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Joice Quadros  Joice Quad ros Nasceu em Santo Ângelo (RS) e se formou Bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Cursou Pós-Graduação em Fundamentos da Educação pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNES C). É assessora de comunicação de empresas de Criciúma (SC), tendo também atuado em diversos veículos de comunicação do RS e SC, como Zero Hora e Rede de Comunicaçõe s Eldorado.  yser Guidi  Ayser Guidi É natural de Criciúma (SC), engenheiro de Minas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e engenheiro de Segurança do Trabalho pela Universidade do Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC). Trabalhou na Carbonífera Criciúma e na Carbonífera Urussanga e lecionou na SATC e na Fundação Universitária de Criciúma (FUCRI). Mário elolli  Mário Belolli Natural de Criciúma (SC), formou-se bacharel em História pela Universidad e Federal de Santa Catarina (UF SC). É membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e da Aca demia Criciumens e de Letras. Foi presidente do Conselho Municipal de Cultura e diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Criciúma.

A Historia Do Carvao de Santa Catarina

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  • Joice QuadrosJoice QuadrosNasceu em Santo ngelo (RS) e se formou Bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Cursou Ps-Graduao em Fundamentos da Educao pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). assessora de comunicao de empresas de Cricima (SC), tendo tambm atuado em diversos veculos de comunicao do RS e SC, como Zero Hora e Rede de Comunicaes Eldorado.

    Ayser GuidiAyser Guidi natural de Cricima (SC), engenheiro de Minas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e engenheiro de Segurana do Trabalho pela Universidade do Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC). Trabalhou na Carbonfera Cricima e na Carbonfera Urussanga e lecionou na SATC e na Fundao Universitria de Cricima (FUCRI).

    Mrio BelolliMrio Belolli

    Natural de Cricima (SC), formou-se bacharel em Histria pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). membro do Instituto Histrico e Geogrfico de Santa Catarina e da Academia Criciumense de Letras. Foi presidente do Conselho Municipal de Cultura e diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Cricima.

  • z z z z zMrio Belolli zzzzzJoice Quadros z z z z zAyser Guidi

    Histria do Carvode Santa Catarina

    1790 1950

    zzzzzVOLUME I

  • Ficha catalogrfica fornecida pela Biblioteca da SATC

    662.7409816B452h Belolli, Mrio et al.

    Histria do Carvo de Santa Catarina/ Mrio Belolli,Joice Quadros, Ayser Guidi. Cricima:Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina, 2002. 300 p. il.

    1.Carvo Histria. 2. Carvo Santa Catarina. I. Quadros, Joice. II. Guidi, Ayser. III. Ttulo

    Histria do Carvo de Santa Catarinac 2002 SIECESC - Empresas Rio Deserto

    Editorao Eletrnica:Hexa Comunicao Integral

    Diagramao: Alexandre Costa de Souza

    Capa: Luis Leite Reviso: Suzi Nascimento

    Fotos e Documentos:Fernando Jorge da Cunha Carneiro,

    Joo Zanette e Mrio Belolli

  • ndiceAgradecimentosApresentaoRegio Carbonfera de Santa Catarina 13Introduo 17

    Captulo IO Carvo na Histria 19O Cenrio da Histria 21O Caminho dos Tropeiros 23

    Captulo IIComeam os Estudos 27

    Captulo IIIA Primeira Mina e Estrada de Ferro 35A Comisso White no Brasil 40As Forjas Domiciliares 45

    Captulo IVA Propaganda do Carvo Catarinense 51Das Experincias Oficializao da Regio Carbonfera 55

    Captulo VChegam os Investidores 67Prolongamento da Estrada de Ferro 73Nos Tempos de Henrique Lage 83

    Captulo VIOs Primeiros Testes Internacionais com o Carvo Catarinense 87Deputado Analisa a Utilizao do Carvo Nacional 91

    Captulo VIIA Modernizao do Setor Carbonfero 93

    Captulo VIIINovas Leis Incentivam o Aproveitamento do Carvo Nacional 103Estado Incentiva a Formao de Empresas de Minerao 108Projeto Estabelece Regras Indstria Carbonfera 109I Congresso Brasileiro do Carvo e Outros Combustveis Nacionais 111

    Captulo IXDa Eficincia, a Superao s Crticas 115As Conseqncias da Quebra das Bolsas de Valores 121

  • Captulo XProtecionismo Governamental 125Eleies da Nova Diretoria 137Statusde Uma Funo 139

    Captulo XIA Influncia do Cdigo de Minas 141Cooperativa dos Produtores de Carvo 148Companhias Carbonferas de Santa Catarina em 1942 151

    Captulo XIIPlano Siderrgico Nacional 155Usina de Beneficiamento de Carvo 166A Indstria do Coque de Santa Catarina 169

    Captulo XIIIII Guerra Mundial e Sua Influncia 179Portos de Navegao: Laguna e Imbituba 182Departamento Nacional da Produo Mineral 186Comisso de Tcnicos Brasileiros Percorre a Regio Carbonfera 190

    Captulo XIVA Iminente Crise do Setor Carbonfero 203

    Captulo XVBuscando Solues Para a Crise 213

    Captulo XVIMesa Redonda do Carvo 221Abertos os Trabalhos da Mesa Redonda 230

    Captulo XVIIOrganizao Sindical 245Sindicato dos Trabalhadores 250A Participao da Mulher e do Jovem no Trabalho das Minas de Carvo 254

    Captulo XVIIIComemoraes e Homenagens 259Congresso Eucarstico Regional 263

    Captulo XIXAssistncia Social aos Trabalhadores das Minas de Carvo 265Inaugurao do Posto de Puericultura 268Hospital dos Mineiros Anbal Alves Bastos 269Servio Social da Indstria 272Vilas Operrias 275

    Captulo XXSntese Biogrfica 279

    Bibliografia 295

  • AgradecimentosMuitas so as pessoas e entidades s quais devemos agradecer pela

    oportunidade de produzirmos esta obra. Mas, a uma s deve ser creditadoo seu incio: ao senhor Joo Zanette.

    Pessoalmente, ele insistiu conosco para que contssemos a hist-ria do carvo.

    Certa vez em que Joice o entrevistava, de prprio punho, ele foidesenhando uma linha do tempo e acrescentando ali todas as empresasmineradoras que foram surgindo com o passar dos anos. Esta histriano pode se perder, insistia ele obstinadamente. Nesta poca, em 1996,a Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) estava com umprojeto de resgate histrico, e Joice foi contratada para escrever a biogra-fia do senhor Joo Zanette. Foram longas tardes de muita conversa comele e muitas pesquisas historiogrficas e documentais.

    A partir da, o assunto no parou mais. Chamou-nos para conversarcom o presidente do Sindicato da Indstria de Extrao de Carvo doEstado de Santa Catarina (SIECESC), engenheiro Ruy Hlse, e o diretorda Companhia Carbonfera Rio Deserto, Valcir Zanette, quando desenca-deou todo o processo de produo desta obra. Convocados para este tra-balho, aceitamos o desafio.

    No incio contamos com a colaborao da jornalista Andressa Fa-bris e da universitria Rosimeri Zacarias Ghizzo. Na difcil finalizao doVolume I, a dedicao da jornalista Suzi Nascimento e do publicitrioAlexandre Costa de Souza, profissionais da Hexa Comunicao Integral,tornou-se fator diferencial e indispensvel realizao do trabalho. A eles,o nosso muito obrigado.

  • Para a publicao deste volume, em todos os momentos de nossacaminhada, tivemos a confiana e o apoio constante de Ruy Hlse e ValcirZanette, sempre nos encorajando a superar as dificuldades, que no fo-ram poucas.

    Confiantes de que a primeira parte da nossa misso est cumprida,agradecemos a Deus por estarmos aqui, neste momento, e termos estaoportunidade mpar de deixarmos escrita a Histria do Carvo de SantaCatarina.

    Os Autores

  • Apresentao

    Na condio de presidente do Sindicato da Indstria de Extrao deCarvo do Estado de Santa Catarina (SIECESC), coube-me a honrosa in-cumbncia de fazer a apresentao do I Volume da Histria do Carvo deSanta Catarina, englobando os fatos ocorridos de 1790 a 1950. O Volume IIvir oportunamente abrangendo os acontecimentos que se desenrolaram de1950 at nossos dias.

    Podemos afirmar que a primeira tentativa de explorar economicamen-te o nosso carvo data de 1861 quando o poltico e diplomata baianoFelisberto Caldeira Brandt, o Visconde de Barbacena, recebe do imperadorD. Pedro II a concesso para explorar carvo na localidade de Lauro Mller.

    Daquele ano at 1950, fatos importantes contriburam para, ora darimportncia ao carvo catarinense e tambm projet-lo em profundas crises.

    Assim foi durante a Primeira Grande Guerra Mundial de 1914 a 1918e durante a Segunda Guerra de 1939 a 1945, quando em ambos os conflitoso nosso carvo foi valorizado pela impossibilidade de se importar o produtoe esquecido aps o trmino destes conflitos.

    Mister ressaltarmos que, na dcada de 1930, no primeiro Governo deGetlio Vargas, o carvo nacional mereceu amplo apoio pela edio de vri-os dispositivos legais que o inseriram como importante insumo no nossodesenvolvimento industrial e como combustvel para acionar as nossas ferro-vias e navegao.

    Dois marcos importantes, embora distantes no tempo entre si, contri-buram de forma significativa para o desenvolvimento da indstria carbonferacatarinense.

    O primeiro, a construo da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina,hoje Ferrovia Teresa Cristina, inaugurada em 1884, ligando o Porto de Imbituba

  • a Lauro Mller e a criao da Cia. Siderrgica Nacional, implantada em 1942,na cidade de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro.

    Com a implantao da Cia. Siderrgica Nacional resultou a instalaoda usina de beneficiamento de carvo, em Capivari de Baixo, para a obten-o de carvo metalrgico, destinado aos altos fornos de Volta Redonda, e decarvo energtico, que deu origem ao Complexo Termeltrico Jorge Lacerda,a SOTELCA, hoje Tractebel Energia.

    No fluir destes, cerca de cem anos, desde a iniciativa do Visconde deBarbacena at 1950, o leitor encontrar neste I Volume toda a histria donosso carvo, onde uma pliade de cidados deu muito de si em prol docarvo catarinense, podendo assim conhecer, avaliar e reverenciar aquelesque batalharam: polticos, homens pblicos, pesquisadores, empresrios etrabalhadores, pelo progresso do Sul catarinense.

    Ao encerrarmos estas nossas consideraes queremos registrar nossoreconhecimento ao senhor Joo Zanette, empresrio do carvo que, do altoda sua sabedoria lastreada em seus 91 anos, sempre acreditou e lutou pelonosso carvo, estimulando inclusive o lanamento desta obra.

    Cabe ainda agradecermos Carbonfera Rio Deserto e ao prprioSIECESC, que conjugaram esforos para que o historiador Mrio Belolli, ajornalista Joice Quadros e o engenheiro Ayser Guidi, atravs da palavra escri-ta, resgatassem a memria de importante fase da mais tradicional atividadeeconmica do Sul do Estado.

    Ruy HlsePresidente do SIECESC

  • Regio Carbonfera do Estadode Santa Catarina

    No Brasil, as principais ocorrncias de carvo mineral localizam-se naRegio Sul e se estendem desde So Paulo, passando pelos Estados do Parane Santa Catarina, at o Rio Grande do Sul.

    A Bacia Carbonfera catarinense constitui-se de uma faixa aproximadade cem quilmetros de comprimento e uma largura mdia de vinte quilme-tros, entre a Serra Geral a Oeste e o macio grantico da Serra do Mar a Leste,seguindo a orientao Norte-Sul.

