussão tecnológica estava vinculada a embates de poder,

forças das classes e seus interesses.

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Para modificar a maneira de produzir, o ponto de partida é a redução dos custos de

produção, partindo dos insumos, substituir os insumos químicos que tem um barateamento do

custo de produção, depois vai avançando a discussão a nível ecológico, saúde, recursos

naturais e questões ambientais e relações humanas.

Neste período o movimento aprofundou seus debates em torno da matriz produtiva e

como ela está vinculada com a condição de existência da organização. Isso levanta

questionamento entorno do estabelecimento das relações entre o saber técnico e o saber do

produtor. Os produtores possuem conhecimentos práticos na hora do fazer, então, um dos

grandes questionamentos seria em relação aos técnicos, que em sua maioria utilizam uma

forma de trabalhar com o agricultor impondo alguns pacotes, não ouvindo o agricultor no que

ele tem de conhecimento para partir disso trabalhar o aperfeiçoamento das técnicas. A grande

questão agora é ir conjugando o saber do agricultor com as técnicas, com o conhecimento

científico que o técnico tem trabalhando estas questões em conjunto no desenvolvimento da

propriedade. O técnico também tem que ser um pouco pedagogo (CAMP, 1996).

Em novembro de 2006, CONCRAB - Confederação das Cooperativas de Reforma

Agrária do Brasil LTDA e Ministério de Ciência e Tecnologia do Brasil em parceria com

outras instituições elaboraram a revista cientifica Reforma Agrária e Meio Ambiente com o

objetivo de expor idéias, analisar experiências, discutir metodologia e provocar debate.

Com o titulo, “Reforma Agrária: concepção e estruturação,” o primeiro artigo do

primeiro número da revista traz elementos em torno da rede de pesquisa tecnológica. Os

autores do artigo, Pedro Ivan Christoffoli e José Antonio Custódio de Oliveira Filho,

argumentam que historicamente, o processo de Reforma Agrária no Brasil tem

desconsiderado interfases com a área da ciência e tecnologia. Os assentamentos, fruto da

pressão do movimento popular, foram renegados a sua própria sorte, com dificuldade de

acesso ao conhecimento cientifico e cultural acumulado, sendo assim os pequenos

agricultores, têm sido englobados nos pacotes tecnológicos direcionados pelas empresas

capitalistas, que transferem esquemas tecnológicos fechados aos seus agricultores integrados.

O modelo predominante nos pacotes tecnológicos tem englobado o que se convencionou

chamar de modelo da revolução verde (que estimula o uso de adubos químicos altamente

solúveis, agrotóxicos, melhoramento genéticos voltado exclusivamente á produtividade física,

mecanização intensiva, direcionadas para as grandes áreas etc.) (CHRISTOFFOLI e

OLIVEIRA FILHO, 2006).

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Ainda falando deste artigo, ele reforça que este modelo aumenta a concentração da

propriedade da terra, na elevação do êxodo e na persistência da miséria no meio rural, na

perca da qualidade biológica do dos alimentos, na contaminação do meio ambiente e dos

trabalhadores e no incremento de uma serie de doenças e sequelas (tanto com produtores

quanto com os consumidores). Segundo Christoffoli e Oliveira Filho (2006), as concepções

alternativas de desenvolvimento para o meio rural surgiram mais fortemente a partir dos anos

1970 – 80 e focaram, em grande medida, na geração de alternativas de organização de

produção e na busca de tecnologias mais adequadas á realidade dos pequenos agricultores.

Essa tendência ambientalista o espaço limitou-se a algumas ONG`s (financiadas por

instituições internacionais) e por agricultores, que empreenderam a tarefa de construir,

experimentalmente, as bases de um novo paradigma de produção agrícola, focado no que se

passou a denominar agroecologia. Hoje existe um conjunto de práticas e conhecimentos,

acumulados ao longo dos anos de experimentação e análise, gerando por milhares de

pesquisadores leigos ou técnicos, vinculados a ONG`s e movimentos sociais (e muito

recentemente, a alguns organismos de pesquisas governamentais).

Uma característica dita como fundamental deste novo paradigma agroecológico é a

necessidade de sua adaptação específica a cada bioma e a cada situação que reúna

características distintivas, seja de solo, de clima, dos tipos de culturas e criações

desenvolvidas, enfim, a sua interação com os sistemas produtivos. Este é um debate que

desvincula a prática da agroecologia com o uso de uma receita (CHRISTOFFOLI e

OLIVEIRA FILHO, 2006).

E assim nasce o debate na produção e a criação da escola técnica com ênfase em

agroecologia, como um espaço de reflexão e produção de conhecimento, por meio de vários

mecanismos. A agroecologia é apresentada como principio e finalidade (ponto de partida e

ponto de chegada),almejando um processo de transformação da realidade sendo um

instrumento pedagógico do campesinato e sua resistência para além da escola.

Em janeiro, 2007, em seu 5º Congresso Nacional, o MST reforçou a necessidade de

discutir o que precisamos mudar na agricultura, em nosso país e na América Latina, o

Movimento colocou o desafio de apresentar um novo programa para a agricultura brasileira,

que atenda as necessidades dos camponeses e da população brasileira, reafirmando seu

compromisso com a terra e com a vida. Como Consta na cartilha:

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Orientações práticas e históricas dos Congressos do MST”, defenderam o Manifesto das Américas em Defesa da Natureza e da Diversidade Biológica e Cultural. O documento argumenta que precisamos passar de uma sociedade de produção industrial, consumista e individualista, que sacrifica os ecossistemas e penaliza as pessoas, destruindo a sócio - biodiversidade, para uma sociedade de sustentação de toda a vida, esta nova sociedade será orientada de um modo socialmente justo e ecologicamente sustentável de viver, cuidar da comunidade de vida e proteger as bases físico-químicas e ecológicas que sustentam todos os processos vitais, incluídos os seres humanos (MST, 2007, p.57-58).

Em um artigo, Leandro Fagundes Feijó e Aloisio Souza da Silva analisam os

princípios da agroecologia elaborados por Gliessman (1990):

A agroecologia é o estudo holístico dos agroecossistemas, abrangendo todos os elementos humanos e ambientais. Enfoca a forma, a dinâmica e as funções dos conjuntos das inter-relações e de processos nos quais estes elementos estão envolvidos, constituídos, assim, uma grande teia. A agricultura sustentável, sob o ponto de vista agroecológico, é aquele que seja capaz de atender, de maneira integrada, aos seguintes critérios: a- Baixa dependência de inputs comerciais; b- Uso de recursos renováveis localmente acessíveis; c- Utilização dos impactos benéficos ou benignos do meio ambiente local; d- Aceitação e/ou tolerância das condições locais, antes das dependência da intensa alteração ou tentativa de controle sobre o meio ambiente; e- Manutenção a longo prazo da capacidade produtiva; f- Preservação da diversidade biológica e cultural; g- Utilização do conhecimento e da cultura da população local; h- Produção de mercadorias para o consumo interno e para a exportação (Apud FEIJÓ e SILVA, 2006, p.4).

É dentro dos princípios da agroecologia que vimos condições que proporcione o

pequeno agricultor a ter menor dependência da agricultura capitalista de expropriação e

domínio nos meios de produção, e que diminua os custos de produção e que consiga lhe dar a

condição de produzir com qualidade e mais acessível no preço para o consumo da população.

Isso permite uma maior autonomia para os agricultores, no que diz respeito a acesso e

domínio do conhecimento para a produção de sementes, adubos e demais ações relacionadas

ao manejo do ecossistema de forma ecológica. Esses fatores proporcionam as condições

fundamentais da agricultura camponesa permanecer em seus territórios e preservar suas

identidades camponesas e em luta para exigir seus direitos de existência perante a sociedade e

o Estado.

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1.3 - Projetos Político Pedagógico do IE

O projeto político pedagógico é um somatório de outros de experiências, como o

ITERRA - Instituto Técnico de Estudo e Pesquisa da Reforma Agrária, por ter os princípios

básicos do MST, se soma aos debates junto ao setor de produção do estado do RS, referente à

situação de dependência dos agricultores do modelo de agricultura imposta para os

agricultores, o pacote da Revolução Verde, juntamente com a realidade que a juventude

enfrenta de acesso e qualidade do ensino médio tanto no assentamento quanto no

acampamento. Com este diagnostico, vai se tirando as linhas políticas pedagógicas para os

cursos que seriam realizados no Instituto Educar refletindo isto com coletivo interno de

trabalhadores que iria dar início ao trabalho junto ao IE.

Em nossa entrevista, a coordenadora pedagógica Maria Salete Campigotto (2009),

ressalta que essência do Instituto Educar está na formação de camponeses (as), cidadãos, que

saibam conviver na coletividade, com construção de princípios de responsabilidade,

cooperação, confiança. Pensar esta formação de cidadãos, partindo do pressuposto de uma

profissionalização, buscando uma afinidade com a pesquisa voltada para a prática de uma

reelaboração teórica.

