A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    1/219

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

    INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVADEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA

    A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO NA EQUIPE DE CIRURGIA BARIÁTRICA

    THAATY BURKLE HERCOWITZ DE FRANÇA

    Orientador

    PROF. DR. ANDRÉ MARTINS

    Rio de Janeiro

    2014

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    2/219

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

    INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVADEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA

    A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO NA EQUIPE DE CIRURGIA BARIÁTRICA

    THAATY BURKLE HERCOWITZ DE FRANÇA

    Orientador

    PROF. DR. ANDRÉ MARTINS

    Tese de doutorado apresentada aoInstituto de Estudos em SaúdeColetiva, da Universidade Federaldo Rio de Janeiro, como requisito

     parcial para a obtenção do título dedoutora em Saúde Coletiva.

    Rio de Janeiro2014

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    3/219

    THAATY BURKLE HERCOWITZ DE FRANÇA

    A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO NA EQUIPE DE CIRURGIA BARIÁTRICA

    Tese de doutorado em Saúde Coletiva desenvolvida no Instituto de Estudos de SaúdeColetiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, área de concentração Ciências

    Humanas e Saúde.

    Aprovado em Rio de Janeiro, de de 2014.

    Banca examinadora

    Prof. Dr. André Martins Vilar de Carvalho (UFRJ/ Orientador)

    Prof. Dra. Lucia Abelha Lima (UFRJ)

    Prof  ª. Dr  ª. Cristina Rauter (UFF)

    Profª. Drª Anna Paula Uziel (UERJ)

    Prof. Dr. Nilson Guimaraes Doria (UERJ)

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    4/219

     

    Para Alicia.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    5/219

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço ao meu marido, Igor, pelo amor, apoio, cuidado, compreensão eentusiasmo de estar ao meu lado.

    Aos meus pais por todo o amor.

    A minha irmã pela parceria incondicional, por abrir mão do seu tempo e até de parte do seu trabalho para me ajudar.

    A Manuela, por sua alegria e afeto.

    Ao meu querido orientador e professor André Martins pela alegria e

    aprendizagem de cada um dos nossos encontros.

    Ao amigo Leonardo que tanto me ajudou na pesquisa.

    A todos os psicólogos que entrevistei que se mostraram tão receptivos edisponíveis a realizar a pesquisa.

    Ao Dr. Sergio Ricardo Dias Guimarães por me permitir fazer parte da sua equipee pelo apoio, sempre, nas minhas pesquisas.

    A FAPERJ pelo financiamento que ajudou a viabilizar a realização dessa tese.

    A minha filha Alícia que me ilumina com seu amor todos os dias.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    6/219

    RESUMO

    A obesidade é apontada como um grave problema de Saúde Pública no Brasil eem diversos paises do mundo. Atualmente a cirurgia bariátrica é considerada otratamento mais eficaz para casos de obesidade mórbida e obesidade associada aalgumas comorbidades. No Brasil as equipes de cirurgia bariátrica são formadas pordiversos profissionais, entre eles os psicólogos. Como não existem orientaçõesespecíficas sobre a atuação desse profissional nessas equipes, realizamos uma pesquisade campo para verificar qual a função dos psicólogos nas equipes de cirurgia bariátricana cidade do Rio de Janeiro. Para tal, entrevistamos 18 profissionais, que atuam em 36equipes cirúrgicas. Coletamos seus dados pessoais, sua formação, se seguem algumaorientação teórica, quantos pacientes cada um já atendeu, como se dá a rotina deavaliação pré-operatória (ferramentas utilizadas, tempo de duração), se utilizam testes

     psicológicos, além de informações sobre o tratamento pós-operatório dos pacientes; seas equipes que atuam realizam reuniões periódicas e como é o percentual de adesão aotratamento dos pacientes. Os dados sofreram análise quantitativa e posteriormentequalitativa. Os resultados indicaram que os psicólogos atuam de formas extremamentediferentes, coletando dados e aplicando instrumentos variados durante a sua avaliação

     psicológica pré-operatória, e também não têm conduta comum referente à indicação detratamento pós-operátorio. Concluímos que é urgente a criação de critérios, pelosConselhos de Psicologia, que possam orientar a atuação dos psicólogos nessas equipes,além da formulação de um protocolo fundamentado prática e teoricamente que venha adirigir sua atuação sem limitá-la. Apresentamos uma proposta de protocolo em três

    etapas, sendo estas anamnese (e entrevista inicial), entrevistas de discussão e reflexãosobre a cirurgia –  com a presença de familiares –  e encaminhamento para um psiquiatra para realização de avaliação. A indicação de tratamento pós-operatório deve ser feita para todos os pacientes que realizarem a cirurgia bariátrica uma vez que o sucesso dotratamento implica em mudanças comportamentais. O tratamento psicológico podeauxiliar o paciente a lidar com suas dificuldades psíquicas que contribuíram para osurgimento da obesidade. A proposta desse protocolo é um primeiro esforço na buscade uma atuação fundamentada, descrita e analisada que tenha como finalidade o sucessodo tratamento do paciente de forma integral e não apenas da cirurgia bariátrica em si.

    Palavras Chave: obesidade, cirurgia bariátrica, psicologia, avaliação psicológica.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    7/219

    ABSTRACT

    The obesity is appointed as a serious problem of Public Health in Brazil and inmany countries of the world. Currently, the bariatric surgery is considered the mostefficient treatment in cases of morbid obesity and obesity associated with somecomorbidities. In Brazil the bariatric surgery teams are formed by many professionals,including psychologists. As there are not specific orientations about the actuation of this

     professional in these teams, we have done a field research to verify the function of the psychologists in bariatric surgery teams in Rio de Janeiro city. For this, we haveinterviewed 18 professionals, who work in 36 surgical teams. We have collected their

     personal data and formation, if they follow any theoretical orientation, how many

     patients each one has already attended, how the pre-operative evaluation routine is (usedtools, duration time), if they use psychological tests, besides information about the post-operative treatment of patients; if the teams that work do periodic meetings and how the

     joining percentage into the patients’ treatment is. The data have been treated by

    quantitative and then qualitative analysis. The results have indicated that psychologistsact very differently, collecting data and applying different instruments during their pre-operative psychological evaluation, and do not have the same behavior related to post-operative treatment indication. We have concluded that the creation of criteria, byPsychology Councils, is urgent in order for them to guide the psychologists’ actuationin these teams, besides the formulation of a protocol based on practice and theory thatmanage their actuation without limiting it. We have presented a proposal of a protocolin three steps: anamnesis (and initial interview), discussion interviews and reflectionabout the surgery  –   with the presence of family members  –   and the request of a

     psychiatric evaluation. The indication of a post-operative treatment must be done to all patients that have the bariatric surgery once the success of the treatment implies on behavioral changes. The psychological treatment can help the patient lead with psychicdifficulties that contributed to obesity appearing. The proposal of this protocol is a firsteffort trying to search for an actuation founded, described and analyzed aimed to the fullsuccess of the patient's treatment and not only the bariatric surgery itself.

    Keywords: obesity, bariatric surgery, psychology, psychological evaluation.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    8/219

     

    INDICE DE GRÁFICOS

    Gráfico 1. Idade dos entrevistados ------------------------------------------------------------- 71

    Gráfico 2. Sexo dos entrevistados -------------------------------------------------------------- 71

    Gráfico 3. Tempo da formação em psicologia ------------------------------------------------ 72

    Gráfico 4. Cursos de pós-graduação realizados pelos entrevistados ---------------------- 73

    Gráfico 5. Áreas dos cursos de pós-graduação ------------------------------------------------ 73

    Gráfico 6. Cursos de pós graduação e área do conhecimento estudado------------------- 75Gráfico 7. Abordagens utilizadas --------------------------------------------------------------- 76

    Gráfico 8. Relação entre tipo de abordagem e áreas dos cursos de pós-graduação ----- 77

    Gráfico 9: Realização de outros tipos de avaliação psicológica --------------------------- 79

    Gráfico 10. Outros tipos de avaliação psicológica citados ---------------------------------- 79

    Gráfico 11. Quantidade de equipes em que os entrevistados atuam ---------------------- 81

    Gráfico 12: Tempo de atuação em equipes de cirurgia bariátrica -----

    --------------------- 82Gráfico 13. Quantidade de pacientes atendidos ------------------------------------------------ 82

    Gráfico 14. Número de pacientes atendidos e quantidade de equipes em que os profissionais atuam -------------------------------------------------------------------------------------------- 83

    Gráfico 15. Número de encontros para realizar avaliação pré-operatória ----------------- 84

    Gráfico 16. Tempo de atuação em equipes de cirurgia bariátrica e quantidade deencontros utilizados para realização da avaliação psicológica ------------------------------ 86

    Gráfico 17. Abordagem utilizada e número de encontros para realizar a avaliação pré-operatória --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 87

    Gráfico 18. Quantidade de instrumentos utilizados para a realização da avaliação psicológica ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 91

    Gráfico 19. Quantidade de encontros para realização da avaliação psicológica e númerode instrumentos utilizados -------------------------------------------------------------------------- 92

    Gráfico 20. Utilização da Entrevista pelos entrevistados ------------------------------------ 94

    Gráfico 21. Uso da entrevista com familiar ------------------------------------------------

    ---- 94

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    9/219

    Gráfico 22. Uso de testes psicológicos na avaliação pré-operatória da cirurgia bariátrica------------------------------------------------------------------------------------------------------ 95

    Gráfico 23. Realização de sessão informativa durante a avaliação psicológica ---------- 96

