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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO JOSÉ JAILSON DE ALMEIDA JÚNIOR A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO NA REFLEXIVIDADE NATAL/RN SETEMBRO 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

JOSÉ JAILSON DE ALMEIDA JÚNIOR

A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO NA REFLEXIVIDADE

NATAL/RN SETEMBRO – 2013

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JOSÉ JAILSON DE ALMEIDA JÚNIOR

A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO NA REFLEXIVIDADE

Tese apresentada à Banca examinadora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte do Centro de Educação, sob a orientação do Profª. Drª. Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco como requisito para a obtenção do Título de Doutor em Educação. Orientadora: Profª. Drª. Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco

NATAL/RN SETEMBRO – 2013

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Catalogação da Publicação na Fonte. Bibliotecária responsável:

Josiana Florêncio Vieira Régis de Almeida. CRB 15/325

Almeida Júnior, José Jailson de. A formação do enfermeiro na reflexividade / José Jailson de Almeida Júnior. - Natal, RN, 2013. 175f. Orientadora: Profª. Dra. Marta Maria Almeida Castanho Pernambuco. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Educação. 1. Educação superior - Tese. 2. Educação permanente – Tese. 3. Estudantes de enfermagem – Tese. I. Pernambuco, Marta Maria Almeida Castanho. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

CDU 378

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JOSÉ JAILSON DE ALMEIDA JÚNIOR

A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO NA REFLEXIVIDADE

Tese apresentada à Banca examinadora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte do Centro de Educação como requisito para a obtenção do Título de Doutor em Educação.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________ Profª. Drª. Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Orientadora

________________________________________________ Profª. Drª. Georgina Negrao Kalife Cordeiro

Universidade Federal do Pará

________________________________________________ Profª. Drª. Marta Genu Soares Aragão

Universidade Estadual do Pará

________________________________________________ Prof. Dr. Moises Domingos Sobrinho

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

________________________________________________ Profª. Drª. Terezinha Petrúcia da Nóbrega

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

________________________________________________ Profª. Drª. Rejane Millions Viana Meneses

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

NATAL, 17 DE SETEMBRO DE 2013

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AGRADECIMENTOS

Este texto faz parte de uma trajetória de aprendizados decorrentes de uma vivência

pessoal e acadêmica no âmbito da formação em saúde. Neste momento reconheço

através da estima depositada naqueles que contribuíram para a realização desta

obra.

À minha esposa, companheira e amiga Josiana por suportar a minha ausência na

presença, pelo companheirismo e colaboração técnica como bibliotecária particular.

À Marta Pernambuco, orientadora deste estudo que me acolheu e compreendeu as

minhas inquietações e devaneios para a elaboração do texto desta tese. O

aprendizado com a tua convivência é marcado pela dedicação ao que praticas e à

sua trajetória.

À Anete, o nosso entrosamento ultrapassou os laços acadêmicos, tenho em você

uma estima especial.

Ao GEPEM - Grupo de Estudos de Práticas Educativas em Movimento pelos

momentos de partilha e aprendizados nos encontros.

Aos meus alunos do passado, do presente e aqueles que ainda virão, pois a cada

novo contato aprendo mais do que ensino ao conhecer e partilhar um pouco do

nosso conhecimento.

À Anne, Wanessa, Luciane e Cristiane Melo, solidárias colegas de trabalho com

quem partilho os pensamentos e àqueles que participaram da partilha do saber.

À Osvaldo e os estudantes Stella, Laiana, Anna Laura, Mirna e Gutembergue pela

colaboração nos grupos focais e transcrição das entrevistas.

Aos eternos mestres Raimunda Germano, Valda, Nilma, Antônio Júnior, Arnoldo,

Rejane Millions e tantos outros pelos conhecimentos partilhados e a garra no ofício

da docência.

Aos professores Rejane, Terezinha Petrúcia e Gouveia pela contribuição nos

Seminários de Formação Doutoral.

Aos meus pais, Jailson e Irenilda, minha irmã Ingrid e familiares pelo acolhimento,

amor e carinho que partilho desde o dia em que bati em sua porta e me foi permitido

viver um caminho de aprendizados.

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Se toda coincidência Tende a que se entenda

E toda lenda Quer chegar aqui

A ciência não se aprende A ciência apreende

A ciência em si

Se toda estrela cadente Cai pra fazer sentido

E todo mito Quer ter carne aqui

A ciência não se ensina A ciência insemina

A ciência em si

Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar Do avião a jato ao jaboti

Desperta o que ainda não, não se pôde pensar Do sono eterno ao eterno devir

Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar Para alcançar o que já estava aqui

Se a crença quer se materializar Tanto quanto a experiência quer se abstrair

A ciência não avança A ciência alcança

A ciência em si

(Arnaldo Antunes – A Ciência Em Si)

O acaso vai me proteger

Enquanto eu andar distraído

(Sérgio Britto – Epitáfio)

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LISTA DE SIGLAS

CCS - Centro de Ciências da Saúde

CEFET-RN - Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte

CNS - Conselho Nacional de Saúde

CONEP - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

DCNs - Diretrizes Curriculares Nacionais

DSC - Departamento de Saúde Coletiva

DSO - Serviço de Vigilância Sanitária do Distrito Sanitário Oeste

ESF - Estratégia de Saúde da Família

FACISA/UFRN - Faculdade de Ciências das Saúde do Trairi/UFRN

PESC - Projeto em Educação, Saúde e Cidadania

PGENF - Programa de Pós-graduação em Enfermagem

PROFAE - Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem

SACI - Disciplina Saúde e Cidadania

SENAC/RN - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SMS - Secretaria Municipal de Saúde de Natal

SUS - Sistema Único de Saúde

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura

UTI - Unidade de terapia intensiva

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LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 1: Dimensões de análise do material empírico coletados nos grupos focais. Elaboração do Autor.

32

Figura 1: O contexto da formação em saúde. Elaboração de autor. 13

Figura 2: Representação do percurso metodológico. Elaboração do autor. 33

Figura 3: Categorias de análise projetadas a partir dos conteúdos do discurso. Elaboração do autor.

33

Figura 4: O trabalho em saúde. Elaboração do autor. 38

Figura 5: O pensamento reflexivo e a reflexividade. Elaboração do autor. 44

Figura 6: Representação do processo de interação do estudantes. Elaboração do autor.

55

Figura 7: Representação do aprendizado na área da saúde. Elaboração do autor.

57

Figura 8: Representação do aprendizado através da reflexão. Autoria do autor. 63

Figura 9: Elementos constituintes da formação em saúde na reflexividade. Elaboração do autor.

100

Figura 10: formação do enfermeiro na reflexividade. Elaboração do autor. 102

Figura 11: Refletindo a formação a partir da vivência do estudante. Elaboração do autor.

103

Figura 12: A reflexividade e a superação dos limites da formação biomédica. Elaboraçao do autor.

105

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RESUMO

O estudo propõe a compreensão da formação do enfermeiro na reflexividade e a superação dos limites do modelo de formação biomédica, a partir do pensamento de John Dewey, inserido no panorama do profissional reflexivo apresentado por Donald Schön dialogando com a perspectiva da ação transformadora de Paulo Freire. Utilizou-se a abordagem qualitativa na coleta do material empírico, através de grupos focais realizados com estudantes de enfermagem do 3º ao 5º ano na Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi/UFRN no ano de 2012 no município de Santa Cruz/RN. A análise dos dados ocorreu através da técnica de análise temática de conteúdo constituída por três etapas: pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados, inferência e interpretação do material. Assim, formulou-se as categorias através da organização, classificação e agregação do conteúdo das falas com agrupamentos de opiniões que partilhavam aproximações de pensamento gerando um conjunto de categorias de análise projetadas a partir dos conteúdos. Os resultados apresentam a vivência do estudante de enfermagem e suas reflexões, demonstrando que o processo de reflexão permeia o itinerário de vida. Infere-se que, os saberes adquiridos nestas vivências nem sempre participam do diálogo presente neste processo formativo, reduzindo as experiências pregressas no campo da exemplificação de situações cotidianas. Considera-se que, é necessário consolidar propostas pedagógicas inovadoras, que possibilitem o diálogo continuo com a realidade, rompendo com o processo de ensino descontextualizado da realidade de inserção da universidade. Recomenda-se o repensar das estruturas, reforçando o rompimento com o modelo biomédico e a integração de saberes de forma dinâmica.

Palavras-chaves: Educação superior. Educação permanente. Estudantes de Enfermagem.

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ABSTRACT

The study proposes an understanding of nurses training in reflexivity and the overcome the limits of biomedical formation model, from the thought of John Dewey, inserted in the panorama of the reflective practitioner introduced by Donald Schön and dialoguing with the perspective of the transforming action of Paulo Freire. We used a qualitative approach to collect empirical data through focus groups conducted with nursing students from 3rd to 5th year in the Faculty of Health Sciences, Trairi / UFRN in the year 2012. Data analysis occurred through the technique of thematic content analysis constituted of three stages: pre-analysis, exploration of the material, treatment of results, inference and interpretation of the material. Thus, the categories formulated by organizing, classifying and aggregating the the content of the speeches to groups who shared opinions approximations of thought generating a set of categories of analysis designed from the contents. The results present the experiences of nursing students and their reflections, demonstrating that the process of reflection permeates the journey of life. It is inferred that the knowledge acquired in these experiences do not always participate in this dialogue in this formative process, reducing previous experiences in the field of exemplification of everyday situations. We conclude that it is necessary to consolidate innovative pedagogical proposals that allow the continuous dialogue with reality, breaking with the decontextualized teaching process from reality insertion of the university. Rethinking of the structures is recommended, reinforcing the break with the biomedical model and the integration of knowledge dynamically. Keywords: Higher education. Continuing education. Nursing students.

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RESUMÉN

El presente estudio propone una comprensión de la formación de enfermería en la reflexividad y el superar de las limitaciones del modelo de formación biomédica, basado en el pensamiento de John Dewey, insertado en el panorama del profesional reflexivo presentado por Donald Schön y dialogando con la perspectiva de la acción transformadora de Paulo Freire. Se utilizó un enfoque cualitativo para recoger datos empíricos a través de grupos focales realizados con estudiantes de enfermería de tercero a quinto años en la Facultad de Ciencias de La Salud de Trairi / UFRN en 2012 en Santa Cruz / RN. El análisis de datos ocurrió a través de la técnica de análisis de contenido temático constando de tres etapas: pre-análisis; exploración del material; tratamiento de los resultados, la inferencia y la interpretación del material. Por lo tanto, las categorías formuladas por la organización, la clasificación y la agregación de los contenidos de los discursos a los grupos que compartían opiniones aproximaciones de pensamiento formando un conjunto de categorías de análisis diseñados a partir de los contenidos. Los resultados presentan las experiencias de los estudiantes de enfermería y de sus reflexiones, lo que demuestra que el proceso de reflexión impregna el viaje de la vida. Se infiere que los conocimientos adquiridos en estas experiencias no siempre participan en este diálogo en este proceso formativo, lo que reduce las experiencias previas en el campo de la ejemplificación de situaciones cotidianas. Se considera que es necesario consolidar las propuestas pedagógicas innovadoras que permitan el diálogo permanente con la realidad, rompiendo a través del proceso de la enseñanza descontextualizada con la realidad de inserción universitaria. Se recomienda el replanteamiento de las estructuras, lo que refuerza la ruptura con el modelo biomédico y la integración de los conocimientos de forma dinámica. Palabras clave: Educación superior. La formación permanente. Estudiantes de enfermería.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

2 A TRAJETÓRIA DE UM APRENDIZ 16

3 ELEMENTOS METODOLÓGICOS 26

3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA 27

3.2 O TRABALHO DE CAMPO 29

3.3 A ANÁLISE TEMÁTICA DO MATERIAL EMPÍRICO 30

4 A FORMAÇÃO EM SAÚDE E O CONHECIMENTO SOBRE A

REFLEXIVIDADE

35

4.1 BREVE CONTEXTO SOBRE A FORMAÇÃO EM SAÚDE 35

4.2 O PENSAMENTO REFLEXIVO E A REFLEXIVIDADE 40

4.3 O PROFISSIONAL REFLEXIVO NO CAMPO DA SAÚDE BRASILEIRA 46

4.4 O ESTUDANTE, SUAS INTERAÇÕES E O DESENVOLVIMENTO

REFLEXIVO

52

4.5 O APRENDER NA SAÚDE/ENFERMAGEM E A REFLEXIVIDADE 56

4.6 O APRENDIZADO ATRAVÉS DA REFLEXÃO 62

5 A VIVÊNCIA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM E SUAS REFLEXÕES 69

5.1 SABERES DA EXPERIÊNCIA DE VIDA 70

5.2 A SUPERAÇÃO E SEUS APRENDIZADOS 75

5.3 A FORMAÇÃO E A MUDANÇA NA VIDA ACADÊMICA 79

5.4 A VIDA ACADÊMICA NO CONTEXTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL 84

5.5 O CONHECIMENTO E A REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA

PROFISSIONAL

91

5.6 REFLETINDO A FORMAÇÃO A PARTIR DA VIVÊNCIA DO ESTUDANTE 98

6 O HORIZONTE DA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO NA

REFLEXIVIDADE

105

REFERÊNCIAS 111

ANEXOS 119

ANEXO 1 – Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em

Enfermagem

119

ANEXO 2 – Grupos Focais 124

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1 INTRODUÇÃO

Formar profissionais em consonância com o contexto social das práticas de

saúde é um desafio que surge com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Desde a década de 1980 as conferências nacionais de saúde retratam que a

consolidação de um sistema de saúde focado na promoção e prevenção vai além da

formulação de políticas públicas e aponta para a concepção de valores sociais.

O SUS surge contraposto ao clássico modelo biomédico1 de assistência em

saúde que enfoca o ser humano sob a ótica do cuidado individual, fragmentado em

especialidades, pautado essencialmente no processo de aprendizado de conceitos e

técnicas e pouco focado na constituição de cidadãos. Este modelo supõe que o

objetivo do profissional de saúde consiste na cura da doença e para responder a

isso a compreensão do processo de adoecimento com base em sinais e sintomas

inerentes a determinada patologia e o tratamento deve ser específico à resolução

destes problemas, não considerando as peculiaridades do processo de vida

humana.

Compreendemos, porém, que o profissional de saúde compõe os seus valores

e a sua prática profissional com base na sua própria formação como ser humano

através da experiência social de interação com o ambiente que o permeia. Esta

interação ocorre através dos vários modos de ver o mundo, em que o sujeito

assume papéis de protagonista ou coadjuvante no desenvolvimento do seu saber

social, isso o leva a formar consciência da realidade que o cerca, influindo nas suas

escolhas, dentre elas o percurso de formação e por consequência a sua prática

profissional. Neste sentido o estudante da área da saúde faz esta escolha motivado

por um conjunto de influências que o permeiam em sua trajetória de vida.

Assim, o conjunto de as imagens e vivências prévias dos estudantes podem

desempenhar um papel importante durante a sua formação acadêmica, fazendo com

que o aprendizado não se limite apenas à reprodução de técnicas e procedimentos,

mas que seja permeado pela reformulação e construção de valores e habilidades

que possam ser aplicadas em diversas situações do cotidiano do profissional de

saúde (FERRAZ; KRAUZER; SILVA, 2009). Sob tal aspecto compreendemos que

1 De acordo com Capra (1982) o modelo biomédico está firmemente estabelecido no pensamento cartesiano.

Segundo o autor “uma pessoa saudável seria como um relógio bem construído e em perfeitas condições mecânicas; uma pessoa doente, um relógio cujas peças não estão funcionando apropriadamente”.

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não é possível isolar-se do mundo e nem negar o contexto social em que ele está

inserido.

Nesta perspectiva o profissional de saúde que o SUS requer deve ser capaz

desenvolver uma visão abrangente do contexto social e refletir sobre o mesmo,

respondendo não apenas às demandas do mercado mas correspondendo às

necessidades do espaço social sob o qual ele irá desenvolver o seu processo de

trabalho. O processo de formação deve ser visto como resultado de um conjunto de

experiências, práticas, vivências e conhecimentos que a pessoa apreende e

compartilha através de uma trajetória que envolve articulação de conhecimentos e

análise de contextos sociais (BAGNATO; MONTEIRO, 2006).

A formação do profissional de saúde tem o desafio de conceber competência

técnica e política e confrontar o profissional no uso do conhecimento, raciocínio,

percepção e sensibilidade para atuar tanto no cuidado individual como no cuidado

coletivo. O profissional deve ser um sujeito social comprometido com a democracia e

a emancipação humana, inovando e humanizando as inovações (SILVA et al.,

2010). Nesta perspectiva, o rompimento com a visão reducionista do processo

saúde-doença faz parte deste desafio.

O contexto social deve ser compreendido como o conjunto de elementos que

influenciam na constituição do estado de saúde que envolve elementos sociais e

culturais da população. Quando pensamos neste aspecto observamos que os

profissionais de saúde são formados sem contextualizar o espaço social em que

estão inseridos. O ensino superior não interage de forma adequada nos ambientes

em que os problemas de saúde são constituídos; apenas se utiliza destes como

espaços de formação para reproduzir os conhecimentos adquiridos na instituição

formadora (MORETTI-PIRES; BUENO, 2009).

Neste sentido é necessário considerar que o profissional da área de saúde

precise desenvolver habilidades que possam ser aplicadas em diversas situações e

realidades (FERRAZ; KRAUZE; SILVA, 2009). Este profissional deve estar apto a

desenvolver o processo de cuidar em saúde em diversos contextos sociais, de modo

que o ato de cuidar se desdobre através de uma prática social segura, permeada

pela ética e cidadania.

É importante observamos que o processo de formação do indivíduo é fruto de

um percurso que envolve as experiências e vivências que ocorrem no decorrer da

história de vida das pessoas. Nesta percepção, a vida pode ser pensada como um

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processo de conhecimento em que as experiências que o ser humano vivência

podem ser determinantes no processo de construção deste.

Assim, temos que refletir que a formação em saúde nem sempre contempla a

valorização das experiências além do campo de atuação da área restringindo as

oportunidades de inserção dos estudantes nos espaços sociais na perspectiva da

compreensão da saúde como um conceito amplo e interligado com as outras áreas

do conhecimento humano (Figura 1). Questiona-se o papel do ensino universitário

nesta área no quanto ao desenvolvimento de habilidades para a vida, pois

concebemos a universidade como um espaço de diálogo de saberes amplo para o

desenvolvimento da sociedade.

Figura 1: O contexto da formação em saúde. Fonte: Elaboração de autor.

Infere-se, então, que a formação deva tornar possível aos estudantes

compreender o papel social que o mesmo tem a exercer enquanto agente de

transformação social. Nesta compreensão, o profissional precisa desenvolver

competências na perspectiva de aprendizados significativos à sua prática social.

Desta forma, a convivência em espaços sociais articulada com a formação

acadêmica deve levar ao estudante a constituição de um pensamento reflexivo a

partir de seu aprendizado e interação social.

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Neste caso, é necessário o estímulo à reflexão2 para promoção da

transformação social das práticas de saúde, sendo evidenciada a partir da relação

entre o pensar e o agir na resolução de problemas do cotidiano, permitindo o

discernimento entre os nossos atos e suas consequências (DEWEY, 1997). Porém,

esse processo só é possível a partir do olhar sobre as influências que permeiam as

escolhas feitas por estudantes, profissionais de saúde e por quem recebe o cuidado

através de sua história de vida. Neste sentido, é necessário desenvolver um

processo de reflexão durante a formação acadêmica em saúde que estimule o

desenvolvimento de uma prática reflexiva através da articulação entre saberes e

competências na execução de seus atos.

Compreendemos que a formação de uma prática reflexiva é fruto de um

processo de aprendizagem que estimule o indivíduo através de um exercício do

pensamento crítico a partir da construção do próprio conhecimento e o uso

adequado dos saberes técnicos e instrumentais no desenvolvimento de ações para

a resolução dos problemas. Waldow (2009) considera que o pensamento crítico é

um componente essencial no que se refere a responsabilidade profissional e na

qualidade do cuidado. Portanto, deve-se ainda possibilitar que o “aprender” seja

fomentado pelo aprimoramento do caráter e desdobramento de habilidades e

conhecimentos que possibilitem o desenvolvimento de uma prática profissional

baseada no conhecimento a partir do aprendizado e ação, com vistas ao

desenvolvimento de uma prática reflexiva.

Faz-se necessário a ampliação dos saberes profissionais além do

desenvolvimento de competências e habilidades, permitindo uma formação através

da interação com a vida social do educando. Assim, o repensar a inserção e

participação na realidade pode significar o desenvolvimento de um conhecimento

tácito, implícito no desenvolvimento de ações através da intuição desenvolvida

através da performance do profissional (WALDOW, 2009). Entende-se, então, que é

necessário estabelecer relações entre o cuidado e o processo de trabalho em saúde

enquanto prática social, sendo o desenvolvimento da capacidade de reflexão

profissional fruto de sua história e das experiências intra- e extramuros.

2 A reflexão no discurso educacional e profissional está intimamente associado com o trabalho realizado iniciado

por Dewey entre o século XIX e século XX e desenvolvido por Schön, Argyris e Mezirow na segunda metade do século XX. (REDMOND, 2006).

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O desdobramento da aprendizagem com vistas ao desenvolvimento de uma

prática reflexiva torna-se relevante no atual contexto do ensino da área de saúde,

pois compreendemos que é necessário constituir um pensamento sobre o processo

de interação nos espaços sociais e como este influencia a ação na instituição

formadora. Partimos do princípio que as instituições formadoras devam proporcionar

o desenvolvimento de competências habilidades inerentes ao perfil do profissional

que irá atuar no Sistema Único de Saúde.

Neste trabalho nos propomos a compreender a formação do enfermeiro na

reflexividade e a superação dos limites do modelo de formação biomédica. Assim,

trazemos alguns questionamentos:

Quais aprendizados e conhecimentos estão inseridos no

desenvolvimento de competências e habilidades pessoais e profissionais na

formação do enfermeiro? Que problemas/dificuldades existem neste processo

interacional?

Como ocorre a comunicação/interação entre os saberes sociais e

acadêmicos na formação do enfermeiro?

De que modo o estudante de enfermagem desenvolve o processo de

reflexão no decorrer do seu itinerário de vida?

Como a compreensão de mundo interfere na construção de um olhar

crítico sob o mundo que o rodeia? Quais valores estão presentes?

Como a instituição formadora pode proporcionar oportunidades para o

desenvolvimento de competências e habilidades inerentes ao perfil do profissional

para atuar no contexto do SUS?

A partir destes questionamentos traçamos os objetivos seguir para delinear

este estudo:

Analisar como o estudante desenvolve o processo de reflexão no

decorrer do seu itinerário de vida a partir da articulação entre saberes adquiridos no

conjunto de vivências, experiências, conhecimentos e práticas sociais;

Avaliar como a compreensão de mundo interfere na construção de um

olhar crítico e identificar quais valores estão presentes nesta construção;

Investigar quais aprendizados e conhecimentos estão inseridos no

desenvolvimento de competências e habilidades pessoais e profissionais e quais

problemas/dificuldades existem neste processo interacional.

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2 A TRAJETÓRIA DE UM APRENDIZ

A minha relação e interesse pela área da saúde tem início ainda durante o

ensino médio, em 1995, ao ingressar no curso técnico integrado em tecnologia

ambiental no Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET-RN3). A experiência

em quatro anos de curso me proporcionou uma aproximação com a saúde pública,

pois os conteúdos e atividades escolares estavam relacionados com o estudo de

problemas ambientais e sanitários na cidade do Natal/RN. Nesta época pude

compreender como a relação com o meio ambiente e seus problemas poderiam

influenciar diretamente na saúde das pessoas, principalmente dos bairros periféricos

do município, mas que atingiam também nos bairros mais privilegiados.

Durante a trajetória no CEFET participei de atividades de educação sanitária e

ambiental realizadas em bairros periféricos do município, tendo a oportunidade de

conhecer uma realidade diferente e adversa a qual eu estava acostumado. Ao final

do curso, em 1998, ao participar do estágio na Secretaria Municipal de Saúde de

Natal (SMS), no Serviço de Vigilância Sanitária do Distrito Sanitário Oeste (DSO)

demonstrei interesse para a importância das atividades de promoção à saúde,

desenvolvidas no programa de estágio na realização de atividades de fiscalização e

educação. Foi neste momento que tive o primeiro contato com o processo de

trabalho em saúde na perspectiva do trabalho em equipe multiprofissional e

interdisciplinar.

Ainda durante o estágio, em 1999, ingressei na licenciatura em letras na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A experiência de dois

semestres letivos representou um choque no início da minha formação acadêmica,

pois me deparei com um ensino centrado no professor; o estudante não tinha sua

experiência de vida valorizada, era pouco perceptível a aplicabilidade da utilização

daquele conhecimento em sua forma prática no cotidiano, pois eu estava em um

curso que não me apresentava uma relação bem definida entre o conteúdo teórico e

a sua aplicação na realidade social de atuação dos professores em que os

estudantes estavam inseridos. Porém nem tudo estava perdido, aos poucos fui

compreendendo alguma relação entre a Linguística de Ferdinand de Saussure4

(1857-1913) e as atividades desenvolvidas na vigilância. Através de Saussurre

3 Atualmente Instituto Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte (IFRN)

4 Linguista francês, autor do Cours de Linguistique Général (1916), que defendia a língua a partir de uma ordem

própria.

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compreendi como era importante valorizar a cultura das pessoas no contato

humano, pois o diálogo com o outro necessitava ser mútuo e compreensivo, assim

como língua é dinâmica podendo se transformar de acordo com a classe social e o

ambiente, o estado de saúde, a condição social, e o nível de conhecimento também

podem sofrer transformações que podem repercutir diretamente na compreensão da

informação e aquisição do conhecimento. No decorrer do ano decidi fazer

novamente o exame vestibular5, queria algo diferente, mas que estive relacionado

com o que eu estava vivenciando na vigilância sanitária.

No primeiro semestre de 2000 inicio uma nova graduação, calouro novamente,

agora no curso de enfermagem. É um momento de conhecer o funcionamento do

corpo humano, ter contato com as patologias, receber as primeiras informações

sobre a área da saúde, enfim, um processo de (re)descobertas e novos desafios.

Após a empolgação inicial algo me despertou atenção, muitos dos componentes

curriculares tinham mais de um professor, cada um responsável por um conteúdo

específico, “dono do seu quadrado”. O professores vinham, despejavam seus

respectivos conteúdos e sumiam, era tudo muito fragmentado, não tinha como

compreender ainda o ser humano como um todo, mas apenas em partes e sistemas,

pois não era visível perceber que havia um diálogo entre as disciplinas, e às vezes

nem entre os professores de um mesmo componente, algo que ainda hoje percebo o

quão difícil é, pois exige uma reformulação de pensamento e de práticas.

No segundo semestre do curso um novo componente me chamou a atenção,

era a Saúde e Cidadania (SACI), eu não tinha ideia ainda de que a vivência na SACI

fosse marcar a minha formação profissional. A proposta deste componente era

proporcionar o contato com o real, com as pessoas em sua realidade social, com os

profissionais de saúde em seus espaços de produção, com o processo de trabalho

na atenção básica à saúde. Eu teria a oportunidade de vivenciar algo que seria o

contato com outros estudantes através do trabalho em equipe, da problematização

da realidade e a construção dialógica de um saber coletivo sobre a realidade que

estávamos inseridos.

Um aspecto interessante neste momento foi que não haveria “a figura” do

professor coordenando as ações, mas sim de tutores que iriam construir conosco as

atividades que seriam desenvolvidas. E as aulas? Estas seriam fora do espaço de 5 Forma de ingresso no ensino superior na UFRN que existiu até 2012. Hoje o ingresso acontece através do

Sistema de Seleção Unificada (SISU) e Exame Nacional de Ensino Médio (Enem)

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sala de aula, seriam nas unidades de saúde do DSO, que eu já conhecia

previamente, mas com um novo olhar. Estes tutores não eram apenas professores

da UFRN, também eram profissionais de saúde que atuavam no sistema de saúde e

participavam da tutoria. Estava tendo o primeiro contato com um proposta

interdisciplinar, sem nem saber do que se tratava, era um conceito novo. A SACI me

fez retomar a vivência na vigilância, pois ao realizarmos um trabalho de educação

ambiental no bairro de Cidade Nova, o qual já tinha familiaridade, esta foi a

oportunidade de construir um novo olhar, o olhar de um aprendiz.

Após ter vivenciado a SACI, participei das atividades do Projeto em Educação,

Saúde e Cidadania (PESC) do Departamento de Saúde Coletiva (DSC) do Centro de

Ciências da Saúde (CCS) da UFRN e vinculado ao Projeto UNI-Natal6. O UNI tinha o

objetivo de subsidiar as mudanças nos projetos políticos pedagógicos dos cursos da

área de saúde. Esta experiência proporcionou o conhecimento sobre as discussões

acerca das mudanças que estavam sendo implantadas na formação dos

profissionais de saúde na perspectiva do Sistema Único de Saúde. Assim passei a

compreender que a fragmentação que eu vivenciava era fruto do modelo

Flexneriano7, um modelo desenvolvido ainda nas primeiras décadas do século XX,

na realidade norte-americana, em que o ensino da área da saúde tinha que ser

dividido em dois ciclos, um básico e outro profissionalizante; os componentes

espalhados em diversos departamentos, muitas vezes desvinculados dos cursos

(HADDAD, 2006).

Pude compreender que existe uma verdadeira “colcha de retalhos” na

formação em saúde, porém também tive que aprender o significado do termo

“complexidade” que tanto se discutia e aparecia nos textos que me eram

apresentados. Aprendi nas leituras de Edgar Morin que isso representa a interação

entre os saberes, culminando na interdisciplinaridade, a qual tive o contato inicial

através da SACI.

Ainda na SACI, a oportunidade da monitoria aconteceu até o final da

graduação em julho de 2004, neste período participei de atividades de pesquisa

6 “Uma nova iniciativa na formação de profissionais de saúde, parceria com a comunidade” contribuiu ara a

formulação de Políticas de Recursos Humanos para o SUS e de formação em saúde na América Latina (ALMEIDA JÚNIOR, 2008). 7 O Relatório Flexner, Escrito em 1910 por Abraham Flexner sob o título “Medical Education in the United States

and Canada – A Report to the Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching” propunha uma divisão entre um período ou ciclo inicial de disciplinas básicas, seguido de outro dedicado aos estudos clínicos (PAGLIOSA; DA ROS, 2008).

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sobre a educação em enfermagem como estudante de iniciação científica. Neste

momento trabalhei com a construção do perfil profissional pelo aluno do curso do

curso de enfermagem, estabelecendo o perfil profissional construído pelo graduando

em enfermagem. Esta experiência despertou para o estudo sobre a formação dos

profissionais de saúde, o qual motivou o ingresso posterior no mestrado em

enfermagem pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFRN (PGENF).

Ainda na graduação vivenciei oportunidades em áreas da enfermagem em que

não apresentava muita afinidade como a unidade de terapia intensiva (UTI). Foi

interessante e proveitoso, pois foi possível associar os conceitos da saúde coletiva e

da epidemiologia em espaços tradicionalmente distantes da atenção primária à

saúde. As pessoas que utilizam estes serviços muitas vezes chegam com problemas

de saúde resultantes de alguma falha na atenção básica ou das ações de promoção

à saúde. Isso consistiu em um momento de compreender o ser humano em um

estado crítico de sua saúde, em que não apenas a técnica se mostra importante,

mas o contato humano é fundamental. Neste momento foi possível vivenciar o luto

de diversas formas, mas também compartilhar da alegria do sucesso da alta

hospitalar, por fim muitas lições foram aprendidas.

Durantes os estágios finais integrados na atenção primária e nos serviços

hospitalares vivenciei um momento crucial na decisão dos rumos que seguiria na

atuação profissional. A experiência na Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi

proveitosa, a proximidade com a população proporcionava satisfação através da

interação entre usuários, agentes comunitários e a equipe. Pude exercitar o

sentimento do calor humano na troca de palavras e gestos, colaborando na

compreensão do ser humano em sua amplitude.

O estágio em unidade hospitalar foi um desafio, representou um choque ao

primeiro olhar entrar no maior hospital público do estado que estava em mais um de

seus vários momentos de crise. Faltavam leitos, os setores estavam lotados e não

se podia negar o atendimento, faltava material tanto para procedimentos simples,

como também para os mais complexos. No início vivenciei um conflito diário a partir

da percepção da atuação dos profissionais de saúde neste cenário tumultuado,

muitas vezes beirando o caos. Isso gerou um processo de angústia que durou

semanas, um processo de adaptação difícil, pois não era fácil assistir ao descaso

com o ser humano. Havia uma fragmentação total da assistência, lembrava o filme

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de Charles Chaplin, “Tempos Modernos”8, pois o trabalho era como uma linha de

produção, não havendo muita resolutividade na assistência.

Os problemas se repetiam em outros setores, repletos de macas pelo corredor

e muitos pacientes acometidos de Diabetes Mellitus, hipertensão, acidentes vascular

cerebral, violência, muitas vezes problemas resultantes de falhas nas ações da

atenção primária. Os problemas se repetiam, a fragmentação era acentuada, pois a

equipe era proporcionalmente pequena para a quantidade de leitos. O enfermeiro

era um burocrata, responsável por diversas funções administrativas, não tendo

tempo para supervisionar a assistência, portanto o processo de trabalho se mostrava

fragilizado, pois não havia o principal – a interação direta do profissional com o

paciente.

Na UTI pediátrica, pude me ver no lugar daquelas crianças, pois na infância e

adolescência vivenciei o ambiente hospitalar através do tratamento para combater

um Linfoma de Hodgkin. Era difícil conviver com o sofrimento de quem deveria estar

brincando na fase mais alegre da vida, porém o clima era diferente, os profissionais

eram diferentes. Havia uma interação na equipe, havia diálogo com as crianças e

seus pais. Enfim um lugar humanizado, tinha até fantoche! Experimentei uma visão

do trabalho do enfermeiro na supervisão ativa da equipe, em um processo de

trabalho dinâmico e harmonioso.

Em paralelo com as atividades realizadas durante a graduação, havia a

experiência com xadrez escolar. Foi positivo para a minha formação como docente,

no trabalho pedagógico com crianças aprendi através do contato e interação com os

profissionais de ensino como lidar com o desenvolvimento cognitivo, havia um

diálogo constante para debater os problemas existentes com os estudantes e o

xadrez foi instrumento para trabalhar o desenvolvimento de muitos estudantes.

Neste período, através do envolvimento com as atividades de iniciação à

docência, iniciação científica e o xadrez houve o desejo de seguir a carreira

acadêmica. Era este o caminho a seguir, contribuir junto à sociedade na formação

de profissionais de saúde.

O exercício da docência em saúde ocorre logo após a conclusão da

graduação, através de processo seletivo para professor substituto do Departamento

8 Filme dirigido e estrelado por Charles Chaplin em 1936. Nele o personagem Carlitos faz uma sátira sobre o

modelo de produção fabril desenvolvido nos Estados Unidos.

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de Enfermagem para as disciplinas de Epidemiologia e Saúde Ambiental e

Enfermagem em Saúde Coletiva. Assumi a função expondo o desejo de inovar,

porém havia resistência por parte dos professores, inclusive alguns que foram ex-

professores da graduação, afinal eu era um recém-graduado, considerado ainda

imaturo, porém tinha como desafio fazer alguma mudança. O primeiro contato com a

sala da aula foi estranho, afinal dois meses antes eu ainda era colega de corredor

dos meus alunos.

O período como docente na UFRN foi uma ótima oportunidade para conhecer

e experimentar novas metodologias, proporcionou novas discussões, proposição de

mudanças e participação nelas. Assim, o gosto pela docência ocorre através do

prazer em participar do aprendizado dos estudantes, de contribuir com a formação e

de plantar sementes. Também foi neste período que surge o retorno à SACI, agora

como tutor. A vivência na tutoria possibilitou construir uma relação com a

comunidade. Os alunos deixaram contribuições nestas comunidades, através

desenvolvimento de atividades de promoção à saúde e educação que foram

construídas pelas comunidades.

Ainda em 2004, no PROFAE9, tenho a vivência de uma experiência muito

proveitosa, interagindo com o ensino profissionalizante na área hospitalar,

vivenciando os princípios de Paulo Freire na educação de jovens e adultos,

procurando problematizar a realidade que o estudante trabalhador vivenciava nas

atividades práticas, pois muitos já atuavam na área de saúde sem a qualificação

necessária. Neste momento também ingresso no Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial (SENAC/RN) como professor dos cursos técnicos em enfermagem e em

segurança do trabalho, foi um período de aquisição de novos conhecimentos no

ensino profissionalizante.

No mestrado escrevi a dissertação “Relatos de uma vivência interdisciplinar:

educação, saúde e cidadania” (ALMEIDA JÚNIOR, 2008), orientada pela professora

Raimunda Germano, que aborda a interdisciplinaridade na perspectiva da formação

para o SUS a partir da ótica de estudantes egressos da SACI. A pesquisa da

dissertação foi realizada a partir dos relatos dos estudantes no momento da

9 Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem, desenvolvido pelo Ministério da

Saúde em 2000 para qualificar e capacitar trabalhadores da área de enfermagem com vistas à sua melhor inserção e desenvolvimento das suas ações no mercado de trabalho.

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elaboração do portfólio de aprendizagem. O contato com os portfólios aconteceu

primeiro como tutor, na orientação e avaliação dos mesmos.

No momento em que analisei os textos dos estudantes com o olhar do

pesquisador percebíamos que se constituía em um material repleto de informações

subjetivas em que os estudantes faziam um análise do processo de

ensino/aprendizagem não apenas da SACI, mas também relacionavam a

experiência com as outras disciplinas que eles cursavam (ALMEIDA JÚNIOR, 2008).

Neste trabalho percebi que os princípios da interdisciplinaridade são reconhecidos e

vivenciados pelos estudantes podem proporcionar a formação de um profissional

comprometido com os princípios do Sistema Único de Saúde.

A minha vida profissional está intimamente ligada ao ensino, pois desde o

início da graduação, seja participando das atividades da monitoria da SACI, seja

como professor de xadrez, uma paixão desde a infância. A experiência docente

propiciou oportunidades de vivenciar realidades distintas na saúde ao mesmo

tempo, seja no ensino ou na assistência. Assim em um mesmo dia vivenciava a

complexidade do SUS em vários ambientes proporcionando uma reflexão sobre o

papel dos profissionais em cada nível de atenção. Esta vivência permitiu um

amadurecimento pessoal e acadêmico.

Na assistência hospitalar tivemos a oportunidade de aliar a supervisão de

enfermagem com atividades de educação continuada na equipe, desenvolvendo

ações em conjunto com a equipe para uma melhor sistematização da assistência de

enfermagem, criando protocolos de enfermagem para a assistência. Foi um período

de intensa vivência, com um importante aprendizado com a equipe de trabalho.

Após esta vivência fui convidado para atuar na saúde do trabalhador sendo

apresentado a nova realidade de trabalho, pois o desenvolvimento das ações

acontecia em uma realidade industrial, diferente daquela do ambiente hospital, mas

dentro de uma dinâmica institucional conjunta com outros profissionais de formações

diversas e setores distintos. Esta experiência representou uma oportunidade para

desenvolver um raciocínio clínico prático, principalmente no trato com o ser humano

em situações limites da vida, como nos acidentes de trabalho mais graves.

Deste modo foi possível ir aprendendo a lidar com situações de urgência e

emergência em que a avaliação do trabalhador dependia do olhar do enfermeiro.

Também foi uma oportunidade para compreender o mundo trabalho sob a ótica do

trabalhador, pois no atendimento exercitava a escuta acolhedora da exposição do

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sofrimento por causa do trabalho. Muitas vezes eram lições para refletir durante o

dia todo. Após este período concluo o mestrado e ingresso na UFRN, sendo lotado

na Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi, através de concurso público de provas

e títulos para o cargo de professor assistente.

Considero o professor não um detentor do saber, mas uma pessoa que deva

ser capaz de aprender constantemente com as experiências vivenciadas. Paulo

Freire (1996) ensina que ninguém nasce feito, mas que se constrói na sua prática

cotidiana, na interação com as pessoas. É nesta perspectiva que procuro construir a

minha atuação como docente no curso de enfermagem. Na perspectiva de ser um

eterno aprendiz.

Deste modo considero importante trazer para a academia a interação com a

comunidade que a cerca e os serviços de saúde e valorizar a história de vida dos

estudantes na sua formação. Deste modo posso trabalhar os princípios da

cidadania, da ética, da integralidade, da interdisciplinaridade e compromisso social

entre outros.

Estes princípios estão de acordo com as propostas da UNESCO para a

educação no século XXI aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conhecer e

aprender a viver juntos (DELORS, 1996) e também são contemplados no

pensamento de Freire (1996) e Santos (2004) principalmente sobre a construção do

compromisso social.

O processo de formação acadêmica necessita estar orientado para a

diversificação dos cenários de ensino/aprendizagem, proporcionando uma formação

que trabalhe a dimensão crítico-reflexiva do ensino em interação com a realidade.

Assim, ao buscar desenvolver atividades de extensão e pesquisa a partir dos

problemas diagnosticados no espaço social de atuação da UFRN, compreendo que

é necessário que a universidade pública trabalhe o ensino, a pesquisa e extensão na

perspectiva da transformação social. Nesta perspectiva percebo que a atividade

docente deva estar interligada a pesquisa e extensão, já que é importante que os

conteúdos acadêmicos auxiliem na compreensão do homem como ser integral

(BRASIL, 2004).

A aprendizagem não se constrói apenas na dimensão técnica, mas também no

contato com a comunidade numa verdadeira articulação de saberes (SANTOS,

2004). Deste modo é importante o desenvolvimento de atividades acadêmicas que

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integrem não apenas o ensino, a pesquisa e a extensão, mas que também

trabalhem no tripé academia/comunidade/serviços de saúde.

Torna-se, portanto, necessário o estabelecimento de parcerias com os serviços

de saúde e equipamentos sociais na perspectiva de proporcionar uma integração

dos estudantes com o espaço dinâmico de produção dos serviços de saúde. Deste

modo é importante realizar um trabalho com os profissionais de saúde

conscientizando-os sobre a importância da construção de uma parceria entre os

academia e serviços de saúde, assim como também sensibilizar a comunidade para

esta parceria.

Considero que a formação dos estudantes deva contemplar o desenvolvimento

da condição humana do profissional para que haja um fortalecimento não apenas do

sistema de saúde nacional como também o desenvolvimento da cidadania das

pessoas. Acerca do processo de trabalho em saúde podemos com base no

pensamento de Merhy et al (2006, p. 120-121) a seguinte definição:

O trabalho em saúde não pode ser globalmente capturado pela lógica do trabalho morto, expresso nos equipamentos e saberes tecnológicos estruturados, pois o seu objeto não é plenamente estruturado e suas tecnologias de ação mais estratégicas se configuram em processos de intervenção em ato, operando como tecnologias de relações, de encontros de subjetividades, para além dos saberes tecnológicos estruturados.

Nesta perspectiva considero relevante trabalhar o ensino contextualizado,

trazendo para academia o diálogo entre conteúdo e realidade (FREIRE, 1996).

Assim, é interessante relacionar a história e o processo de trabalho com a realidade

local dos serviços de saúde tanto da atenção básica como da atenção hospitalar.

Para isso é importante que o estudante conheça o funcionamento do sistema

de saúde local em todas as suas dimensões (administrativa, financeira, assistencial,

controle social entre outras). Peduzzi (2002) considera o trabalho em saúde como

reflexivo, e imprescindível à sociedade, tendo algumas semelhanças e diferenças

com o modo de operar o trabalho na sociedade contemporânea.

Ao buscar a qualificação e aprofundamento do pensamento percebo a

importância que tem o professor em estar sempre reavaliando sua prática docente.

Deste modo o ingresso no doutorado para continuar o caminho traçado no mestrado

na perspectiva de contribuir com a qualidade da formação não apenas dos

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estudantes, mas também proporcionar um retorno à sociedade do resultado de

nosso estudo.

Compreendo, assim, que a pesquisa na pós-graduação deva induzir um

processo de transformação social possibilitando o desenvolvimento de um “pensar”

conectado a um “fazer” inovador, possibilitando analisar a inserção dos frutos do

trabalho acadêmico além do relatório final de uma pesquisa, mas que respondam às

necessidades de um povo.

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3 ELEMENTOS METODOLÓGICOS

Nesta investigação nos propomos a trabalhar com material obtido a partir da

realidade empírica dos estudantes do curso de enfermagem do Campus Santa

Cruz10. Como estratégia metodológica optamos por utilizar a abordagem qualitativa

por permitir o estudo de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de histórias

sociais sob a ótica dos atores, de relações, análises de discursos e de documentos

(MINAYO, 2007 p. 57).

A abordagem qualitativa possibilita ao pesquisador conhecer e interpretar a

realidade através de questões particulares que englobam a vida humana

(TRIVIÑOS, 1987; MINAYO et al, 2007). Logo, esta escolha nos permite

compreender a inter-relação entre os atores sociais e o ambiente que os cerca na

construção do sentido do material empírico colhido nas etapas posteriores.

Com base nos objetivos do estudo optamos pelo grupo focal como método de

coleta do discurso dos sujeitos da pesquisa e a análise de conteúdo para realizar a

exploração do material empírico. Os participantes foram estudantes do 3º ao 5º anos

do curso de enfermagem da Faculdade de Ciências das Saúde do Trairi/UFRN

(FACISA/UFRN).

A seleção dos estudantes ocorreu mediante realização de convite pelo

coordenador da pesquisa e aceitação dos mesmos. Com o aceite da participação, foi

decidido o horário e espaço para a realização da reunião, que ocorreu nas

dependências desta instituição. Ao início da reunião os participantes foram

esclarecidos sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e

orientados sobre a operacionalização do grupo focal.

Nesta modalidade de pesquisa destaca-se que o pesquisador não é neutro

pois participa, compreende e analisa o processo. Para isso o mesmo deve buscar

estar livre de preconceitos, ter uma visão ampla dos fenômenos, imergindo no

cotidiano e observando as práticas e experiências para, assim, poder interpretar e

reconstruir adequadamente os significados que os sujeitos da pesquisa atribuem ao

fenômeno estudado.

10

O curso de enfermagem da Faculdade de Ciências das Saúde do Trairi/UFRN foi criado em 27 de junho de

2006 (RESOLUÇÃO No 084/2006-CONSEPE/UFRN) e seu projeto pedagógico foi aprovado no mesmo dia

(RESOLUÇÃO No 085/2006-CONSEPE/UFRN). O ingresso da primeira turma ocorreu no segundo semestre

letivo de 2007 através do exame vestibular, esta turma concluiu a graduação em 2011 após nove semestres.

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3.1 Caracterização dos participantes da pesquisa

Os estudantes que foram objeto deste estudo apresentam um perfil

característico aos cursos de enfermagem. Assim apresentamos o estudante do

curso de enfermagem desta unidade acadêmica através de suas falas.

No contexto da enfermagem brasileira há predomínio de estudantes do sexo

feminino, algo que condiz com a realidade dos cursos de graduação em

enfermagem no contexto brasileiro, em que grande parcela do corpo discente é

composta por mulheres, representando um processo de conexão histórica da

profissão com a natureza feminina. Porém percebe-se que há uma inserção

crescente de homens na profissão, significando um rompimento com o estigma de

profissão feminina.

Uma parcela significativa dos ingressantes são jovens com até 21 anos de

idade, recém-saídos do ensino médio, ainda residentes com os pais e solteiros,

correspondendo a representação do estudante universitário brasileiro da área da

saúde.

Eu passei no meu primeiro vestibular (...) então quando eu cheguei aqui em santa cruz eu vi muitas realidades diferentes, eu vim morar sozinha, eu tive que aprender a fazer coisas, coisas de casa não, começar a fazê-las por que em casa eu não fazia.( Digama) Eu era uma criança quando eu entrei aqui, eu fico olhando, assim, eu era um bebê, parece assim, eu abri minha mente pro mundo. (Rô)

A inserção de pessoas fora de desta faixa etária pode demonstrar a

necessidade na busca de qualificação após o amadurecimento pessoal, porém a sua

inserção apresenta barreiras ao ingresso ao ensino superior tendo em vista que o

processo seleção ao ensino superior neste momento ainda era pelo concurso

vestibular, fazendo com que os mais velhos necessitassem passar por uma

preparação para concorrer com os mais jovens para uma vaga na instituição de

ensino superior pública.

Veio a proposta da universidade pra Santa Cruz, com o curso de enfermagem, e eu disse „pronto agora é minha vez‟, não tinha como atuar lá fora, porque tendo em vista problemas familiares, tendo em vista emprego, porque emprego não se deixa do dia pra noite, até porque é o vínculo empregatício com o município, e assim eu disse se é da vontade de Deus,

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ele vai me dar esta oportunidade, e a oportunidade veio e eu estou aqui no curso enfermagem. (Pi) Antes eu tinha feito um curso de nível superior, que foi o curso de zootecnia, por influências da família, eu me vi aqui na época dos meus dezesseis anos, muito parecida com meus colegas da sala neste momento, naquela época eu segui por um curso pra agradar inconscientemente o meu pai (...) depois do curso de zootecnia, depois de um casamento, filho, complicações pós-parto, doença, o câncer, talvez quem sabe um pouco mais amadurecida acredito eu, parei de pensar no que seria bom para o outro, pra que agradar ao meu marido? pra que agradar ao meu pai? Pra que agradar a, não eu vou agradar a mim mesma (Iota)

Estes universitários são oriundos de cidades do interior do Rio Grande do

Norte. A proximidade geográfica da instituição universitária em uma região próxima

aos municípios de procedência dos estudantes pode facilitar o ingresso, isso

possibilita que pessoas de origens sócio-econômicas distintas possam ingressar no

ensino superior com um custeio menor e próximo aos seus domicílios.

Painho não queria que eu saísse nem de Currais (Novos). Aí enfim, Santa Cruz foi mais próximo, né? (Digama)

Eu nunca tinha saído de perto dos meus pais, eu nunca tinha saído de perto de nenhum familiar meu, de repente eu me vi morando sozinha com amigos, nem eram amigos porque as meninas com quem eu vi morar eu nem conhecia elas, conheci no dia que a gente ia começar a morar (Ômicron)

Tal inserção pode contribuir posteriormente para uma presença representativa

da instituição universitária através das atividades de extensão, pesquisa e ensino

nas localidades de origem destes estudantes, proporcionando uma modificação do

perfil de seus indicadores de saúde e sociais.

Porém, ainda há uma admissão significativa de estudantes vindos da capital do

estado, o que pode ser visto como produto de alguns elementos inerentes ao

processo seletivo em vigor: a concorrência menor nos campi do interior; a pontuação

de classificação pelas vagas; a possibilidade de transferência para a capital através

de editais internos de mobilidade da instituição. Também existe a desistência de

vários destes estudantes no decorrer do curso por causa da má-adaptação à

distância, pela não identificação com o curso ou por não conseguir acompanhar as

exigências do corpo docente.

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3.2 O trabalho de campo

Para coleta de dados optamos pela técnica de grupo focal para captação do

material empírico com os alunos matriculados e egressos do curso. O grupo focal

permite que os sujeitos emprestem sua subjetividade manifestando suas vivências e

experiências através do relato verbal e debate no grupo. Destaca-se que amostra

para o grupo focal foi intencional e os sujeitos deveriam ter pelo menos um ponto

comum, o que neste caso se caracteriza o vínculo como discente com a instituição.

Durante a realização da coleta de dados foram respeitados os preceitos éticos

através da solicitação de carta de anuência da instituição envolvida e apresentação

do TCLE aos sujeitos da pesquisa conforme recomendação da Resolução

196/199611 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e Comissão Nacional de Ética

em Pesquisa (CONEP) e aprovação do protocolo de pesquisa pelo Comitê de Ética

na Pesquisa da UFRN, Parecer no. 255/2011. A participação foi voluntária e sem

ônus, sendo garantido o anonimato e a liberdade de encerramento da participação a

qualquer momento.

O grupo focal permitiu que os discentes contextualizassem e refletissem suas

experiências de vida nos ambientes intra- e extramuros assim como os permitiu

apresentar as contribuições das mesmas na formação do enfermeiro nesta

instituição. O grupo foi operacionalizado através de questões disparadoras. Buscou-

se através das reuniões de grupo focal relatar os aspectos cognitivos, interacionais,

vivenciais e experiências dos sujeitos sociais do grupo de referência. Assim, os

dados foram fruto das discussões entre os elementos do grupo. Foram formados 05

grupos, realizados no em salas no espaço da Faculdade, sendo o primeiro grupo

para teste e ajustes no roteiro e 04 grupos realizados com estudantes do 3º ao 5º

ano de curso. Os grupos foram realizados entre os meses de abril e setembro de

2012, tiveram duração média de 90 minutos e a participação de 06 à 15

participantes.

Os sujeitos selecionados foram convidados a participar das reuniões de grupo

focal em horário e local pré-estabelecidos com os mesmos, de modo que permitisse

que o grupo pudesse ser desenvolvido harmonicamente. A escolha dos participantes

foi realizada aleatoriamente, ocorreu mediante convite realizado em sala de aula,

11

A Resolução 196/1996 foi substituída posteriormente pela Resolução 466/2012.

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sendo informado que a participação seria voluntária sem ônus, em seguida foi

apresentado os objetivos da pesquisa e acordando o horário e local adequado que

fosse conveniente aos estudantes. Ao se definir o horário de realização dos grupos

considerou-se a necessidade de não haver outras atividades acadêmicas que, por

ventura, viessem a interferir na execução do grupo focal.

A equipe de pesquisa foi composta de um moderador, representado pelo

pesquisador, e um observador, que realizou os registros e auxiliares. Na

operacionalização o moderador não deve influenciar nas discussões, este deve

possibilitar a exposição de ideias e comentários buscando envolver os participantes

na discussão. Já o observador deverá realizar anotações sistemáticas sobre o que

está sendo analisado acerca do comportamento dos integrantes do grupo e das

reações verbais e não-verbais no momento das atividades, além de auxiliar nas

gravações para registro dos discursos, organização do espaço físico e favorecer a

comunicação entre os sujeitos.

O roteiro de entrevista foi proposto com as seguintes questões norteadoras:

Qual(is) a motivação(ões) responsável(is) pela escolha do curso?

Quais experiências foram vivenciadas foram importantes antes do

ingresso no curso? O que elas significam hoje nas escolhas que você tem feito?

Como você percebe o desenvolvimento do conhecimento no decorrer

do curso? Quais as facilidades e dificuldades?

Como é classificado este conhecimento em vista ao que existia antes

da vida acadêmica? Quais as experiências estão sendo importante neste processo?

Quais habilidades pessoais e profissionais você tem desenvolvido

durante a formação?

3.3 A análise temática do material empírico

Os dados foram trabalhados utilizando a análise temática baseada na análise

de conteúdo de acordo o referencial teórico de Bardin (2011), que consiste no

recorte do conjunto de entrevistas a partir dos conteúdos e formulação de temas a

partir de sua frequência na enunciação do discurso.

Minayo (2007, p. 308) enfatiza que a análise de conteúdo “visa a ultrapassar o

nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar uma vigilância

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crítica em relação à comunicação de documentos, textos literários, biografias,

entrevistas ou observação”. Através dela espera-se compreender o pensamento do

sujeito através do conteúdo expresso no texto, numa concepção transparente de

linguagem. Na análise de conteúdo o texto é um meio de expressão do sujeito, em

que o analista busca categorizar as unidades de texto (palavras ou frases) que se

repetem, inferindo uma expressão que as representem (CAREGNATO;

MUTTI,2006).

A análise de conteúdo constitui-se em três etapas: a pré-análise; a exploração

do material; o tratamento dos resultados, inferência e a interpretação do material.

Mesmo assim ela vai depender especificamente do tipo de investigação a ser

realizada, do problema de pesquisa que ela envolve e do corpo teórico adotado pelo

pesquisador, bem como do tipo de comunicações a ser analisado (TRIVIÑOS, 1987;

BARDIN, 2011; MINAYO, 2007).

Neste estudo a pré-analise inicia-se ao término de cada grupo focal com a

discussão entre a equipe a partir dos registros das falas para transcrição posterior.

Neste momento são destacados o comportamentos dos participantes, com

delimitação daqueles que foram ativos e passivos durante o desenvolvimento do

grupo. Na escuta e transcrição exaustiva das falas começa-se a destacar as

primeiras presunções de temas para análise considerando ainda o roteiro do grupo

focal. Ao término da transcrição é feita a revisão das falas objetivando eliminar

inconsistências no discursos devido à má interpretação de termos ou pela qualidade

do áudio. Percorrido isto inicia-se a leitura inicial do material para reconhecimento

das falas e flutuação pelos temas expostos para exploração do material.

Esta leitura, classificada por Bardin (2011) como leitura flutuante, consiste na

aproximação com o texto constituindo um contato que formular as primeiras

impressões sobre o material, levando ao desenvolvimento de um diálogo entre o

pesquisador e o material empírico possibilitando um processo de reflexão sobre o

que foi exposto durante o grupo focal. Nesta etapa, as leituras são baseadas em

visitas constantes ao material transcrito permitindo esclarecer pontos obscuros.

A exploração do material segundo Minayo (2007) consiste essencialmente

numa classificação que visa alcançar o núcleo de compreensão do texto. O material

passa por um processo de leituras sequenciais do material empírico para

delimitações dos temas abordados, construção de correlações e definições dos

momentos de tensão do texto. Consideramos tais momentos aqueles em que ocorre

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32

uma “acalorada” discussão com o envolvimento de vários participantes com um alto

fluxo de falas convergente e/ou divergentes quanto às questões norteadoras.

Buscamos categorizar através de expressões ou palavras nas quais o

conteúdo de uma fala será organizado, reduzindo o texto em palavras e expressões

significativas constituídas em unidades relevantes indicadas na pré-análise

realizando assim a classificação e a agregação dos dados de acordo com categorias

teóricas ou empíricas. Nesta etapa são formuladas categorias temáticas primárias

que serviram para agrupamento dos discursos que foram posteriormente

reagrupados a partir do confronto entre a fala e seus significados dentro da

compreensão do contexto do discurso individual e representação coletiva da fala.

O processo de construção das categorias foi realizada a partir classificação e

agregação das falas em grupos afins, permitindo a formulação das categorias.

Estas, surgem a partir de palavras significativas no discurso, temas, objetos,

acontecimentos, documento (BARDIN, 2011). A partir disso constituiu-se 06

dimensões temáticas de análise (Quadro 1), que permitiram constituir as categorias

temáticas para análise do material empírico.

Dimensão 01

Identificação com a profissão escolhida

Dimensão 02

Estigmas da profissão

Dimensão 03

Aprendizados e reconhecimento social

Dimensão 04

Amadurecimento e transformação pessoal

Dimensão 05

Reflexões a partir da vida acadêmica

Dimensão 06

Experiências, reflexões e aprendizados da profissão

Quadro 1: Dimensões de análise do material empírico coletados nos grupos focais. Elaboração do Autor.

A partir da exploração começamos a constituir o corpus da análise a partir do

alinhamento e progressão do discurso com agrupamentos de opiniões que

partilhavam aproximações de pensamento levando à um conjunto de categorias de

análise projetadas a partir dos conteúdos (Figuras 3 e 4). Assim, trabalhou-se o

material considerando a progressão do discurso, em que os temas globais foram

sendo afunilados para círculos específicos de análise. Tais círculos versaram sobre

macro-categorias constituídas a partir da correlação entre as falas dos participantes

dos grupos focais possibilitando no momento seguinte organizar as categorias para

a constituição da análise de conteúdo do material empírico.

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33

Figura 2: Representação do percurso metodológico. Fonte: Elaboração do autor.

Figura 3: Categorias de análise projetadas a partir dos conteúdos do discurso. Fonte: Elaboração do autor.

A análise do material ocorreu concomitante ao tratamento dos resultados,

sendo decorrente das (re)leituras a que este é submetido. Nesta ocasião realizamos

uma síntese das falas, buscando correlação entre elas e pontos divergentes de

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opinião dentro do discurso. A partir disso o material passa a ser interpretado com

base nas características apresentadas nas exposições individuais, no debate

coletivo e experiências correlacionadas com o contexto de inserção da formação

acadêmica e trajetória individual. Neste momento através do diálogo com a

literatura, acareamos os achados com os debates existentes na área do

conhecimento específico.

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35

4 A FORMAÇÃO EM SAÚDE E O CONHECIMENTO SOBRE A REFLEXIVIDADE

4.1 Breve contexto sobre a formação em saúde

O ensino de graduação na saúde é fruto de uma tradição caracterizada pelo

formato em conteúdos, na construção de conhecimentos, fragmentação e

desconexão entre temas, carga horária excessiva para determinados conteúdos,

oferta quase nula de atividades optativas, desvinculação entre o ensino, a pesquisa

e a extensão, formato enciclopédico e orientação para a doença e a reabilitação

(CARVALHO; CECCIM, 2006).

A formação em saúde no Brasil, que formalmente, inicia com a vinda da família

real portuguesa no século XIX, priorizava a formação de práticos através da prática

em laboratórios ou em serviços, em contato com profissionais experientes com o

aprendizado desenvolvido a partir da experiência. Quanto ao ensino da

enfermagem, na década de 1920 surge a primeira escola de enfermeiros, vinculada

ao então Departamento Nacional de Saúde Pública cujo foco da formação era o

cuidado relacionado as doenças de massa, conforto espiritual do doente e alguns

aspectos sociais (GERMANO, 2003; SCHERER; SCHERER; CARVALHO, 2006).

Até então o ensino era ofertado em instituições religiosas sem programas formais de

ensino definidos, mas baseado no cumprimento de tarefas diárias focadas no

cuidado ao doente, limpeza e higienização do ambiente, marginalizando o

desenvolvimento intelectual das aprendizes.

Ainda na primeira metade do século XX o relatório Flexner propõe uma

educação científica da saúde, com base biológica e focada na especialização,

pesquisa experimental e centrada no hospital como centro de ensino (CARVALHO;

CECCIM, 2006). O ensino da enfermagem a partir desta fase passa enfatizar as

clínicas, práticas curativas, formando o enfermeiro para a assistência hospitalar e

centrado no pólo indivíduo/doença/cura (SCHERER, SCHERER, CARVALHO,

2006). Destaca-se ainda a desvinculação entre ensino e trabalho, não permitindo a

construção de competências para o enfrentamento das necessidades de saúde da

população.

Carvalho e Ceccim (2006) fazem referência a inexistência de espaços que

propiciem o desenvolvimento da criatividade e integração de saberes para a

formação de “profissionais pensantes” e que isso é fruto de uma prática pedagógica

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focada no corpo, na redução da saúde, da doença e da terapêutica, fragmentada e

estática; que considera o acesso à informação como sinônimo de construção de

conhecimento. Assim o conhecimento era, muitas vezes, restrito as evidências

científicas, as quais nem sempre dialogam com o contexto de origem dos estudantes

e são pouco aplicáveis nos contextos sociais em que estão inseridas instituições de

ensino, não possibilitando uma transformação da prática para transformar o modo de

vida das pessoas que utilizam os serviços de saúde vinculados às instituições

formadoras ou que interagem com os estudantes nos campos de prática da futura

profissão.

