14
55 A Importância da Cultura Afro-Brasileira Dentro das Escolas: utilizando a educação musical através das cantigas de domínio público do samba de terreiro Fabiano Paula Camilo 1 Carlos Geovane Nunes 2 DOI: 10.15601/2237-0587/fd.v7n1p55-68 Resumo Este artigo traz parte dos apontamentos e reflexões apresentados em meu trabalho de conclusão de curso de mesmo nome. Em consonância com as leis 10.639/03 e 11.645/08, este trabalho objetiva oferecer uma possibilidade de ação pedagógica que possa contribuir para a prática da educação musical nas escolas, indicando as cantigas de domínio público do samba de terreiros para ensino de música. Este trabalho também apresenta dados e informações sobre a origem dessa modalidade de samba, destacando as possibilidades pedagógicas que podem ajudar o aprendiz a desenvolver a sua educação musical através de metodologias fundamentadas na teoria musical aliada à tradição da cultura negra, que tem a característica de abordar o ensino da música utilizando o corpo como primeiro instrumento base no aprendizado e no fazer musical. Palavras-chave: Samba. Educação musical nas escolas. Cultura afro-brasileira. Cantigas de domínio público. The Importance of Afro-Brazilian Culture in Schools: using musical education through the songs in the public domain from samba de terreiro Abstract This article presents part of the notes and reflections presented in my work of course completion, of the same name. In line with the laws 10.639 / 03 and 11.645 / 08, this paper aims to offer a possibility of pedagogical action that might contribute to the practice of music education in schools, indicating the songs of samba de terreiro in the public domain for 1 Licenciado em Música pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (CEUNIH). Percussionista, dançarino, coreógrafo, compositor, poeta, construtor de instrumentos de percussão, educador musical, restaurador de acordeons e sanfonas. E-mail: [email protected] 2 Especialista em Educação Musical e Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor de Percussão do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (CEUNIH) e da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Fundador do grupo de percussão Tambolelê e do projeto social Bloco Oficina Tambolelê. E-mail: [email protected]

A Importância da Cultura Afro-Brasileira Dentro das

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

55

A Importância da Cultura Afro-Brasileira Dentro das Escolas: utilizando a educação musical através das cantigas de domínio

público do samba de terreiro

Fabiano Paula Camilo1 Carlos Geovane Nunes2

DOI: 10.15601/2237-0587/fd.v7n1p55-68

Resumo

Este artigo traz parte dos apontamentos e reflexões apresentados em meu trabalho de conclusão de curso de mesmo nome. Em consonância com as leis 10.639/03 e 11.645/08, este trabalho objetiva oferecer uma possibilidade de ação pedagógica que possa contribuir para a prática da educação musical nas escolas, indicando as cantigas de domínio público do samba de terreiros para ensino de música. Este trabalho também apresenta dados e informações sobre a origem dessa modalidade de samba, destacando as possibilidades pedagógicas que podem ajudar o aprendiz a desenvolver a sua educação musical através de metodologias fundamentadas na teoria musical aliada à tradição da cultura negra, que tem a característica de abordar o ensino da música utilizando o corpo como primeiro instrumento base no aprendizado e no fazer musical.

Palavras-chave: Samba. Educação musical nas escolas. Cultura afro-brasileira. Cantigas de domínio público.

The Importance of Afro-Brazilian Culture in Schools: using musical education through the songs in the public domain from samba de terreiro

Abstract

This article presents part of the notes and reflections presented in my work of course completion, of the same name. In line with the laws 10.639 / 03 and 11.645 / 08, this paper aims to offer a possibility of pedagogical action that might contribute to the practice of music education in schools, indicating the songs of samba de terreiro in the public domain for

1 Licenciado em Música pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (CEUNIH). Percussionista, dançarino, coreógrafo, compositor, poeta, construtor de instrumentos de percussão, educador musical, restaurador de acordeons e sanfonas. E-mail: [email protected] 2 Especialista em Educação Musical e Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor de Percussão do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (CEUNIH) e da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Fundador do grupo de percussão Tambolelê e do projeto social Bloco Oficina Tambolelê. E-mail: [email protected]

56

teaching music. This paper also presents data and information about the origin of this kind of samba, highlighting the pedagogical possibilities that can help the pupil to develop his musical education through methodologies based on music theory combined with the tradition of black culture, that has the characteristic to approach the teaching of music using the body as first based instrument based for musical learning and musical making.

Keywords: Samba. Music education in schools. African-Brazilian culture. Public domain songs.

