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1 A IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE CONTROLO INTERNO NO SETOR PÚBLICO: o caso do Politécnico de Leiria António José SIMÕES, [email protected] Luís LIMA SANTOS, [email protected] Instituto POLITÉCNICO DE LEIRIA Área temática da comunicação: A6 - Controlo de Gestão no Setor Público/Setor Privado | A12 - Auditoria no Setor Público Palavras-chave: Sistema de Controlo Interno; Auditoria Interna; Administração Pública; POC- Educação; SNC-AP. Metodologia de Investigação: Qualitativa, abordagem crítica de estudo de caso.

A IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE CONTROLO INTERNO … · Sistema de Controlo Interno da administração financeira do Estado13, nos termos do qual o sistema de controlo interno compreende

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A IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE CONTROLO

INTERNO NO SETOR PÚBLICO:

o caso do Politécnico de Leiria

António José SIMÕES, [email protected] Luís LIMA SANTOS, [email protected]

Instituto POLITÉCNICO DE LEIRIA

Área temática da comunicação: A6 - Controlo de Gestão no Setor Público/Setor Privado |

A12 - Auditoria no Setor Público

Palavras-chave: Sistema de Controlo Interno; Auditoria Interna; Administração Pública; POC-

Educação; SNC-AP.

Metodologia de Investigação: Qualitativa, abordagem crítica de estudo de caso.

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RESUMO

O regime jurídico das instituições de ensino superior (IES) em Portugal, consagrado desde

20071, confere-lhes autonomia patrimonial, administrativa e financeira face ao Estado, sem

prejuízo da ação fiscalizadora da tutela e do Governo; em favor da transparência, cabe-lhes o

dever de informação ao Estado como garantia de estabilidade orçamental, bem como o dever

de informação interna e à comunidade, de forma acessível e rigorosa, sobre a sua situação

financeira.

Portanto, os órgãos de gestão administrativa e financeira das instituições de ensino superior

portuguesas suportam muitas das suas decisões, em regra, na informação preparada e submetida

às entidades de supervisão. A confiança e integridade da informação contabilística para o apoio

à tomada de decisão, assume maior relevância em conjunturas de recessão financeira e de

austeridade socioeconómica; a utilização económica e eficiente dos recursos depende,

maioritariamente, do controlo dos pilares do sistema contabilístico de informação: orçamental,

patrimonial e financeira, tesouraria e analítica.

O presente artigo, de índole profissional, explica a implementação do sistema de controlo

interno, importante instrumento de gestão que serve de base para toda a atividade de controlo

da Administração Pública e que deriva do poder e do dever que a administração detém sobre os

seus próprios atos e agentes. O resultado é a partilha a experiência de trabalho do Gabinete de

Auditoria e Controlo Interno de uma instituição de ensino superior com cerca de 11.000 alunos

e 1.250 colaboradores2: o Politécnico de Leiria. As conclusões incluem questões para discussão,

apontam implicações da atual situação de transição e perspetivas de pesquisa futura.

Palavras-chave: Sistema de Controlo Interno; Auditoria Interna; Administração Pública; POC-

Educação; SNC-AP.

1 Lei n.º 62/2007, de 10 de setembro. 2 Dados de 2015.

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INTRODUÇÃO

Num ambiente de transformações sociais profundas, a globalização da economia e o inerente

aumento da competitividade exigem que as organizações reajustem os sistemas de gestão e

controlo de forma a dar resposta aos objetivos delineados.

A administração pública, com especial ênfase para as universidades e politécnicos, estão

igualmente expostos à pressão de um eficaz e eficiente modelo de governação assente nos

dinheiros públicos, que permita alinhar a estratégia definida com o risco associado; é neste

contexto de constante pressão do escrutínio dos órgãos de fiscalização que a função do controlo

interno surge como instrumento fundamental de apoio à gestão.

De acordo com Lima Santos et al. (2013; 2) os países do sul da Europa têm vivido uma

conjuntura particularmente difícil em virtude das sucessivas medidas de austeridade impostas

pelos governos dos últimos anos, ao abrigo de programas de ajustamento económico e

financeiro, com significativos impactos no ambiente económico e financeiro; em acréscimo, o

agravamento da recessão e a quebra de confiança nos mercados, nas empresas e nos

particulares, teve reflexos no aumento do desemprego e na redução do rendimento disponível

das famílias, com consequências na diminuição do consumo privado e do investimento público

e na contração do PIB.

De acordo com os mesmos autores (idem) à redução do financiamento por via de sucessivos

orçamentos de contenção, acrescem os efeitos da curva demográfica que justificam a

diminuição de estudantes no ensino superior, com perda direta de financiamento com receitas

próprias, causando enormes dificuldades aos órgãos de governo e aos órgãos de gestão das

universidades e politécnicos, tal como atesta o ensino superior português.