O ensino no campo da saúde pauta-se nos processos de desenvolvimento

tecnológico e de especialização, marginalizando as competências de formação geral

e o diálogo com outras disciplinas das ciências humanas e sociais. Apesar da

formação em saúde estar atualmente vinculada às necessidades do sistema de

saúde vigente no país, ela ainda precisa ser pensada no sentido de romper com o

axioma do conhecimento hospitalocêntrico. É necessário trazer a compreensão da

assistência à saúde na perspectiva da autonomia do usuário deste serviço,

estimulando o diálogo, a compreensão de mundo, de saúde e de doença

(FEUERWERKER; CECÍLIO, 2007). Para compreender tais necessidades é

imprescindível conhecer como os estudantes aprendem. Esquece-se então a função

social da universidade na melhoria de vida das pessoas, transformação nos modos

de vida, promoção da saúde, reabilitação psicossocial e proteção da cidadania

(CARVALHO; CECCIM, 2006).

Ainda nas décadas de 1970 e 198012, o processo de transição política e

econômica vivenciada pelo país fomentaram um processo de reformulação das

concepções e percepções no cenário de saúde vigente, assim como o processo de

formação de recursos humanos para esta nova visão que se instaurava no campo

da saúde. No ensino das profissões da saúde a prevalência do modelo biomédico

restringia a formação, cujo foco era o cuidado individual e fragmentado. Havia

poucas oportunidades para que o estudante percebesse a amplitude da saúde como

algo amplo, que vai além da ausência de doenças, mas que seria influenciado por

uma interseção de fatores políticos e sociais. Neste contexto a formação não

12

Este período foi marcado pela ditadura militar, iniciada em 1964 e terminada em 1985. No campo da saúde foi

marcado pelo Movimento da Reforma Sanitária, que demarcaria o arcabouço constitucional para o Sistema

Único de Saúde ao final da década de 1980 no texto da Constituição Federal.

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privilegiava a integração dos saberes às práticas profissionais (ALMEIDA; FERRAZ,

2007; PEREIRA; FORTUNA, 2009).

Os espaços de produção das ações usados como campos de prática pouco se

beneficiavam da presença das instituições formadoras, pois a relação existente era

sazonal e de via única, ou seja, a instituição de ensino estabelecia suas prioridades

sem diálogo com realidade e por consequência sem motivar os seus atores a agir

para transformar a realidade.

Na perspectiva de romper com esta formação na enfermagem inicia-se um

processo de discussão sobre a formação do profissional enfermeiro que culmina na

década de 1990 no entendimento de uma formação generalista, com visão holística

do processo de assistir/cuidar (SCHERER, SCHERER, CARVALHO, 2006). Nesta

década advém a discussão sobre a inserção nos espaços de produção das ações de

saúde na perspectiva de romper com as dicotomias históricas que fragmentam o

homem e o saber. Ocorre um repensar do ato de cuidar na perspectiva do cuidado

integral do ser humano no processo saúde-doença. A formação generalista é

fortalecida no debate sobre o perfil do profissional para atuar no processo de

implantação do SUS.

No início do século XXI são definidas as Diretrizes Curriculares Nacionais

(DCNs)13 para os cursos da área de saúde, dentre eles a enfermagem (Anexo 1). As

DCNs são construídas a partir da mobilização do setor da saúde em preocupação

com a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir da reorientação da

formação dos profissionais que irão atuar nele (CECCIM; FEUERWERKER, 2004). A

constituição das DCNs coloca em foco a flexibilização curricular, algo necessário

para permitir a conexão do ensino com os espaços de produção das ações de saúde

permitindo a adequação das estruturas curriculares aos contextos regionais de

inserção dos cursos. Neste momento fortalece-se o pensamento sobre o ensino

centrado na realidade devendo as ações de ensino ocorrerem nos espaços sociais

de desenvolvimento do processo saúde-doença, o que permite ao estudante

construir um conhecimento articulado com o contexto social e dialogar os saberes

13

As Diretrizes Curriculares Nacionais são orientações para elaboração dos currículos que devem ser

necessariamente adotados por todas as instituições de ensino superior. A Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de

novembro de 2001 abrange os cursos de graduação em enfermagem. As DCNs são resultado de proposições

que foram debatidas sobre a formação dos profissionais de saúde no âmbito do contexto do Sistema Nacional de

Saúde entre as décadas de 1980-90 que envolveu as diversas profissões que atuam no campo da saúde.

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necessários para a ação neste espaço (FORTUNA et al., 2009; GUIMARÃES;

SILVA, 2010).

O processo ensino-aprendizagem é concebido como uma construção conjunta

envolvendo trabalhadores da saúde, população atendida e instituição formadores

através do seu quadro docente e discente objetivando formar cidadãos que possam

interagir com as práticas de saúde de forma critica, propositiva e transformadora.

Nesta perspectiva pretende-se proporcionar um estímulo à reformulação das

práticas profissionais no campo da saúde, estimulando um processo de trabalho

inovador e criativo.

É importante compreender que o trabalho em saúde está inserido em um

processo produtivo que abrange autonomia e autogoverno do trabalhador,

classificado como trabalho vivo (Figura 4). Nele o trabalhador vincula-se diretamente

com o seu objeto de trabalho, sendo o trabalho entendido como prática social e

como prática técnica (MERHY; FEUEWERKER; CECCIM, 2006). Este trabalho é

baseado no encontro entre seres humanos, assim como o processo de formação na

saúde. Tem-se uma aprendizagem e ensino mútuo a partir do processo de interação

entre pessoas de origens, culturas e saberes diferentes. Mesmo assim, na

perspectiva tradicional de formação, o saber docente e científico é apresentado

como superior ao saber de mundo do estudante. Enquanto seres aprendentes

somos convidados a desconstruir nossas concepções de mundo e absorver saberes

teóricos, conceituais e técnicos sem que estejam relacionados com a nossa

realidade.

Figura 4: O trabalho em saúde. Fonte: Elaboração do autor.

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Silva e Sena (2006) expõem que há uma exigência de profissionais de

formação polivalente, com visão globalizada e dispostos a aprender a aprender, o

que representa um rompimento com o modelo flexneriano e desafia as instituições e

docentes a desenvolver propostas pedagógicas inovadoras e que estimulem o

protagonismo estudantil e a transformação profissional através da inserção da

academia nos espaços sociais. As autoras ainda destacam que a formação dos

profissionais de saúde é frutificar o desenvolvimento de competências para a

atuação e a interação multiprofissional. Sordi e Bagnato (1998) mostram ainda que

deve haver uma ruptura com as concepções de Homem, Mundo, Sociedade e

Educação e a reorganização do trabalho pedagógico na perspectiva de aproximação

entre discurso e ação. Ito, Ivana e Nunes (1996) destacam que as competências

devem estar direcionadas à integralidade da atenção à saúde agregando ao

profissional de saúde a capacidade para tomada de decisões, comunicação,

liderança, gerenciamento e educação permanente.

Nesta perspectiva o processo de construção das diretrizes curriculares

nacionais para os cursos da área de saúde representa um rompimento com o

paradigma flexneriano, constituindo um desafio para uma nova forma de produzir

conhecimento e assistência à saúde. Assim estabelece-se um convite ao

desenvolvimento do pensamento crítico na formação em saúde (CECCIM,

FEUERWEKER, 2004). Estabelece-se o desafio de questionar a realidade e

desenvolver habilidades para o diálogo humano e interação social. O profissional de

saúde deve ser capaz de constituir em seu processo de trabalho uma relação de

convivência construtiva com o espaço social que ele irá desenvolver suas ações,

assim como ser participativo na proposição e resolução dos problemas do cotidiano

do campo social da saúde.

Neste sentido é preciso repensar a ideia de homem e sociedade

historicamente constituída neste campo do conhecimento, rompendo com a

dissociação estabelecida o ser biológico e o ser social, que interfere na concepção

da saúde como uma negação da doença, estigmatizando a prática da assistência à

saúde como um ato mecanicista, desumano e isolado dos saberes que permeiam o

universo humano.

Assim é necessário (re)transformar a formação e a inserção dos profissionais

de saúde para o processo de trabalho em saúde a partir da constituição de uma

prática acadêmica, e posteriormente uma prática profissional, com uma inserção

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social que possa constituir e emancipar pessoas e humanizar práticas profissionais.

Deve-se aliar saberes e conhecimentos com a prática profissional, constituindo a

formação em um processo de construção mútua de atos e processos. A formação

em saúde deve permitir que o profissional seja capaz de indagar, refletir e

problematizar a partir de sua prática, permitindo desalienar o trabalho, não deixando

profissionais alheios aos problemas do cotidiano das pessoas que acessam o

sistema de saúde.

4.2 O pensamento reflexivo e a reflexividade

A concepção de pensamento reflexivo tem origem nos estudos de John Dewey

(1997) sobre as relações entre conhecimento e experiências vividas. O autor

compreende que a inteligência é uma qualidade inata que pode ser desenvolvida e

aprimorada como resposta à experiência através do pensamento reflexivo. A

reflexão é caracterizada como um modo de pensar sobre as coisas que são

necessárias para tentar resolver uma situação de perplexidade, dúvida e confusão

para um processo claro, coerente, constante, e harmonioso. Dewey percebe que

esta forma de pensar como um processo de investigação a partir da construção, e

teste, de inferências através do cruzamento de referências em situações observadas

e vivenciadas, tendo em consequência a formulação de um pensamento testado

através da ação que pode confirmar, modificar ou refutar uma ideia.

A reflexão é vista como um processo de discernimento na relação entre nossos

atos e suas consequências. A partir dos escritos de Dewey, diversos estudos foram

desenvolvidos a partir de sua concepção sobre pensamento reflexivo fomentando a

discussão sobre a reflexividade (PRYCE, 2002; RODGERS, 2002; MIETTINEN,

2000; SCHÖN, 1983; 1987; 1992; 2000; FOOK; GARDNER, 2006; WHITE; FOOK;

GARDNER, 2006; REDMOND, 2006).

As raízes da reflexão estão inseridas no discurso educacional e profissional

associados aos trabalhos de Dewey e desenvolvidos por Schön, Argrys e Mezirow

(REDMOND, 2006). Tal processo envolve o exame de experiências, através da

aprendizagem com o novo e a aprendizagem de novos significados. Isso abrange

um processo de (des)construção de novos significados, em que se busca sentido

para as coisas novas ou circunstâncias diferentes, assim como a revisão de

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diferentes aspectos do poder, incluindo aspectos pessoais, interpessoais, estrutural,

formal e informal (FOOK, 2004).

Assim, uma nova visão e os conhecimentos adquiridos através da reflexão

podem resultar em mudanças sociais. (FOOK; ASKELAND, 2007). Isso pode ser

fundamentado no pensamento de Habermas (1987) distingue três modalidades de

conhecimento: o técnico, desenvolvido através de análises empíricas; a prática,

desenvolvida através da linguagem e hermenêutica; e o emancipatório, desenvolvido

a partir da reflexão baseada na teoria crítica. Ele foca que os diversos

conhecimentos não excluem um ao outro, mas dependem de cada um e podem

servir a diferentes interesses.

Schön (1983) a partir dos fundamento de Dewey concebe a teoria da

aprendizagem através da prática reflexiva. Nela o processo de aprendizagem está

relacionado com a ação e a aprendizagem é resultante da reflexão na ação em que

o sujeito compreende a partir da experiência anterior uma nova situação que lhe é

apresentada. Para o autor os indivíduos a partir de experiências prévias são

capazes de compreender uma nova situação que lhes é apresentada, possibilitando

que o problema seja estruturado, a ação proposta e a situação avaliada de acordo

com as consequências da ação, contribuindo para a resolução de situações futuras.

Para Dewey (1997), a ausência de reflexão reduz a ação um impulso cego e

caprichoso, não permitindo conectá-la a qualquer atividade prévia do indivíduo;

sugere que sem ela não pode haver o antes e o depois de tal experiência; nem

retrospecto nem perspectiva e consequentemente não existindo significados. O

autor destaca ainda a reflexão como um discernimento da relação entre o que

tentamos fazer e o que acontece em consequência do ato, também indica que a

postura reflexiva ocorre quando uma prática habitual de rotina não funciona

adequadamente como planejado. Isso pode desencadear a confusão ou a dúvida e

provocar o indivíduo a reexaminar e questionar atos prévios. O pensamento de

Dewey sobre a reflexão permite que os indivíduos percebam através da experiência

das atividades cotidianas como interpretar a vida.

A aprendizagem concebida por Schön (1983; 2000) ocorre a partir do

desenvolvimento humano, em que ele é responsável pelo seu itinerário, permitindo

que se exerça um controle sobre as escolhas, atitudes e situações vivenciadas,

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42

sendo o comportamento exercido um fruto de seus atos e escolhas. O aprendizado

possibilita o crescimento que pode ser visto como resultado das escolhas

individuais, Schön (1983) considera que o desenvolvimento do indivíduo ocorre

através da reflexão na ação, o qual por meio da observação posterior sobre a ação

ocorre a reflexão. A partir do momento da reflexão na ação o indivíduo, através da

análise do que aconteceu, atribui significado ao ato consolidando o entendimento da

situação e o emprego de novas estratégias. Assim, o conhecimento na prática tende

a se tornar cada vez mais tácito, espontâneo e automático, conferindo, assim, para o

profissional e seus clientes os benefícios da especialização.

Por outro lado, Paulo Freire (1987, 1996) vê o poder da reflexão no processo

educativo como uma força emancipadora para transformação social, em que refletir

a partir da situação é refletir em cima da própria condição da existência. Para Freire

a educação é representada como uma força libertadora que só ocorre através da

reflexão e que permite questionar a realidade do conhecimento, o que permite que o

indivíduo recrie e melhore a sua própria realidade. A educação deve romper as

características da educação bancária, com a verticalidade e autoritarismo para

permitir o diálogo entre estudantes e professores. O conhecimento não deve ser

percebido apenas sob o domínio individual, mas deve ser compartilhado através de

um diálogo co-investigativo.

Freire destaca ainda que a reflexão deve ser um precursor da ação através da

práxis pois a reflexão por si só, sem a oportunidade para a ação ou transformação é

apenas verbalismo e ação sem reflexão, apenas pela ação é considerado ativismo.

Para Freire os homens não se constituem no silêncio, mas na palavras, no trabalho

e na ação-reflexão, ele acredita na importância de uma relação democrática entre o

professor e o estudante, em que o professor deve se esforçar para compreender o

processo de pensamento crítico empreendido por seus estudantes e ajudá-los a

desenvolver o seu próprio senso crítico. Freire entende que o ensino e a pesquisa

devem estar intimamente relacionados no ensino universitário.

A Universidade tem de girar em torno de duas preocupações fundamentais, de que se derivam outras e que têm que ver com o ciclo do conhecimento. Este, por sua vez, tem apenas dois momentos que se relacionam permanentemente: um é o momento em que conhecemos o conhecimento existente, produzido; o outro, o em que produzimos o novo conhecimento (FREIRE, 1992, p. 192).

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43

O conhecimento produzido a partir da reflexão sobre a ação é um aliado

importante para (re)transformação da realidade concreta pois a partir do

conhecimento existente é possível desenvolver um novo conhecimento com base na

interação do aprendizado acadêmico e o aprendizado na vivência no espaço social.

Tal aprendizado, fruto da interação pessoa-pessoa-ambiente-trabalho desafia o

processo ensino-aprendizagem a constituir uma relação anti-dicotômica de

aprendizagem em que a relação teoria-prática deva dialogar com o conhecimento

existente na realidade concreta, produzido nos espaços sociais pelas pessoas nele

convivem e habitam.

O professor deve ser desafiado a romper com a lógica do aprendizado

centrado no professor. Ele deve sempre buscar desenvolver experiências em que o

estudante possa refletir a partir de um ato concreto. Ao partir para o espaço

extramuros e inserir a realidade concreta como ambiente de aprendizagem,

oportuniza-se e vivenciar a metamorfose do conhecimento empírico desenvolvido no

cotidiano das pessoas, provocando a reação e não apenas a reflexão sobre a ação,

mas a reflexão sobre a realidade. Tal reflexão envolve a sensibilidade para

compreender o ambiente social além da leitura teórica direcionada para uma

compreensão concreta de mundo. A reflexão deve proporcionar uma construção

abstrata do conhecimento a partir da realidade concreta.

Pryce (2002) enfatiza que a reflexão apresenta uma dimensão política, ela é

dialética nos pensamentos dos indivíduos a partir da compreensão da realidade,

assim como nos contextos sociais e culturais, sendo traçado a partir da elaboração

de significados do mundo social, experiência de vida com um corpo de construções

simbólicas e funcionais da vida cotidiana. Apresenta-se ainda a reflexão como a

base de uma nova forma de geração de conhecimento profissional que celebra a

arte de um conhecimento prático amplo na perspectiva da mudança cultural no

mundo do trabalho. O processo reflexivo primariamente se liga com a própria

narrativa pessoal.

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44

Figura 5: O pensamento reflexivo e a reflexividade. Fonte: Elaboração do autor.

Fook e Gardner (2006) alertam que é necessário estarmos atentos às diversas

formas de aprendizado que nos permitem criar, ou pelo menos influenciar, o tipo de

conhecimento que utilizamos, questionando como participamos da criação do nosso

próprio conhecimento. Assim os autores levam a compreender que a reflexividade

pode ser entendida como “uma volta a si mesmo”14 a partir da análise da própria

trajetória pessoal, cultural e profissional, proporcionando um aprimoramento

cognitivo. Tal pensamento alerta para o fato de que o conhecimento não existe de

forma independente, nem pode ser separado de nossas experiências e da

concepção de quem somos, pois sempre somos responsáveis pela forma como

interpretamos, selecionamos, priorizamos, observamos e utilizamos o conhecimento

em situações específicas, que são relacionadas com nossas vivências particulares e

experiências sociais e históricas (Figura 5).

Ressalta-se ainda que o conhecimento pode ser corporificado na natureza

social, sendo mediado por quem somos fisicamente e socialmente, e por nossa

visão de mundo. Assim, nosso modo de ser e a nossa posição social poderão

14

(Steier, 1991), citado por Gardner e Fook (2006).

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45

influenciar como interpretamos e selecionamos a informação e, naturalmente, como

serão interpretadas e relacionadas com as concepções de outros. Quando estamos

cansados ou doentes, haverá modificações em nosso temperamento mas também

na forma como estabelecemos nossas prioridades.

A idade transforma estas perspectivas, tanto por razões físicas, como por

razões sociais, implicando, segundo Gardner e Fook (2006), em adquirirmos status

sociais distintos em épocas distintas sem necessariamente deixarmos de sermos a

mesma pessoa. Situações diferentes podem ser enfrentadas de acordo com a

experiência acumulada que podem variar dependendo do nível social e da idade. As

culturas sociais e os grupos também incorporam a partir do contato, contexto e

manifestações próprias que influenciam a maneira que o conhecimento é constituído

e compartilhado.

Tornar-se reflexivo, nesta perspectiva envolve a compreensão de como o

contexto social e físico influenciam a criação do conhecimento. Assim, se o

conhecimento é incorporado socialmente em sua natureza, isso significa que ele é

mediado pela nossa própria subjetividade, que seria a nossa forma particular de

sermos, forma de realização, experiência e posição social, que influenciarão que

fenômenos veremos e como eles serão vistos. A reflexividade faz parte do processo

de conhecimento de nós mesmos como indivíduos particulares, como seres sociais,

culturais, psicológicos e espirituais, portanto, é importante para entender e avaliar os

tipos de conhecimento que utilizamos e mantermos.

O conhecimento também é interacional, ele é moldado pelo contexto histórico

e estrutural, e é constituído dentro de um processso dinâmico e político. Neste

sentido, o que é considerado como conhecimento não é apenas um fenômeno

objetivos, mas é resultado de uma soma de fatores, sendo conformado através de

processos sociais os quais vivenciamos (FOOK; GARDNER, 2006).

A concepção de elaboração do conhecimento profissional através da reflexão

pela prática é atribuído a Schön e Argrys. Schön, no entanto, desenvolveu a ideia

em um modelo de prática reflexiva. Assim, refletir é algo que fazemos o

constantemente sem se perceber. O processo de reflexão envolve a análise de

nossas experiências e aprendizado proveniente delas. Também inclui a construção

de novos significados, ou algo que possa fazer sentido em circunstâncias novas ou

diferentes (FOOK; ASKELAND, 2004).

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46

Portanto a reflexão sobre a ação deve ser um catalisador para a

transformação de práticas, articulação de saberes, desenvolvimento de novas ideias

e fortalecimento da relação do homem com o espaço social. É necessário oferecer

oportunidades durante a formação para o fortalecimento da relação ensino-

sociedade-mundo do trabalho, pois para haver reflexão e transformação da

realidade é necessário que haja uma interação que seja incorporado mutuamente,

permitindo o trânsito contínuo do conhecimento possibilitando uma metamorfose da

relações entre o conhecimento formal, acadêmico e instucional a partir da inserção

dos elementos constituintes da realidade concreta como espaço de formação e

construção de um saber profissional transformador desta realidade.

4.3 O profissional reflexivo no campo da saúde brasileira

No contexto nacional o estudo sobre profissional reflexivo está vinculado

fortemente à discussão sobre formação de professores, principalmente na discussão

relacionada aos profissionais vinculados à educação básica. No âmbito da área da

saúde destaca-se nos trabalhos a preocupação com o desenvolvimento de

competências para a formação docente neste campo do conhecimento assim como

a repercussão destas na formação de novos profissionais. Isso demonstra a

incipiência de uma temática que vem tendo uma discussão fomentada a partir da

implantação das diretrizes curriculares nacionais dos cursos da área da saúde.

A discussão sobre as competências dos docentes, assim como o desempenho

de uma atividade pedagógica que estimule, ou desenvolva, o profissional crítico-

reflexivo é fruto de um processo de mudança iniciado ainda a Reforma Sanitária15

concomitante à implantação de um novo modelo de saúde no país. Isso representa a

transição do paradigma biomédico para um novo paradigma de promoção à saúde,

que seria implementado no SUS. Esta transição exigiu (e ainda exige) um novo olha

sobre a formação em saúde pois como seria possível implantar uma reforma no

setor saúde se os profissionais ainda eram formados seguindo um modelo

reducionista, cartesiano e focado na doença?

15

A resolução da VIII Conferência Nacional de Saúde, propõe um atendimento integral no que diz respeito à

promoção, proteção e recuperação da saúde, implicando na humanização do atendimento com uma visão global

do homem na plenitude de seus direitos de cidadão (ALMEIDA, 1986).

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47

Assim, o ensino em saúde passa a ser reformulado em conjunto com a

implantação do SUS e a construção do perfil do profissional para atuar nele. A

década de 1990 é permeada por um processo de um discussão sobre a formação

em saúde que culmina na formulação das diretrizes curriculares nacionais para os

cursos da área da saúde. Notadamente tais diretrizes trazem em comum a aspiração

de formar profissionais capazes de intervir e transformar a realidade os quais estão

inseridos. Tal mudança necessita uma revisão das práticas de ensino, revisão de

propostas pedagógicas e ascensão do estudante como agente ativo neste processo.

Assim, o inicio do século XXI vem apresentando uma produção incipiente

sobre a formação no campo da reflexidade. Os estudos já produzidos versam sobre

a formação docente no campo da saúde, abordando o desenvolvimento de

competências para o ensino e as práticas pedagógicas dos docentes no ensino

superior.

A formação do profissional reflexivo na área de saúde tem sido relacionada

inicialmente ao desenvolvimento de habilidade relativas ao exercício do raciocínio

clínico, domínio conceitual, intervenção e escolha de procedimentos (PFEIFER,

2000). Salienta-se que inicialmente a formação em saúde vivenciou um período de

transição com a implantação das DCNs para a maioria de seus cursos ainda no ano

2001, o que veio a desencadear uma reformulação nos projetos pedagógicos,

reconstituição de práticas pedagógicas, diversificação dos cenários de ensino-

aprendizagem e re-inserção no sistema de saúde.

A discussão sobre o processo ensino-aprendizagem em serviços de saúde

transpassa as estruturas acadêmicas da universidade, pois compreende-se que este

aprendizado envolve além dos docentes e o alunado inclui os funcionários e as

pessoas em cuidado. Neste sentido, não apenas os conhecimento técnicos

deveriam ser trabalhados mas também a interdisciplinaridade, o participar, o ser

cidadão, o ser sujeito, ou seja, conteúdos técnicos, políticos e éticos. O educador

neste contexto deve superar conhecimento livresco e técnico e valorizar a

experiência, a vivência, a interação (GARCIA, 2001).

O conhecimento na esfera da saúde necessita superar a racionalidade técnica

presente no modelo biomédico embasado pelo paradigma flexneriano. Neste sentido

é necessário a busca de alternativas de ensino que estimulem em conjunto com o

espírito científico o pensamento reflexivo para atender às exigência contemporâneas

e romper com a concepção mecanicista da assistência à saúde. Para isso faz-se

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necessário estimular o estudante a exercer a cidadania através de sua inserção

social (GOMES; CASAGRANDE, 2002).

Sena e Silva (2006) relatam que as experiências de ensino-aprendizagem são

determinadas pelo contexto político, social e cultural, havendo a exigência de uma

formação polivalente e orientada para uma visão globalizada da realidade e continuo

estimulo de aprender a aprender. Assim, de acordo com as autoras, a formação dos

profissionais deve se adequar à contemporaneidade, à complexidade e à

imprevisibilidade presentes no processo de trabalho em saúde.

Nesta perspectiva o modelo de formação dos profissionais deve ser construído

buscando integrar a universidade aos segmentos sociais em parceria para fomentar

mudanças nas práticas pedagógicas, devendo a academia demonstrar a sua

importância no contexto social e possibilitar aos estudantes uma formação em

contato com os problemas da realidade concreta. Para que isso seja possível é

necessário uma flexibilização do sistema de ensino de acordo com as exigências do

mundo moderno e de suas incertezas, devendo o estudante ser capaz de pensar

com criatividade e construa sua rede de crenças e valores.

Para Valente (2005; 2009) o professor deve estar apto para explorar e buscar

meios para constante atualização, que propiciem o enriquecimento e renovação dos

conhecimentos já adquiridos, mobilizando diversos saberes e uma forma reflexiva de

desenvolver a prática docente como autora destaca em outro momento.

“revisar objetivos da docência e investir na busca da superação dos padrões do processo ensino-aprendizagem vigentes, implicando em repensar as estratégias pedagógicas que estimulem a criatividade, a reflexividade e a crítica e, com isso, a motivação e o compromisso individual e coletivo dos docentes e discentes com a profissão da Enfermagem, numa perspectiva do ensino como prática reflexiva, utilizando a investigação para subsidiar a tomada de decisão e resolução de problemas” (Valente, 2012; p. 37).

Assim o exercício do docente no desenvolvimento de competências durante a

formação do enfermeiro inclui a discussão sobre a própria competência docente,

pois esta atividade precisa ser repensada para responder as necessidades do

mundo contemporâneo que desafia os profissionais a romperem com os padrões

rígidos estabelecidos pela formação biomédica. Somos convidados a repensar o

papel do enfermeiro na perspectiva de constituirmos sujeitos capazes de

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49

compreenderem os sentidos do processo de trabalho em saúde sob a ótica

emancipadora dos sujeitos.

Deste modo a preocupação com desenvolvimento de competências dos

docentes para a formação dos profissionais de saúde e como elas podem ser

trabalhadas para a formação de um profissional crítico-reflexivo. Ainda são

apresentados muitos obstáculos a serem vencidos no aspecto do protagonismo

docente e discente, uma vez que os professores nem sempre controlam e/ou

dominam em seu processo de trabalho e nem o processo avaliativo foca o ensino-

aprendizagem de conteúdo e nem o desenvolvimento de. É notória a necessidade

de formar professores reflexivos para a prática docente na enfermagem que sejam

capazes de refletir sobre sua própria ação cotidiana como formadores, de

comprometer-se com a pesquisa, com sua formação e com seu desenvolvimento

profissional (FARIA; CASAGRANDE, 2004).

Segundo Fernandes et al (2008) é necessário a transformação da prática do

educando/educador e do modelo curricular constituído, sendo que a preocupação

com a ética no desenvolvimento do currículo não se limita ao ensino em uma

disciplina, mas perpassa todas as práticas que se dão no interior do processo

educativo. Neste sentido a compreensão da interdisciplinaridade na formação do

enfermeiro é fundamental para a construção de propostas pedagógicas de formação

integral para a compreensão da saúde como elemento integrador de conhecimentos

e saberes.

Gabrielli (2004) destaca ainda que o processo formativo parece desvinculado

da prática profissional, descompassando o aprendizado da vivência profissional, a

formação de um profissional crítico e reflexivo ainda precisa ser implementada,

sendo a formação para a pesquisa e para o ensino e educação ainda deficientes. É

necessário uma nova compreensão da relação existente entre o ensino, a pesquisa

e a extensão na formação em saúde, sendo necessário uma discussão ampla sobre

o impacto que estas atividades desempenham nos espaços sociais e como os

docentes aproveitam isso no ensino para que o estudante desenvolva não apenas

competências e habilidades técnicas, mas também aquelas necessárias ao

desempenho profissional com vistas a formação de cidadãos envolvidos com a

transformação social no setor da saúde.

A reflexão possibilita a objetivação de saberes experienciais, assim como a

construção de novos saberes pedagógicos, constituindo-se um desafio para a

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prática pedagógica valorizar a contextualização dos conhecimentos trabalhados no

curso de enfermagem para desenvolver a compreensão da realidade e exercício do

gerenciamento voltado para as expectativas da comunidade (FARIA, 2003;

ZARPELLON; ROMANOWSKI, 2006). A compreensão destas expectativas exige a

construção de um diálogo horizontal que deve ser exercitado durante a formação

através do contato permanente com a população residente nos territórios

geográficos que a universidade utiliza para o desenvolvimento das suas atividades.

Meneguete (2007) apresenta ainda que o cuidado individualizado, com

qualidade e humanismo, vem ao encontro da valorização profissional, sendo que as

vivências dos estudantes em instituições hospitalares evidenciam a dicotomia entre

teorias e práticas. O espaço hospitalar ainda é um ambiente desafiador para a

superação do modelo biomédico uma vez que os elementos para uma assistência

integral ao ser humano são subjugados, prevalecendo o pensamento focado para a

doença, passando para um segundo plano os fatores subjetivos da saúde.

Neste contexto o professor deve estar apto para explorar e buscar meios para

constante atualização, que propiciem o enriquecimento e renovação dos

conhecimentos já adquiridos, mobilizando diversos saberes e uma forma reflexiva de

desenvolver a prática docente (VALENTE, 2009). Sendo ainda necessário a

transformação da prática do educando/educador e do modelo curricular constituído,

em que a preocupação com a ética no desenvolvimento do currículo não se limita ao

ensino em uma disciplina, mas perpassa todas as práticas que se dão no interior do

processo educativo (FERNANDES et al, 2008). Devemos, assim, ficar atentos a

necessidade da enfermagem formar enfermeiros que agreguem um novo papel além

do perfil histórico, ou seja, o de um profissional acima de tudo, humano, capaz de

tomar decisões quando em situações de conflito, criativo, comprometido com a

saúde do paciente e da comunidade, envolvido no compromisso social, e

principalmente capaz de refletir sobre suas atitudes, habilidades de competências

profissionais.

Evidencia-se, além disso, a necessidade de contemplar, na formação inicial,

aspectos pedagógicos aos enfermeiros, tomar a formação permanente como

essencial diante da complexidade do conteúdo e do ensino, usar o

mentoring/monitoramento e a valorização da aprendizagem com docentes

experimentados, para o desenvolvimento do ensino com qualidade (BACKES;

MOYÁ; PRADO, 2011). Assim, demonstra-se que, além da formação técnica do

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enfermeiro, existe a necessidade da formação de profissionais reflexivos, aptos a

lidarem com situações práticas, ou seja, um profissional formado nos moldes da

prática reflexiva (ZANGARI; BERGARA, 2010).

Prado e Leite (2010) desvelam que os docentes devem ter intenções de

trabalhar com o aluno vendo-o como futuro profissional, procurando fazê-los refletir

sobre seus saberes, suas atitudes e comportamentos, esperando que ele saiba

pensar de forma crítica, tomar decisões e que seja tecnicamente competente.

Realçam ainda o desejo de colaborar no crescimento pessoal do aluno, acreditando

que ser docente é ser pesquisador ajudando o aluno adquirir um olhar investigativo e

tendo a intenção de fornecer conteúdos que sejam significativos para a vida pessoal

e profissional dos alunos.

Por fim, apreende-se que, embora o pensamento prático do professor não

possa ser ensinado ao aluno, ele pode ser aprendido desde que, por meio de uma

reflexão conjunta e recíproca entre o aluno e o professor/tutor se faça e se reflita na

ação prática e sobre ela. Uma vez que não é possível ensinar o pensamento prático,

a figura do supervisor ou tutor universitário adquire uma importância vital e, portanto,

deve adequar-se às reais necessidades do aluno, no seu processo de aprendizagem

(GOMES, CASAGRANDE, 2002). Apesar dos esforços, a orientação da formação e

a definição do perfil profissional nos cenários do estudo estão voltadas às exigências

do mercado de trabalho, sendo incipiente a formação baseada em áreas de

competências (SILVA; SENA, 2006).

Lidar e problematizar o cotidiano do trabalho é um ato complexo e exige a

revisão constante e interdisciplinar. É um tornar-se, um vir a ser constante, para os

serviços, os profissionais, os docentes e os alunos. É a interação no trabalho que

possibilita este vir a ser esta constituição de sujeitos autônomos, sujeitos de seus

projetos, de suas ações e de seu pensar, conhecer e fazer (GARCIA, 2001). A

formação reflexiva, portanto, ainda constitui um desafio que exige repensar e

renovar as formas de pensar e fazer saúde com vistas a intervenção na realidade

social (BURGATTI, 2013).

Constituir profissionais criativos, curiosos e que sejam capazes de transformar

a realidade é a meta. Portanto a formação reflexiva transpassa os muros da

academia, ela envolve um processo de mudança de atitudes e superação dos limites

impostos pela estrutura da academia. Pouco mais de 10 anos após a divulgação das

DCNs ainda é necessário romper com a dicotomia entre o pensar e o fazer. Assim,

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rever as práticas acadêmicas e a inserção social da universidade devem repercutir

no profissional que será entregue ao mundo do trabalho.

Constituir novas relações no processo ensino-aprendizagem na perspectiva de

superar o modelo biomédico significa possibilitar a inclusão da realidade concreta

como espaço possível para construir um conhecimento útil às comunidades das

quais as instituições formadoras se beneficiam durante as práticas de ensino.

4.4 O estudante, suas interações e o desenvolvimento reflexivo

A formação do profissional de saúde deve ocorrer a partir da compreensão da

realidade social e constituição de uma visão integral do ser humano. Ver o ser

humano como um todo significa ir além da perspectiva biológica, mas pensar sob o

aspecto da interação humana, na convivência, troca de expressões, enfim na

partilha de saberes existentes na realidade social o que se constitui um desafio

constante aos profissionais de saúde.

O diálogo com o outro muitas vezes frio e técnico esconde o medo e a

incapacidade de transpassar a barreira do conhecimento e do status profissional.

Compreendemos com base nos ensinamento de Paulo Freire (1987) que o diálogo

deve ser constituído através de uma relação de interação horizontal entre as

pessoas, destituído do poder estabelecido pelo conhecimento e condição social,

mas sim constituído de uma construção mútua pautada pela confiança e

compreensão depositados entre os dialogantes e rompimento do isolamento

imposto pelas estruturas rígidas estabelecidas pelo processo de trabalho. O ato de

dialogar permite socializar saberes, histórias e emoções.

Assim o monólogo praticado durante a formação acadêmica através da

anamnese, exame clínico e realização de procedimentos afasta estudante do

contato humano que deveria estar presente no encontro entre os sujeitos

constituintes do ato de cuidar. O trabalho vivo presente na assistência à saúde deve

ser visto como um processo dialógico, permeado pelo reconhecimento e valorização

do outro a partir da composição do cuidado como um processo interativo e

colaborativo. Por isso o desenvolvimento da relação horizontal de diálogo deve

permear a formação e a prática do profissional de saúde. Neste sentido Maturana

(2005, p. 14) expõe:

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Não é a mesma coisa um encontro com alguém que pertence ao nosso mundo, e a quem respeitamos, e um encontro com alguém que não pertence ao nosso mundo, e que é indiferente para nós, ainda que isso se dê na simples transação mercantil, que nos parece tão óbvia e tão clara. Não é a mesma coisa, porque as emoções envolvidas num e noutro caso são diferentes (grifos do autor).

Nesta perspectiva a inserção na realidade social é diferente da visão que se

retrata através da mídia e dos livros, tornando-se necessário penetrar e auscultar a

realidade que permeia a vida das pessoas. Isso deve ocorrer no cotidiano da

aprendizagem, correlacionando as experiências de vida com os momentos

pedagógicos. O conhecimento deve ser encarado como um elemento dinâmico que

se transforma a cada momento permitindo que o estudante possa vivenciar o

conhecimento a partir do conhecimento, análise e contemplação da dinâmica social

pode oportunizar uma reflexão acerca do papel que estudante, enquanto cidadão,

deve exercer no espaço social que o rodeia. A aproximação com o cotidiano torna a

aprendizagem significativa conforme destaca Garcia (2001) pois estabelece um

confronto entre o aprendizado e a sua aplicabilidade, permitindo a constituição de

uma analise da utilidade do conhecimento. Isso passa pela valorização daqueles

que estão envolvidos no processo de aprendizagem, em que cada um pode

contribuir com o aprendizado na perspectiva de construção mútua do conhecimento.

Erdmann et al (2009) relatam ainda que o processo de formação deve estar

em sintonia com os serviços de saúde com os problemas de saúde da população

proporcionando ao futuro profissional atuar como agente transformador da realidade

e valorizador da cultura e criatividade no desempenho de suas ações sociais. Tal

sintonia deve ocorrer durante a formação através da inserção em atividades

extramuros vinculadas ou não à instituição de ensino, devendo-se estimular a

construção de um itinerário de formação que dialogue com o ambiente do exercício

profissional e ao mesmo tempo se comunique adequadamente com a população que

se utiliza da prática do profissional de saúde.

Compreendemos que isso ainda se constitui um desafio institucional e

pedagógico, pois requer o rompimento de estruturas e paradigmas que permeiam a

formação em saúde. Reforça-se ainda que a formação dos recursos humanos em

saúde deve estimular o pensamento crítico e produtivo em harmonia com os

serviços de saúde baseado nos problemas da população assistida, estimulando a

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atuação do profissional como agente de transformação da realidade. O processo de

interação entre estudantes, profissionais de saúde e população possibilita o

desenvolvimento das bases cognitivas do trabalho em saúde, desvinculando-se do

modelo do modelo biomédico tradicional centrado no hospital e produção de

procedimentos (figura 6). Para isso novos saberes são necessários para satisfazer a

necessidade do direito à saúde (MERHY, 2004). Neste sentido o estudante deve ser

apresentado aos desafios que são impostos aos profissionais de saúde na

atualidade.

Figura 6: Representação do processo de interação do estudantes.

Fonte: Elaboração do autor.

A formação acadêmica precisa ser orientada pela diversificação dos cenários

de ensino/aprendizagem em que o contato com o real possa ser confrontado e

dialogado com o teórico, levando a uma reflexão da capacidade de lidar com a

realidade. Assim, ao proporcionar uma formação que trabalhe a dimensão crítico-

reflexiva do ensino em interação com a realidade estamos buscando a

reestruturação de um processo de trabalho centrado no profissional.

Neste sentido, Amâncio Filho (2004) ressalta que o desenvolvimento de

tecnologias no campo da saúde, denominadas “tecnologias leves”, devem estar

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inseridas no convívio social entre os profissionais de saúde e a comunidade para o

desdobramento destas seguindo as competências a seguir:

capacidade de expressão e comunicação, trabalho em equipe, cooperação,

diálogo – através do desenvolvimento da prática do diálogo, o exercício da negociação e a

comunicação interpessoal tornam-se um elemento importante no estabelecimento do vínculo

com o usuário dos serviços de saúde e demais profissionais, pois o processo comunicativo

adequado permite reduzir as barreiras impostas pela utilização de termos específicos do

âmbito técnico, o que inibe o usuário expressar seus sentimentos em relação ao seu estado

de saúde e como se sente quanto ao procedimento ou terapia que lhe será apresentada;

capacidade de transferir conhecimentos da vida cotidiana para o ambiente de

trabalho e vice-versa – o profissional deve ser capaz de utilizar os diversos tipos de

conhecimentos construídos no decorrer de sua formação pessoal e profissional que foram

obtidos de formas distinta;

criatividade, vontade de aprender, abertura às mudanças e consciência da

qualidade – o exercício destas competências do âmbito pessoal permite ao profissional de

saúde experimentar “o novo” no exercício cotidiano da profissional, sendo possível

“experimentar” e aprender no dia-a-dia através do contato com outras pessoas, com novas

situações, desafiando-o a romper com seus paradigmas internos.

Neste panorama, Paulo Freire (1979, p. 09) nos fala acerca da construção de

um compromisso social destacando que...

(...) se nos interessa analisar o compromisso do profissional com a sociedade, teremos que reconhecer que ele, antes de ser profissional, é homem. Deve ser comprometido por si mesmo. Como homem, que não pode estar fora de um contexto histórico-social em cujas interrelações constrói seu eu, é um ser autenticamente comprometido, falsamente “comprometido" ou impedido de se comprometer verdadeiramente. (...) No caso do profissional, é necessário juntar ao compromisso genérico, sem dúvida concreto, que lhe é próprio como homem, o seu compromisso de profissional.

Neste sentido, Santos (2007) apresenta que não se pode dissociar os

conhecimentos, havendo a necessidade de interligação entre o saber científico e o

saber popular e que estes podem relacionar-se entre si para a construção de uma

visão abrangente de mundo. Ao discorrermos sobre a produção do conhecimento,

percebe-se que ela implica um posicionamento de compromisso com a verdade,

mesmo que ela seja desafiadora ou constrangedora; com a libertação do

dogmatismo que ativa o interesse pela reflexão, o que traz como consequência a

busca de soluções.

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É necessário tornar o estudante um agente da transformação social, capaz de

detectar problemas reais e buscar para eles, soluções originais e criativas. Paulo

Freire (1979) realça a importância de se problematizar a realidade concreta sob a

qual se está inserido como forma de desmistificar a mesma. Isso só é possível ao se

transpor o pensamento cartesiano que infere o universo social como uma estrutura

rígida, visto como um laboratório, cujos habitantes estão a mercê do controle das

estruturas doutrinárias da assistência à saúde que buscam impor o controle sobre a

doença e a pessoa doente, não investigando o (in)sucesso da relação profissional

de saúde versus usuário. Problematizar a realidade permite ao estudante e

posteriormente ao profissional repensar seus (pré-)conceitos quanto ao trabalho em

saúde e os determinantes do processo saúde-doença. Assim, ao refletir no espaço

real do processo saúde-doença permite a reformulação de atos e ideias, pois há um

processo de (re)construção de conhecimentos para a resolução de problemas do

cotidiano do exercício profissional.

Portando, os processos de formação devem capacitar os estudantes, para as

mudanças das bases cognitivas e valorativas, para enfrentamento das novas

demandas da sociedade, com vistas a aprender a conhecer, fazer, ser e viver junto.

A estrutura formativa deve permitir experimentar o contato e a interação humana,

desafiando o distanciamento desumanizador dos espaços extramuros existente no

campo da saúde. Isso reflete-se na produção de ato de cuidar distante do

relacionamento humano, permeado da lógica de produção fordista. Deve-se quebrar

a perspectiva do trabalho baseado no quantitativo de procedimentos que não

permite constituir um espaço para o diálogo e debate sobre a realidade vivenciada.

4.5 O aprender na saúde/enfermagem e a reflexividade

O aprendizado no campo da saúde é inserido em um contexto de

fragmentação da produção do cuidado (Figura 7), que surge a partir da dissociação

de saberes e desvalorização da experiência prévia do estudante que ingressa na

formação acadêmica. O aprendizado do ser humano acontece ao longo da vida, seja

através das experiências empíricas proporcionada pelas vivências sociais, seja pela

formação formal escolar e/ou acadêmica.

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57

Figura 7: Representação do aprendizado na área da saúde. Fonte: Elaboração do autor.

A formação em saúde é fruto da interação entre os saberes formais e

informais, nos quais estão inseridos os processos de convivência/interação humana

através de um diálogo de saberes. Este relacionamento ocorre nos espaços sociais

que proporcionam a formação humana, um processo de construção de

conhecimento dinâmico e permanente. Isto acontece pois a vida é pautada por

experiências significativas que proporcionam o desenvolvimento do pensamentos,

habilidades e consciência humana, o que proporciona uma articulação de

conhecimentos e por consequência a construção de uma leitura e interpretação da

realidade (FREIRE, 1979; FREIRE, 1983).

O aprendizado envolve a percepção de mundo do indivíduo, que é influenciada

pela história de vida da pessoa, afetividade, desejos e paixões, ou seja pela maneira

que os seres humanos estão no mundo, envolvendo significados e valores das

coisas percebidas de acordo com a vida social de cada um (CHAUÍ, 2000). Delors et

al (1996) demonstram que existem quatro aprendizagens fundamentais que são

adquiridas ao longo da vida que são “o apreender a conhecer”; “o aprender a fazer”,

“o aprender a viver juntos” e o “aprender a ser”. Elas possibilitam o indivíduo a

compreender e interagir com o mundo que o rodeia, assim como possibilita o

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convívio e cooperação humana. Assim, a formação do conhecimento humano parte

do processo de amadurecimento de ideias prévias ao processo de aprendizagem.

O aprender ao longo da vida, a partir dos princípios de Delors, é fruto de um

processo interativo que o ser humano desenvolve no contato com o mundo, que

envolve pessoas, ambientes e situações. Deste modo “aprender a conhecer” faz

parte do processo de vivenciar o mundo necessário ao novo contexto de inserção do

profissional de saúde na sociedade, pois o conhecimento pode ser concebido como

um elemento dinâmico, que se transforma constantemente através do contato com

novas tecnologias, como também através da interação das pessoas com o mundo

que as cerca.

O “Aprender a fazer” vai além do aprendizado de técnicas, significa

desenvolver um fazer diferente, adequado ao contexto de inserção do profissional,

utilizando meios acessíveis através de tecnologias leves para o trabalho em saúde.

Significa que o profissional pode realizar a assistência na perspectiva da promoção à

saúde, utilizando-se de comunicação e postura adequadas para o convívio saudável

com a população. Compreende um fazer consciente através do trato apropriado com

as pessoas, respeitando suas crenças e condições sociais. O fazer em saúde pode

representar um rompimento com o fazer tecnicista, proporcionando o

desenvolvimento de um fazer humanizado, respeitando as peculiaridades do

trabalho em saúde e ser voltado para o ser humano, opondo-se a uma concepção

desumana da assistência à saúde.

Já o “Aprender a ser” insere-se na própria especificidade da convivência

humana. No âmbito da saúde representa a convivência harmônica entre

profissionais de saúde e a população usuária dos serviços, constituindo em um

processo de construção de uma relação de confiança, respeito e conhecimento.

Deve ser compreendido durante o processo de formação que inserção nos espaços

sociais representa o desafio de romper com a concepção de transmissão de

conhecimento enraizada nas práticas de saúde, o profissional deve compreender

que a criatividade e a inovação devem estar presentes no desenvolvimento das

práticas de saúde possibilitando o aprimoramento do componente humano presente

no processo de trabalho em saúde.

“Aprender a viver juntos” deve estar presente na própria concepção de vida da

sociedade, afinal o ser humano é um ser de vida social. Assim o próprio mundo do

trabalho e a suas relações fazem parte do processo de convivência humana, não

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sendo diferente na concepção do trabalho em saúde, representado pelo processo de

interação e relacionamento humano. Neste sentido é importante destacar que

também devem ser consideradas várias formas de aprendizagem e que cada

indivíduo apresenta uma característica própria. A partir disso podemos relacionar

que o conhecimento é um instrumento de compreensão e inovação.

Freire (2001) destaca que a aprendizagem é um processo transversal a partir

do diálogo e interação entre vários saberes, isso se conforma através da prática

social que o indivíduo se torna parte. Isso significa que o processo de aprendizado

requer a reformulação de conceitos aprendidos no decorrer da vida, assim como

também deve ser considerada a partir das vivências do indivíduo com meio social e

o meio natural. Podemos considerar que a aprendizagem humana é fruto de um

conjunto de vivências, experiências, conhecimentos e práticas que proporcionam o

desenvolvimento de uma visão abrangente de mundo, um aspecto importante a ser

destacado na formação do profissional de saúde.

Chiesa et al (2007) destacam a formação no campo da saúde é

descontextualizada das necessidades de saúde16 da população, não havendo

envolvimento ativo do aprendiz com situações reais que venham a proporcionar

ações coerentes com o espaço social de inserção profissional, nem a formação

crítica e participativa do futuro profissional. Destaca-se ainda que o educar deve ser

compreendido como um ato dialógico, problematizador e inclusivo para formar uma

consciência crítica e construção de significados e uma prática transformadora.

Merhy (2005) evidencia que a educação deve ser entendida como um

compromisso com os ideais da sociedade, referindo-se a conjunto de práticas

sociais, valores, crenças, atitudes, conhecimentos formais e informais que são

desenvolvidos para preservar ou melhorar as condições e a qualidade de vida da

população. Em relação a isso Machado et al (2007) frisam a necessidade do

estabelecimento de estratégias de aprendizagem que favoreçam o diálogo entre os

saberes formais e informais para o desenvolvimento das ações de saúde. Neste

sentido, observa-se a importância de formar profissionais não apenas com

16 A saúde aqui é vista na perspectiva de um conceito amplo que envolve um diálogo intersetorial rompendo

com a visão biomédica e hospitalocêntrica, mas no foco da promoção saúde objetivando o desenvolvimento

social do ser humano a partir da visão integrada, equidade e universalização do acesso aos serviços de saúde

(CAMPOS, 2008; PAIM, 2004).

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habilidades técnicas, mas também formar seres humanos com habilidades

relacionais com vistas à interação interpessoal.

Santos (2007) destaca que não se pode dissociar os conhecimentos, sendo

necessário associar o saber científico e o saber popular para a construção de uma

visão abrangente de mundo. Neste sentido é necessário romper com a lógica do

aprendizado fragmentado que dissocia conhecimentos, fragmenta o cuidado e não

permite uma reflexão sobre a prática profissional do indivíduo (ALBUQUERQUE;

GIFFIN, 2009). Assim, o profissional de saúde deve ter não apenas conhecimentos

técnicos, mas desenvolver habilidades para aplicar este conhecimento em diversas

situações e realidades. Nesta perspectiva deve-se preparar o profissional para uma

articulação de saberes para a compreensão dos fenômenos sociais. A prática

profissional, portanto, além da necessidade de ser contextualizada, tem de ser

voltada para as demandas e necessidades da comunidade, visando a produção de

vínculo e acolhimento entre profissionais e usuários dos serviços de saúde

(ERDMANN et al, 2009).

Para que isso ocorra faz-se necessário que se desenvolva um diálogo ativo de

saberes entre estudantes, profissionais de saúde e população ainda no início do

processo de formação (SANTANA et al, 2010), permitindo a constituição de uma

prática interdisciplinar que aplica os conhecimentos no contexto das práticas de

saúde buscando a constituição da integralidade no cuidado na saúde.

Igualmente é importante integrar os espaços pedagógicos rompendo os muros

da instituição formadora e proporcionar a integração de espaços pedagógicos

internos e externos e repensar a integração entre o ensino e os espaços de

produção das práticas de saúde (ALMEIDA; FERRAZ, 2008). Nesta perspectiva, a

instituição formadora precisa preparar profissionais aptos a lidar com as demandas

sociais e capazes de buscar alternativas para os problemas enfrentados pela

população. Isso só é possível através da interação com a realidade social do outro e

compreensão dos fatores determinantes da mesma, levando a uma sensibilização

da pessoa para a realidade que será encarada no futuro. Assim, as diretrizes

curriculares dos diversos cursos da área de saúde, dentre eles a enfermagem,

alertam para a necessidade do desenvolvimento de competências e habilidades que

tornem os profissionais de saúde acessíveis à população (ALMEIDA, 2003). Tais

diretrizes estabelecem que a formação do profissional de saúde deva ocorrer na

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perspectiva da promoção da saúde e em consonância com o sistema de saúde

vigente no país, no caso o SUS (CHIESA et al, 2007).

Deste modo as instituições formadoras em conjunto com os serviços de saúde

devem proporcionar vivências que despertem no estudante o desenvolvimento não

apenas de competências e habilidades técnicas inerentes à sua prática profissional,

mas também aquelas importantes ao relacionamento humano. É necessário

proporcionar o aprimoramento do elemento humano presente no processo formativo

para o mundo do trabalho e que possa responder às reais necessidades da

população. Enfim, como afirmam Berardinelli e Santos (2005), a formação em saúde

necessita de contextualização social para que haja uma atuação comprometida com

a democracia e a emancipação humana.

Silva, M. et al 2010 destacam a resistência à mudança no processo de

formação do profissional de saúde está na pouca reflexão sobre o exercício da

docência, o distanciamento destes com os serviços de saúde e a existência, ainda,

da dicotomia entre o pensar e o fazer. Compreende-se que é necessário a inserção

do docente nos cenários de ensino-aprendizagem não apenas nos momentos das

atividades pedagógicas mas na construção de propostas para a transformação do

modelo assistencial através de atividades de extensão e pesquisa. O ensino na área

da saúde não se constitui apenas na transmissão de conhecimentos, ou no

aprendizado de técnicas, mas que deve ser percebido como um instrumento de

transformação da assistência à saúde.

O paradigma flexneriano necessita ser superado no desenvolvimento da

formação em saúde, pois não basta apenas transformar projetos pedagógicos sem

transformar os atos cotidianos do ensinar saúde. Isso significa que o

desenvolvimento de uma educação crítica e reflexiva está inserida na reformulação

da concepção da saúde com um direito e que a formação dos profissionais que irão

atuar neste campo tem que ser realizada compreendendo a complexidade do

trabalho em saúde. No atual contexto a mudança das práticas sanitárias e de ensino

devem ser realizadas na perspectiva de formação de um profissional com uma

concepção ampla do processo saúde-doença compreendendo que os determinantes

sociais, comunitários e políticos são importantes para o desenvolvimento de ações

eficazes, assim como devem ser superados os desafios e criadas oportunidades

para o incremento da atenção à saúde e qualificação do ensino (SILVA et al., 2009;

SILVA, K. et al, 2010).

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62

O isolamento das instituições formadoras dos espaços sociais do processo

saúde-doença restringem o aprimoramento do conhecimento sobre os problemas de

saúde vivenciados pela população e o exercício de formulação de solução aplicáveis

ao contexto sanitário de inserção da universidade. É necessário constituir

oportunidades de inserção na realidade dos serviços de saúde e da população e

abrir o diálogo entre o conhecimento disciplinar, as políticas públicas e o contexto

social, pois a construção de um saber eficaz deve se constituir através de um

diálogo permanente entre os sujeitos em suas interações.

4.6 O aprendizado através da reflexão

O conhecimento é fruto de uma aprendizagem social através do convívio e

interações do ser humano com os diversos espaços de prática social em que

produzir conhecimento não implica em apropriar-se de um ou vários saberes, mas

proporcionar o desenvolvimento da sociedade que nos cerca através da convivência

e formação pessoal. A figura 8 representa relação entre a constituição da reflexão,

fruto do processo de aprendizagem decorrente das experiências de vida,

demonstrado através da formação do caráter, construção do conhecimento e

desenvolvimento de habilidades que culminam na prática reflexiva em que através

da articulação de saberes e competências, o profissional desenvolve um processo

reflexivo a partir da própria experiência articulando elementos pessoais, teóricos e

técnicos na formulação de sua prática.

O modelo de profissional reflexivo desenvolvido por Donald Schön é fruto da

sua percepção sobre a “teoria exposta” e a “teoria em uso” aplicada por muitos

profissionais. A partir disso ele propõe um modelo no qual os profissionais possam

desenvolver sua própria teoria prática através da reflexão sobre suas experiências.

Através da construção do conhecimento através da reflexão tem-se uma alternativa

a epistemologia dominante, que privilegia o conhecimento através de processos

objetivos de pesquisa (FOOK; ASKELAND, 2007).

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63

Figura 8: Representação do aprendizado através da reflexão.

Fonte: Elaboração do autor.

O modelo proposto por Schön fomenta a prática (e a teoria) mas também

proporciona a formulação de uma teoria a partir da experiência prática vivenciada

pelo profissional, o que possibilita constituir uma análise sobre a realidade concreta

a qual este está inserido. Nesta ótica o profissional constitui sua prática a partir de

escolhas individuais constituídas a partir do desenvolvimento autonômo baseado na

própria vivência no dia-a-dia da prática da profissional, que possibilita o

desenvolvimento de um saber aplicado à resolução de problemas recorrentes de sua

prática. Neste sentido o ato profissional é autodirecionado para a resolução de

questões recorrentes a partir da correlação teoria e prática.

Schön (1983; 2000) formula a noção de prática reflexiva a partir da crítica à

crise de confiança no conhecimento profissional, baseado no conceito de

racionalidade técnica, estabelecida pelo conhecimento profissional rigoroso. Ele nos

mostra que este conceito é baseado na filosofia positivista e que os profissionais são

aqueles que solucionam problemas instrumentais, através dos meios técnicos mais

apropriados, exemplificando a medicina, o direito e administração como exemplo de

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profissões que se utilizam de um conhecimento sistemático e científico. Schön

destaca ainda que estamos vivenciando um processo de escolhas e necessidades

de superação no plano da formação profissional, necessitando que repensemos a

relação entre competência profissional e conhecimento profissional.

O autor salienta que os profissionais devem resolver problemas técnicos

através da seleção de meios apropriados, conciliando, integrando e escolhendo

estratégias para solucionar tais problemas. Schön apresenta que os profissionais

são frequentemente confrontados com conflitos de valores, objetivos, propósitos e

interesses, destacando que em algumas profissões a emergência do pluralismo é

resultado de uma processo de incertezas, complexidade, instabilidade,

singularidades e conflitos de valores.

Schön apresenta ainda que a separação entre a pesquisa e a prática

profissional é repercutida nos currículos, em que primeiro surge a ciência básica e

aplicada e em um segundo momento são trabalhadas as habilidades para aplicação

nos problemas da prática. Nesta perspectiva ele nos faz refletir sobre o

conhecimento, evidenciando que o processo reflexivo é fruto da experiência sobre o

inesperado. Assim, ele chama-nos a pensar sobre como aplicar o conhecimento a

favor da sociedade. O estudante deve ser estimulado a enxergar por si próprio,

competindo ao professor guiá-lo no olhar para ajudá-lo no que ele precisa ver. É

necessário perceber a realidade não como algo dado, estático e imutável, mas deve-

se constituir uma visão de uma totalidade que se transforma a partir de interações

constantes entre indivíduos e ambientes.

Por outro lado, Freire (1979; 1983), a partir de uma perspectiva humanizadora

de transformação social, alerta sobre a necessidade de construir um diálogo que

rompa com a lógica da transferência de saberes, mas pautado pelo encontro de

sujeitos interlocutores que buscam a significação de significados. Sob esta

perspectiva, é necessário romper com a mera repetição de textos e partir para a

compreensão da realidade e da interlocução entre os sujeitos. Assim o homem deve

exercitar a reflexão a partir de um conteúdo, ato ou da própria realidade, e

compreender-se como um ser de transformação do mundo.

A reflexão também pode ser compreendida como um processo delineado pela

aquisição de atitudes para o desenvolvimento da solução para os problemas,

também pode ser compreendida como um processo de construção de conceitos a

partir da própria ação. O desdobramento do processo reflexivo é um desafio à baixa

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capacidade de auto-análise sobre a prática profissional em que o ato mecânico

supera a percepção da realidade, o que não oferta uma abertura para a inovação da

prática profissional e tão pouco da prática social. Isso deve ser mudado ainda no

processo formativo estimulando o diálogo com a realidade da vida profissional e o

exercício da resolução de seus problemas a partir do contato com aqueles que a

vivenciam.

Assim, a conformação de um pensamento reflexivo está relacionado com a

interação que o indivíduo desenvolve entre os saberes informais e formais. Pode

ainda ser considerado como um processo político coletivo socialmente situado que

ocorre nos contextos sociais e organizacionais (REYNOLD; VINCE, 2004 apud

BRUNO; GALUPPO; GILARDI, 2011), chegando a ser uma atividade dialógica e

relacional, estabelecida como uma forma de conhecimento constituído através do

diálogo e negociação. Nesta perspectiva este conhecimento é fruto da convivência e

da troca de saberes entre as pessoas para atingir seus objetivos, podendo

relacionar-se às crenças, valores, sentimentos e suposições implícitas usados na

definição e resolução de problemas (BRUNO; GALUPPO; GILARDI, 2011).

Schön (1983) considera a reflexão como fruto do envolvimento da prática

profissional com valores e aberturas pessoais e seus impactos nas atividades

profissionais, assim a reflexividade é um processo de diálogo com a realidade, que

inclui a interação entre as próprias ideias com as dos outros. Neste sentido a

convivência social é constituída na aceitação, respeito e confiança. Ressalta-se que

a formação dos profissionais de saúde deve contemplar a produção de

conhecimentos através de vivências que proporcionem uma reflexão da capacidade

do profissional lidar com a realidade.

Schön (2000) relata que através da observação e reflexão sobre nossas ações

podemos fazer uma descrição do saber tácito existente nelas. O autor destaca ainda

que pode-se refletir sobre a ação a partir do pensamento retrospectivo sobre o que

foi feito, descobrindo como o ato de “conhecer-na-ação” pode contribuir para um

resultado inesperado. Isto é caracterizado pelas raízes da reflexão no contexto

social que é compartilhado pelas comunidades profissionais. A consolidação do

processo de trabalho possibilita ao profissional desenvolver um conhecimento a

partir do aprendizado na execução de seus atos para a resolução de problemas do

cotidiano do exercício profissional nos espaços de produção dos serviços. Os

resultados e produtos desta prática possibilitam o aprimoramento do desempenho

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profissional possibilitando a apreensão de estratégias para o exercício de soluções

adequadas para problemas recorrentes no ambiente da prática profissional.

Olckers, Gibbs e Ducan (2007) propõem que a aprendizagem é resultado da

integração entre três áreas do desenvolvimento pessoal/profissional, nomeadas

conhecer, empatia e refletir. O conhecer relaciona-se com o conhecimento e as

habilidades técnicas da prática profissional, visando a compreensão de fatos através

de evidências científicas. A empatia é o desenvolvimento de habilidade interpessoais

baseadas na compreensão social e a sensibilidade ético-moral na perspectiva da

compreensão do outro. O refletir relaciona-se com o desenvolvimento da dimensão

intrapessoal da autoconsciência e atitudes culturalmente sensíveis na busca

contínua de sentido nas experiências através do pensamento crítico por meio das

ações e reações do indivíduo. Assim, a aprendizagem deve integrar o

desenvolvimento de atitudes, conhecimentos, valores, habilidades técnicas e

resolução de problemas surgidos na prática profissional.

Neste âmbito é necessário que exista uma abertura para (re)pensar o processo

de trabalho dinamicamente, tendo em vista que há um ambiente de constante

transformação e que exigem do profissional o desenvolvimento de um novo olhar

sobre a sua atuação em que a construção de novos referenciais metodológicos

devem ser estimulados, propiciando o desenvolvimento de uma nova conformação

da atuação profissional. O profissional no mundo contemporâneo deve estar apto a

lidar com a inconstância das relações sociais no ambiente em que ele está inserido

necessitando desenvolver novas formas de aprender, constituir novas relações e

interagir com os desafios que lhe são apresentados pela sociedade em constante

metamorfose.

