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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” “A HIPERATIVIDADE COMO OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA” ISIS LOPES DE BRITO Orientadora : Yasmim Maria R. Madeira da Costa 2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

“A HIPERATIVIDADE COMO OBJETO DE ESTUDO DA

PSICOPEDAGOGIA”

ISIS LOPES DE BRITO

Orientadora : Yasmim Maria R. Madeira da Costa

2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

“A HIPERATIVIDADE COMO OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA”

ISIS LOPES DE BRITO

Trabalho Monográfico apresentado

como requisito parcial para a obtenção

do grau de especialista em

Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO

FEVEREIRO / 2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

Aluno : Isis Lopes de Brito

Nota de Avaliação : ___________________

Orientadora : _________________________

Coordenador Resp. : __________________

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Agradeço a Jeová Deus pela grande oportunidade

de aumentar os meus conhecimentos, a minha

mãe que apesar da pouca instrução sempre me

estimulou a sempre ir mais longe, a meu marido

Adílson que financiou o meu desejo de ser uma

profissional completa e ao meu primo Marcos e a

Tia Fátima que bondosamente cederam seus

micros para que eu pudesse escrever esta

monografia.

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Dedico esta monografia a todas as pessoas que

dedicam seu tempo a arte de aprender e ensinar.

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É melhor tentar e falhar, que

preocupar-se e ver a vida

passar. É melhor tentar,

ainda que em vão, que sentar-

se fazendo nada até o final.

Eu prefiro na chuva caminhar,

que em dias tristes em casa

me esconder.

Prefiro ser feliz, embora

louco , que em conformidade

viver.

Martin Luther King

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Índice

Resumo ............................................................................................................. 8

Introdução .........................................................................................................10

Capítulo I – Transtornos de Déficit de Atenção / Hipertividade ( TDAH ) . ......11

Capítulo II – Perspectiva Histórica dos Transtornos de Déficit de Atenção /Hipertividade ( TDAH ) ......................... ...................................................13

Capítulo III - Características do Transtorno de Déficit de Atenção /Hipertividade..................................................................................................17

3.1)Epidemiologia................................................................................................17

3.2) Características Clínicas..............................................................................17

3.3) Dificuldade de Atenção e Concentração....................................................18

3.4) Problemas de Aprendizagem.....................................................................19

3.5) Distúrbios de Comportamento....................................................................20

3.6) Distúrbios Motores.....................................................................................22

3.7) Retardos da Fala.......................................................................................23

Capítulo IV - Diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção /Hipertividade................................................................................................ 24

4.1)Histórico e Anamnese .............................................................................. .24

4.2 ) Dificuldades Encontradas no Diagnóstico do Transtorno de Déficit deAtenção / Hiperatividade ............................................................................ 26

Capítulo V - Subdivisão e Interação com Outros Problemas ......................... 28

5.1) TDAH sem Hiperatividade........................................................................29

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5.2) TDAH com Ansiedade ............................................................................29

5.3) TDAH com Depressão ...........................................................................30

5.4) TDAH com Outros Problemas de Aprendizado .....................................31

5.5) TDAH com Agitação ou Mania ..............................................................32

5.6) TDAH com drogadicção ........................................................................32

5.7) TDAH em Pessoas Criativas ................................................................33

5.8) TDAH com Comportamentos de Alto Risco .........................................34

5.9) Pseudo TDAH .......................................................................................34

Capítulo VI – Etiologia do Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade .36

6.1) Genética e Hereditariedade ....................................................................36

6.2) Traumatismos Neonatais e Problemas Intra-Uterinos ............................37

6.3) Outros Fatores ........................................................................................37

Capítulo VII - Mecanismos Biológicos do Transtorno do Déficit de Atenção /Hiperatividade .............................................................................................40

Capítulo VIII - Tratamento Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade.....43

8.1) Tratamento Psicofarmacológico ..............................................................43

8.2) Psicoterapias ...........................................................................................44

8.3) Tipos de Psicoterapias Indicadas ...........................................................45

8.4) O papel do Psicopedagogo ....................................................................46

8.5) Principais Queixas Psicológicas em Crianças ........................................46

8.6) Principais Queixas Psicológicas em Adultos ..........................................47

8.7) Suporte Social ........................................................................................49

Capítulo IX - Uma Nova Proposta Para o Ensino de Criança com TDAH ...51

Conclusão ......................................................................................................56

Bibliografia ....................................................................................................58

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RESUMO

Esta monografia é resultado de uma pesquisa que foi desenvolvida e

apresentada como monografia no final do curso de Pós Graduação Latu Sensu

em Psicopedagogia. O tema escolhido é A Hiperatividade como objeto de

estudo da Psicopedagogia.

O presente estudo buscou refletir sobre a problemática dos educadores-

psicopedagogos que lidam com crianças com problemas de aprendizagem. Em

foco o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade ( TDAH ).

A Hiperatividade é um fenômeno conhecido de todos os educadores,

psicólogos e outros terapeutas, sendo o terror de muitas famílias. Trata-se de

um desvio comportamental que incapacita temporariamente a criança para a

participação social, familiar e educacional. O seu não reconhecimento ou a

abordagem inadequada levam a desajustes graves das crianças afetadas, que

podem até mesmo culminar em grande desajuste social.

Neste trabalho buscamos fazer uma pesquisa bibliográfica sobre os diversos

aspectos deste transtorno, esperando que possa haver uma melhor

compreensão do que seja TDAH e quais os recursos disponíveis para o seu

tratamento e diagnóstico sob uma olhar das teorias psicopedagógicas.

Iremos começar por um histórico sobre a TDAH, onde será contada o

progresso da ciência na tentativa que compreender melhor este problema que

acreditamos que acompanha a espécie humana desde o seu nascimento, mas

que somente começou a ser entendido à menos de 20 anos.

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Depois iremos passar pelas características clínicas do TDAH mostrando como

se manifesta, quais problemas que causa, quais as características da TDAH e

como o diagnóstico pode ser feito.

Nosso foco principal está em focalizar dentro do ambiente escolar e como

psicopedagogo poderá fazer as intervenções a fim de melhorar a convivência

social da criança.

Iremos abordar uma proposta psicopedagogica para o ensino de crianças com

TDAH, que defende a integração na escola normal, alertando sobre a

necessidade de conhecimento por parte dos educadores, e propõe atividades

que poderão ajudar estas crianças.

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INTRODUÇÃO

Espertos, hiperativos, agitados, malcriados e pestinhas. Estes são alguns dos

adjetivos usados pelas pessoas para caracterizar crianças que de uma forma

ou outra parecem ter uma fonte quase infinita de energia. São crianças que

parecem sempre estar em movimento, que não conseguem ficar paradas

mesmo que outras pessoas exerçam uma força enorme nesta direção. Nem

mesmo os pais destas crianças conseguem fazer com que elas fiquem quietas.

São estes, ou seja, os pais que mais sofrem com o comportamento inquietos

destas crianças, são eles que passam o maior stress psicológico. Se de uma

lado estão os professores, os familiares e a sociedade do outro lado está a

criança que se mostra resistente à todos os tipos de tentativa de mudar de

atitude. Como se esta situação já não fosse suficiente, muitas vezes os pais

ainda tem arcar com outros problemas como os prejuízos por danos causados

à terceiros por conta de suas frequentes inquietações de seus pimpolhos.

Embora a hiperatividade não seja um assunto recente, suas conseqüências

ainda são desastrosas.

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade conforme denominado na

quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

(DSM-IV) da Associação Psiquiátrica Americana (APA). Para facilitar a leitura,

será utilizado a sigla "TDAH" para nos referir à este transtorno ao longo do

texto.