    A explorao do carvo catarinense desenvolve-se na Regio Sul doEstado, onde importantes centros de minerao se afirmam nos municpiosde Lauro Mller, Urussanga, Siderpolis, Treviso, Cricima, Forquilhinha, Iara,Morro da Fumaa e Maracaj.

    No passado recente, em decorrncia de uma produo definida e cres-cente, essa regio desenvolveu condies estruturais favorveis instalaode importante centro de produo de carvo mineral. Esta produo contri-buiu tambm para consolidar os alicerces de novos setores empresariais que,por sua vez, corroboram para um importante aumento demogrfico da RegioSul catarinense, completando o encadeamento scioeconmico de repercus-so nacional e internacional.

    Em conjunto, atuou o Lavador de Capivari de Baixo, para o melhoraproveitamento do carvo, prestando relevantes servios tcnicos ao desen-volvimento da minerao, de onde partia o produto preparado para os grandescentros consumidores do Pas.

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  • Entre outros setores de grande importncia econmica envolvidos desdeo incio da explorao do carvo esto a Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina(hoje Ferrovia Teresa Cristina) e os portos martimos de Imbituba e de Lagu-na.

    A formao das jazidas, segundo o gelogo Hannfrit Putzer, aconte-ceu aps a glaciao permo-carbonfera. Nesse perodo, verificado o recuo dogelo no Sul do pas, a vegetao comeou a se desenvolver paulatinamenteobrigando os sedimentos gondunicos1 a se depositarem em grandes reasda Bacia do Rio Paran, envolvendo os trs Estados do Sul do Pas.

    O Sistema Santa Catarina, estabelecido pelo gelogo americano Is-rael Charles White no incio do sculo XX, ao fazer a correlao entre oSistema Karoo da frica do Sul, comenta:

    Esta estreita identidade, no somente dos fsseis dos Sistemas de San-ta Catarina e Karoo, mas tambm a semelhana geral da feioestratigrfica e litolgica que se encontra nos dois sistemas, bem comono do Gonduana da ndia, quando ao que se refere aos membros,inferior e superior, certamente vm em apoio da grande probabilidadeda hiptese que admite que os Continentes Meridionais devem ter esta-do unidos durante os perodos permiano e trissico por poro deterra, agora submersa, a que Suess denominou terra Gonduana. 2

    Nesta regio, as camadas de carvo, segundo os gelogos Jos Fiuza daRocha e Evaristo Pena Scorza,

    depois de se mostrarem em Bom Retiro, reaparecem em Lauro Mllere, numa direo geral Norte-Sul, atravessam as regies de Urussanga,Treviso e Cricima. A estratigrafia revela vrios horizontes carbonferos,que receberam as seguintes denominaes, do mais superficial ao maisprofundo: Treviso, Barro Branco, Irapu, Ponte Alta e Bonito. 3

    As reservas de carvo mineral de Santa Catarina, de acordo com asmais recentes pesquisas, chegam a 3,2 bilhes de toneladas.

    PUTZER, Hannfrit. Camadas de carvo mineral e seu comportamento no Sul do Estado de Santa Catarina, Rio de Janeiro,DNPM-MA, Bol. 91, 1952.Apud FIUZA DA ROCHA, Jos & SCORZA, Evaristo Pena. Estratigrafia do carvo em Santa Catarina, Rio de Janeiro,DNPM-MA, Bol. 104, 1940, p. 51.FIUZA DA ROCHA, Jos & SCORZA, Evaristo Pena. op. cit.

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    1.

    2.

    3.

  • Fonte: Projeto da Siderrgica de Santa Catarina (1965)

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    Zona Carbonfera de Santa Catarina

  • Introduo

    O carvo catarinense parte fundamental da histria e da RegioSul do Estado e para alguns municpios constitui-se na essncia da suaprpria histria.

    Com viso mercantilista, as cortes portuguesas procuravam na Co-lnia apenas gemas e metais preciosos, no se interessando por insumosque possibilitassem o surgimento de manufaturas. Ao contrrio, quei-mem todos os teares, bradava D. Maria I, a Louca.

    Sob a gide dos governos imperiais, muitos naturalistas europeus enorte-americanos vieram ao Brasil, e vrios deles dedicaram-se ao estudoda nossa geologia e recursos naturais, incluindo-se o carvo.

    Ao final do Segundo Imprio que surge um esboo de organiza-o das instituies responsveis pelos estudos dos recursos naturais bra-sileiros, que seriam aperfeioados at as primeiras dcadas da Repblica.Isso possibilitou a confirmao da existncia e melhor conhecimento docarvo de Santa Catarina. Chegando a haver interesse de capitais estran-geiros na explorao do carvo catarinense, porm foram demovidos pelafalta de infra-estrutura que o tornasse economicamente vivel ou por nopossuir a mesma qualidade que os carves do Hemisfrio Norte.

    Os dois conflitos mundiais proporcionaram oportunidade para osurgimento das empresas carbonferas comandadas por investidores bra-sileiros. Nas duas ocasies o Brasil esteve prestes a assitir ao colapso deatividades vitais para a sua economia, devido escassez de combustvelpara os transportes martimo e ferrovirio e para a indstria, mas tanto naPrimeira quanto na Segunda Guerra Mundial, a utilizao do carvo deSanta Catarina foi suporte para a vida nacional, evitando maiores conse-qncias no contexto social da Nao.

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  • A presena do carvo catarinense, nos momentos histricos decisi-vos do sculo XX, foi possvel graas a providenciais aes de Governo ede brasileiros patriotas.

    A mudana de diretrizes polticas concebida pela Revoluo de 1930ocasionou uma srie de medidas de valorizao dos produtos brasileiros esubstituio de importaes. Nesse cenrio o carvo de Santa Catarinafoi considerado estratgico para a industrializao brasileira, com a cria-o da Companhia Siderrgica Nacional.

    Aps a Segunda Guerra, com as facilidades da tecnologia do petr-leo e o restabelecimento da importao de carvo dos tradicionais produ-tores mundiais, viu-se a indstria carbonfera brasileira em meio a umanova crise.

    Frente a estes fatos no restou alternativa ao Governo brasileiroseno convocar mesas redondas, com a participao de produtores, con-sumidores e rgos governamentais, em busca de equacionamento doproblema e soluo duradoura para uma poltica do carvo, que culmina-ria, sobretudo, com a criao de um rgo especfico para o setor.

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  • Captulo I

    O Carvo na HistriaA histria do carvo confunde-se com o desenvolvimento do homem.

    Na Pr-Histria, o fogo era considerado algo produzido pelos deuses, at queos primitivos observaram que as florestas transformavam-se em pedras ne-gras aps serem incendiadas por um raio, e que estes resduos tambm eraminflamveis. Era o carvo vegetal, que proporcionou mais conforto e facilida-de aos homens das cavernas. J no Perodo Neoltico, uma nova descoberta:minerais negros colocados para proteger as fogueiras eram reduzidos a metalquando em contato com a lenha carbonizada. Seguiram-se as idades do co-bre, do bronze e do ferro, e o homem foi utilizando o calor do carvo mineralpara tornar moldveis as matrias-primas de suas ferramentas.

    J o Gnesis, primeiro livro de Moiss (Cap. IV, versculo 22), refere-sea Tubal-Cain como o que sabia forjar instrumentos de corte de cobre eferro. Tambm nos registros da antigidade encontra-se a proteo ao meioambiente, como em 1588, quando foi proibido o corte de carvalhos nas reasat 23 km da costa ou das margens dos rios navegveis de Kestor (Devon), naInglaterra. Nessa regio, foram descobertos restos de fornos para produo deferro datado de 400 a.C. A proibio do uso do carvalho como lenha incenti-vou a utilizao do carvo mineral.

    O carvo passava a ser agente direto do que mais tarde seria reconhecidacomo uma verdadeira revoluo. Em 1668, o engenheiro militar ingls ThomasSavery desenvolveu um motor para bombear gua das minas profundas de car-vo. Em 1709, Abraham Darby produzira o primeiro gusa a partir do coque de

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  • carvo mineral, em Coalbrockdale (Inglaterra). Com o mesmo objetivo deThomas Savery, o ferreiro Thomas Newcomen utilizou em 1711 o vapor comobase energtica de sua mquina atmosfrica. A criao de Newcomen foi aper-feioada em 1765 pelo escocs James Watt e o engenheiro Matthew Bouton,resultando na mquina a vapor de duplo efeito. Eles instalaram cerca de 500desses equipamentos para acionar bombas de minas de carvo, mquinas defiar e tecer, sopradores de altos fornos e inmeros outros instrumentos.

    Nos transportes, o uso do carvo tambm foi essencial para o desen-volvimento tecnolgico. No incio do sculo XIX, em 1803, Robert Fultonconstruiu em Paris o primeiro barco a vapor, e em 1825 George Stephensonconstruiu a primeira ferrovia com locomotiva a vapor.

    Mquina a vapor, um invento de James Watt

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    Aos poucos, as foras hidrulica, animal e humana eram substitudaspelo poder energtico do carvo mineral, e uma verdadeira revoluo industrialfoi acontecendo. A Gr-Bretanha foi pioneira desta revoluo devido s suasricas reservas de carvo e minrio de ferro e qualidade de seus minerais.

    O carvo foi determinante neste processo, ajudando a movimentarmquinas produtoras de bens e de transporte. A Revoluo Industrial noconheceu fronteiras, espalhou-se pela Europa Central, tendo a Alemanhacomo principal seguidora. A produo de bens aconteceu em quantidadeinfinitamente superior do passado. S no perodo entre 1850 e 1910, aproduo de ferro e carvo aumentou vinte e seis vezes, graas ao uso damquina a vapor. Essa rpida industrializao teve como conseqncia odomnio colonialista para assegurar o suprimento de matrias-primas aos queno as possuam e o consumo de mercados alm-fronteiras, gerando disputasacirradas, que mais tarde iriam explodir na Primeira Guerra Mundial.

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  • O Cenrio da Histria

    Quando o general francs Napoleo Bonaparte ameaou com suastropas o reino de Portugal, na primeira dcada de 1800, no imaginou queseu ato teria conseqncias alm-mar nas pacatas aldeias indgenas dastribos dos Js e Tupis-Guaranis. Eles habitavam as terras da Provncia deSanta Catarina, ao Sul de uma das colnias de Portugal espalhadas pelomundo, que se chamava Brasil. Os indgenas nunca tinham ouvido falarem Napoleo Bonaparte e nem em sonhos poderiam imaginar que a estra-tgia do general francs de conquistar a Europa teria repercusso, justoali no meio da selva brasileira.

    At ento, a nica novidade que atraa a curiosidade e mudava umpouco a rotina na vida da aldeia eram uns homens diferentes deles, ostropeiros, que passavam conduzindo grandes manadas de animais. Maisao litoral, sabiam da existncia de aglomerados de casas que estavamsurgindo, bem diferentes das suas. Eram as pequenas vilas formadas porcasais aorianos que estavam povoando o litoral catarinense. Antes, mui-to antes, seus antepassados contavam de uns homens brancos que chega-vam como se tivessem surgido do nada e prendiam os homens ndios,levando-os para um lugar onde as famlias indgenas que ficaram jamaissoubessem ou tivessem notcias. Eram os caadores de mo-de-obra es-crava para trabalhar nas lavouras de cana-de-acar e nos engenhos por-tugueses. Havia tambm uns homens que se vestiam de preto, os PadresJesutas, que procuravam se aproximar dos habitantes indgenas.