A transformação do conhecimento com base na experiência é um elemento

importante que deve ser compreendido como algo pertinente no mundo

contemporâneo, pois demanda-se por profissionais capazes de rever e reformular

seus atos de acordo com o contexto em que estão inseridos. Schön (2000, p. 16)

relata que dependendo de nossos antecedentes disciplinares, papéis

organizacionais, histórias passadas, interesses e perspectivas econômicas e

políticas, abordamos situações problemáticas de formas diferentes.

O autor destaca ainda, que as instituições formadoras têm o conhecimento

profissional sob uma visão tradicional, como informação privilegiada ou

especialização, caracterizado como um processo de transferência de informação e

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aprendizagem, como recebimento, armazenagem e digestão de informações

(SCHÖN, 2000, p.226). Ele ainda destaca que identidades profissionais e

perspectivas econômicas e políticas determinam a forma como as pessoas vêem

uma situação problemática e os debates sobre esta questão giram em torno da

construção do problema a ser resolvido.

As universidades têm um papel relevante na formação de profissionais, pois ao

fazerem um investimento constitutivo na produção de conhecimento e na análise

crítica da realidade e da sociedade, criam um substrato que permite formar

profissionais reflexivos com capacidade de concepção e contextualização do

conhecimento. A partir do estímulo ao pensamento reflexivo durante a graduação é

fundamental proporcionar ao estudante o desafio de utilizar o conhecimento

construído durante a sua formação nos espaços sociais de produção social em seu

processo de trabalho. Isso significa desenvolver ações de que colaborem com o

desenvolvimento da sociedade, especialmente aquelas comunidades envolvidas (e

afetadas) com a formação de novos profissionais, pois a inserção de uma instituição

formadora deve provocar uma transformação naqueles envolvidos nas atividades,

proporcionando uma nova forma de agir, aprender e pensar para a realidade.

A atuação do estudante deve compreender um espírito de transformação e

renovação da relação existente entre a formação, a sociedade e o mundo do

trabalho, uma vez que esta relação, por vezes, é pautada por um caminho de mão

única, no qual a formação é privilegiada em detrimento de outros interesses

importantes. O estudante ao ser inserido nos espaços sociais deve ser despertado

para um pensamento sobre a sua influência na realidade e como ele pode através

de sua prática acadêmica (e/ou profissional) contribuir para a

transformação/resolução dos problemas encontrados. O educando deve ser

estimulado a pensar inserido na realidade concreta através do diálogo com a

população envolvida e exercitar o debate coletivo sobre determinantes, agravantes e

condicionantes desta realidade para decidir a forma de agir sobre eles.

A prática reflexiva é fruto da mobilização de saberes e competências que

ultrapassem os conhecimentos técnicos adquiridos nos processos formativos

através dos seguintes processos: “conhecer-na-ação”, relacionado com o

conhecimento embutido na própria ação; “reflexão-na-ação”, fruto da articulação

entre o conhecimento tácito e a forma pessoal de conhecer; “reflexão-sobre-a-ação”,

referindo-se ao processo de pensamento retrospectivo sobre o que o ato realizado;

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“conhecer-na-prática”, inferido no desenvolvimento de competências, conhecimentos

e saberes profissionais.

A ação transformadora a partir da reflexão é possível a partir da superação da

racionalidade técnica ainda existente no processo formativo. Estimular a reflexão

sobre os atos realizados compõe um desafio que envolve a superação dos limites

impostos pelo modelo de formação e ao mesmo tempo compõe o desafio que surge

no âmbito de uma sociedade dinâmica e em constante metamorfose. A prática

reflexiva deve articular saberes e competências visando permitir ao profissional

superar as limitações da formação tecnicista, ela deve estar inserida no contexto real

dos processos de trabalho, inserida na discussão sobre o rompimento de

paradigmas e emergência de novos.

Portanto, compreendemos que a formação de um pensamento reflexivo é fruto

da articulação entre as experiências formais e informais de aprendizagem nos

diversos espaços de convivência social interagindo saberes e competências

pessoais e profissionais.

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5 A VIVÊNCIA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM E SUAS REFLEXÕES

A vivência do estudante que retrataremos será através de suas falas. A fala é

uma das expressões do pensamento humano, podemos expressar sentimentos,

descrever momentos, relatar experiências, emitir opinião, justificar nossos atos

dentre outros. A fala nos permite ainda apreciar um pouco do outro, compreender o

pensamento, perceber raízes, sentir a cultura, conhecer a visão de mundo do outro.

Por meio da constituição do diálogo a fala permite representar a realidade

concreta por intermédio da descrição e interpretação da mesma, possibilitando ver o

mundo por outros olhos e constituindo um olhar sobre algo antes desconhecido.

Pode ser possível imaginar uma realidade pelo relato de quem vive a realidade. Ao

escutar o outro relatar um olhar sobre um fato desconhecido, ou uma realidade

estranha, nos permitimos imaginar ou até nos colocar no lugar em seu na vivência

de um momento particular.

A reflexão sobre o que foi vivenciado e a partilha de experiências e

descobertas podem na perspectiva de um novo saber conceber novas ideias sobre o

evento vivenciado. O diálogo no sentido da partilha nos leva a aprender com o outro

a partir de saberes que se entrelaçam e coexistem com base em experiências

únicas, pois o sentido constituído a partir do viver o mundo é único. Cada indivíduo

constitui o seu pensamento com base em suas experiências, estas são fruto do

processo de interação com um mundo particular, específico no campo da cultura,

família, valores, princípios éticos e ideologias.

Vivenciar o diálogo com o outro também se constitui um desafio, como um

jogo de estratégia em que a cada palavra lançada uma nova tem que ser posta no

tabuleiro, permitindo construir um mosaico de ideias que vão ganhando forma ou se

deformando, constituindo um debate na busca do convencimento. A palavra na

composição dos conceitos permite aos interlocutores do diálogo conhecer a

natureza dos pensamentos envolvidos.

Refletir a partir da fala e do discurso, pode ser compreendido como um

retorno a fatos passados, permitindo analisar o que foi vivenciado e (re)descobrir

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aprendizados para novos saberes. O saber, sinônimo de conhecer representa a

interação do ser humano com outro ser humano e com o mundo que rodeia.

Assim, as falas que serão apresentadas são uma amostra da experiências de

jovens estudantes a partir o seu processo de reflexão sobre eventos da vida e sua

relação com o processo de construção do conhecimento.

5.1 Saberes das experiências de vida

O estudante experimenta um crescimento em sua trajetória de vida através de

diversos aprendizados oportunizados por situações diversas enfrentadas em sua

formação pessoal. A inserção dele em grupos ou espaços institucionais representa

um momento de descoberta de habilidades e constituição de competências que irão

possibilitar a elaboração de um itinerário de formação pessoal que poderá repercutir

na sua prática profissional.

Isso caracteriza a perspectiva de que o aprendizado é fruto de nossas

experiências e como passamos por elas. Elas podem ser representativas em nossas

escolhas em que o resgate de situações vivenciadas podem constituir o

desenvolvimento de uma conduta pessoal diferente da enfrentada em situações

passadas.

“Fui com quatorze anos pra Natal, estudar lá, é, passei quase cinco anos da minha vida lá, e em um ano eu ia ver minha família eu acho que duas no máximo três vezes eu ia pra Apodi. Ficava em Natal o ano todinho, eu acho que foi a época mais difícil da minha vida, assim, em relação a dificuldade, tristeza mesmo, eu já cheguei a ter estresse tão grande, de chorar, querer sair correndo, querer ir embora, querer voltar pra casa, mas fui criando forças, fui criando vários laços lá em Natal, até que um dia assim várias pessoas que moravam comigo, eram oito homens, várias pessoas passavam mal, a gente ia pro hospital, ia, e eu ia sempre pelo fato de eu não pagava republica, eu ajudava e eu sempre tava acompanhando estas pessoas no hospital, e ficava e via, eu olhava muita esta parte de biomédica, eu sempre gostei também, mas eu via o tratamento dos médicos com as pessoas, eu queria ser médico inicialmente, era o sonho ser médico, mas, como eu via o jeito que eles tratavam os pacientes assim, aquela indiferença, aquele fato de não olhar nem no olho, de não falar direito com a pessoa, e sempre tinha um enfermeiro assim, ou técnico de enfermagem, que eu via que se importavam mesmo com aquele problema, com aquela pessoa [...] e fiz enfermagem pra cá, também, sem saber o que me esperava aqui, não conhecia ninguém, vim, só mesmo, assim solitário, sem conhecer ninguém, e aqui estou gostando mesmo assim, é uma área que eu vejo que tem o que me oferecer, tem o que me ensinar cada dia mais.” (San)

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Esperidião e Munari (2004) destacam que o estudante universitário ingressa

nesta modalidade de ensino normalmente ao final da adolescência, um momento em

que ele passa por um processo de desenvolvimento impar em sua vida. Nesta etapa

a incorporação de elementos da sua própria imagem através de vivências pessoais

que o motivam a escolher a profissão. O convívio em espaços coletivos possibilita

produzir estratégias de superação de dificuldades e desenvolvimento de atitudes,

pois é necessário tomar decisões e refletir sobre qual é a mais impactante para

aquele momento. Neste aspecto o desenvolvimento da capacidade de colaboração e

fomento da responsabilidade proporciona um olhar diferenciado sobre a realidade.

Também soma-se a isso a inserção em ambientes de realização do cuidado, o que

suscita a possibilidade de observar o processo de trabalho de profissionais de saúde

de categorias distintas, trazendo uma análise empírica das atitudes que influenciam

no desenvolvimento do trabalho em saúde.

O contato com o campo de atuação na fase de escolha profissional é

significativo no aprendizado da profissão, pois permite que o estudante compare

situações que foram vivenciadas previamente com o saber que ele está vivenciando

no campo teórico e prático da profissão, possibilitando a presença destes elementos

em suas escolhas e atuação. No ensino isso se destaca quando o estudante relata

tais experiências no confronto com os ensinamentos e descobertas da profissão.

“O que motivou para a enfermagem foram situações vivenciadas e o exemplo de pessoas que estiveram ao meu lado, no papel de enfermeiro, principalmente,uma pessoa que me motivou bastante. [...] A enfermeira

Júlia17

da Liga Norte-rio-grandense, nas primeiras seções de quimioterapia

pra o linfoma de Hodgkin, é, ela foi uma das pessoas que estavam sempre ao meu lado e antes de chegar lá eu tinha vivenciado por outros momentos de hospitalização, outros momentos em que eu não tinha tido o contato como aquele, com a enfermagem, é, ela me mostrou algo parecido ao que o colega falou que foi aquele profissional da saúde que tava no momento da sua maior fragilidade, e que veio e que olhou nos meus olhos, diferentemente de outros profissionais da saúde, que você tá ali só...” (Iota)

Amestoy et al. (2010) consideram importante o conhecimento da trajetória de

vida do aluno, pois através dela podem ser identificadas características inerentes ao

seu desenvolvimento cognitivo e afetivo do profissional assim como os momentos

em que seja necessário estimular o aluno a superar as dificuldades. As autoras

17

Nome trocado para preservar o anonimato.

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consideram ainda que o enfermeiro durante a formação precisa desenvolver a

capacidade crítica, a reflexão, a autonomia e capacidade de liderança. O

relacionamento com o profissional é um momento de aprendizado pela observação

de seu comportamento, podendo servir de exemplo para o desenvolvimento de

competências para o exercício profissional e transformação de posturas pessoais.

Vasconcelos (2006) avalia que as grandes transformações enfrentadas pelos

estudantes do campo da saúde ocorrem a partir da vivência de situações pessoais e

familiares que mobilizam emoções e possibilitam reflexões, pesquisas e iniciativas

que se articulam em novos caminhos que eles podem seguir. Ele alerta que os fatos

marcantes vivenciados por estes estudantes nem sempre encontram interlocução

com o processo formativo, estando estes fatos restritos a esfera da vida privada. O

autor pondera ainda que o pensamento newtoniano e cartesiano expulsam a

dimensão emocional do profissional para que ele aborde a realidade de forma

objetiva e que os fatos mais significativos de sua vida não tem espaço na academia.

No campo da saúde a postura profissional mistura-se com as qualidades

pessoais, uma vez que o processo de trabalho e caracterizada por um processo de

envolvimento do trabalhador com o usuário do serviço, permitindo um confronto de

valores e sentimentos necessários à constituição de uma relação de cuidado que irá

permear esta convivência. O contato com os serviços de saúde também permite a

observação de outros elementos constituintes do trabalho em saúde e promovendo

a curiosidade sobre este trabalho.

“Eu sempre gostei, assim, eu nunca tive nenhum problema com hospital, mas aí eu fui fazer terapia com a psicóloga um ano e oito meses, né? Aí toda semana eu tava no hospital ali e era um ambiente que, não sei porque, eu me sentia, eh, incluída nele, assim, como se, eu tiveste nascido pra viver dentro dali sem ter nenhum problema e eu gostava eu ficava observando muito, as pessoas assim trabalhando, por que eu ficava na sala de espera né? E assim, eu gostava, me identificava e ajudou também, né? A ver a rotina assim, me incentivava a tá fazendo, assim a escolher algum curso naquela área, então, eu acho que contribui bastante por que foram quase dois anos lá dentro, toda semana, toda semana, de tanto ver a pessoa finda, já gosta e de tanto ver a pessoa fica com mais vontade ainda.” (Rô) “Eu sempre fui muito curiosa, quando eu ia, por exemplo, pra uma consulta com o médico, aí eu ficava curiosa pra saber os procedimentos que ele ia fazer, a conduta como ia ser e assim a curiosidade de entender o funcionamento do corpo humano, eu ficava imaginando: ah, são super inteligentes, a gente sente isso e ele já sabe o que é e o medicamento que tomar, eu tinha este interesse assim de entender o funcionamento do corpo humano, né?” (Delta)

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O interesse pela profissão que surge a partir da observação do trabalho é um

elemento significativo que permeia a escolha, mesmo que inconsciente, pois induz o

indivíduo a moldar uma visão de profissional que ele tentará construir em seu

itinerário de formação. Neste sentido, destaca-se a percepção a partir do próprio

espaço de produção dos atos profissionais permite o desenvolvimento da

capacidade de análise da atuação profissional na perspectiva do saber técnico.

Porém o desenvolvimento da imagem profissional não se restringe apenas na

observação no campo de atuação, mas também se frutifica na vivência em espaços

sociais distintos ao ambiente ação da saúde.

Esperidião, Munari e Stacciarini (2002) demonstram que o estudante revisita

experiências passadas na perspectiva de saber quem ele é. Isso configura que o

processo de formação apresenta um componente subjetivo importante. É necessário

compreender o sentido da existência humana permitindo que ao mesmo tempo que

se forma o profissional enfermeiro com uma postura crítica e reflexiva, desenvolva-

se habilidades além dos aspectos técnicos.

“Eu fui evangélica dez anos assim, da minha infância a minha adolescência quase toda e assim, lá a gente tinha muitas oportunidades pra fazer, eh... Tipo assim, ajudar o próximo, de organizar, ter uma pessoa necessitada, fazer aquela campanha de arrecadação de alimentos, muita coisa e a questão de lidar com o público, né, também assim? E muito disso, assim, esta desenvoltura que eu tenho que ajuda muito na profissão, eu desenvolvi lá, né. Durante este tempo todinho foi um pontapé muito bom foi que eu tive

e outra coisa também foi o Peti18

, por que eu participei do Peti por uns oito

anos e lá eu tinha muita oportunidade de visualização, desta coisa assim...de.., sei lá, de liderança, a liderança assim do grupo tudo que tinha eu tava de dentro, eles faziam muita ação social, eles preparavam a gente pra palestra pra este tipo de coisa e eu sempre tava no meio assim, sempre tava muito a frente de muita coisa, muito disso contribuiu assim pra levar a minha escolha.” (Rô)

“Eu participei do Projeto Cidadão do Amanhã19

que eles disponibilizavam

pras crianças um esporte e uma cultura e eu sempre fui de praticar muito esporte e também entrei na dança, nas artes plásticas, fiz várias coisas, a gente respirava cultura lá e dentro, nisso eu comecei a me engajar em quadrilha, faz oito anos que eu danço quadrilha, este é o oitavo ano de quadrilha que compete no festival da quadrilha aqui da região e aí foi uma coisa também que me ajudou bastante na interação com o público, questão teatral, por que a gente perde bastante a vergonha e consegue chegar mais nas pessoas, conversar, se aproximar.” (Ômega)

18

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) articula um conjunto de ações para retirar crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos da prática do trabalho precoce. 19

O Projeto Cidadão do Amanhã, desenvolvido em Santa Cruz, contempla o aspecto de formação cultural e desportiva formando para as práticas sociais e para o exercício pleno da sua cidadania.

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“Eu tenho uma experiência muito boa, o karatê é uma arte marcial como todas as outras artes que ensina muito disciplina, questão de controle, de concentração, isso me ajuda bastante em outros aspectos. É questão de sempre tentar ser bom, né, fazer o melhor, mas saber que sempre vai ter alguém melhor também, saber que tem que se esforçar. Na quadrilha eu consigo observar, ao longo destes anos eu brinco com os meninos que entrei na quadrilha eu tinha 15 anos, ainda no primeiro ano, terminei o ensino médio, fiz vestibular, passei, tô terminando a faculdade e ainda tô dançando quadrilha. [...] Eu entrei e vou sair da faculdade dançando quadrilha e consigo observar é... questão de comportamento que nova quando eu entrei não conseguia com um tempo a gente vai observando as pessoas aprendi muito a observar a trabalhar em grupo e ver as dificuldades de lidar com as pessoas. Tem hora que você tem que ter paciência de liderança falar alguma coisa e pra mim a experiência de vida, a quadrilha é muito boa em relação a isso.” (Ômega)

O convívio em espaços sociais coletivos e que promovem a emancipação das

pessoas é um elemento importante para o desenvolvimento do caráter e construção

de conhecimentos úteis para a vida. A partir disso, a interação destes saberes com o

desenvolvimento acadêmico-profissional possibilita articular elementos desta

vivência na constituição do perfil profissional que o estudante vivencia. Neste

aspecto, o conhecimento deixa de ter apenas um componente frio, passando a ser

constituído de processos de interação e troca de valores, experiências e condutas

humanas.

Silva, K. et al (2010) relatam que a identidade profissional vai se conformando

pela passagem em vários momentos de interlocução entre a vida privada e a

formação acadêmica, neste processo há o confronto entre o que se considera a

“enfermeira que o estudante imaginava” e “a enfermeira que o estudante aprendeu a

ser”, o que denominam “a construção da identidade de projeto”. A representação da

identidade de projeto reflete o processo histórico da formação do profissional de

saúde, em que um padrão deveria ser cumprido, quando o estudante era convidado

a se despir de vários elementos constituintes da sua formação pessoal para se

moldar ao modelo de profissional desenhado pela instituição formadora.

Contudo o desenvolvimento profissional representa a possibilidade de interligar

os saberes empíricos com as necessidades de atuação profissional tais como o

trabalho em equipe, o senso de organização, a observação da realidade, o espírito

de liderança dentre outros. Deste modo o estudante se depara com um vários

caminhos que podem ser trilhados a partir da interseção da vida privada e a

formação acadêmica, podendo constituir novos diálogos para formular um

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conhecimento diferente daquele preestabelecido para o modelo profissional

determinado historicamente.

5.2 A superação e seus aprendizados

O itinerário de nossos estudantes passa pela descrição de acontecimentos

prévios ao ingresso no ensino superior e outros relativos às dificuldades de inserção

em um curso em construção. Isso representa uma reflexão de suas trajetórias de

inclusão e fixação no ensino superior, particularmente na saúde, no interior do Rio

Grande do Norte.

Estes relatos representam um fragmento de narrativas de estudantes que

ingressam no ensino superior contrariando, por vezes, trajetórias familiares de falta

de oportunidades de educação e perspectivas de crescimento intelectual e

profissional. Assim, alguns de nossos estudantes representam um retrato do perfil

dos jovens do interior que chegam ao ensino universitário. São frutos de contextos

sociais dos quais poucos conseguem superar um destino traçado a partir de suas

raízes.

São casos de (des)valorização do ensino por suas famílias, seja por uma

concepção de um sonho impossível de ser realizado, seja pelo próprio descrédito de

sua capacidade de superar as dificuldades. Assim, na relação de suas narrativas há

em comum o estigma de viver no interior, longe das oportunidades dos grandes

centros e falta perspectivas de mudança desta realidade, como veremos nas

próximas narrativas:

“O meu conhecimento se deu assim por meio de esforço porque eu acho assim eu não me considero aquela pessoa inteligente só de pegar, ler e já gravar. Eu não sou assim, eu sou por meio do esforço realmente de ler pegar um texto e reler pra ver se vou conseguindo fixar os conteúdos e sempre fui assim, eu sempre fui aquela pessoa determinada e realmente em busca do que eu quero, dos meus objetivos e isso vem se construindo ao longo do tempo e também com apoio dos meus pais e da minha família como um todo. Apesar de ter alguns até familiares dizendo assim “Lambda é de escola pública e acho que aquela menina não vai passar no vestibular” e cheguei, passei, graças a Deus estou aqui né, e pretendo terminar seguir até o final e seguir esta profissão.”(Lambda)

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“Bom, pra mim é um desafio, superação também, é, eu vim venho, né, sou de família simples é humilde... é nunca tive é... apoio, apoio em si das famílias pra continuar estudando, sempre é o pessoal lá de casa diz assim quando as vezes eu tô aperreada com as coisas da faculdade “homem deixe isso pra lá desista, abandone”, mas não eu sempre tô tentando superar desafiando tudo e a todos pra continuar, até porque é uma meta que tenho de conseguir tudo o que eu nunca tive pra dar pra os meus filhos um dia quando eu tiver, se eu tiver, né.” (Chi)

Paulo Freire (1992) considera que o conhecimento é fruto da ação sobre a

realidade, derivado da subjetividade; interligado as decisões da vida cotidiana

através da relação constituída no grupo social que o sujeito faz parte. Desta

maneira, Freire nos faz compreender que o processo formativo do ser humano não é

responsabilidade apenas da escola, mas deve ser assumido por todos os membros

da comunidade e interligado a todas dimensões da vida cotidiana.

O rompimento com os obstáculos apresentados em suas narrativas representa

um triunfo pessoal quando se considera que poucos jovens ingressam no ensino

superior como atestam Guimarães e Silva (2010). Considera-se ainda as

dificuldades relacionadas a uma estrutura de ensino, por vezes, defasada e

desestimulante que somada a falta de perspectivas e oportunidades de

aprimoramento. São situações enfrentadas por estes jovens em condição de

inferioridade imposta por situações que os levaria à estagnação social, porém eles

conseguem perceber que são capazes de romper com este caminho e lançam-se no

desafio de ir além do que seus destinos já preconizavam em suas vidas.

“É...no meu caso eu creio que se eu fosse definir uma palavra que sustentasse e orientasse o meu desenvolvimento e intelecto estaria sendo a superação, porque eu venho de família pobre e de uma cidade mais pobre ainda, onde as meninas aos treze anos de idade provavelmente já têm seus maridos e já estão grávidas esperando seu primeiro filho e eu tive uma educação muito boa, apesar de meus pais terem só o ensino médio, eles se esforçaram bastante para que eu tiveste uma educação muito boa, não uma educação didática, de escola mas uma educação de princípios [...]” (Alfa) “Bem, no meu caso foi assim, eu tinha uma determinação e tenho até hoje uma força de vontade graças ao apoio da minha família, eu tenho apoio desde pequena de pai, de mãe do meu irmão voltado para os estudos, então assim aquela coisa: “você vai estudar, você vai se formar, vai ser alguém na vida, eu quero ver você formada” e tal desde da época do ensino fundamental, ensino médio sempre, sempre, meus pais me estimulavam a ler desde das revistas da Mônica. Eu me lembro quando toda vida que papai viajava trazia várias revistas “isso aí é pra você ler”, você vai ler quando terminar de ler você volta, lê de novo, lê em voz alta, que é pra aprender a ler e é isso a minha força de vontade, minha determinação,

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minha coragem para estudar.[...] Eu lembro quando estou com preguiça, como disse minha colega, eu lembro que eles estão torcendo por mim, eles estão confiando em mim, estão esperando que eu consiga e é isso.” (Gama)

O estigma social pela falta de oportunidades de vida é apresentado a partir da

concepção de inserção precoce em situações de vulnerabilidade e falta de uma

conjuntura que permita a muitos jovens avançar no seu processo de formação.

Percebe-se que o entendimento de que o processo formativo transpassa as

estruturas formais de aprendizagem e começa no ambiente familiar e social

resultando nas escolhas que os jovens vão compondo seu curso de vida, em que

poderão repetir ou não trajetórias de outros jovens que não conseguiram superar as

adversidades vivenciadas por outros jovens nos espaços marginalizados.

Assim, o papel que a família pode exercer no crescimento pessoal é

importante, por vezes determinante, mas é necessário o empenho pessoal na

superação das adversidades apresentadas no percurso traçado. A concepção

familiar de educação e valorização da mesma pode desafiar o jovem a buscar

superar a sua realidade e transpor fronteiras para buscar transformar sua existência

e ultrapassar um destino, muitas vezes, pré-determinado.

“Eu acho que particularmente, “eu virei gente”, (risadas), no rasteiro da palavra mesmo, porque, eu não sei, mas deve ser, na maioria dos interiores, infelizmente, que os jovens principalmente não tem esta visão, hoje sim, com a universidade, antes da UFRN vir não tinha esta visão de fazer um curso superior, de ter uma profissão futuramente, e sim festa, farra, bebida e tal, e depois, trabalhar, sei lá, de moto-taxi, supermercado, são estas coisas que acontecem na maioria dos interiores. E depois da universidade que principalmente do tempo que passei na monitoria, das experiências da monitoria e dos estágios também, eu sinceramente „virei homem‟ de verdade. Não é homem no gênero. (risadas). Amadurecer, eu acho que a universidade faz estas coisas.”(Tau) “Eu acho que muito gratificante da fala da gente que os meninos colocaram, a influencia na nossa vontade de melhorar. É por que a gente tá inserida nesta condição social, familiar de se reerguer e procurar dar sempre o melhor de si pra você tentar conseguir alguma coisa. Conseguir vencer mesmo. Desde pequena assim eu fui assim, sempre influenciou na minha formação acadêmica, até hoje influência é saber que eu vim de um ambiente familiar, de uma situação local mais difícil e que eu tenho uma família que me apoiava e que se esperava muito de mim por que eu estava ali pra estudar, ser alguém no futuro que fosse sucesso, que tiveste crescido e conseguido vencer na vida. Então desde de pequenininha eu ia pra escola, mas eu ia com esta missão dentro de mim, não era uma cobrança dos meus pais, mas era uma missão de mim que eu tinha que dá o melhor de mim pra tentar vencer na vida.”(Hetá)

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Superar uma história social através da formação acadêmica é a aspiração

destes jovens, ultrapassar as dificuldades impostas, defender um futuro para

transformar o fluxo de suas vidas. Para estes jovens a inserção no ensino superior é

o recomeço de uma vida cerceada pela falta de perspectiva em suas vidas, em

repetir a trajetória de outros jovens que tiveram seus sonhos encurtados pela

necessidade de sobrevivência e autoafirmação. A emancipação a qual eles passam

poderá influenciar em suas trajetórias profissionais permitindo que alcancem

caminhos diferentes dos planejados anteriormente.

“Nossos pais batalharam tanto para tentar dar a chance que eles não tiveram, e aí esta cobrança interna que também é uma cobrança deles, que é da educação. Mas a gente sente que tem que dá o retorno e o retorno é o máximo que você puder dar. Então não é que você tem que ser o melhor da turma ou o primeiro, não é com esta intenção de status, mas com a vontade de você sempre se dedicar o máximo para compensar a dedicação de seus pais, de sua família que já viveu uma situação, que todos nós somos do interior, então não é menosprezando, mas que a gente sabe que a realidade é diferente, a dificuldade é maior... e esta parte de dificuldades sempre foi presente desde de pequenos e a gente sempre tentou superar... e a gente vem de toda esta história... desde o berço, esta influência familiar e esta dificuldade da região de conseguir o que só teria na capital e consegui chegar além como outras pessoas conseguem mas que saem daqui, sabe como é que é....então tem que se dedicar muito mais.”(Hetá)

Paulo Freire (1987) concebe que a transformação da sociedade começa a

partir da compreensão das classes populares. No contexto da formação superior é

necessário compreender o trajeto que estes jovens percorreram e as dificuldades

que foram (ou ainda são) superadas até o ingresso ao ensino superior. O

entendimento da educação como instrumento para a transição social faz parte da

história de muitos que ingressam nos assentos universitários, porém é necessário

fazer com que se compreenda que a transformação ocorre através do retorno social

às origens na busca de mudar a realidade original. Sem isso apenas indivíduos

ascendem e o seu local de origem continuará a sofrer com os mesmos problemas.

A necessidade da resposta aos anseios familiares e sociais faz parte dos

objetivos de muitos, demonstrar que foram capazes de ultrapassar o limites antes

impostos pela condição de morar afastado de um grande centro, de se permitir

descobrir a amplitude do conhecimento e perceber que o seu saber não é inferior,

mas é particular de sua trajetória e que permite explorar um universo anteriormente

obscuro. Este movimento os leva a reconhecer que as limitações podem ser

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superadas e transformadas em aprendizado, assim podemos expressar através do

verso do poema Definitivo de Carlos Drummond de Andrade: “Nossa dor não advém

das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.”

Expressa-se, assim, o sonho que floresce na vida e que transpassa o desafio do

sentimento de superar as limitações enfrentadas.

“E assim, se a gente volta naquele momento, no tempo né, a gente tinha a questão do sentimento, do receio, do medo. Será que nós vamos ser profissionais realmente bons no mercado de trabalho? E hoje em dia quando a gente faz aquele filme a gente vê que somos bons sim e principalmente pela questão que nós a partir das dificuldades, como o pessoal já disse a gente soube lidar com as dificuldades e isso a gente leva tanto na vida pessoal quanto principalmente na profissional, que muitas vezes a gente entra no emprego e a gente pensa que vai ser de uma forma e na verdade é totalmente diferente.” (Sigma)

Assim, o percurso dos estudantes é constituído da análise de trajetórias que

demonstram o potencial existente neles para ir além dos limites. O processo de

construção de seus itinerários é fruto deste percurso, transmitido através da visão de

que o ensino pode transformar suas vidas e possibilitar o desenvolvimento pessoal

além do profissional.

É preciso que haja o estímulo para esta história não desapareça de suas vidas,

que o compromisso social seja efetivado no sentido de promover a transformação

social através do retorno a realidade. Portanto o desenvolvimento do profissional é

constituído do diálogo com a sua trajetória, analise de suas dificuldades e limitações,

além da descoberta de potencialidades para o desenvolvimento de atitudes e

competências.

5.3 A formação e a mudança na vida acadêmica

O ingresso no ensino superior para estes estudantes significa um processo de

amadurecimento não apenas profissional, representa uma transição pessoal da

adolescência para a fase adulta. Isso é demonstrado por esta ser a primeira

experiência para muitos de estar morando fora do domicílio de suas famílias. O que

os leva a se sentirem obrigados assumir a responsabilidade por seus atos frente a

sua formação e manutenção. Destaca-se ainda o rompimento para muitos com a

perspectiva da formação escolar, as vezes preparatória para os exames de ingresso

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nas instituições de ensino superior, cuja formação contemplava conteúdos

obrigatórios para tais exames e pouco contribuíam para a formação humana dos

mesmos.

Assim os estudantes relatam que o ingresso no ensino superior representa

este rompimento, uma passagem que vem apresentar não apenas uma formação

para a profissão, mas o desenvolvimento enquanto pessoas que estão assumindo

deveres, reconhecendo-se como responsáveis por seus futuros e descobrindo-se

como cidadãos. Esperidião e Munari (2004) relatam que o ingresso no ensino

superior tem acontecido em idades mais jovens, em que o processo de

desenvolvimento da transição da adolescência para a vida adulta tem ocorrido nas

instituições de ensino superior, cabendo ao professor saber como lidar com esta

fase mostrando ao aluno a responsabilidade pelo próprio caminhar e escolhas feitas.

Isso representa um amadurecimento que vem sendo construído durante a

formação e que é fruto da superação de suas trajetórias de vida e

autoconhecimento. A universidade é concebida como um mundo diferente, pois para

estes sujeitos o ingresso em um curso superior é permeado de expectativas.

“[...] a universidade é outro mundo né, você chega aqui com muitas certezas e monte de incertezas, com expectativas e tudo mais e no percurso né você vai desconstruindo e vai construindo e adequando todos os dias a novas experiências que você vai vivendo [...] eu acho que o processo de conhecimento da universidade ele é mais positivo do que negativo, estes novos conhecimentos, a readequação de visão sobre o mundo ela é mais positiva do que negativa.” (Alfa) “[...] o próprio nome universidade nos remete ao universo né, então é como se ela fosse um universo, é uma gama de informações [...]eu vejo a passagem do colégio para a universidade como deixar de ser coadjuvante pra ser protagonista [...] os professores eles chegam em sala não são professores, são quem compõe é a universidade, é... tem aquela preocupação de nos formar, de nos preparar pra este universo que nos espera, eu me vejo como protagonista dentro da universidade, ao contrário de como era antes no colégio era apenas coadjuvante eu acho que não é ...a diferença que hoje eu percebi, parece que os professores eles não tinham esta preocupação em me formar para o futuro, eles me formavam para aquele momento para o presente e a universidade, não, ela forma pra o futuro, então é assim que vejo esta relação.” (Sampi)

A concepção da universidade enquanto outro mundo é um reflexo do processo

de constituição do ensino superior na concepção das pessoas, pois é considerado

como um espaço inacessível para muitos e representado por uma elite intelectual

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distante da população que a circula. Para nossos estudantes isso pode representar

(in)certezas e expectativas que vão sendo descobertas e vivenciadas. Neste aspecto

o conhecimento é tido como uma readequação da visão de mundo que as pessoas

trazem consigo traduzindo-se até no rompimento de valores que permeiam suas

vidas através de seus laços sociais e culturais.

Scherer, Scherer e Carvalho (2006) evidenciam que o ambiente da escola

constitui, por si só, uma transição em estilos de vida, exigindo dos alunos um

período de adaptação. Para a maioria dos jovens o ingresso na vida acadêmica

acontece no momento de uma mudança de fase do ciclo da vida, ou seja, na

transição da adolescência para a vida adulta. Nesta perspectiva, o professor deve

atuar como um mediador do conhecimento valorizando o relacionamento

interpessoal com seus aprendizes, enquanto é necessário que o estudante no

contato com o ambiente possa construir uma conexão entre os saberes vivenciados

não apenas no processo formativo acadêmico-profissional, mas também durante a

vida pessoal.

O aprendizado deve superar o sistema de trocas (ou recompensas) que

atualmente tem conduzido o ensino universitário. É necessário transpor o sistema

bancário de educação e caminhar para a partilha de saberes, possibilitando uma

formação contextualizada a partir da compreensão da relevância do conhecimento

necessário para o exercício profissional além da perspectiva do trabalho técnico.

Destacamos também a representação da universidade como um espaço de

informações. Esta concepção pode representar o pensamento que o conhecimento

que existe nos espaços extramuros não são validos, ou não pode ser confrontado

com aqueles produzidos nos espaços acadêmicos. É importante pensarmos se o

estudante é consciente do saber que ele traz de sua trajetória de vida, das

experiências que ele fez parte e que se somam ao conhecimento formal. Nem

sempre as instituições formadoras valorizam o aprendizado adquirido nos espaços

informais de convívio social, menosprezando as competências e habilidades

desenvolvidas neles.

O estudante ainda se depara com a mudança de perspectiva da formação na

educação básica em relação ao ensino superior, confrontando os objetivos da de

cada um dos níveis. Na universidade ele atribui que está sendo formado para o

futuro trazendo o olhar sobre os níveis anteriores como algo restrito ao presente

vivenciado naquela etapa. Destacamos percepção de amadurecimento no momento

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em que o estudante ao assumir o papel de protagonista por sua formação percebe a

mudança em seus atos. Há uma percepção do docente como aquele que é

responsável por compor a universidade e formar o estudante para o futuro, porém

deve-se compreender, conforme Paulo Freire (1983; 1987) já explicitou, que não há

ensino unilateral, este deve ser multilateral dialogando com as várias dimensões do

aprendizado e da vida humana.

“[...] eu hoje eu tenho plena consciência eu me considero que eu me tornei cidadã quando no momento em que eu entrei na universidade porque não foi quando eu fui registrada e recebi um nome, não foi quando eu fiz minha...meu RG que a gente recebe um número..., não foi quando eu tirei o meu título aos dezesseis anos nem muito menos quando eu completei dezoito anos , mas foi quando eu entrei na universidade parece que você assume uma responsabilidade grande com a sociedade né, [...]” (Sampi) “[...] quando eu entrei na faculdade, [...], eu amadureci muito, eu era uma criança quando eu entrei aqui, eu fico olhando assim eu era um bebê, parece assim eu abri minha mente pro mundo, assim, eu era uma pessoa muito limitada por mais que eu tentasse ver eu não conseguia ver muita coisa, hoje em dia eu consigo olhar o mundo de uma forma bem diferente, amadureci pra conseguir ver quem é a outra pessoa, tentar entender o ponto de vista desta pessoa, respeitar ao próximo. Assim respeitar a opinião das pessoas e a gente amadurece muito neste processo, são 4 anos e meio de um amadurecimento, não diria forçado, mas é um intensivo, você amadurece em 4 anos e meio o que era pra você amadurecer numa vida quase toda. Você entra de um jeito e sai uma pessoa totalmente diferente e quando a gente chega nesta historia, né, de tá quase indo por final, você ver o quanto você conseguiu aprender, [...] e quando chega no final que você vai testar todo o seu conhecimento, você diz menina eu já sei disso tudo, eu aprendi isso tudo e ainda tenho um monte de coisa pra aprender que muito mais.” (Rô)

Consideramos emblemático o relato de amadurecimento e reconhecimento

como cidadão, pois o ingresso no curso de formação superior traz embutido

responsabilidades e acesso à informação que já deveriam ser trabalhadas ainda em

outros níveis de formação, pois a educação deve ser um instrumento para formar o

indivíduo para a vida e não apenas transmitir informações já digeridas pelos

docentes sem a preocupação com o desenvolvimento do ser humano para o

convívio social. Ressalta-se ainda a concepção de que apenas se assume

responsabilidade no ensino superior, quando o estudante é despertado para o seu

papel enquanto futuro profissional e que deve construir um itinerário de formação

nesta etapa. Neste momento o estudante passa compreender que ele tem uma

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responsabilidade social, que não fora ainda despertada, ou não tenha sido

trabalhada anteriormente.

É importante destacarmos que devemos ter consciência de nosso papel social

independente do espaço que estamos inseridos, seja como profissionais, seja como

estudantes aprendendo conteúdos e/ou uma profissão. Neste sentido a concepção

da cidadania deveria estar implícita no processo de formação para despertar o

compromisso com a sociedade para promover o seu desenvolvimento, corrigir

injustiças e promover os direitos básicos ao cidadão.

A formação do cidadão é fruto do amadurecimento e construção do caráter. O

conhecimento pode ser considerado resultado da posição de responsabilidade na

formação do profissional quando aliado à concepção de cidadania, pois ao assumir o

compromisso com a aplicação do saber o estudante reflete sobre o seu papel

enquanto profissional e cidadão. Espiridião, Munari e Stacciarini (2002) expõem que

a busca da formação do enfermeiro a partir do autoconhecimento é fundamental,

pois ele experimenta momentos de instabilidade na vida pessoal, emocional e

profissional. As autoras alertam que o exercício do autoconhecimento deve ser

fomentado durante a formação, porém isso só é possível havendo disponibilidade se

os atores do processo ensino-aprendizagem estiverem dispostos a isso.

O aprendizado vivenciado pelos estudantes torna-se significativo quando

compreendido que não se restringe apenas aos espaços formais, mas está presente

nas mudanças decorrentes das necessidades para fazer um curso superior.

“[...] foi uma mudança muito grande em todas as dimensões, [...] a minha vida inteira eu estudei em escola particular e eu tinha aquela realidade, então quando eu cheguei aqui em santa cruz eu vi muitas realidades diferentes, eu vim morar sozinha, eu tive que aprender a fazer coisas, coisas de casa não, começar a fazê-las por que em casa eu não fazia, aprender a cozinhar, não aprendi até hoje, mas assim, eu desenrolo, eu me viro, acho que estimulou muito a minha independência [...]” (Digama) “Pensando bem, você vê que a faculdade trás um aprendizado muito maior pra quem é de fora do que pra quem é da mesma cidade né, porque quem é de fora é o lugar distante, muitas vezes distante e os desconhecidos, você não conhece ninguém e lá vai você se inserir sem ter apoio de seus pais e amigos que você já tinha há muitos anos e você construindo isso você é responsável por saber que você tem que um orçamento x e ter que lidar com este dinheiro até o final do mês controlando [...]” (Capa)

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Fleuri (2006) destaca que as experiências e práticas pessoais e institucionais

em contextos distintos indicam a necessidade do desenvolvimento de uma nova

forma de conceber o processo formativo a partir da interlocução das vivências e

relações humanas e profissionais. O desenvolvimento do ser humano pode ser

considerado resultado das experiências pessoais e das escolhas ocorridas nelas.

A descoberta de habilidades no cotidiano é importante na constituição do

profissional para desenvolver novas habilidades e aplicar outras adormecidas. A

mudança de ambiente e a constituição de novos relacionamentos pode favorecer

este desenvolvimento, pois é importante que o profissional possa aprender a partir

experiências do âmbito pessoal e refletir sobre elas. Nesta perspectiva o estudante

se depara com oportunidades para refletir sobre suas atitudes e escolhas e associar

os saberes necessários para superar as dificuldades existentes no processo de

adaptação.

5.4 A vida acadêmica no contexto da prática profissional

O estudante ao vivenciar a universidade, na interação com os professores,

outros estudantes, profissionais da rede de serviços, comunidade assistida por eles

e outros atores sociais começa a articular empiricamente as competências e

habilidades necessárias para o exercício da profissão, além de articular o

conhecimento como um instrumento importante para a vida. Demonstra-se ainda

que o compromisso social é constituído, durante a formação, através do contato com

a realidade e a inserção no processo de trabalho em saúde, pelo diálogo entre

estudantes e pessoas da comunidade e o desenvolvimento do aprendizado nos

campos de atuação do profissional de saúde. Isso possibilita a associação de

saberes necessários para o desempenho da profissão como um processo artístico

que envolve a reflexão para o aprimoramento do “saber fazer” e do “como fazer”,

não dissociado o aprendizado profissional do contexto social das pessoas.

O contato com outro ser humano é importante no itinerário formativo em saúde

pois neste encontro o estudante é convidado a compreender que nem todas as

respostas estão representadas na teoria e que se constitui um desafio o

envolvimento no contexto de vida das pessoas, assim como desenvolver suas ações

respeitando as peculiaridades de cada situação encontrada. O aprendizado neste

encontro torna-se um momento de análise de atitudes e concepções que os

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possibilita se descobrir não apenas como profissional, mas os possibilita aprender a

serem abertos as demandas que lhes são apresentadas pelo outro.

“[...] uma determinada paciente que eu acho que passou por todo mundo aqui, em estado terminal, que ela marcou a vida de todo mundo, acho que não só na questão do que a gente estava estudando na época que era Semiologia, né? [...] as coisas que a gente tava fazendo contribuiu muito pra isso também, mas tenho certeza que mexeu muito com o emocional de todo o mundo. Então foi uma pessoa que entrou assim na vida da gente, que ela não contribui só para nosso crescimento na nossa vida acadêmica mas também na questão profissional, porque que a gente viu o que aqui era passado, o que era ter um paciente daquele sob os nossos cuidados, o que a gente pensa e se coloca no lugar, e se fosse a minha mãe?” (Ômicron)

A empatia desenvolvida pela estudante demonstra que além da preocupação

com o aprendizado de técnicas e procedimentos a existência do cuidado a partir da

personificação da relação estudante/usuário é demonstrada pela sensação de estar

responsável por um pessoa querida. A constituição de uma relação de afeto e

sensibilidade possibilita um rompimento com o paradigma biomédico de transformar

o ser humano em objeto e a doença em um defeito a ser corrigido, neste sentido o

desenvolvimento da competência humana e social é importante para o desempenho

do trabalho em saúde, pois este é pautado pelo encontro de pessoas e partilha de

sentimentos, valores e atitudes.

Ceccim e Feuerweker (2004) enfatizam que para ser um profissional é

necessário o conhecimento humanístico e social associado ao processo de cuidar

além do conhecimento técnico. Os autores destacam ainda que a responsabilidade

do ato de cuidar exige a reavaliação constante do profissional no sentido de atender

as necessidades do outro, mas também as suas necessidades como pessoa e

profissional de acordo com o surgimento de dificuldades e impasses do cotidiano.

Ressaltamos ainda que a formação do profissional ocorre sob uma

perspectiva de encontros, descobertas e perdas. O encontro ocorre a partir da

interação entre a comunidade acadêmica nos espaços institucionais de formação,

como também nos ambientes extramuros de aprendizado da profissão em que o

contato com a profissão começa a ser estabelecido, assim como o encontro com o

outro, seja um usuário do serviço de saúde que está sob os cuidados do estudante e

que deposita nele esperança neste contato, mesmo que por um período delimitado

de tempo; seja com um profissional que irá demonstrar através de seu processo de

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trabalho o desempenho da profissão e que poderá estimular no estudante o

interesse ou a frustração com a profissão escolhida.

“[...] o caso de estágio é interessante e gratificante e em relação ao projeto também, quando a gente sai e tá cuidando de um determinado paciente, antes de cuidar dele, tem passado o cara reclamando, reclamando, reclamando que tá demorando, este tipo de coisa, e quando ele passa pela gente, tento cuidar dele o melhor possível, né, [...] e quando ele vê você na rua lhe abraça, agradece, fala com você, que você ta estudando, pra não deixar de ser assim, por isso eu acho uma coisa gratificante e interessante [...]” (Capa)

O estudante ao se sentir valorizado pelo usuário passa a compreender o seu

papel como profissional, percebendo que esta relação pode ir além dos espaços de

aprendizagem, mas torna-se pública e possibilita o seu reconhecimento no ambiente

social. Isso representa que o seu papel pode ser destacado nos espaços de convívio

social em que a relação constituída anteriormente não termina no momento da

finalização de um procedimento, mas continua com base no reconhecimento pelo

outro do seu papel social. Assim, mesmo que o estudante ainda não seja um

profissional ele já passa a ser visto como um, o que representa o desenvolvimento

de uma ação consciente e que deve ser valorizada em seu cotidiano.

“A partir do momento que você começa a ter um estreitamento da relação enquanto futuro profissional e paciente você vê o quanto valeu a pena todo este tempo que você passou na faculdade e a cada dia vai contribuindo pra você se tornar uma pessoa melhor, vamos dizer assim, né, enquanto ser humano e de buscar mais conhecimento, as vezes são pessoas muito carentes que estão ali só querendo a sua atenção mesmo, querendo

conversar, a gente ver muito isso no hiperdia20

, por exemplo. Então é uma

coisa gratificante que você vê que você estudou, que às vezes as matérias que você diz: ah pra que isso? antropologia pra que? vixe! só pra atrasar complicar mais a vida. Mas hoje em dia a gente ver que realmente tem uma aplicabilidade, né. Então a experiência, o ganho é diário a cada pessoa que você vai atendendo, o paciente e você vai vendo que vale mais a pena e tive muito ganho nesta questão pessoal, espiritual, psicológica, tudo que envolve o eu.” (Delta)

O aprendizado do estudante no contato com o usuário do serviço de saúde é a

demonstração do momento em que este passa a se perceber como um ator de um

processo de trabalho que tem como elemento essencial o contato, o diálogo e a

20

Programa de Controle da Hipertensão e Diabetes Mellitus

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formação de vínculo. Neste aspecto o conhecimento adquirido durante o processo

formativo é consolidado nesta troca, quando há a percepção da saúde além do

aspecto conceitual de negação da doença, mas como um conceito amplo e

transversal que envolve várias dimensões da vida humana.

Merhy e Feuerwerker (2009) retratam que o trabalho em saúde ocorre a partir

do encontro entre o trabalhador e o usuário; é um processo de produção que

acontece na incerteza do ato em saúde. O estudante ao se deparar com a realidade

dos serviços de saúde e o contato com o usuário deste serviço é desafiado a

exercitar a comunicação interpessoal e a desenvolver a sensibilidade para interagir

com o usuário, muitas vezes fragilizado pela condição de saúde, mas também

fragilizado dentro de um contexto social desconhecido dos profissionais de saúde.

Destacamos o contato com o outro como um momento de aprendizagem que

vai além da aplicação de teorias e técnicas, mas que possibilita a percepção do

diálogo e exercício do conhecimento amplo que permite transpassar as barreiras do

curso formal e leva a refletir sobre o seu papel na sociedade. Neste processo o

estudante aprende a valorizar o saber que o usuário do serviço de saúde traz sobre

o seu estado de saúde e assim é possível perceber que a busca pela assistência

não se restringe apenas no aspecto restrito da doença, mas pode ser pela

necessidade de ser percebido como ser humano.

O saber prático não se refere apenas a uma prática específica, no sentido da

ação, mas também está inserido nos valores e significados provenientes de

experiências incorporadas no cotidiano. A sabedoria prática pode diminuir as

barreiras entre os vários saberes existentes, possibilitando a transformação dos

espaços e contextos em que ocorrem as práticas de saúde e de formação.

Neste ponto o diálogo com as ciências sociais é importante para o

desenvolvimento de um processo de aprendizagem que valorize a subjetividade da

relação estudante/usuário a partir do resgate de elementos que reforcem a

necessidade da valorização dos problemas apresentados que podem ir além da

doença física. Ao considerar que o aprendizado é diário e envolve vários fatores

pessoais de sua formação o estudante reflete e reconhece que sua ação é ampla e

constitui-se de vários elementos presentes em sua trajetória pessoal e profissional.

É um processo de autoconhecimento e autoavaliação de suas atitudes e

aprendizados.

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“[...] tem paciente que chega com uma determinada patologia que ele já tem a muitos anos e você não sabe nem o que é, e ele lhe dá uma aula do que é aquilo, por que ele sabe tudo da doença dele e você fica só olhando assim, a gente aprende muito, tanto na questão profissional como pessoal também, né. Por que assim, muitas vezes a conversa com o paciente é uma lição de vida indiscutível, né, quando você vai ver a realidade, você consegue muito bem ver a realidade que você tá inserida. Por que você mora numa cidade, eu moro aqui, mas quando você vai pra o posto você começa realmente a ver como é a sua (realidade), a população da sua cidade, os costumes, os hábitos e as condições né, principalmente de vida a questão da moradia, de condição social. Muitas vezes você é alienado não tem muita noção que tem gente que tem necessidade na sua cidade, quais são as necessidades e você consegue ver muito isso a partir do momento que você ta neste estágio assim, nesta interação com o paciente.” (Rô)

A percepção da realidade enfrentada por outra pessoa é um elemento

importante no desenvolvimento do processo de trabalho em saúde; representa

abranger vários aspectos da vida humana e romper com a concepção da

impessoalidade deste trabalho. A valorização do conhecimento que o outro possui

sobre sua vida significa um repensar sobre a atuação nesta relação, pois o diálogo

está inserido no processo de troca de saberes e superação do paradigma biomédico

e constitui uma prática emancipadora para o usuário do serviço de saúde, que passa

a ter a sua palavra respeitada. É importante a valorização do diálogo, da troca, da

relação interpessoal, acreditando que é possível aprender conversando, discutindo e

trocando ideias. Espera-se do estudante uma atitude mais ativa em busca do saber,

com a extração da informação do ambiente, integrando-a a outras armazenadas na

memória, fundamentando assim seu questionamento sobre a realidade (SCHERER;

SCHERER; CARVALHO, 2006).

Outra questão importante que surge neste relato é o reconhecimento amplo

do espaço social em que o profissional convive, pois nem sempre há empenho em

refletir sobre a realidade, de questioná-la e muito menos de intervir sobre ela. Mas

como intervir sobre algo que não buscamos conhecer? Como julgar os atos de um

usuário, se nem procuramos conhecer o seu espaço? Assim, o conhecimento da

realidade e a busca pela compreensão crítica representa um processo de abertura

para uma forma diferente de fazer saúde.

Nesta perspectiva, o contexto social e a prática profissional devem conviver

em harmonia, pois não se pode fazer saúde sem a compreensão do espaço de vida

das pessoas. Isso denota que é necessário transpassar o olhar restrito dos bancos

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acadêmicos e construir um olhar ampliado sobre o ambiente de vida das pessoas

conhecendo seus modos de vida, suas dificuldades, suas potencialidades e suas

expectativas, pois a inserção do estudante nos espaços sociais possibilita a

captação da realidade enfrentada pelo outro, a qual muitos destes estudantes,

mesmo residindo próximo, desconhecem. Isso é reflexo da estrutura social a qual

estamos inseridos, em que desvalorizamos a nossa realidade e não percebemos

que a realidade existe e que podemos intervir sobre ela.

“[...] eu comecei a pensar um pouco, [...] é que realmente me deu um baque muito grande, eu sempre xinguei o SACI né, pelo fato de ter que andar no

Paraíso21

, às vezes eu sentia muita raiva daquilo mas só que teve um dia

que foi muito interessante que o monitor da gente, né, o professor da gente, ele incentivou a gente a ver aquilo de uma outra forma, a ver a realidade das pessoas, ver de outra forma, porque assim, pode ser que não vou dizer que vejo direto apesar de que eu moro perto e uma vez ou outra passava ali pelo Paraíso e você passa e não percebe nada aquilo ali, é só mais uma extensão da cidade, você vê sim uma carência mas só que você não para pra pensar... poxa aquela pessoa, né, o que será que ela precisa? Como será que eu posso ajuda aquela pessoa? Não, mas assim no SACI uma coisa que, eu cheguei em casa até assim meio transtornado mesmo e comecei a pensar no outro, parar pra pensar no outro, né, quando a gente se deu de frente com a extrema pobreza, eu não me esqueço nunca a cena de olhar pra dentro de uma casa e a pessoa não ter um guarda roupa pra guardar a roupa, tá aquele bolo de roupa assim, o pobrezinho do menino andando descalço no esgoto, você ver aquela pessoa totalmente assim... não tem reação, não pode fazer nada e a gente, minha Senhora, e você ouvir „mas meu filho eu não posso fazer nada, esta aqui é a condição que eu tenho‟. Aqui na faculdade começa a despertar este olhar de preocupação com o próximo e ver o quanto aquela pessoa precisa de você, precisa da sua ajuda e que você pode ajudar, basta a gente querer, acredito que este choque de realidade também de uma certa forma é muito bom.” (Zeta)

A construção de um olhar sobre a realidade é um desafio que o estudante

recebe ao se deparar com os espaços sociais é representado pelo conflito de

valores que eles vão descobrindo ao se depararem com cenas que ainda não

vivenciadas, pois o olhar sobre a vida do outro e confrontar com a própria vida é

uma expressão de abertura para o repensar de sua prática social. Para muitos o

contato com uma realidade diferente da sua pode proporcionar a oportunidade para

refletir sobre o seu papel enquanto profissional de saúde na sociedade,

especialmente na realidade em que ele está inserido.

21

Bairro periférico do município de Santa Cruz

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Sarti (2010) esclarece que é necessário constituir um olhar sobre a realidade e

sobre o outro além do concebido pelo modelo biomédico. É necessário constituir a

subjetividade nas relações interpessoais no campo da saúde através da

sensibilização de estudantes e profissionais para a realidade concreta e atenção a

pessoas que nela habitam. Neste sentido a inserção no ambiente social e

constituição de um vínculo social sensibiliza o futuro profissional para a

compreensão da realidade além da visão tecnicista centrada em dados estatísticos,

mas constitui-se na conformação de uma nova relação do trabalho em saúde com

vista a compreensão social do processo humano de convivência no espaço social.

Destaca-se ainda que este contato quando acontece ainda no início da

formação possibilita a (re)construção de uma trajetória profissional idealizada antes

do começo da formação, pois oportuniza conhecer a essência do trabalho do

profissional através da chance de perceber ainda com “olhos ingênuos”, no ponto de

vista profissional, que muitos dos problemas de saúde são frutos de um processo

social em que eles estão inseridos e nem sempre buscam conhecer as raízes deles.

Isso significa o rompimento de valores e preconceitos internos.

“[...] quando uma vez eu fui questionada... em relação ao que o meu curso me proporcionava por meus familiares e eu respondi que não era só o meu crescimento profissional, mas o pessoal, né... partindo do que Alfa colocou, as vivências com os pacientes é... nos trás um crescimento obviamente, trás o profissional mas nos trás um conhecimento pessoal muito grande porque a gente começa a se colocar no lugar dele e as vezes até colocar quem é próximo nosso no lugar dele.” (Sampi) “Você cresce quanto ser humano, você cresce quanto pessoa, ganha responsabilidade, evolui, sabe se adaptar mais ao que você encontra, daqui pela frente, você sabe utilizar seu tempo, se não sabe, aprende a fazer, e profissionalmente tem, você cria competências que você leva pro resto da vida, você não tem como ser um enfermeiro se você não tiver iniciativa, se você não tiver a força de vontade de melhorar, se você não tiver a destreza, ação, a criatividade, que a nossa turma realmente sempre foi muito criativa, sempre fez, a vontade de fazer diferente, de transformar a realidade que você encontra, este tipo de coisa, é um estado novo, é um setor pra transformar e deixar um pouquinho seu, né, e são estas coisas que eu acho que ganhou e cada dia vem ganhando, com esta nossa profissão que eu escolhi.” (Hetá)

Vasconcelos (2006) destaca que é necessário criar espaços de escuta das

vivências dos estudantes. Deste modo, o agir em saúde assume o seu lado subjetivo

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quando compreendemos que o profissional tem um forte componente humano e

afetivo no desenvolvimento de sua prática, caracterizado pelo diálogo e interação

nos encontros existentes durante o ato de cuidar.

Assim, a percepção de um aprendizado além do conhecimento formalmente

esperado para o profissional acena para a apreensão de uma nova imagem, pois ele

é capaz de conceber sua prática através do exercício da percepção humana no

desenvolvimento de seus atos. A valorização da capacidade de relacionar-se com o

próximo, agir ativa e habilmente no desempenho de seus atos, além do sentimento

de transformação da realidade caracterizam a capacidade de repensar a sua prática,

que são virtudes necessárias ao trabalho em saúde.

5.5 O conhecimento e a reflexão sobre a prática profissional

Durante o processo de construção do saber, o estudante percebe que o seu

aprendizado é um processo continuo e subjetivo, repercutido em seus atos e

relacionamentos, assim como o relacionar-se com a construção de um olhar

dinâmico sobre a realidade em que ele está inserido durante o período de formação

a partir da perspectiva de atuação profissional.

Neste sentido o conhecimento passa a ser visto como um componente que

transpassa a digestão de conteúdos preestabelecidos pelas estruturas formais de

ensino. Ele é concebido como uma articulação entre saberes e experiências que

apresentem impacto ao estudante e à sua futura prática profissional. Neste sentido o

estudante deve ser estimulado a perceber a amplitude do aprendizado a partir do

desenvolvimento de competências, diálogo interdisciplinar e aplicabilidade do

mesmo na realidade. É proveitoso pensar o saber além do ato instrutivo e sim como

um processo dialógico e emancipatório que estimule o estudante a refletir sobre o

sentido da sua prática a partir de uma visão ampla sobre a relevância do mesmo

para a transformação da realidade.

“Assim, eu acho que antes da gente fazer a intervenção, a gente tem que conhecer o que está a nossa volta, a gente não chegar é já impor o que a gente quer sem conhecer a cultura daquele local, é um dos aprendizados que trago, assim, com as minhas vivências ... Enfim, se eu for trabalhar em um posto de saúde, numa comunidade pobre, como por exemplo no Paraíso, eu não vou impor „eu tenho conhecimento de tal assunto‟, eu vou lá passo este conhecimentos, saio de lá, digo fiz meu papel, mas será que eu fiz mesmo? „Você utilizou os termos corretos?‟ „Você utilizou os aparatos

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necessários para que o receptor receba a mensagem?‟ É, da forma que entendeu, a gente tem que ter todo este conhecimento, a gente tem que ter todo este cuidado antes de fazer qualquer intervenção, conhecer realmente a cultura, as pessoas, a comunidade, a cidade, o bairro, enfim, a rua, que tá a nossa volta, que a gente até mesmo conhece.” (Fi)

O estudante a partir do reconhecimento das singularidades da realidade social,

do respeito à cultura do outro, da percepção da necessidade de atuar na perspectiva

da partilha de saberes, acolhe que não há um saber soberano no processo de

interação humana. Neste momento o estudante passa a compreender que a sua

prática no processo de trabalho em saúde deve ser permeada pela construção

coletiva do conhecimento, aprendendo com o outro e interligando saberes científicos

e empíricos, desenvolvendo um diálogo facilitador do ato de cuidar e facilitador da

formação de vínculo entre profissionais pessoas da comunidade. Silva et al. (2010)

relatam que o aprender na formação acadêmica envolve construir um novo olhar

sobre a atenção à saúde, pensar em novos projetos pedagógicos, reconstruir o

conhecimento.

O aprendizado deve favorecer o desenvolvimento integral do profissional para

o exercício do trabalho em saúde na perspectiva da transformação social,

cumprimento da democracia e emancipação humana, fazendo que os estudantes

sejam capazes de desenvolver uma inovação com humanização. Alerta-se, porém,

que o desenvolvimento de habilidades transpassa o conhecimento disciplinar e

práticas curriculares formais, sendo necessário trabalhar no âmbito prático na

perspectiva de forma cidadãos e profissionais capazes de refletir sobre o trabalho

em saúde/enfermagem.

Do mesmo modo, outros elementos se inserem neste ato ainda durante o

decurso da formação do profissional na perspectiva do diálogo de saberes.

Podemos considerar como saberes transversais que despertem para a quebra de

barreiras entre os atores envolvidos durante a construção do saber.

“[...] a construção do conhecimento está bastante associada a afetividade e a criatividade, se o que eu estou me propondo a aprender não despertar sentimento ou não me chamar a produção, tipo dentre disso eu posso produzir, eu posso fazer isso, possibilidades de produzir eu tenho uma certa dificuldade de aprender. É por isso que eu creio que me dou melhor com professores que estimulam a minha capacidade crítica, que me estimulam de verdade, que só não me transmitem informações, entendeu? Me convidam a participar do processo, então o meu conhecimento ele tende a

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fluir melhor, eu tendo a produzir melhor na presença da criatividade e afetividade.”(Alfa)

O desenvolvimento da afetividade e da criatividade pode ser considerado um

desafio para a formação do profissional de saúde, ainda embasada sob o modelo

biomédico censura o desenvolvimento afetivo do profissional, impondo um

desenvolvimento de saberes frios, objetivos e teóricos. Alves e Anastasiou (2007)

apontam que a aprendizagem é um processo mediado socialmente e que esta não

ocorre da mesma maneira, depende do sujeito que aprende, do objeto a ser

aprendido e do processo de apreensão.