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CAPÍTULO I

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE

(TDAH)

Muitas vezes, mas nem sempre, a hiperatividade associa-se a transtornos de

aprendizagem. Pode ser que essa relação não seja mais do que o resultado de

um desvirtuamento de seleção no que se refere à criança com transtornos de

aprendizagem e também hiperativa, a qual é mais provável que seja

encaminhada para estudo do que sua colega iguaImente com dificuldades de

aprendizagem, que se senta quieta em seu lugar. De qualquer forma, a

presença de hiperatividade em algumas crianças com transtornos de

aprendizagem tem sido muitas vezes usada como base da controvérsia sobre a

existência de algo errado no cérebro de tais crianças. Para algumas crianças a

hiperatividade pode ser perfeitamente o resultado de anormalidades cerebrais,

mas para outras pode ser um comportamento adquirido ou nada mais do que a

manifestação do máximo da distribuição normal de motilidade humana. Níveis

altos de atividade motora podem não ser um problema por si mesmos, mas a

reação do ambiente em que a criança vive a essa atividade pode transformá-

los em problema.

Os transtornos de aprendizagem são principalmente um problema para a

criança; a hiperatividade é principalmente um problema para os adultos que

cercam a criança. Como os adultos são os "encarregados'', não é de admirar

que a intervenção se concentre no que está perturbando o adulto mais do que

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naquilo que a criança realmente necessita. Isto é, o tratamento é geralmente

dirigido mais à hiperatividade do que ao problema de aprendizagem. Muitas

vezes, os adultos ficam satisfeitos desde que a criança se sente quieta, não

importando se no momento ela está tendo algum aproveitamento na escola.

Parece que a hiperatividade pode muitas vezes ser reduzida mediante a

administração de certas drogas relacionadas com a anfetamina. Por uma lógica

desvirtuada, isto tem sido novamente usado como prova de que os transtornos

de aprendizagem tem sua base em desordens cerebrais

Há muitas questões metodológicas que precisam ser levadas em consideração

se desejamos estudar a eficácia de uma droga. Essas questões constituem

obstáculo para estudos verdadeiramente definitivos no campo da hiperatividade

e dos transtornos de aprendizagem. Em conseqüência, o conhecimento nessa

área é incerto, e o uso difundido de medicação com crianças que têm

problemas na escola toca às raias da irresponsabilidade. Os efeitos físicos e

psicológicos a longo prazo do uso continuado de agentes químicos poderosos

são desconhecidos e é muito alto o potencial do seu uso abusivo. As drogas,

portanto, devem ser usadas com muita prudência, principalmente nas

intervenções alternativas que não incluem drogas para hiperatividade e

problemas de aprendizagem.

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CAPÍTULO II

PERSPECTIVA HISTORICA DO TRANSTORNO DE DÉFICT DE

ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE

Até há algum tempo atrás, pensava-se que os sintomas do TDAH diminuíam

com a adolescência . As pesquisas mostraram que a maioria das crianças com

TDAH chega à maturidade com um padrão de problemas muito similar aos da

infância e que adultos com TDAH experimentam dificuldades no trabalho, na

comunidade e com suas famílias. Também há registros de um número de

problemas emocionais, incluindo depressão e ansiedade.

Em 1902, pesquisadores descreveram pela primeira vez as características dos

problemas de impulsividade, falta de atenção e hiperatividade, apresentados

por crianças com TDAH.

Historicamente, há alusões a respeito desses problemas na infância em muitas

grandes civilizações. Por exemplo, o médico grego Galen foi um dos primeiros

profissionais a prescrever ópio para a impaciência, inquietação e cólicas

infantis. Por volta de 1890, médicos trabalham com pessoas que apresentavam

dano cerebral e sintomas de desatenção, impaciência e inquietação, como

também com um modelo similar de conduta exibido por indivíduos retardados

sem história de trauma.

Em 1902, Still descreveu um problema em crianças que ele denominou como

um defeito na conduta moral. Ele notou que esse problema resultava em uma

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inabilidade da criança para internalizar regras e limites, como também em uma

manifestação de sintomas de inquietação, desatenção e impaciência. Still

notificou que esses comportamentos poderiam ser resultados de danos

cerebrais, hereditariedade, disfunção ou problemas ambientais. Ele também

manteve uma visão pessimista, acreditando que essas crianças não poderiam

ser ajudadas e que estas deveriam ser institucionalizadas com uma idade

bastante precoce.

Entre os anos de 1917 e 1918, os profissionais de saúde observaram que havia

um grupo de crianças fisicamente recuperadas das encefalites, mas que

apresentavam inquietação, desatenção e que eram facilmente impacientes e

hiperativas, comportamentos esses não exibidos antes da doença.

Foi então sugerido que esses comportamentos resultavam de um nível de

prejuízo cerebral causado por alguma doença. Esse modelo de conduta foi

então descrito como uma desordem pós-encefalítica (Bender,1942)

Em 1937, um médico com o nome de Charles Bradley, enquanto trabalhava

com crianças emocionalmente perturbadas em uma clínica psiquiátrica infantil,

experimentou as meditações estimulantes.

Na segunda Guerra Mundial pesquisadores tiveram a oportunidade de estudar

uma ampla variedade de prejuízos da guerra incluindo traumas cerebrais. Foi

descoberto que o prejuízo de qualquer parte do cérebro freqüentemente

resultava em comportamento de desatenção, inquietação e impaciência. Essa

pesquisa apoiou a noção de que as crianças com estes sintomas foram vítimas

de alguma forma de prejuízo ou disfunção cerebral. Nessa mesma época foi

formulada a hipótese que o principal problema dessas crianças era a distração.

Foi então que ocorreu um grande uso de medicações psicotrópicas, associadas

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a algumas mudanças no currículo escolar e na sala de aula. Como por

exemplo: a retirada de decorações excessivas, janelas fechadas, etc.

Na década de 40, surgiu a designação de “Lesão Cerebral Mínima”. A

utilização desse termo apoiou-se muito nas evidências que demonstravam

associações de alterações comportamentais, principalmente hiperatividade,

como lesões do sistema nervoso central. Dessa maneira, inicialmente esse

transtorno foi definido como distúrbio neurológico, vinculado a uma lesão

cerebral. (Lesão Cerebral Mínima). As dificuldades para objetivar a existência

desta lesão provocaram uma mudança importante nos focos das pesquisas, na

conceituação, no diagnóstico e no tratamento do transtorno. A partir daí, outras

inúmeras denominações passaram a existir. As mudanças na caracterização

do distúrbio, produziram certa confusão em relação à sua definição, por

exemplo: Hiperatividade, Lesão Cerebral Mínima , Síndrome Hipercinética ,

Distúrbio de Déficit de Atenção com Hiperatividade, etc. , como também ao seu

prognóstico e formas de tratamento.

A partir de 1962, as hipóteses de lesão cerebral não se confirmaram e as

crianças foram então referidas como exibindo uma “Disfunção Cerebral

Mínima” (DCM).

Já a partir da década de 80, e com o resultado de diversas investigações a

síndrome passou novamente por uma série de definições chegando à definição

mais recente em 1994 que denominou como Transtorno de déficit de Atenção /

Hiperatividade , utilizando como critério dois grupos de sintomas de mesmo

peso para diagnóstico: a) desatenção e b) hiperatividade/impulsidade.

Talvez o maior problema que ocorra em relação ao TDAH esteja no fato de que

o conhecimento sobre este transtorno seja muito pequeno na população leiga e

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até mesmo nas áreas médica e psicológica. Muitas das pessoas com TDAH

passam a sua vida inteira sendo acusadas injustamente de serem mal-

educadas, preguiçosas, loucas, desequilibradas, temperamentais, etc... quando

na verdade são portadoras de uma síndrome que simplesmente as fazem agir

de maneira impulsiva, desatenta e as vezes até mesmo caótica.

O desconhecimento que existe sobre TDAH tem um motivo: A demora para se

reconhecer este transtorno como um problema neuropsicológico e a

controvérsia sobre se realmente o TDAH pode ser reconhecida como um

transtorno por si próprio.

