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A IMPLANTAÇÃO DA LEI Nº 10639/03, MODIFICADA PELA LEI Nº
11645/08, EM UMA ESCOLA DA REDE ESTADUAL, NO ENSINO
FUNDAMENTAL, NA CIDADE DE CURITIBA, PARANÁ.
Resumo Tânia Mara Pacifico
Este estudo analisou as implicações da implantação da lei n.º 10639 de 9 de janeiro de 2003, modificada pela lei nº11645/08. Na condição de pedagoga negra, discuto a ação dos professores como mediadores nas questões relacionadas à diversidade racial nas escolas e comunidades. Analisou-se a implementação da Lei n.º 10639/03 e seus delineamentos, buscando entender as possibilidades de intervenção para permanência e sucesso dos alunos aos negros no Ensino Fundamental Público. Objetivos correlatos: a) o incentivo aos professores para utilizar em seus planos de ação e em sua prática pedagógica, a História da África e Cultura Africana, buscando despertar nos alunos negros, auto-estima e reconhecimento de seu valor na formação histórica e cultural do Brasil; b) a discussão e debate com o grupo de professores, por meio de estratégias pedagógicas, de formas de realização das propostas de ensino de História e Cultura Afro-Brasileira. Foi feita uma análise documental da lei e como os delineamentos da lei se refletem na prática escolar. O referencial teórico que subsidiou as análises se pauta na legislação vigente (lei 10639 modificada pela lei 11645/08; Parecer 03/04 do Conselho Federal de Educação; Deliberação 04 do Conselho Estadual do Paraná) e em estudos que analisam na perspectiva crítica as desigualdades raciais (por exemplo Andrade, 2002; Cavalleiro, 2001; Giroux, 1999; Lopes 2006; Paixão, 2006; Rosemberg, 1998; Silva, 2005).Concluiu-se que a resistência dos professores dificulta a implementação da lei, mas que através da sensibilização deles pela temática o resultado contribui para valorização da contribuição dos negros para formação do Brasil. Palavras chaves: lei n.º 10639/03, educação, cultura afro - brasileira, auto estima, História da África. INTRODUÇÃO
O termo raça é utilizado em consonância com as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004) que o define como
construído nas tensas relações sociais estabelecidas entre brancos e negros e
é muitas vezes utilizado para informar características físicas como cor da pele,
cabelo e não no sentido biológico.
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O racismo é definido como um comportamento, uma ação que é
resultado da aversão, algumas vezes ódio, para com as pessoas que tem uma
pertença racial que é possível observar, por meio de traços como cor da pele,
tipo de cabelo, forma dos olhos, entre outras, resulta da crença da existência
de raças ou tipos humanos superiores e inferiores, na tentativa de se impor
como única ou verdadeira (MUNANGA & GOMES, 2006).
No Brasil o preconceito em relação a negros tem características bem
específicas, ele ocorre principalmente levando-se em consideração o fenótipo
das pessoas, ou seja, características físicas aparentes, tais como cabelo, cor
de pele, formato da boca, do nariz. Diferente do que ocorre nos Estados
Unidos, onde o preconceito é determinado particularmente pela origem
(descendência). A “one drope rule”, ou seja, regra de uma gota de sangue
indica que uma pessoa pertence à raça negra, mesmo que não apresente
aparência física. O conceito racismo de “marca” foi concebido por Oracy
Nogueira, para diferenciar o Brasil dos Estados Unidos (MUNANGA, 2006).
A prática do racismo é histórica e foi construída socialmente nas
relações sociais e pelas relações de poder que se fizerem presentes nos
diferentes modelos sociais organizados historicamente (seja ele por raça, etnia,
opção sexual, entre outras).
A PROBLEMÁTICA DO RACISMO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
O Brasil é um país historicamente formado por uma diversidade de
grupos étnico-raciais, e com isto, pluralidade de crenças, costumes, entre
outros. Entretanto, é muito presente o racismo em suas diferentes formas de
expressão. Este é um país com baixo desenvolvimento social, econômico e
político e com graves problemas nas questões relacionadas à saúde,
habitação, saneamento e educação. A população pobre é que mais sofre as
conseqüências desta realidade. As condições sociais desta população que, em
número significativo, por determinações históricas, se constituí principalmente
do grupo de negros, tem também ocasionado condições precárias no processo
de escolaridade, traduzidas no baixo nível de formação, nas más condições de
estrutura e organização e em diversas formas de discriminação dentro e fora
da escola.
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É preciso discutir até que ponto o racismo influência o desempenho
escolar no ensino brasileiro. Na infância as práticas discriminatórias podem
deixar seqüelas muitas vezes difíceis de serem sanadas. A delicadeza da
temática e sua gravidade tornam a discussão a respeito do assunto tensa. As
relações estabelecidas no âmbito escolar, no que se refere ao ensino
aprendizagem, não deixam dúvidas de sua complexidade, em se tratando da
temática racial. As relações raciais na escola são, via de regra, movidas por
uma invisibilidade, por parte da maioria dos professores e da comunidade
escolar.
Quando se propõe uma discussão com os professores, ela gera na
maioria das vezes, tensão e desconforto. Muitos preferem silenciar, ao invés de
enfrentar o problema. Alguns chegam a negar a existência de racismo na
escola. “A ausência de iniciativas diante de conflitos raciais entre alunos e
alunas mantém o quadro de discriminação. Diante desses conflitos o “silêncio”
revela conivência com tais procedimentos (CAVALLEIRO, 2001, p.153). Um
passo importante em busca de uma educação anti-racista é reconhecer a
existência de atitudes discriminatórias na escola e dar atenção quando essas
atitudes ocorrerem. O silêncio muitas vezes pode levar o aluno a se sentir
abandonado, sem o apoio de uma pessoa, que neste momento deveria fazer
algo para confortá-lo e fortalecer sua estima. A falta de ação leva por vezes, a
revolta, e o aluno passa a ser considerado violento, adquirindo o esteriótipo de
agressivo e a violência racial que ele sofreu é desconsiderada. Os diretores,
pedagogos e professores precisam ser sensibilizados para a gravidade deste
problema, que pode deixar seqüelas, que podem acompanhar até a vida adulta
deste aluno.