    Gráfico 24. Realização da entrevista de devolução ------------------------------------------- 97

    Gráfico 25. Uso de outros instrumentos durante a avaliação ------------------------------- 98

    Gráfico 26. Abordagens teóricas e uso de testes psicológicos ------------------------------- 99

    Gráfico 27. Quantidade de testes psicológicos utilizados pelos entrevistados ---------- 100

    Gráfico 28. Uso da Escala de Hamilton --------------------------------------------------------101

    Gráfico 29. Uso da Escala de Compulsão Alimentar –  EAT ----------------------------- 101

    Gráfico 30. Uso do Body Shape Questionnaire  –  BSQ ------------------------------------- 102

    Gráfico 31. Uso do teste BDI -------------------------------------------------------------------- 103

    Gráfico 32. Uso do BAI -------------------------------------------------------------------------- 103

    Gráfico 33. Uso do Questionário de Intenção Suicida de Beck ---------------------------- 104

    Gráfico 34. Uso do HTP ------------------------------------------------------------------------ 105

    Gráfico 35. Uso do EFN -------------------------------------------------------------------------- 105

    Gráfico 36. Profissionais que coletam dados sobre a História de Vida ------------------ 106

    Gráfico 37. Profissionais que coletam dados sobre a História da Obesidade ----------- 107

    Gráfico 38. Profissionais que coletam dados sobre o uso de substâncias ----------------- 108

    Gráfico 39. Profissionais que coletam dados sobre a história familiar dos pacientes --109

    Gráfico 40. Profissionais que coletam dados sobre a rotina alimentar -------------------- 110

    Gráfico 41. Profissionais que coletam dados sobre histórico de tratamento prévio --- 111

    Gráfico 42. Profissionais que perguntam sobre o acesso à cirurgia bariátrica ---------- 111

    Gráfico 43. Profissionais que questionam sobre as expectativas para a cirurgia bariátrica---------------------------------------------------------------------------------------------------- - 112

    Gráfico 44. Profissionais que perguntam sobre o histórico de atividades físicasrealizadas - ---------------------------------------------------------------------------------------113

    Gráfico 45. Profissionais que questionam sobre aspectos da vida sexual dos pacientes -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 114

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    10/219

    Gráfico 46. Profissionais que coletam dados acerca de transtorno alimentar  ----------- 115

    Gráfico 47. Critérios para considerar um paciente apto à cirurgia ------------------------- 116

    Gráfico 48. Presença de quadro de Depressão Aguda como critério para considerar um paciente não apto à cirurgia ---------------------------------------------------------------------- 117

    Gráfico 49. Profissionais que usam o critério do abuso do álcool ----------------------- 118

    Gráfico 50. Profissionais que têm como critério o uso de drogas para considerar um paciente não-apto à cirurgia ----------------------------------------------------------------------- 119

    Gráfico 51. Profissionais que tem como critério “presença de medo excessivo” para

    considerar um paciente não-apto à cirurgia ----------------------------------------------------- 119

    Gráfico 52. Profissionais que citaram o critério “presença de fantasias” em relação ao

     procedimento para considerar um paciente não-apto à cirurgia --------------------------- 120

    Gráfico 53. Profissionais que citaram o diagnóstico de Psicose como critério paraconsiderar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------------- ----- 121

    Gráfico 54. Profissionais que consideram o diagnóstico de uma doença psiquiátricacomo critério para considerar um paciente não-apto à cirurgia ----------------------------- 122

    Gráfico 55. Profissionais que consideram os problemas físicos de saúde como critério

     para considerar um paciente não-apto à cirurgia ---------------------------------------------- 123

    Gráfico 56. Profissionais que consideram o retardo mental como critério para considerarum paciente não-apto à cirurgia ----------------------------------------------------------------- 124

    Gráfico 57. Profissionais que consideram a ausência de suporte familiar como critério para considerar um paciente não-apto à cirurgia ----------------------------- ----------------- 125

    Gráfico 58. Profissionais que consideram como critério “esgotar outros tipos de

    tratamento” para liberar um paciente para a cirurgia ---------------------------------------- 126

    Gráfico 59. Profissionais que consideram outros critérios para liberar um paciente para acirurgia ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 127

    Gráfico 60. Já fez contra-indicação à cirurgia? ---------------------------------------------- 128

    Gráfico 61. Entrega do laudo ao paciente ----------------------------------------------------- 129

    Gráfico 62. Posicionamento dos profissionais em relação à indicação de tratamento pós-operatório ------------------------------------------------------------------------------------------------------ –  130

    Gráfico 63. Pacientes retornam para o tratamento? ----------------------------------------- 132

    Gráfico 64. Percentual de pacientes que retornam para tratamento após a cirurgia --- 133

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    11/219

    Gráfico 65. Realização de reuniões de equipe ------------------------------------------------ 135

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    12/219

    INDICE DE TABELAS

    Tabela 1. Idade dos entrevistados ------------------------------------------------------------- 71

    Tabela 2. Sexo dos entrevistados -------------------------------------------------------------- 71

    Tabela 3. Tempo da formação em psicologia ------------------------------------------------ 72

    Tabela 4. Cursos de pós-graduação realizados pelos entrevistados ----------------------- 73

    Tabela 5. Áreas dos cursos de pós-graduação ----------------------------------------------- 73

    Tabela 6. Cursos de pós graduação e área do conhecimento estudada ------------------- 75

    Tabela 7. Abordagens utilizadas --------------------------------------------------------------- 76Tabela 8. Relação entre tipo de abordagem e áreas dos cursos de pós-graduação ------ 77

    Tabela 9: Realização de outros tipos de avaliação psicológica ---------------------------- 79

    Tabela 10. Outros tipos de avaliação psicológica citados ---------------------------------- 80

    Tabela 11. Quantidade de equipes em que os entrevistados atuam ----------------------- 81

    Tabela 12: Tempo de atuação em equipes de cirurgia bariátrica -------------------------- 82

    Tabela 13. Quantidade de pacientes atendidos ---------------------------------------------- 82

    Tabela 14. Número de pacientes atendidos e quantidade de equipes em que os profissionais atuam ------------------------------------------------------------------------------ 84

    Tabela 15. Número de encontros para realizar avaliação pré-operatória ----------------- 85

    Tabela 16. Tempo de atuação em equipes de cirurgia bariátrica e quantidade deencontros utilizados para realização da avaliação psicológica ---------------------------- 86

    Tabela 17. Abordagem utilizada e número de encontros para realizar a avaliação pré-operatória ----------------------------------------------------------------------------------------- 88

    Tabela 18. Abordagem utilizada, tempo de atuação em equipe de cirurgia bariátrica equantidade de encontros para realizar a avaliação ------------------------------------------ 89

    Tabela 19. Quantidade de instrumentos utilizados para a realização da avaliação psicológica ---------------------------------------------------------------------------------------- 91

    Tabela 20. Quantidade de encontros para realização da avaliação psicológica e númerode instrumentos utilizados ---------------------------------------------------------------------- 92

    Tabela 21. Utilização da Entrevista pelos entrevistados ----------------------------------- 94

    Tabela 22. Uso da entrevista com familiar -------------------------------------------------- 94

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    13/219

    Tabela 23. Uso de testes psicológicos na avaliação pré-operatória da cirurgia bariátrica ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 95

    Tabela 24. Realização de sessão informativa durante a avaliação psicológica ---------- 96

    Tabela 25. Realização da entrevista de devolução ------------------------------------------ 97

    Tabela 26. Uso de outros instrumentos durante a avaliação ------------------------------- 98

    Tabela 27. Abordagens teóricas e uso de testes psicológicos ------------------------------ 99

    Tabela 28. Quantidade de testes psicológicos utilizados pelos entrevistados ---------- 100

    Tabela 29. Uso da Escala de Hamilton ------------------------------------------------------ 101

    Tabela 30. Uso da Escala de Compulsão Alimentar –  EAT ------------------------------ 101

    Tabela 31. Uso do Body Shape Questionnaire  –  BSQ ------------------------------------ 102

    Tabela 32. Uso do teste BDI ------------------------------------------------------------------ 103

    Tabela 33. Uso do BAI ------------------------------------------------------------------------ 103

    Tabela 34. Uso do Questionário de Intenção Suicida de Beck --------------------------- 104

    Tabela 35. Uso do HTP ----------------------------------------------------------------------- 105

    Tabela 36. Uso do EFN ----------------------------------------------------------------------- 105

    Tabela 37. Profissionais que coletam dados sobre a História de Vida ------------------ 106Tabela 38. Profissionais que coletam dados sobre a História da Obesidade ----------- 107

    Tabela 39. Profissionais que coletam dados sobre o uso de substâncias --------------- 108

    Tabela 40. Profissionais que coletam dados sobre a história familiar dos pacientes -- 109

    Tabela 41. Profissionais que coletam dados sobre a rotina alimentar ------------------- 110

    Tabela 42. Profissionais que coletam dados sobre histórico de tratamento prévio ---- 111

    Tabela 43. Profissionais que perguntam sobre o acesso à cirurgia bariátrica ---------- 111

    Tabela 44. Profissionais que questionam sobre as expectativas para a cirurgia bariátrica-----------------------------------------------------------------------------------------------------112

    Tabela 45. Profissionais que perguntam sobre o histórico de atividades físicas realizadas-----------------------------------------------------------------------------------------------------113

    Tabela 46. Profissionais que questionam sobre aspectos da vida sexual dos pacientes - -------------------------------------------------------------------------------------------------------114

    Tabela 47. Profissionais que coletam dados acerca de transtorno alimentar ----------------