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CAPÍTULO III

CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE

ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE

3.1 - Epidemiologia

O índice de crianças com TDAH na população média dos Estados Unidos é de

3% a 5%, no Brasil, pesquisas semelhantes chegaram à valores entre 3 e 6%

enquanto na Grã-Bretanha este número é estimado entre 1 e 2%. Esta

diferença leva alguns médicos europeus à criticarem os seus colegas do Novo

Mundo dizendo que estes tendem a rotular crianças com TDAH em quantidade

muito maior do realmente seria o correto. Até o presente momento não se sabe

se esta acusação é justificada, se a causa seria outra como uma cultura mais

aberta à este tipo de comportamento, ou ainda se o correto seria o contrário, ou

seja que os europeus estariam evitando dar diagnósticos corretos de sobre o

TDAH.

3.2 - Características Clínicas

A TDAH é caracterizada por uma série de sintomas nem sempre claros e

facilmente distinguíveis de outras patologias psiquiátricas (nos seus casos mais

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graves) ou da normalidade (nos casos mais leves). De uma forma geral,

pessoas com este transtorno tende à apresentar alguns problemas como:

•Dificuldade de atenção e concentração •Problemas de aprendizado

•Distúrbios do Comportamento •Instabilidade e Hiperatividade •Distúrbios

Motores •Retardos da fala

3.3 - Dificuldade de atenção e concentração

Talvez o fator que mais caracteriza da TDAH é a falta de capacidade do

indivíduo se concentrar e prestar atenção no que está sendo apresentado à ele

sem se distrair com qualquer outro estímulo. Aparentemente a pessoa com

TDAH sente uma necessidade extrema de prestar atenção em estímulos novos

e muitas vezes irrelevantes. Pessoas com TDAH passam a impressão que

nunca conseguem completar nenhuma tarefa iniciada, pois assim que

começam uma nova empreitada facilmente se distraem e passam a fazer outra

coisa e assim sucessivamente deixando um rol de tarefas incompletas assim

que elas vão passando de uma para outra. Estas pessoas também apresentam

uma dificuldade de memorizar coisas e se lembrar de compromissos,

encontros, onde deixou certos objetos (como chaves).

Esta falta de atenção leva muitas vezes a problemas profissionais devido a

falta de produtividade e também a problemas de relacionamento pois a falta de

atenção causa a impressão em outras pessoas de que elas são sem

importância.

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3.4 - Problemas de aprendizado

O indivíduo com TDAH costuma a apresentar problemas com o aprendizado

seja através da dificuldade em prestar atenção e manter a concentração como

já foi mencionado ou por outros problemas como a Dislexia, Disgrafia e

Discalculia além de problemas sociais no ambiente escolar por causa dos

problemas de comportamentos e isolamento social conseqüente.

Freqüentemente estas dificuldades acabam levando a pessoa a assumir uma

atitude negativa perante o estudo e à escola devido as dificuldades que

encontra. A falta de compreensão do círculo social do indivíduo com TDAH leva

a uma condição onde a pessoa passa a ser acusada de preguiçosa, burra, etc.

o que só piora ainda mais a situação abrindo caminho para comportamentos

patológicos e anti-sociais.

Muitas vezes estes problemas podem ser compensados ou pela vontade do

indivíduo ou pela atitude perante o problema das instituições de ensino. O

indivíduo muitas vezes, até mesmo sem perceber, desenvolve técnicas para

poder superar as suas deficiências. Entre estas técnicas estão o uso de

acessórios de estudo coloridos e chamativos para não dispersar a atenção com

outros estímulos, uso de lembretes, chaves coloridas, etc. Em relação as

instituições de ensino, muitas delas estão desenvolvendo salas de aula

especialmente planejadas para estes alunos e programas especiais para o

reforço do estudo. As salas de aula para pessoas com TDAH são projetadas de

forma a ter o menor número possível de estímulos distrativos e os programas

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especiais tentam sanar as deficiências e dar suporte psicológico ao aluno com

TDAH.

3.5 - Distúrbios de comportamento

Quando falamos de TDAH é muito difícil separar os problemas

comportamentais primários dos secundários. O indivíduo com TDAH tende a

exibir um comportamento irrequieto que faz com que as pessoas à sua volta o

tratem de uma forma diferenciada. Na maioria das vezes esta diferenciação é

negativa, se manifestando através da exclusão social do indivíduo por causa da

sua inabilidade de se manter quieto, de praticar esportes ou a sua tendência de

quebrar coisas.

Muitas vezes os indivíduos com TDAH têm a tendência de se sentir excluído,

pois o seu comportamento leva outras pessoas a lhe chamarem de preguiçoso,

problemático, estranho e até mesmo louco. Este tipo de exclusão vai levar o

indivíduo a desenvolver problemas psicológicos que podem seguir duas

direções opostas dependendo da estrutura pessoal do indivíduo: A introversão

ou o comportamento anti-social.

A introversão ocorre quando o indivíduo resolve se submeter as regras que lhe

são impostas, escondendo o seu verdadeiro comportamento, se separando das

relações sociais por ser achar demasiadamente incompetente para tal coisa e

muitas vezes acaba entrando em depressão por sentir que não é aceito pelo

seu jeito de ser.

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O comportamento exibicionista pode aparecer quando o indivíduo mostra a sua

ira através de agressividade. Este tipo de comportamento tende a ser o

principal motivo pelo qual os pais acabam levando a criança para uma consulta

com um especialista de saúde mental.

Não são raros também os casos de comportamento anti-sociais ligados ao

TDAH como vício em drogas (causado pela vontade de resolver o problema),

alcoolismo, destrutividade, agressões sexuais, etc... Este tipo de

comportamento tende a ocorrer quando o TDAH não é diagnosticado e tratado

a tempo, pois é uma forma do paciente expressar a sua desesperança com o

seu problema, acreditando que nada pode ser feito para resolve-lo, ele resolve

mostrar a sua desesperança com este tipo de comportamento. Embora não

conseguimos achar trabalhos sobre o assunto não é difícil levantar uma

hipótese de um número maior de suicídios entre pessoas com TDAH do que

em pessoas normais, tamanha é a dificuldade que estes pacientes encontram

em se adaptar à vida social.

3.7 - Distúrbios motores

Pessoas e especialmente crianças com TDAH apresentam distúrbios como a

incordenação e a hiperatividade.

A incordenação se manifesta através de dificuldades ou atraso em atividade

como andar de bicicleta, amarrar os sapatos e escrever Pode se manifestar

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também pelo jeito desajeitado que a criança mostra ao interagir com o mundo.

Alguns autores fazem uma comparação deste comportamento afirmando que

ele se aparenta à aquele que supostamente seria exibido por um "King Kong"

tal é o modo grosseiro e desajeitados destes movimentos. Os objetos ao seu

redor correm permanente perigo: as pontas dos lápis, os copos, os botões das

camisas, as cadeiras que são colocadas à prova quando sobre elas se atiram

para sentar, os brinquedos, o aparelho de TV, enfim, tudo que esteja ao seu

alcance.

A hiperatividade se apresenta através da dificuldade do indivíduo em controlar

os seus movimentos. O indivíduo é incapaz de ficar mais do que alguns

segundos parados sem realizar um movimento inútil. Mesmo quando as

condições exigem ele não é capaz de ficar parado, quando por exemplo esta

pessoa tem que ficar sentada, ela começa a apresentar movimentos nos

membros.

Estes distúrbios motores são um dos principais motivos de queixas de

professores e pessoas em geral que lidam com o indivíduo com TDAH. Um

dado interessante é que os pais parecem se tornar acostumados com estes

distúrbios nos seus filhos, pois só uma pequena parcela se queixam da

hiperatividade dos seus filhos (cerca de 15%), os exames clínicos demonstram

que quase cerca de 65% das crianças estudadas apresentavam hiperatividade.

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3.7 - Retardos da fala

Os indivíduo com TDAH apresentam em alguns casos retardos na fala que

pode se apresentar em 3 tipos diferentes, por ordem de freqüência: 1-Retardo

da aquisição, 2- Dislalias, 3 - Distúrbios de Ritmo.