O projeto se justifica pela ação de se ter uma escola preocupada em dar respostas

concretas na construção de uma agricultura sustentável e ecologicamente correta. Isso não

seria feito com mais um pacote, que busque apenas a substituição de insumos, mas que passa

pela visão de processos, não de receitas, é necessário compreensão das cinco vertentes da

agroecologia que são: ambientais, econômica, social, culturais e política. Estas vertentes são

indivisíveis, pois se considera o todo, não apenas a soma das partes; indissociável, pois não há

desenvolvimento social e econômico sem gerar impactos no ambiente e interdependentes

pelas somas dos fatores mencionados (IE, 2005).

O objetivo é formar agricultores e filhos (as) de agricultores com especialização

técnica em agroecologia, que contribuam para a organização de base dos trabalhadores e a

implantação de um novo modelo de desenvolvimento para o meio rural brasileiro, em vistas

da manutenção do homem no campo. Para isto objetiva-se a constituição do curso técnico em

agropecuária com habilitação em agroecologia, visando formar um profissional com

habilidades técnicas e cientificas capaz de atuar conscientemente no setor de agricultura e

pecuária, determinado tecnologias economicamente viáveis, socialmente justa e

ambientalmente equilibradas (IE, 2005).

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A estratégia pedagógica é trabalhar com capacitação, preparação direta para a ação,

desenvolvimento de habilidades, com formação – saber teórico para a análise da realidade

mais ampla, enfatizando a capacitação e relacionando a prática com a teoria em vista de uma

nova prática. Trabalhar na construção e formação de sujeitos militantes com capacidade de

analisar a realidade social, política, cultural e econômica, discernindo os referenciais

tecnológicos alternativos e apropriados para o desenvolvimento do campo sem a dependência

tecnológica do agronegócio (modelo agrícola vigente onde a agricultura virou objeto de lucro

em detrimento da segurança alimentar e da própria soberania nacional).

No projeto político pedagógico os estudos e as práticas são direcionados a

agroecologia, a qual é concebida como uma alternativa para a materialização de uma

agricultura sustentável. É uma forma de agricultores e técnicos se relacionarem com a

natureza. A agroecologia pode desenvolver as condições para os agricultores atingirem níveis

de autonomia nos campos do saber, da tecnologia e da economia passando a fazer uma

transição do atual modelo para aquele que será a agricultura do futuro (IE. 2005).

As análises que tem no coletivo da produção e da coordenação da IE, é que pouco

valeria a luta pela terra, iniciada há 25 anos se descuidarmos da formação da juventude e

capacitação técnica das famílias e principalmente dos filhos de agricultores assentados para

que os mesmos tenham condição de garantir sua sobrevivência e a continuidades da vida no

campo conquistado.

Segundo o Projeto Político Pedagógico do Instituto Educar (2005), a vivência

coletiva está organizada em diversos tempos e espaços educativos que permitem

desenvolver nos educandos habilidades práticas e teóricas, essenciais para o dia a dia da

nossa vida (experiências acumuladas em outros cursos do MST). A formação dos sujeitos

educandos não acontece somente em sala de aula. Todos os espaços e tempos são

planejados, assumidos e avaliados coletivamente. A montagem dos tempos é concebida

pela escola como instrumento educativo na integração e formação da coletividade. Alguns

desses tempos são:

O tempo motivação: momento diário do conjunto do Instituto destinado à

motivação das atividades do dia, que pode ser feita através de poemas, histórias de vida,

reflexões, frases de lutadores do povo, hino do MST ou a internacional, conferência das

presenças de todos os integrantes da coletividade através dos NBs, retomar a caminhada do

dia anterior através da crônica diária, dar avisos, informes se necessário.

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O tempo mística: destinado ao cultivo das idéias, sonhos e utopias (do mundo

ideal), buscando a valorização do ser enquanto pessoa e coletivo.

O tempo aula: dedicado aos estudos dos componentes curriculares previstos no

projeto, conforme cronograma das aulas e incluindo momento de intervalo a combinar.

O tempo trabalho: é concebido como principio educativo, definido em vista da

execução do plano de produção do Instituto, conciliando a produção interna com o

aprendizado das disciplinas e o exercício da pesquisa.

O tempo oficina: orientado para o aprendizado de habilidades específicas

definidas conforme as metas de cada curso.

O tempo núcleo de base: tem por finalidade garantir momentos de encontro dos

educandos em seus NBs, é o tempo destinado ao processo organizativo da coletividade

envolvendo tarefas de gestão do Instituto, estudo e tarefas delegadas pelo MST.

O tempo cultura: trabalha com o resgate, ao cultivo, à valorização e à socialização

das vivências culturais dos educandos trazidas de suas regiões. Resgatar a cultura popular

como teatros, danças, trovas, paródias. É a complementação da formação política e

ideológica da coletividade do Instituto.

O tempo estudo tem a finalidade de criar o hábito de estudo, de aprimorar a

formação de cada sujeito como também reforço de aprendizagem.

O tempo leitura: orientado para o desenvolvimento do hábito da leitura,

interpretação de textos e capacidade de síntese. Os temas são dirigidos conforme as metas

de cada etapa com orientação da Coordenação Política Pedagógica (CPP) como também

pode ser de livre escolha de acordo com os gostos literários.

O tempo seminário: construído visando a socialização dos aprendizados, através

de pesquisas e leituras, visando aprofundar os conhecimentos e a proposição de ações

concretas.

O tempo pesquisa tem como intencionalidade o aprofundamento teórico das

práticas de campo, aprofundando através de pesquisa, propondo ações concretas para serem

aplicadas no setor de produção.

O tempo planejamento e socialização das atividades dos setores: permite a

todos terem uma ampla visão das atividades de cada setor. É o espaço destinado para

planejamento, socialização e avaliação das atividades dos setores.

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O tempo vídeo: é orientado para o conhecimento de outras experiências

acompanhadas de análise crítica através do debate ou síntese.

Os tempos educativos vem a contemplar a dimensão do conhecer que traz com sigo

o domínio da prática e da teoria e a dimensão do saber fazer que é o domínio de habilidades

técnico e administrativas. (IE, 2005). Para o bom andamento destes tempos, existe o

acompanhamento pedagógico, no tempo escola visa acompanhar os NBs que cada

educando e educando faz parte, análise do entendimento e amadurecimento do individuo e

do coletivo.

No Tempo Comunidade no acompanhamento aos educandos(as) será realizado pelo

movimento social de origem dos mesmos, orientados pela escola. A inserção no curso se dá

em dois momentos: no tempo escola que é realizado no Instituto Educar com duração de 70

dias e, o tempo comunidade realizado nas respectivas comunidades dos educandos também

com duração de 70 dias, onde os mesmos têm trabalhos orientados pela escola para

realizarem neste período. Esta alternância é uma das dimensões fundamentais de nosso

método pedagógico, visando à formação humana integral, através do exercício da

participação democrática e da construção cotidiana de novas relações sociais, de produção,

de convivência e de gênero. A inserção no tempo escola se dá pela organicidade de núcleos

de base, método usado para, uma maior participação e formação coletiva dos indivíduos.

Os educandos(as) serão organizados em NB, onde escolherão uma ou um

companheiro(a) para fazer parte da coordenação do núcleo e uma pessoa para relatoria.

Esse processo faz parte do método pedagógico do Instituto e garante a sua organicidade

interna, a cada etapa é feita à troca dos núcleos a reorganização dos mesmos, para que todos

possam conviver e se conhecer mais, ocorre também à rotação de funções dentro do NB,

pois um dia tu é coordenador do e no outros tu é coordenado, outro momento tu faz parte de

uma equipe e assim no decorrer do curso os educandos vão incorporando os aprendizados

de cada equipe, setor, espaço de coordenação assim por diante. As atividades dos núcleos

de base são as seguintes:

• Garantir a participação de cada um dos seus componentes nos diversos tempos

educativos

• Garantir a unidade, o respeito aos colegas e ao regimento do Instituto.

• Realizar estudos, leituras indicadas pelos educadores ou pela coordenação pedagógica

do curso.

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• Realizar a mística (ornamentar a sala fazer a animação do dia).

• Coordenar as atividades diárias, segundo a escala (segurança, mística, caderno de

reflexão, ciranda infantil e coordenação do dia).

• O NB que estiver coordenando o dia deve acompanhar o educador e fazer os

agradecimentos ao mesmo.

Para dar fluxo nos debates e dar conta das demandas dos educandos e da escola é

composta uma CNBT - Coordenação dos Núcleos de Base da Turma. A CNBT será composta

por um educando e uma educanda de cada núcleo de base, um representante da comissão de

disciplina e ética, sendo acompanhada pela CPP. Para um melhor funcionamento das tarefas

da turma são compostas também equipes para coletividade, a comissão de disciplina e ética,

memória e cultura.

Outra importante parte da inserção dos educandos é a dos educandos nos setores de

trabalho ocorre à distribuição de cada NB nos setores de produção e serviços do Instituto,

garantindo assim o envolvimento de todos(as) os participantes do curso nas atividades de

trabalho diário. E realizada uma rotação nos setores onde todos passam por todos os setores

que existem na escola.

