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A FOTOGRAFIA COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE ECOLOGIA Joelia S. Cavalcante [email protected] Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará IFCE, Av. 13 de Maio, 2081 Benfica Fortaleza - Ceará Estefânia P. Sousa [email protected] Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará IFCE, Fortaleza - Ceará Natalice R. Garcia [email protected] Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará IFCE, Fortaleza - Ceará Cristianne S. Bezerra [email protected] Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará IFCE, Fortaleza - Ceará Kylvia R. C. Silva [email protected] Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará IFCE, Fortaleza Ceará Resumo: A motivação e o interesse dos alunos pelos estudos estão diretamente ligados às didáticas utilizadas pelos professores. Devido ao emprego de metodologias tradicionais no ensino de Biologia, a disciplina vem sendo considerada desinteressante por alguns estudantes. Dessa forma, o presente trabalho visa despertar a atenção dos alunos ao relacionar as disciplinas de Biologia e Arte, permitindo novas formas de aprendizagem e buscando tornar esse processo agradável e motivador. Foi desenvolvida uma atividade com os alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará Campus Fortaleza, utilizando fotografias como ferramenta de ensino. Os alunos analisaram imagens registradas no próprio ambiente escolar relacionadas ao tema estudado em sala e, posteriormente, foram os autores de suas fotografias ao explorar esse mesmo ambiente. A atividade também contribuiu para analisar a percepção ambiental dos estudantes e assim conscientizá-los quanto a preservação ambiental, já que anteriormente, a maioria ignorava os detalhes do local em que estavam inseridos. A pesquisa envolveu 58 participantes que puderam relacionar o conteúdo visto na forma teórica com a prática em seu cotidiano. Isto fez com que eles pudessem interagir com o ambiente de forma positiva e consciente, caracterizando assim, uma aprendizagem significativa. Palavras-chave: Biologia, Ecologia, Fotografia, Arte, Interdisciplinaridade.

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A FOTOGRAFIA COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE

ECOLOGIA

Joelia S. Cavalcante – [email protected]

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,

Av. 13 de Maio, 2081 – Benfica

Fortaleza - Ceará

Estefânia P. Sousa – [email protected]

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,

Fortaleza - Ceará

Natalice R. Garcia – [email protected]

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,

Fortaleza - Ceará

Cristianne S. Bezerra – [email protected]

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,

Fortaleza - Ceará

Kylvia R. C. Silva – [email protected]

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,

Fortaleza – Ceará

Resumo: A motivação e o interesse dos alunos pelos estudos estão diretamente ligados às

didáticas utilizadas pelos professores. Devido ao emprego de metodologias tradicionais no

ensino de Biologia, a disciplina vem sendo considerada desinteressante por alguns

estudantes. Dessa forma, o presente trabalho visa despertar a atenção dos alunos ao

relacionar as disciplinas de Biologia e Arte, permitindo novas formas de aprendizagem e

buscando tornar esse processo agradável e motivador. Foi desenvolvida uma atividade com

os alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus

Fortaleza, utilizando fotografias como ferramenta de ensino. Os alunos analisaram imagens

registradas no próprio ambiente escolar relacionadas ao tema estudado em sala e,

posteriormente, foram os autores de suas fotografias ao explorar esse mesmo ambiente. A

atividade também contribuiu para analisar a percepção ambiental dos estudantes e assim

conscientizá-los quanto a preservação ambiental, já que anteriormente, a maioria ignorava

os detalhes do local em que estavam inseridos. A pesquisa envolveu 58 participantes que

puderam relacionar o conteúdo visto na forma teórica com a prática em seu cotidiano. Isto

fez com que eles pudessem interagir com o ambiente de forma positiva e consciente,

caracterizando assim, uma aprendizagem significativa.

Palavras-chave: Biologia, Ecologia, Fotografia, Arte, Interdisciplinaridade.

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1 INTRODUÇÃO

A ciência está presente no cotidiano das pessoas, influenciando decisões éticas, políticas,

econômicas e pessoais. Deste modo, o ensino de ciência tem o importante papel de

possibilitar que o estudante se aproprie da sua linguagem com seu potencial explicativo e

transformador. De acordo com Chassot (2006), a Ciência trata-se de uma linguagem que

utilizamos para compreender o mundo, ou seja, para percebermos e lidarmos, de maneira mais

significativa, com a realidade e suas demandas.