Centrar o ensino apenas no desenvolvimento de competências técnicas retira

do trabalhador em saúde a sua essência humana, levando-o a manipular corpos e

realizar procedimentos sem a devida sensibilidade e valorização do outro. Ferraz,

Krauzer e Silva (2009) destacam que no espaço extra sala de aula o acadêmico tem

a oportunidade de relacionar e aplicar conceitos teóricos na realidade apresentada.

O ato de cuidar é um processo humano, constituído de saberes e práticas

para promover o bem-estar a quem o recebe. No processo de trabalho em saúde, o

estudante aprende este ato a partir da repetição de técnicas e memorização de

conteúdos sem uma harmonia entre eles. Este processo repercute na formação de

profissionais desvinculados de valores humanos, executores de um processo de

produção fabril, alienados pela quantificação de procedimentos e ausentes de afeto

e diálogo humano.

“[...] mas tudo o que a gente tá fazendo ainda deve ser pensado „eu estou fazendo da melhor forma que eu posso fazer?‟, eu acho que hoje eu fiz isso, mas acho que posso melhorar amanhã, então as vezes me pego nesta pergunta que antes eu não sabia e fico feliz por ter aprendido, mas quando isso se torna repetitivo eu fico refletindo se o que eu estou fazendo é como eu aprendi e se o que eu aprendi ainda é o melhor para aquele momento.” (Hetá)

Refletir sobre a sua prática e olhar sobre o compromisso em aprimorar o seu

ato assumido durante o desenvolvimento de suas ações deve ser trabalhado durante

o processo formativo como instrumento para a melhoria e aprimoramento do

estudante no desempenho de suas ações. A reflexão sobre o que foi aprendido e

como está sendo aplicado possibilita a avaliação dos atos, adequação do uso do

conhecimento e reformulação do pensamento, pois a interação com o outro

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enquanto processo dialógico permite o desenvolvimento do ser através da

percepção do impacto de suas ações e reformulação de sua prática.

“Estamos sempre aprendendo, eu acho que o conhecimento em todos os ângulos ele é gradativo, então sempre, a gente vai achar, a gente vai achar que tá precisando melhorar mais, é, vamos sempre buscar o conhecimento, não é? Sempre procurar aprimorar, eu acho que tudo isso é, faz parte do nosso conhecimento, que tá ao nosso redor, basta a gente querer, se dedicar, persistir, acho que é isso.” (Qoppa)

A percepção de progressão do conhecimento é valiosa quando se compreende

que o mesmo não estático, fragmentado nem unilateral, mas faz parte de uma

dinâmica social, fruto da interação entre pessoas e da interação com os espaços de

nossa inserção social. Neste aspecto, a concepção de valorização do espaço social

como lócus de reflexão sobre o conhecer e intervir deve ser estimulada na formação,

provocando o estudante a formular uma aproximação contemplativa da relação

conhecer e agir.

“No inicio eu era preocupada em tirar nota boa né, hoje me dia quando a gente vai chegando mais pro final a gente nem lembra mais, eu extrai o conhecimento que eu preciso daqui pra frente, que eu preciso claro que vou extrair o máximo que eu poder por que eu não sou nenhum Einstein do tipo, mas tirar aquilo que eu vou usar pra minha vida enquanto profissional e as notas é uma consequência, entendeu? Então a gente amadurece em questão a isso ai.” (Delta)

O estudante passa por um processo de amadurecimento cognitivo durante a

sua inserção na universidade, se no início a preocupação essencial era com o

rendimento sob o aspecto quantitativo, este converte-se com a preocupação sobre a

aquisição e construção do conhecimento. Neste aspecto a vivência em várias

instâncias de atuação na academia (monitoria, extensão e pesquisa) podem

proporcionar um olhar qualitativo sobre o conhecimento e como desenvolver melhor

as habilidades cognitivas para articular os saberes envolvidos no desenvolvimento

profissional. Este saber quando confrontado com as práticas de saúde provoca um

processo de reflexão sobre a atuação dos profissionais que exercem suas atividades

na assistência ao usuário.

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“Na atenção básica os profissionais mais comprometidos, assim, que tem um maior compromisso com a população são os enfermeiros né, a gente foi fazer o curso de capacitação pra o teste de HIV e sífilis, era pra ir todos os profissionais de nível superior: dentista, farmacêutico, o médico e o enfermeiro. Só foram da nossa equipe os 2 enfermeiros, os 2 médicos não foram, o farmacêutico não foi, eles não foram, não apareceu ninguém, nem no dia anterior que era o da capacitação, nem no dia de fazer o teste. Simplesmente dizem assim „não eu não quero não‟, problema de... O dentista não tem material, há 2 meses que ele não vai no posto. A gente não tem material, mas a gente tem que tá lá todo dia, nem que seja pra conversar e ficar olhando pra cara dos pacientes. Esta a realidade que a gente tem, nem as atendentes da dentista vão mais lá no posto, assim vão de manhã sentam até 9:30 e depois vão embora por que não tem material lá, e eles tem o que fazer, eles não podem fazer uma ação educativa e distribuir os kits de escova? Tudo isso eles podem tá fazendo, mas o descompromisso é um abismo, num tá recebendo dinheiro no final do mês, a grande maioria pensa assim né, quando não se tem um compromisso com os seus pacientes, não tem material não vou nem lá. No final do mês ele vai receber do mesmo jeito.”(Rô)

Silva e Sena (2006) retratam que o cuidado integral deve superar a

fragmentação entre o saberes, sendo necessário que o profissional possa articular

as ações e conhecimentos na perspectiva do desenvolvimento da assistência à

saúde a partir de uma perspectiva transformadora. Neste sentido as autoras

retratam que a formação deve primar por espaços que o enfermeiro possa

desenvolver as habilidades para o cuidado integral.

Ao se deparar com a realidade do serviço de saúde o estudante é desafiado a

analisar o processo de trabalho dos profissionais da rede assistencial e em relação

ao que ele aprendeu durante a sua formação. Neste momento o embate entre a

teoria e a prática ensinada versus a realidade e as condições de trabalho podem

revelar contradições do trabalho em saúde que não palpáveis nos espaços

acadêmicos. Porém, como desenvolver habilidades sem vivenciar as dificuldades da

realidade concreta?

A inserção nos espaços de produção da assistência à saúde é uma

oportunidade para o estudante (re)pensar os ensinamentos, desafiando o

conhecimento disciplinar, por vezes fragmentados, e convidando-o a articular

saberes e práticas no desenvolvimento de ações que rompam com a lógica de um

processo de produção de uma assistência passiva, estática e não-reflexiva.

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“Eu posso tirar como exemplo no meu trabalho (como agente comunitário de saúde). Eu observo os enfermeiros que entraram comigo em 2010 e hoje em 2012, pela desvalorização, o que eles sofreram em relação a gestão, a um apoio que a conduta deles mudaram. Eles entraram saíram da faculdade, tinham aprendido como fazer e, tiveram que se adaptar a realidade que foi imposta a ele. Então, eu fico assim pensando, não adianta você vim, querer e não ter apoio. Então, tem muita coisa que eu hoje em dia, que antigamente eu olhava e não sabia. Este povo atende mal a gente por que? Mas tem hora que realmente, assim, não justifica porque atender mal, lógico que não. Eles já estão tão saturadas de querer alguma coisa e buscar, aí o enfermeiro, falando do enfermeiro por parte de ser a profissão da gente, aí ele fica mal visto, aí ele não vem, ele não vem, ele não vem, a gente marca no horário prometido e ele não vem, se não tem material como pode atender, vá reclamar na prefeitura. Entendeu? Então é aquela coisa, a gente não atende na por que quis.” (Ômega)

A introdução do estudante nos serviços de saúde possibilita a reflexão sobre o

processo de trabalho do profissional de saúde e seus entraves. O estudante neste

momento em que vivência a realidade da profissão percebe os diversos perfis de

envolvimento e compromisso. Neste momento é possível refletir acerca do papel que

ele terá que desenvolver neste campo de atuação, assim como perceber a

necessidade do fortalecimento do senso de responsabilidade social que deve estar

presente no trabalho em saúde.

O aprendizado através da reflexão-na-ação e o conhecer-na-ação permite a

construção de valores profissionais que irão permear a trajetória profissional,

trazendo em si a busca de alternativas para o adequado exercício de suas

atribuições minimizando o prejuízo para o público que busca o serviço de saúde.

Neste sentido, elementos como o acolhimento, a criatividade, a liderança, o

planejamento, a inovação das ações dentre outros podem ser frutos deste processo

reflexivo na execução do ato de cuidar na perspectiva de proporcionar a execução

do processo de trabalho contemplando as ações básicas para a oferta de um serviço

de saúde resolutivo.

“Como enfermeiro agente aprende na prática que na teoria é outra e a gente tem um pouco, de psicólogo, de médico, de nutricionista, de tudo a gente faz um pouco, todo mundo na nossa profissão e, que também não podemos acreditar em tudo que dizem e, nem falar tudo que quer. É aprendizado o tempo todo. Ninguém vai saber tudo nunca, mas a gente sai aprendendo o básico para ir desenrolando a profissão.” (Ômega)

O enfermeiro, enquanto membro da equipe de saúde apresenta peculiaridades

no seu processo de trabalho, que muitas vezes são aprendidos no momento da

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atuação profissional, confrontando com o papel legal22 a que lhe compete a

responsabilidade técnica sobre a equipe de enfermagem, porém em sua formação

generalista na área de saúde este profissional pode acolher e orientar os usuários,

causando uma indefinição quanto ao seu papel no momento do contato do

estudante com a profissão. Isso pode ser resultante dos esclarecimentos recebidos

acerca da sua atuação durante a formação, faltando uma análise ainda nesta etapa

acerca do trabalho desenvolvido e o compreendido pelos profissionais. Isso pode

gerar confusão e angústia na compreensão da atuação do profissional enfermeiro,

mas pode repercutir na transformação de atos.

“Assim, como a gente aprende a olhar nas entrelinhas, e não digo apenas o que fica subentendido nas falas das pessoas, a gente aprende a questionar as coisas, tanto que quando o paciente tá mentindo para você, você conhece que ele tá mentindo, tá dizendo aquela coisa que não é verdade, aí você pergunta de uma forma, quando mais na frente você muda a pergunta ele já responde outra coisa e, eu levo muitas vezes isso para minha vida pessoal, sabe? [risos] Aprendi muito quando fazia terapia com o psicólogo, aprendia muito a responder uma pergunta com outra. Afê Maria! E, a gente aprendeu muito aqui também, que nunca induza alguém responder uma pergunta. Vai lá em semiologia, já está em anamnese, chega e diz tá tudo bem, não você está bem? Hoje em dia eu digo, tá tudo bem? A gente aprende aquela coisa de ter uma visão realmente ampla das coisas. Quando você aprende a olhar o paciente de forma geral, você aprende olhar o seu irmão de forma geral, a sua mãe de uma forma bem completa, olhando a história de vida das pessoas e você leva isso para sua independente ou não, que hoje em dia eu olho a minha mãe de forma diferente, eu olho a vida que ela teve antigamente quando ela era nova, assim, isso muda muito a sua opinião a respeito das pessoas. E, aquela questão: nunca vá com preconceito para as coisas, assim, você aprende a abrir sua mente, a se aventurar e conhecer de fato o mundo, assim, tentar.” (Beta)

O conhecimento aplicado no cotidiano do exercício profissional também é

utilizado no cotidiano social e familiar, assim como acontece no sentido inverso, pois

o profissional em seu aspecto humano pode fazer uso das habilidades sociais para o

processo interativo com outros atores sociais. Neste sentido o contato com aqueles

que estão mais próximos torna-se influenciado a partir da vivência social do

profissional. Fleuri (2006) enfatiza que novos paradigmas educacionais, científicos e

profissionais precisam emergir e reforça ainda que:

22

Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986 e Resolução CNE/CES nº 3, de 7 de novembro de 2001

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experiências de inserção nos contextos sociais e culturais marginalizados, assim como o comprometimento pessoal e político com os interesses e os contextos populares indicam a importância de desenvolver uma práxis educativa e profissional que potencialize as diferentes dimensões da realidade subjetiva e sociocultural, assim como compreenda a complexidade e as ambivalências das vivências e relações humanas e profissionais (FLEURI, 2006, p. 236).

O aprendizado da enfermagem alia elementos cognitivos que vão além da

aprendizagem de procedimentos e técnicas, mas utiliza-se do processo

comunicativo entre profissional e usuário. Este processo demanda um exercício de

compreensão acerca do diálogo amplo, que envolve a linguagem verbal e a não-

verbal, neste sentido o cuidado é visto na perspectiva dialógica e subjetiva que não

se aprende em laboratórios, mas na prática diária de compreensão do outro e

reflexão sobre a sua ação na construção deste diálogo.

5.6 Refletindo sobre a formação a partir da vivência do estudante

Refletir a formação do enfermeiro nos tem possibilitado repensar nossa prática

no encontro com o estudante no diálogo cotidiano. Na qualidade de docente

questiono como proporcionar o desenvolvimento de competências e habilidades e

obtenho mais dúvidas que respostas, pois compreender o desafio em articular

saberes e práticas para o trabalho em saúde, um processo de trabalho peculiar.

Na nossa realidade acadêmica o conhecimento na área da saúde vem sido

pautado a partir da lógica da quantificação de informações e procedimento técnicos,

privilegiando o “fazer” ao invés do “por que fazer” preparando os estudantes para a

prática profissional sem oportunizar um processo reflexivo de aprendizado. Há uma

série de aproximações com tecnologias, procedimentos e teorias, porém distancia-

se do diálogo com os saberes existentes nos diversos espaços de inserção da

universidade; ainda nos deparamos com uma formação fragmentada e

desconectada com os vários contextos de atuação do profissional.

A formação ainda segue um itinerário meramente técnico, centrada no

conhecimento e práticas que pouco proporcionam o desenvolvimento de um saber

protagonizado pelo estudante, mas centrado no docente, recebido pelo aluno e por

vezes, pouco aplicado as diversas situações encontradas no cotidiano do processo

de trabalho em saúde. Isso restringe o protagonismo do estudante na construção de

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conhecimento, distanciando-o da proposição de ideias, mas reforçando as “receitas-

de-bolo” aos problemas apresentados em sala de aula e laboratórios.

Tal concepção distancia o processo formativo das reais necessidades

apresentadas pelos usuários dos serviços de saúde, pois concebe-se o ser humano

superficialmente como um objeto patológico desconfigurado de sua posição sócio-

afetiva em uma relação mecânica de prestação de serviços. Ressalta-se a

importância de considerar durante a formação acadêmica a realidade do sistema de

saúde vigente no país, sendo necessário durante o processo de aprender possibilitar

a reflexão sobre a saúde sob uma perspectiva ampliada. O profissional a ser

formado pelo sistema de ensino superior tem que ser apto a refletir sobre a sua

prática e avaliar como sua atuação responde as necessidades de seus clientes.

Este profissional deve compreender o real sentido de seu trabalho, na

perspectiva da construção coletiva, diálogo interdisciplinar e em consonância com a

realidade de inserção da prática profissional. A construção de uma prática reflexiva

deve ser conformada a partir do conhecimento de seu processo de trabalho e da

constituição de um olhar crítico sobre a resolução de problemas que surgem no

cotidiano da prática profissional, possibilitando uma tomada de decisões que

transpassem o aspecto técnico, mas que considerem os diversos fatores

determinantes do processo saúde-doença.

Destaca-se ainda o processo desumanizado não valorizado das experiências

pregressas dos sujeitos aprendentes, que marginaliza o contexto histórico-social do

qual surge o estudante, que não valoriza habilidades e competências desenvolvidas

em vivências pregressas e/ou externas ao espaço acadêmico-institucional,

restringindo-se ao compartilhamento de valores, sentimentos e concepções. É

necessário que o docente seja capaz de assumir uma relação horizontal e

participativa no processo de aprendizagem, estimulando o desenvolvimento de um

profissional que reflita não apenas sob a sua prática, mas passe a ver o seu papel

social, construindo e dialogando o conhecimento com prazer e partilha.

Assim, o enfermeiro a ser formado, deve ser estimulado a refletir no contexto

de sua atuação, como também em seus diversos contextos de convivência (Figura

9). A formação deve oportunizar diferentes formas de construir conhecimento, seja

nos espaços intra- e extramuros, possibilitando a vivência do trabalho no contexto de

atuação profissional. Deve-se ainda levar a compreensão do ser humano em sua

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plenitude, cooperação entre os saberes transpassando as paredes dos espaços

restritos de controle acadêmico.

Figura 9: Elementos constituintes da formação em saúde na reflexividade. Fonte: Elaboração do autor.

Consideramos que as competências são resultado de um processo dialógico,

não apenas técnico, pois constitui-se um elemento do conhecimento para o exercício

profissional mas que não pode ser dissociado do exercício da qualidade humana

necessária ao profissional de saúde. Quando pensamos em competências, a

valorização de seus componentes técnico se sobrepõe aos demais elementos

esquecidos dentre eles a construção de um olhar diferenciado sobre o usuário no

sentido de perceber o ser humano que se encontra diante de outro ser humano. A

competência humana necessita ser valorizada na formação em saúde. Tornar-se

humano e sentir-se humano é o desafio que cabe à formação dos profissionais de

saúde no início deste século XXI.

É necessário compreender que nossos estudantes, embora ingressem mais

jovens no ensino superior, eles carregam um amplo conhecimento de seus

itinerários de vida, desenvolveram habilidades e apresentam potenciais que

precisam ser explorados e valorizados. Não podemos conceber um processo

formativo que não proporcione a emancipação dos sujeitos. Cabe ao professor ser

Formação em saúde

estímulo ao diálogo

permanente com a realidade

desafios do mundo

contemporâneo

articulação entre teorias e

práticas Integração de

saberes dinâmicos

Valorização de aspectos da

vida humana

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um facilitador deste processo voltando primeiro seu olhar para as suas

competências e habilidades, refletindo sobre o seu conhecimento e o seu próprio

curso de vida. O seu papel hoje transpassa o tradicional processo de transmissão de

conhecimentos, mas insere-se no de desenvolvedor de talentos.

Ao estudante é necessário romper com vários estigmas. Antes de tudo ele tem

que aprender a se valorizar enquanto ser humano, permitir-se experimentar as

emoções que a vida proporciona, aprender com elas e trazê-las para a sua prática

cotidiana de aprendizado. As trajetórias de vida precisam ser valorizadas no espaço

acadêmico, pois a partir delas podemos refletir sobre a formação do profissional de

saúde. É necessário estimular a criatividade, romper com os padrões estáticos do

ensino profissional e proporcionar a criatividade no sentido artístico, permitindo que

a inovação e a ousadia de questionar o saber sejam permitidos. Isso exige uma

ruptura com as estruturas curriculares, que impõe um visão linear sobre o

conhecimento, reprimindo o seu processo circular que ocorre durante a vida.

Percebemos que o processo de reflexão pode ser permanente, mas para isso

é necessário proporcionar o resgate das experiências, dos diálogos, das emoções,

dos conflitos e demais elementos que trazem ao estudante a percepção do

conhecimento na dinâmica da vida e na interação desta com o mundo do trabalho

(Figura 10). Assim a reflexão necessita ser valorizada na formação, permitindo ao

estudante expor seus valores, sentimentos e opiniões nos diversos momentos de

troca de saberes proporcionados pela vivência universitária, afinal este é um espaço

de confronto de concepções. O diálogo tem que ser heterogêneo, assim como as

práticas desenvolvidas por estes atores.

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Figura 10: A formação do enfermeiro na reflexividade. Fonte: Elaboração do autor.

Compreender o conhecimento como fruto de um processo permanente de

aprimoramento humano é necessário para o desenvolvimento de novas formas de

ensinar e aprender. A (des)construção do conhecimento no ambiente coletivo é um

desafio para todos nós. É imprescindível vermos o estudante em sua potencialidade

de articulação de saberes, trazendo para a experiência educacional as diversas

formas de aprender, redescobrindo o papel do professor a partir do diálogo

emancipador. Assim, é instituído o desafio de tornar-nos criativos, permitir-nos

romper com padrões rígidos, partir para um processo flexível e reflexivo no trabalho

docente. O próprio diálogo interpessoal pode ser um ponto de partida.

Nesta perspectiva, o respeito aos valores, despindo-se de preconceitos é outro

desafio que cabe ao professor enfrentar, pois a compreensão de mundo que as

pessoas carregam em si é fruto de diversos aprendizados de experiências

individuais e coletivas que o permitem construir valores e concepções sobre o

mundo que o cerca. O diálogo de saberes torna-se essencial na transição de

conceitos que passamos por nossa vida. Assim, este diálogo deve ser permitido no

desenvolvimento da formação do profissional, uma vez que o conhecimento não

pode ser representado de forma unilateral, como na perspectiva positivo-cartesiana.

A REFLEXIVIDADE

NA FORMAÇÃO DO

ENFERMEIRO

Resgate do diálogo e encontros cotidianos

Articulação de saberes e

vivências

Protagonismo dos

personagens envolvidos

Confronto de realidades

Compromisso social

Emancipação dos sujeitos

Estímulo à criatividade

Valorização de valores,

sentimentos e opiniões

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Vivemos um novo paradigma na formulação do conhecimento, ele é dinâmico

e interativo. Ele é resultado de nossas experiências e saberes. Assim um diálogo

deve ser estimulado para proporcionar a partilha para um amplo desenvolvimento

além do aspecto profissional, mas sobretudo humano.

Assim, o aprendizado ocasionado pela experiência de vida que é trazido ao

espaço acadêmico deve ser inserido no processo formativo e confrontado com os

componentes técnicos e específicos da formação. Ele deve ser entendido como um

processo dinâmico, contextualizado e vinculado aos diversos processos de vida que

fazem parte do cotidiano de seus atores. É um desafio permanente proporcionar um

ensino que valorize os saberes presentes na vida.

É resultado de uma interação com o universo social de suas origens, são

experiências concretas de vida que não podem ser censuradas na formação, mas

valorizadas na conformação do profissional de saúde. É fundamental que venhamos

a conhecer o estudante que se insere no ensino superior e como ele percebe o

aprendizado, pois partimos da concepção de que o estudante tem que se moldar ao

ensino formal, mas não o contrário.

Figura 11: Refletindo a formação a partir da vivência do estudante. Fonte: Elaboração do autor.

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Portanto, é possível perceber neste estudo que o processo de reflexão

permeia um processo de conformação do estudante enquanto ser humano no seu

itinerário de vida, porém os saberes adquiridos nem sempre participam do diálogo

presente no processo formativo, reduzindo as experiências pregressas no campo da

exemplificação de situações cotidiana(Figura 11).

A identificação com a área da saúde e o curso escolhido é influenciada por

experiências vivenciadas ou pela perspectiva de oportunidade de transformação

social, porém esta escolha só vem a ser consolidada no decorrer do curso ao

confrontar valores e vivências de formação. O aprendizado é fruto de um processo

de confronto com as dificuldades e a superação das mesmas. Assim o experimento

do contato com o mundo do trabalho e a observações de profissionais promover

perspectivas de mudança no confronto com os valores trazidos da trajetória de vida.

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6 O HORIZONTE DA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO NA REFLEXIVIDADE

A formação do enfermeiro está inserida no contexto da formação em saúde,

dentro de uma complexidade de articulação entre saberes e conhecimentos que

permeiam a vida do ser humano. As Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso

de enfermagem retratam a necessidade de vencer velhos desafios existentes no

campo da saúde em que o processo formativo passa a ser concebido sob uma nova

perspectiva de rompimento com a dicotomia característica da área.

Ao propor a análise da formação do enfermeiro na reflexividade e a superação

dos limites do modelo de formação biomédica (Figura 12) apresento uma realidade

vivenciada desde a graduação em enfermagem e que convivo até os dias de hoje no

exercício da docência universitária. Os resultados obtidos a partir da análise do

material empírico nos permitem perceber, no contexto deste estudo, os desafios que

ainda precisam ser superados na formação de profissionais de enfermagem.

Figura 12: A reflexividade e a superação dos limites da formação biomédica. Fonte: Elaboraçao do autor.

Na reflexão sobre o material empírico e ao resgate dos momentos das

entrevistas nos deparamos com relatos de vidas que foram compartilhadas que

trouxeram novos questionamentos sobre a formação que estamos ofertando e como

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estamos possibilitando a transformação social e profissional no campo da formação

e do trabalho em saúde. A reflexividade neste âmbito permite discorrer acerca dos

caminhos trilhados pelos personagens das entrevistas e nos dá pistas de um

horizonte possível, mas que precisa ser traçado no itinerário destes “meninos e

meninas” que ingressam no ensino superior.

Ao discutirmos a reflexividade a partir do pensamento de John Dewey inserido

no panorama do profissional reflexivo apresentado por Donald Schön e dialogando

com a perspectiva da ação transformadora de Paulo Freire entendemos que a

mudança no processo formativo envolve uma articulação para fomentar um

aprendizado acadêmico/social/profissional. Este é um desafio para o educador, a

instituição e a sociedade. Assim, neste momento trazemos um horizonte sobre uma

formação embasada na reflexividade.

A busca da essência humana no ato de cuidar durante a formação do

enfermeiro pode fazer o estudante perceber, dentro de um contexto social, que a

sua prática não pode ter um distanciamento dos problemas concretos do cotidiano,

sendo útil (re)descobrir a realidade da inserção de novas estratégias de vivenciar as

dificuldades do cotidiano e estimulando um agir criativo e inovador sobre elas.

A composição de uma formação reflexiva pode permitir a articulação de

conhecimentos através do diálogo permanente entre saberes e vivências sociais

com a formação acadêmica ainda no início desta formação. Assim, o rompimento

com a fragmentação do saber exercitado a partir dos momentos iniciais da

formação, em que o estudante ao ingressar no ambiente acadêmico deve ser

reconhecido inicialmente como um aprendiz e o professor como um facilitador deste

processo de aprendizado também podem facilitar uma formação mais completa do

profissional.

Propomos que se realize um diálogo entre a experiência de vida versus a

formação acadêmica, algo oportuno de ser valorizado na academia dos dias atuais,

pois ao compreendermos que o saber é constituído de valores e sentimentos,

oriundos da realidade vivida, nos permite estabelecer elos para um aprendizado

significativo, valorizando os saberes que permeiam a formação do indivíduo e que

podem ser dialogados no meio acadêmico. O processo formativo não é uma via de

mão única, pelo contrário é uma intersecção de vias que se cruzam ou se distanciam

a medida que o diálogo é estabelecido.

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O resgate do diálogo como parte do processo formativo constrói uma relação

horizontal de aprendizagem rompendo com a hierarquia que se impõe no ensino

centrado no saber teórico do professor. A valorização do saber de mundo do

estudante e a partilha do saber profissional do docente fazem parte de uma ação

pedagógica que proporciona um aprendizado mútuo permeado pela relação

horizontal e protagonizada igualmente.

A formação de um itinerário formativo pode ocorrer através do encontro com a

realidade vivenciada e o conhecimento adquirido no meio acadêmico. Ao

estimularmos o estudante a agir e compreender a sua realidade estamos

fomentando o princípio do papel social da instituição formadora, pois mesmo que o

estudante não venha a atuar diretamente no seu local de origem, ele pode contribuir

com a realização de ações que apliquem o conhecimento construído para o

desenvolvimento da sociedade.

O professor ao se reconhecer como um mediador no processo de construção

do conhecimento, sem impor o seu saber, permitindo que o estudante edifique um

saber através da construção de respostas às suas indagações e conectando

saberes que estão presentes na sua convivência. O estudante necessitaria ser

entendido como alguém que pode ser protagonista de sua história, detentor da

capacidade procurar respostas e participar da sua formação.

O protagonismo que falamos rompe com a concepção de educação bancária

ainda presente no campo da saúde, faz-se oportuno pensarmos um ensino

compreendido na reflexão sobre o saber através do estímulo à análise da realidade

e do estímulo à inovação e à criatividade. Ser criativo representa constituir uma nova

forma de agir no processo de trabalho em saúde, construir diálogos, compartilhar

saberes no âmbito da coletividade, comunicar o cuidado em saúde de forma

acessível dentre outras formas de agir em saúde.

O educando na sua condição de aprendiz precisa ser estimulado a perceber o

processo de trabalho e refletir sobre ele desde os primeiros momentos de sua

formação, os professores em sua condição de profissionais experientes, espelhos de

um modelo de atuação, precisariam refletir sobre a realidade em articulação com o

processo de trabalho em saúde e trazer o estudante para esta discussão através do

diálogo que os estimule a partilhar o seu olhar a partir de sua vivência e confronte

com as bases conceituais da profissão.

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Esta relação ao ser constituída em parceria com outros participantes do

processo formativo (profissionais dos serviços de saúde, usuários, equipamentos

sociais dentre outros) pode permitir ao estudante compreender a amplitude do

processo de trabalho em saúde através do contato com a realidade do processo

saúde-doença. Este contato pode permitir a reflexão sobre o impacto das ações

desenvolvidas e quais estratégias podem ser viáveis para a sustentabilidade das

ações de saúde.

O currículo pode permitir que o estudante construa um conhecimento que

dialogue com a realidade e o estimule a agir sobre a mesma. É indispensável que o

estudante vivencie o mundo concreto desde o início da sua formação e que esta

vivência não seja na perspectiva do estranhamento e nem do controle da realidade,

pois o processo de cuidar é desenvolvido a partir da colaboração entre os seus

realizadores.

Um aprendizado assim valoriza a comunicação entre o “ser profissional” e o

ser humano que habitam na mesma pessoal, estimulando a reflexão sobre os atos

individuais e suas consequências no processo de interação social, o que dever ser

revisitado durante o itinerário formativo superando o distanciamento da autorreflexão

da atuação profissional. É claro que não se pode haver distanciamento dos valores

individuais e coletivos na constituição de um ensino reflexivo, nem marginalizar as

raízes sociais e culturais da pessoa.

Há dificuldades a serem vencidas a partir deste contato, pois o processo de

conscientização e reflexão é exercido com base em nossos valores, os quais são

permeados de (pré)conceitos internalizados na nossa prática cotidiana. Faz-se

oportuno estimular o diálogo e a expressão de sensações e sentimentos

humanizando a relação institucional de ensino e introduzindo o ato de cuidar nas

práticas cotidianas do processo ensino/aprendizagem.

A comunicação entre os saberes deve romper com os limites impostos pelo

diálogo cientifico ao diálogo popular, expresso através do confronto de realidades

distintas entre o a realidade do ensino, do laboratório e da teoria quando se encontra

com a realidade do espaço social, dos serviços de saúde e da vivência profissional.

É necessário o estímulo à inserção de estudantes e docentes nos espaços

concretos para o emprego dos saberes necessários à transformação social e

profissional dos espaços sociais.

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Esta interação só poderá se conformar com o rompimento de barreiras

estabelecidas pela relação construída pela academia com a sociedade e os espaços

de atuação profissional. A pesquisa e a extensão universitária devem ser

incorporadas ao currículo na perspectiva da prática social da profissão e não apenas

sob o aspecto de atividades assistenciais e pesquisas experimentais desvinculadas

do ambiente social.

A compreensão da realidade é intermediada pelo diálogo e o encontro com o

cotidiano podendo possibilitar a formação de um olhar crítico sobre os problemas

enfrentados pela população assistida, podendo gerar um conhecimento voltado para

as demandas da população assistida pelos profissionais de saúde. Através do

contato, problematização e reflexão sobre os problemas do cotidiano o estudante

pode articular saberes e descobrir quais as formas adequadas de agir a partir da

vivência do cotidiano de enfrentamento desta realidade.

O resgate da cidadania como um componente humanizador no processo de

formação de profissionais reflexivos pode estar presente nas práticas acadêmicas

como um componente de uma aprendizagem que revele o diálogo e a prática social

que pode estar presente na ação transformadora do processo ensino-aprendizagem.

À instituição formadora é preciso dinamizar o processo ensino-aprendizagem e

fazê-lo dialogar com a realidade partindo da compreensão do universo que faz parte

da vida das pessoas. Não se pode conceber um processo formativo desvinculado da

realidade, muito menos baseado em contextos distantes do espaço social. A

universidade deve construir um conhecimento globalizado a partir da sua realidade e

da realidade de seus atores. O estudante tem que ser estimulado a agir para um

exercício profissional inovador e produtivo que responda as necessidades sociais e

ao mesmo tempo seja instrumento da transformação social através de atitudes

inovadoras, críticas e cidadãs.

Reconhecemos que o estudo apresenta limitações por se tratar de uma

realidade particular de um curso que vivência um processo de implantação. O

desenvolvimento da pesquisa ocorreu no decorrer do semestre letivo, em que os

estudantes disponibilizaram seu tempo nos intervalos ou ao final de suas atividades

diárias.

No entanto a reflexão sobre o material apresentado nos possibilita trazer novos

elementos para a discussão sobre a formação em saúde. Particularmente na

enfermagem percebemos que é necessário consolidar propostas pedagógicas

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inovadoras, que possibilitem o diálogo continuo com a realidade, rompendo com o

processo de ensino descontextualizado da realidade de inserção da universidade.

O preparo do docente para o exercício de seu ofício precisa ser repensado

desde os anos iniciais da formação escolar no sentido de preparar o estudante para

os desafios do mundo contemporâneo. No ensino superior, o desafio consiste em

lidar com os diversos saberes que se confrontam nas experiências de aprendizagem

em que o estudante irá se deparar com um processo de articulação entre teorias e

práticas. Para isso é fundamental o repensar das estruturas, reforçando ainda, o

rompimento com o modelo biomédico e integrar saberes de forma dinâmica.

Enfim, a formação permeia os diversos aspectos da vida humana. O processo

de conhecimento faz parte da vida, e a prática reflexiva um instrumento para o seu

aprimoramento.

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ANEXOS

ANEXO 1

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO(*)

CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR

RESOLUÇÃO CNE/CES Nº 3, DE 7 DE NOVEMBRO DE 2001.

Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem.

O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, tendo em vista o

disposto no Art. 9º, do § 2º, alínea “c”, da Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com

fundamento no Parecer CNE/CES 1.133, de 7 de agosto de 2001, peça indispensável do conjunto das

presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologado pelo Senhor Ministro da Educação, em 1º de

outubro de 2001,

RESOLVE:

Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em

Enfermagem, a serem observadas na organização curricular das Instituições do Sistema de Educação Superior do País.

Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Enfermagem definem os

princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de enfermeiros, estabelecidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em Enfermagem das Instituições do Sistema de Ensino Superior.

Art. 3º O Curso de Graduação em Enfermagem tem como perfil do formando egresso/profissional:

I - Enfermeiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Profissional

qualificado para o exercício de Enfermagem, com base no rigor científico e intelectual e pautado em princípios éticos. Capaz de conhecer e intervir sobre os problemas/situações de saúde-doença mais prevalentes no perfil epidemiológico nacional, com ênfase na sua região de atuação, identificando as dimensões bio-psico-sociais dos seus determinantes. Capacitado a atuar, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano; e

II - Enfermeiro com Licenciatura em Enfermagem capacitado para atuar na Educação Básica e

na Educação Profissional em Enfermagem.

Art. 4º A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos

para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais:

I - Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da

(*)

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES 3/2001. Diário

Oficial da União, Brasília, 9 de Novembro de 2001. Seção 1, p. 37.

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sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo;

II - Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

III - Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;

IV - Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão

estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem-estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

V - Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativas,

fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho quanto dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde; e

VI - Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente,

tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas proporcionando condições para que haja benefício mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação por meio de redes nacionais e internacionais.

Art. 5º A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas:

I – atuar profissionalmente, compreendendo a natureza humana em suas dimensões,

em suas expressões e fases evolutivas; II – incorporar a ciência/arte do cuidar como instrumento de interpretação profissional; III – estabelecer novas relações com o contexto social, reconhecendo a estrutura e as

formas de organização social, suas transformações e expressões; IV – desenvolver formação técnico-científica que confira qualidade ao exercício

profissional; V – compreender a política de saúde no contexto das políticas sociais, reconhecendo os

perfis epidemiológicos das populações; VI – reconhecer a saúde como direito e condições dignas de vida e atuar de forma a

garantir a integralidade da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

VII – atuar nos programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente, da mulher, do adulto e do idoso;

VIII – ser capaz de diagnosticar e solucionar problemas de saúde, de comunicar-se, de tomar decisões, de intervir no processo de trabalho, de trabalhar em equipe e de enfrentar situações em constante mudança;

IX – reconhecer as relações de trabalho e sua influência na saúde; X – atuar como sujeito no processo de formação de recursos humanos; XI – responder às especificidades regionais de saúde através de intervenções planejadas

estrategicamente, em níveis de promoção, prevenção e reabilitação à saúde, dando atenção integral à saúde dos indivíduos, das famílias e das comunidades;

XII – reconhecer-se como coordenador do trabalho da equipe de enfermagem;

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XIII – assumir o compromisso ético, humanístico e social com o trabalho multiprofissional em saúde.

XIV – promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus clientes/pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de transformação social;

XV – usar adequadamente novas tecnologias, tanto de informação e comunicação, quanto de ponta para o cuidar de enfermagem;

XVI – atuar nos diferentes cenários da prática profissional, considerando os pressupostos dos modelos clínico e epidemiológico;

XVII – identificar as necessidades individuais e coletivas de saúde da população, seus condicionantes e determinantes;

XIII – intervir no processo de saúde-doença, responsabilizando-se pela qualidade da assistência/cuidado de enfermagem em seus diferentes níveis de atenção à saúde, com ações de promoção, prevenção, proteção e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência;

XIX – coordenar o processo de cuidar em enfermagem, considerando contextos e demandas de saúde;

XX – prestar cuidados de enfermagem compatíveis com as diferentes necessidades apresentadas pelo indivíduo, pela família e pelos diferentes grupos da comunidade;

XXI – compatibilizar as características profissionais dos agentes da equipe de enfermagem às diferentes demandas dos usuários;

XXII – integrar as ações de enfermagem às ações multiprofissionais; XXIII – gerenciar o processo de trabalho em enfermagem com princípios de Ética e de

Bioética, com resolutividade tanto em nível individual como coletivo em todos os âmbitos de atuação profissional;

XXIV – planejar, implementar e participar dos programas de formação e qualificação contínua dos trabalhadores de enfermagem e de saúde;

XXV – planejar e implementar programas de educação e promoção à saúde, considerando a especificidade dos diferentes grupos sociais e dos distintos processos de vida, saúde, trabalho e adoecimento;

XXVI – desenvolver, participar e aplicar pesquisas e/ou outras formas de produção de conhecimento que objetivem a qualificação da prática profissional;

XXVII – respeitar os princípios éticos, legais e humanísticos da profissão; XXIII – interferir na dinâmica de trabalho institucional, reconhecendo-se como agente desse

processo; XXIX – utilizar os instrumentos que garantam a qualidade do cuidado de enfermagem e da

assistência à saúde; XXX – participar da composição das estruturas consultivas e deliberativas do sistema de

saúde; XXXI – assessorar órgãos, empresas e instituições em projetos de saúde; XXXII - cuidar da própria saúde física e mental e buscar seu bem-estar como cidadão e como

enfermeiro; e XXXIII - reconhecer o papel social do enfermeiro para atuar em atividades de política e

planejamento em saúde.

Parágrafo Único. A formação do Enfermeiro deve atender as necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento.

Art. 6º Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Enfermagem devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em enfermagem. Os conteúdos devem contemplar:

I - Ciências Biológicas e da Saúde – incluem-se os conteúdos (teóricos e práticos) de base moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos, aplicados às situações decorrentes do processo saúde-doença no desenvolvimento da prática assistencial de Enfermagem;

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II - Ciências Humanas e Sociais – incluem-se os conteúdos referentes às diversas

dimensões da relação indivíduo/sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença;

III - Ciências da Enfermagem - neste tópico de estudo, incluem-se: a) Fundamentos de Enfermagem: os conteúdos técnicos, metodológicos e os meios e

instrumentos inerentes ao trabalho do Enfermeiro e da Enfermagem em nível individual e coletivo;

b) Assistência de Enfermagem: os conteúdos (teóricos e práticos) que compõem a

assistência de Enfermagem em nível individual e coletivo prestada à criança, ao adolescente, ao adulto, à mulher e ao idoso, considerando os determinantes sócio-culturais, econômicos e ecológicos do processo saúde-doença, bem como os princípios éticos, legais e humanísticos inerentes ao cuidado de Enfermagem;

c) Administração de Enfermagem: os conteúdos (teóricos e práticos) da administração do processo de trabalho de enfermagem e da assistência de enfermagem; e

d) Ensino de Enfermagem: os conteúdos pertinentes à capacitação pedagógica do enfermeiro, independente da Licenciatura em Enfermagem.

§ 1º Os conteúdos curriculares, as competências e as habilidades a serem assimilados e adquiridos

no nível de graduação do enfermeiro devem conferir-lhe terminalidade e capacidade acadêmica e/ou profissional, considerando as demandas e necessidades prevalentes e prioritárias da população conforme o quadro epidemiológico do país/região.

§ 2º Este conjunto de competências, conteúdos e habilidades deve promover no aluno e no enfermeiro a capacidade de desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente.

Art. 7º Na formação do Enfermeiro, além dos conteúdos teóricos e práticos desenvolvidos ao longo de

sua formação, ficam os cursos obrigados a incluir no currículo o estágio supervisionado em hospitais gerais e especializados, ambulatórios, rede básica de serviços de saúde e comunidades nos dois últimos semestres do Curso de Graduação em Enfermagem.

Parágrafo Único. Na elaboração da programação e no processo de supervisão do aluno, em estágio curricular supervisionado, pelo professor, será assegurada efetiva participação dos enfermeiros do serviço de saúde onde se desenvolve o referido estágio. A carga horária mínima do estágio curricular supervisionado deverá totalizar 20% (vinte por cento) da carga horária total do Curso de Graduação em Enfermagem proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.

Art. 8º O projeto pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem deverá contemplar atividades

complementares e as Instituições de Ensino Superior deverão criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos, adquiridos pelo estudante, através de estudos e práticas independentes, presenciais e/ou a distância, a saber: monitorias e estágios; programas de iniciação científica; programas de extensão; estudos complementares e cursos realizados em outras áreas afins.

Art. 9º O Curso de Graduação em Enfermagem deve ter um projeto pedagógico, construído

coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem. Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência.

Art. 10. As Diretrizes Curriculares e o Projeto Pedagógico devem orientar o Currículo do Curso de

Graduação em Enfermagem para um perfil acadêmico e profissional do egresso. Este currículo deverá contribuir, também, para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural.

§ 1º As diretrizes curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem deverão contribuir para a inovação e a qualidade do projeto pedagógico do curso.

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§ 2º O Currículo do Curso de Graduação em Enfermagem deve incluir aspectos complementares de

perfil, habilidades, competências e conteúdos, de forma a considerar a inserção institucional do curso, a flexibilidade individual de estudos e os requerimentos, demandas e expectativas de desenvolvimento do setor saúde na região.

Art. 11. A organização do Curso de Graduação em Enfermagem deverá ser definida pelo respectivo colegiado do curso, que indicará a modalidade: seriada anual, seriada semestral, sistema de créditos ou modular.

Art. 12. Para conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem, o aluno deverá elaborar um trabalho sob orientação docente.

Art. 13. A Formação de Professores por meio de Licenciatura Plena segue Pareceres e Resoluções

específicos da Câmara de Educação Superior e do Pleno do Conselho Nacional de Educação.

Art. 14. A estrutura do Curso de Graduação em Enfermagem deverá assegurar: I - a articulação entre o ensino, pesquisa e extensão/assistência, garantindo um ensino

crítico, reflexivo e criativo, que leve a construção do perfil almejado, estimulando a realização de experimentos e/ou de projetos de pesquisa; socializando o conhecimento produzido, levando em conta a evolução epistemológica dos modelos explicativos do processo saúde-doença;

II - as atividades teóricas e práticas presentes desde o início do curso, permeando toda a formação do Enfermeiro, de forma integrada e interdisciplinar;

III - a visão de educar para a cidadania e a participação plena na sociedade; IV - os princípios de autonomia institucional, de flexibilidade, integração estudo/trabalho e

pluralidade no currículo; V - a implementação de metodologia no processo ensinar-aprender que estimule o aluno a

refletir sobre a realidade social e aprenda a aprender; VI - a definição de estratégias pedagógicas que articulem o saber; o saber fazer e o saber

conviver, visando desenvolver o aprender a aprender, o aprender a ser, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e o aprender a conhecer que constitui atributos indispensáveis à formação do Enfermeiro;

VII - o estímulo às dinâmicas de trabalho em grupos, por favorecerem a discussão coletiva e as relações interpessoais;

VIII - a valorização das dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno e no enfermeiro atitudes e valores orientados para a cidadania e para a solidariedade; e

IX - a articulação da Graduação em Enfermagem com a Licenciatura em Enfermagem.

Art. 15. A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar concepções curriculares ao Curso de Graduação em Enfermagem que deverão ser acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento.

§ 1º As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos

curriculares desenvolvidos, tendo como referência as Diretrizes Curriculares.

§ 2º O Curso de Graduação em Enfermagem deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence.

Art. 16. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Arthur Roquete de Macedo

Presidente da Câmara de Educação Superior

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ANEXO 2

GRUPOS FOCAIS

GRUPO FOCAL 3º ANO

Moderador: Vamos dar início ao nosso encontro. Pessoal, agente começa, com a seguinte questão: Qual é a motivação responsável pela escolha do curso de enfermagem pra vocês? Est 01: Bom Moderador vou dar início, (...) a motivação que me levou a escolher o curso de enfermagem, na verdade eu acho que desde pequenininha eu já tinha algo que me puxava para área de saúde. É em 94, 97 desculpe-me eu passei no concurso da prefeitura aqui do município pra trabalhar na área de saúde, atuei por 09 anos na secretaria municipal, é, estou afastada hoje, afastada entre aspas, porque estou a disposição do município enquanto eu possa retornar minhas atividades, e lá sempre atuei na área de saúde, eu trabalhei com o SIM, SINASC, mortalidade e nascimento, trabalhei com o SIS pré-natal, trabalhei com o SIS hiperdia, hipertensos e diabéticos, já trabalhei em programas de vacinação, que é o PNI, e tudo isso só foi me fortalecendo cada vez mais pra área de saúde, né, e veio também a proposta do PROFAE, com o movimento do Ministério da Saúde, um programa desculpe, e assim pra capacitar auxiliares de enfermagem, posteriormente técnicos de enfermagem, e eu fiz o curso de auxiliar de enfermagem pelo PROFAE, não consegui vaga para o técnico, mas me esforcei bastante e fiz particular pelo CIACAPES, mas sempre com o intuito de procurar cada vez algo mais. Veio a proposta da universidade pra Santa Cruz, com o curso de enfermagem, e eu disse pronto agora é minha vez, não tinha como atuar lá fora, porque tendo em vista problemas familiares, tendo em vista emprego, porque emprego não se deixa do dia pra noite, até porque o vínculo empregatício com o município, e assim, eu disse se é da vontade de Deus, ele vai me dar esta oportunidade, e a oportunidade veio e eu hoje estou aqui no curso enfermagem, estou satisfeita, gosto muito da minha turma, estou gostando muito dos professores, principalmente do curso, e eu estou me realizando, enquanto futura profissional, que já sou profissional, embora de nível médio, mas virá oportunidade de nível superior, se Deus assim permitir. Est 02 (5:15”) Bem é, eu, quando eu, quando eu tava prestes a, no pré-vestibular né, tinha aquela coisa de não saber o curso, e aí eu procurei um apoio psicológico no meu colégio, e aí aqueles testezinhos, mais eu não, não, tive essa primeira conversa com o psicólogo, mas eu não cheguei a fazer o teste, desisti, porque como eu gostava muito da disciplina de história, eu resolvi fazer história, só que aí, conversando com uma tia minha, que na época fazia medicina, ela perguntou porque que eu não iria pra área da saúde, porque que eu não, se eu nunca havia despertado a área da saúde. E desde pequenininha, eu tinha uma coisa na minha cabeça, é, qualquer coisa menos hospital, qualquer emprego menos hospital, porque o ambiente hospitalar me incomodava, de uma certa forma, também não sei se foi porque, a questão da saúde em relação a minha família, assim, foi muito forte, o que eu passei com minha mãe, eu queria qualquer coisa menos a saúde, só que nesta conversa com a minha tia, e essa minha tia é tia mais nova da família, a idade é muito próxima, a nossa, é a pessoa que eu tenho com espelho na minha família, então assim, é, eu naquela época com meus 17 a 18 anos, ouvir dela aquilo, o que ela tinha pra mim dizer, eu vi que eu não poderia dar um não a ela, ela falou um pouco da medicina, só que eu disse que não queria a medicina, e aí ela falou a respeito da enfermagem, resolvi fazer o vestibular pra enfermagem, não passei, e no mesmo ano que eu que fiz o vestibular, eu fiz o concurso pra técnico de enfermagem da UFRN, eu passei no técnico, e aí eu disse assim, o técnico você tem um ano pra prestar o técnico, e assim se eu gostar, eu continuo, se não, eu não continuo, fiz, cheguei a fazer um ano e meio de técnico, e assim me realizei, né... é, hoje eu não me vejo fora da enfermagem, é o que eu quero, é o que assim, me apaixonei mesmo pela profissão, e assim, pelas vivências que como estudante, do que os pacientes me passavam, mas assim, principalmente pelos meus professores, porque eu tive os melhores professores no técnico, assim eu olhava neles, eles chegavam pra dar aula com os olhos brilhando, falavam da relação deles com os pacientes deles, das experiências vivenciadas, e aquilo ali sim, me despertou ainda mais pra enfermagem e pra docência, porque eu tenho isso pra mim, eu quero a enfermagem e eu vou lutar pela docência, tudo em questão pelo meu técnico, pela experiência que tive no meu técnico. Est 03: O meu caso com a enfermagem começou ainda no alojamento conjunto, aqui do HUAB quando eu nasci, segundo meu pai (risos) né, ele disse que quando foi ver mainha, eu tava lá no berço, ai ele disse essa menina ainda vai voltar pra cá um dia, como profissional de enfermagem, porque meu parto foi feito por um enfermeiro obstetra, aí se passaram vários anos e eu com uma quedinha também por história, é ciências sociais, e uma boa adolescente problemática que era, queria fazer psicologia, fiz vestibular, passei pra psicologia, só que antes de cursar desisti,

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adolescente né, aí disse vou fazer pra ciência da computação, porque meu ex-namorado fazia, a oportunidade de ficar mais perto, fiz passei não cursei. Aí começou, eh, sei lá um resgate, de algumas influências que eu tive durante toda minha vida, minha família tem alguns profissionais de saúde, mas não de enfermagem, e eu disse porque não enfermagem, né, aí surgiu a oportunidade, vestibular pra federal de Campina Grande, curso em Cuité, tava abrindo, e eu disse vou fazer, é, antes de fazer esse vestibular pra enfermagem, meu pai queria me mandar pro internato, éh, judaico, na Bahia, que lá você faz o ensino médio e logo depois você adentra automaticamente como técnico de enfermagem, ensina as meninas a cuidarem das pessoas, só que aí graças a Deus eu passei pra Cuité, na época foi maravilhoso, porque além de passar pra um curso de saúde, a família ficou toda feliz, é, eu passei com 15 anos e alguns meses, então bastante felicidade, numa edição do vestibular, que eram 17 pessoas pra uma vaga, foi escândalo, assim foi muito bom, só que aí eu sentia muita falta da minha família né, num estado diferente, numa cidade diferente, não conhecia ninguém, tive que fazer uma rede de relacionamentos toda nova, sentia muita falta de voltar pra cá, aí UFRN, né, surgiu aqui também, disse vou fazer pra Santa Cruz, fiz passei. No início do curso senti dificuldade em algumas disciplinas, é tanto que vocês sabem que eu não sou dessa turma, né, quer dizer não era, mas vocês trataram por me adotar aqui, e agora eu me sinto da turma, e depois do segundo período eu fui começando a engrenar novamente, depois do terceiro já tava tudo bem e hoje em dia eu sou maravilhada com o curso, é, as experiências com os professores, tipo eu ficava pensando: meu Deus eu adoro pediatria e descobri que eu amo obstetrícia, que eu amo várias coisas que a enfermagem trabalha e auxilia as pessoas né, e eu estou plenamente realizada, assim como a minha colega Est 02 também pretendo ingressar na docência, mas sem destacar-se da enfermagem, da ideia central da enfermagem que é o cuidado. Est 04: Pronto no meu caso também, eu tenho essa história familiar que me fez chegar aqui. Tenho minha mãe que foi secretaria de saúde lá em Lajes, meu pai tem uma farmácia, assim vou falar só daqueles mesmos mais próximos, tenho um tio que era farmacêutico e o meu esposo por ser médico. Então assim eu me via totalmente centrada na área da saúde, não tinha como arranjar outro espaço, realmente eu sempre tive aptidão pela área da saúde, sempre sabia que era aquilo que eu queria fazer, mas eu não pensava em fazer enfermagem. Eu tinha outros sonhos, mas as circunstâncias me fizeram chegar até aqui, e assim muito feliz por ter feito enfermagem, muito feliz por conhecer toda a turma, apesar de ter chegado a ter alguns conflitos internos, que me fizeram até ter trancado algumas matérias do curso e tentar fazer vestibular novamente, não deu certo, mas assim eu acredito muito que a enfermagem tem muito a contribuir, tem muito a contribuir até mesmo pra o meu papel na sociedade, e assim eu pretendo permanecer, eu sou fã da minha turma, gosto dos meus professores, adoro todos mesmo, e eu tenho assim um grande sonho, que se der tudo certo que eu possa continuar e assim como as minhas colegas eu também tenho vontade de ser docente. Est 05: Na verdade assim, eu nunca tive uma paixão pela enfermagem, porque assim no ensino médio a gente, a pessoa vai meio que sendo embolada pelo que a turma vai dizendo, vai falando, todo mundo vai querendo fazer a mesma coisa na verdade, seguindo amigos ou seja a questão de amizade, e na verdade chegou o terceiro ano e eu não sabia bem, direito o que eu ia fazer, mas também, é, pelo assim, não sei nem como, o motivo assim concreto por ter botado a enfermagem no primeiro vestibular, mas botei, sabia que já não ia passar, porque não tinha estudado tanto, suficiente, é, fui no próximo ano, fiz vestibular, tentei vestibular de novo pra enfermagem, mas uma vez não passei, é, fazia cursinho durante o dia, mas, é porque... (fala emocionada com inicio de choro). Foi assim, cada vez eu sabia que, procurando saber o que realmente a enfermagem fazia, depois do primeiro ano eu fiz vestibular, e eu fui me interessando pela área né, fiz o segundo vestibular não passei, fiz o terceiro vestibular não passei também (choro), ai gente se quiser pode (silêncio) e a cada vestibular era muito complicado pra mim, porque tem a questão dos pais, toda a questão da família, fica todo mundo pressionando em cima de você, quando foi no quarto ano de vestibular eu resolvi que ia trabalhar, então começar a trabalhar no comércio em Caicó, mas assim sempre chegava a noite, chegava tarde em casa, cansada e ia estudar, pra ver, tentar né, mas uma vez a decepção, não passei, quando foi no último ano, eu disse realmente eu não vou estudar mais não, eu tô cansada, tô exausta e trabalhando ainda, não fiz cursinho, as vezes que dava pra estudar, estudava as matérias mais que eu achava que eu sentia dificuldade, e (choro), quando foi no quinto vestibular, foi o ano que realmente eu passei, graças a Deus, eu não sei se é porque todo ano eu botava pra Natal e tinha que ser aqui em Santa Cruz, não sei o que era, botei pra santa Cruz, é, graças a Deus passei, e fiquei com medo por saber, que não sabia o que me esperava aqui em Santa Cruz, mas mesmo assim vim, com forças, sabia que ia ser difícil pra mim porque sempre vivi com meus pais, ia ser difícil a questão familiar, mas.... Quando eu comecei a faculdade eu fiquei em dúvida, se era realmente o que eu queria, eu pensei, passei esses anos todinho tentando pra enfermagem, e chegar aqui, é, se não saber se era isso que eu quero, e quando foi nos primeiros estágios, nos primeiros estágios na

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verdade eu prometi que antes disso eu gostava tanto da enfermagem, mas foi nos primeiros estágios que eu comecei a me identificar, pela questão de, sei lá, pela convivência com as pessoas, eu saber o que cada pessoa tava sentindo e eu podia cuidar, sei lá, não sei bem o motivo, mas sei que a partir desse momento foi quando eu comecei a me identificar mais com enfermagem. Est 06: Bem, acho que como as meninas já falaram eu também, logo no terceiro ano eu fiquei meio que na dúvida, eu gostava muito de história, gostava um pouco dessas disciplinas da área de humanas, só que também tinha um encanto enorme pela área da saúde, seja lá qual fosse, eu não sabia qual escolher, meus pais também tem a maior coisa, assim, achava lindo eu queria um filho meu que fosse da área da saúde, aí sei que ficava, eu ficava sempre em dúvida, em fazer psicologia ou fazer algo que envolvesse a área da saúde, mas sei que sempre minha tendência foi pra, pronto, todos os meus vestibulares que eu fiz foi pra área da saúde, não especificamente enfermagem. Tentei o primeiro, não passei, o segundo também não, aí no terceiro eu fiz pra cá, e passei. No início eu fiquei assim, não, vou cursar, vou ver no que dar, se eu vou gostar realmente de enfermagem, e depois também nos estágios, que começou realmente os estágios, eu me vi gosto muito de enfermagem, é isso mesmo que eu quero, me identifiquei muito, também gosto da minha turma, dos professores também. Est 07: Bem, no meu caso já a escolha pela enfermagem foi complicada, principalmente pelo meu terceiro ano, que toda vida eu fui um aluno muito bom, mas quando chegou no terceiro ano eu comecei a jogar tudo pra cima, né, os meus estudos, foi bem difícil porque junto ao terceiro ano eu também tinha o cursinho, e no final das contas eu me sentia muito saturado, e uma coisa que me frustrou bastante foi também, o de o ano todinho eu me preparar pra uma coisa, pra um determinado curso, e chegar na hora de decidir mesmo, conversando com minha mãe e com minha vó, que é até então quem morava comigo e quem pagava minhas contas e quem consequentemente mandava em mim, elas chegaram e por questão financeira, é, disseram que eu ficasse aqui por Santa Cruz mesmo, e eram três cursos, no caso fisioterapia, nutrição e enfermagem, que eu não via como curso assim que eu queria seguir como carreira, infelizmente, frustrado também, tive que fazer o vestibular, né, e continuei estudando, assim bem, bem solto mesmo sem querer mesmo fazer o vestibular, até ia fazer só mesmo pela questão de vontade dos pais, não tinha ânimo nenhum pra fazer, só que chegando perto do vestibular e vendo todos meus colegas estudando começou a bater um peso na consciência e um medo de ficar pra trás, né, pensar que poxa todo mundo vai passar e eu vou ficar aqui pra trás, meus colegas vão tudo na faculdade já e eu vou passar outro ano no cursinho, e pensando também em toda questão da família também né, que sempre pega no seu pé, no meu caso era a bichinha da minha vó, pegando no meu pé dizendo que eu não ia passar, mas até aí tudo bem, e chegando na última semana, comecei a pelo menos revisar o conteúdo, né, já que tinha tido uma base pelo menos boa, o problema foi só no terceiro ano, e fui fazer o vestibular bem tranqüilo, né, porque tem muita gente assim, né, tipo nervoso, passando mal mesmo, toda a questão de pressão, por um lado eu até achei isso bom essa falta de pressão, por fazer a prova um pouco tranquilo, e nisso deu certo, eu acredito que o fato emocional foi mais forte do que realmente eu tava preparado, do eu tinha estudado, e passei, passei numa colocação até razoável, e assim, entrei no curso muito frustrado, a frustração continuou, não queria de jeito nenhum, vinha pra cá como se fosse pra fazer alguma coisa, pra não ficar desocupado, só que assim ao passar do curso e do tempo, felizmente chegou o quarto período onde a gente pode ter o primeiro contato de fato com a enfermagem, que é semiologia, e também como já foi citado aqui, é os professores daqui eu acho que foi fundamental nessa construção, do meu ponto de vista como enfermeiro, né, eu acho que vem realmente atuando como enfermeiro, foram professores maravilhosos, que tiveram todo paciência, e que a gente vê realmente que é um espelho, é uma pessoa a ser seguida né, então, a parti do primeiro contato que eu vi realmente de fato né, o que é a enfermagem, e graças a Deus né, poder ne identificar com o curso e também hoje eu posso dizer né, que eu não me vejo sem a enfermagem, isso é o que eu quero, e que hoje eu tô bem satisfeito mesmo. Est 08: Bom, não tão diferente como a maioria das pessoas, eu também no meu terceiro fiquei naquela, ai meu Deus eu vou ser o que quando crescer? Aí fui por eliminação, pensei na parte de humanas, engenharia e vi que eu não queria, aí fui pra parte biomédica, e dos cursos da biomédica o que mais me chamou atenção foi realmente a enfermagem, disse aí vou ser enfermeira, mas aquela coisa só tinha 17 anos, eu não sabia se era realmente o que eu queria, mas disse, já que tenho que fazer uma coisa vou fazer, fiz vestibular, passei no meu primeiro vestibular, cheguei aqui em Santa Cruz, eu nunca tinha saído de perto dos meus pais, eu nunca tinha saído de perto de nenhum familiar meu, de repente eu me vi morando sozinha com amigos, nem eram amigos porque as meninas com quem eu vi morar eu nem conhecia elas, conheci no dia que a gente ia começar a morar. No começo foi meio difícil, claro, é tanto que a adaptação continua, em espaço diferente, porque faculdade é totalmente diferente de colégio, e era o que eu era totalmente acostumada, chegar no colégio com