    Enquanto isso ia acontecendo no verde e silencioso cenrio dasselvas sul-brasileiras, na Europa o som dos tambores das tropas francesasaumentava a cada momento, j se confundindo com o dos tiros dos ca-nhes, chegando s portas de Portugal. Ao Regente D. Joo de Braganano restava outra sada, a no ser a do mar. Estava coagido a sair deLisboa, tanto pelas circunstncias da invaso francesa, como pelas pres-ses do imperialismo ingls. A Inglaterra era a toda poderosa senhora dosmares da poca, estava em avanado estgio do capitalismo industrial eexercia domnio poltico e econmico sobre Portugal, um pas ainda atre-lado ao mercantilismo.

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  • Embarque da Famlia Real para o Brasil

    Apud GUIMARES, Djalma. Geologia do Brasil (Memria I), Rio de Janeiro, DNPM-MA, 1964, p. 68. Selow foi companheirodo Prncipe de Wiel-Neuwied em sua expedio especfica Bahia. Em Arapei Chico, coletou restos de vertebrados pleisticnios,mais tarde estudados por P. Couto, tendo sido antes descritos por C. S. Weiss, professor de mineralogia em Berlim. Organizoupreciosas colees enviadas aos museus do Rio de Janeiro, Lisboa e Berlim; cerca de duas mil amostras de minerais e rochasbrasileiras foram enviadas ao museu alemo. As melhores peas paleontolgicas de Sellow foram entregues ao Museu Naci-onal, mas infelizmente perdeu-se a maior parte do material. As observaes de Sellow sobre o Rio Grande do Sul e Uruguaiforam dadas publicidade em 1830, por C. S. Weiss e com a colaborao de K. J. Bernhardet Kaster. Distinguiu, Sellow, no Suldo Brasil, granitos de duas idades, alm dos vulcanitos cidos, derrames extensos de basalto amigdalide e instruo do mesmoarenito trissico. Refere-se s sries que atualmente receberam os nomes de Maric e Camaqu, a srie carbonfera de Jacu ede um conjunto de rochas fossilficas, entre S. Gabriel e Caiguat, com dentes e crnios de peixes e plantas silicificadas.

    ento que a Famlia Real Portuguesa se transfere para o Brasil.Aqui chegando, no ms de janeiro de 1808, abre os portos s NaesAmigas, leia-se Inglaterra. Junto com a Famlia Real e com essa decisode abertura dos portos, vm intelectuais, tcnicos e estudiosos europeusdas mais diferentes reas do conhecimento humano. Entre esses, o natu-ralista alemo Friedrich Sellow1 (1789 - 1831).

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  • O Caminho dos Tropeiros

    Os caminhos abertos pelos tropeiros so referenciais importan-tes na histria catarinense. Esses tropeiros conduziam tropas de gadoe de cavalos do Rio Grande do Sul at Sorocaba, em So Paulo, e dalipara Minas Gerais. Era um transporte lento, onde os caminhos iam-seabrindo naturalmente. Pela sua lentido e condies climticas, obri-gavam-se os tropeiros a paradas regulares, erguendo grandes galpesrsticos para seu abrigo, que ficaram conhecidos como pouso das tro-pas. Esses lugares de pouso foram os embries de muitas cidades, en-tre elas a de Lages, a partir dali comeando o povoamento do PlanaltoCentral. Esses caminhos foram igualmente embries das rodovias quehoje integram o Estado catarinense.

    Mas no s para o povoamento e abertura de estradas que soreferenciais os tropeiros. Foram eles tambm os primeiros a encontraro carvo de pedra na regio Sul de Santa Catarina. Os indgenas jconheciam essas pedras que queimavam. A diferena que os tropeirostomaram conhecimento do seu valor econmico ao levarem adiante anotcia sobres essas pedras que queimavam e souberam que havia des-pertado o interesse da Corte.

    Como se pode observar, o carvo de pedra j era um assuntodiscutido antes mesmo dos estudos de Sellow, em 1827-1828, por issoele foi convidado a fazer o reconhecimento dessa descoberta.

    Segundo as informaes mais correntes, os tropeiros serranosque desciam o planalto em demanda ao porto de Laguna, percorrendouma picada aberta na Serra Geral que atingia a bifurcao do rio Tu-baro, deste rio com os de Passa Dois e Bonito, no lugar hoje conheci-do por Barro Branco, ao acamparem para preparar as refeies ao cairda tarde, notaram que diversas pedras pretas que havia acercado aofogo para servirem de trempe ao rstico fogo campeiro2 entraramem combusto e se reduziram a cinzas.

    A primeira notcia dessa faanha, levada pelos annimos tropeiros cidade histrica de Laguna, onde estavam acostumados a embarcar

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  • MUELLER, Edson. As armas do municpio de Lauro Mller, in. Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de Santa Catarina,Florianpolis, n 18. 3 fase, 1999, p. 167.

    as suas cargas naquele porto, ocorreu em fins do sculo XVIII. Dali, anotcia se espalhou rapidamente pela provncia catarinense, chegandoao conhecimento tambm dos governantes.

    Os Tropeiros leo de Willy Zumblick (1981)

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    2.

  • Os Primitivos Caminhos de Tropas

    Fonte: Amdio Vettoretti - Histria de Tubaro (1992)

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  • Captulo II

    Comeam os Estudos

    O naturalista alemo Friedrich Sellow, membro da Academia Real deCincias de Berlim, chegou ao Brasil em 1814. Ele veio como pensionrio deSua Majestade Imperial, o Rei D. Joo VI, para pesquisar jazidas de ouro, pratae carvo mineral. Por volta de 1827, examina no Rio Grande do Sul as jazidasde ouro de Caapava, de prata em Acegu e as de carvo do Jacu, estendendoseus estudos at o Sul de Santa Catarina,1 onde analisou igualmente osafloramentos carbonferos desta regio. Sellow, aps as concluses de seus estu-dos, encaminhou-os Corte, que teria despertado o interesse pelas minas decarvo de Santa Catarina. Assim, em 1832 comeou a ser organizada uma pe-quena empresa para a primeira tentativa de explorao das referidas jazidas docarvo catarinense, quando foi dirigido um memorial ao presidente da provn-cia, Feliciano Nunes Pires, pedindo auxilio e concesso para a extrao do car-vo.

    Nesse mesmo ano, em 18 de junho, a Comisso de Minas e Bosques rgo do Governo central solicitou mais informaes a Nunes Pires sobre oandamento do processo de minerao da sua provncia. Nesse vai-e-vem dosdocumentos oficiais percorrendo os gabinetes burocrticos, quando veio a res-posta, l pelos meados de 1833, quase um ano depois, a propagada empresa jestava dissolvida.

    Apesar dos entraves da burocracia, o interesse do poder pblico imperialem relao descoberta das jazidas minerais era evidente. Tanto que continua-

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  • ram investindo em pesquisas, realizadas em 1833 por Alexandre Davidson. Osestudos foram concludos e enviado relatrio, com amostras de carvo, para oGoverno Imperial, acompanhado de ofcio de Nunes Pires, datado de 26 demaro de 1834. O relatrio afirmava que as jazidas eram extensas e o carvode boa qualidade, mas rendeu apenas mensagens polticas pedindo mais aten-o ao assunto.

    O presidente da provncia, em sua mensagem de 1 de maro de 1835,apresentada Primeira Assemblia da Provncia Catarinense, afirma:

    ... Tem ainda a Provncia um manancial de riqueza na mina de carvo noTermo da Laguna, mas para faz-lo valor depende da aplicao de capi-tais e indstria e para anim-la se h mister de indagaes mais extensas emais circunstanciadas do que aquelas que at agora se tem podido fazer,pelas quais apenas se h reconhecido que a mim abundante, fcil detrabalhar e de boa qualidade. Em suma, das informaes havidas a esterespeito acham-se na cpia que apresento de um ofcio meu ao Exmo.Ministro dos Negcios do Imprio, a tal respeito.

    Feliciano Nunes Pires

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    Rel.

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  • Algum tempo depois, no incio de 1837, h registro de que AugustoKersting requereu autorizao para organizar uma companhia destinada aminerar carvo nas imediaes de Laguna, mas desistiu da idia em se-tembro do mesmo ano, depois de verificar que a distncia das minas aosportos de embarque inviabilizava o empreendimento.

    Ainda nesse mesmo ano ou, segundo outros autores - um ano maistarde, esses afloramentos foram examinados pelo francs GuilhermeBaulierch, que organizou os primeiros estudos e mapeamento da regio.Concludos os trabalhos, elaborou extenso relatrio ao presidente da pro-vncia de Santa Catarina onde deixou claro seu convencimento da timaqualidade do carvo e da pujana das jazidas.

    Um registro que se encontra sobre este momento o trecho de umacarta publicada pelo Jornal do Comrcio, do Rio de Janeiro, de 8 dejunho de 1843, e reproduzida pelo jornal O Albor, de Laguna, em 10 dejulho de 1943. O peridico catarinense, ao dar destaque nota, parececomemorar os cem anos do evento:

    Agora volta da o Sr. G. Baulierch, que tem trabalhado desde 1837para reconhecer e determinar a existncia das minas de carvo depedra no distrito de Laguna, e que acaba de chegar de Ararangu,pela quarta vez explorado por ele para o mencionado fim, munidode todos os esclarecimentos tendentes a provar ainda aos mais ce-gos e emperrados, no s a existncia do mineral como a facilida-de de o extrair, e de trazer ao porto de embarque por gua. Deusqueira que de uma vez o acreditem, e que ainda no encontre al-gum que descubra pretexto para evitar o aproveitamento de tantariqueza.

    O anunciado da descoberta efetiva do carvo de pedra em SantaCatarina corria solto, gerando um clima positivo para torn-lo um produ-to vendvel.

    Tanto, que os gabinetes da Provncia e do Imprio comearam aficar povoados de cartas, relatrios e mapas, com a inteno de buscarcertos privilgios e vantagens governamentais objetivando lucros imedia-tos atravs da extrao do carvo mineral.

    O ambiente poltico do Pas, entretanto, no era dos mais favor-veis. Vale lembrar que em 1831 D. Pedro I renunciou ao trono e retornoua Portugal, passando a Coroa ao seu filho, D. Pedro II, de apenas 5 anos.Em razo da pouca idade do imperador, o Pas passa a ser governado por

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  • regncias e mergulha em profunda crise poltica com revoltas se intensifi-cando em grande parte do territrio nacional. quando acontece no Sula Revoluo Farroupilha (1835 1845), que iniciou no Rio Grande doSul e trouxe seus ideais republicanos a Santa Catarina, culminando com aproclamao da Repblica Catarinense a Juliana, em 1839, sendoestabelecida na cidade de Laguna com a colaborao do revolucionrioGiuseppe Garibaldi e de sua mulher, a catarinense Ana Maria de JesusRibeiro da Silva, a conhecida Herona dos Dois Mundos AnitaGaribaldi.