Na escola em que foi realizada a intervenção, o corpo docente é
formado por 9 (nove) professores dos quais duas professoras são negras. Foi
ofertado no ano de 2007, um curso de extensão em parceria com a
Universidade Federal do Paraná, através do NEAB (Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros), sob a coordenação de Paulo Vinícius Baptista da Silva e com a
minha co-coordenação. O curso foi ministrado por mestres, doutores e
pesquisadores da temática ligada a História da África e cultura Afro-brasileira,
totalizando 24 horas. A participação dos professores foi significativa (5
participaram ) e ao final do curso receberam o livro:Notas de história e cultura
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afro-brasileiras. Orgs. Hilton costa & Paulo Vinícius Baptista da Silva. Ponta
Grossa, Editora UEPG/UFPR, 2007. O curso foi organizado seguindo o descrito
a seguir:
Dia 04/10/2007 - Prof.Dr. Paulo Vinícius Baptista da Silva – Brasil segundo
maior país com população negra, só é menor que a população da Nigéria. A
Europa é considerada como centro da civilização, a África considerada como
inferior. Ponto de vista dos europeus etnocentrismo; olhar reduzido e redução
da riqueza dos povos. Na África – ausência de civilização. Relacionam o Egito
não com a África e sim com o Oriente Médio. Etiópia- país de fome endêmica.
Reino de altíssimo desenvolvimento mesmo comparado á Europa, no início do
século XX – ausência de desadaptado social – aprendiam as regras morais
com os pais, toda noite. Foi um reino de abundância durante séculos.Não tinha
grandes impérios, era um poder dissolvido entre as pessoas. O sistema político
era formado por clãs, família ampla, todas as decisões eram tomadas em
conselho, nas assembléias. Nelson Mandela líder da África do Sul, resistência
fortíssima. Sistema de resistência, apesar da repressão; luta contra o
Apartheid. Existe desenvolvimento tecnológico em muitas cidades; exploravam
minas. Bateia é um instrumento tecnológico, criado na África.
Cam era um dos filhos de Noé. Cam causou a ira do pai ao ver sua nudez é foi
banido de Canaã, foi habitar a palestina, tornou-se um filho renegado de Noé.
Os africanos foram considerados pelos s católicos, durante um período
histórico, como descendentes de Cam – não tem alma. É importante
resignificar a História da áfrica e Afrobrasileira, para deixar de associá-la a
pobreza e ausência de civilização. No Paraná na metade do século XIX , 45%
da população era negra. Existe a necessidade de reconhecer o legado deixado
pelos negros, muito além do trabalho escravo. Em Palmares a política era
organizada. Nas rotas de comércio dos quilombos, formava-se uma rota
paralela, que faziam trocas com quilombos e a cidade. O café é um produto
etíope, os imigrantes italianos não eram aptos para trabalhar com o cultivo do
café.
Os pais contavam as crianças após o jantar, fábulas- tradição oral. Fábulas de
Êsopo, são asiáticas e africanas.
As religiões de matriz africana são um problema no Brasil. Não dá para falar de
História da áfrica sem falar de discriminação sofrida pelos seguidores das duas
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formas principais – Candomblé e Umbanda. A experiência em freqüentar o
Candomblé e a Umbanda é realizada por brancos e negros, tornando-se um
espaço privilegiado de integração.No século XVI e XVII os portugueses ao
conquistarem o litoral africano, consideravam , sob o ponto de vista deles, que
os africanos cultuavam o diabo. Orixá – deuses com uma parte humana e uma
parte divina, não existe a entidade deus, existe uma força criadora, que usa os
orixás para se comunicar com as pessoas.
A mulher africana apresenta sexualidade avançada no que diz respeito aos
europeus.
Tese de doutorado – Relações raciais em livros didáticos de língua portuguesa.
Realiza pesquisas no NEAB, sobre o negro no discurso midiático.
Dia 17/10/2007 - Mestrando da UFPR – Sérgio do Nascimento – Filme Vista a
Minha pele e discussão sobre esteriótipo nos livros didáticos. Citou Florestan
Fernandes, Caio Prado e Otavio Ianni. Ressaltou o Mito da Democracia racial,
que foi defendido por Gilberto Freyre e incorporado por políticos e por uma
grande parcela da população brasileira, e discutiu com os professores essa
falsa idéia, pois, segundo ele não existe uma democracia racial no Brasil, pois
as oportunidades não são as mesmas; negros e brancos soa iguais perante a
lei, mas no cotidiano situações de racismos são vividas diariamente e o índice
de desemprego, escolaridade não são os mesmos, demonstrando que a raça
negra ocupa os piores empregos, o menor índice de escolaridade. O
movimento negro também foi lembrado e a importância de sua luta para as
conquistas relacionadas a educação.
Num segundo momento falou sobra à lei e depois sobre formas simbólicas de
representação do negro, beleza, cabelo, alimentação e depois falou sobre
comportamento civilizado e comportamento de barbárie. Destacou a estrutura
de pensamento histórico social econômico e disse que surgem sutilezas, que
são demonstrados em alguns filmes como a Negação do Brasil e o Vista minha
pele. Falou sobra à invisibilidade do negro.