Os retardos na aquisição se caracterizam pelo diferença apresentada pela

criança entre o que seria esperado dela em termos de produção verbal em

relações ao seu desenvolvimento neuropsicológico e o que realmente ela

consegue produzir. Os testes de desenvolvimento psicomotor são apropriados

para medir esta diferença, já que a criança apresenta uma discrepância entre o

setor da fala e os demais. Não são raros casos de crianças com TDAH que

chegam à idade de alfabetização com a fala ainda não totalmente

desenvolvida.

As dislalias, ou seja a troca de fonemas também pode ser apresentado por

criança com TDAH em uma idade muito superior ao que normalmente seria

esperado. É importante salientar que este problema deve ser corrigido o mais

cedo possível, pois com o tempo a criança pode acabar incorporando a dislalia

como parte da sua linguagem normal, tornando a correção do problema muito

mais difícil.

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CAPITULO IV

DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO /

HIPERATIVIDADE

O diagnóstico de TDAH pode ser tornar traiçoeiro, especialmente para

profissionais menos experientes, por isto recomendamos que os diagnósticos

sejam feitos baseados nos seguintes critérios:

4.1 - Histórico e Anamnese

Devido as suas manifestações no comportamento da criança e na dificuldade

de se associar TDAH com algum sintoma ou problema físico, o histórico do

problema e a observação do comportamento da criança por outras pessoas do

seu meio social como professores, babás, etc. são de vital importância para o

diagnóstico do transtorno.

O histórico pode mostrar problemas com a atenção, dificuldade de

aprendizado, problemas em se manter parado, etc. Podem também aparecer

problemas relacionados à gravidez e ao parto já que a incidência deste

problema em pessoas com TDAH é substancialmente maior do que na

população normal. Também podem aparecer dificuldades na coordenação

motora, problemas em tarefas como abotoar a roupa, amarrar os sapatos,

dificuldade em movimentos alternados rápidos. Assim como podem também

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aparecer déficits de linguagem, problemas com a fala e problemas psicológicos

secundários como depressão agressão, baixa auto-estima assim como

sentimentos de rejeição. Embora não se saiba a explicação, pais de pacientes

com TDAH tendem a ter um índice de separação no casamento maior do que

na população em geral.

No caso do psicopedagogo, uma vez descartados outros problemas físicos que

podem apresentar semelhanças com TDAH o diagnóstico de pode ser

realizado através de testes psicológicos como WISC, já que crianças com

TDAH tendem a apresentar uma diferença grande entre os testes de atenção e

memória em relação à outros testes como de inteligência geral. A reprodução

dos cubos é uma tarefa particularmente difícil . No desenho da figura humana a

sua performance é inferior ao que se seria esperado por uma criança da sua

idade por causa de problemas de atenção, localização espacial,

desenvolvimento motor, etc.

No teste gestáltico de Bender, as figuras apresentam rotação, as relações

espaciais não são nitidamente copiadas e a discriminação figura-fundo é pobre.

É comum a criança com TDAH ter uma inteligência normal ou até acima da

média e mesmo assim apresentar déficit escolar e dificuldades sociais ou de

adaptação.

Exames Eletroencéfalográficos (EEG) podem mostrar alterações já que 50%

da população com TDAH apresenta problemas nestes exames enquanto só

cerca de 10 a 15% da população normal apresenta problemas semelhantes.

Como meio de confirmação de diagnóstico, pode se verificar a resposta do

indivíduo à estimulantes.

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Além dos problemas psicológicos já mencionados, o TDAH também pode estar

associado à outros problemas neurológicos e psicológicos , epilepsia,

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), problemas com drogas,

comportamentos de alto risco.

4.2 - Dificuldades encontradas no diagnóstico do TDAH

Muitas vezes, o diagnóstico do TDAH é complicado pela dificuldade de

diferenciação deste problema em relação a outros problemas físicos,

psicológicos ou até a normalidade. Por este motivo é essencial que o

diagnóstico seja feito por uma equipe multidisciplinar composta de médicos,

psicólogos, pedagogos junto com um detalhado histórico da doença como já foi

afirmado acima.

Em algumas culturas e em alguns grupos humanos pode existir uma Pseudo-

TDAH, ou seja comportamentos que se assemelham à aqueles apresentados

com pessoas com TDAH, mas causados não por fatores biológicos, mas sim

culturais, ambientais ou sociais.

Todos estes problemas podem ser resolvidos ou atenuados através da

qualificação dos profissionais envolvidos no processo. Sensibilidade, técnica,

conhecimento teórico e experiência são indispensáveis para que o profissional

tenha condições de realizar um diagnóstico correto do TDAH, especialmente

naqueles casos mais complexos. Onde a linha divisória entre TDAH e outros

problemas ou a normalidade não é clara.

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CAPITULO V

SUBDIVISÕES DO TDAH E INTERAÇÕES COM OUTROS

PROBLEMAS

O TDAH devido à sua complexidade de sintomas pode ser muitas vezes difícil

de diagnosticar como já falamos na parte sobre Diagnóstico deste texto. Muitas

vezes o TDAH pode aparecer sem alguns dos seus sintomas característicos e

em outros casos podemos encontrar outras síndromes neurológicas e

psiquiátricas que podem ser facilmente confundidas com TDAH, ou ainda

apenas comportamentos culturais que podem confundir o diagnóstico.

Embora o DSM-IV só cite 3 tipos de TDAH, Tipo Predominantemente

Desatento (314.00), Tipo predominantemente Hiperativos-Impulsivo (314.01) e

Tipo Combinado (314.01); HALLOWELL et al.. sugere que na prática clínica

outros tipos se manifestam e que é necessário que o especialista esteja atento

a estes novos tipos de combinações entre TDAH e outras condições para a

realização correta deste diagnóstico. As classificações propostas por estes

autores são:

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Subdivisões

5.1 - TDAH sem hiperatividade

Um dos enganos mais freqüentes sobre TDAH é que se a criança não

apresenta comportamento hiperativos, automaticamente a possibilidade de

TDAH está descartada. Isto é mais freqüente ainda por causa do TDAH ser

conhecido pelo público leigo apenas como Hiperatividade.

Esta concepção de que TDAH é sempre acompanhada de hiperatividade não é

verdade, pois existem casos, especialmente no sexo feminino em que o TDAH

se manifesta através apenas da falta de atenção. São pessoas que tem uma

característica sonhadora, que não são capazes de prestar atenção. Tem

dificuldades em terminar tarefas já começadas e freqüentemente são taxadas

de preguiçosas, desorganizadas ou não motivadas injustamente.

5.2 - TDAH com ansiedade

Devido ao esquecimento freqüente e dificuldade de organização é natural que

pessoas com TDAH sintam uma certa ansiedade em saber se não estão se

esquecendo de alguma coisa. Mas este ansiedade natural pode acabar se

tornando patológica. A pessoas com TDAH pode começar a procurar algo para

se preocupar durante o tempo todo. Passam a procurar sempre por alguma

coisa que esqueceram, algum problema, etc. Acabam se tornando sempre

preocupados com alguma coisa.

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5.3 - TDAH com depressão

Como conseqüência do TDAH, as pessoas portadoras deste tipo de problema

são freqüentemente taxadas das mais diversas coisas e trazem consigo muitas

vezes um históricos de muitas frustrações devido a esquecimentos, trabalhos

não terminados, etc... Não é difícil de conceber em situações como esta

possam levar logo à depressão.

Alguns pesquisadores acreditam que a depressão no TDAH pode não ser

apenas devido à fatores ambientais, mas sim devido a fatores fisiológicos

combinados com o TDAH, já que algumas das drogas usadas para tratar

depressão são também eficazes para o tratamento de TDAH.

Embora ainda não se saiba exatamente a causa da depressão no TDAH, este

fenômeno é de extrema importância no tratamento do problema, especialmente

se para ponto de vista do psicólogo, pois freqüentemente este é chamado para

tratar a depressão e tentar resolver problemas de ajustamento do paciente.