As formas de avaliação existentes na escola são diversas e permanentes, pois existe

uma coordenação que acompanha o andamento da turma em seus vários tempos, os

educadores exercem formas de avaliação em plenária, com trabalhos escritos por NB e de

forma individual, provas, seminários. O IE adotou o método de avaliação critica e autocrítica

nos coletivos da escola.

Esta avaliação incide sobre os educandos devendo ser realizada no final da etapa, no

NB e no grupo dos trabalhos da escola. No primeiro momento realiza-se a auto-avaliação. Em

seguida cada membro é avaliado por todo, na sua maioria as avaliações estão ocorrendo no

NB, pois a mesma pode ser feita na turma.

No processo de avaliação devem-se considerar os seguintes aspectos;

• A vivência dos valores socialista; o respeito aos princípios do MST e outros

Movimentos Sociais;

• O cumprimento das funções políticas do NB perante a coletividade e

iniciativa em resolver os problemas do coletivo;

• A dedicação ao estudo e pesquisa;

• A relação de gênero;

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• A disciplina de cada educando e educanda;

• A consistência e firmeza política – ideológica;

• O respeito ás instâncias;

• A responsabilidade e solidariedade, com o coletivo;

• Espírito de sacrifício, amor á causa;

• Vontade de superação;

• Abertura de espírito.

Relações educadores/as e educandos/as, a cada etapa é feito um calendário com os

educadores que com forme a proposta metodológica da etapa, para ministrarem as aulas tanto

os educadores das áreas exatas (matemática, português e outras), quanto os educadores da

parte técnica (criação intensiva de animal, plantas forrageiras, Bioconstrução, PRV), os

educadores tem conhecimento da proposta da escola e da meta a ser alcançada na etapa, o

educador constrói sua aula por estes parâmetros colocados pela proposta da escola.

O aprendizado nas disciplinas é encaminhado pelos educadores(as) de cada disciplina,

e deve considerar o desempenho de aprendizagem de cada educando(a). Deve levar em conta

as metas das disciplinas por etapa, tendo em vista os objetivos gerais do curso. Cada

educador(a) deve optar pelos instrumentos mais adequados à verificação das metas de

aprendizagem combinado com a CPP. Caso os educando(a), não atingir as metas da etapa

entrará em processo de recuperação.

Avaliação dos educadores feita pelos educandos Cada educador(a) será avaliado pelos

NBs considerando o domínio do conteúdo, a metodologia de trabalho e seu relacionamento

com a turma. As avaliações devem ser repassadas para a secretaria da escola e assim a

coordenação faz o acompanhamento da turma em relação ao crescimento do coletivo e suas

vivencias.

Os coordenadores pedagógicos - acompanhantes das turmas elaboram um parecer

descritivo considerando as avaliações acima e observações da CPP, sendo encaminhado à

direção do movimento social e suas famílias, responsáveis pela indicação de cada

educando(a).

No tempo escola as orientações para a inserção dos educandos(as) no tempo

comunidade, os educandos(as) deverão inserir-se na organicidade de seu movimento social,

dando sua parcela de contribuição na comunidade onde faz parte desenvolvendo atividades

determinadas pela escola, educadores e movimento social.

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2. A APRENDIZAGEM DOS EDUCANDOS/AS NO INSTITUTO EDUCAR

A relação que estamos estabelecendo neste espaço de formação é de muito valor e

comprometimento para com a natureza e com os seres humanos, com o desafio de estabelecer

o estudo do conhecimento acumulado na história e de como vamos adaptando com a nossa

realidade e ao mesmo tempo denunciando e conscientizando nossa juventude da forma como

vem se ampliando a destruição da vida na terra.

Os resultados do agronegócio brasileiro atual, porém, não é nenhum milagre. São frutos de uma opção política e econômica por uma determinada classe no campo – os grandes proprietários de terra – uma determinada classe urbana- os proprietários de indústrias de insumos químicos e máquinas agrícolas (GÖRGEN, 2004, p.39)

Com este modelo instalado não existe espaço para pautar e se desenvolver a

agricultura camponesa e a Reforma agrária, estamos nas mãos das multinacionais, com isso

torna-se insustentável as condições de vida do povo do campo e da cidade, a cada dia aumenta

a fome, as grandes periferias, êxodo rural e a violência. Por isso, temos que ver formas de

fortalecer os territórios que temos e que futuramente vamos conquistar, para resistirmos frente

a esse modelo destrutivo e desumano.

A formação política destes jovens, no Instituto Educar busca-se analisar a conjuntura

de nosso país, é assim mostrando os porquê de se ter esta escola e ir construindo experiências

estaduais nacionais e latino americanas, com a necessidade de formar e promover estudos de

uma agricultura sustentável, que tenha em seu alicerce as bases das relações agroecológicas,

formas de desenvolvimento capaz de criar novos conceitos e resgatar práticas da agricultura

sustentável que está intimamente ligada com as características das relações camponesas. Os

estudos agroecológicos, como nos coloca Miguel Altieri, davam conta de algo que a

agronomia convencional não valorizava: a integração dos diferentes campos do conhecimento

agronômico, ecológico e sócio econômico. Neste momento, ocorre uma compreensão e

avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo

(ALTIERI, 2000).

Nesse sentido, a agroecologia carrega em seu interior, além da preocupação com o

equilíbrio do agroecossistemas, a responsabilidade de servir de contraponto e um novo

caminho de desenvolvimento sócio econômico, principalmente para os países em

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desenvolvimento. Para além de produzirmos alimentos mais saudáveis a custos menores, a

agroecologia tem consigo uma preocupação maior e bem centrada nas questões sociais.

O MST junto aos demais movimentos sociais do campo tem em sua base organizativa

política ir efetivando um projeto popular brasileiro, bem retratado em seu lema chamado grito

de ordem lançado em 2007 em seu 5º Congresso Nacional do MST o qual é: Reforma

Agrária: Por Justiça Social e Soberania Popular! Neste, se coloca a importância de buscar

justiça e soberania aos povos e todos os recursos naturais como bens da humanidade e não das

empresas, no entanto a água, a terra e a biodiversidade, não têm patentes nem marcas

comerciais, os recursos naturais da nossa “mãe terra” não são mercadorias.

Para o MST e a sua escola, a agroecologia não é só uma ciência ou uma simples

técnica, a agroecologia passa a ser mais que uma ferramenta é uma forma de vida e de

relações entre homem e a natureza, tendo como protagonistas destas relações às camponesas e

os camponeses, fazendo frente ao modelo de produção convencional imposto e suas relações

de individualismo, lucro e poder sobre seus territórios.

A questão colocada é o desafio de construir, na concretude das relações sociais, outra perspectiva de organização da economia e da sociedade, onde a complexidade da educação se efetive na perspectiva agroecológica, em várias dimensões da vida camponesa, tendo a escola tarefa fundamental neste processo, a de servir de “coração” que pulsa a vitalidade da possibilidade de romper com a lógica da economia industrial. A agroecologia, neste sentido, passa a ser tratada aqui como a organização do território camponês, e a escola como principal mecanismo de construção desta possibilidade, de contribuir concretamente com a “reeducação” das relações que se efetivam na vida cotidiana (SILVA E FAGUNDES, 2011, p. 07).

Todos os espaços de convivência no Instituto Educar onde se exercita o diálogo, a

troca de experiências, amizades, confraternização, jornadas socialistas, estudos, oficinas,

trabalhos práticos nos setores e de manutenção da limpeza do espaço físicos, pesquisas,

viagens vão se relacionando, pois todos têm uma intencionalidade educativa.

Foi a 2ª turma de ensino médio, Filhos de Rose, a qual busquei dialogar mais e

analisá-los nesta caminhada. Os educandos em sua maioria chegam à escola com seu primeiro

objetivo bem claro: fazer o ensino médio e juntar os saberes do curso técnico de agroecologia,

o que, de primeira, os causa estranheza por ser desafiador e diferente de suas realidades no

campo.

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Em seus tempos educativos, os educandos têm diariamente seis horas aulas em sala, e

nestes realizam as aulas do ensino médio e do técnico, os educadores das áreas de ensino

médio são sempre desafiados a relacionarem seus conteúdos com a parte técnica e os

objetivos do curso, e os professores que trabalham a parte técnica a desafiarem-se a relacionar

com o as disciplinas do currículo base do ensino médio, fortalecer as técnicas relacionando

com atividades práticas, sempre que puderem trazer experiências que estão dando certo e que

possam servir de exemplo. Falta um dialogo maior, e um planejamento entre alguns

educadores das áreas técnicas e das áreas do ensino médio, isso devidos o educadores serem

de localidades diferentes e de difícil acesso a escola, mas este é um desfio colocado para

qualificar o andamento do curso e seus aprendizados.

Nos primeiros passos dados, a escola foi criando formas para que os educandos se

apropriassem do planejamento da produção para o sustento da escola e junto fossem

exercitando o ato de planejar. As primeiras experiências foram da seguinte forma.

Com a chegada das turmas se realizava uma visita em toda a área da escola e após

acontecer à divisão dos setores por NBs, onde era escolhido um coordenador por setor de

produção e os coordenadores dos NB uma educanda e um educando.