Introdução

Saúdo meus ancestrais, agradecendo por todos os ensinamentos que me foram oferecidos nessa vida. Dentro dos limites impostos pelas regras registrais do mundo acadêmico, pretendo me empenhar na promessa de dar maior legitimidade possível às fontes detentoras dos saberes que propiciaram a mutação da energia “samba” em terras brasileiras.

Apesar dos grandes avanços das pesquisas e estudos relacionados às questões étnico-

raciais e as práticas culturais e educativas que envolvem a cultura, tradição e religiosidade

afro-brasileiras, essas, infelizmente, são pouco divulgadas devido a aspectos de intolerância e

preconceito em relação aos templos religiosos de matrizes africanas, popularmente mais

conhecidos no Brasil como “terreiros de candomblé”.

O grande desafio proposto por essa pesquisa é contribuir para a implementação do

ensino de música nas escolas, tendo o samba de terreiro como norteador do aprendizado

musical. Aliando simultaneamente elementos didaticamente filosóficos que atuam na quebra

de preconceitos e estereótipos atribuídos aos negros e suas práticas sócio-culturais, o estudo

justifica-se por contribuir para a implementação das leis 10.639/03 e 11.645/088, que

instituem aos estabelecimentos de ensino formais a obrigatoriedade do ensino da história e

cultura afro-brasileira e indígena, possibilitando mudanças importantes nas diretrizes

curriculares da educação brasileira na promoção de uma educação antirracista.

Sendo assim, este estudo traz apontamentos que revelam indícios contundentes de que

o terreiro é o principal berço do samba, matriz que por sua vez dá origem, principalmente, aos

sambas que se manifestam não só através de cantigas de domínio público, como também na

maioria dos outros estilos ou modalidades de sambas existentes hoje no Brasil. Os

procedimentos adotados para alcançar as reflexões do trabalho consistiram em pesquisa

57

bibliográfica sobre a história e origem do samba, aliada à experiência e vivência do autor com

as práticas do samba e nos terreiros, bem como sua experiência como educador musical.

Neste artigo, serão abordados elementos da matriz étnica, sagrada e profana do samba

de terreiros. Adotaremos o samba como abordagem na prática de ensino, destacando-o

didaticamente como um veículo de filosofia educacional musical que tem como conduta a

valorização, prioritariamente, do corpo enquanto instrumento musical.

Durante a pesquisa, foi constatada a carência de materiais sobre o samba enquanto

possibilidade do ensino musical nas escolas. Dessa maneira, o material oferece alternativas

viáveis para possibilitar educadores, professores e interessados no ensino de uma educação

musical pautada nas práticas afro-brasileiras.

Samba de terreiro e sua origem

“Terreiro” é o termo mais popularmente usado para identificar os templos religiosos

de matrizes africanas no Brasil. É nele que se atribui o nascimento não só do samba, mas

também de diversas manifestações musicais que fazem parte do nosso patrimônio cultural3.

O termo Samba de terreiro foi escolhido nesse estudo para designar essa modalidade

de samba e ao mesmo tempo fazer jus ao local de origem dela. Podemos encontrar elementos

mais detalhados acerca da relação entre o samba e os terreiros na análise de Sodré:

[...] os terreiros - nome dado às comunidades litúrgico-culturais que agrupam os descendentes de africanos no Brasil. Os terreiros de candomblé (Bahia), xangô (Pernambuco), macumba (Rio de Janeiro), tambor de mina (Maranhão), etc. sempre constituíram em polos dinamizadores, não apenas das danças dramáticas brasileiras (maracatus, chegança, reisado, congada, bumba-meu-boi, etc.), mas também de outras danças e cantos profanos. Esta vinculação, fora do terreiro, entre a dança e a religião ainda é perfeitamente evidente no jongo (que já teve seu reduto no bairro carioca de Oswaldo Cruz) do qual é derivado o samba de partido alto, segundo Luís Filipe de Lima (SODRÉ, 1998, p.28).

Os sambas dos terreiros são aqueles que provavelmente se iniciaram por

manifestações de força dos encantados (entidades de luz que se manifestam por meio de

incorporação em pessoas iniciadas nos fundamentos de determinadas religiões de matriz

africana).

3 “... em sua etimologia tem o significado de herança: é um bem ou conjunto de bens que se recebe do pai (pater, patri). Mas é também uma metáfora para o legado de uma memória coletiva, de algo culturalmente comum a um grupo” (SODRÉ, 1988, apud CAPUTO 2012, p.47).

58

Segundo a tradição oral passada pelos mais velhos dessas comunidades religiosas, ao

longo do tempo, os membros pertencentes aos terreiros começaram a cantar algumas cantigas

de samba pertencentes aos encantados, principalmente as cantigas de características mais

lúdicas.