    Contra esses ideais republicanos estavam os Postos Avanados deCombate a servio do Governo central, como o de Boa Vista, na Re-gio Serrana de Santa Catarina (Lages), de onde foram transmitidas tam-bm notcias sobre o carvo de pedra, como se pode observar a seguir:

    Se estamos mal providos de notcias blicas, tenho de dar-lhe umaque pertence ao domnio da paz, e que disposies para a guerracom que lutamos ajudaro a realizar. de vital interesse para estaprovncia e para o Brasil. O presidente igualmente desvelado eprescutador e alm de militar encarregado de promover a prospe-ridade do Pas que administra, encarregou ao tenente-coronel Car-reira, comandante dos Postos Avanados na estrada de Lages, peloTrombudo, de descobrir e explorar, em lugares que lhe indicou, aexistncia de pedreiras de mrmore, e de minas de carvo de pedranas imediaes da Serra, para o Rodeio Bonito, a 18 lguas poucomais ou menos desta capital. Vieram amostras do mineral, sobre asquais se fizeram experincias em presena do presidente, extraindodela e do carvo ingls o gs hidrognio, com resultados iguais, emesmo para melhor grau, no Rodeio Bonito. Pode-se asseverarque a mina ocupa grande extenso das vrzeas da Serra, porque jse tem visto indcios da existncia do mineral, desde o Araranguat o rio das Tijucas Grandes, num espao de mais de 40 lguas...3

    Sobre essas notcias enviadas pelos soldados do Imprio, em 18 demaro de 1840, o presidente da provncia de Santa Catarina, Antero JosFerreira de Brito, endereou um ofcio ao ministro e secretrio de Estadoe Negcios do Imprio, Manoel Antnio Galvo, nos seguintes termos:

    Como tenha anunciado a V. Exa. no meu ofcio n. 11 fez-se adiligncia pelo carvo de pedra, e o tenente-coronel Carreira, co-mandante dos Postos Avanados na Boa Vista, mandou ao lugar

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  • indicado por mim, na Vrzea das Razes, tirar uma amostra, que meremeteu em pequena poro, e vai na caixa que contm outra mai-or, embrulhada em papel, para se no confundir com ela, apesar deser de um negro mais forte; porm fazendo explorar no RodeioBonito antes de chegar ao Papu, achou e mandou-me algumaspedras de outra mina que ele julga de melhor qualidade, e que euremeto disposio de V. Exa. por mo do capito de fragataBernardino de Sena e Arajo, comandante do pilot-boat Atrevi-do Africano para que se possam fazer os exames que se julgaremprecisos. Esta segunda mina julga o tenente coronel que ter umalgua de extenso; mas eu penso que ela geral em toda a serra, aomenos desde o Tubaro at este lugar, e pelas vrzeas prximas fralda da mesma serra; porque aparecendo em dois lugares e muitodistantes um do outro, e s aonde h caminhos, ningum podeafirmar que ela no aparea em outros, e que s acertassem em seras minas nos lugares onde por acaso se abriro as estradas. Se hou-ver carvo em outros lugares, tornar-se- mais provvel que sejamina geral. Em qualquer caso, j nos no pode ficar dvida de que carvo; porque no s se inflama, mas tambm que produz bas-tante gs hidrognio, como vi, extraindo-se ao mesmo tempo destecarvo e do carvo ingls, e ambos produziram uma luz que duroumais do que parecia corresponder a quantidade exposta destila-o; sendo a luz do carvo do Rodeio Bonito, mais clara que a docarvo ingls. Pessoas que tem visto e usado o carvo de pedra damina do Valongo, prximo cidade do Porto, no reino de Portugaldizem que este uma espcie entre o de Valongo e o ingls. Atagora nenhum outro trabalho tem havido para obter estas amostrasde carvo, que lhe pega superfcie da terra, ou quebrar algumapedra maior; e disto devemos concluir que melhor qualidade seachar quando se tratar efetivamente da minerao; mas para nocaminharmos sobre hipteses, pode V. Exa. mandar aqui algumapessoa entendida, e que saiba reconhecer minas desta natureza, queeu farei cobrir com fora essa diligncia, se a esse tempo ainda eestrada no estiver desembaraada dos rebeldes (...) Deus guarde aV. Exa. Desterro, 18 de maro de 1840. Antero Jos Ferreira deBrito - Presidente da Provncia e Bernardo Joaquim de Mattos Secretrio do Governo.4

    Alm desse esclarecimento, tornado pblico pelo Governo da Pro-vncia catarinense, os homens do Imprio agora tinham em mos outrosdocumentos que mapeavam a regio. Desta forma, puderam ento apro-

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  • var leis em favor do assunto, como a de n 243, do ano de 1841, queabriu crdito para o incio do trabalho de minerao.

    O ministro da Regncia Imperial do Brasil, acatando as deciseslegislativas, promoveu o seguinte despacho:

    Noticia-se-lhe a escolha do Dr. Parigot Enquanto a exploraodas minas, de que V. Exa. trata, o Governo incumbiu em 27 denovembro do ano passado (1839), a um hbil naturalista belga, oDr. Jules Parigot, to importante trabalho, tanto nas Provncias deAlagoas, Bahia, So Paulo, Minas Gerais, como nessa que V. Exa.preside, e qual deve brevemente chegar, visto que, na conformi-dade das instrues, que por aquela ocasio se davam, as explora-es na Provncia de Santa Catarina devem estar terminadas nofuturo ms de junho.5

    Sob o patrocnio do Governo Central, Jules Parigot compareceu provncia de Santa Catarina e confirmou a boa qualidade do carvo, apster realizado um grande trabalho de prospeco nessa regio.

    Naquela oportunidade, o naturalista belga decidiu, ento, exploraro carvo catarinense, requerendo o privilgio da concesso dos terrenoscarbonferos por um prazo elstico de cinqenta anos.

    Autorizado pelo Governo, Parigot retornou ao seu pas, onde foipromover o carvo brasileiro e solicitar o apoio necessrio dos empres-rios ligados ao setor carbonfero para a formao de uma grande empre-sa, j delineada nos seus arrojados planos. L tratou imediatamente dacriao da Companhia Belgo-Brasileira, de acordo com os seus principaisdesejos e objetivos.

    Na poca, se expressou o Imperador do Brasil no seu documentoentregue a Parigot, em 29 de agosto de 1842:

    Sendo necessrio progredir, com atividade, nas indagaes relati-vas s minas de carvo de pedra na Provncia de Santa Catarina, afim de que se possam prestar Assemblia Geral Legislativa, na suafutura sesso, todos os esclarecimentos de que ela precisa, para re-solver este importante objeto, com plenos conhecimentos: SuaMajestade o Imperador h por bem ordenar que V. Merc partaquanto antes para a Blgica e ali faa a escolha dos instrumentosindispensveis para se proceder aos trabalhos de explorao dasreferidas minas, devendo esses instrumentos ser comprados e pa-

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  • gos pelo Encarregado de Negcios do Brasil em Bruxelas (...) econtrate os mineiros prticos que tambm forem indispensveispara a execuo daqueles trabalhos..6

    O plano de Parigot, segundo a opinio dos membros da comissotcnica brasileira instituda especialmente para analisar o projeto, s nose realizou por constarem falhas no processo de encaminhamento. Oparecer dessa comisso no foi favorvel integralmente ao projeto, porentender que a organizao da empresa mineradora no atendia plena-mente aos interesses brasileiros.

    Entretanto, a Parigot deve-se a existncia, em arquivos oficiais, dedois cadernos: Memria sobre o Carvo de Pedra no Brasil e Minasde Carvo de Pedra em Santa Catarina, ambos elaborados em 1841.Nesse ltimo, escreveu Parigot: H pouco mais ou menos 50 anos queos tropeiros que atravessavam os sertes para chegar, quer aos camposde Vacaria, quer a Lages, quer a Curitiba, acharam, no caminho, pedraspretas que queimavam. Coisa bastante extraordinria, mas esto sem usoalgum.7

    Ao referir-se ao perodo da descoberta, pode-se concluir que a dataaproximada desse evento do ano de 1790.

    O assunto carvo continuava exaustivamente. Um relatrio apre-sentado pelo presidente da provncia de Santa Catarina, Joo JosCoutinho, em 1856, assim se refere ao andamento das minas de carvode pedra:

    Alm do novo exame das minas feito pelo mineiro ingls EbenezerEbaus, vindo de So Pedro do Sul, em 1850, nada mais existe arespeito da minerao. Tm, todos, reconhecido a riqueza das mi-nas, a boa qualidade do carvo, mas no tem aparecido, at hoje,quem queira verdadeiramente explorar. Suponho que a distnciado porto de embarque, o ponto fundo da barra de Laguna, e maisque tudo, o alto preo das jornadas, pela falta de braos no Brasil,tem sido a causa de no podermos ainda aproveitar dessa rique-za.

    Em 1858 o francs Robert Ave-Lallemant conclui sua obra Via-gem Pelas Provncias de Santa Catarina, Paran e So Paulo, na qualdedica algumas linhas sobre o carvo mineral:

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    1. Apud GUIMARES, Djalma. Geologia do Brasil (Memria I), Rio de Janeiro, DNPM-MA, 1964, p.68.2. Relatrio e fala no Governo de Santa Catarina (1833-1835). Arquivos dos Estados de So Paulo e Santa Catarina, 1986, p. 37.3. BOITEUX, Henrique. A Repblica Catarinense, Rio de Janeiro, Imp. Naval, 1927, p. 281.4. Ibidem. pp. 282 - 283.5. Apud. DALLALBA, Joo Leonir. Colonos e mineiros no grande Orleans, Florianpolis, ed. Autor, 1986, p. 342.6. Ibidem, p. 337.7. Ibidem

    ...Em Tubaro foram descobertas vrias jazidas de carvo, quecorrem na serra. At hoje j se contam vinte e uma jazidas, algumasde 12 a 14 ps de espessura e todas muito fceis de explorar. Vi empoder do capito Collao algumas amostras, nas quais se reconheceexcelente carvo. O mineiro de carvo de So Jernimo (Rio Grandedo Sul), Mr. Johnson, l estivera precisamente ao tempo de minhachegada a Piedade (Nossa Senhora da Piedade do Tubaro) e haviaremetido para o Rio de Janeiro algumas toneladas de carvo, queele considerava de excelente qualidade. Pode-se compar-lo, semexagero, com bom carvo ingls, sendo impossvel deixar de reco-nhecer a sua grande significao....

  • Captulo III

    A Primeira Mina e Estrada de Ferro

    Depois de muitos anos e de muitos insucessos, parecia ter chegado ahora decisiva para o incio da explorao do carvo em terras catarinenses.E o primeiro brasileiro que se props a explor-lo foi o baiano FelisbertoCaldeira Brant Pontes, o 2 Visconde de Barbacena, de famlia com grandeinfluncia e prestgio em Londres (Inglaterra). Barbacena comeou trazendoao Brasil o gelogo ingls James Johnson que, alm de realizar experinciascom o carvo nacional, poderia ser influncia positiva para atrair a confian-a de investidores britnicos. Johnson pesquisou e definiu a rea que deveriaser comprada. Ento, a 6 de fevereiro de 1861, o Visconde de Barbacenaconcretizou a aquisio, do Governo da Provncia, presidido por FranciscoCarlos de Arajo Brusque, de duas lguas quadradas de terras devolutas, nalocalidade de Passa Dois, e obteve a concesso e permisso para organizar,dentro do prazo de dois anos, uma empresa destinada a lavrar minas decarvo.

    Caindo nas graas dos governos da Provncia e do Imprio, o Viscon-de de Barbacena teve os favores desta concesso prorrogada por dez vezesconsecutivas. Alm disso, em 1874, pela Lei Imperial 740, de 20 de maio, foiautorizada pelo Governo a construo da Estrada de Ferro, ligando Imbitubaa Minas (hoje Lauro Mller), inaugurada em 1 de setembro de 1884. Parasua construo, foi constituda a companhia inglesa The Donna TherezaChristina Railway Company Limited.

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  • Dois anos depois de iniciada a construo da estrada de ferro, necess-ria para o transporte do carvo, o Visconde de Barbacena conseguiu organi-zar a companhia The Tubaro Coal Mining Company Limited, tambmcom capital ingls e sede em Londres, autorizada a operar no Brasil.