O planejamento geral vinha para os NBs e os mesmos avaliavam o planejamento, e

davam sugestões, dando andamento no planejamento de acordo com as condições financeiras

da escola. Realizava-se avaliação dos setores, seu planejamento e o compromisso do coletivo

para o bom andamento do trabalho.

Uma vez na semana eram realizadas reuniões com os coordenadores dos setores e

dois acompanhantes da coordenação da escola responsáveis pelo setor de produção, onde se

fazia a socialização de como estava o andamento do planejamento, ali poderia ocorrer

remanejamento conforme a demanda dos setores. Os setores tinham a seguinte composição:

Pomar e embelezamentos, horta, animais, lavoura, padaria, saúde e infra - estrutura e volante.

Cada NB contava com sete a oito componentes. A proposta pedagógica da escola proporciona

que todos os NBs até o final do curso passem duas vezes por todos os setores de produção,

para que possam conhecer e aprender com os mesmos, isso acontece até os dias de hoje.

No final da etapa cada setor deixava um resumo de como ficava o setor e entregava

para a coordenação, onde a mesma reorganizava as demandas do plano, assim, dava

continuidade com a próxima turma. A forma que hoje está estruturado o planejamento dos

setores de produção é fruto de cinco anos de práticas e planejamentos da escola, acumulo de

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experiências internas que foram realizadas com as turmas que ali passaram e outras

experiências externas a escola, reuniões com a coordenação geral da escola a qual faz parte o

Setor de Produção Estadual do MST.

Foi mantida a visita aos setores nas chegadas das turmas para ter uma noção de como

está o andamento da produção. Hoje, cada setor tem um técnico responsável pela sua

coordenação. Os coordenadores dos setores têm todo o planejamento e suas demandas, e na

organicidade da etapa realizar-se um planejamento semanal dos setores, onde os educandos

avaliam o trabalho feito, planejam as atividades da próxima semana e após o planejamento há

uma socialização com as turmas, onde podem ser colocadas sugestões, críticas e outros, tem

por objetivo que todos saibam o que está acontecendo nos todo dos setores. Os coordenadores

de NBs são responsáveis para que o núcleo de conta das atividades.

Nestes últimos dois anos definiu-se que para um melhor acompanhamento e

andamento dos setores é necessária a formação de uma equipe técnica fixa, que de

acompanhamento permanente em todos os setores compostos da seguinte forma: Pomar,

horta, animais, lavoura, horto e saúde, padaria e infra - embelezamento.

Temos três técnicos formados no IE, um formado na escola técnica de Santa Maria -

RS e dois formados em uma escola técnica em Canguçu - RS, dois professores da escola

técnica Federal de Sertão - RS que acompanha a produção, um agrônomo que está na

administração dos projetos do IE, quatro componentes da equipe pedagógica da escola, juntos

fazem a ponte com o setor de produção do MST no Estado do RS.

Estes educadores da equipe técnica acompanham os educandos nos diversos tempos e

suas práxis. Este coletivo tem suas reflexões e planejamentos junto à direção do MST e da

equipe técnica de Sertão, com a meta de ser uma referência na produção, na busca de seu auto

- sustento, na viabilização dos assentamentos e a permanência dos jovens no campo, projetar a

produção e agroindústria, com alimentação saudável, respeito ao meio ambiente,

diversificação e alternativa econômica.

A escola dentro de sua pedagogia encontrou formas de exercitar a técnica e se desafiar

nesta caminhada na apropriação e construção de conhecimento para além das aulas técnicas,

suas práticas, busca intensificar e aprimorar o aprendizado dos educando com as seguintes

ações:

• Viagens técnicas: visualizar experiências que venha a fortalecer o manejo

ecológico e o fortalecimento da pequena agricultura;

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• Oficinas: é um tempo educativo para realizar técnicas de tratos com a

agricultura de forma agroecológica, direcionadas para os setores nos manejos

das culturas, solo, experiências de caldas, compostos, nas áreas destinadas

para isso e outras práticas orientadas pelas disciplinas;

• Oficinas nas escolas e comunidades do município;

• Interação com o município onde o IE esta inserido: participação em feiras

municipais, práticas de despesca para o jantar do peixe, onde os educandos

realizam todos os processos, desde a despesca até a elaboração dos pratos;

• Projetos de pesquisas: é definido por parte da equipe técnica junto ao

pedagógico, as culturas a serem pesquisadas, distribuído por duplas ou trios

nas turmas, os educandos assumem realização do processo de plantio,

manejos e cuidados necessários para o cultivo de determinada cultura, sendo

que no fim da etapa apresenta - se como foi a pesquisa, experiência realizada

em um dia de campo, colocando tudo o que foi trabalhado com a cultura

buscando sempre trazer práticas de cultivo agroecológico.

Na escola temos vários tempos educativos, entre eles tempos que são divididos com a

equipe técnica, a qual trabalham filmes técnicos de acordo com o foco da etapa, realizando

debates e analises dos mesmos, tendo como objetivo conhecer outras experiências e práticas

relacionadas à resistência do campesinato, impactos ambientais no mundo e práticas de

cultivos. Os filmes, também, têm uma dimensão para além da técnica à formação política

mantendo - os informados dos temas atuais, documentários e resgatando filmes que retratam

experiências de luta e resistência de movimentos sociais do Brasil e de outros países do

mundo, dimensionando a luta numa perceptiva internacionalista.

Os educandos realizam tempos trabalhos quatro vezes por semana, estas são as

práticas de campo da grade curricular, assim, vai se concebendo no dia - a - dia, o domínio

das práticas, manejo das culturas nos determinados setores e oficinas. Garantir o auto -

sustento da escola é outra tarefa essencial dos setores. São realizadas também, algumas

atividades de trabalho a campo, com a intencionalidade de exercitar uma teoria estudada em

sala de aula, com educadores, por exemplo: castração, evolução forrageira, PRV- Pastoreio

Racional Voisin, podas, coleta de amostra de solos para analise entre outros.

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No IE temos tempos educativos, onde se constroem seminários com temas técnicos ou

com temas políticos, como exemplo, questão agrária, questão de gênero e como funciona a

sociedade, estas leituras são feitas de forma orientada e com tempos destinados.

O grupo interno se dedica em buscar formação política e técnica, uma vez por semana

a coordenação da casa realiza formação com todos os integrantes do núcleo interno,

assessores da formação técnica, alguns são educadores da escola e do Instituto Federal de

Campus Sertão, esta formação também se dá a partir de leituras orientadas para estudo e

seminários.

Na gestão democrática realizada na escola, chama para uma responsabilidade pessoal e

coletiva, aprendendo que desde os nossos assentamentos, regionais, direção da escola, espaços

de planejamento, coordenação da turma, são espaços de exercitar a democracia e o

compromisso de assumirmos juntos os acordos e normas coletivas.

Vivenciamos espaços de avalição programadas na etapa, sendo elas uma de avaliação

geral dos os espaços e tempos educativos, dos educadores e a crítica auto - critica, sendo estas

realizadas duas vezes na etapa a cada 30 dias de convivência.

Viemos construindo, nestes últimos dois anos um estudo com acompanhamento de um

psicanalista da Finlândia Dotor Pert Simolas, que trabalha com as turmas e o grupo interno

com o tema das relações humanas e cooperação, este estudo vem para refletirmos e

qualificarmos as relações, e também a metodologia da crítica auto - crítica, pois esta tem a

intencionalidade de buscar que os educandos e o grupo interno, tenha momentos de auto

avaliação e de avaliação com os colegas da turma (SANTOS, 2009, 2010).

Com o acompanhamento do Simolas vamos estudando estes movimentos, da consciência,

incorporando e qualificando a metodologia, que venham a potencializar a formação deste

educandos, pois sabemos que o tempo do curso tem duração de três anos e é neste período,

que se dá a formação junto a seus movimentos, assim, amadurecendo estas questões.

A metodologia é voltada para identidade coletiva, trabalhando as potencialidades que

o ser humano tem, o qual ele chama de riquezas humanas, paralelo aos chamados empecilhos

que também carregamos. Como fazer para que possamos desenvolver mais nossas riquezas, a

partir da vivência da organicidade. A forma que ele aborda este trabalho com a organicidade

no IE é da seguinte forma:

ORGANICIDADE

• Organograma e distribuição de liberdades

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• Conscientização coletiva sobre valores socialistas e sobre o ser

humano

• Participação pela democracia direta

CONSCIENTIZAÇÃO INVIDIDUAL

• Reforço de consciência de bem

• Tolerância com a consciência de empecilhos

• Cobrança construtiva

• Identificação como meio de autoconhecimento

Para uma melhor organicidade, na busca de se ter a divisão de responsabilidade na

condução de todas as tarefas, temos o Organograma 1 - organizado da seguinte forma:

Organograma 1 – Organicidade do Instituto Educar

Fonte: Arquivos Instituto Educar, 2010

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O fechamento da etapa só acontece com o fim do tempo comunidade, este tem como

metodologia a apresentação em seminários em plenária, de cada educando, organizados por

regiões, onde os mesmos entregam os trabalhos que foram encaminhados, para o tempo

comunidade.