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------115Tabela 48. Critérios para considerar um paciente apto à cirurgia ----------------------- 116

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    14/219

    Tabela 49. Presença de quadro de Depressão Aguda como critério para considerar um paciente não apto à cirurgia ------------------------------------------------------------------- 117

    Tabela 50. Profissionais que consideram pacientes com quadro de depressão aguda

    como não aptos ao procedimento cirúrgico ------------------------------------------------- 117

    Tabela 51. Profissionais que usam o critério do abuso do álcool ------------------------ 118

    Tabela 52. Profissionais que têm como critério o uso de drogas para considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------------------------------ 119

    Tabela 53. Profissionais que tem como critério “presença de medo excessivo” para

    considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------------- 120

    Tabela 54. Profissionais que citaram o critério “presença de fantasias” em relação ao procedimento para considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------- 121

    Tabela 55. Profissionais que citaram o diagnóstico de Psicose como critério paraconsiderar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------------- 121

    Tabela 56. Profissionais que consideram o diagnóstico de uma doença psiquiátricacomo critério para considerar um paciente não-apto à cirurgia -------------------------- 122

    Tabela 57. Profissionais que consideram os problemas físicos de saúde como critério para considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------- 123

    Tabela 58. Profissionais que consideram o retardo mental como critério para considerarum paciente não-apto à cirurgia -------------------------------------------------------------- 124

    Tabela 59. Profissionais que consideram a ausência de suporte familiar como critério para considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------- 125

    Tabela 60. Profissionais que consideram como critério “esgotar outros tipos detratamento” para liberar um paciente para a cirurgia -------------------------------------- 126

    Tabela 61. Profissionais que consideram outros critérios para liberar um paciente para acirurgia ------------------------------------------------------------------------------------------- 127

    Tabela 62. Já fez contra-indicação à cirurgia? --------------------------------------------- 128

    Tabela 63. Entrega do laudo ao paciente ---------------------------------------------------- 129

    Tabela 64. Entrega do laudo ao paciente e abordagens teóricas ------------------------- 130

    Tabela 65. Posicionamento dos profissionais em relação à indicação de tratamento pós-operatório -------------------------------------------------------------------------------------- –  131

    Tabela 66. Indicação de tratamento pós-operatório e abordagens teóricas ------------- 131

    Tabela 67. Pacientes retornam para o tratamento? ---------------------------------------- 132

    Tabela 68. Percentual de pacientes que retornam para tratamento após a cirurgia ---- 133

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    15/219

    Tabela 69. Abordagem utilizada, número de encontros para avaliação pré-operatória etaxa de retorno para tratamento -------------------------------------------------------------- 134

    Tabela 70. Realização de reuniões de equipe ---------------------------------------------- 135

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    16/219

    SUMÁRIO

    Lista de Siglas ------------------------------------------------------------------------------------ 16

    Introdução ------------------------------------------------------------------------------------ 18

    Capítulo 1. Histórico da cirurgia bariátrica e a inserção do psicólogo ------------------- 22

    1.1  –  A inserção do psicólogo nas equipes de cirurgia bariátrica ------------------------- 34

    1.1.1 –  Revisão bibliográfica ------------------------------------------------------------------- 36

    1.2 

     –  Análise dos instrumentos de avaliação ------------------------------------------------- 61

    1.2.1   –  Inventário de Depressão de Beck -------------------------------------------------- 62

    1.2.2   –  Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota ------------------------- 63

    1.2.3  - Boston Entrevista para a Cirurgia Bariátrica ------------------------------------- 64

    1.2.4   –  Mini International Psychiatric Interview ----------------------------------------- 66

    1.2.5   –  Entrevista Clínica Estruturada ------------------------------------------------------ 66

    Capítulo 2. Metodologia e resultados --------------------------------------------------------- 68

    2.1 –  Participantes ------------------------------------------------------------------------------- 68

    2.2 –  Local ---------------------------------------------------------------------------------------- 68

    2.3 –  Instrumentos ------------------------------------------------------------------------------- 68

    2.4 –  Materiais ----------------------------------------------------------------------------------- 69

    2.5 –  Procedimentos ----------------------------------------------------------------------------- 692.6 –  Resultados --------------------------------------------------------------------------------- 70

    Capítulo 3. Análise e discussão dos resultados -------------------------------------------- 137

    3.1 –  Características dos psicólogos entrevistados ---------------------------------------- 138

    3.2 –  Avaliação pré-operatória --------------------------------------------------------------- 144

    Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------- 181

    Referências bibliográficas -------------------------------------------------------------------- 200

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    17/219

    ANEXO I ---------------------------------------------------------------------------------------- 219

    ANEXO II --------------------------------------------------------------------------------------- 211

    ANEXO III -------------------------------------------------------------------------------------- 213

    ANEXO IV ------------------------------------------------------------------------------------- 214

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    18/219

    LISTA DE SIGLAS

    ANS –  Agência Nacional de Saúde

    BAROS - Bariatric Analysis and Reporting Outcome System 

    BAI –  Inventário de Ansiedade de Beck

    BDI –  Inventário de Depressão de Beck

    BIAQ - Body Image Avoidance Questionnaire 

    BSRQ - Body-Self Relations Questionnaire

    BSQ - Body Shape Questionnaire CFM - Conselho Federal de Medicina

    CFP –  Conselho Federal de Psicologia

    CI –  Termo de Consentimento Informado

    CID –  Classificação Internacional de Doenças

    COESAS - Comissão de Especialidades Associadas

    DSM - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

    DSM III –  R - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais –  3ª edição,Revisada

    DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais –  4ª edição

    DSM-V - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais –  5ª edição

    EAT - Eating Attitudes Test  

    EDI - Eating Disorder Inventory

    EMDR - Eye Movement Desensitization and Reprocessing  EUA –  Estados Unidos da América

    GOTA –  Grupo de Estudos em Obesidade e Transtornos Alimentares

    HTP –  Teste psicológico House, tree, person (Traduzido: Casa, árvore, pessoa)

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IMC –  Índice de Massa Corporal

    MINI –   Mini International Psuchiatric Interview 

    MMPI –  Inventário Multifásico de Personalidade de Minessota

    http://www.ibge.gov.br/http://www.ibge.gov.br/

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    19/219

    MMPI-2 –  Inventário Multifásico de Personalidade de Minessota - 2ª edição

    OMS –  Organização Mundial de Saúde

    PAI - Inventário de Avaliação de PersonalidadeQEWP - R - Questionnaire on Eating and Weight Patterns –  Revised

    RQC –  Razão Cintura –  Quadril

    SBCB –  Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica

    SBCBM –  Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica

    SCID- II –  Entrevista Clínica Estruturada

    SCN - Síndrome do Comer Noturno

    SP –  São Paulo

    SUS –  Sistema Único de Saúde

    TCAP - Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica

    TCC - Transtorno do Comer Compulsivo

    TCC –  Terapia Cognitivo Comportamental

    TSH –  Thyroid Stimulating Hormone

    UFRJ –  Universidade Federal do Rio de Janeiro

    WALI –  Inventário sobre Peso e Estilo de Vida

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    20/219

     

    18

    Introdução

    O desejo de realizar esta  pesquisa surgiu durante minha atuação em uma equipe

    multidisciplinar de atendimento a indivíduos obesos, candidatos à cirurgia bariátrica (também

    conhecida como cirurgia de redução do estômago) ao longo de 36 meses. O trabalho que

    realizei nesta equipe consistiu em fazer avaliação psicológica pré-operatória e acompanhar o

     pós-operatório dos pacientes.

    Durante esse período diversas questões surgiram tais como: o que leva estes pacientes

    a se candidatarem a esse procedimento radical? Existem fatores psicológicos que predispõem

    ao sucesso do tratamento pós-operatório? Por que os pacientes conhecem tão pouco do

     procedimento ao qual escolhem se submeter? Em longo prazo, quais os desdobramentos

     psíquicos que  acometem os pacientes que realizam a cirurgia? Como atuam os psicólogos

    nessas equipes? O que se espera da sua atuação? Interessou-me, por isso, investigar as

     peculiaridades desse tratamento. Estabelecemos então o objetivo desta pesquisa como o de

    esclarecer a função do psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica. Para alcançar esse objetivo,

    nos propusemos a:

    - Fazer uma pesquisa detalhada do material teórico produzido sobre a função do psicólogo na

    equipe multidisciplinar de cirurgia bariátrica;

    - mapear através de entrevista semi-estruturada os meios de avaliação e tratamento usados por

     psicólogos membros dessas equipes, analisando os resultados obtidos;

    - apresentar uma proposta de conduta ou mesmo um eixo orientador para o trabalho, na forma

    de um protocolo de orientação à atuação do psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    21/219

     

    19

    Para alcançar esses objetivos, realizamos um levantamento de dados, através de

     pesquisa teórica e de campo, e posteriormente analise qualitativa a função do psicólogo nas

    equipes multidisciplinares que realizam cirurgia bariátrica em pacientes obesos, na cidade do

    Rio de Janeiro.

     No que diz respeito à clínica, o objeto do presente projeto justifica a sua relevância em

    função do crescente número de pacientes obesos que chegam aos consultórios de psicologia

    durante a fase pré-operatória da cirurgia bariátrica. Graças ao aumento da prevalência da

    obesidade mórbida e de seus riscos associados, no Brasil, os profissionais de saúde se

    deparam com os desafios inerentes ao seu cuidado. Atualmente a cirurgia bariátrica é

    considerada uma opção de tratamento dessa patologia, de tal forma que faz parte do Programa

    das Políticas de Saúde Pública do nosso país, por exemplo, a Portaria GM/MS/ Nº 628 de 26

    de abril de 2001 que aprovou o Protocolo de Indicação de Tratamento Cirúrgico da Obesidade

    Mórbida.