    Finalmente, a 9 de fevereiro de 1886, segue para o Porto de Imbituba oprimeiro carregamento de carvo, que anunciado pelo presidente da Pro-vncia, Francisco Jos Rocha, atravs de ofcio enviado ao Governo Imperial:

    Tenho a honra de comunicar a Vossa Excelncia que est inauguradoo trfego de carvo das minas do Tubaro. Ontem chegou a Imbitubao primeiro trem com carvo, e amanh deve seguir para Imbituba ovapor Senator para receber o primeiro carregamento, 700 toneladas,mais ou menos, que destinado para Buenos Aires. Tenho convicoque este primeiro ser o precursor de transaes mais avultadas.1

    Muita festa, muita comemorao e muito prejuzo. O carvo remetidopara Buenos Aires (Argentina), custou empresa mineradora 25$000 (vinte ecinco mil ris) a tonelada, considerando apenas o custo de produo, e foivendido por apenas 6$000 (seis mil ris). Tamanha diferena, mais a concor-rncia com o carvo de Cardiff, importado da Inglaterra, levou a empresa paralisao imediata de suas atividades.

    Prevendo a liquidao da sua empresa, o Visconde de Barbacena asso-ciou-se, em 1886, firma Lage & Irmos, representada por Antnio MartinsLage Filho, conceituada empresa com sede no Rio de Janeiro e com tradioem negcios de carvo Cardiff ingls e servios de estiva. Em 17 de novem-bro de 1887, o Visconde de Barbacena decidiu vender sua parte na sociedade empresa Lage & Irmos, retirando-se dos negcios do carvo. Por sua vez,essa empresa via no carvo catarinense apenas uma possibilidade de investi-mento futuro e continuou dando prioridade aos seus negcios no Rio de Ja-neiro.

    Quanto via frrea, foi construda apenas para o transporte do carvo,numa extenso de 118 quilmetros, tendo custado para os ingleses5.609:298$000 (cinco mil e seiscentos e nove contos e duzentos e noventa eoito mil ris), precisando de constante manuteno devido s cheias freqen-tes do rio Tubaro. Sem carvo para transportar e com uma forte enchente emmaio de 1887, a companhia quase desativada. Nesse meio tempo, cai oGoverno Imperial, em 1889, e proclamada a Repblica.

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  • Em 1890, o Governo Provisrio, sob o comando do marechal Deodoroda Fonseca, atravs do Ministrio da Agricultura, em cuja pasta estava fren-te Francisco Glicrio, interessado em reconhecer as minas de carvo de SantaCatarina e procurar uma soluo para remover as dificuldades financeiras emque se encontrava a Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, nomeou umaComisso de Estudo composta por Luiz Felipe Gonzaga de Campos, Fla-vio Ostili de Moraes Rego e Joo Caldeira de Alvarenga Hessener, a fim deestudar in loco o assunto.

    O relatrio dessa comisso, certamente, influenciou o futuro Governode Prudente de Morais, que atravs da Lei n 275, de 4 de julho de 1895,isentou os impostos de importao de mquinas e equipamentos para as em-presas que se propusessem a investir na explorao do carvo mineral.

    No dia 28 de setembro desse mesmo ano, era promulgada a Lei Federaln 167, concedendo a Jos Bernardino da Silveira, ou empresa que viesseorganizar no municpio de Ararangu o direito exclusivo de explorao deminas de carvo, por um perodo de cinqenta anos.

    No entanto, antes mesmo dessa lei, outras tentativas aconteceram nes-sa direo, como diz o jornal A Verdade, de Laguna, de 30 de janeiro de1881:

    Veio informar Cmara Municipal desta cidade um requerimento doSr. Comendador Jos Feliciano Alves de Brito, em que pede ao Gover-no privilgio para explorar minas de carvo e outros minerais noArarangu e construir uma linha frrea dali at encontrar alguma estra-da de ferro ou um dos portos do mar mais apropriado. A Edilidade,como era de esperar, deu favorvel informao.

    Vale ressaltar que, nessa poca, o Sul da Provncia catarinense tornara-se ponto atrativo para o investidor brasileiro, devido ao processo de coloniza-o europia que ali se implantara a partir de 1877. Em meio s florestascomearam a surgir os povoamentos coloniais, oferecendo facilidade im-plantao de mecanismos industriais e de servios, dentre os quais a constru-o da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, em conseqncia dos interes-ses explorao do carvo.

    Em ltima anlise, tudo indica que esse movimento colonizador teverelao com a implantao do projeto minerao e ferrovia nessa regio,como se pode notar no seu contexto. At porque, sem a presena do coloni-zador, seria impossvel desenvolver o projeto de Barbacena.

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  • O desembargador Francisco Vieira Ferreira, responsvel pela implanta-o das colnias italianas de Azambuja e Urussanga, no Sul do Estado, a partirde 1877, assim se expressa, com referncia ao carvo: Ainda no se tinhaexplorado o carvo existente nas minas de Cresciuma e Urussanga, nem mes-mo do Tubaro. Mas com amostras encontradas em terras da Colnia lembro-me de nos havermos aquecido junto a um fogareiro em manh de inverno.2

    Um dos colonizadores italianos de Urussanga, Cristvo Pescador,em cartas dirigidas ao jornal Il Tomitano, em 24 de abril de 1883 e 8 deabril de 1884, editado na Provncia de Feltre, Itlia, que recebeu o ttulo IFeltrini al Brasile, confirma a participao de moradores da Colnia nostrabalhos da ferrovia. Depois de descrever o andamento dos trabalhos daconstruo da igreja e de outras atividades da localidade, afirmou:

    Alm do que os pedreiros esto ocupados na construo da vizinhaferrovia que se est construindo, de modo que a duras fadigas se encon-tram artesos. No trecho da segunda carta, diz: A Colnia Feltrina doBrasil (referindo a Urussanga) encontra-se em bom estado, especialmen-te pelos trabalhos da ferrovia, que duram trs anos, e ganhou-se bastantedinheiro; h quem tenha um dinheirinho e tem quem tenha muito dinhei-ro; quem tenha pouco e quem no tem mais, mas todos esto mais oumenos bem com vacas, cavalos e mulas. A locomotiva assobia agora novale do Tubaro; mas dista da sede de Urussanga 25 quilmetros...3

    1. Apud. DALL ALBA, Joo Leonir. Colonos e mineiros no grande Orleans, Florianpolis, ed. Autor, 1986, p. 346.2. FERREIRA, Francisco Vieira. Azambuja e Urussanga, Niteri, Rio de Janeiro, Graf. Dirio Oficial, 1939, p. 70.3. Apud. SANTOS, Rosely Izabel Correa dos. Terra Prometida Emigrao italiana: mito e realidade, Itaja, Univali, 1998, p. 180.

    Ponte das Laranjeiras, em Cabeudas, em Laguna

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  • Quanto inaugurao do trfego, existe a verso do pri-meiro telegrafista da Estrada, Alexandrino Barreto, que afirma:

    ... O trem atravessou a ponte e prosseguiu at a esta-o local, onde saltamos eu e o meu companheiro, quevimos assistir inaugurao do trfego da TherezaChristina, marcado para o dia 4 de setembro de 1884.H quem diga que essa inaugurao teve lugar a 1 desetembro, mas, eu afirmo que foi dia 4, e o fao deconhecimento prprio, porque assisti ao ato, comotelegrafista, e passei o telegrama que o superintendentemandou ao general Beadle, presidente da Companhiaem Londres, comunicando a inaugurao do trfego...4

    Suplemento Polianta Centenria , Correio do Sul, Tubaro, 07.05.1936, p.9Em 1882, o comendador Antnio Martins Lage Filho e seus dois irmos Roberto e Amrico, formaram a firma Lage & Irmos.Neste mesmo ano, o comendador adquiriu no Rio de Janeiro a Ilha do Viana. Nesta Ilha instalou um estaleiro naval, sendoali construdas pequenas embarcaes, dando origem ao futuro imprio da firma Lage & Irmos. In BOSSLE, Ondina Pereira.Henrique Lage e o desenvolvimento Sul Catarinense, Florianpolis, UFSC, 1981.

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    Locomotiva Visconde de Barbacena

    4.5.

  • A Comisso White no Brasil

    No incio do Governo Rodrigues Alves, em 1902, em cuja pasta doMinistrio da Viao estava o catarinense Lauro Mller, foi promulgada a Lein 957, de 30 de dezembro. Essa lei, alm de garantir Estrada de FerroCentral do Brasil o consumo do carvo mineral, liberava a importncia de150.000 contos de ris para os trabalhos de estudos concernentes explora-o de minas de carvo. Valor este, elevado para 250.000 no ano seguinte.

    O ministro Lauro Mller, valendo-se deste crdito, mandou enca-minhar amostras de carvo catarinense para proceder as devidas experi-ncias, conforme a notcia divulgada em 11 de julho de 1903 pelo jornalA Gazeta, do Rio de Janeiro:

    Presidente Rodrigues Alves

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  • ... A experincia foi feita da estao central da Estrada de Ferro(Central do Brasil) a Belm, assistindo a ela os doutores Osrio deAlmeida (diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil), Silva Freire,Luiz Nbrega, Jos e Alberto de Andrade Pinto, Antnio Lage eseus dois filhos (Antnio e Jorge) e Dr. Nolasco de Almeida (...). Aexperincia deu timo resultado, sendo todos de opinio ser o car-vo de primeira qualidade ....

    Com o sucesso das experincias realizadas com o carvo catarinense,o prprio ministro fez questo de comprov-las, embarcando no trem daEstrada de Ferro Central do Brasil. Diz a notcia do jornal O Comrcio,de Laguna, do dia 25 de outubro de 1903:

    Realizou-se no dia 10 do corrente a experincia definitiva do car-vo das minas do Tubaro, na Estrada de Ferro Central do Brasil.O sr. Lauro Mller, ministro da Viao, acompanhado de grandecomitiva tomou o trem na Estao Central em viagem para SoPaulo. Foi empregado na locomotiva o nosso carvo, cujo resulta-do foi timo, sendo considerado de superior qualidade. A mquinaque serviu de experincia tomou o nome de Tubaro.

    Ministro Lauro Mller

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  • 6. GUIMARES, Djalma. op. cit. p. 68

    Entusiasmado, o ministro Lauro Mller convida a vir ao Brasil ogelogo americano Israel Charles White de Morgantown, West Virginia, afim de proceder prospeco e estudos nas minas de carvo brasileiras,em especial as de Santa Catarina. Na oportunidade foi criada, em 23 dejunho de 1904, pelo Ministrio da Indstria e Comrcio e Obras Pbli-cas, a Comisso de Estudos do Carvo Nacional, tendo na sua chefia oprprio gelogo I. C. White, como conhecido mundialmente.

    Djalma Guimares, em sua obra Geologia do Brasil, sobre essetema, assim se reporta:

    A transio da fase de pesquisa geolgica do sculo XIX para osculo XX foi marcada pela criao da Comisso de Estudos dasMinas de Carvo-de-Pedra no Brasil, da qual foi chefe o gelogoamericano I.C. White, em 1902. A Comisso White estudou as ba-cias carbonferas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tendoestabelecido as bases para o conhecimento das formaesGonduanas do Brasil Meridional.6

    Sob a orientao do gelogo e de seus auxiliares so extradas as primeiras amostras do carvo de Santa Catarina para testes e experincias nacionais

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  • O trabalho de campo de White comeou pelo municpio deArarangu, no litoral catarinense, onde foi acompanhado pelos engenhei-ros Francisco de Paula Oliveira, Esdras do Prado Seixas, Benedito Josdos Santos, Ccero Campos e Carlos Moreira, tendo esse ltimo secreta-riado os servios de pesquisa e estudos ali realizados pela especializadaequipe. Os trabalhos de pesquisa foram feitos numa extensa rea deter-minada pelo engenheiro agrnomo Polydoro Olavo Santiago, que organi-zou anteriormente o mapa scioeconmico do Sul do Estado, onde pos-sibilitou a demarcao dos lotes em terras devolutas, ento vendidos aoscolonizadores da regio.