A coordenação pedagógica acompanha, avalia como esta o desempenho em realizar

os trabalhos orientados pelos educadores e coordenação do curso, via observando,

diagnosticando, refletindo como se dá a inserção dos educandos em suas regiões, comunidade

e unidade familiar, pois, em um destes espaços vai se materializando experiências, práticas

apreendidas no curso e assim, fortalecendo do aprendizado dos mesmos. As informações são

refletidas em torno da inserção política junto a suas comunidades e regionais de seus

movimentos. É levado para o setor de formação do MST, para ir trabalhando na direção

estadual formas de envolver a juventude e dar suporte para o bom andamento das tarefas nas

regionais e também ir chamando estes jovens para as lutas, organizar atividades nos

assentamentos e ir integrando estes nos coletivos de jovens organizados.

Com a juventude se trabalha no tempo escola, questões de como devem tomar

iniciativas de buscar estar mais presente na organicidade da região, assentamento,

acampamentos, não se acomodar e esperar que alguém venha buscá-los em casa. Pois, o

número de militantes ativos não é tão grande, então precisamos multiplicar esta pertença e o

compromisso em manter viva a luta e a organização.

Neste sentido, a agroecologia se coloca, sobretudo em uma perspectiva real concreta de reorganização do território baseado em valores camponeses, que se manifestam na cultura, na política, na economia, e em outras dimensões da vida. A educação é o meio pelo qual a política econômica se efetiva na sociedade, sendo assim um projeto político econômico de organização do território camponês, exige uma educação camponesa que vá para além da instituição escolar, ou seja, vários espaços e momentos de uma determinada comunidade camponesa se transformam em educativos, como por exemplo, o mutirão, a igreja, a festa, a própria escola (FEIJÓ e SILVA, 2011, p.10).

Neste contexto a escola se coloca como um espaço pedagógico-dialético, de produção

de conhecimento, a partir da realidade contraditória, que se efetiva através do diálogo, do

trabalho e da gestão democrática. Com a formação da consciência da juventude, mostrar como

transformamos a natureza para satisfazer nossas necessidades, e para entendermos que a visão

de mundo depende das condições objetivas que se vive é a partir das condições de vida, que

temos que nos levam a pensar e se posicionar perante a mesma.

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Este é um espaço de trabalho que produz conhecimento criando habilidades, cuidamos

do meio em que vivemos, desenvolvendo a pedagogia do trabalho o qual precisamos criar

gosto por ele, pois cada vez se torna uma penalidade, se corrompe devido à exploração do

capital. Na experiência vivida pelos educandos o trabalho é socialmente dividido se tornando

mais produtivo pelas relações de trabalho coletivas que é a superação do individualismo. É

através do trabalho que cultivamos nossas raízes, identidade de classe trabalhadora. Na

agroecologia, estas relações são mais fortemente relacionadas, com a relação do ecossistema,

na agricultura, onde os seres humanos transformam o meio e o meio os transformam. Segue

em anexo um conjunto de figuras:

Figura 2 - Aula de práticas de campo com o

Professor Luis Carlos Pinheiro Machado.

Fonte: Arquivo Instituto Educar, 2009

Figura 3 – Tempo Limpeza

Fonte: Arquivo Instituto Educar, 2011

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Figura 4 - Seminário - Instituto Educar

Fonte: Arquivo Instituto Educar, 2009

Figura 5 –Jornada Socialista - Instituto Educar

Fonte: Arquivo Instituto Educar, 2008

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Figura 6 - Tempo Trabalho Instituto Educar.

Fonte: Arquivo Instituto Educar, 2009

Figura 7 – Oficina Instituto Educar

Fonte: Arquivo Instituto Educar, 2009

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Figura 8 - Estudo no Instituto Educar

Fonte: Arquivo Instituto Educar - 2007

Figura 9 - Oficina Instituto Educar

Fonte: Arquivo Instituto Educar - 2007

2.1 - Os desafios da construção do conhecimento agroecológico

Para retratar os desafios encontrados nesta caminhada, de construção do conhecimento

em agroecologia no Instituto Educar, buscaremos dialogar e descrever como a pesquisa

realizada através de observação, diálogos, minha experiência na escola e a aplicação de

questionários para a coordenação pedagogia, coordenadores dos setores de produção e

educandos, fazendo um registro sobre a reflexão de nossas experiências.

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Em resposta ao questionário, o técnico Roberto Petroski manifesta sua análise a qual

retrata os desafios colocados para escola, o qual engloba as várias dimensões e limites na área

de produção e cultivo da terra.

A agroecologia é o modelo mais complexo que existe na produção de alimentos, pois necessita de um elevado grau de conhecimento técnico sobre a cultura que esta se implantando, as condições físicas e químicas do solo, as climáticas, qual a época que as pragas dessas culturas atacam e um planejamento com antecedência para poder repor alguns nutrientes que estejam faltando no solo, através das plantas recuperadoras e adubos orgânicos. Também precisa conhecer com funciona a atividade biológica do solo, entender sobre as fases da lua, além de ter um elevado grau de conhecimento técnico, também tem a necessidade de conhecer a geografia da região que se está tratando, pois cada região é diferente da outra e agroecologia não é uma receita pronta (PETROSKI, 2010).

Começo abordando as dificuldades, como um dos princípios que norteiam o

aprendizado dos educandos, que é a relação entre a teoria e a prática, o dia - a - dia na

produção agroecológica da escola, enfrenta muitas dificuldades. A discussão teórica que

temos na sala de aula com os educadores das áreas técnicas e educandos, trás muitas práticas e

experiências em agroecologia, seus fundamentos e conceitos que fazem parte da construção

das relações agroecológicas nos aprendizados dos educandos, respeitando sempre a

diversidade geográfica que temos no estado do Rio Grande do Sul, ressaltando que esta não é

uma receita pronta e que podemos buscar ir efetivando na prática. Nestes aprendizados faltam

uma proximidade maior, entre o que acontece nos setores de produção da escola e a teoria

trabalhada em sala de aula e a prática nos setores de produção, pois, somos uma escola e

temos que ter áreas de experimentos, mas também é desta área de produção que temos que

exercitar a colheita do que se produz na lavoura, a produção que os camponeses podem

produzir para qualificar a alimentação de todas as pessoas que residem e trabalham na escola

e alimento para os animais.

Temos o desafio de escrever mais sobre quais os passos que estamos dando em

experiências realizadas neste espaço que vão de encontro com a agroecologia e que se adapta

a realidade climática da região, pois aos poucos é isso que esta se fazendo.

Este se manifesta mais claramente no domínio do conhecimento cientifico das

espécies que se produz na lavoura, estamos com a dificuldade de manejo de plantas

competidoras que vivem ali, para isso dependemos de muita capina, a produtividade de grãos

é baixa. Segundo Maria Salete Campigotto (2010):

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Da forma como trabalhamos a produção de grãos não se consegue transferir a experiência para os assentamentos. Neste sentido precisamos lembrar que o pacote agrícola, acompanhados de seus venenos está entrando em quase todos os recantos e aparentemente é mais fácil passar secante do que trabalhar com a enxada.

Este é mais um fator que ainda tem muito que se avançar, a apropriação e as condições

de se ter técnicas de manejo para a efetivação dos plantios, este está relacionado com a falta

de pesquisa e incentivo. A pesquisa em torno do manejo necessário para o cultivo das

espécies e toda a sua relação com agroecossistema.

A falta de políticas públicas e de incentivo do governo, na garantia da produção

agroecológica ou orgânica desde o plantio, colheita, comercialização, prejudica o bom

andamento das experiências nestas áreas. Pois, no projeto dos cursos a porcentagem de verbas

para a área de produção é pouca e os de mais investimentos realizados nas áreas agricultáveis

são de caráter de doação, ou projetos que vem em nome de pessoas individuais para realizar

algum investimento com sementes, maquina, mudas, ferramentas de trabalho, adubação, entre

outros.

Outro fator é a forma que estamos cercados pelo modelo agroquímico de plantio

convencional e de transgênicos é o pacote que se tem hoje para agricultura na produção das

lavouras. Sendo assim, sofremos o impacto, não temos grandes análises, mas não tem como

não sofrer as influencia, pois, não se tem barreias e estamos localizados nas divisas dos lotes.

Nestes cinco anos de experiência obtivemos avanços consideráveis, conseguimos

aprofundar nossos conhecimentos teóricos, nossas práticas de manejo, avançando na

quantidade e qualidade nos setores de pomar, animais, horta, horto medicinal, os quais estão

progredindo.

Com todos estes aspectos, vividos nas relações de produção da escola, reforça a nossa

resistência e se tem um diagnóstico, que a produção que estamos realizando é experiência de

grande valor, com uma produção orgânica, sem uso de veneno e adubo químico, o qual

requer muito esforço físico e mão de obra. Assim, como afirma um dos técnicos, Fabio

Toledo, que contribui no setor de produção da escola, formado pelo Instituto Educar:

Aqui é um campo das realizações de experiências, mas tem se encontrado uma distância muito grande entre sala de aula e o campo prático, temos dado alguns passos em busca da agroecologia, mas ainda se encontramos trabalhando uma agricultura orgânica. É o espaço de disseminação da

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agroecologia para todo o nosso estado por enquanto continua sendo só no campo teórico (TOLEDO, 2010).