5.4 - TDAH com outros problemas de aprendizado

Conforme já foi mencionando anteriormente o TDAH pode vir acompanhado de

outros problemas de aprendizados:

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Dislexia - É uma perturbação constitucional, primaria, geneticamente

transmitida, dificuldade de adquirir a capacidade de leitura (Lefevre, 1982). A

Dislexia se manifesta por dificuldade em trocas de letras com formatos

parecidos (d b, p q, b q, etc.) ou sons parecidos (d,t,f,m,n, etc.), deficiências

de percepção visual e auditiva. Em alguns casos, os pacientes não

conseguem entender o conteúdo do texto, mas sim tentam "adivinhar" este

conteúdo na tentativa de negar o problema.

Disgrafia - Dificuldade de escrita, manifesta como uma dificuldade motora na

execução da escrita. A criança não consegue realizar os traços necessários

para escrever corretamente, muitas vezes as letras fica ilegíveis e muitas

professoras acusam o aluno de não ser caprichoso, gerando ainda mais

problemas.

Discalculia - Problemas em realizar operações aritméticas e até a escrita de

números como foi demonstrado em um exemplo de LEFEVRE abaixo,

quando foi pedido para a criança calcular 367+ 51 sua conta foi a seguinte:

30067

+ 51

----------

81067

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Todos estes problemas levam à uma necessidade de cuidados especiais na

educação da criança e de um preparo especial dos professores para que estes

não acusem a criança de ter alguma problema, baixando ainda mais a sua

auto-estima e causando problemas quanto a concepção que ela vai ter da

escola. É necessário que estes professores compreendam antes de acusar.

5.5 - TDAH com agitação ou mania

Em alguns casos o TDAH pode se assemelhar ao distúrbio bipolar e o inverso

também pode conter no caso de um episódio de mania. A diferença esta na

intensidade da crise, já que os episódio de mania tendem a ser muito mais

intensos que os de TDAH.

5.6 - TDAH com drogadicção

Um dos problemas mais sérios associados ao TDAH é o abuso de drogas. Este

problema quando encontrado por um profissional de saúde mental deve ser

estudado para se verificar qual é a real causa dele já que cerca de 15% dos

usuários de cocaína por exemplo relatam que o uso da droga não os deixa

"altos" mas sim os ajudam a concentrar e focalizar melhor a sua atenção. O

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álcool, a maconha e outras drogas também são usadas. Isto acontece por

vários motivos, entre os principais estão a busca por uma forma de fugir do

problema e suas conseqüência, especialmente quando parece não haver saída

e a auto-medicação, já que tanto a cocaína como a Ritalina são estimulantes e

freqüentemente o uso de cocaína causa um efeito positivo na capacidade de

concentração e na diminuição dos problemas associados ao TDAH.

Quando uma pessoa é diagnosticada com drogadicção associada e causada

por um possível quadro de TDAH é necessário que os dois problemas sejam

tratados juntos, pois o tratamento do TDAH quando este é a causa do vício

pode em muitos casos evitar com que estes pacientes voltem a procurar a

droga depois de obterem alta do tratamento.

5.7 - TDAH em pessoas criativas

Uma das características positivas em TDAH é a capacidade criativa que

normalmente está presente junto com o problema. Devido a sua capacidade de

não conseguir manter as idéias em ordem, pessoas com TDAH tendem a ser

muito criativas e muitas vezes é em ramos onde a criatividade é importante que

estas pessoas acabam encontrando um trabalho que conseguem fazer bem.

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Uma das características curiosas do TDAH é que algumas vezes quando os

pacientes encontram o ambiente e a tarefa certo para estimulá-los eles pode

acabar demonstrando uma característica contrária à aquela normalmente

associada ao TDAH, ou seja, ao invés da desatenção, podem demonstrar uma

concentração e uma dedicação bastante intensa.

Além da medicação o uso de pessoas com TDAH em áreas criativas como em

Publicidade, Artes, Design, Projetos, etc... pode ser uma forma de conseguir

integrar estes pacientes ao meio social.

5.8 - TDAH com comportamentos de alto risco

A incapacidade de se manter estável e a necessidade de busca por novas

emoções podem levar uma pessoas com TDAH, especialmente na

adolescência e vida adulta a demonstrar comportamentos de alto risco.

HALLOWELL et. Al. sugere uma lista de comportamentos que podem indicar

TDAH em adultos:

5.9 - Pseudo TDAH

Muitas vezes comportamentos influenciados pela cultura de um determinado

povo ou de um grupo pode ser confundido com aqueles apresentados por

pessoas com TDAH. Um ambiente que exerce muita pressão sobre um sujeito

pode muitas vezes induzir comportamentos como falta de atenção,

hiperatividade, incapacidade de concluir tarefas já começadas, etc.

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Cuidados devem ser tomados para não diagnosticar todo executivo atarefado

como tendo TDAH. É necessário lembrar que o TDAH é um problema que

aparece desde a primeira infância e que muitas vezes todos nós acabamos

apresentando sintomas de TDAH de vez em quando especialmente em

situações de estresse ou de agitação por algum evento.

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CAPITULO VI

ETIOLOGIA DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO /

HIPERATIVIDADE

Embora o conhecimento sobre as causas do TDAH ainda seja muito limitado e

grande parte dele é especulativo, algumas descobertas recentes ajudaram os

pesquisadores a levantar algumas hipóteses para o surgimento do TDAH. As

hipóteses mais estudadas são: Genética e Traumatismos e problemas intra-

uterinos.

6.1 – Genética / Hereditariedade

Devido a grande probabilidade de uma pessoa com TDAH ser proveniente de

uma família com um histórico de problemas psiquiátricos e neurológicos, como

o próprio TDAH, alcoolismo, dislexia, etc. A preponderância do sexo masculino

sobre o feminino com transtorno hiperativo é relatada em vários estudos de

populações , independentemente de critérios diagnósticos ou método de

levantamento. Tudo isto leva os pesquisadores a considerar fatores genéticos

como sendo a causa do TDAH. Por esta hipótese o TDAH não seria causado

por um gene particular, mas sim por uma união entre vários genes. Exatamente

quais genes estão envolvidos no processo e como estes genes levam ao TDAH

ainda não foi descoberto, embora a velocidade das pesquisas em biologia

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molecular indiquem que não haverá muita demora para que estas questões

serem respondidas.

6.2 - Traumatismos Neonatais e problemas Intra-uterinos

Embora a hipótese genética possa fornecer algumas respostas sobre a causa

do TDAH, é sabido que a ocorrência de TDAH está muitas vezes

correlacionadas à problemas durante a gravidez e no parto, inclusive com

relatos de traumatismos neonatais. Este fato levanta a dúvida se realmente

haveria apenas uma causa para a TDAH, pois aparentemente não deveria

haver uma relação entre a genética do TDAH e estes problemas.

Alguns autores propõem que o TDAH na verdade poderia ser devido a causas

multifatoriais onde a genética e o ambiente colaborariam para a gênese do

problema.

6.3 - Outros fatores

Assim como sempre acontece quando a ciência não consegue dar uma

respostas imediata para a causa de um problema, no caso do TDAH já

surgiram inúmeras hipóteses e teorias de procedência duvidosa e de difícil

comprovação. Citaremos algumas como informação ao leitor:

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A - Alimentação

Algumas pesquisas tentaram ligar o TDAH com o consumo de alguns

alimentos, porém até o presente momento o mecanismo pelo qual estes

alimentos prejudicariam ou causariam o TDAH não foram demonstrados e

conseqüentemente nada foi provado.

B - Produtos Químicos

Especulações sobre a influência de alguns produtos químicos normalmente

utilizados no ambiente doméstico foram levantados. Esta hipótese sugeria que

produtos como desinfetantes, ceras, removedores, detergentes, etc. poderiam

causar danos aos fetos. O fato apresentado à favor desta teoria é de que

houve um aumento nos casos de TDAH nas últimas décadas coincidindo com o

aumento do uso destes produtos no ambiente doméstico. Além de não haver

bases teóricas sobre como estes produtos poderiam causar TDAH, a

explicação para o aumento de casos tem muito mais possibilidade de ser

devido ao avanço da Psicologia e Medicina que possibilitaram um diagnóstico

mais preciso do problema do que de outros fatores

C - Explicações místicas e de difícil comprovação

Além das hipóteses levantadas até agora sobre TDAH existem pessoas que

acreditam que problemas como o TDAH é causado por possessões

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demoníacas, abduções por extraterrestres, problemas espirituais etc. Embora

nenhuma destas hipóteses tenha fundamento científico, é importante que o

profissional esteja preparado para lidar com as expectativas do paciente e dos

pais destes, quando se tratar de uma criança, para o diagnóstico baseado em

causas místicas.