A apropriação exercida primeiramente pelos membros das comunidades religiosas,

consequentemente, veio condicionar o surgimento de composições feitas espontaneamente ao

longo do tempo pelos mesmos. Estas, em sua maioria, trazem nas letras as narrativas de coisas

da vida cotidiana, como por exemplo: falar de namoro, de casamentos, de coisas relacionadas

ao trabalho na roça, ou ainda descrições de partes do corpo como, a cintura, cabeça, bunda,

pé, barriga, umbigo, dentre outros.

É a partir dessa apropriação que as composições tornam-se profanas, pois saem do

espaço religioso para ocupar outros espaços, podendo acontecer em diversos lugares externo

aos terreiros.

A mãe do samba

Os povos africanos denominados bantos são, possivelmente, os responsáveis pela

fonte cultural que dá origem ao samba, por vários traços reconhecíveis em sua identidade

sócio-cultural. O termo Banto foi atribuído por estudiosos do continente africano para

identificar certa família linguística de povos africanos:

[...] o que é Banto, de posse de uma série de informações, vemos que “banto” é uma designação apenas linguística dos integrantes de centenas de grupos étnicos que se localizaram na grande floresta equatorial, ao longo dos afluentes do rio Congo, e abaixo dela, numa faixa que vai de Angola e Namíbia, passando pelo sul do Zaire, até o Oceano Índico. Entretanto, essa denominação se estendeu pelo uso, e hoje, sob a designação “bantos” estão compreendidos praticamente todos os grupos étnicos negro-africanos do centro, do sul e do leste do continente que apresentam características físicas comuns e um modo de vida determinado por atividades afins [...] (NASCIMENTO, 2008 apud LOPES, 2006, p.33–34).

Podemos dizer que em todos os ambientes em que os grupos étnicos bantos estiveram

presentes na condição de escravo, se desenvolveu o samba. Ao longo de sua história, o samba

se tornou elemento não só de divertimento, mas também um importante símbolo de

59

resistência cultural e da afirmação das comunidades afrodescendentes na diáspora4,

ressignificando a cultura negra no Brasil. Segundo Sodré;

Nos quilombos, nos engenhos, nas plantações, nas cidades, havia samba onde estava o negro, como uma inequívoca demonstração de resistência ao imperativo social (escravagista) de redução do corpo do negro a uma máquina produtiva e como uma afirmação de continuidade do universo cultural africano (SODRÉ, 1998, p.12).

Dentro e fora do Brasil, a palavra samba, no senso comum, está relacionada a um

gênero musical. Porém, essa palavra, que a maioria das pessoas desconhece ser de origem

africana, tem valores muito mais elevados do que se pode imaginar. Em terras africanas, a

palavra samba designava direitos sacerdotais e monárquicos, títulos atribuídos exclusivamente

às mulheres.

Nei Lopes, especialista em pesquisas sobre o samba, em sua obra O Novo Dicionário

Banto do Brasil (LOPES, 2003), apresenta diversas significações para o termo samba. Para

justificar o termo samba de terreiro, encontramos a definição religiosa que a palavra samba

tinha antes de sua ressignificação enquanto gênero musical. Segundo Lopes:

Samba [3], s. f. (1) Em antigos terreiros bantos, sacerdotisa com as mesmas funções da equéde dos terreiros nagôs. (2) Em terreiros bantos atuais, filha- de-santo, iaô. (3) Em alguns terreiros de umbanda, auxiliar de mãe de santo ou da mãe pequena (OC) – DO Quimbundo samba, pessoa que vive na intimidade de alguém ou faz parte de sua família; cortesã, dama da corte (LOPES, 2003, p.198).

Podemos encontrar como referências do termo samba, a palavra semba. Esta que é

utilizada por alguns estudiosos como uma das origens do samba. Segundo Santos e Cardoso:

Os escravos chamavam as suas danças de SEMBA, que significava “umbigada” ou “união do baixo” ventre. Pesquisadores semeiam teses sobre a origem da palavra “samba”, que variam de “divindade angolana protetora dos caçadores” a culto à divindade pela dança, passando por SAM, como pagar, BA, como receber, sendo assim a dança do dar e do receber (SANTOS; CARDOSO, 2003, P. 27).

Lopes (2003, p. 203) apresenta as seguintes informações sobre o termo:

SEMBA [1], s. m. Espécie de dança (MM) – Do quimbundo semba, umbigada. Cp. Samba”. Lopes (2003, p.203): “SEMBA [2], s.f. Mulher pertencente à hierarquia sacerdotal, na umbanda (BH) – De samba [3], talvez por erro de grafia”.