Muitas vezes, o ensino de ciência é oferecido no modelo convencional, utilizando

métodos considerados tradicionais, como o trabalho focado na teoria, o apego ao quadro e as

minúcias do conteúdo, não promovendo a aproximação da realidade do aluno com a realidade

da escola e da comunidade; ou seja, o ensino resume-se a aulas expositivas, o que pode causar

desmotivação no aluno (DIAS, 2009).

Para alguns estudantes, a disciplina de Biologia é vista como algo desinteressante devido

às metodologias utilizadas pelos professores. De acordo com Krasilchik (2004), a Biologia

pode ser uma das disciplinas mais relevantes e merecedoras da atenção dos alunos, ou uma

das disciplinas mais insignificantes e pouco atraentes, dependendo do que for ensinado e de

como isso for feito.

Como afirma Oliveira: O saber que vem sendo ensinado nas escolas ainda está muito longe de permitir aos

jovens a compreensão do mundo em que vivem, e muito menos ainda tem permitido

abrir-lhes horizontes para sua transformação. (OLIVEIRA, 1994, p.04).

Os Parâmetros Curriculares de Ciências Naturais (BRASIL, 1997) recomendam que, para

o ensino de ciências, é necessária a construção de uma estrutura que favoreça a aprendizagem

significativa do conhecimento historicamente acumulado e a formação de uma concepção de

Ciências enfatizando suas relações com as tecnologias e com a sociedade.

Para tornar o aprendizado mais eficaz, é necessário trabalhar a teoria sempre relacionada

com a prática, fazendo com que o aluno visualize o conteúdo como parte integrante de seu

cotidiano. É fundamental o desenvolvimento de competências que permitam ao aluno lidar

com as informações, compreendê-las e elaborá-las. Além de ajudar no desenvolvimento de

conhecimentos científicos, as aulas práticas permitem que os estudantes aprendam como

abordar objetivamente o seu mundo e como desenvolver soluções para problemas complexos

(LUNETTA, 1991). Dessa forma, são criadas condições ao aluno de desenvolver suas

capacidades de produzir conhecimento, deixando de lado a obrigatoriedade que faz com que o

discente aprenda a Biologia sem saber a sua utilidade para o seu cotidiano.

O estudo de Biologia está diretamente ligado a imagens, estas têm a função de tornar as

informações científicas mais nítidas. A fotografia é um instrumento de grande importância

pedagógica e muitas vezes essencial para diversas áreas de ensino. Ela, como linguagem não-

verbal também contribui decisivamente na realização de pesquisas teóricas, manifestações

artístico-culturais e como coadjuvante eficaz em inúmeras descobertas científico-tecnológicas

(SPENCER, 1980).

A utilização da fotografia, como um recurso didático para o ensino de Biologia, acarreta

na execução de atividades práticas, que, quando desempenhadas em ambientes naturais,

levam o aluno a um processo de aprendizagem mais significativo e envolvente, fazendo com

que o mesmo compreenda e articule os conhecimentos e as informações recebidas da melhor

forma possível. Nas palavras de Asari, Antoniello e Tsukamoto (2004, p. 183), “(...) a

utilização da fotografia pode estimular a observação e descrição das paisagens pelos alunos,

preparando-os para tirarem suas próprias conclusões e elaborarem soluções para problemas da

sua realidade.”

Para CASTOLDI (2006):

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Com a utilização de recursos didático-pedagógicos pensa-se em preencher as

lacunas que o ensino tradicional geralmente deixa, e com isso, além de expor o

conteúdo de uma forma diferenciada, faz os alunos participantes do processo de

aprendizagem. (CASTOLDI, 2006, p. 985).

Focando em uma das áreas da Biologia, os conceitos da ecologia são fundamentais para a

compreensão das relações de interdependência entre os organismos vivos e destes com os

demais componentes do espaço onde habitam. A ecologia tem uma riqueza de temas para

trabalhos de investigação na didática da Biologia. Nas sociedades atuais o ser humano afasta-se da natureza. A individualização

chegou ao extremo do individualismo. O ser humano, totalmente desintegrado do

todo, não percebe mais as relações de equilíbrio da natureza. Age de forma

totalmente desarmônica sobre o ambiente, causando grandes desequilíbrios

ambientais. (GUIMARÃES, 2009, p. 12).