    Observa-se que com o passar dos anos foi e continua a ser crescente o número de

    cirurgias realizadas, porém, como apontou o Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias

    em Saúde - BRATS 05 (ANS, 2008), embora seja uma tecnologia muito difundida, ainda não

    há clareza em relação aos seus resultados em longo prazo. Então é necessário realizar

    constantes discussões de questões inerentes a sua terapêutica, tais como eficácia, riscos,

    vantagens e desvantagens.

     No capítulo 1 dessa pesquisa contextualizamos históricamente a cirurgia bariátrica.

    Seu surgimento, os tipos de técnicas existentes, os casos considerados indicações cirúrgicas,

    os riscos envolvidos no tratamento. Em seguida nos detivemos a tratar a respeito da inserção

    do psicólogo na equipe multidisciplinar de cirurgia bariátrica; como esse profissional

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    22/219

     

    20

    começou a fazer parte dessas equipes, qual a sua atuação. Para detalhar o assunto revisamos a

    literatura encontrada, inicialmente apresentando e discutindo os textos que compõem o

     principal livro texto sobre o assunto: Contribuições da Psicologia na Cirurgia da Obesidade 

    de Franques & Arenales-Loli (2006) e em seguida realizamos uma pesquisa sobre o tema em

    3 bases de dados, a saber: Scielo, Lilacs e MedLine. Os termos utilizados para realizar a

     pesquisa foram “cirurgia bariátrica” (“bariatric surgery”) e “psicologia” (“psychology”). 

     No capítulo 2 apresentamos a metodologia utilizada para coleta de dados de campo, e

    em seguida os resultados encontrados. Entrevistamos 18 psicólogos que atuam em equipes de

    cirurgia bariátrica na cidade do Rio de Janeiro. Através de uma entrevista semi-estruturada

    (vide ANEXO I), coletamos informações tais como: seus dados pessoais, sua formação, se

    atuam dentro de alguma abordagem teórica, quantos pacientes cada um já atendeu, como se

    dá a rotina de avaliação pré-operatória (ferramentas utilizadas, tempo de duração), se utilizam

    testes psicológicos, além de informações sobre o tratamento pós-operatório dos pacientes; se

    as equipes que atuam realizam reuniões periódicas e como é o percentual de adesão ao

    tratamento dos pacientes.

     No capítulo 3 analisamos os dados coletados, discutindo os resultados, relacionamos

    as respostas obtidas durante as entrevistas, cruzamos dados de abordagem teórica com as

    condutas dos profissionais, apontamos detalhadamente cada etapa da avaliação psicológica

    realizada pelos entrevistados; tudo com a finalidade de extrair de suas respostas quais os

    aspectos esses profissionais priorizam coletar e trabalhar durante a sua atuação.

     Na conclusão da tese retomamos os documentos que visam orientar os profissionais

    que atuam em cirurgia bariátrica, tanto do Ministério da Saúde quanto do CFM  –  Conselho

    Federal de Medicina. Inclusive pesquisamos, mas não encontramos nenhum documento do

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    23/219

     

    21

    CFP –  Conselho Federal de Psicologia com diretrizes, orientações aos psicólogos. Tomamos o

    único documento encontrado que foi elaborado por um conselho regional, o CRPPR e os

    detalhamos e discutimos. Em seguida, elaboramos uma proposta diretriz para a avaliação

     psicológica pré-operatória, composta por 3 etapas que seriam: entrevista semi-estruturada

     baseada no modelo proposto por Franques & Arenalis-Loli (2006) com algumas perguntas

    complementares, sessão ou sessões de discussão e reflexão sobre a cirurgia (nas quais o

     psicólogo vai falar com o paciente e também com seus familiares sobre a cirurgia que será

    realizada, as considerações importantes sobre o pré e pós-operatório, dificuldades comuns

    encontradas, expectativas reais a serem alcançadas) e encaminhamento a um psiquiatra para

    avaliação e tratamento de quadros de transtorno mental, se existirem. E posteriormente

    indicação de tratamento psicológico pós-operatório para todos os pacientes que operarem.

    A pesquisa mostrou que apesar de atuantes nas equipes de cirurgia bariátrica, os

     psicólogos têm condutas extremamente diversas e poucos registros sobre seus sucessos junto

    aos pacientes pré e pós-operados. É importante que os profissionais escrevam, publiquem,

    apresentem em eventos da área os dados que retratam a sua atuação, seus sucessos e

    dificuldades, pois assim poderíamos fundamentar cada prática e compartilhar aquilo que tanto

    os cirurgiões quanto especialmente os pacientes relatam da importância do tratamento

     psicológico ao longo do tratamento da obesidade que inclui a cirurgia bariátrica. Propusemos

    então, por fim, um protocolo de conduta baseada nos critérios existentes para a indicação e

    contra-indicação da cirurgia, no intuito de contribuir com nossa pesquisa para o

    aperfeiçoamento da atuação do psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    24/219

     

    22

    Capítulo 1. Histórico da cirurgia bariátrica e inserção do psicólogo.

    Histórico da cirurgia

    A obesidade foi interpretada de forma diferente nas diversas épocas da humanidade,

    refletindo os valores culturais e científicos de cada momento histórico. Para exemplificar

     podemos citar as modelos com formas arredondadas que serviam de inspiração aos pintores

    da renascença, em contraste ao modelo de beleza extremamente magro da atualidade. Apesar

    da importância dos valores culturais, a obesidade está relacionada a uma gama de patologias

    que faz com que, atualmente, seja considerada uma importante doença nutricional. É

    considerada uma doença crônica, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura. Na

    Classificação Internacional de Doenças –  10ª edição (CID-10) ela é considerada uma entidade

    nosológica clínica inserida no capítulo IV das  Doenças Endócrinas, Nutricionais e

     Metabólicas descrita sob a sigla CID10 –  E66. Obesidade.

    Além de uma patologia, a obesidade é também um fator de risco para outras

    enfermidades. Está também associada a maior risco de depressão, menor produtividade e

    diminuição da auto-estima, comum em pacientes obesos (SEGAL & FANDIÑO, 2002;

    RYDEN & TORGERSON, 2006).

    Sua etiologia varia conforme o gênero e independe da idade. Atualmente a obesidade é

    um problema de saúde pública mundial, fala-se em uma pandemia que atinge tanto países

    desenvolvidos, quanto os que estão em desenvolvimento (SWINBURN et al ., 1999;

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004).

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    25/219

     

    23

     No Brasil, assim como em outros lugares do mundo, o número de pessoas obesas já

    ultrapassa o de pessoas desnutridas (SICHIERI & SOUZA, 2007). Dados do Vigitel1 (2010)

    indicam que, no Brasil, 48,1% da população apresenta excesso de peso e 15% obesidade. A

    obesidade pode ter diversas causas: fisiológicas (doenças neuroendócrinas), uso de

    medicamentos (tais como antipsicóticos, antidepressivos, antiepiléticos, antidiabéticos etc.),

    cessação do tabagismo, vida sedentária e alimentação. A definição de obesidade segundo a

    SBCBM –  Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica –  é:

    “uma alteração da composição corporal, com determinantes

    genéticos e ambientais, definida por um excesso relativo ouabsoluto das reservas corporais de gordura, que ocorre quando,cronicamente, a oferta de calorias é maior que o gasto deenergia corporal, e que resulta com frequência em prejuízossignificantes para a saúde” (SBCBM, 2010). 

    O principal meio utilizado de avaliação da obesidade é o cálculo do Índice de Massa

    Corporal (IMC). Sua fórmula consiste na divisão do peso em quilogramas pela altura em

    metros do indivíduo ao quadrado. De acordo com esse cálculo, existem as seguintes

    classificações, propostas pela Organização Mundial de Saúde - OMS (2000), de peso em

    adultos: quando o resultado obtido é de até 18,49kg/m² considera-se baixo peso. Entre 18,5 e

    24,99kg/m² o peso é tido como normal (considerado saudável); o resultado maior que 25

    indica sobrepeso, sendo entre 25 e 29,99kg/m² é considerado pré-obesidade. Resultado maior

    que 30kg/m² indica obesidade, dividido da seguinte forma: entre 30 e 34,99kg/m² obesidade

    1 Sistema de monitoramento para fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis por meio

    de inquérito telefônico, produzido pela Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    26/219

     

    24

    de grau I, 35 e 39,99kg/m² obesidade de grau II e igual ou maior que 40kg/m² obesidade de

    grau III (ou obesidade mórbida).

    Apesar de ser o índice indicado pelo Conselho Federal de Medicina - CFM (2005,

    2010), em consonância com a OMS (2000), para o diagnóstico de obesidade, o uso do IMC

    apresenta diversas limitações que já vêm sendo apontadas em estudos (DEURENBERG et al ,

    1999; LEMIEUX et al , 1993; GUS et al , 1998), tais como: esse índice não distingue massa

    gordurosa de massa magra (o que limita seu uso, sobretudo no caso de indivíduos mais

    velhos), não reflete a distribuição de gordura corporal (a medida de distribuição de gordura

    corporal é relevante porque a intra-abdominal é um importante fator de risco potencial de

    doença, independente da gordura corporal total), populações diferentes apresentam diferentes

     proporções corporais, não refletindo o mesmo grau de gordura. 