    O ento Distrito de Cricima, que pertencia Ararangu, serviude sede para essa comisso, tendo White se hospedado na residncia doempresrio e agente dos Correios, Pedro Benedet. Nesse distrito, as ter-ras de Luiz Pirola, localizadas num pequeno afluente do rio Me Luzia,serviram para a realizao dos primeiros trabalhos de prospeco do car-vo na referida regio. A seguir, a Comisso White dedicou-se ao estudode outra rea mais prxima ao centro de Cricima, onde foi aberto umpoo de 65 metros de profundidade pelo engenheiro Benedito Jos dosSantos. No leito do rio Cricima foi encontrado um poo de trs metrosde profundidade, feito por Joo Batista Targhetta, e, a dois quilmetrosdo centro, foi encontrado um poo aberto de onde era extrado o carvoempregado nas forjas no uso domstico. Nesse local, o carvo era visi-velmente notado, chegando no nvel da gua, atingindo uma espessura dequarenta e um centmetros.

    Em janeiro de 1906, o gelogo White deu por concludo o trabalhorealizado no Brasil, principalmente na Regio Carbonfera de SantaCatarina e, cinco meses depois, retornou ao seu pas.

    Comisso White, pela contribuio de seus estudos, se deve oestabelecimento dos parmetros cientficos para o aproveitamento docarvo mineral brasileiro. Esses estudos tiveram continuidade pela parti-cipao do gelogo Francisco de Paula de Oliveira, que assumiu o seuposto na chefia da referida comisso.

    Pela repercusso desses estudos, estiveram no Brasil, em 1905, al-guns investidores americanos, a fim de adquirirem as minas do Tubaro eo prolongamento da estrada de ferro. Os investimentos partiram, princi-palmente, do americano Percival Farquhar, que chegou a conquistar oseu intento, isto , o controle das referidas minas, alm do arrendamento

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  • da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina. Aps a realizao desse neg-cio, Farquhar constituiu a empresa Brazil Railway Company, destinada aser a holding de um imprio ferrovirio que estava formando, pois j ad-quirira estradas de ferro, portos e terras no Par, Rio Grande do Sul e Riode Janeiro.

    Com o objetivo de explorar as minas de carvo, conseguiu, inclusi-ve, um contrato em moeda americana, no qual o Governo se obrigava acomprar o seu carvo. Embora sendo negcio vantajoso, mas, mesmoassim, a referida explorao do mineral catarinense no chegou a ser con-cretizada.

    No ano seguinte, Farquhar adquiriu para a empresa Brazil Railway,a Estrada de Ferro So Paulo-Rio Grande, com o objetivo de interligar oSul do Pas.

    Como se observa, quando os investidores americanos estiveram noBrasil, em 1906, j estava em curso o remanejamento de verbas no Minis-trio da Viao para a construo da ferrovia, principalmente no que dizrespeito ao prolongamento do Sul do Estado, conforme registra o Jornaldo Comrcio, do Rio de Janeiro, de 11 de junho de 1905, com a transcri-o do assunto no jornal O Dia, de Florianpolis, em 1 de julho domesmo ano:

    Ao ministro da Viao, Dr. Marcelino Ramos, j se fez entrega dorelatrio e planta dos estudos definitivos, e traado do prolonga-mento da Estrada de Ferro Dona Thereza Christina, em SantaCatarina, na extenso de 61 quilmetros, do pontal de Massiambua Vila Nova, fazendo juno inicial de Imbituba. A construo des-se prolongamento est orada em 2:928:000$000 (dois mil e nove-centos e vinte oito contos) ou 48:000$000 (quarenta e oito contos)por quilmetro. Foram feitos reconhecimentos pelos mesmos en-genheiros para melhor traado da atual estrada de ferro em direoao vale dos rios Me Luzia e Ararangu e fronteira do Rio Gran-de.

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  • As Forjas Domiciliares

    Durante a permanncia da Comisso White em Cricima, nota-va-se o uso do carvo nas forjas domiciliares. Esse procedimento ro-tineiro, muitas vezes, chegava a despertar notcias na imprensa catari-nense e nacional, como registra o jornal O Comrcio, de Laguna, nadata de 18 de dezembro de 1904, evidenciando a importncia do car-vo para a economia local: Refere-se o nosso colega (o jornal) AVrzea que o sr. ngelo Venson, estabelecido com uma importanteferraria em Cresciuma, h vinte anos, que emprega nas suas forjas ocarvo extrado naquele mesmo local e o mesmo carvo empregadopelo sr. Frederico Minato em sua mquina de pilar arroz.

    A pesquisa sobre o carvo interagia os trabalhos da ComissoWhite com os dos proprietrios das forjas domiciliares. um detalheque se pode observar no trecho de uma carta enviada pelo engenheiroagrnomo Polydoro Santiago, datada de 21 de agosto de 1914, dirigidaa Joo Genovez, filho do ferreiro Pedro Genovez, manifestando o seuinteresse pela riqueza mineral do Estado. Assim se expressa:

    Tenho a sua carta de ontem, em que o amigo me comunica queo senhor seu pai, na viagem que fez a Belluno e Cresciuma en-controu carvo, que lhe parece ser bom, pouco distante dasede do ncleo colonial, mas que s depois de experiment-lona sua oficina me dar resultado final. Peo-lhe que, por mim,muito agradea ao seu bom pai esta gentileza que me fez, dan-do-se ao incmodo trabalho de fazer a viagem quelas colnias,e as experincias que est operando. Se o carvo der bom resul-tado, o senhor seu pai que me mande amostras de uns cincoquilos, a fim de remeter ao Governo. Repetindo os meus agra-decimentos ao seu bom pai, queira abra-lo por mim. E aosenhor um abrao do amigo e criado.7

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  • Sobre esse tema, diz um trecho do editorial do jornal A Impren-sa, de Tubaro, de 12 de junho de 1921: ... Muitas vezes, na suatenda de trabalho, no silncio da sua pobre oficina de ferreiro, o se-nhor Pedro Genovez, depois de ter ele prprio extrado carvo emBelluno e Cresciuma, fazia experincias, cujos resultados eram sem-pre satisfatrios.

    O seu trabalho de pesquisa era o resultado da descoberta docarvo da regio de Cricima, ocorrida durante a Revoluo Federalistade 1893 - a conhecida Revoluo dos Maragatos e Pica-paus.8 Nessapoca, Gicomo Snego encontrou, pela primeira vez, em Cricima, ocarvo de pedra. Para torn-lo conhecido na regio entregou algumasamostras do mineral ao auxiliar de ferreiro Benjamim Bristot que, emseguida, as encaminhou ao ferreiro Pedro Genovez, morador de Pedri-nhas, municpio de Tubaro, onde o mesmo possua melhores instala-es para se fazerem experincias com esse produto.

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    Oficinas de Pedro Genovez, em Pedrinhas

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    Como se pode observar, a esperana remota de encontrar carvoda melhor qualidade no Brasil no desanimava os proprietrios de terre-nos carbonferos do Estado de Santa Catarina, que continuavam a exigirdo Governo uma legislao especfica para o seu aproveitamento.

    Essa legislao, entretanto, veio atravs da Lei n 1.617, de 30 dedezembro de 1906, que promovia, pela primeira vez, o consumo do car-vo nacional na Estrada de Ferro Central do Brasil. Empresa esta,estabelecida na ento Capital da Repblica, Rio de Janeiro.

    Nos dispositivos das novas leis, decretos e normas, promovidasnos governos de Afonso Pena, Nilo Peanha e Hermes da Fonseca, com-preendendo o perodo de 1906 a 1914, destaca-se a Lei n 2.524, de 31de dezembro de 1911, que determinava ao Governo fiscalizar a entradade carvo estrangeiro e da aplicao de carvo mineral com iseno detaxa de expediente destinado ao consumo prprio das companhias de na-vegao nacionais e estrangeiras.9

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    Gicomo Snego

    Benjamim Bristot

  • Para lvaro Luiz Bocayuva Cato, empresrio do setor carbonferode Santa Catarina, antes do conflito mundial de 1914, a minerao docarvo, no Brasil, sofria, historicamente, influncia marcante pela con-corrncia do produto importado (...). Os trabalhos iniciais da lavra spuderam tomar algum desenvolvimento nas ocasies em que faltaram ouescassearam os suprimentos externos.10

    A Imprensa, Tubaro, 12.06.1921Maragatos e Pica-paus: In. Histria do Brasil A. Souto Maior, p. 373. Os castilhistas receberam o apelido de pica-paus(pssaros que tm listras brancas no topete) porque usavam uma divisa branca em seus chapus da campanha. Os maragatosconstituem na Espanha remanescentes dos berberes que invadiram a Pennsula Ibrica. O termo maragato usado pelos pica-paus como apelido depreciativo de seus inimigos, relaciona-se com a presena de uruguaios entre as tropas de GumercindoSaraiva. Sugere, portanto, a idia de estrangeiro, de invasor.SNIEC A Legislao sobre o carvo nacional, Rio de Janeiro, 1961, p. 10Revista da ABEM, jun-1986

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    7.8.

    9.10.

    Praa central de Cricima no incio do sculo XX. esquerda, o edifcio residencial e comercial do cel. Pedro Benedet, onde foram elaborados

    os relatrios da Comisso White, a partir de 1904

  • A Comisso White, ao instalar-se no pequeno povoado deCricima, no incio do sculo passado, deu destaque, na-cional e internacionalmente, a essa comunidade, que eraconstituda de uma populao essencialmente europia, devrias nacionalidades. Isso significou a redescoberta do ho-mem europeu ali instalado, aproximando-o de outros desua origem. O resultado foi a vinda de trabalhadores ex-perientes em minerao para as minas de carvo de SantaCatarina, a partir de 1914.

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  • Captulo IV

    A Propaganda do Carvo Catarinense

    As dificuldades de importao de carvo mineral durante a PrimeiraGuerra Mundial (1914-1918) acenderam a chama deste minrio no territ-rio nacional. Aliado a esse interesse, soma-se o rpido avano cientfico etecnolgico que estava acontecendo no mundo, inclusive no Brasil, quepartiu em busca do aperfeioamento de seu nascente parque industrial.Neste contexto, destaca-se igualmente a indstria extrativa do carvo mi-neral.

    O ento recente estudo da Comisso White, concluindo que o car-vo nacional poderia ser usado como fonte de energia, levou inmeros es-tudiosos aos ambientes de discusso cientfica, comercial e poltica do pas,com o objetivo comum de encontrar a soluo para o carvo nacional. Asopinies eram controvertidas e tentavam encontrar fundamentos nos estu-dos e anlises realizadas. A imprensa acompanhou toda essa discusso, re-gistrando nesse perodo as decises do Governo Federal de tomar para si aresponsabilidade de oferecer a garantia necessria ao desenvolvimento daemergente indstria de extrao do carvo mineral no Pas. Estava iniciadauma interessante fase de propaganda do carvo nacional, sendo, inclusi-ve, exposto em vitrines comerciais na ento Capital da Repblica.