Infelizmente, ao longo dos anos, o ser humano vem manipulando indiscriminadamente o

ambiente, sem perceber que também é parte do meio e que sofre com os danos por ele

causados. O fato do homem não se sentir mais como parte do ambiente pode ser caracterizado

como uma perda da capacidade de pertencimento, é isso que o impede de refletir sobre as

consequências dos seus atos sobre o meio em que vive. Segundo Mourão (2005), a perda da

capacidade de pertencimento e a necessidade de preservação do meio ambiente são problemas

educacionais. De fato, se durante o período escolar o aluno não for estimulado a sentir-se

parte do ambiente em que vive, a ideia da necessidade da preservação e da sensação de

pertencimento vão se perdendo (SALES & LANDIM, 2009).

Nesse sentido, a fotografia oportuniza a aplicação das imagens como forma de mudança

de comportamentos e atitudes em relação aos problemas ambientais e ecológicos. A educação

ambiental, por meio da percepção ambiental, promove uma sensibilização e tomada de

consciência do ser humano para as questões socioambientais (SABINO, 2009). A fotografia

pode ser um instrumento eficaz, detonador da capacidade perceptiva ou indicador do estágio

dessa percepção (FERRARA, 1999). Isto é, uma imagem é capaz de sensibilizar ou

demonstrar quanto o observador conhece sobre o assunto em questão.

Diante disso, o presente projeto visou trabalhar a fotografia como uma ferramenta para a

educação em Ecologia, subárea da Biologia. Tendo por objetivo permitir novas formas de

aprendizagem, tornando esse processo agradável e motivador, já que o participante poderá

relacionar o conteúdo visto na forma teórica com a prática do seu cotidiano, fazendo com que

ele possa interferir no seu ambiente de forma positiva e consciente, caracterizando assim, uma

aprendizagem significativa.

2 METODOLOGIA

O projeto foi aplicado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

(IFCE), Campus de Fortaleza, envolvendo alunos matriculados na disciplina de Biologia II do

Ensino Técnico Integrado. Os alunos de quatro turmas foram convidados a participar do

estudo, os mesmos pertenciam a diferentes cursos e semestres: Edificações (3º Semestre),

Informática (4º Semestre), Mecânica Industrial (6º Semestre) e Telecomunicações (4º

Semestre). A escolha dessas turmas foi devido ao fato da ementa disciplinar abordar assuntos

relacionados à ecologia, permitindo o entendimento da complexidade das relações entre a

humanidade, os outros seres vivos e o planeta.

A atividade foi aplicada no final do semestre letivo em vigência. A mesma foi executada

duas vezes, em diferentes dias, durante aulas extras marcadas para o turno da tarde,

proporcionando a participação do maior número de alunos interessados, de acordo com a

disponibilidade dos mesmos. Houve uma prévia explicação do projeto e os participantes

assinaram um termo de consentimento concordando em participar, voluntariamente, da

pesquisa.

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A aplicação da atividade envolvia a utilização de fotografias através de duas

metodologias didáticas. Na primeira, os alunos tinham que analisar fotografias relacionadas

ao tema estudado em sala. Essas fotografias foram tiradas no próprio IFCE, na fase inicial do

projeto, por bolsistas envolvidos no mesmo. Tinham o intuito de mostrar aos discentes que a

Biologia está presente bem próximo a eles. Já na segunda, os próprios alunos seriam os

autores das fotografias, permitindo que os mesmos colocassem o seu ponto de vista. Para a

análise da pesquisa e do projeto, foram feitos dois tipos de questionários, um aplicado em

grupo sobre a avaliação das fotografias e outro individual sobre a atividade. Toda a aplicação

do projeto foi dividida em seis etapas (figura 1):

Figura 1 - Etapas da aplicação da atividade: a) apresentação do projeto; b) observação

em equipe; c) apresentação da percepção da equipe; d) explanação sobre as fotografias;

e) atividade em campo; f) apresentação e discussão;

Apresentação do projeto

Primeiramente, foi realizada uma breve apresentação e explicação do projeto para os

alunos convidados, momento em que os mesmos assinaram um termo de consentimento. Os

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participantes foram divididos em equipes, onde cada uma recebeu uma fotografia para

discussão e um questionário, contendo perguntas abertas sobre a fotografia e sua relação com

a ecologia (figura 2). As fotografias foram registradas no próprio Instituto, porém isso não foi

comunicado aos participantes, visando à avaliação da percepção ambiental dos mesmos.