    Outro indicador muito utilizado para determinar o padrão de obesidade é o coeficiente

    encontrado da relação entre as medidas de circunferência da cintura e do quadril (conhecido

    como RQC - Razão Cintura - Quadril). Seu resultado é obtido através da divisão da

    circunferência da cintura pela circunferência do quadril. O risco de doenças é maior quando o

    número obtido atinge valor superior a 0,95 para homens e 0,85 para mulheres (NIEMAM,

    1998).

    Pereira, Sichieri e Marins (1999) demonstraram que a relação abdominal-quadril

    também indicou estar associada a riscos de comorbidade na população brasileira. A OMS

    (1995) considera a RQC como um dos critérios para caracterizar a síndrome metabólica,

    quando o cálculo apresenta resultado superior a 0,90 para homens e 0,85 para mulheres.

    Existem algumas outras formas  –  menos utilizadas –  de avaliar a gordura corporal e a

    sua distribuição, que são: medição da espessura das pregas cutâneas, bioimpedância,

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    27/219

     

    25

    ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e a medida de

    circunferência abdominal.

    Ultimamente observa-se um aumento desproporcional da quantidade de pessoas com

    quadro de obesidade mórbida em relação à obesidade em geral (VAN HOUT & VAN HECK,

    2009). A obesidade de grau III está associada a uma série de fatores tais como a redução da

    expectativa de vida, frequente presença de comorbidades, piora da qualidade de vida. Na lista

    das doenças para as quais a obesidade é fator de risco, as mais citadas são: hipertensão

    arterial, doenças cardiovasculares, doenças cerebrovasculares, diabetes mellitus do tipo II,

    entre outras. Além das enfermidades que enumeramos, existem também os distúrbios mais

    comuns em pessoas obesas, que são: distúrbios lipídicos, diminuição do HDL, aumento da

    insulina, intolerância a glicose, apneia do sono etc. Aponta-se também que o risco de morte de

    um paciente obeso mórbido é cinco vezes maior do que o de um não obeso (BRAY, 1998).

    O tratamento da obesidade mórbida tem se mostrado um desafio aos profissionais da

    área de saúde. A abordagem clínica, tanto a medicamentosa quanto a não medicamentosa não

    tem se mostrado um meio eficaz de diminuição e manutenção do peso para casos de pessoas

    obesas mórbidas. Segundo Shiraga (2006), 98% dos pacientes que têm obesidade mórbida não

    alcançam sucesso em seu tratamento clínico. Eles até conseguem perder parte do excesso de

     peso, mas a maior dificuldade encontrada é a conservação do peso perdido durante um

     período de pelo menos dois anos. Os motivos que fazem o tratamento clínico falhar podem ser

    diversos. Talvez porque o modelo de tratamento seja sempre o mesmo para muitos pacientes,

    a saber, com ou sem o uso de medicamentos aliado à dieta de baixa ingestão calórica e

    indicação de atividade física regular. Quando utilizados, os medicamentos podem ser de três

    tipos (OMS, 2000): os que modificam a saciedade ou diminuem a fome, os que reduzem a

    digestão e a absorção de nutrientes e os que aumentam os gastos energéticos (sendo que esses

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    28/219

     

    26

    não são aprovados no Brasil). Durante o uso do medicamento observa-se uma grande e rápida

     perda de peso nos pacientes. Essa diminuição se dá especialmente porque graças à ação dos

    medicamentos os pacientes seguem rigorosamente a dieta prevista no tratamento (muitas

    vezes nem chegam a comer tudo que é prescrito). Em contrapartida, logo que cessam (ou

    mesmo quando diminuem) a medicação, deixam de ficar sob o efeito do remédio e voltam a

    se alimentar como faziam antes, e consequentemente, reganhando o peso que perderam e na

    maior parte das vezes chegam a adquirir mais do que tinham antes. A dieta de restrição

    alimentar indicada no tratamento clínico, quase sempre é prescrita sem que o nutricionista

    conheça os hábitos e a cultura dos sujeitos atendidos (LIMA et al , 2000; FERREIRA &

    MAGALHÃES, 2007). Observamos diversas vezes pacientes relatando dietas padronizadas,

    impressas em blocos nas salas de endocrinologistas e nutricionistas.

    Raramente a psicoterapia é indicada em qualquer tratamento clínico, apesar do sucesso

    relatado por alguns estudos sobre a associação do tratamento nutricional e psicológico

    (CAVALCANTI, DIAS & COSTA, 2005; DAMASO et al , 2006).

    A falta de adesão do paciente ao tratamento clínico é uma preocupação para os

     profissionais de saúde e tem sido discutida em diversas pesquisas (ASSIS & NAHAS, 1999;

    WILSON & SCHLAM, 2004; TORAL & SLATER, 2007).

    Diante do cenário de dificuldade para o tratamento clínico da obesidade que em 1991

    o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos estabeleceu que o único tratamento eficaz

    na perda e manutenção ponderal do obeso mórbido é o tratamento cirúrgico.

    A cirurgia bariátrica é um tipo de terapêutica que surgiu na década de 1950, e reúne

    técnicas destinadas ao tratamento da obesidade e das suas comorbidades. Inicialmente as

    cirurgias eram do tipo disabisortivas (CAVALIERI & FANZÓI-DE-MORAES, 2004)  –  

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    29/219

     

    27

     promoviam uma grande diminuição da absorção dos nutrientes ingeridos, nos pacientes

    operados. Já na década de 60 na Europa os procedimentos cirúrgicos se desenvolveram tendo

    como objetivo principal a restrição alimentar (BETTINI, 2000). Estudos desenvolvidos por

    Kremer et al . (apud   HALPERN et al , 1998) constataram que as cirurgias disabisortivas

     produziam graves sequelas funcionais nos operados, e por isso, durante a década de 70 esses

    métodos foram abandonados.

     No Brasil a cirurgia bariátrica chegou durante a década de 70. O médico Salomão

    Chaib, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, no serviço de Cirurgia do

    Aparelho Digestivo começou a realizar as derivações jejuno-ileais, do tipo Payne2  para o

    tratamento da obesidade. Porém não alcançou os resultados que esperava, os pacientes

    apresentaram graves sequelas causadas pela cirurgia (especialmente desnutrição grave) e o

    tratamento caiu em descrédito (SBCBM, 2010; MARCHESINI, 2006).

    Durante a década de 80, nos EUA, Edward Mason descreveu as técnicas de by-pass 

    gástrico, gastroplastia horizontal e gastroplastia vertical com uso do anel de polipropileno. No

    Brasil o médico Arthur Garrido também começou a fazer uso desses procedimentos. 

     No início dos anos 90 surgiram as primeiras técnicas mistas, que associam restrição no

    estômago à diminuição da absorção através da redução de em média um metro do intestino. A

    técnica de gastroplastia vertical com anel foi sendo substituída pela banda gástrica ajustável

    que posteriormente deu lugar a cirurgia por videolaparoscopia.

    2 Que envolve a exclusão de quase todo o intestino delgado, permanecendo o trânsito alimentar apenas em 35cm

    de jejuno proximal e 10 cm do íleo distal.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    30/219

     

    28

    Em 1996 os primeiros cirurgiões que atuavam com a cirurgia bariátrica fundaram a

    Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica  –  SBCB, em São Paulo. Logo depois, em 1998,

    foi realizado o Primeiro Congresso da SBCB no Hospital da Beneficiência Portuguesa.

    Em 26 de abril de 2001 o Ministério da Saúde editou a Portaria Nº628 que aprovou o

    Protocolo de Indicação de Tratamento Cirúrgico da Obesidade Mórbida  –  Gastroplastia no

    âmbito do SUS. E a partir de então hospitais públicos de saúde passaram a ser cadastrados

    como Centros de Referência em Cirurgia Bariátrica.

    O ano de 2004 marcou o inicio da chamada cirurgia metabólica, a partir de um artigo

     publicado pelo médico Francesco Rubino, que realizou um estudo sobre a exclusão duodenal

    e o controle da diabete em animais (RUBINO, MARESCAUX, 2004). Surgiu então o

    conceito de cirurgia metabólica devido ao sucesso que a cirurgia bariátrica obteve em relação

    às comordidades comuns nos pacientes obesos. Durante o ano de 2005 os primeiros estudos

    sobre a cirurgia metabólica foram realizados no Brasil. Em 2006 o conceito metabólico foi

    incorporado à cirurgia bariátrica (SBCBM, 2010).

    O número de cirurgias realizadas no Brasil aumentou muito nos últimos anos.

    Segundo dados da SBCBM, foram realizadas 16 mil cirurgias em 2003, esse número

    aumentou para 45 mil em 2009 (sendo 25% dessas, realizadas por videolaparoscopia) e 60 mil

    em 2010 (das quais, 35% por videolaparoscopia) (SBCBM, 2011). Desde janeiro de 2012

    entrou em vigor no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da Agencia Nacional de Saúde

    Suplementar (ANS), que a cirurgia bariátrica através de videolaparoscopia deve ter cobertura

    dos planos de saúde.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    31/219

     

    29

    A cirurgia é considerada um procedimendo de grande porte, sua taxa de mortalidade

    apresentada pela SBCBM, é de 0,23% para os procedimentos por videolaparoscopia e de 4%

     para os procedimentos abertos (SBCBM, 2010).

    O Ministério da Saúde (BRASIL, 2007) e o Conselho Federal de Medicina (CFM,

    2005) publicaram as indicações para o tratamento cirúrgico da obesidade, a saber: IMC

    superior a 40kg/m² (independente da presença de comorbidades), IMC entre 35 e 40 com

     presença de comorbidade que seja classificada como “grave” por um médico especialista na

    área da patologia que surgiu ou piorou graças à obesidade, tratamento clínico prévio

    considerado ineficaz e obesidade estável há pelo menos 2 anos.