Dia 07/11/2007 - Mestre Hilton Rocha – Literatura – século XIX – Brasil
estava sendo inventado enquanto nação; não existia rede de ensino, só os
estabelecimentos da igreja Católica, Faculdades Direito – São Paulo e Recife,
Medicina – Bahia e Rio de Janeiro. Os formados migravam para outras áreas,
como a política. Fica evidenciado no século XIX, um projeto de nação. Os
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alunos ao lerem literatura do XIX acabam tendo acesso a um projeto de
nação.Misogênia e racialismo fruto da literatura do século XIX, legítimo no
referido século. País século XIX, três coisas: um território, uma língua e um
povo. Memórias de um sargento de Milícias, novela Cobras e Lagartos-
Foguinho representado pelo ator Lázaro Ramos, retrata a malandragem.
Adriano Morais – intelectual negro, Mario de Andrade – negro. O retrato de
Machado de Assis vai sendo representado cada vez mais branco.
Macunaíma – Mario de Andrade – as pessoas se identificam com ele. O Brasil
tem uma cultura do não trabalho formal. Mestiço – grande guarda –chuva das
relações raciais no Brasil.
Dia 14/11/2007 – Estagiários NEAB – Neli Gomes e Wellington Santos
Fizeram uma oficina, distribuindo para três grupos de professores, os jornais de
circulação no Paraná: Gazeta do povo, Estado do Paraná e a Tribuna, além de
revista. Pediram para os professores selecionarem em que partes dos jornais
apareciam pessoas negras. Os professores constataram que pessoas negras
aparecem, na coluna de esportes, ás vezes músicas e na parte policial.
Perguntaram aos professores se havia racismo na escola em que atuavam,
eles foram unânimes em dizer que não. Como sou pedagoga do
estabelecimento, argumentei que já atendi vários casos de racismo. Alguns
voltaram atrás e disseram que resolvem os problemas na própria sala de aula,
sem dar a importância devida ao problema (meu ponto de vista). Os estagiários
falaram sobre a pesquisa que desenvolvem sob a orientação do Prof. Dr. Paulo
Vinícius da UFPR, que é sobre o negro no discurso midiático, analisando os
jornais. Relataram que são alunos cotistas e do orgulho de participar dessa
política afirmativa, o que gerou um certo constrangimento, pois alguns
professores são contra e questionaram as cotas. O estagiário Wellington,
amenizou a situação e disse que não era esta a questão a ser discutida.;
retomou a discussão e passou um vídeo, retratando pessoas negras que vivem
em Curitiba, um artesão do Largo da Ordem, que expressou as dificuldades de
ser negro nesta cidade; uma modelo que é carteira e alguns alunos falando
sobre a questão racial.
Dia 21/11/2007 – Mestre Ana Lúcia Martins – Passou o Filme Mentes
Perigosas e realizou uma análise posterior sobre como os personagens negros
e de origem espânica foram representados no filme. Está análise foi feita com
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base no texto de Henry Giroux – Por uma pedagogia e política da branquidade.
A professora Ana Lúcia, forneceu uma síntese do texto para os professores e
discutiu alguns tópicos, entre eles, de como os personagens negros foram
representados como marginais e violentos, tendo como única salvação uma
professora branca. Falou sobre o conceito de branquidade.
Dia 28/11/2007 – Professora PDE – Tânia Mara Pacífico – Filme Kiriku e
a feiticeira, Direção: Michel Ocelot. Estudo de sugestões de atividades
formulada pela Professora Ana Cristina Fínculo Miguel da Escola Estadual
Guerino Veodato em Matão, São Paulo.
O filme kiriku e a feiticeira traz todo o fascínio da tradição africana numa
história que celebra a coragem, a curiosidade e a astúcia, baseada em uma
lenda da África Ocidental sobre uma comunidade submissa a uma terrível
feiticeira.Nesta aldeia nasceu Kiriku, para lutar contra o mal, representado pela
feiticeira. A princípio, mesmo seus companheiros riam de seu tamanho,
demorando a reconhecer nele sua coragem, esperteza e sabedoria, no entanto
Kiriku enfrenta o poder de Karabá, a feiticeira, e seus guardiões, esculturas
conduzidas pela força mágica do espírito do mal. Enquanto seus companheiros
guiados pelo Contador de histórias morrem de medo da feiticeira, Kiriku tem
coragem para enfrentar o mal e aprende em sua luta, que a origem de tanta
maldade é o sofrimento e só a verdade, o amor, a generosidade e a tolerância
aliados a inteligência são capazes de vencer a dor. Um desenho animado
moderno e encantador que fala a língua das crianças sem subestimar a
inteligência de adultos e crianças. Foram analisadas 10 atividades sugeridas
pela professora, contendo sugestões práticas, para uso em sala de aula.
Dia 12/12/2007 – Professora PDE – Tânia Mara Pacífico. Filme Quanto
vale ou é por quilo? Direção; Sérgio Bianchi.
Sinopse: Uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual
exploração da miséria pelo marketing social, que forma uma solidariedade de
fachada. No século XVII um capitão-do-mato captura uma escrava fugitiva, que
está grávida. Após entregá-la ao seu dono e receber sua recompensa, a
escrava aborta o filho que esperava. Nos dias atuais uma ONG implanta o
projeto Informática na Periferia em uma comunidade carente. Arminda, que
trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram
superfaturados e, por causa disso precisa agora ser eliminada. Candinho, um
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jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel
para conseguir dinheiro para sobreviver.
