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A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E AMBIENTAL DO
SEGMENTO CATADORES SUCATEIROS NA PROPOSTA DE RECICLAGEM DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS URBANOS (RSU)
Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade
Antonio Barros
Resumo: A geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) tem superado a taxa de crescimento populacional
(ABRELPE, 2012) ameaçando ar, solo e água. Estima-se que, ao menos, 30% do RSU sejam recicláveis.
Castro e Neves (2012) observam que apesar de a Coleta Seletiva (CS) estar presente em 60% dos municípios
brasileiros, sua abrangência, não raro, limita-se aos bairros centrais. Paradoxalmente, enquanto é baixa a
recuperação pela coleta seletiva, são altas as margens de reciclagem, como demonstram a ABRELPE (2012)
e CEMPRE (2012).Isto mostra a existência de um caminho de recuperação de recicláveis que não passa pelo
sistema de limpeza urbana e que precisa ser convenientemente estudado. O procedimento metodológico
adotado na pesquisa é o estudo de caso, sendo a abordagem qualiquantitativa. Fez-se uma pesquisa piloto em
Campo e entrevistas com questões semiestruturadas junto a comerciantes de materiais recicláveis.
Contrapostos os resultados encontrados, ver-se que o setor privado recupera 20 vezes mais materiais
recicláveis que o programa de Coleta Seletiva da Prefeitura de Campos dos Goytacazes, através da
concessionária de limpeza urbana. Conclui-se que é interessante rever a concepção do serviço de coleta
seletiva e criar estímulos à organização e sustentação do segmento catador/comerciante de recicláveis, cujo
desempenho na recuperação é superior
Palavras-chaves:
ISSN 1984-9354
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1. INTRODUÇÃO
O fenômeno da urbanização trouxe para a gestão dos serviços grandes desafios. No caso da
limpeza urbana, a coleta e o destino a ser dado aos Resíduos Sólidos Domésticos (RDO),
presentes nos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) demandam expressivos recursos financeiros e
participação da população. De acordo com Castro e Neves (2012), a destinação inadequada do
RSU gera problemas sociais e de saúde afetando, no plano ambiental, o solo e os mananciais
de água.
A coleta seletiva de resíduos recicláveis é apontada como boa alternativa econômica e
ambiental. No Brasil, a compostagem é muito pouco utilizada na área de resíduos e a coleta
seletiva de materiais recicláveis não é ainda significativa e enfrenta grandes desafios para sua
disseminação. No entanto, os índices de reciclagem do país colocam-se entre os melhores do
mundo, sendo que as latinhas de alumínio são recicladas no Brasil com índice muito próximo
dos 100% (ABRELPE, 2012).
A reciclagem dessa embalagem é recente no país, como nota Layrargues (2004): “Em
1991, inicia-se no Brasil, a reciclagem da lata de alumínio, de modo sistematizado, com a
criação do Programa Permanente para Reciclagem da Lata de Alumínio pela Reynolds
Latasa”.
No caso do papel/papelão, o desempenho na reciclagem no Brasil tem sido crescente
também. De acordo com a Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA, 2014) a
taxa de recuperação de papéis recicláveis era em 1990 de 36,1%; em 2012 foi de 45,7% e, em
2005, 46,9%. No caso do plástico, as embalagens de PET detêm os melhores resultados na
reciclagem saltando de 16,2% em 1997 para o 58,9% em 2012 (ABIPET, 2014). São
significativos também, os recursos financeiros empregados na limpeza urbana no Brasil
chegando em 2012 a R$ 23 bilhões (ABRELPE, 2012).
Naquele ano foram gerados no país 62.730.096 toneladas de RSU sendo que 42%
tiveram destinação final inadequada (ABRELPE, 2012), como mostra o gráfico a seguir.
Considerando-se o potencial reciclável do RSU brasileiro, estimado em 30%, deduz-se que
potencialmente, cerca de 19 milhões de toneladas poderiam ser recuperados e destinados à
reciclagem.