Figura 2 - Os registros feitos na Instituição sensibilizam e provocam curiosidade pelo o

que compõe: 1) Ave de rapina; 2) Formigueiro; 3) Abelha; 4) Cupinzeiro; 5) Fungos; 6)

Processo de decomposição; 7) Caramujo; 8) Líquens e briófitas; 9) Percevejos; 10)

Espaço verde.

Observação em equipe

Após a distribuição das imagens, os alunos tiveram um tempo para observar as

fotografias e, em equipe, responder a alguns questionamentos presentes na folha de avaliação.

As questões instigavam os participantes a observar os detalhes das imagens e assim a

discutirem sobre a temática envolvida.

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Apresentação da percepção da equipe

As imagens foram projetadas e cada equipe apresentou, brevemente, o que havia sido

observado na fotografia recebida, a interpretação de cada um e a relação com o conteúdo visto

em sala.

Explanação sobre as fotografias

As autoras das fotografias comentaram sobre o que poderia ser observado na imagem e a

relação das mesmas com a disciplina de Biologia. Nesse momento, foi revelado que as

fotografias apresentadas aos alunos foram registradas no próprio Instituto e em qual local

específico.

Atividade de campo

As equipes foram orientadas a fotografar o ambiente escolar à procura de algo que se

relacionasse com o que havia sido discutido nas etapas anteriores e com o conteúdo

ministrado na disciplina durante o semestre. Cada aluno deveria colocar o seu ponto de vista

sobre o assunto através da produção da fotografia. Essa é considerada uma fase importante,

pois os alunos foram os próprios autores das imagens por meio de celulares, assim os

discentes puderam fazer uma aplicação dos conhecimentos aprendidos nas aulas teóricas.

Apresentação e discussão

Retornando à sala de aula, cada equipe selecionou uma fotografia, dentre as tiradas pelos

membros, para a apresentação e discussão com a turma. Desta forma, eles puderam expor suas

considerações sobre a atividade em geral, o conteúdo aprendido e a relação ambiental

presente no Instituto e fora dele.

Ao final das seis etapas presenciais, cada aluno recebeu e respondeu um questionário para

avaliar a atividade e fazer considerações sobre a mesma. Ficou combinado que os

participantes deveriam enviar, por e-mail, a fotografia de sua autoria acompanhada de um

título e um breve comentário sobre a relação da foto com a disciplina.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao executar uma abordagem de conteúdo mais dinâmica, os alunos conhecem,

compreendem e adotam posturas que os levam a interações construtivas, justas e

ambientalmente sustentáveis. A realização da atividade planejada despertou a percepção e a

curiosidade dos alunos. A atividade envolveu 46 participantes no primeiro dia de aplicação

(03 de junho de 2014) e 12 no segundo (05 de junho de 2014), totalizando 58 participantes

que foram divididos em 14 grupos.

Os questionários, os depoimentos, as falas, os textos e as fotografias produzidas pelos

alunos foram os dados utilizados para a análise do projeto. As perguntas abertas presentes na

avaliação das fotografias levaram os alunos a observar os detalhes das imagens e a refletir

quanto a temática envolvida. Com isso, obteve-se uma riqueza de informações a partir da

grande variedade de comentários e opiniões dos participantes. Ao tentar identificar o local da

fotografia, os grupos se utilizaram da imaginação e buscaram descrever minuciosamente o

ambiente.

Quanto ao suposto local, a maioria das equipes imaginou que a fotografia havia sido

tirada no Parque Ecológico do Rio Cocó (figura 3), a área de conservação ambiental mais

importante da cidade e que abriga uma grande diversidade biológica, contendo várias espécies

animais e vegetais. Apenas alguns alunos conseguiram identificar que o ambiente retratado

era o IFCE, e relataram ainda que, muitas vezes, o local era ignorado por ter se tornado

comum no trajeto dos estudantes. Já outros imaginaram até que praias e serras seriam o

cenário da imagem.