Neste dia a discussão foi envolvida por uma tensão. O filme retrata cenas
fortes da escravidão e preconceito, o que causou constrangimento entre os
professores, que procuravam desviar o foco da discussão, que deveria ser
sobre racismo e as crueldades da escravidão. Eles insistiam em falar sobre
corrupção no Brasil. Foi possível notar como é difícil estabelecer a discussão
sobre a temática racial com os professores, que preferem negar a existência de
racismo no Brasil, demonstrando acreditar no mito da democracia racial,
fugindo para não enfrentar o problema.
Dia 17/12/2007- Mestre Abel Ribeiro dos Santos. Apresentou sua
dissertação de Mestrado defendida na UFPR no Programa de Pós –graduação
em Sociologia- Setor de Ciências Humanas Letras e Artes. Título: Educação e
relações raciais - um estudo de caso. Iniciou cantando uma música de lamento
sobre a situação de Angola, fez uma dinâmica de sensibilização, para iniciar
essa temática que segundo ele é negada na escola, ou seja o racismo.
Passou para os professores um resumo sobre a dissertação. Segue resumo:
Este trabalho tem como pano de fundo as relações em âmbito nacional em
relação ao tema relações étnico-raciais no Brasil. O foco central de estudo são
as relações raciais e as práticas educativas de professores, especificamente
em Curitiba. A partir de uma abordagem qualitativa de natureza interpretativa,
foram entrevistados profissionais pedagogos, professores, funcionários e
alunos para saber como se dão as relações étnicos-raciais na escola. Analisa-
se ainda, in fine, como as práticas docentes têm contribuído para a discussão
do papel da escola (problematização/reprodutora) em relação às práticas
discriminatórias a negros no ambiente escolar.
CAMINHOS PARA UMA AÇÃO ANTI-RACISTA
Estudos demonstram que mesmo em famílias, em que os irmão são
fenotipicamente diferentes, o aluno com fenótipo com características da raça
negra, pode apresentar pior rendimento escolar do que o irmão branco. Ao
terem o desempenho educacional comparados, irmãos de cor diferente (irmãos
brancos em comparação com pretos ou pardos); os irmão brancos apresentam
maior possibilidade que os irmãos negros, de apresentar rendimento adequado
9
a idade série, conforme dados do censo de 1991 (SILVA, 2005). Tendo em
vista que pertencem à mesma família, e tiveram a mesma criação, a explicação
se desloca para o racismo sofrido no ambiente escolar.
O discurso de que vivemos, no Brasil, uma democracia racial, é
enfatizado na escola, mas já passou da hora da descontrução desse mito;
muitos autores vêm trabalhando nesse sentido (PAULO SILVA, 2005;
CAVALLEIRO, 2001; MUNANGA, 2006).
O mito da democracia racial, baseado na dupla mestiçagem biológica e cultural
entre as três raças originárias, tem uma penetração muito profunda na
sociedade brasileira: exalta a idéia de convivência harmoniosa entre os
indivíduos de todas as camadas sociais e grupos étnicos, permitindo às elites
dominantes dissimular as desigualdades e impedindo os membros das
comunidades não-brancas de terem consciência dos sutis mecanismos de
exclusão da qual são vítimas na sociedade (MUNANGA,2006, p.89).
A idéia, de que o Brasil, vive em uma democracia racial, foi defendida
por Gilberto Freire, sociólogo, em seu livro Casa Grande e Senzala e persiste
até os dias atuais. Mas a população negra sofre na pele no dia-a-dia uma série
de situações envolvendo humilhações e privação de seus direitos, fatos que
acontecem com freqüência também na escola; de forma velada mas muitas
vezes explícita, reforçando e naturalizando a inferioridade da população negra.
Encontramos na literatura alguns exemplos: “Aparecida, 11 anos, negra,
afirmou não gostar de Glauber, um colega de sala, porque „ ele é enjoado... fica
me chamando assim de baleia, de negona, de pretona‟. A reação de Aparecida
diante disso é : Eu finjo que não escuto” (FAZZI, 2006, p. 178). Ao comentar
com uma amiga negra, com baixa escolaridade tal artigo, ela me contou que
lembra com tristeza de ocasiões em que era xingada de “pau de fumo”, de
“macaca”, “ de nega fedida”, na escola. Disse que no começo sentia muito ódio,
mas que depois se acostumou e nem ligava mais. Os depoimentos permitem
levantar a hipótese que em muitas ocasiões o racismo causa a princípio
indignação e depois anestesia e a pessoa começa a aceitar como normal, ou
seja, fica naturalizada a suposta superioridade do branco sobre o negro.
Neste sentido, considera-se importante, promover espaços de análise e
reflexões sobre este tema, na perspectiva de desenvolver estratégias
pedagógicas de práticas anti-racistas com a contribuição da Lei n.° 10.639 de
10
09 de janeiro de 2003, que define a inclusão pelas escolas nos seus currículos
de conteúdos de História da África e Cultura Afro-Brasileira. Tal proposição
pode ser considerada como uma possibilidade de avanços no âmbito
educacional e cultural e, portanto, uma possibilidade, também, de mudanças
em práticas sociais e humanas, com o reconhecimento que os negros
contribuíram fortemente para a formação do povo brasileiro.
Repensar a forma de organização curricular e incentivar ações
pedagógicas que venham ao encontro das lutas travadas pelos negros1, por
direito de participação em todos os segmentos da sociedade é um dever, agora
instituído e garantido por lei. A lei, que modifica o artigo 26 da LDB (Dias,
2005). Essa legislação legitima uma antiga reivindicação do movimento negro e
a sua implementação nas escolas pode auxiliar para ressignificar a história do
negro no Brasil, como estratégia para mudança do auto-conceito e crítica ao
eurocentrismo. Cabe aos estabelecimentos de ensino criar mecanismos para
que ela seja cumprida. Segue o que reza a Lei:
Art. 1o O art. 26-A da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos
e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo
incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a
formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais
como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos
povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e
o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas
contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história
do Brasil.