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FIGURA 01 - Quantidade de RSU gerado no Brasil em 2011 e seu destino final. Fonte: ABRELPE, 2012.
A coleta seletiva estava presente em 2012 em 60% dos municípios, mas sua extensão é
problemática, vez que “muitas vezes estas atividades resumem-se à disponibilização de
pontos de entrega voluntária ou convênios com cooperativas de catadores, que não abrangem
a totalidade do território ou da população do município” (ABRELPE, 2012). Apesar de o
número de cidades com o serviço estar aumentado, tendo sido registrado sua extensão a cerca
de 22 milhões de brasileiros em 2010, naquele ano a coleta, no entanto, não cobria, na maioria
dos casos, mais que 10% da população local (CEMPRE, 2010).
O Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza (WWF, 2014) afirma, como
resultado de pesquisa, que 85% da população brasileira que não conta com o serviço de coleta
seletiva mostra disposição para separar resíduos sólidos domésticos recicláveis. O custo da
coleta seletiva é ainda elevado. Em seu levantamento anual, o Compromisso Empresarial para
a Reciclagem (CEMPRE) constatou que em 2012, a coleta regular custou aos municípios
pesquisados em média R$ 95,00 contra R$ 424,00 da coleta seletiva (CEMPRE, 2012).
Por essas razões, e ainda considerando haver pouca informação sobre a qualidade do
serviço praticado, presume-se que tanto no montante destinado inadequadamente a lixões e
aterros controlados, quanto aos sanitários, há expressiva quantidade de RSU reciclável ou
compostável. O universo de desperdício possivelmente não é mais amplo dado o circuito
formal/informal representado por catadores/comerciantes.
2 Formulação da situação problema
A questão que o presente artigo busca evidenciar é que há no país um paradoxo em relação às
soluções para a limpeza urbana: a recuperação de materiais recicláveis através da coleta seletiva
recomendada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) - Lei 12.305/2010 - é precária,
enquanto são bons os índices de reciclagem no país. Isto mostra a existência de um caminho de
recuperação de recicláveis que não passa pelo sistema de limpeza urbana e que precisa ser
convenientemente estudado.
2.1 Objetivo
Tendo Campos dos Goytacazes como estudo de caso, mostrar a extensão e importância do
comércio privado de RSU reciclável no território municipal, seu potencial ambiental e econômico
confrontando seu desempenho ao do programa de coleta seletiva municipal.
3 Método
O método de investigação adotado foi o estudo de caso tendo-se o município de Campos dos
Goytacazes, no Norte Fluminense, como referência micro regional para um comportamento que
acredita-se ser macro regional, ou seja, os municípios apresentam uma escala reduzida da maneira
como o sistema está a funcionar nacionalmente. Neste estudo de caso, trabalhou-se com as pesquisas
bibliográfica e exploratória. Para Yin (2010), o estudo de caso não é um método de pesquisa
necessariamente identificado com estudos qualitativos, podendo flexibilizar seu campo de
considerações incluindo formas qualiquantitativas. Minayo (1993) pondera que “o conjunto de dados
quantitativos e qualitativos, porém, não se opõem. Ao contrário, se complementam pois a realidade
abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”. Em relação aos objetivos
propostos e tratamento de dados, seguiu-se uma abordagem qualiquantitativa em que o tratamento dos
dados é descritivo e estatístico, com representações gráficas.
Ainda na fase da pesquisa bibliográfica viu-se necessidade de um momento prévio com
pesquisa exploratória dada a carência de informações sobre o circuito produtivo representado por
catadores de materiais recicláveis e os comerciantes do setor. Assim, optou-se pela pesquisa piloto e
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um pré-teste vistos por Lakatos e Marconi (2008) como oportunidades de “testar o instrumento de
coleta de dados” e ainda “verificar a adequação do tipo de amostragem escolhido
Por esse motivo foi realizada uma abordagem a munícipes residentes nos distritos de Campos
dos Goytacazes, a catadores individuais de resíduos sólidos recicláveis e a comerciantes de materiais
recicláveis com atuação em bairros centrais e semiperiféricos do município, a fim de constituir um
breve diagnóstico inicial para ajudar a definir elementos metodológicos.