    Em relação à idade, considera-se que abaixo de 16 anos não existem estudos que

    corroborem a indicação da cirurgia (exceto em alguns casos de doenças genéticas específicas).

    Entre 16 e 18 anos a cirurgia é possível, desde que seja indicada e exista consenso entre a

    família e a equipe multidisciplinar. Entre 18 e 65 anos não existe nenhuma restrição em

    relação à idade, e para casos de pacientes maiores de 65 anos, a equipe deve fazer uma

    avaliação individual de cada caso para verificar os riscos envolvidos.

    São considerados pré-requisitos também a compreensão por parte do paciente e da

    família de todos os riscos e conseqüências do tratamento cirúrgico e pós-cirúrgico e o suporte

    familiar constante.

    Algumas situações que são consideradas adversas à realização da cirurgia bariátrica,

    de acordo com o Ministério da Saúde e a SBCBM, são: doenças genéticas, limitação

    intelectual significativa em pacientes sem suporte familiar considerado adequado, quadro de

    transtorno psiquiátrico atual não controlado e o uso de álcool ou drogas ilícitas (sendo que

    quadros psiquiátricos graves, que estejam sob controle, não contraindicam esse procedimento,

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    32/219

     

    30

    segundo a SBCBM). O Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde (2008)

    aponta ainda que a cirurgia é contra-indicada para indivíduos com história recente de tentativa

    de suicídio e pessoas com distúrbios demenciais graves.

    Em relação à eficácia do procedimento, foi realizado na Suécia um importante estudo

    intitulado Swedish Obese Subjects (RYDEN & TORGERSON, 2006) que fez uma coorte

     prospectiva e comparou um grupo que realizou a cirurgia bariátrica com outro que foi

    submetido ao tratamento clínico para obesidade. No total foram acompanhadas, por um tempo

    médio de 10 anos, 4.047 pessoas, sendo 2.010 que fizeram à cirurgia e 2.037 formando o

    grupo controle (do tratamento clínico). Como resultado, observou-se que a perda de peso foi

    maior no grupo que realizou a cirurgia e o mesmo grupo apresentou maior tendência à

    estabilização do peso alcançado. Os autores verificaram também que houve maior diminuição

    das comorbidades no grupo dos pacientes operados.

    Apesar de o estudo citado ter acompanhado um grande número de indivíduos,

    acreditamos que faltam dados para analisar os resultados obtidos pelos pacientes,

    especialmente em longo prazo. Levando em consideração ainda que foi um estudo realizado

    na Europa, em um povo com cultura e hábitos diferentes do Brasil.

    Uma especificidade do Brasil é que para que seja realizado o procedimento, existe a

    exigência, por parte do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) e do Conselho Federal de

    Medicina (CFM 2005, 2010) que se constitua uma equipe multidisciplinar para cuidar dos

     pacientes que pretendem se submeter a qualquer tipo de cirurgia bariátrica. Os membros

    obrigatórios que devem fazer parte desse grupo são: cirurgião com formação específica,

    médico clínico (geral, endocrinologista, intensivista ou cardiologista), psiquiatra ou

     psicólogo(a) e nutrólogo ou nutricionista. Podem existir ainda alguns componentes associados

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    33/219

     

    31

     para atuar junto à equipe obrigatória: anestesiologista, endoscopista, enfermeiro(a),

    fisioterapeuta, assistente social e o profissional de educação física.

    É indicado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) e também pela SBCBM que os

    candidatos ao procedimento cirúrgico passem por um preparo pré-operatório que começa com

    consultas com o cirurgião bariátrico, o clínico (ou cardiologista), o psiquiatra e ou psicólogo e

    o nutricionista. Durante essas consultas o paciente e seus familiares devem ser informados de

    forma ampla sobre o procedimento ao qual irá de submeter. Em seguida são solicitados

    diversos exames para verificar as condições físicas do paciente: laboratoriais (hemograma,

    coagulograma, glicemia, perfil lipídico, enzimas hepáticas, uréia e creatinina, ácido úrico,

    TSH, dentre outros que ficam a critério da equipe); exames de avaliação cardiológica

    (eletrocardiograma e outros a critério do clínico ou do cardiologista); exames de avaliação

    respiratória (radiografia de tórax e outros a critério do clínico ou do pneumologista) e exames

    de avaliação do aparelho digestório (ecografia abdominal e endoscopia digestiva alta  –   com

     pesquisa de helicobacter pylori).

    É considerada obrigatória pela SBCBM a utilização do Termo de Consentimento

    Informado - CI - preenchido pelo paciente e também por um familiar antes da realização do

     procedimento. Esse termo de consentimento tem a finalidade de informar textualmente ao

     paciente e a seus familiares a respeito de aspectos importantes da cirurgia, tais como

    indicações, riscos envolvidos e etc.

    Após todos os exames e avaliações dos profissionais da equipe, se for o caso o

     paciente é indicado para a cirurgia. Não há definição específica sobre o tempo de avaliação e

     preparo pré-operatório dos pacientes. No BRATS 05 (ANS, 2008) consta que no Hospital

    Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ esse período dura em torno de seis meses,

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    34/219

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    35/219

     

    33

    Existem diversos riscos e complicações de acordo com a técnica cirúrgica escolhida.

    Alguns deles são: fístula (vazamento do conteúdo do estômago ou do intestino), embolia

     pulmonar e infecção.

    As técnicas com restrição gástrica apresentam como efeito colateral mais comum a

    intolerância a alimentos sólidos, náuseas, vômitos, síndrome do empachamento (síndrome de

    dumping ) e a queda de cabelo. Em alguns procedimentos o paciente operado precisa tomar

    suplementos vitamínicos durante o resto da sua vida. Em todos os casos é indicado fazer um

    acompanhamento vitalício quanto à má nutrição de proteínas, anemia (especialmente quando

    o duodeno é desviado, a má absorção de ferro e cálcio pode levar a uma predisposição a

    anemia por deficiência de ferro) e doenças ósseas. Em outras técnicas pode ocorrer inchaço

    abdominal, evacuação fétida ou gases. Quando ocorrem modificações da estrutura intestinal,

    estas podem levar o aumento do risco de formação de cálculo biliar e necessidade de remoção

    da vesícula biliar.

    Para o período pós-operatório recomenda-se retorno aos médicos e a toda equipe

    multidisciplinar, além de exames laboratoriais periódicos, por toda a vida. Inicialmente um

    cuidado mais freqüente, especialmente durante o primeiro ano pós-operado, posteriormente

    ainda que menos freqüente, o cuidado deve continuar (ANS, 2008). É indicado ainda que o

    indivíduo conte com suporte psicológico que o “ajude a aderir às mudanças de hábitos

    necessárias após a realização da cirurgia” (NICE, 2002). A priori as equipes devem se

    assegurar das condições para que o seguimento pós-operatório seja adequado. É indicado que

    o paciente deve, também, praticar uma atividade física contínua. Porém, observa-se um alto

     percentual de abandono do tratamento e consequentemente do novo estilo de vida adquirida

    após a operação, antes do primeiro ano de cirurgia (TOLONEN et al , 2004), ou seja, ainda

    durante o início do período do tratamento.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    36/219

     

    34

    Quando a intervenção é feita através de videolaparoscopia o tempo de internação varia

    entre dois ou três dias. Se não há intercorrências, em seguida o paciente recebe alta hospitalar

    e vai para sua residência com indicação de um determinado período de alimentação

    exclusivamente líquida, que na maioria das vezes varia entre 15 e 30 dias (a dieta é composta

     por sucos, caldos, vitaminas). A perda de peso obtida no primeiro mês após a cirurgia é

     bastante alta, por vezes alcançando em torno de 10% da massa total que o paciente tinha antes

    do procedimento. Após o período de dieta líquida, a alimentação indicada passa a ser pastosa

    e boa parte dos alimentos pode voltar a ser consumida pelo paciente, em porções muito

    reduzidas. Aos poucos o cardápio vai se diversificando mais e após um período de dieta

     pastosa a dieta sólida começa a ser gradualmente introduzida.

    A cirurgia é considerada como falha em casos onde a perda é inferior a 50% do

    excesso de peso. Buchwald et al   (2004) fizeram uma pesquisa com um grupo de 10.172

     pacientes operados em algumas técnicas de cirurgia bariátrica e encontraram uma perda média

    de 61,2% do seu excesso de peso.

    1.1 A inserção do psicólogo nas equipes de cirurgia bariátrica

     Na Portaria Nº 492 de 31 de agosto de 2007 do Ministério da Saúde e na

    resolução de nº 1766/05 inciso 3 de 2005 do CFM foi definido que um profissional psicólogo

    ou psiquiatra deve fazer parte da equipe multidisciplinar responsável por cuidar do paciente

    durante os períodos pré e trans-operatório. Porém, nem sempre foi assim. Quando as cirurgias

     bariátricas surgiram no Brasil, estes profissionais não faziam parte das equipes cirúrgicas. Em

    1983 surgiu no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo o serviço de psicologia

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    37/219

     

    35

    (MARCHESINI, 2006; SILVA, 2008). Logo os psicólogos começaram a ser solicitados para

    realizar avaliação psicológica em indivíduos atendidos nesse serviço e que eram candidatos à

    cirurgia bariátrica, buscando verificar as “condições psicológicas” desses pacientes e como

    eles reagiam à condição de uma nova alimentação, propondo um tratamento pré e pós-

    cirúrgico (SILVA, 2008).