1 Será utilizado o termo negro, para designar pessoas, ou características da população
do Brasil, denominada nos Censos como pretas e pardas, segundo o sentido utilizado pelo movimento negro.
11
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos
povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo
escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e
história brasileiras.” (NR)
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua
publicação.
Brasília, 10 de março de 2008; 187o da Independência e
120o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad
Para efetivar a real aplicação da Lei n.º10.639/03 sugere-se que
diretores, equipe pedagógica e professores aprofundem o conhecimento
teórico e metodológico sobre o assunto e viabilizar condições para
consolidação deste conhecimento, com a intenção de implantar na escola uma
prática anti-racista. Propõe-se que uma prática que repudie o racismo e
qualquer forma de preconceito nas escolas, pode contribuir para melhorar o
ensino aprendizagem e ajudar na manutenção dos alunos negros nas escolas,
com voz e participação ativa neste processo:
Todas as escolas deveriam fazer os professores e os alunos participarem do currículo anti-racista que, de algum modo, está ligado a projetos da sociedade em geral. Esta abordagem redefine não somente a autoridade do professor e a responsabilidade dos alunos, mas situa a escola como uma força importante na luta por justiça social, econômica e cultural. Uma pedagogia de resistência pós-moderna e crítica pode desafiar as fronteiras opressivas do racismo, mas também aquelas barreiras que corroem e subvertem a construção de uma sociedade democrática (GIROUX, 1999, p.166).
Portanto, o ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira, se
ensinado nas escolas com compromisso e responsabilidade, por parte dos
professores, pode contribuir para valorizar a identidade negra e para que os
alunos se fortaleçam, permaneçam estudando e aumentem o percentual de
escolaridade, até então baixo, dos alunos negros.
12
ARTICULAÇÃO COM O MOVIMENTO NEGRO
Os movimentos negros através de variadas ações, tais como palestras
e ações conjuntas, apresenta-se como um aliado das escolas para ajudar a
articular estratégias para implementar uma educação anti-racista.
O movimento negro também é muito atuante no cenário brasileiro, e ao
longo da história está travando lutas em busca de uma sociedade onde os
negros tenham seus direitos garantidos. Para tanto o conhecimento sobre a
temática racial e a capacidade de se colocar no lugar do outro são primordiais.
Diversos seminários, encontros, oficinas, entre eles: a comemoração do
centenário da abolição da escravatura em 1988, a III Conferência Mundial das
Nações Unidas contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlata,
realizada em Durban, em 2001, trataram de temas ligados ao racismo e ao
combate do racismo nos livros didáticos. Destaca-se também a importância do
movimento negro, através de ações diversificadas (SILVA, 2005).
Na luta por conquistas relacionadas às questões raciais, entre elas: a
luta contra o racismo e a discriminação racial; a literatura aponta a importância
que movimento negro teve e têm nas mais diversas reivindicações e avanços.
A inserção do estudo da História e Cultura da áfrica e Afro-Brasileira é uma
antiga reivindicação do movimento negro, que contribuiu para elaboração da
lei 10639/03: “Ao movimento social negro tem-se constituído como um
movimento importante na sociedade brasileira. A história é repleta das ações
de rebeldia, de luta e libertação da população negra, desde o início da
escravidão no Brasil. Os quilombos são sinais vivos dessa organização e
resistência” (PAIXÃO, p.53, 2007).
O Parecer n.º 03/04 do Conselho Nacional de Educação, prevê o ensino
da História da África, de forma positiva, buscando não enfatizar as questões
relacionadas aos aspectos negativos. Essa indicação se deve principalmente
ao fato de que o aluno negro precisa, desde a mais tenra idade infância,
formar sua identidade. Sendo considerada como um processo contínuo
construído pelos negro/as em diversos espaços institucionais ou não, pelos
quais circulam; essa identidade negra também é construída na escola, durante
a trajetória desses sujeitos. Portanto a escola tem a responsabilidade social e
educacional de compreender sua complexidade, respeitando-a, bem como as
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outras identidades construídas pelos sujeitos no âmbito escolar; lidando de
maneira positiva com ela (GOMES, 2005).
Para enfatizar a importância do Movimento Negro Paranaense, no dia 19
de novembro de 2008, como parte da comemoração da semana de
Consciência Negra, a escola contou com a participação pela manhã do Saul
Dorval da Silva, representante deste Movimento Instituto África & Brasil, e no
período da tarde com o Paulo Borges, representante da ACNAP, para proferir
uma palestra para professores e alunos.
ANÁLISE CRÍTICA DE LIVROS E MATERIAIS DIDÁTICOS
No que diz respeito à educação brasileira é possível perceber e vivenciar
as distorções sobre os negros em materiais didáticos pedagógicos e também
na forma de ministrar as aulas, que por vezes, são carregadas de falta de
conhecimento e preconceito com relação aos negros, sua história, suas
características e sua cultura:
Assim, pelo menos desde a década de 1970, foram sendo realizadas pesquisas sobre livros didáticos de diferentes disciplinas e níveis escolares e de literatura infanto-juvenil que evidenciam o forte preconceito racial aí veiculado, que se manifesta desde a menor representação de personagens negros a servirem de modelo, passando por sua desqualificação até a omissão quanto à contribuição do negro na formação cultural do Brasil ( ROSEMBERG, 1998, p.84).