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CAPITULO VII

MECANISMOS BIOLÓGICOS DO TRANSTORNOS DO DÉFICIT

DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE

Embora ainda não se saiba exatamente quais são os mecanismos biológicos

do TDAH, algumas hipóteses estão sendo estudadas e algumas partes

anatômicas do cérebro já estão sendo relacionadas com o TDAH.

Uma destas áreas é o tálamo. O tálamo parece ser uma espécie de filtro dos

estímulos vindo de todo o sistema nervoso periférico. Seria o tálamo que

escolheria quais estímulos deveriam prosseguir até o córtex cerebral para

serem processados e quais estímulos deveriam se inibidos por interferirem com

a atividade cortical que estaria ocorrendo naquele momento.

Para facilitar o entendimento, vamos dar um exemplo de uma pessoa dirigindo

um carro em uma estrada. A principal atividade do cérebro naquele momento é

prestar atenção na condução do carro e na estrada. Ao mesmo tempo que está

dirigindo o sistema nervoso periférico do motorista está mandando uma grande

quantidade de informações e estímulos para ele (temperatura do ambiente,

sons do rádio, sede, fome, visão, etc..). A função do tálamo seria de filtrar os

estímulos de forma que só os estímulos relevantes para a tarefa de dirigir

passassem para o córtex, que neste caso seriam a visão, as sensações táteis

das mãos, pés e talvez algum som. Este é o mecanismo que nós chamamos de

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atenção e que segundo alguns autores existe para evitar que o nosso cérebro

não fique sobrecarregado pelos estímulos recebidos do nosso corpo.

Outra área que parece estar envolvida com o TDAH é o lobo frontal do cérebro.

É nesta área que a maioria dos nosso pensamentos ocorre e é o lobo frontal

também que origina os impulsos que vão dar origem aos movimentos. É nesta

área que também funciona um controle sobre quais movimentos deve ser feitos

e quais devem ser evitados, este processo é chamado de atividade inibitória.

Por exemplo:

"Ao pegar uma assadeira quente no forno, a reação natural do nosso sistema

motor, é de deixar ela cair para evitar queimar as nossas mãos. Nós podemos

evitar este reflexo através do nosso lobo frontal que pode emitir sinais inibindo

o reflexo de largar a assadeira até que possamos colocar ela em um local onde

o nosso reflexo de soltá-la não cause um pequeno desastre doméstico."

Pelo nosso atual conhecimento de TDAH e de funcionamento cerebral, o TDAH

aparentemente é causado por uma deficiência no sistema cerebral, em

especial nos sistemas relacionados a um neurotransmissor chamado de

Dopamina que entre outras coisas está também envolvida no Mal de

Parkinson. A deficiência neste sistema aparentemente faz com que o tálamo

não consiga desempenhar a sua tarefa de filtragem de estímulos muito bem,

levando à falta de atenção a fácil distração do TDAH. Este problema também

parece causar problemas no lobo frontal onde a atividade inibitória dos

impulsos motores parece também ser afetada, levando segundo alguns

autores, à hiperatividade.

Acredita-se que estimulantes como o metilfenidato utilizada em pessoas com

TDAH faz com que o tálamo e a atividade inibitória motora possam compensar

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os efeitos dos problemas causados pela TDAH, voltando a funcionar

normalmente.

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CAPITULO VIII

TRATAMENTO DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO /

HIPERATIVIDADE

8.1 - Tratamento Psicofarmacológico

O tratamento psicofarmacológico de TDAH é feito com o uso de estimulantes

como a Dextroanfetamina (Dexedrina) e do Metilfenidato (Ritalina). Os

mecanismos de ação destas substâncias ainda é desconhecido, mas alguns

autores acreditam que elas funcionam porque pessoas com TDAH tem uma

subestimulação do sistema nervoso central. Outros acham que o efeito destes

estimulantes é devido a alteração nos mecanismos dos neurotransmissores

como serotonina, dopamina ou norepinefrina, o que coincide com algumas

hipóteses sobre as causas do TDAH .

Estas drogas não devem ser dadas após as 15 ou 16 horas, pois por serem

estimulantes podem causar problemas de sono (insônia) e deve ser suspensa

em finais de semana e feriados para evitar problemas de tolerância às drogas.

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8.2 - Psicoterapia

Além do tratamento farmacológico é essencial que o TDAH seja tratado

também com psicoterapia. Isto deve ser feito porque ao longo de sua vida,

especialmente antes de se ter feito o diagnóstico de TDAH, as pessoas com

este problema sofrem muito devido aos problemas causados pelo TDAH. Não

são raros casos de crianças que se sentem isoladas, são excluídas pelos

colegas, são taxadas de burras ou incompetentes por pais e professores, são

acusadas de serem mal educadas ou endiabradas por todos a sua volta.

Também não são raros casos de adolescentes e adultos que entram em

depressão por não conseguirem dar conta do que a sociedade exige deles, por

esquecerem de coisas importantes, por serem incapazes de terminar as tarefas

já iniciadas e por terem dificuldades em manter relacionamentos com outras

pessoas. Todos estes casos acabam levando à uma sensação de desespero,

ansiedade e de depressão que pode levar a pessoa às drogas ou até ao

suicídio em casos mais graves.

Quanto mais tempo o TDAH permanecer sem diagnóstico, maior será o

sofrimento do paciente e maior será a necessidade de tratamento

psicoterápico. Enquanto uma criança diagnosticada ainda na idade pré-escolar

pode nem sentir os efeitos psicológicos negativos da TDAH, um adulto já nos

seus 30 ou 40 anos pode já ter sofrido tanto com os problemas sociais da

TDAH que a sua recuperação pode ser muito difícil, especialmente se este já

chegou a apresentar outros problemas como o uso de drogas ou

comportamentos anti-sociais.

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8.3 - Tipos de terapias indicadas

Devido ao problema de concentração apresentado por pessoas com TDAH,

devemos ter alguns cuidados ao escolher a linha de terapia que será utilizada

no seu tratamento. Linhas de terapias excessivamente abertas como a

Psicanálise e Rogeriana podem parecer para o paciente de TDAH como um

inferno de Dante, já que estes pacientes tem muita dificuldade de conseguir

organizar o seus pensamentos e freqüentemente quando são submetidos à

estes tipos de terapias, o resultado é quase sempre uma desistência do

paciente ou um ataque de nervos do terapeuta que não irá conseguir extrair

nenhum sentido das emissões desorganizadas e conectadas de forma

ininteligíveis pela mente caótica do paciente.

Eventualmente até as linhas terapêuticas mais diretivas poderão parecer

excessivamente abertas para um paciente com TDAH e o terapeuta poderá se

sentir obrigado a sair da sua posição normal e começar a direcionar a sessão

de formas que seriam consideradas intrusivas em pacientes normais. O

terapeuta deverá também ter conhecimento sobre TDAH para poder conduzir a

terapia de maneira que o paciente se sinta confortável e seguro. A vínculo de

confiança também é muito importante porque em alguns casos o terapeuta

acaba se tornando a única esperança que uma pessoa com TDAH tem de ser

compreendida e a última ponte de ligação com a sociedade.

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8.4 – O Papel Do Psicopedagogo

A criança hiperativa, muitas vezes, pode estar atrasada, academicamente em

relação aos seus colegas de classe. Sabemos que os sintomas do TDAH,

como a desatenção e a falta de controle , podem promover dificuldades

especificas na aprendizagem.