Como o resultado desta abordagem indicou uma hierarquização do segmento produtivo com
especialização por materiais e que o setor é dominado por três comerciantes maiores, optou-se pela
realização de entrevistas com estes comerciantes com aplicação de questionário aberto e questões
semiestruturadas (Apêndice).
Na pesquisa teste foram visitados quatro pontos comerciais e, de forma complementar,
abordados catadores de rua que atuam nos bairros do Centro e Jardim Carioca, respectivamente nas
margens direita e esquerda do Rio Paraíba do Sul. Nessa etapa de observação e interação inicial
procurou-se saber quantos seriam os sucateiros, se atuariam em todo o território municipal, quais
seriam as conexões estabelecidas em seu comércio, dentro e fora do município.
Esse levantamento inicial contribuiu posteriormente para a elaboração de questionário utilizado
na abordagem aos três comerciantes líderes do segmento. Composto de 15 perguntas, o questionário
visou estabelecer os seguintes pontos: histórico, perfil do negócio, quantitativos adquiridos e
revendidos, parceiros e extensão geográfica do segmento.
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4 Resultados
Campos dos Goytacazes é o maior município fluminense em extensão territorial e quinta maior
população do estado. Atualmente possui um satisfatório sistema de limpeza urbana que conta com
aterro sanitário, unidade de tratamento dos resíduos hospitalares, unidade de triagem e compostagem,
coleta regular em praticamente todo o seu território e, de forma complementar, um serviço de coleta
seletiva (JUNIOR, SILVA, 2013).
Este último serviço, no entanto, enfrenta o desafio de estender-se a um universo maior de
localidades. Em 2013 estava implantada em 28 bairros da área central do município, mas sem alcançar
sequer a semi-periferia. Barros (2013) ressalta que, no entanto, pode-se observar pelo território
municipal um expressivo comércio de materiais recicláveis.
O comércio e beneficiamento, embora antigos no Brasil, ganham maior evidência a partir da
década de 1990. Esse histórico confirma-se também em Campos dos Goytacazes, onde comerciantes
com maior tempo de atuação no segmento relatam terem iniciado suas atividades por essa época. É
quando a coleta seletiva tem também seu marco inicial.
O circuito produtivo dos resíduos sólidos urbanos recicláveis está presente em quase todo
território brasileiro, integrando atores como catadores informais e cooperativados, comerciantes e
recicladores (JOIA, SILVA, SILVA, 2010). É uma atividade de grande importância ambiental e
econômica: “o processo de reciclagem do lixo, além de diminuir parte do destino final dos resíduos no
meio ambiente, pode gerar novos postos de trabalho para mão-de-obra com baixa qualificação e gerar
lucro” (CORTEZ, LEITE, 2001).
Exemplo atual da importância do segmento é o plano para ampliar os índices de recuperação de
recicláveis integrando iniciativa privada e prefeituras apresentado ao governo federal por uma coalizão
de 22 empresas da indústria e varejo. De acordo com reportagem (VALOR, 2014), “o mercado de
coleta e triagem de resíduos urbanos para retorno à indústria como matéria-prima poderá atingir R$ 3,3
bilhões em 2014”. Os investimentos visam aumentar a reciclagem em 20% no Brasil.
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4.1 A limpeza urbana no município
Os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, 2013) sobre a limpeza
urbana no município de Campos dos Goytacazes indicam um conjunto satisfatório de serviços. Para
uma população total de 468.087 habitantes, sendo a urbana formada por 422.658 habitantes, a
população atendida pela coleta residencial regular foi de 457.889 habitantes, o que parece conferir ao
caso local, a tendência nacional de universalização do serviço cuja abrangência é apontada pela
ABRELPE (2012) em 90,17%.