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Figura 3 – Respostas dos grupos de alunos sobre o suposto local da fotografia.

A partir dos detalhes presentes nas fotografias, os alunos imaginaram diferentes

condições ambientais para o local retratado, desde lugares úmidos, com pouca iluminação, até

áreas verdes preservadas ou alteradas devido às ações humanas. Isso ocorreu pois as situações

foram registradas em diferentes locais e dias, o que ocasionava uma mudança climática que

provocava uma alteração no ambiente.

Facilmente, os participantes conseguiram relacionar a fotografia com a disciplina de

Biologia, além de fazer referência ao que foi estudado em ecologia, os alunos fizeram menção

aos outros conteúdos vistos durante o semestre, Genética e Evolução. Foram feitas

associações envolvendo tópicos, como: ecossistemas, nichos ecológicos, habitats, cadeias

alimentares, relações tróficas, intervenções humanas no meio ambiente, etc.

Ainda em grupo, os alunos também escreveram sobre o desenvolvimento da atividade, a

fotografia selecionada para apresentação e a experiência em explorar o ambiente escolar.

Alguns participantes também fizeram referência a observações realizadas antes da proposta da

atividade, como relatou a Equipe G: “Há duas semanas estávamos em um laboratório quando

ouvimos o barulho de um pássaro, ao abrimos a janela percebemos que se tratava de um

ninho de pombos. Ao retornarmos hoje ao laboratório para essa atividade, percebemos que

provavelmente a mãe foi buscar alimento e o filhote estava sozinho no ninho. Nós

observamos o crescimento do filhote com o passar dos dias.”

Também foram coletados dados através dos questionários individuais, que avaliavam a

atividade de modo geral. O mesmo era composto por seis questões dicotômicas (sim ou não) e

duas questões abertas quanto as considerações e a modificação da percepção ambiental.

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De acordo com os resultados (tabela 1), a maioria dos participantes percebeu que o

ambiente retratado na fotografia era o IFCE, mesmo assim 46,56% dos alunos, que

frequentam o local diariamente, não identificaram a Instituição como o cenário das imagens,

deixando visível a falta de percepção por boa parte dos frequentadores.

Um pouco mais de 15% dos alunos já haviam observado a situação retratada dentro da

escola. Ou seja, a maioria dos que reconheceram que se tratava do IFCE, chegaram a essa

conclusão através de algum detalhe da imagem que lembrasse a Instituição, e não porque já

tinham visualizado a temática em questão. Alguns alunos relataram que nunca haviam visto

determinadas espécies no meio ambiente ou que desconheciam algumas áreas do ambiente

escolar.

A atividade despertou a curiosidade dos participantes, já que a maioria (68,96%) teve

interesse em ir aos locais retratados dentro da Instituição, os mesmos atuaram como

exploradores do ambiente escolar e puderam visualizar diversos exemplos de como a Biologia

está presente no cotidiano, tanto por analisar e tirar suas próprias fotografias, como por

discutir sobre as fotografias entregues e tiradas pelos demais colegas. Diante disso, mais de

80% dos participantes consideraram que a atividade contribuiu para ampliar o conhecimento

sobre a disciplina, já que despertou a curiosidade em relação as espécies observadas.

Quanto aos comentários, críticas e considerações sobre a utilização da fotografia na

observação, 100% dos alunos responderam de forma positiva. A iniciativa de utilizar essa

ferramenta no ensino foi considerada bastante construtiva e descontraída. “Eu nunca tinha

participado de uma aula como essa, para explorar e observar mais o mundo a nossa volta,

isso ajuda a ter uma maior percepção do mundo, da vida, nisso a Biologia me ajudou

bastante e acabei até gostando da matéria que não era uma das minhas preferidas”, relatou

um dos participantes.

Foi possível observar a natureza presente em lugares em que menos esperavam. “Devido

à nitidez, à beleza da natureza expressa e à riqueza de detalhes, a fotografia despertou a

curiosidade e levou o grupo a entrar em discussão.”, afirmou a Estudante 06.

Em relação à mudança quanto a percepção ambiental (figura 4), quase 80% dos

participantes informaram que a atividade contribuiu para que pudessem olhar e reparar mais

no ambiente no qual estão inseridos. A pressa do dia-a-dia faz com que os detalhes da

natureza passem despercebidos pelos alunos, como é possível notar pelo relato do Participante

Tabela 1 - Número e porcentagem das respostas apresentadas pelos estudantes às

questões dicotômicas do questionário avaliativo.