Os órgãos de governo das Instituições de Ensino Superior3 públicas portuguesas são o Conselho

Geral, o Reitor (universidades) ou Presidente (institutos politécnicos) e o Conselho de Gestão;

este último, enquanto órgão de gestão, tem como competências a gestão administrativa,

patrimonial e financeira da instituição, bem como a gestão dos recursos humanos; para além

das dificuldades de obtenção de financiamento, os Conselhos de Gestão suportam a dificuldade

adicional da dispersão da legislação, em sede de diversos domínios e com objetivos de controlo

e verificação da legalidade do financiamento disponibilizado às entidades públicas.

Neste contexto, reveste-se de grande importância a existência de um sistema de informação

contabilística que permita a monitorização do equilíbrio orçamental e da superioridade das

3 Nos termos dos Estatutos do Politécnico de Leiria (MCTES, 2008) existem, ainda, os seguintes órgãos: Fiscal

Único (nomeado pela Governo), o Conselho Académico, o Conselho para a Avaliação e Qualidade e o

Provedor do Estudante.

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receitas perante as despesas, que garanta a legalidade e a regularidade financeira (inscrição

orçamental, cabimento e adequada classificação) da despesa e o cumprimento dos princípios de

economia, eficiência e eficácia.

O cumprimento da legalidade e da regularidade financeira é possível com um adequado

controlo interno, o qual procura garantir as boas práticas de gestão e procedimentos, bem como

o cumprimento das políticas determinadas pela gestão.

O controlo interno é obrigatório no sector público, designadamente no setor da educação como

se depreende do ponto 2.9 do POC-Educação (MFE, 2000) e do artigo 9.º do DL n.º 192/2015,

que aprova o Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (MF,

2015).

O Politécnico de Leiria cumpre esta determinação pois dispõe de um sistema de controlo interno

(SCI) que, para além da referida obrigatoriedade legal, serve de instrumento de apoio à gestão.

No IPLeiria, a implementação do SCI é assegurada pelo Conselho de Gestão, com o apoio do

Gabinete de Auditoria e Controlo Interno ao qual compete analisar e verificar os ativos dos

serviços centrais e das unidades orgânicas, a legalidade e a regularidade das operações, a

integralidade e exatidão dos registos contabilísticos, a execução dos planos e políticas

superiormente definidas, a eficácia da gestão e a qualidade da informação.

Com base no exposto, este artigo profissional pretende apresentar a implementação do SCI de

uma IES e, tendo em consideração a evolução doutrinária na gestão pública, traçar desafios

para um futuro, cada vez mais presente, com a transição do POC-Educação para o SNC-AP.

REVISÃO DE LITERATURA

No sentido de dar resposta ao desafio proposto, a revisão de literatura que a seguir se apresenta

incide sobre as seguintes áreas: a reforma da gestão pública em Portugal; conceito, objetivos e

princípios base de controlo interno; controlo interno no sector público; e controlo interno nas

instituições de ensino superior.

Reforma da gestão pública em Portugal

Lima Santos et al. (2013, 4-5) destaca a reforma da gestão pública em Portugal, na década de

90, assente na publicação de sucessivos diplomas legais, em diversos domínios:

A Lei de Bases da Contabilidade Pública4 (LBCP), que estabelece os princípios e

normas do regime financeiro, do controlo orçamental e da contabilização das receitas e

despesas da Administração Central.

4 Lei n.º 8/90, de 20 de fevereiro.

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O Regime de Administração Financeira do Estado5 (RAFE), que define os princípios

gerais da autonomia administrativa e financeira e consagra os princípios de economia,

eficiência e eficácia dos organismos do Estado e dos seus gestores; refere, no seu artigo

53.º n.º 1 a) que a gestão orçamental dos serviços e organismos abrangidos é controlada

através do autocontrolo pelos órgãos competentes dos próprios serviços e organismos.

A Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas6 (LOPTC), que sujeita a

legalidade e regularidade das receitas e das despesas públicas, bem como a prestação de

contas e a responsabilidade financeira e sancionatória, ao poder fiscalizador do Tribunal

de Contas.

O Plano Oficial de Contabilidade Pública7 (POCP), que cria as condições necessárias

para a integração das várias vertentes contabilísticas, como sendo a informação

orçamental, patrimonial e analítica, como base de uma contabilidade pública moderna

que consiga dar resposta às necessidades de gestão constituindo-se, assim, como um

instrumento fundamental para as entidades públicas.

O Plano Oficial de Contabilidade Pública para o Sector da Educação8 (POC-Educação)

que, na sequência do POCP, integra as dimensões orçamental, patrimonial e analítica

numa contabilidade pública que constitua um instrumento de apoio aos órgãos de

decisão e demais utilizadores da informação, em sede de contas individuais e

consolidadas; estabelece, ainda, a estrutura do relatório de gestão.