De acordo com Junior e Silva (2013) o município tem procurado ajustar-se aos parâmetros
nacionais de melhora nos serviços da limpeza urbana tendo criado leis que corroboram para esse
princípio, como a Lei da Coleta Seletiva (8.202/2011) e a da Política Municipal dos Resíduos Sólidos
(8.232/2011). A Lei da Coleta Seletiva prevê a obrigatoriedade dessa prática em condomínios
residenciais, shopping centers e órgãos da administração direta e indireta no município, de acordo com
o número mínimo de unidades.
A lei da Política Municipal de Resíduos Sólidos corrobora com a PNRS ao responsabilizar
pessoas jurídicas e físicas, de direito público ou privado, pela geração direta ou indireta de resíduos e
rejeitos e ainda as que desenvolvam qualquer ação ligada a qualquer etapa do gerenciamento de
resíduos e rejeitos (CAMPOS DOS GOYTACAZES, 2011).
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4.2 Dimensionamento e presença da coleta seletiva no território
Os bairros abrangidos pela coleta seletiva são situados no entorno do subdistrito sede e do
subdistrito de Guarus, respectivamente nas margens direita e esquerda do Rio Paraíba do Sul.
Ressalva-se que o universo de adesão dos munícipes ao serviço de coleta seletiva não foi informado. O
segmento catador/comerciante, objeto do estudo, é tomado como um sistema paralelo.
FIGURA 02 – Presença da Coleta Seletiva e do Comércio de Materiais Recicláveis nos 20 distritos de Campos dos
Goytacazes. Fonte: pesquisa de campo do autor. Adaptação de mapa do Plano Diretor do município.
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4.3 A capacidade recuperadora do município em números
O Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos (SNIS, 2013) foi a base de dados
utilizada para estimar a taxa de recuperação de recicláveis presentes no RSU de Campos. A fim de
comparar a capacidade recuperadora dos setores público e privado, no caso local, emprega-se o
cálculo do Índice de Recuperação de Recicláveis I031 = Taxa de recuperação de materiais recicláveis
em relação à quantidade total (RDO + RPU) coletada.
Os dados do SNIS (2013) indicam uma coleta de RSU municipal em 2012 de 130.000
toneladas e coleta seletiva com 960 toneladas, obtendo-se a seguinte proporção em porcentagem:
I031 = Taxa de recuperação de materiais recicláveis / Quantidade total (RDO + RPU) x 100%
I031 = 960 / 130.000 x 100%
I031 = 0,74%
Onde:
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) total = 130 mil toneladas
Resíduos Sólidos Domésticos = 115 mil toneladas
Resíduos Públicos = 15 mil toneladas
Coleta Seletiva = 960 toneladas
RSU = RDO + RPU
Portanto, o índice de recuperação de resíduos recicláveis através do sistema municipal de
limpeza urbana em Campos dos Goytacazes seria de 0,74%, bastante abaixo do nacional estimado em
6% pelo SNIS (2012). O universo de recicláveis presentes no RSU brasileiro é estimado 30%. Os
cálculos em ambos os casos abrangem resíduos que o SNIS classifica como “materiais recicláveis
secos: papel, plástico, metal, vidro e outros recicláveis com exceção da matéria orgânica” (SNIS,
2012).
Ressalve-se que embora os dados da ABRELPE sejam mencionados como mais atualizados por
alguns autores, optou-se no trabalho por informações do SNIS visto que este apresenta quantitativos
detalhados sobre a limpeza urbana em Campos dos Goytacazes, além de apontar em seus diagnósticos
indicadores que permitem avaliar a capacidade recuperadora de recicláveis presentes no RSU dos
municípios, a recuperação per capta e outros.
A estrutura da coleta seletiva do município não sofreu alterações no período 2010/2011 sendo o
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serviço disponibilizado a residentes em 28 bairros da cidade, todos geograficamente situados no
subdistrito sede do município. Ainda assim, houve incremento de 260 toneladas de recicláveis (0,15%)
sugerindo alguma melhora no serviço.