SAMBA [1], s. m. (1) Nome genérico de várias danças populares brasileiras. (2) A música que acompanha cada uma dessas danças – Do quioco samba, cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito; ou do quicongo samba, espécie de dança em que um dançarino bate contra o peito do outro (Laman, pág.870). No umbundo, semba é a “dança caracterizada pelo apartamento dos dois dançarinos que se encontram no meio da arena” da raiz semba, separar (Alves 1951), que também originou o

4 Nas pesquisas realizadas sobre o termo diáspora, encontramos seu significado relacionado à dispersão dos povos, com ênfase nos judeus. Nessa pesquisa, utilizamos o termo para nos referir ao processo de migração forçado a qual os africanos foram submetidos no período escravocrata.

60

multilinguístico disemba. Pl. masemba, umbigada. Vê-se, então, que o choque de um dançarino contra o outro (Laman) e o consequente apartamento (Alves) é nada mais que a umbigada que ainda hoje caracteriza o samba, em suas formas mais antigas. Assim, podemos apontar como étimo remoto o termo multilinguístico semba, cuja raiz é a mesma do quicongo e do quioco samba (LOPES, 2003, p. 197-198).

A importância do samba dentro das escolas como ação para a promoção da cultura afro-

brasileira.

A historiografia oficial, disseminada nos ambientes escolares, não aborda as devidas

contribuições das culturas africanas na construção da identidade cultural e da sociedade

brasileira. Temos, nas escolas públicas, a história oficial eurocêntrica e hegemônica que

mantém um viés colonizador e universalista que não reconhece a multiculturalidade,

resultando na exclusão e na invisibilidade da história dos povos negros e indígenas.

Ao abordar a prática do samba de terreiro nas escolas contribuímos para afirmação de

uma representatividade afro-brasileira e sua importância histórica e cultural, tornando-se um

instrumento que pode ser utilizado na produção de ações e pensamentos pedagógicos

pautados nas tradições africanas e afro-brasileiras.

A criação da lei 10.639/03, complementada pela lei 11.645/08 que regula questões

sobre a cultura e história indígena, é um importante passo para a adoção de ferramentas

pedagógicas do ensino de música afro-brasileira nas escolas. Essa lei tem sua função descrita

no I Relatório das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-

Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004, p. 9) 5, e

apresentou um avanço na possibilidade de discussão acerca de uma educação anti-racista.

O samba, com todo o seu legado, é um viés interessante de se adotar como prática

pedagógica eficiente na implementação da lei 10.639/03 nas escolas. A aplicação de

atividades que inter-relacionem a educação musical aos fatores que reverenciam os valores da

cultura afro-brasileira promove uma nova concepção ao ensino musical, propagando

5 Este parecer visa a atender os propósitos expressos na Indicação CNE/CP 6/2002, bem como regulamentar a alteração trazida à Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pela Lei 10.639/2000, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica. Desta forma, busca cumprir o estabelecido na Constituição Federal nos seus Art. 5º, I, Art. 210, Art. 206, I, § 1° do Art. 242, Art. 215 e Art. 216, bem como nos Art. 26, 26 A e 79 B na Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que asseguram o direito à igualdade de condições de vida e de cidadania, assim como garantem igual direito às histórias e culturas que compõem a nação brasileira, além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura nacional a todos brasileiros.

61

informações desmistificadoras que desconstroem opiniões preconceituosas sobre as

manifestações culturais de origem africana.

O samba, sendo uma das manifestações culturais de origem africana mais

representativa no Brasil e conhecida no território nacional e no exterior, obtém detalhes que

podem ilustrar a memória ancestral do povo afro-brasileiro a partir de um ponto de vista

positivo. Para Nascimento:

Portanto, o samba, semba ou batuque, que já nasceu polêmico, atravessou o Atlântico nos navios negreiros (tumbeiros), incorporou os chocalhos e maracás dos povos indígenas, anexou a viola dos portugueses, e deu origem ao ritmo de maior popularidade no país e que hoje é referência do Brasil em qualquer parte do mundo (NASCIMENTO, 2003, p. 28).

As aulas de história na escola continuam abordando o negro negativamente, focando-o

somente na condição de escravo. Não se fala sobre as inúmeras contribuições e riquezas

existentes na nossa cultura promovidas pela presença do povo negro no Brasil, sobre essa

invisibilidade e subalternidade, afirma Valentin;

É ainda comum que nos livros didáticos o povo africano apareça em condições isoladas, de desvantagem, de inferioridade ou de submissão, construindo estereótipos no imaginário dos alunos. Com isso, são eliminadas do conhecimento da cultura considerada civilizada as informações sobre o povo africano, reduzindo-o, simplesmente, a um estereótipo de primitivo e incapaz; desrespeitando-se assim as origens da população negra e mestiça (VALENTIN, 2004, p.8).