Cabe ao professor prestar muita atenção nos materiais didáticos que
utilizará para ministrar suas aulas. O livro didático que na maioria das vezes é o
principal recurso utilizado, pelos professores em sua prática diária, pode
reforçar o racismo. Determinados livros didáticos ao retratar o negro, ocupando
cargos subalternos, sem família constituída, praticando atos ilícitos, passam a
idéia de inferioridade racial. Cândida Soares da Costa (2007, p. 89) esclarece
muito bem esta questão quando afirma que:
Os negros continuam sendo colocados em posições semelhantes aos que as ideologias racistas insistem em conferir-lhes ao longo do tempo. A análise dos dados aponta que as imagens distorcidas, dispensadas a negros e brancos, ajudam a disseminar a condição de discriminação contra os negros, haja vista que são representados como insignificante minoria e em papéis de pouca valorização social (COSTA, 2007, p. 89).
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No Paraná em 2007, representantes do Coletivo da Igualdade Racial e
ACNAP (Associação Cultural da Negritude e Ação Popular) denunciaram junto
ao Ministério Público em Londrina, e anexaram a carta do Professor Edmundo
Silva Novais que pedia a retirada do livro didático da Editora Positivo – Coleção
conversando sobre História – 3ª série do autor Francisco Coelho Sampaio, que
trazia ilustrações racistas. Segundo o professor o livro descumpre a lei e
negligencia a história dos povos negros na História do Brasil. Relatou também
o exagero de imagens em que pessoas negras aparecem em condições de
humilhação e sofrimento, totalizando 25 imagens. Dentre as quais 10 mostram
pessoas negras apanhando e sendo humilhadas por pessoas brancas. A que
chama mais atenção são crianças negras sofrendo e acorrentadas pelo
pescoço. O termo escravo aparece 73 vezes, intercalando os termos negros e
africanos, podendo fazer as crianças acreditarem que são sinônimos. Em
12/12/2007 as referidas entidades, obtiveram parecer favorável a mudança de
conteúdo negativo sobre a participação do povo negro na História do Brasil.
(www.app.com.br.coletivos/igualdade racial).
Esta atuação da APP-Sindicato do Paraná e do movimento negro
(ACNAP) com a colaboração do Professor Edmundo, alerta para o papel dos
professores no que diz respeito a analisar e ficar atento as ilustrações
existentes nos livros e materiais didáticos, para seguir este exemplo e
denunciar essas manifestações racistas.
O fato de existirem livros didáticos que mantêm as idéias de supremacia
racial branca e inferiorizam negros e indígenas, não quer dizer que nada pode
ser feito. Professores com boa formação e compromissados com uma
educação anti-racista, ao perceberem textos e ilustrações que desmereçam os
não brancos podem, por meio de análise criteriosa, discutir com os alunos,
para descaracterizar a discriminação. Nas palavras de Paulo Vinícius Baptista
da Silva:
Utilizando textos em sala de aula que trazem muitas marcas de hierarquia entre brancos e negros(ou entre brancos e indígenas, ou entre heterossexuais e homossexuais, etc.) professores bem preparados para debater estes temas podem operar no sentido de crítica, junto com seus alunos, aos discursos discriminatórios. (...)Da análise crítica conjunta com os alunos talvez possamos
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gerar pontos de vista anti-racistas e anti-discriminatórios, mudando a direção da que normalmente operam os discursos nas escola (SILVA, 2007, p. 188).
RESPEITO À DIVERSIDADE CULTURAL E RELIGIOSA
Ao tratar das questões religiosas, os praticantes das religiões de matriz
africana, Candomblé e Umbanda principalmente, sofrem preconceito por uma
parte da população brasileira. As igrejas católicas e evangélicas condenam os
rituais, considerando-os satânicos; fazem associação dos orixás a demônios.
“Mas até hoje existe um persistente preconceito na população em geral, contra
as religiões afro-brasileiras e os terreiros de candomblé, que são
freqüentemente chamados de “macumba”, com significado de antros do mal”.
(LÉPINE, 2007, p.35). Diante da diversidade de religiões existentes no mundo,
originadas de culturas diferentes, a intolerância às religiões afro-brasileiras, por
vezes, é fruto da falta de conhecimento. A disciplina de ensino religioso, têm
como indicação transmitir o conhecimento sobre todas as religiões, inclusive as
de matriz africana. Através do estudo dessas religiões é possível desmistificar
essas crenças, mostrando a beleza do ritual e das relações fraternas que são
estabelecidas entre negros e brancos, nos terreiros de Candomblé e centros de
Umbanda.
A Umbanda é resultado do encontro do Candomblé, do espiritismo
kardecista francês e do catolicismo e é considerada uma religião brasileira.
O Candomblé desenvolveu-se em várias regiões do país, ficando
conhecido com outras denominações. Na Bahia é Candomblé , Rio Grande do
Sul recebe o nome de batuque, no Rio de Janeiro de macumba, xangô em
Pernambuco e Alagoas , tambor de mina no Maranhão e Pará ( MUNANGA&
GOMES, 2006). É uma religião monoteísta. Oludumaré é o Supremo - Criador ,
que é ajudado pelo orixás2. Os praticantes dessa religião fazem sua conexão
com o sagrado através o Ifá – Oráculo detentor de toda sabedoria. A liturgia é
demorada e tem início com apresentação dos iniciados possuídos por seus
orixás, dançando, sendo identificados pela cor de seus trajes. Existem as
ialorixás, lideres máximas do Candomblé, que são sacerdotisas que conduzem
2 “São divindades africanas trazidas para o Brasil pelos negros yorubás, grupo étnico da
África do oeste que inclui países como Nigéria, Togo e República do Benin (BOTELHO, 2006, p.136).”
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o terreiro. Os babalorixás são sacerdotes masculinos. Cada orixá tem suas
especificidades, que inclui roupas, insígnias, cores e cantos (BOTELHO, 2006).