4.4 Números da recuperação de recicláveis pelo setor privado
Para oferecer uma dimensão quantitativa em um paralelo da capacidade recuperadora de
recicláveis entre setor público e setor privado no município, emprega-se a seguir a fórmula do cálculo
do Índice de Recuperação da massa de recicláveis I031 do SNIS. Sendo RSU = 130 mil toneladas
recolhidas pela concessionário dos serviços (SNIS, 2013) e comercialização pelo setor privado em
19.200 toneladas/ano. Assim:
I031 = (Massa Reciclável Recuperada / RSU total) x 100%
I031 = 19.200 / 130.000 x 100%
I031 = 14,8%
O índice I031 resultante do cálculo com base nas informações dos comerciantes é 20 vezes
superior ao I031 da massa de resíduos recicláveis obtido com dados da coleta seletiva do município
informada ao SNIS (2013). Entende-se que o percentual de 14,8% evidencia a força recuperadora dos
recicláveis do setor privado. A tabela 01 a seguir projeta quantidades de recicláveis, por tipo,
trabalhados pelos setores público e privado em Campos dos Goytacazes. Os cálculos reproduzem
parcialmente o método empregado por Junior e Silva (2013) e trazem dados do SNIS (2013),
CEMPRE (2013), ABRELPE (2013) e os comerciantes 1, 2 e 3 entrevistados pelo autor.
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TABELA 01 - Quantitativos de recicláveis, por tipo, presentes na coleta seletiva e sistema catador/comerciante. Não foram
considerados nos cálculos os resíduos orgânicos (51,04%) e outros materiais (16,07%) presentes na gravimetria nacional.
Resíduos Composição
Gravimétrica
(%)
Projeção sobre RSU
municipal
(t/ano)
Coleta
seletiva
t/ano)
Catador
comerciante
(t/ano)
Material
reciclável
31,9% 41.470 960 19.200
Aço 2,3 2.990 22,08 441,60
Alumínio 0,6 780 5,76 115,2
Papel/Papelão 13,1 17.030 125,76 2.515,20
Plástico (total) 13,5 17.550 129,6 2.592,00
Vidro 2,4 3.120 23,04 460,80
Fonte: SNIS (2013), CEMPRE (2013), ABRELPE (2013); comerciantes.
Associando-se os quantitativos dos resíduos recicláveis apresentados na tabela 01, aos valores
do CEMPRE (2013) para os materiais recicláveis, mostrados na tabela 02, faz-se uma projeção de
ganhos financeiros do setor privado. Embora as prefeituras, em geral, não visem ganhos financeiros
com seus programas ou serviços de coleta seletiva, e sim contrapartida ambiental, apenas como
exercício comparativo, propõe-se um paralelo de modo, mais uma vez, a evidenciar a dinâmica do
setor privado em relação à recuperação de resíduos recicláveis presentes no RSU.
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TABELA 02 - Quantidades trabalhadas pela coleta seletiva e pelo setor privado multiplicadas pelo valor de referência do
CEMPRE (2013)
Resíduos R$/t (Cempre) Coleta Seletiva (R$) Catadores
Comerciantes (R$)
Aço (latas) 370,00
(370,00 x 22,08)
8.169,60
(370 x 441,60)
163.392,00
Alumínio 2.600,00
(2600,00 x 5,76)
14.976,00
2600,00 x 115,20)
299.520,00
Papel/Papelão 320,00
(320,00 x 125,76)
40.243,20
(320,00 x 2.515,20)
804.864,00
Plástico (total) 750,00
(750,00 x 129,6)
97.200,00
(750,00 x 2.592,00)
1.944.000,00
Vidro (incolor) 180,00
(180,00 x 23,04)
4.147,20
(180,00 x 460,80)
82.944,00
Total ______ 164.736,00 3.294.720,00
Fonte: IPEA (2012); JUNIOR, SILVA (2013)
Algumas considerações acerca dos dados da tabela acima: o sistema catador/comerciante
praticamente não trabalha, no caso local, com o vidro. O comerciante 1 movimenta algum quantitativo
desse material, visto recebê-lo da unidade de triagem do município e da coleta seletiva, em função de
uma parceria. Há no município um comerciante de pequeno porte que comercializa especificamente o
vidro. Porém não foi possível obter dados sobre sua empresa.