A Lei de Enquadramento Orçamental9 (LEO), que estabelece as disposições gerais e

comuns de enquadramento dos orçamentos e contas de todo o sector público

administrativo.

O Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior10 (RJIES), que regula a

constituição, as atribuições e a organização das IES, o funcionamento e a competência

dos seus órgãos e, ainda, a tutela e fiscalização pública do Estado sobre as mesmas.

Lei dos Compromissos e dos Pagamentos em Atraso11 (LCPA), que aprova as regras

aplicáveis à assunção de compromissos e aos pagamentos em atraso das entidades

públicas.

5 Decreto-Lei n.º 155/92, de 28 de julho. 6 Lei n.º 98/97, de 26 de agosto. 7 Decreto-Lei n.º 232/97 de 3 de setembro. 8 Portaria n.º 794/2000, de 20 de setembro.

9 Lei n.º 91/2001, de 20 de agosto, e respetivas atualizações. Lei n.º 151/2015, de 11 de setembro. 10 Lei n.º 62/2007, de 10 de setembro.

11 Lei n.º 8/2012, de 21 de fevereiro, cujos procedimentos de aplicação e de operacionalização da prestação de

informação foram aprovados pelo Decreto-Lei n.º 127/2012, de 21 de junho.

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Os Diplomas de Execução Orçamental12 (DEO), que definem as disposições de

execução do Orçamento do Estado em cada ano civil e económico.

Para além dos referidos diplomas legais assumem especial importância quanto ao controlo

interno:

Sistema de Controlo Interno da administração financeira do Estado13, nos termos do

qual o sistema de controlo interno compreende os domínios orçamental, económico,

financeiro e patrimonial e visa assegurar o exercício coerente e articulado do controlo

no âmbito da Administração Pública.

Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC)14, entidade administrativa independente a

funcionar junto do Tribunal de Contas, que desenvolve uma atividade de âmbito

nacional no domínio da prevenção da corrupção e infrações conexas.

Recomendação n.º 1/2009 do CPC15, relativa à elaboração e aplicação de planos de

prevenção de riscos de corrupção e infrações conexas, a qual é dirigida aos órgãos

dirigentes máximos das entidades gestoras de dinheiros, valores ou património públicos,

seja qual for a sua natureza, administrativa ou empresarial, de direito público ou de

direito privado.

Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (SNC-AP)16,

com obrigatoriedade da sua adoção a partir de 2017; o artigo 9.º do diploma que aprova

o SNC-AP refere que “o sistema de controlo interno a adotar pelas entidades públicas

engloba, designadamente, o plano de organização, as políticas, os métodos e os

procedimentos de controlo, bem como todos os outros métodos e procedimentos

definidos pelos responsáveis que contribuam para assegurar o desenvolvimento das

atividades de forma ordenada e eficiente, incluindo a salvaguarda dos ativos, a

prevenção e deteção de situações de ilegalidade, fraude e erro, a exatidão e a integridade

dos registos contabilísticos e a preparação oportuna de informação orçamental e

financeira fiável”; acrescenta que “o sistema de controlo interno tem por base sistemas

adequados de gestão de risco, de informação e de comunicação, bem como um processo

de monitorização que assegure a respetiva adequação e eficácia em todas as áreas de

intervenção”.

12 Diploma de execução do OE-2015: Decreto-Lei n.º 36/2015, de 9 de março. 13 Decreto-Lei n.º 166/98, de 25 de junho. 14 Lei n.º 54/2008, de 4 de setembro. 15 Publicada no DR, 2.ª série, n.º 140, de 22 de julho. 16 Decreto-Lei n.º 192/2015, de 11 de setembro.

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Conceito, objetivos e princípios base de controlo interno

Ao longo dos últimos anos diversos organismos nacionais e internacionais definiram controlo

interno.

No plano internacional:

O Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission define o

controlo interno como “um processo, efetuado por pessoas da direção, da gestão e outro

pessoal, designado para fornecer uma razoável certeza acerca do cumprimento dos

objetivos quanto à eficácia e eficiência das operações, à fiabilidade dos relatórios e

contas e ao cumprimento das leis e regulamentos.” (COSO, 1992); a mesma organização

vem, mais tarde, associar a gestão de riscos ao processo de controlo interno (COSO,

2013).

O American Institute of Certified Public Accountants (AICPA) apresentou, por via

Securities Exchange Act de 1934, a primeira definição de controlo interno, reconhecida

pela Security and Exchange Commission: “O controlo interno compreende um plano de

organização e coordenação de todos os métodos e medidas adotadas num negócio a fim

de garantir a salvaguarda de ativos, verificar a adequação e confiabilidade dos dados

contabilísticos, promover a eficiência operacional e encorajar a adesão às políticas

estabelecidas pela gestão.” (SEC, 2003).