    O eng. Paulo Lacombe, no seu artigo publicado na revista BrazilFerro Carril, de 28 de fevereiro de 1917, do Rio de Janeiro, assim se ex-pressa sobre o assunto:

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  • Em princpio de 1914, o Dr. Polydoro O. Santiago, catarinense quesempre se interessou pelo carvo de seu Estado, no dispondo deao e nem de meios para pessoalmente dar impulso pela propagan-da ao carvo de Santa Catarina, enviou algumas amostras ao CentroCatarinense, nesta cidade, a fim de que essa agremiao chamasse a sio desenvolvimento da idia da aplicao industrial do carvo brasilei-ro. O Centro Catarinense, por sua vez, entregou as referidas amostrasao sr. Arthur Watson Sobrinho, que as exps nas vitrines de seu esta-belecimento comercial, na Avenida Rio Branco, n 102, esquina da ruado Ouvidor, onde estiveram em exposio durante algum tempo.Podemos afirmar que foi desde ento que comeou a nascer o entu-siasmo coletivo pelo carvo nacional.

    Apesar dos conselhos desanimadores, o empresrio, assim mesmo,levou adiante a sua proposta em divulgar o carvo catarinense.

    Na esfera do Governo Federal, nos ltimos dias do ano de 1914, asnotcias sobre o carvo de Santa Catarina comeam a merecer destaque nosambientes de trabalho do Ministrio da Agricultura, Indstria e Comrcio,as quais no demoraram a chegar s mos do prprio ministro, que, porordem do presidente da Repblica, mandou apurar sobre a convenincia,ou no, de investimentos na explorao do carvo de pedra da Regio Car-bonfera do Estado de Santa Catarina.

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  • No ano seguinte, o jornal O Estado, de Florianpolis, de 25 deagosto, registra uma sondagem, por parte de rgos do Governo, sobre apossvel venda do carvo de Cricima a empresas pblicas de gaseificao:

    No encaminhamento dessas informaes, sabe-se que quele Minis-trio foram lembradas outras jazidas carbonferas situadas no sul doEstado, figurando entre elas a mina de Cresciuma, analisada e julgadauma das mais aproveitveis, no s pela natureza do combustvel,como ainda, principalmente, pela facilidade do transporte (...). H pou-cos dias, do Rio de Janeiro, telegrafaram para Laguna pedindo infor-mar quantas toneladas mensais poderia a mina de Cresciuma fornecer Repartio da Iluminao Pblica do Rio...

    O mesmo jornal, ao abordar outras notcias sobre o tema, fez refern-cia, tambm, s experincias levadas a efeito na ento Capital da Repblica,com o carvo catarinense, afirmando:

    Mais uma confirmao do valor industrial do carvo de pedra deSanta Catarina, nos trazem as ltimas notcias do Rio de Janeiro, almdas j valiosas experincias feitas por diversas vezes sobre a hulha situ-ada prximo estao de Lauro Mller, sendo a mais concluinte eprtica a do trem da Estrada de Ferro Central do Brasil, do Rio e SoPaulo, temos agora as belas e positivas experincias feitas com a hulhade Cresciuma. Isto significa que no Sul de Santa Catarina existem pu-jantes jazidas aptas a satisfazer, por completo, todas as exigncias daindstria moderna. Assim que temos hulha, apropriadssima pro-duo de gs de iluminao, para motores, servios de forjas tipoNew-Catles e combustvel direto semelhante ao Cardiff. O que nosfalta? apenas iniciativa, quer a de particulares, quer de parte do Go-verno da Unio e do Estado. As definitivas experincias agora feitascom a hulha do afloramento de Cresciuma e o estado prspero dalavoura dessa regio, impem aos nossos dirigentes o dever de solici-tar da Unio que esta exija da Companhia So Paulo-Rio Grande,arrendatria da Estrada de Ferro Dona Thereza Christina, a constru-o do prolongamento desta via frrea, a que se obrigou pelo contra-to de 1910, muito principalmente para o Sul.

    Essas experincias confirmavam a cada dia a qualidade do carvocatarinense. O jornal O Albor, de Laguna, em 26 de outubro de 1915, des-tacava a sua preocupao quanto ao transporte para os centros consumidores:

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  • Pelo vapor Mayrink seguiu para o Rio de Janeiro a terceira expedi-o de carvo nacional, que vai ser experimentado na Estrada de FerroDona Leopoldina. Conforme j dissemos em edio anterior, torna-se fcil e econmica a expedio do carvo de Cresciuma pelo canal,que pela via frrea Dona Teresa Cristina. A distncia das minas ao canal de 25 quilmetros e o percurso de 20 quilmetros, apesar da nordes-tina que ressoava, foi feita em 15 horas. Por aqui se vem as vantagensque trar a continuao das obras do canal, que alm de ser estratgico,facilitar as relaes com o vizinho Estado do Sul e contribuir muitopara o melhoramento das nossas economias internas.

    O carvo nacional e sua propaganda faz parte do ttulo do jornalCorreio da Manh, do Rio de Janeiro, de 10 de setembro de 1917, que ddestaque a uma carta enviada pelo 1 tenente e engenheiro-maquinista na-val, Jos Gomes Couto, em agradecimento pela veiculao de suas experin-cias realizadas com o carvo nacional, em cujo teor assim se expressa:

    ...Agora, que homens do valor do Dr. Paulo de Frontin e outros seacham frente de empresas organizadas, construindo estradas de fer-ro e, simultaneamente, iniciando a explorao do carvo, no se fazmister falar tanto nesse assunto, mas sim, aguardar o fim deste ano quecorre para ver realizadas as profecias dos verdadeiros propagandistasdo nosso mineral negro, que nunca duvidaram da existncia e valor dasjazidas. Delas, fato, que alguns estrangeiros se empenharam, e aindano desanimaram, em depreciar, mas, as respostas positivas j come-aram a aparecer com esse telegrama do sr. presidente da Repblica,que, conduzido por uma locomotiva, tipo grande, percorreu sem aci-dentes e com a velocidade de 73 quilmetros hora, a distncia quesepara a Barra do Pirahy, da Vargem Alegre...

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    Embarcaes do Ponto (1906)

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  • Das Experincias Oficializaoda Regio Carbonfera

    As experincias com o carvo de Santa Catarina continuavam acele-radas. Acredita-se, pelo menos, que cerca de uma centena de toneladas decarvo catarinense serviu para os referidos testes na poca. Por exemplo, nodia 10 de julho de 1915 foram embarcadas 25 toneladas no porto de Imbituba,atravs do paquete Itaipava, completando assim a quantidade de 100 tone-ladas, conforme citao no jornal O Estado, de Florianpolis, ediode 24 de julho de 1915.

    Cada experincia realizada se constitua num momento solene, quereunia autoridades governamentais, tcnicos e tambm empresrios dos maisvariados setores do Pas, todos imbudos na soluo do grave problema docombustvel nacional.

    Nessas demonstraes de convencimento, em maio de 1915, o tenen-te-maquinista da Armada Brasileira, Jos Gomes Couto, permitiu queimar ocarvo por um processo mecnico, que facilmente eliminava as cinzas.

    As amostras do carvo catarinense foram obtidas por intermdio doempresrio Arthur Watson Sobrinho, a quem o presidente do Centro Catari-nense, do Rio de Janeiro, solicitou para tambm poder assistir ao grandeevento.

    O Centro Catarinense era a entidade que representava os interes-ses do Estado na Capital da Repblica. A pedido dessa entidade, o gover-nador de Santa Catarina, Felipe Schmidt, enviou trs toneladas de carvo deCricima, com as quais se realizaram as experincias nas caldeiras do empre-srio Cozzetti, na rua Treze de Maio, n 31, em 16 de julho. Estavam presen-tes ao acontecimento, alm do prprio governador, que representou tambmo chefe da nao, Rivadavia Corra, prefeito da cidade do Rio de Janeiro,almirante Alexandrino de Alencar, ministro da Marinha, e outras autorida-des.

    Outras experincias foram realizadas em lanchas e tambm em pe-quenas caldeiras, cujo trabalho foi orientado pelo tenente Gomes Couto.

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  • J no dia 5 de julho, na presena do presidente da Comisso do Carvodo Clube de Engenharia, contra-almirante Jos Carlos de Carvalho, e de outrostcnicos e empresrios, tinha sido realizada a experincia na barca ComendadorLage, cedida Companhia Grelhas Econmicas do Brasil, com 5 toneladas decarvo de Cricima. Essa experincia foi registrada numa revista especializadasob o ttulo O aproveitamento do combustvel nacional.

    Enquanto se iniciava o desenvolvimento da extrao do carvo mine-ral na Regio Carbonfera de Santa Catarina, simultaneamente as empresasnacionais de transporte ferrovirio e de navegao buscavam aliados para oexperimento do novo combustvel brasileiro. Diante dessa realidade de es-cassez do carvo importado, os jornais davam destaque s experincias:

    Pouco depois do meio-dia entrou em nosso porto, vindo de Florianpolise escalas, o paquete nacional ANNA, no qual foi feita a maior experin-cia do carvo nacional, pois aquele veio de Laguna at aqui, em sete dias,queimando exclusivamente o combustvel das minas de Urussanga, doEstado de Santa Catarina, de propriedade do Dr. Pio Corra (...). O Dr.Pio, para bem demonstrar a enorme riqueza que possumos e no explo-rada, retirou trinta toneladas de carvo daquela mina, transportou-o emcarros de bois at a estrada de ferro, e da at o litoral. A ofereceu companhia proprietria do ANNA o carvo, para vir at ao Rio. Des-de Laguna at aqui foi o carvo queimado e com os melhores resultados,segundo nos declarou o comandante daquele paquete, capito ArthurLopes Calado. As duas horas da tarde chegou a bordo uma comisso detcnicos, composta dos senhores: Drs. Pacheco Leo, diretor do JardimBotnico; Jos Bevilqua, do Ministrio da Guerra; Luiz Felipe Gonzagade Campos, diretor do Servio Geolgico Brasileiro; Jlio Koeller, ins-petor geral da Viao Martima e Fluvial; comandante Taylor do Minist-rio da Marinha; J. Lallement, diretor da Companhia de NavegaoHoepcke; Gasto de Azevedo Villela, David Draper, Tobias Moscoso,Joseph de Jaegher (e outros).1

    Essas personalidades, ao chegarem a bordo do paquete ANNA, fo-ram recebidas pelo empresrio e naturalista Manoel Pio Corra, pelo coman-dante do paquete, Arthur Lopes Calado, pelo maquinista-chefe, capito VictorPetters e seu auxiliar, comissrio de bordo, Carlos Souza Martins, que lhesapresentou o novo combustvel de Santa Catarina.

    A bordo do navio ANNA essa comisso de alto nvel tcnico pdeconstatar e observar as experincias feitas com o carvo das minas deUrussanga. Propositadamente realizou-se uma viagem pelos mares do Rio deJaneiro, atracando posteriormente no Armazm 11 do cais, deixando as me-lhores impresses sobre o uso desse carvo mineral.

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  • A excurso pelas guas cariocas teve completa cobertura da imprensada Capital Federal. Ali compareceram os seguintes jornalistas: Drio de Men-dona e Paulo Pereira, do Jornal do Comrcio; Eustquio Alves, do jornalA Noite; Noronha dos Santos, do jornal A Lanterna; Mrio Antunes, dojornal Gazeta de Notcias; e Roberto de Macedo, do jornal A Razo.

    Mais tarde, pelo sucesso de sua odissia, Pio Corra promove novas expe-rincias, desta vez, tambm com o carvo de Cricima. O primeiro foi a bordo dovapor MAX da Companhia de Navegao Hoepcke, fazendo inmeras via-gens pelas guas atlnticas do Sul, no percurso de Laguna a Florianpolis, jconquistando um mercado mais seguro.