No caso do plástico, considerou-se a referência plástico total (que engloba os tipos duro, PET e
filme). O comerciante 3 tem no plástico seu diferencial, o que implica trabalhar com os diversos tipos
de material, como constatado nas visitas feitas a seu estabelecimento.
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No caso do papel e papelão optou-se por trabalhar com o valor da tonelada de papelão por dois
motivos: esse material foi mencionado na entrevista com o comerciante 2 como o de seu maior
interesse; nas abordagens a catadores notou-se o papelão como material abundante nas carrocinhas, em
detrimento de pouco ou nenhum papel.
Na simulação, o segmento privado movimentaria, com base nos dados trabalhados nas tabelas
01 e 02, um total de R$ 3.294.720,00 contra R$ 164.736,00 da coleta seletiva. Ou seja, a
movimentação financeira do segmento privado é 20 vezes superior ao projetado para a coleta seletiva
empreendida pela concessionária da limpeza urbana em Campos. O sistema
catadores/comerciantes/recicladores apresenta no município o fluxo representado a seguir:
FIGURA 03 - Conexões do sistema geração de resíduos/catadores/comerciantes/indústria recicladora a partir de Campos
dos Goytacazes. Fonte: JOIA, SILVA, SILVA, 2010 e pesquisa do autor
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5 Conclusões
Mesmo considerando as limitações dos dados disponíveis, conclui-se que é o segmento privado
o maior recuperador de resíduos sólidos recicláveis presentes no RSU de Campos. Os três maiores
comerciantes formam um circuito de captação de recicláveis que se estende por todo o município, e
mesmo por vizinhos, envolvendo pequenos comerciantes e catadores (e ainda porteiros, garçons, donas
de casa, entre outros) Este circuito, além de gerar recursos para o município através de impostos e
postos de trabalho, não traz ônus e desafoga o sistema de limpeza urbana.
Viu-se que o serviço de coleta seletiva oferecido aos munícipes apresenta baixos resultados e
sua expansão e aprimoramento acarretará ainda mais custos para a Prefeitura. Dados informados ao
SNIS revelam que o custo da limpeza urbana em Campos é desproporcional à receita, ou seja,
desembolso de cerca de R$ 68 milhões/ano para uma arrecadação via IPTU de aproximadamente R$
3,1 milhões.
Considerando apenas os quantitativos trabalhados por cada frente de recuperação de recicláveis
no município, a pública e a privada, vemos que em 2012, a coleta seletiva retirou do RSU de Campos
960 toneladas de materiais recicláveis enquanto o segmento catador/comerciante atendeu à indústria
recicladora com a entrega de 19.200 toneladas. O segmento privado da recuperação de recicláveis, pela
sua eficácia, deveria receber maior atenção, através de estímulos fiscais e de outras medidas.
O segmento catador/comerciante de materiais recicláveis precisa ser melhor estudado para que
sejam gerados dados que possibilitem um melhor direcionamento da coleta seletiva no país. Estudos
relativos às necessidades e capacidade da indústria nacional de reciclagem dariam também subsídios
para se avaliar as possibilidades e limitações deste comércio.
Tendo em vista o percentual de quase 50% de matéria orgânica no RSU brasileiro, sugere-se
que a coleta seletiva dê maior atenção a esse aspecto em detrimento dos materiais recicláveis
trabalhados com eficiência pelo segmento catador/comerciante. Igualmente relevante é ampliar ações
de educação ambiental, em especial em escolas, promovendo-se uma cultura de participação efetiva do
cidadão nos destinos dos resíduos que gera com seu consumo.
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