A International Organisation of Supreme Audit Institutions define controlo interno

como um “processo integral e dinâmico que se adapta constantemente às alterações com

que a organização se depara”; acrescenta que “o auditor, ao determinar o âmbito e o

domínio da auditoria, deve analisar e avaliar a fiabilidade do controlo interno”

(INTOSAI, 2004).

O Institute of Internal Auditors identifica controlo interno como “qualquer ação

empreendida pela gestão e outros membros da entidade, para aperfeiçoar a gestão do

risco e melhorar a possibilidade de alcance dos seus objetivos e metas.” (IIA, 2009).

Em termos nacionais:

O diploma que aprova o sistema de controlo interno da administração financeira do

Estado refere, no seu artigo 2.º n.º 2, que “o controlo interno consiste na verificação,

acompanhamento, avaliação e informação sobre a legalidade, regularidade e boa gestão,

relativamente a atividades, programas, projetos, ou operações de entidades de direito

público ou privado, com interesse no âmbito da gestão ou tutela governamental em

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matéria de finanças públicas, nacionais e comunitárias, bem como de outros interesses

financeiros públicos nos termos da lei.” (MF, 1998).

O manual de auditoria do Tribunal de Contas, volume I, define controlo interno como

sendo “uma forma de organização que pressupõem a existência de um plano e de

sistemas coordenados destinados a prevenir a ocorrência de erros e irregularidades ou a

minimizar as suas consequências e a maximizar o desempenho da entidade no qual se

insere.” (TC, 1999).

A Diretriz de Revisão / Auditoria n.º 410, da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas

refere, no seu ponto 4, que "sistema de controlo interno significa todas as políticas e

procedimentos (controlos internos) adotados pela gestão de uma entidade, que

contribuam para a obtenção dos objetivos da gestão de assegurar, tanto quanto

praticável, a condução ordenada e eficiente do seu negócio, incluindo a aderência às

políticas da gestão, a salvaguarda de ativos, a prevenção e deteção de fraude e erros, o

rigor e a plenitude dos registos contabilísticos, o cumprimento das leis e regulamentos

e a preparação tempestiva de informação financeira credível.” (OROC, 2000).

São geralmente aceites como objetivos do controlo interno:

a confiança e integridade da informação;

a conformidade com as políticas, planos, procedimentos, leis e regulamentos;

a salvaguarda de ativos;

a utilização económica e eficiente dos recursos; e

a realização dos objetivos estabelecidos para as operações ou programas.

De igual forma, é nacional e internacionalmente reconhecido que o controlo interno é composto

pelos seguintes princípios base:

A segregação de funções, que tem como finalidade evitar que à mesma pessoa sejam

atribuídas duas ou mais funções incompatíveis com o objetivo de impedir ou, pelo

menos dificultar a práticas de erros ou irregularidades ou a sua dissimulação.

O controlo das operações, relacionado com a verificação/conferência das operações que,

de acordo com o referido sobre a segregação de funções, deve ser efetuado por pessoas

diferentes das que estiveram envolvidas na sua realização ou registo; são exemplos de

controlo das operações: as inspeções periódicas à tesouraria ou a realização de

reconciliações bancárias.

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A definição de autoridade e responsabilidade, de forma clara e rigorosa. Devem estar

claramente definidos os níveis de autoridade e responsabilidade, bem como as funções

que a cada colaborador cabe desempenhar.

A competência do pessoal, o qual deve possuir as habilitações literárias e técnicas como

também a experiência profissional necessária ao desempenho das suas funções.

O registo dos factos contabilísticos que visa assegurar uma conveniente verificação da

ligação entre os diferentes serviços, acelerar o processo de registo das operações e

fornecer a informação com rapidez, precisão e clareza aos responsáveis, no exercício da

sua atividade gestora. Com este princípio encontram-se associados dois requisitos

fundamentais, são eles: cumprimento das regras contabilísticas; os comprovativos ou

documentos equivalentes justificativos, os quais devem estar numerados

sequencialmente e, se existir documentos anulados, estes devem ser arquivados, não

sendo destruídos.

Morais e Martins (2013, 31) consideram adequado que qualquer sistema de controlo interno

inclua os seguintes tipos de controlo:

Prevenção, que impedem a ocorrência de factos indesejáveis (controlos à priori);

Deteção, que detetam os factos indesejáveis e promovem as correções (controlos à

posteriori);

Direção ou orientação, que servem para encorajar factos desejáveis;

Correção, que retifica problemas identificados;

Compensação, que servem para compensar fraquezas identificadas noutras áreas de

controlo.

Apresentamos, na tabela seguinte, exemplos destes tipos de controlos:

Tabela 1 – Tipos de controlo

Prevenção Deteção Correção Orientação Compensação

Obrigar a duas

assinaturas em

todos os

pagamentos.