O reconhecimento da importância da valorização e aceitação dos rituais
e das religiões de matriz africana é um passo rumo ao combate a intolerância
religiosa, contribuição que a escola encontra respaldo legal, para dar através
da Lei 10639/03.
Em 2008, a professora de ensino religioso, concluiu uma especialização
e apresentou uma monografia intitulada: Religião de Matriz Africana, ou seja
buscou fundamentação teórica e este enriquecimento refletiu-se em sua prática
pedagógica, pois ao ministrar suas aulas, introduziu o conteúdo relacionado as
religiões de matriz africana e apesar de ser católica fervorosa, conseguiu,
tomada as devidas proporções, trabalhá-los de forma satisfatória; nas 5ª e 6ª
série, nos períodos da manhã e da tarde. Os alunos fizeram pesquisas sobre
Candomblé e Umbanda, apresentaram em sala de aula e expuseram os
cartazes no pátio da escola.
ESCOLHA DE CONTEÚDOS E VALORIZAÇÃO DO AFRO-BRASILEIRO
A opção sobre conteúdos escolares que levem à valorização de afro-
descentes e africanos apresenta múltiplas possibilidades. Trataremos a seguir
de alguns exemplos de temas que podem ser trabalhados neste sentido, com o
intuito de colocar em primeiro plano a positividade da herança africana e afro-
brasileira.
As crianças negras são geralmente levadas a acreditar em sua grande
maioria, que os negros ao serem escravizados, não resistiram ao serem
capturados e aceitaram a escravidão de forma passiva. Este fato pode gerar
um sentimento de inferioridade e a construção de uma postura submissa, que
dificulta o relacionamento com os demais alunos, com professores e
principalmente pode interferir na aprendizagem. Uma das formas de resistência
que, por vezes, não é enfatizada durante as aulas pelos professores, nas
disciplinas de História e Geografia principalmente são os quilombos:
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“Nesse sentido, o quilombo não significa refúgio de escravos fugidos. Tratava-se de uma reunião fraterna e livre, com laços de solidariedade e convivência resultante do esforço dos negros escravizados de resgatar sua liberdade e dignidade por meio da fuga do cativeiro e da organização de uma sociedade livre. Os quilombolas eram homens e mulheres que se recusavam viver sob o regime da escravidão e desenvolviam ações de rebeldia e de luta contra o sistema (MUNANGA & GOMES 2006, p.72).”
O professor ao oportunizar as crianças esse conhecimento,
aprofundando o tema, passando filmes e viabilizando discussões, dá elementos
para que elas passem a perceber como foram guerreiros seus antepassados,
que desejavam uma vida digna para os seus descendentes que foi
materializada, com competência, através da organização dos quilombos. Por
exemplo, o filme Quilombo, com direção de Cacá Diegues, descreve a
organização do Quilombo dos Palmares, que ocorreu por volta de 1650,
quando um grupo de escravos se revolta , num engenho de Pernambuco e vai
para o Quilombo de Palmares, onde vários ex-escravos fugitivos resistem ao
cerco colonial. Destacam-se Ganga Zumba, príncipe africano e futuro líder do
quilombo, posteriormente, Zumbi, que será contra as idéias conciliatórias de
Ganga Zumba, e enfrentando um grande exército. O filme tem duração de 119
minutos (Cadernos temáticos, 2006). No Paraná apesar da pouca divulgação,
existem comunidades remanescentes de quilombos, identificadas pelo Grupo
de Trabalho Clóvis Moura, localizadas em sua maioria nos Campos Gerais, em
Curiúva, Castro, Guarapuava, Lapa, Ponta Grossa, Campo Largo, entre outras
(Cruz,2006).
Em 2004, teve início o mapeamento das comunidades remanescentes
quilombolas no Estado do Paraná. O grupo de trabalho Clóvis Moura, do
governo do Estado, sob a coordenação de Glauco Souza Lobo e a Professora
Clemilda Santiago que coordena o trabalho de campo, pela SEED, catalogaram
mais de 20 locais, e 14 delas têm o reconhecimento da Fundação Palmares,
como remanescentes quilombolas e aproximadamente 20 comunidades estão
em processo de reconhecimento. A comunidade remanescente Paiol de Telha,
localizada no município de Pinhão, foi a primeira a chamar a atenção no Estado
e recebe o apoio de várias entidades: APP-Sindicato do Paraná, CUT, ACNAP
entre outras (Cadernos Temáticos, 2006).
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Uma preocupação que os professores devem ter é com as imagens
usadas por eles para ilustrarem suas aulas. Em certas ocasiões, alguns
professores lançam mão de imagens apelativas, encontradas facilmente na
Internet, para sensibilizarem os alunos com relação à pobreza, falta de
saneamento básico, comida e de oportunidades, utilizando-se para tanto de
imagens de crianças negras em condição de penúria e brancas com toda sorte
de privilégios. Quando se depara com essa situação a criança negra se sente
humilhada e tende a se identificar com a impossibilidade de conseguir se
posicionar como capaz. Na África e no Brasil, existem crianças negras vivendo
em condições adequadas. Existem imagens belíssimas de países africanos,
com cidades altamente industrializadas e usufruindo de excelentes condições
tecnológicas, que precisam ser mostradas. O imaginário infantil pode ser
alimentado com ilustrações positivas da população e dos países africanos.
Na disciplina de Artes, foi utilizado o filme Kiriku e a Feiticeira direção de
Michel Ocelot , e realizada uma atividade com alunos de 5ª série, através de
desenhos e contextualização histórica.
Através do filme Vista Minha Pele, de Joelzito Araújo, os professores de
português proporcionaram momentos de discussão sobre uma educação anti-
racista e redações foram produzidas sobre o tema.