Conforme os fatores elencados nos parágrafos anteriores, os quais também são limites

gerais para os camponeses na busca de se ter condições, para mudar a forma de produzir. As

experiências que temos são pontuais e estão engatinhando, aos poucos vamos colocando essas

necessidades nas pautas de luta, na busca de dialogar com toda a sociedade. É como nos

coloca o técnico formado no Educar, que contribui com os setores Lauriando Amaral De

Freitas (2010):

O desafio é buscar as concepções por comum e junto ir realizando práticas, reavaliando e redimensionando as experiências. Requer desafiar se a estudar muito para compreender, a relação da agroecologia para com a formação humana, pois é imprescindível mudar as relações humanas para conceber o processo de transformação da agroecologia e devido os limites impregnados culturalmente na formação como individuo, tornasse mais complexos ainda, fazer da agroecologia um processo de inserção pedagógico.

Agroecologia não se limita simplesmente a um modo de produção, nesta se trabalha a

cooperação, as relações de vida entre os seres humanos, na interação com o meio em que se

vive e entre os seres humanos, fortalece valores enraizados na cultura dos camponeses, como

a autonomia, cuidado com recursos naturais, mutirões, solidariedade, e a preservação da

diversidade como forma de sobrevivência.

Agroecologia não é um modo de produzir, mas sim um modo de vida que se entrelaça

com a vida do camponês. Para se trabalhar essa forma de produção é necessário ir

contrapondo o modelo que vivemos, cada relação que fizemos com a terra, a forma que cuido

e interajo com a natureza. Tudo esta vinculado, como eu me vejo e me relaciono com as

pessoas, também tem que ser pautado e questionado avaliado de forma permanente. A forma

como é tratada a juventude e como se cria vícios e dependências químicas, a prostituição, a

sexualidade, o desvio de caráter, o individualismo, o consumismo, a incapacidade de ser um

ser que questiona e identifica as causas das desigualdades sociais, é como retrata um

educando da turma Filhos de Rose: Magnos Potheguara Maschio.

Estudamos hoje técnicas de manejar na área animal, vegetal, mas mais do que isso aprendemos a buscar entender o funcionamento de cada ser vivo dentro de um meio ambiente e seu papel no mesmo e a partir daí do conhecimento e de cientificar algumas coisas antes empírica é que pensamos em agir de forma cada vez mais agroecológica na agricultura e em nossos hábitos. Acredito que é desta forma que o conhecimento agroecológico vai

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se construindo. Por essas e outras tenho convicção que mesmo algumas vezes entrando em contradição em nossas técnicas, trilhamos lentamente o caminho certo, no dia-a-dia nos educamos a novos hábitos conceitos e valores (MASCHIO, 2010).

Estes estudos e reflexões fazem parte da pedagogia da escola, a qual está se colocando

como um desafio de buscar unificar a relação com as famílias e suas comunidades, para

potencializar a formação e as transformações que queremos que estes jovens vivenciem.

Trabalhamos a identidade com a luta social, como classe trabalhadora, para contrapor este

modelo, quando podemos começar a vivência de relação que presam pelo ser humano em

primeiro lugar, diálogo, companheirismo, solidariedade, contrapondo o modelo hegemônico

que o capitalismo vê todas esta relações e como podemos identificar isso para poder escolher

e saber de fato qual o meu papel na história, como sujeito desta construção e fazer uma

disputa contra hegemônica permanente a este modelo partindo da posição dos sujeitos perante

a história.

2.2- Educandos em Formação suas experiências neste período Nesta caminhada a forma que traremos as experiências que se destacaram nas análises

através da pesquisa foram as seguintes: mudança de modo de entender como funciona a

sociedade - ampliando a visão de mundo, mudanças nos comportamentos - perante os hábitos

e valores, estudos das várias dimensões da agroecologia - para além do ato das técnicas

agrícolas, fortalecimento de espaços que vivenciam práticas agroecológicas.

A escola em sua pedagogia, no estudo da realidade vai proporcionando que os

educandos vão identificando como acontecem as relações de expropriações, exploração da

força de trabalho, concentração da renda, monopolização de mercado, entre outros. São

momentos, que chamamos de formação política de estudo teórico que também acontecessem

na prática. Esta mudança de método pedagógico, vivenciado intensamente pelos educandos

modifica a forma de ver a sua realidade e o mundo, como nos coloca a educanda Indiane

Witcel Rubenich.

Este curso me proporcionou um aprendizado muito importante para minha vida. Percebo que cresci bastante como pessoa, amadureci tanto na questão pessoal como social. Esta fazendo a diferença no meu modo de enxergar as coisas, onde hoje percebo as coisas de uma forma muito mais critica do que antigamente, consigo perceber mais claramente as dificuldades que temos e a forma como é conduzido o processo (RUBENICH 2010).

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A relação tempo escola e tempo comunidade vai amadurecendo as informações, pois

proporciona que o educando possa vincular as informações, conhecimento adquirido no

tempo escola com a realidade de seus espaços no tempo comunidade.

O regime de internato e a forma que a escola trabalha a divisão das tarefas na escola

com sua intencionalidade formadora, onde a cada turma que passa, coloca seu tijolo nesta

construção, tem a tarefa de zelar pela escola conquistada. A divisão do trabalho necessário

para a sobrevivência mostra que cada núcleo de base, junto aos seus componentes, deve fazer

sua parte, para o bom andamento do todo, assim, todos aprendem um pouco de todas as

tarefas que garantem a limpeza e manutenção do Instituto Educar. Esta experiência modifica

hábitos que segundo educandos não realizavam antes como lavar suas roupas, cozinhar, fazer

pão, lavar banheiros, lavar a louça, limpar o chão, arrumar a sua cama e manter organizado o

espaço como retrata o educando da turma Filhos de Rose, Roges Carlos Aschi (2010):

Bom o meu aprendizado na escola esta sendo muito bom, eu mesmo me reconheço que melhorei muito enquanto pessoa depois que vim estudar aqui, traz presente muitas coisas, principalmente o aprendizado tanto na área técnica, política e de ensino médio. Mas além disso tem outras coisa que a escola proporciona, que se nós estivéssemos em casa seria difícil que iriamos aprender, que é a construção de pessoas, pois aqui eu aprendi a me virar, onde a escola proporciona nós a enxergar o mundo como um todo, e não ficar dependendo dos pais para fazer as coisas. Aqui além de todo o aprendizado com a agricultura, agroecologia, entre outras coisas aprendi a lavar roupa, limpar a casa, fazer comida, e até pão, entre muitas outras coisas.

Estas mudanças de hábito vão influenciando na construção de valores como a

cooperação, relação de gênero, responsabilidade, solidariedade, respeito e o companheirismo.

Ao mesmo tempo em que os núcleos de base e as demais instâncias organizativas, ensinam o

saber escutar, e saber falar em momentos apropriados, debater o que se pensa, conviver com

as diferentes histórias de vida que ali estão e que no fim buscam um objetivo comum.

A escola desperta a pertença aos movimentos sociais e suas lutas que são justas e

necessárias, uma identidade com a suas formas de lutas, simbologias, promove um resgate da

origem de sua própria história, onde em um determinado tempo cada educando e educanda se

inseriu e faz parte.

Ao aplicar a sondagem pedagógica, mesmo ela não tendo sido realizada com uma

preparação necessária, pois acreditamos que quando vamos avaliar algo temos que ter

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presente sua história, o contexto e onde queremos ou estamos propostos a chegar. Para a

educação ser algo que é permanente, não basta fazer uma vez e dizer que todos tem presente o

que queremos, é algo que tem que ser retomada, de forma dinâmica e continuada. Nesta

sondagem aplicada e discutida em sala com os trinta educandos da Turma Filhos de Rose,

somente dez deles entregaram a avaliação outros só conversaram sobre a mesma. Deste

dialogo e reflexões, trazemos as análises que construímos, não só deste momento, mas de toda

a pesquisa.

São questões que acreditamos que possam vir a qualificar o aprendizado e a pedagogia

da escola, mas isso só se confirmará quando retornar para o Instituto Educar e lá realizarmos

estas reflexões no conjunto da coletividade envolvida.

Buscar integrar mais os educadores e suas disciplinas com a meta de formar um

coletivo de educadores do IE, pois devido a sua dinâmica de trabalho e moradia temos limites

em trabalhar a interdisciplinaridade, entre algumas disciplinas. A relação mais próxima dos

educadores com o escola ajudaria a qualificar o dialogar com o que está de fato acontecendo

na escola e sua produção e quais as teorias e conhecimentos que temos em cada disciplina

referente a algumas práticas executadas na escola. Junto ao grupo interno que trabalha no

Instituto, dar mais elementos para registrar os passos que estamos dando na construção do

saber agroecológico na escola, sistematizar as práticas e experiências vividas na escola.