Elaborar

reconciliações

bancárias.

Relatórios de

artigos obsoletos.

A administração de

uma entidade,

como forma de

criar uma boa

imagem local, dá

indicações aos

dirigentes para

contratarem mão-

de-obra local.

Os totais das

vendas por produto

registados pela área

comercial podem

ser cruzados com o

total dos créditos

das vendas na

contabilidade.

Obter lista de

fornecedores,

devidamente

aprovada.

Efetuar

conciliações de

extratos de contas

com terceiros.

Relatórios de

atrasos de cobrança

de dívidas.

Estabelecer

determinados

requisitos para o

recrutamento do

pessoal.

O total dos salários

processados pelo

departamento de

pessoal pode ser

cruzado com o total

dos créditos feitos à

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segurança social

pela contabilidade.

Confrontar as

faturas com as

guias de receção

antes de autorizar o

pagamento.

Efetuar contagens

físicas.

Relatórios de

atrasos de

pagamentos a

fornecedores e

outros credores.

Criar regulamentos

internos na

entidade.

Os valores das

entradas registadas

pelo armazém pode

ser cruzado com a

contabilidade

através da

conciliação da

conta de compras.

Verificar a exatidão

aritmética das

faturas antes do

pagamento.

Observar a

distribuição de

salários numa base

de amostragem.

Relatórios dos

cheques do pessoal,

não descontados.

Criar instruções

para os documentos

em circulação na

entidade.

Adotar um sistema

de vigilância de

controlo de

entradas na fábrica.

Solicitar certidões

de dívidas.

Lista de

reclamações de

clientes.

Fonte: Adaptado de Morais e Martins (2013)

Controlo interno no setor público

O controlo interno é essencial ao funcionamento e à concretização dos objetivos de qualquer

entidade. No âmbito de um sistema de informação contabilística é importante identificar e

avaliar, de forma inequívoca, o sistema de controlo interno.

Os serviços públicos devem dispor de um sistema de controlo interno atuante em duas vertentes,

a administrativa e a financeira ou contabilística:

a vertente administrativa ocupa-se dos procedimentos e registos relacionados com o

processo de decisão que conduzem às autorizações das transações e operações;

a vertente financeira ou contabilística a proteção dos ativos e a fidedignidade dos

registos contabilísticos.

O controlo interno nas instituições de ensino superior

De acordo com o estabelecido no n.º 1 do artigo 2.º da Portaria n.º 794/2000 (MFE, 2000), o

“POC-Educação é obrigatoriamente aplicável a todos os organismos do Ministério da

Educação, bem como aos organismos autónomos sob sua tutela que não tenham a natureza,

forma e designação de empresa pública”.

Este subsistema contabilístico obriga à aprovação de um sistema de controlo interno, definido

nos termos do ponto 2.9 da referida Portaria, que a seguir se enuncia:

2.9.1 – As entidades contabilísticas obrigadas a utilizar o POC-Educação adotarão um

sistema de controlo interno, políticas, métodos, técnicas e procedimentos de controlo,

bem como quaisquer outros a definir pelos respetivos órgãos de gestão.

2.9.2 – O sistema de controlo interno compreende um conjunto de procedimentos

tendentes a garantir:

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A salvaguarda dos ativos;

O registo e atualização do imobilizado da entidade;

A legalidade e regularidade das operações;

A integridade e a exatidão dos registos contabilísticos;

A execução dos planos e políticas superiormente definidas;

A eficiência da gestão e qualidade da informação;

A imagem fiel das demonstrações financeiras.

2.9.3 – O sistema de controlo interno deverá incluir princípios básicos que lhe dão

consistência e que são:

Segregação de funções;

O controlo das operações;

A definição de autoridade e de responsabilidade;

O registo metódico dos factos.

A partir de 2017, com a obrigatoriedade de adoção do preconizado no SNC-AP, o sistema de

controlo interno deverá passar a englobar: o plano de organização, as políticas, os métodos e os

procedimentos de controlo, métodos e procedimentos definidos pelos responsáveis que

contribuam para assegurar o desenvolvimento das atividades de forma ordenada e eficiente,

incluindo a salvaguarda dos ativos, a prevenção e deteção de situações de ilegalidade, fraude e

erro, a exatidão e a integridade dos registos contabilísticos e a preparação oportuna de

informação orçamental e financeira fiável (MF, 2015a).

O sistema de controlo interno terá por base sistemas adequados de gestão de risco, de

informação e de comunicação, bem como um processo de monitorização que assegure a

respetiva adequação e eficácia em todas as áreas de intervenção.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi a abordagem crítica da designada investigação qualitativa em

ciências sociais, designadamente em contabilidade e controlo de gestão (Major et al., 2009),

através da apresentação e discussão de um estudo de caso que resulta da experiência em funções

profissionais (posto de trabalho), como estratégia para permitir um conhecimento mais

profundo sobre a prática e contribuir para o desenvolvimento da teoria em que assentam os

sistemas de informação e controlo; os mesmos autores (idem) defendem que, embora os

profissionais possam agir de forma consciente para mudar as circunstâncias, é reconhecido

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pelos investigadores que as suas capacidades para proceder à mudança são limitadas por

sistemas de hegemonia política, económica e social.