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colegas num sei que, e aqui não eu conheci personalidades diferentes, as pessoas da minha turma nem todas eram da mesma faixa etária que eu, culturas diferentes, culturas diferentes, então, eu tive que me adaptar, mas graças a Deus eu fiz a escolha certa, hoje eu tô consciente que é a enfermagem que eu quero, e tô adorando a minha vida de hoje, tô totalmente adaptada. Est 09: Bom pessoal eu acho que minha vida é assim mais parecida como a de Luiz, eu nunca tive nenhuma relação mesmo com minha mãe, eu fui criado pela minha vó, meu avô e meu pai, é, aquele jeito, né, você sabe que o povo diz que quem é criado pela avó é mimado, né, é eu sempre fui escoteiro, e o presidente dos escoteiros tinha uma republica em Natal, nunca quis nada saber com os estudos, nunca estudei na minha vida até a oitava série eu nunca estudei, perdia aula, perdia prova, perdia tudo, mas também graças a Deus eu nunca fui reprovado, você sabe a resposta, né, o porque. Fui com quatorze anos pra Natal, estudar lá, é, passei quase cinco anos da minha vida lá, e em um ano eu ia ver minha família eu acho que duas no máximo três vezes eu ia pra Apodi. Ficava em Natal o não todinho, eu acho que foi a época mais difícil da minha vida, assim, em relação a dificuldade, tristeza mesmo, eu já cheguei a ter estresse tão grande, de chorar, querer sair correndo, querer ir embora, querer voltar pra casa, mas fui criando forças, fui criando vários laços lá em Natal, até que um dia assim várias pessoas moravam comigo e oito homens, várias pessoas passavam mal, a gente ia pro hospital, ia, e eu ia sempre pelo fato de eu não pagava republica, eu ajudava e eu sempre tava acompanhando essas pessoas no hospital, e ficava e via, eu olhava muita essa parte de biomédica, eu sempre gostei também, mas eu via o tratamento dos médicos com as pessoas, eu queria ser médicos inicialmente, era o sonho ser médico, mas, como eu via o jeito que eles tratavam os pacientes assim, aquela indiferença, aquele fato de não olhar nem no olho, de não falar direito com a pessoa, e sempre tinha um enfermeiro assim, ou técnico de enfermagem, que eu via que se importavam mesmo com aquele problema, com aquela pessoa, e, até meu terceiro não sabia também, se era realmente isso que eu queria, gostava muito de engenharia, mas não sabia nada de matemática, e sabia muito biologia, física, química eu gostava muito e sabia mesmo, aí foi que Anoelista falou comigo, minha mãe até aí nada, nem mandava dinheiro, nem nada, pagava tudo pra mim lá, a escola era uma pessoa que não tem nada a ver com a minha família mesmo,e, eu fiz enfermagem pra cá, minha mãe, foi aí que a minha mãe entrou, ela disse pra que você vai fazer pra lá, não é pra você fazer pra lá, que era pra eu voltar pra Apodi, que não era pra eu ir pra mais longe, minha vó ela só, a única coisa que minha vó queria era ver alguém da família entrar numa faculdade e se formar, que até hoje ainda não tem né, ninguém formado na família dela, e fiz enfermagem pra cá, também, sem saber o que me esperava aqui, não conhecia ninguém, vim, só mesmo, assim solitário, sem conhecer ninguém, e aqui estou gostando mesmo assim, é uma área que eu vejo que tem o que me oferecer, tem o que me ensinar cada dia mais. Est 10: Já eu ao contrário de meus colegas eu sempre quis, foi sempre um sonho meu a enfermagem, sempre vinha na minha cabeça pensando no terceiro ano fazer o que enfermagem, primeiro vestibular fiz, não passei, aquela expectativa toda, só quem realmente no terceiro ano, só eu e uma colega minha, que realmente minha amiga até hoje, que a gente fez, prestou vestibular, somente nós duas, então era aquele sentido dos professores, tudo mais, mas fiz não passei, fui para o segundo vestibular, fiz enfermagem, aí passei né, nesse segundo vestibular passei né, vim aqui pra Santa Cruz, foi realmente muito difícil no início do curso, realmente quis desistir no primeiro período, mas aí tinha minhas primas que faziam enfermagem e diziam, não Est 10não é assim, não é no início do curso que você vai ver realmente o que enfermagem, você vai ver somente aquelas disciplinas básicas e tudo mais, mas pra frente que vocês vão ver, você vai ver, nos estágios você vai conhecer realmente a enfermagem é isso aí, que ali eu tinha sei lá, eu fiquei muito decepcionada, queria desistir, botei na cabeça vou desistir, era aquele desestimulo tão grande que realmente só a minha família pra dar apoio naquele momento, mas fui, e realmente hoje estou aqui na enfermagem, e realmente eu vejo que isso que eu realmente quero pra minha vida, a profissão que eu quero seguir por toda a minha vida, é essa realmente, me dedicar e cuidar das pessoas. Est 11: É, como a maioria falou né, a minha escolha do curso se deu no ensino médio, é, eu não tinha conhecimento de nada, é, de nada mesmo, assim, de área, que área escolher, tive contato com duas meninas que hoje é, Hércilla que estudou aqui e Thalita que é professora da gente, elas deram aula lá na escola onde eu estudei, como professora substituta, foi meu primeiro contato com enfermagem, mas também não sabia o que queria, quer dizer até sabia, queria direito, só que por condições financeiras não tinha como eu ir estudar em Natal, até consegui um bolsa de direito, mas não pude ir, minha vó, pra me tirar daí, porque só mora ela e meu avô, aí pediu pra mim ficar aqui em santa Cruz, porque só tinha ela e ele, não iam viver sozinhos, é, fiz o primeiro vestibular pra enfermagem, não consegui, e também sabia que não ia passar, porque não tinha estudado, a falta de preparo mesmo do ensino, do ensino, é, de escola pública, não prepara os alunos pra passar no vestibular, fui, aí fui passei no processo seletivo pra o cursinho global, ia assistir as aula, segundo os meninos eu era

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bagunceira, é, estudei mais ou menos, eu mesma digo que eu passei no segundo vestibular que eu fiz sem estudar, mas assim, revisava em casa, e tal, mas não considero que eu estudei realmente, não fiz cursinho como as outras pessoas, tinham condições de pagar, assim, eu nunca tive condições de pagar, é. Na minha família não tem, pelo menos da parte da minha mãe não tem ninguém formado, o pessoal parou na quinta série, sexta série, ninguém quer nada com nada, e também não tem o incentivo da parte deles pra continuar estudando, eu nunca tive, quando eu dizia pra minha vó que eu não queria ir pra escola, porque eu tava doente, morrendo de preguiça dizendo que eu tava doente, mas eu não tava mesmo não, ela dizia fique em casa, mas eu como sou teimosa ia, só porque ela dizia que eu não fosse eu ia, é, da parte do meu pai tem médico, tem fisioterapeuta, nutricionista, tem uma pessoa, uma gama de pessoas que tem curso superior, só que nunca tive incentivo, meu pai nunca quis saber de mim, é, até hoje é uma dificuldade muito grande pra mim manter no curso, porque eu acho assim, você se manter no curso ganhando uma mesada de cem reais no mês, pra você tirar xerox, é, alimentação, muitas vezes não dá tempo de eu ir pra casa, porque eu mora longe, pois a pessoa sair da faculdade pro Paraíso à pé de dose e meia, e voltar de um hora pra assistir aula, é meio complicado né? Mas assim no começo do curso eu não gostava como as meninas falaram, que foi meio difícil, eu odiava, meu Deus do céu não é isso que eu quero, eu queria direito, num sei o que, mas fazer o que, só que com o passara do tempo eu comecei a gostar, e, vou continuar né, no curso, gosto do curso, pretendo seguir docência, até, eu acho assim que eu não tenho muito jeito, mas é o que eu quero, e com isso eu sei que eu posso tentar me adaptar e conseguir ser uma boa profissional. Est 12: Bem, a princípio eu sabia que eu queria um curso da área da saúde, mas só sabia disso e gama de cursos da área da saúde a gente sabe que é muito ampla, aí vem chegando o ensino médio, vem se aproximando a época de prestar vestibular,e a época difícil, que é a época da escolha né, porque você vai prestar vestibular pra uma coisa que você vai seguir carreira pra o resto da sua vida. Lá em casa eu nunca tive muita pressão quanto a isso, minha mãe sempre me deixou muito a vontade pra mim fazer o que quiser, pra mim passar, ela me ajudava, me estimulava a estudar, mas ela não ficava naquela obrigação de tem que estudar e tem que passar esse ano. Chega terceiro ano, chega todos os deus colegas eu quero direito, eu quero medicina, eu quero “fono”, e você naquela dúvida, você vai fazer o que, e eu queria a área da saúde, mas não sabia o que. Na turma, assim, na turma, minhas amigas nós éramos cinco e cada uma que quisesse um curso diferente, nenhuma queria nada igual, a única pessoa que tinha convicção que queria enfermagem era Juliana, que é formada já né, bem foi com o passar do tempo fiz o primeiro vestibular pra fisioterapia em Natal, passava na primeira fase, na segunda fase não passava, como alguns daqui que acabou de falar agora eu tive que trabalhar, trabalha, e durante o dia e estudava à noite. Falar de família é muito complicado porque é separado painho e mainha, (silêncio), e ele nunca me dava incentivo, mas foi isso assim que me motivou, (silêncio), a querer sempre mais. Quando chegou a época do segundo vestibular aí foi que eu mudei da fisioterapia pra enfermagem, eu não me identificava muito, e, não me identificava muito com a fisioterapia. Fui criada por mainha, vovó e vovô, que morava os três e eu, sempre tinha aquela coisa de doença já, do idoso, trombose vovó teve várias, foi diagnosticada com Alzheimer, teve AVE, tinha cardiopatia; só meu avô que era mais saudável; aí minha mãe começou hipertensão, problemas de doenças e eu sempre acompanhava, porque só eu né, chegava no hospital a frustação pela falta de informação, não tinha informação, chegava em casa não sabia como cuidar, como fazer nada, ou seja, ficava de mãos atadas , ia fazer o que, não tinha muito o que fazer né, então pronto foi que decidi que era enfermagem que eu realmente que eu queria; fiz vestibular passei, assim como muita gente quis desistir, mas aí eu acho que é coisa que acontece, desespero, adaptação, pronto e hoje estou aqui, realmente é isso que eu quero, é minha paixão, é minha vontade cuidar, é minha vontade de fazer a diferença, de fazer diferente do que eu via. Pronto é isso. Est 13: No meu caso eu não gosto muito de compartilhar coisa da minha vida com ninguém assim, sou, prefiro guardar problemas, algumas situações mais pra mim. Sendo que, com relação a escolha do curso, incialmente não foi uma escolha minha, foi uma escolha pela minha família, inicialmente queriam que eu fizesse fisioterapia, porque pelo menos falaram que um profissional formado nessa área que tinha condição de, digamos assim gerar uma boa renda e viver bem né, mas depois se desiludiram com isso porque sabiam que tinha que ter o que, um recurso maior, pra montar uma clínica e as oportunidade geralmente pro interior que tem pra essa área são poucas, e pediram pra eu fazer enfermagem né, então tudo bem, estudei, passeio terceiro ano estudando no início depois foi só naquele banho maria, aí passei, digamos assim foi uma alegria grande, mas, eu quase senti um peso porque digamos, não necessariamente era o que eu queria, eu não tava certo se eu queria a área da saúde né, mas ao mesmo tempo o que me motivou, tipo foi ver meus pais tendo o que outro filho dentro da faculdade, assim já estavam muito feliz por causa da minha irmã, que já tinha passado e tava gostando bastante do curso, então pra mim, o que me motivava era ver essa alegria deles, e tipo

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assim ter trabalhado, se esforçado, coisa que eles não tiveram e tá fazendo de tudo pra dar tudo ao filho né. Começando o curso chega toda incertezas, dúvidas, se eu ia gostar, se eu realmente ia, se digamos assim, futuramente eu poderia ter condições de cuidar de alguém, se eu seria responsável pra isso, e ao passar do tempo fui conhecendo o curso e de certa forma ia gostando, mas ao mesmo tempo ia me decepcionando, porque ficar sempre naquele conflito comigo sem saber se ia continuar o curso, se realmente ia gostando, será que realmente vai dar certo, e muitas vezes gerava o que discussão, isso em casa, alguma brigas e no final toda vida eu ficava desestimulado, porque não sabia se alguém queria, ao passar do tempo, pegando semiologia, a parte das técnicas, eu comecei a gostar um pouco mais do curso, e, mas ainda eu vejo agora, assim, naquela incerteza, não tenho certeza se é realmente o que eu quero, sei que não vou desistir do curso, vou continuar, já tô na metade, porém não tenho aquela certeza, se vai ser aquilo que eu quero pra mim, tenho dúvida se eu vou ainda ser um bom profissional, tem certas áreas que eu sei que me identifico, sei que eu tô atuando bem na área, já recebi alguns elogios por isso, mas assim, não tenho certeza se é isso que realmente eu quero, se vai valer a pena, pra mim digamos se eu conseguir trabalhar bem e constituir uma família, assim, até agora tô no curso, mas digamos assim, não é um curso que eu diria que eu amo, mas assim, tem certos aspectos que eu admiro e outros que eu repudio, mas por enquanto tô

continuando aí, pode seguir.

Est 14: Bem, é, como muitos aqui eu não gostava de enfermagem, não era o que eu queria pra mim, eu sempre quis um curso da área da saúde, todo mundo já sabe aqui qual era, e não era enfermagem, só que por motivos superiores eu não tive como fazer esse curso, aí como se deu minha vontade de fazer enfermagem. Bem, no primeiro ano, no terceiro ano é, tinha aquela história de isenção pro vestibular, e quem não conseguisse tinha que pagar a taxa de cem reais, e na época meu pai não tinha cem reais pra mim dá, pra mim fazer o vestibular, e eu não fui isenta, então eu terminei meu terceiro ano, mas também não foi complicado porque na minha sala só teve um menino que fez vestibular, porque algumas fugiram com os namorados, outras engravidaram e por aí vai, outras foram trabalhar no comércio aqui em Santa Cruz e ninguém se interessou em estudar pra prestar o vestibular, no ano seguinte eu fiz um cursinho, eu ainda não sabia o que eu queria, eu sabia que eu queria um curso da área da saúde, mas eu não sabia qual era que eu ia colocar, e já tinha a faculdade aqui em Santa Cruz, e meu pai ele não deixava eu fazer em outro canto que não fosse aqui em Santa Cruz, e então, é, quando começou as inscrições eu liguei pra meu irmão, que até hoje é tudo na minha vida, e eu perguntei Tilino eu faço pra que, eu coloco fisioterapia ou enfermagem?Aí ele disse coloque enfermagem por que fisioterapia precisa fazer uma clínica e você vai demorar muito e num sei o que, coloque pra enfermagem, tudo bem coloquei pra enfermagem e continuei estudando, no final do ano antes deu prestar vestibular, eu tinha um professor e esse professor olhou pra mim e disse que eu não tinha condições de passar no curso de enfermagem par aqui pra Santa Cruz, e isso me desmotivou bastante, isso eu carrego comigo até hoje, até porque ele convive comigo diariamente aqui na faculdade e então nesse ano eu realmente não passei, e todo mundo lá de casa ficou muito desanimado, dizendo que se eu tivesse estudado mais eu tinha passado, principalmente meu irmão, e aí eu tentei fazer pra UERN, cheguei a fazer a inscrição, mas quando foi no dia de pegar o cartão de inscrição meu pai não deixou, porque ele disse que eu não saía aqui de Santa Cruz, tudo bem, fiz novamente outro cursinho, passei no cursinho da UFRN, aí fiz dois cursinhos ao mesmo tempo e no sábado eu ia pra Currais Novos, passar o dia em Currais Novos pro aulão, que tinha em Currais Novos; as vezes no sábado eu não tinha onde ir almoçar, mas aí ficava eu e mais uns três amigos lá pelas bancas da feira de Currais Novos rindo atoa até começar a aula de tarde, e eu só chegava em casa no ônibus que chegava aqui de nove horas da noite, as vezes nove e meia, morta de cansada, mas não ia dormir por que eu ficava estudando até uma hora, porque eu não queria mais decepcionar meu irmão, que era tudo na minha vida, nesse ano eu passei, passei numa colocação muito boa, né, é, por, pelo destino no dia em que eu fui fazer minha inscrição esse professor que disse que eu não passava no curso de enfermagem foi quem fez minha inscrição, e pelo fato deu ter, não queria o curso, de meu irmão ter me dito faça enfermagem, comecei o curso rejeitando, que eu não queria mesmo, só que eu nunca pensei em desistir, não pelo fato que eu não quisesse desistir, mas porque ou que eu ia dizer em casa?, olhe não quero mais não, não vou fazer mais isso não, e aí, tive alguns problemas dentro da minha turma, o que me gerou muitas, muitas angustias, principalmente dentro de casa, mas eu tive o apoio da minha mãe, do meu pai e do meu irmão. Tô no curso até hoje, gosto do curso, faço outro curso à noite, não sei como, não me pergunte como, mas eu faço outro curso à noite, trabalho no final de semana, gosto do curso, vou levar, vou terminar se Deus quiser, e é isso. Est 15: O que motivou para a enfermagem foi situações vivenciadas e o exemplo de pessoas que estiveram ao meu lado, no papel de enfermeiro, principalmente,uma pessoa que me motivou bastante. Pode utilizar nome? A enfermeira Jussara da Liga Norte-rio-grandense do Rio Grande do

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Norte, nas primeiras seções de quimioterapia pra o linfoma de Hodgkin, é, ela foi uma das pessoas que estavam sempre ao meu lado e antes de chegar lá eu tinha vivenciado por outros momentos de hospitalização, outros momentos em que eu não tinha tido o contato como aquele, com a enfermagem, é, ela me mostrou algo parecido ao que o colega falou que foi aquele profissional da saúde que tava no momento da sua maior fragilidade, e que veio e que olhou nos meus olhos, diferentemente de outros profissionais da saúde, que você tá ali só, só é mais um na pergunta a ele né, antes da escolha do curso também passou algumas dúvidas na minha cabeça, se realmente eu ia conseguir fazer o curso e exercer a profissão, até porque na época que eu imaginava que chegaria ele, eu não tinha certeza se eu ia ter saúde pra chegar, antes dele eu tinha feito um curso de nível superior, que foi o curso de zootecnia, por influências da família, eu me vi aqui na época dos meus dezesseis anos, muito parecida com meus colegas da sala nesse momento, naquela época eu segui por um curso pra agradar inconscientemente o meu pai, meu pai era um agropecuarista da cidade, agricultor, toda a família é dessa área, e eu me sentia bem no cuidar, cuidar de animais, e associei duas coisas, uma era viver perto da família e outra era fazer algo que agradasse a ele, mas em outro momento da minha vida que foi depois do curso de zootecnia, depois de um casamento, filho, complicações pós-parto, doença, o câncer, talvez quem sabe um pouco mais amadurecida acredito eu, parei de pensar no que seria bom para o outro, pra que agradar ao meu marido? pra que agradar ao meu pai? Pra que agradar a, não eu vou agradar a mim mesma, se é isso que eu tenho vontade e graças à Deus eu tenho o recurso, quem tá aqui sabe que posso, eu não passei por situações como alguns colegas citaram, graças à Deus nunca faltou comida, é, sempre tive livro nas minhas mãos, não passei por aperreio, nunca precisei fazer cursinho, terminei segundo grau fui direto pra faculdade;no dia em que decidi fazer o segundo vestibular que foi esse pra enfermagem, fiz passei também numa boa colocação, não tinha pego num livro, acho que, como diz a colega é Deus mesmo que diz vá pra lá, é seu caminho, quando entrei no curso entrei com uma vontade muito grande até mesmo porque antes de chegar aqui, aqui na instituição federal e por saber que eu queria, eu já tinha tentado fazer o curso numa particular, na privada, por acreditar na época que não tinha capacidade de entrar numa federal, como que u vou entrar numa federal, quase doze anos sem estudar nada, o pessoal aí sabendo tudo de informática, eu não sei nem pra onde vai o computador; quando entrei na privada eu saía daqui quatro horas da manhã, entrava na faculdade, assistia aula, chegava duas horas da tarde ia dar atenção à filho, à marido, estudava, não queria voltar, até que eu também como a colega conheci uma estudante aqui da FACISA, que também hoje já é formada, que é Priscila Dayana, e Priscila Dayana disse porque que você não tenta pra UFRN? Venha faça esse ano, você consegue, num é isso que você quer, eu disse é, é isso, vou fazer, não custa nada tentar, inscrição, pra alguns é muita coisa né? E aí então fiz. No início do curso vinha com todo gás e todo ânimo, foi uma vitória muito grande, eu estar na minha cidade, estar fazendo o curso que eu decidi, depois de muito pensar, de muitas situações vividas, por não querer agradar a ninguém, até porque se eu quisesse agradar a alguém eu teria que fazer medicina, porque a influência ao meu redor é pra que fazer enfermagem, se tem a capacidade de ser médica? Depois de tantos médicos na sua família; te gente num sei aonde na Espanha, tem gente num sei aonde em São Paulo, vá também, você pode, eu disse tá, mas eu não quero, não me sinto bem, é, a minha vontade é essa, foi aquele profissional, aquela situação que eu quero vivenciar, que eu quero passar pra outro; não, mas vai ganhar pouco, eu disse tá não quero ganhar pra enriquecer, eu quero ganhar sim, todo mundo aqui provavelmente, em algum momento pensou no salário da enfermagem né, quase ninguém falou, mas existe esse fator também, é, depois dentro do curso eu já vivi situações diferente dos colegas em relação aos professores, vou ser bem honesta, isso é algo que a gente não tem que tá escondendo nada, é, eu tanto conheci alguns professores dentro da instituição que não me passaram aquele exemplo de enfermagem que eu tinha visto, como também conheci professores que sim, que quando eu olho pra aquele professor, pra aquela professora me dar um motivo de me levantar e de voltar pra instituição, continuar e dizer assim, eu vou me formar e vou fazer isso, porque é isso que eu realmente quero, e vou conseguir; teve várias situações vividas, tanto de convívio com a turma, como de situações de saúde, como situações de relacionamento, como, que vieram assim, meio que pra ser uma pedra pra mim passar, e que eu venho passando, venho passando; tenho o apoio de algumas pessoas aqui de dentro, que me dizem não, você vai conseguir, porque você não vai conseguir? Eu consegui,você também consegue; digo é; então o motivo real realmente foi esse, foi de no momento de muita fragilidade, aquele profissional, dentre tantos pelos quais eu passei, acho que em média vinte e dois profissionais, tem gente que eu nem lembro do rosto, nem, mas eu sei que passei por eles, foi a noção que me despertou, me despertou é, eu vou fazer isso, é isso que eu quero. Por mais que tenha tido alguns momentos de dificuldades e questionamentos, esses questionamentos surgem todos os dias, eu acredito que, eu acredito na capacidade do ser humano de mudança, de questionar e de voltar atrás, se arrepender, é, eu acho que nada é muito rígido, muito, tudo deve ser, tudo pode ser

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flexível. Nos momentos em que algumas disciplinas, enquanto uns acreditavam que ali sim é que gostaram da enfermagem, o interessante é que foi o momento em eu parei pra pensar se realmente era a enfermagem que eu ia poder atuar, que foi no período dos estágios, a maioria aqui dos depoimentos falaram que antes dos estágios não sabiam se era a enfermagem que queriam, quando chegou nos estágios foi que passaram a perceber que era ela que queriam, eu por incrível foi ao contrario, eu vinha querendo , querendo, querendo, antes dos primeiros estágios me bateu aquele medo, aquele medo, e por inúmeras situações vividas, por ver a situação da saúde, a situação em que a gente vai se inserir, se eu tenho realmente a capacidade de trabalhar na assistência, que é algo, que meu sonho foi trabalhar na assistência, que me fez duvidar se realmente eu vou poder, a docente eu não pensava tanto, não pensava na docência, e pra poder tá na área, talvez seja uma possibilidade sim, se a assistência não for possível. Hoje a minha dúvida não é a enfermagem, é em que campo da enfermagem eu vou ficar, eu sei que é nela, eu só não sei se vai ser a assistência, gerenciamento, as dúvidas hoje são outras, mas que é a enfermagem eu sei que é. Moderador: Ok, interessante é que a gente conseguiu fechar o ciclo, né, bem interessante, principalmente porque começou com Est 01 né, e fecha com Est 15 que assim, no caso, são as duas mais velhas, né, da turma,rsrsrsrs, né, passando por diversas situações né, que, assim repercuti um pouco, né, da motivação de você estarem aqui, né, e aí tem outra questão que a gente faz, certo, que é o que, é hoje a gente conhecendo as nossas motivações de vocês, mas a gente quer saber também o seguinte, fora essas motivações que trazem vocês aqui, as influências que trouxeram, a gente quer sabertambém o seguinte, é, que experiências vocês vivenciaram antes de entrar no curso de enfermagem? Certo fora as que vocês já falaram, experiências que vocês tenham em outras atividades certo, em outros momentos da vida de vocês, né, e como é que elas se incorporam hoje aqui dentro da academia? Est 04: Quando eu passei no vestibular, tinha passado pra começar no segundo semestre, então eu me sentia inútil em casa, ociosa, sem ter o que fazer, aí minha tia é secretaria de assistência social, em Lajes e eu pedi pra ser voluntária do PETI, que é o projeto de erradicação do trabalho infantil, e era assim, pra mim foi uma experiência marcante, foi assim, primordial, até mesmo eu acho contribuiu tanto assim pra minha formação moral e intelectual também, o meu ser social, foi perfeito, porque aquele momento que eu passei lá, é tanto que no final eu fui quase expulsa, porque eu pedi pra ir pra lá, só que começaram a, eu tava gostando tanto que as pessoas achavam que eu tava com um vínculo empregatício, mas não eu estava lá como voluntária, por achar que eu estava com vínculo empregatício quiseram me expulsar, mas eu praticamente ia sair, mas assim foi uma experiência que me fez gostar ainda mais da pediatria, que me viu assim, a criança, eu pude olhar pra ela de um modo holístico, mesmo, ver ela como um todo, desde da, do aspecto da saúde, como do aspecto social que levaram a ela está lá, o cuidado em si que a gente precisava ter, desde a higiene, é, até mesmo da alimentação, no, tudo que tava envolvendo ela, que como a gente ver até os aspectos que pudessem trazer maus-tratos, sejam eles físicos, sexual, e a gente deveria está atento pra tudo isso, então, foi o que me levou ainda hoje gostar tanto da pediatria, que influenciou bastante. Est 03: Então, as minhas experiências é, antes da academia estão muito relacionadas à religião, né, como você sabem meus pais eles são judeus, judaicos cristãos, e desde três anos de idade eu canto na igreja, que eu conduzo algumas atividades, já exercia vários cargos quando eu era da igreja, de departamento infantil até departamento de saúde, já foi minha, eu nem sonhava com a enfermagem ainda, e assim como meu colega Est 09, eu participei de um clube que parece muito com os escoteiros, só que o enfoque é religioso, que é o clube de desbravadores; no clube de desbravadores eu fui a criança mais condecorada do, que o clube já teve, tipo ganhei dois concursos norte-nordeste de conhecimentos gerais, então tinha várias medalhinhas; era uma criança super disciplinada, não era essa bagunça que vocês conhecem hoje; e com nove anos de idade eu já conseguia falar pra um público de 500 pessoas, que foi o camporí que teve em Natal, eram 500 pessoas na plateia, um concurso de oratória era por faixa etária, então, você subia pronto, crianças de Natal, de Recife, de todo lugar e fazia uma oratória de 30 minutos, eu me dava super bem nessas coisas, e essas experiências elas contribuíram imensamente com o meu desenvolvimento dentro da academia, essas experiências pós-academia junto com a religião e junto com o clube de desbravadores. Est 01: Bom, é uma das experiências que eu achei bem marcante, é que quando eu ainda criança, eu estudava ali na Escola Isabel Oscarlina Marques, hoje uma escola tida, é escola estadual, na época eu era criança e criança você sabe corre de um canto pra outro, sofre um acidente e tal, e tinha uma quadra de esportes que ainda tem até hoje nessa escola, e de repente naquela correria criança vai, criança vem, é, eu tomo uma pedrada no nariz, bem forte, né, que a pedra surgiu, não sei de onde, mas ela surgiu e assim deu hemorragia nasal na hora e era muito sangue, na época existia um postinho de enfermagem,voudizer assim posto de enfermagem, quem fazia atendimentos era filho, um rapaz conhecido por Wendel, filho do pastor,não lembro mais o nome do pastor da assembleia de

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Deus, não lembro mais o nome dele, mas agora ele não mora mais em Santa Cruz, já faz tempo, e ele quem me prestou os primeiros-socorros e tudo aquilo foi encantador, naquele momento de perca de sangue, mas assim, aquilo foi muito encantador pra mim, e ali foi me marcando, marcando, eu achando aquilo tudo muito interessante, mas veio um fator que foi muito primordial,e assim, como Est 04 falou, foi a questão do voluntariado, segundo momento já que me marcou, é, existia uma época na secretaria, praticamente não existia secretaria de saúde, alguns anos atrás, era, tudo era só prefeitura, tudo, a secretaria de educação, de saúde se resolvia na prefeitura, é, na época eu não era funcionária pública ainda, e quando ia haver campanhas de vacinação as pessoas eram convocadas pra trabalhar como voluntárias, assim como são convocadas pra Justiça Eleitoral, e eu achava tão bonito trabalhar na área da saúde que eu não era convocada, eu ia de oferecida, inclusive várias vezes eu fique aqui no posto da maternidade, com a técnica Nena, que era ela quem fazia as vacinas, e eu ficava no registro, né, foi um fator também que me marcou muito. E o terceiro foi que houve uma época que praticamente eu morei dentro do hospital, acho que Est 15sabe, minha mãe só vivia doente, ainda vivi até hoje, e assim, praticamente eu morava, inclusive um médico, que ele já é falecido, ele chegou uma vez brincando com a gente e disse só ta faltando agora duas coisas na vida de vocês duas, é trazer a geladeira e o fogão pra cá, que era pra o quarto do hospital, era brincadeira dele, praticamente assim, conhecido da família, uma pessoa muito boa, é, e assim, é marcante, foi sofredor, porque eu já cheguei à dormir em chão, forrava a toalha e dormia, foi muito sofredor, mas assim, eu passei quase toda minha vida. Est 02: Professor são experiências que eu vivi antes que também contribuíram pra eu ta no curso, né? Est 02: É assim, a minha versão hospital veio no momento em que eu estava na escola, eu era pequena e a esposa do meu avô chegou no taxi pra mim pegar, e eu não sabia porque eu tava saindo mais sedo da escola, e aí no caminho ela disse que minha mãe tava sentindo muita dor de cabeça e precisava ir pra Natal, aí ela veio foi me pegar na escola pra eu ver minha mãe, mas quando eu desci do taxi, quando entrei no hospital vi minha mãe deitada numa maca, e os profissionais tudo correndo com ela, e eu ouvi na hora em que a enfermeira disse assim: “a UNIMED já, a UNIMED já contratou, entrou em contato com o taxi aéreo, o taxi aéreo pra pegar ela, porque na condição, se ela for de ambulância ela não resiste, ela não consegue chegar em Natal.” Então assim, foi a única experiência que eu vivenciei e vou disser, eu acho, eu acho que foi o que me fez a ter pavor de hospital, porque foi meu único contato; antes de chegar a procurar esse ambiente com profissão, foi assim, o único, a única vez que eu fui internada na minha vida, foi com 14 anos por causa de infecção intestinal, eu fique desidratada, mas devido ter plano de saúde as condições do hospital que eu tinha era uma das melhores, apartamento, não tinha pra que ter esse trauma, mas ver minha mãe ali e eu sem entender nada, você saber que sua mãe tá prestes a morrer, você nem puder falar com ela, e eu com num sei quantos anos eu tinha muitas conversa com minha mãe porque dói muito, eu nunca perguntei a minha mãe o que ela teve, nunca tive coragem pra perguntar a minha mãe o que ela teve, e sabia que, pra você terem noção,minha mãelaparotomia exploratória,ela tinha uma cicatriz aqui na barriga, e eu uma vez tomando banho com ela, eu perguntei se era por ali que eu tinha saído, e ela disse que não foi quando ela ficou dodói ela teve que abrir, porque a família dela, assim, até hoje eu espero profundamente ter a oportunidade de conversar com minha mãe saber o que foi que aconteceu, mas foi esse momento que marcou pra mim. Est 15: É, eu tive algumas experiências relacionadas à família, é, eu tinha uma aversão à política, meu pai ele foi candidato a prefeito duas vezes aqui no município, uma de 88 e uma de 96, é, eu tinha uma aversão por politicagem, então foi algo que influiu bastante em alguma coisas, uma das questões era as pessoas falarem que eu tinha um dom da oratória, acho que é por que eu gosto de falar de mais, eles notavam porque eu não iria pro direito, mas, eu disse assim não porque até no direito me via, me via meio que muito política, digamos assim. Depois no curso de zootecnia eu tive momentos muito bons, muito bons, porque foi justamente na idade da turma de hoje, agora assim, na faixa de 20 anos, é, viajar pra outros estados, participava de congressos, de eventos, o que hoje me faz até muita diferença, porque hoje me faz pensar e ver realmente o que que é importante eu, pra onde é importante eu ir quando eu faço uma escolha pra um congresso, algo assim, que naquela época a gente ia mesmo pra farra né, ia botava o nome lá no congresso e passava o dia passeando, visitava Fortaleza todinha, voltava e recebia o certificado. É, quando Est 01 falou da história do voluntariado pras campanhas de vacina, depois eu tava lembrado que, eu tava até esquecida disso, eu tinha acho que 6 anos, algo assim, 6 ou 7 anos, eu saía também em campanha mesmo, vestida de enfermeira, aquelas enfermeiras toda de vestido branco, com um chapeuzinho, uma cruz vermelha na cabeça, com um bebê do lado, andando na cidade, junto com o Zé gotinha fazendo a propaganda da campanha da pólio, acho que engraçado o Zé gotinha, é, então de certa forma eu participei de campanha, sem saber que estava participando, mas assim, é, situações, situações de vivências de

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doenças também na família, não, já um apouco mais velhas, não na idade de Est 02, como ela disse que era bebezinha, saiu da escola,ma já em outros momentos, um pouco mais centrada assim, né, por conta da idade também, de passar assim, horas na porta de uma UTI, esperando por alguma resposta, é, de taaqui distante, de ficar com as mãos atadas, aguardando a hora que o médico vai falar com a gente, pra dizer o que é que ta acontecendo, a cada hora vamos dizer assim, a cada seis horas uma mudança de boletim, uma notícia que seu pai ta de determinada forma depois ta de outra, é, de um dia pro outro o quadro se agravava, de um dia pro outro o quadro melhora, situações parecidas como a de Est 01 de ficar sentada numa cadeira, como essa aqui durinha, a noite toda ao lado do pai, um pai que passou por um momento financeiro, onde em que em certo momento ele era considerado um dos homens que tinha omaior poder aquisitivo de toda região, e depois ter perdido aquele poder aquisitivo, e se submeter a situação de tá em uma enfermaria, numa ala mista, superlotada, sem um lençol pra cobrir-lo, vivenciar a entrada do hospital que ele foi à Brasília trouxe os recursos, conseguiu a construção, e chegar ele infartado, chegar assim pro enfermeiro e dizer esse hospital aqui quem trouxe fui eu, e ele disse o que é que eu tenho com isso? Essa é uma porcaria, aí eu fico assim pensando, pelo menos política eu sei que é uma coisa que eu quero, eu vou passar bem longe, talvez se ele tivesse dito que foi o primeiro médico a atender ali no hospital, ele tivesse sido reconhecido, né. É, e experiências próprias mesmos, próprias, um coisa que eu vou tentar evitar o máximo de fazer no momento em que eu tiver atuando na área da enfermagem é comentar determinadas coisas ao lado do paciente, porque eu não quero, no momento do meu parto tinha uma técnica de enfermagem ao meu lado, onde no momento da punção da minha veia, eu já tava sofrendo a algumas horas, eu já tinha sido mandada de Santa Cruz pra Natal, e ela comentava ha você é a número tal, que eu tô puncionando hoje, aqui ao lado aquela menina ali tomou um remédio, tá botando o menino pra fora, o menino vai morrer, ai vai morrer, vai morrer, não escapa não, e a outra tá na UTI, então quando eu pensei vou fazer enfermagem, mas eu vou tentar o máximo possível, porque foi um momento importante na minha vida em que uma pessoa da saúde comentou algo e que hoje depois que de tá na enfermagem, eu digo senhor tá vendo, eu tive que passar por isso pra saber,e ou momento também, outros são ligados à questão de casa, de família, é, o meu olhar dentro da sala de aula é diferenciado, em alguns momentos vou me ver como mãe, vou ter um olhar de mãe, por ter vivenciado situações em casa enquanto mãe, por alguns tipos de sacrifícios que a gente tem que fazer, tem momentos que eu penso assim, meu Deus como eu queria ter entrado nesse curso quando eu tinha 18 anos, onde mainha fazia o meu comer, painho dava a mesada, e a minha única preocupação do dia era chegar em casa estudar pra uma prova, mais nada, minha obrigação era essa, estudar pra uma prova, hoje é estudar pra uma prova pra mim é brinquedo, é diversão, por outras preocupações de vida, preocupações por questões financeiras também,por mesmo viver em situação boa, mas a gente sempre tem outros motivos, é, por situação de relacionamento com o marido, de vivencia, situações vivenciadas com a vó, vó doente, a vozinha, a voz que me chama por ser aquela que tá na área da saúde, até pra marcar um médico, primeiro ligam pra mim, as vezes ligam pra perguntar se eu sei o telefone do médico, então gente é isso. Est 06: Bem já no meu caso foi por causa das minhas duas avós, uma que eu muito pequenininha, minha vó paterna, ela tinha um problema, usava marca-passo, tinha problemas cardíacos, e ela morava em Natal e minha família em Caicó, então, eu gostava muito dela, até pelo fato das pessoas dizerem que eu parecia muito com ela, num sei o que, tinha todo aquele laço, e eu assim, mal ia pra Natal visitar ela porque meu pai trabalhava no supermercado, então a gente mal ia visita-la, até que um dia ela amanheceu morta, e eu muito pequenininha, chegou no dia do velório meu pai muito sério, muito sério mesmo, quando chegou, eu meio sem entender ainda, muito pequenininha, quando vi meu pai tava comigo assim, ele saiu e foi o fato que eu vi meu pai chorando, e foi aí que eu percebi que, vi minha vó, e também percebi que eu nunca, não tive a oportunidade de dizer a ela o quanto eu a amava, não pude fazer nada por ela, minha vontade de chorar também foi, também foi muito triste pra mim, marcou muito a minha infância, eu queria ter feito tudo por ela, é tanto que até hoje em dia nos momentos em que eu me sinto mais triste de quem eu lembro é dela, e pronto, e veio com passar dos tempos minha vó materna que eu gosto muito, ela passou por uns problemas também, de saúde muito graves, teve que vendar a casinha dela, que ela tanto amava, pra depois pagar, porque ela não tinha plano de saúde, assim, ela teve que vender pra pagar aqui o hospital, e eu vi, assim, todo o sofrimento dela, depois ela passou a morar lá em casa, porque nesse sofrimento dela saiu, ela mandou tudo lá pra casa, todo mundo já certo que ela ia morrer, aí ela até deixou lá uma lembrança pra mim, sei que dessa vez ela não morreu, e acabou voltando, ela passou, morou um bom tempo lá em casa, e assim, hoje ela tem 94 anos e ela vive dizendo assim, que, minha filha o que eu quero é ver você se formar, eu disse vó você vai ver, e eu vou cuidar de você, é por isso que as vezes o povo diz assim, há Kaká é carinhosa, Kaká é meiga, gente eu gosto muito de cuidar das pessoas, muito

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de, sei lá, talvez, seja até porque em casa eu não recebi tanto isso, é por isso que às vezes eu me sinto muito só, eu não quero pra mim, eu não quero pras pessoas o que eu não quero pra mim. Est 13: No meu caso, uma coisa que me fez continuar na área da saúde, e assim, me fez continuar no curso, e ao mesmo tempo me trouxe uma decepção muito grande, foi o fato de minha vó ter, quando ela morreu, e eu tava na escola, tava estudando, na época o terceiro ano, aí de uma hora pra outra, eu recebo uma ligação dizendo que vó tinha passado mal, e tava, tava em Natal porque tinha sofrido uma trombose, algum do tipo assim, aí eu fui; vó sempre falava comigo de, que já tinha visto Cayla na faculdade e o sonho dela era me ver em algum curso, não necessariamente na área da saúde, mas ela que ela sempre me via, dos netos, assim, falava que eu era muito carinhoso, e já namorava com Bibi, e ela sempre falava que eu tratava ela bem, fosse um bom esposo esse tipo de coisas, de ser uma pessoa boa e tudo; e eu tinha prometido pra ela que ela ia me ver dentro de uma faculdade, assim, como Cayla ia dar esse orgulho a ela, e quando eu soube que ela morreu, né, eu obviamente fique muito triste, sendo que quando eu soube lá que disseram que tinha aqueles procedimentos,né,de quando morre, retirada de sangue, quando eu cheguei lá, por mais que ela estivesse morta, mais parecia como se fosse um draga, eles falando que não tavam nem aí pra aquele, o corpo naquele momento,é como já tinha morrido não era mais nada, e aquilo ali me trouxe mais uma raiva que eu já tive, assim, em relação a área da saúde, e eu ver meu pai, tipo assim, ser como ele um cara forte, pra evitar sempre ter muito ressentimento dentro da gente, por esses momentos que a gente tava passando, meu pai disse agora é só se preocupar em estudar, muitas vezes a gente reclamarda vida que a gente tem, é difícil entender, a gente sai pra todo canto e às vezes não ligar com isso, e não ver o quanto a vida é realmente importante, e ver que triste assim, por mais que no início não era um curso que eu queria, mas eu sabia que, tipo, eu ia continuar no curso, porque eu não queria dar esse tipo de desgosto pra ele, mas assim, já que lutou tanto, fez de tudo, uma coisa que ele sempre queria, queria ter a possibilidade de ter cursado uma faculdade e ver um filho assim, tipo, não dar valor ao que tem, eu tipo, como é que você fala assim, ver meu pai com todo mundo, mas nunca cheguei pra ele assim, e agradeci pelo que ele faz por mim, ele e a minha mãe, e desde então, assim, desde tipo de coisa, eu percebo que eu não gosto do curso, o que sei, pode ser a maiordecepção da minha vida, mas eu vou continuar que eu sei que o que ele fez, ele fez tudo pra dar o melhor, infelizmente ele não teve condição no momento de pagar pra eu fazer um curso em Natal, mas ele sempre disse que eu tivesse paciência, eu fizesse o meu curso e quem sabe quando eu me formasse, e digamos assim, eu tivesse a oportunidade de continuar, e assim, esse problema que teve com a minha vó foi uma coisa que me motivou e que por mais que ela não esteja aqui presencial pra ver, mas quem sabe eu me formar, mas eu sei que tipo ela vai tá me vendo onde ela tiver, e no final eu sei que vai dar tudo certo. Est 10: Uma experiência não muito, que não foi boa, é minha mãe também, acho que nem, todo mundo, acho que quase ninguém aqui sabe, ela tem psoríase, que é um problema de pele, né, e acho que faz uns 10 anos que ela passou por uma crise muito grande, é muito difícil falar sobre isso, porque eu via quando o pessoal ia visitar e dizia não ela não vai resistir, ela vai morrer e num sei o que mais lá, muita coisa desse tipo, e eu tinha acho que 11 anos, por aí, por volta de 11 anos, e era eu, minhas duas irmãs e meu pai, e era só a gente realmente ali, pra tá ao lado dela, então foi uma experiência muito marcante mesmo pra mim, ver minha mãe ali todo dia, deitada numa cama, muito inchada e o corpo dela ficou horrível, parecia que era escamas na pele dela, todo o corpo, e ver assim, que o pessoal não dava o apoio, o apoio da gente era realmente da família, mas graças à Deus, porque eu sei que foi ele, que ela tá bem, as crises vão e voltam, mas não foi como aquela, marcante como aquela, mas ela tá bem, faz o tratamento, tem que tá fazendo exames direto, constantemente, a gente não tem plano de saúde, é realmente pelo SUS, meus pais são agricultores, é aquela dificuldade, acho que isso tudo só me incentivou pra tá aqui, e batalhar realmente por tudo

aquilo que eu quero e sempre almejei na minha vida. E é isso.

Est 12: Todo mundo só tá falando de experiências assim, ruins, então eu começar por uma experiência boa, meu caso de amor com minha mãe, é boa, isso é só emoção viu, assim, quem convive mais comigo sabe que ela é minha mãe, ela é meu pai, ela é minha amiga, ela é a minha paixão, bem, é quem eu na hora de dormir, é quem eu penso na hora de acordar, é quem eu penso quando eu penso em desistir de alguma coisa, é quem me motiva, é aquela pessoa que tá morrendo de sono, mas ela fica comigo, pra mim estudar, porque sabe que eu tenho que estudar e eu não posso dormir, é aquela pessoa batalhadora, que me ensinou muita coisa. Outra experiência que eu tive foi a experiência do trabalho, como muita gente sabe eu tive que trabalhar, sim minha mãe também é agricultora, tive que trabalhar em loja, tive que trabalhar vendendo, vendo tudo né? Boticário, Romanel, Avon, Natura, tudo, tudo, tudo, já vendi maracujá, com uma bacia na cabeça, do sítio da minha mãe, então a experiência que tenho é de sim, de vencer na vida, de ir atrás do que eu quero e lutar pelos meus princípios, e de mais uma vez fazer a diferença; e como Est 03 eu fui

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desbravadora também, só não tive tantos, tantas medalhas, nem tive a capacidade de falar pra 500 pessoas, as pessoas ficavam me empurrando, porque você é forte, porque você grande, campeonato de esportes vá você, tudo era eu, era mais com um empurram, eu tenho a experiência religiosa também, eu fui evangélica, hoje eu não tenho religião, mas eu confio em Deus, ele é minha religião, ele é meu ponto de partida, meu ponto de chegada, ele é meu tudo, pronto e é isso. Est 09: O meu assim, vamos dizer, eu pelo menos assim, quem conhece e quem vive movimento escoteiro, como Est 03 viveu os desbravadores e Est 12 também, sabe que é uma felicidade ver aquele, a gente pelo menos assim, no interior né, porque o da capital, a gente ver duas vivências totalmente diferente né, vamos dizer, porque pro lado de Est 03 é aquela pessoa que presa pela medalhada, que presa pelo distintivo e a gente não, a gente vive aquela, vive uma vida mesmo no mato, aprende mesmo a viver, a acender um fogo sem fósforo, a fazer um de espelho, a fazer um mmm de barro, e eu acho que assim, a gente faz coisa que a gente sabe vai se ferir, pode se ferir, mas que a gente faz por aquele alegria e aquele incentivo, vamos dizer assim de, mostrar que consegue, mostrar, de sempre se superar mais, assim, a gente faz acampamento de uma semana mesmo, a gente passa uma semana longe, a gente já foi pro Ceará, passou uma semana lá num sítio e vários outros acampamento, a gente passa uma semana longe de família, longe num dei de que, e um cuidando do outro e eu acho assim, que uma família, a partir dos 17 anos de idade é a minha família hoje, que eu conseguiria viver sem os escoteiros mesmo, ir a uma reunião, sempre que eu vou pra Apodi, Est 05 sabe que eu passo lá às vezes, quando eu vou pra lá pra passar um dia, que é o sábado, porque no domingo, se eu não voltar no domingo, na segunda, se for pra voltar na segunda eu perco aula, mas eu sempre vou pra reunião, encontro aquele tempo, vou pros acampamentos às vezes, e eu acho que isso é um incentivo muito grande assim pra pessoa crescer na vida mesmo, é uma coisa queensina muito mesmo. Est 05: Eu vou falar da experiência que eu tive na verdade não com nada de saúde,nem de doença, mas na verdade com o trabalho no comércio que eu acho que foi onde eu aprendi a conviver com o ser humano, que é uma coisa muito difícil, é, porque assim, quando a gente trabalha no comércio, Est 12 já trabalhou, tem gente que chega pra você e olha você ,assim de cima, você é uma coisinha lá de baixo, e eu, hoje eu viso comparar isso com, muitas vezes quando a gente tá no posto de saúde, quando outros enfermeiros chegam pra você, só que você é um simples estagiário, pra você já olhando de cima, e pra mim isso foi muito importante, porque a gente aprender a conviver com isso, aprender a saber lidar com essas situações, com pessoas que já trata você mal, acho que é isso. Est 15: A respeito do que você falou Est 05, por exemplo de situações que estão acontecendo aqui, a gente vai lembrando de outras, é, eu também tenho uma família e vivi no meio do comércio e realmente a gente tem que conhecer o ser humano, como é difícil lidar com o ser humano é muito difícil, na zootecnia a gente trabalhava com animais, há como é bom, com o ser humano é difícil, a relação, os preconceitos, a forma com que determinadas pessoas li abordam, né, e você saber lhe dar com isso, e aquilo, você ter vivenciado, eu digo, pode utilizar assim termos assim de Tv? Moderador (01:34:09‟) Pode. Est 15: Às vezes a gente vive parece um big brother, às vezes parece, fica umas turminhas pro lado, umas turminhas pro outro, e é interessante, porque como isso vez do nosso relacionamento social, em todos os lugares, na família, nos grupos de escolas, de escoteiros como diz Est 09, que contribui também, assim, pra nossa influencias aqui, é, assim, sobre pessoas olharem de cima e pessoas olharem de baixo, é interessante porque eu vivi parte da minha vida em Natal e parte em santa Cruz, e quando eu vivi em Natal o olhar de algumas pessoas era um e quando eu vim pra Santa Cruz era outro, porque em santa Cruz eu tinha minha identidade conhecida, e naquela época como eu disse aqui no começo, meu pai tinha um poder aquisitivo muito grande, e a, o tratamento realmente é diferenciado, aí quando você falou sobre ser um enfermeiro, ser um estagiário, realmente é meio parecido, e nos estágios é, eu passei por uma situação que foi como essa primeira, né, o constrangimento que ela tentou me por, enquanto estudante, no momento de estágio, e até assim, eu paro pra pensar quando estiver junto com outros colegas de trabalho, como é que vai ser, só assim, uma reflexão do futuro. Mas, naquele estágio a linguagem que ela adotou comigo e a, o falso que ela levantou naquele momento, é, me lembrou situações vividas anteriormente, e por eu ter passado por essas situações antigas anteriormente, até mesmo no meio familiar, é, eu consegui me manter tranquila e passei pela situação melhor do que se eu tivesse tido aquela situação antes, que foi ser julgada por algo que eu não fiz, na frente de outras pessoas, ter sido difamada, eu passei por situações de julgamento, de difamação, alguns anos atrás no meio familiar, que aquele sofrimento daquele tempo me serviu pra fortalecer e conseguir naquele dia, bendito dia, naquele estágio, ter me mantido calma, e não ter acontecido nada pior, pior seria se eu tivesse ido ao mesmo nível que ela, né, eram situações vividas anteriormente que influenciam hoje.

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Est 05: A vida no comércio começou que ave Maria, porque quando a gente aprende a lidar com o ser humano, já que é uma forma de aprender, e a gente precisa muito agora. Est 12: Agora as meninas falaram de olhar de cima e de baixo, e interessante que realmente a pessoa sente isso, não tem como não sentir que realmente quem trabalha em loja sente, e é, interessante que aquelas pessoas que lhe tratavam com indiferença na loja que sabe que hoje você faz enfermagem, ela lhe trata de uma forma diferente, e é fácil pra mim superar isso, que eu nunca me senti influenciada, talvez por esses olhares, eu me coloquei numa posição superior á deles, porque quando eu tinha 4 anos eu nunca lembro de muita coisa da minha infância, mainha fica frustrada porque eu não me lembro, mas eu lembro quando eu tinha 4 anos que eu ia pra escola e ela ia me deixa e por a gente ser de família mais humilde e eu tá em escola particular né, aí ela me dizia, antes de soltar minha mão disse, depois daquela porta você é igual a todo mundo, eu me lembro disso toda vida, e ninguém é mais, ninguém é menos. Est 05: Quando Est 12 falou que quando sabe que é da área de enfermagem, quando a gente, quando eu soube que tinha passado no vestibular, eu ainda tava trabalhando na loja e eu fiquei trabalhando porque passou 6 meses né, é, quando o povo chegava a própria dona da loja dizia ela vai sair, passou em enfermagem, o povo já era sabe, parecia que começava a tratar você de uma forma diferente, porque era outra coisa, outro patamar, parece, não sei, achei muito interessante. Est 15: E também tem o outro lado gente, o lado que você é discriminado porque você tem poder aquisitivo. Situações também que você passa por determinadas, por não ter tempo grande e o tempo que tem, tudo é estresse. Est 14: Eu tenho duas histórias que me marcaram, foram assim, bem marcantes, (silêncio), é Est 12 disse que, falou da mãe e tal, e eu tenho, sempre tive, acho que toda criança tem muito medo de perder pai e mãe, acho que todo mundo tem muito medo de perder pai e mãe, (silêncio), quando é criança tem mais, (comentários), hoje não, hoje eu tenho muito medo de perder meu irmão, aí todo mundo diz, há tem medo de perder mais seu irmão do que seu pai e sua mãe, gente claro minha mãe é tudo na minha vida, meu pai é tudo na minha vida, mas meu irmão, meu irmão é meu pai, é minha mãe, é quem liga de noite Janaína, às vezes ele liga de 10 horas, Est 14já tá dormindo, Est 14já tá estudando, é quem quando eu preciso de um conselho, duma coisa é ele quem me dar, quando eu preciso de qualquer coisa, ele Est 14tá precisando disso, tá precisando daquilo, quando ele quer um conselho a primeira pessoa que ele vem procurar é a mim, então assim, esse medo que se refletiu num dos estágios, foi quando eu era pequena, eu tava, eu me lembro na época de São João tinha aqueles negócios, que as professoras pegavam um desenho, né alguma coisa junina, vá pra casa pinte e traga na próxima aula, e todo mundo tava dormindo de tarde em casa e eu na cozinha pintando, eu me lembro do desenho, parece até que foi ontem, e quando eu desenhava eu escutei um grito do meu irmão por minha mãe, e eu fui olhar né, não imaginava o que era fui olhar, quando eu cheguei no quarto tava meu irmão desmaiado e minha mãe morrendo de chorar, meu pai só dizia Jairo, Jairo, e meu irmão nada, e quando minha mãe parou de chorar aí eu fiquei sem saber o que era e eu disse o que foi mamãe? Aí mamãe disse assim, vá ali minha filha e vá rezar por seu irmão, que seu irmão tá morrendo, e desde então, ele foi pro hospital, ele voltou bem, foi uma convulsão que ele teve, foi a única vez que ele teve, nunca mais ele teve, e quando foi no estágio de semiologia, é, por uma incrível coincidência eu fique com uma senhora que ela tava com a pressão muito alta e ela teve uma crise convulsiva, nos meus pés e quem tava no estágio comigo lembra que eu fiquei assim, que eu disse o que eu tô, o que é que tô fazendo aqui? Aí eu não sei nem, eu não sei gente, tava lá se debatendo e eu me tremendo todinha, eu não sabia o que eu ia fazer, né, tava lembrando do meu passado. Outra coisa que marcou me bastante na minha vida, foi porque, é, eu ainda tenho hoje, mas tive muita crise de faringoamidalite, are repentinas, crises repentinas, e eu sempre tomava a benzentacil, sempre papai me levava quando era de madrugada, às vezes eu perdia o sono, febre alta, papai me levava, aí eu tinha 11 pra 12 anos, papai me levou lá, cheguei lá, já sabia que, porque quando você toma, você já sabe pra que vai, passa só médico, mas você já sabe, lá vai tomei, você já toma com aquela confiança de que você vai ficar boa, você vai amanhecer no outro dia muito bem, e eu fui pra casa dormi, no outro dia eu não me mexia da cintura pra baixo, gente eu passei quase um ano, um ano sem me mexer da cintura pra baixo, e assim, imagine pra você uma criança de 11 pra 12 anos, que tem todo mundo na escola e você em casa de muleta, imagine aí como minha vó, minha vó usa uma muleta, eu só me imaginava como minha vó, e lá em casa hoje em dia era uma técnica, uma técnica de enfermagem que tinha aplicado a benzetacil de maneira errada, tinha pegado num nervo e tinha paralisado, não só uma perna, não sei como, mas tinha paralisado as duas, e assim, ninguém sabe como voltou, até hoje ninguém explica como eu voltei, hoje eu não tenho nada, eu não sinto nada, e tomo, mas assim, foi muito frustrante pra mim, todo mundo andava e eu não andava gente, é aquela coisa que você fica, gente eu quero andar, e eu quero sair, eu quero me levantar, e é isso.

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Est 08: Bom gente comigo aconteceram dois fatos bem marcantes com a mesma pessoa da minha família, essa pessoa é meu irmão; o primeiro eu tinha 10 anos de idade, ele 13, moleque né, brincando na rua, eu com minhas amigas ele com os amigos dele, e tavam mexendo com fogo, e meu primo tava com um vidrinho de álcool na mão, e jogou no fogo e o fogo foi pra cima do meu irmão, e na correria minha mãe gritou e eu fiquei lá paralisada, vendo meu irmão pegar fogo de repente, sei que meu tio pulou em cima do meu irmão, bateu nele com um pano e apagou, aí nessa hora eu não sei como, eu corri pra dentro de casa, abri a janela, abri a geladeira eu peguei todos os vidrinhos que tinha de água e comecei a jogar no meu irmão, sabe aquele ato involuntário, eu nem sabia se tava fazendo a coisa certa, não sei porque eu fiz aquilo, mas eu queria ajudar, é, também, meu pai começou a jogar e tal, e ele foi pro hospital, graças à Deus não teve nenhuma seqüela, fiquei cuidando dele, não saía do lado do meu irmão. Quando eu tinha, no dia do meu aniversário de 12 anos esse mesmo irmão, a gente tava na minha festinha do nada ele começou a soltar sangue por tudo que era canto, por nariz, por olho, por ouvido, ele teve hemorragia, eu também corri pra cima do meu irmão, eu não sabia porque tava fazendo, tava acontecendo isso com ele, aliás ninguém sabia, eu só sei que nisso, foi um fato que marcou muito, porque eu tinha 12 anos e minha mãe entrou em uma ambulância com ele e foi embora pra Natal e lá ficaram no Walfredo por mais de mês, e eu fiquei longa da minha mãe, do meu pai, longe do meu irmão, eu fiquei com minha vó, sendo que eu não entendia nada e ninguém nem me dizia, eu não sabia o que tava acontecendo com meu irmão e nada, depois de muita luta os médicos começaram a desconfiar que El tinha leucemia, e começaram a, colocaram ele na ala de leucemia do Walfredo, pra começar o tratamento de leucemia, sendo que um médico olhou e disse esse menino não tem leucemia, assim, e começou a explorar mesmo, o que ele, assim, resumindo ele, meu irmão tinha um tumor no seio da face, que é um tumor que o nome dele é angiofibroma, e num, eu sei que quando fizeram a cirurgia e olharam o tumor tinha 12 centímetro, meu irmão nessa época ele não respirava pelo nariz, era totalmente tampado, sendo que, como ele tinha os dentes muitos tortos, minha mãe achava que era por causa da dentição e também ele usava aparelho, justamente pra corrigir isso, sendo que não tinha localizado e o tratamento tava no início, aí foi, sendo que meu irmão ele sempre me marcou muito, porque 2 anos depois o tumor voltou e três anos depois tumor voltou e ano passado o tumor voltou demovo, então é uma coisa que vem me marcando sempre, é o estado de saúde do meu irmão, porque tudo com ele minha mãe já detecta, tudo com Tárcio é complicado, porque ele já vive tensa, quando eu vejo meu irmão doente eu já fico naquela expectativa, então foi uma coisa que sempre veio me marcando, desde os meus 10 anos de idade que eu venho tendo coisas Marcantes. Moderador: Nós vamos falar agora sobre o desenvolvimento do conhecimento então a partir do que vocês falaram sobre as vivências que vocês tiveram a gente quer saber como é que vocês vão construindo o conhecimento de vocês, ou seja, que elementos vocês trazem dessas experiências e outras vivências que possibilitam a construção do conhecimento. Est 02: É... vamos começar pra ver se eu entendi... a questão da... eu vejo assim, a forma como eu vou construindo o meu conhecimento eu sou muito pautada, assim, na determinação, às vezes a gente tá bem determinado a estudar, pra adquirir aquele conhecimento, mas às vezes falta a determinação e eu busco isso justamente na minha história de vida né, eu paro pra pensar às vezes quando eu tou com preguiça pra estudar e eu paro pra pensar o quanto o meu pai e a minha mãe estão fazendo por mim pra que eu esteja aqui e assim o quanto eles confiam em mim, então às vezes eu busco a determinação pra adquirir o conhecimento em cima disso, nas vivencias que eu tive e naquela coisa de que assim, eu quero dar o melhor pro meu pai e pra minha mãe, é em cima disso. Est 03: É...no meu caso eu creio que se eu fosse definir uma palavra que sustentasse e orientasse o meu desenvolvimento e intelecto estaria sendo á superação, porque eu venho de família pobre e de uma cidade mais pobre ainda, onde as meninas aos treze anos de idade provavelmente já têm seus maridos e já estão grávidas esperando seu primeiro filho e eu tive uma educação muito boa, apesar de meus pais eles terem só o ensino médio eles se esforçaram bastante para que eu tivesse uma educação muito boa, não uma educação didática, de escola mas uma educação de princípios, então é essa educação que eles me forneceram, ela me dá um suporte pra que eu sinta a necessidade diária de me superar, é... quando eu decidi que eu ia fazer o vestibular, todo mundo lá em JAPI, menina perda de tempo, eu não...vou tentar, vou tentar, ver se eu consigo me superar, se eu consigo ir mais além do que as pessoas acham que eu posso ir e dou certo e não foi o único obstáculo não foi passar só no vestibular, eu creio que assim como vocês, como meus colegas, eu tenho obstáculos diários, obstáculos meus e obstáculos externos a mim que precisam ser ultrapassados todos os dias e é nisso que eu me apoio, se eu não estou conseguindo uma coisa, vou lá, me esforço e quando eu vejo já deu tudo certo e já vem a próxima prova. Est 07: Bem, no meu caso foi o seguinte, eu toda vida desde a oitava série, do primeiro ano, segundo ano, toda vida eu gostei de estudar mas ai chegou o terceiro ano, o último ano de escola... você se

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sente aquela turma, né que no meio da escola tem direito a tudo, aí fui relaxando um pouco né, só que nesse meio tempo aí eu fui vendo todo mundo lá se esforçando dando o melhor e escutando algumas coisas em casa também - ah você não vai passar no vestibular porque você não estuda e aquilo de uma certa forma começou a me atingir e eu comecei a pensar... caramba tudo aquilo que eu já construi até agora... tudo que eu já fiz... tudo o que já me esforcei e deixar tudo passar e meus amigos vão tudo da prioridade como prosseguir né na vida e vão entrar no vestibular comecei a pensar também no investimento dos meus pais, que a minha mãe e minha vó tinham feito comigo também, de tá tirando o máximo, de tá pagando uma escola particular e eu comecei a pensar em tudo isso né... aí... e também escutar um pouco daquele incentivo que é meio assim, que muitas vezes funciona e às vezes não funciona... chegar alguém dizer a você, não vai conseguir que tipo me atiçando você mesmo a tomar uma atitude e foi o que aconteceu e a partir daí foi que eu comecei a despertar de uma certa forma, mesmo sendo o curso que eu não queria, que eu não tinha vontade, que eu não me via fazendo mas que de uma certa forma em pensar em tudo isso que eu já citei aqui até agora venho excitar e incentivar a tá construindo esse conhecimento e conseqüentemente né, tá aqui na faculdade. Acredito que foi daí que eu comecei a... que ajudou também a construção do meu conhecimento até aqui. Est 11: Bom, pra mim é um desafio, superação também é eu vim venho né, sou de família simples é humilde... é nunca tive é... apoio, apoio em si das famílias pra continuar estudando, sempre é o pessoal lá de casa diz assim quando as vezes eu tou aperreada com as coisas da faculdade homem deixe isso pra lá desista, abandone mas não eu sempre tou tentando é superar é desafiando tudo e a todos é pra continuar até porque é uma meta que tenho de conseguir tudo o que eu nunca tive pra da pra pra os meus filhos um dia quando eu tiver, se eu tiver né é. Est 09: Bom, eu, assim como Est 07eu fui criado pela avó né, minha mãe nunca... assim ela só quis saber de mim realmente a partir do tempo que eu fui morar em Natal, que eu tava lá no segundo ano que eu tava morando, segundo ano também da escola e os coordenadores da república eles diziam que eu pelo menos estudava, eu nunca estudei ate minha 8ª série nunca nem me interessei por estudo nem nada assim, mas a partir do momento que eu fui pra Natal assim quando criança mesmo13 anos, pra pessoa ir pra Natal ficar totalmente longe da família, fui e me estimulei mesmo assim pela ...por ver a necessidade que vovó tinha assim de ver uma pessoa da família dela formada e que ela dizia que eu era a última esperança né, que eu não tinha nenhuma...mas... e assim sempre tive incentivos dos amigos e da minha vó, minha mãe nunca teve muito incentivo e sempre o que eu busquei mesmo superação sempre aprender mais, passava de até duas, três horas da manhã acordado, dormir de madrugada na semana toda e tá madrugada ta acordando de 6:00 h da manhã pra ir fazer o café e na hora do almoço ta lá na república, fazer almoço e foi mais uma questão da superação e hoje é isso que tenho como base, a superação em aprender mais. Est 14: Bem, no meu caso foi eu tinha uma assim determinação e tenho até hj uma força de vontade graças a ao apoio da minha família, eu tenho apoio desde desde pequena de pai, de mãe do meu irmão é pra voltado para os estudos, então assim aquela coisa você vai estudar , você vai se formar vai ser alguém na vida, eu quero ver você formada e tal desde desde da época do ensino fundamental , ensino médio sempre sempre meus pais me me estimulavam a ler desde da das revistas da Mônica, eu me lembro quando toda vida que papai viajava trazia várias revistas isso aí é pra vc ler, vc vai ler quando terminar de ler você volta, ler de novo ler em voz alta, que é pra aprender a ler e é isso a minha força de vontade, minha determinação, minha coragem para estudar alguém disse porque eu lembro quando estou com preguiça como disse minha colega, eu lembro que eles estão torcendo por mim, eles estão confiando em mim, estão esperando que que eu consiga e é isso. Est 13: No meu caso o que me motiva a continuar estudando com relação mesmo depois da faculdade sempre ta procurando conhecimento foi o compromisso que eu assumi com meus pais né de saber que eles todo tempo tavam lutando pra conseguir as coisas pra mim e tipo dá esse prazer de ter outro filho na faculdade e por mais que eu não gostasse do curso, assim não encarar bem ainda o curso, mas tá conti continuando por por ter esse compromisso com eles né, tá sempre... tá sempre tipo agradecendo por ta agradecendo a oportunidade já já que foi tipo como se fosse não um acordo....mas foi uma coisa tipo como se fosse uma promessa pra eles poderem conseguido ter conseguido isso e continuar no curso . Apesar de eu não gostar tanto, mas cada cada vez que eu conversava com eles sempre dizia, apesar se eu não gostar do curso , mas se eu começar e passar o primeiro semestre, posso não gostar ou não, continuo, me formo, e quem sabe se tiver outra oportunidade, ingresso em outra faculdade, mas o que me motiva mesmo é tipo esse reconhecimento dos meus pais, ter esse compromisso com eles , já que eles trabalharam tanto pra mim ta aqui , então fazer por onde.