Questões N = 58

Sim Não

1. A princípio, você percebeu que

a fotografia avaliada por sua equipe

havia sido tirada no IFCE?

31 53,44% 27 46,56%

2. Após a identificação do local,

você teve curiosidade de ir até o

mesmo?

40 68,96% 18 31,04%

3. Você já havia observado esse

processo ou prática no IFCE? 9 15,51% 49 84,49%

4. Você considera que a atividade

contribuiu para ampliar o seu

conhecimento sobre a disciplina?

47 81,03% 11 18,97%

5. Você gostou da atividade? 57 98,27% 01 1,73%

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51: “A medida que as fotos foram apresentadas e fomos incentivados a procurar por nossa

conta, passamos a observar mais os locais por onde passamos diariamente e acabamos nos

surpreendendo com o mundo que nem percebemos”.

Figura 4 – Distribuição quanto a modificação da percepção ambiental.

Uma boa parte dos participantes se viram impressionados com a beleza natural que está

presente no cotidiano de cada um, mas que não é notado, e sim esquecido, como foi o caso do

Participante 10: “Percebi que o ambiente ao nosso redor tem muito a contribuir, tanto na

saúde, nas diversidades, quanto na beleza gerada por tal natureza, tornando o campus um

lugar mais agradável.”

Durante a realização da pesquisa, foi possível notar que os alunos foram demonstrando

um maior interesse de acordo com o avanço das etapas. Na apresentação inicial, os

participantes ficaram atentos para entender toda a atividade, já na observação e discussão,

surgiram alguns questionamentos a partir dos detalhes presentes nas fotografias e a

identificação do conteúdo ministrado em sala no decorrer do semestre. Durante a explanação,

muitos alunos se surpreenderam ao descobrir que o local fotografado era o IFCE. Tal fato os

deixou curiosos para a atividade de campo. Quando retornaram a sala de aula, os alunos

estavam admirados e empolgados quanto às descobertas e os registros feitos.

A aplicação das duas metodologias de forma conjunta foi de extrema importância para o

alcance dos objetivos da pesquisa. A parte da observação e discussão das fotografias foi

essencial para que os alunos tivessem um conhecimento prévio e se inspirassem para a

atividade de campo. Já a atividade de campo foi essencial para que os alunos pudessem

comprovar o que foi visto durante as observações.

Por despertar a curiosidade, a atividade também teve como consequência o incentivo à

pesquisa, o que foi constatado quando os alunos tiveram de enviar a fotografia acompanhada

por um título e um breve texto. Isso se deve, pois alguns alunos encontraram no ambiente algo

que desconhecia e tiveram a curiosidade de buscar em meios de pesquisa informações que

permitissem identificar o que foi fotografado.

Para a Equipe E: “O interessante da atividade foi nos fazer perceber a quantidade de

indivíduos que diariamente convivem próximos a nós”. Com a exploração do ambiente

escolar, foi encontrada uma grande biodiversidade dentro do Campus, envolvendo: pássaros,

formigas, abelhas, cupins, fungos, moscas, larvas, percevejos, lagartas, borboletas, etc. Além

disso, houve um contraste entre os animais que habitam a Instituição e são percebidos

facilmente, como os pombos, cães e gatos, e outros que não se imaginavam encontrar por ali,

como foi o caso de um caranguejo visto fora do seu habitat natural devido a influência

humana e as aranhas, que estiveram presentes em vários registros.

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Figura 5 - Registros feitos pelos participantes durante a atividade de campo: 1)

Gafanhoto-verde; 2) Aranha 3) Fungo orelha-de-pau, também conhecido por urupê ou

pironga; 4) Borboleta;

A atividade cumpriu com os seus objetivos ao despertar o interesse dos alunos quanto a

disciplina de Biologia, o que pode ser constatado ainda pelo relato da Equipe E: “Foi de

grande importância perceber o quanto nossos conhecimentos de biologia podem ser

manifestados apenas ao visualizar uma simples foto, sem esses conhecimentos trazidos

através do estudo da disciplina, essas mesmas fotos não trariam um conhecimento mais

complexo e seriam apenas objeto de estudo estético por causa da ‘beleza’ apresentada.”