    Cabe ressaltar que o encaminhamento ao psicólogo faz parte de uma série de

    encaminhamentos feitos pelo cirurgião antes da realização da cirurgia, sendo parte do

     protocolo médico. O que significa, consequentemente, que o paciente não comparece ao

    atendimento graças ao seu desejo, e sim, porque faz parte da rotina pré-operatória.

    A necessidade do profissional na equipe se deu, segundo Marchesini (2006) porque

    diversas publicações que faziam avaliação dos resultados do tratamento cirúrgico chamaram a

    atenção para a necessidade de uma equipe multidisciplinar para atendimento aos pacientes. A

    questão da qualidade de vida foi enfatizada nesses estudos, trazendo à tona discussões sobre

    as repercussões psicológicas da cirurgia bariátrica.

    A pesquisa apresentada por Oria & Moorehead (1997) no 14º Encontro Anual da

    Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica foi um marco nesse sentido. Os autores

    apresentaram o BAROS –   Bariatric Analysis and Reporting Outcome System, um sistema que

    visava analisar categorias de resultados obtidos após a cirurgia bariátrica. Para montar o

    sistema os autores solicitaram auxilio aos cirurgiões e também aos psicólogos que atuavam

    com pacientes de cirurgia bariátrica e mostraram a necessidade do trabalho em conjunto dos

     profissionais, ou seja, da atuação da equipe multiprofissional.

    Em 2003 foi criada a Comissão de Especialidades Associadas (COESAS) dentro da

    Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica. Participam da COESAS as profissões que

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    38/219

     

    36

    compõem, junto ao cirurgião, as equipes de cirurgia bariátrica. Atualmente fazem as seguintes

     profissões ou especialidades: anestesiologia, cirurgia plástica, educação física, enfermagem,

    fisioterapia, nutrição, psicologia e psiquiatria.

    1.1.1 Revisão bibliográfica

    Diversos autores apontam problemas psicológicos que podem estar presentes no

     período pós-operatório.

    Powers et al  (1997; 1999) e Hsu et al  (1998) realizaram estudos com pessoas obesas

    que se submeteram a cirurgia bariátrica restritiva e concluíram que pacientes que

    apresentavam quadros psiquiátricos prévios tais como episódios bulímicos, transtorno do

    comer compulsivo (TCC), síndrome do comer noturno (SCN), bulimia nervosa e ingestão

    compulsiva de grandes quantidades de líquidos, apesar de perderem peso logo após a

    realização do procedimento cirúrgico não deixaram de apresentar tais quadros. Para os

    autores, a presença dos transtornos alimentares faz com que os pacientes apresentem um

    reganho de peso rápido, comprometendo assim o sucesso do tratamento. Estes dados reforçam

    a importância do diagnóstico dessas patologias ser feito precocemente, durante a avaliação, na

    fase pré-operatória.

    Em um texto freqüentemente citado em trabalhos apresentados nos Congressos sobre

    cirurgia bariátrica, Silva (2008) afirma que é comum “após a cirurgia aparecer  complicações

    de ordem afetivo-emocional bem como o deslocamento da compulsão alimentar para outros

    sintomas, como anorexia, bulimia, alcoolismo etc.”. 

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    39/219

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    40/219

     

    38

    Porém, apesar de o psicólogo fazer parte das equipes e ser muito discutida a

    necessidade do atendimento pré e pós-operatório, pouco encontramos na literatura sobre a

    efetiva atuação do psicólogo na clínica da cirurgia bariátrica. Os autores em geral ressaltam

    que a presença do psicólogo é importante, mas não descrevem sua função, como estes

    realizam ou devem realizar as avaliações pré-operatórias, se promovem intervenções, e se for

    o caso, qual intervenção realizada vem se mostrando eficaz, quais cuidados que o paciente

    deve, de fato, ter na fase pré e pós-operatória.

    Buscando uma literatura específica sobre a atuação do psicólogo em equipes de

    cirurgia bariátrica, revisamos, tal como segue abaixo, o principal livro sobre a função e a

    atuação do psicólogo, intitulado Contribuições da Psicologia na Cirurgia da Obesidade, de

    Franques e Arenales-Loli (2006). Em seguida, realizamos uma pesquisa em três bases de

    dados: Scielo, Lilacs e MedLine. Os termos de pesquisa utilizados foram “cirurgia bariátrica”

    (“bariatric surgery”) e “psicologia” (“ psychology”).

    Iniciemos pelo livro Contribuições da Psicologia na Cirurgia da Obesidade (Franques

    e Arenales-Loli, 2006), que é considerado uma obra de referência acerca da função do

     psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica. Seu conteúdo é formado por 20 capítulos e todos

     promovem discussão sobre a relação entre a psicologia e a obesidade, sendo que 10 deles

    abordam especificamente a atuação do psicólogo no contexto da cirurgia bariátrica.

    Abordando a atuação do psicólogo, Tardivo (2006) propõe que sua função é já antes

    da cirurgia, fazer uma avaliação com intervenção. Ela aponta o uso de testes projetivos como

    um recurso para alcançar esse objetivo. Diz que apenas através de um  psicodiagnóstico

    compreensivo, podemos avaliar um paciente durante a fase pré-operatória. Para definir o

     psicodiagnóstico compreensivo ela recorre às palavras de Trinca:

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    41/219

     

    39

    “Encontrar um sentido para o conjunto das informações

    disponíveis, tomar aquilo que é relevante e significativo na personalidade, entrar empaticamente em contato emocionalcom alguém, e conhecer os motivos profundos da vidaemocional dessa pessoa”. 

    A autora afirma que não é possível determinar um protocolo de avaliação, que os

    instrumentos utilizados pelos psicólogos podem variar de acordo com cada caso, que cabe ao

     profissional eleger o que acha importante. Ainda que discuta a função do psicólogo na equipe

    de cirurgia bariátrica, o texto aborda a questão de forma vaga, com alguns apontamentos mais

    detalhados, mas sem fornecer um direcionamento para o leitor.

    Já Franques (2006) aponta a importância do encaminhamento feito pelo cirurgião

    antes mesmo do paciente chegar ao psicólogo. Ela ressalta o fato de que quando o paciente

    tem a explicação do porque ir ao psicólogo, esse individuo já chega mais interessado no seu

    atendimento.

    Em “ Entrevista psicológica” Franques abordou detalhadamente essa importante

    ferramenta usada pelos psicólogos. Ela recomenda o uso da entrevista semi-dirigida porque

    nela “o paciente tem espaço para colocar-se, falar sobre o que escolher, sendo que o

    entrevistador intervém com o objetivo de buscar maiores esclarecimentos, clarear pontos

    obscuros ou confusos e ampliar informações”. Ressalta também a importância de ser feita

    uma avaliação do estado mental do paciente.

    O capítulo escrito por Franques foi o que nos pareceu mais objetivo ao tratar sobre a

    atuação do psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica, a autora propõe inclusive um modelo de

    entrevista clínica, que anexamos a essa pesquisa (vide ANEXO II), pois servirá para auxiliar a

    discussão dos dados que coletamos durante a pesquisa de campo. Em seu modelo, os

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    42/219

     

    40

    seguintes itens devem fazer parte da entrevista: dados de identificação, história da obesidade,

    hábitos alimentares, doenças associadas, história psiquiátrica pessoal e familiar,

    desenvolvimento, análise do modo de vida, avaliação da motivação para a cirurgia e para a

    mudança, busca do significado da obesidade na vida do paciente e no seu grupo social e

    verificação do quanto o ambiente pode lhe proporcionar apoio. Em seu modelo, a autora cita

    os desdobramentos de cada um dos itens, oferecendo ao leitor uma sugestão concreta de

    entrevista.

     No texto “Utilizando fotografias: modos de reconstrução da própria história de vida.

     Em que momento surgiu a obesidade?”, Ascencio (2006) ressalta a importância do psicólogo

    compreender em qual momento surgiu a obesidade em seu paciente. Para tal ela realiza uma

    entrevista (que não descreveu) e solicita que o paciente leve para o atendimento diversas fotos

    da sua vida, desde a sua infância. Entre essas fotos, solicita algumas da época que surgiu a

    obesidade, para que possam juntos falar da sua história de vida e também da obesidade. Ela

    utiliza um exemplo de um caso atendido para demonstrar que através das fotos sua paciente

    ressignificou sua obesidade, podendo então, alcançar o que era para a autora essencial antes

    da cirurgia, em suas palavras, “o desvelamento do significado da obesidade por meio da

    reconstrução da história de vida dessa paciente”. 

    Entendemos então que um dos focos da avaliação psicológica para essa autora é situar

    em qual momento da vida do paciente a obesidade surgiu. As ferramentas que ela utiliza para

    isso são a entrevista e a solicitação de fotografias. De acordo com seu texto, contextualizar a

    obesidade é essencial antes da cirurgia, ou seja, seria parte do trabalho pré-operatório. A

    autora não aborda como lidar com casos de pacientes que não façam esse “desvelamento”, se

    ela contra-indica a cirurgia, se adia a liberação do paciente ou se assume alguma outra

    conduta.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    43/219

     

    41

    Tratando sobre o psicodiagnóstico, Tardivo (2006) em “O psicodiagnóstico no

    contexto da cirurgia bariátrica: avaliar, compreender e intervir. O trabalho do psicólogo

    clínico” propõe que o psicólogo realize também uma intervenção junto a sua avaliação. Para

    ela, o uso de testes gráficos possibilita mediar o contato do profissional com o paciente. A

    autora apresenta um estudo de caso para demonstrar como os desenhos e as histórias que os

     pacientes descrevem podem trazer informações ao psicólogo.