As cantigas do samba de terreiro são evidenciadas neste estudo como elemento

principal a ser utilizado como ferramenta pedagógica, devido principalmente à sua

importância para o patrimônio cultural nacional. Nos dizeres de Barbosa:

É importante também apontar o valor da canção como instrumento de representação da nossa cultura. As canções são um meio de transmitir e conservar elementos culturais de um povo, um país ou uma região e isso pode ser feito através das canções folclóricas, regionais e até mesmo das cantigas de roda. As canções folclóricas retratam hábitos de um povo e se referem a lendas, mitos, comidas, festas, utensílios, brincadeiras e enfeites que foram conservados e transmitidos de geração em geração. Nesse sentido, essas canções representam uma forma de expressão cultural que retrata a riqueza de um povo. No entanto, as canções folclóricas vêm, paulatinamente, caindo no esquecimento. Basta observarmos que, em um grupo de crianças brincando, dificilmente as canções folclóricas vão ser cantadas durante a brincadeira. Isto se deve em parte pelo contato que estas têm com a música veiculada na mídia. As crianças dos grandes centros urbanos são influenciadas diretamente pela televisão e pelo rádio. É razoável supor que elas reproduzirão o que estão habituadas a ouvir, o que justifica o desconhecimento de muitas canções que fazem parte do folclore e da cultura brasileira (BARBOSA, 2008, p.5).

Elementos musicais que compõe o samba de terreiro e as suas ferramentas pedagógicas

62

Quando o samba de terreiro desloca-se do terreiro e passa a ocupar os diversos

espaços, ele apresenta uma performance que tem caráter lúdico e inclusivo. Todos os

presentes, mesmo os que ali estejam pela primeira vez, são convidados a participar, cantando

as respostas corais, batendo palmas no ritmo e até mesmo dançando no meio da roda,

conforme as circunstâncias da cena.

Os elementos humanos presentes no universo do samba são identificados como:

puxador ou cantador6, sambadores ou sambadeiras7. Essas pessoas se revezam em várias

funções tais como: entoar as cantigas, tocar e dançar respectivamente. O saber musical e o

aprendizado desta modalidade de samba têm suas bases fundamentadas nas características

tradicionais da cultura negra. Tais saberes prezam muito a importância da corporeidade na

compreensão musical. O corpo é primordial no fazer musical. Ele é parte da música e se torna

não só executor musical através dos instrumentos e do canto, mas também uma partitura

orgânica que se expressa gestualmente pela dança, interpretando sensações sonoras e o

próprio ritmo.

Na cultura negra, entretanto, a interdependência da música com a dança afeta as estruturas formais de uma e de outra, de tal maneira que a forma musical pode ser elaborada em função de determinados movimentos de dança, assim como a dança pode ser concebida como uma dimensão visual da forma musical (SODRÉ, 1998, p.22).

Podemos dizer que as cantigas exercem um papel fundamental no acontecimento desta

modalidade de samba. Elas trazem, em suas letras, mensagens que sugerem comandos

corporais que devem ser dançados e cantados ao mesmo tempo, na maioria das vezes. Estes

atos descritos e propostos pelas cantigas trazem consigo inúmeras ludicidades que

possivelmente podem tornar o aprendizado musical mais estimulante e aplicável em todas as

faixas etárias. As cantigas são representadas por melodias cantadas. Sem elas, existirá apenas

nesta proposta, o som da percussão instrumental ou corporal através de palmas, o que pode

limitar as possibilidades de se trabalhar outras habilidades musicais que vão além do ritmo.

Cada pessoa fica livre para expressar os movimentos indicados pelas cantigas de

acordo com sua corporeidade individual e suas limitações. Assim, podemos pensar a cantiga

também como uma estratégia criadora no ambiente educacional. O aprendiz, motivado a se

mostrar corporalmente, poderá fornecer ao educador musical ferramentas que possam

proporcionar atividades que exercitem o próprio corpo como o primeiro instrumento a qual se

6 Puxador ou cantador : aquele que faz a pergunta cantada para os elementos que compõem a roda de samba. 7 Sambador ou sambadeira: denominação masculina e feminina daqueles que fazem parte do samba.