Fortalecer o estudo dos princípios pedagógicos de experiências acumuladas ao longo da

história, os quais norteiam nossa pedagogia, pois o espaço é dinâmico e demanda um bom

acompanhamento, postura pedagógica para o estudo, trabalho, relações humanas, disciplina,

como ir tratando de reconstruir e disputar as consequências deixadas pelas as mazelas que o

capital necessita que a juventude tenha e se submeta a viver, como uma mera mercadoria de

consumo de objetos e ideias, de uma ideologia dominante, bem como para a exploração da

força de trabalho.

Para trabalhar estas questões não existe uma receita pronta, para trabalhar com os jovens,

seres humanos cheios de anseios, culturas, histórias de vidas diferentes, mas temos que ir

buscando com a formação e o estudo permanente da nossa prática e experiências, os

qualificando a cada dia mais. Segue a Figura 11 com a simbologia construída pela turma

Filhos de Rose, esta é a turma que foi pesquisada. A simbologia demonstra também a

pedagogia da escola.

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Figura10: símbolo da turma Filhos de Rose - 2011.

Fonte: Arquivo da Turma Filhos de Rose, Instituto Educar.

2.3- Educandos já formados

Os educandos em suas realidades têm muitos conflitos colocados, aos poucos vão buscando interagir e responder como afirma Paulo Freire os desafios do mundo e suas contradições:

O desenvolvimento de uma consciência crítica que permite ao homem transformar a realidade se faz cada vez mais urgente. Na medida em que os homens dentro de sua sociedade, vão respondendo aos desafios do mundo, vão temporalizando os espaços geográficos e vão fazendo história pela sua própria atividade criadora (FREIRE, 2003, p. 33)

Os que já foram formados têm uma realidade diversa, os que têm contato estão em sua

maioria, morando nos assentamentos e uma grande porcentagem encontra-se nas atividades

que acontecem no estado organizadas pelos movimentos sociais.

Sabendo das limitações em torno de se colocar em prática, o manejo ecológico com

uma perspectiva que abarque o todo da unidade de produção, ou uma boa parte, mesmo que

esta seja relação orgânica, os educandos conseguem ter a amplitude que a agroecologia, têm

em conjunto com as suas relações, com a luta e a resistência do campesinato frente ao

agronegócio.

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Os educandos conseguem ter a noção das demandas que agroecologia abarca, para

além da técnica agrícola, a sua multidimensionalidades (social, política, econômica, ambiental

e cultural), mesmo não trabalhando diretamente com relações agroecológicas em suas

propriedades, comunidades ou cooperativas os educandos conseguem saber e pautar o porquê

queremos outra relação entre a natureza e o homem.

Uma das educanda já formadas no Instituto Educar em resposta ao questionário com a

seguinte pergunta. As teorias dentro da agroecologia, como é colocar elas em prática,

considerando a sua realidade local, levando em conta todos os aspectos sociais, políticos,

econômicos ambientais, resistências e outros. A educanda Daniela Aparecida Moreira

responde:

É bem difícil por em prática as teorias desenvolvidas e aprendidas durante o curso, principalmente pela resistência a alternativas, especialmente quando colocadas por alguém mais jovem; outro fator é o financeiro, muitas vezes é preferível gastar com algo que já se conhece bem, por mais que seja caro, do que gastar “até mesmo menos” com algo que se pensa não ser tão garantido ou eficaz. Com relação ao ambiental é mais tranqüilo, as pessoas vêm a importância desta parte... Outro cuidado que se tem que ter é levar em conta de fato a realidade local, o que muitas vezes se torna difícil, há pouca estrutura para se analisar o espaço e até mesmo desenvolver algo concreto, gerando muitas vezes um certo descrédito em relação aquilo que se pretendia desenvolver (MOREIRA, 2011).

Em outra questão que colocamos neste mesmo questionário, sobre o curso, do qual trata da visão da mesma referente ao fortalecimento do território camponês, ela responde:

Acredito que de fato fortalece, pois antes de fortalecer o principal papel do curso é resgatar e manter a resistência e existência do campesinato (MOREIRA, 2011).

Desta forma, analisamos que mesmo não conseguindo colocar em prática a

agroecologia, por suas várias limitações e reais condições de se efetivá-la na prática, defende-

se o modelo por saber de sua importância, para a resistência camponesa e como contraponto

ao modelo de agricultura capitalista.

Já em outras realidades como as dos educandos, de cooperativas como a da COOPAN

- Cooperativa de Produção Agropecuária de Nova Santas Rita, que produz arroz orgânico,

outros educandos que produzem sementes agroecológicas da BIONATUR, em Candiota na

cooperativa COONATERRA - Cooperativa Agroecológica Nacional Terra e Vida Ltda., o

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curso vem para dar um maior subsidio para entender o que se esta fazendo na prática e

buscam contribuir para o fortalecimento de suas cooperativas e nesta relação de produção.

Um dos educandos já formado no IE Cristiano Zanetti retrata a experiência da seguinte forma:

Que em seu caso não teve dificuldades, pois trabalho em uma cooperativa do MST - COOPAN , onde a produção é agroecologica em vários setores, como a produção de arroz ecológico e produção de leite a base de pasto, no qual se obtém bons resultados (ZANETTI, 2011).

Quando perguntado, sobre o curso do IE, se o mesmo tem como um dos seus objetivos

fortalecer o território camponês no Brasil. O que ele pensava desta questão, o educando

descreve que concorda dizendo, Sim, pois fornece conhecimentos, técnicas, e exemplos de como a sociedade está necessitando mais de alimentos saudáveis e livres de agrotóxicos. Muitas vezes, o agricultor não consegue se organizar ou buscar meios de produção para facilitar e melhorar a mesma, então este é um curso muito importante para a agricultura camponesa (ZANETTI, 2011)

A Figura 11, que seguem é referente a cooperativa do MST, localizada em Candiota,

com o nome de COONATERRA, as figuras 12 e 13 mostram parte das logomarcas de

cooperativas da região de Porto alegre, que se organizam através do Grupo Gestor de Arroz

Agroecológico das áreas de assentamentos do MST - COCEARGS – Cooperativa Central de

Agricultores de Reforma Agrária (certificadora), COOPAC – Cooperativa do Assentamento

de Charqueadas, COOTAP – Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto

Alegre Ltda. (articuladora do grupo gestor tem maquina e secador, COPTEC - Cooperativa de

Prestação de Serviços Técnicos Ltda., COOPAT – Cooperativa de Produção Agropecuária

dos Assentados de Tapes, COOPAN – Cooperativa de Produção Agropecuária de Nova

Santas Rita.

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Figura 11 - Timbre e Logomarca da CONATERRA – Candiota.

Cooperativa Agroecológica Nacional Terra e Vida Ltda. CNPJ. 07.661.064/0001-82 - IE. 3440007229 Assentamento Roça Nova – Candiota / RS – Cep. 96495-000 Fone: (53) 3503 1261 – (53) 9953 9704

BioNatur – Sementes Agroecológicas

E-mail: [email protected] / www.bionatur.com.br

Fonte: Arquivos do Frei Zanata - 2011.

Figura 12 - Logomarcas das cooperativas do Grupo de Arroz Agroecológico.

Fonte: Arquivo COOTAP, 2011.

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Figura 13 – Logomarca do Arroz Terra Livre.

Fonte: Arquivo COOTAP, 2011.

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CONSIDERAÇÕES

Nesta caminhada gostaria de fazer uma comparação da forma como se dá a construção

de uma pesquisa, com a plantação de uma semente, de uma espécie que eu queira saborear,

pois tenho paixão pela fruta da mesma. Primeiro passo é a escolha da semente de boa

qualidade; segundo, conhecer e determinar o lugar onde vai ser geminada a semente e

preparar a terra; o terceiro passo, cuidar de ir alimentando ela, observando se esteja se

desenvolvendo; quarto passo, fazer a colheita para matar a fome e o desejo pela fruta e o

quinto passo, para garantir esta continuidade teremos que guardar as melhores sementes para

replantar nas próximas safras e colheitas que virão.

A construção do conhecimento realizada nesta pesquisa, para mim foi de fundamental

importância. Aprendi buscar a partir de uma leitura geográfica da educação do campo e suas

relações com o campesinato, suas formas de produção, de resistência, aflorando o debate da

agroecologia e educação do campo, a qual está diretamente interligada com a existência e

resistência do campesinato, no enfrentamento de um modelo de produção agrícola e humana

de relação do homem e natureza, na luta de classes dos camponeses na sociedade como um

todo.

Buscar estas informações nos conhecimentos acumulados historicamente, ir

escrevendo o que isso reflete na minha realidade pesquisada, é fruto da formação realizada ao

longo dos anos do curso de geografia, que ajudou a qualificar os estudos feitos.

Para responder a questão central do trabalho elaborado, é necessário poder dizer se de

fato a formação no Instituto Educar esteja contribuindo para fortalecer o território camponês.

Este é um movimento desafiador para quem fala de dentro do objeto pesquisado, como é o

meu caso., Tendo que ter o olhar criterioso da geógrafa pesquisadora das evidências

pesquisadas, busquei colocar as ferramentas nas mãos dos indivíduos que fazem a história, os

próprios alunos e educadores sem-terra. Eles, que deveriam ter – como todas as pessoas – a

oportunidade obrigatória para acessar ao espaço das universidades, ficam contando ou

escutando os que falam e escreveram sobre as suas próprias experiências, sem muitas vezes

poder interagir com a mesma.