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Est 07: No meu caso tem mais uma coisa que eu esqueci de falar , até Est 09 falando me veio a cabeça também, que lá em casa apesar de tudo deu escutar um monte, mas eu também tenho que ter consideração com a pessoa que sempre me ajudou né, sempre teve tão ao meu lado que foi minha avó porque que nunca fui criado por pai e por mãe, sempre foi ela ajudando no meu futuro é então, nada mais do que justo do que futuramente da uma vida mais confortável a ela né, não só pra mim, como também pra os meus progenitores, mas também pra minha avó né que foi a pessoa que sempre fez por mim, sempre deu do melhor que ela pode dar né, é claro que ela pode dar, então. Eu acredito que nada mais justo é eu tá batalhando aqui agora me esforçando construindo todo esse conhecimento né que é como ela diz “estude que pra ser alguém na vida porque sem estudo a gente não tem nada”... então acho nada mais justo do que eu ta me esforçando aqui sei q ainda preciso melhorar bastante pra chegar a isso, mas pelo menos questão de forças né é vou ta batalhando aqui pra poder futuramente tá correspondendo ao que ela tanto deseja, né já que até então ninguém como ela sempre reclama ninguém dos filhos dela conseguiu fazer isso então estou-me aqui para tentar respondê-la. Est 12: Bem, lá em casa minha mãe sempre me incentivou me estimulou a ser como a minha colega de leitura de notícia, de jornal, de revista sempre teve esse incentivo mas tbm tem outra coisa que eu admiro porque sempre me deram escolhas, me deram meios, mas também me deram escolhas nunca tive essa cobrança, além de ser uma família humilde de superação, disso tudo mas nunca teve essa cobrança em cima de mim, eu tinha bem mais cobrança das outras pessoas, dos professores esperavam bem mais que eu espero então eu me cobro muito justamente por isso porque a que as pessoas esperam mais de mim e eu acho que eu não tenho capacidade, então eu acho que é por isso que devo me superar a cada dia com determinação, força e vontade. Est 08: Bom, o meu caso também não é diferente de Est 12... porque a minha mãe é professora ela sempre achou que é frase dela que educação é tudo, então ela não só comigo mas também com meus irmãos desde pequeninhos, a gente já presenteava livro, como ela professora de Matemática, a gente tinha que estudar a tabuada frequentemente, então lá em casa nunca teve essa lado de talvez eu não faça vestibular, talvez eu não me forme, não lá em casa não teve isso, o futuro da gente era se formar por obrigação ter pelo menos o ensino superior, então minha motivação mais é ela, porque ela sempre vem dizendo que educação é tudo, educação... educação..., então eu já me criei nisso. Est 10: Moderador, o meu conhecimento se deu assim por meio de esforço porque eu acho assim eu não me considero aquela pessoa inteligente só de pegar, ler e já gravar, eu não sou assim eu sou por meio do esforço realmente de ler pegar um texto e reler pra ver se vou conseguindo fixar os conteúdos e sempre foi assim, eu sempre fui aquela pessoa determinada e realmente em busca do que eu quero, dos meus objetivos e isso vem se construindo ao longo do tempo e também com apoio dos meus pais e da minha família como um todo, apesar de ter alguns até familiares dizendo assim Est 10é de escola pública e não, acho que aquela menina não vai passar no vestibular e cheguei, passei graças a Deus estou aqui né e pretendo terminar seguir até o final seguir essa profissão. Moderador: Vale lembrar que a participação é voluntária e também que quiser retomar alguma fala

também pode ficar a vontade.

Est 09: Assim, só pegando o gancho que a amiga Est 10falou a questão de aprender de aprendizagem em si, no meu primeiro, segundo, terceiro ano em Natal, tive que ler muito assim porque na minha primeira prova eu fiquei desesperado, chegando a chorar em sala porque eu não sabia nada das questões, não sabia nem começar a primeira palavra. E eu saí tiveram que chamar o coordenar da república e saí , não fiz a prova naquele dia. Com o passar dos anos só lendo, lendo, estudando, todo dia lendo, lendo, hoje em dia eu me vejo é totalmente diferente, ao ponto de eu ver o professor já dar uma aula e muita coisa eu já pegar aquela aula, não esquecer mesmo, lembrar e sempre puxar na memória e sempre vem, na maioria das vezes, assim hoje em dia eu quero estudar mais, mas não quero estudar tanto como antigamente, porque eu não tinha base, mas depois da base que eu peguei, hoje em dia pego com muita facilidade. Est 02: É, outra coisa que eu queria acrescentar que além da casa da família ser incentivo é... a própria profissão é um incentivo, né, pra mim porque o fato de ser da saúde, o fato de pessoas vão confiar no meu saber, no meu aprendizado, então isso também faz com eu procure mais ainda buscar mais ainda o conhecimento para dar um atendimento digno aquela pessoa, porque se eu me formei para atender ela naquela necessidade, então o mínimo que eu tenho que fazer, o mínimo, é saber como me comportar na necessidade dela, ao menos dar resolutividade, então eu acho que minha própria profissão, o que meus pacientes esperam de mim esse é um motivo para buscar ainda mais o conhecimento. Est 03: Eu queria adicionar um novo fato, a construção do conhecimento está bastante associada a afetividade e a criatividade, se o que eu estou me propondo a aprender não despertar sentimento ou não me chamar a produção, tipo dentre disso eu posso produzir, eu posso fazer isso, possibilidades

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de produzir eu tenho uma certa dificuldade de aprender. É por isso que eu creio que me dou melhor com professores que estimulam a minha capacidade crítica, que me estimulam de verdade, que só não me transmitem informações, entendeu? Me convidam a participar do processo, então o meu conhecimento ele tende a fluir melhor, eu tendo a produzir melhor na presença da criatividade e afetividade. Est 07: Eu também queria acrescentar outra coisa, depois que Est 02 falou, eu também comecei a pensar, que eu acredito assim que a maioria da gente aqui que entrou na enfermagem, que até então quando a gente pagava até o terceiro período apenas matérias básicas, a gente não via mais ou menos assim o que eu tô fazendo aqui, né? São coisas que a gente não tem a prática e a partir das vivências de ver o que é a enfermagem e começar aquela parte prática, começar estudar tudo aquilo e vem também a importância né que Est 02 falou: do nosso conhecimento e a gente cometer um erro a gente pode tá perdendo uma vida. É muito diferente de um curso de exatas, por exemplo, se você erra ali você ta errando um cálculo você passar a borracha naquele cálculo e refazer e acertar, nosso caso não, muitas vezes a gente pode ter a sorte de refazer tudo e dar certo, mas e aí se a gente perder uma vida por causa de um erro nosso? Eu acredito ainda que a gente tem a responsabilidade, além de tudo de superação, determinação a gente tem que ter responsabilidade naquilo que a gente vai ta estudando e adquirindo conhecimento né, pra poder lá na frente a gente ta empregando e fazendo o nosso serviço. Est 09: Bom, sendo pensada que a área da saúde ela não é uma receitazinha né? Você vai lá ver um paciente, num vai ter a mesma reação, cada paciente é uma reação diferente, a cada dia a gente vê que muda o que a gente aprendeu antes né? Que tudo está em eterna modificação para um total aperfeiçoamento e se a gente não for procurar um estudo e ter prazer como Est 03 falou pelo o estudo, pelo assunto, ou alguma coisa a gente não vai conseguir acompanhar essa evolução na área da saúde. Moderador: Ok. Mas assim continuando ainda essa questão que a gente vai percebendo o desenvolvimento do nosso conhecimento , né, é o que que a gente pode destacar como...é...elementos que venham a facilitar ou dificultar esse processo de desenvolvimento do conhecimento? Est 03: Facilidades e dificuldades, né? Moderador: É. Est 03: É...No meu caso né, eu tenho uma certa dificuldade em aprender quando o professor, no caso a figura do professor, quando o professor ele se porta de uma forma a se distanciar muito do aluno, entendeu? Numa numa posição hierarquicamente superior, quando eu sinto isso em um algum professor eu já tenho um certo ranço, já me afasto. Poderia até me interessar pelo assunto, mas o jeito do professor se portar às vezes me afasta e as facilidades é o que eu já havia falado na minha última fala né, quando o conhecimento ele provoca em mim é alguma associação afetiva ou é criativo ou até mesmo é como Est 07 havia falado, no início eu não via muita aplicação, sim eu tou estudando isso aqui pra que enfermagem hoje em dia com o avançar do curso a gente vai ampliando o olhar e vendo que tudo a gente aprendeu até o momento, ele de fato pode ser aplicado na enfermagem e de fato vai servir na nossa vivencia enquanto enfermeiros, então eu acho que essa capacidade de visualizar aplicabilidade a minha profissão facilita muito o aprendizado. Est 08: Bom, elementos positivos... eu acho que um dos elementos que me influencia mais é a vontade de ser enfermeiro, é a vontade de ser...aí você arruma disposição, você arruma coragem, você arruma determinação, basta você querer ser e um elemento negativo, eu acho que às vezes a gente querendo ou não, pelo menos comigo é assim, às vezes a gente acorda desmotivada, a gente não sabe se ta fazendo certo, se poderia sei lá, se eu tivesse seguido outro caminho não teria sido melhor, sei lá pelo menos tem dia que eu acordo assim, será que é isso mesmo , mas aí já depois eu acordo não, é isso; continua e assim vai. Est 07: Assim, é ...Um elemento positivo que eu vejo aqui, que eu já vi até gente de outras faculdades como por exemplo a de Cuité na Paraíba, o pessoal reclama muito dá questão da prática, que lá eles não tem muita oportunidade de ficar, tipo ele tem uma aula prática vai pra o serviço um dia e ali acabou-se e uma coisa que eu vejo aqui é que a gente tem muita oportunidade passa uma semana em cada em cada setor no hospital e a gente vê naquele momento assim em que a gente implementando uma prática, tá fazendo alguma coisa, e vê sair o paciente dizendo poxa muito obrigado pela assistência, eu nunca tive um atendimento assim, vocês foram tão atenciosos e a gente vê que realmente tá sendo útil e tá conseguindo trazer um conforto aquela pessoa, ver a satisfação no olhar daquela pessoa, acho que aquilo lhe deixa muito gratificante e só faz você querer mais mais e aquilo, tá entendendo. Uma coisa assim que eu vejo negativo pelo menos pessoalmente né, no meu caso é uma coisa bem pessoal que é assim, apesar de tudo lá em casa tem uma pressão muito grande de eu ter que ganhar dinheiro a palavra-chave é essa, dinheiro, seu curso seu curso dá

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dinheiro a você? Não praticamente não que o que a gente no máximo pode ganhar aqui é uma bolsa e até então eu não tinha bolsa e consegui a bolsa só que a bolsa não tá sendo suficiente pra suprir a necessidade dele porque pra mim até então tá sendo ótimo porque até nunca tive uma oportunidade de todo mês tá lá ganhando o meu dinheirinho com meu suor é a primeira vez , mas assim lá em casa ainda acham pouco e além deu ter que dá conta da faculdade que já é super estressante, é muita coisa, é manhã e tarde, e você ainda tem que chegar de noite e revisar todo o conteúdo, é prova, é estágio, é projeto tudo, noite sem dormir nunca tinha passado isso tou passando agora e além disso ainda ter que fazer um concurso que não tem nada a ver com isso aqui você tem procurar outro tipo de estudo são outras coisas, outras disciplinas e você ter que adequar porque são eu vejo assim concurso e universidade são dois focos diferentes você não tem como, não tem como você juntar as duas coisas ou você vai num caminho ou vai em outro são caminhos distintos e eu tou até então se Deus quiser esse sufoco acaba domingo, que é o dia da prova, eu vou ter que... eu tou nesse sufoco, dá prioridade a uma coisa e eu tou vendo que eu não tou fazendo nem uma coisa nem outra e isso tá me deixando incomodado porque eu sei que eu não tou preparado pra fazer um concurso e também tou me prejudicando aqui, então eu sei que eu poderia dar mais e não dei mais de mim aqui na faculdade, acredito que seja um ponto negativo também, particularmente. Est 02: É...a questão é as dificuldades né que interfere no aprendizado...assim como a colega Est 03 falou, a questão do professor né, minha relação com o professor, aquele professor que entra em sala com a preocupação de passar o conteúdo, aquele me incomoda e me desmotiva porque de qualquer forma eu só me preocupo em entender o que ele passou, o que ele queria me informar e aí fechou o aprendizado e o que e motiva é o contrário né, é aquele professor que me chama pra participar do processo do aprendizado , é aquele professor que acredita no momento que eu não acredito, ele acredita que eu sou capaz e outra coisa também que vem facilitar é o resultado do meu conhecimento, quando nos estágios o paciente chega pra gente e falta pouco nos colocar no céu , né, por ter prestado assistência e que às vezes é uma assistência tão boba , uma coisa tão mínima, mas a gente vê nos olhos do paciente e quando ele chora, quando ele aperta na nossa mão , na minha mão , quando ele agradece, e ali eu vejo o resultado do meu conhecimento , né, então isso facilita assim pra mim. Moderador: Mais alguém? Est 13: No meu caso, duas coisas que me atrapalham bastante é tipo minha concentração na aula que é pouca e minha concentração é péssima na faculdade , digamos assim o meu aprendizado é mais em casa quando eu pego o livro pra estudar mesmo, slide, alguma coisa, mas em si, dentro da aula minha concentração é muito pouca e também o fato de ultimamente eu ta com muitas questões assim de saber se é isso mesmo que eu quero, muitas dúvidas com relação ao curso, aí essas dúvidas atrelada a minha concentração digamos assim vem dificultando um pouco, mas um ponto positivo que eu acho é às vezes, muitas vezes a relação que a gente tem com os professores não só dentro de sala mas fora de sala de aula que eu acho isso legal e digamos assim, estimulante, muitas vezes quando eles trazem histórias vivenciadas por eles, esse tipo de coisa geralmente me atraem, mas problemas mesmo é a concentração e as dúvidas. Moderador: Ok. Posso passar, né, então? Embora a gente sempre vai ta permeado com algumas falas, né mas é o seguinte tendo em vista no caso esse conhecimento que vocês tão desenvolvendo , né, seja através dos aspectos que venham facilitar ou dos que vem dificultando, é o seguinte então o conhecimento que vocês estão adquirindo hoje aqui na universidade, certo, como é que vocês percebem ele em detrimento, certo, ao conhecimento que vocês traziam antes de vocês ingressarem na universidade? Como é que vocês percebem né, hoje, o conhecimento que vocês estão construindo e o conhecimento que vocês vem construindo fora da universidade? Est 03: Então ...É... a universidade é outro mundo né, você chega aqui com muitas certezas e monte de incertezas, com expectativas e tudo mais e no percurso né você vai desconstruindo e vai construindo e adequando todos os dias a novas experiências que você vai vivendo né, então esse conhecimento que a universidade que ela produz em cada um de nós ao menos em mim né que eu posso falar, ele na maioria das vezes eu não vou dizer nem na maioria das vezes, mas na metade das vezes ele destrua os conhecimentos que a gente trás de antigamente, nem destruir mais adapta ou refaz só que tem coisas que a universidade não consegue destruir na gente também né, alguns princípios que a gente trata de conservar no mais íntimo do nosso ser, mas eu acho que o processo de conhecimento da universidade ele é mais positivo do que negativo, esses novos conhecimentos, a readequação de visão sobre o mundo ela é mais positiva do que negativa. Moderador: Aí Est 03, sim eu vou...no caso assim aprofundar mais ainda contigo...como é que você percebe isso então? Essa relação que vocês faz entre essas novas experiências né, que você tá vivenciando e aquelas outras experiências que você vivenciou como desbravadora né, como quase aula do internato judaico?

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Moderador : Eu quero saber por que você falou um pouco das expectativas né que você vem a universidade , das experiências que você vivencia dentro da instituição e aí você também falou que tá construindo e desconstruindo¸ né, conhecimento e ao mesmo tempo de manter os valores, certo, e aí surge a curiosidade né, então como você faz essa ponte entre aquelas experiências que você teve como oradora né, da sua formação familiar, formação religiosa e hoje esse confronto que você tem hoje dessas experiências que você tá descobrindo aqui e como é que esses dois planos eles dialogam? Est 03 (39:30) Pois bem...é para mim a universidade ela é uma coisa bastante ampla, o viver a universidade né, pra alguns de vocês a universidade pode se restringir a vir aqui todos os dias assistir aula, pra mim não pra mim fazer universidade significou sair de casa, é viver outro estilo de vida, fazer coisas que antigamente eu jamais cogitaria a hipótese de fazer e até os dogmas científicos mesmo da biologia né, que antes eles não existiam em mim por causa é do conteúdo religioso no qual eu fui inserida por dezesseis anos da minha vida, então hoje em dia em alguns momentos é... quando esses dois mundos se deparam né os conhecimentos mais primitivos e os conhecimentos da universidade eles ás vezes se chocam e em alguns momentos do curso eu me senti bastante e quase desesperada né, meu Deus eu acreditava tanto nisso e eu to vendo que tem essa possibilidade que também, então em alguns momentos foi conflituoso mas hoje em dia eu consigo lidar muito bem com os dois mundos, meus princípios e o que a universidade tá dando uma oportunidade pra que eu aprenda. Moderador: Alguém mais? A reformulação da pergunta vale pra todo mundo também, peguei Est 03, puxei de Est 03 né, mas e aí como é que a gente né consegue articular né, as experiências que a gente vai descobrindo aqui né, as vivencias que a gente vai construindo com aquelas que a gente traz que a gente continua seja Est 09, a vivência do escoteiro, a vivência da república em Natal; seja Est 02 né, da vivência da infância dela, da mudança de perspectiva; Est 05 lá em Caicó , na experiência do comércio, na descoberta; Est 08também quando era criança pequena lá já em Jardim... Est 02: Eu vejo assim professor, é...o próprio nome universidade nos remete ao universo né, então é como se ela fosse um universo, é uma gama de informações e eu é... eu vejo a passagem do colégio para a universidade como deixar de ser coadjuvante pra ser protagonista, porque os professores eles chegam em sala não são professores, são quem compõe é a universidade, é... tem aquela preocupação de nos formar , de nos preparar pra esse universo que nos espera, eu me vejo como protagonista dentro da universidade, ao contrário de como era antes no colégio era apenas coadjuvante eu acho que não é ...a diferença que hoje eu percebi, parece que os professores eles não tinham essa preocupação em me formar para o futuro, eles me formavam para aquele momento para o presente e a universidade, não, ela forma pra o futuro, então é assim que vejo essa relação. Est 09: Moderador, quando você falou em relação ao movimento de escoteiro eu acho que desde sete anos eu venho trabalhando assim...passando pra perspectiva sempre de trabalho em equipe, e assim, era formado por um grupo enorme nosso grupo tinha cento e vinte pessoas e assim um sabe uma coisa, um sabe mais de outra, um sabe cozinhar , um sabe cuidar do outro, fazer curativo e eu vejo assim, uma comunicação em relação a saúde , ao campos da saúde, porque assim se você não tem um trabalho em equipe é... vamos dizer assim de uma maneira certa e uma maneira amigável, assim que você consiga se co-relacionar com outros profissionais, você não vai ter uma grande efetitividade e é isso que eu vejo assim, a ligação bem grande com o escoteiro e até com a república ...só funcionavam a partir do momento em que todos participassem desse processo de criação de amizade...É isso que eu vejo na universidade, um trabalho em equipe bem árduo que em cada estágio a gente vê esse trabalho,onde cada um tem seu ponto forte. Est 10: Moderador, tem uma relação que eu vejo assim da universidade com minha vivência pessoal, é o tipo da coisa, porque pronto, na igreja eu participo da Pastoral da Criança, então a gente faz visita e tudo mais , então bem ligado assim ao enfermeiro, as questões... a gente pergunta sobre a saúde , então a gente vai todo mês como se fosse com o agente de saúde, digamos assim, perguntas direcionadas aí aprendi até assim como vê as diferenças sociais de cada família, porque tem família que é carente, tem outra família que já é tem mais condições e a relação assim com as crianças né , a gente vai vendo ah ele tá com uma gripe o que eu poderia fazer ali tem vezes até que eu uso isso, aí então eu vou entrelaçando o meu conhecimento da vida pessoal com o da universidade e juntando tudo isso. Moderador: Aí Est 10que ponte então melhor você faz dessa experiência da igreja né, dentro da Pastoral da criança, com o que você vivencia hoje, que saberes né, a gente pode confrontar dessas duas vivências? Est 10: Acho que muitas vezes os saberes se misturam, se agregam um ao outro né porque eu vejo aqui pronto ah precisaria de uma nebulização , é como eu falei já vejo aquela criança já com outro

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olhar, um olhar mais...como é que eu digo... mais de profissional mesmo, não era mais aquela pessoa ah Est 10era desse jeito antes ah eu fazia aquilo ali e pronto só por fazer... para saber os dados das crianças como é que tava, hoje não eu já vejo o caso da criança pronto tem uma criança que acho que ela tem dois anos e sete meses ela não fala , ela fala o quê...papai...mamãe...aí eu vejo assim...não sei se é autismo, mas não é um diagnóstico precoce que eu quero formar, mas é o que eu vejo assim..eu queria até tipo estudar esse caso para ir realmente em busca , porque a mãe já levou pra fonoaudióloga e tudo mais, não...não levou para fonoaudióloga não, foi para a psicóloga e ela disse que é tipo precoce poderia ser independente da idade, conversando também com minha irmã, que ela faz Pedagogia, ela disse que realmente isso é relativo só que ela tem muita comunicação com os pais e tudo, e essa criança realmente ele não fala, se a gente vai se comunicar com ela ela não olha no olho da pessoa então eu vejo aquela coisa... e aquela curiosidade que vai realmente em busca, como eu vou ganhando conhecimento, eu fico tipo em busca daquilo procurando, ai aconteceu isso, como é que eu posso fazer pra poder intervir? Então eu acho que é isso assim, essa inter-relação dos conhecimentos que vai realmente se misturando. Est 03: Adicionando a minha experiência de igreja também é ...o amor ao próximo, fazer o bem ...ele se mistura bastante com a enfermagem dogmas religiosos que a gente traz , as nossa vivências religiosas de ajudar o outro e de responsabilizar pela vida do outro, ela tem um impacto muito forte que a gente compreende como a enfermagem né, até o discurso dentro da própria enfermagem que é a arte, cuidado, essas coisas... a gente acaba por fazer uma fusão em vários momentos...é tanto que agente padece muito, se envolve muito em algumas situações eu creio que muito por essa influência religiosa que a gente traz com a gente, ser Brasil né e tudo mais que vocês já conhecem bem... Est 02: Outra coisa a acrescentar em relação a universidade é porque eu hoje eu tenho plena consciência eu me considero que eu me tornei cidadã quando no momento em que eu entrei na universidade porque não foi quando eu fui registrada e recebi um nome, não foi quando eu fiz minha...meu RG que a gente recebe um número..., não foi quando eu tirei o meu título aos dezesseis anos nem muito menos quando eu completei dezoito anos , mas foi quando eu entrei na universidade parece que você assume uma responsabilidade grande com a sociedade né, tanto é que pra nossa cultura é bem comum é ...as pessoas mais velhas que não tiveram tanta oportunidade que a gente tem hoje de está em uma universidade, elas acreditaram no universitário ela acredita que ele é capaz de qualquer coisa antes de assistir o jornal era pra fazer o vestibular , hoje eu assisto o jornal porque eu tenho compromisso com a sociedade pelo fato de simplesmente eu ser universitária parece que eles exigem da gente o conhecimento de tudo, a gente tem que saber de tudo que acontece no mundo pra poder dá a resposta. Então eu me vejo hoje assim , nunca tinha pra pensar nisso, parei pra pensar agora, a universidade que fez cidadã e não o registro, o nome nem a idade, nem a maioridade, foi a universidade, o fato de entrar. Est 03: As pessoas cobram muito né Est 02, você universitário... essa prática... a cobrança de responsabilidade social. Est 02: Não...é...tipo...o que acontece muito, né...fulano envolvido com droga foi preso e estudava Direito, estudava Medicina, estudava... , como pode um universitário que tem todo conhecimento de mundo, que sabe o que é ruim, que sabe o que é bom, se deixar levar por isso...é como se agente...a gente não pode errar, não pode pecar, a gente não pode é...beber, a gente não pode nada, só pode uma coisa dá passar informação pra quem exige da gente a informação. Moderador: E mas aproveitando esse gancho né, no caso da responsabilidade social né, da importância no caso da relação entre a cidadania e você está na universidade né, é como é que isso também vem interferindo certo, dentro das escolhas que vocês vem fazendo aqui dentro né, no envolvimento de vocês dentro da universidade e aproveitando ainda como é que a gente ...como é que vocês constroem essa ponte com responsabilidade social né, que vocês adquirem Est 07: Eu vejo o seguinte...eu acredito que a gente teja numa posição privilegiada né, por tá tendo acesso ao conhecimento que é algo fundamental...isso é muito importante...e eu vejo assim, já que a gente tem acesso a esse conhecimento e a faculdade ele proporciona o quê? É...Voltando né, lembrando um pouco é aquele tripé ensino, pesquisa e extensão e eu tenho um foco enorme pela extensão gosto muito de tá difundindo aquilo que eu aprendo aqui ...pronto, muitas vezes alguém pergunta um negócio , eu não sei mas eu vou lá pesquisar pesquisar pra quê ? já que eu tou tendo essa oportunidade porque não posso levar o conhecimento aquelas pessoas que não pode né ...pronto um exemplo disso é quando a gente tava no estágio, muitas vezes a gente acha chato, ah não quer fazer, mas tipo a sala de espera, na questão das vacinas...poxa é tão bom você tá levando aquilo que você aprendeu aqui e tá levando pro pessoal la fora...tá dando a oportunidade deles também terem o conhecimento, de tá aproximando eles daquilo que a gente tem direito aqui né, que infelizmente a gente sabe que não é pra todo mundo, se fosse pra todo mundo, primeiro que a gente não faria vestibular pra tá aqui dentro. Então já que a gente tá tendo essa oportunidade, por que não

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a gente tá fazendo isso... a gente também tá exercendo o nosso papel como cidadão né. Então eu acredito que é por aí que a gente possa tá fazendo esse elo. Est 03: Eu acho que a gente exerce a cidadania vários momentos, que se fosse basear em um tripé ensino, pesquisa e extensão, no ensino uma vez eu escutei uma professora da gente dizer, na verdade ela tava dando um carão na gente “olhe muita gente queria tá aqui viu, vocês não pensem que se vocês não estivessem aqui não teria outra pessoa não, quantas pessoas queriam estar no seu lugar quantas pessoas fizeram vestibular, quantas pessoas estudaram noites e noites e você é que conseguiu passar, você conseguiu estar aqui então o ensino se responsabilize aprenda as coisas direito, se esforce para aprender direito”, na pesquisa do mesmo jeito é uma responsabilidade enorme pra participar de pesquisa por que a pesquisa não é solta no ar né ela precisa sair de uma realidade ser analisada e voltar com resposta pra essa realidade em forma de melhoria né, a gente não faz pesquisa pra só saber como é que a população tá não, a gente faz pesquisa por que a população ela precisa de uma resposta da universidade, de retorno dessa pesquisa e a extensão né nem se fala, a extensão talvez seja a que a gente consiga observar melhor um retorno talvez mais imediato é... do nosso conhecimento aplicado ali na melhoria da vida das pessoas né e a posteriore né depois da formação né, vem a nossa responsabilidade quanto a profissionais efetivos né que ai todos nos sabemos do peso e da responsabilidade que é função do enfermeiro na sociedade, em vários aspectos assistência educação recuperação e tudo mais que a gente já sabe. Est 13: Uma experiência que eu vejo como legal assim, tipo... foi a que eu fiz, que eu gostei mesmo, foi no início quando a gente tava participando com relação ao madalena, que digamos assim, foi praticamente a primeira coisa que a gente fez assim dentro da faculdade e teve contato com o público. Fazer uma... aquela mostra cultural e passar um pouco do que a gente tava aprendendo, digamos assim, para o pessoal a população, botando assim coisas do dia a dia, o que a gente podia fazer para melhorar a vida deles, assim. Acho interessante essa parte em relação à mostra cultural, foi até um trabalho sobre aterosclerose, digamos assim, da mostra que eu pude participar eu gostei de ter feito aquilo assim. E com relação quando a gente faz assim algumas pesquisas que a gente até muitas vezes vai em campo, digamos assim, vendo a realidade da população, por exemplo, o projeto que eu tô participando de idosos que a gente vai saindo para os postos de saúde mas como não consegue coletar esses dados, a gente vai pesquisando nas casas, vai de casa em casa e a gente pode ver, digamos assim a realidade de cada pessoa, os idosos no caso, conversando com eles. Conversando com eles e repassando um pouco do que a gente sabe, identifica o que ele ta fazendo alguma coisa que tá errado, que tipo aquilo ali que a gente sabe que pode fazer alguma coisa e a gente pode dar uma orientação simples, pra ele parar de fumar, vamos dizer assim,...esse tipo de coisa. Moderador: Quem mais? Est 11.... Est 05 e Est 06que eu não ouvi ainda a voz direito... Mas aí pessoal né, dentro do caso que vocês estão vivenciando hoje né, que experiências então vocês podem dizer que são importantes? Dentro do que vocês já vem vivenciando, certo, é que experiências podem elencar de importantes Est 02: Importantes para a sociedade ou para a formação? Moderador: Para a sua formação, para a construção do conhecimento né, pra esse processo de desenvolvimento de vocês , enquanto estudantes , cidadãos? Est 08: É...no estágio... uma determinada paciente que eu acho que passou por todo o mundo aqui, em estado terminal, que ela marcou a vida de todo o mundo, acho que não só na questão do que a gente estava estudando na época que era Semiologia né? Aí teve passagem de sonda... teve punção... as coisas que a gente tava fazendo contribuiu muito pra isso também, mas tenho certeza que mexeu muito com o emocional de todo o mundo. Então foi uma pessoa que entrou assim na vida da gente, que ela não contribui só para nosso crescimento na nossa vida acadêmica mas também na questão profissional, porque que a gente viu o que aqui era passado, o que era ter um paciente daquele sob os nossos cuidados, o que a gente pensa e se coloca no lugar, e se fosse a minha mãe? Eu pelo menos pensei muito, ela foi uma pessoa que eu fiquei pensando noites e noites... desde o dia que a vi a primeira vez eu só pensava nela assim, e colocava ela em tudo na minha vida, colocava tanto no crescimento da enfermagem porque as pessoas ficavam comentando, quanto na questão emocional também, psicológica. Ela me marcou muito. Est 13: Relatando o caso de estágio é interessante e gratificante em relação a estágio também e projeto, quando a gente sai e ta cuidando de um determinado paciente, antes de cuidar e tem passado os cara reclamando, reclamando, reclamando que tá demorando, esse tipo de coisa, e quando ele passa pela gente, tenta cuidar dele o melhor possível né, e pensar assim que ta sempre elogiando e quando ver você na rua lhe abraça, agradece, fala com você que você ta estudando pra não deixar de ser assim, por isso eu acho uma coisa gratificante e interessante e já puxando por parte do projeto eu participei do projeto assim de idosos e muitos onde eu moro que é o conjunto. E

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assim a relação que eu tenho com eles eu diria que é ótima porque todas as vezes que eu vejo eles sempre a gente ta conversando a gente senta junto conversa, nem sempre eu to lá parado conversando, porque a gente as vezes não tem tempo, mas assim que a gente ver na rua... conversando pra saber o que tá acontecendo já que quando a gente precisou deles a gente quis a atenção deles para preencher um questionário, então consequentemente a gente também tem que ter consciência já que a gente quis buscar que ta sempre fazendo por onde, se esforçando para melhorar, agora com isso eu tenho uma preocupação, porque as vezes a gente estuda mas não se sente preparado e tendo esse cuidado, as vezes a gente sai inseguro de um estágio e tipo assim, isso me preocupa porque às vezes a gente não se preparou tão bem pra um estágio e a gente tem que cuidar daquela pessoa mas sabe que não está totalmente seguro do que ta fazendo. Est 03: Destaco três principais experiências. Primeira, é Protagonismo, a Universidade...a oportunidade de fazer, você é responsável pelo que você faz, entendeu? De ir lá fazer as coisas e me sentir responsável realmente pelo que eu tou executando. Outra questão é o envolvimento assim emocional... dos pacientes o que tem transformado a minha vida entendeu? Em todos os aspectos, eu já reclamo menos das coisas, eu dou mais valor ao que eu tenho, quando acontece alguma coisa dá vontade de ligar pra minha família e dizer que eu amo muito eles e que, orar todo dia a gente não falar rezar é orar, orar todo dia para que Deus mantenha a saúde deles e conserve eles bem. Isso é o segundo ponto. O terceiro ponto que eu destaco é uma coisa que às vezes a gente nem percebe mas que é super difícil de executar, que é o trabalho em grupo. E a Universidade ela lhe obriga a aprender a trabalhar em grupo. Em algum momento você vai ter que lhe dar com pessoas com as quais a sua personalidade não bate em absolutamente nada e algum momento você pega pessoas maravilhosas com quem é uma delícia fazer uma atividade. Isso na verdade, é uma simulação da nossa vida num é? Nós provavelmente, seja seguindo uma carreira de docente ou sendo assistencialista ou qualquer coisa que a gente for fazer na enfermagem a gente vai lhe dar com pessoas e essas pessoas nem sempre serão compatíveis com a nossa personalidade, então aprender a lhe dar com isso e se articular com essas pessoas para que a assistência não seja prejudicada né, é importante que isso seja exercitado na academia. Est 07: É o seguinte falaram muito aqui de protagonismo né, eu também acho isso muito bom aqui na faculdade, porque até então como já falei na escola a gente só é mais um ali tá no meio “pacote” e cada um que forme um jeito de querer aparecer porque a escola em si, ela não vai dar subsídio para isso né, muitas vezes. E assim eu cheguei aqui na faculdade é diferente. E assim eu cheguei aqui na faculdade totalmente ixe... outro mundo, disperso de tudo, o pessoal altamente tímido, apesar de depois conhecer o pessoal e sair com uma brincadeirinha ou outra, mas assim se eu chego num ambiente diferente eu travo totalmente, até em casa mesmo o pessoal sempre percebeu isso em mim que eu passava e não dava um bom dia, ou seja uma pessoa totalmente tímida e aqui se fosse para passar, dizer isso pra equipe, tem um monte, mas uma assim que eu acho que me ajudou bastante neste sentido, foi a questão do projeto de extensão da rádio. Eu me lembro hoje que no meu primeiro programa de rádio, eu tremia, eu gaguejei, eu não sabia falar, eu não sabia o que fazer o que dizer, o que improvisar , foi assim um baque, até porque foi assim que a gente chegou lá, “olha isso aqui funciona aqui assim, assim, vocês estão ai, fiquem aí e boa sorte” e agente teve que desenrolar. Teve que sugar aquilo que a gente tinha de conhecimento de procurar desenrolar, desenvolver e com o passar do tempo eu fui percebendo até uma questão de maturidade porque é uma responsabilidade ta ali, você vai ta falando coisas pra uma comunidade, se você disser um negócio errado, vai dizer pronto, vai dizer que a gente vai fazer o bem pra isso e se a pessoa vai fazer piora o quadro daquela pessoa? Ta entendendo, você se torna mais responsável, no caso da rádio, você passa a falar melhor, nem tanto em público não porque você vai ta de uma certa forma fechado apesar de muitas pessoas está lhe escutando, mas sempre vai ter aquele contato, mas de uma certa forma ajuda, você melhora a sua oratória, hoje em dia eu faço coisas aqui que sinceramente eu nunca imaginei fazer, eu acredito que a faculdade nos ajuda nesse sentido, de empurrar, botar você na linha de frente da coisa, olha bora lá... se vira, isso feito de forma coerente isso é muito bom, de uma certa forma vai desenvolver e só tem a crescer, no meu caso foi a extensão da rádio né, que também não exclui as outras coisas que já participei. Est 02: É quando uma vez eu fui questionada é... em relação ao que o meu curso me proporcionava, por meus familiares e eu respondi que não era só o meu crescimento profissional, mas o pessoal, né... partindo do que Est 03 colocou as vivências com os pacientes é... nos trás um crescimento obviamente trás o profissional mas nos trás um conhecimento pessoal muito grande porque a gente começa a se colocar no lugar dele e as vezes a te colocar quem é próximo nosso no lugar dele. E outra coisa também interessante é quando você busca ser profissional da saúde você está sujeito a duas coisas: a ser profissional e a ser paciente né? E todos nós já fomos pacientes um dia, mas talvez a gente não teve a visão se hoje a gente fosse um paciente. Então eu acho assim que quando

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eu me colocar como paciente depois de uma formação da saúde, como profissional da saúde eu deixo de ser profissional e passo a ser paciente eu tenho uma visão diferente e aí quando eu for atuar como profissional ai eu vejo, ai eu sei o que aquele paciente o que realmente ele sente além da patologia biológica e fisiológica, quando é está no lugar do paciente. Então as experiências vivenciadas nos estágios é o que me fez e me faz continuar no curso, porque muitos entram numa universidade para se formar contador, pra se formar administrador de empresa, mas a pessoa dele muitas vezes não está formada, e na área da saúde não, a gente está em constante transformação, porque todo dia, todo paciente é um novo aprendizado. Est 05: Pegando a oportunidade o que falou Est 02 a questão de você saber como ver o outro, quando a gente entra aqui, a gente começa a ter essa visão de olhar para o outro de uma forma diferente né, de uma forma holística, é essa forma de olhar mais como um todo essa pessoa. Est 07: Aí eu me lembrei aqui ...Maiara falando né... eu comecei a pensar um pouco, eu até tinha esquecido mas assim é que realmente me deu um baque muito grande, eu sempre xinguei o SACI né pelo fato de ter que andar no paraíso, às vezes eu senti muita raiva daquilo mas só que teve um dia que foi muito interessante que o monitor da gente né, o professor da gente ele incentivou a gente a ver aquilo de uma outra forma, a ver a realidade das pessoas , ver de outra forma porque assim pode ser que não vou dizer que direto apesar de que eu moro perto e uma vez ou outra passava ali pelo paraíso e você passa e não percebe nada aquilo ali, é só mais uma extensão da cidade você ver sim uma carência mas só que você não para pra pensar... poxa aquela pessoa né o que será que ela precisa? Como será que eu posso ajuda aquela pessoa? Não, mas assim no SACI uma coisa que eu cheguei em casa até assim meio transtornado mesmo e comecei a pensar no outro, parar pra pensar no outro né quando a gente se deu de frente com a extrema pobreza, eu não me esqueço nunca a cena de olhar pra dentro de uma casa e a pessoa não ter um guarda roupa pra guardar a roupa, ta aquele bolo de roupa assim, o pobrezinho do menino andando descalço no esgoto você ver aquela pessoa totalmente assim... não tem reação não pode fazer nada e a gente minha senhora e você ouvir “mas meu filho eu não posso fazer nada, essa aqui é a condição que eu tenho”. Aqui na faculdade começa a despertar esse olhar de preocupação com o próximo e ver o quanto aquele pessoa precisa de você, precisa da sua ajuda e que você pode ajudar basta a gente querer, acredito que esse choque de realidade também de uma certa forma é muito bom. Est 06: Outra coisa que eu vi também foi no estágio do CAPS... assim a gente vai meio que receoso, o que vai ver lá, encontrar lá e assim pra mim eles... apesar que no início a gente foi meio sem saber o que vai encontrar lá ... depois eles são pessoas muito amáveis que gostam de carinho são pessoas como a gente e que depois é muito gratificante quando você encontra eles nas ruas e eles passando, ficam, oiiiiiiii... num sei que.... Est 11: É...Os estágios é um grande campo de aprendizado pra gente tanto no profissional como pessoa né? É... eu mesma nos estágios que passei eu considero como uma marca de superação porque principalmente na sala de vacina, eu não tinha coragem de vacinar criança, não tinha de forma alguma até por receio, medo de machucar, sei lá... Só que passei três dias de estágio lá e no último dia eu consegui superar esse medo, foi muito bom pra mim, me deu mais vontade de continuar no curso, ver que eu sou capaz de superar todos os medos que eu tenha... até porque eu tinha conhecimento é científico pra isso, sabia a tática só num tinha atuado ainda e quando atuei eu vi que era capaz de vacinar todas as crianças que eu quisesse naquele momento. Est 07: Só mais uma coisa também... eu fiquei muito feliz, porque até em tão eu me via assim poxa eu não sei fazer nada na vida será que eu to sendo uma pessoa inútil e eu vi que Est 11 né poxa eu to muito satisfeito pela questão da minha técnica sabe, de ver que eu realmente sei fazer alguma coisa que eu sirvo pra alguma coisa, seja puncionar uma veia com jelco ou com escalpe enfim, é muito gratificante você chegar eu me lembro da minha primeira punção eu sai horrorizado o homem tinha uma veia enorme e eu não consegui fazer, eu cara... mas quando você consegue, aí você aquele retorno você o sangue la né e você ver o elogio do professor acho que isso é muito gratificante você começa a fazer coisas que as pessoas começam a reconhecer de fato, você se sente assim uma ator na sociedade por que hoje o enfermeiro é uma ator de peso na nossa sociedade quem é que não precisa de um enfermeiro né? Eu acho que isso é muito... Est 11: Falando em superação mais uma vez a minha primeira prática de punção de veia aqui na faculdade foi terrível... A professora tava em cima de mim... vai... Segura num sei o que lá... e na hora que eu coloquei o escalpe eu esqueci de segurar... O sangue foi né... Eu sai e olhei assim, me perguntei, que tipo de profissional vai ser eu? Eu num puncionava uma veia...Eu não consegui puncionar a veia... Saí chorando pra casa com vontade de abandonar o curso porque eu não sabia e num sei o que né... Quando chegou na semana do estágio, estava eu e Kaká, aí era pra fazer administração de medicamentos...Kaká vai tu primeiro, Dayse chegou vai Est 11, eu tremi feito vara verde, mas graças a Deus aconteceu, eu fiz bem direitinho e continuei fazendo os procedimentos,

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depois da primeira vez eu já tava me sentindo segura e sabendo que já era capaz de fazer... Pra mim as práticas de estágios , a maioria é mais como se fosse aprendizagem e superação dos meus próprios medos... porque geralmente eu vou insegura pra prática, insegura mesmo... Est 05: A insegurança de todos os estágios... Est 09: Eu acho que em parte do estágio saúde da mulher foi o pior pesadelo, porque eu via todo mundo fazer ... quando a técnica chegou pra mim e eu triste... e disse que nenhuma mulher queria aceitar fazer comigo, nem que eu ficasse dentro da sala, e todo mundo fazendo, já tinha essa coisa de receio. Até de eu ter dito assim eu não quero mais fazer, nem que ela aceite, eu não quero. Aí no último dia mais traumático ainda, a professora me faz ficar sozinho dentro da sala pra mim fazer tudo, desde a anamnese até o resto do exame todinho e só...não me ajudava, não me dava um caminho nenhum, não dava uma palavra comigo, esperava a mulher entrar e dizia bom dia e o resto tudo era eu e eu só pra fazer tudo. Aponto de eu só ter visto um que Est 05 fez e o resto dois só um dia, eu fiz dois sozinho, sem escutar nem uma palavra de conforto e nem ajuda da professora. Sozinho dentro de uma sala. Moderador: Muito bonito... O círculo rsrsrsrsr, certo, aí vamos pra mais um certo, mas já estamos perto, ok? Até porque ta dentro do que vocês já vêem falando. Que é o seguinte: Quais habilidades pessoais e profissionais vocês tem desenvolvido durante a formação de vocês? Est 03: Capacidade de se comunicar melhor, criatividade, responsabilidade, trabalho em equipe e protagonismo. Est 07: Eu vejo mais assim algo de descoberta né? Porque no meu caso, um molequinho chegou aqui mal falou com ninguém, super tímido chegar para apresentar no caso da feira de parasitologia, todo mundo olhando ali pra você e você lá na frente imitando um velho, um papelzinho até um certo ponto ridículo, mas tipo você se soltar numa coisa dessa. Primeiro me descobri não como ator profissional né, mas assim uma pessoa mais desenrolada, isso eu nunca me imaginei fazendo isso. Segundo até a questão puxando pra questão da enfermagem, a questão da técnica, a destreza que muitos professores falam você vai que conseguir com o tempo, mas acredito particularmente eu me vejo assim, não sei os demais, o processo de evolução foi muito rápido, eu até digo que o que me safrou na Semiologia foi a questão da técnica, porque a técnica, eu me garanto, eu posso dizer que eu me garanto, é claro que eu vou tremer até porque ainda não é a minha vivência você imagine chegar na sala de vacina para aplicar uma vacina numa criança, você é um estagiário ainda, você é um discente começando agora, já pegar e mete bronca, bora, bora dá conta aplique isso aqui, bora... pra gente dar conta como a gente deu na emergência do SAU do hospital..chegar... bora oh aplique isso daqui...vamos correr que já tem outro. Pois é eu acredito que tudo isso... Est 08: Fora que a gente descobre que nós somos mil e uma utilidades né, aqui a gente não aprende só a ser enfermeiro não, aqui a gente aprende a ser ator... radialista, locutor de rádio, políticos... Est 07: Promotor de eventos também, até porque nossos eventos a gente é que vai ter que ralar pra fazer, contratar bandas, a questão do Centro Acadêmico agora... Est 03: É bom porque a gente descobre talentos, talvez se não tivesse passado pela universidade, a gente jamais descobriria... coisas que dão pra fazer na vida... Est 07: E eu não digo tanto do meu caso, porque aqui eu moro com minha avó, tô na minha própria cidade, mas eu vejo muito meus colegas de fora responsáveis pelas suas próprias vidas. Aqui...Porque na escola você chega tem que o que, todo mês chega no final do bimestre e entrega o boletim aos seus pais, a pai to com dificuldade, aqui não... aqui não, você faz a sua comida, você vai ralar, acorda por conta própria, você é responsável pela suas notas, se ficar em quarta prova, você é responsável por isso, enfim... eu admiro muitos meus colegas que são de fora, ter que além de dar conta da demanda da faculdade, é limpar casa, é cozinhar, é acordar por conta própria, eu sei que eu lavo meu muro, boto o lixo pra fora, eu faço tudo isso porque eu moro com minha avó, mas eu admiro bastante essa força de vontade... E assim apesar de todas as desavenças também né, que a gente sabe que em todo canto vai ter isso, ninguém vai pensar igual, muitas vezes acabam se conflitando, mas assim o cuidado que a gente tem um com o outro aqui né? Muitas vezes, por exemplo, eu vejo Est 02 triste, muita gente chega, vai lá, vai tentar dar uma palavra de conforto, vai tentar sei lá... Melhorar a situação até pela questão da nossa vivência né, já estamos a que há dois juntos e acaba sendo meio que uma família né, é claro que em toda família, SIC três anos, e agente sabe que em toda família tem aquela coisa ...Nem sempre vai se dá bem... Eu acredito que a gente tem esse laço muito forte. Est 03: E por mais que a gente tenha tipo vocês que são daqui né tem familiares aqui e tudo, mas quem não é daqui praticamente só tem uns aos outros, entendeu? A gente só tem uns aos outros entendeu agente não vai ta telefonando pra mãe da gente por todo problema a gente sabe que a rede social nessa hora ela ela segura as pontas né na maioria das vezes você chega pra uma amiga um

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amigo chora e conversa daqui apouco vocês estão rindo do problema e vão ficando bem, vai passando os dias, e já ta próximo da formnatura. Est 13: Pensando bem você vê a faculdade trás um aprendizado muito maior pra quem é de fora do que pra quem é da mesma cidade né, porque quem é de fora é o lugar distante, muitas vezes distante e os desconhecidos, você não conhece ninguém e lá você se inserir sem ter apoio de seus pais e amigos que você já tinha há muitos anos e você construindo isso você é responsável por saber que você tem que um orçamento x e ter que lidar com esse dinheiro até o final do mês com controlado, mas até pra gente que tá aqui também, tem aquela questão tipo a gente tem que ser mais responsável que antigamente até como Est 07 tava dizendo a gente chegava tava com algum problema na escola falava com os pais, e agora na faculdade não, a gente tem que se virar, pronto eu... basicamente quando pai pergunta alguma coisa da faculdade...... não tá tudo tranqüilo,... pode tá caindo o céu...tá caindo o céu... eu faço não relaxe... tudo vai dá certo mesmo, mas quanto a isso outras pessoas contariam ... mas já é de mim ser fechado, eu não compartilho com ninguém os problemas que eu tenho, mas assim a gente sempre ta a cada dia aprendendo mais, a conviver mais com outras pessoas, a lhe dar com pessoas diferentes ao mesmo tempo e a faculdade sempre proporcionou isso pra gente. Est 03: A faculdade obriga a gente a amadurecer, especialmente quem não é daqui...obriga de verdade... você tem que saber controlar o seu dinheiro, você tem que arrumar sua casa, você tem que fazer sua comida, você tem que dá conta da universidade...escola de adultos. Est 13: No final tudo vai dar certo. Est 11: Dá uma certa liberdade também ,né... Eu lá em casa era super presa, hoje..mãe... é coisa da faculdade... Est 03: Dá muita liberdade pra quem não é daqui... Est 09 – Festas... Est 06– Pois é e apesar de tudo tem que ter os momentos de lazer... Est 11– Não é..claro... Est 03 – Eu já tou com saudade... Est 11 – Também ...sério... Est 08– Olhe gente eu não gosto desse assunto...Vai pra aula da saudade... Est 13 – Vamos para outra faculdade... Moderador: Faz parte também dos pensamentos. Então pessoal, a última pergunta que não tava nem no meu roteiro. Na verdade, meu roteiro em si são cinco questionamentos, mas a gente acaba deixando fazer mais. E assim tem um que me veio em cima do que vocês já vêm falando. Que reflexão vocês fazem diante de tudo que vocês contaram e vivenciaram até hoje? Est 07: Professor, assim hoje me vejo uma pessoa mais madura, não é o meu máximo, eu sei que eu posso melhorar muito o que eu sou hoje, mas comparando ao Est 07 que entrou na faculdade em 2009 no segundo período e o que eu sou hoje, eu acredito que apesar de um ou outro ato de irresponsabilidade eu me vejo uma pessoa muito mais responsável por tudo que eu já passei aqui, né, pelas as várias vivências, hoje uma coisa que falaram aqui na questão de bolsa, você começa a receber seu dinheiro em casa, a você já tem seu dinheiro, vá se virar com ele, isso já lhe traz uma responsabilidade muito maior. Outra coisa que eu já falei aqui na questão do SACI quando eu vi a realidade, você já se preocupa mais com o outro, enfim eu acho que tudo isso ajuda a melhorar e a pessoa crescer e hoje me vejo uma pessoa muito mais madura e crescida justamente por essas várias experiências vixe Maria, várias experiências que venho vivenciando aqui na faculdade. Est 03: É...A minha conclusão é o papel transformador da universidade funciona muito bem comigo, é...tanto no que diz respeito a vida estritamente acadêmica ia, com amigos, de festas, de responsabilidade financeira e tudo. É, eu evolui bastante nesse sentido, lhe dar em situações de crise, eu sei segurar as pontas dizer não, eu já passei por vários problemas e vou passar por esse também e vai dar tudo certo e consigo ver as pessoas de um jeito diferente, a minha responsabilidade sobre a vida das pessoas, sobre a minha própria vida, eu sei que se ficar sem comer vai me dar gastrite e tudo mais, então eu tô comendo mais durante o dia de que se eu comer pouco meu cérebro vai ficar com pouco oxigênio não vou conseguir estudar direito, então a faculdade realmente ela transformou a minha vida e eu creio que vai transformar, talvez a gente vá se deparar a agora com pacientes mais complicados mais delicados que vão nos sensibilizar mais, então eu acho que essa reta quase final do curso vai promover mais mudanças ainda pra melhor. Est 13: Assim reflexão é bom saber o quanto você ta se construindo como tipo ser social, no caso, como a gente falou aqui, era bastante responsável , por exemplo, os problemas que seus pais resolviam pra você e a partir do momento que você está na faculdade, por mais que eles resolvam outras coisas, por exemplo, pagar conta de água, luz, esse tipo de coisas, mas as coisas da faculdade você é responsável por isso, ele já teve todo o trabalho durante sua infância, sua

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adolescência e a partir do momento que você entra na faculdade é você que vai que vai dizer..não..eu quero fazer isso, é você que vai ter responsabilidade, esse tipo de coisa. E como Est 07 estava falando, a oportunidade que a faculdade lhe dá de você ganhar bolsa é que geralmente você tem aquele dinheirinho que seu pai dar e agora recebe uma quantia x da faculdade e agora é aquele negócio...se vire, pague suas contas, compre suas roupas, pague o presente da namorada, e vá se resolvendo e assim você vai ver que assim que agora você tem um dinheiro x que vai ajudar no orçamento da sua casa, você tem que saber assim... quero juntar tanto par ir pro congresso, quero juntar tanto pra comprar besteirinha, quero juntar tanto para investir no Mister Colibri e assim você vai se virando. Est 07: Pessoal tem uma coisa pra mim que ta sendo muito gratificante, eu hoje tenho um notebook, eu não pago só, mas foi uma das primeiras conquistas que eu tive. Sabe esse sabor de você conquistar algo com o seu dinheiro, acho que a palavra é essa autonomia. Eu tenho roupas hoje em dia que comprei com o meu dinheiro, eu tenho notebook. Já fui pra congresso com o meu dinheiro. Hoje em dia eu não preciso pedir dinheiro pra lanchar, não eu tenho vontade eu faço e pronto. Eu vou puxar agora pro afetivo, aqui na faculdade eu construí amizades verdadeiras, eu posso dizer isso, apesar de muita gente confundir as coisas, a gente sabe que o ser humano tem tendências malignas para as coisas muitas vezes, mas eu posso dizer que eu saindo daqui construí amizades verdadeiras tenho pessoas aqui como irmãos, de fato, eu acho que isso é muito importante na nossa vida daqui pra frente, acredito que ninguém sobrevive sozinho, você muitas vezes vai precisar de alguém pra se confortar, pra se apoiar, e uma coisa assim que eu vejo hoje em dia que eu posso sair daqui tranqüilo, satisfeito é isso que eu tenho pessoas que eu posso confiar, que eu tenho ao meu lado e além da minha família possa ta me ajudando futuramente, na questão afetiva, de ser um amigo de fato. Est 13: É tem outra coisa que a faculdade proporciona, é conhecer outras pessoas, tinha gente que você considerava bastante amigo seu que você dizia vou confiar nessa pessoa aqui e quando na faculdade você conhece uma pessoa praticamente um mês, dois meses, você diz pô aquele cara ai é amigo gente fina demais o cara quando ta precisando ta ajudando, as vezes é só besteira e outras pessoas que você já conhecia há muito tempo pensar que podia confiar as vezes quando você precisa eles não tão nem ai pra você eles não ajuda, eles regra e pessoas que acaba praticamente de conhecer fazem o possível para ajudar, por isso que é o legal na faculdade, a gente sempre ta conhecendo gente diferentes, ta podendo participar de coisas digamos assim, se inserindo na sociedade como pessoa. Antes a gente tinha só aquele grupinho fixo de pessoas, agora a gente já tem uma rede de amigos, tem amigo aqui, tem amigo em Cuité, tem amigo Currais Novos, e assim vamos fazendo esse tipo de ligação e no geral isso é muito bom. Est 07: Uma coisa que Est 13 falou que eu me lembrei também, que o bom da faculdade é que a gente já começa a levar tapa na cara daqui, viu pra não chegar lá na frente e dizer ai meu Deus... Como é que pode... Que sociedade cruel, realmente aqui a gente já passa por coisas que a gente aprende aqui. Procurar saber primeiro em quem confiar a gente não pode ser aberto pra todo mundo, porque se não... e outra ...a gente aprende aqui a ser mais duro com as coisas, claro que ao mesmo tempo é até uma dicotomia, “aprendi aqui também” pra aprender pro resto da vida, é meio estranho... mas você tem que endurecer mais, criar armaduras... Porque pra frente, se você receber uma rasteira dela você vai sofrer um dia como sofreu aqui, sabe, porque você chega mais pra frente e você tem que tomar atitudes que vai definir sua vida daqui pra frente e que a gente já ta um pouco mais malandro, tipo: essa pessoa quer se aproveitar de mim; Pô me lembrei agora de uma situação que vivi aqui na faculdade, que fulaninho enquanto eu tava de boa, tinha alguma influência em alguma coisa, essa pessoa tava do meu lado, quando eu precisei dele, ele me deixou... É bom a gente entender como funciona a sociedade lá fora. Est 13: O sistema de confiança, a gente vai... Você muitas vezes constrói amizades verdadeiras, mas ao mesmo tempo você pensa que ta construindo uma amizade que muitas vezes você... Eu digo, mas assim, às vezes assim o pessoal chega de fora, vamos dizer assim, não tem muitos amigos e começa a construí aquele ciclo de amizade é uma coisa boa, a faculdade proporciona isso, mas ao mesmo tempo a gente tem que saber muitas vezes aonde pisa; às vezes a gente ta muito longe da família, às vezes procurando um ombro amigo, outra pessoa e aquela pessoa ali ela ta com você só por , digamos assim, pra se beneficiar e não quer realmente ajudar você e muitas vezes a gente tá aqui pensando que pode confiar na pessoa, a pessoa legal e tudo e você recebe essa rasteira como Est 07 disse, apesar de que assim são coisas que vão sendo construídas que a faculdade traz pra gente. A gente vai levar muita tapa na cara como Est 07, mas a gente sempre tem que sempre pensar assim, a gente tem que confiar nas pessoas, mas nem sempre confiar totalmente sempre desconfiar um pouco, até de você mesmo... porque você as vezes faz coisas ruins até pra você mesmo.