No mesmo sentido, Yin (2009) defende o estudo de caso como uma abordagem adequada a

utilizar na investigação em contabilidade e auditoria.

ESTUDO DE CASO

Neste capítulo, apresenta-se a visão da implementação do SCI no Politécnico de Leiria.

Organização institucional

Para a concretização da sua missão, o Politécnico de Leiria está estruturado em unidades

orgânicas de ensino e investigação (6), unidades orgânicas de investigação (1), unidades

orgânicas de transferência e valorização do conhecimento (1), unidades orgânicas de formação

(3), unidades de investigação (12), unidades de investigação em cooperação com outras IES (4)

e unidades funcionais de ação social e apoio ao estudante (2).

A Presidência dirige um conjunto de serviços de apoio técnico e administrativo às suas

atividades, de entre os quais: Planeamento e Desenvolvimento Estratégico; Imagem e

Comunicação; Recursos Humanos; Jurídicos; Financeiros; Auditoria e Controlo Interno;

Académicos; Mobilidade e Cooperação Internacional; Informáticos; Técnicos; e

Documentação.

Gabinete de Auditoria e Controlo Interno

Ao Gabinete de Auditoria e Controlo Interno (GACI) compete analisar e verificar os ativos dos

serviços centrais e das unidades orgânicas do IPLeiria, a legalidade e a regularidade das

operações, a integralidade e exatidão dos registos contabilísticos, a execução dos planos e

políticos superiormente definidos, a eficácia da gestão e a qualidade da informação. O GACI

depende diretamente do Presidente do IPLeiria.

Dimensões do sistema de informação

A configuração do sistema de informação do IPLeiria pretende dar resposta às seguintes

necessidades17:

Controlo da execução (orçamental);

Evolução de rubricas e indicadores económico-financeiros (patrimonial);

17 Entre parêntesis as dimensões contabilísticas.

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Apurar custos e proveitos das atividades intermédias e finais, para obter resultados dos

centros de responsabilidade e justificar e apoiar a tomada de decisões (analítica);

Submissão da Conta de Gerência ao Tribunal de Contas (orçamental, patrimonial e

analítica);

Submissão do Relatório de Atividades e Contas, individuais e consolidadas, aos órgãos

de governo do IPL (orçamental, patrimonial e analítica);

Gestão de riscos, enquanto objetivo coletivo de identificação de riscos e de adoção de

medidas de prevenção, no sentido da transparência dos processos e do apoio à política

interna de boas práticas de gestão que estimulam a confiança e coesão institucional e

que promovem a boa utilização dos dinheiros públicos.

Figura 2 – As dimensões do sistema de informação

Fonte: Elaboração Própria.

Implementação do sistema de controlo interno

A implementação de um sistema de controlo interno numa organização, seja por exigência legal

ou por necessidade de gestão, é uma tarefa marcante que envolve expetativas e dúvidas de

natureza humana e que, por representar algo considerado novo, requer quebra de paradigmas e

mudanças de comportamento que não raramente geram resistência e dúvidas quanto ao sucesso

da sua implementação.

A decisão de implementar um sistema de controlo interno deve passar por uma análise, pois

depende de uma série de variáveis, como a cultura organizacional, tamanho da instituição,

especificidades da atividade, etc.

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Seguidamente, descrevem-se as fases da implementação do sistema de controlo interno no

Politécnico de Leiria.

1.ª Fase – levantamento e registo do SCI

Para se efetuar o levantamento do sistema de controlo interno existente, seguiu-se a

determinação do Tribunal de Contas de análise de documentos escritos, nomeadamente: da

legislação, regulamentos e normas internas; dos objetivos da entidade; dos organogramas legais

e reais; e da estrutura da entidade que, normalmente, compreende:

A identificação e descrição de funções;

As principais delegações de competências/responsabilidades;

O número de trabalhadores;

Os manuais de procedimentos ou descritivos dos métodos de funcionamento, incluindo

os sistemas administrativo, contabilístico e financeiro;

Os dados relativos às principais operações financeiras, incluindo as dotações

orçamentais dos três últimos exercícios; e

A informação contabilística e financeira relevante.

Como formas de revisão e levantamento dos sistemas de controlo interno foram utilizados: a

entrevista e o questionário (check list); como métodos de descrição dos sistemas de controlo

interno foram utilizados: a narrativa, o fluxograma e a forma mista; como formas de registo do

sistema de controlo interno: o questionário, a narrativa, o fluxograma e a forma mista.