O projeto despertou em mim o desejo de saber como pesquisar e analisar dados e

descobrir a origem e os acúmulos da pedagogia do campo. Casado com a necessidade de

formar técnicos, pedagogos, pés no chão em agroecologia para os movimentos sociais, o

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trabalho no projeto tomou forma. Partindo de conceitos que a geografia aborda – como o

território, a questão agrária, a relações de produção, o modelo de sociedade, os bens naturais,

a soberania dos povos, a educação do campo, o modo de produção capitalista e o campesinato

– comecei mergulhar no objeto. Sendo necessária a leitura e a análise da realidade vivida,

procurei comparar o movimento em escala global com os movimentos em escala local, onde

se manifesta as contradições destes movimentos.

Para realizar o estudo do Instituto Educar e ver como de fato se concretiza a sua

pedagogia como colaborador no fortalecimento do território camponês, a pesquisa permitiu

que parte dos objetivos foram atingidos. Ainda penso que necessito um maior

aprofundamento teórico em torno da agroecologia e a realidade do campesinato para

responder com mais certeza. E também, dado os limites e desafios encontrados na aplicação

dos questionários, acredito que o assunto exigi ainda mais prequisa entre os educandos já

formados para aprofundar a analise da realidade da juventude do campo.

Poder descrever como é o curso e como ele se concretiza foi importante para poder

estudar e compreender a política pedagógica que rege este espaço do Instituto Educar. Uma

parte muito rica da pesquisa foi a investigação da forma que os educandos sentem e vivem

este processo na escola. A aplicação dos questionários e processo de entrevistar os alunos

foiuma parte muito rica do trabalha que ainda precisa ser mais desenvolvida. Foi também de

muito valor a compreensão acumulada pela pesquisa de como é a agroecologia no MST e na

sociedade como um todo. O projeto me levou a buscar entender as contradições do modelo

predominante de produção, devido não encontrar aí políticas para a agroecologia e relações de

produção que prestigiarem a vida, sendo este parte de um projeto popular de justiça social e

soberania popular para o Brasil.

Estudar a pedagogia do movimento e como estamos concretizando-a, me fez ver o

quanto ainda temos que fazer para qualificar a mesma. De fato, vivemos em outro território,

que convive com as diferenças, se propõe a coletivizar a nossa ação quanto sujeito de uma

mesma classe – a dos trabalhadores – um território que alimenta esperanças de transformação,

que move sonhos, que nos faz sentir mais seres humanos libertos dos medos e pré-conceitos

que a sociedade capitalista constrói como algo natural e cultural, negando as nossas origens.

A história das relações de produção mostra que a sociedade nem sempre foi capitalista e por

isso acreditamos que a exploração do homem pelo homem nem sempre será. Construímos

discursos e prática contra-hegemonicas de valores e ações, que vão nos ajudando a colocar

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muitos questionamentos sobre nossa comportamento frente da terra, as pessoas em nossas

comunidades, os quais devem ser exercitadas no dia-a-dia. Assim, a juventude vai entendendo

que eles e elas, camponeses e camponesas, são a semente lançada para dar continuidade na

luta de muitas e muitas gerações, em defesa de um projeto que tem como prioridade a vida.

Cada passo dado nesta perspectiva fortalece a luta do campesinato, seu território e a condição

humana das mulheres e homens na terra.

Não posso atribuir a minha pesquisa a pretensão que esteja concluída, pois ao longo

desta caminhada surgiram muitos elementos que podem ser considerados como importantes

para o estudo da questão abordada. Até mesmo porque o tema é bastante amplo e complexo,

marco como meta futura uma análise mais aprofundada do tema estudado.

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SANTOS, Josene. Relatório de trabalho de campo no Assentamento Nossa Senhora Aparecida. (Pontão, RS), 4 de abril, 2009. --------. Relatório de trabalho de campo materiais do setor de produção MST. (Porto Alegre, RS), 12 de maio, 2010. SILVA, Aloisio Souza da e FAGUNDES, Leandro Feijó. Agroecologia & educação do campo. Boletim DATALUTA, (maio, 2011). Disponível em <www.fct.unesp.br/nera>. Acesso em jun. 2011. SPOSITO, Eliseu Severio, SAQUET, Marcos Aurelio (orgs). Território e territorialidade: teoria, processo e conflito. São Paulo: Expressão Popular, 2009. THOMAZ JR. Antonio; CARVALHAL, Dorneles Marcelo e CARVALHAL, Brumatti Terezinha. Geografia do trabalho no século XXI. v.2. Santa Cruz do Rio Pardo, SP: Editora Viena, 2006. ENTREVISTAS E RESPOSTAS ASCHI, Roges Carlos. Educanda. Resposta ao questionário. Pontão, RS. 14 de dez., 2010. BROC, Marlisa da Silva. Entrevista pela autora. Pontão, RS. 04 de abr, 2009. CAMPIGOTTO, Maria Salete. Entrevista pela autora. Pontão, RS. 06 de abr., 2009. --------. Resposta ao questionário. Pontão, RS. 05 de jan., 2010. FRAGAS, Sebastião Santos. Entrevista pela autora. Pontão, RS. 04 de abr., 2009. FREITAS, Lauriando de Amaral. Resposta ao questionário. Pontão, RS. 05 de jan., 2010. MASCHIO, Magnos Potheguara. Resposta ao questionário. Pontão, RS. 03 de mai, 2010. MOREIRA, Daniela Aparecida. Resposta ao questionário. Pelotas, RS - 10 de mai, 2011. PETROSKI, Roberto. Resposta ao questionário. Pontão, RS. 05 de jan., 2010. RUBENICH, Indiane Educanda. Resposta ao questionário. Pontão, RS. 14 de dez., 2010. TOLEDO, Fabio. Resposta ao questionário. Pontão, RS. 05 de jan., 2010. ZANETTI, Cristiano. Resposta ao questionário. Pelotas, RS - 10 de mai., 2011. SITES CONSULTADOS

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BRASIL, IBGE, http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 VIA CAMPESIA http://pt.wikipedia.org/wiki/Via_Campesina

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ANEXOS Questionário 1 – Educandos Nome completo Data:

1. Como é que vai se construído a aprendizagem e a vivência da agroecologia estudada

no Instituto Educar no tempo escola e em suas vidas lá na base, suas relações no

trabalho, vivência, valores...

Questionário 2 Nome: Idade: Endereço: E-mail: Telefone: Movimento: Atuação:

1. Para você como está sendo este aprendizado no curso Técnico em Agropecuária com Habilitação em Agroecologia, realizado na Escola técnica do MST- Instituto Educar.

2. Como se dá a consolidação do aprendizado do curso no tempo comunidade, como é

colocar em prática o que se aprendeu. Desafios e avanços.

3. O que está fazendo a diferença em sua vida ao realizar este curso Questionário 3 - Sondagem Pedagógica Sondagem pedagógica da turma Filhos de Rose - 7ª etapa - junho de 2011.

Segundo a proposta política pedagógica do curso que estão realizando, escreva em

forma de avaliação, na busca de qualificar o curso para as próximas turmas que vierem.

Para isso busque escrever lembrando e retomando a PROMET do curso os tempos

educativos (tempos educativos que marcaram a formação de vocês, disciplinas curriculares e

tempos trabalho, equipes, TE, TC, organicidade suas estâncias, espaço de avaliação)

Lembrando que a PROMET é um instrumento que a turma se apropria e a dinamiza, por isso

peço que lembrem-se desta caminhada que realizaram até aqui.

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O que deu certo e por quê?

O que pode ser potencializado e de que forma?

O que não correspondeu com o que estava proposto por quê?

Questionário 4 - Aos coordenadores pedagógicos Nome completo: Data:

Como é concebida e trabalhada a agroecologia no Instituto Educar.

Questionário 5 - Aos monitores

Nome completo Data:

1 - Como vocês técnicos alguns formados no Instituto Educar concebem a agroecologia.

QUESTIONÁRIO 6 - ABERTO EDUCANDOS FORMADOS Nome completo: Idade: Endereço: Contato: Data que respondeu o questionário: Perguntar se aceita que este questionário seja usado para fins de análise da monografia de

Josene Aparecida dos Santos, a qual tem por temática: A FORMAÇÃO NO INSTITUTO

EDUCAR E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O TERRITÓRIO CAMPONÊS.

1-Para você como foi o aprendizado obtido no curso Técnico em Agropecuária com

Habilitação em Agroecologia, realizado na Escola técnica do MST- Instituto Educar.

2-As teorias dentro da agroecologia, como é colocar elas em prática, considerando a

sua realidade local, levando em conta todos os aspectos sociais, políticos, econômicos

ambientais, resistências e outros.

3-Depois de formado qual a atividade que está atuando.

4-Consideramos de que o curso do IE tem como um dos seus objetivos fortalecer o

território camponês no Brasil. O que você acha?