Ao estudar o ambiente, o aluno envolve-se em situações reais, o que contribui para a

compreensão das múltiplas formas de interação dos organismos entre si e com o meio, das

transformações que os organismos e o meio ambiente sofrem ao longo do tempo e no papel

dos seres vivos e do homem nesses processos de alteração.

De acordo com os resultados obtidos, constatou-se que a fotografia é uma importante

ferramenta para o ensino da Biologia, percepção ambiental e preservação do meio ambiente,

permitindo visualizar e desenvolver uma maior percepção sobre a variedade do que pode ser

encontrado dentro do ambiente escolar, que na maioria das vezes é deixado de lado. Ou seja,

foi possível perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural, adotando posturas de respeito

aos diferentes aspectos.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na prática educacional de Biologia é importante promover mudanças em sala de aula, no

sentido de estimular a discussão de ideias, intensificando a participação ativa dos alunos. O

presente projeto, devido aos trabalhos de campo, conseguiu envolver emotivamente os alunos

através de experiências práticas que podem influir na predisposição para preservação do meio.

Os discentes costumam aproximar-se afetivamente dos seres vivos. Consideram que este tipo

de abordagem permite “vivenciar” o meio natural e enfatizar o desenvolvimento de atitudes

de respeito pela natureza. O vínculo afetivo é básico para que se obtenha atitudes de respeito

em relação à natureza.

Com a atividade, os participantes puderam observar e ficaram surpreendidos pela

variedade de espécies encontrada dentro do ambiente escolar que na maioria das vezes

deixavam de lado. Também notaram a necessidade de se manter vivo e conservado o

ambiente em que passam boa parte de seu dia.

Com base nos resultados, verificou-se que a utilização de fotografias teve grande

influência nas turmas, já que atuou não só na transferência de informação, mas também na

sensibilização e transformação do participante, formando indivíduos mais conscientes e com

uma melhor percepção do ambiente que os cerca. Como ferramenta de ensino, a fotografia é

útil para explicar, exemplificar, sensibilizar, provocar dúvidas e questionamentos. Dessa

forma, pode ser utilizada como metodologia didática de diversas maneiras em diferentes áreas

de estudo, dependendo das necessidades de cada professor.

É possível concluir que a fotografia é um instrumento de sensibilização que pode

provocar novas percepções. A execução da atividade de uma forma dinâmica despertou o

interesse dos alunos para o Ensino de Biologia e para a preservação ambiental. Os mesmos

foram incentivados a observar o próprio cotidiano e com isso provocaram uma mudança na

questão da percepção. Tendo o IFCE como exemplo, os alunos notaram que apesar da

simplicidade dos ambientes, há vida em cada um deles. E que devemos ser mais observadores

para sermos melhores conservadores do meio ambiente.

Agradecimentos

Aos 58 alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará que

participaram e contribuíram com a pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CASTOLDI, R; POLINARSKI, C. A. A utilização de recursos didático-pedagógicos na

motivação da aprendizagem. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE CIENCIA E

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UNIJUI, 2006.

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FERRARA, L. D. Olhar periférico: informação, linguagem, percepção ambiental. 1. ed. São

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PHOTOGRAPHY AS A TOOL IN TEACHING OF ECOLOGY

Abstract: The motivation and student interest in the studies are directly tied to teaching used

by the teachers. Due to the use of traditional methods in teaching biology, the subject has

been considered unattractive by some students. Thus, this paper aims to arouse the attention

of the students relating the subjects of biology and art, enabling new forms of learning and

trying to make this an enjoyable and motivating process. An activity has been developed with

students of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Ceara – Fortaleza,

Brazil, using photographs as a teaching tool. Students analyzed the images recorded in the

school environment related to the topic studied in class and then they were the authors of

their photographs exploring the same environment. The activity also helped to analyze the

environmental perception of the students and make them aware about the environmental

preservation, since before the majority ignored the details of the places they were inserted.

The research involved 58 participants who were able to relate content seen in the theoretical

way with the practice in their daily lives. This meant that they could interact with the

environment in a positive and conscious way, thus characterizing meaningful learning.

Key-words: Biology, Ecology, Photography, Arts, Interdisciplinarity.