Outro tema que merece destaque é a oralidade é muito valorizada na
cultura africana, as disciplinas de português, artes e educação física, através
dos contos africanos, encontram possibilidades de demonstrar a riqueza
herdada dos ancestrais, explicando como os contos eram utilizados,
enfatizando a arte e a musicalidade. O Ministério Público através do FNDE,
PNBE, distribuíram em 2007 para escolas estaduais de ensino fundamental,
livros de contos, dos quais dois sobre contos africanos que podem ser
utilizados em sala de aula. São eles: Sikulume e outros contos africanos,
adaptação de Júlio Emílio Braz, ilustrações de Luciana Justiniani, Editora
Pallas, Rio de Janeiro, 2005 e Histórias Africanas para Contar e Recontar,
autor Rogério Andrade Barbosa, ilustrações de Graça Lima, Editora do Brasil,
São Paulo, 2001.
Os contos fazem parte da tradição oral africana e eram contados pelos
mais velhos, em algumas comunidades, após o jantar, as crianças eram
reunidas para ouvi-los e sempre tinha um teor de ensinamento.
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A professora de português trabalhou com contos africanos e montou
uma peça teatral adaptada e dirigida pelos alunos, do livro Sikulume, do conto
A origem da morte.
Outra questão se refere a uma preocupação que atormenta as crianças
pertencentes a raça negra é o cabelo, que é denominado por algumas pessoas
como “cabelo ruim”, a auto-estima das crianças fica muito abalada, pois
almejam, em sua grande maioria ter o cabelo parecido com o da boneca
Barbie, ou com o da apresentadora Xuxa, sonho impossível. Mas para
aproximarem-se desse ideal, muitas recorrem ao alisamento e a trazê-los
presos constantemente, bem esticados, para não se tornarem alvo fácil de
atitudes discriminatórias, tais como serem xingadas de cabelo duro, de bombril,
assolan, pixaim, carrapinha, entre outros.
Desde muito cedo a criança aprende, por exemplo, que cabelo liso é que é cabelo bonito, e esse padrão é reforçado, uma vez que parecem raros, senão inexistentes, elogios ao cabelo crespo durante a infância. (...) A intenção de alisar o cabelo é muito forte entre as crianças observadas. Mesmo as que disseram gostar da própria cor afirmaram não gostar do cabelo. A expressão “nega do cabelo duro” ainda é utilizada como uma forma de inferiorização (...) Esse padrão de beleza, liso e comprido, é quase unanimidade entre as crianças (FAZZI, 2006, p.117).
Os professores, pedagogos e diretores, devem estar atentos e
proporcionar conversas e palestras que exaltem a beleza do cabelo afro,
mostrando a possibilidade de fazer vários penteados, entre eles as tranças,
que expressam a beleza do cabelo e que tem um significado na cultura
africana. A jornalista Neusa Baptista Pinto elaborou um livro, material
pertencente ao projeto “Pixaim: nem bom nem ruim, só diferente”- estímulo à
valorização do cabelo crespo entre crianças na periferia de Cuiabá, que conta
com recursos do Fundo Estadual de Fomento à Cultura do Governo do Mato
Grosso, que conta a história de três meninas que enfrentam as manifestações
preconceituosas relacionadas ao cabelo crespo. Material como esse pode
servir de apoio para enriquecer a prática pedagógica em escolas de ensino
fundamental. O título do livro é: Cabelo Ruim? A história de três meninas
aprendendo a se aceitar. M.T., Editora Tanta Tinta, 2006.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da delicadeza e da gravidade da temática racial, diretores,
pedagogos e professores, ao serem sensibilizados sobre o problema do
racismo no ambiente escolar, tornam-se responsáveis pela promoção de uma
educação anti-racista, no sentido de não medir esforços para garantir
igualdades de condições de aprendizagem para negros e brancos.
O fato de os professores terem participado do curso e feito uma análise
documental da Lei nº 10639/03 modificada pela Lei nº 11645/08; Parecer 03/04
do Conselho Federal de Educação; Deliberação 04 do Conselho Estadual do
Paraná, proporcionou uma mudança significativa prática adotada em sala de
aula com relação ao ensino de História da áfrica e Cultura Afro–brasileira. Em
todas as disciplinas foram trabalhados conteúdos pertinentes a temática.
Na semana da comemoração da Consciência Negra foram realizadas
apresentações como indica a lei de culminância das conteúdos trabalhados:
Entre eles: Confecções de cartazes expostos no pátio sobre relação racial,
cabelo afro, respeito a diversidade; foi lido o Discurso de Martin Luther King,
por alunos da 7ª série; apresentação de uma peça teatral adaptada do Livro
Sikulume _ A origem da morte; dança com uma música africana; encenação da
música – O canto das três raças cantada por Clara Nunes; samba com
participação da professora de português. Foi pedida a autorização dos pais e a
apresentação foi fotografada e transformada em um vídeo.
O compromisso em promover a igualdade racial inclui a implementação da
Lei 10639/03 modificada pela Lei nº 11645/08, que representa uma
possibilidade de avanço para ressignificar a História da África e da cultura Afro-
brasileira; bem como atenção por parte dos professores aos materiais didáticos
utilizados para ministrar suas aulas, tomando cuidado com textos e ilustrações
que possam reforçar o racismo e quando por ventura parecerem denunciar aos
órgãos competentes.
Valorizar os conteúdos como contos africanos, respeito às religiões de
matriz africana, formas de resistência e luta como os quilombos e atualmente a
atuação do movimento negro, durante as aulas, pode contribuiu para elevar a
auto – estima de alunos negros.
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Essas ações concretas contra o racismo na escola podem amenizar o
prejuízo que esta prática vem trazendo para alunos negros e significar reais
possibilidades de aprendizagem.
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para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
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