O acompanhamento psicopedagógico é importante já que auxilia no trabalho ,

atuando diretamente sobre a dificuldade escolar apresentada pela criança,

suprindo a defasagem, reforçando o conteúdo , possibilitando condições para

que novas aprendizagens ocorram.

As técnicas psicopedagógicas mais utilizadas são os jogos de exercícios

sensório-motores, como amarelinha, bola de gude ou de bolas , ou de

combinações intelectuais , como damas, xadrez , carta, memória , quebra –

cabeça, etc.

Na clínica, a interação entre paciente e profissional deve ser permeado de

informalidade, pois a criança / adolescente hiperatividade pode ter dificuldades

em lidar com situações pré- formatadas como sala de aula ou consultórios.

Como base podemos citar as sugestões de Weiss sobre como deve ser o

consultório do psicopedagogo. ( Weiss, pág 149, 150 - 2000 )

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8.5 - Principais queixas psicológicas de crianças com TDAH

No caso de crianças com TDAH, os principais problemas encontrados são o

isolamento dos colegas que muitas vezes descriminam a criança com TDAH, a

depressão e a baixa auto-estima por causa da dificuldade de agradar ao pais e

aos professores, aversão à escola e comportamento agressivo.

Uma vez realizado o tratamento do problema biológico com remédios, estes

problemas psicológicos devem ser resolvidos em uma ação conjunta entre o

terapeuta, os pais, a família, a escola e os colegas da criança. Com o

consentimento da criança, todos que se relacionam com ela devem ser

avisados do problema, de suas conseqüência, do tratamento médico e de quais

atitudes devem ser tomadas por eles para integrar a criança da melhor maneira

possível. Todos sabemos que a informação é o melhor remédio contra o

preconceito e é nesta base que devemos tratar o problema de adaptação

social. É função dos profissionais envolvidos com a criança, informarem,

avisarem e divulgarem a maior quantidade de informações possíveis,

especialmente para o público em geral sobre o TDAH. Isto não só ajudará as

pessoas já diagnosticadas com o problema como também ajudará os eventuais

casos não diagnosticados ou diagnosticados incorretamente.

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8.6 - Principais problemas psicológicos em adultos decorrente do TDAH

Adultos com TDAH normalmente apresentam muitas das mesmas queixas que

crianças, só que com a carga de muito mais tempo de sofrimento tornando os

problemas mais profundos e difíceis de serem resolvidos. Somado a este

quadro existe o fato de que outras dificuldades decorrentes dos problemas do

TDAH tendem a surgir na vida adulta como dificuldades nas suas atividades

diárias, trabalhos, problemas de relacionamentos, sensação de incapacidade

para lidar com as tarefas que lhe são exigidas. Em casos mais graves, podem

aparecer também o vício em drogas, comportamentos anti-sociais e outras

doenças psiquiátricas associadas ao problema.

As dificuldades com as tarefas diárias normalmente causam grande sofrimento

e estresse em profissionais com TDAH. Estas dificuldades se manifestam por

causa da dificuldade de concentração que acaba gerando uma queda na

produtividade por problemas de impulsividade e agressividade que

freqüentemente causam brigas com chefes e colegas, pela dificuldade de

organização do tempo e de compromissos que leva a pessoas a perder

reuniões importantes, esquecer de encontros já marcos com clientes, etc...

Estes problemas levam o paciente a ser demitido com freqüência de empregos

e a ter dificuldade em manter uma carreira. Em um caso relatado um homem

que teve 124 empregos comprovados no período de um ano. É importante que

o terapeuta compreenda este problema e tente fazer com que o paciente não

se sinta um "incompetente sem solução" como freqüentemente estes pacientes

se acusam de ser.

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Os problemas de relacionamentos em TDAH também são bem freqüentes.

Para pessoas olhando do lado de fora uma pessoa com TDAH pode parecer

como sendo incapaz de manter uma amizade duradoura ou um relacionamento

amoroso estável. A pessoa com TDAH freqüentemente acaba se tornando

solitária pois quase sempre briga com os amigos que consegue pouco tempo

depois de iniciada a amizade e tem sérios problemas com relacionamento

amorosos, que muitas vezes são instáveis e violentos, isto pode ser facilmente

comprovado por algumas estatísticas em que cerca de 75% das pessoas com

TDAH acabam se divorciando. Estes problemas ocorrem porque na maioria

dos casos o TDAH não é diagnosticado a tempo, as pessoas que se

relacionam com o paciente com TDAH começam a achar que ele não presta

atenção neles (as), que os problemas como desorganização esquecimento,

etc. são propositais ao mesmo tempo que o paciente com TDAH se sente

cobrado em excesso pelo sua companheira (ro), levando à problemas

conjugais. Muitas vezes este problemas podem ser evitados se o diagnóstico

do TDAH é feito, se informações sobre o problema são passados ao paciente e

ao companheiro deste e se ao mesmo tempo for feito uma psicoterapia que

pode ser individual ou de casal para que o casal se adapte encontre soluções

para o problema.

Nos casos de problemas mais graves, é recomendável que o tratamento seja

feito por uma equipe multidisciplinar devido à grande extensão de problemas

associados e causados por TDAH.

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8.7 - Suporte Social

Embora a psicoterapia e o tratamento farmacológico possam ajudar o paciente

com TDAH, há limites para a capacidade de intervenção destes tratamentos.

Ficaria muito difícil para um terapeuta que passa no máximo algumas horas por

semana com o paciente resolver todos os problemas se as outras pessoas que

passam o resto do tempo com o paciente não colaborarem no sentido de

integrarem o indivíduo. É por este motivo que destacamos o importante papel

que o suporte social feito pelas pessoas e instituições em contato com o

paciente fazem no sentido de fazer com que ele se sinta como parte do meio

social onde ele está inserido ao invés de isolado como uma espécie de "patinho

feio". Destacamos mais uma vez a necessidade de que todos que estejam em

volta do paciente se informem e compreendam o máximo que puderem sobre a

condição, os problemas e as dificuldades do TDAH, já que como já foi falado

muitas vezes neste texto, a maioria das dificuldades encontradas pelo paciente

não é somente causada pela doença, mas também causada pela falta de

informação, falta de compreensão e preconceito em relação ao TDAH.

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CAPITULO IX

Uma Nova Proposta para o Ensino de Crianças com TDAH

Fala-se muito sobre pedagogia, teorizam-se processos, montam-se projetos

até interessantes para crianças com diferentes síndromes.Estas idéias além de

não serem mais do que utópicas, dificilmente chegam a ser debatidas com

especialistas sobre as síndromes e levadas à população em geral.

Ao criarmos instituições que amparam crianças com hiperatividade podemos

estar afastando definitivamente estas crianças do âmbito social-real

comprometendo os esquemas de aprendizagem, linguagem e corporal.

Sabemos que a atenção de crianças com TDAH é menor frente à estímulos.

Menor no que se refere ao tempo em que a criança fixa sua atenção aos

estímulos.

Trataremos nesta etapa do trabalho sobre os aspectos que a atenção pode

tomar na vida da criança. Ao lidar com atenção estamos abordando a via de

entrada de informações na vida intelectual da criança. Pedagogicamente

falando, sabemos que o caminho que essa atenção faz nos primeiros anos da

vida da criança é do concreto para o abstrato. A criança vislumbra o concreto

percorrendo o caminho do seu desenvolvimento até chegar no abstrato. Essa

abstração é tão cobrada e valorizada pelos educadores que por si só é fonte de

grande poder intelectual e de criatividade. Entendendo melhor o processo de

pensamento de uma criança com TDAH, sabe-se que ela ao não dirigir sua

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atenção somente à um objeto devido à sua sensibilidade a estímulos externos,

traça um emaranhado de associações que se acercam muito à abstração.

Podemos dizer então, que uma criança hiperativa possui uma capacidade de

abstração muito grande que levam à um potencial intelectual e criativo muito

elevado.