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Est 11: É ...Você aprende a lhe dar com as pessoas né, Elida tá dizendo pra uma pessoa ali, que existe pessoas que pensam de uma forma a seu respeito e pessoas que pensam de outra forma, meu pensamento pode ser... eu posso pensar uma coisa e você achar que é outra totalmente. Aí no que você falou a pessoa se fingir de amigo né, e depois por trás falar ou fazer algo que possa a vir lhe magoar, mas acho que a pessoa, a gente não vai deve se fechar com isso principalmente, que fulano não vai ta se socializando comigo por interesse, também tem que dar um brecha né, tentar construir relações... existe... é, esqueci...não...sumiu a palavra. Est 13: Mas é assim , o que tava pensando é o seguinte...Você tipo tanto você tem que se abrir com as pessoas e você só vai conhecer alguém, contando coisas suas, praticamente, ao mesmo tempo você tem que está sempre de olho no que você conta, porque a gente tá num mundo que as informações estão sendo muito captadas. Est 02: É...Fazendo a minha reflexão né, tem algumas palavras assim que eu tava pensando o que define todo esse, tudo o que a gente vivenciou, que eu vivenciei né até hoje, acho que...é... que já foi apontado por vocês a responsabilidade, a autonomia e a transformação, eu... principalmente a transformação. Uma vez uma professora em numa dinâmica falando quem ela era, ela disse assim “É...”, ela finalizou a fala dela assim: “é eu sou assim e pronto, se tu aceitar que sou dessa maneira, eu não vou mudar” e quem disse que ela não vai mudar, né? Eu acredito que ela todos os dias ela muda sim né, ela que talvez não perceba a mudança dela, mas a faculdade proporciona isso..É todas as manhãs é uma nova mudança. Você acorda uma pessoa e vai dormir outra. É por que? Porque você aprende uma coisa, porque você aprendeu a dá valor a uma outra coisa, uma visão que você tinha que hoje você desfez , você não tem mais. Então essa transformação ela é muito presente na universidade, no ambiente universitário de cada pessoa e aí entra a questão da responsabilidade, né que já foi citada, as responsabilidades são imensas, tanto a responsabilidade social quanto a responsabilidade o mim mesmo, a pessoal né, das minhas coisas e a questão da autonomia e a gente ainda passa a ter essa autonomia de resolver o que cabe a nós de competência nossa, então como experiência da universidade é isso que eu levo, assim, a vivência em grupo também ela é bastante enriquecedora na universidade como Est 03 disse a gente é obrigada a aprender a conviver em grupo, a aceitar as pessoas, é ... principalmente a gente que mora fora nem só na universidade mas como também em casa, ter que dividir casa, a gente começa a saber lidar com o diferente né, às vezes eu sempre dizia muito lá em casa e sempre digo que só vai existir respeito se você souber , se você tem a consciência do diferente né, porque no momento em que eu reclamo de algo em uma pessoa a gente tem consciência de que a formação dela foi outra , a educação foi outra , os pais eram outros. Então eu não posso cobrar uma postura de uma pessoa se ela nunca teve a oportunidade minha, às vezes gente julga como é que uma pessoa estuda e tem a cabeça desse jeito né, age dessa maneira , mas foi a educação dela que infelizmente levou a ela a ter essas atitudes , mas eu acredito assim que a pessoa não entra na universidade e sai a mesma pessoa não, ela muda e muito, talvez ela não queira é admitir, talvez ela não queira admitir, mas muda e muito. Est 13: Aí falar uma coisa legal sobre esse tipo de reflexão é só a gente pensar pronto, vou citar exemplo pronto, hoje quando o pessoal fala tem o grupo focal né, a gente preocupado com a prova caramba, não acredito que hoje tem grupo focal não...aí tipo...cara eu vou ter que ir para o grupo focal, eu fiz beleza né , mas assim o legal que a gente vê, né, que a gente tudo assim , eu digo por mim, eu fiz, vixe vou participar do grupo focal, antes mesmo de ter a primeira reunião, né, mas a gente ter esse prazer na faculdade... pronto muita gente daqui , a gente tem amizade, a gente não conhecia certas coisas , assim alguns problemas que tenham ocorrido com alguns dos nosso amigos a gente tem esse prazer de saber , assim de ver o outro se abri talvez aqui que a gente tem esse prazer de saber assim de vê o outro se abrir talvez algumas coisas que aconteceram ai a gente o que levar mais tempo pra saber e talvez nunca ia saber e assim essa uma oportunidade que a faculdade nos traz e isso aqui com relação eu realmente no início não tava querendo participar não , mas tipo depois você começa a conhecer o pessoal devagarzinho vão compartilhando certas coisas que assim você vê que é importante que antes daqui , assim você às vezes você julgava aquela pessoa de alguma forma , mas depois você para conhecer o que realmente você muda um pouco da visão das pessoas. Est 09: A palavra – chave é confiança né, porque eu acho assim, cada um poderia ter guardado o máximo da sua utilidade e eu acho assim que se expuseram assim, de uma forma a confiar no outro né , não pelo fato de ter uma , vamos dizer uma representação ética assim, de você não ta espalhando o que você escutou, mas o fato de amizade mesmo e de conhecer um a outro. Est 13: Respeito e confiança... Est 11: Assim levando para o lado de você ta trabalhando em grupo com as outras pessoas, aí você é muitas vezes...tem algumas pessoas que durante o curso ...os cursos da vida. Bababá...é arruma inimizades não é e aqui na faculdade a gente aprende a trabalhar com aquelas pessoas que você

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não tem vontade, não gosta, não tem afinidade, você se vê é... vê a necessidade de trabalhar com as pessoas , você vai superar é... a sua ...aquilo que você tem ...aquele seu preconceito, aquela sua rejeição quanto aquela pessoa, do mesmo jeito é no âmbito da saúde quando você passa a trabalhar, você vai ter que atender a pessoas que você não gosta , que você é intrigado, essas coisas assim, você vai ter ética a partir do momento em que você passa a trabalhar no setor de saúde né, mas aqui você aprende a trabalhar com isso desde a faculdade, em sala de aula mesmo, eu já vi muito isso na nossa sala tem pessoas que não se falam mas que trabalham perfeitamente em grupo, no mesmo grupo, tá no mesmo estágio e isso já é uma lição para quando chegar na vida. Est 08: Talvez seja aí explicado porque tantos conflitos nossos no início, logo quando a gente chegou aqui , talvez fosse cada um se adaptando , a gente nunca tinha vivido isso , e cada um teve que conhecer um a outro forçadamente , por mais que não concordasse , e hoje a gente aprendeu por mais que ainda existe o conflito e sempre vai existir porque a gente ta crescendo constantemente, mas é como Est 11 falou a gente sabe trabalhar perfeitamente juntos , mas ...por mais indiferença que tenha... Moderador : Mais alguma colocação? Então depois de pelo menos três horas e meia somando os dois encontros a gente encerra esse grupo focal. No terço final do grupo, nesses últimos minutos, as pessoas se sentiram mais a vontade em participar.

4º ANO

Moderador: Bom dia, em primeiro lugar mais uma vez eu agradeço a disponibilidade de vocês, mesmo com os contratempos que a gente passou hoje, mas vamos começar a nossa roda de conversa, certo? A participação é espontânea. A gente não tem sequência de quem vai responder, se vai ser em que sentido horário, anti-horário, ou se vocês vão responder por sorteio, né? Então, a participação, a resposta ela é à vontade, vocês respondam à medida que vocês se sentirem a vontade. Então, a gente começa com uma pergunta básica, né? Até pra gente fazer um retrocesso na nossa vida. Que é a gente quer saber qual foi a motivação responsável pela escolha do curso de Enfermagem, o que levou vocês a escolherem Enfermagem como o curso que vocês estão hoje prestes a concluir? Est 01: É... Vou começar, viu? Ninguém se pronunciou. Eu escolhi Enfermagem, por que eu sempre tive muito ligada à área da saúde, minha família, eu tenho uns tios que trabalham no ambiente hospitalar, não diretamente na assistência, mas burocrática. Só que eu sempre fui muito de tá dentro desse meio e também eu gostava muito da área biomédica, admirava. Eu não, na verdade, eu não dizia assim: haa eu queria ser enfermeira, eu queria alguma coisa na área da saúde e então, eu tava no terceiro ano, né? E veio a FACISA pra Santa Cruz e então aí facilitou como o primeiro curso que veio foi Enfermagem, eu tava no tempo de fazer vestibular e eu escolhi Enfermagem por ser da área biomédica e não em si por Enfermagem mesmo, mas por que era um curso que tava de posse de mim e aí eu fiz e realmente me apaixonei pela área, gosto muito! Est 02: O meu caso foi parecido com o de Est 01, queria alguma coisa da área da biomédica, não se sabe, não sabia necessariamente o quê e aí a oportunidade de curso mais próxima que surgiu de Currais, que é de onde eu moro, foi Santa Cruz, como veio, poderia ter sido qualquer outro que tivesse vindo primeiro, mas como veio Enfermagem, vim e não me arrependo pela escolha. Moderador: Eu peço só pra vocês falarem um pouco mais alto, por que a gente ainda tem a influência externa, né, então, pra gente tentar capitar o máximo de áudio, embora o gravador seja bom, mas a gente pode também dar também a sugestão de Est 03 de ir passando o gravador também é possível. Est 03: Oh, eu vou falar, num dá pra escutar não, eu falo baixo. É... Enfermagem, eu não queria Enfermagem, eu ia fazer farmácia, aí eu fiz o primeiro ano não passei, aí fiz o segundo ano também não passei, aí no terceiro ano eu fiz Enfermagem na UERN e passei nas, nas vagas que sobraram, aí veio pra Santa Cruz, Enfermagem, aí minha mãe simulou que eu fizesse o curso, eu não achava que eu tivesse vocação pra fazer, por que eu sempre achei muito ruim de relacionamento com, interpessoal, né? Eu achava que não dava certo que tinha que fazer alguma coisa pra ficasse mais isolada, mas acabei fazendo o curso e hoje vejo que minha mãe tava certa, que era o caminho correto e todos os caminhos me levaram a isso, né também. Est 04: Eu tive bastante influência da família com relação à área da saúde, aí desde criança até por incentivo da minha vó, eu, eu pensava em Medicina, quando era criança, aí depois que eu cresci eu entendi que realmente era Enfermagem e não Medicina, eu acho que a vontade que eu tinha era meio como a colega falou que era de trabalhar na área biomédica, com pessoas é, pacientes doentes, doenças, aí depois que eu cresci, é eu entendi que era Enfermagem mesmo, aí fiz vestibular.

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Moderador: Sim, só um detalhe pra vocês, na hora que vocês forem falar, principalmente nesse início agora se identifiquem, tá? Pra falar, que é preciso falar no início da transcrição pra reconhecerem a voz de vocês, pra tá certo? Est 05: Certo. Est 04: Era isso que eu ia dizer, meu nome... Est 05: Pronto, meu nome é Est 05, meu nome é Est 05 e na verdade não era minha primeira opção Enfermagem... é...é...a minha primeira opção eu sempre tive vontade de fazer Medicina Veterinária, mas como a UFRN não dispunha desse curso, só tinha na Paraíba, aí ficou como segunda opção e também por que tenho uma irmã enfermeira, eu via ela atuando e ganhando bem e tal, mas pelo mercado profissional em si, pelo reconhecimento do enfermeiro que ele ainda não é bem reconhecido, mas nós temos a esperança de que um dia seremos reconhecidos e quando eu iniciei o curso eu estou gostando muito graças a Deus, me identifiquei com a área, assim, lidar com pessoas é complicado, mas a própria essência da Enfermagem faz com que a gente..é.. atue de forma com que a gente goste do que a gente faz. Então foi por isso! Est 06: Meu nome é Est 06 e no meu caso desde criança eu pensava em fazer Medicina, sempre dizia que ia fazer Medicina e ia me especializar em Pediatria, por que sempre gostei muito de criança, sendo que foi chegando o segundo ano do ensino médio aí foi começando a surgir a dúvida: será que é Medicina mesmo que eu quero? Aí a diretora da escola teve a iniciativa de chamar profissionais de diversas áreas pra fazer palestras pra gente vê o que realmente a gente queria, aí teve a palestra do médico e a palestra do enfermeiro e analisando as duas palestras o que me chamou mais atenção foi a Enfermagem, aí pra ter a certeza...éé...eu pedi a enfermeira que foi palestrar no colégio, no colégio pra ela mostrar como era o dia-a-dia dela e a gente passou uma tarde com ela no hospital e uma tarde com ela no PSF acompanhando ela e eu vi que realmente era o que eu queria. Est 07: Meu nome é Est 07 e assim como as meninas eu sempre me identifiquei muito com a área biomédica e eu sempre convivi com uma colega que a mãe dela é enfermeira e eu sempre a admirei muito e assim junto a isso também eu vi que eu queria alguma coisa pra contribuir de alguma forma com a saúde da população e até agora assim, tem algumas áreas que eu não me identifiquei muito, mas já outras eu conseguindo me identificar e por enquanto eu tô ficando satisfeita com o curso. Est 08: Bom, desde o meu início da vida estudantil, né? Seja como aluna do ensino fundamental, do ensino médio, eu sempre me identifiquei muito por matérias como Biologia, Química, então eu vi que meu direcionamento tinha que ser pra área Biomédica, né? Já que no vestibular as matérias que são mais cobradas são essas. Inicialmente eu pensei em fazer Medicina, meu sonho desde criança era fazer Medicina. Aí fiz vestibular pra Medicina, não passei, foi logo no ano que eu terminei tava terminando o ensino médio, aí pra não ficar naquela de ficar tentando num sei quantos anos sem saber se ia conseguir aí eu fiquei sabendo que aqui em santa Cruz ia ter vestibular pra Enfermagem e fiz vestibular, graças a Deus estou muito assim realizada, gostei me identifiquei e não penso mais assim em Medicina, tirei isso da cabeça. Est 09: Meu nome é Est 09 e eu a princípio eu gostava muito...éé...sempre me identifiquei com a área biomédica, né? E assim com relação de ajudar o próximo, cuidado, essas coisas assim e quando eu fui analisar os cursos da área o que eu mais me identifiquei foi Enfermagem e acho que fiz a escolha certa, né? Até hoje eu to satisfeita... com o curso. Est 10: Bom, meu nome é Est 10 minha história foi um pouco parecida com a de Est 06, por que nós estudamos no mesmo colégio né? Então eu participei das mesmas palestras, sendo que como as meninas também falaram eu achei, eu queria fazer alguma coisa da área biomédica. Inicialmente eu queria fazer nutrição, só que só tinha em Natal e painho não queria que eu saísse nem de Currais (cidade onde ela reside). Aí enfim, Santa Cruz foi mais próximo, né? Com muito jeito eu consegui fazer vestibular pra cá e a Enfermagem era o curso que tinha aqui na época e fiz, passei e não me arrependo, não penso mais em Nutrição, to muito realizada, graças a Deus. Moderador: Alguém mais quer complementar alguma informação?Não, né? Então, essa é a nossa pergunta quebra gelo (risos), certo? É... E aí o seguinte: dentro do que vocês já falaram o que levou a escolha do curso, a gente quer saber, né? Que... O. é um pouco, um pouco da vida de vocês, certo? E aí a gente quer conhecer um pouco da, das experiências que vocês tiveram antes do ingresso no curso de Enfermagem, não experiências necessariamente que sejam na área de saúde, mas experiências de vida, né? Coisas que vocês fizeram que vocês consideram representativo, significativo na história de vocês. Est 07: Ai...ai Est 07: Bom, minha vó, ela teve um câncer que foi um câncer muito complicado e assim abalou toda família, por que era uma doença assim muito grande e não era um câncer como esses outros, era raro o caso dela, então assim, isso também me incentivou também a fazer, por que eu vi o sofrimento dela de frente e vi assim, pensei, refleti, o quanto que os, as pessoas sofrem, não só minha vó,

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principalmente aquelas pessoas que não têm atenção adequada, por que minha vó teve toda atenção durante toda a doença, no período de morte também dela e então assim eu vi que eu podia de alguma forma contribuir pras pessoas que não tive... Não têm, não teve a ajuda que ela teve, então acho que isso contribuiu muito pra escolha do curso também. Est 01: Em relação as experiências acho que quando eu era mais nova eu tive anemia tive hepatite, eu tive também muito, muito internada em hospitais e sempre me senti, assim, tem criança que vai tem medo e tudo mais quando ia tirar sangue e eu nunca, nunca tive, nunca tive medo, nunca tive receio de hospital e sempre me identifiquei bastante com, com essa área de bio de medicina, área biomédica em si. E Enfermagem veio mais pelo fato de ter surgido o curso em Santa Cruz, mas não por que eu já pensava em ser enfermeira, é mais pela questão de tá em contato com a população doente e, ou não doente em promoção de saúde e tudo mais de cuidado em sim, né? Est 09: Eu, eu sempre gostei, assim, eu nunca tive nenhum problema com hospital, mas aí eu fui fazer terapia com a psicóloga um ano e oito meses, né? Aí toda semana eu tava no hospital ali e era um ambiente que não sei por que eu me sentia hee, incluída nele assim como se, não eu nasci pra viver dentro daqui sem ter nenhum problema e eu gostava eu ficava observando muito, as pessoas assim trabalhando, por que eu ficava na sala de espera né? E assim, eu gostava, me identificava e ajudou também, né? A ver a rotina assim, me incentivava a tá fazendo, assim a escolher algum curso naquela área, então, eu acho que contribui bastante por que foram quase dois anos lá dentro, toda semana, toda semana, de tanto ver a pessoa finda, já gosta e de tanto ver a pessoa fica com mais vontade ainda. Est 05: Pronto, no meu caso um fato que eu lembrei não quando eu era criança, mas quando eu era, já era adolescente, foi a questão da minha vó que ela em fase terminal já, ela muito adoentada já tinha tido um AVC, trombose também e quando ela, ela ficou muito mal mesmo a gente pensou em interná-la em um asilo, só que minha mãe, tenho outra tia né, que era tem duas filhas, né? Minha mãe e minha tia e a minha tia que era mais próxima dela não, não quis ficar com ela na casa dela, então a gente, elas conversaram entre elas pra interná-la em um asilo, só que minha mãe mesmo não tendo muito contato com a minha vó, tiveram pequenos problemas com ela, mas minha mãe disse: não a gente vai ficar com a senhora. Então, nessa fase da minha vida foi importante, por que a gente assim, eu pequeno ainda, né? Adolescente tive essa oportunidade de cuidar da minha vó, não tinha muito contato com ela, mas graças a Deus nesse momento tão difícil na vida dela, importante na vida dela, nessa passagem né, pra outra vida, né? Então, eu tive essa oportunidade, pequenas coisas, como dar um banho nela, a gente vê que é muito gratificante você dar um banho assim num idoso, acamado, né? Eles agradecem tal e por ser minha vó também isso marcou muito, então essa passagem eu lembrei agora, creio que foi importante. Est 03: Eu sempre vivi dentro de hospital quando eu era criança vivia fazendo tratamento pra alergia, vivia doente com asma, com todas as, essas epidemias que dava aí eu tinha, tudo, até a mais frágil que existisse, aí eu tô por dentro de tudo, do comportamento do médico, do enfermeiro, dos profissionais todos , né, tanto que eu tinha até uma aversão ao médico, por que na época quando eu era criança minha mãe num tinha, a gente num tinha tão bem, entendeu? E minha mãe tinha que se dobrar em dez pra pagar todos os meus tratamentos caros, hoje em dia é mais acessível o sistema de saúde, mas, antes não, antes era mais complicado e a gente tinha que ir pra Natal, era bem difícil e eu sempre cresci assim meio revoltada com o sistema de saúde, eu sempre achei ineficaz, eu vejo problema em tudo no SUS, tudo, tudo, tudo, tudo, quê que eu to com essa mentalidade até hoje, também por que às vezes eu to no médico hoje em dia eu falo, que o SUS é, e o meu médico particular, eu falo que o SUS é ineficiente, que o SUS poderia melhorar, que isso que aquilo e ele diz não mais já melhorou muito e deveria melhorar mais por que eu tenho consciência da realidade, que o médico, ele dá um atendimento muito superficial quando você tá numa unidade pública, assim como eu vejo também o papel do enfermeiro, tem ótimas enfermeiros, assim como tem péssimos enfermeiros, por isso, assim, isso nunca me influenciou na escolha do curso não, nunca levei isso, tipo assim, sempre tive simpatia pela área de biomédica, mas nunca usei isso como pretexto pra escolher o curso que eu to fazendo agora. Est 02: A princípio como Dulce disse eu sempre tive afinidade pelas matérias de Biologia, Química, que é o no caso a gente discursa no vestibular e eu acho que esse foi o principal, algumas dessas principais que me motivou a fazer a área biomédica, só na afinidade que eu acho que já, que eu tenho, a afinidade de gostar de tá com as pessoas, de conversar com as pessoas e tal e eu acho que a área de biomédica passa muito isso de tá com as pessoas, prestar cuidados e etc., mas eu acho que a minha principal experiência foi na época do vestibular que uma semana faltando pra eu fazer vestibular minha mãe adoeceu, teve internada e no segundo dia de prova eu terminei e corri pro hospital, por que ela tava sozinha, então, tipo foi acho que foi a minha maior experiência, num foi na escolha em si, foi na segurança de que eu tinha escolhido o certo e aí depois que passou o vestibular

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eu viajei com ela pra Natal que ela precisou ficar internada lá um tempo e aí como Est 09 disse, eu me identifiquei muito na fala de Est 09, tipo, aquele ambiente ali pra mim não era estranho, embora eu não soubesse muita coisa, mas me atraía, eu não me sentia mal digamos assim ali, então... Est 08: Bom eu nuca tive nenhuma experiência assim de ter alguém na família, muito doente, nem nunca fui muito de frequentar hospital, nunca fiquei internada graças a Deus, nunca tive nenhum problema sério de saúde, mas assim, eu sempre fui muito curiosa, quando eu ia, um exemplo, pra uma consulta com o médico, aí eu ficava curiosa pra saber os procedimentos que ele ia fazer, a conduta como ia ser e assim a curiosidade de entender o funcionamento do corpo humano, eu ficava imaginando: haaa, são super inteligentes, a gente sente isso e ele já sabe o que é e o medicamento que tomar, eu tinha esse interesse assim de entender o funcionamento do corpo humano, né? Que é o básico eu acho assim, aí foi por isso que eu escolhi também a profissão, mas nenhuma experiência de ninguém doente, nada não. Est 06: Bom, como uma das pessoas já falaram eu fui uma das crianças que passei também muito por hospital, por médico, heee... mas uma experiência assim que não tá tanto visando na saúde, mas em termos de educação e projetos sociais, a gente se enganou muito no colégio, por que a gente fazia muitos trabalhos sociais, arrecadação de alimentos, fazia palestras em escolas, promovia eventos, sempre...heee...focando mais em saúde em educação e vários temas e isso também acho que ajudou muito durante a faculdade, essa questão de planejamento, de falar em público ajudou muito, experiências relacionadas a saúde..hee..quando meu avô adoeceu que teve AVC eu também ajudei a cuidar dele, eu vi toda aquela preocupação, toda a fase dele adoecimento, aquela coisa em casa, a gente ter que dar banho, levar ele pro banheiro que ele num conseguia andar todo esse cuidado a gente teve e a experiência da visita ao hospital pra ver realmente a vida do enfermeiro, como era o dia-a-dia pra ter a certeza da escolha do curso e como Dulce eu sempre fui também muito curiosa, sempre que eu aprendia uma coisa na escola que eu ia a algum médico eu tentava relacionar alguma coisa de biologia, qualquer coisa haa doutor isso, isso e isso, né? É... aí ele começava a me explicar, sempre gostei muito de conversar e foi isso mais as minhas experiências. Moderador: Ok. É, mas dando continuidade ainda a essa mesma discussão, certo? É fora essas experiências no campo da saúde e da doença que outras coisas vocês fizeram durante a vida de vocês, que outras experiências, você teve, como Est 06 falou que teve oportunidade no colégio de fazer trabalhos na área social. Que outras vivências extras vocês tiveram, vocês consideram importante, significativas? Est 02: Eu acho que como Est 06 falou também o colégio, questão de projeto, feira de ciências que eu acho que assim serviu como experiência muito válida até em questão de falar em público, de organizar alguma coisa que você queira botar em prática, eu acho que a experiência de expor, eu acho que vale muito, todas as medidas. Est 09: Eu fui evangélica dez anos assim, da minha infância a minha adolescência quase toda e assim, lá a gente tinha muitas oportunidades pra fazer, heee... Tipo assim, ajudar o próximo, de organizar, ter uma pessoa necessitada, fazer aquela campan...Recardação de alimentos, muita coisa e a questão de lidar com o público, né também assim? E muito disso, assim, essa desenvoltura que eu tenho que ajuda muito na profissão, eu desenvolvi lá né durante esse tempo todinho foi um pontapé muito bom foi que eu tive e outra coisa também foi o PET, por que eu participei do PET por uns oito anos e lá eu tinha muita oportunidade de visualização, dessa coisa assim...de.., sei lá, de liderança, a liderança assim do grupo tudo que tinha eu tava de dentro, eles faziam muita ação social, eles preparavam a gente pra palestra pra esse tipo de coisa e eu sempre tava no meio assim, sempre tava muito a frente de muita coisa, muito disso contribuiu assim pra levar a minha escolha. Est 10: Bom, assim como Est 06 falou né, eu também tive essa experiência na escola, a gente teve oportunidade de conhecer a realidade da comunidade e intervir sobre ela e mais além disso eu também participei de grupo de jovem um tempo e a minha experiência particular no grupo foi com teatro e dança que eu gostava muito, me identifico e acho que isso me ajudou também na minha interação com as pessoas, é uma forma de chegar até a outra pessoa sem ser a fala, assim, diretamente né sem ser o diálogo, acho que é válida também essa experiência. Est 01: Heee...como Est 09 comentou também desde pequena eu participei de projetos, projeto que tinha aqui em Santa Cruz, ela participou do PET e eu participei do Projeto Cidadão do Amanhã que eles disponibilizavam pras crianças um esporte e uma cultura e eu sempre fui de praticar muito esporte e também entrei na dança, nas artes plásticas, fiz várias, a gente chamava cultura lá e dentro disso eu comecei a me engajar em quadrilha, faz oito anos que eu danço quadrilha, esse o oitavo ano de quadrilha que compete no festival da quadrilha aqui da região e aí foi uma coisa também que me ajudou bastante na na interação com o público, questão teatral, por que a gente perde bastante a vergonha e consegue chegar mais nas pessoas, conversar..hee..se aproximar. Heee..mas em relação as experiências questão de colégio também como Est 02 falou, que a gente faz parte de feira

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de ciência e aí faz apresentação pra comunidade e vários tipos de apresentações se acaba a cada ano que tem feira de ciências de uma coisa diferente e aí passa a conhecer a realidades diferentes, assuntos diferentes que também podem influenciar. Est 08: Bom, eu sempre fui assim muito tímida, nunca fui muito de me envolver com peças de teatro essas coisas, tinha um pouco de dificuldade de falar em público como até hoje ainda tenho, né, mas eu lembro que assim durante o meu ensino médio, num lembro se o primeiro, o segundo ano do ensino médio..hee..a gente pagava disciplina de sociologia e o professor era um padre, então ele começou a estimular a gente a ir pra comunidade distribuir cesta básica, falar sobre algumas é..questão de saúde, então, a gente ia pra comunidade e começava a fazer tipo como se fosse rodas de conversa, palestra, alguma coisa assim, distribuição de cesta básica, então, eu comecei a ver que as vezes eu tinha vergonha de apresentar determinado trabalho alguma coisa assim, mas com a comunidade eu me soltava mais, então só isso mesmo, só era essa experiência. Moderador: Alguém quer falar mais? Não, né? Ok, dando continuidade, né? É... E aí o seguinte: O quê essas experiências, né, citadas e até mesmo as ainda não citadas, né? Elas... si...éé... significam nas escolhas que vocês tem feito, né, nas opções que vocês tem (queda de energia – um belo haaaa e risos do professor) né? Nas opções que vocês tem feito na vida. Desde a questão, né das vivências que vocês vêm acumulando até agora? Aí a gente pega, por exemplo, a questão de Est 08, né que teve um professor que estimulou a ela em fazer trabalho social que ela começou a se sentir a vontade, Est 01, né? Com relação ao esporte, a quadrilha, expressão corporal, Est 10 com o grupo de jovens, né Est 09, né e outras que vocês falaram o que é que isso, né ela traz de significado nessas escolhas que vocês vêm fazendo nesse decorrer da história de vocês? Est 02: Não eu acho que um, um das principais benefícios que trouxe pra gente foi a questão de, a questão de como as meninas já disseram, de como chegar, a gente já tem uma, digamos que uma empatia melhor, quando a gente já passa por essas experiências, eu acho que é o principal benefício. Est 09: Um dos benefícios também é a questão da liderança, né, por que a gente enquanto enfermeiro, a gente vai coordenar uma equipe, então, querendo ou não você tem que ter o mínimo de liderança possível e assim essas atividades que eu participei durante a minha vida me permitiram muito trabalhar essa questão de liderança e isso é um coisa bem proveitosa. Est 01: Então relacionando as escolhas que eu tive né durante a minha adolescência até a vida adulta vou, por exemplo, relacionar ao esporte. Eu to em Karatê faz dez anos e aí eu fico pensando em relação aos meus pacientes quando eu vou orientar, eu sei o benefício que isso traz a mim o tempo todo, eu sei o benefício que é pra população a prática de exercícios físicos e tudo mais e é, por exemplo, um incentivo, é uma justificativa, eu escolhi isso um dia pra minha vida e eu sei o significado disso e eu consigo passar pras pessoas, do mesmo jeito a questão da cultura, da dança que eu já participei de dança, sabe, danço quadrilha todo ano e eu gosto dessa parte de teatro, dessa parte cultural em si, éé... É importante pra criança, pra adolescente tá inserido nesse meio e eu vejo também como uma oportunidade de já educar, o enfermeiro como educador ele faz o papel de incentivar adolescentes e crianças a participar desses grupos sociais, a exercer sua cidadania em si, então eu vejo isso comigo consigo observar isso em mim e consigo ver a importância de orientar meus pacientes também em relação a isso. Est 05: Bem, em relação a experiência que eu citei como importante na minha vida, a questão de cuidar da minha avó na fase terminal dela, éé... Eu trago nem como escolhas para a vida não, mas como minha atuação profissional, de você visualizar o seu paciente como o seu ente querido, então você quer que ele fique bem, você quer que ele esteja limpinho, higienizado e tal, então mais pra atuação profissional, você atuar vendo o outro, o paciente como um ente querido que você queria que fosse bem cuidado, então é mais relacionado a atuação profissional. Est 07: E assim, alguma que eu não citei também é a relação, minha relação com as outras pessoas, eu nunca tive problema com ninguém assim de tá brigando com ninguém, então acho que isso é muito importante, você respeitar o espaço do outro, você saber respeitar, por que se você chegar pro paciente com um pensamento e você expor ao paciente ele não vai se sentir a vontade então, cada um tem que ter seu pensamento, tem que ter seu espaço, então acho que isso é fundamental que o enfermeiro tenha em mente e respeitar o espaço do outro. Est 03: Bom das experiências que eu tive só serviram pra que eu fizesse tudo diferente. Nada do que eu vivi, do que eu passei eu faço igual, eu faço tudo diferente, no estágio, quando eu to no estágio que eu to fazendo uma consulta que eu vejo que aquela pessoa já passou uma situação que eu já passei um dia, eu dou todo apoio, eu só falto levar pra casa de tanto apoio que eu dou, por que eu sei o que é e eu sei o que eu passei, então eu acho que se eu fizer diferente vai ser pouco, quando você tiver naquele momento, mas vai fazer um efeito enorme. Est 01: Mais alguém? Moderador: Certo!

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Moderador - Dando continuidade a nossa conversa, né! E ai essas vivencias que vocês tiveram de alguns até continuam, né! Que Est 01 até....é, como é que essas experiencias elas tem contribuido pra vocês no processo de desenvolvimento do conhecimento, vem contribuido nesse conhecimento através da vida, não só o conhecimento formal acadêmico, que elementos vocês vão construindo, o aprendizado vocês vão tendo. Est 01: As escolhas, as experienças que a gente teve tem contribuido, nesse caso? Est 02: O esporte é um exemplo, por que nem toda a vida você ganha, né?, ensina a perder, né? Moderador: o conhecimento em todos os sentindos e não apenas o formal, o profissional, o conhecimento que você encontra como pessoa. Est 01: É eu tenho uma experiência muito boa, o karatê é uma arte macial como todas as outras artes que ensina muito disciplina, questão de controle, de concentração, isso me ajuda bastante em outros aspectos. É questão de sempre tentar ser bom, né, fazer o melhor, mas saber que sempre vai ter alguém melhor também, saber que tem que se esforçar. Na quadrilha eu consigo observar, ao longo desses anos eu brinco com os meninos que entrei na quadrilha eu tinha 15 anos no primeiro ano terminei o ensino médio, fiz vestibular passei to terminando a faculdade e ainda tô dançando quadrilha. Tem gente que diz : ah vou sair por que eu.não tenho tempo. Eu entrei e vou sair da faculdade dançando quadrilha e consigo observar é... Questão de comportamento que nova quando eu entrei não conseguia com um tempo a gente vai observando as pessoas aprendi muito a observar a trabalhar em grupo e ver as dificuldades de lidar com as pessoas tem hora que você tem que ter paciência de liderança falar alguma coisa e pra mim a experiência de vida, a quadrilha é muito boa em relação a isso. Acho que só. Est 06: Além de tudo que Est 01 falou a questão do respeito às diferenças que cada um tem a sua opinião cabe respeita-las e a questão do trabalho em equipe. Que não é eu querer uma coisa e todos terem que acatar, a opinião de todos vai formar uma opinião e vai ser melhor ainda. Então o respeito ao próximo, respeitar as diferenças, saber trabalhar em equipe, tudo isso vem de conhecimento. Est 08: Bem, então agora vou falar um pouco sobre as experiências depois que eu entrei na faculdade. Né, já que eu não tive tantas experiências antes. No estágio por exemplo em atenção básica né, o que foi que isso contribuiu pra minha vida? A partir do momento que você começa a ter, assim um estreitamento dessa relação enquanto futuro profissional e paciente você vê o quanto valeu a pena todo esse tempo que você passou na faculdade e a cada dia vai contribuindo pra você se tornar uma pessoa melhor vamos dizer assim né quanto ser humano e de buscar mais conhecimento as vezes são pessoas muito carentes que tá ali só querendo a sua atenção mesmo, querendo conversar, a gente ver muito isso no hiperdia, por exemplo. Então é uma coisa gratificanto que você ver que você estudou que às vezes matérias que você diz: ah pra que isso antropologia pra que vixe só pra atrasar complicar mais a vida, mas hoje em dia a gente ver que realmente tem uma aplicabilidade, né. Então a experiência, o ganho é diário a cada pessoa que você vai atendendo o paciente e você vai vendo que vale mais a pena e tive muito ganho nessa questão pessoal, espiritual, psicologica, tudo que envolve o eu. Est 01: Você aprende né, você entra na faculdade como uma pessoa ai você vai criando experiência e aprende a ouvir as pessoas a identificar que cada um tem um jeito diferente e você muitas vezes tem que tirar, ter paciência, pensar como um enfermeiro, um educador, orientador e tudo mais e certas pessoas tem livre arbitrio, mas a gente tem que buscar fazer o melhor para a população. Est 02: Eu acho que ultimamente, pelas vezes que eu tenho mais visto e pela convivência mesmo é a questão que ninguém nunca vai ser saber de tudo e que a gente ainda não sabe de nada, embora a gente esteja as portas de sair da faculdade, mas eu acho que esse é o principal ensinamento de tudo, de tudo que vivemos e estamos vivendo. Est 09: O conhecimento nunca é completo. Mas o que você estuda é o suficiente, é ter alguma coisa que você não sabe. Est 07: E ter em mente também que você não vai só passar o conhecimento para o paciente, mas que ele também vai passar muita coisa pra você. Então não é só você que tem que considerar com um ar de superior, de jeito nenhum. Tem muitos profissionais que são assim que botam o paciente lá em baixo e você ta ai eu estou aqui no meu pedestal, mas eles também têm muito a contribuir com você. Às vezes ele vem com uma historia de vida que você leva pra vocês. Est 02: E ai é aprender a ouvir. Est 07: Exatamente, o quanto é importante ouvir, é importante falar, mas é muito mais importante ouvir. Est 05: É por que muitas vezes além deles irem para alguma assistência, educação, para os cuidados, eles vão muitas vezes para conversar. Então, uma simples conversa, eles relatam pra gente: ah fui pra tal profissional que não vou citar nomes, médicos, fisioterapeutas eles não ouviam o que tinham pra dizer realmente, só baixavam a cabeça e fazer a prescrição. Muitas vezes eu vejo

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assim essa questão do enfermeiro a conversa, a humanização que tem sido debatido, mas que tenha aplicabilidade. Então é importante a gente levar isso pra prática a questão da conversa, olhar o outro, respeitar, escultar é importante. Est 09: E assim tem paciente que chega com uma determinada patologia que ele já tem a muitos anos e você não sabe nem o que é, e ele lhe dá uma aula do que é aquilo, por que ele sabe tudo da doença dele e você fica só olhando assim, a gente aprende muito, tanto na questão profissional como pessoal também né. Por que assim muitas vezes a conversa com o paciente é uma lição de vida indiscutivel né, quando você vai ver a realidade, você consegue muito bem ver a realidade que você ta inserida. Por que você mora numa cidade, eu moro aqui, mas quando você vai pra o posto você começa realmente a ver como é a sua, a população da sua cidade, os costumes, os hábitos e as condições né, principalmente de vida a questão da moradia, de condição social. Muitas vezes você é alienado não tem muita noção que tem gente que tem necessidade na sua cidade, quais são as necessidades e você consegue ver muito isso a partir do momento que você ta nesse estágio assim, nessa interação com o paciente. Moderador: O bom desse grupo é que a gente acaba pendendo a comunicação não verbal. Eu acho bom até pra descontrair, teve outro grupo que foi com a turma do 6º periodo inclusive eles faziam a linguagem de sinal mesmo das intervenções. - e ai é o seguinte pessoal: é... Ainda nessa lenda discussão sobre o desenvolvimento de conhecimento, certo! Como é que vocês relacionam o saber que vocês tinham antes de egressar no curso, antes de ingressar no curso, na universidade, como saber que vocês vêm construindo após esse egresso? Est 09: É quando eu entrei na faculdade, eu vejo assim hoje em dia, que, não, eu não falo nem tanto na questão do conhecimento cientifico, mas enquanto pessoa, eu amadureci muito, eu era uma criança quando eu entrei aqui, eu fico olhando assim eu era um bebê, pareci assim eu abri minha mente pro mundo, assim, eu era uma pessoa muito limitada por mais que eu tentasse ver eu não conseguia ver muita coisa, hoje em dia eu consigo olhar o mundo de uma forma bem diferente, amadureci pra conseguir ver quem é a outra pessoa, tentar entender o ponto de vista dessa pessoa, respeitar ao proximo. Assim respeitar a opinião das pessoas e a gente amadurece muito nesse processo, são 4 anos e meio de um amadurecimento, não diria forçado, mas é um intensivo, você amadurece em 4 anos e meio o que era pra você amadurecer numa vida quase toda. Você entra de um jeito e sai uma pessoa totalmente diferente e quando a gente chega nessa historia, né, de tá quase indo por final, você ver o quanto você conseguiu aprender, todo semestre você ver aquela quantidade de disciplina limitadas você vai aprendendo as coisas de uma forma mais limitada e quando chega no final que você vai testar todo o seu conhecimeto, você diz menina eu já sei disso tudo, eu aprendi isso tudo e ainda tenho um monte de coisa pra aprender que muito mais. Est 06: Universidade é mesmo uma verdadeira escola assim, uma verdadeira escola de amadurecimento. Um fato claro que eu vejo na minha vida, é... A questão pronto de num é nem tanto de preconceito é receio de pessoas com transtorno mental, eu morria de medo, quando eu via eu me escondia, ai quando eu comecei que entrei pra faculdade e no estágio fui pra o caps, eu já fui com aquele receio, conversei com a professora e tudo e foi um amadurecimento muito grande, foram poucos dias lá, mas o contato com eles que eu vi que não era nenhum bicho de sete cabeças que eu hoje consigo ver uma pessoa com transtorno mental com um olhar totalmente diferente, um olhar maduro, não tenho mais receio que eu tinha antes, consigo conviver normalmente com eles, eu acho que foi um lado meu que amadureceu bastante. Est 07: É só complementando o que Est 06 falou que as vezes nós chega com uma barreira lá e no final a gente sai vendo que eles respeitam a gente tão mais quanto pessoas sãs, por que as pessoas hoje em dia não mais tentando desrespeitar um com o outro e lá a gente não via isso, lá eles se dão todos muito bem, respeitam o espaço um dos outros. Então assim, lá a gente saiu com um aprendizado muito grande, muito grande mesmo. Est 06: E o que me chamou a atenção lá é quanto eles são carentes de carinho mesmo de chegar pra conversar, por que eles se apegaram muito com a gente quando a gente ia pra lá e se estristeceram quando a gente saia por que as pessoas ultimamente, quem é que chega a uma pessoa com transtorno mental na rua e começa a conversar com aquela pessoa, mas sabem jogar pedra e fica aperriando o juizo dos coitados, ai, eu acho que foi muito boa a experiencia, são pessoas muito carentes e o respeito é fundamental pra aquelas pessoas. Est 07: E eu acho que até dentro de casa muitas vezes antes da faculdade eles não sentam pra conversar com a mãe, com o pai e ter tempo de sentar ouvir. Hoje em dia a gente dá mais atenção, eu pelo menos, eu dou atenção, mas sempre dei atenção a minha mãe, mas eu vejo que hoje redobrou a atenção que eu dou a ela, e ela também, eu vejo que hoje em dia ela me ouve mais como eu ouço ela mais, melhorou muito a minha relação com a minha própria familia.

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Est 09: Assim eu acho que elas notam o amadurecimento da gente, por que hoje em dia eu já tenho uma conversa bem mais interessante com a minha mãe do que eu tinha antigamente, eu tinha tanto diálogo, hoje em dia ela já tem uma dúvida quer saber de alguma coisa, ela já senta, já conversa, ela confia no que conhecimento que a gente tem e no amadurecimento que é uma coisa tão notória, acho quer todo mundo nota o quanto a gente amadureceu nesse processo né, pelo menos a grande maioria né. Est 10: Pra mim foi uma mudança muito grande em todas as dimensões, por que eu sai de um ambiente, onde assim, eu passei no meu primeiro vestibular, então a minha vida inteira eu estudei em escola particular e eu tinha aquela realidade, então quando eu cheguei aqui em santa cruz eu vi muitas realidades diferentes, eu vim morar sozinha, eu tive que aprender a fazer coisas, coisas de casa não, começar a faze-las por que em casa eu não fazia, aprender a cozinhar, não aprendi até hoje mais assim, eu desenrrolo eu me viro, acho que estimulou muito a minha dependência. Hoje eu sei chegar, eu vou um concurso em outra cidade, eu consigo ir sozinha, resolver as minhas coisas, coisas que antes eu era mais dependente dos meus pais, da minha familia. Eu acho que assim foi uma mudança muito grande, além dessas questões que as meninas estão falando, eu acho o crescimento pessoal de independencia, assim foi uma mudança radical. Est 09: Outra coisa que a gente aprende é ter responsabilidade e compromisso com as coisas, assim hoje em dia eu já assumo uma responsabilidade pessoal tão compromissada quanto uma profissional assim, aquela cobrança, responsabilidade de ter um prazo pras coisas, de ter que fazer independentemente se você quer ou não, você aprende a ter um compromisso bem melhor com as coisas que é sua, antigamente eu num tava nem ai pra quase nada, hoje em dia não eu já sou bem mais séria assim com relação a isso. Est 01: Se a gente for parar pra analisar, passa né 4 anos e meio no caso da gente dentro da faculdade, convivendo com pessoas que a pouco tempo a gente não conhecia, né, realidades diferentes, a gente acaba procurando experiencias né, essa troca de experiencia vai nos amadurecendo a cada dia. Isso é o processo que chamamos de osmose. Est 09: E, assim, pronto eu vejo que a gente tem... Eu não sai da casa da minha mãe pra estudar e ai as meninas sempre reclamavam, chegava em casa ia ter que fazer comer e eu aprendi a valorizar muito o trabalho da minha mãe em casa. Ah eu tenho muita sorte de chegar em casa e ter o almoço pronto, casa arrumada, ter tudo feitinho isso serve pra gente dá mais valor a isso, antes eu num dava valor não, mas quando eu vi o pessoal aqui sofrendo, ralando, morando sozinho realmente eu agradeço a deus, tenho faculdade na miha cidade, eu não preciso sair da casa da minha mãe pra poder fazer isso assim. E hoje em dia eu ajudo muito mais a ela por que eu aprendi a valorizar né, eu sei o que ela passa, hoje em dia eu estou bem mais compromissada com a casa que antigamente. Est 08: E uma mudança assim que vai ficar pra gente que você para pra percebe é a própria questão de nota, claro que eu não vou falar pelas outras pessoas, mas por mim, mas assim no inicio eu era preocupada em tirar nota boa né, hoje me dia quando a gente vai chegando mais por final a gente nem lembra mais, eu extrair o conhecimento que eu preciso daqui pra frente que eu preciso claro que vou extrair o máximo que eu poder por que eu não sou nenhum einstein do tipo, mas tirar aquilo que eu vou usar pra minha vida enquanto profissional e as notas é uma conseguência. Entendeu então a gente amadurece em questão a isso ai, em termos de relacionamentos. Não é fácil, tem algumas pessoas que realmente, né, tem dificuldade né, ah não importa eu entrei aqui antes eu não me relaciona e agora eu me relaciono bem com todo mundo, não tem as dificuldades, mas como o próprio nome dis universidade um universo dentro da universidade né, cada pesoa aqui tem um modo de se comportar e a gente vai aprendendo é difícil, mas com um tempo você vai aprendendo a lidar, a respeitar os limites do outro. Est 09: Assim, desde o começo a gente já vai conseguindo inconscientemente aprendendo isso, a gente lidar muito com isso quando ta trabalhando né, lá nos estágios, são pessoas muito diferentes e você ver quando a gente pega, no começo a gente pega uma turma bem assim, com opiniões diferentes é dificil você entrar e você vai aprendendo a ceder, a se impôr, desde o começo da sua formação isso vai entrando em você espontaneamente, assim quando chega no final e você precisa usar de fato na sua profissão você já ta bem mais articulado com relação a isso, eu digo isso por que assim a turma da gente tinha personalidades bastantes diferentes, a gente teve oportunidade de lidar com muita situação que contribuiu muito pra nossa formação pesoal e profissional. Est 01: Pegando o gancho de Est 09 ai eu realmente ia falar isso e esqueci, que realmente a gente entra com uma mente inocente, não sei,a gente entra muito...ah to fazendo faculdade. A gente não sabe que tem que passar por muita coisa aqui dentro e muita experiência que você que acaba se decepcionando, acaba não aprentendendo, levando na cara como a sua mãe diz; você não vai apanhar aqui, mas vai apanhar na vida e realmente tem coisas que a gente fala que não poderia falar, não poderia ouvir, coisas que eram pra ser ditas e não diz. Tem gente que precisa apurar saber

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que a pessoa ta errada e não aceita. E ai isso serve de experiência profissional também, por que direitos e deveres agir como cidadão como alunos. Por pessoa em si a gente consegue identificar melhor e a estudar em relação né, por que a gente passou por situações bem delicadas na universidade que machucaram e vai marcar todo mundo da nossa turma por resto da vida da gente. Est 07: E a gente pôde ver o quanto a nossa turma é unida, por que existiram momentos na nossa turma que se a nossa turma não tivesse unida a gente não sabe o que poderia ter acontecido e ai a união fez a força. E ai a gente ver a importancia que é a interação das pessoas, por que se cada um tivesse levado pra o seu próprio nivel, todo mundo tinha se separado, mas ai a gente viu que todo munod tava junto ali entã todo mundo teve que ta unido naquela hora. Est 01: Puxando o gancho de raíssa eu aproveito pra fazer uma critica com relação a universidade não, mas com a categoria de enfermagem por que os enfermeiros hoje em dia eles acham que um é melhor d que outro e não querem baixar a cabeça e por simplesmente não baixarem e acabam ficando no mundinho deles por acharem que sabe de tudo e que são seres superiores por que a classe média não pode ta errado, mas se eles tiverem errado, por que eles podem, mas os enfermeiros não, ah o enfermeiro é ruim..então seja por isso que a nossa classe não seja tão forte hoje em dia, não tem o reconhecimento que deveria ter, pois os próprios profissionais não se defendem e acabam machucando, magoando os profissionais, colegas de trabalho e dificultam a se mesmo o crescimento. Est 07: E eu acho que isso deve ser enfocado muito nas faculdades principalmente no curso de enfermagem por que a enfermagem é um curso muito separado, que já é visto assim não, esse é enfermeiro, técnico e auxiliar, então assim tem que ser enfocado aqui é uma equipe e não o ser enfermeiro, ah você é chefe, ah... Est 01: E o povo já entra com aquele pensamento ah ta muito saturado mercado de enfermeiro quero ser o melhor, mas pra ser não significa que você deve derrubar, reclamar ou abusar da boa vontade do outros não. Est 09: Eu via a relação da gente com os profissionais da faculdade eles enfocavam uma coisa na sala de aula, mas quando dava as costas era o inverso totalmente, assim a gente tinha muita dificuldade em relação a isso,por que era faça o que eu falo mas não faça o que eu faço, eles esqueciam de levar isso pra vida pessoal. Precavam a humanização mas não tinham humanização com a gente. A gente era tratado de forma deshumana. Est 05: Chegou o ponto do porfessor chegar na sala que ele dava aula e ele já vinha com a marreta na gente conversava, era engraçado sem conhecer o povo, mas... Est 09: Eles já chegavam armado com todas as forças que eles tinham pra... Eles tinham ar de superioridade. Est 05: Graças a deus os profesores que a gente passou tinha...e tem pessoas boas com capacidades podem tirar aspessoas que não querem, mas aqueles que passaram por eles vão se formar com bons profissionais. Est 07: E assim uma coisa que a gente pode esta presenciand nos estágios é a importancia da comunicação que tem uma profissional no setor que a gente ta que é muito complicada na parte do diálogo, ela não sabe se comunicar de forma adeguada com a equipe. Então a gente ver a importancia da comunicaão dentro da equipe tem, por que se ela soubesse chegar pra falar ela seria vsta de um forma bem difernte do que ela é vista hoje. Est 09: É por que não se respeita ela por que ela quer, por que quer impôr as coisas as pessoas. Ela não sabe adquiria a confiança e o respeito das pessoas, ela quer que seja pela lei pelo corenpelo o que for a impôr as pessoas a fazer o que ela quer que seja feito, ela não sabe negociar as coisa, ela não sabe. Vixi nesse meu estágio eu venho apredendo a fazer tudo que eu não devo como profissional quando eu me formar. O que você sonhar de não faça eu to aprendendo. Est 07: A gente viu na aula de comunicação que foi até Moderador que deu, o quanto é importante a comunicação na enfermagem, num é a enfermagem em todo lugar, mas... Est 09: É muito estranho você ta numa reunião e terminar numa gEst 09ria, você se assusta e diz: meu deus do seu aonde eu fui me meter. A nossa qustão é entra muito naquela fala eu o enfermeiro se achar um ser superior, assim muitos deles, principalmente aqueles, hoje em dia eles tentam formar as turmas mais humanizadas, mais voltadas pra realidade assim, mas eu acho que os profissionais mais antigos, é essa questão da gente encontrar a resistência da mudança e do processo de humanização, a resistência maior ta ai. Est 03: Não, mas os novos profissionais pregam a humanização. Est 07: Mas, eu acho que isso vai mais da personalidade, da criação de cada um também acho que isso deve começar desde a família, por que se você é criado de uma forma, que você ver não tem que respeitar seu pai, sua mãe, seus tios você vai levar isso pro resto d sua vida, você num vai só

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respeitar seus familiares, mas como qualquer um que seja eu acho isso depende muito da criação e deve segui até o fim da sua vida deve ser trabalhado isso. Est 06: Outra coisa também que influencia muito é desde a escolha do curso por que eu já ecutei muitos enfermeiros falar que escolheu enfermagem por que achou que não tinha capacidade de conseguir medicina e a própria população já acha que quem é enferemeiro é por que não conseguiu fazer medicina. Muita gente me pergunta, mas vai fazer medicina né? Eu disse não vou fazer vou continuar estudando enfermagem por que eu gosto de enfermagem. E a gente sabe que é uma coisa que acontece mesmo, algumas pessoas escolhem o curso ou por dinheiro, por mercado ou por influencia médica cada uma tem a sua opinião, sua escolha, mas quando você faz uma coisa sem amor acontece o que a gente ver desumanização, a falta de respeito. Acho que quando você ama aquilo que você faz você faz bem feito. Est 01: Eu acho que aquilo que você faz bem feita você com certeza vai ter o conhecimento que você deveria ter né. Hoje eu escutei uma coisa interessante, eu estava uma casa de uma amiga minha ai irmã dela falou, antes de vir pra aqui da reunião, ela disse: ei o cd de Fernanda, a filha dela de 4 meses, ta atrasado, é nem fiz abril, nem maio só vai ter em junho agora, ai eu fiz vixe maria, mas ela disse eu nem sei se eu vou mais, ai eu disse por que? Esses enfermeiros não sabem de nada. Desse jeito ai fiz não sabe de nada? Por que você ta dizendo isso? Só vai lá mede, mede a circunferencia, a altura, pesa e pronto, o que que eu vou fazer lá? Ai eu fiquei né. Isso é uma além da população falar o que é a consulta de cd, é uma reflexão do que o enfermeiro faz né. Se não orientar, se não fizer a consulta direito, se não explicar a mãe não fazer o trabalho dele do jeito que é pra ser feito a população vai ver o que um trabalho mal feito, não vai dá importancia a isso não vai valorizar. Est 09: Se não identificar não tem como concluir uma coisa. Est 03: Eu acho assim você pode até começar não num quero, mas quando chegar pra você sair ai cabe você escolher se quer ficar ou sair. E ai na maoiria das vezes você acaba ficando. Est 09: Eu acho enfermagem uma classe tão desunida assim, e eu nunca ouvi falar em uma greve de enfermeiros. Vocês já ouviram falar que a classe de enfermagem ta em greve? Est 05: Por isso que não aprova... Est 09: Imagina um hospital sem equipe de enfermagem, o hospitalpara minha gente e ninguem se toca disso, o povo, é incrivel eu nunca ouvir falar que a enfermagem parou, os hospitais tudinho para. Est 06: Na atenção básica pode faltar médico, pode faltar todo mundo, mas se o enfermeiro faltar fechao posto. Est 09: Minha unidade estava sem enfermeiro só tinha um técnico de enfermagem lá dentro não tinha mais nada, não tinha médico, dentista, saiu too mundo. O posto não tava funcionando, a única coisa que fazia no posto era vacina, tirou vacina não fazia mais nada, nem o enfermeiro não tinha nada. Mas até sem as outras pessoas ainda vai, mas sai o enferemrio pronto esvaziou o posto. Não tem mais nada. Est 01: Então a gente tirou dessa discussão a lição que a profissão em si ta deixndo a desejar e que a gente tem que valorizar a união desses enfermeiros. Moderador: É mas vamos lá, pelo fluxo da discussão certo, mas só que a gente vai trazer alguns questionamentos só pra deixar claro algumas lacunas certo, que vocês mesmos vem trazendo no discurso de vocês, certo. Mas é o seguinte é dentro do que vocsê estão falando da interação um com os outros, dainteração dentro da profissão, dendro da história da turma, né. Que elementos facilitam e que elementos dificultam esses conhecimentos que vocês estão contruindo? O que que trás pra facilitar e pra dificultar? Est 07: Acho que o que facilita é pra gente levar o conhecimento, a questão da saúde pública mesmo que hoje em da ta um descaso e por mais que a gente possa fazer o minimo pra melhorar e o que a gente poder fazer a gente vai fazer pra melhorar pelo menos em parte a saúde da população aonde quer que a gente ta, na promoção, prevenção, no tratamento voê fazer uma coisa bem feita é fazer a sua parte vai contribuir. Est 02: Acho que o que dificulda é a mesma coisa que facilita por que se você quer fazer alguma coisa como raíssa disse bem feito você vai conseguir nem que seja um décimo daquilo que você se propos, não quer paciencia. Est 09: Um grande problema também da nossa comunicação é a questão burocratica de recursos. Às vezes você em uma ideia excelente assim, tem muitavontade de fazer uma coisa ai chega na secretaria de saúde e vai tudo abaixo por que você não tem o apoio adequado, assim interfere muito, muito mesmo. Você t lá pra fazer o preventivo, mas não tem espéculo vai fazer o que? Não tem condições, acho que a limitação da questão dos recursos do sus é um grande impasse na nossa profissão. Por que assim você fica lá a promoção e a prevenção é extremamente importante isso só depende de você pra fazer, ok eu faço, mas ai quando chega na questão que não depende só de

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mim depende de um mote de coisas ai é onde chega o grande impasse da nossa vida profissional também. Est 05: Dificuldades a gente vai encontrar em toda profissão, limitações financeiras e muitas vezes eles cobram muito resultado sem condições, numa simples palestra. No dia das mães eles exigiram você tem que fazer uma palestra, mas só que eles não deram recursos, vai da boa vontade da gente em fazer realmente. Então acho que a dificuldade a gente vai encontrar se pôr limites a gente não faz nenhuma intervenção. Est 09: Muitas vezes a gente tem assim, a gente até busca, mas a população é aquela coisa parada assim, você até tem um profissional que é muito ruim que lhe trata muito mal, ai você vai lá no posto ele escraxa com a sua cara, mas você não faz nada, não procura os seus direitos coisa asism que a gente tem que abrir os olhos da população pra isso, buscar os direitos da gente por que a gente não ode fazer um luta or todo mundo você pegar apopulação falar pela população todinha por que quando todo mundo se uni ai sim você vai conseguir as coisas, mas ai se você vai pra secretaria e ficam brigando batalhando por uma coisa e a população não ta nem ai que é o principal interessado, você tanto se desistimula quanto não vai ter uma reação de fato assim. Est 02: E mesmo que você consiga não vai ser valorizado por aquilo que você conseguiu. Est 09: Ninguém tá nem ai, e vejo que a mente povo é assim, é público é de graça eles esquecem que a gente paga imposto altissimo pra que o sus funcione e eles acham não tão me fazendo um favor é uma caridade, não é, a gente é pago pra isso e a população muitas vezes baixa a cabeça, pois não buscam o direito por que acham que é um favor. Mas não é um favor. Est 05: Você vai fazer uma consulta bem feita, pronto o pré- natal todo mundo sabe que dura se você for fazer bem feito dura e o pessoal reclamam mesmo, não dura muito, o pessoal conversam muito é se é pra fazer uma coisa bem feita, ah ele fez a orientação, mas não passou medicamento pra mim. Est 09: Na nossa experiencia tem um médico que é muito detalhista e tem um que é muito ligeiro ai um dia desse o médico tava fazendo o atendimento e demorou ai a mulher tava esperando o atendimento ai o homem chegou gEst 09ndo querendo quebrar as coisas lá do posto por que a mulher não tava em casa fazendo as coisas dela e pegou e botou a mulher pra casa pra cuidar do almoço e a mulher não fez a consulta e ele saiu reclamando por que o médico demorava no atendimento. Ai em outro que nem olhapra sua cara, você se senta e antes de você dizer o que sente ela já ta lhe dando a receita. Ai o povo reclama por que ela é ligeira demais. Assim a gente não consegue nunca entender o ser humano por que é aquela coisa cada pessoa é de um jeito e é muito complicado. Est 08: Agora uma coisa que ainda facilita o trabalho do enfermeiro na atenção básica é que a gente não precisa muito de material. Assim pra cumprir os programas né, claro num tem que ter, no cd,pré-natal você não tem o sonar como lá na unidade, mas da pra fazer. Ai o que facilita é isso é na questão da palavra né e uma caneta. Pra você fazer um educação em saúde dá, mas se fosse pra fazer algo mais complicado que precisa de um equipamento ia dificultar, acho que o que facilita ainda é essa questão de lidar mais com a conversa, de anotar tudo, á ta precisando de um medicamento do cd ai vai pegar o sulfato ferroso pra criança na farmácia ta faltando, certo ai já tem uma quebra no atendimento, mas de qualquer forma você pode fazer as outras coisas de acompanhamento. Acho que facilita ainda isso na de recursos. Est 01: É como tava falando quando quer... É a boa vontade. Est 01: Mas na vida é assim quando você faz com boa vontade a qualidade com certeza vai ser bem feito e alguem vai valorizar. Est 05: Muitos reconhecem já chegam na sala, não eu vim pra fazer o pré-natal com você por que o médico o pré-natal é mal feito só faz medir e auscultar e vocês conversam, alguns realmente valorizam o trabalho dos enfermeiros, mas são poucos infelizmente mas reconhecem. Est 09: Alguns pensam assim eu a gente fala muito no enfoque da atenção básica que a gente ta vivenciando, mas s e a gente encontra esse tanto de dificuldade eu fico vendo o quanto a gente vai encontrar de dificuldade no estágio não supervisionado de area hospitalar por que se você pensa que o básico a gente não tem imagina o especializado que precisa de mais recursos financeiro ai você tem limite, ai você vai ta limitado. Não vai ter. Sempre vai ter uma alternativa quando você tem a criatividade é muito mais dificil. Est 07: Na rede hospitalar a interação da equipe é mais complicado, eu acho que equipe você se dá mais na atenção básica que na rede hospitalar, tipo assim é muito individualizado você faz a sua parte eu faço o meu te vira. Est 02: E também depende da convivencia, na atenção básica são os mesmos profissionais todos os dias, os mesmos pacientes... Hoje você cuida de uma pessoa amanhã já parte a questão da continuidade. Que as vezes o elo não é bem feito.