2.ª Fase – documentação

Nesta fase, organizou-se a documentação que identifica as áreas responsáveis pela produção da

informação. A documentação a ter em conta para a identificação é, designadamente, legislação,

regulamentos e normas internas; organogramas / manuais de descrição de funções, de

responsabilidades e delegações de competências; sistemas administrativos, contabilísticos e

financeiros implantados; e dados relativos às principais operações.

3.ª Fase – reuniões técnicas

Nesta fase foram realizadas as reuniões técnicas com os responsáveis de setor.

4.ª Fase – identificação de requisitos

Fase em que se procedeu à análise dos documentos de identificação de requisitos por áreas de

controlo interno.

5.ª Fase – validação

Fase da validação das funcionalidades com os responsáveis dos setores.

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Após a avaliação sobre a adequação do levantamento e registo de controlo interno, foram

avaliados os procedimentos adotados para a prevenção e deteção de erros e irregularidades em

tempo útil.

Manual de Controlo Interno

O Manual de Controlo Interno (MCI) do IPLeiria foi elaborado no estreito cumprimento dos

métodos e procedimentos de controlo legalmente consagrados.

No cumprimento do POC-Educação o MCI compreende a salvaguarda dos ativos, o registo e

atualização do imobilizado da entidade, a legalidade e regularidade das operações, a integridade

e a exatidão dos registos contabilísticos, a execução dos planos e políticas superiormente

definidas, a eficiência da gestão e qualidade da informação e a imagem fiel das demonstrações

financeiras.

O MCI não constitui apenas uma ferramenta para permitir evitar erros, irregularidades ou

fraudes, mas é também um instrumento muito importante para a tomada de decisões, com vista

ao cumprimento da legislação e ao cumprimento das metas traçadas, garantindo que os recursos

sejam aplicados de forma eficiente e eficaz.

É, ainda, um instrumento escrito que permite normalizar e adaptar a toda a instituição os

mesmos métodos de trabalho e funcionamento. Sendo o documento em que está expresso o

conjunto de normas e procedimentos de controlo interno a respeitar, os circuitos documentais

desenhados e as regras jurídicas aplicáveis.

Pelos atos que violem o disposto no MCI e respetivos procedimentos, respondem as direções

das Unidades Orgânicas ou Serviços, por si e pelos seus subordinados, sem prejuízo de posterior

responsabilidade pessoal e disciplinar do autor do ato.

O MCI pode ser alterado por deliberação do Conselho de Gestão do Politécnico de Leiria,

sempre que razões de eficiência e eficácia o justifiquem. As dúvidas de interpretação e os casos

omissos serão resolvidos por deliberação do Conselho de Gestão.

O Politécnico de Leiria aprovou a 1.ª edição do MCI em 2008, cuja preparação teve em conta

os requisitos legais, nomeadamente os constantes do POC-Educação, com os devidos

ajustamentos às especificidades próprias do ensino superior, aquando da sua preparação. Esta

1.ª edição incluía os procedimentos de controlo interno nas seguintes áreas: receita, despesa,

operações de tesouraria, cadastro e inventário dos bens e auditoria interna. Continha os

seguintes procedimentos: PCI-R-001 Receita; PCI-R-002 Receitas com emissão de faturas;

PCI-D-001 Fundo de Maneio; PCI-D-002 Aquisição de bens e serviços inferiores a 4987,98€;

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PCI-D-003 Processamento de Abonos; PCI-D-004 Ajudas de custo; PCI-D-005 Contratos de

tarefa e avença; PCI-D-006 Aquisição de bens e serviços; PCI-D-007 Processo de empreitadas;

PCI-D-008 Seguros; PCI-OT-001 Operações de tesouraria; PCI-CI-001 Cadastro e inventário

dos bens; PCI-OFE-001 Operações de fim de exercício; PCI-ACI-001 Auditoria e controlo

interno.

Com o passar do tempo, porém, esta 1.ª edição tornou-se desadequada e, em 2012, foi

necessário proceder à respetiva atualização, tendo sido aprovada a 2.ª edição do MCI

(http://www.ipleiria.pt/ipleiria/informacao-de-gestao/), que integra princípios e procedimentos

de controlo interno a adotar, com o objetivo de apoiar a gestão dos recursos públicos de acordo

com a lei e com os requisitos de economia, eficiência e eficácia.

Estrutura do MCI

O MCI do Politécnico de Leiria, está estruturado por artigos referentes às disposições pelas

quais se rege, à caraterização da instituição, ao controlo interno e aos procedimentos de controlo

interno; é aplicável a todos os serviços abrangidos por ele e vincula todos os colaboradores do

IPLeiria.

O MCI inclui três princípios básicos que lhe dão consistência: a segregação de funções; o

controlo das operações; e a definição de autoridade e de responsabilidade.