Da mesma maneira que isolando essa criança do ambiente escolar, com os

estímulos existentes nele, é prejudicial, podemos dizer que o oposto pode

tornar-se complicado. Geralmente o trabalho de um educador visa igualmente o

individual e junto com isto uma concepção do que é o grupo. Essa criança

carece de uma atenção especial, mais cuidadosa, um trabalho amplo, fazendo

uma ponte entre sua casa-escola-clínica terapêutica.

Levando em conta a realidade do ensino infantil que hoje está em decadência,

carente de profissionais e amparo governamental, é de suma importância o

conhecimento e interesse nas síndromes que afetam a educação. Sabemos

que existem classes de quase 40 alunos onde uma atenção especial torna-se

inviável. Por isso a existência de uma ponte entre o meio que a criança vive,

ampliando a rede social, fazendo com isto que a criança conviva com mais

pessoas, permitindo desta forma um melhor desenvolvimento das suas

habilidades.

A principal questão é como podemos dar par uma criança com TDAH a

atenção e o apoio que elas necessitam quando nem crianças sem a síndrome

e com necessidades menores conseguem ter este tipo de atenção? Como

desenvolver a atenção da criança aproveitando o potencial criativo e sensível

dela?

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Primeiramente devemos ter a consciência que a TDAH limita a capacidade de

aquisição rápida da criança. Deve trabalhar então nestas crianças é o seu lado

sensível tanto emocional como criativa. Como já foi mencionado, as crianças

com TDAH tem um potencial enorme para desenvolver estas capacidades.

Antes de iniciar o trabalho devemos saber como realizar a estimulação nelas.

As condições do mundo atual, leva à uma ansiedade pela alfabetização que em

alguns casos tem se realizado à partir dos 3 anos de idade, faz com que as

crianças deixem de desenvolver algumas outras atividades fundamentais que

serviriam como suporte para um alfabetização futura, ampliando a base para a

aquisição. Entre estas características está o esquema corporal, pois sabemos

que o corpo de uma criança pode lhe proporcionar prazer além de ser uma

fonte receptiva e transmissora de informações externas e internas. A criança

vai desenvolvendo o seu esquema corporal através da superação de

obstáculos e treinamento dos movimentos indo de movimentos grosseiros até a

coordenação motora fina.

O corpo sensivelmente capta e percebe sensorialmente o mundo. Essa porta

de entrada possibilitará para a criança criar critérios qualitativos e

discriminativos que serão fundamentais para a sua percepção espacial, social e

corporal. Nas escolas de hoje, o trabalho corporal resume-se às aulas de

educação física que podem levar estas crianças à fadiga e conseqüente

desinteresse em desenvolver estas habilidades. O trabalho corporal não deve

ser limitado apenas à atividade esportiva, trabalhos em grupos, introdução de

regras, etc. Ele é sensível, é dramático, é o processo criativo, que se apresenta

como um facilitador para obter a atenção da criança com TDAH. Através do

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corpo sensibilizamos outras áreas. O esquema corporal de uma criança com

TDAH se vê comprometido por disfunções de inibição e controle.

Uma intervenção por parte do psicopedagogo pode ser levada para o lado do

experimento sensorial. Sabe-se que através do corpo podemos sensibilizar

outras áreas. Um exemplo de trabalho com o corpo e que busca através de

outro estímulo mais concreto fazer com que a criança experimente sensações

corpóreas: Um trabalho com argila ou massa de modelar pode não buscar

apenas a concretização de algo pensado. Existe uma parte sensível que se

utiliza do tato. Fazendo a criança perceber o material com que trabalha. O

professor ao estimular, valorizar suas descobertas pode introduzir conceitos

discriminativos entre outros devido à sensibilização que a criança experenciou.

Com isto abre-se novos caminhos para a introdução e estimulação de outras

áreas.

Todo este universo é precioso para a criança pois nele terá liberdade para

criar. A criança com TDAH tem um recurso que seguramente terá sua atenção

durante algum tempo. Muitas vezes nos perguntamos se o processo é a

segurança da atenção, ou o produto é que mostra o grau de atenção que a

criança designou para a atividade.

Como tudo, o processo psicopedagógico é progressivo. Ao valorizar o processo

gerador de um produto estamos abrindo o caminho para uma evolução que

exige paciência por parte do educador. A criança com TDAH ao trabalhar com

suas habilidades sensíveis pode usar a sua percepção à estímulos para

desenvolver um produto do processo criativo. Como sabemos, o mais difícil

para uma criança com TDAH é finalizar uma tarefa, pois assim que começa

uma já está prestando atenção em outra. Tendo esta finalidade essa

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necessidade por um produto na escola infantil, estamos virando a cara para o

processo criativo. A cada pensamento, uma forma, um gesto, uma ação, enfim,

o processo.

Ao valorizarmos este processo enriquecemos o intelecto da criança e assim,

cada vez mais está disposta a criar. Imaginemos se fosse criada uma sala

especial para uma criança com TDAH, branca, sem interferências ou estímulos

senão aqueles já planejados pelo educador. Estaríamos afastando a

possibilidade da criança de entrar em contato com o mundo real, composto de

estímulos que ajudariam essa criança a formar conceitos grupais

desenvolvendo o seu intelecto capacitado para interagir com o meio.

Lidando com a criança com TDAH de uma maneira que a atitude criativa possa

ser estimulada e transmitida estaremos fazendo com que a criança se integre

melhor ao meio e evite as decepções causadas pela desinformação alheia. É

preciso conscientização, não só sobre a problemática em si, mas sobre a

predisposição que cada criança tem em cada área do conhecimento. Para isto

devemos nos tornar mais sensíveis com visão ampla para um mundo dinâmico

e mutável que é o mundo infantil.

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CONCLUSÃO

Através da elaboração deste trabalho, pudemos notar que embora o TDAH

afeta uma parcela grande da população, especialmente infantil. E este

problema não é algo recente, pois através das pesquisas podemos observar

que o TDAH tem acompanhado a espécie humana desde sempre, mas foi

apenas neste século que começaram a ocorrer alguns avanços nesta área.

Outros avanços na neuropsicologia e na psicofarmacologia permitiram que o

tratamento de TDAH fosse possível, permitindo que o indivíduo possa ter uma

vida praticamente normal, especialmente se este diagnóstico for feito cedo.

Infelizmente, o diagnóstico precoce da TDAH continua a ser um dos maiores

problemas em relação à doença. Embora o conhecimento sobre TDAH na

comunidade científica esteja já bem avançada, o mesmo aparentemente não

acontece com a população leiga. As pessoas com TDAH passam um bom

tempo da sua vida sendo acusadas de uma série de coisas, sua auto-estima é

rebaixada, ela tem dificuldade na escola e também tem dificuldades sociais. A

situação em casa normalmente não é melhor, pois os pais, pressionados pela

sociedade e escola, freqüentemente culpam a criança de algo que ela não tem

culpa e ficam se perguntando onde eles erraram.

Mesmo quando os pais ou o paciente procuram ajuda para o seu problema a

situação pode não ser resolvida sem antes ter se passado por um longo

caminho de tratamentos ineficazes, diagnósticos mal feitos e opiniões

divergentes.

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Neste ponto , a interação de profissionais como : professores e

psicopedagogos são fundamentais para se chegar a um senso comum de

diagnóstico e tratamento.

Muitos casos de TDAH passam anos e anos em terapias psicodinâmicas ou

em terapias alternativas que só trazem ainda mais sofrimento para o paciente.

É preciso entender os problemas causados por este problema e caso seja

necessário solicitar a ajuda de um psicólogo e da equipe psicopedagógica da

escola da criança.

Finalizando é preciso que os profissionais olhem o problema de vários pontos

de vista, se isto fosse feito não só com pessoas com TDAH, mas com todos os

pacientes que procuram ajuda muito sofrimento seria evitado. Divulgar,

pesquisar e o mais importante não discriminar são fatores principais na luta

desta síndrome. Os progressos atuais nos levarão a conhecer melhor a nossa

mente e a nossa psicologia, ajudando-nos a compreender melhor o ser

humano, buscando benefícios para a nossa sociedade , tratando com

dignidade, carinho e respeito nossas crianças e jovens.

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