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Est 09: Uma coisa é você implantar um processo e você colher os frutos dele e, agora outra é você implantar uma ação que outra pessoa vai ter que dá continuidade e nem sempre essa pessoa tem o mesmo pensamento de você. Se ela achar que não, não desse jeito e não faz, finda sobrando pra o paciente, a perda é sempre a dele. Est 05: Muitos sabem que a questão dos recursos no nível superior do ministério pra cá, a gente sabe que a saúde é um investimento a longo prazo, então muitos politicos não investem na saúde por que não vão ver o resultado na sua gestão de 4 anos, infelizmente a gente encontra essa dificuldade com o passar dos recursos, por que é um investimento a longo prazo, ah eu não quero investir numa coisa que eu vou ver o resultado daqui a 10 anos. Infelizmente a gente encontra essa dificuldade. Est 09: E assim, na atenção básica os profissionais mais comprometidos, assim, que tem um maior compromisso coma população são os enfermeiros né, a gente foi fazer o curso de capacitação pra o teste de hiv e sífilis, era pra ir todos os profissionais de nivel superior dentista, farmacêutico, o médico e o enfermeiro. Só foram da nossa equipe os 2 enfermeiros, os 2 médicos não foram, o farmacêutico não foi, eles não foram, não apareceram ninguem, nem no dia anterior que era o da capacitação nem no dia de fazer o teste. Simplesmente assim, não eu não quero não, problema de... O dentista não tem material, 2 meses que ele não vai no posto. A gente não tem material, mas a gente tem que ta lá todo dia, nem que seja pra conversar e ficar olhando pra cara dos pacientes. Essa a realidade que a gente tem, nem as atendentes da dentista vão mais lá no posto, assim vão de manhã sentam até 9:30hrs e depois vão embora por que não tem material lá, eles tem o que fazer, eles não podem fazer uma ação educativa distribuir os kits de escova, tudo isso eles podem ta fazendo, mas o descompromisso é um abismo, num ta recebendo dinheiro no final do mês, a grande maioria pensa assim né, quando não se tem um compromisso com os seus pacientes, não tem material não vou nem lá no final do mês ele vai receber do mesmo jeito. Est 08: Se os enfermeiros também não fossem enquanto não madarem material quero ver eles num madarem recurso pra unidade, mas vai, os besta. Os motoristas e os cobradores de natal são mais unidos que os enfermeiros. Est 09: Aqui em santa cruz passou 4 meses sem chegar uma água mineral em todos os postos de saúde, o que foi feito? Nada, a população não faz nada então vai ficar todo mundo assim. Est 09: Lá é, mas na gestão passada, entra, é a bendita politica né. Na gestão passada eles mandavam, mas nessa gestão atual não ta disponibilizando água mineral pra nenhum posto de saúde, quem quiser que compre ou beba da torneira. Est 05: Um fato bem concreto foi a questão do quadro do hospital de currais, a questão da politica, pessoas comuns, profissionais da saúde organizaram uma manifestação em prol do hospital de currais novos, foi chamado de..., infelizmente a população não participou, o que acontece quando ta faltando médico, seringa, vão reclamar, falar para as autoridades, mas quando é na hora de cobrar o pessoal não vai. Est 09: Sinceramente hoje em dia eu tenho vergonha do pais que eu vivo de saber que quantas pessoas morreram no passado naquela época das revoltas pra que a gente pudesse ter uma república e ter o direito a isso e aquilo pra hoje em dia o povo simplesmente abrir a mão de tudo. Isso é uma vergonha pra o pais que a gente vive. Est 01: Isso ai é uma questão alongo prazo, isso ai é questão de educação né Moderador. É educação o governo não valoriza a educação da população e a população não tem acesso a informação suficiente pra saber por que deve lutar, então fica dificil, eles não sabem a importancia disso e a gente que estuda não é suficiente e ai fica a desigualdade os grandes tão lá no poder. Est 05: E a gente sabe que o brasil tem a democracia por que o povo foi a rua e lutou e agora não luta mais. Est 09: E ai você adquiri uma democracia pra viver na passividade sem usufruir dela né. Que desde o começo a nossa democracia já é uma furada. É por que você vota você tem o direto de escolher em quem você vai votar, mas você não tem o direito se vota ou não. Começa por ai né, você é obrigado a ir fazer o seu direito valer. Moderador: Vocês falaram muita coisa interessante, e até mesmo a própria questão do olhar que vocês estão construindo. Certo? Eu digo isso porque eu venho acompanhando vocês desde o segundo período. Né? Eu acho que assim a turma de vocês como, também, a do sexto período são as duas turmas que eu conheço as peculiaridades, né, de quase todos, ou de todos. Né? Como de frente para trás, como trás para frente. É. (han). Me diga uma coisa. Nesse processo já de oito semestres que estão vivendo aqui, né, e fora mais tantos anos de vida que vocês tem, né, que habilidades e competências vocês estão descobrindo em vocês? Est 05: Então no meu caso, as pessoas falam que sou encabulado, não é que seja envergonhado, é que eu sou na minha. Muitas pessoas falam que sou envergonhado, tal, introspectivo, não é que é, é porque é da minha formação mesmo, da minha pessoa. E, na faculdade consegui desenvolver aos

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poucos essa habilidade de falar em público, pois sempre tive essa dificuldade de falar em público. Então foi uma coisa que me ajudou muito foi a faculdade durante esses quatro anos e meio que ajudou com o desenvolvimento de falar em público e tal. Muito importante para a profissão, para a interatividade e, tal. Est 09: Eu aprendi a trabalhar melhor em equipe, com certeza, que eu tinha muito isso de tomar frente de tudo, de querer tá fazendo, mas aprendi que com inúmeras lideranças que a gente tem em nossa turma a deixar as outras pessoas agirem também, ver que eu tenho limite de ação para certas coisas, nem tudo eu posso fazer sozinha, nem tudo eu posso, eu não posso controlar todo mundo. E, assim a gente aprende, aprende esperar a ver a vez do outro e saber sua vez, assim, de agir, de tudo. Est 01: Eu sai mais crítica. Com certeza a minha formação crítica de enfermeiro comigo é excelente. Não tem nada que passe aos meus olhos que eu não tenha uma reflexão sobre aquilo. Moderador: O que, por exemplo? Est 01: Por exemplo, a tanta coisa, por exemplo dexo ver: um atendimento, um comportamento de alguém, coisas que não estão assim explícitas , como exemplo: eu vejo muito, eu posso tirar como exemplo no meu trabalho.Eu observo os enfermeiros que entraram comigo em 2010 e hoje em 2012, pela desvalorização, o que eles sofreram em relação a gestão, a um apoio que a conduta deles mudaram. Eles entraram saíram da faculdade, tinham aprendido como fazer e, tiveram que se adaptar a realidade que foi imposta a ele. Então, eu fico assim pensando, não adianta você vim, querer e não ter apoio. Então, tem muita coisa que eu hoje em dia, que antigamente eu olhava e não sabia. Esse povo atende mal a gente por que? Mas tem hora que realmente, assim, não justifica porque atender mal, lógico que não. Eles já estão tão saturadas de querer alguma coisa e buscar, aí o enfermeiro, falando do enfermeiro por parte de ser a profissão da gente, aí ele fica mal visto, aí ele não vem, ele não vem, ele não vem, a gente marca no horário prometido e ele não vem, se não tem material como pode atender, vá reclamar na prefeitura. Entendeu? Então é aquela coisa, a gente não atende na por que quis. Est 08: A gente aprende a habilidade de fechar os olhos para determinadas coisas, porque tem coisas que você não pode agir, tem que se fazer de cego. Est 05: Por isso que tem que se moldar a realidade. Est 09: Assim como a gente aprende a olhar entre linhas, o não digo o que fica subentendido nas falas das pessoas, aprende a questionar as coisas, tanto que os pacientes tá mentindo para você, você conhece que ele tá mentindo, tá dizendo aquela coisa que não é verdade, aí você pergunta de uma forma, quando mais na frente você muda a pergunta ele já responde outra coisa e, eu levo muitas vezes isso para minha vida pessoal, sabe? [risos] Aprendi muito quando fazia terapia com o psicólogo, aprendia muito a responder uma pergunta com outra. Afê Maria. E, a gente aprendeu muito aqui também, que nunca induza alguém responder uma pergunta. Vai lá em semiologia, já está em anamnese, chega e diz tá tudo bem, não você está ebm? Hoje em dia eu digo, tá tudo bem? A gente aprende aquela coisa de ter uma visão realmente ampla das coisas. Quando você aprende a olhar o paciente de forma geral, você aprende olhar o seu irmão de forma geral, a sua mãe de uma forma bem completa, olhando a história de vida das pessoas e você leva isso para sua independente ou não, que hoje em dia eu olho a minha mãe de forma diferente, eu olho a vida que ela teve antigamente quando ela era nova, assim, isso muda muito a sua opinião a respeito das pessoas. E, aquela questão: nunca vá com preconceito para as coisas, assim, você aprende a abrir sua mente, a se aventurar e conhecer de fato o mundo, assim, tentar. Est 01: Como enfermeiro agente aprende na prática que na teoria é outra e a gente tem um pouco, de psicólogo, de médico, de nutricionista, de tudo a gente faz um pouco, todo mundo na nossa profissão e, que também não podemos acreditar em tudo que dizem e, nem falar tudo que quer. É aprendizado o tempo todo. Ninguém vai saber tudo nunca, mas a gente sai aprendendo o básico para ir desenrolando a profissão, porque se não. Est 09: Eu fui criada assim, indo muito para o paraíso que a minha mãe trabalhou 25 anos, mãe se aposentou esses dias, trabalhava no paraíso e eu ia muito com ela. Eu sempre soube da realidade do paraíso, quando eu passei ir pra lá com a visão de enfermeiro, assim, eu vi que era uma realidade totalmente diferente do que eu achava que era o paraíso. Eu tinha uma visão e hoje eu tenho uma visão crítica muito diferente. Eu vejo que as pessoas tem medo de lutar pelo que elas querem, porque tem gente que realmente necessita, tem necessidades e limitações físicas, mas muitas vezes a limitação é da mente, não é do corpo e nem do espaço físico. E, a gente vai aprendendo, assim, a ver as coisas de uma forma bem mais ampla, mais diferente. Est 03: Eu sempre fui desde moleca chata e abusada, minha mãe nunca viu isso. Quando entrei na faculdade melhorou, não só por conta do enfermeiro, mas por informação, o senhor é professor, mas deixe quieto, mas aprendi na faculdade. Eu fui uma criança que nunca passei necessidade, mas

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sempre fui pé no chão. Quando eu entrei na faculdade eu passei por tanta coisa que eu tive que me tornar a humilde, da humilde, da humilde. Tive que abdicar de muita coisa. Tive que engolir muita seca, num era porque tinha ali escrito que tinha que fazer isso não, é porque eu sabia que se eu fizesse o contrário quem saia perdendo era eu. Eu sou calada, mas eu não sou burra não. As pessoas tem a visão que fulaninho é caladinho, é passional, num é passional, é saber falar na hora certa. Minha família já toda diferente, eu digo até que sou trocada. Tá com raiva eles falam na hora, eu não, escuto, escuto, escuto, se necessário eu falar eu falo se não eu não falo. A opinião que tenho fica, não tem quem mude, isso aí vai para o resto da minha vida. Na unidade que eu to, você chega com a cabeça cheia de informações, dá até medo, é cheio de tanta coisa ruim e, eu tava lá sozinha. Todo ser humano é complicado. E, quanto a minha formação: foi complicada também, acho que houve erros das duas partes. Não falo só por mim, mas por todos. A nossa formação foi bastante complicada. Nós passamos por dificuldades, não só eu, mas todo mundo sabe os problemas de todo mundo. Teve muito erro. Muita coisa assim que se a gente abrisse a boca para dizer ao mundo que nos deixou barbarizada, mas a gente deixou passar. Ai vocês são uns bestas, são idiotas. Não, a gente é sábio. Sábio é aquele que fala na hora certa. A gente tem uma boca e dois ouvidos, para ouvir, ouvir, ouvir, ouvir. Est 06: Eu acho que esses erros que Alane colocou da nossa formação são pontos negativos para nossa formação, mas são pontos positivos para os próximos que virão porque muitas coisas que não tivemos oportunidade os que estão vindo tão tendo essa oportunidade. As vezes a gente olha para a cara um do outro e diz meu DEUS como eu queria tá na pele desses meninos para passar por isso diferente. Est 07: A outra turma passou por situação pior, pior condições que a gente. Est 09: A gente tá desbravando o caminho a ser trilhado pelos outros. Quando a gente entrou a gente sabia que ia ter limitação ia, porque era a segunda turma, agente já sabia das limitações que as outras turmas já tinham tido anteriormente, tanto que eles olham e dizem: ai como vocês já encontraram muita coisa, mas também muita coisa a gente vai deixar de lição para as outras turmas que virá. As vezes eu fico escutando assim. No semestre passado tinha a gente tinha um monte de estudo de caso toda semana, era uma coisa perturbadora. Aí os professores disseram: não, não deu muito certo não, nas próximas turmas não vamos fazer. É tão revoltante saber que você foi cobaia de uma coisa que não deu certo, mas a vida vive de tentativas e erros. Est 10: Mas assim, um lado positivo de nossa formação que eu vejo é a proximidade que a gente tem com os professores em si, porque eu acho assim, todo nós aqui temos telefone de professor, se tem uma dúvida, tem um problema. Professora olhe tá acontecendo isso e a gente. Pelo menos isso que a gente tá bem tem um suporte bom. Apesar dessas falhas na nossa formação que vão refletir a longo prazo, que eu acho que se a gente não teve cabe a nós suprir isso de alguma forma. Est 09: E, assim, para a gente chegar nisso a gente teve que quebrar um monte de barreira porque os professores chegavam com muitas limitações. Depois que a gente conseguiu quebrar todas essas barreiras foi que a gente chegou numa coisa melhor, num relacionamento melhor, porque a gente teve muita difculdade. Est 09: Assim, o que mais eu defini de uma forma geral, mais pega tanto na vida pessoal quanto profissional. Est 10: É a questão de recursos humanos. É a coisa mais complicada que tem para a gente lidar, porque recurso material a pessoa faz um ofício faz um negócio e pedi, mas os recursos humanos cada pessoal é de um jeito e, a pessoal lidar com dez, quinze cabeças, cada uma diferente uma da outra, aí é que devemos ter o grande jogo de cintura da nossa vida. Eu peguei uma equipe para estagiar que é extremamente complicada. Eu digo porque eu peguei uma equipe para estagiar bastante complicada. Eu penei, ainda sofro bastante, mas eu sei que vou encontrar isso na minha realidade. Então assim, eu aprendi que recursos humanos é o x da questão que não é tão trabalhado na nossa formação. A gente trabalha muito técnico relacionado a recursos humanos, assim, é um pouquinho limitada ainda. Est 03: Voltando lá. Na minha aquisição de conhecimento da disciplina de atenção básica eu perdi boa parte, mas hoje em dia eu corro atrás, pego todos os cadernos de atenção básica, não é minha grande neurose, mas quanto mais eu estudo, mas eu vejo que eu não sei de nada. Começo a ler, ler, ler. Como eu não sei de um negócio desse, então toda disciplina que vem vejo como é necessária. A gente tem essa falha, vai ver, lá na frente, vemos mais falhas na formação, mas temos que correr atrás, pois não podemos esperar que os outros façam por nós. Moderador: A saideira. Vamos finalizar o nosso último ponto de discussão. É. Qual é, né, a reflexão que vocês fazem do vocês estão vivenciando até o presente momento? Est 09: A gente aprendeu muita coisa, ainda tem muita coisa para aprender, que a gente amadureceu muito e, ainda vai amadurecer muito mais, que a gente encontra muita limitação, mas sempre tem

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alguma coisa para piorar a situação e, a gente leva muita coisa boa de tudo isso, assim, porque nas dificuldades é aonde a gente aprende realmente as coisas, quando você está feliz ali você se acomoda. Quando você aprende de fato lutar por aquilo que você quer, saber, e assim, ir atrás dos seus direitos, saber os seus deveres e, assim, eu aprendi também a respeitar o próximo. É uma coisa muito importante não só no profissionalismo como na vida pessoal. E tudo isso assim serve, assim, de fato. De forma geral eu cresci muito e melhorei muito como pessoa e, espero ser uma profissional de qualidade e terminar agora no fim do ano. Est 07: Eu acho assim, que independente de onde você for atuar você faça bem feito. Faça o que de para ser feito, que você fazendo isso, dando o máximo de si. Se não tiver o conhecimento ir em busca, assim, eu acho que é só querer mesmo, que você querendo aonde você for atuar será um bom profissional. Est 09: É ter sempre a realização pessoal, porque assim, por mais que você faça e o povo não reconhece ao deitar sua cabeça no travesseiro a noite e você saber. Eu fiz a minha parte, então eu to bem comigo mesmo. Se deu certo, se não deu certo depende somente da gente, pra dá certo, prá dá errado. Est 08: Assim, na minha reflexão acho que se resume em um ditado muito popular que o povo diz assim: entre morte os feridos se salvaram todos, gente, coisas ruins e coisas boas, nas minhas reflexões que tenho feito esses dias eu coloquei na minha cabeça que eu tenho que levar o que foi de bom que eu aprendi aqui, não esquecendo as coisas ruins. A partir daí você passa a crescer. Vai melhorar como pessoa, como profissional, mas assim, vou procurar levar o melhor, o que foi que aprendi aqui, as experiências boas para não ser futuramente uma pessoa frustrada, um profissional frustrado, né? Então é isso, eu sempre extraio o que é de bom e o que é de ruim num esqueço não. Deixo guardado num canto lá, um dia eu posso precisar. Eu sinto toda uma saudade. Se eu pudesse eu voltava ao primeiro dia de aula. Est 09: Ser bem sincera gente. Eu num sinto saudade de tá aqui dentro não. Juro por DEUS, só tão realizada de tá lá. Porque assim, quando eu entrei aqui entrei com foco de sair. Um ditado que eu nunca entendia na minha vida era que a felicidade grande não quando você passa no vestibular é quando você se forma. Eu dizia, não jamais! Quando eu estudo para o vestibular é aquela coisa sem foco, um negócio se vai passar. Quando você tá lá dentro, não, as coisas fica mais específicas. Mas depois que eu entrei eu entendo que a alegria maior é sair do que entrar. Est 08: Esse antagonismo, porque eu to feliz no mesmo tempo que to saindo, porque eu queria aproveitar coisas que a outra turma tá aproveitando e não esses impasses. Est 07: É uma felicidade não só para você, mas para sua família, né, esperou tanto por isso. Muitas vezes passou até, assim, num tinha há necessidade de todo dia tá empenhando você para lhe colocar em um ensino de qualidade, mas que com certeza agora tão tendo um resultado. Acho que isso é muito satisfatório. Pelo menos para mim é muito satisfatório saber que minha mãe não jogou o dinheiro dela fora. E que eu vou dá um resultado a ela.Ela saia muito satisfeita. Est 05: A reflexão que eu faço dessa etapa de passar da universidade é muito fácil criticar, não aquela pessoa podia ter feito aquilo. Entender em falar das limitações, todas as pessoas tem limitações, tentar chegar aonde cheguei e, eu chego em casa e penso sobre isso. É a questão da reflexão crítica. Falei mal do professor, mas vou fazer uma análise para ver se tou com um problema. Tá começando agora na faculdade. É muito fácil criticar que a faculdade não tem estrutura, que tem professores que não são bons, tem que ver o outro lado da moeda. Que a universidade tá sendo implantada, foi implantada recentemente. Observar, não só criticar por criticar, observar a situação e avaliar o contexto em si. Est 07: E, muitas vezes, é, complementando o que Est 05 disse, preparar até para nossa realidade porque a gente vai sair daqui e não vai saber de tudo. Você vai chegar dentro de um espaço que as vezes você não vai saber de quase nada e vai ter que pedir ajuda, você vai ter que ir em busca, vai ter alguém para lhe criticar e, você vai ter que aceitar aquela crítica como um crescimento para você, para que você vá atrás, veja que aquela pessoa tá errada e, que você vai conseguir. Levo muitas coisas aqui de dentro. Est 09: O único medo que eu levo é de não arrumar um emprego logo. [risos] Est 08: O próprio tema do seu doutorado, né? No início, eu tava até comentando com elas, é um tema tão assim abstrato, mas quando começou as perguntas, isso aqui era para ter sido feito, gente, a muito tempo, porque na nossa turma ia falar fulana de tal, lá lá lá lá, ninguém ouvia ninguém. Aqui tá todo mundo ouvindo, quando a pessoa termina outro fala. E, nessas reuniões de estágio? Eu num to vendo muito proveito nisso não. ? E aí, o que foi que mudou? Tá do mesmo jeito? E aí melhorou alguma coisa? Poderia ter sido feita essas perguntas aqui, o quando tinha crescido como pessoa. Est 07: Até a troca de conhecimento que é passada, a troca de conhecimento

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Est 08: Agora no final do curso que eu to conhecendo melhor vocês, porque durante os quatro anos de curso parece que só conhecia de cara. Est 10: Acho que esse momento aconteceu um pouco na disciplina de alta. Acho que todo mundo teve a oportunidade de falar. Acho que muitos tinham limitações quanto aos professores, acho que eles tiveram a oportunidade de mostrar pra gente que são diferentes, assim como a gente teve a oportunidade de mostrar a nossa capacidade. E, muito do que a gente falou naquela reunião contribuiu para os próximos, né? Então, acho que deveriam ter mais momentos assim. Est 08: Acho que foi muito bom esse momento. Muito bom mesmo. Est 07: Como Lilica tava dizendo, já aconteceu. Era para acontecer em todo campo de estágio, vocês sentarem. Eles abriram para a gente criticar mesmo. O que foi que você não gosto? Pode dizer sem medo. Porque assim, muitas vezes. Geralmente a gente tem medo de falar as coisas. A disciplina de alta foram dito tudo o que o povo queria dizer. Muitas coisas foram melhoradas por causa daquela reunião. Assim, foi muito construtivo. Est 10: É um relacionamento que assim que acho que em média já melhoraram algumas coisas em relação de um semestre para outro e ,em alta todo mundo falou e foi ótimo. Eu acho que deveria continuar assim. Est 09: Tanto é o medo que fica claro que o povo tem medo de falar aqui, que não vai ser divulgado que você não tem medo de falar, que você fala falando mesmo a vontade que você sabe que ninguém vai saber que você falou aquilo, mais quando é na hora que você tem que falar assim cara a cara com o que tem que ser dito. E o semestre que vem vão pegar no meu pé, isso e aquilo, Est 07: Em alta tem muito isso. Em todo semestre cada um por si, todos por todos. Est 08: De certa forma foi um tema bem polêmico que foi excitando a gente a falar. Com certeza vai trazer muitos frutos. Est 07: Pensava que ia ser uma coisa bem cansativa, mas passou e nem vi. Est 04: Como nas reuniões dos estágios e já foi comparado a gente, quando alguém começava a falar já vinha um professor e, já, né, não. Já era uma barreira que não dava nem expressão do que sentia realmente e, aqui nós só sendo escutado, criando um momento de refletir. Est 09: Porque muito disso a gente já reflete, mas não é mesmo o momento para refletir. Eu nunca tinha pensado no meu curso ao longo da minha vida todinha, desde as minhas experiências quando eu era criança até hoje. Porque que isso influenciou e, assim, como é importante para refletir o que eu vou levando da vida, até o presente momento. Est 06: Eu acho que a reflexão que a gente tira disso está explícita em toda essa conversa, né? Acho que no final a gente já tem mais ou menos uma idéia do que todo mundo tá sentindo aqui sobre a nossa formação profissional. E, a partir de hoje eu vou procurar refletir mais. Est 09: É porque assim, eu tenho um pensamento crítico para muitas coisas, mas eu findo não fazendo uma reflexão sobre aquele pensamento crítico. Quando você tem só o pensamento crítico é uma coisa, mas quando você reflete sobre o pensamento crítico para você filtrar o que via importar e o que não vai importar é coisa totalmente diferente. Est 03: Eu posso fazer a minha reflexão? Moderador: Pode. Est 03: Com as pedras que me jogaram, construi um castelo. Pode fazer o que quiser, pode querer me derrubar, pode vm doença, pode vim o que vier, isso num me derruba não. Vamos construindo os nossos castelos. Est 04: Eu ia fazer uma comparação assim: uma pessoa vem por uma estrada e encontra várias pedras pelo caminho, num vai ter que tirar essas pedras para poder continuar caminhando, aí só uma comparação, cada pedra que ela vai tirando ela via ficando mais forte fisicamente. Na vida, especialmente na nossa turma acho que aconteceu isso. A gente, o caminho difícil torna o mais proveitoso, porque pelas dificuldades a gente foi aprendendo muita coisa. Se tivesse sido mais fácil a gente não teria aprendido tanto. Est 03: Faltou memória, faltou petulância, tive oportunidade de sair daqui, num sai não. Tive a oportunidade de cursar direito. Eu num podia ter pegado o beco? Eu num dexei não to aqui. Disseram: você é doida deixar de ser advogada pra ser enfermeira, enfermeira tem igual a farinha e advogado também.Eu me apaixonei pelo curso. Tinha uma incompatibilidade. Agora em atenção básica os pacientes me receberam super bem no PSF, eu quero isso aqui e acabou. Est 09: É muito bom saber que você fez parte do começo de uma história. É que eu fico pensando, que a nossa placa vai ser a segunda aí o povo vai olhar daqui a dez anos e dizer, ixi, como mudou. Esse povo sofreu muito para ter o que a gente tem hoje. Assim, é muito bom, acho que cada placa daquela é um tijolinho e, nós somos as duas primeiras e alicerces assim. Nós não somos os primeiros, mas os primeiros são os alicerces. Os desbravadores de um caminho. É muito bom você trilhar um caminho para muita gente seguir atrás

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Moderador: Então eu creio que aqui a gente encerra.

GRUPO FOCAL: 5º ANO Moderador: Então pronto, nesse momento esta começando o grupo focal. A primeira questão que costumo chamar a questão quebra gelo, pra descontrair um pouco. O que levou a vocês a fazerem o curso de enfermagem? Conc 01: Eu por que me identificava bastante com a área da saúde e além de todos os cursos assim, é, que tinham eu me identificava com a enfermagem e além do mais meu pai gostava desse curso e como eu também gostava, eu uni o útil ao agradável. Conc 02: No meu caso foi por influencia da família mesmo e antes de começar eu pensava a área da saúde e tal, mas só que até no inicio eu pensava em fazer geografia, historia e tal e não tinha nada haver com área, mas como a faculdade precisava ser em Santa Cruz, e se eu fosse pra Natal os gastos ia ser maior e eu não tinha como me manter ai eu fiz pra cá e acabei gostando e assim que entrei me identifiquei com o curso. Conc 03: Eu inicialmente pensei em fazer ciências biológicas ai quando foi na época do vestibular, com todo esse questionamento da enfermagem ai eu não então vou tentar fazer enfermagem, Então inicialmente eu fiz pra Natal ai não deu certo ai eu passei para UERN daqui de Santa Cruz ai depois fiz novamente pra Santa Cruz pela UFRN. Então eu me identificava com a área de ciências biológicas e também e mais com a área da enfermagem dos cuidados aos pacientes. Conc 04: Assim como Conc 01 sofri influencia da família, e é, principio o meu sonho é medicina e ai só que eu vi que não estava preparada para fazer vestibular para medicina é escolhi enfermagem por ser mais fácil vamos dizer assim de passar nas provas. E também essa área da saúde sempre me fascinou desde criança, desde criança quando eu era vacinada, cuidava da boneca, pegava a seringa, tudo isso, acho que tudo isso me influenciou. Conc 05: Já no meu caso diferente de todos. Primeiro a facilidade de fazer o curso na minha cidade e segundo que tem na família um profissional na área, minha mãe é técnica de enfermagem. Mas eu antes do vestibular eu tava pensando em fazer outro curso. No inicio do ano pensei me fazer alguma engenharia, uma coisa totalmente diferente da enfermagem, da área da saúde. Mas quando saiu a definição de que vinha o curso pra cá da enfermagem que naquele momento estava em ascensão onde o enfermeiro escolhi né aonde ia trabalhar não era a realidade hoje e por ser da UFRN vindo pra minha cidade e por esses fatores que escolhi fazer vestibular pra cá. Conc 06: Também sempre gostei dessa área da saúde, mas não tinha definido o que eu queria fazer realmente, gostava muito dessa parte laboratorial e era muito dedicada aplicada nas disciplinas de física, química, e ai decidi fazer, estava fazendo 2 vestibulares no ano pra federal da Paraíba e federal daqui, quando fui fazer a inscrição daqui já estava inscrita na Paraíba pra farmácia e descobri fiquei sabendo que ia vir cursos da universidade pra cá, pra Santa Cruz e na mesma área que eu já tava gostando e não conhecia o que era enfermagem e vim conhecer realmente quando comecei. Moderador: E ai dentro dessa escolha certo que vocês fizeram, que vocês já colocaram ai, algumas influencias, mas que acontecimentos vocês podem relatar certo, que influenciaram ou pra mais ou pra menos na escolha? Não necessariamente na área da saúde, as vezes as pessoa direcionam muito, o que mais vocês podem! Conc 02: Pra escolha do curso? Moderador: Sim! Conc 02: Bem, no meu caso, como eu falei anteriormente, assim que eu entrei no curso e vi que a enfermagem não é só o cuidado como as pessoas imaginam, comecei a participar de outras atividades que não estavam relacionadas a enfermagem, quer dizer estão relacionadas, mas que um ponto negativo com a parte da educação mesmo e da própria enfermagem foi aonde eu fui me apaixonando mais ainda com a enfermagem e antes de eu entrar no curso a facilidade mesmo do curso esta na cidade e foi realmente o que me trouxe pra cá. Conc 03: Uns dos fatores que me trouxe pra cá também, além de gostar da área da saúde foi também de forma semelhante a Conc 05 a questão do mercado de trabalho, que naquela época que agente fez o vestibular a enfermagem estava em alta né, estava em ascensão mesmo. Então as vezes o pessoal do departamento de enfermagem , é, recebiam algumas ligações do município daqui, enfermeiros que tivessem graduados eles fossem atuar naquele município . Então tava acontecendo mesmo o reconhecimento da própria população, então foi mais por conta dessa questão também e

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teve a questão de ter em optar ou pela ciências biológicas ou pela enfermagem também foi a questão financeira. Conc 01: Eu da mesma forma que Conc 02 e Conc 03 e também tem aquela questão de sempre me identificar com a saúde, teve a questão do alge também, eu acredito que todos tenham essa mesma mentalidade de fazer a enfermagem até financeiramente tava bem visto, que hoje já ta mais complicado o mercado de trabalho né, a questão da concorrência e etc. E também por que eu sempre me identifiquei, achava bonito a profissão da enfermagem assim como as demais, com relação a assistência, ao cuidado com o paciente, então foi esse foco o que me norteava. Como Conc 04 tinha falado o foco em se era a medicina, por que na minha cabeça se eu gosto de enfermagem eu com certeza ia adorar medicina também, mas eu não me sentia preparada pela questão de agente estudar aqui no interior e agente ver que a dificuldade é bem mais difícil que uma pessoa que ta estudando em escolas bem mais capacitadas em Natal numa capital que você tem bem mais chances de passar. Então com o curso vindo pra cá e eu tinha tentado da outra vez eu não ter conseguido o curso de enfermagem então facilitou mais eu fazer. Conc 06: Acho que a diferença da pergunta de agora foi, o que o eu vou dizer agora foi o que fez eu fazer enfermagem mesmo por que eu fiz 2 vestibulares passei nos 2 então eu tinha que escolher um, então o fato foi isso de eu esta em casa. Então eu poderia desistir passei um ano cursando enfermagem com a matricula feita na Paraíba em farmácia sabendo que se eu não gostasse de enfermagem eu poderia fazer farmácia lá e um ano foi essencial pra mim saber que era enfermagem exatamente como Conc 02 falou que não era apenas pela assistência hospitalar que tinha em mente, que ela era administração, que ela era ensino, ela era uma coisa tão ampla que eu gostava de tanta coisa ao mesmo tempo que ela me completava. Ai foi o essencial pra mim escolher e poder deixar a matricula da Paraíba pra lá. Conc 04: Pra mim além de não ser redundante mais uma vez me identificar com a área da saúde, ter contato desde de criança, o branco ou drama agradava todo mundo também, é assim como Conc 03 falou a estabilidade financeira assim, o curso, quem era formado enfermeiro, oferecia estabilidade financeira acho que contou bastante. Conc 05: É, acho que falei no inicio essa questão e já vinha discutindo essas questões que muita gente faz enfermagem pensando que vai ser parecido com medicina né e quando agente já chega no quarto período meio que totalmente diferente e quem já for pensando me medicina já vai querer desistir logo como tem colegas que chegaram no quarto período e assim quando viu que a profissão era o cuidar do paciente já pulou fora né, por que o pensamento dessa pessoa era prescrever medicação, mas assim pra fazer enfermagem pra continuar principalmente com o curso você tem que gostar de ser um, do cuidar do paciente, da pessoa que esta necessitando. Então assim no quarto período é que agente defini se você quer seguir ser enfermeiro mesmo ou se quer ser médico ou outra profissão. Moderador: E ai, uma questão peculiar a vocês, que só vocês vivenciaram né. Como é que foi participar da primeira turma no caso do curso de enfermagem da FACISA? Como é que foram a vivencia? Conc 01: De inicio uma felicidade imensa até por que nós fomos os pioneiros, uma coisa muito positiva e marcante pra toda a faculdade aqui né, fomos os primeiros, mas ao lado disso tivemos grandes dificuldades e ao mesmo tempo creio que foram superação né, tivemos dificuldades mas não me arrependo de nada de ter feito aqui em relação a turma de Natal, lógico tivemos prejuízos em algumas disciplinas, tivemos sim prejuízos nos estágios isso e aquilo, mas fomos os primeiros e os primeiros sempre iriam sofrer desse tipo até para o aprimoramento das outras turmas. Então assim, pra mim eu me sinto ultramente satisfeita e ainda mais por ser na minha cidade, por ser aqui em Santa Cruz. Então eu sou ultramente orgulhosa da faculdade que me formou acho que dentro das possibilidades que a turma teve, nossa turma eu acho que não fica abaixo de nenhuma das que entraram agora, acho mina turma muito capacitada todos sem exceção, cada um, por que agente sempre buscou através das nossas dificuldades agente via o que agente passou estuda anatomia no livro, em slides, totalmente diferente, fora outras dificuldades de estrutura de tudo que agente passou. Só quem sabe é agente que conviveu, que passou por tudo isso, acho que foi um ano no HUAB se eu não me engano. Foi uma experiência e tanto me sinto orgulhosa por ter participado, por ter feito com a primeira turma daqui. Conc 02: Eu faço das minhas palavras as de Conc 01, e as dificuldades que agente teve só fez engradecendo a mais, é, a turma e o amor ainda mais pela profissão. Conc 01: É tanto que nossa turma eu acho que é muito difícil ter uma turma igual a nossa, por que do inicio ao fim fomos unidos, sempre unidos, claro teve desentendimentos em uma coisa e outra, mas a turma em se sempre foi unida. Então se detonava um detonava todos agente sempre fomos muito

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focado e por também agente levou o nome de revoltados de isso e aquilo, mas tem que ver também o que agente passou e não entendiam isso. Conc 02: E o engraçado que quando agente passou no vestibular agente todo animado, ah passei no vestibular, por que passar no vestibular aqui em Santa Cruz eu acho que em qualquer cidade do interior mesmo em Natal é a maior felicidade pra qualquer família ai você já tem aquela imagine vou pra universidade, vou pra universidade e quando agente viu a realidade que era dentro de um auditório os tetos caindo em cima da gente e sempre agente recebia a proposta e não vocês vão ter um prédio, vocês vão ter tudo aquilo, o tempo passava e a experiência ia sendo construída agente começou a seguir em frente pra ver se adiantava alguma coisa e o que hoje agente ver que é FACISA, agente contribuiu muito . Conc 01: Eu mesma me sinto muito feliz quando eu passo aqui e vejo a estrutura que tem aqui, tudo que tem. Conc 02: Agente senti até falta de ar, olha a estrutura a gente nem teve isso. Conc 01: E agente passa a dá valor, eu mesma falava, olhe lutem por isso agente não teve nada e muitos eu acredito que não dava nem valor pelo o que tem hoje, agente não teve um terço, um terço agente não teve. Conc 04: As vezes dá até inveja de tudo que vocês tem e o que nós não tínhamos. Foi muito especial participar da primeira turma é fazer historia como nós fizemos correr atrás daquele sonho que agente tínhamos que era de se formar e hoje conseguiu né, aqui esta o resultado, estamos com o nosso diploma nas mãos. E foi tudo que agente sofreu serviu de aprendizado, serviu pra gente amadurecer, e saber dá valor a cada carteirinha dessa, a cada parede pintada dessa, a cada livrinho desse na biblioteca que nós não tínhamos, eu acho que tudo serviu de aprendizado. Conc 06: Eu acho uma característica da nossa turma a partir dessa vivencia ser a primeira aqui, cada um saiu com um espirito de persistência. Cada um da sua forma, da sua personalidade, onde um se envolve no seu trabalho todos aqui são persistentes. Por que um aprendeu com o outro, numa historia a todo o momento nós estávamos aprendendo um com outro, algo que eu devo muito a isso ao espirito de persistência. Quando agente percebe que as coisas não estão do jeito que deveria ser. Conc 01: E outra coisa, uma coisa também muito positiva foi a questão dos docentes, eu tenho muito orgulho da grande maioria um ou outro docente ficava a desejar, mas todos faziam o possível pra tentar dá o melhor pra nós, um ensino de qualidade, então eu acho que todo mundo aqui não tem do que reclamar em relação a isso. Conc 01: Faziam de tudo dentro das possibilidades até por que com certeza as disciplinas que eles davam pra gente que fomos os primeiros, com certeza nas outras turmas foram bem diferentes. As experiências foram conosco, então se algo deu errado com as outras foi totalmente mudada né, o cronograma tudo então não tenho nada a declarar com relação a isso só elogios. Conc 03: E assim, se agente volta naquele momento, no tempo né, agente tinha a questão do sentimento, do receio, do medo será que nós vamos ser profissionais realmente bons no mercado de trabalho e hoje em dia quando agente faz aquele filme agente ver que somos bons sim e principalmente pela questão que nós a partir das dificuldades como o pessoal já disse a gente sobre lidar com as dificuldades e isso agente leva tanto na vida pessoal quanto principalmente na profissional, que muitas vezes agente entra no emprego e agente pensa que vai ser de uma forma e na verdade é totalmente diferente. Então é buscar formas, maneiras de lidar com aquelas dificuldades e como Conc 01 disse a questão quanto da equipe docente eu tenho o maior orgulho de dizer que foram eu acho se não os melhores, mas muitos bons pelos docentes que participaram com agente dessas dificuldades que fizeram com que apesar de todas essas adversidades não tinha uma infraestrutura, não tinha um anatômico tinha que ir pra Natal pra ver as peças anatômicas. Agente teve que esperar pra conseguirmos campos de estágios que hoje né as outras turmas já tem com maior facilidade, então assim essas questões mesmos da gente vencer essas barreiras foi é o que a gente faz e leva agente pensar assim: é uma turma e eu acredito que a minha turma por ela ser unida ela trás muito orgulho né, principalmente assim considerando tudo que agente passou. Conc 05: Eu acho assim, pegando o gancho que Conc 02 falou e os outros colegas falaram também, é que a dificuldade e falta de infraestrutura e biblioteca, laboratório eu acho que foi compensado pelo trabalho dos professores né de se doar, ou seja, a infraestrutura foi compensada pelo trabalho, pelos recursos humanos dos professores e também pelo esforço da gente quem não se lembra que agente ia na quinta-feira ia pro anatômico estudava as peças e na sexta tinha que fazer a prova. Conc 05: Então, ou seja, tudo isso que era necessário na época, mas isso foi um esforço dos docentes e da gente que tava lá na hora lá do pega pra capar mesmo, mas assim isso serve de muito valor pra gente no dia a dia da gente. Assim agente chega num posto de saúde, num hospital falta

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isso, falta aquilo e agente tem que se jogar e fazer com o que agente tem. Então nunca agente vai ter 100% . Agente tem que se virar com o que tem no momento. Conc 02: Só pra lembrar que os atrasos nunca começava no mesmo dia um, dois dias, um mês depois, nas férias tinha os estágios pra compensar os que não tiveram, todas as dificuldades pra num. Conc 01: E os professores se identificavam bastante com a nossa turma justamente pelo nosso esforço e também pelas dificuldades que eles viam né. Eles foram estudantes e eu acho que aquilo também impactavam né eles também. Conc 02: Agente batalhava não acabava aceitando tudo que colocavam. Conc 01: Tanto agente decidia, cobrava como eles também viram isso o retorno e nossa turma sempre foi muito dedicada, muito esforçada em estágios um ou outro às vezes por pequena besteira era chamado atenção e tal, mas eu acredito que agente não teve nenhum problema ou algo desse tipo a gente trilhou e deixou marcas de certa forma. Moderador: E ai meninos, essa questão da vivencia não esta no roteiro não, foi até mesmo pra gente saber como foi no inicio até mesmo por que ocaso de vocês é peculiar né é única turma que vivenciou isso aqui na FACISA, o nascimento, é como eu to falando é a única e assim é claro que vocês antes de entrarem no curso né, antes de pensarem em se tornarem universitários vocês vivenciaram muitas coisas num é! Até por que agente acaba conhecendo um pouco da historia de vocês de cada um pela convivência. Agente pensa o que, que essas vivencias influenciam nas nossas escolhas e ai assim agente quer saber né que experiências vocês vivenciaram fora do ambiente acadêmico e antes do inicio do curso também que vocês classifiquem a importância para a formação de vocês. Conc 06: Pra formação acadêmica? Moderador: A formação que estáticas são significativas né que proporcionaram o aprendizado , que trouxeram algo a somar. Conc 05: No meu caso, é 6 meses agente passou esperando pra começar o período que agente começou em 2007.2 . No inicio do ano eu fui dá aula de informática e assim quando eu entrei como eu gostei dessa parte da educação de passar um pouco de conhecimento que agente adquiriu pra outras pessoas influenciou um pouco por que na graduação fui monitor por pouco tempo 3 anos e meio e isso também ajudou um pouquinho e hoje é o que eu quero seguir o caminho da docência. Então momentos antes deu entrar dei aulas de informática, mas já influenciou um pouco pra minha escolha da minha no decorrer da minha graduação e também agora como profissional. Conc 02: Pra mim foi a mesma coisa com o que Conc 05 disse antes deu ir pra eu dei aula numa escola pública de 3 matérias e assim que eu entrei vi que num era só assistência hospitalar e tudo mais eu fui logo entrando e ao mesmo tempo já fui fazendo com um grupo de amigos um projeto que todo mundo aqui conhece e além do projeto tive a oportunidade de uma monitoria foi o que me fez ainda mais seguir a carreira da docência, a experiência assim foi essa aula que eu ministrei antes de começar na faculdade na época eles tinham até matriz usavam um .... era questão de sobrevivência. Conc 01: Já eu na realidade não tive é alguma coisa marcante como os meninos ai de dá aula ou de experiência fiquei de bobeira esperando a faculdade começar, mas a expectativa era grande né de iniciar de saber como é, na verdade agente escolha o que agente acha que se identifica né, na realidade você só vai saber quando cursar. Muitas vezes você acha que é aquilo, mas quando você vai é totalmente diferente então pra mim não tive algo marcante não. Ai depois que eu entrei na faculdade participei de muitos projetos de extensões e também da parte de monitoria de Kramer de farmacologia e um pouco de anatomia, foi uma experiência e tanto. Moderador: Mas, além desses 6 meses de ócio, de espera de ansiedade antes disso ai na adolescência né, vivencias mesmo que vocês tiveram em ambientes diversos. Conc 02: No meu caso no ensino médio até no terceiro ano eu até esqueci de falar que eu fiz o 1º vestibular pra enfermagem em Natal e não passei ai nesse período de 2005 foi assim praticamente eu tive essas dificuldades eu ganhei uma bolsa pra estudar em Natal como jogador eu era bolsista pra estudar em Natal da Caern e lá foi assim bastante dificuldades né por que a família e tal e o gasto com as passagens de ônibus toda noite quando eu era bolsista eu tinha que ir das 6 da noite as 10 e meia 11horas da noite treinar e no outro dia de manhã as 7 horas tinha que esta na escola e ficava até 1 hora da tarde ai eu acho assim as experiências foi essas dificuldades por que tinha que prestar vestibular, dá atenção a treino e ainda estudar pra escolar e lá foi também um berço por que eu tive um ciclo de amizade que poucos tem que conquistam, eu participei de vários jogos Asa sul, como os JERNS que é um sonho que não existia no interior só em Natal geralmente nas escolas de , também tive a oportunidade de lá, também tive a oportunidade de ser jogador de reserva da seleção do estado inclusive ninguém sabe, mas só passei 3 meses por que tinha que dá atenção aqui na faculdade, ao vestibular ai não passei mas eu entendo não fiquei triste, fiquei triste fiquei, mas eu

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entendo por que realmente eu não tive tempo do primeiro dia de aula eu tinha que me dedicar ao esporte, me dedicar a faculdade e ainda ter tempo pra estudar e ainda tinha aula no final de semana por coincidência nessa época eu ganhei uma bolsa do curso isolado de física que o professor lá me deu enfim foi isso em 2006 meu primo tinha um cursinho em Parnamirim eu fui morar lá na casa da minha tia em Parnamirim, que eu morava com minha avó em natal, era do mesmo jeito meu primo inventou de abrir uma lan house ai como eu tava precisando de dinheiro pra mim sustentar só quem tava gastando era meu pai então o meu primo disse que pagava 50 reais a você por mês pra você ficar cuidando no período da tarde da lan house e o cursinho era a noite, de manhã ia pra casa da minha tia a tarde ia pra lan house e já ficava direto que a lan house era no mesmo prédio que funcionava o cursinho e ia embora de 11 e meia 12 horas e pra casa da minha tia e no outro dia de manhã era a mesma coisa. Ai eu acho que também isso serviu os 6 meses que eu passei antes da faculdade dei aula e ao mesmo tempo descansei um pouco e tava também na expectativa, aproveitei o tempo pra descansar também. Eu acho que quando eu entrei na faculdade as dificuldades das estruturas que agente não tinha, mas que apesar de tudo isso foi. Conc 06: Eu acho que muitos da fala da gente que os meninos colocaram, influenciam na nossa vontade de melhorar é por agente ta inserida nessa condição social, familiar de se reerguer e procurar dá sempre o melhor de si pra você tentar conseguir alguma coisa conseguir vencer mesmo. Desde pequena assim eu fui essa isso sempre influenciou na minha formação acadêmica até hoje influencia é saber que eu vim de um ambiente familiar de uma situação local mais difícil e que eu tenho uma família que me apoiava e que se esperava muito de mim por que eu estava ali pra estudar de ser alguém no futuro que fosse sucesso, que tivesse crescido e conseguido vencer na vida. Então desde de pequenininha eu ia pra escola, mas eu ia com essa missão dentro de mim, não era uma cobrança dos meus pais, mas era uma missão de mim que eu tinha que dá o melhor de mim pra tentar vencer na vida. Conc 01: Eu sei que é uma questão muito dos pais da gente...uns tiveram oportunidades e outros não tiveram essa oportunidade, eles tentam de todas maneiras dentro das possibilidades deles garantir um ensino de qualidade. Conc 06: E aí batalharam tanto para tentar dá a chance que eles não tiveram , e aí essa cobrança interna que também é uma cobrança deles que é da educação mas a gente sente que tem que dá o retorno e o retorno o máximo que você puder dar. Então não é que você tem que ser o melhor da turma ou o primeiro, não é com essa intenção de status mas com a vontade de você sempre se dedicar o máximo para compensar a dedicação de seus pais, de sua família que já viveu uma situação, que todos nós somos do interior,então não é menosprezando, mas que a gente sabe que a realidade é diferente, a dificuldade é maior ... e essa parte de dificuldades sempre foi presente desde de pequenos e a gente sempre tentou superar, me faz do dia de hoje, formada em enfermagem, da primeira turma de enfermagem desse campus, alguém com experiente, alguém com persistência, com competências diferentes e a gente vem de toda essa história, então se essa pergunta que eu entendi foi o que influenciou na nossa formação acadêmica ,desde o berço, essa influência familiar e essa dificuldade da região de conseguir o que só teria na capital e consegui chegar além como outras pessoas conseguem mas que saem daqui, sabe como é que é....então tem que se dedicar muito mais. Conc 02: E só para completar assim a minha fala que essa coisa de manhã, tarde e noite, manhã, tarde e noite não foi diferente da minha realidade, a gente tinha aula de manhã e tarde, as vezes a noite tinha monitoria e final de semana projeto de extensão, sempre tinha, ou seja, já venho de uma vida bem corrida assim né, lá em Natal é diferente, a gente anda de carro na cidade... mas para quem vinha a pé cansa, ter um dia de aula, um dia assim, manhã e tarde aí voltava, manhã e tarde... Conc 06: Eu não sei, acho que todo mundo concorda com isso... até agora no profissional, tudo o que a gente vê e aprende todo dia também...seja na área da residência, assistência hospitalar, seja em outras áreas, mas tudo o que a gente tá fazendo ainda deve ser pensado “eu tou fazendo da melhor forma que eu posso fazer¿, eu acho que hoje eu fiz isso, mas acho que posso melhorar amanhã, então as vezes me pego nessa pergunta que antes eu não sabia e fico feliz por ter aprendido, mas quando isso se torna repetitivo eu fico refletindo se o que eu tou fazendo é como eu aprendi e se o que eu aprendi ainda é o melhor para aquele momento. Você já viu que muito do que a gente tá vendo é o que todos os professores diziam, - quando vocês tiverem na assistência , tiverem trabalhando vocês vão aprender- , mas a gente desaprender o que a gente já sabe pra fazer melhor, é mais difícil, você tem que ter esse questionamento com você todos os dias. Moderador: Conc 06, voltando ainda mais nesse mesmo ponto né, além da influência familiar né, da responsabilidade né, o que mais você realizou nesse período entre a infância e a adolescência né, que outras coisas você pode destacar ¿

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Conc 06: Acho que é muito de...por ter essa característica de querer dá o melhor, aí certa postura de liderança era tanto que eu gostava de fazer as coisas da melhor forma que eu pudesse fazer, que eu ficava com a responsabilidade , então era grupo na escola tinha sempre alguém que era Conc 06 ou se eu fosse fazer um trabalho e esse trabalho fosse de maior peso e eu tentava dá conta disso e eu nunca fiz uma coisa só, desde pequena eu sempre fazia muitas coisas ao mesmo tempo fazia aula de música, dança, esporte, escola, eu fazia cursinho, tudo ao mesmo tempo... eu não deixei a banda de música, eu não deixei o esporte , eu não deixei o grupo que era dos pescadores da igreja, eu nunca deixei o que eu fazia, fora o que eu tinha pra estudar ...eu fazia o cursinho a noite só para o vestibular que também nunca deixei de fazer de fazer o trabalho da escola. Então por ser muito, não sei se é generalista ou, por juntar tudo de um pouco das áreas, eu acho que eu consigo ter uma responsabilidade de muitas coisas, porque eu sempre fui cheia de responsabilidades e eu nunca gostei de deixar pra traz o que eu sempre fiz. Conc 05: Conc 06 é um polígono. Conc 06: Moderador está mais para psicólogo...Mas realmente hoje você é muito do que você era quando pequena. Do que você era pequena o seu perfil reflete no que você é hoje. Conc 05: Já o meu caso eu acho que foi o oposto. É... Um pouco de sorte e lógico um pouco de estudo também né, deu certo, mas foi o posto de Conc 06. Porque eu nunca tive cobrança, assim, principalmente do meu pai, minha mãe de vez em quando, a mãe né...estude...no sei o que... mas não teve essa cobrança nem da parte da minha família geral até porque meus pais, acho que não tem ninguém com terceiro grau e de mim também até meados do vestibular eu não tinha preocupação de nada, assim de estudar. Conc 06: Eu era da mesma escola desse rapaz. Eu chegava na escola era CDF e ele bagunçando do lado de fora, tu acredita¿! Conc 01: Quando disseram – Conc 05 passou! Eu disse: não acredito! Conc 05: Como você perguntou...a minha adolescência sinceramente não contribuiu muito...porque era festa, eu comecei a sair, a beber, e tal e até no terceiro ano que eu fiz vestibular, mas obviamente não passei e a gente em véspera de prova ou véspera de aula ia pro showmício, bebia ia estudar de ressaca e tal, ou seja não contribuiu em nada, nem para a graduação, menos para o vestibular quando saiu a notícia que o o curso ia vir pra cá...eu estudei...sinceramente eu estudei três a quatro meses e a sorte me fez passar, mas assim comparando a Conc 06 coitado de mim. Conc 01: Já eu... Conc 06: A gente que tem uma convivência por ser da mesma cidade, tá estudando a o mesmo curso, aí já é outra história...que o curso faz uma mudança na vida de muitas pessoas , Conc 05 foi um exemplo e principalmente... Isso porque ele se identificou com uma área que ele talvez não valorizasse na adolescência , porque ele vinha pra aula e talvez não valorizasse o professor como ele hoje se valoriza. Conc 05: Tenho que me valorizar... Conc 06: Sim, Conc 01... Conc 01: Não...é...com relação a antes...eu sempre fui dedicada aos estudos, não que eu fui uma Conc 06, uma Conc 03iny da vida, eu sempre me dediquei,...me esforcei, via o que meus pais faziam para garantir um futuro pra mim e eu sempre fui consciente em relação a isso...que eu queria um futuro pra mim, é claro, mas nunca deixei de aproveitar a minha vida...de sair, de ir pra festa, isso e aquilo, mas quando foi o ano decisivo eu não sei o que aconteceu que eu relaxei, eu sabia dentro de mim que eu não tava estudando no ritmo que eu vinha, eu vinha no pic , e nesse último ano talvez por questões de adolescência mesmo , por questão de namoro, isso e aquilo eu relaxei e quando eu vi meus amigos passando aquilo mexeu muito comigo, eu sempre fui dedicada...então porque logo no ano decisivo eu não foquei o quanto deveria ter sido focado¿! Então isso foi pra mim no ultimo ano que coincidentemente o curso que eu ia fazer né, enfermagem também, que eu tinha tentado a primeira vez veio pra cá, pra Santa Cruz e eu fiz pra cá, e me esforcei grandemente pra alcançar esse meu objetivo até que alcancei, mas foi uma lição pra mim que eu nunca esqueci disso né, porque eu fui e relaxei no ano que não deveria ter relaxado.... Conc 03: E assim a minha questão também é essa influência familiar mesmo ... mais assim... eu sempre me dediquei e a maior cobrança até hoje em dia é comigo mesmo, então assim eu sempre me dedico demais e as vezes isso acaba atrapalhando né, mas enfim já é outra questão...então eu sempre me dediquei demais e sempre me cobrei demais principalmente porque lá em casa só sou eu e minha mãe, né ..então assim a minha mãe , professora, então assim, o estímulo do familiar que a gente sempre foi assim muito estudioso, e aí meu irmão ele passou no primeiro vestibular e a gente sempre estudou junto... então ele passou no primeiro vestibular e aí eu já vinha estudando né, mas quando ele passou no vestibular e eu posso conseguir também que naquela época estudo há , aí eu senti...nossa senhora...meu irmão passou e naquela época assim quem fazia vestibular em Natal era

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muito mais difícil, né e o acesso a universidade era bem difícil mesmo. Então ele passou e eu falei eu posso conseguir também e isso foi estimulando para que eu estudasse mais, me preparasse durante o ano e aí no ano seguinte e até no final do outro ano na verdade eu passe também e depois eu fiz pra cá pra UFRN e eu também teve essa questão familiar. Conc 02: Eu tive essa influência familiar também, o meu irmão , é dois anos mais velho que eu, tava tentando vestibular...o quê...já a quarta vez e tinha aquela pressão da família aí quando eu não passei na primeira vez , aí como eu vi aquela pressão em cima do meu irmão , eu também vi isso de mim, meu irmão passou e veio aquele peso todinho para cima de mim... ah ele é mais dedicado, é mais estudioso. Conc 04: Só falta eu, né!? Um evento que ocorreu na minha infância...Acho que foi uma das coisas que me marcou muito foi quando eu tive hepatite A,que eu fiquei internada, e vi aquele ambiente hospitalar , eu fiquei tão feliz no mundo... eu acho que aquilo foi o motivo de eu ter escolhido a profissão. Foi tão marcante pra mim...é...aquele movimento, enfermeiro entrando no quarto pra pegar a minha veia, pra instalar soro, e médico me consultando... eu achava aquilo o máximo...então eu queria aquilo pra mim, toda a vida eu só pensava em ser doutora, doutora ...pra mim na minha cabeça todo mundo era doutor , então acho que foi uma coisa que me marcou muito foi a minha internação. Moderador: Ham ham...Sei...E fora a internação que experiências você teve, né, entre essa fase da adolescência? Conc 04: Vixe...Foram tantas. Não queira saber não...Foi muita coisa ruim... tanto movimento de hospital...eu sofria bastante. Moderador: Certo...E aí o seguinte, né...além do que vocês já relataram, qual o significado que vocês trazem disso pra vocês hoje¿ Conc 01: De tudo o que a gente passou¿ Moderador: Sim Conc 01: Que valeu a pena...Que a persistência é a base de tudo. Conc 02: Que diante das dificuldades , o caminho pra percorrer, assim...por mais que tenha dificuldades. Conc 01: Que quem faz é nós que pode ter vários caminhos a percorrer, né, mas quem vai trilhar e que vai dizer quem você é, é a gente mesmo, nós mesmos. Conc 03: E assim, né, aquela frase que apesar dos obstáculos...é...apesar de todas essas dificuldades , que a gente vem falando isso, sempre a gente tem essa sensação de gratificação né ...então...é... mesmo a gente passar por tudo isso , a gente sente que valeu a pena como Conc 06 disse. Conc 02: Tinha uma pedra no meio do caminho, mas sempre vai ter. Conc 04: Eu acho que a gente se sente mais preparado pra os desafios que a gente vai ter pela frente pelo pouco que a gente já passou. Conc 02: Como a gente até ouviu né, durante o nosso estágio...olhe! - você não vai ter soro suficiente, não vai ter gaze suficiente..isso aí a gente foi vendo na época de faculdade que a gente já tava vendo a noção do que vai ser nossa realidade. Conc 04: Eu acho que vocês que vão se formar, vocês só saberão o que é ser enfermeiro quando vocês estiverem trabalhando... o cuidar ele não é pra todo mundo ...o que eu tenho a dizer sobre o cuidar é que ele é mágico, vocês vão se encantar ...tenho certeza disso. Conc 06: Uma coisa que ela falou agora e me veio a mente, semana passada...o que eu fiz há dois, três meses tava na pediatria internada e a criança ficou na minha mente... que fica na sua mente, você tem que se doar, não só pensando no que fazer, não só sendo amável a criança, não só sendo educado com a família, mas você tem que se deixar levar pelo sentimento no ambiente que você tá vivendo , com a nossa humanidade isso vai ficar em vocês...vai ficar até o dia que você vai lembrar e realmente está lá por isso, perceber esse retorno silencioso, mas você fez o bem. Conc 05: Mas esse retorno só vem né, Conc 06, se você tratar cada pessoa como um ser subjetivo e não pegar qualquer pessoa como um objeto, pensar que todos são iguais, todos sentem dor igual...tem que tratar mesmo, cuidar mesmo como uma pessoa individual...que sente e tem necessidades diferentes. Conc 03: E a coisa mais certa né, ter a empatia...porque a gente se colocar no lugar do outro...então por exemplo, se a gente está recebendo algum atendimento, alguma coisa em qualquer lugar a gente sempre vai querer ser tratado bem...então com a outra não vai ser diferente...então é muito marcante quando a gente precisa de algum atendimento de saúde , o enfermeiro e aí gente vê que aquele atendimento não é o melhor ou eu ele atendeu de forma assim , bem humanizada, bem respeitosa...lhe atendeu bem isso a gente tem que levar sempre pensando né, o outro.

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Moderador: E aí ainda falando nessa questão de aprendizado, de conhecimento como é que vocês então perceberam , como vocês...como é que foi então essa construção do conhecimento né, durante o curso, a partir daquilo que vocês vem trazendo né, e o que vocês foram vivenciando ou vendo durante a formação de vocês na universidade¿ Conc 04: Conhecimento em relação a que¿ Moderador: A tudo... não só o conhecimento acadêmico em si, certo, mas é... Conc 05: Em relação aos interpessoais..¿! Moderador: Também... Isso mesmo, né...É...aquela coisa né...que conhecimentos né, vocês desenvolveram e saberes¿ Conc 01: Você quer dizer assim...o que trouxe de positivo¿ Moderador: Também, mas assim é a partir do momento que vocês começam o curso, vão passando, certo, que conhecimentos vocês foram adquirindo, Que aprendizados e saberes? Conc 04: Eu acho que pra mim um dos grandes aprendizados foi trabalhar em equipe..a nossa turma era muito unida , a gente sempre trabalhava em equipe ...e isso enriqueceu bastante o trabalho em equipe...você vai levar ele com você pro resto da vida, pra onde você for e saber lidar com todo mundo, aceitando as diferenças...o trabalho em equipe é muito difícil e se você não tiver uma boa experiência como nós tivemos, dentro da universidade como a nossa turma, eu acho que facilita bastante. Conc 03: É...Essa questão da relação interpessoal...é...elas são as mais desafiadoras porque é muito fácil de saber de alguma técnica, os procedimentos de enfermagem , alguma..desenvolver alguma habilidade para fazer um procedimento, mas o que vai ser mais desafiador em qualquer lugar que a gente vá, seja no pessoal, seja no profissional são as relações com o outro , principalmente porque muitas vezes a gente tem que ter tolerância com as ideias das outras pessoas e a gente trabalhar em equipe mesmo...a nossa assistência, enfim ou no nosso trabalho, seja na docência ou seja em qualquer âmbito da enfermagem , ela aconteça de forma melhor nas pessoas que precisam delas. Conc 05: E principalmente quando ...como eu cheguei em uma instituição que já tem uma rotina já formada, ter profissionais antigos né, pra você quando chega vê coisas incorretas ali, pra você chegar nesses profissionais e dizer a melhor forma, você tem que ter uma sensibilidade nesse sentido e também não é fácil você chegar no profissional que faz aquela rotina há quinze, vinte anos, você chega e dizer – não é bem assim, vamos fazer de outra maneira , tem que ter essa sensibilidade e conversar com essa pessoa... Conc 03: E muitas vezes...ah você é recém formada, cheia de vontade, mas voces vão ver que a gente vai ficar estressado e as coisas não funcionam dessa forma né...a gente tentar, apesar das pessoas falarem isso né, a gente nunca perder a vontade de fazer o melhor Conc 01: Outra coisa que eu acho é a questão da nós né, fomos os pioneiros, eu acho que todo mundo sofreu isso foi ...é...a questão de sermos da UFRN de Santa Cruz , então você criar um campo , a nossa história é...foi muito difícil e a gente soube fazer isso...então todo o cuidado a gente sempre tinha, acho que é uma questão que deve ser pontuada porque você perguntou aí ...é isso...a gente chegar nos campos de estágios, principalmente e sempre os professores diziam – gente ..olhe...tenham postura, tenham ética é... a questão de a gente chegar no campo, mostrar quem somos nós, claro e deixar o campo de estágio preparado pra os seguintes também né...então a gente teve muita dificuldade porque o pessoal – ah é UFRN...Aí muitos diziam - Ah de Santa cruz¿ Aquilo , pelos menos em mim, impactava muito... por que¿ Quer dizer que nós somos menores que o pessoal de Natal¿ Não. De maneira alguma e aí eu acho que a gente criava muito esforço pra mostrar também o diferencial da nossa turma. Conc 02: Além de tudo isso, eu acho que a experiência que eu tive foi em dois momentos, posso até ter mais, mas tou só lembrando de dois, e foi a participação no VERSUS que por incrível que pareça a gente ver na faculdade que o SUS é isso, o SUS é aquilo, comenta muito sobre o SUS , que a gente tem que definir o SUS, mas a gente dentro da própria faculdade, a gente só vê a teoria, na prática a gente não vê isso e no VERSUS eu tive a oportunidade de vê que a gente não tá só e sendo que pessoas estão ao seu lado assim pra defender realmente o SUS, da mesma forma foi a participação no projeto lá em João Pessoa...de extensão... chega...de extensão popular que também foi outra experiência assim que eu tive a oportunidade de conhecer outras pessoas de outros estados e conhecer culturas diferentes da nossa, acho que o lugar mais longe que eu já fui foi Recife, que foi ano passado , aí na área tive a oportunidade de vê gente lá do Rio Grande do Sul, de Mato Grosso do Sul, de São Paulo, da Paraíba mesmo.. . e por incrível que pareça mas na Paraíba eles tem culturas diferentes da nossa; tem locais que eu me apaixonei que foi uma comunidade indígena de Bahia Formosa não...é uma cidadezinha que eu esqueci agora...tive a oportunidade de conhecer , de vivenciar na verdade, uma realidade comum mas com as outras pessoas não é diferente foi uma comunidade lá numa favela de João Pessoa totalmente diferente e lá nessa favela tinha pessoas que

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eu faziam parte do conselho municipal agora não me lembro...não... dos trabalhadores sem teto na verdade, então também estavam do conselho municipal de construção civil não, que averigua casas...é... casas esqueci o nome...defesa civil; gente participante do conselho municipal de saúde e era bem interessante, pessoas de...assim,com experiências que... eu vou levar assim pra frente né, porque por mais que a gente diz – ah mais é Nordeste né, é uma cidade como qualquer outra, mas é aquela coisa são de classes sociais excluídas da sociedade, mas que lá eles lutam pra ter o reconhecimento,mas apesar de todo esse aparato capitalista né, que querendo ou não , como hoje eu tive uma oportunidade de ir até uma sabatina que houve no conselho municipal de saúde , teve candidatos que faltaram...eles ficaram chateados porque que qual os respeito que esses candidatos a prefeito tem com a saúde do município que tão se candidatando a prefeito¿! Da mesma forma é lá, que essas pessoas que querem fazer o melhor , que querem trabalhar, que querem mostrar que podem fazer isso diferença não tem tanta oportunidade porque tem a questão financeira e porquê os que estão lá em cima só vê o dinheiro na frente e o resto que se esqueça... acho que foram umas das experiências assim que no momento estou lembrando. Conc 06: A universidade ela abre a porta de entrada pra pensar mais critico , porque intensifica, mexe mais com você também, então durante esse período mais da vivência acadêmica, todo tempo a gente era instigado mesmo a pensar sobre qualquer coisa convivência em relacionada com a nossa comunidade ou a universidade de forma mais crítica , de forma mais racional, de forma mais articuladora e isso também ajudou a preparar cada um de nós aqui pra que a gente tivesse no mercado de trabalho , e levar o essencial ...acho que a essência da universidade mesmo é levar essa vontade de questionar e isso... acho que isso aumentou mais quando entrei na universidade, a gente vê que é outro mundo, é outra realidade, é outro pensamento, é outro ambiente, são projetos como o VERSUS que eu também participei, são projetos que são construídos já pra instigar isso nos alunos , não é só quem participa dele, mas quem entra na universidade tem essa chance de repensar politicamente o que está fazendo sobre sua atuação pessoal, profissional, sua comunidade, seu país, o mundo, o sistema como funciona, então acho que é isso. Conc 03: Pensei justamente esse olhar crítico, principalmente quando muitas vezes quando a gente inicia a universidade, o curso, a gente pensa que a saúde, ela vai ser só aquele setor, o serviço saúde, mas que na verdade a gente fazer saúde, a gente precisa de parceiros, então pra isso precisa da questão da intersetorialidade mesmo, então a gente precisa é...conhecer a comunidade, conhecer aquelas pessoas que a gente vai assistir, conhecer a realidade pra tentar mudar ...questões das relações de saúde e outros determinantes sociais.