    Fazendo valer o seu prestgio junto ao Ministrio da Marinha, Pio Corraconseguiu realizar suas experincias com o uso do carvo tambm extrado deCricima, a bordo do contra-torpedeiro Mato-Grosso, sob a direo do capitode Mar e Guerra, Motta Porto. At ento, jamais, em qualquer poca, ningum,nem mesmo ferreiros, fez qualquer uso do carvo de Urussanga. Foi, pois, umaverdadeira temeridade o emprego a bordo de um paquete de passageiro de umcombustvel do qual no se conhecia sequer uma anlise.2

    O carvo de Urussanga tambm foi utilizado pela primeira vez numa loco-motiva da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, cuja empresa colocou dispo-sio dos empreendedores um trem especial de carga, que fez o percurso entre asestaes de Palmeira e Laguna, numa distncia aproximada de 65 quilmetros.

    Essas experincias se processavam de forma constante em diversos naviosda frota brasileira, aps sofrerem adaptao para o uso do combustvel slidonacional, conforme se observa no noticirio carioca:

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  • ...Acabam de ser efetuadas experincias preliminares de uma nova dispo-sio de grelhas para a utilizao do carvo nacional no vapor Mercedes,do Lloyd Brasileiro. Essas experincias foram presididas pelo comandantee diretor-tcnico daquela empresa. Pelos resultados obtidos, verifica-se quea nova grelha precisa apenas de pequenas modificaes para prestar timosservios na queima daquele combustvel nos navios de nossa MarinhaMercante. Tais modificaes sero feitas, e as experincias definitivas seroefetuadas dentro de pouco dias. O resultado j conseguido foi animador.... 3

    Nessa mesma poca, outras informaes chegavam atravs da imprensa,com relao aos novos mtodos utilizados para o aproveitamento do carvo mi-neral, conforme registra o jornal A Gazeta, do Rio de Janeiro, na edio de 23 desetembro de 1917:

    O Especial do Diretor da Central veio desde a Barra do Pirahy at aestao inicial puxado por uma mquina Brodck, j transformada para oconsumo do carvo nacional pulverizado. Tivemos assim no s a curiosi-dade de observar, de perto, todos os maquinismos apropriados para aque-le fim, como tambm o ensejo de conversar com o senhor FranciscoSellmann, maquinista-mecnico da Estrada. Disse-nos o senhor Sellmannque o emprego da hulha nacional tem dado os melhores e surpreendentesresultados no s quanto fora calorfica que a mesma produz, comotambm pelo dado econmico, quanto ao consumo (...), a diferena deconsumo do carvo pulverizado para o carvo bruto de seis quilos (...),enquanto um quilmetro, pelo processo antigo, consumia dezoito quilos decarvo de pedra, atualmente a mesma distncia absorveu doze quilos...

    A cada descoberta de jazidas carbonferas, em Santa Catarina, aumentavaa expectativa de progresso entre a sua populao. Aos seus empreendedores ca-bia, portanto, submeter o seu produto s experincias, que eram realizadas emtrens, navios e a iluminao pblica, como registra o jornal A Verdade, de Tuba-ro, de 9 de maio de 1921:

    ...De experincia em experincia, foi o nosso ouro negro gradativamentese impondo at que hoje no h mais sobra de dvida do seu valor eaproveitamento. Exploradas as jazidas de Lauro Mller e Paulo de Frontinneste Estado, no descansaram os profissionais em descobrir outras jazidas.Assim foi que h cerca de seis meses, em uns terrenos particulares entreCresciuma e Urussanga, encontraram uma grande jazida. Feita a extraodas primeiras toneladas do precioso mineral para a indispensvel experin-

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  • cia, esta foi coroada de xito (...). Agora mesmo o paquete MAX da em-presa de navegao Hoepcke fez experincia desse carvo, que foi reputa-do superior ao de todas as minas deste Estado, como a do Rio Grande doSul e do Paran...

    Depois desse sucesso, novas experincias foram feitas no Rio de Janeiro,conforme diz o jornal A Imprensa, de Orleans, de 10 de dezembro de 1922:

    Na Barra do Pirahy acaba de ser realizada experincia do carvo deCresciuma, isto , das minas de Ararangu. A mquina 273, queimando car-vo pulverizado, fez um percurso de Belm a Barra do Pirahy, no horriodos trens rpidos, dando magnfico resultado. Viajaram na mquina, os Drs.Tavares Leite, chefe do depsito da Central do Brasil, Ernani Cotrin e HenriqueLage. O pessoal mostrara-se entusiasmado com a experincia, parecendoresolvido o problema do aproveitamento do carvo nacional.

    O engenheiro Francisco Lessa, depois de acompanhar outras experinciasrealizadas pela Estrada de Ferro Central do Brasil, comunicou ao ministro daViao, sobre o sucesso da viagem. Diz no seu documento:

    ...Tendo a American Locomotive Company introduzido algumas modi-ficaes na locomotiva 370 da Central do Brasil, de modo a torn-la apta queima de carvo nacional, procuramos realizar mais uma experincia deacordo com o programa de V. Exa. partindo da estao inicial da Centralnum trem rebocando 220 unidades e subindo a serra em debanda daBarra do Pirahy onde acabamos de chegar com xito. Esta mais umaprova de que o problema da combusto do carvo nacional em grelhasadaptadas est completamente resolvido, restando apenas solucionar a parterelativa ao transporte para que nos libertemos da importao do combus-tvel estrangeiro. Peo a V. Exa. que aceite as minhas congratulaes junta-mente com a dos meus companheiros Drs. Edgar Werneck, Csar Grillo,Tavares Leite e Paranhos Fontenelle.4

    1. O Imparcial, Rio de Janeiro, 25. 04. 19172. A Razo, Rio de Janeiro, 25. 04. 19173. O Jornal, Rio de Janeiro, 02. 02. 19174. A Noite, Rio de Janeiro, 07. 12. 1923

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  • Com a finalidade de oficializar as regies carbonferas do Pas e darorganizao aos servios de pesquisas e, sobretudo, s experincias realiza-das com o carvo nacional, ento em andamento, o Governo designou umacomisso chefiada pelo diretor do Servio Geolgico do Ministrio da Agri-cultura, Luiz Felipe Gonzaga de Campos, para o levantamento das jazidasdos trs Estados do Sul.

    Concludo o trabalho de campo, em 28 de fevereiro de 1918, o resul-tado desses estudos foi publicado oficialmente.5

    Em Santa Catarina os estudos foram realizados a partir das cabecei-ras dos rios Tubaro, Me Luzia, Ronco Dgua e Urussanga, sendo deta-lhadas passo a passo as camadas carbonferas ali existentes, de acordo como gelogo, que afirma:

    Com grande satisfao encontramos dois desses distritos em francoperodo de lavra inicial. Em Tubaro os srs. Lage & Irmos traaramgalerias na camada barro branco em conexo com os antigos tra-balhos da primitiva companhia inglesa (...). A extrao atualmente de 60 a 70 toneladas dirias, mais do que permite o transporte atual-mente feito em carros de bois. Pronta a linha frrea, facilmente obte-ro 300 ou 400 toneladas de produo diria, e podendo iniciar alavra de outros campos, que atualmente investigam, por meio de son-dagens bem orientadas.6

    Depois de descrever as caractersticas do carvo que estava sendoextrado na regio de Lauro Mller, nas cabeceiras do rio Tubaro, a comis-so do governo deu incio ao trabalho na regio de Cricima, que tinha nomomento uma produo limitada. Mas para aument-la, segundo a opiniode Gonzaga de Campos, dependia exclusivamente da construo de umaestrada de ferro. Entretanto, sem esse meio de transporte e com a produopor ele observada, o estoque de carvo nas cercanias das minas vinhaaumentando dia-a-dia.

    Para atender demanda do Pas, o transporte do carvo de Cricimavinha sendo entregue precariamente atravs do porto intermedirio de em-barque de Jaguaruna, instalado na conhecida localidade de Ponto. Ali ocarvo chegava por um sistema de transporte ainda rudimentar o carro deboi.

    Dando destaque qualidade do carvo da regio de Cricima, Gonzagade Campos afirma:

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  • Em Cresciuma, h um fato notvel, que constitui verdadeiro marcode progresso, o mais poderoso recurso para acreditar e radicar oemprego do carvo nacional que, em breve, servir de norma atodos os campos de lavra. O carvo extrado quebrado e lavadoem aparelhos bem dispostos, de modo a aumentar-lhe de muito ovalor comercial. Esta aplicao do enriquecimento por lavagem mostrao alcance da alta mentalidade que tem a direo geral da exploraodas jazidas e a da construo do sistema ferrovirio que vai servirquela produtiva regio. No dia que aparecer no mercado o carvolavado de Cresciuma, comear uma nova poca; e todas as empre-sas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul sero obrigadas aseguir a mesma rota que at agora tm evitado por falta de concor-rncia. um esforo digno de todos os elogios. O professor DavidDraper, distinto gelogo, quem primeiro delineou a estrutura da fricado Sul, conhecedor dos campos carbonferos daquele Continente, eque bem viu como pelo enriquecimento se conseguiu fazer um car-vo ruim e repetidamente abandonado, um combustvel que satisfazas necessidades da regio(...) est pessoalmente dirigindo a lavra e apreparao mecnica (...). A camada de carvo explorada, no Snego,no vale do rio Sango ter todas as caractersticas da camada barrobranco do Tubaro.7

    Na regio de Urussanga, o gelogo Gonzaga de Campos, na sua es-calada empreendedora, no havia encontrado ainda a lavra do carvo, ecomenta:

    Existem no Vale do Rio Amrica algumas galerias traadas na ca-mada barro branco que serviram para extrao de talvez perto deuma centena de toneladas, empregadas em experincias e ensaios in-dustriais, em geral coroadas de sucesso (...). No Vale do Rio Deserto,afluente do rio Caet, esto os afloramentos da camada barro bran-co (...). Do rio Caet (...) temos visto amostras que acusam um car-vo igual, seno superior ao do rio Amrica... 8

    Depois dos estudos realizados nessa regio, o gelogo seguiu paraTreviso. Ali pesquisou algumas camadas de carvo da prpria localidade etambm dos rios Pio e Morosini, cuja regio, em agosto de 1906, foi tam-bm pesquisada pela Comisso White. Neste vale do rio Me Luzia tam-bm foram estudados os veios carbonferos das margens dos rios Jordo eManin.

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  • Esses estudos realizados na Regio Carbonfera de Santa Catarina,por Gonzaga de Campos, foram objeto de destaque na palestra proferidano Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, em 1918, pelo seu presidentePaulo de Frontin:

    ...As experincias feitas nesse sentido foram em todos os pontosfavorveis, tendo obtido 500 quilos de coque metalrgico, que foramenviados ao diretor do Servio Mineralgico do Ministrio da Agri-cultura. No so experincias de laboratrio, como se v pela quanti-dade obtida. Ao ministro da Agricultura foram tambm remetidas30 toneladas de carvo para serem enviadas a Sucia, a fim de seremsujeitas transformao em fornos apropriados. Se o xito das expe-rincias j feitas se confirmar, mais uma vez aplicao ter o carvonacional e a siderrgica brasileira contar com um dos elementos quepor completo lhe faltava. Considero superadas as dificuldades ine-rentes a essa indstria; no lhe falte apoio, quer oficial, quer particulare estar vencida a campanha que, iniciada em 1840, s prejuzos edecepes deu at 1915.9

    No local das galerias ou encostas de onde se extraa o carvo, osassuntos principais norteavam-se pelas grandes experincias realizadas comesse mineral. David Draper, engenheiro ingls, encarregado da CompanhiaBrasileira Carbonfera de Ararangu, ao conceder uma entrevista ao jornalFolha do Sul, de Laguna, em agosto de 1918, para a qual serviu de intr-prete o historiador e professor catedrtico Aristides Souto Maior, afirmou:

    ...Os trabalhos foram principiados em 16 de julho findo, com n-mero pequeno de trabalhadores. Agora, porm h nmero suficien-te