63

aprende a dominar. Sobre a educação musical expressada através do corpo, destacamos o

educador musical Dalcroze e a sua teoria chamada “Euritmia”. Segundo Goulart e Fernandes:

[...]. Aos 27 anos de idade, como professor no Conservatório de Música de Genebra e já então um compositor reconhecido, Emile Jaques-Dalcroze constatou que os estudantes não conseguiam ouvir (pela escuta interna ou mental) a música que viam escrita na partitura impressa, e que estes mesmos estudantes executavam o que liam de uma forma mecânica e pouco musical. [...]. Assim, percebeu que o primeiro instrumento musical que se deveria treinar era o corpo. [...] Euritmia significa literalmente “bom ritmo” (de eu = bom, rhythm = fluxo, rio ou movimento). A euritmia de Dalcroze estuda todos os elementos da música através do movimento, partindo de três pressupostos básicos: Todos os elementos da música podem ser experimentados (vivenciados) através do movimento; Todo som musical começa com um movimento - portanto o corpo, que faz os sons, é o primeiro instrumento musical a ser treinado; Há um gesto para cada som, e um som para cada gesto. Cada um dos elementos musicais - acentuação, fraseado, dinâmica, pulso, andamento, métrica - pode ser estudado através do movimento (GOULART; FERNANDES, 2000, p. 5).

Orientações metodológicas para o ensino da música através do samba de terreiro.

É de extrema importância a utilização dos recursos do samba para a musicalização.

Através de concepções pedagógicas que dialoguem com o aprendizado formal e o informal

das práticas educativas, as manifestações dos Samba de terreiro preservam principalmente

abordagens peculiares da cultura negra. Por isso, o estudo aponta a importância do educador

se atentar em não desprezar a aprendizagem oral, historicamente utilizada para transmitir os

saberes necessários para o ensino dessa modalidade de samba, reivindicando sua importância

como tradição afro-brasileira. Este aprendizado vem resistindo na atualidade, embora muitas

vezes seja visto e classificado como ultrapassado ou frágil em relação à preservação da

memória da cultura em si. Para Abib:

A grande maioria das tradições populares ainda tem, na oralidade, o seu meio mais importante de transmissão, já que a escrita - juntamente com os meios formais de aprendizado, como a escola, por exemplo - não tem um papel central nos processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos pelos sujeitos protagonistas dessas tradições. Nesse universo, a oralidade ainda prevalece resistindo aos avanços da modernidade (ABIB, 2005, p. 25, apud SANTOS; CARDOSO, 2009, p. 102).

O processo de aprendizado deve ser apresentado e repassado aos alunos sem

imposições de regras metodológicas desenvolvidas pela educação musical de tradição

européia. As práticas devem estar envolvidas primeiramente a observação, ouvindo histórias

de origem de todos os elementos presentes no samba de terreiro, vivenciando gradativamente

a estrutura musical da linguagem, apreciando DVDs, documentários, CDs e outras tecnologias

e instrumentos pedagógicos. É fundamental que os educadores promovam aulas-passeio,

64

direcionadas à visita de ambientes em que o samba de terreiro acontece. Assim, o aprendiz

vivencia, através da prática, a realização do samba de terreiro em seu contexto tradicional.

Ao adotar essa maneira de “se aprender na tradição afro - brasileira”, trazemos ao

ambiente escolar contribuições para transformações que atuem no processo de construção e

aplicação de metodologias que promovam a autonomia para o educando como aprendiz.

Exemplo do que afirma Oliveira, (1996, p. 10), “Uma pedagogia fundada na ética, no respeito

à dignidade e à própria autonomia do educando”. Concepção pedagógica também defendida

pelo educador Koellreutter na abertura oficial do Primeiro Seminário Internacional de Música,

em Salvador, Bahia:

Sabemos que é necessário libertar a educação e o ensino artísticos de métodos obtusos que ainda oprimem os nossos jovens e esmagam, neles, o que possuem de melhor. A fadiga e a monotonia de exercícios conduzem à mecanização tanto dos professores quanto dos alunos. [...] Inútil a atividade daqueles professores de música que repetem, doutoral e fastidiosamente, a lição já pronunciada no ano anterior. Não há normas, nem fórmulas, nem regras, que possam salvar uma obra de arte na qual não vive o poder de invenção. É necessário que o aluno compreenda a importância da personalidade e da formação do caráter para o valor da atuação artística e que na criação de novas ideias reside o valor do artista (KOELLREUTTER, 1997 apud BRITO, 1997, p.4).

Elementos pedagógicos presentes no samba de terreiro e suas atribuições para o ensino

da música.