    Porém algumas de suas palavras na conclusão do capítulo nos trouxeram

    questionamentos:

    “De alguma forma Ana [a paciente do caso descrito pelaautora]3  nos permitiu que a conhecêssemos e buscássemoscompreendê-la. Estamos juntos a uma jovem que sofre e buscaajuda. Parece ter uma estrutura “evoluída”, em se tratando de

     psicopatologia psicanalítica. Tem um ego bem-estruturado com predomínio de tendências reparadoras e aspectos depressivos.

    Apresenta, a meu ver, as condições para enfrentar um procedimento cirúrgico (para o qual deve ser bem preparada) ea necessidade de um apoio psicoterápico a fim de empreender a

     principal tarefa da vida de uma pessoa: ser ela mesma....” 

    Diante desse trecho da autora nos questionamos sobre as suas próprias conclusões. O

    que viria a ser uma estrutura “evoluída”, como ela descreveu? O ponto de vista da

     psicopatologia psicanalítica é o ponto de vista relevante durante a atuação do psicólogo na

    avaliação psicológica dos pacientes candidatos a cirurgia bariátrica? Apesar de falar de um

    diagnóstico psicanalítico a autora indica psicoterapia para a paciente após a cirurgia. Essas

    linguagens não apresentam contradições?

    Em consonância do Tardivo, Franques também aponta que o objetivo do trabalho do

     psicólogo é “organizar os elementos presentes no estudo psicológico para obter uma melhor

    3

     Grifo nosso.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    44/219

     

    42

    compreensão do paciente, a fim de ajudá-lo”. Porém apesar de abordarem a ajuda ao paciente,

    as autoras não descrevem de que forma os profissionais devem fazê-la e nem mesmo em que

    momento.

    Em “ Avaliação pré-operatória de uma paciente artista visual: o uso da arte para

    reconhecimento do corpo”, Gleiser (2006) ressalta a importância do diagnóstico de transtorno

    da imagem corporal antes da realização da cirurgia. Pois, para a autora, se a pessoa não se vê

    da forma adequada, sem distorções, ela não vai alcançar o corpo magro que almeja. Para

    Gleiser “a conduta básica de uma pessoa com transtorno da imagem corporal é uma excessiva

     preocupação com o peso. O peso passa a ser critério para avaliar sua felicidade, ânimo,

    sucesso etc”. No decorrer da sua avaliação (que chama de “avaliação emocional”), ela diz

    algo que talvez possamos entender como uma intervenção: em casos de pessoas com

    transtorno da imagem corporal, ela procura conhecer as realizações alcançadas pelo paciente

    em sua vida, pois ao falar de seus sucessos é possível fazer com que o paciente se perceba

    capaz de conseguir conquistas. Pois a autora percebe que a pessoa que teve conquistas ao

    longo da vida apresenta uma imagem corporal menos desvalorizada, menos idealizada. A

    autora afirma também que a imagem corporal mais difícil de modificar é a do paciente que é

    obeso desde a infância.

    A autora não descreve de que forma faz o diagnóstico de transtorno da imagem

    corporal, se apenas através de entrevista ou se utiliza algum teste psicológico. Gleiser ao

    encerrar seu texto afirma que:

    “O papel da avaliação psicológica é acima de tudo mobilizar

    recursos egóicos capazes de compreender o que vai mudar. Aimagem corporal do obeso pode adquirir múltiplossignificados; em geral essa imagem é associada a aspectos

     patológicos simbolizando suas dificuldades mais profundas”. 

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    45/219

     

    43

    Logo, concluímos a partir de suas palavras que a principal função da avaliação

     psicológica pré-operatória é fazer com que o paciente tenha compreensão das mudanças que

    ele passará após a cirurgia. E que a imagem corporal da pessoa obesa pode estar associada a

    “aspectos psicopatológicos” que representam suas “dificuldades mais profundas”. Então em

    um caso de paciente com alteração da imagem corporal o psicólogo deveria contra-indicar o

     procedimento cirúrgico? Se o paciente não compreender o que vai mudar após a cirurgia ele

    então não deveria operar?

     No texto “ Avaliação para cirurgia bariátrica no contexto hospitalar: diferentes

     formas de intervenção” Belfort (2006) descreve duas formas de avaliação psicológica

    (individual e em grupo) e diz que os recursos psíquicos que tornam um paciente apto ao

     procedimento cirúrgico são: ausência de patologias graves, capacidade de elaboração de

    conflitos, condições de separar a cirurgia da problemática emocional e percepção da imagem

    corporal menos distorcida. Para obter esses dados a autora afirma que a avaliação psicológica

     pode ser feita através de entrevista inicial e anamnese, aplicação do teste HTP –   House, tree,

     person, entrevista na forma de contos e entrevista devolutiva.

    Essa entrevista na forma de contos é um recurso desenvolvido por Arenales-Loli

    (2001) e consiste em 10 a 11 histórias a serem completadas que possibilitam a projeção de

    conteúdos como relações sociais, sexualidade, afetividade, agressividade perante o corpo

    obeso, fantasias que possuem a respeito da cirurgia e do pós-operatório, entre outros dados.

    Para a avaliação realizada em grupo a autora aponta que primeiro se apresenta aos

     pacientes às informações em relação à cirurgia e então a avaliação vai sendo realizada ao

    longo de sucessivos encontros que se estendem por meses. Não foi descrito no texto como se

    desenvolve o trabalho com o grupo após a fase das informações.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    46/219

     

    44

    Ela defende que as avaliações individuais realizadas de forma pontual, dentro de um

    espaço de tempo delimitado e com número de sessões restritos, possibilita realizar ou não a

    indicação da cirurgia bariátrica. E que em contrapartida as avaliações realizadas em grupo por

    um período de tempo mais prolongado proporciona mais elementos para a avaliação do

     paciente além de criarem a possibilidade dele compreender e elaborar questões relativas a

    obesidade.

    Em “ Adolescentes obesos, sua família e a avaliação preparatória para o tratamento

    cirúrgico: quando começar e quando terminar?” Benedetto (2006) fala da sua atuação

    fazendo avaliação, preparação psicológica pré-operatória e orientação a grupos de apoio

    mensais (tanto para os pacientes adolescentes quanto para os seus familiares) na fase posterior

    a cirurgia, indicando apenas alguns casos para terapia individual.

    A autora aponta que como especificidade do tratamento do adolescente, logo convoca

    a família para participar dos encontros pré-operatórios. Diz que em sua avaliação realiza

    entrevista, atividades de imagem corporal, procura conhecer a demanda e perspectiva em

    relação à cirurgia, leva informações sobre o procedimento ao paciente, pretende trabalhar os

    medos e angústias não discriminados, aumentar o enfrentamento e as iniciativas para buscar

    desmistificar o “milagre da cirurgia”. 

    Especificamente, os dados que ela diz querer coletar durante a entrevista são: histórico

    da obesidade, perspectivas e demandas do paciente para o emagrecimento, identificar o

     padrão de repertório psicológico, social e familiar. Procura saber se há alguma patologia

    impeditiva ao procedimento, identificar as funções emocionais do comer e da obesidade e

     preparar o adolescente para as dificuldades que irá encontrar antes, durante e após a operação.

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo Na Equipe de Cirurgia Bariátrica

    47/219

     

    45

    Em “ Funcionamento familiar e cirurgia da obesidade”, Benedetti (2006) ressalta a

    importância de o psicólogo conhecer a família do paciente que vai se submeter à cirurgia

     bariátrica, para que seja alcançado o sucesso da cirurgia.

     No texto “ Depressão e obesidade” Franques e Ascencio (2006) relatam estudos de

    diagnósticos de depressão e sua intensidade em pacientes candidatos a cirurgia bariátrica. Elas

    se referem ao uso do teste Inventário de depressão de Beck - BDI como ferramenta de

    diagnóstico e para auxiliar a escolha da conduta do tratamento para esses pacientes.

    O uso de questionários também foi citado por Matos (2006) em seu texto “Quando o

    hábito alimentar se transforma em transtorno alimentar ”, pois além de descrever os

    transtornos alimentares a autora também aponta quais os testes utilizados para detecção da

     presença e da gravidade dos sintomas dos transtornos. Ela cita o uso dos seguintes testes:

     Eating Attitudes Test   –   EAT,  Eating Disorder Inventory  –   EDI,  Bulimia-Test   e o  Bulimic

     Investigatory Test Edinburgh. Para investigar as questões com relação à imagem corporal a

    autora cita o Body-Self Relations Questionnaire –  BSRQ, Body Shape Questionnaire  –  BSQ e

    o Body Image Avoidance Questionnaire  –  BIAQ. Matos afirma ainda que o questionário mais

    completo e utilizado em pesquisas é o Questionnaire on Eating and Weight Patterns –  Revised

     –  QEWP-R, que auxilia o profissional a diagnosticar episódios de Compulsão Alimentar, o

    Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica e a Bulimia Nervosa (especificando se é do

    Tipo Purgativo ou Sem Purgação). Tem versão em português feita em 1996 por Morgan

    Borges e Jorge.

    O texto “O relato psicológico” de Arenales-Loli & Preto (2006) traz a discussão sobre

    a forma como é elaborado o laudo psicológico (que elas chamam de relatório psicológico)

     pelos profissionais que atuam em equipes de cirurgia bariátrica. Elas questionam se os

  • 8/18/2019 A Função Do Psicólogo