Na definição das funções de controlo e na nomeação dos respetivos responsáveis o MCI atende:

À identificação das responsabilidades funcionais;

Aos circuitos obrigatórios dos documentos e às respetivas verificações;

Ao cumprimento dos princípios da segregação de funções, nomeadamente para

salvaguardar a separação entre o controlo físico e o processamento dos correspondentes

registos.

Os documentos que integram processos administrativos, todos os despachos e informações

sobre eles exarados e os documentos do sistema contabilístico devem sempre identificar os

dirigentes e demais trabalhadores que os subscrevem, bem como a qualidade em que o fazem,

de forma legível.

O MCI instituí os procedimentos de controlo interno, estruturados nas seguintes cinco áreas de

controlo interno: Receita; Despesa (pessoal; bens e serviços; empreitadas; património); Outras

operações; Prestação de contas; e Auditoria.

Área Procedimento de Controlo Interno (PCI)

Receita

PCI-R-01 – Receita: propinas, taxas, emolumentos e outros

PCI-R-02 – Receita: candidaturas on-line

PCI-R-03 – Receita: com emissão de venda a dinheiro

PCI-R-04 – Receita: com emissão de fatura

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PCI-R-05 – Receita: prestação de serviços à comunidade

PCI-R-06 – Receita: vales

PCI-R-07 – Receita: projetos

PCI-R-08 – Receita: Orçamento do Estado

Despesa

PCI-D-01 – Despesa: pessoal - processamento de abonos.

PCI-D-02 – Despesa: pessoal - ajudas de custo e transporte

PCI-D-03 – Despesa: bens e serviços - fundo de maneio

PCI-D-04 – Despesa: bens e serviços - ajuste direto simplificado

PCI-D-05 – Despesa: bens e serviços - ajuste direto

PCI-D-06 – Despesa: bens e serviços - concurso público

PCI-D-07 – Despesa: empreitadas

PCI-D-08 – Despesa: património - cadastro e inventário dos bens

PCI-D-09 – Despesa: património - abate dos bens

Outras operações PCI-O-01 – Operações extraorçamentais

PCI-O-02 – Reposições

Prestação de contas PCI-PC-01 – Operações de fim de exercício

PCI-PC-02 – Contabilidade analítica

Auditoria PCI-A-01 – Auditoria interna

Com as alterações impostas pela adequação do sistema de informação ao SNC-AP o IPLeiria

está a implementar a 3.ª edição do MCI.

CONCLUSÕES

Desde 2008 que o IPLeiria dispõe de sistema de controlo interno transposto para um manual

que é acolhido em todos os níveis hierárquicos da gestão. Após 5 anos de prática, foi aprovada

uma 2.ª edição que, com o SNC-AP terá 5 anos de vigência.

A experiência de implementação do sistema de controlo interno justifica-se muito para além do

imperativo legal; o seu objetivo mais elevado deve ser o valor que ela agrega à entidade.

Conclusões

As principais conclusões deste artigo de estudo de caso são:

O sistema de controlo interno do IPLeiria observa a segregação de funções, o controlo

das operações, a definição de autoridade / responsabilidade e o registo sistemático dos

factos.

O sistema de controlo interno do IPLeiria reflete o absoluto comprometimento dos

órgãos de gestão e a competência do pessoal, o qual deve possuir as habilitações

literárias e técnicas como também a experiência profissional necessária ao desempenho

das suas funções, são fatores determinantes para o seu sucesso.

A monitorização do sistema de controlo interno do IPLeiria, designadamente dos

procedimentos, é assegurada pelo GACI e pelos responsáveis dos Serviços, tem por base

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um sistema adequado de gestão de riscos (Plano de Gestão de Riscos), e permite garantir

a respetiva atualização, adequação e eficácia em todas as áreas de intervenção.

Perante o exposto neste trabalho conclui-se que o sistema de controlo interno deve estar

presente em todas as instituições de ensino superior público, atuando de forma preventiva em

todas as suas funções: administrativa, jurídica, orçamental, contabilística, financeira,

patrimonial, académica e recursos humanos.

O sistema de controlo interno deverá ser objeto de um processo de monitorização que assegure

a respetiva adequação e eficácia.

Perspetivas de pesquisa futura

A sensibilidade e aprendizagem adquiridas permitem sugerir algumas linhas para pesquisa em

estudos futuros, por exemplo:

Grau de implementação do sistema de controlo interno nas instituições de ensino

superior portuguesas.

Comparação entre procedimentos existentes nos sistemas de controlo interno das

instituições de ensino superior portuguesas.

Análise da execução dos benefícios esperados com a implementação do sistema de

controlo interno.

Análise evolutiva das recomendações dos relatórios do Tribunal de Contas, relacionadas

com os sistemas de controlo interno.

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