Cantigas/oralidade

A abordagem educativa para a prática musical proposta deve se iniciar através da

oralidade das cantigas presentes nos sambas de terreiro. Essas cantigas, em geral, são de

autoria desconhecida, classificadas como de domínio público. As letras se apresentam como

narrativas dos acontecimentos da vida cotidiana, algumas também trazem parlendas8 e

onomatopéias9 que objetivam a imitação de sons de instrumentos musicais e sons emitidos

por animais. As cantigas são patrimônios imateriais que pertencem a uma longa tradição de

uso da linguagem para cantar, recitar e brincar. Foram passadas “boca a boca” das pessoas

mais velhas para as pessoas mais novas e oferecem possibilidades de trabalhar exercícios

vocais para o canto e a criatividade, uma vez que existem os sambas versados, que exigem

8 Parlendas: são frases com rimas ou versos recitados em brincadeiras; podem ser utilizadas em atividades de memorização. Fazem parte do folclore brasileiro pois representam uma importante tradição cultural do nosso povo. 9 Onomatopeias: imitações de sons com fonemas ou palavras. Ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza e barulho de máquinas fazem parte do universo das onomatopeias. Ex.: quando dizemos que o grilo faz “cri-cri”.

65

que as pessoas improvisem versos que são entoados intercaladamente ao refrão principal. As

mesmas são acompanhadas pelos instrumentos que compõem a base tradicional da estrutura

musical do samba de terreiro: atabaque, agogô e, contemporaneamente, vários grupos

passaram a incorporar instrumentos como o pandeiro, a timba, o surdo, o tantan, a bacurinha e

o tamborim, dentre outros.

As cantigas do samba de terreiro se dividem em funções específicas na sua ação

dinâmica e, podem ser nomeadas da seguinte forma:

Cantigas de abertura são as que têm a função de iniciar o samba, pedir licença ao

dono (a) da casa ou ao local onde será realizado o samba:

Eu cheguei agora Êh ê ê ... / eu cheguei agora (pc)10 Nesse palácio de ouro arrodeado de jóia. (pc)

Cantigas de martelo são as que têm a função de duelo. Nelas, as pessoas se desafiam,

entoando versos com intencionalidade de diminuir o caráter do outro.

Cantigas de namoro são aquelas cujas letras contêm pedidos de casamento, namoros,

beijos e, a louvação do ser feminino e masculino:

Eu vô me embora pra Mina Eu vô me embora pra mina / que na mina eu me do bem Vô casar com uma mineira / vô ser mineiro também. (pc)

Cantigas de viola são as que reverenciam o instrumento musical viola, mas ao mesmo

tempo pode ter a conotação metafórica relacionada ao corpo da mulher.

Cantigas de pandeiro são as que exaltam a masculinidade e, podem estar associados

metaforicamente ao homem.

Cantigas de despedida são aquelas que têm a função de anunciar o fim do samba:

Adeus Gente Adeus gente / adeus gente Adeus que eu já vou - me embora / adeus gente. (pc)

10 As cantigas são de caráter responsorial: A parte do puxador está representada pela letra (p) e a parte do coro está representada pela letra (c).

66

Corporeidade / dança

A umbigada é um elemento importante a ser ensinado, por ser um ato que serve

também para convidar o outro a sambar. Esse ato acontece através do encontro de uma barriga

na outra.

A palma é o segundo elemento a entrar, logo depois da cantiga. Ela pode ser

trabalhada no sentido de desenvolver habilidades relacionadas ao ritmo e ao tempo, podendo

se recriar várias configurações rítmicas de ostinatos11 a partir da célula rítmica matriz.

A dança do samba de terreiro, parte fundamentalmente da base dos pés, onde os que

sambam, movimentam-se arrastando.

Considerações finais

Conforme afirmado nas reflexões desse artigo, o samba de terreiro é um gênero

musical importante para se realizar a prática da educação musical nas escolas. Ele traz

consigo fatores importantes que além da música, se reportam à sua origem histórica vinculada

à tradição afro-brasileira. O povo africano e seus descendentes, mesmo em regime

escravocrata por séculos a fio, privados dos seus direitos e com a liberdade tardia, resistiram o

tempo todo, principalmente à colonização dos seus corpos e dos seus valores ancestrais.

Mesmo em condições desumanas, eles conseguiram recriar as suas heranças, enriquecendo o

nosso país com uma variedade de manifestações culturais, dentre elas o samba e sua origem

nas senzalas e nos terreiros.

Ao apontar uma das inúmeras possibilidades de se realizar a educação musical através

da cultura afro-brasileira, esse trabalho dialoga e contribui na implementação da lei

10.639/2003, fortalecendo os estudos sobre a identidade musical brasileira. A expectativa é

que as reflexões venham inspirar ideologicamente outros educadores, estimulando ações que

considerem a possibilidade de transformação das maneiras de se educar musicalmente na

11 Ostinato: Estrutura que se repete inúmeras vezes. Termo originado da palavra obstinado. Ex.: ostinatos rítmicos.

67

atualidade, promovendo uma prática de ensino que utilize didaticamente ferramentas que

incluam os nossos valores musicais nacionais.

No intuito de reverenciar o legado musical e cultural trazido pelos povos bantos e

ressignificado no Brasil, esse estudo traz contribuições didáticas e históricas no ensino da

música. Didaticamente, podemos destacar o samba como um veículo de filosofia educacional

musical que ressalta a cultura afro-brasileira. Ao priorizar e valorizar o corpo como

instrumento musical, além de reforçarmos a consciência dos aprendizes em relação a sua

cultura, apresenta a ludicidade como um elemento importante na condução das aulas.

Evidentemente esse estudo é apenas um pequeno movimento para se adentrar,

desvendar e apresentar todo o imenso universo de recursos pedagógicos existentes no samba

proveniente dos terreiros. A intenção é que as apresentadas neste trabalho possam inspirar

outros educadores, estimulando o desenvolvimento de ações que transformem as maneiras de

se educar musicalmente, no sentido de promover uma prática de ensino que utilize

didaticamente ferramentas que incluam, principalmente, os nossos valores musicais nacionais.

Durante a pesquisa percebemos a carência de materiais sobre o assunto, bem como de

elementos pedagógicos que pudessem informar e auxiliar os interessados em educação

musical por meio da modalidade trabalhada. Além da pesquisa teórica, é importante que o

educador vivencie espaços onde essa manifestação acontece, materializando seus

conhecimentos para a aplicação em sala de aula.

Referências ALMEIDA, Maria Inês de. Índios Pensamento Educação. Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas do Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas Literaterra . Revista Tabebuia- FIEI/UFMG. 1ª edição. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. BARBOZA, Valéria Cristina Mofati Moraes. O Papel das Canções na Educação Infantil. 2008. 73f. Monografia (Licenciatura em Música). Instituto Villa-Lobos, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. BARON, Dan. Alfabetização Cultural: A luta íntima por uma nova humanidade. 1ª edição. São Paulo: Alfarrabio Editora, 2004. 432p. BRASIL, Brasília. Lei 10.639 de 9 de Janeiro de 2003. Ementa Altera a lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e cultura afro-

68

brasileira” e dá outras providências. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília, outubro de 2004, p.35. BRITO, Teca Alencar de. O humano como objetivo da educação musical: o pensamento pedagógico-musical de Hans Joachim Koellreutter. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2001. 10 p. CAPUTO, Stela Guedes. Educação nos terreiros: e como a escola se relaciona com as crianças de candomblé. Rio de Janeiro: Pallas, 2012. 269p. CONVIVER, Grupo et al. Diversidade e convivência: vencendo desafios. Bahia: EDUFBA, 2009. 256p. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FRUNGILIO, Mário D. Dicionário de percussão. São Paulo: Editora UNESP: Imprensa Oficial do Estado, 2003. 426p. GOULART, Diana; FERNANDES, José Nunes. Dalcroze, Orff, Suzuki e Kodály: semelhanças, diferenças, especificidades. 2000. 22p. Disponível em: <http://www.dianagoulart.com/Canto_Popular/Educadores.html>. Acesso em: 10 maio 2015. LOPES, Nei. Novo dicionário banto do Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2003. 260 p. NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). Cultura em Movimento: Matrizes africanas e ativismo negro no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2008. 307p. SANTOS, Elzelina Dóris dos; CARDOSO, Marcos Antônio. Contando a história do samba: caderno de textos. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2003. 79p. SILVA, Alberto da Costa e. Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Nova Fronteira Ed. UFRJ, 2003. 287p. SODRÉ, Muniz. Samba o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. 112p. VALENTIM, Rute Martins; BACKES, José Licínio. A lei 10.639/03 e a educação Étnico - cultural /racial : reflexões sobre novos sentidos na escola. II SEMINÁRIO INTERNACIONAL: FRONTEIRAS ÉTNICO-CULTURAIS FRONTEIRAS DA EXCLUSÃO. Campo Grande, MS, 2008. Anais...Campo Grande: Universidade Católica Dom Bosco, 2008. Disponível em: <http://www.neppi.org/eventos.php>. Acesso em: 05 maio 2015.